0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 767 visualizações9 páginasDuane Schultz - Teorias Da Personalidade - Cap. 6 - Erikson PDF
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Teorias da
Personalidade
Duane P.. Schultz
Ghee Cusal atelierCapitulo 6 Erik: Erikson: Teoria da Identidade 181
repetindo o padro de comportamento do seu pai biolégico e condenando o seu filho a0 estigma de
ilegitimidade, algo que o préprio Erikson sentira to vivamente.
Quando decidiu casar-se com Joan, ele o fez em trés ceriménias diferentes: uma judaica, ume
protestante e uma civil. Joan largou seus interesses profissionais para tomar-se sua parceira inte
lectual e editora o resto da vida, Ela deu uma base social e emocional estivel & sua vida e 0 ajudo.
a desenvolver a sua abordagem de personalidade. A meia irma de Erikson comentou que “ele niic
seria nada sem Joan” (citada em Friedman, 1999, p. 86). E Erikson concordou.
Em 1933, reconhecendo a erescente ameaga nazista, os Eriksons emigraram para a Dinamar
ca e depois para os Estados Unidos, instalando-se em Boston, Ele fundou uma clinica psicanali
tica particular especializada no tratamento de criangas, afiliou-se & clinica de Henry Murray em
Harvard, trabalhando no Consellio de Diagnéstico, Comegou a trabalhar também em um centro de
orientagdo de delinquentes emocionalmente perturbados ¢ trabalhou na equipe do Hospital Geral
de Massachusetts.
Erikson comegou o seu trabalho de pés-graduagio em Harvard, pretendendo obter o Ph.D.
em psicologia, mas foi reprovado no seu primeiro curso e decidiu que um programa académico
formal era insatisfatorio. Em 1936, foi convidado para o Instituto de Relagdes Humanas na Uni-
versidade de Yale, onde lecionou na escola de medicina e continuou o seu trabalho psicanalitico
com criangas, Erikson e um antropélogo de Yale colaboraram num estudo sobre as priticas de
criagao de filhos dos indios sioux de Dakota do Sul, Essa pesquisa reforgou a sua crenga na
infiuéneia da cultura na infiincia. Ele continuou a expandir suas ideias no Instituto do Desenvol-
vimento Humano da University of California em Berkeley. Ao contrario de muitos psicanalistas,
queria que a sua experigncia clinica fosse a mais ampla possivel; portanto, procurava pacien-
tes de diversas culturas e atendia aqueles que considerava normais bem como aos emocional-
mente perturbados.
Confusao de identidade
Nas suas observagées sobre os povos indigenas norte-americanos nos estados de Dakota do Sul e
da California, Erikson notou certos sintomas psicolégicos que nao podiam ser explicados pela teo-
ria freudiana ortodoxa. Os sintomas aparentemente estavam relacionados a um senso de alienacio
das tradigdes culturais e resultavam numa falta de imagem ou identidade clara do self. Esse fend-
meno, que ele inicialmente denominou confusio de identidade, era semelhante ao problema que
observara entre os veteranos emocionalmente perturbados da Segunda Guerra Mundial. Erikson
constatou que esses homens ndo estavam sofrendo de confiitos reprimidos, mas sim de confusio
provocada pelas experiéncias traumaticas de guerra e pelo fato de estarem temporariamente desar-
raigados da sua cultura; ele descreveu a situacdo dos veteranos como uma confusdo de identidade
quanto a quem e ao que eles eram.
Em 1950, comegou a trabalhar no Austen Riggs Center em Stockbridge, Massachusetts, um
Jocal de tratamento para adolescentes emocionalmente perturbados. Dez anos depois, voltou a Ha
vard para lecionar num curso de pés-graduago e num curso popular de graduagaio sabre o ciclo de
vida humana, aposentando-se em 1970. Aas 84 anos, publicou um livro sobre a velhice
Eniretanto, depois de uma vida de elogios, honras e reconhecimentos, sentia-se, segundo sua
filha, desapontado com o que havia conseguido. “Para esse homem eélebre, ainda era motivo de
vergonha ter sido um filho ilegitimo” (Bloland, 2005, p. 51).
