Ligas de Pistões - Liga 12% e 12%SiCuNi
Ligas de Pistões - Liga 12% e 12%SiCuNi
MARCIO YAMAWAKI
São Paulo - SP
2013
2
92 f.: il.; 30 cm
CDD 621.43
MARCIO YAMAWAKI
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Mestrado
Profissional em Engenharia de Materiais
da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre
Profissional em Engenharia de Materiais
São Paulo - SP
2013
MARCIO YAMAWAKI
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Mestrado
Profissional em Engenharia de Materiais
da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre
Profissional em Engenharia de Materiais
BANCA EXAMINADORA
______________________ _________
Prof. Dr. Jan Vatavuk
Universidade Presbiteriana Mackenzie
____ _______
Prof. Dr. Antônio Augusto Couto
Universidade Presbiteriana Mackenzie
_________
Prof. Dr. Arnaldo Homobono Paes de Andrade
Universidade IPEN
Dedico este trabalho a minha família,
principalmente aos meus pais que me ensinaram
os princípios que norteiam a minha vida
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Eunice e Antônio pelos bons exemplos e pela luta árdua determinação
com que batalharam pela minha educação.
À minha irmã Norma pelo apoio e companheirismo fraterno sempre compreendendo
as minhas iniciativas.
À minha esposa e companheira Glauce pela compreensão e pelo suporte.
Ao meu orientador, o Prof. Dr. Jan Vatavuk pelo apoio e pelo incentivo para a
execução deste trabalho e também pela sua contribuição através do seu conhecimento ímpar
na disciplina de engenharia dos materiais.
À MAHLE Metal Leve pelo suporte técnico e pelo conhecimento que adquiri nestes
anos de trabalho e também pela sua atuação neste mundo fascinante da indústria
automobilística.
A todos que de alguma maneira nutrem uma paixão por veículos e que desta forma
incentivam diretamente este ramo da indústria e que sempre fascinou as pessoas desde a sua
criação.
RESUMO
Pistons are one of the most challenged components on an internal combustion engine.
The range of thermal and mechanical loads on these components reach limit levels where the
applied materials cannot react and are not able to go back to its original condition. We can say
that pistons are the fuses of an internal combustion engine.
The adequate selection of materials for the pistons must take in account the usage of
the engines. For passenger cars for instance, typically light alloys are chosen in order to attend
the low fuel consumption and emission level demands. For commercial vehicles there are
more freedom choosing the materials because weight does not play the same level of role but
on the other hand requires materials that can resist the very high loads involved.
The objective of this work is to describe the criteria’s involved on a piston design and
how closed they are connected with the adequate material selection.
A case study of a aluminum piston for Diesel engine application that presented a pin
bore crack related to feathery grain formation will be shown.
Figura 1: Peugeot Type3-1891 – Museé Peugeot de Sochaux (La Historia del Auto, 2013) .. 16
Figura 2: Componentes de um Motor (DE OLIVEIRA JR., 2004).......................................... 20
Figura 3: Modelo de um motor de combustão interna do Ciclo Otto (WIKIPEDIA, 2013) .... 22
Figura 4: Pistões modernos de Alumínio e Aço (MAHLE Database, 2012) ........................... 22
Figura 5: Cópia do certificado do Prêmio do Melhor Pistão de Liga Leve (ZIMA, 2005) ...... 24
Figura 6: Pistão Elektron GEK e Pistão Hirth B (ZIMA, 2005) .............................................. 25
Figura 7: Hanomag Kommisbrot 2/10 (WIKIPEDIA, 2013) ................................................... 27
Figura 8: Pistão do Motor Hanomag (ZIMA, 2005) ................................................................ 27
Figura 9: Conjunto Motriz – Powercell Unit (MAHLE Database, 2012) ................................ 29
Figura 10: Pistão com suas partes principais e esquema de forças (MAHLE GMBH, 2010).. 30
Figura 11: Nomenclatura dos Pistões (MAHLE GMBH, 1986) .............................................. 31
Figura 12: Evolução da Pressão de combustão de acordo com potência específica (MAHLE
Database, 2012) ........................................................................................................................ 33
Figura 13: Distribuição de Temperaturas em Pistões (MAHLE GMBH, 2010) ...................... 34
Figura 14: Exemplos de pistões de expansão controlada (MAHLE GMBH, 2010) ................ 36
Figura 15: Pistões tipo Box (MAHLE GMBH, 2010) ............................................................. 37
Figura 16: Pistão EVOTEC® (MAHLE GMBH, 2010) .......................................................... 38
Figura 17: Pistão forjado de alumínio para Fórmula 1 (MAHLE GMBH, 2010) .................... 38
Figura 18: Pistão e cilindro de um motor de 2 tempos (MAHLE GMBH, 2010) .................... 39
Figura 19: Pistão com porta anel (MAHLE GMBH, 2010) ..................................................... 40
Figura 20: Pistão com galeria de refrigeração e pistão com porta anel refrigerado (MAHLE
GMBH, 2010) ........................................................................................................................... 40
Figura 21: Pistão com porta anel refrigerado e bucha de bronze no cubo. (MAHLE GMBH,
2010). ........................................................................................................................................ 41
Figura 22: Pistão articulado com topo em aço e saia em alumínio e bucha de bronze no cubo
(MAHLE GMBH, 2010) .......................................................................................................... 42
Figura 23: Pistões completamente em aço (MAHLE GMBH, 2010) ...................................... 42
Figura 24: Pistão em aço soldado por fricção (MAHLE GMBH, 2010) .................................. 43
Figura 25: Pistão em aço de duas peças parafusado (MAHLE GMBH, 2010) ........................ 43
Figura 26: Pistão com cobertura de grafite silk screen na saia para redução de atrito para
aplicação geral (MAHLE Database, 2012)............................................................................... 46
Figura 27: Pistão com cobertura de ferro na saia para aplicação em blocos de alumínio
(MAHLE Database, 2012)........................................................................................................ 47
Figura 28: Evolução das geometrias de pistões ao longo dos anos e redução de peso do
conjunto Pistão, Pino e Anéis (MAHLE Database, 2012) ....................................................... 48
Figura 29: Evolução das geometrias de pistões ao longo dos anos e redução de peso do
conjunto Pistão e Pino (MAHLE Database, 2012) ................................................................... 49
Figura 30: Diagrama de fase Alumínio-Silício (MAHLE GMBH, 2010)................................ 51
Figura 31: Dureza em função da temperatura para ligas de Alumínio-Silício (MAHLE
GMBH, 2010) ........................................................................................................................... 52
Figura 32: Curvas de dureza residual em temperatura ambiente para ligas de Alumínio-Silício
tratadas termicamente (MAHLE GMBH, 2010) ...................................................................... 53
Figura 33: Resistência à Fadiga em diferentes zonas dos pistões em função da temperatura
para uma Liga Eutética de Alumínio-Silício (MAHLE GMBH, 2010) ................................... 54
Figura 34: Resistência à fadiga em função da temperatura (MAHLE, 2008) .......................... 56
Figura 35: Liga Eutética AlSi12CuMgNi resfriada à temperatura ambiente (MAHLE
Database, 2012) ........................................................................................................................ 59
Figura 36: Liga Eutética AlSi12CuMgNi submetida à resfriamento brusco (MAHLE
Database, 2012) ........................................................................................................................ 60
Figura 37: Trinca de borda de câmara de um pistão Diesel de alumínio (MAHLE Database,
2012) ......................................................................................................................................... 61
Figura 38: Exemplo de um pistão com liga refundida à laser na borda e fundo da câmara.
