Diss Cor Rigid A Larissa Dias
Diss Cor Rigid A Larissa Dias
CAMPI SUSTENTÁVEIS:
desafios para a construção de espaços universitários
Área de concentração:
Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo
Orientadora:
Profa. Dra. Luciana Bongiovanni Martins Schenk
Aos meus avós maternos que foram tão presentes e que me Um agradecimento especial ao querido amigo, Gelson de
ensinaram, na prática, sobre as diferentes dimensões que a Almeida Pinto, por toda a rica contribuição durante o período em que
sustentabilidade possui, sem sequer saberem da existência ou da me orientou e pela amizade e apoio que continuam desde então.
complexidade do termo. Sou imensamente grata por todos os À minha orientadora, Luciana Schenk, pelo auxílio e apoio nos
ensinamentos de vida e de moral que me despertaram a vontade de momentos precisos, também por sua grande paciência e carinho. Por
melhorar o mundo e ajudar ao próximo; obrigada pela jornada que tudo, sou muito grata.
me trouxe até aqui. Agradeço, também, ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo,
Aos meus pais, Aparecida e Benedito, que tanto me aos professores e aos funcionários da graduação e da pós-graduação,
incentivaram e apoiaram nessa caminhada. Obrigada pela e também aos pesquisadores e docentes do grupo URBIS por
compreensão, preocupação e carinho. completarem minha formação profissional, por incentivarem meu
Em especial, também, à minha primeira e melhor amiga, crescimento intelectual e por aumentarem minha paixão pela
Rebecca, que consegue deixar meus dias mais leves. pesquisa em distintas áreas dentro da Arquitetura e do Urbanismo.
Ao Maurício, por acreditar em mim, apoiar-me e por Aos professores, de distintos níveis de ensino, que formaram
compartilhar da ânsia de querer sempre aprender mais; por dividir quem sou hoje. Um agradecimento especial aos professores Marcel
comigo reflexões e conclusões sobre todo e qualquer assunto. Fantin e Luciana Schenk pela confiança no estágio PAE e que
Ao Felipe, pela amizade e conversas tão animadas e curiosas. contribuíram muito para minha pesquisa.
Ao Cava e à Pati que pela amizade e confiança nos trouxeram Obrigada aos amigos do IAU, em especial ao Victor pela ajuda
o anjo Marco Anthonio, mais um incentivo para tornar o mundo um desde o processo seletivo, ao Valmir e a Natália, amigos de mestrado
lugar melhor. que, juntos, caminhamos desde a PUC.
Gratidão também aos amigos que de uma forma ou outra À professora Ester Buffa por todas as considerações e
estiveram presentes nessa caminhada: Camila, Mara, Michele, observações durante o exame de qualificação.
Monalisa, Nassara, Raphael e, especialmente, ao Daniel. Também aos À CAPES, pelo apoio financeiro que permitiram a
novos amigos e irmãos que a fé me trouxe e que me ajudam de concretização de minha pesquisa.
distintas maneiras. À FATECE pela oportunidade.
Obrigada também à família que ganhei: Rafael, sra. Lourdes e Finalmente, agradeço à toda presença espiritual que me
dr. Rafael. protegeu e me guiou pelos caminhos até aqui.
“Minha pesquisa é como meu sentimento, dirigida para o que é o principal valor da vida: a poesia.
A poesia está no coração do homem e é a capacidade de ir em direção à riqueza da natureza”.
Le Corbusier
RESUMO ABSTRACT
DIAS, L. C. A. Campi sustentáveis: desafios para a construção de espaços DIAS, L. C. A. Sustainable Campi: challenges for building university spaces.
universitários. 2017. 233 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e 2017. 233 p. Dissertation (Master in Architecture and Urban Planning) –
Urbanismo) – Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Institute of Architecture and Urbanism, University of Sao Paulo, São Carlos,
Paulo, São Carlos, 2017. 2017.
Esta pesquisa trata do estudo dos campi universitários que adotaram posturas This research work presents the study of university campi that adopted socio-
e diretrizes socioambientais para a promoção de espaços que sejam realmente environmental positions and guidelines for the promotion of spaces that are
sustentáveis a partir de suas estruturas organizacionais, de seus truly sustainable. These guidelines are originated from their organizational
planejamentos institucionais, de suas gestões operacionais e da promoção da structures, institutional planning, operational management, and the
formação voltada para os princípios sustentáveis. A partir dessa apresentação, promotion of staff training focused on sustainable principles. Based on this
é estudado o campus 2 da Universidade de São Paulo, campus São Carlos, que research, an analysis of University of São Paulo’s second campus in São Carlos,
passou por distintas tentativas, planejamentos e discussões através das mãos has been proposed, which has undergone different attempts, planning and
de diferentes profissionais, ao longo dos anos, que almejavam transformar discussions through the hands of different professionals over the years, that
esse território universitário em um que pudesse ser considerado sustentável. aimed to transform this university territory into one that could be considered
Para construir essa compreensão do objeto a ser estudado o trabalho sustainable. To fully comprehend the processes that are directly affecting the
apresenta um histórico do desenvolvimento das universidades e de seus second campus of USP-São Carlos this work presents a study of universities’
territórios, o desmembramento do termo ‘sustentabilidade’ desde sua history followed by a deep analysis of ‘sustainability’ as a term since it’s
contextualização temporal até sua aplicação dentro do campo da arquitetura temporal contextualization to the use in architecture and urbanism field. After
e do urbanismo, seguido pela parte do campus sustentável, desde diretrizes e that the sustainable campus is presented with guidelines, models and
modelos até processos de avaliação e, por fim, as iniciativas sustentáveis em evaluation processes followed by examples of sustainable initiatives in
campi universitários pelo mundo. Através do estudo apresentado é possível univesity campi throughout the world.
compreender de forma ampla e completa os processos pelos quais o campus
2 de São Carlos vem passando.
Figura 1- Fotografia do reservatório de água para a capital paulista, o Ebenezer Howard, sem data, sem
Cantareira, praticamente seco, 2014, fotografia de Patrícia autoria.................................................................................................62
Stavis...................................................................................................39
Figura 7- Maquete da Broadacre City cujos conceitos são meio
Figura 2- Esquema de crescimento sustentável elaborado pelo World ambiente, desenvolvimento sustentável e ecologia social, sem
Resources Institute, em 2002, apresentando a tridimensionalidade da data.....................................................................................................63
sustentabilidade. Na parte superior está indicada a sustentabilidade
Figura 8- Esquema da Estruturação Urbana Ecológica, Eckart Hahn,
econômica, na inferior, ao lado esquerdo, está a social e, a direita, a
Berlim, 1984........................................................................................66
ambiental............................................................................................46
Figura 9- Mapa Jardim América feito pela City of São Paulo
Figura 3- Ilustração de metalúrgica alemã em 1841, sem
Improvements and Freehold Land Ltd., sem
autor...................................................................................................48
data.....................................................................................................68
Figura 4- Padrões de crescimento apontados por Sachs (2008, p. 36)
Figura 10- Edifício do Centro Médico Universitário da Universidade do
que atendem ao mesmo tempo as questões sociais, ecológicas e
Estado do Arizonas, EUA, tem a certificação LEED Platina, 2012,
econômicas, dentro dos três pilares do desenvolvimento
projeto de Lake|Flato Architects and
sustentável..........................................................................................52
Orcutt|Winslow..................................................................................74
Figura 5- Fotografia mostrando a demolição entre a rua de l'Échelle e
Figura 11- A Academia de Platão, mosaico localizado em
Saint Augustin para as reformas urbanas realizadas em Paris, 1877,
Pompéia..............................................................................................78
fotografia de Charles
Marville...............................................................................................59 Figura 12- Universidade Al-Azhar, no Egito, fundada entre 970 e 972
a. C. É considerada a segunda universidade mais antiga do mundo que
Figura 6- Montagem com imagens da cidade jardim. A direita há a
ainda está em funcionamento............................................................80
planta esquemática onde o centro é composto por serviços coletivos
e áreas verdes aumentando a eficiência energética da cidade; a direita Figura 13- Localização das universidades em
há a maquete eletrônica representando teoricamente as ideias de Sir 1500....................................................................................................84
Figura 14- Mestres e aprendizes no século Figura 25- Planta histórica do desenvolvimento do Trinity College,
XIII.......................................................................................................85 Cambridge, 1897...............................................................................117
Figura 15- Representação da Escola Médica de Salerno, século Figura 26- Vista do quadrangle, Universidade de Oxford, sem
XI.........................................................................................................87 data...................................................................................................117
Figura 16- ‘Studio Público em Bolonha’, Universidade de Bolonha, sem Figura 27- Vista aérea da Universidade de Oxford, sem data...........117
data.....................................................................................................88
Figura 28- O prédio da Bauhaus, Dessau, sem data..........................119
Figura 17- Universidade de Coimbra, sem data..................................88
Figura 29- Primeiros projetos de Colleges estadunidenses (Harvard,
Figura 18- A universidade Humboldt, em Berlim, e, a direita, a estátua William and Mary, Princeton e Yale).................................................121
de Alexander von Humboldt, sem data...............................................93
Figura 30- Universidade da Carolina do Sul, 1872.............................121
Figura 19- Dartmouth College, sem data............................................99
Figura 31- Ilustração da cidade de Cambridge, EUA. No primeiro plano
Figura 20- Fotografia do prédio da Escola Nacional de Belas-Artes, estão os edifícios da Universidade de Harvard, 1668.......................121
integrante da Universidade do Brasil, na Avenida Central em
1910..................................................................................................104 Figura 32- Plano de New Haver em Connecticut. O primeiro College de
Yale do lado superior esquerdo,
Figura 21- O Edifício Paula Souza, projetado por Ramos de Azevedo e 1748..................................................................................................122
que funcionou entre os anos de 1889- 1940, foi o primeiro prédio
projetado para a Escola Politécnica, sem data..................................106 Figura 33- Nassau Hall, Universidade de Princeton, 1760................122
Figura 22- Mosteiro S. Gall que originou os da Ordem Carolíngia, sem Figura 34- Esquerda: Campus de Berkeley, sem data. Direita: Plano
data...................................................................................................113 diretor da Standford University, projeto de Olmsted e Coolidge,
1888..................................................................................................123
Figura 23- Mosteiro do Santa Croce, Florença, da Ordem Mendicante,
sem data...........................................................................................113 Figura 35- Vista do Campus de Virgínia, sem data............................124
Figura 24- Palazzo dell’Archiginnasio, Universidade de Bolonha, sem Figura 36- Rotunda, Campus de Virgínia, sem data..........................125
data...................................................................................................114 Figura 37- Vista aérea do campus de Virgínia, sem data...................126
Figura 48- Projeto de Le Corbusier para a Cidade Universitária da Figura 60- Instituto Central de Ciências, o “Minhocão” de Niemeyer,
Universidade do Brasil, 1936............................................................135 1962..................................................................................................147
Figura 49- Projeto de Lucio Costa e equipe para a Cidade Universitária Figura 61- A Praça Maior da UnB, 1962.............................................147
da Universidade do Brasil, 1936........................................................136
Figura 62- Organograma estrutural adaptado da Universidade Federal
Figura 50- Comparação entre os projetos de Piacentini, Le Corbusier do Rio Grande do Sul.........................................................................157
e Lucio Costa e equipe, respectivamente.........................................137
Figura 63- Parte da Universidade de Alcalá.......................................160
Figura 64- Estudantes descansando em áreas de estar da Universidade Figura 76- Integração entre as escalas edifício- quadra- Campus.....191
de Tecnologia Chalmers..............................................160
Figura 77- Vista aérea do campus 1 da USP São Carlos mostrando sua
Figura 65- Síntese das diretrizes apresentadas no capítulo..............169 alta densidade e limite com a cidade................................................193
Figura 66- Categorias avaliadas pelo BRREEAM: Energia, Saúde e Bem- Figura 78- Mapa do uso e ocupação do solo da microbacia do Córrego
Estar, Inovação, Uso do Terreno, Materiais, Administração, Poluição, Mineirinho, São Carlos, 2011............................................................194
Transporte, Desperdício e Água........................................................170
Figura 79- Os Campus 1 e 2 da USP São Carlos inseridos na malha
Figura 67- As tipologias de certificação aplicadas pelo Green Building urbana...............................................................................................194
Council Brasil.....................................................................................171
Figura 80- Projeto de urbanismo criado pela equipe do professor dr.
Figura 68- Os critérios e indicadores de sustentabilidade em campi Carlos R. M. de Andrade para o campus 2 da USP São Carlos...........195
avaliados pelo Greenmetric World University Ranking: Infraestrutura,
Energia e Mudanças Climáticas, Desperdício, Água, Transporte e Figura 81- Vista aérea do campus 2 da USP São Carlos.....................196
Educação...........................................................................................175 Figura 82- Exemplo de ocupação do grid virtual do campus II da
Figura 69- Padrões sustentáveis aplicados na Universidade de USP....................................................................................................199
Sonora...............................................................................................182 Figura 83- Membros do Grupo de Estudos e Intervenções
Figura 70- Vista aérea da UFLA, 2012................................................185 Socioambientais trabalhando para a implantação de um Sistema
Agroflorestal na área de mata ciliar dentro do Campus 2 da USP, sem
Figura 71- APP e rio dentro do campus da UFLA, 2016.....................186 data...................................................................................................199
CIA CITY City of São Paulo Improvements and EESC Escola de Engenharia de São Carlos
Freehold Land Company EUA Estados Unidos da América
CIAM Congrès Internationaux d’Architecture FAHOR Faculdade Horizontina
Moderne
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do
CMMAD Comissão Mundial para o Meio Estado de São Paulo
ambiente e o Desenvolvimento
FUNDUSP Fundo para a Construção da Cidade
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Universitária
Científico e Tecnológico
HQE Haute Qualité Environnementale
CO2 Gás Carbônico
IAU Instituto de Arquitetura e Urbanismo
COESF Coordenadoria do Espaço Físico
IES Instituição de Ensino Superior ProPESC Programa de Pesquisa e
Experimentação para a
IIT Illinois Institute of Technology Sustentabilidade no Campus
ISO International Organization for SGA Superintendência de Gestão Ambiental
Standardization
TBL Triple Botton Line
LDB Lei de Diretrizes e Bases
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
LED Light Emitting Diode
UFSCAR Universidade Federal de São Carlos
LEED Leadership in Energy and Environmetal
Design UnB Universidade de Brasília
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................201
BIBLIOGRAFIA...................................................................................209
ANEXOS.............................................................................................221
Anexo A.................................................................................223
Anexo B.................................................................................230
23
INTRODUÇÃO 1
24
INTRODUÇÃO
A sustentabilidade surgiu em minha vida acadêmica logo no e adolescentes dos 4 aos 14 anos e era um espaço potencialmente
primeiro ano da faculdade quando comecei a estudar o tema e pensei perigoso para elas.
que nunca iria trabalhar com a sustentabilidade, além das próprias Inicialmente iriamos realizar alguns projetos de
disciplinas. Semanas depois uma professora me chamou para conscientização como ensinar a separar seus lixos para reciclagem e
participar de um grupo de pesquisa pois eu tinha “o perfil” e poderia reutilizar garrafas pets. Com o passar do tempo o projeto foi se
contribuir para o trabalho em andamento. Era um grupo que desenvolvendo e começamos a realizar oficinas de confecção de
estudava e aplicava conceitos da sustentabilidade em suas distintas adobes e pinturas dos muros com tinta de terra. Dávamos aulas sobre
vertentes. Inicialmente achei que seria algo temporário, mas com o Educação Ambiental e Sustentabilidade e, no final, tínhamos todo um
tempo, a sustentabilidade tornou-se paixão, tema de pesquisas, projeto para a reforma do espaço utilizando técnicas e materiais
projetos de extensão, tema de disciplina ministrada e dissertação. sustentáveis. A escola fechou por resolução municipal alguns meses
O projeto de extensão, em especial, ocorreu nos últimos depois.
semestres de minha graduação e foi bastante marcante, a proposta Esse projeto me fez refletir sobre minha própria formação
era intervir numa escola que funcionava utilizando uma estrutura acadêmica, estávamos ensinando aqueles jovens sobre a
improvisada de uma antiga fábrica de sabão; o local recebia crianças sustentabilidade a partir de pesquisas que realizávamos, mas nós
mesmos, futuros profissionais, tínhamos apenas uma disciplina que
26
abordava de maneira bem superficial esse assunto na universidade: distintos aspectos além d o que é ensinado nas salas de aula e focar
era óbvio que meus colegas, como futuros profissionais que deveriam além do curso de arquitetura e urbanismo.
se preocupar com o meio ambiente, estavam se formando com A investigação foi desenvolvendo uma nova abordagem de
fragilidade nessa área. Eu ainda possuía um pouco mais de que a dissertação poderia ser mais ampla e complexa no sentido de
conscientização, mas ainda assim só compreendia a sustentabilidade pensar sobre a construção de campi sustentáveis e seus desafios, a
nos aspectos ambientais e relacionados a materiais alternativos. partir da visão de uma profissional arquiteta e urbanista.
Esta ideia se expandiu e a curiosidade sobre a situação em O desenvolvimento das universidades desde seu nascimento
outras universidades aumentou. Nas pesquisas iniciais para o projeto passou por grandes mudanças e adaptações. Esse processo é
que foi apresentado no processo seletivo do mestrado pude constatar marcado por conflitos ideológicos e por experimentações em seus
que, infelizmente, essa era a situação das faculdades de arquitetura e próprios espaços que acabaram por refletir na própria cidade e na
urbanismo. Em todas as faculdades analisadas, a sustentabilidade universidade, seja em questões pedagógicas ou espaciais.
ainda é uma conceituação, ou área do conhecimento muito pouco ou
quase nada abordada.
1.2. Universidades, Territórios Universitários, Cidades
Inicialmente, essa dissertação focava o ensino de Universitárias e Campi
sustentabilidade nos cursos de arquitetura e urbanismo do Estado de
São Paulo. Desenvolvendo o tema, foi observado que a questão do Para a compreensão do trabalho, antes de mais nada, é
ensino era apenas uma preocupação dentre tantos questionamentos preciso compreender e distinguir a terminologia e conceitos dos
que foram surgindo no decorrer da pesquisa acerca de como a termos universidades, territórios universitários, cidades universitárias
sustentabilidade deveria estar presente no cotidiano de alunos e campus.
universitários, complementando suas formações acadêmicas em
27
Charle e Verger (1996) apresentam uma interessante apresenta o temo campus como uma denominação surgida no fim do
definição do conceito de universidade como sendo uma comunidade, século XVIII na Universidade de Princeton que engloba a localização
independente ou não, de docentes e discentes que se reúnem para o da instituição; o autor afirma que o termo campus foi utilizado tarde
aprendizado de uma quantidade determinada de disciplinas de nível e de forma errônea, ou seja, associando campus como uma
de ensino superior. “universidade em um jardim”; o autor não distingue a universidade
Universidades são comunidades cujos espaços são bastante de seu local físico e utiliza do termo Cidade Universitária ao citar
complexos e cheios de especificidades traduzidos em seu porte, universidades como uma “instituição cultural nacional”.
relação com a cidade que a cerca, permeabilidade urbana, Segundo o dicionário Michaelis1 território significa:
diversidade e mudanças pedagógicas, áreas de ensino, no seu próprio “1. Grande extensão de terra; 2. Porção da superfície
terrestre pertencente a um país, estado, município,
espaço, em suas relações com seus alunos, funcionários e distrito etc; 3. Região sob a jurisdição de uma
autoridade; 4. Região um tanto populosa, mas sem
comunidade, na gestão e na modificação da paisagem, através da habitantes em número suficiente para constituir um
Estado, sendo pois administrada pela União; 5. Área da
presença de laboratórios, bibliotecas, anfiteatros, espaços midiáticos, superfície de terra que contém uma nação, dentro de
salas de aulas, entre outros espaços. cujas fronteiras o Estado exerce a sua soberania, e que
compreende todo o solo, inclusive rios, lagos, mares
Godoi (2015, p. 07) contribui para a compreensão do termo interiores, águas adjacentes, golfos, baías e portos”.
‘universidade’ como uma instituição que a partir de visões de distintos Já ‘Cidade Universitária’, para Dober (1963), é uma região
pesquisadores e planejadores: Gaines (1991) utiliza o termo campus autônoma com suas próprias regras, diferente do campus que é
apenas para espaços ocupados e planejados, ou seja, o termo está dependente da infraestrutura urbana, assim, poucos podem ser
diretamente ligado à espacialidade. Já o autor Muthesius (2000) exemplificados como cidades universitárias.
1
http://michaelis.uol.com.br/busca?id=vkZvR (acessado dia 30 de agosto de
2016, as 15:55 horas).
28
O termo ‘território universitário’, quando utilizado, é das cidades. O autor ainda escreve sobre como os campus e cidades
compreendido como um espaço geográfico inserido em um “mundo universitárias no Brasil foram um local experimental para o
globalizado contemporâneo” (Godoi, 2015, p. 10). urbanismo, a arquitetura e o paisagismo modernos.
É preciso compreender o espaço físico de uma instituição de Turner (1995) define campus citando o termo ‘academical
ensino superior como um local onde acontecem as atividades village’, utilizado por Jefferson, como origem do planejamento de
acadêmicas, como o local de aprendizado e como local de identidade campus universitário; o termo campus remete à concepção de
institucional. O espaço onde ocorre o ensino superior é caracterizado Colleges e universidades como comunidades ou pequenas cidades.
pelo próprio modelo pedagógico, ou seja, o território apresenta em Dober (1963) utiliza do termo ‘campus’ para se referir ao
suas construções a trajetória de ensino da instituição e é sua própria território universitário, independentemente da localização, de
identidade. quando foi construído ou planejado, ou se é uma university ou
Segundo Godoi (2015) as primeiras cidades universitárias College. O autor define o termo como construções agregadas a
brasileiras nasceram no início do século XX a partir de modelos espaços verdes.
europeus da beaux-arts, de Agache para a Universidade do Brasil, ou O campus ou Cidade Universitária é um modelo específico de
de modelos baseados a partir da art-déco de Piacentini, ou de território localizado em:
modelos modernistas de Le Corbusier. Independentemente de sua “uma região de porte considerável em seu
zoneamento. No fundo, trata-se de uma unidade de
origem, esses espaços podem ser considerados cidades universitárias produção integrada no contexto do mundo capitalista,
dada a racionalização dos meios, a concentração da
a partir de definições de Muthesius. força de trabalho, a não dispersão...” (Mahler, 2015, p.
22).
Para Carlos Andrade (in Pinto e Buffa, 2009) a proposta desses
planejadores era a construção de uma universidade vinculada ao Os planejamentos europeus, norte-americanos e latino-
meio urbano sem seguir o modelo de campus americano, afastado americanos são distintos e importantes contribuintes para a história
das universidades apresentando peculiaridades em seus valores
29
ideológicos, simbólicos, culturais, acadêmicos, comunitários e campus, seja em ações administrativas, políticas internas, ou com a
científicos. No Brasil, as universidades nasceram tardias e sofreram participação de alunos e da própria universidade.
longos períodos burocráticos, políticos e de crises financeiras. Outro As universidades, atualmente, estão ampliando
problema foi que foram criadas como meros locais para a reprodução consideravelmente a quantidade de matrículas na graduação e na
isolada de conhecimentos. Apesar de todo o histórico brasileiro, os pós-graduação e, para suportar esse crescimento, é preciso ampliar
modelos de cidades universitárias são pioneiros no que diz respeito suas estruturas físicas com novos edifícios, com novas redes de
às questões de planejamento e projeto. infraestruturas ou até mesmo com novos campi. Assim, é preciso
conciliar seus crescimentos com as dimensões sustentáveis, além da
implantação de medidas efetivas de comprometimento da instituição
1.3. Campi Sustentáveis
com a sustentabilidade.
Uma universidade deve ser responsável pelas questões do
Sachs (2008) discute conceitos sobre sustentabilidade,
desenvolvimento sustentável pois é um espaço que difunde
incluindo as políticas econômicas, sociais, ambientais, culturais,
conhecimentos e forma profissionais que irão atuar na sociedade.
territoriais, nacionais e internacionais. O autor também mostra a
É importante compreender as universidades como pequenas
relação entre estes conceitos e, sendo importante tratar o assunto de
cidades e que como tais necessitam de redes de infraestruturas como
forma indissociável, pensando de forma multi-dimensional.
coleta e distribuição de água e oferecimento de energia elétrica
A preocupação com a questão ambiental nos últimos anos
(Tauchen e Brandli, 2006, p. 505)2.
vem também envolvendo a preocupação na e com a universidade em
nosso país e no mundo, seja em seus espaços físicos e estruturais,
2
Segundo Bonett et al. (2002), o consumo per capita de água no campus de uma bastante preocupante e que escancara a urgente necessidade das universidades
universidade próxima a Bordeaux, França, é maior do que a média urbana, fator reverem suas posições em relação ao meio ambiente.
30
Uma universidade sustentável deve levar em conta os dentro das próprias instituições; e (c) a limitação da compreensão do
conceitos apresentados por Sachs unindo as dimensões do ensino, conceito de sustentabilidade por parte dos gestores.
pesquisa, extensão, administração e gestão da universidade e Apesar desses fatores, há os aspectos que promovem a
vivências sustentáveis no próprio espaço universitário que por sua vez implementação da sustentabilidade nas universidades segundo
guardaria também perspectivas relacionadas à sustentabilidade em outros pesquisadores da área: (a) a formalização do compromisso da
sua constituição física. Segundo Velazquez et al. (2006, p. 811), a instituição com a sustentabilidade (Lozano et al., 2014); (b) a
definição de uma universidade sustentável é: preocupação dos gestores e líderes com o tema; (c) o
“Uma instituição de ensino superior, como um todo ou estabelecimento de uma forma consistente de avaliar o desempenho
em parte, que busque a promoção, a nível regional ou
global, da minimização de impactos negativos institucional em relação à sustentabilidade (Amaral et al., 2015); (d) a
ambientais, sociais, econômicos e à saúde gerados pelo
uso dos seus recursos quando do cumprimento de suas participação dos professores e funcionários; (e) e a inclusão da
funções de ensino, pesquisa, extensão e manutenção
de forma a ajudar a sociedade a fazer a transição para
sustentabilidade nos currículos.
estilos de vida sustentáveis”. O território de uma universidade tem uma grande
Vários autores analisam os processos de transição das probabilidade de passar por distintos tipos de experimentações
universidades em universidades sustentáveis, indicando e resultando em novas espacialidades e relações. Por esse ponto de
ponderando aspectos que facilitam e que dificultam esse processo de vista é necessário que as propostas elaboradas busquem a plena
mudanças dentro da universidade; dentre os fatores que dificultariam abordagem das questões ambientais e sociais.
a implementação e a institucionalização da sustentabilidade nas
universidades são destacados por pesquisadores da área: (a) as
resistências às mudanças e à inovação; (b) as barreiras enfrentadas
31
O objetivo geral deste trabalho é estudar as possíveis relações modelo de campus sustentável.
a partir do levantamento de documentos, entrevistas e outros tipos se enquadra na situação atual política econômica e social; em seguida
de materiais coletados. Pelo fato de ser uma situação que ainda está o tema do urbanismo sustentável é apresentado e como as questões
ocorrendo e que está sendo afetada pela situação da crise financeira envolvidas no assunto podem modificar o espaço urbano. Por fim, o
nas universidades públicas, é proposto para a elaboração de um encerramento do capítulo discute a importância do tema da
trabalho futuro o relato e documentação do campus que será sustentabilidade para a arquitetura e urbanismo.
finalizado. Após apresentar a sustentabilidade de forma a proporcionar
ao leitor a base necessária para entendimento da análise proposta no
trabalho, o próximo tema abordado é a história das universidades. A
1.6. Estrutura do Trabalho
história da criação das universidades e seu desenvolvimento até o
modelo chegar ao Brasil e ser adaptado para as necessidades e
Para que fosse possível alcançar os objetivos deste trabalho,
realidades locais, além dos métodos de ensino adotados durante o
os capítulos foram divididos da seguinte maneira:
tempo.
O primeiro capítulo da dissertação apresenta de maneira
Para entender como um campus universitário se torna
resumida e introdutória os elementos relacionados diretamente com
sustentável, ou mesmo é planejado como um campus sustentável,
a pesquisa como diferenciações semânticas dos termos
uma análise de como o espaço físico universitário foi criado e
Universidades, Territórios Universitários, Cidades Universitárias e
modificado ao longo do tempo é apresentada. Através de exemplos
Campi, a importância de campi sustentáveis, os objetivos, a
de importantes universidades que influenciaram direta ou
justificativa e metodologia do trabalho e a estrutura da pesquisa.
indiretamente o projeto dos campi no Brasil, o capítulo procura
Como base para o entendimento da análise posterior, o
construir uma base de conhecimento sobre o território universitário.
segundo capítulo aborda a sustentabilidade de forma a apresentar
seu histórico, seus principais conceitos e definições, e como o tema
33
SUSTENTABILIDADE 2
36
Universidade de Oxford, no Reino Unido, uma das mais antigas instituições de ensino da Europa Ocidental.
Fonte da imagem: https://www.ox.ac.uk/visitors/visiting-oxford?wssl=1 (acessado dia 19 de junho de 2016, as 21:44 horas). Editada pela autora.
37
SUSTENTABILIDADE
O relacionamento do homem com a natureza se modificou começaram a se dissolver os antigos limites da cidade
e as mudanças socioculturais que acompanharam essa
intensa e radicalmente no decorrer da história: nos períodos da Idade dissolução. Embora o fato já demonstrasse seus sinais
no período medieval, ele só se concretizou a partir do
Média e do Renascimento a cidade era um local para fugir da renascimento, vendo-se o auge dessa formalização no
período barroco” (Franco, 2001, p. 19).
selvageria do campo e da natureza; já no período da Revolução
Industrial, a natureza passou a ser idealizada como um paradigma As ocorrências de catástrofes e anormalidades de fenômenos
clássico de oposição à natureza e à cidade, que era considerada um naturais intensos e extremos são sinais que testemunham alterações
espaço insalubre e que acabou por contribuir com a criação de na Natureza Física do mundo que habitamos.
projetos de cidades utópicas e ideais relacionadas à natureza3. De 1997 a 2012 a Organização das Nações Unidas, ONU,
Segundo Montaner (2012), no período da revolução industrial apresentou relatórios chamados de Global Environmental Outlook 4
o entorno passou a ser modificado a partir de ações exploradoras, o que mostravam distintos cenários que o mundo poderia enfrentar em
que contribuiu para afastar a arquitetura de seu equilíbrio com a cerca de trinta anos. Alguns desses cenários são bastante pessimistas
natureza; a despeito de somente no final do século XIX e início do como: crescente falta de água, aquecimento global e poluição.
século XX que as cidades da Europa e dos Estados Unidos passaram a Passados apenas sete anos esses cenários já parecem realidade para
contar com vias arborizadas. muitos países: segundo o jornal estadunidense Los Angeles Times5, o
“Se procurar as origens (...) da crise ambiental atuais, Estado norte americano da Califórnia está sofrendo com o clima mais
ter-se-á que procurar as causas e o período em que
3 5
Profissionais teóricos ou práticos como Olmsted (1822-1903), Sitte (1843-1903), http://inhabitat.com/can-nasa-solve-californias-devastating-drought-before-its-
Howard (1850-1928) e F. L. Wright (1867-1959). too-late/ (acessado dia 26 de agosto de 2015, as 12:13 horas).
4
http://www.unep.org/geo/ (acessado dia 26 de agosto de 2015, as 11:56 horas).
38
seco desde 1895, resultando na drástica redução das águas É previsto que cerca de 400 mil pessoas irão morrer
subterrâneas e das bacias; no ano de 2014 havia documentos que prematuramente na Europa por falta de iniciativas mais efetivas para
mostravam que o Estado contava com cerca de dois anos de diminuir a poluição sonora e do ar. A Europa sofre com a perda da
abastecimento de água, mas a seca estava diminuindo este prazo pela biodiversidade causada pela agricultura e pela urbanização, e com o
metade. estado precário de muitos sistemas de água doce6. Ainda sob uma
Al Gore, ambientalista e ex-vice-presidente dos Estados visão pessimista sobre o destino europeu, James Lovelock (apud
Unidos, apresenta um documentário em 2006 chamado ‘Uma Mostafavi e Doherty, 2014) escreve ‘A Vingança de Gaia’, em 2006,
verdade inconveniente’, An Inconvenient Truth, no qual mostra de afirmando que nas proximidades do ano de 2040 a Europa central,
maneira bastante realista o aquecimento global e suas como Paris e Berlim, vai passar por um processo de desertificação,
consequências. O ambientalista enfatiza as catástrofes ambientais assim como ocorreu com o Saara, a Grã-Bretanha só irá escapar ilesa
ocorridas no mundo como o derretimento de geleiras, as ondas de desse processo por sua localização oceânica.
calor que ocorrem na Europa e os furacões Katrina, nos Estados O Brasil, em 2014 e 2015, também sofreu as consequências
Unidos, e o Catarina, no Brasil. Segundo Al Gore esses eventos serão das mudanças climáticas. Um exemplo foi, no início de 2015, a maior
cada vez mais frequentes e mais intensos. Apesar da apresentação cheia do rio Acre 7 que deixou 20 mil desabrigados; essa cheia foi
destes cenários catastróficos, o objetivo do documentário é mostrar provavelmente ampliada pelo desmatamento das margens do rio e da
que é preciso e é possível que a população e seus governantes Amazônia.
encontrem soluções.
6 7
http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/planeta-urgente/milhares-de- http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/03/09/cheia-no-ac-
europeus-sofrerao-morte-prematura-por- foi-grito-de-alerta-da-natureza-diz-viuva-de-chico-mendes.htm (acessado dia 26
poluicao/?utm_source=redesabril_psustentavel&utm_medium=facebook&utm_c de agosto de 2015, as 12:30 horas).
ampaign=redesabril_psustentavel_planetaurgente (acessado dia 26 de agosto de
2015, as 13:28 horas).
39
Nesse período, outro importante exemplo foi vivenciado pelos acontecia em 10 de outubro. Mas em 1975, era 28 de
novembro. Hoje, é 13 de agosto. Se continuarmos no
Estados de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e, sobretudo, de São Paulo, ritmo atual, prevê o estudo, vamos consumir o
equivalente a dois planetas até 2030, antecipando
que atravessaram uma grande seca e crise hídrica jamais vistas8. O ainda mais o ‘Dia da Sobrecarga’, para junho”. 10
maior reservatório de água potável do Estado paulista contou com
menos de 5% de sua capacidade, além da falta de água houve a
iminência de apagões e cortes na luz. A cidade de São Paulo possuía
para seu abastecimento apenas os volumes mortos dos reservatórios
do Cantareira, os quais não possuem nenhuma garantia da qualidade
de suas águas.
