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Modulo 10.saude - Idoso - Medicina-Final - Ficha Isbn

Saúde do idoso.

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Especialização Multiprofissional na

Atenção Básica
Universidade Aber ta do SUS

Eixo III - A Assistência na Atenção Básica


Atenção Integral à Saúde do Idoso
Medicina
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República
Ministro da Saúde
Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)
Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)
Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na Saúde
Responsável Técnico pelo Projeto UNA-SUS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


Reitor Luís Carlos Cancellier de Olivo
Vice-Reitora Alacoque Lorenzini Erdmann
Pró-Reitor de Pós-graduação Sérgio Fernando Torres de Freitas
Pró-Reitor de Pesquisa Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão Rogério Cid Bastos

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


Diretora Isabela de Carlos Back Giuliano
Vice-Diretor Ricardo de Souza Vieira

DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA


Chefe do Departamento Antonio Fernando Boing
Subchefe do Departamento Fabrício Augusto Menegon
Coordenadora do Curso Fátima Buchele Assis

COMITÊ GESTOR
Coordenadora Elza Berger Salema Coelho
Coordenadora Pedagógica Kenya Schmidt Reibnitz
Coordenadora Executiva Rosângela Leonor Goulart
Coordenadora Interinstitucional Sheila Rubia Lindner
Coordenador de Tutoria Antonio Fernando Boing

EQUIPE EAD
Alexandra Crispim Boing
Antonio Fernando Boing
Eleonora Milano Falcão Vieira
Marialice de Mores
Sheila Rubia Lindner
AUTORES 1ª EDIÇÃO 2ª EDIÇÃO ADAPTADA 3ª EDIÇÃO
Jussara Gue Martini Jussara Gue Martini Jussara Gue Martini
Ana Lúcia Schaefer Ferreira de Mello Ana Lúcia Schaefer Ferreira de Mello Ana Lúcia Schaefer Ferreira de Mello
André Junqueira Xavier André Junqueira Xavier André Junqueira Xavier
Lúcio José Botelho Lúcio José Botelho Lúcio José Botelho
Fernando Mendes Massignam Fernando Mendes Massignam
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Atenção Integral à
Saúde do Idoso
Medicina

Versão adaptada do curso de


Especialização Multiprofissional em Saúde da Família

Eixo III
A Assistência na Atenção Básica

Florianópolis
UFSC
2016
© 2016 todos os direitos de reprodução são reservados à Universidade Federal de Santa Catarina.
Somente será permitida a reprodução parcial ou total desta publicação, desde que citada a fonte.

Edição, distribuição e informações:


Universidade Federal de Santa Catarina
Campus Universitário, 88040-900 Trindade – Florianópolis – SC
Disponível em: www.unasus.ufsc.br.

Ficha catalográfica elaborada por Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074

U588a Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde.


Curso de Especialização Multiprofissional na Atenção Básica – Modalidade
a Distância.

Atenção integral à saúde do idoso: medicina [recurso eletrônico] /


Universidade Federal de Santa Catarina. Jussara Gue Martini... [et al]
(Organizadores). 3. ed. — Florianópolis : Universidade Federal de Santa
Catarina, 2016.

94 p.

Versão adaptada do curso de Especialização Multiprofissional em Saúde da


Família.
Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br

Conteúdo do módulo: Vulnerabilidades ligadas à saúde do idoso. – Ações


da clínica e do cuidado nos principais agravos à saúde do idoso. – Práticas
educativas na atenção à saúde do idoso. - Experiências exitosas no
trabalho interdisciplinar na atenção básica, saúde do idoso.

ISBN: 978-85-8267-091-0

1. Atenção básica em saúde. 2. Saúde do idoso. 3. Atenção integral à saúde do


idoso. I. UFSC. II. Martini, Jussara Gue. III. Mello, Ana Lúcia Schaefer Ferreira
de. IV. Xavier, André Junqueira. V. Botelho, Lúcio José de. VI. Massignan,
Fernando Mendes. VII. Título.
CDU: 613.98

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL


Coordenação Geral da Equipe: Eleonora Milano Falcão Vieira, Marialice de Moraes
Coordenação de Produção: Giovana Schuelter
Design Instrucional: Marlete Vieira, Soraya Falqueiro
Revisão Textual: Deise Joelen Tarouco de Freitas, Flávia Goulart
Design Gráfico: Fabrício Sawczen
Ilustrações: Fabrício Sawczen
Design de Capa: Rafaella Volkmann Paschoal
SUMÁRIO

Unidade 1 introdução. ...........................................................................11


Referências. ........................................................................................16

Unidade 2 vulnerabilidades ligadas à saúde do idoso....................................19


2.1 Biologia do envelhecimento............................................................................... 19
2.2 Aspectos sociais do envelhecimento................................................................. 22
2.3 A entrevista....................................................................................................... 25
Referências. ........................................................................................28

Unidade 3 ações da clínica e do cuidado nos principais agravos


à saúde do idoso....................................................................31
3.1 Alimentação e nutrição...................................................................................... 31
3.2 Osteoporose ..................................................................................................... 36
3.3 Avaliação de quedas......................................................................................... 40
3.3.1 Avaliação de mobilidade......................................................................................... 42
3.4 Avaliação da visão............................................................................................. 43
3.5 Avaliação auditiva............................................................................................. 44
3.6 Avaliação da capacidade funcional.................................................................... 44
3.7 Avaliação cognitiva............................................................................................ 47
3.8 Avaliação de depressão..................................................................................... 49
3.9 Vacinação para os idosos.................................................................................. 55
3.10 Síndrome metabólica e diabetes..................................................................... 55
3.11 Hipertensão arterial......................................................................................... 60
3.12 Iatrogenia........................................................................................................ 61
3.13 Incontinência urinária...................................................................................... 62
3.14 A sexualidade das idosas e dos idosos ........................................................... 63
3.15 O cuidador...................................................................................................... 65
Referências. ........................................................................................69

Unidade 4 práticas educativas na atenção à saúde do idoso. ..........................73


4.1 Educação para a compreensão da velhice......................................................... 73
4.2 Orientações aos familiares cuidadores.............................................................. 75
4.3 Atividades educativas em saúde nos grupos de idosos...................................... 77
Referências. ........................................................................................82
Unidade 5 experiências exitosas do trabalho interdisciplinar na
atenção básica – saúde do idoso . ..............................................85
5.1 Educação popular e promoção da saúde do idoso: reflexões a partir
de uma experiência de extensão universitária com grupos de idosos
em João Pessoa - PB........................................................................................ 85
5.2 Grupo de hidroterapia – Fisioterapia aquática, Projeto Mais Viver...................... 86
Referências. ........................................................................................88

Síntese do Módulo. ..............................................................................89


Autores..............................................................................................90
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
O presente módulo procura discutir a atenção integral à saúde do idoso e o
processo de trabalho interdisciplinar da equipe de saúde da atenção básica. Para
tanto, organizamos o conteúdo de modo a aprofundar os conhecimentos sobre o
cuidado da pessoa idosa procurando ampliar o olhar individual, trazendo, também,
para a discussão aspectos relacionados às redes de apoio e aos cuidadores diretos
desses idosos. Tais questões são retomadas e rediscutidas na especificidade de
sua categoria profissional, com foco na integralidade do cuidado.

Com isso, pretendemos ampliar a resolubilidade das ações na Atenção Básica,


entendendo que somente por meio do trabalho em equipe, da integralidade do
cuidado, do planejamento em saúde direcionado à pessoa idosa, respeitando sua
singularidade, alcançaremos tal objetivo. Todos estes caminhos são indispensáveis
para o desenvolvimento de uma prática acolhedora, humanizada e solidária.

Desse modo, é fundamental refletirmos a respeito dos potenciais de atuação dos


profissionais da saúde nesse campo, consolidando as competências relacionadas
à promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos, tratamento e reabilitação,
quer seja no âmbito da unidade de saúde, do território ou do domicílio.
Ementa
Abordagem integral à saúde do idoso; humanização da assistência; trabalho em
equipe interdisciplinar; aspectos biológicos e sociais envolvidos no processo de
envelhecimento; ações da clínica e do cuidado nos principais agravos da saúde
do idoso; experiências exitosas do trabalho interdisciplinar na Atenção Básica na
saúde do idoso.

Objetivo geral

Compreender a atenção à saúde do idoso de maneira mais abrangente, de modo


a incluir os diferentes olhares do trabalho em equipe nas questões relativas à
atenção integral à saúde do idoso, os aspectos biológicos e sociais envolvidos
no processo de envelhecimento, assim como medidas de promoção da saúde,
preventivas de doenças e agravos, curativas e reabilitadoras fundamentadas pela
integralidade do cuidado.

Objetivos específicos

• Refletir sobre as políticas de saúde voltadas para a pessoa idosa no Brasil e


os principais indicadores de morbimortalidade desta população.
• Compreender os aspectos biológicos e sociais envolvidos no processo de
envelhecimento, refletindo sobre o papel dos membros da equipe de Atenção
Básica no planejamento de ações e avaliação de riscos relativos à saúde do idoso.
• Conhecer as principais ações da clínica e do cuidado nos agravos à saúde
do idoso, bem como as medidas de promoção da saúde, preventivas de
doenças e agravos, curativas e reabilitadoras.
• Identificar possibilidades de trabalho interdisciplinar na Atenção Básica por
meio do relato de experiências exitosas para subsidiar uma prática profissional
fundamentada pela integralidade do cuidado.

Carga horária: 30h

Unidades de conteúdo
Unidade 1: Introdução
Unidade 2: Vulnerabilidades ligadas à saúde do idoso
Unidade 3: Ações da clínica e do cuidado nos principais agravos à saúde do idoso
Unidade 4: Práticas educativas na atenção à saúde do idoso
Unidade 5: Experiências exitosas do trabalho interdisciplinar na Atenção Básica
– saúde do idoso
PALAVRA DOS PROFESSORES
Seja bem-vindo(a)!

Neste módulo, aprofundaremos os conhecimentos sobre a atenção integral à


saúde do idoso, buscando ampliar as possibilidades de atuação dos profissionais
da Atenção Básica para além das ações clínicas individuais. É fundamental
refletirmos acerca dos potenciais de atuação dos profissionais da saúde neste
campo, consolidando competências no âmbito da promoção da saúde, prevenção
de doenças e agravos, tratamento e reabilitação. É imprescindível que estas ações
sejam desenvolvidas no âmbito da unidade de saúde, do território e na atenção
domiciliar aos idosos e suas famílias.

Fundamentaremos a reflexão sobre a atenção integral à saúde da pessoa idosa a


partir das seguintes questões:

• As ações dos profissionais da saúde respondem às necessidades desta


população?
• O que preconizam as políticas de atenção à saúde do idoso formuladas pelo
Ministério da Saúde?
• Quais os desafios que o cuidado integral à saúde do idoso apresenta aos
profissionais da equipe de saúde? Quais os limites da atuação destes
profissionais e quais as possíveis estratégias que os mobilizam para superá-los?
Serão discutidas as questões relativas às especificidades de sua área profissional,
lembrando que o trabalho em equipe interdisciplinar fortalece a atenção integral
à pessoa idosa.

Bons estudos!

Jussara Gue Martini


Ana Lúcia Schaefer Ferreira de Mello
André Junqueira Xavier
Lúcio José Botelho
Fernando Mendes Massignam
Atenção Integral à Saúde do Idoso
Medicina

Unidade 1
1 INTRODUÇÃO
Os indicadores demográficos e de morbimortalidade demonstram, nas últimas
décadas, um aumento no tempo de vida na maioria das populações, mesmo
em países considerados economias periféricas, baixa e média renda. Embora
ainda haja muita variabilidade social, a estrutura etária e os problemas de saúde
são e serão, por algumas décadas, um dos principais desafios da sociedade e
dos profissionais de saúde, a fim de que seja possível conciliar longevidade e
qualidade de vida.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta como principal desafio para a


Saúde Pública a construção de uma vida ativa e autônoma no envelhecimento.
Esse objetivo pode ser alcançado por meio do fortalecimento de políticas públicas
de promoção da saúde, sobretudo aquelas voltadas para a população idosa,
oportunizando qualidade de vida e bem-
estar no envelhecimento.
1 Merhy (2002) estabelece tipos de tec-
Diante desta perspectiva, é preciso que a nologia para a área de saúde, agrupando-
sociedade discuta coletivamente as questões
-as e definindo-as como leve, leve-dura e
históricas e culturais que ainda desvalorizam
a pessoa idosa em nosso país. Para tal, dura. A tecnologia leve considera o proces-
novas tecnologias, leves e duras1, inovação so de produção da comunicação, das rela-
e conhecimento, são aliados potentes para ções, de acolhimento, de autonomização,
transformar de maneira justa e democrática de vínculos que conduzem ao encontro dos
a equidade na distribuição de serviços e usuários com as necessidades de ações
facilidades para esse grupo populacional que na saúde. A tecnologia leve-dura inclui os
mais cresce em nosso país. saberes estruturados, representados pelas
disciplinas que operam em saúde, a exem-
Em 2025, o Brasil terá a sexta maior plo da clínica médica, odontológica, epide-
população mundial em termos de números
miológica, da enfermagem, entre outras.
absolutos de indivíduos com 60 anos
A tecnologia dura pode ser representada
ou mais (OMS, 2005). Em 2050, serão
aproximadamente 22% de idosos no planeta pelo material concreto, como equipamen-
(ONU, 2011). tos tecnológicos (hardware), mobiliário
permanente ou de consumo, normas e ro-
As mudanças nas condições para o tinas, estruturas organizacionais.
envelhecimento, ao longo dos anos,
considerando a análise temporal de Parahyba
e Simões (2006), no período de 1998 a 2003, aponta redução da incapacidade
funcional. Mas seu caráter progressivo aumenta com a idade, principalmente para
aqueles acima de 80 anos. Muitas pessoas vivenciam essa fase da vida com
diferentes graus de dependência. Enfrentar essa realidade pressupõe não apenas
oportunizar o acesso aos serviços e bens de saúde, mas também investir alto no
desenvolvimento social, econômico e político da população.

Unidade 1 – Introdução 11
Na atualidade, entre as mais urgentes preocupações dos idosos em todo o
mundo está saúde, juntamente com a garantia de renda. A crise econômica global
exacerbou a pressão financeira para assegurar tanto a segurança econômica como
o acesso ao atendimento à saúde na terceira idade. Mas, o empobrecimento da
população idosa é uma realidade que impressiona, uma vez que a remuneração
recebida por meio de aposentadorias e pensões (sua principal fonte de renda) foi
reduzida drasticamente com o passar dos anos.

Em 1988, quase 90% dos idosos aposentados no Brasil recebiam contribuições


de até 2,5 salários-mínimos (CHAIMOWICZ, 1997). Hoje, mais de 25 anos depois,
o valor médio das aposentadorias pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS) é de R$927,05, o que não alcançou 1 e 1/2 salário mínimo. Fica evidente
a pauperização do aposentado em nosso país, e enquanto as aposentadorias e
pensões rurais, na média nacional, não chegam ao valor de um salário mínimo
(R$724,00), a média nacional das urbanas alcançou R$ 1.041,11 e houve superávit
significativo entre suas receitas e suas despesas (COBAP, 2014a).

As transformações do perfil demográfico da população e no mercado de trabalho


elevaram as contas da Previdência Social e fizeram com que, a partir de meados
da década de noventa do século XX, e atualmente, fosse intensificado o debate
acerca dessa instituição. Considerando que em 2014, o país tinha 11,3% da
população com mais de 60 anos de idade, e o número de beneficiários do INSS
passará de 27 milhões para 48,2 milhões, um crescimento de 78%, o cenário é
preocupante (COBAP, 2014b).

Mesmo com a referida perda de poder aquisitivo, muitas famílias sobrevivem


contando com o valor recebido pelo idoso a título de pensão ou aposentadoria
e, muitas vezes, essa condição determina a própria posição da pessoa idosa na
dinâmica familiar.

As mulheres são as que mais sofrem neste cenário. Litvak (apud CHAIMOWICZ,
1997, p. 189) diz que “os problemas sociais, econômicos e de saúde dos idosos
são, em grande parte, os das mulheres idosas”, que vivem mais que os homens.
Ao se tornarem viúvas, têm maior dificuldade para casar novamente, são mais
sozinhas, apresentam menores níveis de instrução e renda.

A situação se agrava quando existem condições adversas de trabalho, moradia


e alimentação, favorecendo com isso uma frequência aumentada de doenças
e de dependência. Neste sentido, Kalache (apud CHAIMOWICZ, 1997, p. 189)
alerta para o conceito de envelhecimento funcional que “nos países do Terceiro
Mundo pode ocorrer muito antes da barreira artificial dos 60 ou 65 anos, devido
às condições de vida precárias”. É necessária a eliminação da pobreza entre os
idosos, de modo a habilitá-los para que participem plenamente da vida social,
econômica e política de suas sociedades, oportunizando a realização pessoal e o
bem-estar do indivíduo em todo o curso de sua vida.

12 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
A existência de ambientes socioculturais marcados pelo respeito à pessoa
idosa e o reconhecimento do valor do envelhecimento saudável são pilares
para o desenvolvimento de ações de saúde dirigidas a essa população. Sob tal
inspiração, a OMS lançou, em 2005, o Projeto Cidade Amiga do Idoso, em 33
grandes cidades nos cinco continentes, com vistas a gerar um guia identificador
das características principais dessas cidades.

Uma cidade amiga do idoso é aquela que adapta suas estruturas e serviços para
que sejam acessíveis e inclusivos às pessoas idosas com diferentes necessidades
e capacidades, o que estimula o envelhecimento ativo ao otimizar as oportunidades
para a saúde, participação e segurança, a fim de aumentar a qualidade de vida
das pessoas à medida que envelhecem. Trata-se de uma contribuição para que
as comunidades consigam autoavaliar-se em nove categorias (espaços abertos
e prédios, transporte, moradia, participação social, respeito e inclusão social,
participação cívica e emprego, comunicação e informação, apoio comunitário e
serviços de saúde) e, a partir de tal diagnóstico, planejar e implementar ações que
tornem mais amigáveis os lugares onde vivem, beneficiando a todos.

A OMS também tem reconhecido que a atenção prestada à pessoa ao longo do curso
da vida nas unidades de saúde tem um papel determinante para o envelhecimento
saudável. Indica, ainda, que essas unidades de saúde sejam amigáveis a todas as
faixas etárias, e aponta enfaticamente que os referidos serviços sejam acolhedores e
ajustados às necessidades dos idosos.

No Brasil, em 1994, a Lei n. 8842/1994 dispôs sobre a política nacional do idoso,


criou o Conselho Nacional do Idoso, dentre outras providências (BRASIL, 1994).
E no ano de 1999, o Ministério da Saúde publicou a Portaria n. 1.395 GM/MS
(BRASIL, 1999), lançando a Política de Saúde do Idoso, revisada pela Portaria n.
2.528, de 19 de outubro de 2006 (BRASIL, 2006a). Buscando reverter o enfoque
do modelo assistencial à saúde, essa política apresenta como eixos orientadores
as medidas preventivas, a promoção da saúde e o atendimento multidisciplinar
específico para os idosos.

A Política de Saúde do Idoso visa a incentivar e viabilizar formas alternativas de


cooperação intergeracional, com atuação junto às organizações da sociedade civil,
representativas dos interesses dos idosos, com vistas à formulação, implementação
e avaliação das políticas, planos e projetos relacionados à saúde do idoso. Prioriza
ainda: o atendimento por suas próprias famílias das pessoas idosas em situação
de vulnerabilidade, em detrimento ao atendimento asilar; a promoção de educação
permanente dos profissionais de saúde, especialmente nas áreas de geriatria e
gerontologia; a prioridade para o atendimento do idoso em órgãos públicos e
privados prestadores de serviços; e o fomento à discussão e desenvolvimento de
estudos referentes à questão do envelhecimento (BRASIL, 2006a).

Unidade 1 – Introdução 13
Outro instrumento legal de proteção ao idoso, o Estatuto do Idoso, foi publicado
em 2003. Esse documento contribui sobremaneira para a conscientização do
direito dos idosos em relação às questões de saúde, regulamentando as medidas
de proteção, com o estabelecimento de penalidades para aqueles que violarem
tais direitos, e contempla, também, as áreas de educação, habitação e transportes.

Vale mencionar ainda a Portaria n. 73/01 da SEAS/MAPS (BRASIL, 2001), que


orienta o funcionamento de serviços de atenção ao idoso no Brasil; e a RDC n.
283/05, da ANVISA (ANVISA, 2005), que aprova o Regulamento Técnico que,
entre outras normas, exige um plano de atenção integral à saúde dos idosos
residentes em instituições de longa permanência (ILPIs).

No campo da gestão, a União busca uniformizar o compromisso dos gestores


do SUS em torno de prioridades que apresentam impacto sobre a situação de
saúde da população brasileira. Um marco no SUS é a Portaria n. 399, de 2006,
que divulga o Pacto pela Saúde e aprova suas Diretrizes Operacionais. Na sessão
Pacto pela Vida, ainda que a definição de prioridades deva ser estabelecida por
meio de metas nacionais, estaduais, regionais ou municipais, a Saúde do Idoso é
uma das seis prioridades pactuadas (BRASIL, 2006b).