(MAHLE Database, 2012)........................................................................................................ 62
Figura 39: Tipos construtivos de pistões de alumínio para aplicação Diesel. (MAHLE
Database, 2012) ........................................................................................................................ 63
Figura 40: Tipos construtivos de pistões de aço para aplicação Diesel (MAHLE Database,
2012) ......................................................................................................................................... 65
Figura 41: Morfologia das dendritas gêmeas apresentando uma forma de leque entre os seus
diversos ramos. Os círculos pretos mostram a provável região de nucleação (M. A.
SALGADO-ORDORICA, 2008) ............................................................................................. 67
Figura 42: Exemplo típico de um dinamômetro para motores Diesel ...................................... 68
Figura 43: Jogo de Pistões após Teste de Dinamômetro de 1000 horas.................................. 69
Figura 44: Ilustração sobre o conceito de machos de fundição para pistões (MAHLE
Database, 2012) ........................................................................................................................ 71
Figura 45: Esquema de uma coquilha de fundição de pistões completa (MAHLE Database,
2012) ......................................................................................................................................... 71
Figura 46: Croqui representativo das tensões desenvolvidas no cubo do pistão por ocasião da
combustão. A direita de forma esquemática as possibilidades em termos de cisalhamento,
Posição A e posição B, considerando-se dois planos perpendiculares entre si. ....................... 73
Figura 47: Os três modos de propagação de trincas ................................................................. 73
Figura 48: Mecanismos de Fratura (GABRIEL, 1985) ............................................................ 74
Figura 49: A – Dimples normais típicos em carregamento mecânico axial isento de entalhes
além dos decorrentes do processo de fratura. ........................................................................... 75
Figura 50: Microscópio eletrônico de varredura – Tech Center Mahle Metal Leve ................ 78
Figura 51: Secção longitudinal e regiões demarcadas nas quais se realizou análise
metalográfica ............................................................................................................................ 78
Figura 52: Microscópio óptico Olympus – Tech Center Mahle Metal Leve............................ 79
Figura 53: Durômetro Georg Reicherter – Tech Center Mahle Metal Leve ............................ 79
Figura 54: Microestrutura da região da câmara do pistão ....................................................... 80
Figura 55: Microestrutura da região da câmara do pistão ....................................................... 80
Figura 56: Microestrutura na região do cubo do pistão. ........................................................... 81
Figura 57: Distribuição dos pontos submetidos aos testes de dureza. ..................................... 81
Figura 58: Aspecto geral da falha. Seta e elipse indicam trinca desenvolvida junto ao cubo do
pistão. A região tracejada em vermelho corresponde a região de retirada da amostra para
análise detalhada. ...................................................................................................................... 83
Figura 59: Detalhe da seção cortada do pistão mostrando a trinca e a fenda realizada para
separar as superfícies de fratura A e B ..................................................................................... 84
Figura 60: Faces de fratura após a separação de suas superfícies. A profundidade da trinca
principal é da ordem de 4mm ................................................................................................... 84
Figura 61: Imagem de elétrons secundários da região da falha ................................................ 85
Figura 62: : Imagem de elétrons secundários. Região delimitada pelo retângulo vermelho da
Figura 61 observada com maior ampliação .............................................................................. 86
Figura 63: Imagem de elétrons retro espalhados. ..................................................................... 87
Figura 64: Imagem de elétrons secundários. Setas indicam a presença de dimples de
rasgamento nas duas superfícies de fratura com sentidos opostos. .......................................... 87
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 15
2 OBJETIVO .............................................................................................. 15
5 CONCLUSÕES ....................................................................................... 89
6 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 91
15
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVO
Mostrar o histórico da evolução, até os dias atuais, do projeto e dos materiais aplicados
aos pistões para aplicação em motores de combustão interna, descrevendo os critérios de
projeto e também quais fatores devem ser considerados para a escolha do melhor material
para produção destes componentes.
Será realizado também um estudo de caso onde um pistão de alumínio para aplicação
em um veículo comercial que utiliza um motor do ciclo Diesel apresentou uma trinca no cubo
e que não está relacionado ao excesso de carrregamento mas sim à uma formação de dendritas
gêmeas.
16
Figura 1: Peugeot Type3-1891 – Museé Peugeot de Sochaux (La Historia del Auto, 2013)
Henry Ford decide trazer a empresa ao Brasil em 1919 e sentencia: “O automóvel está
destinado a fazer do Brasil uma grande nação”. Pouca gente sabe mas a primeira linha de
montagem e o escritório da empresa forma montados na Rua Florêncio de Abreu no centro da
17
cidade de São Paulo. Em 1925 a General Motors abre a sua fábrica no bairro do Ipiranga,
também na cidade de São Paulo para montar os veículos da marca Chevrolet. Em 1926
iniciava-se a construção da atual planta da General Motors em São Caetano do Sul, região
metropolitana de São Paulo.
Os números da época são impressionantes: entre 1920 e 1939, só no estado de São
Paulo, o número de carros de passeio salta de 5.596 para 43.657 e o de caminhões de 222 para
25.858. Com o início da segunda guerra mundial em 1940 as importações são praticamente
paradas e a frota de veículos do Brasil vai ficando totalmente ultrapassada. Era preciso então
criar um parque industrial brasileiro nesta época foi proibida então a importação de veículos
montados e também criados obstáculos à importação de peças automotivas.
