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Pe Geraldo Pires de Sousa - CSSR - Muito Entre Nós PDF

Este documento discute o sacramento do matrimônio cristão. Apresenta o caso de um casal cristão que via o casamento como uma união sagrada perante Deus. Argumenta que o matrimônio é o único sacramento que eleva uma instituição humana, transformando-a em instrumento da graça divina.

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Pe Geraldo Pires de Sousa - CSSR - Muito Entre Nós PDF

Este documento discute o sacramento do matrimônio cristão. Apresenta o caso de um casal cristão que via o casamento como uma união sagrada perante Deus. Argumenta que o matrimônio é o único sacramento que eleva uma instituição humana, transformando-a em instrumento da graça divina.

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GERALDO PIRES DE SOUSA, C. SS. R.

MUITO ENTRE NS I I I

Consideraes para Maridos, Pais


e Educadores

Sempre tive por boa aquela sentena do filsofo,


que dizia que, se os mortos liam. le os tinha por
vlvos e, se os vlvos no liam, por mortos.
Frei Heitor Pinto: Imagem da vida crlst.

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1957
EDITORA VOZES LTDA., PETRPOLIS, R. J.
RIO DE JANEIRO - SAO PAULO
BELO HORIZONTE
I M P R M A T U R
POR COMISSAO ESPECIAL DO EXMO.
E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO
DA CUNHA CINTRA, BISPO DI'! PE
TOPOLIS. FREI DESIDRIO KALVER
KAMP, O. F. M . PETROPOLIS, 8-2-1957.

IMPRIMI POTEST,
S. Paulo, 12 de Dezembro de 1956
Pe. .Jos Ribolla C. SS. R.
Sup. Pro\'.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


CLASSE UNIDA

Ainda estou a v-las no esfumado da distncia. Eram


duas jovens que me consultavam. Uma, "to nova e to noiva" ,
apresentava queixas contra a rebeldia d o noivo perante certos
deveres bsicos. No desculpei o acusado, mas pedi prazo
para a emenda. Reclamei outra ttica, acenei com vitria
infalvel e j quase vista.
Nessa altura entrava irnicamente a outra :
- Maninha, j te disse. E' bobagem acusar um homem
perante outro. A classe . . . muito unida. - Subentendeu
e no disse o resto : contra ns, mulheres.

Isso mesmo, leitor. Somos uma classe unida e graas


a Deus pacificamente unidos, sem programa contra nin
gum. E assim sendo, no quero s para mim a!> verdades
que Jljuntei. Reparto-as contigo.
Li algures esta frase : Se eu tivesse as mos cheias de
verdades, no as abriria. No sigo to mau conselho. Abro
as mos e reparto as verdades. Fao mais. Atiro-as como
seixos, ou como pedras, para dentro do poo de tua alma.
Quero ver os crculos que se vo abrindo na tua conscincia
ele leitor cristo.
So esteios de Deus na sociedade os maridos e os pais
de famlia. Tm nas mos chaves de comando e lemes de
vidas e de destinos. Mas vivem numa poca endeusadora de
subvalores, de paixes, de corpo e de instinto. So pobres
os horizontes. Acabam-se logo ali adiante. Das conscincias
foi feito um mercado, onde a moeda a cunhada pelo pra
zer, pelo comodismo, pela cobardia perante o dever.
As verdades oferecidas no livro so do Evangelho e
p01tanto imorredouras, salvadoras e sempre modernas. Re
pito conceitos, insisto na mesma verdade. Tal como o lavra
dor, passando e repassando dez vzes com seu arado o mes
mo terreno. Quero que o "hectar produza mais trigo". Tudo

5
foi escrito para instruir, animar, alertar e confortar a clas
se unida e . . . sacrificada tambm.
Marido e mulher sero na eternidade "como duas mos
juntas para uma eterna adorao, ou como dois punhos li
gados para uma eterna reprovao" ( Pguy ) .
Dedico ste livro saudosa memria de meu pai :
sobraando pacotes, ao voltar para casa ;
com les alvoroando minhas madrugadas de garto ;
lendo seu jornal, cujo remate era improvisar-me em
pequeno e . . . . remunerado tribuno ;
rezando ao p do altar, antes de entregar-me no
seminrio;
apresentando-me resignado e piedoso suas mos .
para ungi-las.
Vrias vzes o leitor ir encontrar-se com o "homem
de branco" , cuja doutrina acompanho, explico e aplico. Os
cus deram-no como um presente para a grande famlia hu
mana e crist. Chama-se Pio XII.
O livro no leva carter cientfico e por isso dispenso
me de indicar as fontes. Apenas no fim menciono uma lista
de livros consultados. A leitura dever ser feita moda de
receita mdica : uma ou outra pgina por dia. Leitura . . .
meditada.
I.

MARIDO
EspOso e espOsa ou sero duas mos juntas em
eterna adorao ou doia punhos acorrentados em
eterna condenao (Pguy).

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I

I. "NAQUELA PRIMEIRA NOITE

meu marido, terminada a orao da noite, docemente


me props um rito de amor. Rito para todos os d ias da nos
sa vida, numa fidelidade constante. Beijaramos um a alian
a do outro, antes de dormir. E isso para agradecer a Deus
as bnos com que consagrou nosso amor, no sacramento" .

Assim escreve a sra. Dupouey, espsa d o capito Pierre,


eomandante do torpedeiro 232. Vem a primeira guerra mun
dial e separa os casados. le parte, dizendo : No estaremos
separados. E at o bem que, a teu lado e do filho, eu pode
ria fazer, voltando vivo da guerra, nada significa perante
o bem que te farei l da _outra vida. - A espsa fica e
anota no seu dirio : "0' luz do nosso lar, jamais te apa
gars porque te acendemos no Fogo Novo, em Cristo que
Luz. Mesmo com a partida para a guerra o lar indivi
svel, fundado sbre a unio dos coraes, desconhecer o
desabamento".
- "Graas a ti, querida, segurando-te a mo, entrei no
Magnificat do meu corao", escreve o marido oito dias an
tes de tombar frente de seus fuzileiros, na Blgica em 1915.
Morreu na vspera do . Fogo Novo, da Pscoa.
ste casal pertencia seleta minoria dos que adquiriram
a conscincia do carter sacramental do matrimnio. E' esta
uma das conquistas da Igreja no sculo XX. H quinze s
culos S. Agostinho expressou numa frmula, clebre at
hoje, os caracteres essenciais do casamento : prole, fideli
dade e sacramento. Mas agora os cristos - e entre les
coloco o meu atento leitor - vo tomando plena conscin
cia de tal carter. E' o nico acontecimento social, a nica
instituio humana elevada a sacramento.

9
Sinais sensveis que significam e produzem a graa na
alma, em virtude da instituio de Cristo, eis o que so
os sacramentos. So pois instrumentos de vida divina, mar
cando essa vida em nossas almas. S foram institudos para
isso e antes de tudo para isso. Seu carter de vida divina
tem tal importncia, que supera tda outra. Mas ser ins
trumento de vida divina ser meio de santificao, de
aperfeioamento.
Por isso, leitor, teu casamento um meio para te tornar
melhor, mais agradvel a Deus, mais santificado. H ou
tras faces nle : o elemento de paixo apaziguada, o lado
social, os laos de afetos, a solidariedade econmica, a base
da famlia. Continuam existindo. Mas deixam de ser o prin
cipal no casamento. Seu aspecto de instrumento de vida di
vina deve absorver todos os demais na mentalidade do cris
to genuno, que quer viver "a mstica de seu sacramento".
( A. Bessieres, S. J . ) .
Veja o leitor a abenoada exigncia que destaco : Im
possvel para o cristo casar-se, sem receber o sacramento.
Para le, onde no h sacramento - instrumento de vida
divina - no h casamento.
Eis por que o contrato civil no casamento perante a
Igreja e seus filhos. Tem de ser divinizado pelo sacramen
to, do qual as alianas nos dedos so uma lembrana e re
cordao.
Mas diz Pio XII : - "O enriquecimento intelectual e
espiritual, sem excluir o enriquecimento intelectual e espi
ritual at ao que h de mais espiritual e profundo no amor
conj ugal como tal, foi psto pela vontade da natureza e do
Criador ao servio da descendncia ( A. A. S., 48 ( 1956) p. 469) .
Com esta frase fica assegurada a primazia da descendncia,
entre os fins do casamento.

2. MINHA PERGUNTA E TUA RESPOSTA

Pio XII far . a pergunta por mim ' : "J reparaste como,
entre os diversos estados, entre as diversas formas de vida
dos cristos, apenas duas existem contempladas por Cristo
Senhor com um sacramento ? No o sacerdcio e o matrim-

') Alocuo aos recm-casados. 15 de Janeiro de 1941.

10
uio". E Pio XII refere-se ento ao valor das Ordens, das
( ongregaes de ambos os sexos. Cita suas tocantes cerim
nias de profisso, por entre os louvores da Igreja virgin
dade e ao apostolado. Mas ajunta que essa comovente ce
rimnia no um sacramento.
Em troca, mesmo o mais singelo casamento celebrado
uuma pobre capela de algum bairro operrio, sob o signo
da pressa que obriga os noivos ao retmo s mquinas, na
presena de poucos amigos, num rito sem esplendor e rudo,
<oloca-se contudo ao lado de uma pomposa ordenao sacer
dotal ou consagrao episcopal. Nesta, a majestosa catedral,
a abundncia dos ministros sagrados, o esplendor refulgente

dos ornamentos prelatcias no diminuem o valor daquele.


Pio XII recorda como Cristo restaurou em seu esplen
dor o vnculo conjugal, degenerado pelas paixes humanas.
Como o elevou nobreza de sacramento, de um grande sa
eramento. Grande como smbolo da sua unio santificante
(' fecunda com sua Espsa, a Igreja, da qual nascemos para
a f e a vida da graa. Lembra tambm os "outros nas
cidos, no da voz do sangue, da vontade da carne, mas de
I >eus". Atestam sses nascidos a existncia de outra pater
n idade, da paternidade sacerdotal.
H portanto, caro leitor, duas paternidades, dois sacra
mentos, dois pais. Mutuamente se completam na educao
da prole, filha de Deus, esperana da famlia e da Igreja,
da terra e do Cu. Figuras assim ao lado do sacerdote com
teu sacramento e tua paternidade. - Mas sacramento per
manente, que perdura com suas graas enquanto durar teu
easamento. H razo e sabedoria, por conseguinte, naquela
frase do povo, classificando a infidelidade conj ugal como
"quebra do sacramento".
"O matrimnio o nico sacramento que transforma
<m instrumento de ao divina uma instituio humana, um
ato humano realizado at ento com uma finalidade natural.
Nenhum sacramento santifica to diretamente a vida pro
fissional. Nenhuma comunidade humana, exceto a familiar,
tl'm sua origem num sacramento.
ste sacramento o slo de Deus na alma dos esposos.
Slo para lhes divinizar a vida em geral, como tambm sua
unio. A ao sacramental - santificadora sempre - gira
sbre tda a vida conjugal. O sacramento no um mero

11
ato religioso, santificador de um ato humano. E' um gerrn.e
depositado na alma, frutificando ao longo da vida conj ugal,
santificando de certo modo os atos dessa vida, os sentimen
tos todos da vida conjugal.
Pelo sacramento Deus entra de certo modo como um
terceiro fator na intimidade conjugal" . ( Leclerq) .
Esto a, leitor, minhas perguntas. Aguardo tua respos
ta, mas no silncio de um exame de conscincia, na forma
de uma reviso de base e de conduta conjugal. Resposta de
um . . . sacramentado.

3. O SENHOR MEU MARIDO . . .

A expresso recorda tempos de solares com sales, de


pesados reposteiros com armas e brases. Lembra damas de
leques com sua linguagem muda nas reunies do Imprio.
Tempos que se foram. Mas a expresso, denotadora de res
peito, continua no seu significado.
De fato, o marido o senhor, o chefe, a cabea da fa
mlia. Tem sbre a mulher uma certa autoridade que lhe
foi outorgada diretamente por Deus. "Estars sob o poder
do marido e le te dominar" ( Gn 3, 16) . E o apstolo S.
Paulo lembra : "Mulheres, sde sujeitas a vossos maridos"
( Col 3, 18) . E prevenindo cristos de Corinto contra influ
ncias pags, avisa : " Quero que saibais que Cristo a ca
bea de todo homem e o homem a cabea da mulher e
Deus a cabea do Cristo" ( 1 Cor 11, 3) .
Oua o leitor a explicao de Pio XII : "Como todo
cristo est sujeito a Cristo do qual membro, assim a mu
lher est sujeita ao homem. Pois pelo matrimnio tornou
se uma carne com le. Espsas, nunca vos assalte a gana
de usurpar o cetro da famlia. O vosso cetro - cetro de
amor - seja aqule que em vossas mos coloca o apsto
lo: salvar-vos pela educao dos filhos, se permanecerdes na
f e na caridade e na santidade, unidas modstia . . . Trata
se de "uma ordem de amor".
Tal sujeio no tira, ou nega mulher, aquela liber
dade a que tem pleno direito, quer pela nobreza da perso
nalidade humana, quer pela misso nobilssima de espsa,
me e companheira. To pouco a obriga a condescender com

12
todos os caprichos do homem, por menos conformes que les
:wjam prpria razo ou dignidade da espsa.
Essa sujeio no pode ser equiparada quela de pessoas
'llle, em direito, se chamam menores, s quais por falta de
maior madureza de j uzo ou por inexperincia das coisas
humanas, se no costuma conceder o livre exerccio dos seus
I i reitos. .
Tda famlia uma sociedade de vida. Tda sociedade
hLm ordenada requer um chefe. Todo poder do chefe pro
\m de Deus. sse chefe - o homem - no pode fugir ao
dever de senhor do lar. A indolncia, o descuido, o egosmo
a distrao no devem lev-lo a abandonar o leme da nau
I L seu lar . . . Mas na casa do cristo, que vive pela f e
11111 peregrino rumo cidade celeste, os mesmos que man
' Iam servem aqules sbre os quais parecem mandar. Pois
no mandam pela nsia de dominar, mas por ofcio de acon
selhar ; no pela soberba de prevalecer, mas pela misericr
dia de providenciar". 1

Lembro, sobretudo, leitora ocasional destas linhas uma


coisa : A Igreja, sustentando a chefia do marido e a obedincia
da espsa, no pretende justificar tdas as leis civis nos v
rios Cdigos dos pases. Em muitos pases urge uma reabili
tao da mulher que vive em deplorvel estado de abjeo.
At em centros de grande cultura a mulher vtima do
despotismo do marido, que sbre ela exerce uma autorida
de desenfreada.
Maridos, interessante o conselho que vos d o aps
tlo. No diz : Mandai em vossas espsas. Diz ao contrrio :
Maridos, . . . amai vossas espsas ( Ef 5, 22) .

1. CARTA BRANCA ?

O sim da noiva para a permuta dos corpos conside


rado por muito marido como assinatura em branco. Tem
('Om isso carta branca em matria de prazer sexual. Feliz
mente acentua-se cada vez mais vigorosa reao de leigos
sacerdotes contra semelhante despropsito.
Casado ou solteiro, todo homem est sujeito lei moral
tia castidade. Esta consiste em no procurar o deleite carnal,

1 ) Alocuo aos recm-casados. 10 de Setembro de 1941.

13
que no esteja em relao direta com a finalidade do casa
mento : amor e fecundidade j untos. Do solteiro e celibatrio
exige absteno rigorosa de tda atividade sexual. Dos ca
sados exige que nada faam que v contra as possibilidades
da fecundidade. Ho de excluir do primeiro plano de suas
disposies ntimas, de seus desejos o prazer sensual, que
deve se contentar com seu modesto papel de meio do amor.
"Essa castidade conhece perodos em que mais neces
sria, impondo at a completa absteno de relaes ntimas.
Perodos mais ou menos longos segundo as constituies or
gnicas : ritmos menstruais da mulher, fases terminais ao
menos da maternidade, provvelmente os primeiros tempos
do aleitamento. Acresce ainda que a sade da espsa recla
ma consideraes. Apesar de aparentes disposies, talvez as
imprudncias sejam nocivas sade da criana" ( R . Biot) .
Chegou a hora de apelarem os esposos para o amor,
para tdas as graas do sacramento como defesas contra
faltas moralmente graves aos olhos da teologia moral.
Numa palavra, leitor, nem tudo permitido em todos
os tempos. E h coisas proibidas em todo os tempos. Ainda
falarei disso. Ora no existindo essa assinatura em branco,
precisas ter uma reserva de disciplina. No se trata de en
durecer o corao, motivando queixa da espsa, a clebre
queixa : marido muito sem carinho. Trata-se de uma delica
deza de sentimentos, que "encaminha as manifestaes car
nais antes para fuso das almas, que para a deleitao cor
poral ". Requer-se um pudor, enfim, que impedir o abando
no e a alegria degenerar em bestialidade, sem diminu-los
- observa Biot.
Tda branca no altar, tu noiva no carta assinada
em branco para os direitos sbre seu corpo. Ela te guar
dar profunda gratido, se disso te lembrares a partir da
primeira noite. Aumentar seu amor para contigo se a con
vivencia diria e noturna, de mesa e cama, respeitar duas
palavras pronunciadas por Deus : castidade e pudor.

14
r . MARIDO REBOLO

Vrios prismas oferece sse tipo curioso. " Para um


l{l'ande nmero de homens o encontro com a mulher, quan
do no com o amor, mete um ponto final a tda curiosidade
intelectual e moral, a tda vida tica. Esta involuo mani
festa-se sobretudo quando a formao anterior foi muito in
:mficiente. Os valores encontrados anteriormente - artsti
I'OS ou morais - apresentavam-se de tal forma desumani
zados ou assexualizados, que no deitavam ncoras no es
prito. Ou ento porque tal indivduo muito pobre de re
,ursos espirituais. E o resultado ? Se tal encontro com a mu
l her apaga bruscamente o cu, a felicidade no ter vida
longa. Pois desta alma, invadida repentinamente, esto au
sentes todos os valores humanos capazes de descobrir pouco
a pouco o mundo moral do outro. Ser-lhe- impossvel com
preender o outro e, pelo outro, ficar em comunicao com
o niverso" ( E . de Greef) .
Tal marido, rebolando-se na aparente valorizao de sua
pessoa, de seu nome levado pela mulher, reservado talvez para
o primeiro filho, caiu num outro rro, alm dsse lembrado

por E. de Greef. Extasia-se perante sua sbita valoriza


o, sua subida a um trono e sua coroao como chefe, ar
mado de autoridade. Julga ser a autoridade e sinnimo de
cincia e torna-se enciclopdico, dando parecer sbre tudo.
D sentenas como um juiz, afirma pargrafos como um ad
vogado, prescreve doenas e remdios como um mdico, de
fine moralidades como um moralista de longos e cumpri
dos estudos.
Rebolo de sua autoridade e tambm de sua virilidade,
impondo descabidas maternidades espsa, sem maiores pre
ocupaes com a criao e educao dos filhos.
Nem falta o rebolo das prendas ou haveres da esp
sa. Por isso a exibe numa ostentao de luxo ou de carnes,
numa cintilao de dotes intelectuais que ela ostenta. H uma
inverso de papis. Apontam-no como marido de fulana, co
mo o preferido por aquela beleza, por aquela riqueza, por
aquela inteligncia ou aqule carter. Pena que no o cha
mem tambm pelo -nome de famlia da espsa. Teria algo
mais em que se rebolar : o sobrenome da espsa.

15
Bem pesada cruz para a espsa a freqncia com
que o marido improvisa reunies, comes e bebes, talvez, numa
chcara. E' o rebolo no meio dos convidados, enquanto a
fatigada dona de casa passa seu dia de folga, seu fim-de
semana num trabalho redobrado. No dia seguinte, claro,
o ar anda pesado em casa. Ainda mais quando ste anfi
trio teima em no dar ouvidos s justas queixas da espsa.
Meu amigo, tua primeira amizade h de ser sempre a da
espsa e a dos filhos, cujos aplausos e expanses so insubs
tituveis. Quando a mulher comea a sentir e a dizer que
os de fora merecem mais atenes do que ela e os filhos,
a felicidade j est arrumando as malas para mudar-se.
S h um sol onde o marido pode se rebolar todo con
tente : o sorriso de contentamento da espsa e dos filhos.

6. A PO E LARANJA

vivers, filha, ao lado de quem teimas em tomar por


marido. E' homem sovina e duro. - Tais eram os bons
votos que a futura sogra apresentava, mal prevendo o fu
turo. L um dia trouxe-a para a casa do genro, dependurada
nos ponteiros de uma hora aziaga. E nunca passou preciso,
onde esperava sovinice e misria.
Como chefe do lar, o homem responsvel pela assis
tncia devida espsa e aos filhos. Responsabilidade, em
primeiro lugar, dos bens materiais - amparo pecunirio
e alimentar e coabitao . . . Marido e pai que vivesse
larga e fcil, no fugindo a nenhumas despesas, e limitasse
sua mulher e seus filhos a uma parte restrita, constrangen
do-os a um oramento apertado, pecaria ao mesmo tempo
contra a justia e contra o amor, diz Dufoyer.
Economias descabidas e "cenas e quizlias" por causa
do dinheiro necessrio bem depressa ensinam a espsa a
arte de roubar, de fingir, de enganar. Pior ainda quando a
espsa sabe "aonde" vo parar os saldos do espso desamoroso
da casa, da mulher e dos filhos. Ou ento, quando o marido
se pe a exigir milagres com a parca soma entregue para
os gastos.
Se o po e o vestido representam o apoio material, h
outros elementos representantes do apoio humano, sentimen-

16
lnl e espiritual, que o marido deve espsa. Tudo faz parte
do dote e misso de "chefe".
"Para tal conseguir, adotar as atitudes de compreen
HILO e delicadeza j descritas. Pode certamente dar-lhe parte
dns dificuldades que encontre nos seus trabalhos, nos ne
l(eios fora de casa. Nessa ocasio a espsa poder ajud
lo com o apoio de um conselho judicioso. E em qualquer
caso com o conforto moral do seu afeto. le tomar a peito
niio lhe falar s dos seus cuidados, mas tambm das ale
rias e das suas esperanas.
Em geral o marido mais culto que sua mulher e an
dn muito mais em contacto com as idias correntes da so
cildade. Longe de ser taciturno, de mergulhar na leitura,
tomar como um prazer instru-la e enriquec-la com os seus
conhecimentos mais variados. Isto a distrair dos seus cui
dados caseiros, tornando-a feliz. O marido adquirir assim
Hbre sua mulher uma espcie de paternidade intelectual,
I um reconhecida e agradecida por ela" ( O mesmo) .
Por isso, leitor, serias faltoso se, sem absoluta neces
xidade, passasses todos os seres longe de casa. Ou quase to
dos no club, no bar, em reunies. Faltoso se, chegado a
!'asa, te pusesses a ler, a ouvir rdio, a telefonar, a estu
dar "ferozmente". Isolando-te, numa palavra. Um abrao, um
beijo meramente convencional, uma conversa somente sbre
negcios econmicos do lar, no resolveria a falta.
As almas vivem solitrias como as estrlas, diz-nos um
poeta. Belo conceito, mas s em poesia. Jamais tua espsa
h de tolerar ser solitria estrla. H de ser a tua estrla.
Mais grave a solido do leito conj ugal, horas aden
tro da noite. O marido volta muito tarde. Viaja demais,
ausncias evitveis e dispensveis. Sobretudo, leitor, se s
casado de pouco urge evitar essas ausncias. So horas car
regadas de sombras e ciladas. No digas que a mulher . ..
concorda.
- Concordo com le - dizia-me uma afilhada de casa
mento - para ter paz em casa. No quero marido em casa,
com o mau humor de menino que mame no deixou sair".
O grande perigo das ausncias est na saudade e nas com
pensaes. No isolamento de um e na falta que le sente
de algum.

17
7. UMA REABILITAO EM TEU LAR

Impe-se uma reabilitao no mundo dos casados : a


reabilitao da castidade conjugal. Castidade conj ugal no
absteno, nem carta branca para liberdades.
No deve o leitor pensar que o casamento apenas "re
mdio", recurso e meio para evitar desmandos da carne. No.
O casamnt9 um caminho para a santidade. E' uma si
tuao consagrada, na qual ocupa lugar de destaque o pro
grama de uma cJ.stidade sempre mais perfeita. Nunca foi

o casamento uma autorizao dada para liberdade dos ins
tintos, evitados que sejam certos excessos bem catalogados.
Ser casado no denota ter licena de no ser casto.
Castidade c>njugal uma virtude positiva, elevadora,
que se adquire e se aprofunda, numa luta contnua. Seu
papel, como tambm o da moral crist, no consiste pri
meiramente em marcar os limites "do proibido e permitido",
em contar nossos erros. Consiste em nos ajudar para um
desabrochamento, engrandecimento da personalidade crist.
Fomos colocados no mundo, mais par praticar o bem do
que para lutar contra o pecado. 1::ste h de ser evitado jus
tamente porque entrave ao nosso progresso no bem. O me
lhor meio de fugires ao pecado, leitor, est no esfro pela
prtica do bem.
E' a castidade um dos setores da virtude da temperan
a. Esta incita ao uso razovel dos prazeres que nos so
concedidos e se acham ligados a certas funes vitais. Mas
h prazeres intensos, profundos que so plenamente razoveis.
Permanecem tais, mesmo intensos e profundos, sob o dom
nio da temperana.
O que importa que sses prazeres permaneam huma
nos. No podem fugir ao domnio do homem, que nunca
deve ser escravo das paixes, mas servo da razo. Por isso,
eis o que a castidade :
" uma forma da temperana no uso humano, razovel,
dos rgos genitais ; uso tal que, longe de empobrecer o
homem e afast-lo de sua misso, por le sempre mais
humanizado e tornado permevel graa" ( J. Folliet) .
Sem dvida, h uma castidade mais perfeita : a da vir
gindade. Mas - Pio XII o diz 1 - Deus no chama a todos
1 ) Alocuo de 24 de Maio de 1939.

18
os seus filhos para o estado de perfeio, mas convida-os
para "a perfeio em seu estado".
E' a castidade que torna o casamento "honrado por to
dos e sem mancha o leito nupcial" (Heb 13, 4 ) .
H uma graa de estado em tua vida, leitor. Pio XI
avisa : Pelo sacramento ficam os esposos "consagrados so
brenaturalmente e fortalecidos interiormente" . Essa consa
grao e sse fortalecimento patrocinam a castidade.

11

8. ATAQUES E REBATES

O leitor j ouviu, certamente, em rodas masculinas e fe


contrrios ao
mininas ataques " crueldade" dos catlicos lJOUldr1os
divrcio. Ora dogma a indissolubilidade do matrimnio entre
cristos, uma vez consumado. Ensinar que se pode dissolv-lo
pelo divrcio, anulando seu vnculo, heresia. E' tal, mesmo no
sculo vinte.
- Ento, para a Igreja, mais vale um consentimento,
embora ditado por motivos interesseiros, do que o amor nos
noivos ? sse consentimento o bastante para prend-los por
tda vida ?
Eis um ataque. E note-se o leitor a resposta, dada por
Thibon : "O amor empresta seu nome a uma infinidade de
relaes que lhe so to estranhas, como o eram muitas coisas
para o Doge em Veneza, diz La Rochefoucauld. O amor au
tntico raro e so muitas as suas caricaturas. Acusam a
Igreja de sacrificar o amor - realidade ntima - a uma
instituio, aparncia social. Mas a Igreja no pode pren
der-se mar das disposies subjetivas, e das causas aci
dentais, para definir a validade de uma instituio fixa e
universal. Resta ainda saber se mesmo do lado do amor
que encontramos o mais alto coeficiente de realidade. A sin
ceridade no amor no denota grande coisa. Muitas vzes no
passa da arte de mentir espontneamente a si prprio.
Quantos homens j ulgam amar, quando o amor mera
mente tempestade carnal, exaltao ilusria e o avaro desejo
de conquistar e dominar ! Neste caso no o amor mais
irreal do que uma instituio ? Deixa de ser ilusria a pai
xo, por ser passageiramente mais ardente e mais embria-

19
gadora do que a lei ? Falem os que nunca opuseram barrei
ras sua liberdade de amar. Apelo para les ! A cinza, que
lhes deixou na alma o fogo de palha das velhas paixes, no
basta para mostrar-lhes o nada do amor, entregue a si mes
mo ? ( Muito entre ns : h cinzas . . . de almas arruinadas,
em tua vida ?) Aparncia por aparncia, a lei que assegura
a continuidade da espcie humana e o equilbrio da socie
dade vale, ao menos, tanto quanto a paixo, asseguradora
apenas da felicidade egosta e efmera do indivduo. Alm
do mais, no exato ser a lei uma aparncia, ou ser ela
contrria ao amor. E' verdade, o sacramento do matrimnio
no confere o amor. Tal corno o da penitncia torna o ar
rependimento mais eficaz, mas no o supre, do mesmo modo
o matrimnio coroa e aperfeioa o consentimento conjugal,
sem contudo supri-lo. E' praxe do sobrenatural sob tdas
as formas : a graa supe e aperfeioa a natureza. Diz
Thibon que no basta apresentar-se ao altar para encontrar
o consentimento natural e menos ainda o amor. A natureza
que trabalhe por si ; a graa, sendo de .outra ordem, opera
em outro plano. Cada urna que se examine se tem bastan
te amor, antes de se colocar diante do altar. Dito o sim,
a indissolubilidade no se ope, seno favorece ao amor.
E a razo ? E i-la : urna coisa olhada corno possvel acaba
tornando-se necessria. Olham os casais corno possvel o di
vrcio ? No tardar : o acharo necessrio. Essa idia
corno o verme metido num fruto e que acabar por com
lo. Idia sinistra. Sabem os noivos que, casando-se, queimam
navios para retirada ? A " idia-fra" -lhes garantida con
tra os azares da fortuna. Tal fato pertence psicologia ele
mentar.
Todos sabemos o que acontece com guas represadas.
Tornam-se mais profundas e lmpidas. So os dois efeitos
do dique segurando um rio. D-se o mesmo com o amor re
presado, obrigado a vencer a provao do tempo. Essa ne
cessidade age sbre a afeio dos esposos corno a peneira
que separa a palha do gro de trigo.
- Mas se desde o como no houve amor no casal ?
O dever de fidelidade nada pode mudar na qualidade
ntima dsse fruto delicado que o amor, continua Thibon.
Contudo, afastando os perigos de desperdcio e fracasso, con
du-lo a uma feliz maturao. O amor no nos dado ou re-

20
,usado moda de um capital imutvel. Est sujeito, como
Lildas as coisas vivas, a uma evoluo que conhece crises,
pl'ovaes e molstias. Conforme reagir perante estas pro
' aes, sair mais forte ou morrer. Tudo que no me d
n morte torna-me mais forte, dizia Nietzsche. E precisamen
te a Igreja, impondo ao amor a obrigao de no morrer,
lorna-o mais forte.
- Mas quando de tudo impossvel o amor humano
11 um casal, que fracassou totalmente ?
E Thibon distingue. Se nesses casamentos h motivos
para uma anulao, o caso fica resolvido. Mas no sendo
I

assim, tendo tais casamentos preenchidas as condies for


mais para a validade, a resposta to clara como cruel :
Deus pede a stes infelizes, no amor, uma renncia abso
luta no plano de amor e ventura humana. - Mas a que
ttulo pede isso ?
Pelo bem comum, que exige seja preferido ao bem in
dividual quando no possvel uma conciliao. O princpio
do casamento indissolvel como uma porta assaltada por
um vendaval de paixes e intersses pessoais. Se a entre
abrimos, j no ser possvel segur-la sbre seus gonzos e
a tormenta a invadir. Merecem nossa compaixo as vti
mas de um casamento infeliz. Mas no se faam excees
para favorec-las. De exceo em exceo, ficar destruda
a regra, viga mestra da sociedade. E o autor lembra o caso
do soldado de quem se exige que morra pela ptria, para salvar
um bem no qual no ter parte. E termina dizendo : " Foi
preciso se chegar nossa poca de hiperestesia mrbida do
eu e de igualitarismo grosseiro, que considera a felicidade
do indivduo como direito incondicional, para enxergar nis
to matria para indignao e escndalo" ( Daniel Rops) .

9. BELA MOLDURA

indispensvel para certos quadros. As relaes sexuais


reclamam, para o reconhecimento de sua verdadeira beleza,
algo semelhante. Ho de ser consideradas sob todos os lados.
No demais repetir semelhante exigncia nos dias de hoje,
to tormentosos de sexualidade e provocaes erticas.

1 ) Veremos os detalhes mais adiante.

21
Psicologicamente a umao sexual destinada a ser o
tipo mais nobre do amor humano. Moralmente deveria ser
a consumao do contrato mais solene que possvel exis
tir entre dois sres humanos. E' ato decretado, por Deus
onipotente e sbio, como requisito normal para o maior acon
tecimento na ordem natural : a criao da alma humana.
Na ordem sobrenatural no apenas uma condio ne
cessria para o aumento da famlia adotiva de Deus. Tem li
gado a si o simbolismo sagrado de outra unio. No An
tigo Testamento (Cntico dos Cnticos) os atos ntimos,
que exprimem o amor conjugal, simbolizam tambm o amor
de Deus pela alma. Diz-se nos tratados de Teologia catli
ca, sbre o matrimnio, que a unio corporal, entre marido
e mulher, significa a indissolvel unio de amor entre Cris
to e a Igreja.
Estas idias mostram tda a beleza que pode e deve es
tar presente na atividade sexual que se realiza de acrdo
com o plano de Deus. Mais. Esta concepo das relaes
fsicas mostra igualmente a profundidade do sentido oculto
na expresso "amor conjugal" .
Porque o amor dos casados no meramente espiritual,
nem meramente emoo, nem por certo s paixo, mas atra
vessa as trs esferas - mente, corao, corpo -, por isso
um tipo distinto de amor.
O amor dos esposos um amor na mente; uma unio
de estima e apreciao mtua que lhes permite realizar a
harmonia na vasta comunidade de intersses que constituem
a vida dos casados.
Um amor do corao afetuoso, terno e exclusivo.
Um amor do corpo, pelo qual mutuamente encontram
grande alegria na menor autodoao, faz de " dois uma s
carne", e lhes permite produzir filhos como frutos de seus
amres. Com ste trplice lao de amor so capazes de rea
lizar a completa perfeio do matrimnio. O fsico prov
procriao. O apgo exclusivo do corao prov fidelidade.
E a unio espiritual das almas conserva-os unidos at morte.
Ao passar pelo pomar da literatura crist, dei com uma
rvore, sacudi-a e derrubei stes frutos que ofereo. Agora
me foge o nome da rvore, do dono que gostar de ver seus
frutos apreciados. Por isso os apresento ao leitor bem in
tencionado.

22
Nunca deixou de ser verdadeiro o princ1p1o da discipli
na dos instintos. Para controlar de modo cristo a sexua
lidade h de o marido refrear os sentidos, as emoes, as
leituras, as conversas e mesmo o uso das relaes sexuais.
Por violentas que sejam, quebram-se na rocha da graa di
vina. E esta temos nos sacramentos, na orao. Deus gosta
de se comparar ao rochedo que ampara, ao muro que de
fende. So fracos e derrotados s aqules que o querem
ser. E' frase revelada : Tudo posso naqule que me con
forta ( Filip 4, 13) .
Mas, apesar de tudo, urge deixar no seu lugar certo o
elemento sexual. ultimamente surgiu uma tendncia para des
tacar, como primrio, o elemento psicolgico e afetivo da
sociedade conjugal. Dar relvo plena comunho de almas
eEtre os esposos, e isso no sincero desejo de introduzir no
matrimnio uma nota de mais elevada espiritualidade. Pio
XII julgou necessrio intervir, dizendo :
- " Duas tendncias devem ser evitadas : Uma que, no
examinar os elementos constitutivos do ato da gerao, d
pso unicamente ao fim primrio do matrimnio ( procria
o ) , como se no existisse o fim secundrio ( o mtuo au
xlio e apaziguamento) , ou ao menos no fsse "fim da obra"
estabelecido pelo prprio Ordenador da natureza.
Outra, a que considera o fim secundrio como igualmen
te principal desligado da sua essencial subordinao ao fim
primrio. Por lgica necessidade isso levaria a funestas con
seqncias ( Aloc. na Rota a 3 de Outubro de 1941) .
( As palavras entre parntesis so nossas) .
Outra declarao j do conhecimento do leitor.

10. REALIDADE SACRAMENTAL

Concordo com o leitor : a Igreja exigente nas normas


sbre a castidade no matrimnio. Exigentssima em tudo
que se refere indissolubilidade, unidade e validade do
casamento. No conhece acomodaes com as paixes, com
os sofismas dos homens.
Mas essas normas parecem tais, rigorosas e mesmo in
compreensveis, s porque as isolamos da realidade sacra
mental, que as motiva. No casamento o homem e a mulher
simbolizam e, de certo modo, realizam a unio de Cristo e

23
da Igreja. Eis o que sugere a ste ato humano um admir
vel prolongamento.
Urge dizer tambm que os esposos so, um para o ou
tro, instrumento de graa. E isto no s uma vez, mas por
tda a jornada da vida conjugal, na medida, em que, dia aps
dia, a vo aprofundando. Cada.--.quaL responsvel pela san
tificao do outro. Como dizia /Oll-Laprune, cada um para
o outro um enviado de Deus-
Em tal perspectiva ordenam-se os diferentes aspectos
da vida conjugal. Tudo ocupa seu lugar certo, tanto as re
laes sexuais como o resto. O casamento um conjunto, um
movimento, uma marcha para frente. O que retardar essa
marcha progressiva isso grave. Como o tambm tudo que
a paralisa, a desvia. Uso sereno e leal do casamento cristo
no possvel, sem referncia a uma viso global de seu sig
nificado e de sua finalidade.
Pio XII aponta, por exemplo, o amor e diz : "ste amor
que vos une, e sbre o qual Deus quis imprimir o slo do
sacramento, durar na medida em que permanecer cristo. Lon
ge de enfraquecer-se e perecer, h de se tornar mais ntimo e
mais forte no ritmo em que avanardes pela vida. Defendei-o
contra tudo que tenta paganiz-lo. Quantos batizados - que
lstima ! - no se sabem amar seno de modo pago. Per
dendo de vista o fim dessa unio, chegam a mudar o matri
mnio . . . quase numa associao vulgar de prazer e de in
tersse, matando em si mesmos todo verdadeiro amor ( Aloc.
aos esposos, 13 de Agsto de 194 1 ) .
Diz que sse amor deve ser durvel como o fogo da la
reira domstica. Cada dia se acende de novo. Quer um amor
que seja confiana, harmonia completa, baseada num vasto
crdito de boa vontade por ambas as partes. Nada de amor . . .
intermitente, retardado. Por isso logo de entrada tomar bem
a srio os deveres, os quais ho de ser elevados a alto valor
espiritual. Ass hri--o- trabalho do marido fora e da mulher
no lar, visando o bem-estar da casa, no apenas uma im
posio da natureza. E' tambm um dever religioso, uma
obrigao de virtude crist, por cujos atos os esposos cres
cem no -amor e na graa de Deus ( Aloc. 1 1 de Maro de 1942 ) .
Coisa indispensvel, leitor. A unio da alma e do corpo no
casamento deve ter por centro a vida da alma, que o pri-

24
rnciro valor do homem. E o corpo continua sendo "templo
do Esprito Santo" , reclamando o decro da castidade, da
sujeio, lei divina.

11. JANTAR COMIGO OU CONOSCO ;

no sei, querida ! Assim terminava o convite de uma


tspsa a uma velha amiga. Nunca sabia se o marido viria
para o jantar. Ouvia o telefone tocar, e do outro lado le
a "comunicar" que jantaria fora, ou que estava muito ocupa
do, que no esperasse por le, que se arrumaria, etc. E
muitas vzes nem isso.
Sabe o leitor que a assistncia " da presena" grave
1 lever que tem para com a espsa. Dou aqui a palavra a
l lufoyer :
"No se pode evidentemente responder com fatos pre
eisos, nem com nmeros para se avaliar da gravidade da
ralta. Nenhum moralista, por mais perspicaz que seja, capaz
de fixar o nmero mnimo de seres que um marido deve
passar com sua espsa, o nmero exato de beijos que lhe
deve dar, ou o tempo certo de conversas que deve ter com
'ia! Saltaria vista o ridculo de semelhantes exatides.
Salvo em certos casos bem ntidos - doena grave da es
psa, parto, etc., impossvel dizer que a ausncia livre e
espontnea do " senhor" em tal dia - por exemplo, 19 ou
ou 3 de fevereiro - constitui uma falta para com o
amor . . . Mas se o "senhor" est ausente, voluntriamente,
vinte ou trinta noites no ms, se nunca esboa uma ter
n ura, ou raramente o faz, e jamais tem para ela gentilezas,
1l ir-se- que cumpre o seu dever e a sua misso de espso,
ainda que no seja adltero, ou mesmo respeite integralmen
te, nas horas de desejo, as prescries do cdigo da castidade ?
Nenhuma dessas omisses individuais constitui uma
falta grave em si. Mas o conjunto destas sadas dirias, do
clesapgo pelo seu lar, da frieza sentimental para com sua
mulher, da concepo casa-restaurante e de sua "espsa-cria
da" para seu servio e prazer, porventura perfeito, est
isento de falta e em conformidade com o cdigo do amor
e do casamento ?
O que culpvel no a sada no 19 de fevereiro, nem
a do dia dois . . . ou trs. No a frieza, nem a ausncia de

25
cortesias nesses dias, mas sim a atitude geral dste marido
para com sua mulher.
A sua conduta pecaminosa, na medida exata em que
o seu proceder contradiz a finalidade do casamento e do de
ver de estado matrimonial : o enaltecimento mtuo ! Esta con
duta gravemente culpvel, tanto quanto contradiz esta fina
lidade e ste dever, causando sua mulher uma profunda
tristeza justificada e uma solido moral penosa e nociva.
Pelo contrrio, a atitude do marido delicado, corts,
atencioso, do marido que realmente o amparo de sua mu
lher e da sua fraqueza na vida, representa um alto valor
moral. O catolicismo v em cada um dstes atos, desde que
seja em estado fundamental de graa, um acrscimo de gl
ria para Deus e de felicidade para o espso no alm. O c
digo da moral catlica est pois em conformidade com o
cdigo da psicologia e do amor . ':0 priicpio tanto da mo
. .

ral conj ugal, como do amor, da alegria e dos prazeres "a


dois", assim como as provaes e os desgostos "a dois".
(Dufoyer) .

12. GRANDE SEDUTOR

de tdas as paixes humanas o amor-prprio, smo


nimo mais decente, porm no menos maligno do egosmo.
O amor desordenado de si mesmo dirige o pensamento, a
ao e a vida ao gzo prprio, vantagem prpria, pr
pria comodidade. Segue mais os desregrados apetites do que
a razo e o impulso da graa. Nada de ouvidos aos im
perativos do dever para com Deus e para com a companhei
ra do lar domstico (Pio XII, Aloc. de 17 de j unho de 1942) .
t::sse egosmo inimigo da fidelidade, abalando o amor,
ferindo-o com suas grandes e pequenas crueldades e tiranias.
No a diversidade de temperamentos entre esposos, prsa
aos limites do mtuo acrdo, que estranhvel, lamentvel .
O mal comea quando le (ou ela) se nega a ceder em ques
tes fteis, em coisas meramente de preferncias, em desejos
meramente pessoais. E' a fenda, a trinca. A vista no a per
cebe, mas ao mais leve choque nota-se que o som j no
o mesmo. Depois a fenda alarga-se, os contrastes sucedem
se com mais freqncia e mais acalorados. Mesmo sem rom
pimento visvel, temos mais uma vizinhana exterior do que

26
uma unio de vidas penetrando os coraes. Almas sem amor
Monde iro parar ?
E Pio XII passa a aconselhar a recproca pacincia ;
o mtuo perdo das faltas e defeitos. H maridos, leitor, que
j{L foram perdoados muitas vzes.
A mtua pacincia no uma renncia ; uma vitria e
C'lll'iquecimento. Julgamentos, gostos, inclinaes mutuamente
nceitas, harmonizando-se, se alisaro, perdero as arestas,
He embelezaro, se enriquecero com mtua vantagem.
Nosso guia s admite um limite para as concesses. So
m1 assinalados pelo dever, pela verdade, pela moral, pelos in
lersses sagrados. Com outras palavras, pela santidade da
vida conjugal, pela f e pelas prticas religiosas, pela boa
'ducao dos filhos. Nestes casos a firmeza, havendo confli
tos, uma necessidade inegvel".
Escritores romanos contam, como sintoma da decadn
cia do Imprio, o fato de viverem as mulheres "como vizi
uhas dos maridos". les e elas eram partes cordialmente,
mutuamente desinteressadas. O sedutor foi o amor-prprio,
o egosmo, primeiro dos maridos - marido egosta ! ex
damao espontnea em muitas mulheres - e depois o das
tspsas.
Note-se o leitor : tudo que se ope ao mtuo amor,
mtua pacincia e concrdia inimigo da fidelidade. Rou
l>a-lhe o clima, o orvalho, o sol. No diga o marido que os
defeitos da espsa so intolerveis. "Quando um homem, at
ento apegado mulher, comea a ver um pouco cruelmen
te seus defeitos fsicos, suas lacunas morais e a critic-los,
pode-se com segurana dar uma batida ao redor dle. Des
cobrir-se- um astro a levantar-se no horizonte, projetando
uma luz impiedosa sbre a espsa. Com um pouco de senso
de observao tirar-se-ia, de outro lado, uma prova positiva
do clich negativo a que ficaria reduzida a abandonada.
O homem infiel particularmente inbil, desajeitado,
naquilo que j ulga e toma por habilidades. O contrrio d-se
com a mulher. Por intuio pega num relance de conjunto,
o gesto que no deve fazer, a palavra que deve dizer, como

e quando diz-la. E' uma cincia fina, sutil, intransmissvel.


Est perdido o homem que neste terreno quer quebrar lan
as e bater-se com ela".

27
Escapou-me o nome do autor dste aviso. Em vez do
clima de luta desigual, de recriminaes, de impacincias e
discrdias comprometedoras, fique-se o meu leitor com os con
selhos de Pio XII. No reduza sua fidelidade apenas do
corpo. Assinale bem suas amplas fronteiras e suas defesas
de vrias linhas.
Seja-lhe um castelo com trres e ameias, com barbac
e fsso, com postigos e alapes ferrados, campeando como
dominador sbre paixes, sbre cobardias ou atrevimentos
da sociedade.

13. O TEMPO E' CULPADO

de quase tudo que acontece. Est bem ; uma boa idia,


disse a senhora Kane ao mdico que apelara para le, como
explicao do retardamento no aumento de pso do Paulinho.
Ela pensou que eu estivesse brincando, mas eu estava quase
certo. Em Chicago os meses de abril a seembro constituem
a melhor poca para o crescimento do trigo e tambm dos
sres humanos. Minhas observaes estavam baseadas em
estudos cientficos, que mostravam haver o maior aumento
de estatura no vero e o maior aumento de pso no inverno.
E quanto aos lactentes o maior aumento de pso ocorria na
primavera. '
Voltamos, leitor, realidade dos ritmos das estaes in
fluindo na vida. Tua famlia - tu, ela, les - no pode ser
alheia a ste princpio. H uma rde de malhas estreitas na
srie dos ritmos. Ritmos csmicos e universais ; individuais
e coletivos ; histricos e econmicos.
A influncia do sol com suas manchas, da lua com suas
fases, da atmosfera com sua presso, da meteorologia com
seus fenmenos de ventos, chuvas, tempestades, eletricidades
e magnetismos - quem a desconhece ? E as variaes pe
ridicas do meio, com o dia e a noite, com as lunaes e es
taes do ano e perodos solares ?
Entre uma aurora e a outra seguinte mais de 20 fatres
- presso, condutibilidade eltrica, temperatura, humidade,
elementos magnticos, etc., variam regularmente, passando
para um mximo e um mnimo. Luz e sombra, dia e

') Dr. Isaac Abt, O Romance da Pediatria, p. 183.

28
11o ite, enfim o ritmo nictemrico traz " um horrio biol
l{ ieo, emocional" para plantas, para animais, para o homem.
A direo da orquestra neuro-humoral pertence, alter
llndamente, no curso de 24 horas ao simptico e ao vago,
""gundo um ritmo, ao qual se prendem os diferentes ritmos
dn vida vegetativa (L. Lavastine ) . Parece que at as do
cnas marcam suas horas. Falase da "j ornada, do dia do
mdico". Por exemplo, os tuberculosos queixam-se de dures
l.otcicas, os reumticos sofrem nas articulaes, as algias
nparecem ou exacerbam, a ansiedade ou lassido invadem
n alma do psicoastnico -, quando o dia cai. O crepsculo
morda profunda melancolia nos nevropatas. E bem observa
um autor "que seriam necessrias muitas pginas de an
tologia para a reproduo dos versos que j inspirou sse
erepsculo, sobretudo depois do romantismo".
A patologia das horas tardias - como diz Anes Dias
- interessa os aparelhos respiratrio, circulatrio e ner
voso. H doenas noturnas. A morte tem sua hora prefe
rida entre as duas ou trs que precedem a aurora, na ob
HPrvao de J ob. Duhamel fala-nos de algum que "cada dia
precisava curar-se da sua noite como de uma doena".
A metade ao menos de nossa vida, de nossas sades, de
nossos humores, de nossas paixes e at de nossos amres
depende da chuva e do bom tempo.
Ao redor de tua casa, leitor, as estaes vestem ou des
pem as rvores, pem-lhes flres e frutos nos ramos e ni
nhos cantores nos galhos. E nos coraes, nos corpos e nas
almas h primaveras, invernos, sombras e luminosidades.
Em muitos pases conhecida a sndrome dos ventos.
Na Frana, o vento sul, na Alemanha o Foehn, o Sirocco
na Africa (norte) ; Tramontane no baixo Languedoc, em
Lisboa o vento da Espanha. Entre ns o vento norte.
At o pH humano oscila de manh noite. Exagro
de alcalose pela manh, trazendo a tendncia de se ver tudo
negro. tarde predomnio de acidose, a pelas 5 ou 6 ho
ras. Desaparece o pessimismo. A constncia nesse exagro
explica a ansiedade em certos indivduos.
Diz o Sbio (Ecle 3, 2) que para tudo h tempo. Tem
po para a boa semente no cho e para a boa palavra no
corao. No queira o leitor agir s cegas. Consulte o tem
po " individual, pessoal" , que um para a espsa, outro para

29
o filho. Tome em conta a fase "climatrica dos seus". Uma
reclamao, uma censura, uma negao - semente do bem,
eventualmente - querem sua estao certa, como a quer o
trigo l fora no campo.
- Queria que o sr. tomasse conta de meus filhos . . . ,
num dia de chuva ! Assim me desafiava certa me de fa
mlia. Havia experincia no desafio.

14. ANTES, DURANTE E DEPOIS

do parto a vida sagrada, no admite um abrto dire


to, ou um homicdio direto da criana. Essa vida, em qual
quer condio que se ache, fica subtrada a todo ataque vo
luntrio. Segundo a lei moral trata-se em todos sses casos
de um grave e ilcito atentado inviolvel vida humana.
Vale isso tanto para a vida da criana como para a vida
da me. Jamais a Igreja - ( como catlico hs de estar ao
par disto ) - ensinou que a vida da criana deva ser pre
ferida materna. Est errado colocar a questo nesta al
ternativa : ou uma ou outra vida. No. Nem a me, nem a
criana podem ficar sujeitas a um ato de direta supresso
da vida. Para uma e outra parte s pode haver uma exi
gncia : fazer-se todo o esfro para o salvamento de ambas
as vidas.
Aqui surge uma "tormentosa objeo". Como deixar
perecer uma me, to necessria aos filhos pequenos ? No
sua vida um bem, incomparvelmente superior vida de
uma criana ?
No difcil a resposta. A inviolabilidade de uma vida
inocente no depende do seu maior ou menor valor. H
anos - em 1941 - a Igreja condenou formalmente a ex
tirpao de vidas consideradas " desvalorizadas" . Quem co
nhece os tristes antecedentes que provocaram tal sentena
severa, quem se d conta das funestas conseqncias a que
chegaramos, se fssemos medir a intangibilidade da vida
inocente pelo seu valor, saber avaliar os motivos que a
motivaram.
De resto, quem pode j ulgar com certeza qual das duas
vidas realmente a mais preciosa ? Quem poder saber que
ascenses tomar, que elevao de obras e perfeies alcan-

30
ar aquela criana ? Comparam-se duas grandezas, de uma
elas quais quase nada se sabe.
- Dr., agradecida pelo seu intersse, disse a frgil e
jovem me a quem o mdico propusera "um abrto tera
putico". De modo algum posso truncar a vida dessa cria
tura. No posso ; no posso ! J sinto o palpitar de sua vida ;
l'la tem direito de viver. Vem de Deus e deve conhecer
a Deus para am-lo e com le alegrar-se. E ficou serena
mente espera dos acontecimentos.
Nasce uma menina. A me foi piorando e um dia, com
um sorriso, deixou a terra. Anos passaram-se. L num Ins
tituto religioso podia-se ver uma jovem religiosa tda ma
ternalmente dada aos cuidados da formao da infncia
abandonada.
Note-se o leitor o termo "atentado direto, homicdio
direto". Pois se a conservao da vida materna, independen
temente de seu estado de gestao, reclamasse um ato cirr
gico ou outra aplicao teraputica, da qual como conseqn
c ia acessria, de modo nenhum intencionada e querida mas
inevitvel, resultasse a morte do feto -, no se poderia cha
mar atentado direto contra a vida de um inocente. Nessas
condies pode ser lcita, como outras semelhantes interven
es mdicas, sempre que se trate de um bem de alto valor
como a vida, e no sendo possvel esperar pelo nascimen
to da criana, nem recorrer a outro remdio eficaz. '

III

15. PELO AREAL DO SEXO


"Vive o leitor numa poca de supernfase do sexo, nas
cida da negao da alma racional e da igualizao do homem
ao animal. A tragdia humana moderna no est em que os
sres humanos do, muitas vzes, mais expanso a suas pai
xes agora do que em eras passadas. Est em negarem,
abandonando a estrada direita, a existncia dessa mesma es
trada. Em outros tempos os homens pecavam, mas sabiam
que pecavam. Viam claramente que estavam na estrada er
rada. Hoje os homens atiram fora o mapa".

' ) Pio XII. Alocuo Confederao das Familias, 2 7 d e No


vembro de 1951.

81
Interrompo Fulton Sheen para recordar ao leitor duas
verdades. A Igreja admite os sos impulsos do sexo no ma
trimnio, mas no lhe d cetro e coroa. Reprova, mesmo, au
tores que acentuam o papel descabido do sexo no amor hu
mano. E muito menos tolera que, do matrimnio, do seu
uso, se faa uma orgia sexual. Mas, continuando na citao,
oua o leitor com que vigor e clareza Fulton Sheen risca os
limites entre o homem e o animal.
"A identificao do homem com o animal uma grande
fraude. O sexo no homem no a mesma coisa que o sexo
nos animais. O animal sente, mas nenhum animal ama. Nle
o sexo mecnico, uma questo de estmulo e de reao. No
homem, est ligado ao mistrio e liberdade. No animal,
apenas relaxamento de tenso. No homem, sua ocorrn
cia no determinada por nenhum ritmo natural, mas pela
vontade. O sexo pode causar solido e tristeza no homem, o
que no causa num animal. O animal pode satisfazer todos
os seus baixos desejos. O homem no pode fazer isto e sua
tenso vem do fato de tentar substituir o po da vida pela
palha do sexo.
O instinto sexual, que bom, pode tambm ser perver
tido, como pode s-lo o amor-prprio, que tambm bom,
quando convertido em auto-adorao. ' E' mau quando os
fogos da vida so deliberadamente despertados, no para
acender novas tochas de luz, mas para queimar a carne. E'
o pecado da luxria. O legtimo desejo do homem de ex
panso prpria, por meio da propriedade, pode ser perver
tido numa paixo desordenada da riqueza. Riqueza sem con
siderao, sem vistas ao seu uso social, s necessidades do pr
ximo. E' o pecado da avareza. Sheen recorda ento a pre
sena de pessoas ligadas a votos de pobreza, de castidade,
de obedincia no seio da Igreja. Esto a expiando, reparan
do pelos desmandos dos que faltam no amor-prprio, no
sexo, na avareza. So almas sagradas que compensam, por
assim dizer, os excessos das outras almas.
luz do que fica dito, no h mais altaneira tolice
do que dizer que a Igreja se ope ao sexo. No mais opos-

' ) Sheen descreve a auto-adorao : " Sou minha pr6pria lei, mi


nha pr6pria verdade, meu pr6prio modlo. Ningum pode dizer-me
coisa alguma. Tudo quanto chamo direito direito ; o que chamo er
rado errado. Portanto, sou Deus".

32
ta do que o a que se coma um jantar, se v escola ou se
possua uma casa. A natureza no corrupta. Como disse
Aristteles, "a natureza nunca diz uma mentira". E' o falso
uso da natureza pelo homem que obscurece a face do mundo.
Nem acredita a Igreja, como um monomanaco, que o sexo
o nico instinto que o homem tem, ou que todos os ou
tros instintos ho de ser interpretados em trmos do sexo.
Pelo contrrio, com uma compreenso mais profunda da na
tureza humana, diz ela que o anseio de perfeio bsico,
c que o sexo apenas um dos trs meios pelos quais se
realiza nesta vida uma relativa perfeio. 2
Os fanticos do sexo andam com a idia de ser a Igreja
inimiga do sexo. De onde a tiraram ? Da sua inabilidade
em fazer uma distino entre uso e abuso. A doutrina ca
tlica no despreza o corpo. Dignifica-o, dizendo que um
Templo de Deus. Isso mais nobre do que dizer, com al
guns modernos espritos, que o homem simplesmente uma
bsta. Como disse Clemente de Alexandria : "No devamos
ter vergonha de mencionar o que Deus no teve vergonha
de criar". A Igreja fala, sem dvida, do pecado no domnio
no sexo como fala do pecado no domnio da propriedade, ou
no pecado na rea do amor-prprio. Mas o pecado no jaz
no instinto ou na prpria paixo. Nossos instintos e nos
sas paixes so dons de Deus. O pecado jaz na perverso
dles. O pecado no est na fome, mas na gula. O pecado
no est em procurar a segurana econmica, mas na ava
reza. O pecado no est na bebida, mas na embriaguez. O
pecado no est no uso da carne, mas na luxria, que
a sua perverso. Justamente como o sujo a matria no
lugar errado, da mesma forma o sexo pode ser a carne fora
do lugar devido.
Uma concentrao indevida, em trno de uma nica
das atividades da vida, tende a tornar um homem anormal
por meio do desequilbrio do intersse. Isto especialmente
verdade quando se trata de uma preocupao excessiva com
o carnal. Hoje pensa-se no sexo como em um meio de pra
zer. A tal ponto que le se tornou uma obsesso.
O impulso sexual no homem no em momento algum
um instinto isolado. O desejo, desde o seu como, infor-
2) Os trs so : instinto de conservao da pessoa, da espcie
e da posse.

33
mado pelo esprito e nunca um experimentado separado
do outro. O psquico e o fsico se interfluem. " Nosso corpo
uma parte da ordem universal criada e preservada por
Deus. Retamente encarado, le prprio um universo con
tido em si mesmo e confiado a ns como uma propriedade
limitada, mas sagrada. O pecado mais substancial aqule
que cometemos contra ns mesmos e especialmente contra
nosso prprio corpo. A ofensa contra nosso prprio corpo
inclui um pecado contra o Criador" (Werfel ) .

Nesse areal que o sexo, candente e movedio, esta


exposio de Sheen pode orientar o leitor casado, cuja vida
exige o reto uso do sexo numa poca de sexualizao.

16. PRIMEIROS FALSIFICADORES


da fidelidade so os que opinam ser necessrio contem
porizar com as idias e os costumes de nossos dias. So les
favorveis a falsas e perniciosas amizades dos casados com
terceira pessoa. Patrocinam mais ampla liberdade de senti
mentos e de trato nas relaes externas. Sobretudo, tendo
em conta (como dizem) a congnita ndole sexual insacivel
de no poucos, que no toleram as grades do matrimnio
monogmico. Tacham por isso como mesquinhez de cabea e de
corao, ou de ciumeira vil e desprezvel, aqule rgido e tra
dicional estado de esprito de esposos honrados, que reprova
e evita todo afeto e todo ato libidinoso com terceira pes
soa (Pio XI, obra citada) .
Por isso, em suas Alocues o atual homem de bran
co - Pio XII - previne os imprudentes contra a infide
lidade do esprito e do corao, que preparam a do corpo.
So-lhe suspeitas e perigosas essas simpatias " intelectuais",
sses "amres platnicos" com terceiras pessoas. Eu no gos
taria de ver meu leitor virar marido-esponja, amigo mata
borro chupando os conceitos de uma admirada ou admira
dora. Essas simpatias intelectuais e afetivas encobrem mui
tas vzes uma intimidade secretamente voluptuosa. Ambos,
eu e tu, leitor, conhecemos belos conceitos a sse respeito.
Mas finamente lembra nosso chefe espiritual : "A natureza,
depois do pecado original, no to dcil aos ingnuamen
te vaidosos aforismos de espritos iludidos (Aloc. 4-1 1-42 ) .
' ) Fulton Sheen, Angstia e Paz. Ed. Agir.
Graciosa comparao de Gom ' acode aqui : " Contrado
o matrimnio, os esposos uniram-se um a uma, uma unio
absoluta e sem reservas. Por isso na engrenagem dessas
fluas rodinhas mestras da famlia, que so espso e espsa,
j no cabe, j no digo um corpo estranho, mas nem se
quer um gro de areia que possa amarra a marcha harm
nica dos dois sres, que no devem ser mais do que um".
O leitor precisa conhecer as fronteiras que deve defen
der no reino da fidelidade. Defender e ajudar a espsa a
defend-las. Do contrrio ser tambm um falsificador, um
i nfiel. Ei-las, negativamente a fidelidade exige :
Recusa das relaes carnais, a no ser com o legtimo
l'onsorte, como o permite o matrimnio. Da guerra aos pen
samentos e desejos voluntrios com outras pessoas ! E alm
d isso recusar ao prprio consorte tudo que est proibido
tambm no matrimnio.
Positivamente reclama :
Unio absoluta, castidade conjugal, amor puro e santo,
jerarquia no amor, ocupando cada qual seu lugar. "A fide
lidade exige, no matrimnio, que marido e mulher estejam
unidos entre si com um amor singular, santo e puro ; e no
se amem como adlteros, mas sim com o amor que Cristo
amou a Igreja, conforme a norma do Apstolo : Maridos,
amai vossas espsas como Cristo amou a Igreja. - Cris
to amou-a em verdade com essa caridade infinita, no para
seu prprio bem, mas buscando a utilidade da espsa" ( Pio
XI, obra citada) .
Reflita o meu leitor sbre ste final : " A caridade entre
os espsos h de ser, portanto, uma benevolncia mtua e
pronta para ajudar o outro em tdas as suas necessidades
e dificuldades. E' um trabalho de mtuo aperfeioamento,
de boas e recprocas influncias. Isto tem um nome de aper
feioamento evanglico".
ste programa tem, alm de falsificadores, m1m1gos
atrevidos. No pode o leitor admiti-los dentro "da sua casa",
como homem forte que a vigia. Mencionamo-los de passa
gem, porque mais adiante iro preocupar-nos. So les :
- o adultrio aberto e oculto, e tudo o que a le conduz ;
- a emancipao da mulher pelo feminismo exagerado ;

') Cardinal Gom, La familia segn el derecho natural y Cris


tiano - 1942. Editorial R. Casulleras, Barcelona, 41' edic., p. 106.

35
- a substituio da caridade mtua pela chamada ca
maradagem e simpatia, que enfraquece e deita por terra o
amor conjugal.

17. A VOCAO DA CARNE

em teu estado de casado, leitor, deve ser compreendida,


respeitada e seguida de acrdo com os desgnios do Criador.
O restaurador do casamento, Cristo Senhor, fala de " uma s
carne" entre os casados.
"No sem motivo que a unidade dos esposos exprime
se na carne. Pois o elemento que distingue a unio conj u
gal de tda outra comunidade que o corpo vem a ser, de
um modo especial, a expresso dessa unio. Nela o corpo
expresso e slo da comunidade conjugal, da aptido ao aban
dono recproco de duas pessoas perante Deus. Sendo verda
de que todo ato espiritual do homem precisa de um sinal
perceptvel aos sentidos, para manifestar-se exteriormente,
de modo particular isso se d com o ato natural pessoal : a
entrega de si mesmo a um outro no casamento. E' o mais
elevado ato pessoal, depois da adorao de Deus.
O abandono total do esprito exige o abandono total
do corpo. O carter especfico do casamento, como unio
de duas pessoas sexualmente diferenciadas, reclama o aban
dono do corpo, precisamente na sua determinao e na sua
fra sexuais. (O abandono a Deus tambm exige um aban
dono do corpo, mas segundo outra forma ) .
Assim o ato conj ugal sexual exprime a mais profunda
unio dos esposos. H uma graduao. Uma plena fuso do
homem e da mulher absolutamente impossvel sem a unio
corporal. Mas, de outro lado, ela sozinha incapaz de reali
zar essa fuso. Uma simples unio corporal sem unio es
piritual seria contra a natureza. Se tal, unicamente por
que o casal no sabe elev-la mais alto, tem um grave de
feito e no atinge a plena significao do casamento" (Rocholl ) .
Ao banquete do amor o corpo, e com le o gzo e prazer,
esto presentes, por sbia disposio do Criador. Quem os
convidou foi a alma, desejosa de mostrar e enriquecer seu
amor espiritual. Dizem os psiclogos que j entre noivos h
mais riquezas espirituais humanas, do que entre um mo e
uma ma. Do "eu" passaram para a descoberta do "tu", e

36
na permuta de um amor nascente comearam a constituir o
"ns". Mas a dona da festa - a alma - ao receber o pre
sente do prazer e do corpo, quer v-los bem comportados,
educados respeitadores das leis da fidalguia crist. Pois Deus
est presente, est espera dessa vocao da carne para
infundir outra alma no ente que fr concebido. Est pre
sente para premiar pela tabela dos mritos a obedincia
espiritualizada pelo sacramento, casta na medida dos ritos
observados.
A vocao da carne, lugar abenoado do amor, essa
eleio descrita acima predestinam o fato sexual a revestir
se, na Revelao e na Redeno de Cristo, da sublimidade
e eficcia da sacramentalidade.

1 8. DE PS JUNTINHOS
estaria voc, h muito tempo, se no fssem os bons
conselhos que recebo dos padres !
Assim rematava com energia uma espsa, trada e hu
milhada, de cuja religiosidade o marido troava. Estava le
esquecido de que a fidelidade um dos bens do matrimnio.
"E' o seu ouro. Como ste o mais belo, o mais precioso
entre os metais, servindo por sua inalterabilidade como base
de qualquer riqueza -, tambm a fidelidade o mais pre
cioso elemento no matrimnio cristo. E' o trmo de confron
to do amor, de tda riqueza do lar, de tda sua felicidade.
1
E' sua garantia de espiritual inalterabilidade".
Outra vez Pio XII compara-a rocha fie onde brota a
linfa pura do amor, que correndo por entre flres e arvo
redos da vida vai perder-se na urna da sepultura. Na r
vore do casamento o tronco est representado pela unidade
c indissolubilidade do contrato. Mas sua seiva vivificadora,

seu elemento mais nobre a fidelidade que obriga a apre


ciar sua beleza, a provar seu encanto.
Fidelidade , ser sempre exigncia bsica do amor, so
bretudo "sacramentado". Nada pode atenuar a indecncia do
trmo que estigmatiza sua violao : adultrio, quebra do
sacramento.
Por isso, leitor, avisa-te S. Paulo : " Cada um saiba pos
suir seu corpo em santidade e honra, livre das paixes da

1 ) Alocuo de 10 de janeiro de 1941.

37
concup1scencia ( 1 Tess 4, 4) . E a razo evidente. Nem a
mulher, nem o homem tem direito sbre seu corpo, feito o
contrato matrimonial. Um se deve ao outro (1 Cor 7, 4 ) . E
assim adltera a mulher que servir a outro homem, como
ste ao servir-se de outra.
Na sua rude franqueza So Jernimo j vai avisando :
Entre ns, cristos, o que est proibido mulher, tambm
o est ao homem ; a servido a mesma.
A fidelidade, hoje ainda exige duas coisas :
- O que por lei divina cabe a uma parte no lhe seja
negado, nem seja permitido a outro ;
- nem comparte se conceda o que nunca pode ser
concedido, contrrio lei divina. Aqui os contraentes, ma
rido e mulher, no podem renunciar a direitos para intro
misso de um terceiro, ou terceira. ste contrato rege-se
por leis divinas. Vale a palavra do apstolo : "Deus no vos
chamou para a imundcia, mas para a santidade" ( 1 Tess
4, 7 ) . Um sacramento permanente convertido numa degra
dao ? ! E' imoralssima a linguagem : cada um para seu lado,
com mtua tolerncia.
Uma pergunta e uma resposta para horizontes mais vas
tos. E i-las : Como donos de si mesmos, no podero os casa
dos combinar entre si o uso dos direitos conjugais contra
a lei natural ou fora dela ? Jamais. Tambm isso pecado
de infidelidade, porque quebranta o direito que a lei divina
e natural tem de no ser violada.
Avisa Pio XI que, "sempre quando se peca contra a
prole, tambm se peca de certo modo e como conseqncia con
tra a fidelidade conjugal. Pois ambos os bens esto en
trelaados".
ste candidato "a ps juntinhos" tem imitadores, tole
rados e mesmo estimulados criminosamente, hoje em dia.
Tanto na sociedade, como na literatura onde so apregoadas
doutrinas hertiCas. Tais, por exemplo : a invencibilidade da
concupiscncia, o romantismo da paixo, o materialismo ; e o
existencialismo da vida, a divinizao da carne e de seus ins
tintos, e a negao do esprito de Deus.
Ao lado disso, o fomento artificial e precoce das incli
naes sensuais, o erotismo e hedonismo ; a excitao sexual

38
organizada, amplificada sistematizada, explorada e converti
da em especulao financeira.
Tudo para maior desgraa. A fra "nuclear" da lei di
vina arrasa os que lhe atravessam os caminhos.

19. AQUtLE HOMEM DE BRANCO,

l, em Roma, ouvir minha queixa e me dar razo.


Irei procur-lo. - Assim falava em pleno tribunal, encena
do pelo rei adltero, a trada rainha Berta de Frana. E
Roma defendeu-lhe os direitos.
Leitor, aqule homem de branco - o Papa - suces
sor de S. Pedro, bca, representante de Cristo. Sem
pre defende o patrimnio da verdade que os sculos lhe con
fiaram, como preciosa herana de Cristo.
Precisas conhecer sse patrimnio no que se refere ao
estado em que vives e hs de te salvar, salvando a outros
tambm. Nunca se estima o que no se conhece. Eis uma
exposio sucinta :
Deus instituiu e restaurou o casamento. Deus, autor da
natureza, e N. Senhor Jesus Cristo dotaram o casamento
com leis, que no dependem dos homens. Como dles no
dependem as leis da natureza.
Leis essas que so trs : unidade, perpetuidade, indis
solubilidade. O que vai contra elas e ser sempre rro
contra a natureza e revolta contra o legislador.
Trs bens encerra o casamento : a prole, a fidelidade
conjugal, o sacramento. Prole : pois o casamento foi prim
riamente institudo para a conveniente propagao do gne
ro humano. Outros fins, como mtuo auxlio, mtuo comple
tamento e aperfeioamento fsico-psquico, ntima unio dos
espritos, recproco amor, "secreta unidade ontolgica" -
so secundrios e essencialmente subordinados ao primeiro.
No so independentes dle. Fidelidade : que exige o leal cum
primento de tdas as obrigaes nascidas por fra do con
trato matrimonial. Estas, quais so ? So as principais obri
gaes impostas pelas leis divinas e naturais, como tambm
as obrigaes secundrias estipuladas pelos esposos no con
trato matrimonial. Veremos mais adiante os pormenores. Sa
cramento : palavra que significa duas coisas : indissolubilida-

89
de do vnculo conjugal e elevao do matrimnio ao sacra
mento. Pois no latim clssico "sacramentum" usado para
indicar unio obrigatria, consagrao, promessa. Entre cris
tos (ou batizados) no h casamento vlido sem sacramento.
Normas e decises vigoram, dadas pela Igreja, peran
te os postulados da eugenia, melhoramento da raa. Ela
no admite o abrto direto, a proibio legal do casamento
para defeituosos, a esterelizao voluntria, a inseminao
artificial humana. Darei mais adiante a ntegra das pala
vras "do homem de branco" sbre ste ltimo ponto.
Aqui uma observao : "A verdade no letra morta, nem
teoria que poderia ser outra. E' um fato vivente, porque
a adaptao de nosso esprito realidade. Ultrapassai os
limites da verdade : a realidade se encarregar de castigar
a transgresso. Imaginai-vos que o fogo no queima, ou que
a gua vos carrega e a experincia mostrar vosso engano.
Isso fundamental e se verifica tambm na ordem dos cos
tumes morais" (V. Capnaga) .

20. NO RELGIO DAS FLRES

o sbio e paciente Linneu lia as horas. Eram-lhe pon


teiros o colorido, a posio, o perfume das mesmas. Ora,
meu leitor tem em casa um jardim humano, fresco e gra
cioso. E no mundo das crianas le - na frase de Pio
XII - estupendo, cheio de luz, de harmonia e de perfume.
Com tua licena, ajuntemos a gentil espsa e tambm,
em alguns casos, a flor outonia da sogra. Tdas estas flres
so influenciadas pelo tempo nas suas horas de sol, de chuva,
de vento, de cu claro ou toldado. As estaes do ano gostam
de mexer nesses ponteiros. A lua tambm. E assim essas
flres humanas podem marcar horas de paz e bonana, num
azul universal. Ou podem parar, como sinal vermelho, avi
sando tormentas e ar pesado. Horas acolhedoras de uma boa
palavra, de um agrado, de uma observao cordial, de um
pedido difcil. Ou ento horas que tem "sua malcia", dei
xando murchos os coraes, corolas delicadas.
L numa fazenda, dizia a espsa do administrador :
"No tolero dia de chuva na fazenda, dona fulana. E' - dia
inteiro - marido e cachorro dentro de casa, enfezando a

40
gente !" Veja o leitor, esta flor marcava, com a chuva, horas
muitas de mau humor. Sua casa - o reino da mulher ! -
cheia de barro, salpicada de gotas d'gua, invadida por in
desejveis que ela quereria longe de si ! Sua casa, esta ilha
onde a mulher quer ser rainha, onde todo marido prudente
"entroniza-a", na frase feliz que ouvi de um amigo !
Fsse o imprudente marido dessa inimiga da chuva fa
zer-lhe uma observao, e veria logo o rro cometido. No
acertou a hora. Entretanto, essa mesma chuva para o garto
festa. E' rgo barrento fazendo cachoeirinhas porta da
casa, convidando-o para lhe fazer ccegas nos ps, para lhe
carregar os naviozinhos de papel. E noite msica no
telhado ; goteira pingando.
Para o marido essa chuva pode ser um alegro, como
bno para a lavoura/Mas lei, amigo, que casado deves
olhar o mundo pela tica da espsa, da me e educadora. A
vida a dois. A viso ser tambm a dois. Ou ento a chuva
rlerrama uma_ tristeza de acrdo com o verso :
- sou eu que entristeo o dia, ou le o meu corao ?
Por que ser ento o marido um carrilho, provocador de
contrastes ? E' o sol, a alegria que dirige os ponteiros ? No
se faa o marido de cego perante essa luz.
Seja como fr, a paz conta com essa condio : saber ler
as horas nos jardins humanos de teu lar. Podem parecer pe
queninas essas atenes. Mas o verdadeiro amor compe-se
de pequenos mosaicos, de pingos de atenes dirias. A gran
deza do amor no est, em geral, nos lances dramticos, mas
na alma grande animando o trco mido das coisas, dos mi
nutos e dos dias com suas alternativas de luz e sombra. Pio
XII, em plena sala do Vaticano, no julga incompatvel com
seu ttulo e anel, recomendar essas ninharias aparentes, nas
aiOC!Js_ aos recm-casados.
Horts conclsus (jardim cerrado) mandou algum es

c rever entrada de seu lar. A frase era um programa de
v igilncia, respeito, paz e calma. Ter um jardim na terra
rivalizar com o cu. J perguntara nosso P. Vieira "que se
a terra produziu as flres, que so as suas estrlas, o cu
por que no produziu as estrlas que so as suas flres" ? E
assim tuas flres tornam-se estrlas no cu de teu lar.
Muito eu lamentaria, se fsse o leitor um entendido no

41
jardim, que cerca a habitao, e um desinteressado no trato
das flres vivas, que podem marcar muitas horas de feli
cidade na sua vida.

