Carpinteiros Navais Ceara
Carpinteiros Navais Ceara
FORTALEZA
2013
MIGUEL SÁVIO DE CARVALHO BRAGA
FORTALEZA
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Rui Simões de Menezes
CDD 623.829
Aos meus dois únicos filhos,
Clerton Sávio e Marcelo Caio, de quem
sou fã e grande admirador pelos homens
que são.
A todos os carpinteiros
artesanais e mestres marcadores do
Ceará.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Antonio Adauto Fonteles Filho. Primeiro, por aceitar orientar este
trabalho. Segundo, por toda dedicação, disponibilidade, compromisso, postura e
presença constante com o entusiasmo que lhe é peculiar na condução do processo
de orientação. Terceiro, pela grandeza da pessoa que é e representa. Com vasto
conhecimento acumulado em múltiplas áreas e com privilegiada inteligência, dá
exemplo de modéstia, simplicidade, trabalho, dedicação e amor à ciência.
Aos filhos queridos, Clerton Sávio e Marcelo Caio, que neste último semestre,
ofereceram todas as condições para que eu dedicasse maior tempo à tese,
assumindo parte das responsabilidades e afazeres a mim inerentes. Ao longo dos
quatro últimos anos, o precioso apoio, estímulo e ajuda nas dificuldades e panes da
informática, internet, impressora, computador foram imprescindíveis.
Ao Dr. Vicente Faria, pelo precioso incentivo, que me fez crer na possibilidade de
fazer um trabalho na minha área de domínio de conhecimento.
Aos engenheiros navais Luciano Lima e Mauricio Oliveira, professores do IFCE, Pólo
Acaraú, pela criteriosa elaboração dos planos das embarcações em programas de
construção naval.
Aos amigos de trabalho, Wilson Franklin Junior, Paulo Gomes, José Trindade,
Francisco Pereira (Fran), Raul Madrid, Célia Freire, Rosângela Araújo, Goretti
Nunes, Cândida Vila Nova, Mônica Pimenta, João Mafaldo, Tatiane Garcia, José
Edilson da Silva (in memoriam), Zairton Teixeira, Graça Coelho, Nadsa Cid, sempre
presentes e disponíveis.
A amiga indianista, Marly Schiavini, que deu acolhida e apoio aos trabalhos de
campo em Itarema, auxiliando nas entrevistas e anotações de campo em municípios
vizinhos.
A Adilia Libânio, por ter compartilhado, neste último ano, parte das emoções e
sacrifícios com quem tinha uma tese para finalizar, dando ajuda, apoio,
compreensão e companhia.
Página
APRESENTAÇÃO 9
GLOSSÁRIO 339
APRESENTAÇÃO
9
que trabalhe na hotelaria de uma plataforma de perfuração marítima de petróleo ou
seja seu chefe de perfuração, que seja prático do porto ou ligado a atividades
portuárias, engenheiro de pesca. E agora, com a recente formatura dos primeiros
oceanógrafos cearenses pela Universidade Federal do Ceará, poderemos ouvir
também: “minha filha é oceanógrafa e está embarcada em trabalhos de sísmica para
o pré-sal...”.
O Ceará tem extensão costeira de 573 km, onde a pesca artesanal
secularmente é efetuada por jangada, movida pelos fortes ventos predominantes de
direção ESE (leste sul leste). A pesca artesanal a vela executa navegação de
orientação visual e prática, detendo a participação superior a 60% de toda a
produção pesqueira marinha do Ceará, realizada por botes, canoas, jangadas e
paquetes, que totalizam mais de 83% em números de embarcações, todas
construídas pelas mãos hábeis dos artesões carpinteiros navais. É sobre isto que
este trabalho vai se aprofundar, de forma não poética como feito no início desta
apresentação, mas em carácter acadêmico, em estudo da dura e difícil realidade
dos atores que o fazem: jangadeiros, pescadores, carpinteiros artesanais navais,
mestres marcadores, calafates e feitores de vela entre outros, personagens de
cunho social, cultural, histórico e econômico importantes para o Estado.
A tese foi dividida em quatro capítulos independentes:
11
CAPÍTULO 1
12
SUMÁRIO
Página
LISTA DE FIGURAS 14
LISTA DE TABELAS 15
RESUMO 16
ABSTRACT 17
1- INTRODUÇÃO 18
2- MATERIAL E MÉTODOS 21
3- RESULTADOS E DISCUSSÃO 22
3.1- ESCOLARIZAÇÃO E HABILIDADES EMPÍRICAS 22
3.2- FAIXAS ETÁRIAS E TEMPO DE PROFISSÃO 25
3.3- O APRENDIZADO DA CARPINTARIA NAVAL ARTESANAL 26
3.4- ENQUADRAMENTO FUNCIONAL DOS CARPINTEIROS 29
3.5- PRODUÇÃO E CAPACIDADE CONSTRUTIVA 30
3.6- CATEGORIAS CONSTRUTIVAS DOS CARPINTEIROS 32
3.7- ESTALEIROS ARTESANAIS 35
3.8 - CATAMARÃ E MODIFICAÇÕES TECNOLÓGICAS
SEGUNDO OS CARPINTEIROS 37
3.9- CENSO DOS CARPINTEIROS: ATIVOS, INATIVOS E
FALECIDOS 41
4- CONCLUSÃO 43
5- REFERÊNCIAS 45
6- APÊNDICES 47
APÊNDICE A – SÍNTESE DAS ENTREVISTAS REALIZADAS
COM CONSTRUTORES NAVAIS ARTESANAIS 48
APÊNDICE B – FORMULÁRIO DAS ENTREVISTAS
REALIZADAS COM CONSTRUTORES NAVAIS
ARTESANAIS 85
13
LISTA DE FIGURAS
Descrição Página
Figura 1 - Escolaridade dos construtores navais artesanais do
Estado do Ceará. 22
Figura 2 - Carpinteiro artesanal Antonio Rocha de Carvalho
(Antonio Latão), de Bitupitá-Barroquinha, ainda em
atividade. 26
Figura 3 - Participação relativa da profissão dos pais dos
carpinteiros artesanais do Estado do Ceará. 27
Figura 4 - Canoa paquete na praia de Flecheiras. 35
Figura 5 - Construção de uma canoa em estaleiro improvisado
totalmente ao relento, à margem da estrada, na Ilha dos
Coqueiros em Acaraú, Ceará. 36
Figura 6 - Estaleiro estruturado, com coberta e local para guardar
ferramentas no centro de Flecheiras, Ceará. 37
Figura 7 - Medição da largura da caverna com escala métrica.
40
Figura 8 - Estaleiro de catamarã na Prainha do Canto Verde-
Beberibe, Ceará. 41
14
LISTA DE TABELAS
Descrição Página
TABELA 1 – Tempo de atividade dos carpinteiros na construção
naval artesanal. 26
TABELA 2 – Origem do aprendizado dos carpinteiros artesanais
entrevistados. 28
TABELA 3 - Enquadramento funcional dos carpinteiros artesanais do
Estado do Ceará. 30
TABELA 4 - Classificação dos carpinteiros artesanais por tipo de
construção desenvolvida, local onde exercem o trabalho,
quantidade de embarcações construídas, constando
identificação por apelido. 34
TABELA 5 - Relação dos carpinteiros artesanais do Ceará ativos,
inativos e falecidos, distribuídos por localidade e
município. 42
QUADRO 1 - Categorização dos tipos de embarcações construídas
pelos carpinteiros artesanais ao longo do litoral do
Estado do Ceará. 33
15
Perfil dos carpinteiros artesanais de embarcações a vela do litoral
do estado do Ceará
Resumo
16
Profile of the artisanal carpenters of sail crafts in Ceará State
ABSTRACT
In a worldwide scenario, during the XV Century, the naval building of sail craft
underwent an evolutionary development that enabled the undertaking of long-length
voyages across the oceans. By arriving at Brazil, an intensive interaction process
between local sail boat construction and that of European-derived knowledge. The
sail rafts, at first built without sail, were deployed over the whole Brazilian northeast,
mainly in Ceará State, as artisanal crafts, evolving from simple dugouts to the actual
wooden ones as well as canoes and rowboats. For this research work, the Ceará
State’s coast was surveyed from September, 2010 to May, 2012, taking in situ stock
of all types of constructed crafts, and pinpointing and interviewing artisanal builders
of sailboats, who are than main target population of this survey. To this aim, 36
accomplished carpenters, locally recognized as such, were required to answer a
number of questionnaires directed toward a full appraisal of the artisanal naval
builders, its professional profile and handicraft, for which photographic records,
pictures and sound recordings were obtained. The derived data were transferred to
electronic spreadsheets and then analyzed by crosschecking the recorded interviews
and the movie pictures. This survey led to the following results: occurrence of low
reading ability by the artisanal carpenters so that 44 per cent were found to be
illiterate; non-existence of any kind of professional registration by the competent
public offices; mean age of 22.1 years; high mean working time and frequency of
distribution among the sampled population; factors of influence and origin of learning
techniques and absence of functional framing, since they to do not retire as naval
builders. Significant results were got as to the artisanal carpenters’s profile in Ceará
State, which were deemed quite relevant for the maintenance of the folklore of their
techniques applied to the construction of sail crafts, and round up the historic and
socioeconomic heritage of the Ceará State’s coastline .
17
1 INTRODUÇÃO
19
do aprendizado, tempo de trabalho na construção naval artesanal, transmissão do
conhecimento, escolaridade, características do “estaleiro” e tipos de embarcações
construídas.
20
2 MATERIAL E MÉTODOS
21
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
24
influência do contato nos locais de aportagem e permanência mais longas de frotas
estrangeiras no Brasil (ENCICLOPÉDIA Grandes, 2000).
O método que os carpinteiros cearenses utilizam na construção de botes,
canoas e jangadas é denominado de “esqueleto primeiro” e segue a tradição
mediterrânea da Antiguidade Clássica, baseada na montagem de uma
superestrutura composta pela quilha, rodas e balizas à qual em seguida se
acrescentavam os tabuados (MONTEIRO, 1998). O carpinteiro da ribeira transcrevia
mentalmente a imagem da embarcação para o estaleiro através de vários fatores
empíricos, destacando-se a razão entre dimensões principais da quilha, boca,
pontal, altura do cadaste, e lançamento das rodas de proa e de popa. Resguardadas
as devidas proporções, ocorre o mesmo quando um construtor artesanal busca
satisfazer as preferências do contratante, desde que a segurança da embarcação
não seja colocada em dúvida.
25
Figura 2 - Carpinteiro artesanal Antonio Rocha de Carvalho (Antonio
Latão) de Bitupitá-Barroquinha ainda em atividade. (Fonte: Foto do autor).
26
(19%) os pais eram pescadores/agricultores; para dois entrevistados (6%), os pais
eram marítimos, e com pais pedreiro e alfaiate, um entrevistado cada (3,0%).
A profissão de pescador (25%) foi a maior predominância profissional de
origem paterna e, se adicionada à categoria pescador/agricultor (19%), totaliza 44%,
os outros 22% se referem à profissão de carpinteiro artesanal e esta reflete a
influência paterna na sua escolha (Figura 3).
Treze dos carpinteiros entrevistados aprenderam a profissão com
parentes, sendo oito com o pai, dois com o avô, dois com tio e um com o irmão. Os
vinte e três entrevistados restantes indicaram como origem de sua formação na arte
construtiva naval o seguinte: o construtor local foi apontado por 14 deles;
observando a construir, por oito; por construtor de outra localidade, em um caso.
Desta forma, a premissa que os carpinteiros herdam a profissão do pai não tem
respaldo no grupo entrevistado, já que apenas oito (22,2%) apontaram seus
genitores paternos como mestres do ofício, tornando-os herdeiros da arte de
construir embarcação, e confirmando que o aprendizado de origem familiar, com
36,1%, representa mais de um terço do total e não pode ser desprezado (Tabela 2).
27
Tabela 2 - Origem do aprendizado dos carpinteiros artesanais entrevistados.
№ carpinteiros 8 2 2 1 14 8 1
28
passos do pai, conta que com o falecimento prematuro deste, teve que continuar a
construção em andamento, assumindo assim, definitivamente, a responsabilidade
construtiva e contratando posteriormente novos serviços.
Nesse contexto, destaca-se a localidade de Moitas no município de
Amontada, local de tradição de excelente construção de canoas extensiva a quatro
gerações. O capinteiro Jedião tem tradição familiar pois seu avô, Vicente Feijão,
ensinou aos filhos Antonio Vicente, a seu tio e a seu pai Camilo Alves de Souza, de
quem apreendeu e ensinou a seu filho Clói, que junto com um sobrinho de nome
Aneudes, são os carpinteiros mais atuantes na região.
O conhecimento transmitido pelos carpinteiros artesanais foi mais bem
absorvido por um grupo definido como “conhecidos da comunidade”, pois quatorze
citaram como tendo repassado conhecimento a estes, que estão em atividade. Os
carpinteiros artesanais citam “outros parentes” como tendo absorvido o
conhecimento e se encontram ativos na profissão, assim identificados: um neto, dois
sobrinhos, um irmão e dois genros.
A idade média geral do início profissional foi 22,1 anos, com destaque a
grande amplitude etária que variou entre o entrevistado mais jovem, que se iniciou
com 12 anos, e o mais velho, que o fez com 45 anos, embora tenha começado a
reformar a sua embarcação já com 35 anos e tornando-se construtor de paquetes de
isopor.
O ingresso com idade inferior a 20 anos foi representada por 19 dos
entrevistados (52,8%), na faixa etária de 20 - 29 anos por 9 deles (25%) e com idade
superior a 30 anos por 8 carpinteiros (22,2%). A frequência etária do inicio
profissional foi como segue na ordem idade/quantidade de carpinteiros: 12(1); 13(2);
14(1); 15(4); 16(2); 17(3); 18(4); 19(2); 20(3); 22(2); 24(1); 25(3); 30(3); 35(2); 40(2)
e 45(1).
Frequência
Profissão Absoluta Relativa (%)
Pescador 28 77,8
Agricultor 4 11,1
Autônomos 2 5,6
Avulsos / Amparo social 2 5,6
Totais 36 100,0
Fonte: Elaborada pelo autor.
30
construção, custo de fabricação mais acessível, baixa manutenção e menor
tripulação (IPHAN, 2010 a/b; 2011).
Três construtores se destacaram, com 300, 200 e 150 unidades de
embarcações construídas de paquete e jangada; a saber respectivamente: o
primeiro é muito afamado na região leste tendo base em Fortim/Beberibe; o segundo
na Taíba/São Gonçalo do Amarante; e o terceiro em Quixaba/Aracati, localidades
onde predominam os paquetes (IBAMA, 2007).
Outro construtor muito produtivo foi Manoel Pedro, de Tatajuba, que
declarou ter construído 185 embarcações, principalmente canoas, fora os serviços
de reparos e as grandes reformas. Apesar de ter-se iniciado com 30 anos de idade
no ofício e ter permanecido em atividade por apenas 25 anos, suas canoas logo
fizeram fama, como ele relata, não faltando encomendas vindas inclusive dos
estados do Piauí e Maranhão. Trabalhando na carpintaria não saiu de sua
localidade, exceto por um curto período em que permaneceu na cidade de
Camocim. Profissional com grande potencial, construia em um mês uma canoa de
8,5 metros, na época sem eletricidade, conforme relata seu compadre e também
carpinteiro artesanal Lucindo Carneiro.
31
Aos carpinteiros cabem ainda os pequenos reparos, que constituem uma
oferta intensa de trabalho, pois a manutenção de troca de tábuas, cavernas e outras
partes é realizada constantemente em todas localidades e executada
preferencialmente pelo carpinteiro, que tem os ferros adequados, trabalha com
segurança, perfeição e detém a confiança dos proprietários.
32
Quadro 1 – Categorização dos tipos de embarcações construídas pelos carpinteiros
artesanais ao longo do litoral do Estado do Ceará.
33
Tabela 4 – Classificação dos carpinteiros artesanais por tipo de construção
desenvolvida, local onde exercem o trabalho, quantidade de embarcações
construídas, constando identificação por apelido.
Tipo construção Nº embarcações
Apelido local trabalho
(Cod.*) construídas
1 José Carpina Fortaleza 60
1 Batista Paracuru 120
1 Josibias Redonda 45
1 Nivaldo Redonda 35
1 Olismar Icapui 50
1 Pedro Batedeira Torrões 20
1 Pinheiro Bitupitá 60
1 Antonio Latão Bitupitá 100
1 Chico Elias Camocim 40
1 Manoel Pedro Tatajuba 185
1 Moiteiro Mundau 60
2 Jedeão Moitas 110
2 Lucindo Camocim 55
3 Raimundo Tomé Mundau 10
3 Dão Baleia 5
3 Manuel Cândido Ilha dos Coqueiros 15
3 Antonio Vicença Acaraú 90
3 José Arteiro Moitas 100
4 Otaciano Preá 25
4 Albir Mundau 20
5 Possidonio Fortaleza 50
5 Edilson Cumbuco 40
5 Valdeci Lagoinha 100
5 Chico da Enedina Prainha 30
5 Papaiol Iguape 30
5 Chico da Luiza Caponga 40
5 Pedro Luzia Caponga 85
5 Lôlô Quixaba 150
5 Mané Taritinga Pontal de Maceio 300
6 Zé Preto Pecem 30
6 João Bala Taiba 200
6 Benel Taiba 20
6 Luiz Mosquito Almofala 35
6 Miguelzinho Flecheiras 70
7 Titico Cumbuco 60
7 Tarcisio Pedro Almofala 45
Observação: (Cod.*) ver Quadro 1 (Fonte: Elaborada pelo autor)
34
A canoa paquete, que consiste numa recente modalidade de embarcação
criada em 1970 por João Pires dos Santos em Paracuru, aparece construída
também por Valdeci em Lagoinha e Miguelzinho em Flecheiras, sendo a deste último
a mais solicitada e conhecida na região (Figura 4). Os já 42 anos passados de sua
criação, refletem a demora com que estas modificações são absorvidas na prática
mesmo quando são extremamente positivas. O primeiro registro acadêmico da
canoa paquete foi feito por IPHAN (2010b), na praia da Emboaca em Trairi, com
uma descrição sucinta da forma inusitada resultante da mescla dessas duas
tipologias de embarcação que lhe dão o nome.
Figura 4- Canoa paquete na praia de Flecheiras. (Fonte: foto do autor, ano 2012)
36
Figura 6- Estaleiro estruturado, com coberta e local para guardar
ferramentas no centro de Flecheiras, Ceará. (Fonte: foto do autor, ano
2012)
37
No universo de 36 profissionais que lidam ou lidaram com construção de
embarcações, o fato de 21 (58,3%) não manifestarem opinião sobre um novo
modelo pode ter essas explicações: (a) a difusão sobre as transformações
socioeconômicas nas praias é lenta; (b) a resistência a mudanças pode resultar da
falta de informações e contatos; (c) o desinteresse decorre da falta de inclusão
social e da incapacidade tecnológica quanto ao desenvolvimento dos processos de
construção e manipulação desse equipamento.
Mesmo assim, 15 deles se manifestaram dizendo o que pensam e
ouviram falar, com opiniões favoráveis e contrárias sobre a adoção do catamarã
extraídas das entrevistas. As opiniões favoráveis se distribuíram em:
bom para pescar (8);
bom para passeio (4);
veloz (4);
confortável (1);
boa estabilidade (1).
38
localidades pesqueiras que vai se adequar, a exemplo de outros tipos de
embarcação de uso já consolidado.
O fato de ter um custo de construção elevado pesa nesta possível
transição, já que com pouca renda e as dificuldades enfrentadas com a situação
atual da pesca artesanal, assumir compromisso com investimento em novo modelo
de embarcação apresenta-se como empreendimento de alto risco e sem uma
garantia de retorno.
Nesse contexto, o Instituto Federal do Ceará (IFCE), sede de Acaraú, no
dia 31/10/2012 inaugurou um catamarã de 7 metros, construído sob a coordenação
do professor e engenheiro naval Mauricio Oliveira com fins didáticos, com
repercussão junto aos pescadores, proprietários e construtores artesanais da região
quanto a possíveis potencialidades de seu emprego na pesca.
No que concerne às sugestões dos carpinteiros de como melhorar a
segurança, o conforto e as condições de trabalho no mar e qual seria o melhor tipo
de embarcação para isto, a maioria se pronunciou de forma evasiva, pois parecem
não se preocupar com detalhes fora do seu âmbito de trabalho. Assim, quatorze não
apresentaram sugestões referindo-se superficialmente que não tem o que mudar;
que as formas são boas; que sendo maiores e mais largas seria melhor ou sendo
maior a embarcação tem mais conforto, seis não opinaram e os dezesseis restantes
explanaram sugestões conforme seu conhecimento e sua realidade local.
A sugestão de maior fundamento parece ser a do construtor de botes
Nivaldo, de Redonda, que vê alguns pontos de ajuste, como utilização de menos
madeira na construção dos botes, com redução da espessura das cavernas de 7 cm
para 5 cm (Figura 7) e revestimento com resina para aumentar a durabilidade da
madeira, providências com influência direta na redução dos custos e peso da
embarcação. Mesmo assim, ele próprio construindo bote com material próprio para
posterior venda, não ousa ou se arrisca a inovar tomando a iniciativa, mesmo
sabendo que isto é possível e que não vai alterar a segurança do bote.
Na opinião de três construtores, a canoa paquete aparece como a
embarcação para pescar, navegar e oferecer conforto ao pescador. Com o
comprimento de 27 a 30 palmos (6 a 6,5 m) pode ser adaptada para dormida e
permite a instalação de aparelhos eletrônicos (GPS e eco-sonda) e de um motor
rabeta para quando houver pouco vento, prática que já vem acontecendo.
39
No litoral oeste reportam que a jangada ocada foi aos poucos sendo
substituída pelo paquete forrado de isopor, pois o paquete ocado é considerado uma
embarcação que não oferece segurança na pesca. A jangada ocada aparece como
confortável na Prainha-Aquiraz, está sendo revestida de fibra de vidro em
experiência recente que está dando bons resultados, conforme informa o carpinteiro
Chico da Enedina.
41
Tabela 5 – Relação dos carpinteiros artesanais do Ceará, ativos, inativos e
falecidos, distribuídos por localidade e município.
CARPINTEIROS ARTESANAIS DE EMBARCAÇÕES A VELA
MUNICIPIO LOCALIDADE ATIVOS INATIVOS FALECIDOS
Mundin do Silvério, Raimundo
Nivaldo, Raimundo Celi, Junior Caiçara, Aldenor Bezerra do Nascimento,
Redonda Germano, José de Mirtes,
Josibias. Véi Bonfim,Geraldo de Joaquim.
Raimundo Currupio.
Quiquilo, Gelinha,Nonato de Antonio
Peroba Nina (pai Quiquila)
Nel.
Barreira José Crente, Chico Azul, Samuel.
Tremembé Gêo.
Fco. Oliveira, Nonato, Eliezer,
ICAPUI Olismar, Oderlei. Antonio Senhor
ICAPUI Franciné
Barrinha Pedrinho
Barreira Samuel
Manibu Toinho de Isaura
Peixe Gordo José de Brisa (reparo)
Melancias de Baixo Laecio Maurilio Olimpio
Quitéria Manoel Liberato,Manoel de Pombinha
Ibiuitaba Valber
José Crente, Cicero de Nunun (só
Quixaba Edinho, José Valente da Silva (Lolô). Mané de Pedro,Delfonso
piuba)
ARACATI
Majorlandia Magno, Fantiquim,Chico Sabino.
Canoa Quebrada Raimundo Barros
Manoel Taritinga, Ronaldo, Raimundo
FORTIM Pontal de Maceió Expedito Assis João Caboclo
Expedito.
Uruau Nailton, Antonio Paulo.
BEBERIBE Prainha Canto Verde Daier
Morro Branco José Doca
Chico da Luiza (Fco. Alves Filho), Antonio Candido,Nego
CASCAVEL Caponga Francisco Misiu, Pedro Luzia
Evandro Dolano (Ozenildo) Rodrigues
Chico da Enedina, José Idalgo, Aldair
Prainha José Jacinto José Caroço, Izaias,João Noé
(Piru)
AQUIRAZ Balbino José Saboia
Papaiol (Rdo. Nonato Bezerra Lima), Raimundo Lopes, Possidonio,
Iguape Marcelo, Dedé do Regino
Ednardo, Assiro (sobrinho Pocidonio) José Vale
Luciano, Joaquim, Careca, José Noque, Posidônio Filho, José Carpina,
FORTALEZA FORTALEZA
Aluizio Chico Pirambu, Assis Tapioca
Titico, Manezinho, José
CAUCAIA Cumbuco Edilson, José Ivan
Guilherme, Franciné
Pecém Zé Preto, Dudu Paraca, Severano
SÃO GONÇALO
Taiba Benel João Bala José Julia, Luiz Marques
Batista, Deusdeti, Jurandir, Aluizio,Tico Chico Pires (Tio do Batista),
PARACURU Paracuru Filho e João Porciano (fez curso de José Pires, Banrin, Iquin, José Isiria João Marques, Severo, Mané
catamarã) Carmo e Chico Gago
Valdeci, Leonardo, José Lins (só paq.‐ Raimundinho (pai do Valdeci, faz
PARAIPABA Lagoinha Geromis
iniciante) tudo)
Albir, José Bastião, Moiteiro, José
TRAIRI Mundau Raimundo Tome, Chico Dada José Alves, Astero
Naninha, José Bonifacio (reformas)
Miguelzinho, Francisco Raimundo,
Frexeiras José Jeronimo (só Pqt) Francisco Pires dos Santos
Jeto, Edilson Gato (só Pqt)
João Lourenço do Nascimento(Dão),
ITAPIPOCA Baleia José Luzia, José Simião
Quinquinho do Celi (Pqt), Marco (pqt)
ITAREMA Almofala Luiz Mosquito, Tarcisio Pedro José Catarina dos Santos
José Carneiro, Mané Preto,
Pedro Batedeira, Anizio, Ibernon,
Torrões Zé de Nazaré Catito, Raimundo Ponta,
Silvio
Raimundo Pezim
Ilha dos Coqueiros Manoel Candido Manoel Cipriano Raimundo Bilina
Acarau Antonio Vicença, José Isopor
ACARAU Virgilio Ribeiro, Raimundinho das
Aranau
Neves, Francisco das Neves
Barrinha Manoel Xixico
Pedro Pereira, Camilo Alves
ICARAI DE
Moitas Clói, Aneude José Arteiro, Santo Camilo de Souza, Antonio Vicente,
AMONTADA
Vicente Feijo
CRUZ Prea Otaciano, Dadim, Lucio (só reparos) Manoel Elias Barros, Lindomar
Lucindo Carneiro, Givaldo Monteiro
Manoel Pedro, João Isequiel, Luiz Manoel Constancia, Vicente
CAMOCIM Camocim Souza, Pedro Castanhola, Boni, Vei
Libório Marques, Chico Américo
Chico Nogueira, Antonio Pedro
Antonio Latão, Damasio, Ivan, Cicero Domingos Carpina, Macário,
BARROQUINHA Bitupitá Pinheiro (João Rodrigues Teixeira)
Marques Manoel (tio Pinheiro)
42
4 CONCLUSÃO
44
REFERÊNCIAS
KLINK, A. Linha-d'água: entre estaleiros e homens do mar. Rio de janeiro, Cia das
Letras. 2006. 335 p.
46
APÊNDICES
47
APÊNDICE A – SÍNTESE DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM
CONSTRUTORES NAVAIS ARTESANAIS
48
ENTREVISTA Nº 01 DATA DE REALIZAÇÃO: 04/09/2010
NOME: Possidônio Soares Filho
APELIDO: Possidônio
LOCAL DE NASCIMENTO: Iguape-CE
LOCAL de TRABALHO: Fortaleza-CE
IDADE: 62 anos
INÍCIO DA ATIVIDADE: aos 18 Anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 40 anos
49
ENTREVISTA Nº 02 DATA DE REALIZAÇÃO: 20/09/2010
NOME: José Clisério Rodrigues
APELIDO: José Carpina
LOCAL DE NASCIMENTO: Beberibe-CE
LOCAL de TRABALHO: Fortaleza-CE
IDADE: 81 anos
INÍCIO DA ATIVIDADE: aos 20 Anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 43 anos
50
ENTREVISTA Nº 03 DATA DE REALIZAÇÃO: 02/02/2011
NOME: Francisco Severiano de Castro
APELIDO: Titico
LOCAL DE NASCIMENTO: Fortaleza-CE
LOCAL de TRABALHO: Cumbuco-CE
IDADE: 74 anos
INÍCIO DA ATIVIDADE: aos 25 Anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 40 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas de piúba, jangadas de tábua e paquetes de
isopor
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 60
51
ENTREVISTA Nº 04 DATA DE REALIZAÇÃO: 02/02/2011
NOME: Edilson Albano Vieira
APELIDO: Edilson
LOCAL DE NASCIMENTO: Cumbuco-CE
LOCAL de TRABALHO: Cumbuco-CE
IDADE: 70 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 35 anos
52
ENTREVISTA Nº 05 DATA DE REALIZAÇÃO: 03/02/2011
NOME: José Pereira de Souza
APELIDO: Zé Preto
LOCAL DE NASCIMENTO: Pecém-CE
LOCAL de TRABALHO: Pecém-CE
IDADE: 65 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 20 anos
53
ENTREVISTA Nº 06 DATA DE REALIZAÇÃO: 03/02/2011
NOME: João Martins de Oliveira
APELIDO: João Bala
LOCAL DE NASCIMENTO: Taíba/São Gonçalo do Amarante-CE
LOCAL de TRABALHO: Taíba/São Gonçalo do Amarante-CE
IDADE: 63 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 25 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas e paquetes de isopor
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 200
Iniciou trabalhando como pescador, mas teve uma doença alérgica chamada
“maxixe do mar” que o obrigou a parar de pescar. Como alternativa, passou a
construir embarcações.
