O Eufemismo e Desfimismo No Portugues Moderno PDF
O Eufemismo e Desfimismo No Portugues Moderno PDF
O EUFEMISMO E O DISFEMISMO
NO PORTUGUÊS MODERNO
COMISSÃO CONSULTIVA
FERNANDO NAMORA
Escritor
JOSÉ-AUGUSTO FRANÇA
Prof. da Universidade Nova de Lisboa
DIRECTOR DA PUBLICAÇÃO
ÁLVARO SALEMA
HEINZ KRÖLL
O Eufemismo
e o Disfemismo no
Português Moderno
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Título
O Eufemismo e o Disfemismo
no Português Moderno
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Biblioteca Breve / Volume 84
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1.ª edição ― 1984
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Instituto de Cultura e Língua Portuguesa
Ministério da Educação
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© Instituto de Cultura e Língua Portuguesa
Divisão de Publicações
Praça do Príncipe Real, 14-1.º, 1200 Lisboa
Direitos de tradução, reprodução e adaptação
reservados para todos os países
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Tiragem
5000 exemplares
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Coordenação geral
Beja Madeira
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Orientação gráfica
Luís Correia
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Distribuição comercial
Livraria Bertrand, SARL
Apartado 37, Amadora ― Portugal
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Composição e impressão
Oficinas Gráficas da Minerva do Comércio
de Veiga & Antunes, Lda.
Tr. da Oliveira à Estrela, 10
Junho 1984
Dedico este trabalho a minha mulher
ÍNDICE
Pág.
INTRODUÇÃO .................................................................... 8
I / A SUPERSTIÇÃO ......................................................... 11
1. O diabo .................................................................... 12
2. A mão esquerda ...................................................... 14
3. Nomes de animais.................................................... 14
4. Doenças ................................................................... 15
5. O quebranto ............................................................. 18
6. Defeitos físicos ....................................................... 18
7. A morte .................................................................... 19
8. Matar........................................................................ 24
II / DELICADEZA E RESPEITO....................................... 26
1. Relações familiares ................................................. 27
2. Formas de tratamento.............................................. 28
3. Ocupações, profissões ............................................. 29
4. Idade........................................................................ 30
5. Aparência fisica....................................................... 31
6. Janota ...................................................................... 33
III / DEFEITOS MORAIS E MENTAIS ............................ 35
1. Estupidez e imbecilidade ......................................... 35
2. A loucura ................................................................. 40
3. Arrelia, zanga e estados afins .................................. 41
4. Censura, descompostura .......................................... 43
5. Mentira .................................................................... 43
6. Avareza.................................................................... 45
7. Embriaguez.............................................................. 46
IV / A SITUAÇÃO FINANCEIRA .................................... 52
1. Pobreza .................................................................... 52
2. Riqueza .................................................................... 54
3. Dinheiro ................................................................... 55
4. Dívidas..................................................................... 58
V / OFENSAS E CONSEQUÊNCIAS ............................... 60
1. Roubo ...................................................................... 60
2. Fugir ........................................................................ 63
3. Fazer gazeta ............................................................. 65
4. Prisão ....................................................................... 65
5. Polícia ...................................................................... 66
6. Bater ........................................................................ 68
7. Despedir, mandar embora ........................................ 71
VI / DECÊNCIA: O CORPO.............................................. 74
1. Cheiros do corpo...................................................... 74
2. Roupa de baixo ........................................................ 75
3. Barriga ..................................................................... 75
4. Os seios ................................................................... 76
5. Traseiro.................................................................... 78
6. Os órgãos sexuais .................................................... 81
7. O desfloramento ...................................................... 87
8. Excreções do corpo.................................................. 89
VII / DECÊNCIA: AMOR.................................................. 96
1. Concubina................................................................ 97
2. Prostituta ................................................................. 98
3. Alcoviteira, alcoviteiro .......................................... 104
4. Prostíbulo............................................................... 105
5. Efeminação ............................................................ 106
6. Coito ..................................................................... 108
7. Onanismo............................................................... 111
8. Pederastia............................................................... 111
9. Gravidez................................................................. 112
10. Parto....................................................................... 114
11. Marido enganado .................................................. 114
8
e Nora Galli de Paratesi no seu livro Le brutte parole.
Semantica dell’eufemismo (1973). O nosso propósito é
apresentar um “corpus” de material linguístico classificado
que possa documentar as tendências eufemísticas do
português moderno. Como Kany fez para a Hispano-
américa, dividimos o nosso estudo em sete capítulos: I. A
superstição; II. A delicadeza e o respeito, III. Defeitos
morais e mentais; IV. A situação financeira; V. Ofensas e
consequências; VI. Decência: o corpo; VII. Decência: o
amor. Não pretendemos dar uma descrição exaustiva e
estamos conscientes de que o estudo que agora
publicamos não está desprovido de insuficiências e
omissões.
Como Kany, não eliminámos os disfemismos, pois que
estamos convencidos que em muitos casos é quase
impossível separá-los dos eufemismos. J. da Silva Correia
também não conseguiu uma separação nítida. As palavras
costumam gastar-se, como as medalhas, pelo uso. O que
hoje ainda é um eufemismo, amanhã já pode ser um
disfemismo.
Classificámos o nosso material da mesma forma que
Kany, com ligeiras divergências, a partir das causas dos
eufemismos, o que nos parece satisfazer melhor que
qualquer outra classificação os interesses dos leitores.
Excluímos, quase inteiramente, os gestos do nosso estudo.
Evitámos também citar palavras e expressões paralelas
noutras línguas, porque o espaço à nossa disposição não nos
permitia fazê-lo. Mas aduzimos, tanto quanto possível,
expressões provincianas e brasileiras. No que diz respeito
ao vocabulário sexual usado no Brasil seja-nos permitido
remeter especialmente para Kenneth Rasmussen, Brasilian
Portuguese Terms for Sexual Intercourse, publicado em
“Orbis” 22 (1973), p. 114-133.
Todos os povos se estruturam em diferentes camadas
sociais, com educação e aptidões a níveis desiguais.
9
Tomando em conta este facto, procurámos indicar as
variações de uma classe sociocultural para outra.
Sempre que acharmos conveniente, fazemos acompanhar
o eufemismo ou o disfemismo citado por um passo
abonatório de autores que se servem de uma das
possibilidades de disfarce dum termo desagradável ou que
têm pendor para a linguagem mais violenta, ou seja, para o
desbragamento linguístico.
As abreviaturas dos nomes de autores e obras que são
citados ao longo do texto vêm explicitadas na Bibliografia,
no final do volume.
10
I / A SUPERSTIÇÃO
11
espalhada, veículos de desgraça. Por isso são modificados
na sua forma ou substituídas por outras. Geralmente o povo
recorre ao eufemismo devido ao seu espírito supersticioso.
1. O diabo (2)
12
mafarrico, o maldito, o malvado, o porco sujo, o Príncipe
do ar, o tentador das almas. Serpente, no sentido de
demónio, provém da Escritura (4).
Não é raro serem expressões genéricas que substituem a
palavra nefanda como: O coisa (má, ruim) (Ram., Farpas
XII, 101: Cruzes feitiço! Some-te, coisa má! Some-te onde
não tolhas as criaturas!) ou então pronomes eufemizantes
como: ele.
Na linguagem popular aparece ainda Barrabás, Brazabu
ou Barzabum, Belzebu e sobretudo mafarrico.
Satanás, Satã é o nome que na Escritura se dá ao chefe
dos anjos rebeldes convertido em espírito do Mal. Assim
como Lúcifer é empregado como eufemismo para diabo. Os
chifres são sinal característico do diabo. É essa a razão
porque se chama também o chavelhudo, o chifrudo, o
cornudo, o (compadre) galhudo. Outras particularidades
físicas são ele ser coxo, canhoto, ter rabo e por isso ser
chamado o rabão ou o rabudo. A palavra canhoto que está
ligada às superstições da mão esquerda (5), aparece
sobretudo nos esconjuros como: cruzes, canhoto!
Das substituições empregadas para velar o nome do
diabo são ainda muito usuais Diogo e nabo: com seiscentos
nabos! (Selv., Anjo, 23: Co ‘os diogos!).
Literariamente o demónio é às vezes designado pelo
antroponímico de Pêro Botelho; a caldeira de Pêro
Botelho, como o reino das trevas, significam o Inferno.
Nas expressões com a breca!, uma imprecação de
aborrecimento, e levado da breca, endiabrado, mau, breca
substitui a palavra diabo.
Acontece que o falante, pronunciando a palavra
malfazeja, procura salvar-se do perigo empregando uma
fórmula desculpadora como p. ex.: Essa não lembra ao
diabo. Deus me perdoe!
13
2. A mão esquerda (5)
3. Nomes de animais
14
tem como variantes os nomes de muricego, burcego, burro
cego, etc. (6)
A raposa, que é conhecida pela sua astúcia e a sua
rapinagem, é chamada trinca-pintos. O mesmo acontece
com a doninha cujo nome carinhoso é um diminutivo
eufemizante. Regionalmente ocorre ainda o nome de
bonita.
A serpente é, por razões óbvias, identificada com as
forças demoníacas. É por isso que na linguagem popular é
frequentemente eufemizada por uma palavra de significado
geral, como bicha.
O sapo, que nas práticas da feitiçaria e na medicina
popular tem uma importância bastante grande, também é
associado às forças do Mal e é regionalmente eufemizado
com um nome próprio masculino, o Afonso.
O bode é considerado uma das transformações do diabo.
4. Doenças
A lepra.
15
A tuberculose.
A epilepsia.
16
venéreas, vergonhosas ou feias, doenças da vida, doenças
do mundo (bras.), doenças de homens (ou de mulheres)
também males de mulheres (Fial., País, 263: Bebe de cada
vez dois decilitros d’aguardente... E por modos, todo
comido de males de mulheres), o mal ruim, moléstia feia
(Amado, Jorge, 116: Foi com uma negra prostituta com que
Florindo dormira em Pirangi e que lhe pegara moléstia
feia), moléstias de senhoras ou vergonhosas.
Muito antigo já é o eufemismo morbo gálico ou
simplesmente o gálico, a galiqueira, o mal francês para
designar especialmente a sífilis que, no âmbito das doenças
sexuais, tem maior número de designações eufémicas. A
sua origem é desconhecida, mas é atribuída a um grande
número de países (10). Assim chama-se mal burdigalense,
mal canadense (canadiano), mal da Baía de São Paulo, mal
de Fiúme, mal escocês, mal turco, etc. Em Portugal é
sobretudo a França que é considerada como país de origem
e um dos seus nomes é mal-de-franga (ou de frenga) por
etimologia popular (Maçãs, An., 158). Também às vezes
mal napolitano (Rib., Hum., 79: Esta desvergonhada padece
do mal napolitano), mal ilírico ou mal germânico.
(Buarque, Malandro, 26: DURAN [pergunta]: Cancro
mole, mula, sífilis, blenorragia... FICHINHA: Sei não
senhor... tive todas essas doenças da vida, mas não sei o
sobrenome delas não...)
Avariose é uma designação relativamente moderna e
técnica. Entre o povo a sífilis é muitas vezes chamada
simplesmente venéreo. Cavalo é o cancro e designa as
feridas venéreas nas partes genitais. Pode ser cavalo-mole
(cancro mole) ou cavalo-duro (esclerose inicial da sífilis
mais conhecida pela designação incorrecta de “cancro
duro”) (Maçãs, An., 158). Na linguagem popular a mula é a
adenite inguinal de origem venérea. Certa doença venérea
chama-se esponjas. Trata-se de uma lesão verrucosa das
partes sexuais, provocada por contactos venéreos.
17
5. O quebranto
18
Quem tem as pernas tortas é cambado ou cambeiro, com
os joelhos metidos para dentro, ou também zambro.
Alguém que tem as pernas muito abertas, arqueadas,
chama-se escarramanado. Quando tem os pés tortos, tem
pés de galápio. Na Beira é gambeta (no Minho as gambetas
são as pernas, as gâmbias). Cambaio (ou cambeta) é
alguém que mete os joelhos para dentro e não anda direito,
tendo as pernas arqueadas para o lado externo. Em Trás-os-
Montes um indivíduo cambaio é um sopaina. Aí emprega-
se também topino (ou topinho) para os pés cambados ou as
pontas inclinadas para dentro. Perna-fofa é um indivíduo
cambado ou torto de uma só perna.
Para designar as pernas ou os pés deformados, quer dizer
para designar um coxo ou um manco, emprega-se na Beira
chanqueta e coxambeta (que é um tanto depreciativo),
coxanga, coexelas. Em Trás-os-Montes enrelhado (que
coxeia), rengo (derreado, coxo). No Alentejo um pata-
galhana significa um coxo. De manquitar (manquetear)
derivou a expressão popular manquitó (pessoa que coxeia)
e o adjectivo manquitola (uma leitoa manquitola). No
Brasil emprega-se na linguagem familiar pepé, coxo, que
manqueja de um pé, capenga, que parece uma
reduplicação de pé.
7. A morte
19
Os eufemismos para morte, morrer, cadáver, sepultura,
etc. são numerosíssimos e não temos a pretensão de
esgotá-los aqui. Damos tão somente uma amostra da
riqueza das expressões usadas para eufemizar o termo
exacto de que um temor natural impede o emprego e que
radica no tabu universal associado com a morte.
Interessam-nos mais os conceitos eufemizados do que a
grande variação dos seus substitutos.
Não é raro ser a convicção religiosa que inspira ao
sujeito falante os processos de substituição. Assim, a
perspectiva de uma vida além-túmulo é muitas vezes
expressa por eterno sono (descanso, repouso) ou
trespasse; a morte como fim da vida também é
circunscrita com o fim dos seus dias, a hora derradeira
(suprema), a última (ou uma longa) viagem, a viagem de
onde se não volta. Expressões como defunção,
desaparição, desenlace, falecimento, finamento, óbito,
ocaso, passamento, transe, trânsito, entre as quais há
termos jurídicos e eclesiásticos (cf. o livro dos óbitos, a
certidão de óbito, etc.), são típicas para uma linguagem
que, de certo modo, pode chamar-se oficial. São termos
que se encontram nos anúncios fúnebres, nos necrológios,
nas cartas de condolências e na literatura.
O nome ominoso da morte é também às vezes expresso
por um simples pronome (Corr., 488) que é sempre um
eufemismo em potência e serve para evitar a brutalidade do
termo próprio (Curto, Sapo, 133: É quando Deus quer que
ela (= a morte) vem, não é quando a gente a chama).
Também o artigo indefinido pode exercer a mesma função
eufemizante (Sant., Lugre, 30: Não há mulheres neste
navio, não há?! Pois é mentira, amigos, é mentira: Há uma
(= a morte) que nunca larga a gente...). O advérbio de lugar
lá emprega-se na fórmula já lá está (no reino da verdade)
(13) para atenuar a ideia da morte.
A morte também é personificada e representada por uma
mulher e aparece, sobretudo na literatura como a
20
desdentada, a grande dona (cf. o conto de Aquilino Ribeiro
na Estrada de Santiago), a grande garça, a magra (Per.,
Marc., 160: ― Vamos indo aqui, esperando a magra), a
megera, a negra (God., Calc., 101:... a negra não avisa
ninguém), a Sem-Perdão, a sujeita (Id., ib.: Apresenta-se a
sujeita, e toca a atar as botas), a velha do alfange (bras.)
(Silveira, 189), a velha da foice ou a Dona Morte como
António Nobre a chama (Só, 88.: Balada do caixão: O meu
vizinho é carpinteiro,/ Algibebe de Dona Morte).
A ideia da morte é adoçada por meio de um grande
número de eufemismos. Estar em perigo de vida, estar para
morrer, agonizar é frequentemente atenuado por expressões
como: andar aos tropeções à morte (= estar várias vezes
para morrer mas escapar-se ainda), chegar o último dia (a
última hora, jornada), chegou a sua hora, dar o espírito,
dar o último suspiro, dizer adeus ao mundo, estar às portas
da morte (em artigo, artigos de morte), estar com os pés
para a cova (ou a tumba), estar entre a vida e a morte,
estar nas embiras (bras), estar nas últimas, estar nas
vascas da morte, estar na agonia, estar para alquinar
(Trás-os-Montes), estar por um fio (triz), fazer a mala, o
fim dos seus dias, ser chegado a sua hora, ter as suas horas
contadas, ter os seus dias contados.
O verbo morrer eufemiza-se por expressões de carácter
geral, vago ou metafórico como acabar (os seus dias),
adormecer (no Senhor), expedir (Camilo, Novelas, 315:...
vá chamar o sr. vigário para me absolver, que eu estou a
expedir), expirar, deixar o mundo, deixar de ser do número
dos vivos, descansar, desaparecer (da vida), descer à
tumba, despedir (God., Cru, 84: A velha mãe jaz numa
tarimba do Hospital, com um cancro na madre, a despedir),
extinguir-se, falecer, fechar os olhos, ficar-se, finar-se,
findar (os seus dias), ir-se (embora ou para Deus), não
acordar mais, passar (à melhor vida), passar-se, perecer,
sucumbir, trespassar. Muito usadas são também locuções
como: abandonar a vida, deixar de sofrer, exalar a alma (a
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vida), já não lhe dói nada, soltar o último alento (suspiro),
ou expressões que fazem alusão à morte como uma viagem:
fazer uma longa viagem, fazer a viagem de que se não
regressa. Outras são aquelas em que aparece a esperança de
uma vida melhor, da vida eterna, em que a morte é
apresentada como um trânsito: atender ao chamado de
Deus, ser chamado por Deus, dormir em Deus (no Senhor),
dormir o sono eterno, estar a dar contas a Deus, estar a
gozar a vida eterna, ir desta para melhor, dar (entregar a
alma ao Criador (a Deus), ir para a terra da verdade, ir
para a banda de lá, ir para o céu (ou o outro mundo),
partir desta para melhor morada, passar desta vida para
melhor, passar deste mundo a Deus, render a alma (a
Deus), render o espírito, repousar no Senhor, subir ao céu.
Todas elas expressões que procuram atenuar a fealdade do
horrível transe.
Ao lado das palavras eufemizantes de estilo culto
existem também outras jocosas, irónicas ou cruas que
pertencem em grande parte à linguagem popular ou ao
calão e que são disfémicas: adubar a horta do senhor prior
(Rib., Bat., 296: Se não fosse ele, da primeira vez que se
assapou a duna, muitos de vós estaríeis a adubar a horta do
senhor prior), arrebentar, arrefeceu-lhe (ou resfriou-lhe) o
céu da boca (Toj., Viag., 51: A minha gratidão duraria
enquanto não me arrefecesse o céu da boca), atar as botas
(mil.), bater a bota (mil.), comer a terra fria, dar à casca,
(Eça, Prim., 490: Pode muito bem dar à casca), dar cabo
do canastro, dar (bater) com a cola (ou com o rabo) na
cerca (bras.), dar o berro, dar o peido mestre ou o triste
peido, dar o ré, dar o último pio, embarcar (bras.), escutar
a cavalaria (= estar morto) (mil.), esfriar, estar de
sentinela (mil.), esticar (espichar) a canela (a caneta, as
gâmbias, o pernil) (Eça, Rel., 269: Era a titi a espichar,
retesando as canelas), estoirar, fazer a trouxa, fazer tijolo
(God., Cru., 92: ...: o Diamantino estucador, subalternizado
pela morte, é posto a fazer tijolo no álgido seio da terra) (ou
22
barro no cemitério), guardar os pitos do Senhor Abade
(Minho), ir amassar barro com as costas, ir de charola, ir
guardar os ciprestes, ir para a banda de lá, ir para a
companhia (a cidade) dos pés juntos, ir para as malvas, ir
para o major (mil.), ir para o maneta, ir para o outro
mundo, ir para a terra (do salvamento), ir para a terra (a
quinta) dos pés juntos, ir para o ginjal, ir-se para os
anjinhos (refere-se sobretudo a crianças), já não comer
mais broa, marrar, marchar, morar no Alto de São João
(cemitério de Lisboa), morder o pó (= cair morto no
chão), paginar, patear, perder a colher, pôr-se em sentido
(mil.), puxar a trouxa, quinar, rebentar. Relativamente
moderno é o estrangeirismo flipar que tem a sua origem
no mundo da droga.
Quem está morto acabou-se-lhe o pavio da vida ou tem
o céu da boca frio, deixou de ser, está a dar contas a
Deus, está de mãos atadas ou ataram-lhe os pés, está na
terra (no reino) da verdade (ou com Deus), já lá está
(donde se não torna).
Enterrar, sepultar, inumar são eufemismos cultos. Com
estas expressões estão ligadas as designações disfemísticas
e jocosas da linguagem popular para cemitério: a fábrica de
tijolo, o dormitório, o Jardim (ou a Quinta) das Tabuletas,
a quinta dos calados (das lajes, dos pés juntos, o quintal do
Muro Branco (do Padre) ao lado de designações sérias
como campo santo ou cidade dos mortos, mais frequentes
na linguagem escrita.
O morto na língua culta chama-se falecido, finado,
defunto, extinto ou simplesmente o corpo, os restos
mortais, os despojos fúnebres, ironicamente o encadernado
e o encadernador é a agência funerária.
Para designar a sepultura não é raro recorrer-se a
vocábulos neutros como a campa, o féretro, o jazigo, o
repouso, o túmulo ou a expressões perifrásticas como a
derradeira (última) morada (jazida). Na linguagem vulgar
fala-se muito menos delicadamente na cova, no emplasto de
23
sete palmos (bras.), nos sete palmos de terra, na terra da
verdade ou na terra fria.
O próprio enterro e mesmo o funeral, no qual se fazem
as honras fúnebres ao morto, eufemizam-se por préstito
fúnebre ou cortejo funerário que são expressões da língua
culta. Nos jornais fala-se da inumação.
Cada um dos homens que carregam com o caixão nos
enterramentos é chamado gato-pingado, cangalheiro ou
farricoco.
Também a palavra caixão é substituída por termos cultos
como ataúde, esquife, féretro, sarcófago, sepulcro, tumba,
urna (funerária) ou então surgem expressões mais ou
menos jocosas, usadas na linguagem popular ou no calão,
que substituem a palavra que se quer evitar: cama à
francesa ou sobretudo (fato) de madeira (de pau) (Nobre,
Só, 88: “A balada do caixão” ― O meu vizinho é
carpinteiro / Algibebe de Dona Morte / Ponteia e cose o dia
inteiro / Fatos de pau de toda a sorte...), salgadeira, as
quatro tábuas.
O fim da vida exprime-se às vezes por um circunlóquio
como acabou-se-lhe o pavio da vida, apagou-se-lhe a
candela (ou a lamparina) da vida, bateu a sua hora, deu o
último suspiro, deixou o mundo (ou esta vida), deixou de
sofrer.
(Ram., Farpas XIV, 12: ... dizem que ia indo para a
derradeira morada)
8. Matar
24
Ao lado de matar, assassinar, verbos que exprimem o
processo de matar de um modo geral, temos despachar,
eliminar, executar, liquidar, massacrar, suprimir com
matizes diferentes. Os verbos derivados de designações de
fogo como arcabuzar, espingardear, fuzilar, passar pelas
armas, ou os verbos que designam outros modos de matar
como esganar, estrangular, enforcar, linchar são
expressões muito directas e cruas.
Para designar o acto de assassinar empregam-se muitos
disfemismos como por exemplo acabar-lhe com o pio
(Red., Hom., 48: Num gesto de mão parecia estrangular
alguém. ― Acabo-lhe com o pio!), arrebentar (Torga, T.,
109: Se lhe dizes uma palavra, dou cabo de ti! Arrebento-
te!), ou, rebentar com alguém (Alv., Lareira, 52: ― Se
falas neles, rebento contigo!) e dar cabo de alguém, dar
cabo do canastro a alguém, chacinar que é como abater um
animal, partir em postas (Rib., Estr., 146:... descubro o
Tenente Cruz com uma roga valente para me chacinar),
esfriar (Nor., Alf., 150: Porque diabo a “esfriaste”?), pôr as
tripas ao sol, que significa rasgar o ventre. Para matar
alguém a tiro emprega-se estoirar (queimar) os miolos
como para fuzilar, no mundo militar, cheirar-lhe a cabeça
a pólvora (Corr., 661). Virar no sentido de matar significa
deitar abaixo, deitar ao chão, fazer ir a terra. A gíria
conhece estafar e empandeirar para matar.
O assassino pago é o sicário (Ram., Farpas XI, 183:
Não, mil vezes não, sicário, não malharás nossas carnes).
25
II / DELICADEZA E RESPEITO
26
gasta que, pelo menos por algum tempo, será capaz de velar
convenientemente o significado rebarbativo ou cru que a
sociedade repele.
Há eufemismos que perdem constantemente a sua força
eufemística e outros que parecem poder conservá-la por
muito tempo. No caso de uma palavra ser empregada num
estilo relativamente elevado, é muito provável que possa
conservar a sua qualidade eufemística. Mas, quando a
mesma palavra se torna correntemente usada, num estilo
mais baixo, existem grandes probabilidades de não
conseguir a sua capacidade amenizadora.
1. Relações familiares
27
J. da Silva Correia (651) diz-nos que “há parentescos por
consanguinidade cujos nomes são também eufemizados. Os
filhos de certos incestos ― como o de irmãos ― chamam
ordinariamente tio, tia, ao pai e à mãe.
Os filhos dos clérigos costumam chamar ao pai tio ou
padrinho.
2. Formas de tratamento
28
3. Ocupações, profissões
29
Em vez de dentista fala-se em odontólogo, em vez de
parteira em especialista em partos.
Uma pessoa que se dedica a qualquer arte mecânica não
é um operário, mas um artífice ou mesmo um artista.
É a falta de consideração social por determinadas
profissões, cujos representantes se sentem vexados ou
diminuídos com tais designações, que se encontra na base
da criação de tais eufemismos sociais.
4. Idade
30
então que ficou para tia. Os velhos solteiros, os solteirões,
são muito menos sujeitos à troça.
Coisas antiquadas ou muito antigas são do tempo dos
Afonsinhos, ou pertencem à idade das almotolias de barro,
ou passaram-se na era do rei que rabiou, ou nos tempos da
Maria Castanha (Cachucha), no tempo da onça, no tempo
em que Adão era cadete, ou qualquer coisa é do tempo em
que Judas perdeu as botas, do tempo da rainha Patuda ou
do tempo da pedra lascada.
5. Aparência fisica
31
cabelo ou tem o cabelo pouco basto, estrigado.
Disfemisticamente a calva, a careca chama-se bola de
bilhar (N. 55) como se fosse manufacturada ao torno. Às
vezes é substituída por uma designação jocosa como melão
ou queijo (bras.). Nomes de frutos lisos e redondos são
muito frequentes como metáforas.
O conceito de fraco é expresso eufemisticamente por não
é muito forte, é debilitado, é quebradiço, não pode com
uma gata pelo rabo e expressões semelhantes. Na
linguagem familiar é chamado meia-dose, mija-mansinho,
papa-açorda, bertoldinho, etc.
Uma pessoa grande, delgada e magra é enxuta de carnes,
descarnada, seca. Mas é muito frequente exprimir a
magreza excessiva por expressões disfemísticas e
metafóricas como é um espirra-canivetes, um espinafre, um
trinca-espinhas, um ginja, um feixe de ossos ou um carga
de ossos, um pau de virar tripas, um pau de vassoura, está
na espinha, não tem senão o olho na cara, não tem senão a
pele e o osso, deve muita obrigação à pele (por lhe não ter
deixado cair os ossos), parece um carapau seco, podem-se-
lhe contar as costelas, parece a morte em pé, parece um
cabide de fatos (Red., Mar., 94:... não passava de amarelo e
ossos. Parecia um cabide de fatos), etc. Há um sem-número
de expressões para exprimir a ideia da magreza, mas
limitamo-nos aqui a dar unicamente uma pequena selecção.
