Monografia Pós Graduação Cleia
Monografia Pós Graduação Cleia
Marília, SP
2014
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Marília, SP
2014
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Aprovado em _____/_____/_____
Banca Examinadora
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“Se tomarmos os homens como eles são, então os tornaremos piores, mas se os
tomarmos como eles devem ser então os transformaremos naquilo que eles podem
ser.” ( Viktor Frankl)
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RESUMO
ABSTRACT
This research project about spirituality in Viktor E. Frankl, presents as clipping the
contributions of the Logotherapy for a discussion and reflection on the spiritual
dimension of the human being, through literature review. It is known that the
knowledge of vision bio-psycho-social man is widespread in the field of human
sciences. However, it is necessary also to consider also the noetic field that Frankl
called by the “spiritual” as one of its dimensions. A dimension that characterizes it as
a human being. Whereas the three-dimensional study of man presents a reductionist
view, the main objective of this study is to present the contributions that Logotherapy
has been showing in man’s vision in the field of psychology and consequently in
human life and all its fullness.
9
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................12
2. LOGOTERAPIA................................................................................................16
3.DIMENSÃO ESPIRITUAL................................................................................. 24
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 34
REFERÊNCIAS ...................................................................................................36
12
APRESENTAÇÃO
14
Viktor Emil Frankl 1um vienense filho de família judia, nascido em 26/05/1905;
acreditava que mesmo diante de situações extremamente negativas, o ser humano
pode responder positivamente, porque há na sua constituição como ser, a dimensão
espiritual, que jamais adoece e que o caracteriza como humano. Teoria comprovada
mais tarde no período da segunda guerra quando Frankl fora preso em campos de
concentração nazistas e ratificou sua teoria, transformando a tragédia em triunfo
pessoal.
Com 4 anos já pensava na finitude da vida, fazia muitas perguntas.
Costumava ficar escondido debaixo das mesas para ouvir os debates científicos.
Aos 13 anos sente que é submetido a uma aprendizagem reducionista e começa a
contestar o que era dito em nome da ciência. Por volta dos 18 anos ele próprio
passou pela apatia e vazio existencial chegando numa vivência extrema de falta de
sentido para a vida.
Aos 23 anos já era médico formado pela Universidade de Viena, quando
introduziu o conceito de Logoterapia. Percebe que falta algo, pois só a Psicologia
não alcança a explicação completa do homem. Traz a resposta de re-humanizar o
entendimento sobre o homem. Sabia que a Logoterapia não seria um sucesso, muito
menos bem recebida no mercado, por exigir uma transformação interior de renúncia
ao ego, mas que seria profundamente produtivo em cada pessoa que a recebesse.
Foi diretor do Hospital neurológico e clinicava sem cobrar consultas,
preocupado com o alto índice de suicídio do pós-guerra. Dava orientação para a
juventude trabalhadora socialista, que na época vivia sob o terror do desemprego,
principalmente para judeus.
Frankl conseguiu reduzir a zero o número de suicídios, através de um
programa de aconselhamento a estudantes; pois acreditava que o homem precisa e
busca sentido na vida – tema que se torna o carro chefe da sua abordagem
logoterápica. Concluiu o curso de medicina com apenas 25 anos, recebendo a dupla
qualificação de neuro-psiquiatra. Foi chefe do pavilhão de mulheres com tendências
suicidas no Hospital Psiquiátrico de Viena. Trabalhou no Hospital Psiquiátrico Am
Steinhof e no Hospital Neurológico Maria Theresien. Conseguiu um visto para
1
Biografia baseada na leitura dos livros: “Logoterapia e Análise Existencial” e " A psicologia do Sentido da Vida"
2
Frase
de
Dan
Blazer
no
seu
livro
“Freud
versus
Deus”:
“Creio
que
a
psiquiatria
moderna
perdeu
sua
própria
15
2.LOGOTERAPIA
Estudar esta dimensão humana implica em ver o homem com liberdade para
se posicionar diante dos condicionamentos da vida. A posição de homem livre
também implica em responder às questões vivenciais de maneira responsável. Ela
mostra que é possível vislumbrar um mundo onde o ser humano é chamado a
satisfazer seus desejos, impulsos, instintos, etc., mas não precisa ser determinado a
(re)agir dessa forma. Seu espirito (essência) não se deixa necessariamente
condicionar. Contudo essa liberdade não se identifica com a arbitrariedade, porque
ela tem um sentido. Liberdade não significa ausência de obstáculos, pelo contrário, é
recheada de limites próprios do humano, pois este não é onipotente. Mas mesmo
diante dos sofrimentos, situações que fogem ao seu controle, o homem tem
liberdade para decidir como viver em tais circunstâncias. O que mobiliza o homem
não é determinado, é livre. Uma vontade que o mobiliza não para sua satisfação,
mas para a busca de um sentido. Ou seja, a responsabilidade implica em realizar
sentido e valores. A liberdade é algo muito especial mas infelizmente, muitos
acabam por abdicar-se dela. Segundo FIZZOTTI (1998, p. 22): “Embora você tenha
na consciência o instrumento capaz de indicar que sentido tem uma situação
específica, você sempre será livre de seguir sua voz ou de não fazer caso dela, e
até mesmo, de reprimi-la.” O mérito e a culpa só existem por conta da
responsabilidade e da liberdade.
