0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 309 visualizações476 páginasJANSON H W Amp JASON Anthony F Iniciacao A Historia Da Arte1
Iniciação a Historia Da Arte 1
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(STORY OF AT YOR YOUNG Pape
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Indice
Introdugio 6
PRIMEIRA PARTE: COMO A ARTE
COMECOU
A arte magica dos homens das cavernas
‘¢ dos povos primitivos 14
© Paleolitico 14
O Neolitico 17
Arte primitiva 18
Arte para os mortos — Egito 22
(0 Antigo Império 24
‘0 Novo Império. 28
Templos, palacios ¢ cidadelas — o antigo
Oriente Proximo eo Egeu 32
Mesopotfimia 32
Pérsia 39
O Ege 40
Arte grega 46
Pintura 46
Templos 51
Escultura 56
Arte etrusca 67
Arte romana 70
Arquitetura 70
Escultura 73
Pintura 77
Mapa: O mundo antigo 82
Quadro sinético 1 84
SEGUNDA PARTE: A IDADE MEDIA.
Arte crista primitiva e arte bizantina
Arte crista primitiva 89
Arte bizantina 96
A Alta Idade Média no Ocidente 102
‘A [dade das Trevas 103
‘Arte carolingia 106
Arte otoniana 111
Arte Romanica 116
Arquitetura 117
Escultura 123
Pintura 126a 131
Cidades, catedrais ¢ arte goti
Arquitetura 131
Escultura (1150-1420) 140
Pintura (1200-1400) 147
Mapa: A Idade Média 162
Quadro sindtico I 164
TERCEIRA PARTE:
O RENASCIMENTO
A “nova era” — 168
A pintura do Gético Tardio ao norte
dos Alpes 170
Renascimento versus “Gético Tardio" 170.
Pintura sufga e francesa 183
As artes gréficas 184
O Pré-Renascimento na Itilia 186
Escultura 186
Arquitetura 193,
Pintura 196
O Alto Renascimento na Italia 207
Leonardo da Vinci 207
Michelangelo 211
Bramante
Rafael 218
Giorgione 220
Ticino 220
no € outras tendéncias 22-4
224
Manei
Pintura
Escultura
Arquitetura
O Renascimento no Norte 237
Alemanha 237
Os Pafses Baixos 247
Franca 249)
© Barroco na Ita
eEspanha 250
ja, Flandres
A Idade de Ouro da pintura
holandesa 264
A Era de Versalhes 274
Pintura 275
Arquitetura 278
Escultura 281
Rococs 282
Mapa: O Renascimento
Quadro sinético I 296
QUARTA PARTE:
O MUNDO MODERNO-
Introdugéo 302
YAcocimsicioe 0
rquitetura 308
Piotura 304
Bscultura 307
XO movimento romantico 309
Arquitetura 309
Bsculuura 312
Pintura 314
Pfeatisme ¢Impressionismo 328
intura 8
Escultura 340
P6s-Impressionismo 342
Pintura
Escultura
Aarte de nossa época 357
Expressionismo 357
Abstracao 365
Fantasia 376
Novas tendéncias
Escultura 402
Arquitetura 416
Fotografia 424
Fotografia romantica
Fotografia realista 42
A fotografia no século
A-escola de Paris 433
A escola de Stieglitz 43
A Nova Objetividade 4
O perfoda herdico 439
Fotomontagem e folograma 441
Fotografia atual 442
432
Mapa: 0 mundo 446
Quadro sindtico IV 448.
Glossario 453
grafia complementar 457
Indice remissivo 462
Créditos das ilustragdes 475,Introducao
Imaginagao
‘Todos nés sonhamos. Sonhar é uma das formas,
de atividade de nossa imaginacao. Imaginar sig:
nifica simplesmente formar uma imagem — um
quadro — em nossa mente. Os seres humanos
no sao as tnicas criaturas dotadas de imagi-
naga. Até mesmo os animais sonham. No en-
tanto, € claro que existe uma profunda diferenca
entre @ imaginagéio humana e a dos animais. So-
‘mente os homens sao capazes de comunicar en-
tre si o contetido de sua imaginagao, através de
relatos orais ou criacao de imagens.