Em 1956 ações governamentais levaram a criação do GEIA – Grupo Executivo da
Industria Automobilística e ainda no mesmo ano foi inaugurada em São Bernardo do Campo,
no ABC Paulista a primeira fábrica de caminhões com motores nacionais da Mercedes-Benz.
Também em 1956 iniciou-se a fabricação da famosa Romi-Isetta sob licença da Iso
Autoveicoli, inventora do veículo. Este foi o primeiro carro de passeio produzido no Brasil e
seu lançamento foi em 05 de Setembro de 1956.
Ainda em 1956 a Vemag lançou veículos produzidos pela DKW porém montados no
Brasil com peças nacionais. Em 1959 foi inaugurada a fábrica da Volkswagen em São
Bernardo do Campo para produção do seu primeiro modelo: a Kombi que é produzida até
hoje e foi a percursora do Volkswagen Sedan - Fusca.
A Ford e a General Motors (que produz os modelo Chevrolet) e que somente
montavam veículos com peças importadas, começaram a produzir veículos em 1968 e a
próxima montadora a se instalar no país foi a Fiat em 1976 na cidade de Betim na grande
Belo Horizonte (Indústria Automobilística, 2012).
Em comum para todas estas empresas está o princípio motor dos seus produtos e que
se baseiam no Motor de Combustão Interna.
01 – Bloco
02 – Cabeçote
03 – Carter
04 – Válvulas
21
Associação das Indústrias Automotivas Alemãs. Este concurso em que nove empresas
tomaram parte, foi denominado “Concurso para Pistões de Liga Leve” e foi dirigido pelo Dr.
Gabriel Becker e era baseado em critérios objetivos para avaliação do melhor projeto como
conceito e também avaliado através da sua performance que foi avaliada em dois motores de
ciclo Otto: um Daimler de 33kW e um outro Protos de 22kW. Para a escolha dos melhores
conceitos foram analisados os seguintes parâmetros: metalografia da liga, composição
química, dilatação volumétrica, densidade, coeficiente de transmissão de calor, estrutura da
liga, processo de obtenção do bruto dos pistões e além disso foram analisados dados de
performance como consumo de combustível, rendimento térmico, taxa de compressão,
comportamento em marcha lenta, ruído e outros (ZIMA, 2005).
Resultado Final
1º. Prêmio: Elektron-Kolben GEK (Chem. Werke Messer-Griesheim)
2º. Prêmio: Aluminiumkolben Hirth B (Deutsche Oelfeurungswerke)
3º. Prêmio: Aluminiumkolben Hirth B (Deutsche Oelfeurungswerke)
4º. Prêmio: Elektron-Kolben GEA (Chem. Werke Messer-Griesheim)
A Figura 5 apresenta a cópia referente ao certificado do melhor pistão de liga leve.
24
Figura 5: Cópia do certificado do Prêmio do Melhor Pistão de Liga Leve (ZIMA, 2005)
Para ilustrar a importância deste prêmio, basta indicar que as empresas vencedoras são
parte da origem histórica de duas empresas bastante conceituadas no ramo automobilístico
atual : a MAHLE GmbH e a KS A.G e a Figura 6 corresponde aos desenhos dos pistões
vencedores do prêmio.
25
É interessante notar que o pistão vencedor do primeiro prêmio era de uma liga de
Magnésio (assim como o vencedor do quarto prêmio) enquanto que o segundo e terceiro
lugares ficaram com pistões em liga de Alumínio. É de se destacar que se nas regras do
prêmio houvesse um quesito durabilidade, o resultado com certeza seria outro. A Tabela 1:
Composição química dos pistões vencedores apresenta a composição químicas das ligas
vencedoras do prêmio.
A densidade dos metais base das ligas vencedoras são de 2,7g/cm3 e 1,7g/cm3 para o
alumínio e magnésio respectivamente (CALLISTER, 2008) .
A Figura 7 corresponde ao primeiro carro popular da Alemanha, o Hanomag
Kommisbrot produzido entre 1925 e 1928 e era movido por um motor de 7,4kW (10HP)
equipado com um pistão de diâmetro 80mm em liga Elektron de Magnésio.
27
Os pistões são basicamente corpos cilíndricos divididos em três principais áreas: topo
(ou cabeça) que contém a zona dos anéis - cubo e saia.
A força transmitida pelo pistão na direção da biela é representada pela indicação Fst e
pode ser decomposta em duas componentes: Força Lateral – Fs que é a força que a saia do
pistão aplica sobre a superfície do cilindro do motor e a Força Fk que é a força gerada pela
pressão dos gases e também pelo movimento inercial do sistema pistão/biela.
A Figura 9 corresponde à representação do conjunto mecânico composto por pistão,
pino de pistão, anéis, camisa, biela de bronzinas pertencentes ao conjunto que transforma
energia térmica em energia mecânica em uma unidade motriz.
29
Os pistões são basicamente corpos cilíndricos divididos em três partes principais: topo
ou cabeça que contém a zona dos anéis – cubo e saia, conforme apresentado na Figura 10.
30
Figura 10: Pistão com suas partes principais e esquema de forças (MAHLE GMBH, 2010)
01 – Diâmetro do Pistão
02 – Topo do Pistão
03 – Câmara de combustão
04 – Borda da Câmara de Combustão
05 – Espessura da Cabeça
06 – Altura Superior
07 – Zona dos Anéis
08 – Zona de Fogo
09 – Intercanaletas (Lands)
10 – 1ª e 2ª Canaletas
11 – Canaleta do Anel de Óleo
12 – Porta Anel
13 – Furo de retorno de Óleo
14 – Altura de Compressão
15 – Altura Total
16 – Comprimento da Saia
17 – Altura Inferior
18 – Galeria de Refrigeração
19 – Cubo
20 – Furo do Pino
21 – Canaleta do Anel Trava
22 – Entre Cubos (na linha de centro do pino)
23 – Entre Cubos Superior
24 – Saia
25 – Janela
26 – Recesso Fundido
27 – Recesso da Saia
28 – Alívio do Bico Injetor de Óleo
29 – Encaixe
30 – Altura Interna
33
Os esforços térmicos e mecânicos sobre o pistão atingem valores extremos e é por isso
que é necessária uma escolha criteriosa dos seus materiais e também um projeto refinado das
suas dimensões.