21. " GERNDIA !

berrou o marido no auge da discusso com a mulher. E


ela . . . embasbacou. To proverbial j se tornou a expresso
como injuriosa" .
Assim escrevia u m confrade ao famoso P. Isla, autor do
revolucionrio livro Fray Gerndio de Campazas, no qual
estigmatizava a ferro e fogo os exageros da retrica usada
nos plpitos da poca, por muitos oradores sacros. O que Cer
vantes conseguiu com seu Dom Quixote conseguiu Isla com
seu Fray Gerndio. Ningum queria ser um Gerndio ou
Gerndia. Da a razo de calar-se aquela espsa.
O trmo, em si, continua inofensivo. Mas aqule marido
pegou-o como pedra, arremessando-a contra a cara metade.
Hoje os maridos desconhecem o trmo, conhecendo e usando
em troca outros contundentes tambm. Todos, porm, me
'
recem a mais severa reprovao. Nunca um marido deve in
juriar a espsa, feri-la na sua dignidade de pessoa humana,
enquadrada nos belos ttulos de companheira de sacramento,
de me, dona de casa e educadora. A convivncia j ter re
velado ao leitor o pso das palavras. Por isso trate de evit
las. E se meu leitor recidivo em tais ofensas e discusses,
eu lhe dou aqui uma receita. Foi dada por So Filipe Nri
a uma espsa, vtima e parceira de discusses com o ma
rido. Deu-lhe o santo uma garrafinha de gua milagrosa. Ti
rou-a da sua talha, receitando o seguinte : Quando o marido
zangar-se e puxar discusso, tome um trago e guarde-o na
bca at que o zangado se acalme. O efeito foi maravilhoso.
Leitor, tens em casa um copo d'gua mo. Quando escu
tares os troves l por dentro, ou l de fora, depressa um
gole . . . que pare na . bca. gua na bca ser no caso gua
na fervura.
Aqui quero prevenir contra um grande rro dos maridos.
Digamos que um atrito se deu pela manh. hora do al
mo o marido volta com cara risonha, dando a entender
que j esqueceu de tudo. hora do jantar mostra-se con
tento, eufrico, gracejador. Amvel, at, para com a esp-

42
sa. Decididamente no pensa no ocorrido. No correr da noi
te deseja a unio ntima com a espsa e d com uma re
cusa que o fere, que lhe parece completamente incompre
ensvel. Surgem perguntas. Por que tal indiferena, tal frie
za ? Que ter acontecido ?
Por sua vez ela no entende o marido. Teria le esque
cido o que aconteceu pela manh ? No est sabendo que a
discrdia da manh, do dia ainda perdura e no foi devida
mente ajustada ? Assim pensa a espsa. O ambiente de amor
ainda continua perturbado pela discusso. E tua espsa, lei
tor, como tantas outras, no pode sem mais nem menos so
brepor-se a esta discrdia. Por isso no lhe possvel con
cordar, interiormente, com a unio sexual por causa da de
feituosa harmonia conjugal. Primeiro quer sentir-se psiquica
mente unida outra vez com seu marido. S ento se entre
gar incondicionalmente a le.
Se essa unio no preceder, lhe parecer incompreen
svel, grosseira, por no dizer bestial, a tentativa de resta
belecer a unio sexual. Est revoltada contra a indiferena
incompreensvel do marido, to descuidoso de suas precises
femininas. E estas reclamam que le considere como impor
tantes stes incidentes, uma vez que para ela so tais.
Nos casais onde o marido um extravertido e a mulher
uma introvertida fcilmente se d esta cena, observa Plattner.
E explica. O amor, uma vez despertado, continua tal na mu
lher. O amor feminino est continuamente presente. Nunca
baixa totalmente a zero. E' mais lento para subir ao ponto
culminante e desce tambm mais devagar. Nada h que para
ela seja puramente prosa.ico, puramente cientfico ou pura
.
mente comercial. 'Faa o que fizer, sempre o faz pelo marido
c pelos filhos ou por outros homens. Para les prepara a
comida, limpa a casa, repassa a roupa e torna agradvel o
lar. Dificilmente compreende por isso que o homem no re
tribua sse amor, ou nem sequer nle repare.
E no homem sse amor mero compasso, o qual pas
sado pode interessar-se por outros trabalhos de sua profisso,
sem fazer caso da mulher. "E' isso que ela no tolera de
modo algum. Muito lhe importa a considerao, a preocupao
do marido, mas expressada e manifestada".
Ora, leitor, dentro de semelhantes enredos de teias um
palavro, uma ironia, um berro, uma porta batida cara,

43
um murro na mesa um desastre. Corresponde ao estouro
de um terremoto que se anuncia. E eu desejo-te bom re
gistador de . . . possiveis terremotos.

IV

22. E' PARA ELA . . . , MAS CONTIGO.

Recomendando umas coisas s espsas, endereo com


Pio XII umas coisas aos maridos. So os responsveis no
assunto. Quer nosso guia e chefe espiritual o seguinte :
" Espsas, no vos contenteis em aceitar, ou apenas su
portar, esta autoridade do marido, a quem Deus vos submeteu
pelas disposies da natureza e da graa. Deveis am-la em
vossa sincera submisso ; e am-la com o mesmo amor res
peitoso que tributais mesma autoridade de Nosso Senhor,
do qual provm todo poder de chefia.
Sabemos bem que do mesmo modo como a igualdade de
estudos, de escolas, de cincias, de esportes e de competies
faz subir o orgulho em no poucos coraes femininos - ,
assim tambm vossa suscetvel sensibilidade de mulheres mo
dernas, jovens e independentes, dificilmente se curvar
sujeio domstica.
Ao redor de vs muitas vzes ho de represent-la como
coisa injusta. Ho de sugeri-la como um domnio altivo
sbre vs mesmas. Ho de repetir que sois iguais em tudo
a vossos maridos, e mesmo superiores em certos aspectos. No
sejais como outras tantas Evas diante de tais vozes de ser
pente, desviando-vos do caminho que unicamente pode con
duzir-vos, mesmo aqui na terra, verdadeira felicidade.
A maior independncia, qual tendes direito sagrado,
a independncia de uma alma fortemente crist perante
as imposies do mal. Deveis conservar e defender respei
tosamente, tranqilamente, afetuosamente, mas firmemente e
irrevogvelmente a inteira, inalienvel e sagrada independn
cia de vossa conscincia. Isso quando vos achardes em frente
a qualquer ordem, oposta aos inviolveis preceitos da lei
divina, aos imprescritveis deveres de crists, espsas e mes.
Na vida h dias, s vzes, em que relampeja a hora de
um herosmo ou de uma vitria, cujos testemunhos secretos
so Deus e os anjos.

44
Mas, no resto, quando se vos pedir o sacrifcio de um
capricho ou de uma preferncia pessoal, mesmo legtimos,
alegrai-vos porque estas leves renncias ficam compensadas
pela conquista diria do corao de quem a vs se entregou . . .
Deveis amar sse vnculo da autoridade, que de ambos faz
um s querer, embora no caminho da vida um v na frente
c outro atrs". '
A presena, leitor, dos muitos advrbios e adjetivos
revela a profunda convico do chefe espiritual que nos guia.
Convico e amor gostam dos advrbios. Tua tarefa portanto
ser um chefe que facilite espsa obedecer a tais normas.
Tudo isso tem em vista S. Pedro, ao escrever : "Vs, maridos,
comportai-vos com sabedoria a respeito de vossas mulheres,
como sres mais frgeis, tratando-as com honra ( 1 Ped 3, 1-8) .

23. POR QUE OUVISTE A TUA MULHER ?

Foi a histrica pergunta feita por Deus a Ado. No


morreram os maridos imitadores dste rro.
"H maridos que se deixam dominar, abdicando da sua
autoridade, contra a vontade formal do Criador, que no
quis confiar mulher a chefia suprema do lar domstico.
Ser, talvez, um bom marido mas de uma bondade cega que
exclui todo exerccio da autoridade e do poder.
Completamente dominado pela mulher, no lhe ser mais
possvel tomar as rdeas e a direo de sua casa. Ali tudo
vai mal, porque ali manda quem deve obedecer e servilmente
obedece quem foi investido pela Providncia da autoridade
de chefe. Resultado ? Vergonha e confuso.
No sou eu quem o diz. Esta a advertncia do Esprito
Santo, que melhor conhece o que se requer para a boa paz
c felicidade da famlia. No vos deixeis dominar pela mu
lher, para que no venha ela governar sua vontade e da
tireis vergonha, confuso e ridculo ( Ecli 9, 2) .
De outro lado o marido no tem direito de exigir uma
obedincia que no lhe devida. As obrigaes imutveis da
lei de Deus e da salvao eterna, no esto sujeitas sua
autoridade, ser despotismo arbitrrio e rebaixamento a sen
tena "eu quero, eu probo", atirada espsa. S a Deus ela
) Alocuo aos recm-easados, 10 de Setembro de 1941.

45
dar conta disso e neste ponto tem inteira liberdade. sse
abuso pode nascer da abdicao que a mulher faz de sua
prpria personalidade. Vencida pela afeio, v em seu ma
rido um "super-homem", ao qual obedece sem mais se aper
ceber de sua prpria vida moral.
Abdica diante dle ao ponto de se submeter s suas exi
gncias, mesmo imorais, porque o ama. ( Ou porque ento o
teme) . Renuncia assim sua personalidade moral e se ar
risca a perder a sua alma.
Tda diminuio de conscincia e de responsabilidade
de um dos esposos falta contra a famlia. Esta, pelo plano
divino, deve ser dirigida por duas conscincias : a do ma
rido e a da mulher". '
Pio XII lembra aos maridos que a autoridade um
imperativo, no uma opo, como j vimos. Diz que, se
perante Deus as almas valem pelo seu mrito, na famlia,
sociedade visvel, o espso precede espsa em autoridade.
E' um rro muito prejudicial, para os esposos como para
os filhos, a igualdade absoluta de direitos e a fatal inde
pendncia. A felicidade da famlia exige uma jerarquia, como
a exige a natureza, baseada na diversa funo dos sexos. Mas
com o amor recproco desaparece o pso do domnio e a
mesquinhez da sujeio.
Mulher, que se casou com homem frouxo na autoridade,
foi sem sorte. No encontrou aqule apoio que procurava,
aquela proteo que todo seu ser de espsa, e sobretudo de
me, deseja para si e para seus filhos. Levou para casa, muito
bem vestido e perfumado no dia do casamento, um im
becil e idiota.

24. TEU CASO, TALVEZ ?


- Muita mulher gostaria de ser me, se pudesse dis
pensar o concurso do homem. Li alhures, num escritos fran
cs, ste conceito qu no l muito honroso para os ma
ridos. Alis muitos entre les so responsveis por tais idias.
E' que no evitam choques de almas e de sensibilidades, quan
do das relaes conjugais.
Queira o leitor conferir seu procedimento com o seguinte.

') D. Duarte Leopoldo e Silva, Pela Famlia. - Editra Vozes.


) Alocuo aos recm-casados, 9 de Setembro de 1944.

46
"Em teologia e direito canomco vem o matrimnio de
finido como o direito perptuo e exclusivo, conferido a cada
um dos cnjuges para realizar com o outro atos, por sua
nntureza, aptos para a gerao. O ato conj ugal normal ,
n:-10 somente lcito, como tambm santo e meritrio. E' o
dPver conjugal. Quem o recusa sem razo suficiente comete
nm pecado grave de inj ustia contra seu consorte.
O prazer que o acompanha, quando efetuado normalmen
' " bom. No estado de inocncia ' , longe de ser menor do
q u e agora, teria sido mais intenso, sem contudo levar as r
dl'as da razo. E isso graas ao dom da integridade. Conde
n:-lo, ou simplesmente recus-lo, diz Caetano - clebre
I Plogo - no passa de insensibilidade ou loucura. E' um
dom de Deus e "no deve o casado ter pesar por senti-lo,
mas sim dar graas a Deus por le".
Interrompendo a citao, por que no ter o marido do
m nio e pacincia para explicar isso a espsa, vagarosa na
mmpreenso ou tmida num pudor descabido ? A posse vio
IPnta, mal preparada nunca une as almas. Pelo contrrio,
pode separ-las para sempre.
"Executar ste ato, impedindo a consecuo de seu fim
Jwiman,o ( a gerao dos filhos ) , s visando o prazer ou
sl' rvindo somente ao fim secundrio, indevidamente trans
formado em primrio -, convert-lo num pecado contra
n natureza. Contrariando isso a um bem humano, sobera
namente precioso como o bem da espcie, temos diante de
rus um pecado grave" ( P. B. Lavaud ) .
Pio XII insiste muito nas idias crists neste particular.
Diz :
" Uma ousada teoria andou afirmando que o ato con
jugal teria por finalidade primria o mtuo amor, o mtuo
aperfeioamento dos casados. Dle provm um nascimento ?
Into ste fica "na periferia dos valores pessoais". No se
recusa, mas no se admite tal como centro das relaes con
.i ugais. Trata-se aqui de uma grave inverso na ordem "dos
valores" e dos fins criados por Deus. Estamos perante um
conjunto de idias e sentimentos, diretamente opostos cla
reza, profundeza e seriedade do pensamento cristo.
' ) E' ste o nome com que se qualifica a vida dos primeiros pais,
untes da queda no paraso.
' ) Alocuo citada de 29 de Outubro de 1951.

47
Fim principal do ato conjugal no pois "sossegar" tua
carne e excitao, leitor. No tambm o mtuo aperfeioa
mento, teu e da espsa. E', fica sendo sempre, a procriao
e educao da prole.
Por louvveis que sejam o mtuo apaziguamento, a
mtua demonstrao de carinho para fortalecer o amor, con
solidar a confiana - ste fim tem de ficar no segundo
plano. "No pode estar acima, nem ao lado do primeiro.
H de estar abaixo dle e orientado por le" - diz Pio XII.
A delicadeza da alma feminina percebe muito bem, se
o homem est esquecido desta verdade, hora das relaes.
Mais ainda nota a presena do egosmo no rito de amor.
O gzo, somente o gzo, que poderia ser encontrado em qualquer
outra. Da sua profunda humilhao, sua surda ou aberta
revolta que a torna teimosamente passiva, ou recalcitrante.

25. MARIDOS E PAIS BfBLICOS

Na Bblia Sagrada Deus mostra-se como o melhor his


toriador, paisagista de cenrios, de almas e de acontecimen
tos. So imortais as descries que, inspirados por le, nos
deixaram os sagrados escritores. Trago ao palco destas p
ginas umas figuras histricas de maridos e de pais. Poder
o leitor ver com qual dles mais se parece. Ei-los :
Ado - o marido que soube classificar a espsa, mas
hora dos apuros veio com a clebre frase que inculpava
a mulher : Senhor, a mulher que tu me deste por compa
nheira deu-me da rvore e comi. De nada lhe valeu a des
culpa. Pois teve de ouvir a censura do Senhor : Deste ouvidos
voz de tua mulher ( Gn 3, 12 ss. ) .
Lamec - o homem que tomou duas mulheres e foi o
primeiro a quebrar a unidade do matrimnio. Tertuliano
d-lhe o nome de maldito. Marido fanfarro, a dizer para
suas mulheres : Caim ser vingado sete vzes, mas Lamec
setenta vzes sete. vzes ( Gn 4, 23 ss. ) .
No - o pai que, desconhecendo a fra da uva, se
embriagou com o vinho e deitou-se nu na sua tenda. Desres
peitado por Cam, seu filho, deitou-lhe uma maldio ( Gn 9, 18) .
A brao - pai obediente provao exigida por Deus,
que lhe pedia a imolao do filho nico, nascido na sua ve
lhice, Isaac. Com o corao a sangrar viu o menino levar a

48
lenha, o cutelo e o fogo. Ouviu-o perguntar pela vtima, a
nica coisa que estava faltando. Cheio de f respondeu : Meu
filho, Deus deparar a vtima para seu holocausto ( Gn 22) .
Isaac- o pai das bnos, a conhecer os filhos pelas
mos e pela voz ; generoso no programa abenoado : Deus te
d do orvalho do cu e da fertilidade da terra. Mas no ti
nha s uma bno e achou outra para Esa, o logrado ( Gn 27) .
Jacob- o pai que teve predileo por um filho a quem
fz uma tnica de vrias cres e de quem escutava os so
nhos, considerando-os no seu corao. Depois essa predileo
motivou o dio dos irmos. E l um dia o velho pai recebeu
a tal tnica, tinta no sangue de um cabrito, com a pergunta
cruel : V se a tnica de teu filho ou no ? Tendo-a reco
nhecido, disse : A tnica de meu filho ; uma cruel fera o
comeu, uma bsta devorou Jos. Tudo acabou num longo pran
to. No quis admitir consolao, mas disse : Chorando, des
cerei para meu filho ( Gn 37) .
Elcana - o marido angustiado pelo pranto de Ana, a
cspsa estril e motejada pelas mulheres. Certo dia pergun
tou-lhe por que chorava e se le no era melhor para ela
do que dez filhos.
Nabal - Trs vzes os emissrios de David desejaram
lhe a paz, pedindo algum alimento por ocasio da festa da
tosquia das ovelhas. Rudemente destratou a todos, aqule
marido de Abigail. E esta, sabendo do acontecido, foi ao
encontro da morte que voltava na ponta das lanas e na
ordem de extermnio dada por David. Com ricos presentes
e vveres e boas palavras apaziguou a clera do rei. De re
gresso a casa, encontrou o marido alegre e expansivo pelo
vinho do banquete. Um inconsciente do perigo ( 1 Rs 25) .
David. - Muito folgado em casa, em tempo de guerra,
numa hora de cio, seduz a bela espsa de Urias. Natan, o
profeta, procura-o em nome de Deus. Fala-lhe de um pobre,
dono de uma nica ovelha muito apegada a le, a ponto
de dormir-lhe no regao. Menciona um rico que rouba e
mata essa ovelha. E o rei, indignado pela baixeza vista no
outro, exclama sem rebuos que tal homem devia morrer.
- Tu s sse homem, retruca-lhe Natan. Fizeste perecer
espada Urias e tomaste para tua mulher que era mulher de
mulher
Urias !
;0- '..;)...- 49
- Pequei contra o Senhor ! responde com humilde sin
ceridade o rei (2 Rs 12) . Ficou clebre o seu arrependi
mento, expressado no salmo Miserre.
Urias. - O marido acima mencionado foi presena
de David, por ordem real. Ignorava o ocorrido e a inteno
do rei que desejava ocultar o adultrio e disfarar a pater
nidade do filho concebido. Pronto deixa Urias o acampamen
to, deixa o palcio aps a entrevista e dorme porta do
palcio com outros oficiais, sem ir sua casa. Interpelado
pelo rei, responde :
- A arca de Deus e Israel e Jud habitam debaixo
de tendas ; e meu senhor Joab e os servos de meu senhor dor
mem sbre a terra dura, e deveria eu ir para minha casa,
comer e beber e dormir com minha mulher ? Pela tua vida
e pela sade de tua alma, juro que no farei tal coisa !
E com estas palavras de um soldado de tmpera o heri
pronunciou sua sentena de morte. Foi reenviado s tropas,
portador de uma carta real, que ordenava colocarem-no onde
a refrega fsse mais dura, abandonando-o em seguida, para
que morresse. E assim aconteceu.
Job. - O paciente e atribulado marido de uma das mu
lheres insensatas. Sentado sbre um monturo, de lepra, teve
de ouvir de sua companheira a pergunta : Ainda perseveras
na tua simplicidade ? Bendize a Deus e . . . morre ! "J ob
respondeu apenas isto : Falaste como uma das mulheres in
sensatas. Foi tambm cuidadoso na sua misso de pai. Ter
minados os banquetes dos filhos, muito numerosos, punha
se a jejuar e fazer sacrifcios para expiar alguma falta co
metida por les ( Livro de Job) . Marido casto, fiel. 1

Tobias. - O marido escrupuloso, estranhando o balido


de um cabrito que a espsa trazia para casa, como presente
recebido pelo trabalho.
- Veja, Ana, no seja furtado e restitua-o a seus do
nos, porque a ns no lcito comer nem tocar coisa al
guma furtada.
- Bem se v, retrucou a mulher, como as tuas
esperanas so vs, e agora se fizeram ver as tuas es
molas. E com estas palavras e outras palavras semelhan-
1 ) Lembramos aqui o marido casto e fiel, que "fz uma aliana
com seus olhos para no pensar na beleza de uma virgem", com receio
de perder a parte de Deus em sua alma.

50
tcs insultava-o, agravando-lhe ainda mais a cegueira de que
sofria ( Tob 2, 19 ss. ) .
Tobias o pai do bom exemplo e dos bons conselhos. Deu
um nome ao filho apreciado em casa de Raguel por causa
do pai, homem de virtudes. Apesar do ocorrido com a cara
metade, recomendou ao filho : Honra a tua me durante
todos os dias da sua vida, porque te deves lembrar de quan
tos e quo grandes perigos padeceu por amor de ti, tra
zendo-te no seu ventre.
Acab.- O rei desejoso da vinha de Nabot. Perante a
recusa de venda, ei-lo metido na cama, de rosto virado para
a parede, todo tomado de clera. Nada quis comer. E sua
mulher, ciente do ocorrido, resolveu que a vinha seria de:
seu marido, inteirando-o do propsito. Resolveu e melhor
ainda executou o resolvido. Fz com que condenassem mor
te o pobre Nabot, que recusara vender a herana paterna
que lhe restava com aquela vinha.
Acab vai ento tomar posse da vinha, quando o atalha
no caminho o profeta trazendo nos lbios o castigo do Se
nhor ( 3 Rs 2 1 ) .
A man.- O marido que, em casa perante a espsa e
os amigos, se gabava dos muitos filhos, das riquezas, da
alta glria recebida pelo convite do rei para um banquete
com a rainha. Belo orgulho paterno a respeito dos filhos.
Mas tudo isso no lhe apagava aquela desolao causada pela
aparente descortesia de um j udeu, teimoso em no se le
vantar passagem do agraciado.
Zars, a espsa, resolveu o impasse. Aconselhou somen
te isso : que se levantasse um patbulo bem alto, para nle
dependurar o sonegador de reverncias. Aman, como fazem
muitos maridos, agradou-se do conselho maldoso da espsa.
Mandou por isso aprontar o patbulo para o j udeu irreverente
.

Mas, sem o saber, levantou-o para si mesmo, para a espsa


c para os filhos, conforme ordenara um mandato do reil
( Ester, c. 4) .
Que tal, leitor ? H nesta galeria algum marido ou paii
parecido contigo ? Espero que . . . sim, e que seja dos bons.
E fao votos para que no tenhas em casa uma companheira,.
cpia da mulher de Job, ou de Tobias ou de Aman ou de Acab.

51
26. TUDO A DOIS.
"0 princpio tanto da moral conj ugal como do amor
da alegria e dos prazeres a dois, assim como as provaes
e os desgostos a dois. No domnio sexual, a moral conjugal
pretende igualmente o bem dos cnjuges e por isso baseia
se no respeito pela ao natural das funes fisiolgicas em
pregadas. No basta essa retido fisiolgica, a "castidade"
material, para estar em regra. E' necessrio ainda que man
tenha a sua retido psicolgica e sentimental, que seja ori
entado parcialmente para o bem do cnjuge e totalmente
para o bem do casal.
Se o ato da unio deve ser orientado para o bem da
espsa, segue-se que no se poder efetiv-lo legitimamente
seno luz da j ustia e caridade. Mais : o ato de unio
deve salvaguardar a dignidade humana. Deve tambm con
servar o seu sentido de doao e no se transformar num
ato quase brutal de posse.
Portanto tdas as maneiras de proceder que respeitam
a dignidade dos cnj uges, e so orientadas de forma a aper
feioar a harmonia psquica e fsica da unio, so inteira
mente lcitas.
Especialmente os beijos, carcias, intimidades, mesmo
todos os tatos e as liberdades que dizem respeito s par
tes sexuais do corpo so honestas se, enquadrados num am
biente oportuno, visam promover a simultaneidade do pra
zer e o desejo de unio e de posse total mtua.
O espso lembrar-se-, todavia, que tem o dever de no
usar daquelas intimidades e liberdades, permitidas pela at
mosfera da unio, que no sejam dignas de homem ou que
melindrem a delicadeza inata e o pudor instintivo de sua
espsa. E' no momento em que a melodia se torna mais so
nora que qualquer nota falsa destoa mais cruelmente. Assim
no momento em que a paixo se torna mais ardente, que
ela poderia soobrar na grosseria e ferir o amor.
O ato de unio requer lealdade. De parte a parte h
de ser dom, mas dom completo. Truncar ste dom, e cometer
um roubo pensando voluntriamente numa outra pessoa,
perder tda a autorizao para exigir, ou reclamar nesse mo
mento, a ddiva do seu cnjuge. Dufoyer lembra que o
) J em outra parte vem mencionada a norma que rege stes casos.
Pspso adltero perde todo o direito de exigir formalmente
n unio. Pode a outra parte legitimamente recusar-se. Cabe
lhe o direito de julgar da oportunidade desta recusa . . . Por
vzes, a esperana dum arrependimento e do bem futuro do
lar, poder lev-la a aceitar o que teria o estrito direito
de recusar.
Saiba neste caso que, em direito eclesistico, a aceita
o da unio com um cnjuge que se sabe ser adltero ex
clui todo direito ulterior de reclamar a separao dos cor
pos, baseando-se sbre fatos anteriores a esta reconciliao
l'fetiva.
Finalmente, na unio, os cnjuges devem respeitar o
valor jerrquico dos seus elementos. O dom especial, senti
mental e amoroso deve superar em valor e em finalidade os
elementos do instinto . . . Neste respeito da jerarquia con
siste a castidade psicolgica da unio amorosa.
H uma identidade viva entre os preceitos da moral
catlica e os do cdigo do amor, dum amor sincero, total e
humano ( Dufoyer) .
O leitor leu a repetio resumida do que j lhe foi dito
mais vzes neste livro. Lucrar em recordar estas leis e in
teirar-se de mais esta que assim diz : Certas fraudes podem
ser praticadas sem cooperao do marido, s pela espsa.
Hoje os anncios so pblicos e as drogas andam ao alcance.
Na roda "das amigas" muita espsa permuta conhecimen
tos, aprende receitas, etc. Se as fraudes so praticadas sem
conhecimento ou sem o consentimento do marido, no tem
le responsabilidade direta no caso. Tambm se elas forem
feitas aps as relaes, como ato individual praticado pela
mulher.
" Culpa teria desde que aprovasse esta maneira de agir,
se a tivesse aconselhado ou exigido, ou se muito simples
mente no a tivesse impedido podendo faz-lo.
Mas se a fraude feminina falsifica o ato conjugal desde
o como ( obturao antecedente da entrada do tero) , a
unio jamais lcita" ( Dufoyer) .

53
27. NEGCIOS . . . FAMLIA . . ?.

H famlias sem paz e felicidade porque a resposta a


estas perguntas no foi acertada na vida. Ganhar o po para
a casa , em geral, ofcio do marido, do pai. Com seriedade
ter de dedicar-se a esta sua primeira funo.
"Negligenciar seu emprgo, seu ofcio ; ocupar-se de seus
negcios ou comrcio com descuido, ou de modo desonesto
e remisso, a ponto de os chefes poderem demiti-lo -, eis
outras tantas faltas graves que um marido, tendo o senso
de honra, evitar para seu nome. Se, por essa conduta, causa
espsa apreenses justificadas para o futuro, ou prepara
para os filhos um nome do qual tero que se envergonhar,
temos outra falta grave contra o primeiro dever de estrita
j ustia.
Um fim a atingir j ustifica os meios honestos e neces
srios. Por isso a natureza confere ao marido as liberdades
de ao, reclamadas no caso. Prolongar sse marido, por
tanto, suas horas de trabalho ; ausentar-se-, far viagens,
tecer relaes medida do necessrio ou do til.
Sendo consciencioso e fiel, fcilmente saber distinguir
entre as ocupaes e ausncias e reunies, para as quais basta
avisar a mulher, e aquelas que exigem positivamente sua
aprovao. Ningum duvidar da obrigao do marido em
pr ateno aos desejos de sua espsa e comear por consul
t-la, apesar das imposies dos negcios.
E' simples o motivo. Pois seus compromissos no so,
primeiro, com os negcios e depois com a mulher. Casando
se, seus trabalhos no passam de meios. Est perante dois
deveres que s lhe aparecero opostos, se le ou ela tiverem
um falsa idia da unio crist do matrimnio. Solteiro, podia
o homem entregar-se inteiramente aos negcios e aos lucros.
Agora, para aumentar o conforto, e pior ainda, o luxo ou as
riquezas capitalizadas, cometeria grave rro, se no dispen
sasse mulher e aos filhos um tempo, que deve e pode re
servar-lhes bem cheio de afeio ntima.
Marido e pai tambm tm seu papel no lar. A falta de
combinao e de verdadeiro amor, a desafeio e s vzes a
infidelidade sero com freqncia o verdadeiro motivo de
sua desero, mal camuflada pelo pretexto dos negcios. E
tambm porque se entregou a uma companheira e no a uma
criada, no agir sem o consentimento livre de sua espsa

64
no terreno legtimo das ocupaes secundrias e dos des
cansos. Quantos maridos, mesmo sinceros, j ulgam ter, neste
ponto, guardado intacta a liberdade gozada antes do casa
mento ! E a ironia est na invocao que fazem da autori
dade " de marido", como justificativa da conduta. O pobre
diabo nunca percebeu quo carregado de desaprovao, fun
damentalmente legtima, anda o simples silncio da espsa,
como resposta s decises a ela "comunicadas" pelo marido.
Se hoje dizemos tornar-se rara a vida de famlia, ntima
e feliz, muitas vzes porque o homem no lhe tem levado
sua parte de afeio. O egosmo do marido to nocivo como
o da mulher. Ambos so sinistramente destruidores. Quan
tas vzes considera o homem sua autoridade como um pri
vilgio, do qual a espsa a vtima em vez de beneficiada !
Ou ento apaga a chama do lar, minando no corao da es
psa a ventura e .o gsto de dedicar-se a le !"

Cartas na mesa, leitor ! Tens ou no tens de corrigir tua


resposta s perguntas que encabeam ste trecho ? Vens colo
cando a famlia, mulher e filhos, como assunto marginal na
vida ? Ento j ests em tempo de mudar de rumo, de apagar
sse sinal vermelho que faz estacar a felicidade soleira da
casa.
Hoje, com a vida to agitada, metendo cimbras no co
rao ou atropelando descuidados, um marido metido em ne
gcios precisa do balastro de convices, sadias e crists,
neste assunto. Do contrrio andar a smo na crista dos va
galhes desta vida moderna. E com le, no mesmo balano
e perigo, o lar com seus cristais de almas.

S posso bater palmas ao conselho de Dufoyer : "Que


o marido se lembre portanto de uma coisa : sua mulher ,
acima de tudo, um ser sentimental que deseja, antes de tudo
c quase exclusivamente, afeio e ternura. Tome cuidado
para no se deixar " monopolizar" pelo demnio da atividade
exterior, qualquer que seja a sua forma : negcios, desportos
e at mesmo apostolado. Deve, claro, exercer o seu ofcio.
E' seu dever de estado. Mas, que jamais perca de vista um
outro dever de estado, tambm imperioso : o engrandecimento
de sua mulher e a educao de seus filhos" ( Obra citada ) .
' ) P. J. de Wint S. J. na Nouvelle Revue Thologique, tomo
LXV, 1938, p. 563-600.

55
28. A CASTA UNIO CONJUGAL ( Pio XI)
H uma castidade conjugal, obrigatria e possvel. No
empobrece os casados, no os afasta da misso familiar. No
probe o gzo nas relaes. "No uma absteno ; uma
integridade. Nada tem de negativo. Institui uma solidarie
dade, impede uma desassociao. Trabalha para que a pes
soa desabroche, floresa" .
E' a virtude que leva o homem a usar d e seus rgos
genitais, do prazer a isso anexo, somente quando lhe pode
dar tda significao humana, sua finalidade providencial.
Mas para que tal exerccio seja digno do ser humano h
condies. E i-las : O uso h de ser antes de tudo conjugal.
O ato sexual por si um ato mtuo, um ato de relao. Tudo
que o individualiza contrrio a seu destino. Sendo soli
trio, egosta ope-se primitiva orientao da atividade
sexual, que social. Tambm no normal, se o marido,
por ocasio das relaes, apenas procura o seu prazer sem
dividi-lo com a espsa. f:: sse gzo mais um gzo que se
d, que se reparte.
Da o conselho de Jouvenroux : " O homem precisa de
pacincia para desdobrar tdas as ptalas da vida carnal de
sua companheira. Est preocupado primeiramente com o que
d e no com o que recebe" . Portanto saiba o leitor refrear
sua impacincia e escutar "uma outra alma", atravs do
orgasmo que desencadeou no corpo que a guarda.
Alma e corpo aquinhoados no ato conjugal, mtuo, eis o
que une os esposos e humaniza as relaes. Ternuras e ca
rcias, num compasso lento, formam o longo prembulo para
o rito de amor. Nada de posse violenta, brutal, chocante.
Aqui uma observao : A intimidade dsse momento h de
ser preparada atravs da vida diria do lar. A unio con
jugal deve integrar-se no conjunto. E' preciso que o trama
habitual dos dias seja tambm "conj ugal" .
Logo vida d e discusso, d e reclamao, d e pouca convi
vncia com a espsa no preparao suficiente.
"A moral permite s espsas, que no foram satisfeitas,
procurarem-se essa satisfao dentro do quadro das relaes.
Compreende-se seja isso permitido para evitar graves desor
dens fsicas e psquicas, numa espsa sempre negligenciada
pelo marido que nunca a satisfaz. Mas h nessa soluo
que em todo caso podemos ter como mal menor - algo

56
tle realmente anormal e mesmo revoltante. Parece isso um
atestado do egosmo masculino ao qual j nos acostumamos,
a ponto de haver tolerncia para com espsas que, contra
riando o prazer sexual ( que mtuo ) , o procurem por
si mesmas" ( P. de Locht) .
Depois, o ato sexual h de ser um ato saturado de
Palores espirituais, um ato de amor. A castidade levar os
casados a exigirem sempre mais valores de alma, prendas
do corao na unio dos corpos.
Finalmente a vida sexual deve ser fonte de vida.
Mais adiante exporemos stes dois imperativos.

:!9. SEI QUE S MUITO BONITA


e que, quando os egpcios te virem, diro : E' sua mu
l her. E matar-me-o ficando contigo. Dize, pois, te peo,
que s minha irm para que eu seja bem tratado e me
poupem a vida por causa de ti ( Gn 12, 1 1 ) .
Tal foi a combinao de Abrao com sua espsa, en
t rada numa terra pag. Anos e anos muitos passaram-se. Em
< ;erara, aparecem Isaac e sua espsa, tambm tda de gran
de beleza. Isaac deu-a como irm, suspeitando que o ma
tariam por causa de tal prenda ( Gn 26, 6-1 1 ) .
Pai e filho usaram do mesmo trmo "irm", aplicado
tambm s primas-irms. E tais lhes eram as espsas. Hoje
os costumes no so assim fragoeiros. Maridos de espsas
bonitas no correm risco de vida. Muitos chegam tolice e
no crime de apresent-las, provocantemente despidas, em
sales, em praias e divertimentos. Sentem-se lisonjeados como
donos da beleza exposta, como outros se julgam hericos
pelo repetido herosmo de suas espsas, aceitando materni
dades contraindicadas.
Por sua vez apreciam, acabam cobiando as belezas que
outros expem. E com isso cometem a infidelidade do co
rao. "Pois a fidelidade, ultrapassando como lei de amor
a.s prescries minuciosas e externas de um cdigo, pene
tra o esprito, o corao, a ponto de excluir tambm o pe
cado de desejo, observa Pio XII" ( Aloc. 4-XI-42 ) . Os tem-

57
pos nada mudaram naquela sentena de Cristo Senhor : "Eu,
porm, vos digo que todo aqule que olhar para uma mulher,
cobiando-a, j cometeu adultrio com ela no seu corao
( Mt 5, 27-28 ) .
O homem de branco avisa-te, leitor : Costume algum,
exemplo algum depravado, nenhum pretexto de progresso hu
mano podem debilitar a fra dste preceito divino ( Pio
XI, obra cit. ) .
No cometas o sofisma de nivelar o belo humano com
o belo inanimado. Belo rosto de mulher, encantadores sor
risos e olhos, veludos na voz e nas mos femininas, no so
meras paisagens de luz e contornos. f:: ste belo til, tem
sabor e sobretudo capaz de reao.
Voltemos aos dois patriarcas de espsas bonitas. De fa
to, correu o rumor da beleza de Sara, espsa de Abrao.
Fara soube-o e mandou traz-Ia ao seu palcio. Abrao
foi bem tratado por causa da " irm". Mas o Senhor man
dou pragas pesadas contra Fara e a sua casa. E le a
Abrao : - Por que te houveste comigo desta forma ? Por que
no declaraste que ela era tua mulher ? Por que disseste que
era tua irm, para que a tomasse por minha mulher ? Agora,
pois, a tens a tua mulher ; toma-a, e vai-te !
Pago, o rei do Egito mostrou-se temente a Deus, que
sempre assola com castigos lares de cnjuges infiis.
O caso de Isaac teve o seguinte desfecho. Abimelec viu-o
em intimidade com a espsa, dada antes como irm : E da :
- Est visto que ela tua mulher. Por que mentiste tu,
dizendo que tua irm ?
- Tive mdo que me matassem por sua causa.
- Por que razo nos enganaste ? Podia suceder que al-
gum do povo abusasse de tua mulher, e tu terias atrado
sbre ns um grande pecado.
E deu ordem a todo povo : Quem quer que tocar a mu-
lher dste homem ser punido de morte. Tambm ste
temia a Deus. E tu . . . ?

58
:10. AUTORIZADO E AUTORITARIO
H uma grande diferena nestes trmos. Est escrito
1ue o marido o chefe autorizado a mandar na famlia.
Em parte alguma se diz ou se lhe recomenda que seja um
autoritrio1 . Ter autoridade sbre a espsa e os filhos significa
simplesmente uma coisa. Qual ? Impor-se-lhes pelo prestgio,
conquistar-lhes o respeito, a confiana, a docilidade.
A autoridade s dada para proteger, para identificar-se
com o amor. Quando verdadeira, consiste em fazer-se obedecer
sem deixar de fazer- se amar.
A autoridade no confere por si nenhuma superiorida
de moral sbre a espsa. E assim no tem o marido direito
de exercer a menor presso sbre a sua conscincia. Neste
lcrreno, diz Viollet, a nica atitude legtima a da cola
borao. Homem e mulher devem entreaj udar-se na ascen
so moral. Eis por que o marido cometeria um estranho
nbuso do poder, se pretendesse impor sua mulher suas
crenas, suas convices, sob o pretexto de ser o chefe da
casa. A espsa, que a isso cedesse, renunciando assim s
Kuas convices morais e a sua f, caminharia para uma
completa abdicao de si prpria".
Mesmo sendo o chefe autorizado, pode meu leitor mos
trar uma razovel condescendncia com a espsa. No pos
sui ela como mulher, por conaturalidade, o sentimento do
belo e o pressentimento do verdadeiro ? Logo seus avisos
podero ser solicitados, sem desdouro para o chefe.
Por isso, ouve-a quando se trata de deveres essenciais a
lodo espso cristo. Ela te quer, leitor, menos freqentado1
rle certas reunies, de certos cinemas, de tal e tal clube ?
Pede-te menos encontros com "um amigo de infncia" ? In
siste que mudes teu horrio de chegada noite, que sejas
menos demorado no escritrio ? Quer que diminuas teu muito
servio com datilgrafas ou secretrias ? Numa palavra, quer
que sejas um bom cristo para bom exemplo dos filhos ?
Por que ento nessa altura pavonear tua autoridade ? Por que
no ceder, se sse o preo da harmonia no lar ?
Num repente de lealdade ds, - quem sabe ? - razo
espsa. Reclama de fato com razo, pede com fundamento
uma mudana de procedimento. Se outra - a datilgrafa do
muito servio ! - fizesse o mesmo pedido . . .

59
Desculpa-me, leitor, se surpreendi teu monlogo de al
ma. Aceita um conselho : ouve tua mulher e nesse caso tua
docilidade firmar ainda mais a tua autoridade. Continuas
sendo chefe e nada perdes dobrando-te ao cetro de amor de
tua espsa. Ela pode e deve atribuir-se como coisa sua o
"primado de amor", na frase de Pio XI.
Vamos passar para umas concluses sinceras, de "clas
se unida" :
Ser chefe, leitor, significa primeiramente mandar em
si mesmo, dominando os caprichos, o mau humor, os nervos,
os repentes pessoais.
Quer dizer, agir hora certa, no momento adequado,
na medida precisa. Denota ter competncia, ou procur-la,
no seu ramo. Uma voz mais grossa, uns msculos mais for
tes, um rosto mais carrancudo - isso tudo no basta. To
pouco essa chefia confere diploma de entendido e sabedor
de tudo. Um chefe no sinnimo de enciclopdia viva, a
ficar sempre com a ltima palavra em tdas as questes
de cincia, economia, arte, conhecimentos domsticos e
culinrios.
Maridos dste porte tornam-se ridculos e insuportveis
para a espsa, para os filhos e para os domsticos. Achei
muito acertada a frase de quem escreveu : "A humildade
a primeira das qualidades para quem leva o basto de co
mando" ( Fr. Turcq) .

31. QUANDO HA TANTAS E TAIS

que ser, se a mulher botou a perder a Ado, quando no


havia no mundo outra mulher ? Eis uma pergunta angus
tiada do nosso famoso P. Vieira. Igual pergunta precisa fa
zer-se o meu leitor, diante dos problemas da fidelidade con
j ugal. Digo problema, porque entram as "tantas e tais", en
tra a lei divina com seu imperativo imutvel de no desejar
a mulher do prximo. Entra a fragilidade humana, ao lado
da sua imprevidncia e audcia.
Mas, seja como fr, mil dificuldades no constituem uma
dvida, pondo em suspenso o sexto e o nono dos mandamen
tos de Deus.
Hoje a mulher est exercendo atividades ao lado do
homem, em tda a parte, sem deixar de ser mulher com

60
suas fraquezas. So tantas nos escritrios, nas caixas, nas
lojas, nos consultrios, nas fbricas ! Tantas nas reparties,
nos gabinetes e salas, nas ruas, nos cinemas, nos transpor
tes, nos turismos, etc !
E muitas vzes so . . . tais ! Insinuam-se, investem, ata
cam, seduzem, exploram suas prendas, expem suas carnes.
Nem os fios do telefone esto seguros. Pode acontecer se
encontre meu leitor, diriamente, com alguma secretria,
companheira de servio, em cujo corpo ficaria to bem -
muito entre ns, descoberta que j fizeste ? ! - o belo ves
tido da espsa. E' assim : as infidelidades comeam sempre
por . . . comparaes platnicas. Portanto, o dia em que sen
tires vontade de comparar a tua mulher com outra, cuidado !
Nem mesmo as meras habilidades de dona de casa, de co
zinheira, de arrumadeira. Outras comparaes h que so
verdadeiros pecados internos.
As espsas de teus amigos, ou as amigas de tua espsa
podem oferecer problemas. Destas ltimas muitas contentar
se-o em lhe serem apenas amigas. J outras sentiro talvez
inveja do . . . marido que ela tem. No se comportam de modo
cristo os homens, que se permitem liberdades de pensamen
tos e tratos, com umas e outras.
Lavaud previne os que no se defendem contra os pe
rigos da profisso exercida. Falo - diz le - em parti
cular dos mdicos, dos dentistas e de todos aqules que, se
encontrando a mido e a ss com mulheres, abusam da sua
inexperincia, fraqueza, coqueteria imprudente e s vzes
viciosa" .

Pitoresco o formulrio usado pelos anos de 1562 na


diocese de Cambraia, quando noivos se casavam. Cito-o como
espcie de exame de conscincia :
"- Fulana, dizia o noivo, eu vos tomo por mulher e es
psa, prometendo e jurando pela f de meu corao, pelo
snto batismo que recebi e pela parte que me toca no cu,
guardar-vos a fidelidade e a lealdade de meu corpo, dos bens
que possuo agora, possuirei depois ou poderei adquirir.
No vos trocarei ou abandonarei por outra, melhor ou pior.
Mais bonita ou mais feia. Mais rica ou mais pobre. Eu vos
guardarei, e farei guardar como a mim mesmo, em todos
os estados que Deus vos quiser colocar, durante todos os

61
dias de nossa vida. Tal como le estabeleceu, tal como a
Escritura testemunha e nossa Igreja pratica".
Num outro formulrio encontramos os pormenores dos
"estados". Surgem descritos como dias de doenas, de desa
venas, de aborrecimentos, de contrariedades e misrias que
podem invadir um lar.
Que tal ficou tua conscincia, leitor ? Mordendo ? Ainda
bem quando um marido sente os dentes da conscincia ! Para
prevenir-te ainda melhor contra "tantas e tais", menciono o
seguinte :
1 ) A infidelidade conjugal priva de seus direitos a es
psa ou o espso culpvel. A parte inocente no tem obri
gao de prestar o dever do corpo ao consorte culpado. Digo
obrigao de j ustia. Mas um cristo, uma crist perdoar
uma fraqueza ao culpado arrependido, como Jesus perdoou
aquela a quem os homens queriam apedrejar, sem serem ino
centes para o lance da primeira pedra. Mas o perdo seja
leal, sem segundas intenes. '
2) Nenhum consorte ultrajado est obrigado a supor
tar indefinidamente a renovao do ultraje. Pode ser, entre
tanto, que o bem dos filhos exija e s vzes aconselhe uma
pacincia ou longanimidade herica. A infidelidade incorri
gvel no d direito ao divrcio, mas constitui uma causa
suficiente para a separao.
3) Ameaar com " uma outra mulher" a espsa, irredu
tvel na resistncia s prticas imorais, contrair culpa do
brada. A Igreja tem horror infidelidade. Castiga com im
pedimento dirimente, isto , com nulidade, os casamentos
entre dois adlteros que se prometessem um ao outro, para
os dias de desimpedimento. Assim Lavaud, livremente citado.

32. BALIZAS NA ROTA

da humanidade so fincadas e defendidas, a qualquer


preo, pela Igreja catlica. Ao longo dos sculos, de acrdo
com as desorientaes de cada poca, so elas renovadas.
Nada de concesses ao mundo, ao seu esprito, em tempo
algum.
'
) Entenda-se "perdo-esponja", que nunca mais recrimine o
acontecido.

62
1 ) Ela mantm integralmente a moral natural e a mo
ral revelada. Sobretudo no que diz respeito ao sexo, fa
mlia, ao casamento. Pela voz de seus chefes condena
como contrrios natureza,
intrinsecamente maus,
gravemente pecaminosos,
todos os abusos voluptuosos da faculdade geradora,
todo artifcio que a separa do prazer,
que s ela justifica.
Condena essa separao, seja l provisria ou per
manente ;
dentro ou fora do casamento.
2) A Igreja no desconhece as razes senas, humanas,
morais para no gerar filhos em nmero indefinido. Quer
que a possibilidade de educarem os esposos um nmero conve
niente de filhos
seja assegurada a todos les pelas reformas
econmicas e sociais,
que se impem e cuja necessidade a primeira
em proclamar.
3 ) Sabe tambm que, no obstante tudo isso, sero sem
pre necessrias limitaes, ao menos em certos casos. No
quer sejam obtidas
por astcia,
por fraude,
pela indstria especializada na fabricao de
"preservativos ;
nem pela qumica e farmcia,
ou pela cirurgia ou pelo homicdio,
mas pela VIRTUDE, pela castidade ( adquirida ou natural,
infusa ou sobrenatural) ;
pela ABSTENO DO MATRIM NIO quando contraindicado
medicamente,
socialmente,
eugnicamente ;
pela ABSTIN':NCIA OU CONTINNCIA, relativa ou absoluta
no matrimnio, quando o dever probe a multiplicao dos
filhos.
4) Ensina que os j ovens - de ambos os sexos - devem
praticar antes do matrimnio, e sem prejuzo a se temer para
as naturezas mais vigorosas,

63
a continncia absoluta,
perfeitamente vivel para sres normalmente educados.
5) Declara e proclama que a continncia, livremente
aceita por esposos conscientes de seus deveres de pais,
no mata o verdadeiro amor,
mas o engrandece e enobrece ;
defende-o de uma runa, espiritualizando-o.
6) Tem a Igreja uma j usta idia das fraquezas huma
nas, das debilidades da vontade perante grandes dificulda
des a serem vencidas. Est ao par do herosmo que muitas
vzes exige dos esposos, herosmo idntico ao que, em tem
po de guerra, se exige do soldado. Mas diz tambm
- que em certos momentos no h meio trmo entre um
heroismo ou uma prevaricao ;
mas que a graa de Cristo, dispensada nos sacra
mentos, pode fazer de cada cristo um heri.
7) E eis seu ponto de vista fundamental sbre o ma
trimnio :
"essa instituio natural converteu-se, por vontade de Cristo,
num sacramento produtor da graa,
ordenado em primeiro lugar
para converter em dois santos aos dois esposos".
8) Essas exigncias da Igreja - que so as de Cristo
devem parecer necessriamente
por demais duras,
impraticveis,
desumanas,
nas perspectivas pessimistas do materialismo,
como na estreiteza de uma doutrina crist mutilada
ou corrompida.
9) Nas perspectivas, autntica e plenamente crists,
a inflexibilidade da lei moral,
a galhardia da Igreja em proclam-la,
sua recusa em descer com a correnteza,
sua confiana na virtude de seus filhos para re
mont-la,
so coisas que caem pelo seu prprio pso e claramente
se compreendem.
Ainda em 1951 Pio XII - aqui interrompo a citao
prevenia os chefes de famlia contra
"o demasiado exagro da importncia e extenso do ele-

64
mento sexual na vida, de modo a induzir o esprito
de um leitor comum a consider-lo como um fim
por si mesmo ;
fazendo perder de vista o fim primordial do casamen
to que a procriao e educao dos filhos ;
deixando na sombra o grave dever dos esposos neste
assunto" . 1
Meu ( ouvinte) , aqui urge estar com Deus ou contra
Deus. Quem no aceita o Evangelho integral. trabalha con
tra o homem e a humanidade. Ou ajudamos o Evangelho ou
preparamos o caminho para os revolucionrios. Abrimos
uma brecha por onde irromper todo o imoralismo anti-hu
mano dos que querem o homem sem Cristo. - Eis o que res
piguei na belssima seara de B. Lavaud.

33. CASA NO ESCURO

"- Sabes que guardei, como legado de sucesso, Har


paste, a bba de minha mulher. Por mim tenho averso a
essa gente. Quando quero alegrar-me com um louco, no
preciso ir longe. Rio-me de mim mesmo. Harpaste ficou cega,
mas - parece incrvel - no sabe que est cega. No cessa
de chamar pelo guia, dizendo que a casa "est tda no es
curo". Dela nos rimos e entretanto sucede-nos o mesmo.
Ningum se enxerga como avaro, como ambicioso. Os
cegos do a mo a um guia e ns erramos sem guia. Di
zemos : sou ambicioso, porque em Roma ningum pode viver
de outro modo. No sou esbanjador, mas a cidade obriga
me a gastar muito. No por vcio que sou arrebatado ;
ainda - no me estabilizei na vida. Coisa da mocidade. Por
que nos enganamos assim ? O mal est dentro de ns ; no
est fora. Em vo inculpamos os lugares e os anos".
Veja o leitor como j eram entendidos os velhos roma
nos. E' Sneca quem escreve tais conceitos na sua carta n. 50.
No sei se a casa do meu leitor est "tda escura". Mas
sei que ser de certo um cego para os defeitos que tem,
ou negando que existam, ou lhes mudando o nome, ou re
partindo-os com todo mundo em casa. Com a espsa, com

1 ) Alocuo aos pais de famlia da Frana, 18-9-1951.

65
os filhos, com domsticos, com fornecedores, com o sol e a
chuva. Raramente com o prprio dono.
Ora, a vida em comum com a espsa timo recurso
para iluminar a casa. Ela, hoje com meiguice, amanh com
uma pontinha de impacincia ou ironia poder apontar os
teus defeitos. Por exemplo numa lista assim :
- Marido, voc muito egosta, no mostra afeio,
no conversa quase comigo, me deixa muito sozinha, no
gosta de sair comigo, no carinhoso, no tem ambio, no
sabe lutar, deixa-se influenciar demais pelos outros. Voc
muito sem horrio para tudo, nada deixa no lugar, des
mazelado. Voc me critica perante outros, nunca presta aten
o a um novo arranjo na mesa, no meu penteado, no meu
vestido.
Voc mais ex-solteiro do que um marido, um pai.
No mostra intersse pelo lar, pelos filhos. No tem auto
ridade. Fala demais. E' ciumento, muito agarrado ao dinhei
ro. Por um nada faz um barulho. Voc desorganizado
at com Deus. Voc . . . olha demais para outras mulheres,
fala demais no telefone, tem sempre mais alguma coisa com
a secretria no escritrio. Voc . . . est comeando a me ser
infiel. No me respeita . . .
A casa est clara, agora. Mas de certo a essa altura " o
cego" estar discutindo, retrucando "que no admite que mu
lher mande nle", que a casa um inferno, que a espsa
foi um desastre na sua vida.
Lembre-se o leitor : os cegos do a mo a um guia . . .
Faa o mesmo, refletindo sbre as razes ou pretextos das
queixas da espsa. Pode a graa de Deus falar pela bca
da companheira, que o sacramento lhe ps ao lado para
o tornar melhor, mais cristo e mais humano.

34. VIRTUDE DE UM LEITO

H cabeas onde o casamento inseparvel da impureza,


a ponto de para muitos ser um enigma a expresso "cas
tidade conj ugal". Fica a impresso de ser o casamento uma
licena para deixar a castidade. Assim o casamento torna-se
uma fornicao, permitida pela misericrdia divina aos que
no so suficientemente valentes para praticar a castidade.

66
O rro evidente. Pio XI fala da castidade conj ugal
e castidade no absteno. Ela tem seus lados positivos e o ma
trimnio no primeiramente uma instituio para se evi
tarem faltas. E' um meio de santidade, uma situao consa
grada, na qual o ideal de castidade sempre maior tem seu
lugar de destaque.
Prosseguindo na exposio, diremos ao leitor casado que
consuma seu matrimnio, e se alegra com a companheira de
sua mocidade, ainda o seguinte :
1) Para ser casto o ato sexual deve estar saturado de
valores espirituais. A castidade quer seja le um autntico ato
de amor humano, com a presena da alma e do corpo. So
bretudo a mulher sente preciso da alma a impregnar tudo
com sua ternura. E parece-lhe aviltante um mero funciona
mento fisiolgico dos rgos, com seu profundo gzo carnal.
E' misso da castidade espiritualizar essa unio. Salvo caso
especial, no tarefa da castidade levar os casados abs
teno do prazer sexual, mesmo intenso. Mas lhe cabe a ta
refa de convert-lo num ato de amor, no qual os valores da
alma predominam.
Ningum exige uma desencarnao do amor para espi
ritualiz-lo. Mas programa da castidade intensificar as to
nalidades espirituais na unio dos corpos. A castidade no
aprovar a tendncia para um prazer rpido, violento, bru
tal, o que seria uma concesso animalidade. Tudo que
instintivo pobre em riquezas de alma.
Temperana conjugal no denota exclusivamente reduo
no nmero de relaes. Denota primeiramente domnio s
bre si mesmo, durante as relaes, para dar-lhes riquezas
h umanas, espiritualiz-las.
2) Para ser casto o ato sexual deve ser fonte de vida.
Saiba o leitor que a vida sexual deve estar constante
mente orientada para o filho. Direta ou indiretamente. Mes
mo quando a fecundidade falha, por motivos inerentes na
tureza, deve o ato trazer uma expanso dos esposos no mtuo
amor, no estreitamento de sua unio e intimidade. So coisas
que trazem vida comunidade familiar. Criam o ambiente
de amor e comunho de almas, to necessrio para formar
os filhos. Teu papel, leitor, no apenas transmitir o sangue
e com ela a vida ao filho. Tens de lhe transmitir tdas as
riquezas do corao, da alma, da f. Unindo as almas, atra..:

67
vs das carnes unidas, o ato sexual cria o ambiente de fe.
cundidade para a educao.
Por sua vez os filhos ajudam a castidade dos pais. Em
suas relaes, pai e me j sentem uma seriedade e gra
vidade diferente da dos primeiros tempos. Tendo encargo de
almas, so cada vez menos capazes de uma abstrao, mes
mo durante suas intimidades conjugais. E isto, ainda que
lhes falte uma conscincia explcita, torna-os mais castos,
porque menos preocupados com o prazer pessoal ou "egosmo
de dois".
Encargos e responsabilidades do aos esposos, nessa
unio, um agudo senso da repercusso de seus atos sbre a
felicidade do lar inteiro.

25. MEU DOCE SILNCIO !

era o nome que Shakespeare dava espsa calma e tran


qila, tda enlevada pelo mundo em que vivia e se movia
() escritor.
Mas pode o silncio da espsa provir da falta de com
panhia, imposta pelo marido, tanto presente como ausente.
Neste caso le peca contra a obrigao de dar assistncia
espsa - para corpo e alma e corao. Ao mesmo tem
po est preparando a morte do amor.
A mulher quer ser tudo na vida do homem amado. Mui
to embora lhe faa concesses de ausncias, de devotamen
tos profissionais, etc., - jamais larga dste programa. Quan
do v o marido absorvido pelos negcios, pelas ambies,
descuidado dela ; s procurando-a por precisar de quem olhe
para a casa, para suas roupas ; de quem lhe acalme os la
tidos da carne, - ento entrar para o mundo das com
paraes . . .
Outras espsas tm outros maridos mais companheiros
e amigos. Invejveis e at . . . desejveis, adorveis. Pode
.acontecer que tomem "ares ausentes perante o marido", im
prudente flecha na estrada da infidelidade.
No sei se o leitor j deu com sses ares na espsa.
Possivelmente ela j ter dado com os teus, caso estejas den
tro do pargrafo que menciono. Pior seria se esta ausncia,
ao lado da espsa, fsse motivada por "amres ausentes" !

-68
Criminoso adultrio, e pecado provocador, teramos ento.
E note-me o leitor o seguinte. A espsa no tem desculpas
para seus ares ausentes. E o marido as possui ou sabe invent
las. Negcios de urgncia, encontros marcados com interes
sados, horrios da profisso ! Poder a espsa mencionar
uma indisposio, uma dor de cabea, um estado nervoso.
E' tudo.
Erram os homens quando pensam ser o suficiente dar
mulher um lar, um confrto e . . . um nome. Ela quer tudo.
Mas sse tudo em trco mido, ao longo das horas, dos dias.
rlos meses, dos anos, da vida, at alcanar o ideal do amor
possvel aqui na terra.
Li algures que "o marido na famlia a janela que
d para a rua". E' o observador e o informante. O cen
rio poltico, econmico, social, cristo largo horizonte para
referncias e descobertas. Desejoso de enriquecer a cabea
e o corao da espsa, o marido ideal saber encher os si
lncios - no doces, mas amargos - da espsa. E' verda
de, as confidncias no podem ser comandadas. No obe
decem disciplina de um horrio. Mas chegam naturalmen
te na calma, quando o esprito descansa e os coraes es
to vontade no calorzinho do aconchego.
Mais de um marido encaramuja-se no silncio ou bate
asas de ausncia, porque no quer ser contradito. Por meio
de uma comparao quero prevenir meu leitor contra se
melhante sofisma. Note-se o seguinte :
Que acontece com uma vara reta, enfiada dentro d'gua ?
Parece torta, quebrada no momento em que penetra no l
quido, isto , num meio de " densidade diferente". O mes
mo se d com a sentimentalidade e sensibilidade feminina.
passando da natureza da mulher para a do homem. E as
sim o casal mais unido deve constatar certas fendas na
mesma conduta para o mesmo bem. Nada dar ao ar
a densidade da gua, nem a esta a densidade daquele.
Madame Disraeli dizia : Never explain, never complain. Nun
ca explicar, pois as palavras mudam de meio, passando de
uma bca para o ouvido de outro. Nunca se queixar - pois
ningum responsvel por essa diferena de densidade. -
Portanto, no ponhas a culpa . . . na mulher "que tu me deste.
Senhor"

69
Acontece com freqncia ser o marido, ou o pai, o gran
de silncio na famlia. As crianas sofrem com isso, ao lado
da me. Nunca o pai acha tempo para lhes falar, brincar
ou distrair-se com elas. Lembro-me bem daquela pequena
belga, cujo pai, a bordo, estirado numa cadeira preguiosa,
passava o dia . . . lendo e lendo. Mas um casal de Santos,
saudoso dos filhos, fazia muita festa menina, com ela se
entretinha, contava-lhe histrias e ouvia-lhe as suas. Prin
cipalmente o chefe do casal. Um dia a garta, tda enle
vada, diz a ste :
- No quer o senhor . . . trocar de mulher, para ficar
comigo e contar-me histrias ?
O pai da menina escutou e achou graa na ingenuida
de. Mas, em boa hora, o interrogado observou-lhe como se
sentia abandonada aquela criana. Haver em tua casa, lei
tor, alguma criana em cuja bca possa aparecer seme
lhante pergunta, por serem os mesmos os motivos ?

VI

36. NAS MALHAS DE CONCLUSES

"Eis o resumo da moral do amor. Fim umco do amor


a unio. Fim nico da unio a colaborao. Fim nico
da colaborao a fecundidade. Fim nico desta a extenso
do reino de Deus.
Eis as malhas. E agora as concluses, para fech-las.
Se o fim do amor a unio e no sendo ela possvel pelo
casamento, ilegtimo o amor dos jovens. Ho de ficar na
pura amizade.
Consagrada a unio pelo Sacramento do matrimnio,
legtimo recorrer aos meios que favorecem a unio.
Mas se o fim nico da unio a colaborao e o desta
a fecundidade, lcito unir-se quando no h fecundidade ?
Se a conceio impedida por leis providenciais, amor e
unio continuam perfeitamente legtimos no casamento. Re
quer-se contudo que as vontades no excluam as "colabo
raes espirituais" . O que temos de repelir sempre o hedo
nismo, que faz do gzo a finalidade do amor. Em vez de
favorecer fecundidade, se lhe ope. Reconduz as criatu-

o
ras ao egosmo, idolatria. Ficou entravada a obra de Deus,
a quem se impede realizar seu sonho de amor. H uma
semelhana com o operrio que faz sabotagem, com o solda
do que trai sua ptria. So empregados contra a vontade
de Deus os presentes de seu amor.
O gzo um grande presente da misericrdia divina.
E' fruto saboroso que suaviza o trabalho da construo da
cidade de Deus. Foi concedido pelo Criador como estimu
lante. Para os homens um meio e jamais pode ser uma
finalidade.
Na falta 'da fecundidade corporal, a colaborao tem de
se referir extenso do reino de Deus, sociedade. O amor
no fogo que se fecha numa lareira. Derrete todo egos
mo, como se fsse uma capa de cra. Tem le um destino mais
amplo, mais espiritual e maior do que a famlia. E' para
a sociedade. Para ns cristos, cremos que seja a Igreja.
Esta cresce e multiplica-se pelo Sacramento do matrimnio
como pelos outros Sacramentos.
Outra verdade, leitor. O a:rnor simplesmente humano
frgil demais para base de um sacramento. Corre o perigo
de corromper e corromper-se. Deus o quer como fonte pe
rene de unio, alegria, vida e felicidade. E ' por isso que
a graa do sacramento purifica-o das escrias, da sensua
lidade animal. No homem, como em Deus, o amor en
trega de si mesmo. Quem nada sofreu pelo ente amado, ou
no foi levado a sacrificar-lhe qualquer coisa de si mesmo,
de seu prazer, de seu "tempo" - no sabe o que amor"
( Fr. Channot) .
Outras malhas estreitam-se ao redor do leitor. Ei-las :
O amor no tudo na vida do homem. Pois nem sem
pre recproco ; suscetvel de fendas e quebras como de
licado cristal. Por cima de tudo, uma criatura jamais bas
tar a outra. Entre dois amantes um no poder ser o
Deus do outro.
No sendo tudo na vida, engana-se quem lhe confere
todos os direitos.
Falham pela base as teorias inventadas para justifica
o dos direitos do amor. Isolam um dos aspectos da vida
humana, uma de suas manifestaes para convert-la numa
espcie de absoluto. E' loucura, rro. Soltar assim o amor,
fazer detonar no corao da vida social uma espcie de

71
fra atmica ou energia nuclear, capaz de amontoar runas
imprevisveis. O homem tem outros sentimentos com pro
grama de ascenso . . .
Essa fra est ao servio da espcie porque se des
tina transmisso da vida, a qual somente ser um be
nefcio quando cercada de condies favorveis ao seu de
sabrochamento.
Nem se pode identificar o amor s com a satisfao
egosta, pessoal, com excluso da felicidade da outra parte.
O amor dualidade. E' cano de duas vozes. E' per
gunta e resposta num dilogo. Amor no gula do cora
o, da carne ; nem desejo ou emoo. Os egostas vivem
desiludidos do amor. Sempre espera das douras ou das
emoes que o amor lhes poder trazer. Sempre desiludi
dos, porque no receberam na medida que esperavam. Sem
pre acabrunhados com recriminaes do ser amado, fatigan
do-o com suscetibilidades, cimes e queixas. S recebem
para tornar a pedir. Mais receberiam, se mais dessem e
menos pedissem. Entretanto recebem menos, porque pedem
muito e pouco do.
O amor exige reciprocidade. Morre com o egosmo, "com
o marido egosta". E a ltima : Depressa acaba o amor
quando s h cobia e prsa.
Marido s obedecendo cobia da carne, e mulher acei
tando ser prsa ? Pode, neste caso, o leitor marcar a data
da morte do amor. Pois no pode o homem dar mulher
essa constncia esperada, quando a cobia essencialmen
te variada. Uma prsa devora-se e o instinto passa para
outra.

37. VIGIA NA BALHESTEIRA

Velhos castelos mantinham vigias em suas balhesteiras.


Serviam para alertar sbre a presena ou vizinhana de ini
migos ou movimentos suspeitos. Teu lar teu castelo. Ini
migos rondam por perto. Deves reconhec-los e sem temor
e sem vacilao enfrent-los. Ei-los, sob armaduras moder
nas : "Todos os que empanam o brilho da fidelidade e cas
tidade conjugal, por palavras e escritos, deitam tambm por
terra fcilmente a obedincia, confiada e honesta, que a mu
lher deve ao espso. Muitos, erguendo-se contra uma supos-

72
la escravido de um conJuge perante o outro, proclamam a
llf.Haldade de direitos de ambos" ( Pio XI) .
E o homem de branco previne contra a trplice eman
r i pao :
1 ) Emancipao fisiolgica da mulher.
Deve ela libertar-se dos encargos de espsa, de me. Ca
I H-lhe perfeito direito de casar-se ( o que a Igreja reconhece)
tm o direito de dar-se a quem a agrade antes do matri
mnio. E depois de casada, dar-se a outros homens e man
ler amizades e amres lsbicos contra a natureza. Direito
ele aceitar ou recusar a maternidade, de eliminar o fruto
ou deix-lo amadurecer em seu seio. - Tal emancipao
1 1o passa de vergonhosa escravido ao pecado, contrria
l i berdade dos filhos de Deus. Emancipao condenadssima
pela Igreja.
2 ) Emancipao econmica df!, mulher.
Pretende-se que a mulher possa tocar livremente seus
1 1egcios, mesmo sem o conhecimento ou vontade do marido.
Que possa dirigir, administr-los ignorando marido e filhos
e a famlia inteira.

3) Emancipao social da mulher.


Quer-se afastar a mulher das preocupaes com o lar,
com os filhos, com a famlia. Tudo isso, para que, apou
cados os desvelos mencionados, possa seguir suas inclina
es e dedicar-se aos negcios e ofcios pblicos.
" Com isso reivindica-se para a mulher o direito de em
pregar-se como lhe agrade, de montar um comrcio, uma
indstria, de abrir consultrio mdico, de advocacia ; de can
didatar-se Cmara e ao Senado, propagandista, agi
tadora, etc., sem ter em conta alguma os gostos, os dese
j0s, as ordens do marido, as precises do lar.
Por fim, isso tudo supe uma transformao completa,
a instaurao do socialismo e mesmo do comunismo que re
duz ao mnimo a vida de famlia ou procura torn-la im
possvel" ( Lavaud ) .
Pio XI resume :
"Nisto no consiste a verdadeira emancipao da mulher,
nem a liberdade to digna e conforme razo e devida
funo de espsa crist, consciente de sua nobreza. E' antes

73
uma corrupo da mentalidade feminina e da dignidade ma
ternal, que rouba ao marido a espsa e aos filhos a me,
casa e ao lar uma guardi sempre vigilante. Pio XI avisa
a mulher para que no desa do trono, em que o Evange
lho a colocou, sob pena de retornar antiga escravido pag
na qual no passava de um instrumento na mo do marido".
Ou ento instrumento na mo de outro homem, diz
Lavaud, j que na luta desigual contra o homem no pode
ser vencedora. Ser portanto vencida e escrava do homem,
com grande prejuzo para o lar e para os filhos. Os filhos
no sero indenizados por uma educao racionalizada, es
tandardizada, mecanizada por equipes.
A Igreja quer pessoas e no numeros ou mquinas.
Por isso defende tambm a pessoa da mulher na sujeio
ao marido. Direitos e deveres da pessoa humana so abso
lutamente os mesmos para a mulher e para o homem. No
se d o mesmo caso com os direitos e deveres determina
dos, em cada sexo, pela natureza e pela Providncia.
Sendo pessoa, a mulher goza, por sse ttulo, de to
dos os direitos que cabem pessoa humana. Mas uma
pessoa feminina destinada pela natureza a ser espsa e me,
ou, se ela no se casa por circunstncias acidentais, para
seguir uma vocao mais elevada, ter por destino a deli
cadeza, a ternura materna, a fineza que so seu patrimnio.
Pio XI afirma claramente que no pretende consagrar
forma alguma temporal de vida e de relaes familiares.
Deixa aos poderes pblicos adaptar os direitos civis da es
psa s necessidades e exigncias do tempo atual, tendo
sempre em vista o que reclamam a natureza e ndole diver
sa do sexo feminino, a pureza dos costumes e o bem co
mum da famlia. Mas respeitando em tudo a ordem essen
cial da sociedade familiar. Essa ordem fruto de uma sa
bedoria mais elevada, de uma autoridade superior sabe
doria e autoridade humanas.

38. "NO TER MULHER

, neste caso, melhor para o homem". Assim comenta


ram com simplicidade os apstolos a sentena pronunciada
pelo Mestre : "Eu vos digo . . . todo aqule que repudiar
sua mulher, a no ser por causa da fornicao, e casar

74
tom outra, comete adultrio ; e o que se casar com urna
t'tpudiada comete adultrio ( Mt 19, 3) .
Volto, leitor, ao assunto da estabilidade do casamen
to. H para cristos urna lei do Cdigo do Direito Can
" i co que reza : "0 matrimnio vlido, rato e consumado,
ni'io pode ser dissolvido por lei humana alguma, por causa
nlgurna afora a morte" ( cnon 1 1 18) . Atrs de cada pala
v ra espiam sculos, lutas e martrios, ao lado da firmeza
da Igreja.
- Corno ento Roma anula casamentos ? Por que rnan
lm um tribunal para isso ?
Quero meu leitor "homem armado", defendendo sua
l'asa. Eis a resposta-arma que lhe ponho nas mos. A Igre
j a jamais anula casamentos contrados e consumados. Mas,
tm casos raros reconhece a nulidade existente. H diferena
o grande entre urna e outra coisa. Suprimir o que existe
urna coisa. Descobrir que um casamento, tido por vlido,
nunca foi tal - outra coisa. No h anulao do que
vlido \Nunca um matrimnio vlido fica invlido. O trrno
_
adequad o -"_de.clara_o d -nulidade" . Eta- exiatia _ logo no
como,(Por ignorncia, pr inotivos otiros, os casados no
___

deram - por ela.


Explico-me, leitor. Suponhamos um casamento entre ir
mo e irm ilegtimos que ignorassem ste parentesco. Tal
casamento seria invlido, apenas quando dessem pelo paren
tesco, ou j desde o corno foi tal ? Claro ; nunca valeu.
Vai esta questo ao tribunal da Rota Romana. Feitos os
estudos e as sindicncias marcadas pela lei, o tribunal de
clara invlido tal matrimnio. Nada anulou.
- Mas, pagando-se bem em Roma, possvel conseguir
a tal declarao de nulidade . . . E os "bem" informados re
ferem casos, naturalmente, sempre tais como les contam.
No tribunal da Rota entram e so julgados processos
de duas qualidades. Dos pagantes e dos necessitados. Uns
e outros podem recorrer a le. Dou aqui uns nmeros apre
sentados por Cirnetier. Nmeros e dados no so retricas.
So argumentos que obedecem lei da gravidade. Note-se
o leitor :
Em quinze anos - de 1927-1941 foram julgadas 530
causas pagantes e delas 184 casos tiveram soluo favor
vel. Logo apenas 34 % . No mesmo perodo apareceram 462

75
causas beneficiadas, gratuitas. Destas, 215 foram contem
pladas por sentena favorvel. Logo 46 % . Tais nmeros dis
pensam comentrios.
Refletindo sbre stes nmeros, o leitor notar que as
declaraes de nulidade no so to freqentes. Em quin
ze anos temos um total 992 casos. E dles 399 receberam
veredito de nulidade. Ora isto d a cifra anual de . . . 26 a
27. Entretanto s na Frana o nmero de divrcios pro
nunciados atinge por ano de "20 a 30.000 casos" ! Nos Es
tados Unidos sobe a 150 a 175.000 !
Denota ignorncia da vida real atacar o tribunal da
Rota por causa de pagamentos nos processos. :tles so com
plicados, exigem laudos de profissionais, buscas, remessas
de documentos, argies, etc. Mas est a o cnon 1914 que
determina : "Os indigentes, completamente incapazes de pa
gamento, tm direito iseno das despesas judicirias e
assistncia gratuita de um advogado ; os que o so em par
te tm direito a uma diminuio das taxas" .
A Igreja humana e materna. No faz diferena en
tre os filhos necessitados de um direito.
Alm do mais deve saber o leitor que, no tribunal, h
sempre um defensor do vnculo. Seu papel defender o
vnculo e rebater os argumentos, trazidos pelo advogado das
partes, em favor da declarao da nulidade, ou em favor
da anulao do casamento contrado mas no consumado.
Em tda diocese existe um tribunal menor para encami
nhar os casos. Tudo a Igreja faz para respeitar a sentena
de Cristo sbre a indissolubilidade do casamento.

39. UM PARASO PERDIDO

" Nossa poca perdeu o sentido profundo do amor. As


anlises freudianas, as tcnicas do amor, as medicaes hor
moniais, as falsas teorias da felicidade, as propagandas an
ticoncepcionistas, natalistas e antinatalistas ; a confuso do
amor com o "sex-appeal", as excitaes multiformes da se
xualidade, etc., perturbaram profundamente sse reflexo hu
mano de Deus. Resvalaram-no para o nvel de uma paixo
ou de um reflexo mecnico, fatal.
Deus ps no centro do corao humano a preciso de
amar. Deu-nos os meios naturais e lcitos de satisfaz-lo. E

76
uuda ps acima da nossa natureza, porque nada exige que
uiw seja nsia profunda da natureza" . Assim escreve certo
Hcritor e mdico francs.
J no temos maridos do sonoro sculo das baladas e
dos menestris. Hoje somamos vinte. Os maridos esto mais
voltados para a mulher do que para a dama. Que paraso
f'l'a o amor conjugal na vida de Lus IX, o santo rei de
I'rana, rei todo perfumado pela graa santificante ! E en
tretanto a realidade teimosa como a aurora de cada dia.
l l cinco aspectos de amor pelos quais a natureza humana
elevada e completada :
O amor do homem e da mulher a Deus,
O amor do homem e da mulher entre si,
O amor dos pais aos filhos e vice-versa,
O amor do homem e da mulher ptria, famlia,
O amor do homem e da mulher por certa atividade cria
dora na arte, na cincia. Numa palavra, no homem o amor
desenvolve-se em trplice plano : amor humano, amor divino,
umor fraterno.
Trs normas ho de luzir como estrlas polares em tua
vida de casado, leitor. E i-las :
" 1 ) O amor foi feito imagem e semelhana do Esp
rito Santo. - Est em Deus a fonte do amor humano. tle
criou o homem, dando-lhe uma natureza espiritual, um des
tino sobrenatural. Deu-lhe tambm corpo e sentidos, que to
mam parte no amor, mas submissos e obedientes alma e
ao esprito. Por profanao chamam os homens de amor
mera unio de corpos. Pregaram-lhe um rtulo tirado do vo
cabulrio biolgico.
2 ) Cessa de ser amor aqule que no a 1esposta do
corao perfeio de out1o ser. - Se a perfeio que seduz
um mo, um casado, se prende ao corpo -, sse pretenso
amor no passa de gula dos sentidos. Prende-se, pelo con
trrio, alma, mais ao esprito e santidade de vida ? Me
rece ento o nome de verdadeiro. E' bom que meu leitor se d
bem conta do alcance dste princpio. Encontrar pessoas
preocupadas em expor seus atrativos fsicos, em fixar s
bre si os desejos, como finalidade do amor. Que acontecer
neste caso ? Apenas isto : tais mulheres despertaro desejos
altura do gnero de perfeio que manifestam.

77
Expem corpos e carnes e atrairo somente os sensuais,
os carnais, os indignos, "os corpos sem alma", os cora
es vulgares. Numa palavra, os vencidos e subj ugados e
mergulhados na matria.
Oferecem apenas um prazer para os sentidos ? Sero
amadas para o prazer dos sentidos. Outra a posio quan
do a beleza, descendo da altura do esprito e de cimos puros,
atravessando as formas sensveis, transfigura a alma. E esta
torna-se ento um convite para uma ascenso. Entre cris
tos - como ser teu lar, leitor - vamos subir ainda mais.
Quanto mais se atrado pelo estado de graa de uma
alma, com tdas as belezas divinas e os encantos humanos
que ela comporta, tanto mais seguro se est de uma vida
no verdadeiro amor, que termina nos braos de Deus.
3) O amm foi dado ao homem pot Deus para a fecun
didade. - No h coisa mais sublime do que sse aplo
de Deus a todos os sres viventes, de prolongarem e es
tenderem os efeitos de seu poder criador para a fecundi
dade de suas vidas.
Feito imagem de Deus, sobretudo pelo poder de
procriar filhos sua imagem que o homem se assemelha ao
Criador. Decidiu ste que o homem colaboraria na exten
so de seu poder e at de sua paternidade. Por isso me
teu-lhe, no ntimo do ser, a irresistvel preciso de tornar
se - ajudado por Deus - um criador e um pai. Essa pre
ciso o amor. Eis por que to universal, to violento.
O domnio que exerce em a natureza um sinal certo de
tratar-se de um plano, ao qual Deus ligou a mxima im
portncia.
O grande pecado do amor excluir a fecundidade e
s procurar, nos seus arroubos, o prazer que causam. Nemo
sibi vivit ! Ningum vive somente para si prprio. I

Diz o citado autor que "at a alma, tomada pela cari


dade infusa, ser ao mesmo tempo possuda pela paixo do
sacrifcio para aumentar o nmero dos filhos de Deus. Sa
cerdotes, religiosos, virgens, esposos - todos esto sujeitos
1 ) Franois Charrnot, L'amour humain. - Edit. Spes-Paris, pp.
171-173.
Nota. - Quanto ao segundo ponto convm lembrar ao leitor que
Deus colocou algo acima da nossa natureza como objeto de um amor
sobrenatural. Alm disso tornou possvel tal amor sobrenatural pela
virtude infusa da caridade, que atinge a Deus e ao prximo.

