Lula Wanderley
O DRAGAO
POUSOU NO ESPAGO
Arte conter
imento paquico &
de Lygia ClarkDinos dees ga eens
2311-040 Ria de foebos
poeta
epp =e
Sumario
Prefisia ~ Gay Bree
Percurso¢ paisagens
Ainteroridade imaginivia do compo
A contragio a expansio da existéncia
Q vai vive
Ocoree ea costuca
[As palavras ato tém dono
A lneria © a meméria smorfa
Cidade: ovigem e destino
Transhar
(O Bspago Abertoao Tempo
Palavragesto: exerecios ~ pasos que wlemPrefacio*
~ Guy Brete—
Este livro contém alguns dos mais comoventes relatos
208 quais {ui exposto, em muito tempo. Enteetanto, nso es-
tou certo de como escrever sobre ele, Vejo que parcialmente
refere-se 10 trabalho de uma artists, Lygia Clark, que re-
centemente ~ ¢com atrase ~ cemegou a obter, internacional-
mente, algo do merecimento de que & digoa. Mas este lirro
emprega um discurso e descreve unna prética tio diferente da
usmal nes sirculos arvsties, que cemo reduzi-lo a rermos de
referéncia familiares. Posio ver, também, que ele constréi
luma nova e surpreendente conexao entre a arte e 0 siatamen=
to da loucura, Mas ignoro esta disciplina e sobre ela aio.
posso dizer nada de itil ¢ eaborado. Somente posso abondé
lo do pomto de vista do interesse de uma vida ineira pelo tra-
batho de Lygia Clark, que consiero uma das maiores artistas
de nesso tempo, e de uma grande admiragio por Lula Wan-
derley, que encontre! pela primeira vex em 1986 no aparta-
mento de Lygia e que desde a eva morte vem eontinuads «
aplicare estender suas descobertas - por conta propria ~ co-
mo terapeutn © artists
‘Talvez a melhor manera de caracterizar este liveo seja di-
ser que ee € sobre vidas humana, jd que este €0 modo mais
adi de Rd Bastar0 DRAGAO FOUSOE NO ESPAGO
‘erdhiro de unr as expengncis dos que sofeem, dos arse
tase dos terapeuts,
Nos limos anos, otrbalha de Lygis Cla comesen a
ser amplamente exibido em muses eutapeus norte-meri-
canos. Uma vex que ela filecen antes que estas exposigées
‘ontecessem, obviamente no pode influenciar © modo eo
inmporiante disputa de prineipios: deveria seu trabalho, rea
rado desde 05 anos 66, ser apresentado de modo conve
ional como um aranjo de objetosintoesves ou devera aa
gna sercapaz de participa fisicamente, como Lygia pre~
tunclia? Algumas qnesdes logistics tinham de ser conside-
ras para se ie além das convengées, mas de qualquer modo
‘uma escolha tinka de ser feta, A montagem feita ne Doct
‘monte, ex 1997, romou © primeiea caminho. Nada poderia
fer tocador uma eaticata inversio dis intengdes de Lyin,
Iesino se apesa disso, um imenso ineressetenha se levan-
Tido’em torno de seu ersbalho, De maneire oposta a retror-
pectiva orginizada um pouco mais tade por Manuel Borit-
Ville, dievor da Fundagao Tapies, em Barcelona, Luciano
Vigueiiedo,no Brasil, considerov desce o prinefpio a questio
Ah panicipigio do espectador. Como resultado, Lule Wan-
Aerley viajou a cada local de exposigdo para instru e formar
‘un jrpo de pessoas que poderiam assim apresentar~ ‘aver
Iniear seins palavea melhor ~fsicamente ao piblico © Compo
toletivn, as Arguiteturas Celulares, as Misceras Sensorias, 0s
‘bjetos Relacionas.
‘Ao mesmo tempo, trabalhardo en outro cantexto, Lula
ey sri no Rio de Janciro, o Espago AbertoaoTen-
Au peeiena clinica loalizada no subsnbio da cidade on-
flerecilo raameato pata disixbios mentais graves, Dic
Wi lerpias so wizadas,inluidlo procedimentos mé-
Jus a prvocupasao central da clinica, como neste lism
Bisgto dos Objeros Relecionss de Lygia Clk
Pref
como parte da processo terapaticn, Las muss fal de ob
iio de uma “cura” através dométedo de Lygia, mas de tra-
zer um “melhoecontste afetiva coin a realdude” ow urn ese
blogueio de nossa relcio com mundo”
‘0 que significa ofato estes objetos ~chamados de teri
péuticos ~ terem se desemeolvido dentro ée ur contexo do
‘tababo de uma rusia? Esta € uma questio chive do legado
de Lygia, evantando muits ¢ fiscinantes questbes que con-
vinuatam a ser discutidas por muito tempo ~ pois estes obje-
105, implicando uma certa priviea contimia e ativa, desen-
rolveramse a partir de quest6es filosacas acerca do espago €
do tempo. Em seu trabalho incil, quands ainda faxia “pine
vuras", Lypia preocupava-se com a relagio entre o espaco da
“arte, o espago da pintura -como wn. conitrutce —e9 “resto
‘do universe”, oespago infinito. Este éo nicleo dh questi das
talag
cniseearte ea vide Lypiacdiia que o espago “se rexe-
Isai (nas uniades, de 1958, ua das prmeiasséries de ele~
‘os geomeiicos) como um momento do espago cieundn-
‘2° and, “o que eu queria expesiar ero expago mesino
€ nto compor dentro dele“ “Eu eomecei com a geomet
mas buseava um espaso opginico em que fsse possiel para
elguén entat na pints.”
