0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 310 visualizações10 páginas(EBC2) GREMAUD, A. P. Et Al - Cap. 16 - Do Crescimento Forçado À Crise Da Dívida
Economia Brasileira Contemporânea 2: Cap. 16 - Do Crescimento Forçado à Crise Da Dívida
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Amaury Patrick Gremaud
Marco Antonio Sandoval de Vasconcelos
Rudinei Toneto Jr.
ECONOMIA
BRASILEIRA
CONTEMPORANEA
73 Edicdo
‘SAO PAULO
EDITORA ATLAS S.A. ~ 2014Do Crescimento Forgado
a Crise da Divida
s anos 70 foram um perfodo conturbado do ponto de vista econémico.
No inicio, ocorreu um choque do petréleo, com elevagio substancial dos
precos do elemento fundamental da matriz energética mundial, e também
foi rompido 0 acordo internacional firmado ainda durante a Segunda Guerra
‘Mundial que procurava estabilizar as taxas de cAmbio internacional, A maior
parte do mundo reagiu de maneira recessiva a esse quadro. Procuraremos aqui
acompanhar como o Brasil se portou diente dessas mudancas intemacionais.
‘A reacdo brasileira foi configurada pelo ll Plano Nacional de Desenvolvimen-
to que acabou dando nome ao perfodo que vai de 1974, depois do chamado
milagre econémico, até 0 final da década. As conseqiiéncias dessa op¢ao bem
como das novas alteracées no cenério internacional no final da década (novo
choque do petréleo, alteragdo substancial da politica econdmica norte-ame-
ricana, moratéria mexicana) marcaram o inicio da década seguinte, perfodo
de recessdo na economia brasileira em fun¢do da reagdo & chamada crise da
divida externa,
16.1 I Plano Nacional de Desenvolvim«
‘0 (II PND)
© répido crescimento econémico ao longo do Milagre, com a ocupacio de
toda capacidade ociosa (0 que caracteriza uma situacio de pleno emprego),
Bo cesciment Fog rsa da Ova 399
levou ao aparecimento de alguns desequilfbrios, que gerariam pressées in-
flaciondrias e problemas na balanca comercial. A aceleragio inflaciondria na
segunda metade dos anos 70 pode ser vista na Tabela 16.1, onde se observa
que a inflagao passou do patamar dos 15% a.a., no final do Milagre, para o
patamar dos 40% a.a., em meados da década,
Tabela 16.1. Taxa de inflagdo: 1968-1973.
,
‘Ano IGP-Dr ‘Ano 16-01
1968 248 1974 345,
1969 187 1975 29.4
1370 188 1976 453
1971 a4 1977 386
1972 139 1978 405
1973 135 1979 m2
Fonte: Conjuntura Econémice.
‘A manutengdo do ciclo expansionista, em fins de 1973, dependeria cada
vvez mais de uma situagio externa favorével. Esta situacdo, porém, foi rompida
pela crise internacional desencadeada pelo primeiro choque do petréleo em
1973, quando os paises membros da OPEP quadruplicaram o prego do barril
de pewdleo.
( balango de pagamentos apresentou déficits no saldo de transagdes corren-
tes (Tabela 16.2), provocados nao s6 pelo aumento do valor das importagies
de petréleo, mas também em fungao dos bens de capital e insumos bisicos,
necessdrios para manter 0 nivel de producio corrente do milagre econémico.
Esse déficit ndo foi totalmente coberto pela entrada de recursos, levando a uma
queima de reservas, 0 que revelava o elevado grat de vulnerabilidade externo
da economia brasileira.oar umtesstS
1400. Econom rsa Cotamperiaes + Gremaud,Vesconcls ote
Tabela 162 Contas externas ~ Brasil: 1974-1979.