Não se diz de um pessoa com excesso de peso que é
gorda, mas antes polidamente que está forte ou um pouco
nutrida. Mas ao lado dos eufemismos existem muitos
disfemismos como abadessa que é uma mulher
excessivamente gorda, ou abóbora com o mesmo sentido,
bisarma, pessoa muito corpulenta, fragata, mulher
corpulenta, manipanso, indivíduo muito gordo, repolhaço
(trasm.), homem gordo, saco de batatas, etc.
Duma pessoa que anda mal vestida, desasseada ouve-se
dizer que anda mal cuidada ou mal trajada, que anda rota
quando tem o vestuário esburacado.
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6. Janota
33
alguém que é apurado no trajar; perna-fina, o peralta e
perna-tesa, o peralta pobretão; pimpão, o janota ridículo;
pinoca (ou menino) pipi, na gíria, o jovem adamado e
excessivamente enfeitado e presumido (Sttau, Ang., 111:
Julgas que sou algum pipi?); sécio, o indivíduo que traja
com afectação. No âmbito das expressões verbais podemos
ainda citar: andar todo liró, ou seja, andar vestido com
apuro (Rib., Via, 49: Duas damas requintamente lirós
apeavam) e estar (andar) nos trinques, isto é, estar (andar)
muito elegante (Amado, Mar., 72:... anda hoje nos
trinques...). Trinques (bras.) tem no português europeu a
forma triques que também pode ter a função de adjectivo e,
na gíria, significa aperaltado (God., Calc., 331: saia estreita
pelos joelhos e blusa triques).
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III / DEFEITOS MORAIS E MENTAIS
1. Estupidez e imbecilidade
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uma doença mental no sentido rigoroso da palavra,
podemos situá-la na vizinhança dos defeitos mentais.
Só depois trataremos dos eufemismos para loucura.
Bobo, estúpido, imbecil, maluco, tolo, tonto, com certas
diferenças no emprego, são frequentemente substituídos por
expressões vagas ou gerais. Assim já temos ouvido dizer de
um pobre de espírito que é um santo que não faz mal a
ninguém ou, com um diminuitivo eufemizante, que é um
santinho (19), é um inocente, um ingénuo, um pobre (ou um
simples) de espírito, o que é um eufemismo evangélico.
Também se ouve dizer que uma pessoa é pouco inteligente,
não é muito bem dotada, fraco de ideias, ou pouco esperta.
Já parece menos delicado dizer de alguém que não está
bom da cabeça ou que não regula bem (do juízo; na língua
popular da bola, do caco), que tem um T na testa (Schwal.,
Poema, 177: Vês-me algum T na testa), tem falta de razão
(de tino) ou tem o último andar pouco mobilado.
Determinadas perífrases como não tem os cinco
(sentidos), não tem os cinco alqueires bem medidos (N.,
104) ou não vê um palmo diante do nariz, no sentido de
estúpido ou muito ignorante, são usadas com muita
frequência pelos falantes. Não é raro o imbecil ser
denominado com uma forma diminutiva de carácter
eufemizante como parvinho, tolinho, tontinho e ainda
esquecidinho ou um aumentativo parvalhão.
Papa-açorda (Nag., Dumm, 17) ou papa-la-açorda
(Rib., Món., 22: Ela não fazia caso, toda papa-la-
assorda...) refere-se a alguma coisa de comestível.
Enquanto que papa-moscas, que significa basbaque, pessoa
simplória e aparvalhada, deve ser antes devido ao hábito
próprio do parvo de ter a boca aberta. O tolo que não sabe o
que diz, que se baba, é também chamado baboso.
Chama-se-lhe ainda lapuz, lapão, lapantana, lapardão,
lapardeiro, lapónio, laparoto, lapardas, lapouço. Todas
essas palavras, aparentemente da mesma família, cuja raiz é
lapa, grande laje que, em montes ou rochedos, forma
36
cavidade, parecem-nos motivadas pelo significado labrego,
campónio, coelho ou macho da lebre até aos três anos.
Além disso temos ainda nomes de frutas que
metaforicamente designam a pessoa simplória, de cabeça
chocha, que não tem miolo, em expressões como cabeça de
abóbora, de avelã, de alho-chocho. Também banana,
bananeira, designam o pateta e abananado emprega-se
com o sentido de aparvalhado (Ram., Farpas X, 276:...
dentro do seu pequenino crânio a malícia de Bertoldinho se
achava aliada à finura de Policarpio Banana). Na língua
popular usa-se nabo (Silva, Fábr., 312: ― Falo contigo,
falo! És um nabo!), com o mesmo sentido, no Alentejo,
bogango, uma espécie de abóbora. Também o chochinhas
significa palerma, parvo.
Bastante numerosos são os nomes de animais (20) que
metaforicamente designam uma pessoa estúpida. Assim por
exemplo: animal, asno com as suas variantes cara de asno,
pedaço de asno, pele de asno. Outros são besta (quadrada
ou chapada), sobretudo empregado no Brasil; bestunto,
provavelmente derivado de besta; burro, o jocoso bate-
orelha, burro, com o prefixo intensivo arquiburro, cabeça
de burro, jumento, jerico, cavalgadura, quadrúpede.
Ocasionalmente ocorre camelo, camelídeo, camelório, este
último com o sentido de pessoa extremamente estúpida,
bronca e palerma (Fial., Gat. II, 59: ― Oh meu camelo!
Pois não vês que tudo isto são bonecos de cordéis?; Toj.,
Putos, 53: ― avança camelório!). O otário (ou ontário) é
um animal semelhante à foca. Na gíria um ontário é um
indivíduo meio idiota, de credulidade pacóvia e em
especial aquele que é vítima da burla conhecida por conto
do vigário (N., 106). Ainda toupeira, por ver muito pouco,
ocorre com o sentido de pessoa intelectualmente cega,
ignorante, estúpida.
Também alguns nomes de aves como papalvo e
paspalhão, que designam a codorniz (21) passam a
representar o estúpido (God., Calc., 58: ― Para onde vais
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tu, paspalhão? Cort., Lodo, 14: Não sou paspalhão
nenhum...). O mesmo se pode dizer de pato e patola que é
um derivado de pato.
Quanto aos insectos podemos citar a cabeça de grilo ou
o miolo de grilo. Alguém que tem minhocas na cabeça é
uma pessoa com manias.
A cabeça do homem, considerada a sede do juízo,
desempenha um papel importante nestas expressões. Uma
pessoa sem tino ou estonteada, é um cabeça de vento, dá
com o juízo em pantanas, dá-lhe volta ao miolo, ou,
metaforicamente, tem passarinhos (ou macaquinhos) no
sótão; tem pouco fósforo, expressão bastante recente,
influenciada, segundo nos parece, pela publicidade feita
para certos produtos farmacêuticos fosfatados; tem falta de
miolo, tem pancada na mola (Camilo, Teatro III, 91: Tem
grande pancada na mola!), Tem avaria no casco (ou na
máquina) (22) daí está avariado, tem uma aduela a menos
(N., 129), tem um parafuso a menos ou falta-lhe um
parafuso, como se a cabeça fosse um maquinismo (Rib.,
Arc., 114: Trazes o parafuso desarranjado); tem teias de
aranha na cabeça, tem areia na cabeça (ou no caco), tem
pílulas no capacete, e daí, por elipse, o pílulas ou pírulas
(N., 115; Rodr., Casa, 65:... julgámos que estava mesmo
pírulas); ou o trouxa, na gíria.
Ao lado de avariado, que evoca uma máquina, ainda há
outros termos semelhantes como desafinado, desarranjado
(do miolo), desatinado, desconcertado, desaparafusado
(Freire, Talvez, 237: ― Tu e o teu irmão Hugo fostes
sempre uns desaparafusados...), desequilibrado, destra-
vado.
A deficiência mental é às vezes expressa por
acanhotado, quer dizer que a característica do indivíduo
que utiliza de preferência a mão esquerda, serve para
exprimir o conceito de estúpido.
Também lorpa, pacóvio (N., 107) palúrdio (Rib.,
Quando, 99:... os presentes de lamber o beiço que da serra
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não despegavam de lhe mandar, os palúrdios...), patareco
ou pataroco (Red., Muro 261:... ficará pataroca...), pateta,
patola, tanso (Id., ib., 202:... no fundo é um tanso...; N.,
127), tapado (N., 127) que nem uma porta (Rib., Cinco, 56:
― O moço não é tapado de todo...), variado (N., 133),
varridinho (ou viradinho) do juízo (Torga, T., 44: O pai,
um homem tão rijo, tão valente ― varridinho do juízo...)
são outras tantas expressões para o débil mental.
Na Beira o simplório é chamado um bom-serás (Sim.,
Am., 132: Este bom-serás toma-nos muito a sério).
A ausência de conhecimento, a ignorância, que pode ser
uma forma de estupidez, exprime-se muitas vezes por não
saber (ou pescar) bóia, não saber patavina ou ser de letras
gordas o que qualifica um indivíduo de pouca instrução,
ignorante (Rib., Quando, 187: Os polícias eram gente de
letras gordas...).
O conceito de rústico liga-se ao de gente estúpida. Assim
é que labrego chega a significar estúpido (23).
É bastante frequente nomes próprios de pessoas
passarem a designar o estúpido. Escolhem-se para esse fim,
por via de regra, os nomes mais vulgares ou então os nomes
mais raros e um tanto ridículos. Assim por exemplo:
albano, alonso, alvarinho, ambrósio, aurélio, barnabé,
bernardo, bertoldo e bertoldinho (Ram., Farpas IX, 152: o
tipo imbecil e grotesco de Bertoldinho é tudo quanto
tínhamos na tradição como expressão pitoresca da alma
popular). Por via literária veio calino, inacinho, jagodes
(Silva, Terra, 196: O jagodes dava pulinhos na cadeira...),
joão, joão-da-horta, lopes, lucas (provavelmente por
analogia fonética com louco e maluco), mané, manel,
manécoco (Fial., Gat. V, 250:... como neste País tudo
continua a estar nas mãos de dez ou doze manécocos...),
mané-jacá, mané-zé, manuel-da-horta, mané-carolo,
mateus e matias (provavelmente por analogia fonética com
matuto) (Fig., Dic., 288: Não se troça ― é de burros ― o
diminuido mental, o Lucas, o Matias, o Tone, pancrácio,
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pantaleão, sebastião, simão, sonho, tonho, zé-godes (cf.
jagodes), zé-piegas, zé-quitólis, zé-da-véstia.
A mulher estúpida é chamada amélia, basilinha (24),
engrácia, maria-ingélica ou roberta.
Alguns apelidos eufemizam também o conceito de
estúpido. Assim temos guedes, paio, queirós.
Determinados nomes étnicos que designam povos ou
habitantes de certas localidades, servem concomitantemente
para designar uma pessoa tola. Assim, por exemplo, alarve
(= árabe, beduíno) (Rib., Tombo, 170: Que grande alarve
você me saiu!), botocudo (bras.), matuto (derivado de
mato) e palerma que tem talvez algo a ver com a cidade
siciliana de Palermo.
Cretino (Rib. Láp., 52: Arrepelando-me, chamei-me
desastrado e cretino três vezes), que é forma aportuguesada
do francês crétin, designava primitivamente o cristão.
Também gágá é uma palavra importada do francês.
2. A loucura
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que não têm o desenvolvimento mental correspondente à
sua idade, fala-se em crianças atardadas, atrasadas ou
retardadas.
O enfermo que sofre das faculdades mentais chama-se
com maior frequência na língua falada azarotado, chalado,
expressão plebeia para amalucado; chalupa (N., 63; Silva,
Fábr., 114: Desde aí, a moça ficou um pouco chalupa...),
choné expressão da gíria (N., 64); doido (varrido),
doidivanas, fraco da cabeça (do siso); idiota, embora o
vocábulo seja um latinismo; hoje em dia é de uso geral,
liru, termo da gíria (N., 96; Rodr., Est., 77: Será liru este
mocinho?); maduro, maluco, maluquinho, marado ( N.,
98), orate (Rib., Quando, 78; Pareço-lhe orate), tarado,
zaranza (Fial, País, 252: ― Vê se te despachas, zaranza!),
zorate, zuca (Andr., Grades., 148: ― Mas o Gil diz que a
gente é zuca; N., 136).
O lugar onde os doentes mentais recebem assistência
médica chama-se manicómio. Mas para a clientela mais
abastada é antes a casa de saúde, um hospital particular, o
hospital psiquiátrico ou o sanatório. Os grandes hospitais
de alienados conhecem-se geralmente pelos nomes que têm
ou pelas localidades onde se encontram. Assim, em Lisboa,
fala-se em veranear (descansar) para o Júlio de Matos ou
ir veranear para Belas, estar em Rilhafoles. Júlio de Matos
era um notável psiquiatra português e autor dum Manual
das doenças mentais, e Rilhafoles era um palácio de Lisboa,
depois transformado em hospício de doidos. Belas fica
cerca de Lisboa. No Porto os doentes mentais vão para (o)
Conde Ferreira.
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disposição uma série de expressões que podem assumir
funções eufemísticas.
Assim, por exemplo, andar esquentado, em que o estado
fisiológico de uma pessoa traduz a cólera. Andar chateado
(chatear-se) e a interjeição interpretativa de contrariedade
chatice! (Red., T. II, 111: Isso dá chatice) são muito
usados, embora os preceitos da cortesia proíbam o emprego
de tais expressões na língua dos bem-falantes. Ficar de
trombas (entrombar-se) quer dizer mostrar má cara, zangar-
se e refere-se, com a designação depreciativa para cara, à
expressão do rosto, aos lábios projectados de uma pessoa
carrancuda. Encavacar é uma expressão familiar e
emprega-se para exprimir que alguém dá mostras de enfado
ou zanga por ser objeto de troça ou de pirraça. Faz-me ferro
aquilo ou estou com ferro significa na língua popular
arrelia-me (Rib., Volf., 50; ...estava com a morte no
gasganete e, com grande ferro da parentela, não acabava de
despegar). Muito zangado, irritadíssimo, na linguagem
familiar diz-se andar (estar ou ficar) fulo (Rib., Tombo,
195: ...é por isso que as fêmeas, à volta, andem fulas...:
Red, Vind., 54: ― o palhaço italiano ia ficar fulo!). Muito
frequente é a expressão ir aos arames no sentido de irritar-
se (God., Cal., 251: ... recusando-se a todos os contratos
com patrões de outras terras, foi aos arames...). O mesmo
se pode dizer da locução popular ir à serra, zangar-se
melindrar-se (Red., Muro, 108: ...não tem barriga para lhe
meterem a espora da brincalhotice. Vai à serra depressa).
Ficar amuado, teimoso como um bezerro, é na língua
popular embezerrar. Ficar fora de si ou não estar em si
traduz o estado desvairado, exaltado de uma pessoa. Em
várias locuções a mosca serve de meio eufêmico para
exprimir figurativamente o estado de irritação de uma
pessoa. Assim deu-lhe a mosca (Fig., Dic., 110: e somente
acudia àquelas urgências e avarias aldeãs quando lá muito
bem lhe dava a mosca), estar com a mosca, estar irritado, o
que se diz especialmente dos burros e dos cavalos, picou-
42
lhe a mosca, mordeu-lhe a mosca (Paço, Cump., 96: ― Que
mosca te mordeu para apareceres por lá?), vir mosca (Bar.,
Malta; 103: ― O meu (= marido), atão, vinha mosca). De
alguém que se enche de fúria, ouve-se dizer que lhe subiu
(ou lhe chegou) a mostarda ao nariz. E quando uma pessoa
está de má catadura pode dizer-se que está de monco de
peru (Cort., Lá-Lás, 134: Mandei-te chamar porque a tua
irmã está de monco de peru.
4. Censura, descompostura
5. Mentira
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à verdade ou está sonhando; o que diz é palavreado, são
cantigas. A mentira transforma-se em invenção, inverdade
ou fábula. Às vezes emprega-se também uma palavra
estrangeira, de origem inglesa, como bluff, para exprimir o
conceito de engano, falta à verdade. Uma das expressões
mais usadas para mentiroso é aldrabão e aldrabice para
mentira, que são de proveniência árabe.
Na língua popular ouve-se pregar uma escova com o
sentido de impingir uma história, na gíria meter o urso (N.,
100). Largo emprego têm expressões como endrómina ou
indrómina (Rib., Arc., 40: O Ruas avaliava agora a
vantagem que havia em ter semelhante endrómina a talhe
de mão); batota (Rodr., Inst., 255: Não, não ia na fita,
estava já a fazer batota), galga, peta (Camilo, Teatro III,
144: Tudo aquilo é peta !); lampana, lérias, sempre no
plural (Camilo, Teatro III, 175: não me conte lérias!); lona,
pala, palão (Rib., Tombo 204: P.e Facundo:... o meu amigo
está danado e bem danado... Evaristo: é palão.); patarata,
no sentido de mentiroso (Rib., Arc., 142: Era nisso que
fazia finca-pé para com aquele patarata do Ricardo...);
patranha, grande peta (Rib., Arc., 142: ... já toda a gente
desconfia que é patranha), peta, pomada de cheiro no
sentido de mentira grande; um pomadista é um indivídulo
mentiroso; tretas, sempre no plural, é muito usada para
mentiras. Com o sentido de aldrabão, de indivíduo de
pouco crédito, ocorre troca-tintas (God., Calc., 62: ― Isso
prego eu desde que casámos, meu troca-tintas).
Qualquer coisa de oco serve para exprimir o conceito de
mentira. Assim meter a bola significa mentir, espalhar um
boato. Uma bula foi antigamente um selo de que usavam os
papas e os soberanos, uma carta patente, letras apostólicas.
Contar bulas, hoje em dia, no sentido figurado, quer dizer
contar petas. Para significar um conto mentiroso emprega-
se na língua popular a expressão o homem das botas. Daí
bota no sentido de peta, boato falso.
44
O nome próprio de pessoa boleno, bolena (de Ana
Bolena) emprega-se também para significar homem ou
mulher mentirosos.
6. Avareza
45
7. Embriaguez
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Estar ébrio, alcoolizado ou etilizado são eufemismos
eruditos que, na língua familiar, se traduzem simplesmente
por estar bêbado ou embriagado. Etilizado é a expressão
uniforme para bêbado nos autos da polícia (Paço, Nov., 15:
...absurdo seria que se pudesse etilizar…).
Uma conhecida designação burlesca para o vinho é chá
de parreira. A respeito desta expressão, Ramalho Ortigão
nota nas Farpas (XI, 241) que “o povo tem esta bela
máxima: “O meu chá é de parreira” e um pouco mais
adiante, “o povo... bebe o chá do Cartaxo, do Lavradio,
de Carcavelos”. Tomar chá de parreira significa tanto
berber vinho como embebedar-se. Beber vinho fora das
refeições e, sobretudo, sem comer nada, é tido como
pouco conveniente, ordinário até, entre gente fina. É por
isso que pessoas de certa categoria, não se querendo
privar do prazer de vinho sem comer, mas, ao mesmo
tempo, não querendo prejudicar a sua consideração social,
mandam por vezes servir o vinho como se fosse chá, o tal
chá frio, servido em chícara.
É frequente que designações para vasilhas, sobretudo
recipientes para líquidos e, entre estes, em primeiro lugar
aqueles que servem para conservar vinho ou nas quais se
bebe o vinho, passem a designar o bêbado e daí também o
sentido de embriagado, quer dizer cheio como o respectivo
recipiente. Mais raro é essas designações empregarem-se
para exprimir a embriaguez propriamente dita. Nesta ordem
de ideias temos alanternado (lanterna = garrafa ou copo de
vinho), borracho, caneco, copo, cuba, decilitreiro (Fial.,
Gat., I, 116: ... Sérgio é um desses decilitreiros...),
enfrascado, engarrafado, odre (God., Calc., 29: ― Ó tio
Freitas, bote lá mais uma picheira, que eu quero ver quanto
leva aquele odre!), odre de vinho, pipa, etc. No sentido de
beber muito emprega-se jarrear.
Em português, como noutras línguas, há expressões em
que parece dominar a concepção de o embriagado ter uma
espécie de doença do cabelo ou de pele, ou de ele ter
47
alguma coisa que lhe cobre a cabeça. Assim cabeleira,
peleira, peruca, etc. eufemizam a bebedeira. É bastante
grande o número de metáforas para embriaguez
provenientes de coberturas de cabeça e doutras peças de
vestuário como, por exemplo, carapuça, cartola, opa,
pala, touca.
Determinados estados e graus da embriaguez prestam-se
muitíssimo bem a serem comparados com certas doenças.
Na maioria dos casos temos de partir daqueles sintomas da
embriaguez, que aparecem igualmente como sintomas
dessas doenças, cujos nomes, não raras vezes, se empregam
então metonimicamente para embriaguez. Neste sentido
temos carraspana, cega (Red., Barca 292: ...pregou-me
ontem uma cega...), constipação; e de quem está
embriagado, diz-se que tem os pés inchados, está toldado,
anda turbado ou anda com zerpelão.
Azul, no sentido de embriagado, provém muito
provavelmente das perturbações da vista, da impressão de
ver tudo enevoado, indistinto. Assim, estar ou andar azul,
significa estar com um grão na asa. No Brasil azuladinha é
cachaça.
Um número bastante grande de designações para
embriaguez é constituído por nomes de animais.
As aves cujos nomes servem como metáforas
eufemizantes para embriaguez são quase todas pernaltas,
com excepção da rola e do pombinho, e têm movimentos
estranhamente pesados quando andam no solo, sendo o seu
andar semelhante ao de um bêbado. É o caso da cegonha.
Mas talvez, como já supôs Silva Correia (646), se trate
aqui de uma alteração eufemística de cego (God., Cru.,
79: ― Então ontem, Diamantino, que tal foi a cegonha?).
O facto de dar-se álcool aos perus antes de os matar, pode
ser a razão de perua passar a significar bebedeira, mas não
é impossível que se tenha de tomar o movimento da ave
como ponto de partida. A expressão, em todo o caso, é
conhecidíssima em todo o país. Menos conhecido é garça.
48
O Brasil conhece as expressões estar montado na ema,
andar cercando frango, tomar um ganso. Junte-se aqui a
expressão comum estar com um grão na asa (Fial., Gat.
IV, 139: ...o senhor... de volta das hortas com um
grãozinho na asa...).
Em comparação com os restantes nomes de animais que
servem de metáforas para embriaguez, o número de nomes
de mamíferos é muito considerável. Com o significado de
embriaguez temos bezerra, bode, burro, cabra, cabrita,
cachorra, cadela, carneira, chiba, égua, garrana, lebre,
mona, mula, porco, rato, senisga. Entre os animais de
rapina doninha, fuínha, gata, raposa.
Alguns nomes de plantas, provavelmente por causa do
seu efeito atordoador, figuram também entre as designações
para embriaguez. Assim, por exemplo, coca e troviscado.
O número de nomes de fruta é relativamente pequeno:
cacho, marmelo, nabo e nêspera.
Há também uma série de denominações de bebidas como
pinga, piteira (God., Calc., 87: o capataz da casa era...
carregado de janeiros e piteireiro de arromba para mais),
vinagreira, etc. que servem de substitutos para bebedeira,
das quais pinga é a mais conhecida.
A falta de equilíbrio que produz a embriaguez, o
cambalear do bêbado, dá origem a expressões que velam
um tanto jocosamente a bebedeira. Assim por exemplo:
anda aos ss e rr (ou aos tombos), anda aos zigue-zagues,
anda carregado dos machinhos (Id, ib., 58: Estavam os
machinhos carregados...), fica entre as dez e as onze
(Rodr., Nus., 71: Às vezes fico entre as dez e as onze), vai
chumbado, vai que nem um andor, está tem-te não caias
(God., Calc., 57: ― Mentem, está visto! ― esclareceu a
Maia, já tem-te não caias).
Palavras que designam barulho, canto, música podem
significar metonimicamente a bebedeira. Nesta ordem de
ideias temos cançoneta, chula, mazurca (Talvez uma
alteração de zurca), órgão, rusga, zangurriana, zoeira.
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Entre as metáforas para embriaguez também há
expressões que designam imundícies como por exemplo
berzunda, berzundela, cardina (Rib., Terras, 13 ― Estavas
com uma cardina que nem te lambias).
Alguns nomes próprios de pessoas e nomes de povos
encontram-se entre as designações para embriaguez, como
bernardina, catarina, chumberga, joaquina, Noé,
silvaninha, tonha. Muitíssimo frequente é turca com o
sentido de bebedeira (God., Calc., 234: ― Ena, a
grandíssima turca que eles trazem! ―).
Ocasionalmente ocorrem nomes de lugar, como andar
das bandas de Vinhó, entrar na vinha do Senhor, ir a
Montalegre e passar por Arcos que eufemizam estar
embriagado.
A maioria das expressões que designam a embriaguez
são substantivos femininos. A partir de estar com ela (=
estar com a bebedeira) explicam-se expressões como estar
com uma cachopa, com uma amiga, vai com uma esposa,
leva uma prima, apanhou uma senhora.
Entre os estrangeirismos aparece com a maior frequência
a expressão piela que é de origem cigana (Rib., Lap., 99:
...o guarda-nocturno, prestigiado como qualquer marechal
dos exércitos, teria por missão, acima de tudo fornecer o
pavio grátis a quem fosse deitar-se tarde e aos tropeções,
depois duma pielazinha comedida).
O consumo de bebidas alcoólicas que produz no bebedor
um certo calor e que pode provocar-lhe até excitação chega
por metonímia a designar a própria embriaguez. Estar
quente, ter os faróis acesos, incandieirado, vai quente ou
anda quente da orelha experimem, tal como vai com uma
furiosa, o estado esquentado do bêbado.
Ao grande bebedor chama-se uma esponja, um poço sem
fundo, um seca-adegas (Silva, Fábr., 261: o Smith... é cá
um seca-adegas!) ou um emborca-latas (God., Calc., 87:...
tio Terezo ― assim se chama o emborca-latas ―).
50
A expressão mais usual para a sede pós-embriaguez ou
para aquela sensação característica de ter a garganta seca
depois de uma grande bebedeira, é sabe-me a boca a papel
de música ou papelão. Alves Redol, no seu romance A
barca dos sete lemes (292) emprega uma expressão muito
pitoresca para interpretar a mesma sensação: “O Ti João
pregou-me ontem uma cega tão grande, que ainda agora a
boca me sabe a ferraduras de burro...”.
51
IV / A SITUAÇÃO FINANCEIRA
1. Pobreza
52
à ruína extrema; estar em apuros, andar a cair da boca aos
cães, que significa estar na miséria (Rib., Láp., 24: Meia
dúzia de escritorecos, com quem se encontra às vezes,
andam a cair da boca aos cães); andar (estar) na estica,
que exprime além disso ser extremamente magro; viver na
lazeira o que corresponde à miséria (derivado de Lázaro);
estar limpinho, estar nas lonas (Nam., Cland., 333: ―
Você não me arranja umas traduções? estou nas lonas),
estar liso (N., 96), estar de tanga (N., 127: Rodr., Ins., 267:
― Querem ir ao Jardim Zoológico com os catraios, já que
estamos de tanga), estar tísico (Corr., 645), andar
peneirento, não ter onde cair morto (Fig., Estr., 48: ...
ficavam sem ter onde cair morto), não ter com que
mandar cantar um cego (Torga, D1, 12: Mas ir para onde,
se não tenho com que mandar cantar um cego...), estar
frito (Nam., Min., 36: ― Tem um lugar nesta casa. Ajuda
nas despesas e sempre lhe fica mais em conta. Se vomecê
fica na casa da malta, está frito...), estar teso (Rib., Láp.,
60: Das vezes em que ficava teso, o que sucedia quase
sempre, tirava as luvas dos bolsos com toda a fleuma,
dependurava o chapéu no cabide e dava as boas noites) e
ter cotão nas algibeiras.