Aprendeu a arte da construção naval aos 35 anos trabalhando com o carpinteiro
José Júlia, quando veio morar na Taíba-CE. Como alternativa profissional,
trabalhava como carpinteiro na construção civil.
Lembra que o primeiro paquete forrado de isopor da Taíba foi feito por Damásio,
seu irmão, nos anos 1970. Afirma que atualmente todos os paquetes da Taíba
são forrados de isopor, pois os pescadores têm medo de andar de jangada de
tábua (ocada) e morrer afogados. E afirma: “Hoje os pescadores são poucos, o
pessoal só quer estudar”.
54
ENTREVISTA Nº 07 DATA DE REALIZAÇÃO: 03/02/2011
NOME: Antonio Beneval
APELIDO: Benel
LOCAL DE NASCIMENTO: Taíba/ São Gonçalo do Amarante-CE
LOCAL de TRABALHO: Taíba/ São Gonçalo do Amarante-CE
IDADE: 45 anos
INÍCIO DA ATIVIDADE: aos 20 ANOS
TEMPO NA ATIVIDADE: 25 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: paquete de isopor
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 20
55
ENTREVISTA Nº 08 DATA DE REALIZAÇÃO: 04/02/2011
NOME: João Pires dos Santos
APELIDO: Batista
LOCAL DE NASCIMENTO: Lagoinha/
Paraipaba-CE
LOCAL de TRABALHO: Paracuru-CE
IDADE: 63 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 48 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas de
tábua ocada, paquetes ocados e isopor, canoa paquete e reparo em todos os
tipos de embarcação.
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 120
O Sr. Batista aprendeu o ofício com seu tio, “Chico Pires dos Santos” e ainda se
encontra em atividades, apesar de ter pouca oferta de encomenda para a
construção naval.
É aposentado e mora num sítio, onde é caseiro, situado no pé do morro de
Paracuru, local onde constrói suas embarcações e faz reformas. Foi ele quem
inventou as canoas forradas de Paracuru em 1970. Elas deram origem às canoas
paquetes de Flecheiras-CE.
Suas canoas são conhecidas na região por já terem ganho várias regatas em
Paracuru, das quais guarda as matérias jornalísticas.
56
ENTREVISTA Nº 09 DATA DE REALIZAÇÃO: 05/02/2011
NOME: José Carneiro Neto
APELIDO: Valdeci
LOCAL DE NASCIMENTO: Lagoinha/Paraipaba-CE
LOCAL de TRABALHO: Lagoinha/Paraipaba-CE
DADE: 51 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 33 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas e paquetes de tábuas ocadas e isopor, e
canoas-paquete.
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 100
Valdeci aprendeu o ofício com seu pai, Raimundo Carneiro de Souza, conhecido
como “Raimundinho”, que se encontra aposentado e tem, atualmente, 86 anos de
idade, sendo o carpinteiro mais velho da localidade. Em 1970, quando
apareceram na Lagoinha os primeiros paquetes ocados e forrados de isopor,
provenientes de Fortaleza, “Raimundinho” passou a construí-los.
Valdeci diz que na Lagoinha tinha muitas jangadas ocadas que, aos poucos,
foram sendo substituidas pelas de isopor; e comenta: “Os pescadores daqui não
querem nem pensar em embarcações ocadas”.
Além da construção de embarcações, Valdeci trabalha com marcenaria e
carpintaria e nunca foi pescador, fato que se constitui numa exceção.
Valdeci constrói em um mês um paquete de 23 palmos (5,10 m) de comprimento,
com 2,30 m de boca e 30 cm de pontal.
57
ENTREVISTA Nº 10 DATA DE REALIZAÇÃO: 18/02/2011
NOME: Edislau Carneiro Nascimento
APELIDO: Chico da Enedina
LOCAL DE NASCIMENTO:
Prainha/Aquiraz-CE
LOCAL de TRABALHO: Prainha/Aquiraz-
CE
IDADE: 48 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 35 anos
58
ENTREVISTA Nº 11 DATA DE REALIZAÇÃO: 18/02/2011
NOME: Raimundo Nonato Bezerra de Lima
APELIDO: Papaiol
LOCAL DE NASCIMENTO: Iguape /Aquiraz-CE
LOCAL de TRABALHO: Iguape /Aquiraz-CE
IDADE: 51 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 35 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas de tábuas ocadas e isopor; paquetes
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 30
59
ENTREVISTA Nº 12 DATA DE REALIZAÇÃO: 07/04/2011
NOME: Franciscio Alves Filho
APELIDO: Chico da Luiza
LOCAL DE NASCIMENTO:
Caponga/Cascavel-CE
LOCAL de TRABALHO:
Caponga/Cascavel-CE
IDADE: 66 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 36 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: Jangada e paquete ocada e de isopor.
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 40
Estaleiro que funciona no quintal da casa de Chico, sob a sombra de uma árvore.
60
ENTREVISTA Nº 13 DATA DE REALIZAÇÃO: 07/04/2011
NOME: Francisco Augusto Filho
APELIDO: Pedro Luzia
LOCAL DE NASCIMENTO:
Caponga/Cascavel-CE
LOCAL de TRABALHO:
Caponga/Cascavel-CE
IDADE: 72 anos
INÌCIO DA ATIVIDADE: 12 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 55 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas de tábuas ocadas e isopor; paquetes ocados
e isopor.
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 85
Pedro de Luzia é do tempo em que se construía jangada de timbaúba e de piúba.
Ele mesmo construiu esses tipos de embarcações.
Iniciou a trabalhar na construção de embarcações ajudando o Chiquinho de Miciu
na contrução das jangadas de piuba. Atualmente, está inativo, mas além de
carpinteiro naval, trabalhava como marceneiro e salva-vidas na praia da
Caponga-CE.
Dentre os seus filhos, apenas um aprendeu o ofício, mas não o exerce. Um genro
aprendeu e hoje está em atividade usando o seu estaleiro, que funciona ao lado
da sua casa.
Vista do estaleiro
61
ENTREVISTA Nº 14 DATA DE REALIZAÇÃO: 19/06/2011
NOME: João Lourenço do Nascimento
APELIDO: Dão
LOCAL DE NASCIMENTO:
Baleia/Itapipoca-CE
LOCAL de TRABALHO: Baleia/Itapipoca-
CE
IDADE: 63 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 30 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: canoas e reparos de bote
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 5
Dão aprendeu a fazer embarcações observando e executando pequenos reparos.
Os seus filhos só sabem fazer pequenas reformas e trabalham com pesca e como
pedreiros na construção civil.
Diz que possuiu uma canoa de nome “Juruna”, que tem mais de 40 anos, na qual
ele vem fazendo reformas ao longo do tempo. O comprador e proprietário é de
Paracuru, onde ela está sendo utilizada na pesca.
Dão diz que quando as jangadas de tábuas chegaram na Baleia, as de piuba
deixaram de ser construídas. A primeira que chegou foi a do Chico Jacinto em
1962, e depois as do Morgan, vindas de Fortaleza, para a pesca da lagosta.
Ele constrói e reforma no alpendre da sua casa.
62
ENTREVISTA Nº 15 DATA DE REALIZAÇÃO: 12/07/2011
NOME: Josibias Bezerra de Almeida
APELIDO: Josibias
LOCAL DE NASCIMENTO: Caiçara-RN
LOCAL de TRABALHO: Redonda/Icapuí-
CE (por temporada)
IDADE: 44 anos
INÌCIO NA ATIVIDADE: 22 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 22 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas de tábuas ocadas e isopor; paquetes ocados
e isopor; canoas; botes bastardos e triângulo; lancha a motor.
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 45
Apesar do pai ser carpinteiro naval, aprendeu o ofício com um irmão. Quando
iniciou a atividade, trabalhava também como pescador, mas atualmente só
trabalha na carpintaria naval. Passou seus conhecimentos para um sobrinho e um
conhecido que trabalham na profissão, no Rio Grande do Norte.
Constrói um bote de 7m de comprimento em 40 dias de trabalho com o auxílio de
um ajudante. Sempre é chamado para trabalhar em Redonda/Icapuí-CE, para
onde se desloca, anualmente, para construir botes. O mesmo ocorre em outras
localidades do Ceará e do Rio grande do Norte.
Tem orgulho das embarcações que constrói, por ganharem as regatas de que
participam.
63
ENTREVISTA Nº 16 DATA DE REALIZAÇÃO: 13/07/2011
NOME: José Nivaldo Bezerra
APELIDO: Nivaldo
LOCAL DE NASCIMENTO:
Redonda/Icapui-CE
LOCAL de TRABALHO: Redonda/Icapui-
CE
IDADE: 59 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 43 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas ocadas e botes triângulo
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 35
Nivaldo é filho do mais antigo carpinteiro de Redonda, Aldenor Bezerra do
Nascimento, ainda vivo, mas já se encontra aposentado. Foi quem primeiro
construiu os botes de Redonda, depois de ter aprendido com um carpinteiro de
Caiçaras, do Rio Grande do Norte, que veio construir o primeiro bote do lugar, em
1950.
Nivaldo iniciou como pescador e atualmente trabalha como carpinteiro. Tem
serraria e faz móveis e portas, alternativamente.
Tem a ideia de otimização de material, reduzindo a espessura das cavernas e
fazendo seu resinamento, que reduz o peso da embarcação e os custos e
aumenta a durabilidade.
64
ENTREVISTA Nº 17 DATA DE REALIZAÇÃO: 17/07/2011
NOME: Francisco Olismar dos Reis
APELIDO: Olismar
LOCAL DE NASCIMENTO: Icapuí-Icapuí
LOCAL de TRABALHO: Icapuí-Icapuí
IDADE: 39 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 20 anos
65
ENTREVISTA Nº 18 DATA DE REALIZAÇÃO: 14/07/2011
NOME: José Valente da Silva
APELIDO: Lôlô
LOCAL DE NASCIMENTO:
Quixaba/Aracati-CE
LOCAL de TRABALHO: Quixaba/Aracati-
CE
IDADE: 58 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 44 anos
66
ENTREVISTA Nº 19 DATA DE REALIZAÇÃO: 15/07/2011
67
ENTREVISTA Nº 20 DATA DE REALIZAÇÃO: 25/11/2011
NOME: Tarcisio Marques do
Nascimento
APELIDO: Tarcísio Pedro
LOCAL DE NASCIMENTO:
Almofala/Itarema-CE
LOCAL de TRABALHO: Almofala/Itarema-
CE
IDADE: 72 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 53 anos
68
ENTREVISTA Nº 21 DATA DE REALIZAÇÃO: 25/11/2011
NOME: Luis Carneiro Sobrinho
APELIDO: Luiz Mosquito
LOCAL DE NASCIMENTO: Almofala/Itarema-CE
LOCAL de TRABALHO: Almofala/Itarema-CE
IDADE: 45 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 20 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: paquetes de isopor
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 35
Luiz Mosquito iniciou na carpintaria naval através do seu avô, José Carneiro, que
era construtor de canoas e botes.
Luiz Mosquito atua como pescador e na construção de paquetes de isopor. A
construção desse tipo de embarcação parece ser simplificada, pois afirma
construir um paquete em cinco dias.
69
ENTREVISTA Nº 22 DATA DE REALIZAÇÃO: 25/11/2011
NOME: Pedro Augusto Neto
APELIDO: Pedro Batedeira
LOCAL DE NASCIMENTO:
Batedeira/Itarema-CE
LOCAL de TRABALHO: Torrões/Itarema-
CE
IDADE: 55 anos
INÍCIO NA ATIVIDADE: 18 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 38 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas e paquetes isopor; canoas; botes bastardos,
botes triângulo e barcos a motor.
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 20
70
ENTREVISTA Nº 23 DATA DE REALIZAÇÃO: 01/03/2012
NOME: Manuel Verissimo de Miranda
APELIDO: Manuel Cândido
LOCAL DE NASCIMENTO: Ilha dos
Coqueiros/Acaraú-CE
LOCAL de TRABALHO: Ilha dos
Coqueiros/Acaraú-CE
IDADE: 63 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 40 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: canoas, botes triangulo e barcos a motor
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 15
71
ENTREVISTA Nº 24 DATA DE REALIZAÇÃO: 01/03/2012
NOME: Antônio Ribeiro dos Santos
APELIDO: Antônio Vicença
LOCAL DE NASCIMENTO: Cuaçu/Acaraú-
CE
LOCAL de TRABALHO: Fortaleza-CE
IDADE: 74 anos
INÌCIO NA ATIVIDADE: 19 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 55 anos
72
ENTREVISTA Nº 25 DATA DE REALIZAÇÃO: 02/03/2012
NOME: Jedeão de Castro Alves
APELIDO: Jedeão
LOCAL DE NASCIMENTO:
Moitas/Amontada-CE
LOCAL de TRABALHO:
Moitas/Amontada-CE
IDADE: 73 anos
INÍCIO NA ATIVIDADE: 18 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 55 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: canoas
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 110
Jedeão aprendeu a construir embarcações com seu pai, Camilo Alves de Souza.
Iniciou a atividade aos 18 anos, mas desde pequeno, com sete/oito anos de
idade, já ficava pelo meio do serviço acompanhando o pai.
Jedeão tem na família a tradição de quatro gerações na construção artesanal de
canoas, pois seu avô e seu pai foram construtores e seu filho, de nome Clói, está
dando continuidade a esta tradição. Atualmente, exerce a atividade de construção
naval e carpintaria na construção civil. Pesca esporadicamente e tem roçado que
ele próprio cuida.
Seu estaleiro funciona no terreno de sua casa, que na estrutura tem um quarto
para guardar as ferramentas e duas cobertas de palha para trabalhar na
construção.
73
ENTREVISTA Nº 26 DATA DE REALIZAÇÃO: 02/03/2012
José Arteiro aprendeu com o seu tio, Camilo Alves de Souza (pai do Jedeão),
com a idade de 18 anos e ensinou a um filho, Aneude, que é um dos contrutores
atuais de canoas da localidade de Moitas.
É construtor de canoas, mas chegou a construiu um dos três botes que foram
feitos em Moitas.
Afirma que as canoas atuais vieram das antigas canoas dos currais, que eram
muito feias e que as canoas de Moitas são muito parecidas com as do Mundaú.
Lembra que tinha muita jangada de raiz antes das canoas e que faz mais de 50
anos que deixaram de existir as jangada de piuba na região.
Atualmente, está aposentado e passando por problemas de saúde.
74
ENTREVISTA Nº 27 DATA DE REALIZAÇÃO: 03/03/2012
NOME: Manoel Otaciano Barros
APELIDO: Otaciano
LOCAL DE NASCIMENTO: Preá/Cruz-CE
LOCAL de TRABALHO: Preá/Cruz-CE
IDADE: 62 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 32 anos
75
ENTREVISTA Nº 28 DATA DE REALIZAÇÃO: 29/03/2012
NOME: João Rodrigues Teixeira
APELIDO: Pinheiro
LOCAL DE NASCIMENTO: Bitupitá/Barroquinha-CE
LOCAL de TRABALHO: Bitupitá/Barroquinha-CE
IDADE: 73 anos
INÌCIO NA ATIVIDADE: 40 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 23 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: canoas, botes triângulo e barcos a motor.
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 60
Pinheiro é filho e neto de carpinteiro naval, mas não conseguiu dar continuidade à
profissão na família, pois o seu filho não se interessou em aprender.
Iniciou na construção naval com 40 anos de idade e até esta idade trabalhava
construindo mesas e móveis.
Está aposentado, não atua mais na carpintaria naval, mas ainda trabalha na
carpintaria da construção civil.
Pinheiro afirma que em Bitupitá nunca existiu jangada, a não ser as de passagem,
pois o mar é “manso” e jangada é para locais de mar bravo.
76
ENTREVISTA Nº 29 DATA DE REALIZAÇÃO: 29/03/2012
NOME: Antônio Rocha de Carvalho
APELIDO: Antônio Latão
LOCAL DE NASCIMENTO: Barra dos
Remédios/Barroquinha-CE
LOCAL de TRABALHO:
Bitupitá/Barroquinha-CE
IDADE: 77 anos
INÍCIO NA ATIVIDADE: 25 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 47 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: jangadas, canoas e botes bastardo
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 100
Estaleiro na praia de Bitupitá, onde Antônio Latão está reformando uma canoa.
77
ENTREVISTA Nº 30 DATA DE REALIZAÇÃO: 30/03/2012
NOME: Lucindo Carneiro de Souza
APELIDO: Lucindo
LOCAL DE NASCIMENTO:
Tatajuba/Camocim-CE
LOCAL de TRABALHO:
Camocim/Camocim-CE
INCIO NA ATIVIDADE: 40 anos
IDADE: 63 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 23 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO canoas
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 55
78
ENTREVISTA Nº 31 DATA DE REALIZAÇÃO: 30/03/2012
NOME: Luiz Geraldo das Chagas
APELIDO: Chico Elias
LOCAL DE NASCIMENTO: Ceará/Mirim-
RN
LOCAL de TRABALHO:
Camocim/Camocim-CE
IDADE: 72 anos
INÍCIO NA ATIVIDADE: 17 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 57 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: Bote bastardo, bote triangulo, barco a motor.
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 40
Chico Elias aprendeu seu ofício no Aracati, vendo os carpinteiros trabalhar. Foi
para Fortaleza, onde construiu suas primeiras embarcações e, há 50 anos, foi
para Camocim. Diz que gostaram do seu trabalho e começaram a fazer os botes,
porque antes só havia canoas.
É aposentado, mas está trabalhando ativamente na carpintaria artesanal
construindo e reformando botes e lanchas a motor. É um dos mais conhecidos e
respeitados carpinteiro construtor de botes bastardos de Camocim.
Afirma que, em Camocim, Messias foi seu aprendiz e que, atualmente, está
trabalhando como carpinteiro naval no Piaui, na cidade de Luiz Correia.
79
ENTREVISTA Nº 32 DATA DE REALIZAÇÃO: 31/03/2012
NOME: Manoel Pedro de Araujo
APELIDO: Manoel Pedro
LOCAL DE NASCIMENTO: Tatajuba/Camocim-CE
LOCAL de TRABALHO: Tatajuba/Camocim-CE
IDADE: 67 anos
INÍCIO NA ATIVIDADE: 30 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 25 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: canoas, jangadas e barcos a motor (lancha).
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 185
Manoel Pedro era pescador antes de iniciar na construção artesanal. Construiu,
principalmente, canoas durante o período dos 30 aos 55 anos de idade, quando parou
de exercer a atividade de carpinteiro artesanal para se dedicar, integralmente, à
pousada de sua propriedade, em Tatajuba.
Conta que, desesperançoso da pesca e sem expectativas, pois a localidade não tinha
oferta de emprego, aceitou a oportunidade de fazer um reparo numa canoa e se
dedicou a profissão, que diz ter aprendido “por observação e muito da sua cabeça”.
Logo ficou conhecido nos mais diversos locais da região, de onde surgiram
encomendas para a construção de canoas. Relata o dia da encomenda da primeira
canoa: sua expectativa, planejamento e receios. Com saudades, diz que essa canoa foi
a mais bonita que fez em sua vida. Afirma que em Camocim sempre teve canoa; que
estas, inicialmente, tinham o fundo chato, mas que na sua época já possuíam a quilha.
Dentre os filhos, nenhum seguiu na construção artesanal, apenas um compadre,
Lucindo, aprendeu e tornou-se um grande carpinteiro em Camocim, onde trabalha.
80
ENTREVISTA Nº 33 DATA DE REALIZAÇÃO: 15/05/2012
81
ENTREVISTA Nº 34 DATA DE REALIZAÇÃO: 16/05/2012
NOME: Raimundo Tomé dos Santos
APELIDO: Raimundo Tomé
LOCAL DE NASCIMENTO: Mundaú/Trairi-CE
LOCAL de TRABALHO: Mundaú/Trairi-CE
IDADE: 84 anos
INÍCIO NA ATIVIDADE: 17 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 12 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: botes triângulo
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 10
82
ENTREVISTA Nº 35 DATA DE REALIZAÇÃO: 16/05/2012
NOME: José Evaristo de Souza
APELIDO: Albir
LOCAL DE NASCIMENTO:
Mundaú/Trairi-CE
LOCAL de TRABALHO: Mundaú/Trairi-
CE
IDADE: 65 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 25 anos
83
ENTREVISTA Nº 36 DATA DE REALIZAÇÃO: 16/05/2012
NOME: Miguel Pires Ramos
APELIDO: Miguelzinho
LOCAL DE NASCIMENTO: Paracuru-CE
LOCAL de TRABALHO: Flecheiras/Trairi-
CE
IDADE: 40 anos
INÍCIO NA ATIVIDADE: 20 anos
TEMPO NA ATIVIDADE: 20 anos
TIPO DE CONSTRUÇÃO: paquetes de isopor e canoas paquete
EMBARCAÇÕES A VELA CONSTRUÍDAS: 70
84
APÊNDICE B – FORMULÁRIO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM
CONSTRUTORES NAVAIS ARTESANAIS
85
CONSTRUÇÃO ARTESANAL DAS EMBARCAÇÕES A VELA DO ESTADO DO CEARÁ
01-Idade: ______________________
1- < 40 anos
2- 41- 45 anos
3- 46-50 anos
4- 51-55 anos
5- 56 – 60 anos
6- 61-65 anos
7- 66-70 anos
8- >71 anos
02- Local de seu nascimento? ____________________________________________________
1- Nesta localidade
2- Outra localidade no mesmo Município do CE
3- Localidade em outro Município do CE
4- Outro Estado. ___________________________________
06- Qual a sua idade quando iniciou a trabalhar com a construção de embarcações? _______
1- < 15 anos
2- 16 a 20 anos
3- 21 a 25 anos
4- 26 a 30 anos
5- > 30 anos
07- Quem lhe ensinou a trabalhar na construção artesanal era nascido onde:
1- Nesta localidade
2- Outra localidade no mesmo Município do CE
3- Localidade em outro Município do CE
4- Outro Estado. ___________________________________
5- Não sabe informar ao certo.
Sabe Informar:
Nome ____________________________________________________
Se ainda é vivo _____________________________________________
Se ainda Trabalha ___________________________________________
Com quem aprendeu _________________________________________
Quais as embarcações que construía: _________________________________
_____________________________________________________________________
87
08- Localidade que iniciou a trabalhar com construção de embarcações? ________________
1- Nesta localidade
2- Outra localidade no mesmo Município do CE
3- Localidade em outro Município do CE
4- Outro Estado. ___________________________________
09- Exerce outras atividades além de construção de embarcações?
1- Sim
2- Não
3- Aposentado
10- Qual outras atividades que exerce além de construção da embarcações?
1- Pesca
2-Agricultura
3-Construção civil – carpinteiro
4- Construção civil – pederiro
5-Caseiro
6- Comercio
7-Turismo
8- Proprietário de pousada
9- Outros
11- Atualmente está exercendo a atividade de construção artesanal e reparos de embarcação?
1- Sim
2- Não
12- Se sim em quais atividades:
1- Construção de embarcações a vela
2- Construção de embarcações a motor
3- Construção e reparos de embarcações a vela
4- Construção de embarcações e pesca
5- Construção de embarcações e agricultura
6- Construção de embarcações e outras atividades
25- Nos últimos dois anos como andam os pedidos para construção de:
parado diminuiu aumentou Não tem pedido Aqui não tem
Jangada
Paquete
Canoa-Paquete
Canoa
Bote bastardo
Bote triangulo
Outros
91
26-Qual o tempo de duração útil das embarcações no seu ver.
Menos 10 10 – 15 16- 20 anos 21 a 25 26 – 30 Mais de
anos anos anos anos 30 anos
Jangada
Paquete
Canoa-
Paquete
Canoa
Bote bastardo
Bote triangulo
Catamarã
27- Qual o custo médio com mão de obra e material para se construir atualmente uma:
grande Pequena media Não sabe
Jangada
Paquete
Canoa-Paquete
Canoa
Bote bastardo
Bote triangulo
Catamarã
92
30-Quais os tipos de madeiras utilizadas para a construção de uma paquete médio(4 metros) e
metragem:
Parte/madeira
Convés
Cavernas
Bordas
Mastro
31-Quais os tipos de madeiras utilizadas para a construção de uma canoa média( 6 metros) e
metragem cúbica madeira:
Parte//madeira>
Convés
Cavernas
Bordas
Mastro
32-Quais os tipos de madeiras utilizadas para a construção de um bote médio( 6 metros) e metragem
cúbica madeira:
Parte//madeira>
Convés
Cavernas
Bordas
Mastro
93
33-Classifique por quantidade como é composta as embarcações a vela desta localidade:
Tipo embarcação classificação observações
Paquetes
Jangadas
Canoa Paquete
Canoa
Bote bastardo
Bote triangulo
Catamarã
Outros
Usar: 1º - 2º - 3º - 4º - 5º - 6º - tem pouco – não tem.
35-Os botes são diferentes conforme a região em que são construídos? Quais são estas diferenças?
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
36-As canoas tem diferenças conforme a localidade em que são construídas? Quais são estas
diferenças?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
94
37- No seu entender como surgiram os botes?
_________________________________________________________________________
41- Porque motivo aqui tem mais (canoa, bote, paquete, jangada)?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
42- Você tem alguma sugestão de como seria uma embarcação melhor para a pesca e pescador para
esta região?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
44- Está construindo ou vai construir embarcação nestes dias? Tem previsão de início de construção?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
95
45- Qual sua escolaridade?
1-Sabe ler
2-Sabe ler e escrever
3- Ler pouco e escreve pouco
4- Ler pouco e não sabe escrever
5-Tem o fundamental incompleto
6-Tem o fundamental completo ( antigamente chamava admissão)
7- Tem o nível médio incompleto
8- Tem o nível médio completo
96
CAPÍTULO 2
97
SUMÁRIO
98
3.6.2 – Vela 160
3.7- CALAFETAGEM 168
3.8- PLANOS DE CONSTRUÇÃO DO PAQUETE, CANOA E BOTE 170
4 CONCLUSÕES 172
5 REFERÊNCIAS 176
APÊNDICES 178
APÊNDICE A – BOTE - Arranjo geral, plano de linhas e tabela de
cotas 179
APÊNDICE B – CANOA - Arranjo geral, plano de linhas e tabela de
cotas 184
APÊNDICE C – PAQUETE- Arranjo geral, plano de linhas tabela
de cotas 189
99
LISTA DE FIGURAS
Descrição Pag.
Figura 1- Exemplar de jangada de raiz de timbaúba. 114
Figura 2 – Árvore timbaúba (Enterolobium contortisiliquum) - vista
geral (Nº 1), tronco (Nº 2), tronco e raiz (Nº 3) e folhas,
frutos e sementes (Nº 4). 115
Figura 3 – Jangada na montagem no estaleiro na praia do
Mucuripe. 117
Figura 4 – Fechamento das tábuas laterais por corda. 119
Figura 5 – Conjunto labassa, cabeço e latra. 119
Figura 6 - Tabuleta com molde de angulação de cavernas de uma
jangada. 121
Figura 7 – Paquete revestido de isopor denominado popularmente
de paquete de isopor. 122
Figura 8 – Identificação das bases para a construção de um bote: 1-
quilha; 2-talhamar; 3- coral; 4- contra coral; 5- espinha; 6-
cadaste; 7- espelho de popa; 8- cavernas mestre. 124
Figura 9 – Bote no estaleiro com escoramento e fixação. 125
Figura 10 – Corte transversal com nomenclatura apresentando
tábua de feixe, de resbordo e caverna (Fonte: modificado
de LYRA, 1994). 127
Figura 11 – Curvatura das latras com diminuição gradativa do
tamanho e curvatura para vante e para ré. 128
Figura 12 – Canoas de um só pau no Riacho Doce, fronteira do ES
com a BA. 129
Figura 13 – Armação da canoa de quilha na Tatajuba (Fonte: 133
Manuel Pedro).