Estagios Psicossociais do Desenvolvimento da Personalidade
Erikson dividiu o crescimento da personalidade em oito estagios psicossociais. Os quatro primei-
r0s sdio semelhantes aos estigios oral, anal, falico ¢ de laténcia de Freud. A principal diferenca entre
as teorias é que Erikson enfatizava os correlates psicossociais, enquanto Freud se concentrava nos
fatores biolégicos.182 Teorias da Personalidad
Estagios psicossociais do desenvolvimento
Para Erikson, oito estdgios sucessivas que abrangem os estigins continuos.
Ex cada um dees, emos de lidar bem ow mal com una erie,
Erikson sugeriu que processo de evolugio era regido pelo que ele chamava de principio
epigenético da maturago. Com isso, queria dizer que as forcas herdadas sio as caracteristicas
determinantes dos estagios de evolugio. O prefixo epi significa “sobre”; entdo, o desenvolvimento
depende de fatores genéticos. As forgas sociais e ambientais as quais somos expostos influenciam
a forma pela qual as fases geneticamente predeterminadas se realizam. Dessa forma, 0 desen-
volvimento da personalidade é afetado por fatores bioldgicos e sociais ou por variiveis pessoais
e situacionais,
Principio epigenético da maturagio
A teoria de que 0 desenvolvimento bumano & regida por uma sequéncia de etqpas que
dipendem de fatores genéticas ou hereditarias.
Na teoria de Erikson, o desenvolvimento humano envolve uma série de conflitos pessoais.
© potencial para esses conflitos existe no nascimento como predisposigdes inatas, que se tomam
proeminentes nas varias fases quando 0 nosso ambiente requer determinadas adaptagdes. Cada
confronto com 0 ambiente é denominado crise, a qual envolve uma mudanga de perspectiva, que
Tequer que reconcentremos a nossa energia instintiva de acordo com as necessidades de cada esté-
gio do ciclo da vida.
Crise
Para Erikson, 0 momento decisvo enfrentado em cada fase de desenvolvimento,
Cada fase de desenvolvimento tem a sua crise ou momento decisivo particular que precisa
de alguma mudanga no nosso comportamento ¢ na nossa personalidade. Nos podemos responder
crise de maneira negativa ou positiva. S6 quando resolvemos cada um dos conflitos a personalida-
de pode continuar a sua sequéncia normal de desenvolvimento e adquirir a forea para enfrentar 0
conflito da proxima fase. Se 0 conflito em qualquer uma das fases permanecer mal resolvido, tere-
‘mos menos probabilidade de nos adaptarmos aos problemas que surgiro posteriormente, Ainda &
possivel um resultado positivo, mas este serd mais dificil de obter.
Entretanto, Erikson achava que 0 ego tem de incorporar as maneiras negativas e positivas de
lidar com as crises. Por exemplo, na infincia, a primeira fase de desenvolvimento psicossocial,
podemos responder & crise de desamparo e dependéncia desenvolvendo um senso de confianea ou
de desconfianga. A confianga, a forma mais bem adaptada e desejével de lidar com o problema, ¢
obviamente uma atitude psicolégica mais saudavel. Mas muitos de nds também desenvolvem um
grau de desconfianga como uma forma de proteso, Se formos totalmente confiantes e crédulos,
seremos vulneraveis js tentativas das outras pessoas de nos enganar ou manipular. Idealmente, em
cada uma das fases de desenvolvimento, 0 ego consistiré basicamente na atitude positiva ou bem
adaptada, mas ser sempre equilibrado por alguma parte da atitude negativa. Sé assim a crise po-
deri ser considerada resolvida de forma satisfatéria.