O ser humano é livre para escolher se deseja seguir ou não os
condicionamentos; para escolher seu modo de atuar no mundo, seu jeito de ver o
outro; não apenas uma liberdade de, mas liberdade para. Ele é livre para realizar,
para responder à vida e para se posicionar perante seus instintos, sua herança
genética e seu meio ambiente. De acordo com FRANKL :
O ser humano não é completamente condicionado e determinado; ele
mesmo determina se cede aos condicionamentos ou se lhes resiste. Ele
não simplesmente existe, mas sempre pode decidir qual será sua
existência, o que ele se tornará no momento seguinte. Uma das principais
características da existência humana está na capacidade de se elevar
acima dessas condições, de crescer para além delas. (2008, p.153)
19
escolhas e possibilidades que a vida traz, quanto no nível vertical, que é a abertura
mais profunda em busca da relação com o Sagrado.
A autotranscendência é a orientação primordial do ser humano para a busca
do Supra-sentido, o sentido último da vida, que está para além da psique ou de
qualquer capacidade intelectual. O homem procura por um poder superior que vem
da sua busca pelo sentido último das coisas, para sentir-se pleno na sua existência.
Tal sentido leva-nos a concluir que nosso espírito possui a abertura para o Criador.
Através do espírito que podemos acessar a fagulha da divindade que está no
humano. Talvez por isso XAUSA(1988) afirma que a Logoterapia libera a
religiosidade da repressão científica, reconhecendo em Deus o sentido último da
existência.
Outra ponto identificador da Logoterapia refere-se ao vazio ou vácuo
existencial; percebido através do tédio (falta de interesse) e da indiferença (falta de
iniciativa). A existência humana, que ignora a dimensão espiritual, traz como
conseqüência, um contexto social carregado de atitudes desprovidas de sentido.
Trazendo a reboque, comportamentos que exaltam o biopsíquico e desconsiderando
a força que há na dimensão espiritual. Para HOZ “O homem converte-se em um ser
dirigido por outros, que aceita as ideias e utiliza as coisas sem preocupar-se por
compreender o seu sentido. A liberdade desaparece na atitude passiva diante da
abundância de informação não digerida.”
Os valores éticos e morais estão cada dia mais subjúdice. São colocados à
prova em todos os âmbitos sociais. Nos conflitos que colocam o homem moderno
frente a situações ambíguas que requer sua decisão, este prefere abrir mão de um
valor moral, em prol da satisfação do desejo pessoal. Parafraseando BLAZER (2001,
p. 159) podemos dizer que a sociedade moderna perde sua própria alma quando se
esquiva das preocupações sobre integridade, sentido e a transcendência.2
A discussão e os fatos giram em torno da ideia da não existência de valores
eternos, mas modificáveis conforme a cultura vigente. Os niilistas rejeitam a ideia de
existir uma verdade para todos, porém, como bem pontua SPONVILLE: (2007p.52)
“Se não houvesse uma verdade, não haveria conhecimento... Se não houvesse
valores não haveria direitos humanos nem progresso social e político... Toda paz
seria vã.” O ser humano necessita de uma verdade que universaliza, que delimite os
2
Frase
de
Dan
Blazer
no
seu
livro
“Freud
versus
Deus”:
“Creio
que
a
psiquiatria
moderna
perdeu
sua
própria
alma
quando
se
esquivou
das
preocupações
sobre
a
integridade,
o
sentido
e
a
transcendência.”
22
3.DIMENSÃO ESPIRITUAL
mundo. A visão de Husserl foi importante porque ele sai do dualismo para chegar ao
que é puro; rompe com o positivismo e dá uma amplitude maior para analisar o
homem.
Com uma nova abordagem do que seja ciência, as vivências do homem
puderam ser estudadas em profundidade. Entra fazendo parte desse escopo, a
dimensão espiritual do homem, introduzida por Viktor E. Frankl, até então, rejeitada
no plano científico.