Ficar pobre é muitas vezes expresso por designações de
moedas de mínimo valor como, por exemplo, ficar sem uma
cheta (pequena moeda de cobre), ficar sem um ceitil furado
(uma moeda antiga) (Rib., Bat., 42:... só ao fechar da caixa,
vazia, sem um ceitil furado, abriu os lábios...), ficar sem um
vintém furado (Rib., Bat., 188: Não trago comigo um
vintém furado...), ficar sem uma de xis (moeda de dez réis)
(Fial., Gat. II, 46: ― Diabo! fala baixo. O pior é eu não ter
comigo uma de xis), sem tusto (= tostão) (N., 132).
O mendigo, que não tem eira nem beira, é
frequentemente eufemizado por pobre ou pobre de pedir,
pobre de Cristo, pobre diabo, mas também se fala de
miserável, pobreta(i)na, pedinte, pedincha, que é alguém
que mendiga com uma certa impertinência ou com lamúria.
53
Pelintra é uma expressão bastante depreciativa para pobre e
arrota pelintra, faz de fidalgo aplica-se a um indivíduo
pelintra e bem falante ou presunçoso. Um homem sujo e
pobretão é um côdeas (Rib., Estr., 86: Tu não passas do
António Malhadinhas, um pobre de Cristo, um Zé-ninguém,
um Côdeas que puxa macho de carga pelo rabeiro). O
homem pobre do povo chama-se pé-descalço.
Ficar sempre pobre exprime-se na língua do povo por
não passar da cepa torta ou estar sempre na cepa torta.
2. Riqueza
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para o saco?!). Aquele que tem muito dinheiro tem mundos
e fundos ou, como se diz na língua popular, tem
dinheirama, tem bago (bagalhoça, cheta, massa,
massaroca).
3. Dinheiro
55
Aguardente, já te disse. CAMILA: Mosca, primeiro. O
VELHO: Pago eu. Podes servir), painço (Cort., Lá-Lás, 44:
Atira-lhe depressa com o painço, ou faz pior do que diz).
O painço é o grão duma planta gramínea que também se
chama milho painço, como bago é o grão sucoso do cacho
de uvas e caroço a semente dura de vários frutos. Todas
estas expressões e outras semelhantes servem de
metáforas para coisas de pouco ou nenhum valor e
exprimem a ideia de dinheiro.
Termos da gíria são cacau (Camilo, Corja, 115:... três
contos ao ano, e talvez mais, pondo-se ele à frente do
negócio, e doutros bicos-de-obra que podiam dar muito
cacau; N., 57), carcanhóis (God., Não, 140:... ela... não
teve tempo de deixar os carcanhóis; N., 61), cebo, chinfres,
ferros (N., 83), guita (N., 89), lecas (Rodr., Casa, 79: Dá cá
as lecas), milho, naipe (N., 103), pasta (N., 110; Rodr.,
Casa, 71: Andam cheios de pasta, não queiras saber!...),
pilim (Bar., Malta, 152:... passou-lhe a palheta quando lhe
cheirou que ele não tinha pilim...; N., 114), taco (N., 127).
Uma pequena quantia de dinheiro é chamada chavo
(Rib., Bat., 108: Por aquele rumo não colhia um chavo), na
gíria chelpa (Eça, Rel, 267: ― Oh Topsius, que chelpa isto
me vai render!), cheta (Eça, Cap., 139: Vocês agora têm
cheta, é gozar, é refocilar...). Ter o seu vintém ou dois
vinténs emprega-se com o sentido de ter dinheiro.
Certas designações de moedas antigas, já não em curso,
como ceitil e pataco, ainda ocorrem na língua literária para
significar uma quantia de ínfimo valor (Rib., Bat., 187:...
não era aquele que arriscava um ceitil). Dinheiro preto,
dinheiro miúdo ou só miúdos é dinheiro em moedas de
cobre (N., 73).
Na gíria a moeda de um escudo é designada por barrote
(derivado de barra, trave) (Rodr. Casa, 78:... emprestas-me
cinco barrotes?), malho (Cort., Lodo, 6: ― Quanto lhe pedi
eu noutro dia? DOMINGAS ― Quarenta mil réis. JÚLIA
Quarenta malhos...), mango, manguço (Toj., Putos, 206:
56
Custa só cinquenta manguços), palhaço (Rib., Arc., 62: ―
Trago comigo, quando muito meia dúzia de palhaços”...);
por fim ainda paus, que é sempre usado no plural e constitui
a expressão mais usada para escudo na língua falada e
familiar (Alv., Lareira, 17: A propósito... Emprestas-me
cem paus?...; N., 111). Em vez de tostão emprega-se tusto
(Toj., Viag., 57: Eu era um pelintra sem tusto, percebe?; N.,
132). Tratando-se de moedas miúdas, fala-se em níqueis
(Rib., Láp., 95:... os níqueis, ainda na minha mão pelintra,
voavam como se tivessem asas) ou, na gíria, em chumbos.
Nota de banco de qualquer espécie são bilhestres na gíria
(Rib., Láp., 5: Tens bilhestres?), ou pápulas (Red., Muro,
154:... havendo pápulas não se morre à fome). Uma nota de
vinte escudos é uma folha de alface (N., 84). Notas
bancárias de grande valor são chamadas lençóis. A nota de
um conto é um linguado, um pacote (Correia, Est., 19: Mal
empregados setecentos pacotes...) ou um quilo (Paço, Tons.
7: Eu tenho o meu rico dinheirinho a arder; não é lá
qualquer coisa, são novecentos quilos...). A nota de cem
escudos, na gíria, é um pintor e a de cinquenta meio pintor
(N., 114, 100). Na língua falada, uma nota são cem escudos
e uma nota grande é um conto.
Como latinismo usa-se, sobretudo na língua literária,
cumquibus para dinheiro (Rib., Bat., 123: À força de
onzena e ajudado do aro de oiro que lhe saiu na vessada e
converteu em cumquibus, amassou um fortunão) que deve
ser a base de cunques, usado em Trás-os-Montes.
Às vezes ouve-se o já antigo anglicismo moni (Bessa,
210; Bar., Malta, 130: ― Máquina não havia, portanto só
alugando. E isso implicava que houvesse com que pagar o
aluguer. ― E o moni?... ― questionámos).
Determinados pronomes ocorrem também como
eufemismos para o conceito de dinheiro. Assim, por
exemplo, o pronome oblíquo o é muito frequente na
substituição desse conceito (Din., Espólio, 202: ― Que
vale tê-lo, se se não sabe aonde?); o pronome sujeito ele
57
(God., Não, 150: ― É um patrício nosso, que tem estado
na América, e voltou agora à terrinha... “cheio dele”); e,
muitas vezes ligado com o gesto que indica dinheiro, o
demonstrativo isto (Rib., Quando, 75: ― Para fazer uma
casa é preciso disto. O filho que continuava de bruços,
não viu o gesto despiciando. ― isto quê? ― Isto... ― e o
pai volveu a rolar o grosso polegar sobre o Index, já o
filho, havendo toscado o gesto, escusava bem de lhe
ouvir: ― Isto... bagalhoça. Tens?). Quem anda a apitar
não tem dinheiro.
4. Dívidas
58
objectos de valor ou mercadorias (Rib., Láp., 116: Tantas
vezes o pobre cordão andou em bolandas que o alma do
diabo já nem sabia quando estava em casa ou no prego).
59
V / OFENSAS E CONSEQUÊNCIAS
1. Roubo
60
Muito frequentes são as perífrases que substituem o
conceito de roubar como: dar um sopapo na gaveta,
escovar os bolsos, fazer mão baixa em (God., Não, 63:...
este fazia mão baixa na mulher do próximo...); fazer
esquerda rodar (Corr., 661), ferrar a unha, deitar-lhe o
gatázio (= os dedos), pedir esmola de chapéu na cabeça
(Corr., 661), contar-lhe o conto do vigário (Corr., 661);
aqui o vejo além o pilho, as artes do venha a nós (Rib.,
Món., 102: É cirurgião dos hospitais, mas para o que ele
tem dedo é para as artes do venha a nós); meter a lança
que é introduzir dois dedos no bolso de alguém para furtar;
não ser seguro de mãos (Rib., Cinco, 225: Segundo consta,
não é seguro de mãos); passar-lhe os cinco mandamentos
(= os dedos da mão) (Rib., Láp., 240: Aquela chave era o
meu martírio e foi com imenso refrigério que lhe passei os
cinco mandamentos...), varrer as mãos nas coisas, meter a
unha (= mão) (Rib., Láp., 354:... averiguei que meteu a
unha em duas libras); fazer quatro soldados e um cabo (=
os cinco dedos), expressão que acompanha o gesto de
roubar, que se faz girando os dedos duma das mãos; olho
vê, mão pilha (ou tira), ou olho vê, mão pilha e pé ligeiro é
uma locução verbal que significa a presteza com que certos
ratoneiros lançam mão do que lhes agrada (God., Não,
66:... o Tonho-Tonho... era olho que vê mão que pilha no
dos mais, p’ra se alimentar...; N., 106). Dum ladrão diz-se
que é da companhia do olho-vivo (olho-vivo = esperteza).
Verbos como furtar, roubar são expressões que, em
regra, pedem um disfarce eufemístico. Na língua popular e
na gíria existem muitas possibilidades de substituir esses
verbos um tanto rudes como, por exemplo, abafar,
abarbatar (Cort., Bâton, 6: Isto não está bem. Dar as
pedras e abarbatar logo três “flores”), afanar, alisar,
aliviar, arrepanhar, bifar, bispar, cardar, faiar, fanagar,
fanar, gamar, gualdripar, larapiar, limpar, palmar, picar,
pilhar, rapinar (N., 120), ratonar, ripar, surripiar, unhar.
61
No calão de caserna emprega-se mobilizar com o sentido
de furtar.
Os ladrões não são todos da mesma categoria. Há os
pequenos e os grandes e, além disso, os especializados em
determinados trabalhos. Assim temos o amostreiro que é o
ladrão de cortes de fazenda; o bandoleiro que anda
roubando com outros; o carteirista, cuja especialidade é o
roubo de carteiras, na gíria também designado por busco, é
o roubo de carteiras, o cavalheiro de indústria, mais
importante e mais fino, é um indivíduo que vive de
embustes (Sousa, Bairro, 258:... espatifou à pobre senhora
o melhor de quarenta contos de réis que era toda a sua
fortuna! Em suma: Um cavalheiro de indústria!); o
estradista que é ladrão de estrada; o espadista que é um
gatuno de mosco que abre as portas com chave falsa; o
fajardo que é um gatuno muito hábil (Rib., Món., 103:... é
um fajardo de alto bordo); o livreiro é o carteirista (N.,
147), o ostreiro o gatuno que se dedica ao furto de montras
(N., 149), o picador um gatuno de algibeiras, o pilha-
galinhas um ladrão de capoeira, o ratoneiro um gatuno que
furta coisas de pouca monta (N., 121); os unhantes são
aqueles que deitam a unha ao que não é seu.
Muito frequentes são alguns nomes de animais como
expressões metafóricas para ladrão como gato (gatuno) e
rato (Fial., Esq., 141: O estado de rato é o último, social,
de que por via de regra lança mão todo o menino cuspido
dos outros modos de vida...). Os indivíduos que fazem
pequenos furtos domésticos, tais como bolos, doces, etc.,
são chamados ratos de armário, os ladrões que actuam em
feira livre ratos de feira e aqueles que exercem a sua
actividade no interior de hotéis ratos de hotel.
O vigarista é o indivíduo que explora o conto do vigário
e o larápio, expressão muito usada, é um termo geral para
gatuno.
62
2. Fugir
63
calcanhares na bunda...), dar com a verruma em prego, dar
costa, dar de frosque (N., 69) especialmente fugir à polícia,
dar o fora (N., 69), dar na perna, dar o piro, dar sebo nas
botas (N., 68), dar terra para feijões, dar uma pirisca.
Um certo número de locuções verbais é construído com
o verbo pôr conjugado reflexamente: pôr-se a andar, pôr-se
a mexer (God., Não, 142: mas o mais certo é pôr-me outra
vez a mexer); pôr-se a milhas, pôr-se ao fresco (Nem.,
Mist., 64:... ao ouvirem o passo mais à toa, tremem da
passarinha, dão duas guinadas de espreita e põem-se ao
fresco...); pôr-se na alheta (Rib., Quando, 260:... em
despeito da distância que os separava da malta, foram-se
pondo na alheta); pôr-se no mundo, pôr-se na pireza (Rib.,
Láp., 104: Homem, o seguro morreu de velho, põe-te na
pireza!); pôr-se na perna (Junq., Velh., 136:... tudo isso
andou, pôs-se na perna...); pôr-se no pirandó, pôr os pés
em polvorosa.
Outras perífrases mais ou menos jocosas são: bater as
asas (Bessa, 50), assobiar às botas, botar o pé no mundo
(Rib., Quando, 122: Botou o pé no mundo como
cangaceiro...); cair no mundo (bras.), dar (tomar) às de
Vila Diogo (Rib., Láp., 213:... quando viessem trazer-me a
magra pitança... eu teria dado às de vila-diogo); andar a
monte que significa andar fugido para escapar de ser preso;
andar nos pés, meter o arco, meter o pé na carreira, meter
o pé pelo mundo, passar a perna, passar os butes, passar
as palhetas, tomar o tole.
Em português, como nas outras línguas, o conceito de
fugir produziu uma série de expressões jocosas como por
exemplo evaporar-se (Nor., Alf., 350: O “Sovela” quisera
evaporar-se...). Muito usado é a expressão interrogativa de
quem trata de fugir a toda a pressa pés para que te quero?
(Rib., Láp., 240: E agora pés para que vos quero!?).
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3. Fazer gazeta
4. Prisão
65
Já não é o caso falando-se em abafadoiro, arrecadação,
baú, cafundó (bras.) (Rib., Escr., 261: O grande busílis era
a fechadura, dado que pudesse saltar os muros que
circulavam o cafundó); cagarrão (God., Calc., 241:
Declarou escorreitamente que antes cagarrão, que largar as
duas notas e meia); calabouço, palavra de proveniência
espanhola; casa de cão e casa-do-jeco que designam a
penitenciária; canastro, chácara (bras.); das prisões
políticas de Caxias e Peruche, respectivamente, como hotel
(ou estalagem) de Caxias ou de Peniche; chave (bras.)
(Amado, Jub., 191: Ele pegou fez intriga, eu só vivia na
chave...); chelindró (Rib., Láp., 108:... há-de fazer tudo até
nos aferrolhar no xelindró); chena, talvez do francês
“chaîne”, choça (N., 64), choldra (N. 143), enxovia que,
como masmorra, designa um cárcere térreo ou subterrâneo,
escuro e húmido (Paço, Corça, 218:... ele receava, com a
brincadeira, ir parar com os ossos à enxovia); estarim,
palavra de origem cigana (Cort., Lodo, 19): E depois se te
levassem de charola p’ró estarim?!); gaiola (N., 86),
gaveta, gavetão (Paço, Corça, 319: ― O teu primo no
gavetão), grelha, jaça, pildra, tronco, vagarosa, xelro.
Em vez de ir preso emprega-se na gíria filar (Cort.,
Lodo, 4: Já filaram a russa e uma malta delas), ir de cana
(N., 59), cangar, ir no baú, ir no cambão, trancafiar.
O carro da polícia, destinado ao transporte dos presos,
também é eufemizado. Chama-se ramona (N., 150), no Rio de
Janeiro tintureiro (Amado., Past., 262:... foi levado por dois
tiras para o tintureiro) e viúva-alegre (Coelho N., Mistério,
116: Uma viúva-alegre parou ao portão do palacete.
5. Polícia
As designações para polícia que também evocam
associações desagradáveis, sobretudo da parte dos
malfeitores, andam ligadas ao conceito de prisão. É assim
66
que, principalmente no meio dos criminosos, o agente de
polícia tem muitos nomes. Chama-se bófia na gíria do
Porto. À polícia secreta chama-se os bufos (Cort., Lodo, 13:
Pois andam p’r’aí os bufos a dar caça às borboletas). O
sinaleiro de capacete branco é um cabeça de giz. O simples
agente de polícia é o canga (N., 60) ou o chui (Campos,
Gata, 87:... não me venhas dizer que às vezes não fazem
uns favorzinhos aos chuis).
Um tanto ou quanto depreciativo é cívico como
designação para o guarda de polícia de segurança. Na gíria
fala-se em cuco (Fons., Porta, 44: Em calão académico os
polícias eram conhecidos por “cucos” ... ). Também
formiga (Rib., Arc., 38: Felipe a bater os queixais... com
vontade de mandar o formiga pentear macacos...). A
polícia de viação, por causa da cor dos uniformes, é o
feijão verde. O polícia da GNR tem a designação
eufemística e pejorativa de cavalo a cavalo ou até mesmo
besta a cavalo. O guarda é o guarda-esquadras e os
carros-patrulha desta polícia chamam-se carros nivea por
causa da cor azul escura e branca de que estão pintados.
Na gíria brasileira Dona Justa significa a polícia (Nasc.,
Gíria, 58). Os gorilas eram os polícias de choque. O
judite é um agente da Polícia Judiciária (N., 92). O bufo, o
espião chama-se mosca (Cort., Lodo, 19: Não sabes que a
cabrada anda hoje co’a mosca?). Também moscardo
(Nor., Alf., 343: ― Vá, dêem-me cabo desses
moscardos...). Outras expressões para agente de polícia
são: pasmado e pasma (Cort., Lodo, 20: Os pasmados
andam sempre a meter o nariz na vida alheia), tainha (N.,
127), tira (bras.), provavelmente de proveniência hispano-
americana (27) (Amado, Past., 41: Não desejava senão
viver em paz, mas não o deixavam, os tiras haviam
tomado assinatura em cima dele...).
Ir preso pela PIDE entre os estudantes era ir à ópera ou
ir (estar) a cantar ópera; ir (estar) preso em Caxias ou
Peniche dizia-se ir (estar) a tomar ares de mar em Caxias
67
ou Peniche. Os polícias da PIDE chamavam-se os
cinzentos, devido à cor do chapéu e das gabardinas que
usavam.
68
Outras metáforas para pancada são: açorda, bifes,
caldaça, caldo (Fons., Porta, 35:... arreia-me um caldo com
a pasta dobrada...). Molho emprega-se com o sentido
coletivo de pancadaria (Houve molho). Canja é sempre
acompanhado do verso comer (Comeu da canja). Muito
frequente é a comida (ou a sopa) de urso (Botto, Alfama,
218:.. sempre me dás alguma coisa:... comida de urso, e da
mais forte!). No Brasil usa-se comer bacalhau (= mão),
comer cipó, comer macarrão com o sentido de apanhar
pancada. Arroz talvez seja uma substituição por semelhança
fonética com arrocho, segundo opinião de Silva Correia
(475) (Torga, Par., 79: ― Eu dou-lhe o arroz!).
As designações para bebidas que servem como metáforas
eufemísticas para pancada, não são tão frequentes. Temos
cerveja (Bessa, 77; Gal., Mulh., 179:... ele era muito capaz
de lhe arrumar uma cerveja) e chá, na expressão brasileira
tomar chá de cipó, chá de moca e chá de marmeleiro,
usado na Madeira (Sousa, Diz., 49).
Aqui juntam-se nomes de frutos que servem como
designações para bofetada. Muito conhecidos são ameixa,
banano (Rég., Salv., 175: sou capaz de te ferrar dois
bananos); batatas no sentido de soco usado na Madeira
(Sousa, Diz., 29); castanha (Bessa, 75), coco que significa
pancada na cabeça (comer ou beber do coco), pera (N.,
112), pero (God., Calc., 59: ... olha que mamas um pero
...); passas (God., Calc., 82: ... senão ele daria passas; id.,
ib., 297: “Astrevete” a tocar nos bicos, que eu te darei
passinhas!...).
Também há nomes de animais que se empregam
metaforicamente para pancada. Assim, borracho (Sousa,
Bairro, 177:... que grande borracho que tu levas na
tromba!); faneca, empregado no Minho; moscardo (Dant.,
Severa, 49: Mas porquê (que não vem), ó meu bandarra,
que te viro um moscardo por essas ventas?), narceja,
sardinha, solha.
69
Objectos planos são predestinados para servir de
metáfora para bofetada como, por exemplo, bilhete,
chapada (Nem., Mist., 230:... Tiazé lhe chegava o cuspo ao
nariz sem perigo de chapada no focinho), estampa,
estampilha, lamparina, lapa, latada, pastilha, etc.
Expressões onomatopaicas que imitam o estampido da
pancada, são muito frequentes como denominações para
bofetada. Eis aqui alguns exemplos: estalo, estalada
(Torga, Vind., 118:... duas estaladas secas, rudas, zuniram
na cara do Iládio), lostra, mosquete, murro, zumba, etc.
Uma certa ironia manifesta-se em expressões como
aquecedela, apanhar um calor, aquecer o lombo, pôr o
rabo a arder. Também asas (ou aba) de pau, casaca de pau
são expressões irónicas para tareia.
Outras expressões eufemizantes são: dar (apanhar) umas
calças, apalpar (ou medir) o costado, assentar as costuras,
arranjar (Braga, Caminhos, 64: ― Deixa estar, meu
malandro, que o teu pai te arranja); caiar o frontespício, na
Madeira (28); coçar e dar uma coça (God., Calc., 53:... se
viessem encontrá-los em flagrante delito de vadiagem,
coçar-lhes-iam deveras os lombos com verdascas de lódão);
dar os bons dias, ensinar, dar uma ensinadela, dar uma
escovadela, dar uma esfrega ou uma esfregadela, sacudir a
poeira ou as moscas, apanhar uma sacudidela, chegar a
roupa ao pêlo (ao corpo) (Dant., Severa, 106: És bruto,
mas a Severa já te chegou a roupa); fricções lombares de
marmeleiro (Rib., Món., 80: Ali ou revulsivo de imprensa,
visto tratar-se de dois nomes conhecidos, ou fricções
lombares de marmeleiro); festas de marmeleiro (Braga,
Hist., 2: festas de marmeleiro é que ele precisava), xarope
de marmeleiro (Red., Barr., 226:... que lá de histerismos só
os podia tratar com xarope de marmeleiro); apanhar um
enxugo (Red., Barr., 297: Nem se conseguiu voltar...
tamanho enxugo de murro e porrete lhe deram...); tocar (ou
dar) uma pavana, tocar pandeiro, apanhar uma teoria,
pagar em moeda de costela (Camilo, Novelas, 41:... peça-
70
lhe que não demande o marido, visto que as custas já eu fui
citado para as pagar em moeda de costela).
Outras expressões jocosas são apanhar com os cinco
mandamentos (= os cinco dedos da mão), dar cacholetas,
dar-lhe com o lenço de cinco pontas, arrear, brochar,
cascar-lhe uma bofetada e descascar, encher, ferrar, levar
nas bitáculas, malhar e dar uma malha (Red., Porto, 17:...
um dia leva uma malha); pegar, pregar, raspar, moer (com
pancadas), levar para o tabaco (Nem., Mist., 78:... no Pico
do Celeiro levaram para o tabaco, cortidos à coronhada);
limpar-se a um guardanapo de cinco pontas (Red., Barca,
414:... ainda te limpas a um guardanapo de cinco pontas).
71
mandou-nos à sirga...), mandar à tabua (Rib., Quando,
26: Esteve vai-não-vai para mandá-lo à tabua), mandar à
missa, mandar à mãe. Algumas destas expressões que,
num princípio, foram atenuantes, já não o são hoje em dia
como, por exemplo, mandar àquela parte, mandar à
tabua e outras.
Tomaz de Figueiredo, no seu romance A má estrela
(153), emprega uma expressão que revela claramente um
desvio eufemístico para exprimir a ideia de mandar alguém
embora: “O responsável a sentir ondas de os mandar a
todos os sítios que na sessão não pode nomear...”, ou no
Dicionário falado (197): “... porque pode um gozador,
depois de armar em tolo... mandá-los a sítios aonde já custa
mandar madamas...).
Nitidamente cruas, disfemísticas, são expressões como
mandar à lixa (Corr., 512), mandar à merda (Nam., Trigo,
65: Com uma cara dessas és um homem que pode mandar à
merda um qualquer); mandar lamber sabão (Nasc., Ant. II,
188:... mande elas lamber sabão).
As expressões formadas com o verbo ir têm em parte os
mesmos complementos, mas a forma do verbo está, de uma
maneira geral, no imperativo: vá bugiar! vá à erva! (Corr.,
472), vá à mãe! vá à merda! (Sales, Afl., 212:... Saturnio
levantou-se e disse: ― Vá à merda); vá à missa!, vá a
Palmela! (Corr., 472); Vá àquela parte!, Vá à tal parte!
(God., Não, 205:... um bilhete... no qual escrevera a lápis
estas palavras ultrajantes: ― “Ora vá a tal parte!...”); vá
àquele sítio!, vá lamber sabão! (Torga, Vind., 27: [no
comboio] isto aqui é primeira! ― Vá lamber sabão, ora o
parvo!); vá para a beira da merda (ou bardamerda) (Nem.,
Mau, 446: ― Vá bardamerda! ― Vá você, mal criado!); vá
p’rá marela (= amarela)!, vá para a puta que o pariu!
(Rego, Fogo, 47: Estou lhe dizendo que vá pra puta que o
pariu); vá pentear macacos! Vá-se foder! é um autêntico
eufemismo, com desvio semântico vá se fo...tografar!, e em
vez de foda-se! o atenuante cosa-se! (Card., Balada, 163:
72
“... eu quero que a liberdade se foda”. (Se cosa, disse a
galinheira, perdoe-se a expressão).
As possibilidades expressivas para exprimir a ideia de
mandar alguém embora parecem inesgotáveis. Aqui mais
algumas expressões que se podem criar constantemente: vai
chatear outro! (Sttau, Ang., 111: ― E quem és tu? ― Vai
chatear outro!); vai-te despir! (Botto, Alfama, 276: Ó filho,
vai-te despir, que não tens planta nenhuma); vai para o
diabo! (Nam., Cland., 132: ― Vai para o diabo! Nunca me
aceitas coisa nenhuma); vai-te encher de moscas (Botto,
Alfama, 208: ó filho, vai-te encher de moscas; N., 133); vai-
te matar (Botto, Alfama, 209: Ó filho, vai-te matar!...).
Em determinados casos como vá à missa!, vá à mãe!, a
consoante inicial chega para aludir à palavra eufemizada;
noutros é a sílaba tónica que evoca o termo cru como vá à
erva!, mandar passear até Mérida! (Corr., 512).
73
VI / DECÊNCIA: O CORPO
1. Cheiros do corpo
74
para mau cheiro e no brasil morrinha. Em Trás-os-Montes
ocorre com o mesmo sentido recachiço e, de uso geral e
depreciativo é pivete.
2. Roupa de baixo
3. A barriga
75
(Rib., Casa, 190: Depois picaram-lhe a bandoga); bandulho
(Paço, Tons, 45:... lá fica a Senhora e ficam os outros todos
sem terem que meter para o bandulho); bojo que é a barriga
grande, bojuda; mala (Bessa, 193); na Beira, morca (Rib.,
Quando, 163: Abriram-lhe a morca [a um lobo]); bucho,
pança também significa barriga grande, obesidade (N., 108)
como panturra (N., 108). Uma pessoa gorda e baixa é uma
pipa. A barriga ainda se chama redanho (Camilo, Novelas,
27:... ia anavalhar o redanho do cego) ou a tripa.
