UNIVERSIDADE CATLICA PORTUGUESA
MESTRADO INTEGRADO EM TEOLOGIA
SEMINRIO FILOSFICO
C RIACIONISMO
L EONARDO C OIMBRA
Eu chamo criacionismo criao de conceitos cientficos
e smbolos artsticos que, sem nunca esgotarem o real,
sempre o organizam sob as mais altas aspiraes do espirito.
(Leonardo Coimbra, O Criacionismo, 1912)
Joel Filipe Teixeira Barros
Antnio Jos Jesus Sebastio
Professor Doutor Jos Aguiar de Castro
PORTO 2014-15
ndice
Introduo.............................................................................................................3
1- Leonardo Coimbra, obra e vida........................................................................4
1.1 - Vida..........................................................................................................4
1.2 - Obra.........................................................................................................5
2- O Criacionismo de Leonardo Coimbra..........................................................6
2.1- Natureza e extenso do criacionismo .......................................................7
2.2- O fenmeno do conhecimento ..................................................................8
2.3- O problema de Deus ...............................................................................10
2.4- As Mnadas .............................................................................................12
3- Criacionismo e Conhecimento em Leonardo Coimbra - Na perspetiva do
professor Jos Aguiar de Castro.............................................................................13
4- Sntese............................................................................................................17
5- Bibliografia......................................................................................................20
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Introduo
O presente trabalho tem por objetivo principal dar a conhecer o
pensamento Criacionista que marcou fortemente o pensamento de Leonardo
Coimbra. Pretendemos, claro est, apresentar o autor Leonardo Coimbra,
professor de filosofia e ministro da instruo, que viveu entre 1886 e 1936 bem
como a sua vasta obra.
A obra que iremos focar particular ateno O Criacionismo, de
Leonardo Coimbra. Para uma melhor leitura, dividimos o trabalho em trs
partes, das quais a primeira a apresentao do autor e da sua vasta obra, a
segunda parte pretendem fazer uma anlise da obra O Criacionismo e a
terceira parte a comparao com outros autores que analisaram a obra de
Leonardo Coimbra. Os primeiros captulos foram elaborados individualmente,
da que o discurso no seja sempre uniforme. A sntese foi elaborada pelos
dois, fruto da reflexo feita nos captulos antecedentes.
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1- Leonardo Coimbra, obra e vida
1.1- Vida
Leonardo Jos Coimbra, nasceu na Lixa, concelho de Felgueiras, distrito
do Porto em 1883 e faleceu em 1936. Foi professor de Filosofia na Faculdade
de Letras do Porto. Foi notvel a sua atividade na transmisso do regime
quanto expanso da cultura e luta contra o analfabetismo, assim como um
grande orador, proferindo dezenas de discursos e conferncias, de sentido
filosfico. Criou a Universidade Popular onde pronunciou numerosas lies.
Para alm dos assuntos filosficos os problemas religiosos preocuparam-
no intensamente.
O local onde passou os primeiros anos da sua infncia no alheio sua
atitude de mistrio e curiosidade e, por outro lado, a morte de seu pai, quando
tinha dezoito anos e posteriormente a morte do seu primeiro filho, em 1912,
marcaram-no profundamente e acentuaram a dor da sua alma lrica de poeta e,
decisivamente, o influenciaram na sua idealizao filosfica.
Concludos que foram os primeiros estudos preparatrios, viria a
frequentar em Coimbra o antigo curso de matemticas e filosficas. De
Coimbra, ingressou na Escola Naval e deste estabelecimento voltou para o
Porto, onde se matriculou na Academia Politcnica.
Durante alguns anos frequentou outros cursos, at que conseguiu um
lugar de professor provisrio de matemtica no Liceu Central, lecionando,
tambm, na Faculdade de Letras do Porto, mas foi no liceu que ele trabalhou o
seu pensamento e comunicou a riqueza do seu esprito.
Desempenhou vrias funes pblicas e polticas.