Figura 14 – Enxó goiva. (Fonte: Denadai et al., 2009) 138
Figura 15 – Enxó de cabo reto e lâmina plana: A – estática; B – em
dinâmica de uso. 139
Figura 16 – Enxó com mão francesa. (Fonte: Denadai et al., 2009) 139
Figura 17 – Serrote: A - posição estática com travador abaixo; B -
100
em dinâmica de utilização. 140
Figura 18 – Martelo de unha: A - posição estática; B - em dinâmica
de utilização. 140
Figura 19 – Marreta em dinâmica de utilização. 141
Figura 20 – Plaina: A – posição estática; B - em dinâmica de
utilização. 141
Figura 21 - Arco de pua: A – posição sem ponteira perfurante; B -
com ponteira em dinâmica de utilização. 142
Figura 22 – Formão: A – posição estática; B – em dinâmica de
utilização. 142
Figura 23 - Goiva do tipo formão. 143
Figura 24 – GrampoS: A - Acondicionados em cabide; B- em
utilização na montagem de peças. 144
Figura 25 – Sargento: A – visto pela parte interior da embarcação;
B – pela parte externa fazendo a junção das tábuas. 144
Figura 26 – Trado: A – posição estática; B – em dinâmica de
utilização. 145
Figura 27 - Compasso de ponta seca em dois momentos de
utilização: A - marcação para fazer furação; B – em
medição para fasquia de tábua do costado. 145
Figura 28 – Suta: A - demonstrando ângulos de abertura; B -
demonstrando a medida de angulação da tábua da borda
de um paquete. 146
Figura 29 – Esquadro: A - posição estática; B - na embarcação,
pronto para utilização. 146
Figura 30 – Machado: A – posição estática; B - em utilização. 147
Figura 31 - Nível de bolha em posições diferenciadas. 147
Figura 32 - Instrumentos de medição: A - Fita métrica e trena; B –
escala métrica em medição de caverna. 148
Figura 33 - Tipos de escavas existentes: A - lisa; B - de gancho; C -
em chave; D - de dentes; E - de cunha e F - variação da
escarfa com cunha (LYRA 1994). 152
Figura 34 - Regra geral para dimensionamento de escavas ou
101
escarfas onde “L” e “H” representam respectivamente o
comprimento e a altura da escafa e “A” a largura da tábua.
(adaptado de LYRA 1994). 153
Figura 35 - Dente-de-cão na quilha e talhamar numa peça de
junção denominada redondo de proa. A - redondo de proa;
B - talhamar e C - quilha. 153
Figura 36 - Dente-de-cão para emenda da quilha com seção de
arvoramento da proa. A - secção curva da proa e B -
secção reta da quilha. 154
Figura 37 - Escarfa lisa antes da colocação da cavilha d’água na
quilha de uma canoa biana visto antes da colocação do
tabuado (canoa está emborcada). 155
Figura 38 - Emenda denominada bico de gaita. 156
Figura 39 - Escarfa utilizada em emenda de caverna de canoa. 156
Figura 40 - Tipo de emenda utilizada no corrimão de bote. 157
Figura 41 - Emenda utilizada na junção lateral das escotilhas. 157
Figura 42 - Tabica já encaixada nas pontas de cavernas e
assentada sobre as latras. 158
Figura 43 – Entralhando o cabo da vela com agulha e costura de
palombar. 161
Figura 44 - 1 - Ligação da vela ao mastro no processo que se
denomina de envergadura da vela; nas laterais da vela; 2 -
corda do mastro; 3 - corda de cima, e as secções do
mastro denominadas: 4 - ponteira de emenda e 5 -
emenda. 162
Figura 45 - Desenho esquemático de uma vela latina triangular com
nomenclatura: 1- corda de cima (baluma ou valuma); 2 -
corda do mastro (testa); 3- corda de baixo (esteira); 4 -
tranca (retranca); 5 - mastro; 6 - toco e 7 - emendas e
ponteira da curva. 163
Figura 46 - Ferramentas utilizadas para corte e confecção da vela
na praia. 164
Figura 47- Mastro apresentando junções do toco, emendas e
102
ponteira da emenda. 165
Figura 48 – Desenho e construção da vela sendo confeccionada
por feitor de vela na areia da praia do Mucuripe-Fortaleza. 166
Figura 49 - Vela quadrangular latina denominada de quatro punhos
das canoas de curral de Bitupitá-Barroquinha. 167
Figura 50 - Preenchimento do espaçamento entre tábuas com
cordão de fios de algodão trançado. 168
Figura 51 - Ferramentas do calafete – talhadeira e martelo
apropriado. 169
Figura 52 - Detalhe do fio de algodão trançado em preenchimento
dos espaçamentos entre tábuas. 169
Figura 53 - A - Emassamento sobre o cordão da estopa; B -
calafetagem e emassamento concluído. 170
103
LISTA DE TABELAS
Descrição Pag.
TABELA 1 – Levantamentos de custo de construção de canoas sem
quilha de comprimento de 6 e 7,5 m na localidade de
Moitas – Amontada/CE 136
104
A construção dos diferentes tipos de embarcações a vela do litoral
do estado do Ceará
RESUMO
105
Construction of different types of sail craft along Ceará State’s
coastline
ABSTRACT
The sailboats are used in fisheries since the middle ages and were introduced in
Brazil at the beginning of its discovery. The Ceará State’s fleet is made up of rafts,
canoes and boats whose study was meant for describing aspects of the building
process and for ascertaining the existence of differentiation among fishing
communities as to costs, construction time, basic materials, hand tools and
positioning of masts according to boat size, sail types and setting of lining patterns.
The methodology consisted of data surveys carried out locally, in the period from
May, 2010 through December, 2012, by means of interviews with 36 artisanal
carpenters in 25 fishing sites of 18 costal counties, by applying questionnaires and
data gathering by recording, photography and movie pictures. The constructive
technique consists of mounting a “primary skeleton” to which all other component
parts are attached. The building principle of the triangle and bastard boats is the
same as adopted by the whole of the labor force, which are identical as to their
constructive pattern and hull framework, but differ as to the types of masts ands sails,
namely the bastard one having a fixed mast and a storm jib, and the triangle one
having a triangular storm jib. The construction costs vary in a decreasing order for
boats, rafts and canoes, as determined by the craft length and kind of timber.
Somewhat exceptionally there was identified in Bitupitá, Barroquinha county, the
existence of a square storm jib named “four-fist sail”, bent up as a bastard mast in
the fish-weir canoes.
Keywords: Sail craft, Raft, Hulled canoe, Flat-hulled canoe, Bastard boat, Triangle
boat, Artisanal Construction.
106
1 INTRODUÇÃO
108
Agostinho (1973) constatou que, no Recôncavo Baiano, os cascos de
quilha e tabuado, os casco monóxilos (canoas de um só pau) e flutuadores múltiplos
(jangadas) eram os tipos principais. As embarcações construídas em Valença e
Cajaíba filiam-se à tradição naval portuguesa, pois apresentam casco de quilha e
tabuado, enquanto a contribuição presumível ou comprovadamente indígena se
revela em canoas e jangadas, embarcações pesqueiras de menor porte.
O entendimento geral mostra que na interação entre os povos colonizador
e o nativo ocorreu uma miscigenação das embarcações, que se modificaram
conforme as necessidades de sua utilização, ou seja, jangada de toras já existentes
evoluíram com inovações adaptativas como o uso da vela (CASCUDO, 2002), e foi
empregada principalmente na pesca. A canoa já existia na forma primitiva, como as
monóxilas, de um só trono ou da casca de árvore e na versão estrangeira,
encavernada, bem como embarcações maiores como as caravelas que, conforme a
necessidade, assumiram esse estilo construtivo com adaptações regionais mais
voltadas para o transporte (DIAS, 2009).
As canoas indígenas, monóxilas na região litorânea de São Paulo, ainda
se encontram nas formas tradicionais de origem, agora com melhor capricho
construtivo devido a utilização de ferramentas não existentes antes da vinda do
europeu ao Brasil (DENADAI et al. 2009). As versões encavernadas ou de tábuas
serradas assumiram diversas formas ao longo do litoral brasileiro e em águas
interiores.
A tipologia das embarcações a vela do Ceará tem na jangada seu maior
ícone, com origem nos primitivos nativos, tendo evoluído ao longo das formas
jangada de timbaúba ou jangada de raiz, de piúba e de tábua (SANTOS & SANTOS,
2012), complementado por canoas encavernadas e botes já com influência
construtiva européia.
No Ceará, a existência da jangada e sua perpetuação até os dias atuais
se mantém, sendo a transformação para a de tábua em 1944 pelo carpinteiro
artesanal do Iguape, Pocidonio Soares, o seu maior salto construtivo e que se
conserva na atualidade sem maiores modificações.
Os botes atuais são de origem do Rio Grande do Norte que, inicialmente
utilizados para o transporte de cargas entre as localidades de Macau, Areia Branca e
Aracati, passaram também a compor a frota pesqueira e se alastraram pelo Ceará.
Em Camocim, a utilização do mastro fixo para operação da vela bastarda os torna
109
praticamente os últimos remanescentes no mundo com o uso desse sistema
operacional (MESQUITA, 2009).
Forgaça (2012), no livro documentário “A jangada de raiz”, faz a descrição
do processo construtivo que indica uma herança secular, pois não se faz uso de
pregos, parafusos ou metais. No contra ponto, em palestra no primeiro Encontro
Nacional de Pesquisa & Ação em Construção Naval Artesanal - Enxó-2012, o
representante do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) defendeu a revitalização
da frota pesqueira artesanal através da substituição da frota artesanal por
embarcações de fibra de vidro sob o argumento da redução do consumo de
combustível fóssil. Essa proposta foi amplamente questionada por muitos dos
participantes, que veem uma iniciativa equivocada em vários aspectos, inclusive
quando no Ceará a frota veleira, além de prescindir do uso de combustível fóssil,
representa 87% do número total de embarcações e 60 % da produção
estuarina/marinha (IBAMA, 2006).
Nesse contexto, aumenta a importância de se conhecer o processo
construtivo das embarcações a vela artesanais que atuam principalmente na pesca,
já que historicamente políticas públicas não contemplam sua manutenção e são
vistas como ultrapassadas, tendendo a permanecer sem o olhar e a visão
governamentais, quer na esfera estadual quer na federal.
A hipótese é verificar a existência de um modelo construtivo padrão com
sequenciamento definido e utilizado por todos os carpinteiros artesanais para a
construção dos diversos tipos embarcação a vela no Ceará.
Os objetivos principais deste trabalho foram de fazer a descrição da
construção das embarcações a vela (jangada, do paquete, da canoa e do bote)
conforme as explicações dos construtores navais artesanais e, nesse processo,
verificar o que é comum entre as tipologias apresentadas.
Outros objetivos foram:
Constatar a existência de diferenciação construtiva por
tipo de embarcação entre regiões do Ceará; por exemplo, se jangada
de Icapuí é diferente da de Baleia-Itapipoca.
Identificar aspectos de construção por tipo de
embarcação, considerando custos, quantidade de madeira, tempo de
construção, e outros materiais empregados (pregos, parafusos).
110
Relacionar os tipos de madeira utilizados nas diversas
secções da embarcação e identificar o mais adequado a cada uma
delas.
Descrever as principais ferramentas utilizadas na
construção artesanal atualmente e antes do uso da eletricidade.
Elaborar planos de arranjo geral e planos de linhas; do
bote, canoa tipo biana e jangada.
111
2 METODOLOGIA
112
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1
O Projeto Embarcações do Brasil, tem o objetivo de colaborar com a preservação, restauração,
divulgação e valorização do acervo patrimonial naval tradicional do Brasil.
113
Figura 1 – Exemplar de jangada de raiz de timbaúba (Fonte:
Foto do autor)
114
tornado um ícone do litoral nordestino e que, segundo Amyr Klink (2006), velejador e
construtor naval, incorpora com maestria os conceitos que projetistas modernos têm
dificuldade de aplicar, como estabilidade de forma, mastreação autoportante e
flexível, e perfil variável de velame.
116
pelo nível de bolha. Neste processo a que se denomina armação, molda-se a forma
que a embarcação tomará quando concluída.
117
(bordas) e da popa, e afirma ser este o modo praticado pela maioria dos carpinteiros
navais artesanais.
As tábuas laterais, quanto mais fechadas no sentido vertical mais tornam
a proa arvorada, de modo que o fechar ou abrir da tábua no momento da armação
dá uma angulação lateral para a opção de maior ou menor arvoramento. A primeira
caverna a ser colocada é a do centro (meia nau) e, após isto feito, as tábuas laterais
são afixadas ao espelho de popa e de proa. Estando as tábuas laterais na armação,
divide-se ao meio no plano diametral para fazer a simetricidade dos bordos e,
consequentemente, das cavernas que são posicionadas pelo conjunto labassa,
cabeço e latras.
O fechamento das extremidades das tábuas laterais se dá por meio de
cordas que, amarradas transversalmente próximo às extremidades da proa e da
popa, em processos distintos, são tracionadas para o centro por meio de barrote de
madeira pelo mesmo princípio de um torniquete, que vai dando a forma da curvatura
desejada respectivamente na proa e na popa (Figura 4).
A jangada está armada depois de fixados o espelho de popa e a peça de
proa e, para verificação da simetricidade da curvatura das bordas, uma linha no
sentido longitudinal é traçada pelos centros da proa e da popa, devendo ser
idênticas para cada bordo as medidas nos cortes transversais.
Antes da colocação das demais cavernas, é feita a divisão prevendo a
posição do conjunto banco da vela e carlinga, que localizados no primeiro terço do
comprimento da tábua lateral, define a localização das cavernas que lhes dão
suporte.
A sustentação transversal é feita pelo agrupamento de cavernas que
ficam distantes transversalmente entre si 35-40 cm sendo colocadas da meia nau
para os extremos; à medida que seguem para a proa e para a popa, vão tendo
reduzido seu tamanho em largura e altura.
Uma caverna é formada pela junção de duas peças denominadas
labassas, posicionadas no fundo, cabeço na lateral e se completa com a colocação
da latra na parte superior que corresponde ao convés (Figura 5).
118
Figura 4 – Fechamento das tábuas laterais por corda Fonte: modificado
de Lyra, (1994).
119
O pontal de uma jangada grande pode ser de até 70 cm e é medido do
convés para a labassa no centro da embarcação, onde se situa a escotilha que dá
acesso ao seu interior. A labassa é moldada inicialmente por varão de ferro que,
flexionado, dá a forma para o riscado, e com este molde se produz a caverna do
centro aonde se fixam os cabeços que têm tamanhos e angulações distintas e são
medidos pela suta e assim modelados.
Alguns carpinteiros navais artesanais tem uma tabuleta de madeira com
gabarito da angulação que os cabeços das cavernas tomam nas tábuas laterais e,
embora sofram ajustes, favorecem a uma padronização construtiva individual.
Miguel de Flecheiras e Zé Preto da Taíba declararam adotar esta estratégia (Figura
6).
O tabuado do fundo da jangada é iniciado pelo centro, sendo que antes,
as forras são colocadas uma em cada bordo, que têm a finalidade de funcionar
como ponto de atrito por onde a jangada é rolada na praia e como reforço
longitudinal, já que são fixadas sobre as cavernas em todo o comprimento da
embarcação.
As madeiras utilizadas são o louro vermelho no tabuado, o piquiá nas
cavernas, tirante, calço da bolina e a maçaranduba na proa e sobreproa, cintado2 e
forras, também denominadas de roladeiras. Recebem peça denominada “sobre
forras” e servem para sofrer o desgaste sendo ponto de atrito com os rolos quando
a jangada é rolada na praia.
O espelho (painel) de popa é feito de piquiá com espessura de 4 cm,
assim como as cavernas que, no paquete são de 3,5 x 5 cm, a mesma dimensão
das latras, e na jangada, de 7 x 7 cm.
As cavernas são mais reforçadas no ponto onde se fixa o patião, que
consiste de uma peça triangular de madeira, fixada no fundo da jangada, que inicia a
uma ou duas cavernas a ré da meia nau e termina na popa e cujo lado vertical
corresponde ao prolongamento do cadaste do leme.
O calço da bolina fica em média 30 cm a ré da carlinga e tem uma
abertura de 2,5 cm para acomodar a bolina em seu interior.
2
O cintado na jangada faz a junção da tábua lateral com a tábua do fundo sendo aparafusada e
garante que não abra como acontece quando não é colocada.
120
Figura 6 – Tabuleta com molde de angulação de cavernas de uma jangada.
(Fonte: foto do autor)
3
Busana é um molusco do gênero teredo, que ataca a madeira do fundo das embarcações
comprometendo a estanqueidade. A palavra “busana” vem do “gusano”, que significa “verme” em
espanhol.
121
3.1.2 - A construção do paquete
122
3.1.3 - A construção do bote
123
Figura 8 – Identificação das bases para a construção de um bote: 1- quilha; 2-
talhamar; 3- coral; 4- contra coral; 5- espinha; 6- cadaste; 7- espelho de popa; 8-
cavernas mestre. (Fonte: desenho do autor)
124
Figura 9 – Bote no estaleiro com escoramento e fixação.
(Fonte: foto do autor)
4
Labassa é a peça de madeira que faz a união entre as duas secções das cavernas.
126
FIGURA 10 – Corte transversal com nomenclatura apresentando
tábua de feixe, de resbordo e caverna (Fonte: modificado de LYRA,
1994).
127
Figura 11 – Curvatura das latras com diminuição gradativa do tamanho e
curvatura para vante e para ré. (Fonte: foto do autor)
128
No Ceará inexistem registros documentais e vestígios da existência de
“canoas de um só pau” que pudessem ser consideradas as antecessoras das atuais
canoas encavernadas, existentes principalmente no litoral oeste. O cacique João
Venâncio, dos Tremembé de Almofala, descreve uma sequência evolutiva que se
iniciou pela jangada de raiz (timbaúba), jangada de piúba, botes, jangada de tábua,
canoas encavernadas, mas não faz menção à canoa escavada em toras (SANTOS
& SANTOS, 2012).
Os carpinteiros artesanais e mestres pescadores entrevistados não
mencionam a existência da utilização de canoas monóxilas no Ceará. Mesmo na
localidade de Moitas (município de Amontada), a mais tradicional na construção de
canoas encavernadas e sem quilha já por quatro gerações, nada reportaram sobre
canoas de toras, embora não se exclua a possibilidade de ter existido em épocas
mais antigas.
129
Atualmente as canoas que são empregadas na pesca apresentam duas
tipologias distintas nos aspectos construtivos, sendo estas com e sem a presença de
quilha, ambas encavernadas. As canoas sem quilha apresentam variações que as
classificam como canoa de Paracuru, canoa paquete (Guagiru e Flecheiras) e, das
mais tradicionais, canoa das Moitas, nas localidades de Mundaú, Baleia e Moitas.
Os carpinteiros de Moitas têm orgulho de dizer que a preferência por suas canoas se
deve ao fato de serem mais seguras e possantes. A partir do município de Acaraú,
as canoas passam a ter quilha e são denominadas de bianas.
131
3.1.4.2 - A construção da canoa com quilha
132
Figura 13 – Armação da canoa de quilha na Tatajuba. (Fonte: Foto de Manuel
Pedro, 1997)
5
Considerar os valores do real (R$ = 1,00) equivalente ao dólar ($ = 1,86).
134
útil. Segundo informação do carpinteiro artesanal Nivaldo (Redonda), o custo total de
uma jangada sai por R$ 12 mil, sendo R$ 9.500,00 com material e R$ 2.500,00 com
mão de obra.
Em Pontal do Maceió, município de Fortim, o carpinteiro naval artesanal
Manoel Taritinga estima o custo de uma jangada de 7 metros em R$ 20.000,00
incluindo a mão de obra do carpinteiro, que fica em torno de R$ 4.000,00, sendo
entregue pronta com vela e calafetada, valores confirmados por Possidonio
presidente da Colônia de Pescadores Z-8, em Fortaleza.
135
No geral, o entendimento é que um bote não sai por menos de R$
17.000,00 e pode chegar a R$ 21.000,00 dependendo do seu tamanho e se a
madeira for adquirida localmente ou no Pará sob encomenda. Alguns carpinteiros,
como Nivaldo de Redonda, funcionam como empresários no sentido de que,
dispondo de capital para compra do material, constroem embarcações para venda
imediata ou sob encomenda, e cujo ganho se origina basicamente do seu próprio
trabalho com mão-de-obra principal no empreendimento.
Comprimento
Tipo Material Mão-de-obra Total
(m)
Canoa 6,0 3.000,00 3.000,00 6.000,00
Canoa 7,5 6.000,00 4.000,00 10.000,00
136
3.3 – Ferramentas manuais utilizadas
138
Figura 15 - Enxó de cabo reto e lâmina plana: A - estática; B – em dinâmica de uso.
(Fonte: Fotos do autor)
139
Figura 17 – Serrote: A - posição estática com travador abaixo; B - em dinâmica de
utilização. (Fonte: Fotos do autor)
140
Figura 19 – Marreta em dinâmica de utilização. (Fonte: Foto do autor)
141
Arco de pua e ponteira perfurante (Figura 21) – é uma ferramenta manual
com dispositivo de braço giratório (alça de manivela) concêntrico ao seu eixo
principal que lhe proporciona alavancagem aumentando a força rotatória, à qual se
adaptam ponteiras perfurantes ou ferros de pua (brocas tipo verruma) com a
finalidade de fazer perfurações na madeira. É um instrumento que antecedeu a
furadeira elétrica, sendo ainda muito utilizado no litoral cearense.
142
Guiva – é um tipo de formão cuja parte cortante é curvilínea, tendo como
tipo mais comum a talhadeira de ferro e desprovida de cabo de madeira (Figura 23).
Grampo – ferramenta metálica com abertura ajustável por meio de rosca
utilizada para unir temporariamente partes da embarcação com uma prensa, até
serem fixadas entre si de forma definitiva (Figura 24).
Sargento - utilizado para unir temporariamente componentes durante o
processo de construção das embarcações, tem origem do nome na grafia em
Francês “Serre-Joint” (LYRA, 1994), e na prática faz a junção de tábuas para ficarem
bem unidas entre si. A ferramenta tem braço para abertura regulável com
capacidade de ajuste e é uma variação dos grampos, sendo conhecido também por
grampo de barra (Figura 25).
Trado – é uma verruma grande em aço com cabo transversal de madeira,
cuja extremidade inferior tem rosca em forma helicoidal e acaba em ponta, tendo por
finalidade a abertura de furos na madeira, principalmente em peças de grande
espessura. O tamanho grande é o mais utilizado pelos carpinteiros, estando
disponível em catálago nas especificações de 5/16” a 1 ½” (Figura 26).
143
Figura 24 – Grampos: A - acondicionados em cabide; B - em utilização na montagem
de peças. (Fonte: Fotos do autor)
144
Figura 26 – Trado: A – posição estática; B – em dinâmica de utilização. (Fonte: Fotos
do autor)
145
Figura 28 – Suta: A - demonstrando ângulos de abertura; B - demonstrando a
medida de angulação da tábua da borda de um paquete. (Fonte: Fotos do autor)
146
Figura 30 – Machado: A – posição estática; B - em utilização. (Fonte: Foto do autor)
147
Figura 32 – Instrumentos de medição: A - fita métrica e trena; B – escala métrica em
medição de caverna. (Fonte: Fotos do autor)
148
Tabela 2 - Relação dos nomes vulgar e científico das madeiras
utilizadas pelos carpinteiros navais artesanais.
149
carpinteiro Nivaldo calcula que um bote de 8 metros de comprimento pese cerca de
3 a 4 t tomando com base a capacidade dos macacos hidráulicos utilizados para
suspender e colocar a embarcação no berço de transporte. Afirma que uma
embarcação deste porte tem capacidade de transportar 7 a 8 t de peso com
segurança. Complementa, ainda, que com a madeira ainda verde pode-se fazer as
cavernas, a volta de proa e quilha. As demais partes têm que estar secas como o
tabuado do fundo, colocando a tábua de louro de pé para ir secando e jogar água
em cima para acelerar o processo de secagem.
Tabela 3 – Tipos de madeira utilizada por secção nas jangadas, canoas e botes.
(Fonte: elaborada pelo autor)
151
segura para garantir a resistência da embarcação a todos os esforços a ela impostos
pelas atividades rotineiras.
Uma das emendas estruturais importantes consiste da união da quilha
com o talhamar, utilizada nos botes e denominada pelos carpinteiros cearenses de
“dente de cão”. Os tipos de emendas chamadas de escarfas ou escavas que são os
entalhes feitos na madeira para receber o encaixe de uma emenda (Figura 33).
Existe uma série de relação entre distâncias durante as fases de
montagem das peças (LYRA, 1994), mas não foi possível aquilatar se estas são do
conhecimento geral dos carpinteiros entrevistados (FIGURA 34).
153
As duas seções simétricas das cavernas (bombordo e boreste) que,
juntas pelas extremidades centrais colocadas sobre a quilha, são unidas pela
labassa por meio de cavilhas, sendo o conjunto afixado na quilha por parafuso ou
cavilha (ferro liso) que traspassa a labassa e o prende na quilha.
154
uns furos horizontais nos quais se introduzem à força, cavilhas de madeira branda
chamadas de stopwater, espiche ou caxilha d’água.
Estas emendas obedecem à relação de dimensionamento (Figura 34), e
mostra exemplos de vários tipos (Figura 33), apresentadas em Lyra (1994). Neste
estudo não foi verificada a observância deste cuidado, nem se os carpinteiros tinham
conhecimento destas relações, mas acredita-se que as dimensões sejam
determinadas também por empirismo.
Muitas canoas de quilha (tipo biana) fazem uso de cavilhas d’agua plana
(Figura 37), mas sua aplicação, segundo o carpinteiro Manuel Candido (Acaraú),
surgiu na região por volta de 1965 e Manuel Pedro confirma a utilização da emenda
tipo bico de gaita (Figura 38). Outras escarfas podem ser utilizadas nas emendas de
quilhas e cavernas conforme a necessidade e o esforço, que é avaliado pelo
carpinteiro (Figura 39). Outros tipos de emendas são utilizados, como a emenda do
corrimão de um bote (Figura 40), e na utilização das tábuas da escotilha do convés
(Figura 41).
155
Figura 38 - Emenda denominada bico de gaita.
(Fonte: Foto do autor)
156
Figura 40 – Tipo de emenda utilizada no corrimão de bote. (Fonte: Foto do autor)
157
3.5.2 Tabica
158
3. 6 Posicionamento do mastro e confecção das velas
3.6.1 Mastro
3.6.2 Vela
O vento, que atua como força motriz sobre as velas da embarcação, era
melhor aproveitado a cada modificação inovadora e a opção das chamadas “velas
redondas” (na realidade quadradas) para a vela triangular ou latina foi uma delas,
tornando-se grande feito pois permitia deslocamentos pelo través ou “navegar à
bolina”, com a manutenção do menor ângulo possível entre o rumo e a direção do
vento (HOLZHACKER et al., 1975). A vela latina, de forma triangular ou
quadrangular, é envergada em mastro, verga ou estai na direção do plano diametral
do barco, de proa a popa; essa disposição permite que seja movimentada para
captar vento em qualquer direção a partir de um ângulo mínimo de 45º entre a linha
de vento e o plano diametral do barco. Nas jangadas cearenses, conforme verificado
com a experiência dos mestres jangadeiros, o ataque ao vento é maior, sob um
ângulo menor, na faixa 35- 40º.
As velas utilizadas pelas embarcações cearenses (dos botes triângulo,
das canoas, jangadas e paquetes) são do tipo latina triangular também usada nos
botes bastardos, que diferem por ser envergada em mastro bastardo.
Segundo ENCICLOPÉDIA Grandes (2000), no século XVII para
fabricação das velas usava-se o cânhamo e o linho, sendo este último preferido para
as velas de maior tamanho. Estas eram tecidas a mão e utilizando-se dois tipos de
costura, sendo uma com volta simples usada para velas menores e a outra com
volta dupla com uma polegada de largura para as de maior tamanho, e respeitavam
algumas regras, como a costura ser de baixo para cima e colocada na face
posterior.
Verificou-se com feitores de velas da Baleia e Redonda que, ao contrário
da técnica utilizada pelos antigos, a costura das faixas da panagem é feita de cima
para baixo, pois havendo alguma diferença pode ser facilmente cortada na lateral da
base inferior. A costura utilizada é a simples para emendas das partes e
embainhados, utilizando-se apenas uma agulha. Não se utiliza uma face definida
160
para a costura simples, pois a vela latina recebe o vento pelas duas faces conforme
a direção de navegação, sendo normal receber o vento por um lado na ida e pelo o
outro na volta, diferentemente da vela quadrada que recebe o vento apenas por uma
face.
As velas triangulares latinas têm bordas do pano embainhadas nas suas
três laterais, entralhadas com cabo de polietileno de 12 mm com costura de
palombar6 (Figura 43). A vela, pela sua lateral da testa, é fixada ao mastro da
embarcação por cabo fino que passa pela corda de entralhe e o contorna, num
processo que se denomina envergadura da vela (Figura 44).
6
Palombar é coser uma tralha de vela com ponto de palomba. Palomba é um tipo de ponto utilizado
em vários trabalhos de marinheiro para coser a talha das velas e à costura dá-se o nome de
palombadura (HOLZHACKER et al., 1975).
161
posição com o aumento do tamanho da vela, relacionado diretamente ao tamanho
da embarcação, cuja confecção requer conhecimento e experiência.
Muitas das velas dos botes da praia de Redonda são feitas por José
Raimundo da Silva, conhecido localmente por “José Véi” que é feitor de velas há
mais de 55 anos, desde quando aprendeu esse ofício em Fortaleza, que exerce
com o auxílio da esposa e de uma filha que fazem a costura.
José Véi declara que o custo da mão-de-obra para feitio de uma vela é de
R$ 60,00 (agosto de 2012) e consegue aprontá-la em um dia, sendo que em anos
de boas pescarias de lagosta chegou a confeccionar mais de 100 velas tanto para
Redonda quanto para localidades vizinhas.
162
O “pano” (tecido) preferido e utilizado em Redonda é o denominado “meia
lona” da marca Fluminense, que se trata do “algodãozinho de vela”, comprado em
peças com 10 metros de comprimento e largura infestada de 1,80 m.