O documento indica as diretrizes a serem seguidas nacionalmente em relação às


questões de saúde dos idosos. São elas:

• promoção do envelhecimento ativo e saudável;


• atenção integral à saúde da pessoa idosa;
• estímulo às ações intersetoriais;
• provimento de recursos capazes de assegurar a qualidade da atenção à
saúde da pessoa idosa;
• estímulo à participação e ao fortalecimento do controle social;
• formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área
de saúde da pessoa idosa;
• divulgação e informação sobre a política nacional de saúde da pessoa idosa
para trabalhadores do SUS;
• promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na
atenção à saúde da pessoa idosa;
• apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas nessa área.
No sentido de operacionalizar a atenção ao idoso na Atenção Básica, foi publicado,
em 2006, o Caderno de Atenção Básica n. 19, intitulado Envelhecimento e
saúde da pessoa idosa, reforçando o caráter interdisciplinar do cuidado à saúde
do idoso, a atenção humanizada, o acompanhamento e apoio domiciliar, a
diminuição das barreiras físicas e não físicas dos serviços de saúde e a promoção
de hábitos que favoreçam a qualidade de vida. Além disso, seguindo o princípio

14 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
da territorialização, as equipes de saúde devem ser responsáveis pela atenção à
saúde de todos os idosos cadastrados na sua área de abrangência, inclusive os
que residem em ILPIs, públicas e privadas (BRASIL, 2006c).

O cuidado ao idoso, assim como a toda a população, na Atenção Básica engloba


questões maiores que a atenção clínica. Concentra-se, neste sentido, no fomento
à construção de espaços coletivos de discussão sobre o território, visando ao
debate social acerca de todos os aspectos envolvidos no processo saúde-
doença, tais como: o acesso à água potável, a coleta segura de resíduos de todos
os tipos, moradia adequada, alimento seguro e nutritivo, sistema de transporte
adequado às necessidades, serviços de saúde e educação, inclusive uma rede
de apoio familiar e comunitário, etc. (MIYATA et al., 2005).

Argumenta-se que essa concepção, fundamentada na vigilância em saúde e


nos determinantes sociais de saúde, encontra na Atenção Básica suas melhores
potencialidades de operacionalização, contribuindo para as mudanças almejadas
no SUS. No entanto, a integração das práticas individuais e coletivas nos espaços
de atuação das equipes de saúde ainda enfrenta obstáculos de natureza político-
institucional, técnico-organizativa e de formação inicial e permanente. A superação
de tais obstáculos requer decisão pessoal, profissional e político-institucional nas
diferentes esferas e instâncias que compõem o Sistema Único de Saúde.

Ao profissional de saúde compete a atenção integral a essa população na


perspectiva de um cuidado que seja acolhedor, humanizado e capaz de promover
vínculos solidários, protagonismo, qualidade de vida e bem-estar.

SÍNTESE DA UNIDADE
Vimos, nesta unidade, aspectos importantes sobre os indicadores demográficos
e de morbimortalidade, assim como a variabilidade social, a estrutura etária e os
problemas de saúde que são dos principais desafios para a sociedade e para os
profissionais de saúde frente à longevidade e à qualidade de vida.

Também elencamos fatores que podem interferir na saúde do idoso, reforçando que
o cuidado ao idoso, assim como à toda a população na Atenção Básica, engloba
questões maiores que a atenção clínica. Destacamos o caráter interdisciplinar do
cuidado à saúde do idoso, a atenção humanizada, o acompanhamento e o apoio
domiciliar, a diminuição das barreiras físicas e não físicas dos serviços de saúde,
e a promoção de hábitos que favoreçam a qualidade de vida.

Esperamos, com isso, reforçar a importância de conhecer a realidade dos idosos


de sua área, observando as dificuldades e as potencialidades dessa população
em relação à saúde, para que a equipe de saúde possa planejar ações de cuidado
que respondam às necessidades do idoso, de sua família e da comunidade e
que seja acolhedor, humanizado e capaz de promover vínculos solidários,
protagonismo, qualidade de vida e bem estar.

Unidade 1 – Introdução 15
REFERÊNCIAS
ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada n° 283, de 26 de setembro de 2005.
Aprova o regulamento técnico que define normas de funcionamento para as
instituições de longa permanência para idosos, de caráter residencial. Diário
Oficial da União. Brasília, 2005. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/anvisa/2005/res0283_26_09_2005.html>. Acesso em: 02 mar. 2016.

BRASIL. Lei n° 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do


idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L8842.htm>. Acesso em: 09 mar. 2016.

BRASIL. Portaria n° 1.395, de 10 de dezembro de 1999. Aprova a Política Nacional


de Saúde do Idoso. Diário Oficial da União, Brasília, 1999. Disponível em: <http://
www.saudeidoso.icict.fiocruz.br/pdf/PoliticaNacionaldeSaudedaPessoaIdosa.
pdf>. Acesso em: 02 mar. 2016

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 73, de 10 de maio de 2001. Estabelece


normas de funcionamento de serviços de atenção ao idoso no Brasil, nas
modalidades previstas na Política Nacional do Idoso, e aos desafios que o
crescimento demográfico impõe ao país. Diário Oficial da União, Brasília, 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto do idoso. 1. ed. Brasília: Ministério da


Saúde, 2003. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
estatuto_idoso.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 2.528, de 19 de outubro de 2006. Aprova


a política nacional da pessoa idosa. Diário Oficial da União, Brasília, 2006a.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 399, de 22 de fevereiro de 2006. Divulga o


Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais
do Referido Pacto. Diário Oficial da União, Brasília, 2006b. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0399_22_02_2006.
html>. Acesso em: 02 mar. 2016.>. Acesso em: 02 jun. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Cadernos de
Atenção Básica, n. 19. Brasília: Ministério da Saúde, 2006c. 192 p. Disponível em:
<http://dab.saude.gov.br/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf>. Acesso
em: 02 mar. 2016.

CHAIMOWICZ, F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI:


problemas, projeções e alternativas. Revista de Saúde Pública, v. 31, n. 2, p.
184-200, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v31n2/2170.pdf>.
Acesso em: 08 mar. 2016.

16 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
COBAP. Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos. Valor
médio das aposentadorias e pensões não chega a 1 salário mínimo e meio.
2014a. Disponível em: <http://www.cobap.org.br/noticia/57303/valor-medio-
das-aposentadorias-e-pensoes-nao-chega-a-1-salario-minimo-e-meio>. Acesso
em: 11 mar.

COBAP. Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos. Brasil


terá a nona população mais idosa do mundo. 2014b. Disponível em: <http://
www.cobap.org.br/noticia/57430/brasil-tera-a-nona-populacao-mais-idosa-do-
mundo>. Acesso em: 11 mar. 2016.

MERHY, E. E. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec, 2002.

MIYATA, D. F. et al. Políticas e programas na atenção à saúde do idoso: um


panorama nacional. Arquivos de Ciências da Saúde, Umuarama, v. 9, n. 2, p.
135-140, maio/ago. 2005.

OMS. Organização Mundial da Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de


saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.

ONU. Organização das Nações Unidas. World Population Prospects: the 2010
revision. Nova York: Nações Unidas, 2011.

PARAHYBA, M. I.; SIMOES, C. C. S. A prevalência de incapacidade funcional em


idosos no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 11, n. 4, p. 967-974,
Dec. 2006 .

Unidade 1 – Introdução 17
Atenção Integral à Saúde do Idoso
Medicina

Unidade 2
2 VULNERABILIDADES LIGADAS À SAÚDE DO IDOSO
O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos,
é um fenômeno mundial. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no
mundo; em 1998, já eram 579 milhões, um crescimento de quase 8 milhões de
pessoas idosas por ano. O censo brasileiro de 2010 mostrou um crescimento na
participação de pessoas com 65 anos ou mais na população total, chegando a
7,4% (PORTAL BRASIL, 2011).

Este módulo pretende explorar as alterações decorrentes do processo de


envelhecimento biológico e suas interações na família e na sociedade. Na
entrevista do idoso, vamos lembrar tópicos importantes a serem investigados e as
suas peculiaridades neste grupo. Para completar, faremos uma breve orientação
sobre a prática do cuidado, levantando os problemas mais comuns encontrados
e sugerindo formas de solucioná-los.

2.1 Biologia do envelhecimento


Envelhecimento é um processo individual, acumulativo, irreversível, universal,
não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os
membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer
frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de
morte (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 1993).

O envelhecimento, sendo um processo de diminuição progressiva da reserva


funcional de um indivíduo, traz à tona a sempre presente inevitabilidade da finitude
da vida. Nesse contexto, temos, como seres humanos racionais, o desejo de
impedir tal processo que, em última análise, chega-nos a parecer injusto.

Mas podemos evitar o envelhecimento? Envelhecer é tão ruim assim? E, sendo ine-
vitável, como torná-lo mais agradável?

O maior desafio, na atenção integral à saúde da pessoa idosa, é conseguir


contribuir para que, apesar das progressivas limitações que possam ocorrer,
seja possível redescobrir possibilidades de viver a própria vida com a máxima
qualidade possível. Essa possibilidade aumenta na medida em que a sociedade
considera o contexto familiar e social e consegue reconhecer as potencialidades
e o valor das pessoas idosas. Parte das dificuldades deste grupo relaciona-se a
uma cultura que o desvaloriza e o limita.

Unidade 2 – Vulnerabilidades ligadas à saúde do idoso 19


Quando acontece de forma natural2, o
envelhecimento não costuma provocar 2 No futuro poderemos descobrir que o
problemas que inviabilizem a autonomia. É o natural de hoje, na verdade, era patológico.
que chamamos de senescência. No entanto,
em condições de sobrecarga como doenças,
acidentes e estresse emocional, pode ocorrer uma evolução patológica com
perdas e fragilidade e este processo chama-se senilidade. Repare que ambos
os conceitos são apenas didáticos, pois podem necessitar de intervenções de
promoção de saúde e prevenção de agravos e doenças.

Logo, para a adequada atenção à saúde de uma pessoa idosa, dois grandes
erros devem ser evitados:

• considerar todas as alterações como decorrentes do envelhecimento natural,


atrasando diagnósticos e tratamentos;
• tratar o envelhecimento natural como uma doença, realizando exames e
tratamentos desnecessários (iatrogenia).
O discernimento entre normal e patológico requer conhecimentos a respeito
das alterações esperadas no processo de envelhecer. As mudanças podem ser
notadas já a partir dos 30 anos, quando começa a ocorrer uma queda na taxa de
metabolismo basal, fazendo com que muitas pessoas aumentem seu peso com
acúmulo de gordura no tronco; a queda na quantidade de água corpórea leva ao
surgimento de alterações na pele como rugas e flacidez; e há a tendência à perda
de massa óssea e muscular. Outras alterações podem ser visualizadas no quadro
a seguir.

20 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Órgão/Sistema Alterações fisiológicas Consequências Doença
Volume de distribuição de drogas Obesidade
massa gorda lipossolúveis Anorexia
Geral
água corpórea Volume de distribuição de drogas Risco de
hidrossolúveis desidratação
da acomodação do cristalino Presbiopia
da susceptibilidade a ofuscamento
da visão Cegueira
Opacificação do cristalino
Olhos e ouvidos Necessidade de aumento da
iluminação
Prebiacusia, dificuldade para
da acuidade para sons
discriminar palavras em ambientes Surdez
de alta frequência (agudos)
barulhentos
Manutenção de níveis glicêmicos
prejudicada Diabetes mellitus
da depuração e síntese da tiroxina glicemia em resposta a doenças Na+, K+
Endócrino agudas Libido
ADH, renina e da aldosterona
Osteopenia, perda de força muscular. Osteomalácia, quedas
da testosterona e fraturas
da absorção e ativação da Vitamina D
da elasticidade pulmonar Desequilíbrio na razão ventilação / Dispneia e hipóxia em
Respiratório
da rigidez da parede torácica perfusão e PO2 condições patológicas

da complacência arterial Hipotensão em resposta ao da Hipertensão Arterial


frequência cardíaca Sistólica Isolada
PA sistólica
débito cardíaco e frequência Síncope
Cardiovascular resposta ß-adrenérgica
cardíaca em resposta ao estresse.
sensibilidade do barorreceptor Insuficiência Cardíaca
Dificuldades para a manutenção da
automatismo do nó sinusal Bradiarritmias
PA.
Cirrose
função hepática Retardo na absorção e metabolismo Osteoporose
acidez gástrica de algumas drogas, vitaminas e sais Deficiência de
Gastrointestinal minerais
motilidade intestinal vitamina B12
função anorretal Constipação Impactação fecal
Incontinência fecal
reserva da medula óssea
Hematológico/ PPD falso negativo Anemia
função das células T
Imune FR e FAN falso positivo Doenças autoimunes
autoanticorpos
Atrofia da mucosa genital e uretral Bacteriúria assintomática. Dispareunia ITU
Genitourinário em mulheres Incontinência urinária
Aumento da próstata volume residual vesical
Retenção urinária
Incapacidades
massa magra (músculos)
Musculoesquelético Osteopenia, sarcopenia funcionais
densidade óssea
Fratura de quadril
Esquecimentos benignos Demência, delirium
da massa cerebral Depressão
Alterações de marcha (passos curtos
síntese de catecolamina e e lentos) Doença de Parkinson
Nervoso
dopamina cerebrais Quedas
desequilíbrio do corpo
reflexos Apneia do sono
Alteração da arquitetura do sono Insônia

Quadro 1 – Algumas alterações fisiológicas no idoso, suas consequências e doenças relacionadas

Unidade 2 – Vulnerabilidades ligadas à saúde do idoso 21


Além das alterações próprias da idade, a pessoa idosa apresenta algumas
particularidades:

• a manifestação clínica das doenças é atípica, especialmente naqueles com


mais de 75 a 80 anos;
• frequentemente desenvolvem descompensação com sintomas inespecíficos
em estágios mais precoces da doença devido à baixa reserva fisiológica;
• muitos mecanismos de homeostasia podem ser comprometidos em uma
doença, com múltiplas anormalidades a se tratar, por vezes, aparentemente
não relacionadas;
• melhora na capacidade cognitiva e funcional são ótimos indicadores de
tratamento eficaz;
• muitos achados podem não significar doença, mas partem do processo
de envelhecimento normal e são confundidos e tratados erroneamente
(praticamente todos os idosos têm osteoartrose, mas muitas vezes é indolor);
• respondem diferentemente às medicações com acentuação de efeitos
colaterais, muitas vezes antes dos efeitos terapêuticos.

Link

Como avaliar o risco de morte de idosos a partir da avaliação cognitiva e funcio-


nal? Acesse o endereço a seguir para obter informações sobre o assunto:
XAVIER, A. J. et al. Orientação temporal e funções executivas na predição de mor-
talidade entre idosos: estudo epidoso. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 44,
n. 1,  fev. 2010. Disponível em: <http://www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.
br/biblioteca/_artigos/164.pdf>.

2.2 Aspectos sociais do envelhecimento


Durante anos, os idosos em nossa sociedade foram estereotipados e rotulados
como antiquados, rígidos, senis, aborrecidos, até mesmo inúteis e incômodos.
Por isso, é importante refletir sobre qual, atualmente, é o papel do idoso em nossa
família e em nossa sociedade.

De fato, os relacionamentos familiares são importantes para todos em nossa


sociedade. Em relação aos idosos, a maioria vive com os cônjuges ou outros
parentes. Entretanto, 17,9% vivem sozinhos (67% mulheres) e a proximidade dos
membros da família e o contato por telefone são especialmente importantes para
eles, o que podemos chamar de intimidade à distância.

22 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Evidências indicam uma ligação entre contato social, apoio e longevidade: a vasta
maioria dos idosos que visitam seus amigos e família provavelmente vive mais
tempo do que aqueles que raramente têm contato.

O envelhecimento é percebido em nossa sociedade na aposentadoria, na


condição de avós, na viuvez e com a ocorrência de doenças. Isto requer apoio
familiar, ajuste às perdas, reorientação e reorganização da família.

Muitos transtornos estão associados a dificuldades na adaptação familiar às transi-


ções e tarefas desse estágio da vida.

A saída de casa do último filho prepara o terreno para as relações familiares na


segunda metade da vida:

• a redução estrutural da família;


• a síndrome do ninho vazio;
• os problemas conjugais ressurgem.
Geralmente, essa etapa coincide com a aposentadoria. Particularmente para os
homens, a saída do trabalho representa uma perda de papel ou função, produtividade
e relacionamentos significativos que foram centrais por toda a vida adulta.

As mulheres que trabalham terão menos dificuldade com sua própria aposentadoria
se mantiverem seus papéis como donas de casa. Já para os homens, a perda do
papel de provedor familiar e uma provável redução nos rendimentos podem trazer
um estresse adicional. A maior tarefa dos casais com a aposentadoria do marido
é a incorporação deste dentro de casa.

Sentimentos como sensação de abandono, a inutilidade e medo de envelhecer come-


çam a aparecer. Por isso, os profissionais da Atenção Básica devem levar em conta
as dificuldades de cada casal, auxiliá-los a se redescobrirem como companheiros e
a reencontrarem seus papéis na família. O interesse e os cuidados mútuos devem
ser valorizados no relacionamento conjugal, assim como a intimidade sexual, que
continua para muitos em anos avançados.

Unidade 2 – Vulnerabilidades ligadas à saúde do idoso 23


Da mesma forma, a divisão de papéis no cuidado da casa ou as atividades
voluntárias na sociedade podem trazer um novo objetivo à vida dos aposentados,
tornando a entrada nessa nova etapa mais prazerosa.

A terceira idade é marcada também por perdas, como a viuvez, por exemplo.
As mulheres vivem em média oito anos a mais que os homens. O sentimento de
perda, a desorientação e a solidão contribuem para um aumento nos índices de
morte e suicídio no primeiro ano.

Quando os homens ficam viúvos, os contatos sociais e familiares muitas vezes se


rompem, pois normalmente é a mulher que une o marido à família e à comunidade.
E, com isso, o sentimento de perda pode ser maior para eles.

No entanto, observa-se que o sofrimento tende a ser mais prolongado nas mulheres
viúvas, visto que ainda, na maioria das vezes, possuem recursos financeiros
limitados e têm menor probabilidade de encontrar novo parceiro. Ao contrário dos
viúvos, que são em menor número e tendem a casar com mulheres mais jovens.
Atualmente, esta realidade encontra-se em processo inicial de mudança.

Na Prática

Os profissionais da Atenção Básica devem orientar o(a) viúvo(a) a admitir a mor-


te, transformando as experiências compartilhadas em lembranças. É importante
encorajar as manifestações de tristeza e perda. Numa segunda fase, tipicamente
após um ano, a atenção se volta para as demandas da realidade no funcionamento
cotidiano e para o manejo da estrutura doméstica. Numa terceira fase, muda-se o
interesse para novas atividades e pelos outros.

Outro problema é o medo da perda do funcionamento físico e mental, de uma


doença crônica dolorosa e de uma condição progressivamente degenerativa,
preocupações comuns, mesmo que grande parte dos idosos mantenha uma boa
saúde. A dependência requer uma aceitação realista das forças e limitações por
parte do idoso, e a capacidade de permitir-se ser dependente quando necessário
sem, contudo, ver seus filhos invertendo seus papéis e tornando-se seus pais.

Por outro lado, deve-se alertar também para a relação de dependência excessiva.
Em situações em que os filhos, em virtude de sua própria ansiedade, tornam-se
excessivamente responsáveis, criando um círculo vicioso em que, quanto mais
eles fazem pelo progenitor, mais desamparado ou incompetente este se torna,
com crescentes necessidades, encargos e ressentimentos.

O médico, assim como os demais profissionais de saúde, pode reduzir o impacto


familiar decorrente das doenças crônicas, informando sobre a condição clínica, a

24 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
capacidade e as limitações funcionais e o prognóstico do indivíduo. Lembre-se
de que a orientação concreta em relação à manutenção e solução de problemas
pode dar mais segurança aos sujeitos e a suas famílias. Além disso, a vinculação
a serviços suplementares de apoio somam-se aos esforços da família em manter
os idosos na comunidade, reduzindo o estresse do cuidador.

Leitura Complementar

Consulte o artigo da Dra. Roberta Pappen da Silva para aprofundar seus conheci-
mentos sobre aspectos jurídicos e o estatuto do idoso: SILVA, R. P. da. Estatuto do
idoso: em direção a uma sociedade para todas as idades? Jus Navigandi. Dispo-
nível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=7723>.

2.3 A entrevista
O conhecimento amplo e as visões complementares de múltiplos profissionais
são elementos essenciais para as corretas intervenções no processo de saúde-
doença dos idosos. Nessa parte do conteúdo, serão apresentados instrumentos
para a inserção e aperfeiçoamento do médico da atenção básica no que toca o
universo da saúde do idoso.