78
1\s gloriosas ex1gencias do amor que cria vidas. Esto obri
gados a trabalhar, por uma colaborao ntima, na pro
pagao da vida divina.
Ao amor mais casto e mais elevado e mais poderoso
corresponde uma fecundidade com os mesmos predicados.

10. AUDACIOSO SIMBOLISMO

"De acrdo com a razo, o Evangelho condena ao mes


mo tempo tda mutilao das tendncias afetivas do ser hu
mano, bem como tda perversa exaltao das paixes animais.
O casamento cristo deve a S. Paulo uma revelao. Qual ? A
i ntimidade dos esposos sinal da unio de Cristo com sua
I greja. E' um smbolo.
Seu audacioso simbolismo fica patente aos olhos dos es
posos, numa trplice forma. Lembra a predileo suprema
do Crucificado morrendo pela Igreja, sua Espsa. Significa
o profundo sentido do amor conj ugal entre cristos, amor
it moda de Cristo por sua Igreja. Prefigura por fim a unio
consumada de Cristo com sua Igreja, nos resplendores da
glria.
E assim o menos espiritual dos sacramentos, quanto a
seus efeitos na alma, ultrapassa a todos pela sublime aud
eia de seu simbolismo. Nada no mundo traduz com tanta
fra o ardente amor de Cristo por sua Igreja, como a apai
xonada ternura que traz unidos o homem e a mulher "numa
s carne" ( Philipon, O. P. ) .
Vem da a preocupao materna da Igreja com a men
talidade crist no amor humano, que no sacramento Deus
nperfeioa com sua graa. Quer v-lo "ao mesmo tempo so
brenatural e terno, divino na sua origem e cordialmente
h umano em suas altas manifestaes" ( Pio XII ) . Garante
nos o homem de branco que sse rico amor humano tal
permanecer, enquanto fr cristo.
No estranhe o leitor que repisemos certas verdades.
Andam apedrejadas, escurraadas, atiradas ao ridculo em
muitos lares. A doutrina catlica detesta o falso misticismo,
l o qual nascem, por reao, os piores desregramentos. So
reconhecidas legtimas as relaes de marido e de mulher.
O ato conj ugal louvvel e mesmo meritrio, vivamente

79
aconselhado em certas ocas10es para evitar a fornicao, o
adultrio e outras formas de luxria. Deus fala com cla
reza : "Que o marido cumpra seu dever e a mulher tam
bm ( 1 Cor 7, 3 ) . - "No vos recuseis um ao outro, a
no ser de mtuo acrdo e temporriamente para dar-vos
orao. Depois convivei outra vez, por receio de que a
vossa continncia no deixe margem para Satans vos ten
tar" ( ibid. 7, 5 ) .
- "O corpo da mulher no lhe pertence,
mas pertence ao marido. O corpo do marido no lhe per
tence, mas pertence mulher" ( lbid. 7, 4 ) .
Mas sses corpos s podem ser mutuamente doados
dentro da castidade. Pois pertencem les a Cristo, antes
de pertencerem ao homem e mulher. O batismo consa
grou o homem integral, corpo e alma, como templo da SS.
Trindad. Po isso Pio )\ll relmJ.:lra se:rp.p!_e uma vrdade :
__

,
io casamento um meio de santificao. Entre cristaos os
noivos se casam para se tornarem santos. __-

" Perante as doutrinas errneas do mundo moderno e


de todos os perigos da minimizao do ideal do casamen
to cristo, a Igreja, detentora do pensamento de Cristo,
vem lembrar-nos a verdade libertadora do Evangelho. Mes
mo no estado conj ugal esto os cristos chamados mais
alta santidade. O amor divino torna-se a regra suprema de
seu amor humano. No se trata de qualquer cama1adagem
ou afeio entre les. Trata-se de verdadeira caridade : de
amizade com Cristo. Atravs de todos os acontecimentos da
vida cotidiana, nos menores gestos familiares, nas suas
relaes mais ntimas, deve continuar a ascenso das almas
para Deus. Chegar a ser santos : eis a finalidade domina
dora de todo amor conjugal em Cristo. A Trindade do ba
tismo est sempre presente, acompanhando-os em cada passo
da vida, guardando-os sob a proteo da graa redentora
contra a sombra de todo mal. E' um ideal raramente rea
lizado, mas continua sendo lei absoluta" ( O mesmo) .
O citado autor termina lembrando as palavras da En
cclica de Pio XI sbre a possibilidade e o dever que todos
tm - vivam l em que estado de vida quiserem - de
imitar o Exemplar ideal de tda a santidade, Cristo Senhor.
Importa, leitor, que os casados se considerem mutua
mente como coisas sagradas. No , porventura, misso do
lar o representar aos olhos de todos a intimidade, a fide-

80
I idade, a fecundidade de Cristo com a Igreja ? No foi le
escolhido para ser uma parbola viva do amor puro que
prende Deus humanidade, Cristo Igreja ? E o espso
representar a Cristo e a espsa a Igreja. Pio XII, re
lembrando isso tudo em suas alocues, diz que o jovem
espso deve ter em conta de sagrada e veneranda a espsa
e esta a le ( Aloc. 3 de Maio de 1953 ) .

41. "MADAME, NO SAIREIS !

Madame, no ireis comdia ; no vereis tal ou tal


pessoa ! Isto , madame me pertenceis de corpo e alma. A
natureza fz as mulheres escravas. E' direito do marido di
zer isso s mulheres".
Tal foi a arenga de Bonaparte, quando preparava o
Cdigo francs. Perante o Conselho de Estado. Elas . . . vin
garam-se. Bonaparte foi escravo de muitas.
Ora, sabe o leitor que a espsa companheira que
leva coroas e cetros. Em casa corao e rainha, como es
psa e me. Seu reino mais humilde, mas um reino. Ela
tem o mesmo direito ao descanso, como o marido. Distra
es honestas e saudveis, que normalmente gozar em com
panhia dle e dos filhos, entram na lista de seus direitos.
A aprovao do marido no deve ter a forma de uma graa
"de sua majestade", de um favor insigne, quando se trata
de distrao legtima e s no seu objeto, na sua modalidade.
Ares autoritrios, recusas descabidas podero obrigar a
espsa a conformar-se por causa de um bem maior, como,
por exemplo, a paz, a harmonia. Mas ser isso uma re
nncia de um direito que lhe cabe.
Ningum mais assinaria a arenga de Bonaparte nos dias
de hoje. Para um casal cristo, na aurola da espirituali
dade do sacramento, tal linguagem escandalosa. Mandar
a uma espsa, que no criada seno companheira, com
um tom sco e duro, por si mesmo pecaminoso. No sei
se meu leitor mais delicado nas ordens dadas s criadas.
Possivelmente o ser. Pois elas aturam muito menos do que
"a amada espsa, sonho de uma vida".
Concordo com o leitor : em casa a espsa no com
pletamente independente. O marido ter sempre o poder do
contrle. Mas esto as refeies no seu horrio, a casa em

81
bom arranjo e andamento, bem compostas e cuidadas as cri
anas, tudo de acrdo com as possibilidades sociais ? Nada
tem o marido a reclamar.
De Wint apresenta a seguinte frmula para expressar
a autoridade do marido, tanto na vida conjugal como
parenta! :
"Quando as opinies dos dois esposos esto divididas,
depois de sincero ensaio de conciliao, sendo as duas opi
nies conformes lei de Deus, ento deve ceder a me e
no o pai. A no ser que se trate de um fato relevante da
competncia prpria me".

Pio XII desce a um mimoso detalhe sbre o procedimen


to do homem no reino de sua espsa. Quer que busque os
pormenores gratos, as delicadezas amorosas, em vez dos de
feitos ou esquecimentos. Arma um cenrio : a espsa, lem
brada do aniversrio do casamento, prepara uma mesa me
lhor, mais alegre, no faltando o prato preferido pelo es
pso. Pe flres na alma e na mesa. Nisso volta o marido.
Mais cansado do que de costume, abatido por contrarieda
des imprevistas. Chega mais tarde, sombrio e preocupado
com outros pensamentos. As palavras afetuosas e festivas
que o acolhem caem no vcuo, deixam-no mudo. Nada per
cebe na mesa posta com tanto amor. Apenas repara que
aqule prato, ainda que preparado de modo melhor, ficou
mais tempo no fogo. Queixa-se, sem pensar que a razo est
no atraso com que chegou em casa. Come s pressas, por
que, como diz, tem hora marcada. Mal desaparece, a jo
vem espsa, to embalada com o sonho de uma alegria doce
mente recordativa, gozada ao lado dle, encontra-se sozinha
na casa deserta. Faz aplo sua f e a seu valor, para reter
as lgrimas que lhe assomam aos olhos. E lembra Pio XII
que o marido tem direito de achar pesado o trabalho de
um dia mais carregado de aborrecimentos. E pergunta : Mas
cr ou pensa que sua espsa no sente ou nunca experi
menta cansao e fadigas ? O amor verdadeiro h de mos
trar-se mais forte do que o cansao, do que as contrarie
dades e os contratempos. Mais forte do que as alteraes
do humor pessoal. E' preciso dominar a si mesmo, bem
como os acontecimentos exteriores. No ficar merc dles. '

' ) De Wint S. J., obra citada.


') Alocuo aos noivos, 25 de Maro de 1942.

82
No digas que isso so ninharias. Apesar de ninharias
os grozinhos de areia chegam a formar dunas estreis. Eu
lastimaria, se o leitor andasse ajuntando areia entrada de
seu lar, sem talvez a perceber porque nunca se examina
seriamente sbre ste ponto, sbre desatenes dirias ao
longo dos anos e na esteira das horas.

42. UM SOFISMA COMUM

No faltam na bca de muitos acusaes contra casais


que, sem amor, vivem ainda unidos um ao outro. No so
tolerados pelas "almas sensitivas mimosas" de certas rodas,
nas quais de resto se toleram crimes.
Salvar as aparncias, vivendo na hipocrisia - eis o que
conferem como lema a stes casais sem amor. Quero nesta
altura lembrar ao leitor o seguinte : "As aparncias tm
seu valor. De um lado formam a armadura da sociedade
e, de outro, asseguram, um pouco moda de dinheiro em
papel, a continuidade e harmonia das relaes exteriores en
tre os homens" . J Pascal havia observado que, sem "essas
regras de j go", vida alguma social seria possvel.
E alm disso definimos bem o que entendemos pelas
palavras sinceridade e hipocrisia. Ser insincero quem, pas
sando sedento por um laranjal alheio, se abstm por ho
nestidade de apanhar frutos de outro dono ? Sua sde re
clama as laranjas . . . Ser fingido o soldado que, atirando
se para um assalto, sente vontade louca de disparar e so
breviver ? Vale o mesmo para esposos que, sem se amarem,
permanecem fiis aos compromissos do casamento.
Se chamarmos de hipocrisia tudo que representa uma
vitria sbre si mesmo, a que chamaremos de sinceridade ?
Ser preciso, sob pretexto de viver algum de acrdo con
sigo mesmo, dar largas aos seus impulsos, pr em prtica
todos os seus desejos ?
S a perfeita unidade interior poder l ivrar o homem
de ocultar, na escurido e no silncio, uma parte de si mes
mo. S depois de consegui-la poder revelar-se tal como .
Somente os irracionais e os santos ignoram o conflito in
terior e so integrais em seus atos. Escapam hipocri
sia, os primeiros por instinto e os ltimos pelo amor, ob
serva Thibon a quem venho citando livremente.

83
Sabe o leitor que a patada de um burro sincera, por
que instintiva. O ato herico de um santo o tambm,
porque nle predomina o sobrenatural. Ora os censores e
censoras dos casais "fingidos", pergunto, j so santos ?
Note-se o leitor mais ste sofisma do pensamento mo
derno. Seu centro o existencial e o subjetivo. Da sua ten
dncia de sobrepor o indivduo coletividade. Ou ento des
przo e descuido lhe so normas d iante de tudo que, em
nossa natureza e nosso destino, permanece irredutvel. Quais
as primeiras vtimas dste sofisma ? As leis, as institui
es tanto humanas como divinas - que tm um ser,
uma dignidade prpria independentes de pessoas enderea
das por elas. Entretanto - diz Thibon - "so apreciadas
como valores ou como legtimas, somente de acrdo com seus
efeitos psicolgicos, suas ressonncias existenciais. E se os
feitos so invisveis, se a auscultao das almas no per
mite revelar essas ressonncias, a instituio esfuma-se no
nada".
Aplicado ao casamento, o resultado ste : Se nle o
amor no forma o ambiente, o ar, a vida - o casamento
no existe. Nesta marcha, o que sobrar da melhor insti
tuio humana ou divina ? Que coisa ter estabilidade na
sociedade ? Peo ao leitor acompanhar-me no trecho que cito
ao p da letra :
"O que no est unido . . . A palavra s tem aparncia
de ir longe ; no vai alm do homem e dos seus arrepios
subjetivos. O que Deus no uniu sbre o plano da experi
ncia individual, pode ter unido em outro plano. Tda ins
tituio, alvejando imediatamente a existncia de pessoas e
a manuteno da ltima orientao delas - a saber, a co
munidade conj ugal e a comunidade eclesial - lhes trans
cendente. Ou pelo menos se identifica sua transcendncia.
A posio de S. Toms exclui qualquer escapatria neste
ponto. questo proposta, se um casamento realizado por
uma razo "desonesta" ( por exemplo, pelo puro desej o car
nal ou intersse material) constitui um verdadeiro casamen
to, assim responde : Tal unio perfeitamente vlida, em
bora o contraente esteja, por ste fato, em estado de peca
do. Fizeram-lhe a objeo de ser o casamento um bem em
si mesmo ; ser imagem terrestre da unio de Cristo com a
Igreja ; de no poder legitimamente proceder de uma cau

84
:;a impura. E o santo replica : " Uma coisa o casamento
.. outra a inteno dos contraentes . . . " No edifcio social os
i udivduos so pedras e as instituies a argamassa. Hoje
muitas pedras queixam-se de estarem presas pela argamas
sa, sem sentirem os efeitos no seu interior. Sentem-se sO
zinhas no edifcio. Mas assim mesmo a argamassa preen
che sua existncia e sua finalidade. E se cada pedra re
voltada contra essa argamassa inumana, que a prende sem
impregn-la, reivindicar sua liberdade pessoal, o resultado
mais evidente de tal aplo "aos direitos do indivduo" ser
o desmoronamento do edifcio" .

VII

-13. UMA CARTILHA EM CASA

que, desta vez, no ir para a mo de teu filho peque


no, projeto de estudante. Ficar em tuas mos, leitor. Dou
lhe o nome de "cartilha do amor humano" .
Amor humano a resultante de dois mistrios : o
mistrio do amor e o mistrio do homem. Ajuntemos o mis
trio da graa para a compreenso desta obra-prima, que
o amor humano tornado sobrenatural e que deve ser o
vnculo do casamento.
Por ser o homem corpo e alma, tudo quanto huma
no por sua vez sensvel e espiritual. Nada no homem
exclusivamente animal, nem mesmo seus atos ordinrios que
aparentemente mais o aproximam dos irracionais, como o
comer e o dormir. Por outro lado, nada no homem exclu
sivamente espiritual. Nem mesmo a sua inteligncia que de
pende do conhecimento que lhe transmitem as mos, os ou
vidos, os olhos. No homem a parte mais nobre a alma,
que a mais perfeita tambm. E' ela que penetra, anima,
d vida ao corpo e o habilita a servir aos fins que pretende
alcanar. O humano portanto o espiritual dominando o
sensvel ao qual est unido. Dominando-o de maneira a
manter ntegra a sua verdadeira natureza.
Logo o amor humano no puramente espiritual, como
nos anjos. Nem simples atrao sensual, como nos animais.
Nem se reduz a uma "confusa e desordenada mistura de
sensual e espiritual" . Hoje diramos : um balanceado qual-

85
quer. E' movimento que nasce da alma espiritual e senso
rial e sob seu influxo desdobra suas manifestaes sens
veis, tangveis. Normalmente o amor tende a passar da al
ma ao corpo, do espiritual ao sensvel. E' preciso que o
corpo participe dessa expanso da alma que o penetra in
teiramente. Manifestado pessoa amada, sse amor retor
na sua fonte, enriquecida pela permuta de expanses. Eis
o amor humano. Atravs dos sentidos - olhos, ouvidos, tato
- quer sentir a alma gmea. E' alma que procura alma
e nota se de fato a recebe atravs dos sentidos.
sse amor pode ser penetrado pela graa que o eleva
e apura, respeitando-lhe embora tdas as suas riquezas. A
graa no se engana. No vai atrs de uvas ( amor ang
lico) onde h urtigas ( amor humano) . Assim a graa so
brenaturaliza o amor humano. Enobrece, atravs do espri
tual, o amor sensvel sem o destruir.
Amor conjugal, entre cristos, amor humano enrique
cido pelo elemento da graa do sacramento. Diversos ele
mentos o constituem :
l' elemento fsico, sensvel que o distingue de qualquer
outro amor humano : a atrao sexual. Sero dois numa
s carne.
2' elemento espiritual com caracteres especiais. Mais ele
vado do que o primeiro, unindo duas inteligncias, duas
vontades na adoo dos mesmos horizontes e programas, das
mesmas leis morais, na mesma escalada de um ideal digno.
- Rpidamente alcanaro a mtua compreenso os espo
sos, que se amam com sse amor conj ugal espiritual ! Na
sua falta, les restringiro o seu amor ao aspecto sexual ou
satisfao sexual. No sendo isto possvel, por qualquer
circunstncia, eis a o desmoronamento do lar.
39 elemento sobrenatural que se rene aos dois j exis
tentes - sensvel-sexual e espiritual. Isso contudo no caso
do casamento cristo, religioso. Nunca deve o leitor esque
cer-se disto : o casamento entre dois batizados um casa
mento-sacramento e no uma simples unio no plano natu
ral. E' alguma coisa mais que o casamento legtimo, mas
apenas natural dos pagos ou mesmo dos no-batizados
entre les.
Com maior razo, infinitamente superior ao pretenso
casamento de catlicos celebrado, seja por um ministro

86
protestante ou pelo oficial de registro civil. Temos neste caso
um contrato que no casamento e no altera em nada
o estado dos contraentes. Aos olhos de Deus no esto ca
sados, mesmo que leis humanas os considerem tais.
Por ser sacramento, entre cristos tambm uma fon
te permanente de graas diversas. Corre sempre atravs dos
anos, a vida inteira. S a morte, separando os cnjuges,
vir estancar sse manancial.
Aqui termino, citando livremente o "Curso de Prepa
rao ao Casamento" dos escritores canadenses, editra Santa
Cruz. Vamos ouvir uma outra lio.

44. DEUS E' AMOR

"Amor substancial e infinito, compraz-se eternamen


te na contemplao de sua infinita perfeio. De sua pr
pria riqueza chama outros sres existncia. Tda criatura,
derivao mais ou menos remota do Amor infinito, fruto
do amor e no se move seno pelo amor.
A obra-prima de Deus o homem, ao qual concedeu o
poder de amar, poder desconhecido s criaturas irracionais.
O amor do homem pessoal, isto , consciente ; livre, isto
, sujeito ao contrle de sua vontade responsvel.
Mas o Senhor, alm da vida e do poder de amar, deu ao
homem um novo presente sbre-humano : a graa. A graa
um prodgio inescrutvel do amor de Deus. E' maravi
lha em cujo mistrio a inteligncia humana no pode pe
netrar e o homem chama de "sobrenatural" .
O amor puramente sensvel tem sua terna e comovente
beleza, mesmo nas criaturas irracionais. Deus compara-se
a si mesmo guia que, revoando por sbre seus filhotes,
convida-os ao vo ( Dt 32, 1 1 ) .
Mas o amor humano incomparvelmente mais nobre,
porque dle participa o esprito sob o impulso do corao,
sta delicada testemunha e intrprete da unio entre o cor
po e a alma. ste encanto do amor humano tem sido o
tema inspirador de obras maravilhosas do gnio na litera
tura, na msica, nas artes plsticas.
Contudo, de que nova e indizvel beleza se veste o amor
de dois coraes humanos quando, com seu cntico, harmo
niza o hino de duas almas vibrantes de vida sobrenatural !

87
Tambm aqui verdadeira a troca mtua de ddivas. E
ento, com a ternura sensvel e suas alegrias sadias ; com
o afeto natural e seus lances ; com a unio espiritual e suas
delcias, - os dois sres, que se amam, identificam-se em
tudo que tm de mais ntimo. Isto desde a profundidade
inconcussa de suas crenas at ao vrtice insupervel de
suas aspiraes : Consrcio da vida tda, comunicao do
direito divino e humano" - como diz o ritual das Npcias.
Eis a o matrimnio cristo. Segundo a clebre expres
so de S. Paulo, est modelado sbre a unio de Cristo
com sua Igreja ( Ef 5, 32) . Num como noutro, a doao de
si mesmo total, exclusiva, irrevogvel. Num e noutro, o
espso cabea da espsa, que est submissa como ao Se
nhor. Num e noutro, a mtua doao torna-se princpio de
expanso e fonte de vida.
O amor eterno de Deus fz o mundo e a humanidade
surgir do nada. O amor de Cristo para com a Igreja gera
as almas para a vida eterna. O amor do espso cristo
sua espsa participa destas duas efuses divinas. Enquan
to seguem a vontade formal do Criador, homem e mulher
preparam a habitao de uma alma, qual o Esprito Santo
vir com sua graa. Eis por que os esposos cristos so co
laboradores de Deus e de seu Cristo, ao seguirem sua vo
cao. - Assim falou o "homem de branco" em Roma aos
23 de Outubro de 1940. 1

45. ERRANDO A RECEITA

tua ilustre dona de casa perdeu o prato que pretendia pre


parar-te no dia de teu aniversrio. Foi um mal, foi grande
tristeza para ela. Mas o rro no derruba a casa, nem a
felicidade. H outro rro de receita que funestssimo. Cha
mo-o errar a dosagem ou jerarquia dos trs elementos que
formam o verdadeiro amor conjugal entre cristos. O leitor
j leu que se chamam elemento fsico, elemento espiritual,
elemento sobrenatural.
Um amor conj ugal que mudasse a ordem, pondo por
exemplo o esprito a servio da carne, seria falso. Se deixar
faltar um dos elementos incompleto.

1 ) Pio XII agli sposi - Srie seconda 1940 - E diz. Civilt


Catolica-Roma.

88
Dever predominar o amor sobrenatural, cujo funda
mento est no valor sobrenatural da pessoa amada, espso
ou espsa. Est no desejo ainda maior de nela ver a flo
rao da graa santificante.
Em segundo lugar, entra o amor espiritual, repousan
do nas prendas do esprito e do corao e do carter do
cnjuge. Nas paisagens da alma onde no faltam encantos.
No ltimo lugar, vem o amor sensvel e sexual, cujas
bases esto nas efmeras qualidades fsicas do outro cn
juge, na atrao sexual motivada por elas. Naturalmente aqui
a atrao relativa. Atrai a ste ou quela, no tendo mui
tas vzes, nenhum dos dois atrados, dotes atraentes para ou
tros observadores. So as clebres razes do corao. Quem
o preto ama, branco ste lhe parece - dizia o famoso P.
Vieira.
Nada, leitor, de deixar fora qualquer um dos trs ele
mentos do amor conjugal. Nenhum dles dispensvel por
que nenhum independente do outro. Como a alma no
independente do corpo ao qual est ligada. Como a graa e
o valor sobrenatural de uma pessoa no lhe dispensam a
alma e o corpo.
Andaria errado o leitor, caso descresse da realidade do
elemento sobrenatural na alma e no amor da espsa. Os ma
ridos que impedem a vida religiosa da mulher, combatem
a espiritualidade conjugal. Esto cortando na prpria car
ne. Perdem o melhor do amor verdadeiro. Hoje, com a ms
tica do matrimnio, vemos casais de almas dadas para a
mtua santificao da vida, para a prtica de certa ascese
conjugal. Gostaria de ver o meu leitor conhecedor e adepto
desta receita.
- As mulheres no entendem isso e aquilo ! Tm in
teligncia curta, com exceo para as coisas de casa . . . ! E'
isso aforismo entre muitos maridos. Ao contrrio, preocu
par-se com o desenvolvimento da inteligncia da espsa,
com a orientao de sua vontade, de seu gsto pelo belo,
pelo bom, pelo verdadeiro na vida, - faz parte do elemen
to espiritual.
O elemento fsico ditar as ternuras e aconchegas, como
testemunhas do amor espiritual-sobrenaturalizado. Dadas e
recebidas de acrdo com a lei divina, so salutares, so pa
cificadoras e do juros de amizade, de amor, de harmonia.

89
Os prazeres pecaminosos - em casa e fora dela - so per
turbadores de tda ordem pessoal, domstica, social, divina.
Uma s carne, mas tambm um s corao, um s es
prito, uma s alma. E sobretudo importa no errar a re
ceita na primeira noite de doao e posse. " Um amor
levantado como uma casa, pedra por pedra. A pedra de ali
cerce ser a primeira noite. Dela poder depender tda a
vida comum no lar. Os mdicos afirmam ser real o grande
choque fsico sofrido pela mulher ao ser deflorada. A lem
brana dessa noite ficar para sempre gravada em seu es
prito. A ti, leitor, cabe torn-la bela e amvel lembrana" .

No banquete do amor sentam-se como convidados o cor


po - o esprito - o corao - a alma.
A unio das carnes apenas uma parte do amor. E
nela no deves procurar somente o teu prazer, mas tam
bm o da espsa. Muitas espsas, fsica ou sentimentalmente
tnsatisfeitas pelo egoismo do marido, correm o risco de pro
curar a satisfao com outro homem, cuja espsa lhe gaba
as prendas e jeitos.

46. INTER VINA MARITI,

isto , entre os vinhos do marido a espsa procura adl


teros mais moos do que ela" - escreve-nos o velho Horcio,
referindo-se aos vcios de Roma. ( Ode VI, Livro Ill ) .
Isto mencionou sem conhecer as boites de hoje e outras
belezas semelhantes. Por sua vez o marido, tocado pelo vi
nho, fcilmente se esquecer da trplice fidelidade da mente,
do corao e do corpo. Exps a espsa ao perigo e arriscou
se tambm.
Pio XII lembra aos maridos trs formas de imprudn
cia neste assunto : a leviandade, a excessiva austeridade e
o cime. Quer que o leitor saiba ser coisa perigosa afir
mar que o casamento torna lcito qualquer espetculo, qual
quer leitura, qualquer relao. Espetculos muito livres,
mesmo com a presena do marido, podem trazer graves da-

-
' ) Dr. Picard, Amour, Mariage, Bonheur. Editions de L'Action
Familiale - Tournai, Bruxelles. - Livro muito recomendvel, com
posto "por um mdico, um homem da lei, um romancista, uma assis
tente social".

90
nos vida conjugal. Filmes com seus cartazes e ttulos
tambm.
Leituras relaxadas, deturpadoras do amor, da fidelida
de, da seriedade da vida estendem um nevoeiro sbre a
ulma. Nutrem-na com sonos fantsticos, roubam-lhe a idia
da realidade e do dever.
Hoje com novelas dentro de casa, com programas de te
leviso - chamada pelo Papa " injeo endovenosa", por
que atinge diretamente o lar -, o perigo cresce desme
didamente.
Modas para agrado da espsa e vaidade do marido
so igualmente mencionadas pelo homem de branco. Modas
nos vestidos e modos na conduta. So convites a encorajar
muitos caprichos e audcias.
De outro lado, uma excessiva severidade condenvel.
Essa transformaria o lar numa casa "sem luz nem alegria.
sem salutar e santa diverso, sem largos horizontes de ao".
E muito marido usa de rigor com a espsa por comodismo
egosta. No quer lhe fazer companhia. No quer deixar o
seu sossgo. Reine no lar - diz Pio XII - o senso vir
tuoso da medida daquilo que convm. Alegre-se o marido
em ver sua espsa vestir-se e mover-se com decente elegn

cia. ( Muito entre ns : no preciso, para tanto, comprar


lhe mais um vestido pelo ltimo figurino) . Mas de acrdo
com seus recursos e sua condio social.
Meu leitor, como humano nosso guia espiritual ! Diz
textualmente : "Encoraje nesse particular e alegre sua es
psa com algum presente gentil, com certo deslumbramen
to e louvor de sua gentileza e de sua graa. Apreciem am
bos a leitura comum de belos, teis e bons livros. Com dis
crio concedam-se sos e honestos divertimentos, causado
res de descanso e de alegria. Leituras e divertimentos con
vertidos em fontes de perene e crescente alimento s suas n
timas conversaes e discusses. Cada qual sinta comprazi
mento vista do outro brilhando na atividade profissio
nal ou social, ou tornando-se amvel com sua sorridente
simpatia, entre os am1gos comuns. Nada de um ensombrar
o outro".
Marido que nunca v algo de diferente e agradvel nos
arranjos da espsa cede, mais tarde ou mais cedo, seu tro-

1 ) Alocuo, 18 de Novembro de 1942.

91
no ao amigo que nunca os deixa passar despercebidos. Mui
to entre ns e baixinho : E' prefervel not-los na espsa,
do que descobri-los nas outras, na secretria de cada dia . . . ,
na companheira de fbrica, de usina.

47. DORMIA MINHA MULHER

ao meu lado, enquanto eu passava noites em viglias


e angstias. Refletia fingindo dormir. Via os perigos imi
nentes que me deixavam pesado o corao. No obstante
agradeo a Nosso Senhor ter-me dado a graa de jamais ad
mitir o pensamento de uma capitulao.
Estas linhas so de um mrtir - Toms Morus -
sua filha, noticiando-lhe a renncia ao psto de chanceler
e a oposio heresia do rei Henrique VIII. Naquele ce
nrio do amor humano, num leito de casal, prevalecia em
sua alma o amor a Deus.
Vejamos o contraste na atitude referida e tomada por
um dos nossos homens de letras. Conta como, em lhe dor
mindo a espsa ao lado, punha-se todo atento, ouvido quase
colado bca da adormecida, para lhe surpreender o . . .
nome de algum. Eram os cimes no motivados. Mas
apesar dles, ste marido tinha certos encontros conhecidos
pelos amigos, pela espsa. Pois no h crime perfeito.
Pio XII chama o cime de perigosssimo escolho para
a fidelidade. Tudo que se pode dizer dste mal, jamais ex
pressar bastantemente sua gravidade. Pobre espsa ! Aqu
le que lhe devia ser consolador em tdas as penas e apoio
seguro, mostra-se cruel para com ela. Um esprito assim
prevenido est disposto a acreditar em tudo, em acolher t
das as denncias, sem discernir o verdadeiro do falso. Anda
mais inclinado a escutar quem lhe confirma as suspeitas, do
que a quem procura dissip-las. As sadas e entradas, as
palavras, os olhares, os menores suspiros, tudo vigiado. A
infeliz espsa tem de suportar tudo em silncio. Prsa, por
assim dizer, ao leito conjugal, no pode permitir-se um pas
so, uma palavra, um suspiro sem ter que dar razes at
criadagem. Aqui terminam as palavras de S. Joo Criss
tomo, o " incomparvel psiclogo" citado pelo Papa que con
tinua : No pode uma tal vida tornar-se intolervel ? E, fal
tando-lhe o apoio de uma verdadeira virtude crist, como

92
se maravilhar algum, se a fidelidade naufragar ? (Aloc.
18 de Novembro de 1942 ) .
Leitor, vo aqui trs coisas que amedrontam o corao
do Sbio e tambm uma quarta que lhe empalidece o rosto :
o dio de uma cidade contra um cidado, a revoluo e a
calnia . . . e uma mulher ciumenta ( Ecli 26, 5 ) . Mas des
ta ganha longe o marido ciumento . . .
Prova-o a santidade a que chegou Isabel Canori Mora,
fidalga romana ( t 1825 ) , ao lado do advogado Cristvo
Mora, marido de vida desregrada, mas cheio de cimes que
se converteram em frieza e depois em dio. O confessor
aconselhou a Isabel solicitasse a separao eclesistica, quan
to vida em comum com o espso. Porm a lembrana dos
filhos e seu amor para com o marido - alma, somente -
no lhe permitiram a realizao desta medida. Chegou ste
a proibir-lhe ir janela para ver passar os prprios pais !
E no como era aqule rodopiar de pombo enamorado !
Aqule examinar as mos sedosas da espsa, para ver se
estavam feridas, modas, arranhadas por qualquer trabalho !
Baixinho, entre ns : tens em casa uma candidata
santa, padroeira de vtimas de cimes ? Quase sinto tenta
o de, neste caso, ir para outra direo : procurar tua . . .
"amiga de infncia".

48. UM FATO NICO

na vida da graa se d com o amor conjugal. Vem o


casamento e consagra-o. Vem Cristo e eleva o casamento a
sacramento. Ponha sentido o leitor no trmo "elevar". De
nota que antes de ser sacramento j existia na ordem na
tural. No sucede assim com o batismo, com a Eucaris
tia ou com qualquer outro sacramento. Nenhum preexistia
na ordem natural. S o casamento preexiste na ordem na
tural como expresso do amor humano e garantia da pro
pagao da vida.
Por que razo teria Cristo "elevado" assim o casamen
to ? Para tornar a humanidade mais fecunda ? No consta
dessa inteno. Consta, isso evidente, o seguinte : Quis
engrandecer a unio conjugal, conferindo-lhe nova e espln
dida dignidade. No precisa ir longe o leitor, para saber que
essa dignidade a de converter o casamento num canal de-

93
vida sobrenatural. E agora, dois batizados s podem casar
se vlidamente quando o casamento ao mesmo tempo sa
cramento. Da a " intolerncia" da Igreja perante os que
querem unir-se s pelo contrato civil.
Pelo batismo tornam-se os homens membros do Corpo
mstico de Cristo. Pelo carter batismal participam do seu
sacerdcio. Podem assim ser instrumentos de santificao
entre as mos dle. Eis por que, selando sua unio, os noi
vos pem um gesto que, alm de grande significao social
e religiosa, propriamente sacramental. Mutuamente se san
tificam com le e fazem crescer em si mesmos a vida di
vina. O amor conjugal, penetrado pela graa, torna-se uma
forma de caridade sobrenatural, virtude pela qual se opera
a obra da nossa santificao. Acaba em sobrenatural essa
estreita solidariedade natural, que existe entre os esposos.
E' um dos efeitos do sacramento. Perante Deus o marido
responsvel pela alma da espsa e esta pela alma do espso.
Tal como ambos se reconhecem responsveis pela felicidade
ou desgraa do lar.
Eis aqui a concluso que se impe : o casamento um
meio, uma estrada para a santificao. No apenas porque
possvel aos casados a perfeio crist, mas possvel
pelo casamento. No julgue o leitor que, terminadas as ce
rimnias perante o altar, findou-se tambm o valor sobre
natural criado naquela hora como fonte de graas contnuas.
Continua o estado espiritual. E' permanente.
Por no ser to elevado como o sacerdcio, nem por
isso o casamento um estado medocre, reservado para os
tbios. Continua sendo um grande sacramento. O importan
te cada qual trilhar o seu caminho, isto , aqule que,
dado o balano das aspiraes e dos dons, lhe oferece mais
ensejos para chegar perfeio.
O leitor por conseguinte tem de amar a Deus atravs
do cnjuge que o representa. As palavras de Alice Oll-La
prune dizem isso com -clareza : "S cumpriremos nossa voca
o de pleno amor de Deus pelo nosso mtuo amor. No
pensemos encontrar o Senhor fora de ns. Para achar a
Deus s basta procur-lo no marido . . . Creio que Deus re
serva bnos especiais para aqules que se esforam por
realizar o seu pensamento sbre a unio conjugal, por re
presentar a unio de Jesus Cristo com a Igreja, por esgo-

94
tar o sentido dessa analogia, por ach-lo enfim nessas rea
l idades vivas de seu estado, que so manifestaes autn
ticas de sua Vontade sbre les" (R. Maistraux) .
Logo, leitor, hoje como nos dias de Cristo, inaceit
vel a desculpa de quem rejeita o convite do rei que deu
um banquete, sob pretexto de ter tomado mulher pelo ca
samento. Com mulher e leito conjugal e filhos podes e deves
ser um cristo perfeito. Para tanto tens uma graa espe
cial no sacramento recebido.
Diga-me o leitor que classificao daria, diante do ex
posto, a um marido desinteressado da alma da espsa, se
dutor dessa alma, trocando-a pelo corpo em relaes que a.
moral crist probe, mesmo aos casados ? Ou ento, afas
tando-a de Deus e dos deveres religiosos, quando a torrente
do sacramento recebido quer elevar ambos para mais perto
do cu ?
Cuidado, no pronuncie o leitor sua prpria condena
o, reprovando nos outros o que praxe em sua vida !

49. A CARNE E' BOA

Eis a uma afirmao destemida de S. Agostinho. Con


tra os maniqueus sustenta que ela, em vez de um mal,
um bem. Mesmo no casamento, nas relaes conjugais essa
carne boa.
O cristo sabe que o Verbo de Deus se fz carne e a
carne sexuada. Assumiu assim a sexualidade humana, em
bora isenta de tda desordem. Quis ter sua origem de uma
mulher. Por ela prendeu-se a tda escala dos sexos que de
pois do primeiro casal se entrecruzaram para levarem seu
fruto ao rebento de Jess. O seio de uma mulher acolhe
uma Pessoa divina na comunho da carne. Maria e seu Fi
lho so uma carne que ela d e f:le recebe.
"Deus faz bem o que faz. Fz tais como so em sua
essncia as relaes conjugais. A f crist reconhece e pro
clama que as fz bem assim. O prazer que lhes vinculou
o Criador bom. E' fisiologicamente normal sua existn
cia. E' desejvel que infunda um gzo na unio dos es
posos. Quando realizadas dentro do quadro estvel de vida
"
estvel, que o matrimnio, nico ambiente em que podem
nascer e desabrochar os filhos com segurana, so les atos

95
de virtudes. So matria dos sacramentos, atos saudveis e
meritrios para o cu.
Saboreiem os esposos cristos essas alegrias, tais como
Deus as quis. Isto , como alimento de seu mtuo amor,
como seiva geradora da espcie, dos filhos de Deus. Parti
cularmente o espso cuidar de as procurar para a espsa.
H de faz-la experiment-las por uma prudente iniciao,
que respeite a delicadeza e o legtimo pudor do corao fe
minino, nos meios que para isso empregar.
Isto ensina a Revelao crist, que fz do matrimnio
e de seus atos carnais um sacramento. Defendeu a nobreza
dles, a ponto de condenar a doutrina dos maniqueus e al
bigenses. Mas ensina tambm a existncia do pecado origi
nal com suas conseqncias.
Nossos instintos bsicos so retos quanto s suas ten
dncias mais profundas. Entretanto vem a concupiscncia
viciar a medida de suas exigncias e de seus desejos. To
dos os nossos instintos so excessivos e cobiosos quando
no permanecem sujeitos, por fra, disciplina da razo.
Sobretudo sse o caso do instinto da carne" ( Angel del
Hogar) .
A Igreja tem condenado a caa do prazer refinado,
como as teorias sensuais que o apregoam. Pio XII refere-se
com reprovao a essa mar montante "de hedonismo, que
ameaa submergir os pensamentos, os desejos e os atos da vi
da conjugal, com perigo para a primeira funo dos casados" .
E' lcito o prazer da comida, mas imoral ser algum
um gluto. Nem a sade fsica, nem a vida intelectual ou
espiritual so favorecidas pelos excessos neste ponto. Pio
res so les na ordem sexual. Pois esto em jgo maiores
intersses : religiosos, sociais, conjugais e individuais. Nin
gum ignora outrossim como neste ponto so intensas as
sedues, mais exigentes os instintos. Por conseguinte tanto
mais perniciosas ho de ser as perverses.
No se olvide o leitor de que o gzo das relaes est,
igualmente, a servio de fins sociais e religiosos do matri
mnio. No admissvel desassoci-los positivamente por in
tervenes fsicas violentas, perturbadoras das relaes em
seu ato, ou em seus frutos. Assim pensa o autor que vem
citado abaixo.

96
Para o leitor cristo tenho mais um horizonte a mos
trar. Horizonte magnfico. Nossos corpos converteram-se -
com suas carnes - em membros de Cristo, ao ser nossa
raa elevada pela graa. Trata-se de respeitar no somente
a humanidade, como a Divindade, guardando-nos puros por
respeito ao Verbo que se fz carne. Por isso S. Paulo lem
bra que nossa carne, formando nosso corpo, templo do
Esprito Santo.
Isso tudo incluiu S. Agostinho na sua frase : caro bona
est. No cabvel, leitor, hajas recebido um sacramento,
um meio de santificao, para corromperes a carne pela in
continncia, pelo despudor e pela imodstia.

VIII

50. TUA ESPSA E UM REQUERIMENTO

Uma jovem espsa alem requereu ao juiz, exigindo


uma coisa singularssima. Que o juiz mandasse riscar da
Bblia Sagrada o texto onde se impe mulher que esteja
sujeita ao marido.
Compreende-se. Muitos maridos como estragam e amar
gam o amor nas relaes conjugais, no trato dirio, tam
bm comprometem a autoridade e fazem pesada a dependncia.
"Os direitos do marido sbre a espsa no se assemelham
em nada aos direitos de um superior colocado em face de seu
inferior. Pois o casamento unio de duas personalidades mo
ralmente iguais. Uma e outra atingiram j a idade adulta. So
igualmente livres e independentes e no alienam nenhuma
parcela de suas responsabilidades pessoais, pelo fato de se
unirem para a vida em comum.
Tambm no se assemelha em nada autoridade do
chefe militar ou industrial. stes tomam suas decises so
zinhos - segundo sua consc1encia ou seu intersse. Na fa
mlia a mulher divide com o marido as responsabilidades
da vida familiar.
Mais. O marido no tem o direito de sustentar que so
mente le v claro e dar razo unicamente a si mesmo, sob
o pretexto de que o chefe. A conscincia da mulher
muitas vzes mais esclarecida e mais delicada do que a sua.
Tem compreenso }l18is penetrante das coisas familiares.

97
Eis por que o marido dever lealmente se inspirar nos con
selhos da espsa, tratando-se do bem comum.
De resto, o amor recproco reduz ao mm1mo o exerc
cio da autoridade marital . Confiante um no outro, harmo
nizam os esposos suas vontades e suas inteligncias, ori
entando no mesmo sentido a defesa dos intersses da vida
familiar. Afirmar que cada qual tem o direito de agir como
bem entende seria levar a famlia s piores divises e
provocar perturbaes, que culminariam com a separao
dos coraes e terminariam muitas vzes diante dos tribu
nais" ( Violet) .
Portanto, leitor, mau o conselho que te d o pro
vrbio rabe : Pede conselho tua mulher e . . . segue depois
a tua cabea.
Hoje estamos diante de uma situao exposta por Pio
XII : "As condies de vida, derivadas do presente estado
econmico-social, no desempenho das profisses, nos vrios
empregos e ofcios, tendem a introduzir prticamente um
vasto emparelhamento das atividades da mulher com as do
homem. No raro acontece que os esposos se encontram
numa situao que quase chega igualdade. Freqentemente
marido e mulher exercem a mesma profisso, pesam com
seu trabalho pessoal na balana familiar, numa medida quase
igual. Ao mesmo tempo so forados a levar uma vida assaz
independente um do outro. Pio XII lamenta em seguida a
sorte dos filhos entregues a estranhos, s formados por
les. Termina perguntando :
"Por que estranhar, ento, venha a debilitar-se e di
minuir, a ponto de quase desaparecimento, o sentido da je
rarquia familiar, quando o govrno do pai e a vigilncia
da me no conseguem tornar amvel a convivncia do
mstica ?" 1
Lembro-me aqui o ltimo conselho de Viollet : "Embo
ra o marido seja o chefe legtimo da famlia, sua autori
dade no lhe confere o direito exclusivo na orientao dos
filhos. A educao uma obra comum, exige a ao conju
gada do pai e da me".
Educar gerar segunda vez. Logo um ato de amor
de ambos os esposos.
Tua espsa j pensou em tal requerimento ? !

1 ) Pio XII, Alocuo de 10 de Outubro de 1941.

98
51. SEXO E AMOR

Hoje h um endeusamento do sexo, ao lado de uma


triste confuso dle com o amor. Fulton Sheen tem algo a
dizer ao meu leitor neste ponto : "0 amor reside, prim
riamente, na vontade, no nas emoes ou nas glndulas.
A vontade como a voz ; as emoes so como o eco. O
"prazer" unido ao amor, ou quilo que hoje em dia cha
mado sexo, como a crosta enfeitada de um blo. Sua fi
nalidade fazer-nos amar o blo, no ignor-lo. A maior
iluso daqueles que amam crer que a intensidade de sua
atrao sexual a garantia da perpetuidade de seu amor.
E' por causa desta falha na distino entre o glandular e
o espiritual, - ou seja entre o sexo, que temos comum com
os animais, e o Amor, que temos em comum com Deus, -
que os casamentos so prdigos em decepes.
O que algumas pessoas amam no algum e sim a
experincia de estarem amando. A primeira insubstituvel,
e a segunda, no. Quando as glndulas cessam de atuar com
sua fra primitiva, os casais que identificam emocionalis
mo e amor alegam que no se amam. Se assim , em pri
meiro lugar les nunca se amaram. S amaram o fato de
serem amados, o que a forma mais alta do egosmo. Ca
samento fundado, unicamente, em paixo sexual dura ape
nas enquanto existir a paixo animal. Em menos de dois
anos a paixo sexual pelo outro pode desaparecer. E quan
do isso acontece, a lei vem em auxlio para justificar o
divrcio com palavras desprovidas de sentido tais como " in
compatibilidade" ou "tortura mental" .
' Sheen diz que h dois motivos para a predominncia
do sexo sbre o amor numa civilizao decadente. Um dles :
o declnio da Razo. Declinando esta, sobem as imaginaes.
Da a razo do sucesso das fitas de cinema e das revistas
ilustradas. medida que o pensamento perde sua ao de
contrle, desejos irreprimveis vm tona da alma. Sendo
os desejos fsicos e erticos os mais fceis de vingar na
alma humana, porque no exigem esfro, e so poderosa
mente incentivados pelas paixes corporais, - o sexo torna
se de uma importncia total. No por acidente histrico
que uma poca de anti-intelectualismo, como a nossa, tam-
-. 1-......
bm uma poca de liberdade carnal. ::--..
o."
'
). 99
O segundo motivo o egocentrismo. Perdida a crena
num j ulgamento divino, numa vida eterna, no cu e infer
no, na mesma medida mais se afirma progressivamente o
"eu" como fonte de sua prpria moralidade. A auto-satis
fao relega para segundo plano os intersses da comunida
de e os direitos de outrem. Todo pecado tem centro em si mesmo,
todo amor tem centro em outrem e tem relatividade. O pecado
a infidelidade do homem para com a imagem daquilo que le
deveria ser na sua vocao eterna de filho adotivo de Deus :
a imagem que Deus v em si mesmo, quando contempla seu
Verbo.
Dois extremos devem ser evitados quando se discute o
amor no casamento : Um dles no querer tomar conhe
cimento do amor sexual, o outro dar a primazia atrao
sexual. Para cristos o sexo inseparvel da pessoa. E re
duzir a pessoa ao sexo to tolo, quanto reduzir a per
sonalidade aos pulmes ou ao trax. O animal macho
atrado pela fmea, mas a personalidade humana atrada
por outra personalidade humana. '

52. MIL BOMBAS

do canho 75 seriam necessar1as para abrir uma bre


cha de 25 metros numa determinada muralha. Assim nos
ensinavam, faz anos, na Escola Militar. Com esta frase Ricaud
abre a seuinte considerao :
"Pertencemos a uma linhagem dura de cabea e temos
de repetir dez vzes as mesmas coisas, sobretudo quando
so desagradveis. Disse algum que numa centena de coi
sas que sabemos, por uma que aprendemos pessoalmente,
ensinaram-nos 99. O homem um ser educado. Por que es
quec-lo ? Para saber as obrigaes e as belezas do nosso
dever de homens, temos que aprend-las. O homem s exis
te no estado adulto. Inculto, cai em estado selvagem e infra
humano. Passa o autor a indagar do tempo que se consagra
ao cultivo da conscincia. Um mdico, por exemplo, precisou
de longos anos para conseguir seu ttulo. Quantas horas em
pregou no estudo das leis morais que regem sua profisso ?

' ) Fulton J. Sheen, O Mistrio do Amor. - AGIR, Rio de Ja


neiro, p. 9, ss.

100
Lembra a afirmao do Apocalipse de ser o demnio o "tal
que descarrilha os homens". Atualmente, sob os princpios
dissolventes do mundo moderno, aumenta o nmero das in
teligncias descarrilhadas. O ar que respiramos est con
taminado.
Ricaud insiste ainda : Todos temos o dever de "ficar
isentos dste mundo" . Quem possui uma conscincia vaci
lante, trabalhe por retific-la. As conscincias retas sentem
a necessidade de se retificar ainda mais. Pois ela aprimora
se como o gsto. Ganha-se o po - o da verdade - com
esforos constantes, que representam o suor de cada dia.
Satans no descansa. No cultiveis uma conscincia e ve
reis, estupefatos, o que nela germinar".
Sirvam estas linhas para dispor o leitor a ouvir, mais
uma vez, o clebre no se pode, perante as seguintes prticas :
1 ) Onanismo conjugal - que traz seu nome de Onan,
fulminado por Deus. Pois ao aj untar-se a sua mulher, im
pedia que ela concebesse. O Senhor o feriu de morte porque
fazia "uma coisa detestvel" ( Gn 38, 10) .
2) O maltusianismo com suas prticas anticoncepcionistas.
3 ) O abrto direto, punido pela Igreja com a pena de
excomunho ipso facto reservado ao Bispo. Nela incorrem
"todos aqules - com incluso da me - que o provocam,
depois de se seguir o efeito, reza o cnon 2.350, 1.
Portanto o marido - seria teu caso, leitor ? - que
mandar ou impuser tal prtica espsa, que assim no pro
cederia sem tal imposio, incorre na pena. A le equipa
ram-se os que, nas mesmas condies, o procuram.
4) Tudo que pode provocar o abrto espontneo. - In
teire-se o marido com o mdico para controlar a vida da
espsa grvida, evitando-lhe excessos. - Quero ver o meu
leitor sempre "no trilho".
E no adianta alegar que muitos maridos fazem pou
co caso da lei. No so cristos que honram seu batismo e
respeitam o sacramento do matrimnio.
A vida uma majestade maior do que o mundo. En
cerra uma alma imortal.

101
63. OUTRA VEZ O HOMEM DE BRANCO

Na secular sucesso dos homens de branco temos hoje


um, que um presente da Providncia divina : Pio XII.
Entre os usos e as inovaes h esta : a audincia coletiva
dos recm-casados, com a adequada alocuo e paternal bn
o do Papa.
Nessas alocues expe o patrimnio da verdade, apli
ca-o, defende-o. Aqui tem o leitor - defensor da verdade
na sua famlia - um painel : - O sim que brotava de vos
sos lbios, pelo impulso do vosso amor, ata ao redor de vs
o lao conjugal e, ao mesmo tempo, prende para sempre vos
sas vontades. Seu efeito irrevogvel. Passa o seu som, ex
presso sensvel do vosso consentimento. Mas no passa o
consentimento que perptuo, porque consentimento na
perpetuidade do vnculo. Outro consentimento, de vida con
j ugal, s por algum tempo, no seria vlido para constituir
o matrimnio . . . No h pois verdadeiro matrimnio sem
inseparabilidade, nem esta sem aqule. - Numa palavra :
1

a vontade do homem pode dar o lao. No pode desat-lo.


- Em todos os tempos as paixes humanas, refreadas
pela lei da indissolubilidade em seus desordenados apetites,
tm procurado sacudir o jugo. Nle vem apenas uma dura
tirania das conscincias, uma escravido em contraste com
a dignidade da pessoa humana. E' verdade, um vnculo pode
s vzes constituir um pso, uma servido, como as cadeias
que atam um pr)sioneiro. Ou ser tambm uma poderosa aju
da, uma segura garantia como a corda que sustenta o al
pinista e seus companheiros de escaladas ; como os ligamen
tos que unem as partes do corpo humano, que o fazem ex
pedito e livre em seus movimentos. Precisamente ste o
caso do vnculo indissolvel do matrimnio.
- A luz que brilha em vossos olhos, amados recm-ca
sados, manifesta a todos os olhares a santa alegria que inun
da vossos coraes, o contentamento por que vos destes um
ao outro para sempre. Para sempre ! . . Como contrato in
.

dissolvel, o matrimnio tem a fra de constituir e vincular


os esposos num estado social e 'religioso, de carter legti
mo e perptuo. E sbre os demais contratos leva a supe
rioridade de que nem um poder no mundo - no sentido e
1 ) Aloc. 22 de Abril de 1942.

102
ua extenso j por Ns explicados - capaz de rescindi
lo. Em vo uma das partes pretender desatar-se dle. O pac
to violado, renegado, rto, no afrouxa seus laos. Conti
u ua obrigando com o mesmo vigor, como no dia em que foi se
lado diante de Deus com o consentimento dos contraentes. Nem
sequer a vtima pode ser desatada do sagrado vnculo, que
a une quele ou quela que a traiu. S com a morte desata
se ou se rompe o lao. '
No venhas, leitor, com a tal frase de catlico anal
fabeto : "na minha opinio . . . " , quando vs to condenado
o divrcio nestas palavras. A Igreja j perdeu um reino
na histria. Perder outros, se preciso, para no admitir
um divrcio do vnculo, contrrio ao seu dogma. E' herege
quem isso afirmar e ensinar. S o homem vestido de branco
poder lhe perdoar essa censura.

54. AS BOTAS DO MARQUS . . .

- Sra. marquesa, venha descalar-me as botas !


Assim dizendo, o marqus estendia as pernas, com mui
ta sem-cerimnia para aqule salo e para com a marquesa
enluvada. Por isso Coloma lembra ser mais acertado colo
carem-se, ao p das esttuas, reltvos de cenas familiares ao
em vez de cenas de batalha. O heri aparecer mais reai
e mais verdico.
Sabe o leitor que o marido o chefe e senhor na fa
mlia, conforme disposio da natureza e de Deus. Sabe que
essa chefia imperiosa, no conhece renncia, nem abdica
o de cetro, de deveres e de responsabilidades. Mas h de
ser uma chefia amorosa e respeitosa. No fica dispensado,
por isso, de dar provas de amor e respeito, interno e ex
terno, mulher, me de seus filhos. Pio XII lembra : "Ela
- a espsa - dona da doura e tambm dona da casa.
No somente o sol, mas tambm o santurio da famlia,
o refgio das lgrimas dos pequenos, a guia dos maiorzinhos,
o conslo nas preocupaes, a tranqilidade nas dvidas a
confiana no seu futuro. Pelo vosso aspecto, pela vossa ati
tude, por vossos olhares, por vossos lbios, por vossa voz,
pela vossa saudao, percebam e sintam e vejam, filhos e

') Aloc. de 21 de Outubro de 1942.

103
Para os modernistas, corruptores de tdas as noes
dogmticas e teolgicas, o matrimnio uma organizao
tardia da famlia. Para os marxistas pura inveno clerical.
E assim prega-se a secularizao do casamento, o divr
cio, o amor livre, o casamento por experincia, de camara
dagem, temporrio. Mas a Igreja no quer ver seus filhos
sem sacramento. No tolera esteja o bero de cristos vagando
merc das ondas dos instintos. Por isso, resumindo tda
doutrina passada, Pio XII fala :
"O vnculo conjugal uno e nessa unidade est o slo da
sua indissolubilidade. O "sim" que vos uniu, noivos, liga
para sempre vossas vontades" . O seu som, expresso sens
vel do vosso consentimento, passa. Mas o consentimento
fixa-se, no passa ; perptuo.
E' to forte o vnculo do matrimnio cristo, que ten
do alcanado sua plena estabilidade com o uso dos direi
tos conjugais, poder algum do mundo,
nem mesmo o nosso, como Vigrio de Cristo, capaz
de quebr-lo. E' verdade, ns podemos declarar que um ma
trimnio contrado como vlido, era na realidade nulo, ou
por vcio substancial no consentimento, ou por falta de for
ma substancial." '
Por isso a Igreja contra o divrcio, tendo como dogma
da revelao a indissolubilidade do casamento vlido e con
sumado, entre cristos. Pio XII positivo : causa alguma, au
toridade alguma, nenhum poder da terra pode dissolv-lo, a
no ser a morte ( Aloc. 17 de Maro de 1946) . Quem en
sinar o contrrio, alegando que a Igreja erra, ao conde
nar o divrcio do vnculo, herege e excomungado na
frase do Conclio de Trento.
:f:: ste dogma fundamental na vida crist. Muito impor
tantes so as suas conseqncias para a vida dos esposos
e a prpria sociedade. O homem de branco quer com em
penho que os casados conheam sua importncia religiosa
e lhe consagrem um santo respeito ( Vol. I, p. 264 das Men
sagens) .
Em tda parte e em ,todos os tempos fica de p a pa
lavra de Cristo : "Todo aqule que repudia a sua mulher, e
se casa com outra, comete adultrio (Lc 16, 18) . E todo

' ) Aloc. de 22 de Abril de 1942.


) Sesso XXIV, c. 7.

105
criados, a considerao, - chefes de famlia ! -, que ten
des para com vossa espsa" . '
O homem de branco no quer aeja a ausncia das ma
neiras corteses e atentas um distintivo para reconhecer os
pares casados dos no casados. Quer saiba o marido inte
ligente avaliar a influncia que tal procedimento exerce, n
favor ou contra a educao dos filhos" ( ld.) .
O velho S. Ambrsio j advertia em seu tempo : "Tu,
:i/
marido, deves deixar teu orgulho, tua rudeza--, -qu o tua
espsa se aproxima de ti tda pressurosa. Deves banir tda
irritao, quando, insinuante, te convida para o amor. No
s um patro, mas um espso. No ganhaste uma escrava
e sim uma mulher. Quis o Senhor fsses um guia para o
sexo mais frgil e no um dspota" ( Hexaemeron, V, 19) .
Quanto dignidade da pessoa humana h absoluta igual
dade entre marido e mulher. Dentro de sua dignidade de
espsa, de me de seus filhos e companheira do marido,
so iguais os direitos de um e outro, cada qual na sua es
cala. Igual direito tem a mulher honra, prtica da reli
gio, ao amor dos filhos, ao mtuo respeito, ao gzo dos
bens comuns e aos prprios, dentro da lei.
A espsa no est obrigada a condescender com os ca
prichos do marido naquilo que pouco conforme com a
razo ou lesivo sua dignidade. A autoridade do marido
no pode "desconhecer a independncia de alma, direito
sagrado da espsa e da me perante as imposies do mal"
( Pio XII ) .
Leitor, terminada esta leitura s h uma coisa a fazer.
Qual ? Escutares aquela voz baixinha, mas sincera, da cons
cincia interrogada.

55. GENTE SEM SACRAMENTO

Um dos bens do matrimnio a sua sacramentalidade.


Bem, combatido por muitos inimigos. Esto a os ateus e ra
cionalistas, adversrios de tda revelao e do sobrenatural.
Esto a os "reformadores" de Lutero, declarando o ato ma
trimonial um pecado escandaloso. :?ara Calvino le coisa
profana, como por exemplo arar um campo, remendar um
sapato.

' ) Alocuo de 9 de Abril de 1942 - Aos recm-casados.

104
aqule que toma por mulher a que foi repudiada pelo ma
rido. comete adultrio".
No pode o homem desunir o que Deus uniu. Pio XI
enumera os males dsse malsinado divrcio, que heresia
contra o sacramento, smbolo de uma unio que desconhece
separao : a unio de Cristo com sua Igreja.
Eis a lista em confronto, mostrando a colheita de males
com o divrcio e bnos em caso contrrio.

NO SACRAMENTO : NO DIVRCIO :

vemos os casamentos prote vemo-los vacilantes, ou pelo


gidos e salvaguardados pelo vn menos expostos a inquietantes sus
culo ; peitas, perante a perspectiva da
possvel separao dos cnjuges e
mesmo do perigo de um eventual
divrcio ;
- vemos o mtuo afeto e co - vemo-los lamentvelmente de
munho de bens, admirvelmente bilitados por causa da faculdade
consolidados ; que permite a separao de tudo ;
- a casta fidelidade dos espo - a infidelidade encontra per
sos encontra apoio e defesa con niciosos incentivos;
veniente;
- vemos evitadas as dissenses - apresentam-se freqentes oca
entre esposos e as famlias ; sies de diviso ;
- vemos garantidos o reconhe - tudo isso recebe abalos gra
cimento, a proteo e a educao vssimos ;
dos filhos, de modo eficaz ;
- vemos mais fcilmente sufo - com mais abundncia so elas
cadas as sementes da discrdia ; atiradas para crescerem ;
- vemos felizmente reintegrada - vemos a mulher indignamen
e restabelecida, de modo especial, te aviltada, j que as espsas es
a dignidade e o ofcio da mulher, to expostas ao perigo de "serem
tanto na sociedade domstica co abandonadas, uma vez que j ser
mo na sociedade civil ; viram para o deleite do marido" ;

Pode haver casos dolorosos, em que uma simples separa


o, admitida pela Igreja com a continuao do vnculo, no
baste. E' "uma separao imperfeita", como a chama Pio XI.
- Mas a lei visa o bem comum e no as excees. O co
mum no casamento no a infidelidade, a incompatibilidade
de gnios e demais causas alegadas para o divrcio. Mes
mo essa separao, regulada pela lei civil e eclesistica, no
fica merc dos interessados. As causas, as condies, as
garantias para os filhos, tudo obedece a uns pargrafos. No
est sujeito iniciativa particular.

106
Todo ste rigor por causa dos valores de duas raas
que h nos casados : a humana e a divina. No podem tais
valores ficar ao bel-prazer de um grupo de casais sem sorte,
ou culpados de seus erros. Seria sacrificar o bem geral
hipottica ventura de uma parte. No corpo humano usamos
cortar a parte que pe em risco a sade geral. No espa
lhamos para o resto do corpo a infeco e com ela a morte.
lis a at aonde vo as fronteiras . . . de teu sacramento.

r,6. - HOMEM FORTE E ARMADO

guarda a entrada de sua casa ? Esto em segurana os


bens que possui, diz Cristo Senhor ( Lc 11, 21) . Como chefe e
protetor da casa e da famlia, - com os tesouros humanos
c morais - que encerra, precisa o leitor estar armado, pre
venido sbre os perigos que hoje ameaam todos os trs
bens do matrimnio cristo : prole, sacramento, fidelidade.
Ei-los num quadro bem claro :

INIMIGOS ARMAS USADAS

A negao da famlia em geral pela unio livre, pregada nos ro


mances, teatros, filmes ; aceita e to
lerada pelos costumes, sob vrias
formas : hoje amor livre ;
A laicizao da famlia pelo casamento civil, como se le
pudesse substituir o sacramento en
tre cristos ;
A profanao da famlia pelo sacrilgio, isto , sacramen
to mal recebido, depois de mal
preparado;
O rompimento da famlia pelo divrcio, formalmente con
denado por Deus e por sua Igreja ;
A mutilao da famlia pela esterilidade voluntria que
impede ou mata a vida ;
A disperso da famlia pela educao fora do lar, pelo
trabalho fora do lar, pela exage
rao da vida social ;
A desunio da famlia pela desigualdade das almas, to
manifesta na disparidade de edu
cao e disparidade de religio ;
A runa da famlia pelo mau govrno da casa e de
suas rendas e despsas, pelo luxo ;
A decomposio da famlia pela m educao dos filhos :
sem religio - sem respeito
autoridade - sem sacrifcios.

107
Monsenhor Gibier, bispo de Versalhes, tratou disso em
sbias conferncias sob o ttulo de "desorganizao da fa
mlia".
Se o chefe da casa deixa correr em seu lar tais prin
cpios, emitidos pelos seus ou por amigos, no homem ar
mado e valente. Se tolera relaes de amizade com "casais
de camaradagem, de experincia, de amigados" - freqen
tadores de sua casa, - j piorou a situao. Vai se acum
pliciando com a quadrilha. Resultado ? Cristo descreve-o :
"Mas se, sobrevindo outro mais valente do que le, o ven
cer ( no caso : vencer sua intransigncia ) , tira-lhe tdas as suas
armas, em que confiava, e repartir os seus despojos. Quem no
comigo contra mim ; quem no colhe comigo_ desperdia
( Lc 11, 22) . - Logo precisas estar com Cristo nesta opo
sio aos inimigos do lar, do teu lar.

IX

57. SETE MULHERES

agarraro naqule dia um homem, diz Isaas ( 4, 1) , re


ferindo-se penria de maridos causada pelas mortanda
des. As sete pretendentes avisam logo que s querem "o
"nome do homem", vestindo-se e comendo por prpria con
ta. sse nome lhes pouparia a vergonha da esterilidade.
O nome do homem daria valor s suas pessoas.
Hoje, depois da vinda de Cristo com sua Me, a mu
lher j no pode ser estimada com os olhos da carne, ava
liada unicamente pela tabela do homem como simples apn
dice da criao. Cristo hoje a nica medida, o nico pa
dro de todos os valores da personalidade humana. E to
dos, judeus ou gregos, escravos ou livres, homem e mulher,
tm tanta dignidade moral quanta semelhana imagem do
Filho de Deus. No Ev.angelho homem e mulher so grande
zas relativas. A mulher ( portanto a tua companheira de mesa
e leito) no se mede pela escala dos homens na terra. Me
de-se pela do Homem-Deus e sua Me.
Interessante o paralelismo usado por Cristo no seu
Evangelho. Serve-se de tarefas masculinas e femininas para
suas comparaes, descrevendo seu reino e seus deveres.

108
Estaro dois no campo. Um ser aceito e o outro re
provado. Estaro duas a trabalhar no moinho. Uma ser
aceita e a outra ser reprovada.
Compara o reino dos cus a um gro de mostarda que
um homem semeou. E ao lvedo que uma mulher tomou e
misturou com trs medidas de farinha. Pergunta qual o
homem que, tendo cem ovelhas e perdendo uma, no deixa as
99 no aprisco e vai procura da extraviada. Pergunta
igualmente qual a mulher que, possuindo dez dinheiros e
tendo perdido um, no acende uma luz, varre a casa at
encontr-lo.
Refere-se f de um srio leproso curado nos dias de
Eliseu e f da viva de Sarepta acudida pelo profeta Elias.
E' contrrio mentalidade de Cristo valorizar apenas
o homem, dar-lhe todos os direitos e relegar para segun
do plano a mulher. No sacramento que instituiu, para con
sagrar o amor do homem e da mulher, esta deve reconhecer
no homem a sua cabea, sem contudo perder coisa alguma
da sua dignidade pessoal. O homem ser o chefe do lar e
ela ser o corao do lar. Ser companheira, sujeita por
amor e jamais desvalorizada como pessoa humana. Sua lida
dentro de casa, junto aos filhos, tem valor em si e no de
pende do "homem que lhe empresta o nome". Como pes
soa humana no fica atrs do homem. Nem a diversidade
de suas funes e de suas qualidades a reduzem a uma me
nor de idade ( Faulhaber) .
E' bom que o marido se lemb:r-e de tudo isso, como che
fe na famlia. Evitar os ares e os modos de senhor abso
luto. Pelo contrrio, sua estima pela espsa h de crescer
e com ela a felicidade de ambos. Sem estima que note no
marido, a espsa no ser elemento de felicidade na sua
vida.

58. DESDE O OUTRO MUNDO

somos conhecidos e destinados um para o outro ! E is


a uma linguagem comum entre enamorados, traduzindo um
fenmeno que se repete com freqncia. Os vrios tipos fun
cionais querem completar-se mutuamente. A mulher pensa
como o homem de quem est enamorada e ste sente como
ela. No tarda, porm, a mudana dos rumos pessoais. Cada

109
qual assume sua modalidade pessoal de pensar e sentir. E'
ento que surgem as tenses.
Os dois tipos, bsicamente diferentes, precisariam nes
te caso de um conhecimento mtuo mais profundo. Nada de
almas inexploradas. Pois dia por dia um tipo ver-se- obri
gado a conviver e discutir com seu tipo oposto. Por ste
motivo passo a expor a seguinte teoria de Plattner, na qual
um marido bem intencionado achar bases para atitudes
acertadas.
H conflitos em muitos casamentos e, quem sabe ? -
no teu caso tambm, leitor. Algum compara-os s enfer
midades. Destas dizia um mdico ingls do sculo XVII,
Sydenham, que nada mais so do que um esfro da natu
reza para eliminar as substncias que produzem a doena.
Os conflitos matrimoniais so um esfro da comunidade
matrimonial para conseguir sua unidade realmente harmonio
sa. Como uma doena pode derrubar uma pessoa, pode um
casamento perecer por um conflito que atinge sua crise. Mas
que esta crise conduza sade espiritual ou catstrofe,
assunto que depende em grande parte dos prprios casados.
Tdas as doenas so divinas e humanas ao mesmo tempo,
na opinio do velho Hipcrates. Coisa parecida podemos di
zer das crises matrimoniais. E' errado s lhes ver os de
feitos. Em todos os conflitos pode andar escondido algo, que
portador da sade e da paz.
Isto posto, passemos aos nossos "tipos funcionais" . A
est com suas dimenses :
o extravertido - que se dirige para o mundo exterior ;
o introvertido - que olha mais para seu mundo interno.
Numa comparao singela, o extravertido pode ser com-
parado gua que se adapta forma do recipiente. O in
trovertido como um bloco de granito. Tem sua forma muito
determinada e tenta imp-la ao seu meio, gua que o cerca
ou terra onde pisa. No est sabendo disso, nem quer
isso, mas o faz. Basta que pergunte a seu cnjuge extravertido.
O extravertido tem as janelas da alma bem escanca
radas e gosta de comunicar-se com o mundo, a rua, a praa.
O introvertido insula-se. O mundo, o ambiente que devem
adaptar-se a le. O primeiro corre o perigo de perder-se no
labirinto do mundo exterior. O segundo vive no risco de iso
lar-se, acabando prisioneiro de sua prpria reserva.

110
O introvertido defende-se quando a vida o agarra e quer
arrast-lo. Mas inutilmente tenta manter sua autodetermi
nao. Nesta tendncia de firmar-se, inclina-se ao egosmo.
Sua imutabilidade lhe parece mais importante do que a co
munidade conjugal. Para le, amar crescer acima de si
mesmo. J o extravertido v no amor a tarefa de encontrar
a si mesmo. Um quer a calma e a seleo de amigos. Seus
sentimentos so guas de uma reprsa : fundos. O outro -
corredeira - tem grande preciso de sociabilidade. No h
perigo de preferir a companhia de animais dos homens,
como fcilmente acontece com o seu oposto, que os aprecia
como companheiros desinteressados e fiis e discretos. No
lhe devassam o mundo interior. O introvertido emprega gos
tosamente o mtodo da cortesia, cujas frmulas lhe permi
tem manter contacto com o mundo e ao mesmo tempo alhear-se
clle. E' um contacto impessoal. Para o extravertido as fr
mulas de cortesia so mais um impedimento do que um re
curso. Sente-se freado por elas. Por isso a educao, a cor
tesia e certas convenes sociais o impedem de expressar,
de uma maneira demasiadamente clara, seus sentimentos de
simpatia e antipatia.
Um exemplo : Uma espsa introvertida vai s compras.
J leva o pso, a cr, o pro, o tamanho bem fixos na cabea.
Di-lo claramente no balco. E ningum lhe impinge coisa
diferente. Um marido extravertido vai ao balco e l se in
forma, deixa-se guiar, pergunta, indaga e sai com umas com
pras inteis. E' claro que um h de censurar o outro e as
censuras so to equivocadas como exatas. Ou ento numa
roda o marido o introvertido e ela a extravertida. Resul
tado ? No fim da reunio o marido, de janelas fechadas,
tem ganas de ralhar com a espsa, por causa de seus modos,
suas expanses que lhe parecem menos corretas. E ela o
chamar de desmancha-prazeres, de atacado de complexo
de distino, de tipo insocial. Um marido insuportvelmen
te correto. E le, l no ntimo, lamenta-se "de que deve en
tregar a educao dos filhos a uma mulher que no tem o
senso das convenincias . . . "
Entretanto sse marido, em certos momentos, aprecia os
modos vivos, espontneos, calorosos de sua espsa. Modos
de menina. E a espsa sente-se amparada e protegida pelas
maneiras tranqilas e sempre reservadas do marido. E s

111
porque se sente ao lado dle, que pode comportar-se com
tanta liberdade numa roda e divertir-se alegremente com
os outros. No fundo uma agradecida ao marido, embora
momentneamente se enfade com o tal secarro.
V o leitor que poderamos ir longe, se nos pusssemos
a picar em migalhas o dia de um casal. stes dados bas
tam, por enquanto. O marido que se aprofundar na anlise
da espsa, no roteiro de sua alma, correr menos perigo de
em tudo vislumbrar m vontade, falta de compreenso, de
educao e de formalidade. As pessoas so como as impres
ses digitais. No h uma igual outra. Coisas geniais da
natureza. Com isto a situao perde muito de seu carter
provocador de conflitos. Aceita-se o fato como se aceitam os
fenmenos da natureza, que talvez no agradem, mas que se
no podem mudar "nem insultando, nem sentindo-se insul
tado".
Remdio para chuva, leitor ? Ficar em casa ou sair com
um impermevel ou bom guarda-chuva. No tentamos mo
dificar o estado atmosfrico, mas a le nos adaptamos.
Aqui deixo Plattner a quem segui de longe ; e com va
riantes e atalhos. Mais adiante vamos encontr-lo de novo.

69. O " NO" EM TEU LAR.

- No h corretivo que o modere, nem arte que o abran


de, nem lisonja que o adoce. Por mais que o enfeiteis um no
sempre amarga. Por mais que o enfeiteis sempre feio.
Por mais que o doureis sempre ferro. A lngua hebraica,
que a que falou Ado, e a que mais naturalmente signi
fica e declara a essncia das coisas, chama ao negar o que
se pede envergonhar a face. - Quem te avisa sbre o no
o velho P. Vieira.
Infelizmente eu tenho de pronunciar sse antiptico, mas
salvar no, na seguinte hiptese. Aconselharam tua es
psa uma mutilao ou esterilizao dos rgos internos, fon
tes da vida. Ela talvez esteja de acrdo, talvez viva recla
mando essa operao. Muitas amigas j fizeram o mesmo e
agora esto passando to bem ! Como homem armado de
sos princpios deves vigiar, para que no "perfurem tua
casa", no a deitem por terra. A lei natural e divina pres
creve o seguinte :

112
"Tda mutilao sexual falta grave. Logo qualquer ope
rao ( amarrao, resseco, ablao, aplicao de raios X e
muitos outros mtodos) que tenha por efeito esterilizar
i lcita, imoral.
S lcita a mutilao dsses rgos, quando so focos
ameaadores da vida no corpo inteiro. Neste caso, estando
a parte submetida ao todo, como lcito amputar um brao
gangrenado para cortar uma infeco total e mortal, de
igual modo podem ser removidos os rgos sexuais ataca
dos. Intervm-se num rgo atacado, que no caso um
rgo sexual, mas no porque tal rgo. Fsse um ou
tro qualquer, e far-se-ia do mesmo modo a interveno.
Empregou-se at um esfro para salv-lo, o mais possvel .
A esterilizao ilcita, pelo contrrio, uma mutilao
que ataca o rgo sexual, j ustamente porque tal e pela
operao espera-se conseguir a esterilidade. E' uma conse
qncia diretamente visada.
Numa palavra : a mutilao sexual lcita, quando feita
para salvar o corpo todo, mesmo que cause a esterilidade
e mesmo sem a esterilidade influenciar na sade do enfrmo.
E' ilcita, porm, quando feita porque conduz este
rilidade e porque esta traz o bem desejado" ( R icaud) .
Eis a razo : O homem no passa de um usufruturio
dos bens que Deus lhe ps nas mos. Deve conserv-los, por
todos os meios. No pode sacrificar uns aos outros, quando
lhe dado conserv-los todos, devidamente subordinados se
gundo a respectiva importncia que possuem. Sem violar a
lei natural e divina no pode o homem inutilizar os rgos
de gerao, como to pouco lhe permitido despojar-se da
faculdade de gerar. O uso dessa faculdade no obrigatrio.
Procriar o exerccio de um direito ( no casamento ) . No
cumprimento de um dever, salvo circunstncias especiais.
Tornar artificialmente infecundos, de um s golpe, os
atos conjugais pela esterilizao ilcita, um ato imorals
simo. Concentra num s ato a malcia de inumerveis peca
dos futuros.
Creio que o leitor bem me compreendeu. Lamento mui
to, mas tenho um outro no, para uma outra hiptese. Sei que
tua espsa far um rosto fechado, batizando-me de antip
tico e atrasado, intolerante e cruel. Entretanto curvo-me res-

113
peitoso perante o herosmo de muitas espsas tementes a
Deus, que enfrentam corajosamente o dever.
- Mas se uma nova gravidez puser em perigo a vida
de minha mulher, cujos rgos esto agora em perfeita sa
de, no poderei admitir ou exigir uma mutilao esterili
zadora ?
No. S resta, neste caso, uma sada. Ou a continncia
perptua ou a peridica, de acrdo com os dias agensicos.
Pois uma mulher, atualmente sadia, sem ameaa alguma
por parte de seus rgos internos, no tem direito de extir
p-los ou de atentar contra sua potncia natural. No a
conservao dles, de suas faculdades naturais, o que expe
morte. E' o resultado dos atos conjugais : gravidez, com
plicaes anormais no momento do parto.
Nenhum mdico de conscincia reta, marido algum bem
formado e temente a Deus aprovar, executar tal medida,
sob pena de participao num crime. Esta a doutrina da
moral sbre a esterilizao teraputica.
Sbre a esterilizao eugnica, para melhoria da raa,
a Igreja catlica positiva. Condena-a como intrinseca
mente ilcita, mesmo quando praticada pelo Estado.
Pio XI diz claramente :
"Nem os prprios indivduos tm, sbre os membros de
seu prprio corpo, outro poder do que o relacionado com
seus fins naturais. No podem nem destru-los, nem muti
l-los, nem torn-los por outros meios inaptos para suas
funes naturais, salvo quando de outro modo no possvel
acudir ao bem do corpo inteiro. Esta a firme exposio
da doutrina crist, esta tambm a certeza que proporciona
a luz da razo.
Os governantes, por sua vez, no tm poder algum di
reto sbre os membros de seus sditos. Assim, pois, no
podem condenar nem mesmo atacar diretamente a integri
dade corporal, quando no exista culpa alguma ou causa de
castigo cruento. E isso no podem nem mesmo por causas
eugnicas, ou por outras causas que sejam.
E d a razo : a famlia mais sagrada do que o Es
tado, e os homens so gerados principalmente para o cu
e a eternidade, e no para a terra e o tempo. No admite

114
se proba o casamento a homens capazes dle, mas defei
tuosos. Diz que proceder assim proceder . . . perversamen
te ( Casti Connubii) .

