100%(2)100% acharam este documento útil (2 votos) 1K visualizações210 páginasSTRATHERN, Marilyn - Parentesco, Direito e o Inesperado Parentes São Sempre Uma Surpresa
STRATHERN, Marilyn - Parentesco, Direito e o Inesperado Parentes São Sempre Uma Surpresa
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MARILYN STRATHERN
Parentesco, direito
,
eo inesperado
Parentes sao sempre uma surpresa
——
Tradugio
Zagatto Pat
g@
editora
unespMarilyn
na Cambridge
1012 Edicora Unesp
Sumario
(owxtt) 3242-7171
tL) 32424
Pyrte L— Origens divididas
>: Origens divididas.3
Os dois corpos da erianga. 5
ferramenta 10
ins divididlas 15
Jo 1 ~Parentes sio sempre uma surpresat
nologia em uma era de individualismo. 25
na cra de individualismo . 26
Acrescentando debate. 29
aceresses compartilhados ¢ individuais. 35
recombinantes . 4
Pensando sobre parentes. 50
ule 2— A cir
iahecimento isolado. 73
impliciea . 69
lagdes em todo.
© parentesco desvelado . gr
Aviso. 99
8.79Capfculo 3 — Propriedades emergentes . 105
1.107
Origens m
Unna analogia 119
Ips
Prole em propriedade 125
Informagio em conhec
Relagdes ens
IIL. ise
Parentesco & vor
Af
ages. 144
weRtO. 151
informacional.. 160
Parte II -A aritmética da posse
Introdusio: A
emética da posse . 179
Concepsio por intengio 182
Deixar 0 “conhecimento” de um lado, 184
Aatitmética da posse 191
Capitulo 4 —A patente ¢ o Malanggan . 201
Apresentando 0 corpo . 202
Encantamento, 206
‘Oretotno & Nova Inlanda = 1. 210
Pater
indo a tecnologia . 219
retomno a Nova Irlanda — 2. 230
Capitulo 5 — Perdendo (a vantagem em relagio a) os
FEgUrSOs ii
Tags
Jectuais . 24s
Os renmos de urs acordo . 248
Trad
nodeenidade 253
VI
H2s7
Posse sobre 0 corpo. 260
Pessoas totais: coisas. 266
agentes 278
Descontextualizagio 287
Recursos inelectuais. 293
Capitulo 6 — Origens divididas e a aritmétiea da posse. 297
1.297
Tl 304
Cont
as pessoas: Muri 304
Mundos andlogos 308
Contando ancestrais: Omie 312
quem faz 318
Propaganda imagens 323
WL. 327
Produtos intelect
Quem poss
Posse de pessoas?
Origens singulares e mleiplas 341
Matemiéticas aplicadas. 345
IV. 35t
Referénciss bibliogesficas 357
indice ndstico. 381
{ndice remissivo 387
VilPreféicio
Anteopélogos usam relacionamentos para desvelar relacio~
hamentos. O artificio est no ceme da antropologia social, ¢
sv antropélogos também 0 encontram no cere do parentesco
Fate liveo,
fnbora no seja mais um do género, nio teria sido
ppossfvel sem a onda de escritos antropolégicos feitos sob
\ cubrica de “novos estudos de parentesco”, Eu gostaria de
creseemtar.uma nota de rodapé sobre o papel que apelos &
| relacionalidag) ocupam nos estudos antropoldgicos da vida
sociale augerir por que deveriamos aos interessar por cles
Uisses apelos sto feitos a um fenémeno tanto dependente (de
certos modos de conhecimenta) quanto onipresente (na s0-
cledade humana).
Uma das mais dh
douras questdes merodoldgicas da
nuzopologia & como mantec, na mesma visio, © que io
clarameate construtos culturais ¢ histéricos ¢ o que 40,
evidenterience, ceguralidades sobre a exist@ncia social? O
aque consiste em especificar um sem diminuir 0 outro, Se
cate texto é ums centativa disse, por sua propria natureza ©
presente trabalho deve ser incomplete, precisamente deviclo
IXMarilyn Straihern
as citcunstancias especificas que tém sugerido 0 parentesco
como um intrigante campo de investigagio. Oca
(“constr6i") 0 exercicio,
adas nos hoves
GERIAOE de parenzesco) Eseuclos sob essa rubriea enfocam a
Tais circunstancias especificas sio sumat
eva veflexiva de construtos analiticos ¢,
tureza rel de construt ito frequen-
yi kemente, os modos como as pessoas lidam umas com as outeas
sob o regime das novas tecnologia, com o estimulo 3 reflex
Vidade nativa que isso traz; as pessoas passam a fazer novos
tipos de conexao entre sua vida e © mundo onde vivern, Muito
clo que se segue seria familiar @ essas preocupag6es, especial-
mente na primeira parce, A Parte Labora contextos nos qu:
as novas tecnologias médicas levan
am questées para famylias
eparentes. Esses contextos toenam-se, aa Parte Il, um contea~
Ponto para anlises comparativas, Os ensaios, entio, partem
de mater
amplamei
presentes nos Fstados Unidos ¢ no
Reino Unido (e, no primeito capitulo.
na Austrdlia bran
Preparando o terreno para falar sobre a Melanésia, a Amazdnia
« (brevemence) a Austrilia aborigene, Sio descrigdes das con-
sequéncias da relacionaicae tanto em termas de dados co
cm Sia oiganizagio; virios dos ensaios
sentido, dispondo do termo de maneira semelhante a0 uso d
feito
grande parte da escrita antropoldgica
idade’ strato atr
nentos-{€ sublinhada de modo convene
amo um valor
+ €pekceptivel pelo direito. Perpassando esses ensaios
comentitio sobre modo come ojpensamento juridico mo- |
dernista a0 mesmo tempo eria uma abertura parae desencor
predisposicdes no que diz eespeito ao pensar em termos d
xX
Aceves
Paella, Tieite 0 iusperado
1s. Parte | apresenta 0 direito euroamericano em sua
Parce I mostra introdugio de categorias legaisem
asa elas —em alguns casos, em nome
panga; €M OULTOS, Con nalitico por parte do
dor. De um modo ou de outro, nao se deve negligen
jnagio ea ingenuidade dos advogados 20 lidar com novas
estes, Conceitos desenvolvidos em nome da propriedade
da cigncia enquanto produto
nologia tornou-
radedi
1s pata a sociedade resolver; a bio
{na qual a soctedade responde (NOWOTNY:
200th) en
stas, in
ceressa pelas pautas dos espec
pesquisa, Evident
a bi
os peritos no
n pessoas que ou
ce advogadas. E isso no apenas porque
a dos indivicuos a ponco dle as pessoas terem que
is também devide Aguile q
ses diffe
sa. O que emergitt como
0 (20 menos no Reino Us
sz. com
ila ee
3Marilyn Sirasbers
com o Relatério Warnock, em 1985 [WARNOCK, 1985]},
qual seja, a questio dos limites ¢ de onde estabelecé-los, per-
rmanece presente.
Em um registco menor, se 08 euroamericanos nfo fazem a
pergunca (em que tipo de pessoas estamos nos transforma,
do?) sobre a humanidade, entzo poderiam perguntar sobre a
sociedade; que consequéncias as decisdes das pessoas tém para
o tipo de sociedade na qual gostariam de viver? Aqui, interesses
individuais emergem como questdes contenciosis. Técnicas
que foram calorosamente recebidas pata resolver problemas de
potenciais familias nucleares podem ser vistas como suspeitas
se tém como resultado final mais familias com pais solceiros
‘ou maes solteiras. Nio obstante o desejo de ter um bebé ser
considerado completamente natural, 0 desejo de ter um filho
de um jeito especifico ou para um propésito especifico pode
ser visto negativamente, como um exemplo de egofsime paren-
tal E improvavel que consideragbes sobre as consequéncins
pasta a Humanidade ow paraa Sociedade estejam, pata os mais
envolvidos, entre as tarcfis mais diffceis; no entanto, dissemi
sados pelo fervor da imprensa que coloca constantemente os
casos sob 08 olhos do piblico, para todas as outras pessoas €
sim, dificil pasar no fendmeno
© ano de 2002 trouxe a histéria de umm casal surdo que
intencionalmente teve um bebé surdo para corresponder &
sua prépria condigio; foi o segundo bebé do casal, quando 0
8 Procedimentos no Reino Unida pars obtensio.
consentimenro da
mulher para uso de seu tecido fetal (para pesquiss, pds umn aborto)
cexplicitamente precaviam a mulher de fazer qualquer declarasio
de como ela preferiria que 0 reside Fosse utilizado (ver Nuffield,
2000, p 9
32
Parente, dveto «0 inesperado
primeito tiaha quatro anos de idade. Isso aconteceu por meio
de doagio de esperma nio foi preciso envolver nenhuma
biotecnologia”, mas a histéria cabe petfeiramente no género
de
parentalidade de pessoas do mesmo sexo, porque ambas as
stérias sobre “manipulagio genética", Também era sobre
sarcciras cram mulheres. “Bebés, modelacos para secem sur
dos” [Babics, deaf by dsign) foi uma manchere na qual ecoava 0
debate sobre bebés modelados, criados pela nova genética (T be
Australian, 16 de abril de 2002).° “Ser surdo [de nascenga]
Eapenas um modo de vida. Nés nos sentimentas complecas
como pessoas suirdas ¢ queremos compartilhar os aspectos
maravilhosos da comunidade sur.”
Ao comentat essas palavras, de una delas, o reporter do The
Australian observou que as mes modificaram a surdezs de defi-
ciéncia para diferenga cultural, Sua decisto, portanto, destacava
ha auténoma. © que foi planejada pelo casal
enigma da ese
como peeleigha era, para 0s outtos, um projeto de deficigncia
Perceb-se que 0 projeto de perfeigio, para o casal, nfo era se
roproduzie ~ 0 que dependeria de caprichos da recombina-
gio genética, mas, sim, eriar crianges que replicassem sua
caracteristica detioa compartilhada: a surdez. Bra essa a nica
caracteristica que queriam ver em seu filho ou filha. las de-
9 Un tema central nas discussies gerais sobre téeniens de reprodugho
assistida que acompanhou os argumentos austealianos sobre pes
quisis com célubss-tronco em 2001. O monitoramento de docngs
nplo, por meio de diagndstice
a em rica Savutesc,
nética de
o deficitncia, por ©
pré-implancasio 6 outro cena. © especial
m 19 de junho de 2002, comentav que
tentrevistodo pelo Th Age
muitos genes nfo tm nada a ver cam as doengas~e, 0 entanto, sA0
as doengas gue Frequentemente justficam © avanga nas pesqpisas
ginicas.
33clararam sentir que poderiam cuidat com mais compreensio de
uma crianga surda do que de uma crianga com audicéo normal
O casal foi retratado como eg
ta por no pensar
Aomesmo tempo que elas destacavam o senso de pertencimento
edo compartilhar vinculados a ser membro da “comunidade
surda”, o jornal destacava o fato de que os surdos sio excluidos
da sociedai
rian
convencional. “Mais cedo ou mais tarde, essas
ctiangas terdo que encarar o mundo da audicio”, observava 6
jornalista que descreveu o imenso sistema técnico que as ampa-
rava eas auxiliava na comunicagio (por telefone, por exemplo)
Interesses em comum ao mesmo tempo uniam e dividiam, ea
sociedade convencional tem interesse suficiente nessas criancas
pata manifestar julgamentos fortemente av
tivos das decisses
parentais.
O caso, ocorrido em Maryland (Estados Unidos), foi re~
Jacado na imprensa australiana tanto quanto 0 foi ao redor do
mundo. A questio levantada para o pablico — como pensar a
decisio das mies? — &, parentemente, oniptesente. Embora esses
tipos de questdes sejam debatidos tendo em mente questies
locais, e muito embora os regimes regulat6rios sejam diferentes,
elas repercutem em tons parecidos. Os dilemas
panhando a tecnologia, isco 6, os debates afloram de formas
surpreendencemente similares em contextos
Afirmo isso tendo em mente o trabalho de Bonaccorso (2000)
10 Discussses piblicas sobie maternidade de substitaigio nos anos
mitico. O Reino Unido dist
Estados Unidos no que concer
embora
tenha sido
comeing “nB9 bret 0 Sudo dy [> dejo de 2003]
34
Paeneeo, ditto «0 inesperado
ques, baseado em seu estudo sobre entativas de casais de criar
‘lias por meio de reproducao assistida, chegou 4 mesma
jo
nel
4 sobre as priticas italianas. Procedimentos de big
m diferir, mas © modo como os valores sio ponderados €
dem a favorecer certos tipos de arranjos familiares parece
masenso geral sobre as causas
nutito Familiar, no meio de um cor
anto da congratulagio como da perturbagio, ;
Ora, o empenho do casal surdo pode conduzir 3 oposigéo
olha individual e os valores péblicos mais comuns.
Contudo, prefiro formulas da seguince maneira
vemos uma
ineeracio entre o que sio, na verdade, dois conjuntos de valores,
pdblicos — os quais, por sua vez, podem ser harmoniosos ou dis-
sonantes. De um lado, a autonomia ¢ 0 individualismo por cla
promovido; de outro, o altr r
Ambos os valores inscrevem-se nas reagdes
mbos podem tomar rumos positives ou negativos:
smo ¢ 0s interesses em comum.
piblicas 3 biotec-
nologi
Interesses compartilhados e individuais
[A titulo de exemplo, enfoco brevemente questdes concer-
nentes 4 composicéo genética, O imaginério ocidental (euroa-
mericano) rotineicamente representa a individualidade por
Gxouumespe :
1 hl anor fa pre de ua perssenteconfiguasio
Senna pan capil 6)-Nio eos plara "scram ee
devas dict sb med con cue so
efade de cles nga do Ou os
dade soca
acm éties para quem o pagamento das doadoras
no.)
termos da capacidede de s
colocar-se sob ums aogio mais ampla de sensi
35Marlyn Stratbern
meio dos coxpos tinicos e singulares das pessoas, ressonante
na compreensao dos modelos genéticas anicos. Ninguém
tem a mesma exata combinagao de genes, 3 excecSo de gémeos
idénticos. A percepgio da individualidade e 0 valor do indivi-
a
combinagio de genes é repetida & exaustdo ~ uma descoberta
ismo caminham juntos, ¢ a relevincia da singularidade da
do século XX tao facilmente absorta em nogdes preexistentes
sobre individualidade que é, dentre outras coisas, a possi
dade de comprometer essa singularidade que faz da clonagem
algo tio ameagador.®
A singulacidade corporal é tanto um signo quanto um sfim-
bolo euroamericano de autonomia e respeito pela pessoa como
individuo (para uma discussio recente, ver Davies e Naffine,
2001; James e Palmer, 2002). Realmente, a propria
dade do corpo & 0 sujeito de direito. Por conseguinte,
do atual questionamento sobre as células-tronco embrionérias
evoca uma angdstia anterior sobre pesquisas com embrides
Paradoxalmente, a biotecnologia, que, sob os olhos de alguns,
destréi seres individuais, também se tora o mesmo veiculo
12 Mas no se dove exagerar 4
ido (HGAC, 1998), sabre qusstdes envolvendo
gem, enflticos 80% disseram “aio” idaia de que a criagfo de um
clone de um ser humana seria etic
encrevistados fcatam dividi
to 20 caso, Em uma consulea, no
Reino, lo
nente aceieivel. Os mesos
nce da questto “Acé que posto
pessoa pode ter dieitoa uma idenridade genética individual
41% pensam ter esse direto, enquanco 50% levantatam a questo do
caso de gémeos idgnticos argumentando que a identidade€ sempre
mais do que ge
(2002, p44) india, com ef
fo contexto é, obviaments, importante). Savill
sobre como 0
observagée legs
genstipo distintivo de um feo confere-Iheindividualidade me
cle estando no verre da me
36
ce dirs €0 isperado
por meio do qual a propria “individualidade” das caracteris-
ticas embrionSrias se evidencia, E & o carter intervencionista
da biotecnologia que nos leva a formular obrigacdes: como
racar os ousros.”” Aqui, o embrido pode ser retcatado como um
membro frigil e vulnerivel da espécie que precisa de protegio
especial
A individualidade da composicio de uma pessoa também
tornada
uma qualificagio interessante. O fato de o diagndstico genético
oferecera possibilidade de alguém ser capaz de dar sentidoao seu
el por meio de seu peefil de provivel satde, com
proprio genoma tem,20 mesmo tempo, estimulado um aumento
lade — o que se herda dos
outros ~ na transmissio de doengas, Nio obstante, é0 que ests
20 paciente, 0
do incezesse no papel da hereditar
rewnido em seu genoma individual que import
que pode ser visto tanco como positive quanto como negativo.O
Capitulo 3 aborda o impulso das pessoas em procurar parentes
para além de suas familias nucleares a fim de recuperar informa
Ges sobre si mesmos e suas perspectivas médicas. Também h&
evidéncias, majoritariamente dos Estados Unidos (DOLGIN,
2000; FINKLER, 2000), que
wgerem que algumas pessoas
BG
genético, &
pessoal pelos comportamentos ¢ até "a perda do individualismo”,
anunciado pelo filésofo social Fukayama (The Australien, 27 de maio
de 2002). A biotecnologia nas faz pensar mais acerca dessas
‘Ses, conquanco nio se deve despreair quem despreza outros (como
no conteapor
0 de que haverd um declinio na sesponsebilidade
9 pesquissdor que,a propésite de um debate sobze a paventeacio de
material genético humano, refe
seeocupagbes iecelerantes” (apud Ne
se de mancita a menosprezar a
98, p55).