Modernamente as pressões aplicadas no topo do pistão podem atingir valores de 10,0
MPa para os motores aspirados e até 24,0 MPa para os motores sobrealimentados. As forças
laterais podem atingir valores de até 10% da força principal dos gases.
A Figura 12 mostra a evolução das pressões de combustão em função do aumento da
potência específica dos motores modernos. Este aumento da pressão de combustão é ainda
mais evidenciada nos motores downsizing. O termo downsizing é aplicado para os motores
pequenos e que devido a sua tecnologia conseguem obter a mesma potência de um motor de
maior capacidade volumétrica. O termo miniaturização é uma tentativa de tradução para
downsizing porém ainda não é de ampla utilização.
Figura 12: Evolução da Pressão de combustão de acordo com potência específica (MAHLE
Database, 2012)
As temperaturas dos gases podem atingir até 2.000º C na câmara de combustão e até
900º C no escape. A temperatura da cabeça do pistão pode atingir até 400º C para os pistões
de liga leve e de até 500º C nos pistões de aço ou ferro fundido. A temperatura no cubo dos
pistões pode atingir até 260º C e na saia até 180º C conforme mostrado na Figura 13.
34
As acelerações envolvidas também são muito altas, podendo atingir 25.000 m/s2. Além
disso o atrito entre os anéis e as canaletas, cilindro do motor e saia dos pistões, pino e cubo do
pistão demandam um material de baixo atrito e que possa suportar altas cargas e tenha uma
alta resistência contra o engripamento mesmo sob condições bastante severas de lubrificação.
É praticamente impossível falar sobre funcionamento de pistões sem referenciar
também o princípio de funcionamento dos anéis de pistão. Praticamente todos os motores
modernos contam com pistões equipados com 3 anéis, sendo:
1° – Anel de Compressão: cuja principal função é vedar a câmara de combustão
evitando passagem de gases pelo pistão
2 ° - Anel Raspador: atua na raspagem do óleo da parede do cilindro e também como
um segundo anel de compressão (tem portanto uma função dupla).
3° - Anel de Óleo: atua no controle do filme de óleo da parede do cilindro
(ISO - INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2006)
35
Uma das funções importantes dos anéis e que as vezes é negligenciada é a tarefa de
transferir o calor do pistão e da câmara de combustão para as paredes do cilindro já que são
estas paredes que serão refrigeradas diretamente pelos fluídos de arrefecimento do motor.
Ferros Fundidos (cinzento e nodulares) e aço são os materiais mais empregados para a
produção de anéis de pistão. Existe uma clara tendência ao aumento da utilização de aços
devido às cargas a que os anéis estão submetidos e também a oferta cada vez maior de fitas de
aço com perfis já praticamente acabados para a produção de anéis.
Para suportar às condições de pressão, temperatura e desgaste a que são submetidos,
torna-se necessária a aplicação de coberturas nos anéis como por exemplo molibdênio ou
cromo entre outros e processos avançados de deposição como plasma e PVD (physical vapor
deposition).
36
Estes pistões normalmente são projetados em ligas de alumínio e podendo ter paredes
simétricas ou assimétricas dependendo do tipo construtivo e que deve levar em consideração o
peso reduzido e também absorver grandes deformações na região da saia.
Um tipo destes pistões e que foi amplamente utilizado até os anos 1980 foram os
pistões de expansão controlada e que se caracterizam por serem pistões de alumínio fundido
contendo chapas de aço inseridas na sua parte interna. Como o alumínio possui uma dilatação
térmica de aproximadamente o dobro do valor do ferro fundido utilizado na fabricação dos
blocos de motor, acaba-se gerando uma dilatação em diâmetro também proporcionalmente
maior o que leva à necessidade de uma folga de montagem a frio muito grande. As chapas de
aço faziam então com que fosse possível construir pistões com folgas de montagem
relativamente pequenas o que resultava em motores muito mais silenciosos. A Figura 14
apresenta dois exemplos de pistões com expansão controlada.
Atualmente estes pistões já não são mais utilizados devido ao seu alto custo e também
pelo desenvolvimento de perfis de saia avançados que conseguem evitar o ruído da batida dos
pistões contra os cilindros.
Uma designação mais relativa ao desenho da saia é o conhecido pistão tipo box. Estes
tipos de pistões são caracterizados por paredes verticais que além de aliviar o peso do
componente serve também para conferir uma elasticidade ao projeto que possibilita
compensar a diferença de dilatação térmica entre o cilindro e os pistões. A Figura 15
corresponde a dois exemplos de pistões do tipo box.
Uma evolução dos pistões tipo box são por exemplo os pistões EVOTEC®. Estes
pistões tem um grande potencial de redução de peso devido ao sua pequena distância entre
cubos e normalmente são utilizados com um formato trapezoidal do suporte.
Eles possuem um grande ângulo de inclinação das janelas e grandes reentrâncias na
região de concordância com a zona dos anéis. Através da combinação de aletas de reforço,
estes pistões são também estruturalmente muito robustos e conseguem absorver grandes
esforços mecânicos. Uma característica bastante peculiar destes pistões é que a largura da saia
no lado de maior pressão é menor que a largura do lado oposto. A Figura 16 mostra um
exemplo de um pistão EVOTEC® em duas posições.
38
.
Figura 17: Pistão forjado de alumínio para Fórmula 1 (MAHLE GMBH, 2010)
39
Porta anéis são insertos de ferro fundido austeníticos com um coeficiente de expansão
térmica aproximada a da liga de alumínio do pistão. Este tipo de material é muito resistente à
abrasão e também ao desgaste por impacto. Isto o torna muito resistente a altos carregamentos
térmicos e mecânicos gerados pelas altas pressões de combustão muito comuns nas aplicações
de motores Diesel.
Também devido ao alto carregamento térmico, aplica-se neste tipo de motores, pistões
com galerias de refrigeração. Estas galerias visam captar o óleo do cárter que é injetado
através de bicos localizados na parte inferior do bloco. O óleo circula por dentro dos pistões
realizando a troca do calor gerado pela combustão através das paredes da galeria. A Figura 20
mostra dois exemplos de pistões de alumínio com galeria de refrigeração.