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Desligando-se das atividades pblicas em 1927, permaneceu silencioso e
interiorizando-se com o seu pensamento, atravs do qual marcou a sua
individualidade nas lutas sociais, militando nos meios libertrios e colaborando
em jornais e revistas de correntes poltico-ideolgicas avanadas.
Dado possuir elevados dotes oratrios, depressa se imps nos comcios
operrios e republicanos. Para alm de tudo isto, ainda em estudante fundou
com outros colegas a revista Nova Silva.
1.2- Obra
Como j foi referido anteriormente o carter emotivo do autor, os seus
dotes oratrios e a sistematizao do seu pensamento, permitiram-lhe escrever
uma vasta obra. O seu primeiro livro foi escrito em 1912 e intitula-se: O
Criacionismo. Em 1913, manifestando as suas preocupaes quanto aos
problemas religiosos, escreve: A Morte, livro carregado de esperana e que
ainda tem muito viva a morte do seu primeiro filho, e em 1915 redige: O
Pensamento Criacionista.
Para alm destas j referidas escreveu ainda inmeras obras, tais como:
A Alegria, a Dor e a Graa, A Luta pela Imortalidade, O Pensamento
Filosfico de Antero de Quental, Adorao, Do Amor e da Morte, Lgica e
Metafsica, A Rssia de Hoje e o Homem de Sempre.
O seu pensamento obedece a uma evoluo espiritual constante, at se
definir pelo catolicismo. Ele tratou, claramente, do pensamento e da vida
humana, culminando numa ontologia do homem e do esprito. Esta sua
ontologia do ser e da liberdade do esprito, est aliada ao problema moral como
eterno conflito entre a liberdade e a lei, indivduo e sociedade.
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Nesta evoluo filosfico-cultural, imbuda de um esprito religioso
progressivo, Leonardo Coimbra integrou-se no movimento literrio denominado
Saudosismo de cariz essencialmente potico, cofundando um rgo de
divulgao, a revista intitulada: A guia.
O saudosismo no sentido estrito uma atitude perante a vida, que
constitui feio tpica da literatura portuguesa, trao definidor da alma nacional.
A saudade caraterizava-se, na poca, por amplas dimenses e profundo
significado. A atmosfera mental portuguesa estava impregnada do idealismo e
do nacionalismo tradicionalista, que se haviam desenhado na ltima dcada do
sculo XIX.
A revista A guia, enquadrada na Renascena Portuguesa, congregou
muitos espritos animados do desejo de, agindo no plano da cultura, promover
a reconstruo do pas, minado pelas dissenses polticas que a Repblica no
veio sanar.
num ambiente de grande saudosismo, de profunda defesa dos valores
da raa, do ressurgimento do supremo significado da palavra saudade que
Leonardo Coimbra se movimenta, elaborando a sua obra sobre o
Criacionismo em que, fundamentalmente: O homem e a vida so termos da
sua antropologia filosfica.
2- O Criacionismo de Leonardo Coimbra.
O pensamento de Leonardo Coimbra oposto ao pensamento emprico
e ao pensamento formalista e providencialista. O seu pensamento pode
parecer um pouco errante, mas o seu pensamento e essencialmente itinerante.
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O prprio Leonardo Coimbra classificou o criacionismo como um esforo de um
sistema filosfico.
2.1- Natureza e extenso do criacionismo.
A doutrina criacionista parte da cincia e sobretudo de um criacionismo
gnosiolgico. Pois afirmado que o conhecimento resulta de uma atividade
racional que elabora intuies. Leonardo afirma que o espirito humano
sensvel e livre, pois resulta de uma ao que retira a vida do isolamento e lhe
confere uma ao que domina e coordena a mesma. O criacionismo afirma que
as ideias no nascem de uma absoluta espontaneidade, mas sim de uma
atividade reciproca de dependncia e em busca de harmonia e fraternizao.
Leonardo afirma que a forma e a matria do conhecimento so noes e no
coisas distintas.
O criacionismo gnosiolgico preocupa-se com a ideia de que a
inteligncia vai criando para si mesma da realidade, que nunca de forma
direta e imediata mas sim alterada pela sua capacidade apreensora.