Erikson também propés que cada um dos oito estagios psicossociais propicia uma oportu-
nidade para desenvolvermos as nossas forgas bisicas ou virtudes, que surgem quando a crise
€ resolvida satisfatoriamente, ¢ afirmou que elas so interdependentes. Uma forga bésica no
ode se desenvolver enquanto a forga basica associada a fase anterior ndo for confirmada (veja
Quadro 6.1),Capitulo 6 Erik Erikson: Teoria da Identidade 18
Forgas basicas
doras derivadas da resolugao satisfatiria da
Para Evikson, cavacteristicas¢ crengas motiva
crise ena cada fase de desenvoliimenta
Confianga versus desconfianga
A fase oral sensorial do desenvolvimento psicossocial, que ¢ paralela a oral do desenvolvimento
psicossexual de Freud, ocorre durante 0 primeiro ano de vida, época de nosso maior desamparo.
€ totalmente dependente dos cuidados basicos da mae para sobreviver € ter seguranga e
afeto, Nessa etapa, a boca é de vital importancia, Erikson escreveu que a crianga “vive por meio
da boca e ama com cla” (1959, p. 57). No entanto, 0 relacionamento entre a crianga e o seu préprio
mundo nao é exclusivamente biol6gico, é social também. A interagio do bebé com a mae determi
na se se
incorporada & sua personalidade uma atitude de confianga ou desconfianga no relaciona~
mento futuro com o ambiente.
Se a mie responder adequadamente s necessidades fisieas do bebé e lhe propiciar muito afe-
to, amor e seguranea, a crianca desenvolverd um senso de confianga, uma atitude que caracterizari
sua visio crescente de si mesma e dos outros. Dessa maneira, aprendemos a esperar “consistén-
a, continuidade e estabilidade” de outras pessoas e situagdes no nosso ambiente (Erikson, 1950,
p. 247). Erikson disse que essa expectativa proporciona o inicio da nossa identidade do ego ¢ que
se lembrava de ter formado esse vinculo de confianga com sua mie.
QUADRO 6.1 Estigios de desenvolvimento psicossocial e forcas basicas
Formas positivas versus, Forcas
Estagios Idades aproximadas __negativas de reagir 3 bdsicas
Oral sensorial Nascimento-1 ano Confianga versus Esperanga’
desconfianga
Muscular anal 1-3 anos Autonomia versus Vontade
divida, vergonha
Locomotora 3-5 anos Iniciativa versus culpa Objetivo
genital
Laténcia 6-11 anos Diligéncia versus inferioridade Competéncia
Adolescéncia 12-18 anos Coesiio da identidade versus Fidelidade
confustio de papéis
dade 18-35 anos Intimidade versus isolamento Amor
jovem adulta
Adulto 35-55 anos Generatividade versus estagnagao — Cuidar
Maturidade +55 anos Integridade versus desespero Sabedoria
evelhice
Por outto lado, se a mie rejeitar, ndo prestar atengZo ou for inconsistente no scu comporta-
mento, a erianga se tornaré desconfiada, temerosa e ansiosa, Segundo Erikson, a desconfianga tam-
bém pode ocorrer se a mie nfo focar sua atengao exclusivamente na crianga. Erikson argumentou
que a me que volta a trabalhar ¢ deixa o filho aos cuidados de parentes ou em uma creche attisca-
-se a desenvolver desconfianca na crianga.
Embora o padrao de confianga ¢ desconfianga como uma dimens&o da personalidade seja
estabelecido na inffincia, o problema pode ressurgir numa fase posterior do desenvolvimento. Por
mplo, um relacionamento mae-filho ideal produz um alto grau de confianga, mas esse senso de
2 pode ser destruido caso cla morra ou saia de casa. Se isso ocorrer, a desconfianca pode
seguranBY
184 Teotias da Personalidade
suplantar a personalidade. A desconfianga da inf’incia pode ser alterada posteriormente na vida por
meio do companherismo de um professor ou amigo carinhoso e paciente.
