Diferenciao Magmtica
A transformao do magma em rocha concretiza-se pela passagem ao estado slido da maior
parte dos constituintes qumicos presentes nesse fundido, isto , pela cristalizao dos
minerais (na grande maioria, silicatos) possveis de edificar a partir dele, medida que se d
o arrefecimento.
Os diversos minerais envolvidos neste processo no se formam ao mesmo tempo.
Primeiro cristalizam os mais refractrios, ou seja, os de ponto de fuso mais elevado, que so
aqui tambm os mais densos, seguindo-se-lhes, numa sequncia conhecida, os sucessivamente
menos refractrios e, ao mesmo tempo, os menos densos.
Esta transformao tem lugar num intervalo de temperaturas (varivel com a presso que ,
j de si, funo da profundidade a que se d o arrefecimento) compreendido entre,
aproximadamente, 1550C e 500C.
Relativamente aos silicatos mais comuns e caractersticos, surgem em primeiro lugar os mais
ricos em ferro, magnsio e clcio, isto , olivina, piroxenas e plagioclases clcicas.
Se estes minerais, uma vez formados, forem separados do banho magmtico, o que pode
acontecer por precipitao gravtica (eles so mais densos) no fundo da cmara magmtica, o
que resta do fundido inicial fica mais pobre em elementos dos minerais cristalizados a
temperaturas mais elevadas, mas mais rico em silcio, sdio e/ou potssio, ou seja, em
elementos constituintes dos minerais que cristalizam a temperaturas sucessivamente mais
baixas e, tambm, os menos densos.
Este processo sequencial, conhecido por cristalizao fraccionada conduz a que, a partir do
mesmo banho, se possam formar produtos rochosos diferentes, isto , possa ocorrer
diferenciao, neste caso, por precipitao ou decantao dos minerais no seio de um lquido
menos denso.
Por outras palavras, e de um modo muito esquemtico, pode dizer-se que uma fraco
magmtica que, pela sua composio e em profundidade, conduziria formao de, por
exemplo, um diorito (rocha sem quartzo, com feldspato calco-alcalino e anfbola), dar origem
a um tipo petrogrfico formado por cristais de olivina e de piroxena acumulados no fundo da
cmara, ou seja, um peridotito, razo pela qual as rochas gneas formadas por separao
gravtica, so designadas por cumulados.
Sobre o peridotito e atravs do mesmo processo formam-se sucessivamente gabros, diorito,
sienito e, at, eventualmente, granito.
O mesmo tipo de diferenciao poder ser exemplificado pela sequncia basalto, andesito,
traquito, riolito, sequncia, alis, conhecida nas lavas de uma srie de vulces, em Cascade
Range, nas Montanhas Rochosas (EUA), nascidos de um mesmo magma parental.
A decantao assim um processo de diferenciao gravtica, mas no o nico.
Inversamente, aos cristais que se afundam na cmara magmtica opem-se os que, sendo
menos densos, tm tendncia a flutuar, sobretudo se envolvidos por bolhas gasosas.
Ter sido uma diferenciao por flutuao que deu origem aos anortositos da crosta lunar
que, assim, envolvidos numa espcie de espuma, se separaram dos materiais ultramficos do
respectivo manto.
tambm esta a explicao dada para os leucititos do Vesvio, quase exclusivamente
formados por cristais de leucite aglutinados uns aos outros. A diferenciao gravtica conduz,
assim, a que, na base do reservatrio, se concentrem os materiais mais ricos em ferro,
magnsio e clcio, ao contrrio do topo, essencialmente constitudo pelos mais ricos em
silcio, alumnio, sdio e potssio e, ainda, em volteis.
Entre os dois extremos situam-se os materiais de composio intermdia, numa sequncia que
depende muito das condies de arrefecimento.
Uma variante da diferenciao gravtica por flutuao, a levada a cabo pela subida de gases
e vapores magmticos. Com efeito, na sua subida no seio dos reservatrios magmticos,
sejam eles as cmaras magmticas que alimentam o vulcanismo ou o interior dos orgenos na
sequncia da anatexia, os gases magmticos, em particular o vapor de gua, arrastam consigo
silcio, sdio e potssio, alm de outros elementos como ltio, berlio, csio, tntalo.
Se os primeiros silicatos, gerados a uma temperatura relativamente alta, permanecerem em
contacto com o banho, tornam-se instveis e essa instabilidade aumenta com o
arrefecimento. Assim, estes silicatos dissolvem-se no lquido residual a temperaturas mais
baixas, reedificando outras estruturas, ou seja, outros silicatos mais estveis a essas
temperaturas.
Por exemplo, uma olivina pode ser dissolvida e, os seus componentes reagem com a slica
ainda no banho, dando origem a uma piroxena magnesiana. O processo repete-se medida
que progride o arrefecimento: a piroxena magnesiana gera uma outra, calco-magnesiana, e
esta, por seu turno, uma anfbola e essa anfbola d, em seguida, lugar a biotite. A par desta
sequncia, que se processa por saltos descontnuos, tem lugar uma outra, em continuidade
composicional, entre a anortite e a albite, os dois extremos (o clcico e o sdico) de uma
soluo slida que constitui as plagioclases.
Num magma excedentrio em slica forma-se, por fim, o quartzo. O feldspato potssico no
faz parte destas sries, dando-se a sua cristalizao no mesmo patamar comum s
plagioclases mais sdicas (albite e ortoclase) e biotite, e, da, a sua participao conjunta
em certos granitos.
Estas sequncias ou sries de reaco dos silicatos no magma foram estabelecidas em 1928
por
N.
L.
Bowen.
Fonte do Texto: Rochas Magmticas. Galopim de Carvalho. ncora.
Geo 14 gnese das Rochas Magmticas