Como aponta CASTAÑON:
Uma vez que a ciência moderna se apresenta como atividade que
estabelece hipóteses sobre leis naturais através de experimentação e
formalização (se possível matematização), e que estas hipóteses testadas
também devem apresentar capacidade preditiva, sempre foi questionada
interna e externamente a possibilidade de investigação científica da psique,
consciência, ou de quaisquer das definições originais de objeto desta
disciplina (2006)
pesquisa científica, mas mesmo sendo de difícil percepção pela ciência tradicional,
não quer dizer que ela não exista. A crítica de LUKAS (2006, p. 90) procede:
“Infelizmente a Psicologia, com sua rigorosa preocupação de ser científica, tende a
suprimir a alma e o lado espiritual no homem...”
A dimensão espiritual não é entendida como uma dimensão separada das
demais, mas o homem é uma unidade; não se concebe uma sem a outra. As três
dimensões (bio-psico-espiritual) formam uma unidade (FRANKL, 2011, p.33). A
figura abaixo é uma tentativa de visualizar, para um melhor entendimento das três
dimensões essenciais e explicar o homem segundo sua ontologia dimensional.
O espiritual, chamado por Frankl de dimensão noética, não é mais uma
dimensão, mas aquela que promove a unidade. As dimensões biológicas e
psicológicas estão num paralelismo, elas influenciam uma a outra, enquanto que
entre elas e a dimensão espiritual, constitutivamente existe um hiato – O espiritual
está numa posição antagônica; por isso o sujeito pode posicionar-se diante do seu
organismo bio-psíquico, seus sintomas, instintos ou qualquer outro determinismo.
Dimensão Ontológica do Homem:
PHISYS
PSYCHE
NOÉTICO
pode ser determinado pela maneira de ser dos próprios objetivos; e por último, a
consciência de si, de forma que atinge o autodomínio e o recolhimento em si
mesmo”.
O humano é mais do que o bio-psíquico. Até porque, algumas explicações
escapam a estes dois planos, como: a origem dos valores, da generosidade, da
moral e do amor, a produção artística e a experiência religiosa, que fogem às
explicações no plano psiquiátrico; pois são inclinações que não podem derivar
somente do corpo e da psique.
De acordo com FRANKL (2010, p. 141) “Sempre que alguém sucumbe às
forças do seu meio-ambiente social que lhe modelam o caráter, - é precisamente
porque antes se deixou decair no aspecto espiritual.”.
Falar de dimensão espiritual é falar da essência do ser humano. Este é
sempre um poder ser; ele sempre se dirige para algo ou alguém diferente de si
mesmo; o que lhe confere a capacidade de superação, o que é o constitutivo do
modo de ser do humano.
É fato que o homem é bio-psíquico, entretanto, ele não é só isso, ele pode se
elevar por conta da sua dimensão espiritual; que é onde está sua liberdade. O
homem é sim um ser forçosamente condicionado pelo ambiente, mas tem a
capacidade acima do bio-psíquico, de responder livremente (espiritualmente) e agir
“fora do esquema”, ou seja, a pessoa pode ser mais forte do que seu destino
exterior. Em relação à sua experiência no campo de concentração nazista, FRANKL
pontua:
Não haveria ali um mínimo de liberdade espiritual no comportamento, na
atitude frente as condições ambientais ali encontradas? Será que a pessoa
nada mais é que o resultado de múltiplos determinantes e
condicionamentos, sejam eles de ordem psicológica ou social? Seria a
pessoa apenas produto aleatório de sua constituição física, da sua
disposição caracterológica e da sua situação social? E mais
particularmente, será que as reações psíquicas da pessoa a esse ambiente
estariam de fato evidenciando que ela não pode fugir às influencias dessa
forma de existência que ela foi submetida à força? Ela precisa
necessariamente sucumbir a tais influências? (2008, p.87).
perde, ainda que aja de alguma maneira que venha a ferir essa dignidade, ainda que
se depare com uma situação inevitável, a própria situação pode servir de
experiência para que o homem cresça interiormente para além de si mesmo. O ser
humano só se realiza à medida que vive em direção a um sentido a ser
concretizado.
O homem tem uma espiritualidade inconsciente que não pode ser confundida
com o intelectual. Tampouco pode ser confundido com espiritual no sentido religioso;
mesmo porque, a vida espiritual está presente no ser humano e não apenas no ser
religioso. Conforme a própria definição (SPONVILLE, 2007):
Espiritualidade é a nossa relação com o infinito ou com a imensidade, nossa
experiência temporal da eternidade, nosso acesso relativo ao absoluto (p.