A notícia mais impactante foi dada em 13 agosto de 2015: a
partir dessa data a população havia estourado o orçamento do
Planeta Terra, ou seja, já nesse período os seres humanos haviam
finalizado com “todos os recursos que a Terra é capaz de oferecer de
forma sustentável no período de um ano”9:
Figura 1- Fotografia do reservatório de água para a capital paulista, o
“A diferença entre a capacidade de regeneração do Cantareira, praticamente seco, 2014, fotografia de Patrícia Stavis.
planeta e o consumo humano gera um saldo ecológico (Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2014-07-17/seca-do-
negativo que vem se acumulando desde a década de cantareira-pode-levar-sp-a-depender-de-caminhoes-pipa-e-agua-
80, também estimulado pelo crescimento populacional engarrafada.html, acessado dia 26 de agosto de 2015, as 12:47 horas).
(...). Vinte anos atrás, o ‘Dia da Sobrecarga da Terra’
8 10
http://www.publico.pt/mundo/noticia/seca-historica-compromete- http://planetasustentavel.abril.com.br/noticias/hoje-humanidade-entra-
abastecimento-de-agua-e-luz-no-brasil-1684691 (acessado dia 26 de agosto de cheque-especial-terra-895761.shtml (acessado dia 26 de agosto de 2015, as
2015, as 12:52 horas). 13:33 horas).
9
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticias/hoje-humanidade-entra-cheque-
especial-terra-895761.shtml (acessado dia 26 de agosto de 2015, as 13:33 horas).
40
Segundo Franco (2001), o termo sustentabilidade se origina (2006) acha necessário traduzir o termo sustainable, sustentável, pelo
do termo ‘comportamento prudente’, ou seja, o cuidado ao se utilizar adjetivo durable, durável, o que remete a um desenvolvimento
de recurso para assegurar sua potencial renovação. durável sem questionar o desenvolvimento, pois, ao se falar em algo
Ainda segundo Franco (2001), é importante usar somente o sustentável levanta mais questionamentos do que afirma esse
necessário para garantir que o meio ambiente possa se renovar. desenvolvimento; Villela (2007) ressalta a necessidade de se traduzir
O termo sustentabilidade é o equilíbrio entre todo o meio o termo francês développement durable, ou seja, um
ambiente, compreendendo que toda a estrutura ambiental afeta e é desenvolvimento durável, que deve ser preservado para as presentes
afetada pelo ser humano que dela participa. A sustentabilidade, e futuras gerações.
então, contempla as escolhas que o homem faz em relação às O termo sustentabilidade, então, pode ser compreendido
maneiras de produção, consumo, moradia, alimentação e transporte, como uma possibilidade de manter não apenas a espécie humana,
levando sempre em conta os “valores éticos, solidários e mas a totalidade do meio e seus participantes, numa vida segura,
democráticos”11. saudável e produtiva, vivendo em equilíbrio com a natureza e com os
Xavier, (2011, p. 36), aponta as opiniões de importantes valores culturais.
pesquisadores a respeito do termo, como Sahtouris (2009) que afirma Sahtouris (2009 apud Xavier, 2011) afirma que a
que é preciso compreender que não adotar posturas sustentáveis sustentabilidade deve ir além das esferas ambientais físicas, estrito
implica no fim da sobrevivência de futuras gerações; já Myttenaere
11
https://sustentabilidade.sescsp.org.br/conceito-de-sustentabilidade (acessado
dia 21 de fevereiro de 2016, as 14:41 horas).
42
senso, e incluir a compreensão do ser, a reflexão de como cada reuniram líderes mundiais tentaram compreender suas ações sobre a
indivíduo pensa e age em relação ao outro e a si próprio. natureza e as possibilidades de minimizarem seus impactos
Segundo Cunha e Guerra (2012), a primeira vez que surgiu a ambientais.
percepção em relação ao meio ambiente foi após a Segunda Guerra Em 1972, o Clube de Roma12 analisou o rápido crescimento
Mundial, quando o homem percebeu que a natureza é finita e que populacional sobre os recursos naturais. O principal argumento era
sua destruição também acarretaria na destruição do próprio ser que vários fatores como a população mundial, a poluição, a
humano. industrialização e o esgotamento dos recursos naturais aumentavam
O conceito de sustentabilidade desenvolve-se a partir da exponencialmente, enquanto a disponibilidade dos recursos
compreensão da crise e dos impactos ambientais gerados pela ação aumentava linearmente. As previsões feitas pelo Clube de Roma
humana. As décadas de 60 e 70 foram marcadas por manifestações pareciam ser confirmadas pela crise do petróleo, em 1973, que levou
de cunho ambientalista e por preocupações em relação ao ao mundo uma enorme crise financeira; segundo essas previsões,
crescimento econômico e a degradação dos ecossistemas. Antes os somente mudanças drásticas no estilo de vida, sobretudo para o
impactos ambientais eram compreendidos como o resultado aumento populacional em países mais pobres, poderiam evitar um
inevitável do avanço do capitalismo, mas, a partir deste período, colapso da civilização (Agopyan e John, 2011).
cresce a preocupação e o interesse nas populações em criarem uma Também em 1972 ocorreu a Conferência de Estocolmo13, que
relação mais harmônica com o meio ambiente; diversos eventos que tinha como objetivo conscientizar os países sobre o controle da
12
O Clube de Roma elaborou, em 1972, um documento chamado ‘Os Limites do militar (...) o posicionamento do Brasil foi decisivo para promover uma revisão da
Desenvolvimento’ cujos principais objetivos eram discutir problemas como a questão dos limites do crescimento. A começar pela sua afirmação que,
necessidade de minimizar ou até parar com a exploração industrial dos recursos considerando a miséria como o mais grave efeito poluidor, só o desenvolvimento
naturais (Cunha e Guerra, 2012). econômico e social pode reverter esse problema; por isso, argumenta em favor do
13
Segundo Fernando Almeida (2002 apud Schweigert, 2007, p. 74) “o Brasil foi um direito de cada nação empregar seus recursos naturais para atingir tal
dos países que mais se empenhou na convocação da Conferência de Estocolmo desenvolvimento”.
porque vivenciava o apogeu de seu ‘milagre econômico’, propagado pelo regime
43
poluição de rios, mares e ar. Esse foi o primeiro grande encontro A proposta de ecodesenvolvimento16 surgiu das discussões da
internacional voltado para a discussão de problemas ambientais ECO 72 em Estocolmo, na Suécia. O conceito foi originalmente
(Martins, 2010). A Conferência de Estocolmo14 reuniu representantes concebido por Maurice Strong e posteriormente desenvolvido,
de 113 países e 250 ONGs que, a partir da compreensão da principalmente, por Ignacy Sachs17.
insustentabilidade na qual o planeta estava vivendo, recomendaram Sachs (1976) fala sobre os princípios do ecodesenvolvimento:
propostas para o desequilíbrio ecológico e a pobreza. Essa (a) Compensação das necessidades básicas; (b) Preocupação com as
conferência resultou no documento chamado ‘Declaração sobre o próximas gerações; (c) Participação popular; (d) Preservação e
Ambiente Humano- Declaração de Estocolmo e Plano de Ação para o conservação dos recursos naturais e do meio ambiente; (e) Criação
Meio Ambiente’ (Rodrigues, 2002). Na Conferência de Estocolmo de um sistema que garanta emprego, segurança social e respeito a
também foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio outras culturas; (f) Projetos educacionais.
Ambiente, PNUMA, cujos principais objetivos são: Segundo Leff (2004 apud Schweigert, 2007), as teorias do
“Manter o estado do meio ambiente global sob ecodesenvolvimento foram enfraquecidas antes de suas propostas
contínuo monitoramento; alertar povos e nações sobre
problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar terem algum alcance mais crítico e transformador, era necessário que
medidas para melhorar a qualidade de vida da
população sem comprometer os recursos e serviços houvesse um desenvolvimento que conseguisse unir o
ambientais das gerações futuras”15.
14 15
Segundo Sachs (2008), nesta conferência tinham dois grupos opostos entre si: https://nacoesunidas.org/agencia/pnuma/ (acessado dia 16 de maio de 2016, as
os que defendiam o crescimento como prioridade e que os danos poderiam ser 20:13 horas).
16
revertidos posteriormente, e os que defendiam que se o crescimento não fosse O ecodesenvolvimento surgiu para diminuir os impactos ambientais sem
parado imediatamente a população iria desaparecer em consequência da poluição delimitar a qualidade de vida do ser humano e suas necessidades, para que isso
e da escassez de recursos ambientais; as crenças dos dois grupos foram rejeitadas pudesse ocorrer a tecnologia e a ciência foram os principais instrumentos
e substituídas pela ideia de que o crescimento econômico ainda deveria ocorrer (Gutberlet, 1998 apud Schweigert, 2007). O ecodesenvolvimento teve como
porem de uma maneira em que a natureza fosse respeitada, ou seja, o meio preceptor o economista I. Sachs que procurou unir ecologia com economia e utiliza
ambiente poderia ser utilizado de forma racional e sustentável em benefício dos o termo como sinônimo de desenvolvimento sustentável (Schweigert, 2007).
17
povos (Sachs, 2008, p. 55). O conceito contemporâneo de sustentabilidade vem do termo desenvolvimento
sustentável e comporta os aspectos apresentados por Sachs.
44
desenvolvimento econômico e a preservação da natureza. Com a econômico e conservação ambiental”; este documento também
crise econômica sofrida pelos países da América Latina, dez anos após apresentou o conceito de desenvolvimento sustentável (Lima, 1997,
a Conferência de Estocolmo, o crescimento econômico torna-se p. 205).
prioridade e o desequilíbrio ambiental torna-se problemático; neste “O termo ‘sustentabilidade’ passou a ter seu uso
corrente, em nível mundial, a partir de meados de
cenário o ecodesenvolvimento que perdera sua ação transformadora 1980, por iniciativa da Organização das Nações Unidas
(ONU). Em 1987, a Comissão Mundial para o Meio
havia sido substituído pelo discurso do desenvolvimento sustentável ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD),
pertencente à ONU, divulgou o documento intitulado
(Schweigert, 2007). Our common future (‘Nosso futuro comum’). Trata-se
Já em 1974 aconteceu a Declaração de Cocoyok, elaborada de uma obra política e oficial, que expressava a
preocupação acerca do então chamado
pela ONU, na qual são apontadas que a pobreza e a explosão ‘desenvolvimento sustentável’. Foi com este
documento- popularmente conhecido como Relatório
demográfica geram desequilíbrio demográfico, destruição ambiental, Brundtland, em honra à primeira-ministra norueguesa
Gro Harlem Brundtland, então presidente da CMMAD-
superutilização do solo e dos recursos naturais (Martins, 2010). que se passou a definir desenvolvimento sustentável
como ‘aquele que atende às necessidades do presente
Em 1983 a Assembleia Geral das Nações Unidas criou a sem comprometer as possibilidades de as gerações
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, futuras atenderem suas próprias necessidades’”
(Xavier, 2011, p. 35).
UNCED, cuja presidente era a primeira ministra da Noruega, Gro
O termo Triple Botton Line, TBL, surgiu em 1994 a partir de
Harlem Brundtland. Esta Assembleia reexaminou “os principais
estudos realizados por Elkington, o termo também é conhecido por
problemas do meio ambiente e do desenvolvimento, em âmbito
3P: ‘People, Planet e Profit’, segundo Oliveira et. al. (2012, p. 72):
mundial” e, em 1987, apresentou o relatório ‘Nosso Futuro Comum’18
“Analisando-os separadamente, tem-se: Econômico,
no qual apresenta a “necessidade de conciliar crescimento (...); Ambiental, (...); e Social, (...). Juntos, no entanto,
estes três pilares se relacionam de tal forma que a
interseção entre os dois pilares resulta em viável, justo
18
Segundo Xavier (2011), a definição feita por Brundtland é vaga no sentido de não seriam. Porem a ministra já se mostrava preocupada com a união das dimensões
expor totalmente quais seriam as necessidades presentes e futuras, ou para quem políticas, sociais, ambientais e com as escalas locais, regionais e mundiais.
45
19
Como o documento expirou em 2013, houve uma reunião na Dinamarca em
2009 que elaborou um novo documento para substituir o vencido, esse documento
também incluiu os países em desenvolvimento.
46
Três áreas para avaliação de desempenho 2.2 . O sistema capitalista e o desenvolvimento (in)
Conceito chave: Triple Bottom Line Sustentabilidade simplificada sustentável
Crescimento
Valor do acionista
Eficiência A atual relação existente entre o capitalismo e a
sustentabilidade é crítica e para ser inicialmente compreendida é
Crescimento Sustentável
preciso realizar uma pequena digressão histórica: o capitalismo inicia-
se como uma crise do feudalismo. Com o aumento da população e
Empoderamento e Justiça
Mobilidade Social Integridade do ecossistema também da produção no sistema feudal houve um acúmulo de
Coesão Social e do clima
Identidade Cultural Capacidade de suportar carga mercadorias que não foram consumidas. Toda esta acumulação gerou
Desenvolvimento Institucional Biodiversidade
a necessidade de criação de um sistema de trocas entre os burgos,
Desenvolvimento
Figura 2- Esquema de crescimento sustentável elaborado pelo World trocas estas que evoluíram para o sistema comercial que resultou na
Resources Institute, em 2002, apresentando a tridimensionalidade da
criação de cidades e no surgimento da burguesia composta por
sustentabilidade. Na parte superior está indicada a sustentabilidade econômica,
na inferior, ao lado esquerdo, está a social e, a direita, a ambiental. artesãos e comerciantes (Lessa e Tonet, 2011).
(Fonte: Imagem adaptada de Foladori, 2002).
Alguns passos foram importantes para o desenvolvimento do
capitalismo, dentre eles: as corporações de trabalho que utilizavam
pessoas sem trabalho quando houve a transição do sistema feudal
para o sistema de manufaturas, a concorrência entre as nações que
deu significado político ao comércio na emergência de lutas entre as
nações, as guerras comerciais, e, por fim, o capital móvel gerado pelo
comércio e que passa a ser acumulado dando poder à burguesia.
47
A burguesia e suas lógicas de produção geraram um meio ambiente, a natureza passa a ser mercadoria com valor de troca
rompimento da estrutura feudal e realizaram, de maneira radical, a (Cunha e Guerra, 2012).
Revolução Industrial. A nova sociedade capitalista seria dividida entre Atualmente o sistema capitalista está presente em
trabalhadores proletariados e burgueses capitalistas, neste cenário, a praticamente todo o mundo, tornou-se financeiro e passou a dominar
força de trabalho do proletariado passa a ser convertida em o mercado global e sendo refletido em diversas atividades do ser
mercadoria e a riqueza, ou acumulação de capital, sendo direcionada humano. Desde sua criação, o sistema tem apresentado uma
à burguesia, o que acabou gerando um acumulo incessante de capital capacidade de recuperação e reinvenção notáveis, porém a
(Lessa e Tonet, 2011). destruição dos recursos naturais se mantém em constante
Segundo Cunha e Guerra (2012, p. 19-20), Marx compreendia crescimento.
que o homem, através do trabalho, altera a natureza de acordo com A relação, portanto, entre o capitalismo e o meio ambiente é
suas necessidades 20 e a organização da sociedade determina a direta no sentido que o indivíduo submetido a forte ideologia de
maneira como a natureza é explorada: consumo e alienação, gera um nível de produção intenso que explora
os recursos naturais de forma desenfreada e a exploração dos
“Marx afirma que ‘todas as relações sociais estão
mediadas por coisas naturais e vice-versa. São sempre recursos naturais, o que termina por gerar uma situação insustentável
relações dos homens entre si com a natureza’,
significando que a natureza é uma categoria social e a como cenário futuro. A grande preocupação atualmente é a relação
sociedade uma categoria natural”.
entre a sociedade e a natureza: atualmente o meio ambiente está
O próprio capitalismo e seu crescimento econômico implicam
debilitado pela grande exploração causada pelo acumulo de capital
na necessidade de dominarem, transformarem e se apropriarem do
20
Ainda segundo Cunha e Guerra (2012, p. 21), em uma sociedade capitalista a do trabalho, e com o desenvolvimento das cidades: “a produção para a troca, no
natureza passa a ser controlada por instituições e pelo desenvolvimento da divisão modo capitalista de produzir, implica uma nova relação com a natureza”.
48
de um grupo dominante que não se importa com os impactos de acumulação capitalista gerado pela globalização neoliberal. O
ambientais (Welzer, 2010). planeta e seu meio ambiente estão sendo criticamente atingidos pelo
modo de produção vigente: os solos estão se deteriorando pela ação
de multinacionais agroalimentares, desertos estão crescendo,
florestas estão queimando e vários países sofrem com falta de água e
alimentos.
O planeta está atingindo um ponto crítico chamado de não
retorno, ou seja, uma temperatura a qual o próprio planeta não terá
capacidade de se autorregular. Segundo Marx (2004) os seres
humanos possuem a capacidade de alterar qualquer sistema
regulatório por intermédio da relação homem-natureza.
Figura 3- Ilustração de metalúrgica alemã em 1841, autor desconhecido. Considerando esta análise, para enfrentar a crise que se instalou no
A imagem ilustra como a poluição foi intensificada a partir da Revolução
Industrial, em consequência do aumento urbano e industrial. Além da poluição, meio ambiente pela alta taxa de exploração, é necessário que se
também aumentou o desmatamento para possibilitar a construção de novas
altere a relação do homem com a apropriação da natureza.
fábricas.
(Fonte: https://forumdediscursus.wordpress.com/teoria-dos-jogos-e-da- Atualmente os debates estão em torno de encontrar soluções
cooperacao-para-filosofos/o-jogo-do-bem-publico/, acessado dia 14 de abril de
2015, as 21:16 horas). para aliar prosperidade econômica e preservação de recursos
Segundo Lowy (2013), grandes problemas ambientais naturais. A principal ferramenta teórica para possibilitar a realização
também estão relacionados ao processo de mudança climática, prática de um planejamento sustentável é a conscientização ecológica
resultante dos gases do efeito estufa emitidos pela indústria e pelo aliada a um planejamento estratégico para que seja possível trabalhar
agronegócio, em suma, boa parte desse problema resulta do processo
49
de forma racional e agregada, visando conservar o meio ambiente e práticas que garantam a sintonia entre as transformações ocorrentes
proporcionar uma alternativa para o futuro. e a continuidade cultural, contemplando a importância das raízes
Com a abertura do foco da sustentabilidade na direção da endógenas e especificidades locais do ecossistema (Sachs, 2008).
economia, produção e pessoas, houve um crescimento mais voltado Binswanger (1997 apud Schweigert, 2007) afirma que o
para os seres humanos e para a economia do que para a questão desenvolvimento sustentável é a relação harmônica entre o
ambiental em si. São, através desta perspectiva, elaborados conceitos desenvolvimento econômico e preservação de recursos naturais,
das dimensões que a sustentabilidade deveria abranger: (a) sendo assim é importante reconhecer o meio ambiente como base
Sustentabilidade social: uma sociedade com maior igualdade de não renovável da existência humana.
distribuição de renda e bens, diminuindo a distância e diferenças Segundo Sachs (2004), os pilares do desenvolvimento
entre as classes sociais; (b) Sustentabilidade econômica: a eficiência sustentável são: social, ambiental, territorial, econômico e político.
econômica medida em meios macrossociais e não através de critérios Analisando os pilares, Sachs conclui que os países devem se
microeconômicos de rentabilidade empresarial; (c) Sustentabilidade desenvolver com suas próprias forças implementando uma estratégia
ecológica: racionalizar recursos esgotáveis ou danosos ao meio de desenvolvimento endógeno, sem negligenciar sua inserção na
ambiente com redução do volume de resíduos por meio da economia global. A questão do emprego é vista como fundamental
conservação de energia e práticas de reciclagem, pesquisas em para promover a sustentabilidade social e o crescimento econômico.
tecnologias ambientalmente mais adequadas e implantação de Sachs ressalta ainda que os países ‘periféricos’ deveriam se organizar
políticas de proteção ambiental; (d) Sustentabilidade geográfica ou em foros internacionais para promover uma mudança na economia
espacial: a configuração rural-urbana mais equilibrada, com a internacional.
redução de concentrações urbanas e das atividades econômicas, O desenvolvimento sustentável indica uma direção na
protegendo ecossistemas frágeis; (e) Sustentabilidade cultural: tentativa de solução para o problema. Como citado anteriormente, o
50
conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado no sustentável é buscar, em cada atividade, formas de diminuir o
Relatório de Brundtland em 1987. O conceito foi consolidado durante impacto ambiental e de aumentar a justiça social dentro do
a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o orçamento disponível (Agopyan e John, 2011).
Desenvolvimento, ECO 92, e depois amplamente divulgado. A relação Em 2015 foi desenvolvida a ‘Agenda 2030’ cujas ações
e equilíbrio entre o desenvolvimento sustentável e o capitalismo é englobam as pessoas, o planeta e a prosperidade, além de fortalecer
muito importante para evitar o aumento da depredação e para tentar a paz mundial e a tentar erradicar a pobreza para que ocorra o
aliar os processos econômicos com a preservação do meio ambiente. desenvolvimento sustentável. A proposta é que os países
O desenvolvimento sustentável21 tem como finalidade aliar as interessados e membros da ONU hajam de forma colaborativa. Essa
preocupações ambientais e políticas socioeconômicas com o intuito agenda universal possui 17 objetivos e 169 metas para que seja,
destas serem responsáveis pelos impactos ambientais. assim, possível alcançar o desenvolvimento sustentável ao combinar
Para que haja o desenvolvimento sustentável22 é necessário suas propostas com o sistema capitalista e direitos humanos, que
considerar o grande desafio que é fazer a economia desenvolver-se atualmente são intensamente discutidos, como a igualdade de
de uma maneira que atenda às expectativas da sociedade e mantenha gênero e o empoderamento feminino23.
o ambiente sadio para a atual e futuras gerações. Na verdade, esse
desafio é a busca do equilíbrio entre proteção ambiental, justiça social
e viabilidade econômica. Aplicar o conceito de desenvolvimento
21
Segundo a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1988 de viabilidade econômica (Sachs, 2004). Os países com maior probabilidade de
apud Schweigert, 2007, p.79), desenvolvimento sustentável é capaz de satisfazer aplicar um desenvolvimento sustentável, capaz de quebrar o ciclo de
“as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras subdesenvolvimento e pobreza dentro de um esquema de economias mistas e
gerações satisfazerem suas próprias necessidades”. regulamentadas por Estados democráticos, são os países menos desenvolvidos.
22 23
O conceito de desenvolvimento sustentável avançou para um conceito que https://sustainabledevelopment.un.org/post2015/transformingourworld
obedece ao duplo imperativo ético sendo solidário com gerações presentes e (acessado dia 25 de maio de 2016, as 17:12 horas).
futuras, exigindo a explicitação de critérios de sustentabilidade social, ambiental e
51
Os objetivos da Agenda 2030 são 24 : (a) Erradicar todas as inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”; (m) “Promover
formas de pobreza e em todos os locais, pobreza essa que também sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável”
inclui privações nas áreas da saúde e da educação; (b) Oferecer de com justiça para todos; (n) “Proteger, recuperar e promover o uso
forma efetiva e melhorar a saúde e o bem-estar para todas as faixas sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as
de idade, sobretudo combater a mortalidade materna e infantil; (c) florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da
Garantir educação e escolas de qualidade, inclusivas e efetivas; (d) terra e deter a perda de biodiversidade”; (o) Conservar e proteger
Garantir o oferecimento de energia, água e saneamento sustentáveis oceanos e mares; (p) “Fortalecer os meios de implementação e
e confiáveis à toda a população; (e) Empoderar as mulheres e alcançar revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável”.
a igualdade de gêneros; (f) Erradicar a fome e garantir uma O conceito de desenvolvimento sustentável apresenta
alimentação nutritiva e de qualidade; (g) Diminuir as desigualdades diferenças em relação ao conceito de ecodesenvolvimento, dentre as
entre e nos países incluindo doze dimensões: “coesão social, diferenças é possível identificar a distinção entre justiça social, a
dependências químicas, doenças mentais, educação, questão do papel da tecnologia e as diferenças estratégicas político-
encarceramentos, longevidade, mobilidade social, obesidade, partos econômicas.
de adolescentes, saúde, vida comunitária e violência”; (h) Incentivar A noção de justiça social para o ecodesenvolvimento busca um
a inovação e incentivar indústrias inclusas e sustentáveis; (i) Crescer teto de consumo com nivelamento médio dos padrões dos dois
economicamente de maneira sustentável e inclusiva; (j) Criar hemisférios. Já para o desenvolvimento sustentável, foi definido um
maneiras possíveis para ocorra o combate às mudanças climáticas “e piso de consumo material com crescimento econômico para dos dois
seus impactos”; (l) “Tornar as cidades e os assentamentos humanos hemisférios, desde que sejam criadas tecnologias mais eficientes. No
24
As informações apresentadas foram retiradas de
http://sustentaculos.pro.br/ods.html (acessado dia 25 de maio de 2016, as 17:37
horas).
52
caso da tecnologia, o ecodesenvolvimento defende tecnologias mais sustentável respeitando seus conceitos primordiais é a mudança do
adaptadas a cada país e região. O desenvolvimento sustentável pensamento que a sociedade tem em relação ao meio ambiente e à
defende a transferência de tecnologias. Com relação a questões natureza.
político-econômicas o ecodesenvolvimento critica o livre mercado e
defende uma intervenção maior do Estado, enquanto o
desenvolvimento sustentável defende uma política liberal, inclusive a
expansão de mercado. Ao que tudo indica, o discurso ambiental vem
sendo apropriado pelas forças de mercado.
Segundo Wallerstein (2002), os últimos anos criaram muitos
problemas críticos para o meio ambiente como aquecimento global,
acidentes nucleares e aumento dos buracos na camada de ozônio.
Segundo o autor, os dois problemas principais do capitalismo são o
Figura 4- Padrões de crescimento apontados por Sachs (2008, p. 36) que
fato de ser um sistema que tem necessidade de se expandir, tanto atendem ao mesmo tempo as questões sociais, ecológicas e econômicas, dentro
dos três pilares do desenvolvimento sustentável.
geograficamente quanto em termos de produção total. (Fonte: Sachs, 2008. p. 36.)
2.3 . A transição do atual mundo insustentável para uma mudanças de paradigmas devem ocorrer a partir das seguintes
nova civilização: as mudanças de paradigmas em condições: (a) É preciso haver insatisfação com o paradigma
relação ao homem e à natureza
existente; (b) É preciso que o novo paradigma seja claro e fácil de ser
compreendido; (c) É preciso que esse novo paradigma seja razoável e
Segundo o dicionário Michaelis25, paradigma significa: capaz de solucionar os problemas; (d) É preciso que esse novo
“sm (gr parádeigma) 1 Modelo, padrão, protótipo. 2
paradigma possa ser alvo de investigações. A mudança de paradigma
Ling Conjunto de unidades suscetíveis de aparecerem
num mesmo contexto, sendo, portanto, comutáveis e para ocorrer, segundo o autor, deve contemplar campos sociais,
mutuamente exclusivas. No paradigma, as unidades
têm, pelo menos, um traço em comum (a forma, o políticos e pessoais (Kuhn, 1998).
valor ou ambos) que as relaciona, formando conjuntos
abertos ou fechados, segundo a natureza das No século XX o ser humano realizou mudanças em diferentes
unidades”.
âmbitos, o que também os levou a realizar mudanças paradigmáticas,
Em síntese, paradigmas são “estruturas de pensamento que tudo isso favorece o repensar de “seu papel na sociedade e seu
(...) comandam nosso discurso” (Morin, 1997 apud Cunha e Guerra, comportamento junto ao meio ambiente de forma mais consciente”.
2012, p. 81). Ainda segundo Brum et. al. (2002, p.2), pode-se reparar em
Já a mudança de um paradigma pode ser observada como duas posturas do homem: uma voltada para a sua produtividade que
demonstrou o livro ‘Estrutura das Revoluções Científicas’ de Thomas tem “como consequências a deterioração da qualidade do meio
Kuhn, lançado pela primeira vez em 1962, no qual o autor apresenta ambiente” e outra voltada para o equilíbrio e respeito entre a
as mudanças nas concepções básicas, ou seja, nos paradigmas, dentro natureza e o desenvolvimento.
de uma teoria que é dominante dentro da ciência. Essas mudanças
devem ocorrer de maneira experimental e não somente teórica. Essas
25
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=paradigma (acessado dia 24 de abril de 2016, as 16:48 horas).
54
A constituição, então, de um novo paradigma sustentável sobre quanto tempo a natureza levava para se recompor (Franco,
Rohde (1994), a insustentabilidade presente nos cotidianos é Durante a história do ser humano, a natureza foi alvo de
consequência do anterior conhecimento que foi inadequado em destruição seja por intervenção ou por exploração. Segundo Franco
relação à vivência com a natureza. Apesar disso, a sustentabilidade (2001) as civilizações como a egípcia, a chinesa e a hindu seguiam uma
ainda não é um paradigma para a sociedade como um todo, não ética vernacular que permitiu, até o período pré-industrial, que
participando de sua cultura e, consequentemente, não participando sobrevivessem a partir de “princípios ecológicos” presentes em suas
também dos modos de desenvolvimento da mesma. culturas e religiões; com a industrialização e a tecnologia esse fato foi
radicalmente modificado.
2.4 . Cidades Insalubres, Cidades Modernas: A partir do domínio do homem sobre o ferro, na Idade do
renovações urbanas e urbanismo sustentável Ferro, foi possível que o homem criasse vários instrumentos entre
eles o arado. O cultivo utilizando o arado modificou paisagens e rios,
No período pré-histórico, o homem se preocupava sobretudo esgotando solos e extinguindo ecossistemas nativos, a consequência
com seus hábitos de caça e de nomadismo, nesse movimento a longo prazo foi o processo de desertificação. A exploração da
primitivo de locomoção era possível para a natureza realizar a natureza “colaborou expressivamente para o declínio e colapso de
manutenção dos recursos necessários para o seu sustento. Quando inúmeras civilizações ao longo da História” (Herzog, 2013, p. 32).
esse homem primitivo se tornou sedentário, ele precisou aprender Ainda segundo a autora, o Oriente Médio até hoje sofre as
sobre um inicial plano ambiental 26 bastante rudimentar e primitivo consequências da exploração da natureza que o transformou em um
26
O Planejamento Ambiental engloba as seguintes ações do homem sobre a humanas (da antropização)” que respeitam os meios ambientes locais, regionais,
natureza: sua preservação, sua recuperação e sua conservação; atualmente o continentais e planetários cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida do homem
Planejamento Ambiental deve ser compreendido como “o planejamento das ações levando em consideração a questão ética ecológica (Franco, 2001, p. 36-37).
56
grande deserto a partir de “práticas agrícolas insustentáveis” e adaptação à natureza’” (Foster, 1994 apud Quintana e
Hacon, 2011, p. 433).
destruição de florestas. A exceção é Israel que sempre utilizou de
A cidade do século XIX foi palco da revolução industrial 29 e
rotações de culturas por questões culturais.
sofreu com um aumento populacional jamais visto antes. O país
Como dito, antes mesmo do advento do sistema capitalista na
vanguardista da revolução, a Grã-Bretanha, no ano de 1800, tinha
sociedade, os povos já sofriam com degradação ambiental e poluição,
nove milhões de habitantes nas cidades, sendo que 80% dessa
porém é importante ressaltar, para além do anacronismo do termo,
população vivia no campo, 110 anos depois as cidades contavam com
que essas relações com a natureza em sociedades pré-capitalistas
36 milhões de habitantes, sendo que 72% vivia na área urbana.
eram distintas do que ocorreram após a industrialização27:
“A história das sociedades pré-capitalistas e pré-
As estruturas medievais e barrocas das cidades europeias não
industriais28 está assim cheia de exemplos de colapsos conseguiam se adaptar a essa explosão populacional: as ruas
sociais alcançados pela depredação do meio ambiente.
Evidências históricas e arqueológicas sugerem que as apertadas não eram mais compatíveis ao novo e intenso fluxo do
civilizações dos sumérios, do valo do Indo, grega,
fenícia, romana e maia tiveram colapsos devidos, em trânsito, como faltavam habitações várias famílias chegaram a dividir
parte, a fatores ecológicos. Finalmente, a condição da
campesinato, que constituía a maioria da população um cômodo o que facilitou a propagação de epidemias. Nessas
mundial antes da Revolução Industrial, estava
caracterizada por uma alta mortalidade infantil, baixa
cidades não existiam espaços públicos como parques ou praças.
esperança de vida, severa desnutrição e açodamento “O êxodo rural fez explodir a cidade. Era impossível
da fome e epidemias- dificilmente uma ‘milagrosa eliminar apenas através de infra-estruturas ou da
27 28
Segundo Quintana e Hacon (2011, p. 433): “nas sociedades pré-capitalistas, o Segundo Franco (2001), as grandes civilizações sobreviveram por um longo
fraco desenvolvimento das forças produtivas, inclusive da tecnologia, acarretava período de tempo pois possuíam uma organização norteada por princípios
um enorme impacto sobre a natureza. Nas sociedades industriais, é o elevado grau ecológicos, conhecidos hoje como algo muito próximo ao planejamento ambiental,
de desenvolvimento das forças produtivas que, ao operar em um ritmo inclusos nas religiões e na própria cultura desses povos.
29
avassalador, acaba por sobrecarregar a natureza. (...) a busca crescente pelo lucro A Segunda Revolução Industrial iniciou-se no final do século XVIII e teve como
faz com que a produção de mercadorias deva ser sempre elevada e progressiva, o maior consequência a alteração do trabalho e da produção do sistema capitalista.
que gera uma pilhagem dos recursos naturais em larga escala. (...) nas sociedades Essa moderna forma industrial possuía novas e diferentes formas de organização
pré-capitalistas, as depredações eram sentidas regionalmente (...) e dependiam do e técnicas de produção, além de grande quantia de mão de obra e maiores
tamanho da população (...) nas sociedades industriais (...) atingem todo o globo”. investimentos de capitais (Caram, 2014).