Na gíria empregam-se baú (Red., Muro, 60: Não, não fui
andarilho, a não ser com esses bandidos a quem enchi o baú
de tudo o que é bom; Corr., 658); bânzera (Bessa, 47), bule
(Corr., 658), bundra (Bessa, 61), búzera (Rib., Casa, 48:
Depois de beijar os seus cachorros, encher a búzera...
deitava-se a dormir...; Bessa, 62); um buzarate é um
indivíduo corpulento e barrigudo; fole ou fole das migas
(Rib., Quando, 113: Passaram-lhe uma pouca [de ovelha]
para o fole (trata-se de um lobo); Rib., Hum., 243: Se não
fora as contas que temo dar à justiça, já te tinha metido esta
espada pelo fole das migas...). Nascentes cita para a gíria
brasileira guarda-comidas (Gíria, 94) e Bessa (164)
guitarra, marmita e saco de broas (275).
4. Os seios (31)
76
significa bola, esfera e, na forma do plural, peitos, por
analogia de forma, não é usado na linguagem falada
(Camilo, Corja, 73:... decotada, com um sulco de sombra
entre as duas pomas e um ramalhete de violetas).
Além das expressões que se referem à função dos seios e
à ideia de sugar, há outras em que os seios são comparados
a recipientes ou a objectos mais ou menos arredondados
como, por exemplo: almotrigas que são pequenos vasos de
bojo largo no Alto Douro; no Minho, ouve-se almudes
(almude é uma antiga medida para líquidos); na linguagem
popular emprega-se bóias e, em Trás-os-Montes, pichorras,
designação para um pequeno cântaro. Até arredondados se
encontra como eufemismo para seios, ancas e coxas (Toj.,
Viag., 68:... a Brazona era magnífica: grandes olhos
brilhantes, farta cabeleira negra, arredondados soberbos...),
eufemismo para as curvas femininas.
A ideia de partes salientes está na base de expressões
eufemísticas para seios, como armários, na Beira; de
prateleira (prateleiros) que é de uso frequente, quando se
trata de seios avantajados em excesso; de altares, também
quando são grandes, de calvário, na Beira; de cachorros
da proa, provavelmente uma expressão de marinheiros, e
de novelos.
As expressões vulgares pára-choques e buzina (Lapa,
44) também pertencem a este grupo de expressões um tanto
burlescas. Talvez as estátuas carnudas da República tenham
sido a origem da expressão conhecidíssima na linguagem
popular, patriotismo, para seios exageradamente grandes e
patriota para a mulher que os possui.
Por analogia de forma servem determinados nomes de
fruta, como designações metafóricas para seios. Por
exemplo: abóboras (Rib., Terras, 115: Era uma mulheraça
muito nutrida, rosada e ruiva, com duas mamoilas que nem
duas abóboras meninas); cabaças, gamboias no Alentejo;
laranjas, lentriscas para os seios da rapariga adolescente;
limalhas, limões (Red., Can., 90: Tens no seio dois limões);
77
maçãs, marmelos (Lapa, 141); marmelosas no Minho;
melancigas (belancigas) na Beira; melões (Rodr., Aves,
117: [a cantar] “Ó Rosinha dos melões!...” E ela a erguer os
seios...); tangerinas.
No Alentejo ouve-se campainhas do céu que é
transparente como metáfora. Margaridas, talvez o nome da
flor, designa em primeiro lugar seios pequenos. Catrinas,
catarinas e franciscas, que ouvimos na Beira, são talvez
formados a exemplo de margaridas. Juntem-se ainda
algumas expressões para falta de seios ou seios que
despontam. Uma mulher sem seios é chamada tábua ou
tábua das almas (Rib., Andam, 13: a Ana Olaia... seio de
tábua...), tábua de engomar e lenço ou diz-se que sai ao
pai. Na Beira ouvimos de uma rapariga a quem os seios já
despontavam: ela já está picada das abelhas.
5. O traseiro
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saliência traseira (Rég., Hist., 73: [trata-se de uma dança] e
zumba!, com ou sem licença, bravamente chocam a
saliência traseira); sesso (Fial., Gat. VI, 94:... quatro
pontapés no sesso e rolhas nos trombones!); sim-senhor
(Rib., Tombo, 57: Andei consigo ao colo e limpei-lhe
muitas vezes o sim-senhor), traseiro (Corr., 590), verso
(Bessa, 209). Muito usado é, sobretudo entre a gente do
campo, falar na via de trás, como também se fala na via da
frente. T. de Figueiredo serve-se, no seu Dicionário falado
(128), da expressão o sítio mais almofadado do corpo (...
beltrano, que um chibo entornou à cornada para riba duns
ouriços, num souto, ficando uma pregadeira de picos no
sítio mais almofadado do corpo). Ramalho Ortigão, nas
“Farpas” (XI, 84), tem esta passagem: “... um rei...
alongando um pontapé ao fundo das costas do seu primeiro
ministro...” ou ainda (“Farpas” I, 91): “... a justaposição da
abençoada sola e vira de uns bons sapatos paternos às
partes carnudas do seu organismo...).
Os autores servem-se também de eufemismos por elisão
como, por exemplo, Fialho d’Almeida na Vida irónica
(312): “tudo isto daria instabilidade febril ao pobre
gabinete, cujos sebentos fundilhos ao cabo estalariam,
deixando ver ao País o c...olector. Além disso falam no tal
(ou naquele) sítio, aludindo desta maneira à palavra
proibida (Fig., Teatro I, 86:... acertou-lhe um tal pontapé,
num tal sítio, que me caiu a estrebuchar...; Fial., Gat., IV,
158:... não gosta que lhe dêem beliscões naquele sítio). O
advérbio de lugar lá também aparece como eufemismo para
traseiro (Rodr., Est., 120: “Carago! Nem lhe cabe lá um
feijão frade [de medo]...”)
Para evitar o embaraço que a produção da palavra mal-
soante e indecente, cu, pode provocar, é muito frequente,
sobretudo no povo, a fórmula salvatéria, desculpadora salvo
tal lugar ou salvo seja (Camilo, Amor, 49:... partiu rente o
jarrete por aqui, salvo tal lugar). Também se usa com a
mesma função com licença que pode substituir o termo
79
inconveniente (Rodrigues, Nat., 27: Coragem! Sim, mas
não lhe cabia uma agulha no com-licença [de medo]).
Na linguagem das mães para com os filhos aparecem
diminutivos atenuadores como cusinho, rabinho e tutu
(Corr., 482). Rabo refere-se normalmente aos animais, mas
é empregado na linguagem familiar e popular com o sentido
de nádegas, assim como os seus derivados: rabadilha (Rib.,
Tombo, 60: Mulheres, diz o senhor Roxo, quanto menos
melhor. Que lhes pesa muito a rabadilha); rabiosque
(Nem., Mau, 328:... o Pedro tinha um grande rabiosque...);
e rabisteques (Corr., 590).
No campo semântico de traseiro, nádegas, ânus há
grande número de expressões que pertencem à linguagem
popular ou à gíria. Estas expressões baseiam-se na ideia de
alguma coisa de redondo, de alguma coisa de burlesco ou
então referem-se à função desta parte do corpo. Assim
temos anilha; às de copas (Corr., 592); Ram., Farpas VI,
282: Apresentou-se todo vestido, de cima abaixo, de
cartas de jogar... Mas o fino da ideia... era o lugar que o
mafarrico escolhera para coser o ás de copas); balaio,
espécie de cesta palhinha e, nesta acepção, termo
brasileiro (Amado, Dona, 155: “Ó mulher do balaio
grande..); bilha (N., 54), bimbas (N., 54), bule, talvez de
origem cigana (Fial., Gat. IV, 37: ― Então, santinha,
ouve? Olhe que não posso aqui estar toda a vida, à espera
que vossemecê deite cá p’ra fora as fundalhas do seu
bule); bunda, muito usado no Brasil (Amado, Mar., 58:
Quitéria desequilibrou-se e caiu de bunda nas pedras);
cagote, cagueiro, caixa dos pirolitos (Corr., 592), calva,
clavija, culatra que, foneticamente, faz lembrar cu; frasco
(Bessa, 150), ilhó, marmita (Bessa, 199), mosqueiro
(Bessa, 213) nêspera, olho (do cu) (Corr., 590) (31),
pacote (N., 107); padaria (Amado, Mar., 55: Tem uma
padaria que dá gosto); pandeiro (Amado, Dona, 415:
Bota cada olho em teu pandeiro, aquele fístula...) (32);
panela (N., 108) peida (Nem., Mist., 183: Mas a Retrós
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quisera descansar um migalho e ensaiou um rebola-a-bola
pândego, peneirando a peida; (N., 112); pevide (N., 113),
queijo (Corr., 592), quiosque (N., 119).
6. Os órgãos sexuais
81
Sistina...); ou que fale em aparelho (sexual), em membro
(viril), que é de uso culto e literário, ou simplesmente em
sexo. Mais vagos ainda são os substantivos genéricos partes
(genitais, pudendas, secretas, vergonhosas), a natura, a
natureza (Nam., Dom., 30: ainda hoje, na consulta, ao
insistir com um aldeão para que me descrevesse o seu mal,
ele, por fim, disse-me: ― É a natureza comida) que, na
linguagem popular, pode também significar os intestinos ou
então as ― “vergonhas”.
Quando se não quer ser vulgar, recorre-se, sobretudo na
linguagem literária, a circunlocuções como, por exemplo,
T. de Figueiredo, no seu romance Nó cego (395): “...
Jacintinho... com uma voz assim, de, em pequeno, um
porco lhe ter ido ao berço e roído certas extremidades
essenciais, essenciais à própria voz). O substituto mais
frequente, sobretudo na linguagem familiar, talvez seja a
palavra passe-partout, coisa (Red., Olhos, 244: “Ah, meu
malandro, que te agarro e te corto uma coisa que aí tens...)
(33). O pronome aquilo também serve muitas vezes de
eufemismo (Nem., Mist., 233: Um dia, eu e o Abílio
achámos engraçado que aquilo que Deus nos deu ficasse
arrepiado ao vir do banho).
Ao lado destas expressões há outras que são
consideradas como mais ou menos vulgares e por isso
sujeitas à interdição, sobretudo nas camadas mais elevadas
da sociedade. A expressão obscena mais conhecida, mas
evitada, caralho, é, de uma maneira geral, modificada,
estropeada foneticamente e assim eufemisticamente
encoberta na linguagem coloquial e popular (33). Na boa
sociedade nem os eufemismos correspondentes à palavra
grosseira e mal soante são usados. Ocorrem de preferência
na fala da gente do povo. O termo pode evocar-se por uma
palavra que rima com a expressão proibida. Assim, por
exemplo: Disse uma palavra que rima com frangalho
(Corr., 470); ou: Disse uma palavra que rima com alho
(Corr., 494).
82
Os termos científicos e os estrangeirismos não têm o
mesmo efeito que as palavras tomadas do vocabulário
erótico da língua-mãe. É assim que carago!, como
expressão exclamativa, provindo do espanhol carajo, e
adaptado às circunstâncias particulares da fonética
portuguesa, aparece mesmo na boca de mulheres.
Todas as palavras que começam com ca(r) ― tendem a
servir de eufemismos para a expressão nefanda. Aqui
alguns exemplos para esta substituição e deformação
frequente: cacete, camandro, camano, camasio, canhão,
cano, caracho, caramba(s), caraças, careca, catano,
catatau, catrino, carvalho, canêlo, canastro, etc.
Encontram-se nomes de animais, de frutos, instrumentos
musicais e de trabalho que, por analogia de forma,
designam metaforicamente os órgãos sexuais masculinos
como, por exemplo, besugo, bicha (Corr., 587), bichana,
bicho (Bar., Malta, 139:... folheando revistas de mulheres
nuas... pondo-se a tocar ao bicho, demasiadamente);
bichoca, pénis de criancinha: grilo, lagarto, macaco (34),
minhoca (Corr., 503), passarinha. Algumas dessas
experiências designam tanto o órgão sexual feminino como
o masculino: besugo e passarinha.
Em nomes de frutos, temos banana (N., 51), nabo (N.,
102), pepino.
Também se podem citar instrumentos musicais:
berimbau (Corr., 503), flauta lisa (N., 84), gaita (35). Nas
mesmas circunstâncias se encontram nomes de
instrumentos de trabalho e também designações para pau e
objectos parecidos. Assim: ferramenta (Corr., 587;
Buarque, Malandro, 62: Já besuntou a ferramenta, Tião?);
instrumento, mango (Corr., 587), mangalho, martelo,
mastro (36); pau que é uma das designações mais frequentes
(N., 111) assim como porra, verga (N., 134) e vergalho
(N., 134).
Além disso empregam-se designações de objectos
pontiagudos como metáforas para a palavra grosseira.
83
Assim temos aguço (38), pica (N., 113), pico (Corr., 498),
ponta (Corr., 587).
Alguns nomes próprios servem de substitutos para a
palavra obscena como bernardo, gregório (Bessa, 162),
vicente, zé e zé alves (Corr., 502), zezinho (N., 136).
Também não faltam designações um tanto ou quanto
burlescas como abono de família (N., 44), às de paus
(Corr., 587), chicote da barriga, dedo sem unha, pai de
todos (Corr., 587), sinais d’homem (Red., Muro, 56: ― E a
mim o senhor não me corta os sinais d’homem, como o seu
avô fez àquele que gozou a sua tia...).
Outras expressões metafóricas são estrovenga que é uma
correia ou cadeia (Amado, Dona, 348:... de cobri-la o
doutor, sob o abrigo dos lençóis mas com desejo firme e
estrovenga em riste); grosso (N., 89), marzápio (N, 99,
regista a forma marsapo); pechota (N., 111), pila,
membro de criança (Toj., Viag., 151: ― A rainha só nos
dá filhas! Só rachas! Em tantos anos de casados, nem um
pilas...; Toj., N. Putos, 17:... já ele corria para mim, de
pilita a oscilar...); pipi, expressão da linguagem infantil;
pirilau, especialmente de criança (Lopes, Flag., 236: Tens
o pirilau à mostra), piroca, pissa, pixa, serventia (Corr.,
587); totó, membro das crianças, traste (Bessa, 292),
trouxa (Castro, 177).
A mesma interdição linguística recai sobre as
designações para testículos e a palavra evitada colhões, em
que a analogia de forma é a base das expressões
metafóricas. Aqui temos: bolas, bolsas (Corr., 589),
companhões (Corr., 589) (39), guisos (Corr., 589; Rib.,
Terras, 219: ― Vá pegar nos guisos do Padre-Santo);
novelos (Corr., 589), odres (Corr., 589), ovos (Rod. Pão,
250: Nem que os matem, nem que lhes cortem os ovos);
quilhos (Corr., 533), rins (Corr., 589) (39) tangerinas,
testemunhos, os tomates (Red., Muro, 20: Aí é que se vê
quem tem unhas e tomates para um volante) (39a), os
vizinhos (Corr., 590).
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Com grande frequência testículos é substituído pelo
pronome os em expressões que significam não se deixar
dominar por ninguém (Nam., Noite, 147: Aqui, só vejo
maricas que não os têm no sítio; Ribeiro, Quando, 129: Ia-
se ver quem os tinha no seu lugar).
Os eufemismos que indicam o órgão sexual feminino
como os que indicam o órgão masculino, podem dividir-se,
grosso modo, em dois grupos: os de carácter científico e
culto e os que se podem qualificar de vulgares e que, por
decoro, são interditos. Entre os primeiros temos em grande
parte as mesmas expressões já citadas para os órgãos
masculinos. É assim que se encontram órgão (sexual,
genital ou reprodutor), partes, (genitais, pudendas,
secretas, vergonhosas), sexo, vergonhas e, mais
especificamente, vagina (Rodr., Nus, 108:... é uma vagina
ambulante...) Todas essas expressões se encontram
unicamente na língua escrita.
Ao nível familiar, quando se quer sublinhar o carácter
sério da expressão, longe de todo o termo vulgar, emprega-
se coisa, coisinha (Toj., Putos, 118: ― Mamã, o macaco
fez-me um careta... Logo a velhota dos recados: ―
Acautele as meninas, minha senhora! Inda há migalho o vi
meter a mão pelo vestidinho de Mizi. Queria-lhe bulir na
cousinha o safado!) (40), natureza, natura. As mulheres do
povo falam da via da frente ou de diante. Baínha é de uso
pouco frequente. Na linguagem literária encontram-se
outras expressões eufemizantes como, por exemplo, a
região secreta (Rib., Andam, 8: Se bem que trigueirinha de
rosto, a carne era branca, com leves tons de rosa nas
conjunturas, doirada de velo loiro nas axilas e na região
secreta). A palavra cona, obscena e rascante, é interdita.
Mas pode ser evocada por uma palavra que rima com ela
como, por exemplo: Disse uma palavra que rimava com
azeitona. Conho!, com função exclamativa, representa o
espanhol, (coño! 41).
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Tal como para os órgãos masculinos, o pronome
demonstrativo aquilo serve também eufemisticamente para
designar as partes pudendas da mulher.
Entre o segundo grupo encontram-se metáforas que são
designações de frutos ou de animais como, por exemplo,
bêbera que designa o figo temporão (Corr., 587; Rib.,
Terras, 61: vá, coma da bêbera da mulher); figa (Corr.,
587) (42), grelo (N., 89), nêspera, pera (mandar a pera
significa copular), pêssega (Toj., Putos, 22:... evita que a
filha do Cabenco acabe tristemente pelos palheiros a dar
a pêssega aos vagabundos). Nomes de animais são:
besugo, bicha (Corr., 587), bichana, bichinha (Amado,
Dona, 463: Estou morto de saudades da bichinha...);
crica que é um molusco (N., 67); gato (Corr., 503),
melrinho, na Madeira (Sousa, Diz., 95); pardal, pássaro,
passarinho, pássara, passarinha (N., 110), passaroca,
passarola, pito que deve ser uma corruptela de pinto (N.,
115); pomba, pombinha (Bessa, 249), rata (Corr., 503),
senisga, vespeiro (Corr., 587).
Expressões metafóricas que designam recipientes,
servem também como eufemismos para a vagina da mulher
como, por exemplo, boceta, pequena caixa cilíndrica ou
oval (Amado, Dona, 403: ― Tem gosto de boceta... É
muito bom!); caixinha, chafarica que significa loja de mau
aspecto (N., 63); e gaveta (42)
Além disso temos expressões que designam uma
abertura pequena e estreita como metáforas para a vulva
da mulher: fenda, fisga, greta (Amado, Dona, 300:... não
podia bancar a viúva fiel até à morte, de luto eterno e
obstruída greta, chibio enterrado no carrego do
falecido...); racha (Toj., Viag., 151: ― A rainha só nos dá
filhas! ― lamentou-se ― Só rachas); rachada (Nem.,
Mist., 114: ― Antes lhe faças um filho, um malhadinho,
que rachada é já ela!...).
Outras expressões metafóricas são badalhoca que
significa pele mole, flácida, pendente (N., 51); bebas, bibi
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que é da linguagem infantil: chibio, expressão brasileira
(Amado, Mar., 199:... é verdade que as mulheres de lá são
peladas, só têm cabelo na cabeça, no resto nem fio, e que o
chibio delas é atravessado?); chocha, chochota (Amado,
Dona, 140:... tua chochota é meu favo de mel), cochicho
devem ser formações onomatopaicas; culatra faz lembrar
cu; faneco (Madeira), febra (N., 82), nódoa que significa
mancha e estigma, mácula no sentido figurado (Corr., 587);
pachacha, muito provavelmente uma formação
onomatopaica; parrameira (Bessa, 231), patamecos,
patuno, termo de gíria; pechincho (Corr., 587), peladinha,
expressão brasileira significando que não tem pelo (Amado,
Dona, 463: ― Deixa eu ver a peladinha, meu bem...); pinta
(Corr., 587), serventia, tarracha, veio, xarifa (N., 136) e,
por fim, tirado de Brísida, Brisda (Corr., 502) e do nome
próprio José, zé da vestia (N., 136) e zézinho (Bessa, 306).
7. O desfloramento
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olho, aquilo é pote partido...; Red., Fenda, 78: O Tó
Soisa, que é uma língua danosa, já quis adivinhar a
rebeldia da rapariga, atirando-lhe com maldade: ― Aquilo
já é guitarra tocada...
Diz-se de uma rapariga ainda virgem que ainda não
conheceu homem. E quando está desflorada, que também é
eufemismo, está desonrada ou desgraçada; na linguagem
familiar, já não está inteira (Red., barca, 303: O velho não
desconfia que a rapariga já não está inteira).
Outras expressões metafóricas e eufemísticas, entre as
quais há muitos verbos com o prefixo des-, são arrancar
(estoirar, tirar) o cabaço, comer o cabaço (Amado, Dona,
127:... ele tinha lhe tirado os tampos, comido o cabaço,
necessitavam casar) ou descabaçar (Amado, Mar., 178:
Tentava explicar tê-la encontrado já descabaçada);
arrombar (comer, rebentar) os tampos (Amado, Dona,
107:... logo se via qual o seu desiderato: comer os tampos
de Dona Flor...), meter os tampos dentro (N., 100);
desmoçar (Rib., Andam, 164:... os homens que hajam de as
levar, as levem desmoçadas...); despucelar, desfolhar a flor
(Amado, Dona, 255: Sem licença do juiz... não desfolha a
flor da viuvinha), desvirgar e a forma jocosa desvirgular,
desvirtuar (Freire, Talvez, 87:... o lugar-tenente do
bandoleiro quisera desvirtuar uma das meninas).
Encontram-se a cada passo expressões atenuadoras para o
acto da desvirginação como: enganar (Corr., 610), deitar a
perder (Corr., 610), escorregar (Corr., 611), ser furada
(Amado, Mar., 177: Quando encontrei ela, já era furada...);
fraudar (God., Calc., 249: Calcule-se o seu desapontamento
quando se inteirou de que a princezinha fora fraudada como
qualquer serva do campo...). Muito conhecida é a expressão
já não tem os três (vinténs) que Silva Correia (612) explica
como provindo do “antigo uso de pendurar ao pescoço das
solteiras, como símbolo da virgindade, moedas de três
vinténs em prata” (Rod., Pão, 163:... a filha tinha deixado ir
88
os três-vinténs no balão...); e, para terminar, já ter ido ao
castigo, que é uma expressão tauromáquica (Corr., 612).
8. Excreções do corpo
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É muito vulgar dizer-se sem determinar o sentido da
frase, vou ali, venho já ou vou ali (fazer uma coisa), vou lá
dentro, quando a retrete fica dentro de casa (Fig., Estr.,
136: ensinados, logo de pequenos... a pedir licença de irem
lá dentro, se lhes apetecia fazer cocó ou chichi...). Pouco
usado é mictório em vez de urinol (Toj., Viag., 95: ― Onde
é o mictório?). Alguém que pede para lavar as mãos quer
que lhe mostrem o W.C.
O verbo vulgar e grosseiro cagar é eufemizado com
muita frequência. Termos eruditos como defecar, dejectar,
eclodir (Corr., 597), evacuar, exonerar (o corpo ou o
ventre) podem servir para velar o acto da evacuação.
Na linguagem familiar e popular, no entanto, usam-se
expressões como abaixar-se (Red., Fanga, 26: ― Não lhe
digas (a teu pai) que estiveste comigo. É capaz de te bater.
Diz que vieste abaixar; No., 43); aliviar (o corpo, a
natureza, a tripa) (Fig., Estr., 164:... lá com os seus usos e
costumes, os seus hábitos, só ali se aliviava...; Rodrigues,
Léah, 347: Foi aliviar a natureza atrás dum muro...);
borrar (Rib., Quando, 117: Borrais nas calças quando
sentis lobo...); obrar (Rego, Mol. 166: Uma filha pequena
não parava de obrar verde); sujar (Corr., 597). Além disso
temos ainda: armar à lebre, arrear o calhau (a carga, a
giga, o preso) (Nem., Mist., 244: para não perdermos
conversa, arriou ali mesmo, numa cova ao pé do cedro);
baixar as calças, cair das calças abaixo (Red., Muro, 112:
De suspensórios bem apertados, o homenzinho cai das
calças abaixo...); ciscar-se (Corr., 598), ir abaixo de Braga
(Corr., 600).
Ir a campo, ir ao curral, ir arrear as calças, ir arriba
dos pés, ir atrás da casa, ir dar de corpo, fazer águas
maiores, fazer de corpo (Fig., Estr., 164: Empregando
expressões camponesas, Luís, o Loiro ia ali a campo, ali ia
dar de corpo, ali a fazer a vida) são expressões sobretudo
empregadas pelos camponeses. De uso geral são os
eufemismos fazer uma necessidade ou fazer (as suas)
90
necessidades (Toj. Viag., 55: ― Estive a fazer
necessidades. Olhei-o com firmeza: A cagar, quer você
dizer); fazer o que os outros não fazem por nós (Corr.,
596); ir ao escritório, ir aonde o rei vai sózinho, ir fazer o
serviço, ir poisar, livrar-se de uma carga inútil, mandar
uma carta ao Afonso Costa.
Outras expressões que são em parte burlescas ou
pertencem à gíria, são os seguintes: descomer (Corr., 596),
desistir do corpo (Corr., 596), desovar (Corr., 596; Card.,
Balada, 145: Elias imagina a glória dum cidadão sentado ao
alto das escadas, com as calças ao fundo dos pés, a desovar
cá para baixo); despejar a tripa, escrever uma carta ao
Lopes, fazer cacau (Corr., 596), lascar (N., 94) pôr um ovo
(sem casca), puxar o autoclismo.
Quando o acto da evacuação se manifesta de forma
precipitada e involuntária, fala-se em diarreia que é um
termo erudito e muito empregado. Também se fala em
disenteria, que é um termo médico, e em fluxo de ventre.
No campo evita-se falar na diarreia, chama-se-lhe
soltura (de ventre), ou diz-se não andar bem dos intestinos
(Corr., 634), andar co’a ligeira (Corr., 634). Na Madeira
fala-se em estar ca doença do curso (43); na linguagem
popular ocorre cambras ou câmaras para diarreia; no
Brasil, quando se fala do gado vacuno, corredeira. Além
disso temos desarranjo, destempero, esfoira, esfoirar-se, na
Beira, forrica, esforricar-se, no Minho; e andar de
esguicho, que já são expressões disfemísticas como também
andar com a caganeira.
A palavra de Cambronne é normalmente atenuada, a não
ser que apareça em momentos de cólera, em que, para
injuriar o próximo, o homem se torna primitivo. Trata-se de
uma daquelas palavras chamadas vernáculas de que Tomaz
de Figueiredo dizia “que também ajudam à sanidade física,
aliviando a tensão, porque aliviam” (Dic., 153).
91
O termo erudito excremento é pouco usado com
excepção de contextos médicos. O mesmo acontece com a
palavra fezes.
Na língua escrita leva-se a redução da palavra merda ao
máximo, suprimindo todas as letras do vocábulo, com
excepção da inicial (Fial., Gat. I, 163: ― O senhor é um
m...). No caso citado trata-se evidentemente de uma injúria
que outros autores, hoje em dia, não têm receio de citar
com todas as letras, isto é com as cinco letras.
Com muita frequência a palavra merda é substituída por
outras que rimam com ela ou mesmo por palavras que
aliteram unicamente, em fórmulas que servem para mandar
embora alguém de uma maneira rude e com uma certa
violência como vá bardamerda!, vá à fava!, vá àquela (ou a
tal parte!) (Corr., 715), vá a Palmela (Corr., 472), vá
àquele sítio!, vá à mãe! vá à missa, vá pr’à marela!, vá à
erva! (Corr., 472).
Na linguagem popular e na gíria temos substitutos como
cebo de grilo (N., 63), cera de milho (N., 63), grelos,
lastro (44); na gíria académica, monte (Corr., 599), ovo
(sem casca), poio (Corr., 599), pombo (sem asas) (N.,
115), presente (Corr., 712), respo (Lop., Termos),
sujidade (Corr., 597), trampa, uma das palavras mais
conhecidas, e troço.
O diminutivo caquinha, que tem função atenuante, é
empregado a cada passo pelas mães com as crianças. Na
boca destas aparece a forma tata, com substituição do c por
t que pertence à linguagem infantil.
Outras palavras, como bosta, esterco, por exemplo,
referem-se a animais.