‘A forga basica de esperanga é associada a resolugio bem-sucedida da crise durante a fase oral
sensorial. Erikson desereveu essa forga basica como a crenga de que os nossos desejos serdo sa-
tisfeitos. A esperanga envolve um sentimento persistente de confianga, um sentimento que iremos
manter apesar dos reveses temporérios
Autonomia versus davida e vergonha
Durante a fase muscular-anal nos segundo e terceiro anos de vida, que cortesponde fase anal de
Freud, as criangas desenvolven rapidamente uma série de habilidades fisicas e mentais e fazem
muitas coisas sozinhas: aprendem a se comunicar mais eficazmente e a andar, subir, empurrar, pu-
xar e segurar ou largar um objeto. Elas se orgulham dessas habilidades e geralmente querem fazer
‘0 maximo possivel sozinhas.
De todas essas habilidades, a mais importante para Erikson envolvia os atos de segurar e lar-
gar algo, porque os considerava protétipos para reagir a conffitos posteriores em comportamentos ¢
atitudes. Por exemplo, o ato de segurar pode ser exibido de maneira carinhosa ou hostil. O de soltar
pode se tomar um desabafo de ira destrutiva ou uma passividade relaxada,
ponto importante é que durante essa etapa, pela primeira vez, as criangas conseguem exer-
cer algum grau de escolha, experimentar o poder da sua vontade auténoma. Embora ainda depen-
dentes dos pais, elas comegam a se ver como pessoas ou forgas por si mesmas e querem exercer 05
seus pontos fortes recém descobertos. A pergunta chave é: quanto a sociedade (na forma dos pais)
permitira que as criangas se expressem e fagam tudo 0 que sio capazes de fazer?
crise mais importante entre pais e fillos nessa fase geralmente envolve o treinamento para ir
a0 banheiro, considerado o primeiro exemplo da sociedade tentando regular uma necessidade instin-
tiva, Ensina-se a crianga a segurar e soltar somente nas horas e nos locais adequados. Os pais podem
permitir a crianga ir adiante com o treinamento no seu proprio ritmo ou podem ficar irritados. Neste
caso, podem negar-Ihe o livre arbitrio forgando o treinamento, mostrando impaciéncia e raiva quan-
do ela nfo se comportar corretamente. Portanto, quando os pais obstruem e frustram as tentativas do
fillio de exercer a sua independéncia, ele desenvolve sentimentos de divvida e um senso de vergonha
em lidar com os outros, Embora a regidio anal seja 0 foco dessa fase devido 4 crise do treinamento
do banheiro, pode-se ver que a expressiio do conflito é mais psicossocial do que biolégica.
A forga basica que surge da autonomia é a vontade, que envolve a determinagiio de exercer a
liberdade de escolha ¢ autolimitagdo diante das demandas da sociedade.
Iniciativa versus culpa
O estigio locomotor genital, que ocorre entre os trés e cinco anos, é semethante & fase filica no
sistema freudiano. As capacidades motora e mental continuam se desenvolvendo e a crianga con-
segue fazer mais coisas por conta propria; expressa um forte desejo de tomar a iniciativa em varias
atividades. A iniciativa também pode se desenvolver na forma de fantasias manifestas no desejo de
possuir o pai (no caso das meninas) ou a mae (no caso do meninos). Como os pais reagirio a essas
atividades ¢ fantasias desencadeadas pelo se/f? Se eles punirem a crianga e inibirem essas demons-
ages de iniciativa, ela desenvolvera sensagdes permanentes de culpa que afetardo as atividades
voltadas para o self durante toda a vida.
Na relagio edipiana, a crianga inevitavelmente falha, mas, se os pais orientarem essa situago
com amor ¢ compreensio, ela adquiriré consciéncia do que é comportamento permissivel e 0 que
no ¢, A sua iniciativa pode ser canalizada para metas realistas e socialmente sancionadas na pre-
paragdo para o desenvolvimento da responsabilidade e da moralidade adultas. Na teoria freudiana,
isso seria chamado de superego.