O criacionismo situa-se na realidade do pensamento, que a
realidade mais indubitvel e inefvel. Esta realidade do pensamento coloca a
realidade psicolgica no meio da realidade mais basta e ativa. O pensamento
de Leonardo no criacionismo tem um alcance essencialmente espiritual e
ontolgico.
A noo de vida excede a racionalidade esttica e o espirito, para
poder viver em conceitos cheios de vida interior que as combinaes formais
no so capazes de descrever. Combinaes essas que a prpria cincia no
alcana, pois so inmeras como um oceano.
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Para Leonardo a filosofia o rgo da liberdade, sendo que a
filosofia a criao ou tomada de conscincia da superioridade do espirito
sobre as realidades coordenadas pela cincia. A analisa da cincia pode
demonstrar que um Ser um conjunto de noes reais. Essas noes no so
resultado da associao de sensaes nem uma pura espontaneidade do
espirito. Ao lado das realidades materiais existem realidades que vivem num
tempo seu, sendo evolutivas e criadoras. Leonardo afirma que o homem no
uma inutilidade num mundo feito, mas obreiro dum mundo a fazer. Estando
pois implcito nesta afirmao de Leonardo que o criacionismo est presente
em todas as realidades da atividade humana, desde as mais simples s mais
complexas.
2.2- O fenmeno do conhecimento
A anlise filosfica da construo cientfica afirma que a pessoa a
realidade mais verdadeira e complexa, a sntese filosfica chega concluso
de que o homem faz parte de uma sociedade de seres ativos e livres, usando
livremente dos domnios da conscincia.
O conhecimento uma das funes essenciais vida da pessoa,
funes essas, que so exercidas sobre a realidade. Significando pois que a
realidade penetrada pela inteligibilidade. No pensamento de Leonardo todos
os seres constituem uma sociedade, existindo uma troca de atividades. Existe
pois uma pluralidade de seres que na ao e pela ao se relacionam e se
unificam.
A filosofia criacionista intui que o pensamento cientfico tem uma
progressiva aproximao ao pensamento csmico, nesta perspetiva o Ser
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penetra o mundo sensvel, adaptando o mundo biolgico ao pensamento
racional e sistemtico. O esforo criacionista tenta uma convergncia e
unificao, sendo que por isso Leonardo vai encontrar derramado por toda a
natureza, esboos dessa ideia que tudo unifica e conserva. Para Leonardo todo
o universo movimento e at a meditao mais silenciosa e interior
acompanhada duma prefigurao desse movimento. Na palavra universo
Leonardo fala de tudo o que tem tenso, ascenso e herosmo, fazendo desta
a mais bela de todas as palavras que o pensamento gerou. O Ser tido como
uma nfima presena que enche o nada, sendo pois impossvel abolir o Ser.
Todos os seres so devedores uns dos outros, sendo por isso que
a existncia s possvel pelo consentimento de todos. A esta universal
presena do Ser, que unifica todos os seres, Leonardo da um valor
transcendente ou infinito, no qual mergulham todos os seres.
O saudosismo de Leonardo mostra um movimento ascensional
das metforas, utilizadas para mostrar que a saudade se dirige para o alto e
para diante, ao invs do passado. Leonardo tem a conscincia de inovar
mostrando um sentimento saudoso para afirmar que a saudade se reporta a
lugares que nunca podemos ver ou vivenciar. No sendo uma simples
melancolia do vivido e do passado. A verdadeira metafisica da saudade esta
demonstrada precisamente no movimento de deixar de ter para passar a ser.
Sendo por isso que a saudade o sentimento de pertena de si aos outros.
O esquema da saudade revela-se numa grande busca e
fecundidade como horizonte e meta do criacionismo. Sendo que o criacionismo
e a saudade se identificam mutuamente, criando uma compenetrao.