HA muitas formas diferentes de ativar nossa
imaginagao. Quando estamos doentes e acaina-
dos, sem nada para fazer, uma simples fenda
no teto, na qual concentramos nosso olhar, pode
comecar a adquirir a forma de uma 4rvore ou
de um animal. Nossa imaginacao acrescenta 0s
tracos que antes nao se encontravam ali. O mes
mo acontece com uma mancha de tinta (fig. 1)
que nos faz lembrar de outras coisas, embora
tenha sido ieita por acaso. Os psicdlogos sabem
disso e criaram testes com mancl de tinta
para descobrirem como funciona nossa mente,
ja que cada um de nés, dependendo do tipo
de pessoa, vé uma imagem diferente na mes-
ma mancha.
A imaginagao € uma das facetas mais miste-
riosas da humanidade. Pode ser vista como 0
elo de ligagao entre 0 consciente e 0 subcons-
ciente, onde se dé a maior parte de nossa ativi-
dade cerebral. E, por assim dizer, a cola que
mantém unidos a personalidade, o intelecto €
a espiritualidade do homem. Por ser suscetivel
de reagir aos trés, a imaginagéo atua segundo
formas sistematicas, embora varidveis, que so
determinadas pela psique e pela mente.
A imaginagao ¢ importante porque nos da
condigoes de conceber todos os tipos de possi-
bilidades futuras e compreender 0 passado de
um modo realmente valioso para a sobrevivén-
cia. E uma parte fundamental de nosso modo
de ser. A capacidade de produzir arte, entre-
tanto, deve ter sido adquirida ha relativamente
pouco tempo, no curso da evolucao, Nao temos
acesso ao registro das formas mais primitivas
daarte criada pelo homem. Hé aproximadamen:
te dois milhdes de anos, o homem vive na Ter-
ra, mas a arte pré-histérica mais antiga de que
temos conhecimento foi criada ha somente cer-
ca de vinte e cinco mil anos, embora tenha
ido, sem dtivida, a culminaco de um longo
processo de evolucdo a cujas origens somos in
capazes de remontar. Até mesmo a arte etno-
grdfica mais “primitiva” representa um estagio
lardio de desenvolvimento no interior de uma
sociedade estavel
Quem eram os primeiros artistas? Com toda
probabilidade, eram os xam Como o lenda:-
vio Orfeu, acreditava-se que eles tivessem uma
capacidade divina de inspirac&o, podendo des-
cer as profundezas do subconsciente através do
transe e, a0 contrario dos simples mortais, re-
tomar em seguida ao mundo dos vivos. Com sua
capacidade exclusiva de penetrar o desconh
cido e com seu talento excepcional para expres
sé-lo através da arte, o xama adquiriu 0 con,
trole sobre as forcas ocultas da natureza e do
homem. Mesmo hoje, o artista continua sendo
um mégico cuja obra é capaz de nos seduzir €
emocionar — fato embaracoso para 0 homem
civilizado, que n&o renuincia facilmente a stia ve-
neracao pelo controle racional
Arte e significado
O que é a arte? Por que o homem a cria? Pou-
cas perguntas so capazes de provocar um de-
bate tao caloroso ¢ resultar em tao pouca
respostas satisfat6rias. Mas se nao conseguimos
chegar a uma conclusao definitiva, hd, no en-
tanto, muitas coisas que podemos dizer, Certa-
mente, uma das razdes pelas quais 0 homem
cria € um impulso irresistivel de reestruturar
asi préprio e 20 seu meio ambiente de uma for-
ma ideal. A arte representa a compreensao mais
profunda e as mais altas aspiracoes de seu cria-
dor; ao mesmo tempo, o artista muitas vezes
tem a importante funcao de articulador de cret
cas comuns. Eis por que uma grande obra con-
tribui para nossa visao de mundo e nos deixa
profundamente emocionados. Uma obra-prima
tem esse efeito sobre muitas pessoas. Em ou-1. Mancha de tinta sobr brace
tras palavras, ela é capaz de suportar a andlise
mais minuciosa e resistir ao teste do tempo.