37Me Pavonero, dicts ¢ 0 inasperadle
ito de solidariedade €
formagio Oce famo. ge
penas para ob
de
cles." Isso ¢ria ”
esse tipo de
ido um pouco de I ss de come, nds tados coy
possibi
F resumido da seguinte m:
mnilias genée humano bisico, embo
mesmo geno}
deo
sjos membres s dom gue nos dis
ni de set
corpos
que
ados — desprovides —
10. O individ)
exses lagos yenécicos podem see desart
de lagos soci
opa sobre oo odidae
os da pesquil
Jassos intenesses comuns pelos
Por outro lado, & claro, os genes nio sio de modo algam médica. (HGC, 2002, p.38)
© que v
a mesma ga
(DNA) que, co
todas
por visbes
dade piblica cont
| por poucos.
zee declaracées sobre 4
jedade se torna
nanos. A nocio de interesses comuns, no entanto, come,levantar questSes de posse de um tipo de quase propriedade."?
cas de uma humanidade comum
j alg
acerca de quem deveria usufruir de seus frutos: quais deficita-
Isto 6, ainda que as caracter
possat ser levadas a produzie recursos,
competigio
cias devem ser cracadas, quem deve ter acesso 3
formacio
produzids, quem deve se bencficiar do desenvclvimento dos
produtos farmac@uticos, Iambéin fica mis evidente o que esti
imp
incluso em um nfvel (sodos nds temos [mais ox menos] ©
10 no modelo de humanidade comum, que um senso de
mesmo genoma) corresponde a uma exelusio em outro (outras
espécies ficam de fora),
Agora, 0
© da hereditariedade diz respeito a pessoas
lidando com as consequéncias da descoberta de conexdes
gené 4 ificagoes
abstratas para um compostamento ético. Apesar dessas dife-
nto © caso da her:
ca
\ga remont
renga, sugiro que ambos impulsionam atitades amplamente
familiaves ns " do Ocidente (eu-
roamericano). Frente a isso, nada poderia parecer mais distante
do que uma rede de parentes na qual as Lagos sao traradas de
adas fa
apenas as menores unidades se unem para formar Familias
modo
lias genéticas), em que
res), €0 corpo inclusivo dos seres humanos forma uma
17 Eo pertenciments z é
pertencimento comecaa parecer uma capécie de recurso, Ass
pode-se refers
terme "propriedade” em inglés, como em “propriedade comum ci
hhamanidade”, Para um argumento mais explicitamente favor:
riedde” [propemisavon], por exermplo, de recursos
lo 6). Helmreich (2002) faz um
seressante comentirio cobve a nagia de:
recurso de exploragio,
Parents trite «0 isperad
dade" em um nfvel fundamental no qual nao se deve in-
terferin Nao obstante, mude um pouco a perspecti
es
‘0 a comunidade da humanicade ~ sob esse ponto de vista,
fa
exclusiva aparece como um indisfduo em grande
ene
incernamente nfo diferenciada— surge como uma
siva em grande escala. Quer nio contem os patentes préximos
~ como no caso dos avés em Washington —, quer a provegio
10s com Outros
se estenda apenas & nogio do que compartilham
seres humanos, a Familia cuida de si mesma,
fluéncias que a biorecnologia exerce sobre aima-
sginacio dir respeito ao seu poder de incervi ema realidades que
jf descmpenham um papel no mado como as pessoas pensam
si mosmas. Hereditariedade ou heranga, em assuntos humanos,
em contextos mais estreitos ou mais amplos, pode-se pensar
em genes. F as imagens-limice da “familia” fazem seu trabel
intio espectfico € al-
cduas vezes. Ao mesmo tempo, éss° im
jvo. Ha muitas outras coisas que sabemos sobre
camente se
famflias, Poreanto, nfo presumamos o que elas so; recuemos
uma segunda vez. para retornarmos 3 famnflia comum com &
gual jé nos encontramos
Familias recombinantes
Eis uma surpresa. Os avés em Washington que peticiona~
ram por direitos de visitagio descobriram que os eribu
BA Declaragto! sobre « Diversidade C
ade da
1m di humanistade”. Quando esse lugar 0
2001, refere=se3 "us
gio Universal do G
idade fundamental
1997), acrescenta-se:
de todos os membros da fa
efertncia’ famiyn Strathern
acribuem um peso diferente 3 familia nuclear. Mas © que era
ssa familia nuclear?" Quando da primeira audiéneia, a mie jé
estava casada pela segunda vez. O lar onde as meninas entio
‘iviam inclufaa mie, seu novo marido— que logo as adotou—
um filho do novo casamento, trés criangas de um casamento
anterior da mie e duas eriangas do antigo casamento do atual
marido: a0 todo, uma prole de oito criangas, embora nenhum
dos casais tenha tido mais do que dues ou teés junto. Com efei-
0, Simpson, um ancropélogo britinico, 20 observar arranjos
similares no Reino Unido, faz 0 trocadilho de que as conste-
is “difusas” do
resultantes produzem familias muito
impson (1994; 1998) estava comentando sobre
ndmeno que aparece em muitos arranjos posteriores a0 divér-
n fe-
na Gra-Bretanha, Nao parece haver, de imediato, nada de
desfavordvel nesses arranjos familiares artanjos semelhantes
podem ser encontrados em diversas épocas e lugares, como
no exemplo francés, dado por Segalen (2001, p.262-3), de
19 Valea pena observar ine a decisio judicial ~ a deliberagio
que primeico
julgou o « pasar mais t
de qualidade com os peticionados [os avés], desde que 0 tempo
seja balanceado com o tempo passado com a familia nucleze
P
criangis. A corte entende reresses das criancas
filhos de seu padrsseo” (spud Dolgin, 2002, p.375, ineluindo os
colchet
)-A Supeema Corte dos Pstados Unidos, com suas préprias
razSes para valorar a familia nuclesr (eelacionada & autoridade da
nie sobce as criangas)
corte em
) No ori
fel estadual favorecera uma far
Pareneso,dictoe 9 iesperado
dlivércios consecutivos em trés geracbes—coma excegio de no
se encaixarem no modelo de “famflia” que temos considerado.
Eles nio sio mais restritos nem mi
amplos; nfo possuem
fronteiras claras. Antes, unidades originérias de ourras famflias
se unitam para formar uma nova. A surpresa reside em ver 0 que
acontece: a dissolugio leva, frequentemente, 4 recombinagio
(cf Bell, 2001, p.386).
(O pano de fundo é bastante familiar. A Gri-Bretanha possui
2 com mais de
a taxa mais alta de divércios em toda a Europa;
metade dos casais divorciados em 1990 tendo um filho ou
filha de até dezesscis anos, o indice pode ag.
ter atingido
tum nivel de estabilidade — com, no entanto, um configuragZo
particular, Apesat dos rompimentes, tanto a familia como
casamento continuam populares (um em cada trés casamentos
m recasamento) (SIMPSON, 1998, p.viii). Esse mesmo
cenério também ocorre na Austrélia (grosso modo, um tergo
Dez
de todos os cesamentos consiste em um recasamento)
21 As imagens de Simpson aqui vém de UK. Mavetge and Diver Stavsier
1990, 1994, 1997, 1998 ¢ Sodal Trends 1994. Sobre a déeada 1990-
2000: aim di
divorciando até 2 anos apés 0 c2
de 2001 aponta que mais de um
tem filhos de um casamento a
cio para cada dois casamentos; muitas pessoas se
{intimeros per
“Também relaraese 0
22 De acorde com © Sun Herald de Sydney (23 de janeiro de 2000
as estaristicas vm de Anstralia Now, a 5
Bureau of Statistics), Hewsebold and Fi
Australie, 1998
BMaris Stratos
milias australianas”
Herald (Sydney, 23 de janeiro de 2000) anunciow
ma série de estatisticas referentes aos anos de 1996 a 1998,
Ss que voce nio sabia sobre as
como o
com a incengio de se
preender 20 mostrar quio tradicionais
persistem 05 arranjos familiares australianos ¢, a0 mesmo
Fempo, quio propensos a mudancas eles so. As mudancas
concentram-se, por exemplo, na diregio do aumento das tax
de divéreio (40% de vodos casamentos apés os 30 anos, bei
tando a taxa de 50% do Reino Unido) e no aumento da idade
em que as mulheres viram mies; nio obs
inte, a tradigio é
evidente no fato de que a maioria das criangas nasce com seus
Pais casacos (70%) e que mais de 70% das criangas menores
de dezeito anos que moram com as pais vivem em uma fam
nuclear (mamie, papai as filhas ¢ os filhos que eles tiverar
juntos). No entanto, um senso de mudanca é inrroduzido
pela projec de que 309
las criangas com menos de quatro anos
solteiro ou mie solteira até
estario vivendo em familias de 5
dos quais a maioria so fami
de mies solteiras). O tradicional ¢ o nao tradicional existem
lado a lado.
Nio é novidade observar que o valor attibuidl a casamentos
¢ familias ese
or do que nunca; como eles sio compostos
le certa forma correspondente « essa € citada por
1002, p34): 2 proporgio de cr
égicos” nos
25 Uma imagi
comparagio prop: ogrifica, e
mpouco deseja superestimar essas imagens, Uma ampla variagio
tas priticas des pessoas,
nto em termos de extensio como de
porcentagem, encontra-se ao lado de avaliagdes e questionamentos
ares sobre a natureza da vids familiar e as eendéncias
+4
Pesenteso
rita. insperads
icra histéria. Na Austrdlia, uma alta proporgio de crianges
«com 0 pai ¢ a mie “biclégicos”, mas também hé muitas
vivem com apenas um dos dois, quer numa familia de
soltciro ou mie solteira, quer numa familia recomposta,
composta” 0 termo que Segalen (2001, p.259)
que, como no caso em Washington, sio formadas
das famslias anteriores. O alto indice de
3 0 compimento
ivércios atualmente traz & tona essas familias recompostas ¢
1s torna visiveis. “O divércio € ponto no qual o cas
4 oficialmente dissolvido, mas € também 0 ponto em que
princfpios, pressupostos [e] valores (...] acerca do casamento.
dda famflia e da parentalidade tornam-se explicitos” (SIMP-
SON, 1998, p.27). Com efeito, Simpson sugere que a nov
dade é até que ponto essas recamposigies passam a fazer parte
ntos podem se dissolver ¢
nento
do tecido da sociedade, Os casa
muitos lamentariam 0 indice que a dissolugio atingiu, mas
Familias se ree
assim dizer, hé uma no
relacionamentos.
1s ordinérias esto indicadores
. Ela se
Inseridos nessas c
do que também € interessante sobre a biotecnolo;
dos ards na Franca,
Ey doe:
Stee ce py dude anpac
crucial a arranjos geralmente fluidos, mo tempo que © avd
rset rd sep de tees sol
Seu iton potion Uns em ets oe :
termina em divércio. Quando: mies solt
ora peng
nitos na Fe
sepatida ou divoriada
45Marilyn Strthera
tomou parte do tecido social: “A TRA [eccnologia de repro-
clustoassiscidal] é atualmente, parte integrance da sociedade”,
para citar uma observagio proveniente da Aust
(CUMMINS,
2002). O que tememergido furtivamente é um
indo n0 qual, por exemplo,
ideia de repor partes perdidas
de corpos — ou mesmo os corpos de pessoas falecidas — aio
¢std muito distance do conhecimento de técnicas de transplan-
tes de Srgios ou de pedidos reivindicando © material repro-
dutivo de um cénjuge falecido, Procedimencos de concepcio
assistida que oferecem um remédio para pessoas
apazes
de conceber fillhos também encorajam outtas pessoas a org
carreiras com a expectativa de
Obviamente nessa rea (da concepsio a
quando
ma paternidade tarda
ambros de uma fai
precisam tomar decis6es que
dizem respeito a outro membro, por ex
a vida no nase
plo, sobre prolongar
nento ou na morte ~,a biotecnologia tomou-
¢ um fator no modo como as pessoas lidam com suas vidas,
El acre
centa seu préptio campo de recombinacdes a0
necessério pata conceber fithos, E é, parcialmenee,
+ © quanro
as aplicagdes da biotecnologia interferiram, por s
vez, na
formagio de familias, que nos deu familias recompostas. De
sua perspectiva francesa, Segalen escreve
{Aoadotar] novas disposigaes jar
icas que refle
as novas
utitudes diante do casamenta ¢ também ecoam o desenvolvi-
mento das biotecnologias desde os anos 1970, 08 juristas desar-
wm casamtento e fliagio (a relagZo reconhecida de sucessio
entre pais filhos] . Mais criangas [
de uma presenca paterna, embora 0 pai [no seja 0 que parece]
© pai, de acordo com 0 Cédigo Napolednico, foi o hon
46
Parenteso, dicta e inesperede
seus genes, dou seu nome e, cotidianamente, eriouw 0
que de
1 em sua casa, Essestr8s componentes de filiagdo foram dis-
sociados nas familias recomposcas. (SEGALEN, 2001, p.259
Os juristas podem rer dissociado casamento efiliaglo, mas,
smas, a tecnologia repro-
conforme as pessoas dizem a
Jo e concepgio. Se voce olhar para a
dutiva jé dissociow fi
familia nuclear comum, voce pode muito bem descobric que
0 genitores foram ajudados por um doador O que acontece,
entio, em familias legalmente recompostas por meio de divér-
cio eadagio também acontece na parentalidade biotecnoldgi
os na medida em que os componentes férteis para
lonstituie uma crianga podem ser retirados de diversas fontes,
dedi
Podemos supor que familias compostas por outr
SOS COrpos.
lias, com filhas ou filhos j4 concebidos, se
distintas das familias que procuram aumentar por
tro. Mas ambos os
dloacio de gemetas ou da fertilizagio
cipos de recomposigio podem apacecer de maneira combinada,
essa combinagio
Novamente, 0 divércio ou ago tor
se
visivel, © em seguida aos rompimentos ouvimos muito sobre
a disputa do diteito de dispor das embrides congelados, por
exemplo.” Esse é 0 momento em que as combinagdes devem
outtas ditctos, come 0 de heranga de
25 (E colocam problemas pa
propriedade,) Este tipo de comentario fo!
hnotoriamente, em relagio 3 mater ce-se que, em seu relaro,
fo 3 fragmentag 2 recomposigio.
foi uma ago de di-
aMarilyn Stott
aso, em Rhode Island, que envoly
1s do mesmo sexo que ti
~cénjuges cequereu diteito de visita em rel
nascida de sua parcei
a por meio d
ar (DOLGIN, 2002, p.402-4). O que
pco de tipo
agio artificial que
nga durance 0s 4
ro anos em que
istados 08 p
. seu pedido acerca da ascendéncia tenha sido d
ado, Nesse caso, a autoridade da “mide biolégiea” da c
teve ques com os interesses da oucra pare
que relvindicava direitos 4 cop.
se na apelagio e
Paenteso,dircite¢ 0 insperado
nada se nfo recombinantes. Seria
ssas familias nao
smentar referente so cel
-se de uma nogio ¢
senvoh
ar complexo,a saber, que as téen
de DNA cram,
o menos no inicio, descritas como permissivas
gSes genéticas de organismos muito
agbes ge %
. 2002, p.320). A habilidade dos
DNAs di
€ recombina: ates)
bidlogos de “elivar [10
data de 1973 (REISER, 2002, p.7)
m termo apropriado para as formas
as desenvolvem;** sua for
har parces ou de
ido, mas de corta
mowgiclas erm aim fo
de tal modo que os el
neepeio, embora o DNA de um bebé
separadamente,
e podem idencific
2004, 9.267-9) sabre 6 4
rodegio dos organismos, iste & organisimes gue c
que amp
29 E outros parentes préi
genética, Q uso de testMarilyn Strtbers
sociais da concepgio, como acontece rotineiramente quando 0
anonimato da doacio separa os doadores de seu ato reprodu-
tivo.) Quando utilize
‘ecombinante”, portanto, é no sentido
dle que, a0 separas os diferentes componentes da maternidade ¢
dla paternidacde, escé-se, a0 mesmo tempo, unindo-os de mados
diferentes, tanto em procedimentos de concepgio quarto em
praticas de educagio e criagio [rearing] e, novamente, em com-
binagdes de ambos
Pensando sobre parentes
Hé muito m:
aconcecendo além da “fragmentagio" da so-
desenvol
nento de ecnologia recombi
dos anos 1970 (REISER, 2002, p.7). Eles sabem que no se
deve “culpar” a cecnologia em
mas muitas pessoas incor
ao pensam
fizeram afl
novo fmpeto a fragmentagfo social nos moldes do egoismo.
to de que as novas técni
De alguma maneira, as esperangas e os medos se alinham, de
sofo,
teria uma abordagem “ireaciona
sobre os genes [The Age, 19 de jumho de 2002.) Uma desceig
dos valores deter
o pode ser
lontrada, por
cexemplo, em Nel
aremesco, dscito¢ o iesperade
snodo que esperancas umn tanto quanto utilicérias — como de
co na medicina ou melhora nos tratamentos ~ sio dirigi-
jade ow mesmo danos
\s contta os medos de danos & soci
yanidade, 1:
\estmas como eriaturas
a como as pessoas pensam sobre si
ticas. Q
gumas aplicagdes da biotecnologia es
cerpessoais jf vernadas complexas pelos tipos de decisio que
pessoas comuns, com ou sem a ajuda do
colocat 2 complexidade de
arena de relagées
tempo todo.
[Aqui reside a capacidade dos parentes de nos surpreender:
Divétcios aumentam: a familia continua popular. Como isso
pode acontecer? Embora familias especificas se desfagam
+ geralmente duram. Poderiamos até dizer que a
ki
© coxpo, na medida
‘mas o parentesco permanece.
0 fato de que, na cultura euroameric
sfo evidentes, pode manter-se como
em que suas front
integrada. Conexdes entre pesso:
simbolo da pes
realmente, pensadas como estando fora do corpe, por
todos os tipos de comunicasio e formas de associagio. E no
sec0, no entanto, que os ocidentais pensam as conexdes
pos.” De fato, se eles utilizam © corpo para pensar
Te i, proms eons temo atric comes
i sctados uns aos outros s¢m
pode abranger as
dis nos dixércios, nos segundos (Ferceitos, quartos..)
nos arcanjos de
ieagio, bern
concepgio assistida,
32 Assim como as priticas de parencescoMarilyn Steatora
a unicidade do individuo, também 0 fazem para falar sobre 0
modo como as pessoas conectam-se umas As outras — nio por
meio do que compartilham de modo geral, como tratarfamos
cla humanidade enquanto familia, mas, sim, pot meio do que
foi transmitido de maneiras espectficas. Encifo elas tragam
conexdes especificas (genealogias) ¢ a rede thes diz quio
intimamente relacionadas elas so (graus de conectividade)
© conhecimento moderna da genética endossa esse modo de
pensart os genes fazem cada individuo tinico ¢ os conectam 4
muitos outros individuos préximes — assim como a inconté-
veis mais distantes
© DNA recombinante, isto & 0 DNA em sua catacteris-
tica de segmentos separiveis ¢ rearranjéveis, € um convite 3
intervengfo humana, Ha uma tendéncia, quando se pensa em
genes, em enfatizar a conevio, seja ela restrita (o individuo
Gnico como produto da familia nuclear) ou ampla (toda a
humanidade). Além disso, o DNA recombinance nos convi-
da a considerar as desconexies, a habilidade de epanhae coisas
sepatadas ¢ torné-las partes potenciais de novas constelagdes
“Os genes nao sio nds”, de acordo com o especialisea em ética
Jolian Savulescu, conforme relatado em The Age (19 de junho
de 2002). Ele acrescentou que nfo somas a soma de nossos
qusisquer biosecnologias preocupadas com reproduc incluindo
* sransmissio genética. Algumas implicagies yerais pats diteico
por entender “a inrerconect
lade dos corpas sia ofesecidas por
Herring (2002, p.44). Ele escreve sobre a deagio de drgios "como
uuma reverberagdo da interdependéncia
Comparar com o retrato de Maclneyre (1999), para quem 2 inter.
depencléncia desenvalve-se por meio de selacionamentos com outros
expectficos
Parantesc,dieito 0 inespevad
nes @ 05 genes nao determina quem somos, Sugiro que
isso seja verdadeiro em um sentido muito profundo que mi-
inetizaria as possibilidades proporcionadas aos genes pela bio-
tecnologia, se eles jé no as civerem antecipado. O conbecimento
comm acerea da genética oferece uma escolha; pode nfo haver
escolha quanto ao reconhecimento do parentesco constitufdo
na propria conesio genética (cf. Strathern, 1999b), mas as
pessoas podem ow no escabelecer relacionamentos acivos a
partir dessas conexdes. Elas podem decidir ignorar potenciais
conexdes. Ento, novas conexSes podem ou nio vingar: pes-
soas podem desapareces completamente da vida de alguém,
ou nunca parecer deixé-ls, Ao valorizar ou desvalorizar seus
relacionamentos, 08 parentes tornam-se, portanto, cientes do
modo como esti conectados ¢ desconectados (cf. Edwards €
Strathern, 2000; Franklin, 2003). As familias recombinantes
.am isso muico mais visivel, mostrando como a
apenas to)
exclusio de alguns lagos leva 3 feitura de outros, ou como os
arranjos domésticos ofteecem indmeras permuttagSes em graus
de desconexio.
Entio as pessoxs jé expressam diversos modos de pensar
sobre si mesmas: nio apenas como elementos iselados, se
parados uns dos outros, ou como membros de coletividades
ou geupos, mas também enguanto seres que valorizam suas
conexdes com outios, que — quando as coisas esto indo bem —
conseguem administrar o fao de sere, ao mesmo tempo, au-
tOnomos ¢ relacionais,"* As relagies sociais de parentesco, po-
demos dizer, poem em marcha esse processo cle administragio.
manutengio de sj como invickivel ow ma afirmacio de direitos, mas,
53Marilyn Strathon
Como lidar com ovinculo e«
a farnflia e, 20 mesmo tempo,
desvincular-se dela é
ciedade ocidencal (
ocid
m tema central pata o parentesco na so-
uroamericana). Os regimes de parentesco
aidela de c
ser independente, no apenas enquanto um “membro da soc
is levam ao extrem
rama c
nga para
dade”, mas
nbéin como independente ce Familia e parences.
nar isso: os
Mas, em.
ite com o alto investimento que fazem na lingiagem e
Nio € preciso ser nenhurn especialista para a
e © sabem na manei
como ager
no imaginério de individuos ou grupos, eles precisam de covas
formas de contar para si mesmos as complexidades e ambig
dades dos relacionamentos.