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Leonardo faz vrias referncias aos sbios, aos poetas, aos
santos como os verdadeiros Argonautas do mistrio, mostrando para tal um
natural e espontneo desejo de unir e conservar o conhecimento autntico no
respeito pela diferena dos singulares. Para Leonardo o conhecimento visto
como virtudes existentes no mesmo e que nele se desenvolvem como
experincia do outro. No mesmo e no outro coexiste um certo ar de
familiaridade, uma certa proporo e harmonia que torna compreensvel o
conhecimento. Nota-se uma conscincia que engloba a conscincia humana e
a realidade, adquirindo por isso um dinamismo cognitivo e volitivo do mesmo e
do outro. Sendo que o conhecimento uma criao que coexiste como
reciproco do mesmo e do outro, que se interpelam sem nunca se absorverem
nem destrurem mutuamente.
Leonardo Classifica uma dialtica da saudade como sendo uma
dialtica interna e emotiva da prpria natureza, que busca caminhos sinuosos
de inteligncia e vontade.
A relao intima entre o criacionismo e o saudosismo demonstra-
se de forma evidente ao nvel da intersubjetividade, conduzindo pelo caminho
do sentimento e da simpatia a uma ontologia tica emanentemente vivencial e
concreta. Tudo se resumo a esta forma lapidar o homem nasce e a vida
interior desperta em desejo de regao materno.
2.3- O problema de Deus
Para Leonardo a dialtica criacionista expande-se na religio e no infinito
amor de Deus, s tendo justificao na conscincia das conscincias, isto
Deus. neste ponto que se unem as atividades umas s outras, o socorro
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de Deus mandando ao nada. O ser finito prolonga a sua existncia at ao
infinito. A existncia de Deus no uma abstrata ideia de perfeio afirma
Leonardo, mas sim uma realidade concreta que surge como fonte original de
unidade e bondade, do infinito amor que ergue e sustenta o universo. A
existncia de Deus um alimento, que alimenta a nossa fome e sede de
bondade e amor. Leonardo afirma se um alimento nos faz crescer porque
contm a qumica de que carecemos, quer dizer que Deus um alimento
fundante na vida, sendo que por isso Deus existe. Deus como infinita atividade
do bem e do infinito excesso.
Leonardo indica algumas pessoas como manifestao da
existncia de Deus, como Jesus cristo e Francisco de Assis. Que levam dentro
de si uma certeza absoluta da existncia de Deus, no tendo medo de
enfrentar dificuldades e limites mas tendo sempre a certeza da vitria.
Leonardo tem conscincia de que os atributos morais no chegam
para exprimir a magnitude de Deus como ser infinito. Sendo Deus a infinita
atividade do bem, Leonardo tem por isso um caracter pantesta e gnstico.
Leonardo atribui a Deus um caracter paterno, que intervm na
histria humana, Leonardo afirma Deus habitando o templo dum corpo
humano e falando. Nomeadamente no cristianismo Leonardo encontra traos
da presena de Deus, mostrando que aceita o prlogo de S. Joo, como o
logos criador. Sendo que por isso Cristo a encarnao viva de Deus que
mostra aos homens o ideal a seguir, e mostrando por isso a presena de Deus.
Cristo procurou por isso elevar o homem s alturas da divindade,
compreendendo-se nele o enigma da vida. Sendo por isso um caracter
saudosista do mundo que geme em aspirao e tendncia a algo de maior
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unidade. Isto Deus, que espera e acolhe os homens, esperando que o
homem se eleve da terra ao cu. pois do encontro destas duas saudades,
dos homens e de Deus, que se encontram e nasce o verbo luminoso, palavra
perfeita de comunicao.
Aos olhos de Leonardo Cristo foi um claro aceso do infinito, que
responde fasca saudosista dos homens, que buscam voltar ptria de
origem isto Deus. Cristo no veio para abolir a memria humana mas sim
para despertar uma lembrana imemorial da exigncia ou fome de eternidade.
A vida que Cristo veio trazer, caminho, verdade e vida, uma excedncia s
igualada pelas suas obras ao longo do percurso terreno que realizou. Para
Leonardo a revelao crist a mais opulenta e solene celebrao da
memria, da existncia de Deus em cada homem. Afirmando por isso que a
vida moderna assustadora e mortfera, no tendo vida interior afasta-se por
isso dum ambicioso futuro.