A forga bisica chamada objetivo surge da ini
ceber e buscar metas,
ativa, O objetivo envolve a coragem de con-vsulo 6 sik Erikson: Teoria da Identidade 185
Diligéncia versus inferioridade
A fase de laténcia de desenvolvimento psicossocial de Erikson, que ocorre dos 6 aos 11 anos,
corresponde ao periodo de laténcia de Freud. A crianga comega a ir a escola e é exposta a novas
infiuéncias sociais. Tanto em casa quanto na escola, a crianga aprende bons hébitos de trabalho
estudo (que Erikson chamava de “diligéncia”) basicamente como um meio de conseguir elogios €
obter a satisfagio extraida da execugdo bem-sucedida de uma tarefa.
Os poderes cada vez maiores de raciocinio dedutivo ea habilidade de seguir as regras levam
ao refinamento deliberado das habilidades exibidas na construgdo das coisas. Aqui as ideias de Eri-
kson refletem os esterestipos sexuais do periodo em que ele propés a sua teoria. Na sua opinio, os
‘meninos construirio casas nas drvores ¢ aeromodelos e as meninas ido cozinhar e costurar. Contu-
do, quaisquer que sejam as atividades associadas a essa idade, as criangas estio fazendo sérias ten-
tativas de concluir uma tarefa com muita atengao, diligéncia e persisténcia. Nas palavras de Erik-
son, ‘as habilidades bisicas de tecnologia silo desenvolvidas & medida que a crianga vai ficando
pronta para lidar com utensilios, ferramentas e armas utilizados pelos adultos” (1959, p. 83).
Novamente, as atitudes e comportamentos dos pais ¢ professores determinam em grande
parte como as eriangas acham que esto desenvolvendo e utilizando as suas habilidades. Se forem
repreendidas, ridicularizadas ou rejeitadas, provavelmente desenvolverdio sentimentos de inferi
idade ¢ inadequago. Por outro lado, elogios e reforgos estimulam a sensagdo de competéncia e
incentivam a luta constante.
A forga bisica que surge da diligéncia durante a etapa de laténcia é a comperéncia. Ela envol-
ve o exercicio da habilidade e da inteligéncia na busca e conclusto de tarefas.
resultado da crise em cada uma dessas quatro fases da infaincia depende das outras pessoas.
A resolugdo é uma fungdo mais do que € feito A crianca do que daquilo que ela pode fazer sozi-
‘nha, Embora as criangas adquiram cada vez mais independéncia do nascimento aos 11 anos, 0
desenvolvimento psicossocial continua, na sua maior parte, sob a infiuéncia dos pais ¢ professores,
geralmente as pessoas mais importantes na nossa vida nessa época.
‘Nas quatro tltimas fases do desenvolvimento psicossocial, temos cada vez mais controle
do nosso ambiente; escolhemos consciente e deliberadamente nossos amigos, faculdade, carrei-
ra, cénjuge e atividades de lazer. Todavia, essas escolhas deliberadas so obviamente afetadas
pelas caracteristicas de personalidade que se desenvolveram durante as fases do nascimento a
adolescéncia. O fato de o nosso ego apresentar basicamente confianga, autonomia, inici
diligéncia ou desconfianga, davida, culpa e inferioridade determinara o rumo da nossa vida
Coesio da identidade versus confusao de papéis: a crise de identidade
Aadolescéncia, entre os 12 ¢ 18 anos, &a fase na qual temos de enfrentar e resolver a crise da nossa
identidade biisiea do ego. E quando formamos a nossa autoimagem, a integragio das ideias sobre
nos mesmos € 0 que 0s Outros pensam sobre nds. Se esse processo for resolvido satisfatoriamente,
© resultado ser um quadro consistente e congruente.
Identidade do ego
A autoinagem formada durante a adolescéncia que integra as nossas ideas quanto ao
que somos ao que querens ser.
