A Filha da Empregada
by Naomi Belmont
Índice
1. Seja bem-vinda... Ou não
2. Irmãos Hunter
3. Aquele loiro só pode estar
brincando
4. O Passeio
5. Estranho e bom
6. Que porra foi essa?
7. Não sei como explicar
8. Almoço com os Hunter
9. Escola JK
10. Surpresas
11. Hunter que eu amo x Hunter
que eu odeio
12. Agora deu merda
13. Por que era tudo tão
complicado?
14. Talvez as coisas estejam
melhorando
15. Um ótimo dia
16. Festa do Bruno
17. Autocontrole de uns...
18. O resto de um dia ruim
19. Eu não iria aguentar viver
sem você
20. Ele me ama. Isso que importa.
21. Pistas
22. Unidos pelo ódio
23. Nenhum Hunter é igual ao
outro
24. Jantar, revelações e Joshua
25. Primeira vez
26. Amor, amor, amor
27. O Acampamento
28. Plano cruel
29. A pior coisa que poderia
acontecer
30. Notícia ruim se espalha rápido
31. Tentei não sentir pena
32. Cada irmão com seu problema
33. A verdade, no fim, sempre
aparece
34. A segunda vez é ainda melhor
35. O novo e o inesperado
36. Festa que deu errado
37. Depois
38. Os motivos do Michael - Parte
I
39. Os motivos do Michael - Parte
II
40. Eu não sabia o que pensar
41. Eu senti sua falta
42. Ninguém esperava por essa
43. Anna
44. Notícias
45. Eu os amava
46. E todos nós o amávamos de
volta
47. Eu esperaria
1. Seja bem-vinda... Ou não
– Oi mãe, tudo bem? – Eu
cumprimentei assim que entrei em
casa, jogando as sacolas de
compras no
sofá.
– Oi filha! – Ela sorriu e eu corri
para abraçá-la. – Tenho que te
contar uma coisa.
Saí do abraço devagar e fui para o
sofá onde tinha jogado as sacolas,
sentei e esperei ela começar a falar.
– Diga ai.
Ela ficou em pé a minha frente, com
um sorriso quase maior que a cara
dela. Não pude deixar de
sorrir também, mesmo sem saber do
que se tratava.
– Então... Eu consegui um emprego!
Me levantei no mesmo segundo e
dei vários pulinhos de felicidade.
Eu sabia o quanto ela estava
procurando por isso, desde que os
Barbosas tinham demitido ela.
– E não é só isso; – ela continuou,
sorrindo ainda mais – eu conversei
com a mãe da família e ela me
garantiu que tem quartos o
suficiente para mim e para você
dormirmos lá e que fazia questão de
que
você estudasse na mesma escola
que dois dos filhos dela.
Eu quase caí de felicidade. Eu não
aguentava mais aquela escola
publica onde eu estudei ano
passado. E o melhor: Nós iríamos
sair daquele ovinho que chamamos
de casa. Comecei a pular ainda
mais e ela me acompanhou, rindo
de alegria.
– Quando você vai começar? – Eu
já estava ansiosa.
– Estamos no dia 5 de janeiro
ainda, então eu combinei com a
Dona Nicole que daqui a uma
semana
no máximo já estaria lá com você e
ai a gente faz a sua matricula no
colégio.
Sorri com o coração batendo forte.
Uma semana para minha vida
mudar.
[...]
O táxi parou em frente à mansão
dos Hunter. Senti meu corpo tremer
de excitação enquanto eu e
minha mãe saíamos do carro com
nossas malas.
Respirei fundo e olhei para mansão;
dois andares enormes, uma quadra
de futebol ao lado, um jardim
tão longo que eu me senti até um
pouco perdida pela dimensão de
todo aquele lugar, que dava para
ser enxergado quase todo por causa
do muro baixo – a mansão estava
dentro de um condomínio
fechado que continha apenas cinco
casas, todas pertenciam à família
Hunter.
Minha mãe, com os olhos tão
arregalados quanto os meus, tocou a
campainha.
– Quem é? – Perguntou a voz doce
de uma mulher pelo interfone.
– Sou eu, Melissa.
– Um segundo.
A porta eletrônica se abriu e eu vi
uma mulher elegante, com a pele
muito branca e os cabelos negros e
lisos que iam até o ombro, mais ou
menos no meio do grande jardim.
Ela abriu um sorriso perfeito
ao nos ver.
– Olá Melissa! – A mulher disse e
agora que tinha se aproximado de
nós eu pude notar algumas
ruguinhas quase invisíveis no canto
de seus olhos verdes-mar. – Eu sou
Nicole, muito prazer.
Ela abraçou minha mãe e depois
veio a até mim, parando um
pouquinho para olhar no fundo dos
meus
olhos.
– Você deve ser a Susan; me lembra
da filha mulher que eu sempre quis
ter – falou enquanto me
abraçava, ainda sorrindo. Tentei
não me sentir constrangida com
tanto contato.
– MÃE, PARE DE ME
ENVERGONHAR!
Levantei os olhos e vi que do outro
lado do jardim, na varanda que
dava entrada a casa, estava um
garoto mais velho que possuía um
par de olhos azuis tão intensos que
dava para ser visto dessa
distância.
– Ah filho, venha cá conhecer elas!
– Dona Nicole gritou de volta para
o garoto, que simplesmente
balançou a cabeça em negativa e se
virou de volta a porta da casa.
– Aliás, eu estou com fome – ele
disse mais alto do que o necessário
e desapareceu de vista.
– Me desculpem pelo
comportamento do Joshua...
– Não tem problema; deixe-me só
colocar as malas no quarto que eu
faço uma comida para ele –
minha mãe respondeu com aquele
tom de simpatia que fazia qualquer
um gostar dela.
Passei pelo longo jardim enquanto
minha mãe conversava com a
senhora Nicole. Na porta da casa, a
dona Nicole parou e eu e minha
mãe paramos em seguida, por
educação.
– Como já havia dito para você
Melissa, existem muitos quartos
sobrando nessa casa, mas... – ela
desviou o olhar, envergonhada. –
Meus filhos Michael e Joshua
insistiram que vocês ficassem uma
no
sótão e a outra no porão... Claro
que eu posso conversar mais com
eles, é claro, se isso for ofensivo
ou algo assim... – se apressou em
completar.
– Tudo bem – falei antes de minha
mãe responder. Era até melhor que
eu não queria ter que passar
pelo quarto daquele tal de Joshua
antes de ir dormir.
A mulher sorriu aliviada.
– E não precisam se preocupar, eu
faço questão de arrumar os quartos
de vocês para que fiquem os
melhores possíveis – prometeu
rapidamente.
Ela passou pela porta e fez sinal
para entrarmos.
Senti meus olhos se arregalando ao
perceber o tamanho da sala –
praticamente o mesmo de toda a
minha antiga casa e um milhão de
vezes mais bonito. Tentei não
demonstrar minha surpresa e
continuei andando, olhando todos
os detalhes.
– Bem, eu já arrumei um pouco os
quartos que vocês irão usar e...
– Então essa é a nova empregada e
a filha dela?
Olhei ao redor e vi um menino se
levantando do sofá e vindo a nossa
direção; seu cabelo era tão
preto quanto a noite, contrastando
com olhos verde-mar, exatamente
iguais ao da Dona Nicole. Ele
deveria ter minha idade, no
máximo.
– Prazer, meu nome é Melissa –
minha mãe estendeu a mão para ele
e ofereceu um sorriso. Ele
ignorou ambas as coisas e eu
comecei a fuzilá-lo com o olhar por
ter feito isso.
– Eu sou Michael – disse olhando
fixamente para mim. Como eu não
respondi, ele simplesmente
voltou para o sofá em frente à
televisão gigante.
Troquei olhares com a minha mãe e
ela me lançou um “deixe isso pra
lá” sem palavras. Suspirei,
ainda incomodada.
– Vamos, creio que você – a dona
da casa olhou para mim, ignorando
completamente a cena anterior
– vá preferir ficar no sótão, lá tem
uma vista incrível para as estrelas.
– Se minha mãe concordar...
Ela balançou a cabeça em
aprovação e Dona Nicole deu um
sorriso.
– Ótimo! Venha comigo Susan, eu
vou te mostrar onde é. Enquanto
isso, Mel, gostaria que você
esperasse aqui, quando eu voltar te
mostro a casa e o seu quarto –
mamãe concordou com a cabeça e
a Dona Nicole me puxou pela mão,
animada em um nível que eu
conseguiria entender, mas que
gostava de sentir.
Ela passou por uma cozinha tão
grande quanto a sala e apertou o
botão do elevador ao lado de um
corredor.
– O sótão fica no terceiro andar e o
elevador dá direto para a porta do
seu quarto – ela informou
enquanto entrava e apertava no
botão.
– Certo.
– Você não de falar muito, é?
– É que eu não costumo falar tanto
quando ainda não conheço alguém...
– Olhei para o chão, meio
envergonhada.
– Ah, mas não precisa ser assim
comigo, pode me considerar uma
segunda mãe, ok? – Ela me
estendeu a mão.
– Ok.
Segurei a mão dela e sorri.
– Oi!
Me virei assustada e vi que a porta
do elevador tinha se aberto e um
menino alto com os olhos muito
azuis sorria para mim, como se
tivesse aguardando para me ver em
frente à porta do sótão todo esse
tempo
– Oi... – disse tímida enquanto ele
me abraçava e sorria, mostrando
duas covinhas fofas.
– Muito prazer em te conhecer!
Meu nome é Nicolas, eu sou o
irmão do meio – apresentou- se ele,
se
afastando de mim e olhando para a
mãe, que ria baixinho.
– Meu nome é Susan – respondi e
ele balançou a cabeça, depois se
virou e abriu a porta do sótão.
Minha boca se abriu quando eu vi o
que tinha dentro. Era duas vezes
maior que o quarto que eu
dividia com a minha mãe; de um
lado tinha uma estante de livros e
um guarda roupa, do outro lado a
cama – que ficava em frente à TV –,
mas minha parte preferida era sem
dúvida a janela enorme e a
pequena varanda que dava para ver
as estrelas.
– Eu sei que ainda não está muito
organizado, mas... – ouvi a Dona
Nicole dizer enquanto
entravamos.
Eu ri. Aquilo era mais organizado
que a minha vida toda.
– É lindo, obrigada Dona Nicole.
Ela e o Nicolas sorriram e me
deixaram a sós com... O meu
quarto. Meu Deus, aquilo só podia
ser
um sonho.
Abri meu guarda-roupa e comecei a
tirar as coisas da minha mala,
arrumando lá dentro.
CRIC
Girei meu corpo rapidamente e vi o
garoto chamado Joshua trancando a
porta e olhando para mim,
com aqueles olhos azuis repletos de
malicia. Agora que estava perto eu
conseguia ver melhor os
cabelos loiros dele.
– Oi, acho que não formos
devidamente apresentados; meu
nome é Joshua – ele sorriu e uma
covinha
apareceu no lado esquerdo da sua
bochecha, bem de leve.
– Meu nome é Susan... Hã, por que
você trancou a porta? – Eu olhei
para ele, que apenas andou na
minha direção, ainda sorrindo.
– Eu te achei muito bonita Susan –
sussurrou quando estava a dois
passos de mim.
– Obrigada... – Eu não sabia o que
dizer.
– É, você vai ser obrigada a fazer
muitas coisas.
E então as coisas aconteceram.
O Joshua me empurrou contra o
guarda-roupa com força e levantou
meu queixo com os dedos, para
que eu olhasse para ele.
– Agora eu não vou fazer nada com
você, tenho compromissos, mas... –
ele sorriu de um jeito ainda
mais pervertido e me soltou, saindo
de perto de mim. Só quando já
estava na porta, se virou
novamente. – Está avisada, agora
vá arrumar essas suas tralhas, eu
volto depois.
Ele destrancou a porta e saiu,
batendo ela com força depois.
O que foi isso?
2. Irmãos Hunter
Eu balancei a cabeça, sem entender
o que tinha acontecido... O que o
Joshua queria comigo? Fala
sério, ele é lindo o suficiente –
talvez até mais do que o suficiente
– para conseguir qualquer menina
do mundo e vem logo pra mim?
Pelo amor de Deus, espero que ele
caia na real.
Voltei a arrumar as roupas no
guarda-roupa, então meu estomago
começou a roncar. Faz sentindo, eu
não como desde que cheguei nesse
lugar. Deixei algumas roupas ainda
para guardar e sai do quarto.
Apertei o botão do elevador –
porra, eles TEM um elevador – e
pensei um pouquinho sobre as
pessoas que eu tinha conhecido até
agora, de longe a Dona Nicole era a
mais legal... O Nicolas
também, mas algo me diz que ele é
legal demais. Um desperdício.
Desci direto para o térreo e virei à
esquerda, direto para a cozinha. Um
homem alto e loiro, usando
terno risca giz cinza, estava fritando
alguma coisa no fogão, tentei não
fazer barulho enquanto entrava e
abria devagar a geladeira, mas
como a vida é difícil todas as
garrafas de vidros tremeram e
fizeram um barulho muito alto.
Eu me virei na mesma hora pro
homem que também tinha se virado,
ele possuía os olhos e o cabelo
do Joshua, só que uns 20 anos mais
velho, o que só deixava-o mais
charmoso.
- Ah, você deve ser a filha da
empregada. – Ele falou com um tom
de tédio que me deixou um pouco
sem graça.
- Sou... Meu nome é Susan. – Eu
sorri gentil, mas o homem deu de
ombros, quase como um foda-se
sem palavras.
- Meu nome é Fernando. – Ele disse
já se virando de volta para o fogão.
Peguei qualquer uma barra de
chocolate na geladeira e sai
rapidamente.
Como eu ia dizendo: Apenas
Nicole e Nicolas prestam.
Voltei para o elevador e fui para o
2, apenas para conhecer a casa.
Assim que a porta se abriu eu vi o
Michael se olhando no espelho, me
virei para dá meia volta, mas ele se
virou mais rápido.
- Entre. – Ele disse olhando
intensamente para mim com aqueles
olhos irritantemente verdes.
Eu fiz o que ele disse e eu apertei o
botão, olhando pra ele.
- Oi... – Eu disse observando o seu
cabelo desarrumado, lindo e preto.
Ele só balançou a cabeça e eu abri
a barra de chocolate e comecei a
comer, notei ele olhando para
mim e eu devo ter ficado corada.
Por sorte, a porta se abriu no 2º
andar antes de eu enfiar minha
cabeça num buraco.
Ele também saiu do elevador que
dava para um corredor longo e
cheio de portas de diferentes cores.
Eu vi uma que me chamou atenção
no fim do corredor e me virei para
ir até lá.
- Acho que eu vou querer essa
barra. – Eu me assustei quando ouvi
a voz sensual dele no meio
ouvido, ele estava tão perto de mim
que eu conseguia sentir sua
respiração.
- Tem um monte lá na cozinha...
- Não empregadinha, eu quero essa
ai. – Ele falou de um jeito tão doce
que eu quase não notei ele me
chamando de empregadinha. Quase.
- Empregadinha uma porra, seu
merda. – Eu falei pra ele enquanto
me afastava, mas ele correu e
segurou meu braço, me virando
para ele.
- Que boca suja você tem... – Ele
disse colando o corpo dele com o
meu, não me mexi, o perfume
dele era tão bom que eu quase
fiquei tonta. – Sabia que você é
bem bonita?
Eu balancei a cabeça em negativa e
fechei os olhos, a voz dele estava
me matando. Ele passou uma
mão pela minha cintura e a outra
desceu pelo meu braço até chegar
na mão onde estava a barra de
chocolate, ele passou ela entre os
dedos para ficar de mãos dadas
comigo.
- De verdade. Você é tão... – Ele
falou baixinho no meu ouvido,
fazendo eu me arrepiar, eu abri os
olhos e vi q ele olhava para mim.
Então ele tirou a mão que estava na
minha cintura e usou para
levantar minha cabeça, pra eu olhar
para ele direito e sorriu sexy, eu
fechei os olhos de novo e abri um
pouco a boca para receber o beijo.
- ...Retardada! – Ele me empurrou,
com a barra de chocolate na mão
dele, rindo alto.
Eu senti meu corpo ferver de raiva,
aquele cretino estava brincando
comigo! Meus olhos se encheram
de lagrimas de ódio.
- Ah bebê, não precisa chorar, é só
uma lição rápida: Se eu pedir uma
coisa, diga sim. – Eu fechei o
punho, o que só fez ele ri ainda
mais e se virar para o elevador,
mandado um beijo cínico para mim.
Eu entrei correndo na primeira
porta que eu vi. Que vontade de
chorar! Ele tinha me feito de idiota!
E
olha que ainda era o meu primeiro
dia nessa casa...
- Ei, já entra assim? – Eu estava tão
ocupada pensando que nem notei o
quarto que tinha entrado, o
Nicolas estava só de bermuda e
muito corado e ofegante.
- Desculpa, é que o Michael...
- Nem precisa completar, entra,
deixa eu só arrumar uma coisa. –
Ele entrou em uma porta e começou
a sussurrar o mais baixo que podia,
fiz força para não ouvir, não queria
levar outro fora.
Enquanto ele arrumava uma coisa
eu olhei o quarto, três vezes maior
que o sótão, cheio que pôsteres
de bandas de pop e algumas
cantoras tipo a Demi Lovato e a
Shakira. Sorri ao ver a cama dele
toda
bagunçada e as janelas fechadas e
com cortinas, é claro que ele estava
fazendo alguma coisa com
alguém ali.
- Bem, pode me dizer agora o que o
Michael fez. – Ele voltou do que eu
achava que era um closet,
tão corado quanto como quando ele
tinha entrado.
- Claro, mas... – Eu não queria
parecer intrometida, mas eu era tão
curiosa! Olhei na direção da porta
que ele tinha entrado e fiz cara de
interrogação.
Ele respirou fundo.
- O que você acha de Larry? – Ele
perguntou, olhando sério para mim.
- Larry?
- Sim, o Harry e o Louis de One
Direction juntos, o que você acha
sobre isso?
Eu pensei um pouquinho, sabia
poucas coisas sobre isso, mas não
via problema nenhum neles dois
estarem juntos e foi exatamente isso
que eu disse para ele.
- Jura? Você não vê problema
nenhum em dois homens juntos?
- Não.
- Deus não iria condenar eles?
- Deus não pode condenar ninguém
por amar...
Ele sorriu na mesma hora e correu
para me abraçar, pulando. Eu pulei
junto, animada com a
animação dele.
- Ei, por que tudo isso? – Eu
perguntei rindo enquanto ele batia
palmas.
- Vem, eu te mostro. – Ele pegou na
minha mão e eu vi seus olhos azuis
brilhando enquanto ele abria
a porta do que agora eu sabia ser
um banheiro.
Do outro lado do banheiro, meio
escondido, estava um garoto um
pouco mais baixo que ele, mas
mesmo assim mais alto que eu, com
o cabelo castanho e olhos da
mesma cor, tão lindo quanto o
Nicolas.
O garoto saiu do seu esconderijo e
sorriu tímido para mim.
- Oi, eu sou o Felipe... Eu e o
Nicolas... Nós... – Ele falou sem
graça, olhando fixamente para o
Nicolas enquanto falava.
- São namorados? – Eu adivinhei,
sorrindo para mostrar que não via
nenhum problema nisso.
- Sim, ele é lindo não é? Não
precisa responder já que você não
faz o tipo dele. – O Nicolas
respondeu rindo e eu ri também do
jeito como ele falou.
- Assim você me deixa ainda mais
sem graça, Nick. – O Felipe disse
tímido, se aproximando da
gente.
- E dai? Você fica lindo corado... –
Eles começaram a se olhar e eu me
senti automaticamente fora da
conversa.
- Eu tenho que ir. – Eu disse me
virando e saindo do banheiro.
- Ei Susan! – O Nicolas gritou
assim que eu me virei e eu parei,
esperando ele continuar. – Guarde
esse segredo, ok? Meu pai e meus
irmãos não são assim tão liberais. –
A voz doce dele saiu triste e
eu assenti e sai do quarto.
Uau, que irmãos complicados e
diferentes! Eu continuei andando
pelo corredor que virava para a
direita e olhei para os quadros na
parede. Tinha 5 fotografias em
sequencia.
Na primeira estava a Dona Nicole e
o Senhor Fernando, ele com a mão
na cintura dela de um jeito
meio possessivo, com a cara muito
séria, seu cabelo parecia ainda
mais loiro naquela luz forte e seus
olhos ainda mais azuis, enquanto a
Dona Nicole estampava um sorriso,
os olhos verdes-mar
brilhavam e o cabelo negro caia em
cascata até a sua cintura.
A segunda foto era um pouco maior,
com o Joshua em frente a algum
palácio europeu. O cabelo loiro
despenteado o deixava ainda mais
sexy e os olhos azuis pareciam
estar olhando diretamente para
mim, com um sorriso perfeito e
encantador. Quem será que ele
estava tentando seduzir?
Balancei a cabeça e me virei para o
terceiro retratado. O Nicolas sorria
animado, em frente a uma
praia, as covinhas dançando na sua
bochecha. Sorri também, ele era de
longe o meu preferido dos
homens Hunter.
Então eu cheguei na quarta
fotografia e o Michael sorria torto e
de um jeito fofo para a câmera, o
cabelo negro desarrumado e os
olhos verdes-mar o deixavam ainda
mais adorável. Pena que ele era
um filha da puta.
E na quinta foto estavam todos
juntos e, meu Deus, sabe aquelas
famílias que você pegaria a mãe, o
pai, o filho e o espirito santo? Os
Hunter eram assim.
...
- Filha, vem jantar! – Eu ouvi minha
mãe gritando, eu estava deitada na
minha cama lendo um dos
livros que a Dona Nicole colocou
na minha estante. Marquei a pagina
que eu estava com um pedaço
de papel e desci pela escada
mesmo, que ficava ao lado do
elevador.
Eu cheguei ao mesmo tempo que o
Michael e o Joshua saiam do
elevador, ambos sorriram cínicos
para mim e eu revirei os olhos,
passando direto por eles e indo
ajudar minha mãe a arrumar os
pratos na enorme e luxuosa mesa.
- Obrigada Susan – Ela murmurou
quando acabamos e foi pegar a
comida na cozinha, que ficava ao
lado da sala de jantar.
Na mesa o Senhor Fernando estava
sentado em uma das pontas, com a
Dona Nicole do lado direito
dele, do lado dela estava o Nicolas
e eu fiz questão de sentar ao lado
dele, enquanto o Joshua se
sentava na minha frente, olhando
fixo para mim.
- Bem, espero que vocês gostem,
suflê de frango é a minha
especialidade... – Minha mãe disse
enquanto servia a mesa e voltava
para cozinha.
- Não vai jantar com a gente mãe?-
Eu perguntei um pouco na
defensiva.
- Não, eu tenho muitas coisas para
fazer ainda. Podem comer. – Ela
disse e se virou para voltar à
cozinha.
Eu observei enquanto o Michael se
sentava para comer, ao lado do
Joshua – que, aliás, ainda não
tinha parado de olhar para mim, o
que já estava me deixando nervosa.
- Então Susan, gostou do seu novo
lar? – Olhei para a Dona Nicole
que me lançou um sorriso e
depois para o Michael e o Joshua,
que me olhavam com cara de se
você contar alguma coisa para ela
eu te mato e respirei fundo.
- É adorável. – Eu respondi tímida
e o Nicolas me lançou um olhar de
aprovação.
- Mãe, quando vamos comprar o
material do colégio? – O Michael
perguntou.
- Amanhã de tarde, ok? A Susan vai
com a gente. – Ela respondeu entre
um garfada e outra.
- Tanto faz. – Ele falou indiferente e
eu notei o Joshua dando um
empurrãozinho no ombro dele e
dizendo alguma coisa baixinho no
ouvido dele.
- Ei garotos, sem conversa na mesa.
– O Senhor Fernando falou e a
mesa ficou em silencio pelo resto
do jantar.
...
Eu acordei sonolenta, ontem foi um
dia bem longo – mais do que eu
gostaria – e eu ainda estava com
um pouco de preguiça, mas ai eu
lembrei que eu não tinha tomado
banho antes de dormir e fui logo ao
banheiro.
Tirei a roupa rapidamente e
coloquei no cesto fora do banheiro,
entrando já nua para dentro dele.
Dei uma olhadinha no espelho
enquanto trancava a porta e sorri
com o reflexo, eu era bonitinha,
minha
pele morena e meu cabelo muito
escuro e ondulado ia até mais ou
menos a minha cintura, eu não era
nem muito gorda, nem muito magra.
Afastei meus pensamentos
narcisistas e entrei no boxe, ligando
o
chuveiro.
Então eu ouvi um barulho de porta
se abrindo e fechando e desliguei o
chuveiro, antes mesmo de
molhar o cabelo.
- SOPHIA, SUA MÃE ESTÁ
PASSANDO MAL! – Eu ouvi a voz
do Joshua gritar e uma porta sendo
trancada.
Mesmo assim eu corri até a porta
do banheiro e procurei pela minha
toalha... Que não estava no
lugar, como eu iria sair dali?
- Joshua... – Eu falei baixinho, mas
ouvi ele se aproximando. – É que...
Bem, eu esqueci a toalha,
você poderia... Hã... Me entregar
para eu poder sair?
Ele não falou durantes alguns
segundos, antes de explodir em uma
gargalhada.
- Ai meu Deus, isso só pode ser um
sonho. Sua mãe não está passando
mal, é que eu iria esperar você
sair para tirar você da toalha e
fazer... Bem, o que você acha que
eu faria se visse você nua?
Eu respirei fundo.
- Joshua, por favor...
Ele riu.
- Por favor, o que você quer em
troca que me dê essa maldita toalha
e saia do meu quarto?
- Quero que você passe uma noite
comigo.
Eu revirei os olhos.
- Claro que não.
- Okay, então eu vou ficar aqui
lendo um pouquinho, alias, são 5
horas da manhã e só vão sentir sua
falta lá pras 12 quando você tiver
que sair com a mamãe e o Michael,
então... Bem, você vai ter
muito tempo parar pensar na minha
proposta.
Eu respirei fundo. Me fodi.
3. Aquele loiro só pode estar
brincando
Eu comecei a sentir frio, o vento
que vinha da janela do alto do
banheiro parecia vim direto para
minhas partes intimas e o pior, nem
a toalha de enxugar as mãos estava
lá – minha mãe tirou ontem à
noite para lavar.
Respirei fundo e cheguei mais perto
da porta, encostando minha testa
nela.
- Joshua... – Eu falei baixinho, eu já
estava toda arrepiada de frio e
aquela situação já estava ficando
humilhante.
- Por que não desiste? – Ele
perguntou e eu senti o perfume dele
se aproximando da porta, antes de
ele começar a ri.
Então uma gota de lágrima caiu do
meu olho direito, mas eu limpei ela
rápido. Eu NÃO iria chorar.
Não assim, não nua presa em um
banheiro.
- Vamos Susan, é só uma noite! –
Ele insistiu e depois começou a ri
de novo.
E ai eu comecei a chorar de
verdade. As lagrimas começaram a
cai sem parar e quanto mais eu
tentava limpar mais saia. Droga!
Odeio quando isso acontece.
- Susan? – Ele perguntou,
provavelmente estranhando o
silencio, mas se eu abrisse a boca
minha voz
sairia entrecortada pelas lagrimas.
Um soluço fez eu bater minha testa
na porta, eu ainda estava chorando,
agora mais.
- Susan, você está chorando? – Eu
ouvi ele perguntar baixinho, tão
próximo da porta que eu poderia
sentir o ar saindo de sua boca.
- C-Claro que n-não... – Eu
gaguejei por causa do choro,
entregando a mentira.
- Susan, não... Não precisa chorar...
– A voz dele saiu com um quê de
preocupação e eu me senti
ainda pior por parecer tão fraca.
Eu me afastei da porta e tentei
limpar minhas lagrimas, que
estavam melhorando, mas os
soluços
ficavam cada vez mais altos.
- Susan, eu... Ah, não chore, por
favor, eu estava... – Eu cheguei
mais perto da porta, e ouvi ele
respirar fundo e dando murrinhos
na porta, como se não soubesse o
que fazer.
Queria parar de chorar e gritar com
ele, mas a porra dos soluços
insistiam em continuar, fazendo meu
corpo todo tremer.
- ...Eu estava brincado Susan... E-
Eu vou embora e... Vou colocar sua
toalha em cima da cama, ok?
Eu olhei assustada para a porta, ele
só podia está brincando.
- P-Por que e-eu acreditaria em v-
ocê? – Eu perguntei gaguejando um
pouco por causa do choro, que
estava passando.
- Porque eu não sou disso, mas eu
também não posso ficar aqui
ouvindo você chorando nua ai
dentro... – Ele suspirou e se
distanciou da porta, ouvi seus
passos e depois o barulho de porta
se
destrancando, se abrindo e depois
se fechando.
Ele foi embora.
Ele foi embora porque me ouviu
chorar.
Eu passei a mão pelo meu cabelo,
sem entender muito bem. Me olhei
no espelho um pouquinho e vi
meus olhos inchados e vermelhos,
assim como o meu nariz.
Respirei fundo antes de abrir a
porta, esperando ver ele lá, rindo
de mim.
Mas quando eu abri ele não estava
lá, eu vi apenas a minha toalha azul
em cima da cama e olhei em
volta. Nada.
Sorri com o canto da boca, como
alguém podia ser assim?
...
Desci as escadas correndo, não
gostava muito de usar o elevador –
me lembrava o Michael –, e fui
direto para a cozinha. O Nicolas
estava lá também, com um pijama
fofo e um sorriso maior que a
cara dele enquanto pegava alguma
coisa na geladeira, dava para ver
suas covinhas de longe e ele não
notou minha presença.
- Realmente o Felipe poderia ser
um pouco menos saudável... – Ele
murmurou consigo mesmo
enquanto pegava uma maçã bem
vermelha. – Mas, eu entendo que
aquele corpinho só pode ser
daquele jeito devido a todas essas
precauções...
Eu sorri e me aproximei dele.
- Você não deveria ficar falando
sozinho coisas assim, vai que... –
Eu disse baixinho e ele deu um
pulo e me olhou com os olhos
arregalados.
- Ah, é você! – Ele disse aliviado.
– Você tá certa, eu sei, mas é que é
meio difícil controlar essas coisas.
- Eu entendo, Nick... Posso te
chamar de Nick? – Eu perguntei e
ele fez que sim com a cabeça,
depois fechou a geladeira e veio
pra perto de mim.
- Obrigado. – Ele me abraçou e eu
fiquei tão surpresa que não
consegui me mexer. Antes que eu
pudesse dizer alguma coisa ele foi
embora, me deixando ainda mais
confusa sobre o comportamento
desses irmãos.
Comi alguma coisa rápido e olhei o
relógio, eram 7:00. Meu Deus, eu
tinha passado duas horas
naquele negocio com o Joshua,
ainda não conseguia acreditar que
ele tinha desistido. Vai ver ele não
era assim tão ruim. Ou, tinha algum
outro truque na manga...
...
Fiquei assistindo TV até dá umas
11h e subi para trocar de roupa e
colocar uma para sair com o
Michael e a Dona Nicole, não seria
um passeio muito divertido.
Assim que eu desci a Dona Nicole
saiu do elevador, sorrindo para
mim ao me ver.
- Vamos? – Ela perguntou animada
e eu concordei com a cabeça.
O Michael passou pelo meu lado e
andou até a porta, saindo da casa
antes de qualquer pessoa, ele
não parecia muito animado. Ótimo.
Andei ao lado da Dona Nicole até
chegar a um grande carro preto com
um fumê muito forte. A Dona
Nicole entrou no bando do
passageiro e eu olhei para o
Michael antes de entrar atrás com
ele.
- Oi. – Eu disse seca.
- Pelo amor de Deus, você não
consegue ficar quieta? – Ele disse
irritado e eu olhei surpresa pra ele.
- Qual o seu problema? – Eu
perguntei me virando pra encara-lo
- Você. – Ele disse revirando os
olhos e se virando para a janela
Ah, quanta maturidade. Olhei para a
Dona Nicole que parecia nem ter
notado a discussão e falava
com o motorista para onde ele
deveria ir.
- Primeiro compramos o material,
que deve ser a parte mais longa,
depois eu e o Michael vamos ao
shopping comprar as outras coisas
que ele quer e enquanto isso, Susan,
vamos deixar você no
Colegio JK, para falar com o
diretor sobre a sua matricula. – Eu
abri a boca para falar que eu não
sabia o que dizer, mas ela levantou
a mão. – O Joshua vai com você,
vamos encontrar ele perto de
onde compramos o material e vocês
vão juntos falar com o diretor. Pode
ser?
Ninguém merece essa sessão de
tortura: Passar o dia todo com o
Michael e depois ir para algum
lugar sozinha com o Joshua, como
se ele fosse alguém minimamente
confiável. Suspirei.
- Pode. – Eu disse antes de respirar
fundo e olhar para a janela.
4. O Passeio
Olhei pro lado e notei o quanto o
Michael parecia fofo e meigo
quando estava quieto e mexendo no
celular. Se eu não conhecesse ele
minimamente acharia ele o garoto
mais perfeito do mundo. Pena
que eu conheço, pelo menos o
bastante que se pode conhecer de
alguém em dois dias.
Ele deve ter sentido meu olhar, pois
desviou os olhos do celular e olhou
para mim. Só olhou, sem
sorrisos sarcásticos, sem nenhuma
palavra arrogante ou idiota. Depois
de um tempo parecia que eu
tinha entrado em um jogo de quem
piscar perde e não conseguia
simplesmente desviar daqueles
olhos
verdes-mar.
Depois de alguns minutos ele bufou
e desviou os olhos, se virando para
a janela. Eu balancei a
cabeça e me virei para a outra
janela. Vi que estávamos em um
estacionamento.
- Chegamos. – O motorista disse
assim que terminou de estacionar o
carro.
A Dona Nicole agradeceu e saiu do
carro, eu e o Michael a seguimos.
Ela entrou numa loja enorme. Tipo,
enorme mesmo, com prateleiras
sem fim, todas organizadas e
brilhantes, cheias de diferentes
tipos de material escolar. Eu tinha
até um pouco de medo de quanto
seria um lápis naquele lugar – eu
iria ter que virar escrava sexual do
dono daquilo para ter alguma
daquelas coisas. Esse ultimo
pensamento me lembrou o Joshua.
Estranho.
- Vamos, a parte que mais vai
demorar é ali. – Ela apontou pro
outro lado da loja, quase não dava
para enxergar de onde estávamos,
mas eu continuei seguindo ela, o
Michael acompanhava a alguns
passos atrás da gente.
Enquanto andávamos vários
vendedores perguntaram se a gente
queria alguma coisa, eu e a Dona
Nicole dissemos que não e
agradeceu a todos ele. O Michael
os ignorava tão completamente, que
eles ficavam com vergonha de ir até
ele e dizer alguma coisa.
Chegamos no lugar, que parecia
maior que que a entrada e tinha
ainda mais material e também era o
mais cheio. Notei com um pouco de
vergonha que eu era a única menina
usando short jeans ali, todas
as outras estavam de saia e alguma
regatinha fofa e eu me senti
automaticamente fora do grupo.
- Vá dá uma olhadinha por aqui
Susan, fique a vontade e coloque
tudo numa cestinha. – A Dona
Nicole disse pra mim. – Não se
incomode com o preço. – Ela
sussurrou essa ultima parte e eu
sorri
para ela, um pouquinho sem graça.
Peguei a cestinha mais próxima
andei pelos corredores luxuosos, o
que era estranho já que eu estava
em uma papelaria. Esses ricos...
Vai entender.
Andava pelo primeiro corredor que
tinha visto, olhando fixamente para
baixo, procurando alguma
coisa que não fosse estupidamente
caro.
Então eu bati em alguém.
- Ai! – Eu olhei para cima e vi um
garoto ruivo e alguns centímetros
mais altos que eu, ele fez uma
careta leve de dor, mas logo depois
abriu um sorriso. – Deveria olhar
para cima enquanto anda. – Eu
me afastei dele, que tinha uma voz
doce e gentil.
- Ah, desculpe... – Se eu não
estivesse em um lugar onde um
caderno é mais caro que um celular
eu
até teria falado sem parecer tão
insegura, mas pelo amor de Deus,
eu não estava no meu habitat.
- Não tem problema, qual seu
nome? – Ele disse sorrindo pra
mim, de um jeito amigável, não de
flerte.
- Susan e você?
- Eduardo, mas todo mundo me
chama de Edu. – Ele estendeu a
mão e eu apertei.
- Tem alguma coisa que seja
minimamente barata? – Eu disse
baixinho e ele riu.
- Claro que não, onde você pensa
que está? – Ele sorriu e eu fiquei
aliviada pelo tom de voz dele ser
tão amistoso, tão não Hunter.
- É, né? – Eu ri com ele e
começamos a andar pelos outros
corredores, fui pegando uma coisa
ou
outra nas prateleiras.
- OLHA SÓ QUEM ESTÁ AQUI, O
ED CABELO DE FOGO! – Eu
fechei os olhos, aquele tom
irônico e irritante, nem precisava
me virar para ver que era o
Michael.
Mas mesmo assim me virei, e o
Eduardo também.
- Para a sua informação, é EDU não
Ed. – Ele cuspiu essas palavras
para o Michael, os olhos
castanhos ferviam de raiva.
- Vocês se conhecem? – Eu
perguntei, tentando impedir que
eles brigassem.
- Infelizmente, o Michael estuda na
minha sala desde o nono ano. – O
Edu falou, sem tirar os olhos do
Michael, que estava se
aproximando da gente.
- Susan não quero você sujando a
imagem dos Hunter andando com
esse ruivo. – O Michael olhou
para mim e falou com do mesmo
jeito que um pai autoritário falaria.
Eu revirei os olhos.
- Foda-se o que você quer. – Eu
murmurei, alto o bastante para ele
ouvi e me olhar com raiva.
- Gostei de você! – O Edu disse se
virando para mim e sorrindo.
- Ok, você está certa. Ralé anda
com ralé. – Ele disse se virando e
indo falar com um grupo de
meninas de saia que observava tudo
aos cochichos, todas elas pareciam
ser afim dele.
Eu andei pro lado contrario e o Edu
me seguiu, o cabelo ruivo
desarrumado parecia um pouco com
o
do Joshua.
- Por que vocês se odeiam? – Eu
perguntei para ele, enquanto
andávamos para a parte das
canetas.
- Tirando o fato de ele ser um idiota
metido?
- É, tirando isso.
Ele riu.
- No nono ano, quando nos
conhecemos, ele colocou a turma
inteira para me odiar, simplesmente
porque a garota que ele queria
pegar gostava de mim... – Ele
abaixou os olhos. – Inclusive ela
começou a me odiar.
- Sinto muito, ele é tão ridículo...
- Eu sei, só ano passado eu
consegui tirar a ideia horrível que
ela tinha de mim e somos amigos,
mas ele basicamente estragou
qualquer tipo de relacionamento
que eu poderia ter com a Monica. –
Ele
abaixou um pouquinho a voz e eu
senti o quanto ele gostava dela.
Maldito Michael.
- Se quiser eu posso trocar a pasta
de dente dele por condicionador. –
Eu tentei aliviar o clima, mas em
vez de ri ele parou de andar e olhou
para a minha cara.
- Como assim?
- Como assim o que?
- Você mora com aquele filho da
puta? – Ele disse me olhando com
um pouco de nojo.
- Minha mãe é... Empregada dos
Hunter. – Eu disse e ele corou na
mesma hora.
- Eu não sabia, foi mal. – Ele disse
sem graça.
- Não tudo bem, não tinha como
você saber. – Eu ofereci um sorriso
e ele retribuiu aliviado.
- Vai estudar no colégio JK? – O
Eduardo perguntou depois de um
tempo.
- Sim, hoje eu vou falar com o
diretor, ele é legal?
O Edu fez uma careta.
- Legal não é exatamente a palavra
certa, mas ele deixa tudo por
dinheiro e tendo os Hunter para
amaciar ele... Pode ser que ele dê
até boa tarde.
Eu ri um pouco nervosa com a
discrição dele sobre o diretor.
- Então ele também deve dá boa
tarde pra você, porque para tá
nessa papelaria é preciso ter...
- Dinheiro? – Ele concluiu minha
fala e sorriu tímido. – Meu pai é o
dono de varias empresas, mas
ao contrario de certas famílias não
nos achamos superiores nem nada.
Eu concordei com a cabeça e
mudamos de assunto.
Conversei com o Eduardo por mais
uns 15 minutos quando a mãe dele
chegou, com o cabelo tão
vermelho quanto dele e os olhos
verdes, o rosto salpicado de
pontinhos.
- Filho, quem é essa menina bonita?
– Eu sorri com o bonita e o tom de
voz gentil e doce , como o do filho.
- O nome dela é Susan, vai entrar
no colégio JK esse ano. – Ele
respondeu apontando para mim e
sorrindo depois.
- Então muito prazer te conhecer! –
Ela disse apertando a minha mão. –
Temos que ir Edu, tchau
Susan!
Eles passaram por mim e foram na
direção da porta, muito longe de
onde a gente estava.
- Então Susan, já encontrou tudo o
que queria? – A Dona Nicole
apareceu pelo corredor, com uma
cesta cheia de canetas, lápis e
coisas assim.
Dei uma olhada na minha cesta, que
também estava cheia.
- Acho que sim. – Eu falei por fim e
ela me mandou um sorriso.
- Então me dê essa cesta que eu irei
com o Michael no caixa. Eu liguei
pro Joshua e ele disse que
está te esperando na porta.
Eu fiz que sim com a cabeça e
depois abracei ela. Corando na
mesma hora por ter feito isso, mas
por
sorte ela sorriu e acenou para mim
enquanto eu ia em direção a saída.
- Helô? – Eu já tinha chegado na
porta e o Joshua estava em frente a
um carro vermelho de fumê
muito escuro, falando ao telefone.
Decidi não atrapalhar. – Claro que
é o Joshua... Não, eu vou está
ocupado hoje, infelizmente não vou
poder te foder, vai ter que procurar
outro. – Ele parecia irritado em
está falando com essa garota e eu
cheguei um pouco mais perto para
ouvir a voz dela.
- Mas ninguém consegue como
você! – Ela tinha um voz
irritantemente fina e eu conseguia
ouvir
perfeitamente, a poucos passos do
Joshua.
- Helô, chega ok? Eu tenho que
fazer umas coisas agora.
- Com quem? – A voz carregada de
ciúmes dela fez eu sorri.
- Se fosse da sua conta eu até
contaria, mas é claro que não é.
- Ah Joshua... Por que você é
sempre tão mau comigo? – O tom
mudou de ciumento para sensual e
eu
notei que ele estava sorrindo.
- Você quer que eu seja bonzinho
com você, não quer? – Agora ele
também falava com malicia e eu
comecei a me senti enjoada.
- Quero! E o que eu posso fazer
para conseguir isso?
-Tem várias coisas que você
poderia fazer... Incluindo parar de
ser tão fácil, isso me cansa. – Eu
olhei surpresa pra ele que tirou o
celular da orelha.
Me afastei de pressa pra ele não
achar que eu tinha ouvido.
- Eu sei que você está ai Susan. –
Ele disse sem se virar e eu morri de
vergonha no mesmo segundo.
– Reconheceria seu perfume em
qualquer lugar.
Ele se virou sorrindo para mim,
aquele sorriso de me dê um
segundo que eu vou conquistar
você.
Revirei os olhos.
- Você não presta. – Eu disse
empurrando ele pro lado e entrando
no carro.
- E daqui a pouco você vai dá pra
mim. – Ele sussurrou quando
passou do meu lado.
Ele entrou no carro e colocamos o
cinto. Ele deu a partida no carro e
olhou para mim.
- A voz dela não é irritante? – Eu
demorei um segundo para entender
pergunta e comecei a ri assim
que eu entendi. Muito irritante.
- Quem é ela afinal? – Eu perguntei
tentando parecer indiferente, sem
demostrar o quanto não tinha
gostado dela de primeira.
- Ah, só mais uma... – Ele parou o
carro no sinal e olhou para mim de
novo, os olhos azuis brilhavam a
luz do pôr-do-sol. – Eu conheci ela
na praia e ela foi para cama comigo
nesse dia, como eu gostei
dei o meu celular certo para ela. Se
arrependimento matasse... – Ele
falava entediado, como se isso
acontecesse o tempo todo.
- Ela parecia gostar de você. – Eu
falei baixinho, e ele pisou fundo
quando o sinal ficou verde.
- Ela não gosta de mim, ela gosta
do meu amigão aqui em baixo. –
Ele olhei para a própria calça e
sorriu. – Mas, convenhamos, quem
não gosta?
Eu ri do jeito que ele falou.
- Olha só, fiz você ri. – Ele disse
animado. – Primeiro passo para
levar alguém pra sua cama é fazer
essa pessoa ri.
- Pelo amor de Deus, você pensa
nisso? – Eu falei rindo para ele.
- E eu vou pensar em que?
Passarinhos e bandas pop? – Ele
respondeu irônico e eu revirei os
olhos
de novo. – Não, brincadeira, eu sou
muito mais do que essa maquina
sexy e linda.
Eu olhei pra ele desconfiada.
- Eu também sei dirigir. – Ele falou
e deu uma manobra perfeita para
estacionar em frente a um
colégio grande e imponente. –
Vamos.
Ele saiu do carro tão rápido que eu
mal tive tempo de abrir o cinto.
- Não acredito que você ficou ai
para que eu abrisse a porta! – Ele
falou e eu comecei a negar com a
cabeça, mas então ele veio e abriu
a porta, colocando a mão para me
dá apoio para sair. – Adoro
isso.
Eu corei na mesma hora e dispensei
a mão dele, andando na frente até
os portões do colégio.
- Em que posso ajudar? – O
porteiro perguntou entediado.
- Vim falar com o diretor. – Eu
disse confiante e ele me olhou de
cima para a baixo e eu novamente
me senti mal por está de short
jeans, all star e camisa de estampa
de herói – no caso o Batman.
- Primeira porta a esquerda. – Ele
disse, mas seus olhos não pareciam
me levar a serio e eu me irritei
muito com isso.
Eu passei por uma sala de recepção
– dando boa tarde para todas as
pessoas na sala e só recebendo
um de resposta – e parei em frente a
porta do diretor.
Bati discretamente na porta.
- Está aberta. – Uma voz grossa e
morrendo de tédio respondeu.
Eu entrei em um escritório, um
homem com uns 40 anos e muitos
cabelos brancos, estava sentado
numa cadeira atrás de uma mesa.
Ele olhou para a mim.
- O que você quer? – Ele parecia
irritado, como se eu tivesse
atrapalhado uma soneca que ele iria
fazer.
- Eu vim fazer minha matricula. –
Eu entreguei minha ficha para ele
que começou a ler e fiquei em pé
em frente a sua mesa.
- Não. – Ele murmurou.
- O que você disse?
- Eu disse que você não pode
estudar aqui. Você ficou em
recuperação em matemática no
segundo
bimestre. Sinto muito. – Ele disse
sem levantar os olhos, obviamente
não sentindo muito.
- Mas, isso foi porque eu estava
muito doente e depois eu
recuperei... – Eu comecei a
explicar, mas
ele levantou a mão.
- Não.
- O que eu perdi? – O Joshua entrou
com tudo na sala, sorrindo.
- Eu conheço essa voz... – O diretor
disse baixinho e levantou a cabeça
devagar, arregalando os
olhos para o Joshua. – O que você
faz aqui, senhor Hunter? – Ele
sentou com um pouco mais de
postura e mudou o tom de tedioso
para formal.
- Sem enrolação. – O Joshua disse
se aproximando da mesa dele. – O
que você disse para ela?
- Eu infelizmente não poderei
aceitar a senhorita Susan aqui. –
Ele tentou parecer seguro, mas sua
voz vacilou quando o Joshua
apoiou as mãos na mesa.
- Por quê? – Ele perguntou frio.
- Ela... Ficou de recuperação ano
passado e o senhor sabe que não eu
não posso aceitar uma aluna
com esse histórico tão...
- Ah, cale a boca. – Ele falou
ficando irritado. – Eu sempre
ficava de recuperação e você nem
sequer me chamava atenção.
- Mas... – O diretor corou. – É
diferente... O senhor é um...
- Hunter? Sim, eu sei. Ela agora
mora com a minha família, portanto
merece ter os mesmo direitos. –
Ele falou autoritário e o diretor
ficou vermelho de raiva.
- VOCÊ NÃO PODE FALAR
ASSIM COMIGO!
- Claro que posso. – O Joshua
parecia indiferente a fúria do
diretor. – Ou você aceita a Susan no
seu colégio de merda ou o Michael
e o Nicolas saem e meu pai tira o
patrocínio.
- Você não faria... – O diretor
parecia congelado.
- Claro que faria. Você sabe que
sim. – Ele se virou para mim e
depois de volta para o diretor. –
Agora assine logo isso, que eu
tenho mais o que fazer.
- C-Claro. – O diretor gaguejou e
assinou rápido o papel e entregou
ainda mais rápido ao Joshua, que
parecia muito feliz com si mesmo.
- Vamos Susan. Passear de carro.
5. Estranho e bom
Eu arregalei os olhos para o
Joshua, ele deu de ombros e abriu a
porta para eu sair, lançando um
olhar irônico para o diretor que
ainda parecia em choque.
Passamos direto pelo corredor e
senti todos os olhares femininos
indo direto para o Joshua, quase
conseguia ouvir um suspiro de ai
meu Deus, que menino lindo. Não
posso culpa-las, ele era
irritantemente perfeito.
- É sempre assim? – Eu perguntei
baixinho assim que saímos da sala
de recepção.
- Os olhares? – Ele sorriu. – Claro,
eu exalo sedução.
Eu ri e empurrei o braço dele de
leve.
Ele deu uma corridinha na minha
frente e olhou cínico pra mim,
enquanto abria a porta do carro
como
um cavalheiro. Entrei, mas ele não
fechou a porta, em vez disso ele me
encarou.
- Não vai dizer obrigada?
- Eu me lembro perfeitamente do
que você respondeu da ultima vez
que eu te disse obrigada. – Eu
disse me lembrando dele
respondendo que eu seria obrigada
a fazer muitas coisas.
- Ah, fazia parte do meu primeiro
plano, mas eu já mudei de tática. –
Ele falou como se aquilo
explicasse tudo e fechou a porta do
carro.
- E qual era o seu plano? – Eu
perguntei quando ele entrou e deu a
partida no carro.
Ele sorriu e depois balançou a
cabeça em negativa.
- Um dia eu te conto.
Eu revirei os olhos.
- Adoro quando você faz isso. – Ele
disse baixinho e eu corei na mesma
hora.
- Pra onde você tá me levando? –
Eu perguntei para mudar de assunto.
- Ainda tou pensando... – Ele olhou
pra mim e se virou de novo. – Que
tal se a gente se divertir um
pouquinho? – O tom de voz dele
não tinha nem um pingo de malicia,
eu estranhei isso.
- Com o que?
- Tem um parque de diversão na
cidade, o que você acha?
Eu ri com a ideia.
- Não parece combinar muito com
você.
- E o que parece combinar comigo?
Eu pensei um pouquinho.
- Sei lá, alguma coisa mais original.
Agora foi a vez dele de ri.
- Essa é a ideia que você tem de
mim, então saiba que...
When the days are cold...
Eu olhei pro celular dele, que
vibrava enquanto a música Demons
tocava.
... And the cards all fold...
- Não vai atender? - Eu perguntei e
ele se virou pra mim.
- Veja quem é, por favor.
Eu peguei o Iphone dele e vi o
nome Jane Ruiva.
Ele não faz questão nem de lembrar
o sobrenome dela, eu pensei.
- Jane Ruiva, vai atender?
Ele revirou os olhos e pegou o
celular da minha mão, colocou no
viva-voz antes de atender.
- O que você quer? – O tom de voz
dele mudou completamente, foi de
um amigável e descontraído
pra frio e entediado.
- Você! – Uma voz meio aguda veio
do celular, tão animadinha que nem
parece ter notado o jeito
como o Joshua falou.
- E o que você pretende fazer pra
conseguir isso?
- O que você quiser. – Ela
realmente era fácil demais. O
Joshua revirou os olhos, como se
ouvisse
isso o tempo todo. Provavelmente
ouvia mesmo.
- Jane, entenda, o que a gente teve
acabou, simples assim. – Ele disse
em uma cortada só e eu quase
conseguia ouvir o coração da ruiva
se partindo.
- Mas... Você sabe que foi intenso!
Sabe que não tem como esquecer
algo tão...
- Eu já esqueci. – Ele a cortou e eu
olhei surpresa pra ele.
- JAMES! COMO VOCÊ PODE
DIZER UMA COISA DESSAS? –
A voz dela estava alterada... Ela
estava chorando.
Ele se virou pra mim sorrindo, mas
eu fechei a cara na mesma hora.
Como ele pode ser tão
insensível?
Coloquei toda minha raiva no meu
olhar e acho que ele notou, pois seu
sorriso desapareceu.
- Seja gentil. – Eu disse sem
palavras para ele.
Ele respirou fundo.
- Sinto muito Jane, você é uma
menina muito boa, merece coisa
melhor que eu. – Cada palavra
parecia sair com esforço, mas
pareceu muito convincente.
- Mas pra mim você é o melhor que
tem... – Ela disse tão baixinho que
eu tive que fazer esforço pra
ouvir.
Ele ia revirar os olhos, mas então
olhou de novo para mim e eu
levantei uma sobrancelha, o
desafiando.
- Eu não sou tudo isso... E você é
linda, vai encontrar milhares de
caras que se matariam para ter
você e eles com certeza vão ser
muito melhores do que eu.
Eu sorri pra ele e ele me olhou de
um jeito estranho, como se não
acreditasse que tivesse dito isso.
- Você a-acha mesmo? – A voz dela
estava meio entrecortada,
provavelmente por causa do choro.
- Claro que acho, olha eu tenho que
ir agora. Seja feliz, ok? – Ele falou
e eu ouvi ela suspirando do outro
lado da linha.
- Tchau Joshua, eu posso ter um
milhão de caras, mas eu nunca vou
esquecer você. – Ela disse
confiante e ele respirou fundo, de
um jeito teatral.
- Espero que isso não seja verdade.
Tchau ruiva.
E desligou
Eu olhei pra ele, que sorriu pra
mim.
- Você sabe que acabou de salvar
aquela garota de passar a tarde
inteira chorando, não sabe? – Ele
disse cínico
Eu fechei a cara e olhei pra frente,
sem ter a menor ideia de onde a
gente estava, mas com certeza era
um bairro nobre.
- Eu sei disso e você sabia que não
é legal ficar partindo o coração das
pessoas? – Eu usei meu
melhor tom frio.
- Sabia... É que eu realmente não
gosto dela, foram só quatro noites e
ela simplesmente não largou
mais do meu pé! – Ele disse
olhando fixo para a rua, os olhos
azuis brilhando como sempre. – Eu
fui
gentil por mais tempo do que
costumo ser, acho que por que ela é
ruiva... Só fiquei com oito ruivas
até hoje e sempre fico mais meigo
com elas, mas a Jane já tinha
enchido o saco.
Eu encarei ele. Como assim ele já
tinha ficado com OITO ruivas até
hoje? E por que eu me sentia
estranha em relação a isso?
- Mesmo assim seria errado o jeito
como você iria terminar com ela! –
Eu estava indignada com a
forma como ele tratava as mulheres
e com raiva de outra coisa, que eu
não entendia direito o que era.
- Melhor forma que tinha. Rápido e
prático, ela iria me odiar e nunca
mais olharia na minha cara,
apagaria meu numero do celular
dela e me deletaria de TODAS as
redes sociais. Ou seja, eu me
livraria dela para sempre. – Ele
falou isso de uma forma tão natural
como eu falaria como se faz um
bolo.
- Mas isso não é certo! Partir o
coração de alguém assim, não é
justo!
- E o que é justo? – Ele parecia
entediado. – Olha Susan, eu tou
tentando mudar, eu juro. Eu
realmente cansei de encontrar
sempre o mesmo tipo de garota,
mas por enquanto que eu não
encontro
uma diferente eu vou continuar
sendo assim, lamento.
Eu olhei pra ele sem acreditar que
ele estava me confessando algo tão
pessoal. Eu mal o conhecia.
- Você vai encontrar essa garota... –
As palavras saíram antes que eu
pudesse impedir e ele freou o
carro, eu olhei assustada, estava tão
dentro da conversa que nem notei
que a gente já tinha chegado no
local.
- Bem, por hora eu invisto em você.
– Ele sorriu daquele jeito que deixa
qualquer menina sem ar e
saiu do carro, eu esperei ele abrir
minha porta.
- Que lugar é esse? – Eu olhei ao
redor e notei o quanto era verde
aquele lugar que parecia uma
grande praça, cheia de gente rindo e
correndo.
- É a pracinha que minha mãe
costumava levar eu e meus irmãos –
Ele sorriu ao lembrar disso e eu
adorei ver aquele sorriso inocente
que ele nunca me mostrou antes. –
Aqui – ele andou até uma
arvore grande com muitos galhos –
eu e o Michael subíamos o tempo
todo, apostando corrida, como
eu sou mais velho deixava ele
ganhar as vezes, só pra ele não
desistir.
Eu sorri e ele continuou andando e
parando para dizer algumas
recordações.
- Essa pedra é perfeita para brincar
de boneco... O Nicolas adorava
fazer historias enormes e cheias de
roteiros elaborados. – Ele riu
enquanto passava a mão pela pedra
plana e lisa. – Eu nunca
conseguia acompanhar e desistia
antes de saber se a garota era
mesmo adotada ou se era um plano
maligno da madrasta que queria o
dinheiro do pai dela.
Ri baixinho em imaginar um
pequeno Nicolas brincando
quietinho com seus bonecos
enquanto o
Michael e o Joshua subiam em uma
arvore.
- E por que você me trouxe aqui? –
Eu perguntei e me sentei na sombra
de uma arvore.
Ele sentou do meu lado, colocando
o braço no meu ombro.
- Queria que você soubesse que eu
não sou só um rostinho bonito.
Ele se virou para mim e eu apoiei
minha cabeça em seu ombro. Todas
as pessoas que passavam
olham para nós. Todas as mulheres
olhavam para ele com flerte e
depois para mim com raiva.
- Elas querem me matar. – Eu falei
baixinho e ele riu, me puxando mais
pra perto dele, o perfume
bom e forte me deixou arrepiada.
- Se elas tentarem eu protejo você.
– Ele se virou pra mim e olhou no
fundo dos meus olhos. Desviei
na hora. Eu tive vontade de beijar
ele, isso não pode acontecer.
- Pare de flertar comigo, eu sei do
que você é capaz. – Eu tirei a mão
dele do meu ombro e me
afastei, cruzando os braços.
Ele sorriu.
- Você é adoravelmente diferente
delas. – Ele chegou mais perto e
passou a mão pelo meu cabelo,
minha respiração parou com o
toque dele, mas eu não iria ceder.
- E você fala isso para todas elas.
- Claro que falo, como você acha
que eu convenço elas? – Ele sorriu
e chegou mais perto. Eu me
afastei mais. – Mas você é
realmente diferente, você nem
sequer corou.
- Você não me deixa sem graça,
lamento. – Eu disse me levantando
e a mão dele que estava no meu
cabelo passou pelo lado do meu
corpo e eu senti meu corpo todo
tremer. Como eu odeio isso.
Ele também se levantou, um
pouquinho vermelho e se virou de
costas pra mim.
- O que houve? – Eu perguntei.
- Você me deixou excitado, ta feliz?
Eu corei na mesma hora.
- Como você dizer uma coisa dessa
assim, na lata?
Ele se virou pra mim e seus olhos
encontraram os meus. Nós
começamos a ri.
- Agora sim você corou! – Ele
disse rindo, sua covinha única
aparecendo.
- Claro, eu não posso não corar
com você me dizendo aquilo! – Eu
disse empurrando ele, mas como
ele é um milhão de vezes mais forte
do que eu só deu um passinho pra
trás.
- Olha só, além de tudo ainda é
agressiva. – O seu tom estava tão
amigável quanto o de qualquer
melhor amigo.
- O que você quer dizer com além
de tudo? – Eu levantei uma
sobrancelha.
- Se olhe no espelho e você vai ver,
meu amiguinho aqui em baixo não
fica assim por qualquer
pessoa. – Ele disse a ultima frase
com toda a malicia do mundo, mas
eu fiz questão de não corar.
- Só por oito ruivas e mais meio
bilhão de morenas e loiras. – Eu
falei revirando os olhos e me
virando para andar pela praça.
- Ouvi um quê de ciúmes nessa
voz? – Ele deu uma corridinha para
andar ao meu lado.
- Não, não ouviu.
- É uma pena, adoro quando a
garota tem ciúmes de mim.
- Ah, cale a boca um pouco. – Eu
falei me sentando num banquinho
do balanço que ficava bem no
meio da praça.
O loiro assentiu com a cabeça e
olhou para o céu, que estava laranja
e rosa por causa do pôr-do-sol
e depois olhou pra mim.
- Não sei o que é mais bonito. – Ele
falou tão baixinho que eu quase não
ouvi. Será que ele estava
pensando alto? Ou era mais um
flerte?
Ele passou por mim e começou a
me balançar, eu sorri enquanto ia
cada vez mais alto até parecer que
eu ia voar.
- Sabe Susan – ele disse enquanto
me empurrava para frente – você é
a primeira garota que eu levo
aqui, eu só não faço a menor ideia
do porquê.
Eu coloquei pé no chão para frear e
me virei para olhar pra ele, o rosto
dele parecia o de um anjo
com aquele cabelo loiro e olhos
azuis.
- É serio?
- Eu não sou de mentir. A verdade é
que eu sempre levo as garotas para
um boliche, golfe, parque de
diversão ou qualquer outro lugar
onde eu possa abraçar ela a maior
parte do tempo, mas com você é
diferente. Isso faz sentido? – Ele
desviou os olhos.
- Não, com certeza não faz sentido.
– Eu sorri. – Você me conhece a
mais ou menos dois dias!
Ele olhou de novo para mim e
sorriu.
- E daí?
- Meu Deus, olha é melhor a gente
ir pra casa, eu tenho que arrumar
meu material escolar.
- Não se esqueça de quem te
conseguiu a matricula! – Ele rindo
enquanto a gente andava até o
carro.
- Pois é! Eu ainda não acredito que
você botou medo no diretor daquele
jeito.
- Eu tenho meus truques.
Assim que chegamos no carro ele
olhou pra mim e eu revirei os
olhos, sabia exatamente o que ele
estava pensando.
- Mas é uma dama mesmo. – Ele
disse e abriu a porta do carro para
mim, eu sorri e revirei os olhos.
- Então, o que achou do passeio? –
Ele perguntou enquanto dava
partida no carro.
- Tirando o flerte, o fora que você
deu na tal da Jane e o seu tom de
malicia... Até que não foi tão ruim.
Notei ele sorrindo com o canto da
boca, de um jeito meio torto e
imperfeito que não combinava nem
um pouco com todo o resto do
corpo e do rosto dele. Eu adorei
aquele sorriso. Mas então ele
pareceu pensar um pouquinho e o
sorriso desapareceu.
- Então resumindo a coisa que você
mais gostou foi ouvir sobre meus
irmãos? – Ele disse e eu senti
uma pontada de ciúmes na voz dele.
- Claro que não, eu adorei ouvir
sobre a sua infância! Alias, eu não
sei quantos anos você tem, senhor
Joshua. – Eu disse mais para mudar
de assunto, pois eu realmente tinha
gostado de ouvir sobre os
irmãos dele.
- Vou completar 21 no fim do ano. –
Ele disse dando de ombros.
Meu Deus, ele é 5 anos mais velho
que eu. Cinco anos. Isso é tempo
que só a porra... Não é?
- E você? – Ele perguntou, enquanto
parava no sinal vermelho e se
virava pra olhar pra mim.
- Adivinhe.
Ele me olhou de cima a baixo e eu
corei na mesma hora, me
arrependendo de ter falado aquilo,
já que
agora ele estava medindo cada
centímetro do meu corpo com o
olhar. Depois do que pareceu um
século – ele provavelmente estava
se aproveitando da situação – ele
sorriu e olhou de novo nos meus
olhos.
- Se for pelo seu corpo eu daria uns
18 anos, mas seu rostinho é de 15, o
que deixa tudo melhor. – Ele disse
com aquele tom sexy que ele usa
sempre.
- Obrigada, eu acho... E eu tenho
16.
Ele arregalou os olhos para mim.
- Não acredito! – Ele disse
surpreso. – Um corpo desses ainda
está em fase de crescimento?!
Eu ri, para não parecer que tinha
ficado sem graça.
- E eu achando que já tinha visto de
tudo nessa vida...
- Pare, isso deixa qualquer clima
tenso. – Eu falei desviando os olhos
dele e olhando para rua,
notando que já estávamos na
esquina da casa dele.
- Ok, sorte sua que já chegamos.
Ele falou enquanto parava em frente
à mansão dos Hunter, ainda não
conseguia acreditar que eu
morava naquele lugar.
...
Eu olhei pro teto, tentando parar de
pensar no Joshua, mas era quase
impossível. Já se passou 4 horas
desde que ele me deixou em casa e
saiu para encontrar uns amigos,
pelo menos foi o que ele disse...
O provável é que ele tenha ido
encontrar outra garota, mas o que
isso importa?
- Posso entrar? – Eu ouvi a voz e
reconheci que era o Nicolas, que eu
ainda considero como o melhor
dos irmãos, e andei até a porta para
abrir.
- Oi Nick, tudo bem? – Eu disse
enquanto deixava ele entrar e se
sentar na ponta da cama. Puxei uma
cadeira para sentar na frente dele.
- Mais ou menos... – Ele desviou os
olhos e respirou fundo. – Eu estava
num restaurante com o Felipe e
gente estava conversando e rindo,
eu nem notei quando o... Joshua
chegou e viu ele...
Eu prendi a respiração.
- Então ele me puxou e começou a
fazer perguntas e eu não sabia o que
fazer, ele já tinha me pego
conversando assim com um garoto
antes e já tinha desconfiado da
minha sexualidade... – Ele me
olhou como se pedisse perdão. – E
ai eu disse que o Felipe era seu...
Namorado.
Eu quase cai da cadeira. Agora o
Joshua acha que eu sou uma vadia!
- Me perdoe, por favor... – Os
olhos azuis deles se encheram de
lagrimas e eu me arrependi na
mesma hora de ter ficado com raiva
dele. – Eu simplesmente não sabia
o que dizer! Me desculpe
Susan...
- Não... – Eu me levantei da cadeira
e abracei ele. – Não precisa me
pedir desculpas, ok? Tá tudo
bem.
- Mas o que eu achei estranho foi a
reação do Joshua.
Eu olhei pra ele com cara de
interrogação.
- Ele ficou furioso... Eu nunca vi o
Joshua assim, foi muito estranho,
mas pelo menos ele não fez mais
perguntas e saiu com raiva do
restaurante.
O Joshua ficou furioso... De
ciúmes?
6. Que porra foi essa?
- É serio Susan... – O Nicolas disse
quando eu me sentei de novo na
cadeira. – Eu sei que não devia
ter mentido, mas eu estava com
tanto medo que nem pensei direito!
Não gosto nem de imaginar o que
aconteceria se o Joshua descobrisse
que eu sou gay. – Ele sussurrou as
ultimas duas palavras tão
baixo que foi quase inaudível. Era
seu maior segredo.
- Tudo bem Nicolas, você pode
sempre contar comigo. – Eu disse e
ofereci um sorriso pra ele, que
retribuiu.
I want to break free...
O Nicolas olhou para mim e eu
assenti, dizendo sem palavras que
ele podia atender o celular que
tocava Queen.
Um sorriso se espalhou pelo rosto
dele assim que leu o nome de quem
estava ligando.
- Oi Lipe!
- Oi Nick, eu estava pensando em te
ver de novo hoje... Depois de seu
irmão sair com tanta raiva
daquele jeito, eu fiquei preocupado
e também porque hoje é dia 13,
você sabia que eu te conheci a
exatamente 6 meses? – A voz doce
do Felipe veio do outro lado do
celular.
- Obvio que sabia! Claro que você
pode vim... Mas, eu não sei se é
uma boa ideia você chegar aqui
com meu pai na sala da frente, você
sabe... Minha família é muito...
- Sim, eu sei. – O tom dele adquiriu
um quê de tristeza. Eu também me
sentiria assim se a família do meu
namorado fosse tão contra o meu
relacionamento. – Então, por onde
eu posso entrar?
O Nicolas olhou para mim por um
minuto e então sua expressão se
iluminou. Ele teve uma ideia.
- Eu poderia falar com a Susan, ela
dorme no quarto do sótão e você
poderia entrar pela janela. – Ele
disse entusiasmado e eu quase me
engasguei de surpresa.
- Eu não quero atrapalhar ela... – O
Felipe disse, o tom de voz ainda
mais triste que antes e os olhos do
Nicolas suplicavam para eu deixar.
- Tá. – Eu disse sem emitir som.
- FELIPE! Eu falei aqui agora com
ela e ela deixou!
- Então que horas eu passo ai? – Eu
suspirei feliz pelo tom de animação
do Felipe, dava pra sentir a
ansiedade dele do outro lado da
linha.
- Daqui a... – O Nicolas olhou pra
mim e eu fiz um 1 com a mão. –
Uma hora, pode ser?
- Claro que pode!
- Ótimo, eu vou colocar uma escada
até o teto do lado da casa agora
mesmo. Tchau, eu te amo ok?
- Eu também te amo Nicolas.
Um sorriso involuntário e lindo
surgiu no rosto do Nicolas quando
ele desligou o celular, as duas
covinhas pareciam dançar em suas
bochechas e seus olhos azuis
estavam brilhando. Como os do
Joshua.
- Você é perfeita, sabia disso? – Ele
disse pulando pra me abraçar e eu
ri alto.
- Claro que sabia. – Eu disse rindo
enquanto abraçava aquele
incrivelmente lindo e animado gay.
...
Faltando cinco minutos pro Felipe
chegar e o Nicolas ainda não
voltou, ele disse que iria sair
rapidinho para comprar comida.
HÁ 40 MINUTOS! Mas tudo bem,
eu fico aqui como recepcionista
do Felipe mesmo... Fazer o que?
TOC TOC TOC
Me virei e vi uma sombra na janela.
Ele chegou.
Eu fui até a janela e olhei para ele.
Com o cabelo liso castanho e os
olhos da mesma cor, ele era tão
lindo que poderia ser um Hunter,
era só colocar um par de olhos
claros.
- Abre ai. – Ele falou, a voz
transbordando de ansiedade e
animação.
Eu abri e ele entrou pulando e eu
pulei com ele.
- Cadê o Nick?
- Ele foi comprar comida, mas já
volta.
Ele fez que sim com a cabeça e a
gente se encarou por um segundo.
Então ele começou a ri e me
abraçou.
- Obrigado, obrigado de verdade. –
Ele sussurrou no meu ouvido e eu
sorri, apertando ele ainda mais
no meu abraço.
- MAS QUE PORRA É ESSA?
Eu soltei o Felipe na mesma hora.
Aquela voz. Me virei e lá estava o
Joshua, os olhos brilhando de
raiva.
- Você deve ser o Joshua... – O
Felipe começou dizendo, com toda
a educação possível, mesmo que
seus olhos estivessem com medo.
- O que você está fazendo aqui? –
O Joshua o cortou, com a voz fria e
andou até ficar cara a cara com ele.
- Eu v-v-vim... – O Felipe
gaguejou, o Joshua o fuzilava com
os olhos.
- Ele veio me ver.
Os dois olharam para mim. Um
aliviado o outro... Bem, o outro
parecia que ia matar alguém.
- Como você pode ser tão vadia? –
O Joshua me olhou com frieza e
cuspiu as palavras pra mim.
- NÃO FALE ASSIM COM ELA. –
O Felipe, mesmo parecendo muito
assustado, levantou um dedo
para o Joshua.
O loiro olhou pra ele sem acreditar
e depois para mim. Então, antes que
eu pudesse fazer qualquer
coisa, ele deu um murro na cara do
Felipe, que se curvou de dor.
- JAMES, NÃO! – Eu tentei gritar,
mas o Felipe já estava no chão e o
Joshua em cima dele.
O Joshua parecia uma maquina de
guerra de tão feroz. Ele estava
levantando o braço para um
segundo murro quando eu me joguei
em cima dele e cai por cima no
chão, tentei imobiliza-lo, mas ele
segurou meus braços, enquanto eu
colocava uma perna de cada lado
dele.
- Por que você está fazendo isso? –
Eu perguntei me debatendo, mas ele
era mais forte.
Ele me olhou com raiva, então a
compreensão se espalhou pelo
rosto dele e ele soltou minhas mãos
e
me empurrou pro lado para se
levantar. Levantei também.
- Ei você – ele disse olhando pro
Felipe, que ainda estava no chão,
com a cara muito vermelha – saia
da minha casa agora, ninguém te
convidou.
- Eu convidei. – Eu disse parando
na frente dele para encara-lo, sem
acreditar no que tinha acabado
de acontecer.
- Ninguém que tenha o direito de
ficar chamando gente. Nenhum
Hunter. – Ele jogou essas palavras
para mim com toda a frieza
possível e eu senti duas irritantes
lagrimas tentando sair.
Eu me virei para o Felipe e ajudei
ele a levantar.
- Deixa que eu explico pro Nicolas,
volte mais tarde. – Eu disse
baixinho no ouvido dele que
assentiu, ele estava meio lento por
causa da dor no rosto.
- Saia. – O Joshua disse autoritário
e o Felipe me deu um beijo na
bochecha e saiu pela janela.
- QUE FOI ISSO? – Eu gritei pra
pro Joshua assim que o Felipe saiu,
a raiva fervia na minha veia.
- Eu que te pergunto! Ficar se
pegando uma hora dessas com um
completo desconhecido! – Ele
parecia um pai falando, o tom dele
tinha raiva e autoridade.
- Falou o cara que nunca se pegou
com ninguém, não é? – Eu falei com
ódio e andei até fica a um
passo dele.
- Mas é muito diferente. Eu não sou
tão ruim a ponto de fazer a garota
entrar pelo sótão! – Ele deu
meio passo e eu quase conseguia
sentir o ar saindo da boca dele.
Eu revirei os olhos. Era impossível
discutir com um cara desses.
- Tá Joshua, na próxima vez eu
peço pra ele vim pela porta da
frente, farei questão. – Eu procurei
o meu melhor tom frio para
competir com o dele. Nossos olhos
se fuzilavam. – Mas nada disso é
motivo para você dá um murro na
cara dele. O que você tinha na
cabeça?
Então aconteceu algo que meus
olhos só iriam ver de novo meses
depois, o rosto do Joshua ficou
vermelho. Ele corou.
- Eu estava defendendo a casa. –
Ele tentou parecer confiante, mas a
sua voz vacilou.
- Sei. – Eu disse irônica e me sentei
na cama, cruzando as pernas, sem
desviar em nenhum momento
dos olhos dele.
Ele bufou e sentou na minha frente.
- Você é como as outras.
Meu coração falhou, tentei me
manter indiferente.
- Como assim?
- Você mesmo com um namorado
saiu comigo, me deixou flertar com
você. Você é exatamente igual a
elas. – Ele disse de uma vez só.
- Claro que não! – Senti as lagrimas
voltando, mas eu não iria chorar,
não na frente dele.
- Claro que sim! – Ele se levantou
da cadeira e me olhou de cima. –
Achei que você fosse diferente.
Eu pensei rápido. Não podia contar
a verdade, não podia dizer eu sou
diferente. A única coisa que eu
podia fazer era ser fria.
- Não me importo com o que você
acha.
Ele levantou uma sobrancelha,
surpreso com a resposta.
- Ótimo, então esqueça que hoje
aconteceu.
Eu me levantei, estava tão perto
dele que por centímetros nossos
corpos não se tocavam.
- Ótimo.
- Ótimo.
- Agora saia do meu quarto.
Eu estava com a respiração
acelerada e meu coração parecia
ter perdido o controle. Ele era tão
lindo que dava raiva.
- Primeiro eu tenho que fazer o que
eu vim fazer aqui.
Ele pegou um Iphone do bolso da
calça preta dele.
- Pra que isso? – Eu perguntei
quando ele me estendeu o celular.
Ele desviou os olhos.
- Minha mãe descobriu que você
não tem um celular e comprou hoje
de tarde. – Ele respondeu rápido
e eu peguei o objeto da mão dele,
sem acreditar.
- Ela não precisava...
- É, ela não precisava. Mas pelo
jeito ela gosta muito de você. – Ele
disse, olhando para algum ponto
atrás de mim.
- Depois eu vou agradecer a ela.
- Tá.
Então ele foi embora.
Eu andei até a porta e a tranquei,
não queria mais visitas. Respirei
fundo, tentando entender o que
tinha acontecido. O Joshua tendo
um ataque de raiva, o Felipe saindo
assustado, eu ter deixado o
Joshua corado e a Dona Nicole ter
me dado um Iphone.
Olhei pro lugar onde o Joshua
estava e vi um pedacinho de papel
no chão, que ele provavelmente
derrubou quando tirou o Iphone do
bolso. Me abaixei e peguei o papel,
que era meio amarelo. Não
acreditei no que meus olhos viram:
PREZADO SENHOR JAMES R.
COMPRA BEM SUCEDIDA.
OBRIGADO POR ESCOLHER A
NOSSA LOJA PARA A COMPRA
DO IPHONE 5s
ESPERAMOS QUE A GAROTA
GOSTE DO PRESENTE.
VOLTE SEMPRE.
7. Não sei como explicar
Eu reli o papel amarelo umas dez
vezes. O Joshua comprou um
Iphone pra mim? Não pode ser...
Não
fazia sentido, ele não tinha, nem
tem, a menor necessidade de me
agradar, muito menos com algo tão
caro e...
É, ela não precisava. Mas pelo
jeito ela gosta muito de você. As
palavras surgiram como uma
bomba, se espalhando por todo
lugar na minha mente. Será que era
uma declaração? Não... Não pode
ser, ele é muita areia pro meu
caminhão, na verdade, ele é como
uma tonelada de areia para um
Hotwells. Ele não pode está
gostando de mim desse jeito, deve
haver um engano.
- Por que trancou? – Ouvi a voz
gentil do Nicolas vindo do outro
lado da porta. Como eu iria
explicar o que aconteceu aqui? Se
nem eu mesmo sei.
Eu respirei fundo e abri a porta pra
ele, que foi direto para a varanda,
abrindo a janela.
- Cadê o Lipe? – O tom dele estava
tão cheio de ansiedade que eu não
soube o que responder.
Ele abriu a janela e olhou ao redor.
- FELIPEEEE!
Eu me assustei e olhei pro Nicolas
que parecia que iria se jogar da
janela. Corri pra perto dele e vi o
Felipe sentado no telhado, olhando
as estrelas.
Então os olhos castanhos dele
encontraram os do Nicolas e um
sorriso instantâneo apareceu, quase
maior que a cara dele. Ele correu e
literalmente se jogou nos braços do
Nicolas, eu me afastei para
deixar eles a vontade.
Depois de uns três minutos de
beijos e abraços eles finalmente se
soltaram e vieram até onde eu
estava, bem no meio do quarto,
perto das sacolas com comida que
o Nicolas tinha trazido.
Sentamos em uma rodinha no chão,
o Nicolas com o braço ao redor do
Felipe, de um jeito protetor.
- Enfim, por que o Lipe estava do
lado de fora quando eu cheguei? –
O Nicolas perguntou com cara
de interrogação e eu olhei pro
Felipe, ele parecia meio nervoso.
- É que... – Eu comecei a
responder, tinha decidido contar a
verdade.
- É que eu vi o Joshua entrando no
quarto para falar com a Susan e
decidir nem entrar, para não
causar problemas. – Eu quase cai
pra trás quando o Felipe disse isso,
os olhos dele fixos nos do
Nicolas.
- Você sabe que eu não iria deixar
ele machucar você, não sabe? – O
Nicolas perguntou puxando o
Felipe para ficar mais perto dele.
Por que ele mentiu? Eu perguntei
para mim mesma e a resposta veio
logo em seguida.
- Sei, mas eu não queria que você
brigasse com seu irmão por minha
causa. Jamais iria fazer isso
com você. – Ele disse de uma vez
só e seus olhos foram direto para os
meus e entramos num acordo
silencioso: Nada de contar a
verdade pro Nicolas, pelo menos
não agora.
O Nicolas sorriu e tirou duas caixas
de pizza da sacola, encerrando o
assunto anterior. Nós
começamos a comer em silencio
quando uma pergunta veio na minha
cabeça.
- Como vocês começaram a
namorar? – Eu perguntei, sem
conseguir conter minha curiosidade.
Eles trocaram um olhar.
- Bem, tudo começou quando um
novato extremamente sexy e gostoso
entrou na minha sala no meio
do ano – o Nicolas sorriu e o
Felipe parecia ficar mais vermelho
a cada palavra que ele dizia. – E
claro que todas garotas da sala
ficaram loucas em cima dele, mas
ele não parecia interessado em
nenhuma delas e só quando ele
dispensou a menina mais loira e
bonita do colégio que eu comecei a
achar que ele era gay.
“Então eu decidi que iria ver se ele
era mesmo e comecei a olhar para
ele em todas as aulas e puxar
conversa, no começo ele ficava
tímido e não queria continuar os
assuntos, mas eu não desisti, é
claro...”
Ele olhou pro Felipe, que estava
tão vermelho quanto o cabelo do
garoto que eu conheci hoje cedo, o
Eduardo, e o Nicolas fez que um
sinal com a cabeça, pedindo pra
que ele continuasse a história.
- OK... Eu ficava muito nervoso de
falar com o Nick, mas ele é tão
insistente e irresistível que eu
decidir fazer alguma coisa. Então
eu comecei a puxar papo com ele
também, olhar bastante durante as
aulas e todas essas coisas que
fazemos quando paqueramos
alguém. Até que em julho, depois
de um
mês naquela troca de olhares sem
fim, a Camila, uma amiga nossa,
decidiu fazer uma super festa de
aniversário. Lá o povo decidiu
brincar de esconde-esconde, só pra
ter pegação mesmo e ai eu corri
pra o quarto dos fundos da casa da
festa e assim que eu cheguei lá dei
de cara com esses olhos azuis.
- O resto você já pode deduzir
sozinha. – O Nicolas disse
sorrindo. – Uma dica: A noite
começou
com parabéns Mila e acabou com
v-va-vai Felipe...
Eu ri alto com a imitação de
gemido dele, mas o Felipe parecia
um pimentão de tão vermelho, ainda
mais na ponta do nariz... Se bem
que foi bem na ponta do nariz dele
que o Joshua acertou aquele
murro.
Depois disso nós conversamos
sobre um monte de besteira, me
fazendo me chorar de ri uma hora e
me deixando de olhos arregalados
na outra, quando, depois de quase 2
horas, o Nicolas pediu pra eu
deixar ele e o Felipe a sós um
pouquinho e eu fui para o quarto
dele.
...
Devo ter pego no sono. Olhei em
volta e tava no enorme, organizado
e lindo quarto do Nicolas. Ele
deve ter dormido no meu quarto,
quer dizer, ele deve ter ficado
muito acordado com o Felipe no
meu
quarto.
Eu sentei na cama e pensei um
pouquinho. Era meu terceiro dia
naquela casa, mas parecia que eu
morava ali há meses...
Sai do quarto e já ia entrando no
elevador quando ouvi o barulho de
uma porta se abrindo do outro
lado do corredor. Rezei para não
ser o Joshua, eu não queria ver ele
agora, não tão confusa em
relação ao que eu sentia.
Mas quando eu me virei não eram
os olhos azuis do Joshua que
estavam me observando e sim os
verdes-mar do Michael, com um
sorriso cínico no rosto.
- Já? Achei que fosse demorar mais
pra você começar a se pegar com
um Hunter. – Ele disse e se
aproximou de mim. Mesmo com o
cabelo assanhado e amassado ele
parecia um tipo de deus grego.
- Claro que não! – Eu disse na
defensiva e apertei no botão do
elevador. – Eu só passei agora no
quarto do Nicolas para falar com
ele, mas como ele não tava eu sai.
Simples assim.
- Sei... – Nem uma parte dele
acreditava em mim, mas fazia
sentido, eu nunca soube mentir bem.
- Vai entrar? – Eu perguntei
entrando no elevador assim que ele
abriu.
Ele fez que sim com a cabeça e
entrou, se olhando no espelho.
- Eu sou muito lindo, pelo amor de
Deus! – Ele falou enquanto se
contemplava.
Sim, claro que é. Mas da minha
boca você nunca vai ouvir isso.
- Pena que só embalagem não faz
um produto... – Eu murmurei alto o
bastante para ele ouvir e se
virar pra mim, com uma
sobrancelha levantada, exatamente
como o Joshua faz quando fica
surpreso.
- O que você disse?
- Você é surdo? – Meu tom era frio,
eu não estava com o menor saco pra
aguentar o Michael.
- Mas que grosseria... Se eu fosse
você não me trataria assim. – A voz
dele estava carregada de
ameaça e quando eu estava
começando a sentir um pouquinho
de medo a porta do elevador se
abriu.
- Foda-se. – Eu disse enquanto me
virara pra sair, mas ele me segurou
pelo braço e me puxou de
volta para ao elevador.
- Acho que podemos conversar
mais um pouquinho antes de você
sair. – Ele falou e apertou no botão
do térreo.
Eu revirei os olhos.
- Eu não gosto de conversar com
você.
- Não perguntei o que você gosta ou
deixa de gostar, meu bem. Eu tou
pouco me fodendo pra isso,
mas eu quero continuar minha
conversa com você e é exatamente
isso que vamos fazer. – Ele usou
aquele irritante tom autoritário e
arrogante que eu odiei desde a
primeira vez que eu ouvi.
- Então diga.
- Peça desculpas pelo que você
disse.
Eu ri, quem ele pensa que é? Ele
vai esperar sentado eu pedir
desculpas pra ele.
- Ou você pede ou você vai se
arrepender disso.
Eu ri mais um pouco, tentando não
notar o tom sério e maldoso dele.
- Morrendo de medo de você eu
estou aqui. – Eu falei irônica e bem
nessa hora a porta do elevador
se abriu, a Dona Nicole estava na
sala e sorriu para nós dois quando
nos viu. – Creio que a nossa
conversa acabou.
Ele me lançou um olhar tão mortal
que eu fiquei um pouco tonta e
apertei o botão 3 o mais rápido o
possível assim que ele saiu do
elevador.
Só quando as portas se fecharam eu
pensei nas palavras do Michael.
Não havia nada que ele pudesse
fazer contra mim... Não é?
Tentei tirar isso da cabeça e esperei
o elevador se abrir. Assim que isso
aconteceu entrei no meu
quarto esperando encontrar o
Nicolas ou o Felipe, mas nenhum
dos dois estava lá... Em
compensação
minha cama dava todos os sinais de
que eles tinham passado a noite lá e
bem acordados.
Fui ao banheiro e tomei um banho
rápido, depois troquei de roupa e
me joguei na cama, olhando pro
teto. Daqui a dois dias começam as
aulas e a ansiedade já estava me
atingindo, mas é claro que
qualquer coisa deve ser melhor que
a minha antiga escola, com aqueles
maloqueiros e vadias em
todo lugar. Acho que eu era a única
virgem da minha sala. E isso
realmente é um problema já que
ainda era o primeiro ano do médio.
...
Depois de uma hora sem fazer
absolutamente nada decidi ir até o
jardim, respirar um ar puro.
Desci pelas escadas mesmo e
passei dando bom dia para minha
mãe e para Dona Nicole, que
conversavam animadamente. Passei
direto pela varanda e fiquei
andando pelo adoravelmente lindo
jardim. Então eu vi um balanço e
duas pessoas nele, de costas para
mim. Uma delas tinha um cabelo
loiro desarrumado e brilhante. Era
o Joshua. Eu olhei pra menina que
estava sentava no balanço ao
lado dele, ela tinha um longo e liso
cabelo ruivo. Ruivo. A cor de
cabelo que faz o Joshua ficar
gentil. Senti todos os meus
músculos tremendo de raiva.
- Sabe Emily... Desde o momento
em que eu te vi andando pelo
shopping eu soube que você era
especial. – A voz do Joshua estava
tão carregada de sedução que até eu
suspirei. Ele passou a mão
pelo cabelo ruivo dela e eu quase
conseguia ver todos os pelos do
corpo dela se arrepiando.
- Ah Joshua... – Ela estava sem ar e
ele se aproximou dela, em poucos
centímetros eles iriam se
beijar.
- UAU, VOCÊ DEVE SER A Jane
QUE O JAMES FALOU! – Eu corri
para ficar na frente dele e
joguei essas palavras da maneira
mais inocente que eu conseguia. Eu
não fazia a menor idéia do que
estava fazendo, mas eu NÃO iria
deixar ele beijar essa garota.
- Do que você está falando? – A tal
Emily se virou para mim a um
centímetro da boca do Joshua,
muito irritada por ter sido
interrompida.
O Joshua levantou uma sobrancelha
pra mim.
- O que? Você não é a tal da Jane
Ruiva que ele tanto fala?
- Do que você está falando? O
Joshua me disse que eu sou a
primeira ruiva que ele já se
interessou. –
Ela disse com raiva e eu sorri com
a ingenuidade dela, ainda sem
entender por que eu estava sendo
tão má. – Por que você está
sorrindo?
- Porque eu sempre quis ver o
Joshua enganando alguém ao vivo.
Ela se virou para o Joshua, como se
esperasse uma explicação, mas ele
parecia em uma espécie de
transe, olhando fixo pra mim, sem
acreditar no que estava
acontecendo.
- Joshua! Diga alguma coisa! Diga
pra essa vadia parar de mentir e...
- Não chame ela de vadia.
Eu me virei para o Joshua. Ele
parecia ter saído do transe e olhava
frio para a ruiva ao lado dele,
que estava prestes a chorar.
- Não acredito que você vai
defender essa menina! Que você
não vai desmentir tudo que ela
disse! –
Ela se levantou e seus olhos
pareciam vim de mim para o
Joshua, tentando decidi quem
odiava mais.
Eu ri da cara dela.
- Por favor, você acha mesmo que é
especial? Ele já ficou com milhares
de meninas como você.
O Joshua olhou de novo pra mim.
- Quem é você pra falar alguma
coisa? – Ela disse levantando o
dedo pra mim.
Eu já estava abrindo a boca pra
falar quando o Joshua se levantou.
- Ela é a Susan, a filha da
empregada. – Ele disse, mas sem
aquele tom de superioridade que
ele
poderia usar.
Ela olhou surpresa e indignada pra
ele.
- NÃO ACREDITO QUE VOCÊ
DEFENDEU UMA QUALQUER! –
Ela começou a gritar de raiva.
- Ela não é uma qualquer. Você é
uma qualquer. – Ele disse sem
elevar ou alterar o tom de voz e eu
olhei sem acreditar pra ele.
- Mas... – A voz da ruiva estava
fraca, ela iria começar a chorar a
qualquer momento e eu comecei a
me arrepender por ter tido aquele
ataque de maldade.
- Sinto muito Emily, mas vou ter
que pedir pra você sair da minha
casa. – O Joshua disse calmamente
e a garota olhou pra ele como se ele
tivesse enfiado uma faca no peito
dela.
Então uma lagrima caiu do olho
direito dela e eu me senti
completamente arrependida.
- Se quiser, eu te levo até lá e... –
Eu comecei a dizer.
- Não, você vai ficar bem aqui. Ela
vai sozinha. – O Joshua disse
devagar e a Emily olhou pra ele
incrédula, então ele se aproximou
dela e a puxou pela cintura. –
Minha mãe diz que não podemos
chamar alguém para nossa casa e
não dar nada a essa pessoa. Aqui
está o que eu dou pra você.
Assim que as palavras saíram, ele a
beijou. Um beijo de verdade,
daqueles de deixar qualquer um
sem ar. A menina começou lutando,
mas depois se entregou e colocou
as mãos no pescoço dele. Eu
fechei meus olhos, não queria ver
aquilo.
Depois do que pareceu um século
eu finalmente ouvi o barulho deles
se afastando e abri meus olhos.
Ela estava vermelha e ele parecia
quase indiferente ao que tinha
acontecido, mas sorria.
- Tchau. – Ela disse e eu tive medo
de ela se derreter ali mesmo, mas a
ruiva se virou e foi embora, sem
olhar pra mim.
Nós observamos em silencio
enquanto a garota ia embora e só
quando ela saiu da nossa vista o
Joshua se sentou de novo no
balanço e olhou pra mim.
- Quero uma explicação. – Ele
disse sem nenhuma emoção na voz
e eu respirei fundo. Não tinha
explicação pra isso.
- E-Eu não sei... – Me engasguei
com as palavras e senti que eu
estava corada.
Ele revirou os olhos.
- Para uma garota que tem
namorado até que você é muito
ciumenta.
Eu tentei pensar rápido, mas não
tinha nada na minha mente que
fizesse sentido.
- Me desculpa?
- Tanto faz, ela realmente não era
especial, mas eu gostaria de saber
por que você agiu como uma
namorada possessiva.
Suspirei e sentei no balanço ao
lado dele.
- Como você tinha dito mesmo? Eu
estava defendendo a casa. – Eu
imitei a voz dele e notei ele
sorrindo com o canto da boca.
- Você não pode ficar fazendo isso
comigo.
- Isso o que?
Ele se virou pra mim e seus olhos
azuis se fixaram nos meus.
- Não pode brincar comigo desse
jeito.
- Eu não tou brincando com você...
– Eu falei baixinho, mas eu sabia
que na visão dele eu era uma
puta de uma bipolar.
- Claro que está! – Ele falou
irritado. – Você tem a porra de um
namorado e ainda assim tem um
ataque de ciúmes quando me ver
com uma garota. Isso é brincar com
alguém.
Eu respirei fundo e pensei muito
nas palavras que diria a seguir.
- Eu terminei com o Felipe.
Ele olhou pra mim sem entender,
então uma de suas sobrancelhas se
levantou.
- Por quê?
Eu sorri.
- Ele é como os outros.
Ele sorriu também.
- O que aquele pedaço de bosta fez
com você? – O tom de voz dele
estava mil vezes mais amigável e
eu sorri ainda mais, aliviada.
- Ele ficou cheio de viadagem pra
cima de mim, morrendo de medo de
você. Não tem como namorar
alguém assim. – A parte da
viadagem era verdade, é claro, mas
o Joshua não precisava saber os
detalhes.
- Você sabe que acabou de garantir
que uma garota passe a tarde inteira
chorando, não sabe? – Ele
disse sorrindo, sem se importar
nem um pouco com os sentimentos
da menina.
- Claro que não, ela vai passar a
tarde toda é pensando no beijo... –
Eu falei e não pude evitar um quê
de ciúmes sair da minha voz, ele
também deve ter notado isso,
porque riu baixinho.
- É, talvez... Você quer ter uma
idéia?
Ele sorriu daquele jeito encantador
dele e eu senti todo o meu corpo
gritando sim, mas eu não sabia o
que dizer. Eu não queria ser fácil,
não queria ser como as outras. Mas
ele já estava se aproximando
de mim, a boca dele veio chegando
mais perto.
E mais perto.
Eu fechei meus olhos.
8. Almoço com os Hunter
Então, eu me lembrei do modo
como o Joshua iria terminar com a
Jane Ruiva se eu não o tivesse
desafiado a ser gentil. Da maneira
como ele não se importou com os
sentimentos daquela Emily,
mesmo sabendo que ela
provavelmente vai passar a tarde
inteira chorando. E como ele acha
que
todas são iguais.
Tudo isso passou na minha cabeça
como um raio e eu virei o rosto
bem no momento em que sua boca
iria tocar a minha.
- Joshua... – Eu suspirei, sem saber
o que falar.
Ele se afastou na mesma hora,
levantando a sobrancelha, com cara
de interrogação.
- Eu não vou beijar você. – Eu
disse cautelosamente e ele abriu a
boca pra responder, mas eu o
cortei. – Pelo menos não agora, não
só te conhecendo a menos de uma
semana e não assim, depois de
ter brigado com sua mais nova
peguete e acabado de terminar meu
namoro. – Eu disse, tentando
parecer a mais sincera o possível,
mesmo que a ultima frase fosse
carregada de mentira.
- Então você não quer me beijar? –
Ele disse, meio sem entender.
Claro, alguém como ele não deve
está acostumado em receber um
não.
- Não é que eu não queira, é que... –
Eu comecei a responder, mas, para
minha surpresa, ele sorriu.
- Você é a primeira garota que
recusa um beijo meu...
Eu corei.
-... Eu adorei isso. – Ele completou
e eu olhei pra ele, desconfiada. –
Não, sério, eu adorei saber que
você não vai ser tão fácil quanto
elas, eu adorei saber que você vai
virar o rosto pra mim quando
quiser e que não iria me beijar
assim, do nada. Eu adorei saber que
tenho um desafio pela frente.
Ele jogou todas essas palavras tão
rápido que eu demorei um segundo
para entender o que ele queria
dizer com isso. E um sorriso surgiu
na minha boca quando eu entendi.
- Você não pode tá falando sério...
Ele se levantou do balanço e me
puxou pela mão, para eu me
levantar também.
- Nunca falei tão sério na minha
vida.
Sua mão segurou a minha e
começamos a andar pelo enorme
jardim. Quando eu vi uma figura
vindo
na nossa direção. De longe só dava
para ver o cabelo preto e os olhos
verdes-mar.
- Joshua! – O Michael gritou
enquanto chegava perto de onde
estávamos.
- Fala gatinho! – O Joshua
respondeu sorrindo e estendendo a
mão para o Michael, que a apertou.
- Nosso pai tá chamando você.
O Joshua olhou para mim e depois
pro Michael.
- Onde ele tá?
- Lá na sala.
- Ok, vem comigo Susan. – O
Joshua disse e eu assenti com a
cabeça, meio irritada com a
presença
do Michael, mas por sorte ele não
parecia disposto a nos guiar e saiu
andando em direção à rua.
Assim que entramos na casa eu vi o
Senhor Fernando na sala, sua
postura impecável e seus olhos
azuis, exatamente iguais aos do
Joshua.
- Filho! – O Senhor Fernando disse,
se levantando da cadeira onde
estava e sorrindo de leve para o
Joshua. – Vá se arrumar, nós vamos
almoçar fora hoje.
Eu olhei pra o homem loiro na
minha frente e cheguei na conclusão
que eu não fazia parte de nós.
Soltei a mão do Joshua, que me
olhou com o canto do olho.
- A Susan vai também. – O Joshua
falou decidido, com aquele tom de
autoridade que apenas um
Hunter consegue atingir.
- Mas... – O Senhor Fernando
começou, olhando friamente para
mim.
- Pai, por que não?
O Senhor Fernando levantou uma
sobrancelha pro filho, seu rosto
demostrava sua irritação por estar
sendo contrariado.
- Porque ela não é uma Hunter. –
Ele disse lentamente e eu senti essa
frase como um tapa na minha
cara.
- Se ela não for eu não vou. – O
Joshua deu um passo a frente e
olhou bem no fundo dos olhos do
pai.
O Senhor Fernando o encarou por
um tempo.
- É sério, se ela não for você vai ter
que aguentar Michael, Nicolas e
Mamãe sozinho. Entende como
isso vai ser difícil? – O Joshua
disse em um tom de brincadeira,
mas eu vi o quanto ele estava
falando sério.
- Tá, ela pode ir. – O Senhor
Fernando falou depois de um
segundo e um sorriso surgiu no
rosto dele.
– Você sabe que eu odeio quando
você faz isso, não sabe?
- Sei. – O Joshua disse sorrindo.
- Então vão se arrumar.
O Senhor Fernando já estava se
retirando quando eu recuperei
minha voz e dei um passo na
direção
dele.
- E minha mãe?
Os dois loiros olharam para mim.
Quatro olhos azuis me olhando sem
entender o que eu tinha dito.
- Como assim? – O Senhor
Fernando disse voltando para o
lado do Joshua.
- Minha mãe tem que ir também. –
Eu disse tentando usar o tom do
Joshua, autoritário e confiante,
mas é claro que não saiu do jeito
que eu queria. Eu nunca mandava
nas pessoas, não sei fazer isso.
O Joshua olhou para o pai e depois
para mim.
- Bem, realmente não tem por que
não deixar... – Ele disse e o Senhor
Fernando olhou pra ele,
pensando.
- Deixe que eu falo com ela.
E se retirou, deixando eu e o Joshua
a sós.
- Você acha mesmo que ele vai falar
com ela? – Eu perguntei baixinho.
- Meu pai não é de mentir.
Eu assenti com a cabeça e fui direto
para o elevador.
- Não vai subir? – Perguntei para o
Joshua.
- Agora não.
O elevador abriu e eu entrei.
Assim que abri a porta do quarto eu
notei que nunca iria me acostumar
com o tamanho dele, com jeito
como tudo era enorme e caro – até
um pouco desnecessário.
Andei até a minha cama e vi o
Iphone que o Joshua me deu ontem.
Abri a lista de contatos e tinha
apenas um numero gravado, nem
precisei ler para saber que era o do
Joshua.
- Susan? – A voz da Dona Nicole
veio do outro lado da porta.
- Tá aberto.
Ela entrou e eu percebi o porquê de
todos os seus filhos serem
irritantemente lindos. Ótima
genética.
- o Fernando me disse que você vai
para o almoço, já sabe o que vai
vestir?
- Não...
Ela sorriu e foi até meu guarda-
roupa, assim que ela abriu eu quase
cai para trás. ESTAVA CHEIO
DE ROUPAS NOVAS!
- Mas... – Eu mal conseguia
acreditar.
- Eu fui com o Nicolas ao shopping
ontem e ele teve a ideia de comprar
umas roupas para você e
como eu sempre quis comprar
coisas para uma menina...
Eu corri até ela e a abracei.
- Meu Deus, não precisava!
Ela sorriu e tirou um vestidinho
azul com renda e me entregou.
- Use isso, a gente sai daqui a duas
horas. – Ela disse e me abraçou
outra vez antes de ir embora e me
deixar olhando aquelas roupas.
...
- VAAAAMOS!!!
Eu levantei da cama num pulo e vi
o Nicolas entrando no meu quarto,
gritando.
- Ainda faltam uns 10 minutos e...
- Eu sei, mas eu gosto de gritar. –
Ele disse e sorriu, deixando as duas
covinhas livres em usa
bochecha.
- Percebi.
Ele me puxou da cama pela mão,
me arrastando para fora do quarto e
apertou no botão do elevador.
- Aliás, eu adorei seu vestido – Ele
disse olhando para mim da cabeça
aos pés, eu me sentiria
envergonhada se um cara lindo
como ele me olhasse assim se eu
não soubesse que ele não gosta do
meu... Tipo.
- Obrigada anjo. – Eu disse
beijando ele na bochecha e
entrando no elevador que tinha
acabado de
abrir.
Fomos direto para o térreo.
- Fica ia, vou procurar minha mãe.
– Eu disse para o Nicolas e ele
assentiu com a cabeça.
Fui direto para a cozinha, mas em
vez de encontrar a mulher que me
deu a vida dei de cara com o
Michael.
- Oi. – Eu falei por pura educação.
Ele se virou pra mim e olhou pro
meu vestido.
- Você tá quase com cara de rica
com isso ai.
Eu revirei os olhos.
- Cala a boca.
- Só por que você mandou eu irei
continuar. – Ele disse cínico e eu
andei em direção a porta atrás
dele, mas ele me parou no meio do
caminho. – Por que você sempre sai
no meio da conversa?
- Porque sua voz é insuportável. –
Eu disse tirando a mão dele, que
impedia minha passagem.
- Você é tão ingrata, eu te fiz um
elogio e você nem pra agradecer!
- Não foi um elogio. – Eu me virei
pra encarar aqueles olhos verdes-
mar. – Nada que sai dessa sua
boca inútil é bom.
Ele deu um sorriso perfeito e eu
percebi que estava errada.
- Nem isso?
- Tanto faz, aliás eu estou
procurando minha mãe, não vou
perder tempo com você.
- Ela tá no porão.
- E onde fica o porão?
Mas, em vez de me responder ele
se virou e andou para fora da
cozinha.
- Procure. – Ele disse indo embora
e eu senti meu corpo ferver de
raiva. Qual a necessidade disso?
Fui para o elevador e vi o botão P,
que não tinha notado antes e
apertei.
Como acontece quando o elevador
vai para o andar do sótão as portas
se abriram em frente a uma
única porta.
- Mãe?
- Entre.
Eu abri a porta e meus olhos se
arregalaram com o tamanho do
quarto, maior do que o meu e com
uma organização impecável.
- Não vai para o almoço? – Eu
perguntei depois de abraçar ela.
- Não filha, na verdade eu tenho
um... encontro hoje.
Eu quase dei um grito.
- Conte direito! – Eu falei sem
conseguir conter a animação. Desde
que meu pai morreu minha mãe
nunca mais olhou para outro
homem, e isso já faz anos.
- Não é nada demais... – Ela disse
corando.
- Diga logo mulher!
- Lembra do Robert?
- O jardineiro lindo dos Barbosas?
- Esse mesmo, então, ele também
foi demitido e agora está
trabalhando para a mãe da Dona
Nicole.
- Como você sabe tudo isso?
- A casa dela é aqui do lado e
ontem eu passei lá e dei de cara
com ele e... Bem, ele me chamou
para sair.
Eu dei pulinhos de felicidade e
abracei ela de novo. Eu adorava o
Robert, até por que além de ele
ser um moreno de olhos dourados
ele sempre foi gentil e educado
comigo e com a minha mãe.
Eu sorri para minha mãe. A pele
morena e o cabelo ondulado e
castanho, da mesma cor dos olhos
brilhantes... Minha mãe era uma
mulher tão linda que poderia muito
bem parar o transito, sorte do
Robert.
- Então eu vou indo mãe. – Eu disse
indo em direção à porta. – Te amo,
ok?
- Também de te amo. – Ela falou e
eu sai do quarto.
Voltei para o térreo e vi que todos
os Hunter estavam me esperando.
Corei na mesma hora.
- Desculpa a demora, é que...
- Tanto faz. – O Michael me cortou
e a Dona Nicole lançou um olhar de
seja gentil para ele.
- Bem, vamos? – O Nicolas disse
vindo na minha direção e
colocando o braço no meu ombro.
O Joshua fuzilou ele com o olhar.
- A Susan vai no meu carro. – Ele
disse olhando para o Nicolas, a voz
em tom de desafio e eu tive
vontade de começar a ri... Mal sabe
ele que o Nicolas é de outro time.
- Tá, o resto vem comigo. – O
Senhor Fernando disse e todos
assentiram.
O Joshua fez questão de se colocar
entre eu e o Nicolas enquanto
andávamos até o carro preto dele.
- Tchau, a gente se ver lá! – O
Nicolas falou e acenou para mim e
para o Joshua enquanto entrava no
carro vermelho do pai.
Observei o carro partindo e senti a
mão do Joshua tocando a minha.
- Vamos?
Eu fiz que sim com a cabeça e
esperei ele abrir a minha porta.
- Acho que deixei você mal
acostumada. – Ele disse sorrindo e
eu revirei os olhos.
- Você fala como se eu tivesse
culpa.
- Você fala como se eu não
adorasse isso.
Eu ri e ele piscou pra mim antes de
entrar no carro.
- Vamos pra onde?
- Se eu conheço bem meu pai nós
vamos para aquele restaurante
italiano onde as garçonetes são
todas lindas e dão em cima de você
enquanto te serve.
- Com quantas delas você já ficou?
– Eu perguntei meio irritada.
- Umas doze.
- JAMES!
- Brincadeira, no máximo umas
quatro e já faz tempo, não precisa
se desmanchar em ciúmes. – Ele
disse e eu revirei os olhos de novo.
- Não é ciúme.
- E é o que? – Ele falou enquanto
parava no sinal vermelho e se
virava para olhar pra mim.
- Surpresa.
Ele sorriu e uma covinha apareceu
na sua bochecha, um pouco menos
profunda que as do Nicolas,
mas mesmo assim irritantemente
fofa.
- Sei... Bem, quando começam suas
aulas? – Ele disse e se virou de
novo para frente, pisando fundo
no acelerador quando o sinal ficou
verde.
- Daqui a dois dias.
- E você tá nervosa?
- Um pouco... Pelo menos eu já
conheço três pessoas.
- Três? – Ele disse e eu notei sua
sobrancelha se levantando.
- Nicolas, Michael e o Eduardo.
- Quem é esse?
- O ruivo que eu conheci quando fui
comprar meu material escolar, ele é
bem legal.
- Hm.
- Quem está com ciúmes agora? –
Eu disse rindo e ele freou o carro.
- Então você admite que estava com
ciúmes? – Ele falou se virando para
me encarar.
Eu corei.
- Ah, só dirija.
Ele riu e fez o que eu disse. Nem
deu tempo de um silencio, pois em
menos de um minuto ele já
estava estacionando.
- Chegamos.
Eu tirei o cinto e ia abrir a porta
quando ele segurou minha mão.
- Me deixe ser um cavalheiro. – Ele
disse e saiu do carro, dando uma
corridinha para chegar rápido
do meu lado e abrir a minha porta.
- Você é tão bipolar.
Ele sorriu.
- Sei disso.
Ele se virou, eu o segui até a
entrada do restaurante de luxo.
Olhei em volta e vi que todos
estavam tão bem vestidos que eu
agradeci mentalmente ao Nicolas e
a Dona Nicole por terem comprado
uma
roupa apropriada para mim, se não
eu com certeza me sentiria fora da
rodinha.
- Aqui! – Ouvi a voz animada da
Dona Nicole vindo do fim do
restaurante e andei ao lado do
Joshua
até lá.
Todas as mulheres no local se
viraram para olhar pra ele, mas ele
parecia completamente indiferente
a isso, não pude deixar de sorrir.
Eu me sentei ao lado da Dona
Nicole e o Joshua do meu lado, em
frente ao Nicolas e o Michael, com
o Senhor Fernando na ponta da
mesa.
- Já fizemos o pedido. – O Senhor
Fernando nos informou e o Joshua
assentiu com a cabeça.
- Agora deixem- me contar como
foram as coisas no trabalho hoje...
– A Dona Nicole começou a
dizer animada e eu vi o Senhor
Fernando sorrindo com o canto da
boca.
Então ela começou a contar todas
as coisas que aconteceram e eu,
assim como todos os outros, ri
com o jeito animado dela.
Depois de uns 10 minutos as
garçonetes chegaram, duas loiras
altas e bonitas. Mereço. Elas
colocaram os pratos na mesa, uma
delas – a de olhos azuis – olhando
fixo para o Senhor Fernando,
mordendo o lábio inferior.