Antes de iniciar o atendimento a uma pessoa idosa, lembre-se de alguns aspectos:

• Estabelecer uma relação respeitosa, considerando que, com a experiência de


toda uma vida, as pessoas tornam-se, em geral, mais sábias, desenvolvem
maior senso de dignidade e prudência e esperam ser reconhecidas por isso.
• Partir do pressuposto de que o idoso é capaz de compreender as perguntas
que lhe são feitas ou as orientações discutidas com ele, nunca se dirigindo
primeiramente a seu acompanhante. Ao final pergunte se entendeu bem a
explicação, se houve alguma dúvida e repita com outras palavras, se necessário.
• Chamar a pessoa idosa por seu nome e manter contato visual, preferencialmente
de frente e em local iluminado (não fique contra a luz), considerando um
possível declínio visual ou auditivo, sem utilizar termos inapropriados como
vovô, querido ou termos diminutivos (bonitinho, lindinho etc.).
• Utilizar uma linguagem clara, evitando-se a adoção de termos técnicos que
possam não ser compreendidos, preferindo sempre frases curtas e objetivas.
• Mulheres médicas, enfermeiras e outras profissionais de saúde, na hora da
entrevista, devem utilizar um tom de voz o mais grave possível, pois é comum
a presença de presbiacusia entre os idosos, que é a perda da acuidade
auditiva para tons agudos dificultando a comunicação.

Unidade 2 – Vulnerabilidades ligadas à saúde do idoso 25


Uma abordagem preventiva e uma intervenção precoce são sempre preferíveis às
intervenções curativas tardias. Para tanto, deve-se utilizar instrumentos técnicos já
validados, como a avaliação global da pessoa idosa ou a avaliação multidimensional
rápida. Esta abordagem visa identificar possíveis riscos apresentados pelo idoso,
que requerem maior investigação. A avaliação do idoso sempre deve objetivar:

• redução da mortalidade prematura causada por doenças agudas ou crônicas;


• manutenção da independência funcional;
• extensão da expectativa de vida ativa.
O processo diagnóstico na Atenção Básica à saúde do idoso deve ser
multidimensional considerando diferentes fatores, tais como:

• o ambiente onde a pessoa vive;


• a relação profissional da saúde-sujeito e profissional de saúde-familiares;
• a história clínica com seus aspectos biológicos, psíquicos, funcionais e sociais;
• o exame físico detalhado.

O planejamento terapêutico longitudinal com acesso facilitado é essencial.

A equipe de Atenção Básica deve dar ênfase em detectar os idosos de risco


em sua comunidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os idosos em
situação de risco são:

• os acima de 80 anos ou mais;


• os que vivem sozinhos;
• as mulheres idosas viúvas ou solteiras;
• os que vivem em instituições de longa permanência;
• os socialmente isolados;
• os sem filhos;
• os que têm limitações sérias ou disfunções;
• os casais de idosos quando um deles é incapacitado ou está muito doente;
• os que contam com poucos recursos econômicos.

26 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Link

Você poderá complementar seus conhecimentos com a seguinte leitura:


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Aten-
ção Básica. Suporte familiar e social. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa.
Cadernos de Atenção Básica, n. 19. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível
em: <http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf>.

Agora, convidamos para uma reflexão, contextualizando um exemplo que poderia


acontecer na prática. Em uma visita domiciliar, o agente comunitário de saúde
conhece um novo morador que veio residir na sua área de atuação. Sr João é idoso
e mora com um filho que fica durante todo o dia fora de casa, pois trabalha em uma
fábrica no município vizinho. Este idoso tem bastante dificuldade para se locomover
e para realizar suas atividades diárias. O agente de saúde discute o caso na reunião
da equipe de saúde, com a preocupação de que este idoso fique sozinho em casa,
não conseguindo se alimentar e realizar outras ações de autocuidado.

Na sua realidade existem situações semelhantes? Como a equipe de saúde pode


interferir nesta situação? Como planejar ações que visem minimizar os problemas
decorrentes desta situação? Como os profissionais do NASF podem apoiar a sua
equipe de referência na Estratégia Saúde da Família? Reflita acerca de situações
como esta, com elementos do cotidiano, e discuta com seus colegas.

SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, estudamos os aspectos envolvidos no processo de envelhecimento,
fundamentais para a atenção integral à saúde do idoso, uma vez que nessa
faixa etária existem particularidades que influenciarão as decisões, desde ações
clínicas, passando pela abordagem integral na avaliação do idoso, incluindo os
aspectos sociais, até a prescrição de medicamentos. Tal percepção fundamenta
nossa prática e auxilia-nos a prever eventos danosos, indicando-nos os caminhos
para evitá-los.

Unidade 2 – Vulnerabilidades ligadas à saúde do idoso 27


REFERÊNCIAS
FREITAS, E. V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2002.

MORIGUCHI, Y.; MORIGUCHI, E. H. Biologia geriátrica ilustrada. São Paulo:


Fundo Editorial BYK, 1988.

OPAS (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE). Enfermagem Gerontológica:


conceitos para a prática. Série Paltex n. 31. Washington: OPAS, 1993.

PORTAL BRASIL. População idosa no Brasil cresce e diminui número de


jovens, revela Censo. 29 abr. 2011. Disponível em: <http://www.brasil.gov.
br/ciencia-e-tecnologia/2011/04/populacao-idosa-no-brasil-cresce-e-diminui-
numero-de-jovens-revela-censo>. Acesso em: 11 mar. 2016.

RESNICK, N. M. Geriatric medicine. In: BRUNWALD, E. et al. Harrison’s principles


of internal medicine. New York: Mc Graw Hill, 2001.

SIRENA, S. A.; MORIGUCHI, E. H. Promoção e manutenção da saúde do idoso. In:


DUNCAN, B. B. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas
em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2004.

WALSH, F. A família no estágio tardio da vida. In: CARTER, B.; MCGOLDRICK,


M. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar.
Porto Alegre: Artmed, 1995.

28 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Atenção Integral à Saúde do Idoso
Medicina

Unidade 3
3 AÇÕES DA CLÍNICA E DO CUIDADO NOS PRINCIPAIS
AGRAVOS À SAÚDE DO IDOSO
Esta unidade tem foco em ações de prevenção e educação em saúde. Para tanto,
será apresentada uma série de agravos já conhecidos da clínica médica, mas com
o olhar voltado para o idoso.

3.1 Alimentação e nutrição


A identificação da alimentação insuficiente, pobre ou até mesmo da desnutrição
em idosos é possível por meio de um método simples, de baixo custo e com
boa predição para doenças futuras, mortalidade e incapacidade funcional,
podendo ser usada como triagem inicial, tanto para o diagnóstico quanto para o
monitoramento de doenças.

A população idosa é particularmente propensa a alterações nutricionais devido a


fatores relacionados a modificações fisiológicas e sociais, ocorrência de doenças
crônicas, uso de diversas medicações, dificuldades com a alimentação, depressão
e alterações da mobilidade com dependência funcional.

Recomenda-se avaliação antropométrica semestral com cálculo do índice de


massa corpórea (IMC). Os pontos de corte nos idosos diferem da população
adulta geral em virtude das alterações estruturais próprias da idade, conforme
pode ser observado no quadro a seguir. Outra opção é considerar as perdas em
relação ao peso basal do indivíduo maiores de 5% em um mês ou 10% em seis
meses, que pode ser um indicador de doença grave.

IMC Diagnóstico
≤ 22 Baixo peso
22 - 27 Adequado ou eutrófico
≥ 27 Sobrepeso

Quadro 2 – Pontos de corte do IMC estabelecidos para idosos


Fonte: WHO, 1997.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 31


agravos à saúde do idoso
A circunferência da panturrilha esquerda
realizada para compor o teste MAN3, de 3 O inquérito Mini Avaliação Nutricional
acordo com a Organização Mundial de Saúde (MAN) vem sendo utilizado como método
(OMS), com o ponto de corte de 31 cm, é a não invasivo, fidedigno e de baixo custo
medida mais sensível da massa muscular de
para a avaliação de risco nutricional no
idosos, sobretudo para acamados.
idoso. Até o momento não existe consenso
quanto ao melhor instrumento de avalia-
Ao procurarmos as causas do distúrbio
nutricional no idoso, devemos considerar: ção nutricional do idoso, o que requer a
análise conjunta de diversas medidas (an-
• a autonomia para a compra dos tropométricas, dietéticas e bioquímicas)
alimentos; para alcançar um diagnóstico.

• a capacidade de preparar seu próprio


alimento;
• a perda do apetite e a redução da sensação de sede e da percepção da
temperatura dos alimentos;
• a existência de distúrbio visual que prejudique o preparo e o consumo dos
alimentos;
• a perda ou redução do olfato;
• as dietas;
• as alterações recentes no peso;
• a existência de lesão oral, uso de prótese ou problemas digestórios que
dificultem a ingestão.
A miniavaliação nutricional permite classificar idosos em três grupos:

• estado nutricional adequado - MNA≥24;


• risco de desnutrição – MNA entre 17 e 23,5;
• desnutrição < 17.
Acompanhe, a seguir, o protocolo 12, uma miniavaliação nutricional.

32 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
MINIAVALIAÇÃO NUTRICIONAL

I. AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA 12. Consumo de alimentos específicos


Ao menos uma porção de leite e/ou derivados por dia
1. Índice de Massa Corporal (Kg/m²) Duas ou mais porções de ovos por semana
0 = IMC < 19 Carne, peixe ou frango diariamente
1 = 19 ≤ IMC < 21 0,0 = se 0 ou 1 resposta positiva
2 = 21 ≤ IMC < 23 0,5 = se 2 resposta positivas
3 = IMC ≥ 23 1,0 = se 3 respostas positivas
2. Perímetro Braquial – PB (cm) 13. Consumo de duas ou mais porções de frutas e
0,0 = PB < 21 hortaliças por dia.
0,5 = 21 ≤ PB ≤ 22 0 = não 1 = sim
1,0 = PB > 22
14. Declínio da ingestão de alimentos nos últimos três
3. Perímetro da panturrilha – PP (cm) meses, devido à perda de apetite, problemas digestivos,
0 = PP < 31 1 = PP ≥ 31 dificuldades em mastigar ou engolir.
4. Perda de peso durante os últimos três meses 0 = grave perda de apetite
0 = perda de peso > 3 kg 1 = moderada perda de apetite
1 = não sabe informar 2 = sem perda de apetite
2 = perda de peso entre 1 e 3 kg 15. Ingestão de líquidos – água, suco, café, chás, leite,
3 = sem perda de peso vinho, cerveja (xícara ou copos) por dia.
0,0 = menos que 3
II. AVALIAÇÃO GLOBAL 0,5 = 3 a 5
1,0 = mais que 5
5. O paciente mora em sua casa (e não em
instituição) 16. Forma de alimentação
0 = sim 1= não 0 = necessidade de assistência
1 = alimenta-se sem assistência, porém com
6. Utilização de mais que três drogas prescritas
alguma dificuldade
por dia
2 = alimenta-se sem nenhum problema
0 = sim 1 = não
7. Estresse psicológico ou doença aguda nos
últimos três meses
IV. AVALIAÇÃO SUBJETIVA
O = sim 2 = não 17. O paciente considera ter algum problema nutricional?
0 = desnutrição grave
8. Mobilidade
1 = não sabe ou desnutrição moderada
0 = restrição à cama ou cadeira
2 = sem problema nutricional
1 = ergue-se, mas não anda
2 = capaz de andar 18. Em comparação com outras pessoas da mesma idade,
como o paciente considera seu estado de saúde?
9. Problema neurológico
0,0 = não tão boa 0,5 = não sabe
0 = demência ou depressão severa
1,0 = igual 2,0 = melhor
1 = demência média/mediana
2 = sem problemas psicológicos
10. Úlceras de pele ou de pressão ESCORE
0 = sim 1 = não > 24 – Estado Nutricional adequado
17 e 23,5 – Risco de desnutrição
III. AVALIAÇÃO DIETÉTICA < 17 – Desnutrição
11. Ingestão de grandes refeições (almoço/jantar)
por dia
0 = 1 refeição
1 = 2 refeições
2 = 3 refeições
Protocolo – Protocolo 12: Miniavaliação nutricional
Fonte: Adaptado de Vellas; Guigoz, 1995, p. 161-164.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 33


agravos à saúde do idoso
Para Marchini (1998) existem causas para a desnutrição no idoso. Confira a seguir
as principais, segundo este autor.

1. Secundárias ao envelhecimento:
• Gastrite atrófica, hipocloridria e diminuição do fator intrínseco, que pode
ocorrer em 20% dos casos, resultando em má absorção de cálcio, vitamina
B12, e ferro.
• Fibrose e atrofia das glândulas salivares.
• Perda de dentes.
• Diminuição da atividade da lactase e outras dissacaridases.
• Atrofia de papilas gustatórias.
• Menor responsividade a opioides (dimorfina) e outros neuropeptídeos,
podendo resultar em anorexia da idade.
• Diminuição da sensibilidade de receptores associados ao controle da sede e,
consequentemente, menor ingestão de água, hipodipsia e desidratação.
• Diminuição da capacidade cutânea de produção de vitamina D.
• Diminuição da absorção de fontes de ferro não-heme e da eritropoiese,
resultando em anemia.
• Diminuição da absorção de micronutrientes, em especial do zinco e do cobre.

2. Alterações socioeconômicas:
• Menor rendimento econômico que, consequentemente, pode limitar a
aquisição de fontes de nutrientes adequados.
• Isolamento, que pode desencorajar a ingestão de alimentos.
• Morte de entes queridos, o que pode favorecer aparecimento de anorexia.

3. Doenças e outros fatores relacionados:


• Piora da capacidade funcional em geral, o que pode causar dificuldades na
aquisição, estocagem, preparação e consumo de alimentos.
• Depressão associada à anorexia.
• Deterioração da função cognitiva, o que resulta em inabilidade para obter
alimento, esquecimento ou incapacidade de se alimentar.
• Hospitalização prolongada, recebendo oferta energética inferior às
necessidades.
• Doenças gastrointestinais associadas à menor digestão e absorção de alimentos.
• Alcoolismo causando, entre outras, deficiência de tiamina, folato e magnésio.

34 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
• Diabetes mellitus, causando má nutrição secundária a gastroparesia,
incontinência fecal e ingestão pobre de nutrientes.
• Caquexia cardíaca e a perda de minerais pelo uso indiscriminado de diuréticos.
• Neoplasias.

4. Interação droga-nutrientes (alguns exemplos):


• Drogas podem alterar o apetite, a absorção, o metabolismo, a utilização e a
excreção de nutrientes.
• Minerais podem competir entre si, durante o processo absortivo, como, por
exemplo, zinco e ferro.
• Anticoagulantes e antibióticos podem induzir à deficiência de vitamina K.
• Resinas ligadoras de colesterol ou óleo mineral podem induzir à má absorção
de vitaminas A, D, E e K.
• Antiácidos podem alterar a absorção de ferro, cálcio e vitamina B12.
• Trimetoprim, dilantim, barbitúricos, colestiramina e álcool podem resultar em
deficiência de folato.
• As necessidades de piridoxina estão aumentadas com o uso de isoniazida e
hidralazina.
• Deficiência de vitamina B12 pode estar associada com o uso de álcool,
neomicina, colchicina, colestiramina e clindamicina.
• Dietas hiperproteicas podem diminuir a atividade de agentes dopaminérgicos
utilizados no tratamento da doença de Parkinson.
• Uso de dilantim pode dificultar a hidroxilação hepática de vitamina D.
Além das avaliações apresentadas nesta etapa, é importante lembrar os exames
bioquímicos mais comumente utilizados para a avaliação nutricional do idoso são:
albumina, transferrina, hematócrito, hemoglobina, contagem total de linfócitos,
colesterol total e frações. Outros exames poderão ser necessários para uma
avaliação mais aprofundada. Lembre-se de solicitar apoio dos profissionais do
NASF para realizar uma avaliação ampliada e integral.

Leitura Complementar

Saiba mais informações sobre estado nutricional e idosos acesse:


SOUSA, V. M. C; Guariento, M. E. Avaliação do idoso desnutrido. Rev Brasileira de
Clínica Médica, v. 7. Disponível em: <http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2009/
v7n1/a46-49.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2016.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 35


agravos à saúde do idoso
3.2 Osteoporose
A osteoporose é uma enfermidade crônica, multifatorial e sistêmica que resulta em
reduzida massa óssea e perda da microarquitetura mineral, levando à fragilidade
mecânica e, consequente, à predisposição a fraturas com trauma mínimo, muitas
vezes, causando a incapacidade, o que demonstra a importância da identificação
de fatores de risco e prevenção desta enfermidade.

Classificação:

• Primária: pós-menopausa e senil, responsável por 80% dos casos;


• Secundária: relacionada a outras doenças e fatores (como, por exemplo,
doença renal), responsável apenas por 20% dos casos de osteoporose.
A osteoporose pós-menopausa é de importância crescente, tendo em vista o
aumento da expectativa de vida populacional, que no Brasil é de aproximadamente
78 anos para as mulheres. Dados epidemiológicos estimam que a osteoporose
acomete cerca de 20% das brasileiras com mais de 50 anos e que a proporção de
mulheres com osteoporose entre 50 e 59 anos é de 15%, elevando-se para 70%
nas mulheres com mais de 80 anos.

Considerando-se que para a prevenção há a necessidade do diagnóstico precoce,


este inicia-se com a história de familiares (história de fratura por pequenos traumas,
a partir dos 40 anos) e com o questionamento detalhado de todos os fatores de
risco (ver o quadro a seguir) e, se necessário, pela realização de densitometria
óssea, que quantificará a perda de massa óssea.

Fatores de risco para osteoporose


FATORES MAIORES
Sexo feminino;
Raça asiática ou europeia;
Idade avançada;
História da mãe com fratura de fêmur ou osteoporose;
Menopausa precoce;
Tratamento com corticoides ou outras drogas que induzem a perda da massa óssea.
FATORES MENORES
Parada da menstruação em idade jovem;
Perda de peso exagerada;
Tabagismo;
Alcoolismo;
Sedentarismo;
Imobilização prolongada;
Dieta pobre em cálcio.

Quadro 3 – Fatores de risco que quantificam a perda de massa óssea


Fonte: BRASIL, 2014.

36 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Após o conhecer o estado clínico atual, devemos iniciar o tratamento com medidas
preventivas – correção de fatores de risco e medicamentoso, se necessário.
Dentre os fatores de risco destacam-se os potencialmente modificáveis:

• deficiência de estrogênio;
• perda de peso exagerada;
• tabagismo;
• alcoolismo;
• sedentarismo;
• dieta pobre em cálcio.
A deficiência de estrogênio causada pela menopausa é considerada um dos
principais fatores de risco para a osteoporose em mulheres. Porém, a terapia de
reposição hormonal não é isenta de riscos (câncer de mama e endométrio, por
exemplo) e nem todas as mulheres necessitam de reposição. Portanto, a escolha
desta terapêutica deve ser cautelosa e individual.

Deve-se evitar o baixo peso corporal e a perda de peso excessiva, pois indivíduos
com maior peso corporal apresentam maior Densidade Mineral Óssea (DMO). O
peso corporal interage com hormônios gonadais na manutenção da massa óssea,
protegendo contra os efeitos adversos da deficiência estrogênica sobre o esqueleto.

Oriente a pessoa a mudar hábitos de vida potencialmente lesivos para a estrutura ós-
sea como o tabagismo, o alcoolismo e o sedentarismo. Deve-se aconselhar a prática
de exercícios com carga – marcha por 30 minutos, três vezes por semana.

Quanto aos fatores nutricionais, deve-se analisar primeiramente se a ingestão de


cálcio está sendo suficiente. A seguir, exibimos sugestões de alimentos ricos em
cálcio. Acompanhe.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 37


agravos à saúde do idoso
Suplemento de cálcio existente nos alimentos
Leite desnatado (240g) 302mg
Leite integral (240g) 290mg
Bebida láctea (240g) 300mg
Iogurte desnatado (240g) 452mg
Ricota semidesnatada (½ copo) 337mg
Mussarela semidesnatada (½ copo) 183mg
Queijo cheddar (30g) 176mg
Queijo parmesão (30g) 212mg
Requeijão desnatado (1 copo) 138mg
Sorvete de baunilha (1 copo) 176mg
Tofu - queijo de soja (30g) 258mg
Arroz fortificado cozido (1 copo) 300mg
Ervilha cozida (1 copo) 168mg
Brócolis cozido no vapor (½ copo) 89mg
Couve em lata (½ copo) 150mg
Leite de soja fortificado (1 copo) 300mg

Quadro 4 – Alimentos ricos em cálcio

Todas as mulheres serão beneficiadas com uma dieta rica em cálcio ou da


suplementação nos casos de baixa ingestão ou déficit de absorção, uma vez
que este é um nutriente essencial para a manutenção da saúde em geral e,
em particular, para a manutenção do tecido ósseo. A dose recomendada para
indivíduos adultos é de 1000 mg a 1500 mg por dia na forma de suplementação
ou dieta. Caso a dieta não atinja de 400 mg a 1000 mg de cálcio diário, deve-se
prescrever suplementação.