Moldar uma identidade e aceita la so tarefas dificeis, geralmente realizadas com ansiedade.
Os adolescentes fazem experiéncias com varios papéis e ideologias na tentativa de determinar os
mais compativeis com eles. Erikson verificou que a adoleseéncia era um hiato entre a infiincia ¢ a
idade adulta, uma moratéria psicolégica necesséria para dar & pessoa tempo e energia para repre-
sentar papéis diferentes e viver com autoimagens também diferentes.
AS pessoas que saem dessa fase com um forte senso de autoidentidade esto equipadas
para enfrentar a idede adulta com certeza ¢ confianga, Aquelas que nfo conseguem atingir uma186 Teorias da Personalidade
identidade coesa ~ que passam por uma crise de identidade — apresentario uma confusio de
papéis. Elas parecem no saber quem ou o que sto, qual é 0 seu lugar e 0 que querem se tornat;
podem afastar-se da sequéncia normal da vida (educagdo, trabalho, casamento), como Erikson fez
durante algum tempo, ou buscar uma identidade negativa no crime ou nas drogas. Até uma identi-
dade negativa, como a sociedade a define, é preferivel a nenhuma identidade, embora nao seja tio
satisfatéria quanto uma identidade positiva
Crise de identidade
O fracasso em adguirira identdade do ego durante a adolescncia
Erikson observou o impacto potencialmente forte dos grupos de colegas no desenvolvimen-
to da identidade do ego na adolescéncia. Notou que a associagio excessiva com grupos e cultos
fanéticos ou uma identificagao obsessiva com icones da cultura popular podem limitar o desenvol-
vimento do ego.
A forga basica que deveria se desenvolver durante a adolescéncia é a fidelidade, que surge de
luma identidade de ego coesa e engloba sinceridade, genuinidade e um senso de dever nos nossos
relacionamentos com as outras pessoas.
Intimidade versus isolamento
Erikson considerava o inicio da fase adulta uma etapa mais prolongada do que as outras, estendendo-
se do final da adoleseéncia até aproximadamente os 35 anos. Durante esse periodo, estabelecemos
‘nossa independéncia dos pais e das instituicées, como a faculdade, e comegamos a atuar de modo
‘mais aut6nomo como adultos maduros e responsiveis. Assumimos algum tipo de trabalho produ-
tivo € estabelecemos relacionamentos intimos — amizades intimas e unides sexuais, Na opinido de
Erikson, a intimidade nao se limitava aos relacionamentos sexuais, mas englobava também carinho
€ compromisso. Essas emocdes poderiam ser demonstradas abertamente, sem recorrermos a meca-
nismos de protecdo ou defesa, e sem medo de perdermos o nosso senso de autoidentidade; podemos
fundir a nossa identidade com a de outra pessoa sem submergi-la ou perdé-la no processo.
Aqueles que nao conseguem estabelecer essas intimidades no inicio da fase adulta desenvol-
‘em uma sensago de isolamento. Eles evitam contatos sociais, rejeitam as outras pessoas e podem
até se tomar agressivos em relagdo a elas; preferem ficar sds porque temem a intimidade, que
veem como uma ameaga 4 identidade do seu ego.
A forga bisica que surge da intimidade do inicio da fase adulta ¢ 0 amor, que Erikson con-
siderava a maior virtude humana. Ele 0 descreveu como uma devogdo miitua numa identidade
compartilhada, a fustio de uma pessoa com outra,
Preocupaciio com as préximas geragdes (“generatividade”) versus estagnacio
A idade adulta ~ aproximadamente dos 35 aos 55 anos — é a fase de maturidade na qual precisamos
estar ativamente envolvidos no ensino e na orientagdo da proxima gerae4o, Essa necessidade vai
além da nossa propria familia, Na opiniao de Erikson, nossas preocupagdes tornam-se mais amplas
¢ de maior alcance, envolvendo as geragdes futuras ¢ o tipo de sociedade na qual elas viverdio. A
Pessoa no precisa ser pai ou mae para apresentar preocupaglo com as proximas geragdes, ¢ ter
filhos também nao satisfaz automaticamente essa necessidade.