57
arquitectura os problemas subsequentes. Deste modo, criada a Comissão Real para dar continuidade aos estudos das
nasceu uma nova disciplina: o urbanismo. Os
urbanistas encontraram os seus primeiros modelos no grandes cidades e dos distritos populosos cujo relatório conclui que,
local de origem dos problemas da cidade, ou seja,
projectaram no campo a nova cidade como antítese da antes da elaboração de um projeto de rede de esgotos, era necessário
antiga” (Tietz, 2008, p. 40).
realizar obras de pavimentação e oferecer às residências alguns
Engels em 1845 aponta em seu livro ‘A situação da classe requisitos mínimos de higiene; também concluíram que era
operária na Inglaterra’ a insalubridade dos edifícios habitacionais necessário alargar as ruas e criar parques públicos. Com essas
operários e das vias, o congestionamento das cidades, a falta de exigências sanitárias chegaram a um programa urbano completo
segurança das construções, a falta de saneamento e do tratamento (Benevolo, 2014).
de detritos e a falta de legislação para o aproveitamento do solo. Ainda segundo Benevolo (2014), as cidades estavam
Londres ainda contava com o problema da poluição por crescendo de uma maneira que jamais havia ocorrido anteriormente,
esgoto e águas negras do Tâmisa que era o rio responsável pelo as melhores condições de higiene contribuíram para o aumento
abastecimento de água da cidade, esse fato fez aumentar as populacional e, juntamente com a intensa migração, ocorreu o
epidemias30. Nos anos seguintes foram realizados estudos técnicos aumento da quantidade de habitações construídas; era imperativo
para melhorar essa situação, chegando a conclusão de que faltavam que houvesse uma evolução na maneira que as obras eram
leis sobre construções e instalações urbanas, no ano de 1845 foi construídas no sentido de otimizar o tempo de execução.
30
Spirn (1995), faz uma análise realista e uma previsão de como estaríamos naturais isoladas não são parte de um processo em evolução. A autora conclui que
atualmente ainda na década de 1990. O cenário apresentado de consumo custos e benefícios calculados sem uma avaliação do sistema como um todo e dos
desenfreado de recursos e geração de resíduos só se agravou nos últimos anos e processos que o impelem subestimam invariavelmente o valor da natureza na
os problemas de deslocamento das cidades, apresentado como um dos principais cidade. A crítica maior é com relação aos projetistas que trabalham apenas em
causadores de poluição nas grandes cidades: o deslocamento de milhares de uma dimensão, a do seu próprio projeto, e não se preocupam com o impacto em
pessoa dos subúrbios para o centro. Outro exemplo utilizado é a criação de jardins outras áreas, como o consumo de energia, diminuição de recursos, poluição da
que exigem tratamento com água, corte de plantas e adubação, acabam resultam água e do ar, enchentes e contaminação do solo.
em resíduos e desperdiçam energia. O argumento principal é que as formas
58
As mudanças e os acontecimentos que ocorreram na ambiental, as funções dos parques são: recreação, estruturação
Revolução Industrial na Inglaterra foram refletidos em outros países urbana, estética, contemplação, atividades sociais e culturais, uso
europeus, num período maior ou menor de tempo, com o “aumento voltado para a educação e função orgânica ou ecológica (Silva e
da população, aumento da produção industrial e mecanização dos Pasqualetto, 2013).
sistemas de produção” (Benevolo, 2014, p.21). A partir do século XVIII, Londres passa a contar com praças e
Neste cenário, Choay (2015) fala sobre as grandes mudanças parques que tornam a cidade repleta de gramados e árvores, o jardim
que ocorreram para modificar as cidades insalubres transformando- inglês é a ligação com a natureza (Benevolo, 2014).
as em cidades adaptadas à nova realidade e às novas pessoas, como Paris foi um importante exemplo da reestruturação da cidade
racionalizar as vias de circulação e especializar os setores urbanos; que se tornava industrial, Georges Eugène Haussmann32, a pedido de
nasce aqui a suburbanização e o fim da delimitação urbana pela Napoleão III, reforma a cidade criando jardins e parques urbanos
transferência das indústrias para os subúrbios e, consequentemente, visando melhorar o fluxo da população e das mercadorias e melhorar
o deslocamento das classes operárias; a autora fala que no ano de a salubridade da cidade. Em questões paisagísticas, os projetos de
1861 o subúrbio de Londres correspondia a 13% da aglomeração Haussmann são bastantes semelhantes aos espaços urbanos da
urbana e, em Paris, 24%, no ano de 1896. Inglaterra (Howard, 1996).
Os parques 31 surgiram como uma resposta aos problemas Segundo Choay (2015, p. 04) essa nova organização urbana
urbanos causados pela Revolução Industrial, sobretudo como solução seguiu os seguintes princípios: (a) “Racionalização das vias de
às doenças causadas pela superlotação das cidades. Além da proteção comunicação, com a abertura de grandes artérias e a criação de
31
Um modelo de urbanismo a ser citado é o Progressista; inicialmente, este Proudhon, por exemplo, defendia a transformação da França em um grande jardim
modelo defendido por intelectuais como Owen (1771-1858), Fourier (1772-1837), com pequenos bosques (Choay, 2015).
32
Cabet (1788-1856) e Proudhon (1809- 1865) propõe ordem ao caos da cidade Choay (2015) fala que as mudanças feitas por Haussmann prejudicaram e
industrial utilizando-se, entre outras propostas, de espaços abertos e verdes. incomodaram os operários e pequenos burgueses que foram expropriados, porem
favoreceram os capitães industriais e os financistas.
59
utopista Henry David Thoreau (1817-1862), segundo o autor e Diversas utopias, ou modelos, que se desfaziam ou
fundador do movimento romântico transcendental, era necessária a melhoravam as cidades antigas foram desenvolvidas no início do
rebelião contra as instituições e buscar abrigo na natureza. século XX, essas ideias apresentavam uma preocupação futura acerca
Frederick Law Olmsted (1822-1903), também norte da possível escassez de recursos naturais e que iriam na contramão
americano, daquele momento em que o liberalismo econômico acreditava que a
“acreditava que o crescimento rápido da população natureza era composta por recursos inesgotáveis (Franco, 2001).
urbana tornava impraticáveis os ideais da democracia,
devido, principalmente, à imigração (...) e o uso Essas ideias buscavam resolver os problemas enfrentados pela cidade
impróprio dos espaços urbanos, agravados pela
exploração do trabalho” (Franco, 2001, p. 94). industrial.
Um exemplo são as cidades-jardim de Ebenezer Howard
Olmsted teve contato, em 1850, com distintos projetos e
(1850-1928). A sua ideia de cidade-jardim era a criação de
profissionais britânicos como Joseph Paxton e seu Plano de
comunidades planejadas com densidades bem menores que a de
Birkenhead que, em síntese, alocavam habitações ao longo das
Londres, e que fossem autogovernadas.
bordas de um parque, favorecendo o meio ambiente e toda a
“(...) o maior dos enganos foi vê-lo como um planejador
vizinhança; esse projeto serviu de inspiração para Olmsted que físico, esquecendo que suas cidades-jardim eram
meros veículos para a reconstrução progressiva da
compreendeu que os parques poderiam trazer um pouco do contato sociedade capitalista dentro de uma infinidade de
com a natureza para áreas insalubres (Schenk, 2008). comunidades cooperativas” (Hall, 2013, p. 103).
Até o ano de 1858, o que atualmente é conhecida por Quando Howard propôs as cidades-jardins, diversas
‘Arquitetura Paisagística’ era praticada por jardineiros, engenheiros, manifestações e autores na Europa já falavam do retorno a uma “vida
horticultores e arquitetos que tiveram um ensino “informal e mais simples, centrada em artesanato e comunidade” (Hall, 2013, p.
fragmentado” (Franco, 2001, p. 94-95). 108).
61
Ainda segundo Hall (2013, p. 100), a proposta apresentada iniciativas seguidoras do Movimento foram realizadas. Howard
para a cidade-jardim eram 32.000 moradores “para 1 000 acres de pensava que a propriedade privada dos terrenos construídos produzia
terra, perto de uma vez e meia mais que a cidade histórico- medieval um valor imobiliário da periferia para os centros urbanos fazendo com
de Londres”, circundando essa cidade haveria um robusto cinturão que os proprietários aproveitassem seus terrenos aumentando suas
verde (5.000 acres) que também contaria com granjas e outros densidades. Se a especulação imobiliária fosse extinta, os edifícios
serviços como reformatórios e casas de repouso. poderiam virar amplos espaços verdes e o campo poderia estar
Cada cidade-jardim iria contar com um amplo leque de sempre acessível. A ideia das cidades-verdes é manter a salubridade,
empregos e serviços, além de um sistema de transporte rápido e o verde e a tranquilidade das cidades (Benevolo, 2014).
eficiente, era uma cidade social. Ainda segundo Benevolo (2014), a importância das cidades-
Uma experiência inspirada no movimento das cidade-jardins é jardins é grande pois habituou os arquitetos a pensarem e
realizada em 1895 por G. Cadbury numa área próxima a Londres: considerarem a paisagem urbana como um organismo orgânico
quinhentas habitações foram construídas num terreno com inserido e participante da vida das cidades, que tem o poder de
aproximadamente cento e oitenta hectares. A partir de 1898 outras modificar o ambiente em congruência com ele.
62
Figura 6- Montagem com imagens da cidade jardim. A direita há a planta esquemática onde o centro é composto por serviços coletivos e áreas verdes aumentando a
eficiência energética da cidade; a direita há a maquete eletrônica representando teoricamente as ideias de Sir Ebenezer Howard, sem data, sem autoria.
(Fonte: http://equilibrium.org.br/portal/ecopolos/, acessado dia 24 de agosto de 2015, as 13:45 horas).
Ao contrário dos pensadores europeus do século XIX, que Essa corrente também foi considerada pela autora como um
criticavam e repensavam as cidades industriais, nos Estados Unidos modelo utópico que seguiu pelo século XX e que também foi
ocorreu o oposto: com o início da industrialização no país, autores desenvolvida por Wright, num modelo que foi bastante ruralista.
norte-estadunidenses cultivavam a ideia de natureza virgem e, por O arquiteto Frank Lloyd Wright (1867-1959) com sua ideia
essa razão, ocorreu no país uma “corrente antiurbana” 33 (Choay, chamada ‘Usonia’ tinha como objetivo unir as pessoas ao meio
2015, p. 17). ambiente através de uma unidade orgânica, sendo possível afirmar
que as ideias do arquiteto se aproximam das de Howard. Em 1935 foi
33
Segundo Choay (2015, p. 17), uma das correntes antiurbanas vieram de autores reservas, compatível com o desenvolvimento econômico da sociedade industrial e
como Thomas A. Jefferson e Louis Sullivan que, em síntese e em comum, que sozinho permite assegurar a liberdade, a manifestação da personalidade e até
defendiam a ideia de um: “estado rural, que eles pensam ser, com algumas a verdadeira sociabilidade”.
63
elaborado um projeto para uma cidade usoniana chamada ‘Broadacre arquiteto Tony Garnier propunha35, em 1904, uma cidade industrial
City’34 onde a cidade era tomada pela natureza. Lá, cada família era moderna chamada ‘Cité Industrielle’ com setores reservados para
dona de meio hectare e deveria desenvolver suas próprias atividades moradias, trabalho, lazer e circulação. A circulação era composta por
agrícolas e comercializar o que produzissem. Atualmente podemos vias rodoviárias e para pedestres, mas a cidade tinha mais da metade
vislumbrar vários pontos das ideias de Wright nos subúrbios dos de sua área coberta por áreas verdes; os blocos de habitações ficavam
Estados Unidos, porem as propostas individualistas mostraram-se isoladas e independentes no meio desse espaço e eram construídas
inconciliáveis com o planejamento centralizado (Tietz, 2008). de maneira industrial.
Wright também teve uma grande preocupação com a relação
do meio ambiente com suas obras; suas ideias muitas vezes se
aproximaram do urbanismo que será conhecido como sustentável,
em que afirmava a ideia de que era possível colocar toda a população
dos Estados Unidos numa área do tamanho do Estado do Texas e que
todo o restante do país “poderia ser uma imensidão verde” (Franco,
2001, p. 106). Figura 7- Maquete da Broadacre City cujos conceitos são meio ambiente,
desenvolvimento sustentável e ecologia social, sem data.
Tietz (2008) explica que, enquanto Howard e Wright
(Fonte:
pensavam numa sociedade vivendo mais próxima à natureza, o http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.095/148, acessado dia
24 de agosto de 2015, as 13:29 horas).
34 35
Segundo Lotufo (2011, p. 39) a Broadacres City incluía ‘áreas de cultivo agrícola, As ideias de Garnier abriram campo para a elaboração dos princípios
tipos residenciais de tamanhos variados, escolas, universidade, serviços de saúde, fundamentais da Arquitetura Moderna. Uma ideia que se desenvolveu a partir das
mercados, áreas de lazer, áreas esportivas, áreas de visitação turística, hotéis, de Garnier foi o plano da ‘Ville Contemporaine’, na qual Le Corbusier tinha a
indústrias de pequeno porte e escritórios. Para algumas áreas (...) previa-se a pretensão de abrigar 3 milhões de moradores num edifício de 60 andares (Tietz,
existência de centros cívicos, com zoológicos, centro de pesquisas agrícolas e 2008).
aeroporto”.
64
36
A Arquitetura Moderna também gerou alguns problemas “como a construção que mais contribuíram para as mudanças climáticas” (CIB/UNEP-IETC,
descaracterização e perda de identidade de centros históricos; a concentração 2002 apud Xavier, 2011, p. 41).
37
urbana e consequente perda da escala humana das cidades contemporâneas; e o Segundo Choay (2015, p. 22), após a Primeira Guerra Mundial os arquitetos
menosprezo das questões ambientais, o que provocou graves impactos mudaram a gestalt em termos de “forma e fundo”: os espaços urbanos verdes
ecológicos” (Xavier, 2011, p. 41). “O concreto e o aço são os materiais de aproximaram a cidade do campo, passando a ter maior importância e não mais
sendo encarados como um fundo figurativo das construções; importantes
65
No ano de 1937, Londres nomeia uma comissão para estudar Apesar das preocupações que esses profissionais tinham com
a distribuição das industrias e da população na tentativa de enfrentar a inserção do verde no tecido urbano, eles ainda não são
as consequências da crise de 1929; em 1938 a cidade cria uma lei que considerados ambientalistas.
limitava a expansão da cidade, inserindo ao redor da área urbana uma Até a década de 1970 os arquitetos não se preocupavam com
zona agrícola em formato de coroa- o cinturão verde. Após os os impactos ambientais gerados pela construção de seus projetos pois
bombardeios sofridos pela capital britânica na Segunda Guerra foi compreendiam que eram insignificantes as trocas do edifício com o
preciso reconstruir a cidade e, para isso, foi proposto um plano por entorno, em questões energéticas; o edifício era projetado e
arquitetos modernos que compactava Londres em “duas fileiras de construído como um organismo autônomo. Não eram considerados
quarteirões alternados com zonas verdes”, porem o Condado escolhe os transportes dos materiais de construção ou a adaptação dos
outro plano que extinguia o cinturão verde para possibilitar o futuro edifícios ao clima (Xavier, 2011).
aumento da cidade e viabilizava de mais oito cidades na zona externa Nos anos 1990 o alemão Dieter Hoffmann-Axthelm preocupa-
de Londres. Essas cidades novas, New Towns, lembravam muito as se se é possível unir essa questão ao planejamento de uma forma que
cidades-jardins no tamanho, baixa densidade e habitações integradas garanta o desenvolvimento urbano duradouro. Ele acredita que os
com o jardim, essas cidades compreendiam amplas zonas verdes e eixos viários históricos devem manter a estrutura da cidade
áreas industriais próximas as ferrovias; no centro estavam o comércio garantindo que os objetivos urbanos sejam alcançados ao evitar que
e escritórios e nas zonas verdes, estradas de alta velocidade e outros o desenvolvimento de uma parte da cidade ocorra à custa das outras
serviços como ensino superior (Benevolo, 2015, p. 681). (Tietz, 2008).
38 39
Segundo Franco (2001, p. 89), a conservação ambiental é originária da América É pertinente ressaltar as diferenças, enquanto a Alemanha tem uma
e pode ser compreendida como: “O convívio e harmonia do homem com a preocupação de unir o planejamento com questões ambientais e de salubridade,
natureza com o mínimo impacto possível, isto é, sem esgotar os recursos no Brasil isso não ocorreu. O Brasil possui uma carência em ações fundamentais
ambientais, permitindo a vida das gerações futuras”. em relação ao meio ambiente, faltando organicidade.
67
No Brasil, a preocupação com a conservação ambiental Em 1915 a City of São Paulo Improvements and Freehold Land
apresentou-se no início do século XIX a partir de influências de Company, Cia. City, projetou o Jardim América seguindo o modelo
naturalistas estrangeiros que vieram ao país, juntamente com Dona original da Garden City, as cidade-jardim, com traçado curvo das vias
Leopoldina, futura imperatriz do Brasil (Franco, 2001). e com o isolamento das edificações. A construtora seguiu o modelo
Apesar de iniciativas de pesquisadores, o Código Florestal inglês e utilizou lotes maiores que os padrões paulistas sem,
Brasileiro e o Código das Águas foram criados somente em 1934, necessariamente, implicar um aproveitamento melhor da área; esse
segundo Franco (2001), até então só existiam no país duas reservas projeto garantiu condições sanitárias e higiênicas para a época, além
florestais: o Alto da Serra, SP, e a Itatiaia, RJ. de criar um local com “status social” (Ficher, 2005).
Em São Paulo, capital, entre os anos de 1890 e 1900 houve um A partir de 1930 a cidade de São Paulo torna-se o maior centro
crescimento populacional de 269% contra 55% na cidade do Rio de industrial do país contando, em 1940, com uma população de 1,5
Janeiro, isso ocorreu porque o mercado de construção civil estava milhão de habitantes sendo iniciado, então, seu processo de
crescendo e se desenvolvendo muito mais na cidade paulista do que metropolização. Nesse período começam as discussões acerca do
na capital federal. Esse crescimento urbano impactou a economia do Urbanismo e do planejamento das cidades (Nobre, 2006).
Estado de São Paulo (Ficher,2005). Para limitar a verticalização do centro, a Prefeitura promulga
Na capital paulista a criação de novos bairros e loteamentos a Lei 2.332/1920 que limita a altura dos prédios para 2 ou 3 vezes a
aumentou a construção de edifícios privados, segundo Ficher (2005) largura da rua, nas outras zonas essa altura estava limitada a 1,5
foi o ‘Boom’ comumente citado na literatura. A maioria dos vezes. Anos depois foram permitidas exceções que chegaram a 80
loteamentos do período foram criados em traçado xadrez o que metros.
resultou num bom aproveitamento da área das glebas40.
40
Glebas são terras não parceladas, loteadas ou desmembradas.
68
2.5 . Arquitetura e Urbanismo Sustentáveis: As cidades também são sustentáveis por sua mobilidade
importâncias e aplicações urbana e acessibilidade, ícones importantes do Urbanismo
Contemporâneo. O crescente e descontrolado uso de automóveis
particulares impacta os tecidos urbanos com tráfegos intensos que
O Urbanismo Sustentável abrange amplas questões sociais
atravessam uma longa e densa faixa de construções, é fato que o
referentes ao Movimento Ambientalista, “assim como as potenciais
crescimento desenfreado e sem planejamento das cidades acaba
consequências de longo prazo para nossa compreensão das cidades”.
inviabilizando a locomoção por pedestres, bicicletas (que acaba sendo
Os Urbanistas precisam olhar para o Urbanismo Sustentável como
um transporte perigoso aos ciclistas) e o oferecimento de transportes
uma resposta atemporal aos problemas causados pelas mudanças
públicos efetivos. As distâncias tornam-se cada dia maiores e a
climáticas e os limites dos recursos naturais (Mostafavi e Doherty,
cultura, sobretudo em países menos desenvolvidos, do transporte
2014, p. 208). Esse Urbanismo pode ser a reação comum das pessoas
particular transforma o caos da cidade em um padrão de mobilidade
à contracultura que nasceu após a crise energética de 1973: eco
insustentável. Claro que existem iniciativas para uma adaptação mais
aldeias, eco vilas, eco bairros, eco ilhas, eco cidades e eco regiões;
sustentável do trafego urbano, como a recém-inaugurada ciclovia da
muitos desses empreendimentos ficaram somente na teoria mas
capital paulista41, porém ainda é preciso a aceitação dos moradores
demonstram a vontade popular de retomar a relação e o cuidado com
e, principalmente um projeto mais seguro42.
o meio, muito além de apenas diminuir a poluição ambiental ou o
Segundo Rogers (2014, p.120), o veículo não é um problema
consumo desenfreado, essa preocupação das pessoas transmite o
somente pela poluição, mas também pelo medo causado; essa junção
desejo em criar soluções efetivas que atendam demandas públicas,
criando espaços para que a comunidade possa imaginar seu futuro.
41 42
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150622_cicloativismo_sao http://infograficos.estadao.com.br/public/cidades/ciclovias/ (Acessado dia 27
_paulo_rb (Acessado dia 27 de agosto de 2015, as 13:38 horas). de agosto de 2015, as 13:45 horas).
70
de fatores motivam as famílias a saírem dos centros das cidades43 e Arquitetura Contemporâneos, a sustentabilidade está passando de
modificam o comportamento das pessoas, por exemplo, atrasando a teoria para prática urgente e imprescindível na tentativa de
independência das crianças cujos pais têm medo de deixa-las reconfigurar e salvar cidades. Por muitas vezes, na ânsia de
atravessarem as ruas sozinhas. As políticas públicas atuais também responderem as pressões relacionadas aos problemas ecológicos, os
incentivam o aumento do consumo e uso de carros; “a separação dos profissionais acabam tentando realizar seus projetos dentro do que
locais de moradia, compras e trabalho, e a deterioração do transporte compreendem ser sustentável, ignorando, quase sempre, todas as
público tornaram o automóvel um meio de transporte indispensável”. vertentes que o conceito engloba, o que torna o resultado pobre,
É preciso que os urbanistas encarem a fragilidade do planeta vago e ineficiente. Atualmente o Urbanismo parece estar
e a escassez dos recursos como oportunidades para inovar, indissociável da sustentabilidade e, consequentemente, a
desenvolver e ampliar as pesquisas e projetos urbanos, sustentabilidade urbana tornou-se um tema e preocupações atuais.
arquitetônicos e de materiais, o que necessariamente redefine a A arquitetura surgiu pela necessidade do homem em obter
prática profissional e abre campo para a discussão do futuro da abrigo. Atualmente a arquitetura se volta quase que exclusivamente
mesma. O ensino de Arquitetura e Urbanismo sustentáveis deve ser para o lucro, que determina formas, qualidades e desempenho. Esse
multidisciplinar e colaborativo pois é algo amplo e muito abrangente; fato acaba por desestimular grande parte das construtoras a pensar
esse ensino deve aproximar arquitetura, infraestrutura, sociedade, na sustentabilidade como solução a longo prazo. Esse pensamento
meio ambiente e tecnologia. insustentável acaba por influenciar a Arquitetura e o Urbanismo
Os arquitetos e urbanistas viram a paisagem e a Sustentáveis.
sustentabilidade tornarem-se vetores primários do Urbanismo e da
43
O autor ainda ressalta a importância de recuperar as regiões abandonadas, comunidades sustentáveis é necessário também criar uma efetiva e acessível rede
criando áreas compactas e funcionais em torno do transporte público. Para criar de mobilidade urbana.
71
Apesar desse cenário de arquitetura mercadoria 44 , é tecnologias modernas ecológicas às técnicas antigas” (Pinheiro, 2002
importante que os profissionais transcendam essa problemática com apud Villela, 2007, p. 66). Essa arquitetura tem origens na Arquitetura
o intuito de encontrar soluções pensando no futuro e não somente Vernacular.
na resolução imediata dos problemas, voltando suas pesquisas e Nos anos 1960 surgiu a expressão projeto bioclimático através
projetos em iniciativas mais sustentáveis para transformar a dos irmãos Olgyay que aplicavam os conceitos do estudo do clima
Arquitetura e o Urbanismo em locais melhores habitáveis. Ao para projetos de conforto nos edifícios. A Arquitetura Bioclimática
mudarmos nossa mentalidade, mudamos também as legislações pensa no ambiente local e, sobretudo, em seu clima, na tentativa de
vigentes. que o projeto alcance uma melhoria do conforto térmico projetual.
É possível perceber que muitos dos conceitos de As estratégias integradas propostas pelos irmãos para a construção
sustentabilidade estão presentes na Arquitetura Vernacular 45 que de uma edificação climaticamente equilibrada eram: clima, biologia,
pode contribuir muito no ensino de técnicas e soluções, além de tecnologia e arquitetura. As ideias da Arquitetura Bioclimática
permitir a melhora do ambiente construído. evoluíram e, nos anos de 1980, compuseram as ideias da Arquitetura
Também há a Arquitetura Ecológica que “utiliza o máximo de Verde, green building, que compreendia que a integração com a
matéria-prima local e materiais reciclados e o mínimo de materiais natureza era o ponto chave da arquitetura e que os materiais
industrializados, buscando a máxima auto-suficiência de energia e construtivos deveriam ter uma preocupação especial, assim como os
água, reduzindo, reutilizando e reciclando, e principalmente aliando resíduos gerados pela construção em si (Villela, 2007).
44 45
Segundo Rogers (2014, p.118), empreendimentos arquitetônicos são “feitos Arquitetura Vernacular emprega recursos, técnicas e materiais regionais, do
para atender à demanda do consumidor, em vez de consolidar a vizinhança. Como próprio ambiente onde a edificação é construída, tendo, assim, um caráter local.
resultado são rejeitadas propostas densas com áreas públicas, praças e parques, Nesse tipo de arquitetura os conhecimentos construtivos são transmitidos através
englobando lojas, locais de trabalho e escolas- exemplos de uma comunidade das gerações e alguns dos materiais usados são, por exemplo, o adobe, o bambu e
sustentável- em favor de complexos que amontoam o maior número de casas o pau-a-pique.
individuais por área. Esta atitude simplesmente perpetua uma cidade espalhada e
de baixa densidade, insustentável do ponto de vista ambiental”.
72
ecológicos e no uso eficiente dos recursos’” (Xavier, 2011, p. 41). Uma residência pode, por exemplo, ter sido construída
Kibert (2008 apud Xavier, 2011) apresenta os princípios para a seguindo as recomendações ambientais na tentativa de ser
construção sustentável: sustentável mas deixa de se enquadrar nesse quesito por ter usado
“1) redução dos recursos consumidos; 2) reuso de
recursos; 3) uso de recursos recicláveis; 4) proteção da
material construtivo produzido por trabalho infantil, falhando na
natureza; 5) eliminação de resíduos tóxicos; 6) aplicar questão da sustentabilidade social47.
46
A Building Services Research and Information Association é uma associação https://en.wikipedia.org/wiki/BSRIA, acessado dia 26 de agosto de 2015, as 15:11
britânica sem fins lucrativos e membro do Conselho da Indústria da Construção hrs).
47
que realiza testes, pesquisas e consultorias, além de oferecer serviços A sustentabilidade social deve ser avaliada pela responsabilidade social, recursos
especializados em construção e serviços de Engenharia (Fonte: humanos, projetos sociais e por auxiliar o crescimento da comunidade; essa
vertente sustentável mostra-se muito frágil na construção civil, sobretudo na
73
Atualmente os aspectos ambientais, green, têm uma maior Agopyan e John (2011) propõe uma adaptação da Agenda 21
repercussão tanto na mídia quanto em estratégias de marketing, fato para o cenário brasileiro levando em conta os seguintes tópicos: 1) a
muito preocupante em um país com os problemas sociais e qualidade do ar interno; 2) a avaliação ambiental das construções
econômicos como o Brasil (Agopyan e John, 2011). com base em seu ciclo de vida; 3) o uso de materiais ambientalmente
A sustentabilidade potencialmente remete à uma boa saudáveis; 4) a poluição nos canteiros de obras e indústrias; 5) a
arquitetura pois engloba muito mais do que apenas o edifício, além diminuição do desperdício e a realização da manutenção dos
de abranger a cidade, seu crescimento e sua infraestrutura. resíduos; 6) a reciclagem dos resíduos das construções e das
O desempenho ambiental dos edifícios também envolve os demolições e o aumento do uso de materiais recicláveis nas
impactos gerados na natureza ao se realizar a construção em si; para construções; 7) o uso racional da água, da energia e o aumento da
avaliar esse quesito é preciso qualificar o edifício quanto ao consumo eficiência energética; 8) o uso de tecnologias de conservação
de energia, a quantia de emissão de gases de efeito estufa, a energética; 9) o aumento da durabilidade das construções e a
adaptação climática, a eficiência energética, a orientação solar e dos realização de um planejamento para as manutenções; 10) a melhoria
ventos em relação ao prédio, a oferta de bicicletários, a oferta de da qualidade da construção; 11) o gerenciamento e a organização dos
estações para a recarga de carros elétricos, a reciclagem dos resíduos processos; 12) a criação de uma agenda social para a resolução do
da construção e até os subsídios para o incentivo de uso do transporte problema do déficit habitacional, da infraestrutura e dos serviços
público, todos esses são fatores abordados para a avaliação do sanitários.
desempenho ambiental de um prédio. A Arquitetura Sustentável deve caminhar em harmonia com o
projeto, a tecnologia, a economia, a cultura, a sociedade e,
condição de seus empregados. Esse fato precisa ser cuidadosamente verificado forem reunidas as medidas ambientais e sociais o preço final da construção será
pelos arquitetos. Já no quesito econômico a sustentabilidade pode ser empregada reduzido.
dentro da construção civil ao se otimizar recursos para evitar desperdícios, mas se
74
Universidade de Harvard, fundada nos Estados Unidos em 1636, a mais antiga instituição de ensino superior das Américas.
Fonte da imagem: https://college.harvard.edu/about/history (acessado dia 19 de junho de 2016, as 22:44 horas). Editada pela autora.
77
A palavra universidade surgiu de universitas, ou seja, 3.1. O início: o modelo clássico e o domínio islâmico
corporação. Segundo Salomão (2011), no século XII a organização de
instituições superiores era chamada de Studium Generale, Estudos
Alguns historiadores marcam que as universidades se
Gerais, e no século subsequente, Universitas Magistrorum et
iniciaram na Grécia Antiga e que, inclusive, anteciparam a estrutura
Scolarium ou Universitas Studii. Verger (1990, p. 48) explica a
espacial da instituição.
diferença semântica entre os termos: sendo o studium o espaço onde
Ribeiro, A. (2008, p. 20) afirma que na Grécia o ensino possuiu
ocorria o ensino superior e universitas era a organização que
um lugar de destaque, as primeiras escolas, propriamente ditas,
possibilitava o funcionamento e independência do studium.
teriam sido fundadas no século IV a. C. por Sócrates, em 393 a. C. e
Para Charle e Verger (1996, p. 07-08), universidade também
por Platão, em 387 a. C.; este último teria fundado uma Academia
pode ser comparada a uma comunidade, autônoma ou não, de
porem não era uma instituição e nem um espaço de ensino, as lições
mestres e aprendizes que se reuniam em busca de um aprendizado
eram dadas “nos passeios do jardim de Academo”.
de nível superior; esse modelo existe até os dias atuais e espalhados
Na Antiguidade os professores eram denominados sábios,
por todos os continentes.
escribas e doutores da lei pois eram eles quem sabiam ler e escrever;
Os autores falam que a universidade se desenvolveu por
existiam também os preceptores, que eram pagos e que lecionavam
séculos e por isso uma definição mais precisa do termo acaba sendo
nas casas:
impossível.
“(...) Sócrates, os sofistas e os preceptores (...)
ensinavam nas residências, nos jardins e até nas
praças. O filósofo Platão foi praticamente o primeiro a
78
profissional gerada, no século IV, pela grande quantidade de serviço Com a queda do Império Romano ocorreu com o passar do
público romano. tempo a diminuição do ensino da escrita e leitura que só foi retomado
com o Humanismo e no período da Renascença. Na Idade Média,
além da decadência do conhecimento científico, houve também o da
sociedade urbana e das escolas. Inicialmente as escolas eram
vinculadas à Igreja, ou seja, o ensino era religioso, e a ciência antiga
acabou sendo considerada pagã e deixada de lado.
48
Lykeion, Liceu, “era um gymnasion perto de Atenas”. Alguns cursos lecionados sobre Lógica, Física e Metafísica e outros eram de mais fácil acesso como Retórica,
nos liceus eram voltados para um restrito público que já tinha conhecimentos Política e Literatura (Mehler, 2015, p. 37).
79
A filosofia permaneceu presente em Atenas e em Alexandria conquistadas. Foram os árabes, por exemplo, que levaram ao
mesmo após a queda do Império Romano; em Alexandria funcionava Ocidente os textos clássicos que contribuíram para a volta do ensino
o Museum, um espaço semelhante às universidades e voltado à no Ocidente no final da Idade Média.
pesquisa. Apesar das universidades do ocidente serem distintas das
Goody (2015) fala, a partir da leitura e exposições de distintos madrasah50 muçulmanas dos séculos X e XI, há muitas semelhanças
pesquisadores como Browning (2012), Conrad (2000), Kristeller entre elas já que a faculdade como um espaço beneficente tem,
(1945), Makdisi (1964) e Reynolds e Wilson (1974), sobre então, sua origem do islâmico waqf51, ou seja, do “sistema de doação
apropriações realizadas pela sociedade ocidental no decorrer da de terras com propósito religioso e de caridade”52.
história. Entre diversos temas, fala sobre a apropriação das origens No século X, foi criada em Bagdá a masjid-khan, estalagem,
das instituições universitárias; segundo o autor, acredita-se, através que abrigava alunos que se mudavam para poderem estudar; a
de uma visão bastante eurocêntrica, que o ensino superior se deu masjid-khan também contribuiu para a mudança curricular da
com a criação das universidades europeias, inicialmente pela de madrasah. Goody (2015, p. 261-262) lista as semelhanças entre o
Bolonha no século XII49. Contudo, o domínio Islâmico, até cerca de ensino superior no Oriente e no Ocidente:
732 a. C., estendia-se do sul da Espanha ao norte da China e da Índia “(1) o waqf e a instituição de caridade (...) o fundador
estabelece sua entidade por livre e espontânea
e ao sudoeste da Ásia; por esta razão os conhecimentos e as vontade, sem a mediação do governo central ou da
Igreja; (2) a madrasah e a faculdade baseadas nas leis
invenções eram difundidos com facilidade por toda as áreas da waqf ou da instituição de caridade, com seus
49
É apresentada também a visão de Haskin (1923 apud Goody, 2015, p. 245) em estrangeiras como persa, grega, indiana e chinesa, que eram aprendidas também
que o pesquisador fala sobre o fato das universidades terem sofrido influências em tribunais e instituições médicas.