Quem tem dificuldades na defecação, tem uma
constipação intestinal, está constipado, e quem está
achacado de oclusão intestinal, quem sofre de prisão de
ventre, é chamado dureiro (Corr., 634) ou então, na
linguagem popular, empedernido ou encerrado, e a oclusão
mesma é o encalhe (Corr., 634).
92
A ventosidade, causada pelos gases intestinais, não fere
só o olfacto do ouvinte, mas também a sua sensibilidade,
quando se proferem termos que a designam. Os literatos
abundam em eufemismos para designarem essas coisas
sujas. Assim por exemplo, Fialho d’Almeida fala nos Gatos
(IV, 35) em solfejo: “...vinha subindo as escadas ...e de
repente um solfejo... ― ...solfejo que (nem sei como conte)
desconfio me saiu das entranhas da barriga...”, e, um pouco
mais adiante (IV, 38) emprega escapulir e pregar um vento:
― “Escapuli, sim senhor, escapuli, e mesmo com os olhos
em Deus, preguei um vento”. Na Vida irónica (310)
encontramos o seguinte passo: “Trata-se dum bêbado
gastrálgico, que o outro dia no Chiado deixou escapar da
tripa um som suspeito”. V. Nemésio, em Mistério do Paço
do Milhafre (273) designa o acto por vazar: “E, como a
Segunda se deixasse vazar ― malcriado! ― O Venâncio
ferrou-lhe uma chapada no focinho”. Rodrigues Miguéis,
no seu romance O pão não cai do céu designa o mesmo
acto por borborigmas: “Os borborigmas da tripa e o hálito
avinhado eram nele todos os sinais de vida.
Mas palavras como bufo, peido, peidar-se, traque (Fial.,
Gat., IV, 42: ...ei-la se volta, e ejacula do posterior um
traque apocalíptico) são evitados normalmente. Na Beira
emprega-se a metáfora amarelo, escapuliu-lhe um amarelo
(Corr., 507) que atenua a palavra rascante designando a
ventosidade. Outras expressões metafóricas e eufemísticas
são: bomba (Corr., 599), descuido, espirro da natureza
(Corr., 599), estalo, farpa, marmelo no Algarve, suspiro do
corpo (Corr., 599). Eufemisticamente anuncia-se o aroma
sulfídrico da ventosidade por meio da expressão aqui está
um a mais (Corr., 598). Peidar-se é a cada passo
eufemizado por ciscar (Corr., 598), dar pus (Corr., 481),
deixar cair nozes (castanhas) (Corr., 598), descuidar-se
(Corr., 598), deixar escapulir flatulências (Corr., 598)
esfoeirar-se, largar, pregar ventos, sentar-se, soltar-se o
ventre (Corr., 598) e ventejar.
93
O verbo mijar e o derivado mijo comportam a mesma
interdição que o verbo cagar e são substituídos da mesma
maneira pelos termos cultos urinar, urina que, como nos
diz Silva Correia (590): “anda na boca do vulgo, embora
sob a forma ourina, que é uma falsa etimologia devida à cor
amarela do líquido ― cor que lembra a do ouro”.
As expressões gerais e vagas que servem para substituir
cagar como aliviar-se, ir a campo, ir ao curral, ir atrás da
casa, fazer (as suas) necessidades, ir ali fazer uma coisa,
vou ali, venho já e outras semelhantes são também
empregadas para velar a acção de urinar.
Outras expressões familiares e populares que eufemizam
o verbo urinar são abrir o dique (Corr., 596), desbeber,
deitar abaixo uma parede (Corr., 596), escorrer a água das
azeitonas (ou das batatas) (45); escoar o caldo às castanhas
(Corr., 596), escorrer o caldo à carne (Red., Muro, 35:
...encaminha-se de vagar para trás de uma das guaritas da
água... E grita de lá: ― Estou a escorrer o caldo à carne,
não se vai embora); mictar e o derivado mictório, que
designa o urinol; verter águas (Nam., Noite, 179: ― Vou
ali fora verter águas).
Na linguagem infantil usam-se fazer chichi ou ainda
fazer pipi.
O vaso de noite, também chamado vaso de câmara ou
bacio, na linguagem popular penico, é eufemizado pelo
anglicismo bispote. Outros eufemismos são comadre que é
para os doentes deitados na cama; na gíria cuitó, doutor,
leão (46); e servidor na Província.
O vómito que é alguma coisa de repugnante, de
nauseabundo, e vomitar são palavras que se evitam. Assim,
Eça de Queirós, emprega na Capital (137), por exemplo, a
expressão embrulhou-se-me o estômago para exprimir que
vomitou.
Ao lado de vomitar temos arrevessar, borcar, deitar
fora, lançar fora. E golfar, que é expelir com ímpeto, usa-
se muito em relação a bebés.
94
Na linguagem familiar e popular aparecem expressões
metafóricas como: arrear (ou deitar) a carga ao mar,
cabritar ou andar aos cabritos, deitar o cabrito fora (47)
(Junq., Velh., 199: E às vezes, do alto infinito, / Talvez
depois dum mau jantar, / O Padre Eterno faz cabrito, / E
enche o bacio a transbordar). Na gíria náutica temos cantar
a lupa e, imitando o ruído sombrio, gutural e rolado do
vómito chamar pelo Gregório (Corr., 482) e, por fim levar
uma lagosta. O povo diz estar agoniado ou estar com
náusea.
Ainda, sobretudo, numa situação ao ar livre: ir apanhar
(colher) flores, ir regar a horta.
95
VII / DECÊNCIA: AMOR
96
Outras expressões muito usadas na linguagem familiar
são andar todo derretido (Paço, Ausente, 14: Mas andas
tão derretido pela mulher que nem dás por nada...); estar
apaixonado (doido, louco, perdido) por alguém, gramar
aos molhos, morrer ou estar (andar) morto por alguém
(Beck., Longe, 103: ...está mortinho por ela), ter (trazer)
pelo beiço (ou pelo beicinho), andar preso pelo beicinho,
ter um fraco por alguém. Namoricar e namorico designam
um namoro passageiro, um galanteio por distracção.
No Brasil usam-se expressões como andar de olho em,
derramar azeite, azeitar, derretimento, enrabichar-se, fazer
cera (49). Por influência das telenovelas brasileiras na TV
ouve-se curtir o moço ou a moça.
1. Concubina
97
tomaram o sentido de amancebar-se. O latinismo amásia,
empregado com sentido pejorarivo, significa concubina
(Nam., Dom., 149: Os fiscais, agora, até se fazem
acompanhar das amásias). Ao facto de viver em mancebia
chama-se, por atenuação, casamento da mão esquerda ou
faux-ménage (Corr., 620).
O homem que faz unicamente pequenas visitas à mulher
com quem vive, é chamado um marido do cabide. O cabide
feminino é o biscato. Diz-se que uma mulher está por conta
de um homem, quando este lhe pôs casa onde vai viver com
ela, onde tem uma mulher por conta (Rib., Láp., 206: O
Malhão tinha... casa própria às Pedras Negras com mulher
por conta). Um simples namoro de ocasião chama-se um
arranjinho.
Na gíria agá, agachim, agachis (Lop., Termos) significa
amante, como também gaja, palavra de origem cigana.
Na Beira usa-se favelca para concubina, amásia (Rib.,
Volf., 227: Metia-ta (= a bagalhoça) na unha, que és
honrado, para ires funfiar nas tabernas com os compadres
ou fazeres bodeganas com as favelcas). Muito frequente é a
palavra popular pega para amante ou qualquer mulher fácil
(Rodrigues, Pão, 37: O que o irritava no primo era aquele
hábito de julgar todas as mulheres pela mesma bitola, como
“pegas” ou éguas de remonta, desumanizadas).
Na gíria emprega-se pente para amásia (Rib., Cam., 343:
Para uns é a minha menina; para outros, os maloios, minha
esposa; para os invejosos, irreverentes e desvergonzados, o
bom pente do velhote).
2. Prostituta (50)
98
mesmo tempo, a pouca estabilidade semântica que os
caracteriza. Os termos gerais perdem depressa o seu valor
eufemístico. Quase todas as palavras que designam uma
rapariga, são empregadas para atenuar as expressões que
significam prostituta. Perderam assim o seu significado
primitivo absolutamente puro e quase neutro. É o caso de
donzela (Corr., 613), menina (Corr., 613; Rib., Ald., 138:...
antes vender tudo e ir gastá-lo para Lisboa, de bengala na
mão e cartola, pelos teatros, com meninas da trama...);
moça (Rib., Láp., 59: Aquele contubérnio com a moça da
vida airada tinha mais de dois dias); pupila (Rib., Láp., 62:
As pupilas devem a estas horas estar a cear...) e raparigas
(51). Também fêmeas (Corr., 613) e até fêmeas omnibus
(Fial., Gat. V, 186: ... os seus desejos d’amor varava-os o
escárnio até das fêmeas omnibus...).
Sobretudo na literatura aparecem estrangeirismos como
cocotte (Rib., Láp., 352: Abundam por essas ruas fora o
mecânico, o engenheiro, o operário hábil, e cocotes em
barda, cocote francesa, cocote espanhola, a marafona de
casa); cortesã, prostituta de viver luxuoso, grisette (Corr.,
613), hetaira (Fial., Gat. II, 259: ... não nos poderia...
organizar a régie das hetairas, com uma zona de
protecção...?); huri (Fial., Gat. II, 258: A polícia tem
andado a remover das ruas concorridas todas as casas de
amor onde não tem provavelmente huri marcada);
peripatética, a prostituta que anda passeando na rua em
busca de cliente; vestais (Corr., 613). Ainda outras
expressões eufemísticas ocorrem na literatura como sílfides
(Mont. Contos, 15: ... a casa enche-se do falatório rouco das
sílfides das ruas...); ou Vénus de “trottoir” (Mont., Contos,
17: ... as pernas caprinas das Vénus de “trottoir”... ).
Bastante frequente e conhecida é a metáfora horizontal
(52). Fialho d’Almeida fala mesmo de horizontais de ambos
os sexos (Gatos, II, 240) e criou a palavra horizontalismo
ao lado da expressão já existente da profissão horizontal
99
(Fial., Vida, 115: Os gentlemen vão de casaca, para a
plateia, tratar por tu o alto horizontalismo...).
Entre os termos gerais temos as arroladas, as irregulares
(Fial., Gat. II, 259:... a polícia não tem cidadela ainda em
que fechar as irregulares que por aí andavam desgarradas);
as matriculadas, as meretrizes que estão registadas e que
têm que sujeitar-se à visita sanitária, com intuito
profiláctico (Rodrigues, Esc., 307: ...contemplava... as
matriculas que rodavam a distância, nas travessas
vizinhas); e o termo vulgar as tipas (Corr., 616).
Como substitutos eufemísticos para prostituta ocorrem
pronomes como aquilo (Vent., Sombra, 201: Mas ela era,
sem dúvida alguma, aquilo que procuravam, facto
suficientemente picante para dispensarem outros atributos),
as (Camilo, Corja, 38: Má mês para o mafarrico da
mulher!, parece mesmo da viela! ― As inocentes meninas
achavam que sim, que se parecia com as da viela); ou essas
(Sttau, Hom., 118: não me sujeito a viver à tua custa como
se fosse... como se fosse uma dessas que andam nas ruas).
Termos correntes, eufemísticos para prostituta são
mulher de porta aberta (Nem., Mist., 84:... de rumo ao
Brasil fora arribar a Brest, com um motim a bordo,
carregado de soldados e de mulheres de porta aberta);
mulher da rua, mulher da vida, mulher de rótula, mulher de
trama, mulher do beco, mulher-dama, mulher de má nota
(ou de má vida), mulher de vida airada, mulher de vida
fácil, mulher do fado, mulher do mundo, mulher errada,
mulher perdida, mulher pública (Ram., Farpas VII, 175:
Faz-se sustentar de ordinário por uma mulher pública, que
ele espanca sistematicamente); mulher que fuma (em
Lisboa, a Rua do Capelão, perto da Rua da Palma, é
chamada a rua das mulheres que fumam); mulheres
toleradas (Ram., Farpas IX, 49:... perdendo quanto tinha
numa casa privilegiada pelo Governo, com mulheres
toleradas pelo Governo...) ou simplesmente toleradas (53)
que são prostitutas, que têm o nome inscrito nos registos
100
administrativos e estão sujeitas a inspecção e a
regulamentação policial (Rib., Láp., 238: Do terceiro
turno... faziam parte duas caras de facínoras, desses que na
corporação exploram as toleradas...).
Alguns nomes próprios servem de eufemismos para
prostituta. Assim por exemplo Estefana (Corr., 502), Inês-
de-Castro (Corr., 502), Madalena (Corr., 613), Messalina
(Corr., 613), Michelena, Michela (Camilo, Corja, 36: ...ela
tinha o desplante impúdico de lhe dizer numa languidez de
michela: “Mi rèpete fàdinhos, meu dengue!”). Ir às Marias
ou visitar as Marias diz-se para entrar nos bordéis (Corr.,
502). No Porto, a prostituta muito nova é chamada Roberto.
Alguns nomes de animais que fazem de certo modo
lembrar o modo de vida das meretrizes, servem como
eufemismos para prostituta. Assim temos borboleta que
designa uma meretriz de luxo (Cort., Lodo, 13: ― ...andam
p’r’aí os bufos a dar caça às borboletas); cabra (Eça, Prim.,
97: (Juliana) estava furiosa. ― Todas o mesmo! (refere-se à
Luísa). Uma récua de cabras!); cação que é um peixe
matítimo e se usa para designar uma mulher
desavergonhada, uma rameira; também cachorra, cadela,
cadelona significam metaforicamente uma mulher de mau
porte (Camilo, Eus., 17: Chamaram-lhe perdida... que era
como a do Coxo e a Carrasqueira, uma cadela sem
vergonha); galinha designa uma mulher devassa, que se
entrega facilmente; gansa significa em sentido figurado a
amásia, a barregã (Fial., Cid., 185: A mãe era gansa de
príncipe... (o grifo é do autor).
Na Madeira, a mulher leviana chama-se garça (Sousa,
Diz., 81); gata aplica-se à meretriz (Fial., Gat. IV, 17: Duas
inclinações que o levaram, mal lhe sombreava inda no
beiço uma lanugem, primeiro a se inscrever por sócio numa
das filarmónicas da terra, e seguidamente a se atirar às
gatas, como um doido). Na gíria brasileira emprega-se
paloma para prostituta (Nasc., Gíria, 128). Pegas do vício
(Fial., Gat. II, 258: Foram já mandadas sair da rua do
101
Arsenal, todas as pegas do vício...): rata ou rateira é uma
marafona velha; treca, que significa porco ou porca,
designa no sentido figurado uma prostituta, como serigaita
e também zorra e vaca empregam-se com o sentido de
mulher desavergonhada, meretriz.
O colectivo gado (54) designa de uma maneira bastante
grosseira e desumanizada as prostitutas (Paço, Mem., 32: O
advogado trocou impressões com a espanhola e esta, no
gesto repetido, mandou avançar o “gado”).
A palavra ofensiva puta que, sobretudo na boa
sociedade, se procura evitar, esquiva-se normalmente,
deforma-se ou substitui-se por outras eufemizantes. Na
literatura aparecem com frequência os famosos três pontos
que graficamente velam palavras tidas como indecentes,
grosseiras e obscenas (Fig., Cão 90: ...chama-lhe baixo os
piores nomes, até com licença p...); sobretudo nas
expresões injuriosas puta é substituída por deformações
eufemizantes (55) como filho da púcara, filho da puxa, filho
da curta, filho de quem o pariu, filho das quatro letras,
filho de com-perdão-da-palavra, filho da po...lícia; ou
então por eufemismos como filho desta e daquela, filho
duma grandessíssima reca, filho duma vaca, etc. ― até
filho da pátria (Fial., Vida, 53: O Porto vestiu-se de
pompas para receber condignamente o ministro Arroio, o
grande filho do Porto, que é ao mesmo tempo um grande
filho da Pátria.).
Outros termos eufemizantes que, na maior parte, já
perderam o seu poder atenuador, são bagaça, palavra muito
espalhada e muito provavelmente de origem árabe (bras.
bagaço); baldona (N., 51), balhastreira (Alentejo),
bandarra, bruaca (bras.) (Amado, Jub., 92: ― Você tá com
ciúme dela! ― Eu? Vê lá... Daquele couro... Uma bruaca
velha, caindo de podre...); bucho (bras.), prostituta reles e
feia; calatra, calatrão (Beira), rameira reles (Rib, Via, 27:
Calatra! tão novinha para o cio que tem!); canhão (N. 60),
prostituta gorda e feia, careca, prostituta nova; chantra (N.,
102
63), prostituta ordinária; china (bras.), mulher pública;
chunga, palavra de origem cigana; coira, coirão (N., 65;
Rib., Bat., 66: ...dou a jorna mai-la coira da minha
senhora); comborça (Per., Marc., 154: ...de marido
exemplar passara a devasso, montando casa para comborça
às barbas de uma população tão recatada); croia (Nor., Alf.,
205: ― Isto é que são umas croias, estas fidalgas!);
culatra, culatrona (Nem., Mist., 136: À saída dos toiros...
atirei um cravo a ua culatrona de mantilha... mulher da
vida, sim mãis desimbaraçada e escorreita...); curta e
comprida (Corr., 475; Ribeiro, Plan., 282: Daquela boca
p’ra fora rezanadas saem, o amaldiçoado, que na porca da
sua língua são todas curtas e compridas, nem que houvesse
mulheres honradas senão das portas p’a dentro!); galdéria
(N., 86; Rib., Láp., 52: um indivíduo mal encarado, que
dava o braço a uma galdéria, apostrofou-me num
palavrório chulo...); galdeirona (Red., Muro, 128: trocando
uma mulher desenxovalhada e poeta por uma galdeirona de
pássara arreganhada para todos os homens); galdrana,
galdrapinha, meretriz muito reles (Nor., Alf., 128: ― ue tal
me saiu a galdrapinha, hein?!); magana (Corr., 615; Fial.,
Gat. I, 72: ...houve lá uma abadessa cavaqueadora e emérita
magana, que convidava os altos funcionários civis a alegres
merendas...); malote, prostituta de baixa condição (Bessa,
194); manesa (gír.), marafona (Rib., Arc., 12: Esta vida de
advogado é pior que a das marafonas de porta aberta);
mundana (Ram., Farpas VIII, 265: Achamo-nos por acaso
na presença de uma pobre rapariga, de uma filha do século
e do palco, de uma mundana...), pinóia (Freire, Talvez, 78:
― É uma pinóia, e nem sei como o senhor Doutor
Huguinho casou com ela); rameira, prostituta que punha
um ramo à porta da sua casa para indicar que o era; rascôa
(Sousa, Bairro, 58: Bairro Alto... bairro de rascôas que se
estendiam, como em alas de ambos os lados da maior das
artérias, debruçadas sobre os aventais de pau (o grifo é do
autor...); samarrão que, como coirão, designa a pele de
103
qualquer animal e, metaforicamente, a prostituta (Lop.,
Termos); surrão é a meretriz ordinária, de maus costumes;
zabaneira (Rib., Manto, 308: Constou aqui que vive
também com uma zabaneira, a bêbada duma mulata que lhe
suga tudo quanto ganha...); zoina, zoupeira (Ribeiro, Plan.,
138: ... uma (bruxa) se conhecera, tão zoupeira, tão zorra,
tão encegueirada no mal e com tal pacta com o diabo, que
houve que ferrar-lhe um tiro...).
Fazer vida de prostituta é eufemizado por expressões
como andar na vida (Paço, Mem., 190: A segunda (filha)
abalara, e, apesar de novita, diziam que andava já na vida);
andar no engate ou andar ao fanico significa mostrar-se a
prostituta pelas ruas para atrair os homens (Men., Ronda,
62: Agora comprendia-o: tinha de ir para o fanico); atacar
(N., 50), ou seja, praticar a prostituição; estar com avental
de pau (Corr. 506), sendo avental, aqui, a meia porta de
madeira das meretrizes de rez-do-chão; andar (estar) no
fado (N., 80: Rib., Láp., 322: O fado é uma matação. Mas
ouve uma coisa, aquele sujeito com quem o Velhinha uma
vez bulhou... aquele... hem? quer tirar-me da vida...); pôr-
se à meia porta (God., Cru., 74: Desprezada por toda a
parentela, teve de pôr-se à meia porta e acabou comidinha
de venéreos...); perder-se (Rego, Doid., 83: ― Se perdeu,
caiu no mundo); andar ao ponto (Men., Ronda, 96: De
repente tive esta ideia: que as estrêlas eram moças da vida
que andam ao ponto lá por cima!).
3. Alcoviteira, alcoviteiro
104
eufemisados por outros que têm a mesma sequência de
fonemas iniciais e que sugerem o termo interdito como
alcaguete (bras.) alcarroteira (trasm.) alcocheta, alcofa
(Curto, Fera, 89: MATIAS ― pelos modos, a Leocádia é
alcofa...), alcofeira, alcofinha, alcoveta.
Outros termos são ajoujo (alent.), união ilícita ou mesmo
qualquer combinação com fins pouco confessáveis;
casquilheira (alent.), cogiteira (beir.); a expressão muito
usada comadre, engatadeira (Lop., Termos); entregadora
(alent.). A alcoviteira também é chamada onze-letras ou
dez-e-um (Corr., 529 s.), até onzeneira e seis-e-cinco; no
Brasil, caftina.
Ao proxeneta, o profissional intermediário em amores,
chama-se no Minho achegador. Aquele que encobre ou
patrocina entendimentos de namorados ou amantes é o pau
de cabeleira (Corr., 633). O homem que vive à custa de
mulheres chama-se azeiteiro (Lop., Termos), cáften (bras.),
caftinizar (Amado, Jorge, 197: A casa onde caftinizava as
raparigas era frequentada pelos exportadores, pelos
coronéis ricos), chulo, cricas, rufião (Rib., Láp., 66: “―
Julgávamos encontrar uma casa decente e caímos num coio
de rufiões!”).
O chulo é eufemizado por Júlio (Red., An., 138: Não
seria mais um chulo ― ou um “Júlio” ― como diziam as
raparigas por gracejo).
4. Prostíbulo
105
pouco usada hoje em dia. Também alcoceifa é raro (Rodr.,
Est., 56:... nas alcoceifas do Bairro Alto). O termo muito
vago e genérico, estabelecimento, serve de eufemismo
velador para casa de prostituição (Corr., 486). Fialho
d’Almeida emprega a expressão capoeira (Gatos, II, 258:
Foram já mandadas sair da Rua do Arsenal, todas as pegas
do vício que ali chamavam os transeuntes; mandados fechar
as capoeiras da Rua Augusta e da Rua da Prata...).
No Brasil emprega-se o eufemismo castelo para casa de
mulheres públicas (Amado, Mar., 59: As portas dos
castelos voltavam a abrir-se, as mulheres surgiam nas
janelas e nas calçadas). Além disso conventilho (Nas.,
Gíria, 49), cortume, casa de prostitutas que convivem com
gatunos (Nasc., Gíria, 50), curral ou curro (Ped., Ger., 26),
tambo (Nasc., Gíria, 162).
Outros eufemismos muito frequentes no uso são
formados com o termo geral casa precisado por uma
determinante como casa de amor (Fial., Gat. II, 258: ― A
polícia tem andado a remover das ruas concorridas, todas
as casas de amor...); casa de passe, casa em que, por
indústria, e mais ou menos ocultamente, se faculta a
prostituição de mulheres que não estão sujeitas à
fiscalização policial; casa-da-tia ou casa-de-tias, casa
dirigida por uma mulher e destinada a entrevistas ilícitas;
casa de mundanas, casa de meninas (Corr., 618), casa de
senhoras honestas (Corr., 508), casa de toleradas (ou de
tolerância). Graciliano Ramos (Angústia, 180) fala em
casa de recurso.
5. Efeminação
106
a base de Maria como maricocas, maricola ou maricolas,
maricoquinhas, maricotes (alg.), marinelo, também
eufemismo para homossexual, mariquinhas, marocas (Sá,
Conf., 105: Este Lúcio sempre tem cada esquisitice... Não
vês! parece uma noiva lirial... uma pombinha sem fel... Que
marocas!...). E Veríssimo emprega maria-mole com o
sentido de homem efeminado (Lugar, 348: O marido era
um maria-mole).
Como maricas há outros nomes ou adjectivos derivados
de nomes femininos e que significam efeminado. Assim
temos adelaide (N., 139), adelaidinha (Red., Muro, 302:
garantiu que o adelaidinha lhe fizera olhos bonitos);
amélia, aninhas (alent.), que se emprega também com o
sentido de homossexual; choninha ou choninhas de
Joaninha (Minho) (Toj., Viag., 176: É que me desagradara
em extremo a voz de Sua Excelência ― uma voz
efeminada, de choninhas); dona-maria-pé-de-salsa (Lop.
Termos), joão-da-amora. No Brasil o nome masculino
alcides é empregado com o mesmo significado (Nas., Gíria,
3). A masculinização de um conceito feminino é muito
frequente no domínio das palavras que designam o homem
efeminado, mulherengo.
Exprimindo diminuição do carácter viril empregam-se
adamado, termo sobretudo de uso literário, alcovista,
homem que anda metido por alcovas, cunhanhas (pop.),
fonas (Rib., Quando, 32: Sabes, sabes, que és um fonas e
onzeneiro), fraldeiro e fraldiqueiro, ginga de gingar,
pessoa que tem o andar afectado e daí maricas (Minho);
mulhericas, panga (alg.), piteiro (beir.), salsinhas, tetas,
varunca, marido frouxo, que é dominado pela mulher.
Também palavras que designam a vulva aparecem com o
significado de homem efeminado como, por exemplo,
conanas.
107
6. Coito (57)
108
(N., 117), safadeza (bras.) (Rego, Mol., 31: Procuravam os
lugares de bem longe, no meio da mata, aonde ficavam nus
na safadeza); trabalhinho (Card., Delfim, 348: E ficaram os
dois pegados, como os cães no trabalhinho), traulitada (N.,
130) exprimem a união carnal.
Os verbos dar e fazer aparecem em muitas expressões
verbais que designam o acto sexual. Assim por exemplo
dar à cabeça de alguém, diz-se da mulher que tem relações
sexuais com alguém (alent.); dar a cabeçada (Rodrigues,
Léah, 220: ― Enfim, dei a cabeçada, homem! E ela
consentiu); dar ao bandejo, realizar a cópula, mas em
demasia (alent.); dar-lhe duas (Corr., 467), dar nela (dito
da mulher), dar o conico (Madeira), dar o pito, dar o ponto
(dito da mulher), dar-se ao amor, dar uma cambalhota (N.,
59), dar um furo, dar um tirinho, dar uma pelotada (Viotti,
271); fazer amor, fazer forninhos (Corr., 605), fazer lama à
porta de alguém, fazer néném (Corr., 605); Amado, Gabr.,
377: Vamos, dengosa, fazer neném); fazer o benefício
(bras.) (Amado, Past., 214: Com as outras, mesmo as
cabaçudas, as carícias iam num crescendo até o derradeiro
fim, até ele lhes fazer o benefício); fazer o gosto ao dedo
(Rodrigues, Léah, 226: Velho como estou, com sessenta e
quatro anos, ainda vou gozar o meu migalho, fazer o gosto
ao dedo); fazer rabado, dito da mulher, fazer sexo (Corr.,
607); Fial., Gat. VI, 156: Primeiro, ela [= a ordem
d’expulsão] retirou de Cascais a alegria das noites, quando
depois da ceia e antes da batota, à rapaziada ocorre fazer
sobre a areia da praia, um pouco de sexo); fazer um jeito
(Red., Muro, 113: Se lhe fizerem um jeito do que ele gosta,
dá-lhe dez mil réis por semana do serviço especial...); fazer
o(s) seu(s) favor(es), fazer um servicinho, etc.