- Mais alguma coisa? – A outra
loira, com os olhos esverdeados,
falou olhando para o Joshua, que
nem parecia notá-la.
- Não, obrigado. – O Nicolas
respondeu e as duas olharam para
ele, com aquele ar de flerte.
- Tem certeza? – A de olhos azuis
disse se virando para o Senhor
Fernando, ignorando
completamente a Dona Nicole. – O
que você quiser.
- Isso não te incomoda? – Eu
sussurrei o mais baixo o possível
para a Dona Nicole.
- Se elas fossem valem
minimamente a pena, não acha que
seria elas as casadas com três
filhos? –
Ela respondeu baixinho.
Eu sorri e vi as duas garçonetes
indo embora.
- Vocês duas só de conversinha... –
O Michael disse olhando
desconfiado pra mãe.
A Dona Nicole revirou os olhos.
- Eu sempre quis ter uma filha
mulher para ficar de conversinha.
- Então não somos o suficiente? – O
Joshua disse fingindo estar
ofendidíssimo.
- Deixe de viadagem. – O Senhor
Fernando disse, mas o seu tom não
era de brincadeira.
Olhei para o Nicolas. Ele abaixou
os olhos e eu senti um aperto no
coração.
- Relaxe pai, viadagem é a ultima
coisa que eu tenho. – O Joshua
disse rindo.
- Eu sei, filho viado eu não tenho
não!
O Nicolas se levantou e todo
mundo olhou pra ele.
- Vou no banheiro, já volto.
E saiu.
- Vai ver ele ficou ofendido quando
você disse que não tinha filho gay
e... – O Michael começou a
dizer rindo.
- Nem brinque com isso. – O
Senhor Fernando o cortou.
Eu respirei fundo.
Todos começaram a comer em
silencio e depois de um tempinho o
Nicolas voltou a mesa, o rosto não
demostrava nenhuma emoção e eu
me perguntei como ele conseguia
fazer isso.
Foi então que um casal entrou no
restaurante, todos se viraram para
olhar. A mulher devia ter uns 20
anos e um longo e loiro cabelo, que
caia ondulado até a cintura, ela
tinha um par de olhos verdes
brilhantes e uma pele bronzeada.
Ao lado dela estava um moreno
alto, de olhos azuis e lindo tipo Ian
Somerhalder.
O Joshua levantou a cabeça e
quando seus olhos encontraram os
da loira ela seu sorriso
desapareceu.
Eles vieram na nossa direção, a
loira visivelmente irritada.
- Joshua! – O moreno alto disse
sorrindo.
- Diogo, tudo bem? – O Joshua
respondeu se levantando e
cumprimentando ele. – Esses aqui
são
meus irmãos, meus pais e a Susan,
ela tá morando com a gente.
O tal Diogo se virou pra mim e
lançou um sorriso, eu retribui.
- Não vai apresentar? – A Dona
Nicole perguntou.
- Esse é o Diogo, amigo meu e essa
é a Jú... – Ele levantou uma
sobrancelha pra ela, que parecia
suplicar pra ele calar a boca. – A
namorada dele.
Todo mundo se cumprimentou
sorrindo e depois eles foram
embora, indo sentar na mesa da
frente.
O resto do almoço passou rápido.
Eu não pude deixar de notar que a
loira não parou de olhar pro
Joshua em nenhum momento.
...
- Eai, o que você achou? – O
Joshua perguntou assim que
entramos no carro.
- Adorei, só não entendi qual era a
daquela tal de Jú...
- Ah. – o Joshua disse sem se virar
pra mim. – Ela vivia traindo o
Diogo comigo no começo do
namoro deles.
- Que tipo de amigo você é? – Eu
perguntei sem acreditar.
- Eu não sabia que ele era
namorado dela e na época nem
éramos amigos na verdade... Longa
historia.
- Tenho tempo.
Ele sorriu e balançou a cabeça
negativamente.
- Depois eu te conto, ok?
- Tá.
Ele colocou um CD de rock e
ficamos ouvindo até chegarmos em
casa.
Eu abri a porta, mas ele não me
seguiu.
- Não vai entrar?
- Vou passar o fim de semana na
praia...
- Ah. – Eu disse meio
decepcionada.
- Domingo a noite eu tou de volta e
te levo pra escola segunda, pode
ser?
- Claro, tente não beber e pegar
todas nesses dois dias, pode ser?
- Se você insiste... – Ele disse
sorrindo e mandando um beijo antes
de eu chegar à porta e entrar na
casa.
Queria saber se ele iria mesmo
controlar o fogo nesse fim de
semana, queria saber a historia
completa dele com aquela Jú e
também queria saber se algum dia
eu iria me acostumar com aqueles
olhos azuis brilhantes.
9. Escola JK
Assim que eu entrei na casa, vi o
Nicolas deitado no sofá, assistindo
TV.
- Oi Nick, tudo bem? – Eu disse me
sentando no braço do sofá e indo
mexer nos cachos dele.
- Mais ou menos, tava aqui
pensando... O que vamos fazer
nesse fim de semana?
- Não faço a menor ideia.
- Que tal se a gente fosse pro
shopping amanhã e passasse o dia
todo lá?
- Quem faz parte do a gente? – Eu
perguntei, me lembrando que ele
poderia chamar o Michael
também.
- Eu, você e o Felipe, que tal? – Ele
respondeu e eu senti sua voz
ficando mais baixa ao falar do
Felipe e com um toque de tristeza.
É claro. Eu quase tinha esquecido
do que aconteceu no almoço.
- Tá ótimo, ei Nicolas... Bora
conversar no meu quarto?
Ele olhou pra mim e eu vi pelo seu
olhar que ele entendeu o que eu
estava querendo dizer.
- Claro – ele disse se levantando e
indo para o elevador.
Eu o segui e subimos em silencio
até o meu quarto. Assim que a gente
entrou eu fechei e tranquei a
porta.
- Quer desabafar? – Perguntei indo
me sentar na cama.
- Sobre o que? – O tom de voz dele
era indiferente, quase alegre, mas
seus olhos pareciam brilhar de dor.
- O almoço...
- Ah.
- Como você consegue se manter
tão calmo?
- Anos de prática.
- Nick...
Ele olhou para mim por um tempo,
pensando no que dizer. Então ele se
deitou no meu colo.
- Meu pai sempre foi assim, desde
que eu era criança... – Ele fez uma
pausa e respirou fundo. – Ele
sempre ficava irritado com
qualquer demonstração de
sensibilidade, no começo eu não me
importava, nem entendia na
verdade, mas então, quando eu
descobri quem eu era, eu percebi o
quanto
ele me criou de forma
preconceituosa e entendi por que
para ele era tão errado eu brincar
mais de
boneco do que de ficar brigando
com meus irmãos...
Eu suspirei, não sabia o que dizer.
Não sabia como confortar ele.
- ...É claro que ele nunca teve esse
problema com o Joshua ou com o
Michael, os dois eram
apaixonados por tudo que tinha
violência e ação e, assim como meu
pai, ficavam com raiva quando
eu simplesmente dizia que não
estava afim de sair por ai e subir
em arvores para depois se jogar no
chão, o Michael muito mais que o
Joshua. Mas, olha, vamos deixar
isso pra lá ok? Eu sempre dei
meu jeito e vou continuar dando.
Bem, até o dia em que eu não
aguentar mais.
[...]
Acho que cai no sono, pois acordei
ainda o vestido de renda azul. O
resto do dia anterior acabou
com eu tentando dar conselhos ao
Nicolas, mas eu não fui muito boa,
é claro. Se eu não consigo
ajudar nem a mim mesma quem dirá
ajudar outras pessoas?
Dei uma olhada pela janela e vi que
o sol já estava no meio do céu.
Tomei um banho rápido e
coloquei uma das roupas lindas que
o Nicolas e a Dona Nicole tinham
comprado pra mim.
Mal havia terminado de colocar as
sapatilhas quando o Nicolas entrou
voando no meu quarto.
- Vamos! – Ele disse animado, me
arrastando para fora do quarto.
Parecia outra pessoa. Ele era
assustadoramente forte.
[...]
O fim de semana passou voando e
quando eu me dei conta já estava na
tarde de domingo. O passeio
com o Felipe e o Nicolas foi ótimo,
eles me contaram sobre como era
estudar na escola JK, mas isso
não me deixou nem um pouco
menos ansiosa para amanhã.
Desci as escadas correndo e fui
direto para o jardim, tentando parar
de pensar no que iria acontecer
segunda.
Então ouvi um barulho de um carro
freando e me virei em direção ao
portão. Em menos de um minuto
ele se abriu e um cara alto e loiro
entrou. Joshua. Meu coração deu
um salto e eu o repreendi por ter
feito isso.
- Oi – Ele disse vindo na minha
direção e me dando um abraço –
como foi o seu fim de semana?
- Bem menos agitado que o seu. –
Eu disse dando uma olhada em sua
roupa amassada e com vários
cheiros de perfumes diferentes.
- O que te leva a pensar que meu
fim de semana foi animado? – Ele
perguntou passando o braço pelo
meu ombro.
- Que tal o fato de que você é o
Joshua?
- É um ótimo argumento na verdade
– Ele respondeu sorrindo. – Mas
nem foi tanto assim, todas as
garotas que estavam na casa de
praia já tinham passado uma noite
comigo e eu não gosto muito de
repetir a dose, então eu ignorei a
maioria.
A maioria.
- E qual delas você não ignorou?
Ele sorriu.
- Por que você quer saber?
- Curiosidade, posso não?
- Não. – Ele disse se virando pra
mim e me encarando.
- Ok, não faço questão.
- Melhor ainda, agora vamos mudar
de assunto, me conte o que você fez
enquanto eu estava fora.
- Não. – Eu rebati dando as costas
pra ele e indo em direção ao
portão, irritada por causa da
conversa. Ouvi ele chamando meu
nome, mas não me virei e ele não
me seguiu.
Nunca tinha andando pela rua dos
Hunter, mas como era meio que um
condomínio fechado tinha
segurança de sobra.
- Susan!
Eu me virei e vi a Dona Nicole,
sorridente e animada como sempre.
- Oi! – Eu disse dando um abraço
nela e sorrindo.
- Ansiosa para amanhã?
- Você não faz ideia...
- Não precisa se preocupar! Tenho
certeza que o Michael vai dá um
jeito de te apresentar a todo
mundo sala de vocês. – Ela disse
confiante. Pelo jeito ela tinha a
menor ideia de como era o filho.
- Claro... Mas, como você sabe que
vamos ficar na mesma turma?
- Eu não sei, mas se não ficarem eu
dou um jeito nisso rapidinho! – Ela
disse dando uma piscadinha e eu
sorri.
- Obrigada. De verdade, minha mãe
disse que a senhora fez questão de
me colocar na JK – Eu disse
me lembrando do dia em que minha
mãe me deu a noticia de que foi
contratada pelos Hunter.
- É claro que fiz, você agora é uma
de nós e tem que ter todos os
direitos.
Eu olhei para os olhos verdes-mar
da mulher na minha frente.
- Obrigada de verdade, nem todo
mundo pensaria assim.
- Sei disso... – Ela disse e eu senti
um quê de tristeza na voz dela. Me
perguntei se estaria se
referindo a algum de seus filhos.
- Enfim, o que você faz por aqui? –
Eu perguntei para mudar de assunto.
- Nada, o Fernando viajou por
causa do trabalho e meus filhos
estão todos ocupados, então decidi
andar um pouquinho.
- Se quiser eu posso fazer alguma
coisa com você e...
- PERFEITO! – Ela gritou e eu
quase morri de susto enquanto ela
me arrastava pela mão.
- O que vamos fazer? – Eu disse
seguindo ela.
- Vamos na casa da minha mãe,
lembrei que ela ainda não te
conhece!
Ela me levou até uma mansão do
outro lado da rua, maior do que as
do Hunter em largura, mas não
em comprimento – pois só tinha
dois andares – e apertou um botão
em um controle, fazendo os
portões se abrirem.
- Filha, que surpresa!
Eu olhei para frente e vi uma
senhora na casa dos 60 anos
sentada numa cadeira de balanço do
outro
lado de um enorme jardim, tão
lindo quanto o dos Hunter.
- Mãe, essa é a Susan, ela é filha da
Melissa. – A Dona Nicole disse
quando chegamos perto da
senhora na cadeira, ela tinha olhos
tão negros que pareciam só existir
pupila, nada de íris. Mas eles
brilhavam tanto que pareciam uma
noite estrelada.
- Muito prazer. – Eu falei meio sem
graça e estendi a mão para ela.
- O prazer é todo meu! – Ela
respondeu apertando minha mão, o
tom de voz alegre era exatamente
igual ao da filha. – Você é tão linda
quanto sua mãe.
- Obrigada, mas qual o nome da
senhora, Dona Hunter?
- Ah não... Eu não sou uma Hunter!
– Ela disse rindo. – Meu nome é
Eliza Montenegro.
Eu sorri.
- Espere um segundo. – A Dona
Eliza disse se virando para casa. –
PAOLA, VENHA AQUI!
Uma moça morena e bonita que
tinha no máximo 24 anos veio
correndo.
- O que deseja Senhora
Montenegro? – A voz dela era doce
e prestativa, mas quando seus olhos
verdes encontraram os meus alguma
coisa mudou na expressão dela. Ela
me fuzilou com o olhar.
- Traga alguma coisa para nós
comermos.
A tal Paola assentiu com a cabeça,
sem desviar os olhos dos meus e
voltou para dentro da casa.
Cinco minutos depois ela voltou
com uma bandeja cheia de biscoitos
e xicaras de chá. Enquanto
servia, seus olhos quase faziam eu
agradecer a Deus por ela não ter
uma arma. Eu só não entendia
por que de tanto ódio.
- Então, me conte de você.
Eu me virei para a senhora na
minha frente e comecei a falar
sobre o básico, mas elas ficaram
animadas e começaram a contar
historias sobre si mesmas também.
Depois de quase duas horas
conversando a Dona Nicole se
despediu e voltamos para casa.
[...]
Acordei ansiosa.
Dei uma olhada no relógio e vi que
eram 6:13, respirei aliviada,
minhas aulas só iriam começar
daqui a 47 minutos.
Depois de fazer minhas
necessidades abri o guarda-roupa e
comecei a procurar a farda do
colégio.
Como eu não estava conseguindo
achar comecei a jogar as roupas
para a cama, mas nem sinal de
nada que se parecesse com um
fardamento.
Foi então que eu ouvi batidas na
porta.
- Entre. – Eu disse sem me virar.
Ouvi o barulho da porta se abrindo
e senti um cheiro de perfume bom e
caro invadindo o quarto.
- Que bagunça é essa?
Meu corpo se enrijeceu com aquele
tom de voz arrogante e autoritário.
Michael, o mais insuportável
dos Hunter.
- Não é da sua conta! – Eu quase
gritei para ele enquanto me virava
para encarar aqueles olhos
verdes.
- Claro que é, você está atrasando
todo mundo com essa demora. – Ele
disse irritado e olhou em
volta. – O que você tá procurando?
- A farda do colégio...
Ele riu.
- Não usamos farda na JK, não é
como aquela sua escola publica de
gente pobre. – Ele cuspiu essas
palavras e eu senti meu sangue
fervendo de raiva.
- Pelo menos lá não tinha um idiota
cretino como você! – Eu falei
fechando o punho.
- Mas tinha uma vadia escrota que
nem você e... Olha só! Agora a JK
agora também tem.
Nós nos fuzilamos com os olhos.
- Saia do meu quarto!
- Seria uma honra, mas minha mãe
mandou avisar que você só tem
mais 10 minutos antes de irmos.
Então seus olhos pousaram no meu
corpo e eu corei na mesma hora. Eu
estava só de toalha.
- Obrigada por avisar, a-agora saia
daqui. – Eu disse com raiva, mas
minha voz vacilou um pouco.
- Claro. Bom dia para você
também. – Ele disse se virando e
indo embora.
Bom dia seu filho da puta. Só não tá
melhor porque você ainda não caiu
num poço.
Acabei pegando qualquer coisa.
Tudo dentro do meu guarda-roupa
era adoravelmente lindo.
Obrigada Nicolas, você é demais.
Desci as escadas correndo e acabei
esbarrando em alguém no ultimo
degrau.
- Ei, cuidado!
Olhei para cima e os olhos azuis
dos Joshua estavam levemente
arregalados. Fiquei vermelha e me
afastei dele na mesma hora.
- Desculpa...
Seus olhos encontraram os meus e
ele sorriu.
- Desculpa eu. Aliás, respondendo
sua pergunta feita ontem: Eu só
fiquei com uma garota, uma tal de
Paola que depois ficou puta comigo
por que... – Ele pensou um pouco,
acho que tentando decidir se
mentia ou não. Ele preferiu omitir.
– Eu fiz umas coisas que deixariam
qualquer pessoa p da vida.
Paola? Será que isso tinha alguma
ligação com a empregada da Dona
Eliza? Não, não pode ser.
- Entendo, e você pediu desculpas
depois?
Ele sorriu de um jeito malicioso.
- Fiz tudo que poderia para ele me
perdoar.
Eu revirei os olhos. Ninguém no
mundo conseguia dar um sorriso
pervertido como ele.
- E deu certo?
- Por sorte não.
Eu sorri e ele me acompanhou até a
mesa para eu tomar café com o
Nicolas, que estava observando
nossa conversa.
- Daqui a 5 minutos eu volto para
levar vocês. – O Joshua disse se
virando e correndo para a escada.
- Eai, ansiosa? – O Nicolas disse
assim que o Joshua saiu.
- Acho que ansiosa é fraco demais
para o que eu tou sentindo. – Eu
falei enquanto fazia um sanduiche
com as coisas na mesa.
- Tudo vai dá certo e relaxe, eu sei
que o Michael é... Hum... Difícil.
Mas, ele não vai fazer merda com
você na sala, e quando der
intervalo eu vou te apresentar meus
amigos.
Eu sorri, era bom saber que tinha
alguém do meu lado.
- Obrigada Nick, você é ótimo.
Ele revirou os olhos.
- Sei disso.
Nós rimos até o Joshua chegar
girando a chave do carro com o
dedo do meio.
- Vamos crianças. – Ele disse
abrindo as portas de um jeito
teatral.
- Eu vou na frente! – O Nicolas
disse animado e o Michael levantou
uma sobrancelha.
- Por que você sempre usa esse tom
de fêmea quando fica alegre? – Ele
perguntou irritado para o
Nick.
- Vai se foder. – O Nicolas
respondeu, mas eu sabia que ele
estava fingindo essa raiva. Ele
nunca iria falar assim.
- Meninas, tá bom de brigar. – O
Joshua encerrou a discussão e deu a
partida no carro.
Sentei o mais longe o possível do
Michael, mas por sorte ele não
parecia muito disposto a ficar perto
de mim.
- Que horas é a faculdade? – O
Nicolas perguntou enquanto o
Joshua ligava o som.
- Daqui a duas horas.
- Você faz faculdade de que? – Eu
perguntei por curiosidade.
- De como não ser uma intrometida.
– O Michael murmurou irritado,
quase inaudível. Mas eu ouvi.
- Não falei com você Michael!
- O que? – O Joshua perguntou
confuso.
- Nada não. – Eu bufei. – Me
responda.
- Ah, sim... Eu faço Pedagogia.
Minha mente demorou alguns
segundos para raciocinar. Joshua
queria ser professor?!
- Legal... – Eu disse sem saber o
que falar.
- É, imagina ter um professor
gostoso como eu, desse ser ótimo.
- Parou Joshua, você não é tudo
isso. – O Michael disse revirando
os olhos.
- Sou muito mais na verdade, porém
teremos que acabar nossa conversa
por que... – Ele fez uma
manobra perfeita e estacionou o
carro. – Chegamos.
Eu abri a porta do carro e sai
primeiro. Dei uma olhada em volta
e vi que boa parte dos alunos
estavam chegando e todos estavam
olhando pra mim.
Então o Nicolas e o Michael saíram
do carro também e eu consegui ouvi
um cochicho no ar. Aposto
que era algo como: Quem é essa
garota nova e por que ela chegou
com dois garotos perfeitos?
Mas ignorei isso e andei ao lado do
Michael e do Nicolas até chegar no
portão principal.
- Michael, leve a Susan para a sua
sala, se vocês não forem da mesma
turma vão descobrir. – O
Nicolas disse e depois foi embora,
para o outro lado de um campo
enorme. Tentei ver quem estava
no grupo de amigos deles, mas não
consegui reconhecer ninguém. Na
verdade sim, um garoto de
cabelo liso e castanho foi o
primeiro a abraça-lo. Felipe.
Eu sorri sem pensar, então parei,
por que percebei que o Michael
estava olhando pra mim.
- O que você quer? – Eu perguntei
fria.
- Absolutamente nada, agora
vamos. – Ele falou irritado como
sempre e subiu as escadas que
estavam do lado esquerdo do
corredor.
Eu o segui até chegarmos em um
outro corredor enorme, cheio de
gente. Cheio de gente com cara de
rica.
O Michael entrou na sala com a
letra A do lado e eu fui atrás. Dei
uma olhada em volta e meu
coração estava quase saindo pela
boca quando eu o vi. Um alto de
olhos castanhos e cabelos
ondulados e vermelhos, Eduardo.
Um sorriso surgiu no meu rosto sem
minha permissão e eu
simplesmente não consegui tirar os
olhos dele. Acho que ele sentiu,
pois parou de conversar com
uma garota morena e olhou pra
mim.
- Susan! – Ele disse animado e veio
me dá um abraço. – Vem, deixa eu
te apresentar meus amigos.
Eu sorri e ele me puxou pela mão
até um grupo com umas cinco
meninas, todas usavam casaco rosa
na cintura.
- Seguinte: essa é a Susan, sejam
legais. – Ele disse e todas elas
sorriram para mim, mas depois
começaram a trocar olhares. Então
eu me lembrei que vi elas na
entrada, elas me viram entrando
com
os Hunter.
- Eu sou a Clara. – Disse a mais
alta dela, com um cabelo longo,
liso e castanho. Mesmo sorrindo,
seus estavam frios para mim...
Acho que ela gosta do Michael, ou
do Nicolas, ou, na pior das
hipóteses, do Joshua. – Essa é a
Beatriz, mas chama de Bia. – Ela
apontou para a menina branca com
um cabelo longo negro e olhos da
mesma cor, ela tinha cara de
inteligente. – Essa é a Amanda. –
Agora ela apontou para uma menina
descendente de japoneses, com um
cabelo liso com as pontas
onduladas, tão preto quanto os
olhos meio puxados. –Essa é a
Isabela e essa a Iza. – As duas
garotas acenaram, as duas tinham os
olhos e os cabelos pretos e a pele
branca, mas a Iza tinha um cabelo
mais liso e era a mais baixinha
delas.
- Prazer em conhecer! – Eu disse
apertando a mão de cada uma delas
e vi o Eduardo sorrindo para
mim.
- E daqui a pouco a Monica chega,
você precisa conhecer ela! – A
Amanda disse e eu sorri com o
tom de voz animado dela.
Dei uma olhada no Edu e ele
parecia estar sorrindo ainda mais
por causa da Monica.
- Então, vamos a pergunta que não
quer calar... – A Isabela disse
cautelosamente, todas as meninas
olharam para ela. Menos a Clara,
que tava olhando para algo atrás de
mim. – Por que você chegou no
carro dos gostosos?
Eu abri a boca para responder, mas
então senti o cheiro de um perfume
conhecido.
- Porque a mãe dela trabalha para
nós. – Eu me virei na mesma hora,
vendo um Michael com aquele
ar superior ridículo dele. – E
obrigado pelo “gostosos”.
A Isabela corou na mesma hora e a
Clara parecia prestes a desmaiar,
mas eu o fuzilei com o olhar.
Ele notou e levantou uma
sobrancelha.
- O que, não era para contar? – O
Michael perguntou irônico.
- Tanto faz, não tenho vergonha do
emprego da minha mãe. – Eu disse
na defensiva.
- E por que a cara de raiva? – Ele
disse se aproximando de mim. Eu
quase conseguia ouvir a
respiração das meninas falhando.
- Por que ver você deixa qualquer
um sem saco.
Olhei para o lado sem acreditar.
Era o Eduardo, usando um tom frio
que não combinava nem um
pouco com a cor quente e linda do
cabelo dele.
- Enquanto olhar para você deixa
qualquer um com ânsia de vomito,
foguinho. – Eles se encararam e
todo mundo da sala começou a se
juntar em uma roda.
- Tava com saudade das tretas
diárias! – Ouvi um garoto murmurar
atrás de mim.
- Foda-se você. – O Michael
respondeu sem desviar os olhos do
Edu.
- O que você disse? – Eu me virei e
vi que o garoto atrás de mim era um
loiro um pouco mais alto
que eu, com brilhantes olhos
verdes, não tão bonito quanto o
Joshua, mas ainda assim
irresistível. Ele se aproximou do
Michael.
- Ignore ele, Júlio. – O Edu disse.
- OI GENTE!!
Todo mundo se virou. Uma loira
dos olhos azuis, com um batom
vermelho forte que parecia
combinar
perfeitamente com a saia e a blusa
florida dela entrou na sala. Seu
sorriso desapareceu assim que ela
viu o que estava acontecendo.
- Brigando de novo? Vocês não
cansam não? – Ela disse irritada e
andando até nós.
- A culpa não é do Michael... – A
Clara falou baixinho e o Edu, que
estava corado por causa da loira
que entrou, se virou pra ela.
- E é de quem? – Ele perguntou.
- Chega, não importa de quem é a
culpa, vocês vão parar por hoje.
Tão assustando os novatos! – Ela
disse olhando pra mim com
solidariedade.
- Ah, a Susan já se acostumou com
meu jeito, não foi? – O Michael
falou cínico.
- Como assim? – A loira perguntou.
- Ela é filha da empregada da minha
família, tá há uns quatro dias na
minha casa. – Ele falou com
aquele tom metido a besta e todo
mundo da sala olhou para mim, uns
com pena e outros com ar de
riso.
- Okay, eu me chamo Mônica,
prazer em te conhecer. – A loira
disse estendendo a mão e eu a
apertei.
- Oi crianças, vamos começar a
aula. – Um homem alto e meio
musculoso entrou. Ele tinha os
olhos
pretos um pouco puxados e um
cabelo liso penteado em um topete
da mesma cor, devia ter uns 26
anos. – Muito prazer aos novatos,
me chamem de Cavalcante. Sou
professor de química.
Todos se sentaram. As meninas
fizeram questão que eu sentasse
perto delas no lado direito da sala e
foi exatamente isso que eu fiz,
ficando na cadeira do lado do
Eduardo e muito, muito longe do
Michael.
- Quem é novato levanta a mão. – O
professor mandou.
Eu levantei a mão meio sem graça e
vi que só tinha outros três novatos
na sala.
- Digam seus nomes.
O professor apontou para um garoto
alto e com um nariz enorme.
- M-meu n-nome é Diogo, m-mas
podem me chamar de Junior. – Ele
disse vermelho de vergonha, sua
voz tremia tanto que eu tive que
fazer força para entender.
- Muito prazer Junior, seja bem
vindo! – O professor disse
gentilmente, abrindo um sorriso
branco e
perfeito para ele. - E você? – Ele
disse apontando para mim.
- Susan, Susan dos Alvez. – Eu
respondi e ouvi um barulho de
fofoca percorrendo a sala.
- Onde você estudava? – O
professor perguntou.
- Na 404. – Eu disse tentando ao
máximo não parecer envergonhada
por ter estudado na escola com o
maior índice de desaprovação no
ENEM do Brasil e com o maior
numero de adolescentes gravidas.
- Só podia! – Ouvi alguém gritando
do outro da sala. Do lado do
Michael da sala. O que provocou
alguns risinhos da turma.
Fechei o punho, irritada pelo
comentário.
- Seja bem vinda a JK, acho que
você vai adorar. – O professor
disse sorrindo e eu sorri também,
aliviada.
[...]
- Não acredito que você estudava
na 404! – A Mônica falou em
choque enquanto eu, ela e o
Eduardo
andávamos pelo campo enorme.
- Nem é tão ruim quanto as pessoas
dizem... – Eu menti, não queria que
falassem mal do meu antigo
colégio, mesmo que ele fosse uma
bosta.
- Concordo plenamente, minha irmã
tem uma amiga que estuda lá. – O
Eduardo falou e notei que sua
mão roçava a mão da Mônica. – O
bebê dela nasce esse mês! – Ele
completou rindo e eu ri também,
não tinha como fugir disso.
- Susan!
Eu me virei e vi o Nicolas
acenando para mim, ao lado dele
estava o Felipe, uma ruiva
extremamente
bonita e duas morenas idênticas.
- Nick! – Eu corri para abraçar ele
e quase ia abraçando o Felipe,
quando me lembrei que isso
poderia gerar perguntas como: O
que o Felipe fez na casa dos
Hunter?
- Essas são as gêmeas Joana e
Júlia, de meigas só a cara! – O
Nicolas disse rindo e as duas
reviraram os olhos de uma forma
assustadoramente sincronizada, mas
depois sorriram para mim.
- E essa é a minha irmã Jane! – O
Eduardo disse sorrindo e apontando
para a garota de cabelo
ondulado e longo, tão vermelho
quanto o do Eduardo e olhos verdes
brilhantes.
- Oi! – Ela disse animada.
Esse tom de voz animado. Jane...
Então meu cérebro chegou na
resposta. Era ela. A Jane Ruiva, a
garota que eu salvei de ter passar a
tarde toda chorando.
- Oi... – Eu disse sem acreditar que
era mesmo era. A Jane Ruiva era
irmã do Eduardo! Minha mente
estava a mil.
Conversamos sobre as férias por
um tempo, até que a Júlia – ou era a
Joana? Eu não conseguia
distinguir – disse que eles tinham
que voltar para a sala, pois estavam
preparando uma festa surpresa para
a professora de Matemática.
- Sua irmã é muito fofa! – A Mônica
disse para o Edu assim que eles
foram embora.
- Só não mais que você. – Ele disse
serio e eu quase cai pra trás com o
jeito direto e ousado dele.
Mas, em vez de corar ou coisa
parecida – o que eu com certeza
faria se um ruivo bonito como o
Eduardo falasse algo assim pra
mim – a Mônica riu e deu um
empurrão de leve no braço do Edu.
- Você não presta. – Ela disse rindo
e depois se virou para um grupo de
meninas do outro lado do
campo. – Eu vou indo, nos vemos
na sala!
Ela saiu correndo em direção ao
grupo, deixando eu e o Edu
sozinhos.
- Que cantada em. – Eu falei assim
que ela saiu. – Não sei como ela
não notou.
- Ela nunca nota. – Ele disse
desviando os olhos dos meus. –
Nunca mesmo.
- Eu posso te ajudar. – Eu disse,
lembrando que eu dava alguns
conselhos na minha antiga escola.
- Como?
- Posso ser sua cúpida, pode
confiar! Sempre dá certo.
Ele pareceu pensar um pouco.
- Quanto tempo para eu ter essa
garota de uma vez?
Eu pensei um pouco, tentando me
lembrar da rapidez que era o
começo de um namoro depois que
eu
começava a ajudar o garoto.
- Duas semanas no máximo, se você
seguir a risca.
Ele sorriu.
- Não é possível. – Ele disse sem
acreditar.
- O amor é como Deus: Para
consegui-lo, é preciso acreditar
nele. - Eu recitei uma frase que
tinha
lido meses atrás, em um calendário,
mas que combinava perfeitamente
com a situação.
- E se não der certo?
- Ai você vai ter uma historia para
contar pros seus netos. – Eu disse
sorrindo e ele sorriu também.
- Você é ótima.
- Sou mesmo.
[...]
O intervalo e as aulas passaram
rápido depois disso. Muitas
pessoas perguntaram meu nome.
Muitas
pessoas torceram o nariz pra mim.
Mas eu estava gostando da JK.
Quando o sinal da ultima aula tocou
eu me levantei sorridente. Nem
mesmo o Michael conseguiu
deixar esse lugar ruim, e olha que
só a existência dele já é um
problema.
Fui com as meninas para a porta do
colégio, elas falavam sem parar de
gente que eu não conhecia.
- Amanhã a Elena vem! Tou
morrendo de saudades dela. – A
Isabela falou e todas as outras
assentiram animadas.
- Quem é Elen...
Eu não consegui terminar a frase
por que um carro começou a
buzinar. Era o carro preto do
Joshua.
- Tenho que ir! – Eu disse indo em
direção ao carro.
Olhei em volta e vi o Michael e o
Nicolas estavam vindo também.
Todo mundo parou para olhar.
- Ai meu Deus. Eles são tão lindos.
– Ouvi uma das meninas
cochichando atrás de mim, mas não
me
virei, em vez disso dei uma
corridinha até a porta do
passageiro.
Eu já estava abrindo a porta quando
o Joshua saiu do outro lado, sua
postura impecável e seus olhos
azuis brilhantes tiraram a
respiração de todos.
- Posso? – Ele disse andando para
o meu lado do carro e abrindo a
porta para mim. – Nunca vou me
cansar disso.
Eu sorri pra ele.
- Obrigada, eu também não. – Eu
disse e ele riu.
- Oi Joshua. – O Nicolas e o
Michael disseram ao mesmo tempo
assim que entraram no carro.
- Eai, pegaram muitas menininhas
hoje? – O Joshua disse com aquele
tom malicioso.
- Não, ainda é o primeiro dia,
vamos com calma. – O Michael
disse na defensiva.
- Porra de calma! – O Joshua
rebateu rindo e dando a partida no
carro.
Assim que ele fez a volta eu pude
ver o rosto das meninas da minha
sala. Elas estavam em choque.
Sorri com isso.
[...]
- O que achou do primeiro dia de
aula?
Eu estava na casa da Dona Eliza,
ela me perguntou de um jeito fofo
que me deixava sem escolha se
não responder. Mesmo que já tendo
respondido essa pergunta um
milhão de vezes hoje.
- Foi ótimo, adorei a JK.
Ela sorriu e pediu detalhes. Sentada
naquela cadeira de balanço a Dona
Eliza parecia com a avó que
eu nunca tive, e eu a adorava por
isso.
Contei as partes importantes –
deixando de lado a briga do Edu
com o Michael – e ela era uma
ótima
ouvinte.
Só quando o céu começou a
escurecer eu me despedi dela e me
levantei para sair.
- Espera! – Uma morena com uns
30 anos correu para me alcançar. –
Eu sou a irmã da Paola,
trabalho aqui também. Meu nome é
Paula, mas todo mundo chama de P.
Eu sorri para P, então me lembrei
de uma pergunta que passou o dia
todo martelando minha cabeça.
- Então P... Você sabe me dizer por
que a sua irmã me olha como se
quisesse me matar? – Eu
perguntei da melhor forma possível
e o sorriso desapareceu do rosto
dela.
- Você não sabe?
- Não...
- Antes de ontem, ela estava numa
praia com o Joshua e... – Ela
diminuiu o tom da voz. – Ele gemeu
o seu nome quando estava na cama
com ela.
10. Surpresas
Minha respiração falhou. O que ela
queria dizer com isso?
Então meu coração acelerou. Ele
entendeu primeiro do que minha
mente.
- O que você disse? - Eu não
conseguia acreditar.
- O Joshua e a Paola estavam...
Bem, você sabe o que eles estavam
fazendo, então ele começou a
sussurrar seu nome e ela não
entendeu e mandou ele repetir e ele
disse... Hum... Ele disse que te
amava.
Meu coração estava a mil por hora,
eu não conseguia nem respirar
direito. Não podia ser verdade,
não faz o menor sentido. Era o
Joshua, o confiante, lindo,
pervertido e bipolar Joshua. Ele
não pode me amar, não tem logica.
- Não... Acho que ela ouviu errado.
– Eu disse tentando convencer a
mim mesma e controlar meu
coração.
- Você sabe que não. Bem, deixe eu
continuar: Então a Paola gritou com
ele e o Joshua percebeu a
merda que tinha dito e pediu
desculpas, tentou fazer com ela o
perdoasse usando aquele charme
que
todas nós sabemos que ele tem e
muito. Mas, não deu certo, por que
minha mãe não criou a gente pra
isso e ela saiu puta da vida da praia
e ligou pra mim, então eu disse que
sabia quem era você e contei que
você é a filha da Melissa, a
empregada dos Hunter.
Eu respirei fundo, tentando manter a
calma. O Joshua estava pensando
em mim enquanto ficava com a
Paola. Ele disse que me amava. Ele
disse que me amava. ELE DISSE
QUE ME AMAVA. Eu
simplesmente não conseguia pensar
em mais nada.
- Eu preciso falar com ela.
- Tem certeza que quer correr esse
risco? Ela odeia muito você. – A P
respondeu e eu sabia que ela
estava certa, sabia que quanto mais
eu mexesse nesse assunto mais
merda iria acontecer. Mas eu tinha
que saber sobre isso com detalhes.
Ele disse que me amava.
- Tenho certeza. – Eu disse
confiante.
- Ok, nós moramos aqui perto, num
puxadinho ao lado da casa da
Senhora Montenegro. – Ela apontou
pra uma casinha que ficava no lado
direito do enorme jardim da Dona
Eliza.
Nós andamos até o puxadinho cor-
de-rosa. Antes de abrir a porta, a P
se virou pra mim.
- Certeza absoluta? Ela pode ser um
pouco agressiva e...
- Absoluta.
Ela assentiu com a cabeça e abriu a
porta. A casa delas era pequena,
mais ou menos do tamanho da
sala dos Hunter, mas extremamente
organizada e limpa.
A Paola estava de costas para nós,
ajeitando um quadro na parede.
- Paola, temos visitas.
A morena se virou, seus olhos
castanhos estavam vermelhos,
assim como o seu nariz. Ela
provavelmente estava chorando por
causa do Joshua.
- O que ela está fazendo aqui? –
Seus olhos começaram a me fuzilar
no segundo em que me viram, e
seu tom era frio e furioso.
- Ela veio saber o que aconteceu
entre você e o Joshua, ela não tinha
a menos ideia do que...
- Mande-a sair, não estou a fim de
falar sobre isso. – A Paola cortou a
irmã no meio da frase,
enquanto isso seus olhos pareciam
prestes a me esfaquear.
- Por favor, eu preciso saber. – Eu
disse com toda a coragem possível,
tentando imitar o tom
confiante que ouvia o Joshua usar.
Ela olhou pra mim, pensando.
- Vamos Paola, a menina não tem
culpa. – A P falou em minha defesa.
A Paola respirou fundo, irritada.
- Tá, mas não com você aqui P. Eu
quero conversa a sós com ela.
Eita porra, agora eu me fudi.
- Mas Paola... – A P começou
dizendo.
- Ou isso ou eu não falo nada.
Merda. Não tinha escolha.
- Tudo bem, volte daqui a pouco P,
obrigada por tudo. – Eu disse quase
como uma despedida. Quem
me garante que a Paola não iria me
matar assim que a P fechasse a
porta?
A P deu uma grande olhada pra mim
antes de sair, o que me deixou mais
nervosa ainda. Assim que
ela se retirou a Paola puxou uma
cadeira e se sentou de pernas
cruzadas na minha frente.
- Então, o que você quer saber? –
Ela perguntou fria.
- Você sabe...
Ela bufou.
- Tá, lá vai eu de novo me lembrar
de toda a humilhação que aquele
maldito Hunter me fez passar...
Sexta à noite, assim que eu cheguei
na casa eu comecei a conversar o
Joshua, com todas as intenções
possíveis. Eu sempre o achei
gostoso, entende? Mas, por ser neto
da minha chefe eu tinha decido me
manter a uma certa distancia. Bem,
isso até eu ver ele só de bermuda
entrando na piscina.
Eu respirei fundo, tentando ao
máximo não ter ciúmes. Mas era
quase impossível.
- Então ele começou a dá em cima
de mim também e depois, no
sábado à noite, o Joshua me chamou
pra ir pro quarto dele assistir um
filme. E eu fui, é claro que eu fui. –
Ela respirou fundo. – Chegando lá
nós começamos assistindo filme,
mas depois de um tempo eu vi que
ele estava se levantando e
trancando a porta, eu perguntei “o
que você pretende fazer?” e ele deu
um sorriso malicioso. – Eu já
estava começando a ficar enjoada,
mas ela olhava pra um canto fixo na
parede, provavelmente
revendo todos esses momentos. –
Então ele aumento o volume do
filme e fechou as cortinas, todos os
seus movimentos eram tão precisos
que pareciam que ele já tinha feito
isso um milhão de vezes antes.
Mas comigo seria diferente, eu
pensei quando ele voltou pra cama.
O Joshua começou beijando
minha boca devagar e foi
aumentando o ritmo, enquanto suas
mãos iam...
E ai ela parou e olhou pra mim,
corada.
- Bem, você não precisa dos
detalhes. Depois de muitos beijos e
mordidas, o Joshua me puxou e me
colocou contra a parede, retirando
toda a minha roupa com poucos e
precisos movimentos, então eu
fechei meus olhos e vi que ele
também tinha fechado os dele. Foi
ai que eu comecei a gemer e ele
também, mas só quando eu coloquei
minhas duas pernas ao redor dele
que conseguir ouvir o que ele
estava sussurrando. Ele dizia
Susan...Susan eu amo você, você é
diferente.
Ela parou de novo e olhou no fundo
dos meus olhos, parecia prestes a
chorar.
Eu não sabia o que dizer, não sabia
o que pensar, não sabia nem mesmo
como respirar naquele
momento.
- Ah Paola... – Eu falei sem ter a
menor ideia do que fazer.
- Eu empurrei ele na mesma hora, e
no momento em que eu comecei a
gritar é que ele notou o que
tinha dito. Ele começou a me pedir
desculpas, dizendo que não falou o
que eu achei que ele tinha
falado, mas eu sabia que era
mentira. Ele estava pensando em
você enquanto tirava minha roupa.
–
Uma lagrima de ódio escorreu do
seu olho direito e eu senti um
aperto no coração. Af Joshua. – Ele
até tentou me fazer desculpa-lo, ele
me beijou com toda a intensidade
possível e eu quase perdoei
ele, quase esqueci tudo e me
entreguei para aquele loiro. Quase.
- Eu sinto muito, eu juro que não
tinha a menor ideia disso...
- Tá, olha, eu já contei tudo, agora
saia da minha casa.
Eu assenti, não queria esticar
conversa. Dava para ver pelos seus
olhos marejados que ela estava
fazendo força para não chorar.
Sai da casa e dei de cara com a P
me esperando aflita na porta.
- Ufa, você não está ferida. – Ela
disse aliviada.
- Eu não, mas sua irmã está... aqui
dentro. – Eu apontei pro meu
coração.
- Sei disso, vou lá tentar confortar
ela. – Ela disse entrando na casa.
Respirei fundo. Muitas
informações. Muitas mesmo.
Por sorte o portão da casa dos
Hunter estava aberto e eu corri pelo
jardim em direção da porta de
entrada. Antes de abrir, peguei meu
celular no bolso da calça, tinha
algumas mensagens do grupo que
fizeram da minha turma, mas nada
importante. Eram dez horas da
noite.
Suspirei, lembrando de todas as
coisas que eu tinha ouvido hoje e
puxei a maçaneta... Estava
trancada.
Puta que pariu.
Bati na porta, esperando que
alguém estivesse acordado.
- Quem é? – A voz fria e entediada
do Michael veio do outro lado.
- É a Susan, abre ai, por favor... –
Eu disse quase suplicando.
Ele deu um risinho.
- Por que eu faria isso?
- Porque você não me deixaria aqui
no frio a noite toda. – Eu falei, mas
assim que as palavras sairam da
minha boca eu percebi que sim, ele
deixaria.
- O que te leva a pensar isso? Eu
não gosto de você. – Ele disse da
forma mais natural do mundo, o
que me fez fechar o punho de raiva.
- Eu também não gosto de você,
então ou você abre essa porta agora
ou eu ligo pra Dona Nicole e
peço pra ela abrir. – Eu rebati
confiante. Mesmo sabendo que não
tinha o número da Dona Nicole.
- OK, liga ai. – Ele falou sem um
pingo de preocupação.
- Ótimo. – Eu peguei o meu celular
e coloquei no máximo, mas ele
ouvir enquanto eu discava. – Alô?
Dona Nicole, desculpe te acordar...
- Pera. – Ele me cortou.
Eu sorri vitoriosa.
- Que estranho, o celular da minha
mãe tá aqui na mesa. Alguma
explicação pra isso? – Ele falou
com
aquele tom superior que me fazia
meu sangue ferver de raiva.
- Porra Michael, só abra essa porta!
Ele riu e eu ouvi ele chegando mais
perto da porta.
- Não. Aliás, sua mãe não te
ensinou que quando você quer
algum favor você tem que ser
gentil? –
Ele disse cínico.
- Sim, mas ela também me ensinou
a diferenciar quem merece e quem
não merece minha gentileza. –
Eu respondi irritada.
- Ótimo. Espero que ela também
tenha ensinado como dormir em um
jardim.
- Michael!
- Oi?
- Por favor.
Notei que ele estava dando
murrinhos na porta, exatamente
como o Joshua fez quando me
trancou no
banheiro. Quando ele não sabia o
que fazer.
Mas o Michael não é o Joshua.
- Não, bons sonhos pra você. – Ele
disse e se afastou.
Antes que eu pudesse dizer alguma
coisa, ouvi o barulho do elevador.
Ele foi embora.
- Seu filho da puta! – Eu gritei
batendo na porta, mas sabia que ele
não iria me escutar.
Que ódio do Michael! Por que ele é
assim?
Me virei para o jardim, por sorte
ele estava iluminado e o vento não
estava muito frio.
Andei até o portão e me sentei
encostada no muro, olhando para a
mansão da Dona Eliza do outro
lado da rua.
Fechei os olhos. Se o único jeito
era dormir ali, era exatamente isso
que eu iria fazer.
Acordei com um barulho de carro.
Olhei assustada pra o meu celular e
vi que eram 1:05.
O carro preto parou a uns 10 metros
da entrada do Hunter, onde eu
estava apoiada. Respirei fundo.
Eu reconheceria esse carro de
longe.
Me levantei num pulo e fui em
direção ao carro. Mas então uma
ruiva saiu do lado do passageiro.
Não qualquer ruiva.
- Jane. – Eu murmurei sem
acreditar.
- O que você está fazendo aqui? –
Ela disse surpresa assim que seus
olhos encontraram os meus.
O Joshua saiu do carro no momento
em que eu abri a boca pra falar.
- Susan?! – Ele disse sem acreditar
e correu na minha direção. – Por
que você está na rua uma hora
dessas? – Seu tom irradiava
preocupação.
Alguma coisa em mim fez eu não
contar a verdade.
- Eu cheguei tarde por que estava
conversando com sua avó, mas
quando voltei a porta estava
trancada e todo mundo estava
dormindo...
A Jane olhava fixamente pra mim,
ela parecia irritada.
- Joshua, abra a porta pra ela e
fazemos o que iriamos fazer no seu
quarto no carro. – A voz dela
tinha um quê de malicia.
Mas em vez de fazer o que ela disse
o Joshua apenas se virou e olhou
para aqueles olhos verdes.
- Não mais Jane. Sinto muito, mas
acho que nossa noite termina aqui.
- JAMES! – A ruiva tentou
empurrar ele, mas como o Joshua
era milhões de vezes mais forte ele
rapidamente segurou as mãos dela.
– Você não pode fazer isso comigo
de novo!
- Jane, o que eu ia fazer com você
iria ser bem pior, confie em mim. –
Ele disse soltando as mãos
dela. – Eu iria passar uma noite
com você e depois fazer como eu
fiz da ultima vez.
- Eu não me importo com o que
você vai fazer depois Joshua! Eu
quero você. – Ela falou olhando no
fundo dos olhos do Joshua.
Minha vontade de sair correndo era
de 100%, mas eu não mexi.
O Joshua se afastou dela e ficou ao
meu lado.
- Me desculpa Jane, mas acho que
agora é um adeus definitivo. – Seu
tom era decisivo, ele não iria
voltar atrás.
- Por que você está agindo assim? –
Seus olhos começaram a marejar.
Joshua e seu dom de fazer as
pessoas chorarem.
- Porque eu cansei de ficar com
alguém e não dá valor no dia
seguinte.
- Então me dê valor amanhã,
simples assim! – Ela disse quase
suplicando.
- As coisas mudaram Jane. Agora
eu... – O Joshua olhou pra mim e
um sorriso apareceu no seu rosto
perfeito. – Estou apaixonado.
Parecia que a Jane tinha levado um
murro na cara.
- O QUE? POR ELA? – Ela gritou
vindo na nossa direção, seus olhos
foram de mim para o Joshua.
- Exatamente. – Ele disse
indiferente.
- JAMES! VOCÊ NÃO PODE
ESTAR FALANDO SÉRIO! – Ela
olhou pra mim com nojo,
esquecendo completamente de que
eu era amiga do irmão dela e o
quanto eu fui gentil. – EU SOU
MUITO MAIS BONITA QUE ELA!
- Isso é uma questão de opinião. –
Ele falou se virando para aqueles
olhos verdes, que ainda estavam
marejados.
Eu tinha perdido a fala, meu
cérebro parecia que iria explodir.
- MAS EU TAMBÉM SOU MAIS
RICA, LEGAL, INTERESSANTE
E... EU APOSTO QUE ELA
AINDA É VIRGEM! – Ela gritou
como eu não estivesse lá.
Eu abri a boca pra mandar ela
cuidar da vida dela, mas o Joshua
foi mais rápido.
- Melhor do que dá pra qualquer um
de primeira como você faz. – Ele
disse friamente.
Então uma lagrima escorreu no
canto do olho direito da ruiva.
- Eu não acredito que você disse
isso! – Ela disse com a voz cheia
de dor. – V-você sabe que foi o
primeiro e único homem com quem
tive alguma relação e...
- Sim, eu sei disso. Mas quem disse
que eu não sou qualquer um? – Ele
falou sorrindo. – Sinto muito
Jane, eu posso te pagar um taxi pra
casa.
Eu me virei pro Joshua sem
acreditar.
- Joshua... – Minha voz tinha
voltado, mas eu não conseguia
pensar em nada pra dizer.
- Depois a gente conversa. – Ele
falou sem desviar os olhos da Jane.
- Eu odeio você! – Ela disse dando
um tapa na cara do Joshua, que não
reagiu.
- Jane! – Eu deixei escapar,
surpresa por causa do tapa que ela
deu no Joshua.
-Eu odeio você também! – Ela
disse olhando pra mim
ameaçadoramente. – Podem anotar:
vocês vão
se arrepender por terem feito isso
com Jane Lohan!
- Acabou? – O Joshua falou e
depois pegou o celular do bolso e
discou um número rápido. – Vou
chamar um taxi.
Ela bufou e deu as costas pra nós,
correndo de volta para o carro e se
apoiando na porta do
motorista. Mesmo de longe dava
pra ver que ela estava chorando.
- Joshua, a gente devia ir falar com
ela. – Eu falei sem pensar.
- Só vai piorar as coisas. – O
Joshua disse e colocou o braço no
meu ombro. – Me desculpa por ter
me declarado daquela maneira, mas
eu tinha que falar.
Corei violentamente. Joshua... Por
que você faz isso comigo?
- T-tudo b-bem. – Eu disse me
enrolando nas palavras.
Ele me puxou mais pra perto dele e
eu senti seu perfume extremamente
bom.
- Já disse que adoro quando você
fica sem graça?
- Creio que sim. – Eu falei
sorrindo.
- Vem, bora sentar e esperar o táxi
da Jane. – Ele falou andando em
direção ao portão e se sentando
encostado nele.
Sentei ao seu lado, apoiando minha
cabeça no ombro do Joshua.
- Sabe Joshua... – Eu falei olhando
fixo para a Jane (que não estava
mais chorando, e sim sentada
encostada no carro preto do
Joshua), para não ter que olhar
naqueles olhos azuis ao meu lado. –
Eu
falei com a Paola hoje.
Ele se virou pra mim no mesmo
segundo.
- Você o que? – Ele disse sem
acreditar.
- Você estragou tudo com a garota,
tadinha.
Ele sorriu.
- Eu tentei, mas foi impossível. –
Ele falou olhando pra minha boca.
- Do que você está falando?
Ele voltou os olhos para os meus e
sorriu ainda mais.
- Eu tentei não pensar em você, mas
então ela revirou os olhos e eu...
Simplesmente não consegui
mais não imaginar você no lugar
dela.
Eu não soube o que responder. Mas,
pra minha sorte, um táxi chegou a
toda velocidade na rua.
- Jane! – O Joshua se levantou e me
deu a mão para eu me levantar
também. – Chegou.
- Não sou cega. – Ela respondeu
fria e deu uma corridinha até chegar
ao táxi.
O Joshua a seguiu e abriu a porta
do passageiro, entregando uma nota
de 50 reais ao motorista.
- Fique com o troco. – Ele disse e
eu vi de longe os olhos do
motorista brilhando.
- Muito obrigado. – O taxista disse
com uma voz rouca.
O Joshua sorriu e se virou para a
Jane.
- Me desculpe de novo. – Ele falou
e abriu os braços para dá um
abraço nela. Esse cara não existe
meu Deus.
- Não. – Ela respondeu e ignorou
completamente o abraço dele, então
se virou pra mim. – E você...
Saiba que isso não acabou. Você
vai se arrepender do dia que
nasceu!
Depois dessa ameaça ela entrou no
táxi e eu não pude responder.
- O que você acha que ela pode
fazer contra nós? – Eu perguntei
assim que o táxi sumiu de vista.
- Não faço a menor ideia, mas vou
proteger você daquela ruiva
vingativa. – O Joshua respondeu
andando na minha direção.
- E agora? – Eu perguntei andando
ao lado dele até ficar em frente ao
portão.
- Agora nós vamos para a cama.
- JAMES! – Eu gritei exasperada.
Ele riu.
- Calma garota, cada um pra sua...
Se você quiser, é claro. – Ele deu
um sorriso malicioso pra mim.
- Quero sim, obrigada. – Eu falei
tentando me manter séria, mas um
sorriso se espalhou no meu rosto
sem minha permissão.
- Vem, deixe-me abrir a porta pra
você. – Ele segurou minha mão e
andamos pelo jardim ate chegar
na porta de entrada da casa.
Ele tirou a chave do bolso, mas
antes que ele abrisse a porta eu
levantei um dedo.
- Espera um segundo. – Eu falei me
aproximando da maçaneta.
Empurrei a porta devagar e ela se
abriu.
Estava destrancada.
O Michael tinha destrancado a
porta pra mim.
11. Hunter que eu amo x Hunter
que eu odeio
- Você não disse que tava trancada?
– Ouvi o Joshua perguntar atrás de
mim, nem precisei me virar
pra saber que uma de suas
sobrancelhas estava levantada.
- Sim, e estava... – Eu deixei o
resto da frase no ar, nem eu sabia
como completar.
Por que o Michael destrancou a
porta? Qual o nível de bipolaridade
desse garoto?
O Joshua entrou na casa sem olhar
pra mim.
- Joshua!
Ele se virou, quase indiferente.
- Por que você ficou assim de
repente? – Eu perguntei confusa.
- Por que você estava na rua no
meio da madrugada? – Ele estreitou
os olhos azuis. – Quem você
estava esperando?
- Porque eu estava conversando
com a sua avó e depois com a
Paola, meu Deus. – Eu andei até
ficar
a um passo dele. – E não aja como
se fosse o santinho da história!
- O que você quer dizer com isso?
- Eu quero dizer que eu sei muito
bem o que você iria fazer com a
Jane se não tivesse me visto! – Eu
estava quase gritando de raiva,
provavelmente era um reflexo de
todo o ciúme acumulado durante o
dia.
Ele sorriu e me puxou pela cintura,
colando meu corpo com o dele.
- Não importa o que eu fizesse com
ela, eu iria gemer seu nome. – Ele
sussurrou no meu ouvido e eu
senti meu corpo todo se arrepiar.
- J-Joshua... – Eu falei tentando sair
de seus braços, mas ele era mais
forte. Toda a minha raiva foi por
água a baixo quando eu senti aquele
perfume tão perto de mim.
- Você sabe disso, não sabe? – Ele
falou com aquela voz rouca e sexy
que fazia meu corpo todo
tremer. – Você sabe que eu iria
beijar ela imaginando você,
imaginando sua boca... – Ele
desceu a
mão da minha cintura para o meu
quadril. – Suas curvas...
- Você não presta. – Eu disse
baixinho.
- Mas eu amo tanto você. - Ele
sussurrou como se fosse um
segredo.
Ele estava olhando fixamente pra
minha boca.
- Por que a gente simplesmente não
se beija?
- Me responda você.
Ele assentiu com a cabeça e suas
mãos voltaram para a minha
cintura, me puxando pra cima. Me
puxando para os lábios dele.
Sua boca estava a centímetros da
minha, meus olhos já estavam se
fechando quando eu ouvi o barulho
de um elevador abrindo.
- Porra é essa?
Nos viramos no mesmo segundo.
Um garoto de olhos verdes-mar,
cabelo preto e liso, e um corpo dos
deuses estava parado na porta do
elevador, com uma sobrancelha
levantada. Merda, logo agora
Michael?
- Oi maninho, teve pesadelos? – O
Joshua disse se afastando de mim
como se nada tivesse
acontecido e eu comecei a ficar
irritada pela mudança tão rápida de
humor, então ele se virou por um
segundo e piscou pra mim.
- Não... E vocês, se pegando uma
hora dessas? – O Michael disse
olhando pra mim.
- A gente nem conseguiu se pegar,
porque alguém atrapalhou a melhor
parte. - O Joshua disse e voltou
para o meu lado, passando o braço
pela minha cintura de um jeito meio
possessivo.
- Seu nível era mais alto
antigamente maninho. – O Michael
falou saindo de dentro do elevador
e
ficando na nossa frente, seus olhos
fixos nos do irmão.
- Não conseguiria pensar em
alguma menina melhor que a Susan.
– O Joshua respondeu frio e eu me
virei pra ele sem acreditar. Por que
tão perfeito?
- Eu posso fazer uma lista pra você.
– O Michael rebateu com o mesmo
tom de frieza, o tom que
apenas um Hunter consegue atingir
com perfeição.
- Vai dormir Michael, tá bom por
hoje. – A voz do Joshua exalava
autoridade.
- Tentem gemer baixinho pra eu
conseguir dormir.
- Vai se foder! – Eu falei irritada e
os dois olharam pra mim.
- É assim que se fala. – O Joshua
disse rindo, sua covinha única
dançando na sua bochecha.
- Você devia ensinar para a
empregadinha como ser educada. –
O Michael disse com aquele jeito
arrogante e superior dele, olhando
pra mim com nojo.
O Joshua me soltou e em uma
fração de segundo estava a um
passo do Michael, os punhos
cerrados.
- O que você disse? – Ele disse
com algo muito além do que raiva
na voz.
O Michael recuou.
- Você ouviu o que eu disse. – O
Michael falou tentando parecer
confiante, mas seus olhos
vacilaram.
Seus olhos demonstravam medo.
- Repita se você tiver coragem. – O
Joshua disse ameaçadoramente.
Eu quase não conseguia enxergar o
Michael atrás dele, mas o ouvi
respirando fundo.
- Não quero brigar com você por
causa dela. – O Michael pronunciou
as palavras com tanto nojo que
meu sangue começou a ferver de
raiva.
- Então saia daqui agora mesmo. –
O Joshua apontou para o elevador.
– Antes que eu mude de ideia e
faça você se arrepender pelo que
falou.
O Michael abriu a boca pra falar,
mas pareceu pensar melhor.
- Esperava mais de você. – Ele
disse se virando pro elevador e
entrando em silencio. – Alias, isso
não acabou.
Andei até ficar ao lado do Joshua.
Só quando as portas do elevador se
fecharam eu abri a boca pra
falar
- Duas ameaças em menos de uma
hora. – Eu disse rindo, tentando não
demonstrar o quanto eu estava
assustada com isso. Era a segunda
ameaça que o Michael me fazia.
O Joshua se virou pra mim,
colocando as mãos na minha
cintura.
- Quantas vezes eu vou ter que te
dizer que vou te proteger de
qualquer coisa? – Ele falou
sorrindo.
Eu sorri também, então lembrei que
o Michael era seu irmão acima de
tudo.
- Mas não quero que você fique
brigando com seu irmão por causa
disso.
Ele revirou os olhos.
- Todo mundo sabe que o Michael é
assim mesmo, uma hora é o ser
mais irritante do mundo e na
outra coloca toda a educação que a
nossa mãe deu em pratica e vira um
ser humano adorável. Depois
de um tempo a pessoa se acostuma.
Isso explica por que ele destrancou
a porta. Eu só queria que ele fosse
um ser humano adorável
sempre, assim não seria um
desperdício de beleza.
- Espero que ele melhore... – Eu
falei querendo encerrar o assunto. –
Onde paramos mesmo?
Ele sorriu malicioso e me puxou
pela cintura, fazendo eu ficar de
ponta de pé.
- Aqui. – Ele sussurrou baixinho e
eu fechei meus olhos.
Então nos beijamos.
Começou devagar e calmo, apenas
com um selinho demorado, mas eu
queria mais e coloquei minhas
mãos no pescoço dele, o puxando
pra mim. Sua boca se abriu e
aumentamos a intensidade, sua
língua
parecia treinada com perfeição,
suas mãos me segurando firmes na
cintura e eu comecei a ficar
ofegante, quase sem ar.
- Joshua, eu amo você. – Eu
sussurrei baixinho, sem fôlego.
- Eu também amo você. – Seus
olhos azuis brilharam e eu senti o
quanto as palavras dele eram
verdadeiras.
Nos beijamos de novo. E de novo e
de novo... Eu simplesmente não
conseguia mais parar, sua boca
se encaixava certa na minha e todo
o meu corpo parecia completar o
dele. Eu não conseguiria pensar
em nada melhor que beijar aquele
Hunter no mundo.
Ele me empurrou contra a parede e
suas mãos desceram até minha
bunda.
- Ai não Joshua... – Eu falei
baixinho.
Ele sorriu.
- Desculpa, não consegui controlar.
– Ele sussurrou com aquele tom
sexy e subiu a mão de volta pra
minha cintura. – Que horas são?
Eu tirei meu celular do bolso e
desbloqueie.
- Eita porra, 2 horas da manhã. – Eu
disse arregalando os olhos.
- Acho que é melhor a gente parar,
você tem aula daqui a umas cinco
horas. – Ele falou e eu notei o
quanto ele não queria parar.
Sorri.
- É, mas depois a gente continua. –
Eu falei dando um selinho
demorado nele. – Boa noite Joshua.
Eu me virei pro elevador, mas ele
me puxou pela mão.
- Promete que vai sonhar comigo?
Como se fosse possível eu não
sonhar com você.
- Prometo. E você?
Ele me olhou com aquele jeito
pervertido dele.
- Claro, acho que a casa toda vai
escutar eu gritando “Vai Susan, vai”
– Ele imitou um gemido e eu
empurrei seu braço de leve.
- Você é tão impuro! – Eu disse
revirando os olhos.
Ele sorriu e me deu um ultimo beijo
antes de subir as escadas em um
pulo.
Meu coração ainda estava tentando
controlar o ritmo quando eu entrei
no elevador.
Me olhei no espelho e vi o quanto
eu estava vermelha e meu cabelo
desarrumado, culpa de quem?
Joshua. O perfeitamente pervertido
e lindo Joshua.
[...]
- Acorda baby!!
Eu me levantei num pulo e dei de
cara com os olhos azuis brilhantes
do Nicolas.
- Ui, como você tá vermelha,
sonhando com quem? – Ele
perguntou fazendo uma cara
maliciosa e eu
joguei o travesseiro na cara dele.
É claro que eu tinha sonhado com o
Joshua, mas o irmão dele não
precisa saber disso. Pelo menos
não agora.
- Ninguém meu Deus! – Eu disse
rindo. – E você, por que tão
animado?
- Eu SOU animado, não sei se você
notou, mas eu exalo felicidade! –
Ele disse rindo também, então
me abraçou e me deu um beijo na
testa. – Agora levanta e vai se
ajeitar, seu segundo dia de aula tem
que ser mágico.
Eu sorri e fiz o que ele mandou. Em
menos de vinte minutos eu já estava
na mesa tomando café.
- Bom dia.
Me virei na mesma hora.
Reconheceria essa voz a milhares
de quilômetros.
- Bom dia Joshua. – Eu disse
sorrindo e ele deu um corridinha
pra me dá um beijo na bochecha e
apertar a mão do Nicolas.
Ele se sentou na minha frente da
mesa, seus olhos fixos em mim
brilhavam tão intensamente que seu
tom de azul ficou mais claro.
- Bom dia Joshua, por que tão feliz?
– O Nicolas perguntou desconfiado.
Então me passou pela cabeça
quantas vezes o Joshua já não
acordou assim, sorrindo a toa e
com os
olhos brilhando depois de ter
ficado com uma garota. Acho que a
resposta tem mais de 20 dígitos.
O Joshua desviou os olhos do meu
e sorriu ainda mais pro Nicolas.
- Porque eu fiquei com uma garota
ontem e...
- Fala como isso fosse novidade. –
O Nicolas falou baixinho do meu
lado e eu me irritei um pouco.
- Me deixe continuar, por favor.
Então, essa garota é especial, ela é
muito mais do que bonita, ela é...
Perfeita. – O Joshua olhou pra mim
por um segundo e depois pro
Nicolas de novo.
- Torço por vocês! Já passou da
hora de alguma menina te colocar
no eixo. – O Nicolas disse rindo e
o Joshua riu também.
- Acho que ela vai conseguir. Na
verdade, tenho certeza disso.
Eu sorri, sem consegui desviar os
olhos do Joshua.
- Bom dia. – Todos na mesa se
viraram pra um Michael frio e
irritado.
Ele estava irritantemente lindo com
uma camisa jeans com manga, uma
blusa preta por baixo e uma
calça jeans também preta. Ele
parecia um ator de cinema.
- Bom dia. – O Nicolas e o Joshua
responderam e o Michael se sentou
ao lado do Joshua, seus olhos
foram de mim para o irmão mais
velho.
O Joshua se levantou no mesmo
segundo e eu notei que ele
conseguia ser ainda mais bonito que
o
irmão, com uma camisa preta lisa e
uma calça jeans. Ele não precisava
de muito pra ser perfeito.
Não com aqueles olhos azuis e
aquele cabelo dourado liso.
- Coma rápido Michael, ou vocês
vão se atrasar. – O Joshua disse
olhando friamente pro irmão.
O Nicolas olhou pros dois sem
entender, mas ficou calado.
Em vez de responder com alguma
grosseria, o Michael comeu rápido
e em menos de cinco minutos se
levantou num pulo.
- Acabei. – Ele disse indo pra
porta. – Bora motorista, eu não
tenho todo o tempo do mundo.
O Joshua o puxou pelo braço e
estreitou os olhos para o irmão.
- Me chame de motorista de novo e
eu quebro você. – Ele disse frio e o
Michael soltou o braço
bruscamente, depois bufou irritado.
- Por que eles estão agindo assim?
– O Nicolas sussurrou pra mim
enquanto andávamos até o carro.
- O Michael é um caso sério... – Eu
deixei escapar e o Nicolas riu.
- Isso por que você só conhece a
figura a tipo uma semana.
Eu ri também e pior que era
verdade, eu estava no máximo há
uma semana lá e já tinha brigado
com
um dos donos da casa, ajudado o
outro com o namorado secreto e me
apaixonado perdidamente pelo
mais velho e (me perdoe Nicolas,
mas eu nem faço seu tipo mesmo)
mais gostoso deles.
Fui direto para o banco do
passageiro, quanto mais longe do
Michael melhor.
O Joshua fez questão de colocar
meu cinto, sorrindo daquele jeito
apaixonante, antes de dá a partida
no carro e ligar o som, que tocava
alto o álbum Night Visions –
Imagine Dragons.
Então meu celular vibrou e eu vi
que tinha um Whatsapp.
Eduardo Lohan - 07:05 :
Eai Susan, vem hoje não? Eu tava
pensando aqui e que tal vc começar
a me ajudar com a Mônica hj
msm? (Aquela carinha) kkkkk
Ri baixinho com a mensagem e
pensei um pouquinho antes de
responder.
Susan Dos Alvez – 07:05 :
Hii Edu ^^ Claro kkkk Por que não?
Como eu posso ajudar?
A resposta veio no mesmo segundo.
Eduardo Lohan – 07:05 :
Assim que vc chegar na escola eu te
conto os esquemas ;) Venha
correndo mds!
Eu sorri.
- Quem é Eduardo Lohan? – O
Joshua perguntou irritado e eu me
virei pra ele.
- O ruivo escroto lá da sala. – Ouvi
a voz do Michael vindo do banco
de trás e revirei os olhos.
- Ninguém tá falando com você
Michael. – Eu falei com raiva e o
Joshua sorriu com o canto da boca.
– E ele é meu amigo, tipo meu
melhor amigo da JK.
- Pera ai... Um ruivo Lohan? – O
Joshua perguntou confuso e eu
percebi que ele estava chegando na
resposta.
- É, ele é sim irmão dela. – Eu falei
e ele olhou pra mim sem acreditar.
- Não quero você andando com
esse menino, se ele for igual a irmã
vai querer ir pra cama com você
logo de cara. – O Joshua falou
irritado e aumentou o volume do
som, para o Nicolas e o Michael
não
ouvirem a gente.
- Não, eu não sou tão sexy quanto
você. – Eu disse rindo e ele freou o
carro, estacionando na porta da JK.
- É sim, você não faz ideia de
quanto é sexy. – Ele parou e
desligou o som, bem no meio do
refrão de It’s Time. – Chegamos
crianças, tenham um bom dia na
escola.
Eu dei um beijo rápido na bochecha
dele e corri pra porta do colégio,
ignorando todos os olhares na
minha direção.
- Tchau Susan, te vejo no intervalo!
– O Nicolas disse mandando um
beijo pra mim e correndo para o
prédio do outro lado do campo da
escola.
- Michael, antes de a gente entrar na
sala eu queria falar com você. – Eu
disse seria e ele se virou pra mim,
os olhos verdes-mar fixos nos
meus.
- O que você quer?
- Eu sei que você destrancou a
porta. – Eu disse de uma vez e ele
ficou um pouco vermelho, tipo bem
pouco mesmo, mas acho que é o
máximo que ele consegue no
sentido de corar.
- É, depois que eu ouvi você me
chamando de filho da puta eu decidi
ter um pouco de misericórdia,
mas você não estava mais lá
quando abri a porta e chamei você.
- Você fez o que? – Eu perguntei
sem acreditar no que tinha acabado
de ouvir.
Ele revirou os olhos.
- Eu chamei por você, mas como
ninguém respondeu eu pensei que
talvez você tivesse no portão e...
– Ele desviou os olhos. – Subi pro
meu quarto pra ver pela janela,
como você estava dormindo eu
decidi deixar pra lá.
ELE FEZ O QUE? MEU DEUS DO
CÉU, QUE MENINO BIPOLAR!
Mas mesmo assim um sorriso se
espalhou pelo meu rosto, acho que
era gratidão, ou talvez surpresa.
- Obrigada Michael, talvez você
não seja tão ruim assim...
- Se eu fosse você não contava com
isso. – Ele disse frio e se virou
para a escada no corredor. –
Bora, já estamos atrasados e agora
é Teacher Bernardo.
- Quem é esse?
Mas em vez de responder ele
simplesmente subiu as escadas sem
olhar pra trás. Esse garoto é
impossível!
Assim que entrei na sala fui puxada
por uma mão, me fazendo sentar na
cadeira mais próxima.
- EI! – Eu gritei irritada, então vi os
olhos castanhos e o cabelo ruivo de
quem tinha feito isso.
- Desculpa ai, eu tava agoniado
esperando você chegar! – O Edu
disse rindo e me dando um beijo na
bochecha. – Eai, tudo bem?
- Tudo ótimo, por quê?
- É que eu vi o Michael subindo as
escadas com cara de poucos
amigos...
- Ah, você fala como se o Michael
fosse alguém importante o
suficiente pra alterar meu humor. –
Eu
disse rindo e ele riu também.
- Por isso que eu gostei de você! –
Ele falou rindo e depois olhou pra
Mônica, que conversava
animada com as meninas que eu
conheci ontem. – Não sei mais o
que fazer com ela...
Eu respirei fundo.
- Me conte essa historia direito.
- Eu já te disse como começou isso
naquele dia na papelaria, o
problema é que desses dias pra cá
ela vem agindo como se eu fosse o
irmão mais novo dela. – Ele falou
olhando pra baixo e eu senti um
aperto no coração. Zona do amigo é
o pior caso de amor que tem.
Eu abri a boca pra dizer que não
tarde demais, que ele ainda tinha
chances de fazer ela mudar de
opinião, quando a porta se abriu e
um homem que tinha no máximo 25
anos, com um cabelo cachado
preto, uma barba e bigode que
combinavam perfeitamente com ele
entrou na sala. Ele devia ter no
máximo a minha altura, mas tinha
alguma coisa nele que o deixava
charmoso.
- Eaaaai, sentiram falta do teacher
Bernardo? – O professor chegou
animado na sala e todo mundo
começou a bater palma. - Obrigado,
obrigado, também amo vocês, seus
lindos!
Eu sorri com aquele professor.
Então todas meninas que estavam
conversando do outro lado da sala
foram pra onde eu e o Edu estava e
sentaram com a gente.
- Estou vendo uns rostinhos novos,
alguém quer se apresentar ou eu
vou ter que descobri ao longo do
ano? – Seu tom era tão
descontraído que nem parecia um
professor falando.
- Vai Susan, levanta a mão! – A
Amanda disse com aquele tom
animado dela e eu neguei com a
cabeça.
- Não, meu Deus... – Eu falei com
vergonha.
- Menina, é o teacher Bernardo, não
precisa ficar tímida! – Uma menina
sentada do meu lado falou
rindo, ela tinha um longo e
ondulado cabelo castanho, os olhos
e a boca dela pareciam ter sido
desenhados para um anime. – Ah,
eu nem me apresentei, sou a Elena!
– Ela sorriu e eu sorri também.
- LENITXA!! OUVI SUA VOZ! – O
teacher Bernardo deu um gritinho
animado e a sala toda riu,
principalmente a Elena.
- Sim, também estava morrendo de
saudade de você teacher! – A Elena
disse sorrindo e depois se
virou pra mim. – Olha professor,
aluna nova.
Eu corei na mesma hora, mas então
eu vi o jeito alegre do professor e
percebi que não tinha pra que
ficar com vergonha mesmo não.
- Meu nome é Susan...
- SEJA BEM VINDA AO MUNDO
MÁGICO ONDE OS ALUNOS E
OS PROFESSORES SÃO
LINDOS E IRRESISTIVEIS DA JK
ROWLING! – O teacher Bernardo
disse indo pra frente da turma
e pegando o microfone. – Ai, como
eu estava com saudade de vocês.
- E do professor Cavalcante... – A
Elena falou baixinho e todas as
meninas riram.
- Dele principalmente, parece que
fica mais lindo cada dia! – O
professor disse brincando.
- Ele é gay? – Eu perguntei
baixinho para a Iza, que estava
sentada na minha frente.
- Claro que não menina! – Ela disse
ficando vermelha. – Ele tá só
brincando.
- Aham, começa a assim. – A Elena
disse rindo e ri também, por causa
do jeito como ela falou.
- Agora, vamos começar a aula...
Vocês já ouviram a história da
minha sobrinha de dois anos com
pacto com o capiroto?
[...]
- Meu deus, melhor professor! – Eu
falei animada assim que o teacher
Bernardo saiu da sala, depois
de duas aulas seguidas.
- É! Ei Susan, vem comigo no
banheiro? – A Clara perguntou e eu
fiz que sim a cabeça.
Assim que chegamos lá, ela
começou a arrumar o cabelo na
frente do espelho.
- Ei... – Ela perguntou baixando o
tom de voz e eu me aproximei pra
ouvir. – O Michael já falou
alguma coisa de mim pros irmãos
dele ou sei lá?
Eu pensei um pouquinho, nunca
tinha ouvido nem falar no nome
dela na casa dos Hunter, mas não
queria magoá-la dizendo a verdade
na lata.
- Não sei, eu não falo muito com
ele na verdade... Se você quiser
pode passar lá e, você sabe,
chamar a atenção.
Ela sorriu animada.
- Você acha mesmo? – Seus olhos
estavam brilhando de felicidade.
- Com certeza! – Eu disse confiante
e ela me abraçou.
Mal sabe ela que ele é um bipolar
de merda, mas até que seria legal se
ela conseguisse mudar ele.
Voltamos pra sala conversando
sobre que roupa ela vai usar
quando for visitar os Hunter. Uma
professora com o cabelo laranja
estava esperando na porta, ela não
parecia nada feliz.
- Entrem, não quero ouvir nem um
pio. – Todo mundo se sentou e a
sala ficou em silencio. – Para os
novatos, meu nome é Ana Renata,
mas eu só irei atender se me
chamarem de Professora Pontes.
A sala inteira assentiu com a
cabeça e eu percebi que não iria
gostar muito dessa professora.
[...]
- Que aula insuportável! – A
Isabela disse enquanto nós, as
meninas, o Edu e o Júlio descíamos
as
escadas para o campo.
- Ah, isso é por que você não viu o
Paulo Pedro, cada segundo na aula
dele dá vontade de se matar! –
O Júlio disse fazendo uma arma
com a mão e atirando na própria
cabeça.
- Quem é Paulo Pedro? – Eu
perguntei, odiava ficar por fora das
historias.
- Chama de PH, é o professor de
matemática. – A Bia respondeu e
depois se virou pra cantina. – Ei
meninas, bora comprar o lanche
antes que acabe!
Todas as meninas assentiram e elas
saíram quase saltitando até a
cantina no norte, depois do campo.
- Acho que vou indo também, o
Michael disse que quer falar
comigo. – O Júlio falou e saiu, indo
na
direção da escada que dava pro
corredor do segundo ano.
- Agora você me diz o que iria me
dizer antes pro teacher Bernardo
chegar! – O Edu disse e se sentou
na sombra da árvore mais próxima.
- Eu ia dizer que você ainda pode
mudar a visão que ela tem de você,
é só agir menos como melhor
amigo e mais como namorado.
Ele olhou pra mim.
- Acha mesmo?
- Tenho certeza, a primeira coisa
que você deve fazer é começar
elogiando ela. – Eu disse me
lembrando do Joshua e do jeito
como ele me conquistou tão
rapidamente. – Você também podia
ser
meio pervertido de vez em quando,
pra ela ver que você não é tão
inocente assim.
Ele sorriu.
- Acha mesmo?
- Certeza.
E quase como se tivesse sido
ensaiado, a Mônica chegou
correndo na nossa direção, os olhos
exalavam determinação.
- EDU! EU JÁ SEI O QUE VOU
FAZER!
O Edu se levantou e olhou pra ela
sem entender.
- Do que exatamente você tá
falando?
- EU VOU ME DECLARAR
AGORA MESMO PRO MENINO
QUE EU MAIS AMO NESSA
VIDA!
Eu olhei pra ela sem acreditar, o
Edu parecia em choque, dava para
ver que seus olhos estavam
brilhando de esperança.
- Quem é esse menino? – Ele
perguntou animado.
- ELE É FOFO, MEIGO, LINDO...
PERFEITO, NA VERDADE.
O Edu sorriu.
- Nome?
Ela deu um pulinho e sorriu
vitoriosa.
- Nicolas Hunter.
12. Agora deu merda
- Quem? – O Edu disse sem
acreditar, sua voz parecia uma
mistura de dor, raiva e surpresa.
Eu olhei pra ela, que sorria
decidida.
- O Nicolas, irmão do meio dos
Hunter. – Ela fez uma pausa e seus
olhos brilharam. – O cara de
olhos azuis como o céu, que tem
aquele cabelo ondulado e preto e
um corpo que...
- Tá, já entendi. – O Edu falou
irritado e a Mônica olhou pra ele
sem entender.
- Por que você ficou com raiva do
nada?
Eu olhei pra Mônica. Qualquer
pessoa no mundo notaria que o
Eduardo era apaixonado por ela.
Ele revirou os olhos.
- Não gosto de ficar ouvindo sobre
macho. – O Edu falou, escondendo
o real motivo.
- Meu Deus Edu, era para você está
feliz por mim!
Ele olhou pra ela e sorriu, mesmo
parecendo prestes a desabar.
- Eu estou feliz por você. – Ele
disse desviando os olhos.
Ela abraçou ele, sorrindo de orelha
a orelha.
- Por isso que eu te amo! – A
Mônica disse dando um beijo na
bochecha dele. – Agora venham,
vocês
vão comigo enquanto eu me declaro
para o mais gostoso dos Hunter!
O Edu parecia sem emoção, seus
olhos estavam totalmente apagados.
Mas mesmo assim ele assentiu
com a cabeça.
Ela correu até o outro lado do
campo, comigo e com o Edu atrás.
Então ela parou bruscamente, a uns
5 metros de distância de onde o
Nicolas estava conversando com
o Felipe e com as gêmeas que eu
conheci ontem.
Com o Felipe. Eu quase tinha
esquecido esse detalhe. Um sorriso
se espalhou no meu rosto quando
eu imaginei o que iria acontecer.
A Mônica se arrumou rapidamente
o cabelo, ajeitou a saia e respirou
fundo.
- É agora.
Ela andou confiante até ficar em
frente ao Nicolas. Eu e o Edu
paramos um pouco atrás dela.
- Oi Mônica! – O Nicolas disse
sorrindo, as duas covinhas perfeitas
aparecendo no seu rosto.
- Nick, eu tenho que te dizer uma
coisa. – A Mônica disse e o Felipe
levantou uma sobrancelha pra
ela.
O Nicolas se levantou.
- Diga ai.
Ela respirou fundo.
- Nós somos amigos faz tempo e
você me ajudou nos momentos em
que eu mais precisei.
O Nicolas assentiu com a cabeça.
Olhei ao redor e vi que as meninas
da minha sala estavam
chegando e um monte de outras
pessoas tinham se levantado pra ver
também.
- E eu te conheço. Conheço sua
essência boa e gentil e... – Ela
olhou bem no fundo dos olhos dele.
–
Eu sou apaixonada por você.
O Nicolas olhou pra ela sem
acreditar. Olhei pro Felipe, ele
parecia ter levado um tapa na cara.
- Mônica...
- E eu sei que você também gosta
de mim, sei disso pelo jeito como
me olha, sei disso pelo jeito
como você fala comigo. – Ela falou
de uma vez só e o Nicolas parecia
ter perdido a fala.
- BEIJA LOGO ELA CARA! - Ouvi
alguém gritando da rodinha ao
nosso redor.
- É, SE TU NÃO PEGAR EU
PEGO! – Outra pessoa gritou.
O Nicolas respirou fundo.
Se ele não beijasse seria chamado
de gay.
Mas... Meus olhos foram para os do
Felipe, que olhava sem acreditar
para o que estava acontecendo.
Ele estava tão sem luz quanto o
Eduardo. Porra Mônica, tanta gente
no mundo e você vai se
apaixonar logo pelo Nick?
A loira se aproximou do Nicolas,
suas mãos puxaram as dele para a
sua cintura.
- Vamos Nick, não precisa ter
vergonha. – Ela disse de um jeito
sexy.
Olhei pro lado, mas o Edu não
estava mais lá.
- Eu... – O Nicolas começou
falando, mas foi calado por um
beijo.
Começou como um selinho meio
forçado, mas eu vi o quanto ela
queria isso, o quanto ela queria
mais
do Nicolas e suas mãos foram para
a nuca dele, o beijo foi aumentando,
virando um beijo de cinema.
As mãos do Nicolas eram firmes na
cintura dela, mas seus olhos
estavam abertos.
Todo mundo ao redor começou a
aplaudir. Bem, todo mundo menos o
Felipe.
Depois de quase dois minutos de
beijo, ela o soltou sem fôlego.
- Eu amo você Nicolas.
Ele balançou a cabeça em
concordância. Então seus olhos
encontraram os meus.
- Mônica, eu não posso fazer isso. –
Ele disse olhando pra mim, como
se tivesse tido uma idéia.
Ela olhou pra ele sem entender. As
pessoas ao nosso redor estavam tão
concentradas que parecia que
estavam vendo um jogo da Copa do
Mundo.
- Por que não?
Ele desviou os olhos.
- Eu não amo você.
- PUTA QUE PARIU! – Ouvi
alguém gritando de surpresa.
- E quem você ama? – A Mônica
falou com a voz carregada de dor. –
E por que você me beijou?
- Você que me beijou! – O Nicolas
falou indignado e depois olhou pra
mim, como se pedisse
desculpas.
Por que ele estava me olhando
assim... PUTA QUE PARIU! ELE
VAI FAZER MERDA!
- Eu amo a Susan. – O Nicolas
disse no segundo em que eu percebi
o que ele iria fazer. – Desde o dia
em que ela apareceu na porta da
minha casa.
Eu olhei pra ele sem acreditar. A
Mônica se virou pra mim no mesmo
segundo.
- SUA VADIA! – Ela gritou com
ódio nos olhos.
- Não fale assim dela. – O Nicolas
falou fechando o punho. – Ela não
tem culpa. Ela não tem culpa
de ser irresistível.
- Que merda ta acontecendo aqui?
Todo mundo se virou enquanto o
Michael entrava na rodinha, ele
parecia muito puto.
- Oi irmão...
- Susan decida-se qual dos Hunter
vai te comer. – O Michael disse
olhando pra mim com nojo e
raiva.
Merda, merda, merda. O que eu
faço agora?
- Do que você está falando? – O
Nicolas perguntou fingindo ciúmes.
A Mônica parecia que iria
explodir de raiva e o Felipe olhava
pra nós sem acreditar no que estava
acontecendo.
- Cala a boca Michael. – Eu disse
fria.
- Ah, então você não quer que
saibam o que você fez ontem? – O
Michael perguntou debochado.
- Do que ele ta falado? – A Mônica
perguntou com a voz cheia de dor e
raiva.
Então eu ouvi várias pessoas
suspirando atrás de mim, mas não
me virei. Não era importante.
- Cuida da sua vida! - Eu gritei com
o Michael.
Mas ele estava olhando pra alguma
coisa atrás de mim. Seus olhos
brilharam de maldade e ele
sorriu.
- Beije o Nicolas e ninguém vai
saber o que aconteceu ontem.
Eu olhei para o Nick, ele parecia
tão sem palavras quanto eu.
- E ai, vai ou não vai?
Suspirei e me aproximei do
Nicolas.
Olhei para o Felipe pedindo
permissão e ele assentiu com a
cabeça.
Então o Nicolas colocou as mãos
na minha cintura. Eu fechei meus
olhos.
Ele se aproximou e demos um
selinho demorado.
- Ah, oi maninho, que bom que você
chegou.
Me virei na mesma hora pro
Michael, ele sorriu cínico e
apontou pra alguma coisa atrás de
mim.
Eu devia ter me virado pra ver
antes.
- Susan, eu não acredito que você
fez isso comigo.
Eu fechei meus olhos com força,
tentando convencer a mim mesma
que aquilo não era real. O Nicolas
ainda estava com as mãos na minha
cintura.
- Não é o que você está pensando. –
Eu senti meus olhos se enchendo de
lagrimas.
Abri meus olhos e vi que o Joshua
ainda olhava pra mim com uma
mistura de todos os piores
sentimentos possíveis.
Mas um se destacava: decepção.
13. Por que era tudo tão
complicado?
- JAMES, EU JURO QUE...
- Eu não quero ouvir mais nada que
sai da sua boca. – O Joshua disse
frio, seus olhos brilhavam de
dor.
- O que está acontecendo? – O
Nicolas perguntou me soltando e eu
corri para perto do Joshua.
- E-Eu... – Tentei explicar, mas as
palavras sumiram.
- Você me trocou pelo meu próprio
irmão.
O Michael ria baixinho do outro
lado da rodinha.
Tentei segurar a mão do Joshua,
mas ele me afastou bruscamente.
- Agora eu sei que o que eu fazia
era errado. – O Joshua respirou
fundo. – Agora eu sei como dói ser
usado por alguém que não presta.
- Joshua me escuta, por favor...
- Alguém pode me explicar o que ta
havendo? – O Nicolas insistiu.
- Acho que nós dois fomos usados
por essa vadia.
Meu coração tinha parado de bater,
meu cérebro estava a mil, meus
olhos estavam lagrimejados. Eu
queria poder voltar 2 minutos atrás
e deixar o Michael contar pra todo
mundo que eu beijei o Joshua.
O que eu tinha na cabeça?
Um murmúrio passou pela rodinha.
Então o sinal tocou.
Todo mundo olhou pra nós como se
quisesse uma resposta final.
O Joshua revirou os olhos.
- Vão embora, isso não é da conta
de vocês. – Ele disse com frieza e
todo mundo se retirou sem falar
mais nada. Ninguém discordava da
ordem de um Hunter.
O Michael foi o primeiro a se virar
pra sair, mas o Joshua correu e
puxou seu braço com força.
- Você fica.
O irmão mais novo respirou fundo.
- Vocês três. – O Joshua disse
decidido.
Eu assenti com a cabeça e fiquei o
mais longe possível do Nicolas.
- Susan.
Me virei para os olhos azuis do
Joshua.
- Eu não suporto olhar pra você,
pode sair da minha frente, por
favor? – Ele disse me olhando com
desprezo.
- Joshua, eu posso explicar tudo pra
você...
- Então explica.
O Michael olhou pra mim, com um
sorriso travesso no rosto.
Eu olhei pro Nicolas.
- Explica?
- Você sabe que eu não posso. – O
Nicolas disse olhando fixamente
pra mim.
Eu sei, eu sei, mas eu também não
posso ficar assim. Eu queria poder
gritar a verdade, dizer que o
Nicolas é gay e que eu sou
apaixonada pelo Joshua, que jamais
trairia ele, jamais beijaria outro
cara.
Mas eu não podia fazer isso.
- Você sabe por que eu vim aqui
Susan? – O Joshua perguntou
olhando friamente para mim.
Eu neguei com a cabeça. Eu não
queria saber a resposta.
- Eu vim te pedir em namoro.
Puta merda.
- O que aconteceu entre vocês? – O
Nicolas perguntou mais uma vez.
Eu respirei fundo.
- Ontem à noite nós nos beijamos.
O Joshua olhou pra mim, seus olhos
foram de frieza para dor. Uma dor
tão profunda que fazia seus
olhos brilharem.
- Então... Ela é a garota que você
tava dizendo no café da manhã?
- Ela era.
Uma dor insuportável tomou conta
do meu ser.
- Joshua, por favor, me escuta ok?
- Eu não escutaria se fosse você... –
O Michael disse com ar de riso.
- Cala a boca. – Eu e o Joshua
dissemos juntos.
- Eu só quero ajudar. – O Michael
disse sorrindo, ele não se
importava nem um pouco com o
resto do
mundo.
- Susan, eu... Eu conto.
Olhei pro Nicolas sem acreditar.
- Não precisa... – Eu falei baixinho,
sem demonstrar o quanto eu queria
que ele dissesse.
-Preciso sim. – O Nicolas disse
decidido, mas seus olhos estavam
com medo. Medo da reprovação.
- Que drama é esse? – O Michael
bufou meio irritado, mas ainda com
um ar de riso.
O Nicolas desviou os olhos e
suspirou.
- Eu tenho que contar. – Ele fez uma
pausa, toda a atenção estava nele
agora. – Eu sou... – Ele
murmurou a ultima palavra tão
baixo que nem eu que estava perto
dele ouvi.
- Você é o que? – O Joshua
perguntou levantando uma
sobrancelha.
Eu não posso deixar ele fazer isso
por mim. Minha mente disparou em
busca de uma solução
- JAMES POR FAVOR, EU SÓ
BEIJEI O NICOLAS PRA FAZER
O Michael NÃO CONTAR PRA
TODO MUNDO O QUE
ACONTECEU ONTEM! – Eu gritei
correndo para perto do Joshua.
- Por que você não queria que as
pessoas soubessem? – O Joshua
perguntou com frieza.
Eu não sei. Eu simplesmente não
sei.
- Por que ela tem vergonha de você.
– O Michael disse vindo na nossa
direção, com um sorriso seco
no rosto. – Quem não teria?
O Joshua olhou pra ele com raiva
por um segundo, então abaixou os
olhos.
- Nada a ver! – Eu disse irritada.
- Ah não? E por que você preferiu
beijar o Nicolas do que deixar eu
contar para as pessoas sobre
você e o Joshua?
- Por que eu não queria chamar
tanta atenção no meu primeiro dia
de aula!
- Em vez disso quis cortar meu
coração? – O Joshua disse voltando
os olhos para os meus.
- Ei!!! O que vocês estão fazendo
fora das salas?
Nós nos viramos ao mesmo tempo,
para ver o Professor Cavalcante
correndo para perto da gente.
Ele era lindo, com uma camisa
meio colada do Real Madrid, que
realçava seus músculos definidos e
uma calça preta que caia
perfeitamente. Ele era lindo como
um Hunter.
- Professor Cavalcante, faz tempo
que eu não vejo você. – O Joshua
falou mudando de jeito e tom
rapidamente. Nunca vou entender
como ele consegue fazer isso.
- Joshua, tudo bem com você? – O
professor perguntou dando um
sorriso perfeito.
- Ótimo e você? – O Joshua disse
sorrindo também. Sem nenhum
vestígio do Joshua de 1 minuto
atrás.
- Também... Mas acho que a Susan
e seus irmãos deveriam estar na
sala de aula.
O Joshua assentiu com a cabeça.
- Sei disso, foi só uma reunião de
família de emergência.
- Espero que tenham resolvido sei
lá o que tenha motivado isso. – O
professor falou olhando pro
Michael, como se soubesse que ele
era o grande problema.
- Obrigado. Nicolas, Michael e
Susan – O Joshua pronunciou meu
nome com tanta indiferença que
minha alma doeu. – vão pras salas,
em casa nós conversamos.
- Acho melhor encerrarmos o
assunto. – O Nicolas disse.
- Isso quem vai decidi sou eu.
Agora vão. – O Joshua falou
autoritário.
Eu concordei com a cabeça e corri
para as escadas sem olhar pra trás.
A última pessoa com quem eu
queria conversar agora é o
Michael.
Bati na porta da sala e abri
devagar. Por sorte era o teacher
Bernardo.
- Perdeu a hora? – O teacher disse
sorrindo e eu entrei na sala.
- Você não faz idéia... – Ouvi
alguém murmurar no fundo da sala.
Fechei o punho e me sentei ao lado
do Edu, sem olhar pra ninguém.
- Foi mal, professor, posso entrar?
– O Michael disse entrando na sala
sem bater.
O teacher fingiu estar com raiva.
- DA PROXIMA VEZ EU CORTO
SEU PINTO! – O professor disse
imitando a voz de uma garota
irritada e toda a sala rio.
- Eita porra, nunca mais atraso na
vida. – O Michael falou rindo e foi
se sentar no fundo da sala com seus
amigos idiotas.
O professor começou a corrigi
algumas atividades, mas eu não
estava prestando atenção.
Eu só conseguia pensar no Joshua.
E em como as coisas mudaram
bruscamente e sem a minha
permissão de perfeito para... Isso.
Mas, a verdade é que eu nem me
importava comigo, nenhuma dor
que eu possa sentir se compara
com a dor do Joshua. Eu só queria
que ele ficasse bem, mesmo que ele
tivesse que me odiar pra
sempre para conseguir isso.
- Susan, tem como você explicar o
que aconteceu? – O Edu perguntou
baixinho do meu lado.
- Depois... Se eu consegui resolver.
- Torço por você. – O Edu falou e
me lançou um sorriso quase que de
pena e eu retribui.
O Edu estava com um coração
partido dentro do peito e mesmo
assim conseguia se importar
comigo.
Uma sensação boa se espalhou pelo
meu corpo, mesmo que quase tudo
fosse ruim, eu adorava saber
que pelo menos tinha um amigo de
verdade ali.
- AGORA QUE JÁ SABEMOS O
ASSUNTO, QUE TAL OUVIMOS
UM BOM E VELHO ROCK? –
O teacher Bernardo perguntou
animado e a sala ficou agitada em
concordância.
[...]
Quando o sinal que dizia que a
ultima aula do dia acabou, eu já
estava no meu décimo sono na aula
de matemática. O professor PH era
muito pior do que o Júlio tinha dito.
Arrumei as coisas na minha bolsa e
respirei fundo. Eu não queria ter
que chegar em casa e conversar
com o Joshua.
Passei direto pelas meninas,
também não tava afim de conversar
com elas, e desci as escadas num
pulo.
O carro preto do Joshua estava
estacionado na porta do colégio.
Respirei fundo.
Corri para o carro e entrei na porta
de trás, sem me virar para o
Nicolas ou para o Michael, que
vinham atrás de mim.
- Olá Susan, o Joshua mandou eu
buscar vocês hoje. – Um homem
loiro com um tom de voz
extremamente educado estava com
as mãos no volante. – Eu sou
Gustavo, o motorista dos Hunter.
- O que você está fazendo aqui
Gustavo? – O Nicolas perguntou
entrando sentando no banco do
passageiro.
- O irmão mais velho de vocês
disse que estava muito ocupado
para isso.
O Michael entrou no carro e o
Gustavo deu a partida.
- Para de sorrir, você estragou tudo.
– Eu disse irritada para o Michael,
mas ele sorriu ainda mais.
- Eu disse que iria fazer você se
arrepender pelo que disse, não
lembra? – O Michael respondeu
baixinho.
Eu não respondi. É claro que eu
lembrava, eu só não sabia que ele
poderia ser tão maldoso.
O resto da viagem foi silenciosa e
eu quase pulei do carro quando
finalmente estacionamos na frente
da mansão dos Hunter.
Entrei correndo e fui direto para o
quarto. No segundo em que a porta
se fechou eu me joguei na cama e
todas as lagrimas que eu segurei
durante o dia começaram a cair sem
parar.
[...]
Acho que acabei dormindo, porque
acordei ainda com a roupa que
tinha ido para o colégio. Meus
olhos ardiam e meu nariz estava
entupido de tanto choro.
Fui para o banheiro e tomei um
banho longo, tentando parar de
pensar no Joshua, no beijo dele, nas
mãos dele, no modo como ele me
olhou quando disse que me amava...
Meus olhos começaram a
lagrimejar de novo. Merda, eu
preciso conversar com ele.
Sai do banheiro e coloquei a
primeira roupa que encontrei, dei
uma olhadinha na hora e vi que já
eram 18:09.
Pensei em ir direto para o quarto do
Joshua, mas algo me disse que seria
melhor em um lugar em que
eu já estava habituada. Então
desbloqueie meu celular e procurei
o contato do Joshua.
Susan dos Alvez – 18:09 :
Joshua, a gente precisa conversar.
Ele respondeu no mesmo segundo.
Joshua – 18:09 :
Não quero falar com você.
Argh.
Susan dos Alvez – 18:09 :
Você precisa me ouvir.
Ele visualizou e começou a
escrever alguma coisa, mas apagou
e eu continuei sem resposta.
Continuei olhando para a tela do
celular por quase 10 minutos, então
eu cansei e deitei de novo na
cama, olhando pro teto.
Foi nesse momento em que eu ouvi
batidas na porta.
- Abra antes que eu mude de idéia.
– A voz do Joshua veio do outro
lado da porta e meu coração
acelerou.
Me levantei num pulo e abri a
porta. Ele entrou sem olhar pra
mim.
- Diga. – Ele falou frio e andou
direto para a janela, sentando numa
cadeira da varanda.
Eu o segui e fiquei em pé na frente
dele.
- Eu juro que eu não queria beijar o
Nicolas, você sabe disso, você
sabe que eu só amo você! – Eu
disse de uma vez e ele fixou os
olhos nos meus.
- E por que você beijou?
- Eu já disse! Eu não queria que
todo mundo soubesse com quem eu
fico logo no segundo dia de aula,
não queria que você achasse que eu
sai por ai espalhando o que
aconteceu e, pelo amor de Deus, eu
não queria magoar você!
Uma parte dele parecia lutar para
acreditar em mim.
- Eu não sei mais o que pensar. –
Ele disse desviando os olhos.
Eu segurei seu rosto com as mãos,
forçando ele a olhar pra mim.
- Você sabe sim, confie em mim.
- Por que eu deveria fazer isso?
Eu sorri quando me lembrei que eu
já tinha dito essas palavras para
ele.
- Porque eu não sou disso, mas eu
também não posso ficar aqui
ouvindo você chorando ai dentro...
Ele olhou surpreso pra mim.
- Você ainda lembra disso?
- Eu lembro de cada segundo que
passei com você Joshua. – Eu disse
e era verdade. Eu lembrava de
tudo, e amava cada momento de
forma única.
- Ah Susan...
- Eu amo você.
Ele olhou pra mim e então seus
olhos brilharam. Ele finalmente
entendeu.
- Eu também amo você. - Ele deu
uma pausa. - Nunca mais faça isso
ok?
- Você quem manda! – Eu disse
rindo de alivio.
Ele se levantou e me puxou pela
cintura.
E ai a gente se beijou.
Nossas bocas pareciam se conhecer
a anos, tudo combinava
perfeitamente, mesmo um selinho
rápido
parecia digno de filme. Por que era
amor. E amor tem dessas coisas.
Sua mão esquerda desceu para meu
quadril e me puxou mais pra perto,
eu estava tão colada que
conseguia sentir seu membro duro
perto da minha virilha.
Então ouvimos um grito.
- O que foi isso? – Eu perguntei me
afastando dele na mesma hora.
- Não faço a menor idéia, mas veio
lá debaixo.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO
AQUI? – Ouvi a voz furiosa do
Senhor Fernando vindo do
primeiro andar e nem olhei para o
Joshua antes de descer correndo.
A cena que eu vi me deixou sem
chão.
De um lado da sala, sentado
confortavelmente numa poltrona, o
Michael ria de tudo que estava
acontecendo.
Do outro, o Senhor Fernando
olhava com raiva, ódio e surpresa
para o Nicolas.
Para o Nicolas e o Felipe.
- P-Pai... – O Nicolas disse
soltando a cintura do Felipe.
- Você é gay. – O Senhor Fernando
falou com nojo. – Você é um viado.
- Não fale assim dele! – O Felipe
disse se colocando na frente do
Nicolas, de um jeito protetor.
Eu corri para ficar ao lado do
Nicolas, enquanto o Joshua ia para
o lado do pai, olhando sem
entender para o que estava
acontecendo.
- O que houve aqui? – O Joshua
perguntou.
- Eu vi. Eu vi o Nicolas beijando
esse... Esse garoto. – O Senhor
Fernando falou com tanto ódio na
voz que nem parecia estar se
referindo ao próprio filho.
- Pai, eu posso explicar!
- Nunca mais me chame de pai. Eu
não tenho filho gay.
- Eu não tenho culpa! – O Nicolas
gritou desesperado, correndo em
direção ao Senhor Fernando, que
o empurrou de volta.
- Não toque em mim. – Ele disse
com desprezo.
O Felipe segurou o Nicolas antes
que ele caísse de costas no chão e
olhou para o Senhor Fernando.
- Por favor, nos deixe explicar.
- Explicar o que? O jeito como
você colocou meu filho num mundo
de pecado? Me recuso a escutar a
qualquer palavra que sai dessa sua
boca imunda!
- Não fale assim! – Eu gritei sem
conseguir me manter calada.
O Joshua olhava para mim e para o
Nicolas sem parar, tentando
entender.
- Pai, é sério, ninguém escolhe isso,
as coisas simplesmente... – O
Nicolas começou a dizer, mas o
Senhor Fernando levantou um dedo.
- Chega. – Ele andou até chegar em
uma escrivaninha, abriu a primeira
gaveta e tirou um objeto de
lá. – Vamos resolver isso.
Ele se virou e um grito agudo
escapou dos meus lábios quando eu
vi qual era o objeto.
Uma arma.
14. Talvez as coisas estejam
melhorando
O Nicolas também deixou escapar
um grito e o Michael se levantou no
mesmo segundo.
-Pai... - O Joshua disse com uma
voz lutando pelo autocontrole, ele
foi devagar até fica na minha
frente, me protegendo.
Eu empurrei o Joshua da minha
frente com delicadeza e vi os olhos
furiosos do Senhor Fernando
brilhando de ódio.
-Não defenda esse viadinho. - Ele
cuspiu essas palavras com nojo e o
Nicolas deu um passo a frente,
encarando o pai.
-Você iria me matar? - O Nicolas
perguntou sem acreditar.
-Não fale como se eu tivesse
mudado de ideia. - O Senhor
Fernando disse calmamente e se
aproximou do filho. - Eu vou te
matar.
O Felipe correu para ficar na frente
do Nicolas, seus olhos estavam
fixos nos do Senhor Fernando e
ele parecia capaz de tudo.
-O senhor precisa ouvir a gente.
O Nicolas começou a chorar
baixinho atrás do Felipe e meu
coração ficou apertado. Eu não
sabia o
que fazer.
-Faça alguma coisa. - Eu sussurrei
para o Joshua.
Ele assentiu com a cabeça
discretamente e foi para perto do
pai.
-Não faça nada que poderia se
arrepender depois. - O Joshua disse
calmamente, mas o Senhor
Fernando não se virou pra ele.
-Eu não vou deixar esse garoto
estragar o nome da família.
O Nicolas caiu de joelhos e o
Felipe se virou para levanta-lo.
Seria o momento perfeito para
atirar.
-Agora. - O Senhor Fernando falou
para alguém invisivel e ajeitou a
mira da arma.
Então o Joshua se jogou em cima do
pai como uma lobo e a arma voo
para longe.
-NÃO VOU DEIXAR VOCÊ
MATAR MEU IRMÃO! - O Joshua
gritou para o pai, segurando suas
duas mãos acima da cabeça. - Nem
o namorado dele.
O Senhor Fernando olhou para o
filho sem acreditar.
-Você está do lado deles?
-Eles não estão fazendo nada de
errado. - O Joshua disse frio.
-CLARO QUE ESTÃO! - O Senhor
Fernando falou furioso e empurrou
o Joshua para longe. - E
nunca mais diga algo assim!
Eles se levantaram e começaram a
se fuzilar com o olhar. Fuzilar. A
arma! Eu me virei a tempo de
ver o Michael correndo para o
meio da sala para pegá-la, seus
olhos fixos nos do Nicolas.
-Ei pai, acho que vai querer ver
isso. - O Michael disse suavemente
e toda a atenção da sala foi para
ele. Ele com uma arma na mão,
apontada diretamente para o
coração do Nicolas.
-Michael, eu imploro. - O Nicolas
disse com os olhos cheios de
lagrimas. - Eu imploro que largue
essa arma!
O Michael riu baixinho.
-E se eu não fizer isso? - O Michael
disse sorrindo cínico e andando na
direção do irmão do meio. -
E se eu te matar?
O Felipe deu um passo a frente,
prestes a defender o namorado, mas
o Nicolas o empurrou de volta.
-Não Lipe, se alguém tiver que
morrer aqui sou eu. - Mesmo com a
voz confiante, os olhos do
Nicolas estavam marejados e seu
corpo parecia disposto a fugir o
mais rápido o possivel daqui.
-Que fofo os namoradinhos! Quase
chorei. - O Michael falou, a voz tão
cheia de ironia que eu tive
vontade de vomitar.
-Acabe logo com isso. - O Senhor
Fernando disse se aproximando do
Michael.
O Michael sorriu e seus dedos
estavam quase tocando no gatilho.
Eu precisava fazer alguma coisa.
-Michael! - Eu gritei, fazendo com
que toda a atenção fosse pra mim. -
Espere um segundo, pense nas
consequências. - Eu disse
rapidamente e praticamente corri
para ficar na frente do Nicolas. -
Tem
jeitos mais eficazes de acabar com
isso.
-Sai da frente empregadinha, ou eu
atiro em você também. - O Michael
disse segurando firme a arma.
Eu sabia que ele poderia atirar a
qualquer momento. Mas sair da
frente não é uma opção.
-Não ouse. - O Joshua disse do
outro lado da sala. O Nicolas e o
Felipe pareciam que tinham
perdido a voz. Talvez fosse o medo
da morte.
-Qual seria o outro jeito? - O
Senhor Fernando perguntou olhando
pra mim.
-Tira ele de casa, nunca mais olha
na cara dele e esquece que já teve
esse filho. Mas não o mate. - Eu
disse tentando parecer calma e
confiante, mas isso era muito
complicado de contarmos com o
fato de
o Michael estar com uma arma
apontada pra mim.
O Nicolas me puxou levemente
para o lado e seus olhos foram do
Michael para o Senhor Fernando.
-Eu posso me virar...
-Não me importo com você. - O
Senhor Fernando o cortou
friamente. - Mas, até que a ideia da
Susan
não é ruim. Eu não iria precisar
sujar minhas mãos com algo tão
sujo quanto você.
O Felipe respirou fundo e o Joshua
o encarou, ele parecia estar
pensando em alguma coisa.
Juntando
algumas peças do quebra-cabeça.
-Mas pai, eu vou ter que ver ele
todos os dias na escola... - O
Michael falou indignado, ainda
apontando a arma para o Nicolas.
-Não, ele vai estar proibido de
ficar perto de você. - O Senhor
Fernando disse autoritário e o
Nicolas assentiu com a cabeça,
olhando pra baixo.
-Ok, agora me deixe sair. Deixe eu
e o Felipe sair.
O Senhor Fernando olhou pro filho
com nojo, mas saiu da frente,
abrindo espaço para a porta.
-Nunca mais volte.
O Nicolas fez que sim a cabeça e
ele o Felipe saíram da casa em
silencio.
-Acho que tivemos piedade demais.
- O Michael disse irritado.
-Isso ainda não acabou.
Eu fechei meus olhos. O que
poderia ser pior que isso? O que
eles poderiam fazer com os dois?
-Susan, vamos. - O Joshua falou me
puxando para fora da casa pela
mão.
Andamos em silêncio até
chegarmos no portão. O Felipe e o
Nicolas estavam em pé do lado de
fora,
olhando um pro outro sem dizer
uma palavra.
Assim que o Nicolas me viu ele se
jogou nos meus braços.
-Obrigado, muito obrigado Susan!
Você salvou minha vida. - Ele disse
chorando de gratidão.
-Eu queria poder ajudar em mais
alguma coisa, mas não sei o que
fazer. - Eu disse desviando os
olhos.
-Você já ajudou muito. - O Felipe
disse se aproximando de nós com
um sorriso tímido. - Você
também Joshua, obrigado de
verdade.
O Joshua o encarou por um
momento, então sorriu.
-Obrigado a você, por não ter
namorado a Susan.
Todos riram, uma risada meio seca
por causa de tudo que aconteceu,
mas ainda assim sincera. Era
exatamente isso que estávamos
precisando.