Figura 20: Pistão com galeria de refrigeração e pistão com porta anel refrigerado (MAHLE
GMBH, 2010)
41
Os pistões com porta anel refrigerado que aparece do lado direito da Figura 20
permitem uma troca de calor mais eficiente na região da primeira canaleta.
Apesar da região do cubo estar relativamente distante da zona mais quente que é a
câmara de combustão, muitas vezes a temperatura nesta região atinge os 240°C e com isto a
resistência à fadiga do alumínio nesta região reduz-se drasticamente. A solução é a aplicação
de buchas de bronze sólido nos cubos dos pistões conforme mostrado na Figura 21 e com isto
aumenta-se a resistência ao carregamento desta região. Tipicamente utilizam-se buchas
usinadas de CuZn31Si1.
Figura 21: Pistão com porta anel refrigerado e bucha de bronze no cubo. (MAHLE GMBH,
2010).
Figura 22: Pistão articulado com topo em aço e saia em alumínio e bucha de bronze no cubo
(MAHLE GMBH, 2010)
Figura 24: Pistão em aço soldado por fricção (MAHLE GMBH, 2010)
Para aplicações de grande porte, pode-se abrir mão do uso de pistões compostos por
duas peças fixadas através de juntas parafusadas. Este tipo de construção é mostrado na
Figura 25 e permite utilizar diferentes tipos de aço para as diferentes demandas de cada região
do componente e desta forma otimizar o projeto.
Figura 25: Pistão em aço de duas peças parafusado (MAHLE GMBH, 2010)
44
veículos. Cabe lembrar que esta legislação é muito similar e baseada à aplicada na Europa em
sua fase EURO5.
Como exemplo do impacto destas legislações sobre o desenvolvimento dos motores e
veículos, podemos citar que tornou-se necessário criar por exemplo uma rede de distribuição
de um Agente Redutor Líquido Automotivo de NOx – ARLA32.
Trata-se de uma solução aquosa com 32,5% de uréia dissolvida em água e que através
de um sistema de mistura no escape conhecido como SCR faz com que este componente reaja
com os gases, reagindo e neutralizando a emissão de NOx (óxidos de nitrogênio) (SHELL,
2013)
A adoção da tecnologia do SCR foi tão impactante que apesar do seu custo inicial para
a instalação do sistema e também do custo de aquisição do ARLA32 ainda tem um impacto
positivo para o usuário devido à redução do consumo de combustível que é possível através
da otimização da combustão.
Outra tecnologia aplicada nos motores é o EGR – recirculação de gases de escape.
Esta tecnologia faz com que os resíduos não queimados possam retornar à câmara de
combustão para que sejam eliminados pelos ciclos subsequentes. Isto tem um grande impacto
na vida dos componentes internos do motor pois passa a criar um ambiente com muitos
resíduos que antes eram jogados diretamente no escape.
Desta maneira torna-se importante também procurar uma redução de atrito entre a saia
dos pistões e a superfície dos cilindros. Uma maneira de se obter esta redução de atrito é o
recobrimento com materiais antrifricção. Convencionalmente os pistões recebem uma
cobertura de uma resina com grafite conforme mostrado na Figura 26. Inicialmente esta
cobertura era aplicada na forma de um spray e que garantia uma resistência da mesma
somente durante o período de amaciamento. Com o desenvolvimento na década de 90 de
coberturas mais resistentes aplicadas através do processo de estampagem por silk-screen,
estas coberturas conseguem se manter durante um período muito maior e em condições ideais
podem garantir o seu funcionamento durante toda a vida do motor. Além de reduzir o atrito
dos pistões com o cilindro, estas camadas permitem também a redução da folga efetiva de
montagem e com isso reduzindo também o ruído do motor.
.
46
Figura 26: Pistão com cobertura de grafite silk screen na saia para redução de atrito para
aplicação geral (MAHLE Database, 2012)
47
Figura 27: Pistão com cobertura de ferro na saia para aplicação em blocos de alumínio
(MAHLE Database, 2012)
48
Uma tendência bastante evidente dos motores de combustão interna, notadamente nos
motores para veículos de passeio é a direção de dowsizing dos mesmos. Downsizing pode ser
traduzida como uma redução do tamanho do motor, e portanto da sua cilindrada, sem perda de
potência. Isto traduz-se em motores menores e portanto mais econômicos mas que mantem ou
até superam o desempenho dos motores maiores.
É de se notar que para o atingimento desta tecnologia é necessário utilizar um grande
número de artifícios como sobre-alimentação na forma de turbo compressores e também de
estratégias cada vez mais complexas de injeção de combustível.
Basicamente estas tecnologias levam à esforços mecânicos e térmicos cada vez mais
elevados para os diversos componentes de um motor de combustão interna e o pistão é um
dos componentes que mais sofreu com este desafio. A Figura 28 e a Figura 29 mostram a
evolução geométrica dos pistões ao longo das últimas décadas.
Figura 28: Evolução das geometrias de pistões ao longo dos anos e redução de peso do
conjunto Pistão, Pino e Anéis (MAHLE Database, 2012)
49
Figura 29: Evolução das geometrias de pistões ao longo dos anos e redução de peso do
conjunto Pistão e Pino (MAHLE Database, 2012)
Com o aumento da potência específica dos motores, era de se esperar que fosse
necessário tornar os componentes mais robustos para suportar esta carga adicional. Devido à
limitação adicional imposta pelos constantes limites para o consumo de combustível e
também o de óleo lubrificante, o que se notou foi exatamente o contrário: componentes cada
vez mais leves e que permitem uma menor perda por cargas inerciais e por atrito.
Desde o início da busca do material ideal para os pistões, ficou muito claro que a
busca pelo melhor material de liga leve para a aplicação em pistões seria um desafio muito
grande e esta busca deveria levar em conta as seguintes características:
Um material com todas estas características num mesmo patamar não existe, mesmo
porque algumas características são por vezes contraditórias. Com o passar do tempo porém
conseguiu-se desenvolver materiais que estabeleceram um ótimo compromisso entre estas
características.
Se o objetivo for reduzir o peso do pistão, um material de baixa densidade é a melhor
escolha. É claro que os aspectos de projeto geométrico são importantes mas a resistência do
material é fundamental para que os pistões consigam suportar as cargas à que eles são
submetidos. Como estas cargas são alternativas, é importante que o material tenha boas
características tanto estáticas quanto dinâmicas.