Apesar de as evidências mostrarem que a eficácia do uso de cálcio associado à


vitamina D é modesta, uma revisão sistemática em mulheres com osteoporose
induzida por corticoide sugeriu que tal terapêutica deve ser considerada por ser
uma combinação relativamente inócua. A vitamina D pode ser administrada na
dose de 400-800 UI/dia via oral, especialmente em mulheres acima de 65 anos
ou com osteoporose estabelecida.

A vitamina D também é fundamental para manter um esqueleto de qualidade. A vitami-


na D é obtida com a alimentação e sua síntese é feita na pele necessitando exposição
à radiação solar. A forma ativa da vitamina D estimula a reabsorção óssea e a absorção
intestinal de cálcio, conduzindo a um incremento da concentração de cálcio sérico.

38 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Foi evidenciada a efetividade da prática regular de exercícios para prevenção e
tratamento da osteoporose na mulher. Especificamente os exercícios aeróbicos
demonstram manutenção da massa óssea de mulheres na pós-menopausa tanto
na coluna vertebral como no quadril.

Em pessoas com osteoporose estabelecida, deve-se evitar exercícios de alto


impacto pelos riscos de fraturas que podem acarretar. Além dos efeitos benéficos
sobre o tecido ósseo, a prática regular de exercícios melhora o equilíbrio, a
elasticidade e a força muscular, que em conjunto diminuem os riscos de quedas
e, consequentemente, de fraturas. Recomendam-se caminhadas de 30 a 45
minutos, três a quatro vezes por semana, preferencialmente à luz do dia.

Após a revisão dos fatores de risco que podem alterar o curso da doença, o
indivíduo deve ser aconselhado a implantar medidas visando a prevenção de
quedas com possibilidade de fraturas. Estas medidas são:

• boa iluminação;
• piso antiderrapante;
• locais adequados para utensílios domésticos;
• corrimãos instalados corretamente.
Estratégias de prevenção efetivas devem ser implementadas para minimizar as
consequências físicas, sociais e econômicas da osteoporose. São procedimentos
para minimizar a progressão da osteoporose:

• analisar possível terapia de reposição hormonal;


• orientar quanto à manutenção do peso corporal adequado;
• estimular a cessação do tabagismo e do alcoolismo;
• estimular a prática de exercícios;
• estimular a ingestão adequada de cálcio e vitamina D.

Link

Saiba mais sobre a osteoporose, acesse:


DE SOUZA, M. P. G. Diagnóstico e tratamento da osteoporose. Revista Brasileira
de Ortopedia, v. 45, n. 3, p. 220-9, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/rbort/v45n3/v45n3a02>

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 39


agravos à saúde do idoso
3.3 Avaliação de quedas
Quando se trata de quedas, as ocorridas com idosos estão associadas a
elevados índices de morbimortalidade, redução de capacidade funcional e
institucionalização precoce. A cada ano, cerca de 30% da população idosa sofre
ao menos uma queda. Dentre esses idosos que sofrem queda, 2,5% requerem
hospitalização e, dos hospitalizados, apenas metade sobrevive após um ano.

Todo idoso deve ser questionado a cada consulta sobre quedas no período (ideal
nos últimos seis meses) para então evoluir na pesquisa e investigação de suas
causas. Entre as principais estão relacionadas a:

• o ambiente;
• fraqueza/distúrbios de equilíbrio e marcha;
• tontura/vertigem;
• alterações posturais/hipotensão ortostática;
• lesão no Sistema Nervoso Central (SNC);
• síncope;
• redução da visão.
A maior parte das quedas ditas acidentais, na verdade, não o são, pois poderiam
ser evitadas, e ocorrem dentro de casa ou em seus arredores, geralmente durante
o desempenho de atividades cotidianas como caminhar, mudar de posição ou
ir ao banheiro. Cerca de 10% das quedas acontecem em escadas, sendo que
descê-las apresenta maior risco que subi-las.

É importante que os membros da equipe de saúde estejam preparados para


realizar orientações, particularmente durante as visitas domiciliares, sobre os
riscos ambientais de queda identificados na casa do idoso. Alguns estão listados
no quadro a seguir.

40 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Riscos domésticos para quedas
Presença de tapetes pequenos e capachos em superfícies lisas;
Carpetes soltos ou com dobras;
Bordas de tapetes, principalmente, dobradas;
Pisos escorregadios;
Cordas, cordões e fios no chão;
Cadeiras, cama e vaso sanitário muito baixos;
Objetos estocados em locais de difícil acesso;
Móveis fora do lugar, móveis baixos ou objetos deixados no chão;
Móveis instáveis ou deslizantes;
Degraus de escadas com altura ou largura irregulares e sem sinalização de término;
Escadas com piso muito desenhado dificultando a visualização dos degraus;
Chinelos, sapatos desamarrados, escorregadios ou mal ajustados;
Roupas compridas arrastando pelo chão;
Má iluminação;
Animais, entulho e lixo em locais inapropriados;
Escadas com iluminação frontal.

Quadro 5 – Riscos ambientais de queda identificados na casa dos idosos


Fonte: Casa segura, 2011.

Link

Mais riscos ambientais de queda podem ser consultados no site: CASA segura:
uma arquitetura para a maturidade. Disponível em: <http://www.casasegura.arq.
br/>. Acesso em: 27 mar. 2016.

Ao avaliar o idoso após uma queda, o profissional de saúde deve estar alerta a
fatores que podem agravar o trauma como:

• ausência de reflexos de proteção;


• osteoporose;
• desnutrição;
• idade avançada;
• resistência e rigidez da superfície sobre a qual se cai;
• dificuldade para levantar após a queda.
Quando necessário, encaminhar para a avaliação de traumas mais graves e, assim
que possível, realizar modificações necessárias à prevenção de quedas futuras:

• adaptação do ambiente;
• orientação para autocuidado;

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 41


agravos à saúde do idoso
• utilização de dispositivos de auxílio à marcha;
• utilização criteriosa de medicamentos.
Queda sentinela: segundo o Projeto Diretrizes do Conselho Federal de Medicina,
a queda pode ser considerada um evento sentinela na vida de uma pessoa idosa,
um marcador potencial do início de um importante declínio da função ou um
sintoma de uma morbidade nova.

Link

ANTES, D. L.; d’ORSI, E.; BENEDETTI, T. R. B. Circunstâncias e consequências


das quedas em idosos de Florianópolis. EpiFloripa Idoso 2009. Revista Brasileira
de Epidemiologia, v. 16, n. 2, p. 469-481, 2013. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/rbepid/v16n2/1415-790X-rbepid-16-02-00469.pdf>. Acesso em: 28
mar. 2016.

3.3.1 Avaliação de Mobilidade


A grande propensão da pessoa idosa à instabilidade postural e à alteração da
marcha aumenta o risco de quedas e, por esta razão, equilíbrio e marcha devem
ser sempre avaliados.

Pode-se iniciar avaliando a função dos membros inferiores pelo teste get up and
go, que consiste em solicitar ao indivíduo que se levante de uma cadeira, sem
utilizar apoio, caminhe por três metros, retorne e sente-se novamente. Lentidão
excessiva, hesitação, excessiva oscilação do tronco, necessidade de apoio ou
tropeço indicam disfunção de marcha ou equilíbrio. Nesse caso, está indicada
avaliação neurológica completa e atenção para a amplitude e presença de dor
aos movimentos.

Na Prática

Converse com o fisioterapeuta do NASF, juntos vocês podem avaliar a pessoa ido-
sa e planejar as ações de saúde.

Agora, vamos acompanhar informações importantes sobre a avaliação dos


membros superiores e a avaliação da função distal. Acompanhe.

42 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Avalia-se a função de membros superiores em duas etapas: proximal e distal.
A avaliação da função proximal consiste em solicitar a pessoa que posicione
ambas as mãos na parte posterior do pescoço, observando-se a presença de dor
ou limitação durante a execução do teste. Se é capaz de realizar o movimento
completo, provavelmente tem uma adequada função proximal dos membros
superiores.

A avaliação da função distal consiste em solicitar que pegue um objeto pequeno


em movimento de pinça do 1º. e 2º. dedos de cada mão. Este movimento é
essencial na manutenção da capacidade de vestir-se, banhar-se e comer. Sugere
que o indivíduo tem a capacidade de escrever e manipular utensílios, sem
disfunção distal dos membros superiores.

O equilíbrio pode ser avaliado pela Escala de Tinetti, em que pontuações menores
indicam problemas, menores de 19 indica risco cinco vezes maior de quedas.
Escores muito baixos revelam necessidade de avaliação fisioterápica e/ou início
de programa de reabilitação.

Ambiente virtual

Veja no material complementar deste módulo a Escala de Tinetti.

3.4 Avaliação da Visão


Cerca de 90% das pessoas idosas necessitam de lentes corretivas para enxergar
adequadamente. Pergunte ao idoso se sente dificuldade ao ler, assistir televisão,
dirigir ou para executar qualquer outra atividade da vida cotidiana. Aqueles que
responderem positivamente devem ser avaliados como uso do cartão de Jaeger,
quando disponível, ou encaminhados para avaliação oftalmológica.

Ambiente virtual

Veja no ambiente virtual deste módulo o cartão de Jaeger.

O cartão deve ser colocado a uma distância de 35cm da pessoa e lentes corretivas
devem ser utilizadas, se forem de uso habitual. Aqueles que lerem até o nível de
20/40, serão considerados sem disfunção.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 43


agravos à saúde do idoso
3.5 Avaliação auditiva
Muitas vezes, o idoso não percebe a perda ou considera normal sua condição
visual para a sua idade, podendo não referi-la no momento do atendimento.
Utiliza-se o teste do sussurro para triagem. Fora do campo visual do idoso, a
uma distância de aproximadamente 33 cm, sussurra-se em cada ouvido uma
questão breve e simples, como, por exemplo, “qual o seu nome?”. Se o idoso
não responder, deve-se examinar o conduto auditivo para afastar a possibilidade
de cerume e se, necessário, encaminhar para avaliação de acuidade auditiva com
audiometria. Lembre-se de discutir o caso com o fonoaudiólogo do NASF.

3.6 Avaliação da capacidade funcional


Avaliar a capacidade funcional de uma pessoa significa medir a capacidade dela de
desempenhar as atividades necessárias para cuidar de si mesma. Didaticamente,
as atividades são divididas em Atividades da Vida Diária (AVD) – relacionadas ao
autocuidado – e Atividades da Vida Diária Instrumentalizada (AVDI) – relacionadas
à participação do idoso em seu entorno social. Veja as especificações de cada
uma delas no quadro a seguir.

AVD AVDI
Alimentar-se; Utilizar meios de transporte;
Banhar-se; Manipular medicamentos;
Vestir-se; Realizar compras;
Mobilizar-se; Realizar tarefas domésticas leves e pesadas;
Deambular; Utilizar o telefone;
Ir ao banheiro; Preparar refeições;
Manter controle sobre suas necessidades fisiológicas. Cuidar das próprias finanças.

Quadro 6 – Relação de atividades da vida diária e atividades da vida diária instrumentalizada


Fonte: Adaptado de Brasil, 2006.

A avaliação deve ser feita mediante da Escala de Katz, que avalia a independência
funcional das pessoas idosas no desempenho das AVD através de um
questionário padrão. Conforme o número de respostas afirmativas, classifica-
se em independente (6 pontos), com déficit moderado (4 pontos) e com déficit
severo (2 pontos). Confira a seguir.

44 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
(AVD, Katz, 1970)
Independente Sim Não
5 atividade
a) Banho Não recebe ajuda ou somente recebe ajuda para uma parte do corpo.
Pega as roupas e se veste sem qualquer ajuda, exceto para amarrar
b) Vestir-se
os sapatos.
Vai ao banheiro, usa o banheiro, veste-se e retorna sem qualquer ajuda
c) Higiene Pessoal
(pode usar andador ou bengala).
Consegue deitar na cama, sentar na cadeira e levantar sem ajuda (pode
d) Transferência
usar andador ou bengala).
f) Continência Controla completamente urina e fezes
g) Alimentação Come sem ajuda (exceto para cortar carne ou passar manteiga no pão).

Quadro 7 – Avaliação funcional: escala de Katz


Fonte: Katz, 1970.

As AVDI são avaliadas pela Escala de Lawton, também por meio de um questionário,
que ajuda a identificar os idosos que necessitam de projeto terapêutico com um
acompanhante.

Ambiente virtual

Veja no ambiente virtual a Escala de Lawton.

Quando se avalia a funcionalidade da pessoa idosa, é necessário diferenciar


desempenho e capacidade funcional:

• desempenho funcional avalia o que o idoso realmente faz no seu dia a dia;
• capacidade funcional avalia o potencial que a pessoa idosa tem para realizar
a atividade, ou seja, sua capacidade remanescente, que pode ou não ser
utilizada.
É muito comum em nosso meio encontrarmos idosos que têm capacidade
funcional para desenvolver uma tarefa e, todavia, são impedidos de desempenhá-
la por seus familiares com receio de acidentes.

A incapacidade de um indivíduo idoso é um processo que se desenvolve ao longo


do tempo, influenciado por fatores demográficos, sociais, psicológicos, ambientais,
estilo de vida, comportamentos e características biológicas dos indivíduos.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 45


agravos à saúde do idoso
O estado de incapacidade pode ser temporário ou permanente e os casos
reversíveis devem ser identificados precocemente para que as intervenções
necessárias sejam realizadas. Medidas de reabilitação, terapia medicamentosa
e modificações do ambiente físico-social, mudanças no comportamento e estilo
de vida, atributos psicossociais, adaptação às atividades e a presença de suporte
extra podem reduzir as dificuldades.

No relacionamento familiar, o profissional da equipe deve orientar a família que a


incapacidade de um idoso não significa necessariamente perda de sua autonomia.
Um indivíduo pode depender do auxílio de outra pessoa para realizar as atividades
cotidianas sem, no entanto, perder a capacidade de tomar decisões, preservando
sua autonomia.

É responsabilidade da equipe de saúde detectar os idosos frágeis e em risco de


desfechos clínicos adversos, conforme pode ser observado no quadro a seguir.
A fragilidade é compreendida como uma síndrome clínica caracterizada pela
diminuição da reserva energética e pela resistência reduzida pelos agentes. A
presença de três ou mais sinais ou sintomas indica fragilidade e a detecção de um
ou dois alerta a equipe para alto risco de desenvolver a síndrome.

Sinais e sintomas de fragilidade no idoso


SINTOMAS
Perda de peso não intencional;
fadiga autorreferida;
Diminuição da força de preensão;
Baixo nível de atividade física;
Diminuição da velocidade da marcha.
SINAIS
Sarcopenia;
Osteopenia;
Alterações de equilíbrio e marcha;
Limitações funcionais;
Descondicionamento físico;
Má nutrição.

Quadro 8 – Sinais e sintomas de fragilidade no idoso


Fonte: Adaptado de Brasil, 2006.

46 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Link

Para aprofundar seu conhecimento e obter outras informações sobre o assunto,


acesse o conceito de Atividade Instrumentalizada da Vida Diária (AIVD) e sua im-
portância na avaliação do idoso frágil e/ou portador de problemas cognitivos:
MARRA, T. A et al. Avaliação das atividades de vida diá-
ria de idosos com diferentes níveis de demência. Revista Brasilei-
ra de Fisioterapia,  São Carlos,  v. 11, n. 4, jul./ago. 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v11n4/a05v11n4.pdf>.

3.7 Avaliação cognitiva


Ao envelhecer, a maioria das pessoas tem queixas frequentes de esquecimentos
cotidianos. O desempenho físico e social do idoso depende da integridade de
suas funções cognitivas. A perda de memória recente e a habilidade de cálculo
são indicadores sensíveis de redução dessas funções. Considerando a baixa
escolaridade de nossos idosos, recomenda-se a avaliação da perda de memória
recente como mais adequada.

Para uma triagem rápida, o profissional de saúde pode solicitar à pessoa idosa
que repita o nome dos objetos: mesa, maçã e dinheiro. Após três minutos, deve
pedir que o idoso os fale novamente. Se o idoso for incapaz de repeti-los, há a
necessidade de uma investigação mais aprofundada.

Link

Confira o instrumento para avaliar Comprometimento Cognitivo Leve - Mild Cog-


nitive Impairment (versão em português): AVALIAÇÃO cognitiva Montreal (Mo
CA). Disponível em: <http://www.mocatest.org/wp-content/uploads/2015/tests-
instructions/MoCA-Instructions-Portuguese_Brazil.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2016.

Os testes mais utilizados para o rastreio de alterações cognitivas são o Miniexame


do Estado Mental (FOLSTEIN et al., 1985) e o Teste do Relógio (SUNDERLAND et
al., 1989). Veja, a seguir, como ambos podem ser realizados.

O Miniexame do Estado Mental é um teste neuropsicológico para a avaliação da


função cognitiva. Apresenta uma lista de tarefas a serem solicitadas para que o
indivíduo execute e, conforme o seu desempenho, dá-se a pontuação num total

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 47


agravos à saúde do idoso
de 30 pontos (BRUCKI et al, 2003). São sugeridos os seguintes pontos de corte:
para analfabetos, 20; para idade de um a quatro anos de escolaridade, 25; de
cinco a oito anos, 26,5; de nove a 11 anos, 28; para indivíduos com escolaridade
superior a 11 anos, 29.

Link

Este exame está disponível na íntegra em BRASIL, 2006, (p. 138): Envelhecimen-
to e saúde da pessoa idosa. Cadernos de Atenção Básica, n. 19. Acesse e confira:
<http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf>.

O teste do relógio consiste no desenho do mostrador de um relógio analógico, pela


pessoa, marcando uma hora predeterminada com os ponteiros. Esta avaliação
verifica a habilidade visuoconstritiva ou praxia construcional, que é a capacidade
de desenhar ou construir a partir de um estímulo; no caso, um comando verbal.
A pontuação é dada conforme segue: dez a seis pontos – a face, o círculo e os
números do relógio estão no geral intactos; cinco a um pontos – desenho da
face, do círculo e dos números do relógio não estão intactos; um ponto para o
posicionamento correto dos números: 1,2,4,5,7,8,10 e 11, sendo correto aquele
que estiver dentro da oitava que lhe corresponde; e um ponto para a posição
correta dos ponteiros grande e pequeno.

Ambos os testes, quando associados, permitem–nos avaliar sumariamente o


indivíduo com declínio cognitivo.

A demência é uma síndrome clínica decorrente de doença ou disfunção cerebral,


de natureza crônica e progressiva, na qual ocorre perturbação de múltiplas funções
cognitivas, incluindo a memória, a atenção e o aprendizado, o pensamento, a
orientação, a compreensão, o cálculo, a linguagem e o julgamento. Ela produz um
declínio apreciável no funcionamento intelectual que interfere com as atividades
diárias.

O profissional de saúde deve estar atento às causas reversíveis de demência:

• uso de medicamentos (psicotrópicos e analgésicos narcóticos);


• metabólica (distúrbio hidroeletrolítico, desidratação, insuficiência renal ou
hepática e hipoxemia);
• neurológica (hidrocefalia de pressão normal, tumor e hematoma subdural
crônico);
• infecciosas (meningite crônica, AIDS, neurossífilis);

48 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
• colágeno-vascular (lúpus, arterite temporal, vasculite reumatóide, sarcoidose
e púrpura trombocitopênica trombótica);
• endócrinas (doença tireoidiana, doença paratireoidiana, doença adrenal e
doença da pituitária);
• nutricionais (deficiência de vitamina B12, ácido fólico, tiamina e niacina);
• alcoolismo crônico;
• outras (DPOC, ICC e apneia do sono).
Descartadas as causas reversíveis, deve-se investigar as causas irreversíveis tais
como Alzheimer, demência vascular, demências mistas, demência dos corpos de
Lewy e demências frontotemporais.

Link

Material didático e interativo sobre a Doença de Alzheimer:


ALZHEIMER’S ASSOCIATION. Dentro do cérebro: uma viagem interativa. Disponível
em: <http://www.alz.org/brain_portuguese/01.asp>.

3.8 Avaliação de depressão


A depressão é e será uma das morbidades psiquiátricas mais incapacitantes
entre idosos, conhecida em todas as culturas, afligindo uma parcela considerável
da população. Ela acomete ambos os sexos e todas as etnias, aumenta sua
prevalência com a idade e se constitui fator de maior prejuízo pessoal, funcional e
social da atualidade.

Clinicamente, na depressão, há um sentimento de tristeza profunda, associado com


sintomas fisiológicos e cognitivos.

O CID-10 e a American Psychiatric Association (DMS-IV) caracterizam a depressão


como um conjunto de sintomas que causam alterações cognitivas, psicomotoras
e vegetativas interferindo na vida do indivíduo. Essa realidade é ainda mais severa
entre os idosos, tanto em termos de prevalência quanto da gravidade dos quadros.