-Agora você entende, tipo tudo
mesmo. - O Nicolas disse sorrindo
aliviado.
-E agora, pra onde você vai? - Eu
perguntei.
-Para casa do Felipe, até encontrar
algum outro lugar. - Ele disse sem
graça e eu tentei não sentir
pena dele (odiava quando sentiam
pena de mim), mas era impossivel.
Eu queria proteger ele, fazer
com que ele não precisasse passar
por isso. Mas, não havia nada que
eu pudesse fazer.
-Seus pais aceitam de boa? - O
Joshua perguntou pro Felipe.
-Desde que eu era pequeno eles
desconfiam da minha sexualidade,
eu só vou confirmar.
-E tem certeza que não dá
problema?
-Absoluta. Eles são legais. - O
Felipe falou sorrindo.
-Você me decepcionou muito.
Todos nós no viramos para o
portão. E lá estava o Michael, com
aquele ar superior dele.
-Michael. - O Nicolas disse
olhando fixamente pro irmão. -
Você iria mesmo me matar?
O Michael sorriu.
-Não, claro que não, isso nem
passou pela minha cabeça.
Eu levantei uma sobrancelha pra
ele, que sorriu ainda mais.
-... Ah, quase esqueci! - O Michael
deu um tapinha na própria testa. -
Eu que fiz isso.
-Do que você está falando? - O
Felipe perguntou.
O Michael sorriu de um jeito cruel.
- Eu sempre desconfiei de você,
Nicolas, desse seu jeitinho meigo e
delicado, mas ao mesmo tempo
sempre tão alegre, tão gentil, tão...
Gay. - O Michael disse torcendo o
nariz para a última palavra, com se
fosse uma doença. - Mas, claro que
era só desconfiança. Até hoje.
Quando você disse "eu
sou..." e parou. Então eu me toquei
do estava na minha frente desde
sempre.
O Nicolas respirou fundo, seus
olhos lutavam para se manterem
firmes. O Joshua nem piscava para
ouvir tudo que o irmão dizia.
- E ai eu vi vocês dois entrando
discretamente na casa, sorrindo um
pro outro e mais uma vez o
óbvio apareceu na minha mente. -
Ele deu uma pausa e então riu
baixinho. - Então eu liguei pro
papai e pedi para ele dá uma
passadinha em casa.
- VOCÊ O QUE? - O Nicolas gritou
sem acreditar.
Meu coração parou. Como alguém
podia ser tão maldoso?
- Por que você fez isso? - O Joshua
perguntou incrédulo.
- Eu estava entediado e nada mais
legal do que ver um circo pegando
fogo!
- O NICOLAS QUASE MORREU
PORQUE VOCÊ ESTAVA
ENTEDIADO?! - Eu gritei sem
conseguir me controlar, corri para
perto dele. Eu só queria socá-lo até
ele desmaiar.
Mas o Joshua segurou meu braço.
- Não. - Ele disse friamente. - Se
alguém for bater nesse idiota vai
ser eu.
O Michael revirou os olhos.
- Você realmente deveria aprender
a controlar sua vadia.
Nem deu tempo de piscar. Antes
que alguém pudesse abrir a boca, o
Joshua empurrou o Michael com
força contra a parede e o segurou
pela gola.
- Você tem ideia da gravidade do
que você fez? - O Joshua perguntou,
cuspindo cada palavra como se
fosse um tigre feroz. O Michael não
respondeu. - NOSSO IRMÃO
PODERIA ESTAR MORTO
AGORA! POR SUA CAUSA! POR
QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE
PENSAR EM MAIS NINGUÉM
NO MUNDO ALÉM DE SI
MESMO. - O Joshua gritou com
ódio na voz.
- E-Eu só queria ajudar o Nicolas a
se libertar. - O Michael falou com a
voz vacilante.
- EU não pedi sua ajuda. - O
Nicolas rebateu se aproximando
dos irmãos, seus olhos estavam
vermelhos de choro. - Eu NÃO
pedi sua ajuda Michael!
O Michael teve o bom senso de
abaixar os olhos e parecer
minimamente arrependido.
- Eu não iria atirar. - Ele disse por
fim.
O Joshua o soltou com nojo.
- Mas nosso pai iria, você sabe
disso!
O Michael balançou a cabeça em
negativa.
- Antes de ligar eu tirei quase todas
as balas da arma, deixando só uma.
Ele não iria conseguir
acertar de primeira.
Eu olhei pra ele. Isso não mudava
em nada as coisas, não mudava o
que ele fez, não mudava o nojo
que eu sentia por conhecer alguém
tão ruim, mas mesmo assim eu
estava surpresa.
Então eu olhei ao redor e notei uma
coisa.
- Cadê o Felipe?
O Nicolas nem sequer pensou antes
de correr de volta para a casa. Eu e
o Joshua o seguimos em alta
velocidade, parando um pouco
antes da porta por causa do que
estava acontecendo lá dentro. Lá
estava o Felipe e na sua frente, um
Senhor Fernando com olhos de
fogos e uma mão segurando uma
arma. Mas daquela distancia não
tinha como ele errar, uma bala seria
o necessário para matar o
Felipe.
-É muita cara de pau sua aparecer
aqui. - O Senhor Fernando disse
olhando pro Felipe como se ele
fosse um inseto.
-Eu vim pedir para você deixar o
Nicolas em paz. - Ele respirou
fundo. - Se quiser, pode me matar
agora mesmo, mas deixe ele ser
feliz.
O Nicolas correu para perto do
Felipe.
-Não, eu não conseguiria ser feliz
sem você! - O Nicolas deixou
escapar enquanto ficava um passo a
frente do Felipe. - Vamos embora,
ok?
-Faça o que ele estar mandando, ou
eu vou obedecer o que você disse. -
O Senhor Fernando disse
olhando para o Felipe com uma
expressão que só poderia ser
descrita como o mais puro nojo.
O Nicolas e o Felipe assentiram e
me deram um rápido abraço antes
de ir, murmurando algumas
palavras de agradecimento. O
mesmo eles fizeram com o Joshua.
E só quando eles saíram o Senhor
Fernando voltou a falar.
-E vocês dois saiam da minha
frente agora, não aguento olhar para
essas caras de súplica.
O Joshua abriu a boca para falar,
mas pensou melhor e me puxou pela
mão até subirmos as escadas,
indo direto para um quarto que eu
ainda não tinha entrado. O quarto
dele.
Assim que a porta se abriu eu senti
meu coração acelerar e isso
aumentou ainda mais quando ele a
fechou e trancou.
-Você sabe que a gente precisa
conversar, não sabe?
Eu sorri.
-Sei.
Ele me puxou pela cintura e me
colocou contra a parede.
-Você faz ideia de como eu estou
feliz? - Ele disse sorrindo. - Faz
ideia de como eu me senti quando
liguei A mais B e percebi que todas
as vezes que eu fiquei com raiva ou
triste com você foi pelo
motivo errado?
Eu balancei a cabeça em negativa,
sem conseguir conter a minha
felicidade por ouvir isso. Eu
finalmente estava livre.
Pena que pra isso o Nicolas quase
morreu.
-Ei, não fique assim... - O Joshua
disse quando notou minha
expressão. - Minha mãe não vai
deixar
ele longe por muito tempo, o
Nicolas sempre foi seu preferido.
-E quem é o preferido do seu pai?
-Eu. - Ele disse um pouco frio.
Eu não queria continuar o assunto,
então o beijei. E ele retribuiu com
força total, me puxando pra
cima pela cintura.
-Você nunca namorou o Felipe. -
Ele sussurrou mais para si mesmo
do que para mim, então começou
a distribuir beijos pelo meu
pescoço, me arrepiando. - Você
beijou o Nicolas para defendê-lo. -
O
Joshua continuou, fechando os
olhos e eu fechei os meus também,
enquanto sentia sua boca dando
leves mordidas na minha.
-J-Joshua, e-eu... - Eu não
conseguia terminar a frase, minha
voz parecia um gemido.
Sua boca voltou para minha e nos
beijamos intensamente, suas mãos
desceram para meu quadril e ele
me puxou mais para perto.
-Olha como você me deixa. - Ele
disse ajeitando o quadril para que
eu pudesse sentir seu membro
duro como uma rocha, o que me
deixou tão excitada que eu tive que
morder o lábio inferior para me
controlar.
-Eu ainda não estou pronta. - Eu
disse sem folêgo.
Abrimos os olhos ao mesmo tempo.
-Eu posso esperar. - Ele disse
sorrindo e se afastou um pouco de
mim.
-Mas, ainda podemos nos beijar
loucamente como se não houvesse
amanhã. - Eu falei, tentando ao
máximo não decepcioná-lo
-Sei disso. E é exatamente o que
vamos fazer.
Ele sorriu malicioso e sua mão
esquerda desceu até minha coxa.
-Mas não me julgue se eu não
conseguir me controlar
completamente.
Eu ri baixinho e voltamos a nos
beijar.
[...]
Acordei com o movimento do
Joshua na cama.
Me levantei assustada, vasculhando
no meu cérebro alguma coisa que
eu possa ter feito com ele. Mas
não encontrei nada, apenas beijos e
mais beijos, algumas mãos bobas e
sorrisos perfeitos.
-Susan?
Eu me virei e vi um Joshua
morrendo de sono acordando
devagar, então seus olhos se
arregalaram.
-Eu não me lembro de ter feito nada
demais com você. - Ele disse se
levantando também.
Ele estava sem camisa, deixando a
amostra seu corpo, que parecia ter
sido esculpido por um artista
brilhante. Joshua era tão lindo que
uma parte de mim chegava a pensar
que nunca iria me acostumar
com isso.
-Você não fez mesmo não. - Eu
disse sorrindo e dando um selinho
nele.
-Ufa, nem eu sabia que tinha tanto
autocontrole.
Eu ri e revirei os olhos.
-Nunca vou deixar de amar quando
você faz isso. - Ele falou sorrindo e
sua covinha única apareceu.
Seu cabelo loiro estava
desarrumado e sua cara gritava
sono. Mas ele parecia perfeito.
-Odeio quando você fala essas
coisas meigas e eu fico sem graça! -
Eu disse fingindo indignação.
-Odeia nada. - Ele falou e então
olhou para o relógio na parede. -
São quase 6 horas, é melhor você
ir pro seu quarto.
Eu fiz que sim com a cabeça e ele
me deu um último beijo antes de eu
sair e entrar no elevador.
[...]
-Não acredito que o seu pai fez
isso!
Eu mal tinha descido as escadas e
já conseguia ver o que estava
acontecendo na sala, o Joshua
estava contando sobra a noite de
ontem para a mãe.
-Eu sei... Você precisa fazer alguma
coisa!
-Eu vou fazer, amanhã mesmo o
Nicolas já vai estar de volta. - A
Dona Nicole disse decidida e eu
entrei na sala meio hesitante, mas
ela sorriu ao me ver. - Oi Susan!
-Oi Dona Nicole...
-Vai tomar café com o Michael, já
já eu libero o Joshua da conversa e
vocês vão pra escola.
Eu assenti com a cabeça e entrei na
cozinha, o Michael estava sentado
na mesa, de frente pra mim.
-Olá. - Ele disse indiferente e eu
me sentei na frente dele, nem um
pouco afim de conversa.
-Só quero comer, ok?
-Joshua vive dizendo isso, só que
normalmente se refere as garotas.
Meu sangue começou a ferver de
raiva no mesmo segundo.
-Cala a boca, se eu chamar ele aqui
você perde toda essa coragem em
um segundo!
-Você sabe que eu ainda não
desistir de fazer vocês se
arrependerem. Eu posso ser muito
cruel. - Ele disse ameaçadoramente
e eu fingi não me importar nem um
pouco.
-Que medinho. - Eu disse irônica.
Ele sorriu, mas não respondeu. Em
vez disso, nós comemos em
silencio por uns 5 minutos, quando
o
Joshua entrou na cozinha.
-Vamos.
Fui no banco do passageiro, ficar
perto do Joshua era extremamente
bom, mas a viagem da casa até a
escola foi sem graça. Sem o
Nicolas aquele carro parecia
estranhamente vazio.
Saltei do carro quando chegamos e
dei um selinho no Joshua ao sair,
ignorando completamente o
Michael no banco de trás. Também
ignorei os olhares na minha direção
e entrei na escola sem me
virar nenhuma vez.
Então eu vi o Felipe e o Nicolas
conversando animadamente do
outro lado do campo e corri até lá.
-SOPHIA! - Eles deram um gritinho
animado e me abraçaram ao mesmo
tempo.
-Me contem tudo que aconteceu
ontem!
-Meus pais aceitaram tudo de boa,
eles até gostaram do Nicolas. - O
Felipe disse sorrindo e passou a
mão na cintura do Nick.
-Ei, quanta demonstração de afeto. -
Eu disse estranhando.
O Nicolas sorriu.
-Vamos assumir nesse intervalo!
Eu pensei em todas as coisas que
poderiam dar errado e torci com
todo o meu coração para que elas
não acontecessem.
O Nicolas merecia ser feliz.
15. Um ótimo dia
- Boa sorte! – Eu falei sorrindo e
eles sorriram de volta.
- Obrigado Susan, provavelmente
vai ser no intervalo, então corra pro
refeitório assim que sair da
sala. – O Nicolas disse e eu notei
um tom autoritário no fundo da sua
voz. Às vezes eu esquecia que
ele também era um Hunter.
- Ok, mas agora eu preciso ir pra
aula. – Eu abracei os dois ao
mesmo tempo. – Amo vocês.
- A gente também te ama! – O
Felipe disse acenando enquanto eu
ia em direção ao outro lado do
campo.
Corri até chegar no corredor da
escada, quando vi que a Elena, a
Amanda e a Bia estavam sentadas
no chão, conversando.
- SOPHIA!! Vêm sentar com a
gente. – A Amanda gritou sorrindo
assim que me viu e eu sentei ao
lado dela.
- Oi, tudo bem com vocês?
- VOCÊ QUE TEM QUE DIZER! O
QUE FOI AQUILO ONTEM? – A
Amanda perguntou
arregalando os olhos e eu ri com a
empolgação dela.
- Seja discreta. – A Bia disse
olhando com censura pra Amanda.
- Ai minha gente, deixem a menina
falar. – A Elena completou
chegando mais preto de mim, seus
olhos brilhando de curiosidade.
- Acho que vocês vão descobri tudo
no intervalo.
- AH NÃO, DIZ AGORA!! – A
Elena e Amanda gritaram juntas.
- Vocês duas parem, a gente espera
até o intervalo. – A Bia disse
sorrindo, então se levantou. –
Agora vamos pra sala, é aula do
professor mais lindo do Brasil.
Cavalcante. É claro.
Um sorriso malicioso surgiu no
rosto da Elena.
- Por isso que eu adoro história!
- Mas ele dá aula de Química. – A
Bia disse confusa.
A Elena deu uma piscadinha.
- Não tem como prestar atenção EM
NADA com aquele gostoso
escrevendo no quadro.
Eu ri, mas enquanto estava subindo
as escadas comecei a pensar se
seria assim quando o Joshua
fosse professor. Porque, mesmo o
Professor Cavalcante sendo lindo,
o Joshua era perfeito. Meu
sangue ferveu só de pensar em um
monte de alunas chamando ele de
gostoso nos corredores.
Assim que entrei na sala, vi o Edu
conversando com um menino que eu
ainda não tinha conhecido e
com a Mônica, que parecia muito
triste.
Depois de tudo que aconteceu
ontem à noite, eu acabei
esquecendo o jeito como as coisas
terminaram
entre ela e o Nicolas.
- Susan, se junte a gente! – O Edu
acenou assim que me viu e me
lançou um sorriso tão brilhante que
parecia de comercial.
- Oi... – Eu disse entrando na
rodinha deles, meio sem graça por
causa da Mônica.
- Oi! Você é a tão famosa Susan? –
O garoto desconhecido perguntou,
ele era bem bonito, com um
cabelo castanho e liso, que caia em
uma franja de um jeito sexy, olhos
cor de mel e uma boca que
meu Deus do céu...
- Creio que sim. – Eu disse rindo. –
E você quem é?
- Meu nome é Pedro, prazer em te
conhecer. – Ele disse sorrindo e eu
vi que ele tinha uma única
covinha, no mesmo lugar que a do
Joshua, só que mais profunda.
- Susan, podemos conversar?
Eu me virei para a Mônica, ela não
parecia me odiar tanto quanto eu
esperava.
- Claro...
Ela me puxou pela mão até um
canto vazio da sala.
- Me explique o que aconteceu
ontem.
Eu respirei fundo.
- Você vai entender tudo na hora do
intervalo.
- Mas...
- Confie em mim.
Seus olhos pousaram nos meus, ela
parecia lutar contra algum
sentimento.
Depois de um minuto ela assentiu
com a cabeça e foi se sentar ao
lado da Iza. Fui atrás dela e me
sentei na frente da Elena.
Então a porta se abriu e quase
consegui senti todas as meninas
perdendo a respiração.
- Bom dia. – O professor
Cavalcante disse entrando na sala
com uma camisa do Bayer de
Munique.
- Bom dia professor. – A sala
respondeu em coro.
- Merda, com esse bom dia eu já
tou excitada aqui. – Ouvi a Isabela
sussurrar baixinho para a Elena.
Mas, por um segundo, os olhos do
professor encontraram os dela e ele
sorriu com malicia.
- Puta que pariu ele ouviu o que eu
disse! – Ela disse quase sem emitir
som.
- Adoro demais. – A Elena disse
rindo.
- Bem, como o assunto de vocês é
fácil, eu decidi dificultar um pouco
as coisas. – O professor deu
um sorriso maldoso. – Vamos fazer
um super trabalho em grupo que vai
valer metade da nota.
Um murmúrio de surpresa passou
pela sala.
- E eu quero grupos com sete
pessoas, vocês têm 5 minutos. – Ele
disse indo se sentar com uma
postura perfeita e autoritária.
A Amanda, a Iza, a Isabela, a Clara,
a Elena e a Bia se juntaram no
mesmo segundo. Então notaram
que faltava uma pessoa. Eu ou
Mônica.
Elas se entreolharam, tentando
decidir quem escolher.
Não que eu fizesse questão, mas
seria melhor fazer o trabalho com
elas que eu já conhecia.
Antes que eu pudesse me mexer, a
Mônica se levantou.
- É claro que vamos fazer juntas! –
Ela disse na defensiva. – Nós
fazemos trabalhos juntas desde que
tínhamos uns 13 anos.
A Bia deu um passo à frente e abriu
a boca para falar – provavelmente
para dizer que iria escolher a
Mônica - mas então a Clara deu um
grito:
- A GENTE TEM QUE
ESCOLHER A SOPHIA!
Todo mundo da sala olhou para ela.
- Nós já fomos um milhão de vezes
para a casa da Mônica, mas
nenhuma de nós já entrou na mansão
Hunter... – A Clara continuou em
um tom bem mais baixo.
- Até que faz sentido. – A Iza disse
baixinho.
- Então ta decidido: Vamos com a
Susan! – A Bia deu a palavra final e
todas as meninas deram um
pulinho.
A Mônica bufou e foi para o grupo
do Edu.
- Acabou o tempo. Agora quero que
cada grupo faça uma rodinha e
decidam ontem vai ser a primeira
reunião. – O professor disse se
levantando e indo para a frente da
sala, ajeitando levemente sua
camisa para deixar seus músculos
ainda mais definidos.
Fizemos o que ele mandou e eu e as
meninas chegamos na conclusão
que era melhor nos reunimos
essa tarde, na mansão dos Hunter.
Uma parte de mim ficou um pouco
preocupada com a reação do
Senhor Fernando e da Dona Nicole
quando eles virem que eu chamei
geral para fazer um trabalho
sem a permissão deles.
[...]
- Não importa quantas aulas
irritantes de português tenham
depois de química, o meu fogo pelo
Cavalcante não diminui nem um
pouquinho! – A Isabela comentou
sorrindo de um jeito pervertido
enquanto descíamos as escadas.
- Você devia aprender a controlar
essa sua pepeca. – O Edu disse
rindo e eu ri também.
- Falou o cara que não consegue
passar pela Mônica sem ficar de
pau duro. – A Isabela disse na
defensiva.
O Eduardo corou no mesmo
segundo.
- Ah, cala a boca.
- Ei, vamos para o refeitório. – Eu
disse para mudar o assunto e ver o
Nicolas.
Eu nunca tinha entrado no refeitório
da JK e meus olhos se arregalaram
no momento em que eu vi o
quanto era enorme, lotado de gente
e de mesas, e na extremidade tinha
um palco.
Andamos até sentarmos na mesa em
frente ao palco, uns 3 minutos
depois a Mônica, o Júlio e uns
amigos idiotas do Michael se
juntaram a nós.
Então o teacher Bernardo subiu no
palco e deu umas batidinhas no
microfone.
- Hi pessoas maravilhosas! – Ele
disse rindo e todo mundo (todo
mundo MESMO) aplaudiu. – Ai,
vocês são uns fofos. – Ele sorriu. –
Mas, quem merece esses aplausos é
o aluno do terceirão que quer
contar uma coisa para vocês.
Silencio. Ninguém tinha a menor
idéia do que poderia ser. Ninguém
a não ser eu.
- Vocês com certeza já devem ter
ouvido falar do lindo, gostoso e
extremamente sexy: NICOLAS
HUNTER! – Ele se afastou para o
lado e o Nicolas correu para se
juntar a ele.
Novamente todo mundo aplaudiu,
menos a Mônica.
O Teacher Bernardo abraçou o
Nicolas e depois saiu.
- Oi, tudo bem com vocês? – O
Nicolas perguntou sorrindo e ouvi
algumas respostas. – Eu também
estou bem, obrigado. – Ele parou e
seus olhos foram para uma mesa
atrás de mim, nem precisei me
virar para saber que o Felipe
estava naquela mesa. – Eu... Vim
aqui para tocar uma música. Uma
música para o grande amor da
minha vida.
O refeitório todo estava estático de
ansiedade. Quase conseguia ouvir a
pergunta que todos faziam na mente:
quem seria a garota?
O Nicolas respirou fundo e pegou
um violão e um banquinho.
- Eu amo você. – Ele disse para
alguém atrás de mim e depois
voltou a olhar para o resto das
pessoas. – O nome dessa música é
Friends, do Ed Sheeran. Gostaria
que acompanhassem a tradução,
ela descreve tudo.
Olhei ao redor e vi que vários
alunos pegaram o celular do bolso
e digitaram freneticamente o nome
da música. Mas eu já tinha ouvido
ela um trilhão de vezes.
Era a música mais Larry existente
na terra.
O Nicolas se sentou no banquinho,
ajeitou o violão e o microfone.
Então começou a cantar.
We’re not, no we’re not friends
(Não somos, não, nós não somos
amigos)
Nor have we ever been
(Nem nunca fomos)
We just try to keep those secrets in
the light
(Nós apenas tentamos manter esses
segredos à luz)
But if they find out, will it all go
wrong?
(Mas se eles descobrirem, tudo vai
dar errado?)
And heaven knows, no one wants it
to
(E o céu sabe, ninguém quer que
ele)
So I could take the back road
(Então, eu poderia tomar o caminho
de volta)
But your eyes will lead me straight
back home
(Mas seus olhos vão me levar de
volta para casa)
And if you know me, like I know
you
(E se você me conhece, como eu te
conheço)
You should love me, you should
know
(Você deve me amar, você deve
saber)
Friends just sleep in another bed
(Amigos apenas dormem em camas
separadas)
And friends don’t treat me like you
do
(E amigos não me tratam como
você faz)
Well I know that there’s a limit to
everything
(Bem, eu sei que há um limite para
tudo)
But my friends won’t love me like
you
(Mas meus amigos não me amam
como você)
No, my friends won’t love me like
you
(Não, meus amigos não me amam
como você)
Ele parou. Sua voz parecia a de um
anjo.
- Vocês devem estar se perguntando
pra quem é essa música. Eu poderia
responder, é claro, mas
prefiro que ele mesmo se levante.
Um murmúrio passou pelo
refeitório. Sabia o que todos
estavam gritando em suas mentes
confusas:
ELE FALOU ELE!
- Eu também amo você. – Ouvi a
voz do Felipe atrás de mim.
- AI MEU DEUS DO CÉU! –
Alguém gritou em algum lugar na
minha esquerda, mas nesse
momento
eu não conseguia desviar dos olhos
azuis e perfeitos do Nicolas, o jeito
como eles brilhavam de
amor era arrepiante.
O Felipe subiu no palco e sorriu.
- Eu também amo você. – O
Nicolas disse abraçando o Felipe.
– Ótimo, agora podem começar a
vaiar o amor gay.
Mas, em vez disso, eu bati palmas.
Isso pareceu acordar a todos de um
transe e em questão de
segundos todos estavam batendo
palmas e assobiando, alguns até
gritavam palavras de apoio.
Os olhos do Nicolas se encheram
de lágrimas.
- Vocês não vão vaiar? – Ele
perguntou sem acreditar.
- Eu iria.
Argh, aquela voz sempre
estragando tudo.
Todos se viraram em direção ao
Michael, que olhava seu irmão com
desprezo.
- Eu com certeza vaiaria isso
sempre. – Ele falou com nojo e
andou até ficar a 5 metros do palco,
então parou e sorriu. – Mas, não
dessa vez.
E meus olhos não acreditaram no
que viram a seguir: O Michael
bateu palmas com um sorriso de
felicidade no rosto, sem um pingo
de maldade.
Eu nunca vou entender esse menino.
- Obrigado irmão. – O Nicolas
falou quase sem voz por causa do
choro.
O Michael se curvou levemente.
- É por isso que eu amo esse
menino. – A Clara sussurrou para
mim e eu sorri.
Ele não é amável. Mas, talvez, não
seja tão ruim assim.
[...]
Voltei para a casa no carro da mãe
da Isabela, junto com todas as
outras seis meninas do trabalho em
grupo. Foi meio complicado para
todo mundo entrar, mas depois a
gente só fez ri da situação.
- AI MEU DEUS! – A Iza deixou
escapar assim que paramos na
frente da mansão Hunter. – É
gigante.
A Clara olhava sem acreditar.
- O Michael mora aqui. – Ela falou
para ninguém em específico.
- É Clara, cuidado para não babar!
– A Amanda disse rindo.
Entramos sem dificuldade já que o
portão estava aberto.
- Venham, deixa que eu mostro o
jardim. – Eu falei me sentindo
importante.
Mas, mal tínhamos começado a
andar quando eu vi alguém com um
cabelo dourado sentado no chão
ao lado de outra pessoa com o
cabelo muito preto.
- É o Joshua. – Eu falei sem
palavras para as meninas e nos
aproximamos deles em silencio.
De perto dava para sentir o cheiro
extremamente bom deles e também
dava para ver o quanto era
lindo o cabelo preto do cara ao
lado do Joshua, liso e desarrumado.
- Eu não sei o que fazer! – O Joshua
falou olhando para cima. – Eu
nunca senti isso por nenhuma
outra garota.
Senti meu coração apertar e desejei
que as meninas fossem embora para
eu poder ouvir tudo sozinha.
Mas, não tinha como eu mandar
elas saírem sem fazer barulho,
então não me mexi.
O cara de cabelo preto riu.
- Você ta fodido.
O Joshua balançou a cabeça em
negativa.
- Acho que não, ela também gosta
de mim. – Ele disse e mesmo de
costas dava para ver que ele
sorria. – Ela me ama.
- Então qual é o problema?
O Joshua respirou fundo.
- O problema é que eu não consigo
ver ela e não pensar em como deve
ser quando estivermos
fazendo amor.
O cara de cabelo preto explodiu
numa gargalhada.
- FAZER AMOR? Não acredito que
você disse algo tão gay! – Ele disse
rindo, então ficou sério. –
Espera ai, isso tem a ver com o
acordo que fizemos quando
tínhamos 11 anos?
- Exatamente.
- Você acha mesmo que a filha da
empregada é o grande amor da sua
vida? – Ele perguntou sem
acreditar.
- Eu não acho. – O Joshua fez uma
pausa e eu senti meu coração quase
parando. – Eu tenho certeza.
As meninas pareciam prestes a
desmaiar.
- Puta merda, eu preciso conhecer
essa garota! Não é qualquer uma
que faz você dizer algo gentil.
- Sei disso. – O Joshua sorriu. –
Acho que já já ela chega do
colégio. O que nos leva ao outro
problema: Ela ainda ta no segundo
ano do médio.
- Isso não é um problema! É até
bom, que ela ainda não sabe a
maldade do mundo e... – O cara de
cabelo preto se ajeitou. – Ainda
não acabou a puberdade.
A Clara abriu a boca para falar
alguma coisa, mas a Bia colocou a
mão para impedir no mesmo
segundo.
- Acho que não devemos ficar aqui
ouvindo. – A Bia disse sem emitir
som.
Eu concordava com ela, mesmo
querendo ouvir mais eu não iria
querer que o Joshua me ouvisse
conversando com outra menina
sobre ele.
- Merda, eu tou tão apaixonado que
juro por Deus que senti o cheiro
dela agora mesmo. – O Joshua
disse no segundo em que eu me
levantei.
Eu e as meninas entramos em
silencio na casa e nos jogamos no
sofá.
- Por que você não contou que
pegava o mais gostoso dos Hunter?
– A Elena perguntou indignada.
- Ele não é o mais gostoso dos
Hunter! O Michael que é! – A Clara
protestou deitando no colo da
Amanda.
- A gente só não tem mais o Nicolas
para escolher. – A Bia disse rindo e
todas as meninas riram
também.
- Vocês leram a tradução da
música? É tipo ai meu Deus,
observem eu saindo do armário! –
A
Isabela disse arregalando os olhos.
Eu e as meninas rimos ainda mais.
Então a porta se abriu.
- Susan!
Sorri no mesmo segundo. Primeiro
meus olhos foram para os do
Joshua, ele estava com uma jaqueta
preta de couro por cima de uma
camisa cinza meio colada que
destacava cada quadradinho de seu
tanquinho perfeito.
Então eu olhei para o deus grego ao
lado dele e meus olhos quase
doeram de tanta beleza: Ele era da
altura do Joshua, seus olhos azuis
um tom mais claro do que os do
amigo e o cabelo tão preto que
parecia noite, usava uma camisa
lisa e vermelha que combinava
perfeitamente com a pele branca
como a neve.
- Oi Joshua! – Eu disse sorrindo e
me levantei para abraçá-lo.
- Esse é meu amigo Bruno. – Ele
disse apontando para o cara
extremamente lindo ao lado dele. –
Eu
aprendi a conviver com ele antes
mesmo de aprender a falar!
Depois de abraçar o Joshua, eu me
virei para o tal Bruno, que me
olhava de baixo para cima com um
sorriso orgulhoso no rosto.
- Prazer em te conhecer. – Ele disse
sorrindo e me dando um abraço
rápido.
A Amanda tossiu baixinho e eu me
virei para as meninas.
- Ah, essas são as minhas amigas lá
da sala.
Eu apontei para cada uma delas e
disse seus nomes. O Joshua sorriu
gentil, mas assim que eu
terminei de falar os nomes delas ele
se virou para mim, sem demorar o
olhar em nenhuma das
meninas.
Ao contrário do Bruno, que parecia
ter entrado em uma espécie de
transe ao ver a Amanda.
- Nós viemos fazer o trabalho de
química. – A Iza disse corada.
- Ok, assim que vocês terminarem
gritem pela gente para conversamos
um pouco. – O Joshua disse
sorrindo, então se virou para mim e
me deu um selinho.
As meninas se seguraram para não
gritar um awwwwn.
E no segundo em que eles saíram da
sala, elas começaram a fazer
centenas de perguntas.
[...]
- Então você é solteira? – O Bruno
perguntou para a Amanda assim que
sentamos-nos à mesa.
O Joshua colocou o braço no meu
ombro.
- Sou... – A Amanda meio sem
graça.
- Isso não faz o menor sentido. – O
Bruno falou em um tom de
indignação misturado com
felicidade.
– Mas, eu tenho uma pergunta ainda
melhor para fazer, dessa vez para
todos na mesa.
- Diga ai. – Eu falei.
- Vocês sabem que amanhã é
feriado, não é? – Ele perguntou e
todos assentiram. – Pois, hoje eu
vou
fazer uma festa na minha casa e
adoraria que vocês fossem. – Ele
fez uma pausa e se virou para
Amanda. – Principalmente você.
- Vamos? – Eu perguntei para o
Joshua.
- Claro, mas lá tem bebida e...
- Isso não é problema! – A Isabela
disse rindo.
- Ah, e o professor de química de
vocês também vai estar lá.
- Melhor ainda! Essa noite promete.
– A Elena disse sorrindo com
malícia.
16. Festa do Bruno
-VAMOS SOPHIA, EU NÃO
TENHO A VIDA TODA! - A Clara
gritou enquanto batia
freneticamente na porta do
banheiro.
Assim que o Bruno acabou de
explicar onde ficava a casa dele
para mim e as meninas, o Michael
chegou da escola e acabou sendo
convidado para a festa também,
isso fez com que a Clara tivesse a
ideia genial de ir comigo para a
festa e ainda dormir na minha casa.
Dei uma olhadinha no relógio da
parede, eram 20:00. Faltava uma
hora para a festa.
Entrei no boxe e liguei o chuveiro.
Meus pensamentos disparam, todos
tinham a ver com o Joshua.
Todos mesmo. Sobre como as mãos
deles eram fortes e firmes quando
estavam me segurando pela
cintura, como elas desciam sem se
importar com nada para o meu
quadril quando o beijo ficava mais
intenso, pedindo mais... Mais...
Comecei a ficar excitada, de um
jeito que nunca tinha ficado antes.
Era como se minha intimidade
precisasse daquele loiro o mais
rápido o possível, não só ela, o
meu corpo todo parecia implorar
para que eu saísse correndo desse
banheiro e fosse direto para o
quarto do Joshua.
-Apressa ai, meu Deus. - A voz da
Clara fez com que eu me tentasse
me controlar um pouco.
Tomei um banho rápido e escovei
os dentes, fazendo o máximo de
esforço para não olhar meu corpo
nu pelo espelho e começar a
imaginar as mãos do Joshua
percorrendo ele por inteiro...
-Finalmente. - Clara disse agoniada
assim que eu abri a porta do
banheiro. - Agora saia da frente que
eu tenho que ficar linda para o
Michael Hunter.
Eu revirei os olhos e fui direto para
o guarda-roupa, analisar minhas
opções. Todos os vestidos eram
lindos, mas quando os meus olhos
bateram em um preto meio curtinho
que era colado na parte de
cima e soltinho na parte de baixo eu
senti meu coração pulando de
emoção. Era esse mesmo.
Meia hora depois, a Clara chegou
usando um vestido azul e branco
que era tão lindo que eu
automaticamente me senti feia, mas
foi só por um segundo, porque eu
lembrei que Nicolas Hunter não
iria comprar algo que não fosse
genuinamente perfeito.
-As meninas disseram que chegam
daqui a pouco lá. - A Clara disse
enquanto lia alguma coisa no seu
celular.
-OK, então é melhor a gente descer
agora e apressar os meninos.
Ela sorriu radiante e saímos do
quarto.
Mal tinha tocado o ultimo degrau
quando senti uma mão me puxando
para o lado.
-Você tá linda. - O Joshua disse me
dando um selinho demorado. - Até
mais que eu, isso é um
absurdo!
Eu ri e me afastei um passo para
poder observá-lo direito. Ai Deus...
Será que algum dia eu vou me
acostumar com a beleza desse
homem? Meu olhos passaram pela
sua calça jeans preta e sua polo
branca, que deixava seus músculos
definidos ainda mais aparentes, e
foram direto para o par de
olhos azuis que eu mais amo nessa
vida, não pude deixar de sorri.
-Acho que é impossivel alguém
ficar mais lindo que você.
Ele mordeu o lábio inferior e olhou
para mim como se a coisa que ele
mais quisesse no mundo fosse
me beijar. E seria exatamente isso
que a gente faria se eu não tivesse
sentido um aroma irritantemente
familiar atrás de mim.
-Oi pombinhos. - O Michael disse e
eu me virei para encará-lo.
-Oi irmão. - Joshua respondeu com
frieza e passou a mão na minha
cintura. - Até que você não está
tão mal quanto eu imaginei.
Dei uma rápida olhada na roupa do
Michael, com uma camisa listrada
por baixo de uma jaqueta preta
que o deixava com uma ar de bad
boy sexy. Mas, mesmo assim eu
ainda preferia o Joshua e sua roupa
de cafajeste lindo e rico, o que na
verdade define bem a
personalidade dele - pelo menos
antes de me conhecer.
-Eu estou muito mais que nada mal.
- O Michael respondeu enquanto se
virava para encarar a Clara. -
Ah, oi Clara, nem te vi aqui. - Ele a
olhou de cima a baixo. - Você fica
muito mais bonita fora da
escola.
A Clara corou violentamente.
-O-obrigada Michael. - Ela disse
desviando os olhos dos dele.
-Agora que você já flertou com a
visita, será que podemos ir? - O
Joshua perguntou.
-Claro, você quem manda. - Senti
um quê de inveja no tom do
Michael, mas decidi ignorar isso.
Fomos até o carro do Joshua, que
fez questão de abrir a porta do
passageiro para mim, e um silencio
mortal tomou conta.
-Coloca uma música. - Eu sugeri ao
Joshua depois de uns 3 minutos de
silencio.
-Claro... - O Joshua deu uma
olhadinha na pilha de CDs. -
Alguma preferencia, Clara?
-Coloca ai Justin Bieber, ela tem
cara de que gosta dessas tralhas. -
O Michael disse com a
ignorancia de sempre.
E ela realmente gostava, dava para
saber pelo fato de o toque dela ser
Boyfriend, mas duvido que ela
fosse dizer isso depois do que o
Michael falou.
-Na verdade, eu adoro mesmo é
Nickelback. - Ela disse o mais
decidida o possível.
-Nós temos o CD deles. - Michael
falou e pelo seu tom de voz eu nem
precisei me virar para saber
que ele tava com um sorriso
travesso no rosto. - Ainda dá tempo
de desisitir.
-Dá pra parar de ser irritante? - O
Joshua disse pegando um CD do
Coldplay. - Você gosta de
Coldplay, né Clara? Se não gostar
tudo bem, eu pego outro.
Abaixei o espelho do passageiro
para ver a cara dela.
Ela estava olhando para o Joshua
sem acreditar. Não olhe para ele
assim, olhe para o Michael assim,
eu pensei irritada.
-Eu adoro Coldplay, obrigada
Joshua.
O Joshua sorriu e colocou para
tocar Paradise.
-Como você é meigo. - Eu sussurrei
para o Joshua, deixando todo o meu
ciumes escorrer pela minha
voz.
Ele sorriu ainda mais e tirou umas
das mãos do volante para segurar a
minha.
-Não acredito que você tá com
ciumes, você sabe que eu só tenho
olhos para você. - Ele disse
baixinho.
Eu revirei os olhos, mas minha
boca se curvou em um sorriso.
-Ei Joshua, tu soube o que nosso
irmão fez hoje? - O Michael
perguntou.
-Não tenho a menor ideia.
O Michael respirou fundo antes de
começar a contar tudo o que
aconteceu na hora do intervalo.
Tudo
mesmo, todos os detalhes como se
fosse um escritor de talento.
Assim que ele acabou, uma das
sobrancelhas do Joshua se ergueu.
-Pera ai, você bateu palmas? Isso
não faz o menor sentido.
-Eu não iria vaiar o Nicolas, nunca
faria isso. Eu gosto dele. - O
Michael disse deixando uma frase
não dita no ar: Mas, eu não gosto de
você. Muito menos da sua peguete
ridicula.
-Todo mundo gosta do Nicolas, ele
é extremamente adorável. Pena que
alguém fez com que ele fosse
expulso da nossa casa. - O Joshua
disse de uma vez só e eu imaginei o
quanto isso soou estranho para a
Clara.
-A Susan que deu essa ideia, não
fale como se eu fosse culpado.
-VOCÊ É CULPADO! - Eu gritei
indignada. - ELE IRIA MORRER
SE EU NÃO TIVESSE
SUGERIDO ESSA IDEIA!
-Não precisa gritar, meu amor. - O
Michael disse cínico.
-Nunca mais chame ela de meu
amor. - Joshua falou frio sem tirar
os olhos da estrada.
A Clara acompanhava tudo sem
piscar, então seus olhos
encontraram os meus e ela parecia
gritar
interrogações.
-Pare de falar comigo como se
tivesse autoridade sobre mim.
O Joshua freou o carro e se virou
para o irmão, os olhos brilhando de
raiva.
-Eu tenho. Não fale como se não
soubesse disso.
O Michael bufou.
-Por isso que as pessoas preferem o
Nicolas. - Ele disse irritado.
Mas em vez de responder alguma
coisa, o Joshua sorriu e se virou de
novo para a rua.
-Nem se você vivesse mil vidas
iria ser tão bom quanto o Nicolas. -
O Joshua respondeu e deu a
partida no carro.
Uma música e meia do Coldplay
depois, o Joshua estacionou o carro
em frente a uma mansão cheias
de luzes neon.
-Hey! - O Bruno gritou para nós.
Saímos do carro e fomos para o
onde o Bruno estava com as
meninas da minha sala e alguns
meninos
do terceirão que eu já tinha visto no
intervalo.
-CLAIRE!! SOPHIA!! - A Isabela
gritou enquanto dava um abraço em
nós duas ao mesmo tempo, ela
tava com um vestido vermelho meio
curto que a deixava com um ar sexy
e extremamente ousado.
Aposto que o professor Cavalcante
vai adorar.
-AI MEU DEUS AMIGA, VOCÊ
TÁ LINDA! - A Clara disse se
afastando dela para dá uma olhada
enquanto a Isabela dava uma
rodadinha.
-Sei disso, tudo pela química. - A
Isabela disse com um tom cheio de
malícia.
-Ai ai, mal chegaram e já tão
falando putaria. - A Bia disse rindo
e balançando a cabeça em
desaprovação.
-Deixe elas, não faz mal. - O Bruno
falou rindo também, então seus
olhos pousaram no portão da
frente. - A Amanda vai vim, não é?
Eu preparei uma surpresa para ela.
-Ela e a Elena chegam juntas daqui
a pouquinho. Pode me contar qual é
a surpresa? - A Clara disse
curiosa.
-Vocês vão ver, por hora eu só digo
uma coisa: Eu passei o dia todo
pensando em como deve ser tê-
la nos braços.
-AIN QUE FOFO! - O Joshua disse
rindo da cara do amigo. - E depois
o meloso sou eu.
O Bruno revirou os olhos.
-Pelo menos eu tento me controlar
para não falar dela o tempo todo,
ao contrário do senhor, não é
Joshua Montenegro?
As meninas e eu rimos da cara de
surpresa do Joshua.
-Ah, cale essa um boca, ou eu vou
corar aqui.
-Seria muito lindo ver você coran...
PUTA MERDA, É ELA NAQUELE
CARRO? - O Bruno gritou e
saiu correndo em direção ao carro
branco que tinha acabado de
estacionar.
-Merda, eu conheço esse carro. - O
Joshua disse fechando o punho. -
Vamos entrar minha gente, não é
uma pessoa agradável.
Pelo tom da sua voz eu já tinha uma
ideia de quem poderia ser.
-Não Joshua, vamos ficar e esperar
a Amanda e a Elena. - Eu disse
decidida. Não iria deixar aquela
garota estragar a noite.
Assim que eu terminei de falar, a
porta do passageiro se abriu a Jane
Ruiva saiu do carro com um
vestido azul.
Respirei fundo.
-Oi Joshua. - Ela disse sorrindo de
um jeito maldoso assim que o
Bruno a colocou dentro da rodinha.
Dei uma olhadinha em volta e vi
que o Michael não estava mais
entre nós... Eita porra, a Clara
também tinha ido embora.
-Por que você convidou ela? - O
Joshua perguntou irritado para o
Bruno.
-Eu não convidei. - Ele respondeu.
- Eu convidei o irmão mais novo
dela.
A Jane revirou os olhos.
-Tanto faz, eu vim. - Ela deu um
passo na direção do Joshua. -
Lembra desse vestido?
Ele olhou para ela com desprezo.
-Lembro, você usou no dia em que
deu para mim sem nem mesmo
perguntar meu nome.
-Ai carai, segura essa vadia! - A
Isabela disse animada e a Bia olhou
para ela com censura por um
segundo, então um sorriso brotou no
seu rosto.
-Quem é você para falar assim
comigo? - A Jane perguntou para o
Joshua e a Isabela ao mesmo
tempo.
-EU sou um cara que adoraria te
ver embaixo de um trem e ELA é
amiga do amor da minha vida, ou
seja, não é um verme irritante como
você. - O Joshua respondeu com
frieza.
A Jane abriu a boca para falar, mas
a Bia deu um passo a frente.
-Quer uma dica? Acho que melhor
você sair daqui antes de ser ainda
mais humilhada.
E para a surpresa de todos, ela
bufou e saiu.
-Como você fez isso? - O Bruno
perguntou para a Bia sem acreditar.
-Ela tem o dom de fazer as pessoas
saírem com o rabo entre as pernas.
- A Iza disse rindo e eu
percebi que ela tinha ficado em
silencio esse tempo todo.
A Bia sorriu orgulhosa.
-Ei Bruno, acho que agora sim é a
Amanda. - A Clara disse apontando
para um carro vermelho que
estava estacionando.
O Bruno sorriu no mesmo segundo
e ajeitou a camisa. Ah, esqueci de
dizer que ele estava parecendo
um astro do rock com uma camisa
branca lisa combinada com uma
jaqueta preta de couro, que
destacava seus olhos azuis.
Ele correu até o carro e segurou a
porta do passageiro para a Amanda
passar. Mesmo de longe, dava
para ver que ela estava linda e
Elena não ficava atrás, as duas
pareciam ter saído de um programa
de TV.
Os três vieram correndo para onde
estávamos, a Amanda ria alto com
alguma coisa que o Bruno tinha
dito.
-Ai meu Deus, você é muito
engraçado. - Ela disse dando um
empurrão de leve no ombro dele,
que
parecia estar explodindo de
felicidade.
-E você é linda. - Ele disse ficando
sério e olhando fixamente para ela
com aqueles olhos azuis de
outro mundo.
Ela corou um pouquinho.
-Você também não está nada mal. -
Ela mordendo o lábio inferior.
-Quanto tempo para ele pegar ela
de jeito? - Eu sussurrei no ouvido
do Joshua.
-Não use esse palavreado, nunca vi
o Bruno olhando assim para nenhum
outra garota. - Ele sussurrou
de volta.
-Ei minha gente, vamos ficar a noite
toda do lado de fora é? - A Isabela
perguntou agoniada.
A gente riu e entrou na mansão.
AI MEU DEUS, estava lotado de
gente, com luzes vindo de toda a
parte e um globo estilo anos 70 no
teto, o que combinava perfeitamente
com a música alta de eletronica que
vinha de um DJ na
extremidade lado da sala enorme.
-Senhor do céu, que casa é essa? -
A Elena perguntou arregalando os
olhos.
-Ah, meu pai é sócio do tio
Fernando.
Isso explicava tudo.
Tinha uma parte para bebida e um
barman do lado esquerdo da sala e
foi exatamente para ai que a
Isabela se dirigiu. Eu e as meninas
seguimos ela.
-Ei Susan, eu e o Bruno vamos falar
com os nossos amigos da
faculdade, depois eu volto para
você. -
O Joshua disse e depois me beijou
rapidamente, mas com um
intensidade que ele só ele
conseguia
alcançar. - Já disse que te amo?
Eu sorri.
-Deve ter comentado.
Ele sorriu também e me deu um
último selinho antes de sair ao lado
do amigo.
Eu e as meninas sentamos em uma
mesa em frente ao barzinho dentro
da casa.
-Amanda, O QUE FOI AQUILO
ENTRE VOCÊ E O DEUS
GREGO, VULGO BRUNINHO? -
A
Isabela disse gritando por causa da
música alta.
A Amanda sorriu e depois revirou
os olhos.
-Nada menina, ele deve fazer issso
com todas as garotas.
-Nada a ver, o Joshua me disse que
ele nunca olhou assim para
ninguém. - Eu falei.
-Então Bruno Junior vem ai! - A
Elena disse rindo.
-Vão querer alguma bebida? - Um
garçom extremamente lindo
perguntou com um bloco de
anotações
na mão. Ele tinha um cabelo
castanho claro que combinava
perfeitamente com um par de olhos
verdes e um corpo que faz eu
querer agradecer a Deus por Ele ter
me dado visão.
-Tem você no cardápio? - A Elena
perguntou com um sorriso
pervertido.
O garçom a olhou com malícia.
-Por hora não, mas meu turno
termina daqui a pouco. - Ele disse a
olhando de cima a baixo com
desejo, então se virou para o resto
de nós. - E vocês?
-Trás vodka e tequila. - A Isabela
disse com os olhos brilhando.
-Nada disso. - A Bia falou cruzando
os braços.
-Vai Bia, deixa dessa, vamos curtir
um pouquinho... - A Isabela disse a
olhando com súplica.
-É Bia, deixa dessa. - O garçom
disse rindo.
A Bia bufou, mas deu um
sorrisinho.
-Tá, traga todo o seu estoque.
Em menos de cinco minutos o
garçom voltou com o que a gente
pediu, olhando fixamente para
Elena.
-Mais alguma coisa?
-Bem que seu turno poderia acabar
agora mesmo. - A Elena disse
mordendo o lábio inferior.
Ele a olhou por um segundo então
se virou para o barman.
-Ei chefe, posso voltar daqui a
pouco?
O barman sorriu malicioso.
-Tente não demorar muito.
-Não prometo nada. - O garçom
disse e puxou a Elena pela mão. -
Qual seu nome mesmo?
-Elena.
-Oi Lena, meu é Lion, mas todo
mundo me chama de Junior.
-Não É Lena! - Ela disse rindo. - É
Elena, entendeu?
O Junior corou no mesmo segundo.
-Agora eu fiquei com vergonha.
Eles riram e depois ele a puxou
pela cintura até entrar em uma porta
perto da última mesa.
-Agora que eles foram se comer,
vamos beber até cair. - A Isabela
disse enchendo um copo de tequila
para cada uma.
Eu nunca tinha bebido antes, então
uma ansiedade borbulhou no meu
estômago quando eu peguei o
meu copo e brindei com as
meninas.
A bebida desceu como fogo pela
minha garganta, mas não foi
exatamente ruim. E no mesmo
segundo
em que eu virei o copo meu corpo
pediu por mais.
-Proxima!
-Olha pra Susan, já é uma de nós. -
A Amanda disse rindo, mas a Bia e
a Iza não pareciam muito
animadas para beber.
-Seguinte, eu e Izinha vamos dançar
enquanto vocês enchem a cara, ok?
- a Bia disse se levantando e
puxando a Iza pela mão.
-Sobrou nós três. Vamos fazer
assim: Quem beber mais ganha! -
Isabela disse rindo e enchendo
copos
com vodka para nós.
E assim começou uma competição,
cada uma bebendo sem parar,
mudando de tequila para vodka em
intervalos de segundos.
Então a Isabela deu um grito.
-AI MEU SENHOR JESUS
CRISTO, VOCÊS VIRAM QUEM
PASSOU POR ALI? - Ela disse
apontando para um corredor
extenso do outro lado da sala.
Eu forcei minha vista e vi quem
era: O professor Cavalcante.
Corremos na direção onde ela
apontou e vimos ele encostado na
parede do corredor, bebendo um
liquido transparente.
A Isabela ajeitou o vestido para
ficar no meio das coxas.
-Fiquem ai e observem.
Eu e Amanda assentimos com a
cabeça.
-Oi professor. - A Isabela disse
com um voz cheia de malícia
enquanto andava até ficar na frente
dele.
-Oi Isabela. - Ele a olhou para o
decote dela por um segundo. - Belo
vestido.
-Obrigada, eu coloquei exatamente
para você tirar. - Ela disse dando
uma passo a frente, colando seu
corpo com o dele.
O professor arregalou os olhos.
-Isabela, eu sou seu professor, não
posso ter esse tipo de relação com
você. - Ele disse afastando ela com
delicadeza.
-Ah, sendo assim me responda uma
pergunta. - Ela disse usando um tom
de ingenuidade que eu não
sabia que ela tinha.
-O que você quiser.
-Por que você escolheu dá aula de
química podendo falar de coisas
religiosas? - A Isabela perguntou
inclinando a cabeça como uma
criancinha pequena.
-Não gosto muito de religião.
Ela sorriu.
-Mas eu adoro, na verdade... - Ela
se ajoelhou na frente dele. - Eu
sempre me ajoelho para rezar.
Ele levantou uma sobrancelha e eu
notei o volume de sua calça
aumentando.
-Se levante ou...
-Ou o que? - Ela aproximou sua
boca do ziper dele. - Ou você vai
me foder?
Ele a levantou pelos ombros e em
um movimento rápido a colocou
contra a parede.
-A palavra certa é penetrar e se
você continuar me olhando assim é
exatamente isso que eu vou fazer.
- Ele disse colocando uma mão de
cada lado dela na parede.
-Então eu vou te olhar assim pelo
resto da noite. - A Isabela disse
com uma voz rouca.
Ele respirou fundo.
-Você tá bêbada.
-Eu sei disso, mas eu não vou
bêbada para escola e mesmo assim
sinto vontade de dá para você toda
manhã.
-Já chega. - Ele a puxou pela
cintura. - Eu vou foder você
brutalmente e repetidamente.
Ela sorriu provocativa.
-A palavra certa é penetrar.
Ele abriu a porta mais proxima e
puxou ela para dentro.
-Ai meu Deus, o que foi isso? - A
Amanda perguntou para mim assim
que eles saíram de vista.
-Eu não faço a menor ideia, mas
que eu fiquei excitada com isso eu
fiquei.
-Imagina ela. - A Amanda disse
rindo.
-ALÔ MEU POVO? GOSTARIA
DE ATENÇÃO AQUI.
Nós viramos a tempo de ver o
Bruno do lugar do DJ, falando no
microfone.
-A Amanda TÁ AI EM ALGUM
LUGAR?
Ela sorriu e correu para ficar bem
no meio sala, onde todos tinha
deixando um espaço para ela.
-AH, OLHA VOCÊ AI. - Ela sorriu.
- TÁ GOSTANDO DA FESTA?
-Adorando. - Ela disse corando, já
que todos olhando para ela nesse
momento.
-TEM COMO VOCÊ DÁ UMA
SUBIDINHA AQUI NO PALCO?
Ela assentiu com a cabeça e correu
para ficar ao lado dele.
O Bruno sorriu e a colocou sentada
em uma cadeira ao lado do DJ.
-Então minha gente, agora que eu
posso parar de gritar, eu gostaria de
fazer uma perguntinha a vocês.
Alguém aqui acredita em amor a
primeira vista?
Algumas pessoas responderam.
-Eu não, pelo menos não até hoje de
tarde quando eu tava na casa do
meu melhor amigo e vi essa
menina linda que tá sentada aqui. -
Ele fez uma pausa e se virou para a
Amanda. - Mas, depois que eu vi
ela eu mudei totalmente de opinião,
principalmente a opinião de que
japas não são sexys.
Então a bebida começou a fazer
efeito e eu fiquei meio tonta, corri
para fora da casa e esbarrei em
alguém.
-Ei cuidado... Susan! - O Joshua me
segurou pelos ombros. - Você tá
bem?
-Sim, foi só uma tonteira.
Ele sorriu e me puxou pela cintura.
-Tá gostando da festa?
-Poderia ser melhor se a gente
saísse agora mesmo e fosse para um
quarto. - Eu disse sem pensar.
Ele levantou uma sobrancelha.
-Tem certeza disso? Olha que eu
aceito e vou mesmo. - Ele deu um
risinho malicioso.
A bebida começou a falar por mim.
-Certeza absoluta, chega de
autocontrole.
Suas mãos desceram para o meu
quadril.
-Eu não quero colocar pressão.
-E eu quero que você me coma até
dizer chega. - Eu disse sorrindo de
um jeito pervertido.
-Eu nunca vou dizer chega. - Ele me
puxou ainda mais para perto. -
Nunca mesmo.
-Então vamos agora para o seu
carro, ok?
Ele fez que sim com a cabeça e eu
comecei a me senti tonta de novo,
tudo começou a ficar embaçado.
-Susan...?
Então eu desmaiei.
✣Joshua✣
Meu pau já tava duro desde que eu
vi que foi ela que esbarrou em mim.
Então ela começou a falar aquelas
coisas e eu vi todos os meus
desejos estavam realizados. Eu
finalmente iria fazer amor com a
Susan. Sim, eu disse FAZER
AMOR, isso faz parte de uma
promessa que eu fiz com o Bruno
quando tinhámos 11 anos: Com
todas as garotas usaríamos o termo
"foder", mas quando a gente
encontrar o grande amor na nossa
vida vamos mudar para "fazer
amor".
Acho que isso já explica tudo.
E eu já estava prestes a levá-la
para meu carro - e provavelmente
pegar ela ali mesmo - quando ela
desmaiou e por pouco eu não a
deixei cair no chão por causa da
minha surpresa.
Coloquei ela nos meus braços e seu
vestido subiu até o meio das suas
coxas. Mordi o lábio inferior
para não passar a minha mão pela
aquelas pernas.
-Ain Joshua... - Ela gemeu
baixinho.
Merda. Como eu vou levar ela para
casa sem fazer nada? Como eu vou
controlar meu pau? Merda,
merda, merda.
Essa noite vai ser longa.
17. Autocontrole de uns...
✣Joshua✣
Olhei ao redor e vi que não tinha
ninguém, que pudesse me ajudar –
ou fazer com que eu me
controlasse mais – e suspirei.
Estava por minha conta. Eu não
podia entrar na festa e pedi para
alguém levar a Susan para casa,
porque 1) Eu não confiaria a Susan
inconsciente à ninguém, muito
menos à outro homem, 2) Isso iria
estragar a festa do meu melhor
amigo e 3) Não iria pegar bem para
Susan ficar sendo conhecida como
"a garota que desmaiou depois de
beber demais". E ainda tem um
bônus: E se ela gemesse meu nome
de novo? Não colocaria a Susan
numa situação tão
constrangedora. Se bem que ela não
é a primeira garota que geme meu
nome enquanto dorme...
Balancei a cabeça tentando afastar
esse pensamento. Era o pensamento
do antigo Joshua, o que nunca
tinha experimentado nada como
amor antes.
Ajeitei ela para que desse pra abrir
o carro e a coloquei delicadamente
no banco do passageiro,
ajustando o cinto e deitando o
banco para ficar o mais confortável
o possível. Mesmo sabendo que
ela estava desmaiada.
Seu vestido subiu ainda mais e
agora estava quase aparecendo sua
calcinha. Levante o olhar, levante
o olhar, vamos Joshua... Você
consegue. Eu tive que lembrar a
mim mesmo e com muita
concentração
- muita mesmo, tanta que eu tive
que estreitar os olhos para
conseguir - eu mantive meu olhar no
rosto da Susan, naquela boca
desenhada com perfeição que dava
o melhor beijo do mundo. Suspirei.
Como
ela conseguia me deixar assim?
Depois de analisar a Susan por um
tempinho, eu entrei no lado do
motorista, dei a partida no carro,
coloquei um CD do 30 seconds to
mars pra tocar e fui direto para
casa.
Umas quatro músicas depois,
estacionei e tirei a Susan de dentro
do carro do jeito mais gentil
possível, para não machucá-la. O
portão estava aberto e eu levei a
Susan no colo até chegar na porta
da casa, onde eu a coloquei em pé e
a segurei com uma mão enquanto a
abria a porta com outra.
Não tinha ninguém na sala de
entrada. Pelo relógio da parede
dava para ver que ainda era 1:00.
Eu
ainda teria a madrugada toda pela
frente. A madrugada toda de
autocontrole.
- Ok, vamos lá. - Eu murmurei pra
mim mesmo enquanto subia as
escadas, tomando cuidado para
nenhuma parte do corpo dela tocar
na parede.
Fui direto para o último andar.
Minha cabeça doeu levemente
quando eu lembrei que fiz drama
para
não deixar a nova empregada e a
filha dela dormirem no mesmo
andar que eu, meus irmãos e meus
pais. O que aquele Joshua tinha na
cabeça? Não era à toa que o
Michael era um idiota às vezes. Ele
não encontrou uma Susan para
colocá-lo no eixo.
Empurrei a porta com as costas e
por sorte a luz já estava ligada.
Andei até a cama da Susan e a
coloquei deitada lá, ajeitando os
travesseiros.
E agora? Perguntei pra mim mesmo,
agora você passa o resto da noite
tentando controlar esse pinto.
Não posso dizer que estou surpreso
com a resposta.
Peguei uma cadeira e coloquei em
frente à cama, para o caso de ela
acordar em algum momento da
noite.
Fiquei olhando pro teto por alguns
minutos, então um tédio enorme me
atingiu. Eu tinha que conversar com
alguém. Minha mão foi direto para
o celular e eu disquei o número da
única pessoa que poderia
me ajudar numa hora dessas.
- Vamos Bruno, atende essa porra...
Eu sei que estava sendo egoísta.
Nesse momento era bem provável
que ele estivesse com a Amanda.
Mas não mudei de ideia, eu queria
mesmo alguma distração – tava
cada vez mais complicado não
descer o olhar para o corpo da
Susan.
Depois de chamar umas 200 vezes,
o Bruno finalmente atendeu.
- Oi Joshua, o que aconteceu? -
Pelo tom dele eu notei que ele
estava apressado para desligar.
- Longa história, mas se você puder
dá uma passadinha na minha casa
para me ajudar a...
- Joshua, você sabe que eu sou seu
melhor amigo, não sabe? - Ele me
cortou no meio da frase. - E
que você pode contar comigo para
tudo sempre?
Eu revirei os olhos.
- Você tá ocupado, né?
Ele suspirou do outro lado da linha.
- Desde que eu me declarei pra
Amanda nós estamos conversando,
só agora que ela foi ao banheiro,
por isso eu demorei pra atender. -
Ele fez uma pausa. - Eu não sei nem
descrever o que sinto por essa
garota.
Um sorriso se espalhou pelo meu
rosto sem minha permissão. Sabia
exatamente o que ele tava
passando.
- Deixa eu adivinhar... A coisa mais
forte que você já sentiu em toda a
sua vida? Que faz seu coração dá
pulos e pulos sem parar depois de
todo esse tempo sem se abalar com
nada?
- Por ai. Ou mais, muito mais... A
parte mais estranha é que eu nem
tenho pressa em ir pra cama com
ela, se ela tiver do meu lado pelo
máximo de tempo possível. - Ele
desabafou.
Isso seria a maior viadagem já dita
pelo Bruno se eu não me sentisse
igualzinho em relação à Susan.
- Sei como é. Então acho melhor eu
desligar e ficar aqui tentando me
controlar para não passar a mão
numa Susan desmaiada.
- O que você disse? - Ele perguntou
surpreso.
- Ela bebeu demais e eu trouxe ela
pra casa. Nesse momento estou
sentado numa cadeira em frente à
cama dela, tentando ao máximo não
fazer merda.
- Torço por você. Lembre-se que
ela é o amor da sua vida.
Mordi o lábio inferior.
- Como se fosse possível eu
esquecer isso.
Ficamos em silêncio por um
segundo.
- Tchau Joshua, ela saiu do
banheiro, vou ver se consigo beijá-
la.
- Torço por você.
Ele desligou. De volta ao tédio.
Me ajeitei na cadeira e observei
enquanto a Susan aos poucos
voltava a se mexer. Ufa, não era
bom
ela ficar desmaiada por muito
tempo.
Ela se virou de lado e eu tive uma
visão bem privilegiada do corpo
dela. Eita porra, está ficando
quente aqui... Tirei a camisa e
joguei em algum lugar do quarto
dela. Merda, meu pau estava cada
vez mais duro.
Por sorte, ela se virou de novo pra
frente e seus olhos se abriram
devagar. Me levantei no mesmo
segundo e corri para perto dela.
-Joshua... - Ela murmurou sem
entender.
-Como você tá se sentindo?
Ela me olhou por um segundo e eu
tive a certeza de que ela se
lembraria disso depois, então sua
boca se abriu e eu achei que fosse
falar algo, mas em vez disso, ela
vomitou no próprio vestido e
desmaiou de novo.
-Puta merda!
O cheiro ruim tomou conta do
quarto. Eu tinha que fazer alguma
coisa. Quase cai pra trás quando
percebi que o único jeito seria
trocando a roupa da Susan.
Merda, por que Deus fazia essas
coisas? Era algum tipo de teste? Só
pode.
Respirei fundo e procurei onde
ficava o zíper, normalmente nesse
tipo de vestido ele ficava mais ou
menos na linha do braço. Anos de
prática. E eu estava certo, assim
que meus olhos foram para a linha
do braço direito dela eu vi um
pequeno zíper prateado.
Cheguei mais perto, olhando
fixamente para o zíper – e não para
os peitos dela, que estava a menos
de 5 cm de mim – e coloquei meu
polegar e o indicador em forma de
pinça pra abrir. Puxei para
baixo lentamente, tentando me
concentrar enquanto cada parte do
seu corpo começava a aparecer.
Depois do que pareceu um ano, eu
finalmente cheguei no final da linha
e tirei o resto do vestido com
movimentos rápidos. Desacordada
ou não, ela ainda era uma garota
deitada em uma cama e eu já
tinha passado por esse processo de
tirar o vestido assim um milhão de
vezes – talvez mais.
Ela estava de calcinha e sutiã
vermelhos vivo, o que me deixou
tão excitado que eu tive que fechar
o punho para conseguir me virar e
enrolar o vestido dela numa bola
para depois jogar no balde de
roupa suja. Isso melhorou o cheiro
de vômito. Agora eu precisava
vestir ela de novo.
-Seria legal se você acordasse
agora e me ajudasse com isso. - Eu
murmurei para ela.
Mas, claro que ela não acordou -
até por que quando ela acordar vai
estar numa ressaca tão forte que não
vai conseguir nem falar direito,
quanto mais fazer alguma coisa - e
eu fui até seu guarda-roupa do outro
lado do quarto.
Dei uma olhada nas opções e decidi
pegar uma camisa e um short de
pijama bem clarinho. O que
automaticamente me lembrou do dia
em que eu acordei e vi que ela
estava no meu quarto, um sorriso
passou pelos meus lábios quando
eu me lembrei da noite anterior a
isso. A noite em que eu quase
morri de tanto autocontrole. Mas,
valeu à pena, ela não estava
preparada e eu jamais iria obrigar
ela a nada. Se bem que... Eu sei em
que partes devo morder e beijar até
que ela relaxe e faça tudinho que eu
quiser, o problema é que uma parte
de mim – ou eu inteiro – nunca faria
isso.
Voltei até a cama com a roupa na
mão e respirei bem fundo antes de
sentar a Susan na cama e levantar
um braço de cada vez enquanto
colocava a camisa dos Beatles
nela.
OK, primeira parte feita. Agora
vamos para o momento difícil da
coisa.
Com uma mão eu levantei suas duas
pernas e MEU DEUS, COMO EU
VOU CONSEGUIR DESVIAR
DISSO? Eu fechei meus olhos com
força e lembrei do que o Bruno
disse. Ela é o amor da minha
vida. Você não pode estragar tudo,
Joshua.
Abri meus olhos e percebi que
estava muito melhor, coloquei o
short com poucos movimentos, sem
tocar nem uma vez nas pernas,
bunda ou coxas dela, e me sentei na
borda da cama, acariciando o
cabelo da Susan.
- Olha o que você faz comigo... –
Eu sussurrei enquanto alisava
aquele cabelo castanho e
extremamente macio. – E isso sem
nem ao menos estar acordada, só
pra você ter uma idéia!
Eu me curvei e dei um beijo em sua
bochecha.
- Eu te amo. – As palavras saíram
com tanta facilidade que parecia ter
sido ensaiado. Mas era a mais pura
verdade.
Me sentei de novo na cadeira em
frente a cama e peguei meu celular
para me distrair.
Depois de quase um século fazendo
nada – jogando sinuca e vendo o
Instragram, cheio de vadias que
imploravam para eu seguir de volta,
por um motivo bem simples: elas
queriam sair por ai gritando
com as amigas algo como “Oh, o
Joshua está afim de mim! Ele me
seguiu de volta!! Aaaaah” – eu
acabei caindo no sono.
Quando acordei vi que eram 5:04
da manhã. Ninguém merece acordar
tão cedo em um feriado.
Dei uma olhadinha na Susan, para
conferir se ela estava bem, e depois
sai do quarto para comer
alguma coisa.
Mal tinha entrado na sala de jantar
quando vi que a mãe da Susan
estava sentada na mesa tomando um
cappucino.
Os olhos dela eram
assustadoramente iguais ao da filha
e eu não conseguia desviar deles
nem eu
segundo.
- Senhora Alvez.
Ela deu uma risadinha.
- Quem deve utilizar de
formalidade sou eu, não acha
senhor Hunter?
Eu sorri.
- Seria melhor se nenhum dos dois
fosse formal. – Comentei enquanto
me sentava numa cadeira em
frente a ela.
- Concordo. Enfim, por que está
acordado tão cedo?
Pensei em mentir descaradamente e
dizer que “Não consegui dormir”
ou “Vou para a praia hoje”.
Mas eu jamais conseguiria mentir
para uma pessoa tão parecida com
a Susan.
- Fiquei a noite toda cuidando da
Susan.
Ela estreitou os olhos.
- Por quê?
- Ela teve que sair mais cedo da
festa.
A Dona Melissa me analisou por
um tempo.
- Não me diga que ela bebeu.
Se eu não disser estaria mentindo
para a mãe da pessoa mais
importante do mundo pra mim. Ah
merda, nem em pensamento eu
consigo parar de ser meigo com a
Susan. Tou fodido.
- Acho que não posso responder
sua pergunta.
- Por que você faz tanta questão em
proteger a minha filha?
Então a Susan não contou a ela
sobre o que aconteceu nos últimos
dias...
- Porque eu estou completamente
apaixonado por ela – Eu disse de
uma vez só e senti como se um
peso tivesse saído dos meus
ombros.
Ela levou um tempo para assimilar
isso.
- Você o que?
- Acho que a Susan iria te contar
depois, mas nós já estamos
flertando a um tempinho. – Senti
que
estava ficando vermelho. Eu não
coro desde que dei aquele murro na
cara do Felipe. Saudades.
- Provavelmente. Na verdade, eu
não tenho visto muito a Susan esses
dias... Mas, me diga sua versão
antes de ela me dizer a dela.
Meus pensamentos foram a mil e eu
voltei ao primeiro dia dela nessa
casa, entrando com a mãe em
um território completamente
desconhecido e me olhando com
ódio por causa de algo que eu
disse,
provavelmente de forma grosseira,
ignorando completamente meus
olhos azuis que sempre fazia as
pessoas serem gentis comigo. Um
sorriso se espalhou meu rosto.
- Eu sempre fui o tipo de cara que
usa as garotas. – Ela revirou os
olhos, como se já esperasse por
isso. – E, é claro que eu tive a
intenção de fazer isso com a Susan,
você tem um filha extremamente
linda que...
- Então você ia usar minha filha? –
Ela perguntou com um tom cheio de
acusação.
Falei Merda. Mas o que eu disse
era tão sincero que eu nem pensei
em como soaria nos ouvidos de
uma mãe.
- Não me julgue tanto, eu não fazia
idéia do quanto fazia mal àquelas
garotas. Bem, então eu comecei a
conversar com a Susan e... – Um
sorriso atrapalhou minha fala. – Ela
é muito especial, sabia?
- Sabia. – Ela respondeu sorrindo e
eu percebi que estava a um passo
de conquistar a sua confiança.
- E também sabia que ela consegue
mudar alguém por inteiro só com
aquele jeitinho sincero e alegre
de ser?
- Isso aconteceu com você?
- Jamais que eu falaria de alguém
com os olhos brilhando há duas
semanas!
Ela sorriu. Confiança conquistada
com sucesso.
- Então vocês têm minha
aprovação.
Nos levantamos no mesmo segundo
e eu corri para tomá-la nos braços
em um abraço forte.
- Obrigado, de verdade.
Ela se afastou para que pudesse me
olhar nos olhos.
- Se toda a animação da Susan for
por sua causa, obrigada a você.
Sorri e voltamos a tomar café e
conversar. Conversar sobre o meu
assunto preferido em todo esse
mundo: Susan dos Alvez.
✣ Clara✣
EU AMO Michael HUNTER. Acho
que essa é a única coisa que eu sei
de certeza sobre mim. Isso e o
fato de que ele nunca me notou,
pelo menos até agora... Mas pra
mim já chega!
Podem anotar: Eu ainda vou
conquistar esse garoto!
O doce, confiante, lindo, gostoso,
rico, inteligente e levemente
sarcástico Michael. Era ele quem
estava na cabeça no momento em
que saímos do carro e chegamos na
festa do Bruno – outro lindo e
gostoso, mas totalmente vidrado na
Amanda. Sorte a dela.
Assim que chegamos na rodinha
que estavam as meninas da minha
sala e uns garotos do terceirão, eu
tive que elogiar o vestido da
Isabela. Ela estava tão linda!
Espero que o professor Cavalcante
note e pegue ela de jeito... Sorri
com a idéia.
- Ei, vamos conversar lá trás?
Meus olhos não acreditaram no que
viram: O Michael ESTAVA
SUSSURRANDO PARA MIM!
PARA
EU IR CONVERSAR COM ELE!
Meu coração deu um triplo mortal
duplo pra trás e eu fiz que sim com
a cabeça.
Ele deu um sorriso perfeito e saiu
disfarçadamente, fazendo sinal para
eu o seguir. E foi exatamente isso
que eu fiz.
Andamos em silencio até
chegarmos atrás da mansão do
Bruno, que estava cheia de luzes e
música
alta, quando ele me puxou para o
lado e sentamos num sofá longo e
azul encostado na parede.
- Oi Michael. – Eu disse tentando
controlar minha timidez e o meu
coração.
- Oi Clara... Eu só queria saber se
você não ficou magoada com o que
eu disse no carro.
Ah, então era isso.
Ei, espera ai! Se ele disse isso é
por que se preocupou comigo!
- Não, ta tudo bem.
Ele sorriu aliviado.
- Foi mal, é que de vez em quando
eu sou meio irritante.
Eu balancei a cabeça em negativa.
- Não concordo com isso.
- Não?
- Claro que não! Você é uma pessoa
adorável. – Corei assim que as
palavras saíram da minha boca.
Ah merda, agora ele vai achar que
eu estou flertando.
Ele me analisou de baixo para cima
e eu corei ainda mais.
- Há quanto tempo você é afim de
mim?
Eu quase cai pra trás. Como ele
sabia disso? Meu Deus do céu!
- E-E-Eu – Gaguejei sem consegui
encontrar as palavras certas.
Ele sorriu debochado e se
aproximou de mim.
- Você...
Eu devia estar parecendo um
pimentão de tão vermelha, mas
aqueles olhos verdes-mar
continuavam
fixos nos meus.
- Quem te disse que eu sou afim de
você? – Foram as únicas palavras
que eu consegui pronunciar.
- Alguém precisa me dizer para eu
notar? – Ele se aproximou ainda
mais e eu conseguia sentir o ar
quente saindo da sua boca. – Não é
obvio?
- Eu tentei disfarçar...
Ele riu baixinho.
- Tem certeza? Acho que você não
foi muito boa nisso. – Eu conseguia
notar um tom meio arrogante
na voz dele, mas tentei ignorar isso.
– Mas, não é como se eu não
tivesse gostado disso.
Eu não sabia se ria ou se chorava,
então desviei os olhos.
- Ei, olhe para mim. – Eu fiz o que
ele mandou. – Por que não se
declara e começamos a nos beijar
agora mesmo?
ELE DISSE ISSO MESMO?
MINHA RESPIRAÇÃO FALHOU
E MEU CORAÇÃO FOI A UM
MILHÃO POR SEGUNDO.
- O-ok. Eu... Amo... – As palavras
lutavam para sair da minha
garganta. – V-V-Você.
- Tenta de novo. Agora sem passar
a mal em cada silaba.
Eu respirei fundo.
- Eu amo você Michael Hunter.
Desde o primeiro dia de aula do
oitavo ano, quando você entrou
usando uma jaqueta de coro preta
por cima de uma camisa vermelha e
uma calça jeans azul escura
que combinava perfeitamente com o
tom dos seus olhos. – Eu despejei
sem pensar nas
conseqüências. Todas as palavras
que eu vinha guardado há 3 anos.
Ele sorriu satisfeito.
- Bem melhor, não acha? – Ele
colocou uma mão na minha nuca e
me puxou para o mais perto
possível. – Agora vamos a minha
parte do trato.
Então ele me beijou. E eu senti
como se todo o mundo tivesse
desaparecido ao meu redor.
Finalmente estava acontecendo!
Eu abri minha boca devagar
enquanto suas mãos desciam e me
puxavam pela cintura. A única
coisa
que eu queria no mundo era que
esse momento não terminasse
nunca.
Mas a falta de ar fez com que eu me
afastasse.
- Ah Michael... – Eu suspirei.
Ele me deu um selinho demorado.
- Tem muito mais de onde veio isso.
Mas, você vai ter que fazer tudinho
que eu mandar. – Seu tom
era calmo e autoritário,
extremamente excitante.
- Eu faço... Eu faço o que você
quiser. – Eu sussurrei sem fôlego.
Ele mordeu o lábio inferior e me
puxou pela mão.
- Vem, tem um quarto que sempre
fica vazio nessa casa.
Senti minhas pernas tremerem de
ansiedade.
Tá, eu sei que não sou mais virgem
– cuidei disso ano passado, eu
estava numa fase bem louca e
animada... Muito, muito animada –
mas mesmo assim eu me sentia
como se tivesse indo direto para a
minha primeira vez de novo. De
certa forma era. Minha primeira vez
com alguém que eu realmente
amo.
Seguimos direto por um corredor e
eu vi de longe o professor
Cavalcante encostado na parede
com
uma garota bem branca e com um
cabelo muito preto de... AI MEU
DEUS, ERA A ISABELA DE
JOELHOS NA FRENTE DO
PROFESSOR! Eu não acreditei no
que vi, mas não tive tempo de
pensar nisso, pois um segundo
depois o Michael me puxou para
dentro de um quarto enorme e
trancou a porta dele.
- Sabe Clara... Pra mim, você
sempre a mais gostosa da turma. –
Ele sussurrou, me colocando contra
a parede. Sua boa roçando meu
ouvido, me arrepiando. - A que eu
sempre tive vontade de ouvir
gemendo meu nome bem alto... –
Ele continuou e suas mãos
desceram para a minha bunda. – A
que eu
sempre quis ver nua...
Eu fechei meus olhos e deixei todas
as ondas de prazer tomarem conta
de mim. Como ele conseguia
me deixar assim só com a voz?
- Ah, você já se entregou. – Ele
murmurou baixinho e suas mãos
encontraram o zíper do meu
vestido.
– Ótimo, vamos dá um jeito nisso
aqui.
Eu assenti com a cabeça, tentando
me controlar.
Senti uma excitação maior do que
tudo que eu já tinha experimentado
na vida quando ele tirou meu
vestido bem lentamente, sem
pressa.
- Abra os olhos. – Ele mandou, sua
voz exalava autoridade.
Eu fiz o que ele disse e vi que ele
não estava mais usando camisa –
deixando à mostra seu tanquinho
perfeito que parecia o de um deus
do Olimpo – e eu estava de
calcinha e sutiã azuis escuros.
Ele colocou uma mão de cada lado
na parede, me prendendo.
- Agora, eu vou dá prazer a você.
Simples assim. – Ele sussurrou no
meu ouvido e eu fiz que sim com
a cabeça, sem ar.
Ele subiu as mãos ate o fecho do
meu sutiã e abriu com um único
movimento, rapidamente se livrou
dele e se ajoelhou na minha frente,
encarando minha calcinha como se
fosse um premio.
Ele mordeu o lábio inferior com
força e eu senti que estava ficando
molhada, muito, muito molhada.
Ele se levantou de novo e brincou
com o cós da minha calcinha.
- Você quer isso? – Ele perguntou e
eu assenti com a cabeça, sem forças
para falar. Ele colou seu
corpo com o meu e eu senti seu
membro duro um pouco acima da
minha virilha. – Eu te fiz um
pergunta.
- Oh sim, eu... Quero... – Eu
murmurei entre gemidos.
Ele deu um risinho.
- Era isso que eu queria ouvir.
Sua mão desceu até a minha
intimidade e ele enfiou um dedo lá
dentro.
- Porra Michael, avisa antes! – Eu
falei em protesto, mas minha voz
estava cheia de prazer.
Ele enfiou outro dedo e eu arqueei
as costas para trás, minhas mãos
coladas na parede.
- Olhe lá como você fala... – Ele
sussurrou enquanto fazia
movimentos de vai e vem com o
dedo, me
torturando. – Você ta tão
molhadinha... Acho que podemos
passar para segunda fase.
Eu fiz que sim com a cabeça, me
segurando para não começar a
implorar.
Ele arrancou minha calcinha com
movimentos tão rápidos que eu nem
vi onde a coitada foi parar e
depois me jogou na cama
bruscamente.
- Chega de joguinhos.
- C-Chega s-s-sim – Eu gaguejei.
Ele tirou a calça jeans rapidamente,
mostrando a box preta
extremamente sexy que ele estava
usando.
PUTA MERDA, minha intimidade
pulsou quando eu vi enorme volume
dentro da cueca dele. Ele
deve ter percebido que eu estava
olhando fixamente, porque subiu em
cima de mim e roçou seu
membro duro por cima do meu
clitóris.
Meus olhos reviraram de prazer.
- Vamos Clara, implore por mim.
Ele fez movimentos para frente e
para trás como se tivesse me
fodendo.
- Pelo amor de Deus Michael, m-
me f-f-foda! – Eu gemi sem
consegui me controlar.
Ele sorriu malicioso.
- O que você disse? – Ele
perguntou enquanto seu membro me
torturava de desejo. – Eu não
consegui
ouvir seus gemidos tão baixinhos.
Eu fechei os olhos com força.
- Quando você me foder eu juro que
grito para todo mundo ouvir!
- Faça isso.
Ele se levantou da cama e tirou a
cueca Box. Eu simplesmente não
conseguia desviar do pau dele,
como aquilo iria caber dentro de
mim?
Ele rapidamente colocou uma
camisinha e subiu em cima de mim,
dando chupões em todas as partes
do meu corpo.
- Ah, eu nem brinquei com esses
aqui. – Ele murmurou olhando para
os meus peitos com prazer. –
Vamos mudar isso.
Eu assenti com a cabeça e mordi o
lábio de prazer quando ele lambeu
meu peito esquerdo enquanto
apertava o direito com força.
Depois o contrário. E o contrario. E
eu já tinha perdido a conta de
quantas vezes revirei os olhos de
desejo.
- M-Mi-Michael, acaba logo com
isso. – Eu gemi sem fôlego.
Ele fez que sim a cabeça e sem
nenhum aviso prévio penetrou com
força na minha intimidade.
-PORRA Michael!- Eu gritei
colocando minhas pernas ao redor
da sua cintura.
- Isso, grita meu nome. – Ele disse
enfiando mais fundo, fazendo eu
delirar de prazer.
- M-MA-MAIS F-F-FORTE. – Eu
gemi enquanto fazia movimentos
circulares com o quadril.
Mas em vez de fazer o que eu
implorei, ele tirou quase tudo com
um sorrindo maldoso no rosto.
- Implore.
Eu tentei forçá-lo a ir mais fundo
com o quadril, mas ele era mais
forte e conseguiu continuar imóvel.
- Se quiser mais, você vai ter que
implorar.
- Vai Michael, deixa dessa... Eu
imploro, eu imploro que me foda
agora mesmo! – Eu implorei
fechando os olhos de novo.
- Você é ótima.
Ele enfiou tudo de uma vez e eu
arqueei as costas de prazer.
- Michael, ACHO QUE EU VOU....
- Pode gozar. – Ele sussurrou
enfiando o mais fundo possível e eu
me senti como se tivesse rasgando
ao meio. Mas era a melhor coisa
que eu já senti em toda minha vida.
Tentei segurar esse momento de
puro prazer pelo máximo de tempo
possível, mas o orgasmo tomou
conta de mim e eu senti todos os
meus músculos sem choque.
Ele gozou logo em seguida e saiu
de dentro de mim. Abri meus olhos.
Ele tirou a camisinha e jogou em
algum lugar do quarto, depois caiu
ao meu lado e eu deitei com a
cabeça em seu peito nu.
- Eu amo você Michael Hunter. –
Eu suspirei sem ar.
Ele sorriu.
- Eu sei disso.
[...]
Acordei no quarto do Michael. Nós
fizemos sexo mais três vezes depois
daquela vez e eu me sentia
completamente destruída. E
realizada. Muito realizada.
Coloquei o meu vestido de volta e
sai do quarto. Ai meu Deus, o que
foi aquilo ontem?
Eu não conseguia parar de sorrir.
Fui direto para o quarto da Susan e
entrei sem bater.
- Oi Susan! – Eu disse animada.
Ela piscou, tentando me focalizar.
Pelo jeito bebeu demais...
Sentei na borda da cama e observei
enquanto ela se sentava.
- Oi Clara... Obrigada por trocar
minha roupa.
Eu olhei para ela confusa.
- Eu não troquei sua roupa, Susan.
Ela arregalou os olhos.
- Não? Então quem... – Ela colocou
a mão na boca, como se estivesse
prestes a gritar. – O JAMES!
EU ME LEMBRO! ELE ESTAVA
SEM CAMISA NA FRENTE DA
MINHA CAMA!!
- Você acha que ele...
Ela olhou pra mim como se tivesse
levado uma sequência de socos.
- Ele não faria algo assim.
Eu assenti com a cabeça, tentando
acalmá-la.
- Vou buscar uma água pra você.
- OK... – Ela respondeu sem fôlego
e deitou de novo na cama.
Eu desci as escadas correndo e bati
em alguém.
- Ei gata, cuidado.
Meu coração deu um salto. Essa
voz.
- Oi Michael.
Ele sorriu e me deu um selinho
rápido.
- Oi, tudo bem?
Eu pensei um pouco.
- Comigo sim, mas a Susan ta quase
morrendo lá em cima.
Ele levantou a sobrancelha de um
jeito fofo.
- Por quê?
- Por que ela acordou com uma
roupa diferente da que foi dormir
e... A única coisa que ela se lembra
é do Joshua sem camisa na frente
dela.
Ele demorou um segundo para
entender. Então um sorriso travesso
passou pelo seu rosto.
- Eu sei que ele não faria nada com
ela... – Ele murmurou mais para si
mesmo do que pra mim. Então
seus olhos brilharam. – Mas, ela
não sabe disso.
- O que você quer dizer com isso?
Ele me puxou pela cintura.
- Quero dizer que você vai subir
agora mesmo e convencer a Susan
de que o Joshua abusou ela. – Ele
sussurrou no meu ouvido.
- Mas... Ele é seu irmão...
Ele me soltou bruscamente.
- Que eu me lembre, você disse
ontem que faria o que eu quisesse.
Minha cabeça latejou.
- Mas...
- Ok, então você estava mentindo.
Tudo bem, saia da minha casa agora
mesmo e...
- NÃO! – Eu gritei quase em pânico
e ele sorriu. – Eu faço o que você
mandou.
- Já disse que você é ótima?
Eu assenti com a cabeça e ele deu
um risinho antes de me beijar.
Eu subi as escadas correndo e
novamente entrei sem bater. A
Susan estava de pé em frente a
cama,
com as mãos nas têmporas.
- Argh, eu não consigo lembrar de
nada. – Ela disse frustrada.
Eu me aproximei dela devagar,
lembrando do que o Michael me
disse.
- Susan... E se o Joshua fez alguma
coisa bem ruim com você ontem?
Seus olhos se levantaram e suas
mãos despencaram ao seu lado. Ela
estava em choque, lutando
contra algum sentimento.
- Ele jamais faria algo assim.
- Como você pode ter tanta certeza?
Você mal o conhece.
Ela abriu a boca para falar, mas
pareceu pensar melhor e continuou
muda.
- Ele pode ser muito pior do que
demonstra, vemos coisas assim
todo dia no jornal.
- Mas, o Joshua é diferente, ele é...
- Será mesmo? – Eu perguntei, me
odiando por fazer isso com ela.
- Você acha que ele poderia fazer
algo assim contra mim?
- Eu não acho. Eu tenho certeza.
Seus olhos brilharam com ódio e
dor e ela correu antes que eu
pudesse dizer alguma coisa.
Segui ela em direção as escadas e
fiquei um pouco escondida para ver
o que iria acontecer. O Joshua
estava bem no meio da sala.
Ela correu até ele e o empurrou
com força.
- Susan?!
- EU ODEIO VOCÊ! – Ela gritou
empurrando ele.
Ele segurou as duas mãos delas e a
olhou em entender.
- O que aconteceu?
- VOCÊ ME USOU! EU ACORDEI
COM UMA ROUPA DIFERENTE
DA QUE EU FUI PARA
FESTA! EU ME LEMBRO DE
VOCÊ SEMINU NA MINHA
FRENTE!
O Joshua soltou as mãos delas no
mesmo segundo.
- Não pense merda. – Ele disse
calmamente.
Ela fechou o punho.
- Você tirou minha virgindade com
eu inconsciente!
- Eu jamais faria uma coisa dessas!
Ela deu um tapa na cara dele.
- Mentiroso.
18. O resto de um dia ruim
Sua boca se abriu de surpresa, ele
parecia ter levado mais do que um
tapa. Ele parecia ter levado um tiro.
- Susan, como você pode pensar
que eu machucaria você? – Ele
perguntou pasmo enquanto passava
a
mão na bochecha, sem acreditar.
- NÃO SE FAÇA DE SONSO. – Eu
gritei com ódio.
Como eu posso pensar que ele me
machucaria? Simples, eu acordei
com uma roupa diferente da que
eu fui dormir, então é claro que foi
ele quem me trocou e isso não seria
um problema – pelo menos
não um problema tão grande – se a
única coisa que eu conseguisse me
lembrar de depois que vi a
declaração do Bruno para a
Amanda não fosse do Joshua sem
camisa na minha frente. Quem sabe
se
ele também não estava sem o resto
das roupas? Argh.
- Susan, eu imploro, eu imploro que
você me escute, impl...
- Não quero ouvir mais nada que
sai dessa sua boca. – Eu rebati
irritada.
O que ele poderia me dizer? Que
foi sem querer?
Ele abriu a boca para falar, mas
então se calou.
- Viu só? Você não tem nada a me
dizer. – Eu disse friamente.
Ele respirou fundo...
- Eu... Prefiro esperar que você se
acalme para conseguir me ouvir. –
Ele disse calmamente e pela
primeira vez eu consegui enxergá-
lo como alguém 5 anos mais velho.
Ele sabia das coisas.
- Não importa quanto tempo passe,
eu vou continuar odiando você! –
Eu fechei o punho com força.
Seus olhos brilharam por algum
motivo. Não sabia se era raiva ou
dor. Espero que seja dor.
- Ah Deus... Vamos Susan, você
sabe que eu...
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É?
Nos viramos no mesmo segundo e
vimos pela janela a Dona Nicole
gritando com o senhor Fernando.
O Nicolas estava ao seu lado.
Corri no mesmo segundo para onde
eles estavam. O Joshua me seguiu.
- QUEM EU PENSO QUE SOU?
EU SOU HETERO, COISA QUE
SEU FILHO NUNCA VAI SER. –
O senhor Fernando gritou de volta,
ele parecia com muita, muita raiva.
O Nicolas estava prestes a desabar
em lagrimas e eu percebi que meus
problemas eram bem menores
do que os dele – tá, talvez não tão
menores assim, mas o Nicolas
parecia TÃO mais sensível e frágil
do que eu que automaticamente me
senti egoísta por achar que o Joshua
ter feito o que fez comigo era o fim
do mundo.
- Meu filho? – A Dona Nicole
perguntou se aproximando do
marido, seus olhos brilhando de
fúria. –
NOSSO filho!
- Não sei se você notou, mas ele
puxou você em tudo.
Principalmente no gosto por pinto!
A Dona Nicole empurrou ele com
força e o senhor Fernando
cambaleou para trás.
- Me respeite! – Ela gritou e eu tive
medo de ela voar no pescoço dele
nesse momento.
O senhor Fernando revirou os olhos
e o Joshua deu um passo a frente,
preparado para defender a mãe
a qualquer segundo.
- Claro, eu volto a ser o gentil
Fernando no segundo que você tirar
esse viado da minha casa.
A Dona Nicole fechou o punho e
andou até ficar na frente do filho do
meio.
- Nossa casa. Nosso filho. E você
não tem o direito de tirar ele sem a
minha permissão.
- Claro que eu tenho! Eu sou o
chefe dessa casa. – O senhor
Fernando disse com arrogância e eu
tive
vontade de dá um soco bem forte na
cara dele. Não só por ele ter dito
isso, mas por que ele é muito
parecido com o Joshua. Muito
mesmo. Era como ver o Joshua em
uma versão com no máximo 40
anos.
- Não, você não é. Não existe chefe
nessa família e se você continuar
com essas atitudes machistas eu vou
embora AGORA MESMO e nunca
mais você vai me encontrar! – O
tom da Dona Nicole não
deixava duvidas. Ela iria mesmo
fazer isso.
O senhor Fernando deu um passo a
frente.
- Você não faria isso.
- Por um filho meu? Ah, por um
filho eu arrancaria sua cabeça e
jogaria num rio.
Um sorriso tímido apareceu no
rosto do Nicolas.
- Vamos pai, qual é o problema do
Nicolas voltar? – O Joshua
perguntou olhando fixo para os
olhos
do pai, que eram exatamente iguais
aos dele.
- Qual o problema? Ele é o
problema! Vocês não enxergam
isso? Ele é gay! Esse é o problema!
– Ele
gritou, seus olhos pareciam
enlouquecidos de raiva.
Então – para a surpresa de todos –
o Nicolas afastou a mãe da frente
dele e deu um passo em direção
ao pai.
- Sim, eu sou gay. – Ele disse
simplesmente e eu senti meu
coração parando de nervosismo. E
se o
senhor Fernando tivesse outra
arma? – Mas, eu nunca fiz nada de
mal com ninguém, nunca trair, nunca
roubei, matei, ou seja lá o que eu
poderia está fazendo que te desse
motivo para me odiar. Eu nunca
fiz nada disso. Eu só sou gay, só
isso, eu... – Seus olhos se encheram
de lagrimas – Eu só amo o
Felipe de uma forma que eu nunca
vou conseguir explicar e eu não me
importo com nada além disso,
não me importo se ele é do mesmo
sexo que eu. Por que eu o amo. E
não há nada que eu possa fazer.
Então, pai, se você quiser que eu
pare de ser gay, você vai precisar
me matar.
Todos se calaram. E o Nicolas
respirou fundo.
- E mesmo assim isso não vai ter
feito com que eu pare. Isso só vai
fazer com que eu morra, só isso.
Não vai mudar o que eu sou eu, não
importa quantas vidas eu tenha que
viver, em todas elas eu vou
ser exatamente isso e... Eu espero
que em alguma o meu pai consiga
entender.
- Nicolas... – O senhor Fernando
murmurou sem saber o que fazer.
- Viu? Era isso que eu estava
tentando explicar pra você, não faz
sentido tirar o Nick de casa. Ele vai
continuar sendo gay. – A Dona
Nicole sorriu. – Um gay
extremamente educado, bondoso e
gentil. Isso
pode ser considerado errado?
O senhor Fernando parecia ter
perdido o chão.
- Eu... Não sei mais em o que
acreditar. – Ele confessou baixinho.
- Acredite em mim. – O Nicolas
disse sorrindo.
- E em mim. – Agora o Joshua.
- Em mim. – A Dona Nicole.
Não pude evitar.
- Em mim também. – Eu deixei
escapar.
Ele olhou para nós três sem
acreditar.
- Mas... Isso vai contra tudo que eu
fui ensinado a crer.
- Então vamos te ensinar uma nova
crença. – A Dona Nicola disse
calmamente para o marido e eu
senti todo o amor que ela sentia por
ele em cada palavra que saia da sua
boca. – Uma em que o que o
nosso filho é não é algo errado.
- Eu gosto dessa nova crença. – O
Nicolas comentou baixinho.
O senhor Fernando olhou, por
alguns minutos, nos olhos do
Nicolas e da Dona Nicole, ele
parecia
estar pensando no que fazer. Então
eu notei que seu dedo indicador
estava batendo freneticamente na
sua perna.
Como o Joshua e o Michael dão
murrinhos da porta.
O Joshua acabou me deixando em
paz no mesmo segundo em que
começou a dá esses murrinhos, mas
o Michael esperou até que eu fosse
embora para destrancar a porta.
Eles não eram exatamente
maldosos. Bem, pelo menos o
Michael não.
Meu sangue ferveu quando eu
lembrei do que o Joshua fez e
subitamente a única coisa que eu
queria
era sair correndo dali. No entanto,
eu tinha que saber o que iria
acontecer com o Nicolas.
- Acho que... Posso me acostumar
com isso. – O senhor Fernando
falou depois de um tempo. – Mas,
como fazer o Michael concordar?
O Joshua sorriu.
- Isso não é um problema.
- Então, você pode voltar para
casa, Nicolas.
A Dona Nicole sorriu e correu para
os braços do senhor Fernando, que
a abraçou com força.
- Me desculpe por ter falado
aquelas coisas. – Ele sussurrou no
ouvido dela, mas todos nós
ouvimos.
- Eu amo você. – Ela respondeu de
volta. Isso explicava tudo. Isso
queria dizer que ela aceitava o
pedido de desculpas dele, aceitava
qualquer merda que ele possa vir a
fazer. Por que ela ama ele.
Eu olhei para o Nicolas por um
segundo e, por causa da sombra,
seus olhos pareceram mais escuros
do que eram. O azul do mesmo tom
que os do Joshua.
Corri em direção a casa e em
menos de 3 minutos já estava no
meu quarto, chorando.
Eu odeio chorar. Odeio me senti tão
indefesa, mas eu não pude
controlar. Era o Joshua, o cara que
eu achava que era o amor da minha
vida e olha o que ele fez comigo!
Eu só queria bater em alguém com
força até fazer essa dor passar.
Por que ele tinha que fazer isso
comigo? Por que ele simplesmente
não esperou? Eu com certeza
estava a um passo de fazer tudinho
o que ele quisesse, plenamente
sóbria.
Minha cabeça doeu. Eu só queria
que isso acabasse.
Ouvi batidas na porta, mas eu não
queria visitas então simplesmente
ignorei.
- Ei Susan... – A voz doce do
Nicolas veio atrás da porta.
Respirei bem fundo. Ele não
merecia ficar do lado de fora.
- Pode entrar.
Ele entrou devagar no quarto e se
sentou na borda da cama.
- O que você quer aqui? – Eu
perguntei, sem conseguir conter o
tom de irritação na voz.
- Eu só quero que você me
explique, ok?
Eu revirei os olhos.
- Explicar o que?
- O porquê do Joshua estar com
aquela cara de quem foi
esfaqueado.
- Não é da minha conta o jeito
como a cara dele tá. – Eu rebati
com grosseria.
O Nicolas não pareceu se
incomodar com o meu tom, ao
contrario, ele sorriu levemente,
como se eu
fosse uma criança pequena.
- Me diga o que você quiser me
dizer. Eu não vou insistir, mas
também não vou acreditar se você
disser que não aconteceu nada.
Suspirei. Eu tinha que contar pra
ele.
- É muito mais sério do que você
imagina.
- Pode me dizer, eu aguento tudo.
Tentei encontrar algum pesar em
seus olhos azuis – que agora
estavam no seu tom normal, aquele
azul
clarinho que parecia o de um anjo –
mas não encontrei.
- É que... – Eu tentei encontrar um
jeito de contar isso. Decidi iniciar
do começo, aos poucos. –
Ontem, eu, o Joshua, algumas
meninas da minha sala e o Michael
formos convidados para uma festa
do Bruno.
- O melhor amigo gostoso do
Joshua?
Eu sorri com o canto da boca. Só o
Nicolas mesmo para conseguir
arrancar um sorriso de mim.
- Esse mesmo, mas nem olhe muito,
ele é todinho da Amanda.
O Nicolas deu uma risadinha.
- Você fala como se eu não fosse
apaixonado pelo Felipe!
- Você que disse isso. – Eu
respondi e uma risadinha escapou
dos meus lábios.
Então o Nicolas ficou sério.
- Agora, me conte o resto da
historia.
Eu respirei fundo e disparei como
uma metralhadora. Contei tudo. O
que na verdade era muito pouco,
já que boa parte da noite parecia
meio nublada na minha mente.
- ...Então eu dei um tapa bem forte
na cara do Joshua e o chamei de
mentiroso. Ele até tentou insistir
que eu estava me enganando, mas
meu Deus, é claro que eu não estou.
– Eu disse, finalizando a
historia.
O Nicolas me estudou por um
tempo, pensando no que eu acabei
de contar.
- Susan, feche os olhos. – Eu
obedeci. – Quero que imagine o
Joshua fazendo tudo isso que você
acha
que ele fez com você.
Abri os olhos no mesmo segundo.
- Não quero imaginar isso.
- Confie em mim. Feche os olhos e
imagine.
Fechei os olhos e comecei a
imaginar: Ele me colocando no
colo com eu inconsciente, depois
me
jogando bruscamente na cama e...
Não consegui continuar. Algo
estava errado.
- Eu não consigo fazer isso.
- Tente imaginar alguém sem rosto
fazendo isso com uma mulher
desconhecida. – Ele falou
delicadamente.
Assenti com a cabeça e as imagens
surgiram de um jeito muito mais
fácil. Imaginei um desconhecido
abusando do corpo de alguma
mulher. Era perturbador, mas foi
fácil de imaginar.
- Pronto. – Eu disse, ainda com os
olhos fechados.
- Abra os olhos.
Abri e vi que ele sorria.
- Por que você tá sorrindo?
- Você não percebe? Não é possível
imaginar o Joshua fazendo uma
coisa dessas porque ele nunca
faria, simples assim.
- E como você me explica tudo o
que eu disse?
Ele deu de ombros.
- Deve ter algum motivo, mas meu
irmão nunca, em nenhuma
circunstancia, faria isso com você.
Ou
com qualquer outra pessoa.
Uma parte de mim implorava para
acreditar nele.
- O que te leva a pensar isso? – Eu
perguntei.
- Eu conheço o Joshua há anos, eu
sei do que ele é capaz e do que ele
não é. E, vamos combinar, ele
não é do tipo que gostaria de fazer
sexo sem ouvir os gemidos
femininos.
Eu respirei tão fundo que parecia
que iria inspirar o ar do mundo
inteiro.
E se ele estivesse certo?
- Mas...
- Acho que você devia conversar
com ele. Antes que seja tarde
demais.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que você deve ir
agora mesmo falar com aquele
galego alto.
Eu nem pensei antes de sair daquele
quarto e ir direto para o quarto do
Joshua. Mas, no corredor, a
única pessoa no mundo que eu não
queria conversar agora estava
parada com um sorriso no rosto.
- Michael. – Eu cumprimentei com
frieza.
- Oi Susan, sabia que eu estava
tendo altos papos com meu irmão
agora mesmo? Ele mencionou você.
– Ele disse cínico.
- Legal, agora saia da minha frente
que eu quero falar com ele.
- Ah, claro, com certeza. Eu só
quero dizer uma coisinha: Eu
prometi que iria fazer vocês se
arrependerem, não prometi?
- O que você fez? – Eu perguntei
sentido todo o meu corpo se
arrepiar de medo.
Mas, em vez de responder, ele
sorriu e entrou no elevador.
- Boa sorte.
Ele deve ter falado alguma besteira
pro Joshua.
Entrei no quarto sem bater e vi que
o Joshua estava sentado na borda
da cama, olhando para algum
ponto fixo na parede.
- Posso entrar?
- Já entrou. – O Joshua respondeu
friamente.
Ah merda, ele tá usando aquele tom
frio.
Andei até ficar na frente dele, seus
olhos pousaram nos meus.
- O que você quer?
Eu pensei um pouco. O que eu
queria? Um turbilhão de respostas
atingiu meu cérebro: eu queria que
os problemas entre eu e o Joshua
acabassem, eu queria que a gente
pudesse ser um casal como outro
qualquer, eu queria esquecer aquela
noite e fingir que nada daquilo
aconteceu, ou talvez, eu queria
conseguir parar de amar ele. Mas,
acima de tudo, eu queria pedir
desculpas.
Essa ultima opção foi a que eu
escolhi.
- Me desculpa.
- Pelo o que?
- Por... Ter dado um tapa na sua
cara e gritado com você.
Ele me olhou por um segundo e se
levantou, seu corpo a centímetros
do meu.
- Eu te desculpo. – Ele respondeu
por fim.
Então se aproximou e eu achei que
ele fosse me beijar.
Mas ele não fez isso.
- Eu te desculpo, mas não posso
continuar amando você. – Ele fez
uma pausa e se afastou de mim. –
Não posso amar alguém que não
confia em mim.
- Quem disse que eu não confio em
você? – Eu perguntei, sentindo um
desespero tomando conta do
meu corpo.
- Você mesma disse isso, mas o
Michael que me fez entender.
Meu coração parou.
- O que o Michael te fez entender?
Ele desviou os olhos.
- Que você não me ama, e portanto,
eu não deveria amar você.
- MAS EU TE AMO! – Eu gritei
sem conseguir me segurar.
Seus olhos voltaram para os meus e
um sorriso de vingança se espalhou
pelo seu rosto.
- Mentirosa.
19. Eu não iria aguentar viver
sem você
Ok, acho que eu mereci essa.
- Por favor, vamos conversar.
Eu pensei que ele fosse dizer como
da ultima vez – quando eu o chamei
para vim pro meu quarto,
para que eu pudesse explicar que eu
não beijei o Nicolas. Quer dizer, eu
beijei o Nicolas, mas não
do jeito que ele... Ah, esquece. –
algo do tipo “Não estou a fim de
falar com você”.
Mas, em vez disso, ele se sentou de
novo na cama e assentiu para mim.
- Vamos.
Ele deve ter notado minha
expressão de surpresa já que deu
uma risadinha.
- O quê? Achou que eu fosse negar?
Bem, eu pensei nisso de primeiro,
mas acho que todos merecem
ser ouvidos... É claro que você não
pensa assim, porque não me ouviu
hoje de manhã e agora veio
toda arrependida me procurar.
Mereci essa também.
Me sentei em frente a ele e pensei
um pouco antes de falar.
- Acho que você não deveria ouvir
tudo o que o Michael diz.
Ele revirou os olhos.
- Acha mesmo que é assim que se
deve começar essa conversa?
Falando do meu irmão?!
- Exatamente assim. Ele é o inicio
do problema, nada mais justo do
que ser o inicio da conversa.
- Ele não é o inicio do problema.
Você é o inicio do problema. – Ele
falou e eu automaticamente me
lembrei do que ele disse para a
Emily ruiva, um bilhão de anos
atrás: “Ela não é uma qualquer.
Você
é uma qualquer.”. Mas, acho que eu,
ao contrario dela, não vou ganhar
um beijo no final.
- Na verdade, o inicio do problema
é você ter trocado minha roupa.
Ele se levantou no mesmo segundo.
- VOCÊ PREFERIA QUE EU TE
DEIXASSE COM VÔMITO NO
VESTIDO? – Ele gritou irritado.
Me levantei também.
- VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO
DE ME VER SEMINUA SEM
MINHA PERMISSÃO! DEVIA
TER CHAMADO ALGUÉM.
- ERA 1 HORA DA MANHÃ,
NÃO TINHA QUEM CHAMAR! –
Nós parecíamos dois loucos
gritando de raiva.
- FODA-SE QUE HORAS ERAM,
VOCÊ NÃO PODERIA TER
FEITO ISSO.
Ele abriu a boca para gritar
comigo, mas então se calou e
respirou fundo, extremamente
cansado.
- Susan, vou ter que pedir para que
saia do meu quarto.
Droga. Estraguei tudo.
Me sentei de novo a borda da cama.
- Acho que isso não foi lá das
melhores conversas.
- Descobriu sozinha? – Ele
perguntou com um tom
irritantemente parecido com o do
Michael. O
mesmo tom que sempre fazia meu
sangue ferver de raiva.
- Pare de agir assim. – Eu
murmurei.
Ele levantou uma sobrancelha.
- Assim como?
- Como um idiota.
- Tá, agora eu que saio daqui. – Ele
disse indo em direção à porta.
MERDA, EU NÃO POSSO
DEIXAR ELE IR EMBORA
AGORA! Minha mente foi a mil
enquanto eu
pensava em um jeito de detê-lo e
quando ele estava prestes a sair eu
pensei em alguma coisa.
- VAMOS SER AMIGOS!
Ele se virou no mesmo segundo.
- Oi?
Ufa, eu consegui a atenção dele.
- É... Amigos. Já que amar está fora
de questão. – Eu disse de uma vez
só e ele demorou um segundo
para assimilar.
- Amigos? – Ele falou a palavra
como se estivesse provando uma
comida nova.
- Exatamente.
- Por quê?
Eu suspirei.
- Porque eu não iria aguentar viver
longe de você.
Ele deu um passo pra trás.
- Não vou conseguir ser seu amigo.
– Ele disse baixinho.
- Podemos tentar.
Ele pareceu pensar no assunto. E eu
quase perdi o ar quando ele fez que
sim com a cabeça.
- O que temos a perder?
Eu sorri.
- Nossa sanidade.
Ele riu baixinho. Então ficou sério.
- Como se faz isso?
Olhei para ele sem entender.
- Isso o que?
Ele desviou os olhos.
- Amizade entre homem e mulher.
- Você nunca teve amiga mulher? –
Eu perguntei sem acreditar.
- Depende de que categoria você
colocar o Nicolas. – Ele falou
rindo e eu ri também.
Mas então eu percebi a gravidade
disso.
- Como você pode nunca ter tido
uma amiga mulher?
Ele fixou seus olhos nos meus.
- Todas elas já começavam a
amizade com segundas intenções.
Depois de um tempo eu me
acostumei
e descartei todas as possibilidades
de uma amizade assim.
Senti um ciúme irritante
percorrendo minhas veias.
- Ah. – Eu murmurei sem saber o
que dizer.
Ele balançou a cabeça em negativa
e me puxou pela mão até a varanda
do quarto, que era um pouco
maior que a varanda do meu quarto
– mas, claro, não dava para o
telhado – e nos sentamos um de
frente para o outro.
- E agora? – Ele perguntou com um
tom divertido.
Pensei por um momento.