A resistência à altas temperaturas também é um fator muito importante para a escolha
dos materiais, principalmente para um componente que está diretamente sujeito às cargas
térmicas oriundas da combustão. A condutibilidade térmica é de fundamental importância
para os níveis de temperatura aos quais o componente está sujeito. Normalmente, quanto
maior a condutibilidade térmica, melhor pois conseguimos transmitir a temperatura de uma
maneira mais rápida através dos processos de refrigeração. Os processos térmicos são muito
importantes na avaliação da performance pois como já tratamos anteriormente, os pistões são
parte integrante do ambiente da combustão e qualquer mudança na temperatura pode alterar
positiva ou negativamente este processo. Por exemplo, algumas anomalias da combustão
como pré-ignição e detonação são fortemente influenciadas pela temperatura dos corpos
envolvidos.
Como a combustão não é contínua e ocorre através de ciclos, os pistões estão sujeitos
à ciclos térmicos e mecânicos de alta frequência e consequentemente à tensões
termomecânicas oriundas desta ciclagem e que muitas vezes ultrapassam os limites elásticos
dos materiais.
Devido a sua alta condutibilidade térmica, o alumínio é um dos maiores candidatos a
ser utilizado como material para a confecção de pistões. Em seu estado não ligado porém, a
sua resistência mecânica e resistência ao desgaste são muito baixas. Com a descoberta do
endurecimento por precipitação as ligas de alumínio passaram a ser vistas como próprias para
51
Temperatura em °C
Silício em % de peso
T=160...180°C (tratamento
de precipitação
Dureza HB
T=200...230°C (estabilização)
Tempo h
Dureza HB
Tempo h
Figura 32: Curvas de dureza residual em temperatura ambiente para ligas de Alumínio-Silício
tratadas termicamente (MAHLE GMBH, 2010)
Uma característica do trabalho dos pistões é a de que nas suas temperaturas típicas de
trabalho, principalmente no topo que é a região mais quente por estar próxima à câmara de
combustão, os pistões são submetidos à temperaturas da ordem de 300 - 350ºC e com isso a
resistência à fadiga cai para valores de aproximadamente 20% da sua resistência à
temperatura ambiente. Mesmo nas zonas intermediárias de carregamento térmico como por
exemplo no cubo, as temperaturas de trabalho da ordem de 200º C levam a uma queda
considerável da resistência das ligas de alumínio. Este efeito é mostrado na
Figura 33.
54
Cubo
Topo
Resistência à Fadiga %
Suporte
Temperatura °C
Figura 33: Resistência à Fadiga em diferentes zonas dos pistões em função da temperatura
para uma Liga Eutética de Alumínio-Silício (MAHLE GMBH, 2010)
Tabela 2: Composição química de alguns tipos de ligas de alumínio para pistões. (MAHLE
GMBH, 2010) Adaptação.
3.8.5 Microestruturas
Uma outra forma de se obter uma maior resistência dos pistões é modificar a sua
microestrutura. Quanto mais refinada for a microestrutura, melhor a sua resistência mecânica.
A Figura 35 e a Figura 36 mostram duas microestruturas típicas de uma mesma liga de
alumínio coquilhado onde se pode notar a diferença quando avaliamos esta liga submetida à
dois tipos diferentes de tratamentos térmicos. A primeira mostra a liga eutética
AlSi12CuMgNi resfriada à temperatura ambiente e a segunda mostra a mesma liga porém
com resfriamento brusco após a fusão, o que gera uma microestrutura mais refinada.
3
Figura 35: Liga Eutética AlSi12CuMgNi resfriada à temperatura ambiente (MAHLE
Database, 2012)
60
Figura 37: Trinca de borda de câmara de um pistão Diesel de alumínio (MAHLE Database,
2012)
O projeto desta região dos pistões sofreu no correr dos anos uma influência direta das
legislações de emissões e também da busca por uma maior eficiência no consumo de
combustível. Níveis cada vez mais altos de pressão de combustão aliados à geometrias mais
complexas visando criar maior turbulência nas câmaras de combustão levam a altos
carregamentos e também à bordas de câmara cada vez mais delgadas. Estas geometrias com
raios menores levam à uma grande tendência à formação de trincas termomecânicas.
Estruturas mais refinadas podem ser obtidas através por exemplo de um resfriamento
direcional no molde metálico. Construtivamente pode-se realizar o resfriamento forçado pela
circulação de meio refrigerante e que quando direcionado, por exemplo para a região da
câmara de combustão pode gerar através do resfriamento mais rápido da liga de alumínio uma
estrutura mais refinada.
Refinamentos de liga ainda mais agressivos podem ser obtidos através de outras
técnicas como por exemplo a refusão. O aspecto típico de um pistão com câmara de
combustão refundida é mostrado na Figura 38.
A refusão de regiões como a borda da câmara possibilita um refinamento dos grãos de
silício da liga de alumínio muito maior devido à grande velocidade de resfriamento da mesma
quando comparada ao resfriamento natural que ocorre quando da sua fusão e solidificação
62
Figura 38: Exemplo de um pistão com liga refundida à laser na borda e fundo da câmara.
(MAHLE Database, 2012)
Para pistões menos carregados termicamente uma refrigeração realizada somente pelo
spray de óleo existente no cárter já é suficiente. Para os motores um pouco mais carregados
torna-se necessário a utilização de bicos injetores de óleo no bloco que direcionam o óleo para
a parte interna dos pistões.
Para garantir o perfeito funcionamento dos pistões em motores ainda mais carregados
temos a possibilidade de instalar uma galeria de refrigeração. Esta galeria de refrigeração é
alimentada por óleo vindo dos bicos injetores. Estes bicos injetores devem ser exatamente
63
Figura 39: Tipos construtivos de pistões de alumínio para aplicação Diesel. (MAHLE
Database, 2012)
64
Os pistões de alumínio são aplicados para pressões de combustão de até 240 bar.
Acima deste limite torna-se necessária a aplicação de pistões em ligas de aço. Cabe-se
recordar que este tipo de pistões em aço não fazem parte deste trabalho e portanto estão sendo
citados aqui como informação adicional.
Os pistões em ligas de aço tem uma óbvia vantagem devido ao maior limite de fadiga
mas apresentam uma desvantagem teórica devido ao seu peso e também à menor
condutibilidade térmica.