60. CORPOS PERDIDOS

assim poderamos chamar o corpo do marido e o corpo


da mulher no casamento. Um perdeu para o outro, cedeu
lhe o corpo com vistas procriao dos filhos. Da nasce o
direito e o dever das relaes conjugais, havendo perfeita
igualdade neste ponto. Iguais so os direitos e os deveres do
homem e da mulher.
Uma coisa , porm, o direito e outra o seu uso. O
direito s relaes essencial ao casamento e constitui pro
priamente o objeto do contrato matrimonial. O uso, entre
tanto, no essencial, nem obrigatrio de modo absoluto.
Por isso marido e mulher podem, de comum acrdo, abster
se das relaes. Por pouco tempo, por muito tempo, para
sempre. Motivo ? Porque no querem aumentar de modo ir
razovel o nmero dos filhos, por esprito de sacrifcio, por
virtude. Lemos que vrios santos assim procederam, vivendo
como irmo e irm. Eram esposos e cnj uges, embora no
chegassem a ser marido e mulher por no usarem do casamento.
E' bom saiba o leitor ser prtica de muitos casais cris
tos a continncia em certas pocas do ano, como, por exemplo,
pela quaresma, vspera de grandes festas religiosas. Isto
fazem de comum acrdo, desejosos de oferecer uma renn
cia, de afirmar o direito do anjo na criatura humana. Pru
dente sistema h nessa renncia voluntria. Assim quando a
doena impuser continncia, talvez longas, encontrar a von
tade robustecida no sacrifcio. S. Paulo desceu a sse por
menor, escrevendo : "No vos priveis um do outro seno de
comum acrdo, durante algum tempo, para vos aplicardes
orao. E de novo tornai a coabitar, para que no vos tente
Satans por vossa incontinncia" ( 1 Cor 7, 5) .
Portanto nada de impor, ou forar uma continncia.
No sendo essencial e indispensvel ao casamento o uso
do direito ao ato conjugal, temos a seguinte conseqncia : Por
si nenhum dos esposos est obrigado a pedir as relaes.
Contudo poder haver razes particulares que tornem obri
gatrio sse pedido. Certos mal-entendidos, a necessidade de

115
prender o amor ou reacend-lo, de afastar certas tentaes
podero obrigar a um pedido.
Estrita ob1igao existe de prestar o dever conj ugal,
quando uma das partes o pede com prudncia e seriedade.
Neste caso a recusa seria inj ustia grave, s desculpada na
presena de um verdadeiro e proporcionado motivo. Neste
ponto faltam mais as mulheres, alegando desculpas insufi
cientes e obrigando o marido a continncias foradas e pe
nosas, ou levando-o ao pecado.
As relaes devem ser leais, respeitadoras do programa,
do rito traado por Deus. Devem ser moderadas quanto
freqncia, cabendo aos casados encontrar a justa medida
perante as semelhanas e diferenas de sua constituio f
sica. A palavra do mdico cristo pesar no caso.
Cuide-se o marido perante a frieza ou o ardor excessivo
da espsa. Fcilmente poder cair em excessos de receitas.
De outro lado no alegue seu "tipo emocional" para ser um
guloso e gluto.
As relaes sejam caridosas, tendo em vista o cansao, a
sade, a repugnncia da espsa, da me ocupadssima. Sejam
nobres, excluindo "compras e concesses" fra de presentes,
de exploraes da fraqueza feminina. No h obrigao de
atender ao dever conjugal :
1 ) quando o cnj uge infiel e adltero o reclama. Per
deu o direito perante a parte inocente, a no ser que esta
lhe queira perdoar o rro ;
2) quando quem o pede quer proceder de modo grave
mente pecaminoso. E' o caso do marido onanstico ou so
domita. A espsa cabe o direito de recusar-se. Sbre o de
ver de recusar-se j tratamos em outro livro ; '
3 ) quando o pedido no srio e razovel. Marido em
briagado, inconsciente, louco, atacado de molstias feias, con
tagiosas, no pode ser levado a srio. Sempre que a espsa
pode temer com razo um dano para a prole concebida ou
a conceber, perde o marido seu direito.
A exagerada, descabida freqncia do pedido j ustifica
uma recusa, porque j no razovel o modo.
Se houver, leitor, motivo j usto para uma sonegao de
tua espsa, no te rebaixes a amea-la com . . . outra mulher,
l de fora. Se for sria a ameaa, j s um adltero pela

' ) As Trs Chamas do Lar. - Vozes, Petrpolis.

116
inteno. A tal preo, as relaes conseguidas nunca sero
fuso de almas. Haver sempre uma alma violentada, revoltada.
Sobretudo a recm-casados convm lembrar que as criadas
no se empregam para verem cenas de intimidades numa sem
cerimnia escandalosa.

61. A REALIDADE DE UM INSTINTO

Resumem-se a trs os caminhos do homem : a realidade


sem Deus, que a desassociao dos materialistas. Deus
sem a realidade, que a desassociao dos pseudo-msticos.
A realidade corn Deus, que a f crist. E' o caminho mais
penoso. Viver a realidade, tal qual , sem dar ouvidos voz
de Deus, mais fcil. Tambm isso responder sentimen
talmente a uma chamada, fechando os olhos realidade. Ser
materialista ou idealista mais fcil. Ser cristo difcil.
O leitor precisa aplicar a receita realidade de sua
vida sexual, com seu poderoso e providencial instinto. Ter
idias dentro das quais haja lugar para Deus. Hoje em dia,
sobretudo. Urge conhecer qual a disciplina a que deve se
sujeitar. Pode um marido abster-se, no havendo nessa abs
teno um valor positivo. Pode largar as rdeas ao instinto,.
rolando para a devassido. Mas pode levantar-se altura
de uma liberao, escapando a precipcios. Basta sujeitar
totalmente sua vida sexual lei divina.
Contudo, leitor, uma observao orientadora no caso ;
"Um mdico no te prometer a cura de um fgado, se teu
estado geral no perfeito. No se cura um rgo em se
parado, porque no est enfrmo sozinho. A submisso da
vida: sexual a Deus s possvel, quando est inscrita no
quadro da submisso total da vida a Deus. Fcilmente con
quista-se uma cidade fortificada s de um lado. Somente uma
vida crist integral o maior remdio para os problemas
sexuais. f:: sse remdio chama-se uma Redeno. Isto certo :
uma vez convencido de que seu corpo templo do Esprito
Santo e tambm membro do Corpo de Cristo, no torna o
cristo a us-lo de outra forma ( a no ser por esquecimento) .
Vemo-lo na reflexo horrorizada de S. Paulo : No sabeis
que vossos corpos so membros de Cristo ? Hei ento de abu
sar dos membros de Cristo, para faz-los membros de uma
prostituta ? Deus me livre ! ( 1 Cor 6, 15) .

117
Tambm o instinto sexual filho de Deus. E' um me
nor de idade, a quem se precisa vigiar com grande cautela.
Mas que dio secreto h contra le, para convert-lo num
bastardo que tem de ser separado da famlia e da casa do
Pai ? Satans sabe perfeitamente o que faz, insinuando isso.
Leva abdicao e ao desespro aqule, a quem Cristo veio
curar no corpo e na alma" ( Ricaud ) .
Esta pois a realidade na tua vida de marido cristo :
Tens o instinto sexual, com sua atividade no corpo, corpo
que foi objeto de contrato-sacramento quando te casaste.
Converte-o numa realidade com Deus, pelas idias, pelas ati
tudes, pelo uso indicado pela natureza e meritrio pelo sacra
mento. Por isso, guerra a revistas, cinemas, teatros, televi
ses que consideram sem Deus to tremenda realidade.

62. ADO CONHECEU SUA MULHER EVA

diz a Escritura ( Gn 4, 1 ) . H nestas palavras um sen


tido espiritual mais profundo do que literal. Para S. Pau
lo o homem o "salvador da mulher". Nesta altura lem
bre-se o homem de tudo o que forma a psicologia femin ina.
Quantas atenes deve ter para com sua espsa ! Conquiste
lhe o corao de modo amvel, com gentilezas e delicadezas,
no se entregando aos caprichos da natureza, brutalidade
dos instintos. A facilidade em concordar com uma continn
cia insinuada pelas precises da espsa ser tambm uma
prova de amor.
Quem ama verdadeiramente, segundo o esprito, cheio
de discrio e atenes para com a outra parte. Adivinha e
previne-lhe os desejos. Aceita antecipadamente os sacrifcios
impostos pelo amor. Pela sua constituio o homem mais
inclinado a procurar a satisfao de seu instinto sexual. E'
mais vido, atinge-o mais depressa e em geral sem fadiga.
A mulher pelo contrrio procura mais a carcia. Seu instin
to sexual acorda niais devagar. Geralmente espera que o ma
rido reclame o dever conjugal. Raramente o pedir e periodi
camente sente-se fatigada.
Os casados devem conhecer-se mutuamente, tanto fsica
como psiquicamente e ter em vista suas diferenas. Entre
les preciso que haja a maior sinceridade e franqueza.
Seria funesto, se ambos se fechassem numa reserva mtua.

118
No temam a permuta recproca de todos os seus sentimen
tos, mesmo sendo divergentes. Compreenso e mtua indul
gncia so deveres tambm.
O ato sexual, realizado no casamento, de acrdo com a
lei natural, impregnado de amor espiritual, est longe de ser
um ato vulgar. Adorna-se com tda beleza da ordem na
tural respeitada, e com uma dignidade e uma nobreza espi
ritual sem par. Centro da vida matrimonial, sse ato deve
ser, como ela, santificado. Tda doao carnal de si mesmo,
neste cenrio, possui um carter sagrado por fra da santi
dade do sacramento do matrimnio. f:: ste sacramento con
sagra o ato sexual e nle tem sua prpria consumao.
Uma nota : quando o casamento no chega a consumar
se no ato sexual, no adquire indissolubilidade absoluta e
pode ser anulado.
De modo muito especial, a doao fsica de si mesmo,
unida inteno de procriar, adota j por si mesmo um ca
rter religioso e sagrado. Os esposos recebem de Deus sua
faculdade procriadora. Ao exerc-la participam do poder
criador do Pai da luz.
O verdadeiro amor espiritual impede seja a unio da
carne um ato meramente animal, realizado sob a mar do
instinto. Impede se converta num ato brutal e cruel. Dele aparta
tudo quanto poderia ferir a dignidade humana, a dignidade do
pai e da me, o esprito cavalheiresco e o sentimento do pudor.
f:: sse mesmo amor espiritual cumpre a misso de velar pe
la pureza dos costumes, obstando que o ato sexual venha a
ofender de algum modo a virtude da castidade. Por isso,
um ato sexual contra as leis da natureza no pode jamais
ser uma verdadeira expresso de amor.
Eis o que apresento ao leitor, citando livremente a Streng.
No admira haja leis severas regulando sse ato.
Mas leis que so cadeias, tanto para o homem como
para a mulher. Pois a Escritura diz claramente que o homem
no dono de seu corpo, nem a mulher tambm, quando
unidos no matrimnio. Um devedor do outro.
H maridos que no conhecem, ou fingem no conhe
cer a espsa. Notam a mar de seus desejos, a flexa de seus
agrados, de acrdo com a data de certa tabela que fala de
uma florao do instinto. Num e em outro caso so censu
rveis, imprudentes, injustos. Esperam por um pedido for-

119
mal, deslembrados que ela tambm tem l seu orgulho de
mulher. No quer declarar que o marido lhe faz falta. Pre
feriria que le desse por essa falta, poupando-lhe o amor
prprio, o pudor.
Esto a os apressados. Tambm para o rito do amor,
como se ste fsse qual sde que se sacia com um copo d'gua,
sorvido s pressas e colocado no seu lugar. Ela quereria sen
tir-se envolvida numa demorada prova de amor e intimidade.
E' a sua hora. Deseja-a lenta como uma aurora que precede
ao sol. Com tempo para as almas entrelaarem seus senti
mentos, num mtuo enaltecimento.
No sendo assim, sses apressados deixam a espsa in
satisfeita de alma, porque lograda na sua esperana. Dei
xam-na a meio caminho do gzo para o corpo. E sem de
senrolar em vrios fios o novelo de seu corao. Nada al 1

tera o programa, leitor : Ado deve conhecer sua mulher Eva.

63. NO SEU PROCESSO


de beatificao falaro de mim, porque contribui bastante
para exercit-la na pacincia. - Assim confessava com since
ridade o marido de madame Acarie, de quem j em vida afir
mavam ser uma santa.
Com efeito, falou-se muito dle, homem de autoridade
verstil e imprudente. Como se falou muito do marido de
Talgi, um tal Domnico, urso no domesticado, de bom co
rao. Mas ora fraco, ora violento. Ora entupindo as crian
as com doces, ora mandando-lhes cabea uma cadeira.
Meu leitor, respeitars sempre as qualidades da autori
dade : ser j usta, ser prudente, ser precisa e oportuna. Justa
- respeitando o que direito de Deus e direito da consci
ncia e pessoa humana em tua espsa. Nada de lhe impor
leituras, divertimentos, "fraudes" contra a vida. Nada de

1 ) Interessante a observao que faz, sbre isso, o Dr. Picard,


obra citada : "Depois de alguns anos de casamento, h maridos que se
admiram de ver a espsa flertar, aliciar com meiguice os homens.
Certamente est errada. Mas os maridos bem poderiam fazer um
exame de conscincia. No recusaram, por uma preguia egosta, sa
tisfazer-lhe os legtimos desejos? No se esqueceram de, por atenes e
amabilidades, lhe dar o alimento da ternura, que o mais desejado
pela mulher? Deveis evitar ste rro. O amor quer ser vigiado du
rante tda vossa vida" ( p. 119 ) .

120
lhe impedir o livre exercicio de sua religio. O chefe h de
ser guia e anjo tutelar. Nunca sedutor, traidor, demnio.
Prudente, fugindo dos caprichos que hoje quer isto e
amanh, ou horas depois, o refuga. Do contrrio o leitor
ser "muito falado", num possvel processo de beatificao
da santa que tem em casa.
Autoridade precisa e decidida, que no comece a vaci
lar e recorrer a paliativos hora de uma ao. Do contrrio
a mulher ter que tomar as rdeas da casa. Mal menor, sem
dvida, mas sempre um mal. A desgraa de um povo, gemia
Isaas ( 3, 12) profeta ter le cado sob a dominao de
mulheres. Seja o leitor capito de seu navio, de mo firme e
resoluta no leme. Lembre-se do que Pio XII recomenda : no
pode o homem abrir mo de sua autoridade, largar o seu
cetro por indolncia, distrao e egosmo ( Aloc. 10 de Set.
de 1941 ) .
"Lembra-te dos teus limites" e seja humilde tua auto
ridade. Tua companheira - direi com Bessires - no um
zero e tu um infinito. Muito marido olvida-se de uma coin
cidncia : aquela que sua espsa cooperadora de sua pa
ternidade. Espsa e me. A forma da humildade o respei
to no tratar, no falar, no reclamar, no chamar a ateno. A
arte de mandar de tdas a mais difcil. Por desgraa, sem
pre achamos que nasce conosco. Muito marido j ulga possu-la,
sem jamais a ter aprendido.
Na missa dos esposos a Igreja diz como deve ser tua au
toridade : um jugo de paz e de amor. Jugo, amigo, puxado
por . . . dois, que repartem o pso entre si. Essa humildade
tornar prudente a autoridade.
No falte enfim a oportunidade, um certo oportunismo.
Direito absoluto no figura entre os direitos humanos. E'
preciso contar com o tempo. Por que exigir que tua espsa
fale e proceda aos vinte anos, como o ir fazer aos sessenta ?
H maridos que pensam pela mulher, que a obrigam ao pa
pel de mata-borro : chupar a tinta das idias do chefe. Urge
deixar-lhe certa iniciativa, quanto aos meios de executar um
desejo manifestado pelo espso.
Eis o que em resumo, livremente citado, te aconselho
com Bessires.

121
X

64. GULOSOS E GLUTES

H maridos dste feitio. Cama e mesa conhecem-nos.


Nesta humilham a espsa por contnuas reclamaes, receitas
que corrigem, prescrevem e aplaudem. Nunca a pobrezinha
acerta para seus paladares exigentes e caprichosos. Acaba
ouvindo louvores a outras donas de casa hbeis em tudo.
Naquela rebaixam-na, porque s se interessam pela car
ne, pelo gzo, pela fome insacivel. Norma nica o ape
tite sexual. Da aquelas relaes com freqncia cansativa,
mais vzes na semana, ou, se mais espaadas, feitas com
tda tcnica do prazer. Fogos e labaredas da carne.
Surgem ento as receitas . e os truques. Umas para in
tensificar o mais possvel o gzo dos sentidos. Outros para
iludir a vida, injuriar a moral, irritar a Deus e violentar
a conscincia da espsa. Tais maridos entram na lista dos
condenados por Pio XI e Pio XII. Deus no os chama de
gulosos. Compara-os rudemente a . . . "irracionais" ( Tob 6, 17) .
Pior o caso quando tal marido encontra uma espsa
ufana do seu "sex appeal", que lhe oferece somente uma vi
gorosa sexualidade. O leito conjugal profanado ento pela
orgia dos sentidos, pelo despudor. Que sobra da castidade,
da graa do sacramento, da dignidade de cristos ?
O guloso e gluto, na mesa e na cama, acaba sendo des
prezado, por si mesmo, por outros, pela companheira. Ain
da mais quando sse marido, treinado no prazer comprado,
quer aplicar espsa os mtodos que usou em tempos idos,
com outras mulheres. Fz aprendizagem, diplomou-se talvez.
Muito entre ns : ser o teu caso, leitor ?
J sabe o leitor o que Deus pensa do prazer, que le
mesmo uniu a uma sria obrigao. Sempre h de ficar um
meio e nunca uma finalidade. Sempre h de ser respeitador
das jerarquias no casamento : procriao, amor, mtuo enal
tecimento, mtuo apaziguamento. Sabe que sse prazer no
pode ser egosta, mas h de ser comum. Espsa, que serve
a um marido e queda-se com a prova de que le a pro
curou egoisticamente, s para si mesmo, adormece com um
demnio na alma : a tentao de achar outro, que se lem
bre de que ela mulher, capaz de gzo e orgasmos.

122
E quando ento surgirem as continncias impostas pela
doena, pela ausncia, que suceder ao guloso ? sse gourmand
d gourmet, em mau sentido, calcar aos ps a fidelidade.
I >epois de humilhar o corpo, humilhar a alma da espsa
trada.
Se o leitor pai e tem filho mo, avise-o sbre isso :
nada se improvisa no leito conjugal. H de ser preparada
u virtude, a continncia, o respeito, por uma vida casta
untes do casamento.
O melhor meio para escapar a tal gula, leitor, ser
uma rigorosa disciplina em tda extenso de tua vida : lei
turas, divertimentos, conversas. H uma gula dos olhos nas
ruas, nas reunies, e em outros lugares. H uma gula das
mos, do corao. Sei que me entendes . . . Mesmo, como
provas de amor, tuas relaes podem obedecer a uma tal
qual disciplina. A espsa perceber, imediatamente, quem
est com a direo da orquestra dos sentidos, quando a pro
curas para a sinfonia do amor. Sempre te ficar agrade
cida, se no a considerares como interessante para tua gula
de carne e de formas.

65. UTOPIAS E IDOLATRIAS

Nunca demais a repetio dste principio : O papel


normal da castidade conjugal no consiste em diminuir a
intensidade do prazer nas relaes. Querendo Deus servir
se da cooperao do homem e da mulher para a propa
gao do gnero humano, unindo-os no matrimnio, disps
sentissem os casados - um prazer e uma felicidade no
corpo e no esprito, nessa funo geradora, eis como Pio
XII explica o problema. A presena do prazer no con
tra a castidade. Esta consiste em orient-lo, em conferir
lhe tda sua dignidade humana e crist.
Lus IX, o santo rei de Frana, era castssimo. Entre
tanto soube mostrar amor, ternura nas relaes com Mar
garida, sua pequena e encantadora espsa. Seguiu o conse
lho do Sbio, "gozando da companheira de sua mocidade"
( Prov 5, 18 ) .
Soube tambm privar-se dsse prazer, santificando certas
pocas e certos dias do ano, conforme combinao com a es-

123
psa. Utopia imaginar-se um marido uma castidade, que
no lhe permita sentir "o que Deus concedeu" .
Aqui menciono a opinio d o grande S. Toms. Afirma
le que no estado de inocncia - portanto de maior cas
tidade - o gzo nas relaes teria sido tanto mais acen
tuado, quanto mais pura era a natureza e mais sensvel o
corpo. 1
Entretanto no queremos com isso favorecer a idolatria
do gzo, da funo geradora. E ' isso recomendao positi
va de Pio XII.
"Exaltar - diz le - alm da medida, como hoje se faz
no raras vzes a funo geradora, mesmo na forma j usta
e moral da vida conjugal, no somente um rro e uma
aberrao. Acarreta o risco de uma desviao intelectual e
afetiva, apta para impedir e sufocar bons e elevados sen
timentos, especialmente na juventude, ainda desprovida de
experincia e desconhecedora dos desenganos da vida. Por
que, enfim, que homem normal, so no corpo e na alma,
quereria pertencer ao nmero dos deficientes de carter
ou de esprito ?"
Mais adiante lemos na mesma alocuo : "sse hedonismo
anticristo no se envergonha de erigir como doutrina a nsia
de tornar cada vez mais intenso o gzo na preparao e
execuo das relaes conjugais. E isso como se nelas tda
lei moral se resumisse no regular cumprimento do prprio
ato. E como, se todo o resto, feito de qualquer maneira
que seja, ficasse justificado com a efuso do recproco afe
to, santificado pelo sacramento do matrimnio e merecedor
de louvor e prmio perante Deus e a conscincia. No se
tem cuidado com a dignidade do homem e a dignidade do
cristo, que pem um freio aos excessos da sensualidade".
Corajosamente sustenta o homem de branco : Nem a gra
vidade, nem a santidade da lei moral crist permitem ao
homem racional conceder tal domnio ao prazer. Tanto no
que concerne substncia como s circunstncias do ato.
To pouco a felicidade no casamento est na razo direta
com o prazer recproco nas relaes. No. A felicidade est
em razo direta com o mtuo respeito entre os esposos,
mesmo durante as relaes ntimas, les no julgam nem

1) Summa Theologica, I, q. 98, a. 2.

124
repudiam como imoral o que a natureza oferece e o Criador
concedeu. O mtuo respeito e a mtua estima, nessa hora,
so um dos elementos mais slidos de um amor puro e por
isso tambm mais terno. No h nada de maniquesmo ou
jansenismo nesta doutrina. Visa somente a honra do casa
mento cristo e a dignidade pessoal dos esposos" .
Aqui, u m toque n o nervo de tua conscincia, leitor. Falta
em tua vida de casado ( ambos, tu e ela ) a vigilncia s
bre leituras, revistas, teatros e filmes, ao correr do dia e
entrada da noite ? O dia inteiro multiplicam-se sses exci
tantes ? E como ento a castidade h de achar um lugar
em teu leito ?
Locht aconselha : Se os esposos constatam, com tda
lealdade, a ausncia da pureza em suas relaes ntimas,
perguntem-se qual o clima que cerca sua comunidade con
jugal. H clima suficiente para o amor e generosidade, para
uma vida autnticamente crist ?

66. DE BOTINAS FERRADAS

E' um mdico que nos conta o seguinte :


"Quando comeamos a trabalhar aqui, eu tinha que suar
como um demnio para ganhar a misria de dois xelins e
seis pences. E agora por um trabalho de trs minutos ( umas
injees ) recebo cinco guinus.
Minha espsa no respondeu, mas serviu-me em siln
cio outra xcara de ch. Qualquer coisa em sua reserva ir
ritou-me.
- Que que h ? Voc no acha que mereo algum
crdito ? - E alisei as lapelas de meu terno de talhe im
pecvel feito em Savile Row.
- Afinal de contas, j vo longe os tempos em que eu
tinha de bater a p pelas ruas para visitar os mineiros, me
tido num impermevel imundo e de botinas ferradas.
Ela olhou-me bem nos olhos.

' ) Alocuo s parteiras, 29 de Outubro de 1951 - REB. Xl-1951.


') A. J. Cronin, Pelos Caminhos de Minha Vida ( Memrias) -
Livr. Jos Olimpo ; p. 235.

125
- Acho que eu gostava mais de voc com aquelas bo
tinas ferradas. Voc preocupava-se mais com os seus doen
tes e menos com os seus guinus, quando as usava.
Corei at raiz dos cabelos. Tive mpetos de bot-la
para fora da sala, com um "Diabo do inferno ! No h nada
que a satisfaa !" - mas surpreendi-me calado. E ento,
depois de uma longa pausa, resmunguei :
- Talvez voc tenha razo . . . No devo esquecer-me
jamais daqueles tempos . . . Valeram a pena" .
Eis a o mtuo aperfeioamento. Uma leve censura da
espsa ao marido, que ia se tornando cada vez mais inte
resseiro, cada vez mais bem instalado. E menos mdico. Um
exame de conscincia e um remorso a martelar e uma re
soluo salvadora.
Dar valor espsa uma grande cincia e grande pru
dncia. Um velho humanista Yves de Paris, sbio capuchi
nho, previne os maridos :
"E' verdade que d motivo para queixa ver-se o homem,
por condio da natureza, obrigado a converter em metade
de si mesmo um sexo fraco. Mas se as inclinaes desta
mulher so doces, so tambm suscetveis de tdas as boas
impresses que lhes quiserdes dar. Tendo-a animado com
vossa prudncia, consider-la-eis como maravilha vossa e
duplo objeto de amor. Vossa contnua conversao poder
inspirar-lhe um esprito msculo, com lucro vosso em con
selhos para vossos negcios e sempre com notveis alvios
no lar. E se vossos esforos no conseguem tirar o que a
natureza ps de fraco nesse pequeno corao, considerai que
a Providncia assim o permite. E isso para temperar vossa
inclinao muito turbulenta. Seus temores moderam a te
meridade de vossos empreendimentos. Suas lgrimas apa
gam o fogo de vossas cleras. Suas ternuras, suas pequenas
vaidades, tambm, vos do a preocupao com as coisas
pequenas. Destas vos dispensaria, ao contrrio, vosso "humeur
sauvage" ( em bom portugus : vossos modos selvagens) ,
com sacrifcio das exigncias da civilidade".
Termina recomendando ao marido assegurar-se a forta
leza dsse corao para nle depositar uma parte das pre
ocupaes ; seu amor, para colhr consolaes e assistncias
necessrias nas doenas.

126
67. COISAS LiCITAS E ILCITAS
J sabe o leitor que o matrimnio se destina pro
criao e ao mtuo aperfeioamento moral dos esposos. E'
terra frtil para progressos no legtimo amor humano, rumo
a Deus, santidade. Para isso sacramento com fras so
brenaturais. Portanto a castidade, como virtude obrigat
ria, companheira inseparvel dos casados.
Aqui exponho normas imperativas para ser casta a c
pula carnal, castas as carcias e intimidades entre marido
e espsa.
1. Todo abuso voluntrio da fra procriadora, sem ver
dadeira relao com o outro sexo ilcito, gravemente pe
caminoso. Em teu caso, leitor, seria um adultrio. Falta-lhe
a necessria relao entre o meio e o fim. O caso do vcio
solitrio.
2. Nas relaes entre dois sexos, o ato sexual h de
ficar nos limites bem definidos do matrimnio. Por isso
tda relao entre pessoas solteiras, ou entre pessoas casa
das e solteiras ( amor livre . . . amor venal - fornicao,
adultrio ) - gravemente proibida por Deus.
3. No casamento as energias sexuais esto subordina
das grande finalidade de transmitir a vida, nos devidos
limites.
O marido, como mestre da espsa, precisa saber o se
guinte :
"Intimidades, em vista do ato conjugal assim como Deus
o ideou para a propagao da vida, obedecem tambm a nor
mas severas.
I ) E' gravemente ilcito tudo o que tende a frustrar
a vida vindoura a nascer da cpula natural ( onanismo) .
11) E' perfeitamente normal e lcito - bom e merit
rio tambm - tudo que vai ao encontro dessa grande in
teno de Deus e procura secund-la, facilit-la. Tdas as
familiaridades que servem para preparar e completar o ato
conj ugal, correto e completo, so permitidas sem culpa.
E' claro, os esposos sabero fugir do vulgar, vigiando
uma paixo que ligeira em tomar as rdeas da von
tade. Sabero dar um sentido de elevada dignidade, de re
cproco respeito, educada reserva e delicado pudor nessas
ocasies. Aqui ateno com certos truques e receitas do "tal

127
matrimnio perfeito" . Neste caso, psto o ato em tda a sua
carnalidade refinada e gozada, os esposos sentiro mtuo
asco um do outro. A carne sufocou o esprito.
Sadias liberdades fazem parte da vida conjugal. Uma
reserva exagerada e descabida prej udicaria a intimidade que
se impe entre casados, que contribui para acordar o de
sejo, dar uma satisfao mais completa. Escrpulos neste
ponto (mxime por parte da espsa) devem ser esclarecidos.
Nesta altura, ateno com a harmonia sexual nas rela
es. Muitas espsas s lentamente, mais devagar do que o
marido, chegam ao prazer gensico. Tm um orgasmo se
xual retardado. Impe-se, pois, ao marido procurar essa har
monia, sse gzo conjunto. Longe por isso tda brutalida
de. Saiba refrear sua concup1scencia, seus nervos, agindo
com doura e delicada afetuosidade. A cano do amor tem
um preldio.
III) Tudo que, propriamente falando, nem favorece
nem se op'e maliciosa e completamente ao fim principal -,
no por si gravemente ilcito e proibido, mesmo no sen
do inteiramente normal" ( A. Boschi, S. J.) .
Um espso cristo, compenetrado do sacramento, do seu
simbolismo, do programa "de ascenso" ao eterno Amor, que
Deus, atravs do amor humano -, saber sentir o que
convm ou no convm. Para dvidas que aparecerem tem
o recurso da consulta a um sacerdote de sua confiana. O
que importa no profanar o leito conjugal, onde nasce
a vida para Deus e a sociedade. - Adiante exporemos ou
tras normas.

68. MENINO MALCRIADO

No penso no garto da rua, nem no filho do vizinho,


nem em teu filho ao escrever o ttulo supra. Penso . . . , com
licena, no leitor- destas e das seguintes linhas.
O cenrio simples : um doente - e dos piores -
mdico. Certas normas que deve observar e so urgidas pel a
enfermeira e pela espsa. Insubmisso do marido :
- Tenho muita coisa para estudar, disse le, empur
rando como um menino malcriado as cobertas com que cui-

128
dadosamente o envolvera a enfermeira. Iniciei o tratamento
sugerido. Exploso completa.
- Escute aqui, seu malcriado e oportunista . . . E nesse
tom continuei, dizendo-lhe que eu podia no entender nada
de medicina e cirurgia, mas que sabia lidar com um fede
lho mal-educado" . - Assim uma espsa relata-nos sua luta
com o espso teimoso. '
H em tda espsa um estfo materno com relao ao
marido. O homem por sua vez, ao casar-se, procura tam
bm uma segunda me que lhe d confrto material, que
termine sua formao, que amenize seus modos e sentimen
tos. Quer olhar o mundo atravs dessa tica feminina-ma
terna. Suas roupas, seus pertences, at o n na gravata
em um dia de festa e recepo, ficam por conta da segun
da me. E nem faltam os maridos que, sendo pais, se en
cimam do garotinho que lhes rouba a primazia, que lhes
furta o colo.
Mas infelizmente sse menino, que tanto exige, tem no
poucas vzes conduta incorreta. Modos de mal-educado na
sua vida ntima de relaes, a partir da primeira noite.
Vai assim afastando de si a afeio da espsa, cujo pudor
sacrificado. Modos de mal-educado mesa, apesar de uma
aparente civilidade externa. Desatenes com a espsa, no
trato social, to notado por le quando cometidas por ou
tros maridos.
Feliz dle, quando tem por companheira uma alma de
licada, meiga, mas firme e jeitosa em lhe corrigir tal conduta.
- Em casa, eu e o garotinho ternos o mesmo diminutivo
no nome, dizia-me um pai.
- E no h confuso quando ste diminutivo cha
mado pela me ?
- Nenh uma. Quando atrs do nome vem uma descom
postura . . , para o garto. No comigo. Fao tudo por
nunca merec-la.
E os elogios que a espsa me fazia do marido justi
ficavam a afirmativa ouvida. Possivelmente, leitor, h tem
pos anda tua espsa procurando mudar uns modos na tua
conduta. Mas em vo. Tua resposta consiste, talvez, numa
mortificante zombaria, numa interrogao sbre os nervos
da espsa, na recordao de que ela enfim tua mulher ?

' ) Mary Bard, O Doutor meu Marido. - Edit. Jos Olmpio, Rio.

129
Ou alegas, engrossando a voz, que "quem manda sou eu" ?
Ficam sabendo disso as portas batidas com violncia ? De
tal "filho" a nova me no precisa. J tem trabalho bas
tante com os que imitam o exemplo visto.

69. MARE' MONTANTE

E' inegvel essa mar montante de erotismo nas praias


da vida. Nas cristas de seus vagalhes carrega uma litera
tura afrodisaca, materialista. Literatura barata, espalhada
por tda parte. Ao alcance de todos para perverter a todos.
Cnica, fala do sexo e do amor como se tratasse com irracio
nais. No estranhe o leitor a rudeza da exposio de Sheen
rebatendo tudo isso :
"A atrao de bsta por bsta fisiolgica, a atrao
do ser humano pelo ser humano fisiolgica e espiritual. O
esprito humano tem uma sde do infinito que o quadrpede
no tem. f::ste infinito , na verdade, Deus. Mas o homem
pode perverter essa sde, o que no pode o animal, por no
ter conceito de infinito. A infidelidade, na vida conjugal,
consiste primordialmente em substituir o infinito por uma
sucesso finita de experincias carnais . . . Os espritos mais
angustiados so aqules que buscam a Deus num falso deus.
Se o amor no. se eleva, se rebaixa._ Se o sexo no se
eleva para o cu, le desce at o inferno. No existe tal
coisa de dar o corpo sem dar a alma. Aqules que pensam
poder ser fiis de esprito mas infiis de corpo, esquecem
que corpo e alma so inseparveis. No existe sexo isola
do de personalidade. O homem no tem funes orgnicas
separadas de sua alma.
Diz Sheen que o sexo um dos meios que Deus insti
tuiu para o enriquecimento da personalidade. Que tda mu
lher compreende por instinto a diferena entre sexo e amor,
mas os homens s vm a compreend-la mais lentamente por
intermdio da razo e da orao. Que o homem dirigido
pelo prazer e a mulher, pelo significado dste.
Separado o sexo do amor, algum fica com sentimento de
que foi obrigado a parar no vestbulo do castelo do prazer ;
de que ao corao foi negada a cidadela. Tristeza e melan
colia so a resultante de tal frustrao do destino. Pois a
tristeza natural ao homem que psto para fora de si

130
mesmo, ou que se exterioriza sem conseguir acercar-se de
sua meta.
O leitor anote-se ste aviso do escritor. E' sinal fecha
do, vermelho :
"Na mulher essa tristeza vem da humilhao de veri
ficar que, quando o casamento se funda unicamente no sexo,
seu papel poderia ser preenchido por qualquer outra mulher.
Nada h de pessoal, de incomunicvel e portanto nada de
digno. Impelida pela prpria natureza, que Deus nela im
plantou, a ser iniciada nos mistrios da vida, que tm sua
fonte em Deus, ela condenada a permanecer no limiar,
como um simples instrumento de prazer e no como uma
companheira no amor. Dois copos vazios no podem encher
um ao outro. E' preciso haver uma fonte de gua, exterior
a ambos, para que les possam se comunicar entre si".
Anda triste tua mulher ? Vem disso que acabas de ler ?
Ento no ser com presentes, teatros, viagens, etc., que
desaparecer a tristeza. Teu casamento no pode ser onda
dessa mar montante. Ela s deixa salsugem na praia e le,
amargura nas almas.

70. PERCEPTIVO E INTUITIVO

H lares onde o casal formado por essa dupla de ti


pos funcionais. O mundo, as pessoas e as situaes so en
caradas por ngulos diferentes. Essa viso poder ocasionar
choques, azedar o "doce lar". Anote-se por isso o atento leitor
a seguinte exposio, em traos gerais dada por Plattner.

Tipo perceptivo :
- o concreto, o tangvel, o visvel e palpvel pren
dem-no ; depende do valor prtico das coisas, tendo a util
dade um papel preponderante no seu mundo prosaico ;
- sente-se contrariado quando h complicaes ou tem
de agir dentro delas. S est vontade numa situao co
nhecida ou de muito pouca mudana ;
- em geral ."conservador", o que no impede seja
ao mesmo tempo muito caprichoso. Largado por conta pr
pria, fcilmente se torna relaxado, remisso. Mas perante
uma tarefa que lh e assenta, ei-lo de repente vivo e experto ;

131
- pode reagir violentamente e conseguir seus intentos
com muito xito ;
- sse tipo com freqncia um dependente ; espera
que seu consorte o ponha em moviento, que lhe confie uma
tarefa ;
- princpios tm pouco sentido para le, sobretudo
quando por cima um extravertido. Tambm no sente pre
ciso de pr em ordem sistemtica suas experincias. Mas
assim mesmo vive com freqncia prso certa tradio,
na qual v um escudo protetor ;
- entre os dsse tipo que achamos o "homem goza
dor", para quem tem suma importncia tudo o que se re
laciona com os sentidos. Tem capacidade de reconciliar-se
com a injustia do mundo, se esta no lhe vem perturbar
a capacidade de gozar ;
- pertence sua natureza vestir-se bem e com bom
gsto e cercar-se de um ambiente belo e agradvel. Em ge
ral tem compreenso para o desporto, o baile, para o mo
vimento ; numa palavra, para tudo quanto se relaciona com
os sentidos do corpo ;
- a funo contrria, subdesenvolvida, nle a intui
o. Da sua inclinao para supersties, em vez de "aceitar
as reais e verdadeiras relaes de causa e efeito" . Dsses
tipos saem em geral os maiores horscopos ;
- por ser companheiro de casamento, a le caber muitas
vzes o tipo intuitivo, ao qual ter em conta de sonhador,
entusiasta e por demais confiado ;
- a intuio subdesenvolvida manifesta-se nle pelo em
barao de achar sadas ; no v possibilidades onde o intui
tivo as apanha do cho ; olha por isso com mdo para o fu
turo e atormenta-se com tda classe de preocupaes e com o
dia de amanh. Assim, por exemplo, ( sendo introvertido)
mentalmente se tortura com a pergunta de como receber
hspedes anunciados e pouco ainda conhecidos ;
Tem por complemento o tipo intuitivo :
- que v as coisas e o mundo de uma maneira com
pletamente distinta do precedente ; olha-as com olhar interior ;
- para le o mundo consiste antes de tudo em inter
dependncias e possibilidades e assim se descuida com fre
qncia do que est ao alcance de suas mos ;
- no gosta de prender-se a acordos e regras e quer

132
sempre espaos reservados para suas idias, seus impulsos ;
no se pode confiar muito nle, porque tem mais energia
impulsiva do que concentrao e perseverana ;
tem capacidade especial em sair-se das dificuldades
e sabe ocultar suas faltas ;
- muitas vzes, como diz a experincia, desenvolve-se
mais tarde que outros tipos ; freqentemente conserva du
rante bastante tempo algo que irradia infantilidade, algo
inocente e ingnuo. J o perceptivo temporo e prepara
se de modo consciente, com mais atividade, para a luta
pela vida ;
- nle est subdesenvolvida a percepo e por isso vemo
lo inclinado a se descuidar ou tambm a sobrevalorizar tudo
o que depende dos sentidos. Mostra-o a comear pelo prprio
corpo com suas precises. Ou delas se descuida ou lhes d de
masiada importncia. Esta se revela pela observncia exa
gerada e inapropriada de medidas higinicas, dietticas.
Formam quase uma espcie de rito. O cuidado exagerado
de muitos maridos com sua sade, as queixas sem fim s
bre doenas, das quais as mulheres se riem, esto em rela
o com a funo perceptiva subdesenvolvida ;
- subdesenvolvida acha-se tambm a atitude perante
o tempo e o dinheiro, em muitos casos. Ou temos um es
banjador ou um avarento, no porque valorize demais o di
nheiro, seno porque no tem atitude adequada e real pe
rante le. Diga-se o mesmo do tempo. E' criatura sem ho
rrio, impontual. Freqentemente perde uma conduo, em
bora chegue quase sempre a seu destino, por causa de certa
ingeniosidade em achar sadas.
E' claro, tal procedimento choca-se com o consorte, na
maioria dos casos, de tipo perceptivo e portanto real, des
pachado e pontual. O intuitivo molesta-se quando, por aten
o ao consorte, deve prender-se a combinaes e convnios
de longa data estabelecidos. No gosta de planos para
frias, de hora marcada para voltar de uma excurso. Vive
com mais intensidade no meio de situaes novas. Renncias
neste ponto lhe levam um pedao de vida ;
- sendo o marido um intuitivo, com percepo subde
senvolvida, no se ver capacitado para atitudes resolutas
e varonis perante a espsa de iniciativas e resolues. Mas
desejosa de seguranas e apoio, sentir-se- mal protegida

133
pela vacilao do marido perante o futuro dos filhos e dela.
Ter grande dificuldade com tal insegurana.
Plattner termina dizendo : "Esta nossa descrio ne
cessriamente esquemtica e desde logo no faz j ustia
multiplicidade da vida. Na formao da personalidade en
tram, e tm um papel muito importante, outros fatres, como
por exemplo vivncias, meio profissional, desenvolvimento
da personalidade, experincias e muitos outros". '
Em todo caso pode o leitor encontrar uma chave, com
que lhe seja possvel abrir a porta das grandes compreen
ses ou das grandes pacincias, indispensveis para a ven
tura de um lar.

XI

71. SO' PELO AMOR E COM AMOR

se deve transmitir a vida. O filho a soberba encar


nao do amor, corporal e espiritual, dos pais. E' a re
cordao, viva, monumento humano dsse amor.
"E' exigncia da moral que no se separe o gzo sexual
de um grande amor ao consorte e da possibilidade, pelo
menos, quando no do desejo da fecundidade. Exige que, no
ato carnal, no haja interveno alguma a influir direta
mente contra as possibilidades da fecundidade, includa no
prprio destino do ato. Pois somente assim se respeita o
carter espiritual do amor que - por meio da carne, mas
alm dela - se sente pela pessoa.
No fundo dos coraes dos que se amam, ao unir seus
corpos, h o desejo de ver nascer uma outra vida, de selar
visivelmente a unidade de cnjuges. A paternidade e a ma
ternidade ainda mais estreitar seus laos de unio, de de
senvolvimento biolgico e espiritual. Engrandecidos pela vida
do filho, espso e espsa sero com mais amplitude ho
mem e mulher. Vendo-se como retratos no rosto e nas qua
lidades daqueles entezinhos, crescer o amor, repetindo-se a
maravilha dsse aumento, com a entrada de novas fecun
didades. A proibio de fraudes anticoncepcionais moti
vada pela mutilao do amor, ao roubar-lhe sua generosi-

) Obra citada.

184
dade inerente. Com maior razo impossvel admitir-se a
interveno cirrgica que causa a infecundidade definitiva.
E assim consuma irremedivelmente a desassociao entre
o gzo sensvel e a possvel finalidade procriadora" ( Biot) .
"No homem a vida no exclusivamente um fenme
no fisiolgico. H nle uma alma espiritual, animadora da
carne e da vida. O recm-nascido no apenas o filho de
um homem, como o gatinho o de um gato. E' "meu fi
lho", nosso filho, filho do casal e nle h essencialmen
te uma alma. Essa vem de Deus e no pode ser o resulta
do direto e exclusivo de uma atividade corporal, j que isso
impede sua natureza imaterial. Mas o dom e a entrega dos
corpos dos pais foi motivo de cri-la no cu" (0 mesmo ) .
Um fato ilumina tda nossa natureza humana : foi o
homem criado semelhana de Deus que A mor, que Pai.
Por isso uma concluso imperiosa tambm. Ei-la, aten
to leitor : A paternidade humana, que nos assemelha ao
Criador, deve consistir essencialmente no amor, no amor
criana a quem se d a vida, e no amor ao ser em cuja
unio se realiza sse poder maravilhoso.
Portanto o homem no est convidado a ser pai, para
mostrar orgulhosamente sua poderosa masculinidade, nem
para ver os filhos seguindo mais tarde a sua profisso . . . Mas
para lhes manifestar o seu amor, criando, orientando, edu
cando-os. Do contrrio far da espsa mero instrumento de
prazer, rebaixando-a. O u a reduzir a ser motivo de orgu
lho masculino.

72. INTIMIDADES DE CASADOS

"Queira-se ou no, sempre a forma e o reflexo de


Deus que se quer bem no semelhante. O amor foge, apa
vorado, quando esta lei no compreendida ou respeitada
- lei-chave de seu mgico mistrio.
Sem dvida, a sensualidade, como a simpatia, so duas
correntes que acompanham o amor. No passariam, po
rm, de gua estagnada e suja se a personalidade que as
filtra no fsse iluminada pela percepo do ser amado e
comunho com le em Deus. Em nossos dias, no su-

135
prfluo redizer ao h omem. que o amor conjugal s na me
diao de Cristo realiza plenamente suas aspiraes. 1
Ora tal ascenso no possvel sem a castidade inte
gral, mesmo nas intimidades fora do ato conjugal. ste
muitas vzes fica proibido pela sade da espsa, pelo seu
cansao, pelas indicaes mdicas, econmicas e sociais que
sadiamente contraindicam maternidades freqentes. H ho
ras imperativas de abstenes. Restam ento, reclamadas
como provas de afeio, "de pazes feitas" , etc., as intimi
dades e os carinhos. Eis as normas para a castidade em
tais casos :
I) So bons e lcitos todos os sinais de simpatia e con
tactos fsicos (beijos, abraos, etc.,) destinados apenas a
exprimir sensivelmente o afeto e amor espiritual. Boschi
lembra aqui o trecho onde S. Francisco de Sales refere os
abraos castos de Isaac e Rebeca, observados por Abimelec,
que assim os reconheceu como casados e no como irmos.
Recorda S. Lus, to rigoroso consigo e to afetuoso e cheio
de ternuras para com a espsa. Censuraram-no por isso,
mas Lus merecia antes louvor, por saber descer de seu ri
gor afetuosidade necessria para avivar o amor conjugal.
II) Sinais de afeto, mesmo ntimos e prolongados, a
vizinhana e familiaridade que acordam o instinto, sem
constituir, para nenh um dos esposos, perigo prximo de sa
tisfao completa (fura do ato conj ugal ) so tambm lci
tos, quando procedem de boa e razovel considerao. Por
exemplo, do desejo de reconciliao, do auxlio recproco que
os casados tm direito e dever de conservar vivo no casamento.
Bosch i lembra que uma satisfao completa, sucedida a
um ou a ambos, sem m inteno ( isto , procurada e que
rida ) , sem desprzo temerrio do perigo, mas por surprsa
e imprevidncia, no pecado, ( ao menos grave) . Mas sob
a condio de a vontade no consentir, mas lhe ser clara
mente contrria. Podem esposos saber por experincia que
certas familiaridades no lhes so perigosas, quanto ao des
fecho mencionado. Se em tal caso acontecesse a satisfao
no intencionada diretamente, teramos um acidente no
imputvel.

1 ) Andr Merlaud, Splendeur de l'amour conjugal. - Spes,


Paris p. 184.

136
Aqui importa muito "a sinceridade e a lealdade" ( Boschi,
S. J. )
Com outras palavras Viollet ensina o seguinte :
"E' difcil dar normas precisas quanto intimidade das
carcias. Sempre til andarem os esposos lembrados neste
ponto dos princpios da moral, que os devem guiar e dirigir.
Quando um ato proibido intencionado, direta e ime
diatamente por si mesmo, claramente imoral. Por conse
guinte, esposos que se dessem mtuas carcias com a inten
o de provocar uma poluo fraudulenta, seriam con
denveis.
Contudo o mesmo ato proibido pode-se dar, sem que se
tenha provocado e desejado diretamente. E assim os es
posos podem trocar mtuas carcias, visando somente dar
provas de ternura. Se neste caso tais carcias provocam uma
poluo, no intencionada, deve ser considerada como um aci
dente fisiolgico, isento completamente de culpa ou s cul pa
venial, conforme a vontade consentir na excitao sexual.
O dever dstes esposos no a supresso de tdas as
carcias, mas um esfro para que no cheguem a tal desfecho.
Cabe distinguir entre carcias que provocam diretamen
te o tal acidente, ou no o provocam. Haver umas que for
temente influem no caso. Devem ento ser consideradas com
uma grave imprudncia e neste sentido so condenveis, mais
ou menos.
E', contudo, impossvel precisar quais as carcias per
mitidas ou proibidas. Pois os temperamentos so muito di
ferentes, uns dos outros. O que um pode permitir-se sem
risco do acidente, o provocar em outro imediatamente. Se
ria desumano condenar sem misericrdia esposos arrastados,
sem premeditao, a carcias excessivas por causa de sua
mtua ternura.

73. A AGUA CONVERTIDA EM VINHO

foi provada pelo mestre-sala nas bdas de Can. Mere


ceu-lhe ste elogio, participado ao noivo :
- Todo mundo oferece primeiro o vinho bom. E de
pois, j tomados os convivas, empurra-lhes o ruim. Mas
aqui se fz o contrrio. Agora, sim, que veio o vinho bom.

137
Ignorava o acontecido : as guas das talhas convertidas
em vinho. Quem fizera ste prodgio ? Cristo que "com sua
me e seus discpulos tinha sido convidado e ali se achava
presente com les e com ela, que notara "a falta de vi
nho" ( Jo 2, 6-10) .
Deve o leitor saber que, ao fundar o homem sua fa
mlia, o vinho, o amor dos sentidos e da mera paixo, in
ferior. Precisa ser mudado - pois no passa de gua -
em outro vinho capitoso, no verdadeiro amor humano so
brenaturalizado, espiritualizado, santificado.
"Presente naquele casamento, Cristo abrangia com seu
olhar e abraava todos os homens de tempos vindouros. Mas
de modo especial os filhos de sua futura Igreja. Abenoa
va-lhes as npcias. Acumulava aqules tesouros de graas,
que "o grande sacramento" do matrimnio, por le insti
tudo, derramria com liberalidade divina sbre os esposos
cristos". - Tambm o teu casamento foi envolvido no
I

seu olhar e na sua bno.


" Assim, o matrimnio que era ato da espcie convertel
se em sinal e smbolo da graa. Entre cristos a unio do
homem e da mulher deve ser sacramento. A vontade de
Deus de que seus filhos estejam unidos pela graa. E eis as
razes de convenincia para ela : O amor, assim podemos
dizer, desempenha na vida humana, e por conseguinte na
vida crist, um papel demasiado importante, rico em boas
obras e em perigos, para poder prescindir de uma consa
grao. E' tambm de suma importncia para a Igreja,
qual apresenta seus futuros fiis ( nos filhos ) . Portanto h
de ser coisa de Igreja. Enfim, ( e esta considerao "ms
tica" parece-nos a mais decisiva) o matrimnio realiza
medida do possvel a unidade natural da humanidade. Pois
bem, essa unidade realiza-se de modo sobrenatural e perfei
tissimamente em Jesus Cristo.
Esta a grande verdade de Cristo vivo na Igreja, do
Corpo mstico de Cristo. Em virtude da graa, de um modo
misterioso e real, a humanidade regenerada unifica-se em
Cristo . . . Existe um gesto da Igreja, que o tambm do
prprio Salvador, que santifica e sobrenaturaliza no matri
mnio a unio fecunda da humanidade. A graa sacramental
do matrimnio eleva sua perfeio o amor conjugal, con-

1) Pio XII, Alocuo aos recm-casados, 3 de Maio de 1939.

138
firma sua unidade indissolvel e santifica os cnjuges". '
- " Eis a, leitor. A gua do amor humano convertida em
vinho inebriante. No profanes sse amor por idias rastei
ras, por tcnicas pags, por limitaes criminosas.

7 4. MOS CHEIAS

de verdades tem o homem de branco, em Roma. Ao falar


aos recm-casados abre essas mos, oferecendo as verdades.
Aqui exponho uma preciosa coleo.
Fa_la do amor
e diz que h de ser mtuo, terno, puro, acima do mero
amor carnal. Deus aperfeioa, no destri a natureza. Por
isso o amor, ideado por le, deve guardar tda a sua beleza.
S afeto natural no suporta o pso do matrimnio. H de
ser solcito e no egosta, fugindo s gulas do amor sen
sual que se prende aos atrativos dos sentidos e da mocidade,
to fugazes e passageiros por natureza. Todo cheio de pequenas
surpresas para agradar espsa, ao espso.
Fala da harmonia
dos primeiros dias. Lembra as leituras em comum, os di
vertimentos honestos procurados em comum. E tambm os
sofrimentos partilhados pelo casal. Condena os cimes, pro
vas de um amor imperfeito, a revelarem incerteza, dvida.
No devem existir num matrimnio verdadeiramente cris
to. Podem ser a causa de infidelidades.
Fala da colaborao
to necessria para fundar e garantir a famlia. Elogia
a confiana entre os esposos, que "entre si permutam ale
grias e tristezas, temores e esperanas, planos e resolues
sbre a ordem interna da casa, sbre o futuro da famlia,
sbre a educao dos filhos".
Avisa que a indiferena e o desleixo so as piores entre
as inumerveis formas do egosmo humano. Refere-se aos
maridos frios, esquecidos, grosseiros e resmunges perante
a preocupao da espsa como dona de casa, me de famlia
e ducadora. No lhes aceita as desculpas dos deveres pro-
' ) E. Mersch S. J. - Goedseels - Biot, Conocimiento y gua
dei amor. - Buenos Aires. - Ediciones Descle, De Brouwer, p. 29, ss.

139
fissionais, das lutas para melhorar o padro de vida no lar.
Quer se vena o hbito do orgulho, do isolamento, da ti
midez que impede a confiana conjugal.
Fala da mtua entrega de si mesmo,
dizendo ser ela da essncia da bondade ; que deve ser
feita nos limites traados pela lei de Deus. A moral deve
ser respeitada e no se pode consentir na vontade de um
cnjuge, quando oposta vontade de Deus. Previne que de
nada vale s a unio exterior das vidas, quando se quer
corresponder misso confiada por Deus. A unio das almas,
e no s a dos corpos, a base da famlia. Exige a reci
procidade de sentimentos e uma verdadeira amizade con
jugal. O dom de si mesmo princpio, expanso e fonte de
vida no casamento.
Torna-se belo, quando se realiza entre duas almas cheias
"de vida sobrenatural" .
Fala da felicidade,
colocando-a num corao aberto, como fonte de onde nas
ce. E com ela a alegria, a paz. Mas h uma condio es
sencial : a mtua confiana em manifestar os sentimentos.
No quer deixem os esposos medrar na alma incompreen
ses, mal-entendidos, que preparam catstrofes. Haja permu
ta de pensamentos de aspiraes, de alegrias e tristezas.
Excetuam-se os segredos para a confisso, os profissionais,
os que sendo revelados viriam toldar a paz. Condena o in
sulamento, o viver cada um sua vida parte. D mesmo uma
receita para a felicidade. Ei-la : um casamento feliz, quan
do, ao contra-lo, um dos esposos resolveu buscar, no a sua
felicidade, mas a felicidade do outro.
Investe contra o egosmo,
dizendo que, quanto se faz na famlia, h de ser obra
de colaborao dos esposos, que no devem ficar um alheio
ao trabalho do outro. Isso exige s vzes o sacrifcio das
prprias idias e preferncias.
E' -lhe rro palmar insistirem os casados naquilo que
desune, de preferncia ao que entrelaa e une os coraes.
Menciona as pequenas exigncias, pequenas tiranias, peque
nas crueldades do egosmo.

140
Descreve as formas da fidelidade
no casamento, uno e indissolvel. Afirma estar ela acima
de qualquer tesouro. H de ser o clima, o ambiente de onde
ordinriamente procedem os homens sos e honestos. Sem
ela h viuvez no lar e desorientao para os filhos.
Fala da fidelidade do corpo, do esprito e do corao.
Fidelidade na entrega dos corpos, das inteligncias, dos co
raes. At a pacincia uma forma de fidelidade. Fide
lidade integral, fidelidade-ouro, metal padro dos valores.
Sustenta que as pequenas infidelidades levam s maiores, s
ttais. A fidelidade dom de Deus ; urge que os casados
a . Peam.
Menciona as causas da infidelidade
que esto no rigor excessivo, nas leituras livres, nos
divertimentos perigosos, nos cimes, na traio de uma par
te. Como tambm as v nos tais amres platnicos, nas ad
miraes intelectuais, nas imprudentes cordialidades com ter
ceira pessoa.
Censura severamente os maridos que, criminosamente,
expem suas espsas vestidas sem pudor ; que as levam a
reunies e divertimentos condenveis. Diz - nota isso, lei
tor ! - que pequena a distncia entre a falta pblica do
pudor e a verdadeira infidelidade. As simpatias intelectuais
podem, ao seu ver, ajudar para o bem. Contudo, as mais
das vzes, serviro para o mal.
Sabe dos defeitos, da diversidade dos caracteres
que, aos poucos, um vai descobrindo no outro. Mas re
ceita o seguinte : Dissimular os defeitos do outro, tanto pe
rante si mesmo como perante os outros. Nada de ares de
uma superioridade, mas os modos de quem indaga, pergun
ta ; de quem tem algo para dar e sente prazer em receber.
Chama a isso "uma fidelidade do mtuo dom das inteligncias" .
Conhece as tentaes
causadas pelas ausncias impostas, pelas doenas, pelas
continncias reclamadas por estados e circunstncias. Mas
lembra a todos que os deveres podem ser cumpridos com a
graa do sacramento.
Vamos parar aqui, leitor. Creio que as pedras da ver-

141
dade j esto fazendo barulho no remanso de tua alma, nesse
silencioso poo onde os crculos j vo se formando, se au
mentando . . .

75. UMA IDIA CRIMINOSA

pode aninhar-se na cabea de um marido. Pode passar


para a cabea da espsa. E por fim ambos a traduzem
numa prtica imoral.
Pio XI, na encclica sbre o casamento, assim qualifica
o conceito dos que confundem a perfeio do casamento com
o gzo desenfreado e refinado nas relaes conjugais. Para
le no se trata de um casamento perfeito, mas de um ca
samento depravado pela idolatria da carne e tcnica do gzo.
Quer seja isso repudiado com horror, tambm como vergo
nha para a pessoa humana.
J ento o homem de branco lastimava a propaganda
escrita e oral de tal rro gravssimo. Em 1941, falando aos
recm-casados, Pio XII previne-os para que no convertam
"numa associao de prazer e intersse" o casamento, que
Cristo embelezou.
Em 1951 assim falava s parteiras reunidas num con
gresso : "Querem alguns alegar que a felicidade no casamen
to est na razo direta do recproco prazer nas relaes
conjugais. No. A felicidade do matrimnio est na propor
o direta do mtuo respeito entre os casados, mesmo nas
relaes ntimas. No que les j ulguem imoral e repudiem o
que a natureza oferece e o Criador lhes deu. Mas porque
ste respeito, esta mtua estima geram um dos mais efi
cazes elementos de um amor puro e por isso tanto mais terno.
Em vossa atividade profissional, oponde-vos o mais
possvel ao mpeto dsse refinado hedonismo, vazio de valo
res espirituais e, por isso mesmo, indigno de esposos cris
tos. Mostrai corno a Natureza tem dado o desejo instin
tivo do gzo, aprovando-o no matrimnio legtimo. No como
um fim em si mesmo, mas, em ltimo trrno, a servio da vida.
Desterrai de vosso esprito aqule culto do prazer ( !) .
Fazei o mais possvel para impedir a difuso de urna lite
ratura, que se julga na obrigao de revelar com todos os
detalhes as intimidades da vida conjugal, sob pretexto de
instruir, dirigir e assegurar".

142
E Pio XII diz que essa admoestao exigida pela dig
nidade da pessoa humana, quando no uso da inclinao ge
radora. Essa dignidade impede ao homem racional ser es
cravo do prazer, mesmo quando lcito. Impede o gzo de
senfreado, excessivo e exclusivo, irracional enfim. A pr
pria natureza, dando o desejo instintivo do gzo aprova-o
somente "a servio da vida". E uma moderao, nas mo
dalidades e circunstncias dsse ato, condio imposta pela
dignidade da pessoa humana.

76. VARIAS MOLDURAS

para almas e temperamentos vou expor classe unida,


sob a orientao de Plattner. Mas no intuito de diminuir
as reas de atritos conjugais. Dentro das molduras poder
o leitor colocar a espsa, os filhos, a sogra, as cunhadas
e os filhos e tambm a si prprio. Alm dos grupos de ex
travertidos e introvertidos pode a humanidade, de acrdo
com sua conduta psquica, ser distribuda em quatro gran
des subgrupos funcionais. E i-los :
Tipo reflexivo :
- formado em geral pelos homens, que olham o mundo
antes de tudo com o pensamento, agindo de acrdo com as
reflexes ;
- nas coisas indagam inicialmente se so falsas ou
verdadeiras ;
- com facilidade se julgam ao par dos motivos de suas
aes e esperam o mesmo por parte dos outros ;
- est inclinado a supor que a espsa atua igualmen
te conforme leis lgicas, de aceitao geral, tal como acre
dita acontecer com le mesmo. No se dar isso na maio
ria dos casos. Pois a espsa de um tipo reflexivo , em
_ geral, do tipo sensitivo, que se guia por flechas completamen
te diferentes. As mulh eres carregam a razo no corao e
o homem na cabea ( Kotzebue) . E assim sse marido no
aceita razes do corao, toma a espsa por uma charada
ou a chama de caprichosa.
- tem por suspeito todo sensitivo, todo sentimento.
Pode mesmo ter na famlia um procedimento frio, congela-

143
do, perante a mulher e os filhos. Esta padece por v-lo
to sem fantasia, sem vibrao sintonizada.
para sse tipo com seu mundo lgico no existem
estados de humor, de desejos secretos, entusiasmos de mo
das na espsa.
no pega as ondas sensitivas e reaes da mulher.
E ela, sentindo-se incompreendida, reage com sentimentos
ainda mais violentos, que se tornam ainda mais incompreen
sveis para o homem. Rechaa-os como . . . histricos.
Tem por complemento um tipo sensitivo :
- Neste plo predominam as mulheres, como no pri
meiro os homens. Do os sensitivos o predomnio ao sen
timento e de entrada perguntam pelo bom ou pelo mau,
ou tambm pelo simptico ou pelo antiptico ;
- sendo extravertido, precisa de contacto contnuo para
sPntir-se bem. Toma as cres do ambiente. Triste com os
tristes e alegre com os alegres. Vive dependendo da sinto
nizao sensitiva com o mundo externo. Tem-se por pro
fundamente infeliz se no compreendido, ou tal no
se sente, pelo ambiente imediato ;
- sse tipo anda em geral com lista de muitos conhe
cidos. Forma novas amizades com rapidez e facilidade ;
- mas lhe fica subdesenvolvida a reflexo. Alis se
consegue conhecer exatamente uma criatura pela funo que
no desenvolveu. E'-lhe difcil ser objetiva e expressar opi
nies muito definidas, as quais na maioria dos casos sur
gem coloridas pelos sentimentos.
A lgica masculina falha nesta altura. Pois sse tipo
sensitivo amide usa camuflar suas opinies com verdades
religiosas e procura apoi-las numa frase da Bblia, de au
toridades. Quando falham todos os argumentos sai-se com
afamado slogan : Os homens no tm corao. Sendo intro
vertido, mais difcil conhec-lo. Traz ento refreados os
sentimentos. No se preocupa com o contacto, mas com o
tato. Possui delicado sentimento do que convm em deter
minada situao. Tal pessoa por assim dizer "mestra de
cerimnias da vida". Fcilmente, de guarda, passa para es
crava do protocolo. Mulheres dsse tipo encaramujam-se ao
mais leve perigo de serem mal vistas ou mal interpretados
seus sentimentos.

144
O homem, sendo em geral um tipo reflexivo ex
travertido, ter dificuldade em pegar as finas vibraes
sentimentais da espsa supra classificada. D-lhes s
um nome : caprichos. Reagir de m vontade. E a mulher ?
Isola-se na trre de sua incompreenso e corta as pontes
de acesso. Com a repetio dos mal entendidos ei-la passan
do-se o atestado de culpada, de inferior e de infeliz. So
frer vendo a seu lado um marido desorganizado, informal
e todo satisfeito consigo mesmo ( Plattner) .

77. PUDOR EM TUDO

O pudor lei inviolvel da carne e de suas atividades .


No se pode reduzir a nudez humana nudez de uma pe
dra. O pudor vai mais longe do que a castidade.
Esta refere-se diretamente ao exerccio da funo ge
radora. Envolve preocupao com a satisfao do instinto
de reproduo, com as paixes que estimulam o uso dos r
gos genitais. J o pudor um anteparo da castidade. Visa
os atos que, em si, no tm por fim pr em jgo o aparelho
de gerao, mas so prprios para perturbar, causar excita
o e assim comprometer a castidade ( Boschi ) .
Cabe ao pudor afastar sse perigo. Probe por isso tudo
que desnecessriamente, ou sem motivos adequados, propor
cionalmente graves, uma ameaa para acordar a leoa - a
concupiscncia da carne.
Numa palavra, quando o corpo tem o seu festim legti
mo, tenha o esprito o seu tambm, que uma elevao, um
predomnio sbre os sentidos. ste o conselho que d S.
Paulo : " Isto eu digo, irmos : o tempo breve ; resta, os que
tm mulheres, sejam como se as no tivessem ; e os que usam
dste mundo como se dle no usassem. Porque a figura ds
te mundo passa" ( 1 Cor 7, 29 ss. ) .
E assim o leitor ver que o pudor - pele da castidade !
- sente os menores arranhes e acusa-os logo. Neste pon
to costuma a espsa ter mais delicadeza e sensibilidade. Como
mulher h de ser a mestra para o espso e os filhos. Nada
perder o marido que der ateno aos avisos, s queixas,
s recriminaes da espsa que lhe estranha os modos. Ma
rido sem modos, marido malcriado no condecorao
para ningum.
145
O ambiente do lar h ser clima favorvel para o pudor.
Pio XII menciona uma exigncia : banir tudo que o desam
biente. Entram na lista as revistas, os quadros, as estatue
tas, as conversas, "as novelas de rdio", as televises.
H pessoas que so completa negao do pudor. Por
exemplo, as mal casadas que publicamente ostentam sua
conduta imoral. No servem como visitas para um lar que
cultiva o pudor.
Livros e leituras podem atestar a favor ou contra o
pudor de um lar. Por isso o leitor faa o possvel em alar
gar as fronteiras de suas exigncias neste assunto. Os fi
lhos no tero suas almas mal assombradas com um am
biente sensual, perigoso e contagioso.
Haja firmeza tambm perante a ilustre espsa com seus
vestidos e suas modas. O homem de branco j condenou os
maridos que criminosamente toleram falta de pudor em
suas espsas, ou pior ainda, se envaidecem e se comprazem
em v-las assim exibidas.
Diz Job que a vida do homem uma milcia, uma
guerra. A de um bom marido, sobretudo, assim. Possivel
mente ter de guerrear tambm com as filh as, fceis imi
tadoras e vencedoras das mes nas modas e nos vestidos.

XII

78. MARIDO NO SCULO VINTE

O sculo que nos precedeu, por falta de audcia em cer


tas horas, parecia querer contentar-se com a fisiologia do
casamento. Felizmente os romancistas, cedendo sem perce
ber presso da cultura crist, no cessaram de explorar
por muito tempo a psicologia do amor. Hoje, porm, as al
mas religiosas levam a audcia at nos perguntar sbre a
espiritualidade conjugal.
Meu leitor no querer ficar com os dois primeiros ex
ploradores do casamento. Sente que oferecem coisa incom
pleta. Logo precisa enfileirar-se com os modernos da espi
ritualidade.
Espiritualidade um modo de comportamento perante
Deus. Assim os casados teriam um modo de proceder "di-

146
ante de Deus". Mas dsse Deus que perscruta os coraes
e os rins, que desce aos mais secretos pensamentos, que
levanta o menor reflho do corao. Deus que acompanha
a vida interior e ntima dos cnjuges.
Coisa curiosa ! Sempre a histria mostrou nos homens
a crena de haver, na funo geradora, um mistrio sagra
do e algum "fragmento de coisas celestes". Que fz o ho
mem ? Imaginou-se deuses revestidos de corpo, deu-lhes cor
pos e sexos. Queria forjar uma semelhana. Deus usou de
misericrdia e, na hora da misericrdia, seu Filho encarnou-se,
realizou suas npcias com sua Igreja. Mudou-se a proporo.
Em vez de tomar emprestado aos homens seus amres hu
manos, Deus fz o homem participar do mistrio das ternu
ras e fidelidades de Cristo, cabea do Corpo mstico.
A partir de ento a estrutura do casamento, em vez
de partir das sensibilidades viris e femininas, seria levan
tada e erguida ao encontro de seu modlo e de seu princpio.
Essa espiritualidade no significa desprzo do corpo e
do sexo. Significa sujeio do amor sensvel ao espiritual,
e de ambos ao sobrenatural do sacramento. Gozando das ale
grias dos dois primeiros, respeita e procura alargar o am
biente para a graa.
Com muita graa S. Francisco de Sales descreve essa espi
ritualidade : " Exorto sobretudo os casados para que tenham
aqule mesmo mtuo amor, to recomendado pelo Esprito
Santo nas Escrituras. O' casados, eu nada diria se vos acon
selhasse o amor natural. Pois um casal de rolinhas faz o
mesmo. Tambm nada diria se vos recomendasse o amor
humano, porque tambm os pagos o tm praticado. Seguin
do a S. Paulo, digo isso : "Maridos, amai vossas mulheres
como Cristo ama a sua Igreja. Mulheres, amai a vossos ma
ridos como a Igreja ama a seu Salvador". Deus foi quem
apresentou Eva a Ado e lha deu por espsa. E Deus, com
mo invisvel, deu o n em o vnculo sagrado de vosso ca
samento. E por que no vos amareis com um carinho todo
1
santo, sagrado, divino" ?
Vamos, leitor, ao lado prtico : Espiritualidade . . .
castidade ; sem ela Deus no fica no lar, com a chama da
sua graa transfiguradora.

1 ) Introduo Vida Devota, parte III cap. 38.

147
79. PENSAMENTO S E DESE JO S

Nos dias de namoro e noivado ela queria saber se foi


lembrada por ti, leitor, que hoje tens uma espsa. Diante
das realidades da vida conj ugal teus pensamentos e dese
jos podero ocupar-se agora com a espsa, com as relaes
e o amor de um leito.
11':ste mundo de pensamentos e desejos no fica sem sua
estrla orientadora. O cristo vive num sacramento quando
casado ; carregado por uma onda de graa que o eleva e
santifica. 11':ste seu mundo interno no pode fugir lei da
perfeio. Quero que o leitor anote-se o seguinte :
Pensamentos, desejos referentes s relaes conjugais :
1 ) So permitidos quando se referem ao legtimo uso e
cumprimento do dever conjugal, mesmo quando no corpo se
apresenta um certo deleite, contanto que no seja a satis
fao completa ou perigo prximo de provoc-la.
2) Pensamentos, desejos, lembranas, imaginaes de atos
levemente ou gravemente ilcitos so, por sua vez, pecado res
pectivamente leve ou grave. E assim todo pensamento ou de
sejo voluntrio oposto ao legtimo uso do matrimnio (atos
de onanismo ou de adultrio . . . ) sempre proibido, sob cul
pa grave.
( Aqui um "muito entre ns" novamente. Ms leituras
so vespeiros de imaginaes proibidas. Por que procur-las,
leitor, ou facilit-las espsa, aos filhos ?)
3) Muito em boa hora vem uma observao de S. Fran
cisco de Sales : "Verdadeiro sinal de esprito vulgar e infame
cuidar em manjares antes do tempo de comer. E ainda mais
quando depois se pensa no gsto experimentado ao comer, en
tretendo-se em palavras e pensamentos e revolvendo no seu
nimo a lembrana do deleite, que tinha quando engolia os
bocados. Como fazem os que antes de comer tm o sentido
no assador, e depois nos pratos, gente digna de serem ces
de cozinha, que fazem " um Deus de seu ventre" , na frase de
S. Paulo. As pessoas de honra no cuidam, na mesa, seno
quando se assentam a ela. E depois da comida lavam as
mos e a bca para que lhes no fique nem o gsto, nem
o cheiro do que comeram . . . Igualmente procurem os ca
sados no o afeto prso sensualidade e deleites, que se
gundo sua vocao tiverem exercitado. Mas passados les, la-

148
vem o corao e o afeto e se purifiquem logo para depois
com mais liberdade de esprito praticarem outras aes mais
puras e mais remontadas" ( Introduo Vida Devota. Par
te UI cap. 39) .
Em resumo o que Boschi d como orientao, geral
mente aprovada : Pelas frestas dos pensamentos e dos dese
jos penetra a infidelidade na vida conjugal. Cristo Senhor avi
sa "que do corao nascem os maus desejos". Quem os
plantou ? Muitas vzes os olhos. Muitas vzes os pensamen
tos. Logo, questo de vida e morte a barreira de uma re
soluta resistncia ao se apresentarem com seus contraban
dos, vista ou disfarados. A fidelidade do corpo fruto
da fidelidade do corao e esta, do pensamento. Eis o ro
teiro do bem e do mal.

80. CASTA LEALDADE

de ambos os cnjuges, ao lado da honesta obedincia da


mulher ao marido, unidos firme e legtima caridade m
tua - so as virtudes domsticas que entram na lista da fi
delidade conjugal ( Pio XI, obr. cit. ) . Revolta e desobedi
ncia na espsa golpe na fidelidade. E o marido, que por
no saber mandar e governar-se causa semelhante situao,
---
responsvel por ela.
Torno a repetir : antes de mandar na mulher, mande
o marido em si mesmo, nos seus repentes, nos seus capri
chos, nos seus nervos, nas suas faltas de horrios, no seu
gnio e nas falhas que a educao recebida lhe deixou. Im
pondo disciplina sua casa, seja um disciplinado, a comear
com relao a Deus, a seus deveres religiosos. Como a pa
ternidade, tambm tda autoridade vem de Deus e h de
ser aureolada por le.
"At as mtuas relaes familiares entre os casados de
vem estar ornadas com a nota da castidade, para que res
plandea o benefcio da fidelidade com o devido decro. E as
sim se conduzam os casados, em tdas as coisas, conforme
lei de Deus e da Natureza, procurando cumprir a von
tade do Criador Sapientssimo, com inteira e submissa re
verncia obra divina". '

') Casti Connubii. - Editra Vozes.

149
Desde a altura dos seus pensamentos at o menor de
seus atos, o marido cristo, respeitoso da castidade. A
ss, em pblico ; nos divertimentos, nas leituras, nas amiza
des. Saber tratar com respeito o corpo que no lhe per
tence mais. E isso em casa, em seu leito. Fora de casa, nas
viagens, hospedado com amigos. No escritrio com secret
rias, nos consultrios com enfermeiras, na fbrica, nos trans
portes coletivos.
E tambm em todo tempo. Quando forado a poupar a
espsa ; quando ausente a companheira de seu leito. Por pou
co prazo, por longo prazo. E aqui rendo um preito ao mari
do casto. Sua fidelidade e castidade, em tais cenrios,
mais herica do que a de muitas pessoas consagradas a Deus.
"No tm elas um passado livre de tda experincia,
uma memria virgem de tda lembrana ? A assistncia es
piritual que recebem, o habitual recolhimento de vida, a fi
delidade s prticas aconselhadas pelos autores espirituais
nem permitam, talvez, se lhes torne um problema a casti
dade perfeita" ( B . Lavaud) .
Veremos como Pio XII se refere s trs formas da fi
delidade, que so tambm outros tantos feudos da castida
de : fidelidade da mente, do corao e do corpo.
A um tentado disse o Senhor : Minha graa te basta
(2 Cor 12, 9 ) .
O que exigido de um marido cristo lhe possvel
pelo auxlio divino. Neste transe imprudncia contar ape
nas com o passado, com a educao recebida, com motivos
de ordem natural.