A arte nos da a possibilidade de comunicar
a concepcao que temos das coisas através de
procedimentos que nao podem ser expressos de
outra forma. Na verdade, uma imagem vale por
i palavras nao apenas por seu valor descriti-
vo, mas também por sua significagao simbélica.
arte, assim como na linguagem, 0 homem
€ sobretudo um inventor de simbolos que trans:
mitem idéias complexas sob formas novas. Te:
mos de pensar na arte nao em termos de prosa
do cotidiano, mas como poesia, que é livre pa
estruturar vocabulério ¢ a sintaxe con:
vencionais, a fim de expressar significados
estados mentais novos, muitas vezes miiltiplo
Da mesma forma, uma pintura sugere muito
mais do que afirma. E, como no poema, o valor
da arte encontra-se igualmente naquilo que ela
diz, e como o diz. Mas qual € 0 significado da
arte? O que ela tenta dizer? Os artistas em ge-
ral nao nos dao uma explicacao clara, uma vez
que a obra é a prépria afirmacao. Se fossem
capazes de dé-la em forma de palavras, entao
seriam escritores.
A arte tem sido considerada um dilogo vi-
sual, pois expressa a imaginacao de seu cri
ra
como se ele estivesse
falando conosco, embora a objeto em si seja
mud. Até mesmo as declaragdes mais pessoais
dos artistas podem ser compreendidas de al-
dor tio claramente
guma forma, ainda que apenas a nivel intui-
tivo. No entanto, a existéncia de um didlogo
pressupde a nossa participacao ativa. Se nao
podemos, literalmente, falar com uma obra de
arte, podemos pelo menos aprender a reagir
a ela, O processo é semelhante a0 aprendi-
zado de uma lingua estrangeira. Precisamos
aprender 0 estilo € a forma de ver as ci
de um pais, de um periodo e de um artista,
caso queiramos compreender adequadamente
a obra. A apreciagao estética é condicionada
apenas pela cultura, que é tao diversificada
que se torna impossivel reduzir a arte a qual:
quer conjunto de preceitos. Pode parecer, por:
tanto, que as qualidades absolutas da arte sio
enganosas e que nao podemos deixar de obser
var as obras de arte no contexto do tempo e
das circunstan , de fato, de que outra
maneira isso poderia ser, se a arte ainda est4
sendo criada a nossa volta, abrindo nossos olhos
quase que diariamente para novas experiéncias
e forgando-nos, im, a reformular nosso mo-
do de ver?8 awtronucio
Criatividade
O que significa para nés 0 fazer? Se, para sim-
plificarmos 0 nosso problema, concentréssemo-
rnos nas artes visuais, poderiamos dizer que uma
obra de arte deve ser algo tangivel e configu-
rado por mos humanas. Vejamos agora a sur-
preendente Cabeca de Touro, de Picasso (fig. 2),
que consiste apenas no assento e guidao de uma
velha bicicleta. Nesse caso, que significado tem
nossa férmula? Naturalmente, os materiais uti-
lizados por Picasso foram feitos pelo homem,
mas, 0 assento € o guidao em si mesmos, nao
constituem uma obra de arte, Ao mesmo tempo
em que sentimos um certo choque ao identiti-
carmos os componentes desse trocadilho visual,
também nos damos conta de que agrupé-los as-
sim, de forma tinica e original, foi uma proeza
de génio, e nao podemos negar que certamen-
te se trata de uma obra de arte, No entanto, 0
trabalho manual — a montagem do assento so-
bre 0 guidao — ¢ ridiculamente simples. O que
std muito longe de ser simples 6 0 salto de ima-
xinagao dado por Picasso ao reconhecer uma
cabeca de touro naqueles objetos que em nada
a faziam lembrar; sentimos que apenas ele po-
Geria ter tido tal idéia. E claro que precisamos
ter 0 cuidado de nao confundir a criacao de uma
2. Pablo Picasso. Cabuga de Touro, 1843, Guidio em bronze
moldado e assento de uma bicioleta, aleura: 0,41 m, Galeria
Louise Leinis, Paris
obra de arte com habilidade ou pericia manuais.
Mesmo 0 objeto mais esmerado nao merece a
designacao de obra de arte, a ndo ser que en-
volva um salto imaginative.
‘Mas se isso é verdade, nao seremos forcados
a conchuir que a criacao real de uma obra de arte
ocorre na mente do artista? Nao, também nao
é assim. Sem a realizacao da idéia na prtica
nao haveria nenhuma obra de arte. Além do
mais, 0 préprio artista nao sentiria a satisfacao
de ter criado algo se apenas o fizesse com base
em seu salto de imaginacao, e nao teria nunca
a certeza da eficdcia da obra se nao a realizas-
se na pratica.