Em Redonda, a preferência unânime da utilização do algodão para a
confecção da vela se baseia em sua maior durabilidade em relação a outros
materiais, a exemplo do tergal. Esta duração é de dois anos sem nenhuma
intervenção, mas com costuras e emendas pode resistir até três anos. Os desgastes
maiores ocorrem nas laterais do mastro e na tranca, raramente presentes na lateral
da valuma, conforme desenho esquemático da vela (Figura 45).
163
A vela é montada preferencialmente na areia da praia, com o tecido em
forma de faixas que corresponde à largura do tecido, e aberta no seu comprimento.
Somente após cuidadoso trabalho de montagem e ajustes é que o perímetro da vela
é cortado e está pronta para ser costurada, sendo as faixas encaminhadas para
costura simples entre si na superposição das duas faces do tecido. Estas têm como
as principais ferramentas utilizadas em sua confecção: as corda de medir, tornos,
faca e marretinha de bater os tornos e agulhas de palombar (Figura 46).
164
(8,2 m); e a valuma, a terceira lateral situada do lado da popa, tem largura de 6,6
braças (12,0 m).
No caso da lateral da vela ficar maior que o mastro, este pode ser
aumentado inserindo-se tocos e emendas, ou seja, prolongam o mastro na vertical e
as emendas compõem a parte da extremidade superior fazendo a curva do mastro,
finalizando pela ponteira da emenda em sua extremidade mais alta (Figura 47).
165
quilha de 5 m de comprimento. Já para uma canoa de 7 m, a vela principal
apresenta as seguintes medidas: valuma de 6,5 braças (11,8 m), testa de 6,0 braças
(10,9 m) e esteira de 4,0 braças (7,3 m), vai ter uma área superficial de 40 metros m2
com 3 m2 para a vela de estai. Uma canoa de quilha de 8,8 m de comprimento tem
um mastro de 8,0 m e tranca de 7,8 m e pega 22 metros lineares de tecido (com
1,60 m de largura) para confeccionar a vela triangular latina denominada de três
punhos que corresponde a uma área de 32,5 m2.
166
para passar no fio de costura da vela. A vida útil da vela tem duração de dois anos
segundo os feitores Jorge, Dão e Buzo, da praia da Baleia.
Em Paracuru, um paquete de 4,35 m de comprimento e dotado de mastro
com 7,50 m e tranca de 6,00m, recebe uma vela de 22 m2 e, se tiver 5,0 m de
comprimento, com mastro de 7,80 m e tranca de 5,60 m recebe vela com 23 m2. Em
Flecheiras uma canoa paquete de 5 m de comprimento recebe uma vela com área
de 24 m2, feita de algodãozinho pegando 15 m lineares do tecido de 1,6 m largura,
enquanto uma de 4 m comprimento tem uma área vélica de 19,2 m2.
167
Em Bitupitá, as canoas de curral (Figura 49) são dotadas de velas do tipo
quatro punhos que, além da tranca, têm o pico para a abertura em diagonal da vela
que é latina quadrangular, muito comum nas igarités do Maranhão (LYRA, 1994;
MESQUITA, 2009).
3.7 Calafetagem
169
administrada após a colocação dos fios de estopa entre as tábuas, o que constitui o
processo de emassamento (Figura 53).
O material utilizado para emassamento é um composto na proporção de 5
kg de supercal para 2 litros de óleo de mamona, produto anteriormente fabricado
pela mulheres da comunidade, mas hoje está escasso e 1 litro é comprado por R$
9,00; em praias como Fortaleza se utiliza o óleo de soja comum, mas com menor
poder de liga e consistência na mistura.
170
de estabilidade, estimar velocidades e conhecer o calado, conforme a variação dos
pesos transportados.
Para cada um dos três tipos de embarcações (bote, canoa e paquete), os
dados básicos iniciais consistiram na medição de comprimento total e da quilha,
boca e pontal, estando para isto a embarcação na fase construtiva de esqueleto,
pronto para entabuamento, que permitiu a medição dos pontos que compuseram a
tabela de cotas e possibilitaram a produção do plano de linhas.
Assim, para todas as cavernas, foram obtidos pontos referentes aos três
eixos cartesianos, X, Y e Z. No eixo X, a posição das cavernas foi obtida com
relação ao espelho de popa como referencial longitudinal. Nos eixos Y e Z que
representam as curvaturas das cavernas, onde Z representa a altura com referencial
na quilha e Y a medida da largura com referencial na linha de centro do plano
diametral.
As tabelas de cotas de campo foram transferidas para plotagem em
software Rhinoceros, onde os erros perceptíveis na produção do plano de linhas
foram corrigidos, a fim de que a superfície do casco fosse representada suave como
na construção. Após essas correções, os planos de linhas foram elaborados. A
tabela de cotas final, gerada no Rhinoceros, foi transferida para uma planilha
eletrônica excel e formatada para melhor visualização e apresentação dos dados.
Os planos de arranjo geral, planos de linhas e tabelas de cotas constam
nos apêndices A, B e C, respectivamente para o bote, canoa e paquete.
171
4 CONCLUSÕES
175
REFERÊNCIAS
ABREU, B. O raid da jangada São Pedro: pescadores, estado novo e luta por
direitos. Tese (Doutorado em História) - Departamento de História Universidade
Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2007. 256 f.
176
FORGAÇA, E. J. A. A jangada de raiz. Brasília: Projeto Embarcações do Brasil,
Unesco, 2012. 112 p.ilus.
177
APÊNDICES
178
APÊNDICE A – BOTE - Arranjo geral, plano de linhas e tabela de cotas
179
180
181
TABELA DE COTAS DO BOTE
Espelho de proa Seção 83 Seção 129 Seção 182 Seção 234 Seção 292 Seção 358 Seção 391 Seção 440
X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z
39 0,00 59,09 83 0,00 48,79 129 0,00 39,71 182 0,00 31,35 234 0,00 25,91 292 0,00 22,98 358 0,00 21,57 392 0,00 21,00 440 0,00 20,35
39 1,70 60,26 83 10,81 55,91 129 2,03 40,77 182 3,24 32,66 234 5,37 27,67 292 3,80 23,92 358 2,02 21,89 392 9,46 22,15 440 4,25 20,72
39 3,41 61,39 83 22,17 61,59 129 4,08 41,81 182 6,48 33,97 234 10,75 29,40 292 7,59 24,85 358 4,03 22,22 392 18,92 23,38 440 8,50 21,12
39 6,89 63,60 83 37,01 67,86 129 8,17 43,87 182 12,97 36,57 234 21,50 32,86 292 13,30 26,25 358 8,07 22,87 392 32,79 25,50 440 16,97 22,02
39 8,65 64,67 83 39,99 69,07 129 10,23 44,88 182 16,23 37,86 234 26,89 34,59 292 15,21 26,72 358 10,10 23,21 392 37,23 26,23 440 21,18 22,51
39 12,21 66,74 83 45,97 71,41 129 14,35 46,88 182 22,74 40,42 234 36,69 37,74 292 19,02 27,66 358 14,14 23,87 392 43,89 27,41 440 29,72 23,62
39 14,00 67,75 83 48,97 72,54 129 16,42 47,86 182 26,00 41,70 234 41,11 39,17 292 20,93 28,13 358 16,14 24,21 392 46,11 27,83 440 34,04 24,24
39 17,64 69,70 83 54,99 74,77 129 20,57 49,81 182 32,51 44,24 234 49,93 42,06 292 24,74 29,08 358 20,17 24,89 392 50,55 28,69 440 42,65 25,63
39 19,47 70,64 83 58,01 75,87 129 22,65 50,76 182 35,77 45,50 234 54,33 43,53 292 26,64 29,55 358 22,18 25,24 392 52,77 29,14 440 46,94 26,39
39 23,02 72,39 83 62,53 77,51 129 26,56 52,54 182 40,67 47,40 234 65,86 47,51 292 30,45 30,50 358 26,22 25,94 392 63,31 31,39 440 55,48 28,08
39 24,74 73,21 83 64,04 78,05 129 28,40 53,36 182 42,30 48,04 234 73,30 50,22 292 32,35 30,98 358 28,24 26,30 392 71,53 33,46 440 59,74 29,01
39 28,19 74,78 83 67,05 79,14 129 32,07 54,98 182 45,57 49,32 234 81,77 53,77 292 38,04 32,42 358 32,26 27,03 392 81,57 36,61 440 68,20 31,07
39 29,92 75,55 83 68,56 79,69 129 33,91 55,78 182 47,20 49,95 234 83,25 54,41 292 41,83 33,40 358 34,25 27,40 392 83,47 37,24 440 72,40 32,20
39 33,42 77,03 83 73,08 81,35 129 37,60 57,37 182 52,08 51,87 234 86,21 55,73 292 47,51 34,89 358 40,27 28,55 392 87,26 38,55 440 80,67 34,66
39 35,18 77,75 83 76,09 82,47 129 39,45 58,16 182 55,32 53,16 234 87,69 56,41 292 49,40 35,40 358 44,29 29,35 392 89,15 39,23 440 84,73 35,99
39 38,70 79,15 83 80,58 84,20 129 43,14 59,72 182 65,03 57,10 234 92,09 58,53 292 53,19 36,43 358 56,22 31,88 392 94,77 41,38 440 92,77 38,92
39 40,48 79,83 83 82,07 84,79 129 44,99 60,50 182 71,47 59,82 234 94,97 60,02 292 55,07 36,95 358 64,33 33,81 392 98,46 42,93 440 96,72 40,51
39 43,90 81,11 83 85,05 86,00 129 50,11 62,64 182 80,95 64,29 234 100,32 63,08 292 60,73 38,54 358 80,00 38,30 392 105,55 46,26 440 104,42 43,94
39 45,56 81,71 83 86,52 86,61 129 53,39 63,99 182 84,06 65,84 234 102,78 64,60 292 64,49 39,65 358 87,72 40,90 392 108,93 48,00 440 108,13 45,76
39 48,87 82,88 83 89,46 87,87 129 58,30 66,03 182 90,22 69,17 234 106,38 67,06 292 71,97 41,97 358 97,16 44,89 392 115,58 51,81 440 115,42 49,74
39 50,53 83,45 83 90,92 88,52 129 59,94 66,71 182 93,26 70,92 234 107,57 67,91 292 75,69 43,19 358 99,02 45,72 392 118,80 53,86 440 118,97 51,87
39 55,51 85,14 83 93,83 89,86 129 63,22 68,08 182 102,20 76,62 234 109,90 69,66 292 83,07 45,80 358 102,72 47,46 392 128,13 60,45 440 125,79 56,46
39 58,84 86,23 83 95,28 90,56 129 64,86 68,76 182 107,66 80,78 234 111,04 70,56 292 86,72 47,20 358 104,54 48,37 392 133,80 65,37 440 129,03 58,88
39 65,18 88,27 83 98,15 92,02 129 69,44 70,70 182 117,97 90,21 234 114,36 73,31 292 92,14 49,47 358 109,98 51,23 392 140,28 72,37 440 135,28 64,11
39 68,20 89,23 83 99,57 92,77 129 72,36 71,96 182 122,90 95,51 234 116,46 75,22 292 93,93 50,26 358 113,50 53,30 392 141,56 73,84 440 138,25 66,87
39 74,21 91,19 83 102,37 94,36 129 78,20 74,55 182 129,32 103,68 234 120,51 79,25 292 97,48 51,91 358 120,33 57,83 392 144,05 76,86 440 146,77 75,84
39 77,20 92,19 83 103,74 95,19 129 81,10 75,88 182 131,37 106,52 234 122,44 81,35 292 99,24 52,77 358 123,59 60,25 392 145,25 78,40 440 151,65 82,45
39 82,76 94,15 83 107,74 97,78 129 86,66 78,54 182 135,08 112,42 234 125,28 84,70 292 104,48 55,47 358 128,29 64,19 392 147,58 81,55 440 156,78 91,62
39 85,32 95,10 83 110,34 99,73 129 89,31 79,86 182 136,78 115,53 234 126,25 85,89 292 107,88 57,42 358 129,82 65,55 392 148,70 83,16 440 157,79 93,59
39 90,37 97,16 83 113,83 103,00 129 94,57 82,64 182 138,13 118,72 234 128,14 88,30 292 117,81 63,91 358 132,80 68,37 392 150,85 86,43 440 159,70 97,59
39 92,85 98,26 83 114,93 104,16 129 97,17 84,09 234 129,06 89,52 292 123,71 68,85 358 134,25 69,82 392 151,89 88,10 440 160,59 99,62
39 97,32 100,56 83 117,00 106,66 129 102,16 87,08 234 131,79 93,24 292 130,44 76,08 358 138,46 74,29 392 153,97 91,64 440 163,07 105,82
39 99,30 101,69 83 117,93 107,97 129 104,56 88,61 234 133,53 95,76 292 131,72 77,55 358 141,07 77,41 392 155,01 93,52 440 164,45 110,03
39 103,13 104,29 83 119,58 110,73 129 109,23 91,86 234 138,86 103,85 292 134,22 80,56 358 144,75 82,33 392 156,99 97,33 440 165,62 114,33
39 104,92 105,72 83 120,28 112,15 129 111,50 93,56 234 142,74 110,30 292 135,42 82,10 358 145,94 84,00 392 157,93 99,26
39 108,12 108,88 83 121,47 115,13 129 115,77 97,16 234 146,00 116,06 292 137,76 85,25 358 148,22 87,40 392 159,72 103,18
39 109,46 110,51 83 121,93 116,66 129 117,76 99,01 292 138,89 86,86 358 149,32 89,13 392 160,57 105,15
39 111,83 114,17 83 122,99 121,38 129 121,50 103,04 292 141,07 90,12 358 151,44 92,63 392 162,18 109,13
39 112,78 116,08 83 123,16 127,82 129 123,19 105,15 292 142,13 91,77 358 152,45 94,40 392 162,94 111,14
39 114,49 120,58 83 123,22 124,61 129 126,19 109,80 292 144,19 95,12 358 154,41 97,99 392 163,66 113,15
39 115,12 123,07 129 127,42 112,21 292 145,18 96,81 358 155,35 99,80
39 116,04 128,22 129 128,82 116,13 292 147,11 100,22 358 158,07 105,30
39 116,30 130,80 129 129,20 117,44 292 148,05 101,93 358 159,75 109,02
39 116,46 133,41 129 129,79 120,15 292 149,88 105,40 358 161,33 112,79
129 130,00 121,51 292 150,78 107,14
129 130,13 122,89 292 152,54 110,64
292 153,40 112,40
292 154,25 114,16
182
TABELA DE COTAS DO BOTE (continuação)
Seção 490 Seção 540 Seção 590 Seção 638 Seção 694 Seção 736 Seção 788 Seção 841 Seção 890
X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z
490 0,00 20,05 540 0,00 20,00 590 0,00 20,00 638 0,00 20,00 694 0,00 20,00 736 0,00 20,00 788 0,00 20,00 841 0,00 20,00 890 0,00 20,00
490 8,51 20,88 540 6,65 21,08 590 1,59 20,42 638 1,55 20,60 694 2,77 21,75 736 1,22 21,11 788 2,16 22,80 841 3,26 25,42 890 0,88 21,78
490 17,00 21,89 540 13,28 22,21 590 3,19 20,83 638 3,10 21,18 694 5,62 23,35 736 2,48 22,18 788 4,47 25,46 841 6,82 30,60 890 1,78 23,55
490 27,58 23,47 540 23,90 24,21 590 6,37 21,63 638 6,21 22,30 694 11,39 26,40 736 5,04 24,24 788 8,10 29,32 841 14,48 40,65 890 3,63 27,07
490 29,70 23,81 540 27,89 25,00 590 7,95 22,03 638 7,76 22,85 694 14,31 27,85 736 6,35 25,24 788 9,33 30,58 841 18,53 45,46 890 4,58 28,83
490 33,91 24,50 540 33,85 26,25 590 12,71 23,23 638 12,44 24,49 694 20,81 30,97 736 10,31 28,16 788 11,84 33,04 841 24,88 52,49 890 7,48 34,03
490 36,01 24,86 540 35,83 26,68 590 15,90 24,03 638 15,57 25,55 694 24,41 32,63 736 13,02 29,99 788 13,11 34,25 841 27,04 54,79 890 9,50 37,45
490 42,30 26,00 540 39,79 27,56 590 23,00 25,83 638 22,55 27,90 694 29,83 35,07 736 19,05 33,86 788 15,81 36,74 841 31,41 59,32 890 13,59 43,99
490 46,47 26,83 540 41,77 28,02 590 26,92 26,84 638 26,39 29,18 694 31,63 35,87 736 22,37 35,87 788 17,23 38,01 841 33,63 61,55 890 15,63 47,12
490 54,82 28,65 540 45,92 29,00 590 32,78 28,40 638 34,05 31,74 694 35,24 37,47 736 27,40 38,79 788 20,11 40,51 841 38,12 65,95 890 18,80 51,77
490 58,99 29,63 540 48,10 29,53 590 34,73 28,92 638 37,86 33,03 694 37,04 38,27 736 29,08 39,75 788 21,57 41,74 841 40,40 68,13 890 19,87 53,31
490 67,26 31,78 540 52,44 30,63 590 38,60 29,98 638 45,91 35,79 694 46,86 42,58 736 32,45 41,65 788 25,98 45,38 841 45,00 72,45 890 22,04 56,35
490 71,36 32,94 540 54,61 31,20 590 40,54 30,52 638 50,14 37,28 694 54,89 46,06 736 34,14 42,58 788 28,97 47,73 841 47,33 74,58 890 23,13 57,86
490 79,53 35,45 540 58,93 32,37 590 46,81 32,30 638 56,45 39,55 694 71,10 53,36 736 39,52 45,53 788 35,17 52,44 841 54,34 80,94 890 26,31 62,17
490 83,58 36,81 540 61,08 32,98 590 51,14 33,58 638 58,53 40,32 694 79,27 57,18 736 43,22 47,51 788 38,37 54,78 841 59,07 85,10 890 28,42 64,95
490 91,62 39,76 540 65,36 34,22 590 57,59 35,58 638 62,71 41,87 694 91,23 63,25 736 50,69 51,47 788 44,82 59,39 841 66,17 91,36 890 31,65 69,07
490 95,58 41,34 540 67,48 34,86 590 59,73 36,26 638 64,80 42,67 694 95,11 65,30 736 54,45 53,44 788 48,05 61,65 841 68,54 93,46 890 32,73 70,43
490 103,41 44,77 540 74,04 36,90 590 63,98 37,65 638 71,21 45,14 694 102,74 69,56 736 65,88 59,45 788 54,55 66,12 841 73,24 97,65 890 34,91 73,15
490 107,26 46,61 540 78,44 38,37 590 66,10 38,35 638 75,51 46,87 694 106,49 71,76 736 73,53 63,49 788 57,82 68,34 841 75,58 99,75 890 36,01 74,50
490 114,82 50,59 540 87,15 41,53 590 72,63 40,60 638 84,02 50,46 694 111,87 75,15 736 84,76 69,74 788 62,73 71,66 841 80,20 104,03 890 39,14 78,31
490 118,50 52,72 540 91,44 43,21 590 77,01 42,19 638 88,22 52,32 694 113,55 76,25 736 88,40 71,82 788 64,36 72,76 841 82,49 106,20 890 41,18 80,76
490 129,28 59,65 540 99,90 46,82 590 85,70 45,54 638 96,46 56,19 694 116,87 78,49 736 95,59 76,09 788 67,64 74,97 841 85,84 109,54 890 45,30 85,63
490 136,06 64,94 540 104,05 48,73 590 89,99 47,31 638 100,49 58,19 694 118,52 79,64 736 99,14 78,28 788 69,28 76,08 841 86,94 110,67 890 47,37 88,05
490 148,10 77,16 540 112,21 52,85 590 98,44 51,04 638 106,46 61,36 694 121,75 82,01 736 104,23 81,60 788 77,12 81,39 841 89,10 112,95 890 51,29 92,62
490 153,24 83,95 540 116,20 55,05 590 102,59 53,00 638 108,42 62,44 694 123,35 83,22 736 105,82 82,66 788 83,30 85,62 841 90,16 114,11 890 53,14 94,76
490 158,32 93,40 540 123,82 59,71 590 110,74 57,18 638 112,32 64,67 694 126,47 85,73 736 108,96 84,83 788 94,72 93,96 841 92,23 116,49 890 56,81 99,07
490 159,26 95,31 540 127,43 62,13 590 114,73 59,39 638 114,25 65,81 694 128,00 87,01 736 110,52 85,94 788 100,28 98,25 841 93,24 117,70 890 58,64 101,23
490 160,99 99,21 540 132,68 66,06 590 120,47 62,89 638 117,93 68,09 694 134,70 92,99 736 113,59 88,20 788 109,49 106,44 841 95,17 120,20 890 63,45 107,04
490 161,78 101,19 540 134,39 67,42 590 122,29 64,04 638 119,68 69,21 694 139,63 98,33 736 115,11 89,36 788 113,78 110,72 841 96,08 121,48 890 66,62 111,02
490 163,21 105,22 540 137,74 70,24 590 125,87 66,43 638 123,14 71,54 694 144,16 105,69 736 118,08 91,73 788 118,64 117,22 841 98,62 125,40 890 70,45 116,49
490 163,85 107,26 540 139,37 71,69 590 127,63 67,66 638 124,85 72,74 694 144,92 107,08 736 119,54 92,94 788 119,94 119,22 841 100,13 128,29 890 71,53 118,12
490 164,98 111,39 540 143,97 76,09 590 131,10 70,22 638 128,22 75,22 694 146,33 109,95 736 123,47 96,38 788 122,18 123,51 841 100,97 131,31 890 73,55 121,50
490 165,47 113,47 540 146,79 79,13 590 132,80 71,53 638 129,87 76,49 694 146,95 111,42 736 125,85 98,66 788 123,09 125,76 890 74,48 123,22
490 165,89 115,57 540 152,00 85,69 590 136,12 74,27 638 133,11 79,13 694 148,04 114,44 736 129,22 102,32 788 123,68 128,12 890 75,91 126,45
540 154,33 89,13 590 137,74 75,68 638 134,69 80,49 694 148,50 115,97 736 130,30 103,57 890 76,45 127,90
540 157,40 94,64 590 142,25 79,87 638 137,62 83,17 694 149,22 119,11 736 132,36 106,15 890 77,26 130,94
540 158,35 96,51 590 144,99 82,74 638 138,97 84,48 694 149,48 120,69 736 133,34 107,48 890 77,51 132,47
540 160,07 100,37 590 148,80 87,38 638 141,59 87,18 694 149,64 122,30 736 135,05 110,06 890 77,54 134,06
540 160,85 102,33 590 150,00 88,97 638 142,85 88,58 736 135,80 111,30
540 162,22 106,33 590 152,28 92,26 638 145,28 91,46 736 137,17 113,84
540 162,81 108,36 590 153,35 93,95 638 146,44 92,95 736 137,79 115,14
540 163,81 112,48 590 156,29 99,11 638 148,63 96,03 736 139,44 119,17
540 164,21 114,56 590 157,88 102,62 638 149,66 97,62 736 140,23 121,97
540 164,53 116,66 590 160,39 110,09 638 151,52 100,80 736 140,62 124,86
590 161,24 113,87 638 152,34 102,37
590 161,70 117,80 638 153,83 105,60
638 154,49 107,25
638 155,64 110,64
638 156,12 112,36
638 156,89 115,86
638 157,17 117,63
638 157,36 119,42
184
185
186
TABELA DE COTAS DA CANOA
Espelho de proa seçao 75 seçao 121 seçao 162 seçao 207 seçao 250 seçao 293 seçao 334 seçao 374 seçao 419 seçao 464
X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z
0 0,00 47,72 75 ‐0,14 21,73 121 ‐0,16 13,11 162 ‐0,15 8,33 207 ‐0,13 5,01 250 ‐0,10 2,79 293 ‐0,07 1,29 334 ‐0,05 0,42 374 ‐0,03 0,00 419 ‐0,01 0,00 464 0,00 0,49
0 3,21 47,87 75 5,20 22,23 121 5,83 13,44 162 6,11 8,47 207 6,20 5,07 250 6,14 3,01 293 6,01 1,82 334 5,88 1,31 374 5,81 1,22 419 5,89 1,47 464 6,14 2,04
0 6,27 47,78 75 11,37 22,92 121 13,08 14,10 162 13,94 9,02 207 14,35 5,57 250 14,38 3,60 293 14,19 2,63 334 13,96 2,39 374 13,79 2,55 419 13,85 3,01 464 14,20 3,69
0 9,20 47,54 75 18,09 23,76 121 21,18 15,05 162 22,86 9,91 207 23,77 6,41 250 24,02 4,50 293 23,87 3,68 334 23,56 3,62 374 23,30 3,97 419 23,29 4,60 464 23,64 5,40
0 12,00 47,25 75 25,07 24,74 121 29,74 16,23 162 32,36 11,09 207 33,91 7,55 250 34,47 5,65 293 34,42 4,91 334 34,08 4,95 374 33,73 5,43 419 33,62 6,21 464 33,90 7,12
0 14,67 47,00 75 32,04 25,84 121 38,35 17,59 162 41,96 12,47 207 44,20 8,89 250 45,14 6,98 293 45,23 6,27 334 44,90 6,36 374 44,47 6,91 419 44,26 7,78 464 44,44 8,80
‐1 17,21 46,90 75 38,74 27,05 121 46,60 19,07 162 51,18 14,00 207 54,09 10,39 250 55,41 8,44 293 55,69 7,71 334 55,39 7,80 374 54,93 8,38 419 54,62 9,30 464 54,69 10,40
‐1 19,64 47,03 75 44,88 28,34 121 54,11 20,61 162 59,53 15,60 207 63,05 11,96 250 64,73 9,96 293 65,20 9,18 334 64,98 9,24 374 64,51 9,79 419 64,16 10,72 464 64,15 11,86
‐1 21,95 47,43 75 50,38 29,70 121 60,75 22,21 162 66,86 17,26 207 70,88 13,59 250 72,89 11,54 293 73,56 10,69 334 73,44 10,68 374 73,01 11,17 419 72,66 12,07 464 72,61 13,20
‐1 24,14 48,06 75 55,28 31,15 121 66,57 23,87 162 73,23 18,98 207 77,68 15,29 250 79,97 13,18 293 80,84 12,24 334 80,85 12,14 374 80,50 12,56 419 80,19 13,37 464 80,13 14,47
‐2 26,21 48,91 75 59,62 32,68 121 71,65 25,60 162 78,75 20,78 207 83,52 17,08 250 86,08 14,91 293 87,15 13,87 334 87,30 13,67 374 87,07 13,98 419 86,83 14,69 464 86,80 15,72
‐2 28,16 49,96 75 63,45 34,30 121 76,05 27,41 162 83,47 22,67 207 88,51 18,98 250 91,29 16,74 293 92,57 15,61 334 92,89 15,29 374 92,79 15,47 419 92,66 16,07 464 92,68 17,00
‐2 29,99 51,19 75 66,82 36,01 121 79,83 29,31 162 87,49 24,66 207 92,74 20,99 250 95,71 18,71 293 97,19 17,47 334 97,70 17,03 374 97,76 17,09 419 97,75 17,54 464 97,84 18,38
‐3 31,70 52,56 75 69,77 37,81 121 83,07 31,31 162 90,89 26,77 207 96,29 23,14 250 99,44 20,82 293 101,12 19,49 334 101,82 18,92 374 102,05 18,85 419 102,19 19,17 464 102,36 19,89
‐3 33,29 54,07 75 72,34 39,70 121 85,84 33,41 162 93,75 29,00 207 99,25 25,43 250 102,56 23,10 293 104,44 21,69 334 105,34 21,01 374 105,75 20,81 419 106,05 20,99 464 106,30 21,61
‐3 34,76 55,68 75 74,57 41,69 121 88,18 35,63 162 96,15 31,37 207 101,72 27,89 250 105,17 25,56 293 107,24 24,09 334 108,34 23,31 374 108,94 23,00 419 109,40 23,06 464 109,75 23,57
‐4 36,11 57,37 75 76,52 43,78 121 90,19 37,97 162 98,16 33,90 207 103,79 30,54 250 107,37 28,23 293 109,62 26,72 334 110,92 25,87 374 111,70 25,46 419 112,32 25,41 464 112,77 25,84
‐4 37,33 59,13 75 78,23 45,98 121 91,91 40,45 162 99,88 36,58 207 105,55 33,37 250 109,24 31,13 293 111,67 29,61 334 113,16 28,70 374 114,12 28,23 419 114,90 28,10 464 115,43 28,47
‐4 38,43 60,93 75 79,75 48,29 121 93,42 43,07 162 101,39 39,44 207 107,09 36,42 250 110,89 34,28 293 113,49 32,78 334 115,16 31,86 374 116,28 31,34 419 117,20 31,17 464 117,81 31,51
‐5 39,40 62,75 75 81,11 50,70 121 94,79 45,84 162 102,76 42,49 207 108,50 39,70 250 112,41 37,69 293 115,16 36,26 334 116,99 35,36 374 118,26 34,85 419 119,30 34,67 464 119,97 35,01
‐5 40,25 64,57 75 82,37 53,23 121 96,08 48,78 162 104,06 45,74 207 109,86 43,21 250 113,88 41,38 293 116,77 40,07 334 118,75 39,23 374 120,14 38,76 419 121,28 38,63 464 121,99 39,02
‐6 41,00 66,40 75 83,53 55,89 121 97,29 51,88 162 105,33 49,18 207 111,20 46,96 250 115,32 45,34 293 118,35 44,17 334 120,46 43,44 374 121,96 43,06 419 123,16 43,01 464 123,89 43,49
‐6 41,66 68,30 75 84,60 58,69 121 98,43 55,14 162 106,53 52,81 207 112,50 50,90 250 116,74 49,52 293 119,89 48,54 334 122,11 47,94 374 123,70 47,67 419 124,97 47,75 464 125,70 48,34
‐7 42,28 70,28 75 85,58 61,65 121 99,49 58,58 162 107,68 56,61 207 113,75 55,03 250 118,11 53,90 293 121,39 53,11 334 123,73 52,67 374 125,40 52,53 419 126,71 52,75 464 127,43 53,47
‐7 42,86 72,40 75 86,47 64,79 121 100,45 62,19 162 108,74 60,58 207 114,94 59,32 250 119,44 58,43 293 122,85 57,84 334 125,30 57,56 374 127,04 57,57 419 128,39 57,95 464 129,11 58,82
‐8 43,44 74,68 75 87,27 68,11 121 101,33 65,98 162 109,73 64,70 207 116,07 63,75 250 120,71 63,09 293 124,26 62,70 334 126,82 62,58 374 128,65 62,73 419 130,03 63,27 464 130,74 64,28
‐9 44,04 77,16 75 88,00 71,64 121 102,10 69,94 162 110,61 68,97 207 117,12 68,28 250 121,92 67,84 293 125,63 67,63 334 128,31 67,66 374 130,23 67,94 419 131,65 68,63 464 132,35 69,78
‐9 44,70 79,89 75 88,64 75,38 121 102,76 74,08 162 111,40 73,37 207 118,08 72,91 250 123,06 72,65 293 126,94 72,58 334 129,76 72,73 374 131,78 73,14 419 133,26 73,95 464 133,95 75,23
‐10 45,42 82,89 75 89,19 79,37 121 103,31 78,40 162 112,07 77,90 207 118,94 77,61 250 124,13 77,47 293 128,20 77,51 334 131,18 77,76 374 133,31 78,25 419 134,87 79,17 464 135,57 80,54
‐11 46,24 86,20 75 89,67 83,60 121 103,74 82,90 162 112,61 82,55 207 119,69 82,36 250 125,11 82,29 293 129,39 82,38 334 132,57 82,68 374 134,84 83,22 419 136,49 84,20 464 137,22 85,63
‐12 47,19 89,86 75 90,07 88,10 121 104,05 87,59 162 113,03 87,30 207 120,33 87,12 250 125,99 87,05 293 130,53 87,14 334 133,92 87,43 374 136,37 87,97 419 138,14 88,97 464 138,91 90,41
‐14 48,29 93,90 75 90,38 92,88 121 104,21 92,46 162 113,29 92,15 207 120,84 91,89 250 126,78 91,73 293 131,61 91,74 334 135,25 91,96 374 137,91 92,45 419 139,84 93,39 464 140,68 94,81