Em decorréncia de tudo isso, hé dois resultados p
modo como os euroamericanos implemencam seus valores. O
ptimeiro é evidence em familias recombi
tes e nas oportuni-
des para novas conexdes. O divéccio teordena 0
Caso se deixe de 0 sio reformadas
ir para as unidades que
ce dirija-se 0 olhar ao rastro dos relacionamentos, encontram=
“se nterconectadas de novas manciras. Os divéecios
625, isto 6, crlangas que wivem as di
conectadas por meio da dissolusio do casamento
de seus pais:
para ae partes. De fato,
o ¢ desconenio; nto
Jo se nig houesse diferenciagia (cf MacIntyre, 1996
34 Se
Parents, dista 0 insperado
sos de familia de uma maineiraacritiea, as possibilida-
vas inerentes
parencesco pa
estudo do divércio ¢
ssoais obscurecem-se [.~]. O
expressio cultural do parentesco, x0 invés de um problem
demonstra a especificidade dos padres
(..] [e] fornece aexpectaciva
om 2 fa
io rlacions
identais de organi
ocalizar de maneira distints os padrées de parentesco euroa-
ds, (SIMPSON,
le
1994, p.832)
los em perspectiva ca
Assim, Simpson faz a positiva sugest#o de que devemos
mesmos. Fica
tratar essas conexdcs como fendmenos em s
fazem isso quande valoram seus
claro que as pessoas
relacionamentos,
(© segunelo resultado pata 0 modo como os euroamericanos
3s desconexdes, Além
implementam seus valores diz,
© que dizer do modo
de deslox
como os noves relacion
© parentesco das f
‘mentos, como a continua ativacio dos
os sociais, podem ser deslocados do parentesco no sentido
pessoas col
difecentes,
pritien, Flas desenham as from
jodes, como os dadas de Simpson evidenciam.
ra o Supreme Tribunal dos Estados
como parte dan
1 Os estatutos de ¥
jento de que os avés so parte
nforme citados em Dol
fis da crianga” (argu
2, p.389). A familia, argamencaria
Per wzea como "um conjunto de
entes
55Marilys Strathern
da conexio genética? As novas “familias genéticas”, por s
frequentemente bascades na informagio médica compartillada
pelos parentes, nfo trariam novas dimensdes ao indivi
G
parentesco
ismo
worrel
eréncia do paciente)? Destocar relacionamentos do
evidensement
doacio
de material fércil € sempre a alternativa apés um divéecio
clio, As; nposigdo de Segalen (2001
260) pode de fato agregar a redes familiares preexistentes de
tal modo que, digain
sep
opa
entem um nadus vivendi —embor:
I6gico co padrasto coexistam
a0 menos na Franga, essa
tendéncia exista especialmente em familias de classe médi
com renda x
mente alta.
m outros setores da sociedade,
a recombinagio pode também apagar unides prévias, geral-
‘mente apagar lacos com o antigo pai em casos em que 6 novo
pai adota as criangas e dia elas seu sobrenome. E isso pode
sonduzir a diversas manciras de ver as novas unidades, Um
mplo briténico (SIMPSON, 1994, p.834-5
a considerar a perspectiva dos avés: 0s pais do maride dizem
ter seis netos/netas,
iangas
nites — cratadas igualmente,
1m apenas os filhos (frutos de dois
casamentos) de sua peépria fil
mas os pais da esposa mi
‘Vimos que tanto a universal “familia humana” generalizada
ma que provavelmence chama
para reagBes diferentes entre parceitos; em a
»de-uma “expansio coptcolada dos elacios
s das permutagées’, enquanto em outros hi
com a desordem da sohtepasigao de
Parente,
eo mesperado
a ou de outra manei
ssimesna de “nuclear”, de recomps
Esses valores de excl
porificam nogées de exclu
1yem coda adiferenga entee familias que defendem fronteiras €
antes (por
as que enfatizam os relacionamentos tecombi
issim dizer) e, em decorténcia disso, vivem a ideia de si mesmos
mo sobrepostos a eutros. Nas primeiras, quando os parentes
coxcluem-se uns aos outros, um cor lodocirculode
como 0s desafortunados avés em Washington
‘outro conjun
xcluis, por conseguinte,& externalizar (os av6s, ent, tiveram
£0,
dle renegociar 0 acesso a0 interior). Nas segunclas, enc
excluis define as condig6es sob as quais as familias se sobrepoem,
sequence. Se
incemna a rede de relagbes s
nem rompimento de casais por meio de
recombinagio."®
descritas s30 artanjos
sistente como modelo de repro
inglés (STRATHERN, 1992
a paral
partir de pessons coma.se aesMarilyn Strattera
genes ¢ seu ambiente ao bebe e seus provedores de cuidado, *
passando pelos parentes de alguém e sew efreulo de amizades —
e cada c
binagao cartega consigo uma identidade cuja dis-
tingio é feita por meio das relagées da pessoa com o mundo.
© que a biorecnologia acrescenta ~ espre
das eé
nente por meio
cas de reproducao assistida — € a chance de ler dis-
tintas identidades soci
10 proprio processo da concep
(como por meio de doagio de gametas, cujas fontes sociais
tém proliferado).'” Contudo, em um certo sentido, nogées
de parentesco nativas
(curoamericanas) jé fazem das pessoas
combinagies de outras pessoas. Nio se trata de perder uina
idencidade, mas de especifics-
0 fato de
io mundo ser
parte de ourea pessoa é tido camo algo que conserva a indivi.
dualidade de cada recombinagio.
indindo naturcza ¢ nae
Espero que
a seja grata a0 que passa
pata 18-13", disse a mie de um bebé de FLV ag
dade (Thy Agr, 24 de julho de 2002
combé
rento era muito mais invasive do que
pec de de leralas pe oo
Ebrae tet amas 8 a idee
substiuisto ede doador de espennn, speraede drat abe
seique tenho apens una mec un pa” Co caal que
ey Morning Hon, 11 de muta de 1999). 0
risca nesse
«, prevalece de tal forma
sat sobre origens,
58
Parents, dita «0 iesperade
danga de regis-
Isso é menos uma conclusio do que uma
esponsabilidade;
1. Ser parte de outros carrega sua prép
odo como nés (usudrios da bioteenologia) com
sido influenciado pela tecnologia, &
‘incvitavelmente, inconclusivo, O segundo diz respeito a mu-
sivamente, implementam
cas na prética clfnica que, co
ma resposta a questdes priblicas.
10 Are Persons Propesty?, as australianas Dav
screvem sobre auto-
rsip]
a especifico que um fendmeno completamente
Em seu li
inistas ¢ do direito,
rnomia com referéncia a nogdes de “posse de si” [self-0
sobre 0 prol
comume cotidiano, od:
wlher grdvich, apre
mulher gravide ¢ 0 fero so uma dnica pessoa j
soa éa mulher” (2001, p.84). A reagio contritia, como todos
sabemos,
adicara singularidade do feto, a ponto de reivin-
nto uma pessoe com direitos préprios (SAVILL,
Nas
dicé-lo eng
2002, p50). Mas a
otas, 0s Fatos da repro
jeve continu,
palaveas dasa
as nogées de individualismo na
ais essas visOes se bast
‘As complexidades dessa situacio agravam-se com as interven
gBes tecnoldgicas que produzem embri6es fora do corpo. Re-
propriedade,
a biotecnologia tem fornecido novos mods de conceitualiza
individualidade do feto*” Se alguma vez jf precisamos de novos
rambém
das pee-
(2002, p.65) lo Karpin (1994, pal). Ve
sca referéncia # uma abservasio americana sobre a criagi
59Marilyy §
as pessoas como partes de pessoas, por con-
er grdvida €u
n caso paradigmitico.
Tal observagao nao énenhuma novidade, Ao re
fdica", Sa
sgat. Quando os
rAmaic
(2002)*" observa qui préximo a
izes de tcibunais supeciotes
isaram decidir sobre a culpab
bre um feto motto device
mie, os oradores referiram-se abertamente
da ferd luz que
sepatagio embriolégica e feral. 1380, por sui
asio incisiva de que, nfo obstance, hav
sustentasio dep.
da mie, As palaveas a seguir sio atvibud
Mas o relacion,
0 Feto eram dois orga
s vivend
2. pa)
0 organismo com dois aspe:
Esse ponto de visti no foi
deslocar a doutrina de que o Feta nao possui personalidade ju-
cepsdes dos médicos sobre o Fto como
p49).
ince separade da
2, com fronteiras corporsis discret
dade corpSrea de todos os seres hu
dame 0 eto»
a Vso, see um pessoa (DAVIES; NAFFINE, 2001, p91)
60
spared
Airito
m ser humano
omia total ¢
jem teemos corporais), Esse ponte
ocorridas no
I, sista também despreza o graut das mudang
po materno durante a gravi :
dependence do feto para a conc
Ivimento. Este
lez, ¢ como este se torna, em sett
dessa trje-
wo estado,
> pontoem
deK
fern come um “nexo
inadora suges
de
que nds conceituamos 0 corpo
io trata de
que isso estaria a
ceiva que consider
ingio. O valer
ges” é que ela corna obsoleta des
yma nog
aes
n distingio, separagao ou
KARPIN, 1994, p46)
de sujeito «
relagie a outros.
na discon
aragies. No mesmo volu
Bute
emer distingBes © Se
(SAVILL, 2
também NAFFINE, 2002, p82}. Ks
tara
aad do bebe, o fevof
is
61‘Marilyn Siatbern
(2002, p.168) recorre a Espinosa para sua compreensio de
que 08 indivfduos
nfo sto “tomos” ou “ménadas", mas, sim, feitos de “parces”
aque estdo em constante permuta corre si [...]: [Assi
nutengio do indivéduo exige troca, lata ¢ cooperagio com outros
indivicuos, os quais sio, também, feitos de partes
A ontologia ético-politica de Espinosa, ela destaca, “facilita
© entendimento da diferenga como elemento que possibilica
a identidade « relagde de intordependénca come possiblitando autone~
mia” (2002, p.
69, grifos meus). A biotecnologia introduziu,
no dorinio da administeaio do corpo, tipos de separagées,
cortes ¢ combinagSes que sempre caracrerizaram relagSes entre
pessoas
Nio obstante, permanece o fato de que os euroamericanos
nem sempre falam sobre relagdes de maneira clara. Alguns
de seus principais dilemas brotam daquelas areas nas quais
© vocabulitio para 0s interesses em jogo esté esgotado.**
Sugiro que certos aspectos da biotecnologia, como recombi-
rages penéticas, oferecem novos modes de pensar arranjos
sociais ¢, ainda, as prdprias incervengSes da biotcenologia.
Franklin (2003) fornece um fascinante telato sobre pessoas
fazendo uso dos discursos da genética conforme lhes convém
a0 lidar com relagSes de parentesco. Assim sendo, a vietude
reside menos na novidade desses discursos e mais em sua ca-
+8. Hi momentos de exgotarnento dentro da propria bioteenol
2 propria bioteenologia. Fox
Keller (2000, p.72) aponta para o préprio terme "gene” como um
impedimenco para a explanacfo da genética,
62
Parents, direite0 inesperade
pacidade de trazer as pessoas de volta ao gue eas jé saben. Elas
4 “sabem" que mie ¢ feto so, a0 mesmo tempo, separiveis
« partes um do outso; © que falca € uma linguagem adequaca
pars esse tipo de relacio. Isso limita o modo como as respon
sabilidades so conceitualizadas. E como se os euroamericanos
pudessem apemss falar de cada am como fundido no oucro ou
compleramente exterior a ele, uma unidade completa ou uma
exclustio de um em relagdo aos interesses do outro, No entanto
(para colocar os tezmos de Espinosa em outro registro), a base
pata sua interdependéncia é justamenste sua separabilidade, Se
1 separagio literal € a peecondigio para a recombinagio nos
casos das familias, ent3o, no caso da mae e do feto, a separagio
éinerente a qualquer relacionamento entre eles.
Eu repetiria que as pessoas jd sabem disso. Mas uma razo
pataaescassez de idiomas relacionais éa sobredeceeminagio de
outros idiomas. Porque quando se trata de legislagio e litigio,
tum relacionamento no é (c no pode ser) um sujeito juridico
no direito ocidental (euroamericano). Esse é um problema
com 0 qual temos de conviver: Dessa forma, os argumencos
permanccem fascinantes, porém inconclusivos,
“Fi Se pressupr ig, Sov (2002, p67
tein poise elacionieae some se Fosse uma pessn disins, Mas
seprtimos de um rlasionamente, exit de entidsdes, nada é pressu=
pono sobreadindmicac inceragio,astraetria de desemvolment
bh as assimerrias. Podenis dizer que © que hi de to importante
pars of eutroumericanos ¢m um nascimnento aio é apenrs o fio de
tions nova pessoa cornar-se vistalmente apacente, mas, sim
separagio corporal), uma nora relagio, Em outros concertos culeu~
ruis, a separagio corporal pode ser postergeda por meio de diverse
imodos de identificagio pas-natal entre mie c bebé, © as selagies se
desdobeam de ovtzas maneitas.‘Marlyn Sorethern
Outros problemas aparecem, e as consequéncias de como as
pessoas tomam decisdes tém efeitos evidentes nas conclusdes
que elas elaboram,
Criangas nascidas de gametas doados ~ c, dada a natureza
dos procedimentos, 6 mais provivel que o doador do esperma,
e naa doadora do évulo, tenha sido completamente separado
dos resultados da concepcio—encontram-se em posigao de ter
que decidir sobre procurar ou nfo sua paternidade genética
Aos membros do Donor Conception Support Group [Grupo
de Apoio aos Doadlores para Concepsio] de Sydney sto att
butdas falas como "Bles apenas querem saber quem sio. Eles
no querem substituir seus pais” (Sydney Morning Herald, 20
de novembro de 2001). Alguns doadores nao compartilham
desse desejo, ¢ 0 mesmo artigo continua: “Eu preferitia que
les simplesmente dissessem ‘obrigado’, aproveitassem suas
ics ¢ seus pais e seguissem sua vida", disse um doador que
ameagou entrar com uma agio judicial se fosse identificado,
Uma mie pode tomar essa decisio em nome de seit filho, como
no caso de um doador de esperma que foi a Vara de Famflia
em Melbourne para tentar acesso a um menino de dois anos
ce idade; & Vaca alegou-se que nao esrava se negando um rela-
cionamento & crianga, apenas negava-se a “um relacionamento
parental ative” (Sun Herald, Sydney, 27 de janeiro de 2002).
‘Seguem-se outtas decisdes, como um elfnica de fertilizagao in
vitro tentando elimina: doagSes anénimas de seus procedimen-
45 8 elisica (Sydney FIV) aparece em ambas as hiseSrias. De cada
mil ciclos de FIV realizados anuslmence por essa clinica, 0 jornal
obserra que apenas cerca de vinte ecorrem com esperma doado:
_quase todos acontecem com esperma de doadores conhecides
64
arentec, divcit 0 inesperade
tans por causa dos problemas éticos que traziam & tons, “Atual-
inexte, a elfnica aconselha os clientes a pedir a um amigo ou a
sim parente que providencie o esperma’, disse ama enfermeica
«edgy Morning Herald, 29 de novembro de 2001)
“Qua um parente”! Uma surpresa final, envio, incentivada
jor parentes, nesse caso por parentes que — como amigas —
estio disposcos a doar paca parentes conhecidos. Lembremos
todos 08 debates anteriores sobse a exigéncia de anonimidade
pea proteger a familia nuclear, preservando-a tanto de inteu-
sos estranhos quanto da sombra do ineesto: 6 efrculo parece
ter se fechado. Aparentemente, aquele problema é deixado de
ado e outro roma seu lugar: o do patentesco preexistence*
Evidentemente, isso no ocorre sem complicagées. Edwards
(1999; 2000) oferece um relato, um cos poucos relatos com-
pletamente etnogrificos, sobre 0 modo como a familia inglesa
julga esses assuntos. Thompson (2001, p.174) descreve uma
clinica de fertilidade na Califéenia onde amigos e parentes
envolvem-se na doagio de gametas, ¢ onde “certas bases da
diferenciagia de parentesco sio postas em primeiro plano e
recriadas, enquanto outras sie minimizadas”, Embora possa
ocorrer de os aspirantes a genitores revelarem-se, “por meio de
cadeias de descendéncia intactas, como os pais verdadeitos”
meu foco recai nas separagaes e recombinagdes que tornam isso
possivel. Em um dos casos, por exemplo, 2 mie de substitui
Gio que pediu para gestar os Srulos ¢ 0 esperma de um casal
46 Tnversamence, podemos esperar que a ancnimidade do dosdor
também
Fam
20 criar tipos especiais de conexd
jo come um seréscimo de conceitos
sua af seu Tagan
nuclear cuja integridade tem de sex presereads,
« (ver Kontad, 1988)Marilyn Stathers
e do marido. Isso no foi considerado incesto. No
entanto, chegou perto, ¢ a irmi zombava da sorte de ela cer
as trompas de Faldpio laqueadas, porqu
isso garanciria que
nenhum de seus préprios évulos encontraria 0 esperma q
poderia acidentalmente ser transportado junto com o embrifo.
Outro caso mencionado por Thompson (2001, p.187) €0
tipo de empreendimento conjunto que gaphou proeminénci:
no comego das priticas de fertilizagio iw vitro, a saber, macs €
filhas
tum 6valo que foi
judando umas as outras. Nesse caso, a filha forneceu
ser seu padrasto ajudot
material genético do pai da filha (0 ex-r
foi mencionado. Nesse caso, a filha dispas-se 2 ajudar a mie
stava de pensar nos embrides disp
dos, que nto
foram usados e que, fora do corpo de sua mae, permaneceram
0 criagio d
N
mesma com seu padrasto
entanto,
mporta quio dolorese, casual, comado
como dado ou quanto esforco se
preciso, os parentes pro-
vavelmente conseguem lidar com o complexe trabalho de ne-
gociar proximi smo dessa
parte da procri aquela outra parte
Seri isso porque, a despeito do que acontece em outras esfe-
ras de sua
ntesco os ensinou a estarem aptos para
lidar com dois tipos de relago a0 mesmo tempo— nio apenas
conexées, mas também desconexde
Agradecimentos
Sincero agradecimento ao Julius Stone Institute ¢ a He
Irving e A Faculdade de Direito da Universidade de Sydney
66
Prentesco, diet eo ine
pela oportunidade de participar na série 2002 da Macqu
Bank Lecture, Biotechnologies: Between Expert Knowledges and Public
ilues. © Gender Relations Centre [Centro de Relagdes de Ge-
nto de Anctopologia na Research School
nero] © Departs
ind Asia
of Paci Studies [Escola de Pesquisa de Estudos
sobrea Asia eo Pacifico] , Australian National University, Can
m discuss6es 1
berra, também meus an
ies, propicia
aprofundadas; um caloroso egradecimento pessoal a Marg
Jolly © Marl: Mosko, Permanego grata aos outros autores de
prov s do que imagino is reconceitualiza~
des de Sar 2001b; 2003). Janet Dolgin mais uma
vezi ne uma base, bem como Alain Portage. O estudo
de Monica Bonaccorso mostrou-se muito informativo, e Maria
c
mente a me familiarizar co:
sdou-me excepcion
uestes atuais na AustCapitulo 2
A ciéncia implicita
Em 2003, 0 G:
P
fo. Teatava-se de
da sociedade.
da sociedade canto q)
Programas como “Ciéncia e Sociedade
em pédei
istas €publica da cién,
Understan
and Saciety).’* A chamada é para um
if Seen] a0 conceito de
ricia e sociedade [5
4 implicada na
edade: um
Ao pensar sobre o gue €a sociedade,
ia pode prestar contas & soc
sociedade se
Hi, aqui,
gorerno da Reino Unido
em 2003, foi
Instituto Fede
Paremasc,diveitoe»inespevado
pois antropdlogos frequentemente alegam que grande parte
do conhecimenta esr ineruscada em hibitos ¢ priticas que
° licito. Sean
na alegagio fosse feita 8 citacia
ocidental (euroame
ana) em sua sociedade de origem, onde
dever-se-ia procurar por uma ciéncia técita — ou incrustada?