Os primeiros pistões desenvolvidos foram os pistões compostos por duas partes onde a
parte superior e que fica em contato com as altas temperaturas de combustão é de aço e a
parte inferior que deve realizar a guia dentro do cilindro ainda é de alumínio. A categoria
seguinte trata dos pistões de uma só peça de aço e feita completamente de um bruto forjado.
Estes pistões aliam uma alta resistência estrutural com uma grande flexibilidade de design.
Para otimizar ainda mais o sistema produtivo forma desenvolvidos os pistões de uma
só peça porém soldados tipicamente for fricção o que permite produzir estes pistões à um
custo bastante competitivo.
Para aplicações de grande porte, por exemplo motores para grandes navios e grupos
geradores podemos abrir mão de pistões compostos de aço cuja ligação mecânica é feira
através de elementos roscados.
Com o aumento das temperaturas da câmara de combustão, mesmo os pistões de aço
não estão livres de problemas. Com as altas temperaturas, torna-se necessário construir
galerias de refrigeração cada vez mais eficientes de modo a evitar por exemplo a descamação
da superfície de aço. Estes tipos construtivos de pistões de aço estão ilustrados na Figura 40.
65
Figura 40: Tipos construtivos de pistões de aço para aplicação Diesel (MAHLE Database,
2012)
A Tabela 5 mostra uma comparação entre as ligas de aço típicas e uma liga de
alumínio eutético.
Tabela 5: Comparação entre ligas de aço para pistões e liga de alumínio eutético (MAHLE
Database, 2012) Adaptação
Característica 38MnVS6 42CrMo4 AlSi12Cu4Ni2Mg
Resistência Tração ~ 910 920-980 200-280
[Mpa]
Limite de Escoamento ~ 610 700-860 Min. 180
[Mpa]
Resistência Flexão 370 370-440 110
[Mpa]
Condutibilidade Térmica 38 44 140
[W/Mk]
Limite de Estabilidade 500 550 200
Térmica [°C]
66
Cabe observar que como esperado as ligas de aço possuem limites de resistência muito
maiores que a liga de alumínio eutético porém, devido a sua condutibilidade térmica menor,
estes componentes tem uma capacidade muito menor de transferir calor e com isso acabam
demandando uma oferta maior de óleo para sua refrigeração. De fato, motores equipados com
pistões de aço necessitam de um volume maior de óleo no cárter.
Figura 41: Morfologia das dendritas gêmeas apresentando uma forma de leque entre os seus
diversos ramos. Os círculos pretos mostram a provável região de nucleação (M. A.
SALGADO-ORDORICA, 2008)
68
4 ESTUDO DE CASO
Elementos AlSi12Cu4Ni2Mg
Si % 11,0-13,0
Cu % 3,0-5,0
Mg % 0,5-1,2
Ni % 1,0-3,0
Fe % máx. 0,7
Mn % máx. 0,3
Ti % máx. 0,2
Zn % máx. 0,3
Zr % máx. 0,2
V% máx. 0,18
Cr % máx. 0,05
Al% restante
Processo Fundido
Estas peças são obtidas através de fundição por gravidade em coquilhas metálicas
sendo que este processo permite uma refrigeração direcionada. O molde metálico é
construído geometricamente de forma a possibilitar as mais diferentes geometrias e além
disso deve também possibilitar diferentes volumes e tempos de refrigeração para que o melhor
processo para cada pistão possa ser obtido otimizado conforme sua geometria e volume. Um
esquema deste tipo de molde é mostrado na Figura 44 e na Figura 45.
71
Macho Pentapartido
+ Basculante
Figura 44: Ilustração sobre o conceito de machos de fundição para pistões (MAHLE
Database, 2012)
Figura 45: Esquema de uma coquilha de fundição de pistões completa (MAHLE Database,
2012)
72
Figura 46: Croqui representativo das tensões desenvolvidas no cubo do pistão por ocasião da
combustão. A direita de forma esquemática as possibilidades em termos de cisalhamento,
Posição A e posição B, considerando-se dois planos perpendiculares entre si.
a) Aspecto macroscópicos:
Frágil – Falha que ocorre sem deformação plástica macroscópica de maneira brusca
Dúctil – A fratura dúctil apresenta deformação plástica macroscópica. Essa fratura é
estável, ou seja, para propagar necessita de cargas crescentes, ou mesmo deformação externa
crescente.
b) Micro mecanismo:
A Figura 48 corresponde a esquemas e topografia relacionados aos mecanismos de
fratura.
Figura 49: A – Dimples normais típicos em carregamento mecânico axial isento de entalhes
além dos decorrentes do processo de fratura.
B – Dimples de rasgamento com orientação invertidas nas duas superfícies de fratura típico de
carregamento com substancial cisalhamento resultante na superfície de fratura sem a
ocorrência de entalhes que não sejam decorrentes deste carregamento.
C – Dimples de rasgamento com mesma orientação nas duas superfícies de fratura, apontando
para o inicio da trinca.
76
As falhas por Fadiga na sua grande maioria apresentam caráter macroscópico frágil,
ou seja, sem deformação plástica visível. Na sua superfície em geral podem-se notar as
chamadas marcas de praia (beach marks), que delimitam as posições sucessivas de caráter
macroscópico da propagação da trinca. Quando a superfície da peça possui entalhes, tanto
geométricas, como de acabamento, trincas paralelas nucleiam independentemente, e ao
crescerem se juntam em degraus, denominados de marcas de catraca (ratched marks), em
geral perpendiculares à superfície das peças. Observando-se superfícies de fratura por fadiga
ao microscópico eletrônico de varredura, pode-se em algumas classes de materiais, como por
exemplo aços inoxidáveis austeníticos, e mesmo ligas de alumínio encontrar as "estrias de
fadiga". Estas são muito pequenas da ordem de microns, e cada estria corresponde a um ciclo
de fadiga, mas nem todo ciclo de fadiga corresponde a uma estria de fadiga. Vale se salientar
que a presença das estrias de fadiga pode ser prejudicada quando se estuda materiais com
elevada dispersão de fases com propriedades mecânicas diferentes da matriz metálica
A nucleação da trinca de fadiga corresponde em geral ao processo mais longo,
podendo-se a título de exemplo dizer que após a nucleação da trinca o tempo necessário para
a sua propagação até a ruptura final é da ordem de 10% do tempo total para a ocorrência da
falha. Este fato é verdadeiro em sistemas com tensões de carregamento mecânico que se
mantenham relativamente constantes ao logo da secção resistente do componente. Caso a
trinca se forme em região com elevada tensão, mas que diminua muito a partir desta região, o
processo de fadiga pode ser interrompido.