‐15 49,56 98,36 75 90,61 97,96 121 104,24 97,52 162 113,41 97,08 207 121,21 96,63 250 127,46 96,29 293 132,61 96,13 334 136,56 96,21 374 139,46 96,58 419 141,59 97,40 464 142,53 98,72
187
TABELA DE COTAS DA CANOA (continuação)
seçao 508 seçao 554 seçao 601 seçao 647 seçao 689 seçao 732 seçao 774 seçao 822 seçao 869 seçao
X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z
508 0,00 1,78 554 ‐0,01 4,31 601 ‐0,01 8,39 647 ‐0,01 14,48 689 ‐0,01 22,15 732 ‐0,01 33,32 774 0,00 48,36 822 0,00 73,24 869 0,00 109,04 896 0,00 122,49
508 6,49 3,25 554 6,90 5,60 601 7,27 9,42 647 7,48 15,27 689 7,46 22,81 732 7,06 34,15 774 6,18 49,75 822 4,24 75,98 869 1,75 110,83 896 1,09 122,56
508 14,73 4,90 554 15,32 7,15 601 15,80 10,81 647 15,96 16,45 689 15,70 23,87 732 14,72 35,25 774 12,84 51,22 822 8,98 78,38 869 3,76 112,38 895 2,17 122,79
508 24,20 6,66 554 24,79 8,89 601 25,19 12,46 647 25,09 17,94 689 24,41 25,23 732 22,72 36,60 774 19,78 52,76 822 14,03 80,49 869 5,97 113,76 895 3,25 123,20
508 34,39 8,46 554 34,85 10,73 601 35,01 14,26 647 34,51 19,64 689 33,29 26,82 732 30,79 38,14 774 26,77 54,38 822 19,23 82,41 869 8,31 115,03 894 4,34 123,77
508 44,80 10,24 554 45,04 12,57 601 44,87 16,12 647 43,87 21,44 689 42,04 28,56 732 38,70 39,83 774 33,60 56,08 822 24,39 84,20 869 10,72 116,24 894 5,42 124,50
508 54,90 11,92 554 54,90 14,33 601 54,36 17,93 647 52,82 23,27 689 50,36 30,38 732 46,18 41,63 774 40,06 57,87 822 29,33 85,94 869 13,14 117,46 893 6,49 125,40
508 64,22 13,44 554 63,98 15,93 601 63,08 19,62 647 61,03 25,02 689 57,96 32,20 732 52,99 43,49 774 45,94 59,75 822 33,89 87,71 869 15,50 118,73 893 7,57 126,47
508 72,57 14,81 554 72,13 17,36 601 70,91 21,15 647 68,37 26,69 689 64,74 33,99 732 59,06 45,40 774 51,18 61,71 822 38,00 89,53 869 17,76 120,07 893 8,64 127,70
508 80,03 16,07 554 79,41 18,68 601 77,89 22,58 647 74,92 28,30 689 70,77 35,80 732 64,44 47,37 774 55,83 63,77 822 41,71 91,41 869 19,94 121,49 892 9,70 129,06
508 86,64 17,30 554 85,89 19,96 601 84,10 23,98 647 80,73 29,91 689 76,10 37,64 732 69,20 49,42 774 59,95 65,91 822 45,04 93,34 869 22,04 122,98 892 10,75 130,56
508 92,50 18,55 554 91,62 21,24 601 89,60 25,39 647 85,86 31,56 689 80,81 39,54 732 73,39 51,55 774 63,58 68,14 822 48,03 95,31 869 24,05 124,51 891 11,79 132,15
508 97,65 19,88 554 96,67 22,59 601 94,45 26,87 647 90,38 33,28 689 84,95 41,54 732 77,07 53,77 774 66,79 70,46 822 50,71 97,34 869 25,99 126,09 891 12,81 133,84
508 102,18 21,34 554 101,12 24,07 601 98,72 28,47 647 94,36 35,12 689 88,59 43,65 732 80,32 56,11 774 69,63 72,86 822 53,13 99,42 869 27,84 127,72 890 13,80 135,61
508 106,14 23,00 554 105,02 25,74 601 102,46 30,25 647 97,86 37,13 689 91,79 45,90 732 83,18 58,56 774 72,15 75,35 822 55,32 101,54 869 29,62 129,37 890 14,77 137,43
508 109,61 24,91 554 108,43 27,66 601 105,75 32,26 647 100,93 39,34 689 94,62 48,33 732 85,72 61,15 774 74,40 77,93 822 57,31 103,70 869 31,33 131,05 889 15,71 139,30
508 112,65 27,13 554 111,44 29,89 601 108,65 34,56 647 103,66 41,80 689 97,13 50,95 732 87,99 63,87 774 76,44 80,59 822 59,14 105,90 869 32,96 132,74 889 16,62 141,19
508 115,34 29,72 554 114,09 32,48 601 111,22 37,20 647 106,09 44,54 689 99,40 53,80 732 90,07 66,74 774 78,32 83,34 822 60,84 108,15 869 34,52 134,46 888 17,49 143,09
508 117,73 32,74 554 116,46 35,50 601 113,52 40,23 647 108,29 47,62 689 101,48 56,90 732 92,00 69,78 774 80,09 86,17 822 62,46 110,43 869 36,02 136,18 888 18,33 144,97
508 119,91 36,25 554 118,60 39,00 601 115,62 43,72 647 110,32 51,06 689 103,44 60,27 732 93,86 72,99 774 81,82 89,09 822 64,03 112,74 869 37,47 137,91 887 19,12 146,84
508 121,92 40,29 554 120,59 43,04 601 117,58 47,70 647 112,26 54,92 689 105,33 63,94 732 95,69 76,37 774 83,54 92,08 822 65,58 115,08 869 38,86 139,65 887 19,87 148,66
508 123,81 44,81 554 122,46 47,56 601 119,42 52,13 647 114,11 59,13 689 107,18 67,88 732 97,50 79,92 774 85,26 95,16 822 67,13 117,45 869 40,21 141,39 886 20,57 150,45
508 125,60 49,73 554 124,22 52,47 601 121,17 56,93 647 115,89 63,66 689 108,99 72,04 732 99,30 83,61 774 86,98 98,29 822 68,66 119,82 869 41,55 143,15 886 21,23 152,20
508 127,30 54,95 554 125,89 57,69 601 122,84 62,01 647 117,61 68,41 689 110,75 76,38 732 101,08 87,40 774 88,69 101,47 822 70,17 122,20 869 42,72 144,78 885 21,85 153,93
508 128,94 60,39 554 127,50 63,12 601 124,45 67,29 647 119,27 73,34 689 112,47 80,85 732 102,82 91,28 774 90,37 104,69 822 71,66 124,56 869 43,88 146,42 885 22,43 155,63
508 130,53 65,94 554 129,06 68,67 601 126,01 72,68 647 120,89 78,37 689 114,15 85,41 732 104,53 95,23 774 92,02 107,94 822 73,13 126,90 869 45,03 148,01 885 22,98 157,32
508 132,11 71,53 554 130,60 74,24 601 127,55 78,10 647 122,48 83,43 689 115,79 90,01 732 106,20 99,20 774 93,63 111,20 822 74,58 129,20 869 46,16 149,55 884 23,50 159,00
508 133,68 77,05 554 132,13 79,75 601 129,07 83,47 647 124,03 88,47 689 117,39 94,60 732 107,81 103,19 774 95,19 114,46 822 75,98 131,46 869 47,28 151,02 884 23,99 160,69
508 135,27 82,42 554 133,68 85,11 601 130,59 88,70 647 125,57 93,42 689 118,95 99,15 732 109,36 107,17 774 96,69 117,71 822 77,36 133,66 869 48,39 152,41 884 24,45 162,37
508 136,90 87,55 554 135,27 90,22 601 132,14 93,71 647 127,10 98,20 689 120,47 103,60 732 110,86 111,10 774 98,12 120,94 822 78,69 135,79 869 49,51 153,71 884 24,89 164,07
508 138,58 92,34 554 136,91 94,99 601 133,72 98,41 647 128,63 102,76 689 121,95 107,91 732 112,28 114,97 774 99,47 124,14 822 79,98 137,85 869 50,63 154,91 884 25,31 165,78
508 140,35 96,71 554 138,63 99,33 601 135,36 102,73 647 130,17 107,02 689 123,39 112,03 732 113,62 118,76 774 100,73 127,29 822 81,22 139,81 869 51,76 155,99 884 25,71 167,52
508 142,21 100,56 554 140,44 103,16 601 137,06 106,57 647 131,73 110,93 689 124,79 115,93 732 114,88 122,43 774 101,90 130,38 822 82,41 141,68 869 52,90 156,93 884 26,09 169,28
188
APÊNDICE C – PAQUETE- Arranjo geral, plano de linhas e tabela de cotas
189
190
191
TABELA DE COTAS DO PAQUETE
Espelho de proa seção 48 seção 87 seção 121
X Y Z X Y Z X Y Z X Y Z
0 76,00 37,18 48 0,00 9,36 87 0,00 5,03 121 0,00 2,41
0 72,57 29,22 48 9,59 9,71 87 10,16 5,55 121 10,66 2,88
0 68,66 21,48 48 19,17 10,07 87 20,32 6,04 121 21,32 3,36
0 60,67 19,89 48 28,76 10,44 87 30,49 6,49 121 31,97 3,84
0 52,01 19,43 48 38,35 10,81 87 40,65 6,92 121 42,63 4,32
0 43,35 19,05 48 47,93 11,19 87 50,82 7,33 121 53,29 4,80
0 34,68 18,74 48 57,52 11,57 87 60,99 7,73 121 63,95 5,29
0 26,01 18,49 48 67,10 11,95 87 71,15 8,11 121 74,60 5,77
0 17,34 18,32 48 75,40 14,26 87 79,71 11,00 121 83,41 9,10
0 8,67 18,22 48 79,45 22,96 87 84,34 20,06 121 88,18 18,64
0 0,00 18,18 48 83,49 31,66 87 88,98 29,12 121 92,94 28,19
192
CAPÍTULO 3
193
SUMÁRIO
194
LISTA DE FIGURAS
Descrição
Figura 1- Marcação por caminho e assento 210
Figura 2 – Representação visual de marcação por caminho e assento
determinando o ponto da pescaria no mar 211
Figura 3 – No ponto 1 as referências de alinhamento (representados por
dois faróis) não se encontram sobrepostas, necessitando a jangada
seguir mais a frente. No ponto 2, esta se encontra sobre o enfiamento
dos dois faróis e, portanto, no alinhamento; no ponto 3, a jangada
ultrapassou o enfiamento e os faróis não estão sobrepostos 211
Figura 4 – Posição de pesqueiro de terra sumida com alinhamento dos
pontos A e B e profundidade de 10 braças, estando as profundidades
representadas por linhas isobáticas e na parte inferior da figura o perfil
batimétrico correspondente 212
Figura 5 –. Posição de pesqueiro de terra sumida com alinhamento dos
pontos A e B em profundidade de 10 braças 213
Figura 6 - Constelação do Cruzeiro do Sul com os nomes das estrelas que a
compõem 219
Figura 7 – As guardas da constelação Cruzeiro do Sul. 220
Figura 8 – No círculo 1 visualiza-se o falso Cruzeiro, no círculo 2 o Cruzeiro
do sul e no círculo 3 a estrela Canopus 223
Figura 9 - Entrevista do autor com o mestre marcador Tobias Segundo, de
Redonda - Icapuí 229
Figura 10 – Seção do mapa temático de Redonda apresentando
identificação com tarjetas os pontos referências utilizados nas
marcações de caminho e assento 232
Figura 11 – Construção do mapa temático pelos mestres marcadores na
praia da Baleia - Itapipoca 233
Figura 12 – Construção do mapa temático e marcações dos pesqueiros 233
Figura 13 – Vista do mar da Praia da Baleia com os pontos notáveis 234
195
Figura 14 - Explicações e esclarecimentos aos mestres marcadores sobre o
trabalho antes da construção do mapa temático em Fortaleza 236
196
LISTA DE TABELAS
Descrição Pag.
TABELA 1- Mestres marcadores da Baleia, Redonda e Fortaleza,
identificados por a inicial da localidade/nº com dados de
escolaridade, idade, idade da primeira ida ao mar, idade
que passou a mestre, tempo na pesca (em anos) e outras 228
197
A navegação praticada por mestres marcadores nas embarcações a
vela no estado do Ceará
RESUMO
198
The navigation practiced by master position markers on board sail
boats in Ceará State
ABSTRACT
The orientation carried out on board sailboats for navigation and fishing makes use of
landmarks in order to compose the position lines named pathway and outpost that, while
intercrossing, determine the sought after site. This activity has been taking place since the
very early existence of the sail raft and it endures itself from generation to generation. This
study was undertaken by master markers in some fishing localities, namely Baleia,
Fortaleza and Redonda where canoes, sail rafts and boats are respectively predominant.
The practice of this kind of navigation is similar for the various types of boats and diverges
from one another very little among the studied landing points. The exercise of orientation
requires that the master marker has got good eyesight and memory in order to find out the
pathway and the outpost, besides undergoing setbacks from the absence of sunlight. That
activity is started when the fisherman is still young, and his long-lived expertise is acquired
independently of the educational degree as it is derived from both the fishing chores and
the accumulated experience. The observation of stars and planets reveals the way back to
the home port whose identifying star receives many nominations along Ceará State’s
coastline. The lack of visibility brought about by rain, clouding, and other factors meddle
with the identification of conspicuous landmarks. This age- old technique has been
gradually replaced by the use of GPS devices for pinpointing the most productive fishing
grounds, with a high degree of acceptance by the young generation. The low purchase
price and the proved efficiency of that equipment has accounted for the diffusion of their
advantages among the fishing communities of Ceará State.
199
1 INTRODUÇÃO
O registro mais antigo de uma embarcação veleira é uma decoração feita num
vaso egípcio, por volta de 3.100 a.C., onde a vela quadrada assemelha-se a um grande
quadro negro sobre um cavalete e, sem dúvida, foi empregada em uma embarcação que
percorreu o Rio Nilo (BLAINEY, 2010).
Sabe-se que em 1.000 a.C o povo fenício comercializava pelo Mediterrâneo
com embarcações exclusivamente a vela (ROSTAND, 2008) e que, segundo Blainey
(2010), por volta de 2.000 a.C. as velas passaram a ser confeccionas pelas fortes fibras
de linho, substituindo as anteriormente feitas de couro ou pele de animais.
A arte ou técnica de capturar a força dos ventos para a navegação surgiu de
forma independente em três regiões, identificadas como polos mais importantes da
origem da navegação a vela: Pacífico, Índico-Mediterrâneo e Mar do Norte, nestes tendo
como arranjo a vela quadrada (AZEVEDO, 2000).
A opção das chamadas “velas redondas” (na realidade, quadradas) para a vela
triangular ou latina foi uma delas, tornando-se grande feito inovador português nas
caravelas em meados do século XV (PINTO, 2006), pois permitia deslocamentos à bolina
contra o vento, como melhor esclarece Holzhacker (1975): “navegar à bolina”, permite à
embarcação manter o menor ângulo possível entre o rumo e a direção do vento.
Segundo Armesto (2011), foi Cristovão Colombo o primeiro a mostrar que,
partindo da península Ibérica, navios poderiam aproveitar os ventos Alísios do nordeste
para cruzar o oceano e, posteriormente, os que sopram do oeste, no Atlântico Norte, para
voltar ao ponto de partida. Esta descoberta numa época de navegação a vela mostrou
que o vento estava entre os fatores mais determinantes ou condicionantes de intercâmbio
entre culturas muito distantes.
Na costa oriental da América do Sul, na época dos descobrimentos, não consta
registro da existência de embarcações a vela. Porém, na carta de Pero Vaz de Caminha,
que consiste num dos primeiros registros históricos da presença do europeu na atual
América do Sul, é citada a existência de embarcações denominadas de almadias, estas
chamadas pelos indígenas de piperis ou igapebas (CAMARA, 1937; CASCUDO, 2002).
Desta forma, o incremento de utilização da vela no Brasil obteve a influência européia
portuguesa, espanhola, holandesa e francesa nas embarcações que, primeiramente,
200
utilizavam o remo a pouca distância da delineação da costa e, com o uso da vela,
passaram aventurar-se a maiores distâncias.
Nos dias atuais, as velas utilizadas nas embarcações cearenses são as latinas,
conforme observação pessoal do autor, e estas têm seu primeiro registro no século XIX
com desenho de Henry Koster, em Recife, datado de 9 de dezembro de 1809, segundo
Cascudo (1957), que a ele assim se refere: “é registro descritivo completo, ao qual me
reporto e dou fé, por denunciar a jangada com sua evolução terminada, vela triangular,
bolina e remo de governo”.
Braga (1962) apresenta apanhados do Relatório da Comissão Cientifica
Imperial referindo-se às práticas de navegação empreendidas no Ceará nos idos de 1856,
descrevendo-as como afastadas da costa por muitas léguas e que chegavam a passar
mais de uma semana em alto mar, guiando-se pelo sol, ventos, estrelas e pela Via-
Láctea, que denominavam de mancha.
Cascudo (2002) ressalta que, até o ano de 1888 muitos escravos trabalharam
em jangadas alugadas por seus amos. Nunca foram mestres, mas bicos de proa
excelentes, nadando bem, puxando linha, aguando o pano, destemidos, afoitos. Isto
permite em parte acreditar que a condição de escravo, a despeito das aptidões, parecia
ser impedimento para uma função de liderança a bordo da jangada.
A visualização do litoral ao longo dos tempos serviu de referência e localização
na arte de navegar, pois na falta de equipamentos que gerassem informações, a
percepção e a observação faziam o diferencial entre os navegadores. Os genoveses
(italianos) tinha suas cartas portulanas que consistiam na descrição do litoral de forma já
mais elaborada, que evoluíram com a denominação de cartas de marear pelos
portugueses.
Os pescadores artesanais cearenses para sua navegação de terra para os
locais de pescaria e, principalmente, para a localização exata de seus pesqueiros utilizam
a prática de marcações de caminho e assento, num mapa elaborado mentalmente de sua
região. Esta é uma técnica bastante conhecida (CASCUDO, 1957; FORMAN, 1970;
DIEGUES, 1983, 2000; MALDONADO,1993), a qual se denomina pescaria marcada e
que se efetiva pela localização através da interseção de duas linhas de posição formadas
a partir do alinhamento de dois pontos fixos em cada uma das linhas de posição
visualizados em terra. A construção deste mapa mental da região se fundamenta e se
completa no conhecimento dos pescadores sobre os componentes e a dinâmica dos
201
recursos naturais, do meio ambiente e das operações de pesca, transmitido através das
gerações (ALMEIDA, 2010).
A utilização desses pontos se concretiza à medida que o mestre da
embarcação vai seguindo com destino aos pesqueiros já conhecidos, alinhando quatro
pontos em terra anteriormente identificados, dispostos dois a dois, cada par formando
uma linha imaginária conhecida como caminho e assento que, ao se cruzarem, indica a
sua localização.
Ramalho (2006) descreve em “O artesão do mar da Praia de SUAPE”, que o
mestre conserva em sua mente uma infinidade de mapas cognitivos acerca do mar, rotas
edificadas por sua sabedoria e profundo conhecimento, que são usados e explicitados no
código de marcação dos pesqueiros, descortinando uma territorialidade. Assim, para cada
localidade litorânea o conhecimento prático de visualização e reconhecimento da
configuração da costa e seus pontos notáveis, visíveis a grande distância, são
memorizados por repetição no exercício da atividade diária.
Silvino (2007) menciona estas referências utilizadas pelos pescadores do
Mucuripe em Fortaleza, como sendo os topos da serra de Maranguape e Aratanha,
aliados a pontos marcados mais perto da costa, como acidentes geográficos, prédios
antenas, torres, o farol velho, o farol novo do Mucuripe para direcionarem a jangada ao
pesqueiro a ser explorado.
As marcações são descritas por Oliveira Júnior (2006) como a localização
exata do local de pesca; o pescador estabelece uma referência com algum ponto de terra,
o que pode ser uma elevação geográfica ou um coqueiro. É precisamente a partir deste
ponto de referência que norteia o seu percurso de ida e volta para a Marambaia, local de
sua pescaria.
As qualidades do mestre da embarcação implicam em responsabilidade,
conhecimento e aptidão descritos por Oliveira Júnior (2006) que se traduzem nos
seguintes atribuições: (a) comando de embarcações; (b) organização da pescaria, no que
implica a definição prévia do caminho que deverá seguir e do local onde a captura deverá
ser feita em comum acordo com os demais tripulantes; (c) orientação num ambiente que
possui divisões, marcas e caminhos, os quais os pescadores cruzam cotidianamente no
percurso de ida e volta para os locais de pesca.
Portanto, a escolha da tripulação é tradicionalmente prerrogativa do mestre,
que embarca pescadores que se adequem ao seu modo de trabalho e contribuam
202
positivamente. Compete ainda ao mestre procurar manter a tripulação coesa e apaziguar
as divergências que, porventura, venham a emergir durante o período em que
permanecem embarcados.
Oliveira Júnior (2006), no “Encanto das águas” traça a relação dos índios
Tremembé de Almofala com a natureza, vislumbra sua potencialidade pesqueira artesanal
inserindo a maritimidade que envolve há muito tempo esta tradição. Fala da navegação
em canoas e paquetes, descreve suas pescarias e as define nos moldes próprios do
linguajar local. No entanto, esta prática se confunde com as de outras localidades que a
exercem sem diferenças perceptíveis.
Quando um pescador vai ao mar ele observa o tempo, os ventos, as nuvens, a
maré, conhece os locais de pesca mais piscosos e a profundidade onde se encontra o
tipo de peixe que quer pescar, táticas resultantes de sua exímia destreza (SILVINO,
2007). Portanto, prevalece a aptidão de interpretar os sinais do mar e da terra, conforme a
capacidade e experiências dos mestres, que com observação acurada e memória
privilegiada as utilizam na prática diária de sua arte.
Na etnia Tremembé de Almofala, no município cearense de Itarema, a aptidão
pelo mar foi observada por Oliveira Júnior (2006) que em muitas oportunidades participou
de conversas sobre técnicas de navegação, caminhos do mar, ventos, tipos de peixes e
seus ciclos, enfim, sobre o saber desenvolvido pelos pescadores no exercício cotidiano da
pesca artesanal marítima. A conclusão final é que cada viagem de pesca é marcada pelo
desafio frente à onipotência da natureza, à imensidão marítima, pois a fúria dos ventos e
as tormentas são encaradas com muita cautela pelos Tremembé que vivem da pesca.
Considerando-se o Ceará dividido em litorais leste e oeste quando se aplicam
os dados do censo de 2005 (IBAMA, 2005a), a distribuição por tipo de embarcações
evidencia uma predominância dos botes no extremo leste, no município de Icapuí,
concentrados principalmente na Praia de Redonda, que se transfere para paquetes e
jangadas à medida que se avança em direção ao município de Fortaleza. Seguindo-se em
direção ao oeste, no município de Paraipaba cresce a participação das canoas
coincidindo com o acentuado decréscimo dos paquetes, que persiste até o extremo oeste
do Estado onde se confirma essa tendência (IBAMA, 2005a/b).
A pescaria de jangada possui um comportamento extremamente dependente
dos fatores naturais, principalmente ventos, chuva e fases da lua, o que pode ser
percebido nas conversas com os próprios pescadores (SILVINO, 2007; SANTOS E
203
SANTOS, 2012) e por observação pessoal. Os Tremembé conhecem o mar e seus ciclos,
estão sempre atentos para as mudanças eólicas e são muito cautelosos nos meses de
grandes ventanias (OLIVEIRA JÚNIOR, 2006). A dependência destes fatores múltiplos
torna a rotina de pesca diferenciada por todos que se lançam ao mar em embarcações de
pesca a vela, numa mistura de estratégia de subsistência e sobrevivência.
A intensidade dos ventos é sazonal, sendo mais fortes nos meses de estiagem,
a partir de junho, e fazem parte dos ventos Alísios dos quadrantes de SE e NE. Segundo
Lima et al. (2000), a região de confluência desses ventos é formada pela Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT), com predominância dos ventos Alísios de SE
resultantes do deslocamento do equador térmico para o norte, durante o inverno. O ciclo
natural dos ventos regula a estratégia de pesca com alternância das “pescarias de ir-e-
vir”, quando os ventos são muito fortes e “pescarias de dormida”, quando são brandos
(SILVINO, 2007).
No Ceará os ventos favoráveis parecem influir na magnitude da frota veleira,
fonte constante de renda e emprego para as populações das mais longínquas localidades,
o que não aconteceria se a predominância fosse de embarcações motorizadas,
dependentes de combustível e de serviços de manutenção, portanto, com elevados
custos operacionais.
Para que o vento atue como meio eficiente de propulsão, a vela deve ser
constantemente molhada por um instrumento artesanal denominado maçarico, que atribui
maior peso, rapidez e navegabilidade à embarcação, segundo depoimento obtido por
Oliveira Júnior (2006). Contudo, o argumento mais óbvio para ser o fato de que a água
preenche a porosidade do tecido da vela, impedindo a passagem do vento e melhorando
seu desempenho.
No litoral do Ceará atua a Corrente Norte do Brasil, que é um ramo resultante
da bifurcação da Corrente Sul-Equatorial e tem velocidade de 1 - 2 nós, deslocando-se
paralela à costa e sendo co-responsável pelas correntes litorâneas em direção noroeste
(LIMA et al., 2000), que normalmente tem o vento predominante no mesmo sentido ESE.
A força do vento e o estado do mar influem diretamente na rotina pesqueira no sentido de
que os mestres adaptam a freqüência e duração das pescarias de acordo com a
meteorologia, pois são comuns os acidentes com embarcações veleiras em períodos de
ventania, que são mais intensos nos meses de agosto e setembro.
204
Existe o pensamento corrente de que os pesqueiros são identificados por meio
de estrelas e outros astros, prática impossível de ser realizada no que concerne ao
posicionamento, mas sendo válida para navegar em determinada direção. Os
navegadores europeus na idade média utilizavam a estrela Polar (Polaris) da constelação
de Ursa Menor, denominada também de Tramontana (ESPINOLA, 2001; BUENO, 2003)
por estar orientada exatamente para o Norte verdadeiro e visualizada até a latitude de
5ºN.