Sup sociedade, entio onde
ado que a ciéneia
esceja
cla esta? © que eu preciso tornar expl
ito para encontrar exem-
1s do seu emby
nto? Apresentarei determinadss priticas
rei que os euroamericanos jé
n de forma a combinar conhecimentos “cientificos”, mas
nem sempre reconhecem que 0 fazem nesses termos €, nesse
ntido, as préticas apenas sio cifncia, sécita ox implici
renas chamam a éados
nha atensio. A pi
nda pectence a unta parte da vida social que esta
vida que as pe
frequentemente consideram ordinétias, conforme explanarei
de ser misterio:
; de faro, partes de
me refiro?
uunhou “a aucoconscié
mudar undo
crengas (e os modos de asseguri-las) sobre o
natural”, quando as pessoas sentiram-se propondo “mudan-
nto da realidade
cas novas ¢ muito importantes no con
ise do parentesco ene
Me
picalistas,
7Marilyn Straten
© conhecimento legiti-
atural e nas pr
10" (SHAPIN, 1996, p.5)
gue ainda estio muito presentes, ou (melhor dizendo) que
cas que assegi
nstitufram-se modos de pensar
nerosas outras tevolugSes que m
20 mesmo tempo -ivel ¢ para sempre mutével. Pode-
-se ter i yenos acuraco, mas esse
senso de époce mais ou
perfodo precedente &, no minimo, um ponto de partida para
nos perguntarmos sobre os habitos implicitos do pensamento
auifice,
“O mundo cientifico € (...] aquele que verificamos” (BA-
CHELARD apud OSBORNE, 1998). Para os propésitos
deste liveo, tomo
‘tncia” como corcespondente nto ap.
a um tipo de conhecimento, tampouco — embora isso te
mais acuricia histér
=a varios tipos. Em vez disso, como-
4 como permitindo um pensamenco geminado,
relacionado, embora divergente—amparado em, dentre outras
coisas, dois modos de verificas informacio. A divergénc!
oe descoberta é 0 que ests em jogo. Pode-se e
isso como a diferenga entre ver Steses estabel
por meio de noves inscrumencos de cor
a forga do vapor compeimido
separagio entre
cimente ci sertigo do julgamento moral
que esse co nto decleeadamente desint
RB
uso, dirio #0 inesp
ow uina téenica que usa o comportamento das enzimas para
c verificar 0 que novas ob-
decern
onhece (ci
smos, até entio
A linhs que as se-
6 direico transforma esse duplo
pode ser cénue, m:
para pode ser cénue,
tnina distingio crucial. No campo dos dircitos de propriedade
considera essa distingéo como oriunda da cién-
intelecti
odos de se relacionar com os
cia e atribuia cigncia diferentes
sultados De + forma, tal divergéncia permite que as
as aparegam ¢ st
jam coproducidas junto com as cr
idade da existéncia concon
si mesmas, crlando a poss
de diferentes tipos de conhecimento.
com o efeito Fractal; a mesma divergén~
Esse duplo rab:
Ia. Assim, cada elemento
qualquer es
pode see eepetic
de um par pode se bifurcar, isto é, tornar-se ele mesmo a
1c detentha nesse processo, ele possibilita
par. Ainda que
jeulagio da narrativa que segue.
Conhecimento isolado
Em A ilba do dia ai (1995),
has habieadas por pessoas que vivem de acordo
spécie de herdi de Beo
veleja por
em ama das ilhas, as pessoas
extio sempre ajoelhadas, encarando as lagoas, pois sustentam
legnis adotam seus pr6prios
esses pontos sio levantadMarilyn Strat
habitantes ex
tem apy
nas eng)
1 manterem vivos uns aos outros, falam
cada
serem capazes de distinguir
d uma verdade
subjacente ao apuro dessas pessoas que pode ser relevance para
essantemente,
esforgando-se para tor
storia
ca pal
s dos outros. Esse
m teoria com vida; nfo obstante,
co antropélogo social. Eco tem de colocar seus personagens em.
ilhas diferentes porqu
falar de s
préprias de mancira menos eenz.”
caso contritio, eles poderiam ouvir
as respectivas teorias ¢ passar a Sustentar as suas,
Um espeticulo que a nova genética trouxe para 0 palco
central € a percepgio de que 0 conhecim
pessoas prestrmem que os cientistas est
o trabalho sobre 0 genoma humano. Pelo contratio, essa tem
ial 1
sido uma érea pi qual se consid
jetos da cigacia e da sociedade) .O que é interessante € a proe-
minéncia dada a0 conhecimento em si, Nao é apenas a imple-
ieagio pars um fendmeno
ou leis,
Parents, dieitoe 9 inesperado
noma humano (isto é de
enquanto tal quando este deriva do.
dos produtos do conheci
nto genético
na pessoa)
idquirislo para prop
como informacio a respeito de uma série de questdes sobre
esse p
m questao, © problems é que muitas delas também poderiam
sor de grande interesse para cerceiros. Sab esse ponto de vista,
ic conhecimento genético é
frequentemente considerado como simuleaneamente dorado
de promessa e de perigo.
Na sequéncia do documento de discussio, 0 relatério da
Camissio de Genética Humana do Reino L nido (CGH,
frea. Ao que pode ser conhe-
cimento para 0 indi se certa distincia
enguanto “dado genético pessoal”, isto é, informagie sobre
outros individuos que & propria a cles. Algumas questes que
que € aceitivel
quando isso incluiinformaczo sobre comporigdo genética. Eim
pidamente
suas recomendages, 0 telatério da CGH
é
agio pessos
de si
igsa introdutdria — de que a info
no nada
informagao privada — para o argumento de que €
privad:
-ompletada por “Th
fea e Cuidado Pr
aéoestudod idades g
a medicamentos e suas aplicazdes. (A
lem resp:
de produtos envalve o teste ge
is si0 encarados na revel
ia de infor-
5Marilyn Stratbern
Oconhecimento g
ético pode levar a8 pessoas a am relacio
especifico entre si. Assim, ps
spomos o seguinte
conceito de solidariedade genética ¢ altrutsmo, que visa promover 0
bem come
(2002, p.13, grifo no original)
Tal interesse em relacionamentos no deve ser tomado de
antemio como verdadeiro, mas,
sim, ser assinalado como um
valor claro a se considerar. Assim, como explica o relatério da
CGH, embora muitos dos prinefpios aos quais o relatério
adere se preocupem com a salvaguarda dos individuos,
portante [...]
ex 0 individuo como membro da sociedad
(2002, 2.8).? Observeo imperative de rontecer esse fato da so-
ciedade. O reconhecimento, assim, produz um preceito moral
que, por sua vez, tor
estranho problema. A sociedade
& concretizada como “comunidade” ¢ entio — ecoando termos
em uma forma pacticularmente especifica, a fam
Nio vivemos nossa vida no isolemento, mas,
nas. Devemos considerar
dade. (2002, 2.10)
bros de comunidades, grandes ¢ pe:
O problema é evidente: como equilibrar o fato de que com-
partilhar informagGes pode levar a melhores resultados médi
cos com as expectativas de um individuo no que diz respeito
9) Seguido de uma qualificacio: “com um inceresse compartidhade pelo
Drogresso médico ¢ subjugasie das doengas”.A biologia molecular
desenvolveu-se a0 lado desse debate entre sociedade e ciéneia
76
Peronesco,dirvte eo inesperado
3 sua privacidade? © equilibrio é especialmente delicado no
A
que concerne as relagSes com outros membros da famitia
informacio que um membro da familia tem pode ser impor-
tante para outros, ¢ a “teia de eesponsabilidades morais” que
caracteriza tais relagSes corna-se um exemplo de uma questio
mais
inceresses sociais €
© ponto crucial € que © conhecimento que 6 pessoal para
‘uma pessoa pode também ser informagio potencialmente
pessoal para outra, de modo que a revelagio poderia ajudar
terceitos. Apesar do emaranhado de relagies, as dificuldades
sio criadas pelas convengdes sobre como lidar com informa-
gdes desse tipo. Assim, se a informacio pessoal é considerada
privada, descobrir a composigio genética de outra pessoa
totna-se invasio de privacidade; se testes para distirbios
genéticos cornam-se semelhantes a pesquises ou citar
invasivas, entio a preocupagio € que se intervenha quando 0
ussio do materi
n (2000), discutida no Capitulo T. A ironia de fait
mora diminuida pelo
ralmente estejam em segundo plano em relagko a0
espeito pelas pessoas {..] [enquanto seres humanos),
quais 0 contritio € verdade, Nesses
casos, 0 interesse social — ou © bem eomum — pode pesar mais do
que 0 inceresse individ
ser relegados a segundo pl
e alguns direitos do individuo podem
‘© Genoma Humano ¢ os Direitos Humanos, da Unesco, 1
em 1997 (endossa smbleia Geral da ONU em 1998)Mari
be
paciente nfo é a pesso
(2002, 4.54). O “consentim
de certa forma ampliado para
moa”
que é per
tica” do caso.
EB irénico que o que comegou comoun
herediitias ~posi
rentesco —tenha se modificado e se tornado um tipo.
co s6 poderia ser construido
das sobre membros da fan
de conexdes fam
0 a0 cerne da ques
ques
nformagies sobre
ade esto contidas no préprio
genoma do individuo. © relarério da CGH detém-se em
de andlise familiar,
ém paca ve
car a importa
genética compartilhads com um parente”
(2002, 4.54). Hia questio rel
berem sobre st
na caract
ada de se os individ
$30
iam oferecer seu
(FINKLER, 2000)
conhecimenco para informar os 0:
Lo pedximo capi "
Os parentes,
de fonte de infor
0 sobre conexdes gt
ificas (conforme
inferidas a partir de
inhas de descendéncia), passam a set
ser informados.
aqueles que precisa
Tais questdes tornaram-se as preoctipag
no eset
nio ético ete,
atribufmos ao conhecimento. Posso
102, 080
a teoria de antropéloga social para desen
ponto? Evident
ee, a antropologia
76
uas ceorias nfo so imunes
ros outro:
ades insulares, mi
s est
elucidar
sumam como tema arquetfpico da etnografi
assumem que as
das nao 30 mais ilhadas do que 0 sio as pessoas.
Relagdes em todo lugar
Talvez nfo seja mesmo nei
ada aos olhos do
LE
(1998) é especi
poder
questio sobre
dda antropologia social enau
relacbes sociais estabelecidas na vizinhonga das obras d
GELL, 1998, p.26). Um pronune
calvez para o
adedis wor
(1998, p.tl
huma suerpresa as “celacdes”
apresentat outros exemplos. No
titi] em nos
1oalguém entende a po
neo a pratica
da arte” €
te, mas complet
sistemas socisis de vaeios tipos
1 questio de Fornecer contextos pi
sobre parentesco no Capi-
entanto,
ar uma resposta
io biisica
n lugar
2 uma antropologia da arce? El
as teorias antropoldgicas, ¢ todas
ecem teotias das relasies sociais, isto é, das interagdes
a teoria das
nento extraordinatio,
GEL, 1998, pF
sobre
2 dizend
enprecat
cos de arte
Ele copara um antropélogo social, exatamente o efeico almejado por
Gell, Relacionamentos oferecem um contexto “relacional” que
responde pela produgio ¢ pela circulagio de arte, isto &, uma
teoria das relagées, Mas como its efor
Onde poder
Relagdes sao, ao mesmo temps
«dos atropélagos?
0s cbter uma visto relacional?
po de pesquisa da
sua problemética e, sob os olhos
anteopolog’
probl . A actisagio € que parece impossivel ver para
além delas (WEINER, 1993; MOUTU, 2003). Mas por que
cionalidade? A
a antropologia social constitui-se por sua r
do? Uma dessas necessi
quais necessidades
ddes aparent
a “relagio da ciénci
estd resp
ce foi posta em seu caminho p.
Introd
dois aspectos.
posta co
Discutivelmente, a primeira
social do século XIX. O desabr:
foi possibilitado pela ciéne
resposta
es dac
natural ¢, ao
mesmo tempo, trouxe cor
propria ideia de ciéncia poderia ser incorporada ao estudo da
sociedade por meio de alguns protocolos e mécodos. Métodos
igo 0 auroconhecimento de q|
estatisticos eram um deles. Aqui, Moore (1996, p.1L) amp!
as observagées de Fouc
ng
ropa entre os séculos XVI e XVII,
c. Se a nogio da arte de govern:
nto meio de administrar as ides emergiu na Eu-
sse intervalo
temporal que a familia (bem como o patriarcado) eng)
ir, na estatistica enquanco ciéncia do Estado.
ovidade alguma em observar que os mévodos
estatisticos atuais deseavolveram-se em reagio 3 abertura do
80
alu is inumerdveis que:
agio (STRATHERN, 1991), mas, apesar disso, acredi
reflete uma abordagem cientifica. Hi a
io da influéncia da “ciéncia” nesse tema.
hneceras populagSes que controla, O ponte ce
Paremesco,d
para intervengio burocratica ~ depois dos com
administradores — ¢ as necessidades do administ
yperado
€ que ela repousa na suposicéo de que conhe-
10 é gerado ao se juntar distintas informagies e ento
écodo naturalist
aus das relagt
a por correlagées entre entidades foi o resultado."*
dados, prefere
ados sio enten
modo como as pessoas poderia
dlireto eexp
4 Dumont, esti
DESCOMBES, 2000, p-40). Deseombes enfoca o papel
de uma
hes retrata a consequéncia pata a ci@ncia soc
o trabalho cientifico consist
m as outras. A procura
r
eles. (2000, p39)
lementos individuais do.
ser pensadas como
a comoas conexdes
(SCHLECKER; HIRSCH, 2001, p.71). Isso con-
Bes acerca da definigio da unidade de
pertanto,
estudo de relagies significativas
1a social €estudar uma forma deMarilyn Strathern
‘A cortelagio pode ser encarada como um significative passo }
frente na busca por relagdes causais, Demonstrarrelagbes causais—
cuja verificagio se dé por meio da predigio do resultado —éourea
caracteristica distintiva do método cientifico. Nio obstante, a
cigncia —e isso tornou-se particularmente verdad no que diz
respeito 8 riéncia social ~ nia precisa dessa abordagem pata te-
conhecera forca da correlacio. Ji € um feito por si sé demonstrar
que dados de diferentes dominios encaixam-se entre si.
Agora, independentemente das crengas pessoais dos pro-
fissionais, o mundo material e apreensivel do século XVIE
tornou-se concebivel como um sistema autoverificavel (daf
atrativo dos mecanismos autorreguladares e do moto-conti-
uo — por exemplo, Crook, 2004). Se ele funcionava sem que
alguém tivesse de procurar por uma causa ulterior, s6 poderia
funcionar de acorco com seus préprios termos. A ideia de en=
tidades existindo sob seus préptios termos foi replicada nos
elementos que compunham 0 mundo natural —ou sacial — isto
& 08 elementos entre os quais buscavam-se conexdes. Se uma
meta era colocada entre dados de diferentes dominios, entao
4 prépria independéncia desses domfnios entre si toxnava-se
pretrequisito para deserminar @ covariagio ou a correlagfo: isso
JORGENSEN, 1979). As
relagBes evidenciavamese na medida em que os elementos em
setornouo “problema de Galton” (
rclagio seriam, caso contrério, auténomos, Em suma, elemen=
tos aparentemente Gnicos no munde pederiam ser explicados
pelo modo come impactaram-se mutuamente ou conectaram-
-se uns a0s outros de maneira variada, € 0 que a ciéncia deter
minava e descrevia seriam as relagées entre eles.'* Realmente,
TY Avaligito zevelou o relacionamento entte homem ¢ Deus. A citnci
inventou, com muita esforgo, uum vniverso sutorreferente. (Sou
82
Basenesco,direto #0 inesperado
um nao se explicava por nada além do outro e vice-versa, € ©
conhecimento vinha de nada menos do que a demonstragio de
inter-relacionamentos.
Podemos encarar o esforgo para demonstrar conexdes a0
telacionar fatos até entio nfo relacionados como algo que
envolve a criagdo ou a invengio de novos tipos de relagdes,
novos sistemas de classificacfo, por assim dizer, que ligam fe~
némenos jf conhecides de outras mancitas. Tais instrumentos
de deserigio transformam conexdes hipotéticas em conexdes
tenis, estaveis (LAW, 1994). No entanto, +
aparentemente independences umas das outras (inventar as re-
lacionar entidades
ages que as conectaram) 686 metade da empreicada cientifica
A outta mecade tem a ver com descobris, desvelar zelagbes j&
existentes. No que diz respeito a elucidar a sociedade, talvez a
preeminéncia das ciéncias soc
s nessa esfera (da descoberta)
signifique que associagdes entre esse aspecto das cigncias da
natuceza ¢ o desenvalvimento das ciéncias sociais tenderam
continuar implictas. Essa & a segunda parte da resposta,
Ziman (2000, p.5, grifo no original) observa que bé
nuitos mocios de conkecimento: “O que faz que um modo
ospecifico seja o cientifico?”. Fle resume a velha resposta na
expresso “naturalismo episcemolégico”. A cigneia é um sis
tema complex, com virios elementos em interagio, sendo ela
[rita as discusses com Alan Suachern nesse ponto, 0 que nio 0
Faz tesponsdvel por minha interpreragio delss.) Fara (2008, p.20-
21) desereve addr do rival de Linew que “vontava descobrie a planca
or ncusou Lineu de eseolber
al de Deus para 0 universo ¢
Finventar] um projeto arbiteizio, em vez daquele divinamente or
denado”. (Evidentemente, seu sistema de clissificagio tornou-se,
em seguida, uma taxonomin embasads por descobertas posterior.
83Marilyn Strathem
mesma um modelo de tais inter-relagdes. Embora ele espere
mm novo modelo (nko epistemol6gico, talvez possivel-
mente “do mundo e da vida’
para os presentes propésitos
satisfaco-me em elucidar aspectos do velhio, Com isso, refiro~
-me 3 cigncia que expressa um mundo compreendido em seus
prprios termos, Se relacionat fatos até ent3o nao relacionados
envolve a invengio de noves tipos de relagio, entio mostrar ou
€ parte de tudo 0 mais, jé prev
desvelar como cada fato al
ou passivel de definisio por meio da coeréneia interna das
relagdes jd existentes, soa mais como descoberta,
Aoui
metade da empreitada cientifica, entio, é especifi-
car 0s elementos codefinidores em um sistema internamence
coerente que fornecerd uma descrigio de todo elemento como
parte do préprio sistema —como alguém pode (literalmence
imaginar a tabela periédica ou 0 modelo do DNA -, criando,
portanto, a nogte de “ordenamento” de tipos. © conhecimento
vird do fato de se especificar o que pertence eo que nio per
tence ao sistema, © sistema implica seus préprios cinones de
verificagio. A citncia aqui consiste em um circuit de sinais
inteligiveis que se reforgams mutuamente — um modo de per:
ceber seu campo, do qual os cientistas da século XIX estavam
particularmente cientes (BEER, 1996). Isso no significa que
© circuito seja englobante de tudo e todos (“Os paradigmas
cientificos nunca so epistemologicamente completos ou
tes” —ZIMAN, 2000, p.198),mas significa que as defi-
nigdes so indissocigveis umas das outras. Néutrons, elétrons.
pésitrons — esses rermos devem se susteatar mutuamente.
15 E distingses entre clementas que particigam da construio um
AW, 1994) por ou
do outro sia estimuladas 2s distingSes,
ay
Baronesca dnc ¢o tesperads
Sistemas de classificagio apatecem sob uma nova chave: aio
como inyengio dos cientistas, ma ichidas as
uma vez pi
lacunas, como meios para se descobrir o que se sabe existir:
mas ainda nfo foi revelado.
ois bem, essa & por assim dizet, uma abordagem do mundo
com a qual as ciéncias sociais se familiarizariam (
fe ecoa a crie
tica politico-ccondmica a economistas cléssicos). Ela vem de
uma critica A primeira visio, que, cransladada para a érbiee da
vida social, enxergava a sociedade como ligagdes entre indivi.
seriam inclependences
idades que, de outra form
tumas das outras, A exitica é que a compreensio das relagies
socinis como existentes encre individuos seria uma miscura de
ogicas. Por definigio, individuos exclucm relagécs, Relages
36 podem evistir entre rata ~ elementos da relagio, Em vez
cle as relagdes serem vistas como canexées entre coisas, aqui as
visas jé esto em relagio, isto é, coimplicadas umas nas outras.