81. ASMODEU E MARIDOS

Debulhada em prantos, chorava Sara, a filha nica de


Ragel. Uma criada insultara-a com a classificao de "ma
tadora de sete maridos". Fato verdico, inegvel. Um depois
do outro, os sete maridos foram encontrados mortos, na
manh seguinte primeira noite. E quando, tambm re
ceoso da mesma sorte, o jovem Tobias a desposara, perdu
rava o mdo da famlia. Ao cantar dos galos, o prudente
Ragel abria j uma cova para o infeliz. Mas a criada, en
carregada de espiar o acontecido, voltara dizendo que To
bias dormia tranqilo ao lado da espsa.

150
E a razo ? Tobias aplicara ao caso a receita do ar
canjo Rafael. ste prevenira-o a que no imitasse o exem
plo dos sete predecessores. Maridos que "se casaram, lan
ando a Deus fora de si e de seus espritos, entregando
se s suas paixes como cavalo e macho que no tm en
tendimento" .
O nobre Tobias havia executado o rito prescrito. Por
trs noites consecutivas fez orao a Deus com Sara, a le
se unindo. Disse a esta : "Depois da terceira noite vivere
mos nosso matrimnio. Pois somos filhos de santos e no
podemos juntar-nos maneira dos gentios, que no conhe
cem a Deus". Na quarta noite que, levados mais pelo desejo
de ter filhos do que pela sensualidade, viveram seu ma
trimnio. 1

Saiba o leitor ; espero alcan-lo em vsperas do casa


mento ! - que a primeira noite uma encruzilhada. Digo,
a primeira noite de posse. Pois no h lei que obrigue a con
sumao logo na noite do primeiro dia. Pelo contrrio, uma pre
parao graduada por afetos e agrados ser mais vantajosa ;
evitar choques, recalques e cicatrizes para o resto da vida.
E' horrvel para uma jovem sentir que foi humilhada, foi
violentada na alma, logo na primeira noite fora da casa
paterna.
Um rro pode tornar-se uma catstrofe para o marido
e a espsa. Esta poder a vir desprez-lo por inbil, odi
lo por brutal. Aqule poder deitar por terra todo o alto
conceito em que era tido pela espsa. - J sei para que
ns, mulheres, nos casamos, dizia uma vtima. E' para o
homem ter em sua casa o que precisava procurar em cer
tos I ugares !
A posse tem de ser preparada lentamente, comeando
pela alma, pelas carcias e atenes. O amor no se impe ;
cria-se. Cuidado com a sincronizao da entrega e do gzo
comum. Nada de posse violenta, egosta, brutal, fora do
compasso. Aqui a carne invasora. Urge vigiar-lhe a inva
so. Boschi aconselha certa moderao nos primeiros tem
pos. Por ser bom e lcito o ato conjugal, no se tem com
isso motivo suficiente para us-lo sem limites. Uma bebida,
um alimento, por ser agradvel, no autoriza um excesso
de indigesto ou de embriaguez.

1) Tobias, captulos 3, 8.

151
Certo jovem operar10, cristo genuno, relata-nos sua
lua de mel. Fz passeios com a espsa, conversando am
velmente com ela ; noite, num lar ainda pobre de mob
lias, fizeram j untos uma leitura, meditaram um pouco. Um
abrao e cada qual procurou, em separado, seu cantinho para
dormir. S alguns dias depois eram marido e mulher. E aj unta :
"Poder algum achar pueril tal procedimento. Mas fui
compensado pelo sacrifcio feito. Ofereci-o ao Senhor para
um dia ter um filho sacerdote. Recebi entretanto meu pr
mio, pessoalmente. Minha mulher amou-me, depois disto,
muito mais ainda. No se sentiu ferida no seu ntimo. Ti
vemos tempo para chegar s familiaridades. Isso possvel,
embora no seja talvez aconselhvel a todos. Os que nos
imitarem no se tornaro, em todo caso, ridculos ou estou
vados. Pelo contrrio ste pequeno sacrifcio, oferecido como
prova de respeito companheira, ao seu delicado pudor de
virgem, lhes valero alm do reconhecimento da espsa,
um embelezamento e uma purificao do recproco amor. E
isso para sempre" ( Bosch, S. J.) .
- Meu filho, s bom para com ela, na primeira noite.
Como deves ento te mostrar delicado ! No te esqueas :
por tda vida ela te ser reconhecida. Assim escrevia certa
me ao filho, na vspera do casamento.
H maridos que continuam com Asmodeu no quarto, por
longos anos. Um demnio de sensualidade, de sexualismo, de
erotismo e hedonismo acorrenta-os. Baniram de sua idia, de
sua vida, de seu lar a Deus.
Pode bem ser que algum, ao cantar dos galos, j lhes
ande cavando a cova.

82. O AMOR CONTA

" Cada pessoa aquilo que ama. O amor passa a ser se


melhante coisa a_mada. Se se ama o cu, o amor torna-se
celestial. Se se ama a carne como um deus, o amor se torna
corruptvel. O tipo de imortalidade que teremos depende do
tipo de amor que temos. Pondo a questo sob forma nega
tiva, quando enumeramos as coisas que no amamos, es
tamos mostrando o que somos. O amor minha gravita
o, disse S. Agostinho. Esta lenta converso de um su-

152
jeito em seu objeto, de um amante no amor, de um ava
rento em seu ouro, do santo em seu Deus, - mostra a im
portncia de amar o que certo.
Amar aquilo que inferior ao homem. degradao.
Amar o que humano, por simples amor humano, me
diocridade. Amar o que humano, por amor daquilo que
divino, engrandecimento. Amar o que divino, pelo amor
do prprio divino, santidade" ( Sheen ) .
Para meu leitor andar com idias certas e entusiasmos
sadios na alma, resumo num quadro o contraste entre amor
e sexo, duas flechas na rota da felicidade, mo e contra
mo. Tiro-o de Fulton Sheen :

SEXO AMOR

dualidade, trindade,
racionaliza, procura justifica no exige razes ;
es ;
busca a parte, biolgico e compreende tudo isso ; indo
fisiolgico ; tem zonas de sa mais alm, tem por fim a to
tisfaes definidas ; talidade da pessoa amada :
corpo e alma feita seme
lhana de Deus ;
elimina da pessoa amada tudo no se concentra numa fun
aquilo que no se adapta o, mas sim na personali
sua libido carnal. Por essa dade ;
razo todo aqule que d
primazia ao sexo anti-reli
gioso ;
dirigido a si mesmo, busca dirigido a algum e procu
a auto-satisfao ; lisonjeia o ra a perfeio dste ; vence
objeto no porque seja lou a pequenez das coisas pelo
vvel em si, mas antes como devotamento e dom de si
uma solicitao ; mesmo ;
movido pelo desejo de en horroriza-se perante tal no
cher um momento entre o ter o, porque v nela nada
e o no ter ; mais que a morte do objeto
amado pelo simples motivo
da auto-satisfao. 1

1 ) Fulton J. Sheen. Obra citada pp. 14-18.

153
Terminada a leitura, j ters analisado o que s em tua
vida de casado. Foi desfavorvel a apurao ? Mos obra
para melhorar o errado. Mas o como do melhoramento
est no eficaz arrependimento sbre o passado. Chegou a
hora da graa "de estado", caderneta que Deus te abriu
para o "financiamento" de seu reino em teu lar. Coragem
e resoluo !

83. OS PRESENTES DA NOIVA


Com que alvoro de criana feliz, arrepanhando seu
vestido, aquela noiva mostrava-me seus presentes ! Eram
tantos, to belos, to carinhosos em suas dedicatrias !
Deus, leitor, tem tambm um presente para seus filhos
quando recebem o sacramento do matrimnio. ste sacra
mento "exerce uma presso sbre os esposos para que so
brenaturalizem sua vida conjugal. E' uma "predisposio"
santidade, depositada por Deus em suas almas. Traz a
graa sacramental, dourada realidade a unir as almas dos
casados. Temos a penetrao de Deus na vida humana, vida
tomada com seus elementos carnais e espirituais. E por isso
a Igreja, com um realismo invejvel, abenoa o leito nup
cial. Deus acompanha seus filhos, sustenta-os, toma parte em
suas vidas e at em seus amres. Transforma tudo pelo
sacramento. Tdas essas coisas simples e cotidianas em que
se desfaz a vida conj ugal so santificadas e chegam a ser,
pelo sacramento, instrumentos, manifestaes de vida divi
na na alma" ( Leclercq) .
Os amigog do coisas alheias a si. Deus d de sua vida
divina. Entra em o novo lar, trazendo a salvao tua casa.
Entra para ficar e sai, somente, quando a infidelidade na
observncia de sua lei, na orao de cada dia, o obriga a
retirar-se.
Ao p do altar, meu leitor recebeu no dia do seu casa
mento a graa divina, por um ttulo especial do sacramento.
Graa com novos auxlios correspondentes aos novos deveres.
O estado de graa mais do que o suave perfume dos Reis
Magos. D tua vida um aroma celeste. E' uma verdadeira
elevao de tua alma ordem sobrenatural. Quanto cuidado
deves ter em conservar, e tambm em aumentar semelhan
te tesouro ! '

') Pio XII. Alocuo, 10 de Janeiro de 1940.

154
Num estado de vida, to santificado pelos presentes de
Deus, tens de viver com dignidade, na nobre ambio de rea
lizar nessa vocao teu programa de santidade. So muitos
os jovens casais que pretendem cumprir o programa de san
tidade crist abraando sse estado. Querem construir jun
tos uma obra de perfeio, ao mesmo tempo divina e humana.
No olham o casamento como colocao, como enseada na
vida.
Por isso eu gostaria de ver entre os presentes do noivo,
com uma dedicatria de Deus, essa mstica do matrimnio
em tua alma de leitor cristo. Mstica de realizar a santida
de como espso, como pai, como educador. No terminam os
presentes do cu com o dia do casamento. Deus aguarda que
o amor, depois de unir as almas, rena os corpos numa
s carne. E ento infunde a alma no corpo infantil, que
ser a encarnao do amor dos esposos.

84. GOTEIRAS EM TUA CASA

Goteiras de um telhado velho ou mal colocado abor


recem, enervam. Nem sempre tem consrto. Trocam apenas
de lugar. Contudo no so as piores desventuras de um lar.
H outras mais graves. So as que deslocam a paz, a
felicidade e at a estabilidade do lar. Surgem desintelign
cias, aguam-se problemas nos vrios setores que formam o
mapa geogrfico do amor conjugal. At os vizinhos ficam
sabendo dessas goteiras. A escola anota-os no carter dos
filhos de casais com problemas. O pediatra perspicaz enxer
ga-os na flor dos nervos de seus pequenos clientes.
Abenoada, pois, a iniciativa do "Centro das consultas
matrimoniais" fundado na Inglaterra. Veja o leitor a lista
de seus benefcios nestes dados. Entre 946 consultas que nos
interessam ternos :
para eventual anulao do casamento 226
para problemas jurdicos . . . . . . . . . . . . . . . 201
para questes mdico-sexuais 154
para moral conj ugal . . . .... .
. . . . . ....
. . 131
preparao para o casamento 99
Em 1950, de 260 casos para uma reconciliao, 188
foram bem resolvidos. Em 1951 a percentagem neste pon
to subiu a 65 % .

155
Ningum louco a ponto de deitar abaixo uma casa
por causa de goteiras. Por que ento a loucura de arruinar
um casamento pela separao, sem antes tentar todos os
meios contra "as goteiras" ?
- Esta criana, doutor, parece ter sido um engano,
disse ela. O sr. bem sabe como meu marido forte e sadio ;
quanto a mim nunca estive doente um dia sequer. Ns dois
estamos sempre dispostos e cheios de energia, prontos
para qualquer coisa. E essa criana ! Plida, magra, me
drosa, tem receio da prpria sombra ! No posso saber o
que .
Eu podia saber e soube. Os efeitos da maneira de cui
dar da criana e do ambiente que a cerca no podem ser
desprezados. Eu j tinha visto muitas crianas que cres
ciam numa atmosfera de excitao, de agitao, de brigas.
Elas tornam-se briguentas, neurticas, de emotividade ins
tvel . . . Eu me convencera de que o crebro da criana
o mais delicado aparelho registrador at hoje conhecido,
sensvel menor impresso e que fcilmente se desregula
com choques repetidos. No caso era assim : Marido e mulher,
embora se amassem, eram de temperamento exaltado, dis
cutiam em altas vozes, batiam as portas com raiva, faziam
barulho pela casa. '
V o leitor que o casal, de fato, "estava sempre dis
posto para alguma coisa". Espero no haja em teu lar tal
disposio, cheia de energia. Prefiro haja a disposio para
a tolerncia, calma, paz, enfim caridade crist na mtua
pacincia.

') Isaac Abt, obra citada p. 187, s.

156
li.

PAI E E D U CADO R

"Senhor, fazei que minhas mos sejam a sombra


de tuas mos de Pai ! "

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I

1. "EU ERA PAI,

eu era efetivamente pai. E, ento, indagava por que era


que essas flres da campina verdejante no desabrochavam
tdas, por que era que essa passarinhada alegre no vinha,
em bandos, chilrear em trno de mim os seus hinos festivos.
Por que no chiava a cigarra, por que no cantava o grilo
e a natureza tda no se enchia de galas.
Ah ! . . . no meu egosmo de homem feliz, eu quisera que
todos bendissessem essa ventura, que todos participassem
dela, que tudo risse e cantasse, como cantava e ria a mi
nha alma.
E, todavia, o dia estava risonho e formoso. As aves
trinavam em trno de mim e as magnlias desabrochavam
as suas corolas amplas, derramando perfumes intensos.
Mas a minha alma, prenhe de uma satisfao incomen
survel, queria mais, queria a alegria universal dos sres e
das coisas, queria o rudo estrepitoso das saudaes festi
vas, exigia a aclamao delirante dos triunfadores. Eu sen
tia-me brio, brio de j bilo".
ste felizardo conta-nos, em seguida, como ao voltar do
jardim para a casa, dava com uma mulher magra, de seio
descoberto, com um filho pequenino e doente ao colo, es
perando-o porta para pedir uma esmola.
"E eu, ao v-la to abatida e to plida, repartindo
com o filho enfrmo o resto do seu sangue, as tristes mi
galhas da sua vida curta, lembrei-me dos cruis destinos
dos sres desafortunados, e tive pesar e mdo dessa su
plicante, que vinha esperar-me porta, logo depois que a
ventura entrara por ela. Convulsivamente, despejei a blsa
nas mos magras dessa infeliz. E, no satisfeito com isso,
dei um beijo no rosto dsse entezinho enfezado, que lhe
sugava o sangue, orvalhando-o com as lgrimas do meu pesar.

159
Depois disso, entrei em casa e, voltando de l com
umas roupinhas destinadas ao meu filho, cobri com elas o
corpo dessa criana doente. E s ento, enquanto a mendiga
me enchia de bnos e fazia votos pela felicidade dos meus,
eu fui beijar o meu filho com os lbios ainda trmulos do
beijo que depositara no rosto macerado do filho da misria.
Nessa ocasio entregavam-me um telegrama em resposta a
um dos que havia expedido trs horas antes. Nle eu lia
esta simples palavra, to doce e to sugestiva : Parabns" . '
Veja o meu leitor como o amor humano enobrece uma
alma. Um homem ficou mais nobre na sua caridade por sen
tir-se pai. Acabava de tomar parte "em tda paternidade
que vem de Deus" ( Ef 3, 15) .

2. DE QUE FAMLIA

s tu, jovem ? Assim indagou Saul ao ver diante de si


David com a cabea do gigante Golias na mo. Com essa,
era a terceira vez que se interessava pela famlia do va
loroso mo. Foi certo seu clculo : tal mo devia provir
de famlia de valor.
O perguntado relatou sua modesta famlia, mas exps
tambm certas tradies de valorosas atitudes por ela as
sumida : O destemor era uma tradio na casa de Isa de
Belm ( I Rs c. 17) .
A tradio, o costume da famlia entra no rol do le
gado paterno. O crescimento de uma rvore s possvel pela
perseverana da seiva. E no possvel uma verdadeira e
profunda educao sem a continuidade do esfro. Diz com
razo Charmot :
"O esbanjamento do passado esbanjamento de espe
ranas. O futuro um fruto. O que se chama criao
conseqncia de uma longa maturao, cuja marcha secre
ta no se percebeu. Um filho que tem a iluso de perten
cer a si mesmo, e que para mostrar sua independncia corta
tdas suas razes familiares, no guardar por muito tem
po as flhas e os ramos. Secar. As vzes conseguir en
xertar sua vida sbre outra planta, quando a famlia pere-

') Garcia Redondo, Carcias.

160
ce. Deus permita que sse brto enxertado sbre rvore es
colhida floresa como se nunca houvesse sido arrancado.
Mas isso um acidente. Em geral a ruptura com o
passado acarreta runa para o indivduo e as sociedades. Por
isso temos de tomar a unio, a autoridade moral e o
esprito de tradio como um dos fundamentos da educao" .
Em tempos idos de castelos e cavaleiros o s escudos, o s
copos das espadas, a s inscries sbre a s entradas afirma
vam um princpio de honra e lealdade, que as mos de uma
gerao transmitia outra. O cavaleiro que no seguisse
aquela "tradio" era um degenerado, a quem no se dava
a mo de uma filha. Ainda hoje se apontam os descenden
tes de mrtires do cristianismo, ciosos da gloriosa tradi
o herdada.
Mea por a o leitor a importncia das guas que correm
pelo leito da tradio na famlia. No as tolera turvas, du
vidosas, barrentas. Sobretudo no que se referem aos direi
tos de Deus, da sua Igreja, da solidariedade com o gran
de corpo da humanidade, ou melhor, com o corpo mstico de
Cristo.
Frases, apreciaes, projetos, atitudes perante grandes e pe
quenos acontecimentos so as gotas que formam o caudal. At
as paredes de uma casa, seus mveis, as ruas da vizinhana,
as visitas que chegam, as datas do calendrio religioso e ci
vil podem contribuir para a moldura de uma tradio. So
bram provrbios e frases que bem classificam o tesouro do lar
com seu ambiente.
Da boa tradio numa famlia podemos dizer o que se
diz das rvores : " Quando novas do flres e frutos ; quan
do velhas, calor e sombra". Na nossa infncia so floridas
e vergam-se cheias de frutos. Mais tarde so como sombra
agradvel, ou como calor aquecedor, quando recordadas.
"E' sentena dos Provrbios : " Instru o vosso filho ;
le vos consolar e encher a vossa alma de contentamento" .
Mas para ensinar bem preciso saber transmitir a s tradi
es, observa Rouzic. Tradies so costumes baseados em
determinados princpios morais ou sociais. Evidentemente os
princpios da f e da honra so idnticos para todos. Mas
stes mesmos princpios, considerados sob diversos aspectos
por uns e por outros, ocasionam, quando se transformam

161
em atos, certas particularidades que acabam por caracteri
zar urna famlia. stes caracteres, corno a prpria palavra
tradio o diz, transmitem-se de pais para filhos, pela pa
lavra e pelo exemplo. Semelhantemente ao corredor antigo
em que fala um poeta, o pai lega aos filhos o facho da
vida, a fim de que, urna vez morto, a luz continue, mesmo
assim, a resplandecer, por intermdio daqueles que lhe so
breviveram : Quasi cursores vitae larnpada tradunt.
As tradies constituem um aprecivel patrimnio espi
ritual, que pode ser colocado a par da histria, do braso,
do lar e das terras. Nada contribui tanto para apertar in
timamente as relaes de afeto e de estima entre os filhos
e os pais. Nada h que comunique tanta fra aos indiv
duos. O filho o prolongamento fiel do pai quando acre
dita naquilo que o pai acreditou. E quando h certeza de
que semelhantes mximas foram praticadas, de que tais
sentimentos so hereditrios na histria de urna famlia, os
descendentes dessa famlia so, naturalmente, levados a vi
ver de harmonia com semelhantes princpios e a inspirar-se
nesses sentimentos. Napoleo era o primeiro a reconhecer o
poder da tradio, quando exclamou, possudo de funda me
lancolia : "Ah ! Se eu tivesse um . . . neto !"
O que predomina nas tradies de algumas famlias
a lealdade. Noutras, principalmente, a valentia. Em mui
tas a honra ou o desintersse. Lembremo-nos daquele pai
que, segundo Verglio, assim falou ao filho :
Meu filho, aprende comigo a virtude, a verdade e o
trabalho ; aprende com os outros a fortuna.
Tobias tambm fala, da mesma maneira, ao filho, con
forme narra a Bblia : "Nada ternas, meu filho. E' verdade
que somos pobres, mas tem-se muitos bens quando se teme
a Deus e quando nos afastamos do pecado, para s prati
carmos o bem" ( Tb 4, 23) :
Assim escreve Rouzic no livro intitulado "0 Pai", livro
que muito recomendo. ao leitor. E' claro, as tradies no
aparecem de repente. Vo se cristalizando. Resultam de urna
atmosfera moral que se respira todos os dias e a cada ins
tante do dia. Deslizam nas conversas habituais, aprendem
se nos atos cotidianos do pai e da me.

162
3. REMONTANDO UMA NASCENTE

Como espso e pai nota o leitor o bramido das ondas


do amor em sua alma. sse amor tem uma nascente que
est em Deus. " le o amor e foi para o amor que criou
o mundo. Deu-se ao amor com tdas as suas fras para
cri-lo, redimi-lo, santific-lo. E' Pai, Salvador e Santifi
cador do amor.
Porque ama a criatura, Deus quis faz-la colaborar em
suas obras e essa a razo por que deps seu tesouro su
premo, o amor, nas mos frgeis do pai e da me".
J temos lembrado ao leitor que o amor conj ugal
criador, redentor e santificador. Programa garantido, pela
graa do sacramento, para todos os homens de boa vontade
no esfro. "Sendo Pai, Deus quis o fsse tambm o ho
mem, sua semelhana. Pois o amor tende perenidade.
Quer sobreviver a si prprio, continuar-se nos sres novos.
O homem confunde suas energias com a da espsa, que tam
bm quer ser me. L um dia ela diz ao espso que "le
chegou". Que traz em seu seio o fruto do amor, a ddiva
suprema do espso.
H transformaes na espsa e no espso. O homem
maravilhado com sua fra criadora, sente em seu corao
como que a sublimao do amor que devota espsa. Agora
a considera mais como um tabernculo da vida. Sente-se
possudo de um grande respeito pela companheira. Tem-lhe
venerao. Mais do que nunca a proteger contra os peri
gos e as vicissitudes da vida. Pois ela lhe engrandeceu a
prpria existncia. Multiplicou-a, perpetuou-a no tempo.
le pai.
Nasce o filho, fraco, vagindo. Ela chama o espso, pede
o filho e ambos inclinam-se com emoo sbre o pequeni
no ser confiado ao amor de ambos. Beijam-se, cheios de
reconhecimento. Notam que se amam, que esto mais liga
dos um ao outro por uma nova misso : a de proteger sse
pequenino sem fra e sem calor. Abraam-no com uma
delicadeza infinita, como se temessem mago-lo. Assim Viollet.
Por compreender tudo isso, um pai teve um gesto co
movedor e de profunda f. Nascera-lhe um filhinho. No dia
seguinte a jovem me recebia no leito a Sagrada Comunho.
Ento o pai toma o filhinho nos braos e deposita-o bem

163
j unto do corao da espsa. Queria ficasse o fruto do amor
mais perto da "nascente", de Deus recebido na comunho.
Nunca se olvide o leitor da colaborao de Deus na
gerao de um filho. O Criador subordina sua ao dos
esposos. Espera pelos pais, at que tenham preparado na
unio do amor o germe, do qual a alma far um ser hu
mano. Nem esta a nica associao que tm com Deus.
Esto associados com Cristo na redeno. Apresentam o fi
lho ao batismo e comprometem-se a desenvolver a vida so
brenatural que a recebeu. Duplo programa glorioso : fazer
homens e formar cristos.
Com carinho olha a Igreja para os lares cristos. De
fende-lhes os direitos. Sabe que sem les ficaria reduzida
a pouca coisa, no teria as vocaes de seus sacerdotes e
religiosos, no veria a tradio de pureza e amor que filhos
cristos continuaro ao fundarem suas famlias.
Se o leitor tiver um filho mo, explique-lhe essas gran
dezas. Nle desperte o orgulho perante tantos tbJlos que
acarretam responsabilidades, que exigem sagrado respeito
fra criadora depositada em seu corpo. Quer Charmot
se mostrem aos jovens estas perspectivas de paternidades,
para melhor prepar-los e um dia levarem com honra nome
e encargos de pais.
Lembra que no Pai-Nosso Cristo Senhor pede " seja san
tificado o nome do Pai". Ora os que podem santificar sse
nome so, antes de tudo, os que o levam. A les cabe con
verter sua paternidade numa ao santa, pela qual sero
imagens do Pai celeste. A paternidade de Deus fecunda.
Como le gera seu Filho, comunicando-lhe tda sua natu
reza, assim tambm o homem deve desejar comunicar-se in
teiramente ao maior nmero possvel de filhos.
Hoje reina o mdo do filho. Observa Leclerq : "0
mdo oposto mais so. O mdo de no os ter bastan
tes, de no os ter suficientes para satisfazer a ambio
de uma famlia abundante, rica pelo contacto de personali
dades diversas que crescem no mesmo lar. Isso porque h
muitas causas fsicas, sociais e econmicas que impedem
ter tantos filhos como reclamaria a expanso da famlia"
( Charmot, S. J.) .

164
4. JA ERA CALIFA

antes de ser pai, dizia em Lendas e Narrativas o go


'

vernador mouro das conquistas na Espanha. E assim j us


tificava seu zlo pelo reino do profeta, pelo Koram, e sua
crueldade contra o filho conspirador, que condenara morte.
D-se o mesmo com o leitor, quanto ao carter e mis
so de batizado. Poder dizer : j era cristo antes de ser
pai. A paternidade no ab-rogou o declogo, o carter e o
programa do batismo. No apagou as normas do Evangelho,
os deveres de docilidade s normas da Igreja no que dizem
respeito ao leito conjugal, coabitao, aos filhos, escola
e "cidade de Deus". Numa palavra, o amor paterno mais
uma flor desabrochada no amor cristo. E' a um cristo
que Deus, no teu caso, confia um ser imortal, uma alma
destinada eterna viso do Pai dos cus.
Tudo que um pai pensa, faz, padece, projeta a respeito
dos filhos h de vir "carregado do batismo" . E assim a
educao de um filho isso para le : garantir ao educan
do todos os socorros materiais e espirituais que lhe so ne
cessrios para o pleno desabrochamento da graa do batis
mo ; ensin-lo a se conduzir no meio dos homens como fi
lho de Deus, em caminho para a casa do Pai.
J disse Pio XI : o clima da educao a preocupao
com Cristo a ser formado na alma do filho. Sabe o leitor
que, aps a Redeno por Cristo, tudo no mundo anda com
o programa de contribuir para formar Cristo em ns. Jus
tamente a famlia o lugar privilegiado dessa "primeira
configurao" .
Muito e u lamentaria, s e o naturalismo moderno houves
se roubado ao leitor a compreenso sobrenatural de tda
educao que genuna. Hoje fala-se em formar homens
e no, cristos. Entretanto teu filho no um mero ho
mem, composto de corpo e alma. E' um filho de Deus, um
remido do Salvador. O sentido cristo exige mais uma coi
sa, alm disso. No admite se ignorem as conseqncias f
sicas, intelectuais e morais do pecado original.
Jamais podemos perder a lembrana de uma inegvel rea
lidade : a criana carrega o pso dos pecados de sua raa.
Tda educao integral h de ser tambm uma reeducao.

' ) Alexandre Herculano.

165
E sem o socorro da graa redentora de Cristo no ser
possvel ao pai cuidar com proveito do belo equilbrio hu
mano e sobrenatural do filho.
Em chegando a hora da chamada para a vocao, en
tra novamente o princpio : antes de ser pai, tu eras um
cristo. E o leitor avaliar com vistas crists os roteiros
oferecidos ou preferidos pelo filho. Nada de preferncias ou
tolerncias comprometedoras da primeira vocao de tda
criatura ou filho de Deus. No desejaria ver meu leitor no
meio dos "horizontais", sem viso vertical, ligando a terra
ao cu, a Deus, eternidade. No viso digna de um ba
tizado. Compromete, pelo contrrio, a felicidade um eleito
para a cidade de Deus.

5. E DUCAO TOTALITARIA

Por mais que o trmo parea suspeito, inegvel sua


necessidade. A dupla finalidade do homem - de teu filho,
leitor - caracteriza um dos requisitos fundamentais da ver
dadeira educao : a totalitariedade. E isto quanto ao edu
cando e quanto durao.
Quanto ao educando. - O trabalho educativo dever es
tender-se ao educando todo, e no a uma s parte ou a uma
s faculdade dle. O menino tem corpo, tem alma que pensa,
raciocina, quer, sente, livre. Todos sses campos ho de
ser lavrados e cultivados. A educao tem de ser fsica, mo
ral, intelectual, sentimental. O educando no vem ao mun
do destinado a ser um egosta, a levar uma vida egosta
e solitria. Nasce numa trplice sociedade : a domstica, a
religiosa, a estatal. Famlia, Igreja e Estado. E' um ser es
sencialmente religioso. O afamado e antigo escritor Tertu
liano fala da "alma naturalmente crist". Logo, deve pra
ticar a religio como indivduo e como membro de uma so
ciedade na qual vive : a Igreja.
Diga-se o mesmo com referncia sociedade civil,
ptria.
Quanto durao. - No basta ser algum um adulto
para dispensar-se da educao. S a morte subtrai o ho
mem formao, ao dever de educar-se. Inteligncia, von
tade e sentimentos podem ser deformados, embrutecidos com

166
o tempo e o desleixo. Ainda mais que os maus exemplos
so mais numerosos no alto mar da vida, do que na viagem
de cabotagem da infncia. E contam sempre com terrveis
aliados que so as mximas erradas e as paixes. Ningum
dorme tranqilo numa cratera aparentemente extinta.
Nestas pginas interessa-nos sobretudo a preciso das
idias sbre a educao religiosa. No faltam livros bem
orientados e ao alcance do leitor de boa vontade, que ex
pem os outros programas e mtodos. No fao ao leitor
a injria de sup-lo um dstes, que fazem caso omisso do
ponto de vista sobrenatural, que negam ou, pior ainda, que
se inspiram num naturalismo perigoso.
O principal destino de todo homem o sobrenatural.
Seu principal dever na vida ? O dever traado autntica
mente pelo Evangelho. Para um pai cristo, digno dste
nome, "educar cooperar com a graa divina na formao
do verdadeiro e perfeito cristo, para quem a vida Cristo
e tdas as operaes so manifestaes de Cristo nle. Por
isso compreende ela o mbito todo da vida humana : sens
vel, espiritual, intelectual, individual, domstica e social" '
E isso - ainda Pio XI -no certamente para diminuir
essa vida humana em qualquer coisa que seja, seno para
elev-la, regul-la, ordenando e aperfeioando-a de acrdo
com os exemplos e doutrina de Cristo. Pode haver ideal mais
nobre do que sse : "A fim de que a prpria vida de Cris
to se manifeste em nossa carne mortal" ?
J viu o leitor a parte respeitosa, mas vigiada, que
cabe ao corpo com sua misso de subordinado alma e
eternidade. E a sensibilidade ficar prej udicada neste m
todo ? Leitor, na frase de S. Agostinho, ser mais fcil con
tar os cabelos de teu filho do que os afetos e os movimen
tos de seu corao. Tem le a faculdade de gozar e sofrer,
de amar e odiar. Algo h de turbulento nos homens, obser
vava Ccero. E em teu filho h uma mar de sensaes,
sentimentos, inclinaes pessoais, sociais e superiores. Tudo
atuando de uma maneira caprichosa. H em ns "um certo
centro de atrao que nos pe em comunicao com tudo
quanto existe : com a natureza, com o gnero humano, com
o verdadeiro, com o belo e o bom e com Deus. O homem
vale tanto quanto seu corao - no mais vasto sentido da

') Encclica Divini illius magistri Editra Vozes.

167
palavra -, mas preciso que seu corao seja bom. E tal
se tornar pela educao crist" ( Delabar) .
Inteligncia, vontade, carter tm suas rotas bem as
sinaladas e sempre bem atuais, ao alcance do leitor em li
vros de s orientao. Foge nossa tarefa entrar em mui
tos pormenores. E' verdade, no faltam sofismas que, como
cogumelos em paus apodrecidos, nascem das paixes requen
tadas na poca moderna. Figuram entre les o culto exces
sivo da liberdade, da personalidade, da iniciativa individual
no educando. O eco a tudo isso ouve-se nas lamentaes dos
pais sem autoridade, desprestigiados.
O pai - sse humilhado I E' o preo pago pelo rro
individual ou coletivo.

6. EM LORETO

est a Casa Santa, dentro de magnfica Baslica. As


sim quer a cristandade mostrar sua venerao pelo lugar
onde Deus tomou forma humana e, sob os olhos de Jos e
Maria viveu e cresceu.
Casa onde viveu na mais bela unio o mais santo casal
que a terra viu : Jos, o varo justo, e Maria, a bendita
entre tdas as mulheres. Lembro isto ao leitor para desta
car a predileo de Deus pelo lar. A cada passo encontra
mo-la no Evangelho, nas atitudes de Cristo Senhor. Ei-las :
Cristo levou a alegria festiva casa dos esposos de Can
( Jo 2, 1 ) .
Levou a cura casa de .Pedro ( Lc 4, 39) . Entrou com
a misericrdia na casa de Simo, o fariseu ( Lc 7, 36) . Dis
tribuiu converses no lar de Mateus, o cobrador de impostos
(Mt 9, 10) . Trouxe a vida para a casa de Zaqueu, o on
zeneiro, e de Jairo, choroso da filha falecida ( Lc 19, 5
e 8, 5) . Carregou suas ternuras para a casa de Lzaro
( Lc 10, 38) .
E mesa, na casa de Simo, o leproso, cantou hinos
generosidade, ao amor de uma convertida e pronunciou
solene reprovao da srdida, sacrlega avareza de seu hos
pedeiro ( Mt 26, 12 ) .
Queria estar perto das almas, delas se aproximar, indo
sentar-se at em seus lares. Sua presena santificou afetos
conjugais. Era celestialmente enamorado dos pequeninos, das

168
virgens. Quem poder dizer o que levava le em seu cora
o, ao sair dessas casas visitadas ?
Impressionante fato : a Eucaristia - o grande sacra
mento da lgerja ! - foi instituda em sala espaosa de uma
"casa, onde quis o Mestre celebrar sua Pscoa" . Seus sa
cerdotes tira-os dos lares honestos, filhos de um sacramen
to. Quando perseguido pelos maus, Cristo refugia-se nas ca
sas de famlia. Ainda hoje tambm. E por fim quis ter
sua sepultura no jardim de urna famlia.
Por conseguinte, leitor, le no pode estar ausente de
teu lar. _Pois amigo de sculos de tda famlia que o re
cebe. Presente em sua imagem de Crucificado ; entronizado
na de seu Corao Divino ; lembrado na orao de cada
dia ; louvado nas horas alegres e tristes ; confidente de to
dos os planos e segredos - eis o programa.
Mas sobretudo urge a presena dle na sua doutrina
respeitada, no seu exemplo imitado e no seu amor retribudo.
E pergunto ao leitor : E por que no chamar a presena
do Mestre, pela leitura de seu Evangelho ? O homem de
branco assim fala : " Vosso "sim" sacramental tem na reali
dade algo do Pai-Nosso, pelo compromisso que implica de
santificar o nome de Deus na obedincia s suas leis ; de
estabelecer seu reino em vosso lar ; de perdoar todos os dias,
um ao outro, as mtuas ofensas ou faltas ; de combater as
tentaes e de fugir do mal. E sobretudo o "seja feito", re
soluto e confiado com que encarais os mistrios do fu
turo" ( Aloc. de 16 de Outubro de 1940 )'.
Para le os casados devem fazer, por assim dizer, "a
dedicao da baslica", consagrando a casa a Deus, como
a Igreja celebra a festa da dedicao de suas baslicas. ( 0
Papa explica : baslica significa casa d o rei) . Na mesma
alocuo ( 15 de Nov. de 1939) recorda que a suma da
vida humana . . . o po, o vestido, a casa. No ter casa,
estar sem teto e sem lar o smbolo da mxima angstia
e misria. Que um dos maiores sacrifcios que Deus pede
a uma alma, ao cham-la a qualquer vocao mais elevada,
o de deixar a sua casa. E ao que a deixar por amor a
le, promete a vida eterna. At Cristo Senhor quis, durante
sua vida apostlica, ser corno um homem sem casa. As ra
psas - dizia tem suas tocas, as aves os seus ninhos ; mas
o Filho do Homem no tem onde descansar a cabea ( Mt 8, 20) .

169
Mas que calamidade, quando esta casa, to importante
na realidade e no simbolismo, . . . templo em runas, sem
Deus ! Uma baslica sem o Rei que Cristo, com sua dou
trina, seus exemplos, seus preceitos e seu esprito ! De ti,
leitor, depende tudo isso. Se no criares um clima de "Casa
Santa" no teu lar, ters dentro dle "almas desaj ustadas" .
Pois o ambiente da alma Deus, no qual vivemos, existimos
e nos movemos.

7. MANUEL ? RAUL ? . . . MANOELITO !

- Afinal precisamos decidir esta questo do nome, dis


se-me a espsa. Sorri-me. Era a terceira investida que ela
dava, nesse dia, sbre sse assunto j to discutido entre
ns e ainda no resolvido.
- Amanh decidiremos isso.
- Amanh . . . sempre amanh ! E nunca decidimos na-
da. Levantou-se e, visivelmente desapontada, dirigiu-se para
o quarto onde dormia o nosso bambino no seu bercinho de
cana da ndia, todo envolvido num longo cortinado de gaze
creme.
Ela queria o nome de Raul, por ach-lo romntico, e
refugava .o de Manuel que lhe parecia muito prosaico, ape
sar de o pai o haver escolhido em homenagem ao av pa
terno. Agastada, no compareceu ao ch, deixando o marido
sozinho a essa hora, pela primeira vez. Por fim o desfecho . . .
"Ento sem me lembrar mais do que se tinha passado na
vspera, querendo, a todo o transe, a paz, a doce paz do
meu lar, dirigi-me ao bero e tomando nos meus braos o
filhinho, que j me olhava risonho e palreiro, voltei para
o nosso leito e deitando-o ali, ao lado dela, que simulava dor
mir ainda, disse-lhe :
- A tens o nosso . . . Raul, que vem pedir-te um beijo.
E ela, cheia de uma grande satisfao com aquilo, to
desejosa como eu de desfazer a nuvem, cobriu o pequenino
de beijos e, repondo-o nos meus braos, disse-me :
- Raul, no ; agora sou eu quem quer que le tenha
o nome de teu pai. E' j usto, muito justo, tu tinhas razo.
E, como eu olhasse enternecido e estupefato, ela acrescen
tou explicativa e terminante :

170
- Intil insistires pelo Raul. O menino ter o nome
de teu pai, sou eu quem o quer, sou eu quem o pede. Mas,
como sse nome efetivamente feio, ns, para ameniz-lo
um pouco, s usaremos dle no diminutivo em ito, espa
nhola, e todo o mundo pensar que sse o nome dle.
E, como eu lhe explicasse ento o que havia feito ( pas
sando um telegrama) e lhe mostrasse a carta do av, ela,
sempre meiga mas decidida, insistiu :
- Agradeo-te muito e tambm ao av essa gentileza,
mas no aceito a resoluo. A nossa deciso est tomada
e agora vamos tratar de o batizar quanto antes.
E retomando o pequenino nos seus braos, conchegou-o
ao seio e, olhando-o, com aquela ternura que s se encontra
no olhar das mes, repetiu muitas vzes :
- O Manoelito ! . . . o meu querido Manoelito !
Procurava habituar-se com o nome. E nunca mais nes
sa casa se falou em Raul" . 1

Desculpem-me Raul e Manuel a apreciao de seus no


mes. Digo apenas : Leitor, quando fres av, no ponhas
lgrimas nos olhos de tua filha, se, deixando o teu nome,
escolher outro para o filhinho. Isso de legar nome or
gulho masculino, orgulho de dinastia, que a mulher no
compreende, nem aprecia. Nem eu tambm. Estou com ela.

8. NO REINO DA PATERNIDADE

A paternidade uma relao menos sensvel do que a


maternidade. Os sentidos no a percebem tanto, como nesta.
A criana que vai nascer no cessa de aderir ao corpo ma
terno. Revela sua presena por muitos modos. Nascida,
um prolongamento da carne materna e as relaes conti
nuam atravs d aleitamento. J o modo de a me carregar
seu nen d a impresso de ser ste um todo com ela. A
me foi feita para levar a vida nos braos. A curva de suas
vrtebras adapta-se a isso fcilmente, elegantemente. Pare
ce que sua elegncia precisa dsse pso nos braos.
Entretanto que sucede com o pai ? Psicologicamente
pode sentir-se estranho a sse negcio. Sua carne no sen
tiu nem a pr-histria, nem a primeira histria do filho.
1 ) Garcia Redondo, Carcias.
171
Desaparecesse le, aps a gerao, e tudo correria sua mar
cha natural. Na animalidade assim : o macho desaparece.
Pois no passa de um reprodutor. No pai. A relao de
pai para filho puxa mais pelo esprito.
Mas esta verdade, leitor, transforma a conscincia, de
vrios modos. Primeiro, sob a considerao do tempo, pro
longa teu horizonte temporal alm dos limites da tua vida.
Um pai no pertence apenas sua gerao. Torna-se mem
bro da gerao seguinte e, de certo modo, de tdas as ou
tras por meio do filho, do neto, etc. Entra em dose menor
a parte da carne, na relao da paternidade. Da materni
dade se poder dizer que o instinto tem maiores manifes
taes. A me tem preciso, para sua euforia, dsse prolon
gamento de seu corpo, da sensao de seios sugados por pe
quenas boquinhas.
J o pai deve vencer sua insensibilidade para reconhe
cer-se nesse pedao de carne tenra e avermelhada, envlta
num embrulho de sda azul. A seus olhos o filho , muitas
vzes, um fruto involuntrio do amor. E' o "tal" que ps
em perigo a vida da me, o terceiro que vai mudar a ale
gria da intimidade, o smbolo de muitas penas futuras, a
comear pela precariedade de sua vida. S corre perigo de
perda aquilo que se possui. E a idia de que o filho poder
perecer deita uma sombra sbre as alegrias que d.
Interessante a relao da paternidade entre filho e fi
lha. Aqule encerra muitas vzes uma rivalidade latente.
Isso se manifestar com o crescimento, quando se mostrar
ingrato para com o pai, como ste o foi para com o seu.
Depois, o filho estabelece um confronto entre pai e me.
Sabe que esta, sim, sofreu muito para dar-lhe a vida, en
quanto o papel do pai era insignificante no caso.
Em velhos tempos, leitor, o pai tinha de defender o
lar contra hienas e chacais. Hoje, medida que a sociedade
se encarrega de proteger a criana, o papel fsico do pai vive
limitado. Em todo o caso a relao da paternidade est ins
crita na natureza espiritual.
Um pai no pode abrir mo da severidade e esta tem
suas razes. No filho vers, leitor, tuas prprias qualidades
ao lado das falhas e insuficincias. Muitas vzes castigan
do teu filho, ests castigando a ti mesmo. Tudo porque te
queres melhor em teus exemplares, numa segunda edio.

172
Todo filho torna-se, em certos dias, um filho prdigo
com relao a seu pai. Deixa a casa paterna e na solido
que compreende enfim a majestade da filiao. Por isso
no se faa muito empenho em evitar a provao da in
gratido. Com razo dizia Lacordaire aos pais de famlia :
"E' honra para vs, encontrar, nos filhos, a ingratido mos
trada por vs para com vossos pais, e assim acabar como
Deus num sentimento desinteressado".
Outra j a relao entre pai e filha, na qual contem
pla a feminilidade, que at ento residia na espsa. A filha
imagem e espelho para o pai. Cada um de ns traz con
sigo o carter recessivo do outro sexo. Tem o homem pre
ciso de ver sua imagem num ente feminino. A espsa est
por demais incorporada ao homem e no lhe oferece traos
copiados. Tambm a me, da qual como filho herda talvez
a fisionomia, sua origem e sua fonte. Por isso lhe mais
doce ver-se no rosto de um ser que dle procede.
Nessa relao a metamorfose maior. A menina muda
de estado, bem mais do que o menino. Seu aspecto um
aos quatro, aos dez, aos doze, aos dezesseis anos. Essas me
tamorfoses da natureza feminina, sempre to plstica, ofe
recem ao pai que as contempla, um espetculo sempre va
riado. Reconhece-se nessa graa. Sua energia aparece nessa
fragilidade. E s vzes at suas cleras de homem so re
vistas nos modos agrestes, vivazes, ferozes da jovem.
Nessas relaes de pai e filha h tambm a cumplici
dade e raramente fracassa tal amizade. Para a menina o
pai algo de patriarca, de rei, de guia ; tem autoridade
sob o aspecto de ternura. Leia-se o que Santa Teresinha
nos escreve a respeito das relaes com pai e ter-se- um
exemplo. Est a um livre apanhado de uma exposio de
Jean Guitton.

9. NONATOS EM TUA CASA

Quero com o trmo abranger os filhos possveis, que


no nasceram. Refiro-me ao nmero dos filhos. Idias bem
crists e bem claras devem orientar o leitor. Exponho-lhe,
por isso, o seguinte :
1 ) Nada obriga os casados a terem tal ou qual nme
ro de filhos. Dizemos "nada obriga", isto , nada obriga

173
pelo fato da lei do matrimnio. Se de comum acrdo os
esposos resolvem omitir por um tempo, mais ou menos pro
longado, as relaes conjugais, podem faz-lo.
2) Se os casados, embora continentes, deixarem de ter
filhos por falta de confiana em Deus, ou por razes egos
tas, podem faltar contra a virtude da esperana ou con
tra a fortaleza e o valor que devem ter os cristos. '
" Neste caso, Barbe acha que o casal, agindo por egosmo
na sua continncia, poderia incorrer em falta pesada e mes
mo eventualmente mortal. Qual a razo ? Tal atitude con
trria obrigao fundamental do estado de vida que foi
abraado.
Saiba o leitor que a Igreja no natalista, quando por
tal se entende a vontade de procriar filhos a qualquer preo,
e de elevar a curva dos nascimentos. O que ela pede aos ca
sados uma generosa e leal vontade na transmisso da vida
a sres, aos quais a graa do Batismo transformar em fi
lhos de Deus. Mas essa generosidade tem limites na razo,
a qual no exige sejam chamados vida sres que teriam
sua salvao entravada por uma misria fisiolgica ou eco
nmica. O prprio Leo XIII com S. Toms reconhece
nessa misria um "mau clima" para a virtude.
No exige a Igreja que a me repita a gravidez numa
seqncia muito prxima uma da outra. Ou que venha cor
rer um risco de vida extraordinrio, para dar luz um fi
lho. Chega mesmo a admitir que motivos superiores ( com
promissos religiosos, sociais, cientficos, por exemplo) pos
sam dispensar certos casais da procriao de filhos. Assim
se dedicaro exclusivamente sua misso mencionada" .
Streng continua : " Seria falso afirmar que a Igreja en
sina, ou tenha ensinado alguma vez, a obrigao de terem
os casados todos os filhos que fisicamente possam gerar. J
temos apontado para a existncia de famlias, muito nume
rosas por causas antinaturais. So aquelas onde os filhos se
sucedem com demasiada freqncia, porque os pais no guar
dam a devida continncia, imediatamente depois do parto.
A Igreja, diz P. Plus, antepe o crescimento espiritual
do gnero humano ao seu crescimento numrico. A moral
conjugal no visa tanto produzir muitos homens, como for
mar nos corpos de bela sade fsica almas de carter, (ci
tado por G. Madinier na obra infra, p. 243 ) .

174
No poderia faltar no assunto a voz do homem de bran
co. Pio XII, alm do que o leitor j est sabendo pela lei
tura destas pginas, disse abertamente :
"H uma misria ainda mais profunda, da qual deveis
preservar a famlia. Digo aquela aviltante escravido a que
a reduz uma mentalidade, tendente a convert-la num mero

organismo a servio da comunidade social na procriao de


uma massa suficiente "de material humano" . '
No quero terminar sem lembrar a recomendao de
Streng :
" Devem os pais estar dispostos a ter tantos filhos quan
tos possam educar nas condies de vida em que se encon
tram. Ho de ser ouvidas a sade da me e educadora, a
suficincia de salrio, de moradia. Contudo h casamentos
onde a conscincia muito larga neste ponto. Por egosmo
exageram suas dificuldades e consideram como impossibili
dade o que seria simplesmente um ligeiro sacrifcio. Sem
motivo justificado reduzem o nmero dos filhos".

10. ROTEIRO DO ESPORTE

Todo pai e educador precisa andar com avaliaes cer


tas a respeito do desporto. Filhos e filhas vivem na atmos
fera das competies e torcidas. Tm o esporte como pro
grama nos colgios, nos clubes e na educao. Felizmente
temos firmes balizas plantadas pelo homem de branco nas
freqentes alocues a esportistas e mdicos. Guarde-as como
suas o leitor bem intencionado. Ei-las :
- A prtica do desporto e da ginstica est difundida
em tdas as classes e vivo o intersse que despertam por t
da parte. Grandes so as suas repercusses, quer para as
pessoas, quer para a sociedade. E' variadssima sua lista : gi
nstica de quarto, ginstica escolar, exerccios livres, exer
ccios com aparelhos, corrida, salto, escalada, ginstica rt
mica, marcha, equitao, esqui e outros desportos invernais,
natao, remo, esgrima, luta, pugilato, e muitos outros ain-

' ) P. Plus, Hacia el Matrimonio. - Edit. Difusin, Buenos


Aires p. 11.
' ) Alocuo Confederao das Famlias Italianas, 27 de Nov.
de 1951.

175
da, entre os quais os to populares do futebol e do ciclismo.
A imprensa acompanha e comenta-os.
Mas base para acertar aqui o seguinte princpio :
tudo o que serve para a consecuo dum fim determinado
deve tirar do mesmo fim a regra e a medida. Qual o fim
do desporto ? Educar, desenvolver e fortificar o corpo, sob
o ponto de vista esttico e dinmico. Eis seu fim prximo.
Como fim remoto est a utilizao, por parte da alma, do cor
po assim preparado para o desenvolvimento da vida inte
rior ou exterior da pessoa. Como fim, ainda mais profun
do, o contribuir para a sua perfeio. Por ltimo, como
fim supremo do homem em geral, e comum a tdas as for
mas de atividade humana, aproximar o homem de Deus.
Impe-se tambm a considerao dos fatores principais
que intervm nas atividades gmnico-esportivas : corpo e alma.
Consideremo-los sob o aspecto religioso e moral.
A anatomia, a fisiologia, a psicologia e a esttica, e ou
tras cincias mais, estudam o corpo humano e descobrem
sempre maiores maravilhas. O pensamento moral e religioso
reconhece e aceita tudo isto. Contudo vai mais alm. Quer o
corpo humano ligado sua primeira origem, que o tornou
morada e instrumento da alma. Essa origem juntou e uniu,
numa sntese, dificilmente explorvel pela nossa intelign
cia, o mundo espiritual ao material, no s com um vn
culo puramente exterior, mas na unidade da natureza hu
mana. Recebe o corpo a prerrogativa de ser, com isso, tem
plo de Deus. Da a senha do Apstolo : Glorificai e trazi a
Deus no vosso corpo" ( 1 Cor 6, 13 ss. ) .
Agora o corpo humano mortal, mas no ste seu
destino final. Ser chamado outra vez vida e esta eterna.
Norma importantssima para uma j usta perspectiva. Mais
ainda. Os instintos e as fras do corpo levantam-se sufo
cando a voz da razo, predominando sbre as energias da
boa vontade. E isto dsde o dia, em que a sua completa su
bordinao ao esprito se perdeu com o pecado original.
Bem o constatou S. Paulo : "Vejo nos meus membros outra
lei, que se ope lei da minha mente, e me torna escravo
da lei do pecado, que est nos meus membros" ( Rom 7, 23) .
Guerde o pai e educador esta norma de ouro pronunciada
por Pio XII, que conhecidamente pratica o esporte :

176
"A maxuna esta : cuidado do corpo, robustecimento
do corpo, sim. Culto do corpo, divinizao do corpo, no.
Como tambm no divinizao da raa e do sangue e dos
seus pressupostos somticos ou elementos constitutivos".
Em seguida le lembra certa ginstica e desporto que,
com sua austeridade, contribui para refrear os instintos.
Como tambm outras formas de desporto que os despertam,
quer pela violncia do esfro, quer pelas sedues da sen
sualidade. Mesmo sob o ponto de vista esttico, com o pra
zer da beleza, com a admirao do ritmo na dana e na
ginstica, o instinto pode insinuar o seu veneno nos nimos.
Alm disso h, no desporto e na ginstica, no ritmo e
na dana, certo nudismo, que no nem necessrio nem
conveniente. O que nesse campo interessa s massas, no
a beleza do nu, mas o nu da beleza. Perante tal ma
neira de praticar a ginstica e o desporto, o sentimento
religioso e moral ope o seu veto.
Numa palavra o desporto e a ginstica no devem man
da? e domina1, mas servir e ajudar. E ' a sua funo e nis
so encontram a sua j ustificativa". '
Veja o leitor como so claras e slidas as normas do
gajeiro da nau de Deus, que a Igreja. Por isso interve
nha resolutamente quando colgios particulares, e mesmo
oficiais, exigem desfiles onde o nu, maxime o feminino, pre
domina. O Estado no tem direito de ir contra os direitos
dos pais. E' dever de conscincia dizer um no.
Mais adiante falaremos do outro fator, a alma no
desporto.

1 1 . PARVA DOMUS - MAGNA PAX.

Grande paz em casa pequena, era o aviso entrada de


antiga morada. O programa do lar, santurio das almas,
foi bem focalizado por Pio XII. Chega a compar-lo com
uma lente que, "enfocando" os raios do sol atira-os con
centrados sbre um ponto para incendi-lo.

' ) Alocues de 8 de Novembro ( 1952) aos mdicos desportivos,


e 16 de Maio ( 1953 ) aos dirigentes da Associao Esportiva Na
cional Italiana.

177
Por isso quer o seguinte :
- No deve ser desleixado, frio, com a frieza de um
hotel com suas moblias. Seja, ao contrrio, embelezado com
a alma das coisas e com a vida da alma. O melhor orna
mento do lar so as virtudes dos moradores.
- Todos que entram devem ficar sabendo que, neste
lar, se serve a Deus ; que dle esto banidas as conversas
desonestas, as palavras mentirosas, as cleras ou fraquezas
culpveis. Que seu Rei o Sagrado Corao. Que o lugar de
honra ocupado pelo Crucificado e pela Virgem Maria.
- No jardim da humanidade, desde que deixou de ser
o paraso terrestre, tem amadurecido e amadurecer sem
pre um dos frutos amargos do pecado original : a dor. Ela
entrar no lar, viver ao lado dos sos. Vir a debilidade
na figura dos velhinhos e crianas. Mas para cristos a
debilidade um ttulo de respeito e a dor prova do amor
de Deus e manancial de graas. Aos velhos assegure-se
aqule respeito e aquela tranqilidade de que precisam.
- Na casa os pais fazem-se pequenos com os peque
nos, crianas com as crianas, sem compromet"er a autori
dade paterna ou materna. Uma coisa faltou aos lares pa
gos, outorgada somente pelo cristianismo : a ternura ao lado
da austeridade, mas ternura sem claudicaes e rigor sem
dureza.
- Os maus livros, piores do que as ms companhias,
por serem mais de casa, no devem entrar no lar cristo.
Nem a imprensa que espalha dios e mentiras. Quem se cr
livre do dano dos maus livros, j est pervertido. No h
liberdade de se ler tudo, como no h liberdade para se
comer e beber de tudo, mesmo que seja cocana ou cido
prssico.
E Pio XII desce aos pormenores. Lembra casos de fi
lhos e filhas vtimas de quedas escandalosas e surpreenden
tes. E a causa ? O "homem inimigo" que entrou no lar, nle
se introduziu furtivamente na forma de um livro do "pai",
de uma novela largada sbre o sof ou no toucador da
me. Condio para as graas da paz e da unio, prometidas
por Deus, a repulsa s publicaes reprovveis e corrup
toras, tanto da f como dos bons costumes.
O lar h de ser como um Tabor, como o conhecido

178
comentrio de S. Pedro : E' bom, Senhor, estarmos aqui . . . "
faamos trs casas . . .
H uma condio para a grande paz das horas e dos
homens, mesmo nas agitaes e surprsas da vida. Chama
se . . . ordem. E o ambiente familiar deve ter o esplendor da
ordem, na expresso de S. Agosti nho. Isto , cada coisa no
seu lugar. Mas a comear pelo leitor que h de estar no
seu lugar em relao com Deus, com a Igreja, com o Es
tado, com a espsa, com os filhos, com seu prximo. Um
velho pago dizia a certo amigo, "que eram belos e bem co
locados os mveis da casa, mas o dono era feio pelos v
cios e mal colocado l dentro". Censurava-o por se gabar dos
ornamentos da casa e andar com a vida sem beleza.
Na casa bem ordenada as horas esto no seu lugar e so
respeitadas nas suas exigncias ou convenes. Horas feli
zes, horas aziagas, obedecem ao programa do Sbio : Tudo
tem seu tempo ( Ecle 3, 1 ) .
H horas de Deus - com os domingos, dias santos ;
com grandes acontecimentos de vida e de morte, de sorte
e de desastre. No podem ser mal recebidas, mal observa
das. Creio at que a leitura dste livro seja uma "meia hora
de Deus" para o leitor cristo.
H ritos no lar, mudos e estveis. Criam o hbito do
costume. Facilitam a imensa tarefa da autoridade, que
"de conservao delicada e de uso perigoso, quando as or
dens so freqentes e as censuras incessantes". Manda a
sabedoria tirar o menos possvel a espada da autoridade. Os
ritos formam uma corrente que carrega a famlia, substi
tuem as ordens.
Sejam les de um nvel elevado, dignos de uma mentali
dade crist. Pois passam para o sangue dos filhos. Mais
tarde diro : Nunca foi uso em nossa famlia isso e aquilo !
A Igreja sbia. Pela liturgia forma a piedade. E todo mun
do sabe que a liturgia conta com rico conj unto de ritos, re
gulares e obrigatrios. E assim se tornam de um grande
poder.
Os ritos mudos, estveis, elevados contribuem para for
mar a herana moral da famlia. No o patrimnio que
forma a famlia. E' a seqncia de geraes que cria e
mantm o patrimnio. A famlia sem posses pode reaver
seus domnios. Mas quando perdeu suas tradies, sua f,

179
sua solidariedade, sua honra ; quando se reduziu a uma as
semblia de indivduos cheios de intersses contrrios, dan
do maior preferncia a si mesmos do que prosperidade da fa
mlia, - esta j no tem alma. E' um cadver que sente
a morte. Suas mais belas propriedades no lhe daro a vida.
Leitor, acima da herana paterna de bens materiais est
a herana moral. E' insubstituvel.

12. PARA NADA SERVE

a carne ; o esprito que vivifica, diz Cristo ( Jo 6, 64) .


Esta frase vem enquadrada pelo homem de branco ao men
cionar o fator alma no desporto. '!ste, no servindo quela,
ser apenas um vo agitar-se de membros, uma ostentao
de esbelteza caduca e uma alegria efmera. A alma o
fator determinante e definitivo de tda a atividade exterior,
do mesmo modo que no o violino que determina o des
prender-se das melodias, mas o toque genial do artista, sem
o qual o instrumento, mesmo o mais perfeito, ficaria mudo.
No desporto e na ginstica o esprito que comanda os
movimentos harmnicos, as deslocaes geis e sagazes nos
jogos. No o corpo, mas o esprito o elemento principal
e dominante. Com base em tais princpios, a conscincia
religiosa e moral exige que na apreciao do desporto e
da ginstica, no j uzo sbre a pessoa dos atletas, no tri
buto aos seus cometimentos, seja tomada, como critrio fun
damental, a observncia desta hierarquia dos valores. E as
sim o maior mrito caber no quele que possui os ms
culos mais fortes e mais geis, seno ao que demonstra maior
capacidade de sujeit-los ao imprio do esprito.
Outra exigncia ainda : Em caso de conflito est proibi
do sacrificar a favor do corpo os intersses intangveis da
alma. Verdade e probidade, amor, j ustia e eqidade, inte
gridade moral e pudor natural, devido cuidado da vida e
da sade, da famlia e da profisso, do bom-nome e da
verdadeira honra, no devem estar subord inados ativida
de desportiva, s suas vitrias e s suas glrias. Como nas
outras artes e ofcios, tambm no desporto lei imutvel que
o bom xito no segura garantia da sua retido moral.
E agora o grau de importncia a se dar ao desporto
no conj unto das atividades humanas : No se trata de con-

180
siderar e apreciar o corpo e a alma dentro dos limites do
desporto e da ginstica. Trata-se de pr stes ltimos no
quadro mais vasto da vida, e de examinar ento que valor
toca reconhecer-lhes. A razo natural e muito mais a cons
cincia crist dizem o seguinte : O revigorarnento e o dom
nio do corpo exercido pela alma, a alegria da conscincia
da fra que se possui e dos cometimentos desportivos bem
sucedidos, no so nem nico nem principal elernento da ati
vidade humana.
So auxiliares e acessrios que preciso certamente ter
em conta. Mas no so valores indispensveis da vida, nem
absolutas necessidades morais. Elevar a ginstica, o despor
to, o ritmo com todos os seus complementos, a fim supremo
da vida, seria na verdade um pouco demais para o homem.
A primeira grandeza do homem formada por muito mais
elevadas aspiraes, tendncias e qualidades.
Em seguida o leitor anote-se o que Pio XII diz sbre a
prtica do desporto. Menciona a trplice lei - a natural, a
dos preceitos positivos de Deus e da autoridade humana -
que na verdade urna s, a vontade divina manifestada de
diverso modo. O desporto no pode violar esta lei. Quer por
isso se preste a Deus a honra que lhe devida, santificando
sobretudo o dia do Senhor. O desporto no dispensa dos de
veres religiosos. No se torne o corpo corno um deus. Seria
um regresso ao paganismo. Nem to pouco as obrigaes
familiares profissionais devem ser supostas s exigncias do
desporto e das associaes desportivas. Pelo mandamento
divino tambm protegida a vida prpria e a alheia, a sade
prpria e a alheia, as quais no lcito expor impruden
temente a srio perigo, com a ginstica e o desporto.
Dos mandamentos divinos recebem fra as leis j co
nhecidas dos atletas do paganismo : franqueza, lealdade, es
prito cavalheiresco, pelas quais detestam, corno mancha de
sonrosa, o emprgo da astcia e do engano ; estimam e res
peitam o bom-nome e a honra do adversrio tanto corno
o prprio. So leis inviolveis no jgo e nos desafios ; so
outros tantos pontos de honra.
Quando se respeita com cuidado o teor religioso e mo
ral do desporto, le deve entrar na vida do homem como
elernento de equilbrio, de harmonia e de perfeio e como
ajuda eficaz para o cumprimento dos outros deveres.

181
Pio XII quer o cristo tal em tda a parte e que ne
nhuma circunstncia deva impedir que o bom odor de Cris
to se desprenda da sua pessoa para edificao de muitos.
E isto quer se retire, em orao, sob a abbada de um tem
plo, quer se permita o so divertimento do desporto sob
o cu de um estdio ( Alocues aos desportistas e mdicos) .
So bem claras as normas expostas ao leitor. So mo
dernas e provam que a Igreja uma educadora sempre
altura de sua misso. O grande escritor e cardeal, Faulhaber,
disse num discurso : Cultura do corpo sem cultura da alma .
cultura de cadver.

13. IA MORRER

Domingos Fourier. Tira seu grro, ajunta as mos. In


sistem com le para que se cubra e eis sua resposta :
- Parentes e amigos, no ousareis entregar uma car
ta, oferecer o menor presente a um prncipe, a no ser de
cabea descoberta, corpo meio inclinado, em sinal de reve
rncia. Diferem as grandezas dos homens e de Deus. H tan
tos anos que o Senhor me deu emprestada a alma, que pos
suo e que agora lha devolvo. Permiti que lhe faa tal pre
sente na posio mais respeitosa possvel.
Foi o ltimo belo exemplo com que fechou a srie dos
muitos que ornavam sua vida, calando na alma dos filhos.
Um dos seus filhos, Pedro Fourier, foi o grande apstolo
e educador da Lorena. 1

Lee, general na guerra escravagista americana, sai uma


tarde a caminhar pela praia, levando ao lado o filho pe
queno. Perdido nos pensamentos sbre as vicissitudes da
guerra, alarga os passos, deixa para trs o menino. Ao dar
pela falta do companheiro, vira-se e o v dando pulos para
pr os ps nos rastos deixados pelo pai na areia.
- Senhor, fazei que na vida eu s deixe rastos que
possam ser acompanhados por meu filho ! - assim excla
mou. O pai de Lacordaire conservou, escondido por trs
meses, em sua casa, um pobre vigrio escurraado pelos ja
cobinos franceses. Um quarto virou capela onde o persegui-

1 ) Com a bem-aventurada Madre Alix fundou a Ordem das C


negas de S. Agostinho, que tanto trabalham na educao da mo
cidade feminina, em nossa terra.

182
do celebrava a Santa Missa. Um menino viu tudo isso e
mais tarde de advogado passou para o sacerdcio, para a
tribuna de Notre Dame de Paris.
Quando foi do arrombamento das igrejas na Frana,
um pai toma sbre seus ombros o filho pequeno para lhe
mostrar o horror do sacrlego atentado. Que o menino con
templasse bem aquela igreja profanada ! Que mais tarde se
metesse na luta ao lado de Deus, como sacerdote.
Mos inexperientes na caligrafia escreveram sbre o
tmulo de S. Teresinha : Um muito agradecido aos pais que
nos deram to grande santa ! E' assim, leitor. O bom exem
plo dever sagrado em tua vida. Mas exemplo em tda
linha. O cidado, o cristo, o profissional, o espso, o aps
tolo, o sofredor, o so e o doente cada um tem rastos para
deixar. Sobretudo o ltimo bom exemplo - o da morte
crist - importantssimo. No pode ser improvisado, mas
requer preparao ao longo da vida.
" Certo poeta escreve :
Depois, uma bela noite, discretamente apagar a luz,
apagar a lmpada, e morrer, porque essa a lei.
"No s morrer porque essa a lei, o que poderia
ser apenas um fatalismo estico. Mas deixar ste mundo
num derradeiro ato de amor para ir ter com o mesmo Amor"
( P. Plus) .
O maior quinho na vida cabe sempre dor, ao sofri
mento. Por isso o filho h de ser educado pelo exemplo
paterno para enfrent-los de modo cristo. As doenas, llS
reviravoltas econmicas e sociais ; os desastres, as perdas,
os fracassos que entram em casa so mensageiros de algum
plano divino. Quem sabe ser cristo altura, em tais ho
ras, prepara outro cristo altura da medida esticada por
Deus.
No sei se em teu lar, leitor, h blasfmias, recrimina
es e apostasias nessas horas carregadas de Deus. Em todo
caso sers um educador fracassado, se falhares ao longo de
tua vida nessas "estaes da Via-Sacra" de tda criatura.
O ltimo bom exemplo h de ser de uma morte crist,
de cabea baixa, d.escoberta, devolvendo a Deus o emprs
timo da alma, num gesto de amor. A maior riqueza de
uma herana est no bom exemplo, na tradio de uma fa
mlia saturada de f e de graa santificante.

183
14. ENTO, NO E' PAI ?
perguntava Francisco de Sales ao hspede, que recla
mara contra a gentileza de ser, tdas as noites, acompanha
do pelo Santo Bispo, de vela acesa, ao quarto onde dormia.
- Sou solteiro, Sr. Bispo.
- Ah ! Ento j no virei acompanh-lo. Fazia-o por
respeito sua paternidade. Mas vejo, agora, que somos
dois . . . solteires. - Assim arrematava com seu bom hu
mor o bispo de Genebra.
Entre os males que assolam a famlia est, sem d
vida, a paternidade subestimada e mal preparada. Nossos
moos, casando-se, amanhecem pais improvisados. Ofereo
ao leitor umas idias que colhi em Roupain. Serviro para
rever muita atitude em tua vida de marido, de pai e de
educador.
Deus tem gsto em marcar-nos com sua semelhana.
Fz-se homem, na pessoa de seu Filho, para que pudssemos
"humanamente" ser semelhantes a le. Para conferir ao ho
mem o mais augusto trao de semelhana com a natureza
divina, que infinitamente fecunda, criou na terra o mis
trio da paternidade. Temos na ordem sobrenatural a pa
ternidade espiritual. Di-lo a frase de S. Paulo : "Em Cristo
Jesus eu vos gerei pelo Evangelho" ( 1 Cor 4, 15) . Mais
abaixo, porm acima de tda dignidade humana, colocou a
dignidade paternal na famlia, como honra e fra do lar.
O pai possui sbre a famlia uma autoridade que vem
de Deus, de onde vem tda autoridade, mais ou menos me
diatamente. Descendo do cu ela toma p primeiramente na
famlia, primeira sociedade natural. E nesta o pai o seu
principal depositrio. Recebe de Deus a autoridade, pela pri
meira e mais autntica das delegaes que existem.
Trs ttulos tem o pai para sua autoridade : autor,
guia, providncia, a exemplo da paternidade de Deus.
Tem le a autoridade de comando, por ser autor. Quan
to mais se autor, se dono. Ningum como Deus Autor
e ningum como le Senhor. Em obra alguma o homem
to princpio e autor como na paternidade. Pois a repro
duz a imagem de sua prpria substncia. O filho algo
do pai.
Da sua autoridade de mando, a exigncia de obedin
cia na espsa e nos filhos. Ao pai cabem as responsabili-

184
dades, as iniciativas, as decises e as ordens. E quando elas
so a expresso de uma vontade que manda, h ofensa de
Deus em rejeit-las.
Tem o pai a autoridade de guia. Deus no deixa suas
criaturas na "indeterminao" . Na famlia, ao lado das fa
culdades e capacidades humanas dos filhos, Deus pe "a
autoridade de direo" do pai. Autoridade de persuaso, de
luz. Se a me a chama, o pai h de ser a luz no lar. Graas
a le cada um conhece seu dever. Reina pela casa o muito
doce sentimento de segurana, de ordem e de paz. "O fruto
da luz consiste em tda espcie de bondade" ( Ef 5, 9 ) .
Tem o pai autoridade de govrno. Do contrrio no imi
taria at ao fim a paternidade de Deus, que "providncia".
Deus no abandona sua criatura. Segue-a com seu olhar, com
sua solicitude. Dela afasta perigos, favorece-lhe as legtimas
tendncias, corrige e completa nossos planos. O mesmo papel
caber ao pai. Por isso Cristo apresenta-nos o govrno di
vino sob a imagem de um govrno paternal. Pergunta : qual
o pai que, em vez de po, d uma pedra ao filho ? Logo . . .
( Lc 11, 12) .
H na alma do filho um pendor indestrutvel para seu
pai. Nunca um filho acreditar na falncia paterna. Todo pai
traz sbre a fronte uma aurola que , depois da do sacerdcio,
a mais bela, a mais serena imagem da majestade de Deus.
Os anos s podero embelez-la ainda mais com novas pa
ternidades.
No estranhe o leitor, por conseguinte, haja o Criador
promulgado severo mandamento de respeito e honra, devido
pelos filhos aos pais. Respeito que chamamos piedade filial,
verdadeira forma de culto prestado excelncia da pessoa
ou do ttulo. Mais : Empenhou-se com promessas aos filhos
respeitosos. Sancionou com seus favores "a bno pater
na" ( Gn 27, 40 ) . O belo uso de os filhos beijarem a mo
do pai no deveria desaparecer. O " Deus te abenoe" ou
vido por Deus !
E, feito homem, Cristo quis deixar o exemplo de sub
misso e sujeio na casa de Nazar. Como Legislador sbio
e caridoso deixou uma l io prtica : Est escrito que "lhes
era submisso" ( Lc 2, 5 1 ) , em Nazar. - Assim Roupain.
Leitor, tens de ser o primeiro "crente respeitoso" pe-

185
rante a paternidade que vem de Deus. No andars errado,
se exclamares e viveres sob a impresso desta verdade :
" Pai dos cus, fizeste de minhas mos uma sombm
das tuas!" E estranhars que devas ajuntar tuas mos, re
zando, chamando pelo " Pai que est no cu" ? !

111
15. SOB UM TELHADO

que cobre uma casa de famlia agitam-se problemas da


mais alta gravidade. Problemas que interessam a um mun
do de observadores. Interessante para o estudioso das cin
cias familiares, para o biologista, para o jurista, para o
socilogo, para o moralista, para o pedagogo. O psiclogo,
o fenomenologista, o metafsico, o telogo assentam suas
lentes sbre ste mundo de quatro paredes, tdas trazendo
problemas pendentes.
E o pior de tudo, h oposio entre a tcnica de um
lado e a filosofia e teologia de outro. Trs pontos principais
so o eixo dessa oposio : Primeiramente, o especialista s
v uma parte da realidade. Considera o homem apenas sob
o aspecto de uma de suas funes, de uma de seus estados.
O filsofo e o telogo no podem admitir a suficincia desta
viso para j ulgar corretamente uma ao humana. Recla
mam um ngulo que pegue a totalidade.
Tomemos o caso da sexualidade. O homem um ser
sexual. H marcas dessa natureza em todo o seu compor
tamento, em tda sua pessoa. Seria absurdo querer tratar
da virtude da castidade, sem saber em que consiste o po
der instintivo e sentimental, que por ela deve ser regulado.
Mas outra falta grave seria apreciar um ato sexual, igno
rando e querendo ignorar sistemticamente os outros com
ponentes do ser humano. Assim procedem os que determinam
o valor dste ato, unicamente por suas conseqncias eu
gnicas.
Leitor, ste o caso daquelas batidas frases - "o
mdico proibiu ter "filhos" , "mandou que me cuidasse", etc.
O telogo ab,-aa o homem todo, com todos os rumos
e tdas as _ meadas convergentes de sua finalidade eterna.

186
Isso mais difcil, mas o nico caminho que respeita ple
namente a realidade.
No " Contraponto" de Adlous Huxley fala algum : "Ser
um homem completo, equilibrado, difcil ; mas o nico
que de ns se exige. Ningum te pede ser mais do que um
homem, sabes ? Nem anjo, nem demnio. E' o homem uma
criatura que anda equilibrando-se numa corda bamba, levan
do numa extremidade a inteligncia, a conscincia e tudo
que espiritual e na outra o corpo, o instinto e tudo o
que inconsciente, terreno, misterioso. Isso terrivelmente
difcil".
Em segundo lugar vem a questo da je1arquia. Certos
valores, leitor, precisam andar de coroa e cetro em nossa
apreciao. Sabes que o homem um ser corporal e social,
que a fisiologia influi em tda a sua personalidade ; que o
homem carnal at em seu amor a Deus. Sabes que o ho
mem vive "enredado" numa rde quase infinita de relaes
sociais. E tambm no ignoras que le tributrio do pas
sado como do presente, do econmico como do poltico. Mas,
muito menos, deves ignorar que o elemento essencial no ho
mem chama-se esprito. Para medir aes do esprito h cri
trio diferente.
Um exemplo : O olhar de um sbio num microscpio
insignificante em si. Tambm o foi a esmola da viva lou
vada por Cristo. Pois bem. A fra natural empregada em
ambos os casos foi quase nula. Entretanto sses gestos tem
uma primazia.
O tcnico, no caso o profissional - o mdico, o socilogo,
o biologista - escandaliza-se com as afirmaes de carter
absoluto da lei moral. Mas que fazer ? Em ns, atento leitor,
o esprito que pronuncia a sentena sbre o valor de uma
ao. E esta boa quando no cenrio, em que aparece,
respeita os valores espirituais. Em caso contrrio m. M,
se os ataca e lhes destri a jerarquia, o valor.
Temos uma qualificao diferente para avaliar a bene
volncia e a crueldade, o esbanjamento e o trabalho, a con
tinncia e a devassido. Ningum ouve essa voz pronuncia
da por uma autoridade exterior. Ela brota das exigncias
da nossa prpria natureza, tomada no seu todo. E a lei mo
ral, dentro de ns, no um composto de pargrafos de

187
cdigos. Expressa, fala o que desejamos ser ; est sendo o
'"
eco de uma voz, partida de Deus.
- Para que tanta filosofia ? perguntars. Muito simples.
Podem surgir em tua vida de marido e de pai problemas
do instinto sexual, problemas de gerao de filhos, de abor
tos, de intervenes, de educao. Para resolv-los muito
importa uma viso acertada da totalidade, da jerarquia e
das afirmaes do composto humano. Em teu caso, como cris
to, tens muita facilidade em acertar. Basta ouvir tua Igreja.
No digas "sei o que devo fazer, tenho minha conscincia
formada". No sabers o que tens de fazer, nem ters ba
lana exata na alma - se no ouvires tua Igreja.
Nesse caso sers responsvel perante Deus pela consci
ncia desnorteada e errnea. Uma agulha errada num trilho
causa de desastres. Quem a manobrou o responsvel.