A falta de visibilidade do litoral, ocasionada por chuva, cerração ou outros
fatores, interfere na localização dos pontos de pescaria que depende da visualização de
referências identificáveis existentes no litoral. Com a utilização do GPS, os locais das
pescarias estão deixando de ser marcados pelo mestre e passando a ser armazenadas
na memória do aparelho (SILVINO, 2007), com a vantagem de que podem ser localizadas
sob quaisquer condições climáticas.
A hipótese levantada é que em embarcações a vela, a prática de marcação
visual de pontos notáveis para localização e navegação, é comum a todos os pescadores,
de todas as regiões do estado ao longo dos anos, e que vem sendo substituída
gradativamente pelo emprego do GPS nos últimos 10 anos. Assim, faz-se necessário
entender como os mestres desenvolvem a técnica de localização e posicionamento no
mar, por meio da visualização de pontos notáveis da região e, ainda, identificando outros
recursos de orientação.
Na prática da utilização desta técnica deve-se verificar a existência de
diferenças por localidade e por tipo de embarcação, objetivo que foi facilitado com a
construção de mapas de pesca em três localidades: Baleia (Itapipoca), Fortaleza e
Redonda (Icapuí), por mestres marcadores que nele apresentam caminho e assento dos
principais pontos de pesca de sua respectiva região. Essa prospecção se completa com o
conhecimento do seu perfil profissional quanto a grau de instrução, aprendizado das
técnicas de navegação, tempo e local de sua atividade na pesca, aprendizado,
perspectivas e evolução no uso do GPS.
205
2 MATERIAL E MÉTODOS
Em cada uma das três localidades, foi realizada oficina com mestres
marcadores, aplicação de um questionário estruturado para cada participante da oficina
(Apêndice-A), entrevistas e realização de viagem para visualização do litoral e registros
das observações pessoais do pesquisador.
A prática de navegação e pesca, tomando-se como base pontos de referência
de terra sem a utilização de aparelhos, é comum a todo o litoral cearense, motivo pelo
qual buscou-se identificar as técnicas de localização dos pesqueiros, a prática e
orientação na navegação e suas particularidades desenvolvidas, assim propiciando fazer
comparações com pescadores marcadores dessas três regiões do Ceará.
Em cada localidade foi mantido contato com lideranças ligadas à atividade de
pesca, sendo em Fortaleza e Baleia os presidentes das Colônias de Pescadores Z-8 e Z-
3, respectivamente e, em Redonda, o Presidente do Sindicato de Pescadores, que
206
ofereceram suas sedes como local de realização do evento e pessoalmente convidaram
os melhores mestres marcadores para a oficina onde se realizou a pesquisa.
A realização dessas oficinas, após explicações iniciais do planejamento e com
a concordância de todos os mestres, aconteceu em local espaçoso, onde cada grupo fez
o delineamento de “sua praia”. Inicialmente foi construído o contorno da costa, com uso
de uma corda maleável disposta sobre o chão sobre o qual foram inseridos objetos
representativos de pontos notáveis, de modo que todos, à sua maneira participaram sob a
supervisão do pesquisador.
Após a construção participativa do delineamento da costa, foi elaborado o
mapa com a posição das localidades e demais pontos utilizados nas marcações visuais,
tais como: outeiros, torres, igrejas, morrotes, coqueirais, moitas, e os referenciais mais
distantes do litoral como serras, torres e antenas, todos nominados conforme sua região
por meio de etiquetas.
Estando o mapa construído, a fase seguinte consistiu em cada mestre
marcador posicionar no mapa dois pesqueiros que utiliza na sua prática pesqueira
tradicional, demonstrando como utilizam os pontos referenciais nas linhas de posições de
caminho e assento.
Para cada posição define-se primeiro o caminho, que consiste numa linha de
posição que passa por dois pontos de sua própria referência, sendo um mais afastado da
linha de praia e o outro, mais próximo ao litoral, e navegando neste alinhamento ao
encontro do cruzamento com a outra linha imaginária, formada também por outros dois
pontos referenciais previamente identificados e denominados de “assento”. Neste mapa,
fez-se a colocação dos alinhamentos com fios passando sobre os pontos referenciais e se
marcou com etiqueta o nome do pesqueiro.
A oficina findou após todos colocarem suas posições, resultando num mapa
pesqueiro com os principais pontos referenciais no continente em cada praia, e os
principais pesqueiros por eles utilizados, bem como as técnicas desenvolvidas pelos
mestres para localizá-los.
Em todas as etapas destas oficinas foram efetuados os registros por meio de
fotografias, filmagens e gravações.
207
2.2 Aplicação de questionário e entrevistas
Foi realizada uma viagem para visualização do litoral de cada uma destas
regiões, verificando os pontos notáveis que são comumente marcados pelos mestres em
ida a um pesqueiro utilizando a técnica do caminho e assento. As informações sobre a
localização dos principais pontos e áreas de pesca, além da marcação visual ou por GPS,
possibilitaram montar uma “carta de pesca” com as distâncias de deslocamento até os
pesqueiros e a velocidade média desenvolvida pelas embarcações nesses trajetos.
O material obtido foi analisado após digitalização dos questionários, de cujos
dados foram extraídas informações para análises qualitativa e quantitativa e consequente
geração de resultados. Assim, conforme Marques (1995), embora trate-se de uma
pesquisa assumidamente qualitativa, quantificações foram conduzidas com o máximo
cuidado para que a dimensão humana fosse mantida dentro do contexto numérico.
208
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Albuquerque (1989) na forma poética que tanto o mar inspira, assim refere-se à
saída desde a linha de arrebentação mar adentro:
209
2- Duas distâncias – obtidas de dois pontos distintos que, ao se
interceptarem por meio de arcos, definem o ponto.
3- Uma marcação e uma distância de um determinado ponto
conhecido.
210
Figura 2 - Representação visual de marcação por caminho e assento
determinando o ponto da pescaria no mar. (Fonte: Foto do autor)
211
Já as pescarias definidas como de terra sumida, utilizando só o alinhamento do
caminho, funciona também de forma definida nos conceitos da prática da navegação
costeira. Nesse caso, é pela interseção de uma linha de posição obtida por alinhamento
de dois pontos com uma profundidade batimétrica cartografada e conhecida pelos
mestres marcadores que se identifica um ponto de pescaria (Figuras 4 e 5). Esta
profundidade é localizada a partir de um prumo manual de chumbo a que se denominam
sassanga.
212
Figura 5 - Posição de pesqueiro de terra sumida com alinhamento dos pontos A e B em
profundidade de 10 braças. (Fonte: autor)
213
tempo e da profundidade obtida por meio da sassanga. Este procedimento na literatura
náutica se enquadra como navegação estimada (GOMES, 1984; MIGUENS, 1996).
Segue a descrição mencionada por mestres da praia da Baleia para alcançar um
pesqueiro com os pontos de referência de caminho e assento, bem como do modo como se
opera a navegação enquanto a este se dirige com as referências de tipos de vento e
posicionamento de vela.
214
começam a surgir no horizonte os referenciais mais distantes para o alinhamento das
sobreposições dos pontos. O termo “subindo” é empregado quando se está navegando
para nordeste e leste, contra a direção predominante do vento.
As marcações são pessoais, pois um mesmo pesqueiro, principalmente se
estiver próximo da costa, pode ter referências diferentes, mas indicar o mesmo local. Por
outro lado, as principais referências do delineamento costeiro têm denominações segundo
conhecimento daqueles capazes de reter um detalhamento mental de trechos da linha de
costa.
Em Redonda a técnica desenvolvida para alcançar os pesqueiros com terra
sumida parece similar, porém deve-se admitir o uso diferente da sassanga, constituída
por linha de pesca com chumbada e dois anzóis iscados, como mostra a descrição da
viagem para um pesqueiro de terra:
“Para ir para o mar de Peroba com terra sumida, sai daqui às 4 horas
marcando a ‘moita em cima da malha de cima da ponta da barreira’ (é o
mesmo caminho do banco de Léo) e vai embora, quando chega nas 12
braças não ver mais a moita, a água vai mudando, vai ficando outra água,
vai ficando mais azulada, mais fina, ai quando a gente ver que a água
muda e já está perto da pescaria, ai isca a linha e vai procurando a ponta
d’água, é 27 braças, vai sassangando com uma chumbada de 200 gramas,
com dois anzóis iscados na linha de nylon 70, marcada com a medida das
27 braças, e quando chega a água na marcação, já sabe que está em cima
da pedra, e já pega um peixinho na linha. Saindo às 4 horas chega às oito,
oito e meia e sem ver nada se corre uma hora e meia. É um lajeiro grande,
não tem perigo de errar não, ai quando chega bota de banda e passa o dia
pescando descendo mar abaixo”. (Mestre Eduardo – Praia da Redonda,
fevereiro de 2012)
215
“leva o caminho, quando a terra começa a baixar, se baseia e vai só pelo
rumo da proa do barco, ai quando ver que tem corrido e está nas alturas
começa a “caçar” no prumo, na sassanga, se estiver por cima o cabra sabe
se estar por terra e sabe se passou.” “(Mestre Buzo – Praia da Baleia,
setembro de 2011)
216
Uruburetama, ponto notável de grande raio de visibilidade que auxilia na localização do
pesqueiro, por ser uma referência de direção conforme a seguinte declaração:
“A gente tem um massaricozinho para jogar água na vela. Joga três vezes.
Joga a primeira e deixa secar; joga a segunda e enxugou e quando enxuga
na terceira água, já tenho mais ou menos a noção pelo vento e tenho a
noção que estou bem próximo e arreio o prumo, ai sassango e estou
dentro das 14 braças”. (Mestre Rim – Praia da Baleia, setembro de 2011)
218
Figura 6 – Constelação do Cruzeiro do Sul com os nomes das
estrelas que a compõem Fonte: OLIVEIRA 2000.
http://www.asterdomus.com.br/Artigo_crux_australis.htm
220
Quando chego mais próximo pelas luzes das localidades. Já conheço as
luzes de Barreiras, Peroba que tem 70 luzes. Redonda tem 214 luzes.
Você tem facilidade de contar as luzes. Se não, os mais velhos ensinavam
a estrela do porto. Esta é a que orienta quando se vem para terra. (Mestre
Tobias Segundo-Praia da Redonda, em fevereiro 2012)
221
Observa-se que durante o período de um ano estas modificações acontecem
não só com a estrela em referência, mas com o Cruzeiro do Sul e outros astros, e se
repetem por todos os anos com o conhecimento dos melhores mestres.
Os mestres conhecem dois cruzeiros, denominados de Cruzeiro grande e
Cruzeirinho, ou de Cruzeiro e Cruzeiro pequeno. A Falsa Cruz, chamada também como
Cruzeiro Falso pelos portugueses e de “False Cross” pelos ingleses, é uma falsa
constelação semelhante ao Cruzeiro do Sul, em versão maior e menos brilhante e suas
estrelas fazem parte das constelações Quilha e Vela, que se localizam também no
Hemisfério Sul com uma declinação próxima à do verdadeiro, o que confunde um
observador menos experiente pelo fato de ambas possuirem caracteristicas cruciformes
(SILVA,1915; http://pt.wikipedia.org/wifi/Falsa Cruz - acesso em 14/03/12) (Figura 8).
O Cruzeiro do Sul é realçado por inúmeras manchas mais escuras, entre elas a
nebulosa Saco de Carvão (MOURÃO,1990), às quais se refere mestre Jorge, da praia de
Baleia, demonstrando um conhecimento superior de orientação, fruto da herança
repassada por seus ancestrais.
A constelação do Centauro oferece um conjunto de nebulosas galácticas
extremamente ricas. Os campos estelares são realçados por uma nebulosidade branca
difusa que contrasta com as nebulosas escuras denominadas de sacos de carvão
(MOURÃO, 1990), descritas como manchas pelos mestres.
As manchas claras da Via Láctea nada mais são do que milhares de estrelas
que não se consegue distinguir a olho nu, por muitas delas estarem reunidas em
aglomerados. A “Caixa de Jóias” é um aglomerado que também é conhecido pelo nome
de Kappa Crucis, e observado como “mancha clara” nas proximidades do Cruzeiro do Sul
que foi citado como “mancha clara” próxima ao Cruzeiro do Sul pelos mestres Jorge e
Otacílio Lima.
Em resumo, pode-se concluir que os mestres de embarcações veleiras utilizam
estrelas e constelações, principalmente aquelas situadas ao sul, em virtude de ser esta a
direção que indica o retorno para os portos-base, com direção aproximada SW. Além
disso, diversificam essa prática observando a estrela Canopus, a citada “estrela do porto”,
mantendo-a em direção a sua proa, mas normalmente ficando encoberta pela vela,
conforme destacam os mestres da praia da Redonda.
222
Figura 8 – No círculo 1 visualiza-se o falso Cruzeiro, no
círculo 2 o Cruzeiro do Sul e no círculo 3 a estrela Canopus.
(Fonte: modificado de http://www.anos-
luz.pro.br/alinhamentos/falsocruzeiro.htm)
224
O calombo do mar ou onda mestra a noite só é quando o vento está calmo,
com vento duro a noite não se ver não. Ajuda porque a gente estando
ariado se desaria com o calombo do mar pois ele só bota para terra.
(Mestre Eduardo – Praia da Redonda, fevereiro de 2012).
Quando sai das pedras tem no fundo uns pretos fechados, antes de chegar
no fundo sai dos pretos e entra uns esburacados que dá uns 600 a 800
metros. Quando chega nos fundos é como se fosse esta pista aqui (preta).
Só que tem este preto aqui e por fora é o esburacado. Eu sei diferenciar os
bancos das pedras. (Mestre Chagas – Praia da Redonda, fevereiro de
2012)
225
3.4 Mestres marcadores – perfil dos entrevistados
“Para ser bom marcador tem que ter a vista boa e não esquecer. Fazer
hoje e amanhã se lembrar. Tem gente que faz o caminho e amanhã
esquece, tem que guardar na memória.” (Mestre Buzo - Praia da Baleia,
setembro de 2011)
226
Eu tinha 8 anos quando os seus tios me levavam para o mar para aprender
a pescar, chorava para não ir quando minha mãe me acordava às 4 horas.
Me escondia no quintal, ai ela me achava e levava para a praia e eles me
levavam no bote.(Mestre Eduardo da Praia da Redonda, fevereiro de 2012)
Os outros eram mais velhos, o novo só era eu. Eles me obedeciam, tinham
que respeitar o mestre. (Mestre Camilo – Praia da Redonda, fevereiro de
2012)
227
Tabela 1- Mestres marcadores da Baleia, Redonda e Fortaleza, identificados por a inicial
da localidade/nº com dados de escolaridade, idade, idade da primeira ida ao mar, idade
que passou a mestre, tempo na pesca (em anos) e outras. (Fonte: elaborada pelo autor)
Código do Idade 1ª ida Idade que Tempo de Em Só pescou a Tempo de Pesqueiro Pai Pai da Opinião
Localidade Escolaridade Idade Usa GPS
nome ao mar mestrou atividade atividade vela pesca à motor próprio pescador Localida GPS
BALEIA B1 6ª 47 14 16 33 Sim Sim ─ Não Sim Sim Não Bom
BALEIA B2 1ª 36 12 16 24 Sim Não 2 Não Sim Sim Não Bom
BALEIA B3 1ª 41 10 15 31 Sim Sim ─ Não Sim Sim Não Bom
BALEIA B4 Analfabeto 49 11 20 38 Sim Não 4 Não Sim Sim Não Bom
BALEIA B5 1ª 63 10 17 53 As vezes Não 4 Não Sim Sim Sim Bom
REDONDA R1 Analfabeto 46 8 15 38 Sim Sim ─ Não Sim Sim Não Bom
REDONDA R2 8ª 31 14 25 16 Sim Sim ─ Não Sim Sim Sim Bom
REDONDA R3 Analfabeto 44 9 17 35 Sim Sim ─ Sim Sim Sim Não Bom
REDONDA R4 1ª 47 8 12 39 Sim Sim ─ Sim Sim Não Não Bom
REDONDA R5 1ª 57 8 12 49 Sim Sim ─ Não Sim Sim Não Bom
REDONDA R6 Analfabeto 52 14 18 38 Sim Sim ─ Não Não Não Sim Bom
REDONDA R7 Analfabeto 68 8 13 52 Não Sim ─ Sim Sim Não Não Bom
FORTALEZA F1 3ª 59 11 19 43 Não Não 8 Não Não Sim Não Bom
FORTALEZA F2 Analfabeto 60 12 16 44 As vezes Sim ─ Não Sim Sim Não Bom
FORTALEZA F3 1ª 54 18 19 36 Sim Sim ─ Sim Não Não Sim Bom
FORTALEZA F4 4ª 74 17 23 44 Não Sim ─ Não Sim Sim Não Bom
228
Figura 9 - Entrevista do autor com o mestre marcador Tobias Segundo, de
Redonda-Icapuí. (Fonte: acervo do autor)
229
Os entrevistados da Baleia são todos nativos e filhos de pescador e, em
Redonda, dos sete todos nasceram na localidade, destes apenas um não tem pai
pescador e três nasceram em localidades próximas (nos municípios de Icapuí, Aracati e
Areia Branca). Dentre os quatro de Fortaleza, dois não tinham pais que eram pescadores
e um deles não era nativo. Assim, confirmam-se as seguintes características nas três
localidades: ter o nascimento na localidade, e ter pai pescador nascido na localidade ou
em região próxima.
Na praia da Baleia todos estão em atividade de pesca: o mais velho, com 63
anos de idade, está saindo com menos frequência e outro pesca três meses por ano.
Todos afirmam não terem pesqueiros só do seu conhecimento e avaliam o GPS como
muito bom para a pesca, mas apenas um possui e sabe utilizar o aparelho.
Em Fortaleza, dos quatro entrevistados dois estão afastados das atividades;
um vai com pouca frequência ao mar e o último está em plena atividade, sendo o único a
utilizar o GPS para localização dos pesqueiros, embora todos achem que é um aparelho
muito bom.
A escolaridade geral gira em torno do analfabetismo ou semi analfabetismo,
assim classificada: 1- Baleia um com a 6ª serie, três com o 1ª série e um analfabeto; 2-
Redonda, um com o primeiro grau completo (8ª série), dois com a 1ª série e quatro
analfabetos; 3- Fortaleza, com a 4ª, 3ª 1ª séries e o último analfabeto, confirmando a
baixa escolarização do pescador, agora estendida aos mestres, embora o analfabetismo e
a baixa escolarização não sejam impedimentos para realização de seu oficio de mestre
marcador.
Os declarados analfabetos e os com a 1ª série somam 12 do total de 16
entrevistados, constituem a maioria e não os exclui do que se denomina
pedagogicamente como “analfabetismo funcional”, a que se inserem 75% da população
brasileira conforme atestado na terceira pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de
Opinião Pública e Estatística (IBOPE) sobre analfabetismo funcional e absoluto em 2005.
Segundo o mestre marcador “Buzo” da Baleia, há pescadores que estão num
pesqueiro bom, deixam uma pequena bóia de marcação e quando retornam poucos dias
depois, não mais a encontram porque não conseguem reter na memória sua localização
exata. Assim, o “dom” da marcação parece não contemplar a todos por razões diversas:
idade avançada, falta de memória, desinteresse e, principalmente, miopia, que se
230
manifesta entre os 10 e 12 anos, e prejudica com o embaçamento das imagens distantes,
justamente as que fazem o caminho e assento.
Atualmente, com o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13
de julho de 1990, a prática de levar os garotos menores de idade para o mar foi extinta,
devido a fiscalização por parte da Marinha e do conselho tutelar local. Esta certamente
não é a única causa da presença de poucos jovens ingressando na atividade pesqueira,
mas é apontada por muitos dos mestres entrevistados como sendo relevante.
231
Figura 10 – Seção do mapa temático de Redonda apresentando identificação com tarjetas
os pontos referências utilizados nas marcações de caminho e assento. (Fonte: foto do autor)
232
Figura 11 – Construção do mapa temático pelos mestres
marcadores na praia da Baleia-Itapipoca. (Fonte: foto do autor)
233
3.5.1- Mapa temático de pesca da Baleia – Itapipoca
Figura 13 – Vista do mar da Praia da Baleia com os pontos notáveis. (Fonte: modificada
Google Earth)
234
pesqueiros mais conhecidos, como se segue: o Seco das 10 do Mar de Pedrinhas, As 10
de Terra do mar de Pedrinhas (é o mais pescado), As 10 de Terra do Mar de Pedrinhas,
As 11 de Terra, As 11 do Mar das Pedrinhas, As 11 do Mar de Pedrinhas (Cascalho), As
11 do Mar de Mundaú, As 12 de Fora do Mar de Mundaú, As 12 do mar de Mundaú, As
12 do mar de Melancia, As 14 do mar de Mundaú, As 14 de Fora de Mundaú, As 15 do
Mar de Mundaú, As 14 de Terra do Mar de Mundaú, Cabeço do Bocão nas 14 do Mar de
Melancias, Cabeço do Passarinho - nas 14 do mar de Mundaú, As 19 do Mar de
Melancia, as Marambaias (de fora) e Cascalho da Maternidade. Paralelamente buscou-se
investigar as coordenadas geográficas destes pontos, obtidas por meio de GPS. Bem
como outras informações relacionadas como tipo de fundo e profundidade, mas estas
mostraram falhas devido à pouca familiaridade dos mestres com o GPS.
Muitos dos pesqueiros existentes no Ceará foram explorados pela pesca
subaquática e têm registro em Sousa Filho (2002); na Baleia cita os pesqueiros
conhecidos como “As Dez”, “As Dez do Mar” e as “Doze de Melancias” aonde os
esportistas foram levados pelo conhecido mestre marcador Manoel Bocão, já falecido,
que na época era reconhecido como um dos melhores marcadores da localidade.
“As Dez do Mar” são descritas por Sousa Filho (2002) como uma “risca” com
vários cabeços de pedras altas, e espaçamento de 50 m com muitas locas e grande
diversidade de peixes, localizada nas coordenadas 02º54,13’S e 39º24,65’W, com cinco
pesqueiros principais encontrados no Mar de Pedrinhas: As 10 de fora, As 10 do meio, As
10 de terra, As 10 do José Castro e As 10 do Visgueiro.
Na praia da Baleia, os pesqueiros tem normalmente contidos na sua
denominação um numeral, que faz referencia a profundidade em braças de sua
localização.
236
Outros pontos inseridos no mapa para referência foram antenas DFR \TVs, o
Morro de Santa Terezinha, prédios, moitas, a Catedral e a Marinha, pois a cidade oferece
grande quantidade de pontos de marcação. Na Figura 17 tem-se uma visão das serras a
4 milhas na direção sul.
Construído o mapa passou-se a inserir as posições de cada mestre marcador,
observando-se que em Fortaleza as posições de pesca são preferencialmente bem
distantes da costa, ou seja, de terra sumida (Figura 23 e Tabela 3).
Ao serem indagados sobre a existência de naufrágio apropriado para a pesca,
todos mencionaram um barco de pesca de ferro, a quem Souza Filho (2002) cita como
sendo o navio do Titanzinho, a uma profundidade de 20 m nas coordenadas geográficas
03º41,60’S e 38º25,58’W.
237
Figura 16 - Marcador indicando um pesqueiro no litoral de Fortaleza, em oficina de
construção do mapa no auditório da Colônia de Pescadores de Fortaleza em
fevereiro de 2012. (Fonte: acervo do autor)
238
3.5.3 – Mapa temático de pesca de Redonda-Icapuí
239
todos quando a antena (relativamente) andou, para em seguida refletirem sobre o que
falei e admitirem que quem estava se movimentando era o barco, nós no caso.
Fatores influenciam nesta modalidade de localização da posição, sendo os
principais a falta de visibilidade ocasionada pela névoa no litoral, fumaça, chuva. Nestes
casos aliam a prática diária de navegação com outras como a sassanga, tempo de
viagem quando perdem a visualização de suas referências, e mantendo aquele rumo
passam a sondar a profundidade. O certo é que a falta de visibilidade do continente
prejudica severamente a localização de pontos conhecidos.
Os mestres marcadores, por iniciarem sua atividade de pesca muito cedo, em
sua maioria na faixa de 10 a 12 anos citam como a primeira vez que foram ao mar,
passam a acumular conhecimento também do que está submerso na região utilizada.
Conhecem o tipo de fundo, o relevo submarino, épocas de pouca visibilidade do
continente, quando as águas ficam mais translúcidas, de direções dos ventos, correntes
de maré e chuvas. Isto se dá por repetição da lida diária, pois um mestre com 45 anos de
idade seguramente já tem mais de 30 na atividade marinha por ter iniciado muito jovem e
desenvolvimento de uma memoria privilegiada.
Souza Filho (2002), por meio de mergulhos em atividades de pesca esportiva,
levado por mestres marcadores, descreve os pesqueiros da Risca Seca, Duas Riscas,
Risca dos Picos; define a Risca Seca como uma pedra muito alta e extensa cujo
comprimento chega a quilômetros com largura de 30 metros e a diferença de
profundidade entre a parte mais alta da pedra e o fundo é de seis metros, sendo o lado de
terra com formação vertical repleta de locas.
A denominação de Duas Riscas, dada pelos pescadores é justificada, pois se
visualiza de cima duas manchas escuras no fundo em forma de linhas paralelas muito
extensas, e revela nas coordenadas um bom cabeço desta risca com latitude
04º28,014’S e longitude 037º10,480’W (SOUZA FILHO, 2002). Verificando-se sua
localização na carta náutica 21.900 (BRASIL-DHN, 2004), situa-se em relação a
Redonda, na distância de 21,5 milhas no rumo verdadeiro de 060º, sobre a linha isobática
de 20 metros, mas não apresenta detalhes em virtude da escala.
240
Figura 19 – Visualização dos pesqueiros colocados no mapa de pesca de Redonda-
Icapuí. (Fonte: foto do autor)
A Risca de Picos também possui extensão quilométrica e uma largura que não
ultrapassa 15 m, assemelhando-se a uma falha geológica devido à encosta vertical que
forma com mudança brusca de profundidade, tendo pelo lado do mar a profundidade de
26 metros e pelo lado de terra, 32 m e apresenta a posição de um cabeço de latitude
04º20,577’S e longitude 037º 14,923’W, posição que ao ser plotada na carta náutica
21.900 (BRASIL-DHN, 2004) situa-se na isóbata de 30 m, distante 22,6 milhas de
Redonda no rumo 217º.
O mapa temático dos pesqueiros da Redonda com os pontos notáveis do
continente constitui a Figura 24, e a relação de posições descritas consta na Tabela 4.
241
Figura 20 – Mestres marcadores na oficina de construção do
mapa em Redonda, com explicações de posicionamento
interagindo com o pesquisador. (Fonte: acervo do autor)
242
Figura 22- Mapa temático da Praia da Baleia, município de Itapipoca, Ceará, onde constam os pontos notáveis de terra utilizados
nas marcações e os pesqueiros mais utilizados pelos mestres marcadores.
243
Tabela 2 - QUADRO DE POSIÇÕES DOS PESQUEIROS DA PRAIA DA BALEIA-ITAPIPOCA.
Apresentando o nome do pesqueiro, caminho, assento, profundidade, distancia, tempo médio de viagem, tipo de fundo e descrição do local do pesqueiro.
244
As 12 de fora do A serra nos Outeiro de Terra sumida. Segue o 12 16,2 milhas Comprida alinhamento E- W, Estirão
mar de Mundaú Mundaú (Outeiro do rumo e anda uma hora, 6 hs PEDRA de pedra alta tem tamanho 1500 por
Zacarias). ai sassanga. 150 m
As 12 de terra do Alto da Tapera em Ponta da serra com o 12 14 milhas Comprida alinhamento E- W.
mar de Mundaú cima da Burra Leiteira. morro do Zacarias. 5 hs PEDRA Tamanho de 500 por 50 m.
As 14 de terra do Morro da Tapera na Ponta da Serra dentro 14 8,1 PEDRA Muito comprida, no alinhamento E-W
mar de Mundaú ponta de baixo dos da barra de Mundaú. (canal) do mar de Melancias ao Mar de
coqueiros da Baleia. Pedrinhas com largura média de 200
m.
Cabeço do Alto da Tapera numa Serra em cima do 14 8,1 milhas PEDRA Dentro do canal tem os bolões de
Passarinho - 14 moita (do Beco do Nel segundo outeiro da (Canal) pedra
do mar de barra de Mundaú
Mundaú
As 12 do mar de Alto da Tapera com os Ponta de Serra com os 02º 039º 14 15,4 milhas Comprida alinhamento E- W.
Melancias coqueiros da Baleia morros de Melancia. 58.300’ 15.010’ 3,5 hs PEDRA Tamanho de 1000 por 80 m
(coqueiros da barra Rmg=61 (canal)
velha).
As 19 do mar de Ponta da Serra na quando some terra dá 02º 039º 15 17,3milhas Cabeço Curto e pequeno. Tem 50 por 15 m
melancia – 19 banda de cima do duas águas no pano. 55.900’ 15.100’
mole Outeiro de Mundaú Rmg=52
Cabeço do Bocão Alto da Tapera em Pta. da Serra com o 14
– dentro das 14 cima dos coqueiros da morro das Cabaceiras
do mar de Barra Velha. (morro de Melancias). 2,5 hs
Melancias
Marambaia de Alto da Tapera em Pta. da Serra na 03º 039º 9,3 milhas
Fora cima dos coqueiros do barrinha de cima das 00.707’ 23.297’ 2h PNEUS 840 PNEUS
Antonio Teixeira. pedrinhas.