© concraste Foi posto em pritica com grande forga na an
Lropologia social entre funcionalistas estrururais ¢ estrutura-
spe
nformigio cient
da a estviea de Barey (2001, p.171-2): "A produgto da
ica envolve um duplo movimento, De
a producto do conhecimenta é um ato criative. A realidade nto €
neramence refletida nas formas de informagio on conhi
Ly & criacivamente traballiada e nela cviativamente se acua
novimento dentro do movimento] [..]. Segundo, para um neve
objeco de informagie [..] ser produzido, ele deve se sustentar €
slat Isso depende necessariamence nfo apenas das técnicas e dos!
proced
tos cientfficas, mas também de negociagSes polfcicas
njo transaacional dos recursos ¢ dosMarilye Siratbera
liscas em meados do século XX." Por um lado, supunharse
que a alianga, como encontrada nas relagées estabelecidas por
meio de casamentos, repousaria nas
1exGes que as pessoas
ctiariam entre grupos sociais autGnomos definidos por erité-
rios independentes, como consanguinidede ou descendéncia
Por outeo lado, objetava-se, a possibilidade de tais conexdes jé
estaria implicada na prépria definisio de grupos come doado-
seceptores de espasa uns dos outros. Ao invés de serem
criadas no esforco de fazer conexdes, suas relagdes coimp|
das so vistas como increntes ao medo como as entidades sio
classificadas, uma precondigie de sua existéncia
fo obstante, o que parecia Sbvio para os estudiosos da
sociedade poderia ser ilusério como objeto de anélise. Como
retificar tal coimplicaggo? A relacionalidade como precondi-
gio to: ria 20 se tentar atribu
ase a qualquer estado
mental preexistente ow a caracter
icas coletivas das pessoas
combes (2000), ass
‘Winch (1958), de que o meatal ¢ social sfo “dois lados da
e sociedades. Di do a proposta de
mesma moeda”, vé a precedéncia dessa proposta nos esforgos
de Durkheim de elucidar representagies coletivas:
Nio se pode mais perguncar se tal ou tal forma de represen.
paso ou de causa
tagdo (por exemple, 0 conceito de
pertence a uma consciéncia individual ow a uma conscién
coletiva, Mas € possfvel pergumtar em qual mundo social as
pessoas podem formar tal conctito.E, enti, inverter a questio:
16 Edmund Leach (1976) setomouparte desse debate em seu contraste
suposigbes ffe-Brown © as de Lé
86
Purennsco, dreto £0 inesperadte
que conceitos alguém deve possuir para tal relagio social se es-
tabelecer? (DESCOMBES, 2000, p.39)
Je conclai com o exemplo da propriedade.!” © conceito
postula uma relagio social entre possuidores endo possuiclores,
Nesse sentido, 2 ideia de propriedade & uma “representagio
coletiva”, uma vee que a ideia e a relagio social que ela encarna
so dependentes uma da outra. © ponto mais geral ase destacar
do argumento € que relagdes existem “internamente”, enquanto
Bt que relag
elementos de um sistema jé descrito pelas relagbes que o consti-
twem: & nesse sentido dumentiano, holista (auto-organizado).
‘A precondicio da relacionalidade torna-se muito Sbvia (au-
tocvidente) em uma esfera, encontrada em um quinhio pouco
usual da antropologia, Radcliffe-Brown ¢ os est
nalistas — que, segundo seus erfticos, falharam em compreender
os delineamentos dos grupos de descendéncia ou de elementos
miticos ~ notar
brilhantemente a preponderincia das relagdes
ras anilises de terminologias de parentesco. Foi nesse contexto
que antropdlogos sociais insistiram em “pessoa” (20 invés de
ndividuo”) como termo analitico, pois a pessoa jé era um
elemento de um relacionamento social, j4 era uma relate, ama
fungio do ato de relacionar. Realmente, era possivel falar em sis-
17 Seguindo o trabalho de Gilbert (1989), ele usa, ancerio:
o exemplo de um jogo de duplas de cénis: nfo se pode confundir
npGem os adversérios com o agente
os agentes indi
coletive social
As agBes social
stento, 9 exemplo nfo
no quil todos 0$ jogadores, nfo apenas as duplas,
sma busca comum que os define como partes desse code,Marilyn Stratbern
se compunham uma “unidade complexa’
sais gencricamente, de uma estrutura, que constitufa “um
atranjo de pessoas em relacionamentos controlados ou delinidos
insticucionalmente, como o relacionamento entre rei e stidito,
ou” — segue-se, rapidamente, a analogia a0 parentesco — “entre
marido e esposa” (RADCLIFFE-BROWN, 1952, p.53, 11)
De maneita paradigmitiea, ser am pai oa uma mie impl
nea. Aqui esté a evidéncia da coimp!
n estado de defi
relacioname
ro coma
caglo: entidades em
As relagdes sobre as quais escrevo existem em sistemas de
conhecimento desenvolvidos pela ci
éncia, Ea disse que a rela-
ga permanece a problemética e o problema da antropol
elucidasio toma cam
hos divergentes. A com)
plicita com a ciéncia foi possfvel gracas 3 suposigio posi-
tivisca de um mundo feito por entidades discretas, entr
quiais haveria conexdes a fazer. Ao mesmo tempo, o tipo de
sistema fechado que as te
ologias de parentesco sugeri-
aos antropélogos, a matriz da definigio miitua de termos
evoca uma
coimplicados entre gio — que continua
fortemente implicita ~com 0 seguido conjunto de suposigoes
cientificas, no qual
relagdes esperavam set descobertas. Mas
© que o observador euroamericano (incluindo 0 antropélogo)
imagina que seja produzido por tais exercicios relacionais?
Viveiros de Castro tecupera um contemporiineo de Durkheim,
Tarde que questo
“O que é a sociedade? De nosso pontode
sob formas
vista, ela pode ser definida como a posse recfprox
secalegie, 1893, (Traduzido
or Eduardo Viveiros de
ho apés.a leitura do que se tomnou 0
e; em comunicagio pessoal, 2002.)
Castro, que me confiou o tr
88
arenteic, dicta inesperads
cextremamente va n”. Asentidades no
sio nada mais, nada menos do que a soma toral de suas posses
adas, de rodos por cada
reciprocas, [sso pode acontecer por meio da busca por conexao
ou da descoberta de um estado prévio de relacionalidade. De
qualquer modo, quero incorporar essa suposigio aos insights do
préprio Vive moder
onversio de questies ontoldgicas em questdes epis-
temolégicas” (1999, p.S79). Ele escreve que os antropélogos
euroamericanos “insistem em pensar que, para explicar uma on-
os de Castro, de que a marca da filoso!
sista €a
tologia no ocidental, deve-se derivé-ta de (ou reduzi-la a) uma
epistemologia” (1999, p.S79, grifos omitidos), isto é, de uma
preocupagio com representacées, com como as pessoas tornam
as coisas conhecidas para si mesmas. Um exemp
dncia de Radeliffe-Brow
base da ciéncia éa classificagio sistémica”. A classil
(1952, p.7) coma
preendida como uma questio epistemoldgica para o observador
(como alguém organiza a
pata oinformante (comoalguém enten
0 fervor epistem
Se alguém pergunte 0 que estimu
uma resposta poderia ser encontrada na méquina de moto-
-continuo, a fertamenta criada pela ciéncia a partir do duplo
da “relacdo”.” Seus dois tipos de relagio so simultaneamente
homem ea natureza, « possi
jot ¢ [+] a melhor maneira de orgenizar
(QUTRAM, 1995, p.50, 48)
69Marilyn Stathers
sobre criar conexde
ntre coisas) e sobre a coimplicagao prévia
de tudo com tudo (as coisas
4 conectadas). Essas
as visbes
divergences (se é que estdo relacionadas) da telacio e, portanto,
dos modos de relacionar
),capazes de convocar sélidas posi-
Bes teérieas,sio potenciais fonces de rftces uma da outta, ©
positivismo desenvolve-se junto com sua ctitica.2° Ambos sio
consequncias ~ quer manifestamente, quer nfo — do pen
mento cientifico na medida em que calocam 0 “conhecimento’
na linha de frente do esforco relacional e podem imaginar dife-
rentes maneiras de abordi-lo.
‘Mas o que esté parcialmente explicito, parcialmeace implici-
tono que diz respeito as preocupagdes da disciplina ancropo-
Logica € completamence implicito quando se trata da segunda
arena, um segmento da
ida comum”, sobre a qual tracareicon-
sideragoes. Quis sugerir modos como o pensamento cientifico
std incrusrado no pensamento euroamericano sem necessaria-
mente ser reconhecido como cientifico. Si
le (0 peasamento
cientffico) esté
rente implicico na nogdo divergente de
relagdo aqui esbosada, onde mu
podemas encontré-Lo?
20 Um exemplo da debate que parece seguir esses contornos, que
obviamente aio tenho incengto de julgat, foi telatado por I
(2001, p.249-5
Dia resperto a visdes conflicantes sabre as leis
081 confrontou-se com a da maioria
por Deus; Espino:
al causa do movimento, mes
40 mesmo tempo, o considero como inere!
cnkeannnees bee
dtseagu tan tper nllate seeanion ean
eotngnnionge oie ee
de pressoes contritias. “
90
sei once oseae
O parentesco desvelado
Deixe-me lembri-los da questio: por que uma abordagem
relational? Esbocei, muito rapidamente, algo sobre a naturcza
provocadora da questo para o modo como os antropslogos
sociais empenham-se em sua disciplina. A disciplina nao € ©
) da “sociedade" em
tipo de represencante (
que a maioria das pessoas pensaria em primeiro lugar, e pro-
‘meti outro campo onde encontrarfamos a cigncia jf “na” socie~
dade, Nao obstance, tem sido ttl iniciar com o conhecimento
académico porque as preocupagées que dominam 0 segundo
campo nao sio tio diferentes. Refiro-me a0 que a CGH con-
cretizou, no Reino Unido, como microcomunidade, embora
enfatizando menos a familia e mais 0 parentesco. Refiro-mea
como as pessoas pensam em seus parentes ¢ como inveragem
com eles.
euros
no mundo cotidiano no
Dado seu cariter ba
mericanos vivem, 0 parentesco é um candidato inesperado
somente como 0 sio 0s objetos de arte de Gell; se os objetos
de arte no estio onde se espera encontrar relagées sociais,
© parentesco nao esté onde se esperaria encontrar ciéncia
Estarfamos procurando por uma nogio de relagio especifica,
divergente, Inspiro-me aqui em um exercicio anterior, e peco
perdio por reftatar 0 pensamento euroamericano pot meio do
parentesco inglés.
Por um lado,aindividi
> parentesca ingles, isto 6, de um relacio
dade das pessoas € 0 primeito fato
to (entre pat
ceiros de procriagao) aasce uma Ginica entidade de uma ordem,
completamence diferente, cuja idlentidade é apenas parcial-
mente afetada por relagées de parentesco. O parentesco (entre
1Marilyn Sivatbern
outros conjuntos de relagSes sociais) é, portanto, entendido
como algo que diz sespeito a0
dividuo e, a0 mesmo tempo,
estdacima dele, Os papéis de parentesco evocam a parte relacio~
nal do individuo (STRATHERN, 1992a, p.14, 78). A lingua
“ des-
sas relagdes. As conotagdes do termo fornecem ao parentesco
inglesa coopta o termo “conexio” [connecting] para tra
inglés seu molde sentimental — a relacionalidade predicada na
absorgio da diferenga pela comunalidade e comunhio [together-
ness] (VIVEIROS DE CASTRO, 1999, p.S80) —e post:
0s contatos como conexGes entee individuos discretos. Mas,
™
por outro lado, onde alguém encontraria © anélogo a relacé
j coimplicadas umas nas outras?
Vimos que os termos de parentesco forneceram & antropo-
logia social britanica um modelo de elementos mutuamente
codefinidos, coimplicados. Esses sistemas de parentesco es-
cavam sendo estudados em partes do mundo, na maioria dos
casos de fora da rbita da revolugio cientifica. A ciéncia estava
longe de ter inventado parentes rectprocos que se definem mu-
cuamente! Ne
mntanto, talvez seus hibitos de pensamento, seus
smodos de conbecer,tenham estimulado o pensamento divergente
ue permitiu aos antropélogos desvelar o fendmeno em outros
lugares. Trata-se, de modo perverso, da casacteristica de siste
mas de parentesco nio euroamericanos frequentemente muito
mais bem desenvalvida terminologicamente do que 0 é, diga-
és. O inglés tem reciprocos conceituais, como pai/
Tho/filha, mas, com excegio de “irmia" e “irma (para
pessors do mesmo sexo) e “primo/prima” [rom
cos reciprocos terminolégicos. Pelo contritio,
acontece. Sugiro que um andlogo is coimplicagies encontradas
em classificagdes de parentesco em outros lugares emerge
92
Parentesc, diveto ¢0 iusperado
sam campo que, aparentemente, em nada relaciona-se com
parentesco ~ aquele que 0s nativos chamam de dase.
Nada é to simples, claro, ¢ a classe social (no sentido
native) existe nfo apenas como um anexo 20 parentesco, mas
cambém como un dorninio divergente, se é que relacionado, da
nesmas. © modo como a classe
agio e do pensamento em
éconsiderada ow trarada replica o mesmo contraste entre dois
tipos de clagSes que impalsionam aaquisigio ea vlidasio do
conhecimento. Vimos isso em funcionamento nos sistemas
de classificacto.”” Ento, embora a classificagio de parentesco
dagio antropoldgica de modelos natives) parega set 0
(nae
Jagar onde os antropdlogos tradicionais perceberam 2 relacio-
agi, em outtas esferas
nalidade como uma questio de coiny
21 Umaco
ideias inglesas sobre relagées de parentesco sto
.entos, no relacionados 20
ante aplicagio da conexio merogréfica
myplaneacional, ver Franklin, 2003; para
so merogeica (também de Steathern, 19928). (Fu
anos.
rico pre A
ante esclarecimento concernence 3 pratica ctr
9s, ape
OUTRAM, 1995. p-48,grifo no 0 18 (2000,
1-120, notas omits grifos meus) “Algo como asstema de Line
tomou-se necessério no século XYIL pare
ms escals mundial de novos lacais para espécies biclSgicas 3
mbora projetada sobre descrigées de
des mensursveis espe
jut aos natuesliscas identificar os sujeitos
fos outros ¢, assim, eroxne ordem 2
ficas, esse sistema
as observagtes
ialogiaMartyn Steerbem
—como naquelas em que os antropdlogos comparam “socieda~
des” ~a classificacio poderia assumir 0 carster de conexio entee
entidades discretas, individuais, exemplificando a criatividade
do autor na andlise.** Essa € também minha hipétese sobre a
classe. Imagino se € po:
el perceber antecedentes do inicio
da época moderna no modo como a classe combinou-se com
© parentesco.
Em primeiro lugar, conexdes: a classe reforga 2 visio positi-
vista do parentesco como uma rede de relagdes, As metforas,
aq
q
acontecia no século XVII em termos de formagio de paren-
sio as de associagZo, como teias de conexio através das
is os individuos movimentam-se, Nio estou ciente do que
tesco, Mas, em paralelo com
1¢ aprendemos sobre as socie~
dades do século XVII com relagio 3 validagio do conhecimento
(SHAPIN, 1996, p.133),** 0 século XVI
23 E, realmente, essa caracter(stiea eambém apareceu aa abordagem
da antropologia social sobre as els n :
= cages de parentesco, como,
quando funcionalistas estraturais foram censurados per, afinal de
idades discretas. Ne verdade, eles simples
essa ideia — como 0 &t
aos relacionamentos entre afins © consan
incos. Leach (1976)
ris em comparar
condenou a obsessio dos funcionalistas est
sociedades enquanto unsdades
6, p-127, arifos omitidos) cbsevs que, nos séeulos XVI
tornamse évidos consumidoxes de
lade". Fara (2003, p.57-8) recorda uma das inten
idades que transpassava os circulos cientifico,literatio,
stico na Londres do século XVI,
oF
Pu
0 inusperedo
eco
de parentes (em relagio) atestando o status de sua associagio
um como outro = literalmente, a “sociedade” que mancinham
HANDLER; SEGAL, 1990). Na verdade, o modo como os
fatos cientificos eram julgados, o que se reivindicava e 0 que
carregava autoridade, localizava-se, em parte, nas conexGes
pessoais do cientista (SHAPIN, 1994).’* Nao havia um molde
de parentesco especifico dos esforgos para se estabel
cedimentos de verificagdo da informagio cientifica ¢, portanto,
de como “conhecé-la”, mas havia suposigGes sobre a qualidade
fa com claras nuangas de classe: quem era
do gentleman da ci
admissivel como conhecido social e cujo trabalho, por conse-
guinte, tinha credibilidade.
© século XVII foi, assim, omomento-em que, fora daesfera
dos tribunais, as classes médias desenvolveram suas préprias
ar o que era socialmente admissfvel. Quem
para vert
contava como “um contaro” [eonneaion]? Aqueles que hoje 0
ls chamaria de “parentes” Fre
ncemente referia-se como
contatos. Essa foi também a épaca em que uma distingio crucial
surpiu entre contatos ea familia (HANDLER; SEGAL, 1990,
p.32)-Handler e Segal argumentam que tal distingo caprurou
ido—e0
distingio entre o que ett feito pelo homem— ou constr
ctiados, in-
aque era natural, Contes, por mn lado, eram muta
venttados naquele sentido, tornados socialmente conhecidos por
meio de esteatégias de reconhecimento. O naturel, por outro lado,
cera passivel de
acontrado na cexteza dos lagos de sa
Tp Subse a observagio coma empreitada coletiva, ver o relato do
lo cometa de 1664 pelo pais (SHAPIN, 1994, p.268):
é um indicador
do conhecimento , pode apacecer des
critica o cratamento de Rad
a separabilidade
que con
sistemas conceicualmente islados", Leach
1976. p.15)
io enfives
objetos reais”, um argu
iodo como coramos 6 ico para
© § uma questo de conre
pe
pela natureza” (1976, p.19),
96
Perens,
ito inesperade
As pes-
AITTERAUER; SIEDER, 1977, p.7-10 pass
tanto as
relagdes por elas criadas.
icagdes: sugiro que a classe social
A classe
foreceu ama segund lac
¢ a0 sistema; era englobanee, holista. E trabalhava
com um significado diferente de fami
especialmente como o
ws dealguém, C.
principal detes
de
de
lasse, a fami n dizer, a contra
rede de conexdes entre individuos. A classe fixava as
pessoas. Porquanto as classes eram fixa
tes; tudo
dividuos que se movimentavan
sobre 0 comportamento, estilo, sor
alguém desvelava a classe a que o indir
de desvelar sua Familia. Certamente, no que cor
nédia, o modo como as pessoas viviam suas vidas enq
embros de u
média. Ao mesmo,
a fan
sstava-se natur
“p
prépria classe, Houve,
wando se est:
sive, por
tempo, uma ideologia que tragou paralclos com 0 modo «
as populagies se dividem naturalmente (classes percebidas
nas nacurais
(HANDLER; SEGAL, 1990,
DER, 197, pul
32; MITTERAUER; SIE-
7Statbe
Essa dimensio relacional foi um fendmeno de que os atores
envolvidos estiveram intensamente cientes, a saber,
posigao
relativa das classes ¢ de gradientes intraclasses com refinados
detalhes de discrin
ca da posigto ocupada por alguém em relagio a outras classes ¢
izante. Muitas atividades de classe
Asua pray
exigiam 0 correconhecimento, isto é, protocolos indicando
com quem alguém se havia preparado para se associat e, como
se dizia & época, as possibilidades de ascensdo € queda dos
individuos. No entanto, as relagdes entre classes eram tidas
como dadas.
