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734 visualizações6 páginasMARROU, H-I. Decadencia Romana, Ou Antiguidade Tardia
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Ruben RyanDireitos autorais
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1 4 HENRI-IRENEE MARROU
COPIADORA PEITORIA |
W ciner 7 OL——— | DECADENCIA ROMANA,
cnn aE / OU ANTIGUIDADE TARDIA?
H.-l, MARROU (1904-1977)
Antigo professor das Universidades
do Cairo, Nancy, Montpellier e Lyon,
ocupou desde 1945 a catedradehis-
toria do cristianismo na Sorbonne.
Historiador 0 fildsofo de formagao
humanista, especialista em cultura
antiga © em patristice, a sua obra
histérica ¢ filosética de excepional
envergadura 6 produto de mais de EDITORIAL ASTER
40 anos consagrados a0 ensino ea LISBOA
investigagao. 1979 Vista da India ou da China, @ nosso civiticag#o ocitiental|paréce|
uma filial de civilizagio grega. As nossas mateméticas, que $40 0
nosso orgulho @ fundamentam 0 nosso poderio, satram do processo
que liga os primaires pitagoricos a Euclides e a Diotanto de Alaxondria.
A nossa ciéncia experimental comega com @ madicina hipocrética:
a Historia, com Herédoto o Tuciildes: a Poesia, com Homero; 0 Teatro,
‘com Esquilo: 0 mosme se ditd quanto ds Arte
Mas a transicéo da Grécia_cléssica pars a Europe modarna.nio.
se_deu pot via_de_tiliagtlo ditecta: entre as duos, houve lugar para
certas madiagdes. Dente estas. todos conhecem 0 Renascimento
umanista ¢, ontes dela, a Cristandade medieval, Os histeriadores
acabaram por reconhecer a importincia de uma outra mediagéo,
anterior a ambas, — a mediacio de Antiguidade tardia. © papel. a
natureza, a prépria existéncia deste perlodo so mal.avoliadas, fora
de um estreito circulo de especialistas. O pequeno livra que se vai
Jer quereria contribuir para que esse perlodo hisidrico pessasse final-
mente 4 fazer parte da cultura comum da homem de hoje. A ANTIGUIDADE TARDIA
Um pouso contrarlaca (dir-se-ia contra o tempoll, 0 Museu do
Louvre continua a exper aquela imensa méquine de Thomas Couture
‘que, 20 ser apresentada so Saton de 1847, foi saudada come obra-
prime, O pintor, que, mo funds. como bom discipulo de Ingres, o que
mais quevia era pintar nus femininos e atitudes voluptuosas, dau-ine
© muito sAbio nome de “Os Romanos da decadéncia”, ¢ 0 seu quadro
comentarios apaixonados, de.um.atdor.que nao pede deixar
de.nas espantar. Mas.era de esperar que.o seu significado pretensa-_
mente histérico fizesse.dele ébjeato de sisudas Fetlexoes..
Menos énfase, e ume boa dose de ironia, encontramos em
“Langueur”, soneto que, em 1883, Verlaine cedicave 2 Georges
Courteline © que, no ano soguinte, ontraria, sab a rubrica “A maneira
de muita gente”, no seu “Jadis et Nagubre"
Je suis Empire & la fin de ta déeadence,
Qui regarde passer les grands Barbares blancs
En composent des acrostiches indolents
D’un style d'or of a langueur du soleil danse.
L’ame seuletto 2 mal au coour d'un ennui dense
La-bas on dit qu'il est de fongs combats sanglants,
O n'y pouvoir, dtant si faible aux coeurs si lents,
O ry voulair fleurir un pou cette existencel
O n'y vouloir, 6 n'y pouvoir mourir un peut Ab! tout est bul Bathylle, as-tu fini de rire?