- Que tal se a gente fizesse tipo um
jogo de perguntas? Amigos tem que
se conhecer mais do que tudo.
Ele assentiu.
- Você começa.
Passou pela minha cabeça em fazer
alguma pergunta séria e pessoal,
mas acho que isso iria ser se
aproveitar demais da situação.
- Qual sua banda preferida? –
Decidi começar pelo básico.
- Imagine Dragons. – Ele disse sem
nem pensar duas vezes. – E a sua?
- Maroon 5, o Adam Levine é
perfeito e... – Parei de falar quando
notei a expressão de raiva no rosto
dele. Melhor mudar de assunto. –
Qual seu livro preferido?
- O Código Da Vinci. – Ele
respondeu depois de um tempo
pensando, o que significava que ele
tinha
lido muitos livros na vida. – E o
seu?
- Harry Potter e a Ordem da Fênix –
Eu respondi.
Ele sorriu.
- É um dos meus preferidos
também. Sabia que o nome da
escola em que você estuda é uma
homenagem a J.K Rowling?
- Sabia! – Eu respondi animada. –
Ela é a mulher mais perfeita que já
pisou na Terra.
Ele balançou a cabeça.
- Não.
- Não?
- Não, a mulher mais perfeita que já
pisou na Terra é vo... – Então ele
parou bruscamente. – Amigos.
– Ele falou mais para si mesmo do
que para mim. – Quase esqueci.
Argh. Ele ia dizer que era eu. E eu
iria beijá-lo e esqueceríamos todas
as merdas que aconteceu hoje.
Pena que isso não aconteceu.
- Então Joshua, por que você
escolheu pedagogia? – Eu
perguntei, já que desde o momento
em que eu
descobri isso fiquei morrendo de
curiosidade.
Ele pensou por alguns segundos.
- Porque eu queria ser útil. Não sei
se faz sentido, mas às vezes eu olho
em volta e percebo que
ninguém está fazendo nada para
mudar tudo que está errado e...
Bem, eu não queria ser assim. – Ele
desabafou, desviando os olhos.
Eu amo esse cara.
Um sorriso se espalhou pelo meu
rosto.
- Acho que você está certíssimo,
queria que todos pensassem como
você. – Eu suspirei a mais pura
verdade. – E o que você pretende
fazer com os alunos idiotas que
toda sala tem?
Ele deu de ombros.
- Vou ensiná-los como serem
pessoas que valem a pena, nem que
eu precise passar o ano todo
tentando. – Ele parecia bem
determinado. – E você, o que quer
ser quando crescer?
- Promotora ou advogada. Ou juíza.
Ou delegada. Ou veterinária. Ou...
Ele soltou uma risada fofa.
- Pelo jeito você é de varias faces.
Eu sorri.
- Você também é.
- Talvez, mas eu...
Então o celular dele começou a
vibrar e ele atendeu no mesmo
segundo, sem nem ver quem era.
- Oi... Bruno... Claro que você pode
me pedir um favor! – Ele olhou
para mim enquanto ouvia o
amigo. – Ah, já já eu chego ai. – E
desligou.
- O que aconteceu?
- Ele quer que eu passe na casa
dele para a gente conversar.
Isso significa que...
- Então a Amanda não dormiu com
ele!
- Por mais estranho que possa
parecer, ela não passou a noite lá. –
Ele sorriu assim que terminou a
frase. – O Bruno agora tem a
certeza de que ela é especial.
- Vá lá conversar com ele então. –
Eu disse, mesmo que nenhuma parte
do meu corpo quisesse que
ele fosse embora.
- Vou. Depois a gente continua a
conversa.
Eu assenti e sai do quarto para que
ele pudesse trocar de roupa.
No segundo em que eu toquei na
minha cama cai num sono
instantâneo.
[...]
- SOPHIA!! DEIXE DE MOLEZA,
JÁ ACABOU O FERIADO!
A voz gritante e meiga do Nicolas
me acordou de um sonho com o
Joshua.
- Hã... O que é você?
Ele riu.
- O cara mais sexy do mundo, agora
levanta dessa cama que temos que
ir para a escola!
Esfreguei bem os olhos para ter
certeza que ele real. É claro que
era. Nem em sonho eu verei um tom
tão único de azul como o dos olhos
dele.
- Ei, que carinha triste. – Ele falou
preocupado e se sentou na cama
perto de mim. – O que
aconteceu?
Então, bem rapidamente, eu
expliquei toda a minha historia com
o Joshua, desde o momento em que
eu entrei no quarto dele até o
segundo exato em que eu
praticamente desmaiei de sono.
- Ah céus... Por que o Michael faria
isso com vocês?
Eu revirei os olhos para essa
pergunta.
- Porque ele é cruel, simples assim.
- Não... Quer dizer, ele é, mas não
só isso. Ele não faria isso se não
tivesse um motivo.
- Ele não me quer com o Joshua,
esse é o motivo. – Eu falei meio
sem paciência.
Ele me olhou de um jeito estranho,
mas decidiu ficar calado.
- Ok. Agora vai se arrumar que eu
tou te esperando lá embaixo. – Ele
se despediu e me deu um beijo
na bochecha antes de ir.
O que ele estava querendo dizer? O
Michael não precisava de um
motivo para ser mau. Ele
simplesmente era.
Tomei um banho rápido e me
perguntei como iria ser daqui para
frente em relação ao Joshua. Não
vou conseguir ser amiga dele por
muito tempo. Não é possível. Eu
amo muito ele para isso.
Ah, por que nada podia ser
simples?
Coloquei qualquer roupa e desci
para o primeiro andar.
Quase cai de susto com a cena que
eu vi: O Michael conversando com
a Clara... Não, espera ai, o
Michael SORRINDO COM A
CLAIRE! Sorrindo de verdade, sem
malicia, sem deboche, só sorrindo
como uma pessoa relativamente
boa.
Entrei meio hesitante na sala de
jantar, sem saber muito como reagir
ao que eu estava vendo.
- Bom dia Susan! – A Clara disse
animada.
- Bom dia Clara... Hã... Bom dia
Michael. – Eu falei meio sem
convicção.
- Então, falou com meu irmãozinho?
Ele fez a coisa certa e perfurou seu
coração?
O sorriso dele me enganou. Ele
nunca seria alguém relativamente
bom.
- Na verdade, nós somos amigos
agora.
No mesmo a Clara e o Michael
trocaram olhares e percebi que com
certeza tinha alguma coisa no ar.
- Amigos? – O Michael perguntou
com um sorriso maldoso no rosto. –
Então ele deve tá puto com
você muito mais do que eu
imaginei.
Fechei o punho.
- Ninguém perguntou o que você
imagina ou deixa de imaginar. – Eu
rebati irritada.
- Oh, que resposta boa em,
aprendeu onde? No quarto ano? – O
Michael perguntou, seu tom exalava
ironia.
- Cala a boca.
Me virei no mesmo segundo e lá
estava ele. O Joshua, com uma
camisa vermelha meio colada e
uma
calça jeans azul-escuro quase do
mesmo tom que seus olhos. Era um
absurdo alguém ser lindo assim.
- Chegou o defensor dos indefesos.
– O Michael murmurou com raiva.
- Parem. – Todos se viraram no
mesmo segundo e eu vi um senhor
Fernando nem um pouco feliz na
porta da sala. – Entrem logo no
carro, eu que vou levar vocês.
Joshua, você vai ter a reunião hoje,
portanto, fique em casa. Ah e Clara,
sua mãe ligou, ela vem te buscar já
já. – Seu tom era tão
autoritário que nem sequer eu
pensava na possibilidade de negar.
Já sei de quem os filhos puxaram o
dom de mandar e fazer todos
obedecerem.
Todos nós assentimos e em menos
de cinco minutos eu estava ao lado
do Nicolas no banco de trás do
carro.
Chegamos em silencio no colégio e
o senhor Fernando não esperou nem
um minuto antes de ir
embora.
- Michael, tente não se meter em
nenhum briga hoje. – O Nicolas
disse um pouco antes de nós irmos
para a escada que dava direto na
sala. – E Susan... – Ele sorriu. – Se
cuida, ok? A gente se ver no
intervalo.
Ele saiu correndo até o outro lado
do campo e eu tive que estreitar os
olhos para ver de quem era os
braços que o puxaram pela cintura e
o tirou do chão. Era do Felipe.
- Eles são tão gays. – O Michael
murmurou e eu não consegui
identificar qual era o tom na sua
voz.
- Exatamente. E apaixonantes,
acima de tudo.
Seus olhos verdes-mar pousaram
nos meus.
- Que estranho.
- O que?
- Eu concordo plenamente com o
que você disse.
Olhei para ele sem entender.
- O que tem de estranho nisso?
Ele de uma risadinha.
- Eu odeio você, não era para eu
concordar.
Revirei os olhos e subi as escadas
para não ter que responder a ele.
Mal cheguei à sala e já consegui
ouvir o murmúrio de um monte de
meninas falando ao mesmo tempo.
- SOPHIA! – Elas gritaram ao
mesmo tempo e eu percebi que
tinha uma menina nova que eu não
conhecia. Assim como todas as
outras, ela tinha um cabelo longo e
preto e a pele bem branca,
também era bonita e sorriu pra mim
no segundo em que me viu.
- Oi povo. – Eu cumprimentei
sorrindo e abracei cada uma delas,
até a garota nova.
- Oi, meu nome é Gabrielle, eu tava
em Paris e não pude vim nesses
primeiros dias de aula.
Sorri.
- Acho que você já sabe meu nome.
- Menina, eu já sei é tudo sobre
você! – Ela disse rindo. – Pegando
o mais gostoso dos Hunter?
Como é que pode?
Eu ri com o jeito como ela falou e
decidi omitir o fato de eu não estar
mais pegando ele, até por que eu
não tinha nenhuma intenção de
continuar com aquele papo de
amizade.
- Nada a ver, o mais gostoso é o
Michael. – A Clara disse na
defensiva.
- Minha gente, nenhum se compara
ao Bruno. – A Amanda rebateu com
um sorriso tão grande que
cobria seu rosto todo. – Ai, eu não
sei como sobrevivi todo esse tempo
sem aqueles par de olhos
azuis.
- Isso porque você não viu o
professor Cavalcante me ensinando
sobre como...
- Isabela.
Ela corou no mesmo segundo e se
virou para o professor de química
que estava parado bem atrás
dela.
- O que você iria dizer mesmo? – A
Elena perguntou dando uma
risadinha e a Isabela a olhou de um
jeito mortal.
- É, fiquei curioso também. – O
professor disse olhando fixo para a
Isabela. – O que eu ensinei a
você mesmo?
- Química. – Ela respondeu e um
quê de malicia tomou conta da sua
voz. – Muito química.
Ele deu uma risadinha e foi para
frente da sala.
- Bom dia minha gente.
- O que você está fazendo aqui? É
aula de Biologia! - Alguém disse no
fundo da sala, mas eu nem
tive o trabalho de me virar para ver
quem era.
- Ah sim, o professor Barbosa não
pôde vir e como eu sei desse
assunto, ele pediu para eu dá uma
iniciação para vocês.
- Qual é o assunto? – A Bia
perguntou já abrindo o caderno e o
estojo.
O professor sorriu e seus olhos
puxados brilharam por algum
motivo.
- Reprodução.
Uma onda de sussurro passou pela
sala e a Isabela sorriu pervertida.
- Eu adoro esse assunto. – Ela
falou, alto demais para um
comentário só entre as meninas.
- Então senta no meu pau que eu
também adoro esse assunto!
A sala toda se virou para ver um
menino moreno com olhos com de
mel e uma cara de cafajeste
extremamente sexy. Todos os
meninos riram do que ele disse.
Menos o professor.
- Paulo, saia de sala agora mesmo.
O menino se levantou no mesmo
segundo.
- Foi só uma brincadeira, não
precisa levar tão a sér...
- SAIA! – O professor gritou de
raiva e eu percebi que tinha mais
coisa no tom de voz dele. Tinha
ciúmes. – Você vai ter que aprender
a respeitar as garotas.
- Você ouviu o que ela disse? Ela
que não se respeita!
O professor abriu a porta da sala
com força e apontou para o
corredor.
- Ou você sai agora mesmo ou eu
faço você ser expulso desse colégio
antes que possa dizer a
palavra “Biologia”! – Sua voz
estava carregada de fúria e ameaça.
A Isabela olhava para a cena sem
acreditar.
O tal Paulo nem discutiu, pegou as
coisas e foi embora o mais rápido
possível e assim que a porta se
fechou, a sala inteira parecia sem
folego.
- Mais algum comentário sem
graça?
Nenhuma resposta.
- Ótimo. E vocês, meninos,
deveriam aprender que é preciso
pensar antes de falar.
- Mas, ele só falou de zoa. – Um
menino com o cabelo castanho
claro que estava sentado ao lado da
cadeira vazia do Paulo disse.
Mas, as meninas – assim como eu –
tinham entendido o que aconteceu.
Foi ciúmes. Não foi por causa
do que ele disse, mas sim para
quem ele disse.
O sorriso no rosto da Isabela não se
apagou nem por um segundo durante
o resto da aula.
- Tchau professor! – A Isabela
correu para abraça-lo antes de ele
sair da sala e eu notei que a mão
dele a puxou pela cintura para cima
e ele sussurrou alguma coisa no
ouvido dela. – S-sim, eu o-od-
odeio ele. – Ela sussurrou de volta,
as palavras saindo com dificuldade
por causa do estado de
choque dela.
Cinco minutos exatos depois que o
professor Cavalcante saiu, a Dóris
– professora de interpretação
de texto – entrou na sala com o
braço engessado.
- Então, hoje vocês vão ler um
clássico da literatura mundial:
Romeu e Julieta. – Ela falou para
nós enquanto ia para frente da sala
e escrevia no quadro. – Mas antes...
Susan, pode me fazer um favor?
- Claro, professora. – Eu respondi
me levantando.
- Vá até o refeitório e traga um
copo com água para mim, por favor.
– Ela pediu e eu fiz que sim com a
cabeça.
Assim que abri a porta da sala dei
de cara com o Edu.
- O que você tá fazendo aqui fora?
- Cheguei atrasado. – Ele disse com
um pouco de vergonha. – Só posso
entrar na próxima aula. E
você?
- Vou buscar água para a
professora.
- Quer que eu vá com você?
- Não precisa, volto já! – Eu dei um
beijo na bochecha dele e desci as
escadas.
O colégio enorme ficava
estranhamente vazio nesse horário,
tirando pelos funcionários, não
tinha
ninguém nos corredores e no campo
principal. Andei rápido até chegar
no refeitório e fui até a banca da
cantina, onde um cara estava virado
de costas para mim, arrumando
alguma coisa.
- Bom dia. – Eu cumprimentei o
homem e ele se virou para mim.
Eu o conhecia de algum lugar. Ele
tinha um cabelo castanho claro que
combinava perfeitamente com
um par de olhos verdes e um corpo
que fazia eu querer agradecer a
Deus por... Então eu lembrei.
Era o garçom da festa do Bruno.
- Eu conheço você de algum lugar.
– Ele falou me olhando com
curiosidade.
- Eu estava na mesa com a Elena.
Um sorriso apareceu no seu rosto e
eu notei que ele tinha uma covinha
profunda na sua bochecha, do
lado direito.
- E ai, como foi a festa?
- Ótima. – Menti. – E para você?
Ele corou.
- Tão boa que eu procurei um
emprego para ficar mais perto dela.
- Do que exatamente você está
falando? – Eu perguntei intrigada.
Ele sorriu meio tímido, muito
diferente do garçom safado da
festa.
- Você pode ter uma ideia do que
fizemos depois que eu a puxei para
o quarto mais próximo. Mas,
isso não iria torna-la especial SE
ela não tivesse feito o que fez
depois.
Me sentei na banca da cantina, para
poder ouvir melhor.
- O que ela fez?
- No meu serviço da festa, eu teria
que servir 200 mesas para poder
sair e isso iria demorar umas 2
horas, então, quando eu expliquei
isso para a Elena, depois da gente
ter voltado do quarto, e ela... –
Ele sorriu. – Ela me decidiu que
iria me ajudar, para que eu pudesse
acabar mais rápido. E ela
realmente me ajudou. Eu acabei em
menos de 40 minutos com ela me
ajudando a servir as pessoas.
Dá para acreditar que ela fez isso?
- Que coisa fofa. – Eu deixei
escapar baixinho.
- É, eu pensei isso também. Então, a
gente voltou para o quarto e
começamos... A conversar! Eu
nunca conversei com uma garota
como conversei com a Elena. Por
isso, depois que acabou a festa e
tudo mais, eu pedi para o Bruno me
dizer em qual colégio ela estuda
para que eu pudesse pensar no
que fazer. E, por causa destino eu
acho, eles estavam precisando de
alguém para a cantina.
Eu sorri.
- Essa deve ser uma das historias
mais fofas que eu já ouvi!
- Mas, não conte para ela ainda.
Quero que ela tenha uma surpresa.
[...]
O resto do dia passou voando.
A Isabela prometeu que iria contar
todos os detalhes sobre o que
aconteceu entre ela e o professor
Cavalcante amanhã e a Elena quase
desmaiou de emoção quando viu
que o Lion estava trabalhando
na cantina. Nem preciso dizer que
eles se beijaram. Se beijaram
muito.
Antes que eu pudesse me dá conta,
já estava em casa, sentada na borda
da cama do meu quarto.
O motorista do Joshua foi quem
buscou eu, o Michael e o Nicolas
da escola, dizendo que o Joshua
ainda estava na reunião.
Então o Nicolas entrou voando no
meu quarto, atrapalhando meus
pensamentos.
- SOPHIA!! POR QUE VOCÊ TÁ
AQUI SEM FAZER NADA? – Ele
perguntou correndo para ficar
perto de mim, seus olhos brilhando
de animação.
- Porque eu...
- VOCÊ VAI AGORA MESMO
FALAR COM O JAMES!
- Por que eu faria isso?
- Lembra não? Nesse momento
você está na friendzone. – Ele falou
a ultima palavra como se fosse
uma doença e eu ri.
- É, ele tá no quarto?
- Prontinho para você.
Dei um risinho e corri até chegar na
porta do quarto do Joshua. Respirei
fundo antes de dá uma
batidinha.
- Posso entrar?
- Claro. – A voz dele veio do outro
lado da porta e eu senti meu
coração acelerando
instantaneamente.
Entrei no quarto e fui direto para
onde o Joshua estava, sentado na
cama dele mexendo em alguma
coisa no celular.
- Oi, como foi seu dia? – Eu
perguntei sorrindo e sentando na
frente dele, olhando fixos para
aqueles olhos azuis.
- Muito bom, consegui tudo o que
eu queria na reunião.
- E o que você queria?
- Depois te conto. – Ele falou com
um tom de mistério que combinava
perfeitamente com ele. – E o
seu dia?
- Voltamos ao jogo das perguntas? –
Eu perguntei rindo e ele sorriu.
- Claro, por que não?
- Sou totalmente a favor. Meu dia
foi legal. – Eu respondi sem muitos
detalhes.
- E qual sua musica preferida?
Sorri.
- Hey Jude e a sua?
- Demons, com certeza.
- O que você mais fazia quando era
pequeno?
- Brigava com o Michael. – Ele deu
uma risadinha. – Acho que as
coisas não mudaram muito.
Michael. Só de pensar nele meu
estomago se contraia de nojo.
- Qual sua cor favorita?
Pensei um pouco. Na verdade, eu
gostava de todas as cores.
Então um raio de sol invadiu o
quarto e eu percebi que existia
apenas uma cor que eu não
conseguiria viver sem.
- Azul.
- Que tom? – Ele perguntou
intrigado.
Antes que ele pudesse dizer alguma
coisa eu fui para perto dele, tão
rapidamente que ele perdeu a
respiração.
- O do seus olhos. – Eu sussurrei.
Minha boca roçava seu ouvido.
- Susan...
Eu me afastei dele bem devagar.
- Não vou aguentar ser sua amiga.
Ele suspirou.
- Eu amo você.
Meu coração errou uma batida e eu
senti meu corpo todo se acelerando.
- Eu também amo você. – A
resposta saiu da minha boca com
tanta facilidade que eu não tina
nenhuma duvida da sinceridade
nela.
- E agora?
- Agora a gente se beija até perder
o folego e esquece todos os
problemas.
E foi exatamente isso que fizemos.
Nossas bocas se encontraram como
se tivessem ficados anos sem se
ver. Cheias de interrogações e
saudades, mas mesmo assim foi o
beijo mais doce que eu já recebi em
toda minha vida. As mãos do
Joshua me puxaram pela cintura e
ele me levantou da cama.
Então perdemos o folego.
- Eu só queria que as coisas fossem
mais fáceis. – Ele sussurrou com as
mãos firmes na minha
cintura, como se eu sequer pensasse
em sair dali.
- Elas vão ser. – Eu disse tentando
convencer a mim mesmo. – Eu juro.
- Você jura? – Ele me puxou mais
para perto. – Porque EU juro que se
voce não sair correndo agora
mesmo eu nunca mais vou te soltar.
Eu não sai correndo.
- Mas, por favor, tente ter mais
calma com meu coração. – Ele
disse baixinho, quase suplicando. –
Eu não vou aguentar outra sessão de
tortura como essa.
- Eu nunca mais vou partir seu
coração.
Ele sorriu e me beijou de novo.
Ele me pegou no colo e me colocou
de novo na cama, me olhando como
se eu fosse uma caça e ele o
caçador.
- Puta merda, você vai ter que
trocar essa roupa.
- Por quê?
- Porque eu não tenho tanto
autocontrole assim. – Ele disse
mordendo o lábio inferior.
Pensei um pouco. Eu ainda não
estava pronta para dizer que ele não
precisava mais de autocontrole.
- Assim que você me responder a
uma pergunta.
- Diga.
- O que vocês decidiram na
reunião?
Ele sorriu.
- Que eu vou ser o professor que
vai comandar a viagem da sua
turma, vai ser um acampamento.
AI MEU DEUS!
- COMO ASSIM? – Eu perguntei
sem acreditar.
- Eu, você e um bando de outros
alunos que não iriam notar se a
gente fosse para um canto da
floresta e fizesse... Bem, depende
do seu humor. – Seu tom irradiava
malicia.
- Quando vai ser isso?
- Daqui a uma semana.
20. Ele me ama. Isso que importa.
- Vai ser tão legal.
Ele sorriu e eu esqueci como se
respirava. Nunca vou me acostumar
com aquela covinha no canto
esquerdo da sua bochecha, nunca
vou me acostumar com o jeito como
meu coração acelerava a cada
sílaba que ele dizia. Nunca vou me
acostumar com o tamanho do meu
amor por ele.
- Não. – Ele se aproximou de mim e
senti seu respiração a menos de 5
centímetros do meu ouvido. –
Vai ser muito mais que legal. Vai
ser o melhor dia da sua vida.
Lá no fundo da voz dele eu
encontrei o que ele estava tentando
me dizer.
Eu terei a minha primeira vez
naquele acampamento.
Um turbilhão de pensamentos
invadiu a minha mente, todos eles
morrendo de preocupação com o
que
poderia acontecer.
O Joshua se afastou de mim.
- Disse alguma coisa errada? – Ele
perguntou olhando preocupado para
o meu rosto.
Ah merda, será que eu estou com
cara de assustada? Provavelmente.
Nunca soube esconder o que
pensava.
- Não é isso, é que... – Eu deixei o
resto no ar. Não sabia como
completar a frase sem magoar ele.
É claro que ele entendeu o que eu
estava tentando de dizer.
- Susan, você acha que eu não sei o
quanto esse momento vai ser
importante para você? – Ele pegou
as minhas mãos, seu toque era
quente e acolhedor. – Você acha que
eu não sei que você vai querer
lembrar para sempre do que
acontecer?
Eu balancei a cabeça em negativa.
Eu sei que ele sabe.
- Mas... – Eu tentei encontrar
palavras para dizer o que eu estava
pensando. – E se eu não for boa o
bastante?
O canto da sua boa inclinou para
cima.
- Você já é melhor que o bastante,
entende isso? Você faz eu controlar
todos os meus hormônios, ao
mesmo tempo que mexe com cada
um deles e... Mexe também com a
minha sanidade.
- Fala sério, Joshua! Você já teve
um trilhão de garotas, nem venha
com esse papo de “você já é
melhor o bastante”! – Eu me
levantei da cama, irritada por
algum motivo que eu não conseguia
entender.
Ele se levantou também, sorrindo.
- Um trilhão de interesseiras? Você
ganha delas só com um revirar de
olhos. – Ele se aproximou de
mim e me puxou pela cintura. – Na
verdade, você consegue ganhar
delas só com a sua respiração.
Meu coração deu duplo mortal
farpado.
- Por que você fala essas coisas? É
para conseguir meu corpo nu? – Eu
perguntei tentando parecer
séria.
Ele deu uma risadinha.
- Ah claro, porque eu passaria
noites e noites sem dormir,
pensando no que vou dizer para
você no
dia seguinte, só para ter sexo, que é
uma coisa super difícil de
conseguir. – Ele respondeu irônico.
Não aquele irônico como o que o
Michael usa, o irônico do Joshua
era diferente, era apaixonante.
- Você faz o quê? – Eu não
conseguia acreditar no que ele tinha
dito.
Ele desviou os olhos e, eu juro, se
ele fosse qualquer outra pessoa
teria corado agora.
- Acho que falei demais. – Ele
disse sem olhar para mim. – Mas é
isso mesmo.
Eu fiquei de na ponta dos pés e seus
olhos pousaram nos meus.
- Quantas vezes no dia eu vou ter
vontade de dizer que te amo?
Ele sorriu.
- Um bilhão de vezes a menos do
que eu, pode ter certeza disso.
Ele aproximou sua boca da minha
devagar, como se fosse nosso
primeiro beijo. Primeiro ele me deu
um selinho demorado, suas mãos
seguras na minha cintura e as
minhas na sua nuca e no seu cabelo
dourado.
Então alguém bateu na porta.
Ele me soltou lentamente, sem
pressa nenhuma em falar com quem
quer que tenha atrapalhado a
gente.
- Quem é?
- Sua mãe. – A voz da Dona Nicole
veio do outro lado da porta, com
aquele tom animado e doce que
o Nicolas também tem.
Ele acenou com a cabeça para que
eu me sentasse no sofá e foi até a
porta.
O sofá ficava em frente à TV e eu a
liguei antes de sentar.
- Oi mãe, o que te leva aqui? – Ele
perguntou sorrindo e dando um
abraço nela.
- O Nicolas me disse que a Susan
estaria aqui, é que uns amigos dela
chegaram.
Me levantei no mesmo segundo.
Não estava esperando ninguém.
- Ah, o Bruno ligou e disse que iria
vim aqui. – A Dona Nicole
completou.
- Sim... Eu falei com ele. – O
Joshua disse meio confuso. – Que
amigos da Susan estão aqui?
Eu fui até onde eles estavam, minha
mão tocando a do Joshua.
- Um monte de meninas e um ruivo
extremamente fofo. – Ela disse
dando uma risadinha.
O Joshua segurou a minha mão, mas
não de um jeito carinhoso. Foi de
um jeito possessivo.
- Vamos descer em um segundo.
Os olhos da Dona Nicole foram
direto para minha mão na mão do
Joshua e um sorriso surgiu no rosto
lindo dela.
- Ok. Vou ficar lá com eles até
vocês chegarem.
Assim que ela saiu, o Joshua se
virou pra mim.
- Um Lohan? – Ele perguntou com a
voz cheia de ciúmes.
Revirei os olhos.
- Assim como você é muito melhor
que o Michael, o Edu é muito
melhor que a Jane. – Eu respondi
no mesmo segundo, como se
estivesse guardando essa resposta
na ponta da língua.
- Lá vem você de novo falar do meu
irmão como se ele fosse um
monstro.
- ELE É! – Eu falei mais alto do
que o necessário. – Ele que fez
você achar que eu não te amava
mais e depois, quando eu tava indo
falar com você, ele disse que
estava cumprindo a promessa que
ele
fez.
- Que promessa?
- A que eu iria me arrepender de ter
nascido.
Ele me olhou de um jeito estranho
por alguns segundos, então
balançou a cabeça.
- Bem, então vamos descer que eu
quero ter certeza sobre esse tal de
Edu.
Ele me puxou para fora, mas eu não
me mexi.
- O que foi?
- Você acha mesmo que se o Edu
fosse tipo a Jane, eu não iria dá um
fora nele como você deu nela?
Em vez de responder, ele me deu
um selinho.
- Eu sei que você daria o fora do
século nele, mas eu não quero que
ele seja como a Jane. Ninguém
merece uma Jane na vida. – Tentei
encontrar alguma raiva no tom dele,
mas ele parecia indiferente.
- Bora, eles estão esperando.
Descemos a escada rapidamente e o
Joshua não soltou minha mão nem
um segundo.
- Aleluia! – A Amanda gritou assim
que nos viu e todas as meninas
correram para perto da gente.
Abracei cada uma delas e elas
abraçaram o Joshua depois.
- Vocês são tão fofos juntos. – A
Bia disse sorrindo.
- Eu sei, eu sei. – O Joshua
respondeu ajeitando o cabelo, como
se pudesse ficar mais perfeito do
que já estava.
Dei uma olhada na sala e vi o Edu
conversando animadamente com a
Dona Nicole. Soltei a mão do
Joshua com cuidado e corri até
onde ele estava.
- EDU! – Eu gritei animada e ele se
levantou no mesmo segundo, me
dando um braço forte. – O que
vocês fazem aqui?
- As meninas disseram que seria
uma boa ideia vim e... – Ele corou.
– Eu estava curioso para saber
onde morava os Hunter.
A Dona Nicole deu uma risadinha
fofa.
- Então, estamos aprovados?
O Edu sorriu.
- Até mais que isso.
Ela assentiu, sorrindo, e foi até a
porta de entrada.
- Eu vou indo, divirtam-se. – Ela
disse, então se virou e saiu.
Todos nós nos jogamos no longo
sofá dos Hunter. Todos menos o
Joshua, que continuou em pé,
olhando fixo para o Edu. Espero
que ele entenda logo o quanto o Edu
é diferente da Jane.
- Dá para vocês me explicarem o
que vieram fazer aqui? – Eu
perguntei para a Isabela.
- Eu fiquei com saudades da sua
casinha. – A Clara respondeu
sorrindo e eu me perguntei do que
exatamente ela estava com
saudades. Espero que não seja do
Michael. Mas... Nem faz sentido ser
dele, já que eles ainda nem se
beijaram. Eu acho.
- AHAM, DA CASINHA. – A
Gabrielle gritou irônica e todo
mundo começou a rir.
O Joshua olhou confuso para ela.
- Acho que... Eu vou para o meu
quarto, não entendo nem um pouco
a conversa de vocês. – Ele falou
indo em direção à porta.
- Ei Joshua! – A Amanda chamou e
ele se virou para ela. – O Bruno
vem pra cá?
Ele sorriu.
- Se você ligar para ele nesse
segundo ele chega aqui em menos
de um minuto, pode ter certeza. –
Ele respondeu e subiu as escadas.
- Ai meu Deus, vocês acham que
ele falou sério? – A Amanda
perguntou, corada.
- Claro. Você não acha? – Eu
perguntei de um jeito meio
acusatório. Como ela podia duvidar
do
quanto o Bruno gosta dela?
Ela ficou mais vermelha ainda.
- Acho, mas é tão... Perfeito ter
encontrado alguém assim, tão
perfeito que eu fico me perguntando
se é mesmo real.
Sei como é. Sei muito. Sei mesmo.
Sei com todas as minhas forças. E
amo saber.
- Essa deve ter sido a coisa mais
fofa que você já disse. – A Clara
disse rindo. – Ei, coloca ai
música, Bia.
A Bia fez que sim a cabeça e
colocou Animals do Maroon 5.
Elas começaram a conversar sobre
alguém que estudava no JK ano
passado que agora estava
namorando uma outra pessoa que eu
não conheço e eu automaticamente
ignorei a conversa e me
voltei para o Edu, que estava
deitado no meu colo.
- Pensando em que? – Eu perguntei
enquanto mexia no cabelo vermelho
e lindo dele.
- Em como a Dona Nicole, mesmo
sendo assustadoramente parecida
com o Michael, consegue ser
uma pessoa tão simpática e... Boa.
– Ele murmurou a ultima palavra de
um jeito estranho, como se
não conseguisse admitir que estava
usando um adjetivo desses para se
referir a um Hunter.
- Eu sei, também vivo me
perguntando isso.
- É tão estranho.
- Mas é melhor do que se ela fosse
uma versão feminina daquele inútil.
Ele riu baixinho e eu quase não
conseguia mais ouvir as meninas
falando alto sobre pessoas que eu
nunca nem vi.
- Por que você odeia ele? Tipo, eu
odeio por causa de toda aquela
história com a Mônica, mas
você...
- Ah, ele não é um mar de rosas
comigo. Ele cismou que eu e o
Joshua temos que terminar e faz de
tudo para conseguir isso.
Ele me analisou por um tempo.
- Por que ele faria isso?
Revirei os olhos. Ninguém entendia
que simplesmente não tinha motivo?
Ele fazia porque era
maldoso, só isso.
- Porque ele é o Hitler do século
XXI.
O Edu riu, mas mesmo assim
parecia intrigado com qual seria o
motivo do Michael ser um belo de
um filho da puta.
- ... E ai Susan, o que você acha?
Olhei sem entender para a Elena,
que estava concluindo uma história.
- Sobre o que? – Eu perguntei meio
envergonhada por não ter prestado
atenção nela.
- Sobre eu e o Lion viajarmos
juntos nesse fim de semana! – Ela
respondeu animada.
- Não acha que vocês tão indo
rápido demais? – Tentei ser o mais
cautelosa possível com essa
pergunta, já que eu não queria
magoar ela nem nada disso.
O sorrio brilhante dela
desapareceu.
- Foi exatamente isso que eu disse!
– A Bia disse dando um tapinha no
braço do sofá. – E se ele não
for tudo isso que você pensa?
- Só por que você não tem
sentimentos, não quer dizer que
ninguém mais tenha. – A Elena
respondeu
com uma frieza que não combinava
nem um pouco com o jeito meigo
dela.
A Bia se levantou no mesmo
segundo.
- Eu TENHO sentimentos! – Ela
gritou na defensiva. – O problema é
que eu ainda não achei o grande
amor da minha vida, me perdoe por
isso. – Ela completou com
sarcasmo.
A Elena se levantou também.
- Então você não sabe como é
quando a pessoa acha. Eu sei, a
Andressa sabe, a Isabela, a Clara,
a...
- A Clara? – Eu perguntei, me
intrometendo na conversa. – Como
assim a Clara sabe?
As meninas olharam para mim sem
entender e a Clara ficou vermelha.
- É que eu... Tou namorando com o
Michael.
Puta merda.
- Por que você não me disse?
Ele desviou os olhos.
- Ele pediu para eu não contar.
- Por que ele faria isso?
O Edu olhou para mim assim que eu
fiz essa pergunta.
- Pelo menos motivo que ele não
quer que você fique com o Joshua,
talvez. – Ele sussurrou baixinho,
só para eu ouvir.
- Nada a ver. – Eu rebati no mesmo
tom de voz. Então me virei para a
Clara. – Ele não te disse o
porquê?
Ela deu uma risadinha.
- A gente não é muito de conversar.
– Um quê de malícia era facilmente
encontrado no tom dela.
Como alguém poderia ir para cama
com o Michael sem sentir nojo? Eu
não conseguia nem pensar na
possibilidade de beijar aquela boca
suja dele, quem dirá tirar a roupa
para aquele imbecil.
- Quando ele te pediu em namoro?
– Eu perguntei só para não ficar em
silencio.
- Ontem à noite. – Ela disse dando
de ombros.
Depois de quase ter estragado tudo
que eu poderia ter com o Joshua.
- Minha gente, tá bom de falar nele.
– O Edu falou meio irritado.
- Meu Deus Edu, faz tanto tempo
desde que ele fez aquilo com você,
não precisa mais ficar assim... –
A Clara tentou ser imparcial
enquanto falava, mas cada sílaba
que saia da boca dela estava do
lado
do Michael, ignorando os
sentimentos do Edu.
O Edu se sentou, se afastando do
meu colo, e olhou para a Clara
como se ela tivesse apontado uma
arma para ele. Coisa que, aliás, o
namorado dela já fez com o
Nicolas.
- Ele acabou com todas as minhas
chances com a Mônica, pra NADA!
Como eu posso não ficar com
raiva?
A Clara se calou no mesmo
segundo.
- Minha gente, pra quê tanta briga?
Elena e Bia, Edu e Clara... Já
chega. – A Iza pediu, se levantando
e colocando o braço no ombro da
Bia. – Somos todos amigos aqui,
não importa com quem a gente
namore ou quem a gente odeie.
Somos amigos e ponto final.
Olhei para a garota baixinha, com o
cabelo longo e muito liso na minha
frente e me perguntei se ela
diria isso se uma amiga dela
namorasse alguém que estraga a
vida de todos ao seu redor. Com
certeza não, mas decidi não
argumentar contra ela. Não tinha
pra quê.
- Ela tá certa, em vez disso a gente
poderia ouvir o que aconteceu
comigo e com o professor mais
bonito do Brasil. – A Isabela deu a
ideia, dando um sorrisinho
pervertido que combinava muito
com
ela. – Quem mais concorda?
Eu ri e levantei a mão junto com as
meninas. O Edu não parecia muito à
vontade com esse assunto.
- Acho que eu vou dá uma volta por
ai e vocês me ligam quando acabar
essa sessão. – Ele disse.
- Ei, se você encontrar o Michael,
tente não... – A Clara começou
falando, mas o Edu levantou a mão.
- Relaxe, não vou quebrar seu
namoradinho ao meio. – Ele falou e
depois saiu da casa.
Não tenho tanta certeza disso.
- Ótimo, agora que ele já foi, deixe-
me contar as paradas. – A Isabela
se levantou e a Bia e a Iza se
sentaram no sofá com eu e as outras
meninas, preparadas para ouvir.
Ela contou rapidamente toda aquela
parte do corredor, quando ela se
ajoelhou e ele a puxou para
cima e a levou para o quarto, como
se essa não fosse nem perto da
parte mais “Ai meu Deus” da
história. Então limpou a garganta e
se ajeitou para falar do que
aconteceu dentro do quarto.
- Assim que ele ligou as luzes eu
percebi que a gente estava bem no
quarto do Bruno, cheio de fotos
dele e blá blá blá, e ele me jogou
bruscamente na cama, quase com
raiva. – Seu tom estava vacilante,
como se só de falar ela ficasse
nervosa e muito, muito excitada. –
Ele me olhou com frieza e disse
“Eu odeio você por fazer eu
quebrar as regras” e eu não
respondi, então ele me puxou pela
cintura
para que eu ficasse por cima, suas
mãos firmes nos meus quadris e ele
suspirou antes de sussurrar no meu
ouvido. Ele sussurrou “E gosto de
você pelo mesmo motivo” e, eu
juro, meu corpo todo se
arrepiou ali.
Comecei a ficar nervosa só de me
imaginar no lugar dela e pelo jeito
as outras meninas também, pois
nenhum nem piscava para
acompanhar tudo.
- Ai ele começou a descer meu
zíper e antes que eu pudesse me dá
conta estava de calcinha e sutiã.
Ele me olhava como se eu fosse
uma prova difícil e mandou eu ficar
de pé. Eu fiz o que ele disse e
ele me analisou de cima a baixo. –
Ela fez uma pausa e corou. – Então
eu comecei a ficar irritada por toda
aquela demora e me sentei na cama,
cruzando os braços. E ele deu o
sorriso mais brilhante que
eu já vi em toda minha vida e me
colocou no colo dele em um
movimento rápido.
- AI MEU DEUS! – A Bia deixou
escapar. – Não acha que tá dando
detalhes demais não?
A Isabela revirou os olhos.
- Eu não iria contar tudo não. –
Então deu uma risadinha. – Só as
partes mais importantes.
- Tipo...? – A Elena perguntou.
- Tipo que de asiático ele só tem
aqueles olhinhos puxados mesmo. –
A Isabela respondeu e depois
passou a língua nos lábios de um
jeito extremamente malicioso.
- Isso porque você não viu o do
Michael. – A Clara murmurou
baixinho, mas como ela estava do
meu
lado eu ouvi. Argh. Preferia não ter
ouvido.
As meninas riram com o comentário
da Isabela e ela jogou o cabelo
preto para trás, sensualizando, e
elas riram ainda mais.
- Ei minha gente, olha quem eu
encontrei. – A voz do Edu veio do
outro lado da sala e todas nós nos
viramos para ver quem era.
Um sorriso surgiu no rosto da
Andressa assim que ela viu o cara
ao lado do Edu. Com a pele bem
branca e um cabelo muito preto em
contraste com a pele, um par de os
olhos azuis brilhantes e uma
roupa que definia cada musculo
dele; Bruno dava certinho para ser
um Hunter.
- Amanda! – O Bruno quase gritou e
seus olhos se iluminaram quando
ela se levantou e correu até
ele, dando um abraço tão forte que
ele deu um passo para trás. – Achei
que tinha chegado tarde
demais.
- Eu esperaria você. – Ela
sussurrou, mas foi alto o bastante
para todos ouvirem.
- Você não existe, meu Deus.
A Amanda deu uma risadinha e se
virou para nós.
- Eu posso ir dá uma volta com o
Bruno? Depois eu volto pra falar
com vocês.
- Vai logo menina. – A Bia disse
rindo e foi exatamente isso que eles
fizeram.
Assim que eles saíram, o Joshua
chegou.
- Ei meninas, vocês não querem
comer alguma coisa não?
A Elena se levantou e todas as
meninas se levantaram também.
- Nós vamos para uma pizzaria,
quer ir também?
Ele olhou para mim por um segundo
antes de responder.
- Não, eu tenho que cuidar de umas
coisas. – Seus olhos foram diretos
para os meus e subitamente se
iluminaram. – E tem que ficar tudo
perfeito.
O que será?
A pergunta tomou conta da minha
mente. Mas, eu não iria obter uma
resposta. Pelo menos não agora.
Mandei um beijo no ar para o
Joshua antes dele ir e ele sorriu de
um jeito adorável, então se virou e
saiu.
- E você, Susan? – A Iza perguntou.
- Claro, deixa eu só trocar de
roupa. – Assim que eu disse isso,
me lembrei do Joshua dizendo que
se eu não trocasse de roupa ele não
iria conseguir se controlar. O que
teria acontecido se eu tivesse dito
que ele não precisava se controlar
mais? Eu estaria aqui na sala com
as meninas ou teria dito para a
Dona Nicole dispensá-las, que eu
tava fazendo algo importante
demais? Eu estaria gemendo nesse
exato momento?
Afastei esses pensamentos. Eu optei
em esperar e ele aceitou. Porque
ele é uma das melhores
pessoas do mundo.
Subi as escadas e fui direto para o
meu quarto. Dei uma olhada rápida
no guarda-roupa e peguei uma
calça jeans preta com uma camisa
do Queen e sai do quarto ajeitando
o cabelo.
Então parei, olhando para as duas
portas na minha frente. A do quarto
do Nicolas e a do quarto do
Joshua.
Respirei fundo. Se eu fosse falar
com o Joshua agora, era muito
provável que eu não fosse querer
parar nunca. Então eu bati na porta
do Nicolas.
A porta se abriu bem devagar e eu
coloquei a cabeça para ver quem
estava do outro lado. Era o
Felipe.
- FELIPE! – Eu gritei surpresa e
abracei ele. Mal entrei no quarto e
o Nicolas trancou a porta atrás de
mim. – Como você entrou, eu tava
na sala esse tempo todo e...
- Seu quarto. – O Felipe completou,
ficando vermelho. – Me desculpa
ter entrado sem falar com
você, mas eu e o Nicolas decidimos
ainda ter cuidado com o pai dele,
por que... Nunca se sabe, né?
Concordei com a cabeça. Nunca se
sabe quando o pai do seu namorado
vai apontar uma arma para
você.
- Eu só vim avisar que eu vou pra
pizzaria com uns amigos meus e
que... Se vocês puderem, deem
uma passadinha no quarto do
Joshua, não quero que ele se sinta
abandonado.
Eles deram uma risadinha.
-OK. – Os dois responderam ao
mesmo tempo e eu sorri.
- É isso ai, tchau. – Eu falei me
virando e destrancando a porta.
Desci a escada e vi que nenhuma
das meninas estava mais na sala
então fui direto para fora da casa.
Elas estavam sentadas no meio-fio,
conversando.
- Voltei. – Eu me sentei ao lado da
Bia.
- Você tem que assistir um filme que
eu vi ontem! – A Isabela começou a
falar animada, então um
carro prata entrou na rua. – Olha,
Gabi, seu irmão chegou.
Nos levantamos no mesmo segundo
que o carro prata estacionou.
A porta se abriu quase em câmera
lenta, e um menino com uns 18 anos
saiu do carro. Meus olhos
quase arderam por causa da beleza
dele. Alto, com os olhos azuis,
cabelo castanho não muito escuro
e músculos definidos por trás de
uma camisa xadrez vermelha.
- E aí meninas. – Ele cumprimentou
sorrindo. – Me perdoem por não ter
ido ver vocês hoje na
escola, é que eu estava ajeitando
minha fixa, acreditam que
colocaram que eu faltei esses dias
por
que estava me divertindo em Paris?
– Ele perguntou indignado.
- E não era isso que você estava
fazendo? – A Bia rebateu,
estreitando os olhos. Ela parecia
acostumada com a beleza dele,
enquanto eu ainda estava sem ar.
Ele revirou os olhos.
- Não, eu estava na Holanda.
- Fazendo...? – A Bia insistiu.
O menino deu um sorriso digno de
comercial.
- Eu ganhei uma bolsa de estudos
da Universidade Radboud, umas
das melhores de toda a Europa.
- E por que porra você ainda vai
pra escola? – O Edu perguntou sem
entender.
Então, por mais estranho que
pareça, ele corou.
- Eu não queria perder o meu ultimo
ano, não queria ter que abrir mão
disso e... – Por meio segundo, seus
olhos pousaram nos da Bia, então
ele balançou a cabeça. – Ainda
preciso fazer algumas coisas
no Brasil antes de ir embora.
- Tipo nos levar para a pizzaria, né
Richard? – A Gabi perguntou se
encostando na porta do carro,
entediada.
- Claro maninha, você quem manda.
– Ele disse sorrindo e empurrou a
irmã para o lado, depois abriu
a porta e apontou para dentro. –
Entrem, gatas.
O Edu tossiu.
- Ah nem vem, você é um gatão
também. – O Richard deu um
risinho e o Edu revirou os olhos.
[...]
- Não acredito que você disse isso,
Bruno! – A Amanda empurrou o
ombro dele, muito vermelha. –
Eu não sou mais bonita que ela,
meu Deus.
Ele sorriu.
- Você é mais bonita que qualquer
garota no mundo.
A Isabela deu um tapinha na mesa,
meio indignada com o que ele
disse.
- Deixa, Isa, ele tá apaixonado. – A
Bia disse se apoiando o queixo no
punho, como se a coisa que
era mais quisesse na vida fosse
encontrar alguém como ele. O
Richard observava ela de um jeito
triste.
- Exatamente. – O Bruno concluiu,
sem desviar nem um segundo de
uma Andressa muito corada. – Eu
estou perdidamente apaixonado.
- Jesus! Eu preciso de um menino
urgente. – A Gabrielle deixou
escapar.
A Bia soltou uma risada.
- Dá uma chance pro meu maninho,
ele ama você desde sempre.
- Ah, ele é primeiro ano, não vai dá
certo. – A Gabi rebateu e depois
suspirou.
- Se ele fosse terceirão no mesmo
segundo você iria, né?
A Gabi deu um sorriso pervertido.
- Você não?
- Com certeza sim. – A Bia falou
rindo e o Richard levantou uma
sobrancelha para ela, mas só eu
notei.
Isso me fez lembrar o quanto o
Joshua é mais velho que eu. Cinco
anos. Quando ele estava
aprendendo a andar de bicicleta eu
nasci. Eu devo ter beijado no
máximo sete meninos em toda a
minha, e ele? Quantas garotas ele já
não deve ter levado para cama?
Um trilhão de interesseiras? Você
ganha delas só com um revirar de
olhos
Um sorriso bobo dançou na minha
boca. Não importa se ele já beijou
mais gente do que existem
estrelas no céu, porque ele me ama.
É isso que importa.
- Olha, a Susan deve tá pensando no
Joshua. – A Elena apontou para
mim, dando uma risadinha. –
Esse sorriso não engana ninguém.
- Tava mesmo. – Eu falei rindo. –
Como não pensar?
- Minha irmã odeia você, sabia? –
O Edu disse. – Eu tentei explicar
para ela que não tinha nada a ver
ter raiva de você, já que ninguém
escolhe por quem vai ser apaixonar.
Mas, obviamente, ela não me
ouviu. – O tom dele parecia
preocupado com o que ela poderia
fazer comigo.
- Eu sei. Obrigada por tentar, mas
não tem jeito, ela quer que eu me
arrependa por estar namo... –
Então eu parei bruscamente, não
parecia certa essa palavra.
- O quê? Não vai me dizer que você
não se considera namorada dele! –
A Iza disse quase irritada.
Corei na mesma hora.
- Ele não me pediu em namoro nem
nada. – Eu murmurei tímida, então
me virei para o Bruno. – Você
sabe de alguma coisa?
O Bruno sorriu.
- Saber eu sei, mas não posso
contar.
- Vai Bruno, por favor. – Eu insistir.
Ele negou com a cabeça e mudou de
assunto.
[...]
O jantar na pizzaria durou até umas
22h e eu cheguei em casa exausta,
antes que eu pudesse sequer
pensar em falar com alguém eu cai
na cama e dormi como um anjo.
O despertador me acordou de um
sonho extremamente estranho.
Estranho porque era o Michael
falando coisas meigas para mim.
Ele pedia desculpas. Desculpas
pelo que fez, por ter feito da minha
vida um inferno e... Por ter matado
alguém importante para mim.
Balancei a cabeça em negativa,
aquilo com certeza era um
pesadelo, não um sonho. Sonho
seria se
fosse o Joshua sendo Joshua. Não o
Michael sendo... Michael.
Fiz minhas necessidades no
banheiro e coloquei a mesma calça
jeans que usei no jantar de ontem,
junto com uma camisa preta com
manga longa, com uma estampa do
Batman. Essa não foi o Nicolas
que comprou, mas eu achei que
seria bom usar coisas da minha
antiga vida.
Fui para o primeiro andar e senti
todo o meu bom humor indo pro
espaço quando eu vi o Michael na
mesa, tomando café.
Me aproximei e ele me olhou de
cima a baixo.
- Olha só quem tá parecendo um
menininho.
- Olha só quem não consegue calar
a porra da boca. – Eu rebati
irritada.
Ele sorriu de um jeito convencido.
- Você aprendeu rapidinho.
- O quê? – Eu perguntei me
sentando na frente dele.
- A dá respostas rápidas. – Ele me
analisou por alguns segundos. – Ah,
se você fosse um pouquinho
mais bonita poderia até se passar
por uma Hunter.
Eu revirei os olhos.
- Só se for o lado bom da família,
por se for para ser do seu lado eu
prefiro ser pouco bonita mesmo.
Isso não pareceu irritar ele, ao
contrário, ele parecia estar se
divertindo.
- E qual é o lado bom? O doce
Nicolas ou o sensual Joshua?
- Os dois, só não o ridículo
Michael. – Eu respondi no mesmo
tom dele.
- Ah, que pena, ele é o mais
gostoso.
Me levantei da mesa, sem nem
tocar na comida.
- Não concordo com isso.
Ele se levantou também.
- Não preciso que você concorde.
- Foda-se.
Seus olhos verdes-mar brilharam.
- Por que eu iria me auto foder se
eu posso sair e foder outras
pessoas?
- Tipo a Clara? – Assim que as
palavras saíram da minha boca eu
me arrependi de ter dito isso, não
parecia certo tratar ela dessa forma.
Ela não era uma vadia. Ela nunca
tinha feito nada comigo para
eu falar algo assim.
Ele levantou uma sobrancelha.
- Como você sabe disso?
Pensei um pouco: Ela disse que ele
não queria que eu soubesse, então,
se eu dissesse que ela que me
contou, ele provavelmente iria fazer
alguma merda que a magoaria.
- As meninas me disseram.
- Ah.
- Não queria que eu soubesse? – Eu
perguntei, estreitando os olhos.
- Foda-se você. Eu não queria era
que ela saísse espalhando por ai. –
Ele falou, mas é claro que era
mentira.
- Ei, vocês vão passar o resto da
manhã brigando ou vão para
escola?
Me virei assim que ouvi essa voz e
lá estava o Joshua, com um mão no
bolso e a outra girando a
chave do carro com o dedo
indicador. Ele parecia a pessoa
mais confiante do mundo. Talvez
fosse.
- Chegou o salvador da pátria. – O
Michael murmurou baixinho. – Bom
dia, Joshua. – Ele completou
mais alto dessa vez.
- Bom dia, anjinho. – O Joshua
respondeu cínico, então seus olhos
se voltaram para os meus e ele
sorriu. – E bom dia, anjinha.
Sorri e corri para abraçar ele.
- Me desculpa ter abandonado você
ontem. – Eu sussurrei no ouvido
dele.
Ele deu de ombros.
- Tudo bem, eu realmente tinha
coisas para ajeitar.
- E ajeitou? – Eu perguntei me
afastando para olhar para ele.
- Com certeza. – Ele respondeu
com tom de mistério.
O Nicolas desceu correndo nesse
segundo, vermelho.
- Vamos? – Ele perguntou ofegante.
- Você tem cinco minutos para
tomar café. – O Joshua disse com
aquele velho tom de autoridade que
eu já estava me acostumando a
ouvir naquela casa.
Acabei indo tomar café com ele, já
que minha primeira tentativa foi
atrapalhada com um filho da puta
irritante, e cinco minutos depois
nós entramos no carro do Joshua.
Eu no banco do passageiro.
- Joshua, tu sai de que horas da
faculdade hoje? – O Nicolas
perguntou enquanto eu colocava o
cinto.
O Joshua olhou para mim por um
segundo.
- Não vou para a faculdade hoje.
- Por quê? – Eu perguntei, curiosa.
- Tenho que fazer uma coisa muito
importante.
- Posso saber o que é?
- Com certeza você vai saber. Na
hora certa.
Ele colocou um CD dos Beatles e
ficou apertando na seta direita até
encontrar a música que queria.
Assim que começou a música que
reconheci qual era.
Era Hey Jude.
Ele lembra. Ele não está chateado.
Ele... Então a mão dele que não
estava no volante tocou a minha
de um jeito carinhoso.
Ele me ama.
21. Pistas
- Ótima música. – Eu comentei
baixinho enquanto apreciava as
boas sensações que a mão do
Joshua
me causava.
- Acha mesmo? – Ele perguntou
com um tom divertido. – Eu
coloquei porque é a preferida de
uma
amiga minha.
Um sorriso tomou conta do meu
rosto, como sempre acontece
quando eu falo com o Joshua.
- Desde quando você tem amigas
mulheres? – A voz do Michael
apagou meu sorriso como uma
lâmpada, como sempre acontece
quando ele abre a porra da boca.
- Desde um dia bem mágico
chamado Não É Da Sua Conta.
Pelo espelhinho, vi o Michael
revirando os olhos.
- Você dava respostas melhores
quando tinha cinco anos. – Ele
retrucou.
- É por que hoje em dia eu estou
muito apaixonado para pensar em
qualquer outra coisa.
Mordi o lábio inferior.
- Oh, quem será a garota? – O
Michael perguntou com aquele tom
de ironia dele. – Deixa eu
adivinhar... Ela é uma morena sem
nenhuma qualidade citável?
Argh. Odeio quando ele usa
palavras difíceis, como se fosse
superior.
O Joshua soltou a mão devagar,
apenas para fazer uma curva
perfeita.
- Na verdade, não. – O Joshua
sorriu e parou em frente ao colégio
JK. – Ela é uma morena gentil,
inteligente e extremamente linda
que acaba com você só com um
olhar.
- Acho que não conheço essa
menina.
- Acho que vocês deveriam parar
de brigar. – O Nicolas disse
irritado.
Todos se viraram para ele. O
Nicolas nunca utilizava esse tom.
- Aprendeu a usar uma voz de
macho, foi? – O Michael perguntou
e eu fechei o punho com raiva.
O Nicolas sorriu suavemente.
- Não sei. Só sei que não aguento
mais vocês dois agindo como se
estivessem em uma disputa.
O Michael abriu a boca para falar
alguma coisa, mas o Joshua
levantou um dedo.
- O Nicolas tá certo. Vamos parar,
ok Michael?
- Ok. – O irmão mais novo
murmurou quase friamente. Ele não
iria parar.
Ninguém disse mais nenhuma
palavra.
Assim que saímos do carro, o
Joshua andou até ficar do meu lado
e segurou na minha mão.
- Às vezes eu tenho vontade de me
desculpar por causa das coisas que
o Michael diz. – Ele sussurrou
tão baixinho para mim que eu
provavelmente não entenderia se
não estivesse olhando fixamente
para
sua boca.
- Não precisa. Eu acho mais
importante ouvir as coisas que meu
tio-avô bêbado fala do que
qualquer
merda que sai daquela boca suja
e...
O sorriso dele atrapalhou minha
frase.
- Por que você está sorrindo?
Ontem mesmo você brigou comigo
por falar do seu irmão como se ele
fosse um monstro!
O Nicolas e o Michael já tinham
ido embora. E agora, mesmo com o
campo central ainda com alguns
alunos e todos os funcionários ao
nosso redor, eu senti como se
estivesse sozinha com o Joshua.
- Eu ainda não acho que ele seja um
monstro, ele só ainda não encontrou
alguém que o coloque no
eixo. – Os olhos do Joshua me
observaram por alguns segundos. –
Eu era ainda pior antes de
conhecer você.
Tive vontade de revirar os olhos,
mas me segurei. Não gostava de
falar do antigo Joshua.
- Então você deveria me agradecer.
Ele colocou as mãos na minha
cintura e me puxou para perto dele,
levantei a cabeça para conseguir
olhá-lo nos olhos.
- O que eu tenho que fazer para
provar minha gratidão? - Ele
perguntou, o ar quente saindo da
sua
boa fazendo cocegas no meu
ouvido.
Nada. Você não precisa fazer nada,
Joshua.
Eu estava prestes a falar isso
quando senti as mãos do Joshua se
afastando de mim tão rápido que eu
quase me desequilibrei.
- Quem é você? – Ele perguntou e
eu me virei para ver quem era que
tinha atrapalhado nossa
conversa.
Reconheci no mesmo segundo o
menino quase da altura do Joshua,
os olhos dele pareciam mais
claros por causa da luz do sol e seu
cabelo foi do castanho escuro que
eu vi ontem para um tom perto do
loiro.
- Meu nome é Richard. – Ele
cumprimentou, sem sorrir. – Acho
que a Susan deveria estar na aula.
O Joshua levantou uma sobrancelha
para ele.
- Acha é? – Seu tom era desafiador,
como o que uma cobra falaria antes
dá o bote. Ele muda de
humor muito rápido.
O Richard sorriu.
- Não precisa se armar todo. – Ele
disse levantando as mãos, como se
estivesse se rendendo. – Eu já
estou em outra, mas eu realmente
acho que a Susan deveria ir pra
aula.
O Joshua olhou para mim.
- Ele tem razão. Foi muito
irresponsabilidade da minha parte
ter...
Calei ele com um beijo. Suas mãos
foram para minha cintura e ele me
puxou para cima no mesmo
segundo, fazendo minhas mãos não
terem escolha a não ser segurar na
sua nuca e o puxar mais para
mim.
Depois de alguns segundos, nos
afastamos. O Richard nos
observava de um jeito estranho,
como se
fossemos uma fórmula de
matemática que ele simplesmente
não conseguia aprender.
- Tchau Susan. – O Joshua se virou
e foi para o corredor que dava para
as salas principais, tipo a do
diretor e coordenadores. Ele
provavelmente veio para uma
reunião sobre o acampamento.
Só quando ele saiu de vista, eu me
virei para o Richard.
- Você acha que eu entro para a
primeira aula ainda?
Ele pegou o celular do bolso e viu
a hora.
- Só daqui a 10 minutos.
- E você?
- O mesmo. – Ele veio até onde eu
estava e colocou o braço no meu
ombro de um jeito amigável. –
Vem, vamos sentar.
Andamos até o meio do campo e
sentamos num banquinho vermelho
com flores ao redor. Notei que o
Richard não parecia exatamente
feliz.
- Tudo bem com você? – Eu
perguntei enquanto me ajeitava no
banco.
Ele balançou a cabeça em negativa.
- O que aconteceu?
- Nada...
Mas eu sabia que ele estava
mentido.
- Tem a ver com a Bia, não é?
Ele se virou para mim no mesmo
segundo.
- Tá tão na cara assim? – Ele
perguntou surpreso, suas bochechas
ficando vermelhas.
- Na verdade não, mas é que eu
sempre noto essas coisas.
Ele me olhou de um jeito estranho,
eu não sabia se ele estava
desapontado ou feliz com isso.
- E você acha que ela...?
- Com certeza não. – Assim que as
palavras saíram da minha boca com
tanta rapidez, eu me
arrependi por não ter dito de um
jeito mais gentil.
- Por quê? – Ele abaixou os olhos.
- Quer que eu dê umas dicas para
ela perceber? - Eu ofereci.
Ele olhou para mim e seu rosto se
iluminou.
- Você faria isso?
- Claro. – Eu disse dando uma
risadinha. – Agora me conte como é
aquela faculdade na Europa.
[...]
Fiquei conversando com o Richard
até chegar a hora de entrar na sala.
Ele não tocou no assunto
“Bia” nem uma vez depois de eu ter
dito que iria ajudar e eu acabei
contando minha história com o
Joshua – cortando algumas partes, é
claro – e ele riu alto em alguns
momentos e ficou espantado em
outros. Por fim, ele disse que
queria ter um amor como eu tive a
sorte de achar.
Ainda estava sorrindo quando o
Edu apontou para a cadeira ao lado
da dele e eu sentei.
- Achei que você e o Michael
chegavam juntos. – Ele comentou
enquanto me entregava o caderno
dele. – Isso foi o que o professor
Cavalcante anotou.
Dei uma olhada na revisão enorme
de química, chegando na bela
conclusão de que não, eu não iria
escrever tudo isso agora.
- Nós chegamos, mas ai o Joshua
veio também e eu acabei... Me
distraindo. – Um quê de malicia
acabou saindo na minha voz, sem
minha permissão.
Ele riu.
- Na boa, ele te olha como se você
fosse a coisa mais extraordinária
do mundo.
- E eu não sou? – Eu perguntei
fingindo estar ofendida.
- Claro que é, anjinho. – Ele
respondeu sorrindo. – Mas ele
deveria ser mais discreto.
- Não concordo. Ele é perfeito do
jeitinho que é.
- Pera ai que eu vou vomitar. – Ele
disse enjoado e eu ri do tom dele.
- Abram seu livros na página 19. –
Uma professora com o cabelo
pintado e um tom severo entrou na
sala. Acho que o nome dela é Ana
Renata. – Eu quero todos fazendo a
atividade sem dizer nem um
piu.
Ouvi as meninas atrás de mim
bocejando e dei um sorrisinho.
O Joshua vai ser um professor
muito melhor do que essa Ana
Renata, ele vai ser o autoritário
sem
nunca ser mau, inteligente sem ser
arrogante e, por favor, só de ver ele
todos os dias na semana as
alunas iriam querer estudar. Senti
uma pontada de ciúmes por causa
desse ultimo pensamento.
Abri meu livro e procurei a página.
Mas o que é isso?
Exatamente na página que ela
mandou, tinha um papel dobrado em
forma de carta. Abri rapidamente.
Meus olhos se arregalaram quando
eu li o que tinha escrito:
Oi Susan,
Eu decidi que vou animar seu dia
hoje. De nada.
Eu vou jogar com você, mas não
como aquele jogo das perguntas que
fizemos ontem. Dessa vez, você
vai ter que pensar sozinha até achar
o que eu quero que você ache. Mas
relaxe, você vai gostar. Você sabe
que eu não iria te dá trabalho se o
resultado final não fosse bom.
PS: Você já deve saber quem é, mas
deixe-me dá uma dica:
“... Cho Chang, era a única menina
da equipe... Harry não pôde deixar
de reparar que era uma garota
muito bonita. Cho sorriu para ele
quando os times ficaram frente a
frente... E o garoto sentiu uma
ligeira pulsação na região abaixo
do ventre, que ele achou que não
tinha relação alguma com o seu
nervosismo.” – Harry Potter e o
Prisioneiro de Azkaban, pagina
211.
Você é a Cho, é claro. E eu sou o
pobre Harry Potter que ainda está
tentando lidar com o jeito como
você mexe com o meu corpo.
Parei de ler por causa das batidas
do meu coração. Estava tão alto que
eu tinha medo de a sala toda
escutar. O Joshua não pode ser real,
ele era perfeito demais para existir.
Sorri mais um pouquinho e
continuei lendo a letra inclinada do
cara mais inesperadamente incrível
do mundo.
Bem, vamos lá. A sua pista para o
próximo papelzinho desse é:
Embaixo dessa frase, havia uma
foto do Maroon 5, com a cara do
Adam Levine riscada com força.
Reprimi uma risada. Ele lembrava
de tudo.
Pensei em como isso poderia ser
uma pista e quase estourei meus
neurônios tentando entender o que
aquilo queria dizer.
Comecei ficar frustrada e estava
prestes a pedir ajuda ao Edu
quando a professora deu uma
batidinha
no microfone. Não estava ligado.
- Mas o quê... – A professora deu
outra batidinha no microfone e
novamente o som não ecoo. – Como
uma escola tão rica pode comprar
materiais de segunda mão com tão
pouco... – Ela começou a
reclamar. Então se calou e ouvimos
um barulhinho baixo vindo das
caixas de son nas paredes da sala.
O barulho aumentou, virando uma
música.
I'm at a payphone trying to call
home
All of my change I spent on you...
Meu coração deu um salto. Era
Payphone do... Minha respiração
falhou. Era minha música preferida
do Maroon 5.
A sala inteira começou a se mexer;
as meninas se levantaram e
começaram a dançar e os meninos
seguiram, gritando junto com a voz
do Adam Levine.
O Edu me puxou pela mão e eu
fiquei de pé, em choque.
- Ei, o que houve? Isso é
FANTÁSTICO! – O Edu deu uma
risada animada e eu vi com o canto
do
olho a Ana Renata saindo da sala,
furiosa.
- Edu... Hã... – Eu não conseguia
encontrar palavras para explicar.
Eu só sabia que tinha que
descobrir a pista do Joshua. – Isso
acontece com frequência?
Ele riu ainda mais. As meninas
agora estavam no palco da sala,
cantando alto.
- Claro que não! Por isso a gente
tem que aproveitar e não ficar
conversando.
Ele colocou as duas mãos na minha
cintura e me girou como se eu fosse
feita de pano.
- Puta merda, como você é leve. –
Ele comentou um pouco alto demais
e eu notei o olhar do Michael
me queimando.
- Vou levar como um elogio. – Eu
respondi rindo.
Ele inclinou a cabeça para mim.
- Você realmente não está afim de
dançar. – Ele concluiu. Agora
estava na parte do rap do Wiz
Khalifa.
Não, eu estava afim de pensar. Se
eu demorar muito aqui eu posso não
encontrar o papelzinho no
Joshua na hora certa.
Então me ocorreu uma ideia.
- Edu... – Eu o chamei e ele se
virou para mim, radiante. – Você
sabe de onde vem essa música?
- Da caixa de som, ué.
Reprimi uma gargalhada.
- Não é isso que eu quero dizer. É
tipo, onde se controla o som das
caixas de som?
- Ah sim, na sala da música.
- E onde fica isso?
- Ao lado da sala do diretor.
- Obrigada, Edu.
Ele sorriu e se virou de novo para
as meninas.
Baby, I’m preying on you tonight
Hunt you down, eat you alive
Agora estava tocando Animals. Eu
tinha que agir rápido.
Sai da sala, desci as escadas o mais
rápido possível e corri até o
corredor onde ficava a sala do
diretor. Parei, ofegante, tentando
adivinhar qual seria a sala.
- P-P-Porra Joshua. – Eu reclamei
sem folego.
Apoiei minhas mãos nos meus
joelhos e tentei respirar fundo. Eu
nunca tina corrido tanto assim.
Assim que minha respiração ficou
mais instável, eu andei pelo
corredor, tentando achar a porta.
Então eu vi: Um porta vermelha
com a maçaneta em forma de uma
nota musical. Colégio de rico é
outro nível.
Entrei na sala e me deparei com um
lugar enorme e... Sem ninguém.
Como o Joshua conseguiu essa
proeza?
Passei direto pelos instrumentos
musicais e olhei para o painel de
controle. A tela mostrava que a
música estava tocando e que a
próxima seria Maps. Uma coisa eu
tenho que admitir: Joshua sabe
escolher música.
Me aproximei da tela, mas não
encontrou nenhuma pista de onde
deveria ir agora. Olhei para os
controles e vi uma daquelas
embalagens de CD virgem.
Só quando as levantei para pegar
percebi que minhas mãos estavam
tremendo. Sorri de leve e puxei
o papel que estava dentro da
embalagem.
Oi, meu amor (Quer dizer, eu
espero que seja você e não alguma
funcionaria curiosa que esteja lendo
isso. Se for uma funcionaria, por
favor, largue isso e vá trabalhar.
Obrigado pela compreensão),
Isso não foi louco? Sim, eu sei que
foi. Acho que me superei. Ah, e
antes que você diga alguma coisa,
eu já tinha combinado com a
Renatinha (Seja lá o que ela tiver
feito, foi encenação) para fazer isso
E
as pessoas que trabalharam na parte
sonora da escola só chegam depois
das 10h.
Então, agora vamos para o que te
levou a sair correndo da sala e vim
aqui:
“Você está tão ocupada sendo você
mesma que não faz ideia de quão
absolutamente sem igual você
é” - A Culpa é das Estrelas.
PS: Pode pensar nisso como eu
dizendo para você.
PS2: Porque eu adoraria ter
pensado em algo tão genial para te
dizer antes daquele maldito Gus
falar para a Hazel, e acabar com
toda a graça da frase que eu não te
disse.
PS3: Talvez a dica não esteja na
frase em si, mas no livro.
Outra coisa: Você só vai procurar
pela próxima pista no intervalo. Me
prometa isso – Me imagine
apertando sua mão – pronto, agora
sua honra está em jogo.
PS4: Desligue o som apertando no
botão vermelho. Por favor.
Reli o papelzinho umas quinhentas
vezes. Como ele conseguia ser
assim?
Guardei o papelzinho no bolso,
apertei o botão vermelho e suspirei.
Não tinha a menor ideia do que
poderia ser, mas, pelo menos, eu só
iria precisar pensar nisso no
intervalo.
Voltei para a sala mais devagar. A
porta já estava fechada e eu dei três
batidinhas nela.
- Onde você estava? – O professor
PH perguntou irritado e eu corei no
mesmo segundo.
- Eu tive que ir falar com o diretor
sobre...
- Tanto faz. Agora sente-se. – O
professor me cortou rispidamente e
eu assenti com a cabeça.
- Sério, onde você foi? – A Elena
perguntou enquanto eu me sentava
ao lado dela, o Edu se virou
para ouvir também.
- Eu já disse! Eu fui falar com o
diretor. – Eu menti. Por algum
motivo estranho eu não queria que
eles soubessem do meio joguinho
com o Joshua, era algo particular. –
O que eu perdi?
- Todo mundo estava pulando,
gritando, se descabelando e BUM a
musica simplesmente parou e não
voltou mais a tocar. Foi estranho. –
A Elena sussurrou para mim.
- Mas o mais estranho foi porque
quando a Ana Renata voltou, ela
não reclamou nem nada, ela só
voltou a dá aula como se nada
tivesse acontecido. – O Edu
completou.
- Ei, sem conversinhas. – O
professor parecia ter se
materializado na minha frente e eu
quase cai
para trás de susto. – Não precisa de
medo, Susan... Bem, na verdade
precisa se você continuar
conversando com seus cumplices.
Resolvi ficar em silencio pelo resto
da aula.
[...]
Duas aulas depois, o sinal
finalmente tocou e eu quase saltei
da cadeira, ansiosa. Só tinha um
problema: Mesmo tendo queimado
meu cérebro de tanto pensar, eu não
consegui entender a pista do
Joshua. Como A Culpas é das
estrelas poderia me ajudar?
- O que aconteceu, Susan? – A Bia
perguntou enquanto analisava minha
expressão.
Balancei a cabeça em negativa.
- Nada não... Eu só não entendi
absolutamente nada daquele
assunto.
Ela me olhou com solidariedade.
- Eu já tinha estudado isso por
curiosidade ano passado, se quiser
eu posso te dá algumas aulas
extras.
- Claro. – Eu aceitei, já que eu
realmente não tinha entendi muito.
Ela sorriu, feliz com sigo mesma.
Nós nos juntamos as outras meninas
e nos sentamos na sombra de uma
arvore enorme, no canto
direito do campo.
- Oi anjas. – O Richard disse se
aproximando. Seus olhos foram
diretos para a Bia.
- Oi Rick. – Elas disseram em
uníssono e ele sorriu.
- Vocês nunca me chamam assim, o
que estão querendo? – Ele
perguntou desconfiado.
A Bia deu uma risadinha.
- É uma comparação ao Rick
Martin.
- AH NÃO! – Ele gritou rindo. – Eu
sou tudo menos gay.
Ri junto com as meninas.
- Ai meu Deus, não riam de uma
coisa dessas.
A Bia se levantou, vermelha de
tanto ri.
- Se você visse sua expressão agora
com certeza riria também.
De repente, o Richard ficou sério.
- Você acha mesmo que eu sou gay?
A Bia parou de ri no mesmo
segundo.
- Quem sabe.
- Quer que eu prove? – Ele
perguntou dando um sorriso
malicioso e a Bia ficou corada.
- Ah, cale a boca.
Eles começaram a conversar e as
meninas entraram também. Me
afastei delas e tentei encontrar uma
solução para a pista do Joshua.
A culpa é das estrelas.
Culpa
Das
Estrelas
Fechei os olhos para tentar
conseguir me concentrar melhor.
A culpa é das...
Então meu cérebro quase explodiu.
Eu descobri.
Corri até onde as meninas estavam
e entrei na rodinha, me preparando
para sair correndo assim que
ganhasse a resposta.
- Aqui tem uma sala de astronomia?
– Eu perguntei rápido e elas
demoraram um segundo para
entender.
- Uma o quê? – A Amanda
perguntou inclinando a cabeça.
- Uma sala de astronomia. – Eu
repeti mais devagar.
- Ah sim, no ultimo andar do prédio
principal. – A Elena respondeu
apontando para o prédio onde
ficava as salas do terceiro ano. –
Por quê?
- Por nada. – Eu respondi .
Antes que elas pudessem dizer mais
alguma coisa, eu sai correndo em
direção ao prédio principal.
Passei rápido por um monte de
alunos e pedi desculpas para todos
eles.
Cheguei sem ar no ultimo andar do
prédio, mas com um sorriso
brilhante no rosto. Só tinha uma
porta
naquele corredor e eu abri ela
devagar, tentando controlar minha
ansiedade.
A sala tinha varias varandas e o
teto era de vidro, o lado esquerdo
da sala estava cheio de
telescópios e o lado direito era
como uma pequena sala de aula.
Olhei para o chão e vi que tinha
varias pedrinhas azuis colocadas
em fileiras em direção a uma
varanda maior do que as outras. Me
agachei e peguei umas das
pedrinhas; era um azul levemente
escuro, quase como um azul
marinho, mas não exatamente. Era
um tom único de azul.
Meus olhos se arregalaram quando
eu reconheci. Era o tom de azul dos
olhos do Joshua.
Ai meu Deus, como ele conseguiu
fazer isso?
Girei a pedrinha entre meus dedos e
senti todo o meu corpo se
arrepiando com a perfeição e
igualdade. Era exatamente o tom
dos olhos dele.
Segui as pedrinhas até chegar na
varanda. Em cima da parte de
apoio, tinha um papelzinho.
Você conseguiu.
Nosso joguinho termina aqui, você
só precisa olhar para baixo e vai
descobrir o porquê de tudo
isso.
Ah, antes de olhar, deixe-me dizer
uma coisa: O tom do meu azul é
conhecido como Denim, por isso
eu só tive que achar alguém que
pintasse pedrinhas e pronto.
Agora sim você pode olhar para
baixo.
Respirei fundo. Chegou a hora.
Olhei para baixo devagar e vi um
cabelo loiro ao longe. Joshua. Ele
estava segurando alguma coisa
na mão esquerda enquanto a direita
mexia no celular.
Desci correndo as escadas e dei
cara com a porta de vidro, agoniada
para falar com o Joshua.
Ele ouviu o barulho e se virou para
onde eu estava. Seu rosto se
iluminou e ele deu uma corridinha
para abrir a porta e eu me joguei
nos braços dele.
- Eu amo, amo, amo, amo você. –
Eu sussurrei no ouvido dele.
- Eu também amo você. – Ele
respondeu me soltando só por um
segundo e depois colocando as
duas
mãos na minha cintura. – Acho que
deixei isso bem claro.
- Você não precisava ter tido todo
esse trabalho...
Ele sorriu.
- Eu sei que não, mas o Bruno disse
que seria uma boa ideia e o Nicolas
concordou plenamente.
- O Nicolas sabia? – Eu perguntei
surpresa.
- Claro que sim. Ele que me ajudou
com a frase a A Culpa é das
Estrelas. Ou você acha mesmo que
eu li aquele livro?
- Eu também não li. – Eu comentei
sem consegui conter uma risada.
- Ah, deixe fazer o que eu vim fazer
aqui. – Ele disse se afastando de
mim e eu levantei uma
sobrancelha.
Bem devagar, ele abriu a caixinha
que estava segurando e tirou uma
pulseira de dentro dela.
- Lembra do nosso primeiro
encontro? – Ele perguntou sorrindo
e eu assenti com a cabeça. – Você
estava usando uma camisa do
Batman... – Ele me entregou a
pulseira e eu quase dou um grito
quando
vi o símbolo do meu super-heroi
preferido ao lado de um coração
azul. Azul Denim.
- Joshua... – Eu comecei a dizer,
mas ele balançou a cabeça.
- Isso é só a primeira parte do que
eu vim fazer.
Notei que algumas pessoas estavam
se juntando ao nosso redor e, de
uma hora para outra, nós
viramos o centro de uma rodinha.
- E qual é a outra parte? – Eu
perguntei, tentando ignorar os
olhares na minha direção.
Ele se afastou um pouco de mim e
sorriu.
- Quer namorar comigo?
Meu coração deu um salto.
- SIM! – Eu gritei e me joguei nos
braços dele, que me envolveram no
mesmo segundo e me rodaram.
– Mil vezes sim!
As pessoas ao nosso redor
começaram a bater palmas e dá
gritinhos. Era o melhor momento da
minha
vida.
Ele me soltou devagar e eu olhei
rapidamente ao redor, só para ter
certeza de que tudo era real.
O Nicolas e o Felipe estavam
dando pulinhos de animação.
As meninas estavam suspirando.
O Edu sorria radiante para nós.
Todo o resto parecia feliz com a
nossa felicidade.
Então meus olhos encontraram dois
pares de olhos frios na minha
direção. Duas pessoas não estavam
aplaudindo. Duas pessoas não
estavam felizes.
Michael e Jane.
Não era exatamente uma surpresa,
até que ela se virou para ele e disse
algo baixinho. Eu tive vontade de
mandar todo mundo calar a boca
para poder ouvir, mas nesse
segundo as mãos do Joshua
voltaram
para minha cintura.
A ultima coisa que eu vi antes de
fechar os olhos para beijar o Joshua
foi a Jane saindo com o
Michael para conversar.
22. Unidos pelo ódio
✣Jane Lohan✣
Eu odeio o Joshua. Odeio aqueles
olhos azuis escuros, odeio aquele
cabelo loiro brilhante, odeio
aquele corpo perfeito. Odeio tanto
ele que chega a doer. E quero que
ele se foda. E que me foda.
Pelo amor de Deus, como eu quero
que ele me foda.
- AI JESUS! O QUE É AQUILO? –
Alguém gritou perto de mim e eu
quase dei um pulo por causa do
susto.
Então, antes que eu pudesse pensar
em alguma coisa, todo mundo saiu
correndo em direção ao prédio
principal, onde ficam as salas da
minha série e a torre de astronomia.
Sem raciocinar direito, corri atrás
deles e o vi.
A única pessoa que eu não gostava
e gostava de ver, ao mesmo tempo.
Desacelerei o passo; se o
Joshua estava aqui, não era por
minha causa.
Virei um pouco a cabeça e vi o
porquê de ele estar aqui se jogando
nos braços dele.
Susan. Aquela morena sem sal,
açúcar, pimenta, bunda, curvas,
simpatia...
Fechei o punho e cheguei mais
perto, mas sem me juntar a rodinha
que estava se formando ao redor
deles. Olhei para o lado e percebi
que tinha apenas mais uma pessoa
não estava se juntando também
a rodinha.
O garoto com o cabelo muito preto
e a pele branca se virou para mim,
provavelmente atraído pelo
meu olhar e se aproximou, andando
sem pressa nenhuma. Bem de longe,
eu conseguia ouvir a voz
irritante da Susan falando com o
Joshua.
- Quem é você? – Eu perguntei
quando o garoto ficou a mais ou
menos dois passos de mim. Ele era
bonito. Poderia parecer uma pessoa
fofa, com aquela franja que caia nos
olhos verdes-mar, se esses
olhos não fossem tão frios. Mas
eles eram. Como duas tempestades
de neve.
- Por que isso te interessaria? – Ele
perguntou com um tom de frieza que
me parecia estranhamente
familiar, assim como o nariz fino,
nem tão grande nem tão pequeno,
dele.
- Por que você não está suspirando
de amores? – Eu rebati. Era
estranho falar assim com alguém
que
eu nem conhecia, mas... O que
importa? O Joshua estava rodando
a Susan e ela estava rindo como se
esse fosse o melhor dia da sua vida.
Isso importava. Isso fazia meu
sangue ferver de raiva.
- Não apoio muito o casal. – Ele
disse me analisando. – E você? Ex
ou ele nem chegou a te pegar?
- Como você...?
Ele sorriu.
- Sou irmão do Joshua. – Ele
estendeu a mão, mas não foi de um
jeito amigável. – Meu nome é
Michael.
Apertei a mão dele e ouvi as
pessoas ao meu redor batendo
palmas.
- Meu nome é Jane. Acho que
devíamos nos juntar a rodinha.
Ele assentiu e nós entramos no meio
daquelas pessoas idiotas que
estavam batendo palmas. Dei uma
olhada na cena bem na minha frente.
A Susan estava prestes a desmaiar,
segurando alguma coisa em uma das
mãos tão forte que parecia
que estava segurando ouro enquanto
a outra estava no braço do Joshua,
como se a qualquer momento
ele pudesse sair correndo dali.
Adoraria se ele fizesse isso.
Os olhos escuros e sem graça dela
deram a volta pela rodinha,
sorrindo. Senti a respiração do
Michael ao meu lado e encarei a
Susan, esperando o momento exato
em que ela olhasse para nós.
Então ela olhou. E o seu sorriso
sumiu no mesmo segundo.
- Adorei isso. – Eu sussurrei no
ouvido do Michael e ele deu uma
risadinha.
- Eu também. – Ele sussurrou de
volta, então se virou para mim e eu
observei enquanto um brilho
surgia naqueles olhos verdes-mar. –
Vem, vamos conversar só eu e
você.
Fiz que sua cabeça e o segui para
fora da rodinha. A voz dele soou
exatamente igual a do Joshua;
autoritária e confiante. Não sei se
odiei ou amei isso.
Andamos em silencio até
chegarmos em um dos banquinhos
do campo. Quase nenhum aluno
estava
por aqui – só alguns casais que
aproveitaram que todos os outros
tinham ido embora para se
beijarem.
Me sentei do lado esquerdo do
banquinho e o Michael se sentou em
seguida.
- O que você quer falar comigo? –
Eu perguntei.
Ele me olhou de cima a baixo. Mas
não de um jeito malicioso ou
pervertido. Ele me olhou como se
eu fosse uma arma que ele estivesse
pronto para usar e ferir alguém.
- Me conte o que aconteceu entre
você o Joshua. – Ele pediu
calmamente.
- Não. – Eu respondi, no mesmo
tom calmo. – Jurei que nunca mais
falaria disso.
Ele levantou uma sobrancelha.
- Foi tão ruim assim?
- Pior. – Eu desviei os olhos. –
Muito pior.
- Então acho que você vai adorar o
que tenho a dizer.
Olhei de novo para ele, subitamente
interessada.
- Eu odeio a Susan. – Ele falou tão
naturalmente quanto alguém falaria
que horas são. – E não suporto o
amorzinho entre ela e o Joshua.
Ele fez uma pausa, como se
esperasse minha resposta, e eu
assenti com a cabeça.
- E... Acho que quando duas
pessoas têm coisas em comuns, elas
deveriam se juntar. – Ele concluiu
lentamente, não havia nenhum pingo
de malicia na sua voz.
- Qual é o seu plano?
- Ainda não tenho um plano...
Ri da cara dele.
- Você não tem um plano? – Eu
perguntei. – Isso é ridículo.
Seus olhos esfriaram no mesmo
segundo.
- E você tem, por acaso?
- Eu posso criar um no segundo que
eu quiser.
- Então crie. – Ele mandou, com um
olhar de divertimento.
Fechei os olhos para me concentrar
melhor. Com o irmão do Joshua
como aliado, minha vingança
contra a Susan iria ser fácil. E iria
ser cruel.
Eu tive uma ideia.
- Já sei. – Eu disse abrindo os
olhos. – Na verdade, eu tenho três
planos.
Ele olhou surpreso para mim.
- Três?
- Sim. O ultimo é o pior deles, mas
acho que é melhor começar aos
poucos, como uma forma de teste.
- Já testei muito o amor deles. – Ele
retrucou. – De várias formas, mas
eles sempre voltam no final.
- Então você não foi bom o
bastante.
- Quem você pensa que é para falar
assim comigo? – Ele preguntou
irritado.
- Alguém que pode te ajudar a
destruir aquele relacionamento
ridículo.
- E o que eu tenho que te dá em
troca?
Ele era esperto. Sabia que ninguém
ajuda ninguém se não souber que
vai ganhar com isso depois.
- O Joshua. – Eu respondi.
Ele bufou.
- Não sei o que vocês veem nele.
- Se você quiser, eu posso fazer
uma listinha para você.
- Não, obrigado. – Seu tom era frio
mesmo quando falava uma frase
gentil. Gostei muito desse
garoto. – Já basta a Susan
suspirando pela casa por causa
daquele...
- Ah, já entendi. – Eu o interrompi.
– Você não gosta deles juntos
porque gosta da Susan.
Ele riu baixinho.
- Sinto lhe dizer, mas meus motivos
são muito maiores e mais profundos
do que isso.
- Então o que é?
- Por que eu contaria para você?
- Porque você precisa de mim para
se vingar.
- Preciso, mas não vou contar. – Ele
falou suavemente, como alguém fala
com uma criança pequena. –
E, não se esqueça de que você
precisa tanto de mim quanto eu de
você.
Ele tinha razão, é claro.
- Agora me diga qual é o seu
primeiro plano.
- Nós poderíamos fazer com que a
Susan odiasse o Joshua, fazer com
ela ache que ele é um monstro,
para isso nós...
- Já tentei. – Ele me cortou. – Não
dá certo, o Joshua é muito
convincente... Vai ter que pensar
mais.
- Esse foi apenas o primeiro plano.
- Então espero que o segundo faça
essa conversa valer a pena.
Me irritei como comentário dele,
mas não disse nada. Não éramos
amigos, ele não precisava ser
legal comigo.
- A outra coisa que eu pensei foi...
Contei para ele minha ideia,
descrevendo todos os detalhes do
mesmo jeito que alguém descreve
um
filme. Não fazia sentido eu ter tudo
isso na minha mente já pronto, mas
eu tinha. Seus olhos brilharam
quando eu terminei.
- Isso é genial. – Ele comentou. –
Com certeza vai dá certo. Mas, só
por curiosidade, qual é o
terceiro?
Eu sorri.
- Mortes.
Ele ficou sério.
- Não mesmo.
- Não estou falando em matar seu
irmão, estou falando em...
- A Susan não vai morrer, entende
isso? – Ele disse com algo
parecido com raiva. – Você não
deveria
nem ter pensado nisso.
Levantei uma sobrancelha.
- Não vai me dizer que você se
importa com aquela menina.
- Não me importo, mas não sou
assassino. – Ele fez uma pausa e
seus olhos pousaram nos meus.
Verde com verde. – E creio que
você também não seja.
- Você não faz ideia do quanto eu
odeio ela.
- Não importa. Ela não vai morrer.
- Se não te conhecesse, diria que
você está zelando pela vida dela.
- Então é uma sorte você me
conhecer. – Ele rebateu. – E, sobre
o seu segundo plano...
- Não gosto dessa palavra.
- Plano?
- É, parece que temos 7 anos e
estamos brincando de FBI.
Ele deu uma risada.
- Então vamos chamar de que?
- Ideia. – Eu respondi depois de um
tempinho pensado. – Ideia parece
bom.
- Ok... Antes de colocarmos a sua
ideia em pratica, precisamos
esperar um pouco.
- Quanto tempo?
Ele pensou por alguns segundos.
- Acho que daqui a mais ou menos
uma semana.
- Por que tudo isso?
- É o tempo que o Joshua vai
precisar para levar a Susan pra
cama. – Ele respondeu indiferente e
eu
senti como se tivesse levado uma
facada. Acho que ele notou minha
expressão. – Ei, não precisa
ficar assim. Vai ser a primeira e a
ultima vez deles.
Percebi nesse segundo que gostava
do Michael maldoso e cruel, mas
também gostava desse: o que se
preocupava minimamente com os
meus sentimentos.
- Você é uma pessoa com várias
faces, Michael.
- Eu sei disso. Mas, todos são
assim.
- Eu não.
- Não?
- Eu sou apenas má.
- Discordo. – Seus olhos ficaram
sérios e frios. – Só o fato de você
amar tanto o Joshua a ponto de
pensar em matar a Susan, significa
que você é mais do que só má.
- Matar alguém é maldade, eu sei
disso.
- Não estou falando da morte. – Ele
disse lentamente. – Estou falando
do amor.
- Isso soa tão estranho saindo da
sua boca.
Ele riu e se levantou do banquinho.
- Eu sou uma pessoa de várias
faces, lembra?
- Você é bipolar. – Eu rebati e me
levantei também.
- Talvez essa seja a combinação
perfeita.
- Do que você está falando?
- De eu e você. Nunca pensei que
alguém que já foi comida pelo
Joshua pudesse ser tão inteligente.
Revirei os olhos.
- Cale a boca.
- Gostei de você.
Nos encaramos por alguns
segundos. Ele não queria me beijar
e eu não queria beijar ele, não esse
tipo de gostar. Ele gostava de mim
como os EUA gosta das suas
bombas nucleares; ele gosta de mim
porque sabe que juntos nós iremos
explodir tudo.
- Também gostei de você.
Ele estendeu a mão, de um jeito
diferente do que fez na primeira
vez.
Apertei a mão dele.
- A Susan que não vai gostar disso.
- Mas o Joshua vai adorar. – Eu
sorri de um jeito malicioso.
- Com certeza.
Soltei a mão dele e vi que as
pessoas estavam saindo da rodinha.
- O que você acha que ele fez? – Eu
perguntei, sem me virar para o
Michael.
- Provavelmente pediu ela em
namoro.
Senti meu estômago revirando de
nojo.
- Espero que essa semana passe
rápido.
Senti o Michael parando de andar e
parei também. Nossos olhos se
encontraram.
- O mais rápido possível.
- Também espero que ele broxe. –
Eu deixei escapar e ele sorriu.
- Você é muito mais maldosa do que
eu imaginei. – Ele disse com um de
brincadeira que combinava
muito mais com a aparência dele.
Não gostei muito desse tom.
- Meu cabelo é vermelho de ódio.
- Achei que isso fosse laranja. –
Ele comentou.
- Não perguntei o que você achou.
Ele estreitou os olhos. Não parecia
surpreso com a minha resposta.
- Não precisa ficar tão na defensiva
comigo, eu não tenho nada contra
você. – Ele me observou
durante alguns segundos. – Não
faça eu mudar de ideia.
- Digo o mesmo.
- Você muda de humor muito
rápido.
Sorri.
- Digo o mesmo.
✣Susan✣
Eu amo tanto o Joshua que no
segundo que minha boca tocou a
dele eu esqueci completamente do
Michael e da Jane.
- Como você consegue ser assim? –
Eu sussurrei no ouvido dele assim
que tivemos que nos separar,
sem folego.
- Eu iria te perguntar isso agora
mesmo. – Ele respondeu baixinho.
Nos afastamos um pouco e eu vi
todas as pessoas ao nosso redor.
Elas não estavam mais batendo
palmas, mas todos estavam
sorrindo. Como aconteceu depois
que o Michael saiu do refeitório no
dia
que o Nicolas assumiu para todos
que era gay.
- Ei. – Uma das pessoas na rodinha
chamou, eu e o Joshua nos viramos
para ver quem era. Ele tinha o
cabelo castanho, os olhos cor-de-
mel e um sorriso de cafajeste. Foi o
menino que saiu da sala porque
mandou a Isabela sentar no pau
dele. Pelo que eu me lembrava, o
nome dele é Paulo. – O Michael
nos disse que vocês se conhecem a
tipo duas semanas, não acham que
estão indo rápido demais?
Encarei ele sem acreditar em como
alguém podia ser tão intrometido.
- Eu acho que isso não é da sua
conta. – O Joshua rebateu friamente
e algumas pessoas, incluindo eu,
riram.
- Vocês não responderam minha
pergunta.
Respirei fundo, sem desviar os
olhos dele.
- Tudo entre eu o Joshua aconteceu
muito rápido, nosso primeiro
encontro foi um dia depois de
quando eu entrei na casa dos
Hunter. – Eu respondi calmamente e
percebi que todos, incluindo o
Joshua, estavam olhando para mim
agora. – Mas, isso não significa
nada. Eu tenho um amigo que se
apaixonou perdidamente por uma
outra amiga minha depois de ter
visto dela só uma vez. – Eu disse,
citando o Bruno e a Amanda. – E, o
amor dele por ela é uma das coisas
mais sinceras que e já vi em
toda a minha vida.
- E eles estão namorando? – O
menino perguntou, insistindo em ser
um idiota que fala demais.
- Não. – O Joshua respondeu no
meu lugar. – Mas isso é só uma
questão de tempo. E, antes que você
fale mais alguma coisa irritante, eu
amo a Susan. Pronto, simples
assim. Não importa se eu conheço
ela há duas semanas ou duas
décadas, não importa se eu não
estou nos melhores momentos da
infância dela, não importa se eu não
sei qual a primeira escola que ela
estudou e não importa se eu
nunca nem imaginei da existência
dela antes de a conhecer. Por que,
no segundo em que nós
conversamos de verdade pela
primeira vez, eu percebi que ela é a
garota certa pra mim.
Percebi que estava com lagrimas
nos olhos. Nunca tinha ouvido o
Joshua falando algo assim em
publico.
Paulo se calou no mesmo segundo.
- Mais alguma pergunta? – Eu
perguntei sorrindo e o Joshua me
puxou mais para perto dele.
- Se eu começar a chorar de
emoção aqui, alguém vai me julgar?
– O Nicolas disse mordendo o
lábio
inferior.
O Felipe foi o primeiro a ri e
colocou o braço ao redor da cintura
do Nicolas.
As coisas estavam indo tão bem
que eu era quem estava com
vontade de chorar. Eu e o Joshua, o
Nicolas e o Felipe, o Bruno e a
Amanda, o Lion e a Elena... Então
eu me lembrei de uma coisa.
Olhei para a Bia e para o Richard,
que estavam um do lado do outro.
Ele, como era de se esperar,
estava olhando para ela.
- Sabe de uma coisa, acho que hoje
é o dia perfeito para quem estiver
apaixonado se declarar. – Eu
disse olhando fixamente para o
Richard e ele olhou para mim no
mesmo segundo. – Pode ser a sua
ultima chance.
Ele fez que não com a cabeça, de
um jeito quase imperceptível.
Suspirei. Ele não era o Bruno, que
dizia todo o seu amor na frente de
todo mundo.
- Não, nada disso. – O Joshua disse
e eu percebi que ele esperou até o
Richard responder antes de
dizer alguma coisa. Ele era muito
mais inteligente do que deixava
transparecer. – Hoje só eu me
declaro.
- Que egoísta. – Eu comentei
sorrindo.
- Agora, se não for pedir muito,
será que vocês poderiam nos dá
licença? – Ele perguntou para as
pessoas ao nosso redor.
- Ah, só mais um beijo. – Alguém
disse.
- Que pessoa cruel. - O Joshua
comentou irônico, com um
sorrisinho no rosto. Meu coração
estava
dançando algo parecido com
samba.
- Agora você vai ter que encarar
minha mãe. – Eu falei baixinho,
antes beijá-lo.
Ele sorriu de um jeito travesso.
- Já cuidei disso.
Abri a boca de surpresa e estava
prestes a perguntar como, quando
ele me beijou e eu esqueci
completamente como se fala.
Ao longe, eu conseguia ver um
cabelo laranja e longo perto de um
preto e curto.
Gostaria de saber o que eles
estavam dizendo.
Algo me diz que eu vou descobrir
em breve.
23. Nenhum Hunter é igual ao
outro
- Finalmente estamos a sós. – Eu
comentei baixinho, assim que as
pessoas ao nosso redor saíram.
O Joshua me lançou um sorriso
triste.
- Mas eu vou ter que ir. – A voz
dele saiu pesada, como se estivesse
dizendo que ia pra guerra.
Amava isso.
- Por quê?
- Eu passei a manhã toda aqui,
então eu tenho que voltar agora
para a faculdade e ficar lá até de
noite.
- Ah.
Ele soltou uma das mãos da minha
cintura e colocou no meu rosto, com
a palma quente contra a
minha bochecha, de um jeito tão
carinhoso que eu senti todos os
meus músculos relaxando. Eu o
encarei. Ele nunca tinha me tocado
assim.
- Às vezes, eu acho que estou sendo
muito meloso com você. – Ele
sussurrou. – Por que eu nunca tive
um relacionamento de verdade. Eu
não sei muito bem como eu deveria
agir e... Ao mesmo tempo, a
única coisa que eu quero fazer é te
deixar feliz.
Sorri. Eu me sentia exatamente
assim.
- Por que está me contando isso?
Por um segundo, ele pareceu
decepcionado com a minha
resposta. Então seus olhos voltaram
a
brilhar.
- Porque eu pensei que isso fosse
fazer você dá pra mim o mais
rápido possível. – Ele respondeu
com um sorriso malicioso e um tom
irônico. Não parecia ser sério, mas
não chegava a ser mentira.
Uma risadinha escapou dos meus
lábios.
- Você é muito esperto, Joshua.
- E o céu é azul. – Ele retrucou
rindo.
- Até a um minuto atrás você era o
pobre garoto que não sabia como
agir com a namorada. Que
mudança de ego.
Ele tirou as duas mãos de perto de
mim e levantou uma sobrancelha.
- Fala de novo.
- O que? – Eu perguntei confusa.
- O que nós somos. Diz de novo.
- Namorados?
- É. – Ele parecia como alguém que
acaba de fazer um calculo enorme e
finalmente chegou na
resposta.
- Somos namorados. – Eu repeti e
senti como as palavras soavam
bem. Soavam certas, como se
estivessem pairando sobre a minha
boca desde o dia em que o conheci.
Nossos olhos simplesmente não
conseguiam mais desviar um do
outro. O que será que ele estava
pensando?
- Queria que todos os momentos
que eu tenho com você durassem
mais tempo.
- Nem todos.
Ele riu, mas desviou os olhos. Ele
ficou com vergonha.
- Tipo, as suas primeiras palavras
comigo foram... – Eu comecei a
falar, para provocá-lo.
- Não precisa me lembrar, eu sei
bem o que eu disse. – Ele olhou de
novo para mim. – Ainda quer um
pedido de desculpas?
- Depois de tudo o que você fez
hoje? Acho que não.
- Acho. – Ele repetiu com o sorriso
cínico.
Fique na ponta dos pés e o beijei.
Eu nunca iria me cansar disso.
Infelizmente, ele não me beijou até
eu ficar sem ar.
- Eu tenho mesmo que ir embora.
Soltei um suspiro de frustração.
- Nos vemos de noite. O Michael e
o Nicolas cuidam de você.
- O Nicolas. – Eu corrigir.
Ele abriu a boca para falar, mas
rapidamente se calou.
Então o celular dele começou a
tocar Demons.
- Acho que essa é minha deixa para
ir embora. – Ele disse tirando o
celular do bolso.
- Até depois.
Dei um selinho nele e sai para
deixá-lo atender o celular, mesmo
sem querer nem um pouco que ele
tivesse que ir.
Acho que eu é que sou melosa
demais. Mas, e daí?
Percebi que minha barriga estava
roncando e fui para o refeitório.
Comprei a primeira coisa que vi e
procurei alguma mesa para sentar,
por sorte as meninas, o Edu, o
Richard, o Nicolas e o Felipe
estavam em uma. Me juntei a eles.
- Oi gata. – O Edu foi o primeiro a
cumprimentar e eu sentei ao lado
dele. – Nós estávamos falando
de você e do seu novo namorado.
Minhas bochechas ficaram
vermelhas.
- Bem ou mal?
Eles riram.
- Claro que bem. – O Nicolas
respondeu sorrindo. – O Richard
estava dizendo que o Joshua elevou
o
nível da categoria Como pedir
alguém em namoro.
Olhei para o Richard, que estava na
minha frente, e ele sorriu.
Reconheci um toque de gratidão no
sorriso dele.
- Mas, como eu ia dizendo, aposto
que o Rick vai ser muito meloso
quando resolver se apaixonar por
alguém. – A Bia comentou,
empurrando de leve o braço do
Richard. – Só não esqueça os
amigos, ok?
Ela chamou ele de Rick. Puta
merda. Eu tinha que agir rápido, ou
ele iria entrar na mesma situação
que o Edu com a Monica.
- E se ele já estiver? – Eu perguntei
para a Bia.
Ela riu.
- Não Susan, ele não está. – Alguma
coisa no tom dela fez o Richard
sorri discretamente. Demorei
um segundo para entender que era
ciúme.
- Ah, não tenha tanta certeza assim.
– Ele disse, se virando para olhar
para ela. – Existe a
possibilidade de eu estar
extremamente apaixonado por
alguém.
A Bia se virou também e eles se
encararam. Todos na mesa
pareciam ter perdido a voz, acho
que eu
não era a única que sabia o segredo
dele.
- Ela deve ser uma daquelas
atiradas que segue você até pro
inferno.
Ele mordeu o lábio inferior, como
se estivesse se segurando ao
máximo para não se declarar.
- Talvez ela seja, mas não vou te
contar agora.
- Por que não?
- Não acho que seja o lugar certo.
Ele se levantou da mesa, com uma
maçã em uma mão e um lápis na
outra.
- Já chega de gente se declarando
por hoje. – Ele completou e foi
embora.
A Bia olhou para nós sem entender.
- Ele não falou isso com o sentido
que eu acho que falou, não é?
Por dentro, eu queria gritar com
ela.
- Acho que você deveria se
levantar e falar com ele. – O Edu
respondeu e eu percebi um quê de
solidariedade. Ele sabia o que o
Richard estava passando. Era o
primeiro estágio antes de cair em
um poço sem fim.
Ela balançou a cabeça em negativa.
- Vamos mudar de assunto. – A
Elena sugeriu. – Eu ouvi o teacher
Bernardo comentando com a Dóris
sobre um acampamento que vai ter,
do ensino médio todo.
O Felipe bateu palmas, animado.
- EU SOUBE! Vai ser no próximo
fim de semana.
- O Joshua me disse, ele vai ser um
dos nossos acompanhantes. – Eu
disse, tentando não demonstrar o
quanto isso me deixava ansiosa e
nervosa ao mesmo tempo.
- Opa, que no sábado nós iremos
ouvir gemidos. – A Isabela disse
rindo.
- Estranho, eu não ouvi ninguém
dizendo que o Cavalcante ia
também. – A Gabrielle rebateu.
Eu ri junto com os outros da mesa.
- Depois dessa eu ficava calada. –
A Clara falou e eu olhei para ela.
Era tão estranho ver a mesma
boca que conseguia beijar o
Michael falando qualquer coisa
engraçada ou legal. Porque porra,
não
era qualquer cara irritante, era o
Michael. O Michael. Senti que
estava começando a ficar enjoada.
O sinal tocou alguns minutos depois
e cada um foi para sua sala. Não vi
o Richard em nenhum lugar.
Mas, infelizmente, vi a Bia em
todos.
O professor Cavalcante já estava na
sala quando eu entrei com o Edu, o
Pedro, e as meninas. A
Isabela sorriu e foi até ele.
- Oi professor, tudo bem? – Cada
silaba que ela emitia parecia estar
flertando com ele. Não sei como
ela conseguia.
- Oi Isabela. – Ele a olhou de cima
a baixo e deu um sorrisinho. – Tudo
ótimo e você?
Ela assentiu e eles começaram a
conversar sobre uma questão do
exercício que ele passou, mas dava
para notar que nenhum dos dois
estava interessado nisso. Eles só
queriam conversar.
Me sentei ao lado do Edu e do
Pedro.
- O que vocês vão fazer no fim de
semana? – O Pedro perguntou
quando o professor se virou e
começou a escrever sem parar no
quadro.
- Ainda não sei. – Eu respondi. Na
verdade, eu nem me importava. O
próximo é que seria importante.
- Sério? Achei que os Hunter
tinham a vida mais agitada do
mundo. – O Edu comentou e, como
sempre acontecia quando falava
esse sobrenome, torceu o nariz.
Queria que ele parasse de
generalizar. Até o senhor Fernando
conseguia ser legal às vezes, só o
Michael que não.
- Eu não sou uma Hunter.
- Adoro pessoas que se auto-
elogiam. – O Edu rebateu, seu tom
parecia com o da irmã. Não gostei
disso.
- Pare de falar assim, o Joshua é um
Hunter.
Ele suspirou. O Pedro não estava
mais prestando atenção na
conversa.
- Eu sei, mas como você pode ter
notado, irmãos podem ser muito
diferentes entre si.
Nos encaramos por um tempo.
- Eu vi eles conversando. – Eu
disse por fim.
- Quem?
- O Michael e a Jane.
O Edu olhou para mim como se eu
tivesse dado um tapa nele.
- Espero que eles não tenham
ficado amigos.
- Eu também, porque se não eu que
me fodo.
Ele riu, mas parecia preocupado.
Também estava.
[...]
- Como assim você ainda não
assistiu essa temporada de The
Voice US? – O Nicolas perguntou
indignado quando eu perguntei o
que era que ele estava vendo.
- Não sei se você notou, mas eu não
tenho muito tempo. – Eu respondi e
me sentei no sofá. Ele se
deitou no meu colo no mesmo
segundo.
- Então vamos ver agora mesmo,
porque depois vai ter o jantar.
- Que jantar?
- Minha família se reúne pelo
menos uma vez por mês. Hoje, os
irmãos do papai vão vim aqui com
seus filhos lindos e metidos.
- Michaels. – Eu murmurei.
Ele deu uma risadinha.
- Seu namorado também, mas
menos.
- Bem menos.
- Claro. – Ele concordou, sorrindo.
– Voltando ao assunto do jantar, eu
vou apresentar o Felipe para os
meus tios.
- O que você acha que vai
acontecer?
Ele pensou um pouquinho.
- Provavelmente vão começar com
brincadeirinhas e depois passa.
Eles não costumam ficar zoando
uma pessoa só.
- Espero que não seja uma das
vitimas.
- Nem eu, nem o Joshua vamos
deixar isso acontecer.
- Mas o irmãozinho de vocês vai
fazer questão.
Ele suspirou. Seus olhos claros
desviaram do meus, indo para a TV
e eu segui seu olhar. Na tela, o
Adam Levine estava sorrindo.
- Ele é tão lindo que sobe meu fogo.
- Deixa o Joshua ouvir você
falando essas coisas.
Ri baixinho. Realmente, não seria
legal se o Joshua ouvisse, mas,
verdade seja dita, eu não trairia ele
nem se o Adam aparecesse sem
camisa na minha frente.
- Não existe homem no mundo que
seja concorrência para o Joshua.
O Nicolas deu um sorrisinho
malicioso.
- Vocês são tão bonitinhos que eu
estou eternamente surpreso.
- Surpreso?
- O Joshua nunca teve nada nem
parecido, com ninguém. Aliás, você
vai ser a primeira garota que ele
levou como acompanhante no
jantar.
- Não por falta de opção...
Ele olhou para mim e sua
sobrancelha se ergueu. Essa
expressão era tão genuinamente
Hunter que eu
me perguntei como nunca tinha
visto antes no rosto dele, ou se vi
não lembrava.
- Qualquer pessoa sã escolheria
você. – Era estranho ver o Nicolas
sério, como se ele estivesse
demonstrando que é mais velho.
Mas, eu gostei.
- Você é um amor.
Ele deu uma piscadinha sexy e se
virou de novo para a TV.
- Vamos assistir, agora é o Taylor
Phelan.
- Quem?
- Shiu! Escute.
Um homem baixinho, loiro e
extremamente fofo começou a
cantar. Ele era muito bom.
Tão bom que eu só notei a presença
do Michael quando acabou a
apresentação. Os quatro jurados
viraram.
- O jantar vai ser na casa do tio
Vitor. – O Michael disse assim que
os jurados começaram a falar.
Ele se sentou na poltrona ao lado
do sofá, de onde eu estava dava
para sentir o perfume dele.
- Faz sentido. – Murmurou o
Nicolas, pausando a TV. – Vai levar
alguém, Michael?
- Ainda estou pensando. E você?
Vai levar seu namoradinho? – Ele
emitiu a ultima palavra com nojo.
Argh.
O sorriso do Nicolas se apagou
como fogo na água.
- Vou. – Ele respondeu secamente. –
Por quê?
- Por nada, é claro. – O Michael se
levantou. – Até porque nada vai ser
mais humilhante para a nossa
familia do que Joshua com a
empregadinha.
Me levantei no mesmo segundo,
com os punhos cerrados.
- Senta, Susan. – O Nicolas pediu
calmamente. – É só não dar
atenção.