A depressão no idoso é um distúrbio da área afetiva ou do humor e atualmente


é considerada um grave problema, envolvendo a saúde pública devido a sua alta
prevalência.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 49


agravos à saúde do idoso
Link

Importância da depressão entre os idosos em termos de impacto na saúde pública:


SNOWDON, J. Qual é a prevalência de depressão na terceira idade? Revista Brasi-
leira de Psiquiatria, v. 24, São Paulo, abr. 2002. Disponível em: <http://www.scie-
lo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462002000500009&lang=pt>.

No envelhecimento, pode-se encontrar uma 4 Na língua portuguesa, institucionalização


série de perdas e limitações progressivas. é o “ato ou efeito de institucionalizar”. Ins-
É a fase da vida com maior frequência de titucionalizar, por sua vez, é “dar o caráter
fenômenos degenerativos e doenças físicas de instituição, adquirir o caráter de insti-
capazes de produzir sintomas depressivos. tuição”; “dar forma institucional”. Assim,
Fatores sociais como perda de entes o idoso institucionalizado é aquele a quem
queridos e diminuição do convívio social
se dá ou que adquire o caráter de insti-
também atuam, facilitando o aparecimento
deste transtorno. A prevalência mundial de tuição, que se transforma em instituição,
depressão varia de 0,9% a 9,4% em idosos o que, obviamente, não faz sentido. Já na
vivendo na comunidade e de 14% a 42% em língua inglesa, o verbo correspondente a
institucionalizados4. institucionalizar to institutionalize, tem uma
acepção a mais, a de colocar ou confiar
A depressão apresenta causas endógenas, alguém aos cuidados de uma instituição
que podem ser neurobiológicas e genéticas, e especializada. REZENDE, J. M. de. “Institu-
exógenas, relacionada a fatores psicossociais. cionalização” do idoso. In: REZENDE, J. M.
Em muitos casos, os sintomas depressivos
de. Linguagem Médica, 3. ed., Goiânia: AB
surgem da inter-relação de ambos os fatores.
Editora e Distribuidora de Livros Ltda, 2004.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou o transtorno depressivo, também


denominado de depressão maior, depressão unipolar ou simplesmente depressão,
como a quarta doença de maior impacto mundial quando comparada às demais
doenças existentes atualmente no mundo.

A depressão consiste em um distúrbio de alteração de humor ou comportamento


que persiste por no mínimo duas semanas. Sentimentos como tristeza, vazio,
desesperança, desamparo, perda de interesses, alterações no apetite e peso,
distúrbios no sono, falta de energia, falta de interesse sexual e pensamentos suicidas
estão, entre outros sintomas, associados ao transtorno depressivo. Especialmente
os idosos apresentam sintomatologia atípica cursando com declínio funcional e
cognitivo, o que dificulta o rastreio e o diagnóstico precoce, principalmente pelo

50 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
médico não especialista e por parte daquele
que realiza o atendimento primário de grande 5 A Classificação Estatística Internacional de
parcela da população idosa. Doenças e Problemas Relacionados à Saúde
(CID-10) foi conceituada para padronizar e ca-
Os tratamentos requerem uma abordagem talogar as doenças e problemas relacionados
multiprofissional. A eficácia da farmacoterapia à saúde, tendo como referência a Nomencla-
antidepressiva poderá ser ampliada quando, tura Internacional de Doenças, estabelecida
além do diagnóstico precoce, somam-se
pela Organização Mundial de Saúde. Com
medidas que propiciem melhora no suporte
base no compromisso assumido pelo Governo
social dos indivíduos afetados. Há também
a dificuldade no diagnóstico diferencial e Brasileiro, a organização dos arquivos em meio
na adesão aos tratamentos, dificultando a magnético e sua implementação para disse-
melhora do quadro clínico. Neste sentido, minação eletrônica foi efetuada pelo DATASUS,
é importante a discussão dos casos em possibilitando, assim, a implantação em todo o
equipe, contando com o apoio do psicólogo território nacional, nos registros de Morbidade
e/ou do assistente social do NASF. Hospitalar e Ambulatorial, compatibilizando es-
tes registros entre todos os sistemas que lidam
De modo geral, a clínica da depressão
com morbidade. Fonte: <http://www2.data-
nos idosos é mais variada e atípica que
sus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0402>.
no adulto jovem. Os idosos apresentam
frequentemente sintomas depressivos que
nem sempre se ajustam aos requisitos
6 O Manual Diagnóstico e Estatístico de
necessários para categorias diagnósticas das
Transtornos Mentais (DSM-IV) é um sistema
classificações tradicionais (CID.105 e DSM.
IV6). Normalmente tais quadros são repletos diagnóstico e estatístico de classificação dos
de sintomatologia somática. transtornos mentais, segundo o modelo ca-
tegorial, destinado à prática clínica e à pes-
Durante a depressão, ocorrem alterações
quisa em psiquiatria. É, portanto, um manual
bioquímicas no cérebro, geradas por falhas
diagnóstico e estatístico, que foi adotado pela
no metabolismo da serotonina, um dos
principais neurotransmissores responsáveis Associação American Psychiatric Association -
pela sensação de bem-estar e pelo equilíbrio APA e que se correlaciona com a Classificação
do humor. Em alguns casos, a existência de de Transtornos Mentais e de Comportamento
predisposição genética atua como agravante da CID-10, da Organização Mundial da Saúde
de quadros clínicos de depressão. (OMS). Trata-se de um sistema classificatório
multiaxial – publicado nos anos 90, organiza-
Fatores psicossociais também atuam do de maneira a agrupar 16 classes diagnósti-
como precursores de surtos depressivos, cas distintas, que recebem códigos numéricos
particularmente em idosos, devido à elevada
específicos e se distribuem por cinco grandes
relação destes com o envelhecimento. Ao
eixos. Fonte: GOMES DE MATOS, E.; GOMES
mesmo tempo, as consequências físico-
motoras e mentais, a partir desses surtos DE MATOS, T. M.; GOMES DE MATOS, G. M.. A
acabam refletindo nas relações de convívio importância e as limitações do uso do DSM-IV
social e nas psicológicas. na prática clínica. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul, v.
27, n. 3, p. 312-318, 2005.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 51


agravos à saúde do idoso
A depressão também pode ser classificada em depressão de início precoce,
ocorrendo nas fases jovens e adultas, ou depressão tardia, que atinge pessoas
com idade superior ou equivalente a 60 anos.

Mais especificamente no caso da depressão de início tardio, existe relação


com alterações do sistema nervoso central, e observa-se a probabilidade de o
indivíduo evoluir para o quadro de demência do tipo Alzheimer. Pessoas com
alterações vasculares também podem desenvolver a depressão de início tardio.
Nos casos de Acidente Vascular Cerebral e nas demências vasculares, a presença
de depressão está consideravelmente aumentada.

A depressão e a doença física estão relacionadas e são de suma importância para


o idoso, devido à redução das reservas funcionais, alterações no mecanismo de ho-
meostase e alterações nos diversos sistemas orgânicos, além de grande número de
doenças crônicas e do aumento do número dos medicamentos utilizados, que levam
o idoso à situação de vulnerabilidade frente à depressão.

Pode-se observar que a depressão desencadeia ou mesmo agrava as doenças


preexistentes e em geral é acompanhada de dores, mal-estar físico, sensação de
fraqueza e cansaço, alterações do sono e do apetite.

A depressão pode causar diretamente a doença física. Há relação entre as


alterações da imunidade e também se observa a depressão como fator de risco
para as doenças cardiovasculares. Há ainda o fato de o idoso com depressão,
ocasionalmente, não aceitar o tratamento e, não aderindo a este, acaba por
cuidar-se menos, desde a higienização até a alimentação.

Em muitos casos, a depressão surge como secundária à doença física, por


exemplo, causada pelo hipotireoidismo ou por carcinomas: por reação às
consequências da própria doença física e suas limitações e/ou à dor causada por
ela. Outra causa de depressão é o uso abusivo de álcool, benzodiazepínicos e
drogas ilícitas, e nesses casos, independe da idade.

Os fatores psicossociais relacionados à depressão como o falecimento do


cônjuge, o afastamento dos filhos, a diminuição de rendas, as limitações físicas,
a aposentadoria e as modificações no contexto social podem afetar o idoso de
diversas maneiras. Os fatores desencadeantes ou predisponentes dependem da
idade, do tipo do evento, da personalidade e da história de vida de cada indivíduo.

52 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
A depressão não é inerente ao processo de envelhecimento e é uma doença
que deve ser tratada. É a doença psiquiátrica mais comum que leva ao suicídio.
Os idosos formam o grupo etário que, com mais frequência, se suicida e, muitas
vezes, o fazem sem que o diagnóstico tenha sido estabelecido.

O profissional de saúde deve ficar atento a fatores de risco para o desenvolvimento


de depressão como: isolamento, dificuldades nas relações pessoais, problemas de
comunicação e conflitos com a família ou com outras pessoas, além das dificuldades
econômicas e outros estressores da vida diária. O quadro é mais frequente nos anos
que precedem à aposentadoria, diminui na década seguinte e, outra vez, sua preva-
lência aumenta após os 75 anos.

Cuidado especial deve ser dado a pessoas com antecedentes de depressão,


doença incapacitante ou dolorosa, os que sofreram abandono ou maus-tratos,
os institucionalizados e os em luto pela morte de parentes próximos ou cônjuges.
Situações de indivíduos que recusam ou abandonam tratamento também devem
levantar a suspeita.

Medicações como benzodiazepínicos, betabloqueadores, metildopa, reserpina,


clonidina, cinarizina, flunarizina, digoxina e esteróides estão relacionados com
quadros depressivos.

Os sintomas são variados e atípicos em relação aos jovens e o diagnóstico pode


não se enquadrar nas classificações tradicionais (CID-10 e DSM.IV). Há uma
preponderância de sintomatologia somática, inquietação psicomotora (depressão
ansiosa), sintomas depressivos leves, alterações vegetativas, baixa autoestima,
pensamentos de abandono e dependência, poucos sintomas psicóticos e déficit
cognitivo variado.

Questione o idoso sobre sentimentos de tristeza ou desânimo frequentes e quando


existir forte suspeita aplique a Escala de Depressão Geriátrica (GDS 15). Esta
escala consiste num questionário com 15 perguntas objetivas e quanto maior o
número de respostas positivas para depressão maior o risco de depressão. Até
cinco pontos são considerados normais, de seis a dez, depressão leve, e de 11 a
15, depressão severa no quadro a seguir.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 53


agravos à saúde do idoso
Perguntas Respostas
1. Sente-se satisfeito com a vida? Sim Não
2. Interrompeu muitas de suas atividades? Sim Não
3. Acha sua vida vazia? Sim Não
4. Aborrece-se com frequência? Sim Não
5. Sente-se bem com a vida na maior parte do tempo? Sim Não
6. Teme que algo ruim lhe aconteça? Sim Não
7. Sente-se alegre a maior parte do tempo? Sim Não
8. Sente-se desamparado com frequência? Sim Não
9. Prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? Sim Não
10. Acha que tem mais problemas na memória que outras pessoas? Sim Não
11. Acha que é maravilhoso estar vivo agora? Sim Não
12. Vale a pena viver como vive agora? Sim Não
13. Sente-se cheio de energia? Sim Não
14. Acha que sua situação tem solução? Sim Não
15. Acha que tem muita gente em situação melhor? Sim Não

Quadro 9 – Escala de depressão geriátrica simplificada (GDS 15)


Fonte: Yesavage, 1983.

Estabelecido o diagnóstico, deve-se elaborar uma programação terapêutica.


Quando indicado o uso de medicações, deve-se optar por drogas com menor
efeito colateral e maior segurança para idosos. Iniciar sempre com doses baixas
sem, no entanto, esquecer-se de elevá-la até níveis terapêuticos uma vez que
subdoses são fatores de risco para cronificação e baixa resposta. O tratamento
deve incluir psicoterapia individual ou em grupo e atividades comunitárias. Idosos
em risco de suicídio podem necessitar de internação hospitalar ou domiciliar
supervisionada. Estão em maior risco:

• homens;
• aqueles que vivem sozinhos;
• quadros depressivos graves;
• insônia persistente;
• inquietude psicomotora importante;
• doença clínica grave, dolorosa ou incapacitante;
• viuvez recente;
• institucionalizados ou dependentes;
• etilistas;
• com sentimentos de culpa excessivos.
Para prevenir e auxiliar no tratamento, estimule a formação de grupos de idosos
em sua comunidade, com atividades regulares e a criação de uma rede de amigos
para visitação daqueles em risco de desenvolver depressão. Converse com a
equipe de saúde para melhor planejar as ações direcionadas para esse público.

54 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
3.9 Vacinação para os idosos
De acordo com o calendário vacinal, são recomendadas duas vacinas para
os idosos: Influenza, contra a gripe, e dupla adulto, contra o tétano, também
conhecida por dT.

A vacina da influenza deve ser aplicada anualmente, no outono, para evitar as


complicações de quadros gripais, comuns nessa faixa etária. Há evidências de que
a vacina contra a influenza é eficaz na diminuição da hospitalização dos idosos.

A dT deve ser reforçada, em pessoas já com esquema completo, a cada dez


anos; a cada cinco anos, em casos de ferimentos considerados de risco para o
desenvolvimento do tétano.

Idosos também podem se beneficiar da vacina antipneumocócica que deve ser


reforçada em cinco anos nos institucionalizados.

3.10 Síndrome metabólica e diabetes


O termo síndrome metabólica descreve um conjunto de fatores de risco metabólico
que se manifestam num indivíduo e aumentam as chances de desenvolver doenças
cardíacas, acidente vascular encefálico e diabetes. A síndrome metabólica tem
como base a resistência à ação da insulina, daí também ser conhecida como
síndrome de resistência à insulina. Isto é: a insulina age menos nos tecidos,
obrigando o pâncreas a produzir mais insulina e elevando o seu nível no sangue.
Alguns fatores contribuem para o aparecimento:

• genéticos,
• excesso de peso, principalmente na região abdominal;
• ausência de atividade física.
Recentemente, um grupo de consultores da Organização Mundial de Saúde
propôs a denominação de síndrome metabólica quando o indivíduo possuir dois
ou mais dos componentes descritos abaixo:

• regulação alterada da glicose ou Diabetes e/ou resistência à insulina;


• pressão arterial elevada (> 140/90 mmHg);
• triglicérides plasmáticos elevados (> 1,7 mmol; 150mg/dl);
• colesterol HDL baixo (< 0,9 mmol, 35 mg/dl para homens; < 1,0 mmol, 39 mg/
dl para mulheres);
• obesidade central (relação cintura/quadril > 0,90 para homens e 0,85 para
mulheres) e o índice de massa corpórea (IMC) > 30kg/m2);
• microalbuminúria (excreção > 15 µg min ou relação albumina; creatinina na
urina > 30 mg).

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 55


agravos à saúde do idoso
Outros componentes estudados nesta síndrome também foram relacionados
com a resistência à insulina ou tendem a agrupar-se com a síndrome principal,
entre eles:

• hiperuricemia;
• proporção aumentada de LDL pequena e densa;
• aumento da concentração de lipoproteínas remanescentes;
• distúrbios da coagulação e da fibronólise (elevação do fibronogênio);
• disfunção endotelial;
• inflamação da parede arterial;
• angina microvascular;
• síndrome de ovários policísticos.
Um grupo de especialistas pertencentes ao Programa Nacional de Educação em
Colesterol (NCEP), nos Estados Unidos da América, apresentou outra versão para
a definição da síndrome baseada nos fatores de risco. Será feito o diagnóstico
de Síndrome Metabólica quando estiverem presentes três ou mais dos fatores a
seguir relacionados. Acompanhe a seguir.

Fator de risco Definição


Até circunferência da contura > 102 cm em homens e
Obesidade abdominal
> 88 cm em mulheres
Triglicerídes elevados > 150mg/dl
< 40mg/dl em homens e
Colesterol HDL baixo
<50 mg/dl em mulheres
Hipertensão arterial > 130/ >85 mmHg
Hiperglicemia de jejum > 110mg/dl

Quadro 10 - Identificação de Síndrome Metabólica segundo NCEP.


Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2005.

Recentemente, a Federação Internacional sobre Diabetes (2005) sugeriu como


critérios:

• Obesidade central  cujos  limites podem variar conforme a etnia. Assim, para
europeus, foi sugerido para a medida da circunferência da cintura os valores
de 94cm para homens e 80cm para mulheres, para asiáticos 90 e 80cm e
para japoneses 85 e 90cm, respectivamente, homens e mulheres.
• E dois ou mais dos seguintes critérios:
a) Hipertrigliceridemia: > 150 mg/dL ou estar em tratamento específico.
b) HDL colesterol: < 40 mg/dL em homens e < 50 mg/dL em mulheres ou
estar em tratamento específico.

56 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
c) Hipertensão arterial sistêmica > 130/85 mmHg ou tratamento de
hipertensão diagnosticado previamente.
d) Glicemia de jejum > 100mg/dL ou  Diabetes tipo 2 diagnosticado
previamente.

Link

Para saber mais sobre a Federação Internacional sobre Diabetes, acesse o endereço:
FEDERAÇÃO INTERNACIONAL SOBRE DIABETES. Disponível em: <http://www.idf.org>.

Outros critérios metabólicos estão em pesquisa: medida da distribuição abdominal da


gordura, características da dislipidemia, métodos de avaliação da resistência à insulina
(níveis de insulina), avaliação da desregulação vascular, como a microalbuminúria, do
estado proinflamatório (proteína C reativa, ator de necrose tecidual, interleuquina) e
protrombótico (fatores fibrinolíticos e de coagulação). Tais fatores podem auxiliar na
predição de complicações cardiovasculares e diabetes tipo 2.

Fatores de risco:

• grande quantidade de gordura abdominal - em homens, cintura com mais de


102cm e, nas mulheres, maior que 88cm;
• baixo HDL (bom colesterol) - Em homens, menos que 40mg/dl, e nas mulheres,
menos do que 50mg/dl;
• triglicerídeos elevados (nível de gordura no sangue) - 150mg/dl ou superior;
• pressão sanguínea alta - 135/85 mmHg ou superior ou se está utilizando
algum medicamento para reduzir a pressão;
• glicose elevada - 110mg/dl ou superior.
Ter três ou mais dos fatores citados é um sinal da presença da resistência
insulínica. Esta resistência significa que mais insulina do que a quantidade normal
está sendo necessária para manter o organismo funcionando e a glicose em níveis
normais. Para a maioria das pessoas, o desenvolvimento da síndrome aumenta
com o envelhecimento. O risco aumenta se a pessoa tem uma vida sedentária,
sem atividade física e com:

• aumento do peso, principalmente na região abdominal (circunferência da


cintura);
• histórico de diabetes na família;
• níveis elevados de gordura no sangue;
• hipertensão.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 57


agravos à saúde do idoso
A maioria das pessoas que apresentam a Síndrome Metabólica são assintomáticas.
Contudo, elas estão na faixa de risco para o desenvolvimento de doenças graves,
como as cardiovasculares e o diabetes.

O aumento da atividade física e a perda de peso são as melhores formas de


tratamento, mas pode ser necessário o uso de medicamentos para tratar os
fatores de risco. Entre eles estão os chamados sensibilizadores da insulina, que
ajudam a reduzir o nível sérico de glicose, os anti-hipertensivos e os que reduzem
os índices de colesterol e triglicérides.

É importante assinalar a associação da síndrome metabólica com a doença


cardiovascular, aumentando a mortalidade geral em cerca de duas vezes e a
cardiovascular em três vezes. A síndrome metabólica é considerada como fator
de risco cardiovascular e de Diabetes mellitus tipo 2.

A Diabetes mellitus é uma doença crônica que causa alterações metabólicas asso-
ciada à deficiência absoluta ou relativa de insulina. Caracteriza-se clinicamente por
alterações metabólicas, complicações vasculares e neuropáticas, afeta em torno de
7,4% da população brasileira, entretanto, na população com faixa etária entre 60
e 69 anos, chega a 17,4%. A hiperglicemia persistente, característica da doença,
atinge de forma significativa os indivíduos, exigindo alterações importantes em seus
estilos de vida.

A diabetes no idoso é frequentemente assintomática, o quadro clínico clássico


de poliúria e polidipsia pode não ser o mais encontrado nessa faixa etária,
sendo o diagnóstico definido muitas vezes em exames de rotina ou internações
hospitalares.

A diabetes é uma doença comum e sua incidência aumenta com a idade. É uma
importante causa de incapacidade no idoso em virtude de suas complicações,
como a insuficiência renal, as amputações, a cegueira e a doença cardiovascular,
além de alta mortalidade.