Assim, as maos do artista, por mais modesta
que seja a tarefa que devam executar, so par-
te essencial do processo criativo, Nossa Cabe-
ea de Touro &, sem diivida, um caso idealmente
simples, que envolve apenas um salto de ima-
ginacao e um tnico exercicio manual em res-
posta aquele. O salto de imaginagao é, as vezes,
um lampejo de inspiracao, mas s6 muito
raramente uma nova idéia surge plenamente de-
senvolvida, como Atena da cabeca de Zeus, Pe-
Jo contrario, em geral, € precedida por um longo
periodo de gestacao, no qual todo o trabalho
mais dificil € feito sem a descoberta da chave
para a solugao do problema. Ao atingir 0 ponto
ritico, a imaginacao estabelece relacdes entre
partes aparentemente desconexas ¢ em sestui-
da as recombina. 0 processo criativo consiste
‘numa longa série de saltos imaginativos por par-
te do artista e de suas tentativas de dar-lhes
forma, modelando 0 material de acordo com
suas intengdes. Assim, ele gradualmente faz
nascer sua obra através de uma definicao cada
vex maior da imagem, até que finalmente toda
ela adquira uma forma visivel.
Nossa metafora do nascimento esta mais pré-
xima da verdade do que estaria uma descri¢ao
do processo em termos de uma transferéncia ou
projecdo da imagem a partir da mente do artis-
ta, pois a criagdo de uma obra de arte é tao ale-
gre quanto dolorosa, cheia de surpresas, e de
forma alguma mecanica. Além do mais, hd int-
meras evidéncias de que 0 proprio artista ten-
de @ considerar sua criagao como uma coisa
viva, Talvez seja esse 0 motivo pelo qual a cria-
tividade tenha sido outrora considerada um con-
ceito reservado a Deus, uma vez que somente
Ele seria capaz de dar forma material a uma
idéia, De fato, o trabalho do artista aproxima-se muito da Criacao como € descrita pela Biblia
e como foi, mais tarde, expressa com tanta elo-
qiiéncia por Michelangelo, que descreveu a an-
guistia e a gloria da experiencia criativa quando
se referin a “libertar a figura do marmore que
a aprisiona”
E ébvio que a criacao de uma obra de arte tem.
pouco em comum com aquilo que normalmen-
ie queremos dizer quando usamos a palavra “fa-
zer”. Trata-se de um empreendimento estranho
© arriscado, em que 0 criador nunca sabe mui-
to bem o que esti fazendo até que o tenh real-
mente feito; ou, para dizé-lo de outro modo, é
um jogo de buscas e descobertas em que aqu
Ie que busca nao sabe muito bem 0 que esta
procurando, até que finalmente o descubra. Bn:
quanto o artifice sempre tenta fazer aquilo que
sabe ser possivel, o artista esta sempre tenta~
do a pretender o impossfvel — ou, pela meno:
nprovavel ou inimaginavel. Nao é de se ad:
iirar que a forma de trabalho do artista seja
tao rebelde a quaisquer regras estabelecidas,
enquanto a atividade do artifice incentiva a pa:
dronizacao e a regularidade. Reconhecemos
essa diferenga quando nos referimos ao artista
dizendo que ele esta criando algo v nao simples:
mente fazendo algo.
O impulso de penetrar territorios desconhe-
cidos e realizar alguma coisa de original pode
ser sentido por todos nés algumas vezes. O que
torna um verdadeiro artista um ser diferente
das pessoas comuns nao é tanto o desejo de
procuray, mas sim aquela misteriosa capacida-
de de encontrar, a que damos 0 nome de talen-
to. Também a chamamos de ‘dom’, querendo
com isso dizer que se trata de uma espécie de
presente de algum poder superior, ou falamos
em “génio”, um termo que originalmente que-
ria dizer que um poder superior — uma espé-
cie de “bom deménio” — habita 0 corpo do
artista e atua através dele. Tudo 0 que pode-
mos realmente dizer sobre 0 talento & que ele
nao deve ser confundido com aptidao. Aptidao
€ aquilo de que o artifice necesita; significa
uma habilidade acima da média em fazer algo
‘que qualquer pessoa pode fazer. Uma aptidao
€algo razoavelmente constante e especifico po-
de ser medida com algum sucesso através de
testes que nos possibilitem fazer uma previsao
do desempenho futuro. Por outro lado, o talen-
to criador parece ser profundamente imprevi-
sivel; sé conseguimos detecta-lo com base em
IrRoDUGAO 9
um desempenho pasado, e mesmo assim nao
poderemos ter a certeza de que um determinado
artista continvaré produzindo no mesmo nivel
de suas obras anteriores.