Fuzilei o Michael com os olhos.
- Isso não acabou.
Ele riu com desdém.
- Você não faz idéia. – Ele rebateu,
mas tinha alguma coisa esquisita no
jeito como ele falou a ultima
palavra. Não, eu devo estar ficando
paranóica.
Então ele saiu. Eu e o Nicolas
voltamos a assistir de The Voice.
[...]
Tomei um banho rápido. O jantar
seria daqui a meia hora e eu ainda
não estava pronta.
Sai do banheiro correndo e abri o
guarda-roupa. O que eu posso usar?
Olhei minhas opções:
Vestido florido – Eles iriam me
achar meiga e não iriam me
respeitar.
Vestido vermelho – Vulgar demais,
eu não era uma piriguete.
Vestido branco – Mas também não
era tão santa.
Vestido azul com renda – Já usei
num almoço na sexta passada.
Respirei fundo. Peguei uma calça
jeans preta e uma camisa xadrez
rosa com branco e um pouquinho
de preto. Será que iria ficar muito
masculino? Será que o Joshua iria
gostar?
Sentei na cama e revirei os olhos.
Nunca fui do tipo insegura e não
seria agora. Me levantei e estava
prestes a colocar a calça e a camisa
quando ouvi batidas na porta.
- Quem é?
- Sua adorável mãe.
Abri sem nem pensar e a abracei.
Ela tinha o mesmo cheiro de
sempre: Doce e feminino. Não
importa quantos anos eu tenha, seu
cheiro sempre vai me deixar mais
confortável.
- O que te leva aqui, adorável mãe?
– Eu abri passagem para que ela
entrasse no quarto.
- Faz tempo que não conversamos.
Olhei para o relógio, 20 minutos
para o jantar.
- Pode ser depois.
Ela sorriu.
- Eu só queria pergunta como estão
as coisas com o Joshua.
- Quando ele te contou?
Ela deu de ombros.
- Quando teve que passar a noite
cuidando de você depois de uma
bebedeira.
Senti minhas bochechas queimando.
- Sobre isso...
- Não quero saber. – Ela me cortou.
Até quando era para ser grossa, a
voz da minha mãe soava gentil.
– Só quero saber como anda seu
coração.
- Melhor impossível. Eu não pensei
que ele fosse ser tão... Perfeito.
Ela assentiu, seus olhos brilhando
como se soubesse exatamente o que
eu estava sentindo.
- E você e o Robert?
- Depois, quando você voltar do
jantar, eu te conto.
Eu adorava isso na minha mãe: ela
sabia os momentos certos pra tudo.
[...]
Desci as escadas e dei de cara com
o Michael, que estava falando no
celular.
- Clara, pare de frescura e vá para
o térreo que eu chego daqui a
pouco. – Ele parecia entediado de
um jeito que as pessoas não
deveriam estar enquanto falam com
seus namorados. Ele me viu e me
olhou de cima a baixo. – Tchau, eu
vou ter que desligar... Tá, eu sei...
Aham... – Ele deu um sorriso
malicioso. – Eu vou para sua casa
depois do jantar... Até mais.
- Pelo jeito você decidiu chamar
alguém. – Eu comentei quando ele
desligou.
- Pelo jeito o céu é azul.
- Você só não é mais engraçado
porque é um só.
- Você não fica bem de rosa.
- Você não fica bem de nenhuma
cor.
Ele sorriu.
- Você não...
- Susan!
Me virei no mesmo segundo. Não
tinha pensado que iria sentir falta
do Joshua por ele ter passado o
dia todo fora, mas eu senti.
- E irmão. – O Michael corrigiu,
mas o Joshua não estava prestando
atenção.
- Você está absolutamente linda. –
Ele disse se aproximando e olhando
cada centímetro do meu
corpo. Corei violentamente.
- Digo o mesmo.
O Michael olhou para mim como se
minha fala tivesse lembrado a ele
alguma coisa.
O Joshua segurou na minha mão e
fomos para a sala principal.
- Aleluia. – O senhor Fernando
parecia irritado. – Vamos, ou vocês
vão querer demorar mais 10
anos?
Ele tinha o mesmo tom de voz que o
Michael, mas sua aparência era
completamente do Joshua. Me
pergunto o que o Nicolas puxou
dele.
- A Clara está esperando.
- O Felipe também.
O senhor Fernando o encarou por
um momento, então fez que sim com
a cabeça.
- Eu vou com a Susan e o Nicolas.
– O Joshua ofereceu e eu agradeci a
ele mentalmente.
- Tá, nos vemos daqui a pouco. – O
senhor Fernando disse e olhou para
a dona Nicole, que estava ao
lado dele. – Vamos?
Ela sorriu como se ele tivesse
pedido ela em casamento.
- Vamos.
[...]
A casa do senhor Vitor era enorme.
Talvez não tanto quanto a do irmão,
mas tinha mais ou menos o
tamanho da do Bruno. Senti minhas
pernas começando a tremer.
- Eles vão me odiar. – Eu murmurei
para o Joshua enquanto
esperávamos o resto da família
chegar.
- Não é cientificamente possível
odiar você.
- Diz isso pro Michael e pra Jane.
Ele deu uma risadinha e me puxou
mais para perto, pela cintura.
- Qualquer dia desses, eu digo.
Suspirei e vi, pelo canto do olho, o
Nicolas conversando com o Felipe.
- Eles não são fofos?
- Com certeza. – O Joshua
respondeu. – Acho que está empate
do meu casa preferido depois de eu
e
você.
- Empate com quem?
- Bruno e Amanda, é claro. Ele não
para de falar dela um segundo.
- Quando você acha que vai pedi-la
em namoro?
- Não sei, provavelmente quando
tiver certeza absoluta que não vai
levar um fora.
Levantei uma sobrancelha.
- Ele acha que poderia levar um
fora?
- Ah, nunca se sabe. Eu disse para
ele que ela não faria isso, por que
só pelo jeito como ela olha para ele
dá pra sacar que ela diria sim, mas,
obviamente, ele não me ouve.
- Espero que ele peça logo, ai nós
vamos ter encontros triplos.
Ele riu.
Um carro estacionou ao nosso lado
e o Michael, o senhor Fernando, a
dona Nicole e a Clara, que
estava extremamente bonita com um
vestido preto, saíram dele.
A Clara veio para perto de mim.
- Oi, tudo bem?
- Ótima e você?
- Nervosa.
- Entendo.
Ela mordeu o lábio inferior e nós
esperamos até que todos estivessem
na frente da casa. O senhor
Fernando abriu a porta.
- Ei, olha só quem chegou!
Tentei me concentrar no menino
moreno e lindo que estava
apontando para nós, mas foi difícil.
O
Jardim era gigante.
Atrás do menino, tinha mais três
pessoas. Nos aproximamos.
O menino que apontou para nós era
ainda mais bonito de perto, os
olhos dele eram verdes como suas
esmeraldas e o cabelo liso e
castanho caia em um franja que
combinava perfeitamente com o
sorriso
arrogante dele.
Atrás dele, tinha um menino
praticamente igual, só que com os
olhos azuis. Meu coração deu um
salto. Os olhos dele eram azuis
Denim.
O pai deles era como uma versão
de 50 anos do Nicolas, talvez um
pouco mais másculo.
E a mãe parecia uma supermodelo.
Bem a cara dos Hunter: toda a
família ser linda. Espero que eles
sejam legais.
- Ah você deve ser a Susan. – A
mãe deles disse, seu tom não
parecia muito animado. – Soube
que
sua mãe é uma ótima empregada.
- A melhor. – Eu respondi
friamente.
Ela me lançou um olhar fatal.
- Algum problema com isso, tia? –
O Joshua surgiu atrás de mim, sua
voz parecia cheia de raiva.
Ela sorriu com um ar superior.
- Vários.
Respirei fundo.
Esse jantar vai ser longo.
24. Jantar, revelações e Joshua
- Então acho que isso vai ter que
mudar. – O Joshua rebateu.
Os olhos dela eram da mesma cor
que os meus, mas tão frios que
pareciam duas bolas de neve.
- Creio que isso não irá acontecer,
mas, porque precisaria mudar?
Ela queria que ele dissesse que
estava comigo. Ela queria humilhá-
lo.
Por sorte, Joshua não era o tipo de
cara que alguém consegue humilhar.
- Por que eu e a Susan...
- Patético.
A voz irritante do Michael passou
bem perto do meu ouvido, assim
como o perfume dele passou pelo
meu nariz, me deixando enojada, e
ele andou até ficar ao lado da tia,
que, aliás, tinha uma
personalidade muito parecida com
a dele.
- Oi Michael. – Ela cumprimentou
com algo parecido com um sorriso,
mas não exatamente. – O que
você disse?
O Michael olhou para mim daquele
jeito cruel que ele sempre olha
antes de falar ou fazer algo ruim.
- Eu só estava comentando o quanto
é patético meu querido irmão ter
acabado com uma serviçal.
Cerrei os punhos.
- Eu não sou uma serviçal!
A tia dele se afastou um pouco e eu
juro que conseguia ver um
sorrisinho de desdém no rosto dela.
- Claro que é! – O Michael deu um
passo para frente. – Você não passa
de uma empregadinha
interesseira.
Antes que eu pudesse dizer alguma
coisa, o Joshua segurou o Michael
pela gola da camisa o
empurrou contra a parede da
mansão. Reprimi um grito de susto.
- O que eu disse sobre falar essa
coisas dela? – O Joshua perguntou,
puxando o Michael tão forte que
tirou os pés daquele idiota do chão.
O Michael abriu a boca para falar,
mas o Joshua o empurrou com mais
força.
- O QUE EU DISSE? – Ele repetiu.
- Parem com isso. – Não tinha
notado até agora que todos os
Hunter, e a Clara, estavam por
perto.
Mas, quem mandou eles pararem
foi a Dona Nicole. – Pelo amor de
Deus!
Joshua soltou o Michael como se
ele fosse um saco de lixo e olhou
para mim. Nos encaramos.
Sorri para mostrar que estava tudo
bem.
O Michael limpou as mãos na barra
da calça jeans preta, seus olhos
estavam arregalados.
- Mãe, ele me agarrou, só porque
eu...
- Cale a boca, Michael. Ninguém
quer saber. – O senhor Fernando o
interrompeu. Olhei surpresa
para ele, mas todos o resto das
pessoas – exceto a Clara –
pareciam estar acostumadas com a
forma
grosseira como ele falou. Até
mesmo a Dona Nicole. Isso não me
parece certo.
- Venham, ou o jantar vai esfriar. –
O senhor Vitor disse para aliviar a
tensão. Seu tom de voz era
completamente diferente do da
esposa.
Em silencio, entramos na casa.
Passamos por uma sala grande, com
mobílias de luxo, e sentamos em
uma mesa na sala de jantar. Eu ao
lado do Joshua e do Nicolas, e de
frente para um dos primos deles.
O de olhos azuis Denim.
- Nossa secretária do lar fez o seu
prato mais famoso dela, vocês vão
gostar. – O senhor Vitor falou
quando nos sentamos. Ele em um
dos extremos da mesa e o seu irmão
no outro, como se estivéssemos
em uma reunião de trabalho e eles
fossem os dois líderes.
- Chama de empregada, pai. Só
porque a filha de uma delas está
aqui, não significa que você precisa
ser gentil. – Olhei para o moreno de
olhos azuis na minha frente, sem
acreditar em como ele
conseguia dizer uma coisa dessas.
Ele devia ter a idade do Nicolas,
17 anos.
- Sim, preciso. Devemos ser gentis
com as nossas visitas, David.
O nome dele era bonito, parecia
meio de gringo. Assim como
Joshua. Mas acho que é apenas isso
que eles têm em comum. Bem, isso
e os olhos extremamente lindos.
- Depende da visita. – O Michael
murmurou baixinho, apenas eu e a
Clara escutamos.
A Clara sorriu e chegou mais perto
dele. Não acredito que ela achou
que a indireta era para ela e não
para mim. Soltei uma risadinha.
Queria poder avisar a ela o quanto
o namorado dela era idiota, mas
eu não seria ouvida.
- Qual é a graça? – O tal David me
perguntou friamente.
O Joshua se levantou da mesa.
- Parem de falar assim com ela!
Meu Deus, qual é a necessidade
disso? – Ele parecia irritado,
muito, muito irritado.
- O Joshua ta certo, não tem
necessidade disso. – O Nicolas
disse se levantando. Felipe se
levantou
também. – Qual é problema de ela
ser filha da Melissa? – A tia dele
abriu a boca para falar, mas ele
ergueu uma mão. – Não tem
problema algum. Simples assim.
Eu continuei sentada, imóvel. Se me
mexesse muito provavelmente iria
começar uma briga ou chorar.
Nenhuma das duas coisas seria boa.
- Sentem-se, por favor. – O senhor
Fernando pediu, com um tom
extremamente calmo.
Eles obedeceram sem questionar.
Ordem de um Hunter é ordem de um
Hunter, certo?
David olhava estranho para mim,
com uma mistura de nojo e raiva.
Cretino.
Pouco tempo depois, uma mulher
baixinha entrou na sala. Ela devia
ter uns 40 anos e suas feições
eram duras, como se ela tivesse
tido uma vida difícil.
- Essa é a Luciana. – O senhor Vitor
apresentou, então apontou para mim
e em seguida para o Felipe.
– Essa é a Susan e esse é o Felipe,
melhor amigo do Nicolas.
Melhor amigo?
- Muito prazer! – A mulher disse
dando o sorriso e colando os pratos
de cada um. No meio da mesa,
ela colocou um prato que tinha três
lagostas enormes. Comecei a ficar
nervosa enquanto a mulher se
retirava.
- Joshua. – Eu sussurrei no ouvido
dele, quase inaudível. – Como eu
vou comer essa coisa?
Ele riu baixinho.
- Eu ensino, não é difícil. – Ele
sussurrou de volta.
- Não? – Eu perguntei irônica,
então pensei em uma coisa. – Mais
difícil é aguentar sua tia.
Me arrependi por ter dito isso
assim que falei, mas era a verdade.
Ele respirou fundo e não respondeu.
Ele sabia que eu estava certa.
- Então, Felipe, onde você estuda?
– O senhor Vitor perguntou,
novamente tentando aliviar o clima.
Ele parecia a versão masculina da
Dona Nicole.
O senhor Fernando se ajeitou na
cadeira, incomodado.
- No JK, sou da mesma sala do
Nicolas.
- Ah, que ótimo! Lembro que
quando tinha sua idade a coisa que
eu mais queria era que meu melhor
amigo estudasse comigo.
O Nicolas segurou minha mão de
leve, como se estivesse reunindo
coragem, e olhou para o tio.
- Na verdade, o Felipe não é meu
melhor amigo.
- “Ele não é meu melhor amigo, ele
é meu irmão”, certo? – O senhor
Vitor imitou a voz do sobrinho e
depois sorriu.
Todos que sabiam o que estava por
vim ficaram nervosos.
Principalmente o senhor Fernando.
- Na verdade... Ele é meu
namorado.
Um breve momento de silêncio.
Então o David se levantou da mesa
num pulo.
- NÃO ACREDITO QUE O MEU
PRIMO É GAY! – Ele gritou com
nojo. – QUANTAS VEZES NÓS
TOMAMOS BANHO DE PISCINA
JUNTOS? E VOCÊ ESTAVA
OLHANDO PARA O MEU...
- É CLARO QUE NÃO! – O
Nicolas se levantou também,
gritando. – NÃO É ASSIM QUE
AS
COISAS FUNCIONAM!
- E É COMO? SEU VIADIN...
- Não, filho. – A mãe do David o
interrompeu no meio da palavra.
Ela parecia calma, mas seus olhos
pegavam fogo. – Não é assim que
se expressa a raiva.
Os olhos escuros dela foram até o
outro lado da mesa e pousaram no
senhor Fernando. O David
sentou na mesma hora, enquanto o
Nicolas esperou ainda alguns
segundos para voltar para o lado do
Felipe.
- Sabe, Fernando, eu esperava mais
de você. – Ela disse lenta e
friamente. – Eu achei que você
fosse conseguir comandar uma
família, mas pelo jeito, eu estava
enganada. – Sua voz parecia uma
faca
cortando o senhor Fernando, que
estava paralisado do outro lado da
mesa. Na minha diagonal, o
Michael sorriu. – Você falhou.
- Não fale assim com o meu pai! –
O Nicolas protestou.
- Eu falo do jeito que eu...
- Não, não fala. – O senhor Vitor a
cortou, sério.
- Mas... – Ela começou, irritada.
- Não importa. O Nicolas é um
garoto incrível. Nada vai mudar
isso.
Pelo canto do olho, eu conseguia
ver algumas lagrimas brotando nos
olhos azuis do Nicolas. Ele não
esperava assim reação do tio. Ele
não esperava essa reação de
ninguém, na verdade.
Senti o olhar de alguém e procurei
de onde vinha. Era do outro primo,
o de olhos verdes – que era
levemente mais bonito que o irmão
gêmeo – e percebi que até agora ele
não tinha falado nada nesse
jantar. Talvez ele fosse uma pessoa
boa, mas não quisesse discordar da
mãe. Ou talvez ele fosse uma
pessoa ruim e não quisesse
discordar do pai. Suspirei e desviei
os olhos.
- Vitor, você não acredita mesmo
nisso, não é? – A esposa dele
perguntou indignada.
Os ombros do Joshua tremeram de
leve. Ele estava rindo baixinho.
- Acredito. E creio que o Nando
não está gostando de ver a cunhada
dele falando essas coisas
grosseiras. – Ele deu ênfase em
cunhada, acho que para mostrar que
ela devia ter o mínimo de
respeito pelo irmão dele. Gostei
muito do senhor Vitor.
- Acertou. – O senhor Fernando
disse, sorrindo com um ar superior
que combinava muito com ele. O
que, como consequência, significa
que combinava muito como Joshua
também. Respirei fundo.
Ficamos em silencio por um tempo,
cada um com seu próprio
pensamento.
O Michael, bem lentamente,
colocou o braço no ombro da
Clara. O Joshua o imitou comigo,
enquanto
o Felipe o imitou com o Nicolas.
Então, sem que ninguém tivesse que
falar nada, começamos a comer e a
tensão no ar se evaporou.
- Ei Arthur, como vai a banda? – O
Joshua perguntou sorrindo para o
garoto de olhos verdes.
O David revirou os olhos com um
ar de inveja. Ótimo.
- Nós estamos muito bem, obrigado.
– O garoto de olhos verdes, que
agora tinha um nome ficou
animado. – O nosso primeiro show
com mais de 5 mil pessoas vai ser
no próximo fim de semana,
topa?
Eu e o Joshua nos entreolhamos.
- Não posso, tenho um estágio. –
Ele respondeu, apenas eu devo ter
notado um quê de malicia na voz
dele. Porque eu sabia o que iria
acontecer no próximo fim de
semana.
- Ah sim, como vai a faculdade,
Joshua? – O senhor Vitor entrou na
conversa, sorrindo.
- Melhor impossível, o diretor da
JK já disse que assim que eu me
formar eu vou poder trabalhar no
colégio.
- Ai meu Deus, isso é incrível! – Eu
deixei escapar, sem conseguir
conter a animação.
O senhor Vitor me analisou por
alguns segundos.
- E você, Susan, o que ta fazendo da
vida? – Ele perguntou
educadamente.
O que você quer que eu responda?
Fumando escondido nas favelas
onde você acha que eu nasci?
Balancei a cabeça de leve. Ele não
era esnobe como a esposa e o filho.
- Ela apenas irrita as pessoas ao
seu redor. – O Michael respondeu
por mim. Seu braço estava quase
caindo no ombro da Clara, como se
ele não fosse se importar se ela
levantasse e saísse agora mesmo.
Provavelmente não se importava
mesmo.
O David deu uma risada.
- Bem que eu imaginei!
O Joshua cerrou o punho.
- Não concordo com o seu
comentário, Michael. – Ele disse,
tentando parecer indiferente, mas o
fim
de cada palavra saiu trêmulo de
raiva.
- Claro que não concorda. Ela é sua
namorada.
O senhor Fernando levantou uma
sobrancelha.
- O que ele quis dizer com isso,
Joshua?
Senti a respiração dele ficando
acelerada ao meu lado, mas seu
rosto continuava firme.
- É isso mesmo que você ouviu.
O senhor Fernando se levantou da
mesa.
- Vamos conversar.
- Pai...
- Vamos conversar, Joshua. – Ele
repetiu.
O Joshua tirou o braço do meu
ombro e se levantou. Nosso olhares
se encontraram alguns segundos
antes de ele começar a andar em
direção ao pai. Pouco tempo
depois, os dois saíram da sala e
foram
para o jardim.
- Ai meu Deus. – O Nicolas
murmurou baixinho ao meu lado.
Ele parecia uma mistura de medo e
solidariedade. Faz sentido.
Considerando o fato do senhor
Fernando já ter apontado uma arma
para
ele por causa do seu namorado.
- O que vocês acham...? – Eu deixei
o resto da pergunta no ar.
A Dona Nicole deu de ombros.
Enquanto a tia deles parecia estar
se divertindo com tudo isso.
Não consegui aguentar mais de dois
minutos antes de me levantar e ir
atrás do Joshua.
Ninguém me impediu.
Fui até o jardim e encontrei o
Joshua e o senhor Fernando se
encarando. Me aproximei devagar e
percebi que eles estavam
conversando baixinho, o que me
deixou surpresa.
- Você acha mesmo que ela é a
mulher certa?
O Joshua nem pensou antes de
responder.
- Acho. Pela milésima vez: eu amo
a Susan!
Senti meu coração acelerando.
Sempre iria gostar de ouvir ele
dizendo isso em voz alta. Me
aproximei mais e me escondi atrás
de uma arvorezinha que estava bem
perto deles.
- O que te leva a pensar que ela não
é uma interesseira? Que ela não
quer só o seu dinheiro? O nosso
dinheiro!
- Eu sei que ela não é assim. Ela é
diferente.
- Você não pode ter tanta certeza
assim.
- Claro que posso! – O Joshua
aumentou o tom da voz, subitamente
irritado. – Eu posso porque eu a
amo! Simples assim. Pelo amor de
Deus, confie em mim!
- Eu confio em você, em quem eu
não confio é naquela...
- Limpe sua boca antes de falar da
Susan.
O senhor Fernando pareceu
surpreso com a resposta.
- Como ela conseguiu te deixar
assim?
O Joshua mordeu o lábio inferior,
como se estivesse se lembrando de
alguma coisa muito boa. Corei
bruscamente ao imaginar o que
seria.
- Não faço a menor idéia, só sei
que não posso mais viver sem
aquela menina.
- Ela só tem 16 anos! Ela é filha da
nossa empregada! Quantos motivos
você quer para entender que
isso não vai dar certo?
Senti um aperto no peito. E se o
Joshua o ouvisse?
Mas ele não ouviria.
- Sinto muito, mas nada que você
disser vai me fazer parar. O que
você quer que eu faça para te
convencer?
O senhor Fernando pensou por um
momento.
- Vocês têm um mês. Se daqui até lá
eu perceber alguma coisa...
- Obrigado, pai. – O Joshua o
cortou no meio da frase. - Você não
vai se arrepender.
Ele não parecia muito convencido,
mas não tinha nada que pudesse
fazer.
- Espero que você esteja certo...
Enfim, vamos voltar para o jantar?
- Claro, vai na frente que eu tenho
que fazer uma ligação.
O senhor Fernando voltou para a
mansão do irmão.
Continuei escondida atrás da
arvore, esperando para saber para
quem seria a ligação.
- Eu sei que você está ai.
Sorri e sai de trás da arvore. Não
fiquei muito surpresa com isso.
- Como?
Ele deu de ombros.
- Seu perfume, eu reconheceria ele
mesmo que tivesse um milhão de
pessoas aqui.
- Na verdade, isso não é possível,
já que...
Ele riu e colocou o dedo indicador
na frente da boca, para pedir
silencio.
- Calada, eu que sou o professor
aqui.
Revirei os olhos.
- Que matéria?
Ele chegou mais perto de mim, com
uma cara de pervertido que eu tinha
aprendido a amar.
- Física.
Meu corpo inteiro ficou quente.
Como ele conseguia fazer isso só
com uma palavra?
- Bela matéria.
Ele me olhou de cima a baixo.
- Belo físico.
Ri nervosa.
Ele se aproximou de mim e nos
beijamos com intensidade. O corpo
dele queria o meu tanto quando o
meu queria o dele. Suas mãos
subiam e desciam na curva da
minha cintura.
- Ei pombinhos, não vão comer a
sobremesa? – A voz do Arthur era
doce e divertida, leve. Tão leve
que eu nem consegui odiar muito
ele por ter nos atrapalhado.
Olhamos para a varanda da casa.
Nenhum dos dois se importava mais
com a sobremesa do que com o
que estávamos fazendo, mas fomos
mesmo assim.
Assim que sentei, percebi que o
clima estava muito melhor.
- ...Não acredito nisso, Felipe!
Você é sobrinho da Rê? – O David
parecia animado, parecia ter
esquecido completamente as coisas
que falou para o Nicolas.
- Sou, ela mora tipo do lado da
minha casa. – Ele respondeu um
pouco mais baixo do que o normal,
seu tom de voz deixava claro o
quanto estava tímido.
Eles começaram a conversa sobre
essa tal Rê e eu não entendi nada,
mas tanto faz. O que importa é
que eles não estavam brigando.
No canto direito da mesa, o senhor
Fernando conversava e ria com a
Clara e a Dona Nicole. O
Michael parecia perdido demais em
pensamentos para participar e de
vez em quando olhava para
mim. Queria que ele parasse, estava
começando a ficar irritada.
No canto esquerdo, o senhor Vitor
falava alguma coisa para a esposa,
mas não parecia ser nada
sério, já que ele estava sorrindo.
Nicolas observava desconfiado o
bom humor do primo.
Não teve mais nenhuma briga no
jantar. Graças a Deus.
[...]
- Como a Teresa foi... – A Dona
Nicole começou a dizer assim que
chegamos em casa.
Descobri que Teresa era o nome
daquela mulher que eu odiei desde
que cheguei naquela casa. A tia
do meu namorado.
- Sim, sim, eu sei. – O senhor
Fernando falou. – Não precisa nem
comentar.
- Claro que precisa! – Ela suspirou.
- Ah, eu estou tão cansada...
- Isso me lembra uma coisa.
Olhei, juntos com os outros, o
senhor Fernando tirando um papel
do bolso.
- Nosso aniversário de casamento é
daqui a 5 dias, pensei em começar
a te presentear de hoje. – Ele
entregou o papel para a Dona
Nicole.
Ela deu um gritinho assim que leu.
- Isso é... Perfeito!
- Vamos partir hoje mesmo.
- O que é, pai? – O Michael
perguntou curioso. Sua mão estava
segurando a da Clara, mas não
parecia um ato romântico.
- Uma viagem de iate.
Arregalei os olhos, impressionada.
- Arrasou! – O Nicolas falou rindo.
O senhor Fernando torceu o nariz
por um segundo, então se virou de
novo para a Dona Nicole.
- Vá se arrumar, vamos daqui a uma
hora.
Ela subiu as escadas, correndo
como uma adolescente.
- Isso me lembra que eu vou dormir
na casa da Clara hoje. – O Michael
disse.
O Joshua encarou o Nicolas, que
rapidamente encontrou seu olhar.
Eles pareciam estar discutindo
alguma coisa.
- Sabe... Acho que eu vou também.
– O Nicolas emitia cada palavra
devagar, como se estivesse
explicando alguma coisa.
Me lembrei que, ainda quando eu
estava no jantar, minha mãe me
mandou uma mensagem dizendo que
passaria a noite na casa do Robert.
Então eu entendi.
Eu e o Joshua, sozinhos.
- Talvez, a gente pudesse adiantar
as coisas do próximo fim de
semana para esse... – Ele sussurrou
rouco no meu ouvido e eu me
arrepiei.
Talvez.
Talvez.
Então eu percebi que meu corpo
todo não queria um talvez.
Ele tinha certeza de que diria sim.
25. Primeira vez
Olhei para o Joshua. Ele era tão
lindo. Queria que ele não fosse tão
rodado.
Seria minha primeira vez e a
20932º dele. Muita pressão, com
certeza.
Ele me olhou de volta, deu um
sorrisinho e, antes que pudesse
dizer alguma coisa, o som de
Demons
encheu o ar.
- Fala Bruninho! – Ele disse, ainda
sorrindo, ao atender. – Eu estou
ótimo. – Seus olhos me
analisaram por alguns segundos. –
Na verdade, acho que “ótimo” é
pequeno demais para o meu
estado de espírito... – Ele riu de
alguma coisa. – Como você
adivinhou?... Não use esse tom de
surpresa!
Eu segurei minha risada,
imaginando o que o Bruno estaria
dizendo.
- Joshua, dá pra você falar com seu
best em outro canto? – O Michael
perguntou.
Revirei os olhos enquanto via o
Joshua indo embora sem reclamar.
Ele parecia feliz demais para ir
brigar com o Michael.
O senhor Fernando entrou no
elevador, deixando eu, Nicolas,
Felipe, Michael e Clara sozinhos.
Gostava de 75% das pessoas nessa
sala.
- O que achou do jantar, Clara? – O
Michael sentou no sofá ela sentou
ao lado dele. Mesmo de longe,
dava para ver os olhos dela
brilhando.
- Foi legal, o David é meio metido,
mas o Arthur é adorável. – Ela
comentou, dando de ombros.
Nicolas e Felipe se sentaram no
sofá também. Preferi ir para a
poltrona.
- Sério? Gosto muito mais do
David.
- Claro. Coisa ruim se atrai por
coisa ruim. – Eu murmurei alto o
bastante para ele ouvir.
- Espero que isso não tenha sido
uma indireta para mim, Susan. – A
Clara disse, estreitando os olhos
escuros.
- Não, você é um amor. Seu
namorado, no entanto...
- Por que você não vai se foder? –
Ele se levantou do sofá, irritado.
Me levantei também.
- Por que você não para de
respirar? Só pra eu testar uma
coisa.
Ele riu.
- Achei que você tivesse melhorado
nos seus foras, mas pelo jeito não.
- Não lembro de ter perguntando o
que você acha ou deixa de achar.
- Pelo amor de Deus, eu saio por 5
segundos e você arruma briga com
a minha namorada. – O Joshua
entrou na sala e foi até o Michael,
ficando na minha frente como um
escudo.
- A culpa não é minha que você
escolheu a menina mais irritante do
universo. – O Michael rebateu e
eles se fuzilaram com os olhos.
Na minha diagonal, o Nicolas
mostrava alguma coisa no celular
para o Felipe. Nenhum dos dois
dava a mínima para minha
discussão simplesmente porque não
gostavam de ver essas coisas.
Invejava a capacidade deles de
ficarem longe de problemas.
- Michael, você não vai querer que
eu quebre você ao meio, vai? – A
voz do Joshua ficava mais
ameaçadora a cada palavra. – Se
você quiser é só continuar falando
sobre a Susan.
O Michael fechou os punhos com
força.
- Quem garante que você vai
ganhar?
Joshua riu com desdém.
- Fala sério, você nunca ganhou
uma briga contra mim desde que
tinha 9 anos...
- Parem. – O Nicolas finalmente se
levantou do sofá. Apenas o Felipe e
Clara estavam sentados
agora. – Qual é o problema de
vocês?
- Desde quando você é o defensor
do Joshua? – O Michael perguntou
com algo parecido com raiva,
mas não exatamente.
- Não sou defensor de nenhum dos
dois, só acho que não tem pra quê
fazer isso. Aliás, Michael, você
não deveria estar na casa da Clara?
Estiquei o pescoço para ver a
reação dela. Corada. Como era de
se esperar.
- Você tem razão. – O Michael se
virou para a Clara. – Vamos, eu vou
chamar um taxi e a gente
espera lá fora.
Ele parecia estar se esforçando
para manter um tom educado e
gentil. Esse garoto merece um
Oscar
de atuação.
- Tchau Susan, até segunda! – A
Clara se despediu rapidamente
antes de sair quase que correndo
para
encontrar o Michael.
[...]
Exatamente como o senhor
Fernando disse, 1 hora depois de
ter dado o presente para a Dona
Nicole
ele já estava na porta para ir
embora.
- Volta quando, pai? – O Joshua
perguntou.
- Só domingo à noite.
A Dona Nicole parecia prestes a
explodir de felicidade.
- Zerou a vida com esse presente. –
O Nicolas disse sorrindo.
- Eu fiz o que rapaz? – O senhor
Fernando levantou uma
sobrancelha, mas sua expressão era
divertida. Ele parecia mais feliz do
que eu jamais tinha visto antes.
- Digamos que a vida seja um jogo,
com esse presente você...
O riso do Felipe atrapalhou a fala
do Nicolas. E a Dona Nicole
aproveitou esse momento para
olhar
o relógio.
- Querido, já estamos quase
atrasados.
O senhor Fernando assentiu para a
esposa e eles entraram no carro.
Só quando saíram de vista, o
Joshua se virou para o irmão.
- E vocês?
- Vou chamar um taxi agorinha,
podem ir lá pra dentro. – O Nicolas
falou sorrindo malicioso.
- É exatamente isso que vamos
fazer. – O Joshua retrucou pegando
na minha mão e me puxando pelo
jardim de um jeito gentil, mas
apressado.
Assim que entramos na casa, ele me
encostou na porta, com um braço de
cada lado do meu corpo.
Perdi a respiração.
- Você não faz idéia de como eu
esperei por isso. – Ele sussurrou
extremamente perto do meu ouvido.
Sua voz parecia a de um predador.
- J-Joshua... – Eu murmurei sem
saber o que dizer, sentindo cada
parte do meu corpo perdendo o
fôlego.
Ele me empurrou ainda mais contra
a parede e eu pude senti o volume
da sua calça muito próximo da
minha virilha. Reprimi um gemido.
- Eu amo tanto você. – Ele parecia
igualmente sem ar.
- Eu... Ai meu Deus, Joshua, eu
também.
Ele se afastou um pouco de mim,
como se estivesse pensando no que
fazer.
- Eu vou tomar banho, ok? – Ele
disse lentamente, olhando fixo para
mim, tão perto que eu poderia
ver o ar saindo da sua boca e
rodopiando até chegar aos meus
ouvidos. – Volto daqui a 10
minutos.
Então ele saiu e eu senti um arrepio
de frio quando o corpo quente dele
se afastou do meu.
10 minutos.
Eu só tinha mais dez minutos de
pureza.
Ri com esse pensamento, mas
estava nervosa. Tão nervosa que
me joguei no sofá e tentei encontrar
alguma coisa no celular que me
distraísse.
Por sorte, o Edu estava on. Mandei
uma mensagem para ele:
Oi baby, tudo ótimo?
Ele respondeu no mesmo segundo.
Edu Lohan:
Claro e você?
Pensei em dizer para ele o que
estava para acontecer, mas decidi
deixar para depois; ele não
precisava saber.
Susan dos Alvez:
Também. Ei, eu percebi que vc
meio que pariu de falar com a
Mônica
Parou*
Ele demorou um pouco para
responder essa.
Edu Lohan:
Eu ainda não esqueci ela, é claro,
mas acho que... Estou melhorando.
Eu não penso mais tanto nisso,
sabe?
Assenti e começamos a conversar
sobre isso.
Falar com o Edu era leve, era bom.
Tão bom que 10 minutos se
passaram voando e só quando o
Edu
se despediu – dizendo que ia ajudar
a Jane com não sei o que e já
voltava – eu senti falta do Joshua.
Decidi subir as escadas e ir atrás
dele.
Assim que eu cheguei na porta do
quarto senti minhas pernas
tremendo. Dei três batidinhas.
- Não achei que você fosse vim até
aqui em cima. – Ele estava sem
camisa. Tentei não ficar
encarando o corpo perfeito dele,
mas era difícil. Ele parecia um deus
com sorriso pervertido. -
Porém, que bom que você veio.
Ele colocou as duas mãos na minha
cintura e me puxou para dentro do
quarto. Por um segundo ele me
soltou e fez menção de ir até a porta
– provavelmente para trancá-la –
mas então pareceu se lembrar
que ninguém iria nos atrapalhar.
Fiquei na ponta dos pés e nos
beijamos de verdade. Ele me puxou
pela cintura com mais força e eu
senti que estava saindo do chão e
precisava de um apoio, então –
como se estivesse ouvindo meus
pensamentos – ele me colocou
contra a parede.
- Tem certeza disso? – Ele
perguntou quando tivemos que
parar o beijo por causa da falta de
ar.
- Absoluta. – Eu respondi, puxando
ele pela nuca e o beijando
novamente.
Sua mão esquerda desceu pela
minha cintura até chegar no meu
quadril e, em um movimento
rápido,
ela o ultimo botão da minha camisa.
Fechei os olhos e beijei o Joshua
com mais força, para tentar
não suspirar.
A mão do Joshua era longa, quente
e macia, e subiu pela minha barriga
por um segundo antes de
voltar e desabotoar outro botão,
tudo isso tão facilmente que o
Joshua parecia nem ter consciência
do que estava fazendo.
Ele parou de me beijar por um
breve momento e sua outra mão
começou a ajudar a primeira a
desabotoar e, quando eu me dei
conta, a camisa estava sendo
sustentada apenas por um ultimo
botão
rosa.
- Agora eu vou pedir para que você
feche os olhos e só abra quando eu
mandar. – Ele disse baixinho.
Hesitei.
- Apenas confie em mim.
Eu confio, Joshua.
Fechei meus olhos.
Senti as mãos dele abrindo o ultimo
botão e a camisa xadrez deslizou
pelos meus braços, fazendo
algo parecido com cócegas. Ele
desabotoou os botões do pulso e eu
quase consegui ouvi o barulho
da minha camisa caindo no chão.
✣Joshua✣
Ela era tão linda.
Quando finalmente eu consegui tirar
aquela maldita camisa, meu
membro já estava doendo de tão
duro. Eu queria ela. Eu precisava
estar dentro dela. Agora. Por favor.
Minhas mãos já estavam
preparadas para ir no piloto
automático, como sempre faziam:
de um jeito
rápido, para chegar logo aonde eu
queria.
Mas eu as controlei. Não, não iria
ser assim com a Susan. Iria ser
mágico.
Com a mão esquerda, eu acariciei o
rosto dela devagar, o puxando
lentamente para mim. Seus olhos
tremeram, ela queria me ver. Mas
eu sabia que seria melhor apenas
sentir, pelo menos por enquanto.
Ainda sem pressa eu a beijei,
começando com um selinho simples
e depois aumentando para um
beijo intenso, que já já iria acabar
por causa da falta ar. Faltar de ar
era a única coisa que fazia eu parar
de beijar a Susan.
Minha mão direita foi até as costas
dela e brincou por um momento
com o feixe do sutiã, como se eu
não quisesse desesperadamente
tirá-lo. A boca da Susan se afastou
da minha por um segundo e ela
soltou um suspiro baixinho, com os
olhos bem fechados. Ela estava tão
imersa em prazer que eu
decidi não demorar mais e abri o
feixe do sutiã.
- Dê um passo para frente. – Eu
comandei, dando um passo para
trás.
Ela obedeceu e o sutiã foi para o
chão, perto da camisa. Meus olhos
demoraram um segundo para
assimilar o que estava acontecendo;
ela parecia ter sido esculpida por
um pintor italiano.
Pousei uma das mãos em cima de
um dos seios dela, apenas para
testar sua reação. Ela ficou corada
no mesmo segundo. Sorri com
satisfação e fiz movimentos em
círculos que sabia que ela iria
gostar.
E estava certo, na minha segunda
volta ela já estava gemendo
baixinho.
✣Susan✣
A mão dele estava me deixando
louca. Eu nunca tinha
experimentado nada assim antes, eu
só queria
mais, e mais, e mais.
Senti sua respiração ficando mais
ofegante e sorri. Eu deixava ele
assim. Eu.
- Abra os olhos. – Ele pediu, sua
voz saiu rouca, como se ele
estivesse fazendo força para falar.
Fiz o que ele mandou e me deparei
com aquele par de olhos azuis que
tanto amava. Tentei não ficar
com vergonha do meu corpo, mas
era difícil. Ele já tinha visto tantas
mulheres que...
- Você é tão linda.
Isso interrompeu meus pensamentos
negativos como uma parede se
erguendo entre eles e a minha
mente.
- Ah Joshua...
Ele sorriu e me puxou pela cintura.
Gostava da sensação do meu peito
em contato com a pele quente
dele. Todo o meu corpo gostava
daquela sensação.
- Agora, vamos para o próximo
passo.
Assenti com a cabeça e ele me
puxou para cima, fazendo com que
minhas pernas não tivessem outra
opção a não ser ficarem ao redor
do quadril dele.
- Gostei desse passo. – Eu comentei
com um mistura de nervosismo e
prazer.
Ele sorriu, mas não conseguiu
responder. Ele parecia concentrado
demais em alguma coisa outra.
Fomos da parede ao lado da porta
até cama em poucos segundos, e ele
me colocou nela devagar.
Minhas pernas ficaram abertas e o
quadril dele encostava no meu.
- Feche os olhos de novo.
Obedeci, deixando que minha
cabeça repousasse em cima de um
travesseiro que estava no exato
local onde precisaria estar. Joshua
pensava em tudo.
Senti que ele estava se
aproximando de mim por causa da
sua respiração e do seu cheiro bom,
e ele
me beijou devagar. Suas mãos
desceram pela lateral do meu corpo
e seus dedos traçaram círculos na
barra da minha calça.
Ele ainda estava me beijando
quando desabotoou o primeiro
botão e, sem minha permissão, meu
quadril se ergueu levemente. Todo
meu corpo queria o Joshua.
Nos afastamos por causa da falta de
ar e ele desabotoou o outro botão.
Então se afastou de mim e
desceu até as minhas pernas. Fiz
força para manter meus olhos
fechados e me concentrei em sentir.
As mãos precisas dele desceram
minha calça jeans e eu senti a
respiração dele perto das minhas
coxas.
Agora eu estava apenas de calcinha
e ele voltou a subir até o meu
pescoço, depositando um beijo lá,
depois subiu pelo meu queixo,
minha bochecha, minha boca. Cada
toque dele fazia meu corpo se
arrepiar de 100 maneiras
diferentes.
Senti sua mão descendo pela minha
barriga até chega na minha
intimidade. Em um único
movimento,
ele se livrou da minha calcinha.
Todos os pensamentos que eu
estava tendo se evaporaram da
minha
cabeça no mesmo segundo. Ele,
bem devagar, chegou com o dedo
até a minha entrada. Minhas pernas
se abriram ainda mais e eu soltei
um gemido um pouco mais alto do
que pretendia.
Lentamente, ele enfiou um dedo lá,
fez movimentos para frente e para
trás, então enfiou outro. Senti
minhas costas arqueando um pouco.
- J-J-Joshua – Eu tentei dizer
alguma coisa, mas tudo que saia da
minha boca eram gemidos.
- Eu só estou te testando. – Ele
subiu até que sua boca tocasse meu
ouvido. – Se eu for direto você
não vai aguentar.
Mordi o lábio inferior com força,
para tentar me segurar. Senti alguns
movimentos sobre a minha
barriga e percebi que era o Joshua
tirando a própria roupa. Sem
conseguir me controlar, abri os
olhos.
Ele sorriu malicioso ao ver meus
olhos abertos, mas eu não
conseguia dar atenção a isso; estava
ocupada demais observando os
movimentos das suas mãos:
desabotoando a calça, tirando-as,
jogando elas em algum lugar, e por
fim, tirando a cueca.
Fechei os olhos no mesmo segundo.
Não queria ver isso. Queria sentir.
Ele beijou meu pescoço devagar,
uma de suas mãos estava no meu
quadril e a outra segurava as
minhas duas acima da minha
cabeça.
- Eu amo você. – Ele sussurrou
mais uma vez.
Ele entrou devagar dentro de mim,
então foi aumentando o ritmo, indo
mais fundo e meu quadril se
mexeu em resposta. A mão dele que
segurava meu quadril me puxou
para cima.
- JAMES PUTA QUE PARIU! – Eu
gritei quando ele arremeteu com
força. – ISSO TÁ DOENDO
PRA CARA... Pera... Faz mais
disso... – Ele agora estava fazendo
um movimento de vai e vem. – Ai
meu Deus, isso é tão... – Fui
interrompida com o som do Joshua.
Ele estava gemendo. Ele estava
preenchendo todo o meu corpo com
o dele e estava gostando tanto
quanto eu.
Rebolei com o quadril e, de
repente, senti todos os meus
músculos contraindo.
- O que ta acontecendo? – Eu
perguntei sem ar.
Ele sorriu com os olhos fechados.
Então eu senti como se todo o meu
corpo estivesse em choque, todos
os meus músculos, ossos, pelos,
tudo, tudo, tudo estava dentro dessa
transe.
E ai passou, tão rapidamente quanto
veio.
O Joshua saiu de dentro de mim e
se ajoelhou na minha frente. Minhas
pernas estavam tão fracas que
eu deixei que elas caíssem. Desviei
os olhos enquanto ele tirava a
camisinha e jogava em um
lixeirinho exatamente a um metro da
cama. Novamente, o Joshua pensou
em tudo.
Ele olhou para o meu corpo por um
momento, então seus olhos
encontraram os meus. Sorri meio
sem
forças.
Ele mordeu o lábio inferior e se
jogou ao meu lado, me puxando
para os seus braços.
Nos beijamos um vez.
E outra.
E outra.
E o quadril procurava pelo meu,
mas minhas pernas estavam fracas
demais para procurar de volta.
Ele suspirou e se levantou da cama.
- Para onde você vai? – Eu
perguntei quase assustada.
Ele sorriu com o canto da boca e
olhou para o chão, procurando
alguma coisa.
- Vou pegar sua calcinha. – Ele
respondeu dando de ombros.
Me levantei no mesmo segundo,
mesmo sentindo todos os meus
ossos protestando por eu ter feito
isso.
Fiquei em pé na frente dele e nos
encaramos.
- Por que você vai fazer isso?
- Porque se você continuar nua eu
vou querer um segunda rodada e
você não está pronta para isso. –
Ele disse simplesmente, então se
agachou e pegou uma coisa do
chão. – Coloque isso.
- Quem disse que eu não estou
pronta? – Eu perguntei irritada.
Ele levantou uma sobrancelha.
- Eu disse. Você não está nem se
agüentando em pé.
Levei aquilo como um desafio e
com movimento improvisado joguei
ele na cama. Me sentei em cima
da barriga dura dele e rebolei.
- Pare com isso. – Ele falou com a
voz tremida. Ele não queria que eu
parasse.
- Eu vou mostrar para você quem
não está pronta...
Ele me puxou pela cintura e achei
que fosse me beijar, mas, em vez
disso, me colocou deitada de
novo na cama e me cobriu do
quadril para baixo com o lençol.
- Não sei se você concorda, mas
acho que seria legal você conseguir
andar direito amanha.
Revirei os olhos.
- Você está se achando muito,
Joshua.
Ele se aproximou de mim tão
rapidamente que pareceu apenas um
borrão.
- Se eu quisesse, você não estaria
conseguindo nem falar agora. –
Cada palavra dele me deixava
excitada. Mordi o lábio inferior. –
Mas, eu não quero. Porque eu me
preocupo com você.
Ele pegou alguma coisa da
escrivaninha ao lado da cama. Era
uma cueca. Que ele pôs
rapidamente
antes de entrar no lençol que estava
me cobrindo. Suas mãos me
puxaram pela cintura e eu fiquei a
poucos centímetros dele.
- Eu...– Eu pensei em quais
palavras poderia usar. – Eu não
consegui te dá tanto prazer quanto
você
me...
Ele balançou a cabeça em negativa.
- Nem pense em dizer isso. – Ele
falou baixinho e severamente. –
Essa foi de longe a melhor noite
que eu já tive.
- Mas...
- Você é a coisa mais perfeita que
eu já tive a honra de tocar.
Senti minhas bochechas ficando
vermelhas, mas, pela primeira vez,
não me importei com isso.
- Ainda acho que eu poderia ter
feito mais. – Eu comentei,
desviando os olhos.
Ele tocou na minha bochecha, para
que eu olhasse para ele.
- Eu vou te ensinar tudo.
- O que você disse?
- Eu vou te ensinar tudo o que eu
sei. Todas as posições, em todos os
lugares, em todos os horários. –
A voz dele saiu como se isso fosse
uma promessa. – Nós temos todo o
tempo do mundo.
- Tem certeza que você não vai
desistir de mim?
Ele riu baixinho.
- Eu não sou capaz de desistir de
você.
26. Amor, amor, amor
✣Joshua✣
Ela corou quase que
instantaneamente. Será que nunca
iria se acostumar com o meu jeito
direto de
explicar o amor que eu sinto?
Espero que não. Eu gostava de vê-
la sem graça.
- Não diga isso, Joshua. Você não
sabe o dia de amanhã. – Ela disse
baixinho e eu senti uma pontada
de tristeza no seu tom.
- Pare com isso, ok? – Eu sussurrei
e a puxei para mais perto. Os
contornos do seu corpo pareciam
completar os do meu. – Eu nunca
vou desistir de você e ponto.
Ela desviou os olhos.
- Eu não sei se mereço todo esse
amor.
Uma das minhas sobrancelhas se
levantou sem minha permissão,
como sempre acontecia quando eu
ficava intrigado com alguma coisa.
- Do que você está falando? – Eu
perguntei confuso. – A única pessoa
aqui que já fez algo
verdadeiramente ruim aqui foi eu.
Ela olhou para mim de novo e todas
as minhas lembranças voltaram.
Queria poder pedir desculpas
para aquelas garotas.
Principalmente para a primeira de
todas.
- Não diga isso... - Ela começou a
pedir.
- Claro que digo. – Minha voz saiu
suave, mesmo que eu não estivesse
assim por dentro. Eu odiava
lembrar do idiota que era.
Ela balançou a cabeça em negativa
e sua mão subiu pelas minhas
costas até chegar à minha nuca –
provocando uma série de arrepios
no caminho – e em seguida me
puxou para um beijo. Retribui no
mesmo segundo.
Nunca fiz tanta força para segurar
minhas mãos. Eu queria tanto um
segundo round. Só mais um, juro.
E a boca dela não estava ajudando;
cada movimento me fazia ter
vontade de puxá-la pela cintura e
montá-la em cima de mim para ela
rebolar de novo, só que dessa vez
eu não iria dispensá-la. Esse
pensamento fez meu pau ficar tão
duro que eu ajeitei o quadril para
ela não sentir.
Quando ficamos sem folego, eu já
estava quase implorando por uma
trégua.
Ela se aninhou no meu peito e
suspiro. Eu já estava sorrindo antes
mesmo de notar sua mão no meu
quadril. Senti todos os meus
músculos ficando tensos.
- Por favor... – Eu pedi quase sem
ar – Coloque uma roupa.
Ela revirou os olhos e tirou a mão
do meu quadril. Droga.
- Eu também quero um segundo
round. – Ela falou mordendo o
lábio inferior.
Tudo na sua voz estava programado
para ser sensual. Essa menina
deveria ter o mínimo de respeito
pelo meu pau e a situação
complicada em que ele se
encontrava.
- Tem certeza disso? – Eu
perguntei.
Era um teste.
- Claro.
Nem esperei ela dizer outra coisa e
arranquei o lençol que estava nos
cobrindo, deixando todo o
corpo perfeito dela exposto. Desci
o olhar até chegar às suas pernas e
percebi que elas tremiam. Era
obvio que era não estava
preparada.
Segurei sua cintura com firmeza e a
puxei para cima da minha barriga.
Tentei ignorar o fato de ela
está sem calcinha, mas era difícil.
Ela fechou os olhos e eu deixei
minhas mãos descerem até as suas
pernas e dei um leve aperto. A
Susan soltou um gemido tão alto
que eu a soltei no mesmo segundo.
Ela saiu de cima de mim em um
pulo e se levantou da cama.
Suspirei e me levantei também.
Me aproximei dela devagar, com
medo de alguma reação ruim e
esperando que ela se afastasse. Mas
ela não se mexeu, apenas continuou
me olhando como se pedisse
desculpas.
Pensei um pouco no que iria dizer.
- Susan, você sabe que, se tudo der
certo, nós vamos casar, não é?
Ela parecia confusa com o que eu
estava falando. Fiz força para
manter meus olhos fixados nos dela
e não no seu corpo.
- Sei. – Ela respondeu baixinho,
quase sem voz.
- E você sabe que eu quero passar a
minha vida inteira acordando com
você ao meu lado?
Um sorriso tímido apareceu no
lugar da expressão confusa dela.
- Sei.
- Então não precisamos de um
segundo round hoje. Nem amanhã. –
Eu parei e esperei enquanto ela
assimilava isso. – Temos o resto de
nossas vidas.
Ela assentiu devagar.
- E... O que vamos fazer agora?
- Bem, temos a casa toda para nós.
Aposto que deve ter algo de bom
para fazer.
Ela pareceu pensar um pouco, então
deu um pulinho. Isso me lembrou o
quanto ela era mais nova do
que eu; não que isso importasse.
- Vamos ao jardim, como nos
filmes.
Eu ri do jeito romântico dela.
- Claro, quer que enquanto nós
andamos você me abrace tão forte
que eu vou me desequilibrar e você
vai cair em cima de mim para nós
corarmos e depois nos beijarmos
loucamente até decidirmos que o
céu está bonito o bastante para ser
observado hoje?
Ela riu baixinho e me empurrou de
leve.
- Claro, mas acho que preciso
colocar uma roupa antes. – Ela
disse ficando vermelha.
Assenti. Obviamente, não era um
problema para mim ela está desse
jeito, mas não poderia culpa-la
por ficar com vergonha.
- Eu vou te esperar na sala. – Eu
falei sorrindo e peguei minha calça
jeans no chão. – Quer que eu use
isso?
- Vai me ajudar a manter a
concentração.
Tentei me manter firme e não beijar
ela agora mesmo. Respirei fundo.
- Concordo plenamente.
Sai do quarto com vontade de ficar
mais. Assim que a porta se fechou
eu senti toda a realidade dando
voltas na minha cabeça: eu fui o
cara da primeira vez da Susan. E
adoraria ser o da ultima – depois
de ter sido o de todas.
Senti como se tudo estivesse se
encaixando agora; o número de
meninas que eu já fiquei foi apenas
para me treinar. Me treinar para eu
ser o cara da vida da Susan. Tudo
agora fazia sentido. Eu
finalmente entendia por que nunca
me senti completamente satisfeito
com as outras.
Porque sempre foi a Susan.
Ela era quem eu queria desde o
começo, desde aquela primeira
garota morena e extremamente
meiga
com quem eu tive minha primeira
vez.
Sorri. Era bom saber das coisas.
Era bom saber que eu zerei uma
parte da vida.
Fui até a sala, sentei no sofá e
esperei ela chegar.
Ela veio alguns minutos depois,
usando um short jeans e uma camisa
de time. Minha camisa de time.
- As duas coisas que eu mais amo
no mundo: Você e Flamengo. – Eu
disse sorrindo e me levantando
do sofá.
Ela revirou os olhos.
- Eu só vestir porque ela é a menor
camisa que você tem.
- Ah não... Não me diga que você é
Vasco. – Eu pedi, mas na verdade
isso não importava. Ela podia
ser até Fluminense que eu não me
importaria.
- Eu sou São Paulo.
- Ufa, posso continuar namorando
com você sem desonrar minha
família. – Coloquei a mão no peito
como se estivesse aliviado.
Ela riu por um minuto.
Então ficou séria.
- Diga isso para o Michael.
Suspirei.
- Não vamos voltar para esse
assunto de novo, ok?
Ela pareceu ficar irritada com o
que eu disse.
- Por que você sempre defende ele?
Não tá vendo que ele vai fazer de
tudo para terminar nosso
namoro?
- Eu que te pergunto: não tá vendo
que nada nesse mundo vai fazer eu
terminar com você?
O ombro dela relaxou um pouco,
mas ela ainda parecia estressada.
Eu não tinha noção do quanto ela
odiava o Michael.
- Eu vi ele conversando com a Jane.
– Ela disse devagar, sua voz dando
uma leve tremida no final do
nome da ruiva. – Eles juntos... Eu
não saberia dizer até onde eles são
capazes de chegar.
Isso não me abalou. Eu não tinha
medo do meu irmão mais novo e da
minha “ex” problemática. Mas a
Susan parecia estar fazendo força
para não gritar.
Fui até ela e a abracei. Ela colocou
a cabeça no peito e respirou fundo.
Será que ela gostava do meu
perfume tanto quanto eu do dela?
- Eu não vou deixar nada acontecer.
– Sussurrei enquanto afagava o
cabelo dela. – Confie em mim.
- Eu confio em você, é só que... –
Ela se afastou um pouco para poder
olhar nos meus olhos. – Eu não sei
o que eu faria se eles conseguissem
o que querem.
Ouvir ela falando isso me fazia ter
vontade de ir até onde o Michael
estava só para descer o cacete
nele. E mandar alguma garota bem
forte fazer o mesmo com a Jane.
- Não pense nisso. – Eu disse com
o tom mais doce que minha voz
podia alcançar. Ele parecia rude
comparado com o tom normal do
Nicolas, mas conseguia acalmar a
Susan. – Vem, vamos fazer nossa
cena de filme.
Ela sorriu.
- Vamos.
[...]
Acordei com a mão da Susan
deslizando pelo meu braço. Acho
que eu ainda estava sonhando.
Pisquei os olhos algumas vezes
para ter certeza que a visão dela
abraçada comigo era real. Por
sorte, era sim.
Na noite de ontem, a gente foi até o
jardim e conversamos sobre os
nossos gostos enquanto
olhávamos o céu. Parecia mesmo
cena de filme. Então, começou a
chover e tivemos que voltar
correndo para casa. Assistimos uns
três episódios de The Voice US. –
mas como ela estava nos meus
braços enquanto assistíamos eu não
consegui prestar muita atenção – e
acabamos voltando para o
meu quarto. Ela caiu no sono quase
que no mesmo segundo.
Posso dizer que foi a melhor noite
da minha vida.
Porque foi.
Foi a primeira noite em que eu me
senti amado de um jeito que se eu
descrever iria parecer
extremamente gay.
Deixei que a mão dela subisse e
descesse pelo meu braço. Ela
parecia está em um sonho tão bom
que
eu não tive a coragem de me
levantar da cama.
Depois de um tempo, ela virou para
o outro lado. Fiquei tentando a
passar a mão pela sua cintura e
dormirmos de conchinha, mas, em
vez disso, me levantei da cama
devagar.
Como eu tinha combinado, liguei
pro Bruno assim que sai do quarto.
Ele atendeu no sexto toque. Aposto
que estava dormindo, aquele idiota.
- Oi garoto da pesada.
- Oi Brubru.
- Por que veio me incomodar a essa
hora da manhã? – Ele perguntou
fingindo uma irritação que eu
sabia que era mentira. Ele nunca se
importava com isso.
- Porque ontem eu fui no paraíso e
voltei.
Ele demorou um segundo para
entender.
- Não me diga que...
- Claro que digo. – Eu disse
sorrindo sem perceber.
- PUTA QUE PARIU!
- EU SEI!
- MEU DEUS, VOCÊ DEVE ESTÁ
TÃO GAY SALTITANDO POR AI.
- VOCÊ NÃO FAZ IDEIA! EU
QUERO SAIR POR AI E GRITAR
PRAS PESSOAS QUE EU FUI O
PRIMEIRO CARA DA SOPHIA.
- E se Deus quiser o único.
- Exatamente.
Gostava disso no Bruno: ele sabia
o que eu estava pensando. Ele me
conhecia mais do que todos os
meus irmãos juntos.
- Eu iria parecer muito viado se
dissesse que estou com inveja?
- O próprio Nicolas.
Ele riu.
- Vai se foder.
Então foi minha vez de ri.
- Zoa, claro que não. Mas por que a
inveja?
Ele suspirou do outro da linha e eu
entendi logo o motivo.
- Amanda.
- Pensei nisso.
- Eu sei que pensou. – Ele retrucou.
– Nossa situação tá difícil.
Sentei no sofá. Ele iria começar a
falar, era melhor eu está bem
acomodado.
- Conte.
- Ela gosta de mim. Já disse isso
com todas as letras.
- Então qual o seu problema? – Eu
interrompi ele.
- Me deixe falar que eu conto. – Ele
esperou um pouco o meu silencio,
então continuou: – Nós não
conseguimos nos ver muitas vezes,
o que fode um pouco as coisas. Eu
só beijei ela três vezes, acho.
Isso é tão pouco, tão frustrante,
tão...
- Você fala como se fossem um
casal de 13 anos. – O cortei de
novo. Eu não conseguia me manter
calado por muito tempo.
- Cala a boca, nem todo mundo
mora com a namorada.
- Eu sei. Aliás, quase ninguém mora
com a namorada e mesmo assim
tem um monte de gente
namorando.
- Mas, nós não namoramos ainda.
Ri com ironia.
- Não, vocês apenas se pegam e se
gostam; isso com certeza não é um
namoro.
- Ela quer um pedido oficial, eu sei
disso. Mas, eu queria provar tudo
que ela tem primeiro.
- Acho que não em.
Ele respirou fundo.
- E o que eu faço?
- Pede ela em namoro de um jeito
bem fofo e adorável. – Respondi o
obvio. O Bruno era tão lento às
vezes.
- Tipo...?
- Sua mãe é dona de uma
floricultura.
- O que você tem em mente? – Ele
perguntou intrigado.
- Flores que só a porra e muitas
palavras meigas que você não
conseguiria pensar sozinho.
- Não me subestime.
Ri baixinho.
- Te subestimar é meu passatempo.
- Você é um monstro. – Ele rebateu
rindo.
- E você vai conseguir a garota da
sua vida, e daqui até o
acampamento vocês já vão ter feito
de
tudo.
- Estou apostando todas as minhas
fichas nisso.
- Eu sei que vai. Você confia em
mim?
- Jamais.
Rimos ao mesmo tempo.
- Assim não tem como eu te ajudar.
- Eu posso pedir pro seu
irmãozinho romântico.
- Nicolas ou Michael? – Eu
perguntei levantando uma
sobrancelha.
- Claro que o Nicolas, o Michael
não tem nem coração quem dirá um
coração romântico.
- Não fale assim do meu irmão. –
Eu disse rindo, perdendo todo o
credito do meu sermão.
- Ele fala coisa pior de você.
Respirei fundo.
- Que nada, ele já esqueceu aquilo.
- Se eu lembro como se fosse ontem
imagina ele.
Meus punhos se fecharam. Não
gostava de lembrar do que
aconteceu.
- Eu já pedi desculpas para ele.
- Mas desculpas não vai apagar o
que...
- Tá Bruno, já chega.
- Foi mal, esqueci que você ainda
não tinha se desculpado.
Bruno pegava pesado quando
queria.
- Por favor, pare de falar disso.
- Parei.
- Vamos falar da Amanda?
- Meu assunto preferido.
- Hoje de tarde eu passo na sua
casa e a gente faz um plano.
- Fechado.
- Ei, acho que a Susan vai acordar.
Tchau Brubru.
- Tchau loirinho.
Desliguei o celular. Era bom falar
com o Bruno, mas ele tocou no pior
assunto possível.
Balancei a cabeça para tentar
esquecer. Ele estava certo, eu não
tinha me perdoado ainda. E acho
que o Michael também não.
Espero que ele não faça nada de
mal com a Susan por minha causa.
Não, seu idiota, você espera que
consiga protege-la do que ele vai
fazer, pensei, por que sim, ele vai
fazer alguma coisa.
E agora junto com a Jane.
Respirei fundo.
Peguei duas maças na cozinha e
subi as escadas para o meu quarto.
Abri a porta devagar e vi que ela
estava sentada na cama, tocando no
lugar onde eu estava deitado.
Então ela me viu.
- Bom dia. – Ela cumprimentou com
um sorriso tão apaixonado que nem
parecia real. – Por que
acordou cedo?
- São 10 da manhã. – Eu rebati
rindo e me aproximando dela.
- Cedo demais para um domingo.
- Concordo.
Ela se levantou e me deu um beijo
na bochecha.
- Ontem foi o melhor dia da minha
vida. – Ela sussurrou no meu
ouvido.
- E se depender de mim vai ser
pouco comparado com o resto da
sua vida.
Ela sorriu e olhou nos meus olhos.
Sempre iria adorar aquele tom de
castanho escuro dela, quase
preto. Ela não precisava de um par
de olhos azuis para ser linda.
- Eu amo você.
- Ah, me conte uma novidade.
Ela riu e revirou os olhos.
- Por que tão convencido?
- Por que tão perfeita?
Ela corou quase que
instantaneamente.
Nunca iria me cansar disso.
P. O. V’ S Susan
Não vou tentar descrever como foi
o momento em que eu percebi o que
tinha feito. Não existem
palavras necessárias para
descrever. Ainda não inventaram
algo forte o bastante para eu
comparar
com o que estava sentindo. E eu
amava isso. E a única coisa que eu
queria era que o Joshua estivesse
tão nas nuvens quanto eu. Mas, não
sei se ela possível alguém está tão
nas nuvens assim.
Eram 14:00 quando o Nicolas
chegou em casa, dando pulinhos.
- O FELIPE É TÃO PERFEITO! –
Ele gritou enquanto passava pela
porta.
O Joshua sorriu deitado no sofá.
- O que aconteceu com o casal do
ano?
- Ai Joshua, você não tem noção do
quanto eu amo aquele menino.
- Claro que tenho, eu amo a Susan.
– Ele disse tão naturalmente quanto
quem diz que gosta de pizza.
Senti meu coração acelerando.
- Eita é, esqueci. – O Nicolas
sorriu e olhou para mim. – Garota
de sorte.
- Você também.
Ele pareceu ficar ofendido.
- Não use o feminino para falar
comigo.
- Desculpa. – Pedi com
sinceridade, não queria magoar ele.
- Tudo bem, você não fez por mal. –
Ele veio para onde eu estava no
sofá e me deu um beijo na
bochecha. – Então, querem ouvir
como foi minha noite?
O Joshua se levantou.
- Na verdade, eu estava esperando
você para poder ir embora... O
Bruno precisa da minha ajuda para
umas coisas.
- Ok, então nos vemos mais tarde. –
Eu disse me levantando e dando um
selinho nele.
- Mal posso esperar.
E foi embora.
Nicolas olhava para mim com uma
cara de pervertido. Senti minhas
bochechas ficando vermelhas.
- Não me olhe assim.
- Ah, nem venha, me conte logo
tudo que aconteceu noite passada.
Suspirei.
- Primeiro, me diga sobre o Felipe.
Ele nem hesitou antes de começar a
falar sem parar.
Pelo pouco que eu prestei atenção –
meus pensamentos estavam quase
todos voltado a um certo loiro
– o Felipe tinha apresentado TODA
a família dele ao Nicolas e, por
incrível que pareça, nenhum
parente dele era homofobico. O
Nicolas disse que nem parecia real;
todos o adoraram de primeira.
- Sério? – Eu perguntei ainda meio
distraída.
- Sério! Eu também fiquei sem
acreditar. Parece que o avô dele era
gay e todos foram criados para
aceitar isso como uma coisa
normal.
- Isso é lindo.
- Eu sei, nunca estive tão feliz. –
Ele disse sonhador.
Continuamos a conversa sobre isso
por um tempo e um assunto foi
puxando o outro, até que a gente
percebeu o quanto o tempo estava
passando rápido.
- Já são 17h! – O Nicolas falou
assustado olhando para o relógio da
parede.
- E nada do Michael chegar.
- Fala como se a ausência dele não
fosse uma benção pra você. – O
Nicolas rebateu sorrindo.
- Oh, eu deixo transparecer meu
ódio?
- Tem um pouco de tom na sua
ironia.
Rimos.
E quase como se tivesse sido
ensaiado, o Michael entrou na sala.
- Oi. – Ele cumprimentou
secamente.
- Oi Michael, por que essa cara de
raiva? – O Nicolas perguntou
parecendo preocupado. Era tão
fácil esquecer que eles eram
irmãos.
- Nada não. – Ele respondeu frio.
- Eu conheço você.
- Não, não conhece. – Ele olhou
para o irmão com tanta raiva que eu
me preparei para ir em defensa
do Nicolas no mesmo segundo.
Então os ombros do Michael
relaxaram. – Só me deixe em paz,
ok?
Eu nunca tinha visto o Michael
daquele jeito.
- Se precisar de ajuda...
- Eu sei Nicolas, eu sei. – Ele disse
e em seguida subiu as escadas.
- Que estranho. – Eu comentei.
O Nicolas deu de ombros.
- Nem mesmo o Michael está imune
às dores da vida.
Pensei sobre isso; o que seria forte
o bastante para abalar alguém como
o Michael? Como machucar
uma pessoa que não se importa com
mais nada a não ser o próprio
nariz?
Ou, talvez, exista alguém que o
Michael se importe.
Guardei esse ultimo pensamento.
Gostaria que esse alguém fosse a
Clara.
[...]
Quando a segunda-feira chegou, eu
ainda não tinha parado de sentir as
sensações do sábado. Eu me
sentia uma pessoa nova.
Me levantei sem precisar que
ninguém me acordasse. Fiz minha
higiene e coloquei uma calça jeans
preta e uma camiseta soltinha.
Minha vontade era usar a camisa do
Flamengo do Joshua, mas acho que
não seria apropriado para ir
ao colégio.
Desci de elevador e fui direto para
a mesa, onde o Nicolas e o Michael
já estavam tomando café.
- Bom dia baby! – O Nicolas
cumprimentou animado.
- Bom dia Susan. – O Michael
cumprimentou com algo parecido
com tédio.
- Bom dia... – Eu respondi indo me
sentar ao lado do Nicolas.
Comemos em silencio até o Joshua
chegar.
- Sinto dizer, mas nós vamos ter que
nos apressar hoje.
- Por quê? – O Michael quis saber.
- Porque eu tenho prova e preciso
chegar cedo. – O Joshua explicou
rapidamente e pegou a chave do
carro em cima de uma mesinha.
Assentimos com a cabeça e nos
arrumamos rápido. 5 minutos
depois todos já estavam dentro do
carro – eu no banco do passageiro.
- Ei, me faça um favor hoje. – O
Joshua enquanto dirigia. – Dê um
jeito de levar a Amanda até o
refeitório assim que começar o
intervalo.
- O Bruno tem alguma coisa a ver
com isso?
Com o canto do olho, eu podia ver
o Joshua sorrindo.
- Claro.
[...]
- OI ANJOS! – Eu cumprimentei
dando pulinhos.
O Edu me deu um beijo na
bochecha e as meninas me
abraçaram.
- Por que tanta animação? – A Bia
perguntou levantando uma
sobrancelha. Ela era bonita o
bastante
para parecer uma Hunter com essa
expressão – só faltava os olhos
claros.
- Porque meu namorado é perfeito,
ué.
Elas riram.
- Isso a gente já sabe, mas o que ele
fez dessa vez? – A Elena mexia no
cabelo longo enquanto falava, como
se procurasse a melhor pose para
ficar.
- Tudo. – Eu respondi com um ar
misterioso.
O Edu foi o primeiro a entender.
- Não acredito que você...
- É, eu também não acredito. –
Confessei, corando de leve.
As outras garotas levaram um
segundo para se ligar no que estava
acontecendo.
Então a Isabela deu um grito.
- AI MEU DEUS, A SOPHIA
AGORA FAZ PARTE DO CLUBE!
Ri com a animação dela.
- EU ACHEI QUE ELA FOSSE
PURA, SOCORRO! – A Gabrielle
completou, gritando junto com a
Isabela.
- Pelo jeito ninguém se rende
àqueles olhos azuis. – A Elena
disse rindo.
- Meu Deus, Susan... Conte direito.
– A Iza pediu. Ela estava vermelha
só de imaginar.
- Não tem muito o que contar, só
posso dizer que foi tudo perfeito.
- NÃO, NADA DISSO. A GENTE
QUER DE-TA-LHES. – A Isabela
soletrou na minha cara.
- Deixem a menina. – A Bia veio na
minha defensa.
- Af Bia, você sempre propagando
a paz. – A Isabela reclamou,
revirando os olhos.
- Graças a Deus. – Eu disse rindo.
- Não acredito que você transou
com um Hunter. – O Edu finalmente
falou.
Me virei para ele.
- Ele não é só um Hunter. Ele é meu
namorado.
- Pior ainda. – Ele rebateu.
- Ei, pare com isso! O Michael
também é um Hunter.
Nem preciso dizer quem falou isso.
- Eu sei Clara, por isso eu rezo
todos os dias para Deus te perdoar
por beijar um cara daqueles.
- Já chega, Edu. – A Bia disse se
colocando na frente dele. – Você
tem que superar aquilo.
- É bem fácil falar.
- Não, é fácil fazer também. – A
Amanda se intrometeu. – Todo
mundo aqui sabe que o Michael fez
coisas ruins com você, mas você se
iguala a ele ao generalizar todos de
uma família por causa do que ele
fez.
O Edu olhou para ela sem acreditar.
- O que eu tenho que fazer então? Ir
lá e dizer que perdoo ele?
- Claro que não. – Eu disse. –
Apenas pare de falar do Joshua
como se ele fosse como o irmão.
- Faça como você faz com o
Nicolas: finja que ele é apenas um
Montenegro. – A Bia deu a dica.
O Edu revirou os olhos.
- É fácil esquecer que o Nicolas é
um Hunter, todo mundo sabe disso.
- Sim, também é fácil esquecer isso
com o Joshua. – Percebi que estava
na defensiva. Como se
estivesse falando da minha família.
Estranho.
- Tá, me desculpe então. – Ele
pediu e eu percebi que estava sendo
sincero. – Eu só não quero que
você se machuque, ok?
- Obrigada por cuidar de mim, mas
eu realmente não preciso de
proteção contra o Joshua.
- Exceto a camisinha. – A Isabela
comentou, fazendo todo mundo ri.
- Ah, vai se foder. – Eu respondi
rindo também.
[...]
Quando deu a hora do intervalo, eu
já tinha falado para todas as
meninas o que o Joshua me disse e
a gente nem deu tempo da Amanda
pensar para onde ir; fomos direto
para o refeitório.
Assim que chegamos lá eu quase
soltei um grito de surpresa.
Tinha flores em todos os lugares:
no teto, no chão, nas mesas, na
cantina, até no cabelo das moças da
limpeza.
- O que é isso? – A Amanda
perguntou colocando a mão sobre a
boca.
- Não faço a menor...
- OI MINHA GENTE.
Todos se viraram para o palquinho
do refeitório e lá estava o Bruno,
com uma camisa preta e uma
rosa na mão.
- Vocês devem estar se perguntando
por que o doce lugar das refeições
está lotado de flores. – Ele
começou a dizer. Eu e todo o resto
das pessoas que estavam lá se
aproximaram dele. – Eu posso
explicar, mas antes vou pedir para
vocês sentarem nas mesas.
Todos obedeceram ele. A Amanda
mal conseguia andar por causa do
choque de ver o Bruno ali.
- Primeiro de tudo, gostaria que a
Amanda Sakamura subisse no
palco.
- Ai meu Deus, ele sabe o
sobrenome dela. – A Clara
sussurrou pasma. – Quase ninguém
sabe.
- Bruno é um nível superior. – Eu
comentei no mesmo tom que o dela.
Bem devagar, a Amanda subiu no
palco.
- Não acredito que você vai fazer
isso se novo. – Ela tentou dizer
baixinho para ele, mas o microfone
captou tudo.
- Claro que vou, você merece. –
Ele rebateu sorrindo. – Então,
vamos as respostas: minha mãe é
dona de uma floricultura.
- Notei. – A Amanda comentou,
ficando ainda mais vermelha.
- Bem, caso vocês tenham se
perguntado, aqui tem 1998 flores de
todos os tipos.
- O ano que eu nasci. – A Amanda
disse sem acreditar.
O Bruno sorriu, olhando para a sua
plateia.
- Exatamente. Fiz questão de que
fosse um numero especial... E nada
mais especial do que o ano que
você nasceu. – Ele concluiu
olhando para ela. – Mas, não foi
por isso que eu vim aqui.
- E foi por quê? – Ela perguntou
tímida.
- Porque eu queria te fazer uma
pergunta importante e achei que
esse seria um bom jeito de fazer
isso.
- Qual... Qual a pergunta? – A
Amanda mal conseguia falar de
emoção.
Ele sorriu ainda mais e foi para
perto dela.
- Você aceitaria namorar comigo?
- AI MEU DEUS, É CLARO QUE
SIM. – Ela respondeu e se jogou
nos braços dele.
Nesse momento, centenas de flores
foram jogadas para eles. Era
inacreditável.
O Bruno se afastou dela bem a
tempo de pegar uma tulipa do ar.
- Sinto muito, mas eu não sei qual é
a sua flor favorita. – Ele disse
abaixando os olhos.
- Qualquer uma... Ai meu Deus,
isso não importa. – Ela respondeu e
eu percebi que seus olhos
estavam cheio de lagrimas.
- Claro que importa. – Ele rebateu,
ainda com a tulipa não mão.
Ela olhou para a flor que ele estava
segurando.
- É essa mesmo. – Ela falou
exasperada.
- Tem certeza?
- Eu amo tulipas.
Ele sorriu como se tivesse ganhado
um presente e entregou a tulipa para
ela.
- Pra você.
[...]
Depois disso, não aconteceu mais
nada de relevante na semana.
Tanto que, num piscar de olhos, já
era sexta e todos só falavam sobre
o acampamento de amanhã.
- Queria que o Lion fosse. – A
Elena reclamou fazendo um
biquinho.
- Queria que o Cavalcante fosse. –
A Isabela imitou.
- Queria que o Brun...
- Tá, já entendemos que vocês
querem muitas coisas que não vão
conseguir ter. – A Gabi interrompeu
a Amanda.
- Que grosseria. – A Isabela cruzou
os braços, irritada.
- Foi mal, mas vocês já reclamaram
a semana toda por causa disso.
- A Gabi tá certa, tem coisas piores
do que isso na vida. – O Richard
disse, olhando para a mesa do
outro lado do refeitório. A mesa
onde a Bia estava com as amigas
dela do primeiro ano.
- Ah Rick... – A Elena começou.
Ele levantou a mão.
- Não quero a pena de vocês.
O Edu respirou fundo.
- Sei como é.
- Meu Deus, parece que a gente só
tem amigo na friendzone. – A
Isabela comentou de um jeito quase
maldoso.
- Não é nossa culpa se as meninas
andam cada dia mais difíceis. – O
Richard rebateu na defensiva.
- Mas é culpa de vocês essa falta
de atitude. – Eu me intrometi na
conversa. – Vocês deveriam ser
mais como o Bruno e o Joshua.
- Nem todo mundo tem a mãe dona
de floricultura. – O Edu falou triste.
- Não é preciso encher isso de
flores para ser romântico. – Eu
rebati. – Se vocês tiverem o
mínimo
conseguem
- E qual o mínimo? – O Richard
perguntou ainda olhando para a
mesa da Bia.
- Coragem.
Os dois olharam para mim ao
mesmo tempo.
- Não é tão simples. – O Edu
reclamou.
- Eu sei que não, mas também não é
a coisa mais difícil do mundo.
- A Susan tá certa, eu já cansei de
dizer pro irmão deixar de ser
otário.
Ele se levantou da cadeira, irritado.
- Ok, então podem anotar: Nesse
acampamento eu vou arranjar
coragem nem que seja de outro
planeta.
- E eu também. – O Edu se levantou
também.
- Pelo visto esse acampamento vai
ser bom. – A Gabi sussurrou no
meu ouvido e eu concordei com a
cabeça.
27. O Acampamento
- Acorda gata.
Abri os olhos devagar. Não
precisava ver para saber que
aquela voz era do Nicolas.
- Que horas são? – Perguntei me
sentando na cama.
- Daqui a 4 horas é o acampamento
e é melhor a gente deixar tudo
arrumado de agora.
Suspirei. Não estava com sono, mas
a preguiça me dominava.
- Tem que ser agora?
Ele achou graça da minha voz
arrastada.
- Tem que sim, levanta logo. – Ele
me puxou pela mão e eu me levantei
sem nem um pingo de
disposição.
- Sério isso?
Ele torceu o nariz.
- Sim e você precisa ir escovar o
dentes, amada.
Revirei os olhos e corri pro
banheiro.
Depois de fazer o que ele mandou,
fiquei me olhando no espelho por
um tempo. Tinha alguma coisa
diferente em mim.
Eu ainda era a mesma Susan, pelo
menos por fora.
Mas tinha algo fora do normal.
Desde sábado eu tenho me sentido
renovada, como se tivesse passado
para um novo mundo desconhecido.
Bem, acho que foi exatamente isso
que aconteceu.
Me pergunto quem foi a garota da
primeira vez do Joshua e se ele
também se sentiu assim depois
de... bem, você sabe.
Balancei a cabeça para me livrar
desses pensamentos e sai do quarto.
Nicolas estava me esperando
na borda da cama, mexendo no
celular.
- Pronto.
- Demorou um pouco talvez muito.
– Ele disse e deu uma risadinha. –
Mas tudo bem, foi até bom pra
eu ver aqui todos os detalhes.
- Detalhes de quê? – Perguntei
enquanto ia me juntar a ele na cama.
- Do acampamento, ué. Pelo que eu
consegui descobri, apenas 50
pessoas vão.
Olhei pra ele surpresa.
- Mas não era o ensino médio todo?
- É, mas parece que a maioria das
pessoas não gosta de floresta.
- Otários.
Ele riu.
- Como se o motivo pelo qual você
vai fosse a floresta e não o meu
irmãozinho loiro.
Mordi o lábio inferior para indicar
que ele estava certo.
Ele deu um sorriso malicioso e eu
retribui.
Mesmo com o Joshua sendo meu
namorado e o grande amor da
minha vida; o Nicolas empatava
com
ele no quesito “Melhor Hunter”.
[...]
- Uau. – Foi o que eu consegui
dizer.
O lugar era estonteante. Árvores
altas e flores coloridas nos
cercavam na maior parte, mas bem
ao
sul do local onde estavam as nossas
barracas, ficava uma pequena praia.
Acho que, se o Paraíso existe – e eu
acho que existe –, ele é muito
parecido com esse lugar.
- É tudo tão lindo. – A Bia suspirou
sem folego.
Todos concordaram sem palavras.
Nesse momento, eu só queria ficar
em silêncio e admirar o quanto
Deus é perfeito em tudo o que faz.
Senti uma mão sendo passada pelo
meu ombro e automaticamente
pensei que fosse o Joshua. Mas,
quando me virei para ver quem era,
os olhos castanhos do Edu se
fixaram nos meus.
- Esse é o lugar perfeito para eu me
declarar pra Monica. – Ele
sussurrou quase inaudível.
Sorri.
- Concordo plenamente.
Ele me puxou mais para perto e eu
encostei minha cabeça em seu
ombro. Mesmo que nós não
fossemos amigos desde sempre, eu
sentia um amor de irmão
extremamente forte pelo Edu.
- Oi Lohan.
Me virei na mesma hora que o Edu.
O Joshua o olhava de um jeito
estranho, como se tivesse se
segurando para não ter raiva.
- Pode me chamar de Edu. – O
ruivo disse estendendo a mão.
- Por quê? Assim como eu, você
acha que seu sobrenome não define
quem você é? – Ele perguntou
analisando a reação do Edu. Eu
sabia que era um teste.
- Sinto muito pelo que minha irmã
fez, mas não tenho vergonha do meu
sobrenome.
- Não disse que você tinha
vergonha.
Eles estavam prestes a se fuzilarem
com o olhar quando eu resolvi me
intrometer na conversa.
- Ei ei ei, acalmem os nervos. –
Pedi levantando as mãos em
redenção. – Joshua, pare com isso.
Ele bufou irritado.
- Sério, pare. Vocês ainda não
entenderam que irmãos são
diferentes entre si? – Esperei um
segundo
para continuar. – Edu não é a Jane e
Joshua não é o Michael, simples
assim.
- Você tá certa. – O Edu disse
depois do que pareceu o mais longo
dos segundos. – Me desculpe
Joshua.
O Joshua sorriu.
- Me desculpe também. Eu fui um
idiota.
Eles apertaram as mãos e eu sorri
internamente.
- Professor Joshua, pode me ajudar
aqui? – Uma menina baixinha e
morena perguntou vindo na nossa
direção.
- Claro! O que deseja?
Ela olhou para mim de um jeito
afiado antes de responder. Percebi
que tinha segundas intenções no
que quer que ela fosse pedir.
- Acho que tem algum problema na
minha barraca, poderia ir lá ver? –
Ela inclinou um pouco a
cabeça, tentando parecer ingênua e
sexy ao mesmo tempo. Segurei uma
risada.
O Joshua assentiu com a cabeça e
ela sorriu radiante.
- Já percebeu, né? – Eu sussurrei no
ouvido dele quando ela se virou.
Ele riu.
- Claro, mas ela não faz meu tipo. –
Ele sussurrou de volta e deu uma
corridinha para alcançar a
menina.
- SOPHIA! VEM PRA CÁ! –
Alguém gritou de algum lugar atrás
de mim e eu me virei para ver quem
era. E lá estava a Isabela,
acenando.
Fui até onde ela estava com o resto
dos meus amigos.
- A gente estava comentando sobre
aquela vadiazinha do primeiro ano.
– A Gabrielle falou apontando
para a menina morena que tinha
chamado o Joshua.
- Ah, ela não é uma ameaça. –
Comentei sem conseguir conter um
sorriso.
- Sabemos. – O Richard disse
rindo. – Mas que ela é atirada ela é.
Ri do jeito que ele falou.
- Talvez ela não saiba que o Joshua
tem namorada. – A Bia sugeriu,
olhando para a barraca onde o
Joshua e a garota entraram. Como
ela conseguia desviar os olhos do
Richard tão facilmente? Ele
estava particularmente lindo hoje.
- Acho que isso não é possível, ele
fez questão de um pedido de
namoro bem público. – A Elena
retrucou.
Dei de ombros.
- Tanto faz, aquela anã não vai
consegui nada do meu loiro.
Eles riram e eu acabei rindo
também.
- Ei Elena, como vai o Lion? – O
Pedro perguntou subitamente. Se
ninguém estava falando disso e ele
surgiu com o assunto quer dizer que
era nisso que ele estava pensando.
Hum.
Ela olhou pra ele sem entender.
- Melhor impossível. A gente já tá
até combinando onde vamos morar
depois que eu me formar...
- Sério? – A Amanda perguntou
surpresa. – Eu ainda nem toquei
nesse assunto com o Bruno.
A Clara olhou pra ele como se
tivesse lembrado de uma coisa
muito importante.
- EI, VOCÊ AINDA NÃO
CONTOU COMO FOI ONTEM!
A Amanda corou no mesmo
segundo.
- Cala a boca, meu Deus. – Ela
murmurou baixinho. Dava para
notar que estava morrendo de
vergonha.
- O que aconteceu ontem? – Eu
perguntei curiosa.
A Amanda negou com a cabeça,
olhando para o chão.
O Edu estreitou os olhos na direção
dela.
- Ei caras, acho que isso é assunto
de mulher.
O Richard e o Pedro olharam para
ele.
Houve um suspiro coletivo e eles
se retiraram sem mais uma palavra.
- Que mágico: garotos que sabem a
hora de ir. – A Gabrielle disse
surpresa.
Rimos. A Amanda parecia feliz por
o assunto da conversa não ser mais
ela.
- Agora que eles já foram, bem que
você poderia contar... – A Bia
insistiu.
- Vocês já devem ter uma ideia...
- Mas é melhor se tudo for
confirmado por você. – A Isabela
rebateu.
Percebi que era a única que estava
por fora dessa história.
- Alguém poderia me explicar o que
está acontecendo?
Elas olharam para mim como se
fosse obvio.
- A Amanda passou a noite na casa
do Bruno ontem. – A Clara explicou
por fim.
- Ai meu Deus, parem de falar
disso. – A Amanda corou ainda
mais e levantou os olhos para não
ter
que olhar para nenhuma de nós.
- Não sei por que você está com
tanta vergonha. – A Isabela falou. –
Não é como se ele não fosse um
deus grego de tão lindo.
A Amanda riu e revirou os olhos.
- Bem, eu só posso dizer que
aconteceu exatamente o que vocês
estão pensando. – Ela respondeu
com
um tom de mistério e malícia
misturados.
A Clara soltou um gritinho.
- VOCÊ PRECISA CONTAR OS
DETALHES!
- Ah, foi muito bom. – A Amanda
disse sorrindo como se só de falar
sobre isso ela ficasse feliz.
Antes que a gente pudesse insistir
mais, o perfume do Joshua invadiu
minhas narinas. Virei o corpo e o vi
andando na nossa direção.
- Oi garotas. – Ele cumprimentou
com um sorriso perfeito. Acho que
nunca teria folego o suficiente
para aguentar esse sorriso. – Já
vamos começar as atividades.
- Vamos logo então. – A Amanda
foi a primeira a se juntar a ele,
parecendo extremamente grata pela
interrupção.
Seguimos o Joshua até um conjunto
enorme de pessoas na areia da
praia. Tinha uns sessenta
adolescentes entre 15 e 17 anos
conversando em grupos separados.
Consegui distinguir o grupo do
Michael e dos amigos levemente
babacas dele. Eles estavam dando
em cima das garotas do terceiro
ano. Notei que a Jane estava no
meio dessas garotas, mas ela nem
parecia prestar atenção neles –
estava ocupada demais falando
alguma coisa no ouvido do
Michael.
Senti um calafrio percorrendo
minha coluna quando os dois
olharam para mim e para o Joshua.
- Aleluia você chegou, senhor
Joshua. – Uma mulher que deveria
ter uns 30 anos disse aliviada se
aproximando de nós.
- Me desculpe a demora, é que eu...
- Não tem problema. O que importa
é que agora todos os monitores
estão reunidos. Ou seja, podemos
começar.
A moça olhou para mim e para as
meninas.
- Acho que vocês não me
conhecem. Meu nome é Lucia, eu
sou a coordenadora de disciplina. –
Ela
se apresentou com um sorriso
rápido e não esperou uma resposta,
foi direto para o pequeno palco
que havia sido colocado no centro
da praia.
Ela deu uma batidinha no microfone
e todos os alunos ficaram em
silencio.
- Olá, espero que tenham gostado
do lugar. – Ela começou e eu
percebi que ainda estava sorrindo.
–
Antes de começarmos, chamo para
se juntar a mim os monitores que
me ajudarão nesse fim de
semana.
O Joshua piscou pra mim e correu
para o palco. Ele estava mais
bonito do que normalmente. Ouvi
alguns suspiros quando ele ajeitou
o cabelo loiro e sorriu para a
Lucia.
Não sinta ciúmes, lembrei a mim
mesma.
Outros dois homens um pouco mais
velhos que o Joshua – acho que
com 25, 26 anos – e uma menina
que deveria ter no máximo 19 subiu
também. O Joshua era de longe o
mais bonito do grupo. Para ser
sincera, o Joshua era a pessoa mais
linda do acampamento todo.
- Ótimo. – A Lucia disse quando
todos os monitores se juntaram a
ela. – Agora sim podemos
começar... Bem, o Acampamento é
um evento tradicional do colégio
JK e eu creio que alguns de
vocês lembram como foi bom ano
passado, em Alagoas. Mas, para os
novatos e os alunos do
primeiro ano, eu gostaria de
explicar para que serve tudo isso.
Em uma palavra: confraternização.
–
Ela fez uma pausa dramática. –
Alguns de vocês se veem nos
corredores da nossa linda escola e
não
se falam, simplesmente por causa
da falta de intimidade entre algumas
séries. E é para acabar com
isso que serve o Acampamento.
Para unir todos vocês em uma só
família. É claro que, infelizmente,
uma parte dos alunos não pudera
comparecer. Mas, quem perde são
eles! Perdem de fazer novos
amigos. Perdem de fazer novos...
irmãos.
Assim que percebemos que tinha
acabado o discurso, aplaudimos.
Realmente parecíamos uma
família quando todos faziam a
mesma coisa.
Só que eu nunca iria ser da mesma
família que a Jane e que o Michael.
No momento em que os aplausos
cessaram, a Lucia entregou o
microfone ao Joshua.
- Para nossa primeira atividade,
vocês terão que se dividir em trios.
Olhei ao redor a procura de quem
seria meu trio. O Edu olhou para
mim e me lançou um sorriso. Fui
até ele.
- Vamos?
- Claro, só que eu também gostaria
de ir com a...
- Ei Edu! – A Monica chamou se
aproximando da gente. Seus olhos
azuis se destacavam ainda mais
com a blusa vermelha que ela
estava usando. – Quer ser do meu
trio?
- Claro. Eu, você e a Susan, ok?
Ela me olhou com um pouco de
amargura.
- Pode ser... – Disse meio a
contragosto.
Tinha que fazer essa garota gostar
de mim, ou nunca iria apoiar ela e o
Eduardo.
- Pelo que eu vi, os trios já estão
todos formados. – O Joshua voltou
a falar. Seus olhos iam de mim para
o Edu em questão de segundos, mas
ele não parecia está irritado nem
nada. Ufa. – O que
significa que eu posso explicar
como será a primeira atividade.
Então, cada trio irá receber uma
lista de coisas para procurar na
floresta e na praia, com essas
coisas vocês terão que montar um
castelo
ou uma casa. – Ele sorriu para as
nossas caras de surpresa. – Depois
de 2 horas, eu e os outros
monitores iremos escolher os
quatro melhores e os doze alunos
que forem escolhidos irão dormir
nas
barracas de ouro.
Realmente, havia mais ou menos
umas dez barracas maiores do que
as outras. Isso significa que
haveria mais provas valendo elas
como premio.
- A gente tem que ganhar! – A
Monica falou com a voz
transbordando de competitividade.
- Nós vamos. – O Edu assegurou.
- Venham pegar as listas. – O
Joshua chamou e todos correram na
direção dele.
Foi meio complicado pegar a lista
com aquele tanto de gente, mas o
Edu conseguiu depois de quase 5
minutos empurrando as pessoas ao
seu redor.
Corremos para o outro lado da
praia, onde estava vazio e a gente
poderia pensar melhor.
Tudo na lista poderia ser
encontrado na floresta – madeira,
frutas, flores, folhas grandes, cipós
e
pedras. Também iriamos precisar
de areia e de água.
- Por onde começamos? – Eu
perguntei.
- Folhas e frutas. – A Monica
comandou, apontando para a
floresta.
Procuramos a parte da floresta que
ainda não estava cheia de gente e
corremos para lá.
O Edu apontou para um coqueiro.
- Acho que esse tá perfeito. Com a
casca do coco a gente poderia fazer
a porta do castelo e essas
folhas são enormes.
A Monica concordou com a cabeça.
- É, mas quem vai subir ai?
O Edu sorriu orgulhoso.
- Eu, é claro.
Eu e a Monica olhamos sem
acreditar pra ele.
- Desde quando você sabe subir em
arvores? – Ela perguntou intrigada.
Ele riu.
- Desde sempre. – Ele rebateu e
passou a mão pelo cabelo
avermelhado.
E não é que ele sabia mesmo? Em
menos de cinco minutos ele já tinha
pego um monte de folhas e uns
seis cocos.
- Acho que isso é o suficiente. –
Ele disse limpando uma gota de
suor da testa.
A Monica olhava para ele com uma
mistura de orgulho e admiração.
- Eu não fazia ideia de que você
tinha tantos talentos. – Ela
murmurou baixinho, quase que para
si
mesma.
Esse era o momento perfeito. Por
favor, se declare Edu.
Ele sorriu timidamente.
- Que nada, eu só sei isso porque
cresci no sitio do meu tio e...
- Eu também tenho um sitio e não
conseguiria fazer nem metade do
que você nesses minutinhos.
Eles estavam bem próximos agora,
menos de um metro. Senti meu
coração vibrando de ansiedade.
- Eu posso te ensinar se quiser. – O
Edu sugeriu. Percebi que eles já
tinham se esquecido
completamente da minha existência.
- Adoraria. – Ela sussurrou.
Ele mordeu o lábio inferior com
força.
- Edu.
- Oi?
- Fale logo o que você quer falar. –
Ela pediu. Sua voz era uma mistura
de ansiedade com
nervosismo.
Ele respirou fundo. Quase
conseguia ver a coragem fazendo
força para entrar nele.
- O que você quer que eu diga?
- O que você vem guardando desde
que viramos amigos. – Ela
respondeu no mesmo segundo,
como
se a resposta estivesse na ponta da
língua.
Ele assentiu devagar e deu um
passo pra frente.
- Eu sou completamente apaixonado
por você. – Assim que as palavras
saíram da sua boca, seus
ombros relaxaram. Ele conseguiu.
Ela o observou por um minuto. Não
parecia surpresa com a informação.
- E se eu te disser que também
estou apaixonada por você?
- Ai eu seria o homem mais feliz do
mundo.
Ela sorriu.
Ela sorriu.
Se eu saísse correndo e gritando
nesse momento, eles não notariam.
Bem devagar, o Edu se aproximou
dela e colocou as mãos em sua
cintura.
- Por que nunca me disse antes?
- Eu tinha medo de estragar a nossa
amizade. Você sempre foi muito
importante para mim. – Ela disse
e logo depois soltou um suspiro.
- Acho que sempre é um bom
momento para estragar uma
amizade.
Ela riu e pôs as mãos na nuca dele,
acariciando de leve seu cabelo
ruivo.
Observei enquanto eles se
aproximavam ainda mais, até o
momento em que finalmente se
beijaram. É
difícil descrever o beijo de outra
pessoa. Só posso fizer que foi de
tirar o folego.
Depois de alguns minutos, eles
ficaram sem ar e se afastaram.
Ambos estavam da mesma cor que
o
cabelo do Edu.
- E agora? – Ela perguntou
mordendo o lábio inferior.
Foi nesse momento que o Edu me
notou.
- Acho que a gente deve procurar as
coisas dessa maldita lista.
A Monica olhou para mim também.
Não parecia irritada. Pelo
contrario, ela parecia nas nuvens.
- Ok, depois a gente volta para
onde parou. – Ela concluiu com um
sorriso malicioso.
Ele sorriu de volta e segurou na
mão dela.
- Claro.
Olhei para eles sem conseguir
conter minha animação.
- Aleluia em.
Eles riram, radiantes.
[...]
Acabou que não ficamos entre os
quatro melhores. Mas, quem se
importa?
Eduardo e Monica eram um casal.
Só isso importa. Eu estava feliz por
poder ter participado disso.
- Bia, Clara e Amanda; Nicolas,
Felipe e Camila; Joana, Julia e
Lorena; Milena, Catarine e Luiza. –
O Joshua citou, olhando para cada
uma dessas pessoas. – Parabéns
pela vitória! Os castelos de vocês
ficaram extremamente bonitos e
espero que eles sobrevivam pelo
menos até o fim desse
Acampamento.
Ouve uma salva de palmas. A Bia
ficou um pouco vermelha por
chamar tanta atenção. O Richard foi
o ultimo a parar de aplaudir –
enquanto o Michael foi o primeiro.
- A próxima tarefa será só quando
estiver muito escuro, então vamos
fazer uma fogueira e esperar o
sol ir descansar. – O Joshua
explicou. Todos os monitores
pareciam gratos pela falta de
timidez dele.
Fui ao banheiro antes de me juntar
as meninas na fogueira.
Repassei a declaração do Edu na
minha mente. Eu estava tão feliz por
ele! Ele merecia tudo de bom
que o mundo pode oferecer.
Ajeitei meu cabelo no espelho
improvisado e sai do banheiro.
Fiquei impressionada com a
rapidez
com que fizeram a fogueira e se
ajeitaram em uma roda grande ao
redor dela.
Percorri o lugar com os olhos e vi
que uma menina loira com mechas
azuis já tinha ocupado o espaço
ao lado do Joshua. Fuzilei ela com
o olhar, mas ela parecia perdida
demais admirando meu
namorado para notar. Por sorte, ele
nem parecia ter consciência da
existência dela.
Encontrei o Richard do lado direito
da roda e fui na direção dele.
- Cadê as meninas?
Ele deu de ombros.
- Provavelmente se arrumando. –
Ele respondeu indiferente. – Enfim,
gostou da prova?
- Adorei, mas acho que o Edu
gostou muito mais.
Ele assentiu com a cabeça.
- Ele me contou. Nunca vi alguém
tão saltitante em toda a minha vida.
- Verá assim que fizer o mesmo com
a Bia.
Ele ajeitou o cabelo castanho e se
endireitou no banquinho onde
estávamos sentados. Quando segui
seu olhar percebi o porquê disso. A
Bia e as meninas estavam vindo.
- Oi... – A Bia foi a primeira a
cumprimentar e olhou para mim e
para o Richard com uma
sobrancelha levantada. Dava para
ver que estava lutando para não ter
ciúmes.
- Oi meu anjo. – Ele respondeu com
um sorriso brilhante e a apontou
para o espaço ao lado dele. –
Senta ai.
Ela fez exatamente isso.
As meninas demoraram um pouco
para decidi como iriam sentar, mas
acabou com a Elena ao meu
lado.
- Agora que estão todos
devidamente acomodados, podemos
começar uma brincadeira. – Um dos
monitores disse, ele não parecia
muito animado por ter que falar.
Acho que não poderia ser o Joshua
o tempo todo.
- Poderíamos contar historias de
terror. – Uma menina do primeiro
ano sugeriu.
Ouve murmúrios em resposta.
- Gostei da ideia. – O Joshua falou
alto o bastante para todos ouvirem
e se calarem. – Quem quer
começar?
O Pedro levantou a mão.
- Só que ver. – A Elena sussurrou
no meu ouvido. Pelo seu tom, ela
parecia ter muito intimidade com
ele.
O Pedro começou a contar uma
história sobre fantasmas que
assombravam um acampamento de
verão. E eu já estava ficando com
medo quando percebi que o
Richard estava se inclinando sobre
a
Bia.
- Ei, preciso conversa a sós com
você. – Ele disse tão baixinho que
se eu não tivesse prestando
atenção de tão perto não ouviria.
Ela olhou pra ele com curiosidade.
- Claro, agora?
Ele assentiu.
- O mais rápido possível.
Sem chamar muita atenção, eles
saíram da rodinha. Ninguém notou,
já que todos estavam ouvindo
atentamente a historia assustadora
do Pedro.
Observei enquanto eles se
afastavam e percebi que iria ser a
maior intrometida do mundo se me
levantasse e fosse atrás deles.
Sem nem pensar duas vezes, foi
exatamente isso que eu fiz. Lancei
um olhar para o Joshua enquanto
caminhava por onde eles tinham
passado. Ele levantou a
sobrancelha para mim e eu dei de
ombros,
esperando que ele entendesse. Ele
sorriu e voltou sua atenção ao
Pedro.
Andei meio perdida pelo local até
ouvir barulho de conversa. Eles
estavam atrás de uma arvore.
Me aproximei devagar e arrisquei
uma olhada. A Bia estava de costas
para mim, com a mão na
cintura, e o Richard em frente a ela,
sorrindo.
- Por que você quer conversar
comigo? – Ela perguntou.
Ele inspirou todo o ar do mundo
antes de falar.
- Tem coisas que você precisa
saber.
Os nós dos dedos dela ficaram
brancos de tanta força que ela
estava fazendo na cintura. Ela
estava
nervosa.
- Então diga.
- Não é tão... Simples assim. –
Tudo na voz dele tinha um toque de
cautela. Isso me irritou um pouco.
- Bem, não tem como eu saber se
você não me disser.
- A parte difícil é exatamente te
dizer... – Ele falou baixinho.
- Tente.
Ele a analisou por um tempo.
Procurando palavras para começar
sua declaração.
- Primeiro de tudo, gostaria de
dizer que você está absolutamente
linda hoje.
Não precisava ver para saber que
ela corou bruscamente.
- O-Obrigada. – Agradeceu ela
meio sem jeito.
Ele sorriu.
- Se eu pudesse, te diria isso todos
os dias.
A mão dela soltou a cintura. Ela
não estava preparada para aquilo.
- E por que não diz? – Ela
perguntou devagar, quase com medo
da resposta.
- É difícil te elogiar.
- Como assim?
Ele mordeu o lábio inferior por um
segundo.
- É difícil te elogiar porque eu
sempre tenho vontade de me
declarar depois.
Gostaria de poder ver a reação
dela. Mas posso apostar tudo o que
tenho que ela estava sem ar,
tentando assimilar isso.
- Ai meu Deus, Richard... – Ela não
parecia ter palavras para responder
a ele.
- Você não faz ideia de há quanto
tempo eu venho guardando isso
para mim.
Ela respirou fundo.
- Isso o que?
Ele sorriu com o canto da boca.
- Esse meu amor inexplicável. –
Ele respondeu lentamente, então fez
uma pausa. – E essa minha
vontade imensa de te beijar.
Não sei qual foi a cara que ela fez,
mas foi o bastante para dá coragem
ao Richard. Em menos de um
minuto, ele já a tinha tomado nos
braços.
- Richard, eu também me sinto
assim... – Ela sussurrou sem folego.
Seus rostos estavam a centímetros
de se tocar.
- Por que não me disse antes?
- Porque eu sou muito otária às
vezes.
Ele riu baixinho e negou com a
cabeça.
- Nunca mais repita isso, ok?
Então eles se beijaram.
Sai sem fazer barulho nesse
momento.
Eduardo e Richard conseguiram. Eu
não poderia estar mais orgulhosa.
Mal tinha chegado perto da roda
quando ouvi um grito.
- Isso é mentira, sua vadia!
Corri para ver o que estava
acontecendo e vi a Elena chorando
com o rosto vermelho. Do outro
lado,
a Jane sorria com desdém.
- Ah, meu amor, acredite. Você é
uma corna. – A ruiva parecia cuspir
veneno a cada palavra que
dizia.
- O que está acontecendo? – Eu
perguntei correndo para ficar ao
lado da Elena.
- Que bom que você chegou, Susan.
Eu estava contando para a doce
Elena que o namorado dela
estava comigo ontem a noite.
Cerrei o punho no mesmo segundo.
- Por que acreditaríamos em você?
Ela riu e as meninas que estavam ao
lado dela também.
A Jane se aproximou de nós e
desbloqueou o celular. Abriu no
Whatsapp.
Realmente, tinha várias mensagens
do Lion chamando ela para sair e
dizendo coisas pervertidas. A
Elena se afastou como se tivesse
levado um tiro.
- Não... Não pode ser... – Ela falou
desamparada, as lagrimas caindo
sem parar.
A Amanda correu para abraçar a
amiga e a Clara se juntou a ela.
- Sua puta. – O Pedro tremia de
raiva ao falar isso para a Jane. –
Você tem ideia do que fez?
Ela riu ainda mais.
- O que eu posso fazer se a Elena
não consegue satisfazer ninguém?
O Pedro parecia estar se segurando
para não arrancar a cabeça dela.
- Sinto lhe dizer, mas a Elena é um
milhão de vezes mais bonita do que
você.
A ruiva não pareceu se ofender com
isso. Pelo contrario, ela sorriu e se
aproximou do Pedro.
- Se isso fosse verdade, por que ele
a trocou por mim?
- PORQUE ELE É OUTRO FILHO
DA PUTA! – Eu gritei sem consegui
me controlar e andei até
ficar cara a cara com a Jane. O
Pedro deu um passo pro lado. –
Assim como você. – Eu conclui
mais
baixo.
- Não briguem... Não briguem com
essa... – A Elena tentou pedir atrás
de nós, mas sua voz estava
sendo cortada pelos soluços.
- Cala a boca ai. – Um menino alto
com cara de arrogante falou. A Jane
riu.
O Pedro se jogou tão rápido em
cima do menino que eu nem tive
tempo de falar mais nada. O Pedro
deu um chute na barriga dele e os
dois caíram no chão, o Pedro, por
cima, começou uma onda de
socos na cabeça do menino.
- Ai meu Deus, parem eles! – A
Elena pediu para ninguém em
especifico, sua voz tremia por
causa do
choro que não tinha cessado.
Mas ninguém os parou.
O Pedro acertava todos os socos e
chutes no menino, que tentava em
vão desviar dos golpes. Só
quando o Pedro acertou um murro
no nariz do garoto, o Joshua chegou
correndo e puxou o Pedro pela
blusa.
- Ei ei ei, o que tá acontecendo
aqui? – Ele perguntou para um
Pedro vermelho de raiva e de suor.
Nada de sangue.
O menino continuou no chão, com a
mão no nariz. Ele chorava de um
jeito quase assustador.
- Esse filho da puta faltou com
respeito com a Elena.
- Ela que faltou com respeito com
si mesmo ao dá pra um garçom. – A
Jane murmurou alto.
- O que você disse? – O Joshua
perguntou soltando o Pedro e se
virando para a ruiva.
Ela mordeu o lábio inferior.
- Você sabe o que eu disse.
Os punhos do Joshua se fecharam
com força. Ele não poderia bater
nela, mas dava para ver que era
isso que queria fazer.
O Hunter respirou fundo para tentar
manter a calma e desviou sua
atenção para o garoto no chão.
- Quero vocês três na minha
barraca. Agora. – Sua voz era como
um iceberg, fria e mortal.
A Jane revirou os olhos.
- Eu não fiz nada.
- CLARO QUE FEZ! – A Elena
protestou com ódio.
O Joshua assentiu com a cabeça e
se inclinou para ajudar o menino no
chão a se levantar.
- Luciano, certo?
O menino assentiu, sem forças para
falar. O Pedro não teve pena
nenhuma dele.
- Luciano, Jane e Richard. Na
barraca 2, agora.
A Jane abriu a boca para dizer
alguma coisa mas o olhar do Joshua
foi o bastante para a fazer calar a
boca.
O Joshua se virou para mim antes
de ir.
- Assim que achar que a Elena está
melhor, mande ela vim também. –
Ele comandou.
Segundos depois, os quatro foram
embora.
As amigas da Jane quase
evaporaram de tão rápido que
saíram.
Corri para perto da Elena e a
abracei. Ela parecia sem chão.
- Não consigo acreditar que isso
aconteceu.
- Calma... – Eu pedi enquanto
passava a mão no cabelo dela.
Todas as outras meninas já estavam
aqui. Até as de outras turmas que
nem conheciam a Elena direito.
Todos tinham visto o que aconteceu.
E, nesse momento, todas nós
odiávamos a Jane e o Lion do fundo
do coração.
- Ela vai ter o que merece, não
precisa chorar. – A menina baixinha
e morena do primeiro ano disse.
Talvez ela não fosse tão ruim assim.
Minutos depois, a Bia chegou
correndo e se juntou a nós.
Seu rosto ainda estava vermelho
pelo que aconteceu com o Richard,
mas ela esqueceu completamente
seus amores e se concentrou em
tentar acalmar a Elena.
Acho que tinha mais ou menos 20
meninas ao nosso redor.