No idoso, a diabetes se manifesta como um achado casual em doenças


intercorrentes, particularmente infecções, ou pelo surgimento de complicações,
como cerebrovasculares, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e arteriopatia periférica,
ou em exame de rotina. De forma menos frequente, pode manifestar-se com os
clássicos sintomas de polidipsia, poliúria, aumento do apetite, fadiga, visão turva,
infecção de resolução lenta e impotência (em homens).

58 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
O limiar renal para a eliminação da glicose na urina aumenta com o envelhecimento,
chegando a 200mg/dl, o que retarda o surgimento de poliúria. Dessa forma,
idosos com poliúria podem levar a outros diagnósticos que não diabetes.

Uma alteração relacionada com o centro osmorregulador no hipotálamo


faz com que os idosos apresentem grave depleção do espaço extracelular,
hiperosmolaridade e coma sem polidipsia. Os idosos raramente desenvolvem
cetoacidose, porém, diante da hiperosmolaridade, podem apresentar confusão,
coma ou sinais neurológicos focais. Os critérios diagnósticos e as medicações
utilizadas não diferem da população adulta geral.

As mudanças de hábitos de vida, com restrições alimentares e necessidade


de prática de atividade física, apresentam maior resistência entre os idosos. Da
mesma maneira, os tabus que envolvem a Diabetes mellitus geram temor do
uso crônico de medicações, do vício de insulina e mesmo de morte. E ainda os
sentimentos de punição e condenação podem ampliar as dificuldades de adesão
ao tratamento deste grupo.

Na Prática

Por isso, ao estabelecer o diagnóstico, o médico deve considerar a experiência da


pessoa com a doença, seu conhecimento sobre ela e os medos e temores diante
da diabetes. A história clínica e o exame físico devem investigar possíveis lesões de
órgãos alvo e a expectativa de vida do indivíduo para orientar a opção terapêutica.

A família do idoso com diabetes, especialmente se ele for funcionalmente


dependente, precisa ser instruída acerca das medidas de tratamento, da forma
de supervisioná-lo e dos sinais e sintomas de alerta, em particular os relativos à
hipoglicemia e desidratação.

Link

Conheça a situação do Diabetes:


SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Atlas do Diabetes. 2015. Disponível em:
<http://www.diabetes.org.br/images/2015/atlas-idf-2015.pdf>.

Manejo do pé diabético: CAIAFA, J. S. et al. Atenção integral ao portador de Pé


Diabético. Jornal Vascular Brasileiro, v. 10, n. 4, suppl. 2, 2011.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 59


agravos à saúde do idoso
3.11 Hipertensão arterial
A hipertensão arterial sistêmica é silenciosa e tem sua prevalência aumentada
com a idade. Entre as pessoas idosas, a hipertensão é uma doença altamente
prevalente, acometendo cerca de 50% a 70% das pessoas nessa faixa
etária. Apesar disso, não deve ser considerada uma consequência normal do
envelhecimento. Como a diabetes, a doença hipertensiva é um fator determinante
de morbidade e mortalidade com repercussões na independência do indivíduo.

A pressão arterial no idoso possui duas particularidades:

• maior frequência de hiato auscultatório;


• pseudo-hipertensão em decorrência do enrijecimento da parede da artéria,
identificado por meio da manobra de Osler.
A hipertensão sistólica isolada é a mais prevalente entre os idosos e parece
estar mais associada a eventos cardiovasculares que a hipertensão diastólica ou
sistólica e diastólica.

O diagnóstico e os medicamentos utilizados em idosos não diferem da população


adulta geral.

Para estabelecer as prioridades para o tratamento e a periodicidade do seguimento,


é necessário que o médico reconheça os fatores de risco e classifique o risco
individual do idoso.

A menor eficiência dos mecanismos reguladores da pressão arterial através


dos barorreceptores, a frequente utilização de medicamentos como diuréticos,
tranquilizantes, vasodilatadores e betabloqueadores, assim como a maior
frequência de insuficiência vascular cerebral, tornam o idoso predisposto à
hipotensão ortostática. Complicações, como quedas por hipotensão, podem ser
evitadas pela redução dos níveis tensionais de forma mais gradativa e início das
medicações sempre com doses menores do que as preconizadas.

Às vezes, pode ser difícil reduzir a pressão sistólica abaixo de 140mmHg em


idosos. Nesses casos, afastadas as causas secundárias, pode-se tolerar reduções
menos acentuadas.

Deve-se estimular o controle de pressão arterial domiciliar. Os aparelhos eletrônicos


devidamente validados e calibrados são os mais indicados. Os aparelhos de
coluna de mercúrio e os aneroides podem ser usados, desde que calibrados e
após orientação apropriada. Os aparelhos de medida da pressão arterial no dedo
não são recomendados.

60 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Medidas como redução de peso, combate ao sedentarismo e cessação do
tabagismo devem ser orientadas à pessoa idosa. Grupos de autoajuda e de
educação em saúde podem auxiliar na compreensão da doença e no estímulo à
mudança de hábitos de vida. A família deve sempre ser envolvida no tratamento
e no cuidado.

Link

Confira no endereço uma leitura complementar sobre o tema:


SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretrizes do grupo de estudos em
cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2. Disponível em:
<http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2010/Diretriz_Cardiogeriatria.pdf>.

3.12 Iatrogenia
A polifarmácia é uma das grandes preocupações deste grupo etário. Assim, é
de fundamental importância realizar um inquérito acurado a respeito de quais
medicações a pessoa está fazendo uso, tanto as prescritas quanto aquelas
indicadas por parentes, amigos e meios de comunicação. Não esqueça, também,
de questionar sobre a miríade de chás, extratos e outras substâncias ditas
naturais, interpretadas pelos idosos como algo que mal não faz.

Em função do grande número de morbidades envolvidas com o envelhecimento,


os idosos estão entre aqueles que mais fazem uso de medicações. E mais do que
isso, as interações observadas entre os inúmeros fármacos e a própria mudança
fisiológica no organismo senescente denotam a relevância do conhecimento não
somente da farmacocinética e da dinâmica da medicação como também das
mudanças fisiológicas que ocorrem nesta população.

Leitura Complementar

Conheça o acesso a medicamentos em uma capital do sul do Brasil:


AZIZ, M. M. Prevalência e fatores associados ao acesso a medicamentos pela po-
pulação idosa em uma capital do sul do Brasil: um estudo de base populacional.
Cadernos de Saúde Púlbica, Rio de Janeiro, v. 27, n. 10, p. 1939-1950, out. 2011.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v27n10/07.pdf>.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 61


agravos à saúde do idoso
3.13 Incontinência urinária
A perda involuntária de urina é um problema sério que afeta milhões de pessoas e
pode ocorrer em qualquer idade, tendendo a manifestar-se mais com o aumento
da idade, principalmente nas mulheres na perimenopausa.

Cerca de 30% das pessoas idosas não institucionalizadas costumam apresentá-la


e nem sempre a referem na avaliação clínica, quer seja por vergonha ou ainda, por
acharem que isso seja esperado no processo de envelhecimento. A frequência dos
escapes e a importância do evento estão associadas às repercussões emocionais
com constrangimento, de pressão e isolamento social.

O profissional de saúde deve perguntar diretamente se a pessoa idosa perdeu urina


recentemente ou sentiu-se molhada. Respostas afirmativas requerem investigação.

A incontinência urinária predispõe às infecções do trato urinário e genital, provoca


maceração e ruptura da pele, facilita a formação de úlceras de pressão e celulites,
contribui para a disfunção sexual e a perda de função renal, afeta a qualidade do
sono e aumenta o risco de quedas.

A etiologia da incontinência deve ser investigada e tratada. Orientações como


evitar a ingesta de grandes quantidades de líquidos quando não houver
disponibilidade de banheiros acessíveis, evitar alimentos com cafeína e álcool e
tratar adequadamente os quadros de obstipação intestinal crônica podem auxiliar
na melhoria da qualidade de vida do indivíduo.

As causas de incontinência urinária no idoso podem ser divididas em agudas e


crônicas, conforme o quadro a seguir.

Agudas Crônicas
Endócrinas - Hiperglicemia, hiperpotassemia, diabetes, Debilidade e lassidão do assoalho pélvico (multiparidade).
vaginite atrófica.
Debilidade do esfíncter uretral ou da saída da bexiga
Psicológicos - Depressão, ideias delitantes. (cirurgias e traumas).
Farmacológicas - Diuréticos, anticolinérgicos, Hiperatividade do detrussor (uretrites, cistites, tumores,
antidepressivos, antipsicóticos, hipnóticos-sedativos, litiase, diverticulose, AVC, demência, Parkinson, lesão
narcóticos, agonista e antagonista alfa-adrenérgico, espinhal).
bloqueadores de cálcio, cafeína e álcool.
Obstrução anatômica (HPB, cistocele).
Infecções do trato urinário.
Bexiga hipocontrátil (DM e lesão medular).
Neurológicas - Doença vascular cerebral, doença de
Demência.
Parkinson, hidrocefalia normotensa, delirium, redução de
consciência e redução de mobilidade. Depressão.
Obstipação intestinal por impactação fecal. Imobilidade.

Quadro 11 – Causas agudas e crônicas de incontinência urinária


Fonte: Adaptado de Brasil, 2006.

62 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
3.14 A sexualidade das idosas e dos idosos
A sexualidade é o modo como vivenciamos nosso instinto sexual na busca do
encontro afetivo, do acasalamento e do prazer. Ela permeia tudo o que nos
faz sentir mais homem-macho e mulher-fêmea no inexorável jogo da sedução
e da conquista. A sexualidade articula-se a fatores hormonais, emocionais e
socioculturais, de um modo pessoal e singular que se estende da função do
prazer à da procriação. É uma função que permeia a vida, da infância à velhice e
instala-se junto a uma série de tabus (FREITAS, 2002).

A sexualidade é cada vez mais reconhecida como um importante aspecto no cuidado


aos idosos. Todos os idosos precisam expressar sentimentos sexuais – a sexualidade
envolve amor, partilha calor, toque e não somente o ato do intercurso.

Com o passar dos anos, os espaços e o ritmo do prazer com relação à sexualidade
mudam, mas ela segue sendo uma necessidade básica também entre os idosos.
A sexualidade é também fonte de angústias e contradições: é para o homem
desejar sem ter como concretizar seu desejo; e, para a mulher, a quem a cultura
muitas vezes interdita a própria possibilidade do desejo, chegar à velhice e não
ser desejada.

Existem diferenças entre a sexualidade masculina e a feminina. Estudos


demonstram que 74% dos homens e 56% das mulheres casadas mantêm vida
sexual ativa após os 60 anos. Muitas das alterações sexuais que ocorrem com o
avançar da idade podem ser resolvidas com orientação e educação.

Problemas na capacidade de desfrutar prazer nas relações sexuais não devem ser
considerados como parte normal do envelhecimento.

A modificação das taxas de hormônios sexuais femininos, que ocorre próximo


à menopausa, pode reduzir o desejo sexual e a excitação, além de provocar
sintomas físicos conhecidos como calores ou fogachos, irritabilidade, alterações
no sono e depressão. Por outro lado, a menopausa ou a histerectomia podem
propiciar uma vida sexual sem risco de gravidez indesejada. Mulheres com cabelos
brancos ou rugas podem se achar menos atraentes. Ressecamento vaginal e
menor distensibilidade podem afetar o prazer sexual. A sensação do orgasmo não
se modifica. Lembrar que a ausência de desejo sexual (libido) não faz parte do
envelhecimento normal tanto de homens quanto de mulheres.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 63


agravos à saúde do idoso
No homem, as principais alterações são: redução da frequência de relações
sexuais, diminuição do interesse pelo sexo, menor número de ereções matinais
e menor frequência de masturbação. No caso da masturbação, esta se reduz
menos e pode ser uma atividade mais frequente que as relações sexuais, após
certa idade.

Os indivíduos que apresentam maior frequência de atividade sexual quando


jovens têm menor declínio quando mais velhos. Nos que têm menor frequência
ao longo da vida, o declínio é proporcionalmente maior. O homem demora mais
para conseguir uma ereção satisfatória, mas também tende a ter melhor controle
sobre a ejaculação. A perda da ereção após o orgasmo pode acontecer mais
rapidamente, ou pode levar mais tempo antes de uma nova ereção. Homens e
mulheres se beneficiam de maior tempo com carinhos preliminares.

Mitos que precisam ser discutidos:

• muitos idosos consideram que com a idade chega ao fim a vida sexual;
• a diminuição do desejo sexual no idoso e, consequentemente, da frequência
de relações sexuais é inevitável;
• mulheres entendem que, com a menopausa e a incapacidade natural de
engravidarem, o sexo já não tem mais sentido;
• o orgasmo simultâneo é o ideal;
• se o parceiro perde a ereção, é porque que não deseja mais sua parceira.
Doenças comuns que afetam a vida sexual: diabetes, depressão, cardiopatias,
hipotireoidismo, dor (especialmente articular) e incontinência urinária, bem
como as medicações que são utilizadas para tratar essas morbidades. Todas
as situações acima possuem tratamento adequado. Lembrar que o excesso de
álcool pode ocasionar problemas de ereção no homem e retardar o orgasmo nas
mulheres, e que o tabagismo compromete a ereção e diminui a libido.

Um obstáculo importante é a dificuldade das mulheres, que vivem mais, de


conseguir parceiros. Uma opção acessível consiste em frequentar mais os meios
sociais. A principal causa para não praticarem sexo é a falta de parceiro disponível.

A idade pode vir acompanhada de um desgaste no relacionamento afetivo,


transformações físicas, doenças e fatores externos que afetam o sexo. Porém,
associar esta etapa de vida com incapacidade, déficit, perda ou impossibilidades
é, de certo, impor limitações desnecessárias.

Durante toda a vida adulta, há a possibilidade de vivência sexual satisfatória e


prazerosa. Acima dos 60 anos de idade deve-se criar e utilizar novos recursos
e estratégias que facilitem sua adaptação a esta outra etapa de vida. Durante a
avaliação de idosos, o profissional de saúde deve lembrar-se sempre de abordar

64 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
a satisfação e os problemas com a sexualidade, e da mesma forma orientar
os idosos sobre a expansão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST),
particularmente HIV, entre este grupo.

Leitura Complementar

Você poderá acessar mais informações a respeito da sexualidade dos idosos em:
RISMAN. A sexualidade e terceira idade: uma visão histórico-cultural - textos en-
velhecimento, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, 2005. Disponível em:
<www.ciape.org.br/matdidatico/mariademello/sexualidade/visao_hist_cultural.
doc>.

CATUSO, M. C. Rompendo o silência: desvelando a sexualidade em idosos. Textos &


Contextos, Porto Alegre, v. 4, n. 1, dez. 2005. Disponível em: <http://revistaseletroni-
cas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/996/776>.

3.15 O cuidador
A ocupação de cuidador integra a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO),
de 2002, sob o código 5162, que define o cuidador como alguém que “cuida a
partir dos objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis
diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação,
cultura, recreação e lazer da pessoa assistida”.

Geralmente a atividade é desenvolvida por alguém da família ou da comunidade,


com ou sem remuneração, e na maioria das vezes sem formação profissional
para isso. Sua função compreende o acompanhamento e o auxílio à pessoa em
se cuidar, fazendo por ela somente as atividades que não consiga fazer sozinha.

O cuidador nem sempre escolhe sê-lo. Quando uma pessoa adoece ou se torna de-
pendente na família ou na comunidade, algumas pessoas se revelam como cuida-
doras, tornando esta uma tarefa nobre, porém complexa, permeada por sentimentos
diversos e contraditórios, tais como raiva, culpa, medo, angústia, confusão, cansaço,
estresse, tristeza, nervosismo, irritação, choro, medo da morte e da invalidez.

Do outro lado, está a pessoa doente e dependente, também com os mesmos


sentimentos contraditórios. Este fato pode tornar o relacionamento entre cuidador
e pessoa cuidada conflituoso. Orientar o cuidador a reconhecer seus próprios
sentimentos e os do dependente pode ajudar a suavizar as relações. Respeitar a
autonomia do acamado também é importante.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 65


agravos à saúde do idoso
Tarefas do cuidador:

• atuar como elo entre a pessoa cuidada, a família e a equipe de saúde;


• escutar, estar atento e ser solidário com a pessoa cuidada;
• ajudar nos cuidados de higiene;
• estimular e ajudar na alimentação;
• ajudar na locomoção e nas atividades físicas, tais como: andar, tomar sol e
exercícios físicos;
• estimular atividades de lazer e ocupacionais;
• realizar mudanças de posição na cama e na cadeira e massagens de conforto;
• administrar as medicações, conforme prescrição e orientação da equipe de
saúde;
• comunicar à equipe de saúde sobre mudanças no estado de saúde da pessoa
cuidada;
• outras situações que se fizerem necessárias para a melhoria da qualidade de
vida e recuperação da saúde dessa pessoa.
Devemos nos lembrar que, muitas vezes, a pessoa cuidada parece estar desatenta
ou dormindo, mas pode estar ouvindo o que falam a seu redor. Por isso, é
fundamental respeitar sua dignidade e não agir como se ela não entendesse, não
existisse ou não estivesse presente.

Na Prática

A equipe de saúde deve discutir com o cuidador sobre a doença de seu familiar ou
ente querido, as necessidades de auxílios e de alerta acerca dos sinais e sintomas
de perigo, procurando, desta forma, oferecer segurança à pessoa cuidada.

A doença ou a limitação física em uma pessoa provoca mudanças na vida dos


outros membros da família, que alteram suas funções ou papéis dentro da família,
quais sejam: a filha que passa a cuidar da mãe; a esposa que, além de todas as
tarefas, agora cuida do marido acamado; o marido que tem que assumir as tarefas
domésticas e o cuidado com os filhos, porque a esposa se encontra incapacitada;
o irmão que precisa cuidar de outro irmão. Todas essas mudanças podem gerar
insegurança e desentendimentos, além de sobrecarga, uma vez que o papel na
família antes de assumir a função de cuidador não é abandonado, mas agregado
aos novos papéis.

Esta sobrecarga física e emocional pode ser fator de estresse no cuidador e a


equipe de saúde deve estar apta a orientar a participação de outras pessoas no
revezamento do cuidado.

66 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
É essencial que o cuidador reserve alguns momentos do seu dia para se cuidar,
descansar, relaxar e praticar alguma atividade física e de lazer, tais como caminhar,
fazer ginástica, crochê, tricô, pinturas, desenhos, dançar etc.

Leitura Complementar

Diversas dicas para os cuidadores podem ser encontradas no Guia Prático do


Cuidador:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde. Guia prático do cuidador. Brasília, 2008. Dispo-
nível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_cuidador.pdf>.

Chegamos ao fim desta unidade de estudo. Procure implementar no seu dia a


dia as ferramentas que estudou, aperfeiçoando sua prática dentro do contexto
da Saúde da Família. Procure, também, manter-se sempre atualizado sobre o
conteúdo visto.

Link

Entre nos sites indicados a seguir. Eles são interessantes para aprofundar o tema
de estudo deste módulo. Confira!
Material didático:
MERCK. Manual of health e aging. Disponível em: <http://www.merck.com/
pubs/ mmanual_ha/contents.html>.
AGENCY FOR HEALTHCARE RESEARCH AND QUALITY. Disponível em: <http://www.
ahrq.gov/>.
Revistas nacionais em geriatria:
REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO ENVELHECIEMTO HUMANO. Disponível em:
<http://www.upf.br/seer/index.php/rbceh/index>.
Revistas internacionais:
BIOMEDCENTRAL. Disponível em: <http://www.biomedcentral.com/1471-2318/>.
MODERNMEDICINE. Disponível em: <http://www.modernmedicine.com/modern-
medicine/Geriatrics/home/40131>.

Agora, convidamos para uma reflexão, apresentando uma situação que poderia
ser evidenciada no dia a dia da Unidade de Saúde. Maria e José, com 70 e 80
anos respectivamente, residem na área de abrangência da equipe de saúde. Em

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 67


agravos à saúde do idoso
reunião de equipe, a enfermeira discute com os demais profissionais a situação
de vida do casal. Recentemente, José sofreu uma queda em seu domicílio,
resultando em fratura de colo de fêmur. Ficou internado no hospital de referência
para uma cirurgia e agora está em casa sob os cuidados da sua esposa. Os
idosos moram sozinhos.

Os profissionais da equipe resolveram solicitar o auxílio do assistente social do


NASF para, em conjunto com os dois idosos, procurar soluções para sua situação.

Você encontra, em sua realidade, idosos morando sozinhos com dificuldade para
as ações rotineiras do dia a dia? Estes casos são discutidos na equipe? Incluem
a participação dos profissionais do NASF? A comunidade se organiza, discute e
auxilia nestas situações? Reflita acerca de situações como esta, com elementos
do cotidiano, e converse sobre o assunto com seus colegas.

SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, estudamos alguns agravos e os cuidados no processo de
envelhecimento, fundamentais para a atenção integral à saúde do idoso, uma vez
que nessa faixa etária existem particularidades que irão influenciar as decisões,
desde ações clínicas, passando pela abordagem integral na avaliação do idoso,
incluindo os aspectos sociais, até a prescrição de medicamentos.