Abt tout est bu, tout est mangé! Plus rien 2 direl
Seul, un po8me un peu niais qu'on jette au feu,
Seut, un esclave un peu coureur qui vous ‘néglige,
Seul, un ennui don ne sait quoi qui vous affiige! *
Ve-se bem que 0 poeta n&o toma muito a sério esse titulo de
“decadente” com que os estetas “fin de sidcle” gostavam de se
adomer. Mas, se por esses anos de 1880 a 90, ¢ no digo apenas
em Franca mas também na Italia, na Inglaterra, na prépria Aleranha,
a imagem da decadéncia esteve assim tanto’ ern moda, foi porque
tal thor dizendo, ‘clichéou.mania — havia quatro séculos
ave circulava_na_consciéncia ocidental, Desde 0 século XV, desde
© humanismo renescentista, todo este periodo para que quererlamos
chamar a atengao do leitor estava ferido de um mosmo jutzo pejora-
tivo: ontre o esplendor da Antiguidade classica e a “renovacao" das,
Letras © das Artes, nada havia — literaimente nada. Um vazio, um
Negro tinel separava esses dois momantos gloriosos da civlizacd0.
‘As manifostacdes artisticas da Antiguidade tardia oram, tal como
95 balduceios das idades obscuras, englobadas nesse geral desprez0.
Os humanistas italianos nao usam senso adjectives desagraddveis
para 2s qualificar: Arte ultramontana, tudesca, gética, — este termo
de yético, que havia de ser to glorificado, era entdo, na pena de tais
homens, 0 mesmo que barbaro, Escutemos Vasari nas suas Vidas
dos mais excelentes pintores, escultores o arquitectos (a obra &
de 1580; mas, {4 um século antes, Ghiberti, 0 escultor das portas
60 Baptistério de Florenga, também datava a decadancia da época
Sou 0 Império no firs da.decsdéncis,
que v8, ates e brances, 08 Bsrbaros i
© compoe @ compos acrdstizo Indolante,
do um estilo de alco am qua danga 2 langulcee do Set
Sozinha, a alma pena, perdida am conse tédlo
Diz-se que algures se travam longaé lutas sangrentas
‘Quem my dora padar {to fraco @ em ritmes lantosl,
Quem me dere quater Corie sta minha videl
(Oh nee querer... oh ade poder marrer af um poucel
‘A taca jd secou Ino to ra, Sathya)
Tudo jd e818 bobido, « eomidel Silencio
85 um poems iota que vou lancar 30 fogo:
86 um oseravo atravido que ni trata de mis
56.0 Weslo de 1ud0, @ da neds, eonsomel
de Constantino): “Se bem que as artes tivessem continuado a tlo-
-sesver at6 a0 fim do império dos Xil Césares, nto puderam manter-se
‘na mesma perfeigio e qualidade que anteriormentetinham atingido\..)
Deciinando de dia para dia, elas acabaram, pouico a pouco, por perder
toda a perfeicdo da forma. E disso dao testamunhe claro as abras do
escultura @ de arquitectura executadas em Roma no tempo de
Constantina |.
Em Franca, na época classica, este juizo peloretivo viré a sor
roforgado pola estrelteza do gosto e a rigidez do cnon estético. Assim,
vemos Molitre, celebrando, em 1683, a obra do seu amigo Mignard
nna cipula do Val-de-Grace:
{..) Tu, que foste um dia a senhora do Mundo,
Douta e famosa escola, fértil ern raridades,
onde, por nobre esforco, as obras exumadas
compensaram as perdas dos Barbaros do Norte,
Fente dos beles restos dos a6culos momorévoie,
© Roma bu.)
No século XVIII, a mesma atitude se repete, ainda mais nitida
: Para Montesquieu, a arte do Baixo-Império 6 jd decadent 4 mal
, tem que “essa dureza gética’” (a0 visitar a colecqiodos bustos romanos
de Florenca, Montesquiey_ seatiu.muito.bem-que, pa arte romana,
. desde ¢ sécuio |V até ao fim da dinastia dos Severos, se ésbotava uma