Erikson acreditava que todas as instituigées — sejam comerciais, govemamentais, de servigos
Sociais ou académicas — nos dio chances de expressar preocupagio com as proximas geragées.
Portanto, qualquer que seja a organizagio ou atividade em que estejamos envolvidos, geralmente
encontramos uma forma de nos tomarmos mentores, professores ou guiar os mais jovens para a
melhora da sociedade como um todo.
Quando as pessoas de meis-idade nfo conseguem ou ndo procuram uma vazio para a
Preocupagiio com as proximas geragdes, elas podem ser tomadas por sentimentos de “estagnacio,Capitulo 6 Erik Eskson: Teoria da Identidade 187
tédio € empobrecimento interpessoal” (Erikson, 1968, p. 138). A forma como Erikson descreve
essas dificuldades emocionais na meia-idade & semelhante & descrigao cle Jung da crise da meia-
~idade. Essas pessoas podem voltar a uma fase de pseudointimidade, satisfazendo-se de maneiras
infantis, podem também se tomar fisica ou psicologicamente inviilidas devido ao fato de ficarem
absortas nas suas proprias necessidades e comodidades.
© cuidar € a forga basica que surge da preocupagiio com as proximas geragdes na fase adulta;
Erikson a definiu como uma preocupagio ampla pelos outros e dizia que se manifestava na neces-
sidade de ensinas, no s6 para ajudar os outros, mas também para formar a propria identidade.
Integridade do ego versus desespero
Durante a fase final do desenvolvimento psicossocial, maturidade e a velhice, confrontamo-nos
com uma opgdo entre a integridade do ego e o desespero. Essas atitudes regem a forma como
avaliamos a nossa vida como um todo, Nessa época, nossos maiores esforgos esto concluidos ou
perto de o serem; examinamos a nossa vida e refletimos sobre ela, fazendo uma avaliagao final. Se
olharmos para tris com um sentimento de realizagao e satisfago, achando que lidamos de maneira
adequada com as vitérias e falhas da vida, pode-se dizer que temos integridade do ego, que envol-
ve, em palavras simples, a pessoa aceitar o seu lugar e 0 seu passado.
Por outro lado, se revisarmos a nossa vida com um senso de frustragio, aborrecidos porque
perdemos oportunidades e arrependidos de erros que no podemos corrigir, enldo sentiremos de-
sespero, Nos tornaremos frustrados com nés mesmos, desdenharemos dos outros ¢ ficaremos
amargos em relagdo ao que poderiamos ter sido.
Aos 84 anos, Erikson publicou um livro relatando os resultados de um estudo a longo prazo de
29 pessoas na faixa dos 80 anos cujos dados do hist6rico de vida vinham sendo coletados desde 1928.
© titulo, Vital involvement in Old Age (Envolvimemo Vital na Velhice), indica a receita de Erikson
para obtermos integridade do ego (Erikson, Erikson e Kivnick, 1986). As pessoas idosas precisam
fazer mais do que refletir sobre o passado. Elas precisam continuar ativas, participantes vitais, bus-
cando desafios e estimulos no seu ambiente, e se envolver em atividades como ser avés, voltar a
estudar e desenvolver novas habilidades ¢ interesses.
A forca basica associada a essa fase final do desenvolvimento € a sabedoria, que, deri-
vada da integridade do ego, & expressa na preocupago desprendida com o todo da vida, Ela é
transmitida as proximas geragdes numa integracdo de experiéncias que é mais bem deserita pela
palavra heranca,
Fraquezas Basicas
Do mesmo modo que as forcas bisicas podem surgir em cada fase do desenvolvimento psicosso-
cial, as fraquezas bisicas também podem. Nés observamos anteriormente que as formas bem ¢
mal-resolvidas de lidar com a crise de cada fase so incorporadas na identidade do ego numa espé-
de equilibrio eriativo. Embora o ego deva ser composto basicamente de atitudes de adaptacdo,
ele também contém uma parcela da atitude negativa.