51
islâmicas no século XII. Apesar da origem do ensino islâmico ter sido por financiamento privado, as
50
Essas instituições, segundo o autor, eram responsáveis pelas bibliotecas, dãr al- instituições em si só existiram com o estabelecimento caridoso da waqf, ou seja,
‘ilm, com o intuito de retomar o ensino, porem de uma maneira religiosa. Apesar de instituições beneficentes existentes por lei a partir do século X.
52
de voltada para a religião, essa instituição era aberta para o ensino de ciências A universidade de Paris, por exemplo, foi fundada em 1138 por um peregrino
de Jerusalém, talvez sob influência da madrasah (Goody, 2015, p. 259).
80
Esses modelos vindos do Oriente são as origens de como, escrita que passou a não ser mais realizado exclusivamente por
atualmente, é conhecida a academia53. religiosos. A importância dessa desvinculação foi a liberdade de
Segundo Makdisi (1981 apud Goody, 2015, p. 259), a estudar e questionar, dentro da instituição de ensino superior,
universidade só surgiu no Ocidente Cristão no século XII. distintas e importantes áreas (Goody, 2015).
Apesar da igreja católica ter fechado as instituições antigas de “Na Europa, essas instituições, que emergiram no
século XII, foram chamadas universidades. Esse
ensino para restringir a divulgação do ensino, ela acabou criando uma movimento foi parte de um renascimento geral da
educação na Europa ocidental (onde o letramento
maneira própria de ensinar, mesmo sendo o ensino superior clássico havia decaído significativamente). Historiadores
ocidentais consideraram com frequência as
considerado pagão. No final do século VI a redução do ensino foi universidades, os reais precursores da educação
intensa (Goody, 2015). superior, relacionadas ao nascimento independente do
humanismo e inerentes a ele; mas, na verdade, elas
Na Europa 54 , as escolas eclesiásticas e as dos mosteiros 55 ainda estavam claramente ligadas à Igreja e ao
treinamento de ‘clérigos’, como era o caso da
voltaram a realizar algumas atividades semelhantes às de madrasah no islamismo. Entretanto, tiveram, sim,
grande importância para a Europa e sua modernização,
universidades, esse é o marco para o que se tornará, nos séculos XI e sobretudo quando desenvolveram uma perspectiva
mais humanista e abandonaram alguns de seus papéis
XII, a Universidade de Bolonha. Com as novas instituições de ensino o religiosos” (Goody, 2015, p. 267).
conhecimento, então, passa a ser difundido de maneira mais rápida
no Ocidente do que no Oriente.
O humanismo e a Reforma na Europa fragilizaram a grande
influência da Igreja, sobretudo através do ensino da literatura e da
53 54
Não há dúvidas de que a cultura islâmica teve significativas e influentes As religiões dominaram e oprimiram o ensino e a maneira de se ensinar. Na
instituições de ensino superior, a diferença principal dessas para as ocidentais é Europa, segundo Goody (2015), a desvinculação dessas duas instituições teve
que enquanto as primeiras foram sempre quase que voltadas para a religião, na origem no humanismo do século XII ao XV, com muitas influências islâmicas.
55
Europa se iniciou assim, mas com o tempo outras disciplinas foram desenvolvidas Segundo Mehler (2015), os mosteiros eram os espaços onde eram realizadas as
nesses espaços. atividades de ensino, antes da formação superior.
82
3.2. Do medievo à expansão pela Europa corporações também era educar, além da ética religiosa, de uma
forma mais “laica, técnica, racionalista”.
Pinto e Buffa (2009, p. 23) afirmam que o desenvolvendo das
Na Europa Ocidental na Idade Média, existiam nas pequenas
cidades, das relações comerciais e da cultura do século XII, assim
cidades medievais56 corporações de ofício, também conhecidas como
como o enfraquecimento do poder da Igreja e a criação de escolas
guildas, que eram espaços de produção onde ensinamentos eram
para disseminar o conhecimento de escrita, leitura e cálculo
passados do mestre para o aprendiz. Nas guildas o futuro artesão
contribuíram para que mestres pudessem se organizar em
ficava hospedado e alimentado durante o período pré-estabelecido
corporações, livres de influências dos senhores feudais e da Igreja,
para seu aprendizado (Pinto e Buffa, 2009).
para ministrarem suas lições em qualquer local em troca de “salários
As corporações também acabavam sendo um espaço de
ou taxas pagas pelos estudantes”. É importante ressaltar o fato de
proteção, segundo Cambi (1999, p. 175) o ensino neste espaço era
que essas aulas não ocorriam em prédios voltados para este
organizado a partir de fundamentos técnicos e ético-sociais que eram
propósito, normalmente ocorriam na casa do mestre ou em algum
aprendidos pela aquisição de conhecimentos e pela vida do aluno
local alugado57.
dentro da corporação, o que acabava formando o comportamento
social e individual. Ainda segundo o autor, a importância das
56
A cidade em si também poderia ser compreendida como uma guilda de mestres mestres e estudantes que se realiza em qualquer lugar com a vontade e o objetivo
e aprendizes “que recorriam à associação corporativa para afirmar sua força e de aprender as ciências”.
57
obter certa autonomia em relação aos poderes religioso e civil” denominada de Ainda segundo Pinto e Buffa (2009), as casas desse período eram diferentes das
universitas, que era o ensino em si voltado para membros ou não do clero, e que conhecemos hoje, assim como é recente o conceito de privacidade; as salas
studium, o espaço físico onde era oferecida a universita; estes termos passaram a de aula além de possuírem pouca iluminação, ventilação e conforto térmico,
ser utilizados para “designar a nova instituição nascente”. O termo universitas dividiam as atividades de aula com outras atividades que ocorriam no local e,
evoluiu conforme os anos e passou a designar “universidade do saber, significado algumas vezes, esse espaço era até mesmo compartilhado com depósitos e
que não tinha inicialmente” (Pinto e Buffa, 2009, p. 22-23). Já estudo ou studium, estábulos.
segundo Manacorda (apud Pinto e Buffa, 2009, p. 23), significa: “ (...) união de
83
Nas primeiras universidades medievais 58 os alunos eram mestres com uma forte presença eclesiástica, já as universidades
dispostos frente a frente e o professor, em destaque, ficava ao fundo, mediterrâneas eram compostas por associações estudantis59:
permitindo que os alunos ouvissem bem e discutissem. A separação “em Paris, mestres e estudantes compunham a
universidade, mas toda a iniciativa pertencia aos
entre as salas não possuía uma diferenciação em relação à idade e ao primeiros (...). Em Bolonha, em contrapartida, eram os
estudantes que formavam a universidade (...) isso
nível de conhecimento dos alunos, todos os aprendizes assistiam as significava não somente que os próprios estudantes
asseguravam o funcionamento da universidade, mas
mesmas aulas de acordo com seus desejos de aprendizado e também, que recrutavam os professores e exerciam
condições de se manterem estudando (Pinto e Buffa, 2009, p. 25): um controle constante sobre o valor e a regularidade
de seu ensino e mesmo de sua vida privada” (Verger,
Verger (1990), afirma que, conforme se ampliou a quantidade 1990, p. 48).
de alunos, foi também necessário rever a organização espacial que Segundo Verger60 (1990), são definidas as seguintes origens
conseguisse atender essa nova demanda: os espaços acabaram sendo para as Universidades medievais: (a) Universidades que foram criadas
reformados ou ampliados, gerando espaços precários. espontaneamente a partir do desenvolvimento de escolas que já
Segundo Salomão (2011), muitas escolas medievais foram existiam, como ocorreu em Paris, Bolonha e Oxford; (b) Universidades
desaparecendo a partir do século XII, enquanto algumas como a de que surgiram a partir de movimentos migratórios de alunos e
Paris, Bolonha e Oxford tiveram um rápido desenvolvimento. As mestres, como a de Cambridge que recebeu alunos e professores
universidades de Paris e Oxford eram compostas por associações de vindos da França, entre 1229-1231, pela secessão parisiense 61 ; (c)
58 59
Charle e Verger (1996, p.13) falam que antes das guildas já existiam escolas de Por essa razão, segundo Verger (1990), não é possível compreender as origens
artes-liberais que dependiam de autorização do papado para poderem iniciar suas das universidades sem que, antes, sejam compreendidas as questões sociais que
atividades. Durante o século XII foram criadas faculdades a partir de escolas para ocorreram na Idade Média. O autor cita como exemplo as disputas entre os
atender a demanda da sociedade e da Igreja; a Igreja compreendeu nesse poderes laico e eclesiástico.
60
momento que era preciso institucionalizar o ensino para continuar dominando-o, Para Ullmann (2000) uma universidade medieval poderia ser considerada como
assim uma universidade só poderia ser aberta com a Licentia ubique docendi, o ensino, de pelo menos uma faculdade, e formada por grupos de alunos.
61
emitido pelo próprio pontificado (Ullmann, 2000, p. 105). As universidades que surgiram por secessão nasceram como resultado das
disputas entre autoridades do local e homens do saber, que buscavam um local
84
com proteção e aceitação da população (Verger, 1990). Charle e Verger (1996, p. se organizaram em nações com o intuito de protegerem seus privilégios, essas
18) falam que conflitos internos ou com autoridades contribuíram para a migração organizações auxiliavam mestres e alunos das mesmas regiões. Isto ocorreu em
de mestres e alunos, “assim, novas universidades nasceram por cada universidade, na de Paris, por exemplo, os alunos se organizaram em quatro
desmembramento, mas somente duas delas mostraram-se duráveis: Cambridge, grupos de acordo com suas origens regionais.
63
desde 1209, nascia de uma migração oxfordiana; Pádua, fundada em 1222 pelos Pode-se considerar, segundo Charle e Verger (1996, p.13), as universidades de
doutores e estudantes foragidos de Bolonha”. Bolonha, Paris e Oxford como, praticamente, contemporâneas por sua estrutura e
62
Ullmann (2000) também afirma que, as universidades ocidentais receberam sua importância social e intelectual.
grande quantidade de estudantes de distintas nacionalidades e os próprios alunos
85
Conforme cresciam as cidades 64 , mais aumentava as dificultar essa movimentação gerando distintos conflitos, mas, em
distâncias entre moradias, comércios e serviços, que nesse momento 1215, o papa outorgou os primeiros estatutos das universitas
já se encontravam espalhados pelo tecido urbano, o que contribuiu magistrorum er scolarium Parisiensium, ou seja, a autonomia do que
para que os mestres passassem a lecionar nas próprias habitações dos seria a universidade parisiense65 (Charle e Verger, 1996).
alunos; com o tempo essas habitações passaram a contar com “A escola da Catedral de Notre- Dame foi fundada por
volta de 1170. Quando o número crescente de
instalações de salas de aulas independentes. Essas habitações ou estudantes fez com que se tornasse insuficiente para
abriga-los, os professores particulares foram
hospedarias foram o início do colégio medieval que no decorrer do autorizados a abrir escolas. Estes mestres se reuniram
formando sua corporação, uma universitas, à
tempo passaram a ser anexos das universidades (Pinto e Buffa, 2009). semelhança dos modernos sindicatos” (Mahler, 2015,
Foi com o tempo que a noção de universidade foi sendo p. 41-42).
construída, primeiro com a Igreja e, depois, com a Reforma. Na Segundo Turner (1995), as universidades britânicas de Oxford
Revolução Francesa as universidades foram impugnadas por ter e Cambridge, cujas origens datam respectivamente os séculos XII e
relação com a Igreja e o governo. Independente disto, a ideia de XIII, foram moldadas a partir do currículo e dos métodos de ensino da
universidade só ganhou força e representatividade com os espaços Universidade de Paris, ou seja, os alunos escolhiam seus mestres e
construídos. passavam a morar nas residências dos moradores locais. Existiram
Em Paris, a partir do ano de 1200, os mestres independentes também os halls e hostels, casas alugadas por alunos com supervisão
se uniram e, apesar do imperador não ter se oposto, o bispo tentou
64
Também aumentou a quantidade de universitas conforme aumentava o obra; consequentemente mais mestres chegavam e fundavam novas salas de aula,
tamanho da cidade e, no século XV, as administrações obrigaram os aprendizes aumentando ainda mais a quantidade de alunos (Pinto e Buffa, 2009).
65
que não fossem de origem nobre a se matricularem nas hospitia, que eram No século XVI e XVII essa universidade era um “aglomerado de colégios, à
habitações onde os aprendizes tinham que morar até o final de seus estudos, de semelhança das universidades inglesas. Os colégios foram inicialmente
acordo com suas rendas, assim era possível controlar a quantidade de estudantes pensionatos de estudantes, aos quais se acrescentaram depois salas de aula”
e a consequente questão habitacional. Com o crescimento urbano aumentou (Mahler, 2015, p. 41).
também a quantidade de comércio e, também, a necessidade de mais mão de
87
66
Pinto e Buffa (2009, p. 35) apresentam a diferenciação entre collèges franceses sua disposição acomodações, refeições, salas comuns, bibliotecas e espaços para
e Colleges britânicos e estadunidenses: “na França, o collège faz parte do ensino praticas esportes. Nos Estados Unidos, o termo college designa instituições de
secundário clássico- humanista. (...) na Inglaterra, o college pertence ao ensino educação superior, frequentemente independentes (...)”. O termo College foi
superior: é a parte da universidade que prepara os estudantes (undergraduate) utilizado nos Estados Unidos pois os primeiros fundadores se formaram em Oxford
para a obtenção de títulos conferidos pelas universidades. O college inglês (...) e em Cambridge.
67
prepara os estudantes para a universidade (...). Nos colleges, os estudantes têm à Fusão essa que também ocorreu nos Estados Unidos.
88
A diferença da universidade portuguesa para o restante da 3.3. A Renascença e a Revolução Industrial: novas
Europa é que ela não teve influência econômica ou jurídica; mas se demandas profissionais, novas instituições superiores
assemelhava, em questão organizacional, à de Bolonha porem sendo
submissa à Igreja. Segundo Janotti (1992) a universidade portuguesa A partir do século XIV a Europa foi marcada por guerras e
foi transferida diversas vezes desde sua fundação e, somente em cruzadas, fome, doenças como as pestes negra e bubônica, crises da
1536, teve seu local fixo estabelecido em Coimbra. Por essa constante Igreja e dos impérios, navegações marítimas - e a descoberta do Novo
mudança de localização, a universidade ficou conhecida como Mundo. O aumento de atividades comerciais e culturais de cunho
Universidade Lisboa- Coimbra e serviu de importante modelo para as científico- filosófico contribuíram para que ocorressem mudanças
universidades que viriam a ser estabelecidas no Brasil. políticas, econômicas e sociais. Cambi (1999) afirma que a Itália, nesse
89
contexto, ainda contava com uma forte presença do humanismo 68 O desenvolvimento da prensa causou uma grande mudança
que de lá se espalhou por regiões da Europa, abrindo caminho para a na educação já que quanto mais os livros eram impressos, mais com
Renascença. eles passaram a ter maior circulação. Outros fatores importantes nos
Segundo Manacorda (1989 apud Mahler, 2015), com a séculos XVII e XVIII foram a ciência e a filosofia que modificaram a
presença do humanismo nas universidades, a instituição passa a ser visão que o homem tinha a respeito do mundo e acabaram por
um novo espaço livre de influências e controle religiosos; foi contribuir para a criação da universidade moderna.
exatamente pelo fim da presença religiosa que a quantidade de “A partir do Renascimento e, mais ainda, da revolução
copernicana, há uma inflexão do conhecimento que,
alunos que estudavam de forma gratuita foi reduzida, permanecendo por um lado, o afasta da mera utilidade na formação de
recursos humanos para a sociedade e, por outro, abre
apenas estudantes que eram financiados. a perspectiva moderna de intervenção técnica, em
uma época de redefinição do próprio conceito de
Ainda segundo o autor, as universidades começaram, então, a ciência. Aos poucos o foco se desloca da interpretação
privilegiar alunos com maior poder aquisitivo, chegando até a de um acervo consagrado de textos para a observação
da natureza, para a descrição da realidade sem
reservar vagas para os descendentes de doutores. nenhuma interposição doutrinária. De sorte que, a
ciência já não pode ser entendida como (...) uma mera
Com a Reforma e o Concílio de Trento, em 1548, as disciplina a ser ensinada. (...) o científico se converte
num programa de estudos. Trata-se, portanto de
universidades contaram com o apoio político e, nos países de fé definir a ciência a partir da noção de pesquisa”
(Castilho, 2008, p. 09).
católica, a Igreja se aproxima da universidade e, consequentemente,
a ciência moderna se realiza mais intensamente nas Academias e não Do século XVI ao XVIII ocorreram as reformas universitárias 69,
nas universidades (Pombo, 1999 apud Mahler, 2015). em sua maioria impostas pela coroa, que asseguraram o controle
68
Segundo Salomão (2011): “O humanismo apresentava um novo ideal de homem, descobrir uma humanidade feita de valores universais, elaborados e produzidos
ele se torna a figura central da sociedade, que deve desenvolver toda a sua pela Antiguidade”.
69
capacidade humana de forma equilibrada; para tanto, necessita de uma formação No fim do Antigo Regime as universidades sofreram uma crise causada mais por
baseada essencialmente na leitura dos clássicos gregos e latinos, objetivando sua própria imagem e pelas “funções que lhe atribuía a sociedade da época” do
que o modelo já ultrapassado que eram as universidades. Desde sua origem essas
90
estatal das instituições de ensino superior e asseguravam algumas influência religiosa nestas instituições passou a ser diminuída (Ribeiro,
inovações como a criação de novas disciplinas e a modernização das A., 2008).
instituições; essas reformas se iniciaram na Alemanha e, em 1760, em A Revolução Industrial, como já apresentado no capítulo
países católicos (Charle e Verger, 1996). anterior, transformou as cidades e a vida das pessoas, além de
As reformas que aconteceram nas universidades seguiram contribuir para o desenvolvimento de novos materiais, da ciência e do
ideias de revolucionários franceses e de Napoleão, além de avanço tecnológico; este novo cenário forçou as universidades a
prussianos como Humboldt. Segundo Charle e Verger (1996), até a realizarem rápidas mudanças para que conseguissem acompanhar o
Revolução Francesa não houveram resultados efetivos para que as desenvolvimento tecnológico e a expansão de novos conhecimentos,
universidades saíssem do modelo do Antigo Regime e, por essa razão, o que também acabou modificando fisicamente os espaços
em 1793 a Convenção aboliu as reformas e as universidades universitários.
francesas. Durante os anos seguintes também houve essa queda por Pelas consequências do avanço tecnológico e pelo aumento
todo o território europeu70. de mercados e novas áreas industriais foi preciso suprir a falta de
As ideias iluministas71 foram responsáveis pelas universidades profissionais para as indústrias e estabelecer novos critérios
Humboldtianas e Napoleônicas cujos ideais chegaram, em 1806, na curriculares. Outra necessidade, especialmente após o final da
Universidade de Paris e, em 1810, na de Berlim. Até o século XIX a Segunda Grande Guerra, com o avanço da indústria automobilística,
instituições de ensino superior já necessitavam de um remodelamento, o que foi e bibliotecas), “substituíram em grande medida as universidades no duplo papel
ainda mais ressaltado no século XVI com o questionamento dos filósofos e que estas tinham mantido durante a Idade Média, de conselheiras do príncipe e
humanistas renascentistas. Apesar destes questionamentos, as universidades de instâncias legitimadoras do saber”.
71
resistiram e continuou em desenvolvimento (Charle e Verger, 1996, p. 56- 57). Ribeiro, A. (2008, p. 30) fala que, no período do Iluminismo, foi proposta a
70
Segundo Charle e Verger (1996, p. 64- 65), há duas classificações: (a) criação de escolas especializadas que formassem os estudantes e academias que
“Estabelecimentos de excelência, de vocação antes de tudo cultural”, estas é um fossem encarregadas pelas pesquisas científicas e culturais, pois as universidades
local de ensino de “alto nível, livre e desinteressado”; (b) As academias, estas não possuíam um “resquício da tradição medieval”. Essa é a origem das universidades
organizavam o ensino, mas por concentrarem instituições científicas (por coleções modernas francesas que surgiram no fim do século XVIII.
91
foi repensar e expandir a quantidade e dimensões das estradas e ruas; infraestrutura urbana “foram criadas escolas técnicas, institutos
com o aumento das cidades foram necessárias constantes tecnológicos e universidades”, seus currículos foram adaptados para
reestruturações urbanas, o que abriu oportunidades para oferecerem uma formação clássica e técnica.
profissionais ligados ao espaço urbano72 (Caram, 2014).
“Para atender a demanda de profissionais voltados
para o setor industrial e a demanda de projetos
especiais destinados a suprir as necessidades de
infraestrutura ferroviária, portuária e urbana foram 3.4. As universidades modernas e contemporâneas
criadas escolas técnicas, institutos tecnológicos e
universidades, cujos currículos foram sendo
reestruturados para suprir não apenas a formação
clássica, mas agora também a formação técnica,
voltada às indústrias e contingências urbanas” (Caram, Novas instituições surgiram: de sessenta universidades, em
2014, p. 38).
1550, foram criadas mais oitenta e três até 1790, mas não em todos
Há uma ligação entre a ciência e as indústrias para aprimorar
os países; em Portugal, na Polônia e na Inglaterra, por exemplo, não
o sistema produtivo com custos de produção e comercialização
ocorreram novas instituições de ensino superior. As mais promissoras
reduzidos. Todos esses fatos fizeram com que a ciência ganhasse um
foram as nascidas na Alemanha e Europa Oriental.
espaço nos currículos universitários. Segundo Singer (1989), o ensino
As universidades de origem medieval continuavam sendo
científico foi transformado de acordo com as distintas imposições dos
importantes servindo, pelo menos na teoria, de modelo para a
modos de produção. Segundo Caram (2014, p. 38), para a instrução
constituição de novas instituições; na prática muitas modificações
desses profissionais ligados ao setor industrial e aos projetos de
72
A Revolução Industrial também modificou a arquitetura e o modelo construtivo dos materiais, utilizar maquinário para o auxílio em canteiros de obras, empregar
em si: pode-se dizer que os antigos materiais utilizados, como os tijolos, passam a a Geometria para a representação gráfica da obra e, a partir desse período, escolas
ser utilizados de maneira mais racional e associados a novos materiais, como o especializadas passavam a formar profissionais preparados para essa nova
vidro e, posteriormente, o concreto armado; é agora possível medir a resistência realidade (Benevolo, 2014).
92
desse modelo primário ocorreram. As universitas73 medievais foram No final do século XIX é apresentada por Wihelm von
substituídas pelas “diversidades das práticas locais e dos caracteres Humboldt uma proposta de universidade voltada à pesquisa
nacionais” (Charle e Verger, 1996, p. 42). em Berlim, proposta esta que pode ser considerada a origem
A universidade era sempre definida por “seu caráter de das universidades atuais cujo modelo unia o ensino e a
instituição oficial, fundada ou reconhecida por uma autoridade pesquisa voltados para o conhecimento sem a Teologia como
religiosa ou política” (Charle e Verger, 1996, p. 43- 44). área centralizadora do ensino.
O papel da Alemanha na construção de uma universidade A Alemanha passa, então, a ser o primeiro país que
moderna74, a partir do século XVII, é importante: adotou um modelo moderno75 de “produção científica, com
“esse modelo é baseado no princípio de que a corpo de disciplina, definindo-se as funções específicas de um
humanidade aspira à verdade. Esta, não podendo ser
adquirida na sua totalidade, deveria ser professor universitário” (Mahler, 2015, p. 56). Esse modelo
incessantemente procurada, em todas as direções
possíveis. A concepção de universidade ganhou, a acabou sendo muito criticado por ser elitista e conservador,
partir disso, uma dimensão inovadora na história (...): a
universidade moderna nasceu (...) voltada para
mas:
reelaborar e criar novos conhecimentos e elaborar a “os êxitos científicos alcançados pelo modelo alemão,
cultura. A ela coube integrar, em sua origem, as principalmente o método de seminário, motivaram sua
funções de ensino e pesquisa, (...) e não apenas a difusão entre as demais universidades no mundo.
transmissão da verdade constituída. O ensino Livros, revistas e textos produzidos entre suas paredes
universitário passou a ser concebido como uma constituíram referências no meio acadêmico de vários
‘aprendizagem da atitude científica’” (Meneghel, 1992, países e as diversas adaptações sofridas pelo modelo
p. 07 apud Mahler, 2015, p. 56). em outras universidades elevaram o nível de sua
73 75
Charle e Verger (1996) falam sobre as universidades protestantes (luteranas, Segundo Caram (2014, p. 84), a Universidade de Berlim foi importante para a
calvinistas e anglicanas) e as católicas (fundadas ou tomadas por jesuítas em alguns “formação do conceito de universidade moderna” e o memorando de Humboldt
locais como na Alemanha). serviu de modelo de planejamento e pedagogia para outras futuras universidades
74
Aumentaram, durante a Era Moderna, a quantidade de instituições strictu sensu modernas europeias.
em universidades com maior ou menor poder de proferir colações de grau, mas
que não deixavam de educar alunos no ensino superior (Charle e Verger, 1996).
93
76
A Lei Le Chapelier criada durante a Revolução Francesa fechou todas as para o ensino de Teologia, Medicina, Matemática, Direito, Física e Letras (Alberto,
universidades francesas e corporações de ofício, Napoleão as reabriu utilizando 2008).
um modelo mais centralizado e dividiu o império em quarenta academias voltadas
94
No século XX as Grandes Écoles e as estatais voltadas do ensino jesuíta e da tradição da contra- reforma,
projeto trazido por membros da corte de D. João VI, rei
para a pesquisa foram reorganizadas. de Portugal, em sua vinda ao Brasil em 1808. Essa
transformação, conhecida como Reforma Pombalina,
Na Inglaterra, em Oxford e Cambridge, as mudanças (...) buscou introduzir em Portugal, e mais tarde no
Brasil, o ensino técnico e os conhecimentos práticos,
ocorreram aos poucos e retiraram a presença religiosa das sem a estrutura universitária que havia ficado
instituições permitindo o ingresso de mulheres, essas demasiado identificada com a corporação religiosa, e
que só seria implantada no Brasil na terceira década do
universidades foram influenciadas pelas da Alemanha. A século XX” (Schwartzman, 1996, cap. 2 apud Mahler,
2015, p. 59).
universidade britânica moderna tem como objetivo ser um
A universidade durante o período de 1780 a 1860 foi
espaço de “espírito ou liberal” com normas próprias, assim
marcada pelos seguintes princípios: (a) A presença de
como são as alemãs e estadunidenses. Já as universidades
características medievais e da Era Moderna; (b) A
francesas e soviéticas eram funcionais e “do poder” a partir
manifestação de distintos modelos de organização na
dos serviços que realizam para a nação (Mahler, 2015, p. 59).
Alemanha e França; (c) Realização de atividades de pesquisa
Ainda segundo Mahler (2015), a Revolução Industrial
fora das universidades através de academias ou por eruditos;
enfraqueceu os Colleges como modelo espacial de ensino
(d) Formação de uma pequena parte da sociedade, já que
superior, o que foi superado no século XIX com a integração
neste momento a aristocracia desprezava o ensino escolar, o
urbana das universidades.
que ocorreu durante o Antigo Regime; (e) A formação de um
Já em Portugal, no século XVIII, a Coroa sob influência
espaço político influenciador de movimentos nacionais e
do Iluminismo, através do Marquês de Pombal, realiza ações
liberais, no século XIX (Charle e Verger, 1996). O espaço
modernizadoras:
“No Brasil, a transição do modelo escolástico para a
universitário também sofreu modificações nesse período
formação profissional teve suas origens no projeto de sendo largamente ampliado.
transformação da Universidade de Coimbra, realizado
no final do século XVIII, (...) para livra-la do predomínio
95
Os modelos utilizados para a reformulação 77 da limitações foram alvo de críticos que almejavam um currículo
universidade tradicional, no século XIX, foram o britânico, mais técnico e voltado para as realidades do país.
College, o francês, centralizado e estritamente disciplinar, e o “Como os estados não possuíam recursos suficientes
para oferecer esse tipo de educação, o senador Justin
alemão, clássico (Charle e Verger, 1996). Neste momento, os Morril apresentou ao congresso um projeto de lei, a
fim de garantir recursos federais a colleges que
modelos universitários tornaram-se mais “ambiciosos, oferecessem cursos na área da agricultura. (...) a lei deu
origem aos land- grant colleges. O governo federal se
mostrando sofisticação e concepções mais unificadas”, o comprometia a doar terras para os estados usarem-nas
aumento de estudantes das áreas de conhecimento ensinadas como bem lhes aprouvesse, a fim de tornar possível a
fundação de uma universidade estadual, que se
também foram importantes para situar as universidades no voltasse para o atendimento das necessidades mais
práticas em sua região” (Lucas, 1994 apud Oliven,
espaço urbano (Mahler, 2015, p. 60). 2005, p. 120).
Já nos anos de 1860 a 1940, o ensino foi marcado pelo No século XX foram criados nas cidades menores os
seu desenvolvimento seguindo o modelo alemão, sobretudo junior Colleges que ofereciam os dois primeiros anos dos
em países cujas universidades ainda permaneciam Colleges e serviam como um instrumento facilitador para
tradicionais. Apesar das distinções étnicas, religiosas, transferências de alunos que desejassem ir para Colleges e
econômicas e urbanas que ocorriam entre regiões. que possuíam bons rendimentos escolares. Tempo depois
Até meados do século XIX o ensino oferecido nas esses juniors Colleges passaram a oferecer disciplinas técnicas
instituições superiores dos Estados Unidos era, em sua grande e, então, surgem os community Colleges, a maioria
parte, seguidoras dos modelos clássicos, mesmo elas terem pertencentes aos Estados (Oliven, 2005).
passado por um desenvolvimento de secularização. Essas
77
Segundo Charle e Verger (1996), uma importante característica das
universidades modernas é o aumento gradativo da autonomia universitária e,
consequentemente, a redução do controle político sobre as mesmas.
96
O pós- Segunda Guerra foi importante para a educação Foi no ano de 1538 que a primeira universidade no continente
na América Latina pois foi neste momento em que as foi criada “por bula papal no convento dominicano de Santo
estruturas físicas universitárias foram consolidadas. Domingo”. Outras universidades importantes foram criadas depois no
México e em Lima, com autorização real (Mahler, 2015, p. 52).
Boaventura (1192, p. 59 apud Mahler, 2015, p. 52-53)
apresenta três distintos períodos das universidades na América
3.5. O ensino no Novo Mundo: a universidade na
Latina: (a) No período de colonização espanhola e a neocolonização
América Latina e nos Estados Unidos
francesa cujas reformas nacionais tiveram grande “tendência norte-
americana”; (b) As fundadas no século XVI “compreendidas como
“Na América Latina, as mais antigas fundações foram
as de São Domingos (1538), a de Lima (1551) e a do marcos da posição da Coroa em relação ao Novo Mundo” onde não
México (1551); instituídas por decreto real com
estatutos inspirados nos de Salamanca e de Alcalá, havia espaço para pesquisa ou para a preservação da cultura local, o
quase sempre controladas por ordens religiosas
ensino era de Filosofia e Teologia; (c) No século XIX, com os países já
(Dominicanos, Jesuítas), ensinando principalmente
Teologia e Direito Canônico, as universidades da independentes, “as universidades ganharam novo impulso e foi
América Latina78 eram claramente fundações coloniais
e missionárias: vinte delas foram estabelecidas antes reforçado o domínio cultural francês”, neste momento ocorreu a
da independência, com maior ou menos sucesso, nas
principais colônias espanholas. No Brasil, não houve autarquia da “instituição francesa, fragmentando a universidade, com
nenhuma. Na América do Norte, as primeiras
universidades, sob a forma de colégios, foram antes de ênfase nas faculdades isoladas”.
tudo o fruto de interesses locais: tratava-se de formar
As estruturas herdadas da colonização foram lentamente
pastores e administradores de que necessitavam as
colônias inglesas” (Charle e Verger, 1996, p. 42). questionadas; somente a partir de 1918 que um protesto estudantil
78
O modelo pedagógico adotado na América Latina seguia a linha francesa, que no
período influenciava a Espanha, e, consequentemente, o ensino superior era
voltado à elite (Mahler, 2015).
97
Ano Universidade
1538 Universidade de Santo Tomás de Aquino,
República Dominicana
1551 Universidade do México, México
1551 Universidade Maior de São Marcos, Peru
1721 Universidade Central da Venezuela,
Venezuela
1788 Pontifícia Universidade Católica do Chile,
Chile
1821 Universidade de Buenos Aires, Argentina
1833 Universidade do Uruguai, Uruguai
Tabela 3- Cronologia das primeiras universidades fundadas na América Latina.
(Fonte: Mahler, 2015, p. 51).
Já a primeira universidade fundada em território norte 1755, o College de Rhode Island, que depois mudou seu nome para
americano, segundo Pinto e Buffa (2009), foi a Universidade de Brown, fundado em 1765, o Queen’s College, que depois mudou seu
Harvard, em 1636. Apesar de seus fundadores terem formação em nome para Rutgers, fundado em 1766 em New Jersey, e o
Oxford e Cambridge, as instituições fundadas nos Estados Unidos Darthmouth College fundado em 1769 em New Hampshire (Turner,
eram semelhantes aos Colleges pois alojavam os alunos. 1995).
“Inicialmente absorveram e replicaram o modelo Pinto e Buffa (2009, p. 37) explicam que essas universidades
inglês, até que quatro fatores convergiram e
provocaram a primeira alteração na estrutura de são conhecidas como Ancient Eight ou universidades da Ivy League
ensino americano: a rejeição à tirania dos estudos
teológicos e clássicos, a emergência do paradigma da que foram fundadas dentro das cidades, mas que possuíam tantas
ciência, (...) e a exigência de uma maior democracia
para a educação” (Alberto, 2008, p. 331).
áreas verdes79 que “simulavam uma espacialidade rural”.