Há uma série de verbos que exprimem o acto sexual que,
na sua maior parte, são disfemísticos e tidos como
obscenos, pertencendo a um vocabulário tabu na boa
sociedade. Assim, por exemplo, cachimbar (Corr., 710),
chapar (Coelho, Ciganos), chiçar, empatar, engatar,
109
espetar e o substantivo espetanço; finfar (ou afinfar) ter
cópula (o homem), foder, furalhar, fornicar, que se diz
apenas da mulher, ao lado de furo, cópula (N., 85), galar,
(Toj., Viag., 124: ― Aquele nunca s’astreberá a galar a
Nastácia...); gozar (uma mulher), ter relações sexuais,
lascar, lixar, montar (N., 102); nicar (Bessa, 219), daí os
substantivos nica e nicola; picar, pinar (N., 114) e
pinocada (N., 114), porquear (Corr., 487), quilhar (Lop.,
Termos), trepar (Nas., Gíria, 169), trombicar (beir.);
vadiar (bras.) (Amado, Dona, 130: ― Não sei vadiar nem
coberto de lençol quanto mais vestido com roupa), aplica-
se particularmente a mulheres casadas ou solteiras, de má
fama.
No campo das expressões designativas da vida amorosa,
os desenvolvimentos pejorativos para o disfemismo são
particularmente frequentes. Muitas palavras que de início
eram veladoras já não o são. É por isso que é muito difícil
fazer uma distinção rigorosa entre eufemismos e
disfemismos neste campo. Há uma série de locuções de que
a maior parte é disfemística e pertence à gíria ou à
linguagem popular como amolar a ferramenta (ou o
canivete) (N., 46), estudar anatomia (Amado, Gabr., 313:
Onde vossa senhoria está arranjando essas olheiras ― No
estudo e no trabalho... ― Estudando anatomia...); andar ao
ponto, dito da mulher; chamar na chincha (bras.) (Nas.,
Gíria, 43); comer a peladinha (bras.) (Amado, Dona,
434:... eu estou doido que chegue a hora de comer a
peladinha...); deitar uma facha de palha (Rib., Láp., 65: “...
já não te lembras da última facha de palha que te deitei?”);
levá-la ao calvário (Rib., Estr., 189:... chegou-me aos
ouvidos que o badameco se gabava de ter logrado a Luísa e
jurar e trejurar que palpar-lhe o amôjo e levá-la ao
calvário); limpar as ideias (Corr., 605), mandar a pera
(Corr., 504), calão lisboeta; mandar o Bernardo às
compras, mandar os troços, molhar o pincel (N., 101),
mudar de óleos (N., 102), passar à letra f (Corr., 493) onde
110
f vela o verbo obsceno que designa o acto sexual; satisfazer
os seus gostinhos (Rib., Andam, 164:... pois não via, nos
telhados, pardais e pardalocas a satisfazer os seus
gostinhos?!), ver o padeiro (N., 134).
7. Onanismo
8. Pederastia
111
Também o termo sodomita que se refere unicamente ao
homossexualismo masculino, não é uma palavra geralmente
conhecida. Já mais usado é invertido.
Maricas (Corr., 632), maricão (Lop., Termos),
maricafedes e mais derivados, que designam um homem
efeminado, têm também o sentido de pederasta. Outros
antropónimos como aninhas, barbosa (Corr., 714),
gregório (bras.) (Nov., Pass., 17), horácio (Lop., Termos),
etc. servem de eufemismos para pederasta.
A maior parte das expressões designativas das relações
carnais com outro homem são nitidamente disfemísticas
como abafar (afagar) a costela (ou a palhinha) (N., 43,
45), apanhar cavacas (N., 48), ir ao cu (ao ilhó, ao pacote,
etc.), levar na anilha (no pacote, na padieira, no pailho, na
peida, no cu, na tampa (N., 127); jogar na CUF, engolir
cobras vivas (Corr., 632), esconder a palheira.
O mesmo acontece com as palavras que designam o
pederasta como bicha (N., 53), bichona (N., 53); Rodr.,
Casa, 72: As bichonas querem todas é corte moderno, à
Marlon...); borboleta, já um pouco fora de uso; gunda
(bras.) (Nas., Gíria, 95), larilas (N., 94; Rodr., Casa, 70:
Tenho que gramar daqui a nada os dois larilas gadelhudos);
lelé e loló (Bras.) (Nas., Gíria, 106); menina (Corr., 632),
panasca (N., 108) que é como paneleiro (Toj., Viag., 59:
“És paneleiro?”, disse ele) uma das expressões mais
conhecidas e usadas para designar o pederasta passivo; pé-
de-salsa (N., 112), puto, quebra-bilhas (N., 118), rabeta e
rabicho (N., 120), rodízio (Coimbra), roto, também é uma
das designações mais frequentes, e tricas.
9. Gravidez
112
interessante (Per., Marc., 48: Mal soube a mulher em
estado interessante e já começou a faltar com as
obrigações); estar de promessas (Corr., 626), estar para ter
um presente de França (Corr., 626), andar magoada de
amor (Corr., 628), etc.
Há uma série de expressões com o verbo andar que
exprimem o estado de gravidez como andar embaraçada,
andar embarrada, andar pejada, andar de proveito, andar
(ou trazer) de ganho (Corr., 626), dito de animais; como
também andar de barriga (Corr., 627), andar com a
barriga à boca (Rib., Cinco, 88: A gente queria averiguar
do sexo do nascituro de tal e tal mulher, que andasse com a
barriga à boca); também pôr a barriga à boca (Ribeiro,
Plan., 241: Se houvesse um traste que fizesse pouco da
minha filha e lhe pusesse a barriga à boca... certo que
pateava deante do cano da minha espingarda...).
Falando-se de mulher ou de outra fêmea usa-se também
o termo prenhez e estar prenhe, emprenhar ou estar pejada
(Corr., 627; Rib., Terras, 103: E baixinho, a desafiar a
realidade, murmurou: ― Sempre estás pejada?), o que se
diz exclusivamente da mulher grávida; estar ocupada
(Corr., 626; Nam., Min., 202: ― A cachopa lá me apareceu
ocupada outra vez); ter barriga (beir.) (Corr., 627). Na
linguagem popular e na gíria ocorrem expressões como
estar com o benfica (N., 31), levar um valente pontapé (nas
costas) (N., 85). Num passo da Estrada de Santiago de
Aquilino Ribeiro o moleiro diz da sua mulher que está
outra vez a peça carregada (278). Na Vida Irónica de
Fialho d’Almeida há outro passo eufemizador da gravidez,
em que a expressão respectiva parte do aspecto exterior da
mulher: “Uma mulher do campo, solteira, apareceu
rotunda, meses depois de haver quebrado relações com um
namoro” (298).
Na Beira Alta a gravidez é chamada vésperas (Corr.,
628). No Minho é designada por barrigada.
113
10. Parto
114
Camacho fala em “...colheres (que) eram de pau-do-ar...”
(Gente rústica, 105).
Uma mulher que engana o marido põe-lhe os cornos. É
muito frequente, no entanto, não falar em cornos por razões
de decência e fazer unicamente alusão aos cornos com
outros meios de expressão eufemística. Não é raro ouvir-se
a forma de complemento directo da terceira pessoa do
plural do pronome pessoal os como substituto (Sttau, Ang.,
225: ― Vais saber: pus-tos. Com a Alexandra (diz António
ao seu amigo Gonçalo). Os escritores são muito engenhosos
no que diz respeito à invenção de novas expressões
eufemísticas (Rib., Bat., 280: Por um sentimento de
respeito com a antiga amada... não lhe rogava a praga
tradicional em esbulho de amor: “Tantos paus do ar lhe
nascessem na cabeça que houvessem de o confundir com
um galheiro das panelas” ou Rib., Estr., 163: “Pegamos nas
cartas e o ladrão com a felicidade toda, o sortalhão que
dizem próprio daqueles a quem sobra o que falta às cabras
mochas”; God, Cru., 210: “Rachei dúzias de toros, mal
secos, cheios de serno, rijos como atributos frontais...”;
Camilo, Corja, 39: Eles, pasmados da mudança, feridos na
honra comum da súcia, chamavamlhe nomes de substância
muito dura...; Red., Porto, 121: Por isso os marinheiros do
Saraiva lhe perguntaram, quando o rabelo chegara, se não
lhe doía a cabeça).
Outros eufemismos para cornos são armação, armadura,
(Corr., 623 s.). Também antenas e às vezes armas. Em
Évora o armado é o marido enganado e o armador o
amante que corneia.
É fácil de compreender que os cornos sejam
considerados como atributos ornamentais. Assim é que
enfeitar é empregado para atraiçoar o marido (Red., Porto,
31: A Isaura é que te enfeitou bem a testa). Está enfeitado
ou tem a cabeça enfeitada emprega-se como eufemismo
para o corneado. Do mesmo modo ouve-se ornamentar
(Paço, Car., 139: Mas não ignorava a fama de que
115
beneficiava D. Clarissa e que, reflexivamente, ornamentava
o dr. Barreiros). A. Nascentes cita como expressão
brasileira embandeirado em arco.
Chavelho é muito frequente com o sentido de corno
(Corr., 472). Designa-se como chavelhudo, chaveco e
chaveiro o marido enganado (God., Calc., 200: O meu
homem não é chavelhudo...).
Em vez de corno prefere-se antes uma palavra menos
forte como chifre (Fial., Vida, 56: O chifre, pois, que
humilha o homem à face da moral, vai dentro em pouco
fazer a fortuna política da mulher). Também no Brasil
chifre é muito usado com o sentido de corno (Amado,
Dona, 392: ...só colegas da polícia, eram cinco a se
revezarem na tarefa de decorar a testa do distinto. Sem
falar no delegado de costumes. Se lhe pusessem lâmpada
em cada chifre, dava para iluminar meia cidade...)!
Muito usado com o sentido de cornos é gaitas. No Porto
ouvi gaiteiro para marido enganado e talvez haja uma
relação entre gaiteiro e músico que se emprega com o
mesmo sentido na Beira Alta. Também galhos é frequente
(Pereira, Engr. 109: Sou coxo, mas ainda tenho dois braços
para lhe partir os galhos!).
Com uma certa frequência ouve-se pôr os palitos para
cornear. O paliteiro é, na mesma ordem de ideias, o marido
enganado (Rib., Estr., 218: O Bisagra, cabeça de paliteiro,
é que não pode compreender esta arrumação da casa, em
vésperas de largar).
116
temos boi (ou corno) manso (Eça, Primo, 434: ... não lhe
hei-de dar esse gosto, ao boi manso!) que designa o marido
consentidor.
O nome cabrão, como nos diz Silva Correia (669), é
evitado formalmente, porque é ainda mais duro que o
próprio corno. Os dois termos são excluídos da
conversação polida. Para ciúmes emprega-se dor de
cotovelo ao lado da expresão mais crua dor de corno
(Amado, Dona, 147: Era aquela anarquia sem cabimento,
ele na rua todas as noites sem lhe dar notícia, ela no leito
de ferro roendo a dor de cotovelo, aguda dor de corno...).
A simples palavra dor já chega para exprimir o conceito
de ciúmes (Cort., Lodo, 9: ...ainda por cima lhe atirarem à
cara o que a senhora tem é dor...).
O antropónimo Cornélio aparece também como
eufemismo de marido enganado (Fig., Cego, 177: Cornélio
é nome patrício, nome de romanos muito ilustres pelo
sangue e pelas armas, sobretudo pelas armas, e tu és um
predestinado. Um predestinado, sim, felicito-me pela
expressão, pois que hás-de vencer gloriosas batalhas com as
armas da cabeça). Predestinado é aquele que nasceu no
signo de Capricórnio (Corr., 512). Os maridos enganados
pertencem à confraria de São Cornélio (Amado, Gabr.,
103: O marido parece ser da confraria... ― Que confraria?
― A de São Cornélio, a ilustre confraria dos maridos
conformados, os naturais de bom génio...). Derivado de
corno é cornambana (Rib., Bat., 250: Joaquim Bica ― em
tudo o bom cornambana) e cornaça com o sentido de
marido a quem a mulher é infiel (Camilo, Corja, 10: ...o
cornaça do Eusébio, aquela besta...). Muito frequente é
cornudo, também no Brasil (Amado, Mar., 108: Vou-lhe
contar a sujeira do desembargador Pitanga, aquele que a
mulher pariu sete filhos, de sete pais diferentes. Esse rei
dos cornudos...). Cornear, ser corneado para enganar o
marido e ter cornos são de uso geral.
117
O marido enganado também é chamado de onze porque
os algarismos fazem lembrar vagamente os cornos. E daí a
expressão assentar praça em infantaria onze (Corr.: 506).
Uma das expressões mais conhecidas para marido
enganado é coitadinho (Corr., 711; “Coitadinho é corno na
minha terra!”; Rib., Estr., 152: Tão coitadinho, que seria
caridade dizer-lhe ao passar um portal: Baixa que marras!).
Como coitadinho emprega-se desgraçado. Jorge Amado no
seu romance Gabriela, cravo e canela (156) emprega a
expressão iluminar a testa: “Eu, se fosse casado e minha
mulher me iluminasse a testa, ah!, comigo era na lei
séria...”.
Uma expressão da língua escrita é minotauro e
minotaurizar (Camilo, Mulheres, 112: Eu tenho visto a
felicidade dos minotauros; Rib., Arc., 34: ...minotaurizava-
o com um sapateiro).
Designações para chapéu servem de metáforas
eufemísticas como chapéu de dois bicos (Alto Alentejo) ou
simplesmente dois bicos (Sttau, Crón., 101: Não tenho bic
nenhuma. Quem tem dois bicos és tu, no alto da testa) e
ainda ter um grande chapéu. Um amigo nosso do Alentejo
comunicou-nos as expressões chapéu de veado e chapéu de
desorvalhar mato.
O gesto de dois dedos espetados na testa representa
simbolicamente o marido enganado (Car., Delfim, 112:
“Mas isto...” espeta dois dedos na testa: “...não há teoria no
mundo que o justifique”; Amado, Dona, 466: ...por detrás
da cadeira do doutor a lhe pôr chifres na testa com os dois
dedos, o pervertido!).
118
NOTAS
1
Cf. Mansur Guérios, Tabus linguísticos, Rio de Janeiro, 1956.
2
Cf. Silveira Bueno, Tratado de semântica brasileira, São
Paulo, 1965, p. 202s.
3
Cf. J.M. Piel in «Revista Portuguesa de Filologia» XIII, p. 23.
4
Cf. M.J. de Moura Santos, Os falares fronteiriços de Trás-os-
Montes, Sep. da “Revista Portuguesa de Filologia” (1967), p. 295,
onde se encontram outras designações s.v. demonho.
5
Cf. Fryklund, Les changements de signification des
expressions de droite et de gauche, Upsala, 1907.
6
Cf. Moura, Falares, p. 334.
7
Cf. Corr., p. 581; Migl., Nome, p. 119; Montero, Euf.
8
Cf. Pest., Ilha, p. 34.
9
Cf. Montero, Euf., 16.
10
Vejam-se os sinónimos que Cândido de Figueiredo aduz no
seu Dicionário da Língua Portuguesa s.v. sífilis.
11
Cf. Charles E. Kany, American-Spanish Euphemisms,
Berkeley and Los Angeles 1960, p. 17 ss.; Guér., Tabus, p. 199 e
201.
12
Cf. Moura, Falares, p. 287, onde se encontram mais
exemplos.
13
Cf. Kröll, Ort., p. 91.
14
Cf. Id., Anr.,
119
15
Cf. Id., Anr., p. 140.
16
Cf. Id., Anr., p. 135 e 140.
17
Cf. Lapa Dic., p. 154; Montero, Euf., p. 168.
18
Cf. Corr., 638ss.
19
Cf. Kröll, Des., p. 137.
20
Cf. Idem, Expr.
21
Cf. J. M. Piel, in “Revista de Portugal” (1949).
22
Cf. Maçãs, in “Revista Portuguesa de Filologia,” XIV, p. 93.
23
Cf. Maçãs Des., p. 17.
24
Cf. Nov., Pass., p. 14.
25
Cf. Kany, p. 111.
26
Cf. Maçãs, p. 222.
27
Cf. Kany, p. 120.
28
Cf. Eduardo Antonino Pestana in Língua Portuguesa, V, p.
296.
29
Cf. Maçãs, An., p. 215.
30
Cf. Kröll, Termes.
31
Cf. Kany, p. 129.
32
Cf. Id., p. 139.
33
Cf. Kröll, Contr., p. 17 s.
34
Cf. Kany, p. 145.
35
Cf. Maçãs, An., p. 215.
36
Cf. Kröll, Euf., p. 114 s.
37
Cf. Castro, p. 157.
38
Cf. Pest., Ilha, II, p. 18
39
Cf. Kany, p. 147.
39a
O fruto é o tomate ou mesmo a tomata.
40
Cf. Id., p. 149.
41
Cf. Kröll, Euf., p. 116.
42
Cf. Maçãs in «Boletim de Filologia», IX, p. 360.
43
Cf. Eduardo Antonino Pestana in Língua Portuguesa, V, p.
346.
44
Cf. Maçãs in “Boletim de Filologia”, IX, p. 361.
120
45
Cf. Kany, p. 157.
46
Cf. Maçãs, An., p. 148.
47
Cf. Kröll, Des., p. 81-84.
48
Cf. Agostinho de Campos, Língua e má língua, Lisboa, 1944,
p. 79.
49
Cf. Silveira, p. 222.
50
Cf. Edgar Radtke, Typologie des sexuell-erotischen
Vokabulars des heutigen Italienisch: Studien zur Bestimmung der
Wortfelder prostituta und membro virile unter besonderer
Berücksichtigung der übrigen romanischen Sprachen. Tübingen,
1980. Especialmente p. 142: Portugiesisch PROSTITUTA (unter
Berücksichtigung des brasilianischen Portugiesisch).
51
Cf. Kany, p. 167.
52
Cf. O. de Pratt, in “Revista Lusitana”, 16, p. 245.
53
Para outros exemplos ver Edgar Radtke, p. 147-49.
54
Cf. Kany, p. 168.
55
Cf. Kröll, Euf., p. 109 ss.
56
Cf. Cláudio Basto in “Revista Lusitana”, 18, p. 172.
57
Cf. Kröll, Bez., p. 293-308.
121
ÍNDICE DE PALAVRAS E EXPRESSÕES
122
alcoolizado, 47 andar ao fanico, 104
alcoveta, 105 andar ao ponto, 104, 110
alcovista, 107 andar aos cabritos, 95
alcoviteira, alcoviteiro, 104 andar aos ss e rr (aos tombos), 49
aldrabão, 44 andar aos tropeções à morte, 21
aldrabice, 44 andar à piranga, 52
alegre, 46 andar a tinir, 52
alferes, 116 andar carregado dos machinhos,
alho, 82 49
alienação, 35, 40 andar cercando frango (bras.), 49
alienado, 40 andar chateado, 42
alisar, 61 andar co’a ligeira, 91
aliviar (o corpo, a natureza, a andar com a barriga à boca, 113
tripa), 61, 90 andar com a caganeira, 91
aliviar-se, 94, 114 andar com ela, 46
armários, 77 andar com zerpelão, 48
almotrigas, 77 andar das bandas de Vinhó, 50
almudes, 77 andar de barriga, 113
alonso, 39 andar de esguicho, 91
alpinar, 63 andar de ganho, 113
altares, 77 andar de olho em (bras.), 97
alvarinho, 39 andar de proveito, 113
amante, 97 andar embaraçada, 113
amantizar-se, 97 andar embarrada, 113
amar, 96 andar esfalcaçado, 52
amarelo, 93 andar esquentado, 42
amarruado, 18 andar fulo, 42
amásia, 98, 101 andar magoada de amor, 113
ambrósio, 39 andar mal cuidado, 38
ameixa, 69 andar mal trajado, 32
amélia, 40, 107 andar morto por alg., 97
amiga, 97 andar na dependura (na pendura),
amigar-se, 97 52
amigos do alheio, 60 andar na estica, 53
amolar a ferramenta (o canivete), andar na vida, 104
110 andar no engate, 104
amor, 96 andar no fado, 104
amostreiro, 62 andar nos pés, 64
ampara-seios, 75 andar nos trinques, 34
ancião, 30 andar pejada, 113
andar a apitar, 52, 58 andar peneirento, 53
andar a cair da boca aos cães, 53 andar preso pelo beicinho, 97
andar (a cama) com alg., 108 andar roto, 32
andar a monte, 64 andar todo derretido, 97
andar ao alto, 54 andar turbado, 48
123
anemia, 16 arejo, 18
anilha, 80 armação, 115
animal, 37 armado, 115
aninhas, 107, 112 armador, 115
anjo decaído, 12 armadura, 115
anjo mau, 12 armar à lebre, 90
anjo pé de cabrão, 12 armas, 115, 117
anjo rebelde, 12 arquiburro, 37
anormal, 40 arrancar o cabaço, 88
antenas, 115 arranjar, 70
ânus, 78, 80 arranjar umas calças, 70
apagar a candela da vida, 24 arranjinho, 98
apagar-se a lamparina da vida, 24 arrastar a asa a alg., 96
apaixonado, 97 arrear, 71
apaixonar-se, 96 arrear a carga (ao mar), 90, 95
apalpar o costado, 70 arrear a giga, 90
apanhar, 60, 68 arrear o calhau, 90
apanhar cavacas, 112 arrear o preso, 90
apanhar com os cinco arrebentar, 22, 25
mandamentos, 71 arrecadação, 66
apanhar uma (bebedeira), 46 arredondados, 77
apanhar uma sacudidela, 70 arrefeceu-lhe o céu da boca, 22
apanhar umas calças, 70 arrenegado (bras.), 12
apanhar uma senhora, 50 arrelia, 41
apanhar uma teoria, 70 arrepanhado, 45
apanhar um calor, 70 arrepanhar, 61
apanhar um enxugo, 70 arrevessar, 94
aparecer no mundo, 114 arrocho, 69
aparelho (sexual), 82 arroladas, 100
apertadinho, 45 arrombar os tampos, 88
apertado (da unha), 45 arroz, 69
aperto, 52 arrumar uma cerveja, 69
apoderar-se de a.c., 60 artes do venha a nós, 61
aquecedela, 70 artífice, 30
aquecer o lombo, 70 artista, 30
aquela doença, 15 árvore das patacas, 54
aquela santa, 27 asas de pau, 70
aquele sítio, 79 as da viela, 100
aqui está um a mais, 93 ás de copas, 80
aquilo, 82, 86, 88, 100 ás de paus, 84
aquilo com que se compram os asno, 37
melões, 55 aspas, 114
aqui o vejo além o pilho, 61 assentar as costuras, 70
arame, 55 assentar praça em infantaria onze,
arcabuzar, 25 118
124
assento, 78 banana, 37, 83
assobiar às botas, 64 bananeira, 37
assunto, 108 banano, 69
atacar, 104 bancarrota, 58
atrapalhado, 52 bandarra, 102
atar as botas, 22 bandoga, 75
atardado, 41 bandoleiro, 62
atar-lhe os pés, 23 bandulho, 76
ataúde, 24 bânzera, 76
atender ao chamado de Deus, 22 barbeiro, 29
atrasado mental, 40 barbosa, 112
atributos frontais, 115 barnabé, 39
aurélio, 39 Barrabás, 13
avançado em anos, 30 barregã, 97
avarento, 45 barriga, 75
avareza, 45 barrigada, 113
avariado, 38 barrote, 56
avariose, 17 barzabum, 13
avaro, 45 basilinha, 40
avental de pau, 104 batata, 69
averiguar, 114 bate-orelha, 37
aviador, 116 bater, 68
azarotado, 41 bater a bota, 22
azeitar (bras.), 97 bater as asas, 64
azeiteiro, 105 bater a sua hora, 24
azul, 48 bater com a cola (o rabo) na cerca
azuladinha (bras.), 48 (bras.), 22
batota, 44
babar-se todo por alg., 96 baú, 66, 76
baboso, 36 beauty-shop, 29
bacio, 94 bebas, 86
badalhoca, 86 bêbado, 46, 47
bafum, 74 bêbera, 86
bagaça, 102 beber do coco, 69
bagaço (bras.), 102 beber os ares por alg., 96
bagalhoça, 55, 56 beber os olhos por alg., 96
bago, 55 beber os ventos por alg., 96
baguinho, 55 beber uma contita a mais, 46
bagulho, 55 belancigas, 78
baínha, 85 Belzebu, 13
baixar as calças, 90 berimbau, 83
balaio, 80 bernardino, 50
baldona, 102 bernardo, 39, 84
balhastreira, 102 bertoldinho, 32, 37
balúrdio, 55 bertoldo, 39
125
berzunda, 50 bola de bilhar, 32
berzundela, 50 bolaria, 68
besta, 37 bolas, 84
besta a cavalo, 67 bolo, 68
besta chapada (quadrada), 37 bolena, 45
bestunto, 37 boleno, 45
besugo, 83, 86 bolsas, 84
besuntado, 31 bomba, 93
bezerra, 49 bom-serás, 39
bibi, 86 bom-sucesso, 114
bicha, 15, 83, 86, 112 bonita, 15
bichana, 86 borboleta, 14, 101, 112
bichinha, 83, 86 borborigmas, 93
bicho, 83 borrar, 94
bichoca, 83 bordel, 106
bicho negro, 12 borracho, 47, 49, 70
bicho feio, 12 borrar, 90
bichona, 112 bosta, 92
bifar, 61 bota, 44
bifes, 69 botar ao mundo, 114
bilha, 80 botar o pé no mundo, 64
bilhestres, 57 boticário, 29
bilhete, 70 botocudo, 40
bimbas, 80 Brazabu, 13
birra, 41 breca, 13
bisarma, 32 bresundela, 108
biscato, 98 Brisda, 87
biscoito, 68 brochar, 71
bispar, 61 broeira, 18
bispote, 94 bruaca (bras.), 102
bluff, 44 bucho, 76, 102
boa-nova, 14 bufo, 67, 93
bobo, 36 bulas, s.f.pl., 44
boca do corpo, 78 bule, 76, 80
boceta, 86 bunda, 80
bode, 15, 49 bundra, 76
bodum, 74 burcego, 15
bofetear, 68 burro, 37, 49
bófia, 67 burro cego, 15
bogango, 37 busco, 62
bóias, 77 buzarate, 76