Leonardo aponta que preciso levantar os coraes abatidos,
para que os homens voltem para casa e ento a alma de novo possa subir at
Deus.
2.4- As Mnadas
Leonardo Coimbra recorre monadologia, inspirado em Leibniz, mas
criticando a ideia de uma harmonia pr-estabelecida, porque contrria a
liberdade inerente ao seu criacionismo, bem como dinmica comunicacional
entre as mnadas. Leonardo afirma que por Mnada, entende todo o
direccionismo da matria, independentemente das distintas categorias da
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matria. Leonardo Coimbra afirma este mecanismo direccionista como
absolutamente real.
Leonardo Coimbra indica que o monadismo um mecanismo revestido
de energismo, que afeta a viso da realidade. Para Leonardo Coimbra as
mnadas possuem um excesso de ao, tanto interior como exterior. Deus o
criador das mnadas e a mnada mais sublime a conscincia livremente
religiosa. Sendo por isso uma conscincia de si, dos outros, do mundo e de
Deus. As monadas no so aniquiladas pela morte, sendo que essa destruio
seria impensvel tal como a criao o , pois pertence ao mbito de Deus.
Leonardo Coimbra compara a alma humana monada, pelo que ambas
so imortais. Sendo que Leonardo entende imortal como um presente
absoluto. Para Leonardo a monada mais real quanto mais for a sua atividade
de unificao das oposies. As monadas encontram-se num presente
contnuo, sem interveno do tempo. Por ltimo a ao das monadas traduz-se
essencialmente num aspeto que o amor.
3- Criacionismo e Conhecimento em Leonardo Coimbra - Na
perspetiva do professor Jos Aguiar de Castro
O professor doutor Aguiar de Castro, professor em Teologia, na
Universidade Catlica do Porto, tenta num primeiro ponto responder a questo
de que qual o mtodo utilizado por Leonardo na problemtica do conhecimento.
Segundo ele, Leonardo Coimbra utiliza o mtodo dialtico propositadamente,
sendo este um caminho ascendente, constitudo nas suas etapas por
sucessivas superaes. Contudo, esta dialtica no assenta no velho modelo
tese-anttese-sntese, mas sim em algo hipottico-construtivo, isto , as
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estruturas e os contedos do conhecimento vo encaixando em nveis mais
amplos e elevados.
O mtodo dialtico na sua vertente do sinttico e original tambm o
antidoto para o cousismo - qualquer processo de imobilismo e de
absolutizao, provocando uma espcie de paralisia do pensamento ou seja,
o homem no pode excluir da si a vida e a emoo, mas se o pensamento
enveredar por esse reducionismo, camos num cousismo intelectualista de
conceitos onde a realidade se pode tornar ela ou contra ela.
Leonardo Coimbra na publicao da obra O Criacionismo esboava o
que entendia por criacionismo, dizendo ele que se entendia como um
pensamento de atividades em recproca dependncia e uma criao de
conceitos cientficos e smbolos artsticos que se organizam sob as mais altas
aspiraes do esprito. 1
Segundo o professor podemos distinguir duas determinaes que
qualificam o pensamento criacionista, que so: o fato de ser um pensamento
que cria o real fazendo-o de modo que interaja com a realidade e um
pensamento vocacional que pretende unir matria e forma, ideia e movimento,
noo e realidade, forma ideal e experincia.
Contudo, podemos dizer que Leonardo integrou sempre o pensamento
criacionista no mbito de um sistema idealista, procurando enfatizar a
autonomia ontolgica e gnosiolgica do pensamento. Como tal, o pensamento
criacionista pressupe uma filosofia da liberdade, ou seja, a autonomia do
prprio ato de pensar com o qual o homem autonomamente organiza as suas
mais altas aspiraes.