79
“(...) foram buscar nos campos o refúgio necessário para as atividades a implantação da University of Virginia, idealizada por Thomas Jefferson a qual se
acadêmicas, implantando suas atividades em espaços permeados por áreas verdes tornou um relevante paradigma urbanístico para a implantação dos campi
e criando um modelo que se espalhou pelos Estados Unidos, principalmente após universitários” (Caram, 2014, p. 84).
99
A característica que mais se destaca no ensino superior mudanças que estavam ocorrendo, sobretudo com a implantação do
estadunidense desde sua origem “é a concepção de Colleges e Morrill Act em 1862, o antigo modelo de College precisou ser
universities como comunidades nelas mesmas, (...) como cidades reformulado: instituições científicas implantadas pela elite seguiram
microscópicas”; nesses espaços, diferente do que ocorria no modelo o modelo alemão de ensino- pesquisa, como ocorreu em Stanford,
inglês, possuíam salas de aulas, dormitórios, refeitórios e espaços de fundada na Califórnia em 1876, e em Cornel e Chicago, fundadas em
lazer (Pinto e Buffa, 2009, p. 36). 1892, em seguida as antigas universidades do Leste também se
modernizaram seguindo os modelos europeus. Foi no século XX que
80
A presença desses espaços verdes tornou-se algo tão importante para a cultura
universitária do país que, mesmo em universidades que estavam localizadas
dentro do perímetro urbano, existia algum espaço com verde ou um rio/lago.
100
a pesquisa passa a ter grande importância nas universidades A tensão maior é que atualmente um diploma superior não
americanas, os laboratórios de pesquisas81 e institutos, ligados mais garante mais empregos satisfatórios pelos quais os alunos almejavam
ou menos às universidades, foram criados em larga escala e as antes de saírem das faculdades, muitos diplomados estão
disciplinas passam a ser organizadas por departamentos e não mais trabalhando como garçons, motoristas ou faxineiros; a expectativa de
por cadeiras, permitindo a inovação (Charle e Verger, 1996). um emprego compensador pelos anos e altos custos de ensino não
Outra característica inovadora nas universidades norte- correspondem a atual realidade do país.
americanas é a possibilidade de acesso que a população em geral têm Essas realidades podem ser indicativas de um futuro onde a
ao ensino superior, mostrando o fim do elitismo no país, a partir de instituição de ensino superior está fadada à falência, sobrevivendo
1950 (Charle e Verger, 1996). apenas poucas universidades. As universidades estão buscando,
Contudo, a situação atual apresenta um claro conflito; Andrew então, diminuir seus gastos: as taxas têm sido a saída para as
Rossi em seu documentário ‘Torre de Marfim: a crise universitária universidades pois enquanto as verbas diminuíram no país, as taxas,
americana’, de 2014 82 , fala sobre como os Estados Unidos desde 1980, aumentaram.
conseguiram oferecer um ensino superior a uma porcentagem da Além das taxas, outro fator financeiro que ajuda manter uma
população maior do que ocorreu em qualquer sociedade no mundo e universidade são os financiamentos estudantis. Para atrair alunos, as
na história, porém, o problema atual dessas universidades é seu alto universidades passaram a oferecer diferenciais como piscinas, áreas
custo: a dívida de empréstimos estudantis chegou a um trilhão de de recreações com academia e paredões de escalada, espaços para
dólares, o que também compromete a economia do país pois é bronzeamento artificial, televisores de plasma e quadras esportivas
número de inadimplentes é cada vez maior.
81 82
Caram (2014) fala que as universidades estadunidenses modernas, voltadas para Documentário disponível em
a ciência e para a pesquisa, já vinham sendo formadas desde o século XVII. https://www.youtube.com/watch?v=88eqoI6vQLU
101
específicas, além das próprias festas universitárias83. Os espaços de e aplicá-las à crise que as universidades brasileiras, especialmente as
ensino estão sendo transformados em espaços de públicas, estão sofrendo.
empreendedorismo e recreação84.
Esse processo mercantilista que ocorre nas universidades
3.6. Universidades no Brasil: um início tardio
acaba distanciando os jovens de rendas mais baixas 85 de um curso
superior e deixa os espectadores com a seguinte dúvida: ‘qual é o
papel das universidades frente à desigualdade de renda nunca vista A Universidade no Brasil percorreu um longo caminho para
anteriormente na história dos Estados Unidos?’. tornar-se a instituição como é conhecida atualmente.
O documentário é importante para a discussão em relação à O início do ensino superior ocorreu com a criação de cursos
mercantilização das universidades Americanas e a crescente adoção superiores profissionais em Salvador e depois no Rio de Janeiro, pelo
desse paradigma em terrar brasileiras: a questão da perspectiva do Príncipe Regente D. João. Esses cursos eram militares ou não,
ensino semelhante à mercadoria resultando em segregação social e dependendo das necessidades profissionais que o Estado tinha
como esse modelo é capaz de diminuir a qualidade dele mesmo, naquele momento. Cursos como arquitetura, música, desenho e
especialmente se a questão for relacionada à quantidade de história foram implantados com a vinda da Missão Francesa, junto
população; é possível aprender com as valiosas lições estadunidenses com a família real, em 1816 (Pinto e Buffa, 2009).
83 84
É apresentado que os estudantes pouco estudam ou pouco escrevem dentro das Quanto mais espaços diferenciados são criados pelas universidades, mais vão
salas de aulas, a reclamação estudantil é que as universidades oferecem muitos subindo as taxas estudantis para que as universidades possam pagar por esses
distrativos e pouca orientação ou preocupação da própria universidades em gastos. As universidades também estão cada vez mais endividadas.
85
relação ao desempenho dos alunos (Documentário ‘Torre de Marfim: a crise O documentário ainda apresenta os seguintes dados: de 1978 a 2010, as taxas
universitária americana’, de 2014, Andrew Rossi). universitárias subiram 1120%, valor muito mais inflacionado do que qualquer
outro serviço no país durante o mesmo período.
102
Segundo Pinto e Buffa (2009, p. 45-46), também foram A partir de 1750, Marquês de Pombal realizou medidas
criadas, em 1827, as Academias de Direito de São Paulo e Olinda: modernizadoras em Portugal com o intuito de “diminuir a
“Ao longo do século XIX, esses cursos e escolas dependência econômico- política” em relação à Inglaterra, uma das
sofreram transformações, outros foram criados, mas o
fundamental é que o ensino superior brasileiro, desde várias políticas criadas foi a expulsão dos jesuítas do reino e das
sua criação até a primeira metade do século XX, foi
estruturado em estabelecimentos isolados. No colônias, assim, o ensino antes realizado pelos religiosos passou a ser
decorrer do período, houve várias tentativas frustradas
de criação de universidades, mesmo após a
controlado pela monarquia o que permitiu a adoção de novas
proclamação da República. As resistências à ideia de disciplinas universitárias (Caram, 2014, p. 76).
criação de uma universidade no Brasil contaram com o
decidido apoio dos positivistas brasileiros que Essa “reforma educacional pombalina” permitiu incluir “um
consideravam a universidade uma instituição
anacrônica”. pensamento moderno na sociedade e reorientar a educação
Segundo Caram (2014), ocorreram desde 1554 cerca de 30 universitária tradicional (...) para os princípios da ciência e da
frustradas tentativas de criação de uma universidade 86 antes da pesquisa”. No ano de 1777, Dona Maria I tornou-se rainha de
Universidade do Rio de Janeiro. A autora fala sobre a existência de Portugal, posteriormente do Brasil, e “destitui Pombal e anulou
cursos considerados de ensino superior no Brasil colônia, nos séculos grande parte das intervenções e medidas que haviam sido
XVI e XVIII, criados por jesuítas na Companhia de Jesus 87 ; esses implementadas” (Caram, 2014, p. 78).
primeiros cursos de Filosofia e Teologia aconteciam em colégios e Com a expulsão dos jesuítas, grandes mudanças foram
seminários (Caram, 2014). realizadas nos seminários e nos colégios portugueses e brasileiros.
86 87
Segundo Mendonça (2000), ocorreram algumas tentativas de transformar os As atividades de ensino da Companhia de Jesus eram voltadas para a catequese
colégios jesuítas em universidades, mas o governo de Portugal barrou todas de índios e eram padronizadas. “O primeiro colégio foi fundado em 1550, na Bahia,
propositadamente para que a colônia mantivesse a relação de dependência com a considerado modelo para a constituição de outros colégios similares” (Caram,
Universidades de Coimbra. 2014, p. 76).
103
Caram (2014), ainda descreve acercas das consequências para são a o aumento e o restauro do ensino superior no país, assim como
o Brasil da expulsão dos jesuítas, como o encerramento das atividades a instalação de novas escolas e espaços de ensino (Caram, 2014, p.
de ensino realizadas em solo colonial, restando apenas os edifícios. 80).
Segundo a autora, a dificuldade era: A corte portuguesa na colônia modificou os rumos do ensino
“em implantar uma pedagogia de ensino direcionada no Brasil: foi necessário criar cursos técnicos e administrativos para
para o estudo, pesquisa e ciência, devido à cultura
tradicional e ao poder da Igreja que representava a suprir as necessidades da monarquia.
religião do Estado português, ensejou motivos para a
fundação de academias de ciências, criadas pelos Já na República, as escolas eram laicas e estatais e
monarcas portugueses” (Caram, 2014, p. 79).
funcionavam sob supervisão do Estado. Segundo Cunha (2007 apud
Ainda segundo Caram (2014), nem mesmo durante o período Caram, 2014, p. 81) foram as “escolas, academias e faculdades”,
pombalino foram estabelecidas academias de ciências, ao contrário como instituições de ensino superior, que iriam organizar os cursos
do que ocorria em distintas cidades europeias como Roma e Paris. As de uma forma especializada e seriada.
Academias somente apareceram em Portugal no reinado de Dona A Universidade do Rio de Janeiro, criada no ano de 1920, é
Maria I, porém, para a existência de uma universidade moderna no considerada a primeira instituição de ensino superior do país; seguida
reino, era necessário que o Estado fosse laico e a instituição formada pela Universidade de Minas Gerais, em 1927, e a de São Paulo, em
por pesquisadores estrangeiros; como isso não ocorreu, acabou 1934. Estas universidades surgiram a partir da reorganização de
contribuindo para o atraso da concretização de uma universidade faculdades já existentes e “reunidas sob uma reitoria recém-criada”
relacionada a esses paradigmas também aqui. (Pinto e Buffa, 2009, p. 46). O ensino superior brasileiro era marcado
A vinda da família real para o Brasil contribuiu para a abertura por escolas isoladas e foi o último país da América Latina a fundar
dos portos e a modernização da cidade do Rio de Janeiro. Diversas instituições de ensino superior.
melhorias foram feitas na cidade para que ela pudesse se assemelhar “Embora não seja agradável assinalar, o Brasil foi o
último país das Américas a lançar as bases de ensino,
às cidades europeias, as ações mais importantes a serem recortadas
104
sob o regime universitário. Naquela época, ao uma equipe de arquitetos e internacionais como Le Corbusier e
completar-se o século XIX, o Novo Mundo já possuía as
seguintes organizações desse gênero: Estados Unidos Marcello Piacentini. Um projeto alternativo menos grandioso que
(78), Canadá (12), México (2), Guatemala (1), Honduras
(1), São Domingos (1), Cuba (1), Venezuela (1), utilizava de forma melhor os terrenos disponíveis e os recursos foram
Colômbia (4), Peru (2), Bolívia (4), Equador (1),
Argentina (2), Uruguai (1), Chile (1) e Paraguai (1). (...)
apresentados por Ernesto de Souza Campos e Pujol Júnior.
O Brasil somente teve a sua primeira universidade
quase ao finalizar o primeiro quarto do século atual
(1920), quando já se multiplicavam tais centros de
estudos no Canadá, na Argentina, no México, no Peru,
etc. Outros países novos, como a Austrália (4) e Nova
Zelândia (3), África do Sul (2), possuíram tais
instituições antes de nós” (Campos, 2004, p. 25).
Popular cujo objetivo era especializar a mão de obra industrial, essa Foram então criados os cursos de engenheiro civil, industrial e
instituição democratizou o ensino. Em 1882, a Sociedade passa a ser agrícola, além de um curso de mecânica para quem não tivesse
chamada de Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e inicia o ensino formação colegial (Costa, 2008).
profissional voltado às oficinas, comércio e lavoura. Em seu currículo, A partir do segundo regulamento interno de 20 de novembro
entre disciplinas técnicas, exatas e artísticas, estava também incluso de 1894, foram criados os cursos de engenheiro-arquiteto, de
o ensino de desenho de arquitetura (Costa, 2008). mecânico e maquinista, como cursos especiais, e vários métodos que
Com a república o Liceu passa por crises financeiras. No ano superassem as deficiências educacionais de alunos que vinham do
de 1895 o engenheiro-arquiteto Francisco de Paula Ramos de ensino secundário, além de evitar a evasão escolar (Caram, 2014).
Azevedo torna-se diretor e promove grandes reformas no ensino da Esse regulamento estabeleceu uma estrutura na qual havia um curso
instituição, como a criação da Escola Politécnica de São Paulo (Costa, fundamental, dividido em um ano preliminar e dois de curso geral, e
2008). os cursos especiais de engenheiro civil, arquiteto, industrial e
A criação da Escola Politécnica de São Paulo foi a resposta do agrônomo. Essa estrutura permaneceu até o ano de 1931 (Domschke,
Estado e da capital em se adaptarem às mudanças causadas pela 2007).
Segunda Revolução Industrial e pelas necessidades de realizar Já no ano de 1896 a Escola de Engenharia do Mackenzie
melhoramentos urbanos para o desenvolvimento das cidades. Esse College começa a exercer suas atividades, uma escola particular e
contexto criou uma demanda por novas posições em relação ao sujeita às legislações do Estado de Nova York.
ensino profissional, principalmente na área de Engenharia Civil e O nascimento, quase no mesmo momento, das duas
Arquitetura (Caram, 2014). instituições superiores de ensino de Engenharia, a Politécnica e a
O primeiro regulamento da Escola Politécnica, em 1894, visava Mackenzie, e a reforma do liceu profissionalizante podem ser
o ensino técnico voltado para a agricultura, a indústria e a construção. indicadores da “ideologia de progresso que tinha como uma de suas
106
88
“A cátedra foi substituída pelo departamento, considerado a menor fração da ia, a partir de então, preferência à construção de câmpus universitários” (Pinto e
estrutura universitária (Lei 5.540/ 68). Em termos de organização espacial, dar-se- Buffa, 2009, p. 46).
107
Segundo o dicionário Michaelis89, Campus significa: como um organismo articulado podendo, também, funcionar para os
“sm (lat campus) neol 1 Terreno e edifícios de uma moldes brasileiros como uma Cidade Universitária.
universidade, colégio ou outra escola. 2 Parte
determinada desse terreno e edifícios, especialmente A definição do termo campus universitário e de Cidade
a área aberta, na parte central do terreno de uma
universidade ou outra escola. 3 Universidade, ou outra Universitária varia de acordo com o autor e a época; para Dober
escola, considerada como entidade educacional, social
ou espiritual”.
(1963), Cidade Universitária é compreendida como o território onde
está inserida a universidade independentemente de onde está
Campus é um termo utilizado pela tradição estadunidense que
inserida a instituição ou se ela funciona como University ou College91;
engloba as áreas das instalações da universidade ou College 90 ,
o autor, em 2000, também apresenta o conceito de campus como
incluindo também as residências dos docentes e discentes.
construções ligadas a espaços livres verdes que permitem a
Segundo o documento da Coordenadoria do Espaço Físico da
integração do usuário com o espaço.
Universidade de São Paulo (2014), esta integração da estrutura física
É preciso compreender o espaço físico de uma instituição de
de um campus é importante para o funcionamento da universidade
ensino superior como um local onde acontecem as atividades
89 91
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues- Godoi (2015, p. 06) explica que University são instituições que “oferecem cursos
portugues&palavra=campus (acessado dia 06 de maio de 2016, as 11:01 horas). superiores introdutórios ou profissionais, desenvolvem pesquisas e oferecem
90
Para Mahler (2015, p. 81), o campus contribuiu para a criação de uma estudos pós-graduado”, diferente dos Colleges que, nos Estados Unidos,
“identidade universitária ao reunir todas as instalações de ensino em um território originalmente ofereciam os “cursos introdutórios”.
específico, impondo novo significado aos seus atributos culturais e suas inter-
relações. O termo campus passou (...) a designar o território universitário”.
112
acadêmicas em si, como o local de aprendizado e como local de e muito, das cidades em que estão localizados (...). O
termo cidade universitária não passa de uma aspiração
identidade institucional. que nunca se realizou” (Pinto e Buffa, 2009, p. 46- 47).
Para Turner (1995) o termo campus apresenta as ideias de
A seguir realiza-se um percurso histórico que liga as primeiras
Thomas Jefferson a respeito do planejamento espacial e da educação
espacialidades aos espaços modernos construídos cuja finalidade é a
do período colonial no século XX, ou seja, a ideia de universidades
educação universitária.
como pequenas comunidades, um microcosmo da sociedade,
implantada no campo.
Por fim, o termo campus compreendido pelos britânicos
4.1. Dos mosteiros a Bauhaus
engloba as maneiras não acadêmicas de seus usos, ao contrário da
compreensão norte americana de campus como um espaço
O desenvolvimento da configuração espacial da universidade
educacional, atualmente essa diferenciação não é mais utilizada já
medieval se deu a partir de atividades realizadas em mosteiros e
que ambos possuem semelhanças nos continentes.
“A designação câmpus ou cidade universitária acabou
influenciou aos poucos a sociedade.
por definir o mesmo espaço, com os mesmos objetivos. Inicialmente, a universidade estava localizada distante das
Cidade Universitária era, talvez, a aspiração inicial dos
primeiros câmpus instalados no Brasil: uma pequena cidades e comunidades para contribuir com a concentração e sua
cidade, apartada daquelas que poderíamos chamar de própria autonomia, já suas configurações foram sendo desenvolvidas
regulares. Esse núcleo teria a capacidade de oferecer
ensino, mas também abrigar centros de pesquisa, no decorrer do tempo a partir dos claustros cujas plantas eram
acolher alunos e professores, proporcionar, enfim,
quadrangulares. Os mosteiros possuíram diferentes relações com as
todos os serviços próprios de qualquer cidade. Todavia,
isso não aconteceu. Os serviços que os câmpus cidades, sendo afastados inicialmente e, posteriormente, integrados
brasileiros oferecem- mesmo um dos maiores, o da
USP- são restritos e deficientes (...). Os câmpus
a ela.
brasileiros não são autossuficientes; dependem ainda,
113
Na França e nos Países Baixos, no século XII, o ensino não As cidades universitárias tornaram-se identificadas pela sua presença
estava mais concentrado em mosteiros e sim em escolas anexas às física no meio urbano (Coulson, Roberts e Taylor, 2010, p. 04).
catedrais. Como dito no capítulo anterior, as primeiras universidades
ocidentais surgiram da união de escolas e corporações já existentes.
Mahler (2015, p. 73) informa que no final da Idade Média as
universidades passaram por um processo aristocrático cujo luxo
passou a ser apresentado também em suas construções. “Com o
desenvolvimento científico e tecnológico” os prédios das
universidades passaram a ser construídos com grande exuberância e
mistura de estilos.
Figura 24- Palazzo dell’Archiginnasio, Universidade de Bolonha, sem data.
A presença de palácios também fez parte da história das (Fonte: http://www.cralrer.it/rer/palazzo-dellarchiginnasio/, acessado dia
12 de julho de 2016, as 14:42 horas).
universidades italianas e espanholas no período da Renascença, esses
palácios possuíam a forma de quadrângulo irregular ou regular
As universidades, então, passaram a contar com faculdades
enclausurado.
isoladas o que durou até Christopher Wren projetar, de 1660 a 1690,
Com o avanço da Renascença, as universidades antigas ou
edifícios para as universidades de Oxford e de Cambridge, com
novas adquiriam novos espaços como teatros, salas de reuniões,
plantas que não mais seguiam o quadrângulo fechado e que passaram
capelas, bibliotecas e alojamentos. Essas estruturas eram
a ser a nova arquitetura dos Colleges britânicos e futuros modelos
manifestações físicas da forte presença da universidade europeia. A
estadunidenses (Mahler, 2015).
distinta arquitetura e localização urbana das universidades medievais
No século XV a Universidade de Paris estava inserida no tecido
tardias indicam que seu lugar na vida da cidade estava estabelecido.
urbano, já possuía salas de aulas, alojamentos e igrejas e foi
115
adquirindo novos edifícios conforme cresciam os números de alunos; também para poupar tempo e dinheiro” os docentes também
a composição desta universidade foi tamanha que passou ao passaram a viver neste local. Isso ocorreu muito e fez com que os
tamanho de um bairro, o Quartier Latin, nome esse pela língua oficial Colleges passassem a ser espaços de ensino (Mahler, 2015, p. 66).
da região até 1793: o latim (Mahler, 2015, p. 66). O Quartier Latin College 93 passou a ser designado como a espacialidade
configurou acadêmica e, segundo Mahler (2015, p. 67), apesar de “separado por
“identidade à região da cidade (...). A implantação na muros, esse ambiente cresceu integrado ao tecido urbano”.
quadra urbana contrapões a rua aos edifícios. A
tipologia da quadra fechada, estando relacionada ao A “ideia de universidade” passou a ser mais independente no
ambiente urbano, possibilita a existência de áreas
internas coletivas, como praças ou pátios, geralmente decorrer da história e suas estruturas físicas sofreram interferências
contornados por arcadas. Esses espaços são bastante
característicos das universidades europeias em todas
de acordo com os períodos históricos descritos no capítulo anterior.
as etapas de sua existência, desde sua fase medieval Segundo Ribeiro, A. (2008, p. 57), as mudanças ocorreram, pois, as
até o urbanismo modernista, no século XX. (...) Os
bairros universitários inicialmente característicos da universidades passaram a se tornar dependentes das cidades onde
Europa continental, existem em diversas outras
localidades, nem sempre tendo uma identidade que os estavam.
destaque em relação a demais bairros da cidade”
(Mahler, 2015, p. 67). Esse fato ocorreu na Universidade de Cambridge que foi
inédita em sua configuração de pátios voltados para a cidade o que
O primeiro College92 de Paris foi construído por um londrino e
marcou uma nova situação urbana (Ribeiro, A., 2008, p. 57).
era um albergue estudantil; com o tempo e pela “comodidade (...) e
92
O College foi o primeiro edifício especializado e totalmente voltado para as ou quadrado cercado por arcadas sob as quais a circulação era livre, abertas nas
atividades universitárias, mas ainda seguindo os modelos dos monastérios. Willis laterais e cobertas. Nos colleges, o quadrângulo é um espaço cercado de edifícios,
e Clark (1886) ainda frisam que os collegiuns não tinham qualquer relação com os usualmente de dois andares, com um gramado simples no centro e circulação
prédios adjacentes. aberta ao seu redor. Na maioria das escolas, esse espaço de circulação e de lazer
93
Segundo Pinto e Buffa (2009, p. 31-32), o College foi inspirado nos claustros era destinado aos alunos mais adiantados (seniors) e permitia acesso interno a
medievais e “a planta dos Colleges adotou o quadrado (quadrangle ou quad) como todos os edifícios”.
espaço articulador de todo o edifício. Tratava-se, nesses claustros, de um retângulo
116
Oxford, no entanto, foi mais conservadora e utilizou do gótico As universidades de Cambridge e Oxford definiram uma região
“quad fechado (...) até o século XVII” (Mahler, 2015, p. 69). e as construções passaram a fazer parte da própria universidade,
Para Turner (1995) o desenvolvimento arquitetônico dessa apesar de inseridos na malha urbana. Esse fator, segundo Pinto e
universidade mostrava as ideias intelectuais e a abertura de uma de Buffa (2009), da relação do espaço universitário com a cidade,
suas faces foi, para o autor, um desenvolvimento natural na estética ocorreu em praticamente todos os outros países europeus94.
renascentista vigente na qual o quadrado medieval, até então Turner (1995) apresenta essa tradição britânica de construção
utilizado, foi substituído por uma organização axial que sugeria uma de espaços universitários que foi levada para os Estados Unidos e
abertura do College ao mundo exterior. adaptada, para o que atualmente é conhecido por campus.
Esse pátio de três faces foi vital para o planejamento A evolução dos modelos construídos para as atividades
universitário nos Estados Unidos. universitárias foi modificada e desenvolvida a partir da compreensão
Oxford e Cambridge foram criadas em pequenos terrenos e da importância desses espaços e por seus entornos, além das relações
suas expansões ocuparam seus perímetros; conforme novos eram entre o campus e esses outros edifícios vizinhos (Mahler, 2015).
construídos ou os antigos, ampliados, o terreno aonde ser construído
passou a ser escasso. Segundo Pinto e Buffa (2009, p. 33), é
importante observar que esses edifícios possuíam um “caráter
urbano” deixando de ser “implantados nos limites das cidades”, os
novos cursos passaram a utilizar edifícios já existentes nas cidades e
terminam por se transformar em universidades.
94
“O território da escola definia-se por seus edifícios, e não por (...) uma área próprio edifício e, ao redor, a cidade fluía e crescia livremente” (Pinto e Buffa,
delimitada, fechada e apartada da cidade. As escolas se integravam à malha urbana 2009, p. 34).
e constituíam elementos de seu crescimento (...) o limite da escola (...) era seu
117
A Europa passou pela transição entre o academicismo e a O prédio da Bauhaus em Dessau, em 1925, projetado por
ruptura representada pelo moderno, nesse momento a Bauhaus foi Gropius seguia a arquitetura moderna; a funcionalidade do edifício
um espaço de experimentações pedagógicas englobando as novas seguia o programa proposto e era dividido pelos “espaços
técnicas e estéticas modernas, configurando a formação do homem acadêmicos, áreas administrativas e dormitórios estudantis”, os
dessa época (Arcipreste, 2012). A Escola tinha uma íntima ligação com professores ficavam em outro prédio afastado (Mahler, 2015, p. 75).
o Movimento Arts and Crafts e a Deutscher Werkbund 95 , seus O edifício utilizava de pilotis para manter a relação do prédio
precursores, e ainda hoje, muitos dos objetos criados na Escola com a paisagem, fator este que influenciou outras universidades. A
permanecem atuais em consequência do uso da modernidade Bauhaus marca a ruptura com o clássico e seu resultado é a exposição
descomprometida em seu design. de como o prédio funciona, a partir de pavilhões, simetrias e mescla
A Bauhaus, cujo significado é ‘construir a casa’, foi uma de volumes. A própria revolução pedagógica96 da escola permitiu a
importante Escola localizada na Alemanha que formou cerca de construção de um edifício que também fosse revolucionário.
quinhentos alunos. Fundada em 1919 pelo arquiteto modernista
Walter Gropius, a Escola viveu e sobreviveu por quatorze anos a
diferentes mudanças políticas e econômicas (Farthing, 2011). Gropius
assumiu a direção da Escola Superior de Belas Artes de Weimar,
fundada por Henry van de Velde, em março de 1919, e a uniu à Escola
de Artes e Ofícios, fundando a Staatliche Bauhaus Weimar.
95 96
Pode ser traduzido como ‘Federação Alemã do Trabalho’, fundada por O arquiteto compreendia que a Bauhaus deveria se apoiar em bases científicas,
arquitetos, designers e empresários alemães no ano de 1907. O Movimento era assim, a pedagogia foi articulada no ideário teórico do Escolanovismo “que
experimental e abrangia desde o projeto em muitas escalas, da casa até o da xícara sistematiza a metodologia da problematização, como caminho para o ‘aprender-
de café, disseminando ideias estéticas inéditas que fossem populares e acessíveis. a-aprender’” (Arcipreste, 2012, p. 76).
119
edifícios em espaços verdes, mesmo criados, que contivessem algum principal, em 1655 a universidade já contava com quatro prédios
tipo de água como um rio ou lago, um espaço rural97. espalhados98 (Godoi, 2015).
Esse fator contribuiu também para novas experiências em
urbanismo até antão desconhecidas: a concepção de uma
comunidade acadêmica.
Essa nova interpretação da concepção espacial, para Turner,
tinha motivos religiosos pois os puritanos compreendiam os quads
monásticos como descendentes da fé católica. Harvard, por exemplo
tinha o pátio aberto para a rua, mas com conjuntos de edifícios
separados entre si, planejamento este que rompe de vez com a
imagem da clausura católica.
A diversidade arquitetônica e urbanística é uma característica
importante dos Colleges coloniais cujas plantas originais diferiam das
outras obras do período.
Na construção do College de Harvard, a partir de 1636, foram
elaborados experimentos do que viria a ser seu campus. A planta do
antigo College era em forma de E com uma torre em seu bloco
97
A diferença da implantação de um College britânico e um campus estadunidense localizando suas universidades em áreas de expansão da cidade” (Mahler, 2015, p.
é que o primeiro se expandiu pelas cidades e a influenciou, enquanto o segundo 96).
98
era “antiurbano com uma estrutura autossuficiente. As universidades da América Godoi (2015) ainda explica que o espaçamento entre os edifícios era para evitar
Latina “constroem o espaço universitário no âmbito de um sistema socialmente o risco de alastrar possíveis incêndios entre os prédios, já que eram construídos
segregado, e de uma mentalidade de isolamento da população universitária, com madeira.
121
Figura 29- Primeiros projetos de Colleges estadunidenses (Harvard, Figura 31- Ilustração da cidade de Cambridge, EUA. No primeiro plano
William and Mary, Princeton e Yale). estão os edifícios da Universidade de Harvard, 1668.
(Fonte: Coulson, Roberts e Taylor, 2010, p. 09). (Fonte: Turner, 1995, p. 25).
122
O Yale College foi influenciador de outras plantas de prédios construído em uma área totalmente rural, entre dois rios e largas
universitários. E seus edifícios foram projetados para serem plantações (Mahler, 2015, p. 88).
imponentes (Turner, 1995).
99
“Last week to show our patriotism, we gathered all the sterward’s winter store
of tea, and having a fire in the Campus, we there burnt near a dozen pounds (...)”.
123
A Universidade de Virgínia foi fundada por Thomas Jefferson pública, ela buscava oferecer um ensino “separado da doutrina
em 1819. Thomas Jefferson foi grande pensador, principal autor da religiosa, o que fez com que o lugar de destaque de seu câmpus fosse
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, a biblioteca e não mais a igreja” (Pinto e Buffa, 2009, p. 37). Foi a
governador de Virginia e presidente do país. universidade que teve o primeiro projeto completo de campus.
“Um eixo no sentido norte-sul, traçado na planta de
uma antiga fazenda, foi a base do projeto do câmpus
dessa universidade. No final dessa linha, ao sul, foi
definido o local da biblioteca; perpendicularmente a
ela, diversos outros eixos estabeleceram o local dos
demais edifícios que comporiam o câmpus. Estava
determinado mais um novo e inédito espaço para o
ensino e o aprendizado: o câmpus universitário. Uma
iniciativa inédita no que se refere tanto aos planos
educacionais quanto ao espaço destinado à formação
125
universitária e que, posteriormente, foi repetido por escravos a esculpir as colunas, a ordem adotada acabou sendo a
todos os EUA e, em proporções mais modestas, em
outros países” (Pinto e Buffa, 2009, p. 37- 38). jônica (Benevolo, 2014, p. 212).
100
Ele foi diretor do departamento de 1938 a 1958 e “estabeleceu um currículo
baseado na filosofia bauhausiana de sintetizar estética e tecnologia” (Mahler,
2015, p. 97).
128
As mudanças levadas ao Instituto Armour retratam a trajetória Mies recebeu uma área de 485.000 m2 para desenvolver o
da carreira de Mies como acadêmico através de seu período na campus (Ribeiro, A., 2008).
Bauhaus e as influências de outros professores como Gropius, Klee e
Kandinsky. O arquiteto também diz que outra influência foi o projeto
de Jefferson (Ribeiro, A., 2008).
Para o projeto, então, Mies utilizou da “pureza das formas e
dos materiais – ‘less is more’”, isento de ornamentos. O projeto
também tem a proposta de se integrar naturalmente com a cidade,
“livre de portões ou muros” (Ribeiro, A., 2008, p. 113- 114).
“No primeiro esquema, de 1939, as várias seções estão
agrupadas em poucos blocos de construção, dispostos
simetricamente em torno de um vasto espaço fechado
atravessado por uma rua axial, contudo, enquanto a
simetria é rigorosa no ambiente central, nas margens
aparecem alguns desvios cometidos que tiram a rigidez
do conjunto e preparam os anexos com as áreas Figura 41- Planta do campus com as obras de Mies Van der Rohe em
circundantes. No projeto seguinte, de 1940, devendo- destaque, sem data.
se conservar uma segunda rua que cruza com a (Fonte: Ribeiro, A., 2008, p. 138).
primeira no centro do local, perde-se o quadrado
fechado do ambiente central e a composição torna-se
mais articulada. Por último, Mies abandona toda O espaçamento executado entre os edifícios garantiu ritmo e
tentativa de subordinar o conjunto a um quadro visual
unitário, entremeia a composição com uma retícula flexibilidade aos futuros projetos do campus. O resultado do projeto
modular e coloca as várias seções em muitas
construções separadas, distribuídas livremente no foi um campus com uma arquitetura moderna e tecnológica para o
amplo espaço uniforme” (Benevolo, 2014, p. 624).
período, utilizando de materiais como vidro, aço e concreto,
totalmente integrado na malha urbana. O campus torna-se “um
129
fragmento de cidade ideal, onde cada aspecto (...) está submetido a 4.2.3. Christopher Alexander e a Universidade de Oregon:
um controle inflexível” (Benevolo, 2014, p. 626). o campus como uma experiência de projeto participativo
101
Essas comunidades vão além dos campi universitários, podendo ser levada para
qualquer outro local no qual o conceito de propriedade privada tenha sido revisto,
como em hospitais ou cooperativas.
130
organizada em grupos, iria conceber os espaços livres e os projetos A Promenade é a via de circulação central, abrangente e que dá
arquitetônicos 102 pois eram eles que poderiam saber das acesso aos principais edifícios (Alexander et al., 1977).
necessidades do espaço, além de incluída ela deveria se sentir uma
realmente como uma comunidade. Os arquitetos e construtores
agiram mais como técnicos e assessores.