189 )... O que posso testemunhar, de minha parte, é que ser ateu não
impede de servir-se do seu espírito, nem de desfrutar dele, nem de rejubilar-
se com ele...(p. 178)
Independente de se crer em Deus, o homem está aberto ao infinito, busca
pelo sentido da vida, vai além de si mesmo, está livre para amar... estas são
características que configuram a existência humana.
outro modo, não conseguiria enxergar a luz no final do túnel, que inevitavelmente,
vai cruzar nossas vidas. O espiritual do homem é capaz de mostrar-lhe essa luz,
pois não pode se contaminar com as patologias mais diversas que atingem o
biopsíquico do indivíduo.
Até no último suspiro o homem tem a oportunidade de vislumbrar sua vida
cheia de sentido, tanto sua vida quanto sua morte. FRANKL descreve situações
vividas no campo de concentração nazista, que ratificam a tese de que o homem
não precisa ser produto do seu meio:
De modo algum todos se animalizaram sob a pressão da fome, conforme se
ouve contar com tanta frequência e leviandade. Houve homens que
cambaleavam através de barracas de alojamento e por cima de locais de
chamada e distribuíam aqui uma boa palavra e ali um último pedaço de pão
aos seus companheiros. Este fato pode ser confirmado por quantos
prisioneiros de guerra tenham sobrevivido ao respectivo campo. Diante
disso já não se ousariam sustentar que a prisão, que o campo de
concentração, que, enfim, influências ambientais, sejam quais forem,
determinem o homem em seu comportamento de modo uniforme e
inevitável. (Frankl, 2011)
A ideia de sentido na Logoterapia traz a visão do homem que vive por uma
missão. O animal tem uma vida que simplesmente é dada, uma realidade que
precisa se manter para preservar a sobrevivência; as ações são causadas,
determinadas. Já para o homem, a vida é uma tarefa a cumprir, uma missão a
realizar. Quanto mais o homem perceber o caráter de missão que a vida lhe oferece,
mais a sua vida será cheia de sentido. Na visão frankliana ao invés do homem dizer:
“...Não posso esperar mais nada da vida!” deve dizer: “O que a vida espera de
mim?”
3
Esquema
feito
pela
Professora
Heloísa
Marino.
29
viver; a sabedoria popular confirma esta ideia quando diz que “Quem não vive para
servir, não serve para viver.”
Ao invés de reagir aos estímulos ou obedecer aos impulsos, o ser humano
responde às questões que a vida lhe impõe, realizando assim os significados que
lhes são oferecidos.
4
Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. Livro de Salmos capítulo 42 verso 2.
30
Deus, é um homem de ouvido mais agudo do que o não religioso. LUKAS (2006)
declara: “O homem não é nenhuma mistura de informações genéticas e conteúdos
de aprendizagem. No homem existe algo que não é deste mundo”.
É grande o número de profissionais da saúde, que deixam de promover a
“saúde psíquica”, por não darem a devida importância no aspecto religioso de seus
pacientes e agem até mesmo com preconceitos e ignorância quanto à influência
positiva que ela exerce na cura e qualidade de vida do ser humano. De acordo com
PAIVA (2000) foi feito um levantamento sobre crenças religiosas entre os cientistas
dos EUA em 1975; cabendo aos psicólogos o maior grau de irreligiosidade.
Conforme o mesmo autor as instituições de ensino superior daquele país, em sua
maioria, expressamente propagam ideias hostis à religião por conceberem a ideia de
que qualquer forma de busca à Deus seja contrário à ciência moderna. Como bem
coloca COLLINS (2007, p. 130) “uma compreensão moderna da ciência pode se
harmonizar com uma busca por Deus, pois é um atributo amplamente partilhado por
toda a humanidade”. Ainda que muitos males tenham sido causados em nome da
religião - embora atos de compaixão de grandiosidade inegável também tenham sido
abastecidos pela fé - de maneira alguma tal realidade pode ser desvinculada da vida
humana.