De certa forma, éramos uma família
nesse momento.
E eu estava jurando para mim
mesma que a Jane iria pagar por
isso.
28. Plano cruel
Já se passaram uma hora desde da
briga com a Jane, mas os olhos da
Elena ainda estavam vermelhos
de choro. Não conseguia ter nem
noção do quanto ela estava
magoada.
Eu queria matar o Lion.
Como alguém pode ser tão idiota?
A Elena era doce e gentil, bonita e
engraçada; ela basicamente era
tudo que as pessoas gostariam de
ser. E mesmo assim ele escolheu
aquela ruiva ridícula.
- Posso entrar? – A voz do Joshua
encheu a cabana em que eu estava
com as meninas e me tirou dos
meus pensamentos.
Olhei para a Elena em busca de
permissão e ela assentiu com a
cabeça em resposta.
Fui até a entrada da cabana e puxei
o zíper para baixo.
Ele me deu um selinho rápido e
entrou.
- Oi Joshua. – As meninas
cumprimentaram quase em
uníssono.
- Oi... – Ela parecia desconfortável,
acho que por ser o único homem do
lugar. – Bem, eu tenho
algumas coisas para falar.
- Diga. – Falei enquanto me sentava
ao lado dele, em frente à Elena e as
meninas.
- Primeiro de tudo, vim dizer que a
Jane, o Luciano e o Pedro já devem
ter chegado em casa.
Ouve um segundo para
processarmos a informação.
Então a Elena se levantou.
- NÃO! O Pedro SÓ ESTAVA ME
DEFENDENDO! – Ela gritou
indignada.
O Joshua desviou os olhos.
- Eu sei, mas ele quebrou o nariz do
Luciano. Eu não podia ser injusto. –
Ele respondeu na defensiva.
- Mas... – A Elena começou a falar.
- Sinto muito. – O Joshua disse
antes mesmo de ela terminar de
falar. – Eu gostaria de não ter feito
isso.
- Então por que fez? – Ela
perguntou com nojo e raiva.
Me levantei no mesmo segundo,
prevendo as palavras maldosas que
ela poderia dizer.
- Elena, você tem que entender que
o Joshua estava aqui como monitor
e não como amigo. Ele tem
que cumprir ordens.
Olhei para ele e vi um sorriso se
formando no canto de sua boca.
- A Susan tem razão... – A Isabela
comentou baixinho.
- Eu... Vou também.
- Como assim Elena? – Perguntei
sem entender.
Ela olhou decidida para o Joshua.
- Eu vou para casa também.
O Joshua levantou uma
sobrancelha, surpreso.
- Tem certeza disso?
- Absoluta. – Ela respondeu e saiu
da cabana. Eu e o Joshua a
seguimos. – Onde eu arranjo um
ônibus?
- Posso conseguir um rapidinho. –
Ele disse ainda meio confuso.
- Ótimo.
Olhei para a Elena por um
momento. Aposto que, se fosse o
contrário, Pedro faria o mesmo sem
pestanejar.
Joshua fez que sim a cabeça e
pegou o celular do bolso. Digitou
algumas coisas rapidamente e
aguardamos poucos minutos antes
de ele sorri e olhar para a Elena.
- Pronto, já pode ir. – Ele apontou
para o outro lado do acampamento.
– O ônibus já está chegando.
Quer que eu mande algum monitor
ir com você?
Ela negou com a cabeça e entrou na
cabana de novo.
Menos de um minuto depois, voltou
com uma mochila grande.
- Tchau Joshua. Tchau Susan. – Ela
se despediu dando um beijo em
nossas bochechas.
Então se virou e saiu com passos
firmes.
As meninas apareceram quase que
no mesmo segundo.
- Tenho que admitir que não
esperava por essa. – A Clara falou
observando a Elena indo embora.
- Acho que nenhuma de nós. – A
Bia completou. – Mas, ela fez a
coisa certa.
- E agora você tá doidinha para sair
correndo daqui e ir para a cabana
do Ricardão. – Falei com um
sorrisinho malicioso.
As bochechas dela coraram
instantemente.
- E você tá doidinha para fazer o
mesmo com o Joshua.
Ele riu e me puxou pela cintura.
- Como você adivinhou, Bia? –
Perguntei cínica e ela revirou os
olhos.
- Acho que essa é a nossa deixa. –
O Joshua sussurrou no meu ouvido.
Assenti com a cabeça e olhei para
as meninas.
- Bem, vou indo.
Elas se entreolharam e eu quase
conseguia ouvir as coisas
pervertidas que passaram por suas
cabeças nesse momento.
O Joshua me guiou até a segunda
cabana do circulo enorme e deu
passagem para eu entrar primeiro.
- Lembra quando você sempre abria
a porta do carro pra mim?
Ele sorriu.
- Lembro de cada segundo que
passo com você, senhorita Alvez.
Mordi o lábio inferior e me segurei
para não beijá-lo ali mesmo.
Então entramos na cabana; ele
trancou a entrada com um cadeado
prateado e foi até o canto esquerdo
do local, onde tinha vários lenções
formando uma cama confortável.
- Eu disse para eles que não
precisava de um lugar tão grande,
mas ninguém me escutou.
- Você é um Hunter, achei que já
tivesse aprendido que as pessoas
vão babar seu ovo. – Retruquei
com um sorriso e me juntei a ele na
cama.
- Daqui a menos de dois anos você
também vai ser, prometo.
Me aconcheguei nos braços dele,
com a cabeça encostada em seu
peito. Conseguia esquecer todos os
problemas ali, enquanto ouvia as
batidas aceleradas do seu coração.
- Tem certeza que seu pai vai
deixar?
Ele suspirou e senti sua mão
mexendo no meu cabelo. Nossos
joelhos se tocavam e nossos pés
estavam entrelaçados.
- Ele não tem que deixar, é a minha
vida. É a nossa vida.
Não pude evitar meu sorriso
quando ele disse isso. Casar com o
Joshua seria a melhor coisa do
mundo.
- Eu amo tanto você. – Sussurrei.
Ele desceu uma das mãos até a
minha cintura e me puxou para
cima.
- Eu também amo você. – Ele
estava tão perto de mim que eu
senti o ar quente saindo de sua boca
e
fazendo cocegas na minha.
Nos beijamos com intensidade.
Cada centímetro do corpo dele
procurava pelo meu enquanto cada
centímetro do meu corpo procurava
pelo dele. Nos completávamos.
- Lembra da minha primeira ideia
para esse acampamento? – Ele
perguntou quando ficamos sem ar.
- Claro.
Ele mordeu o lábio inferior.
- Se você não quiser, eu vou
entend...
Silenciei ele com um beijo. Eu
queria.
Ele entendeu o recado no mesmo
segundo e me puxou para ficar em
cima dele. Fechei os olhos e
senti suas mãos subindo até minha
camisa e desabotoando-a.
- Dessa vez vai ser ainda melhor. –
Ele prometeu enquanto eu ajudava a
tirar minha camisa.
- Não é possível.
- Por que não?
Olhei naqueles olhos azuis escuros.
- Porque nada supera a perfeição.
Ele sorriu orgulhoso e se sentou na
cama, com eu no seu colo. Minhas
pernas ao redor do seu quadril.
- Eu posso tentar.
Ele pegou as minhas mãos e pôs
nos botões de sua camisa.
- Dessa vez, você que vai
comandar.
Assenti com a cabeça, mesmo que,
por dentro, eu estivesse nervosa
por causa da responsabilidade.
Joshua já teve centenas de garotas,
ele que deveria me dizer cada
passo até o fim. Mas como ele
pediu eu vou fazer o melhor que
puder. Porque é o Joshua.
Abri o primeiro botão meio sem
jeito, tentando controlar o vermelho
que devia estar meu rosto.
Foi então que sentimos a cama
vibrando.
- Mas que porra...? – Ele perguntou
confuso e olhou ao redor para
procurar de onde tinha vindo.
Sai do colo dele sem conseguir
conter minha frustração. Não era
para nada atrapalhar a gente!
Ele tateou a cama a procura de
onde veio a vibração até encontrar
seu celular com a tela piscando.
- Merda merda merda. – Ele
resmungou irritado.
- O que aconteceu?
Ele suspirou, tão frustrado quanto
eu.
- Vai ter uma atividade agora. – Ele
respondeu olhando para mim com
culpa. – Me desculpa, eu
esqueci completamente...
- Não tem problema, a gente
continua depois.
Assim que disse isso, peguei minha
camisa da cama e me vesti.
Ele balançou a cabeça em negativa.
- Não podemos dormir na mesma
cabana, é contra as regras.
Desviei os olhos para ele não
conseguir ver minha decepção.
- Ah Susan... – Ele se aproximou de
mim e segurou meu rosto com as
mãos. – Nós vamos ter milhares
de oportunidades; não se você
lembra, mas moramos na mesma
casa.
- Mas você é tão ocupado... –
Reclamei baixinho.
- Para tudo ao meu redor pode até
ser, mas não pra você. Pra você eu
tenho todo o tempo do mundo.
Ele me beijou devagar, como se
para confirmar suas palavras.
Sorri por dentro; eu poderia ter o
Joshua todos os dias se quisesse. E
eu queria. Eu nunca vou me
cansar de tê-lo.
Ele se afastou de mim lentamente e
respirou fundo antes de falar.
- Agora que já resolvemos isso,
vamos ter que sair daqui e ir para a
atividade.
- É... – Falei sem vontade. Então
me lembrei de uma coisa. – Ah,
quase me esqueci de dizer o quanto
você fica sexy de monitor
autoritário.
Ele achou graça.
- Acha mesmo?
Mordi o lábio inferior em resposta.
Por um segundo, ele se aproximou
para me beijar; mas então se
afastou de novo.
- Temos mesmo que ir.
Bufei e me levantei.
- Amanhã a gente continua.
- Ótima ideia.
Nos beijamos mais uma vez antes
de sairmos da cabana.
Assim que saímos, uma menina
apareceu – quase que num passo de
mágica – ao lado do Joshua.
- Monitor, você poderia me ajudar
ali? – Ela perguntou e apontou para
uma cabana do outro lado do
circulo.
Enquanto o Joshua seguia com o
olhar até onde ela estava
apontando, flagrei a menina
olhando para
cada centímetro do meu namorado.
Fechei o punho para tentar me
controlar.
- Claro. – Ele respondeu com um
sorriso gentil. – O que aconteceu?
Ela olhou confusa para ele.
- Como assim?
- O que aconteceu para você
precisar da minha ajuda? – Ele
repetiu mais devagar.
Ela corou e eu percebi nesse
segundo que essa pergunta não
estava nos planos dela. O Joshua
também pareceu entender isso.
Ela ficou calada por uns instantes.
- Bem, acho que notei quais eram
suas intenções. – Ele disse por fim.
A menina ficou surpresa, mas
rapidamente mudou de expressão.
- E o que você acha dela? – Tudo
na sua voz sugeria malicia.
Tossi para chamar atenção e os dois
olharam para mim. Joshua sorriu.
- Eu acho que minha namorada aqui
não vai concordar muito com isso.
Estou certo, Susan?
Os olhos cor de mel da menina
foram do Joshua para mim em uma
fração de segundo.
- Tem certeza que pode namorar
uma aluna?
Ele deu de ombros.
- Tem certeza de que isso é da sua
conta? – Ele perguntou com um
toque de frieza. – Aliás, acho que
você não se importou com isso
quando me chamou para ajudar
você.
Ela abriu a boca para rebater com
alguma resposta, mas pareceu
pensar melhor e saiu pisando duro.
- Quanta concorrência. – Murmurei.
Ele revirou os olhos.
- Como se alguma garota nesse
mundo se comparasse a você.
Antes que eu pudesse responder,
alguém chamou o Joshua.
Nos viramos e vimos que era a
Lucia, a coordenadora. Ela parecia
animada.
- Joshua, quero você no palco em
um minuto.
Ele assentiu com a cabeça e piscou
para mim antes de correr para o
palco do meio da praia. Era
estranho vê-lo cumprindo ordem de
alguém.
Achei as meninas no meio da
rodinha de gente que se formava ao
redor do palco e me juntei a elas.
Não pude deixar de sorri quando
percebi a mão do Richard na
cintura da Bia.
- Ei, isso que eu tou vendo é o novo
casal do ano? – Perguntei
apontando para a mão do Richard.
A Bia corou bruscamente.
- Não, nós que somos.
Me virei para ver se onde vinha
essa voz e me deparei com o Edu e
Monica.
- Eita que agora a competição tá
acirrada.
Eles riram. O Edu parecia prestes a
explodir de felicidade enquanto os
olhos azuis do Richard
brilhavam de alegria.
- Oi gente. – O Joshua falou e a
atenção de todos foi para ele. –
Temos mais uma atividade antes de
vocês poderem dormir. Dessa vez
será individual e eu vou precisar de
muita organização para sair
tudo certo.
Todos assentiram. Ele continuou:
- Seguinte: cada um de vocês irá
receber um balão que brilha no
escuro, um papel e uma caneta.
Acho que já podem ter uma ideia
do que vai acontecer, mas eu tenho
que explicar mesmo assim. –
Algumas pessoas viram da cara de
tédio dele. Ele sorriu com isso. –
No papel, vocês irão escrever a
coisa que vocês mais querem que
se realizem e amarrarão no balão.
Assim, quando todos
terminarem, nós iremos soltar esses
balões para as estrelas.
Todo mundo ficou animado com
essa atividade. Eu já tinha até uma
ideia do que iria escrever.
Uma fila de formou em frente aos
monitores que estavam com uma
caixa enorme e distribuíam os
materiais. Esperei uns cinco
minutos antes de pegar meu balão –
laranja florescente –, o papel e a
caneta.
Me sentei no chão ao lado da
Amanda e da Gabrielle.
- E aí, já sabem o que vão botar? –
Perguntei enquanto amarrava o
cordão do balão no tornozelo para
ele não sair voando.
- Bruno para sempre é uma boa
ideia. – A Amanda respondeu com
um ar sonhador.
- Encontrar um Bruno barra Joshua
barra Eduardo é uma boa ideia. – A
Gabi falou.
- Pelo que eu ouvi, o irmão da Bia
é afim de você. – Eu disse me
lembrando de uma conversa de um
milhão de anos atrás.
Ela deu de ombros.
- Depois penso nisso.
Desviei minha atenção para o papel
e pensei um pouco antes de
escrever.
Ser a garota da vida do Joshua.
Reli essa frase algumas vezes para
ter certeza se era apropriada, então
percebi que sim, era. A coisa que
eu mais queria era ser a garota da
vida dele e se Deus quiser eu vou
ser – talvez eu já seja, mas casar e
ter filhos com ele iria ajudar a
confirmar isso.
Amarrei o papelzinho no cordão e
esperei enquanto os outros
escreviam.
Mais ou menos meia hora depois
todos já tinham terminado. Me
levantei e dei uma corridinha para
ficar ao lado do Joshua.
- O que você escreveu? – Ele
perguntou assim que me viu.
Mostrei o papel para ele.
- Mas você já é. – Ele disse assim
que leu. Ele nem precisava pensar
antes de afirmar isso.
- Agora, mas ninguém sabe o dia
amanhã.
Ele negou com a cabeça.
- Eu sei; amanhã você ainda vai ser
o amor da minha vida e... Ó, que
estranho! Depois de amanhã
também.
Ri com o tom de ironia dele.
Ele sorriu e me deu um selinho
extremamente rápido antes de sair e
voltar para cima do palco. Todos
olharam para ele.
- Alguém ainda está escrevendo?
Ninguém levantou a mão.
- Ótimo, então soltem no 3. – Ele
sorriu e levantou três dedos. –
1...2...
Todos levantaram as mãos e os
balões encheram o acampamento de
cor.
- 3!
Soltamos os balões e observamos
enquanto eles se juntavam ás
estrelas.
Era lindo.
[...]
Acordei quatro horas da tarde e
ainda assim sentia sono.
O resto do acampamento foi muito
bom, mas pareceu passar
assustadoramente rápido e, do
nada, eu
já estava deitada na cama do meu
quarto, dormindo como uma pedra.
Sentei devagar e me espreguicei.
Não posso dormir o dia todo –
mesmo sendo domingo.
Fui ao banheiro e joguei água no
rosto para tentar me acordar.
Funcionou.
Sai do quarto e desci direto para a
sala. Para minha desagradável
surpresa, o Michael estava lá.
- Boa tarde. – Cumprimentei por
pura educação.
Ele olhou para mim e seus olhos
brilharam por algum motivo. Tentei
não senti medo de qual motivo
seria esse.
- Oi Susan, eu estava mesmo
querendo falar com você.
- O que você quer? – Perguntei sem
paciência.
Ele se levantou do sofá e andou até
ficar a alguns metros de mim.
- Eu poderia responder agora
mesmo, mas prefiro que você veja.
- Do que você tá falando?
Ele fez o gesto de “siga-me” e
subiu as escadas. Mesmo com um
pouco de receio, segui-o até o
andar
onde ficava os quartos.
Ele abriu uma porta branca que
tinha um adesivo de PARE. Era o
quarto dele.
- Não vou entrar ai.
Ele riu com desdém.
- O que você acha que eu vou
fazer? Te estuprar? – Ele riu ainda
mais. – Sinto lhe dizer, mas meu
nível é mais alto.
Revirei os olhos.
- Não confio em você.
- Faz sentido. – Ele comentou e deu
aquele sorriso travesso que o fazia
parecer uma criança depois
que aprontava uma pegadinha. Ou
que estava prestes a aprontar uma.
Ainda desconfiada, entrei no
quarto.
Era um pouco menor do que o do
Joshua, mas com certeza maior do
que o meu. Havia uma estante de
livros do lado direito do quarto – o
que me surpreendeu –, e uma TV
enorme e um sofá em frente do
lado esquerdo.
- Dá para você me dizer logo o que
é?
Ele apontou para o sofá em frente a
TV.
- Melhor você ver com seus
próprios olhos.
Andei até o sofá tentando parecer a
pessoa mais corajosa do mundo,
mas aquilo estava longe da
realidade. Tudo no quarto do
Michael me deixava nervosa, como
se tivesse explosivos espalhados
pelos moveis.
Ele ligou a televisão e pôs um CD
no aparelho DVD.
Demorou alguns segundos para
ligar, mas assim que a imagem
apareceu percebi que se tratava de
uma câmera de segurança.
A câmera estava focada em algo
que parecia com um cofre e eu
observei enquanto uma mulher
entrava em cena, ela estava de
costas então só dava para ver seu
cabelo castanho escuro preso em
um
coque firme. O mesmo coque que a
minha mãe usa para trabalhar.
Senti todos os meus pelos se
arrepiando. Não, aquela não pode
ser minha mãe.
A mulher morena leu alguma coisa
em um papel e depois digitou uma
senha no cofre. Ele se abriu no
mesmo segundo. Sem hesitar, ela
pegou todas as joias que estava
dentro do cofre e, depois, pegou
bijuterias idênticas da bolsa que
estava segurando e colocou no
lugar.
Tudo isso demorou menos de 2
minutos até que ela fechou o cofre e
saiu como se nada tivesse
acontecido. Em nenhum momento
consegui ver seu rosto, mas sua
pele era exatamente da mesma cor
que a minha. Da mesma cor que a
da minha mãe.
- O que... O que isso significa? –
Perguntei sem folego.
O Michael me lançou um olhar da
mais pura maldade.
- Isso significa que sua mãezinha é
uma criminosa.
- Não. – Eu disse baixinho. – NÃO!
– Repeti mais alto dessa vez,
sentindo meu sangue fervendo. –
Não é ela nesse vídeo, não dá para
ver o rosto.
Ele não se abalou nem um pouco
com o meu tom.
- Eu digo que é sua mãe e as
pessoas vão concordar.
Me levantei do sofá no mesmo
segundo.
- Você não pode acusar ela de uma
coisa que não fez.
Ele sorriu.
- Claro que posso. E, aliás, é a
minha palavra contra a sua.
Senti o peso da sua frase como um
tiro de canhão. As pessoas nunca
iriam duvidar de um Hunter.
- Michael... – Eu implorei sem ar. –
Apague esse filme.
- Claro. Mas você já deve saber o
que eu quero em troca disso, não é?
Cai no sofá como se ele tivesse me
dado um murro.
Não, por favor, tudo menos isso.
Senti meus olhos se enchendo de
lagrimas.
- Pelo jeito sim. – Ele comentou e
depois soltou um risinho de
maldade.
- Eu imploro, qualquer coisa,
qualquer menos isso.
- Não. Nosso acordo está feito: Ou
você termina com o Joshua ou sua
querida mãe vai ser demitida e
presa.
Desviei os olhos para tentar afastar
as lagrimas, mas elas escorreram
do mesmo jeito.
- Olhe para mim.
Obedeci. Aquele par de olhos
verdes-mar não demonstravam nada
além de ódio. Ele era um monstro.
- Você tem até hoje de noite para
decidir. – Ele disse. – Ah, e se eu
sonhar que você contou isso para
alguém pode apostar que sua mãe
vai parar atrás das grades tão
rápido que você não vai consegui
nem piscar.
Fechei os olhos. Aquilo só podia
ser um pesadelo.
Ouvi a risada do Michael ecoando
nos meus ouvidos. Eu estava na
palma da mão dele.
Abri os olhos.
- Eu não posso terminar com o
Joshua.
- Tudo bem.
- Tudo bem? – Perguntei confusa.
Ele sorriu.
- Eu posso ir agora mesmo falar
com o meu pai sobre a nossa
empregada ladra, não tem problema
algum.
O jeito como ele falava era tão
seguro e maldoso que parecia
ensaiado, como se ele tivesse
praticado com alguém antes de falar
comigo.
- Por que você está fazendo isso?
- Lembra de quando eu disse que
iria me vingar? Bem, eu não estava
brincando. – Sua voz era fria.
Seus olhos eram frios. Ele parecia
uma tempestade de neve.
Mais lagrimas brotaram nos meus
olhos enquanto eu tentando encará-
lo.
- Seu irmão não vai acreditar se eu
disser que não o amo.
Ele deu de ombros.
- Sei disso. Já tenho até o roteiro de
como você vai terminar com ele.
Respirei fundo.
- Por favor, Michael, não faça isso.
Eu nunca fiz nada com você.
Ele fingiu que não ouviu.
- Tem até hoje de noite.
Abaixei a cabeça, sem forças para
continuar olhando naqueles olhos
de neve.
- Você sabe que eu não posso fazer
isso com a minha mãe.
- E você sabe que eu não ligo.
Mordi o lábio inferior para impedir
meu grito de desespero. Era assim
que eu estava agora:
desesperada.
Ele se virou e pegou um papel de
cima do aparelho DVD.
- Aqui tem suas falas. E, não pense
que eu não vou descobrir se você
não fizer tudo direitinho.
Peguei o papel olhando fixo para
um canto na parede.
- E se o Joshua me odiar para
sempre?
Ele riu.
- Essa é a intenção.
- Mas...
- Agora saia do meu quarto, cansei
de você. – Ele disse isso com
naturalidade. – Assim que o Joshua
acordar dê essa noticia a ele.
Estarei esperando.
Não havia nada que eu pudesse
responder, então apenas me levantei
e sai. Assim que atravessei a
porta, corri para o meu quarto.
Minha lagrimas não paravam de
escorrer e eu deitei de barriga para
cima na cama, com um
travesseiro para abafar meus gritos
de dor e raiva.
Sempre soube que o Michael era
cruel, mas não a esse ponto.
Não a ponto de me fazer decidir
entre o amor da minha vida e a
pessoa que me deu a vida. Aquilo
não era justo.
Mas, eu sabia que, na verdade, não
havia escolha nenhuma a ser feita.
Ela era minha mãe. Eu amava
o Joshua? Com certeza. Eu faria
tudo por ele? Sem nem pensar duas
vezes. Mas, ela era minha mãe.
Jamais a deixaria sofrer se pudesse
impedir. Preferia morrer de tanto
chorar a ver minha mãe na
prisão.
Li o roteiro do Michael.
Aquilo ultrapassava todos os
limites da maldade.
Quando deu seis horas, fui até o
quarto do Joshua. O meu coração
implorava que eu parasse a cada
passo. Mas eu não podia fazer isso.
Bati a porta e pedi a Deus para que
ele estivesse dormindo ainda.
- Quem é? – A voz do Joshua era
animada e feliz. Será que ele tinha
sonhado comigo?
- Susan. – Respondi sem animo.
Por favor, não abra.
Mas ele abriu no mesmo segundo e
me recebeu com um sorriso de
orelha a orelha.
- Oi meu amor. – Ele disse me
dando um selinho e dando
passagem para eu entrar no quarto.
Não me chame de meu amor, não
torne tudo ainda mais difícil. Por
favor, Joshua, me expulse desse
quarto para que eu não tenha que
partir seu coração.
- Tá tudo bem? – Ele perguntou
preocupado. Ele notou minha
expressão, é claro.
Desviei os olhos e respirei fundo.
Todo o meu um mês de curso como
atriz iria à tona agora.
- Na verdade não. – Eu respondi
com o máximo de frieza que
consegui.
Ele se aproximou de mim.
- O que houve? – Tudo na sua voz
exalava preocupação.
Mordi o lado interno na boca por
um momento. Como eu iria dizer
isso para ele?
- Joshua, nós precisamos conversar.
- Claro, sente e despeje seus
problemas em cima de mim. – Ele
brincou com um sorriso no rosto.
Dava para ver que, se eu fizesse
mesmo isso, ele não iria reclamar.
É agora.
Encarei-o.
- Meu único problema é você. E eu
pretendo me livrar disso agora
mesmo.
29. A pior coisa que poderia
acontecer
✣Joshua✣
- O quê?
Os olhos dela esfriaram de um jeito
que eu nunca tinha visto antes. A
garota na minha frente não
parecia mais a Susan.
- Você ouviu o que eu disse. – Ela
disse calmamente, sem nem um
pingo de sentimentos. – Hoje de
tarde, eu cheguei à conclusão de
que já passou da hora de você
saber a verdade.
- Do que você está falando?
- Acho melhor você sentar.
Fiquei tão assustado com essa frase
que nem hesitei antes de ir até o
sofá que ficava encostado à
parede e me sentar.
Ela não sentou comigo. Em vez
disso, ela continuou em pé, me
olhando como se eu fosse um
inseto.
O que estava acontecendo? Aquilo
era algum tipo de pegadinha?
Ou um pesadelo?
- Sabe, Joshua, tem muitas coisas
que você não sabe. – Ela falou meu
nome com tanta frieza que
minha garganta deu um nó.
- Como por exemplo...? – Perguntei
sem querer de verdade saber. Não
queria conversar com essa
Susan que tinha um olhar mortal.
Ela respirou fundo e, por um
milésimo de segundo, pareceu com
a Susan que eu amava.
Então seus olhos esfriaram de novo.
- Por que motivo você acha que eu
me aproximei de você, no começo
de tudo isso?
Olhei para ela sem entender. Que
espécie de pergunta era essa?
- Não sei. – Respondi com
sinceridade.
- Eu nunca tinha te visto antes e do
nada aceitei que você flertasse
comigo. Não acha isso estranho?
Senti um arrepio percorrendo minha
espinha.
- Talvez, mas...
- Você nunca achou estranho o fato
de eu não ter escolhido o Michael?
Ele é da minha idade.
Fiquei calado por um instante; eu
realmente já tinha me perguntado
isso. Mas o amor da Susan por
mim sempre pareceu algo quase
óbvio. Destino, eu pensava.
- Você e o Michael brigavam
demais para surgir um amor
daquilo. – Foi o que eu consegui
responder,
era a única frase que fazia sentido
na minha cabeça.
Ela riu de um jeito mais do que
maldoso.
- E por que a gente não começou
brigando como aconteceu comigo e
com o Michael? Por que decidi
deixar que um desconhecido me
dissesse coisas fofas que eu sabia
que ele já tinha dito para centenas
de outras garotas? - Cada palavra
que saia da boca dela tinha um tom
que eu nunca ouvi antes. Tinha
indiferença.
- Porque eu sou diferente dele,
porque eu...
Ela negou com a cabeça e eu me
calei no mesmo segundo.
- Não. Tudo entre nós foi calculado.
– Ela disse devagar, como se eu
fosse uma criança e não
entendesse as coisas.
- Como assim?
Ela sorriu. Mas não do jeito que
sorria até ontem – com amor e
aquela alegria radiante por me ver.
Longe disso.
- Foi tudo um plano, Joshua. – Ela
fez uma pausa enquanto eu engolia
aquelas palavras. – Sabe, a
Heloísa estudava no 404.
Preferia que ela tivesse me dado
um tiro. Ou um chute no saco. Ou
tocado fogo no meu cabelo.
Qualquer coisa seria menos
impactante que aquilo.
Seus olhos analisaram minha
expressão. Ela pareceu ficar
satisfeita com meu desespero.
- Bem, eu era amiga dela quando
vocês se conheceram. Eu estava do
lado dela quando você disse
que... Como foi mesmo?... Ah sim,
disse que ela não tinha valor.
Senti meu cérebro prestes a
explodir. Não, não, não, não, aquilo
não estava acontecendo.
- E quando ela finalmente percebeu
que você era um cafajeste
manipulador, decidiu se vingar. E é
ai
que eu entro.
Mordi o canto interno da minha
boca para não começar a gritar e
me mantive imóvel no sofá. Cada
palavra dela pesava mil toneladas.
- Assim que ela soube que eu iria
morar com você, veio correndo
falar comigo e fizemos um plano.
Eu iria fazer você se apaixonar por
mim do mesmo jeito que ela se
apaixonou por você. – Ela
suspirou antes de continuar. – E eu
faria você sofrer do mesmo jeito
que você fez ela sofrer. Você iria
pagar por cada lagrima que
escorreu do rosto dela.
- Mas... – Minha voz estava fraca e
falha. Eu estava me segurando para
não desabar.
- Mas foi muito mais forte do que
nós poderíamos ter imaginado.
Você entregou seu coração para
mim de um jeito que ia muito além
de qualquer plano, qualquer
calculo. Você confiou em mim de
uma
forma que não achávamos que era
possível. – Agora a voz dela
transmitia pena. Ela estava com
pena
de mim. – Você foi tão idiota.
Me levantei e ela deu um passo
para trás instantaneamente. Nos
encaramos. Ela parecia ser feita de
pedra, e eu, de areia.
- Me diga que isso é mentira. –
Tentei soar mais como uma ordem
do que como um pedido
desesperado. Falhei.
- Já te enganei muito, não acha? –
Ela perguntou cínica.
Senti minhas lagrimas queimando
para sair, mas as controlei. Eu não
iria deixar isso acontecer. Não
na frente dela.
- Por que você fez isso? – As
palavras saíram baixas, como um
sussurro.
Se isso fosse um pesadelo, queria
que acabasse logo.
Eu não sou forte o suficiente para
aguentar isso.
- Porque a Heloisa pediu e... Bem,
eu não tinha nada a perder, certo? A
única coisa que eu sabia
sobre a sua pessoa era que você
não tinha sentimentos. Por que eu
teria pena de alguém assim? Por
que eu negaria o pedido de uma
amiga por um desconhecido que a
magoou?
- Susan... Por favor, pare com isso.
– Implorei quase sem voz. Mais
uma palavra e eu cairia de
joelhos.
Ela colocou as mãos no bolso e
olhou para o meu nariz. Quase
conseguia ver um sentimento
lutando
para se sobressair enquanto ela o
empurrava com força para dentro.
Eu daria tudo o que tinha para
que esse sentimento fosse amor.
- Parar com o que, Joshua? Com a
verdade? – Ela olhou nos meus
olhos. Senti um calafrio descendo
pela minha coluna e fiz força para
me manter de pé. – Depois de
ontem, no acampamento, eu percebi
o quanto você já estava
desesperadamente apaixonado por
mim. Então hoje era o dia perfeito
para te
destruir.
Dei um passo para trás. Ela era um
monstro.
- Pronto, agora que já contei, já
posso ir embora. – Ela disse mais
para si mesmo do que para mim.
Então seus olhos foram para o
próprio braço e ela assentiu com a
cabeça.
- Creio que não preciso mais disso.
Segui o olhar dela e percebi que ela
estava se referindo à pulseira que
eu dei. Com um movimento
rápido, ela puxou com a outra mão
e a quebrou.
O pingente de coração caiu no
espaço entre meus pés. Senti como
se alguma coisa estivesse
morrendo dentro de mim e eu não
pudesse fazer nada para ajudar.
Então, sem dizer mais nenhuma
palavra, ela se virou e saiu do meu
quarto.
Observei enquanto ela saia e me
levantei também. Assim que ouvi o
barulho de elevador, tranquei a
porta do meu quarto.
Não queria que ninguém entrasse e
se deparasse comigo nessa
situação.
Deitei na cama de barriga para
baixo e mordi o travesseiro com
toda a minha força. A dor
ultrapassava tudo o que eu já havia
sentido antes. Era insuportável.
Aquilo não podia ser verdade.
Tinha que ter alguma coisa errada.
Tudo não passou de um plano. A
Susan nunca me amou.
Eu provavelmente nem fui o
primeiro cara da vida dela, mas
isso era a coisa que menos
importava.
Lembrei de como doeu quando eu
vi a Susan e o Nicolas se beijando,
de como eu achei que aquilo
era o máximo que meu corpo
poderia atingir sem eu quebrar ao
meio.
Eu estava errado.
Isso doía mais, muito mais. Muito,
muito, muito mais. Isso era dor de
verdade, isso fez mais do que
me quebrar ao meio. Isso me
quebrou em um milhão de
pedacinhos e depois me jogou em
ácido.
As palavras dela não paravam de
se repetir na minha mente, como um
CD que não tinha fim. Era
tortura.
Me sentei na cama e olhei ao meu
redor, esperando que, do nada, eu
acordasse e percebesse que
ainda estava dormindo. Não podia
ser real.
O que eu tive com a Susan foi a
coisa mais pura que já aconteceu,
foi digno de livros e filmes de
amor. Foi digno de poemas e
músicas sem fim. Foi digno de ficar
cravado na história da humanidade
como um exemplo a ser seguido, um
exemplo de amor que não enxerga
classe sociais.
Bem, era isso que eu achava.
Mas a verdade era essa: o que eu
tive que com a Susan não passou de
um plano de vingança.
Não sei se existe uma palavra forte
o suficiente para descrever o que eu
estou sentido, mas posso
dizer que até minha alma estava
imersa em agonia.
Doeria menos se ela tivesse entrado
no meu quarto e me matado da
forma mais lenta o possível,
como as torturas da Idade Média.
Porque nenhuma dor física pode ser
comparada a isso.
Então eu percebi uma coisa: eu
estava recebendo o que merecia.
Eu usei tantas garotas. Eu
machuquei tantos corações.
Eu merecia sofrer e sabia disso.
O mundo dá voltas, aquilo era o
jeito que o Universo encontrou para
fazer pagar.
A Heloisa conseguiu.
A Jane conseguiu.
Todas elas conseguiram.
Todas as loiras, morenas, ruivas,
altas, baixas, adolescentes e jovens
que tiveram suas vidas
balançadas por mim estavam sendo
vingadas.
Deitei de novo na cama, de barriga
para cima.
Fechei os olhos com força.
Meu coração batia com dificuldade.
Ele nunca apanhou tanto.
Se o objetivo da Susan era me
destruir, ela o alcançou com
eficiência.
"Destruição" é fraco comparado ao
meu estado.
30. Notícia ruim se espalha rápido
Assim que saí do quarto do Joshua,
senti toda a dor que estava
segurando.
O que foi que eu fiz? Como pude
fazer uma coisa dessas?
Meu coração e minha mente
martelavam de arrependimento. Eu
devia ter entrado naquele maldito
quarto e contado tudo, contado todo
o plano do Michael e pronto. O
Joshua ficaria do meu lado e
protegeria minha mãe e eu, certo?
Então eu percebi uma coisa: Esse
era o problema. Eu não sabia se ele
faria mesmo isso. Não poderia
arriscar o emprego da minha mãe.
Fui para o meu quarto devagar,
quase me arrastando. A única coisa
que eu queria agora era voltar
para ontem e curtir mais aquela
felicidade que nunca vai voltar.
Assim que abri a porta, me deparei
com a única pessoa nesse mundo
que eu não queria ver nem
pintada de ouro.
- Saia daqui. – Pedi quase sem voz
para o cara que tinha criado tudo
isso.
- Não. Quero saber como foi lá
dentro. – A voz do Michael era
objetiva e fria, exatamente como
ele.
- Vá lá perguntar para seu irmão
então.
Ele me analisou por um tempo,
como se pudesse ler meus
pensamentos.
- Se você fez mesmo tudo o que
estava no roteiro, meu irmãozinho
está deitado em posição fetal e
chorando como se não existisse
amanhã. – Ele disse isso de um
jeito tão natural... Me pergunto se
ele tem mesmo um coração dentro
do peito.
- Como você pode dizer umas
coisas dessas do próprio irmão?
Ele deu de ombros.
- Ele já fez coisas piores comigo.
- Do que você está falando?
- Nada não.
Eu insistir, mas ele olhou para a
porta atrás de mim.
- Quando eu for embora você vai se
desmanchar em lagrimas, certo?
Não respondi.
Ele sorriu.
- Tchau Susan.
Ele passou por mim e saiu do
quarto.
Estranho.
Tranquei a porta e respirei fundo.
Não queria admitir para mim
mesma que o Michael estava certo,
eu iria mesmo me desmanchar em
lagrimas.
Mas, o que mais eu poderia fazer?
Eu acabei de destruir o coração do
amor da minha vida. Isso é motivo
mais do que suficiente para
chorar como se não houvesse
amanhã.
Todos os segundos da minha
conversa com o Joshua disparavam
na minha mente. Não sei como
consegui manter meu olhar frio
enquanto o garoto que eu amava
perdia o chão.
Lembrei do momento em que eu
puxei a pulseira que ele me deu,
lembrei de como doeu cada pedaço
do meu corpo quando o pingente de
Batman caiu no espaço entre os
meus os pés. Foi como se eu
tivesse puxado a corda do nosso
amor e acabado com tudo em um
único movimento.
Se eu fosse um pouquinho mais
corajosa, iria agora mesmo para o
térreo e pegaria a arma do senhor
Fernando. Imagina que divertido
seria colocar medo no Michael.
Mas eu não era. Eu não conseguiria
segurar um objeto que mata nas
mãos e nunca, nem em sonho,
conseguiria tirar a vida de uma
pessoa. Mesmo que essa pessoa
fosse o cara que acabou com a
minha
vida no momento em que mostrou
aquele vídeo para mim.
Deitei na cama de barriga para
baixo e deixei que minhas lágrimas
molhassem o travesseiro. Minha
mãe sempre disse que é bom
colocar para fora.
[...]
Acordei com o barulho de alguém
batendo na porta. Me sentei na
cama e observei a mancha que eu
tinha feito no travesseiro.
- Quem é? – Perguntei irritada. Não
queria visitas. Não hoje.
- Eu. – A voz do Nicolas era
insegura, como se ele não tivesse
certeza se queria ou não falar
comigo.
Será que o Joshua já contou o que
aconteceu para eles?
Suspirei e vi que eram 20h.
Arrumei rapidamente meu cabelo e
abri a porta.
Ele entrou sem ser convidado e
sentou na cama. O olhar do Nicolas
foi até o meu travesseiro e ele
assentiu de leve, para si mesmo.
Me aproximei dele.
- O que você quer aqui?
Ele olhou nos meus olhos.
- A verdade.
- Sobre o que?
Mas, é claro que eu sabia sobre o
que era.
- Eu falei com o Joshua.
- Então você já sabe a verdade. –
Respondi a contragosto e coloquei
a mão na cintura.
Se ele soubesse a verdade, contaria
ao Joshua; e isso não podia
acontecer.
Terei que atuar de novo.
- Sei que não, só não entendo por
que você inventou tudo aquilo. –
Ele falou de forma segura.
- Sinto te decepcionar, mas tudo o
que Joshua falou realmente
aconteceu.
- Eu sei o que você disse, apenas
não acredito em nenhuma palavra
daquilo.
- Por que não?
- Você ama o Joshua mais do que
tudo. Todo mundo consegue
enxergar, ouvir, e até sentir isso. Se
no
começo era tudo um plano, foi você
quem falhou e acabou se
apaixonando por sua vitima. – Ele
disse
de uma vez. Não existia nem um
pingo de duvida em sua voz.
Tive vontade de chorar como um
bebezinho e contar toda a verdade,
mas me contive. Eu tinha que me
conter.
- Acho que o Joshua não foi o único
que consegui enganar. – Comentei
com uma frieza que eu não
tinha.
- Por que você está fazendo isso? –
O Nicolas olhava para mim de um
jeito insistente, como se
pudesse arrancar a verdade de mim
assim. – Quem está te obrigando a
fazer isso, Susan? Por favor,
me diga e eu juro que não...
- Ninguém está me obrigando a
nada! Saia do meu quarto e vá
ajudar a catar os pedaços do seu
irmão! – Elevei a voz e fuzilei ele
com o olhar.
Por favor, saia do meu quarto. Eu
não aguento mais fingir.
No entanto, aquele par de olhos
azuis nem piscaram.
- Eu posso até ir embora, mas isso
não significa que acreditei em você.
Eu sei quem você é, Susan.
Eu sei que você é incapaz de
concordar com um plano de
vingança. – Ele fez uma pausa antes
de
continuar. – Eu sei que você o ama,
não tente me convencer do
contrário.
Pensei em gritar que ele estava
errado e que ele não sabia quem eu
era, mas me calei. Lá no fundo, eu
estava grata por ele confiar em mim
dessa forma.
Mas, como eu não podia agradecer
em voz alta e explicar tudo o que
aconteceu, não respondi nada.
Nos olhamos por um tempo.
- Seu segredo tá muito bem
guardado, Susan. – Ele se levantou
da cama. – Se algum dia resolver
contar a verdade me chame para
ouvir.
Ele me deu um beijo na bochecha e
saiu do quarto.
Tentei absorver o significado
daquilo. O Nicolas não duvidou de
mim nem por um segundo.
Senti uma pequena faísca de
felicidade dentro de mim. Eu não
estava só. Eu tinha alguém que, de
certa forma, poderia me ajudar a
carregar todo esse peso.
Peguei o celular e fiquei lendo as
900 mensagens no grupo que eu
tinha com as meninas da minha
sala. Só besteira, é claro; mas era
melhor do que ficar sozinha com
meus pensamentos.
Depois do que pareceu um longo
tempo, alguém bateu na porta.
Uma parte do meu ser gostaria que
fosse o Joshua, mesmo sabendo que
isso só iria piorar as coisas.
Eu queria ver como ele estava.
- Quem é? – Perguntei com uma
mistura de esperança e medo.
- Abra logo. – Uma voz grave
mandou. Reconheci pelo tom
autoritário que era o senhor
Fernando.
Fiz o que ele mandou e ele entrou
no meu quarto. As pessoas dessa
casa não esperavam ser
convidadas.
- Oi... – Cumprimentei meio sem
jeito. Nunca tinha conversado a sós
com o senhor Fernando.
Ele olhou para mim com desprezo.
- O meu filho me contou o que você
fez.
Respirei fundo.
- Não posso dizer que estou
surpreso. – Ele completou.
- Recado dado, pode sair do meu
quarto agora? – Perguntei irritada.
Ele levantou uma sobrancelha.
- Acha mesmo que pode falar assim
com seu superior?
Fechei o punho.
Me segurei para não dizer que ele
não era meu superior.
- Vim aqui para informar que você
apenas confirmou as coisas que eu
disse ao Joshua no jantar de
sexta. Eu dei um mês para ele me
convencer de que você valia
mesmo a pena e, como se tivesse
ouvido tudo, você chegou dois dias
depois e provou para ele o
contrário. – Ele sorriu. – Vim aqui
para agradecer por ter saído do
caminho do meu filho.
Engoli em seco. Ele era maldoso
sem esforço.
- Sorte a sua então.
Ele assentiu.
- Agora, se não for pedir demais,
nunca mais cruze o caminho do
Joshua, ok? Ele merece coisa muito
melhor do que você. – Ele falava
naturalmente, como se não houvesse
veneno em cada sílaba. Ele
falava como o Michael.
- Isso não vai ser um problema.
Não tenho a menor intenção de
continuar qualquer contato com o
Joshua. – Menti.
- Ótimo.
Ele me lançou um ultimo olhar com
aquele par de olhos azuis Denim e
depois se retirou.
Será que o Joshua sabia que ele
vinha e o que iria dizer?
Lembrei de como o Joshua me
defendeu com unhas e dentes no dia
do jantar, como ele discutiu com o
próprio pai por mim. Porque ele
acreditava mesmo que eu era a
pessoa certa.
E eu sou, na verdade.
O problema é que, normalmente, as
pessoas certas não precisam seguir
ordens de um cretino.
[...]
- Acorde logo.
Abri os olhos devagar e me deparei
com um Michael irritado.
- O que você está fazendo aqui? –
Perguntei, incomodada pela
presença dele.
- Já que ninguém mais nessa casa
gosta de você, tive que vim te
acordar.
Por um segundo, meu coração
apertou e eu pensei que o Nicolas
tinha parado de gostar de mim.
Então eu me lembrei que ele
provavelmente não poderia
continuar sendo tão gentil comigo,
mesmo
acreditando em mim, como prova
de fidelidade ao irmão mais velho.
- Já acordei. – Disse enquanto me
levantava da cama. – Pode se
retirar.
- Na verdade, eu gostaria de
conversar com você.
- E eu gostaria de ter o Joshua, mas
pelo jeito ninguém pode ter o que
deseja, certo?
Ele suspirou.
- Vim aqui dizer que quem fez o
roteiro foi a Jane, não eu.
- E o que importa?
- Só quero que você saiba que...
- Michael, poupe suas palavras. Eu
odeio você e a Jane da mesma
forma.
- Eu sei disso. – Ele respondeu
rapidamente. – Mas, depois do que
o Joshua me contou, eu senti a
necessidade de te dizer isso.
- Já disse. Pode se retirar. – Repeti
friamente.
Ele sorriu de leve.
- Você é muito mais forte do que
imagina, sabia?
- Claro que sabia, você faz questão
de testar minha força sempre que
pode.
Ele fez que sim com a cabeça e deu
uma risadinha.
- Até mais, Susan.
Observei enquanto ele se virava e
saía.
Por que ele se deu o trabalho de
vim até aqui e dizer essas coisas?
Essa era a parte que eu mais odiava
no Michael: ele parecia indeciso se
era ou não o vilão da
história.
Balancei a cabeça para mudar de
pensamento. O Michael e a Jane
eram iguais, dois manipuladores
frios e sem sentimentos. Apenas
isso.
Me arrumei e desci as escadas até o
térreo.
O Nicolas desviou o olhar do seu
cereal e olhou para mim.
- Bom dia Susan. – Ele
cumprimentou com um sorriso.
- Bom dia Nicolas. – Respondi
indo me sentar em frente a ele na
mesa.
Comemos em silencio por um
tempo.
Então o Joshua chegou.
Nem precisava me virar para saber
que era ele – aquele perfume era
reconhecível até de longe – mas
mesmo assim o fiz e nossos olhares
se encontraram.
Ele estava mais bonito do que o
normal e olhou para mim como se
não me conhecesse. Aquilo doeu
tanto que desviei o olhar.
- Vamos. – Ele disse friamente para
ninguém específico.
O Michael se levantou do sofá onde
estava deitado e eu e o Nicolas
terminamos de comer
instantaneamente.
Andamos sem dizer nenhuma
palavra.
- Michael, vá no banco do
passageiro, por favor. – O Joshua
pediu calmamente.
Olhei sem entender para o Joshua.
O que ele queria com isso?
Entramos no carro – o Michael
onde o Joshua pediu – e só quando
chegamos na metade do caminho
que eu percebi o significo daquilo.
O Joshua pediu para o Michael ir
para o banco do passageiro porque
sabia que eu não gostava dele.
Ele, mesmo me odiando, cuidava de
mim.
Senti meus olhos se enchendo de
lagrimas e rapidamente desviei
para a janela.
Joshua não merecia o irmão que
tinha.
31. Tentei não sentir pena
O percurso entre a casa dos Hunter
e a escola nunca foi tão logo. Cada
segundo que passava era pior
que o outro. Eu só queria gritar
para o Joshua toda a verdade e
abrir a porta ao lado do Michael,
para ele voar para fora e – se eu
der sorte – se ralar todo na rua.
Quando chegamos eu praticamente
pulei do carro de tão rápido que
saí. Dei uma corridinha até o
começo da escada para o corredor
da minha turma.
Então eu senti alguém me puxando.
- Mas o que...? – Perguntei tentando
soltar o braço, mas a pessoa que me
segurou era um milhão de
vezes mais forte.
- O que foi aquilo que o Joshua fez?
O corpo do Michael me imprensou
contra a parede, com uma mão de
cada lado.
Empurrei ele com força, mas isso
só foi piorou a minha situação
porque agora minhas mãos estavam
tocando no peitoral dele. Senti uma
onda de nojo.
- Do que você está falando? – Falei
irritada para que ele perceber o
quanto essa pouca distancia me
incomodava.
Ele me fuzilou com os olhos.
- O Joshua sendo legal com você.
Acha que eu não percebi? – Ele me
empurrou ainda mais contra a
parede e minhas costas começaram
a latejar de dor. – O que foi aquilo?
- Não sei! Eu disse tudo o que você
mandou. Todo mundo na casa sabe,
agora me solta!
Ele não pareceu convencido.
- Ele deveria odiar você.
Eu estava prestes a responder
quando o Michael foi jogado para
longe mim como um boneco de
pano.
- O QUE VOCÊ PENSA QUE
ESTÁ FAZENDO?
Olhei para o garoto alto e ruivo que
empurrou o Michael tão forte que
ele caiu de bunda no chão.
Naquele momento, o Eduardo
parecia uma maquina mortal.
Mas o Michael não é o tipo de cara
que fica no chão enquanto gritam
com ele. O Hunter se levantou
com um único movimento e encarou
o ruivo que era apenas alguns
centímetros mais alto que ele.
Saí do meu transe e corri para ficar
ao lado do Edu. Ele passou o braço
pelo meu ombro
automaticamente.
- Responda minha pergunta. – Ele
disse com a voz tremula de raiva.
- Assuntos familiares. – O Michael
respondeu no mesmo tom. Eles
pareciam dois animais selvagens.
O Edu tirou o braço do meu ombro
e fechou os dois punhos.
- Ela não é da sua família.
- Muito menos da sua.
Eles se fuzilaram com o olhar.
- Edu, vamos entrar na sala antes
que a gente tenha que passar dez
minutos aqui fora com ele. – Pedi
tentando impedir a discussão que
iria acontecer se eles conversassem
por mais tempo.
- Vai lá, cabelo de fogo. Aliás, já
notou que sempre chega uma
amiguinha sua quando estamos
prestes
a brigar? – O Michael sorriu com
aquele ar de superioridade. – Deve
ser porque elas têm medo de eu
acabar com você.
O Edu deu um passo para frente,
tremendo de raiva.
- Eu vou acabar com você. – Ele
falou com ódio.
Olhei para o meu melhor amigo em
frente ao cara que eu mais queria
ver apanhando. Será que ele
conseguiria vencer? Ele era mais
alto...
O Michael deu um murro tão rápido
na cara do Edu que meu pensamento
parou no mesmo segundo. O
Edu tombou para trás, mas
rapidamente se ajeitou e foi para
cima do Michael, jogando-o no
chão e
ficando por cima. Ele não esperou
nem um segundo antes de encher o
rosto do Michael de murro, que
tentava em vão se defender.
- BRIGA! – Alguém gritou perto de
mim, mas eu estava concentrada
demais para me virar.
Senti que um monte de gente estava
se juntando ao meu redor, mas meus
olhos não conseguiam
desviar: O Edu, com uma perna de
cada lado do Michael, acertou
todos os lugares possíveis de um
Michael que estava prestes a
desmaiar. De onde eu estava,
conseguia ver a sobrancelha do
Michael
sagrando sem parar.
- ISSO É PELA SOPHIA! – O Edu
deu um murro na boca do Michael,
que começou a sangrar no
mesmo segundo. – ISSO É PELA
MONICA! – Dessa vez o murro foi
no nariz dele, que fez um
barulho alto de algo sendo
quebrado. – E ISSO... – Ele deu
uma joelhada no ponto fraco do
Hunter,
que urrou de dor. – É por mim.
Foi então que alguém passou
correndo por mim e puxou o Edu
pelo braço.
- O que está acontecendo? – Olhei
para o cara alto e moreno que
perguntava isso e reconheci no
mesmo segundo. Professor
Cavalcante.
O Edu arregalou os olhos e engoliu
em seco quando percebeu o que fez.
Arrisquei uma olhada para o
Michael e vi que ele estava quase
em posição fetal. Uma parte –
maior
do que deveria – sentiu pena.
Outra pessoa passou correndo por
mim, dessa vez para levantar o
Michael. Era uma menina morena,
e, olhando ela assim de costas, tive
uma sensação de déjà vu. Mas
então ela se virou e eu vi que era a
Clara. Não estou surpresa, é claro.
- Eu fiz uma pergunta! – O
professor repetiu para um Eduardo
em choque.
Corri para perto do Edu.
- Ele só estava me defendendo.
O professor abriu a boca para falar,
mas foi interrompido pela Clara.
- Ele vai desmaiar! – Ela gritou
assustada e todos se viraram para o
Michael que, de fato, se apoiava
completamente nos braços da
namorada.
Desviei para não olhar diretamente
para seu rosto todo machucado.
- Leve ele para a enfermaria. – O
professor mandou para a Clara. Ela
nem hesitou antes de correr
com o Michael para o outro lado do
colégio. – E vocês... – Ele se virou
para mim e para o Edu. –
Quero os dois naquele banquinho e
só saiam quando eu mandar. – Sua
voz exalava uma autoridade. –
E quero todos os outros alunos nas
suas salas. Agora!
Ninguém discutiu. Em menos de um
minuto todos já tinham ido embora,
menos eu e o Edu. Sentamos
no banquinho que ele apontou e no
encaramos por um tempo.
- Eu vou ser expulso. – Ele disse
baixinho, sua voz cheia de medo.
- Não vou deixar isso acontecer.
- Você não tem que deixar. – Ele
suspirou. – Viu como ficou a cara
dele?
Claro. A sobrancelha direita estava
aberta na lateral, o lábio inferior
sangrava sem parar e o nariz com
certeza quebrou.
Tentei não imaginar a dor sem
tamanho que o Michael estava
sentindo. Ele era o vilão, eu não
deveria sentir pena. Mas eu sentia.
Por fim, assenti com a cabeça.
-Foi ele quem começou.
Ele sorriu com o canto da boca.
- Obrigado por tentar me ajudar. –
Seu tom era baixo e fraco. – Mas eu
sei o que fiz. Acho que
quebrei o nariz dele em três partes
diferentes.
- Não estou surpresa. – Admiti. –
Nunca te vi com tanto ódio.
Ele não pareceu ficar orgulhoso
disso.
- Agora, pensando bem, eu fui
muito irresponsável. – Ele desviou
os olhos, triste. – Eu deveria ter
ido embora em vez de ter me
irritado com as coisas que aquele
menino diz.
Não respondi. Porque, na verdade,
eu concordava com ele. Não queria
ter visto o Edu batendo no
Michael naquele jeito, mesmo que
ele merecesse.
- Deixa isso pra lá. Me conte como
vai você e a Monica. – Disse para
mudar de assunto.
Um sorriso tomou conta do rosto
dele no mesmo segundo. Era
gritante o jeito como ele a amava.
Joshua me amava assim.
Esse ultimo pensamento deve ter
mudado minha expressão porque o
Edu me lançou um olhar
preocupado.
- O que houve? – Ele perguntou.
Como eu iria contar o que
aconteceu?
Fiquei calada por o que pareceu um
longo tempo.
- Tem a ver com o Joshua?
Continuei quieta. Ele iria entender.
- Ah. – Ele me olhou com
solidariedade. – O que aquele
idiota fez?
Como eu iria explicar que o Joshua
era o único que não tinha culpa do
que aconteceu?
Não poderia continuar calada
agora.
Suspirei antes de falar.
- Para falar a verdade, ele não fez
nada. Só... Não deu certo.
Ele me olhou com cara de
interrogação.
- Não quero dar detalhes.
Ele assentiu devagar. Sabia que não
insistiria se eu dissesse isso.
- Vocês dois! – Alguém chamou e
nos viramos no mesmo segundo
para ver quem era. Michael,
acompanhado pelo professor
Cavalcante.
Nos levantamos do banquinho.
- Quero os três na sala do diretor
agora mesmo. – O professor
mandou e soltou o braço do
Michael,
que cambaleou para frente e parou
ao meu lado. – E nada de brigar
daqui até lá, ouviram? – Ele nos
observou por um tempo. – Agora,
se me dão licença, tenho aulas para
dar.
O Michael não pareceu nada
contente com o jeito como o
professor estava tratando ele e eu
percebi,
antes mesmo de ele abrir a boca,
que ele não iria levar aquele
desaforo para casa.
- Essa pressa toda é pra ver aquela
tal de Isabela que você come às
vezes?
- O que você disse? – O professor
perguntou, se segurando para não
esganar o Michael.
- Apenas a verdade.
O professor Cavalcante deu um
passo à frente e encarou o Michael.
- Se você disse o que eu acho que
disse está suspenso agora mesmo. –
Ele disse devagar,
ameaçadoramente.
O Michael não se deixou abalar.
- Você sabe o que eu disse, mas não
tem como provar.
Olhei para o Hunter ao meu lado
que, mesmo com um band-aid na
sobrancelha, um curativo no nariz
e o lábio inchado, parecia capaz de
tudo. Como ele conseguia ser
assim?
- Edu e Susan, podem ir para suas
salas, só quem vai ser suspenso é...
- Ok, ok. – O Michael levantou as
mãos em redenção. – Foi apenas
uma brincadeirinha. Você tem que
ter mais senso de humor.
O professor se aproximou do
moreno até ficar a menos de um
metro dele.
- Se você fizer esse tipo de
brincadeira de novo, eu dou um
jeito de te ver expulso. – Ele
sussurrou quase inaudível para o
Michael.
- Recado dado. – O Michael
respondeu com um sorriso.
O professor fuzilou ele com os
olhos mais uma vez antes de se
virar e sair.
Ficamos em silencio por um
segundo.
Então o Michael começou a andar
em direção a sala do diretor e eu e
o Eduardo o seguimos.
- Você viu aquilo? – O Eduardo
perguntou sem palavras para mim.
Fiz que sim com a cabeça, ainda
surpresa. O Michael arranjava
confusão com a mesma facilidade
que respirava.
Mais ou menos 5 minutos depois,
nós três já estávamos em frente à
sala do diretor. Nos
entreolhamos.
Por fim, eu dei duas batidinhas na
porta.
- Pode entrar. – A voz arrastada do
diretor respondeu. Exatamente
como eu me lembrava.
Entramos ao mesmo tempo.
- Olá diretor. – O Eduardo
cumprimentou inseguro. Ele estava
morrendo de medo por dentro, tinha
certeza disso.
- Olá... – O diretor arqueou as
sobrancelhas para o Michael. – O
que aconteceu com você?
- O Eduardo me espancou. – Ele
disse simplesmente.
O diretor deu um pulo da cadeira,
surpreso.
- O QUE VOCÊ FEZ?
- Ele só estava me defendendo! –
Respondi no lugar do Edu.
- Sentem-se os três, quero ouvir
essa história direito.
Fizemos o que ele mandou.
- Um Hunter e um Lohan brigando,
como pode? – Ele perguntou
indignado, como se só o fato de
eles
serem de duas famílias ricas os
fizessem Alvez.
- Eu posso explicar. – Ofereci no
mesmo segundo.
Ele levantou a mão.
- Não quero suas palavras, Susan. –
Ele respondeu friamente. – Lohan,
pode começar.
Ele não usou meu sobrenome
porque ele não era tão importante
quanto Hunter e Lohan. Fechei o
punho. Diretor cretino.
- Eu vi o Michael discutindo alto
com a Susan e empurrei ele para
longe dela, mas quando eu estava
prestes a ir embora o Michael disse
que eu estava com medo de ele
acabar comigo. E é claro que
isso me irritou. – Ele explicou
rapidamente, gesticulando com as
mãos. Ele parecia nervoso.
O Michael bufou, entediado.
- Alguma objeção a fazer, Hunter? –
O diretor perguntou.
- Tudo o que ele falou é verdade. –
Concordou o Michael.
- Então eu terei que suspender os
dois. – O jeito como o diretor
falava mostrava o quanto ele não
queria fazer isso.
O Edu ficou mais branco do que o
normal.
- Por favor, senhor diretor... – Ele
começou a implorar.
O Michael olhou para o ruivo e
depois para o diretor.
- Na verdade, eu que comecei a
briga, então eu que deveria ser
suspenso.
Todos na sala olharam com
surpresa para o Michael. Desde
quando ele era solidário ou gentil?
Aquilo estava muito estranho.
- Tem certeza disso?
- Claro. Eu disse para o Eduardo
que sempre paravam nossas
discussões porque achavam que eu
iriam ganhar, ele só agiu como um
ser humano normal e me mostrou a
burrice que eu falei. – Ele
tocou no próprio nariz por um
segundo, mas rapidamente tirou a
mão por causa da dor. – Pode me
suspender. Quanto tempo for
necessário para eu aprender a
lição.
Eu não acreditava no que meus
ouvidos estavam ouvindo. Aquilo
não era possível!
O diretor inclinou a cabeça para o
lado, sem saber muito bem como
lidar com aquilo.
- E ai, vai ser quanto tempo? – O
Michael insistiu apressado.
- Acho que... Com tudo isso que
você disse... Bem, pelo que eu
entendi, você já aprendeu a lição. –
Cada palavra que saía da boca do
diretor parecia meio confusa e
indecisa, mas ele continuou: – E,
portanto, você não vai ser
suspenso.
O Michael se levantou no mesmo
segundo.
- Mas eu fiz algo errado! O mínimo
que pode acontecer é eu ser punido!
Olhei para o Michael. Aquele
garoto era inacreditável.
- Viu? Isso prova que você já
aprendeu. Já podem ir.
Mas o Michael não mexeu nem um
músculo.
- Não saio dessa sala até você me
dar um castigo.
O diretor olhou com curiosidade
para o moreno.
- Está se sentindo culpado, Hunter?
Então meu olhar encontrou o do
Michael por uma fração de
segundo.
- Talvez, diretor.
O homem sorriu com solidariedade.
- Não precisa se sentir assim, já
passou, ok? – Ele se levantou e
apontou para a porta. – Agora peço
que se retirem, já já é o intervalo
de vocês.
Sem hesitar, fizemos o que ele
mandou. Assim que o Eduardo
fechou a porta, o Michael soltou
uma
gargalhada alta.
- Ele acreditou direitinho em. – Ele
afirmou rindo.
Suspirei. Até eu tinha acreditado.
Deveria parar de achar que o
Michael tem um lado bom.
- Vem Susan, vamos para aula. – O
Edu segurou minha mão e me guiou
até a escada.
Demos uma batidinha na porta e,
infelizmente, era a Ana Renata. Ela
não parecia muito feliz em nos
ver, mas depois alguma insistência
deixou a gente entrar. O Michael
chegou logo em seguida e foi
para o outro lado da sala enquanto
eu e o Edu nos juntamos às
meninas.
Assim que sentamos nos nossos
lugares, elas nos enxurraram de
perguntas, mas a gente respondeu a
todas da mesma forma: No
intervalo eu conto.
Depois do que pareceu a mais
longa aula da minha vida,
finalmente o sinal tocou e fomos
liberados.
Notei que a Clara não parava de
olhar para mim com algo parecido
com pena e culpa, ou não, sei lá.
Acho que estava ficando paranoica.
Afinal a Clara nunca fez nada
comigo.
- Agora diga o que aconteceu lá! –
A Isabela pediu impaciente.
O Edu explicou rapidamente a
situação, sem detalhar demais.
- Ai meu Deus, eu fiquei tão
preocupada. – A Monica falou indo
beijar o Edu, que retribuiu sem nem
pensar duas vezes. Eles eram tão
fofos.
- E você Susan, tudo bem? – A
Amanda perguntou. – Você pareceu
meio triste.
A Clara tossiu.
- Ei meninas, eu tenho que ir,
combinei de ir ver umas amigas
minhas do primeiro. – Ela mandou
um
beijo no ar e foi embora quase
correndo.
- Que estranho... – A Bia murmurou.
A Amanda continuava olhando para
mim com preocupação e eu percebi
que não tinha respondido a
pergunta dela ainda.
Respirei fundo.
- Eu... – Então, sem que eu pudesse
fazer nada evitar, meus olhos se
encheram de lagrimas e eu
comecei a chorar sem parar.
As meninas tomaram um susto com
a rapidez que isso aconteceu e
ainda mais rapidamente me
abraçaram em grupo, cada uma
dizendo palavras de incentivo
mesmo saber o que estava
acontecendo. Comecei a soluçar e
chorar ainda mais por causa de
todo o amor que estava recebendo.
Eu não merecia isso. Eu tinha
acabado com o coração do Joshua,
eu não merecia que elas cuidassem
de mim.
- Pode nos dizer o que aconteceu? –
A Elena perguntou enquanto
passava a mão no meu cabelo.
Solucei um pouco antes de
conseguir força para falar qualquer
coisa.
- E-Eu term-minei com o J-Joshua.
– Gaguejei tentando me controlar.
Era por isso que eu odeio tanto
chorar, porque quando começo é
difícil parar.
Elas arregalaram os olhos de
surpresa.
- Mas vocês eram um casal
perfeito! – A Gabrielle disse sem
acreditar.
A Bia deu um empurrão no ombro
da amiga e olhou para mim como se
pedisse desculpas.
- Não precisa dar nenhum detalhe,
ok?
Apenas assenti com a cabeça e
respirei fundo para tentar parar de
chorar.
Depois do que pareceu um bom
tempo, eu finalmente conseguir me
acalmar e elas começaram a falar
de um monte de coisa para me
distrair. Agradeci mentalmente por
isso.
O Richard estava passando com o
Pedro e acabou parando para falar
com a gente. Os olhos da Bia
brilharam ao vê-lo. Fazia sentindo,
ele estava mais bonito do que o
normal hoje.
- Oi Rick. – Ela cumprimentou com
um sorriso de orelha a orelha.
- Já conversamos sobre esse
apelido. – Ele retrucou rindo e
puxando ela pela cintura.
Ela riu e eles deram um selinho.
Bia não era o tipo de garota que
beijava alguém loucamente na
frente de outras pessoas.
Eles começaram a conversar e eu
participei, chegando até a soltar
uma risada às vezes.
Por fora, acho que estava
relativamente bem.
Mas, por dentro, eu ainda estava em
mil pedaços.
32. Cada irmão com seu problema
- Eu estou morrendo de fome. – A
Isabela avisou com cara triste.
- Vamos para o refeitório então, ué.
– A Elena respondeu.
O Pedro olhou para a cara da Elena
com raiva e eu rapidamente entendi
o que ele estava pensando:
depois de tudo o que o Lion fez
você ainda quer ir para um lugar
onde sabe que ele está?
Mas a Elena simplesmente ignorou
isso e todos a seguiram até o
refeitório. Nos sentamos numa mesa
perto da cantina.
- Já volto. – A Isabela disse se
levantando.
- Vou com você. – O Pedro falou
fazendo o mesmo.
Observei enquanto eles iam até o
caixa e pediam o que queriam;
poucos minutos depois, foram até o
local onde pegava a comida. E era
ai onde o Lion trabalhava. Vi que
ele o Pedro conversaram
algumas palavras rapidamente,
então as vozes começaram a se
elevar.
- QUE EU SAIBA EU COMO
QUEM EU QUISER. – O Lion
gritou batendo com a mão no
balcão.
Todos do refeitório olharam para
ele no mesmo segundo.
- QUE EU SAIBA AS PESSOAS
NÃO DEVERIAM FICAR COM
OUTRAS QUANDO TEM
NAMORADA! – O Pedro rebateu
ainda mais alto.
Eu, a Elena e o Edu demos um pulo
de nossas cadeiras e corremos para
ficar perto do Pedro. Mais
uma briga.
- Chegou seu rebanho. – O Lion
falou do outro lado do balcão, com
um sorriso convencido no rosto.
Toda a beleza dele acabou nesse
exato segundo.
- Rebanho é a sua mãe com as
amigas dela. – Rebati irritada
mesmo sabendo que não era um
bom
fora.
Ele riu.
- Quem é essa em? – Ele me olhou
como se eu fosse nada. – Ah sim, é
a vadia do Joshua.
Ok, agora ele pegou pesado.
- Quem você pensa que é para falar
mal de alguém? – O Pedro
perguntou cerrando o punho.
- Pergunta para a Elena.
Ele não devia ter falado isso. Numa
fração de segundo, o Pedro puxou o
Lion pela gola de sua
camisa e o levantou até fazê-lo
bater com o peito no balcão. As
mãos do Lion sacudiram enquanto
ele
tentava acertar o rosto do Pedro,
mas não adiantou. O Pedro era mais
forte e estava com mais raiva.
- Peça desculpas a Elena! – O
Pedro mandou com a voz rouca.
- Pelo o que? Não tenho culpa se a
Jane é mais gostosa.
Aquela foi a gota d’agua; o Pedro
puxou o Lion tão forte que ele caiu
no chão, bem perto de onde eu
estava. A Elena estava em choque.
- EI, PAREM COM ISSO!
Me virei e vi que o Nicolas e o
Felipe tinham se aproximado da
gente. Foi o Felipe quem gritou.
O Lion se levantou e soltou a mão
do Pedro da sua gola com um
movimento bruto.
- Você acha mesmo que tem moral?
– Ele olhou para o Felipe com nojo.
– Você não passa de um
viadinho.
- O que você disse? – O Nicolas
perguntou dando um passo a frente,
virando um escudo para o
Felipe. – Repita.
- Você é outro.
- Outro o que? – O Nicolas insistiu
e eu percebi que estava a um passo
de perder seu autocontrole.
Nunca tinha visto ele assim.
- Além de viado agora é surdo?
Foi então que o Nicolas avançou
para cima dele, mas o Felipe o
puxo pelo braço no mesmo
segundo.
- Se eu não deixei o Pedro brigar,
imagine você.
- Você não tem que deixar. – O Lion
rebateu, encostando-se ao balcão.
O Pedro olhava para ele como
um leão olha para sua presa,
esperando o momento certo para
acabar com a raça dele. – Eu só não
brigo com seu namorado porque
não quero ouvir os gritos agudo que
ele vai...
- Ok. – O Nicolas o cortou com um
sorriso. – Com licença. – Assim
que ele disse isso, se virou de
costas para todos nós e tirou o
Felipe do caminho dele e andou até
o meio do refeitório.
- Para onde você vai, florzinha? –
O Lion perguntou rindo vitorioso.
- Ter uma conversa bem séria com
o diretor. – Ele respondeu sem se
dar o trabalho de se virar.
O Lion correu até onde o Nicolas
estava e o puxou pelo ombro.
- Como assim? – Mesmo de longe
dava para ouvir a apreensão em sua
voz.
- Como assim que eu sou um Hunter
e eu não vou tolerar que um
funcionariozinho como você fale
essas coisas sobre mim e sobre as
pessoas que eu gosto. – Ele
respondeu de uma vez, tirando a
mão
dele do seu ombro.
O Lion deu um passo para trás.
- Seja homem e termina as coisas
com uma briga, não deixe jeito. –
Ele falou, mas sua voz denunciou
o medo que ele estava sentido.
- Eu termino as coisas do jeito que
eu quiser.
Andei até chegar perto deles –
seguida por Pedro, Edu e Felipe – e
vi o Lion engolindo em seco.
- Nicolas...
- Ah, agora você resolveu usar meu
nome? – O Nicolas perguntou
estreitando os olhos. – Tarde
demais.
E com essa ultima frase, ele se
virou de novo e saiu do refeitório.
O Lion fez menção de segui-lo,
mas o Edu segurou o braço dele.
- Nada disso. Mexeu com fogo
porque quis.
O Lion bufou e soltou a mão do
Edu.
- Duvido que aconteça alguma
coisa comigo.
Soltei uma risada mais alta do que
pretendia e percebi que alguém a
acompanhou.
- Duvido que você ainda esteja aqui
amanhã. – Olhei para o lado e
descobri quem tinha rido comigo.
Michael. Mesmo com o rosto
machucado, ele sorria com
superioridade. Não estava surpresa.
- Cuide da sua cara antes de
ameaçar alguém. – O Lion rebateu.
- Você realmente não tem noção do
perigo. – O Michael riu ainda mais.
– Boa sorte com isso.
- Vamos voltar para a mesa e
aguardar o desfecho dessa história.
– O Edu disse, notavelmente
incomodado pela presença do
Michael.
Fizemos isso. O Lion voltou para a
cantina e o Michael se juntou aos
amigos dele numa mesa bem
longe da nossa.
- O que foi isso? – A Gabi
perguntou assim que sentamos.
- Meu Deus, nunca vi o Nicolas
assim. – O Richard comentou.
- Nem eu... Mas aquele Lion é
muito trouxa mesmo. – Falei
olhando para a Elena.
- Sempre soube. – O Pedro
murmurou alto o bastante para
todos ouvirem.
A Isabela olhou para ele de um
jeito malicioso, como se soubesse
de alguma coisa que ninguém mais
sabia. Fiquei curiosa para
descobrir no mesmo segundo.
Notei que a Clara estava mais
quieta do que normalmente, mas
decidi não comentar – quando você
não quer conversar e alguém fica
insistindo é tão irritante.
- Ei Amanda, não pense que a gente
desistiu de saber como foi a
primeira vez de você e do Bruno. –
A Gabi interrompeu meus
pensamentos numa tentativa de
mudar de assunto.
A Amanda revirou os olhos,
corada.
- Um dia eu conto.
- Quando eles tiverem três filhos e
um cachorro. – A Bia concluiu
rindo.
Todos na mesa riram e continuamos
a conversa até o sinal tocar e cada
um ir para a sua sala. O
Richard se despediu a Bia com um
beijo e o Felipe olhou agoniado
para a entrada, esperando que o
Nicolas aparecesse. Mas ele não
apareceu.
[...]
- Por hoje é só, podem ficar
conversando até acabar a aula. – O
professor Cavalcante avisou, indo
se sentar em sua cadeira. A Isabela
se levantou e foi até onde ele
estava. – Alguma duvida? – Ele
perguntou com um sorriso cheio de
segundas intenções no rosto.
- O que vocês acham que vai
acontecer quando descobrirem
sobre eles? – A Iza perguntou
apontando
o queixo para o professor.
- Não sei... Mas provavelmente não
vai ser coisa boa. As regras do
colégio não devem permitir esse
tipo de relacionamento. – A Bia
respondeu preocupada.
Observei eles dois que, mesmo com
a diferença de idade – um pouco
maior do que a minha e do
Joshua mas não muito – se amavam
incondicionalmente.
Por que ninguém pode
simplesmente amar e ser amado?
Por que sempre tem que existir
algum
obstáculo?
Havia tantas perguntas as serem
feitas e tão poucas respostas para
elas. Guardei esse pensamento e
suspirei enquanto esperava o sinal
tocar e nos liberarem para casa. A
manhã parecia ter tido 24
horas.
Vários e longos minutos, finalmente
ouvimos a musiquinha que
avisavam que estávamos livres.
Praticamente pulei da cadeira e fui
até a porta antes de alguém sequer
ter se levantado. Senti que
alguém colocou o braço no meu
ombro e levantei a cabeça para ver
quem era. Para minha surpresa,
era o Júlio; um menino loiro que
quase nunca falava comigo.
- Soube que você terminou com o
Joshua. – Ele sussurrou no meu
ouvido. Seu hálito de menta era tão
forte que eu fiquei enjoada.
Tirei a mão dele do meu ombro.
- Legal. – Falei já me retirando da
sala.
- Que tal mudar de um loiro pro
outro? – Ele insistiu andando ao
meu lado.
Suspirei.
- Sinto muito, Júlio. Nada contra
você, mas ninguém tem capacidade
para tomar o lugar do Joshua.
Ele levantou uma sobrancelha.
- Eu posso tentar.
- Tentar você pode né, mas
conseguir já é mais difícil. – Eu
rebati e andei mais depressa para
ele não me alcançar.
Mas ele simplesmente não desistia
e me seguiu até a porta da escola.
Argh.
- Ei, vamos conversar direito. – Ele
pediu, segurando minha mão.
Me segurei para não revirar os
olhos. Cadê o Edu quando eu
preciso dele?
- Já conversamos! Eu quero ficar
solteira, pode ser? – Soltei minha
mão com um movimento rápido e
olhei friamente para ele.
Ele deu um passo para trás.
- Desculpa... Eu não tive a intenção
de te ofender ou sei lá. – Ele disse
olhando para baixo.
Merda, por que eu tinha que ter
pena das pessoas?
- Não fique assim... – Me
aproximei dele e o abracei. – Você
é bonito e legal, vai arranjar um
monte de menina.
Ele me afastou alguns centímetros,
ainda segurando na minha cintura.
- O Joshua deve tá arrependido de
ter terminado com você.
Tentei disfarçar minha surpresa ao
saber que essa era a historia que o
Michael estava contando; o
Joshua terminou comigo, não o
contrário. Isso faz com que as
pessoas achem que eu que sou a
coitadinha da situação. Aposto que
não foi a Jane quem fez esse
roteiro.
Senti que meus olhos se enchendo
de lágrimas e olhei para o céu
tentando controla-las, mas não
funcionou.
- Ei... Ei não chore. – Ele pediu, me
puxando devagar pela cintura.
Coloquei a cabeça em seu peito e
deixei que as minhas lágrimas
encharcassem a camisa azul dele.
✣Joshua✣
Abri a janela do carro para chamar
meus irmãos e a Susan para irmos
embora quando me deparei
com essa cena: A Susan, aquela que
enganou meu coração da forma
mais cruel possível, abraçada
com um loiro um pouco mais alto
do que ela. Observei enquanto ele
passava mão no cabelo castanho
e longo dela, que cobria seu rosto –
que provavelmente estava
encostado no peito dele.
Senti meu estômago revirando.
Talvez esse fosse um dos motivos
de ela ter me dito a verdade o mais
rápido que pôde. Respirei fundo
algumas vezes antes de arranjar
coragem para falar alguma coisa.
E eu estava prestes a chamar meus
irmãos quando vi o Michael e o
Nicolas vindo na direção do
carro. O Nicolas tocou no ombro da
Susan ao passar e ela deu um salto,
visivelmente assustada.
Consciência pesada, talvez.
Quando o Michael chegou perto
levei um susto ao ver seu rosto todo
machucado.
- O que aconteceu? – Perguntei
assim que ele entrou no carro, no
banco do passageiro.
Lembrei que eu pedi para ele sentar
aqui por causa da Susan. Eu sou um
otário. Um grande otário que
se preocupou com o bem estar de
uma menina que já tinha outro loiro
em mente. Minha cabeça
começou a doer.
- Ah, eu briguei com um menino ai.
– Ele respondeu dando de ombros.
O Nicolas entrou e a Susan veio
logo em seguida, fechando a porta.
Dei a partida no carro.
- Isso eu entendi, mas por quê?
- O Eduardo pode ser bem irritante.
- Eduardo? Aquele Lohan, irmão da
Jane?
O Michael assentiu.
- Espero que ele esteja com o rosto
pior. – Comentei.
Ele não respondeu, apenas assentiu
novamente e se virou para a janela.
Estranho.
- E você, Nicolas, alguma
novidade?
- Fiz um funcionário ser demitido. –
Ele respondeu simplesmente.
- SÉRIO? – A Susan gritou
surpresa.
- Claro. Eu nem tive que falar
muito, sabe como diretor baba o
ovo da nossa família né? – Seu tom
era de diversão, coisa que não
combinava nem um pouco com o
fato de ele ter feito mal a alguém.
- O que esse funcionário fez com
você? – Perguntei enquanto parava
no sinal vermelho.
- Muitas coisas, na verdade. Mas o
que me fez perder a cabeça foi
quando ele gritou com o Felipe.
Pelo espelhinho, olhei para o rosto
apaixonado e decidido do Nicolas.
Ele amava tanto o Felipe. Por
um momento, invejei-o.
Não precisei dizer mais nada, pois
já estava na rua de casa. Não que
eu fosse estender esse assunto,
aquilo não me fazia bem. Para falar
a verdade, nada me fazia bem desde
ontem.
[...]
- Oi Bruno. – Cumprimentei-o e
sentei na cadeira ao seu lado da
mesa. – Oi Rafa, oi Cauã e...? –
Perguntei sem palavras para a loira
ao lado dele.
Ela sorriu antes de responder.
- Meu nome é Bryana, mas todos
me chamam de Bry. – Ela
respondeu com um sotaque sexy de
estrangeira. – E o seu?
- Joshua, muito prazer. –
Apresentei-me com um sorriso e
ela estendeu a mão como se fosse
para eu
apertá-la, mas, em vez disso,
depositei um beijo nela. – De onde
você é?
Ela mordeu o lábio inferior por um
segundo e retirou a mão.
- Nasci em Liverpool, mas vim
para o Brasil quando tinha 16 anos.
– Ela falou e eu notei que ainda
tinha um pouco de dificuldade com
o nosso idioma. Ela devia ter uns
19 para 20 anos.
- E o que está achando?
Ela olhou para mim e depois para
os outros na mesa.
- Os brasileiros são a raça mais
bonita, disso eu tenho certeza.
Rimos. Ela piscou para mim depois
de dizer isso e eu apenas assenti
com a cabeça. Já sabia o que
viria depois disso, mas não posso
dizer que fiquei animado com a
ideia.
O jantar foi bom. Descobri que a
Bryana era prima do Cauã e que
essa era a ultima semana dela antes
de ela viajar para Inglaterra e
passar um mês lá.
Depois que acabou, os meninos
foram embora para suas casas, mas
a Bryana ficou. Ela iria para a
minha casa.
- Então, Hunter... – O sotaque dela
era como música, mas parecia soar
distante. Eu não estava
prestando 100% de atenção nela.
- Me siga.
Andei até o meu carro e abri a
porta do passageiro para ela.
- Que cavalheiro. – Ela comentou
sorrindo.
Lembrei da Susan tão rapidamente
que minha mente pareceu girar. Foi
assim que começou comigo e
com ela, com um passeio de carro.
Só que, dessa vez, eu não estava
com um bom pressentimento
sobre o que iria acontecer.
Entramos no carro e conversamos
durante todo o caminho até a minha
casa. Ela era uma pessoa fácil
de puxar assunto. Descobri que
tínhamos um gosto musical bem
parecido e que estávamos no
mesmo
dia do Rock in Rio ano passado.
- Bela casa. – Ela elogiou quando
eu estacionei.
Dei de ombros e sai do carro,
dando uma corridinha para abrir a
porta dela logo em seguida.
- Você é tão gentil... – Ela sussurrou
se aproximando de mim.
Se tudo o que aconteceu entre mim
e a Susan não passou de um plano
dela, por que eu estava me
sentindo tão culpado? Por que você
é um otário, minha mente
respondeu. Concordei.
Passei a mão pela cintura dela e a
guiei até a porta da minha casa. Ela
se virou para mim antes de
entrarmos.
- Eu acho que nunca senti isso
antes. – Ela falou baixinho olhando
no fundo dos meus olhos. E, acho
que pela primeira vez na historia,
verde e azul não combinaram.
Eu não deveria estar fazendo isso.
Mas eu queria tanto esquecer a
Susan, nem que fosse só por uma
noite.
Bem devagar a puxei para mim,
sem dizer nada, e a beijei. Ela
retribuiu sem nem pensar duas
vezes.
Ela tinha um beijo diferente de
todos que eu já senti, mas, antes do
que eu pretendia, ela me afastou
com uma mão.
- Estamos fora de casa ainda. – Ela
avisou olhando para os lados.
Ri baixinho.
- Acho que você ainda não
aprendeu que brasileiros são
ousados.
Ela riu também, mas fez que não
com a cabeça.
- Ok, você quem manda. – Falei
sorrindo e abri a porta de casa.
As luzes e a TV estavam ligadas, o
que era bem estranho. Olhei para o
relógio da parede e vi que
eram 2h. Por que as coisas estavam
ligadas ainda? Será que a Melissa
esqueceu de desligar tudo?
Foi então que eu a vi, dormindo no
sofá em frente à televisão.
- Quem é essa? – A Bryana
perguntou.
- A filha da nossa empregada. –
Respondi sem demonstrar nenhum
sentimento.
- Deixa ela ai, vamos logo para o
seu quarto. – Ela sugeriu enquanto
beijava meu pescoço, me
arrepiando. Realmente, ela ficava
bem mais ousada dentro de casa.
Assenti com a cabeça e começamos
a andar em direção ao elevador,
mas eu parei bruscamente assim
que alcançamos o sofá.
- Ela vai acordar com dor na coluna
se dormir assim.
A loira levantou uma sobrancelha
para mim.
- Então acorda ela rapidinho para
gente fazer o que viemos fazer. –
Tudo na sua voz estava
programado para me fazer delirar,
mas não funcionou.
- Ou eu posso leva-la até o quarto
dela e depois voltar para você.
Ela estreitou os olhos.
- E se eu não quiser? Que eu saiba
ela só a filha da sua empregada,
você não precisa ter esse
trabalho todo.
Eu sabia que ela não dizendo por
mal, mas aquilo me irritou se um
jeito que eu perdi toda a minha –
pouca – vontade de ir para a cama
com ela.
- Ou é isso ou nada. – Rebati
friamente.
Ela pareceu surpresa com a minha
resposta.
- Você só pode estar brincando!
- Está me vendo sorrir aqui? Acho
que não.
- Por que você ficou grosseirro de
uma horra para outra? – Ela
perguntou irritada, seu sotaque se
intensificando junto com a raiva.
Suspirei.
- Não é nada contra você. Eu só...
Ainda não superei as coisas que
aconteceram entre mim e ela. –
Admiti apontando o queixo para a
Susan.
- E mesmo assim você me levou até
aqui? – Era uma pergunta retorica.
– Meu Deus, você é...
- Sim, sim eu sei, várias ofensas
estão passando pela sua cabeça
agora.
Ela inclinou a cabeça para o lado,
confusa.
- Se quiser, posso te dar meu
numero e você me liga quando ficar
tudo bem.
Agora foi a minha vez de ficar
confuso.
- Tem certeza de que você não vai
me dar um tapa na cara e me odiar
para sempre?
Ela riu.
- Tenho. – Ela pegou meu celular do
meu bolso tão rápido que eu nem
tive tempo de impedir e, mais
rápido ainda, digitou alguns
números. – Pronto.
- Pronto para quando eu estiver
pronto. – Brinquei, sorrindo.
- Exatamente. – Ela me deu um
beijo na bochecha. – Boa noite,
Joshua.
- Boa noite, Bryana.
Fui até a porta com ela e esperei o
taxi dela chegar. Assim que ela foi
embora, voltei para a casa e olhei
para a Susan, que dormia como um
anjo.
- Eu deveria odiar você. – Falei,
chegando perto dela. – Mas não
consigo.
Respirei fundo e coloquei ela
delicadamente no colo. Ela não
pesava quase nada.
- Sabe, eu ainda tenho esperanças
de você voltar atrás e tal. Sei que
posso parecer um idiota por
isso, mas fazer o que? Eu tenho
mesmo. – Confessei. – Ou que, pelo
menos, eu consiga esquecer você
rapidamente. Não é justo eu guardar
esse sentimento dentro mim.
Subi as escadas com cuidado e abri
a porta do quarto dela com o
cotovelo. Fui até a cama dela e a
coloquei ali com todo o carinho do
mundo, depois, coloquei um lençol
por cima das suas pernas e
ajeitei o travesseiro embaixo do
sua cabeça. Ela parecia tão
inofensiva assim.
- Bons sonhos, Susan. Sonhe
comigo, ok? – Sabia que estava
sendo trouxa, mas continuei. Ela
não
estava ouvindo mesmo. – Eu com
certeza sonharei com você.
33. A verdade, no fim, sempre
aparece
Senti um beijo na minha testa e abri
os olhos minimamente, quase nada.
E lá estava ele, com um olhar que
transmitia vários sentimentos
diferentes ao mesmo tempo. Ele me
observou por mais alguns
segundos antes de suspirar e se
afastar de mim. Apenas quando ele
virou de costas e começou a
andar em direção a porta que eu
abri meus olhos completamente.
Admirei seu corpo. Tudo no Joshua
parecia perfeito.
Então, antes que pudesse fechar os
olhos de novo, ele se virou para
mim. Seus olhos se arregalaram
quando encontraram os meus.
- S-Susan. – Ele gaguejou nervoso.
- Joshua... – Falei tímida. Aquela
conversa não estava nos meus
planos.
Mesmo de longe, eu poderia jurar
que vi suas bochechas ficando
vermelhas. Era a segunda vez que
eu via o Joshua corando – e tenho a
impressão de que é algo que não dá
para se acostumar, nem em
um milhão de anos.
- Você... Ouviu alguma coisa que eu
disse? – Ele perguntou apreensivo.
Ouvi, é claro. Cada uma daquelas
palavras doces me fez ter vontade
de “acordar” e contar toda a
verdade sobre o plano do Michael
e da Jane. Foi uma tortura. Mas foi
uma tortura tão boa.
- Que coisa? Eu acordei agora. –
Menti. Não queria que ele ficasse
com vergonha.
Ele respirou fundo, aliviado.
Então seus olhos esfriaram, ele
lembrou de tudo o que eu fiz.
- Nada não. Já pode voltar a
dormir.
E ele já estava se virando para sair
quando eu lembrei do que estava
faltando.
- Joshua. – Chamei.
Ele se virou a contragosto.
- Obrigada.
Ele deu de ombros. Nos encaramos
por alguns segundos.
Eu o amava tanto. Será que ele
conseguia ouvir as batidas
aceleradas do meu coração? Porque
eu
com certeza conseguia. Eram altas e
rápidas. Meu corpo gritava amor.
Depois do que pareceu um longo
tempo, ele balançou a cabeça e saiu
sem dizer nenhuma palavra.
Gostaria que ele tivesse ficado. Eu
estava quase contando tudo.
Deixa pra próxima.
[...]
- Bom dia turma! – O teacher
Bernardo cumprimentou com
animação.
Ele era o único professor no mundo
que conseguia manter o sorriso
durante a aula toda. E olha que
essa era a primeira aula do dia, ou
seja, 7 horas da manhã.
- Bom dia professor! – Todos
responderam em uníssono.
- É o seguinte: hoje completa um
mês desde a nossa primeira aula!
Dá para acreditar? O tempo
passou voando.
Olhei surpresa para ele. Eu já
estava há um mês no JK. Realmente
parecia inacreditável.
Ele começou a contar histórias
engraçadas sobre várias coisas
diferentes. A sala inteira ria sem
parar. Mas, na boa, eu não estava
no clima. Deitei minha cabeça no
caderno e fechei os olhos.
[...]
Uma semana se passou sem que eu
desse conta. Os professores
estavam cada vez mais rígidos por
causa das provas que estavam se
aproximando, o que significava que
cada intervalo agora valia ouro.
Eu ainda estava triste por causa de
todas as coisas que aconteceram,
mas conseguia aguentar; como
se fosse um machucado na perna
que ficasse latejando e fazia você
andar mais devagar. Eu estava
assim; andando devagar, mas não
parada. Não daria esse prazer ao
Michael.
- Meninas, vocês não vão acreditar
no que aconteceu! – A Gabi disse
enquanto nos sentávamos numa
das mesas do refeitório.
- Diga. – O Richard pediu para a
irmã.
- Lembra que eu fui para um show
domingo? – Ela perguntou. Todos
assentiram. – Então, lembram
que eu disse que o vocalista da
banda era um gato? – Assentimos
de novo. Ela sorriu. – Ontem,
quando eu estava comprando um
CD naquela loja do shopping, eu vi
ele na sessão de rock e fui até
lá, bater um papo e tal. E ele foi
super gentil comigo! Disse que não
sabia muito bem como lidar com
uma “fã”, mas, mesmo morrendo de
vergonha, ele deixou que eu tirasse
uma foto e nós ficamos
conversando sobre música. – Ela
gesticulava enquanto falava,
apressada para chegar logo na parte
importante. – Então, depois de um
bom tempo de conversa, ele pediu
meu número e eu dei, claro. E
ontem à noite, ele me ligou do nada
e começou a contar que uma outra
menina reconheceu ele na rua e
que, graças a mim, ele sabia como
lidar com ela, mas que ela NÃO
ERA TÃO LEGAL QUANTO
EU.
- AI MEU DEUS QUE
BONITINHO! – A Bia deixou
escapar, sorrindo.
O Richard levantou uma
sobrancelha.
- E o que te leva a acreditar que ele
não é um pervertido? – Tudo na sua
voz sugeria ciúmes.
Ela revirou os olhos.
- Ele é extremamente fofo e deve
ter uns 17 anos, no máximo.
Olhei intrigada para ela.
- Qual o nome dele?
- Arthur, por quê?
- Sério? Meu Deus, ele é primo do
Joshua.
- Não acredito! Bem que eu
desconfiei que já tinha visto
aqueles traços em algum lugar.
- E você conhece ele? Sabe se ele é
uma pessoa boa e tal? – O Richard
perguntou.
Afirmei com a cabeça.
- Com certeza. O irmão dele que
não é muito legal, mas ele é ótimo,
sério. Pode ir fundo, Gabi.
Ela sorriu com malícia.
- Irei.
Olhei para a Clara e vi que ela
estava distante do nosso assunto.
Ela passou a semana toda assim.
[...]
Se a semana passou rápido, o mês
passou mais ainda. Pisquei os olhos
e já estávamos em Março. Dia
2, para ser mais precisa.
As provas foram boas, acho que a
minha menor nota foi oito.
E quanto ao resto? As coisas
estavam indo bem, pelo menos para
as pessoas ao meu redor: Gabi e
Arthur estavam cada dia mais
próximos – todos os fins de
semanas ele saíram juntos, sem
exceção –,
Pedro e Elena seguiam o exemplo,
sempre se encontrando fora da
escola e conversando o tempo todo
no Whatsapp – o assunto parecia
simplesmente não acabar quando se
tratava deles –, Richard e Bia
empatavam com Eduardo e Monica
no quesito de melhor e mais fofo
romance. Tudo estava dando
certo para todo mundo, até minha
mãe estava explodindo de
felicidade por causa do namoro
com o
Robert.
E era em todas essas coisas que eu
estavam pensando quando entrei na
sala na primeira aula do dia,
mais cedo do que o normal. Tinha
apenas duas pessoas dentro da sala.
Michael – que eu tinha visto
correndo para dentro antes mesmo
de eu ter saído do carro – e Clara
conversando num canto.
Eu estava prestes a me retirar
quando ouvi um grito.
- POR QUE VOCÊ TEM QUE
AGIR ASSIM? – A Clara perguntou
com raiva. Me virei no mesmo
segundo para eles, que não
pareciam notar minha presença.
- Porque você tem que ser tão
fresca? Eu só disse que não preciso
da sua ajuda para resolver os
meus problemas. – O Michael
rebateu com frieza.
- Mas eu sou sua namorada! Tenho
todo o direito de saber o que te
incomoda e te ajudar com isso!
Ele fechou o punho e eu dei um
passo à frente, preparada para
correr até eles e entrar na
discussão.
- Eu não perguntei o que você é. –
Ele falou lentamente, com toda a
maldade possível.
Ela deu um passo para trás, seus
olhos cheios de lágrimas.
- Não entendo como você consegue
ficar tão frio do nada. – Sua voz
saiu fraca, como um sussurro.
Ele sorriu com desdém.
- Eu não me importo de magoar as
pessoas.
- Nem a mim? – Ela perguntou
ofendida.
- Muito menos a você.
Então os olhos da Clara me
acharam.
- Sabe, Michael... – Seu tom mudou
de triste para ameaçador em
segundos. – Eu ainda sei o seu
segredo.
Ele seguiu o olhar dela e eu o
encarei. Seus olhos se arregalaram.
- Não ouse.
Ela veio na minha direção, mas ele
a puxou pelo braço com força e
sussurrou alguma coisa em seu
ouvido.
Ela balançou a cabeça em negativa,
irritada.
- Você deve achar que eu sou uma
vadia né? – Ela soltou o braço da
mão do Michael bruscamente.
- Não, claro que não. – Ele
respondeu com ar de riso. Que
cretino.
Ela o empurrou com força e correu
até ficar perto de mim.
- Precisamos conversar.
- Claro, pode falar.
- EI, FOI BRINCADEIRA! NÃO
FAÇA ISSO! – O Michael gritou e
correu para onde estávamos.
- O que está acontecendo?
Nos viramos e vimos as meninas, o
Edu, e o Pedro entrando na sala.
Foi o Edu quem fez a pergunta,
estreitando os olhos para nós.
- Apenas um casal discutindo, não
pode mais? – O Michael perguntou
revirando os olhos.
A Clara olhou séria para ele.
- Não somos mais um casal.
O Michael olhou surpresa para ela.
- O que você disse?
- Você ouviu o que disse, agora, se
me dá licença... – Ela foi em
direção à cadeira perto do Edu e
sentou-se nela. Seus olhos pareciam
estar pegando fogo.
O Michael engoliu em seco.
- Vamos conversar. – Ele andou até
ela e segurou sua mão. – Me
desculpa pelas coisas que eu disse.
Ela riu.
- Sinto muito, mas agora é tarde
demais. – Ela olhou para o Edu. –
Pode tirar ele daqui, por favor?
O ruivo sorriu com prazer e
colocou a mão no ombro do
Michael.
- Não me faça ter que quebrar seu
nariz de novo.
Eles se encaram por um tempo, mas
o Michael rapidamente desistiu e
foi para sua cadeira do outro
lado da sala. Seus amigos passaram
pela porta segundos depois e foram
até ele, fazendo barulho.
A Clara tentou falar alguma coisa
para mim durante o intervalo, mas
estava tendo JK musical, onde
os alunos que tinham algum talento
faziam tipo um show para o resto
do colégio, e eu adiei nossa
conversa. Ela ficou extremamente
decepcionada com isso.
As aulas depois do intervalo eram
do professor Cavalcante e ele
encheu o quadro com tantas
anotações que, novamente, eu não
consegui conversar com a Clara.
Estava curiosa para saber sobre o
que era – tinha que ser algo muito
forte para deixar o Michael tão
tenso o dia todo.
Quando o sinal que avisava o fim
das aulas tocou, dei um pulo da
cadeira e fui até a porta do colégio
tão rápido que ouvi um sermão do
professor ao longe, mas eu queria
ver o Joshua. Ele parecia mais
animado esses dias, e eu não sabia
se ficava feliz ou triste por isso.
Quanto mais animado ele ficava,
mais eu pensava que ele tinha me
esquecido.
O Michael e o Nicolas ficaram ao
meu lado até o carro do Joshua
chegar e nós entramos. O Michael,
como sempre, no banco do
passageiro.
- Como foi o dia? – Ele perguntou
sorrindo.
- Comecei namorando e terminei
solteiro. – O Michael respondeu
com algo parecido com tristeza,
mas não exatamente. Era mais como
raiva.
- Sinto muito... O que aconteceu?
- Nós tivemos uma discussão. – Ele
diminuiu muito o acontecimento.
- Aleluia a Clara tomou jeito. – O
Nicolas sussurrou quase inaudível
no meu ouvido e eu soltei uma
risadinha.
O Joshua não respondeu. Alguns
minutos depois, estacionamos na
porta de casa. Eu, o Michael e o
Nicolas saímos do carro, mas o
Joshua ficou.
- Não vou dormir em casa hoje. –
Ele explicou para nossas caras
interrogações. Seus olhos foram até
os meus e ele completou falando
diretamente para mim: - Vou dormir
na casa da Jane.
Meu coração falhou uma batida e eu
senti uma vontade chorar tão grande
tão repentina que o máximo
que pude fazer foi me virar e entrar
na casa quase correndo. Dane-se
que ele percebeu o quanto
aquilo me atingiu.
Fui direto para o meu quarto e
sentei na borda da cama, me
segurando para não me desmanchar
em
lágrimas.
Então era por isso que ele estava
todo feliz!
Argh.
Poderia ser qualquer uma, mas ele
escolheu logo a que fez tudo de
ruim acontecer. A que eu mais
odeio.
[...]
Eram umas 18h quando eu acordei.
Tinha ido dormir há duas horas,
achando – em vão, é claro – que
isso faria eu parar de pensar no
Joshua.
Fui dá uma olhada no Whatsapp e
vi que a Clara estava online.
Susan – 18:02:
Oi, o que vc queria me contar na
escola?
Ela não demorou nem um segundo
para responder.
Clara – 18:02:
Acho melhor você ir logo se
preparando...
Susan – 18:02:
Para de suspense e conta logo
kkkkk.
Ela começou a digitar e, pela
demora, eu percebi que seria um
texto bem grande. Me ajeitei,
coloquei o celular na cama e apoiei
minha cabeça nos cotovelos
enquanto esperava.
Clara – 18:15:
Antes de tudo, eu já vou me
desculpando de agora por tudo o
que fiz. É claro que, no começo,
nem eu
sabia o que tinha feito, mas depois
eu entendi. E eu sinto muito mesmo.
Espero que um dia você
possa me perdoar...
Tudo começou no Domingo, depois
do acampamento. O Michael tinha
me chamado para ir até a casa
dele e eu fui, claro. Ele me ligou e
pediu para ir direto para o quarto
dele, sem falar com ninguém, e foi
exatamente isso que eu fiz.
Chegando lá, vi que ele não tava
sozinho; a Jane irmã do Eduardo
também estava lá. Perguntei o que
ela estava fazendo ali e eles
sorriram de um jeito suspeito.
Lembro que ela disse algo como
“ela é
exatamente da cor que a gente quer”
e eu não entendi absolutamente
nada. Então o Michael falou que
precisava da minha ajuda para um
tipo de filme e me entregou uma
roupa simples. Depois de algum
tempo com eu fazendo perguntas
que não eram respondidas
diretamente, acabei fazendo o que
ele
queria: vesti aquela roupa e prendi
o cabelo.
Então as começaram a ficar
estranhas.
Ele pediu para que eu pegasse uma
bijuteria que estava no meu bolso e
colocasse no lugar de uma
joia que estava dentro de um cofre
no quarto dos pais deles. É claro
que eu perguntei o porquê
daquilo, mas ele disse que era
importante e usou todo aquele
charme contra mim até que eu
aceitei e
fiz o que ele pediu.
Quando acabou, perguntei qual
seria o papel da Jane e ela falou
que não era hoje que ela iria fazer.
Depois de um tempinho de
conversa, ela disse que iria embora
e me ofereceu carona. Aceitei,
ainda
meio sem entender o que tinha
acontecido.
Descemos até a sala e eu vi que sua
mãe estava limpando uma prateleira
com uma roupa
assustadoramente parecida com a
minha. Por um segundo de lerdeza,
me perguntei por que o Michael
faria um filme que incluía uma cena
daquelas – com a sua mãe roubando
uma joia.
Só no dia seguinte, quando o
Michael me disse que você e o
Joshua tinham terminado, que eu
comecei a juntar algumas peças.
Não preciso ser uma gênia para
entender que ele usou aquela
gravação contra você. E, assim que
eu percebi isso, fui até o Michael
tomar satisfações, mas ele
simplesmente me ignorou! E ainda
mandou eu parar de me meter na
vida dele! Dá para acreditar? Ele
é tão idiota.
Mas, por causa do estupido amor
que eu sentia por ele, decidi não
contar nada para você por
enquanto. Isso fez eu me sentir tão
culpada! Toda vez que eu te via eu
lembrava de tudo e minha
consciência pesada tanto que eu não
conseguia nem conversar direito.
Acho que você notou o quanto
eu fiquei silenciosa esses tempos.
E esse mês passou tão rápido que
eu simplesmente acabei deixando
aquele assunto de lado. Me
desculpe de verdade por isso.
Então hoje de manhã eu tive que
acordar mais cedo do que o normal
e
fiquei na sala esperando as outras
meninas chegarem para eu ter
companhia, mas só quem chegou foi
o Michael, com uma cara tão triste
que eu nem hesitei em perguntar o
que tinha acontecido. Pra que
eu fui fazer isso? Ele foi super
grosso comigo e me deu um fora
daqueles, então eu comecei a gritar
com raiva e acho que o resto você
já sabe.
É isso. Me desculpa. Eu sei que
devia ter dito antes... Espero que
você entenda o meu lado. E se
você quiser processar o Michael,
ou sei lá, pode contar comigo para
ser sua testemunha.
Espero que tudo entre você e o
Joshua dê certo. Shippo demais
Jophia :-)
Li umas três vezes aquele texto
antes de responder. Agradeci
rapidamente pela verdade e saí do
Whatsapp para discar o número do
Joshua. Eu estava livre, pensei.
✣Joshua✣
- Achei que você não vinha. – A
Jane disse enquanto abria a porta
para eu passar. Aquela era a
primeira vez que eu entrava na casa
dos Lohan.
- Tem certeza que não tem ninguém?
- Meus pais estão viajando e o
Eduardo foi dormir na casa da
Monica. Ninguém vai atrapalhar a
gente hoje.
Ela se aproximou de mim e pousou
as mãos na minha nuca, fazendo
com que meus olhos fossem
obrigados a olhar nos dela. Até que
ela era bonita. Acho que não
poderia ter escolhido ninguém
melhor para começar essa nova
fase da minha vida: a “voltando a
ser o que era antes de conhecer a
Susan”.
- Acho que tenho que te pedir
desculpas por tudo o que aconteceu
naquele dia. – Disse enquanto a
puxava pela cintura.
Ela negou com a cabeça.
- Já faz quase dois meses... Todos
nós já superamos aquilo. – Ela
estava se referindo á Susan, eu
sabia disso. Eu só não sabia se
concordava.
Assenti com a cabeça e observei
enquanto ela ficava na ponta dos
pés. Nos beijamos devagar,
aproveitando o momento como se
não houvesse o dia de amanhã. Ela,
sem tirar a boca da minha, me
guiou por um corredor e eu soltei
uma das mãos de sua cintura para
abrir a porta. Era o quarto dela.
Mal entramos e eu já a tinha
colocado contra a parede, nosso
beijo acelerando junto com os
batimentos cardíacos dela – que eu
conseguia sentir por causa dos
nossos corpos colados.
Ela sorriu quando tivemos que
parar para respirar.
- Senti sua falta. – Ela sussurrou
sem fôlego.
Não respondi. Não queria ter que
mentir para ela.
Ela notou meu silencio.
- Esse é o momento em que você
diz que também sentiu a minha. –
Ela explicou enquanto passava a
mão no meu cabelo lentamente, com
carinho. Tentei me deixar levar por
essa boa sensação.
- Desculpa, não sou muito bom com
palavras.
Ela tirou as mãos do meu cabelo e
se afastou um pouco para olhar
melhor para mim. Minhas mãos
ainda estavam em sua cintura.
- Desde quando você não é bom?
Porque, que eu me lembre, você
tinha os melhores flertes do
mundo.
Suspirei decepcionado pelo rumo
que essa conversa estava tomando.
- As coisas mudam quando você se
apaixona por alguém. – Deixei
escapar. Merda.
- Ainda pensando na Susan? – Ela
perguntou ficando irritada. – Não
acredito que você ainda não
esqueceu aquela menina.
Tirei as mãos da cintura dela.
- Não vim aqui para discutir como
anda meu coração.
Ela pareceu ficar ofendida. Eu
deveria começar a pensar antes de
falar.
- Então é isso? Você veio aqui só
para me usar e me jogar fora como
na ultima vez? – Seus olhos se
encheram de lágrimas. Merda,
merda, merda.
Tentei me aproximar dela, mas ela
me afastou com uma mão.
- Eu juro que estou tentando...
Ela fez que não com a cabeça.
- Joshua, você tem que esquecer
aquela menina! Depois de tudo o
que ela fez você ainda consegue
sentir alguma coisa por ela?
Abri a boca para responder,
quando, do nada, percebi uma
coisa.
- Como você sabe que ela fez algo
grave?
Ela revirou os olhos.
- Estava na cara né, ela sempre
mostrou a mentirosa que era.
Dei um passo para trás.
- Como você sabe que ela mentiu?
Eu tinha pedido para os meus
irmãos não contarei sobre o que
aconteceu. E a Jane estudava com o
Nicolas, que nunca fazia algo que
pedia para não fazer.
A Jane pareceu ficar abalada com
as minhas perguntas.
- Quem te contou? – Insisti.
- A própria Susan fez questão de
contar para todo mundo sobre o
planinho dela com aquela tal de
Heloisa. – Ela respondeu rápido.
Rápido demais, até.
- Por que a Susan diria algo que a
faria parecer má?
- Porque ela é uma idiota, simples
assim! – Sua voz estava cada vez
mais nervosa.
Cruzei os braços.
- Quero a verdade, Jane.
Ela me encarou, forçando uma cara
de ofendida que não enganava
ninguém.
- Me promete que não vai me
matar?
Tentei conter minha expressão de
surpresa. Eu tinha apenas chutado
que existia uma verdade.
- Prometo, é claro. – Respondi
calmamente, tentando me controlar.
Ela respirou fundo.
- O Michael e eu estávamos
conversando um dia desses e
acabamos descobrindo que temos
muitas
coisas em comum, por exemplo:
nenhum dos dois gostava de ver
você e a Susan juntos. Era
simplesmente insuportável. – Ela
dizia cada palavra com insegura,
como eu pudesse soca-la a
qualquer momento. – Então o
Michael teve a ideia de fazer com
que a Susan terminasse com você
por
medo.
- Como assim? – Perguntei
agoniado.
Ela mordeu o lábio inferior.
- Fizemos a Clara colocar uma
roupa sem graça, prender o cabelo
e fazer uma “cena” para nós; ela
tinha que roubar uma joia do cofre
dos seus pais e colocar uma cópia
no lugar. Tudo filmado pela
câmera de segurança. – Ela fez uma
pausa, com medo de continuar. –
Depois, o Michael pegou o
DVD desse vídeo e fez a Susan
assistir, dizendo que era a mãe dela
e que ela tinha duas opções: ou
terminava com você ou a mãe dela
seria presa. É claro que ela
escolheu a primeira opção. E eu
escrevi um roteiro para que você a
odiasse tanto que não iria ter mais
nem um pingo de sentimentos
por ela.
Meu cérebro trabalhou para
processar aquela informação. A
primeira coisa que eu senti foi
raiva.
Muita raiva.
- VOCÊ NÃO PODIA TER FEITO
ISSO COMIGO! – Gritei com ódio,
me segurando para nao bater
nela até dizer chega.