Existiam os padrões 103 , importante para compreender os
problemas e guiar o processo de projetar, trata-se de um conceito
também democrático que auxilia a comunicação de ideias entre os
profissionais e os usuários. Esses parâmetros são subdivididos em
eixos específicos dentro das escalas projetuais: áreas comuns, Figura 43- Projeto das unidades estudantis projetado por Alexander para
a Universidade de Oregon, esse projeto visava a aumentar o senso de comunidade
edifícios, bairros, cidades e regiões104 (Alexander et al. 1977; 1979). do campus, sem data.
Os padrões de Alexander englobam elementos de outras (Fonte: http://www.rainmagazine.com/archive/1994/alexander-visits-
the-oregon-experiment, acessado dia 17 de julho de 2016, as 13:08 horas).
teorias urbanas como as da Cidade Jardins (apresentada no capítulo
2) que inspiraram as áreas externas de encontros e as ruas voltadas
O projeto para o campus, então, mesclou edifícios
para os pedestres que, em Oregon, recebeu o nome de Promenade.
administrativos com os acadêmicos e áreas de estar e convívio105, foi
102 104
Alexander era a favor e utilizou de participações comunitárias para a concepção Foram desenvolvidos duzentos e cinquenta e três padrões por Alexander e sua
de seu projeto em Oregon. equipe, parâmetros esses que descrevem um problema e apresentam núcleos de
103
De seu livro de 1977, Alexander et al., é interessante ressaltar o padrão soluções passíveis de serem resolvidas de maneira democrática e comunitária. É
quarenta e três, a origem do mapeamento de um espaço universitário, que possível utilizar dessas soluções “um milhão de vezes, sem fazê-lo da mesma forma
abrange os espaços físicos e sociais estimuladores da liberdade e individualidade duas vezes” (Alexander et al., 1977).
105
de seus usuários. Neste exemplo, a Universidade de Oregon foi concebida através Alexander utilizou-se do “Princípio da Crescimento Orgânico”, ou seja, a
de pequenas edificações distribuídas por vias de pedestres. flexibilidade do campus e suas atividades se expandirem harmonicamente com o
projeto inicial conforme surgem as necessidades futuras da universidade, uma
131
uma revisão e mudança paradigmática da arquitetura e do urbanismo As principais edificações e prédios administrativos ficavam
modernos, uma nova visão para planejadores de territórios localizados ao longo do cruzamento viário principal, os edifícios de
universitários, uma crítica ao zoneamento e à cidade projetada para aulas e laboratórios estavam dispostos de forma irregular neste
o automóvel106 (Alexander et al., 1979). cruzamento para depois serem espalhados de forma dispersa até se
misturarem com a cidade, permitindo sua integração com a
comunidade.
106
possibilidade menos fechada e rígida do que ocorrem nos planos de expansão; essa A crítica para esse projeto era também a grande escala das obras que deixavam
expansão espontânea respeita as características e preceitos vernaculares de um de levar em conta o entorno e a possibilidade de crescimento ao longo dos anos.
espaço urbano relacionado aos campus. No limite essa perspectiva a crítica ao Moderno e à Modernidade empreendidos
por pensadores de diferentes campos do conhecimento.
132
Com esse ideal para a criação de espaços mais humanos as A Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920, foi a única,
universidades começaram a repensar seus espaços utilizando menos desde então, que se manteve com o nome de ‘universidade’ e a
da monumentalidade e mais de praticidade. primeira a ser criada pelo Governo Federal. As universidades
133
brasileiras, como já citado, nasceram a partir de escolas diretamente na falta de profissionais qualificados para o ensino
preexistentes. A USP, por exemplo, é criada a partir da organização de normal e secundário.
escolas que foram unidas por uma reitoria criada no período. No ano de 1934, Gustavo Capanema tornou-se ministro da
Segundo Pinto e Buffa (2009), até o Estado Novo (1937- 1945) educação e saúde. Neste cargo, Capanema foi responsável por
as universidades eram guiadas pelos modelos europeus, passando, organizar o texto que estabelece as bases para criação da
depois, a seguir os modelos de campi estadunidenses. Universidade do Brasil107. Criada a partir da Universidade do Rio de
Janeiro, a Universidade do Brasil era responsável por formar mão de
obra qualificada que viria a ocupar cargos de magistério e altos cargos
4.3.1. Universidade do Brasil: a Universidade Federal do
públicos, enfim, era responsável pela preparação de profissionais que
Rio de Janeiro e as propostas de Le Corbusier
exerceriam profissões que dependiam do ensino superior. A estrutura
da Universidade do Brasil compreendia os prédios já existentes da
Francisco Campos, em 1931, autorizou a Universidade do Rio antiga Universidade do Rio de Janeiro e novos prédios administrativos
de Janeiro a incorporar em sua estrutura inicial faculdades como (Caram, 2014). Capanema compreendia que o ensino deveria ser
Escola de Minas, Faculdade de Farmácia e também a Escola Nacional absorvido não por memorizações, mas sim através de pesquisas e
de Belas-Artes. Apesar da reestruturação, a Universidade do Rio de práticas, para isso a universidade deveria contar com clínicas,
Janeiro continuou por alguns anos desprovida de uma Faculdade de laboratórios, bibliotecas e museus; esses conjuntos foram chamados
Educação, Ciências e Letras, fato que a descaracterizaria como por ele de ‘Cidade Universitária’ (Pinto e Buffa, 2009).
universidade na acepção do termo. Esta deficiência influenciava
107
Em 1937 a universidade passa a ser chamada de Universidade do Brasil e tinha
a proposta de ser modelo para as outras que viriam a ser criadas no país.
134
Nesse momento os edifícios eram isolados, como os modelos O projeto escolhido foi na Quinta da Boa Vista e contou com
europeus, “criando quadras temáticas, ou parte de bairros três propostas projetuais dos seguintes arquitetos: Le Corbusier, em
caracterizados como núcleos universitários” (Mahler, 2015, p. 117). 1936, a revisão de Lucio Costa e equipe, também no ano de 1936, e o
Em 1935, Capanema revisa o Plano Agache 108 e pede por de Marcelo Piacentini e Vittorio Morpurgo, nos anos de 1937- 1938
novos estudos sobre a viabilidade de realmente inserir a Cidade (Mahler, 2015).
Universitária na Praia Vermelha; foram apresentados dois projetos:
“um pelo arquiteto Evaristo Sá, outro proposto pelo engenheiro José
Otacílio Saboya Ribeiro” (Alice, 2004, p. 26 apud Mahler, 2015, p.
117). Foi criada então uma comissão técnica para realizar estudos e
projetos para a universidade.
A equipe, composta por Lucio Costa, Paulo Fragoso, Afonso
Eduardo Reidy, Angelo Bruhns e Firmino Saldanha.
“Contrariando as hipóteses de localização então em
discussão – Praia Vermelha e Quinta da Boa Vista -, a
equipe de Lucio Costa apresentou, em junho de 1936,
uma terceira e inusitada proposta para um campus em
palafita sobre a lagoa Rodrigo de Freitas –
prontamente rechaçada e sobre a qual se desconhece
qualquer registro gráfico. Essa surpreendente proposta
(...) foi vetada por motivos técnicos” (Mahler, 2015, p.
118).
108
“O plano Cidade de Rio de Janeiro: extensão, remodelação e embelezamento, a Praia Vermelha como bairro acadêmico como previa a construção integral de
desenvolvido pelo urbanista Alfred Agache entre 1929 e 1930, não só consagrava uma cidade universitária” (Mahler, 2015, p. 117).
135
Atualmente a universidade participa da malha urbana, assim 4.3.2. A Universidade de São Paulo e a Cidade
como outras universidades brasileiras que inicialmente foram criadas Universitária ‘Armando de Salles Oliveira’
distantes das cidades. Se a proposta da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, UFRJ, era ser um modelo de Cidade Universitária, isso não
No processo de fundação das universidades no início do século
ocorreu especialmente por falta de infraestrutura que promovesse ao
XX, a USP se enquadrava no projeto político da oligarquia paulista que
espaço sua projetada autossuficiência. Apesar disso a proposta para
pretendia construir na capital uma instituição de ensino de nível
o campus da UFRJ materializa a modernidade em nosso território,
superior, moderna e dedicada à ciência e à pesquisa. A condição
como a racionalização do espaço, os eixos e até mesmo as áreas
econômica favorável do Estado de São Paulo contribuiu diretamente
verdes. para a implantação da universidade. Outro importante fator foi a
existência de boas escolas primárias que criaram a demanda por
instituições de ensino secundário e superior.
Como já apresentado anteriormente, na cidade de São Paulo
foi inaugurada, em 1873 a Sociedade Propagadora de Instrução
Popular cujo objetivo era especializar a mão de obra industrial, essa
instituição democratizou o ensino. Em 1882, a Sociedade passa a ser
chamada de Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e inicia o ensino
profissional voltado às oficinas, comércio e lavoura. Em seu currículo,
entre disciplinas técnicas, exatas e artísticas.
Figura 51- Vista e planta da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sem
data. Com a proclamação da República, o Liceu passa por crises
(Fonte:
http://www2.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/519GelsonAlmeidaPinto_Est financeiras. No ano de 1895 o engenheiro-arquiteto Francisco de
erBuffa.pdf, acessado dia 14 de julho de 2016, as 16:10 horas).
139
Paula Ramos de Azevedo torna-se diretor e promove grandes 1894, que visava o ensino técnico voltado para a agricultura, a
reformas no ensino da instituição. A partir do Liceu surge o que indústria e a construção. Foram então criados os cursos de
resultou na Escola Politécnica de São Paulo (Costa, 2008). engenheiro civil, industrial e agrícola, além de um curso de mecânica
Com o aumento da industrialização, no final do século XIX, e o para quem não tivesse formação colegial (Costa, 2008).
consequente aumento populacional causado por migração e A década de 1930 foi importante para a Escola Politécnica que
imigração, houve o crescimento das cidades do estado de São Paulo passa a ser incluída nas escolas que iriam compor a Universidade de
e a necessidade de ampliação e melhoramento da infraestrutura. São Paulo, USP, em 1934109 (Domschke, 2007).
A criação da Escola Politécnica de São Paulo foi a resposta do O modelo da USP foi inspirado no de campus estadunidense.
Estado e da capital de se adaptarem às mudanças causadas pela “A centralização dos elementos componentes da nossa
instituição, em um ou mais campus, constitui, sem
Segunda Revolução Industrial. A isso se associa a necessidade de dúvida, o fator máximo determinante do progresso e
desenvolvimento que o poder atual e potencial do
realização de melhoramentos urbanos para o desenvolvimento das nosso grande centro de estudos exige para a formação
de um ambiente comum, homogêneo e de maior
cidades. Esse contexto criou uma demanda por novas posições em produção. Além do mais, muitas das escolas (...) mal
relação ao ensino profissional, principalmente na área de Engenharia instaladas em prédios adaptados e inconvenientes ou
mal localizados em pleno centro urbano (...) terão, com
Civil e Arquitetura (Caram, 2014). a concentração em um campus-parque, amplo espaço
de trabalho, em edifícios especificamente construídos
Com o aumento da industrialização, no fim do século XIX, e o para cada uso, em local arejado e agradável, tanto para
o estudo como para o convívio social e esportivo. (...)
consequente aumento populacional causado por migração e depois de um longo período de propaganda e de
projetos, surge o grande campus do Butantã, onde se
imigração, houve o crescimento das cidades do Estado de São Paulo concentrarão, em vasto e arborizado parque, todas as
e a necessidade de ampliação e melhoramento da infraestrutura. outras unidades universitárias (...). Constituirão
impressionante centro universitário para a maior glória
Assim é criado o primeiro regulamento da Escola Politécnica, em de São Paulo e do Brasil” (Campos, 2004, p. 152-153).
109
A USP foi criada pelo Decreto n. 6.283 de 25 de janeiro de 1934 (Caram, 2014).
140
A construção da Cidade Universitária deu-se em 1935 porém, 160). Isso corrobora com a afirmação do modelo de Campus
com o golpe de Estado em 1937, os projetos para a construção do explicitado.
espaço universitário da USP foram deixados de lado até 1940 quando A construção da Cidade Universitária da USP passou por
o Escritório de Obras especificou o plano urbanístico para a área problemas de repasse de verba, mas, ainda assim, ocorreu no ano de
(Mahler, 2015). 1945 um concurso para a elaboração de todo o projeto do campus; o
Em 1942, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas foi transferido vencedor foi o engenheiro-arquiteto Hipólito G. Pujol Júnior e equipe,
para a Cidade Universitária sendo oficialmente o primeiro edifício com o projeto denominado ‘Accuratus’.
construído no campus, algumas melhorias como a retificação do Em 1948 é criada uma nova comissão composta por Ernesto
Ribeirão Jaguaré e a construção de uma estação de fornecimento de de Souza Campos, Luis Inácio de Anhaia Mello, Adriano Marchini, José
energia elétrica foram realizadas (Mahler, 2015). M. da Silva Neves e Christiano S. das Neves.
As primeiras propostas para o campus da USP era “concentrar As obras para a Cidade Universitária foram um laboratório
os diversos edifícios em um campus-parque, que seria um ‘amplo para a arquitetura moderna e uma nova linguagem estética (Caram,
espaço de trabalho, em edifícios especificamente construídos para 2014).
cada caso, em local arejado e agradável, tanto para o estudo como Já no ano de 1951 são abertas novas ruas e avenidas e criadas
para o convívio social e esportivo’”. Era proposto então uma novas praças, novos prédios foram construídos para “assegurar a
centralização dos edifícios e atividades universitárias “dispostos em ocupação da gleba” (Mahler, 2015, p.135).
parques amplos e bem arborizados (...) convidativo a uma “A região da cidade universitária é configurada por
uma grande área plana, ao lado do Rio Pinheiros e, do
permanência mais prolongada, (...) elemento de valor inestimável lado oposto do terreno, apresenta suaves elevações. A
região próxima ao rio foi drenada, aterradas em
para a formação do espírito universitário” (Campos, 2004, p. 152- algumas partes e a princípio reservada para a formação
de um lago, proposta posteriormente reavaliada,
tornando-se o lago uma raia olímpica. As ruas nessa
região plana foram definidas a partir do eixo do rio,
141
paralelas e de largura generosa. Travessas centro do campus, que seria o centro de edifícios isolados, teria a
perpendiculares formavam uma grade ampla que
definia regiões para a instalação de edifícios. As áreas possibilidade de crescimento.
destinadas aos esportes foram, por suas necessidades
e características, implantadas nessa região plana e
próxima ao rio. Entre essa área plana e o início das
pequenas colinas foi proposta a entrada principal da
Universidade: uma via que conduzia diretamente ao
cuore da cidade universitária. Um centro cívico foi
projetado por Rino Levi e Cerqueira Cesar. O conjunto,
que era formado pela torre universitária, reitoria,
teatro universitário e biblioteca, ficaria disposto ao
redor de uma praça triangular e contaria com um
paisagismo proposto por Burle Marx. (...) Na região das
colinas, o arruamento seguia um desenho mais
orgânico segundo a topografia criando, ao mesmo
tempo, regiões, setores para a instalação de novas
unidades acadêmicas” (Pinto e Buffa, 2009, p. 78). Figura 52- Projeto para a Cidade Universitária, 1945.
(Fonte: Pinto e Buffa, 2009, p. 84).
Segundo Pinto e Buffa (2009, p. 80), a USP até o ano de 1955
contou com a proposta de dez projetos distintos que não foram
aceitos. Após essa data o arquiteto Hélio Duarte “apresentou uma
proposta de planejamento da cidade (...) que tentava dar
continuidade (...)para o plano da universidade”. A proposta previa
várias mudanças e adaptações do projeto aprovado anteriormente
inspiradas nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, de
1951, inclusive a construção de projetos de Oswaldo Bratke e Rino
Levi, além de uma maior integração à cidade. Nesta proposta, o
Figura 53- Projeto vencedor para a Cidade Universitária, sem data.
(Fonte: Pinto e Buffa, 2009, p. 86).
142
110
O FUNDUSP foi criado em 1960 e contou com Paulo Camargo e Almeida como após ser remodelado em 2002, tornou-se o COESF, Coordenadoria do Espaço Físico
seu diretor executivo. Em 1970 o FUNDUSP publicou manuais que padronizavam (Pinto e Buffa, 2009).
os elementos construtivos e suas dimensões para edifícios de ensino. O FUNDUSP,
143
4.3.3. A Universidade de Brasília: um novo modelo que Essa nova mentalidade acerca do papel da universidade no
une o espaço universitário e o modelo de ensino país fomenta, em 1960, a criação da Universidade de Brasília, UnB. A
UnB foi implantada, em 1962, por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira
O golpe militar brasileiro ocorrido no ano de 1964 e a Reforma (Pinto e Buffa, 2009). A UnB é característica e inovadora não só por
Universitária de 1968 contribuíram para a modificação do modelo ter nascido de projetos e não de escolas que já existiam, mas pelo
universitário vigente até então. programa criado por Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e equipe que
A Reforma Universitária foi importante para que fossem propôs a implantação do campus de acordo com o programa
Pinto e Buffa (2009, p. 107), foi depois da Segunda Guerra que o país A UnB nasce uma maneira inédita e peculiar: foi totalmente
começou a compreender a instituição de ensino superior “como uma planejada, desde o seu início, seguindo propostas modernas, e não
estratégia para produzir o conhecimento necessário ao criada, como outras, a partir da justaposição de escolas já existentes.
desenvolvimento científico e tecnológico”, além da pesquisa como A UnB também não utilizou de sistemas de cátedras e do controle de
uma das atividades mais importantes das universidades. departamentos, permitindo toda uma nova configuração espacial.
Foi nesse momento, também, que importantes agências de Assim, o espaço físico da nova universidade deveria traduzir
fomento à pesquisa como o Conselho Nacional de Desenvolvimento suas propostas de maneira interdisciplinar e integrada. Seu projeto foi
Científico e Tecnológico, CNPq, e a Coordenação de Aperfeiçoamento modificado diversas vezes durante o regime militar.
de Pessoal de Nível Superior, CAPES, fundadas em 1951, e a Fundação Originalmente, Lucio Costa havia proposto, no plano de
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, fundada em Brasília, que a construção do campus fosse inserida no tecido urbano
1962, foram criadas (Pinto e Buffa, 2009). entre a asa norte e o lago Paranoá; pela proximidade do terreno com
144
os prédios dos órgãos administrativos, a ideia foi barrada por motivos instalados antes das faculdades, que só poderiam
iniciar suas atividades dois anos após a inauguração
que o governo, no momento, julgou de segurança. dos cursos básicos” (Universidade de Brasília, 2007
apud Pinto e Buffa, 2009, p. 122).
ensino superior aberto à população também falharam, talvez porque “Gosto de dizer, para divertir os amigos, que foi por
preguiça que Oscar projetou o Minhocão tal qual ele é:
a cidade fosse enfim mais atrativa, graças aos seus inúmeros espaços 780 metros de comprimento por 80 de largura, em três
níveis. A verdade que há nisso é só que Lúcio Costa
livres verdejados (Pinto e Buffa, 2009). previa no plano urbanístico no campus da UnB oito
áreas para os Institutos Centrais, cada uma delas
contando com edifícios especializados para
anfiteatros, salas de aula, laboratórios,
departamentos, bibliotecas, etc. No total, somaria para
mais de quarenta edificações que deveriam ser
projetadas e construídas uma a uma. Oscar resumiu
tudo isso num edifício só, composto por seis
modalidades de construção, que permitiriam
acomodar num conjunto qualquer programa de
utilização. Ao fazê-lo porém, renovava a arquitetura
das universidades, dando um passo decisivo, no
sentido do que viriam a ser, depois, as universidades
que ele desenhou pelo mundo”111.
Figura 57- Projeto de Oscar Niemeyer e equipe para o Instituto Central de
Ciências, sem data.
(Fonte:
Apesar de ainda inacabado, o ‘Minhocão’ é atualmente um
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.184/5684, acessado dia “elemento organizador do campus (...), a partir do qual foram
24 de julho de 2016, as 13:45 horas).
distribuídas as demais edificações” (Mahler, 2015, p. 261).
Entre 1969 e 1970, agora com outra equipe sem Niemeyer,
A implantação de Niemeyer era mais sintética, organizada e
foram propostas novas diretrizes para o campus: o alojamento dos
com propostas mais definidas, os edifícios estavam mais próximos uns
alunos passa a ficar próxima a área de esportes e de uma nova área
dos outros e localizados em lotes definidos por atividades. (Pinto e
com restaurantes, lazer e estar. Apesar de existir uma equipe de
Buffa, 2009).
111
Darcy Ribeiro em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.184/5684, acessado
dia 24 de julho de 2016, as 13:49 hrs.
146
Se o moderno e a modernidades foram a pauta da construção essa não se completa sem incluir toda a comunidade interna e externa
em um período de ruptura com o campus histórico, a perspectiva de maneira que estejam unidas pela promoção do bem estar da atual
contemporânea apresenta novos desafios e, por esse motivo é tão e futuras gerações (Disterheft et al, 2012).
importante as iniciativas ligadas à sustentabilidade dentro dos Autores que tratam sobre a sustentabilidade no ensino
espaços universitários. superior afirmam que uma universidade sustentável deve abranger a
O campus universitário possui uma grande responsabilidade educação, a pesquisa, a gestão do campus, a extensão, as diretrizes
em termos de impactos ambientais, sociais, culturais e políticos, institucionais e as vivências dentro do campus de acordo com as
influenciando, principalmente através de sua população e usuários, a dimensões sustentáveis.
cidade onde está inserida. Velazquez et al. (2006, p. 811) explicam o termo ‘Universidade
Os territórios universitários podem ser compreendidos como Sustentável’ como uma instituição de ensino superior que esteja
pequenos núcleos urbanos compostos por complexas infraestruturas comprometida com a mínima geração de impactos ambientais,
e distintas atividades que impactam e demandam recursos naturais. sociais, econômicos e de saúde que ocorrem como consequência de
Para um campus ser considerado sustentável é preciso que suas atividades e que, além disso, também é uma instituição que se
esse ideário seja associado tanto à questões operacionais quanto as preocupa em auxiliar a comunidade durante o processo de adoção de
do ensino, da pesquisa e da gestão institucional. Em outras palavras, posturas sustentáveis.
o foco não está apenas nas questões energéticas, de recursos ou de Segundo Ferrer- Balas et. al.(2008) as características principais
resíduos, todas essas questões se relacionam à sustentabilidade, mas para uma universidade sustentável são: uma educação
151
transformativa que prepara estudantes para desafios sustentáveis “Uma instituição de ensino superior, como um todo ou
em parte, que busque a promoção, a nível regional ou
complexos, uma forte influência em ciência e pesquisa trans e
global, da minimização de impactos negativos
interdisciplinar, orientação para solução de problemas sociais, redes
ambientais, sociais, econômicos e à saúde gerados pelo
de contatos por todo o campus que possam trocar experiências, uso dos seus recursos quando do cumprimento de suas
líderes e visionários que irão apresentar os desafios aos estudantes e funções de ensino, pesquisa, extensão e manutenção
112
Segundo Bonett et al. (2002), o consumo per capita de água no campus de uma bastante preocupante e que escancara a urgente necessidade das universidades
universidade próxima a Bordeaux, França, é maior do que a média urbana, fator reverem suas posições em relação ao meio ambiente.
152
formalização do compromisso da instituição com a sustentabilidade 5.1. Diretrizes para a promoção da Sustentabilidade em
(Lozano et al., 2014); (2) a preocupação dos gestores e líderes com o um campus
tema; (3) o estabelecimento de uma forma consistente de avaliar o
desempenho institucional em relação à sustentabilidade (Amaral et O campus que deseja ser sustentavelmente responsável deve
al., 2015); (4) a participação dos professores e funcionários; (5) e a ‘pensar globalmente e agir localmente’, ou seja, deve começar
inclusão da sustentabilidade nos currículos. pensando em seu espaço físico e suas áreas vizinhas de influência
Já alguns fatores são catalizadores no processo de direta para depois interferir e adaptar seus métodos de ensino,
implantação da sustentabilidade em universidades (Ferrer-Balas et al. disciplinas, pesquisa, projetos de extensão e gerenciamento.
2008): as lideranças visionárias que se apropriam de projetos e Segundo Oliveira (2009, p. 24) não é mais suficiente apenas as
responsabilidades fazendo com que os projetos aconteçam, os ações locais para a resolução da crise ambiental, é preciso associar
profissionais que atuam como “lobos solitários” na universidade com iniciativas públicas e privadas que visam a “sustentabilidade
tentando promover a mudança em seu campo de atuação, as pessoas ambiental, social e econômica”.
que servem de conexão entre profissionais que atuam sozinhos em As universidades e seus campi devem estar preparadas para
diferentes grupos, o tamanho da universidade que pode dificultar o receber e formar seus alunos a partir de posturas e ensinamentos
processo, a existência de um órgão para cuidar da sustentabilidade, práticos e teóricos voltados para a sustentabilidade.
pressão por parte de instituições externas à universidade e, por fim, Alguns objetivos e medidas foram alinhados durante a
financiamento externo com objetivo de desenvolver projetos. Conferência em Desenvolvimento Humano, 1972, e a Conferência do
Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992, e que são possíveis aplica-
los ao ensino, pesquisa, extensão e gestão institucional de
153
universidades, antes mesmo de se pensar no espaço físico da Para Lozano (2006) o monitoramento e a avaliação das ações
universidade (Tabela 4). sustentáveis são essenciais para a transição de um campus para um
A Auditing Instrument for Sustainability in Higher Education, campus sustentável.
criada pela Fundação Europeia de Gestão da Qualidade considera As principais estratégias utilizadas na Europa que inseriram a
cinco pontos primordiais para a promoção da sustentabilidade em sustentabilidade em seus campi são a top-down, ou de cima para
universidades: (a) a criação de atividades pontuais e isoladas; (b) baixo, denotando poder centralizado e não consecutivo, e a
criação de atividades coletivas de curto prazo; (c) criação de ações participativa, a principal conclusão tirada dessas estratégias é que a
sistêmicas de médio prazo e com metas estabelecidas; (d) criação de ação participativa é mais abrangente pois visa a melhoria ambiental
ações de longo prazo voltadas para atuadores externos; (e) criação de da instituição e a melhor maneira de incorporar a sustentabilidade em
ações a longo prazo voltadas para a sociedade e com avaliação vários níveis de atuação no campus, principalmente na questão da
externa (Roorda, 2001). formação estudantil (Disterheft et el., 2012).
Já Velasquez et al. (2006) apresenta quatro fases para a Distintos autores analisam a transição das universidades, o
promoção da sustentabilidade em um campus: (a) o desenvolvimento fator que mais dificulta a implementação e institucionalização é a
de uma visão acerca da sustentabilidade para toda a universidade; (b) resistência às mudanças e à inovação, as barreiras institucionais
a inclusão da sustentabilidade nas missões e objetivos institucionais; criadas em relação às mudanças, a limitação ou incompreensão que
(c) a criação de um comitê voltado para a sustentabilidade cujo os gestores têm sobre conceito de sustentabilidade e os problemas
objetivo é o estabelecimento de políticas, objetivos e coordenação de na condução do processo participativo para a institucionalização da
iniciativas; (d) a implementação de estratégias sustentáveis voltadas sustentabilidade. Por outro lado, existem os fatores que contribuem
para a educação, a pesquisa, as atividades de extensão e a gestão do para a institucionalização da sustentabilidade que é a formalização do
campus. compromisso da universidade com a sustentabilidade, o
154
compromisso dos gestores com o tema, a criação de uma forma de Desenvolvimento Desenvolvimento de especialistas que os
avaliação e desempenho institucional em relação à sustentabilidade, (1991)- Relatório do Sustentável. aconselhem nas
Comitê Preparatório universidades, institutos
processo participativo para a implementação da sustentabilidade e a
de pesquisa, entre
inclusão da temática nos currículos de forma crítica, ampla, outros.
transversal, interdisciplinar e completa (Lozano, 2006; Pereira et al., Conferência do Meio Fortalecer o Intercâmbio de
2013; Wright e Horst, 2013; Disterheft et el., 2014; Lozano et al., Ambiente e desenvolvimento de conhecimento científico
2014; Burford et al., 2013; Amaral et al., 2015; Disterheft et el., 2012; Desenvolvimento competências para o e tecnológico.
(1992)- Declaração do Desenvolvimento Desenvolvimento,
Brinkhurst et al., 2011; Levy e Marans, 2011; Segalàs et al., 2012).
Rio Sustentável. adaptação, difusão e
A tabela a seguir apresenta as ações iniciais apresentadas pela
transferência de
ONU às universidades que almejam alcançar a sustentabilidade, tecnologias, incluindo as
através da apresentação de documentos importantes, seus objetivos novas e inovadoras.
Conferência do Meio desenvolvimento Para a melhor compreensão de quais são as diretrizes para a
Ambiente e humano. promoção da sustentabilidade em um campus são apresentadas de
Desenvolvimento Gerar e disseminar Produção de avaliações
maneira mais completa as quatro linhas utilizadas para a
(1992)- Agenda 21 conhecimento e científicas de longo-
transformação e promoção de um território universitário sustentável
informação em prazo sobre o consumo
Desenvolvimento de recursos, uso da que são: (a) o compromisso institucional; (b) o planejamento físico;
Sustentável. energia, impactos na (c) a gestão institucional e (d) o ensino para a sustentabilidade.
saúde e tendências
demográficas, a tornar
públicas em formas
5.1.1. Compromisso Institucional
amplamente
compreendidas. É imprescindível que haja por parte da gestão institucional a
Educar todos para o Desenvolvimento de
consciência, compreensão e compromisso com todas as vertentes da
Desenvolvimento programas de educação
sustentabilidade.
Sustentável. em ambiente e
desenvolvimento Distintos autores (Barbieri, 2007; Donaire, 1995; Oliveira,
(acessível a pessoas de 2006; PNUMA, 1999; Seiffert, 2007; Tinoco e Kraemer, 2007; Oliveira,
todas as idades). 2009) e a norma ISSO 14.001 falam sobre a importância do
Incentivos dos países às
comprometimento da gestão de ensino superior para a promoção da
universidades e a redes
sustentabilidade em um campus pois são eles os responsáveis pela
de trabalho neste
âmbito. viabilização de recursos, pessoas e tempo.
Tabela 4- Sinais iniciais apresentados pela ONU às universidades Esse compromisso é frisado pela participação dos membros da
sustentáveis (1972- 1992).
(Fonte: adaptado de Oliveira, 2009, p. 29). gestão em discussões sobre a sustentabilidade no campus.
156
Além disso a gestão é responsável por outro importante fator O organograma apresentado foi criado a partir de iniciativas
que é a definição de uma política de avaliação ambiental para a implantadas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e que
instituição de acordo com a NBR ISSO 14.001, essa política deve serve como importância referência; o organograma foi criado de
englobar a natureza e a comunidade presente no campus. maneira genérica pelo autor citado para poder ser adaptado por
Segundo Oliveira (2009) apresenta um organograma viável a qualquer reitoria universitária que deseje criar os comitês
ser implantado por uma gestão institucional que almeja transformar apresentados para iniciar as ações voltadas para a sustentabilidade
seu campus em um espaço sustentável: no campus113.
O autor exemplifica na tabela a seguir as propostas de
formação e ações para cada comitê:
Órgão Composição Função
Comitê Reitor, Vice-Reitor, Orientar de forma geral a
Diretor Coordenador de Gestão implantação do Sistema
Ambiental, Pós- Reitores e de Gestão Ambiental,
Secretários, outros como a aprovação de
representantes Normativas e Diretrizes, e
demais ações visando sua
execução
Figura 62- Organograma estrutural adaptado da Universidade Federal do Coordenação Coordenador de Gestão Possui caráter executivo,
Rio Grande do Sul.
Executiva Ambiental, um devendo implantar o
(Fonte: Oliveira, 2009, p. 29).
Coordenador Adjunto e Sistema de Gestão
demais Coordenadores Ambiental, através do
dos Órgãos e Projetos desdobramento dos
113
Ainda segundo o autor (Oliveira, 2009), cada comitê possui sua função
determinada com atribuições e áreas de atuação.
157
Comprometimento da Prover a instituição dos recursos O planejamento físico de um campus engloba a infraestrutura,
alta administração necessários para a implantação da
gestão ambiental. Assumir a
edifícios, vias, áreas verdes e espaços vazios. Esses espaços devem
dimensão ambiental na estratégia estar integrados com as políticas educacionais e sociais para a
organizacional
Estrutura Organizacional
promoção da sustentabilidade.
Política ambiental Definir a política ambiental da Para um campus ser sustentável é preciso que a
instituição, demonstrando o
sustentabilidade esteja aplicada de maneira inter e multidisciplinar
compromisso com o atendimento aos
requisitos legais e com a melhoria durante os processos de planejamento.
contínua
Universidades que estão construindo novas instalações
Organograma Definir os elementos e o papel de possuem a oportunidade de optar por um estilo de construção
cada um deles dentro da
sustentável, que respeite as interações sociais, e que possuam um
coordenação da gestão ambiental
sistema de gestão mais sustentável levando em consideração a
Formação de agentes Capacitar as pessoas para atuarem
questão ambiental.
com responsabilidade ambiental e
formar colaboradores para a gestão Para Fowler e Aguiar (1995 apud Oliveira, 2009) é preciso
ambiental considerar de maneira igualitária os aspectos ambientais, sociais e
Tabela 6- diretrizes para a concretização do compromisso institucional.
(Fonte: Oliveira, 2009, p. 56). econômicos durante o planejamento do campus. Sotelo e Sal (2008
apud Oliveira, 2009) afirmam que o planejamento de campus que leva
em conta as questões ambientais e territoriais preserva a formação
integra do ser humano. Ambos afirmam que o planejamento do
159
território universitário sustentável deve se preocupar além da (Fonte: http://visitasalcala.es/, acessado dia 04 de setembro de 2016, as
20:54 hrs).
questão do espaço físico, levando em grande consideração na
Outro exemplo apresentado por Oliveira (2009, p. 57) é a
qualidade desses espaços que acabam por também influenciar o
reconfiguração do campus da Universidade de Tecnologia Chalmers,
ensino. O importante é harmonizar o meio ambiente, o ensino e a
Suécia, que sofreu uma modificação baseada em “re-engenharia
arquitetura.
ecológica” onde os estacionamentos que antes eram pavimentados
A Universidade de Alcalá, na Espanha, adotou posturas em seu
campus integradas com o meio ambiente: passaram a ser áreas verdes, excluindo os perigos do tráfego e das
“como as lagoas que ajudam a regular o microclima;
edifícios eficientes do ponto de vista energético (...) e emissões de poluentes. Os alunos passaram a utilizar das áreas
que empregam materiais reciclados; e a escolha
correta das espécies utilizadas na arborização (...)
verdes, que agora são um espaço mais limpo e seguro, como um
escolhidas a partir de condições locais, a fim de espaço de descanso e lazer.
transmitir valores locais e serem sustentáveis,
precisando de quase nenhuma manutenção. Sua
disposição inteligente em todo o campus pode ser uma
ferramenta para fornecer sombras” (Sotelo e Sal, 2008,
p. 07 apud Oliveira, 2009, p. 57).