Viktor Frankl foi um dos primeiros a chamar a atenção para que os
profissionais da saúde se ocupassem com a questão espiritual e consequentemente
com a questão de Deus. Escreveu um livro5 para trazer à tona este tema que faz
parte da essência do ser humano. Se a religiosidade for negligenciada, então
correremos o risco de não conseguirmos diferenciar as patologias pseudo-religiosas
dos aspectos essenciais da autêntica humanidade do ser.
imagem do mundo como ele vê. Devemos colocar o paciente face a face com sua
condição real e consciência. É importante promover simultaneamente a motivação, o
interesse e o restabelecimento da capacidade de amar, trabalhar, perceber e sofrer,
trabalhando com sua patologia sem nenhum dano para si mesmo. Pode-se dizer que
os objetivos importantes a serem perseguidos na clínica é o de restaurar a
capacidade do homem para trabalhar, gozar a vida e recuperar a capacidade de
sofrer se for necessário; trazendo à consciência a espiritualidade inconsciente. O
fazer profissional do logoterapeuta tem um diferencial por conta da visão de homem:
Técnicas – Segundo FRANKL (2010, p.312) “Por muito que a técnica e a ciência
constituam partes integrantes da psicoterapia, esta sempre e em última análise, se
baseia menos na técnica do que na arte e menos em ciência do que na sabedoria.”
O importante é a visão com que as técnicas são abarcadas pelo analista existencial
e o como é conduzida esta técnica, seja ela qual for, e a relação que se mantém
com seu paciente.
32
Religião – XAUSA (1988) citando Jung afirma que: “Como sou médico, não tomo de
partida qualquer credo religioso, mas sim a Psicologia do homo religious”. Assim se
comporta o profissional da Logoterapia, que não sugere nenhuma crença pessoal ou
prescreve religião ao seu paciente, pois a clínica não é o espaço da pregação (ou
exortação moral) mas não ignora o fato de a religião (quando vivida sem fanatismo
ou presunção de detentores da verdade) poder ser um caminho que consiga
conduzir o homem ao encontro do sentido da vida.
Passado - Não fecha o foco apenas no passado, pois ele não decide todo o futuro
do ser humano; o homem não é um ser que foi e por isso é, mas também um ser
que pode vir a ser. A análise não é baseada em complexos psicológicos e traumas
do passado, pois o passado não pode ser alterado. Ele torna compreensível o
presente, mas ele não determina o futuro. Segundo LUKAS (2006, p.16) “De forma
alguma basta uma análise retrospectiva do seu passado, retrocedendo até sua
infância. Não é suficiente a mera solução de nós e complexos, pois tal solução só
lhe pode ocorrer quando se lhe abre um novo futuro, uma integração cheia de
sentido num mundo e num ambiente dotados de sentido.” Sendo assim, os erros do
passado tornam-se úteis para configurar um futuro melhor.
Parafraseando Frankl6 quando se referiu aos médicos, poderíamos dizer: “Eu
estou convencido de que as palavras milenares de Isaias – “Eis o que diz o nosso
Deus: Consolai o meu povo, consolai” – conservam ainda hoje em plena validade;
6
A
palavra
“
logoterapeutas”
foi
usada
para
substituir
“médicos”
no
texto
do
livro
“Psicoterapia
e
sentido
da
vida”
P.315)
33
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não pode ser o “id” que impulsiona o homem em direção a Deus, assim não
é a pessoa quem se decide. A religiosidade não pode estar ligada a elementos do
inconsciente arcaico ou coletivo, pois ir em busca de Deus representa uma decisão
pessoal do homem, prova é que existem aqueles que optam pelo ateísmo; portanto
esse inconsciente espiritual tem o poder de decisão, não é determinante, é
existente.
Estas disposições teóricas das correntes psicológicas mostram um homem
visto pela ótica incompleta do que realmente caracteriza o ser humano. A raiz
logoterápica vai além do que a ciência e a Psicodinâmica dizem deste homem, pois
leva em conta a dimensão que realmente o caracteriza, que é sua dimensão
espiritual; o que faz grande diferença e é fundamental para as propostas de
conhecimento, cura e “re-humanização” do ser humano.
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REFERÊNCIAS
Artigos Científicos:
Eletrônicos:
XAUZA, Izar Aparecida de Moraes. Viktor Frankl entre nós. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2012. Disponível em: http://books.google.com.br/ Último acesso em :
09/03/2014
Diversos:
Bibliográficas:
36
PAIVA, Geraldo José de. A Religião dos Cientistas- Uma leitura Psicológica.
Edições Loyola. São Paulo, 2000.
PETER, Ricardo. [1943]. Viktor Frankl, a antropologia como terapia. São Paulo:
Paulus, 1999.
BLAZER, Dan. Freud versus Deus. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2002.
37
GARCIA HOZ, Victor [1911]. Pedagogia Visível: Educação Invisível. São Paulo:
Nerman, 1988.
______. O que não está escrito em meus livros: Memórias [1995]. São Paulo: É
Realizações, 2010.
______. Psicoterapia. Uma casuística para médicos. [1905] São Paulo, EPU, 1976.