Eaagors bem conhecids a evolugio das tapi através he
«ais Lygia Clark moveu-se paraalém da telago passivae pu-
‘mente pica do espectador com a wupericie, om daegic
ua relagio compre etrasfarmatva corn 0 objeto de me-
"yg Clo aca lotta expen do prop ep" tn Fh Mash
Sof, 2797988, Ayu yin Cink. Clog depo, ace: Fo
2 Lys Clk coax ona oxen ta joa do Bal Rode enc,
Apdo. en
lake Yo te Pod mn 886, Apa iy
Soh fhe Bey ta nee, Nor Yoel
Bre “Ly Chiadingo, uluapassando « icotouia dentrofors. Come afirma
Lala Wanderley, o objeto coma-se “vivid numa inceoridade
-maginria do corpo onde encanta sigiticagio”. A forea
dessa esesria pode ser sempre sentda comparando-se 0 ta
balho de Lygia com agucles de seus pares, aproximando escul-
‘nas someemporinens~ que io simpiticasaeleem termos de
materia e formas ~ de seurabalho nos anos 60:08 pesos ma~
tios cenvedados de Eva Hesse comperados a tbls cono
a Mascara abismos de Lyga. Toroa-e dbva,entio, nosio,
tm L7gia Car, de un rebionamenco paeipatori e ml
‘ssensorial assin como o trabalho como um dspostvo pura
interconexio entre espago interno e externo, corpo e cosmo.
Uma fusio extordingra ocore. Por um lado, tinha~
‘nos wma hnguager “pistes, no eepresentativa, que havia
fe devenvalvidon pantie ds arte abstita, e qe fer uso de am
sistema de opostos senvoriais elenenures: levelpesato,
their vazo,dspero/maco,a/$gua, ixo/méveh somisiléncio
cto, Els produvz urn chjeto “que nao iste o coxpo mas cria
felaies com ee, pormio de txtura, pes, tamanho, tempe-
tatut, sonordade e movimento”. Por outro lado, este obje-
{o, genera za, vazo, com sigifeado em abero, sm cas-
{et expressva, torns-e veel para uma prod alcimeace
indivilualizada de fantasis € metifora por parce do pari
pane Lypia tomou-re sonvencida da conexio entre ©
fo mtalxico em nosss vivéncase peroebeu que havin de-
senvolvid ui tipo de “hnguagem do cospo" que poseraser
orm comuniaiva, com ~ pode-se dizer ~
ste lio tz narrativas de-experiéncias de visas pessoas
com os Objetos Relacionais de Lygia em meio 2 raves crises
tem suas vidas, Sei que escrevo aga somente como um leitor
Th yg Cl, Ri deus: nae 18,9.