Os exemplos apresentados mostrar a relação entre os local, aqui é um exemplo da importância da aplicação do Plano Diretor
aspectos físicos, biológicos, sócio-econômicos e de gestão de campi. Universitário.
Compreendendo o campus como uma pequena cidade cujas O campus também não deve deixar de ser um local que receba
atividades, estrutura, uso de água, diversidade ecológica, e acolha a população vizinha, vivendo harmonicamente com a
empobrecimento dos solos, desmatamentos, tráfego, esgoto, dinâmica urbana e se relacionando com seu entorno.
resíduos, abastecimento de água, instituições e valore sociais A tabela a seguir apresenta as diretrizes para o planejamento
impactam não só o meio ambiente, mas também a cidade onde está físico de um campus sustentável.
inserido, a importância do planejamento sustentável é imprescindível
Diretrizes Ações
para o alcanço de um equilíbrio.
Considerar a variável Definir o ordenamento ambiental e
É preciso que o campus também se preocupe com o controle ecológica na gestão do territorial dentro de um Plano diretor,
e o tratamento da poluição visando reduzir os impactos ambientais espaço considerando o campus universitário
como um núcleo urbano integrado à
gerados por ele como a instalação de Estações de Tratamento de
malha local, em sintonia com a
Efluentes, o tratamento de emissões atmosféricas resultantes de usos organização e dinâmica da cidade
Uso e ocupação do solo Conciliar o atendimento das
laboratoriais, restaurantes, veículos e resíduos sólidos, entre outras
necessidades institucionais com a
iniciativas. qualidade ambiental, respeitando
Um campus normalmente ocupa um grande terreno urbano e também as relações sociais
Implantação e preservação Considerar sua importância para a
que, resultante do crescimento das cidades, acaba sendo rodeado por de áreas verdes regularização do microclima, qualidade
edifícios comerciais e residenciais; esse fato somado à especulação do ar, aspectos culturais, lazer, áreas
para reflexão e interiorização
imobiliária acaba por reduzir os espaços verde e aumentar o trânsito
Edificações ecoeficientes Implantar técnicas e tecnologias para o
conforto térmico, principalmente por
meio de recursos passivos climáticos
161
desenvolver fornecedores que adotem boas práticas Em 1989 o Programa das Nações Unidas para o Meio
de gestão ambiental, que se encontrem legalmente
habilitados (licenciamento ambiental e demais Ambiente, PNUMA, propôs o programa Produção Mais Limpa, que
autorizações pertinentes) e comprometidos com a
sustentabilidade de suas atividades. A variável visava a aplicação de uma estratégia ambiental integrada a processos,
econômica, de uma forma geral, é preponderante na
tomada de decisão, envolvendo compras e
produtos e serviços cuja finalidade é reduzir os riscos à humanidade
contratações de serviços. Todavia, (...) o menor preço e ao meio ambiente. Para tudo isso seja possível, a Produção Mais
para a instituição poderá estar relacionado com um
maior custo ambiental e social (...). A sustentabilidade Limpa deve envolver o uso de novas tecnologias para a elaboração de
deve buscar o equilíbrio entre a eficiência econômica e
ambiental, com justiça social. E por isso, a necessidade produtos e processos, mudanças de atitudes e o uso de ‘boas práticas’
de desenvolver redes de fornecedores sustentáveis é
uma questão evidente na gestão ambiental de produção (PNUMA, 1999).
universitária que favorece, além da adequação da
instituição, a promoção do comprometimento com a
Assim, a gestão de resíduos sólidos precisa englobar a redução
sustentabilidade nos demais elementos ao longo da de sua geração com técnicas simples; laboratórios, restaurantes,
cadeia de processos” (Oliveira, 2009, p. 65).
oficinas, obras e oficinas devem aplicar as técnicas para reduzir seus
É possível que as ações adotadas sejam as inspiradas por
resíduos e seus consumos de materiais e energia.
modelos que já foram aplicados e foram um modelo de sucesso em
Os materiais perigosos a serem descartados, como lâmpadas,
outras instituições, é a Produção Mais Limpa, PML. Juntamente com
óleos e resíduos químicos devem ser:
a Prevenção da Poluição, essas gestões conjuntas cumprem as
“classificados conforme a NBR 10004114 e os resíduos
necessidades ambientais e garantem a promoção do de serviço de saúde, devem ser separados,
armazenados, transportados e destinados
desenvolvimento sustentável. corretamente, conforme normas técnicas e legislação
114
A Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, criou a Norma Brasileira, características e com a comparação destes resíduos com listagens de resíduos e
NBR, 10004 em 2004 que classifica os resíduos sólidos; as NBR 10005, 10006 e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido (pera maiores
10007 apresentam os procedimentos para a obtenção de extrato lixiviado de informações acessar
resíduos sólidos, para a obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos e http://www.abetre.org.br/biblioteca/publicacoes/publicacoes-
amostragens de resíduos sólidos. As classificações dos resíduos ocorrem de acordo abetre/classificacao-de-residuos)
com os processos ou atividade que lhes deram origem, seus constituintes e
163
pertinentes. Os resíduos recicláveis devem ser aumentando sua eficiência e racionando seu consumo. Para que isso
destinados para tal” (Oliveira, 2009, p. 66).
ocorra de forma efetiva é necessário um bom planejamento da
Reciclar materiais é também uma iniciativa positiva para
infraestrutura e o estabelecimento de edifícios ecoeficientes, que
favorecer os aspectos sociais e econômicos ligados à
além da preocupação com o consumo energético também devem (re)
sustentabilidade. As instituições de ensino superior através do
aproveitar a água seja de chuva ou utilizada no próprio edifício.
incentivo da reciclagem apoiam famílias envolvidas com esse tipo de
Oliveira (2009) também fala sobre a manutenção da qualidade
trabalho, além de poderem colaborar com ensinamentos de gestão,
do ar nos campi a partir de ações redutoras de poluição em todas as
cooperativismo e liderança (Oliveira, 2009).
áreas do território universitário, sobretudo no trânsito de veículos
Outra iniciativa importante citada pelo mesmo autor é o uso
comunitários, como ônibus, que ao utilizarem de biocombustível ou
da compostagem dos resíduos orgânicos provenientes de espaços de
reajustando seus motores reduzem a quantidade de poluentes, para
alimentação e jardinagem que resultam em adubo para as áreas
veículos particulares a conscientização e atividades educativas são de
verdes.
importância fundamental. Um exemplo sempre citado e muito
Os campi também devem contar com estações de
importante é a uso amplo de caronas solidárias, bicicletas e
tratamentos de efluentes para esgotos provenientes não somente de
caminhadas, mais uma vez ações universitárias são importantes para
sanitários, mas de laboratórios e outras instalações do campus, para
viabilizar a segurança dessas duas últimas opções.
evitar a poluição de rios e sobrecarga das estações municipais de
A conservação e tratamento das áreas verdes também não
tratamento de esgoto. Essas estações para tratamento de esgotos
deve ser deixada de lado, é vital inclui-la no Plano de Manejo do
universitários também podem ser vistas como um laboratório para
campus com ações como:
alguns cursos (Oliveira, 2009). “inventário florestal, definição de áreas a serem
Outra ação importante é o controle do consumo de energia a preservadas, cercamento e sinalização dessas áreas,
substituição de espécies exóticas paisagísticas ou
partir de adequação de aparelhos eletrônicos e lâmpadas, invasores por espécies nativas de valor regional,
164
recomposição e recuperação de áreas degradadas, O ensino só poderá ser revisto após a reorientação das
implantação ou adequação da arborização viária com
espécies nativas, estabelecimento de medidas disciplinas e criando novos modelos maleáveis para que, finalmente,
compensatórias para os casos de supressão vegetal
(...), além das medidas de educação ambiental da possa ser possível solucionar os problemas ambientais e modificar as
comunidade universitária” (Oliveira, 2009, p. 70).
práticas sociais que não estão compatíveis com as vertentes
sustentáveis.
5.1.4. Ensino para a Sustentabilidade As instituições de ensino superior ainda são muito pobres em
relação ao ensino voltado para a sustentabilidade.
Para Fouto (2002), a universidade tem um importante papel Nesta questão, as universidades encaram grandes desafios
em relação ao Desenvolvimento Sustentável para a produção de que á a formação de profissionais capazes de atuarem de forma
conhecimentos e soluções aos problemas enfrentados neste sentido; interdisciplinar em distintas áreas de conhecimento e que sejam
essa solução deve vir em forma de pesquisas que geram capazes de apresentarem soluções para os problemas ambientais
novas tecnologias voltadas à sustentabilidade, através de redes de São as universidades importantes instrumentos da transição
trabalhos. Além da pesquisa e de projetos de extensão, o ensino para uma sociedade sustentável. Uma universidade sustentável deve:
voltado para a sustentabilidade é importante e fundamental. (a) “Assumir sua função social”; (b) Incluir as vertentes sustentáveis
Assim, a universidade deve ensinar seus estudantes e em todas as disciplinas de seus vários cursos; (c) Mantes as disciplinas
influenciar órgãos responsáveis pela tomada de distintas decisões; de maneira interdisciplinar; (d) “Promover novas estruturas nas
isso só é possível com a adequação dos curriculares e através da universidades, tendo como objetivo concreto os problemas
cobrança dos governos e agentes sociais a respeito do compromisso ambientais (...)”; (e) Incluir a temática em projetos de pesquisa
social (Fouto, 2002). elaboradas em parceria com empresas; (f) Criar soluções sustentáveis
165
e estratégicas para a crise atual (Péres e Dulzaides, 2005, p. 02 apud Nesse mesmo artigo é também apresentada a importância da
Oliveira, 2009, p. 30-31). ética ambiental nas atividades profissionais.
O objetivo final do ensino voltado para a sustentabilidade As instituições de ensino superior voltadas para a formação
(ambientalização curricular) é educar e conscientizar os futuros sustentável devem utilizar da Lei Federal nº 9.394/96, Lei de Diretrizes
profissionais para que adicionem em todas as suas ações, e Bases da Educação Nacional:
profissionais e pessoais, as questões e resoluções sustentáveis e que “Art. 43. A educação superior tem por finalidade: (...)
III- Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
possam auxiliar as sociedades a partir desses valores. científica, visando o desenvolvimento de ciência e da
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse
Segundo Oliveira (2009), no Brasil há a Lei Federal nº 9.795/ modo, desenvolver o entendimento do homem e do
meio em que vive; (...)
99 que aborda a Educação Ambiental115 e os currículos de maneira VI- Estimular o conhecimento dos problemas do
ampla, sistêmica, transversal e integrada nos vários cursos superiores. mundo presente, em particular os nacionais e
regionais, prestar serviços especializados à
Uma questão interessante a ser citada é o artigo 11 que afirma comunidade e estabelecer com esta uma relação de
reciprocidade” (Brasil, 1996 apud Oliveira, 2009, p. 33).
que para que o ensino da Educação Ambiental seja efetivo, os
A sustentabilidade nos currículos universitários deve aparecer
docentes devem se especializar ou se atualizar na área para a
de maneira transdisciplinar e holística, combinando sempre a
aplicação transversal nos currículos. Esse é um verdadeiro desafio
pesquisa, a teoria e a disseminação da inovação curricular116.
visto que muitos docentes são verdadeiramente resistentes à essas
Ainda segundo Oliveira (2009) as universidades devem ser
questões e não estão abertos a interdisciplinaridade (Oliveira, 2009).
modelos sociedades justas e sustentáveis a partir de atividades como
115
A educação ambiental assumiu um papel transformador, onde a co- ambientais e utilizá-las como instrumentos para o desenvolvimento de uma pratica
responsabilização dos indivíduos é um objetivo essencial para a promoção de um social centrada na natureza (Jacobi, 2003).
116
desenvolvimento sustentável. A educação ambiental é, portanto, condição Sachs (2008) fala sobre uma nova disciplina voltada para a sustentabilidade
necessária para a modificação da degradação socioambiental. Entretanto só irá chamada ‘eco-sócio-economia’.
atingir seu objetivo se o educador souber construir as corretas referências
166
reciclagem da formação dos docentes e funcionários, ensino, e Disciplinas de Criar e integrar no currículo
sustentabilidade disciplinas voltadas para a
práticas socioambientais, pondo sempre em prática o que é ensinado
sustentabilidade, considerando a
em salas de aula em atividades acadêmicas, institucionais e abordagem econômica, ambiental e
social
administrativas. Também é necessário que o espaço físico e suas
Cursos de Criar a implementar cursos
infraestruturas sejam uma lição de sustentabilidade. sustentabilidade específicos para formar profissionais
Além dos currículos, o ensino voltado para a sustentabilidade nas áreas de licenciatura e
bacharelados para a educação
deve se preocupar com pesquisas guiadas para os problemas de ambiental, gestão ambiental e
saúde, alimentos, sociedade, meio ambiente e gestão urbana e que, demais ciências e tecnologias
diversas relacionadas com a
mesmo que não sejam diretamente ligados à sustentabilidade,
sustentabilidade
possam contribuir para a formação humana dos alunos (Tomás, Transversalidade Incorporar a sustentabilidade de
curricular forma transversal nos currículos,
2003). O importante é alinhar a pesquisa, ensino e projetos de
incorporando suas dimensões no
extensão com as demandas sociais e o enfoque sustentável. projeto político-pedagógico
117
Instituição de Ensino Superior.
168
5.2. Métodos de avaliação e compromissos para a a sustentabilidade como energia, inovação, uso do solo, materiais,
criação de Campi Sustentáveis gerenciamento, poluição, transporte, resíduos e água. Sua avaliação
possui os níveis: Aprovado, Bom, Muito Bom, Excelente e Excepcional.
Certificações são avaliações feitas sobre edifícios para A criação de cenários de avaliação e objetivos para os projetos pelo
quantificar o quão sustentável é um projeto de acordo com BREEAM tem contribuído de forma significativa para a questão da
determinados critérios de desempenho. Segundo Gonçalves e Duarte sustentabilidade.
(2006), a ideia de avaliar os critérios no projeto pode ser feita através “O BREEAM chega ao Brasil sob o esquema de
certificação internacional BESPOKE – um sistema
de simulação computacional, e o método de avaliação geralmente irá personalizado e adaptado que incorpora as normas e
regulamentos locais. O BESPOKE foi desenvolvido para
resultar em um sistema de pontuação e peso. Existem alguns projetos internacionais e cobre diversos programas:
residenciais, comerciais, escritórios, industriais, entre
indicadores de sustentabilidade no mundo que não chegam a ser outros”119
obrigatórios, mas despertam o interesse de empresas por uma
imagem ‘verde’. Dois métodos de avaliação aplicados amplamente
são o sistema BREEAM 118 , Building Research Establishment
Environmental Assessment Method, e o sistema LEED, Leadership in
Energy and Environmental Design.
O BREEAM é um método inglês de avaliação de projetos que
Figura 66- Categorias avaliadas pelo BREEAM: Energia, Saúde e Bem-
engloba não só o projeto em si, mas também os processos envolvidos. Estar, Inovação, Uso do Terreno, Materiais, Administração, Poluição, Transporte,
Desperdício e Água.
Aplicado em mais de 77 países, avalia diversas questões relacionada (Fonte: http://www.breeam.com/, acessado dia 09 de setembro de 2016,
as 11:21 hrs).
118 119
BREEAM significa Método de Avaliação Ambiental do Building Research http://www.inovatechengenharia.com.br/breeam/ (acessado dia 09 de
Establishment (BRE), instituição inglesa responsável pela criação do selo. setembro de 2016, as 11:26 hrs).
171
Já o sistema LEED foi desenvolvido pelo United States Green pesquisadores do que à existência de políticas institucionais e ao
Building Council, é um sistema de certificação e orientação ambiental incentivo dos órgãos gestores. Os esforços para a universidade se
de edificações. A avaliação é dividia em grupos para obtenção de tornarem ambientalmente sustentável deve ser feito nos três pilares
pontuações: sustentabilidade da localização, eficiência no uso de tradicionais: ensino, pesquisa e extensão.
água, eficiência energética e cuidados com as emissões na atmosfera,
otimização dos materiais e recursos naturais a serem utilizados na
construção e operação da edificação, qualidade ambiental no interior
da edificação, uso de novas e inovadoras tecnologias que melhorem
o desempenho do edifício e edificações que se preocupam com
questões ambientais regionais.
No Brasil foram adaptadas as certificações para as condições Figura 67- As tipologias de certificação aplicadas pelo Green Building
Council Brasil.
e realidades brasileiras e a certificação é feita pelo Green Building (Fonte: http://www.gbcbrasil.org.br/sobre-certificado.php, acessado dia
Council Brasil. O projeto deve ser registrado junto ao conselho e então 09 de setembro de 2016, as 11:21 hrs).
Dentre os sistemas de avaliação ambiental é possível citar ferramenta para que seja utilizado o método EcoEffect na prática. Os
também: Haute Qualité Environnementale, HQE120, que é um sistema resultados são basicamente comparativos entre o edifício em questão
francês para avaliação de edificações verdes. O sistema é divido em e os outros já avaliados.
critérios externos e internos. Os critérios externos são: a relação entre Na Noruega existe o Ecoprofile122 que classifica os edifícios em
o edifício e o meio ambiente ao redor, a escolha dos métodos 3 classes distintas: 1 para baixo impacto ambiental, 2 para médio
construtivos e materiais, minimização de consumo de energia, água, impacto ambiental e 3 para alto impacto ambiental. O método é
geração de resíduos e necessidade de manutenção. Internamente, o divido em 3 grandes categorias com subdivisões. A categoria
edifício deve: ter um controle de umidade, temperatura e acústica, ‘ambiente externo’ avalia poluentes que são direcionados para o ar,
ser atrativo visualmente, controlar a emissão de poluição, estar para a água, para o solo, gerenciamento do consumo de água, as
sempre limpo, ter controle de qualidade do ar e água. áreas externas da edificação e questões relativas ao transporte, como
A Suécia possui uma iniciativa chamada EcoEffect 121 , cujo por exemplo se é possível chegar no edifício de bicicleta e se é
objetivo é descrever quantitativamente descrever o impacto possível deixa-la em local seguro. A divisão de recursos avalia as
ambiental e de saúde de imóveis e do ambiente construído e, formas de consumo de água, energia (o quanto consome e com qual
também, fornece uma base para comparação e tomada de decisão finalidade a energia está sendo consumida), o uso do solo e a
que pode levar a um impacto ambiental reduzido. O método analisa utilização de materiais na construção e manutenção do edifício. A
o planejamento, concepção e gestão do ambiente construído. Um terceira grande categoria é relativa a climatização interna do edifício
software EcoEffect foi desenvolvido no âmbito de projeto, que, sendo avaliados a condição térmica do edifício com auxílio de
juntamente com uma folha de entrada de dados constitui uma softwares de simulação, a emissão de calor das partes do edifício,
120 122
http://www.behqe.com/fr (acessado dia 08 de setembro de 2016, as 21:25 hrs). http://www.ires.nus.edu.sg/davoslist/13.pdf (acessado dia 08 de setembro de
121
http://www.ecoeffect.se/ (acessado dia 08 de setembro de 2016, as 21:43 hrs). 2016, as 22:14 hrs).
173
reflexão de raios ultravioleta, nível de ergonomia dos escritórios e os no Estado de Minas Gerais, foi avaliada como a universidade brasileira
fatores causados por problemas nos sistemas de agua, ventilação e mais sustentável e a segunda na América Latina. A universidade
resíduos. afirma, através de documentos publicados, que ganhou esta posição
Nos Estados Unidos as universidades possuem um green office depois de deixar o posicionamento teórico e realmente começar a
voltado aos problemas sustentáveis desde o desenvolvimento de colocar em prática ações sustentáveis que respeitem os princípios do
simples ações até a construção de novos prédios de acordo com o desenvolvimento sustentável e da conservação do meio ambiente
LEED. como a gestão da recolha de química e reciclagem de resíduos,
Há um ranking internacional que avalia os campi universitários tratamento de esgoto e a preservação dos rios.
a partir de documentação enviada online e sem visita técnica às Os itens avaliados por esse ranking acompanham as diretrizes
instalações universitárias e sem analisar o histórico da universidade aplicadas em campus sustentável porém é um processo de análise
que a fez pleitear uma posição como campus universitário: o burocrática e sem visita de representantes para compreensão dos
Greenmetric World University Ranking 123 . Esse ranking analisa processos e métodos do quais as universidades tomaram para chegar
universidades a partir de filosofias baseadas no meio ambiente e na nas posições em que se encontram; não sendo, então, um método
economia, determinando, após considerar e avaliar uma série de realmente efetivo de avaliação.
fatores e iniciativas tais como o tamanho da universidade, o No Brasil a UFSCAR, Universidade Federal de São Carlos, optou
zoneamento, áreas verdes, consumo de energia e pegada de carbono, por um desenvolvimento de campus sustentável em Sorocaba, a
transporte, uso de água, gestão de resíduos, infraestrutura, educação Unicamp, Universidade Estadual de Campinas, está implantando um
e políticas públicas, se a universidade pode ou não ser considerada novo plano diretor com premissas sustentáveis e a Universidade de
uma universidade verde. A Universidade Federal de Lavras, localizada Passo Fundo está implementando o Sistema de Gestão Ambiental no
123
http://greenmetric.ui.ac.id/ (acessado dia 02 de maio, as 14: 37 hrs).
174
campus. O projeto da Universidade Federal do Amazonas – campus Na fase de execução a empresa implementa os processos e
Manaus, de 1973, já contava com soluções passivas de conforto procedimentos que são descritos em um único procedimento
térmico, coberturas duplas independentes, dentre outras iniciativas. documentado que é enviado ao controle de operações, neste
O campus novo da UTFPR, Universidade Tecnológica Federal do momento também é importante implantar a comunicação entre
Paraná, em Curitiba é chamado de ecoville e está sendo implantado todos os setores da empresa já que todos os funcionários devem estar
estudos de propostas de projeto com estratégias sustentáveis. envolvidos no processo (Martin, 1998).
A certificação de empresas sustentáveis ocorre por meio da Para que seja executada a parte de verificação, o desempenho
ISO124 14001 que foi resultado da conferência RIO-92. A ISO 14001 da empresa é monitorado e medido periodicamente para garantir
especifica um framework de controle para um sistema de que os objetivos estão sendo alcançados. Auditorias internas também
gerenciamento ambiental através do qual qualquer empresa pode ser são realizadas em intervalos planejados para avaliar se o sistema de
certificada por um terceiro. gerenciamento sustentável está atingindo as expectativas do usuário
A implantação da ISO 14001 é baseada no método e se os processos e procedimentos estão sendo adequadamente
planejamento-execução-verificação-atuação. O planejamento mantidos e monitorados.
envolve a identificação de todos os elementos do processo de Após a fase de verificação a fase de atuação irá revisar os
produção que possam interagir com o meio-ambiente visando objetivos e verificar se estão sendo atingidos, além de avaliar as
elaborar os objetivos da empresa em direção à implantação do implicações legais para expansão do sistema de gerenciamento
sistema de gerenciamento ambiental. sustentável.
124
ISO significa International Organization for Standardization (Organização
Internacional de Normalização).
175
125
As avaliações da ISO 14001 podem ser resumidas em: Liderança, Contexto (estudantes, comunidades locais, reguladores, etc.), Riscos e Oportunidades,
Estratégico (cultura e os recursos e as influências externas - políticos, económicos, Análise do Ciclo de Vida.
sociais, tecnológicos, ambientais e legais), Análise das Partes Interessadas
176
Os benefícios dessa certificação para campus universitário são ambientais; (b) Conferência dos Reitores da Europa e a criação do
os mais próximos das diretrizes a serem aplicadas em campi Programa COPERNICUS (Reino Unido, 1988) que lançou os dez
sustentáveis já que englobam a economia de energia, redução de princípios da Carta das Universidades para o Desenvolvimento
consumos, reciclagem de materiais e resíduos e a preocupação com Sustentável e o compromisso das universidades europeias com a
a redução de poluentes e as iniciativas tomadas para tal questão. educação e a pesquisa voltadas para o desenvolvimento sustentável;
Os programas Advancement of Sustainability in Higher (c) Declaração de Talloires (França, 1990) que buscava construir
Education 126 e Higher Education Associations Sustainability lideranças voltadas para a sustentabilidade em Instituições de Ensino
Consortium 127 são Organizações sem Fins Lucrativos que visam Superior; (d) Conferência sobre Ações da Universidade para o
orientar a criação de greencampi capacitando professores, Desenvolvimento Sustentável e a Declaração de Halifax (Canadá,
administradores, funcionários e alunos de uma Instituição de Ensino 1991) que reuniu trinta e três universidades preocupadas com a
Superior que busca alcançar metas para a aplicação de práticas depredação do meio ambiente e o crescimento da pobreza; (e)
sustentáveis em campi. constituição da Organização Internacional de Universidades pelo
Outras formas de compromissos e iniciativas para o Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Costa Rica, 1995)
desenvolvimento, adaptação, discussão e/ou construção de campi cujo objetivo é a realização de pesquisas e o desenvolvimento de
sustentáveis ocorreram em distintos países através de conferências, programas voltados para o desenvolvimento sustentável; (f)
programas, congressos e outros tipos de documentos como: (a) Declaração de Haga (Estocolmo, 2000 e 2002) que discutiu a adoção
Associação Universitária para o Meio Ambiente (Bélgica, 1979 a 2005) da Agenda 21 na educação para o desenvolvimento sustentável
que reunia universidades interessadas em discutir problemas
126 127
http://www.aashe.org/about (acessado dia 16 de fevereiro de 2017, as 19:52 http://heasc.aashe.org/content/about-heasc/ (acessado dia 16 de fevereiro de
hrs). 2017, as 19:52 hrs).
177
Nova Zelândia -Universidade de Auckland (19%); (d) Auditoria ambiental (16%); (e) Diagnóstico dos
-Universidade do Algarve
impactos ambientais (16%).
-Universidade do Aveiro
Portugal -Universidade Técnica de Segundo Fouto (2002, p. 07) as universidades europeias que
Lisboa
buscam o desenvolvimento sustentável baseiam-se no COPERNICUS,
-Universidade de Nova Lisboa
-Bishop Burton College Cooperation Program for Environmental Research in Nature and
-Blackburn College Industry through Coordinated University Studie, cujo objetivo é
-Cornwall College
-Huddersfield New College “envolver as universidades na partilha de conhecimento e expertise
-Southgate College na área do desenvolvimento sustentável e de encorajá-las a
-Enfield College
-Capel Manor Horticultural estabelecer parcerias com a indústria e gestão”.
College Universidade Autônoma de Madrid, UAM, possui um projeto
Reino Unido -Envirenmental Centre
-South West Association for chamado ECOCAMPUS. Em 1997 foi formalizado o compromisso da
Education and Training universidade com a Agenda 21 visando melhorias na situação
-St. Helens College
-Walford e North Shopshire ambiental do campus e sensibilizando a comunidade universitária.
College Com objetivo de unir as iniciativas de gestão e educação as quatro
-Walsall College of Arts and
Technology linhas estratégicas de ação são (Álamo e Massambani, 2010): (a)
-Wigan e Leigh College Wigan Gestão Ambiental – projetos de consumo de água, transporte e
Tabela 9- universidades pesquisadas.
(Fonte: adaptado de Tauchen e Brandli (2006)). mobilidade, edificações, ambientalização de interiores, paisagismo,
gestão de resíduos e eficiência energética; (b) Envolvimento da
As ações que mais se assemelharam entre os campi foram: Comunidade Universitária - ações voltadas à promoção da educação
(a) Gestão e reciclagem de resíduos (22%); (b) Controle no ambiental, participação e ambientalização curricular; (c) Pesquisa
consumo e reuso de água (22%); (c) Educação ambiental
179
O resultado foi a conversão das áreas do campus em áreas inclusive uma graduação em Desenvolvimento Sustentável (OECD,
verdes, foi criado o Instituto de Desenvolvimento que abriga projetos 2007).
de desenvolvimento humano, social e empresarial. Existe também um Oberlin College, Estados Unidos, a instituição possui um curso
programa de doutorado em planejamento estratégico com doze de economia ambiental, dedicado a utilização de capital natural.
projetos práticos de desenvolvimento sustentável para a comunidade Como exemplo é possível citar o uso de 60% das fontes de energia da
(OECD, 2007). própria instituição fornecida a partir de fontes verdes e,
Autonomous University of San Luis Potosi, México, criou um principalmente, de fornecedora local. Estas decisões compensam 1/4
programa que faz a conexão entre poluição e problemas de saúde das emissões de carbono da empresa (OECD, 2007).
através de pesquisas interdisciplinares para auxiliar comunidades Portland State University, Estados Unidos, o transporte e
locais (OECD, 2007). estacionamento da universidade apresentou uma alternativa eficaz
Turku University of Applied Sciences, Finlândia, possui uma para as pessoas que iam de carro: sistemas de carona e bicicletas são
estratégia de responsabilidade social corporativa que entrega subsidiados, além do custo de estacionamento aumentar
relatórios sistematicamente aos acionistas e também ao público em gradativamente para quem vai com seu carro sempre. Os fundos
geral. Os relatórios são muito completos sendo que o primeiro arrecadados com esta política são utilizados para financiar o
gerado ganhou um prêmio de melhor relatório público. transporte público da universidade (OECD, 2007).
Para implantação do sistema, a instituição teve que abrir sua University of Copenhagen, Dinamarca, essa universidade
contabilidade aos acionistas de uma forma muito transparente e mantém três jardins botânicos na Dinamarca que contém
simples de ser analisada de forma que os programas pudessem ser importantes exemplares de plantas raras e geram diversos trabalhos
implementados e os resultados facilmente reconhecidos. Existe científicos (OECD, 2007).
181
University of the Sunshine Coast, Austrália, mantém parte da Hosei University, Japão, possui um programa educacional que
Frasier Island como um local de preservação ambiental, pesquisa promove o aprendizado por toda a vida com diferentes cursos
científica e atividades educacionais. O ecossistema da ilha é complexo engajados diretamente com as comunidades locais em questões
com dunas, lagos e florestas subtropicais cujo crescimento acontece importantes para eles. Essa universidade também possui uma política
exclusivamente na areia sendo um interessante objeto de estudo de aquisição de materiais verdes como papel reciclado e eletrônicos
(OECD, 2007). com certificação de baixo consumo (OECD, 2007).
Chalmers University of Technology, Suécia, a preocupação University of British Columbia, Canadá, participou de um
principal nesta universidade são programas para garantir qualidade projeto que fez com que a universidade toda economizasse 20% de
de vida aos funcionários. São oferecidas atividades esportivas, auxílio energia: o ECOtrek foi o maior projeto deste nível implantado no
médico e conselhos sobre ergonomia e postura. Canadá e terminou em março de 2006. Além da energia, o projeto
Esta universidade também oferece aulas aos alunos promove a economia de 30% do consumo de água e diminui a
ingressantes sobre desenvolvimento sustentável, além disso os emissão de CO2 em 15.000 toneladas (OECD, 2007).
programas de mestrado em engenharia e arquitetura foram Algumas das modificações nos edifícios englobam um sistema
obrigados a incluir a disciplina em suas grades curriculares, da melhor de ventilação inteligente, aparelhos para medição de consumo e
maneira para cada curso (OECD, 2007). automação, existe um sistema de aproveitamento de água feito em
University of Plymouth, Inglaterra, possui uma estratégia de um estacionamento com piso permeável que direciona a água para
desenvolvimento e empregabilidade para todos os graduados. O uma camada de pedras que permite o seu escoamento gradual para
programa Skills Plus, por exemplo, prepara os graduandos para ser o solo, este sistema foi utilizado como modelo para cidades nos
cidadãos e para assumir cargos promovendo a sustentabilidade social Estado Unidos. Juntamente com este programa foi implantando
(OECD, 2007).
182
também o programa RENEW, que revitaliza os prédios antes de modificar a cultura, as estruturas transdisciplinares, a infraestrutura e
necessitarem de restauro. a tecnologia utilizada pelo campus.
Ferre-Ballas et al. (apud Oliveira, 2009, p. 41) analisam Há também a ISO 14001, um exemplo de importante de
universidades dos Estados Unidos, Japão, Suécia, Espanha e Índia a universidade da América Latina é a Universidade de Sonora, México,
partir de ações sustentáveis, o resultado foi a apresentação dos a primeira a receber a norma. Velásquez et al. (2008) afirmam que um
principais aspectos de uma universidade sustentável, campus deve erradicar ou diminuir suas ações negativas, além de
“as principais dimensões de uma estratégia de auxiliar a mudança para uma sociedade mais sustentável, assim, a
transformação e como comparar essas estratégias no
nível internacional; como reconhecer o potencial de Universidade de Sonora segue o modelo apresentado na figura 67.
mudanças; e quais são os principais obstáculos e
condutores dessa transformação”.
É importante ressaltar que tanto a Universidade de Sonora programa Eco-FAHOR que alcançou resultados como a construção de
quanto as universidades analisadas por Tauchen e Brandli (2006) a uma cisterna com capacidade para 15.000 litros para a captação de
fusão entre o ensino, a pesquisa e a gestão ambiental dos campi águas a ser usada em limpeza e irrigação, gerenciamento de resíduos
caminham unidas para levar aos alunos e funcionários uma formação e energia elétrica, uso de papel reciclado e atividades de
dinâmica e um grande campo de pesquisa, para a universidade essa reflorestamento. A universidade também estava finalizando o projeto
união de valores garantem uma gestão institucional comprometida ‘Água Limpa’ que visava abastecer não só a universidade, mas
com a sustentabilidade. também a cidade onde está inclusa.