Fraquezas basicas
Caracteristcas motivadoras derivadas da resolugio insatisfatéria da crise de desemvohiment,
Num desenvolvimento desequilibrado, o ego & composto apenas de uma atitude: a bem ou
mal-adaptada. Erikson denominou essa situagio de mau desenvolvimento, Quando sé a tendén-
cia positiva e adaptiivel esta presente no ego, a situacdo ¢ chamada de “mal-adaptada”, Quando
36 a tendéncia negativa esta presente, ela ¢ chamada de “maligna”, adaptagdes podem
levar a neuroses as malignidades podem levar a psicoses,188 Teorias da Personalidade
Mau desenvolvimento
Una situagio gue acorre quando 0 ego &composto apenas de uma tnica
maneira de lidar com conflts
Erikson achava que ambos os problemas poderiam ser corrigidas com a psicoterapia. As mas
adaptagdes, que sio distirbios menos graves, também podem ser aliviadas por meio de um proces-
so de readaptagdo, auxiliado por mudangas ambientais, relagdes sociais de apoio ou uma adaptagao
bem-sucedida numa fase de desenvolvimento posterior. O Quadro 6,2 apresenta uma relagto das
caracteristicas de mau desenvolvimento de cada uma das oito fases.
QUADRO 6.2 _As tendéncias de mau desenvolvimento de Erikson
Fase “Maneira de Reagir 3 ‘Mau Desenvolvimento
Oral sensorial Confianga Desajuste sensorial
Desconfianga Afastamento
Muscular anal ‘Autonomia Obstinacdo sem acanhamento
Davida, Vergonha Compulsio
Locomotora genital Iniciativa Crueldade
Culpa Inibigao
Laténeia Diligéncia Virtuosidade limitada
Inferioridade Inércia
Adolescéneia Coesdo da identidade Fanatismo
Contlusiio de papéis Reptidio
Tdade jovem adulta Intimidade Promiscuidade
, Tsolamento Exclusividade
Tdade adulta Preocupagao com as préximas geracées Superexpansio
Estagnagzo Rejeigao
Maturidadee velhice Integridade do ego Presungao
Desespero Desdém
Fonte: Adaptado de Vital involvement in old age, de Erik H. Erikson, Joan M, Erikson e Helen Q. Kivnick, com sutorizagio
4a W.W. Norton & Company, Inc. Copyright © 1986 by Erik H. Erikson, Joan M. Erikson e Helen Q. Kivaiek.
Questées sobre a Natureza Humana
Seria de se esperar que um teérico da personalidade que delineia as forcas basicas humanas ti-
vesse uma visto otimista da natureza humana, Erikson pensava que, embora nem todos fossem
bem-sucedidos na obtengio de esperanga, objetivo, sabedoria e outras virtudes, temos potencial
para obter tudo isso. Nada na natureza nos impede, tampouco temos de inevitavelmente softer
conflitos, ansiedade ¢ neuroses devido as forgas biolégicas instintivas.
As teorias de Erikson permitem otimismo porque cada fase do crescimento psicossocial, em-
bora centrada em tomo de crises, oferece a possibilidade de um resultado positivo. Nés somos
capazes de resolver cada situagio de maneira ajustada e fortalecedora. Mesmo que falhemos numa
fase e desenvolvamos uma resposta mal-adaptada ou uma fraqueza bisica, ainda ha esperanca de
mudanga numa fase posterior.
Nés temos potencial para direcionar conscientemente © nosso erescimento durante toda a
vida. No somos exclusivamente produtos das experiéncias de infincia. Ainda que tenhamos pou-
co controle durante as primeiras quatro fases do nosso desenvolvimento, obtemos cada vez mais
independéncia e capacidade de escolher formas de responder as crises ¢ demandas da sociedade.