ees, Bln: Fi Tp 097, p31
Sei que estou lend, a mm grande distineis, a eras de Lule
as historias de vidas de outras pessoas, compximidis em su
cunts e poderosas maratiras que possuen: am forte elemento
Alo "contarhistrias”. Eu armbém li slguns dos relatos da p6:
pria Lygia Clark acerea de seus tracamentos com pessoas, uti
lizando abjetor evididoramenta editados ¢ selicionados por
Gina Ferreira. Bs
s, também, narratitas emocionantss ©
Fascinantes. Quando lenses ambos, sabemos que estamos em
melo s uma complesa trama de subjetividedes ¢ objetvidates,
lagi afetivas e desprendidas, nas quais 0 papel profs
médica” convencional parece estar a quilometros
Sinto que aio hi pars min nady a dicer sobre us diful-
dades existenciis registacss neste lio, 8 quis, como Lula
diz arespeito de algins esritos de Marcos, “si simples mas
cextremanente fortes, corduzindo-nos a pensarmaisaverca de
aquesibes tticas da vida humans do que di doengae sanidade
mental”. Mas aque eferivomente me mobiliza so of paralsloe
que surgem enire uma crise ns “vid” e uma crise na “arte”,
Payece-me que ess dupla cts € wen dos principais assunsos
este livro, eo que janta esas esferse
8 profunda preocupa-
lo que tanto 0 artita/terapeuta como 0 sujeio psiquistrico
possuem acerea da reli entre 0 rel eo imaginirie,
Temos entio 0 encontro entre o artista ~ 4 procuts de
este
em busca dagsiko que Paul Klee chamow se
aquslas curiosidades que] tomam-se relidades da are, que
sjudam atrancar a vida para fora da mediocridace” ~e 0
sloente mental, que experimenta uma mens disfungio em re=
Jagio normalida
le. A “terapia” 6, talvez,ondeessas dns po»© trabilho de Lygia Clark spreseots um fasinant para
oxo sesserespito.“Hojenada é mis fasenante pars nim do
que a propria reiidads das colts. Ly prod declare
ies coma esta, posicionind a realidade contr unt “arte”
pretensiosa Hla dssodavacie do artists que“
no num processo de grande extroversio” ou que encena
roblemas subjeivos“fazendo do seu depeimenso uma bgp
sa dee préprio, nfo dando abenturs par quem olka © v3",
Come fazer da arte algo “aberto” era nnsa esto furdamen-
‘a par La, penso no divertimento eno eemerto ladico em
seu tabslhe, mesmo quando lid com reaigadesdoloross
ainda, que este amor pelo cea ea inveng
to ta aber, qe na projstava nada da persnutdade do or
‘sta Hbertram no outeo um joo efsivo de fontaine me-
Lifora Lygia chamava sto de “prog fansasmagarica” (fs-
tusmagoric production). Apesar de seus objets e méeodos ta:
Jatharem incimanente com a corpo fisico, no eo corpo co
smo tal que lhe interesaa, massa amtaxmsica, "O que n=
porta mio 6 fa em si, figra do psi ou da mie engoid na
Jafinca, porto ove o envole, a faninmdica ques empres
tu acl.” Taradoxalmente, €atavés da liberagio dessa far
tusmitica que o sujeito as vezes *captas medida do real.
de um obje-
is Clark o hose & cen fs Cnn de nb Ro de Jani,
(196. Ap Lys Ck Caged sonic, arora Fuse Tabs,
° cana yaClaks Mi
‘oe. Rs de i 196
Camels Hin Osi dank de mayode 1971 Ape Lg Cla
alo de xpi, Baek: Pah pie 97. 07
eon dt de 25196. Cid om Sti Lis
oes jeove st
Ler as nota elisicas de Lygia Clark ls sessbes comm seus
sem qualguer pretensio de ser capaz de aali-hs de
uum ponto de vista psicoterape srcativdo por seu ee
periments, Os zegisros s30 uma mistura dle seus testes explo:
ratios, stas observagdesimparcias, seus prSprios eentimen:
tos, sa compaisio, sua itritagio, suas aukocrticas, O proces
ehonesta ds realidade (urea mancina de buscar empa-
tia com aexperignci de crise do outra experiencia com aqual
Lygia era bastante foils
pottico oa thnigied"ycontorme ela se refer, Estes momentos
nigicos provavelmente representavans a libersgio eiatva do
individuo de sua prisio disfuncional. 4 natrativa de Lygia
mo unsa buses por algo
evolve continuas metsiorss: “como...” & "como &,
(Os mesmos objetos poderiam ter signifiendos comph
diferentes na funtasia de cada pessan. "Es
seus pés pareceram miiseulos"s “ale relax muito bem e lem:
brov que ra um pinto ~ da cinwra para cima —saind do ovos
ot eatersado metade na arcia, “ele expevimentou 0
ppeso.como morte, mas sem angtisti. O ruide das slmofadas
tun seus cuvides eram insetos qe comeriam seu cadiver"; "as
alnuofadas leves em seus ouvidos lembrassm rmisca ele co-
megoua cantar, ble as estregavs em seus cuvidese cantar. As
eR
ppalaeas eram sobse 0 vento, Foi wn momenro lindo.
nannativa regista transfermagoes conus
AAs canclusdes que Lala Wanderley sota em sua prépria
pritia enfatizam pleralidade eafeividade, A caracterstica de
"rmhissensorilidads dinimica dos Objotoe Relacionai™ pa
rece conduzir naturslmenke para ui “flexbildade da postu
ra de torapeuta’, como Lala deverevs, ocupande diverses pa
1 Gin Fenda fer) "Lge Chek «Send cog onde nc
Neuss ebsed Ate Modes, Ride ci, DG‘6 beNaA0 POUSDU Ko BsPAGO
pis dentro de una pluralidide de vespostas" de modoa se