No Brasil, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande Já a Universidade Federal do Rio Grande do Sul criou em 1999
do Sul, foi certificada com a norma ISO 14001, sendo a primeira o Grupo Interdisciplinar de Gestão Ambiental que visava realizar
universidade particular da América Latina a receber essa norma. trabalhos de gestão de resíduos e educação ambiental dentro da
Como é possível observar em sua página digital 128 , a universidade universidade. Para a realização de ações mais profundas e efetivas foi
adotou distintas posturas voltadas para o desenvolvimento criada, em 2007, a Coordenadoria de Gestão Ambiental do campus
sustentável como o reaproveitamento d’água, campanhas de (Campani et al., 2007).
conscientização sobre a economia da energia elétrica, a gestão de A Universidade Estadual de Londrina criou o Programa de
resíduos e das áreas verdes, a aplicação da coleta seletiva de sólido, Gestão Ambiental cujo objetivo é a construção de uma comunidade
entre outras ações. universitária mais sustentável a partir de ações que minimizam
Já a Faculdade Horizontina, FAHOR, Rio Grande do Sul, está resíduos, conservam o meio ambienta, melhoram a qualidade de vida
adotando esses modelos de ações. Tauchen (2008) fala sobre o e formam profissionais responsáveis com esses propósitos129.
128 129
http://unisinos.br/novocampuspoa/categorias/sustentabilidade/ (acessado dia http://www.uel.br (acessado dia 09 de setembro de 2016, as 23:40 hrs).
08 de setembro de 2016, as 23:01 hrs).
184
A universidade também tem programa de coleta seletiva e Em outro tipo de processo de avaliação, A Universidade
reciclagem de resíduos, gerenciamento de resíduos, uso racional da Federal de Lavras, UFLA, foi classificada como a 26ª colocada no
energia elétrica e diminuição do consumo d’água. Greenmetric World University Ranking, esta posição representa a
A Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, criou, segunda melhor colocação da América Latina no ranking. A criação de
em 1996, a Coordenadoria de Gestão Ambiental que visava definir uma Diretoria de Meio Ambiente, DMA, na universidade
uma política ambiental para o campus englobando o ensino, proporcionou os meios para a implantação de práticas sustentáveis
administração e posturas dentro da universidade. Na universidade há que se iniciaram com o tratamento de resíduos proveniente dos
políticas voltadas para a preservação dos sistemas hídricos, laboratórios de Química131; os resíduos sólidos132 são levados para a
gerenciamento dos resíduos secos e químicos, compostagem de reciclagem e também, tendo em foco a questão da mobilidade de
resíduos orgânicos e um plano de arborização e manutenção das menor impacto e alternativas, foram instalados diversos bicicletários.
espécies contidas no Plano Diretor130. Outra iniciativa importante foi a manutenção das Áreas de
Os exemplos citados são importantes pois apresentam as Preservação Permanente, APP, que ficam dentro da área da
ações aplicadas votadas para a sustentabilidade. A certificação do universidade com a reconstituição de seu ecossistema natural. A
Sistema de Gestão Ambiental da Norma ISO 14001 prova que ainda é universidade também é autossuficiente com relação ao consumo de
uma avaliação importante e respeitável para campi sustentáveis. água, além de tratar todo o esgoto gerado133.
130
http://www.ufsc.br/ (acessado dia 09 de setembro de 2016, as 23:55 hrs). prédios da universidade também coletam a água da chuva, a armazenam e a
131
http://www.andifes.org.br/ufla-e-reconhecida-como-exemplo-de- utilizam para fins como limpeza e em banheiros, além de contarem com pontos de
sustentabilidade (acessado dia 09 de setembro de 2016, as 14:43 hrs). coletas seletivas e gestão de resíduos sólidos.
132 133
A UFLA gerencia seus resíduos químicos dos laboratórios e está implantando http://www.ufla.br/ascom/2016/05/16/ufla-e-azul-2a-universidade-do-
uma estação própria de tratamento de esgoto, também recupera e protege mundo-com-o-certificado-blue-university-em-reconhecimento-pela-gestao-das-
vegetações da Área de Preservação Permanente e protegem nascente. Distintos aguas/ (acessado dia 09 de setembro de 2016, as 14:43 hrs).
185
A conscientização das pessoas envolvidas com a instituição promove o consumo de água por meio de infraestrutura pública e
também é um ponto fundamental. Na UFLA foram realizados diversos gratuita; a gestão da água é de forma responsável; mantém serviços
cursos para conscientizar os funcionários e técnicos que participam de tratamento da água para consumo e residuais; cultiva parcerias
dos processos de tratamento de resíduos. No total foram investidos para defender o direito à água em nível internacional e desenvolve
mais de R$ 23 mi nas diversas iniciativas sustentáveis realizadas de pesquisas sobre a gestão sustentável da água.
2009 a 2012 134 . Os pontos positivos da implantação do plano
ambiental foram o apoio financeiro da instituição, o compromisso dos
coordenadores, a participação efetiva dos envolvidos no processo, a
participação da comunidade acadêmica e, principalmente, o
desenvolvimento de uma consciência dos benefícios coletivos
advindos do plano ambiental.
Pela iniciativa inovadora com relação ao tratamento e
reutilização da água do campus, a universidade recebeu o selo Blue
University que foi concedido anteriormente apenas para a Figura 70- Vista aérea da UFLA, 2012.
(Fonte: http://www.panoramio.com/user/7033587/tags/ufla, acessado
Universidade de Berna na Suíça. Este selo é o reconhecimento, por dia 09 de setembro de 2016, as 15:31 hrs).
parte do projeto Blue Planet realizado pela organização Blue
Community 135 , no Canadá, para as universidades que seguem seis
critérios fundamentais: reconhece a água como um direito humano;
134 135
http://repositorio.enap.gov.br/bitstream/handle/1/281/Eco%20Universidade. http://canadians.org/bluecommunities (acessado dia 09 de setembro de 2016,
pdf?sequence=1 (acessado dia 09 de setembro de 2016, as 14:43 hrs). as 14:43 hrs).
186
136
http://oglobo.globo.com/rio/bairros/ufrj-quer-tornar-fundao-referencia-
mundial-em-sustentabilidade-18248112 (acessado dia 16 de fevereiro de 2017,
as 17:30 hrs).
187
137 139
http://abes-dn.org.br/publicacoes/rbciamb/PDFs/11- http://wipis2011.blogspot.com.br/p/sobre-o-wipis.html (acessado dia 16 de
04_artigo_1_artigos133.pdf (acessado dia 24 de fevereiro de 2017, as 17:30 hrs). fevereiro de 2017, as 18:46 hrs).
138 140
http://www.fsp.usp.br/siades/wipis.htm (acessado dia 24 de fevereiro de 2017, http://wipis2015.blogspot.com.br/ (acessado dia 24 de fevereiro de 2017, as
as 10:38 hrs). 10:55 hrs).
188
141
http://www.eesc.usp.br/portaleesc/images/docs/PosterEESCSustentavel.pdf
(acessado dia 16 de fevereiro de 2017, as 10:36 hrs).
189
ambiental para a EESC. Dentre as atividades atuais do grupo é possível diferentes relacionados a todo o tipo de atividade realizada no
citar: proposta de integração da ambientalização nos cursos da EESC, campus.
divulgação, discussão e construção de forma coletiva a proposta de O campus Cidade Universitária, apesar de não ser um espaço
integração, aprofundamento do diagnóstico da ambientalização nos sustentável, possui algumas iniciativas voltadas para a redução de
cursos da EESC, construção de temas da ambientalização para os impactos ambientais e para a promoção de espaços mais saudáveis.
cursos da EESC, Implantação de um programa continuado de A Coordenadoria do Campus da Capital, Cocesp, realiza
educação ambiental para os servidores, revisão de indicadores de campanhas na Cidade Universitária e apresenta soluções sustentáveis
sustentabilidade baseados em coleta de informações, reavaliação e para os problemas do campus. Assim como a prefeitura do campus e
reestruturação do programa de coleta seletiva, conclusão do Guia de também SGA, Superintendência de Gestão Ambiental.
Compras Sustentáveis da EESC (Álamo e Massambani, 2010). A Cocesp dividiu sua atuação sustentável em três eixos 142 :
Em agosto de 2012, baseando-se nas atividades atuais do infraestrutura, qualidade de vida e gestão participativa. Cada eixo é
grupo EESC sustentável, foi realizado um Workshop na Escola de responsável pelos projetos e por obter resultados. Dentre os projetos
Engenharia de São Carlos com objetivo de apresentar e discutir uma podemos destacar compostagem de resíduos vegetais, instalação de
proposta de indicadores de sustentabilidade que deveriam ser usina de biodigestão, estação de tratamento de esgoto, produção de
levados em consideração para avaliação e incremento da biodiesel, mobilidade elétrica, ciclovias e ciclofaixas, iluminação
sustentabilidade na Universidade de São Paulo como um todo. Neste pública por LEDs, Light Emitting Diode, monitoramento animal no
workshop foram propostos 83 indicadores divididos em 10 áreas campos e eliminação de focos de mosquitos transmissores de
142
http://slideplayer.com.br/slide/380326/ (acessado dia 24 de fevereiro de
2017, as 01:44 hrs).
190
doenças e instalação do ProPESC, Programa de Pesquisa e Ambiental lançou o Programa de Incentivo à Sustentabilidade da USP,
Experimentação para a Sustentabilidade no Campus. que visava apoiar projetos cujos focos fossem a
A prefeitura do campus da capital também possui o programa “conservação dos recursos naturais da Universidade,
propiciar um ambiente saudável e ambientalmente
campus sustentável baseado no Greenmetric com gestão de água, seguro nos campi, educar visando à sustentabilidade e
construir, de forma participativa, uma Universidade
energia, resíduos, mobilidade, baixa geração de carbono, sustentável, como modelo para a sociedade
brasileira”145.
comunicação e gestão de espaços verdes143. Em 2013 a USP ocupava
o 144º lugar de 803 universidades do ranking Greenmetric e o O Programa também visava conscientizar a comunidade
objetivo era tornar a USP referência em sustentabilidade no Brasil e universitária acerca da importância e possibilidades para a
no mundo. Para atingir este objetivo a prefeitura do campus da capital conservação dos recursos naturais e incentivar a abordagem das
participa de todos os projetos do campus e também auxilia na vertentes sustentáveis em projetos para a construção e recuperação
143 145
http://slideplayer.com.br/slide/4087021/ (acessado dia 24 de fevereiro de http://www.usp.br/imprensa/?p=29704 (acessado dia 16 de fevereiro de
2017, as 01:50 hrs). 2017, as 11:52 hrs).
144
http://www.sga.usp.br/sga/historia/ (acessado dia 24 de fevereiro de 2017, as
01:53 hrs).
191
Em 2013 houve também uma reunião temática no campus de projetos e ideias para a aplicação de Infraestruturas Verdes a serem
São Carlos da USP146 promovida pelo conselho gestor e com o apoio aplicadas no campus. A partir dos resultados da disciplina, foi
da Superintendência de Gestão Ambiental. Foram discutidas as realizada uma oficina multidisciplinar para a criação de projetos para
diretrizes de ocupação do campus, a política de transporte, edifícios, infraestrutura, drenagem urbana, paisagismo, mobilidade e
estacionamento, ciclovias e mobilidade. As questões foram discutidas preservação da natureza local. Os projetos formam Plano de
com um viés sustentável que auxiliou nas decisões e impactou a vida Infraestrutura Verde para a Cidade Universitária que são alternativas
no campus até hoje. viáveis para a construção de espaços mais saudáveis para a
Outros projetos foram selecionados como o levantamento das comunidade da USP (Pellegrino, 2015; Pellegrino e Castañer, 2014).
disciplinas oferecidas pelos campi USP que abordam a temática da
sustentabilidade e se há interdisciplinaridade, após essa ação, desde
2014, é oferecida uma disciplina optativa chamada ‘Educomunicação
Socioambiental’, oferecida na Cidade Universitária, principalmente
para alunos da Escola de Comunicação e Artes e da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades.
Outra disciplina que foi criada a partir do Programa de
Incentivo à Sustentabilidade da USP foi a AUP671- Projeto de
Infraestrutura Verde, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo em
Figura 76- Integração entre as escalas edifício- quadra- Campus. Projeto
2014, campus capital, que incentivava os alunos a elaborarem de Taicia H.N. Marques, sem data.
(Fonte: Pellegrino, 2015, p. 06).
146
http://www.ccsc.usp.br/conselhogestor_pauta_e_deliberacoes/deliberacoes_r
euniao_tematica_obras_estacionamento.html (acessado dia 16 de fevereiro de
2017, as 17:38hrs).
192
Esse sistema projetual aproxima-se com o utilizado na projeto, ser referência nacional de sustentabilidade e possa ser
Universidade de Oregon. reconhecida em rankings internacionais.
Outro projeto foi a recuperação de áreas verdes do Outros projetos também tiveram destaque como por exemplo
Departamento de Artes Plásticas e da Faculdade de Educação através o projeto de diminuição do desperdício do restaurante universitário
da criação de jardins que integrassem os espaços culturais e naturais. que ficou em quarto lugar em um concurso da ONU que reuniu
Por fim, o último projeto selecionado foi a proposta de, a projeto de 80 países147. A economia de um ano chegou a 12 toneladas
partir de pesquisas e entrevistas, compreender como a comunidade de alimentos.
vê a sustentabilidade e como seria possível aumentar o conhecimento As atividades do campus 1 da USP São Carlos foram iniciadas
dos mesmos sobre o assunto. na década de 1950 e, atualmente, ele se encontra localizado em uma
região urbana central e densa, ou seja, não há mais possibilidades da
Nem todos os projetos selecionados foram colocados em
universidade crescer fisicamente, apesar da demanda.
prática em consequência dos cortes orçamentários. As demandas para o crescimento físico da universidade
Em 2015 outros projetos foram aprovados através do começaram no final dos anos de 1990 com a escassez de vagas, a
Programa Campus Sustentável cujo objetivo é integrar pesquisa, necessidade de expansão de espaços para os cursos existentes de
Computação e Engenharia Ambiental, além da necessidade de
ensino, cultura, extensão e projetos sustentáveis que incluam não
incrementar pesquisas e um espaço para o curso de Engenharia
somente a USP mas também a cidade de São Paulo. Esse projeto tem Aeronáutica . Era imprescindível ampliar o campus .
a duração de vinte anos e irá desenvolver e aplicar projetos e políticas Por essas necessidades, em 2001 foi iniciado o plano para o
para o campus, para as áreas internas dos edifícios e para seu entorno campus 2 através do Projeto de Expansão das Universidades Públicas
Estaduais.
na cidade. O objetivo é que a USP possa, em 2034, quando finda o
147
http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2015/03/campanha-para-
diminuir-desperdicio-deixa-usp-em-4-em-concurso-da-onu.html
193
5.4. Estudo de caso: o campus 2 da Universidade O terreno está localizado em uma importante microbacia
chamada microbacia do Córrego Mineirinho, inserida na bacia do Rio
de São Paulo, campus São Carlos
Monjolinho. A rápida urbanização da área desta microbacia
contribuiu para a sua degradação e fragilidade ambientais (Silva et al.,
O campus 2 da Universidade de São Paulo, São Carlos, está 2014).
inserido no limite urbano em uma área noroeste, Jardim Santa Felícia, A área de matas ciliares dentro do campus 2 somam 25% de
que é predominantemente residencial e em expansão. sua área total (Lanna, 2003).
A área do campus 2 tem de cerca de 146 hectares e possui um Um desafio para o planejamento do espaço do campus foi
terreno ameno com vegetação predominantemente de pinus e um manter uma harmonia no desenho espacial que unisse o meio
solo proveniente de antigas plantações de cana de açúcar; no terreno ambiente, o percurso natural dos rios, a vegetação e sua preservação,
também há três córregos, sendo um com nascente no próprio o transporte interno e os edifícios.
campus, e suas matas ciliares. Segundo Schenk (2011) a vizinhança possui distintas paisagens
derivadas de diferentes épocas: a primeira é relacionada aos
loteamentos populares voltados para a população menos privilegiada
que acabou sendo expulsa para áreas periféricas, e a segunda provem
de classes com maior poder aquisitivo que construíram na região
condomínios fechados. Até os dias de hoje existem muitos vazios
urbanos resultantes de fragmentações e desmembramentos de lotes
que tiveram uma ocupação descontínua.
Figura 77- Vista aérea do campus 1 da USP São Carlos mostrando sua alta
densidade e limite com a cidade. As áreas circuladas são espaços de lazer e
voltados para pesquisa, sem data.
(Adaptado de: http://blog.filipesaraiva.info/?p=1216, acessado dia 19 de
fevereiro de 2017, as 19:37 hrs).
194
148
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.197/6261
(acessado dia 19 de fevereiro de 2017, as 18:10 hrs).
195
149 150
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.197/6261 http://www.saocarlos.usp.br/index.php?option=com_content&task=view&id=
(acessado dia 19 de fevereiro de 2017, as 18:10 hrs). 14401&Itemid=200 (acessado dia 19 de fevereiro de 2017, as 19:53 hrs).
196
151
http://www.saocarlos.usp.br/index.php?option=com_content&task=view&id= área sendo um grande espaço aberto para pesquisas precisava inserir a
61&Itemid=87 (acessado dia 19 de fevereiro de 2017, as 19:25 hrs). sustentabilidade em seu amplo conceito, principalmente o ambiental e o social.
152 154
http://www.saocarlos.usp.br/index.php?option=com_content&task=view&id= Como exemplo é possível observar em
14401&Itemid=200 (acessado dia 19 de fevereiro de 2017, as 19:53 hrs). http://www.saocarlos.usp.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14
153
Segundo Lanna (2003), área do campus 2 começou a ser utilizada em 2002 para 401&Itemid=200
pesquisas e por esse motivo a área precisou ser preservada ambientalmente; a
197
Apesar dos princípios propostos, a implantação do campus Os três princípios propostos, até os dias de hoje, não foram
deu-se da seguinte maneira: seguidos.
“A implantação do campus teve como diretriz uma Outros fatores que não seguiram as diretrizes para o projeto
ocupação integral do terreno, como forma de
estabelecer o domínio total da área, o que justificou o
do campus são a falta de uma ciclovia, a presença de uma via
investimento em concluir num primeiro momento estruturadora que atravessa o córrego através de uma ponte pré-
todo o sistema de vias. O eixo viário principal foi
moldada que acabou por alterar a hidrologia do local, os edifícios são
direcionado pelas torres de alta tensão que cortam a
área do campus. Uma via secundária formou um anel isolados e com acessos inóspitos, os estacionamentos ocupam as
que foi delimitado pelas áreas de APP 155 e Reserva frentes dos edifícios fazendo com que o protagonista do campus seja
Legal. No sentido perpendicular ao eixo de acesso, um
passeio para pedestres ligou os outros dois extremos o automóvel, como também foi construído um muro com seguranças
da área. A organização espacial do campus foi baseada que isolam os bairros vizinhos do espaço da universidade e acabam
em três características marcantes da área, o eixo das
torres de alta tensão, a topografia e as áreas verdes. com a proposta de inclusão da comunidade local (Schenk, 2011).
Estas são compostas de vales com nascentes e mata Um dos objetivos para o campus 2, apresentado em Proposta
ciliar, delimitadas com base no levantamento
ambiental. A topografia (...) possibilitou a valorização
de diretrizes para a elaboração de Plano Diretor de Ocupação da Área
de visuais do próprio campus, das áreas verdes e da 2 do Campus de São Carlos (Anexo A, p. 02), em 2011, é:
cidade. O passeio para pedestres que liga dois “Ampliar de maneira significativa as práticas e
extremos do campus (...). A partir do ponto mais procedimentos, construtivos e de uso, de caráter
elevado desse eixo, há um panorama do campus e sustentável, em especial nos âmbitos de otimização
observa-se uma valorização do trecho com a presença energética, dispositivos de reuso de água, coleta e
de arborização, bancos e esculturas. (...) os primeiros tratamento de resíduos, etc”.
edifícios foram implantados distantes uns dos outros e
não estabeleceram entre si nenhuma referência ou A principal questão apontada por Shenk (2011) é a dissonância
ligação. Observa-se o espalhamento dessas unidades
pela malha viária. Esta conformação do espaço não entre proposta original que integrava os documentos do projeto da
valorizou o convívio dentro do campus” 156. então Área 2 do Campus da USP São Carlos e o que vem sendo
construído. Seu projeto ainda utiliza modelos anteriores onde não
155
Área de Preservação Permanente.
156
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.197/6261
(acessado dia 19 de fevereiro de 2017, as 18:10 hrs).
198
existia articulação entre os edifícios e a paisagem original. Fatores ventos; o estímulo a verticalização e a racionalização de projetos,
sustentáveis como captação e reutilização de água de chuvas ou processo e sistemas construtivos; garantia das condições de
mesmo a construção em congruência com o relevo da área (Schenk, deslocamento pedestre, bolsões periféricos de estacionamento e, o
2011). que seria mais importante principalmente para este trabalho, a
Em 2013, após duas reuniões do grupo de trabalho formado implantação de sistemas e práticas sustentáveis tanto na construção
para a elaboração do plano diretor do atualmente denominado como no uso das instalações físicas da então Área 2 (Anexo A).
campus II foram propostas diretrizes para ocupação 157 . O objetivo Para a solução destas questões foi proposta uma grelha virtual
principal é otimizar a ocupação da área evitando os problemas para a definição de implantação de novos edifícios e equipamentos.
encontrados pela ocupação do campus I. Os objetivos específicos A grelha deve ser utilizada para definição de parâmetros de
contemplam a ampliação do coeficiente de aproveitamento (área construção, como definido pelo objetivo principal das diretrizes
construída/área do terreno), diminuição da taxa de ocupação (projeto propostas, e para adequações do projeto viário.
da construção/área do terreno), ampliar as taxas de permeabilidade A grelha virtual considerou os estudos de insolação e de
e de cobertura vegetal, considerar o deslocamento de pedestres ventos, a topografia do campus, o sistema viário já implantado, as
como objetivo principal de mobilidade nas áreas centrais, ampliar as construções existentes e projetos em andamento, as normas e
práticas e procedimentos de construção sustentável (especialmente parâmetros de dimensionamento de espaços universitários,
no âmbito energético) e otimizar o planejamento da implantação e juntamente com as normas de recuos e afastamentos de novas
gestão de serviços (Anexo A). edificações, elaboradas pela Coordenadoria do Espaço Físico, COESF
As diretrizes gerais de ocupação mantem o zoneamento (Anexo A).
temático presente no campus I, propõe a otimização da ocupação e Os parâmetros resultaram em um módulo-base retangular de
sua avaliação periódica para verificação da necessidade de revisões e, 11,70 x 21,60 metros considerando a área do edifício sem os recuos
também, a articulação da proposta física com o planejamento e afastamentos. Exemplos de ocupação podem ser vistos na Figura
estratégico acadêmico. 82. Outros exemplos de ocupação podem ser vistos no Anexo A.
Em concordância com as diretrizes gerais foram propostas Em 2015, o reitor da USP Marco Antonio Zago criou a
diretrizes físicas sendo a adequação a insolação e ao regime de Comissão de Planejamento Acadêmico para o novo Campus USP de
157
www.ccsc.usp.br/arquivos/diretrizes_ocup%20Campus_2_ago%2013.pdf
199
São Carlos (Anexo B) que deverá: (a) elaborar diretrizes acadêmicas Em 2015 também foi criado pelo Grupo de Estudos e
para o desenvolvimento do novo campus; (b) traçar diretrizes de Intervenções Socioambientais, da Escola de Engenharia em parceria
planejamento que deverão ser inseridas no Plano Diretor de com a Prefeitura do Campus, a Superintendência de Gestão
Desenvolvimento Físico e Urbanístico das áreas do novo campus, Ambiental e o Centro de Divulgação Científica e Cultural, o Projeto
Plano Diretor também a ser criado; (c) apresentar setores e ‘Proteção, Recuperação de Áreas Degradadas e Educação Ambiental
equipamentos adequados para os projetos de novos edifícios e na Reserva Ecológica da Área 2 do Campus da USP de São Carlos’ para
equipamentos; (d) criar projetos que visam otimizar a estrutura a recuperação das áreas verdes do campus 2.
administrativa do campus 2. Essa comissão passou a substituir a
Comissão Acadêmica e Comissão de Implantação do Campus 2 de
2002158.
158
http://www.saocarlos.usp.br/index.php?option=com_content&task=view&id=
20296&Itemid=171 (acessado dia 19 de fevereiro de 2017, as 20:15 hrs).
200
O grupo é formado por alunos da Engenharia Ambiental e com o que ocorre nas universidades por todo o mundo e que existe a
desde 2012 vem trabalhando com a regeneração de uma área do preocupação em tornar o campus universitário um local mais
campus 2. Neste novo projeto a equipe, através de métodos sustentável em todos os sentidos.
agroflorestais, buscam recuperar e proteger áreas degradadas desse
campus.
Esse grupo também realiza um trabalho social com alunos
moradores do Jardim Santa Felícia com o campus para “conhecer e
articular as demandas e expectativas da sociedade”, além de realizar
“um diagnóstico socioambiental de toda a população local”159.
Diversas iniciativas estão sendo desenvolvidas nos diversos
campi da Universidade de São Paulo para implantar de forma
completa e permanente a sustentabilidade na universidade. Em São
Carlos a construção do campus 2 se mostrou uma boa oportunidade
para o desenvolvimento de projetos que encontram diversos
problemas de implantação e operação como descrito neste capítulo.
Apesar dos problemas, os esforços realizados mostram que a
universidade avança nas questões sustentáveis em conformidade
159
https://www.usp.br/imprensa/?p=50667 (acessado dia 19 de fevereiro de
2017, as 20:15 hrs).
200
201
CONSIDERAÇÕES FINAIS 6
202
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sustentabilidade é um tema de alta relevância atualmente, em um contexto urbano, deve não somente apresentar soluções para
principalmente pelo estado no qual se encontra o planeta. Ao seus problemas internos, similares aos problemas urbanos já que o
analisarmos os caminhos e iniciativas em relação ao tema, nada mais campus hoje pode ser considerado uma ‘Cidade Universitária’. Por
natural do que pensarmos em aplicar seus princípios no meio outro lado, como também pode ser considerada modelo a ser seguido
acadêmico e também no campus universitário, especialmente na solução de problemas externos e, se possível, auxiliar nas soluções
partindo do pressuposto da qualidade exemplar que a universidade permitindo assim sua integração com a comunidade.
deve trazer. O estudo proposto inicia-se com as principais definições
Considerando o caráter técnico-científico da universidade relacionadas à sustentabilidade e o desenvolvimento do conceito
contemporânea é imprescindível que o tema da sustentabilidade seja desde seus primórdios. Em seguida uma discussão sobre como o
incluído de todas as formas possíveis na formação dos futuros sistema capitalista é antagônico com relação ao conceito da
profissionais seja em sua atuação no mercado ou em pesquisa para o sustentabilidade e a apresentação das mudanças ocorridas no mundo
desenvolvimento de soluções inseridas no contexto ambiental atual. com os novos paradigmas da relação entre homem e natureza. Por
A universidade que antes tinha um caráter independente teve fim os conceitos de urbanismo sustentável e arquitetura sustentável
que se adaptar ao fato de que a infraestrutura necessária para a vida são apresentados e posicionados de acordo com a situação das
no campus é provida também, em partes, pela cidade da qual cidades modernas.
participa. Neste contexto existe uma relação de dependência, de Após o amplo entendimento da sustentabilidade e de sua
compromisso e complementariedade na qual a universidade, inserida pluridimensionalidade, o histórico do surgimento das universidades é
204
apresentado. O domínio deste percurso histórico é primordial para o A junção dos conceitos apresentados pretende apresentar
entendimento de como a universidade atual pode ser projetada e uma possível forma de concepção do campus sustentável. O capítulo
quais as consequências de se seguir modelos passados. Este histórico 5 apresentou, portanto, uma discussão das diretrizes que promovem
inicia-se com o modelo clássico e o domínio islâmico e em seguida se a implementação da sustentabilidade nas universidades segundo
volta para a Europa e o período medieval. A demanda de novos pesquisadores da área, que em síntese são: (a) a formalização do
profissionais apresentada pela revolução industrial abre a discussão compromisso da instituição com a sustentabilidade; (b) a
com foco em mudanças, e também as portas para a universidade preocupação dos gestores e líderes com o tema; (c) o
moderna e contemporânea. O estudo histórico encerra-se com a estabelecimento de uma forma consistente de avaliar o desempenho
questão relacionada às Américas, em especial, no Brasil. institucional em relação à sustentabilidade; (d) a participação dos
Compreendendo o nascimento e a evolução das universidades professores e funcionários; (e) e a inclusão da sustentabilidade nos
é possível estudar o território universitário e suas interações com a currículos.
cidade. Este estudo engloba as definições de campus universitário, Conhecendo, portanto, os conceitos e diretrizes é possível
campi universitários e também a cidade universitária. Neste capítulo entender os métodos de avaliação disponíveis e se posicionar de
também foram detalhados casos importantes de campus nos estados forma crítica em relação a eles. O capítulo apresenta em seguida
unidos e as cidades universitárias brasileiras com suas diversos exemplos de medidas sustentáveis aplicadas no mundo e no
particularidades e seu amplo campo de atuação para a Brasil direção a sustentabilidade nos campi.
sustentabilidade. Neste momento pretendeu-se constituir o É também importante ressaltar que existem no país vários
embasamento teórico necessário para a principal discussão no qual campi que tentaram, de uma maneira ou outra, tornar-se mais
este trabalho está construído. sustentáveis; o problema, algumas vezes, quando a instituição de
ensino superior acaba utilizando do propósito sem amplos estudos,
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comissões e um verdadeiro comprometimento. É não somente a falta modelo permite então o projeto específico com soluções
de compreensão ampla do termo, mas o esvaziamento que o mesmo direcionadas a cada necessidade.
acaba sofrendo pela superexposição, em outras palavras, a No projeto do campus 2 da USP de São Carlos todo o
universidade acaba fazendo do conceito uma chave ideológica para conhecimento apresentado foi aplicado inicialmente e, por motivos
tornar-se mais atrativa. financeiros e políticos, estes projetos foram modificados até que não
Outras vezes, quando há um esforço que mobiliza vários restasse mais do que a essência das ideias no projeto final.
profissionais de um campus, a barreira torna-se o problema A proposta para o campus 2 inicialmente seguiu todas as
financeiro uma vez que esse comprometimento não mobiliza os diretrizes que promovem a implementação da sustentabilidade nas
dirigentes e, novamente, a compreensão por parte de quem ocupa universidades conforme apresentadas nesse trabalho de pesquisa; a
grandes cargos para o destino da verba, e acaba sendo um fator que USP formalizou seu compromisso institucional com a
bloqueia inovações na área. sustentabilidade, compromisso este que ainda é uma preocupação
Esta dissertação encerra-se apresentando seu objetivo geral (como é possível analisar no Anexo B); existiram líderes preocupados
que foi a análise do estudo de caso sobre o desenvolvimento do com a temática e houve a inclusão de docentes e funcionários em
campus 2 da universidade de São Paulo, São Carlos, que vem equipes que trabalharam nos projetos.
buscando ser um espaço sustentável. É importante lembrar que a Falta ainda uma maneira interna e efetiva para que a
Universidade de São Paulo, desde sua fundação, segue o modelo instituição possa avaliar seu desenvolvimento institucional em
estadunidense por apresentar um campus onde ficam reunidos todos relação à sustentabilidade, o novo espaço sequer possui um Plano
os elementos necessários para o ensino e pesquisa mantendo a Diretor o que acaba por dificultar a aplicação, avaliação e até
autonomia de cada departamento, faculdade e/ou instituto. Este verificação dos objetivos que o campus possui; além dos curriculares
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dos distintos cursos não serem ambientalizados, já que nem todos os compromissados em avaliar as universidades. O que se percebe é um
docentes compreendem a importância do tema. movimento de intenções sustentáveis resultando em um mínimo de
Ao analisarmos o próprio projeto do campus 2 nada diferente ações e programas eficientes que estão longe de transformarem
foi construído do que já é possível observar há décadas em outros campi universitários em campi sustentáveis. E quando se tem a
campi de outras universidades, a proposta sustentável perdeu-se em iniciativa real e a oportunidade de implantação do projeto sustentável
palavras e a realidade não faz jus ao que poderia ser um modelo para esbarra-se em outros tipos de problemas limitantes, resultando em
o país. soluções da mesma natureza do que é praticado desde os primeiros
O resultado atual do campus 2 é uma ampla área murada e campi universitários modernos.
composta por poucos prédios distantes uns dos outros e ligados por A justificativa desta pesquisa foi a necessidade se criar uma
uma extensa avenida, no próprio campus não há muito o que possa referência mais atualizada sobre o desenvolvimento de campus
remeter à sustentabilidade, seja em questões construtivas, seja na sustentável, durante a pesquisa foi observada a necessidade de
ciclovia não instalada, seja nas áreas verdes que necessitam de um trabalhos futuros que vão além da teoria, podendo, inclusive,
maior cuidado, seja no rio que teve sua hidrologia alterada, seja na modificá-la já que há uma carência de modelos reais no país. Ao
vizinhança que permanece isolada, seja na degradação ambiental da concluir o estudo proposto é notável a necessidade de políticas,
região ou seja nos resíduos presentes nas áreas verdes; a medidas e programas eficazes que contemplem a
sustentabilidade foi reduzida à lixeiras de coletas seletivas e algumas pluridimensionalidade da sustentabilidade para que em um próximo
iniciativas estudantis que ficaram no passado. momento seja possível estabelecer novamente um estudo, porém
Esta situação inevitavelmente nos leva a uma análise crítica de neste caso, com resultados de mudanças eficazes e campi
toda a situação e a conclusão de que não existem campi realmente sustentáveis que possam servir de modelo para a construção de
sustentáveis, projetos realmente implementados, rankings realmente
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220
221
ANEXOS
222
Projeto de urbanismo criado pela equipe do professor dr. Carlos R. M. de Andrade para o campus 2 da USP São Carlos. (Essa imagem é também a capa desta dissertação).
(Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.197/6261, acessado dia 19 de fevereiro de 2017, as 18:17 hrs). Editada pela autora.
223
ANEXO A
224
225
226
227
228
229
ANEXO B
231
ANEXO B- Portaria GR No 6.664, de 07 de maio de 2015, criadora da Comissão de Planejamento Acadêmico do Campus USP de São Carlos.
(Fonte: http://www.prefeitura.sc.usp.br/boletim_informegeral/pdf/portaria_gr_6664_2015.pdf , acessado dia 24 de fevereiro de 2017, as 15:03 hrs).