Destacamos algumas possibilidades de avaliação no processo de envelhecimento,


assim como as ações de prevenção e de cuidado integral, e de educação em
saúde, com o olhar voltado para o idoso.

Os conteúdos aqui apresentados e discutidos visam a sua qualificação profissional.


Mantenha esta dedicação em todas as etapas do curso! Desejamos a todos muito
sucesso e um bom aprendizado!

68 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
REFERÊNCIAS
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população idosa em uma capital do sul do Brasil: um estudo de base populacional.
Cadernos de Saúde Púlbica, Rio de Janeiro, v. 27, n. 10, p. 1939-1950, out. 2011.

ANTES, D. L.; d’ORSI, E.; BENEDETTI, T. R. B. Circunstâncias e consequências das


quedas em idosos de Florianópolis. EpiFloripa Idoso 2009. Revista Brasileira de
Epidemiologia, v. 16, n. 2, p. 469-481, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/rbepid/v16n2/1415-790X-rbepid-16-02-00469.pdf>. Acesso em 08 mar. 2016

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de


Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Guia prático do cuidador. Brasília,
2008. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_
cuidador.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Cadernos de
Atenção Básica, n. 19. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: <http://
dab.saude.gov.br/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf>. Acesso em: 11
mar. 2016.

BRASIL. Portaria n° 451, de 9 de junho de 2014. Aprova o Protocolo Clínico


e Diretrizes Terapêuticas da Osteoporose. Diário Oficial da União, Brasília,
2014. Disponível em: <http://u.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/02/pcdt-
osteoporose-2014.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2016.

BRUCKI, S. M. D. et al. Sugestões para o uso do mini-exame do estado mental no


Brasil. Arquivos Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 61, n. 3, p. 777-781, set. 2003.  
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-
282X2003000500014&lng=pt>. Acesso em: 11 mar. 2016.

CANINEU, P. R.; BASTOS, A. Transtorno cognitivo leve. In: FREITAS, E. V. et al.


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CATUSO, M. C. Rompendo o silência: desvelando a sexualidade em idosos.


Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 4, n. 1, dez. 2005.

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Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 69


agravos à saúde do idoso
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idoso: definição, diagnóstico, avaliação e intervenção. Medicina, Ribeirão Preto, v.
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MONTEIRO, D. M. R. Afetividade, intimidade e sexualidade no envelhecimento.


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RUBENSTEIN, L. Z. et al. Screening for undernutrition in geriatric practice


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SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretrizes do grupo de estudos


em cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2. Disponível
em: <http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2010/Diretriz_Cardiogeriatria.pdf>.
Acesso em: 14 mar. 2016.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico


e Tratamento da Síndrome Metabólica. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 84,
suppl. 1, São Paulo, abr. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abc/
v84s1/a01v84s1.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2016.

SOUSA, V. M. C; Guariento, M. E. Avaliação do idoso desnutrido. Rev


Brasileira de Clínica Médica, v. 7. Disponível em: <http://files.bvs.br/
upload/S/1679-1010/2009/v7n1/a46-49.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2016.

70 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
SUNDERLAND, T. et al. Clock drawing in Alzheimer´s disease: a novel measure
of dementia severity. Journal of the American Geriatric Association, v. 37, p.
725-729, 1989.

VELLAS, B.; GUIGOZ, Y. Facts and Research in Gerontology. [S. l: s.n], 1995.

WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION). Obesity: preventing and managing


the global epidemic. Geneva: World Health Organization, 1997.

YESAVAGE, J. et al. Development and validation of a geriatric screening scale: a


preliminary report. Journal of Psychiatric Research, v. 17, n. 1, p. 37-49, 1983.

Unidade 3 – Ações da clínica e do cuidado nos principais 71


agravos à saúde do idoso
Atenção Integral à Saúde do Idoso
Medicina

Unidade 4
4 PRÁTICAS EDUCATIVAS NA ATENÇÃO À SAÚDE DO IDOSO
Buscaremos, nesta unidade, tratar de práticas de promoção de saúde, a fim
de que a equipe de saúde, em conjunto com a pessoa idosa e seus familiares,
possam implementar ações que evitem ou minimizem os problemas que
interferem na saúde do idoso. Elas podem ter como público-alvo os idosos, seus
cuidadores e familiares, numa perspectiva do trabalho integrado entre a equipe
e a família. São práticas que se baseiam na compreensão ampliada acerca dos
problemas e desafios típicos do processo de envelhecimento. Disponibilizaremos
diversas estratégias para o sucesso dessas práticas e esperamos, com isso, que
o planejamento e a implementação das ações em saúde sejam integradas na
perspectiva do cuidado integral à saúde do idoso.

4.1 Educação para a compreensão da velhice


As mudanças ocorridas com o processo de envelhecimento incluem alterações
nos papéis e nos relacionamentos familiares, os quais mudam à medida que os
pais se tornam avós, que adultos maduros se tornam cuidadores, e que o idoso
se aposenta ou sofre outras alterações em sua inserção familiar e social.

O profissional de saúde acompanha tanto as mudanças próprias dessa faixa


etária como os mecanismos de enfrentamento utilizados durante sua adaptação a
essas transformações. Além disso, procura compreender como o idoso se sente
junto aos outros e consigo mesmo ao longo de todo esse processo; e avalia
junto com ele os aspectos que se relacionam com a sua interação com familiares,
aspectos íntimos, sociais; com as ocupações, atuais e do passado; com a
situação financeira, moradia e ambiente; com a espiritualidade, a sexualidade, o
isolamento social, com as perdas e com a morte.

O planejamento antecipado da aposentadoria pode amenizar as dificuldades


associadas a esse processo, como o isolamento e a passividade, especialmente
quando uma grande parte da vida do indivíduo foi dedicada ao trabalho e aos
relacionamentos dele decorrentes. Nesses casos, a perda desse vínculo pode
significar a perda das trocas sociais e da rede social de apoio, com alto impacto
na satisfação do idoso com sua vida.

A intervenção da equipe de saúde pode vir na forma de conversa a respeito


de aspectos essenciais, incluindo-se as relações com o cônjuge e os filhos,
analisando-se atividades significativas capazes de ocupar o lugar deixado pela
ausência do trabalho em suas vidas, ajustando ou reconstruindo redes sociais,
redefinindo questões ligadas à renda familiar e, principalmente, orientando ações
de promoção e manutenção da saúde, incluindo-se os desejos e desafios de
médio e longo alcance.

Unidade 4 – Práticas educativas na atenção à saúde do idoso 73


Inicialmente, a ênfase do cuidado ao idoso concentrava-se em nutrição, conforto,
empatia e intuição. Atualmente, a valorização do cuidado integral e humanizado
propicia o reconhecimento da complexidade dos processos de saúde/doença.
Neste sentido, a equipe de saúde possui um importante papel na implementação
de ações que auxiliem tanto na manutenção da saúde do idoso como na superação
ou enfrentamento das doenças ou agravos que acometem essa população.

As situações de isolamento podem ser enfrentadas, por exemplo, a partir da


promoção de redes sociais de apoio que revertam essa situação. Inúmeras
comunidades desenvolvem programas que facilitam a socialização, como
passeios, excursões, atividades de grupos, jogos, e até mesmo atenção via
contato telefônico, entre outras opções.

A parceria com outras instituições da comunidade, como as Igrejas, escolas, museus,


bibliotecas e organizações da sociedade civil pode potencializar as oportunidades de
reunir pessoas com interesses e necessidades semelhantes.

As modificações nos papéis sociais, nas responsabilidades familiares e na


capacidade das famílias de autogerirem o cuidado têm repercussões diretas na
vida da pessoa idosa. Dependendo do seu grau de autonomia e de independência,
alguns idosos escolherão viver em suas próprias casas e outros terão que
viver com membros de suas famílias. Outros, ainda, por opção ou por falta de
alternativas, terão que viver em instituições de longa permanência para idosos.

Com base em tais aspectos, a equipe de saúde, ao orientar os idosos e familiares


sobre moradia, precisa avaliar o nível de dependência, tanto para a realização
das atividades da vida cotidiana como para a manutenção financeira de suas
necessidades, levando em conta o acesso ao transporte coletivo, perigos
ambientais e rede de apoio social disponível, assim como realizando uma análise
das necessidades futuras.

Ao abordar com os idosos as questões referentes à moradia, é preciso


considerar as condições do ambiente, a mobilidade do idoso e as mudanças
físicas relacionadas à visão e à audição. A escolha das cores, barras de apoio,
os degraus, os desníveis, o brilho e a aderência dos pisos, as características da
mobília, são alguns aspectos importantes durante a discussão de um ambiente
seguro, adaptado às suas necessidades.

O objetivo da avaliação do ambiente é a promoção da independência e a manutenção


das habilidades funcionais da pessoa idosa. É relevante, ainda, discutir com o idoso
os riscos de acidentes que o ambiente oferece, tais como o uso de aquecedores,
lareiras, tapetes, corredores com pouca iluminação, entre outros.

74 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
A avaliação da segurança de um ambiente, como também da capacidade do idoso de
reconhecer e responder aos riscos, buscando um ambiente seguro, são componen-
tes importantes na promoção da qualidade de vida dessa população.

4.2 Orientações aos familiares cuidadores


As questões relativas ao envelhecimento necessitam o envolvimento de toda a
família, seja pela preocupação decorrente das influências da aposentadoria nos
níveis de consumo familiar, seja, por exemplo, na decisão de um(a) filho(a) de meia
idade em aceitar cuidar de sua mãe ou pai em sua residência.

Este impacto será maior ou menor, dependendo das características de cada núcleo
familiar. Nos casos em que já existam conflitos familiares estabelecidos, a tendência
será de sua exacerbação, com sobrecarga de alguns de seus integrantes. Na medida
em que se amplia a longevidade, mais complexas se tornam as necessidades de
assistência diária dos idosos, o que exige que as famílias assumam responsabilidades
cada vez mais complexas e por períodos mais longos.

Neste contexto, o profissional de saúde precisa compreender as várias estruturas,


modos de funcionamento, relações, conflitos, papéis e relacionamentos familiares,
para que possa conceber estratégias eficientes no trabalho de orientação das famí-
lias de idosos e de seus cuidadores.

A maior parte das necessidades de cuidados domiciliares dos idosos é provida


pelos seus familiares e não por profissionais. É preciso considerar as questões
de gênero envolvidas nesse processo: cerca da metade dos cuidadores dos
idosos masculinos são suas esposas, e o segundo maior grupo de cuidadores
é composto por filhas e noras. Eliopoulos (2005) destaca que hoje as mulheres
de meia idade passam mais tempo cuidando dos pais do que dos seus próprios
filhos, muitas vezes cuidam de ambos ao mesmo tempo. Informa, ainda, que uma
em cada sessenta mulheres trabalhadoras em tempo integral é cuidadora e uma
em cada doze é cuidadora em potencial.

Esses dados reforçam a importância de uma abordagem educativa aos cuidadores


e, antes disso, reforçam a importância da promoção da saúde, objetivando
manter a independência das pessoas idosas e minimizar as necessidades de
cuidado. Ainda, remetem à implementação de práticas efetivas de prevenção das
doenças e da perda da capacidade funcional, para a manutenção da capacidade
de autocuidado e de autonomia dos idosos.

Unidade 4 – Práticas educativas na atenção à saúde do idoso 75


Nos casos em que as fragilidades estão instaladas, indica-se que a saúde do
cuidador seja avaliada periodicamente e que o profissional de saúde programe
intervenções que, segundo Eliopoulos (2005, p. 445), incluam ações como:

• uso seguro da medicação, reconhecimento dos problemas e dos recursos


disponíveis para a atenção a situações específicas;
• programação de saídas das situações de cuidados, periodicamente, para
obter folga e relaxamento e manter a rotina de vida necessária;
• cuidado de si, com sono adequado, repouso, exercícios, nutrição, socialização,
isolamento, apoio, auxílio financeiro, redução do estresse e controles de saúde;
• orientações à família, para encarar realisticamente a situação, alertar para as
situações críticas em que um cuidador leigo não será capaz de dar conta das
necessidades de cuidado;
• ajuda à família na compreensão e avaliação da extensão das necessidades
de cuidado do idoso;
• divulgação de informações que possam auxiliar na antecipação das
necessidades de saúde da pessoa idosa;
• estímulo à expressão dos sentimentos, desenvolvimento de estratégias de
enfrentamento das crises;
• auxílio na compreensão dos processos de culpa, raiva, ressentimentos e
depressão que possam surgir em decorrência dos sentimentos de “dever ser”
ou de “obrigações de ser” relacionados às situações de cuidado ou de descuido;
• investigação e acompanhamento do impacto dos cuidados sobre toda a
unidade familiar, avaliando-se os efeitos de cada decisão sobre os membros
da família;
• revisão das opções de cuidado, auxiliando os cuidadores no diagnóstico
de suas limitações e da necessidade de cuidados institucionais, quando
necessário;
• identificação dos padrões de relacionamentos familiares e planejamento das
intervenções apropriadas, como uma terapia familiar, auxílio financeiro, uma
conferência familiar para solucionar conflitos;
• facilitação na comunicação aberta e honesta entre os membros da família,
auxiliando no planejamento de conferência familiar, promovendo a discussão
com todos os seus membros, desenvolvendo metas e planos realistas,
definindo responsabilidades, preservando a privacidade da família;
• ajuda ao cuidador na identificação dos recursos comunitários e ênfase na
importância da folga para quem cuida de idosos;
• estímulo à família a conhecer os grupos de apoio (ajuda mútua) e de autoajuda
que podem auxiliá-la, como grupos de Alzheimer, Diabéticos, Ostomizados,
entre outros.

76 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Na Prática

A equipe de enfermagem ou o médico podem auxiliar no reconhecimento das con-


dições de saúde bucal dos idosos e necessidades daí derivadas como importante
ferramenta de inclusão e acesso aos serviços odontológicos. Esta avaliação pode
e deve ser procedida de modo bastante simples por todos os membros da equipe.
Também se trata de revisar procedimentos de higiene de dentes, mucosa bucal e
próteses removíveis. Cuidadores também devem ser informados sobre os cuidados
em saúde bucal. Discuta em equipe quais as alternativas mais adequadas às condi-
ções de saúde do idoso.

As ações da equipe de saúde devem direcionar-se aos idosos e suas famílias,


estruturando o processo de cuidado no sentido de favorecer as capacidades
funcionais de todos os seus membros, potencializando as experiências de cuidado.

Na Prática

Para sedimentar o que foi estudado, procure selecionar, dentre as famílias de sua
área, uma em situação de fragilidade, na qual você identifique um familiar cuidador.
Descreva os problemas reais e potenciais no cuidado do idoso. Quais as abordagens
que você poderia utilizar para apresentar ao familiar cuidador outras opções de cui-
dado? Procure desenvolver um plano de cuidados para auxiliar essa família.

4.3 Atividades educativas em saúde nos grupos de idosos


Um grupo é constituído a partir de interesses e temas em comum. É um espaço
possível e privilegiado de rede de apoio e um meio para a discussão das situações
comuns vivenciadas no dia a dia. Permite descobrir potencialidades e trabalhar a
vulnerabilidade.

O trabalho em grupos possibilita a ampliação do vínculo entre equipe e pessoa


idosa, sendo um espaço complementar da consulta individual, da troca de
informações, de orientação e de educação em saúde (BRASIL, 2006).

Destaca-se o papel fundamental da socialização obtida em qualquer trabalho em


grupo, o que, por si só, pode representar novas perspectivas para a pessoa idosa
(dependendo de sua situação familiar e comunitária), além de maior aceitação na
sociedade.

Unidade 4 – Práticas educativas na atenção à saúde do idoso 77


A criação de grupos nas Unidades de Saúde tem sido cada vez mais comum, espe-
cialmente dado o potencial que as ações em coletivo tem, tanto para o trabalho dos
profissionais, com resultados positivos, até como suporte para e entre os usuários.
Entretanto, faz-se necessário maior reflexão das Equipes de Saúde sobre o trabalho
em grupo, para poder utilizá-lo de forma mais reflexiva e efetiva.

Algumas considerações estratégicas orientadoras do trabalho em grupo com os


idosos estão descritas em Brasil (2006), as quais estão citadas abaixo, seguidas
das descrições de ações para implementá-las:

a) convite às pessoas idosas para participarem do grupo;


b) abordagem de temas ligados ao envelhecimento;
c) escolha de um local de fácil acesso;
d) definição da coordenação do grupo;
e) denominações/categorização dos grupos;
f) participação da equipe;
g) metodologia de grupo aplicada;
h) a linguagem a ser utilizada;
i) compromisso da gestão com o grupo.
Para organizar um grupo com pessoas idosas, a equipe de saúde deve estar
mobilizada e ter incluído essa atividade em seu planejamento. Existem inúmeras
estratégias para convidar as pessoas idosas a participarem de grupos, como: fixar
cartazes na Unidade de Saúde e em pontos estratégicos na comunidade – escolas,
associações, supermercados – e durante a realização de procedimentos e consultas.

Na divulgação do grupo, é essencial o envolvimento dos agentes comunitários


de saúde (ACS), os quais, a partir das visitas domiciliares, podem incentivar a
participação dos idosos.

Um dos grandes desafios da promoção da saúde para pessoas idosas é a aceitação


do envelhecer e da cronicidade de algumas doenças. A concepção acerca do
envelhecimento, em sua forma mais ampla – biopsicosocial, econômica, espiritual
e cultural – e suas consequências na multiplicidade de problemas associados
exigem uma abordagem do processo de aceitação, resgate da autonomia,
participação e responsabilidades no tratamento. As temáticas e as atividades a
serem propostas devem ser discutidas com os participantes de forma a estarem
mais adequadas às demandas e às realidades locais.

O local de escolha para o encontro do grupo deve buscar superar as limitações


relativas à locomoção e condições socioeconômicas adversas. Deve-se privilegiar

78 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
locais próximos às moradias, como escolas, associações comunitárias, Igrejas, e
a própria unidade de saúde, entre outros. Nos casos em que a população adscrita
à unidade de saúde for muito distante uma da outra, a equipe pode procurar
parcerias, como, por exemplo, com a Secretaria de Educação, para o uso de
transporte escolar.

O grupo pode ser coordenado por qualquer um de seus membros: usuários,


agente comunitário de saúde (ACS), enfermeiro, médico, dentista, técnico
de saúde bucal (TSB), ou profissionais do NASF. O coordenador é a pessoa
responsável pelo grupo, ele organiza o encontro a partir do planejamento do
grupo e, quando necessário, convida alguém para discutir um assunto específico.
As pessoas que coordenam grupos devem ter uma definição clara dos objetivos,
levando em conta algumas condições básicas:

• as peculiaridades do contexto socioeconômico dos participantes;


• as mobilizações emocionais emergidas nos processos grupais;
• os saberes disponíveis nas comunidades em que se inserem.
A efetiva integração do grupo ocorre na medida em que as pessoas sentem-se
tranquilas e seguras para transmitir suas intimidades numa rede de confiança mútua.
Cabe ao coordenador a manutenção desse estado espontâneo, intervindo segundo
seu referencial teórico, sensibilidade e tato, para os quais não existem regras.

Os grupos podem ser tipificados segundo suas ações dominantes:

• grupos de acompanhamento terapêutico;


• grupos de atividade socioculturais;
• grupos de prática corporal/atividades físicas e terapêuticas, como caminhada,
tai chi chuan, práticas lúdicas, esportivas e de lazer.

Toda a equipe pode participar do grupo, tomando-se o devido cuidado para o número
de profissionais não ser excessivo, isso pode vir a inibir a participação das pessoas.

Torna-se necessária a elaboração de um cronograma de participação dos


membros da equipe. Recomenda-se ainda que seja feita uma escala entre os
profissionais para que eles não programem concomitantemente essas atividades
com as tarefas da Unidade de Saúde.

O importante não é só transmitir conteúdos específicos, mas despertar uma


nova forma de relação com a experiência vivida. A transmissão de conteúdos
estruturados fora do contexto social do grupo pode ser considerada “invasão
cultural” ou “depósito de informações”, pois não emergindo do saber popular
daquele grupo provoca desinteresse e abandono das atividades. Sugere-se,

Unidade 4 – Práticas educativas na atenção à saúde do idoso 79


no desenrolar dos grupos, uma metodologia problematizadora que parta da
realidade das pessoas envolvidas. Proposta por Paulo Freire, essa metodologia é
mais entendida como uma teoria do conhecimento do que como uma metodologia
de ensino; constitui-se muito mais em um método de aprender do que um método
de ensinar. Nesse processo, surgem temas que geram discussões, extraídos do
cotidiano de vida das pessoas.

A postura dos profissionais é fundamental no sucesso do grupo. As figuras


de linguagem (metáforas) reproduzem uma imagem mental que auxilia na
compreensão. Por exemplo: “a osteoporose é uma doença que causa a redução
da massa óssea; é como se o nosso osso virasse uma esponja, ele (o osso) vai
perdendo o cálcio e fica parecendo uma esponja”.

