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2011 09 20 Captulo 4 Ética Da Alteridade - Pergentino S. Pivatto

Este documento apresenta um resumo do capítulo 4 do livro "Correntes Fundamentais de Ética Contemporânea" sobre a ética da alteridade de acordo com o filósofo Emmanuel Lévinas. O autor descreve as principais rupturas propostas por Lévinas em relação à tradição filosófica ocidental, como rejeitar a consciência racional e a ontologia que reduz o outro a objeto, e propõe que a ética se instaura na relação entre os seres humanos.
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Este documento apresenta um resumo do capítulo 4 do livro "Correntes Fundamentais de Ética Contemporânea" sobre a ética da alteridade de acordo com o filósofo Emmanuel Lévinas. O autor descreve as principais rupturas propostas por Lévinas em relação à tradição filosófica ocidental, como rejeitar a consciência racional e a ontologia que reduz o outro a objeto, e propõe que a ética se instaura na relação entre os seres humanos.
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CENTRO DE EDUCAÇÃO E FILOSOFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA


MESTRADO EM FILOSOFIA
Questões de Ética Aplicada III
Prof. Dr. André Brayner de Farias

Apresentação do Seminário

ÉTICA DA ALTERIDADE
Por Pergentino S. Pivatto

Mestrando
Cristiam Baldissera de Oliveira

Caxias do Sul, Setembro de 2011.


CORRENTES FUNDAMENTAIS DE ÉTICA CONTEMPORÂNEA
Manfredo A. de Oliveira (organizador)
4. ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009

Capítulo 4
ÉTICA DA ALTERIDADE
Pergentino S. Pivatto (Professor da PUC-RS)

Introdução
O autor desenha o cenário no qual Lévinas desenvolve seu pensamento. As guerras
mundiais, as revoluções que traíram seus ideais, a paranoia nazista e a perseguição dos judeus e
a experiência do próprio Lévinas como oficial judeu e prisioneiro de guerra, todas evidências de
crise da razão e das ciências humanas, e da ruína do humanismo e da cultura Ocidental. Assim,
para alguns o autor parece um profeta que clama, para outros um severo crítico a todos os
humanismos como o de Heidegger. Lévinas, na verdade se inspira na moral mosaico-profética
que confronta com a grega. “Elabora lenta e progressivamente um pensamento original e
fecundo, em diálogo com alguns representantes da tradição filosófica ocidental, no qual propõe
um “humanismo do outro homem”, aberto ao infinito e responsável pelo outro.” (p. 80)
As formas de realização pessoal e social da tradição ocidental confrontam-se com a questão
essencial que o estudo do homem levanta. Lévinas propõe, então, repensar o ser e o saber para
possibilitar o alcance de uma ética pré-original e a partir daí instaurar uma nova ordem onde o
homem possa ser colocado acima do natural e do ontológico.
Na dimensão individual, o autor utiliza o a expressão conatus essendi1, para traduzir a luta
pela sobrevivência na satisfação das necessidades básicas, econômicas, sociais, de emancipação e
autonomia, da luta pela possibilidade de ser contra a angústia da limitação humana, contra a
queda na impessoalidade ou no nada, a busca da essência do ser. Concorda, no entanto com
Pascal que essa busca de um lugar ao sol leva ao início de todas as usurpações.
Para Lévinas todas as estruturas sociais, culturais, legais e morais desenvolvidas ao longo
das história serviram apenas para galgar alguns degraus de civilidade. Perpetuamos o vae victis2
sempre que aprovamos a uns serem mais a custa de outros, então, a ética alcançada fica à mercê
dos vencedores ou da hermenêutica da conjuntura anônima. Mesmo o alto ideal ético ocidental
é insuficiente para abrigar o ser como ímpeto guerreiro. A história recente da humanidade