O processo de fadiga ocorre em três estágios, sendo o primeiro (EI) aquele
correspondente ao período de nucleação da trinca, que nesta fase possui ângulo da ordem de
45o em relação ao eixo de carregamento (quando o carregamento é axial). Neste estágio a
trinca pode atingir dimensão que vai de dois a cinco tamanhos de grão, antes do início do
estágio dois (EII) correspondente a fase de propagação da trinca, em geral perpendicular ao
eixo de carregamento, ou mesmo a maior tensão principal do componente. Nesta etapa de
propagação a superfície de fratura pode apresentar as estrias de fadiga bem definidas
principalmente considerando-se o caso de sistemas monofásicos. O estágio três (EIII)
corresponde a fratura final que ocorre frequentemente de forma brusca, lembrando-se que
podem existir trincas não propagadas mas que nuclearam pelo processo de fadiga
(VATAVUK, 2012) dos estágios EI e EII.
77
Figura 50: Microscópio eletrônico de varredura – Tech Center Mahle Metal Leve
Figura 51: Secção longitudinal e regiões demarcadas nas quais se realizou análise
metalográfica
79
Figura 52: Microscópio óptico Olympus – Tech Center Mahle Metal Leve
Figura 53: Durômetro Georg Reicherter – Tech Center Mahle Metal Leve
80
O exame das micrografias apresentadas na Figura 54, Figura 55 e Figura 56, indica
que de uma maneira geral a estrutura desta liga de alumínio é complexa, contendo elevada
fração volumétrica de fases intermetálicas, com a matriz de alumínio apresentando caráter
dendritico, com alguns ramos primários na ordem de 1 a 2,5 mm. A ocorrência de dendritas
desta magnitude pode ser mais frequente, pois esta verificação só ocorreu devido a uma
coincidência de orientação destas em relação ao plano de polimento.
Os intermetálicos desta liga se apresentam em uma distribuição de fases primárias
(como as indicadas pelas setas horizontais) além da presença de intermetálicos mais finos
interdendríticos típicos de reação eutética, setas verticais.
Com relação às estimativas em termos de temperatura de trabalho deste pistão, os
valores de dureza convertidos para temperaturas de trabalho a partir da metodologia
comentada anteriormente, mostram coerência, visto que na medida em que se afasta da
câmara de combustão (topo do pistão), as temperaturas tornam-se menores. Os pontos 12, 13
83
e 14, que ficam próximos a região de maior solicitação mecânica do cubo do pistão
correspondem a região de menor temperatura de trabalho.
A Figura 58 apresenta o aspecto geral da falha na região do cubo do pistão, devendo-
se considerar que este processo de trinca não afetou o desempenho do motor ate sua
desmontagem. Não se deve no entanto considerar que esta trinca seja realmente uma trinca
estacionaria.
Figura 58: Aspecto geral da falha. Seta e elipse indicam trinca desenvolvida junto ao cubo do
pistão. A região tracejada em vermelho corresponde a região de retirada da amostra para
análise detalhada.
Figura 59: Detalhe da seção cortada do pistão mostrando a trinca e a fenda realizada para
separar as superfícies de fratura A e B
Figura 60: Faces de fratura após a separação de suas superfícies. A profundidade da trinca
principal é da ordem de 4mm
85
Figura 62: : Imagem de elétrons secundários. Região delimitada pelo retângulo vermelho da
Figura 61 observada com maior ampliação
número de rotações até o final do teste, 6x107 ciclos. Este valor é compatível com o número
de ciclos de testes de fadiga para ligas não ferrosas. Pode-se pensar em casos extremos nos
quais o valor de rotações pudesse atingir o equivalente a dez mil horas de teste, aproximando-
se de um número de ciclos da ordem de 108 ainda enquadrável a alguns testes de fadiga em
materiais não ferrosos.
O exame da Figura 64 permite se afirmar que as “trincas” associadas às facetas foram
produzidas por dimples de rasgamento de sinal contrario com elevado sinal de interferência
entre as superfícies, o que indica não tratar-se de uma propagação de trinca em modo I, mas
sim uma separação decorrente de cisalhamento ao longo de toda a faceta em modo II, mas
com carga resultante de compressão entre as duas superfícies. Este raciocínio sugere que esta
região corresponde a inicio de falha e não à sua propagação, pois caso fosse passagem de
trinca que atingisse esta região em modo I (Trinca de fadiga já nucleada, estagio E II de
propagação), a deformação plástica na ponta da trinca de fadiga, seria muito inferior ao
tamanho da faceta, e caso mudasse de plano (plano das facetas observadas), os dimples
possivelmente teriam a mesma direção nas duas superfícies de fratura. Corrobora com esta
afirmação a inclinação da frente de propagação da trinca em modo I (estagio E II da trinca de
fadiga) apontado pelas setas pretas verticais da Figura 61. O ângulo desta frente com a
superfície de contato com o pino, só é justificável considerando-se a nucleação a partir das
facetas associadas às dendritas gêmeas.
A posição relativa das facetas em termos de orientação cristalográfica na liga
de alumínio corresponde ao plano {111}, que contem as direções compactas <110> e
paralelas ao crescimento dendrítico das dendritas gêmeas.
Sabe-se que o plano compacto {111} corresponde a um plano de escorregamento das
estruturas cristalinas CFC. O fato de haver um plano compacto de grandes dimensões,
permite após repetidos ciclos de carregamento o escorregamento de discordâncias à distâncias
incomuns em sistemas poli cristalinos.
Deste modo pode-se pensar que o estágio E I de nucleação de trinca de fadiga tenha
ocorrido ao longo dos planos {111} das dendritas gêmeas. Nas dendritas normais os planos
{111} são transversais a sua direção de crescimento ((100)), tornando o percurso livre das
discordâncias muito menor, reduzindo a facilidade em termos de sua movimentação, que é
fundamental para a ocorrência de fadiga, particularmente quando se pensa em seu estágio
inicial, estágio E I (quando ainda não existe trinca para concentrar tensões e deformações). O
restante da face de fratura obedece o padrão de trinca de fadiga em estágio EII, com
propagação perpendicular à tensão principal (setas vermelhas da Figura 46 à esquerda).
89
5 CONCLUSÕES
6 BIBLIOGRAFIA