16. QUE VIRA A SER STE MENINO ?

Pelas montanhas da Judia espalharam-se as maravi


lhas a respeito do nascimento de Joo Batista. Todos os
que as ouviram faziam-se a pergunta dste trecho.
E os pais hoje e amanh, como ontem, no se livram
dela. A vocao dos filhos, o futuro cenrio da vida, sria
preocupao. Aqui vem a dedo uma frase de Pio XII : "Sem
dvida, tirando casos de todo estraordinrios, Deus no cha
ma diretamente para uma determinada profisso. Mas no
j go das circunstncias exteriores, independentes da vonta
de prpria, deve o homem reconhecer o dedo de Deus que
lhe indica qual a direo de sua escolha. E nas aptides, nas
inclinaes naturais, recebidas de Deus, postas a descoberto
por um srio exame, um jovem prudente v tambm um ou
tro sinal da vontade divina dentro dessa direo" (Aloc.
aos laureados e universitrios da A. C., 7 de Janeiro de 1946 ) .
Percorra o leitor as linhas seguintes e achar um re
sumo dos seus deveres neste assunto. Primeiramente rro
tomar por vocao s a escolha do estado religioso ou sa
cerdotal. E' uma restrio um tanto ilegtima. Pois "todo
o emprgo das faculdades humanas de acrdo com a von
tade divina, com as aspiraes da personalidade e com as
obrigaes da moral, uma vocao" . Mas a vocao no

188
pode ser imposta de fora para dentro. Imita a fonte que
de dentro corre para fora. Com isso no fica excluda a
cooperao paterna, para o menino ou o adolescente achar
seu roteiro.
Contudo a vocao no apenas fruto de uma esponta
neidade. O meio familiar, vrias circunstncias e o livre uso
das faculdades individuais entram na sua preparao. Ela
como uma adaptao do indivduo livre s possibilidades
que lhe oferece o meio em que vive, diz Viollet. t:sse mesmo
autor acha que os educadores devero mostrar, ao educando,
que tda vocao digna dsse nome sempre funo das con
tingncias, das capacidades e do bem comum. Pio XII avisa :
liberdade no quer dizer capricho ou lua ; e os pais fiquem
eqidistantes do conselho egostico, corno do desleixo.
Violleta tem interessantes observaes neste ponto : Para
preparar uma escolha j udiciosa e desinteressada, comecem
os pais por mostrar ao jovem corno sua prpria existncia
inconcebvel, sem a colaborao de um incontvel nmero
de trabalhadores de tdas as profisses. Todos les, cada um
no seu ofcio, concorrem para o alimento de seu corpo, de
seu esprito. Vestem-no, erguem-lhe a casa, do-lhe a ins
truo intelectual e religiosa. Ao filho caber retribuir por
sua vez, pelo seu trabalho, urna parte dos bens dos quais
tem sido o beneficirio. Deve preparar-se para tal misso.
Lamentvelmente essa formao do corao do adoles
cente omitida e mesmo, as mais das vzes, desfeita pelas
cincadas do educador. Pe-se ste a fomentar-lhe ambies
egostas apontando-lhe, como finalidade da vida, criar-se uma
situao to vantajosa quanto possvel. E isto sem preocupar
se com o bem comum, com a dvida de cada um para o
conj unto da sociedade ou com as exigncias da vontade di
vina, revelada pelos acontecimentos.
Comece o educador por despertar no adolescente um sen
timento de reconhecimento e admirao pelo trabalho hu
mano, sob seus variadssimos aspectos. Pelo operrio das mi
nas, pelo marinheiro, pelo lavrador, pelo sbio, pelo santo,
pelo heri e pelo mrtir. Cada um dles traz um bem para
a humanidade, seja de ordem material ou de ordem espi
ritual e moral. E' a melhor preparao para a infncia e
a adolescncia.

189
O desfile das vocaes humanas despertar em teu filho,
leitor, o sentimento da fraternidade e do amor por todos, que
com seu trabalho contriburam ou esto contribuindo para
enriquecer a personalidade dle. Aprenda teu filho, de acr
do com esta lei, que a primeira expresso da fraternidade
universal o trabalho. Por isso lhe indispensvel obriga-:
o conformar-se com a vontade divina, consagrando sua vida
a um trabalho produtivo.
Ainda voltaremos a ouvir Viollet, cujos rastos segue no
assunto tratado.

17. EDUCA.O RELIGIOSA

Todo pai e educador, que leva a seno seu dever, con


cordar com a comparao de S. Paulo : Filhinhos meus, por
quem eu sinto de novo as dres do parto, at que Jesus
Cristo se forme em vs ( Gl 4, 19) . Acentua Pio XI, como
fim prprio e imediato da educao crist, cooperar com a
Graa divina para formar o verdadeiro e perfeito cristo.
Descreve o mbito que ela abrange. E' o prprio mbito da
vida humana, sensvel e espiritual, intelectual e moral, do
mstica e social.
Entra aqui, como fator indispensvel, a formao reli
giosa. A religio antes de tudo vida. Mais tarde, j melhor
desabrochada a inteligncia, vir a demonstrao da religio
para o educando. Interessante, leitor, o seguinte : A vida
est de acrdo com o ser, e como nosso ser est organizado
em funo de Deus, no deve admirar que se deixe cativar
pela idia de Deus. Emerson disse : O menino est de acrdo
com as estrlas. Bela imagem para significar a predisposi
o existente na criana em orientar-se para Deus.
Nas coisas humanas precisamos primeiro conhec-las,
para depois am-las. O contrrio d-se com as coisas divinas,
na frase de Pascal. Ora, por a v o leitor que pode contar
com um aliado dentro do corao do filho que comear por
ter "o gsto de Deus". A me do pequeno mrtir macabeu
convidava-o assim : Peo-te, filho, olha para o cu ! Frase
influente na educao religiosa, para quem se preocupa em
levantar a infncia e a mocidade acima da vida corriquei
ra e do materialismo absorvente de nossos dias. Linneu, o

190
grande botnico, dizia depois de examinar atentamente urna
planta : Eu vi Deus passar por detrs desta planta. Aben
oado o pai que souber, com naturalidade, acostumar os seus
viso "vertical " do mundo, das pessoas e dos acontecimentos !
Entram aqui as prticas religiosas e a piedade. Nelas
alma e corpo esto presentes. Urna genuflexo bem feita in
clina diante de Deus tanto a alma como o corpo. E' lei da
psicologia que um gesto realizado em conformidade com um
sentimento provoca ste sentimento. Ponha-se algum a fa
zer gestos colricos e despertar a clera. Mude-os para
gestos de bondade e ver surgir a benevolncia. E por que
haver diferena em se tratando do sentimento religioso ?
Ao lado das prticas do costume e regulamento da casa,
haja vaga para a piedade espontnea do educando. No se
menospreze a piedade que imposta, mas se cultive tam
bm a espontnea, a iniciativa pessoal do pequeno cristo.
Uma educao religiosa sem prtica de generosidade e
sacrifcio no verdadeira nem duradoura. Toms Morus, o
santo chanceler e utopista, falava de urna educao " in hirnnis
et canticis". Suave, como que melodiosa. Contudo para si
mesmo escolheu o sacrifcio. Na manh do dia de sua deca
pitao mandou entregar filha o cilcio que, mesmo na pri
so da Trre, trazia sbre o corpo. Querer poupar sacrif
cios ao educando, exagerar os cuidados com as dores e sade
denota um culto errado ao corpo. Para um membro do Corpo
mstico de um Cristo coroado de espinhos destoante, de
primente, vergonhoso o repdio do sacrifcio. sse sacrifcio
pode ser urna dor, uma renncia para o corpo ou urna pri
vao ou imolao para a alma. Sobretudo depois de urna
falta. mostre o pai a necessidade de urna expiao. J an
tigo pago e sbio ( Plato ) afirmava que o pior que nos
pode acontecer, depois de urna falta, a falta de expiao.
Mas note-se o leitor os dois lados do sacrifcio : aguentar e
enfrentar.
Tendo o educando uma viso "vertical, sobrenatural"
da vida, saber ligar seus sacrifcios aos de Cristo Redentor,
pela pureza de inteno.
Neste assunto, leitor, o exemplo paterno de urna elo
qncia nica. Veja estas linhas : "A idade de 6 ou 7 anos
comecei a entender o que via e ouvia. Via e ouvia um ho
mem e urna mulher que tdas as noites, de joelhos, honra-

191
vam a Deus. Aos 14 anos, rapazola adolescente, voltava da
rua para casa e encontrava-os fazendo o mesmo. Mais tarde
deixei minha ptria, fui para a Amrica e meus pais pu
deram dizer : Cumprimos nossa obrigao para com ste
nosso filho. Se Deus te quer na Amrica, no poders vol
tar tua casa para dizer-nos : Foi aqui onde comeou a
traio a teu Deus" ( Peyton ) .
Crescendo com a viso dos pais rezando o 1osrio, Peyton
tornou-se o grande apstolo do "tro na famlia". Falava
s multides, dando-lhes por lema a bandeira : A famlia
que reza j unta vive junta.
Foi pedra dentro de tua alma o que acabo de escrever ? En
to segue o conselho daquele general vencido que dizia : Ain
da temos tempo para ganha-r outra batalha. Est em tem
po a boa resoluo reclamada pela conscincia.
Finalmente no gostaria de ver-te como merecedor da
censura de Pio XI na sua encclica sbre a educao : "Longos
estudos e cuidadosa preparao precedem aos ofcios e pro
fisses da vida temporal e terrena, certamente de menor
importncia. Entretanto para o ofcio e fundamental dever
da educao dos filhos esto hoje pouco ou nada prepa
rados muitos entre os pais, por muito metidos em cuidados
temporais" .

1 8 . ALMAS AUSENTES
Pio XII, to humano e compreensvel perante as difi
culdades modernas, verbera com severidade os pais que fal
tam contra a vida e as almas. Tacha de flagrante inj ustia,
contra as almas, impedir-lhes a existncia por um egosmo
vil e baixo. Chama-as de magnficas imagens divinas, raios
do Sol que ilumina todo homem que vem ao mundo, mas es
condidas, cobertas pela vergonha do egosmo dos homens.
Lamenta a injustia, de ressonncias eternas, dos que
impedem essa existncia de almas que, depois de terem vi
vificado os corpos e elevado os membros da inocente cria
tura a instrumentos do esprito e da graa, estariam des
tinadas por Deus santificao, pela luta, e ao amor e aos
louvores dles na eternidade, em companhia dos pais.
Fala das energias do sacramento recebido e das graas
dos outros. Sustenta, com firmeza, que "os gozadores recai-

192
citrantes contra a prole" desprezam o sacramento e a graa
de Deus. E isso ou porque no acreditam nesses auxlios
sobrenaturais, ou porque se tornam indignos de os receber.
E sob sse aspecto pecam e tornam-se rus perante o tri
bunal de Deus. Legislador, Redentor e Santificador do ma
trimnio cristo.
Com a profanao do sacramento fica manchado tam
bm, o leito conjugal abenoado por Deus, porque se rouba
ao matrimnio a jia mais cintilante : a castidade conjugal.
Textualmente diz : " Pensareis, talvez, que a idia de uma pu
reza sem mancha tem exclusiva aplicao virgindade ideal,
sublime, para a qual Deus no chama todos os cristos, mas
somente algumas almas eleitas . . . Contudo o estado matrimo
nial, tencionado por Deus para o comum dos homens, pode
e deve, tambm le, ter sua pureza imaculada . . . No vos es
queais de que o amor cristo tem uma finalidade bem mais
elevada do que uma passageira satisfao. Ouvi a voz da
vossa conscincia, que repete interiormente a ordem dada por
Deus ao primeiro casal humano : crescei e multiplicai-vos . . .
Ento, segundo as expresses de S. Paulo, o matrimnio
ser em tudo ornado e sem mancha o leito conjugal" .
Pio XII est ao par de situaes em que, de fato, a
abstinncia uma necessidade e tambm um herosmo. Isso
no o impede de afirmar que o preceito pode ser cumprido
e que o herosmo pode existir. Dizia s obstetrcias : "E'
cometer uma inj ustia contra os homens e as mulheres de
nossa poca julg-los incapazes de um herosmo continuado.
Hoje por tantos motivos . . . pratica-se o herosmo num grau,
numa extenso tidos por impossveis por sculos passados.
Por que pois tal herosmo, se realmente exigido pelas cir
cunstncias, deveria parar nos limites traados pelas pai
xes e inclinaes da natureza ?"
Enumera as bnos da prole numerosa, apontando o
lado positivo com suas vantagens. Uma bela coroa de filhos,
embora dificultada pela vida cara de nossos dias e por isso
exigindo coragem, traz bnos. E i-las : livra os pais de uma
culpa grave, desastrosa para a famlia e nao ; conserva a
graa sacramental, com abundncia de outros auxlios divi
nos ; afasta do lar os elementos envenenados por desgraas,
tais como o egosmo, a constante busca do bem-estar, a falsa
e viciada educao de uma prole voluntriamente reduzida.

193
Os filhos que "reconsagram" o amor conjugal. O dia
do nascimento de um filho como um segundo dia de ca
samento. O amor dos pais alimentado pelo filho que atrai
ambos os coraes e prende-os no seu. :tsse amor toca com
outra mo tantos objetos e circunstncias que, antes, po
diam ter somente uma finalidade econmica. Agora tm uma
voz de amor industrioso pelo filho amado.
Os filhos "abrem e fazem amadurecer o esprito dos
pais". :tstes sentem-se estimulados a ultrapassar a s f mesmos
e felicidade prpria, desejando a dos filhos. O filho entra
com uma bandeira e lema de renncia e sacrifcio, e assim
exige dos pais pureza de amor cristo, abnegao, ateno
e senso social.
Leitor, como cristo tens uma outra viso a mais. A no
filho batizado. Onde h uma criana batizada h "uma au
rola divina, um raio de vida que supera a natureza" . H
com ela uma atmosfera de espiritualidade, um aplo e nos
talgia divina. O filho batizado introduz no lar uma nova
presena de Cristo e, por causa da graa santificante, em
balsama a famlia com um perfume de consagrao. Todos
os cuidados, dispensados ao pequeno ente, podem intencio
nalmente terminar na honra e glria de Deus, oculto na
criana.
:tstes conceitos aparecem emitidos pelo homem de bran
co em vrias oportunas alocues e mensagens. Linguagem
do " Papa da fanlia".

19. PERGUNTA INCOMPREENSVEL

seria, sem dvida, para nossos avs esta : Convm en


corajar o educando por recompensas e afast-lo do rro por
castigos ? Numa palavra, as sanes continuam tendo um
papel na educao ? O naturalismo andou virando as cabe
as e criando o axioma : as sanes servem apenas para de
formar a conscincia e falsear o carter da criana. E mais
algum ( Spencer) afirma que a prpria natureza aplica re
compensas e castigos.
Ora, leitor, a natureza tem a tendncia de afrouxar a
moralidade. Sabemos que atos imorais so muitas vzes agra
dveis ; que outros, bons em si, so penosos para a natureza.

194
H mentiras e roubos que compensam e sentimentos de vin
gana que nos satisfazem. A natureza nada padece ou san
ciona nestes casos. Por isso, no toma por caminho certo
o pai que pretende abrir mos das sanes, querendo que
o bem e o mal sejam procurados ou evitados por si mes
mos. Pio XI condena o "naturalismo" na educao. E um
pai cristo sabe muito bem da existncia do pecado origi
nal, que herana de todo homem que vem a ste mundo.
As sanes tencionam ajudar o homem na conquista
dos hbitos morais. O problema no est em suprimi-las, mas
em bem us-las. Depois tenham-se em vista a idade, as ten
dncias, os defeitos, as qualidades do educado. O progresso
moral de um menino s possvel, medida que as san
es conseguirem vencer as resistncias da natureza. Que
se pretende com uma sano ? Ajudar o menino a compre
ender o significado de seus atos com as suas conseqncias
morais. Tda sano que no atinge ste resultado , alm
de intil, perigosa. Penas e privaes aparecero, neste caso,
como uma vingana exercida pelo mais forte contra o mais
fraco. Em vez de trazer luz conscincia e arrependimento
ao corao, geram a revolta e o desnimo.
Tda sano, para ter valor, precisa ajudar o educando
a tornar-se mais forte, mais generoso perante o esfro. Diz
Kiefer : "Todos quantos recusam causar um sofrimento
criana, mesmo faltosa, sob pretexto de que a alegria deve
ser o seu alimento habitual, parecem ignorar o valor edu
cativo e insubstituvel do sofrimento e constrangimento na
formao da conscincia" .
A sano deve ter u m valor reparador. ':: rro, inj ustia
cometida, falta ao dever - reparados pela pena da sano.
Uma gula, uma preguia, uma ofensa a outro, reparadas
pelo ato contrrio. A punio corporal, influente em cri
ana nova, perigosa quando aplicada ao menino crescido.
Fcilmente arrasta os pais ao excesso, clera, provocan
do a revolta ou fingimento nos filhos. Ou ento gera a
brutalidade dstes perante os mais fracos. Enfim, prmio
e castigo no se dispensam, embora reclamem tato, esp
rito de observao, contrle. Por exemplo, louvores como
prmios podem fortalecer o amor-prprio, o orgulho, o con
vencimento no filho. Criana muito incensada j ulga-se de
outra essncia, com desprzo de outras menos hbeis. " O

195
verdadeiro encorajamento consiste em despertar na criana
a alegria de haver cumprido seu dever, dando com isso ale
gria aos encarregados de sua educao. Na cpula da vida
moral, o menino aplicar-se- a proceder bem s pelo amor
de Deus e da perfeio" ( Kiefer) .

20. "BEM-AVENTURADOS TEUS SERVOS

que esto sempre em tua presena", exclamou a rainha


de Sab, feita a visita ao palcio e s maravilhas do rei
Salomo ( 3 Rs 2, 8) . Chegamos agora ao problema da cria
dagem, dos empregados em tua casa, leitor. Outrora se cha
mavam fmulos. A raiz etimolgica da palavra a mesma
de famlia, como se os criados fssem a ua ampliao
natural.
Princpios certos e cristos pautando uma conduta ade
quada - eis o que importa neste assunto. E' inegvel, os
criados e criadas de hoje so em geral filhos da poca en
venenada pelo desequilbrio econmico e pelas agitaes de
classes. Mas o leitor cristo no pode arredar sua condu
ta, seus princpios da verdade que no se muda com os ho
mens e seus caprichos. E i-los numa sucinta exposio :
Princpios. - Os fmulos so uma necessidade no lar.
Como no corpo humano os membros so vrios, um preci
sando do outro, tambm na famlia o amo precisa do fmulo.
No pode o lho dizer mo : no preciso de ti ; nem a cabea
fazer pouco dos ps. Se um membro sofre, todos sofrem
j untos. Um patro, de mentalidade humana e crist, h de
sentir as penas de seus subalternos. Tanto as temporais como
as da alma. Da seu intersse pela conduta crist da cria
dagem, pelas instituies que a assistem, material e reli
giosamente.
Patres e servos, eis a dois diversos apelativos. Mas
homens e homens s_o dois nomes iguais, observava em seu
tempo S. Agostinho. E isto denota que os amos so tam
bm servos do mesmo Senhor comum que Deus, perante
quem no h nem senhores nem criados. "Tratai os servos
de acrdo com a j ustia e eqidade, sabendo que tambm
vs sois servos do amo que est no cu. E vs, amos, sabei
que o Senhor, tanto dles como vosso, est no cu e no

196
faz acepo de pessoas" - observa S. Paulo ( Col 4, 1 ;
Ef 6, 5 ) .
Lembre-se o leitor como Cristo se humilhou tomando
"a forma de servo" . O Papa chama-se "servo dos servos de
Deus" . O que importa que cumpram seu dever, tanto o
que manda como o que obedece. Cada qual ser julgado de
acrdo com seus mritos. '
Contudo essa igualdade, perante Deus, no diminui en
tre les as naturais diferenas sociais, nem minimiza a au
toridade. Pio XII observa : "Diro que preciso manter o
prprio grau, a prpria posio mesmo perante os criados.
Sim ; mantende vossa posio, mas tambm vossa posio
de irmos como a mantm o Filho de Deus feito homem,
que nos deu o exemplo de humildade e de mansido e veio
terra, no para ser servido, seno para servir. No vos
espanteis com isso. No se trata de faltar nem dignidade
nem autoridade de chefe de famlia ou de senhor da
casa" ( Aloc. aos casados, 5 de Agsto de 1942) .
Conduta. - Os pagos tratavam duramente seus cria
dos, mas o cristianismo mitigou essa dureza. Notvel o
nmero de criados que, em tempos de perseguio pag, mor
reram mrtires com seus amos. Sendo irmos, amo e servo
entre si, impe-se mais do que mero humanitarismo. Reine
a fraternidade crist. A frmula no pode ser a mera jus
tia nas mtuas relaes : paga-se o salrio e recebe-se o
servio. sse rigorismo no pode reinar entre dois homens,
que so criaturas e servos do mesmo Deus e Senhor. Um
e outro possuem, alm dos bens e direitos e intersses ma
teriais, bens, direitos e intersses mais sagrados de seus
corpos, de suas mentes, de seus coraes e de suas almas.
"Portanto no se trata de puras relaes de mera jus
tia, restringida ao frio sentido da palavra. Nem se trata
de simples eqidade. Mas urge juntar justia a "huma
nidade", aquela humanidade que se parece com a misericr
dia e a bondade divina ; e que sublima a j ustia humana
por cima da matria numa aura espiritual" ( Pio XII ) .

' ) Na alocuo supramencionada Pio XII acentua a trplice


igualdade entre amos e fmulos : a de servos de Deus, a de irmos ;
a de membros do Corpo mstico de Cristo. Diz que especialmente
dona de casa caber vigiar a religiosidade e a moralidade dos seus
subordinados.

197
A sociedade servil no um mero contrato de traba
lho. E' a entrada de um estranho no lar para pertencer
de certo modo famlia. O homem de branco compara-a a
uma certa adoo, pela qual os pais do empregado ou da
empregada delegam de certo modo aos amos sua autoridade
paterna. Chega mesmo a dizer : " Conservando-se a devida
proporo, no vem o dono da casa a ser responsvel pelo
domstico ou domstica como pelos seus filhos ?"
Nada de autoridade soberba ou excessivamente exigen
te nos trabalhos da criadagem. Haja carinhosa compreen
so do isolamento em que vivem fmulos e fmulas. Uma boa
palavra, uma ateno humana recompensa mais preciosa
do que o ordenado mensal. O leitor est ao par do " salrio
mnimo", sempre crescente em nossa terra. A alma tem
igualmente um salrio mnimo, que deve crescer com os anos
de fiel servio e dedicao.
No sei se o leitor ir receber visitas de rainhas, como
Salomo recebeu a da rainha de Sab. Mas desejaria que,
caso se desse o caso, fsse ouvida a mesma exclamao :
Bem-aventurados os que servem diante de ti !
Retornaremos ao assunto.

21. TEU JORNAL

Vrias perguntas podem ser fonnuladas a respeito de teu


jornal, meu leitor. E' le bandeira branca de paz ou, con
trariando a cr, bandeira de guerra ? H maridos e pais,
que consideram sagrada a hora de leitura dos jornais. Ai
de quem os interromper ! Nem mesmo a prpria espsa pode
aproximar-se dsse rei. A refeio est na mesa, mas o
ilustre marido ainda no terminou a leitura. Que se espere
por le !
Reclama a dona de casa contra o atraso ? E eis que ouve uns
resmungos, d com uma cara fechada ou, pior, ainda, com gri
tos ou gestos grosseiros de j ornais, atirados malcriadamente a
um canto. Reclama a me, em outras horas, contra a algazarra
da crianada, pedindo a interveno paterna ? Quantas vzes tem
de ouvir que Criana criana, que menino menino, que les
precisam expandir-se. Ouvir que importa ser ela menos nervo
sa, etc. Mas se os diabretes escolhem para suas "expanses"

198
a hora em que o pai l o jornal, ai dles ! Neste caso a f
lha branca, por detrs da qual o pai se esconde, bandei
ra de guerra. Permita-me o leitor uma reminiscncia da in
fncia : Garto, ao ver meu pai com seu jornal, ao ouvi-lo re
citando alguns trechos em voz alta, aproximava-me deva
garzinho. E ' que sabia do final do recitativo. Vira meu pai
pondo sbre a mesa meus irmozinhos, convidando-os re
petio dos discursos polticos que o entusiasmavam. les
faziam manhas e eram descidos da tribuna, com uns coques
na cabea. Feita a experincia comigo, a oratria vingara
sempre. Palavras e gestos do pai eram repetidos, imitados
at na entonao da voz. E ei-lo contente, entusiasmado, ex
clamando comovido :
- Meu filho, voc tem de ser deputado !
Hoje sou de fato deputado . . . por Deus, j unto s al
mas. O outro deputado desejado pelo pai, graas a Deus,
jamais entrou no programa. E' claro, o pequeno tribuno era
sempre aplaudido e premiado. Dias depois um canarinho da
terra, que eu comparava com o prmio, pulava dentro de
uma gaiola e com le meu corao de criana contente.
Jornai branco pode tambm ser bandeira branca de ca
pitulao. O homem "armado" largou mo dos princpios
catlicos sbre a f, a moral, as modas, a pureza. E eis que
lhe entram, bem armados, os jornais contrrios religio,
proscritos pela Igreja. Ficam por ali, sbre a mesa, ao al
cance de qualquer olhar curioso. Lembro ao leitor a tre
menda responsabilidade neste ponto : Num lar verdadeira
mente cristo no podem entrar nem jornais, nem revistas
contrariando a f e moral. E' um pecado de cooperao
com o mal a assinatura que se toma. Pio XII concita a fa
mlia a opor-se a esta invaso teimosa e cheia de veneno.
Neste particular, s h de trazer benefcios todo se
vero exame que os leitores fizerem sbre seus jornais, s
bre tda espcie de literatura, de impressos que lhe entra
rem pela casa. E isso ou por suas mos, ou pelas mos da
espsa, dos filhos e das filhas. Quando o homem "armado"
guarda sua casa, todos os bens esto no seguro . . .

199
IV

22. TENHO DE SER PAI ?

Invente a gramtica outros trmos de se explicar, por


que os superlativos j so curtos, dizia o P. Vieira. No cam
po do Filho do homem andaram espalhando muita ciznia de
erros e sofismas. Os superlativos j no bastam para men
cionar a quantidade e a qualidade dos erros que viam nos
lares.
Precisa por isso o leitor andar com idias bem claras
sbre a resposta pergunta em foco. Para os casados a pro
criao um dever. Pois abraaram livremente um estado,
cuja principal finalidade visada pelo Criador a propaga
o da raa humana. Fatos de ordem fsica, sentimental e
social evidenciam esta verdade. A formao do corpo hu
mano, sobretudo na mulher ; os instintos naturais espec
ficos dos sexos conduzem procriao no seu curso normal.
Por sua vez, a sociedade de amanh no poder existir sem
as crianas de hoje, que criadas e educadas, atingindo a
idade adulta, interviro no leme da nau social.
Citando textualmente, agora, Dufoyer ', lembro ao lei
tor atento o seguinte : " Certamente no se pode falar de um
instinto paterno no homem, no mesmo sentido como do ma
terno na mulher. Geralmente no o vemos nascer no homem
antes do aparecimento do filho, como o caso da mulher.
Vem depois do nascimento. Cresce com o filho e s por ex
ceo atinge o calor e o entusiasmo do instinto materno.
Mas, em troca, existe no homem o instinto carnal, sen
do ste moderado, inconsciente ou nulo em muitas mulhe
res, antes do casamento. No se d isso com o homem. A
unio fsica o atrai. Sua natureza deseja-a. Mas que pro
cura por ela ? O prazer ? A paternidade ? Seja qual for a
psicologia individual neste particular, a fisiologia fala com
muita clareza. A natureza tem ligado a intensidade do pra
zer carnal realizao completa do ato conjugal. As rela
es interrompidas ( chamadas de o nanismo pelos moralis
tas ) suprimem o essencial do prazer. Trazem consigo sua

' ) Na traduo espanhola Angel del Hogar. - Los problemas


de la natalidad en el hogar. - Ediciones Descle de Brouwer. -
Bilbao p. 1, 21.

200
parte de contrariedade e de refreamento, bem conhecida pe
los que a praticam. A busca do prazer leva o homem ao
ato conjugal completo, suscetvel por si mesmo de fecunda
o. Podemos dizer : Deus ao fazer o homem como , com
sse corpo e sse instinto varonil, queria-o pai . . . Quem
abraa uma profisso. aceita por conseqncia seus fins e
obrigaes. Quem abraa livremente o estado matrimonial
fica obrigado a aceitar suas obrigaes e visar os fins indi
cados pela prpria natureza e portanto pretendidos por
Deus, seu Autor. E:stes fins e deveres - mtuo amparo pro
criao, educao - ho de ser atendidos. Somente motivos
srios, proporcionados por sua gravidade importncia das
obrigaes e dos fins em questo que podero eximir o
interessado.
Sendo a procriao um dos fins visados pelo matrim
nio, por sua natureza e ordenao divina, tambm um
dever de estado dos casados, salvo excees fundadas em
razes graves" .
H n a procriao um processo humano, pessoal, social
e religioso. Mais adiante vem exposta a questo do "nme
ro" de filhos ou de paternidades.

23. DOIS NOMES FEIOS E . . . UM SANTO

- Alguma vez chega a tal ponto a crueldade lasciva ou


a lascvia cruel que procura tambm venenos de esterilidade.
E quando no consegue o intento, mata e destri nas entra
nhas o feto concebido, querendo que perea a prole antes
que viva. Ou, se j vivia no ventre materno, procurando
mat-la antes do nascimento.
Os que assim procedem no so absolutamente esposos.
E se tais foram, desde o como, no se uniram pelo lao
conjugal, mas para se entregarem fornicao. E se os dois
no so assim, ouso dizer :
ou ela a prostituta do marido ou le o adltero da
mulher". Caram stes trmos da pena do santo e sbio
Agostinho, Bispo de Hipona. Pio XI, na Encclica sbre o
casamento 1, tornou a cit-los.

1 ) Encclica Casti Connubii, 31 de Dezembro de 1930.

201
Que dilema vergonhoso para um casal cristo ! Prosti
tuta ou adltero ! Mas o crime do abrto no merece ae fato
outra qualificao. Por isso est condenado expressamente
o abrto direto, encarado corno fim.
No caso do abrto teraputico, j vimos que a Igreja o
condena corno ilcito e proibido quando se apresenta "corno
a supresso direta" da criana. Ela no admite igualmente
se ponha o dilema : ou a vida da me ou a vida da criana.
Nem a primeira nem a segunda podem estar sujeitas a urna
supresso direta. Num e no outro caso s h urna coisa
a ser feita : empregar todos os esforos para salvar a vida
da me e a da criana.
Pio XII explica-se claramente : Dizemos "supresso di
reta". Pois se a vida da futura me, independentemente de
seu estado de gravidez, exigisse com urgncia urna interven
o cirrgica ou urna outra ao teraputica, da qual resul
tasse corno conseqncia acessria, de modo algum intencio
nada ou procurada, mas inevitvel, a morte do embrio -,
tal ato j no poderia ser qualificado corno atentado direto
contra urna vida inocente.
Termina dizendo que nesse caso lcita a operao ou
outra interveno mdica para salvar a vida, quando a ope
rao inadivel e nico recurso possvel.
"H pases que admitiram o "abrto eugnico", para
melhoramento da raa ou da sociedade. Pio XI declarou sem
arnbages que " indecoroso e contrrio ao preceito divino".
Pio XII chegou o ferro em brasa chaga : "A Igreja de
clarou, logo no corno dessa prtica, que matar, mesmo sob
a ordem da autoridade pblica, a sres que sendo inocentes
no so teis Nao, por causa de suas taras fsicas ou
psquicas - e antes so urna sobrecarga -, contrrio ao
direito natural e ao direito divino positivo e portanto proibido" .
Nada de confuso entre utilidade e valor. O valor e a
dignidade de urna pessoa supem o esprito e impem-se corno
um absoluto. Perante sua filhinha envlta nas trevas do es
prito, depois de urna encefalite, escrevia um pai, profunda
mente cristo :
"Que sentido teria tudo isso, se nossa filhinha no pas
sasse de um monto de carne, atolada no sei onde, e no
fsse essa "pequena hstia branca" que est acima de ns !"

202
- Sem essa primeira " religio natural" da pessoa, sinal e
soleira da verdadeira religio, da religio do Verdadeiro Deus,
est o mundo destinado a no passar de uma feira, ou de
um campo de concentrao com seu forno crematrio" -
diz Lestapis.
Um raio ameaa o adltero e a prostituta neste caso :
a excomunho .

24. ESCOLHAS ALINHADAS

A linha traada aqui pelo senso cristo e pelas normas


da Igreja. O papel de um pai consciencioso pois seguir a
flecha que, neste caso, coincide com a direo da felicidade.
A Igreja faz questo das necessrias presenas :
da liberdade concedida aos filhos na escolha da vocao ;
do conselho discreto e oportuno dos pais ;
da prudente sindicncia das capacidades e das eleies.
Condena, porm, severamente experincias perigosas para
vocaes religiosas e sacerdotais. Ainda mais : No quer se
exagere a grandeza do casamento com prej uzo do valor e
aceitao da virgindade crist. Andaria errado o leitor, se
andasse afirmando em casa que "o nico meio" de garantir
personalidade humana o seu desenvolvimento e a sua per
feio natural est no casamento. Com tristeza reprovamos
essa opinio, diz Pio XII. Nem to pouco, mesmo sendo um
sacramento, o matrimnio cristo instrumento mais eficaz,
do que a virgindade, para unir as almas a Deus. Para o
homem de branco tal doutrina falsa e nociva. E mesmo
a personalidade humana no fica mais pobre por causa da
"solido do corao" .
Outra ljnha bem traada, leitor, esta : No quer o sen
so comum da Igreja que se apregoe o instinto sexual, como
a mais importante e profunda das tendncias humanas. No
quer que da se conclua que o homem no pode coibi-lo, du
rante tda a sua vida, sem perigo para o organismo e sem
prej uzo do equilbrio da sua personalidade. Falas assim a
teu filho, tua filha ? Ento ests apartando-te da doutrina
certa, do senso comum da Igreja.

203
Resolvido o casamento, a linha acertada exige :
no seja escolhido consorte acatlico, consorte muito
aparentado ;
no se realize s o contrato civil, sem o religioso ;
no se apresentem os noivos a ministro acatlico ;
no se receba o sacramento sem prvia confisso ;
no se falte modstia e pudor nos trajes hora da
cerimnia religiosa.
Prefere que esta se realize hora da Missa, com a co
munho dos noivos e bno nupcial do rito.
Um pai conhecedor da orientao da Igreja, que tam
bm a do bom senso, levar a srio a admoestao de Pio
XII : "Ora, vde a coisa estranha, que Pio XI tambm la
mentava na sua Encclica : enquanto no passaria pela ca
bea de ningum fazer-se de repente, sem tirocnio nem pre
parao, operrio mecnico ou engenheiro, mdico ou advo
gado, todos os dias no poucos rapazes e mas desposam
se e unem-se, sem nem sequer por um instante ter pensa
do na preparao para os rduos deveres que os esperam
na educao dos filhos". 1 Um aviso oportuno, um intersse
acentuado por parte do pai pode levar o filho ou a filha
a procurar um curso de formao para o caso. Criana no
cobaia para improvisaes de pais analfabetos em pedagogia.

25. A MSTICA DO LAR

foi sentida por certo casa:l que viveu na mstica do


sacramento. Eis o cenrio. Um casal de verdadeiros cris
tos. Dos trs filhos havidos, um morrera criana, outro
fizera-se monge e sacerdote e a filha, jovem ainda, ingres
sara para o claustro. ':le e ela resolvem, com as necessrias
licenas, imitar os filhos e entrar para um mosteiro. Ela
em Solesmes, com o nome de Madre Rosalina, e le em
Oosterhout, com o de Dom Matias. Chega o dia da partida
e eis a pgina do dirio :
- "Pela manh, depois da Missa e da Comunho ( ja
mais receberemos lado a lado o Corpo de Nosso Senhor) ,
Ana Maria e eu percorremos todos os quartos da casa. Pa
rvamos a cada instante e nossos olhos passeavam de alto

1 ) Alocuo Unio Catlica das Sras. Italianas.

204
a baixo, fixavam-se nos mveis, nas paredes onde se acha
vam ainda quadros e gravuras : todos aqules objetos, em
meio dos quais vivemos durante tantos anos os dias aben
oados, as tardes maravilhosas, as noites de nossa vida
comum. Reinava silncio pela casa : uma atmosfera de paz
sobrenatural nos envolvia. Tive a impresso ntida de que
no estvamos ss. A presena de nossos anjos da guarda
era, por assim dizer, tangvel. les nos acompanhavam nes
ta ltima visita aos quartos de nossa felicidade ; permane
ciam muito perto de ns nesta hora derradeira. Chegando
capelinha, onde tantas vzes o padre Baslio e o prncipe
Giovanni celebraram a Missa, ajoelhamo-nos no cho e re
zamos. Quando nos levantamos, recitamos juntos, em voz
alta, o Magnificat.
Quantas e quantas vzes no dissemos, ns dois, ste
cntico de exultao, de humildade e de gratido, nas nos
sas alegrias e nas nossas dores ! Abandonamos tudo : as coi
sas familiares que nos rodeavam com seu silncio, os dias
sem conta de nossa vida ardente, nossos amigos e a felici
dade de nossa vida em comum. Deus pede por vzes aquilo
que no damos, o que cremos ter o direito de no nos pri
var. A Deus tudo pertence. Abri suavemente a porta de
entrada e a de fora, fechando-as da mesma forma. De
Oosterhout terei ocasio de mandar as chaves ao novo in
quilino" ( P. van der Meer de Walcheren ) .
E assim tomaram o rumo da estao, embarcaram, di
vidiram na viagem o dinheiro apurado na venda do mo
bilirio. O marido deixou a espsa em Solesmes e tomou a
direo de seu mosteiro. Na vida de casados viveram pro
fundamente o sacramento recebido. Um contemplava a pre
sena de Deus nos olhos do outro e a respeitava religio
samente.
A alma do lar, leitor, ser aquela que nle criares com
tuas idias, teus sentimentos, tuas renncias, tuas pacin
cias e teus encontros com Deus. Com Deus e seu Cristo,
ausentes de tua alma e de tua vida, nunca ters o ambi
ente dles em tua casa. E os filhos daro pela falta dessa
presena como a flor d pela falta do sol. Digo mais : En
trar outra mstica de acrdo com o lema do Evangelho :
Quem no est comigo. est contra mim. O lema da bca
de quem se intitulou Caminho, Verdade e Vida.

205
26. LABORATRIO BIOLGICO OU SANTUARIO ?
Pio XII quer saber o que pensas, o que respondes
pergunta supra. Vivemos numa poca que pretende redu
zir a famlia a um laboratrio pela inseminao artificial.
H pases onde a lei a tolera, num tremendo atentado
moral. Quero, meu leitor, que tenhas clareza sbre o assunto,
como "homem forte, que defende sua casa".
Em Setembro de 1949, falando ao IV Congresso M
dico, reunido em Roma, "o homem de branco" assim exps
a verdade :
I ) A prtica da inseminao artificial, quando se trata
do homem, no pode ser considerada nem exclusivamente,
e menos ainda principalmente, sob o aspecto biolgico e m
dico, com excluso da parte que toca moral e ao direito.
li) A inseminao fora do matrimnio deve ser pura
e simplesmente condenada como imoral. Pois a lei natural
e a lei divina positiva prescrevem que a procriao de uma
nova vida s pode ser o fruto do matrimnio. S o matrim
nio salvaguarda a dignidade dos esposos (maxime da mu
lher no caso presente) , e o seu bem-estar pessoal. S le
prov ao bem e educao da criana. No se concebe que
a respeito da condenao de uma fecundao artificial, fora
do matrimnio, seja possvel uma divergncia de opinies
entre catlicos.
III ) A inseminao artificial dentro do matrimnio, mas
produzido pelo elemento ativo de um terceiro, igualmen..;
te imoral e como tal condenada sem aplo. nicamente os
esposos tm um direito recproco sbre seus corpos. Direito
exclusivo, incedvel, inalienvel. E assim h de ser, tambm,
em considerao criana. A quem d a vida, a um peque
no ser, impe a natureza - por fra de tal vnculo - o
dever de conserv-la e educ-la. Mas entre o espso legtimo
e o "bambino", fruto do elemento ativo de um terceiro ( mes
mo que houvesse consentido o espso ) no existe vnculo
algum de origem, vnculo algum moral e j urdico de procria
o conjugal.
IV) Quanto liceidade no matrimnio, basta no mo
mento recordar stes princpios do direito natural : o sim
ples fato de que o resultado almejado se consegue por sse
caminho no j ustifica o emprgo do meio. Nem o desejo,

206
em si legtimo, de terem os esposos um filho, basta para
provar a legitimidade do recurso fecundao artificial, que
apoiaria tal desejo.
Seria errado pensar que a possibilidade de recorrer a
tal meio, poderia tornar vlido o matrimnio entre pessoas
incapacitadas pela impotncia, como impedimento. De outro
lado suprfluo observar que o elemento ativo nunca pode
ser procurado legitimamente, por meio de atos contra a na
tureza. O Papa avisa que, s por serem novidade, no se
podem excluir a priori novos mtodos. Mas neste particular
da fecundao artificial urge no s extrema reserva, mas
"se precisa absolutamente exclu-la".
Dizendo isto, no se probe necessriamente o uso de
um meio artificial, s destinado ou seja para facilitar o
ato natural, ou a procurar atinja o seu fim o ato natural,
realizado com tda a sua normalidade.
Somente a procriao de uma nova vida, segundo a von
tade e os desgnios do Criador - nunca se olvide isso ! -
encerra, num admirvel grau de perfeio, a realizao dos
fins propostos. E', ao mesmo tempo, conforme natureza
corporal e espiritual e dignidade dos esposos. Conforme
ao normal e feliz desenvolvimento da criana".
Leitor, para a Igreja no h fecundidade sem unio e
sem amor. No dispensa essas duas exigncias. To grande
o respeito que tem pela alma, pelo corpo, pela espiritua
lidade do homem.
Certo mdico francs observou, com rudeza mas exatido :
A inseminao artificial criar uma novidade : o pai gara
nho, "doador ideal" . 1

27. COLUNA BRANCA NO DESERTO

Guiando os israelitas, rumo terra prometida, avanava


pelo deserto afora uma coluna branca. Hoje temos outra co
luna branca no Vaticano, orientando os pais de famlia pelas
areias movedias de idias humanas. Descrevo-lhe o roteiro,
tirando trechos de uma alocuo de Pio XII, aos 16 de Setem-

1 ) Citado por Dr. Ren Biot. - Ofensivas biolgicas contra la


persona humana. Edic. Descle, de Brouwer. - Buenos Aires p. 147.
- O mesmo Dr. Biot observa delicadamente : que "a vida s se
deve transmitir com amor e por amor", ibid. p. 144.

207
bro de 1951, a um grupo de "pais de famlia franceses,
catlicos militantes, entre os quais se encontravam no pou
cos de exemplares famlias numerosas" .
Fala d a sua alegria : Que alegria para nosso corao !
Uma peregrinao de pais de famlia ! Tantas e tantas vzes
temos, a propsito das questes mais diversas, insistido
sbre a santidade da famlia, sbre os seus direitos e sbre
a sua funo enquanto clula fundamental da sociedade hu
mana ! Os seus direitos e privilgios so intangveis, ina
lienveis.
Fala de um dever : A famlia tem o dever, primeiro
que tudo perante Deus, e secundriamente perante a socie
dade, de defender, de reivindicar, de promover efetivamente
stes direitos e privilgios, no s para vantagem prpria,
mas para glria de Deus e bem da coletividade.
Fala dos deveres : Vs compreendestes a necessidade,
para o pai de famlia, de conhecer, inteligente, social e cris
tmente, a prpria funo e os prprios deveres e viestes
pedir os conselhos e a bno do Pai comum, chefe da gran
de famlia humana. Vosso primeiro dever no santurio do
lar domstico prover, - no respeito e perfeio total hu
manamente possvel da sua integridade, da sua unidade, da
hierarquia natural que une entre si os seus membros, -
conservao, sade corporal, intelectual, moral e religiosa
da famlia. E sse dever abarca evidentemente o de defen
der e promover os seus direitos sagrados, em particular o
de cumprir as obrigaes para com Deus e o de constituir,
em tda fra do trmo, uma sociedade crist.
Lembra os princpios que devem defender : Para o cris
to h uma regra que diz, com certeza, a medida dos direi
tos e dos deveres da famlia na comunidade do Estado. Ei
la nos seguintes trmos : a famlia no para a socieda
de ; a sociedade que para a famlia. O Estado, j por
instinto de conservao, deveria cumprir o que seu de
ver, isto , garantir os valores que asseguram famlia
ordem, a dignidade humana, a sade e a felicidade. Tais
valores so elementos do bem comum. Menciona alguns : a
indissolubilidade do matrimnio ; a proteo da vida do ser
humano ; a habitao conveniente da famlia, no j da
famlia de um ou dois filhos ou mesmo sem filhos, mas da
famlia normal mais numerosa ; fornecimento de trabalho,

208
porque o desemprgo do pai a angstia mais amarga da
famlia ; o direito dos pais sbre os filhos em face do Estado ;
a plena liberdade dos pais de educar os filhos na verda
deira f ; e por conseguinte o direito dos pais catlicos
escola catlica ; condies de vida pblica, e nomeadamente
moralidade pblica tal que as famlias, e sobretudo a ju
ventude, no estejam na certeza moral de ficarem merc
da corrupo.
Exige ao sbre a opinio pblica : para educ-la num
terreno onde h urgncia e ste terreno descrito assim :
Queremos falar de escritos, livros e artigos, acrca da i:r: i
ciao sexual, os quais, muitas vzes, obtm hoje enormes
xitos de livraria e inundam o mundo inteiro, invadindo a
infncia, submergindo a gerao que sobe para vida, pertur
bando noivos e casados. Recorda o que a Igreja j tratou
e aconselhou neste assunto, tendo em vista o desenvolvi
mento fsico e psquico normal do adolescente e as condies
individuais em casos particulares.
Menciona a liberdade : que ela deixou, em teoria e em
prtica, aos esposos, naquilo que autoriza, sem ofensa do Cria
dor, o impulso duma natureza s e honesta. Textualmente :
- " Fica-se aterrado em face da intolervel desfaatez de
tal literatura : quando, ante o segrdo da intimidade conj u
gal, o prprio paganismo parecia deter-se com respeito, que
rem obrigar-nos a ver violar sse mistrio e dar dle uma
viso - sensual e vivida, - como pasto ao grande pblico
e prpria j uventude. Verdadeiramente de perguntar se
h ainda uma fronteira suficientemente marcada, entre est.a
iniciao, que a si mesma se chama catlica, e a imprensa
ou ilustrao ertica e obscena que, de propsito deliberado,
visa corrupo ou exporta vergonhosamente, por vil in
tersse, os mais baixos instintos da natureza decada.
Aponta um duplo flagelo no caso : a exagerao, feita
por essa imprensa, da importncia e do alcance do elemento
sexual. Tal exposio conduz perda do verdadeiro fim pri
mordial do matrimnio, que a procriao e educao dos
filhos. Tais escritos deixam na sombra sse grave dever dos
esposos.
H silncio dstes escritos sbre uma verdade bsica.
Qual ? Ei-la : A experincia geral de ontem, de hoje e de
sempre, fundada na natureza, atesta que na educao moral,

209
nem a IniCiao, nem a instruo apresentam de si qual
quer vantagem - sendo antes gravemente malss e preju
diciais, se no so fortemente unidas a uma constante dis
ciplina, a vigoroso domnio de si mesmo, e sobretudo ao uso
das fras sobrenaturais da orao e dos sacramentos.
Diz que os verdadeiros educadores catlicos, dignos do
seu nome e da sua misso, conhecem bem o papel preponde
rante das energias sobrenaturais na santificao do homem,
jovem ou adulto, celibatrio ou casado.

28. PARA ALCATIAS OU PARA COLMEIAS ?

Criar um filho sem o senso social, sem o sentimento


de solidariedade humana e caridade sobrenatural, prepa
rar um lbo para uma alcatia. Entretanto deve meu leitor
criar seus filhos para abelhas operosas numa colmeia hu
mana. Em linguagem crist, diramos ser necessrio cri-los
na compreenso do Corpo mstico de Cristo. Isso exigncia
da origem comum, da igualdade da natureza racional, da co
mum redeno pelo sacrifcio de um Homem-Deus. :li:sses fa
tres desconhecem limites de posies, de classes e de geo
grafia. Os limites geogrficos devem apenas lindar terrenos
de irmos.
Seguindo a rota abaixo indicada, andar bem o leitor
de boa vontade, que tem conscincia de sua grave obrigao
neste ponto. E i-las :
1 ) Saber que os outros existem. - :li:sses outros no
se limitam aos irmos em casa. Abrangem os colegas no co
lgio, na fbrica, no escritrio, nos transportes, nos encon
tros. Os outros so todos que labutam pelo po da famlia,
pela ordem social. Desde o mais modesto varredor de rua
at ao chefe de Estado. No vivem os homens como gros
de areia numa praia, amontoados ou justapostos apenas.
Formam um organismo dentro do qual se do reaes de tda
natureza entre suas diversas partes.
2) Sentir os outros e colocar-se em seu lugar. - Figura
aqui a simpatia humana, prtico aberto para se bater porta
do corao. Dizia um letreiro de velha abadia : Esta porta
para ningum se fecha ; est sempre aberta para o honesto.
Isso de concentrar as simpatias s na famlia insul-la.

210
Colmeia onde cada abelha trabalha s para si prpria
m. Deve ser queimada. O programa o programa da luz
que se espalha pelo mundo inteiro. Acima da geografia hu
mana est "a geografia crist". Que bela formao teve
Guido de Fontgalland ! Pequeno, rico da graa de Deus, ob
servava as palhaadas de um palhao num circo. s tantas,
pondo-se no lugar dle, perguntar governante : " Como
andar a alma dsse palhao ?" Estendamos a pergunta a
tdas as precises humanas do corpo e da alma, do tempo
e da eternidade.
3) Ter idia do bem comum. - Sem ela no haver
colaborao para o bem comum. Pio XII lembra que o cris
to deve procurar seu aperfeioamento individual, tendo em
vista "uma melhor aptido para melhor servir a outros". Sabe
o leitor que o instinto de conservao estimula cada indiv
duo a desenvolver e a defender a sua pessoa. E' preciso criar
nos filhos "o instinto social cristo". Sempre vivero os ho
mens numa participao constante dentro do organismo so
cial da famlia, da corporao, da nao, da Igreja. No se
pode ser um brbaro, um lbo desgarrado de alguma alcatia
dentro de tal organismo. Que todo pai apure sse instinto
social cristo em seus filhos. Somente assim sabero fazer os
sacrifcios reclamados pelo bem comum, sentido, conhecido
e respeitado por les.
4 ) Ter idia da justia social.
- Cito textualmente a
Fr. Kiefer, que est me orientando : "O quarto elemento do
senso social o sentimento de justia social. Quem recebe
fica devendo. ste princpio de contabilidade um princpio
de moral social. No pode o indivduo gozar egoisticamente
de tdas as vantagens que lhe oferece a sociedade, da qual
parte. No pode negar-se a devolver-lhe o bem pelo bem.
O egosmo, como j se tem dito, o glo do mundo moral.
O frio separa, rompe os laos sociais e portanto destri a
sociedade. Possuir senso de justia social . ter conscincia
das profundas repercusses de nossa atividade no corpo so
cial. E' no se recusar ao trabalho til ao bem geral. Todos
os elementos esto pois reunidos na seguinte definio : " O
senso social a aptido para perceber e executar pronta
mente, como por instinto, numa situao concreta, o .que efe
tivamente serve para o bem comum" ( Jouen ) .

211
No sei como andam as coisas em teu lar, meu leitor
de classe unida. Lbos j h demais neste mundo. No cries
mais um para a alcatia. Pelo contrrio, ve de tua casa
mais uma abelha, de operosidade crist, para a colmeia hu
mana. Esta a contnua e teimosa recomendao de Pio XII
para a poca de hoje. Publicou uma famosa encclica, onde
trata das realidades e exigncias da verdade de formarmos
ns todos um s Corpo mstico em Cristo. At para o peca
do pessoal de um cristo aponta le uma viso social. Cha
ma-o de mancha nesse Corpo abenoado.

v
29. DIPLOMA CRIMINOSO
conferem certas experincias "de mulheres". Existe um
preconceito na cabea de vrios pais neste assunto. Julgam
que o filho mo, em se casando, no saber como lidar cor
retamente com a espsa, como lhe dar as sensaes de di
reito, se antes no fizer certas experincias femininas. Um
pai verdadeiramente cristo, conhecedor do seu catecismo,
jamais advogar uma causa to imoral. No querer sentir
o cheiro das cocheiras de Augias no filho que se apresenta
diante do altar, ao lado de uma j ovem pura.
Dou a palavra ao abalizado P. Viollet : "0 conhecimento
da mulher tem dois aspectos diferentes. De uma parte, o co
nhecimento experimental do ato sexual e do corpo feminino.
De outra, o conhecimento do corao e da mentalidade fe
minina. A primeira, a do corpo, simples demais para exi
gir uma experincia preliminar. Por pouco que um jovem
casto no seja um tlo, e tenha pedido algumas explicaes
exatas ( sendo preciso, a um mdico experimentado) , correro
sem dificuldades suas primeiras experincias no casamento.
Levar a imensa vantagem de agir com delicadeza e pre
cauo. Nem sempre ser ste o caso do diplomado por ex
perincias com mulheres fceis.
O que, porm, mais importante o conhecimento do
corao feminino. Ora o corao de mulheres que se pres
tam s experincias de rapazes, sejam l as que mercade
jam com o prprio corpo ou amantes de costumes fceis,
em nada se iguala ao corao de uma jovem, casta e re
servada, que amanh ser espsa e me. Conhecer tais mu-

212
lheres tomar por rumo errado a respeito da alma feminina.
E' uma preparao para tda espcie de inaptides e in
compreenses ao longo da vida conjugal. A mulher leviana,
e mais ainda a venal, j perdeu o respeito a si mesma e
tdas as delicadezas que formam o encanto da mulher.
O verdadeiro conhecimento da alma feminina , de modo
especial, facilitado pela castidade, por pouco que o jovem
seja psiclogo. Viollet diz apenas isto : "O homem impuro s
v um lado na mulher, o corpo e o prazer. O homem casto
contempla a mulher desinteressadamente e assim vibra pe
rante delicadezas ou baixezas morais, valores ou deficits
morais. A escolha ressente-se tambm. Os habituados ao pra
zer escolhem a mulher com os sentidos. Os castos escolhem
na com inteligncia e corao. Mesmo no seu papel, deve a
atrao fsica ser controlada quando se trata de casamen
to. E isso pela observao moral e psicolgica. Esta ltima
fica obscurecida em muitos homens governados por apeti
tes inferiores" .
Coisa curiosa ! Quereria o leitor para genro, como com
ponente da felicidade da filha, um "diplomado" de tal qui
late ? O mesmo direito de repulsa tem outro pai que en
trega a filha para ser feliz. J temos visto que tal diploma
leva ao uso de "tcnicas e de hedonismos" condenados por
Pio XII, como profanadores do lar cristo. Significa nada
mais nada menos do que a morte do mtuo respeito, base
indispensvel para a felicidade. Esta a verdade. O resto
sofisma da paixo, desculpa do pecado.
A Igreja condena tal diploma de vcio. "E' de temer
que aqules que, antes do casamento, s pensavam em si mes
mos e nas prprias comodidades e que condescendiam com
os seus desejos desenfreados, chegados depois ao casamento,
sejam os mesmos que eram antes e tenham finalmente de
colhr o que semearam. Isto , dentro do seu lar a tris
teza, o luto, o desprzo mtuo, litgios, averso de nimo
e aborrecimento da vida conjugal. E o que ainda pior,
encontrar-se-o a si mesmos com suas paixes desenfreadas"
( Pio XI na Encclica sbre o Casamento ) .
E recentemente Pio XII diz : "Por outro lado, tambm
o homem, que no vigor da juventude levou vida dissoluta,
como poder pois constituir na fidelidade conjugal santo e
casto matrimnio ?"

213
Por a pode o leitor conferir seu rro, dando direito ou
predileo a criminosos e comprometedores diplomas. Torno
acentuar : stes, quando muito, ficaro no campo sexual com
suas emoes. Mas o sexo no o principal no casamento"
( Aloc. de 24 de Abril de 1953 ) .

30. APLICAO QUE TE ENGRANDECE

Sheen diz que as palavras do Pai-Nosso podem ser apli


cadas aos pais na terra da seguinte forma 1 :
"Santificado seja o vosso nome". - "Filhos, obedecei
em tudo a vossos pais, porque isto agradvel ao Senhor"
( Col 3, 12) .
- " Honra teu pai e tua me (x 20, 12) . "Pois a
glria do homem provm da honra de seu pai, e um pai
sem honra a vergonha de seu filho" ( Ecli 3, 13 ) .
" Venha a ns o vosso reino". - Seu reino a famlia.
"Eu nunca entendia o significado das palavras " Venha
a ns o vosso reino" at o dia em que olhei para o rosto
de meu filho" ( Lon Bloy) .
No fstes vs que me escolhestes, mas fui eu que
vos escolhi, e que vos destinei para que vades e deis fruto,
e para que o vosso fruto permanea ( Jo 15, 16) .
"Seja feita a vossa vontade assim na terra como no cu".
- Ouve, meu filho, as instrues de teu pai, e procede de
sorte que sejas salvo" ( Ecli 3, 2) .
Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, porque isto
j usto ( Ef 6, 1 ) .
"O po nosso de cada dia nos dai hoje" . E' o pai
-

que sustenta a famlia. "Tda a ddiva excelente e todo o


dom perfeito vem do alto e descende do Pai das luzes"
( Tgo 1, 7 ) .
"Porque melJ:or que teus filhos te peam, do que
estares tu olhando para as mos de teus filhos" ( Ecli 33, 22) .
"Perdoai as nossas dvidas". - E vs, pais, no pro
voqueis ira os vossos filhos (tratando-os com excessiva
severidade) , mas educai-os na disciplina e nas instrues do
Senhor" ( Ef 6, 4 ) .

1) Obra citada pp. 198-199.

214
"E no nos deixeis cair em tentao". - "Os filhos de
um pai mpio queixam-se dle, pois se acham por causa dle
vivendo no oprbrio" ( Ecli 41, 10) .
"Mas livrai-nos do mal". - Qual o filho a quem seu
pai no corrige ? Se, porm, estais isentos do castigo, do qual
todos so participantes, ento no sois filhos legtimos, sois
bastardos" ( Heb 12, 8 ) .

31. ERA UM HABITO


antigo que le tinha :
entrar dando com a porta nos batentes.
- Que te fz essa porta ? A mulher vinha
e interrogava. f:le, cerrando os dentes :
- Nada ! Traze o jantar (A. de Oliveira) .
E um dia fz isso, como de costume. Mas a mulher lhe
apontou para a filha morta. Era a vingana da porta.
Eu preferiria que o leitor seguisse outro procedimento,
sendo pai. "A vida de um filho em casa impe tantas obri
gaes que se perde a possibilidade de muitas coisas agra
dveis, diz Ricaud. Aliena-se uma parte completa da vida
e da liberdade. So sses os laos que, precisamente, fazem
pulsar o corao do homem no mais ntimo e completo ritmo
do mundo. Escolher o casamento equivale a renunciar ao
no-casamento. "Se ocupas o trono de rei da Inglaterra, ad
verte Chesterton no seu habitual humorismo, ters de renun
ciar ao invejvel cargo de maceiro da catedral de Brampton".
Por isso Ricaud, citando Duhamel, aconselha :
Daqui em diante no abrirs com violncia uma porta.
Pode ser que atrs dela esteja um homenzinho.
Medirs teus gestos e conters muitos impulsos. Menos
fogosidade e mais fra.
Olhars menos para o cu. Ters que olhar teus ps,
constantemente, a fim de no pisares em algum de teus
filhinhos.
No feches os caixotes de um golpe. Mozinhas de velu
do deslizam por qualquer parte. Tudo fars com vagar,
com cuidado.
No dormirs com os ouvidos tapados, mas escutars
inquieto o menor dos suspiros. No poders ouvir um grito,

215
sem te perguntares, com o corao em sobressalto, se no
o grito . . . , o grito que lamentars por tda tua vida.
Nunca acenders o fogo, sem te recordares que o fogo
queima. No deixars a xcara de ch beirada da mesa.
Apagars com particular cuidado as pontas de cigarro.
Teu gsto por bibelots diminuir. Renunciars a colecio
nar, a no ser em segrdo, vasos de cristal ou porcelanas de
licadas. Para sempre dirs adeus aos cachimbos de barro.
No tornars a comer uma gulodice, sem pensar que ou
tras boquinhas tambm gostam de guloseimas.
Impors silncio a muitas coisas acidentais e quase que
mitos.
No tornars a dizer com a segurana de outrora : tal
dia farei tal coisa.
Usars de muitos "talvez" nas asas de teus projetos.
Assim a vida e " s resta tomar um ou outro partido".

32. FILHO DE PEIXE

peixe , diz o povo. Mas na famlia o filho no precisa


necessriamente ser mdico, operrio, professor s porque o
pai exerce uma dessas profisses. A vocao profissional, como
vimos, no em geral um chamado direto de Deus. Entram
em j go contingncias, capacidades e inclinaes que muito va
riam de filho para filho, de famlia para famlia. Apresento
aqui "umas flechas na estrada".
1) No ceder logo aos entusiasmos e miragens do ado
lescente.
Por isso mostre-lhe o pai, em boa hora, que necessrio
abandonar desejos irrealizveis e adquirir o costume de en
carar a realidade. E isso pela razo de no poder o homem
fugir, por devaneios, das dificuldades e enfados da vida. Olhar
a realidade, para a indispensvel adaptao, eis o programa
na vocao profissional.
2) Noo do trabalho, bem plantada nos hbitos do filho.
Com ela ser mais fcil determinar uma vocao. A se
gurana neste ponto crescer quanto maior for semelhante
noo. Afinal de contas tda vocao, bem encarada, sacri
fcio em prol da sociedade. Supe e exige um devotamento
constante, um esfro leal para uma til eminncia no ramc.

216
3) A generosidade no trabalho profissional fator de
alvio.
Andam por a criaturas que parecem arrastar corren
tes de escravos no trabalho impsto pela profisso. Disso a
razo est na ausncia de uma generosa aceitao dos per
calos do ofcio. Contemos tambm com erros na escolha.
Sero remediados por essa generosidade. Vale aqui, em grau
relativo, a frase de S. Agostinho : No s um chamado ? Faze
te de chamado ! A aceitao das penas e dificuldades ine
rentes a tda profisso um elemento essencial do progresso
moral, diz Viollet. Mas aceitao alegre e corajosa. Entre
tanto aqui uma coisa indispensvel : ter sido o educando
acostumado, desde pequeno, ao hbito do sacrifcio. Pobre
filho, cujo pai teve por normas poupar-lhe todo sacrifcio
na vida !
4) A viso de servio do prximo na profisso.
medida que isso suceder, tornar-se- mais leve e su
portvel o pso da profisso. O que foi recebido, durante lon
gos anos, pelo educando agora restitudo comunidade
pelo exerccio da profisso. Por isso importa muito no per
mitir que se transforme num meio de ambio sse trabalho
profissional. Tudo faa o pai por despertar no filho o senso
da fraternidade humana e crist. Ento lhe ser mais fcil
chegar viso acertada da sua profisso.
5) Sombras da profisso ho de ser mostradas de modo
prudente.
Mostre-se ao jovem que a vida cruel. Muitas vzes en
trava, reduz a runas uma profisso, apesar da lealdade nos
esforos. Do contrrio o desnimo surgir logo com os pri
meiros fracassos. A sorte caprichosa e nem sempre favo
rece os mais competentes e dedicados ao dever.
Isto ptso, normal certa ambio em escalar os de
graus do progresso, de subir na hierarquia social, fra de
mritos e competncia no trabalho. Mas sob uma condio :
que nisso se veja um meio de contribuir, ainda de modo me
lhor, para o bem geral. No quero terminar sem referir na
ntegra as palavras finais de Viollet :
"A primeira regra a ser observada pelos pais, perante
a vocao dos filhos, a do absoluto desintersse. Tenham a
convico de que a Providncia lhes confiou os filhos sem o

217
programa de executarem os desejos e vontades pessoais de
seus progenitores, em se tratando de semelhante assunto. Os
pais ho de ser guias na descoberta dos caminhos por onde
Deus quer conduzir os filhos. Por maiores que tenham sido
os sacrifcios feitos pelo pai na educao dos seus ; por gran
de que seja o desejo de t-los como sucessores na prpria
carreira, lembre-se disso : os filhos no lhe pertencem. Perten
cem a Deus, que os confiou a seus representantes com a mis
so de form-los e gui-los at idade adulta, na qual sero
capazes de arcar com responsabilidades e escolher livremen
te a orientao de suas vidas.
Mostre-se bem cedo ao filho que a vida dom de Deus
a ser empregado para o bem comum. No se desoriente o
educando com apreciaes errneas e perigosas sbre os ca
minhos, que um dia se abriro diante dle. A prpria vo
cao dos pais, seus temperamentos, seus desejos e suas am
bies, suas desestimas e seus fracassos, podem, mais ou
menos inconscientemente, orientar suas predilees. Com isso
podem lev-los a querer dirigir a vocao dos filhos, mais
para um do que para outro rumo.
Ou ento, se no se cuidarem, agiro sbre a intelign
cia do filho levando-o a seguir uma vocao em contradio
com a natureza e aptides que possui. Estar assim a
vida inteira num rumo falso e o filho nunca sentir seu ple
no desenvolvimento. Isto no significa vivam os pais impassveis
e inativos perante os desejos e as aspiraes dos filhos. Tra
zem stes o corao cheio de paixes de diferente valor mo
ral. O orgulho, a preguia, a imaginao podem falsear o de
senvolvimento das faculdades e a escolha da vocao. Aos
pais caber discernir as razes dsses anseios, afim de que
o filho s cultive as sadias, aquelas que so inspiradas pelo
desejo de tornarem-se teis em sua vida.
Mais : E' preciso que o trabalho, ligado a tda verdadeira
vocao, seja conforme s aptides e disposies de cada um.
o operrio manual, o mdico, o engenheiro ou o sacerdote
trabalham para o bem comum, seguindo caminhos diferen
tes. E' dever paterno distinguir as aptides para estimular
o filho no rumo de suas disposies naturais. Elas anunciam
e preparam a vocao.
Para no desnortear a orientao providencial do edu
cando, seja abolida a crtica e o rebaixamento de tal ou tal

218
especte de trabalho. Mostre-se a beleza das profisses huma
nas : do trabalho manual como do trabalho intelectual ; da
vocao para o - casamento como para a vida religiosa. Eis
um evidente dever dos educadores" ( Viollet) .

33. LEIS E ENCRUZILHADAS

Para pais, educadores e seus representantes h leis da


Igreja que so encruzilhadas. Tanto para les como para os
educandos. Observadas, levam ao bem, paz e felicidade.
Desrespeitadas, rumam para o mal e a desgraa. Quero que o
leitor fique bem ciente de tudo em ponto to srio.
Instruo religiosa
"Todos os fiis de tal modo ho de ser educados, desde
sua infncia, que no somente no se lhes ensine coisa algu
ma contrria honestidade dos costumes, seno tambm que
se d o primeiro lugar instruo religiosa e moral ( Cnon
1372 1 ) .
No somente os pais, ao teor do cnon 1 1 13, mas tam
bm quantos fazem suas vzes, tm direito e gravssimo de
ver de procurar a educao crist dos filhos ( 0 mesmo 2) .
- Em tda escola elementar deve-se dar aos alunos uma
instruo religiosa proporcionada sua idade ( Cnon 1373 1) .
- Aos jovens que freqentam as escolas secundrias e
as superiores se lhes deve dar uma instruo religiosa mais
completa e os Ordinrios ( Bispos ) do lugar procuraro que
isto se faa por sacerdotes muito zelosos e sbios" ( Cnon
1373 2) .
stes cnones so uma aberta refutao do rro de quem
diz no se dever dar educao religiosa criana, at que
chegue a certa idade e ento por si mesma a pea. H dois
elementos nesta lei. Um negativo : nada se ensine contrrio
religio catlica e honestidade de costume. Outro, posi
tivo, que impe o primeiro lugar educao moral e religiosa.
Em 1929 ( 3 1 de Dezembro ) Pio XI dizia na sua En
cclica sbre a Educao : Que seja a religio de fato funda
mento e coroa de tda instruo, em todos os graus, tanto
no elementar como tambm no secundrio e superior.
Escolas e religio.
- Alm do que acima se l h outros
cnones e normas no caso.

219
- Cnon 137 4 : Os meninos catlicos no devem fre
qentar escolas acatlicas, neutras ou mistas, isto , que
tambm esto abertas para acatlicos. Cabe ao Ordinrio lo
cal exclusivamente determinar, em conformidade com as ins
trues da S Apostlica, em que circunstncias e com que
cautelas, para evitar o perigo de perverso, se pode tolerar
a freqncia a tais escolas.
Anda errado o pai que resolve, sem mais nem menos, por
si mesmo, qual a escola para o filho catlico. Tratando-se de
escolas acatlicas, o B ispo quem determina a liceidade e
as cautelas neste caso. Com isto quis a Igreja reconhecer as
dificuldades de muitos pais que no encontram ao seu al
cance escolas catlicas.
To srio o caso que o Conclio Plenrio Brasileiro '
determinou em 1939 :
Decr. 461. - Devem os sacerdotes e procos avisar os
pais sbre o gravssimo dever de acudir educao religiosa
e moral dos filhos ;
- de mand-los s escolas catlicas ;
- de afast-los daquelas onde corre perigo a f, a ho-
nestidade dos costumes ou a disciplina eclesistica. Isto , das
escolas acatlicas e assim chamadas neutras.
Sobretudo pelo tempo do Advento preguem os supramen
cionados contra o abuso dos pais, que mandam os filhos s
escolas acatlicas ; e avisem-nos sbre os castigos que a Igreja
d conforme o cnon 2319, 1, nmero 4. Nem permitam
os pais, sem motivo grave, que seus filhos freqentem as es
colas promscuas, sobretudo as secundrias e superiores
( decr. 461, 462) .
Em Pastoral Coletiva nossos Bispos assim falam s
famlias :
"Aos pais de famlia, que se vem na dura necessidade
de mandar seus filhos seguir algum curso especial de estu
dos, em colgios onde no se cultivam os princpios do en
sino catlico, exortamos que no esqueam o dever que lhes
incumbe de velar cuidadosamente pelos seus filhos, a fim de
que no percam a f e os bons costumes, tendo sempre pre
sentes as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo : " De que
serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua
alma ? ( Mt 16, 26) .

' ) Nome dado reunio de todos os Bispos do Brasil.

220
E lhes recordamos a grav1ss1ma obrigao de preferi
rem, a quaisquer outros, os colgios genuinamente catlicos,
se os houver, onde possam seus filhos terminar os estu
dos secundrios ou superiores".
No est esgotado o assunto, leitor. Tenho aqui uns avi
sos bem srios de Pio XI a respeito da "coeducao" de me
ninos e meninas. O naturalismo conseguiu embotar a sensi
bilidade crist em muitos pais. No enxergam ou no ava
liam devidamente o mal. Aqui est o pensamento do pastor
das ovelhas "que so de Cristo" :
"De modo semelhante, errneo e pernicioso educao
crist o chamado mtodo da "coeducao", baseado tam
bm para muitos no naturalismo negador do pecado origi
nal, e ainda para todos os defensores dste mtodo, sbre
uma deplorvel confuso de idias que confunde a legtima
convivncia humana com a promiscuidade e igualdade ni
veladora.
O Criador ordenou e disps a convivncia perfeita dos
dois sexos, somente, na unidade do matrimnio e gradual
mente distinta na famlia e na sociedade. Alm disso, no h
na prpria natureza, que os faz diversos no organismo, nas in
clinaes e nas aptides, nenhum argumento donde se deduza
que possa ou deva haver promiscuidade, e muito menos igual
dade na formao dos dois sexos. f:stes, segundo os admi
rveis desgnios do Criador, so destinados a completar-se
mutuamente na famlia e na sociedade, precisamente pela
sua diversidade. Esta, portanto, deve ser mantida e favore
cida na formao educativa, com a necessria distino e cor
respondente separao, proporcionada s diversas idades e
circunstncias.
Apliquem-se stes princpios no tempo e lugar oportu
nos, segundo as normas da prudncia crist, em tdas as
escolas, nomeadamente no perodo mais delicado da formao,
qual o da adolescncia. E nos exerccios ginsticos e des
portivos, com particular preferncia modstia crist na j u
ventude feminina, qual fica muito mal tda a exibio e
publicidade". - Leitor, tudo to claro nesta doutrina. Como
j ustificar ento o "conformismo" de um pai que se cala e
tolera desfiles e carteiras de u?na ao lado do outro nas clas
ses ? Eu gostaria de saber se o leitor ouve esta voz do pastor.

221
34. CASTIGO DE ME EM TUA VIDA

a sonegao da absolvio num caso e a excomunho,


de cada sentena, em outro. Vou citar os textos que regem
o assunto. Diz o Conclio Plenrio Brasileiro :
Nmero 462 : Firme a prescrio do cnon 2319 1 n.
4 e 2, os confessores adiem a absolvio sacramental aos
pais catlicos que mandam seus filhos s escolas acatlicas.
E se no quiserem obedecer, recusem absolv-los.
Tal severidade prova a grandeza e gravidade do rro de
quem, sem dar ouvidos s normas da Igreja ( explicadas aci
ma ) , manda seus filhos a escolas proibidas. A Igreja requer
motivos graves, cautelas, garantias contra os riscos e obe
dincia s determinaes dos Bispos em tais casos.
Por sua vez o Cdigo de Direito Cannico declara exco
mungados por dada sentena os seguintes : Cnon 2319 1 :
19 os que contraem matrimnio perante um ministro aca
tlico, violando o prescrito no cnon 1063, 1 ;
29 os que se unem em matrimnio com pacto explcito
ou implcito de educar todos ou alguns dos filhos fora
da Igreja catlica ;
3Q os que tm a ousadia de apresentar, com conheci
mento, seus filhos a ministros acatlicos para que
stes o batizem ;
4Q os pais ( !) , ou os que lhes fazem as vzes, que en
tregam seus filhos para que sejam educados ou ins
trudos em alguma religio acatlica.
E o 2 dste nmero 2319 diz ainda : Aqules mencio
nados no 1, nmero 2-4 so alm disso suspeitos de heresia.
Explico ao leitor ste cnon terrvel : Os filhos devem
ser entregues, na suposio da lei, para serem educados ou
instrudos na religio acatlica, e no apenas na cincia que
no se refere religio. Educao a total formao do
esprito : intelectal, religiosa, moral e cientfica. Instruo
sobretudo intelectual. Mas basta para se cometer o delito.
E' preciso que seja feita a entrega com cincia, isto , com
pleno conhecimento da lei, do castigo e do fato. E isso com
plena liberdade. Assim expe Regatillo, S. J. '

' ) E. F. Regatillo, S. J. Institutiones luris Canonici. Vol. 11.


p. 541, Sal Terrae, Santander 1951.

222
Os pargrafos referem-se a castigos e no culpa de
quem, mesmo sem praticar os pontos censurados, desleixado
em tomar as cautelas j explicadas no assunto. Temos em
nossa terra colgios protestantes que obrigam alunos - mes
mo os catlicos - a certo culto da seita. Neste caso um
pai catlico, forado por circunstncias a matricular o fi
lho em tal colgio, tem de exigir, sob pena de pecado e cen
sura, uma exceo para le. A prpria lei do pas faculta
lhe tal atitude, reclamada pelo dever.
Mencionei ao leitor atitudes outras a respeito do casa
mento, do batismo. Isso com uma inteno bem clara. Ciente
do castigo, impea os seus de incorrerem na censura. Avi
se-os, caso se apresente semelhante despropsito.
Quando, por exemplo, um dos teus pretende casar-se com
protestante temos o caso de "mixta religio ou religio mista".
A Igreja no quer tais casamentos e s os admite forada
por circunstncias, mas sempre com a prvia autorizao do
Ordinrio e dadas por escrito garantias para a parte cat-

Nota importante
A proibio positiva do Cnon precedida pela proibio do di
reito natural. Trs coisas esta ltima impe :
1. Continua firme, sempre que haja perigo prximo para a f e
os costumes. Neste caso nunca ser lcito freqentar escolas nocivas,
nas quais to iminente o perigo para a f e os costumes, que nem
sequer pode ser removido por cautela alguma. Nem danos gravssimos
a serem evitados, pela freqncia a tais escolas, justificam a inscri
o de aluno catlico.
2. No havendo perigo prximo de perverso, ainda continua gra
vemente ilcito, em si, entregar os filhos a tais escolas.
3. Acidentalmente pode cessar a proibio, a ponto de se poderem
tolerar tais escolas, quando se verificam certas condies. Ei-las :
a) o perigo deve ser apenas remoto ;
b) as razes devem ser suficientes para a escolha ;
c) as necessrias cautelas no devem ser omitidas.
Mas quem julga sbre essas condies o Bispo diocesano.
Desprezar um colgio catlico e matricular o filho em colgio acat
lico, neutro ou misto ( no qual se aceitam alunos acatlicos e ca
tlicos ) , faltar seriamente contra a lei da Igreja.
Sobretudo em se tratanto de escolas acatlicas os confessores
devem adiar ou mesmo recusar a absolvio aos pais, como acima
menciona o Conclio Plenrio Brasileiro.
Sempre, mesmo quando justificados, devem os pais contrabalanar
o perigo, vigiando os livros usados, as doutrinas ensinadas, instru
indo melhor os filhos na doutrina crist, afastando o trato com alu
nos que possam pr em risco a f e os bons costumes dos seus. (J.
Brys, J. C. D. et Mag. - Juris Canonici Compendium - Bruges ;
X ed. 1949, pp. 178-179 ) .

223
lica praticar sua religio e nela educar os filhos todos, e afas
tado o perigo de apostasia do pai ou da me.
A f catlica, tesouro de preciosidade rara, impe-lhe
tais preocupaes. Eis o texto da proibio :
"A Igreja probe severissimamente, em tdas as partes,
que se celebre matrimnio entre pessoas batizadas, das quais
uma seja catlica e a outra adscrita a uma seita hertica ou
cismtica. E se h perigo de perverso do cnjuge catlico
e da prole, o matrimnio est, alm disso, vedado pela mesma
lei divina" , Cnon 1.060. - Pio XI renovou esta condenao
na Casti connubii.