Originalidade
A originalidade, portanto, é aquilo que distin
gue a arte da destreza. Infelizmente, é também
de definicao bastante dificil; os sinénimos co-
muns — unicidade, novidade, ineditismo — nao
nos ajudam muito, ¢ os diciondrios dizem-nos
apenas que uma obra original nao deve ser uma
copia. Assim, se quisermos avaliar as obras de
arte segundo uma “escala de originalidade”,
nosso problema nao sera decidir se determina:
da obra é ou nao original, mas sim estabelecer
cexatamente quao original ela
Cada obra de arte ocupa seu proprio lugar
cespecifico no espectro daquilo a que damos 0
nome de tradit Sem a tradicéo — a pala-
vra significa “‘aquilo que nos foi legado” —,
nenhuma originalidade seria possivel; ela nos
propicia, por assim dizer, uma plataforma soli;
da e segura a partir da qual o artista dé 0 seu
salto de imaginagao. O local em que ele cai se
torna entao uma parte da tela, e serve de ponto
de partida para saltos posteriores. Para nés,
também, a teia da tradicao é igualmente essen-
stejamos ou nao conscientes dela, a tra-
io é a estrutura dentro da qual forjamos
opinido sobre as obras de arte ¢ avalia
mos seu grau de originalidade.
Preferéncias ¢ aversoes
Decidir o que é arte e avaliar uma obra de arte
sao dois problemas distintos; se tivéssemos
um método infalivel para determinar-o que €
arte e 0 que néo 6, isso nao nos capacitaria ne-
cessariamente a avaliar a qualidade, Ha muito
tempo estabelecetse entre as pessoas 0 hé-
bito de fundir os dois problemas em um; em
geral, quando perguntam “Por que aquilo é
arte?”, estao querendo dizer: “Por que aquilo
6 arte de boa qualidade?” Uma vez que 0s es-
pecialistas nao determinam regras exatas, 0
leigo em geral recorre a tiltima instancia de
suas defesas: “Bem, nao sei nada sobre arte,
mas sei do que gosto”
se lugar comum € um grande obstaculo no
caminho da compreensao entre o especialistaLO iNrRonecao
© o leigo. Existirao realmente pessoas que na-
da sabem sobre arte? Se excetuarmos as crian-
cas pequenas e as pessoas vitimas de grav
doencas ou deficiéncias mentais, nossa respos-
ta sera negativa, pois ¢ impossivel deixar de sa-
ber alguma coisa sobre arte. A arte é parte tao
integrante da tessitura da vida humana que
nos deparamos com ela o tempo todo, mesmo
que nossos contatos com ela se limitem ao mais.
baixo denominador comum do gosto popular
Mesmo assim, trata-se de algum tipo de arte;
¢ como se trata da tinica forma de arte conhe-
cida pela maior parte das pessoas, ¢ 0 que
configura suas idéias sobre arte em geral. Quan-
do dizem “Sei do que gosto”, querem realmente
dizer “Gosto daquilo que conheco (¢ rejeito
tudo 0 que nao se assemelhe as coisas com
as quais estou familiarizado)"; na verdade,
fais preferéncias nao sao absolutamente suas,
‘mas foram-Ihes impostas pelo habito e pelas cir-
cunstaneias, sem qualquer eseolha pessoal, Gos.
tar daquilo que conhecemos e desconfiar do
que nao conhecemos é uma das mais antig:
caracteristicas humanas. Mas por que tantos
de nos deverfamos acalentar a ilusao de ter fei-
to uma escolha pessoal quanto as nossas prefe-
rencias em arte, quando na verdade ndo a
fizemos? Ha aqui um outro pressuposto tacito,
que é mais ou menos o seguinte: “Uma vez que
2arte é um assunto tA0 ‘dificil de se dominar’
que até mesmo os especialistas discordam entre
si, minha opiniao € tao boa quanto a deles —
€ tudo uma questao de preferéncia subjetiva.
De fato, deve existir algo de errado com uma
obra de arte, jd que sua apreciagao necesita de
um especialista”. Esse, também, € um falso
pressuposto, Para saber por que, precisamos
refletir sobre a razao pela qual o artista cria
~ e para quem.