1 Coimbra, Leonardo, O Criacionismo, pp. 16, 230
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O pensamento criacionista ser assim, na perspetiva do professor, um
pensamento autnomo, dinmico e sintetizador, tornando-se num processo
evolutivo, aglomerando em si vrios nveis mais amplos e elevados da
realidade.
neste processo de evoluo e de ascenso que o autor felgueirense
pretende categorizar o pensamento em vrios nveis, comeando pelo
emprico, depois o cientfico e esttico, o filosfico e por ltimo o tico e
religioso.
Leonardo Coimbra nunca deixou de abordar, desde do incio da obra
escrita em 1912, o caracter nocional e ideal do conhecimento, quer quanto
sua autonomia face ao real emprico e experiencial, quer quanto ao facto de
retirar de si mesmo a sua criatividade.
Para o autor, e segundo o professor, a noo que se afirma opondo-se
s cousas o fator fundamental do pensamento criacionista, pois trata-se de
uma sntese da intuio e da atividade da razo. Enquanto isso, as cousas so
virtualidades estticas que so passveis de existirem quer na realidade, quer
no pensamento. So os tais bloqueios que impedem a fluidez da vida e do
pensamento, j abordados anteriormente.
Enquanto isso as noes exprimem precisamente o contrrio das
cousas, imprimindo criatividade e dinamismo no pensamento. Pode-se assim
dizer que as noes so a estrutura do pensamento e da realidade que o
criacionismo define.
Leonardo define uma pirmide onde se pode encontrar na base as
noes inferiores (pertencem ao mundo aptico e so confirmadas pela
experincia) e no cume as noes superiores, como noo de fim e de
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liberdade. No vrtice encontramos Deus, a fonte de toda a liberdade nocional e
de tudo o que engloba o pensamento do homem.
Chegamos assim ao relacionamento de Leonardo com o cristianismo.
Para ele, Deus a fonte do infinito amor universal e onde se alimenta o
pensamento livre e criativo.
Contudo, pretende caracterizar o cristianismo como apenas algo que
serve para manter a harmonia e a fraternidade universal, partindo de um
criacionismo moral, criando assim Leonardo um idealismo criacionista, levando
a um cristianismo que nada tem haver com o amor infinito e de liberdade.
Leonardo tinha uma viso do cristianismo um pouco pantesta, no
aceitando aquilo que o catolicismo da poca defendia, para ele o homem foi
criado em natureza para se fazer em liberdade, convivendo este como mal,
sendo que para ele o mal uma deficincia ontolgica, algo relativo que pode
ser absorvido pelo bem. Leonardo chega a afirmar que o mal se vai
desvanecendo medida que as monadas atingem o seu limite.
O autor filosfico na sua obra O Criacionismo j havia definido a relao
entre o livre arbtrio e o mal. Segundo ele o mal acaba pela filosofia da
liberdade, onde a liberdade se basta a si prpria para dar consistncia ao bem.
Para realizar esta diferenciao necessria a conscincia, para servir
de leme e de guia para a liberdade, como algo evolutivo e ascensional.
No entanto, ao afirmar esta evoluo ascensional da conscincia no
quer dizer que s existe presente e futuro como tempos onde nos podemos
mover. Por outro lado, a gnosiologia Leonardina no apenas construtiva, mas
tambm uma dimenso de ateno e audio, que no funciona com
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conceitos mas com noes, com algo que engloba o presente, passado e
futuro.
Neste sentido dizemos que a memria desempenha um papel fulcral em
todo o processo, tanto na conscincia como na gnosiologia, naquilo que se
refere evoluo. Ou seja, a memria liberta o homem de um conhecimento
direcionado exclusivamente para o futuro, ignorando as suas razes; mas
tambm eleva o homem a um conhecimento acima de si prprio, marcando-o
como algum que faz parte do mundo.
4- Sntese
notria a formao cientfica de Leonardo Coimbra, no s pelo
iniludvel ambiente positivista em que vivia, como tambm porque a escolstica
do Portugal laicista no lhe oferecia quaisquer garantias de poder conservar o
reino espiritual, inserido neste mundo.