Obs: O tempo de viagem para cobrir determinada distância está muito relacionado a força do vento e sua direção que tem grande influencia na velocidade da
embarcação a vela. Nestes buscou-se utilizar o tempo de viagem com um vento mais comum em força e direção. Nesta situação dois pesqueiros equidistantes mas
localizados em situações diferente em relação ao ataque ao vento vão ter tempos distintos.
245
Figura 23- Mapa temático de Fortaleza, onde constam os pontos notáveis de terra utilizados nas marcações e os pesqueiros mais
utilizados pelos mestres marcadores.
246
Tabela 3 - QUADRO DE POSIÇÕES DOS PESQUEIROS DE FORTALEZA.
Apresentando o nome do pesqueiro, caminho, assento, profundidade, distancia, tempo médio de viagem, tipo de fundo e descrição do local do pesqueiro.
COORDENADAS
NOME CAMINHO ASSENTO LAT LONG PROF. DISTAN TIPO DE DESCRIÇÃO
PESQUIERO braças CIA FUNDO
Seco da Risca – S Serra do Sul na Cabeceira da Serrote quando
arinha aparece no meio da
curva entre o boqueirão
e a serrinha.
Cabeceira da 13 pedra
Risca
Torres da risca 13 pedra
Gaiola Falsa (no 13 pedra –
final da risca)
Cajueiro 13 pedra
247
MAR DO SECO 37 pedra
MAR DO 24 e 25
CAECANGA
CANAL DA Serrote quando os 3 se juntam Serrote de santa luzia 23 pedra
CABEÇA DA fica só as pontinhas de fora encostando no serrote
NEGA do mar do porto –
SECO DO
PARAZINHO
RESTINGA DOS 11 1,5 h pedra É grande
GALOS
BOTIJA 14 1,5 h visgueiro raio de 20 metros
hora pedra
alta
PEDRA NOVA Serrote nos matos do outeirinho Serra de Maranguape 11 2 hs pedra - Raio de 20 metros
(morro de Sta Terezinha) em cima da Ig. do
Cristo Rei
TIRADA DE 13 3 hs pedra raio de 40 metros
PEDRA
PEDRA DE 10 3 hs visgueiro raio de 20 metros
TRINDADE
PEDRA DO MAR 13 2,5 hs visgueiro 150 x 20 m
MESTRE INACIO 13 1h cascalho
PEDRA DAS 11 3 hs visgueiro
PONTAS
7- CABECEIRA 11 2,5 hs
DA RISCA
248
Figura 24- Mapa temático de Redonda, município de Icapuí-Ceará, onde constam os pontos notáveis de terra utilizados nas
marcações e os pesqueiros mais utilizados pelos mestres marcadores.
249
Tabela 4- QUADRO DE POSIÇÕES DOS PESQUEIROS DA PRAIA DA REDONDA-ICAPUI.
Apresentando o nome do pesqueiro, caminho, assento, profundidade, distancia, tempo médio de viagem, tipo de fundo e descrição do local do pesqueiro.
COORDENADAS
NOME CAMINHO ASSENTO LAT (S) LONG (W) PROF. DISTANCIA TIPO DE DESCRIÇÃO
braça
PESQUIERO s
milhas FUNDO
BURACO Moita em cima dos riscos do Antena no morro de Pedra
buraco Majorlândia (morro 04º 31’48” 037º 27’18” 13,4
de fora).
PEDRA DO Moita em cima dos riscos do Antena no morro de Pedra 200x 40 m
JOCA buraco Majorlândia no lado de 04º 27’32,4” 037º 23’24”
cima. 22,64
CABEÇO DO Moita em cima da moita preta Antena pegando 8 Pedra. 200 x 50 m.
TICO dos Picos entre os morros de 04º 28’58.8” 037º 26’20,4” pesca peixe
Majorlândia e 18,9
Quixaba.
CABEÇO DAS Moita em cima dos matos pretos A antena na parte .8 pedra. . 200 x 50 m.
MOÇAS: (dois riscos) de baixo do morro 04º 28’55,2” 037º 25’26,4” Pesca peixe
de Quixaba 19,2
FECHO ANZOL Moita em cima do risco a antena pegando 8 Pedra 200 x 50 m.
ranco (das Barreiras de Icapui). entre os morros de 04º 28’48” 037º 22’26,4” 21,6 pesca peixe.
Majorlândia e
Quixaba.
Restinga moita em cima do bolão Antena no morro de 8 2 hs de 200 x 50 m
FAIADO vermelho das barreiras Majorlandia 04º 32’34,8” 037º 24’50,4” viagem pedra.
Cabeço Faiado MOITA COM OS 2 riscos Antena na ponta de
fora do morro da
Quixaba (base p/ 04º 28’51,6” 037º 23’31,2” 20,6
lado de
Majorlandia)
CABEÇO
REDONDA 04º 29’42” 037º 19’15,6”
Caldeiroes da Moita encima do labirinto Antena na ponta de 8,5 300 m x 50 m.
Redonda (rampa de pedras em picos). fora do morro da são duas pedras
(caldeiroes de quixaba (base p/ juntas- é também
barreiras) lado de chamado de
Majorlandia) caldeiroes de
Barreiras
250
Banco do Leo Moita de Picos no canto de Antena da 10 um banco de
baixo do roçado. EMBRATEL na ponta 04º 28’22,8” 037º 27’28,8” 19,6 cianinha, algas
de fora do morro da calcarias
Quixaba por baixo.
Cabeço Fundo Moita na casinha de Picos (casa Antena no meio do 8 mede uns 200 x
do Pedro Miguel) morro da Quixaba 04º 33’14,4” 037º 23’09,6” 150 m. Pedra
descendo para o
lado de terra.
Restinga Funda Moita por baixo dos 2 riscos do Antena fica entre os 9 250 x 200. O
cabeço mestre. morros de Quixaba 04º 32’38,4” 037º 25’01,2” 19 (3h) comprido na
e Majorlandia. direção do vento
Cabeço mestre Moita com os 2 riscos Antena no meio do 8 500 x 100m é
de terra morro da Quixaba 19,2 pedra
Pedras de Moita do Dazin com oiteiro da Cajueiros da onça 8 100 x 30 m pedra
Miguel Barreiras (esta é outra moita). com a marca
branca da ponta de
Redonda (ponte do
Vigário)
Restinga de A moita do Dazin com os Cajueiros com a
Baixo cajueiros da ponte. malha preta. 04º 32’45,6” 037º 22’37,2”
Bugalhal Moita em cima da ponta de cima É quando Retiro 6-7 1,5 por 0,5 a 1
(Área - é uma roçado(a ponta de baixo Grande aparece em milha de largura.
área menor) mbém chega ). cima da Ponta Cascalho. Pesca
Grossa. (não ver a lagosta sendo a
antena, é muito melhor área.
para cima)
Restinga da Moita em cima da malha branca Morro vermelho de 5 800 por 300 a
Malha do Serrote da frente Retirinho com a 400 metros de
RESTINGA- malha branca em largura. Areia
(área de pesca cima de Ponta grossa. Pesca
que abrange a Grossa lagosta
Redonda toda)
Banco Moita em cima do sofá (é um Antena em cima do 12 19,9 Pesca lagosta,
Barquinha mato preto que tem na serra) morro do Caraça 04º 28’12” 037º 27’32,4” peixe. Fundo de
em Canoa cascalho.
Quebrada.
251
3.6 Utilização do GPS nas embarcações a vela
Os demais entrevistados da praia da Baleia que não fazem uso do GPS, todos
o conhecem e /ou já o viram, reconhecem sua importância, acreditam que é um bom
recurso na atividade pesqueira, dizem que os mais velhos e antigos acreditam na
localização dos pesqueiros pelo aparelho, admitem que a pessoa para aprender deva
possuir “a noção”, e com qualquer instrução sobre sua operação pode ser capaz de
manuseá-lo. E citam também o fato de não afetar tanto a vista.
O fato de acreditarem no aparelho para localização de pesqueiros representa
um grande avanço, pois estas inovações tecnológicas sempre são afeitas a resistência
própria por parte de quem trabalha com a pesca.
Em 1995 na implantação do projeto de marambaias em parceria do
LABOMAR/UFC com a Prefeitura Municipal de Itapipoca, foi construído na praia da
Baleia, o primeiro atrator artificial denominado de “Marambaia da Maternidade”,
(CONCEIÇÃO et al., 1997a/b; CONCEIÇÃO & FRANKLIN-JUNIOR, 2001). O
posicionamento dos módulos foi feito com o auxílio de um GPS de marca GARMIN,
modelo III Plus e de cartas náuticas publicadas pela Diretoria de Hidrografia e
Navegação da Marinha do Brasil. Para o transporte e o lançamento dos módulos no
local escolhido, foram empregados barcos e mão-de-obra dos próprios pescadores
locais. (CONCEIÇÃO, 2003).
Nesta oportunidade foi obtida a posição por marcação visual pelos
pescadores Jorge, Manuel Bocão, Dão, entre outros que participavam como membros
da comunidade, e marcado por GPS com obtenção das coordenadas geográficas pelos
pesquisadores, e o local marcado por uma pequena bóia para divulgação da posição
entre membros da comunidade. A sequência de visitas de monitoramento propiciou os
primeiros contatos dos marcadores da Baleia com o aparelho GPS, quando eles
253
direcionavam o barco por suas marcações e os pesquisadores com o GPS de forma
alternada mostrando a grande eficácia da marcação por caminho e assento e por
aparelho eletrônico. Hoje, o aparelho se divide na localização de pesqueiros sendo
amplamente acreditado por todos, com tendência a intensificarem sua utilização.
Observa-se nas falas dos marcadores que o uso do aparelho está mais
direcionado para os mais jovens, que o operam com facilidade à medida que vão
utilizando e trocando ideias com outros.
254
3.6.3 Uso do GPS na Praia da Redonda - Icapuí
255
“É bom demais. Pela experiência que tenho, mas com esta pesca de
manzua para peixe sem bóia, não tem como o GPS. Nos pesqueiros nos
baseamos em estar em cima da pedra; para achar o manzuá é diferente.
Cada dia usam mais, principalmente por causa do cinzeiro, que quando
tem cinzeiro e não tem GPS não vão para o mar. Quem marca com o GPS
é o meu filho”. (Mestre Camilo-Praia da Redonda, em fevereiro de 2012)
256
Desta época para os dias atuais se passaram 155 anos e o jangadeiro
enfrenta o mar com o mesmo pensamento, embora atualmente já existam maiores
exigências e fiscalização sobre a segurança no mar por parte do Departamento de
Portos e Costas (DPC), via Capitania dos Portos. No entanto, muitos parecem
indiferentes aos riscos, conforme pôde o autor observar em recente curso de segurança
e salvatagem no mar, desenvolvido na Praia da Baleia em 2011, como parte do projeto
“Resgate do conhecimento tradicional e desenvolvimento de atividades de extensão
relacionadas à pesca e embarcações artesanais na praia da Baleia-CE” (GARCEZ et al.,
2012). O interesse despertado pelo curso não foi suficiente para completar metade das
30 vagas oferecidas, repetindo a situação vivenciada por este mesmo curso ministrado
na localidade de Redonda, no início do ano de 2011, através de outro projeto.
257
4. CONCLUSÕES
258
REFERÊNCIAS
ARMESTO, F. F.. Américo: o homem que deu seu nome ao continente. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010. 312 p.
AZEVEDO, G. M. As Origens da Navegação a Vela. "Mar & Mar". Rio de Janeiro, n 23,
2000. Disponível em: < http://www.guilhermeazevedo.com/nageg/nageg23.PDF >.
BLAINEY, G.. Uma breve história do mundo. 2 ed. São Paulo: Editora Fundamento,
2010. 336 p.
BRAGA, M. S.C. Homens do Mar: jangadeiros e suas embarcações a vela. Ciência Hoje.
Rio de Janeiro, v. 46, n. 272. p. 44-47, 2010.
BRASIL-DHN. Carta náutica n. 21.900 - Brasil Costa Norte: da Ponta Maceió ao Cabo
Calcanhar. 1 ed. Rio de Janeiro: Diretoria de Hidrografia e Navegação, 2004.
BUENO, E. VESPÚCIO, Américo. Novo Mundo: As cartas que batizaram a América. São
Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003. 191 p.
259
CASCUDO, L. C. Jangada: uma pesquisa etnográfica. 2 ed. São Paulo: Editora Global,
2002. 171 p.
CLAUDINO SALES, V., PARENTE, L.P., PEULVAST, J.P. Pequenas barreiras no estado
do Ceará, Nordeste do brasil. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA. 6.,
2006, Goiânia. Anais... Goiânia, GO: UGB União da Geomorfologia Brasileira, 2006.
260
capacitação de pescadores artesanais para a pesca oceânica de pequena escala.
Fortaleza: Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará, 2006. 124 p.
PINTO, Luiz Fernando da Silva. Sagres: a revolução estratégica. 10 ed. Brasilia: Editora
Senac - DF, 2006. 376 p.
RAMALHO, N. W. C. Artesãos do mar da praia de Suape, PE. VII In: Congresso Latino
americano de Sociologia Rural. 7., 2006, Quito. Disponível em:
<http://www.ibcperu.org/doc/isis/7059.pdf> Acesso em: 16/08/2011.
SUGUIO, K.. Dicionário de Geologia Marinha. São Paulo: Ed. T.a. Queiroz, 1992. 171 p
U.S. GOVERNMENT. Sight Reduction Tables for air navegation (selected stars) Epoch.
v. 1. n. 249. Washington: Defense Mapping Agency Hydrographic Center. U.S.A.
Government, 1977. 325 p.
262
APÊNDICE
263
APÊNDICE A- QUESTIONÁRIO PARA MESTRES MARCADORES
CONSTRUÇÃO ARTESANAL DAS EMBARCAÇÕES A VELA DO ESTADO DO CEARÁ
QUESTIONÁRIO PARA MESTRES MARCADORES
Modelo para entrevista gravada
______________ DATA: _____________
264
CAPÍTULO 4
265
SUMÁRIO
266
3.3 – PRODUÇÃO POR TIPO DE EMBARCAÇÃO A VELA NOS
MUNICÍPIOS DO ESTADO DO CEARÁ 311
3.3.1 - Produção das canoas 315
3.3.2 - Produção dos paquetes 317
3.3.3 - Produção dos botes 319
3.3.4- Produção das jangadas 320
3.4 - PRODUÇÃO PESQUEIRA POR ESPÉCIE 321
3.4.1 - Botes 321
3.4.2 - Paquetes 323
3.4.3 – Canoas 324
3.4.4 - Jangadas 325
3.4.5 – Relação entre embarcações 326
4.CONCLUSÕES 329
REFERENCIAS 331
ANEXOS 335
Anexo A- Título de inscrição da embarcação (jangada Viviane) emitido
pela Capitania dos Portos do Ceará 336
267
LISTA DE FIGURAS
Descrição Pag.
Figura 1- Vista de uma jangada de tábua (ou ocada) em Fortaleza 280
Figura 2 – Vista da parte inferior de uma jangada de isopor na fase
de construção 281
Figura 3 – Jangada de isopor na praia da Taíba - S. Gonçalo do
Amarante 282
Figura 4 – Paquete ocado 283
Figura 5 – Paquete de isopor em construção, com o detalhe do
forramento com isopor sob o convés 284
Figura 6 - Paquete de isopor encalhado na praia da Flecheiras- 285
Trairí
Figura 7 – Canoa de Paracuru chegando à praia 287
Figura 8 – Canoa de Mundaú 288
Figura 9 – Canoa ancorada ao largo da praia da Baleia-Itapipoca 289
Figura 10 – Canoa tipo biana de Camocim 291
Figura 11 – Canoa tipo biana de Bitupitá 292
Figura 12 – Canoa de curral de Bitupitá com vela de quatro punhos 293
Figura 13 – Canoa de curral de Bitupitá 294
Figura 14 – Canoa paquete de Flecheiras vista da parte interior 295
Figura 15 - Canoa paquete de Flecheiras vista da parte externa e
fundo 296
Figura 16 – Bote triângulo de Redonda – Icapuí 299
Figura 17 – Bote bastardo de Camocim 300
Figura 18 – Distribuição das embarcações a vela no litoral do
Ceará, no ano de 1995 302
Figura 19 – Distribuição das embarcações a vela no litoral do
Ceará, no ano de 2006 303
Figura 20 – Representação das tendências das embarcações a vela
no litoral do Ceará, no período de 1995 a 2006 304
268
LISTA DE TABELAS
Descrição Pag.
TABELA 1 – Distribuição quantitativa das jangadas por municípios no
período de 1995 a 2006 305
TABELA 2 - Distribuição quantitativa dos paquetes por municípios no
período de 1995 a 2006 306
TABELA 3 - Distribuição quantitativa das canoas por municípios no período
de 1995 a 2006 307
TABELA 4 - Distribuição quantitativa dos botes por municípios no período
de 1995 a 2006 310
TABELA 5- Produção total e das embarcações a vela (t) e sua participação
relativa no total capturado, no período de 1995 a 2006. 311
TABELA 6 - Participação da produção (t) por tipo de embarcação a vela no
período de 1995 a 2006 312
TABELA 7- Participação em percentual da produção por tipo de
embarcação a vela no período de 1995 a 2006 313
TABELA 8 Produção acumulada por embarcações a vela, por região do
Ceará, no período 1995-2006 314
TABELA 9 – Produção (t) por município das embarcações a vela do Ceará
no período de 1995 a 2006 315
TABELA 10 – Produção (t) das embarcações a vela no período de 1995 a
2006 no estado do Ceará 316
TABELA 11 – Produção (t) das canoas por município do estado do Ceará,
no período de 1995 a 2006 317
TABELA 12 – Produção (t) dos paquetes por município do estado do Ceará,
no período de 1995 a 2006 318
TABELA 13 – Produção (t) dos botes por município do estado do Ceará, no
período de 1995 a 2006 319
TABELA 14 Produção (t) das jangadas por município do estado do Ceará,
no período de 1995 a 2006 321
TABELA 15 – Produção acumulada (1995-2006) e média das seis principais
espécies pescadas por botes no estado do Ceará 322
269
TABELA 16- Produção das espécies (t) capturadas por botes no período de
1995 a 2006 322
TABELA 17 - Produção das espécies (t) capturadas por paquetes, no
período de 1995 a 2006 324
TABELA 18 - Produção das espécies (t) capturadas nas canoas, no período
de 1995 a 2006 325
TABELA 19- Produção das espécies (t) capturadas nas jangadas, no
período de 1995 a 2006 326
TABELA 20- Produção média (t) das embarcações a vela por município e
em percentual no período de 1995 a 2006 327
TABELA 21- Composição da frota veleira em número de embarcações, por
município, no período de 1995 a 2006 328
270
Embarcações a vela do litoral do estado do Ceará, distribuição
espacial da frota e da produção pesqueira
RESUMO
271
Sail crafts in Ceará State’s coastline: fleet and fishing production
spatial distribution
ABSTRACT
The Ceará State’s coastline spreads over 573 km distributed by 20 coastal counties,
and 113 estuarine and marine fishing communities. This study is based on the
following statistical data gathered through the ESTATPESCA Program: fleet
composition by types of boat and county; fish production by type of boat and county;
catch composition of the main fish species by type of boat. A detailed description of
the sailboats in Ceará was presented in order to provide information on a number of
variants of their main types, namely hollow raft, styrofoam-fulled rafts, canoe from
Paracuru, canoe from Moitas-Baleia; canoe from Camocim; canoe from Acaraú-Preá-
Bitupitá; canoe from Bitupitá fish-weirs, canoe-raft from Fleixeiras-Guagiru, triangle
boat and bastard boat. The results show the small raft holds a numeric majority and a
wider geographic distribution, standing out by being lighter to anchor on the beach
sand, requiring fewer crew, and entailing lower construction and maintenance costs.
The boats show a narrower territorial range, with the bastard ones being
concentrated in Camocim county and the triangle ones more frequent in Icapuí
county. The canoe and the large-sized raft hold an outstanding predominance on the
western and the eastern sides of Ceará State’s coastline, respectively. In relative
terms, the main types of fishing craft took part in the caches according to the
following proportions: canoes = 45.3 per cent; small raft = 22.3 per cent; boats = 22.4
per cent. Among their home counties stand out Camocim, Itarema, Icapuí and
Acaraú, the ones that boast a more exclusive fish production made out of such
species as yellowtail snapper, king mackerel, Caribbean red snapper, black grouper,
dog snapper and dolphin. The large-sized rafts have shown of late a tendency for
playing a lesser part in fish catching, but they are still relevant in such Ceará State’s
counties as Fortaleza, Aquiraz, Beberibe Cascavel and Aracati
272
1. INTRODUÇÃO
276
2. METODOLOGIA
277
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1.1 Jangada
278
metros e largura de 1,60 a 1,80 m, mas sujeitas a modificações como redução do
tamanho e forramento de isopor.
As jangadas na atualidade estão sendo menos atrativas,
consequentemente menos procuradas e construídas, em virtude do seu maior custo
de fabricação e manutenção, e das dificuldades de rolamento para a praia por serem
grandes e pesadas em comparação com os paquetes, menores e mais leves. As
unidades ainda em operação podem assumir as formas ocada e forrada com isopor.
7
Otacilio de Lima foi pescador de jangada na Praia das Fontes, litoral leste, e atualmente é tripulante
do barco de pesquisas “Prof. Martins Filho” da UFC.
279
impossível nas “de dormida”. Um outro aspecto complicador é que a regularidade
operacional de uma tripulação mais numerosa seria muito menos viável de ser
conseguida.
As jangadas cearenses têm como grande admirador o mundialmente
reconhecido velejador Amyr Klink que, em palestra ministrada na FANOR-
Faculdades do Nordeste, em Fortaleza em 24/05/2012, ressaltou entre suas
qualidades a capacidade de furar as ondas e navegar com o menor ângulo em
relação ao vento e que, juntamente com aspectos estruturais do bote bastardo de
Camocim, o inspiraram no projeto de construção do barco PARATI II (KLINK, 2006).
Figura 1- Vista de uma jangada de tábua (ou ocada) em Fortaleza (Fonte: foto do
autor)
281
Figura 3 – Jangada de isopor na praia da Taíba - S. Gonçalo do Amarante. (Fonte:
foto do autor)
3.1.2 Paquete
284
FIGURA 6 - Paquete de isopor encalhado na praia da Flecheiras-Trairí. (Fonte: foto
do autor)
3.1.3 Canoa
285
portugueses e dos escravos africanos, novas influências, detalhes e desenhos. Na
época do descobrimento locomoviam-se a remo, inexistindo o uso ou o
conhecimento da vela em toda a América e cujo primeiro registro no Brasil (Baía da
Guanabara) se deve a Antônio Pigafetta, tripulante de Fernão de Magalhães na
viagem de circunavegação de passagem pelo Brasil em dezembro de 1519
(MESQUITA, 2009). Segundo descrição, eram feitas de um único tronco de árvore
escavado com utilização de uma pedra cortante já se que desconhecia ferramentas
de ferro e para sua locomoção se utilizavam remos.
Espíndola (2001) relata que no ano de 1500, anterior à chegada de Pedro
Alvares Cabral ao Brasil, o espanhol Vicente Yanes Pinzon chegou à Ponta do
Mucuripe, e que nas proximidades do que se supõe seja a foz do Rio Curu, deu-se
aproximação e contato com os nativos resultando em inesperado e sangrento
embate com perda de vidas de ambos os lados. Na fuga dos espanhóis aconteceu a
tomada de um dos quatro escaleres utilizados para a aterragem, de forma que o
registro deste primeiro conflito coincide também com o registro da primeira
embarcação estrangeira confiscada pelos índios.
Esses acontecimentos a principio poderiam ter explicado a origem da
tendência do uso de canoas no litoral oeste onde predominam, já que é grande a
semelhança com os escaleres é as canoas de boca aberta. No entanto, carecem de
sustentação pois, segundo relatos do mestre Jorge, da Praia da Baleia e de João
Venâncio, cacique dos índios Tremembé de Almofala, as conoas teriam sido
introduzidas após as jangadas de timbaúba e piúba, e dos próprios botes, estes já
bem mais recentes.
Do mesmo modo que as canoas que lhe deram origem, são dotadas de
cavername mas também desprovidas de quilha, tendo sua sustentação longitudinal
provida pelo tabuado e borda. Na proa e na popa existem painéis que podem abrigar
os pescadores e guardar materiais, mas com menor altura devido ao convés interior
que cobre o forramento do isopor.
Diferem das canoas paquetes pelo tamanho e pela forma utilizada que
são de borda altas e pouco arredondadas, sendo estas já uma derivação das de
Paracuru, que utilizam redes de espera e anzóis, têm boa autonomia de mar e
pescam em profundidades de até 100 metros, a cerca de 28 milhas da costa.
287
3.1.3.2 - Canoa das Moitas, Baleia e Mundaú
288
furo do mastro (enora) situado no plano diametral, donde se projeta verticalmente a
base do mastro da vela latina triangular, que se fixa na carlinga.
290
Figura 10 – Canoa tipo biana de Camocim. (Fonte: foto do autor)
291
Figura 11 – Canoa tipo biana de Bitupitá. (Fonte: foto do autor)
292
Figura 12 – Canoa de curral de Bitupitá com vela de quatro punhos. (Fonte: foto do
autor)
293
Figura 13 – Canoa de curral de Bitupitá. (Fonte: foto do autor)
295
Figura 15 - Canoa paquete de Flecheiras vista da parte externa e
fundo. (Fonte: foto do autor)
3.1.4 Bote
296
áreas de pesca diferentes com tripulação de cinco a oito pescadores, sendo
encontrados em quase toda a costa do Ceará, com maior concentração no município
de Camocim.
Distinguem-se dois tipos de botes no Ceará, que nas praias são
popularmente denominados de bote triângulo e bote bastardo se tem mastro
removível ou fixo respectivamente. Os botes triângulos são predominantes no
município de Icapuí, com maioria na praia de Redonda, e os botes bastardos de
Camocim, que pleiteiam o seu reconhecimento de patrimônio cultural móvel desta
cidade.
Em Icapuí, os botes triângulo pescam durante a temporada de pesca da
lagosta com cangalhas e ultimamente estão pescando com manzuás para peixe,
embora operem também com linha de mão, o que não é a única opção. Diferencia-
se por tipo de mastro utilizado: os bastardos fazem utilização da vela latina, a
mesma das caravelas que Portugal empregou durante o ciclo das grandes
navegações (MONUMENTA, 2008) com mastro fixo e os botes triângulo, com mastro
removível.
298
Figura 16 – Bote triângulo de Redonda – Icapuí. (Fonte: foto do autor)
299
sustentação para içar a vela entralhada a uma estrutura de madeira denominada
“verga”, na qual fica armada uma vela triangular.
Camocim é o local de maior concentração pontual do bote bastardo
(Figura 17), cujo comprimento varia de 8 a 15 metros e atuam em pescarias de no
máximo 10 dias de duração, sendo tripulados por 5 a 8 pescadores que dispõem de
acomodações rudimentares na parte interna da embarcação que lhes permitem
conforto e proteção durante a dormida. A duração da viagem varia conforme o
tamanho da embarcação, características que regula a capacidade de deslocamento
de peso, autonomia de mar, número de tripulantes e produção pesqueira.
As informações dos mestres ressaltam a dificuldade de se conseguir
pescador para embarcar, sendo comum saírem com cinco ou seis tripulantes, pois
estes preferem dar prioridade a viagens curtas que lhes permitam uma maior
convivência social, fato muito comentado e comum em várias localidades do litoral
cearense.
300
3.2 Distribuição das embarcações a vela no Ceará
301
Figura 18 – Distribuição das embarcações a vela no litoral do Ceará, no ano de 1995. (Fonte: Elaboração de Gleidson Gastão)
302
Figura 19 – Distribuição das embarcações a vela no litoral do Ceará, no ano de 2006. (Fonte: Elaboração de Gleidson Gastão)
303
3.2.1- Distribuição numérica das jangadas
304
TABELA 1 – Distribuição quantitativa das jangadas por municípios no período de
1995 a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
JANGADA A N O
MUNICIPIOS 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fortaleza 133 140 137 115 108 119 103 99 95 99 90 86
Beberibe 93 107 100 89 94 102 89 97 93 106 76 77
Aquiraz 54 56 56 48 46 51 48 53 52 49 42 42
Aracati 46 46 42 40 41 39 33 33 35 41 38 39
Cascavel 35 35 31 30 31 28 28 29 31 31 27 27
Fortim 13 14 15 15 15 16 12 11 9 9 9 10
S.G.Amararante 10 15 15 10 10 7 9 7 8 7 11 11
Caucaia 15 17 16 16 12 8 5 4 4 2 6 8
Paracuru 12 15 15 10 9 8 5 4 4 4 5 6
Paraipaba 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 1 1
Icapui 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 4 4
Acarau 0 1 1 1 0 1 0 2 0 0 0 1
Camocim 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1
Cruz 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Amontada 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Barroquinha 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Itapipoca 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Itarema 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Jijoca 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Trairi 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Total Geral 421 455 437 383 374 387 340 347 339 356 309 314
305
TABELA 2 - Distribuição quantitativa dos paquetes por municípios no período
de 1995 a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
PAQUETE A N O
Municipio 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Trairi 171 169 179 200 210 209 209 208 199 216 384 383
Aracati 162 172 156 183 184 192 181 185 214 221 394 375
Icapui 128 120 123 117 138 147 191 199 223 216 377 384
Fortim 140 145 144 145 153 149 157 157 169 183 335 362
Beberibe 147 152 141 154 156 160 159 145 183 188 296 305
Paracuru 90 107 108 118 123 134 146 183 183 193 169 166
Cascavel 102 106 97 100 112 122 129 137 149 157 167 161
S.G.Amararante 117 129 128 126 133 117 105 108 111 109 167 161
Aquiraz 79 83 84 105 98 115 113 123 121 127 162 157
Itapipoca 31 39 44 71 71 74 88 99 116 128 188 193
Paraipaba 77 82 81 90 92 94 91 88 90 93 114 120
Fortaleza 51 54 49 48 44 44 86 98 89 96 197 172
Caucaia 45 46 51 68 75 71 76 76 76 75 107 103
Itarema 49 46 44 38 36 38 45 48 54 53 73 74
Amontada 5 4 4 18 18 26 28 35 34 32 44 48
Acarau 11 11 13 10 12 9 15 14 15 15 37 34
Jijoca 15 13 13 11 11 11 8 5 5 5 3 3
Cruz 7 7 6 7 6 3 2 2 0 2 23 23
Camocim 1 1 1 1 1 1 2 2 11 11 9 9
Barroquinha 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1
Total Geral 1428 1486 1466 1610 1673 1716 1831 1912 2042 2120 3247 3234
308
3.2.4- Distribuição numérica dos botes
310
3.3 Produção por tipo de embarcação a vela nos municípios do Estado do
Ceará
311
incipiente devido a sua desprezível participação numérica no contexto da frota
pesqueira do Ceará.