Auto-expressao e ptiblico
Toda arte envolve a auto-expressio. A maioria
de nds esta familiarizada com 0 famoso mito
rego do escultor Pigmaledo, que esculpiu uma
estatua tao bela da ninfa Galatéia que se apai-
xonou por ela e abragoua quando Venus deu
vida a sua escultura. Recentemente, John de
Andrea (fig. 3) deu ao mito uma nova interpre-
tacao que, através da troca de papéis, muito nos
diz.a respeito da criatividade. Agora 6 0 artista
que, imerso em seus pensamentos, esta indife-
rente ao olhar fixo da estdtwa, Bla baseiasse
obviamente num modelo real € nao numa con-
cepgao idealizada, estanda ainda em processo
de “adquirir vida’, uma vez que o artista ainda
nao terminou de pintar suas pernas brancas, A
ilusao € tao convincente que nos perguntamos
qual figura é real e qual est4 sonhando com a
outra, o artista ou a escultura? De Andrea faz-
nos perceber que, para o artista, 0 ato criativo
6 um trabalho de amor que faz com que a arte
adquira vida.
Mas nao poderemos também dizer que 6
a obra de arte que da vida ao artista? O nas-
cimento de uma obra de arte é uma experién-
cia intensamente pessoal e, no entanto, deve
ser compartilhado pelo piiblico, num estagio
final, para que possa ser bem-sucedido. O ar-
tista nao cria simplesmente para sua prépria
tisfagao, mas deseja que sua obra seja apro-
vada pelos outros. De fato, a esperanca de apro-
vacio pode ser aquilo que, primeiramente, 0
leva a criar, ¢ 0 proceso criativo nao estara
completo enquanto a obra nao houver encontra-
do um pubblico. Afinal, as obras de arte existem
mais para que se goste delas do que para se-
rem objeto de discussdes,
Talvez possamos resolver esse paradoxo s
compreendermos 0 que o artista entende por
“publico”, Ele nao se preacupa com o piblico
como uma entidade estatica, mas com 0 seu pu-
blico especifieo; para ele, a qualidade é muito
mais importante do que a quantidade. O publi-
co que ocupa e inquieta a mente do artista é um
piiblico restrito e especial, e nao 0 piiblico em
geral: 0 mérito da obra de um artista nunca po-
derd ser determinado por um concurso de po-
pularidade. A qualifi
membros daquele pablico po:
suem em comum,
€ um amor muito bem informado pelas obras
de arte — uma atitude ao mesmo tempo discri-
minatéria e entusidstica que confere ao seu jul-
gamiento um peso especial. Para dizélo em uma
palavra, Sao especiatistas, pessoas cuja autori-
dade encontra-se na experiéncia, mais do que
nos conhecimentos tedricos
A minoria ativa 4 qual demos o nome de ptt
blico essencial do artista vai buscar seus recru-
tas num ptiblico secundario muito maior e mais
passivo, cujo contato com as obras de arte é me-
nos direto e continuo. Esse grupo, por sua vez,
dilui-se no imenso muimero daqueles que acre-
ditam que ‘‘nada sabem sobre arte”, os leigosseu Modelo, 1980. Poliv
e simplesmente. O que distingue o leigo,
como ja vimos anteriormente, nao é que ele
ja realmente puro e simples, mas sim o fato
de ele gostar de pensar em si préprio como sen-
do assim. Na realidade, nao existe nenhuma,
separacao nitida, nenhuma diferenca de carac-
teres distintivos entre ele e o especialista, ma
apenas uma diferenca de grau. O caminho que
leva a especializagao nao exclui ninguém que
tenha uma mente aberta e capacidade para ab-
sorver novas experiéncias, A medida que o per
icromado sobre éleo; tamanha natural. Colegio Foster
corrermos € 2
umentar 2 nossa compreensao,
obriremos que passamos a gostar de mu
to mais coisas do que havfamos julgado poss
vel inicialmente. Ao mesmo tempo, entretant
iremos gradualmente adquirindo a coragem de
nossas préprias convicgdes, até que — se for:
mos suficientemente longe nesse caminho
aprenderemos a fazer escolhas individuais sig:
nificativas entre as obras de arte. Seremos en
tao capazes de afirmar, com alguma justica, que
jo de que gostamo:
conhecemos agiPRIMEIRA PARTE
Como
a arte