O segredo do mtodo de Leonardo Coimbra, consistia, portanto, em no
se desligar da cincia para alcanar a metafsica, por isso, tal mtodo
Dialtico, Construtivo e Pedaggico -, para no confronto entre ambas,
empurrar esta para uma nova metafsica, devendo caminhar juntas: a cincia
e a metafsica. filosofia seria reservado o papel de colaborar na imensido do
saber humano.
A estratgia da dialtica do pensamento, num plano dinmico,
transformaria o seu mtodo num novo sistema, cuja base piramidal seria
composta por noes cientficas, em que no cume da mesma, encontrar-se-iam
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as noes de Liberdade, de Espontaneidade e de Permanente Criao. A este
sistema filosfico chamou-lhe de Criacionismo.
A compleio impressionista e enternecida de Leonardo Coimbra
proporcionava-lhe uma sensibilidade rica e emocional bondade, para poder
analisar os grandes problemas da vida humana. Tambm o seu positivismo
permite-lhe abrir-se ao dilogo e ao convvio romntico e apaixonado,
confirmando assim o seu prprio Criacionismo.
O Criacionismo de Leonardo Coimbra reveste-se de vrias perspetivas,
e desde logo pelo fato de a matria e o universo deixarem de ser simples
inrcias e mortes oferecidas ao homem.
Tem-se a Verdade viva, a Verdade como permanncia de relaes. O
homem, como princpio ativo, tem de desenvolver uma ao constante e
consciente, num mundo a fazer, com uma filosofia de liberdade dinmica,
contra todo o tipo de estaticismo e imobilismo, com um espirito criador, enfim,
numa autntica pedagogia metodolgica, uma explicitao do princpio de
liberdade criadora.
O princpio dialtico filtrante das experincias humanas, numa
conjugao do dinamismo espiritual, com a inrcia da matria, constitui outra
faceta do Criacionismo. O vivo, o dinmico, o intelectual, constituem o
autenticamente real do Criacionismo.
Este devir ininterrupto, corre como a seiva numa rvore, em perfeita
ascenso, at alcanar a Vida Substancial: Deus. Tudo acontece na origem
porque nela est sempre Deus, O qual para o homem uma ontolgica
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saudade, pelo que o seu Criacionismo de uma ontologia do homem integral,
do homem como pessoa, em toda a sua globalidade humana.
No Criacionismo de Leonardo Coimbra, existe um mundo, que o
esprito Pensamento que dinamiza uma relao familiar entre dois mundos:
o mundo fsico e o mundo espiritual.
O homem pela conscincia um exilado no universo e, de igual forma,
Deus entendido como o Grande Solitrio Inacessvel. O universo um
sistema de relaes em que o homem pode ter confiana, pois tal universo tem
um Deus Criador, sendo o lugar do homem o centro da criao, que domina em
certa medida pelo pensamento, no entanto, o homem infeliz porque o nico
ser que conhece a morte e a entende como a derrota das suas vitrias e
vaidades materiais e aparncias mundanas.
O Criacionismo , em resumo sinttico, uma filosofia da criatividade
dinmica do homem em liberdade, no respeito, pela construo de um mundo
de relaes interpessoais, convergente para um Cume Absolutamente Perfeito
e Criador DEUS.
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5- Bibliografia
FREITAS, Manuel B. Costa O criacionismo de Leonardo Coimbra,
trajetria de uma ideia, Separata de O pensamento Filosfico de Leonardo
Coimbra. Lisboa: composto e impresso na grfica de Coimbra, 1989.
COIMBRA, Leonardo Obras completas. O Criacionismo, Sntese
Filosfica. Lisboa: Livraria Tavares Martins, 1912.
COIMBRA, Leonardo O Criacionismo. p. 230
Documentos eletrnicos:
COIMBRA, Leonardo. http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/1910b.html.
22-02-2015 16:00
COIMBRA, Leonardo. http://www.webartigos.com/artigos/o-criacionismo-
de-leonardo-coimbra/96753/. 22-02-2015 17:30
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