1
Expressão latina que significa “esforço de vida”.
2
Expressão latina que significa “aí dos vencidos”.
2
comprova que a ética foi instaurada sobre instituições baseadas na velha ordem do ser não
conseguindo lograr valia. Mesmo as revoluções desalienantes acabaram alienadas por basear-se
nos antigo princípio ser-poder-saber.
Não podemos proteger-nos nas instituições alienadas, em nossa própria consciência, ou
adotar o mea non referit3.
“O fiasco humano de que dão testemunho as crises de nosso
tempo impõe a Lévinas um novo ponto de partida: a
experiência originária do encontro humano. Parte da ideia de
que o homem toma seu sentido maior na relação com o outro
homem, com o próximo. Várias teses são afirmadas:
Singularidade irredutível de cada homem, com seu valor
único que precede sua universalização no saber e na política;
a ética instaura-se na relação inter-humana, neste ponto
coincidente com proposições de Buber e Marcel; a ética é o
sentido profundo do humano e precede a ontologia. Propõe-
se, por conseguinte, conferir-lhe nova inteligibilidade e novo
estatuto. Para tanto, e com originalidade, opera inflexões
novas e surpreendentes sobre conceitos clássicos referentes
à filosofia, ao mesmo tempo que propõe uma série de
rupturas.”(p. 81)

1 Rupturas

1. Lévinas rejeita a consciência racional tradicional. É possível atingir apenas aspectos do


saber o outro através de nossa percepção ou imaginação. A ontologia reduz o outro a
objeto e o despoja de sua alteridade, diminui a relação humana à correlação sujeito-
objeto e anula seu impacto ético-prático.

2. O sujeito é imerso em um caudal ético composto por instituições, sociedade e teorias,


que, apesar de sua abrangência, fracassaram no papel de sustentar as relações humanas,
especialmente “na política e na técnica que convergem na negação dos projetos que a
conduzem” (HAH, 67). Lévinas constrói uma nova concepção de subjetividade, onde o
homem não se frustra ao apelo vindo do outro em uma relação face-a-face basilar para a
moralidade.

3. “É mister romper com o esquema do objetivismo correlativo por não contemplar uma
relação em que a alteridade do outro seja resguardada inclusive pelo sujeito
conhecedor” (p. 83)

4. Lévinas propõe um novo desenvolvimento de conceitos, que, diferente do modelo


transcendental, não busca o fundamento como condição de possibilidade. A
fenomenologia, estudo da consciência e dos objetos da consciência, lhe permite
preservar a alteridade sem perder a essência do discurso filosófico. “A nova modalidade
presta atenção ao fenômeno do esquecimento e do secreto da consciência, sua
modalidade constitutiva e sitetizadora que, para além do psicológico ou do objetivo,
revela o sentido da objetividade ou do ser.(...) O escondido e secreto, por trás do cenário,

3
Expressão latina que significa “não contém o meu”
3
é precisamente a relação inter-humana na qual Lévinas vê a textura da inteligibilidade
última e a instauração do sentido humano, que o método transcendental negligencia” (p.
83)

5. Para nortear um caminho digno ao humano, Lévinas enfrenta a sabedoria grega e as


bases milenares que consolidaram os ideais do ser, do poder e do saber. Inspira-se na
tradição semítica que coloca a moralidade como base social e encontra a ideia platônica
do bem além do ser, a ideia do infinito de Descartes e a sublimidade do imperativo
kantiano.

“A relação com o outro é antevista como relação que supera


os quadros ontológicos, como movimento que leva para além
do ser, para a transcendência que é o bem. Com isto,
percebe-se em Lévinas uma convicção algo kierkegaardiana,
de que o pessoal concreto conta mais que o geral
abstrato.”(p. 84)

Rompe também com o estruturalismo (impessoalidade das engrenagens sociais e da


linguagem), com o marxismo (socioeconômico coletivizador) e com a psicanálise
(inconsciente e pulsões libidinais e tanáticas).

