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A Estudiosa Que Revolucionou A Alfabetização

O documento descreve a influência da psicolingüista argentina Emilia Ferreiro na educação brasileira. Suas pesquisas mostraram que as crianças constroem o conhecimento ativamente, passando por etapas no aprendizado da leitura e escrita. Isso levou a uma revisão dos métodos tradicionais de alfabetização no Brasil.

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A Estudiosa Que Revolucionou A Alfabetização

O documento descreve a influência da psicolingüista argentina Emilia Ferreiro na educação brasileira. Suas pesquisas mostraram que as crianças constroem o conhecimento ativamente, passando por etapas no aprendizado da leitura e escrita. Isso levou a uma revisão dos métodos tradicionais de alfabetização no Brasil.

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A estudiosa que revolucionou a

alfabetização
A psicolingüista argentina desvendou os mecanismos
pelos quais as crianças aprendem a ler e escrever, o
que levou os educadores a rever radicalmente seus
métodos
Nenhum nome teve mais influência sobre a educação brasileira nos últimos 20 anos do
que o da psicolingüista argentina Emilia Ferreiro. A divulgação de seus livros no Brasil,
a partir de meados dos anos 1980, causou um grande impacto sobre a concepção que se
tinha do processo de alfabetização, influenciando as próprias normas do governo para a
área, expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. As obras de Emilia –
Psicogênese da Língua Escrita é a mais importante – não apresentam nenhum método
pedagógico, mas revelam os processos de aprendizado das crianças, levando a
conclusões que puseram em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da
escrita. "A história da alfabetização pode ser dividida em antes e depois de Emilia
Ferreiro", diz a educadora Telma Weisz, que foi aluna da psicolingüista.

Foto: Antônio Vargas

Emilia Ferreiro se tornou uma espécie de referência para o ensino brasileiro e seu nome
passou a ser ligado ao construtivismo, campo de estudo inaugurado pelas descobertas a
que chegou o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) na investigação dos processos de
aquisição e elaboração de conhecimento pela criança – ou seja, de que modo ela
aprende. As pesquisas de Emilia Ferreiro, que estudou e trabalhou com Piaget,
concentram o foco nos mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à escrita. De
maneira equivocada, muitos consideram o construtivismo um método.

Tanto as descobertas de Piaget como as de Emilia levam à conclusão de que as crianças


têm um papel ativo no aprendizado. Elas constroem o próprio conhecimento – daí a
palavra construtivismo. A principal implicação dessa conclusão para a prática escolar é
transferir o foco da escola – e da alfabetização em particular – do conteúdo ensinado
para o sujeito que aprende, ou seja, o aluno. "Até então, os educadores só se
preocupavam com a aprendizagem quando a criança parecia não aprender", diz Telma
Weisz. "Emilia Ferreiro inverteu essa ótica com resultados surpreendentes."

Biografia
Emilia Ferreiro nasceu na Argentina em 1936. Doutorou-se na Universidade de
Genebra, sob orientação do biólogo Jean Piaget, cujo trabalho de epistemologia genética
(uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança) ela
continuou, estudando um campo que o mestre não havia explorado: a escrita. A partir de
1974, Emilia desenvolveu na Universidade de Buenos Aires uma série de experimentos
com crianças que deu origem às conclusões apresentadas em Psicogênese da Língua
Escrita, assinado em parceria com a pedagoga espanhola Ana Teberosky e publicado em
1979. Emilia é hoje professora titular do Centro de Investigação e Estudos Avançados
do Instituto Politécnico Nacional, da Cidade do México, onde mora. Além da atividade
de professora – que exerce também viajando pelo mundo, incluindo freqüentes visitas
ao Brasil –, a psicolingüista está à frente do site www.chicosyescritores.org, em que
estudantes escrevem em parceria com autores consagrados e publicam os próprios
textos.

Etapas de aprendizado

Segundo Emilia, a construção do conhecimento da leitura e da escrita tem uma lógica


individual, embora aberta à interação social, na escola ou fora dela. No processo, a
criança passa por etapas, com avanços e recuos, até se apossar do código lingüístico e
dominá-lo. O tempo necessário para o aluno transpor cada uma das etapas é muito
variável. Duas das conseqüências mais importantes do construtivismo para a prática de
sala de aula são respeitar a evolução de cada criança e compreender que um
desempenho mais vagaroso não significa que ela seja menos inteligentes ou dedicada do
que as demais. Outra noção que se torna importante para o professor é que o
aprendizado não é provocado pela escola, mas pela própria mente das crianças e
portanto elas já chegam a seu primeiro dia de aula com uma bagagem de
conhecimentos. "Emilia mostrou que a construção do conhecimento se dá por
seqüências de hipóteses", diz Telma Weisz.