boi (manso), 117 búzera, 76
bojo, 76 buzina, 77
bola, 60, 68
bolacha, 68 cabaças, 77
126
cabeça de abóbora, 37 caldo, 69
cabeça de burro, 37 calhamaço, 31
cabeça de alho chocho, 37 calino, 39
cabeça de avelã, 37 calista, 29
cabeça de giz, 67 calote, 58
cabeça de grilo, 38 caloteiro, 58
cabeça de vento, 38 calva, 32, 80
cabeleira, 48 calvário, 77
cabeleireiro, 29 calvície, 31
cabra, 49, 101 cama à francesa, 24
cabrão, 117 camandro, 83
cabrita, 49 camano, 83
cabritar, 95 câmaras, 91
cábula, 65 camasio, 83
cabular, 65 cambado, 19
cação, 101 cambaio, 19
cacau, 56 cambeiro, 19
cacete, 83 cambeta, 19
cachimbar, 109 cambras, 91
cacho, 49 camelídeo, 37
cachopa, cachopo, 30 camelo, 37
cachorra, 49, 101 camelório, 37
cachorros da proa, 77 campa, 23
cadela, cadelona, 49, 101 campainhas do céu, 78
cáften, 105 campo santo, 23
caftina, 105 canastro, 66, 83
cafundó, 66 cançoneta, 49
cagar, 90, 94 caneco, 47
cagarrão, 66 canêlo, 83
cagote, 80 caneta, 22
cagueiro, 80 canga, 67
caiar o frontispício, 70 cangalheiro, 24
cai-cai, 75 cangar, 66
caipira, 33 canhão, 31, 83, 102
cair, 108 canhenho, 14
cair das calças abaixo, 90 canhestro, 14
cair no mundo, 64, 104 canho, 14
caixinha, 86 canhoto, 13, 14
caixa dos pirolitos, 80 canja, 69
calabouço, 66 cano, 83
calatra, 102 cantar a lupa, 95
calatrão, 102 cantigas, 44
calcinhas, 75 cão tinhoso, 12
caldaça, 69 capenga, 19
caldeira de Pêro Botelho, 13 capitão, 116
127
capoeira, 106 cascalho, 55
caquinha, 92 cascar-lhe uma bofetada, 71
caracho, 83 casinha, 89
cara de asno, 37 casquilheira (alent.), 105
carago!, 83 casquilho, 33
caralho, 82 castanha, 69
caramba(s), 83 castelo (bras.), 106
carapuça, 48 catano, 83
carcanhóis, 56 catar, 60
cardar, 61 catarina(s), 50, 78
cardina, 50 catatáu, 83
careca, 32, 83, 102 catinga, 74
carga de ossos, 32 catraia, catraio, 30
carneira, 49 catrinas, 78
caroço, 55 catrino, 83
carpinteiro, 29 cavalgadura, 37
caraças, 83 cavalheiro de indústria, 62
carraspana, 48 cavalo, 17
carregado dos machinhos, 49 cavalo a cavalo, 67
carro nívea, 67 cavalo-duro, 17
carteirista, 62 cavalo mole, 17
cartola, 48 cavar, 63
carvalho, 83 cebo, 56
casa amarela, 65 cebo de grilo, 92
casaca de pau, 70 cego, cega, 48, 49
casa da tia, 106 cegonha, 48
casa de amor, 106 ceitil, 56
casa de banho, 89 censura, 43
casa de cão, 66 censurar, 43
casa de empréstimos, 58 cepa torta, 54
casa de hóspedes, 65 cera de milho, 92
casa de meninas, 106 certidão de óbito, 20
casa de mundanas, 106 cerveja, 69
casa de passe, 106 chá, 69
casa de penhores, 58 chácara, 66
casa de prego, 58 chacinar, 25
casa de recurso (bras.), 106 chá de Carcavelos, 47
casa de saúde, 41 chá de marmeleiro, 69
casa de senhoras honestas, 106 chá de moca, 69
casa-de-tias, 106 chá de parreira, 47
casa de toleradas, 106 chá do Cartaxo, 47
casa de tolerância, 106 chá do Lavradio, 47
casa-do-jeco, 66 chafarica, 86
casa do prego, 58 chá frio, 47
casamento da mão esquerda, 98 chalar, 41, 63
128
chalupa, 41 chincha (bras.), 108
chamar na chincha (bras.), 108 chinfres, 56
chamar pelo Gregório, 95 choça, 66
chanqueta, 19 chocha, 87
chantra, 102 chochinhas, 37
chapada, 70 chochota, 87
chapar, 109 choldra, 66
chapéu de desorvalhar mato, 118, choné, 41
chapéu de dois bicos, 118 choninha(s), 107
chapéu de veado, 118 chui, 67
chatear-se, 42 chula, 49
chatice, 42 chulo, 105
chave, 66 chumbado, 49
chaveco, 116 chumberga, 50
chavelho, 114, 116 chumbos, 57
chavelhudo, 13, 116 chunga, 103
chaveiro, 116 cidade dos mortos, 23
chavo, 56 cinco letras, 92
chefe, 28 cinzentos, 68
chegar, 68 ciscar (-se), 90, 93
chegar a mostarda ao nariz, 43 cívico, 67
chegar a roupa ao pêlo (ao clavija, 80
corpo), 70 cleptomania, 60
chegar a sua hora, 21 clínica de sapatos, 29
chegar a última hora, 21 clínica pedicuro, 29
chegar a última jornada, 21 clíper, 33
chegar o último dia, 21 cobres, 55
cheio de dinheiro, 54 coca, 49
cheirar-lhe a cabeça, 25 coçar, 70
cheirete, 74 cochicho, 87
cheirinho, 74 coco, 69
cheirum, 74 cocote, 99
chelindró, 66 côdeas, 54
chelpa, 56 coexelas, 19
chena, 66 cogiteira (alent.), 105
cheta, 55, 56 coiffeur, 29
chiba, 49 coira, 103
chibarro, 74 coirão, 103
chibio, 87 coisa, 13, 82, 85, 108
chibo, 74 coisa má, 13
chiçar, 109 coisa ruim, 13
chicote da barriga, 84 coisinha, 85
chifres, 114, 118 coitadinho, 118
chifrudo, 13 coito, 108
china (bras.), 103 colaboradora, 29
129
colégio, 65 conversar, 96
cólera, 41 copo, 47
colete, 75 cópula, 108
colhões, 84 copular, 108
colo, 76 coquetear, 96
com a breca!, 13 cornaça, 117
comadre, 94, 105 cornambana, 117
comborça, 103 cornear, 117
comer alg. com os olhos, 96 cornel, 116
comer a peladinha (bras.), 110 Cornélio, 117
comer a terra fria, 22 corno (manso), 114, 116
comer bacalhau (bras.), 69 cornudo, 13, 117
comer cipó (bras.), 69 coronel (à paisana), 116
comer da canja, 69 corpo, 23
comer do coco, 69 corredeira, 91
comer macarrão, 69 corte, 60
comer o cabaço, 88 cortejar, 96
comer os tampos, 88 cortejo funerário, 24
comida de urso, 69 cortesã, 99
com licença, 79 cortume, 106
compadre galhudo, 13 coruja, 14
companhia de olho vivo, 61 cosa-se!, 72
companhões, 84 cova, 23
compromissos, 58 coxambeta, 19
com seiscentos nabos!, 13 coxanga, 19
cona, 85 coxo, 13
conanas, 107 cozê-la, 46
concubina, 97 Creso, 54
confraria (de São Cornélio), 117 cretino, 40
congresso marital, 108 criada, 29
conhecer (homem), 80, 108 crica(s), 86, 105
conho!, 85 croia, 103
constipação, 48 cruzes, canhoto!, 13
constipação intestinal, 92 cu, 78, 79, 80, 87, 112
constipado, 92 cuba, 47
consumar o acto (matrimonial), cuco, 67
108 cuecas, 75
contar as tábuas do tecto, 111 cuitó, 94
contar bulas, 44 culatra, 80, 87, 103
contar-lhe o conto do vigário, 61 culatrona, 103
contrário à verdade, 43 cunhanhas, 107
contubérnio, 97 cunques, 57
conveniências, 89 cumquibus, 57
conventilho, 106 curral (bras.), 106
conversada, 96 curro (bras.), 106
130
curta e comprida, 103 dar nele, 109
curti-la, 46, 97 dar o berro, 22
curtume (bras.), 106 dar o cavaco por alg., 96
curvas, 77 dar o conico, 109
cusinho, 80 dar o espírito, 21
dar o fora, 64
danado, 12 dar o peido mestre (o triste
dândi (dandy), 33 peido), 22
dar, 68, 109 dar o piro, 64
dar a alma ao Criador (a Deus), dar o pito, 109
22 dar o ponto, 109
dar à cabeça de alg., 109 dar o ré, 22
dar a cabeçada, 109 dar os bons dias, 70
dar à canela, 63 dar o último pio, 22
dar à casca, 22 dar o último suspiro, 21, 24
dar à luz, 114 dar pancada, 68
dar ao bandejo, 109 dar pus, 93
dar ao diabo cardada, 63 dar-se ao amor, 109
dar aos butes, 63 dar-se a um homem, 108
dar aos calcanhares, 63 dar sebo nas botas, 64
dar aos tamancos, 63 dar terra para feijões, 64
dar às botas, 63 dar uma cambalhota, 109
dar às de Vila Diogo, 64 dar uma coça, 70
dar às gâmbias, 63 dar uma descompostura, 43
dar às palanganas, 63 dar uma ensaboadela, 43
dar às pernas, 63 dar uma ensinadela, 70
dar às trancas, 63 dar uma escovadela, 70
dar a vida por alg., 96 dar uma esfrega (esfregadela), 70
dar cabo do canastro, 22, 25 dar uma malha, 71
dar cacholetas, 71 dar uma pavana, 70
dar cavaco por alg., 96 dar uma pelotada (bras.), 109
dar com a cola (o rabo) na cerca dar uma pirisca, 64
(bras.), 22 dar umas calças, 70
dar com a verruma em prego, 64 dar um furo, 109
dar com o juízo em pantanas, 38 dar um sabão (sabonete), 43
dar com os calcanhares no rabo dar um sopapo na gaveta, 61
(na bunda), 64 dar um tirinho, 109
dar costa, 64 debandar, 63
dar cria, 114 debilitado, 32
dar de frosque, 64 débil mental, 40
dar-lhe com o lenço de cinco decilitreiro, 47
pontas, 71 decorar a testa, 116
dar-lhe duas, 109 dedo sem unha, 84
dar-lhe volta ao miolo, 38 defecar, 90
dar na perna, 64 defunção, 20
131
defunto, 23 descer à tumba, 21
deitar abaixo uma parede, 94 descomer, 91
deitar a carga ao mar, 95 descompor, 43
deitar ao mundo, 114 descompostura, 43
deitar a perder, 88 desconcertado, 38
deitar fora, 94 descuidar-se, 93
deitar-lhe o gatázio, 61 descuido, 93
deitar o cabrito fora, 95 desdentada, 21
deitar-se com alg., 108 desditoso, 52
deitar uma facha de palha, 110 desemborrachar, 114
deixar cair nozes (castanhas), 93 desencabeçar (bras.), 114
deixar de ser (do número dos desencabrestar, 114
vivos), 21 desequilibrado, 38
deixar de sofrer, 21 desenlace, 20
deixar escapulir flatulências, 93 desfalque, 60
deixar esta vida, 24 desfavorecido, 52
deixar o mundo, 21, 24 desflorada, 88
dejectar, 90 desfolhar a flor, 88
demência, 35, 40 desgosto, 41
demente, 40 desgraçado, 52, 88, 118
demo, 12 desonrada, 88
democho, 12 desinfeliz, 52
demoncho, 12 desistir do corpo, 91
demónio, 12 desmoçar, 88
dentista, 30 desovar, 91, 114
derradeira (última) morada, 23 despachar, 25
derramar azeite (bras.), 97 despedir, 21, 63, 71
derretimento (bras.), 97 despejar a tripa, 91
desafinado, 38 despojos fúnebres, 23
desafortunado, 52 desprovido de recursos materiais,
desanda, 43 52
desaparafusado, 38 despucelar, 88
desaparecer (da vida), 21, 63 destempero, 91
desaparição, 20 destituído de recursos materiais,
desarranjado (do miolo), 38 52
desarranjo (mental), 40, 91 destravado, 38
desasseado, 32 desvalido, 52
desatinado, 38 desvio, 60
desbeber, 94 desvirgar, 88
descabaçar, 88 desvirgular, 88
descaminho de valores alheios, desvirtuar, 88
60 deu-lhe a mosca, 42
descansar, 21, 41, (para o Júlio de deve muita obrigação à pele (por
Matos), 114 lhe não ter deixado cair os ossos),
descascar, 71 32
132
dever os cabelos da cabeça, 58 dor de corno, 117
dever os olhos da cara, 58 dor de cotovelo, 117
dez-e-um, 105 dormir com alg., 108
diá, 12 dormir em Deus (no Senhor), 22
diabinho, 12 dormir o sono eterno, 22
diabito, 12 dormitório, 23
diabo, 12 dotado de bens de fortuna, 54
diabrete, 12 doutor, 28, 94
diabro, 12 dureiro, 92
diacho, 12 duas irmãs, 78
diaço, 12
dialho, 12 ébrio, 46, 47
dianho, 12 eclodir, 90
diarreia, 91 efeminação, 106
dificuldades monetárias, 52 égua, 49
Diogo, 13 eliminar, 25
disenteria, 91 embandeirado em arco (bras.),
dinheirama, 55 116
dinheiro (preto), 55, 56 embarcar (bras.), 22
dívida, 58 embezerrar, 42
dizer adeus ao mundo, 21 emborca-latas, 50
doença, 15, 16, 17 embriagado, 46
doença da vida, 17 embrulhar-se o estômago, 94
doença de homens, 17 empandeirar, 24
doença de mulheres, 17 empatar, 109
doença do mundo (bras.), 17 empedernido, 92
doença do peito, 16 empenhos, 58
doença feia, 17 emplastro de sete palmos (bras.),
doença galante, 17 23, 24
doença mental, 40 emporcalhado, 31
doença secreta, 17 empregada de casa, 29
doença venérea, 17 empregada doméstica, 29
doença vergonhosa, 17 empregado infiel, 60
doente dos pulmões, 16 emprenhar, 113
doente mental, 40 enamorar-se, 96
doidivanas, 41 encadernado, 23
doido (varrido), 40, 97 encadernador, 23
dois bicos, 118 encalhe, 92
Dona Justa, 67 encavacar, 42
dona-maria-pé-de-salsa, 107 encerrado, 92
Dona Morte, 21 encher, 71
doninha, 15, 49 endrómina, 44
donzela, 99 enfado, 41
donzelia, 87 enfeitar, 115
dor, 117 enforcar, 25
133
enfrascado, 47 escutar a cavalaria, 22
enganar, 88 esfoeirar-se, 93
engano na escrituração, 60 esfoira, 91
engarrafado, 47 esfoirar-se, 91
engatadeira, 105 esfola-gato, 43
engatar, 109 esforricar-se, 91
engenheiro, 28 esfriar, 22, 25
engolir cobras vivas, 112 esganado, 45
engrácia, 40 esgotamento, 16
enguiço, 18 esgueirar-se, 63
enrabichar-se (bras.), 97 espadista, 62
enrelhado, 19 especialista de cosmética, 29
ensaboadela, 43 especialista em partos, 30
ensinar, 70 espetanço, 110
enterrar, 23 espetar, 110
entrado, 30, 46 espetar dois dedos na testa, 118
entrar na vinha do Senhor, 50 espichar a canela (a caneta, as
entrar nos anos (na idade), 30 gâmbias, o pernil), 22
entre as dez e as onze, 49 espinafre, 32
entregadora (alent.), 105 espírito das trevas, 12
entregar a alma ao Criador (a espírito imundo, 12
Deus), 22 espírito maligno, 12
entregar-se a um homem, 108 espirra-canivetes, 32
entrombar-se, 42 espirro da natureza, 93
enxovia, 66 esponjas, 17, 50
enxuto de carnes, 32 esposa, 27
epilepsia, 15, 16 esquecidinho, 36
era do rei que rabiou, 31 esquerda, 14
esbarrigar, 114 esquife, 24
esbarrondar-se, 114 essas, 100
escamugir-se, 63 estabelecimento, 106
escapar-se, 63 estafar, 25
escapulir-se, 63 estafermo desmazelado, 31
escapulir um vento, 93 estalada, 70
escarramanado, 19 estalagem de Caxias (Peniche),
escassez, 52 66
escoar (o caldo às castanhas), 63, estalo, 70, 93
94 estampa, 70
esconder a palheira, 112 estampilha, 70
escorregar, 88 estar a cantar ópera, 67
escorrer a água das azeitonas (das estar a dar contas a Deus, 22, 23
batatas), 94 estar agoniado, 95
escorrer o caldo à carne, 94 estar a gozar a vida eterna, 22
escovar os bolsos, 61 estar alegre, 46
escrever uma carta ao Lopes, 91 estar alto, 54
134
estar amancebado, 97 estar morto por alg., 97
estar amigado com a irmã da estar na agonia, 21
canhota, 111 estar na espinha, 32
estar a peça carregada, 113 estar na estica, 53
estar à sombra, 65 estar nas embiras (bras.), 21
estar às portas da morte, 21 estar nas lonas, 53
estar a tomar ares de mar em estar nas últimas, 21
Caxias (Peniche), 67 estar nas vascas da morte, 21
estar avariado, 38 estar na terra (no reino) da
estar com a doença do curso, 91 verdade, 20, 22, 23, 24
estar com alg., 108 estar na tumba, 21
estar com a mosca, 42 estar no derriço, 96
estar com avental de pau, 104 estar no fado, 104
estar com Deus, 23 estar nos trinques, 34
estar com ela, 46, 50 estar ocupada, 113
estar com ferro, 42 estar para alquinar, 21
estar com náusea, 95 estar para ter um presente de
estar como benfica, 113 França, 113
estar com os pés para a cova (na estar pejada, 113
tumba), 21 estar por conta, 98
estar com uma cachopa (amiga), estar por um fio (triz), 21
50 estar prenha, 113
estar com um grão (grãozinho) na estar quente, 50
asa, 49 estar sonhando, 44
estar de mãos atadas, 23 estar tem-te não caias, 49
estar de monco de perú, 43 estar teso, 53
estar de promessas, 113 estar tísico, 53
estar de sentinela, 22 estar tocado, 46
estar de tanga, 53 estar toldado, 48
estar em artigo(s) de morte, 21 Estefana, 101
estar em apuros, 53 esterco, 92
estar em estado interessante, 113 esteticista, 29
estar em Rilhafoles, 41 esticar a canela (a caneta, as
estar enfeitado, 115 gâmbias, o pernil), 22
estar entrado, 46 estoirar (o cabaço), 22, 88
estar entre a vida e a morte, 21 estoirar os miolos, 25
estar esperando, 114 estradista, 62
estar frito, 53 estrangular, 25
estar fulo, 42 estreiteza, 52
estar furada, 88 estrovenga (bras.), 84
estar grávida, 112 estudar anatomia, 110
estarim, 66 estupidez, 35
estar limpinho, 53 estúpido, 35, 36, 40
estar liso, 53 estupor, 31
estar montado na ema, 49
135
eterno descanso, (repouso, sono), favelca, 98
20 fazê-lo com alg., 108
etilizado, 47 fazer a corte, 96
evacuar (o corpo, o ventre), 90 fazer águas (maiores) menores,
evaporar-se, 64 90
exalar a alma (a vida), 21 fazer a mala, 21
excremento, 92 fazer amor, 109
exonerar (o corpo, o ventre), 90 fazer (as suas) necessidades, 91,
expedir, 21 94
expirar, 21 fazer a trouxa, 22
extinguir-se, 21 fazer a viagem de que não se
extinto, 23 volta, 22
extravio, 60 fazer cacau, 91
extremidade da costa, 78 fazer cera (bras.), 97
extremidades essenciais, 82 fazer chichi, 94
fazer de corpo, 90
fábrica de tijolo, 23 fazer esquerda rodar, 61
fábula, 44 fazer forninhos, 109
fado, 104 fazer gazeta, 65
faiar, 61 fazer lama à porta de alg., 109
faisqueira (bras.), 108 fazer mão baixa em, 61
fajardo, 62 fazer nené(m), 109
falar, 43, 96 fazer o benefício (bras.), 109
falecer, 21 fazer o gosto ao dedo, 109
falecido, s.m., 23 fazer o pé de alferes, 96
falecimento, 20 fazer o que os outros não fazem
falência, 58 por nós, 91
falho de recursos materiais, 52 fazer o(s) seu(s) favor(es), 109
falido, 58 fazer pipi, 94
falo, s.m., 81 fazer quatro soldados e um cabo,
falta de dinheiro, 52 61
falta de forças, 16 fazer rabado, 109
faltar à verdade, 44 fazer tijolo (barro no cemitério),
faltar-lhe um parafuso, 38 22
fanagar, 61 fazer uma, 111
fanar, 61 fazer uma longa viagem, 22
fanchono, 111 fazer uma necessidade, 90
faneca, faneco, 69, 87 fazer um jeito, 109
fanico, 16, 104 fazer um servicinho, 109
farmacêutico, 29 fazer sexo, 109
farpa, 93 fealdade, 31
farricocos, 24 febra, 87
fartum, 74 fechar (cerrar) os olhos (as
fato de madeira (de pau), 24 pálpebras), 21
faux-ménage, 98 fedúncias, 33
136
feijão verde, 67 filho das quatro letras, 102
feio, 31 filho da com-perdão-da-palavra,
feio como as necessidades, 31 102
feio como o diabo, 31 filho desta e daquela, 102
feio como um bode, 31 filho de quem o pariu, 102
feio como um chibo, 31 filho do mosco, 67
feio como um corno, 31 filho duma cabra, 102
feio como uma noite de filho duma grandessíssima reca,
trovoadas, 31 102
feixe de ossos, 32 filho duma magana, 102
fêmeas (omnibus), 99 filho duma vaca, 102
fenda, 86 fim dos seus dias, 20
féretro, 23 finado, s.m., 23
ferramenta, 83 finamento, 20
ferrar, 71 finar-se, 21
ferrar a unha, 61 findar (os seus dias), 25
ferrar calotes, 58 finfar, 110
ferrar o cão, 58 fisga, 86
ferrar o jeco, 58 fisgar-se, 63
ferrar o mono, 58 flauta lisa, 83
ferros, 42, 56 flipar, 23
festas de marmeleiro, 70 flirt, 96
fezes, 92 flirtear, 96
ficar de trombas, 42 fluxo de ventre, 91
ficar entre as dez e as onze, 49 foda-se!, 72
ficar fora de si, 42 foder, 110
ficar fulo, 42 fole (das migas), 76
ficar grávida, 112 folha de alface, 57
ficar para tia, 31 fona(s), 45, 107
ficar-se, 21 formiga, 67
ficar sem uma cheta, 53 fornicar, 108, 110
ficar sem uma de xis, 53 forra-gaitas, 45
ficar sem um ceitil furado, 53 forreta, 45
ficar sem um vintém furado, 53 forrica, 91
fifi, 33 forte, 32
figa, 86 fraco, 32
figurino, 33 fraco da cabeça (do siso), 41
filar, 66 fraco de ideias, 36
filha, filho, 30 fragata, 32
filho da curta, 102 fraldeiro, 107
filho da mãe, 102 fraldiqueiro, 107
filho da pátria, 102 franciscas, 78
filho da po...lícia, 102 frangalho, 82
filho da púcara, 102 fraqueza (de peito), 16
filho da puxa, 102 frasco, 80
137
fraudar, 88 gaveta, 86
fricções lombares de marmeleiro, gavetão, 66
70 gazear (gazetear), 65
fúfia, 33 gazeta, 65
fuínha, 45, 49 gazeteiro, 65
fundo das costas, 79 ginga, 107
furado, 53 ginja, 32
furalhar, 110 golfar, 94
furo, 110 gordo, 32
furtar, 61 gorila, 67
furto, 60 gostar, 96
futre, 45 gota, 16
governanta, 97
gado, 102 gozar (uma mulher), 110
gafaria, 15 gramar aos molhos, 97
gafeira, 15 grande dona, 21
gafo, 15 grande garça, 21
gá-gá, 40 gravidez, 112
gaiola (de cinco arames), 66, 111 gregório, 84, 112
gaita(s), 83, 116 grelha, 66
gaiteiro, 116 grelo, 86
gaja, 98, gajo, 28 grelos, 92
galantear, 96 greta, 86
galar, 110 grilo, 83
galdéria, 103 grisette, 99
galdeirona, 103 grosso, 84
galdrana, 103 gualdripar, 61
galdrapinha, 103 guarda-comidas, 76
galga, 44 guarda-esquadras, 67
galheta, 68 guardanapo de cinco pontas, 71
galhos, 116 guardar os pitos do Senhor
galhudo, s.m., 13 Abade, 23
gálico, 17 guedes, 40
galinha, 18, 101 guisos, 84
galiqueira, 17 guita, 56
gamar, 61 guitarra, 76
gambeta, 19 guitarra tocada, 88
gamboia, 77 gunda (bras.), 112
gansa, 101
garça, 48, 101 hair-dresser, 29
gargarejar, 96 hair-styling, 29
garrana, 49 hastes, 114
gata, gato, 49, 62, 86, 101 héctico, 16
gato-pingado, 24 hetaira, 99
gatuno, 62 hímen, 87
138
histórias da carochinha, 43 institut de beauté, 29
homem avançado em anos, 30 instrumento, 83
homem da limpeza, 31 interesseiro, 45
homem das botas, 44 intermediária, 104
homem do lixo, 29 inumação, 24
homossexual, 111 inumar, 23
honra, 87 invenção, 44
horácio, 112 inverdade, 44
hora derradeira, 20 invertido, 112
hora suprema, 20 ir abaixo de Braga, 90
horizontal, 99 ir a campo, 90, 94
horizontalismo, 99 ir a cantar ópera, 67
horta cerradinha, 87 ir ali fazer uma coisa, 94
hospital de alienados, 41 ir amassar barro com as costas,
hospital psiquiátrico, 41 23
Hotel de Caxias (Peniche), 66 ir a Montalegre e passar por
Hotel do Pinho, 65 Arcos, 50
huri, 99 ir ao cu, 112
ir ao curral, 90, 94
idade, 30 ir ao escritório, 91
idade avançada, 30 ir ao ilhó, 112
idade das almotolias de barro, 31 ir aonde o rei vai sózinho, 91
idiota, 41 ir ao pacote, 112
idoso, 30 ir à ópera, 67
ilhó, 80 ir aos arames, 42
iluminar a testa, 118 ir apanhar flores, 95
imaginar (inventar) coisas ir arrear as calças, 90
(histórias), 43 ir arriba dos pés, 90
imbecil, 36 ir à serra, 42
imundo, 31 ir às Marias, 101
inacinho, 39 ir a tomar ares de mar em Caxias
incandieirado, 50 (Peniche), 67
indigente, 52 ir atrás da casa, 90, 94
indisposição, 15 ir bonito, 46
indisposto, 15 ir chumbado, 49
indrómina, 44 ir colher flores, 95
inépcia, 35 ir com uma esposa, 50
Inês-de-Castro, 101 ir com uma furiosa, 50
infeliz, 52 ir dar de corpo, 90
ingénuo, 36 ir de cana, 66
inimigo, 12 ir de charola, 23
inocente, 36 ir desta para melhor, 22
insânia, 35, 40 ir fazer a vida, 104
insano, 40 ir fazer o serviço, 91
instalações sanitárias, 89 ir guardar os ciprestes, 23
139
ir no baú, 66 Jardim (Quinta) das Tabuletas, 23
ir no cambão, 66 jarrear, 47
ir para a banda de lá, 22, 23 já ter ido ao castigo, 89
ir para a cama com alg., 108 jazida, 23
ir para a cidade dos pés juntos, 23 jazigo, 23
ir para a companhia de, 97 jerico, 37
ir para a companhia dos pés joão-da-amora, 107
juntos, 23 joão-da-horta, 39
ir para a quinta dos pés juntos, 23 joaquina, 50
ir para as grades, 65 jogar na CUF, 112