Hé pontos aqui que interessam ao pensamento contempo-
vineo sobre o parentesco, como 0 consagrado impasse entre
6 individualismo e seus criticos, Previsivelmente, as quest&es
diverge. Por qu
objeto de exortagio (um co:
relacionalidade €, tio desajeitadamente,
nte tema para (re)inven-
cio)? Por que ela nio pressuposta (apenas a espera de ser
descoberta)? Por que os euroamericanos precisam dizer a si
mesos — ¢ vimnos a Comissio de Genética Humana fazendo
exatamente isso — que eles deveriam reconbecer quio relacio-
1ados eles esto? Finalmente, apesar das semefhangas entre
sistemas de parentesco euroasidticos ¢ em toda a Euro,
cortelacionados com todos os tipos de valores concetnentes
ropriedade, agricultura e dat em diante, hé um forte senti-
ap
mento de que as sociedades do Norte europe e da América
\s ramificagdes possuam comunalidades
do Norte e s
Talvez possamos consteuir 0 parentesco como
acentuad:
sm caso em que, hi muito tempo, a cién
sociedade, ¢ a sociedade, na ciéncia, A ciéncia no apareceu no
mar como uma lla. Modos de conceitualizar suas descrigiex¢
erento, ineperada
exigéncias foram
nergindo por meio de empréstimos de
tros dominios da vida (ZIMAN, 2000). Certamente, sabemos
que ose:
lucionistas do século XIX olhavam para as conexdes.
entte individuos (genealagias) para falar sobre as conexdes
(lassificagSes) entre coisas e criacuras no humanas (BEER.
1983). Havia um sentido segundo o qual o parentesco supria
condigdes prévias p
Pode
certos modas de pensamento cientifico
artiscar dizer que sea ciéncia, por sua vez, inspirou-se
no parentesco, ela também 0 modificou?
Quando Viveiros de Castro fala do deslocamento da onto-
logia pela epistemelogia, faz uma declaragio mais comparativa
do que histérica. Quero acrescentar que, quaisquer que sejam
93 fundamentos episcemolégicos da histéria da Europa,
vernos, hoje, um tipo especifico de epistemolog:
idade
em combinagdes—oriundos de mais do que uma dinica
ese a possi
conhecis
sntos ~ antitéticos,
fonte. E, com isso, aparecem diferentes modos de verificar
conexGes entre pessoas. Na organizagio desse conhecimento,
‘08 curoamericanos possuem, digamos assim, um sistema cien~
ico ce parentesco.
Aviso
ada compardvel Revolugio Cientifica.” Shapin
ir essa frase e,
cerminara de prof > referinse a seu tra-
ho de mes!
rescenta, “e este € um |
iss0" (1996). Nio havia evento, no s
cestivesse sob essa rubrics (a frase foi cunhada, aparentemence,
ro sobre
lo
VIL, que no
99Marilyn Strath
tnos anos 1930)2* nenhum corpo integrado de conhecimento
‘citncia”
que pudesse ser agrupado e designado coma i
ainda mais fundamencalmente, se alguém se atentar a0 que
as pessoas realmente faziam ou diziam, a ciéncia no passava
de uma ampla gama de pensamentos e priticas com trajet6-
rias locais préprias, no contexto de um piblico genérico que
cra amplamente ignorante, indiferente ou cético, Ao mesmo
tempo, fica claro que os precursores dos cientistas trabalhavam
de uma maneira que tinha efeitos desproporcionais em relagio
20 que acontecin na época, ganharam Forga desde entio € so
de grande relevincia para 0 presente. Um antropélogo pode
formular de maneira diferenve: sex
capaz de ver de perto 0
que parece extremamente visivel de longe é ama questo de
incomensutabilidade de escala
Pois hf uma questo referente a como validar meu angu-
mento, Tenhe especulado sobre feadmenos sobre os quais
ao posse produzir quase nenhuma evidéncia do tipo com que
estTo acostumados a lidar os antropélogos: fatos observados
em campo, 0 permanente caso etnogrifico, Nao estao em
questo, neste celato, as simplificagdes, mas, sim, saber que
tipo de material seria qualificado o suficiente pata eatifieé-lo
Pode ser impossivel enconerar dletalhes histSricos suficientes
28 Embora a nogio de musanga radicil estivease emergindo entio.
Shapin (1996, p.3) escreve: “O inicio de uma ideia de revolugio
tna cigneia data dos escritos dos filésofos iluminiscas do século
XVII que gostavam de se recratar[..] como radicais”, conquanto jf
houveste especialistas no século XVI que “idencificavam asi musi
como "moderos” em oposigio aos “antigos” modos de pensamey
to e pritica” (1996, p.5, grifes no original). Ver Qusram (1995,
pas-9),
100
Posentesc, dirctoe0 inesperado
da ordem apropriada para fundamentar o que estou sugerinds:
sobre as catacteristicas do céleulo de parentesco curoameri-
cano e a imaginagio cientifica, ou mesmo sobre a validade do
curoamericano com configuragio cultural enquanto tal. Na
medida em que individuo e pessoa sio fendmenos pertencentes
a discintas ordens de descricdo, poderfamos também afirmar
que, ao reunir diferentes ideias sobre relagies, eles existem em
diferentes escalas. Concomitantemente, os dados sio de uma
escala diferente da dos modelos que venho descrevendo.
Fis 0 quebra-cabega castico: 0s pés parecem tocar a terra,
nas amplic-os bastante ¢ voo® encontrar convolugées ¢ den=
teaghes na superficie que se repetem nas ampliagdes até que
parega que nada mais esté tocando coisa alguma. A descrisio de
tum organismo é relegada a segundo plano em vista das caracte~
risticas moleculares de seu genoma. O que caracteriza uma po-
pulagio nio necessariamence caracterizaré um individuo que a
compae, e assim por diante. Essas sto maximas
ntigas, €0 s30
também na antropologia. Nem 2 sociedade de Durkheim nem
4 estrutura de Lévi-Strauss poderiam ser vistas no especifico.
Todo o argumento de O suiidio, conforme Durkheim expe sua
cdescoberta, era que a8 526es individunis no eram formas dimi~
nutas de sazées coletivas: o ponto de distincio entre modelos
estatisticos e mecdnicos, que Lévi-Strauss inventou, era que um
modelo no poderia ser refutado por material gerado por outro.
Hi um outro modo de como 0 antropélogo pode formular
ixso diferentemence, e este comentirio vem de Hirsch (coma
nicagio pessoal, 2003)..As pessoas sé podem agir no mundo
onde habicam, mas o fmpeto para a a¢io inelui dimensdes ima
inndas desea, situagGes centro de sew alcance aparente e, por
saisto, culsuralmente vigveis. A formagio discussiva de Foucaule
1972, pA 91-2, “o conjunto total de celagées”, “um campo
totMarilyn Sratbora
de viabilidade. © Capitulo 3 desenvolve este ponto. Por ora,
mesmo suipondo que nada de minha especulagio permanega ou
que 0s mundos imaginaveis nio sejam plausiveis 0 suficiente,
as questdes sobre o compromisso da anteopologia com as tela~
Ges ¢ os diferences modes como os parentes classificam suas
conexdes nao desaparecerdo tio facilmente; também vém a tona
rnovamente no Capitulo 3. Para este, um breve comentétio acet-
ca do papel do conhecimento em uma faceta contemporinea
conclusio.
do cdleulo de parentesco fornece
Voltar ao caso do inicio, sobre a informagio genttica, é
reconhecer a impossibilidade de existir outra tecnologia mais
des.
fortemente baseada no conhecimento do que © teste par
cobrir conexdes genéticas. Franklin observai
aque € “concebivel” sobre o teste da amniocentese, ou o rastrea-
mento genécico para cancer de mama,” ou testes de paternidade,
ido na concep gio de parentesco como hibrido de ind
dao e sociedade, de faros natu
is culcurais, O dilema de “o que
fazer de nossos genes” deriva da pressuposigio de que cles 10s
‘zemn quem somos, inicialmente. (2003, p.74, grifo no original;
nota de rodapé adicionada por mim)
© que também esté incutido na concepcio de parentesco,
proponho, é 0 duplo legado do conbecimento cientifico. Pode
mos, agora, precisar melhor essa conerzo. Fla jd esté implicada
no que eu disse sobre a dependéncia do conhecimento cient
29 Aqui, ela se inspira em duas investigagSes etmogriticas de antro-
pélogos estadunidenses, eespeceivamente, Rapp (1999) e Finkler
(2000), a cujes tiabalhos pioneitos presto meu reconhecimeato,
Poventsc, dicta eo inesperade
fico em dois modos de conccher as relagdes (0 constcuido € 0
dado, conexdes e coimplicacdes) e, segue-se dai, dois modos de
xalidar 0 conhecimento (como invencio ¢ como descoberta)
Tilver. nao seja nada surpreendente que os etronmericanos
vejam o parentesco como o lugar por exceléncia da relacionali-
dade e, entre antropdloges, cai como uma luva intrigar-se sobre
0 sistemas de parentesco de outros povos. Ao menos até onde
diz respeito ao parentesco inglés, as relagdes sie increntes ’ tein
deconexses que as pessoas fazem, suas redes individuais; pois &
af que veer muito do que esta aberto 3 invengio, 3 identificagio
no sentido do reconhecimento ativo.*° As familias recombi-
nantes do Capitulo 1 deliberadamence forjam relagdes entre
clementos outrora componentes de outras familias. Ao mesmo
tempo, as relagées também so inerentes aa reconhecimento
(no sentido de desvelamento) de capacidades dadas, lacos
caracteristicas que jd conectam as pessoas umas 4s outras; esas
rwlagies, que sio passiveis apenas de descoberta, sio baseadas
na demonstracao de relacionamentos existentes.! Uma clinica
(o podcria chamar amigos ¢ parentes para ajudar na doagio de
0 Finalmente, assi.a saciedade & feita ctis¢a, no sentido positivist
0.2 sociedade difere de todos o¢ sistomas coustan
Consequencen
Temente produzidos pelos antropélogos enquanco cantrupontas nos
4s pessoas aparentemente nfo tém escolha na que diz respeito
asa quem se assaciam. (O “pai” eutosmericano pode set reo.
nhecido em distintos tecrenos, sob exigéncin, convencionalmente, de
nnstituigdes sociais como o dirsite para fitar seus dererminantes
Desta Forma, a
woreza difere de cosas os sistemas que os antropélogos cons-
1 O que fornece a elas sa assim chamada ni
que formese mu chamada naruree:
lantemente produzem como contripantos nos quais © parencesce
ico” € aparentemente inventado, (A mile e
si
icamente no proprio process de dar 8 luz uma criansa
iva convencioralmente, ca det Je matureza, criada axio~
103sugerisse obrigacSes preexis-
rentes, mesmo que o caso transforme parentes velhos em novos.
Ambos 0s casos tomam 0 conhecimento, se posso formulac
dessa maneira, como formativo do
Hi muito mais a ser dito acerca do papel do co
na formagio do pare
nento
tesco euroamericano, Altamente rele-
questo de como nocSes
sobre biologia e genética ~ um tipo de absorgio explicita, se-
cuncléria da ciéncia “na” sociedade — provavelmente sobrepdem
vance para 0 momento presente &
absorgSes muito mais antigas ¢ de vérios
pos, recuperive
apenas enquanto dimensdes imp!
tas ou técitas das pratices
de conhecimento. © genoma esté disponivel para descoberta,
formagdes pessoais derivacas disso fazem as pessoas
recorrerem As pressas a seus parentes ¢ contatos, bem ec
direito, aa esperanga de q)
a regu :
m deve estar informado, Caso
nentagio poss:
has questées acerca de q
io, novas regulamentagées devem ser inventadas, Isso
ocorre com a inflexso que j percebemos: se alguém autoriza
aadener
outra pesso culo de conhy
dos, esta pessoa
passa para o efreulo dos autorizadas a se familiariza
informagio genética sobre esse alguém.
Agradecimentos
Agradego a James Weiner ¢ Andrew Mouta po
que pr
bém ao agradego. Sob o
Strathern s.
isa Ser pergunt
de "Living scien,
foi apresentada em 2003
nas reunies ASA Decennial, em Manchester, organizada sob
. Sou grata a Jeanette Edwards,
Penny Harvey e Peter Wade por seu generoso convite,
104
vo
Capitulo 3
Propriedades emergentes
, Artes
es que
‘ptcutaram, Esta parte da
ida do Osgord English
ra “antropol
nte gravitam em diregio adebates,
blicas eacé mesmo liigios, momentos marcantes na
a euleural. I Ses
0 porque to interessantes quanto as pos
ndidas podem ser os recursos culturais mobilizados pelas
ss ~gorias € as imagens convocadas a
use a servign da persuasio|Um estado de cosusincomum
toy\
' cursos éum interesse pelas imp!
Marilyn Stratbern
comma-se familiar; ou uma situagio torna-se vivida por meio de
nia analogia com outta; a conviegio pode eepousar no apelo a
combinagées de ideias que podem ser evocacas
velhas ou nov
ou conjuradas, Evidensemente, 0 que é dito no calor do debate
tende a ser uma
era
pouco confiivel esse respeito pode tors
em outros aspectos|Se p:
gens, alegorias © analogias devem, ao menos,
eréncia empobrecica do que 2s pessoas pon-
sm momentos menos cartegados. Nao obst
se um g
te, am gui
fascinante
menos com o intuit de persuadi,
tivas,
comumicar © possivel, ¢ 0 interesse antropologico ps
messes ne
de dito
ou feito para o que os outros dizem ou fazer. F esse mundo
\sBes possiveis a pat
potencialmente realizavel que os antropSlogos abs-
ura, Fissa nao é uma visto idealista; antes, abre os
estudos empiricos as potencialidades que as pessoas constroem
© tempo todo para si me
formam suas ago
as (¢ para os outros) ¢, assim, aos
sunlos po: no mundo presente
Ao for
.or novas propriedsdes a
ides
mas também — e muito
fveis qui
sguagem em prol do debate, as pesso,
elhos conceites. Embora as arenas
sy
‘equentemente — inace
podem
info sejarn apenas ample
crutinio, o debate ¢ o litfgio cém, ao menos, a virtude de serem
ar
para a minha exposicdo, embora eu os apcesente com
certa cautela,! Entsetanto, seh uma questio latente para mim,
logislagio britinica sobre embriologia e fertilizagio [EDWARDS
106
Pareneso, diets « inesperado
ela é sobre as propriedades emergentes ¢ as novas 10
que vieram do mundo angléfono modeme, em seu
fica que também, amateriais h
t6ricos, sem
1, contd, de lidar com eles como uma historiadora
o faria, A questio & 0 que fez
to, dorar as
inglesa, nesse momen-
[relation] e “parente™ [relavive
ch propriedade do parentesco, isto é, parentesco por sangue ¢
casamento? Eu nio a responda, mas espero mostrar por que
pode set interessunte fazer essa pergunta
[As razdies comegam e terminam no presente. Eu intercalo
quiestoes histdricas com questées atuais, Esse caminho de
vém mimetiza, de cerca forma, 0 modo como o parentesco, sob
suas diversas Facetas, aparece e desaparece como recurso
pata se pensar sobre outras coisas.
1
Origens rvlriplas
Inspiro-mee
um antropélogo ¢ advogido que acompanha
como a familia tem aparecido nos debates jurfdicos dos EUA
apropeingio da oy
sespeito & intensidade com
mutotia dos materinis 208‘Mavilys Strathers
preocupansse, simulcaneamente, com valores tradicionais ¢
com novas regras que reflitam mudangas nas convengées, As
familias construidas pelo dieeito podem tanto ser “comuni=
dades holisticas e solidsvias” quanto ser compreendicas como
“colegdes de individuos aucénomes fazendo suas peSprias
selegdes, livres paca escolher relacionamentos por meio de
negociagzo e barganha” (DOLGIN, 2000, p.5-43). Dolgin
inicia seu argumento com a opinigo de um advogado que, em
nome de seus clientes, enfatizara o amor que eles sentiriam por
qualquer crianga nascida para cles, evocando am quadro moral
tradicional.® Ao mesmo tempo, os pais pretendences faziam
um antincio ofertando U$50.000,00 por gametas femininos
(évulos) selecionados por conta de caracteristicas (aguarda-
dlas) especificadas em cetalhes. Pode-se obter no mercado os
elementos necessirios para se criar uma erianga; depois disso,
no entanto, uma vez que um bebe € parte da familia, valores
de mercado nio devem mais irromper ¢ os relacionamentos
devem seguir 0 curso esperado. Thlvez devamos simplesmente
yer ambas as dimensdes em paralelo: uma nova localizagio para
zescolha individual também é uma localizagio para a expresso
de valores pevsistentes de solidariedtide familias. O angincie,
dliga-se de passagem, obreve muitas respostas
Dolgin escreve sobre determinagbes de parentalidade em
que telacionamentos complicados por doasio de gametas ©
maternidade de substituicio levam a dispuras. Embora seja
possivel tragar um caminho por entre processos judiciais que
2 Dolgin satiliza familie rosivional come abrevisgia pars aquil qoe
emergias durante o: primeitos anos ds revolugio industrial, vina
familia “consteufda como a aytitese cultural dos dominios de co-
mérsio produzido pela induseeializagio" (2000, p.524)
106
Parentesco,disto eo insperalo
mostrem 0 valor dado pelos americanas aos lagos genéticos
(DOLGIN, 1990}, é igualmente possivel mostrar até que
ponto 0 fato ¢ a qualidade do relacionamento sio conside-
rados fandamentais. Conhece-se a posigio dos tribunais de
dlenegar evidéncias de patemnidade “bioldgica” e zelar apenas
por relacionamentos familiares, Um homem que descobriat
ndo ser o pai bioldgica e tentou compet lagos com seu Filho
foi rescituido ao rela
snamento que ele jé havia estabelecido:
se um “laco pai-filho” foi formado, encio “o relacionamento
ainda existe para o dircivo" (2000, p.53.1).*
‘Mas o que cvia uma telagior| Embora seja possfvel deduvic
o fato de umn relacionamento a partiz do comportamento entre
pais efilhos apés omascimento, decisses juridicas também enfa~
tizama possibilidade de deverminagies pré-natais voltadas para
co nascimento, porém abstraidas do processo de nascimento. As
reivindicagdes nfo se basciam na biologia nem no comporta-
‘mento, mas, sim, cm una condigio mental: a intengio dos pais,
Dolgin descreve deralhadamente um caso lerado em 1998 a0
Tiibunal de Recursos da Califérnia.* Uma c
embriio criado por doadores andnimos ¢ gestado, em troca de
aga nascera de un
S
remuneragfo, por uma mie de substituigio; ocasal original, Lax
nee John Buzzanca, divorciou-se, ¢ Luanne solicitou o status
+ Nesse exso, o iba
indeferin a solicizagto de teste sanguinco out
as considleracées sobre cvddénctas de PNA; cle baseourse em fates
sobre o relacionamento. © process de um pai com reivindicagies
de direitos parentais pode ser confrontado com o angumento de
1 a habilidade de
stabelecer usm Ine com a mie da eriangy DOLGIN, 2000, ».53)
1 tow the M,
snct Dolgin por ter me enviado a
que ama relagia Farviliar adequada precisa ine
age of fbe A, and Esanae H. Busganca: sow muito grata a
avagio da Tribal de Recursos
‘hy Califérnia, 10 de marge de 1998,
109Marilyn Strathors
parental, sob 0 argumento de que ela e seu ex-marido seriam os
pais leg
otencial (0 casal divorciado, a mie de substituigio ¢
do évulo ¢ 0 doador do e
pais em
imeira inst
ascendéncia.’ O tribunal de recursos anulon
engio seria suficiente:
nca aps a mite de substi
Jorma erianga bi
72 Cal. Rpte 2elem 282). No
a foram declarados 0s pais legitimos, ©2
na decisia
test, dieito «0 inesperado
Eo direito que valida a relagao,}julgando © que pode ser
considerado como tal, mas € intengio dos pais que di raz30,
a essa decisio
© reconhecimento 4 inte com a énfase
|guém que tom:
idcologia de fa-
idade aurénoma, | considerando]
] ‘em formes até entio reservados para a
vida no mercado” (DOLGIN, 2000, p.542).Ao
0 que estabelecce parentalidades legais estabelece tam-
mpo,
é declarado, o telacionamento
mente econdmicas,
consequeneias — esp
ido divorciado tentava evitar ter de
sse aso, dado que om
ircar com pensbes para a crianga, O Estado tem seus proprios
belecer a patcrnidade precisamente porque 0
reta tesponsabilidades; independentemente
ade €criada, a erianga a
deve ser responsi
jos argumentos est fo se desenrolande
-eenente 20 lugar do mercado na
stctarem respon
les, Toma-se como dado o papel da tecnologia médica
£0 pessoas (BRAZIER er al. 2000,imenta os interesses das pessoas em se vincular edesv
nologia nio mule
nimero de requerentes ou as bases nas quais as reivindicagdes
eitas se nie fosse pelo modo como as pessoas se
dlas novas oportanidades.
de Peridicos Mé
das a centenas de periddicos de lingua inglesa, es
JCMJE, na sigh!
agora a exigt
todo (no apenas pela tare
desempenhou)
0, p.23, grifos no origi
-se de uma reagto a mma ¢f
Parentesco, diate € 0 wey
autore esrarem cientes de que scus nomes foram
aproprindos. Una série de casos de fraude que questionaram
como a responsabilidade estaria dist
incemtivou 0 debate (1998, p.7
fndo, 0 rei 10 05 "contexts
de
repletos de capital” (1998, p.6)
as} cada vez maiores, colaborativos &
— conduziu a ume explosio
da nomeagio auroral. U
de quantidace de nomes s36
fos cu. csnjumter
Na autori fica, Segundo
se a norma, Ser nomeado craz consigo,
{escrigio de Biagioli
o mesmo tempo, crédito e compromisso; aqucles cujas reputa
ide estio também declarando
Ao
sos ¢ assim que as diretrizes do ICMJE esforcam-se para
Ses podem Tucrar coma public
ponsabilidade no que concerne a0 contetido intelectut
fortalecer 0 conceita de autoria:
eng)
esponsabilidade que exige dos individuos
clam publicamente a projecos espeetficas, No ¢
ros de
to, as pessoas tém objetato
esponder uns pelos outros, Lima carta dirigid
1997 invas
‘os auténomos de Dolgi
fo que quase poderia ser a fami
Se, em am
ges nio sto cides como responsiveis pelas ages um do
0, por qae deverfames presumir que colaboradores cient
caso sejam?" (apud BIAGIOLT, 1998, p.