Ela abaixou os olhos.
- Foi por amor, Joshua. Eu juro.
- Como ousa chamar isso de amor?
– Meu tom era de puro nojo. – Você
ultrapassou todos os limites!
- E-Eu si-sinto muito. – Ela
gaguejou, ainda sem olhar para
mim. – Você tem que entender que
eu
estava sem opções.
- E decidiu, em vez de tentar me
conquistar como uma pessoa
sensata faria, arruinar todo um
relacionamento? Como você
consegue dormir a noite?
Ela finalmente olhou para mim.
- Eu penso que apenas adiei o
inevitável. Vocês não nasceram
para ficarem juntos! – Ela tentou se
aproximar de mim, mas eu dei um
passo para trás, com os braços
cruzados. – Nós que fomos feitos
um para o outro.
- Você é louca!
- Você precisa entender que...
- EU NÃO PRECISO ENTENDER
PORRA NENHUMA! VOCÊ NÃO
TINHA O DIREITO DE
FAZER UMA COISA DESSAS
COMIGO! SE VOCÊ ME AMA
TANTO, POR QUE NÃO PENSOU
EM COMO FICARIA MEU
CORAÇÃO?
Ela se calou.
- Eu vou embora daqui.
Saí do seu quarto sem ser
impedido. Ela ainda estava
absorvendo minhas palavras.
Fui até a calçada e peguei o celular.
Eram 18:20.
Eu ainda estava discando o número
dela quando meu celular vibrou.
Olhei para o nome da pessoa
que estava ligando. Susan. Atendi
antes mesmo que começasse a
tocar.
- Precisamos conversar! – Falamos
ao mesmo tempo.
Fiquei confuso.
- Mas, tem que ser pessoalmente. –
Ela completou, sua voz parecia ter
pressa.
- Já já eu chego ai. – Respondi,
sentindo todos os meus músculos
relaxando. As coisas iriam
finalmente começar a dar certo.
- Estarei esperando.
Ficamos em silencio por um
segundo.
- Susan. – Chamei.
- Oi. – Ela respondeu insegura.
Sorri.
- Eu amo você.
34. A segunda vez é ainda melhor
Perdi a respiração. Meus ouvidos
estavam me enganando, só pode.
- O que você disse? – Perguntei
confusa.
Ele soltou uma risada fofa.
- Eu amo você, Susan. Ouviu
agora?
Meu coração deu um triplo mortal
para trás.
Não estava interessada em como
ele me perdoou ou em como ele
descobriu tudo, aquilo não era
importante. Isso era importante. Ele
me ama. Existe algo mais
importante do que isso?
- Eu também amo você. – Respondi
baixinho, como um sussurro. Se eu
falasse muito alto, talvez me
acordasse desse sonho. – Ai meu
Deus, Joshua, eu amo tanto você!
Apertei o celular contra o meu
ouvido como se isso pudesse trazer
o Joshua para perto de mim.
- Chego ai em 10 minutos e nós
continuamos essa conversa a partir
dessas três palavras, ok?
Sorri radiante.
- Nunca quis tanto que 10 minutos
passassem voando.
- Na verdade, já quis sim. – Ele
retrucou. – Reflita enquanto eu
dirijo até ai o mais rápido possível.
E desligou.
Eu sabia do que ele estava falando:
nossa primeira vez. E ele estava
certo, é claro.
Queria que ele não tivesse
desligado, mas eu sei que é melhor
ele dirigir sem estar falando
comigo –
ou com qualquer pessoa, na
verdade.
Eu amo você, Susan.
Como quatro palavras conseguiam
me deixar assim? Meu coração
estava quase saltando pela minha
boca. Não existe nada no mundo
que se compare a ouvi-lo dizendo
isso.
Sentei na cama pensando no que
faria nesses 10 minutos. Bem que
eu poderia falar para o Michael
que eu acabei de ganhar o jogo, mas
ainda não era o momento certo.
Não, primeiro o Joshua.
Decidi ver vlogs para passar o
tempo; boa escolha, aliás.
Eu estava no meio do quarto vídeo
do LubaTV quando ouvi batidas na
porta. Corri para abrir e lá
estava ele. Paramos a poucos
centímetros um do outro,
encarando-nos. Os olhos dele nunca
foram tão
lindos.
- Posso entrar? – Ele parecia
tímido.
Abri espaço para ele entrar e fechei
a porta em seguida. Nos viramos ao
mesmo tempo, a alguns
metros de distancia um do outro.
- Quer uma explicação? – Ele
perguntou.
Neguei com a cabeça.
- O que importa é que você sabe a
verdade agora. – Me aproximei
dele até que só restassem dois
passos para nos tocarmos.
Ele assentiu.
- Senti sua falta.
- Senti mais a sua.
Ele deu um passo na minha direção.
- Não podemos fingir que nada
aconteceu, você sabe disso né?
- Claro que sei. – Respondi com
sinceridade, mesmo que, por
dentro, eu quisesse apenas jogar
todo
aquele passado pro espaço e seguir
em frente. – Mas, será que nós
podemos nos beijar agora e
conversar sobre isso depois?
Ele riu e me puxou pela cintura.
Minhas mãos foram para sua nuca e
seu cabelo. Ai meu Deus, como
eu senti falta disso. Enquanto eu ia
para a ponta dos pés, ele se
aproximava de mim devagar, com
cuidado.
Então nossas bocas se tocaram.
E tudo – de repente e lentamente –
começou a fazer sentido. Era como
se eu tivesse perdido um livro
que estava lendo e, depois de um
tempo, o encontrasse em algum
lugar e começasse a ler de onde
parei.
Nós ainda nos encaixávamos com
perfeição. Tudo parecia ter sido
moldado para ser assim. Ele me
empurrou de leve até que minhas
costas se apoiassem na parede e
suas mãos desceram para o meu
quadril.
Paramos apenas para respirar.
- Me pergunto como consegui
sobreviver sem beijar você todo
esse tempo. – Ele sussurrou sem
folego.
Não tinha forças para responder;
até porque nada que eu dissesse
conseguiria descrever esse
momento. Por sorte, ele não estava
mesmo afim de palavras. Nossas
bocas se encontraram
novamente. Eu poderia beijá-lo até
o fim dos meus dias.
Nos beijávamos de forma intensa,
quase desesperada. Eu só queria
ainda mais dele e ele ainda mais
de mim. Ele pôs as duas mãos na
minha cintura e me puxou para
cima, me tirando do chão, fazendo
com que minhas pernas não
tivessem outra opção a não ser
abraçarem sua cintura.
Então, novamente, tivemos que
parar por causa do ar – maldito ar.
- Eu amo você. – Ele falou
baixinho, seu hálito fazia cocegas
no meu ouvido.
- Eu também amo você. – Respondi
no mesmo tom, olhando fixo para
aqueles olhos azuis brilhantes.
Se eu pudesse, nunca desviaria
daqueles olhos.
Vi um sorriso dançando nos seus
lábios. Ele se virou de novo para
mim e nossos narizes e nossas
testas se tocaram. Poderíamos ter
nos fundido e virado uma única
pessoa nesse momento que eu não
me surpreenderia.
Ele, com as duas mãos firmes na
curva da minha cintura, me guiou
até que eu sentisse a cama abaixo
de mim. Ficamos de joelhos em
cima da cama, bem no meio dela,
um na frente do outro. Ele sorriu.
Eu sorri. Não existia plano no
mundo que pudesse tirar isso de
mim; esse amor insuportavelmente
grande que eu sentia pelo Joshua.
Não importa se nós tínhamos
passado um mês sem sequer se
falar,
nosso amor continuou o mesmo.
Dessa vez, não nos beijamos.
Apenas nos olhamos, como se
pudesse, assim, compensar todas as
vezes que viramos a cara quando o
outro passava. Eu adorava beijá-lo,
é claro, mas olhar para ele
era igualmente bom. Ele era lindo,
com todos os sentidos possíveis
para o adjetivo.
- Ainda precisamos conversar. –
Ele disse ficando levemente mais
sério, mas sem apagar
completamente seu sorriso.
- Não podemos fazer isso mais
tarde?
- Isso é bem tentador... – Ele se
aproximou e me deu um selinho
devagar, mas, quando eu estava
prestes a evoluir o beijo, ele se
afastou de novo. – Mas quanto mais
cedo nós esclarecemos o assunto
mais cedo vamos nos livrar dele.
Ele era quatro anos e alguns meses
mais velho do que eu, isso era
visível para quem visse de longe,
mas eu raramente lembrava desse
detalhe. E essa era uma daquelas
situações em que ele deixava
esse fato óbvio e visível. Ele sabia
mais do que eu sobre o mundo.
- Ok, vamos conversar então. – Me
sentei na cama e ele imitou. – Por
onde quer começar?
- Que tal pelo domingo?
Suspirei.
- Se você está aqui, já sabe o que o
Michael fez... – Comecei.
- Sim, eu só não entendo porque
você não veio me contar. – Ele me
cortou, como se essa frase
estivesse na ponta da língua dele
desde que ele entrou no quarto.
- Eu fiquei com medo de você não
acreditar. – Confessei, olhando
para baixo.
- Ei, olhe para mim. – Fiz o que ele
mandou. – Eu nunca, nem em sonho,
ficaria contra você.
Fiquei quieta. Eu fui tão idiota por
não ter confiado nele.
- Arranjaríamos um jeito, qualquer
coisa, mas não eu não iria ficar
parado e aceitar enquanto meu
irmão te ameaça. – Ele disse a
palavra irmão como se falasse de
um desconhecido. Deve ser tão
difícil descobrir que o irmão na
verdade é um monstro.
- Eu sei, Joshua. Mas você não faz
ideia da pressão que ele fez! Ele
falou que se eu te contasse ele iria
demitir minha mãe no mesmo dia e
eu simplesmente não poderia deixar
isso...
- Desde quando o Michael tem
autoridade para demitir alguém? E,
vamos ser francos, se eu me
colocasse contra ele na frente do
meu pai, ele me escolheria.
Ele estava certo, o senhor Fernando
era extremamente parcial – tanto
que, se ele fosse um pouquinho
menos malvado, eu sentiria pena do
Michael.
- Sinto muito. – Foi o que consegui
dizer.
Ele deu de ombros.
- Pelo menos já passou.
Assenti com cabeça e sorri. Pelo
menos já passou. Se essa frase
fosse vendida num leilão, eu daria
todo o meu dinheiro por ela.
- E agora nada vai atrapalhar a
gen...
- Shh. – Ele ergueu o dedo
indicador. – Você disse isso da
última vez.
- Mas agora é pra valer... Só acho
que você deveria ter uma conversa
séria com o Michael, você não
pode deixar tudo isso barato.
Ele não pareceu feliz com a ideia.
- Acho que, depois de tudo o que eu
já fiz com ele, nada mais justo do
que o aconteceu. Mas eu
lamento o fato de ele ter te
envolvido nisso.
- O que você já fez com ele? –
Perguntei intrigada, já tinha ouvido
o Michael mencionar algo assim.
- Nada não.
Há um mês, Michael me respondeu
a mesma coisa.
Decidi não insistir.
- Então, que tal a gente voltar de
onde parou?
Ele sorriu com malicia.
- Um pouco mais do que aquilo
também, pode ser? – Ele perguntou
na se aproximando de mim.
- O que você quiser. – Respondi
com um sussurro em seu ouvido.
Ele me puxou pela cintura para que
eu me sentasse em seu colo e
colocasse minhas pernas ao seu
redor. Joguei o cabelo para o lado
esquerdo enquanto ele percorria o
meu pescoço com beijos.
Suspirei. Minhas mãos acariciavam
o cabelo dele e, quando eu enrolei
um fio e observei enquanto
ele se desmanchava em meu dedo, o
Joshua também suspirou.
Suas mãos desceram até a borda da
minha camisa e seus olhos me
perguntaram sem palavras se
poderiam ou não continuar. Como
resposta, o beijei com mais
intensidade. Ele entendeu o recado
e
deslizou minha camisa para cima
fazendo com que nós tivéssemos
que interromper o beijo para ela
passar. Com uma mão, enrolei ela e
a joguei para algum canto do
quarto.
- Minha vez. – Falei baixinho.
Ele mordeu o lábio inferior e
assentiu com a cabeça.
Minhas mãos fizeram exatamente o
que as dele tinham feito há poucos
segundos e ele me ajudou a
tirar até o fim. Ela também foi
jogava para longe. Senti minhas
bochechas corando enquanto eu o
observava; ele era perfeito. Como
se tivesse sido pacientemente
esculpido.
Ele me puxou para cima e ficou de
joelhos, me inclinando até que
minhas costas tocassem a cama
abaixo de mim e ele ficasse por
cima. Minhas mãos desceram da
sua nuca e foram até suas costas
fortes.
- O que acha de tirar mais uma
camada de roupa? – Ele sussurrou
no meu ouvido.
- Uma boa ideia. – Respondi no
mesmo tom e me surpreendi com o
quanto minha voz saiu sensual.
Ele sorriu com o canto da boca e
ergueu de leve o quadril para que
suas mãos pudessem desabotoar
minha calça jeans. Fechei os olhos
e senti um ultimo selinho antes de
ele descer para minhas pernas e me
deixar apenas com uma camada.
- Abra os olhos e olhe para mim. –
Ele pediu.
Obedeci e observei enquanto ele
abria os botões prateados da
própria calça e a tirava em seguida,
com poucos e precisos movimentos,
mas não sem antes tirar alguma
coisa do bolso. Posso deduzir
que coisa era essa.
Tentei desviar do volume de sua
cueca box, mas não consegui. Ele
seguiu meu olhar e levantou uma
sobrancelha para mim, fazendo com
que eu corasse ainda mais e olhasse
para os olhos dele. Então
ele se aproximou até que a única
coisa que eu conseguisse ver fosse
o brilho azul daquele par de
olhos.
Ele, sem acabar com o contato
visual, abriu o fecho do meu sutiã e
eu o ajudei com as alças. Agora
só tinham duas camadas entre nós.
- Você só ficou mais bonita. – Ele
murmurou quase sem voz, como se
estivesse pensando alto.
- Faço de suas palavras as minhas.
Sorrimos ao mesmo tempo e meus
olhos se fecharam enquanto ele
beijava cada parte do meu corpo
até chegar às minhas pernas. Senti
sua respiração perto da minha
intimidade e mordi o lábio inferior
pensando no que iria acontecer.
Suas mãos deslizaram minha
calcinha até meu tornozelo e ele a
retirou rapidamente.
Arrisquei uma olhada e que agora
não havia nenhuma camada de
roupa entre nós. Desviei os olhos
para os dele e sorri quando ele se
aproximou de mim e me beijou com
intensidade. Ele segurou
minhas mãos acima da minha
cabeça. Senti enquanto ele entrava
dentro de mim aos poucos. Então
veio a primeira estocada e minhas
costas arquearam para cima.
- PORR... – Eu comecei a gritar,
mas ele me beijou mias forte para
que eu me calasse. Deu certo.
Ele era rápido. Meus olhos se
fecharam quando minhas pernas não
aguentaram mais e agarraram o
quadril dele, fazendo-o ir com mais
força.
Arrisquei uma olhada e ele estava
com os olhos fechados. Ainda
estávamos nos beijando quando
senti uma sensação tão boa que eu
só quis mais e mais do Joshua; e
acho que ele sentiu a mesma
coisa, pois veio com mais
intensidade até que todos os meus
músculos se contrariam e minhas
pernas
despencaram do seu quadril.
Respirei fundo para tentar
recuperar o folego.
Ele se afastou por alguns segundos
para retirar a camisinha e a jogou
no ar, fazendo com que ela
atingisse, com precisão, a tampa da
lixeira.
Quando ele se deitou de novo, eu
me aproximei e sorrimos um para o
outro.
Meu dedo traçava círculos
invisíveis no peito nu dele.
Conseguia ouvir sua respiração
leve, mas ele
não estava dormindo; sabia disso
por causa do movimento suave da
sua mão em meu cabelo.
- Hoje foi o melhor dia da minha
vida. – Ele falou baixinho, alguns
minutos depois.
- Digo o mesmo. – Respondi com
um sorriso. Cada minuto parecia
irresistivelmente melhor que o
outro.
- Então, o que aconteceu esse mês
na sua vida? – Ele perguntou.
Parei de fazer os círculos
imaginários e descansei minha mão
em seu peito.
- Nada de relevante... A verdade é
que tudo passou meio em preto e
branco, sem grandes emoções.
- Aconteceu o mesmo comigo, mas
eu fingia que estava animado às
vezes só para não parecer que
você é tão importante para mim. –
Ele confessou baixinho.
- Não posso dizer o mesmo, eu não
conseguia fazer isso, por isso
simplesmente ignorava sua
existência para não sofrer, entende?
Sai do aconchego dos seus braços e
subi até ficar frente a frente com
ele, com a cabeça apoiada no
cotovelo. Ele me imitou.
- Entendo. – Ele fez uma pausa. –
Acabei de lembrar que você
precisa de uma pulseira nova.
Sorri.
- Você está certíssimo, mas, dessa
vez, quero que você use algo meu
também.
Ele assentiu.
- Só não pulseira porque é meio
gay. – Ele falou rindo e eu ri
também. – Nada contra. – Ele
acrescentou ainda sorrindo.
- Que tal um anel?
Ele pensou um pouco.
- Só se você me prometer que
vamos usar outro daqui a alguns
anos. – Ele respondeu por fim.
Sorri com a ideia.
- Eu prometo.
Ele sorriu radiante.
- Amanhã eu procuro um anel
perfeito para você.
- Para nós. – Corrigi com leveza.
- Ok, para nós. E quando você se
formar eu procuro outro. – Ele
segurou minha mão e entrelaçou os
dedos com os meus. – E você
procura seu vestido de noiva.
Assenti com a cabeça.
- Vai ser perfeito. – Disse baixinho.
- Já é perfeito. – Ele retrucou.
Nos beijamos.
- O que acha de um segundo round?
– Ele perguntou no meu ouvido.
- Uma boa ideia.
Ele me puxou para cima e suas
mãos desceram para minha cintura.
[...]
Acordamos com o barulho de
alguém batendo na porta.
- Está aberta. – O Joshua respondeu
revirando os olhos.
Puxei o lençol até meu pescoço e
observei a porta se abrindo.
Senti minha respiração parando
quando vi quem era.
Michael.
35. O novo e o inesperado
Os olhos verdes-mar dele se
arregalaram.
- Mas que porra...? – Ele começou,
levantando uma sobrancelha.
O Joshua se sentou na cama,
deixando apenas o essencial
coberto.
- Oi Michael, bom dia pra você
também.
Eles se encararam em silencio.
Senti meu rosto queimando quando
me dei conta da situação. Merda.
- Eu só... Vim acordar a Susan para
ir à escola. – Ele disse devagar,
como se ainda tentasse assimilar o
que estava vendo.
- Recado dado, pode ir. – O Joshua
retrucou calmamente.
Mas ele não mexeu nem um
músculo, apenas ficou parado
olhando fixamente para o Joshua.
- Sabe irmão, não é a primeira vez
que te pego nessa situação.
Com o canto do olho, podia ver o
Joshua ficando tenso.
- Só saia daqui como da ultima vez.
– Ele rebateu rapidamente, irritado
pelo rumo que a conversa
estava tomando.
- E você pretende en...
- EU MANDEI VOCÊ SAIR! – O
Joshua o cortou no meio da frase.
Olhei assustada para ele, que
parecia fuzilar o irmão com os
olhos.
- Ah, então você não quer que a
Susan saiba? – O Michael
perguntou com um sorriso de
desdém.
- Por favor – o Joshua pediu, quase
implorando – saia daqui e eu não
conto para nossos pais o que
você fez.
O Michael riu.
- Você realmente acha que eu me
importo com o que aqueles dois
pensam?
- Michael, já chega. – Ele se
abaixou um pouco e pegou alguma
coisa no chão, rapidamente a
colocando por baixo do lençol e
fazendo alguns movimentos que eu
não conseguia distinguir. Poucos
segundo depois, ele se levantou, de
cueca. Tentei não encarar, mas era
difícil. – Precisamos
conversar.
- Sobre o que?
- Não se faça de sonso.
Queria estar com uma roupa para
me levantar e ficar ao lado do
Joshua, mas, em vez disso, eu tinha
que ficar aqui, praticamente
escondida para o Michael não ver
nem um centímetro do meu corpo.
- É sério, não sei sobre o que você
quer conversar. Porque, se vocês
estavam se comendo, significa
que já sabe tudo o que deveria
saber. – Ele falou simplesmente.
Observei enquanto os ombros do
Joshua subiam e desciam devagar.
Ele estava respirando fundo para
não começar uma briga, aposto.
- Só não entendo por que você fez
tudo aquilo.
- NÃO ENTENDE? EU PODERIA
CITAR VÁRIOS MOTIVOS PARA
ISSO. – O Michael explodiu,
dando um passo em direção ao
Joshua.
- PELO AMOR DE DEUS, VOCÊ
TEM QUE ME PERDOAR!
- Eu tenho porra nenhuma! Você
merece tudo o que aconteceu.
Queria saber do que eles estavam
falando.
- Eu entendo que você queira se
vingar, mas não precisava ter
metido a Susan nisso.
- Como não? Se ela é a coisa mais
importante do mundo para você. –
Ele respondeu como se eu não
estivesse ali.
O Joshua se virou para mim por um
segundo e nossos olhares se
cruzaram.
- Você está certo, ela é. – Ele se
virou de novo para o irmão. – Mas
você não tinha o direito de usar o
emprego da mãe dela contra ela. Eu
poderia até denunciar você por
isso.
- Mas você não vai e nem pode
fazer isso. Nossa família tem um
nome a zelar, lembra? E, não fui eu
quem deu a ideia de fazer isso.
Tudo saiu da mente da sua ex vadia
ruiva.
- Eu sei disso. Quem você acha que
me contou?
O Michael ergueu as sobrancelhas,
surpreso.
- Não sabia que ela era tão idiota. –
Ele comentou pensativo.
- EI VOCÊS DOIS! – Chamei
irritada. Os dois se viraram para
mim. – Será que eu posso me trocar
ou vocês vão ficar ai conversando?
O Joshua sorriu como se eu fosse
uma criança falando, fascinado.
- Ela tá certa, depois nós
conversamos.
Michael olhou para mim e soltou
uma risada.
- Você parecia a mais pura daquele
grupinho que você anda. – Ele se
virou para a porta. – Enganou
bem.
E saiu.
Eu e o Joshua nos encaramos por
alguns segundos. Então ele riu. E eu
ri. Era tão bom poder rir de
novo.
- Você tinha que ver a sua cara
quando o Michael abriu a porta. –
Ele falou rindo.
Revirei os olhos.
- E você deu um grito para cortar o
que ele iria dizer. Não era só eu
que estava nervosa.
- Mas você estava nervosa por
vergonha. – Seu riso parou. – Eu
estava nervoso por culpa.
- O que quer dizer com isso?
- Muitas coisas aconteceram entre o
mim e o Michael, acho que você já
conseguiu deduzir isso.
- Sim, mas é só isso mesmo que eu
consegui alcançar com as poucas
informações que vocês me dão.
Ele deu de ombros.
- Por mim, eu nunca mais falaria
sobre aquilo, mas o Michael
simplesmente não esquece.
Suspirei. Acho que eu não vou
descobrir agora o motivo de tudo
isso.
- Ei Joshua, que tal você me dá
cinco minutos para eu me trocar? –
Perguntei sorrindo e apontando
com o queixo para o lençol que me
cobria.
- Pode ser, mas posso te garantir
que essa visão sua não é nada mal.
– Ele sorriu malicioso.
Soltei uma risada tímida e ele me
mandou um beijo antes de sair do
quarto.
Me levantei devagar, relembrando
mentalmente tudo o que aconteceu
nas ultimas horas. É incrível
como a vida de alguém pode mudar
completamente de um dia pro outro.
Fui ao banheiro, fiz tudo o que
deveria fazer e troquei de roupa;
fazendo tudo isso meio voadora,
com os pensamentos concentrados
apenas no Joshua, é claro. Não
tinha como não pensar nele.
Ele era tão fofo e romântico ao
mesmo tempo em que era
pervertido e descontraído. Não o
imagino
fazendo tanto mal ao Michael
quanto ele deve ter feito em algum
momento. Maldade e Joshua são
duas coisas que não combinam.
Desci as escadas e vi os três
irmãos Hunter sentados ao redor da
mesa.
- Bom dia. – Cumprimentei com um
sorriso.
Os três olharam para mim ao
mesmo tempo e o Joshua apontou
para a cadeira ao seu lado.
- Bom dia anjinho. – O Nicolas
respondeu também sorrindo. –
Soube que o casal do ano fez as
pazes.
Sentei entre ele e o Joshua, em
frente a um Michael entediado.
- Melhor notícia do mundo. – Falei
enquanto o Joshua colocava o braço
no meu ombro e me puxava
para perto dele.
- Do universo. – O Joshua corrigiu,
mordendo o lábio inferior.
O Michael se levantou da mesa
nesse segundo.
- Não quero vomitar no meu café da
manhã. – Ele disse antes de se virar
e ir comer no sofá.
- Você conversou com ele? –
Perguntei ao Joshua.
- Ainda não... É difícil prever o que
vai acontecer quando se trata do
Michael. Ele é muito impulsivo às
vezes.
- Mesmo assim você deveria falar
com ele, – Nicolas afirmou
pensativo – querendo ou não, você
ainda é o irmão mais velho.
Era o estranho o fato de que isso
era algo que deveria ser lembrado,
estranho como era fácil
esquecer que todos eles eram uma
família.
O sangue que corre nas veias do
Michael corre também nas do
Joshua; isso deveria ser um motivo
mais do que suficiente para eles
não brigarem desse jeito.
Mas não era.
- Farei isso quando voltarmos, ok?
– O Joshua concluiu se levantando
e pegando as chaves na mesa.
– Vamos?
Tomei o ultimo gole do meu suco e
me levantei junto com o Nicolas.
Fomos direto para o carro e,
sem que nenhuma palavra tivesse
que ser pronunciada, abri a porta
do banco do passageiro e entrei.
Acabamos chegando atrasados na
escola – porque o Joshua pegou,
simplesmente, todos os sinais
vermelhos no caminho até aqui – e
quando eu entrei na sala, ao lado do
Michael, todos os alunos já
estavam sentados, conversando
enquanto esperavam o professor
chegar.
Me juntei aos meus amigos, ao lado
da Elena e da Gabi, enquanto o
Michael foi para o outro lado da
sala se sentar perto dos amiguinhos
dele. Lá no fundo, eu queria que
não houvesse nenhum grupinho
na classe.
- Oi Susan, quais são as novidades?
– A Gabi perguntou radiante. Ela
vivia feliz desde que começou
a sair com o Arthur.
- Vocês não vão acreditar! – Todas
as meninas, o Eduardo e o Pedro se
viraram para mim. – Eu voltei
com o Joshua!
- AI MEU DEUS, SABIA QUE
ISSO IRIA ACONTECER. – A
Amanda falou alto, batendo palmas
de
empolgação.
- Eu também! Vocês dois nasceram
um pro outro. – A Isabela
completou sorrindo.
- Na boa? Até eu estou feliz por
isso. – O Edu comentou e eu soltei
uma risada aliviada. – Não
importa se ele é um Hunter ou se o
irmão dele é um otário; o que
importa é que ele te deixa bem.
Senti vontade de chorar. O Edu,
mesmo tendo todos os motivos do
mundo para odiar o Joshua, estava
feliz em me ver com ele. Porque ele
se importava mais com a minha
felicidade do que com um
sobrenome. Agradeci mentalmente
a Deus por ter me dado alguém tão
bom como melhor amigo.
- Obrigada Edu. – Agradeci
baixinho e ele sorriu.
A Bia abriu a boca para falar
alguma coisa quando a porta se
abriu e o teacher Bernardo entrou
na
sala. Todos pararam de conversar e
olharam ele quase que num sorriso
coletivo.
- Bom dia turma! – Ele
cumprimentou animado.
- Bom dia teacher Bernardo! –
Respondemos em uníssono.
Ele sorriu e colocou seu material na
mesa do professor.
Então alguém bateu na porta.
- Pode entrar. – O professor falou
se virando para a porta.
Uma moça, que devia ter no
máximo 30 anos e vestia o uniforme
dos funcionários do colégio, entrou
ao lado de um garoto moreno, da
nossa idade.
Ela passou pela sala e cochichou
alguma coisa no ouvido do
professor, que apenas assentiu com
a
cabeça e a dispensou em seguida.
O garoto olhava fixamente para o
teto, tímido.
- Gente, temos um novato! – O
teacher Bernardo foi até onde o
menino estava e pôs a mão em seu
ombro. – Qual seu nome?
- Caio. – O novato respondeu ainda
sem desviar os olhos.
- Uma salva de palmas para Caio! –
O professor pediu e todo mundo da
sala bateu palmas para o
garoto novo. – Vocês são uns
amores, sabiam disso? Enfim, já
que nós temos carne nova por aqui,
que tal fazermos algumas perguntas
para conhecer o Caio melhor?
O menino se virou para ele, seu
rosto parecia uma mistura de
irritação e vergonha.
- Se ele não desmaiar de timidez
até lá a gente faz isso. – O Michael
murmurou do outro lado da sala,
alto o bastante para todos ouvirem
e darem risadas.
Apenas eu, o Edu e Clara não
rimos.
- Por acaso eu te conheço para você
poder falar assim comigo? – O
Caio perguntou irritado; ele tinha
um sotaque sulista fofo e fuzilou o
Michael com o olhar.
- E esse sotaque? De onde você é?
– O professor falou tentando
amenizar a situação.
Caio deu de ombros.
- Curitiba, mas meu pai arranjou um
emprego aqui.
- E o que você achou disso? – O
professor puxou sua cadeira para
perto do novato e sentou, olhando
para ele.
- Mais ou menos. – Ele respondeu
abaixando os olhos.
- Aposto que vai melhorar...
Alguém tem alguma pergunta a
fazer?
Enquanto algumas pessoas
levantavam a mão, percebi que só
agora que o teacher tinha saído de
perto
que dava para ver o novato direito;
ele era bonito – o cabelo escuro e
liso dava destaque aos seus
olhos levemente esverdeados. Ele
era alto também, acho que 1,80m.
- Isabela, qual sua pergunta?
Quase podia ver daqui seu
sorrisinho travesso de quem iria
aprontar alguma coisa.
- Que tipo de garota você gosta de
pegar? – Ela perguntou com um ar
malicioso.
Ele levantou a sobrancelha e corou
de leve – coisa que combina muito
bem com sua pele morena.
- Acho que eu não tenho um tipo...
Ela sendo legal e me entendendo tá
bom pra mim.
Percebi alguns olhares entre as
meninas do outro lado da sala e
revirei os olhos.
- Bela resposta... Agora, será que
você poderia se sentar ao lado da
Clara e assistir enquanto eu faço um
show? – O professor perguntou com
um sorriso.
Ele soltou uma risada e sentou-se
na cadeira ao lado da Clara.
- Eu nunca ri tanto na minha vida. –
O Pedro falou ainda meio sem
folego por ter passado a aula toda
de inglês rindo.
- Ele é sempre assim? – O Caio
perguntou enquanto nós descíamos
a escada até o pátio.
- Às vezes ele é ainda melhor; – A
Elena respondeu dando um sorriso
– ele é um arco-íris.
Caio soltou uma risada e olhou para
a Clara.
- Se você tivesse parado de falar só
por dois segundos eu teria prestado
mais atenção. – Ele disse
brincando e a Clara riu.
- Você que resolveu perguntar como
era por aqui.
- E você resolveu contar sua
história de vida. – Ele retrucou
sorrindo.
Olhei para os dois, que pareciam
amigos de anos, e me perguntei
quanto tempo iria demorar até que
surgisse um romance. A Clara
merecia isso. E não é preciso
conhecer muito do Caio para
perceber
que ele seria um namorado bem
melhor que o Michael.
Eles continuaram conversando e
brincando um com o outro enquanto
nós íamos para o refeitório.
- Ei, vai ter festa nesse fim de
semana, quem vai? – A Isabela
perguntou quando nos sentamos a
mesa.
- Sim! O Arthur vai tocar lá né? – A
Gabi disse com um sorriso bobo no
rosto.
- Exatamente... Então já sabemos
quem vai de certeza. – A Isabela
concluiu rindo.
- Ah cala a boca. – A Gabi disse
revirando os olhos.
- Onde vai ser essa festa? –
Perguntei.
- Sábado à noite na minha casa,
meus pais vão tá viajando. – A
Isabela explicou.
- O Caio pode ir também? – A
Clara perguntou meio sem graça.
Todos na mesa se entreolharam.
- Claro que pode... Mas tente não
sair gravida de lá.
- Não prometo nada. – O Caio se
intrometeu, rindo.
- Ai meu Deus, vocês dois em! – A
Clara empurrou o braço do Caio e
da Isabela ao mesmo tempo,
corada.
Rimos da cara de pau do Caio e
ficamos conversando sobre a festa.
- Isabela, o ps vai? – Perguntei com
um sorriso malicioso.
Ela riu.
- Se ps for paquerinha secreto, ele
vai sim.
- Então já sabemos quem vai de
certeza. – A Gabi retrucou dando
uma risada.
Seguimos a risada dela e
continuamos assim; conversando e
implicando um com o outro.
Eu ria com vontade sempre que
alguém fazia alguma brincadeira. E
apenas a Clara tinha noção de
como ri e me diverti era algo novo
para mim, depois de mais de mês
sem sentir nada bom. Joshua
não deixava só o meu coração feliz
– ele deixava minha alma feliz.
Eu estava mandando a minha
décima resposta para a cartinha que
a Elena mandou – já estava até
parecendo um Whatsapp no papel –
quando o sinal tocou.
- Quem terminou de escrever pode
ir. – O professor PH avisou,
entediado.
Por sorte, eu tinha terminado. Saltei
da cadeira, peguei minhas coisas e
fui ao lado da Clara e da Bia
– as únicas que também tinha
copiado tudo – até o pátio.
- O Caio é um fofo. – A Clara
comentou enquanto descíamos a
escadas.
- E desde quando fofo é seu tipo de
garoto? – A Bia perguntou
levantando uma sobrancelha.
- Ah, pare com isso. O Michael não
era tão ruim assim.
Abri a boca para responder que sim
ele era quando ouvi passos atrás da
gente.
- Obrigado. – Nos viramos e lá
estava ele, com seu sorriso de
superioridade.
- Falando no diabo... – Murmurei
irritada.
A Clara revirou os olhos.
- Poxa, gata, já se passou um mês...
Quando você vai resolver superar?
– Sua voz era cheia de
autoconfiança.
- Já superei. – Ela rebateu com
raiva.
- Com aquele sulistinha que chegou
agora? – Ele riu. – Que ladeira em.
Por cima do ombro do Michael, vi
o Caio se aproximando.
- Cara, o que eu te fiz em? – Ele
perguntou quando chegou perto o
bastante da gente. – Além de te
deixar se borrando de ciúmes.
O Michael se virou para ele.
- Você acha mesmo que você é uma
concorrência? – Ele soltou uma
risada seca. – Não que isso
importe, é claro. Eu não quero
mais, – ele se curvou um pouco
para frente – pode ficar com as
sobras do meu jantar.
O Caio começou a responder
alguma coisa, mas o Michael
simplesmente ergueu um dedo e foi
embora.
- Que filho da puta!
Coitada da Dona Nicole. Mas não
podia culpá-lo por querer xingar. O
Michael sabe como irritar uma
pessoa.
- Ei Caio, não se incomode com ele
não, ok? – Falei.
- Não é comigo que você tem que
preocupar... – Ele se aproximou da
Clara. – Você tá legal?
Ela deu de ombros.
- Qualquer dia desses, eu quebro o
nariz dele. – Ele afirmou com raiva.
Seu sotaque fofo não
combinava com ameaças, mas ele
parecia tá falando bem sério.
- Já fizeram isso. – Comentei.
- Deus abençoe essa pessoa. – Ele
retrucou.
Rimos.
Então eu senti um cheiro familiar
perto de mim.
Me virei e vi o Joshua. Não estava
surpresa; eu sentiria – e
reconheceria – seu perfume dele de
longe.
- Oi Joshua. – As meninas
cumprimentaram ao mesmo tempo.
O Caio olhou para ele com cara de
interrogação.
- Meu namorado. – Expliquei com
um sorriso. Era tão legal poder
falar isso.
- Exatamente. E você quem é? – O
Joshua perguntou levantando uma
sobrancelha.
- Caio, o novato.
Joshua assentiu com a cabeça e
estendeu a mão para ele.
- Muito prazer. – Ele disse quando
o Caio a pegou e sorriu.
Mais um ponto positivo para o
Caio: ele não odiava o Joshua. No
meu placar mental ele já estava
ganhando de 10x0 do Michael.
- Então Susan, vamos?
- Claro, até amanhã.
Eles acenaram para mim.
- Sabia que ele é irmão do
Michael? – Ouvi a Bia murmurar
baixinho.
Não consegui ouvir a resposta dele,
mas deve ser uma expressão de
surpresa seguido por um
“Sério?”.
- Aposto que ele não esperava por
essa. – O Joshua comentou
enquanto andávamos até o carro.
- É sempre estranho descobrir que
dois irmãos são completamente
diferentes. – Respondi, me
lembrando de como fiquei surpresa
quando soube que Jane era irmã do
Edu.
Ele apenas fez que sim com cabeça
e abriu a porta do passageiro para
mim.
Nicolas e Michael apareceram em
seguida e entraram o carro.
- Como foi o dia? – O Joshua
perguntou quando deu a partida.
- Tirando o garoto novo que é
extremamente irritante, foi bom.
- Isso é ciúmes, Michael? –
Perguntei com um sorriso
presunçoso.
- O que te leva a pensar que eu
tenho um coração? – Ele rebateu
com algo parecido com tédio.
Suspirei e não respondi.
✣Joshua✣
Não tem como eu explicar como
estou feliz.
Nunca me senti assim antes. É como
se cada segundo valesse a pena.
Cada respiração. Cada palavra
que saia da minha boca e cada
pensamento que passava pela minha
cabeça. Tudo parecia mais
brilhante agora que eu tinha Susan
de volta.
Era isso que estava na minha mente
quando chegamos em casa e eu abri
a porta do passageiro para
ela; como no nosso primeiro
encontro. Será que ela ainda se
lembrava dele? Foi tudo tão
imperfeitamente bom que eu sai de
lá completamente apaixonado por
ela.
- Vou subir para estudar, mas
depois a gente se fala. – Ela disse
ficando na ponta dos pés para me
dá um selinho.
- Esperarei ansioso por esse
momento.
Ela riu, levemente corada, e se
afastou. Acompanhei suas curvas
enquanto ela subia as escadas e
sumia de vista. Ela era tão bonita.
Poderia ficar observando seus
passos pelo resto da minha vida e
não reclamaria.
Esse ultimo pensamento me
lembrou de como eu praticamente a
pedi em casamento depois da nossa
segunda vez. Às vezes, eu só queria
que ela fosse um pouco mais velha
para eu poder casar agora
mesmo.
O Michael se deitou no sofá
enquanto o Nicolas entrava no
elevador. Fui até meu irmão mais
novo e
parei em frente a ele.
- O que você quer?
- Sabe que precisamos conversar. –
Respondi calmamente. Não queria
perder a paciência com ele.
- Sabe que eu já disse tudo o que
precisava dizer.
- Michael...
Ele se sentou e me encarou. Seus
olhos pareciam refletir uma coisa
completamente nova. Pareciam
refletir culpa.
- Eu sinto muito, ok? – Olhei para
ele sem entender. – Eu não queria
envolver a Susan nisso, ela não fez
nada comigo, mas você não me deu
escolha. – Ele praticamente
soletrou as ultimas palavras para
mim.
Abaixei os olhos, eu era que estava
me sentindo culpado.
- Você só precisava ter dito para a
Jane que não era uma boa ideia.
Ele riu.
- Isso não iria impedir ela. Você
não faz ideia de como ela odeia a
Susan.
- Mais ou menos do que a
intensidade que você me odeia?
Ele suspirou e eu levantei os olhos
para ele.
- Será que não podemos
simplesmente esquecer tudo o que
aconteceu? – Perguntei com
esperança. –
Somos irmãos.
Ele estreitou os olhos para mim.
- Desde quando você se importa
com isso?
Minha vez de suspirar. Será que o
Michael nunca iria me perdoar?
- Eu me importo, Michael. Eu amo
você. – Falei, mas, sem permissão,
minha voz saiu um pouco
baixa, como um segredo. Eu nunca
tinha dito para ele.
Ele se levantou e eu dei um passo
para trás.
- Como eu posso confiar em você?
– Ele perguntou desviando os
olhos.
- Eu mudei. Eu juro para você que
mudei. – Ele continuou sem olhar
para mim. – Eu não sou mais o
mesmo Joshua que fez aquilo...
Aquele Joshua era um otário. E
você está agindo como ele.
Ele olhou para mim. Seus olhos
eram iguais aos da mamãe.
- Eu queria poder acreditar em
você.
- Por favor...
Ele fez que não com a cabeça e deu
alguns passos para longe de mim.
Então se virou de novo, por um
único segundo, e quando nossos
olhos se encontraram, eu percebi
que
ele tinha me perdoado.
Eu também o perdoava.
36. Festa que deu errado
Fiquei alguns minutos deitada antes
de pegar minha apostila de
Biologia e começar a estudar.
Eu já estava no quinto tópico
quando alguém bateu na porta.
- Tá aberta.
Levantei a cabeça e vi o Joshua
entrando no meu quarto com um
sorriso orgulhoso no rosto. Ele se
aproximou de mim e, sem dizer uma
palavra, se deitou ao meu lado, de
barriga para baixo e com o
queixo no punho.
- Oi? – Cumprimentei confusa.
Ele sorriu ainda mais.
- Posso saber o porquê de tanta
felicidade? – Perguntei sorrindo
também.
- Fiz as pazes com o Michael. – Ele
respondeu simplesmente.
Demorei um segundo para entender.
Então dei um pulo e sentei na cama,
surpresa. Meus olhos se
arregalaram sem minha permissão.
- Como? O quê? Quando? –
Disparei sem pensar.
Ele se sentou lentamente, com um
olhar pensativo.
- Agora mesmo, – seus olhos azuis
brilharam – eu não consigo
acreditar que isso aconteceu.
- Nem eu... – Murmurei meio sem
saber o que dizer.
Ele tocou no meu rosto com
suavidade e eu esqueci
completamente do que estávamos
falando.
- Ele me perdoou. – Ele repetiu
mais para si mesmo do que para
mim. – Entende o quanto isso é
importante?
Pensei um pouco.
- Na verdade, não. Você não me
explica o que fez para ele e...
Joshua me interrompeu, balançando
a cabeça em negativa.
- Não importa mais o que eu fiz ou
o que ele fez. É ai onde eu quero
chegar! – Ele sorriu radiante,
retirando a mão do meu rosto e
gesticulando com urgência. – Nós
somos irmão de novo, Susan. Será
que você não consegue entender o
quanto isso é impactante?
Sorri com a felicidade dele. Não
me importava se era do Michael
que ele estava falando. Se ele
estava feliz, eu estava feliz.
Joguei meus braços ao seu redor e
o abracei. Senti seu coração
acelerado batendo contra o meu
peito.
- Eu o perdoei também. – Ele falou
devagar após alguns segundos, me
soltando um pouco para que eu
pudesse olhar em seus olhos. – Eu
sei que ele fez muita coisa ruim
com você, mas ele se arrependeu
disso, Susan, eu juro...
- Eu acredito em você – soltei um
suspiro – e, consequentemente,
acredito nele também.
Ele olhou surpreso para mim.
- Tem certeza? Não estou pedindo
para você parar de não gosta dele.
– Ele explicou rapidamente.
- Joshua.
- Oi.
- Eu amo você. Sabe disso não é? –
Ele sorriu. – E não importa o que o
Michael tenha feito, ele é seu irmão
e, se você o perdoa, eu o perdoo
também.
Então, precisar dizer mais nada, ele
se inclinou e me beijou com
intensidade.
[...]
No sábado à tarde, algumas horas
antes da festa e quatro dias depois
do Michael e o Joshua terem se
entendido, o Nicolas e o Felipe
estavam me ajudando a escolher
uma roupa.
- Meu Deus, preto não! – O Nicolas
reclamou puxando o vestido que
estava na minha mão.
- Ei! – Protestei olhando com raiva
para ele. – Esse vestido é lindo.
Ele riu.
- Eu sei disso, mas preto é clichê
nível máximo. – Ele se virou para o
meu guarda-roupa aberto e
estreitou os olhos. – Precisamos de
algo que chame atenção.
Revirei os olhos.
- As pessoas só chamam atenção
quando querem pegar alguém e, não
sei se vocês notaram, eu já
tenho um namorado.
- Mas não é porque você tem
namorado que você pode sair de
casa como uma qualquer. – Nicolas
retrucou, pegando um cabide com
um vestido vermelho pendurado. –
Que tal?
Observei o vestido; o decote não
era muito profundo, mas a parte de
cima era um pouco justa
enquanto a de baixo era soltinha.
Ele tinha ainda alguns detalhes
brilhantes que eu poderia jurar que
era ouro de verdade.
- É lindo. – Respondi com
sinceridade.
Ao meu lado, Felipe olhava com
orgulho para o Nicolas.
- Você é genial. – Ele elogiou com
um sorriso.
As bochechas do Nicolas ficaram
vermelhas e ele desviou os olhos.
Felipe riu e foi até o Nicolas,
sussurrando algo extremamente
baixo no ouvido do Hunter.
- O-Ok. – Nicolas gaguejou ficando
ainda mais corado do que antes.
Sorri com eles dois e peguei o
vestido da mão do Nicolas.
- Podem ir, obrigada de verdade
pela ajuda.
Eles sorriram e me deram um
abraço antes de ir embora.
Assim que eu ouvi o barulho da
porta batendo, me olhei do espelho
com o vestido na frente e percebi
que, realmente, iria ficar muito
bom. Sorri internamente e fui me
trocar.
Uma hora depois, lá eu estava
rodando a chave do carro do Joshua
com dedo indicador.
- Ei loiro, vem hoje não? –
Perguntei.
Ouvi uma risada vindo da escada e
me virei para observar enquanto ele
descia.
Ele estava absolutamente lindo,
com uma camisa azul escura e uma
calça jeans preta.
- Desculpe morena, mas eu não
estava encontrando meus
documentos. – Ele explicou com um
sorriso
e se aproximou de mim.
- Então vamos? – O Michael
perguntou da cozinha.
- Claro. Tem certeza que o Nicolas
não vem? – Joshua perguntou para o
irmão.
Michael veio até onde nós
estávamos.
- Ele e o Felipe parecem estar se
divertindo muito mais no quarto do
que aqui.
Rimos.
Era bom ver o Michael e o Joshua
interagindo assim, como uma
família.
Então o elevador se abriu e a Dona
Nicole saiu de lá.
- Quero todos em casa antes das
quatro, ok?
O Joshua riu.
- Mãe, não se você lembra, mas eu
tenho 20 anos.
Ela colocou as mãos na cintura.
- Você pode ter 40 que ainda assim
vai ser meu bebê. – Ela rebateu,
tentando ao máximo não sorrir.
Eu e o Michael rimos da cara feia
que o Joshua fez.
- E aí de você se beber e dirigir. –
Ela completou.
Ele assentiu.
- Isso nem passou pela minha
cabeça. – Ele foi até ela e a beijou
na bochecha. – Voltamos antes das
quatro.
Ela sorriu.
- E Susan, sua mãe pediu para eu
avisar que nada de se achar a adulta
lá. – A Dona Nicole avisou,
ficando séria para olhar para mim.
Fiz que sim com a cabeça.
- Relaxe mãe, ela tá por minha
conta. – Joshua disse.
Ela riu.
- Eu sei, mas não vejo por que ficar
relaxada.
- Ei família, se a gente ficar
conversando não vamos chegar
nunca lá. – Michael avisou, seu tom
parecia surpreendentemente
educado.
- Ele tem razão – a Dona Nicole
abraçou o Joshua e piscou para
mim em seguida. – Divirtam-se.
- Pode deixar. – Respondi com um
sorriso.
Ela sorriu de volta e deu um beijo
na bochecha do filho mais novo
antes de ir para a cozinha.
Joguei a chave do carro para o
Joshua e ele a pegou no ar.
- Vamos.
- Vamos. – Respondi em uníssono
com o Michael.
Saímos da casa e paramos ao lado
do carro. Joshua me olhou de cima
a baixo.
- Acho que ainda não comentei o
quanto você está linda.
Senti meu rosto queimando, mas
não desviei o olhar.
- Você também está apresentável.
Ele riu e me deu um selinho rápido
antes de abrir a porta do passageiro
para mim. Entrei e o Michael entrou
em seguida no banco de trás.
Só quando o Joshua entrou e deu a
partida no carro, eu coloquei o
novo CD da Taylor Swift para
tocar.
Pelo retrovisor, vi o Michael
revirando os olhos.
- Agora você vira à esquerda. –
Expliquei apontando para a rua.
Joshua olhou para mim de canto.
- Já vim aqui antes, Susan.
Me virei para ele, assustada.
- Por que motivo? – Perguntei com
um pouco de medo. Todo mundo
sabia que o Joshua era rodado.
Ele riu da minha reação.
- Na festa de aniversário do
Nicolas ela bebeu demais e eu tive
que leva-la para casa.
Suspirei aliviada.
- Menos mal.
Ele riu ainda mais e acelerou o
carro até parar em frente a uma
casa enorme e branca.
Mal saímos do carro e as meninas
correram para onde a gente estava.
Todas elas estavam bonitas e
maquiadas, principalmente a
Isabela, que sorria radiante.
- O ps acabou de chegar! – Ela
avisou batendo palmas.
O Joshua olhou ao redor e se virou
intrigado para elas.
- Posso jurar que aquele é o carro
do meu primo Arthur.
Olhei para a Gabi na mesma hora e
ela mordeu o lábio inferior.
- É, ele vai tocar aqui. – Expliquei
no lugar delas.
E, quase como se tivessem
ensaiado, o Michael e o Joshua
levantaram a sobrancelha.
- O David também vai vim? –
Joshua perguntou.
- Não, eles não são muito próximos,
pelo que eu percebi. – A Gabi
falou.
Olhei para o Joshua e o Michael.
Nos últimos dias, eles tinham agido
como irmãos de uma forma
completamente nova – até mesmo
para eles –, não brigavam nem
elevavam a voz um com o outro;
Todos da casa estranharam isso no
começo, mas, aos poucos,
começamos a nos acostumar e
admirar
essa nova realidade. Os Hunter,
aquela família divida e confusa,
viraram o que todos poderiam
chamar de uma família perfeita. E
eu estava feliz por poder dizer isso.
Porque agora, mesmo que eu
ainda estava com o pé um pouco
atrás – não dá para confiar 100%
do Michael –, eu conseguia sentir
a união dentro daquela casa.
- Eu entendo. Enfim, a gente vai
ficar o dia todo aqui fora é? – O
Michael disse apontando para a
porta.
Elas riram e nós a seguimos para
dentro da casa.
As luzes piscavam em cores neon e
uma música de forró tocava alto.
Havia mais ou menos quarenta
pessoas no meio da sala, rindo e
dançando, mas a Isabela nos guiou
pela escada e demos direto em
um cômodo que se dividia entre
uma cozinha/bar e algumas mesas e
cadeiras. As luzes também
piscavam aqui, mas a música estava
mais baixa.
Clara, Caio, Edu, Monica e Pedro
estavam sentados ao redor de uma
mesa, rindo de alguma coisa.
- Oi gente. – O Joshua
cumprimentou com um sorriso.
Eles se levantaram e vieram falar
com a gente.
- Michael. – O Caio falou friamente
e fez questão de não apertar na mão
dele. Não posso culpa-lo
por isso.
Clara também não parecia feliz com
a presença dele e simplesmente o
ignorou.
Olhei para o Michael e ele apenas
assentiu com a cabeça e desceu as
escadas.
- Você chamou os amigos dele
também? – Perguntei baixinho para
a Isabela.
Ela fez que sim a cabeça e eu voltei
minha atenção para as pessoas da
sala.
- Por que vocês estão aqui? – A
Elena falou apontando para as
mesas.
- Estávamos esperando vocês. – O
Edu explicou, sua mão indo até a da
Monica e segurando-a.
- Então vamos descer ué. – Rebati.
Eles riram e nós descemos para o
térreo.
- JAMES!
Dei um pulo, assustava, e observei
enquanto o Bruno se aproximava da
gente com um sorriso.
- E Amanda. – Ele completou
olhando para a garota ao meu lado,
que se afastou de mim no mesmo
segundo e correu para os braços
dele.
Eles se beijaram como estivessem
se reencontrando depois de anos.
Então a música que estava tocando
terminou e todos se viraram para o
palco improvisado. Um garoto
alto e levemente malhado entrou
com um violão. Em seguida, outros
quatro caras entraram também,
dois deles com algo parecido com
guitarras e os outros dois foram
para a bateria e o piano,
respectivamente.
- Oi galera! – O Arthur
cumprimentou.
Ouve um grito coletivo em resposta
e a Gabi não pensou duas vezes
antes de correr para o meio
deles e se juntar a plateia.
Todos se entreolharam por um
segundo e acabamos decidindo,
sem palavras, que íamos segui-la. E
foi exatamente isso que fizemos. O
Joshua, com a mão na minha
cintura, me guiou por entre as
pessoas até que ficássemos em
frente ao palco.
- O nome dessa música é Só penso
em você. – O Arthur falou ajeitando
o microfone.
Ele começou a cantar uma música
animada e começamos a dançar sem
nos preocupar com nada.
Com o canto do olho, vi a Isabela
se afastando e subindo as escadas.
Posso apostar que o professor
Cavalcante estava esperando por
ela lá em cima.
O show continuou por quase duas
horas até que meus pés
simplesmente não aguentavam mais
nem
tocar no chão.
- Ei, vamos parar um pouco. – Falei
no ouvido do Joshua para que ele
conseguisse me ouvir em meio
a musica.
Ele assentiu e me puxou pela mão
para fora da casa, as pessoas
abrindo espaço para ele sem que
fosse preciso pedir. Joshua exalava
autoridade.
No jardim, duas pessoas
conversavam alto, quase gritando.
Reconheci no mesmo segundo como
sendo Jane e Michael.
-PARE DE FALAR BESTEIRA. –
Michael gritou irritado.
Corremos até eles.
- Ah, olha só quem chegou. – A
Jane comentou apontando para nós,
sua voz parecia meio enrolada,
como se ela tivesse bebido demais.
- O que está acontecendo aqui? –
Joshua perguntou confuso.
Michael jogou as mãos para o alto,
em rendição.
- Cuidem dela, já cansei dessa
menina. – Ele falou se virando e
entrando na casa.
Jane revirou os olhos e cambaleou
até o Joshua.
- Senti sua falta. – Ela sussurrou
para ele. Seu hálito cheirava a puro
álcool.
Ele se aproximou dela e segurou
seu braço para que ela não caísse.
- Vou chamar um taxi pra você.
- Não, não, não. – Ela protestou se
jogando em cima dele. – Primeiro
eu quero meu beijo.
Senti meu sangue fervendo de raiva
e ciúmes, mas o Joshua não mexeu
nem um musculo.
- Sinto muito, mas isso não vai dar.
Ela riu de forma exagerada e se
afastou um pouco para olhar para
ele. Seus olhos verdes estavam
sem foco.
- Ah Joshua, você é tão bonito. –
Ela falou passando a mão pelo
rosto dele como se para ter certeza
de que ele estava ali.
Dei um passo à frente, na defensiva.
- Obrigado Jane. – Ele respondeu
sério. – Mas você realmente
precisa sair daqui.
Ela fez que não com a cabeça e por
pouco não caiu no chão com o
movimento. Nunca vi alguém tão
bêbado.
- Espero que você já tenha me
perdoado. – Ela disse colocando as
mãos na nuca do Joshua, que
continuou imóvel.
- Por que ele faria isso? – Perguntei
irritada.
Ela se virou para mim confusa.
- Desde quando você tá aqui? Ah
isso não importa... – Ela parecia
fazer força para falar direito. –
Ele me perdoa porque é apaixonado
por mim, não é Joshua?
Ele respirou fundo.
- Você tem 17 anos, não devia
beber como um corno num bar.
Ela fingiu que não ouviu.
- Vamos Joshua, só um beijinho. –
Ela se inclinou para ele de forma
descoordenada.
Ele estava prestes a virar o rosto
quando ouvimos um grito.
- MAS QUE PORRA ESTÁ
ACONTECENDO AQUI?
Olhamos para cima no mesmo
segundo. O grito veio do primeiro
andar.
O Joshua aproveitou a falta de
atenção da Jane e a afastou com
uma mão, a mantendo numa
distancia
adequada.
- Temos que subir! – Falei
apontando para cima.
- Não podemos deixa-la aqui nesse
estado. – Ele replicou olhando com
raiva para ela.
Revirei os olhos e me aproximei
deles, ainda olhando para cima.
- SAIAM DAQUI! – Alguém gritou
dentro da casa.
Poucos segundos depois, uma
enxurrada de gente saiu correndo
pela porta, tropeçando uns nos
outros. Não era só a Jane que
estava bêbada.
A Elena correu até onde eu estava,
seus olhos arregalados de medo.
- O diretor! O diretor, Susan, ele
entrou na festa e subiu as escadas. –
Ela segurou meus ombros e me
balançou. – ISABELA E
CAVALCANTE ESTAVAM LÁ EM
CIMA.
- AI MEU DEUS! – Gritei de susto.
– Como isso foi acontecer?
- Ninguém sabe, mas eles estão lá
em cima agora. Os três. – Ela olhou
com medo para o primeiro
andar. – Acho que devíamos sair
daqui.
A Bia e o Richard vieram também.
- Quero subir e lá e ver o que está
acontecendo! – A Bia disse olhando
para cima.
- Não iriamos ajudar em nada...
Espero que fique tudo bem. – Falei
baixinho, me sentindo mal por
eles.
- Ei, ei, ei, pare de virar o rosto. –
Ouvi a voz da Jane ao meu lado e
vi o Joshua revirando os olhos e
afastando o rosto dela. – Você quer
isso tanto quanto eu.
- Ela está bêbada? – O Richard
perguntou no meu ouvido.
- Com toda certeza.
Ao meu redor, as pessoas iam
embora reclamando.
- Cadê o Edu? – O Joshua
perguntou tentando controlar a Jane
- Ele subiu com a Monica faz uns
dez minutos. – Elena respondeu
olhando preocupada para a ruiva.
-Merda. O que vamos fazer com
ela?
Richard olhou para a Bia e depois
para o Joshua de novo.
- Desculpa cara, mas não vou poder
ajudar. – Ele segurou a mão da Bia.
– Acho melhor a gente ir.
Ela fez que sim com a cabeça e nos
mandou um olhar de solidariedade
antes de sair.
Meus olhos encontraram o da Elena
e eu percebi que ela também não
queria ficar ali.
- Por que não procura o Pedro? Ele
deve tá atrás de você agora.
Ela respirou aliviada.
- É, vou fazer isso. – Ela me lançou
um obrigada sem palavras e foi até
a entrada da casa, onde tinha um
pequeno grupo de pessoas.
- AH QUER SABER? – A Jane
gritou do nada e eu me virei
assustada para ela. – Não preciso
de
você, Joshua! Quero alguém que me
mereça.
Ela o empurrou com toda sua força
e andou cambaleando para longe da
gente.
- Não devíamos deixa-la sair
assim. – Joshua disse.
- Duvido que ela vá dirigir nesse
estado. – Observei enquanto ela se
apoiava nos joelhos para
vomitar. – Alguém vai cuidar dela.
- Quem? – Ele levantou uma
sobrancelha. – Ela não é a pessoa
mais amada do mundo.
Foi então que duas meninas
morenas correram para perto da
Jane e começaram a falar alguma
coisa.
Acho que eram as gêmeas da sala
do Nicolas.
- Viu só? Ela vai ficar bem.
Ele não pareceu ficar convencido.
- Amanhã a gente liga para o Edu e
pergunta se ela chegou bem em
casa.
- Ok. Mas, agora, acho melhor a
gente ir embora.
Não havia quase ninguém na festa e
as luzes tinham sido desligadas.
Ele assentiu com a cabeça, ainda
olhando para a Jane.
- Estou com um mau
pressentimento...
- Shh. – Falei ficando em frente a
ele, bloqueando a visão da ruiva. –
Vai ficar tudo bem. Amanhã eu
pergunto para o Edu.
- Jura?
- Juro.
Ele sorriu e me beijou como se não
houvesse amanhã.
- Vamos para casa. – Ele sussurrou
para mim assim que ficamos sem
fôlegos. – Terminar a noite com
chave de ouro.
Senti minha nuca se arrepiando com
as palavras dele e o segui até o
carro.
- E o Michael? – Perguntei quando
ele abriu a porta para mim.
Ele olhou ao redor.
- Deve ter ido para casa com
alguém. – Ele murmurou. –
Qualquer coisa ele me liga e eu
volto aqui.
- É.
Entrei no carro e ele entrou em
seguida.
- Gostou da festa? – Ele perguntou
para descontrair.
- Nunca dancei tanto na minha vida.
– Respondi rindo.
Ele riu também e deu a partida no
carro. Colocamos o cinto e ele
botou o CD do Imagine Dragons.
Joshua cantava as músicas como se
já tivesse ouvido todas mil vezes e
dirigia com facilidade.
- Fiquei surpresa com o modo como
você tratou a Jane. – Comentei
depois de um tempo.
Ele deu de ombros.
- Quando eu for professor, vou ter
falar com os piores alunos como se
não odiasse eles. – Ele se
virou por um segundo para piscar
para mim. – Mas duvido que meus
alunos sejam tão irritantes e...
Então ouvimos uma buzina alta na
nossa frente.
Um grito saiu pela minha garganta
antes mesmo que eu pudesse me dar
conta do que iria acontecer.
Ele jogou o volante para a direita e
me abraçou no exato segundo que o
carro nos atingiu em cheio.
A última coisa que eu vi foi o
cabelo ruivo da motorista.
37. Depois
Meus olhos se abriram devagar,
com cuidado. Eles pareciam pesar
uma tonelada. Pisquei algumas
vezes para tentar melhorar a visão,
mas ela continuou meio borrada. A
única coisa que eu conseguia
ver com clareza era uma lâmpada
branca e forte, que me cegava
enquanto eu tentava focar no que
estava a minha volta. Até agora, era
o único sentido que tinha voltado a
funcionar.
Aos poucos, eu consegui formar
uma imagem meio turva de onde
estava. Era um hospital, disso eu
tinha certeza. Havia uma mascara
no meu rosto, mas eu não sentia o
cheiro de nada. Fechei os olhos
novamente. Não tinha notado que
estava fazendo força para mantê-los
abertos.
Não sei quantos minutos se
passaram até a minha audição
voltar. Ouvi apenas algo parecido
com um
chiado de rádio que, lentamente, foi
se transformando em murmúrios
baixos, quase inaudíveis. Abri
os olhos quando reconheci a voz da
minha mãe; desta vez, eles estavam
surpreendentemente leves – o
que significa que deve ter passado
muito tempo desde daquela
primeira tentativa.
Mal havia abertos os olhos quando
escutei um grito de surpresa.
- ELA ACORDOU!
Era a voz do Michael.
Minha cabeça doeu com o barulho e
eu gemi baixinho, sem conseguir
evitar.
- Olha o que você fez. – Ouvi uma
voz doce o repreendendo. Era o
Nicolas.
Tentei me sentar, mas parecia que
havia um elefante em cima de mim,
me impedindo de me mexer.
Minha mãe se aproximou com
delicadeza até que eu pudesse olhar
para ela.
Seus olhos estavam vermelhos de
choro.
- Filha... – Ela sussurrou sem saber
o que dizer, com o tom falho de
emoção. – Graças a Deus você
está bem.
Assenti devagar. Cada movimento
que eu fazia era como se alguém
estivesse esmagando meus ossos.
Tentei formular uma pergunta.
- J... – murmurei, fazendo o
possível para continuar. – Ja...
- Joshua? – O Michael completou
por mim, vindo em nossa direção.
- Si... – Tentei responder, mas fui
vencida pelo cansaço.
Todos na sala se entreolharam.
Senti um calafrio percorrendo a
minha coluna.
Não, por favor. Tudo menos isso.
- Ele está... Desacordado ainda. –
Nicolas explicou devagar. – O
médico disse que já já traria novas
informações.
Fiz que sim com a cabeça, mais
intensamente dessa vez. Minha
força estava voltando aos poucos.
Talvez fosse uma consequência do
medo.
- E há... Quanto tempo... – As
palavras saiam roucas da minha
boca e custavam mais energia do
que
nunca.
Minha mãe pressionou o lábio,
nervosa.
- Dois dias. – Ela disse por fim.
Não precisei responder a isso.
Ficamos em silencio por um
minuto, apenas nos olhando, cada
um em seu próprio pensamento.
A única coisa que passava pela
minha mente era que minha mãe
havia chorado por dois dias
seguidos. Dona Nicole também,
pensei com tristeza.
Alguns segundos depois, alguém
abriu a porta. Me inclinei um pouco
para frente, para ver quem era.
- Dr. André! – Minha mãe
cumprimentou com um sorriso e foi
até ele. – Alguma noticia do
Joshua?
Os outros dois Hunter ficaram ao
lado dela; dois pares de olhos
claros arregalados de ansiedade e
nervosismo.
O médico respirou fundo.
Esse ato me deixou tão preocupada
que me sentei em um pulo,
esquecendo completamente da
mascara em meu rosto e do tubo na
minha mão. Aquilo doeu, mas eu
não podia ficar deitada
esperando ele falar.
- Creio que a paciente deva se
acalmar – o doutor afirmou
apontando para mim com o queixo.
– Toda
e qualquer notícia só deve ser
comunicada a ela depois da alta.
Olhei para ele indignada.
- Mas eu preciso... – Comecei a
falar, usando toda a minha energia
para terminar a frase.
- Sinto muito – ele me cortou
rispidamente. – São as regras do
hospital.
Minha mãe olhou para ele irritada.
- Ela tem o direito de saber o que
aconteceu.
- Concordo, mas não agora. Ela
precisa descansar e se recuperar. –
Ele rebateu. – Estou certo,
Melissa?
- Senhora Melissa. – Michael o
corrigiu. Olhei surpresa para ele. –
E se você não pode contar aqui,
será que não podemos
simplesmente nos retirar e ir para
outro local?
Ele parecia mais do que nervoso ou
ansioso. Ele parecia culpado.
Me deitei de novo na cama, minhas
forças se esgotando rapidamente.
Eu realmente precisava
descansar.
Ouvi barulho de passos seguido por
uma porta batendo. Eu estava
sozinha.
[...]
Acordei me sentindo melhor.
Me sentei na cama com cuidado,
admirando o fato de todos os meus
sentidos estarem bons e não
haver mais uma mascara no meu
nariz. Eles devem ter tirado
enquanto eu dormia.
Olhei ao redor e vi minha mãe
deitada no sofá de visita, dormindo.
Ela era a única pessoa no local
além de mim.
Me perguntei por um segundo se
poderia simplesmente me levantar e
sair andando, mas algo me
disse que isso não era certo.
Imagina o susto que minha mãe
tomaria se acordasse e eu não
estivesse
ali.
Então, ao invés disso, esperei
alguma coisa acontecer para eu
colocar minhas perguntas para fora.
Precisava saber onde e como
estava o Joshua.
Fiquei assistindo a televisão na
parede por algum tempo até ouvir a
porta se abrindo. Me virei na
mesma hora. Era a Dona Nicole.
Seus olhos encontraram os meus e
ela levou a mão à boca, surpresa.
- Ai meu Deus... – ela correu até
onde eu estava e segurou minha
mão. Seus olhos verdes estavam
lacrimejados. – Como você está se
sentindo?
- Bem, eu acho.
Ela assentiu com a cabeça e me
abraçou com intensidade. Seu
perfume doce invadiu minhas
narinas e
senti como se estivesse abraçando
minha própria mãe.
- Que dia é hoje? – Perguntei
depois do abraço.
- Quarta-feira.
Passei um dia dormindo; não é atoa
que eu estava com energia agora.
Nossos olhares se encontraram. Ela
sabia qual seria minha próxima
pergunta.
- Vem, vamos dar uma volta. – Ela
estendeu a mão para mim e eu a
segurei, me apoiando nela para
me levantar da cama.
Olhei para minha mãe.
- Acho melhor acordá-la – falei.
Ela balançou a cabeça.
- Não, ela só conseguiu dormir
agora – ela olhou para minha mãe
com solidariedade. – Deixe-a
descansar.
Concordei com a cabeça e a segui
até o corredor, com um pouco de
vergonha por estar só de
camisola. Ela segurou minha mão e
sorriu para mim, fazendo com que
eu me sentisse uma criança
enquanto ela me guiava pelo
corredor, parando em frente a uma
porta branca.
Nos entreolhamos. Era a sala de
visitas.
Respirei fundo antes de entrar. Abri
a porta com cuidado e senti meus
olhos se arregalando quando vi
quantas pessoas estavam aqui;
Michael, Nicolas, senhor Fernando,
Bruno e a Dona Eliza, avó do
Joshua.
- Oi... – Cumprimentei enquanto
entrava.
Nicolas deu um pulo do sofá e
correu para me dar um abraço
aperto.
- Eu sabia que você ia ficar bem! –
Ele falou animado, seus olhos
brilhando de alegria.
Bruno e Michael se levantaram
também, mas não com tanto
entusiasmo.
- Que bom você está legal. – Bruno
disse com um sorriso e me
abraçando de leve, sem prolongar
tanto como o Nicolas fez.
Michael apenas sorriu com o canto
da boca para mim e voltou para o
seu lugar, ao lado da Dona
Eliza. Fui até ela.
- Graças aos céus você está bem. –
Disse me beijando na bochecha e
sorrindo com carinho.
Me afastei dela, passei pelo senhor
Fernando – que nem se dera ao
trabalho de olhar para mim – e
me sentei na poltrona perto da
televisão.
- Alguma notícia? – Perguntei
tentando parecer casual, mas eu
estava nervosa e ansiosa. Não
aguentaria mais nenhum segundo
sem saber sobre o Joshua.
Todos olharam para o senhor
Fernando, como se ele fosse o
porta-voz da família – o que, na
verdade, fazia sentido, já que ele
era de longe o mais frio.
Ele me observou um pouco antes de
falar.
- Ele está na UTI, em coma.
Demorei um segundo para assimilar
a noticia.
Então minhas mãos foram até minha
boca e eu segurei um grito. Meus
olhos se arregalaram e meu
coração acelerou no mesmo
segundo.
Joshua estava em coma.
Nicolas veio até mim e passou o
braço pelo meu ombro, tentando me
reconfortar.
- Mas, se você acordou, ele vai
acordar em breve. – Ele afirmou me
apertando contra ele. Nunca
tinha percebido o quanto Nicolas
era forte, tanto fisicamente quanto
emocionalmente.
- Mais... Alguma coisa? – Perguntei
apreensiva. Não sei se queria
mesmo saber.
O senhor Fernando olhou para o
Michael, que suspirou antes de
abrir a boca.
- Jane também está desacordada,
mas não na UTI.
Levantei uma sobrancelha para ele,
surpresa.
- Os médicos falaram que ela
provavelmente irá acordar hoje ou
amanhã. – Ele completou com
indiferença.
- Pelo jeito foi o Joshua quem mais
foi atingindo... – Murmurei com
tristeza.
Eles se entreolharam. Nicolas tirou
o braço do meu ombro e se virou
para olhar para mim.
- Na verdade, foi tudo rapidamente
calculado. – Falou.
- O que isso quer dizer? – Perguntei
confusa
- No momento da batida, o Joshua
jogou o carro para o lado direito, o
lado que ele estava, fazendo
com que todo o impacto da batida
fosse para ele e não para você. –
Ele explicou.
- E que o carro da Jane não
atingisse a parte da frente, o que
iria ser muito mais impacto para
ela. –
Bruno completou do outro lado da
sala.
Olhei para eles sem acreditar.
Joshua salvou duas pessoas naquela
noite.
Ele era um herói.
- E ele cursa Física, o que significa
que ele sabia o que estava fazendo,
mesmo que apenas com
alguns segundos para pensar. – O
Michael adicionou.
Observei enquanto os olhos da
Dona Nicole se enchiam de
lagrimas. Doía muito em mim, mas
eu sei
que doía infinitamente mais nela.
Alguém abriu a porta e todos se
viraram para ver quem era. Minha
mãe.
Corri até ela e a abracei com força.
Ela suspirou aliviada e beijou
minha testa. Ficamos um tempo
assim, apenas sentindo o amor uma
da outra.
Quando o abraço acabou, ela olhou
para a Dona Nicole.
- Será que ela já pode sair do
hospital e ir para casa?
- Deixa que eu vou chamar um
médico. – O Bruno falou passou
por nós e saindo do quarto. Ele
parecia insuportavelmente triste.
Passei o braço pelo ombro da
minha mãe e a guiei até o sofá, indo
me sentar ao seu lado. Senti que
todos na sala observavam meus
passos.
O silêncio pesou sobre a sala.
Ninguém queria conversar. Porque
todos os assuntos terminariam em
Joshua; e ninguém estava preparado
para falar sobre isso – bem, pelo
menos eu não estava.
Alguns minutos depois, Bruno
voltou com um médico. Me levantei
na mesma hora e fui até eles.
O médico me analisou por um
tempo.
- Farei um check-up antes de dar a
alta definitiva, mas pelo que eu
estou vendo você está bem.
Assenti com cabeça.
- Siga-me. – Ele comandou saindo
da sala.
[...]
Eram 19h quando eu sai do
hospital, no carro do senhor
Fernando. Por sorte, deu tudo certo
nos meus
exames e eu estava tão bem como
antes da batida; Joshua realmente
recebeu todo o impacto e eu
quase não fui atingida – mas, é
claro, eu não conseguia me sentir
feliz por isso.
Chegamos em casa e eu parei um
pouco na entrada, olhando para a
mansão dos Hunter como se
estivesse ali pela primeira vez. Eu
poderia ter morrido naquele
acidente. Eu poderia não estar aqui
agora, vendo essa casa enorme na
minha frente. Senti meus olhos se
enchendo de lagrimas por causa
de tudo o que estava acontecendo e
entrei devagar, tentando controlar
minhas emoções.
Aparentemente, tudo estava igual.
Subi as escadas e fui direto para o
meu quarto, me jogando na
cama e sentindo cada sensação de
estar viva; respirar, piscar os olhos,
mexer os dedos, sentir o
lençol tocando minha pele.
A única coisa que faltava era o
Joshua aqui comigo. Eu não iria
aguentar muito tempo sem ele.
[...]
Acordei por conta própria e me
espreguicei antes de me sentar na
cama e ver que já eram 10h da
manhã. Não me acordaram para ir
ao colégio!
Me levantei e fui ao banheiro.
Depois de fazer tudo o que deveria
desci as escadas e dei de cara com
o Michael no sofá, olhando
para o teto.
- Por que não foi pra escola? –
Perguntei.
Ele se virou para mim.
- Não estou preparado
emocionalmente para isso.
Olhei para ele sem entender.
- O que isso quer dizer?
Ele se levantou do sofá e andou até
mim sem dizer uma palavra,
parando a alguns metros. Seu
perfume era o mesmo de sempre.
- Precisamos conversar.
Estreitei os olhos para ele.
- Da ultima vez que você me disse
isso, eu tive que terminar com o
Joshua.
- Sorte que ele está em coma agora
e isso não vai poder se repetir. –
Ele rebateu com frieza.
- Como você pode falar uma coisa
dessas sobre o próprio irmão?
- Esse é um dos assuntos que eu
quero tratar com você. Já passou da
hora de você saber o que
aconteceu entre mim e ele.
Senti meu coração acelerando de
expectativa. Eu iria finalmente
descobrir o motivo de tudo aquilo.
- Ok, pode falar.
Ele negou com a cabeça.
- Não, não aqui. Vou chamar o
Gustavo e nós conversaremos na
praça perto daqui. – Ele se pegou o
celular no bolso. – A praça que o
Joshua te levou no primeiro
encontro de vocês.
- Como você sabe disso?
- Pode deixar que eu vou contar
tudo para você.
Apenas assenti com a cabeça,
mesmo sem entender por que ele
estava fazendo tudo isso.
Ele apontou o sofá com o queixo.
- Fica ai assistindo TV enquanto eu
ligo para o Gustavo.
Fiz o que ele mandou e me senti
estranha por isso.
Ele se sentou ao meu lado e
colocamos em um canal de música
enquanto esperávamos o motorista.
- Você foi à escola essa semana? –
Perguntei depois de um tempo.
- Sim, por quê?
- O aconteceu com a Isabela e o
professor?
Ele se virou para me olhar nos
olhos.
- Ninguém sabe direito ainda... O
diretor fez questão de deixar tudo
escondido, mas já sabemos que
foi um menino da nossa turma quem
dedurou os dois.
Pensei em quem poderia ser o
cretino que fez isso, mas não
consegui chegar a nenhum nome.
Ninguém lá da sala parecia ser tão
mal a esse ponto – a não ser, é
claro, o garoto que estava na minha
frente agora mesmo.
- E não, não fui eu. – Ele completou
com um sorriso divertido. – Ah e a
Isabela faltou esses dias,
assim como o Cavalcante. Todos
estão falando sobre isso.
- Foi uma merda. – Comentei com
pena.
Ele assentiu.
- Ele sabia que tinha riscos.
- Mas o amor não tem medo de
nada.
Ele me encarou por um segundo.
- Sabe de uma coisa? – ele sorriu. –
Concordo com você.
- Obrigada.
Continuamos nos olhando por um
tempo.
Então ouvimos uma buzina de carro
e nos levantamos. Andei ao lado
dele até o carro e ele abriu a
porta para mim; me surpreendi com
esse ato, mas não agradeci.
Querendo ou não, ele ainda era o
Michael.
- Bom dia jovens. – O Gustavo
cumprimentou sorrindo para nós
pelo espelhinho.
- Bom dia. – Respondemos ao
mesmo tempo.
- Para a praça, por favor. – Michael
falou, sentando do outro lado do
banco.
Gustavo deu a partida no carro e
andamos ao som da rádio.
No caminho, não parei de pensar no
Joshua nem por um segundo. Nosso
primeiro encontro passou
pela minha mente e eu relembrei
cada detalhe como um filme.
Eu o amava tanto.
Mesmo quando eu ainda nem sabia
disso direito, eu simplesmente não
conseguia ficar longe dele e,
quando ele estava por perto, eu me
sentia diferente. Ele me transformou
em uma nova Susan.
Senti meus olhos marejando quando
eu lembrei onde ele estava agora.
Rezei mentalmente pedindo
que ele acordasse logo.
Quando menos esperei, já
estávamos em frente à praça.
A praça da infância do Joshua. A
praça do nosso primeiro encontro.
A praça em que o Michael me
contará o motivo das coisas.
Agradeci ao Gustavo e sai do
carro. Michael me imitou.
Ele foi andando pela praça, não me
dando outra opção a não ser segui-
lo, até parar em um banquinho
de madeira. Ele sentou e eu sentei
ao seu lado.
- Por que aqui? – Perguntei curiosa.
Ele deu de ombros.
- Pura representação; minha
infância foi aqui e o que eu quero te
contar se passa na minha infância.
- Um cenário pro seu filme. –
Arrisquei com um sorriso.
Ele riu. Nunca tinha visto o
Michael rindo de verdade; sem
ironia ou frieza.
- Por ai... Então, por onde eu
começo?
- Não tenho a menor ideia. –
Respondi com sinceridade.
Ele pensou um pouco.
Sua expressão começou a
entristecer e ele olhou ao redor.
- Está vendo aquele casal ali, com
três filhos?
Ele apontou para um casal andava
pela praça com duas crianças ao
redor e um menino de colo.
Esperei eles se aproximarem mais
para ver com detalhes; A mulher
brincava com a criança em seus
braços, ignorando as outras duas,
enquanto o homem ria com alguma
coisa que a menina mais alta
dizia, ignorando o menino que
jogava sua bola para o alto e a
pegava sem muita animação.
- Estou.
- Se você pudesse deduzir alguma
coisa sobre eles, o que diria?
Olhei para eles de novo.
- Talvez que o menino com a bola
está meio triste e ninguém tá se
importando muito com isso.
Ele assentiu, olhando com
solidariedade para o menino.
- Foi uma sorte essa família ter
chegado; eu não poderia ilustrar
melhor como foi minha infância –
ele suspirou. – O menino de colo é
o Nicolas, que tem todo o amor e
atenção da mãe sem fazer
nenhum esforço. Ele sempre foi o
queridinho dela, todo mundo sabia
disso. E a menina, como você
pode deduzir, é o Joshua. Pelo que
eu sei, meu pai queria muito um
filho homem e quando o Joshua
nasceu ele simplesmente o colocou
em cima de um pedestal e ficou
fascinado por tudo e qualquer
coisa que o Joshua fazia. Isso não
mudou com o tempo. – Ele olhou
para a família que passava por
nós. – Eu entendo o que esse
menino está sentindo; ele tenta não
demonstrar o quanto está doendo
ser o ignorado, o ninguém se
importa da família, mas doí. – Ele
se virou para mim de novo. Seus
olhos
estavam apagados. – Doí de uma
forma que eu não conseguiria
explicar.
- Michael... – Comecei, mesmo sem
saber o que poderia dizer para
ajudar.
- Então, eu comecei a odiá-los.
Todos eles. Minha mãe por não me
dá atenção, Nicolas por chamar
atenção, meu pai por não ouvir
nada que eu digo, Joshua por falar
demais... Todos eles. – Ele repetiu.
Seu tom lentamente se tornava mais
frio. – Eu fugia dos almoços em
família e fingia esquecer todos
os aniversários, achando que,
assim, iria conseguia deixa-los tão
tristes quanto eu estava.
- E deu certo?
Ele abaixou a cabeça.
- Não, eles nem sequer notaram. Eu
só era um Hunter na teoria.
- Não diga isso, duvido que...
- Ah, você mesma já teve ter
notado. Mamãe melhorou um
pouco, mas meu pai nem faz
questão de
esconder sua preferencia. – Ele
olhou para mim com seriedade. –
Ele nunca respondeu meu bom dia.
Pode parecer algo desnecessário a
ser dito, mas era importante. O
senhor Fernando ignorava tanto a
existência do Michael que nem
mesmo se dava ao trabalho de
responder o bom dia dele.
Tentei não sentir pena dele, mas não
consegui. Eu queria abraça-lo e
dizer que iria ficar tudo bem.
- Aonde... Você quer chegar com
isso? – Perguntei com delicadeza.
- Todo o meu ódio durou até meus
13 anos. Então tudo mudou.
Olhei para ele com cara de
interrogação.
Ele respirou fundo antes de falar.
- Joshua tinha 17 anos quando
decidiu foder minha vida e jogar
tudo para o alto.
38. Os motivos do Michael - Parte
I
✣Michael✣
Acordei me sentindo bem. O que
era estranho, é claro. Eu nunca
acordava me sentindo bem.
Talvez fosse por que hoje era meu
aniversário de 13 anos.
Talvez fosse por que eu não teria
aula.
Talvez fosse simplesmente por que
Deus decidiu me dar uma folga e
me deixou ser feliz.
Ri com esse último pensamento;
desde quando eu sou alguém
religioso?
Não que eu não ache que Deus
existe, mas Ele poderia ter me
colocado em uma família melhor –
ou
seja, em qualquer uma sem ser a
minha.
Me levantei da cama e fui ao
banheiro. Meu reflexo no espelho
mostrava que mudei absolutamente
nada; o mesmo cabelo preto que
não ficava do jeito que eu queria,
os mesmos olhos verdes sem
graça, a mesma cor pálida. Eu
ainda parecia um vampiro mirim.
Ótimo, pensei, não será esse ano
que
eu vou perder a porra do meu bvl.
Joguei água no rosto, escovei os
dentes e respirei fundo antes de sair
do quarto. Será que eles
lembravam que dia é hoje? Ou seria
como ano passado?
Mal abri a porta do quarto e já ouvi
gritos. Por um segundo, pensei que
fosse de parabéns; então
percebi que era uma briga. Corri
até o local de onde estava vindo o
barulho: o quarto dos meus pais.
Parei em frente à porta e esperei.
- NÃO ACREDITO NISSO! – Ouvi
minha mãe gritando.
- Se-Senhora Nicole... – Alguém
gaguejou. Demorei um segundo
para reconhecer como sendo Joana,
a empregada da casa. – Eu juro
que...
- Saia daqui. – Uma voz fria
rebateu. Meu pai, é claro.
- Por favor, me dê uma chance. – A
Joana implorou.
Minha mão foi até a maçaneta
automaticamente. Eu precisava
saber o que estava acontecendo.
Já estava rodando a mão quando
senti algo tocando meu ombro.
Dei um pulo, assustado, e me virei
para ver quem era.
- Joshua porra, não faça isso! –
Reclamei irritado, sentindo meu
coração a mil por hora.
Ele me fuzilou com os olhos.
- Não use esse palavreado comigo,
pirralho – ele pegou meu braço e
me puxou para longe da porta. –
Sabia que é feio espiar as pessoas?
Soltei meu braço bruscamente e
olhei para ele com raiva.
- Ouvi gritos e fui ver o que estava
acontecendo.
Ele fingiu que não ouviu.
- Espero que isso não se repita. –
Ele avisou ameaçadoramente.
Então, se inclinando um pouco para
poder falar ao meu ouvido,
completou: – Ou eu conto para o
papai.
Engoli em seco e me afastei dele,
indo para o elevador.
- Aliás, parabéns pelos 13 anos.
Me virei por um segundo, tentando
não me senti grato por ele ter
lembrado. Eu deveria odiá-lo por
ser tão idiota comigo, mas não
consegui. Não agora.
Joguei meu orgulho para longe,
girei meu corpo e sorri para ele.
- Obrigado.
Ele levantou uma sobrancelha para
mim, surpreso pela minha atitude.
Então, quando eu pensei que
teríamos um daqueles raros
momentos em que agíamos como
irmãos, ele
simplesmente se virou e entrou no
próprio quarto.
Suspirei e entrei no elevador.
Eu era alto para a idade – 1,76, por
ai –, mas gostaria de ser mais, pelo
menos o bastante para poder olhar
nos olhos do Joshua sem ter que
inclinar o pescoço minimamente.
Fui até a sala e vi o Nicolas
deitado no sofá, rindo com alguma
coisa no computador. Me aproximei
um pouco para ver o que era, mas,
assim que sentiu minha presença,
ele fechou o computador com
força, antes mesmo que eu pudesse
ler algo.
- PUTA MERDA Michael, AVISE
QUANDO ENTRAR! – Ele gritou
se sentando no sofá e me
olhando com raiva. Seu tom
exalava nervosismo.
Revirei os olhos.
- Pode deixar que eu não quero ver
sua conversa com seu namorado. –
Rebati com irritação.
Ele arregalou os olhos.
- Nunca mais repita isso!
Abri a boca para responder, mas
acabei pensando melhor. Não
queria brigar com outro irmão.
Fui andando devagar até a porta da
casa. Meu subconsciente achou que
ia ganhar outro parabéns.
Coitado, iludido.
Passei pelo jardim e me sentei no
balanço, tentando ao máximo não
ficar triste.
- Se sinta bem – falei para mim
mesmo. – Já já você vai poder sair
de casa e viver sua vida longe
dessas pessoas.
Lá no fundo, gostaria que hoje não
fosse feriado. Pelo menos no
colégio eu posso fingir que minha
vida não era uma merda.
E lá tinha a Clara.
Não sei como nem por que, mas ela
era apaixonada por mim – e não
fazia muita questão de ser
discreta. Ela era bonita, inteligente
e parecia ser legal, mas, por algum
motivo, eu não conseguia me sentir
do mesmo jeito. E, por isso, eu não
podia beija-la. Seria errado ficar
com uma garota sabendo que ela
sente algo mais.
Suspirei. Eu não gostava de admitir
para mim mesmo, mas adorava o
jeito como ela ficava sem graça
ao me ver; o jeito como ela mexia
no cabelo quando falava comigo; o
jeito como ela escrevia meu
nome centenas de vezes no caderno
dela, mesmo sem perceber. Ela
fazia eu me sentir amado.
E, ao mesmo tempo, gostaria que
ela parasse. Amasse um garoto que
também amasse ela. Bem, acho
que essa paixão não vai durar muito
tempo mesmo... Assim que
passarmos do 8º ano ela vai me
esquecer.
Ou seja, daqui a nove meses.
Balancei a cabeça para tentar parar
de pensar nela. Saltei do balanço e
voltei para dentro de casa.
Assim que abri a porta me deparei
com essa cena: Meu pai jogando as
malas da nossa empregada no
chão bruscamente, seus olhos
pegando fogo de ódio.
- E nunca mais pise nessa casa! –
Ele gritou apontando para porta.
Entrei em casa e fui discretamente
para o lado, tentando não chamar
atenção para mim.
- Senhor Fernando, eu realmente
sinto muito. – Ela começou, com os
olhos lagrimejados.
Olhei ao redor e vi que o Nicolas
ainda estava no sofá, meio
escondido, enquanto minha mãe e o
Joshua observavam a Joana, atrás
do meu pai.
- Não tem desculpas. E saia daqui
antes que eu chame a policia.
Ela não respondeu. Apenas olhou
uma ultima vez para minha família
antes de se virar e andar até a
saída.
- Feliz aniversário, Michael – ela
falou ao passar por mim. – Você
sempre foi meu preferido.
Senti um nó se formando em minha
garganta, me impedindo de
responder qualquer coisa. Ninguém
nunca havia dito isso para mim.
Quando ela sumiu de vista, fui até
meu pai.
- O que aconteceu?
Ele olhou para mim como se eu
fosse um estranho. Ele sempre me
olhava assim.
- Encontramos ela roubando as
joias do cofre. – Ele disse já se
afastando de mim e indo para perto
da mamãe. – Será que a gente
encontra outra até o fim da semana?
- Claro – ela pegou o celular do
bolso. – Me dê cinco minutos.
Meus pais sorriram um para o outro
e subiram as escadas. Joshua olhou
para mim.
- Como pretende comemorar seu
aniversário?
Me perguntei por que ele estava
sendo tão legal. Não fazia sentindo.
Antes que eu pudesse responder,
ouvi um gritinho.
- AI MEU DEUS, EU ESQUECI
COMPLETAMENTE! – Nicolas
correu até onde eu estava e me
abraçou. – Parabéns Michael!
- O-brigado. – Respondi meio sem
graça. Não estava acostumado com
tanto contato físico.
Ele se afastou de mim, sorrindo.
- Vamos comemorar! Que tal um
campeonato de futebol? Pra estrear
a quadra. – Ele apontou para o
campo pela janela.
Joshua riu.
- Querem ser humilhados digam.
Nicolas empurrou o ombro dele,
rindo também.
- Sai dessa.
Joshua o empurrou de volta e olhou
para fora da casa.
- Vamos agora ou vocês preferem
desistir enquanto há tempo?
Nem nos demos ao trabalho de
responder e corremos para a
quadra, pegando a bola no caminho.
- Como vai ser? – Perguntei quando
entramos no campo.
- Você chuta a bola e reza pra ela
chegar ao gol.
- Como você é engraçado Joshua, é
comediante?
Ele riu ainda mais e colocou a bola
no chão.
- Vamos fazer dois jogadores e um
goleiro e ir trocando. – Ele
comandou.
- E quem vai ser o goleiro? –
Perguntei, já sabendo a resposta.
- Você. – Eles responderam em
uníssono.
Fui até o meio do gol e observei
enquanto eles tiravam impar ou par
e decidiam quem começava com
a bola. Nicolas ganhou.
Eles começaram o jogo, quase
nunca chutando a gol, apenas
driblando uns aos outros e rindo
alto.
Eles eram irmãos. Por que eu não
fazia parte disso?
O jogo foi se estendendo por horas,
até o sol começar a se pôr e só
agora eu consegui sair do gole
jogar. Peguei a bola e coloquei no
chão, me preparando para começar
a chutar e driblar o Joshua.
Então alguém tocou a companhia.
Joshua olhou para mim e riu.
- Mais azarado que você só dois.
Revirei os olhos.
- Vai lá abrir a porta, Michael. –
Nicolas pediu educadamente. Era
impressão minha ou o tom dele
sempre era gentil, mesmo quando
ele estava triste ou irritado?
Chutei a bola para longe e fui fazer
o que ele mandou. Eu era o mais
novo, não tinha muita escolha.
Parei em frente ao portão.
- Quem é?
- Meu nome é Solange...
- Pode abrir Michael! – minha mãe
gritou da porta de casa. – Ela é a
nova... Secretária do lar.
Abri o portão para ela e senti meus
olhos se arregalando de surpresa.
Uma mulher com no máximo 30
anos, sorriu para mim, mas não foi
ela quem me chamou atenção. Foi a
menina – que devia ser da
minha idade ou um pouco mais
velha – ao seu lado; com o cabelo
castanho ondulado e longo que
descia até sua cintura fina, a pele
morena que combinava
perfeitamente com seus brilhantes
olhos
escuros e um sorriso que poderia
parar o mundo por um segundo. Ela
era mais do que linda. Ela era
mais do que qualquer coisa que eu
já tinha visto em toda minha vida.
- ...Michael? – Olhei confuso para a
mulher e pisquei duas vezes para
tentar me concentrar.
- Desculpe, o que disse? –
Perguntei me sentindo
envergonhado por ter ficado fora do
ar.
A menina riu baixinho da minha
cara.
- Eu perguntei se você era o
Michael, o filho mais novo.
- Ah sim, sou eu mesmo. –
Respondi com um sorriso e dei um
passo para o lado, segurando o
portão
para elas passarem.
A mulher passou mim e foi em
direção a minha mãe, mas a menina
ficou, parando bem na minha
frente.
- Oi, meu nome é Anna – ela se
apresentou sorrindo e estendendo a
mão para mim. – Muito prazer.
- O prazer é todo meu.
Apertei sua mão. Assim que a
toquei, senti pontadas de
eletricidades, como se estivesse
tocando em
um fio solto. Era uma boa sensação.
Se ela sentiu o mesmo, não
demonstrou.
- Ei Michael, venha com a Anna
para a casa. – Ouvi minha mãe
falando.
Olhei para a garota na minha frente,
que se virou para a entrada e saiu
andando, sem me esperar.
Adorei ela.
Dei uma corridinha para alcança-la
e andei ao seu lado até entrar em
casa. Ela arregalou os olhos,
com a boca entreaberta de surpresa.
Achei graça de sua reação.
- Seja bem-vinda! – Minha mãe a
cumprimentou com um sorriso de
orelha a orelha.
- Obrigada, Dona... Nicole?
Mamãe assentiu com a cabeça e
apontou para a escada.
- Venham comigo, vou mostrar seus
quartos.
Ela subiu as escadas e as duas a
seguiram. Acompanhei as curvas da
Anna com o olhar enquanto ela
se afastava de mim. Já que disse
que ela era linda?
Ouvi risadas atrás de mim e girei o
corpo. Meus irmãos entraram na
sala, rindo.
- Você me paga! – Nicolas falou
dando um murrinho no ombro do
Joshua.
- Não sabe perder não joga. –
Joshua rebateu em tom divertido.
Ele era poucos centímetros mais
alto do que o Nicolas, mas
aparentava ser milhões de vezes
mais
forte. Talvez desse essa impressão
pelo fato do Nicolas parecer
incapaz de machucar alguém, ao
contrário do Joshua, que parecia
sempre preparado para brigar.
- Nem vi como era a nova
empregada. – Joshua comentou
olhando para mim.
- Ela parece ser legal... A filha dela
também. – Deixei escapar. Espero
que minha voz tenha saído
sem malicia.
Ele levantou uma sobrancelha.
- Quantos anos?
- 15, por ai.
Ele apenas assentiu com a cabeça.
- Então, que tal voltarmos ao jogo?
– Nicolas perguntou.
- Não estou mais afim. Que tal a
gente ir comer em algum lugar? –
Joshua sugeriu olhando para mim.
- Claro, onde?
- A gente decide no caminho – ele
pegou o celular na mesa de jantar. –
Vou ligar para o Gustavo, um
segundo.
[...]
Sai do banheiro com a toalha
enrolada no quadril. Tinha dez
minutos para me trocar e descer
para
sair com o Nicolas e o Joshua. Não
saíamos juntos há tanto tempo que
eu nem me lembrava da ultima
vez.
Eu ainda estava no caminho até meu
guarda-roupa quando ouvi alguém
batendo na porta. Deve ser
Joshua mandando eu me apressar.
- Pode entrar. – Disse me virando
para a porta, ajeitando a toalha.
- Me desculpe incomodar, mas...
Senti meu coração acelerando.
Observei em choque enquanto a
porta se abria e a Anna surgia atrás
dela, com um sorriso envergonhado
no rosto.
Ela me olhou de cima a baixo e
corou violentamente.
- Ai meu Deus, eu não sabia que
você estava... – Ela desviou os
olhos.
Sorri sem jeito.
- Tudo bem, eu não estou
completamente nu aqui – falei,
tentando acalmar ambos. – O que
você quer?
Ela olhou para o meu corpo mais
uma vez e posso jurar que vi seus
olhos brilhando por um segundo.
- Na boa? Esqueci. – Ela riu,
finalmente olhando em meus olhos.
– Se eu lembrar de novo digo, ok?
- Ok... – Respondi sem saber o que
dizer. Seus olhos pareciam flertar
comigo. - Quer... Hum... Me
ajudar a escolher minha roupa?
Ela ergueu as sobrancelhas.
- Sério? – ela não esperou minha
resposta. – Claro que quero.
Apontei para o guarda-roupa na
minha frente e ela correu para perto
de mim, sorrindo como uma
criança.
Ela passou a mão pelas minhas
roupas.
- Preto iria destacar a cor dos seus
olhos. – Ela falou pensativa. – Mas
vermelho te deixaria com
cara de ousado.
Ri do que ela estava falando.
- Eu vou para um restaurante, não
pra uma balada.
Ela balançou a cabeça.
- Não importa ué. Pra onde quer
que você vá – ela se virou para
mim –, tem que ir arrasando.
- Ok, ok, o que você sugere?
Ela pegou uma camisa azul escura
quase preta que continha apenas o
símbolo da marca.
- Vai ficar perfeito.
Ela me entregou a camisa e eu a
olhei com cuidado.
- Realmente vai. – Confessei rindo.
Ela sorriu por um segundo.
Então sua expressão tomou um quê
interrogativo.
- Me desculpa perguntar, mas por
que você vai a um restaurante em
pleno feriado e uma hora dessas?
Pensei um pouco.
- É meu aniversário. – Respondi
por fim.
Ela arregalou os olhos.
- Ai meu Deus! Parabéns!
Ela bateu palmas e me abraçou.
Senti todos os músculos do meu
corpo se contraindo com o toque.
Meu coração deu um mortal para
trás.
- Obrigado. – Disse enquanto ela se
afastava. – Sei lá... Se quiser, pode
vim com a gente.
Ela negou com a cabeça.
- Não posso sair com vocês – ela
abaixou os olhos –, de certa forma
seria como sair com meus
chefes.
- Não concordo com você. Mas,
mesmo que fosse assim, eu estou te
convidando. – Ela olhou para
mim novamente, séria. – Eu faço
questão.
Não sei por que estava sendo tão
gentil. Eu nunca agia assim. Eu
sempre fiz questão de não me
importar muito com as pessoas – ou
pelo menos fingir que não me
importava. Mas, agora, eu só
queria que ela sorrisse, nem que
fosse por um único segundo.
- Mas...
- Você quem sabe. – A cortei, já
prevendo o que era iria dizer. Não
queria ter que ouvir aquelas
coisas que menina diz quando quer
ser paparicada.
- Ok então, eu vou.
Internamente, admirei sua decisão e
seu tom seguro de voz. Ela não era
uma menina que queria ser
paparicada. Longe disso.
- Vai se trocar que eu passo no seu
quarto daqui a dez minutos.
- E você sabe onde é?
- Não.
Ela riu. Sua risada saia facilmente
mas era algo difícil de esquecer.
Parecia música.
- Sou sua vizinha esquerda. – Ela
respondeu, já se virando para ir
embora.
Observei enquanto ela saia. Bela
vizinha, pensei.
Coloquei a roupa que ela escolheu,
junto com uma calça jeans preta, e
saí do meu quarto. Parei em
frente ao quarto ao lado.
Bati na porta, ansioso para ver a
Anna.
- Só um segundo! – Ela pediu com
uma voz apressada.
Esperei, pensando no que ia dizer.
Elogiaria sua roupa ou apenas a
guiaria até o térreo? A
cumprimentaria com um abraço ou
um aperto de mão? Seria gentil ou
indiferente?
Respirei fundo. Pare com isso, falei
para mim mesmo, irritado.
Então a porta se abriu e eu não
consegui pensar em mais nada. Se
ela já era linda naturalmente,
imagina maquiada. Ela estava
perfeita.
Fiz força para não arregalar os
olhos e a abrir a boca de surpresa.
- O-oi. – Gaguejei, sem conseguir
evitar.
Ela riu, corada.
- Peguei a maquiagem da minha
mãe... Acho que exagerei. – Ela
falou, baixando os olhos.
Neguei com a cabeça, mais
intensamente do que deveria.
- Você está linda.
Para com isso pelo amor de Deus.
Seja mais difícil.
- Acha mesmo?
Mude de assunto, mude assunto,
mude de...
- Com certeza.
Ela sorriu envergonhada.
- Obrigada, Michael.
Nos encaramos e eu senti um
sorriso bobo surgindo em meu
rosto, dançando na minha boca sem
que
eu pudesse controla-lo. Merda,
agora é tarde demais.
- Então... Vamos? – Perguntei sem
desviar os olhos.
- É pra já!
Sorri e apontei para as escadas. Ela
andou até lá e eu a segui.
Descemos as escadas rapidamente
e demos de cara com o Joshua e o
Nicolas conversando na sala.
- Por que porra você terminou com
ela? – Joshua perguntou confuso.
Nicolas ficou vermelho e hesitou.
Estranho. Nicolas nunca hesitava –
essa era umas das coisas que eu
admirava nele.
- Ela não... Faz meu tipo. – Ele
respondeu dando de ombros, mas
seus olhos revelavam seu
nervosismo. O que será que ele está
escondendo?
Joshua bufou com ironia.
- Você diz isso para todas – ele
estreitou os olhos para o irmão do
meio. – Afinal, qual é seu tipo?
Nicolas abriu para falar, mas parou,
olhando para mim e para Anna com
uma mistura de surpresa e
gratidão.
- Michael! E...? – Ele
cumprimentou e olhou para a
menina ao meu lado.
- Anna – ela completou com
sorriso. Era tão fácil fazê-la sorrir.
– e o seu?
- Nicolas, e esse é...
- Joshua – ele falou praticamente
correndo até a Anna e pegando sua
mão. – Muito prazer. – Ele
completou, levantando a mão dela e
a beijando.
Suas bochechas ficaram vermelhas
e ela desviou os olhos, indo para
mim. Tentei não odiar o Joshua
e não morrer de ciúmes.
- O prazer é todo meu. – Ela
respondeu baixinho, sem graça.
Ele sorriu e ela levantou os olhos
para ele.
Tossi baixinho, chamando a atenção
para mim.
- Vamos ou não?
Ele se virou para mim como se
tivesse, só agora, notado minha
presença.
- É, vamos. – Ele pegou celular e
discou um número. – Gustavo?
Pode vim agora, por favor?
Não sei o que ele respondeu, mas o
Joshua assentiu com a cabeça e nos
olhou com os olhos
brilhando.
- Ele chega daqui a dois minutos. –
Avisou.
Anna se inclinou para mim.
- Não acredito que vocês tem um
motorista particular! – Ela
sussurrou no meu ouvido.
Ri com a surpresa dela.
- Ele trabalha para nós há cinco
anos já. Gente boa demais.
Ela me olhou impressionada.
- Gente rica é outro mundo.
Balancei a cabeça.
- Não fale como se não fizesse
parte disso agora.
Ela levantou uma sobrancelha.
- Não concordo com você; eu não
tenho dinheiro e vocês têm, mas o
fato de eu vim morar aqui não
faz com ele seja transferido para
minha conta no banco.
- Ei duplinha, venham pra cá.
Olhei para o Joshua no sofá,
acenando para nos juntarmos a ele.
Eu não queria, é claro, mas fui
assim mesmo.
Me sentei ao lado dele enquanto ela
sentava-se na poltrona, em frente
aos dois. Nicolas estava
deitado no outro sofá, sem prestar
atenção em nenhum de nós.
- Quantos anos você tem? – Joshua
perguntou.
- Fiz 15 mês passado.
Os olhos dele brilharam e eu senti
uma pontada no meu estomago. Ela
era dois anos mais velha do
que eu e dois anos mais nova do
que ele. Ela tinha idade para
escolher qualquer um.
- E você?
- 17.
Eles se olharam, provavelmente
pensando de que sim, eles
poderiam se pegar sem problemas.
Pressionei os lábios, vasculhando
na minha mente algo para falar e
mudar o assunto.
Foi então que, para minha sorte,
ouvimos um barulho de buzina.
Gustavo. Aleluia.
Joshua deu um pulo do sofá.
- Vamos crianças. – Ele disse indo
para a porta.
Observei enquanto a Anna revirava
os olhos, irritada por ser chamada
de criança. Era uma sorte
enorme o Joshua não pensar antes
de falar.
O seguimos para fora da casa e o
Joshua entrou no banco do
passageiro, deixando os três
lugares de
trás para nós. Nos sentamos. Quem
olhasse de longe diria que somos
todos da mesma família.
Cumprimentamos o Gustavo e o
Joshua explicou para ele para onde
estávamos indo.
- Aliás, parabéns Michael. – Ele
falou enquanto dava a partida no
carro.
- Obrigado, Gusta.
Ele sorriu para mim pelo
espelhinho.
- Gente boa demais. – Ouvi uma
voz quase inaudível perto do meu
ouvido.
Olhei para a Anna, que estava a
poucos centímetros de mim.
- Eu falei.
Ela sorriu, apoiando a cabeça em
meu ombro. Senti uma onda elétrica
partindo de onde ela me tocou,
mas disfarcei.
Assim que chegamos lá, Joshua saiu
do carro e abriu a porta do banco
de trás. Anna olhou para ele
com uma mistura de admiração e
surpresa. Merda.
Saímos do carro e seguimos o
Joshua até o interior do restaurante.
Nos sentamos na mesa perto da
televisão.
- Vai estudar no JK? – Perguntei
para a Anna quando nos sentamos.
Ela ao meu lado e de frente para
o Joshua.
- Com certeza. Acho que sou da
turma do Nicolas.
Ele deu de ombros e eu me
surpreendi com sua indiferença.
Mas, pensando bem, ele nem a
olhou
direito – se é que você me entende
– ainda. Nicolas agia aos poucos.
- Passe no terceirão viu? – Joshua
pediu com um sorriso.
- Pode deixar. – Ela respondeu
sorrindo também.
- Ei você vai conhecer o Reys,
professor de química. Se prepare
para escrever até sua mão cair. –
Nicolas falou, finalmente
participando da conversa.
- Odeio professor que escreve
muito. – Ela comentou.
- Também. – Concordei.
- Quando eu for professor, vou
escrever apenas o necessário. –
Joshua afirmou, olhando fixamente
para a Anna enquanto falava,
querendo ver a reação dela.
Ela arregalou os olhos para ele.
- Você quer ser professor?!
Ele riu. Todos tinham essa reação.
- Com toda certeza.
Ela levou a mão à boca,
extremamente surpresa.
- Isso é tão estranho... Nunca
conheci ninguém que quisesse ser
professor.
Joshua riu ainda mais.
- Alguém tem que querer, se não
como o país vai continuar?
A cada palavra que ele dizia, Anna
parecia ficar mais admirada.
Revirei os olhos.
- Eu acho linda essa profissão – ela
disse. – Ensinar alguém é algo tão
nobre.
Ele assentiu com a cabeça, feliz.
- Obrigado. – Ele agradeceu com
um sorriso imenso no rosto.
- E você Michael, o que quer ser? –
Ela perguntou se virando para mim.
- Alguma coisa que tenha Medicina.
– Respondi sem detalhes. Nunca
tinha parado de verdade para
pensar nisso. Até por que eu só
tinha 13 anos, tempo de sobra para
decidir.
Ela concordou com a cabeça.
- Também!
- Ótimo, já já vou poder ficar
doente qualquer dia. – Joshua
brincou.
Todos na mesas riram, até o
Nicolas, que realmente não estava
se importando com o que acontecia
ao
seu redor.
- Eu e o Michael cuida dos seus
alunos, Joshua. – Ela sugeriu com
os olhos brilhando, como se
estivesse ansiosa desde agora.
Ele riu.
- Não tenho nem dúvida disso.
[...]
O jantar passou rapidamente. Não
ficamos sem assunto nem por um
único segundo.
Anna gostava de falar; Joshua
gostava de falar; Nicolas e eu não
reclamávamos de ouvir. A
combinação perfeita para uma
conversa quase sem fim.
Quando finalmente chegamos em
casa – depois de eu ter descoberto
coisas como: Anna nasceu na
Argentina, mas foi naturalizada
brasileira com três anos de idade;
ela é alérgica a camarão; odeia
todo e qualquer tipo de refrigerante;
só foi a praia uma vez na vida etc –
eu estava exausto. Me
despedi de todos e fui para o meu
quarto.
Deitei na cama e ajeitei o
travesseiro na minha cabeça, sem
conseguir para de pensar no tanto
de
coisa que eu descobri. Anna era
uma garota de várias faces.
Eu ainda estava acordado quando
ouvi alguém batendo na porta.
- Pode entrar. – Respondi
automaticamente.
Me sentei na cama para ver melhor
quem era. Joshua.
Ele entrou no quarto e fechou a
porta com cuidado.
- Oi irmãozinho.
Levantei uma sobrancelha,
desconfiado.
- O que você quer?
Ele riu baixinho e veio até mim,
sentando na bora da cama.
- Precisamos conversar.
- Sobre...?
Mas eu sabia sobre o que era.
- Anna.
Como eu pensei.
- O que exatamente você quer
dizer?
Ele suspirou antes de falar. Seus
olhos azuis estavam particularmente
escuros hoje, como quando meu
pai brigava com alguém.
- Não posso negar que ela é uma
menina extremamente bonita.
- Ninguém está mandando você
negar isso. –Retruquei, sem gostar
do rumo da conversa.