35. COM SIMPATIA E COMPREENSO

sabe a Igreja considerar as reais dificuldades dos ca


sados em nossos dias. Temos por isso afirmado - em nos
sa ltima alocuo sbre a moral conjugal, - a legitimi
dade e ao mesmo tempo os limites, muito largos, de uma
regularizao da prole. Contrriamente ao assim chamado
"controle de nascimento" , le compatvel com a lei de
Deus. Deve-se tambm esperar - neste ponto a Igreja dei
xa o j ulgamento cincia - que esta consiga dar quele
mtodo lcito uma base suficientemente segura. Recentssimas
informaes parecem confirmar uma tal esperana. ( Alocu
o de 27 de Novembro de 1951 Frente das Famlias ) .
Pio XII faz com isso clara referncia aos dias infecun
dos, procurados tantas vzes para relaes que no devem
acarretar um fruto. Diz o homem de branco "que so pos
sveis situaes que digam um no maternidade, aps se
gura e experimentada apreciao da vossa parte ( isto ,
refere-se s obstetrcias) . Neste caso seria um rro e uma in
j ustia impor ou aconselhar um sim. Srios motivos podem
eximir dessa prestao positiva e obrigatria. E isso por
muito tempo ou at durante todo o tempo do matrimnio.
No raro encontr-los na assim chamada " indicao" m
dica, eugnica, econmica, social" .
Indicao mdica seria a falta de sade d a me o u da
criana esperada. Indicao econmica temo-la em vista do
problema de renda insuficiente, de moradias apertadas. Fim
primrio do casamento a procriao educadora da prole.
No basta pr o filho no mundo. Pode estar em j go a sal-

224
vao eterna dos filhos, conforme a boa ou m educao
recebida. pergunta "quantos filhos ?", o cristianismo no
responde, sem mais nem menos, com o "maior nmero pos
svel" . Pe na resposta um qu, do qual s os esposos so
j uzes em suas conscincias. Responde : tanto quanto podeis
educar bem.
E' claro que um nmero maior de filhos supe mais capaci
dades nos pais. Isso falando de modo geral. Pois, como al
gum observou com razo, um pai com muitos filhos pode
traz-los bem formados e educados, enquanto outro, s com
a metade, os tem todos mal educados e mal criados. Con
vm notar a observao de um socilogo : "O filho nico
no normal, embora no seja sempre um infeliz" .
Uma coisa certa : As Escrituras louvam a casa onde
as crianas so como os brotinhos de oliveira, numerosas
portanto. Fala da coroa dos filhos como prmio para o
justo. E ningum aprecia rvores que mal apresentam um
fruto. Nem meu leitor nega louvores s rvores que vergam
seus galhos ao pso de frutos saborosos. E tua espsa, pai
generoso, sorri contente ao ver que sua roseira, seu jardim
esto "florindo" . Lastima-se quando o caso de sovinice de
flres.
Tambm a histria confirma um fato : Os gnios, os
santos, os heris, os sbios saram de famlias numerosas.
Tda criana a mais , sem dvida, mais uma outra prova
de generosidade. Para o cristo representa mais uma alma
para amar, glorificar e servir a Deus. Para, enfim, sentar
se um dia mesa do Pai celeste.
No salmo 143, o salmista pede, em hora solene e li-
trgica, o seguinte :
"Que Deus faa
- seus filhos como plantas, viosos na sua adolescncia ;
- suas filhas elegantes como as colunas do templo ;
- seus celeiros cheios, repletos de tda espcie de colheita ;
- suas ovelhas aumentadas aos milhares.
Tudo isso indica abundncia, nmero grande. A floresta
de plantas e de colunas, o rebanho de ovelhas, a fartura
dos celeiros significam desejo e coragem de vidas numero
sas. Como castigo tomava o salmista a escassez de filhos,
a pobreza dos celeiros e dos rebanhos.

225
Quando a Igreja d a bno do casamento noiva,
implora ao Senhor a faa fecunda, rodeada de muitos fi
lhos, ricos de bnos durante muitas geraes. Quer dizer,
leitor, que pensamento de Deus se multiplique a vida ;
no se faam clculos mesquinhos com ela.

VI

36. EGOSMO DE UM E DE MUITOS

- Espontneas na criana so apenas as tendncias


egostas. O que, indevidamente, se chama hoj e em dia de
altrusmo s pode ser fruto da educao. A criana , antes
de tudo, um ser necessitado. Da vem que seus primeiros
afetos, conscientes ou inconscientes, sejam essencialmente
egostas. Ainda dentro do seio materno, a criana suga e
absorve o sangue materno como alimento. O nascimento
um drama de egosmo brutal, cuj o desenlace no raras v
zes trgico. Cada um dos organismos, o materno e o fi
lial, procura livrar-se do risco em que o pe a coabitao
J inadivel do outro ser. E depois o lactante continua o
programa do egosmo, que nle um apetite, sugando com
avidez o leite materno. Pouco se lhe d se com isso debi
lita sua me.
A educao intelectual conta na criana com razes de in
tersse pedaggico : com a curiosidade, com o apetite de emi
nncia, com o sentimento da prpria personalidade. Mas a peda
gogia social no conta com quase nada" ( Ruiz Amado, S. J. ) .
Com o mesmo autor lembro que, alm do egosmo in
dividual, existe o egosmo social. Famlia, cidade natal, re
gio, ptria, corporao, comunidade so os setores dsse egos
mo social. O que se chama "esprito de equipe" no passa
em muitos casos de mero egosmo coletivo. E' claro que seus
efeitos so s vzes mais perniciosos, para a vida social
grande e fecunda, do que os do egosmo individual.
Pio XII vive acentuando o carter da famlia humana,
livre de barreiras de regies, classes, grupos, castas e pases.
Para um educador cristo tais normas so sagradas.
" Educao social no a mesma coisa que educao
"societria", caso possamos cunhar ste trmo. ste estri
ba-se cabalmente na ao de uma classe contra as outras,

226
seja defensiva ou ofensiva. As classes, as corporaes de
vem agrupar-se e organizar-se com vistas s vantagens j us
tamente solicitadas por seus membros. Mas que seja de paz
e no de guerra tal organizao. E ste tem sido o pecado
capital das associaes operrias e profissionais de nossa
poca" ( 0 mesmo) .
J sabe nosso leitor que, em tda educao, a base h
de ser a razo, isto , inteligncia ilustrada. Para o cris
to a f consolida a razo e traz maiores luzes intelign
cia. Razo e f ho de mover a vontade. Os sentimentos
sero auxiliares poderosos. Mas nunca podero ser as molas
ou fibras dessa educao. Por isso ficou acentuado, em outro lu
gar, o conjunto de idias a serem inculcadas no educan
do : mutualidade ou reciprocidade dos bens sociais e dever que
nos prende sociedade na qual nascemos. E, sbre as duas,
a terceira idia crist : Corpo mstico de Cristo.
O que o prximo captulo apresenta mostrar ao leitor
o lado positivo de uma viso crist no caso. Nada mais
do que concluso tirada do Evangelho, da sua grande lei
do amor fraterno entre os homens.

37. O GRANDE MANDAMENTO

cristo e social o da caridade, do amor mtuo entre os


homens de tda classe. Cristo declarou-o como "distintivo''
para reconhecimento dos seus discpulos. Figura logo no co
mo, ao lado do mandamento de amor a Deus. Para que
no haja dvida, Cristo deixou bem explicado o mtodo que
vai seguir no dia do juzo final. Nle mencionar apenas a
caridade. A isso ajuntou parbolas e comparaes do rico
avarento, do samaritano caridoso, do credor cruel.
:fl:sse dever imperioso da caridade h de ser inculca
do, a todo pro, na alma do educando. E' a primeira idia
na educao social.
Vem depois a segunda idia : a fealdade do dio. Nun::
ca o leitor cometa o rro de pintar o dio como elemento
construtivo da sociedade humana. Nem a ptria, nem a raa,
nem o particularismo poltico, nem as classes podem j us
tific-lo ou com le trabalhar. Em nossa terra a poltica
a grande culpada de dios.

227'
Em terceiro lugar urge ensinar ao educando gestos ca
ritativos. Leve-se o educando a ver as misrias dos pobres,
dos deserdados e sofredores. O pobre tem l sua dignidade
humana e crist, passando a fazer as vzes de Cristo.
Abenoado o pai que souber criar no filho o hbito de
incomodar-se para acomodar a outros. Os escoteiros do um
n no leno e desatam-no s depois de praticada uma boa
ao em favor do prximo, da coletividade. Lembro aqui a
cortesia, que impe sacrifcio pessoal para no molestar a
terceiros. No fique em mera cortesia social. Seja batizada
e torne-se crist, praticada por motivo sobrenatural.
H outras formas menos comuns da caridade social, s
quais devem ser acostumados os meninos. So, entre outras :
A indulgncia nos j uzos sbre o prximo. Dizia Una
muno que perdoar com freqncia compreender. Quem
no quer perdoar, tem inteligncia fraca que no sabe com
preender. Em todo caso tem falta do esprito cristo.
Evitar as inj ustias, num leal esfro de praticar a j us
tia social. Se o filho percebe semelhante preocupao no
lar, em que vive, sair pela vida com essa bandeira aben
oada. Mais tarde as aplicaes para os casos ocorrentes
lhe parecero naturais, fceis e possveis. Sentir o que um
autor chama de "con-moo social" , ao dar com um esta
do de coisas injusto, miservel.
Insistem os ltimos Papas sbre o papel social da ri
queza, do dinheiro. Diz Pio XI : - " No est o homem au
torizado a empregar conforme seus caprichos suas rendas dis
ponveis, isto , as rendas que no so indispensveis para
o sustento de uma existncia conveniente e digna de sua
condio" ( Quadragesimo anno) . Um educando precisa no
tar que seu pai se governa por ste princpio. Achar en
to natural que lhe recomendem sua compreenso e prtica.
Grande o rro de se deixar ao capricho do filho o dinheiro
que recebe, a riqueza que herda.

28. UM PATRO NO EVANGELHO

passa para a histria com sua conduta humana, gene


rosa e cheia de f. E' o comandante romano, pago, que
vencendo o respeito humano, se apresenta a Cristo. Diante
dle elogia o criado que tem e pede sua cura. Naaman

228
outra figura interessante no papel de patro. Escuta o con
selho de uma criada de sua espsa e parte em busca do
profeta Eliseu, de quem esperava o livrasse da lepra. Mal
satisfeito com o recado recebido da bca do mensageiro do
profeta, ordenando-lhe se banhasse sete vzes no J ordo, j
ia partindo de volta para a sua terra. Dle aproximaram
se os servos e disseram-lhe : Pai, ainda que o profeta te
tivesse ordenado uma coisa muito difcil, tu devias sem d
vida faz-la. Quanto mais agora que le te disse : Lava-te
e ficars limpo ! Naaman atendeu a seus servos. Foi ao
Jordo, lavou-se sete vzes e a sua carne tornou-se como
a carne de um menino muito tenro e ficou limpo ( 4 Rs c. 5) .
J lembramos ao leitor os deveres para com os fmu
los. Intersse de cristo para com cristos. E' dever de cons
cincia dar-lhes o tempo e jeito para o cumprimento dos
deveres religiosos. Urge ter cuidado com a moralidade nas
relaes entre criados e criadas. Os filhos, medida que
crescem, tornam mais delicada a responsabilidade dos pais.
Pois les ho de ser educados no respeito para com as cria
das, sobretudo quando mas. Pio XII diz : " Suponde que,
conforme avanam as coisas, um dia o dever imponha aos
pais, para o bem dos filhos, afastar aquela criada, que no
foi culpada dos inconvenientes ou do perigo, do qual foi so
mente causa involuntria. No sentir o chefe da casa, ao
v-la partir humilhada em sua inocncia, remorso de ter
sido le, com outros, menos prudente do que a empregada,
menos vigilante, menos firme e resoluto ? No dever atri
buir a si mesmo a culpa desta ltima e o seu futuro in
certo ?" ( Aloc. 20 de Agsto de 1942 ) .
Que fracasso de cristo e de chefe seria o do leitor
caso le mesmo se metesse a desrespeitar uma domstica !
Neste ponto a vigilncia, a prudncia, e mesmo a retirada
perante certas ocasies, impe-se com o pso de uma lei di
vina. H sedues que so lentas e silenciosas. Pio XII lem
bra a das revistas imorais largadas sbre a mesa, ca
beceira das camas. Lembra os quadros, os dirios ilustra
dos. As conversas, as relaes de aventuras mais ou me
nos licenciosas que os filhos maiores contam aos amigos.
Menciona certos olhares e indiretas, gesto livre, aumentando
o perigo para inexperiente.
O homem de branco aparece tua mesa e escuta uma

229
queixa, uma observao maliciosa a respeito de alguma pes
soa respeitvel. E' uma flecha atirada contra um professor,
contra um proco, contra uma autoridade de qualquer g
nero at s mais altas, s mais sagradas. E com le as cria
das escutam a conversa e sentem ferida ou diminuda a ve
nerao para com pessoas dignas. E ento lembra o que
se deu com a Revoluo francesa : A criadagem vivia ou
vindo nos sales de seus amos aquelas palestras atrevidas,
filosficas, sociais, polticas, condimentadas com agudeza.
Apreciavam os chistes libertinos em desprestgio e mfa
da religio e as tiradas endeusando a liberdade sem freios.
E essas teorias lhe invadiram o esprito, envenenaram o
corao. O povo simples lgico e tira as concluses daqui
lo que professado pelos grandes, pelos patres ( Aloc. citada ) .
O leitor concordar comigo na seguinte ponderao : Um
chefe de famlia prudente, temente a Deus e amoroso do bem
dos filhos, sempre procura informar-se sobre a conduta pas
sada da criadagem que bate sua porta em busca de em
prgo. Se a informao fr desabonadora, recusar a preten
dente. Portanto, aceitando-a por trazer boa recomendao,
assume o compromisso de respeitar essa bem recomendada.
Seria crueldade, da qual Deus se vingar, explorar a preciso
de uma domstica sbre cujos ombros pesa, talvez, a obri
gao de ganhar o po para irmozinhos ou para pais
necessitados.
Muito entre ns : que o pai no admita sem-cer1momas
das filhas mas, que escandalizam criadas pela falta de pu
dor, pelos modos imorais do namro ou noivado. O mau exem
plo contagioso. A caridade probe todo escndalo. Que
triste recomendao para uma casa, quando dela se retira
uma empregada honesta, alegando que "na famlia at as
mas eram imorais" !
Caiu no rro uma pobre empregada ? Mesmo no es
tando o causador do desastre entre os homens da famlia,
aparea nessa hora a fraternidade crist. Caber ao chefe
do lar conseguir, por meio da espsa ou pessoa de confi
ana, amparo que impea maiores desastres. Nada de sim
plesmente atirar rua, para ser apedrejada, urna infeliz
ou leviana. Tal caridade mais urna garantia, a impedir
acontea semelhante rro com . . . uma das filhas da famlia.
N aaman, o leproso, deve ter sido um estimado patro. A

230
confiana que nle tinham os criados aparece no trmo pai
e no ajuizado conselho dado ao amo. A cura foi tambm
prmio do procedimento dle com os fmulos.

39. TENDtNCIAS ANTI-SOCIAIS

Todo educador leal no desconhece o dever de formar


nos filhos o sentido social. Sobretudo em nossos dias de
lutas de classes. Para um cristo isso equivale formao
da caridade para com o prximo.
Ora as tendncias anti-sociais exigem que se lute contra
elas. Essa luta o lado negativo da formao que nos in
teressa. So elas : a falta de honradez, a mentira, o anelo
imoderado de xito. A primeira no respeita o bem alheio.
A segunda impede e coarcta a confiana. A ltima vive
atropelando os outros, sacrificando-os ambio pessoal.
Ser um cristo, mas antes de tudo ser um homem hon
rado - foi axioma de certo escritor. No quis opor o pri
meiro ao segundo. Tencionou, somente, dizer que no era
autntico o cristianismo de quem no se apia na honradez.
Por isso, leitor, teu filho h de crescer honrando sua pa
lavra, respeitando o alheio, mesmo que seja um lpis ou
uma borracha na escola, uma parede que le no garatuja,
um mvel que no estraga e danifica. A base da vida so
cial a confiana. E quando falta a honradez acaba-se a
confiana. Temos ento um homem desqualificado. Mas todo
ato vil desqualifica um homem, viva l em que posio quiser.
No assunto de mentira, seria rro julgar o pai que a
criana por natureza sincera, precisando de algum tempo
para se diplomar na arte de enganar. Tambm aqui o pe
cado original deixou estragos. E' claro, nunca se deve en
ganar a criana e nunca se deve mentir diante dela. Igual
mente andaria errado quem submetesse a sinceridade de um
educando a uma prova demasiado rude. Haja, sim, preocu
pao com o culto da sinceridade.
Avanar na vida, melhorar sua posio, ter justa am
bio como programa , em si, coisa j usta e louvvel. Mas
nunca se elogie ou aprove o golpe, o truque, a deslealdade,
lesando direitos alheios. A lei no h de ser "suba quem
puder e por onde puder". Concorrncia limpa e leal - eis o pro
grama. O que obtido com sacrifcio dsse princpio no com-

231
pensa o preJ UIZO moral, o choque social. Sairo prej udicados
vencedor e vencido. Nos jogos infantis poder o pai observar
a tendncia do filho.
Hoje em dia o desleixo na luta contra essas tendn
cias traz maiores repercusses. Pois vivemos numa poca
na qual o homem " um ser gregrio", subjugado pela mas
sa. J no vive to isolado como antigamente. Mora em
apartamentos, em cortios, em casas geminadas. Move-se e
trabalha em grupos. A cada passo d com sinais vermelhos
nas ruas, tem de entrar nas filas, marcar hora, esperar por
linhas de telefone, etc.
Ponha-se neste meio um ser anti-social, com tdas as ten
dncias anti-sociais bem nutridas e treinadas, e adeus paz,
caridade e colaborao. Neste trabalho de luta o educador
saber adaptar-se idade, ao temperamento, ao mtodo ade
quado. Jamais os povos vivero corno urna grande famlia
humana, se as pequenas famlias onde se formam os indiv
duos no cooperarem para isso.
Gostaria que o leitor comeasse por si mesmo, no exa
me leal sbre as malsinadas tendncias anti-sociais. Espsa,
filhos, vizinhos, companheiros de trabalho lucrariam muito
no caso.

40. TEU FILHO NO DESFILE

"Na Missa Solemnis Beethoven traduz musicalmente a


"vida do sculo vindouro" . Escreveu assim um dos coros
mais gigantescos concebveis. Vicente d'Indy chamava-o com
justeza " desfile dos eleitos" . Vozes aj untam-se s que esto
cantando. Novas entradas do terna glorioso no cessam de
multiplicar as chegadas de novas falanges celestes. Tudo
est invadido, submergido por essas ondas em contnuo cres
cimento" ( Ren Biot) .
Ora nesse desfile glorioso espero ver um dia o leitor e
seus filhos. Garantia para tanto oferece, na medida da con
tigncia humana, uma slida educao religiosa. Sem ela est
comprometido sse desfile. De entrada no assunto quero pre
venir contra dois erros, muito comuns.
H pais que sofismam corno racionalistas. Afirmam en
to que a criana deve ser educada sem religio, para mais
tarde escolher o objeto de sua f, quando possuir o pleno

232
uso da razo. Mas isso contrariar as mais profundas as
piraes do corao humano. E' cruel abandono da criana
s correntes que arrastam o esprito e o corao, em via
de formao. Se tivssemos que esperar pelo sol da razo,
a fim de a criana governar a si mesma, ento teramos
de deixar no s o ensino da religio, mas muitos outros
tambm. Todos les so dados da experincia, impostos, de
fora, para dentro da alma infantil.
Um pai cristo ter remorso de perder tempo nessa obri
gao. Bem cedo dar sua contribuio ao trabalho mater
no para ir acendendo as luzes da f na alma infantil. Ir
lhe- desenvolvendo a personalidade moral e crenas pessoais.
E isso de tal modo que, amanh, possa o educando trans
formar em convices e crenas pessoais a doutrina recebi
da na infncia.
Outro rro no assunto o de se atribuir, exclusivamen
te, ao sacerdote e ao colgio catlico, a tarefa da educao
religiosa. Sem dvida, o catecismo, a aula de religio exigida
e controlada, estimulada e premiada pelos pais, fator de
suma importncia. Mas os primeiros responsveis, perante
a Providncia pela formao religiosa dos filhos, so ine
gvelmente os pais. A les cabe a gloriosa tarefa de levar
o filho a conhecer, amar e servir a Deus. A Igreja s in
tervm para completar a formao que espera encontrar bem
comeada pela famlia.
Note-se o leitor mais uns pontos :
1 ) Essa formao no pode ser fictcia e superficial.
No dispensa o exemplo religioso dos pais. Teu exemplo so
bretudo, leitor ! Pai sem vida religiosa, sincera e efetiva,
um terrvel entrave no assunto. Seria um iludido, caso es
perasse ver um cristo integral no filho, quando le mesmo
cristo mal receitado, rebelde s leis de Deus e da Igreja.
O fruto no.cai longe da rvore.
2) Frmulas e gestos exteriores no fazem ainda a re
ligio, que requer a prtica das virtudes. S por submeter
se a ritos e cerimnias, sem aplicar-se ao desenvolvimen
to de qualidades e virtudes agradveis a Deus, teu filho no
est ainda cumprindo, por exemplo, a lei de amar a Deus
e ao prximo. Mais do que o adulto, a criana corre gran
de perigo de confundir a f com gestos exteriores e prti
cas religiosas ( Viollet ) .

233
sses ritos e prticas tendem a despertar sentimentos,
que uma educao progressiva e perseverante tornar reais
e slidos.
Viollet aconselha preocupao com a formao da cons
cincia, com a realidade do arrependimento, com a presen
a de Deus, e mesmo com o mau exemplo que espera o
educando na escola e na vida. Urge ento redobrar a in
fluncia dos pais para contrabalanar o mau exemplo dos
companheiros. No faltar a descoberta da diversidade de
crenas. Contra ela s mesmo a inabalvel firmeza das con
vices paternas, ao lado de um progressivo desenvolvimen
to dos conhecimentos religiosos.
Nesta passagem o leitor compreender qual a impor
tncia dos mestres na vida do filho. No tachar de into
lerncia a atitude da Igreja, que probe colgios acatli
cos para filhos de famlias catlicas.
3) Conte o pai prudentemente com uma crise religio
sa na mocidade do filho ou com uma possvel exaltao re
ligiosa em vrios casos. Sobretudo com as filhas, que cor
rem o risco de confundir os arroubos da sensibilidade com
o sentimento religioso. De outro lado cuide-se de apagar a
fogueira do devotamento. Na adolescncia mora o gsto pelo
herosmo. Longe de o abafar, encaminhe-o para o aperfei
oamento, sempre dentro dos limites do real e do possvel.
L um dia o filho mo - nababo do sentimento de
sua fra e de sua ependncia - protesta contra de
pendncias de famlia e de religio. Ambas as obrigaes
lhe parecero limitaes sua gloriosa personalidade. Re
'
ligio sem esprito de submisso e obedincia no conce
bvel . Da a crise da f e das prticas religiosas no mo.
Ajuntemos a isso o esprito de crtica, cujo clima pode estar
num ensino insuficiente ou desajeilado da religio. Dogmas
e lendas andaram de permeio na bca de mestres incapazes.
E agora, ao contacto com os conhecimentos cientficos e his
tricos ' que comea adquirir, nosso jovem tentado a tor
nar-se um iconoclasta.
As tempestades dos apetites sexuais "levam o jovem a

' ) Razo e f so filhas de Deus. Nunca se contradizem. O er


rado uso de uma e outra que cria os conflitos. As exageradas
afirmaes dos representantes de uma e outra que "armam" apa
rentes conflitos.

234
livrar-se das ex1gencias, do jugo de uma lei moral, rica em
difceis e dolorosos sacrifcios", observa Viollet.
O exemplo religioso, a orao, o sacrifcio feito pela fa
mlia ( frente o pai !) sero de grande valor. A les as
socie-se o cuidado com amizades e companhias de moos
firmes na sua religio. Nesse ambiente teu filho, leitor, con
seguir vencer a crise para a qual j o vinhas preparan
do. E' claro, se a famlia contar com a amizade de um es
clarecido sacerdote, nle ter preponderante auxiliar.
Seja como for, teu filho no pode faltar no desfile fi
nal dos eleitos.

41. SILNCIO DE CMPLICES


E' uma espcie de cumplicidade o silncio da famlia
sbre certos problemas da puberdade nos filhos. Futuras
quedas, hbitos perniciosos so muitas vzes a triste con
seqncia do "acanhamento" dos pais em tratar dsse as
sunto, que hoje tem o nome de " iniciao sexual" . Entretan
to a primeira queda ou a primeira vitria, que o amor pode
levar, na adolescncia. A batalha da pureza inevitvel
e tem de ser preparada. Uma derrota nesse ponto traz
prejuzos inea.Jculveis para a vida tda. Filho vencido, pais
vencidos. Pois soldaao vencido tambm chefe vencido.
Fale, pois, o pai e educal)r. Dirija-se ao filho "que
na puberdade pe o p vacilante no caminho de um reino
nebuloso. Desde que o jovem fixa a sua ateno nos fen
menos sexuais, apodera-se dle a intranqilidade, a incer
teza, o desassossgo" . Tda a sua vida intelectual se agita
sob o signo desta investigao intranqila.
A reta formao da conscincia manda quebrar o siln
cio. Precisa le saber o que propriamente a impureza, con
denada por Deus. Dever saber que a sua sde de saber as
coisas neste ponto no constitui .Jogo pecado. Se os pais no
falarem, falar a rua, falaro os companheiros, os cinemas,
as revistas, as gravuras. Pessoas por conseguinte que no
esto autorizadas para isso.
Pio XII diz claramente que s mes ( para as filhas) e
aos pais ( para os filhos) caber levantar cautamente, de
licadamente o vu da verdade e dar uma resposta prwJ'ente,
justa e crist a tais questes e inquietaes ( Aloc. 26 de

235
Outubro de 1941 ) . O grande escritor Tihamr Toth acha
que se deve falar antes mais cedo do que tarde. Que me
lhor faltar por excesso do que por defeito neste assunto. Diz :
" H duas classes de pais. Uns dizem que o filho ainda
uma criana. Outros respondem que deveriam dizer-lhe qual
quer coisa, mas o assunto to delicado. No fim de contas,
nem uns nem outros falam. Optam pelo mais cmodo, neste
caso : calar-se. Mas no se cala a rua, no se calam os ami
gos, nem os livros, nem os teatros, nem os cinemas" .
Quero expor ao atento leitor umas regras nesta obriga
o inegvel. Pois a ignorncia - disso est a Igreja con
vencida - no , ao menos materialmente, sinnimo de ino
cncia ; nem o conhecimento equivale culpabilidade. Eis as
normas :
1 ) Seja individual a iniciao. O filho tem um direi
to, no curso normal de sua existncia, de ser iniciado pru
dentemente nos problemas e nas lutas dos sentidos. A hora
e o tempo so tambm individuais. Pio XII quer andem os
pais atentos para observar e discernir a ocasio e o mo
mento da chegada destas questes. Protestem os pais, se te
merrios ousarem atac-la publicamente. E' dever de cons
cincia.
2) Seja leal a iniciao. Jamais pode ser violada essa
regra. Nada de respostas, que amanh sero desmentidas por
explicaes necessrias, imperiosas. Nada de histrias rid
culas, provocadoras de zombarias ou de sorrisos compassivos
em outras rodas.
3) Seja acolhedora a iniciao. Isto : no se bata a porta
na cara do filho que pergunta, com le ralhando por causa
da indagao curiosa e incomodativa. Tda pergunta um
convite feito verdade, parcial ou total. Nada portanto de
respostas peremptrias, dilatrias, esquivas. Desiludido na
sua confiana, ir o curioso saber da verdade exposta por
bcas contaminadas de companheiros.
4) Seja delicada e elevada a iniciao. As revelaes
"devem ser apresentadas sob seu correspondente ngulo mo
ral e espiritual. As descries fisiolgicas nunca devem dei
tar sombras sbre a beleza dos sentimentos, normalmente
necessrios obra da procriao".
5) Seja a iniciao precedida da educao do sentimen
to. Criado o ambiente de amor e de confiana entre filho

236
e pai ; formada por ste a delicadeza no trato daquele com
as irms, parentas e amigas, desde a infncia, teremos "o
clima" favorvel para o respeitoso acolhimento da iniciao.
Charmot observa com razo : "Quer nos parecer que aos
pais tem faltado muitas vzes o conhecimento de certas ver
dades do cristianismo, no desempenho de suas misses. Dai
a causa principal da incompetncia dos educadores. Sbre as
coisas do mundo possuem cincia, que no acompanhada
de uma suficiente cincia da vida sobrenatural. O que a
mocidade mais precisa conhecer no so os escndalos das
paixes e os horrores da sensualidade. A fraqueza lhe vem
disso : ns os fizemos meditar pouco sbre as insondveis ri
quezas de Cristo. Sem dvida, h alguma utilidade na ex
perincia do mal. Mas a experincia do bem tem maiores van
tagens. E' igual nos pais a experincia sbre o bem e s
bre o mal ? E' para se temer que no.
No a inteligncia, nem a cincia que salvam a hu
manidade ; o amor. A verdade s liberta a alma na me
dida em que lhe liberta o corao. So as cadeias do corao
que prendem os espritos ao fogo da condenao. Pouco
teria valido ao jovem David ter visto o agigantado tama
nho de Golias, se no tivesse na funda os seixos da tor
rente e, no corao, a confiana em Deus. O amor humano
tem de ser disciplinado, ordenado, sobrelevado pela caridade
crist. Mas continua sendo le mesmo ; tem sua forma, seu
objeto, suas leis, suas qualidades e seus defeitos" . '
6) Mas nada de endeusamento da iniciao ! - Pio XI
diz claramente : "Erram gravemente ( os tais iniciadores )
no querendo reconhecer a natural fragilidade da natureza
humana e a lei de que fala o Apstolo. ' Mostram desco
nhecer a experincia dos fatos, os quais mostram que, prin
cipalmente nos jovens, as culpas contra os bons costumes so
efeito, no tanto da ignorncia intelectual como especialmen
te da vontade dbil, exposta s ocasies sem o amparo dos
meios da Graa" ( Enc. sbre a Educao ) .
Peo ao leitor que pondere seriamente sua atitude nes
te assunto : convices - silncio - confidncia e iniciao.

' ) F. Charmot L'arMur humain, pp. 16-18.


') Carta aos Romanos : Vejo nos meus membros outra lei que
se ope lei do meu esprito e me faz escravo da lei do pecado ( 7, 23 ) .

237
42. MUITO S OU POUCOS

filhos ? Ciente do dever de procriar, natural que um


cristo, vivendo no matrimnio, faa tal pergunta. A ques
to - diremos com famoso escritor, - no versa sbre o
nmero de filhos, mas sbre a moralidade das relaes con
j ugais. Que um casal tenha um, dez ou vinte descendentes
no o prescreve a Igreja. O de que se interessa a moral
dos meios empregados para a limitao da prole. Motivos de
ordem econmica ou mdica podem sugerir a uma famlia
o conselho de diminuir ou espaar as maternidades. Empre
guem-se para ste fim no artifcios que frustrem a finali
dade natural das relaes conj ugais, mas meios que a mo
ral no condena, - e a Igreja, longe de censurar, no ter
seno louvores por mais esta conquista humana, virilmente
afirmada com o domnio consciente da razo sbre as im
pulsividades do instinto". '
Isto psto, vamos aos detalhes : "Nesta como em outras
matrias podemos distinguir entre estrita obrigao e gene
rosidade. Existe um dever quando h obrigao em consci
ncia de cumprir um ato. H generosidade, quando ela no
existe, havendo somente um conselho de maior perfeio. O
dever estrito termina onde comea a generosidade. E esta
comea onde aqule termina.
Freqentemente no sempre fcil fixar exatamente o
momento em que comea a generosidade e acaba o dever.
Da mesma maneira nem sempre possvel dterminar o pon
to concreto, alm do qual comea a traio ao dever, ou
dizer quando essa traio falta grave. A maioria das ma
trias morais no se prestam a estas aritmticas.
Por exemplo, em que momento preciso falta gravemen
te a seus deveres conjugais um marido frvolo, sempre
fora do lar, onde entra s por breves momentos ? Diro :
quando sua conduta cause graves tristezas, duras decepes
espsa. Mas qual ser precisamente sse momento ? Com
que freqncia devero repetir-se as sadas e que durao
ho de ter, para que seja grave o mal causado e a tristeza
ocasionada ? E' impossvel uma resposta matemtica a tais
perguntas ?

' ) P. Leonel Franca, S. J. Alocues - Agir.

238
D-se o mesmo no caso do dever de procriar filhos.
Impossvel fixar o mnimo de filhos que tda famlia h de
ter, sob pena de pecado" ( Angel dei Hogar) .
Qual a razo disso ? Poder estar numa contraindicao
mdica, econmica, pedaggica, social. Em certos devotamen
tos sociais ou religiosos, iguais ou superiores em importn
cia humana ao dever procriador. Tais razes j ustificam uma
iseno do dever.
Mas apresentemos ao leitor um caso comum, normal,
onde no h contraindicao ou iseno do dever. No se
poderia, ao menos neste caso, determinar o nmero de fi
lhos exigido por um lar cristo ?
"Impossvel faz-lo matemticamente, como o desejaria
nosso empenho de clareza. O dever positivo de procriao
varia, com efeito, de acordo com as possibilidades de cada
um. Ao que recebeu cinco talentos - diz o Evangelho -
se pedir o rendimento de outros cinco. De quem recebeu
dois, se pediro lucros de dois. E quem apenas recebeu
um, dar conta s de um. - Nesta questo de fecundida
de as diferenas individuais de sade, de recursos econ
micos, qualidade educadora, recursos morais, fazem variar,
de casal para casal, as fronteiras do dever. Por isso impossvel
a fixao de uma quota certa de nascimentos, obrigatria para
todo lar, e cuja ausncia implicaria descuido do dever, fs
sem quais fssem os motivos invocados.
Pela mesma razo no se pode marcar o expoente mxi
mo, que separa 9 reino do dever do reino da generosida
de. Variam as circunstncias de famlia para famlia. Para
tal famlia poder significar o mximo de suas possibilida
des fsicas, econmicas e educativas a aceitao ou a von
tade de um terceiro filho. Chegar ao mximo das possibi
lidades , sem dvida, um ato de generosidade. Ultrapas
s-lo raiaria na despreocupao e na impreviso. J em outra
famlia a coisa pode ser totalmente distinta.
E diz o autor que a aceitao ou o desejo de uma pro
le numerosa obedece, sem dvida, a um esprito de gene
rosidade social, menos quando tal atitude venha ditada pelos
impulsos descontrolados do instinto. O caso requer, do ca
sal, um clculo prudente das possibilidades efetivas unido
ao desejo de melhor contribuir para os fins sociais e reli
giosos do matrimnio".

239
VII

43. UM DIA NO BANHO


meu pai viu-me, pubescente, na agitao da adolescn
cia. Todo satisfeito foi contar minha me que iriam ter
muitos netos. Minha me horrorizou-se com a notcia e deu
me conselhos para que respeitasse as mulheres . . . Mas eu
tinha vergonha de segui-los. - Assim nos conta Agosti
nho uma cena de sua vida, nas Confisses.
Patrcio, o pai, no era ainda cristo. Mnica, a me,
batizada e santa, teve as entranhas comovidas perante o
terrvel acontecimento. Voltamos, leitor, ao grave problema
da vida sexual na existncia de teu filho. No ignoras que
sua alma um campo de batalha - que ser eterna - en
tre dois mundos que nela se encontram : o do bem e o do
mal. "Mas, entre todos os instintos, o mais forte o ins
tinto da prpria conservao ( instinto egosta) , e o da
conservao da espcie ( instinto sexual) . Nenhum dos dois
em si mesmo pecaminoso, porque, sem o primeiro, o ho
mem morreria e, sem o segundo, morreria a humanidade.
Mas ambos tm de manter-se nos devidos limites, porque,
doutro modo, o egosmo desenfreado transformaria o mun
do num antro de ladres, e o desenfreamento da vida sexual
transformaria o orbe num imenso manicmio" ( Tihamr Toth) .
Perante ste problema variam as atitudes de muitos pais.
Uns so abstencionistas. Nada falam a respeito, com srio
prejuzo perante as exigncias da hora oportuna. Pergunta
dos, esquivam-se ou impem silncios funestos, compensados
por respostas recebidas de bcas contaminadas.
Outros so rigoristas. Querem criar os filhos num es
pcie de " vcuo", de redoma, teimosamente isolando-os como
plantas de estufa. Entretanto, l fora, o ar est sexualizado.
Esto a os laxistas que tudo toleram, tudo permitem, nada
vigiam ou controlam. Para les nada faz mal ou tdas as
exigncias so intolerncias e preconceitos.
Por fim surgem os naturalistas. Tudo lhes parece to
natural, como o resultado de uma multiplicao. Advogam uma
iniciao temerria e prematura. Chegam mesmo a "expor os
filhos prematuramente s ocasies para acostum-los - como
dizem - e curtir-lhes o esprito contra os perigos" . Pio XI
censura tal atitude, chamando-a de rro e temeridade, de ig-

240
norncia e desconhecimento da natureza humana, na qual o
conhecimento do mal no traz necessriamente o fortaleci
mento da vontade contra le. Essa robustez vem da Graa.
Uma comparao, leitor : Um alpinista, mestre nas es
calaes, certamente no se atreveria a levar um novato, alu
no de poucas aulas, a enfrentar os vertiginosos precipcios na
ascenso de um Matterhorn. A experincia lhe sairia muito
custosa. Pior o caso no problema sexual. Os precipcios
que devem ser transpostos vencem, por suas vertigens, a au
dcia prematura de quem os enfrenta.
J sabes, no advogo um silncio a qualquer preo. Mas
no vejo na iniciao um remdio para todo mal. E entre o
silncio do que se no deve dizer e do que se deve dizer h,
certamente, um abismo. Charmot traz belo resumo neste as
sunto : "Os sistemas naturalistas de iniciao sexual so con
denados pela Igreja. Os sistemas de iniciao, acatadores da
decncia, muitas vzes mais prejudicam do que aproveitam.
As iniciaes feitas de modo cristo acarretam um perigo.
Enfim a mais pura e santa entre todas no ainda um re
mdio suficiente . . . Numa .palavra, o que cremos falso e fu
nesto
comear a educao pela iniciao ;
reduzir iniciao todo o problema da educao e da
pureza ;
fazer a iniciao antes da educao para a pureza.
Julgamos um benefcio considerar a iniciao como uma
questo necessria, mas secundria ;
questo adjacente e difcil ;
questo que tem sua hora ;
questo que jamais h de ser tratada isoladamente e por
si mesma.
A educao crist do amor, e por conseguinte da pureza,
deve comear por uma teologia e uma ascese que ultrapas
sem infinitamente o estreito horizonte dos naturalistas. Neste
ponto muita coisa, e muita mais importante do que um curso
de anatomia e de fisiologia, deve ser ensinada aos meninos" .
So sentenas de morte, leitor, frases como estas : Meu
filho tem de fazer suas descobertas, suas experincias ! -

Que le pague o preo dos erros e acertos na sexualidade !


- Mais tarde, mais adiante, assentar a cabea !

241
Diz o sbio que os VICIOS da adolescncia penetram nos
ossos e ficam com les na sepultura.
Vejam os pais quanta importncia tem o clima de con
fiana no qual devero saber manter os filhos. Do contr
rio nunca sero amigos dos pais, nunca lhes faro pergun
tas ou pediro explicaes sbre a vida, sua origem, suas
fontes, seus programas, seus fracassos e suas runas. No
faltam hoje livros que tratam detalhadamente sbre ste
assunto.
E no falte ao leitor a conscincia de sua responsabili
dade de guia na transposio de precipcios.

44. BREVIARIO DE PEDAGOGIA

O homem de branco lembra que os filhos so canios


agitados pelo vento ; so flres s quais at os zfiros rou
bam alguma ptala ; so canteiros virgens em cujo solo Deus
colocou a semente da bondade. Bens que so atocaiados pelos
sentidos e pensamentos do corao humano, inclinados ao mal
desde a adolescncia. E tambm pela soberba da vida e con
cupiscncia dos olhos e do prazer.
Pergunta : quem ser o defensor dessas flres ? Em
primeiro lugar a autoridade que governa a famlia e os filhos.
A autoridade dos pais, portanto. Quero, agora, levar o leitor
aula que Pio XII continua dando. Em resumo diz :
"Uma coisa o direito autoridade e outra aquela
proeminncia moral que constitui e enfeita a autoridade efe-

NOTA. - Damos aqui o texto de Pio XII :


"Tocar ento a vs para as vossas filhas, ao pai para os vossos
filhos, no que se julgar necessrio, levantar cautelosamente, delica
damente, o vu da verdade, e dar-lhes resposta prudente, justa e
crist quelas perguntas e inquietaes ( do sexo) . Recebidas dos vos
sos lbios de pais cristos, na hora oportuna, na devida medida, com
tdas as devidas cautelas, as revelaes sbre as misteriosas e ad
mirveis leis da vida, sero ouvidas com reverncia mista de grati
do. Iluminar-se-o as almas com muito menor perigo ( ! ) que se as
aprendessem no acaso de encontros escusos, de conversaes clandes
tinas ; na escola, de companheiros de pouca confiana e demasiada
mente entendidos por meio de leituras ocultas, tanto mais perigosas
e perniciosas, quanto mais o segrdo inflama a imaginao e excita
os sentidos. As vossas palavras, se sensatas e discretas, podero ser
salvaguarda e conselho no meio das tentaes da corrupo que os
cerca. A seta que se espera vem mais devagar" ( Dante) ( Alocu
o Unio de Senhoras da Ao Catlica, 26 de Out. 1941 ) .

242
tiva, operadora, eficaz. O direito conferido por Deus. Mas
a segunda prerrogativa precisa ser conquistada e conservada.
Pode ser perdida ou aumentada. O direito de mandar nos fi
lhos pouca coisa conseguir, se no fr acompanhado da au
toridade pessoal que se impe.
A alguns Deus d o dom natural do comando. Dom
precioso. Quem o possuir cuide-se dos abusos. Est a o
conselho de S. Paulo : Pais, no provoqueis a clera de vos
sos filhos, para que no desanimem ( Col 3, 21) .
O abuso da autoridade forma escravos em vez de filhos
amorosos.
A energia natural da autoridade ande temperada com
a bondade suave, paciente, animadora.
A inconstncia, a volubilidade, os excessos de energia,
ao lado das carcias, comprometem para sempre a autoridade.
Autoridade apoiada no bom exemplo. Se os filhos vivem
ouvindo crticas contnuas e irreverentes a tda autoridade ;
se vivem presenciando como os pais so os primeiros que
no cumprem a lei de Deus e da Igreja, - como iro obe
decer ? Por isso o bom exemplo " o mais precioso patri
mnio" que os pais podem ' legar aos filhos. H uma heran
a do exemplo. Aborrece e tambm enfraquece a autoridade
quem a usa, levianamente, a cada instante. To pouco ela
precisa de razes falsas. Nada de falsificar a verdade aos
pequenos, causando-lhes prejuzos graves para o futuro. E'
prefervel o silncio.
No vejam os filhos jamais sombra de desunio entre
os pais. O modo de impor a autoridade seja proporciona
do idade dos filhos. A ordem seja boa e calma, mas fran
ca e firme". '
Apenas confirmo sse brevirio, se disser ao leitor que
"a autoridade deve sempre ser exercida em nome e em per
feita dependncia de Deus. Quando no mando no existe a
vontade de Deus, sobra apenas a vontade do homem, que,
no se relacionando mais com a vontade divina, sem valor
obrigatrio. Deus no ratifica tdas as decises de suas
criaturas. Assina com seu nome s a deciso que o homem
fz antes divina, do que sua. As ordens do educador no

' ) Pe. Francesco Pellegrino, S . J., Pio Xll agli .posi. La Civilt Ediz.
Cattolica. Roma, 2' ed., Serie Terza, 1941.
243
devem passar de ecos da voz de Deus. No pode mandar a
capricho, nem formar um declogo a seu gsto. Os direitos
da personalidade do menino so superiores a tudo quanto no
propriamente um dever de conscincia.
A autoridade no educador no representa seu arbtrio
pessoal, seno a ordem divina. A obedincia no educando no
submisso fsica, violenta, por causa da clera, a uma fr
a maior. Mas uma subordinao moral, voluntria, por
causa da conscincia, vontade de um superior reconhecido
como intrprete e executor da vontade divina.
A autoridade no foi conferida para o bem pessoal de
quem manda. Requer abnegao, pois foi dada em benefcio
do educando. H de ser considerada como um servio cris
to, quase religioso" (A. Oddone, S. J.) . Nada de abuso,
portanto :
- ou seja restringindo excessivamente a atividade do
educando ou dle exigindo o que no pode dar. Cuidado com
"os educadores e pais proibicionistas" ! Educar no abrir
sempre e em tda parte o sinal vermelho da proibio ;
- ou seja afrouxando a autoridade em favor da li
berdade. J Dupanloup, no seu livro sbre a Educao, co
nhecia trs categorias de pais. Eram poucos os que queriam
saber dos defeitos dos filhos. E menos numerosos os que
queriam corrigi-los, sabiam querer, mandar e proibir. E mui
tos os que se recusavam a pensar nisso . . . Creio que o
nmero dos faltosos no diminuiu em nossos dias. Desconfio
mesmo de uma coisa. Qual ? De ver meu leitor j classifi
cado numa destas categorias.

45. PRECIPCIOS A VISTA

Nunca, como nos tempos atuais, se tem falado tanto


de educao. Multiplicam-se por isso os mestres de novas
teorias pedaggicas. Meios e mtodos so propostos, no so
mente para facilitar como tambm para criar uma educao
nova, de infalvel eficcia, capaz de formar novas geraes
para a ansiada felicidade da terra. Assim escrevia Pio XI
na sua Encclica sbre a Educao, de 31 de Dezembro de 1929.
Far bem ao leitor aproximar-se de vrios dsses pre
cipcios, sentir a vertigem de suas profundidades. Para den
tro dles querem jogar a infncia. Resumo-os :

244
O trmo final de muitas pedagogias fazer da criana
uma escrava. Fala-se na formao do carter, mas de for
mao que ser um instrumento nas mos de uma fra di
vinizada que o possui, diz Charmot. I

Veja o leitor se glorioso para a dignidade humana o


seguinte quadro. Ideal a ter em vista ?
- O homem animal, porque est decidido que em ns
tudo fisiologia, ensina Spencer.
_. O homem nao, um soldado de baioneta calada na

mo ( Fichte) .
- O homem racial, escravo de uma raa privilegiada
( Chamberlain) .
- O homem do Estado, numa Estatolatria, na qual se
adora o Estado como a um Deus ( Hegel ) .
- O homem econmico, mero produtor industrial a en
riquecer o pas, como prega Marx e com le o comunismo.
- O homem social, gta d'gua na grande circulao
da torrente humana, atravs dos sculos ( Durkheim) .
- O homem libido, para quem a vida no passa de uma
forma de incoercvel paixo sexual ( Freud ) .
- O homem tcnico, j que a tcnica a cpula da
cincia, da felicidade, do progresso ( Spengler) .
- O homem instinto, de paixes divinizadas e sltas
( Rousseau) .
- O homem evoluo, a acabar na moldura do "super
homem" ( Nietzsche) .
Destas teorias nasceu a ditadura do Estado em rumos
de educao. Nasceu a gana de aambarcar as escolas, opon
do-se ou criando inferioridades s escolas particulares, so
bretudo quando catlicas.
E' outro precipcio : A doutrina catlica reconhece ao
Estado o direito educao dos cidados, conforme a or
dem estabelecida por Deus. Pio XI diz claramente : "So
direitos comunicados sociedade civil pelo Autor da na
tureza. Mas no a ttulo de paternidade, como no caso da
Igreja e da Famlia, mas sim pela autoridade que lhe com
pete de promover o bem comum temporal, sua meta princi
pal. Por conseguinte a educao no pode pertencer so-

1 ) Fr. Charmot, S. J. Esquisse d'une pdagogie familiale.


Dessa obra, fiz um apanhado do quadro sbre os tipos de homens
que menciono. - Edition Spes, Paris, 1946.

245
ciE!dade civil, do mesmo modo como pertence Igreja e
Famlia ; pertence-lhe de maneira diversa, correspondente ao
seu fim prprio.
Logo, com referncia educao, o direito - ou me
lhor, o dever - do Estado proteger com suas leis o di
reito anteriot da famlia na educao crist da prole. E, por
'
conseguinte; acatar o direito sobrenatural da Igreja sbre
essa du ca o.
. .

Ao Estado toca proteger tambm o direito da prole,


quando chegue a falhar fsica ou moralmente a obra dos
pais, seja por defeito, incapacidade ou indignidade. Pois sse
direito dles no absoluto ou desptico. Depende da lei na
tural e divina, estando assim sujeito autoridade e J UIZo
da Igreja e submetido tambm vigilncia e tutela jur
dica do Estado, em ordem ao bem comum.
Pio XI lembra que a famlia no sociedade perfei
tamente possuidora de todos os meios necessrios para seu
aperfeioamento. Mas neste caso - por excepcional que pa
rea - o Estado no suplanta, mas supre o defeito, re
medeia-o com medidas idneas. Nunca, porm, lesando os di
reitos naturais da prole e os sobrenaturais da Igreja".
Leitor, um passo adiante desta doutrina comea o pre
cipcio. No prego com isso o descaso da lei civil em matria
de ensino e instruo. A referida Encclica acentua :
"Alm disso o Estado pode exigir, e portanto procurar
que todos os cidados tenham o conhecimento necessrio de
seus deveres civis e nacionais, ao lado de certo grau de cul
tura intelectual, moral e fsica, que, atendidas as condies
de nossos dias, so verdadeiramente reclamadas pelo bem
comum.
Contudo claro que, em todos stes modos de promo
ver a educao e a instruo pblica e privada, deve o Es
tado respeitar os direitos nativos da Igreja e da famlia
educao crist, .observando tambm a j ustia distributiva.
Portanto injusto e ilcito todo monoplio educativo ou
escolar que obrigue, fsica ou moralmente, as famlias a fre
qentar as escolas do Estado contra os deveres da consci
ncia crist, ou mesmo contra suas legtimas preferncias".

246
46. FALTA UM OBJETO

em sua casa, minha senhora, dizia Windthorst, famo -


so j uiz e lder catlico da Alemanha.
- Que objeto ? indaga a espsa, que acabava apre
sentar muitas queixas contra o marido.
- Um genuflexrio sbre o qual ir rezar hora da
desaparecer
enchent e dos padeciment os. Suas queixas iro aparecer.
Posso garantir-lhe.
Creio que a respeito do marido a falta de genuflexrio
ser mais evidente e mais comum. Hoje, mesmo na era dos
motores e energia nuclear, a orao uma potncia que deixa
longe dnamos e mquinas. No pode o leitor, que quer
estar altura do seu matrimnio cristo, nutrir idias atra
sadas ou viver com preconceitos de auto-suficincia neste
ponto. Passarinhando pela floresta das alocues pontifcias,
prendi, como aves canoras para o teu lar, os seguintes con
ceitos. Ho de canta:r em tua alma, dia por dia.
- O matrimnio inicia-se com uma orao e nela tem
sua maior e mais frutuosa unio. S. Francisco de Sales re
corda que h frutos s agradveis quando aucarados. Pois
tm uma acidez desagradvel. Aconselha as espsas que "tem
perem o marido com o acar da devoo" . Textualmente
diz : "O homem sem devoo um animal rude, agreste, se
vero. E os maridos ho de querer suas espsas devotas, por
que sem esta a mulher por demais frgil e inclinada a cair" .
E' a orao o ato mais belo e comum da devoo. Ora
o em comum, unindo inteligncias, vontades e coraes dos
esposos pe.rante Deus. Todos os cristos devem dar um lu
gar para essa orao em sua vida. Ela lhes recordar que
so irmos em Cristo. Com maior razo no deve ser iso
lada e solitria, como a "dos ermites" , quando se trata
de casados. Seria errado nunca se encontrarem de joelhos, j un
tos, diante de Deus.
No se aleguem as muitas ocupaes como motivo para
omiti-la. Por mais cheios que andem os dias, urge encontrar
ao menos um instante "para um se ajoelhar ao lado do ou
tro", comeando o dia de corao voltado para Deus. Mi
mosa a frase de Pio XII ao referir-se orao da noite.
Fala do doce colquio dos esposos, trocando entre si as
ocorrncias do dia numa cordial intimidade. " No temais

247
- diz ento - Deus no vir como um importuno pertur
bar vosso delicioso colquio. Pelo contrrio, torn-lo- mais
suave e reconfortante sob seu olhar de Pai que preparou ste
momento". I

Vem a orao da noite em comum a recolher o fim do


dia, implorando a bno divina para todos os que vo dormir
sob o mesmo teto. Entra a devoo do tro com a presena
da Virgem Maria. No diga o leitor que sua casa no
uma igreja. Na velha Roma os pagos tinham altares e deu
ses em suas casas. Eram ornados e celebrados como deuses
domsticos. E' vergonhoso para um homem que traz o sinal
do batismo na testa no achar em seu lar um lugar para
o verdadeiro Deus, nem tempo nas 24 horas do dia, para
prestar-lhe a homenagem da famlia.
Na famlia verdadeiramente crist o marido sabe que
sua alma da mesma natureza, e no menos frgil do que
a de sua mulher e a de seus filhos. Por isso s oraes
dles ajunta as suas, diriamente. E como fica satisfeito ao
v-los ao redor da mesa familiar, no deixa igualmente de
acompanh-los mesa eucarstica.
Est se vendo : o homem de branco conhece o sistema
de muitos maridos, que consiste em " deixar" mulher e fi
lhos irem igreja e rezarem em casa. Como se les tives
sem outro Deus e outra religio desconhecida, na qual no
se reza !
E agora, leitor, toma da tua caneta e prepara-te para
assinar o trecho final :
"No porventura o temor de Deus o princpio da
sabedoria, daquela sabedoria que edifica para si a casa,
sustentada no pelas frgeis colunas dum mundo, seno pe
los sete pilares das virtudes teologais ( f, esperana, carida
de) e cardeais ( prudncia, justia, fortaleza, temperana ) ?
Tal casa torna-se assim qual outro Santurio, onde reina
o sacrifcio do afeto e da pacincia recproca, da concrdia
e da fidelidade. Onde os pais se tornam mestres que ensinam
aos filhos que h um Pai e uma Me nos cus. Onde a ora
o, que consola as penas e afirma as esperanas da vida,
inicia e fecha o dia".
Assinaste-o ? Muito bem. Vamos para frente e no dei
xes de executar o programa assinado, ou de nle continuar

1 ) S. S. Pio XII, La Familia Cristiana. - Obra citada.

248
se j o vens executando. Em todo caso, real ou simboli
camente, no pode faltar o genuflexrio em tua casa. Mas . . .
para teu uso, sobretudo.

47. HERDOU AOS 11 MESES . . .


- A sra. Ellis trouxe um dia ao consultrio sua fi
lhinha de 9 meses, contemplando-a com um ar de angstia
que jamais lhe vira. Era um forte e rosado beb, que ria
satisfeito e batia palmas como se estivesse aplaudindo.
- Doutor, disse-me a me aflita, ela no tem ainda
nem um dentinho !
- Tenha calma, os dentes ho de vir.
Mas a menina da vizinha tem s 6 meses e j lhe
saram dois dentes ! Que que tem a minha filhinha ?
Qual a idade da sra., quando lhe nasceram os pri
meiros dentes ?
Sete meses.
Sabe porventura qual era a idade do seu marido,
quando teve os primeiros dentes ?
- Parece-me que foi com 11 meses, mas porque a
me dle no lhe dava caldo de laranjas e nem leo de f
gado de bacalhau, como estou dando a Danny.
- No bem isso, expliquei. Se a sra. deseja um fi
lho com os primeiros dentes aos 6 meses, no devia ter
se casado com um homem que at quase um ano no tinha
dente algum. 1
J que estamos na herana de dentes, chamemos por
Juvenal, escritor satrico pago. Diz-nos em sua XIV Stira
o seguinte : "Sendo o pai mestre na gula, o filho com
sete anos, sem renovao dos dentes e com mil educadores
ao lado, suspirar por uma mesa farta e delicada. Jamais
se descuidar de degenerar da cozinha paterna" .
Neste caso herdou tambm bons dentes. Outro quadro.
Um garotinho arma terrvel berreiro mesa, por qualquer
coisa.
Que tem ste menino, para ficar raivoso e genioso
assim ? indaga o pai.
Teu gnio, responde muito conformada a me, de

1) Dr. Isaac Abt, O Romance da Pediatria, p. 180.

249
carter manso e meigo. O gemo do garto veio dos "gens",
encontrados nos 24 cromossomas paternos, uma vez que os
outros 24 maternos procedem de uma criatura mansa e aco
modada. E assim o pai transmite traos morfolgicos, ps
quicos e patolgicos aos filhos.
E' terrvel a lei da hereditariedade. Deve o leitor lem
brar-se dela, sobretudo hora de suas relaes conjugais,
deiW. .u;:,&aliWJL.LJ..L
lealmente procriadoras.
ss-unto
Pio XII aborda o assunto de um ngulo superior. Diz
que , faltando a vontade firme de guardar perene e inviol-
vel a fidelidade conjugal, vacilam pai, me e filhos na re
cproca confiana to essencial felicidade domstica ... Os
homens espiritualmente sos e moralmente puros, os alegres e
contentes, os ntegros de carter e costumes nos quais a Igreja e a
sociedade civil depositam sua esperana, procedem ordinriamente
de famlias tomadas de profundo temor de Deus e inviolvel
fidelidade conjugal. No saem de lares perturbados pela
discrdia ou por vacilantes afetos. (Aloc. 29 de Abril de 1942).

Ab
Leitor, teus pensamentos e ----
desejos -e--
atos de infidelidade, de
''-Leitor; -4ie1S pensamentos
desamor so herdados. A paz, a harmonia, a mtua pacin-
com a espsa tambm.
Quem no dar razo queixa do velho Horcio, des
creven<!.Qa.-3decada moral d Roma e do imprio romano? "Sculos
crevendo
fecundos
usUfs em culpas, - primeiro mancharam o casamento, as geraes
e os lares. Dessa fonte correu a desgraa- para o povo e para a
ptria" ( Ode VI, livro III) .
E outra vez Pio XII diz : "No faaremos de ocultas ie
ranas transmitidas pelos pais aos filhos, da influncia to
importante na futura fisionomia do seu carter ; herana que
por vzes acusa a vida desregrada dos pais, to gravemente
responsveis por tornar com o seu sangue talvez bem difcil
aos seus filhos uma vida verdadeiramente crist. O ' pais e
mes, a quem a f de Cristo santificou o mtuo amor, pre
parai, j antes do nascimento do filho, o candor da atmos
fera familiar, em que os seus olhos e a sua alma se abri
ro luz e vida. Atmosfera que deixar o bom odor de
Cristo em todos os passos do seu progresso moral"
O rumo apontado aqui claro, srio e possvel.

' ) Alocuo Unio de Senhoras da Ao Catlica, de 26 de


Outubro de 1941.

250
48. BEM ENSOLARADA
quer o leitor sua casa, ninho de seus filhos. Mas s
tes exigem ainda outro sol, cercando-os do clima indispen
svel para o desabrochamento de suas almas e coraes.
Vamos analis-lo.
O primeiro dever dos pais para com os filhos . . o
.

mtuo amor entre si mesmos. A criana faz de entrada uma


ex1gencia : quer crescer num lar unido, onde as vontades es
to combinadas. Na vida de um filho, no h desgraa que
supere a de ter pais que o disputam entre si, desunidos e
egostas na conquista de seu corao infantil. Ou ento t
los assim em eterna contramo. Um permitindo o que o ou
tro probe ; um criticando o que o outro ordena ; um se es
condendo do outro.
E' claro, essa unio de vistas refere-se s grandes ori
entaes da vida e no a eleies facultativas.
Outro raio de sol : a criana reclama uma atmosfera de
afeto. Pois so os sentimentos que influem no carter e nas
opinies. As idias, leitor, tem seu valor. Mas agem somente
quando convertidas em valores efetivos. Sobretudo isso se
d com a criana, que no como s sensvel ao fisiol
gico da vida. Dste passa para o afetivo e s mais tarde
adquire uma sensibilidade intelectual.
E', pois, pelo caminho afetivo sobretudo que se for
mam as convices e as atitudes do esprito, dominantes
da vida. O filho estima aquilo que o pai estima ; despreza
o que le despreza. So-lhe de nobreza os sentimentos que
os pais aprovam e vis os rejeitados por les, observa
Leclercq.
Por a v o leitor a responsabilidade de seus sentimen
tos patriticos, de honradez, de desprzo pelo fausto e vida
irregular. Teus preconceitos sociais, teu orgulho de classe
detentora da virtude, teus princpios religiosos so flechas
e labaredas na vida e na alma dos filhos.
Clima de unio e de amor dos pais, entre si, deixa si
nais para tda a vida. E o clima contrrio deixa estigmas,
abre agulhas nas encruzilhadas perigosas dos filhos. Lares
desunidos podem ser materialmente fecundos. No o sero
moralmente e com isso entravam o progresso do gnero hu
mano. Filhos, crescidos em tal ambiente, nle enxergam a
maior desgraa de sua vida.

251
Leclerq tem uma interessante comparao a respeito do
"filho nico", programado pelos pais. Chama-o de inoperante
na vida dos pais. E' moblia ; no alma. Desempenha de
modo incomparvelmente superior a funo do cachorro ou
do gato na casa. No obriga os pais a se esquecerem, a vi
verem no sacrifcio e na unio por causa da presena do
filho. Diz que com a chegada do terceiro filho que come
a a pesar a carga da paternidade.
Leitor, ouves dizer que filho sobrecarga. Mas se no
fr isso - carga moral - no ser til a seus pais. Pois
medida que impe renncias, cresce sua utilidade moral.
Eis o que est certo. Mesmo pais ricos, sendo-lhes nume
rosos os filhos, tm de mudar o gnero de vida, como mui
tas vzes se mudam de casas.
Nesta afirmao brilha a conhecida regra moral da pu
rificao, que fruto do sacrifcio. Mais ainda : Os pais
devem viver para seus filhos e no stes para les. O res
peito e carinho, imposto pelo quarto mandamento, no im
plica o dever de lhes consagrar a vida. " Entretanto os pais
devem consagrar-se aos filhos enquanto les o precisarem.
E' lei da natureza que empurra para frente o gnero hu
mano. Os pais so o passado ; os filhos, o futuro. Tarefa
dos pais transmitir a vida e depois desaparecer, feita aos
filhos a entrega dos bens que adquiriram. A transmisso da
fortuna no passa do smbolo da transmisso dos bens do
corpo, da alma e do corao, recebidos primeiro pela nas
cimento e depois pela educao" ( Leclercq) .
Leitor, a natureza no tem corao. Na misso pater
nal nada pe de lado para os pais. les plantam para ou

tros. Tudo para os filhos, nos quais encontraro recompen


sas, mas "sob a condio de nem busc-las ou nelas pensar" .
O filho crescido e educado, sob a evidente prova do
" dsintersse e abnegao dos pais", saber retribuir-lhes
flres e frutos de afetos. Diz a poesia que a felicidade no
pode ser procurada, mas h de ser encontrada. Preocupar
se com ela perd-la. A receita tem valor inegvel sobre
tudo nste terreno, dentro de tua casa, leitor, com relaij.o
a teus filhos.
L um dia, teu filho toma nas mos as rdeas do des
tino e obedece lei natural, que o leva a deixar tua casa
e fundar a sua. Nesta altura tua felicidade consistir na

252
constatao da felicidade de teu filho. Pois os filhos, os
xitos dles sero igualmente os teus.
Vida crist genuna, na unio sacramental com Deus,
que facilitar a presena dsse clima, da "casa ensolarada" .

49. BELEZAS E M TEU LAR

No me refiro beleza das pessoas que o compem.


Se houver alguma ou uma constelao de vrias, seja ben
dito o Senhor. Mas sempre convm lembrar que uma pren
da fugaz. Mesmo da mulher afirma o Sbio, ser louvada
a que teme a Deus, por ser falaz e v a beleza.
H, porm, um conjunto de belezas de ordem moral,
religiosa. Ei-las :
1) A beleza da unio conjugal. - "Essa unio repou
sa sbre o mais belo contrato que h na terra. Contrato
majestoso, esplndido pela doao do que h de maior no
mundo : entrega mtua dos corpos ; entrega do que a alma
encerra de melhor : a afeio, o devotamento, uma fidelidade
inviolvel. E' belo na sua durao. E' grandioso no seu des
tino, que povoar a terra e encher o cu".
Mais : Essa beleza " santificada pelo sacramento do ma
trimnio". Sacramento realizado pelo contrato, inseparvel
dle. Religiosos e religiosas. contentam-se com a emisso dos
trs votos de pobreza, castidade e obedincia. E, conforme
o caso, podem ser desatados dsses votos. S pessoas desti
nadas a exercer uma fecundidade espiritual ou corporal -
o sacerdote e os pais - tm seu estado elevado a sacra
mento. E o sacramento do matrimnio no se acaba com
a cerimnia na igreja, como se d com outros. Continua,
perdura ; sacramento permanente.
2 ) Beleza da criana regenerada pelo batismo. - "Cres
cei e multiplicai-vos - foi ordem do Criador. Um filho
para ocupar no mundo o lugar do pai e da me uma sub
trao. Dois filhos . . . um estado estacionrio . . . Com trs
comea a multiplicao" . Cada filho batizado nova paisa
gem de beleza sobrenatural. Com o batizado aparece o cris
to, o filho adotivo de Deus, o incorporado a Cristo. Em
suas almas h tesouros divinos. Valem o que vale o sangue
de Cristo.

253
3) Beleza da criana purificada pela penitncia. - Se
a fraqueza humana fz teu filho cair, a confisso eleva-o
graa outra vez. E' o filho prdigo revestido com suas ves
tes ricas e anel precioso. Quando a famlia inteira vai
confisso, quanta beleza que reaparece ou recebe nova luz
de esplendor !
4) Beleza dos membros da famlia fortalecidos pela Eu
caristia.- Comungam pela primeira vez teus filhos. Data
que a famlia tem de solenizar e gravar no seu calendrio.
Cristo vida e sua chegada s almas vida nova. Comun
ga a famlia inteira, em certos dias ? Outra paisagem be
lssima de almas robustecidas por Deus. Ao redor do po
para o corpo, sentados mesa, os membros de uma fam
lia sustentam e fortalecem sua vida. A rosa da sade de
sabrocha no rosto dos filhos bem alimentados. E com isso ale
gram-se os pais. Com maior razo ser ste o caso, em se
tratando da sade da alma, da mesa eucarstica.
5 ) Beleza do filho de alma 'revigorada pela crisma. -

Como se alegra um pai com o porte gracioso e sadio de


um filho ! Como olha contente para seu fsico que se desen
volve bem ! Passemos isso para a alma, com sua vida so
brenatural robustecida pelo sacramento da Confirmao. Ro
bustecida a f, a vontade, o carter cristo. Se os pais co
mentam contentes os progressos da inteligncia nos estudos
do filho, por que no fazer o mesmo com a outra luz da
alma, a f ? Data histrica h de ser essa da crisma.
6) Beleza das horas em que Deus passa. - Deus pas
sa chamando para vocaes, escolhendo para o sacerdcio,
para o estado religioso um dos teus. Seria lamentvel, se
o leitor fsse um cego para tanta beleza. Outras vzes
Deus passa ou com a felicidade ou com as provaes de
doenas, fracassos. Os filhos ho de guardar na alma a ati
tude crist dos pais nessas horas. A vida no lhes poupa
r sofrimentos, que a f espera aceitos na mentalidade de
predestinados configurao com Cristo glorioso, porque a
le se "conformaram" no sofrimento.
A repetida atitude crist, em tais horas, forma as tra
dies abenoadas de que j temos falado. E' como um lema
gravado entrada da casa onde mora a famlia. Um bra
so de nobreza crist.

254
Por isso tudo o pai um responsvel. Preocupe-se com
o batismo dos seus, sem adi-lo por mais de dez ou onze
dias. 1
Escolha para o filho cristo o nome de um cristo san
to. Crisma, primeira comunho, casamento religioso, voca
o religiosa ou sacerdotal com suas datas de cerimnias,
ho de lhe merecer tda ateno e desvelado devotamento.
Se faltarem tais sentimentos em tua vida, leitor, dars prova
de fraco senso cristo. No sabers despertar sadios entu
siasmos ou deslumbramentos perante essas belezas de or
dem espiritual . Falhou assim tua influncia, num ponto vi
tal, para a educao crist dos filhos cristos.
7) Beleza do amor humano elevado a sacramento no
matrimnio. - A chama da vida e do amor deita labaredas
no corao dos filhos. Querem transmitir o facho da vida,
querem um amor humano abenoado. Vo ao altar dizer o
"sim" por tda a vida. E o pai cristo preocupou-se para
no faltar a beleza das almas bem preparadas para o sa
cramento. Passa tal beleza no desfile dos jovens esposos,
que se retiram da igreja de braos dados, santificados no
seu amor, carregados da graa de Deus pelo sacramento dig
namente recebido, depois de bem preparado.

VIII

50. GRANDEZAS E SERVIDES DA PATERNIDADE


so claras, inegveis e imperiosas. Ningum pode es
quivar-se de seu trono ou de seu jugo. A est a dignidade
de ser todo pai um representante e delegado de Deus j unto
mulher e aos filhos. O nome de Pai, atribudo por Cristo
a Deus, volta 144 vzes s no Evangelho de S. Joo. H
algo de divino na autoridade paterna.
1 ) Diz o C6digo do Direito Cannico : "As crianas sejam ba
tizadas quanto antes, e os procos e pregadores com freqncia exor
tem os fiis sbre essa sua grave obrigao (cnon 770 ) .
A respeito do nome : Cuidem os procos que se d aos batizan
dos o nome cristo. No podendo consegui-lo, ajuntem ao nome im
posto pelos pais outro de algum santo, e ambos os nomes sejam ano
tados no livro dos batizados ( cnon 1761 ) .
A respeito dos padrinhos : H de ser um batizado, j com uso
da razo, no pertencente seita hertica ou cismtica, nem exco
mungado, nem infame por infmia de direito, ou excludo de atos le
gtimos (cnon 765 ) .

255
"Bossuet tem esta frase : O primeiro imper10 entre os
homens um imprio paternal, Deus colocou em nossos pais,
por serem les de certo modo autores da nossa vida, uma
imagem do poder pelo qual tudo fz. Transmitiu-lhes tam
bm uma imagem do poder que tem sbre suas obras. Por
isso logo depois dos mandamentos que mandam adorar o
Senhor, e s a !:le, ajunta o preceito de honrar o pai e a
me, para ser longa a vida na terra. !:ste preceito como
uma conseqncia da obedincia devida a Deus, que o ver
dadeiro Pai" ( Charmot) .
Est a o privilgio da bno paterna. " Desde o co
mo o pai de famlia aqule que abenoa. E' um seu pri
vilgio, sua funo. Na Bblia a bno nos vem apresen
tada como a obra fecunda do pai sbre as geraes seguin
tes. O pai imita a Deus e Jesus Cristo ; suas bnos eram
criaes e faziam milagres. Todos os patriarcas considera
ram sua bno como o mais autntico ato de suas pater
nidades. As mes e seus filhos sempre a estimaram. Quem
desconhece as artimanhas de Rebeca em favor de Jacob ?
At Cristo a bno paterna passava como a mais rica por
o dos bens familiares. Nela via-se como que um sacra
mento eficaz que tornava os filhos outros herdeiros das pro
messas. Deus que abenoa era chamado "o Deus de vosso
pai" . E a bno dsse pai acumulava sbre a cabea do fi
lho todos os favores dispensados aos antepassados : "As bn
os de teu pai excedem as que le recebeu de seus pais
( Gn 49, 26) .
E' claro, tal bno no denota apenas um rito ; pouco
importa levantar ou no a mo sbre a cabea de um fi
lho. E' o esprito que, animando-a, impede de ser ela sim
ples caricatura. O pai antes de tudo deve ser e aparecer,
aos olhos dos seus, como o intermedirio sagrado entre Deus
e a famlia. E' o depositrio dos dons que no esto presos
ao exerccio sobrenatural do sacramento da Ordem" . '
A est a imolao do filho. A todo pai Deus pede o que
pediu a Abrao : o sacrifcio de seu Isaac. No se trata de
matar o filho. Trata-se de entreg-lo sua vocao, ao
seu futuro. Trata-se do sacrifcio de no o educar para
o egosmo paterno, nem mesmo para o egosmo da famlia

' ) R. P. Charmot, S. J., Esquisse d'une Pdagogie Familiale,


pp. 56-59.- Spes Paris ; 1946.

256
ou da ptria. ste filho tem de entrar na circulao to
tal do corpo da humanidade, diz Charmot ; ou melhor, no
grande Corpo mstico de Cristo.
Existe ainda a servido da incompreenso. O pai de fa
mlia deve muitas vzes resignar-se, no a ser desconheci
do, mas sim mal conhecido dos filhos. Sua freqente ausn
cia de casa, sua misso ingrata de manter a autoridade, de
presidente do tribunal domstico, que - infelizmente !
funciona mesa, motivam sse desconhecimento ( Buck) .
No falta a servido da vigilncia de si mesmo no
amor aos filhos. sse amor no pode ser absorvente da de
pendncia do amado. No pode envolv-lo com prejuzo da
necessria e progressiva liberdade.
Possivelmente a solido desfilar entre as servides. A
mesa da sala j se tornou grande demais . . . para os velhos
pais. Faltam os comensais que, crescidos e nutridos, de
bandaram atrs da vida, numa corrida de facho simbli
co a ser transmitido.
Nessa hora voltaro com freqncia os filhos, cujos pais
lhes deixaram a impresso de se terem sacrificado por les.
Refiro-me no apenas ao sacrifcio do po e da educao,
mas sobretudo ao do corao. No foi egosta e aambar
cador o amor, mas soube contentar-se com seu papel de for
mador desinteressado. Respeitou-os como . . . destinos.
Um pai no foge servido da contnua adaptao. -

"Um menino de 10 anos j quase no o mesmo menino


de 5 anos. O adolescente de 15 anos olha por cima do om
bro do garto de 10 anos. Ao mesmo tempo o homem de
40 anos ao chegar aos 45 nada mudou, por assim dizer.
Custa aos pais constatar como de dois em dois anos, mais
ou menos, at adolescncia, se opera uma verdadeira re
voluo na vida do filho. Acostumados a trat-lo como ga
rto no como da vida, ficaro margem de sua evolu
o se omitirem uma grande vigilncia sbre si mesmos" . '
Ora tal adaptao trabalhosa, exige renncia at de
carinhos e nomes, j no tolerados pelo filho. Tambm o pai
precisa viver podando na vinha de seu amor paterno, em
benefcio do fruto esperado.
' ) Jacques Leclercq, obra citada p. 181.

257
51. ESCOLAS E CINCIA
- A cincia que aprendemos depende da escola em que
estudamos. Falo de experincia. Na escola do mundo apren
di fazer o papel de louco. Na de Satans, a maldade. Na
da carne, s o pecado. Na dos homens, s o dio. Mas na
tua escola, meu Deus, aprendi s o amor.
Assim Guevara resume seus progressos. E os de seu
filho, leitor, no se pautaro por outros padres de escolas.
Escolas, colgios, academias, aprendizagens formam grave
problema para o pai e educador cristo.
Suas preferncias sero, o mais possvel, pela escola ca
tlica. Tendo de servir-se de outras escolas, antes de tudo
ir indagar da mentalidade religiosa e moral dos profes
sres, da direo. Certamente, nem sempre uma educao
religiosa assegura o triunfo da moral. Mas uma educao
arreligiosa ou irreligiosa quase sempre garantia de uma fa
lncia. A escola neutra absurda. Ignorar a Deus e o seu
Declogo j tomar partido contra le. Acresce que o exem
plo do mestre mais eloqente do que suas palavras. No
h exemplo neutro. A vida no neutra.
Pio XII, o grande amigo dos lares, aconselha : " Deixai
crescer o menino na lmpida aura da famlia crist. Dai
lhe uma escola que, combinando com a casa paterna e com
a Igreja, trabalhe na s formao da j uventude. Os pais
tm um direito primrio de ordem natural educao da
prole ( como dizia nosso glorioso predecessor Pio XI) , in
violvel, anterior ao da sociedade e do Estado" 1 - ste
aplo torna-se mais vivo, vista do desrespeito e da vio
lao dsse direito em nossos dias. Pio XII dizia, certa vez,
que aos pais se pedir um dia todo esfro pela indepen
dncia da Igreja, pela educao dos filhos e pela escola cor
respondente. Em determinadas regies se poder chegar a
uma luta sem trgua. '
Convm que o leitor saiba uma coisa : na Igreja tem
a famlia uma indomvel e corajosa defensora. Previne o
Pai comum : Cuidado, pais, com o conceito materialista que
sujeita a famlia a uma servido moral, reduzindo os pais,
em questo de educao, condio de condenados degra-
1 ) Voi. 111 p. 326, aloc. aos Mestres catlicos, 18 Set. de 1946.
') Vol. X p. 219, Radiomensagem ao 729 Congresso dos catlicos
alemes, 5 de Setembro de 1948.