Em 2006, como em anos anteriores, a maior parte da produção anual foi
proveniente de barcos a vela (58,3%), notadamente das canoas (28,1% - 4.654 t) e
paquetes (17,1% - 2.824 t), seguidos dos barcos motorizados de médio porte (35,3%
- 5.761 t) e dos industriais (6,1% - 1.002 t) – IBAMA, (2008).
312
recurso capturado, pois estas embarcações não constituem empresas e é comum
que os proprietários sejam pescadores.
A estes fatos se aliam as informações obtidas em IBAMA (2007) de que
no ano de 2005 a pesca artesanal veleira foi responsável por 54,7% do total de
18.421,4 t da produção estadual de pescado, além do emprego direto de um
contingente estimado de 17 mil pescadores, distribuídos em mais de 100
comunidades pesqueiras. Portanto, Fonteles Filho (1997) acredita que um sistema
de pesca artesanal se origina na grande diversidade especifica da Zona Tropical,
mas se consolida através de condições socioeconômicas que são mais favoráveis à
geração de oportunidades de emprego que de renda.
Utilizando os dados do ESTATPESCA, a produção acumulada foi
distribuída entre o litoral leste, Fortaleza e litoral oeste, de acordo com os seguintes
valores absolutos e relativos, respectivamente: 21.702,4 t (18,2%), 6.376,3 t (5,3%)
e 91.714,2 t (76,5%) - Tabela 8.
313
A produção evidentemente superior apresentada pelo litoral oeste pode
ser atribuída a uma maior piscosidade da região, em virtude da maior extensão da
linha de costa e pelo carreamento de matéria orgânica por sistemas fluviais de
diversas bacias hidrográficas, como Curu, Aracatimirim, Aracati-açu, Acaraú, Coreaú
e Timonha. Esses fatores se refletem em uma maior superfície de plataforma
continental e na maior produtividade primária e secundária (pescado).
314
Tabela 9 – Produção (t) por município das embarcações a vela do Ceará no período
de 1995 a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
Município 1.995 1.996 1.997 1.998 1.999 2.000 2.001 2.002 2.003 2.004 2.005 2.006 Total Geral média %
Camocim 2.173,10 1.936,40 1.945,80 2.005,30 2.931,00 2.529,90 2.308,90 2.197,60 2.653,50 2.606,30 2.553,70 2.155,10 27.996,60 2.333,05 23,3
Barroquinha 1.530,90 1.057,30 1.439,30 698,50 410,40 597,10 1.649,10 2.627,50 1.435,70 1.807,20 1.350,40 1.302,00 15.905,40 1.325,45 13,3
Acarau 1.101,80 550,40 525,90 561,00 922,70 656,90 1.014,50 861,40 981,90 780,20 786,40 1.026,00 9.769,10 814,09 8,1
Itarema 735,10 638,20 596,30 806,90 1.257,60 385,40 745,00 721,10 925,10 721,40 537,00 431,70 8.500,80 708,40 7,1
Trairi 563,10 423,90 588,10 535,20 753,80 543,40 614,40 569,50 569,70 586,30 638,10 577,00 6.962,50 580,21 5,8
Fortaleza 807,00 607,30 499,80 479,60 627,30 449,20 455,90 468,40 506,70 542,10 491,70 441,30 6.376,30 531,36 5,3
Beberibe 560,90 378,90 318,20 256,70 297,30 297,90 324,70 382,80 468,80 570,20 550,00 567,60 4.974,00 414,50 4,1
Itapipoca 305,50 236,00 461,30 388,00 201,90 178,90 308,40 321,70 394,90 472,50 476,50 453,80 4.199,40 349,95 3,5
Aquiraz 272,60 252,20 343,10 411,00 345,00 364,00 372,80 293,50 518,40 427,50 300,60 278,80 4.179,50 348,29 3,5
Cruz 268,60 272,90 355,50 223,80 305,40 229,80 1.178,80 133,00 211,50 187,20 209,50 290,20 3.866,20 322,18 3,2
Amontada 354,80 232,80 392,70 311,20 329,20 324,20 465,50 260,30 369,10 258,20 244,20 156,60 3.698,80 308,23 3,1
Icapui 429,40 361,40 443,00 314,30 265,80 237,60 281,20 395,90 301,70 142,30 195,90 196,90 3.565,40 297,12 3,0
Cascavel 398,90 377,60 354,20 347,40 322,60 245,50 192,60 157,70 221,40 335,10 298,20 298,70 3.549,90 295,83 3,0
Aracati 464,70 364,80 330,50 413,30 376,80 142,80 253,00 229,00 309,60 165,90 233,00 210,90 3.494,30 291,19 2,9
Paracuru 392,00 334,80 595,50 162,10 304,70 200,20 193,00 218,90 213,20 243,60 328,10 275,30 3.461,40 288,45 2,9
S.G.Amararante 377,20 309,80 580,20 188,90 198,60 181,10 145,70 101,40 124,30 357,60 252,70 210,50 3.028,00 252,33 2,5
Fortim 260,70 193,10 162,40 140,10 74,00 118,20 126,60 155,60 166,90 139,30 170,60 231,80 1.939,30 161,61 1,6
Caucaia 143,20 172,50 224,10 101,80 123,90 133,90 139,60 109,60 126,20 179,50 187,80 160,40 1.802,50 150,21 1,5
Paraipaba 154,60 143,00 216,20 109,40 121,10 113,80 101,90 112,50 132,90 132,00 84,90 86,20 1.508,50 125,71 1,3
Jijoca 157,30 61,90 80,20 73,00 57,10 54,00 58,10 87,80 134,80 159,30 143,50 148,00 1.215,00 101,25 1,0
Total Geral 11.451,40 8.905,20 10.452,30 8.527,50 10.226,20 7.983,80 10.929,70 10.405,20 10.766,30 10.813,70 10.032,80 9.498,80 119.992,90 9.999,41 100,0
315
2005 e 2006 (Tabela 10). Sua superioridade em relação ao bote é evidente, sendo
responsável por mais da metade da produção das embarcações a vela nos anos de
2001 e 2002 e estabilizando-se próximo de 50% do total (Tabela 7).
Em termos de município, destacou-se em Barroquinha, Camocim, Acaraú,
Cruz, Amontada Itarema e Trairi (Tabela 11) que, juntos, totalizam 92% da média da
produção entre as outras embarcações no período 1995 - 2006.
316
Tabela 11 – Produção (t) das canoas por município do estado do Ceará, no período
de 1995 a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
PRODUÇÃO Canoa
MUNICIPIOS 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total Geral MEDIA %
Barroquinha 1.518,7 1.050,1 1.434,0 691,2 404,8 593,8 1.649,1 2.627,5 1.435,7 1.807,2 1.338,5 1.276,0 15.826,6 1.318,9 29,11
Camocim 740,5 826,9 850,1 831,1 1.108,8 1.240,3 1.056,5 1.266,5 1.544,1 1.626,1 1.289,1 1.347,0 13.727,0 1.143,9 25,25
Acarau 967,5 436,5 403,8 353,2 714,1 495,6 741,2 712,2 760,8 571,2 594,8 848,1 7.599,0 633,3 13,98
Cruz 260,5 265,0 343,4 217,3 295,9 225,9 1.178,6 133,0 211,5 186,3 199,4 278,4 3.795,2 316,3 6,98
Amontada 338,3 210,2 341,3 268,9 287,2 279,5 414,0 230,1 311,3 218,2 203,6 108,1 3.210,7 267,6 5,91
Itarema 350,4 249,5 237,6 238,8 337,0 112,0 173,3 235,3 354,3 233,2 289,4 223,6 3.034,4 252,9 5,58
Trairi 174,5 142,8 200,8 230,0 305,3 301,5 236,5 230,8 265,1 250,9 246,6 174,6 2.759,4 230,0 5,08
Itapipoca 213,8 189,5 326,2 316,6 144,0 125,8 235,2 220,1 194,8 260,3 256,4 207,2 2.689,9 224,2 4,95
Jijoca 148,8 57,9 80,2 72,2 56,3 42,0 52,8 87,0 131,0 159,3 142,1 146,4 1.176,0 98,0 2,16
Paracuru 46,6 52,2 83,9 34,1 62,9 33,1 31,2 30,0 24,5 31,4 37,2 30,8 497,9 41,5 0,92
Paraipaba 3,8 4,0 2,5 2,3 2,6 1,4 1,2 1,1 0,4 0,0 3,0 3,9 26,2 2,2 0,05
S.G.Amararante 0,0 1,1 0,3 0,0 3,0 2,3 0,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 7,3 0,6 0,00
Beberibe 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,4 5,4 0,5 0,00
Fortaleza 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,6 4,6 0,4 0,00
Fortim 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 0,0 1,4 0,0 0,0 1,6 0,1 0,00
Caucaia 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6 0,0 0,6 0,1 0,00
Aracati 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,2 0,0 0,00
Icapui 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Cascavel 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Aquiraz 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Total Geral 4.763,4 3.485,7 4.304,1 3.255,7 3.721,9 3.453,2 5.770,4 5.773,6 5.233,5 5.345,5 4.600,7 4.654,3 54.362,0 4.530,2 100
318
O município de Aquiraz, quinto colocado no geral, teve maiores
produções em 2000 com 231,9 t (14%) e 2003 com 259,8 t (12%), e segundo em
2001 com 220,3 t (12%).
Tabela 13 – Produção (t) dos botes por município do estado do Ceará, no período de
1995 a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
PRODUÇÃO BOTES
MUNICIPIOS 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total Geral MEDIA %
Camocim 1.428,3 1.107,7 1.095,7 1.174,2 1.822,1 1.289,2 1.251,9 930,6 1.107,6 979,9 1.260,7 801,3 14.249,2 1.187,4 52,92
Itarema 311,5 347,6 303,1 508,3 870,8 229,6 515,5 449,2 515,1 413,7 151,4 95,6 4.711,4 392,6 17,50
Icapui 293,8 269,7 330,5 113,1 96,4 174,0 162,7 282,0 153,2 100,5 104,7 75,4 2.156,0 179,7 8,01
Acarau 118,4 99,1 103,0 188,9 184,4 112,5 232,6 128,0 192,7 179,3 138,2 115,1 1.792,2 149,4 6,66
Fortaleza 138,4 121,8 126,8 132,4 93,7 47,3 80,3 76,0 85,9 72,7 86,8 78,4 1.140,5 95,0 4,24
Trairi 155,6 96,9 98,2 66,1 87,5 55,3 63,8 48,9 49,7 36,4 27,3 21,0 806,7 67,2 3,00
Fortim 64,4 70,8 85,2 52,9 5,8 67,9 70,3 55,2 42,7 36,3 50,5 58,4 660,4 55,0 2,45
Paracuru 65,9 47,0 48,9 19,9 62,4 20,5 21,5 31,2 31,8 32,8 48,6 45,2 475,7 39,6 1,77
Aracati 92,7 97,6 91,9 9,4 18,9 10,8 5,6 11,5 17,2 4,5 4,4 23,8 388,3 32,4 1,44
Beberibe 15,8 23,6 21,4 13,6 12,9 21,0 17,1 26,6 30,9 24,7 26,9 33,0 267,5 22,3 0,99
Amontada 7,4 13,6 13,6 12,8 19,8 13,9 20,6 8,5 13,8 4,5 14,2 12,2 154,9 12,9 0,58
Barroquinha 12,2 7,2 5,3 7,3 5,6 3,3 0,0 0,0 0,0 0,0 11,1 25,0 77,0 6,4 0,29
Itapipoca 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 11,0 15,9 26,9 2,2 0,10
Cascavel 2,8 2,4 1,0 1,6 0,3 0,0 0,6 1,1 0,1 0,1 1,0 0,5 11,5 1,0 0,04
S.G.Amararante 0,4 0,0 0,0 3,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,3 0,4 0,02
Cruz 3,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,4 0,0 3,8 0,3 0,01
Caucaia 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 0,2 0,0 0,00
Aquiraz 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Jijoca 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Paraipaba 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Total Geral 2.710,8 2.305,0 2.324,6 2.304,4 3.280,6 2.045,3 2.442,5 2.048,8 2.240,7 1.885,6 1.937,4 1.400,8 26.926,5 2.243,9 100,00
319
O município de Itarema manteve-se na segunda colocação em todo o
período com 303,1 t, exceto no ano de 1997 quando perdeu a colocação para Icapuí
que produziu 330, 5 t.
Acaraú, quarto colocado na classificação geral, ocupou a terceira
colocação da pesca com botes, suplantando Icapuí nos anos de 1998, 1999, 2001,
2003 2005 e 2006, sendo superado por Trairi e Fortaleza, em 1995, e por Fortaleza,
nos anos de 1996 e 1997.
320
Tabela 14 – Produção (t) das jangadas por município do estado do Ceará, no
período de 1995 a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
PRODUÇÃO JANGADAS
MUNICIPIOS 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total Geral MEDIA %
Fortaleza 575,7 419,8 241,6 289,2 470,9 359,3 303,8 328,2 344,1 371,2 247,3 200,5 4.151,6 346,0 34,93
Aquiraz 161,3 119,7 165,6 170,7 174,3 132,1 152,5 185,9 258,6 215,8 122,7 88,2 1.947,4 162,3 16,38
Beberibe 286,0 153,5 125,8 79,1 96,6 89,9 125,3 167,8 209,2 274,3 182,3 145,2 1.935,0 161,3 16,28
Cascavel 193,4 150,4 131,7 118,5 103,0 85,1 67,4 51,3 64,4 81,2 64,5 61,8 1.172,7 97,7 9,87
Aracati 175,3 80,9 53,3 94,6 110,9 31,3 78,8 87,7 96,3 54,1 58,4 39,3 960,9 80,1 8,08
S.G.Amararante 91,3 81,8 105,1 29,4 83,4 21,4 18,8 9,3 25,6 30,6 17,2 33,2 547,1 45,6 4,60
Paracuru 81,5 62,8 79,2 15,4 30,9 22,4 16,7 15,1 12,6 14,9 30,0 22,3 403,8 33,7 3,40
Caucaia 60,0 80,7 74,6 27,9 38,5 16,1 19,8 13,3 10,6 6,6 19,5 18,0 385,6 32,1 3,24
Fortim 56,4 19,4 20,4 44,1 40,7 16,8 29,5 22,0 22,7 9,5 10,4 8,5 300,4 25,0 2,53
Icapui 5,3 2,9 2,1 3,6 4,6 0,6 2,4 2,4 3,2 1,9 2,0 2,4 33,4 2,8 0,28
Paraipaba 16,8 12,1 3,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 32,8 2,7 0,28
Trairi 5,5 2,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 7,8 0,7 0,07
Acarau 0,0 1,4 0,0 0,0 0,0 2,7 1,1 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 6,0 0,5 0,05
Camocim 0,9 1,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 2,5 0,2 0,02
Amontada 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Barroquinha 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Cruz 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Itapipoca 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Itarema 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Jijoca 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,00
Total Geral 1.709,4 1.189,2 1.003,3 872,5 1.153,8 777,7 816,1 883,8 1.047,3 1.060,1 754,3 619,5 11.887,0 990,6 100,00
3.4.1 – Botes
321
produção em 1998 com 322,2 t e a maior em 2003 com 730,6 t, tendo uma média
anual de 529,2 t.
Tabela 16- Produção das espécies (t) capturadas por botes no período de 1995 a
2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
Produção‐Bote A N O
Espécie 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 T. Geral média %
Guaiuba 525,7 433,8 367,4 322,7 500,4 396,0 639,1 708,1 730,6 650,1 674,9 401,7 6.350,5 529,2 26%
Cavala 216,7 174,9 185,2 316,4 270,9 278,2 292,3 265,6 242,3 272,6 157,4 176,7 2.849,2 237,4 12%
Pargo 438,7 364,4 263,3 476,9 589,0 237,5 174,7 53,9 74,6 46,0 55,8 42,6 2.817,4 234,8 12%
Sirigado 229,5 214,9 326,2 198,2 526,1 138,7 255,1 126,8 159,5 85,2 209,1 80,8 2.550,1 212,5 10%
Carapitanga 0,0 0,0 0,0 81,9 520,6 96,6 192,9 78,6 210,4 95,2 55,5 90,5 1.422,2 118,5 6%
Dourado 0,0 0,0 0,0 74,4 165,0 75,8 186,9 97,8 146,9 208,5 205,0 83,4 1.243,7 103,6 5%
Lagosta 90,2 178,8 47,1 7,1 44,6 58,7 64,6 154,5 82,0 89,5 83,8 46,6 947,5 79,0 4%
Dentão 218,2 184,3 207,5 62,7 50,4 28,7 22,5 30,3 16,2 12,5 13,4 9,5 856,2 71,4 4%
Guaraximbola 74,1 70,8 66,4 122,5 73,3 93,5 56,5 61,3 63,0 55,9 45,3 31,3 813,9 67,8 3%
322
O pargo, terceiro colocado no período de estudo, sofreu grande
decréscimo da produção a partir de 2002 quando apresentou totais inferiores a 74,6
t ano, bem abaixo de sua média anual de 234,8 t.
O sirigado teve sua maior produção em 1999 com 526,1 t, que o colocou
no primeiro lugar da classificação, e a menor em 2006 com 80,6 t. Foi segundo em
produção nos anos de 1995, 1996, 1997 e 2005, mas em 2001 - 2006 teve produção
superior ao pargo, o que reflete uma tendência já consolidada de superar essa
espécie na produção anual.
Verifica-se que os botes, em geral, capturam peixes de maior valor
comercial, principalmente devido a uma maior autonomia de mar que lhes permite
com maior deslocamento espacial atingindo locais de pesca em diferentes estratos
de profundidade e numa área mais ampla da plataforma, o que aumenta a chance
de concentração sobre aqueles mais produtivos. Já os botes triângulo de Redonda e
localidades vizinhas realizam pescarias de lagosta no âmbito do município de Icapuí,
em zonas de pesca próximas à costa que permitem seu retorno diário ao porto-
base.
A captura da lagosta com botes no período foi de 947,5 t com média de
78,95 t por ano, apresentou a oitava colocação, produção inferior à de peixes mas
com valor de venda que lhe atribui um superior retorno financeiro. Os anos com
maior produção da lagosta por botes foram os de 1996 (178,8 t) e 2002 (154,5 t),
com a produção anual variando em torno da média de 85 t nos anos de 2003 –
2005, que se 46,6 t no ano de 2006, provavelmente por causa da proibição do uso
da rede caçoeira.
3.4.2 – Paquetes
Tabela 17 – Produção das espécies (t) capturadas por paquetes, no período de 1995
a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
Produção‐Paquete A N O
Espécie 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 T. Geral média %
Serra 457,1 298,5 532,5 213,4 188,9 217,1 175,6 151,6 137,3 159,8 131,9 177,7 2.841,4 236,8 14%
Ariaco 118,8 100,1 169,2 175,9 260,8 219,0 229,7 268,5 278,1 257,7 279,0 276,6 2.633,4 219,5 13%
Lagosta 76,7 134,2 125,9 101,5 278,9 103,7 223,2 202,9 262,4 248,8 234,1 169,5 2.161,8 180,2 11%
Cavala 146,6 169,5 207,3 157,8 155,9 127,2 126,3 145,4 130,7 129,7 141,8 170,0 1.808,2 150,7 9%
Arraia 82,8 83,4 108,6 175,8 154,6 69,8 95,1 113,6 159,6 186,4 215,1 236,1 1.680,9 140,1 8%
Biquara 117,6 65,9 87,8 98,5 102,1 93,7 97,4 75,4 102,0 184,8 233,8 212,4 1.471,4 122,6 7%
Camurupim 233,1 69,3 492,1 161,8 46,7 27,0 71,3 34,1 29,0 46,7 92,3 65,8 1.369,2 114,1 7%
Guaiuba 65,0 80,8 68,4 116,0 55,8 67,9 113,8 71,0 103,6 116,6 122,9 123,1 1.104,9 92,1 5%
Sardinha 43,6 45,5 22,0 34,7 56,6 97,9 45,8 40,4 115,0 171,0 126,9 126,2 925,6 77,1 5%
Beijupirá 32,0 24,9 67,5 61,2 54,0 36,4 27,0 40,3 54,1 62,1 69,2 73,7 602,4 50,2 3%
3.4.3 – Canoas
Tabela 18 – Produção das espécies (t) capturadas nas canoas, no período de 1995
a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
Produção‐Canoa A N O
Espécie 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 T. Geral Média %
Sardinha 795,7 535,8 840,4 447,1 525,4 755,3 851,5 1.471,0 1.543,0 1.382,5 982,3 1.259,7 11.389,7 949,1 28%
Palombeta 64,3 236,6 130,1 19,6 88,1 72,4 455,9 1.169,1 387,7 871,5 357,6 272,4 4.125,3 343,8 10%
Ariaco 214,3 287,9 219,4 269,4 326,2 252,1 313,2 238,4 312,8 246,9 216,3 324,6 3.221,5 268,5 8%
Lagosta 142,7 147,8 328,9 205,1 298,3 258,6 283,7 234,5 199,6 362,7 340,9 216,3 3.019,1 251,6 7%
Cavala 168,5 177,6 264,3 292,4 261,8 200,5 186,2 262,6 196,3 132,4 132,6 93,3 2.368,5 197,4 6%
Arraia 82,4 106,3 132,1 208,9 224,6 188,5 199,7 270,3 213,2 215,3 279,2 231,9 2.352,4 196,0 6%
Serra 258,4 169,0 166,3 223,9 159,1 127,0 233,5 118,5 92,6 135,1 52,8 114,7 1.850,9 154,2 5%
Guaiuba 75,8 93,5 79,3 89,9 97,5 83,5 162,7 167,9 151,0 145,9 160,5 176,8 1.484,3 123,7 4%
Bonito 327,3 85,8 102,1 71,5 68,7 27,8 224,9 165,3 124,2 99,4 44,7 89,5 1.431,2 119,3 4%
O ariacó teve 49,77% de sua captura efetuados pela canoa, de modo que
o conjunto formado por sardinha-bandeira, palombeta e ariacó é responsável por
46% da captura acumulada no período por esse tipo de embarcação.
3.4.4 – Jangadas
325
Tabela 19 - Produção das espécies (t) capturadas nas jangadas, no período de 1995
a 2006. (Fonte: Elaborada pelo autor)
Produção‐Jangada A N O
Espécie 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 T. Geral média %
Biquara 229,6 165,1 124,6 85,5 109,9 110,1 122,0 110,1 136,4 119,5 96,3 78,6 1.487,7 124,0 17%
Guaiuba 179,0 139,5 91,6 101,2 125,2 90,6 123,7 114,2 115,7 100,4 75,5 51,1 1.307,7 109,0 15%
Cavala 185,9 130,3 92,3 99,6 134,3 99,4 77,9 61,1 86,1 76,3 46,0 36,9 1.126,1 93,8 13%
Arraia 99,4 66,6 62,4 55,5 76,6 42,6 32,8 49,9 48,7 55,4 48,0 37,1 675,0 56,3 8%
Lagosta 115,1 112,1 26,0 7,1 45,0 13,8 42,8 88,9 56,6 41,5 43,0 23,1 615,0 51,3 7%
Ariaco 48,5 52,5 52,6 25,8 49,3 42,2 37,6 39,0 50,1 39,4 28,8 22,2 488,0 40,7 5%
Sirigado 73,2 34,7 84,5 45,2 45,2 20,8 10,8 18,3 17,5 14,4 12,4 11,5 388,5 32,4 4%
Cioba 68,7 43,5 26,9 31,4 35,4 19,1 17,5 46,6 32,1 30,9 22,4 374,5 31,2 4%
Cangulo 47,6 49,8 55,3 62,9 38,8 16,3 10,2 2,9 2,4 2,8 2,6 3,8 295,4 24,6 3%
Carapitanga 0,0 0,0 0,0 20,8 71,4 31,4 23,9 30,3 35,9 32,7 3,1 23,3 272,8 22,7 3%
327
pesqueira entre todos municípios do Ceará, o que justifica ser este o verdadeiro
ícone marítimo da cidade.
Os paquetes se destacam no Ceará por representarem maiores
percentuais numéricos em vários municípios sendo os principais: Paraipaba – 92%
(93); S.G. do Amarante – 92% (126); Caucaia – 89% (72); Fortim – 86% (187);
Paracuru - 81% (143); Cascavel 81% (128), embora em termos absolutos o maior
destaque esteja com Trairí (66%), Aracatí (71%) e Icapuí (45%), percentuais
correspondentes a 228, 218 e 197 unidades, respectivamente (Tabela 21). No
entanto, parece não existir compatibilidade entre esforço de pesca e produção, pois
seus maiores valores foram obtidos em Trairí com 282,4 t (49%), Beberibe com
230,5 t (56%) e São Gonçalo do Amarante com 205,8 t (82%).
328
4. CONCLUSÕES
330
REFERÊNCIAS
BLAINEY, G. Uma breve história do mundo. 2 ed. São Paulo: Editora Fundamento,
2010. 336 p.
332
IBAMA. Boletim Estatístico da pesca Marítima e Estuarina do Nordeste do
Brasil – 2006. Tamandaré: Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros
do Litoral Nordeste, 2008. 385 p.
OLIVEIRA JÚNIOR, G. A. de. O encanto das águas: a relação dos Tremembé com
a natureza. Fortaleza: Museu do Ceará - Secretaria da Cultura do estado do Ceará,
2006. 171 p.
333
VIEIRA FILHO, D. Construção naval tradicional no Brasil – Canoas. [S.l.].
Disponível em: < http://www.mao.org.br/fotos/pdf/biblioteca/vieira_01.pdf > Acesso
em: 01/02/2013
334
ANEXOS
335
ANEXO A - Título de inscrição da embarcação (jangada Viviane) emitido pela
Capitania dos Portos do Ceará.
336
CONSIDERAÇÕES FINAIS
338
GLOSSÁRIO
ALMADIAS – Espécie de canoa, movida a remo, com casco estreito, comum na Ásia
e em partes da África.
BOCA - Maior largura do casco de uma embarcação, medida na maior das seções
transversais do casco (seção mestra).
CALÇO DA BOLINA – Na jangada de toros (piúba), o “estrado tem dois calços para
a bolina – calço do mar e calço do Sul – isto deriva diretamente do fato de existirem
na linguagem, o bordo do mar e o do sul (Ceará). Na jangada de tábua, é a peça
339
posicionada no plano diametral da balsa um pouco a ré da carlinga (banco da vela)
onde engaveta a bolina quando em utilização.
CAVERNA – Cada uma das peças curvas e flexíveis, de madeira ou metal, que
partem perpendicularmente da quilha, compondo a estrutura transversal do casco. O
conjunto molda o formato do casco da embarcação, sustenta o revestimento exterior
que é nele fixado e consiste no principal elemento de resistência aos esforços
transversais impostos ao casco.
340
ESCOTA – Cabo de laborar que prende o punho da vela, utilizado para caçar ou
folgar o pano. Seu movimento controla a posição da vela à direção do vento e a sua
tensão regula a superfície vélica exposta e o aproveitamento da força do vento.
LABASSA - É a peça de madeira que faz a união entre as duas seções simétricas de
cada caverna e as prende a quilha. Na jangada e paquete de tábua, é a seção da
caverna que fica transversalmente no fundo da embarcação e que nas suas
extremidades, recebe os cabeços que são fixos nas tábuas laterais.
PONTAL – Distância vertical entre a quilha e o vau (ou latra) do convés principal,
medida sobre o plano diametral a meia náu.
341
QUILHA – Peça disposta em todo o comprimento do casco no plano diametral, na
parte mais baixa da embarcação; constituí a “espinha dorsal” do barco, onde se
apoiam e fixam-se as cavernas.
342