Queros ressaltam
1 de protestar cont
1997) < ver sobre situacSes
is nas quiais os mesmos
dliseintos fins
13ntos preexistentes. De fato, no outro extremo,
# organizacio adotou um modelo de nao escolha: todas as
Ses vindas do laboratézio tém u
lista padrio que
osnomes de cada um que conteiby
paras empecitada
como um todo.
© que Biagioli cessalea,crtio, sd0
ito dist
na. L
lores divergentes, nio
ntos dos dois modelos aruais de fi
doa lado com um
{assim como a familia trasdicion
dade entre todos os envolvides na
Pois nem todos os «
com
divisio, por exemaplo, entre colaboradores e responsive
colaboragio
Lovage poss
zados a 20
Payentesea, dreita€ 9 inesperade
fangées, disponiveis para o acesso do leito
enquanto
controles de auditoria estivessem em
tros garanciriam q
ento,)
Um dos peri
funcion:
cos britinicos, B
sh Medical Jo
na proposta, também comprometeu-se
ressado nessa
recer a posse dos direitos autorais s(s
de Educagio Superior de Times, 28 de jancico de 2000). Os
atuais métodos eletrdnicos de produsio e distribuigio sig,
m1 que autores podem buscar
quer modo, podem ter um interesse independente
propostas do Reino Unido, «
licenga de publicasio”
ou pedigor espe Iho? €as coadisdes
lve 3
condi
Druckyn Stathers
> Os direitos x
jentos entre um tr
ito aucozal do direivo moe is prote-
n certos relaciona
10.0 diteita de ser idenci
toral tem sido freque
propostas mais recente:
ou ciemitico, eng
modo, adivisio e
direitos econé
©
ror, ea editora
10s permanec
desloc outro |
pare hos é uma ardilosa via de
mo dupla
Pareresc,drate eo ineperade
Entretanto, Biagioli ndo afirma isso com relagdo & pro-
priedade incelectual.’” Pelo contritio, as reivindicagdes de
watoria ci 0s direitos (por
clade inte:
I, Na esc FE tre direitos
de propriedade \gos por meio da ficcto
ico, Autores de trabalhos:
o-co do
17 Ali de p
CTASSY; DAMBRINE
que diz ry
scheo” (SHERMAN; BENTLY,
%
le cnquante processo.) (A
ne chamay a atengio pata isso.)
11gMarion Stoatiern
cientificos buscam modos de reivindicar 9 crédito por seu
crabalho, que s6 pode vir do dominio piiblico; atribuigdes de
originalidade ou ganho monetario poderizm desviar a arengio
de tais reivindicagbes ¢ impedir sua verificagio. © crédito
literdrio € outro assyento: se, aqui, a eriatividade individual &
central, essa mesma nogio de criativ
resultado de lucas
hiscéricas sobre a propsriedide intelectual, nas quais (ele opina)
“o enfoque no autor individual como decentor de direitos
de propriedade deturpou a longa cadeia de ago humana que
produziu um trabalho literério” (BIAGIOLI, 1998, p.11).!
Talvez, contado, existam cadeias de distribuicio tanto quanto
de produgio, Talvez, ao menos para os produtores licersios,
figura emergence do nore detentor de direitos autorais
mancerd duay dimensdes em paralelo: uma nova localizagio
para a originalidade individual rorna-se, ao mestro tempo,
18 Autores
jos podem, 10s, uma visto coletiva,
embora uma comunicide que abranja tanto
© pibblico quanto seus coleges escrizoces. O primeito parigrata de
Minuci de Declaragio do Reino Unido (9.18) comega coms “Au
totes académicos comunicam ¢ comparcidhas ideias, informasio,
hecimente c resultados de estudoe pesquisa por todos os meios
de expressio disponfveis e de todas as forinas, Bles eeconhecem que
tes desse processo de comunicasio académnice inclu
ceditores académicos,editoras © espec' aio", Uma
seas em apoesen
teorézagio mais radical e bem trabalhadh da navoria muiltipls & d=
monatrada nos textos pos-modernos, sempre um eecido composto
[POF CUEIOs texts, como nos lembra, por exemplo, Coombe (1998
P.284). Rose (1994, pws) observa que wn dos estimulos para
sua pesquisa histérica sobre a nogio de individu eviador, na qual
bnasein-se a ideia de coporight, foi sun experincia com a inddstria do
entretenimento, onde quase codo 9 trabalho &, aa mesmo cempo,
estereoripade ¢ corporativo
118
Paventeico,dicto #0 inesperado
ma localizagio para um novo senso de comunidade. Pense
no conhecimento € nas habilidades elecrSnicas com as quais
© autor-cmpreendedor pede, entio, abrie redes originais de
cesso a seus producos."*
Eu deveriacomentar sobre ese salto de wins arena a outa —
clos processes parentais } autqria cientifica, Em each uma, 0s
debates giram em torno das implicagSes de multiplicidade.
Ainda assim, os ecos entre ambas parecem adventicios, riviais,
um efeito fagaz de frascologia, Evidentemente, nfo poderfa-
mos sustentar suficientemente uma analogia a ponto de conse-
uit pensar de maneira dil sobre a primeiva (a parentalidade)
1
cm cermos da segunda (auicoria)? Os paralelos em poten:
nessa justapasicio podem, portanto, ser interessantes por uma
linica exzdo: porgue com eles ver A cabega a possibilidade jé
percebida, uma ocasifo quando alguém proferiu, de fato, cone
ses desse tipo, O que en apresentei ni é, enfim, uma analogia
nuito elaborada, mas, sim, 08 tipos de matéria-prima a partir
los quais sio feitas as analogias e as possibilidades culturais
ue elas contém. Minha analogia de faz de conta prepara 0
sveno para outea que nada tem de fingimenco,
Uma analogia
Dor tris da apelagio de Buzzanca estava um caso muito
ionado, teazido a0 Suptemo Tribunal da Colifrnia em
ma: [3.4.] "O enquadcainento jusidice
wvaliado para se
i justo entre as necessidades dos criadores,
A Minuca de Declaracko:
(c pallicagao eam uma ea da eletrdnica deve se
estabeleoer ain
tos e ustsirios”; [1.3.] “especialmence as
10s doeencores de cir
wowssidades da cormunidace usutéria dove ser levadas em conea
119Marlys Stoners
1993. Uma das jutzas, ao discordar, analisou 0 argumento
decisivo do tribunal: baseado em uma comparagio velada entee
cual. E
wduzia a0 erro (¢
criacividade reproctiva e intel:
pds a analogia para
descarté-l Ao, cls
o voltou a
na audidneia do caso Buzzane
mo bsti-
tuigio em nome de Crispina Calvert e seu marido; 0 embriao
veio dos gametas de cada u
n. Na disputa que se segui
mulher reivindicou maternidade (1
JOS
cicos, bioldgicos e natu.
por meio do parto;
outra, por meio dos gene
is”. Esse
fos Calvert eram os pais “ge
m fator cruci
naturais” foi determinado por
de procs
dos Calvert]
que Fez
A maioria objerou
rise
1900a, p.165), ses506
95). Derek M
Baste, dito #0 éreperads
como aqures gue 0 conceberam. (Supreme Tribunal da C
1993, p85 1 P2d em 795, gif m
Eis 0 trocad:
ho aq
se as que concebem o conceito m ioxo por f
is que ‘deram infcio’ dct
cf. Morgan, 1994, p.392).# Uma vez que a
cus pais pretendente
fo fassem os esforgos a
scido n
eveu outro comentaris
30 significa que estes era
.1 primeira, ou o motor prineipal, da relacio de procria-
". A juiza Kennard, por discordar, seguiu essa formulagio:
encou quea logis jot do conceito é frequentemente
stificar protegio de propriedade intelectual
olvida par
Com ess coma
aaiio ~ dentre seis — para nfo concor.
visto majoritdtia de que a intengio deveeia see 0 fator decisi-
a Kennard expds, assim, essas frases como metade de
ra metade veio di
ssonalidade ou seu eu [sf]. A maioria conchou invengio € protegida como propriedade
jou 0 conceit”, também se deveria conside
nga como pertencence ao criador do conceito da
upcemo Tribunal da Califérnia, 1993, p.851 P2d
796). No entanto, a jutza arg ‘
m prob
nessa compara ade: g mercado
com 08 direitos de proprie
ante de cangies ou invengdes, os direitos sobre
podem ser vendidos em consignagio
dos disponiveis livremente;
m pode ter
ngw
. propriedade de qualquer tipo ((
relectual ou qualquer outre
sobre uma crianga p s de mais nada,
“que crian
sio propricdades.
Mas a comparagio no €
& também com os tipos dec
crianga e entre aqueles que criaram o conceito ¢ sua sealiz
[TL], por exemplo) entre ideia e expressto.”" Se o paralelo €
islagio moderns
caso eve de
re (MORGAN, 1
994),
fo a0 modo
ree
Parents, dren £9 busperads
agio", nko pode ser a ideia
estem
nv
a patentengio de
de uma crianga que esté sendo
_ sim, de sua corporificagao em um
dominio publico ;
ssI0
5 entreranto, caso se trace de wma expres
novo resultado:
da ideia, como uma cangio soy
particu
entio a reivinelicagio s6 poderia ser <
dinieas da psopri
estavam presentes na intengio dos pais ¢ o que, em
¢ setia preciso
Jas
qualquer caso, havia de copisvel
de propriedade inte
ges vagas sobre a criatividade em
pascera, Ninda que vagas, 38
is do nascimen
médica aparega como
4 dldvidas categ6ric
o valor
sem
so eng
i ontestado:
aterial das coisas, (Isso foi vigorosamente
jaa Kennard, que salientou que, nio Fosse a gestagio de
\ca nko existitia.) £m terceito lugar, ¢acima
entre ctiatividade repro-
fo farode quea
como veremos—tirada d
1988 do Reine Unido)
opi&sel (ARNOL
123Marily Stotbere
E de interesse do antropéloge a possibilidade de a analogia
ser articalada, © fato de ela ter sido descarcada com argumen-
tos considerdveis nie representou nenhuuma caltinia 3 criati«
Vidade dos jufzes em sugeric o paralelo. Este tinha potencial,
er culturalmente plausivel. As pessoas esto culeuralmente
em casa quando podem salear de um dominio da experiéncia
9 outro sem sentir quédeixaram o sentido para crs. O que
conecta os dois dominios, nesse caso ~criatividade reprodutiva
je inceleccual.—, é uma visio completamente calcada no senso
[ somum (embora nfo inconteste) sobw os criadores dis coisas
reivindicarcm beneficios ou terem responsabilidades atributdas
Lasil o idioma dos direitos de propriedade intelectual enfasiza a
“naturalidide” de uma identific
© entreo concebido caquele
que concebe. Outta conexdo 0 alerta contra identificages
obtusas com posse econdmica quanda hé pessoas em jogo. A
ideia de possuir uma ctianga coma peopriedade parece ir contra
© senso comum, mas nfo é, em minha opinio, contra um senso
culruiral; o alerta permanece.
Nio é tirado da cartola; algo que merece nossa atengio esté
seado sustentado aqui, Velhos padrées emergem de novas
convergénci,
a0 que parece mais, © nio menos, estimulados
pelo ritmo da mudinga. H4 apenas um padrao no percurse:
simalrancamerte, os anglfonos considram posse flar sobre prticas
relacionadas afer parenteseeeprtcas relaicnadas a fazer conbecimentd.
Assim como na comparagio entre esposos e colaboradores
sientificas, podee-se-ia supor que as relagées de parentesco
fossem, invatiavelmente, a fonte da linguagem figuraciva para
a produgio de conhecimento —enio 0 contrério, Note-se, por
exemple, como o termo “pacernidade” se deslocou para 0 uso
regular na designagio de um dos novos direitos morais que
12g
Parents, dircte« o iesperade
11 ke propricdade intclectual inglesa rezonhece (protegio da
ficagio entre autor e craballyo). Entretanto, dei espago as
siniges da juiza Kennard precisamente por causa da directo de
1 analogia. Bla aficmou que os argumentos apresentados em
Lavor das reivindicagSes parentais eram devivades de arguinentos
lumiliares a protegio de autoria por parte da lei, Novamente,
isso nto foi tirado do nada; essa direcio, por mais inesperada
ste seja, tom sua propria histéria, Recuperei um material jé
muito discutide para evidenciar a densidade dessa origem.
Outro paleo deve ser montado, ¢ este sees o paleo para minha
questio histérica.
at
Prole em propriedade
Se nio se ests atento 30 modo como as expressbes idiomiticas
parecer e desaparecem, uma olladela sipida para erés sugere
que a paternidade ea um trope ha muito estabelecide, A verdade
que apenas recenremente ela foi incorposada as leis de direitos
f fascinance considerar seu objetivo
outorais inglesas. E, porranto, fas
10 exato momento tm que os direitos autorais nos teabalhos
literdtios escavam se tornando uma arena de debate, isto & a
Inglaterra do século XVII (ver Coombe, 1998, p.219-20}."
FE ep vere tinseence enone odes WE
XVI apangen primi por vendre de Ineo e depois por
Cocrivten en rapes a um crescene pabliceleeado 3 possi
Iie de gerade vendn pla ec vin un ova egine de
desenvalvimenc ao long do sco XVI, ent que o dito
autoral, na Inglatee
12sMaryn Steathee
Quande Dai
livro € propriedade do a
Defoe protescou
of, é Filho de s
ut cérebro” (apud ROSE, 1993, p.39). Rose sugere que ele
voleando a metifor
e XVII: “A figura [de
perioda moderno & ap
ho". Atribuir impor
estat
ro
‘ogenitor €
spectro aos
dizeitos de propriedade modernos, no entanto, secia
metéfora de seu contexto, Defoe nao esté falando de uma
priedade per
mas queixando-se de piracaria por
impressdes desautorizadas, que ele c roubo
par
de criangas. Ele esté
rgumei
undo pela proceso do interesse
do escritor om vender seu
ho
plo) por ui
remuneragiia
propriada,
remunerado,a propriedade passe a0
a expectativa do reconhecimento.
XVI ¢ XVII, Rose con
sr, dire ¢ 6 snerpertde
tude do
+ de proprie~
m a nagio de
rs
die, a metifora da paternicade € consonante coma emergéncia
do
patriaecal, preo-
© com o principio dinistico de
(ROSE, 1993, p39)
cup:
qu
Nogées de p parentalidade tm sefoventes bastan-
divers0s. que retinem tanto valores econdn
Direitos de propriedade
sociedade liberal
prope roprie=
se podia ganhar 0 sustento:"* 20
estava sed
empo, uma nova nog]
a,
ooo ama propriedade imob
w cal pro podetia refevie-se nfo apenas ao
frin), mas
wt
ftalo espec
eras pessos. Rose (1995,Marly Strath
is cambén
m livro como um corpo fisico,
apenas
entidade mais abstrat
composigio como um texto,
s ideias em desenvoly
enro
so politico em geral ~ p ricos liberais do
século XVII, p:
politicos,
4 a base dos direitos
a prope
0 de que gerar conferia diteitos er
GORDANOVA, 1995, p.375) "mast
SEE. 1994, p49
1995, p37)
126
Barents, dito ieperade
io coma forma, a expresso idioms
a espe
descendén
sco, com sua & her
de vista} referéncia ao trabalho como prole ¢
a visio vivida da patetnidade desy
serva qh
a prole por
notdvel
mples
Mas dé uma dica sobre 0 que mais
jente observa qe
> dificuldades retéricas
estarin acontecendo,
10s ers espacos
esos srodos” (1995, p.mu Stratbers
jedade
hd, como vimos, novos modos de conectar escritores a seus
Emergindo em novos modos de pensar sobre pro}
escritost o proprietario emergente nio cra o vendedor de livros,
mas 0 aucor,¢0 liveo emergence ago era o volume,
Como na citagio de Blackstone (apud ROSE, 1993, p.89),
em defesa do argumento de que duplicatas do trabalho de um
8 0 LENCO,
autor nfo o rornam menos original em sua concepeia: “Agora,
a identidade de uma composigio litersria consiste inteira-
mente no sentimento e na linguagen
5 mesmas concepgaes,
revestidas das mesmas palavras, devem necessariamente ser a
mesma composicio” (dos Conuntéries, de Blackstone, 1765
69, grifos suprimidos). Entao havia a reivindicagao de
© direivo do autor baseava-se no fato de cle ter eriado, ndo
apenas descoberto ou lavrado sua terea (ROSE, 1993, p.56-7,
116). Poderia ser possfvel cinamente, 2 espreita da
aterna enquanto figura de linguagem, estivessem
, paul
progenitura
novas possibilidades nas ideias de concepgio ¢ criagio? Mas
outras possibilidades ealver, oferecessem bases diferentes para
identificar 0 autor com seu crabs
ho,
ia estabelecido
conoragées duplas, ao mesmo tempo procriativas e incelec-
‘Concepgio” (¢ “criagio”, a época)
‘ivel tro-
tuais, que pe disso € 0 te
cadilho trazide para o caso da maternidade de substitu
Sabemos que, ao final do século XVII, a perspectiva havia se
exigido como a forma especifica na qual autores (litersrios)
eles deve receber sccompensas]” (1997 Guidelines for
Assesses
goes am
‘Mundial de Povas I
Toronto, Canad)
Parente, drsito 0 inesperndo
pressavam ideias pertencentes a eles, e essa forma era a marca
cidade de seus trabalhos,"*“Woodmansee (1994. p.36-7)
10 essa niogio do século XVIII, de a inspiragio do
‘or partir de si mesmo, substic
XVI e XVII, do escritor enquanto veiculo inspirado por acbes
Recapitular esse rela-
perspectivas dos séce
vsteriores — ¢ as, quer di
namento em uma expressio idiomética pai-filho ~o eseritor
no progenitor de seu livro, como Deus fora o progenitor do
indo (GILBERT; GUBAR, 1979 apud ROSE, 1993, p28)
satia a percepgio de dependéncia do escritor. Seria preciso
essas imagens excessivamente vividas da dependéncia desa-
ada da
scessem? A criatividade aucoral escaria mais bem se}
idilha nos relacionamentos?