258
dados do poder paterno. - Cuidado com o liberalismo,
cujos representantes invocam o princpio de liberdade de
conscincia, de tolerncia nas matrias referentes vida es
piritual, sobretudo religiosa. Assim falam. Mas, conquistan
do o poder, apressam-se em violar a conscincia e impor
parte catlica do povo um j ugo opressor, especialmente no
que diz respeito ao direito dos pais educao de seus filhos.
Corno ir urna escola neutra, liberal, materialista, de
perspectiva reduzida ao terrestre, educar a contento de pais
tementes a Deus, cristos de hoje e cidados da cidade
celeste, amanh ?
Lembre-se o leitor que pai : A palavra educao traa
fronteiras bem largas. "Trata-se de formar o homem com
suas faculdades gerais e com suas qualidades individuais,
assim corno o exigem a sociedade e a religio. Um homem
de razo, de senso, de gsto. Um homem de coragem, de
vontade firme e reta. Um homem corno foi criado por Deus
e regenerado por Cristo. Um homem de f e de conscin
cia. Um homem de seu sculo, de seu pas, no perfeito
sentido destas duas palavras" ( Ren Bethleern) .
No sei se tenho no leitor um pai retratado nestes tr
rnos de Pio XII : " Em muitos pais, pouco instrudos cris
trnente ou pouco praticantes, a preocupao limita-se ape
nas a isso : fazer os filhos crescerem materialmente ou
quando muito lhes dar urna profisso. Mas o crescerem ape
nas na idade do corpo seria um crescimento digno das plan
tas e dos animais sem razo. E' preciso que cresam na
sabedoria, que dada pela f em Deus e pela viso com
pleta dos prprios deveres. Ento o vigor do corpo, que acom
panha e ernbeleza o florescimento da j uventude, no fica di
minudo ou rebaixado, seno exaltado e enobrecido pelo es
tudo da cultura religiosa e da virtude que domina as pai
xes. ( Aloc. aos Jovens da A. C., 8 de Novembro de 1940 ) .
E assim "ao lado de um bero tero de estar dois pais
e dois mestres : um natural e outro espiritual. E corno as
almas no podem, segundo o plano ordinrio de Deus, viver
cristrnente e salvar-se fora da Igreja e sem o ministrio
dos sacerdotes, para isso destinados com o sacramento da
Ordem, - assim no podem de ordinrio crescer crist-
") Vol. XI, p. 254, aos Delegados da Unio dos Org. Familia
res, 20 de Setembro de 1949.
mente fora de um lar e sem o ministrio de pais, abenoa
dos e unidos pelo sacramento do Matrimnio" ( Aloc. aos
Esposos, vol. III, 15 de Janeiro de 1941) .
Da o nome de sacerdotes que o Papa d aos pais, que
so precursores na edificao do templo da Igreja.
Diante de tudo isso, pergunto que lugar pode ter na
conscincia de um pai, na sorte de um filho, a escolha de
um colgio protestante, sectrio ? Deve o leitor saber que
h uma pena de excomunho para os pais, que mandam seus
filhos para tais colgios, quando nles se ensina a heresia
ou se obriga o aluno participao no culto. Mesmo isso
no se dando, gravemente ilcito ao pai expor o filho a
ficar contaminado pelo rro, desfibrado pela dvida e in
diferentismo. No nmero 34 desta segunda parte vem tudo
bem explicado.
Um pai temente a Deus consultar a quem de direito,
antes de escolher escola e colgio para os filhos.

52. VIGILNCIA INDISPENSAVEL

O dogma do pecado original e de suas consequencias en


sina uma verdade, que a experincia demonstra. Verdade,
por outro lado, de indispensvel conhecimento para o leitor
casado. E i-la : os instintos do homem sejam quais forem,
- so bons em sua tendncia normal, profunda, e na na
tureza de suas exigncias. Mas so habitualmente tumultuo
sos e excessivos, quanto medida dessas exigncias.
So conhecidos os excessos no comer, no beber, nos es
portes, no gzo, dentro e fora do matrimnio. Quem deve
vigiar tais instintos a razo, a vontade fortalecida pela
graa. Marido que se entrega procriao, simplesmente
por instinto, sem previses, no merece louvor. E isso por
mais de um motivo. Pois falta caridade devida esp
sa, de sade pouco resistente, ou cansada por repetidas ma
ternidades, quase contnuas. Falta ateno que deve a seus
justos desejos. Falta temperana no exerccio de um di
reito, ainda que legtimo. Peca contra a prudncia.
E assim, leitor, preciso vigiar o instinto, que dorn
vel pela graa do sacramento. Bem pode chegar o momen
to em que, com tda lealdade, ters de concordar com tua
mulher : ternos de parar com os filhos. Num lar ste mo-

260
mento poder apresentar-se depois do segundo, do quinto,
do oitavo filho. Em outro, ser diferente. Tudo depende das
situaes individuais e concretas.
Nesta altura o nico mtodo lcito est na abstinncia
total ou parcial. Esta, sabidamente, respeita o ato natural das
relaes conj ugais. Tal continncia peridica, motivada por
razes justas e adequadas, nada encerra de antinatural. No
negamos, ela no a expresso espontnea do amor instin
tivo que no consulta calendrios e folhinhas e luas. E' an
tes "uma disciplina do amor, mas respeita os atos naturais
bsicos, conserva intactos os prazeres providenciais das re
laes e salvaguarda a dignidade dos cnjuges".
No tire o leitor uma conseqncia precipitada do ex
posto, julgando ser lcito usar ste mtodo sem causa pro
porcionada ou por motivos inconfessveis. E' a velha his
tria : um fim honesto no justifica o emprgo de meios
desonestos. Vamos inverter os trmos : o emprgo de meios
honestos no legitima a procura de um fim ilcito. Um ato
s moralmente bom, se os meios e os fins pretendidos
so moralmente bons.
A continncia peridica honesta, mas nem por isso
pode ser empregada para abusar de uma limitao de nas
cimentos, cujo nico motivo se chame egosmo, desejo de
evitar o freio que a presena dos filhos impe liberdade
no lar. E' assim, leitor. A m finalidade de um ato estraga
uma ao, apesar de serem bons os meios empregados.
Encontra-se, porm, uma famlia nas condies aprova
das para restringir os nascimentos, ou espa-los. ? Poder
neste caso empregar com segurana de conscincia a con
tinncia de calendrios.
Pio XII falou com clareza : "Abraar o estado conju
gal e subtrair-se sempre e deliberadamente, sem um moti
vo grave ao seu dever primrio, seria pecar contra o pr
prio dever da vida conjugal. Motivos graves podem nascer
de uma indicao mdica, eugensica, econmica e social . A
observncia da tabela dos dias lcita nas condies men
cionadas. Mas no havendo tais razes graves, pessoais ou
derivadas das circunstncias exteriores, a vontade de evi
tar habitualmente a fecundidade da unio no pode nascer,
seno "de uma falsa apreciao da vida e dos motivos alheios
s retas normas da tica". ( Discurso de 29 de Out. de 1951 ) .

261
Nunca ser demais repetir verdades, sempre contesta
das ou postas em dvida. Est o leitor lembrado do nmero
de granadas necessrias para abrir uma brecha em muralha
de fortaleza ? Pois a muralha do rro exige a mesma t
tica : bombardeio constante pela verdade.
Portanto, meu amigo, vigilncia, policiamento das idias
e dos instintos !

63. VIDA LEVEDADA


O cristianismo tem dogmas que no so alheios vida
de cada dia. No uma doutrina esotrica. Tem muito que
nos ensinar sbre as coisas profanas. E' como um fermen
to que leveda os dias, os atos e as situaes da vida.
"Sem dvida, o cristianismo uma revelao. Mas a
luz que esclarece nossa razo deita fulgores sbre todos os
objetos dste mundo. Na sombra ficam apenas aqules que
deixamos ou metemos na sombra. H uma teologia sbre a
SS. Trindade, uma teologia sbre o Verbo Encarnado, uma
dos sacramentos. Mas existe tambm uma teologia dos con
tratos, do uso dos bens terrestres. Uma teologia do tra
balho, uma teologia da mulher, uma teologia da gerao.
Pois tudo est numa certa relao com a SS. Trindade e
com a Criao. H um conhecimento dos sres que se pren
de s vistas da f e que tem em conta a realidade do so
brenatural no mundo.
Os moos devem saber o que vem a ser a mulher con
forme a verdade da f. Essa cincia faz parte do catecismo
ou do humanismo cristo".

E Charmot exige que se exponha aos moos o ideal cris


to da mulher. Nada de esperar pelo casamento. Nossos
moos no tm idia verdadeira, mas deturpada neste ponto.
So influenciados pelo gsto, pela cultura, pelo temperamen
to, pelos intersses e pelas paixes. Faltam-lhes princpios
claros, tipo estacas. Ningum lhes mostra a mulher coloca
da nessa esteira de luz, que a revelao crist.
Para o cristianismo a mulher obra de Deus, ornada
e enfeitada de prendas para ser auxiliar, companheira do
homem e com le princpio de outras vidas. E' flor que
dar seu fruto. Ao cri-la, intencionava Deus humanizar o

262
homem de um modo mais ideal e mais completo. Mais ideal,
no sentido da pureza. Mais completo, em ordem gerao.
Se teu filho, leitor, sabe apreciar na sua mocidade a
beleza de esttuas, de quadros, de melodias - coisas mor
tas, enfim - no pode ser um cego perante outras mara
vilhas vivas. Por apreciar a arte, ter por inviolvel a pu
reza de um rosto de pedra. Mas no ser "um selvagem",
estupidamente cego pureza de um corao, de uma alma
de ma ? Idealista e humanista na homenagem que presta
a criaes humanas, uma toupeira perante as criaturas
de Deus.
A mulher foi criada em colaborao com o homem, por
Aqule que espalhou a beleza no mundo. Muitos tesouros
lhe foram confiados e tm de ser respeitados a qualquer
preo. Roubada, depreda e despoja, num saque j prover
bial, a quem a seduziu ou diminuiu.
Para um pai cristo h outro argumento poderoso, para
incutir no filho mo o respeito e a reserva perante a mu
lher. O destino eterno de sua alma, o tesouro da graa san
tificante, a ressurreio gloriosa dos corpos - bens acima
de qualquer oferta dste mundo, - falam com eloqncia
no caso.
Ora, leitor, em teu lar h de existir um clima de res
peito pela mulher. E le implica com quadros nus, como
revistas imorais, com romances lamacentos, ( como se existis
sem na vida somente dias de chuva, de tempestades ! ) , com
cinemas, televises onde a melodia o "sex-appeal".

54. MARIDOS FRACASSADOS


correm sempre o risco de outro fracasso como pais e
educadores. Ningum pode levantar sua vida sbre um fra
casso. Sobretudo quando se refere a uma das atividades mais
instintivas, mais profundas e mais tirnicas. O marido fra
cassou no leito conjugal, no encontrando a consonncia fi
siolgica, desejada e procurada ; a afetiva, a emotiva tambm.
Neste caso pode acontecer que procure um "sucedneo" ,
uma compensao afetiva ou emotiva. Esta no precisa neces
sriamente ser uma amante. Pode ser uma fico qualquer.
E' sabido, entretanto, que quem foge realidade para cair

' ) Fr. Charmot, L'Amour Humain. - Spes, 1948.

263
no imagmarw. recusa-se, ao menos implicitamente, s leis
da vida. Assim, por exemplo, um marido dominador, porque
fracassado na vida conjugal, pode tornar-se um pai intransi
gente a respeito do filho. Aceita-o ste ? Eis uma criatura
asfixiada. Reage ? Eis a desunio, o desamor, as portas tran
cadas dentro da alma.
Ou ento houve a inevitvel decepo do amor. Em ge
ral o homem no gosta de confess-la, embora a sinta vi
vamente. Sendo consciencioso e intransigente no ponto de
fidelidade, sse marido atira-se sua atividade profissional,
deixando o filho mais ou menos deriva.
Enquanto persistir o conflito afetivo, emotivo entre pai
e me, o mtodo pedaggico ser influenciado por le. Pouco
importa seja sse conflito intermitente ou latente. Na educa
o cometero dois erros bsicos : ceder s perturbaes afe
tivas e sancionar suas conseqncias, sem remediar suas causas.
No se esquea o leitor da posio do filho em casa .
le no uma justaposio entre seu pai e sua me. E' uma
"presena" mtua, que implica trocas afetivas recprocas e,
antes de tudo, uma verdadeira consonncia entre todos os
membros da comunidade familiar. Existem elas ? A criana
est no seu clima de boto que se abre. No existem ? Eis
que o filho se ton1a um problema para os pais, e, o que
pior, um problema para si mesmo.
O fracasso pode ser de outro gnero. O marido espe
rava uma filha. Veio um menino, o qual provoca uma certa
animosidade do pai. Em troca a me lhe mostra denotada
preferncia. E entra na linha da animosidade do pai. H
casos em que s outros nascimentos posteriores aplainaram
a desavena.
O conflito conjugal, inimigo da educao dos filhos, pode
nascer de uma espcie de cime difuso. O pai censura a
me por deixar-se absorver pelo filho homem. E esta es
tranha-lhe o "ser bbo" pela filha. le notar que na es
psa os devotamentos maternos so maiores do que os con
jugais. Ela far o mesmo reparo no marido. Da um mal
estar que pode chegar incompreenso recproca.
Portanto, certas dificuldades pedaggicas na famlia tm
um carter conjugal. No se entendendo as almas e os cor
pos, andaro por outros rumos as vontades, os mtodos do
pai e da me. A vtima ser o filho, convertido mais tarde

264
em algoz. Entre pai e filho no basta uma neutralidade
feita de recproca tolerncia. Essa no lhe d armas contra
as grandes tentaes morais e religiosas da mocidade. Falta
a intimidade confiante.
Eis o que respiguei, livremente, em Buck.

55. DO CORPO UMA, DA ALMA CEM


vzes tem o homem a paternidade na famlia, na fra
se de certo poeta italiano. Sem dvida a expresso feliz,
mas impressiona e abala a conscincia, lembrando respon
sabilidades.
O amor paterno ter como funo, sendo criador da
vida, dar essa vida sob tdas as formas e em todos os do
mnios preparados pela Providncia. Est a a vida do cor
po que reclama cuidados e vigilncias. Ora, de tdas as vidas
dadas por Deus "a do corpo a menor". S porque a deu,
j ser o leitor um pai integral ? Ser ela um benefcio, sem
a vida da alma espiritual e imortal ? Que vale a vida dos r
gos sem a outra das faculdades superiores ? ( E . Roupain ) .
"Mas, por sua vez, que vale no pensamento de Deus a
vida da alma sem a graa ? sse acrscimo - a graa -
gratuito mas obrigatrio, indispensvel. Debalde temos uma
alma espiritual e imortal por natureza, se faltar ao seu des
tino, por estar privada do estado sobrenatural, condio de
sua ltima finalidade.
:sse estado sobrenatural da alma tem um responsvel :
o pai. E' responsvel perante a sociedade crist e perante
Deus. No o nico responsvel, sem dvida, visto ter a
Igreja direitos sbre a alma.
Em nada fica diminuda a responsabilidade paterna
perante sse direito primordial da Igreja. Pelo contrrio.
Cresce a obrigao de o pai secundar essa misso da Igreja.
Torna-se mais sagrado o direito que a criana tem de tal
cooperao.
Ao pai, na qualidade de chefe da famlia, cabe apre
sentar seu filho Igreja. Deve-lhe o batismo, como lhe
deve o alimento, a roupa, a educao . . . E esta alma, pas
sado o batismo, h de ser trabalhada pelo pai, a fim de
que se desenvolva o germe divino nela depositado" .
Se, pois, a vida d o corpo mete sobressaltos n a alma
do pai, muito maiores ho de ser suas preocupaes pelo es-

265
tado sobrenatural da alma do filho. Sabe o leitor que, pelo
pecado - sobretudo mortal - se enfraquece ou morre essa
vida. Sendo cristo de verdade, ter tambm muito empenho
em guardar o filho, de livr-lo dessa "morte evitvel" .
Pio X I I tem belas palavras n o caso : - "Recordai-vos
de que, quando chamais aos filhos de herdeiros do vosso
sangue, deveis referir-vos a algo mais alto do que a mera
gerao corporal. Sois - e vossos filhos o devem ser -
rebentos de uma estirpe de santos. Dizia-o Tobias sua jo
vem espsa : " somos filhos de santos". Isto , de homens
santificados e participantes da natureza divina por meio da
graa sobrenatural . . . Por conseguinte, num povo de bati
zados, quando se fala de transmitir o sangue aos descen
dentes - que devem viver e morrer, no como animais ir
racionais, seno como homens cristos, - preciso no res
tringir o sentido daquelas palavras a um elemento pura
mente biolgico e material. Mas, sim, estend-lo ao que como
a seiva nutritiva da vida intelectual e espiritual : o patri
momo da f, da virtude, da honra.
E continua o homem de branco : Todos os que tm re
cebido a graa do batismo. podem dizer-se "prncipes de
sangue", de um sangue mais do que real : divino. Inspirai
pois, queridos recm-casados, tal estima desta nobreza, que
vossos filhos prefiram sofrer tudo a perder um tesouro to
precioso" .

" Neste assunto o esfro paterno j tem seu progra


ma. E i-lo : tudo o que pode tornar a alma mais sadia, mais
forte, mais til e lhe dar vigoroso impulso na estrada para
o cu, na qual Deus a colocou. Portanto :
uma conscincia clara, tda crist ;
um carter fortemente temperado, verdadeiramente
cristo ;
uma carreira honrada, sobretudo crist - sero as eta
pas e os meios para sse belo programa, observa E. Roupain". '
Sertillanges aponta ao pai a coleo de vidas : "A vida
da alma em todos os graus e respeitada a jerarquia dles :
sensibilidade bem equilibrada, carter bem temperado, inte
ligncia bem formada ; vida religiosa slida, inteligente e fiel,
apoiada por parte do pai com o exemplo".

' ) Alocuo aos recm-casados 3 de Julho de 1940.


) Ibidem p. 227.

266
A primeira gerao fsica, a segunda, a terceira, a
centsima moral, espiritual, religiosa. O grande apstolo e
educador S. Paulo fala "de filhos que torna trazer luz",
at que nles se forme o Cristo.

56. NOS BANCOS DA ESCOLASTICA

No fica o leitor rebaixado, se por algum tempo to


mar lugar entre os alunos da Escolstica, ouvindo a se
guinte preleo. Belas paisagens de almas, corretas avalia
es domsticas, preciosas flechas pedaggicas sero o pr
mio desta aplicao.
Ensinam os escolsticos que na alma sensitiva esto pre
sentes dois apetites : o concupiscvel e o irascvel. Ambos,
remotamente, procuram uma s coisa : o bem. Agora, as
sim de momento, h uma diferena. O apetite concupisc
vel quer o bem para o sentido, enquanto tal ( deleitvel ) .
E o irascvel quer a extirpao do obstculo, que impede
a aquisio dsse bem.
Se o animal e a criana no possussem seno o ape
tite concupiscvel, o obstculo que lhes impedisse a aqUisi
o do bem, nles apagaria ou, pelo menos, diminuiria a
intensidade dsse apetite. Mas no se d isso. Antes, pelo
contrrio, a experincia ensina que tal obstculo aumenta
ainda mais o vigor do apetite. E' o que leva o animal a sub
meter-se determinadamente ao que, em espcie, lhe noc,ivo
contanto que possa finalmente alcanar o bem.
H um influxo ? Eis o animal mantendo-se de um modo
mais passivo, com respeito ao apetite concupiscvel. Sofre
o influxo do objeto que o atrai. Com respeito ao apetite
irascvel mantm-se pelo contrrio mais ativo. Emprega es
foros no sentido de triunfar dos empecilhos. H seis es
pcies do apetite concupiscvel e cinco do irascvel. E i-las
num esquema :

NO APETITE CONCUPISCfVEL
Amor, com relao ao bem em ge dio, com relao ao mal em
ral. geral.
Desejo, com relao ao bem au Fuga, com relao ao mal ausente
sente.
Gzo, com relao ao bem presen Dor, com relao ao mal presente.
te e possudo.

267
NO APETITE IRASCVEL
Esperana, com respeito ao bem Desespro, com respeito ao bem
possvel. impossvel.
Audcia, com respeito ao mal su Temor, com respeito ao mal i:u.
pervel. supervel.
Ira, contra a causa do mal.

Como vs, leitor, o rduo, o difcil, o obstculo inte


ressa ao apetite irascvel, dividindo-o nestas cinco espcies
citadas. Mas se o bem fr possudo, perde o seu carter de
rduo.
Tudo isso passa como nuvem pelo cu das almas com
que vives em casa. So as paixes da alma, indiferentes
em si. Boas ou ms, conforme o que as motiva. So os
"kilowatts". Para construo e destruio na via pessoal e
social.

IX

57. CANON 1113.

E' bom que o leitor, sendo pai, decore sse cnon do Cdigo
do Direito Cannico. No dia 23 de Maro de 1952 Pio XII
lembrava-o, pelo fim da Jornada da Famlia.
"E' a famlia o bro do nascimento e do desenvolvi
mento de uma nova vida, que, para no perecer, deve ser
cuidada e educada. H nisso um direito e um dever fun
damental, dado e impsto imediatamente por Deus aos pais.
Contedo e finalidade da educao, na ordem natural, o de
senvolvimento da criana, para tornar-se um homem completo.
Contedo e finalidade da educao crist a formao
do novo ser humano, renascido no batismo, para ser um per
feito cristo. Tal obrigao, orgulho e praxe das famlias cris
ts, est solenemente sancionado pelo Cnon 1 1 13, que reza :
"Tm os pais gravssima obrigao de procurar, com todo
o empenho, a educaao de seus filhos, tanto a religiosa e rno
ral, como a fsica e civil, e de prover tambm a seu bern
temporal".
E aqui lembro, com o homem de branco, a conscincia da
criana, do filho. E' ela um santurio em cuja soleira ho
de parar os pais. S o ministro de Deus pode nle penetrar,
no sacramento da penitncia. Mas respeitando pelo silncio

268
os segredos que ouviu. E assim mesmo os pais devem for
m-la. Isto , ilumin-la sbre a vontade de Cristo, sbre
sua lei, suas exigncias. Significa agir sbre a vontade para
lev-la a querer em tda parte o que Deus quer. 1
Nada de conscincia individual, livre de tda orienta
o da Igreja de Cristo, determinando por si mesma o bem
e o mal, nas vrias circunstncias do tempo e das coisas.
No sse o clima natural da conscincia humana, que de
sambientada s pode produzir frutos envenenados.
rro funesto , outrossim, a separao da atividade hu
mana - cincia, arte, poltica, economia, - da moral e
de suas exigncias. A criana no pode sofrer o trauma
tismo de ver, mais tarde, mudar-se a avaliao das coisas e
dos atos. A separao terica e simples no tem sentido na
vida humana, que sempre uma sntese. Pois sempre o
homem o sujeito de qualquer atividade. Seus atos livres
e conscientes nunca fugiro valutao moral.
E Pio XII arrematava : "Educai as conscincias de vos
sos filhos com tenaz perseverana e empenho. Educai-os no
temor como no amor de Deus. Educai-os para a veracidade.
Mas sde verazes, vs mesmos antes de tudo, banindo da
educao tudo que no verdade. Imprimi nas conscincias
dos jovens o genuno conceito da liberdade, da verdadeira
liberdade, digna e prpria de uma criatura feita imagem
de Deus. Ela outra coisa que a dissoluo e o desmando.
Pelo contrrio, a provada idoneidade para o bem. E'
aqule resolver-se, por si mesmo, a quer-lo e cumpri-lo. E'
o domnio sbre as prprias faculdades, sbre os instintos
e acontecimentos. Educai-os a rezar, a procurar nas fon
tes da Penitncia e da Eucaristia aquilo que a natureza
no pode dar : a fra para no cair, a fra para levantar-se". '

58. LES SO TANTOS !

- Como se chama a criana ? - indagava o rapaz que


tomava, no Ambulatrio, os primeiros dados sbre um doen
tinho novo.
1 ) E' claro, com isso no fica vedado aos pais receber confi
dncias espontneas dos filhos.
-
' ) Discorsi e radiomessaggi di sua Santit Pio XII, vol. XIV.
Poliglota Vaticana, Roma.

269
O pai olhava a criana que trazia nos braos e respondia
com alguma dificuldade :
- Abe.
O secretrio escreveu na ficha "Abe" e prosseguiu no
questionrio. Quando terminou e ia chamar outro cliente, o
pai voltou :
- Com licena, eu me enganei ; o nome da criana
Max e no Abe.
O secretrio fz a correo e voltou-se para o outro pa
ciente, mas o pai tornou a det-lo :
- Desculpe, no Max ; Joe.
Pacientemente o secretrio raspou outra vez a ficha e
retificou. Mas o pai sacudiu a cabea :
- No est certo ; no Joe. E' Rodolfo.
O secretrio descansou a caneta e esperou :
- Vamos, ponha em ordem a sua cabea. Qual dles ?
- Na verdade no sei, confessou o homem. Temos um
punhado de crianas ; no sei bem qual esta.
Naquele tempo havia famlias to numerosas, que mais
de um pai lutava com dificuldades para conhecer os nomes
dos seus prprios filhos ( Dr. Isaac Abt) .
Nmero de filhos ! "A soluo dsse caso de conscincia
no deve ser procurada na arena dos fatos. Mas repondo a
eterna vocao maternal da mulher no seu eixo do sobrenatural.
Conhecer a medida da generosidade criadora de um lar
cabe a sse prprio lar. Os esposos, tomando conscincia da
misso que Deus lhes transmitiu, so como Deus os nicos
juzes sbre o nmero de seus filhos. Aps cada nascimen
to acertaro les, num sincero e leal dilogo com Deus, se
ser desejvel ou indesejvel mais um nascimento.
Podem ser numerosos os critrios reveladores da von
tade divina. Em primeiro lugar ponha-se a educao dos
filhos. No se trata apenas de fazer surgir um novo ser.
Dever estar assegurado seu crescimento fsico, intelectual
e moral. Plenamente. Se uma confiana ilimitada inerente
ao ensinamento evanglico, merece condenao e rejeio todo
" providencialismo cego".
Em segundo lugar, as razes de ordem mdica, econ
mica social pesam no caso. Se a fraca sade da me no per
mite razovelmente um novo esfro, se o salrio do pai de

270
famlia insuficiente, se a casa de moradia pequena de
mais, eis-nos diante de outros tantos motivos srios e s
vzes gravssimos para distanciar uma maternidade, ou mes
mo para cortar definitivamente o nmero de filhos. Esta
soluo moral catlica pressupe uma generosidade inicial, no
como do casamento. Em muitos lares ela no possvel.
Pois de antemo, num clculo frio e sistemtico, j se de
terminou o nmero de filhos, antes do casamento, pouco li
gando para a lei de Deus. O que a Igreja exige uma ra
zovel generosidade ao servio da vida.
Falta ao seu dever quem fica abaixo de suas possibilidades.
Quem atinge o mximo de suas possibilidades vive na
generosidade. Quem as ultrapassa por uma vida, sem as ne
cessrias renncias nas relaes, falta contra a previdncia
e peca contra a temperana e prudncia.

59. MOEDAS FALSAS.

Gente de bem no anda com elas no blso. No as uti


liza para permutas. E' vexame descobri-las com algum.
Pior, e mais nocivo do que moeda falsa, a noo fal
sa numa cabea. A apreciao errada, inexata dos valores
morais. Como a primeira no enriquece quem a usa, a se
gunda sacrifica valores morais. Um chefe de famlia precisa
defender-se contra ambas.
Por isso ponho aqui, citando Ricaud, umas noes e uma
tabela de valores. "Quando chamamos boa uma bicicleta, da
mos ao trmo um sentido muito diferente do que lhe atri
bumos, quando chamamos de boa uma ao. A realidade
obriga-nos a distinguir trs ordens de bens ou de males.
O prazer e a dor so um bem e um mal na ordem do
deleitvel. Uma ma, um cavalo, um desastre de trem, uma
voz de orador, numa palavra tudo que serve para alguma
coisa um bem ( ou um mal) na ordem do til. Pode ser
colocado na lista dos meios e do transitivo, que apenas che
gam a ser bons por referncia a um final que procura.
Diz-se de um remdio que bom, quando cura, embora no
seja bom de paladar. A medicina um bem til. Uma vir
tude, um pecado, uma pessoa humana, um santo, um anjo,
so bens ou males em si mesmos. Pertencem ordem dos

271
fins e do imanente. Seu valor de bondade, em vez de provir
do exterior, como nos bens teis, acha-se dentro dles mes
mos. Uma pessoa humana um fim em si. Tem valor em
si mesma, valor autnomo e intrnseco, independente de sua
possvel utilizao. Por exemplo, para serrar uma tora ou
guiar um automvel para o chefe. Chamamos espirituais
aos bens desta categoria. E isso porque somente na rbita
do esprito podemos encontrar realidades, que so, em si
mesmas, um universo subsistente por prpria conta. Se h
alegrias ou tristezas, nocividades ou utilidades, isso se d por
que tm por objetivo, ou por fim, uma realidade dessa ordem.
Podemos grafar assim o esquema das trs ordens de va
lores, que integram o bem total da pessoa humana :

ORDENS DO : l NOES ANALGICAS DO :


BEM e do MAL
Realizam-se sob a forma de

1 DELEITAVEL
ou
r PRAZER DOR

descanso no bem
"bem-estar"
l (alegria, ventura) (tristeza, desgraa)

2 TIL
be relativo, no em
r
SI mesmo. UTILIDADE NOCIVIDADE
Ordem dos meios ou
instrumento
l ( rendimento) ( desgaste)

BEM - em SI MAL em SI
A Pessoa Humana fun Tudo o que desintegra
damentalmente. e decompe a pes
3 BENS ESPIRI O que a realiza es soa humana em sua
TUAIS pecificamente : espiritualidade :
ou bens em si mes A RAZO O CONTRA-SENSO
mos, imanentes. Or O que eleva ao m que destri rebaixan
dem dos fins. ximo suas virtuali do a pessoa huma
dades do bem : na em todos os atos
de :
A VIRTUDE PECADO

E' a famlia o bero natural da ptria. D-lhe os fi


lhos e forma-os para futuras tarefas sociais. Responsvel,
como chefe, deve o pai saber apontar aos seus tudo que re
presenta real valor para a sociedade. Colocamos aqui um
quadro que assinala as trs ordens de bens para "a cidade

272
temporal" . Bens que merecem se lhes respeite a jerarquia,
a preferncia. Acompanhemos a Ricaud :

ORDENS EXEMPLOS

DELEITAVEL Jogos e A rtes de agrado e bem-estar

TIL
i Riquezas naturais, industriais, tcni
cas, finanas
Sade fsica da raa o o

= Patrimnio fsico.
BEM
Convivncia virtuosa dos homens. Tu
do que dela faz parte, a torna
COMUM possvel e fcil :
- As leis que se devem observar ;
- Ordem e paz na justia ;
DA - Confiana mtua ;
- Produes culturais do entendi-
mento ;
CIDADE - Educao e instruo ;
ESPIRITUAL - Salvaguarda da pessoa humana e
da famlia e dos direitos funda
TEMPORAL mentais ;
- Tradies espirituais, culto pbli
co a Deus ;
- Patrimnio intelectual e rnoral do
qual cada pessoa tira as condies
para seu desenvolvimento, e que
possibilita a mxima perfeio
da espcie humana.
l!:stes bens (ou males) possuem entre si relaes bem definidas.
Urge conhec-los, perfeitamente, ao menos na parte que deve servir
para esclarecer a objeo.

60. NICA E PEQUENINA

assim rezava uma criana : "Menino Jesus, no tenho


com quem brincar. Pedi mame arranjar-me um irmo
zinho ou uma irmzinha. Mas ela me disse que devia brin
car com a boneca. Mas minha boneca no fala, no chora,
no ri. Que devo ento fazer ? Diga-me por favor ! Eu no
sei onde mame ir arranjar-me um irmozinho. Tambm
no sei quando o far. Mas ela que me arranjou deve sa
ber. E' verdade, mame me deu de presente um cachor
rinho. Mas poderia ter feito coisa melhor. Pois o cachor
rinho muito peludo e s sabe latir. E eu estou precisan
do de um irmozinho. Eu te prometo que vou querer-lhe

273
bem e brincar muito com le, sem lhe fazer desaforos. No
quero parar de pedir-te isso, Menino Jesus. Por favor, no
me mande embora como mame . . . "
Haver em tua casa, leitor, culposamente uma criana
candidata a esta suposta orao ? Neste caso ela seria uma
prova pblica e viva da infidelidade em teu leito de casado.
Menciono umas hipteses, dentro da suposio de culpa, em
cujas malhas espero no venhas a cair.
"Podem os esposos estar de mtuo acrdo, conspirando
contra a vida. Com semelhante cumplicidade destroem o ca
rter moral do lao que os une. De um vnculo que por na
tureza todo generosidade, fazem um liame de egosmo e
crime. Pode tambm suceder que um dos cnjuges entre para
o casamento, disposto ao fiel e leal cumprimento de todos
os deveres.
Mas a outra parte, seja porque teve de incio sua cons
cincia extraviada e pervertida, seja porque mais tarde se des
viou da verdade e da honra, obscureceu-lhe a noo do de
ver. Por meio de agrados e persuases comunicou-lhe suas
falsas idias, roubou-lhe todo o horror ao mal. Transformou
lhe a vontade e assim, sem se dar conta, a parte honesta e
leal encontra-se ligada em uma unio despojada de tda
nobreza crist e mesmo humana.
Ou finalmente o cnjuge desonesto impe seus pontos de
vista, sua vontade, pela fra, presso moral ou por amea
as. Evidente abuso da ternura e da debilidade ! Nesta al
tura o amor est violentado, est ferida a espontaneidade da
entrega de si mesmo. Muitos dramas tm nascido da bruta
lidade de um marido egosta e licencioso, negando a glria
da maternidade espsa.
Lisbet Burger menciona as acusaes de uma espsa
frustrada em sua maternidade. Morria atirando horrveis
maldies contra o marido culpado". - Eis o que diz em
livre citao B. Lavaud. '
Repito a sentena de Pio XI : - Sempre que se peca
contra prole, peca-se tambm, de certo modo, e como con
seqncia, contra a fidelidade conjugal. Pois esto entrelaa
dos ambos os bens do matrimnio ( Enc. Casti Connubii ) .

') Obra citada p. 151. - E aponta ainda a infelicidade, a ver


gonha, a desiluso, os remorsos causados pelo mau cnjuge, que,
entretanto, devia ser causa da alegria e da paz no amor, da nobre
za do dever cumprido com honra.

274
61. HOMEM COMPLETO,

mesmo que pouco ou nada venha a saber da religio : eis


o que o sr. diretor deve fazer de meu filho ! - Assim ter
minava a recomendao de um pai, ao deixar o filho ma
triculado num colgio.
Bem mostrava completa ignorncia da definio que o
Sbio d sbre o homem integral : "Teme a Deus e guarda
seus mandamentos ; nisso est o homem completo" ( Ecli 12,
13) . No gostaria cometesse o leitor o rro censurado. Ou
casse no lgro de julgar consista a educao nos modos
polidos e urbanos, ou numa inteligncia bem formada, numa
vontade bem orientada, disciplinada. E' tudo isso apenas uma
parte. Com tda essa bagagem pode o homem ser um mal
vado, um perigo para a sociedade.
O ditado francs, "polido demais para ser honesto", est
revelando o rro citado. Note-se o leitor os rumos certos
apontados por Pio XI neste assunto.
Para le a educao consiste essencialmente na forma
o do homem, tal como deve ser e deve proceder na sua
vida terrena, para conseguir o fim sublime para o qual foi
criado. Na presente ordem, depois que Deus se revelou em seu
Filho Unignito - que caminho, verdade e vida, - no
possvel uma adequada e perfeita educao a no ser a
crist. E qual o seu fim ? Cooperar com a ao da graa divina
na formao do verdadeiro e perfeito cristo, isto , for
mao do Cristo nos homens regenerados pelo batismo.
Queres saber, leitor, os horizontes dessa educao ? Ela
abrange todo o mbito da vida humana, sob tdas as suas for
mas : sensvel e espiritual, intelectual e moral, individual,
domstica e social. Mas teu filho formado cristmente no
ser um mutilado, um diminudo. Eleva seu padro de ava
liao, destaca seu modlo a ser copiado e pauta sua con
duta pela doutrina e exemplos de Cristo. Jesus Cristo, como
Homem-Deus, a reproduo histrica do homem ideal que
est na mente de Deus. Copiando-o, teu filho ser um ho
mem integral.
Mais : A educao crist no desvaloriza ou minimiza
as faculdades naturais, no impe renncia s obras, aos
empreendimentos terrenos. Explora as faculdades naturais,
aperfeioa-as numa coordenao com a vida sobrenatural.

275
Os santos - homens acabados - tm sido e sempre se
ro as criaturas mais humanas, os benfeitores mais desta
cados da sociedade humana. Como tambm modelos dos mais
perfeitos em tda classe e profisso, em tda condio de
vida. Desde o homem simples e rude dos campos at ao
sbio e literato ; desde o humilde artfice at ao condutor
de exrcitos ; desde o privado pai de famlia at ao monarca
governante de povos e naes ; desde as modestas mocinhas
e donas de casas at s rainhas e imperatrizes.
Essa educao, to caluniada, no torna o cristo alheio
s atividades comuns que esperam teu filho no futuro. Eis
a bela resposta de Tertuliano, refutando essa objeo feita
pelos pagos da sua era : " No somos estranhos vida. Es
tamos bem lembrados do dever de reconhecimento para com
Deus, Senhor e Criador. No rejeitamos fruto algum de suas
obras. Apenas somos moderados para no usarmos dles de
um modo descabido ou mau. E assim no moramos neste
mundo sem praa pblica, sem mercado, sem banhos, sem
casas, sem vendas, sem oficinas, sem feiras e todos os ou
tros trficos. Como vs, navegamos, militamos, cultivamos
os campos, negociamos e nos pomos vossa disposio para
trabalhos. Como ento poderamos parecer inteis aos vos
sos negcios, quando nles estamos envolvidos e dles vive
mos ? De modo algum vejo isto". '
Finalmente quero que o leitor tome nota do seguinte :
E' falso todo naturalismo pedaggico que exclui, ou minimiza,
a formao sobrenatural crist, na instruo da mocidade.
Est errado todo mtodo de educao, baseado total ou par
cialmente sbre a "negao ou esquecimento do pecado ori
ginal e da Graa", contando somente com as fras da na
tureza humana. Hoje h vrios sistemas que incorrem neste
rro. Vou enumer-los. So :
- os que apelam a uma pretensa autonomia e liber
dade desenfreada do . educando ;
- os que diminuem ou suprimem a autoridade e a obra
da educao, atribuindo criana um primado exclusivo de
iniciativa, e uma atividade independente de tda lei superior,
natural e divina, no trabalho educativo.

' ) Escritor e polemista cristo, que viveu de 160-220.

276
Assim escrevia Pio XI a 31 de Dezembro de 1929, na
clebre Encclica sbre a Educao crist da mocidade, Divini
illius Magistri. Voltaremos a explor-la. E' um tesouro. '

62. O QUINHO DE DEUS.

"Em dias de festa, usam famlias de certas regies ca


tlicas separar uma poro, destinada ao pobre que a Provi
dncia lhes mandar porta, naquela ocasio. E' a parte, o
quinho de Deus.
Bem pode Deus entrar e exigir em teu lar de cristo
a sua parte, ao tratar-se da vocao dos filhos. Tua mesa
est festiva, rodeada por filhos e filhas que a enfeitam "como
brotos de oliveira", na frase do Salmo. E o Senhor vir di
zer a ste ou a esta : Vem, segue-me ! Ser grande honra
e insigne privilgio para uma famlia crist semelhante es
colha. Seria lamentvel rro supor a famlia que, em se
guindo uma vocao religiosa, morrem os filhos para a afei
o aos pais. "No acrediteis que sses coraes, inteira
mente dados a Deus e a seu servio, vos amaro ou devam
amar-vos com um amor menos forte ou menos terno. O amor
de Deus no nega, no destri a natureza, mas aperfeioa-a,
eleva-a a uma esfera superior, onde se encontram o amor
a Cristo e o sentimento humano, sendo ste santificado por
aqule. Juntos unem-se num abrao" ( Pio XII) .
Se Deus vier sentar-se tua mesa, leitor, pedindo o
seu quinho, como proceders ? Dirs um no ? Alegars teus
direitos de pai, contra Aqule de quem nasce tda paterni
dade na terra ? No faas coisa tal. No enxotes a Deus de
tua mesa. Os pais "no conhecem as auroras e os ocasos
do sol divino sbre o lago de um corao jovem. Nem seus
cuidados e seu alento, seus desejos e suas esperanas, sua
chama e suas cinzas. O corao tem abismos insondveis
tambm para um pai e uma me".
"E' claro, tens o direito, e em alguns casos, o dever
de assegurar-te de que a planejada vocao religiosa ou sa
cerdotal no um mero impulso de imaginao, ou de sen
timento que anela um lindo sonho fora de casa. Vindo, pois,
um dos teus expor-te uma vocao, religiosa ou sacerdotal,
') A Editra Vozes publicou esta Encclica em formato cmodo.
Todo pai deveria estud-la.

277
haja no caso uma deliberao ser1a, ponderada, sobrenatural,
examinada e aprovada por um sbio e prudente confessor,
ou diretor espiritual.
Mas seria contra os desgnios de Deus, se quisesses impor
atrasos arbitrrios, inj ustificados, irracionais. Pior ainda, se
recorresses a experincias inteis, perigosas, atrevidas com
risco de desanimar uma vocao ou, quando no, de expor
a prpria salvao de uma alma. Entra aqui mais um ele
mento : o brio da solidariedade crist. "Se outras famlias
entregam a Deus seus filhos, suas filhas, no sacerdcio e
na vida religiosa, por que haveria de calar-se a tua famlia,
negando o "estou presente", quando da chamada de Deus ?
Lembro a tremenda responsabilidade para um cristo :
A salvao de muitas outras almas est pendente do con
sentimento que o pai d para uma vocao em seu lar. Al
gum, leitor, poder estar " espera de teu filho sacerdote,
de tua filha religiosa" .
Pio XII, a quem venho expondo, tem esta frase bem
sria : Todo pai, tda me, seja l qual fr o seu meio so
cial, devem pedir instantemente a Deus os faa dignos de
terem, ao menos, um dos filhos chamado para seu servio. 1
E faz esta angustiante pergunta : Quem sabe se algum dos
eleitos pelo cu, perdido por entre o povo cristo ou erran
te pelas regies infiis, estar acaso ligado, pelos desgnios
divinos, palavra ou ao ministrio de um dos filhos que o
Senhor pretende mandar-te ? Termina dizendo :
" Como verdadeiros cristos, que sentem em si a gran
deza e a elevao da f no govrno divino da Igreja e da
famlia, quando Deus vos distinguir com o chamamento de
um dos vossos filhos ou de vossas filhas para seu servio,
sabei apreciar o valor e o privilgio de to grande merc.
Tanto para o filho ou filha escolhidos como para vs mesmos e
vossa famlia. E' um presente do cu que vos deixado em
casa. E' uma flor, crescida no vosso sangue, regada pelo
orvalho celeste, perfumada com a fragrncia virginal, que
ofereceis ao altar e ao obsquio do Senhor, para ali viver a
mais bela e mais formosa vida que se pode imaginar aqui
em baixo. Vida que, para vs e os vossos, uma fonte de
bnos" ( Alocuo de 25 de Maro de 1952) .
Logo, leitor, so um escndalo na famlia tuas revoltas,
1 ) Encclica de 23 de Setembro de 1950.

278
teus xingatrios, tuas opos1oes perante uma vocao que,
aparentemente, vem contrariar teus planos. O primeiro pla
no para teu lar h de ser sempre . . . o plano de Deus. Sua
vontade ser o leito por onde ho de correr as torrentes
de vida que surgirem de ti.
Uma observao ainda : - No veio Deus procurar o seu
quinho em tua famlia ? No escolheu ningum dos teus para
seu servio ? Ento ajuda outra vocao, o filho de outra
famlia contemplada mais com a graa divina do que, talvez,
por posses e recursos. Ters a satisfao de quem deu do
que tinha e sse foi o seu quinho para Deus.

63. RRO DE PERSPECTIVA

sempre acarreta uma viso falsa das coisas e dos ho


mens. Obras de arte so aquelas que com maestria obser
vam as leis da perspectiva.
Como pai e educador fuja meu leitor de errar a pers
pectiva na apreciao dos filhos. Trata-se de pessoas hu
manas e seus problemas ho de ser bem encarados, clas
sificados, para serem bem resolvidos. E assim o filho :
"Como animal racional - tem problemas referentes :
- sade do corpo e da mente ;
- inteligncia ( no esclarecida ou mal esclarecida) ;
- vontade ( fraca ou desorientada) ;
- ao corao ( com afetos desregrados) ;
- ao ser ( sem a razo e o sentido exato da vida e do
destino da pessoa) .
Como ser social - tem problemas referentes :
- vida familiar ;
- vida escolar ;
- vida profissional ;
- vida de Jazeres e folgas ;
- vida civil ;
Como ser religioso tem problemas referentes :
- a Deus ;
- ao culto ;
- vida sobrenatural.
Poder o homem ter perante Deus as seguintes atitudes :
negar a sua existncia, ou a possibilidade de poder conhe-

279
c-lo ; ignorar a sua existncia ; crer, mas dar pouca impor
tncia a sua existncia ; crer e prestar-lhe um culto indigno
dle e da prpria pessoa humana ; crer e combat-lo ou lhe
prestar o devido culto e amor.
Quanto vida sobrenatural da graa poder haver ig
norncia, desvalorizao ou negao de sua tarefa. '
Lembre-se o leitor da vocao batismal dos filhos. "Essa
vocao de eternidade. Pois o sacramento de iniciao crist
- que o batismo - reclama um acabamento. A vida do
batizado uma vida espiritual imperfeita e sempre em pro
gresso. A graa tende para a glria, a f para a viso, a
esperana para a posse de Deus e a caridade exige uma in
timidade eterna. Tdas as virtudes crists aspiram desabro
char na alma, sob a luz dirigente da viso beatifica. Aqui na
terra esto num exlio. A prpria criao, o mundo mate
rial, vive suspirando pela renovao, pela sua entrada na
glria dos filhos de Deus.
A f encaminha os batizados para a viso, a terra pre
para o cu, a Igreja militante visa desdobrar-se na cidade
de Deus, a vida crist uma expectao da SS. Trindade.
Por isso no temos no mundo uma residncia permanente :
eu espero a vida do sculo vindouro. O corpo "tenda" de
quem ainda caminha longe do Senhor" ( Philippon, o. p.) .
Muito importa no perder a perspectiva da criana, do
filho, que deve ser formado no "como um ser humano qual
quer, composto de corpo e esprito, mas como um filho de Deus,
um remido de Cristo". E alm do mais tem uma vocao
social religiosa, na sua integrao ao Corpo Mstico de Cristo.
De Maistre definiu a ptria "como uma associao, sbre o
mesmo solo, dos vivos com os mortos e com os que vo nas
cer" . Teu filho - o cristo - precisa se tornar consciente
dessa vasta solidariedade que o une a todos os membros
passados, presentes e futuros do umco Corpo Mstico de
Cristo. No h. limites geogrficos ou de tempos para sse
Corpo.
Teu filho solidrio CQm o mundo inteiro. Prende-se aos
homens de todos os tempos. H quanto tempo j vem rezan
do, talvez, o Creio em Deus, onde afirma "crer na comu
nho dos santos" !

' ) Livre citao de M. G. Reis em Ser': io Social - n. 74.

280
Que lstima, se meu leitor fsse pai e educador com
perspectiva . . . de r ! Prefiro v-lo com a perspectiva do
condor, do crente instrudo e fervoroso.

64. HOMEM NA CASA

sinnimo de proteo, segurana e garantia para todos


os seus moradores. Ao menos em geral. Mas bem se pode
dar o caso de o homem no dar valor casa e desprote
ger seus tesouros. Casando-se, o homem chefe nato da
famlia. Esta tem seu centro e corao no lar. Exporei ao
leitor o que diz o homem de branco aos casados do sculo
vinte. Afirma positivamente :
- No encontrareis verdadeira vida de famlia sem um
lar, sem um centro visvel, real de reunio a agrupar esta vi
da, enraizando-a, aprofundando-a, fazendo-a vicejar e florescer.
- Mas no basta o lar material para o edifcio espi
ritual da felicidade. E' necessrio elevar a matria a um
ambiente mais respirvel e fazer surgir do fogo terrestre
( lareira ! ) a chama viva e vivificante da nova famlia. No
ser trabalho de um dia, especialmente quando se vive num
lar ainda no preparado por geraes precedentes. E isso
costuma acontecer sobretudo nas cidades com suas casas alu
gadas.
- Lembra que mulher, " dona de casa", caber a
parte principal na criao do lar, dle sendo a alma, a ar
tista, o encanto. Pois nasceu para derramar a gentileza e
doura pelo lar de seu marido. ( Muito entre ns : fao votos
seja ste teu caso, leitor) .
- Constituem talvez um lar os jovens casados, cujo
prazer consiste em sair o mais possvel da casa ? S mostran
do bom humor nas festas, visitas, viagens e temporadas de
frias e nos espetculos mundanos ou mais do que munda
nos ? No. No um lar a habitao descuidada, fria, deserta,
muda, obscura, sem a serena e clida convivncia familiar.
Nem to pouco so lares as moradias por demais aperta
das, clausuradas e quase inacessveis, nas quais no con
vergem a luz e o calor de fora. No irradiam para o ex
terior, como prises ou ermidas de solitrios.

281
Continua descrevendo o abandono do lar pelas condi
es nascidas do presente estado econmico e social. Diz que
"seria vo reagir e recriminar contra uma tal transforma
o, mas preciso conjurar o perigo que consigo traz"
( s mas de Roma, 12 de Maio de 1946) .
Sabe que o marido vive ordinriamente fora de casa,
por causa de seus compromissos. Mas quer que a mulher
nela permanea, e destaca as vantagens do trabalho a domiclio.
E agora, - l vai pedra, leitor ! - os maridos ano
tem-se a frase : "Vossa perfeio de chefes de famlia no
consiste apenas na realizao dos trabalhos referentes vossa
profisso, ao vosso ofcio, vossa arte particular, dentro ou
fora de casa. Nesta, que o domnio de vossa espsa, ten
des tambm uma parte ativa a realizar. Sois mais fortes ;
sois, freqentemente, mais hbeis no uso de instrumentos e
ferramentas. No arranjo da casa encontrareis tempo para
muitos e pequenos trabalhos. No so indignos do vosso
ofcio ou da vossa dignidade. Sero urna participao cuida
ciosa nas atenes de vossa espsa, sobrecarregada, com fre
qncia, de cuidados e trabalhos. E o homem de branco desce
a mincias : ajudar a levantar urna coisa pesada a cuidar de
um jardim (quando Deus faz merc de t-lo ) , a consertar
qualquer coisa. E arremata : "Que se poder achar, numa
casa crist, mais triste e contrrio ao sentido catlico, do que
algo a lembrar a cena de tempos rudes, privados das luzes
de Nazar, na qual a mulher caminha dobrada sob pesado
fardo frente de seu "senhor", que a vigia fumando tran
qilamente ?" ( Aloc. 15 de Abril de 1942 ) .
No ser sse teu caso, leitor. Mas no ficas cmoda
mente sentado ao lado de um rdio, por detrs de um jornal,
enquanto tua espsa se cansa com criadagem ou com filhos
ou com arranjos de casa ? Ou ento s um ausente da casa,
quando tua profisso no te reclama para fora ? Em tal
hiptese no s "o homem na casa" . Ela no tem homem
dentro de seus muros.
No digas que "entronizaste" tua espsa rainha do lar,
como j ustificativa de teu desintersse e abstencionismo. Se
ela rainha, ento seja o leito:r: fiel sdito, sujeito ao cetro
de seu amor.
Por exemplo, no podes lhe dar uma mo na ordem da
casa, pondo as coisas, teu chapu, teu guarda-chuva, tua capa

282
no lugar indicado por sua majestade, a rainha ? E aqui deixo
te . . . falando sozinho.

65. HORARIO DE CONFLITOS


Todo lar tem l sse horrio indesejvel. Em alguns
diria sua volta. Em outros ocasional. Por exemplo, a
chegada do boletim escolar com suas notas acusadoras do
aluno. As refeies, quando na mesa reinam correntes de
alta tenso, formando um campo de imantao. Praxe, sem
dvida, detestvel que deve ser abolida a ferro e fogo.
Tambm as vocaes trazem freqentemente ocasio para
dolorosos e penosos conflitos entre pais e filhos. Sobretudo
quando stes j atingiram a idade das decises pessoais, re
fratrias s solues autoritrias.
De um e outro lado surgem ento o orgulho, o amor
prprio, a preveno e os preconceitos, impedindo um exa
me sereno e leal da situao. H pais que se encouraam den
tro de um autoritarismo cego, e filhos montados numa pe
rigosa presuno. Pai e filho esto convencidos ele que neste
ponto ceder covardia.
Acompanhe-me o leitor nas linhas segu intes, se quiser evi
tar sses horrios infelizes. Ests convencido do rro na es
colha de teu filho ? Ento deves expor sse rro, com calma,
pacincia e desintersse pessoal. Seja l quais forem as con
seqncias, deves falar e por todos os meios a teu alcance.
Fars contudo uma distino, sobretudo em se tratando do
casamento. Pode a escolha ser incmoda sem ferir porm a
honra da conscincia, ou pode ter por conseqncia uma si
tuao imoral . Se no conseguires convencer teu filho, j ele
maior idade, s te resta um recurso : confi-lo proteo
divina.
O que d luminosidade aos conselhos do pai o conhe
cimento perfeito que adquiriu do carter, temperamento, dis
posies e gostos do filho. Hoje temos os tests da capaci
dade de um candidato na escolha de profisses. Mas les
apenas diro dos obstculos de ordem fsica ou intelectual,
que se opem a tal ou tal preferncia. No podem subs
tituir o conhecimento das correntes subterrneas da alma.
E' o contacto dirio que o revela aos pais.
Um pai, convencido da falsa vocao do filho, est numa
situao que requer mu ita prudncia e circunspeco. Nada

283
de ataque frontal e brutal. Seria rro graVIssimo tal m
todo, que provocaria a teimosia no j ovem. A mocidade a
idade da teimosia e um dos caractersticos da adolescncia
o esprito de luta. O melhor ser flanquear a idia e en
carregar o tempo de desagreg-la. E depois faa o educa
dor todo possvel, para convencer seu educando de que ter,
a seu tempo, a liberdade de escolher de acrdo com suas con
vices. Mas que poder tambm contar com o intersse dos
pais em aconselh-lo, quando a les recorrer no exame da
questo. Tda arte est, leitor, em despertares a dvida e hesi
tao na alma do filho, de modo a lev-lo a pedir espont
neamente conselho ao pai.
Sobretudo seria lamentvel a oposio paterna na esco
lha de uma vocao religiosa ou sacerdotal. Ainda mais aqui
em nossa ptria, to necessitada de uma e outra. Os filhos
so emprstimos feitos por Deus aos pais. A vida, com tda
sua trajetria, pertence ao Criador que distribui as voca
es e faz os chamados conforme sua sapientssima Provi
dncia. Esmagar uma vocao religiosa ou sacerdotal ; criar
lhe um ambiente intolervel, ou mesmo impedir que ela surja
no lar, grande pecado. Mais cedo ou mais tarde vir o
castigo para a famlia. Um grande doutor da Igreja, S.
Afonso Maria de Liguori, declara que, no dia do juzo, ver
se-o muitos pais condenados por Deus, por causa dessa
oposio.
Eu no desejaria ver meu leitor figurar entre sses
condenados. Favorea essas vocaes, criando o clima cris
to no seu lar. sse clima compe-se do esprito de piedade
eucarstica, de sacrifcio e devotamento. Requer respeito
Igreja e a seus ministros, respeito pureza, respeito s exi
gncias das almas.
E se na famlia no surgir uma vocao, adote ela um
afilhado, ajudando a formao de algum candidato menos
favorecido por recursos materiais. Alis obrigao do quin
to preceito da Igreja : ajudar o culto e os que dle esto
encarregados.

Nota. - Aqui menciono as palavras de Pio XI, na sua famosa


enciclica Ad Catholici Sacerdotii, de 20 de Dezembro de 1935 :
"Oh I felizes os esposos que, se no so de esprito to remontado
que les prprios - como sucedia em tempos idos mais freqente
mente que hoje - alcancem de Deus para seus filhos, fra de
splicas, a graa dste divino chamamento, ao menos, quando stes

284
66. COMO CRIANAS DE MOS DADAS

que caminham para a casa do seu Pai, via um pai e


escritor a vida de um casal. ' Dizia que o casamento envolve
o homem todo, inteiro. E' o perfeito desabrochar de tdas as
fras e de tdas as potncias, tanto no homem como na
mulher. Tdas as diferentes espcies, todos os graus do amor
ali vivem em plenitude e pureza : o amor dos corpos, o amor
que amizade, o amor eternamente jovem e sempre apai
xonado, o amor paternal e maternal, a caridade.
E esta fuso de "tdas as formas do amor" num s
todo faz crescer o amor de Deus na alma do homem e da
mulher, pelas alegrias e dores que les carregam j untos. O
amor conjugal purificado no fogo do sofrimento que Deus
envia. Isto no quer dizer que o homem e a mulher devam,
necessriamente, sofrer um pelo outro ou fazer sofrer reci
procamente ! Deus escava os coraes para nles se fixar !
Tdas as alegrias, todos os sofrimentos, todos os atos
contribuem para unir o homem e a mulher mais profunda
mente, mais estreitamente, e a aproxim-los sempre mais de
Deus. Aqule que ama deseja se encontrar onde est o amado.
No verdadeiro matrimnio cristo, harmoniosamente cristo,
se um dos cnjuges vive em unio com Deus, o outro s
ter um nico desejo : de assim poder viver por sua vez.
O amor no suporta diviso. E' unio. Um arrasta o outro
consigo. E les vo a Deus, mantendo-se pelas mos, como
crianas que caminham para a casa do seu Pai.
Quando o casamento vivido desta maneira, um frag
mento reconquistado do paraso perdido. Uma espcie de re-

chamados para o estado sacerdotal, longe de se lhes oporem, se julgam


favorecidos com honra insigne e entendem que a sua famlia rece
bera assim um penhor de especial predileo.
Entretanto, ainda entre aqules que se ufanam de catlicos, no
faltam muitas vzes pais - principalmente nas classes mais eleva
das e cultas da sociedade - que no somente levam a mal que seus
filhos se consagrem ao servio de Deus, mas at no receiam opor
se a essa vocao divina, com tais enredos que pem em perigo ao
mesmo tempo a vocao divina, e a f e salvao dos filhos que lhes
deviam ser to caros. 11:sses pssimos exemplos no revertem atual
mente em menor oprbrio para essas classes elevadas, do que em
tempos passados o abuso de obrigar os filhos. at contra a vontade
e sem aptides, ao estado eclesistico".
' ) Pierre Van der Meer de Walcheren, Deus e os homens, 144 pp.
Trad. de M. Ceclia de M. Duprat. - Agir, 1955, Rio de Janeiro.

285
constituio da vida antes do pecado, purificado pelo san
gue do amor. O matrimnio um mistrio imenso e pro
fundo . . . A continuidade dos anos de vida comum, numa
intimidade que s ali existe, faz do casamento um mundo
mais belo, mais profundo, incessantemente mais maravilho
so. Pois o homem e a mulher no limitam a sua unio.
Sempre mais perfeitamente unidos e numa medida tal que
se integram um no outro. Pelo amor, um torna-se o outro.
O corao e o esprito do homem tornam-se o corao e o
esprito da mulher e vice-versa".
No estranha que dentro de tal mstica, os pensamen
tos dos pais passassem para a alma do filho, como passou
o sangue de ambos. E o filho, como jovem religioso, assim
escrevia a seus pais : "Voc e mame so dois sres que,
para mim, no formam seno um ! Quando eu era criana e
voc me dizia alguma coisa, papai, eu j sabia que mame
me teria dito o mesmo. Realmente, meu pai, eu creio que
Nosso Senhor colocou entre voc e mame um vnculo que
um antegzo da comunho dos santos !"
De passagem, lembro ao leitor o "clima" abenoado ds
se lar cristo de Matias Van der Meer de Walcheren. A
criana notava a unio dos pais, obedientes mesma flecha
no amor e educao dos filhos. Ambos sabiam vencer o egos
mo de quem quer s para si e para suas idias o filho, a
criana que fruto do amor - unio que s pode viar
sombra dessa rvore.

67. SEJA TUA MO UMA SOMBRA

das mos de Deus, to celebradas pelos livros da Es


critura. So mos criadoras e poderosas, de cujas maravilhas
a terra anda repleta. Miguelngelo soube pint-las vigoro
sas, em Deus Pai, na capela Sixtina. Astros, terra, monta
nhas, rios, vales, elementos, torrentes - tudo sua mo gover
na e guia. Colocadas sbre os montes, les tornam-se im
veis. Tocando nos cedros do Lbano, les rolam para o cho.
O mar por elas foi colocado no seu bero e respeita os tra
os que lhe deixaram como limites.
So mos que tudo sustentam e alimentam. Abertas na
generosidade, a terra com suas plantas e seus animais vive
e existe. As flres do campo e as aves do cu so vestidas

286
e alimentadas por elas. So mos protetoras, quando repou
sam sbre o "varo da sua escolha". Estar sob a mo do
Senhor a maior garantia de segurana. Mas igualmente
so justiceiras e punidoras. Retirar o Senhor a sua mo, ou
ser algum alcanado por ela, sinnimo de castigo e de
samparo.
Mas, sobretudo, so mos paternas que sabem tomar
ao colo a criatura humana e acarici-la como o faz tda
me amorosa. Sabe enxugar as lgrimas dos que choram e
chamam pelo Pai. O prprio Cristo Senhor encomendou sua
alma s mos de seu Pai.
Por a v o leitor como estupendo o programa for
mulado pelo desejo, que acima exponho. Ter, como plida
sombra das mos de Deus, mo criadora da vida, do po,
do lar, da educao, da formao do homem completo. Ter
mos protetoras dos insubstituveis bens da famlia : vidas,
almas destinos, batismos e vida eterna. T-Ias firmes na au
toridade de quem dirige lemes e segue rotas atravs de tor
mentas. T-las milagrosas e abenoadas, quando juntas em
orao. Mos bondosas que acolhem um prdigo arrependi
do, que repartem o po depois de ganh-lo. Mos irradiando
luz quando as contas de um tro, como estrlas de um
ideal, deslizam por entre os dedos de um pai que "reza o
rosrio".
E assim, mas somente assim, sero paternas tambm
nas ddivas e nas recusas, nos castigos e nos prmios.
Em nossas famlias o costume de beijarem os filhos
as mos de seus pais velha tradio. E' o reconhecimen
to, a manifestao afetuosa de uma f : so essas mos
uma sombra das mos de Deus.
Como pai, quantas vzes diz o leitor a um filhinho :
D a mo ! E tomando aquela flr de mozinha conduz a
criana para c e para l. Criana contente por sentir-se
abrigada, protegida pela mo paterna. Ora lembre-se o leitor
de " dar a mo" a Deus, de deix-lo livre no rumo e traa
do por onde quer levar sse pai de famlia que o represent:-.
na terra. Nunca largar a mo de Deus! - eis uma norma
sadia e sbia, tanto para os pequenos como para os gran
des filhos de Deus. E de mos dadas com Deus deixo meu
leitor, como "o varo sbre o qual o Senhor coloca sua
direita" .

287
68. A ORAO DE UM PAI

Creio que todo pai ficar enternecido com o que escreve


Sertillanges 1 :
Quando se pensa no que a vida em suas eventuali
dades, em suas dificuldades, em seus trabalhos, em suas
dores, em suas prolongaes ; e que ningum sabe o ser de
um menino : que redemoinhos o arrastam, que ciladas podem
constantemente lev-lo a quedas ;
com quanta angstia no se pondera o tormento de um
pai sbre o esmagador sentimento de responsabilidade, de
humildade, quase de culpabilidade para com o dom da vida
a qual, sozinho, no sabe como educar !
No ser preciso que se arrependa ste culpvel de amor,
que no sabe garantir os efeitos do amor ? Que expie, sa
crificando-se, o que fz com a parte de um Deus que tambm
se sacrificou criando, resgatando os homens, recebendo a
cruz das mesmas criaturas contempladas com o tesouro da
vida ! No podendo agir poderosamente, faa pelo menos o
que pode. Obstinadamente, at ao esgotamento de seus re
cursos ntimos ou visveis, at ao fim das possibilidades que
lhe so dadas, at os fins de si mesmo !

A orao do pai de famlia a mais emocionante con


fisso de impotncia e o mais virtuoso desejo que pode su
bir at quele que o acolhe favorvelmente. O cristo, ain
da no iludido pelo visvel, sabe de onde procedem os bens ;
que os mesmos, dos quais foi a fonte, no lhe pertencem ;
que podem sempre desviar-se para os declives ; que podem
ser absorvidos por ste solo ingrato ; e que no lhe resta ou
tro recurso, aps o esfro levado ao extremo, seno recorrer
a nica arma dos impotentes : a orao.
E dizer ento : Pai, cujo mesmo nome que levo, tenho
recebido ! Pai dos cus, que olhais como se esforam os pais
da terra, vde que n passo de um pobre homem revesti
do de uma dignidade de fins imortais. Eu devo conduzir atra
vs da vida e para alm dela a filhos de vosso amor e de
meu amor. No conheo o caminho. Eu mesmo caminho ta
teando. Cego, encarregado de guiar a outros cegos, ajunto
minha cegueira a minha debilidade. Nem previso, nem

1 ) L'Amour Chrtien.

288
coragem, nem poder, pelo menos em proporo ao que me
faria falta.
Ento, consciente de minha impotncia, me dirijo a Vs,
Pai, para sejais pai com aquele a quem revestistes com tal
dignidade. Amai comigo, e atravs de mim, aqules a quem
haveis amado antes de mim. Amai-os comigo e atravs de
mim. Dai-lhes e dai-me para les, em comunicao, tudo o
que constitui o preo da vida. Tudo o que a conduz ao seu
fim prprio, tudo o que a eterniza.
A fim de ser um bom instrumento de vosso dom, renun
cio perante Vs ao amor egosta, ao amor negligente, ao
amor covarde e presunoso. Tal como, ao conceber o senti
mento paternal, tenho renunciado ao amor exclusivamente
gozador que a tentao de vossas criaturas.
O amor, Senhor, urna grandeza que no quereis ver
profanada. E' urna funo de esprito : que eu a no sepulte
na carne. O amor urna virtude, enxertada numa paixo
corno urna rosa sbre urna rvore agreste. Fazei que eu te
nha fra de transformar em eterna beleza a seiva da terra".
Tem a o leitor uma orao-programa. Rezando-a ter
ao mesmo tempo feito srias perguntas conscincia. Cada
frase corno um seixo atirado ao poo da alma, mexendo
com sua placidez descuidosa.

69. A CONCHA ESCOLHIDA


Quem andou pela praia do mar, antes de partir, pro
cura sempre urna concha que lhe recorde, com mais seme
lhana, o bramido do oceano e de seu corao nos dias pas
sados por ali.
Andou meu leitor pelas praias dste mar que a verda
de, que vem de Deus e exposta pelo homem de branco que
Pio XII. Ouviu o bramido de suas ondas, atravs das
frases, das palavras, dos conceitos dste livro. Agora impor
ta levar urna concha recordativa destas praias. Digo, uma
verdade bem gravada na alma, por meio de urna frase lida,
de urna comparao apreciada, ou de . . . um remorso surgi
do. E de tempo a tempo encost-la ao ouvido, conscin
cia e, de olhos fechados, esperar que sua voz encha outra
vez a alma e com ela a vida.

289
Ou ento foi uma palavra de animao e confrto, que
ficou na concha de um pensamento. Pois bem. Vem, em hora
propcia, trazer seu bramido e com le novas energias.
Meu amigo, tudo que vem de Deus traz o bramido de
todos os mares. S tle o Infinito. S tle enche os abis
mos todos. Tambm o de teu corao de espso e de pai.
Nem espsa amorosa, nem filhos amorosos podero ench-lo.
Nosso corao foi feito para Deus e est inquieto at possu-lo.
Por exemplo, que concha com toadas de ondas o Sa
cramento em que vives ! A paternidade que representas ! O
nome que levas ! O mesmo da clebre orao ensinada por
Cristo : Pai nosso, que ests no cu !
Certo pai de famlia tinha o costume de rezar, tdas as
noites, ao p do pequeno leito onde dormiam seus filhos. Pre
feria-o a rezar diante de um Crucifixo. Indagado por que,
respondeu : "Prefiro mil vzes prostrar-me diante de um
Cristo vivo do que diante de uma sua imagem" .
Como sublime o leitor lembrar-se que, recebido e con
sumado o seu sacramento, surge uma vida nova na terra !
E batizado o filho no le, pela graa santificante, mais
filho do Pai do Cu do que do pai da terra ?
E agora, um pedido : Lido ste livro, achada tua concha,
passa-o s mos de um amigo que precise escutar brami
dos de um mar e esquecer um pouco os estios, os atropelos
e as lutas da vida.
Linnf!U dizia que via a Deus passar por detrs de tda
planta que contemplava. Tu e os leitores que arranjares -
vs todos vereis, amigos, Deus postar-se atrs de todo filho
que vosso amor trouxer vida, dentro do sacramento da
paternidade fsica.
Espero, at, que o vejais por detrs de . . . tda flha
dste livro.

Reformatado by:

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FINAL :

E QUEM VEJO
dentro da armadilha de . . . lbo, que ste ltimo trecho ?
A ilustre espsa de meu leitor ! Teve pressa de percor
rer o livro, talvez, na louvvel inteno de conhecer melhor
seus deveres de "companheira e auxiliar do marido". Co-

290
nhec-los melhor, para melhor cumpri-los. Neste caso, pa
rabns !
Ou ento - e nisso no a louvo ! - na nsia de achar
omisses na conduta do espso, para recriminaes e censu
ras em hora que lhe parea favorvel, ou simplesmente in
dicada por um desabafo.
Chego mesmo a desconfiar que seguiu o desejo de ti
rar a limpo se o autor no injusto para com as mulheres.
Ainda mais que se gabou de pertencer . . . classe unida.
Neste caso, se minha leitora achar algo que lhe parea in
justia, pode estar certa de ser esta involuntria.
Mas, deixando de lado tais consideraes, s desejo que,
em sentido de louvor, possa a ocasional leitora merecer a
exclamao de Ado : " Senhor, a mulher que tu me deste" . . . ,
como prmio de minha vida, como mulher forte e de alto
valor, a luz da minha vida e da minha casa. Vestes e
po, filhos e criadagem, encanto e paz, tudo vem assistido
por ela. Por isso me louvam os amigos e eu te bendigo,
Senhor ! Conserva-a como "oliveira fecunda, como videira
carregada" ao redor de minha mesa !
E porque perteno " classe unida" . . . , concordo com os
louvores e com os votos dsse marido e pai. Digo cordial,
sinceramente : Assim seja !
NDICE GERAL

I ) MARIDOS 34. Virtude de um leito . . . . 66


35. Meu doce silncio . . . . . . 68
A classe unida 5
VI
I 36. Nas malhas de concluses 70
1. Naquela primeira noite . . 9 37. Vigia na balhesteira . . . . 72
2. Minha pergunta e tua res- 38. No ter mulher . . . . . . . . . 74
posta ................ 10 39. Um paraso perdido . . . . 76
3. O sr. meu marido . . . . . . . 12 40. Audacioso simbolismo . . . 79
4. Carta branca? . . . . . . . . . . 13 41. Madame, no saireis . . . . . 81
5. Marido rebolo . . . . . . . . . 15 42. Um sofisma comum 83
6. A po e laranja . . . . . . 16 VII
7. Uma reabilitao em teu
43. Uma cartilha em tua casa 85
lar .................. 18
44. Deus Amor . . . . . . . . . . 87
11 45. Errando a receita . . . . . . . 88
8. Ataques e rebates . . . . . . . 19 46. Inter vina mariti . . . . . . 90
9. Bela moldura . . . . . . . . . . . 21 47. Dormia minha mulher . . . 92
10. Realidade sacramental . . . 23 48. Um fato umco . . . . . . . . . 93
11. Jantar comigo ou conosco 25 49. A carne boa . . . . . . . . 95
12. Grande sedutor . . . . . . . . . 26 VIII
13. O tempo culpado . . . . . 28 50. Tua espsa e um requeri-
14. Antes, durante e depois 30 mento ................ 97
111 51. Sexo e amor . . . . . . . . . . . 99
52. Mil bombas . . . . . . . . . . . . 100
15. Pelo areal do sexo . . . . . 31
53. Outra vez o homem de
16. Primeiros falsificadores . . 34
branco . . . . . . . . . . . . . . . . 102
17. A vocao da carne . . . . . 36
54. As botas do marqus 103
18. De ps juntinhos . . . . . . . . 37
55. Gente sem sacramento . . . . 104
19. Aqule homem de branco 38
56. Homem forte e armado . . 1 07
20. No relgio das flres . . . . 40
21. Gerndia ! ............ 42 IX
57. Sete mulheres .........
. 108
IV
58. Desde o outro mundo . . . . 109
22. E' para ela, mas contigo 44 59. O no em teu lar . . . . . 112
23. Por que ouviste tua mu- 60. Corpos perdidos . . . . . . . . 115
lher? ................ 45 61. A realidade um instinto 117
24. Teu caso, talvez? . . . . . . 46 62. Ado conheceu sua mulher
25. Maridos e pais bblicos 48 Eva ................. 1 18
26. Tudo a dois . . . . . . . . . . . . 52 63. No seu processo . . . . . . . . 120
27. Neg6cios? . . . Famlia? . . 54
28. A casta unio conjugal 56 X
64. Gulosos e glutes . . . . . . . 122
v 65. Utopias e idolatrias . . . . . 123
29. Sei que s muito bonita 57 66. De botinas ferradas . . . . . 125
30. Autorizado e autoritrio 59 67. Coisas lcitas e ilcitas . . 127
31. Quando h tantas e tais 60 68. Menino malcriado . . . . . . . . 128
32. Balizas na rota . . . . . . . . . 62 69. Mar montante . . . . . . . . . 130
33. Casa no escuro . . . . . . . . . 65 70. Perceptivo e intuitivo . . . . 131

294
XI v
71. S pelo amor e com amor 134 29. Diploma cnmmoso . . . . . . 212
72. Intimidades de casados . . 135 30. Aplicao que te engran-
73. A gua convertida em vi- dece . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
nho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 31. Era um hbito seu . . . . . . 215
74. Mos cheias . . . . . . . . . . . . 139 32. Filho de peixe . . . . . . . . . 216
75. Uma idia criminosa . . . . 142 33. Leis e encruzilhadas . . . . . 219
76. Vrias molduras . . . . . . . . 143 34. Castigo de me em tua vida 222
77. Pudor em tudo . . . . . . . . . . 145 35. Com simpatia e compre-
XII enso . . . . . . . . . . . . . . .
. . . 224
78. Marido no sculo XX . . . 146
VI
79. Pensamentos e desejos . . . 148
80. Casta lealdade . . . . . . . . . . 149 36. Egosmo de um e de mui-
81. Asmodeu e maridos . . . . . . 150 tos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226
82. O amor conta . . . . . . . . . . 152 37. O grande mandamento . . 227
83. Os presentes da noiva . . . 154 38. Um patro no Evangelho . 228
84. Goteiras em teu lar . . . . 155 39. Tendncias anti-sociais 231
40. Teu filho no desfile . . . . 232
11) PAI E EDUCADOR 41. Silncio de cmplices . . . . 235
I 42. Muitos ou poucos? . . . . . . 238
1. Eu era pai . . . . . . . . . . . . . 1 59 VII
2. De que famflia s tu ? . . 160 43. Um dia no banho . . . . . . . . 240
3. Remontando uma nascente 163 44. Brevirio da pedagogia . . 242
4. J era califa . . . . . . . . . . . 165 45. Precipcios vista . . . . . 244
5. Educao totalitria . . . . . 166 46. Falta um objeto . . . . . . . . 247
6. Em Loreto . . . . . . . . . . . . . 1 68 47. Herdou aos 11 meses . . . 249
7. Manuel ? Raul ? . . . Manoe- 48. Bem ensolarada . . . . . . . . . 251
lito ! . . . . . . . . . . . . . . . . .
. 170 49. Belezas em teu lar . . . . . . 253
11 VIII
8. No reino da paternidade . . 171
9. Nonatos em tua casa . . . . 50. Grandezas e servides . . . 255
173
10. Roteiro do esporte . . . . . . 175 51. Escolas e cincia . . . . . . . . 258
11. 52. Vigilncia indispensvel . 260
Parva domus - magna pax 177
12. Para nada serve . . . . . . . . 180 53. Vida levedada . . . . . . . . . . . 262
13. la morrer . . . . . . . . . . . . . . 182 54. Maridos fracassados . . . . . 263
14. Ento, no pai ? . . . . . . . 184 55. Do corpo uma, da alma
cem . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265
III 56. Nos bancos da Escolstica 267
1 5. Sob um telhado . . . . . . . . . 186
16. Que vir a ser ste me IX

n1no ?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188 57. Cnon 1113 . . . . . . . . . . . . . 268
17. Educao religiosa . . . . . . . 190 58. l!:les so tantos ! . . . . . . . . 269
18. Almas ausentes . . . . . . . . . 192 59. Moedas falsas . . . . . . . . . . . 271
19. Pergunta incompreensivel 194 60. nica e pequenina . . . . . . . 273
20. Bem-aventurados teus ser- 61. Homem completo . . . . . . . . 275
VOS 196 62. O quinho de Deus . . . . . . 277
21. Teu jornal ............. 198 63. l!:rro de perspectiva . . . . . 279
IV J[
22. Tenho de ser pai? . . . . . . 200 64. Homem na casa . . . . . . . 281
23. Dois nomes feios e um 65. Horrio de conflitos . . . 283
santo . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 66. Como crianas de mos da-
24. Escolhas alinhadas . . . . . . 203 das . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
25. A mistica do lar . . . . . . . . 204 67. Seja tua mo wna sombra 286
26. Laboratrio biolgico ou 68. A orao de um pai . . . . 288
santurio? . . . . . . . . . . . . . . 206 69. A concha da praia . . . . . . 289
27. Coluna branca no deserto 207 Final: E quem vejo? . . . . . . . 291
28. Para alcatias ou colmeias? 210 Obras citadas . . . . . . . . . . . . . . 293

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