ir para as malvas, 23 judite, 67
ir para a terra (dos pés juntos, do júlio, 105
salvamento, da verdade), 23 jumento, 37
ir para o céu, 22 juntar-se, 97
ir para (o) Conde Ferreira, 41
ir para o fanico, 104 lá, 20, 56, 79
ir para o ginjal, 23 lã, 55
ir para o major, 23 labrego, 39
ir para o maneta, 23 lagarto, 83
ir para o outro mundo, 22, 23 lampana, 44
ir poisar, 91 lamparina, 70
ir que nem um andor, 49 lançar fora, 94
ir regar a horta, 95 lanterna, 47
irregulares, 100 lapa, 70
irregularidades, 60 lapantana, 36
irritação, 41 lapão, 36
ir-se (embora), 21 lapardão, 36
ir-se para Deus, 21 lapardas, 36
ir-se para os anjinhos, 23 lapardeiro, 36
ir veranear para Belas, 41 laparoto, 36
isto, 58 lapónio, 36
lapouço, 36
jaça, 66 lapuz, 36
já está picada das abelhas, 78 laranjas, 77
jagodes, 39 larapiar, 61
já lá está (donde se não torna), 23 larápio, 62
já lá está (no reino da verdade), largar, 63, 93
20, 23 larilas, 112
já não comer mais broa, 23 lascar, 91, 110
já não é novo, 30 lastro, 92
já não está inteira, 88 latada, 70
já não lhe doi nada, 22 latrocínio, 60
já não tem cabelos, 31 lavar as mãos, 90
já não tem os três(-vinténs), 88 lavatório, 89
janota, 33 lavrador, 29
140
leão, 94 lopes, 39
lebre, 49 lorde, 33
lecas, 56 lorpa, 38
lelé (bras.), 112 lostra, 70
lembrete, 43 louco, 39, 40, 97
lenço de cinco pontas, 71 loucura, 36, 40
lençóis, 57 lucas, 39
lentriscas, 77 Lúcifer, 13
lepra, 15 lugar onde as costas perdem o
lérias, 44 nome, 78
levado da breca, 13 lunático, 40
levar, 68 lupanar, 105
levar ao calvário, 110
levar na anilha, 112 macaco, 83
levar na padieira, 112 maçãs, 78
levar na peida, 112 má catadura, 41
levar na tampa, 112 Madalena, 101
levar nas bitáculas, 71 maduro, 41
levar no cu, 112 mãe, 28
levar no pacote, 112 mafarrico, 13
levar no pailho, 112 magana, 103
levar para o tabaco, 71 magra, s.f., 21
levar uma lagosta, 95 magro, 32
levar uma prima, 50 mais feio que a morte negra, 31
levar um pão, 68 mal, 15, 16
levar um valente pontapé, 113 mala, 76
limalhas, 77 mal burdigalense, 17
limões, 77 mal caduco, 16
Limoeiro, 65 mal canadense (canadiano), 17
limpar, 60, 61 mal da Baía de São Paulo, 17
limpar as ideias, 110 mal d’ava-maria, 16
linchar, 25 mal de barraca, 17
linguado, 57 mal de coito, 17
liquidar, 25 mal de cuia, 17
liró, 34 mal de Fiúme, 17
liru, 41 mal de franga (frenga), 17
livrar de uma carga inútil, 91 mal de gota, 16
livre de preocupações mal de Hansen, 15
económicas, 54 mal de Lázaro, 15
livreiro, 62 mal de mulheres, 17
livro de óbitos, 20 mal de secar, 17
lixar, 110 mal de São Jó, 17
loló (bras.), 112 mal de são Mévio, 17
lona, 44 mal de São Semento, 17
longa viagem, 22 mal de Sta Eufémia, 17
141
mal de terra, 16 mandar passear (até Mérida), 71,
maldita, maldito, 14 73
mal divino, 16 mandar pentear macacos, 71
mal dos cristãos, 17 mandar uma carta ao Afonso
malfadado, 52 Costa, 91
mal francês, 17 mané, 39
mal germânico, 17 mané-carôlo, 39
malhar, 71 mané-coco, 39
malho, 56 mané-jacá, 39
mal ilírico, 17 manel, manesa, 39, 103
malina, 74 mané-zé, 39
mal napolitano, 17 maneta, 18
malota, 18 mangalho, 83
malote, 103 mango, 56, 83
mal polaco, 17 manguço, 56
mal ruim, 17 manicómio, 41
mal sagrado, 16 manipanso, 32
mal santo, 16 manquitó, 19
mal secreto, 17 manquitola, 19
mal terrível, 16 manuel-da-horta, 39
mal turco, 17 mão de finado, 45
maluco, 36, 39, 41 maquia, 55
maluquinho, 41 marado, 41
malvado, 13, 14 marafona, 103
mal vestido, 32 marchar, 23
manceba, 97 margaridas, 78
mandar abaixo de Braga, 71 maria-ingélica, 40
mandar à fava, 71 maria-mole (bras.), 107
mandar à lixa, 72 maricafedes, 112
mandar à mãe, 72 maricão, 106, 112
mandar à merda, 72 maricas, 106, 112
mandar à missa, 72 maricocas, 107
mandar à outra banda, 71 maricola(s), 107
mandar a pera, 86, 110 maricoquinhas, 107
mandar àquela parte, 71 maricotes, 107
mandar à sirga, 72 marido do cabide, 98
mandar à tábua, 72 marido enganado, 114
mandar bugiar, 71 marinelo, 107
mandar embora, 71 mariquinhas, 107
mandar lamber sabão, 72 marmelo(s), 49, 78, 93
mandar o bernardo às compras, marmelosas, 78
110 marmita, 76, 80
mandar os troços, 110 marocas, 107
mandar para o caralho, 71 marrã, 18
marrana, 18
142
marrancha, 18 mestre, 29
marranica, 18 mestre de escola, 29
marranita, 18 mestre de primeiras letras, 29
marrar, 23 metade, 27
marreca, 18 meter a bola, 44
marreco, 18 meter a lança, 61
martelo, 83 meter a unha, 61
marzápio, 84 meter ao bolso, 60
masmorra, 66 meter o arco, 64
massa, 55 meter o pé na carreira, 64
massacrar, 25 meter o pé pelo mundo, 64
massaroca, 55 meter os tampos dentro, 88
mastro, 83 meter o urso, 44
masturbação, 111 Michela, 101
mateus, 39 Michelena, 101
matias, 39 mictar, 94
matriculadas, 100 mictório, 90, 94
matrículas, 100 mija-mansinho, 32
matuto, 39, 40 mijar, 94
mau olhado, 18 mijo, 94
mazurca, 49 milho, 56
medianeira, 104 míngua, 52
medir o costado, 70 minha cara metade, 27
megera, 21 minhoca, 83
meia-dose, 32 minhocas na cabeça, 38
meio pintor, 57 minotaurizar, 118
melancigas, 78 minotauro, 118
melão, 32 miolo de grilo, 38
melões, 78 miscar-se, 63
melrinho, 86 miserável, 45, 53
membro (viril), 82 miúdos, 56
mendigo, 53 mobilizar, 62
menina, menino, 39, 99, 112 moça, moço, 30, 97, 99
menina (menino) bem, 33 moça da vida airada, 99
menina-canasta, 33 moça de servir, 29
meninas da trama, 99 mocho, 14
menino pipi, 34 moer, 71
mentecapto, 40 moléstia feia, 17
mentir, 43 moléstia de senhoras, 17
mentira, 43 moléstia vergonhosa, 17
mentiroso, 43 molhar o pincel, 110
merda, 92 molho, 69
meretriz, 98 mona, 49
mesquinho, 45 moni, 57
Messalina, 101 montar, 110
143
monte, 92 nádegas, 78, 80
montepio, 58 naipe, 56
morar no Alto de São João, 23 namoricar, 97
morbo gálico, 17 namorico, 97
morca, 76 não acordar mais, 21
morder o pó, 23 não andar bem dos intestinos, 91
mordeu-lhe a mosca, 42 não é bonito, 31
morfeia, 15 não é muito forte, 32
morrer por alg., 97 não é uma brasa, 31
morrinha (bras.), 75 não estar bom da cabeça, 36
mosca, 42, 43, 55, 67 não estar em si, 42
moscar, 63 não lhe doía a cabeça, 115
moscardo, 67, 69 não passar da cepa torta, 54
mosco, 60 não pescar bóia, 39
mosqueiro, 80 não poder com uma gata pelo
mosquete, 70 rabo, 32
mudar de óleos, 110 não regular bem (do juízo, da
mula, 17, 49 bola, do caco), 36
mulher-dama, 100 não saber bóia, 39
mulher da rua, 100 não saber patavina, 39
mulher da vida, 100 não ser muito bem dotado, 36
mulher de leva e traz, 104 não ser seguro de mãos, 61
mulher de má nota, 100 não ter feições agradáveis, 31
mulher de má vida, 100 não ter senão a pele e o osso, 32
mulher de porta aberta, 100 não ter senão o olho na cara, 32
mulher de rótula, 100 não ter com que mandar cantar
mulher de trama, 100 um cego, 53
mulher devida airada, 100 não ter eira nem beira, 53
mulher de vida fácil, 100 não ter onde cair morto, 53
mulher do beco, 100 não ter os cinco alqueires bem
mulher do fado, 100 medidos, 36
mulher do mundo, 100 não ter os cinco (sentidos), 36
mulher errada, 100 não ter problemas financeiros, 54
mulheres toleradas, 100 não ver um palmo diante do
mulhericas, 107 nariz, 36
mulher perdida, 100 narceja, 69
mulher por conta, 98 nascer, 114
mulher pública, 100 natura, 82, 85
mulher que fuma, 100 natureza, 82, 85
mundana, 103 necessária, 89
muricego, 15 negra, 21
murro, 70 nêspera, 49, 80, 86
músico, 116 neura, 35
neurastenia, 35
nabo, 13, 37, 49, 83 nica, 110
144
nicar, 110 ovos, 84
nicola, 110
níqueis, 57 pachacha, 87
nódoa, 87 pacote, 57, 80, 112
Noé, 50 pacóvio, 38
nojento, 31 padaria, 80
nome de substância muito dura, padieira, 112
115 padrasto, 27
nota (grande), 57 padrinho, 28
novelos, 77, 84 pagar em moeda de costela, 71
paginar, 23
o, pron., 57, 115 pai, 27
óbito, 20 pai de todos, 84
obrar, 90 pailho, 112
obrigações, 58 painço, 56
ocaso, 20 paio, 40
odontólogo, 30 pala, 44, 48
odre, 47, 84 palão, 44
olhar com olhos de carneiro mal palerma, 40
morto, 96 palhaço, 57
olho (do cu), 80 paliteiro, 116
olho vê, mão pilha (tira), 61 palmanço, 60
olho vê, mão pilha e pé ligeiro, palmar, 66, 61
61 paloma, 101
onanismo, 111 palúrdio, 38
ontário, 37 panasca, 112
onze, 118 pança, 76
onze-letras, 105 pancrácio, 39
onzeneira, 105 pandeiro, 80
opa, 48 panela, 80
operação, 60 paneleiro, 112
operário, 30 panga, 107
opulência, 54 pãozinho, 33
o que falta às cabras mochas, 115 pantaleão, 40
orate, 41 panturra, 76
órgão, 49, 81, 85 papa-açorda, 32, 36
órgão genital, 85 papa-fina, 33
órgão reprodutor, 81, 85 papa-la-açorda, 36
órgão sexual, 81, 82, 85 papalvo, 37
ornamentar, 115 papa-moscas, 36
os, pron., 85, 115 papo-seco, 33
ostreiro, 62 pápulas, 57
otário, 37 pára-choques, 77
ourina, 94 pára-quedas, 75
ovo (sem casca), 91, 92 pardal, 86
145
parece a morte em pé, 32 patareco, 39
parece um cabide de fatos, 32 pataroco, 39
parece um carapau seco, 32 pata-galhana, 19
parir, 114 patamecos, 87
parrameira, 87 patear, 23
parteira, 30 pateta, 39
partes, 82 pato, 38
partes carnudas, do organismo, patola, 38, 39
79 patranha, 44
partes (genitais), 82, 85 patrão, 28
partes pudendas, 82, 85 patrãozinho, 28
partes secretas, 82, 85 patriota, 77
partes vergonhosas, 82, 85 patriotismo, 77
partir desta para melhor morada, patroinha, 28
22 patuno, 87
partir para a viagem de que se pau(s), 57, 84
não regressa, 22 pau de cabeleira, 105
parvinhos, 36 pau de vassoura, 32
parvalhão, 36 pau de virar tripas, 32
pasma, 67 pau-do-ar, 115
pasmado, 67 pecar (contra o sexto
paspalhão, 37 mandamento), 108
paspalho, 37 pechincho, 87
passamento, 20 pechota, 84
passar à letra f, 110 pedaço de asno, 37
passar (à melhor vida), 21 pederasta, 111
passar a perna, 64 pé-de-salsa, 112
pássara, 86 pé-descalço, 54
passar as palhetas, 64 pedicuro, 29
passar desta vida para melhor, 22 pedincha, 53
passar deste mundo a Deus, 22 pedinte, 53
passarinha, 83, 86 pedir esmola de chapéu na
passarinho, 86 cabeça, 61
passar-lhe os cinco pega, 98
mandamentos, 61 pegar, 71
pássaro, 86 pegas do vício, 101
passaroca, 86 peida, 80, 112
passarola, 86 peidar-se, 93
passar os butes, 64 peido, 93
passar-se, 21 peito(s), 76
passas, 69 peladinha, 87
pasta, 56 pele de asno, 37
pastilha, 70 peleira, 48
pataco, 56 pelintra, 45, 54
patarata, 44 penachada, 108
146
penico, 94 pilim, 56
pénis, 81 pilita, 84
pensão, 65 Pílulas, s.m., 38
pente, 98 pimpão, 34
penúria, 52 pinar, 110
pepé, (bras.), 19 pinga, 49
pepino, 83 pingolada, 108
pera, 69, 86 Pinhal de Azambuja, 60
peralta, 33 pinoca, 34
peralvilho, 33 pinocada, 110
perder a colher, 23 pinóia, 103
perder a flor de laranjeira, 87 pinta, 87
perder-se, 104 pintor, 57
perdido, 97 pipa, 47, 76
perecer, 21 pipi, 34, 84
peripatética, 99 pirar-se, 63
perna-fina, 34 pirilau, 84
perna-fofa, 19 piroca, 84
perna-tesa, 34 pirocada, 108
perneta, 18 pírulas, s.m., 38
pertencer a um homem, 108 pisgar-se, 63
pero, 69 pissa, 84
Pero Botelho, 13 piteira, 49
perua, 48 piteireiro, 49
peruca, 48 piteiro, 107
pés de galápio, 19 pito, 86
pés para que vos quero, 64 pivete, 75
pêssega, 86 pívia, 111
peta, 44 pixa, 84
petimetre, 33 pobre (de Cristo), 53
pevide, 81 pobre de espírito, 36
pica, 84 pobre de pedir, 53
picador, 62 pobre diabo, 53
picar, 61, 110 pobretaina, 53
pichorras, 77 pobreza, 52
pico, 84 poço sem fundo, 50
picou-lhe a mosca, 43 podex, 78
piela, 50 podem-se-lhe contar as costelas,
pielazinha, 50 32
pila(s), 84 podre de rico, 54
pildar, 63 poio, 92
pildra, 66 polícia, 66
pildrar-se, 63 pomada de cheiro, 44
pilha-galinhas, 62 pomadista, 44
pilhar, 61 poma(s), 76, 78
147
pomba, 86 prender-se, 96
pombinha, 86 prenhez, 113
pombinho, 48 presente, 92
pombo (sem asas), 92 presente de França, 113
ponta(s), 84, 114 préstito fúnebre, 24
pôr a barriga à boca, 113 Príncipe do ar, 13
pôr à sombra, 65 prisa, 65
pôr as tripas ao sol, 25 prisão, 65, 66
porcalhão, 31 prisão de ventre, 92
porco (sujo), 13, 49 privada, 89
pôr o rabo a arder, 70 professor, 29
pôr os cornos, 115 profissão horizontal, 99
pôr os palitos, 116 prostíbulo, 105
pôr os pés em polvorosa, 64 prostituta, 98
porquear, 110 proxeneta, 105
porra, 83 pupilas, 99
pôr-se a andar, 64 pureza, 87
pôr-se à meia porta, 104 puta, 102
pôr-se a mexer, 64 puto, 112
pôr-se a milhas, 64 puxar o autoclismo, 91
pôr-se ao fresco, 64 puxar a trouxa, 23
pôr-se em polvorosa, 64
pôr-se em sentido, 23 quadrúpede, 37
pôr-se na alheta, 64 quartos, 78
pôr-se na perna, 64 quatro tábuas, 24
pôr-se na pireza, 64 quebra, 58
pôr-se no mundo, 64 quebrado, 58
pôr-se no pirandó, 64 quebranto, 18
porta-seios, 75 quebra-bilhas, 112
pôr um ovo (sem casca), 91 quebradiço, 32
posse indevida, 60 queijo (bras.), 32, 81
possuir, 108 queimar os miolos, 25
posterior, 78 querer (bem), 96
pote partido, 88 queirós, 40
pouco cuidadoso na limpeza do queixa de peito, 16
corpo (do vestuário), 31 quente (da orelha), 50
pouco esperto, 36 quilhar, 110
pouco inteligente, 36 quilhos, 84
pranchada, 108 quilo, 57
prateleiras, 77 quinar, 23
prateleiros, 77 Quinta do Muro Branco (do
predestinado, 117 Padre), 23
pregar uma escova, 44 quinta dos calados, 23
pregar ventos, 93 quinta das lajes, 23
prego, 58 quinta dos pés juntos, 23
148
quiosque (de verter águas), 81, 89 relações (sexuais), 108
quitar, 60 render a alma (a Deus), 22
render o espírito, 22
rabadilha, 80 rengo, 19
rabão, s. m., 13 rentar-se, 93
rabeta, 112 repolhaço, 32
rabicho, 112 repousar no Senhor, 22
rabinho, 80 repouso, 23
rabiosque, 80 repreender, 43
rabisteques, 80 requestar, 96
rabo, 80 resfriou-lhe o céu da boca, 22
rabudo, s.m., 13 rapo, 92
racha, 86 restos mortais, 23
rachada, 86 retardado, 41
ralhete, 43 retrete, 89
ralo, 31 reverso corporal, 79
rameira, 103 reverso da medalha, 78
ramona, 66 ricaço, 54
rapariga, 97, 99 rins, 84
rapaz (novo), 30 ripar, 61
rapina, 60 riqueza, 54
rapinar, 61 roberta, 40
raposa, 14, 49 Roberto, 102
raposar, 65 rodízio, 112
raposinho, 74 rola, 48
rascôa, 103 roto, 112
raspanço, 43 rotunda, 113
raspanete, 43 roubar, 61
raspar-se, 63 roubo, 60
rata, rato, 49, 62, 86, 102 roupa de baixo, 75
rateira, 102 roupas menores, 75
rato de armário, 62 rua das mulheres que fumam, 100
rato de feira, 62 rufião, 105
rato de hotel, 62 rusga, 49
ratonar, 61
ratoneiro, 62 sabão, 43
rebentar, 23, 25 saber a boca a papel de música (a
rebentar os tampos, 88 papelão), 51
reca, 102 saber a ferraduras de burro, 51
recachiço, 75 sabonete, 43
recto, 78 sacana, 111
redanho, 76 saco de batatas, 32
região secreta, 85 saco de broas, 76
reino das trevas, 13 sacudir a poeira, 70
reino da verdade, 20 sacudir as moscas, 70
149
safadeza (bras.), 109 ser corneado, 117
safar-se, 63 ser de comer, 96
sai ao pai, 78 ser de letras gordas, 39
salão de beleza, 29 ser de um homem, 108
salgadeira, 24 ser furada, 88
saliência traseira, 79 serigaita, 102
salsinhas, 107 serpente, 13, 15
salvo seja, 79 serventia, 84, 87
salvo tal lugar, 79 serviço, 60
samarra, 18 servidor, 94
samarrão, 103 sesso, 79
sanatório, 41 sete palmos de terra, 24
sanita, 89 sexo, 82, 85
sanha, 41 sicário, 25
santinho, 36 sílfides, 99
santo, 36 sífilis, 15, 16
sapateiro, 29 silvaninha, 50
sapo, 15 simão, 40
sarabanda, 43 simples de espírito, 36
sarambia, 111 sim-senhor, s.m., 79
sarcófago, 24 sinais d’homem, 84
sardinha, 69 sítio mais almofadado do corpo,
Satã, 13 79
Satanás, 13 situação angustiosa, 52
satisfazer os seus gostinhos, 111 slip, 75
sebastião, 40 sobretudo de madeira (de pau),
sebento, 31 24
seca-adegas, 50 sodomita, 112
sécio, 34 sogra, 27
segóvia, 111 solfejo, 93
seio, 76 solha, 69
seis-e-cinco, 105 soltar o último alento (suspiro),
sem meios, 52 22
Sem-Perdão, s.f., 21 soltar-se o ventre, 93
sem recursos, 52 solteirão, 31
sem tusto, 53 solteiro, 31
senhor alferes, 116 soltura (de ventre), 91
Senhora Dona, 28 somítico, 45
senhor guarda, 28 sopa de urso, 69
senisga, 49, 86 sopaina, 19
sentina, 89 sórdido, 31
sepulcro, 24 só ter a mão direita para o amor,
sepultar, 23 111
ser chamado por Deus, 22 soutien, 75
ser (ter) chegado a sua hora, 21 subir a mostarda ao nariz, 43
150
subir ao céu, 22 tempos de Maria Castanha
subtrair, 60 (Cachucha), 31
sucumbir, 21 tem-te não caias, 49
sujar, 90 tenaz, 45
sujeita, sujeito, 21, 28 tenente, 116
sujidade, 92 tentador das almas, 13
sujo, 31 ter a algibeira quente, 54
sumiço, 60 ter a cabeça enfeitada, 115
suprimir, 25 ter amores com a mana da Canha,
surrão, 104 111
surripiar, 61 ter areia na cabeça (no saco), 38
surripio, 60 ter as suas horas contadas, 21
suspiro do corpo, 93 ter avaria no casco (na máquina),
sutiã, 75 38
ter barriga, 113
tábua (das almas), 78 ter cobres, 55
tábua de engomar, 78 ter cotão nas algibeiras, 53
tacanho, 45 ter c’roas, 54, 55
taco, 56 ter dois vinténs, 56
taínha, 67 ter falta de miolo, 38
tal sítio, 79 ter falta de razão (de tino), 36
tambo, 106 ter intimidades com alg., 109
tampa, 112 ter lâmpada acesa no Banco de
tangerinas, 78, 84 Portugal, 54
tanso, 39 ter macaquinhos no sótão, 38
tapado (que nem uma porta), 39 ter mundos e fundos, 55
tarado, 41 ter o céu da boca frio, 23
tarracha, 87 ter o seu vintém, 56
tata, 92 ter os faróis acesos, 50
T.B.C., 16 ter os pés inchados, 48
teimosia, 41 ter os seus dias contados, 24
tem mau cabelo, 32 ter o último andar pouco
tem o cabelo estrigado, 32 mobilado, 36
tem o cabelo pouco basto, 32 ter pancada na mola, 38
tem o cabelo pouco denso, 31 ter passarinhos no sótão, 38
tem o cabelo pouco espesso, 31 ter pelo beiço (beicinho), 97
tempo da onça, 31 ter pílulas no capacete, 38
tempo da pedra lascada, 31 ter pouco fósforo, 38
tempos dos Alfonsinhos, 31 terra da verdade, 22, 24
tempo em que Adão era cadete, terra fria, 24
31 ter teias de aranha na cabeça, 38
tempo em que Judas perdeu as ter uma aduela a menos, 38
botas, 31 ter um filho, 114
tempo da rainha Patuda, 31 ter um fraco por alg., 97
ter um grande chapéu, 118
151
ter um parafuso a menos, 38 trabalhar, 60
ter um T na testa, 36 trabalhinho, 109
testemunhos, 84 trabalho, 60
testículos, 81, 84 trampa, 92
tetas, 107 tranca, 45
tia, tio, 28 trancafiar alg. no xadrez, 65
tingar, 63 transe, 20
tintureiro, 66 trânsito, 20
tipas, 100 traque, 93
tira, 67 traseiro, 79, 80
tirar o cabaço, 88 traste, 84
tirar o melhor, 87 traulitada, 109
tirone teso, 33 trazer ao mundo, 114
tísica, 16 trazer de ganho, 113
tisnar, 63 trazer pelo beiço, 97
tocado (da pinga), 46 trepar, 110
tocar a furriéis, 111 três(-vinténs), 88
tocar a Marselhesa, 111 trespassar, 21
tocar pandeiro, 70 trespasse, 20
tocar uma pavana, 70 tretas, 44
tocar uma punheta, 111 tricas, 112
tocar uma rosa, 111 trinca-espinhas, 32
toleradas, 100 trinca-pintos, 15
tolinho, 36 trinques (bras.), 34
tolo, 36 tripa, 76
tomara que caia (bras.), 75 triques, 34
tomar às de Vila Diogo, 64 troca-tintas, 44
tomar chá de cipó (bras.), 69 troço, 92
tomar gargarejos, 96 trombicar, 110
tomar o tole, 64 tronco, 66
tomar um ganso, 49 trouxa, 38, 84
tomata, 84 troviscado, 49
tomate, s.f., 84 tuberculose, 16
tomates, 84 tumba, 24
tone, 39 túmulo, 23
tonha, 50 turca, 50
tonho, 40 tusto, 57
topinho, 19 tutu, 80
topino, 19
tostão, 57 última morada, 23
tontinhos, 36 última viagem, 20
tonto, 36 uma, 20, 46
totó, 84 um pouco nutrido, 32
touca, 48 unhacas, 45
toupeira, 37 unhante, 62
152
unhar, 61 velha do alfange (bras.), 21
unhas (-de-fome), 45 velhice, 30
urina, 94 velhinho, 30
urinar, 94 velho, 30
urinol, 94 velhota, velhote, 30
urna (funerária), 24 venéreo, 17
usurpar, 60 ventejar, 93
ventosidade, 93
vá à erva!, 72, 73, 92 ventre, 75
vá à fava!, 92 Vénus de “trottoir”, 99
vá à mãe!, 72, 73, 92 veranear para o Júlio de Matos,
vá à merda!, 72 41
vá à missa!, 72, 73, 92 Verde Limo, 65
vá a Palmela, 72 verga, 83
vá àquela parte!, 72, 92 vergalho, 83
vá àquele sítio!, 72, 92 vergonhas, 82, 85
vá à tal parte!, 72, 92 ver o padeiro, 111
vá bardamerda!, 72, 92 ver o sol aos quadradinhos, 65
vá bugiar!, 72 verso, 79
vaca, 102 verter águas, 94
vadiar (bras.), 110 vesânia, 35, 40
vagarosa, 66 vesano, 40
vagina, 81, 85 vespeiro, 86
vai chatear outro!, 73 vésperas, 113
vai para o diabo!, 73 vestais, 99
vai-te despir!, 73 via de frente, (diante), 79, 85
vai-te encher de moscas!, 73 via de trás, 79
vai-te matar!, 73 viagem de onde se não volta, 20
vá lamber sabão!, 72 vicente, 84
vá para a amarela!, 73, 92 vigarista, 62
vá para a beira da merda!, 72 vinagre, 45
vá para a puta que o pariu!, 73 vinagreira, 49
vá pentear macacos!, 73 vintém, 56
vá p’rá marela!, 72, 92 vir (de Paris), 114
variado, 39 viradinho de juízo, 39
varrer as mãos nas coisas, 61 vir à luz (ao mundo), 114
varridinho do juízo, 39 virar, 25
varunca, 107 virgo, 87
vá-se foder!, 72 vir mosca, 43
vá se fo...tografar, 72 visitar as Marias, 101
vaso de noite (câmara), 94 viúva-alegre, 66
vazar, 93, 114 viver em concubinato, 97
veado, 116 viver na companhia de alg., 97
veio, 87 viver na lazeira, 53
velha da foice, 21 vizinhos, 84
153
vou ali (fazer uma coisa), 90 zangurriana, 49
vomitar, 94 zaranza, 41
vómito, 94 Zé (Alves), 84
vou ali, venho já, 90, 94 zé-da-véstia, 40, 87
vou lá dentro, 90 zé-godes, 40
vulva, 81 zé-piegas, 40
zé-quitólis, 40
W.C., 89 zerpelão, 48
zézinho, 84, 87
xadrez, 65 zoeira, 49
xarifa, 87 zoina, 104
xarope de marmeleiro, 70 zorate, 41
xelindró, 66 zorra, 102
xelro, 66 zorrum, 74
zoupeira, 104
zabaneira, 104 zuca, 41
zambro, 19 zumba, 70
zanga, 41 zurca, 49
154
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