$6 me testa especular.** Talvez a concretude da imagem pai-
» estivesse parcialmente no tipo ou qualidade da relagao,
prossuposta. Aqueles que fixziam uso da imagem aparente-
co tence era dist
Se eu escrovesse que
ldo ¢ formade (de moda que ©
© “corpo") que esta
seado confiscado,
oF ctevisticas externas da
Olservesse que utilize tate aqui de uma maneit :
es ate, por exemplo, nas mnios
be, 1998, p.284),
strtbufdo um valor
thes (1977: 198
cz de mo
icagio pessoal) ressaltou a evalucio dos sal6es literiries na
jn do sfeulo XVI
a espécie de "se
cum ahandono da primeira, espe
0, Paes 0 jovem leteado,
ntes a inteleccuais encontea-
131Marilyn Serarkem
mente descjavam reivindicar 0 tipo de possessividade que os
pais
nova retdrica de cancepgio e eriagio permiisse 2
sntiam em relagio a seus filhos;** seria poss
que uma
uém, em
contraposigéo, assumir a perspectiva da crianca? O texto do
autor incorporaria entio seu genio, e é isso que 0 tornari
conforme Woodmansee (1994) descreve, um trabalho tinico.
© genio cepousa no estilo ¢ na expressio. Eis a perspectiva
da criang:
supérfluo: o herdeiro onipotente pode criar seu préprio mun-
do.'7 Se hé orgulho em dizer que
por assim dizer, na medida em que o pai se torna
suém criacd trabalhos até
entio inexistentes, entio 0 autor tampouco deseja a existéncia
conhecimento desinteressad [.] s6 pode acorter como re
da
36 A possessvidade repouse, ger.
de, um sense de “pestensa” ent
igio da auroridade parenesl” (1987, p.20)
ideotidade ou sims
fills ¢, 3 époea,
jaadas do debate que arg
de, Alguas das filésofos do século XVII discucidos
es (1997) disting
bjete de conhes
cer, que expe 1 mente a “ines
ssoctagio natural da crianga com seus genitores:
do pai para a mie JORDANOVA, 1995, p.373, 379)
sevalor 3 inovaggo. Wood 994. p38
forth, de 1815, no que concerne 20
originalidade, tom a tarefa de o
ito 0 inesperado
original quanto seu trabalho."
ww6s disso, © relacionamento entre
cor e texto poderia
maginado como de correspondéncia, um tipo de geracio
geracional ou, conforme as mies do norte de Londres
ja Inteodugio: Parte a refletir, como
podem nos imps
itual onde s
sbes no apenas de si, mas do mundo co
balho se hospeda. De qualquer modo, a evidéncia de iclen-
ade aucoral repousaria no na linhagem ou na geacalogi
numa matriz infor
Ly
sim,
wcional (como se pode dizer
os dias de
je) na qi abalho codifica informagSes
e sett proclutor
Se o interesse antropolégico pelos recursos culturais é
ente um interesse pelas possibilidades de que os ditos ou
os das pessoas susteatem o que os outros dizem ou fazem,
hg apenas um universo especifico de coisas que alguém
pode e no pede fazer. Nesse aniverso, aio fazer conexdes
ser to estimulante quanto faz@-las. Realocagio, desloca
ergincia concomitante da nogao de que o trabalho poderia ser
ido como desvelamento da personalidad do autor, Coo
219). assim, pode generalizar ~ come a comentarista citado p
fea Kennard ~ que as leis de di
rincorporificay
wis autores individuais". A perspe:
idicle diseta do observader, su
0 aucoral
da personalidade dinica de
tem de pei
iléncia com é
est sendo observado. A criatividade 6 fixada na evidéacia do
abalho cesuleante,
133Ma
Strahorn
dos outros — tudo isso pode capacita
pessoas agem (BATTAGLIA, 1995; 1999). Podemos ver
arentesco inadequada como
contextos nos q
dono de uma metifora de
parte de um nexo de ideias ¢ conceitos que vinculam parentesco
¢ conhecimento, ¢ no
artado dale, Alguém poderia sugerie
gue a metéfora da paternidade foi na verdade deslocada em
pro! de novas nogées de criavividade, poderosas na medida em
que as ressonancias com o parentesco poderiam ser mantidas
3 discfincia? Porque se “concepgio" e “criagio” retém ecos de
parentesco, elas aparentemente deslocama ideia de um relacio-
om evidéncias mais imediatas, mas, 20
namento interpess
mesmo tempo, mais abstratas, de conesio: © préprio tra
informa as pessoas sobre seu autor. Teria 9 criagio se tornado
ima espécie de procriagio sem parentalidade? Se assim for, seria
consonante nijo apenas coma emengente originalidade do autor,
mas também com a emergente singularidade do texto literétio.
Informagao emt conbscimento
Como sabemos, 0 que acontecia com 0 texto nio foi exata-
q
men aconteceu com
autores impressos para indicar as pessoas responséveis pelo
contetido caso fossem provades sediciosos ou libelos (cf.
Biagioli, 1998, p.3)- Realmente, Defoe apelara & complemen-
taridade entre punigio e recompensa (ROSE, 1993, p.38): se
ele estava sujeito a ataques pelo que foi mal julgado, cambém
deveria colher os beneficios do que fora bem executado.
a sendo
A responsabilidade, naquela época, era ¢ ¢
iio sio dirigidas 3
portante na escrita cientifica. Quet
134
Boventeso, dire
0 inerperade
ade apresentagio, mas 4 qualidade da informagio sobre 0
ido. que & comunicada: isso é 0 que precisa ser verificado.
‘A autoria cientifica esté implicada em um tipo de produto
textual definida pela responsabilidade ceivindicada por seu
nteddo. Aqui, seu valor estava — e esté — em como ele pode
anter perance outros tipos de informacio sobre o mundo;
«autor é, aa verdade, abstraido dele nesse sentido.”
Contudo, 0 autor abstraido do texto torna-se con
etamen=
presente em outros lugares; ele ou ela torna-se um dentie
grupo de autores. Pois a autoria cientifica é, h4 tempos,
ade plural, uma sitaagio que Foucault originalmente
iu a0 desenvé o do método cientifico. Se ha
oje
06 tipos de nomes associados a um artigo cientifico, se-
alos de citagdes de outros autores de outros artigos, tudo
»& parte de um processo informacional; a presenga de varios
mes nfo dilui a autor im, a fortalece, como ress
em parte, possivelmente, 20 posicionar o autor dentro
a arena de relagdes sociais.*”
» © face nfo é na visio do autor os
ade da
a por comparacio com
mento, evidence
as na qu
informagio que essa visio produ, verif
Hume (1748)
jowcras informas!
uringe i cin ean da evidéne
precisamence em abservar que a conju
=e vsiveis &a conjuncura na qual o testemunho orna-se
ssa [modéstia] 6 ume das vireudes fimdadoras do mundo mo-
indo prsticn, que
mera opiniso [.-]” (1997, p-24)Marilyn Straten
Ao escrever sobre os problemas de confianga engendrados
no personagem coletivo di producio de conhecimento em-
pitico, Shapin (1994, p.359) observa que “o conhecimento
fico € produzido por ¢ em uma rede de atores” (grifos
omitidos). Ble refere-se ao século XVII. A pergunta sobre
como a verificabilidade era apurada, ele responde que “o conhe-
;mento sobre as pessoas era constitutivamente implicado no
conhecimento das coisas” (1994, p.302). O que contava como
conhecimento dependia do q
as pessoas estavam dispostas a
ates
€0 valor de seus testemunhos, por sua vez, assentava-se
no tipo de pessoas que elas eram:
© que era entendido de mode geral sobre os gent
1 rotineiro e esperado nas suas rel:
fo para padroniz
trabalho dos
1 As pessoas eram homens (ef. Haraway, 1997, p27). Shapi
os diferentes ciposcde testemunhos que os hornens pern
dl vespeita is convencie:
cevidenciadas pela confiangs — necess
crede
5s j8 existentes (por exem
colaboradares para a produsio do
136
Parenter, direito 6 insperads
es sociais dener
1. (SHAPIN, 1994, p.123)
da nova pritien
experiment
Textos que circulavam com u igualdade entre
9 presumid
vs, tendo de ser to bem-sucedidos quanto os outros, tam-
cieculavam entre pessoas que poderiam responder amas,
Las outras. A responsabilidade tinha de ser uma questio
cial; as relagtes vineulavam as pessoas nas quais se podia con-
Foratn as telagées que transformaram uma mulciplicidade
pessoas em uma arena social de autoridade.”
As relagdes também escavam fazendo algo mais. Foram elas
\- produzicam conhecimento a pactir de informagio." Se os
nntos de informagio, as categorias em cijos termos era
possivel deserever 0 mundo, fossem confrontados entre si,
nos, todos of pi
is" (SHADIN, 1994, p.123). (Iss0 nie si
um de sce pessoalmente conhecides, apenas que todos m
posigio de serem considerados confisyeis.) De outro tempo
2 que todos
nvia, de tempos © lugares distantes, © eransforms
iente pablice’Strath
camente, uma elago
er entendido como
formacio passiuel de ser responsabilizada, foi pelo fato de see
relacional que ele torne
de ser responsabilizado,
Aqui, cetornamos 8 nog: eadz no Capitulo 2, de que o
coneeito de “relagio” ¢ seu par “con
0” posdem ter permitido
otipode investigagio secu
ada pel
nista de que om
Ast
ndo (da natureza) std aberto a es.
acividade de
ges so produzidas por meio da props
enrendimento, quando este tem de ser produzido de dentro
isto é, de dentro do ambiro da ment
dlivindades g
das
im referén
do as coisas no mundo s6 podem sere
n outeas coisas no mesmo plano terreno." O que v
io de
Jes [1] inteoduzem cada
sScodo e regularidade” (HUME, 1748.
ara que a men
precurande o prinefpio de sua
seu proprio dese: sento" (1970,
138
Prreneso, dicta 0 inesperado
outros faros, contanco que as conexdes poss
adores do século XVII de Shapin
ndo conexdes em todos os lugares, sempre
wr sustentadas. E 0s pesq
0s fatos pudessem ser sustencados
‘mitam-me genctalizas, por um momento, de uma pers-
(do tipo
a. Poder
ywetiva que comega com
10s reco
vgéncia entre dois
ifico: cr
rita stmesmo, se duplicar o
0” (1970, p25-6). Pi
ados
ade récnica
na exttica los exemplos
1992)
por meio da repli
quanto Firos
we ser demonstra
e dos experimentos. Tanco cones
« (LATOUR, 1986)
139Marilyn Steatbern
disciplina derivada do Iluminismo e da revalueao cientifica,
produzir conhecimento para fins de descrisio ¢ anslise per~
manece um contexto cont
gente para clas,
Mas em que consiste, nesse contexto, essas caracteristicas
gerais das relagées conceituais? Alguém denomina “conhe-
cimento” um frag
into de informagio ao se tornar ciente
dde seu contexto ou alicetce, isto €, de como ele sustents um
relacionamento cam outros fragmentos de informagéo; em
suma, adquire-se conhecimento por meio de conhecimenta
Como resi
Jado, ele (0 conkecimento) também pode sempre
aparecer como um termo intermediirio de conexio; € 0 que
sabemos sobre isso 0 que sabemos sobre aquilo que nos faz
elementos. Teco comentirios sobre duas propriedades
significativas de relagées conceituais sob esse ponte de vista.”
‘A nga de relaco pode ser aplicade # qualyuer nfvel de comtso; eis
sua primeira propriedade, Portanto, pode-se, aparentemente,
alqu
6 fato da relagio ctia instincias de conexio de mado a também
fazer conexée a0 descrever fendmenos,
ugar Po
produzir inecincias de si mesma, Fm qualquer nfvel ou ord
demonstrar um relacionamento~seja por semelhanga, causa e
feito ou contiguidade ~ reforga 0 entendimento de que, por
meio de praticas relacionais ~ class
ise, compara-
‘ho —, relagdes podem ser demonstradas. Poderiamos chamar
a telagio de construto autossimilar ou auto-organizador, uma
figura cujo poder organizativo mio é afetado pela escala, Sem
esse poderoso dispositivo, ndo seria possivel, por exemplo,
47 Outram (1995, p.53) cita de Con
‘De nenhuma maneira as ideias nos permitem cophecer os
aventesco, direito 0 insperado
« propriedades partir de velhas, nem.
pouce,
ir que vel
's XVII ¢ XVIIL: talvez a capacidade de criar relagdes,
«cituais estivesse ela mesmo sendo “conceitualizada” (For
propriedaces emerjam de novas. Para voltar
ado conceitos sobre conceitos), sob a pressio da pesquisa
istemética sobre préticas de produgao de conhecimento.*
RelagSes conceituais tém
da propriedade, bas
te distinta: las eigem entros clr
relacdes entre o qué? Isso torna complexas suas fungoes
idades além de si
ate na relagio da cién-
| conesio, pois a relagio sempre evoca &
nesma, sejam — como vimos detis
cig — essas entidades aparentemente preesistentes (
relagto
iamente tornadas existentes
acionamento (¢, portanto, existem dentro dele)” Nao
cas de propriedade, Considere 0 i
izou 0 conccite de relagdes
J, Em courts diccito comani
gual a propriedade se assentava sobre uma coisa aserdividide enere
aqueles que ar oi
como indivi
ls entre as pessoas, 0 feixe de Lagos sociais
inito” (1998, p.113.
1 citando Legal Values i
fam, os legisladores feuidiis "s
re as pessoas
: feis ace quase ©
grifos omitidoss 1986, p.339-40). Ele
Water Sect, de Stein € Shand, ¢ afirme que
relagBes concernentes 9 uma cols
jos absteatos, ¢
ptences,
copsdes como Formas ce propriedade (1998, pt
1Marilyn Strattern
bém,
apenas se percebem as relacdes entre coisas, mas
Pereebem-se coisas como relages.® Ainda, na medida em gue
2s “coisas” (08 termos que contém ou que sto ligados pela
relagio) sio rotineiramente conc
podemos (segundo Wagner
capa
ares quer dlissimilares a si mes
86) denominar a telagio como
d
dade secundésia de organizar elementos
um tropo com
0° Consequente-
imente, a selagio como modelo de fendmenos complexos tem o
Poder de unit ordens ou niveis de conhecimento heterogéneos
Enquanto, ao mesmo tempo, conservamese suas diferencas
Ela permi
ue © conhecimento cancreto ¢ 0 abstrato si
simultaneamente manipulados. Isso cortebora as inscrighes bi-
dimensionais de Latour (1986), os diagramas, mapas etabelas
possi dizer que
configuracio que eles contés
1998, p.£04-5). Mas a nocio
's contém relagbes dentro
8 filosofia (ier Locke, 169¢
doméstico pode ser feito com
wente falar de uma rlagzo entre
© tom. Bouquet (1993, p.17;
les dass pos
sagucses sobre a teorizagio
antropolégica b
‘nto ha separigio, como pode haver no inglés,
da] e consengies (of
tre pessoa [priva
3s], Em portugues, aparencemente,
sos € sistema e, portanto, tampouce
do outta, nesse sentido, Ainda ass
clagto de identidade reconhece 08 tetmos (p
Privado} separados de sua Fuso.
nia se pode contra
relacioné-los ow
42
Per
0, direito 0 inesperado
tempos possibilicam aos cientistas sobrepor imagens
rentes escalas ¢ origens. Realmente, a0 funcionar como
logia Fanciona, como alguns dizem,* as relagées con-
\quinario da explicagao. Ninguém pode
so parte do mag
uma relagdo sem mencionar seus efeitos
O préprio conceito (relagio), assim, participa do modo
escrigdes das pessoas acerca de 6
t
rei
thay no chlo. Contudo, e igualmente, as relagoes conceit
» expressamos o que sabemos dele, Portanto, as préprias
es podem aparecer, 20 mesmo tempo, concretas e abstra-
as podem produzir um sentido de conhecimento, incor-
» ou corporificado, da informagio que, de outra forma,
sbsteafdo do concexto ¢ flutuaiam por af sem peso. Ou
podem parecer etéreas e sem corpo, conexdes hipotéticas
nddo sobre fates brutos ¢ realidades de informagio alicer-
» mais do que uma parte do tipo de relacto da antropo-
UExtrafda da vida social em geral, tanto das observades
ciplina sobre a sociedade quanto dp seus interesses nas
as conexdes ul
s com as
s-oquea etnografia impulsiona para o primeio plano so
#808 tipos de interagdes. A relagio da antropologia também
«0 que convencionow-se chamar de lagos
cerpessoais,
logia. Pod
dispositive que funciona pace fazer
Fxse € 0 sentido forte pelo ¢
eja Introdugie: Parte I), em conteaste com o senti
egundo 0 qual todos os conceitos tém efeito como ve
10 “a relagfo” como um
inicagio,
143Marilyn Sirathern
4 primeira vista, as relagbes conceituais de producto de
conhecimento discutidas aqui podem parecer distanves da
arena de relagbes sociais como as eacenadas nos vérios tipos
de fami
que também apateceram neste capitulo. Teria o
simplesmente conjurado outro jogo de palaveas (rchgaes ao
‘esmo Eempo conceituais eintexpessons), to terrivel quanto
© duplo sentido de “concebe
Nao se, como promecido, eu
conseguir articular questio histética de maneira apropriada
Relagées em relagées
ideia do que relagdes concei
ram," ou como algu
is outtora conora-
diferencia o século XVII do XVI
sob esse aspect, Portanto, no
stou certa de quando ou de
em qual meio social localizar essa questo. Porém, é mais ou
a parte ocupada pelo
tito de relagio no desvelamenco das compreensies acerca
te naturezado conhecimento. Coma eno, iso passonaser
aparentemente, relacéo,
em inglés, de diversas ratzes do la
cado
40 parentesro? Porqu
{uma combinasao,
uma narrativa, referén~
8 @ algo ou comparacéo— passaraa ser aplicada a lagos, nos
los XVI e XVII, fo:
meles de sangue ou de casamento,
53 Da perspectiva de certos filésofos do século
egumentou-se que seria
XVI, por exem
n equivoca
I divorciads da emogdo ou da urgencis em
‘a visio de que as emogies estio
Para uma concepgio de cor
1007, p.
do a
Paraniic, dirito eo ineperado
do perentesco. Embora uma definigio de 1502 do
Diettonary para parentesco [kin] sugira que minha
iio seja exagerada, chamo a atengio para o fato de que
e [relat
até meados do século XVII —o0 mesmo é verdade para o
ve] (o substantive) nao se aplicava a parentes mas-
ho relacionar [rate] em contraste com 0 excesso de usos, nos
lacionar
e XV, para relagio, parente [relative] ¢
no sentido de conexées I6gicas ou conceituais.
Iisses no foram os tinicos casos; varios termos referentes
‘ticas de conhecimento, por um lado, e priticas de pa
fesco, por outro, estavam, aparentemente, em constante
tidanga.* Em muitos casos, tratava-se de adicionar novas
;priedades as antigas, de modo que os tetmos existentes ad-
iram duplos sentidos. As digressdes sobre direitos autorais
ages cientfficas j4 sugerem
bre a vetifica
grupos, os quais menciono nessa discussie.
Um grupo refere-se A propagacao, e o candidato mais velho
latos, conceito [eon
i 6 0 termo conerber [«
pio [conception]. Criar descendentes e format uma
wtive) © Sus Cor
agem (metéforas ou comparagSes em celagfo um ao outro),
a explicita (quando seus dominios
embora por meio de anal
9 sie compatados) possam assim tornat-se. Note-se que
lero (parente
ce [Hasbip] € urn terma cor m
parentela [kag] 5
mesmo tempo una sea
© concernente a q
5). Fago uso deco
Igica [lgie} para 0 segundo grupo ac
igos, mas parentesco [kinship], 20
por descendéneia
nto [dnewladge] em ver. di
145