Em USS mihoes
oo |tcoatacte| imporastes| Sie, | Ene | Sn | renes | ecene
ree pe
ta | rsaea| reo | -2s39 | 107 | 7657 | -220 | aasoe
Fonte: Cnjurtura Econémica
Internamente, a situagio politica aparecia como uma complicagio adicional:
a crise mostrava os limites politicos do modelo do Milagre. Em ano de mudan¢a
de presidente, comegavam a surgir varias presses por melhor distribuicio de
renda e maior abertura politica, o que gerava certo imobilismo no Estado. ©
novo presidente eleito Emesto Geisel representava uma facgio diferente no
seio militar brasileiro (a faccdo castelista) daquela de seu antecessor Médici
(cepresentante da chamada linha dura). 8ssa troca de facgdes impunha certos,
limites & condugao da politica econdmica, pois uma grande queda na taxa de
crescimento da economia brasileira poderia dificultar a permanéncia do grupo
castelista no poder e a conducdo do projeto de abertura politica de maneira
segura e gradual
© debate sobre o que fazer em 1974 situou-se na dicotomia de ajustamento
ou financiamento. O choque do petréieo significava transferéncia de recur-
30$ reais ao exterior e, com a existéncia de um “hiato potencial de divisas”, a
manutengio do mesmo nivel de investimento trazia a necessidade de maior
sacrificio sobre o consumo. Para alcancar as mesmas taxas de crescimento do
periodo anterior, seria necesséria maior taxa de investimento. Nesse contexto,
pereebe-se que as opcées de crescimento se haviam estreitado, © a tendéncia
natural da economia seria a desaceleragio da expansio.
As opgées que se colocavam naquele momento eram:
Do crescent Forgado MCs da Oda 401
i. ajustamento, que continha a demanda interna ¢ evitava que 0 cho-
que externo se transformasse em inflagio permanente e corregio do
desequilibrio externo;
fi, financiamento do erescimento, mantendo o crescimento elevado e
fazendo um ajuste gradual dos precos relativos (alterados pela crise
do petséleo), enquanto houvesse financiamento externo abundante.
Supunha-se aqui que a crise era passageira e de pequenas dimensdes.
(© ano de 1974 iniciou-se com 0 Ministro Mério Henrique Simonsen sinali-
zando a opgéo pelo ajustamento, buscando o controle da demanda pelo con-
twole da liquidez, Entretanto, essa politica ndo pode serlevada adiante, devido,
centre outras pressGes, & crise financeira detonada pela quebra do Banco Halles,
levando a uma grande procura pela assisténcia a liquidez.
Em termos politicos, observava-se, nesse ano, um questionamento aberto
do Movimento Democrético Brasileiro (MDB) & politica do regime militar,
sendo que as insatisfagées com o regime se fizeram sentir na derrota eleitoral
da Aliana Renovadora Nacional - partido governista (ARENA) nas eleigdes
para 0 Congresso Nacional. Esse foi o momento em que o governo abandonow
de vez as tentativas de conter a demanda, e fez. a opgéo pela continuidade
do processo de desenvolvimento. Langou-se 0 II PND (It Plano Nacional de
Desenvolvimento), em fins de 1974, como uma alternativa & dicotomia de
ajustamento ou financiamento, colocando-o como uma estratégia de financia-
‘mento, mas promovendo-se um ajuste na estrutura de oferta de longo prazo,
simultaneamente a manutenc&o do crescimento econémico. Assim, mantinha
‘economia funcionando em ritmo de marcha forgada.*
Essa alterago na estrutura de oferta significava alterara estrutura produtiva,
brasileira de modo que, a longo prazo, diminuisse a necessidade de importagbes
«efortalecesse a capacidade de exporcar de nossa economia. Assim, quando essa
reestruturacio estivesse completada, os problemas da Balanca de Transagées
Correntes estaria superado, Enquanto isso ndo fosse alcancado, era necessiiio
7 Na dpoca, havia uma obrigacio constinuconal de todo novo governo langar um plano na-
ional de desenvolvimento, O segundo plano langado pelo governo Geisel acaba senco 0 mais,
‘conhecido desesplanos pois representou ma opglo de politica ecanémica. Sobre o | PND ¢ 0
[PND ver espectivamente Gremaud & Pires (1999 2) « (1999 6)
2 A expressio a economia brasileira em marcha foreada &0 tema de uma das principaisrefe-
rncias bibliogrfias sobre os temas do presente capitulo. Seus autores so Antinio Barros de
Casto e Francisco Pires de Souza (1988).