Algumas “armadilhas” devem ser evitadas no trabalho em grupo:

a) a infantilização da linguagem – “tomar o remedinho”, “todos trouxeram o


cartãozinho?”;
b) a intimidação para a obtenção da adesão ao tratamento, conhecimento das
doenças e suas complicações;
c) falas com cunho autoritário;
d) interrupção da fala de alguém do grupo;
e) não considerar, ignorar ou desvalorizar a participação de algum membro do
grupo;
f) utilizar termos técnicos sem esclarecer o significado. Isso pode causar um
distanciamento entre os profissionais e os membros do grupo, provocando
uma separação daqueles que detêm o conhecimento em relação às demais
pessoas, além de, muitas vezes, provocar a compreensão errônea do que
está sendo dito.
Cabe ao gestor municipal dar suporte para a realização das atividades em
grupo, garantindo a educação permanente dos profissionais e o fornecimento de
recursos materiais.

Leitura Complementar

Sugestão de leituras complementares:


BASTABLE, S. B. O enfermeiro como educador: princípios do ensino aprendiza-
gem na prática de enfermagem. Porto Alegre: Artmed, 2009.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1999.

80 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Convidamos você a fazer uma reflexão neste momento. Acompanhe a situação
proposta a seguir.

O grupo de idosos da Vila Mariana reúne-se mensalmente para atividades de lazer,


como jogos de cartas e confraternização com lanche. Sabendo disso, o enfermeiro
da equipe e o educador físico do NASF propõem aos idosos a realização de jogos
recreativos que envolvem atividades físicas. Após uma discussão acirrada sobre
qual modalidade iriam jogar, decidiram pelo basquete. Dessa forma, o educador
físico solicitou ao médico da equipe de saúde que avaliasse os idosos quanto à
aptidão para realizar atividades físicas. Após a avaliação, os idosos montaram os
times e combinaram a periodicidade em que aconteceriam os jogos. A equipe de
saúde observou que os idosos, aos poucos, começaram a participar dos jogos.
Essa iniciativa levou a equipe a propor a eles também atividade de caminhada,
que ocorreria três vezes por semana com a participação do educador físico e do
fisioterapeuta da equipe do NASF. A atividade foi coordenada pelo enfermeiro
da equipe de saúde e acompanhada também pelos agentes comunitários. Foi
um sucesso! Contou com a participação de idosos, adultos e adolescentes, que
desde então têm adotado esse hábito na comunidade, uma vez que a atividade
não era direcionada apenas aos idosos.

Depois de acompanhar esta contextualização, reflita:

• Como são os grupos na sua área de abrangência?


• Os espaços de reunião dos idosos já existentes na comunidade são utilizados
pela equipe de saúde para ações de promoção de saúde?

SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, vimos várias práticas de promoção da saúde que podem ser
empregadas pela equipe de saúde no cuidado ao idoso. Conhecemos estratégias
que podem ser utilizadas pela equipe nos grupos destinados aos idosos. O
sucesso dos mesmos não depende só da participação dos idosos, mas também
do estabelecimento de vínculos solidários de confiança mútua entre profissionais
e comunidade. Também relembramos práticas educativas voltadas aos familiares
cuidadores dos idosos, as quais envolvem as relações familiares e a sobrecarga
de trabalho do cuidador.

Unidade 4 – Práticas educativas na atenção à saúde do idoso 81


REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Cadernos de
Atenção Básica, n. 19. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: <http://
dab.saude.gov.br/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad19.pdf>. Acesso em: 14
jul. 2010.

ELIOPOULOS, C. Enfermagem gerontológica. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

82 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
Atenção Integral à Saúde do Idoso
Medicina

Unidade 5
5 EXPERIÊNCIAS EXITOSAS DO TRABALHO INTERDISCI-
PLINAR NA ATENÇÃO BÁSICA – SAÚDE DO IDOSO

5.1 Educação popular e promoção da saúde do idoso: reflexões a partir de


uma experiência de extensão universitária com grupos de idosos em João
Pessoa – PB
Com o aumento da população idosa em todo mundo, formas de aprimorar a
qualidade de vida vêm sendo discutidas através do desenvolvimento de políticas
que contribuam para o envelhecimento saudável. No Brasil, esse processo vem
se concretizando de modo marcante na Estratégia Saúde da Família por meio
de iniciativas como os grupos comunitários de idosos, marcados pela educação
como mediadora do cuidado em saúde. Neste contexto, o Projeto de Extensão
Universitária “Práticas Integrais da Nutrição na Atenção Básica em Saúde (PINAB)”
vem apoiando ações de grupos de idosos em comunidades no contexto da
Saúde da Família, através de atuação com estudantes da graduação de Nutrição
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Este trabalho visa sistematizar as
contribuições do Projeto para o desenrolar de ações inspiradas na Educação
Popular (EP) nestes grupos; os aprendizados, dificuldades e incertezas que
permearam esta experiência, na perspectiva de contribuir para a qualificação da
discussão acerca da Educação em Saúde no cuidado com o idoso.

A Atenção Básica se configura no lócus potencial para a Educação em Saúde


e é nela que são identificadas novas abordagens educativas, na perspectiva
da humanização do cuidado em saúde, constituindo-se numa das principais
estratégias para a reorientação do modelo assistencial. A Educação Popular
(EP) destaca-se como uma das várias possibilidades metodológicas de
desenvolvimento da educação no setor saúde.

Ao considerar essa experiência, compreendemos que os grupos educativos


constituem efetivamente uma estratégia capaz de reorientar o cuidado em saúde
do idoso na perspectiva da promoção da saúde na Atenção Básica. Além disso,
percebemos que este é um cenário privilegiado para realizar empreendimentos
capazes de envolver as pessoas de modo crítico e participativo. Afinal de contas,
como foi perceptível na fala dos trabalhadores que participaram das atividades,
não basta ter público para palestras, é preciso ter envolvimento coletivo para
que a prevenção e o cuidado não sejam apenas responsabilidades de poucos
profissionais, mas sim atribuições compartilhadas com a comunidade em geral.

A Educação Popular nos possibilita acreditar que o cuidado em saúde deve estar
encharcado de diálogo e participação, além da mística e da cultura popular,
reunindo os sujeitos em grupos onde a prioridade não são os conteúdos a serem

Unidade 5 – Experiências exitosas do trabalho interdisciplinar 85


na Atenção Básica – saúde do idoso
transmitidos, mas a criação de espaços de aprendizagem coletiva. Assim, a
EP pode ser um dispositivo importante para a promoção da saúde de maneira
sustentável na comunidade.

Além disso, essa experiência possibilitou aprendizados para extensionistas


e trabalhadores de saúde quanto ao significado da alimentação para a saúde
do idoso, enxergando o ato de comer não somente a partir do ponto de vista
nutricional, mas como fenômeno social, compreendendo a alimentação saudável
como um desafio político, cultural, educativo e que precisa ser enfrentado de
maneira coletiva.

Diante do exposto, infere-se que a EP, na Atenção Básica, possibilitou uma


abordagem mais dialógica e significativa para os idosos, na medida em que
se manteve articulada com a realidade social e cultural por eles vivenciada.
Ao considerar criticamente esta experiência, compreendemos que os grupos
educativos constituem efetivamente uma estratégia capaz de reorientar o cuidado
em saúde do idoso na perspectiva da promoção da saúde na Atenção Básica.
Além disso, percebemos que a EP é uma metodologia privilegiada para realizar
empreendimentos capazes de envolver as pessoas de modo crítico e participativo
(FIRMINO et al., 2010).

5.2 Grupo de hidroterapia – Fisioterapia Aquática, Projeto Mais Viver


O Município de São Bonifácio (SC) possui, atualmente, 3.207 habitantes. Destes,
580 (18,08%) têm mais de 60 anos. Sendo um município com atividades
essencialmente agrícolas, as pessoas enfrentam longas jornadas de trabalho,
que exigem muito esforço físico, afetando, com o passar do tempo, sua saúde.
Surgem, com isso, muitos problemas ortopédicos e outros, fazendo com que as
pessoas procurem pelo serviço de fisioterapia. Diante da constatação do grande
número de pessoas que necessitavam de atendimento fisioterápico, o município
implantou, em 2003, o serviço de fisioterapia em seu território. Este serviço não foi
suficiente para atender as necessidades da população, que buscava em cidades
vizinhas o atendimento de hidroterapia, pagando pelo mesmo. Surgiu, então, a
necessidade de buscar novas alternativas para recuperação dessas pessoas.
Os idosos do município organizaram-se e solicitaram aos gestores de saúde a
formação de um grupo de hidroterapia, já que no município existe uma piscina
aquecida de propriedade particular, mas que poderia ser usada pelo grupo, bem
como equipe de saúde para prestar este atendimento.

Diante da solicitação feita pelos idosos para a implantação do serviço de


hidroterapia no município, a Secretaria Municipal de Saúde, juntamente com a
equipe de saúde, realizou um estudo visando à viabilidade do projeto. Buscou
parcerias com a Secretaria de Transportes e Obras, Prefeito Municipal, com o

86 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
proprietário da piscina e com o Grupo de Idosos, os quais, juntos, prontificaram-
se em oferecer todo o suporte necessário: físico, financeiro e humano.

Em abril de 2009 o Projeto Mais Viver, já existente, iniciou o serviço de hidroterapia


com atividades de terapia aquática para um grupo de 19 pessoas acima de 60 anos,
no qual eram observadas a orientação clínica e a necessidade de cada um. Por
este serviço ser realizado no município, o acesso foi facilitado e a procura cresceu
consideravelmente, surgindo a necessidade de sua ampliação. Atualmente, existem
três grupos, divididos por sexo e específico conforme necessidade dos pacientes:
pediátrico, ortopédico e cirúrgico, que conta, além do fisioterapeuta e da enfermeira
ESF, com o apoio das ACS na realização dos exercícios.

Enfatizando os exercícios de baixo impacto, mas não leves, a atividade ajuda na


queima de calorias e para adquirir e recuperar o condicionamento físico e, além
disso, proteger as articulações. Tecnicamente o que determina a diferença entre
baixo e alto impacto é a intensidade com que os pés tocam no solo. Se não
há contato (natação, hidroterapia) ou se durante a prática os pés quase nunca
saem do chão (marcha atlética). Foram priorizadas as atividades globais as quais
estimulam tanto parte sensorial quanto motora, na melhora da aptidão física,
trabalhando todas as partes do corpo.

O atendimento acontece nas quartas-feiras das 13h às 18h e o transporte é feito


pela Prefeitura. Dentre os resultados encontrados, mesmo com poucos meses de
atividade do projeto, é possível destacar: melhora na autoestima com sensação de
bem-estar físico e psicológico; melhora da mobilidade; independência; diminuição
da dor e limitações; ganho de força e amplitude de movimentos; condicionamento
físico, equilíbrio; convívio em grupo, descontração e lazer.

Com a integração da equipe multiprofissional da saúde do município de São


Bonifácio, juntamente com as parcerias realizadas, foi possível promover qualidade
de vida para as pessoas por meio de saúde, lazer, interação do grupo e atividades
globais direcionadas. Os resultados alcançados demonstram a melhoria das
condições físicas, psicológicas, diminuição da dor e principalmente a autoestima
das pessoas que participam das atividades de hidroterapia do Projeto Mais Viver.
Diante da importância das atividades realizadas a ampliação do projeto é urgente
e necessária para atender um maior número de pessoas que procuram este
serviço (DAVID et al, 2010).

Unidade 5 – Experiências exitosas do trabalho interdisciplinar 87


na Atenção Básica – saúde do idoso
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, buscamos apresentar exemplos práticos e relatos de experiências
na atenção básica sobre possibilidades de interlocução entre os membros da
Equipe de Saúde da Família - ESF e desta com os Núcleos de Apoio à Saúde
da Família – NASF. Com isto, reforçamos a importância do trabalho em equipe
interdisciplinar articulado com a comunidade em que, cada vez mais, o saber
popular e científico dialogam na perspectiva de uma atenção à saúde que seja
integral e acolhedora, nas diferentes situações que demandam atenção integral à
pessoa idosa que busca a unidade básica de saúde.

Aqui você chega ao final do Módulo, que teve como foco central as ações de
saúde em relação à saúde do idoso, apresentando e discutindo os cuidados que
devem ser empregados na atenção às condições de vida e saúde dos idosos
usuários do Sistema Único de Saúde.

Abordamos tais conteúdos distribuindo-os de maneira a compreender as


características gerais associadas ao cuidado da saúde do idoso. Independente
da complexidade ou da amplitude desses cuidados, buscamos também apontar
caminhos para que a equipe consiga trabalhar de maneira integrada, visto que é
o objetivo comum de todos fomentar a qualidade de vida do idoso e o bem-estar
desta população.

Esperamos colaborar na construção de um processo de trabalho fundamentado


na integralidade, em suas diferentes vertentes ou sentidos, um verdadeiro e
constante desafio para os profissionais de saúde. Desejamos a todos muito
sucesso e um ótimo aprendizado!

REFERÊNCIAS
FIRMINO, R. et al. Educação Popular e Promoção da Saúde do Idoso: reflexões
a partir de uma experiência de extensão universitária com grupos de idosos em
João Pessoa-PB. Rev. APS, Juiz de Fora, v. 13, n. 4, p. 523-530, out./dez. 2010.
Disponível em: <www.aps.ufjf.br/index.php/aps/article/download/661/399>.
Acesso em: 22 mai. 2012.

DAVID, R.; POSSAMAI, M. M. Grupo de Hidroterapia – Fisioterapia Aquática


“Projeto Mais Viver”. Revista Catarinense de Saúde da Família, ano I, n. 3,
jul. 2010. Disponível em: <portalses.saude.sc.gov.br/index.php?option=com_
docman&task=cat_view&gid=457&Itemid=82>. Acesso em: 14 mar. 2016.

88 Martini, Mello, Xavier, Botelho, Massignam Atenção Integral à Saúde do Idoso


Medicina
SÍNTESE DO MÓDULO
Neste módulo foram abordados aspectos do processo de envelhecimento,
fundamentais para a atenção integral à saúde do idoso, relacionados às suas
particularidades que irão influenciar tanto as decisões clínicas quanto aquelas
referentes aos aspectos sociais, que envolvem a abordagem integral na avaliação
do idoso. Essa percepção fundamenta nossa prática e auxilia-nos a prever eventos
danosos e como podemos evitá-los.

Foram abordados alguns agravos e cuidados no processo de envelhecimento,


fundamentais para a atenção integral à saúde do idoso, destacando algumas
possibilidades de avaliação no processo de envelhecimento, assim como as
ações de prevenção e de cuidado integral, e de educação em saúde, com o olhar
voltado para o idoso.

Buscamos contextualizar o conteúdo, apresentando exemplos práticos e relatos


de experiências na Atenção Básica sobre possibilidades de interlocução entre os
membros da Equipe de Saúde da Família − ESF e desta com os Núcleos de Apoio
à Saúde da Família – NASF. Com isto, reforçamos a importância do trabalho em
equipe interdisciplinar articulado com a comunidade em que, cada vez mais, os
saberes popular e científico dialogam na perspectiva de uma atenção à saúde
que seja integral e acolhedora, nas diferentes situações que demandam atenção
integral à pessoa idosa que busca a unidade básica de saúde.

Sem a pretensão de esgotar os temas abordados, o texto baseou-se em


um referencial, baseado em evidências científicas. Independentemente da
complexidade ou da amplitude desses cuidados, procuramos também apontar
caminhos para a realização do trabalho integrado aos demais profissionais da
equipe de saúde. Esperamos colaborar na construção de um processo de trabalho
fundamentado na integralidade, em suas diferentes vertentes ou sentidos, um
verdadeiro e constante desafio para os profissionais de saúde.

Desejamos a todos muito sucesso e um ótimo aprendizado!

89
AUTORES

Jussara Gue Martini


Possui graduação em Enfermagem pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(1979), especialização em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (1982), especialização em Enfermagem Médico
Cirúrgica pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1987) , especialização
em Enfermagem Comunitária pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(1990), especialização On Line em Investigação sobre o fenômeno das drogas,
pela Universidade de São Paulo (2006), especialização em Acupuntura pelo
Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos (2005), mestrado em Educação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993) e doutorado em Educação
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999). Atuou como docente
e pesquisadora dos cursos de Enfermagem e Pedagogia na Universidade do
Vale do Rio dos Sinos, no período de 1982 a 2004, tendo exercido, na mesma
instituição, as funções de Chefe de Departamento de Educação, Coordenadora
de Pós-Graduação e Pesquisa do Centro de Ciências Humanas e de Diretora
de Administração do Centro de Ciências Humanas. Atuou como enfermeira da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre, no período de 1995 a 1999. Participou
como conselheira no Conselho Municipal de saúde de Porto Alegre, de 1995
a 1999 e como conselheira do Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do
Sul, de 1998 a 2004, exercendo a Coordenação da Comissão de DST/AIDS do
Conselho estadual. Atualmente é Professora e pesquisadora do Departamento
de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) e
preceptora do Programa de Residência Integrada em Saúde da Família (PRISF)
da Universidade Federal de Santa Catarina. Integra A Diretoria da Associação
Brasileira de Enfermagem (ABEn) - Gestão 2007 - 2010, exercendo a Diretoria de
Publicações e comunicação social. Possui experiência na área de Educação em
Enfermagem, Enfermagem na Atenção Básica no cuidado às pessoas que vivem
com HIV/AIDS, atuando principalmente nos seguintes temas: representações
sociais de HIV/AIDS educação em enfermagem em Atenção Básica. No campo
das representações profissionais, foi diretora de Educação e presidente da ABEn
RS (1998-2001 e 2001-2004), Segunda tesoureira da ABEn Nacional (2004-2007)
e Diretora de Publicações e comunicação social da ABEn - Nacional (2007-2010).

http://lattes.cnpq.br/7817167061525536

90
Ana Lúcia Schaefer Ferreira de Mello
Possui graduação em Odontologia pela Universidade Federal de Santa Catarina
(1998), mestrado em Odontologia em Saúde Bucal Coletiva pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (2001), doutorado em Enfermagem pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2005) e Doutorado em Odontologia em Saúde Coletiva
também pela UFSC (2009). Ainda realizou Pós-doutorado no Grupo de Estudos
e Pesquisas em Administração e Gerência do Cuidado em Enfermagem e Saúde
(GEPADES/ PEN/UFSC). Desenvolve trabalhos na área do Cuidado à Saúde,
com ênfase em Melhores Práticas e Odontologia em Saúde Coletiva, atuando
principalmente nos seguintes temas: cuidado à saúde, cuidado à saúde bucal,
odontologia em saúde bucal coletiva, saúde do idoso, odontogeriatria, instituições
de longa permanência, melhores práticas em saúde, serviços de saúde, políticas
públicas em saúde, saúde da família e promoção da saúde.

http://lattes.cnpq.br/6656705142477097

André Junqueira Xavier


Especialista em Geriatria pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/
FIOCRUZ, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS e
pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia SBGG/AMB. Graduado em
Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ, 1989), mestre
em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC,
2002) e doutor em Informática na Saúde UNIFESP – Universidade Federal de São
Paulo/UNIFESP (2007). Atualmente, é professor de Geriatria e Medicina Preventiva
da Universidade do Sul de Santa Catarina. Tem experiência na área de Medicina,
com ênfase em Geriatria, atuando principalmente nos seguintes temas: geriatria,
gerontologia, informática, envelhecimento prevenção e interação.

http://lattes.cnpq.br/9125363765724910

Lúcio José Botelho


É Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (1977) e
Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003).
É Professor Adjunto IV do Departamento de Saúde Pública da Universidade
Federal de Santa Catarina, e atua nos temas epidemiologia, mortalidade infantil e
acidentes de trânsito.

http://lattes.cnpq.br/1140676135217923

91
Fernando Mendes Massignam
Doutorando e Mestre (2010) em Saúde Coletiva, pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), Especialista em Saúde da Família (UFSC, 2010),
Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Universidade Tuiutí do Paraná
(UTP, 2001) e Graduado em Fisioterapia pela Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC, 2000). Atualmente é discente bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no Programa de Pós
Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC/UFSC). Lecionou nos cursos de graduação
em Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL, 2001-2005)
e da Faculdade Estácio de Sá (2006-2007), e nos cursos de graduação em
Medicina, Odontologia, Fonoaudiologia e Farmácia, como professor substituto do
Departamento de Saúde Pública da UFSC. Foi consultor no Telessaúde de Santa
Catarina (2009-2010) e tutor no Curso de Especialização em Saúde da Família
Modalidade à distância, da Universidade Aberta do SUS (UnASUS/UFSC) (2012-
2013). É membro do Grupo de Estudos em Educação e Saúde e do Núcleo de
Pesquisa e Extensão em Bioética e Saúde Coletiva (NUPEBISC).

http://lattes.cnpq.br/8314412086902417

92
UFSC
Universidade Aber ta do SUS

CCS

Secretaria de Estado da Saúde


Santa Catarina

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