2 Abertura – Opção
“Pode-se dizer que são três as grandes instituições filosóficas
da proposta ética de Lévinas: a afirmação da subjetividade
individual como ponto extremo em que se refugia e sustenta
a moral, quando tudo mais faliu; a relação inter-humana
entre eu e outro como a intriga fundamental que precede a
ontologia, a partir da qual se estrutura a ética como
inteligibilidade e sentido, para além do ser e da totalidade; e
o rigor fenomenológico-especulativo com que elabora, com
incessantes e sucessivas retomadas, a inteligibilidade da
transcendência que da relação em que desponta a alteridade,
renovando conceitos e desconstruindo sentidos pelo fato de
os ressituar em cenários “fora de contexto” que dispensam os
contornos do ser e da totalidade.” (p. 85)

3 Peso e solidão de ser


Uma das instituições básica em Lévinas é o peso e a solidão do ser, que a pesar de inúmeras
tentativas de libertação e êxodo, jamais foram superadas.
“A solidão revela-se uma marca profunda na estrutura
ontológica do sujeito. Mas contém sua face positiva: desvela
a sua unicidade e autonomia irredutíveis a qualquer
totalização. É a riqueza maior dessa solidão ontológica,
contraída na própria hipóstase (cf. EE, 141), que marca o
próprio acontecimento do ser. Denota, por outro lado, o
domínio autônomo que assume o existir e se impõe sobre a

4
neutralidade do puro existir, chamado ‘il y a’4 (EE, 2ª ed., 10-
11), da qual se arranca e se separa por sua subjetividade. A
subjetividade traduz-se como separação e segredo. Sem
dúvida é melhor ser que não ser. Mas, a libertação frente ao
puro existir anônimo torna-se logo ‘acorrentamento a si’ que
é o fenômeno da identificação na qual se percebe mônada
separada do indeterminado, porém solitária(ibidem, 135).
(...)
A primeira ruptura na ordem do ser e da totalidade acontece
como um eu. Mas o eu, no seu processo identificador,
percebe-se ancorado radicalmente no puro existir mesmo nas
tentativas de vôos exodais. É incapaz de transcendência por si
só.
(...)
Para poder suportar a responsabilidade na relação ética é
mister um existente bem aprumado no ser e no seu eu, capaz
de solidão e de independência.” (p. 85)
“Ser é existir de maneira a já estar além do ser na felicidade.
Para o eu, ser não significa se opor, se representar alguma
coisa, se servir de algo ou aspirar alguma coisa, mas gozar de
tudo isto” (TI, 92).

4 Evasão
“Como na física, tudo se transforma, mas uma realidade
permanece igual: a energia; do mesmo modo, diz Lévinas,
opera a ordem ética que nasce da cultura do pensamento
ocidental: há transmutações de energias, mas o eu, idêntico,
como Narciso enamorado da sua imagem, permanece o
mesmo. Não basta para a obra ética, uma idéia de bem, de
vida boa, é preciso um caminhar, um transcender em direção
ao bem, para além do ser e suas medidas. ‘A obra ética
radicalmente é, na verdade, um movimento do mesmo que
vai em direção ao outro, sem nunca retornar ao mesmo’
(DEHH, 191). A única ruptura possível é a relação ao outro, no
vestígio do infinito.” (p.87)

5 Relação de alteridade
“O eu não se deve ao ser mas ao outro. Voltar-se para e pelo
outro significa responsabilidade. Manifesta des-inter-
essamento de si e do seu ser, dispõe-se ao outro, o primeiro
que se apresenta, sem ser objeto de escolha, aliás, sem ser
objeto absolutamente. Descortina-se a relação como ética
pelo transcender-se do eu, abrindo a ordem da bondade. A
ética torna-se o eixo fundamental precisamente porque
contém e revela a possibilidade e a realidade do além do ser e
da identidade do mesmo como transcender para o outro

4
“il y a” é expressão francesa que pode significar existe ou existem.
5
numa relação estável que Lévinas chama alteridade. Isto não
acontece no além-mundo nem numa quintessência
especulativo-desejante, mas na arena da vida social, unindo
transcendência com cotidianidade, razão e práxis.” (p.88)

6 Textura moral da subjetividade

Conclusão

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