Idéias que o Brasil adotou


Foto: Paulo Franken
Ambiente alfabetizador em escola gaúcha nos anos 1980: Emilia Ferreiro inspira
políticas oficiais

As pesquisas de Emilia Ferreiro e o termo construtivismo começaram a ser divulgados


no Brasil no início da década de 1980. As informações chegaram primeiro ao ambiente
de congressos e simpósios de educadores. O livro-chave de Emilia, Psicogênese da
Língua Escrita, saiu em edição brasileira em 1984. As descobertas que ele apresenta
tornaram-se assunto obrigatório nos meios pedagógicos e se espalharam pelo Brasil com
rapidez, a ponto de a própria autora manifestar sua preocupação quanto à forma como o
construtivismo estava sendo encarado e transposto para a sala de aula. Mas o
construtivismo mostrou sua influência duradoura ao ser adotado pelas políticas oficiais
de vários estados brasileiros. Uma das experiências mais abrangentes se deu no Rio
Grande do Sul, onde a Secretaria Estadual de Educação criou um Laboratório de
Alfabetização inspirado nas descobertas de Emilia Ferreiro. Hoje o construtivismo é a
fonte da qual derivam várias das diretrizes oficiais do Ministério da Educação. Segundo
afirma a educadora Telma Weisz na apresentação de uma das reedições de Psicogênese
da Língua Escrita, "a mudança da compreensão do processo pelo qual se aprende a ler e
a escrever afetou todo o ensino da língua", produzindo "experimentação pedagógica
suficiente para construir, a partir dela, uma didática".

De acordo com a teoria exposta em Psicogênese da Língua Escrita, toda criança passa
por quatro fases até que esteja alfabetizada:
pré-silábica: não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada;
silábica: interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada uma;
silábico-alfabética: mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas
sílabas; e
alfabética: domina, enfim, o valor das letras e sílabas.

O princípio de que o processo de conhecimento por parte da criança deve ser gradual
corresponde aos mecanismos deduzidos por Piaget, segundo os quais cada salto
cognitivo depende de uma assimilação e de uma reacomodação dos esquemas internos,
que necessariamente levam tempo. É por utilizar esses esquemas internos, e não
simplesmente repetir o que ouvem, que as crianças interpretam o ensino recebido. No
caso da alfabetização isso implica uma transformação da escrita convencional dos
adultos. Para o construtivismo, nada mais revelador do funcionamento da mente de um
aluno do que seus supostos erros, porque evidenciam como ele "releu" o conteúdo
aprendido. O que as crianças aprendem não coincide com aquilo que lhes foi ensinado.

Compreensão do conteúdo

Com base nesses pressupostos, Emilia Ferreiro critica a alfabetização tradicional,


porque julga a prontidão das crianças para o aprendizado da leitura e da escrita por meio
de avaliações de percepção (capacidade de discriminar sons e sinais, por exemplo) e de
motricidade (coordenação, orientação espacial etc.). Dessa forma, dá-se peso excessivo
para um aspecto exterior da escrita (saber desenhar as letras) e deixa-se de lado suas
características conceituais, ou seja, a compreensão da natureza da escrita e sua
organização. Para os construtivistas, o aprendizado da alfabetização não ocorre
desligado do conteúdo da escrita.

Sala de aula vira ambiente alfabetizador


Uma das principais conseqüências da absorção da obra de Emilia Ferreiro na
alfabetização é a recusa ao uso das cartilhas, uma espécie de bandeira que a
psicolingüista argentina ergue. Segundo ela, a compreensão da função social da escrita
deve ser estimulada com o uso de textos de atualidade, livros, histórias, jornais, revistas.
Para a psicolingüista, as cartilhas, ao contrário, oferecem um universo artificial e
desinteressante. Em compensação, numa proposta construtivista de ensino, a sala de
aula se transforma totalmente, criando-se o que se chama de ambiente alfabetizador. O
ritmo da aula é dado pelos alunos, embora o professor deva ter a última palavra e
manter a disciplina. Trabalha-se para não inibir as crianças e deixar que explorem a
própria concepção de escrita. As noções de certo e errado desaparecem do vocabulário e
aposentam-se as avaliações tradicionais para medir o desenvolvimento do aluno.

É por não levar em conta o ponto mais importante da alfabetização que os métodos
tradicionais insistem em introduzir os alunos à leitura com palavras aparentemente
simples e sonoras (como babá, bebê, papa), mas que, do ponto de vista da assimilação
das crianças, simplesmente não se ligam a nada. Segundo o mesmo raciocínio
equivocado, o contato da criança com a organização da escrita é adiado para quando ela
já for capaz de ler as palavras isoladas, embora as relações que ela estabelece com os
textos inteiros sejam enriquecedoras desde o início.

Compreender a escrita interiormente significa compreender um código social. Por isso,


segundo Emilia Ferreiro, a alfabetização também é uma forma de se apropriar das
funções sociais da escrita. De acordo com suas conclusões, desempenhos díspares
apresentados por crianças de classes sociais diferentes na alfabetização não revelam
capacidades desiguais, mas o acesso maior ou menor a textos lidos e escritos desde os
primeiros anos de vida.

Para pensar
Segundo os construtivistas, não se aprende por pedacinhos, mas por mergulhos em
conjuntos de problemas que envolvem vários conceitos simultaneamente. No caso da
alfabetização, utilizar textos do cotidiano é muito mais produtivo do que seguir uma
cartilha. Isso não quer dizer que o ensino não deva ser objeto de planejamento e
sistematização. Você, professor, costuma ficar atento ao que cada aluno já sabe para
fazer com que avance, em ritmo próprio?

Quer saber mais?


Construtivismo, Maria da Graça Azenha, 128 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152,
18,90 reais
Cultura Escrita e Educação, Emilia Ferreiro, 179 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-
3444, 36 reais
Psicogênese da Língua Escrita, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, 300 págs., Ed.
Artmed, tel. 0800-703-3444, 49 reais

O artigo encontra-se no site:

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/Esp_022/aberto/estudiosa-revolucionou-
alfabetizacao-349620.shtml

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