comecou \A arte magica dos homens das
cavernas e dos povos primitivos
O PALEOLITICO
Quando 6 homem comecou a criar obras de ar
te? Com o que elas se pareciam? O que o induziu
? Toda historia da arte deve principiar
por essas perguntas — e pela confissao de que
nao somos, de respondé-as. Nossos mais
primitivos ancestrais comecaram a andar na ‘Ter-
1a, sobre dois pés, ha cerca de dois milhoes de
anos, mas s6 por volta de seiscentos mil anos
mais tarde é que encontramos os primeiros indi-
ios do homem como fabricante de utensilios, Ele
deve ter usado utensflios durante todo esse tem-
po, pois faz parte do comportamento dos simios
utilizar-se de uma vara para derrubar uma bana-
na, ou de uma peda para arremessé-la contra
seus inimigos. A fabyicacao de utensitios € uma
questao mais complexa. Antes de mais nada,
ge a capacidade de pensar em varas ou pedras
como “apanhadores de fruta: mi “‘trituradores
de ossos"’, mesmo nas ocasides em que ndo so
is para tais objetivos. Ao tornar-se ca-
a forma, 0 homem descobriu que
‘aras € pedras tinham uma forma mais
conyeniente que outras, ¢ guardou-as para serem
usadas futuramente — ele as “classificou” como
utensilios, pois havia comecado a associar forma
e fancdo, Algumas dessas pedras sobreviveram;
trata-se de grandes seixos ou fragmentos de ro-
cha que trazem as marcas de um uso repetico
para a mesma operacao, qualquer que tenha sido
ela. O passo seguinte dado pelo homem foi ten-
tar desbastar es islios com fim espect
co, de modo a aperfeicoar a sua forma. Essa é
a habilidade mais antiga de que temos conheci-
‘mento, € com ela passamos para uma fase da evo-
lucdo humana conhecida como Paleolitico
Arte das cavernas
E nos tiltimos estagios do Paleolitico, que teve
inicio ha cerca de trinta e cinco mil anos, que en-
contramos as primeiras obras de arte conhecidas.
, no entanto, jé revelam uma seguranga e re-
squer origens mo-
destas; devem ter sido precedidas por milhares
de anos de lento desenvolvimento, sobre os quais
desconhecemos absolutamente tudo. A época, a
Ultima Era Glacial aproximava-se de seu final na
Europa, ¢ o clima entre os Alpes e a Escandina-
via assemelhava-se a0 clima atual do Alasca.
Renas e outros grandes herbivoros vagavam, pe-
las planicies e vales, acossados pelos ancestrais
dos ledes e tigres atuiais — e por nossos préprios
ancestrais. Esses homens viviam em eavernas ou
abrigavam-se sob rochas grandes e salientes.
Muitos desses locais foram descobertos, ¢ os eru-
ditos dividiram os “homens das cavernas” em va
ios grupos, dando a cada um deles um nome de
acordo com um local caracteristico. Entre eles
os aurinhacenses e madalenianos sobre
como artistas especialmente talentosos.
As obras mais surpreendentes do Paleolitico
sao as imagens de animais pintadas nas super-
ficies rochosas das cavernas, como as da caver-
na de Lascaux, na regido francesa de Dordogne
(lig. 4). Bisdes, veados, cavalos e bois esto pro-
fusamente representados nas paredes € tetos,
onde parecem movimentar-se com rapidez; al
guns f€m apenas um contorno em negro e outre
esto pintados com cores brilhantes, mas todos
revelam @ mesma sensagio fantéstica de vida.
Mais impressionante ainda € 0 Bisdo Ferido, no
teto da caverna de Altamira, no norte da Espa-
nha (lig. 5): 0 animal prestes a morver esta cafdo,
mas mesmo nessa situagdo de desamparo sua
postura, com a cabeca abaixada, € de autodefe-
sa. O que nos fascina nao é apenas 0 agudo sen-
so de observagao, os tracos Seguros € vigorosos,
© sombreado sutilmente controlado que confere
volume ¢ integridade as formas; o que talvez exis
ta de mais fascinante nessa pintura seja a forca
¢ a dignidade do animal nos diltimos estertores
de sua agonia
Como se desenvolveu essa arte? A quais obje-
tivos atendia? E como sobreviveu intacta por tan-
tos milhares de anos? A tiltima pergunta pode ser
facilmente respondida: as. pinturas raramente
omnes