- Eu vi o jeito como você olhou
para ela, Michael. Eu não tenho 10
anos. – Ele suspirou outra vez. –
Eu sei quando vejo alguém
apaixonado.
- Não estou apaixonado por ela! –
Respondi na defensiva.
Mas, na verdade, eu não sabia se
estava sendo sincero. Nunca estive
apaixonado antes então, se eu
estivesse, eu provavelmente não
saberia.
- Claro que está, mas isso não é um
problema.
- Então por que veio aqui?
- Só vim dizer que também a acho
bonita e legal, por isso vou tentar
ficar longe dela.
Olhei para ele surpreso.
- Sério?
Ele assentiu com a cabeça.
- Sei que você faria isso por mim.
Fiquei calado. Não sei se faria isso
por ele. Não sou tão bom assim.
Ele riu do meu silencio.
- Ok, talvez não, mas isso não é
importante – ele se levantou da
cama. – O importante é que eu já
dei meu recado e você já pode
voltar a dormir.
Ele girou o corpo para porta.
- Boa noite Michael.
- Boa noite Joshua.
Meu ultimo pensamento antes de
dormir foi que, talvez, eu devesse
dar uma chance a minha família.
Eles não são de todo ruim.
[...]
O tempo passou rápido.
A beleza da Anna apenas
aumentava a cada dia, mas, aos
poucos, fui me acostumando com a
presença dela; em casa e na escola.
Ela já estava há duas semanas aqui
e nós ficamos, por mais estranho
que isso pode parecer no
começo, amigos.
Não que eu nunca tivesse sido
amigo de outra garota antes, é
claro, mas a Anna era diferente. Eu
queria beijar e conversar com ela,
ao mesmo tempo.
Joshua estava certo, eu estava
apaixonado por ela.
Admiti isso apenas ontem a noite,
quando ela passou no meu quarto
para falar como foi seu dia na
escola. Fiquei tão fascinado por
tudo o que ela disse que, quando
ela foi embora, fiquei curioso para
saber mais sobre a amiga do
Nicolas que namora o inimigo da
melhor amiga dela; e isso só tem
duas
explicações possíveis: eu a amo, ou
eu sou gay.
Fiquei com a primeira opção.
E era nisso que eu estava pensando
enquanto caminhava pelo corredor
do primeiro andar, indo em
direção ao meu quarto.
Então eu ouvi vozes se elevando.
Vinha do quarto dos meus pais.
Corri para lá e parei em frente a
porta, esperando alguma coisa.
- Eu já falei mil vezes! Não quero
ela nas nossas reuniões de família!
– Meu pai gritou, irritado.
Os gritos naquela casa estavam
ficando frequentes.
- Mas tá na cara que o Michael
gosta dela, temos que respeitar
isso. – Minha mãe rebateu, com seu
velho tom gentil e marcante ao
mesmo tempo.
Gelei. Eles estavam falando de
mim.
Todos os meus extintos disseram
que era melhor eu ir embora agora
e não ouvir mais nada, mas eu
não me mexi.
- Maldita hora que a gente foi fazer
aquele menino!
Eu não devia ter ouvido isso.
Olhei para o lado sem saber o que
fazer. Não podia entrar e fazer um
escândalo. Não podia correr
como uma criança e chorar em meu
quarto. Não podia continuar parado
ali.
- Fernando! Como você pode dizer
uma coisa dessas? – Ouvi minha
mãe perguntar irritada, mas
sabia que era mais por ela do que
por mim.
Respirei fundo, tentando me
controlar e me virei para o meu
quarto, andando devagar.
Respirando e
inspirando para não começar a
chorar ou gritar.
Eu sabia que meu pai não queria um
terceiro filho. Todo mundo sabia
disso. Ele sempre foi um
homem muito supersticioso e a
ideia de ter um número impar de
crianças o assustava. Ele não
queria
que eu tivesse nascido.
Mas eu nasci. E ele nunca me
perdoou por isso. Ele decidiu que a
culpa da minha existência era
minha e simplesmente fez questão
de não participar de nada da minha
vida. Ele me ignorou quando eu
era menor e me ignora agora.
Andei mais depressa até meu quarto
e abri a porta com força.
- Ai que susto!
Olhei para a garota na minha cama,
com a mão no coração. Não queria
ver a Anna agora.
Levantei os olhos para segurar as
lagrimas. Eu não podia chorar na
frente dela. Não, meu Deus, eu
não podia estragar tudo.
Fiquei parado na entrada do quarto,
com medo de me aproximar e ela
perceber que havia algo de
errado. Naquele momento, eu só
queria ficar sozinho.
Mas, infelizmente, ela queria
conversar. Me mantive imóvel
enquanto ela se levantava da cama
e
vinha na mina direção, parando a
menos de um metro de mim.
Olhei para ela.
Ela era tão bonita.
Não importa se fazia um dia ou
duas semanas que ela tinha chegado
nessa casa, eu ainda me
surpreenderia ao vê-la de perto.
- O que aconteceu? – Ela perguntou
preocupada.
Neguei com a cabeça.
- Nada não.
Ela estreitou os olhos.
- Eu sei que aconteceu alguma
coisa, Michael.
- Não me obrigue a dizer. – Pedi
baixinho, me arrependendo no
mesmo segundo por parecer tão
vulnerável.
- Não vou obrigar, só... Quero
saber como posso te ajudar.
Nos olhamos. Seus olhos escuros
refletiam minha imagem como um
pequeno espelho.
- Apenas... Me deixe sozinho. –
Pedi, mesmo sabendo que isso não
iria ajudar.
Ela não se mexeu.
- Não acho que isso vai adiantar de
alguma coisa.
- E o que vai?
Ela respirou fundo, como se
estivesse tomando coragem para
alguma coisa.
- Não sei. Alguma ideia?
Ela olhou para mim boca.
Senti o mundo ao meu redor
girando e eu esqueci completamente
o motivo da minha tristeza.
Ela queria me beijar.
Dei um passo à frente.
- Algumas. – Falei deixando que o
tom de malicia saísse.
- Não vejo nada que as impeça de
acontecer. – Sua voz saiu baixa e
rouca. Ela estava tão nervosa
quanto eu.
Na ultima semana, tínhamos ficado
amigos. Mas isso não impediu de
termos momentos de flerte. Eu
deitava em seu colo quase toda
tarde e ela mexia no meu cabelo
com suas mãos leves. Nos
olhávamos o tempo todo. Ela me
apresentou as amigas com sendo
SEU Michael. E eu não deixava
que meus amigos olhassem para ela
por mais de cinco segundos. De
certa forma, eu sabia que isso
iria acontecer. Só não sabia que
seria agora e dessa maneira.
Ela deu um passo à frente.
Estávamos quase nos tocando.
Minhas mãos foram lentamente até
sua cintura e eu a puxei para mim,
com cuidado. Nada poderia dar
errado agora.
Ela, agora colada comigo, colocou
as mãos na minha nuca e no meu
cabelo, me arrepiando.
Mesmo sendo mais velha, ela
precisou ficar na ponta dos pés;
assim que o fez, ficamos cara a
cara.
Nossos olhos simplesmente não
conseguiam desviar um do outro.
- Talvez eu esteja apaixonado por
você. – Falei baixinho, como um
segredo.
Ela assentiu com a cabeça.
- É, talvez eu também esteja
apaixonada por você.
Nos olhamos por mais alguns
segundos.
Então nossas bocas se encontraram
e eu fechei meus olhos. Eu só
queria sentir.
Depois de tudo que já aconteceu
entre mim e minha família, eu não
pensei que fosse capaz de amar
alguém. Não assim. Não de
verdade. Eu não pensei que
conseguiria encontrar uma pessoa
pela qual
eu daria minha vida sem pensar
duas vezes. Mas aqui estava eu,
beijando essa pessoa. Deixando
que,
mesmo que por apenas alguns
segundos, fizéssemos parte de uma
só coisa.
Eu a amava.
Meu coração batia forte e, quando
paramos para respirar, não
consegui dizer nada para descrever
o
que estava sentindo. Mas não
precisei. Ela sabia.
Ela sabia que eu a amava.
Era só isso que importava.
[...]
Acordei me sentindo uma pessoa
nova.
Tudo estava dando certo.
Você tem ideia de como isso é raro
para alguém como eu?
Me levantei da cama e sorri.
Enquanto existisse a Anna, eu
sorriria todos os dias.
Era domingo, e eu desci as escadas
para tomar café da manhã.
E lá estava ela, sentada na mesa.
Quando nossos olhares se
encontraram senti como se alguém
tivesse
tirado o ar dos meus pulmões. Ela
era de tirar o folego.
- Então, estamos namorando? – Ela
perguntou quando me sentei ao seu
lado.
Sorri com a ideia.
- Só se você quiser.
Ela riu e me beijou.
- Claro que eu quero.
[...]
A semana depois disso não poderia
ser melhor. Eu e Anna estávamos
cada dia mais próximos e
conversávamos sobre tudo. Ela era
minha melhor amiga e minha
namorada. O que eu poderia pedir a
Deus?
Notei que Joshua ficou um pouco
afastado esses dias, acho que
mantendo sua promessa. Ele era um
bom irmão.
Então, num dia de terça-feira em
que eu iria ter esporte, mas foi
cancelado por que o professor teve
problemas de saúde, voltei para a
casa mais cedo do que a rotina.
Decidi passar no quarto da Anna e
ir falar com ela. Tinha pego uma
flor no jardim para entregar
quando a visse.
Abri a porta sem bater, como
sempre fazia.
Então eu vi.
Preferia ter visto qualquer coisa,
em qualquer momento. Menos
aquilo. Não, por favor.
A Anna estava deitada com a
cabeça no peito nu do Joshua, com
os olhos fechados.
- Mas o que...? – Olhei para eles
sem acreditar.
Ela deu um pulo da cama,
assustada. Joshua a imitou.
Eles ficaram sem voz.
Não havia nada que pudesse ser
dito.
Eu fui traído não só pelo amor da
minha vida como também pelo meu
próprio irmão.
39. Os motivos do Michael - Parte
II
✣Michael✣
Ela ajeitou o lençol para cobrir
melhor seu corpo e olhou para o
Joshua, que usava uma bermuda
vestida as pressas.
Senti algo quebrando dentro de
mim, como se alguém tivesse
pegado meu coração e jogado do
alto
de um prédio.
- Eu posso explicar – ela falou,
finalmente olhando para mim.
Neguei com a cabeça, meio tonto
por causa do excesso de
informações.
- Acho que ele já sabe o que
aconteceu aqui – Joshua retrucou
com ar de riso. Ele era muito pior
do
que eu imaginei.
Anna se virou para ele, irritada.
- A culpa é toda sua!
Ele riu sem nem um pingo de
arrependimento ou culpa. Será que
alguma parte dele, nem que seja a
menor, lembrava que somos
irmãos?
- Mas eu não estou namorando
ninguém – ele rebateu olhando para
mim.
Respondendo a pergunta anterior:
Não, ele não lembrava.
Mordi o canto interno da boca para
tentar me controlar. Eu só queria
sair correndo dali e ir para o
mais longe possível, quebrar
algumas coisas e gritar o mais alto
que eu pudesse.
Ela deu um passo à frente,
cautelosamente.
- Me deixe explicar, Michael.
Ontem, meu nome saia como
música de sua boca, como se ela
estivesse cantando ele para mim,
com
todo o amor possível.
Mas, agora, eu só queria que ela
calasse a boca e nunca mais sequer
falasse comigo.
- Não, deixe que eu explique –
Joshua disse dando dois passos à
frente. – Eu, ao contrário dela, não
tenho nada a perder.
Ele não se importava em perder
minha confiança. Bom saber.
- Não, claro que não! Você vai
inventar...
- Quero ouvir a versão dele –
decidi, apenas para a fazer ficar
quieta. – Saia daqui, Anna.
Ela me encarou sem acreditar e, por
um segundo, me senti culpado por
ter sido tão duro.
Então eu lembrei o motivo de tudo
isso; ela me traiu com meu próprio
irmão. Ela merecia.
Encarei-a de volta, sério, sentindo
meus olhos esfriando de uma forma
que nunca tinham feito antes.
Por fim, ela assentiu com a cabeça
e lançou um ultimo olhar para o
Joshua antes de andar até a porta
atrás de mim.
- Me perdoe – ela sussurrou
enquanto passava. – Eu amo você.
Fingi que não ouvi.
Se ela me amasse de verdade, nada
disso estaria acontecendo.
Assim que ouvimos a porta se
fechando, Joshua soltou uma
risadinha.
- Qual é a graça? – Perguntei
friamente.
Ele parou de rir no mesmo segundo
e pareceu, mesmo que muito pouco,
arrependido.
- Acho melhor você sentar...
- Foda-se o que você acha.
Ele levantou uma sobrancelha para
mim, surpreso. Eu nunca mandava
as pessoas se foderem, mas
agora era diferente. Eu o odiava.
- Eu posso explicar.
- Então explique – repliquei com
raiva. Nada poderia explicar o que
aconteceu, eu sabia disso. Ele
era um idiota só por tentar.
Ele respirou fundo, pensando no
que dizer.
- Eu tentei, ok? Juro que tentei. –
Ele falou, finalmente tendo o bom
senso de desviar os olhos dos
meus. – Desde daquela nossa
conversa, eu fiz de tudo para manter
meu juramento; eu nunca olhava
para ela, eu nunca parava para
conversar, eu nunca ficava muito
tempo no mesmo cômodo que ela.
Eu
fiz de tudo. Tudo que estava ao meu
alcance para fingir que ela não
existia e não sentir atração por ela.
Mas hoje de manhã, quando ela
voltou da escola mais cedo por
causa de uma dor de cabeça... –
ele olhou para mim novamente, seus
olhos transmitindo vários
sentimentos diferentes. O mais forte
era decepção. Ele estava
decepcionado consigo mesmo por
não ter conseguido. Ele estava mais
decepcionado do que arrependido.
– Eu estava em casa porque não
tenho aula hoje, só de noite, para
fazer um simulado. Então, quando
ela chegou, me encontrou na sala,
assistindo TV só com uma
bermuda, e veio conversar comigo.
Eu não poderia sair como se não a
conhecesse e subir as escadas
para o meu quarto, Michael. Eu
simplesmente não poderia fazer
isso. Então eu fiquei.
Assenti com a cabeça, como se,
assim, pudesse fazer ele parar de
falar. Não queria ouvir mais. Eu já
conseguia deduzir o resto. A única
coisa que eu queria era um pedido
de desculpas.
Mas ele continuou:
- Ela é tão linda. E ela flertava
comigo, com as palavras e com os
olhos. Não pude resistir. – Ele
falava pausadamente, com cuidado.
– Então ela disse que queria me
mostrar uma coisa no quarto
dela...
- Já entendi – o cortei, sem querer
saber o resto. – Posso muito bem
deduzir o resto.
Ele mordeu o lábio inferior por um
segundo.
- Não posso dizer que sinto muito –
ele disse por fim. – Porque não
sinto.
Por dentro, eu queria gritar com
ele. Mas continuei calmo e
inexpressivo, sem deixar que ele
visse o quanto suas palavras
estavam me magoando. Ele não
precisava saber; isso só iria inflar
mais seu ego.
- Eu entendo – menti.
Ele negou com a cabeça.
- Não Michael, você não entende.
Você é muito novo para entender
que...
- Ah, então eu sou muito novo para
entender isso, mas não sou muito
novo para ser corno? –
perguntei com ódio. – VAI SE
FODER, JAMES.
Ele cruzou os braços.
- Ainda sou seu irmão mais velho,
você não pode falar assim comigo.
Forcei uma risada.
- Você não é meu irmão – olhei para
ele sem nem um pingo de
sentimento. – Eu não tenho família.
Ele ficou calado. Lá no fundo, ele
concordava comigo.
Eu não era um Hunter de verdade.
Aquele era só o nome que estava no
meu cartório, não significava
nada além disso. E o Joshua sabia.
- Apenas... Me deixe sozinho, ok? –
Pedi, minha voz levemente mais
suave. Minhas forças estavam
se esgotando aos poucos. – E
mande esse mesmo recado para sua
nova peguete.
Ele abriu a boca para responder
alguma coisa, mas pensou melhor.
Nos encaramos por alguns
segundos até ele finalmente assentir
com a cabeça e sair do quarto.
Respirei fundo, tentando não
desmoronar.
Girei o corpo e fui até o meu
quarto.
Entrei, tranquei a porta e deixei
meu corpo cair, encostado na
parede. Meus joelhos se dobraram
e eu os abracei, com a cabeça
abaixada. Nunca havia me sentindo
tão pequeno quanto agora.
E a pior coisa que passava pela
minha cabeça é que o Joshua não
sentia muito.
Ele era pior que a Anna. Ele sabia
como eu me sentia em relação a ela,
ele sabia que eu a amava
mais do que qualquer coisa. Ele
sabia e mesmo assim fez aquilo.
Mas a pior parte é que ele
prometeu; ele jurou que não faria
nada com ela em respeito a mim,
por sermos irmãos. E, na primeira
oportunidade, jogou tudo para o
alto e esqueceu tanto da promessa
quanto do fato de termos o mesmo
sangue, o mesmo sobrenome, a
mesma mãe e o mesmo pai que, se
soubessem o que aconteceu,
ficariam do lado dele.
Mas ele não era a única coisa que
me deixava triste. Também tinha a
Anna; a garota com quem eu tive
meu primeiro beijo de verdade, que
me fez sorrir depois de eu ter
ouvido coisas horríveis da boca
do meu pai e que disse que me
amava. A garota que roubou meu
coração de uma forma que eu nunca
imaginei que fosse possível. E,
infelizmente, a garota que se deitou
com meu próprio irmão quando
eu não estava por perto.
Me sentia duplamente traído. Eu até
podia ser novo demais para
entender o que aconteceu, mas eu
também era novo demais para
sofrer desse jeito e ninguém nunca
se importou com isso. Eu era novo
demais para várias coisas, sempre
foi assim; novo demais para odiar
meus parentes, novo demais
para me apaixonar com tanta
intensidade, novo demais para
pensar em fugir de casa e, agora, eu
era
novo demais para ser quebrado ao
meio. As pessoas não davam a
mínima para a minha idade.
Enquanto minha parte triste
reclamava, o meu ódio interior
crescia como nunca antes e eu
prometi
para mim mesmo que eu faria o
Joshua sentir muito. Nem que seja a
última coisa que eu faça.
Uma parte de mim também pensou
em me vingar da Anna, mas tirei
essa ideia da minha mente tão
rápido quanto veio. Ela me pediu
perdão. Mesmo eu não a tendo
perdoado de verdade, eu sabia que
ela estava sendo sincera. Ela estava
arrependida e isso, por si só, já a
fazia melhor que o Joshua.
Ouvi batidas na porta, mas
continuei imóvel. Não queria
visitas.
- Michael, por favor, eu sei que
você está ai... – Era a Anna.
- Não estou muito afim de falar com
você – respondi com sinceridade.
Do outro lado da porta, ouvi um
suspiro.
- Não estou pedindo que você
converse comigo... Eu só... Queria
dizer que eu realmente sinto muito
e... Ah Michael, eu amo você.
Me levantei e fui até a porta,
parando com a testa encostada na
madeira. Mordi o lábio inferior
sem
saber o que fazer. Minha mão
direita se fechou em um punho e eu
dei murrinhos involuntários na
porta; eu sempre fazia isso quando
estava confuso.
- Por que você fez isso comigo? –
perguntei baixinho.
Ouvi sua respiração ficando mais
próxima da minha.
- Eu não sei – ela respondeu por
fim, sua voz gritava
arrependimento, mas eu não sabia
se ele era
sincero. – Mas eu me sinto tão mal,
Michael. Eu me sinto tão suja.
Não respondi. Não queria dizer que
era suja, mas também não queria
conforta-la. Eu não sabia o que
fazer. E a pior parte era que eu a
amava.
- Me dê um tempo. Eu não
consigo... Falar com você. Não
agora. Não depois de tudo o que eu
vi –
confessei, quase implorando para
ela ir embora.
Ainda estava dando murrinhos na
porta quando ouvi um soluço baixo.
Ela estava chorando.
- Eu entendo que você
provavelmente nunca vai me
perdoar por isso. Eu sei que o que
eu fiz foi
injustificável e eu sinto muito
mesmo. Eu só... Queria te pedir
desculpas.
- Já pediu, pode ir embora – falei
fingindo indiferença.
Mas ela não foi. Apenas ficamos
ali, ouvindo a respiração um do
outro, com muito mais do que uma
porta entre nós.
Não sei quanto tempo isso durou,
mas, quando ela finalmente saiu, me
senti vazio.
Uma parte de mim já a tinha
perdoado e só queria voltar para o
começo do dia, quando nos
beijamos
antes de entrarmos na escola e
fugimos dos nossos amigos no
intervalo para conversar.
Mas também havia a outra parte,
que a odiava por ter feito isso
comigo, que só queria nunca mais
vê-
la na vida e seguir em frente.
Não sabia qual era maior.
E assim, surgiram dois Migueis
dentro de mim; o bonzinho e o mau,
o que perdoa e o que se vinga, o
que é caloroso e o que é frio; me
dividindo ao meio sem que eu
pudesse controla-los.
[...]
Passei a noite acordado, por isso
não me assustei quando o
despertador tocou, me dizendo que
eu
teria que ir para a escola.
Bufei, irritado. Não, hoje não. Eu
realmente não estava com saco para
ir para o colégio –
literalmente ir era a parte que mais
me deixava com raiva; ter que ver o
Joshua e a Anna era demais
para mim.
Me levantei, já pensando no que
diria para minha mãe para
convencê-la.
Depois de ir ao banheiro, saí do
quarto com cuidado, com medo de
encontrar pessoas indesejadas.
Por sorte, o corredor estava vazio e
eu desci pelas escadas até o térreo.
Nicolas conversava com a mamãe,
rindo de alguma coisa que ela
falou. Me aproximei deles,
aliviado.
- Bom dia.
Eles olharam para mim e sorriram
em sincronia.
- Bom dia Michael! – Minha mãe
respondeu radiante, como sempre.
- Bom dia irmãozinho.
- Mãe eu... Não estou me sentindo
muito bem, será que eu posso faltar
hoje? – perguntei fazendo um
tom de cansaço.
Nicolas levantou a sobrancelha,
intrigado. Ele sabia que tinha algo
errado. Eu raramente adoecia e,
quando isso acontecia, eu fazia
questão de ir para escola, porque
qualquer coisa era melhor do que
ficar em casa olhando para o teto.
Minha mãe também não parecia
convencida, mas assentiu com a
cabeça. Essa era uma das coisas
que
eu admirava nela; ela era
compreensiva.
- Claro, quer que eu te leve ao
médico?
Era um teste.
- Eu fico em casa repousando, se eu
não melhorar daqui até de tarde
você me leva.
Ela estreitou os olhos por um
segundo e eu me senti exposto,
como se ela tivesse acendido o
farol da verdade no meu rosto e
lendo tudo o que aconteceu desde
ontem.
- Certo, pode ir pro seu quarto
descansar – ela disse sorrindo com
o canto da boca.
Agradeci e fui até as escadas.
Senti todos os meus músculos se
contraindo como se alguém
estivesse me dando uma série de
murros
– o que, na verdade, seria melhor
do que ter que ver isso – e eu dei
um passo para trás. Meus olhos
foram até os da Anna e ela me
encarou surpresa.
- Oi.
Não respondi, apenas olhei para
ela, irritado por saber que
momentos como esses iriam
acontecer
sempre. Ela morava na minha casa,
eram inevitáveis esses encontros.
Desviei os olhos para a parede
atrás dela e subi as escadas com
passos decididos, minha cabeça
levemente erguida e meus olhos
frios sem transmitir nenhum
sentimento.
- Me desculpe – ela murmurou
enquanto eu passava.
Quase parei. Quase disse que a
desculparia. Quase disse que a
amava apesar de tudo. Quase.
Continuei andando, fingindo uma
indiferença que não existia. Fui
direto para o meu quarto, meu
coração confuso por causa de tantas
emoções diferentes ao mesmo
tempo.
Quando deu meio dia, desci pelo
elevador, faminto. Meus irmãos e a
Anna ainda não tinham chegado
da escola e eu fui direto para a
cozinha, pensando no que iria fazer.
Acabei pegando a primeira comida
que vi pela frente e me sentei no
sofá, nem me dando ao trabalho
de ligar a TV.
Ficar sozinho em casa não foi uma
ideia muito boa. As lembranças de
ontem me assombraram a
manhã toda e o silencio da casa –
que só era quebrado apenas pelo
barulho da Solange trabalhando –
parecia piorar as coisas.
Terminei de comer e me deitei
olhando para o teto, tentando não
pensar na Anna e no Joshua. Sem
sucesso.
A pior parte era que eu realmente
cheguei a achar que as coisas
começariam a dar certo na minha
vida; eu teria uma namorada e um
irmão que respeitava meus
sentimentos a ponto de se afastar de
uma garota bonita por mim. Eu fui
tão idiota por pensar isso. Coisas
boas não tendem a acontecer
comigo, eu deveria simplesmente
aceitar e seguir em frente.
Poucos minutos depois, ouvi
barulho de carro. Suspirei e fechei
os olhos, fingindo dormir para não
ter que aguentar conversar com
eles. Nenhum deles.
- VAI SE FODER, JAMES!
Senti meu corpo pegando fogo. Era
a voz da Anna.
- Parem de brigar – Nicolas pediu,
com seu velho tom suave e
decidido.
- Não se meta – Joshua mandou
irritado.
Agora eu fazia força para manter
meus olhos fechados.
- Não fale assim com ele! Você é o
idiota aqui.
- E você é vadia – Joshua rebateu.
Mordi o canto interno da boca, me
segurando para não defendê-la. Ela
te traiu, lembrei a mim
mesmo. Continuei imóvel, tenso.
- Joshua! – Nicolas protestou,
elevando a voz de uma forma que
eu nunca tinha visto antes. – Você
não pode falar assim com ela!
- Você por acaso sabe o que ela
fez? Com o nosso querido
irmãozinho?
- Jam... – Anna começou a falar.
- Ah, então você não quer que ele
saiba? – Joshua perguntou com um
tom de diversão.
- Se ela não quer que eu saiba, não
quero ouvir – Nicolas retrucou. Ele
era uma pessoa tão boa.
Joshua devia começar a se inspirar
nele. Todos nós devíamos, na
verdade.
- Obrigada, Nicolas.
Ouve um minuto de silencio e eu
senti que alguém estava se
aproximando de mim.
- Abra os olhos, eu sei que você
está acordado – Joshua disse com
impaciência. Continuei sem me
mexer, achando que, assim, o
convenceria de que eu estava
dormindo. – Você não me engana,
Michael.
Abri os olhos e lá estava ele, me
olhando de cima com aqueles olhos
azuis frios e indiferentes.
- Dá para você mandar sua
vadiazinha parar de me irritar?
Me sentei, olhando para ele sem
acreditar em como ele era
desprezível.
- Não chame ela assim.
Ele levantou uma sobrancelha.
- Como você pode defender essa
menina depois de ela...?
- Não estou defendendo ninguém –
me levantei e olhei para ele – só
não acho que você tenha moral o
bastante para chamar alguém assim.
Ele abriu a boca para discutir
comigo, mas eu me virei e passei
pelo Nicolas e pela Anna, indo até
entrada da casa. Respirei fundo e
abri a porta, deixando que o ar puro
me acalmasse um pouco. Ouvi
alguém me chamando dentro de
casa, mas continuei andando, até
chegar a quadra. Me sentei
encostado na trave.
- Michael!
Levantei os olhos. Era a Anna.
- Por favor...
- Anna, não torne tudo isso mais
difícil.
Ela se aproximou de mim,
sentando-se ao meu lado antes que
eu pudesse protestar. Olhei em seus
olhos.
- Só me escute.
- Eu não quero odiar você – falei,
minha voz saindo rouca por causa
do esforço. – Então, eu imploro
que você pare de falar comigo.
Pelo menos por um tempo, até eu
parar de sentir algo por você.
Ela abaixou os olhos e eu continuei:
- Passe por mim como se eu não
existisse, não me olhe, não me dê
bom dia, nem sequer me pergunte
que horas são. Por favor, Anna, eu
não vou aguentar. Faça isso por
mim, por todo o amor que você
um dia disse que sentia.
Ela olhou novamente em meus
olhos e eu vi que estava se
segurando para não chorar.
- Tudo bem, Michael – sua voz
estava trêmula e baixa. – Eu vou
fazer o que você mandou. Porque eu
amo você.
Ignorei a ultima frase.
- Obrigado.
Ela assentiu e se levantou. Nos
olhamos por mais alguns segundos
antes de ela se virar e ir embora.
Espero que ela cumpra o que disse.
Não vou aguentar ter outra conversa
dessas.
[...]
O tempo passou. Rápido e
friamente. Três semanas se
passaram desde daquilo e meu
coração ainda
não tinha se recuperado – o que me
levava a pensar se algum dia ele
recuperaria. Anna fez o que eu
pedi de uma forma quase
admirável; ela não errou nenhuma
vez, não deu nenhum deslize, mas
qualquer pessoa sã conseguiria
enxergar o quanto ela estava se
esforçando para isso. E eu, com
minha tolice sem fim, a perdoei –
não que ela soubesse disso, é claro,
mas eu sabia, eu sentia isso
todos os dias ao olhar para ela e
não sentir nada além de um coração
magoado. Coisa que não
aconteceu com o Joshua. Cada dia
que se passou eu o odiei mais, não
que ele se importasse com isso.
Ele não ligava para a minha
existência.
E era em tudo que eu estava
pensando quando me sentei na
cama, surpreso com o fato de eu ter
acordado cedo em pleno sábado.
Então eu ouvi gritos vindo do
térreo.
Levantei em um pulo e desci as
escadas correndo, dando de cara
com uma cena que eu nunca tinha
visto antes: Anna chorando e
gritando com um Joshua de olhos
arregalados.
- EU TE ODEIO, EU TE ODEIO,
EU TE ODEIO! – Ela gritou, dando
murros no peito do Joshua
enquanto ele olhava para algo atrás
dela, sem demonstrar nenhuma
reação.
- O que está acontecendo aqui? –
Perguntei.
Ela se virou para mim chorando
sem parar e por um segundo eu não
soube o que fazer.
Joguei meu orgulho longe e corri
até ela, tomando-a nos braços para
que ela parasse de chorar. Ela
deitou a cabeça em meu peito e eu a
abracei com força.
- M-Michael... – Ela soluçou, sua
voz abafada.
- Me diga o que aconteceu.
Ela negou com a cabeça, chorando
ainda mais. Afaguei seu cabelo com
uma das mãos enquanto a
puxava para mais perto com a
outra.
- Vai passar, ok? – falei baixinho,
mesmo sem saber do que se tratava.
- Não – Joshua murmurou e eu
demorei um segundo para perceber
que ele estava falando comigo.
Seu tom era frio como uma bola de
neve. – Isso nunca mais passar.
Senti meu estomago se contraindo
de medo.
- O que aconteceu? – Repeti, sem
saber se queria ou não uma
resposta.
Ela se afastou de mim, com os
olhos vermelhos e inchados. Um
soluço escapou de seus lábios antes
dela finalmente dizer:
- Eu estou grávida.
Dei um passo para trás, tonto. Por
favor, tudo menos isso. Qualquer
coisa, meu Deus, qualquer coisa
doeria menos.
Ela caiu de joelhos e cobriu o rosto
com as mãos, voltando a chorar.
Joshua olhou para ela com desprezo
e depois para mim.
- Acalme ela. Eu darei um jeito
nisso.
Olhei para ele sem entender, mas
ele não me explicou, apenas passou
por mim e subiu as escadas em
um pulo.
Fui até ela, com cuidado, deixando
todos os meus sentimentos de lado.
Nada que eu estivesse
passando poderia ser comparado
com o que ela estava sofrendo
agora. Ela estava grávida do
Joshua.
Ela só tinha 15 anos.
Me ajoelhei e passei meus braços
ao redor de seu corpo, colocando
sua cabeça em meu ombro. Ela
estava tremendo de tanto chorar.
- Ei, ei... Vai ficar tudo bem... –
Passei a mão pelo seu cabelo até
suas costas, lentamente. Eu só
queria que ela parasse de chorar um
pouco.
- Eu fui tão burra. – Ela sussurrou
sem voz para mim.
Neguei com a cabeça mesmo
sabendo que ela não conseguia ver
meus movimentos.
- Você só errou, Anna. Todo mundo
erra nessa vida... Vai ficar tudo bem
– repeti.
Ela se virou um pouco para olhar
em meus olhos, suas mãos ao redor
da minha cintura me segurando
com força, como se eu pudesse sair
correndo a qualquer momento.
- Eu não quero um filho daquele
homem – os olhos se encheram de
lagrimas novamente. – Eu quero
um filho seu, Michael! Não dele. Eu
o odeio.
Meus olhos marejaram. Nada
daquilo era justo.
- Anna...
Uma lágrima escorreu dos meus
olhos antes que eu pudesse
terminar. Ela levantou a mão e a
secou,
olhando fixamente para mim. Seu
rosto estava vermelho de choro e
seu cabelo assanhado; não que
isso a deixasse menos bonita.
- Eu amo você, Michael. Mais do
que qualquer coisa.
Fechei os olhos por um segundo. Eu
a amava. Eu a perdoava por tudo.
Eu só queria que as coisas
dessem certo, não só para mim,
como para ela também. Eu só
queria que a gente pudesse ser feliz,
nem que só por um único minuto.
Abri os olhos e decidi uma coisa.
Eu seria feliz, pelo menos por
alguns segundos.
Me inclinei devagar e ela me olhou
surpresa quando viu o que eu iria
fazer.
- Eu também te amo, Anna. Nunca
duvide disso – sussurrei antes de
beijá-la.
Então, nossos lábios se tocaram
pela ultima vez. Meu coração batia
acelerado em meu peito. Ela
ainda tinha o mesmo sabor e eu
senti uma felicidade pura tomando
conta de mim.
A puxei para cima pela cintura até
ficarmos de pé.
Paramos para respirar.
Seus olhos estavam cheios de
lagrimas e nos abraçamos, sentindo
um ao outro. Lá no fundo,
sabíamos que era uma despedida.
Ouvimos passos e murmúrios e nos
viramos para a escada. Senti meus
olhos se arregalando; toda a
minha família estava ali, juntamente
com a Solange, que olhava decidida
para nós, arrastando uma
mala com a mão esquerda e uma
bolsa com a direita.
Puxei a Anna para mais perto de
mim enquanto encarava todas
aquelas pessoas, cada uma
demonstrando um sentimento
diferente.
Joshua balança alguma coisa com a
mão. Senti um calafrio descendo
pela minha coluna quando
percebi que eram passagens de
avião.
Senti a mão da Anna endurecendo
em minha cintura. Ela estava com
tanto medo quanto eu.
- ...E se precisarem de alguma
coisa é só ligar – minha mãe falou
para a Solange.
- Do que vocês estão falando? –
Perguntei apreensivo.
Joshua deu um passo à frente,
olhando fixamente para mim.
- Solange pediu demissão.
- O QUÊ? – Anna gritou surpresa,
sem se afastar um único centímetro
de mim.
- Isso mesmo filha, mas não precisa
se preocupar, os Hunter já
providenciaram nossa passagem.
Vamos voltar para nossa terra natal.
Segurei a Anna com mais força
contra mim.
- Não, ela não vai – falei baixinho,
olhando para o Joshua com fúria. –
Ela não vai!
- Você não manda em nada, Michael
– ele rebateu friamente. – Ela já
conversou com nossos pais e
vai embora hoje mesmo.
Meus olhos foram até os da Anna e
nos encaramos em silencio; ela
parecia prestes a chorar
novamente.
- Não aguentaria perder você de
novo. – Sussurrei quase inaudível
para ela.
Ela negou com a cabeça.
- Eu não posso ficar aqui, Michael
– ela sussurrou de volta e beijou
minha bochecha antes de se
afastar de mim.
- Que fofos – Joshua comentou com
ironia –, mas acho melhor vocês se
apressarem; o voo sai daqui
à uma hora.
Olhei para a Solange.
- Por que você pediu demissão?
Nós nunca te tratamos de forma
menos que excele...
- Michael, isso não é coisa que se
pergunte – minha mãe me cortou no
meio da frase. – Ela deve ter
seus motivos e nós temos apenas
que respeitá-los. Tenha educação.
Olhei para ela, surpreso.
- Como posso ter educação se não
tenho pais?
- Michael! – Nicolas protestou no
mesmo segundo.
Abaixei os olhos. Não queria brigar
com eles.
- Anna, vá arrumar suas coisas lá
em cima e desça daqui a dez
minutos – a mãe dela comandou.
Olhei para a Anna, que assentiu e
correu para as escadas, pedindo
licença para passar.
Imediatamente, fui atrás dela.
Trombei com o ombro do Joshua no
caminho e continuei subindo, até
chegar ao corredor dos quartos. A
segui até seu quarto e esperei um
segundo antes de entrar.
- Obrigada por não me deixar subir
sozinha – ela agradeceu baixinho,
sem se virar.
Fui até ela e a puxei pela mão para
que olhasse para mim.
- Eu nunca vou te deixar sozinha.
- Mas...
- Não estou falando só fisicamente,
Anna. Não importa para onde for e
o quão longe esse lugar seja,
eu nunca vou esquecer você.
Os olhos dela começaram a marejar
e eu balancei a cabeça em negativa.
- Não chore, por favor. Vai ficar
tudo bem. Eu amo você.
- Eu também amo você.
Me inclinei para sussurrar em seu
ouvido.
- E eu vou me vingar do Joshua, por
você.
Ela se virou para mim assustada.
- Não precisa...
- Claro que precisa. Ele não pode
sair impune depois de tudo o que
fez.
- Do que exatamente você está
falando?
- Eu conheço o Joshua; ele
convenceu sua mãe a se demitir. Ele
não brinca em serviço Anna, eu sei
disso muito bem.
- Você está dizendo que...?
- Provavelmente ele ofereceu muito
dinheiro e sua mãe aceitou, porque
quer o melhor você.
Ela desviou os olhos, sem saber
como lidar como tudo isso. Não
posso julgá-la
- Vem, eu te ajudo com as roupas –
falei para mudar de assunto.
Ela assentiu.
- Como eu te ajudei com as suas, há
um milhão de anos atrás.
Senti vontade de chorar ao lembrar
daquele momento, mas me segurei.
Ela precisava que eu fosse
forte.
E eu fui. Eu dei meu máximo em
cada segundo até que não fosse
mais possível. Até que ela passasse
pela porta da minha casa e fosse
embora para sempre.
Ela disse que amava antes de ir.
Não dormir naquela noite.
No dia seguinte, quando percebi
que nunca mais veria a Anna de
novo, decidi uma coisa:
Eu iria esperar para me vingar do
Joshua. Não poderia ser qualquer
coisinha, tinha que ser algo que
realmente doesse nele. Ele teria que
sentir na pele o que eu senti. Ele
teria que sofrer por dentro
como eu estava sofrendo agora. Por
isso, eu teria que esperar; Joshua
não se magoaria por ninguém
hoje em dia. Mas isso iria mudar.
Não sei quando nem onde, mas
algum dia vai chegar uma garota e o
Joshua vai se apaixonar por ela. E é
ai que eu vou entrar. E aquilo era
mais do que uma ameaça; era
um juramento.
[...]
Um mês se passou. Apenas ontem
Joshua confirmou minhas suspeitas,
ele realmente subornou a
Solange para que ela fosse embora
e se mudasse para o outro lado do
país. Não gritei com ele depois
da notícia, simplesmente me virei e
sai do quarto, como se não tivesse
ouvido nada.
Pensei em Anna em cada semana,
dia e hora que se passou durante
esse mês, mas não havia nada que
eu pudesse fazer.
[...]
Um ano se passou e eu comecei a
tentar seguir em frente; ficava com
uma garota em um dia e dava um
fora dela no outro, tentando, em
vão, esquecer a Anna. Devo ter
beijado todas as garotas da minha
turma – menos, é claro, a Clara.
Não sei por qual motivo, mas eu
não conseguia ir até ela e fazer o
mesmo que com todas as outras.
Acho que é por que ela gosta de
mim há tanto tempo que eu não teria
coragem de a magoar assim. Eu não
sou o Joshua. Ela merecia ser feliz.
Me pergunto como vai o bebê da
Anna. Se meus cálculos estavam
certo, ele nasceu em Outubro.
Enquanto isso, meus irmãos
pareciam bem. Nicolas era o de
sempre, sorridente e fofo com todas
as
pessoas com quem tinha contato.
Ele era adorável e todo mundo
sabia e admirava isso.
Joshua também estava em uma boa
fase, levando uma menina diferente
para casa toda noite. Nenhuma
delas começavam com a letra A,
percebi depois de um tempo. Anna
deixou cicatrizes nele também.
[...]
Três anos se passaram.
Eu mudei. O Michael bom e o
Michael mau ainda existiam dentro
de mim, competindo para ver quem
comandaria a maior parte do meu
ser. Normalmente, era o Michael
mau. Era tão fácil ser indiferente
e frio que eu até me esquecia que as
pessoas tinham sentimentos. Eu
raramente me importava com
eles.
Então, no dia 13 de janeiro, eu
acordei apreensivo. Hoje chegaria
a nova empregada e a filha dela –
era a primeira vez desde a Anna
que minha família contratava com
alguém que tivesse filhos. Tenho
que admitir, eu estava com medo.
Fui ao banheiro e me olhei no
espelho por um segundo. Por fora,
eu ainda era o mesmo Michael; o
velho cabelo preto rebelde, os
olhos verdes-mar que faziam as
pessoas olharem para mim por mais
tempo do que deveriam, a pele
branca e lisa, como a de uma
criança. Eu era bonito. Hoje em
dia, eu
sabia disso. O fato de não me
importar com as pessoas me deixou
mais autoconfiante.
Fiz minha higiene e sai do quarto,
dando de cara com o Joshua, que
também saia do próprio quarto.
- Oi irmãozinho, preparado para o
que está por vir? – Ele perguntou
com um sorriso presunçoso.
- Tente não engravidar essa também
– murmurei irritado. Era impossível
não lembrar da Anna agora
Ele ficou sério.
- Nunca mais farei uma merda
dessas.
- É um juramento? – Perguntei com
ironia.
Nos encaramos, cada um com sua
própria lembrança sobre o passado.
Eu ainda iria me vingar dele.
- Fique quieto um segundo, estou
ouvindo barulho de carro.
Parei para prestar atenção e ouvi
também. Elas chegaram.
Ele sorriu.
- Agora, eu vou dar uma péssima
boas-vindas.
- Como assim?
Ele olhou surpreso para mim.
- Você quer mesmo que ela more
aqui? Não acha que já teve
confusões o bastante com uma filha
da
empregada para a vida toda?
Não respondi. Ele estava certo.
Tínhamos que ser desprezíveis para
que elas fossem embora. Tanto
que, quando a mamãe nos perguntou
sobre onde elas iriam dormir,
praticamente gritamos para que
fossem para o sótão e para o porão.
Ele desceu as escadas correndo e
eu o segui, indo direto para o sofá e
ligando a TV. Ele foi até a
varanda que dava para a entrada da
casa. Tentei não prestar atenção.
- MÃE! PARE DE ME
ENVERGONHAR!
Sentei assustado com o grito do
Joshua.
- Ah filho, vem cá conhecer elas! –
Ouvi minha mãe responder ao
longe.
- Aliás, estou com fome – ele
respondeu mais alto do que deveria
e eu observei enquanto ele entrava
de novo em casa, piscando para
mim. – Fui ruim o bastante?
Olhei para ele sem entender.
- Você só estava sendo você
mesmo.
Ele revirou os olhos e saiu da sala.
Esperei alguns segundos até ver
elas entrando. Então, quando a vi,
senti todo meu corpo em choque e
eu esqueci como se respirava.
A garota era exatamente igual à
Anna; os mesmos olhos escuros e
brilhantes, o mesmo cabelo longe e
ondulado, a mesma pele morena e
suave. Meu coração deu um mortal
para trás, assustado.
Eu estava tão surpreso que só
percebi que não tinha apertado a
mão estendida da nova empregada
quando a garota me olhou com
raiva. Ótimo, pelo menos agora era
acha que eu sou um esnobe de
merda.
Me virei e subi as escadas com
pressa, indo direto para o quarto do
Joshua. Abri sem bater.
- Joshua, você viu a cara da...
Ele me olhou com os olhos
arregalados.
- Vi, Michael. Elas são iguais.
- O que nós vamos fazer?
Ele pensou um pouco.
Então um sorriso travesso surgiu
em seu rosto.
- Pode deixar que eu vou assustar
ela.
[...]
- Não deu certo – ele falou entrando
em meu quarto, horas depois, sem
nem mesmo ser convidado.
- Do que você está falando?
- Eu fui até o quarto da Susan e
disse que ela seria obrigada a fazer
muitas coisas, mas ela não
pareceu ficar com medo; pelo
menos não tanto quanto eu gostaria.
Vai ser difícil de tirar ela dessa
casa, Michael.
Suspirei.
- E ainda tem o fato de ela ser linda
– ele continuou, pensativo. –
Amanhã tentarei outra coisa.
- Tipo...?
Ele sorriu com maldade, mas não
me respondeu. Apenas se virou e
foi embora do meu quarto, tão
rapidamente quanto entrou.
[...]
No dia seguinte, de manhã, ouvi
batidas na portas. Esfreguei os
olhos antes de responder.
- Pode entrar.
Joshua abriu a porta, irritado por
algum motivo.
- Eu não consigo, Michael!
Me sentei na cama, olhando para
ele sem entender.
Ele respirou fundo antes de falar.
- Não entendo o que aconteceu, mas
quando ela começou a chorar eu
senti como se o mundo estivesse
desmoronando. Eu não podia com
aquilo. Eu tive que desistir, não
tinha o que fazer. Eu não podia
ficar ouvindo ela...
- Ei! Eu não estou tentando nada.
Ele olhou para mim como se tivesse
notado agora minha existência.
- Acho melhor nós nos
acostumarmos com ela, Michael.
- Mas...
Ele se virou e eu me senti frustrado
por isso.
- Ela não é a Anna – ele comentou
antes de sair.
Como ele podia ter tanta certeza
disso?
[...]
Mais ou menos dois dias depois,
Joshua me disse que estava
apaixonado pela Susan. Não me
disse
como nem por que, apenas chegou
em mim e falou com todas essas
letras, seus olhos brilhando só de
falar o nome dela. E eu percebi que
havia chegado a hora da minha
vingança.
Joshua não fazia ideia do que
estava por vir.
[...]
Na maior parte do tempo, eu ficava
confuso. O Michael bom e o mau
disputavam o tempo todo, cada
um tendo seu momento de comando;
eu era frio em um dia e destrancava
a porta para a Susan no
outro, eu ligava para o meu pai ver
o Nicolas e o namorado dele, mas
tirava todas as balas de sua
arma antes – mesmo que depois eu
contasse que deixei uma, para não
parecer tão bonzinho –, eu
usava a Clara – que eu decidi não
ter mais pena desde que ela ficou
com todos os garotos da sala no
primeiro ano – e no dia seguinte a
pedia em namoro de uma forma
mais do que romântica. As pessoas
deviam achar que eu era bipolar.
Mas eu só estava confuso. Eu não
sabia em que time jogar e estava
com medo de perder. A única coisa
que não mudava em mim era a
vontade de me vingar do Joshua.
Ele era o culpado por tudo.
Então, depois de ter feito as pazes
com a Susan pela milésima vez,
Joshua veio conversar comigo.
- Você pode, por favor, parar com
isso?
Levantei os olhos do meu livro e
olhei para ele, que parecia cansado.
- Não entendi.
Ele cerrou os punhos.
- Entendeu sim, Michael, não se
faça de sonso! Já perdi as contas de
quantas vezes você tentou
estragar meu relacionamento com a
Susan!
- O que te leva a pensar que eu tive
alguma coisa a ver com aquilo?
Você quem trocou a roupa dela
enquanto ela estava inconsciente.
- Como se eu não soubesse que foi
você quem convenceu a Clara para
ela dizer aquelas coisas para a
Susan, e isso sem contar que você
veio conversar comigo poucos
minutos antes dela entrar no meu
quarto. Você me fez acreditar que
ela não me amava mais!
Ele estava certo, é claro, mas
mantive minha expressão suave,
quase cínica.
- Isso é uma vingança – ele
concluiu. – E eu entendo que você
me odeie por tudo o que aconteceu,
mas a Susan não tem nada a ver
com isso. Ela nunca fez nada com
você.
- Eu também nunca tinha feito nada
com você e você engravidou minha
namorada – retruquei.
- FAZ TRÊS ANOS! – Ele gritou
em protesto. – EU MUDEI,
Michael, EU NÃO SOU MAIS O
MESMO JAMES! A Susan me
mudou, você sabe que isso pode
acontecer. O amor pode mudar as
pessoas.
- Fiquei um pouco enjoado, será
que você poderia parar de falar um
pouco?
Ele bufou irritado.
- Por favor, faça qualquer coisa
comigo, mas deixe a Susan em paz.
- Vou tentar.
Ele me olhou sem se convencer.
- Por favor...
- Já entendi – o cortei – pode ir
embora.
Ele suspirou e fez o que eu pedi.
Agradeci mentalmente por isso,
aquela conversa estava acabando
com meu psicológico.
[...]
Eu estava quase desistindo da
minha vingança quando a Jane
apareceu. Não pude dizer não para
ela.
Era sua vingança pessoal, eu sabia
como ela estava se sentindo. Joshua
era mestre em foder a vida
das pessoas.
Depois que cumpri minha parte do
plano, e a Susan e o Joshua
finalmente terminaram pra valer,
comecei a me sentir culpado.
Demorei tanto tempo querendo me
vingar do Joshua que acabei
esquecendo de pensar no que
aconteceria depois, em como me
sentiria após tudo acabar. Não foi
como eu pensei.
E era nisso que eu estava pensando
enquanto ia até o quarto da Susan,
decidido a contar a verdade
para ela e aguentar as
consequências disso. Pelo menos eu
estaria livre da culpa. Aquilo
estava me
matando.
Abri a porta sem bater e tive uma
sensação de dejá vú; lá estava a
Susan, deitava no peito nu do
Joshua. Como há três anos. Só que,
dessa vez, eu me senti aliviado em
ver essa cena.
Entrei no meu personagem maldoso,
escondendo minhas reais intenções.
Eles estavam juntos de
novo. Eu não poderia estar mais
feliz.
E, nesse momento, eu percebi uma
coisa: eu perdoava o Joshua.
Porque ele não é mais o Joshua de
17 anos. Ele mudou. A Susan o
mudou como a Anna me mudou.
Tive que fazer força para não
sorrir.
Ele era meu irmão de novo.
[...]
Então, teve aquela festa. Quando eu
finalmente achei que as coisas
começariam a dar certo entre eu, o
Joshua e a Susan, eles sofreram um
acidente de carro.
Assim que soube da noticia, senti
vontade de gritar e quebrar alguma
coisa. Será que eu nunca iria
conseguir ser simplesmente feliz e
sem problemas? Será que era pedir
demais?
Quando a Susan acordou e o Joshua
não, percebi que havia chegado a
hora de contar para ela o que
aconteceu no passado, de explicar
para ela o porquê de várias coisas.
Ela merecia saber. Ela
merecia saber que eu sentia muito.
[...]
Então, chegou o momento.
Olhei para a Susan, que me
encarava sem acreditar. Minha boca
estava seca de tanto falar e meu
coração parecia em estado de
choque. Fazia anos que eu não
falava sobre o que aconteceu.
Umedeci os lábios antes de fazer a
pergunta que concluiria nossa
conversa, a pergunta que eu
guardava há semanas, que apenas
ela poderia responder.
- Então, Susan – falei, com a voz
rouca –, o que eu fiz foi justo ou
injustificável?
40. Eu não sabia o que pensar
Eu não sabia o que responder.
Lá no fundo, eu achava justo; por
causa de tudo o que o Joshua fez
com ele, numa época em que ele
nem sequer tinha idade para sofrer
daquela maneira. Mas, ao mesmo
tempo, vingança nunca era
justificável, ela só fazia mal – tanto
para quem fez quanto para quem
sofre.
Continuei calada por mais tempo do
que deveria. Michael respirou
fundo, decepcionado.
- Eu entendo que você não deve
saber o que responder... Talvez
minha pergunta tenha sido direta
demais – ele disse, com a voz ainda
meio rouca e falha de tanto falar.
Neguei com a cabeça.
- Não... Eu só... Não sei o que
pensar, entende? Acho que foram
muitas informações.
Ele pareceu ficar satisfeito com a
resposta.
- Me desculpa por isso, mas acho
que você iria descobrir, mais cedo
ou mais tarde.
Olhei para ele por um segundo, me
perguntando como alguém
conseguia ser tão forte. Toda raiva
que
um dia eu senti por ele se esgotou
como água sendo sugada por um
ralo. Naquele momento, eu apenas
o admirava, surpresa.
- Posso fazer uma pergunta?
Ele levantou a sobrancelha por um
segundo, mas rapidamente assentiu
com a cabeça.
- Quantas você quiser.
Não falei nada enquanto ele
contava sua historia, porque
simplesmente não havia nada que
pudesse
ser dito. Eu não exclamei uau! ou ai
meu Deus! em nenhum momento;
minha surpresa ia muito além de
qualquer palavra. Eu simplesmente
o ouvi, em silencio, tentando
organizar minha mente para todas
essas novidades.
Mas, agora, eu queria saber mais
sobre o que aconteceu. Eu queria
conseguir, pelo menos uma vez na
vida, entender o que se passa na
mente de Michael Hunter.
- O que houve com ela? – Perguntei
por fim, parte de mim sabendo que
essa era apenas uma das
dezenas de perguntas que eu
gostaria de fazer.
Uma sombra passou pelo rosto dele
e ele desviou os olhos. Um suspiro
escapou de seus lábios antes
de ele responder.
- Eu não sei, Susan – ele olhou para
mim novamente, triste. – A única
coisa que me disseram é que
ela foi morar no Norte, mas eu
também tenho uma vaga noção de
que seu filho nasceu em Outubro e
quase certeza de que o Joshua ainda
mantém algum contato com ela.
Por essa eu realmente não
esperava. Acho que meu rosto
deixou transparecer minha surpresa,
pois o
Michael sorriu de leve e balançou a
cabeça.
- Não precisa ficar desse jeito, é
apenas uma teoria. Mas, se eu
estiver certo, mesmo assim você
não precisa ficar com ciúmes. Anna
o odeia.
Era estranho o jeito como ele
falava o nome dela, com uma
mistura de apreensão e nostalgia,
como
se ela fosse um fantasma que
pudesse aparecer a qualquer
momento e que, se isso
acontecesse, ele
ficaria assustado e feliz ao mesmo
tempo.
- Eu sei, não é por isso que eu
fiquei surpresa; eu não estava
preparada para essa noticia.
Ele assentiu com a cabeça, olhando
fixamente para mim. Nos
encaramos por um tempo, cada um
com
seu próprio pensamento.
A única coisa que passava pela
minha cabeça era que o Joshua
tinha um passado mais obscuro do
que eu imaginei.
- Você se parece muito com ela –
comentou ele, baixinho, como se
estivesse me contando um
segredo. – Mas não por dentro.
- Isso é bom ou ruim?
Ele riu e por um segundo eu
poderia jurar que estava música. E,
nesse momento, percebi que nunca
tinha visto o Michael rindo de
verdade.
- Bom, eu acho. A Anna tinha
momentos, entende? Ela era doce e
sensível, engraçada e descontraída,
mas também era sarcástica, quase
má, quando queria. Ela tinha fases,
como a lua. E acho que era por
isso que eu gostava dela; eu gostava
de pensar que estava conhecendo
todas as faces delas – ele fez
uma pausa e seus olhos brilharam
por um segundo. Ele estava se
lembrando de como era amá-la.
Então, ele olhou para mim
novamente. – Mas você não é
assim. Você é segura e forte; você
simplesmente decide um lugar para
ir e vai, discutindo com qualquer
pessoa que possa passar pela
sua frente e tentar te impedir. E
você nunca é má. Talvez seja isso
que o Joshua viu em você, talvez
seja por isso que ele se apaixonou
com tanta rapidez. Você não é a
Anna. Você é melhor. Muito,
muito, muito melhor. – Agora, ele
não estava apenas olhando para
mim enquanto falava, ele estava
gesticulando, como se para me
fazer entender bem. Por um
segundo, senti vontade chorar. Era
o
Michael falando. Era o Michael me
elogiando. Isso não parecia ser
real. – E a melhor parte –
continuou ele – é que você tem um
coração enorme. Você não salvou
só o Joshua, Susan. Você salvou
o Nicolas, o Felipe, e até a mim
mesmo.
Abaixei os olhos, corada, sem
saber ao certo o que responder. Um
agradecimento seria pouco
demais.
- Michael... – Comecei, lutando
para encontrar palavras.
Ele sorriu com o canto da boca.
- Me desculpe por isso. Eu só achei
que você deveria saber. Eu sinto
muito mesmo por ter feito todas
aquelas coisas com você.
- Tudo bem, já passou. Acho que de
agora em diante podemos ser...
Amigos – minha voz vacilou na
ultima palavra, como se eu ainda
não conseguisse acreditar no que
estava acontecendo.
- Por mim ok, só não espere que eu
vá andar com você na escola... –
por um segundo, achei que isso
tinha sido um comentário maldoso e
que o velho Michael havia voltado,
mas então ele sorriu. – Sua
amiga Clara não iria concordar com
isso.
Ri baixinho. Ele estava certo.
- Nem o Caio, aliás.
Ele riu também, tirando uma mecha
de seu cabelo escuro que estava
caindo em seus olhos.
- Verdade. Não sei por que aquele
garoto me odeia.
Levantei uma sobrancelha para ele,
que riu ainda mais.
- Na verdade, sei sim, mas não é
recíproco – ele ficou sério
instantaneamente e eu me lembrei
de
como odiava quando ele falava
palavras difíceis, como se quisesse
ser superior de alguma forma, só
que, dessa vez, eu achei bonito esse
jeito de falar. – Eu gosto do fato de
ele ter chegado. Por causa da Clara,
sabe? Ela merece alguém que goste
dela e eu vi como ele a olhou no
primeiro dia de aula.
- Mas... Você não sente nada por
ela? – Perguntei, mesmo tendo uma
noção da resposta.
Uma parte de mim queria ouvir da
boca dele que ele não gostava dela,
que ele a usou e tudo mais;
como se isso pudesse diminuir o
que o Joshua fez de alguma
maneira, como se isso pudesse
deixar
meu mundo fazendo sentido de
novo, com um irmão bom e um mau
– e não dois irmãos que eram uma
mistura disso.
Ele pensou um pouco antes de
responder.
- Eu gostava dela, mas era
diferente. Eu não sentia o mesmo
que ela e sabia disso muito bem, o
que
por si só já me torna um grande
idiota – ele ficou em silencio por
um segundo antes de continuar. –
Mas não é como se eu não sentisse
nada por ela. Existe alguma coisa,
aqui dentro, que se sente bem
quando ela está por perto, corando
quando eu a elogio, mexendo no
cabelo nervosa e rindo das
coisas que falo. Ela sempre
conseguiu me deixar assim, fazendo
com que eu me sentisse especial e
importante. – Ele deu um sorriso
malicioso antes de completar: – E
você pode deduzir que há mais
coisas que eu goste nela.
Não consegui ficar frustrada com a
resposta dele. Eu estava apenas
surpresa, como quando ele
começou a falar, há mais ou menos
uma hora. Michael era
inacreditável; e ainda tinha a
ousadia de
chamar a Anna de várias faces.
- Mais alguma pergunta? – Ele
falou com um tom suave, com um
sorriso dançando pelos seus lábios.
- Só mais uma.
Ele se ajeitou no banquinho,
inclinando-se confortavelmente
para trás, com seus olhos brilhando
por
algum motivo que eu não conseguia
entender.
- Sou todo ouvidos.
Pensei por um segundo em como
perguntaria isso. Michael era mais
sensível do que deixava
transparecer.
- Seus pais... Eles... Não sabem de
nada do que aconteceu? – Perguntei
um pouco indecisa; isso era
apenas metade do que eu gostaria
de saber.
Ele pareceu surpreso com a
pergunta.
- Não, eu acho. Eu não contei e
duvido que o Joshua tenha
contado... A única coisa que eles
devem
saber é que eu gostava da filha da
empregada que pediu demissão sem
nenhum motivo aparente e que
rapidamente foi amparada pelo
Joshua, o adolescente que não se
importava com nada nem ninguém.
Duvido que eles liguem um fato ao
outro, mas, se tiverem ligado, eles
não vieram conversar comigo
sobre isso. – Sua voz era fria e
calculada, como se ele a treinasse
em frente ao espelho diariamente.
Ele estava escondendo seus
sentimentos reais, como sempre.
- Ah... Mas... Eles nunca notaram
que você odiava o Joshua?
Ele inclinou de leve a cabeça para
mim, intrigado.
- Onde você está querendo chegar,
Susan?
Ele era direto demais.
- Eu só queria saber se você nunca
ficou de castigo por isso, sabe?
Vingança não é uma coisa muito
educativa.
Ele me olhou como se não pudesse
acreditar que eu tinha dito isso.
Então uma risada escapou de seus
lábios e ele negou com a cabeça,
rindo com um toque de ironia.
- É claro que eles notaram que seu
filho mais novo ignorava o mais
velho de forma gritante, mas você
realmente acha que eles se
importariam com isso? – Ele riu
ainda mais, só que sem tanta
intensidade
dessa vez. – Acho que você não
conhece aquele casal. E, sobre sua
outra pergunta... Eu nunca fiquei
de castigo na vida.
Olhei para ele sem acreditar.
- Como não?!
Sua risada vacilou e eu pude ver
uma tristeza passando pelos seus
olhos claros. Ele estava sofrendo.
- Digamos que você tenha um filho
e ele bate em uma menina da escola
– ele começou a falar, com
uma rapidez e indiferença que não
combinava com os sentimentos
refletidos em seus olhos –, você
não iria querer que ele fizesse isso
de novo, certo? Você iria coloca-lo
de castigo para que ele
aprendesse e virasse alguém
decente, porque você se importa
com ele, afinal ele é seu filho.
Então,
você o colocaria de castigo e diria
para não fazer mais isso e ele iria
aprender a lição e não faria isso de
novo, se tornando uma pessoa com
caráter; o que significa que o
castigo, na verdade, é uma
forma de mostrar que você quer o
bem dele e que você quer que ele
seja algo na vida. Você tem que
amá-lo para o colocar de castigo.
Você tem que se importar com o
futuro dele, certo?
Abaixei os olhos, entendi aonde ele
queria chegar.
- Mas... – Murmurei, tentando falar
algo que o confortasse.
Vi sua mão direita se fechando em
um punho e ele começou a dar
murrinhos no canto do banco, suave
e ritmicamente. Talvez esses
murrinhos significassem mais do
que não saber o que fazer. Talvez
eles
significassem uma confusão interna,
uma luta. Porque, assim como havia
o Michael bom e o mau,
havia também o Michael sensível e
o frio. Ele não sabia quem ser
agora. Ele não sabia o que
demonstrar.
- Será que você entende, Susan? –
Sua voz parecia sair de uma
caverna, abafada e baixa. – Eu
nunca
fiquei de castigo por que eles não
se importavam se eu ia ou não virar
alguém decente.
Olhei para ele. Eu não tinha nem
noção de como poderia doer nele
falar dos pais. Eu sou uma idiota
por ter tocado nesse assunto.
Me aproximei dele, com cuidado,
sem saber muito bem o que fazer.
Ele olhou para cima, como
fazemos quando queremos segurar o
choro.
- Só... Não faça mais perguntas, por
favor – ele falou tão baixinho que
mais parecia um sussurro. –
Pelo menos não agora, depois eu
respondo o que você quiser, eu só...
- Ei, tudo bem. Me desculpe por ter
falado daquilo, de verdade. Eu
realmente não tinha intenção de te
deixar assim.
Ele olhou para mim por um segundo
e um sorriso tímido surgiu no canto
de sua boca.
- Mas você teria motivos para
querer.
Neguei com a cabeça. Eu teria
motivos apenas contra o antigo
Michael, o que agia de forma
maldosa
sem nenhuma explicação. Não
contra esse. Não contra ele, que
tinha uma história muito maior do
que
qualquer um poderia imaginar. Eu o
perdoava por tudo.
- O que você fez, tudo o que você
fez, foi pela Anna. Foi por amor.
Ele mordeu o lábio inferior,
pensativo. Ele ficava tão bonito
assim. Ele ficava tão Hunter.
- Digo isso para mim mesmo todos
os dias, para conseguir dormir à
noite.
Abri a boca para responder no
exato momento em que senti algo
molhado tocando meu ombro. Olhei
para o céu; estava começando a
chover.
Ele seguiu meu olhar e suspirou –
numa mistura de alivio e tristeza –
antes de se levantar e estender a
mão para mim. Me apoiei nele e
levantei também.
- Melhor irmos antes que comece a
chover de verdade – disse ele,
olhando para a rua. – Vou ligar
para o Gustavo.
Ele apontou para o parquinho de
madeira que estava bem no meio da
praça. Fui até lá e ele me
seguiu, dando passagem para que eu
sentasse primeiro, embaixo da
casinha colorida que se erguia
sobre um escorregador amarelo.
Ouvi enquanto ele pedia para o
Gustavo vim nos buscar, desligando
em seguida, e olhando para o
brinquedo com um ar nostálgico.
- Quando eu era pequeno, ele era
vermelho – comentou ele – e o
Nicolas sempre adorou vermelho,
então ele corria para cá quando
víamos, levando seus bonecos
junto.
Senti uma pontada de dor no peito.
No meu primeiro encontro com o
Joshua, ele também falou de sua
infância. Em minha mente, todo o
nosso encontro passou de novo e eu
relembrei dos melhores
momentos; como quando ele me
empurrou no balanço e me disse
que eu era a primeira garota que
levava ali. Quando ele disse que eu
era diferente.
- Falei algo errado?
Percebi que havia ficado em
silencio por muito tempo e
rapidamente fiz que não com a
cabeça.
- Não é isso, é que... Esse lugar me
lembra o Joshua.
Ele me encarou, com um olhar
solidário.
- Para mim também, Susan.
Ficamos quietos por alguns
minutos, pensativos – Joshua era
tão importante para ele quanto era
para
mim.
Então, ouvimos uma buzina de
carro. Michael levantou a cabeça
instantaneamente.
- É o Gustavo.
Nos levantamos e corremos para o
carro, com a chuva forte molhando
nosso corpo sem pena.
Ele abriu a porta para eu entrar.
[...]
Cheguei em casa tão cansada que
fui direto para a cama, mesmo
ainda sendo 16h. Ficar acordada
significava pensar no Joshua. Eu
não sou tão forte assim.
Eu não sou o Michael.
Por ter ido dormir muito cedo,
acordei 5h da manhã. Ótimo,
pensei, pelo menos eu vou para
escola
hoje.
Pulei da cama e fui para o banheiro.
Me surpreendi com o reflexo no
espelho: eu estava sem nem um
arranhão. Novinha em folha, como
se o acidente nunca tivesse
acontecido. Tudo isso graças ao
Joshua. Senti um nó se formando em
minha garganta e respirei fundo
antes de ir me trocar. Se eu
continuar assim, o dia será muito,
muito longo.
Depois de fazer tudo o que deveria,
desci as escadas e fui para a
cozinha. Peguei um copo com suco
e me sentei à mesa, esperando.
Nicolas e Michael apareceram
poucos minutos depois, com cara
de sono.
- Bom dia – cumprimentei com um
sorriso.
- Bom dia bebê, caiu da cama foi?
– Nicolas perguntou vindo até mim,
sorrindo daquele jeito fofo
dele, com suas covinhas dançando
em sua bochecha.
- Fui dormir muito cedo e vocês?
- Não consegui dormir – Michael
respondeu passando por nós e indo
para a cozinha.
Nicolas olhou para mim e depois
para o irmão, como se estivesse
juntando duas peças em um
quebra-cabeça.
- Onde vocês estavam ontem? - Ele
perguntou por fim, com uma das
sobrancelhas arqueadas.
- A gente estava conversando
naquela pracinha. Ele me contou
algumas coisas sobre seu passado.
Nicolas se inclinou para mim.
- Sobre Anna? – Sua voz saiu quase
inaudível.
Assenti com a cabeça.
Ele se virou para a cozinha,
surpreso.
- Não achei que fosse voltar a falar
dela tantos anos depois.
- Uma hora eu tinha que saber.
Estávamos sussurrando agora.
- Eu entendo... Só acho que ele
deveria ter esperado até que o
Joshua acordasse para te contar
isso.
Ele não é o único envolvido.
Não respondi. Eu não sabia se
concordava ou não com ele. E,
afinal, era tarde demais para
discutir
isso.
Ouvimos barulho de elevador e nos
viramos. As portas se abriram e o
senhor Fernando surgiu,
girando a chave do carro com o
dedo indicador – exatamente como
Joshua fazia.
- Vamos logo, não quero me atrasar
– ele mandou, nem se dando ao
trabalho de olhar para nós
enquanto falava.
Ele não era o tipo de pessoa que
cumprimentava com um bom dia.
Praticamente pulei do carro quando
estacionamos em frente ao colégio.
Só agora tive noção de
quanta saudade estava sentido das
pessoas daqui.
Apressei o passo e praticamente
corri até a escada, subindo de dois
em dois degraus até chegar ao
corredor. Soltei um suspiro de
felicidade ao ver todas as meninas
lá, rindo encostadas na porta da
sala. Gabi foi a primeira a me ver.
- GRAÇAS A DEUS VOCÊ ESTÁ
BEM! – Ela gritou e correu com as
meninas até mim, me
sufocando em um abraço em grupo.
Ri com a animação delas.
- Obrigada flores.
- Ficamos tão preocupadas, você
não tem noção! – A Bia falou
olhando para mim com alivio.
Sorri, agradecida por tudo isso.
- SOPHIA!
Girei meu corpo para trás e vi o
Edu correndo na minha direção, me
tomando nos braços com tanta
rapidez que eu nem tive tempo de
pensar. Ele me rodou no ar, com as
mãos firmes na minha cintura,
parando com cuidado segundos
depois.
- Eu senti tanto sua falta – ele falou,
me puxando para um abraço. – Eu
nunca fiquei tão desesperado na
minha vida.
- Ai meu Deus Edu, muito obrigada
mesmo – agradeci de volta e
ficamos ali, abraçados, unidos.
Então eu me lembrei de uma coisa.
– E a Jane?
Ele se afastou um pouco de mim,
para poder me olhar nos olhos.
- Ela acordou há mais ou menos
duas horas – ele respondeu
sorrindo. – Eu não poderia estar
mais
feliz, Susan!
Desviei os olhos por um segundo.
Joshua salvou a vida dela também.
Esse era um dos motivos de ele
não poder morrer: ele era um herói.
Não seria justo.
Acho que o Edu percebeu sobre o
que eu estava pensando, pois
colocou o braço no meu ombro,
tentando me reconfortar.
- Ele vai ficar bem, ok? Joshua é
forte. – Ele abaixou a cabeça. – E
desculpe por ter sido minha irmã a
causadora de tudo isso. Eu
realmente sinto muito.
Neguei lentamente com a cabeça,
mesmo sabendo que eu não estava
sendo totalmente sincera.
- Não precisa pedir desculpas.
Ele sorriu.
- Mas sério, eu ainda tenho que
agradecer o Jam...
Antes que ele pudesse terminar a
frase, o sinal tocou. Ele revirou os
olhos, irritado.
- Acho que temos que ir para aula.
- Não se preocupe, eu entendi o que
você iria dizer. Eu também tenho
que agradecê-lo.
Ele assentiu a cabeça e entramos na
sala, nos juntando às meninas no
canto direito.
Com o canto dos olhos, pude ver o
Edu parando um pouco antes de
sentar e olhando para o Michael.
Imagino o tamanho da luta interna
que ele estava sentindo agora.
Joshua salvou sua irmã. Um Hunter,
a família que ele sempre odiou.
Não posso culpa-lo, eu também
ficaria confusa. Todos ficariam, na
verdade, se tivesse que mudar de
ódio para gratidão. Mas, pelo
menos, ele conseguiria entender
agora o que eu falei sobre o Joshua
não ser uma pessoa ruim.
Bem, pelo menos não mais.
Menos de um minuto depois, uma
mulher entrou na sala, com uma
bolsa numa mão e uma pasta na
outra. Todos olharam confusos para
ela; agora era aula do Professor
Cavalcante.
Ela sorriu para nós enquanto
colocava suas coisas na mesa do
professor.
- Antes que vocês perguntem, meu é
Samanta, professora substituta de
química.
Olhei ao redor e vi a Isabela
enterrando a cabeça na banca.
- Onde está o Cavalcante? – Ouvi
uma voz perguntando do outro lado
da sala. Era uma das meninas
que andavam atrás do Michael e
seu grupinho.
A professora soltou um suspiro
antes de responder.
- Ele está afastado
temporariamente.
Eu quase podia sentir os olhares em
cima da Isabela, mas ela não se
mexeu; apenas continuou com a
cabeça apoiada no braço, com o
cabelo cobrindo todo seu rosto.
Pelos movimentos de seus ombros,
pude ver que ela estava chorando.
A professora começou a corrigir as
atividades do livro, não dando
oportunidade a ninguém de fazer
perguntas.
Quando acabou a aula, fui atrás da
Isabela. Ela havia corrido para o
banheiro assim que tocou o sinal e
eu a segui, junto com a Gabi e a
Amanda.
Assim que abrimos a porta demos
de cara com ela limpando algumas
lagrimas com a toalha, com
alguns soluços escapando de seus
lábios Fomos até ela e ficamos ao
seu redor, alisando seu cabelo e
passando a mão em seu braço.
- O que aconteceu naquela noite? –
A Gabi perguntou por fim. A
agradeci mentalmente por ter sido
tão direta.
Ela suspirou algumas vezes antes
de responder.
- Al-Alguém contou p-pa-para o
diretor que e-e-eu... – Ela começou
a falar, gaguejando por causa do
choro.
- Calma... A gente espera você ficar
bem para ouvir a resposta –
Amanda disse com um olhar
solidário.
Isabela respirou fundo e foi até a
pia. Observei enquanto ela jogava
água no rosto e o enxugava na
toalha em seguida. Quando se virou
para nós de novo, ela parecia está
muito melhor. Ou fingia que
estava.
- Certo – ela se ajeitou, olhando
para nós. – Mas prometam não
contar para ninguém.
- Prometemos – respondemos em
uníssono.
Ela se apoio na parede antes de
falar.
- Alguém da nossa sala contou para
o diretor sobre eu e o Cavalcante, e
ainda o informou sobre a
festa, dizendo que era muito
provavelmente que ele estivesse lá.
E o diretor, é claro, foi correndo
para lá, entrando no meu quarto
bem no momento em que eu e o
professor estávamos nos beijando.
–
Ela fez uma pausa, olhando para
algum ponto fixo do outro lado do
banheiro, como se estivesse
lembrando tudo em sua mente. –
Então ele começou a gritar. E gritar.
E gritar. Chamando o professor
de pedófilo para baixo, dizendo que
isso era inadmissível e que não
toleraria uma coisa dessas em
seu colégio. Foi péssimo e eu
realmente cheguei a achar que não
poderia piorar, mas, é claro,
piorou; o professor, ao invés de me
defender ou dizer que não
estávamos fazendo nada de errado,
disse que
eu era quem tinha dado em cima
dele e o enchido de álcool. Ele até
começou a falar enrolado como
se estivesse bêbado! Ele negou
tudo, fingindo até que tinha
esquecido meu nome. – Seu tom era
um
mistura de raiva e tristeza e ela
suspirou antes de continuar. – O
diretor acreditou, é claro. Ele disse
que eu seria suspensa por alguns
dias e que falaria para minha mãe o
que aconteceu. E foi ai que eu
comecei a implorar, chorando, para
que ele não falasse para ela, porque
eu sei que ela não
acreditaria em mim. No fim, ele
acabou cedendo, e disse que eu
ainda seria suspensa e se minha
mãe
perguntasse o porquê ele iria
contar. É uma sorte ela não se
importar tanto a ponto de ir até ele
perguntar. E, quanto ao professor...
O diretor falou que ele não iria
trabalhar até que isso estivesse
resolvido e ele se encontrasse em
condição para falar alguma coisa.
Meus olhos estavam arregalados.
Nunca pensei que o professor
pudesse ser tão cretino.
- Meu Deus, ele foi tão... – A Gabi
começou, procurando um adjetivo
ruim o bastante para ele.
- Eu sei – Isabela interrompeu. – E
a pior parte é que eu o amava
mesmo, entende? – Ela abaixou os
olhos. – E eu cheguei a achar que
ele também se sentia assim por
mim.
- Mas ele não disse nada para você
depois? – Perguntei.
- Ele tentou me ligar algumas vezes,
mas eu não atendi. Não estou
preparada para falar com ele.
Olhei para aquela garota com o
coração partido, me lembrando
automaticamente do Michael e sua
história com a Anna.
Será que algum dia o amor vai
parar de ser tão difícil?
As aulas passaram rápido. As duas
seguidas de química foram apenas
corrigindo exercícios e os
professores das outras duas
entraram em um acordo e decidiram
passar um filme. Então, quando a
gente menos esperou, já estávamos
indo para o pátio.
Isabela estava contando sua história
para as meninas e todos estavam
chocados pelo o que o
Professor Cavalcante fez. Ninguém
esperava isso dele.
- Eu não achei que ele fosse um
bosta... Isso é tão surpreendente que
chega a ser assustador –
comentou a Bia, com pena.
- Do que vocês estão falando,
gatas? – O Richard perguntou se
aproximando de nós, indo direto
para
o lado da Bia.
- Nada que seja agradável –
respondi.
Os olhos da Isabela se encheram de
lagrimas novamente e ela escondeu
o rosto com as mãos.
Nunca pensei que fosse odiar tanto
um professor como agora.
Eu e as meninas nos juntamos ao
redor dela, em um abraço em grupo
– como fizemos com a Elena no
dia do acampamento.
- Bom que ele seja demitido – a
Clara falou com raiva.
Isabela continuou chorando, sem
concordar ou discordar da Clara.
Senti uma mão sendo passada pelo
meu ombro e olhei para o lado.
Nicolas e Felipe se juntaram ao
nosso abraço, mesmo sem saber o
motivo. Eles ainda eram o meu
casal favorito no mundo.
Ficamos assim por um tempo,
tentando confortar a Isabela, cada
um dizendo alguma coisa em
determinado momento –
normalmente xingando o professor.
- Vamos para o intervalo, antes que
acabe o intervalo – Isabela pediu
com a voz baixa. – Estou com
saudades da comida.
Percebi que hoje era o primeiro dia
de aula dela depois da suspensão.
Ela era forte só por ter vindo,
sabendo que a primeira aula do dia
era de química.
Fizemos o que ela pediu e ficamos
tentando alegra-la o tempo inteiro,
soltando gritos quando ela
começava a chorar de novo e
correndo para outro abraço em
grupo. Ela riu algumas vezes. Ela
nos
agradeceu, mesmo sabendo que não
precisava.
Quando o intervalo acabou, ela
ligou para o motorista ir busca-la,
dizendo que não estava se sentindo
bem. O que, de certa forma, não era
mentira.
O resto das aulas passou rápido. Os
professores decidiram dar um dia
de folga para nós antes de
começarem o assunto novo para as
provas. Pelo menos alguma coisa
estava dando certo na minha
vida.
[...]
Assim que acabei de fazer a ultima
questão da atividade para casa,
desci as escadas. Ainda eram
17h, mas todos os Hunter estavam
em casa e, quando eu cheguei na
sala, me surpreendi com a
presença de todos eles, sentados
nos sofás e na poltrona. Até mesmo
minha mãe, encostada na
parede, pensativa.
O estranho era que a televisão
estava sem som e ninguém estava
conversando.
Eles olharam para mim e o Nicolas
foi o único que sorriu, apontando
com a cabeça para o espaço ao
seu lado. Fui até ele e me sentei,
olhando para cada uma das pessoas
que estavam ali.
O senhor Fernando estava na
poltrona vermelha, lendo um jornal,
sem dar nenhuma importância para
o resto das pessoas. Sua postura era
perfeita, como se ele quisesse
impor para todos quem mandava
ali. Desviei os olhos no mesmo
segundo; ele me dava nojo.
A Dona Nicolas, por outro lado,
parecia olhar para tudo, mudando
seu alvo a cada poucos segundos
– se demorando apenas quando se
tratava de seu marido, o que me fez
pensar que talvez fosse por
causa da semelhança dele com o
Joshua. Ela parecia mais do que
triste. Ela parecia arrasada. Senti
vontade de ir até lá e a abraçar, mas
me segurei.
Michael e Nicolas trocavam
olhares, cada um prestando
solidariedade ao outro. Eles eram
irmãos.
Era a primeira vez que os via dessa
maneira, como duas pessoas com o
mesmo sangue correndo nas
veias. Duas pessoas boas. Duas
pessoas fortes, cada um à sua
maneira. Duas pessoas que
passaram
por muitas dificuldades na vida e
sempre continuaram firmes –
mudando apenas a forma como isso
aconteceu e qual foi sua
consequência. Sorri com o canto da
boca ao pensar nisso.
Minha mãe olhava para a mesa de
jantar, pensativa e com um olhar
distante. Será que ela já
conversou com o Joshua ali? Me
pergunto o que ele disse. Joshua
sempre tinha as melhores frases.
Então, o telefone tocou.
Todos olharam com medo para ele,
como se fosse um animal selvagem.
Ficamos parados por um
segundo, tentando decidir, sem
palavras, quem iria atender.
Michael se levantou.
- Eu atendo – ele avisou, andando
até o telefone fixo na parede. Ele
tirou o aparelho e ouviu o que
quer que estivesse sendo dito, sem
responder nada. Seu rosto não
demonstrava nenhum sentimento.
Ouve uma pausa.
Ele desligou, virando-se para nós.
- Era do hospital.
Fechei os olhos, com o medo
subindo e descendo com tanta
rapidez quanto os movimentos do
meu
coração. Meus dedos se cruzaram e
uma oração silenciosa passou pela
minha mente, mas ela ainda
estava na metade quando o Michael
completou, falando com sua voz
firme e levemente rouca:
- Joshua acordou.
41. Eu senti sua falta
Senti como se alguém estivesse me
chacoalhando bruscamente. Tudo
dentro de mim balançou. Meu
coração foi parar em minha boca e
meu pulmão esqueceu que tinha
trabalho para fazer. Perdi o
fôlego.
Nicolas deu um salto e correu para
até onde o Michael estava, gritando
por mais informações.
Mas eu não estava ouvindo.
A única coisa que prendia minha
atenção eram duas únicas e
impactantes palavras.
Joshua acordou.
Joshua estava vivo.
- ...Vamos logo!
Olhei para a Dona Nicole,
finalmente desviando dos meus
próprios pensamentos.
- O que estamos esperando? –
Perguntei ansiosa, quase irritada.
Senhor Fernando levantou uma
sobrancelha para mim, como se não
acreditasse na minha ousadia.
Mas eu não me importava. Eu não
me importava com nada além do
Joshua.
Por um segundo, não houve
resposta. Então a Dona Nicole
praticamente correu até a mesa de
centro e
pegou a chave do carro.
- Vamos.
[...]
Assim que chegamos ao hospital, o
enfermeiro chefe nos mandou para a
sala de espera.
- Por que não podemos ir até onde
ele está? – Nicolas perguntou
nervoso.
- O paciente está fazendo os
últimos exames. Aguardem, por
favor – respondeu o enfermeiro, já
se
virando para sair.
Me sentei no sofá branco e largo.
Isso não era justo. Eu estava a um
passo de subir pelas paredes e
ele me mandava esperar?
Michael me seguiu, sentando-se ao
meu lado.
- Também estou nervoso – ele
sussurrou quase inaudível ao meu
ouvido.
Olhei para ele, levemente surpresa.
Lá no fundo, eu ainda estava
tentando digerir tudo o que ouvi
ontem à tarde.
- Mas ele vai ficar bem – murmurei,
tentando convencer a mim mesma
disso.
Ele assentiu, seus olhos fixos na
porta de entrada da sala.
- Eu sei. Ele é o Joshua.
- O que isso quer dizer?
Ele levantou uma sobrancelha como
se isso fosse óbvio.
- Joshua sempre ganha no final,
Susan.
Por um momento, eu tive a certeza
de que ele estava se referindo a
mim e a Anna. Então percebi que
era muito mais do que isso. Era
tudo. Joshua nunca perdeu em nada
para o Michael – ou para
qualquer outra pessoa. Ele iria ficar
bem. Porque não é da natureza dele
ser derrubado.
- Espero que você esteja certo.
Ele olhou para mim. Seus olhos
pareciam duas esmeraldas,
levemente sombreadas por causa da
luz.
- Você sabe que estou.
Ele tinha razão
Eu estava prestes a responder
alguma coisa, quando, de repente,
ouvimos batidas na porta.
- Posso entrar?
Meu coração parou por um segundo
e eu senti todos os meus pelos se
arrepiando.
Era a voz do Joshua.
Me levantei e corri para a porta,
ignorando todos ao meu redor. A
porta se abriu no momento em que
eu toquei a maçaneta e lá estava
ele. Joshua. Meus olhos se
encheram de lagrimas e senti meu
corpo
sendo puxado para o dele, como um
imã. Nos abraçamos.
Ele passou uma mão pelo meu
cabelo enquanto a outra se firmava
em minha cintura. Todos meus
músculos estavam extasiados e meu
pulmão se movimentava com
dificuldade dentro do meu peito.
- Ei, eu estou bem – ele falou
baixinho, sua voz levemente mais
rouca do que o normal.
Me afastei um pouco para poder
olhar para ele. Nunca pensei que
pudesse sentir tanta falta de um par
de olhos azuis.
- Joshua... Ai meu Deus, Joshua, eu
fiquei tão preocupada...
Ele balançou a cabeça e me
abraçou novamente, com mais
força.
Ficamos assim por um minuto,
apenas sentindo um ao outro.
Ele estava vivo.
Ele estava ali, bem na minha frente,
com os braços ao redor do meu
corpo.
E eu o amava tanto.
- Também queremos um pouco de
Joshua, ok?
Olhei surpresa para o Nicolas.
Tinha esquecido completamente que
havia mais pessoas nessa sala –
ou em qualquer outra sala do
mundo.
Saí do abraço do Joshua a
contragosto e observei enquanto
todos da família, e minha mãe,
abraçavam
o Joshua, felizes.
Notei que a Dona Nicole estava
com lagrimas nos olhos e o abraçou
por mais tempo do que todos os
outros. Eu não posso nem imaginar
o alívio que ela estava sentindo.
Michael foi o ultimo a ir até ele.
Eles se encaram antes do ato, como
se pedissem desculpas um para
o outro. Senti um suspiro saindo
dos meus lábios quando eles
sorriram e, finalmente, se
abraçaram.
Como irmãos.
Assim que o abraço acabou, Joshua
foi até mim, passando o braço pela
minha cintura.
- Senti sua falta – sussurrei apenas
para ele ouvir.
Ele sorriu com o canto da boca e
inclinou um pouco a cabeça para
que pudesse olhar em meus olhos.
- Eu amo você.
Mordi o lábio inferior por um
segundo e percebi que estava a
poucos passos de começar a chorar.
Ele negou com a cabeça, se
aproximando de mim.
- Não chore, por favor. Eu estou
aqui. Eu amo você. – Ele repetiu
pausadamente, seus olhos
brilhando tanto que eu cheguei a
achar que era ele quem estava com
lagrimas.
- Eu também amo você, Joshua.
Sorrimos. E isso era tão bom. Nada
se comparava a essa sensação de
que as coisas finalmente
estavam dando certo. Nada se
comparava a essa felicidade pura e
simples, que tomava conta de cada
vértice, ponto, reta, ângulo e grau
do meu corpo.
Nada se comparava ao amor.
Então, a porta se abriu novamente e
uma enfermeira baixinha entrou na
sala, segurando uma pasta.
Joshua se afastou apenas o
suficiente para olha-la, levemente
preocupado.
A enfermeira parou em frente à
porta, olhando para cada uma das
pessoas presentes.
Senti meu estomago revirando de
medo.
- Boa noite – ela cumprimentou
enquanto a abria a pasta, dando uma
ultima lida no que estava escrito
antes de falar conosco. – Eu
gostaria de conversa com o senhor
Joshua Hunter, a sós.
- Somos a família dele, pode falar –
Dona Nicolas protestou.
A enfermeira negou com a cabeça.
- São as regras do hospital: os
resultados do exame só podem ser
ditos para o paciente ou, se ele for
menor de idade, seus pais.
- Então vocês... – o senhor
Fernando começou, olhando para
mim.
Entendi o recado. Saí com cuidado
do abraço do Joshua, beijando sua
bochecha antes de abrir a
porta da sala. Nicolas, Michael e
minha mãe passaram por mim e eu
fechei a porta no final.
Do lado de fora, Michael parecia
irritado.
- Nós tínhamos todo o direito de
ouvir!
Minha mãe encostou-se à parede,
calma.
- Não precisa se preocupar. Em
breve saberemos.
Sorri para ela, impressionada. Ela
sempre foi assim: suave; doce e
compreensiva, como se soubesse
que as coisas fossem melhorar.
Ficamos em silencio, apenas
olhando os enfermeiros, médicos,
pacientes e visitas passando de um
lado para o outro, sempre
apressados.
Uma adolescente com mais ou
menos a minha idade foi a única
que passou por nós devagar,
olhando
fixamente para o Michael, com um
sorrisinho quase – quase – sensual
no rosto. Ele nem sequer a
notou.
Alguns minutos depois disso, a
porta se abriu e eu soltei o ar que
não havia notado que estava
prendendo. A enfermeira acenou
para nós e saiu sem dizer nenhuma
uma única palavra.
Entramos na sala, com medo.
Senhor Fernando e Dona Nicole
estavam sentados no sofá, olhando
um
para o outro como se conseguissem
se comunicar por pensamento,
enquanto Joshua estava em pé,
bem no meio sala, sério de uma
forma que eu nunca tinha visto
antes.
Olhei para ele com cara de
interrogação.
Ele suspirou antes de responder.
- Eu estou quase completamente
bem – ele respondeu por fim,
apreensivo. – A única coisa que
não
está funcionando direito é... – Seus
olhos se desviaram para o teto e ele
suspirou novamente. O medo
cresceu tanto dentro do meu peito
que eu pensei que fosse desmaiar. –
Meu coração.
Fechei os olhos enquanto ele
continuava a falar.
- Minha válvula mitral está com
dificuldades para fazer seu
trabalho. A cirurgia para substituí-
la será daqui a cinco dias e, até lá,
eu não posso ter nenhuma emoção
forte.
- Ou...? – Michael perguntou, com
uma curiosidade quase infantil na
voz.
- Ou eu morro, é claro – ele
respondeu com naturalidade.
Abri os olhos e encarei o Joshua.
Ele parecia tão bem, sem nem um
arranhão, sem nenhum um osso
quebrado ou qualquer coisa desse
tipo. Ele estava tão bem por fora.
E, no entanto, seu estava coração
doente.
E logo o coração, a parte do corpo
que sempre foi a maior e a mais
forte dele.
Senti um nó se formando em minha
garganta e não consegui dizer nada.
Não que houvesse algo que
pudesse ser dito.
Então Joshua olhou para mim, com
um sorriso passando pelos seus
lábios.
- Mas a cirurgia quase não tem
riscos e nova válvula pode
sobreviver por uns 20 a 25 anos
antes de
ser substituída novamente. Não
precisa ficar assim. Vai ficar tudo
bem.
- Bem, acho que nós devíamos ir
para a casa agora – o senhor
Fernando falou, antes que qualquer
um
de nós pudesse sequer se mexer.
Joshua assentiu, ainda olhando para
mim.
- É, concordo com você. Já passei
tempo demais nesse hospital.
Joshua fez questão de ir comigo nos
últimos bancos do carro – aqueles
que ficam na mala. E assim
que o senhor Fernando deu a
partida, eu apoiei minha cabeça em
seu ombro, pensativa.
- O que está passando pela sua
cabeça? – Ele perguntou
suavemente como se eu fosse uma
criança.
- Tudo, eu acho. Aconteceram
muitas coisas desde o acidente.
Ele olhou para mim sem entender e
eu me arrependi no mesmo segundo
de ter dito isso. Eu não
queria ter que falar sobre a Anna.
Pelo menos não agora.
- Por exemplo...?
Pensei um pouco antes de
responder.
-Você foi um herói– falei por fim.
Ele negou com a cabeça.
- Eu só fiz o que deveria fazer.
- Você salvou duas vidas naquela
noite, Joshua.
- Então a Jane está bem? –
Perguntou surpreso.
- Ela acordou ontem de manhã.
Ele sorriu.
- Espero que a partir de agora ela
pare de tentar me separar de você.
Eu realmente já perdi a
paciência.
- Eu também.
Nos olhamos por um tempo, cada
um lembrando das coisas que
tivemos que passar por causa dela e
do Michael. A coisa que eu mais
queria no mundo era nunca mais ter
que viver algo assim.
Então, ele se inclinou até mim,
olhando fixamente para os meus
olhos. Senti meu coração dando um
salto. Eu não tinha nem noção da
saudade que eu estava do seu beijo.
Fechei os olhos quando nossos
lábios se tocaram. Eu o amava
tanto. Às vezes, nem eu conseguia
medir o tamanho de tudo isso.
Porque mesmo se eu dissesse que
era 10 de 10 eu estaria mentido.
Era
mais. Muito mais. Mais do que
qualquer coisa que eu já havia
sentindo antes. Forte o bastante
para
me fazer esquecer do presente, do
passado e até mesmo do futuro
enquanto nos beijamos. E a melhor
parte era que eu sabia que ele
também se sentia assim.
E ele beijava tão maravilhosamente
bem que eu poderia passar o resto
da minha vida assim, o
beijando, parando apenas para
respirar e olhe lá.
Ele se afastou, sem fôlego.
- Já disse que te amo hoje?
- Acho que sim, mas se quiser pode
repetir.
Ele riu e me beijou novamente.
Quando o finalmente chegamos a
rua dos Hunter, Joshua e eu já
tínhamos nos beijado tantas vezes
que
eu havia perdido a conta. Era uma
sorte que ninguém dar atenção a
nós.
Saímos do carro e o Joshua foi
andando devagar até a porta de
casa, com os olhos fixos na enorme
casa, pensativo.
Os outros entraram na casa
enquanto eu fiquei ali, ao lado dele,
tentando entender o que ele estava
pensando.
- Eu poderia não estar aqui, sabe? –
Ele sussurrou para mim. – Eu
poderia não estar aqui falando
com você.
- Não pense nisso...
- Não tem como não pensar, Susan
– ele desviou os olhos para os
meus. – Eu poderia ter morrido. E
sabe quando é a pior parte? A culpa
seria toda minha.
- Não era você quem estava
dirigindo bêbado.
Ele balançou a cabeça, quase
irritado.
- Mas eu poderia ter evitado. Eu vi
o jeito como ela estava e não me
ofereci para leva-la para casa,
porque eu sou porra de um egoísta e
agora até meu coração está pagando
por isso – ele falou com
uma rapidez furiosa, olhando para
mim com intensidade. – Por isso
virar aquela porcaria de carro
era o mínimo que eu podia fazer. Eu
errei primeiro, Susan –
acrescentou. – Eu não sou um herói.
Olhei para ele sem acreditar. Como
ele podia se sentir assim? É claro
que ele não era o culpado por
isso e, mesmo que ele fosse, isso
não mudaria o fato dele ter salvado
vidas.
- Você deixou ela ir embora porque
algumas amigas dela chegaram para
ajuda-la. Se a culpa for para
ser de alguém, então ela é toda
daquelas garotas.
Ele não pareceu convencido. Tudo
em seu rosto gritava
arrependimento.
- Eu não sou um adolescente. Eu sei
que acidentes podem acontecer e
sei que aquelas garotas têm no
máximo 17 anos, o que significa
que elas não pensam muito antes de
fazer as coisas. Eu era o adulto
e isso me faz responsável por isso.
Fui até ele e coloquei as mãos em
sua nuca, o aproximando de mim.
Ele negou com a cabeça.
- Não tente me dizer o contrário, eu
sei o que...
- Não vou tentar, Joshua. Mas, para
mim, você é um herói – falei,
ficando na ponta dos pés enquanto
ele, lentamente, colocava as mãos
em minha cintura. – E eu não estou
falando só do acidente.
Ele sorriu com o canto da boca,
com uma timidez que não
combinava nem um pouco com ele.
- Foi você quem me salvou – ele
sussurrou antes de finalmente me
beijar.
Me pergunto se algum dia eu vou
me acostumar com isso; Com essas
explosões no meu peito toda vez
que ele se aproxima de mim; Com
esse gostinho de quero mais sempre
que o beijo acaba; Com tudo
isso; Com ele; Com meu coração
batendo suavemente no meu peito,
relaxado e feliz. Com o amor em
geral.
Talvez não. Amor é algo muito
grande para que alguém consiga se
acostumar completamente com ele.
- Ei pombinhos, que tal irmos
jantar?
Olhei para o Nicolas na varanda na
sala, com seu sorriso de covinhas e
seus olhos azuis brilhantes
como o de uma criança.
Joshua suspirou e se virou para ele.
- Um segundo – pediu.
Ele se virou novamente para mim e
nos beijamos com mais intensidade.
Ouvi uma risada ao longe, tão
suave quanto uma brisa de verão, e
em seguida uma porta se fechando.
Nicolas sabia que iríamos demorar
mais do que um segundo.
Quando a falta de ar nos venceu,
fomos para dentro de casa.
Todos os Hunter já estavam
sentados na mesa de jantar enquanto
minha mãe cozinhava alguma coisa
no cômodo ao lado. Me sentei entre
o Michael e o Joshua.
Olhei para as pessoas ao meu
redor, sentindo algo estranho meu
peito. Naquele momento, eu não me
sentia só a namorada de um Hunter
ou filha da empregada deles. Eu me
sentia da família.
- Mãe, eu vou dormir em casa hoje,
ok? – Nicolas avisou com um
sorrisinho travesso dançando em
sua boca. – Mas só vou sair umas
onze e meia.
Michael olhou para ele, intrigado.
- E os pais do Felipe vão te levar
para a escola amanhã? – Ele
perguntou cínico.
Nicolas revirou os olhos.
- Que eu saiba eu estava falando
com minha mãe, não com você.
Michael riu baixinho.
- Aprendeu bem, irmão – murmurou
para si mesmo, tão baixo que eu
quase não ouvi.
Depois do jantar, fui para o quarto
do Joshua. Ele me puxou pela mão
assim que passei pela porta e
me deitou na cama, ficando por
cima de mim. Meu coração deu uma
cambalhota dentro do meu peito.
- Pena que eu não posso ter fortes
emoções – sussurrou no meu
ouvido, tão perto que eu poderia
sentir o ar saindo de sua boca e
tocando minha pele.
- É uma pena mesmo – respondi no
mesmo tom de voz.
Ele apoiou o peso nos braços e se
elevou um pouco para poder olhar
para mim direito.
- Você é sexy.
Minha mão esquerda foi para o seu
cabelo dourado, fazendo cachos
com os dedos e logo em seguida
os soltando.
- Olha quem fala.
Ele sorriu e seus olhos se
desviaram para minha boca.
- Lembra quando nós nos beijamos
pela primeira vez, na sala, no meio
da noite que tinha tudo para
dar errado?
Minha vez de sorrir. Como eu
poderia esquecer isso?
- Claro que eu lembro.
Minha mão livre desceu pelas suas
costas, suavemente, quase que por
vontade própria. Ele fechou os
olhos por um segundo, sentindo-a.
- Foi naquele momento em que eu
percebi que não podia mais negar
isso. – Ele abriu os olhos. Azuis
Denim. – Foi naquele momento que
eu percebi que eu estava
completamente apaixonado por
você,
Susan.
- Eu descobri isso muito antes,
Joshua.
Ele olhou para mim surpreso.
- Quando exatamente?
- Em algum momento entre você me
levar para aquela praça e dar um
murro no nariz do Felipe.
Ele riu nostálgico.
- Bons tempos.
- Não – falei –, o melhor tempo é
agora.
- Achei que eu fosse o meloso da
relação – ele comentou sorrindo.
Dei de ombros.
- Podemos dividir esse papel.
Ele se inclinou para baixo e me deu
um selinho demorado, como se
nunca tivesse encostado nos meus
lábios antes.
- Eu preciso te contar uma coisa –
sussurrei inaudível quando acabou.
Eu tinha que falar sobre a Anna.
Ele saiu de cima de mim e se deitou
ao meu lado, com a cabeça apoiada
no cotovelo.
- Sou todo ouvidos.
Respirei fundo antes de falar,
pensando em como diria isso para
ele. Em como diria que eu sabia
que, no passado, ele era um
monstro.
Desviei os olhos.
- Estou ficando com medo...
Neguei com a cabeça e me virei
para ele, imitando sua posição.
- Eu te disse que aconteceram
muitas coisas desde o acidente. E
uma delas... – olhei para ele,
tentando encontrar em seus olhos
forças para continuar falando. –
Michael me levou para aquela
pracinha e me contou... Me contou
sobre Anna.
Por um segundo, seu rosto não
demonstrou nenhuma reação e ele
apenas ficou ali, parado, olhando
para mim como se não tivesse
entendido direito o que eu disse.
Então seus olhos se arregalaram e
se sentou na cama, assustado.
- Ele fez o que?!
Me sentei também, tentando parecer
calma para mostrar que estava tudo
bem.
- Eu tinha que saber, Joshua.
- Ele não tinha o direito de ter te
contado enquanto eu estava em
coma! Essa historia não é só dele!
Meu Deus, você deve achar que eu
sou a pior pessoa do mund...
- Joshua! Me escute, ok?
Meu tom de voz pareceu
desacelera-lo por um segundo e ele
piscou os dois olhos para mim,
como se
tentasse focar a visão.
- Primeiro de tudo fique calmo, por
favor. Você não pode elevar seus
batimentos, lembra? Então
respire fundo.
Lentamente, ele fez o que eu pedi;
inspirando e expirando devagar,
quase com cuidado.
- Que parte ele contou? – Perguntou
por fim, parecendo bem mais
calmo, mas ainda preocupado.
- Tudo.
Ele fechou os olhos por um
momento, respirando fundo
novamente.
- Só não me diga que você me
odeia.
- Não sou capaz de te odiar, Joshua.
Ele abriu os olhos e por um
segundo eu poderia jurar que havia
lágrimas neles, mas rapidamente
elas
desapareceram.
- E o que você acha disso então?
- Eu queria... Ver a Anna, talvez. Eu
queria ouvir todos os lados dessa
história.
Suas sobrancelhas se juntaram e
uma ruguinha em formato de vírgula
apareceu entre elas.
- Tem certeza disso? Não sei o que
o Michael faria se a visse
novamente.
Dessa vez foi eu quem estreitei os
olhos para ele.
- E o que você faria?
Ele suspirou, pensativo.
- Com ela? Nada, é claro. Mas não
sei como eu iria se sentir se
finalmente visse meu filho.
Olhei para ele, surpresa com a
naturalidade e a rapidez com que
ele disse isso.
- Joshua, você está escondendo
alguma outra coisa de mim?
Ele ficou em silencio por um
segundo.
Então as palavras saltaram da sua
boca como se ele estivesse as
prendendo por tempo demais.
- Eu não podia deixar ela
simplesmente ir embora, ok? –
começou, falando aceleradamente.
–Ela
estava carregando o meu filho no
ventre. O meu filho! Eu tinha que
fazer alguma coisa. Eu não podia
deixar ele passar por algum tipo de
necessidade e eu sabia que o
dinheiro que eu tinha dado para a
Solange não iria durar por muito
tempo. Então eu abri uma conta no
banco para ela, colocando uma
certa quantia de dinheiro todos os
meses e aumentando 50% em
Outubro, pois é o mês que ele
nasceu. Claro que, às vezes, dava
algum problema na conta e quando
isso acontecia a Anna me
ligava, falando comigo como se eu
fosse obrigado a fazer o que estava
fazendo. E sempre que ela me
ligava eu pedi para ver meu filho,
ou pelo menos ouvir a voz dele, e
ela nunca aceitava. Eu não sei
nem o nome dele, Susan.
Tentei assimilar o que ele estava
me dizendo.
O Michael tinha razão.
Ele ainda mantinha contato com a
Anna.
- Por que você nunca contou isso ao
Michael? Ele merecia saber que
poderia falar com ela se
quisesse.
- Eu não sei qual seria a reação
dele. Ele a amou demais, Susan, e
se ele falasse com ela todo esse
sentimento iria voltar e ele me
odiaria de novo. E eu não posso
perder meu irmão novamente.
Ele estava certo, mas mesmo assim
eu não podia aceitar o Michael
ficar por fora de tudo isso.
- Liga para ela, diga que vocês três
têm que conversar sobre isso de
uma vez por todas. E eu também
quero conhece-la.
- Mas...
- Talvez ela seja o amor da vida do
Michael, talvez você esteja
empatando algo que deveria estar
acontecendo.
Ele me olhou fascinado por algum
motivo que eu não conseguia
entender.
- Tem certeza que eu sou o mais
velho aqui?
Sorri, esquecendo completamente
qualquer raiva que eu poderia ter
dele.
- Senti sua falta, Joshua – confessei
por fim.
Ao invés de responder, ele se
levantou da cama, decidido.
Observei enquanto ele andava até o
meu lado e me virei quando ele
segurou minha mão. Seus dedos
se entrelaçaram nos meus com tanta
facilidade que eu me perguntei se
eles já não estavam assim o
tempo todo.
- Será que eu não posso
simplesmente me casar com você?
Mordi o lábio inferior por um
segundo. Não era uma má ideia.
- Me deixe só terminar o ensino
médio e a gente conversa.
Ele negou com a cabeça e me puxou
pela mão para que eu me levantasse
também.
- Não, vamos casar agora.
Olhei sem entender para ele, que
apenas sorriu e soltou minha mão.
- Volto em um segundo.
Ele saiu do quarto antes que eu
pudesse dizer alguma coisa.
Sentei novamente na cama, curiosa
para saber o que ele estava
aprontando.
Tentei não pensar na Anna e em
todas as histórias que a envolviam,
mas era mais difícil do que eu
imaginei. Ela estava em todos os
lugares. Ela marcava tanto essa
família quando o z no final de
Hunter.
E era nela quem eu estava pensando
quando a porta se abriu, alguns
minutos depois. Joshua, Michael
e Nicolas surgiram atrás dela,
sorrindo cumplices um para o
outro.
Me levantei, impressionada.
- O que é isso?
Michael olhou para o Joshua como
se ele fosse o irmão mais novo.
- Joshua teve uma ideia fofa –
respondeu com um toque de ironia.
Nicolas sorriu e correu até onde eu
estava, encaixando o braço no meu
– como ficam os casais
quando entram em algum evento.
Michael, por sua vez, puxou o
criado-mudo ao lado da cama até o
meio do quarto e parou atrás dele,
ficando sério no mesmo segundo.
Joshua foi para o outro lado do
criado-mudo, em frente ao Michael.
Seus olhos brilhavam, pousados
nos meus.
Sorri quando entendi o que estava
acontecendo.
- Precisamos de música! – Avisou o
Nicolas.
Michael riu e pegou o celular do
bolso, digitando alguma coisa por
alguns segundos, até que, por fim,
uma musica de casamento tomou
conta do quarto. Assim que a
música começou, ele pôs o celular
em
cima do móvel e voltou a sua
posição inicial.
Nicolas sorriu para mim e me guiou
para frente, indo em direção ao
Joshua.
Ao meu redor, as coisas começaram
a se transformar em minha mente: o
guarda-roupa grande e
marrom virou várias fileiras de
cadeiras, com pessoas de todas as
famílias da cidade sentadas nelas,
olhando para nós com fascínio; o
teto branco e liso foi pintado com
imagens de anjos e Alvez, como
os de uma capela e até mesmo o
chão ficou mais claro – mais
sagrado.
Joshua estendeu a mão quando eu
cheguei perto o suficiente para
tocá-la e o Nicolas se afastou,
ainda sorrindo, e foi para o nosso
lado, como um padrinho.
Fiquei ao lado do Joshua, em frente
ao Michael. Ele sorriu para nós.
- Posso pular logo para o “você
aceita?”? Porque eu realmente não
sei o que o padre fala antes disso.
Joshua revirou os olhos, com um
sorrisinho fofo tomando conta do
seu rosto.
- Pode pular para o “pode beijar a
noiva” se quiser.
Soltei uma risada nervosa. Meu
coração estava a mil por hora,
como se eu estivesse casando de
verdade.
- Não, não, se vamos fazer isso
pelo menos que façamos um pouco
direito – Michael retrucou,
ajeitando a gola da camisa. – Posso
começar?
- Pode – respondemos em uníssono.
Ele tossiu antes de falar, fazendo
charme. Segurei outra risada.
- Joshua Montenegro Hunter, você
aceita Susan dos Alvez como sua
legitima esposa, na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, até que a
morte os separe? – Ele perguntou
sério, entrando de verdade no
personagem.
Joshua nem pensou antes de
responder;
- Aceito.
- E você, Susan, aceita Joshua
como seu legitimo esposo, o
amando e o respeitando assim como
a si
mesma, durante todos os dias de
sua vida, até que a morte os separe?
Sorri.
- Aceito.
42. Ninguém esperava por essa
– Pode beijar a noiva.
Joshua sorriu antes de se aproximar
de mim, com os olhos brilhando.
– Eu amo você – sussurrou.
– Eu também amo você.
Senti o olhar do Michael sobre nós.
Gostaria de saber o que ele estava
pensando. Gostaria de saber
se ele estava pensando em Anna.
Então, a boca do Joshua tocou a
minha e eu não gostaria de mais
nada no mundo. Aquilo bastava. Ele
bastava.
– Acho que vamos indo agora... –
Ouvi o Nicolas falando ao longe,
com um ar de riso na voz. –
Felicidades para o casal.
– Digo o mesmo – Michael disse, já
se virando para ir embora.
Joshua tirou as mãos da minha
cintura apenas para dar um aceno e
voltou a se concentrar no beijo,
que ficava cada segundo mais
quente. Era bom mesmo eles irem
embora.
Ouvimos o barulho da porta
batendo segundos depois.
Nos afastamos por causa do ar.
Joshua estava ofegante.
– Susan.
– Oi?
Ele sorriu, com o peito subindo e
descendo rapidamente.
– Você é uma forte emoção.
[...]
– Então por que Joshua? –
Perguntei confusa.
Ele estava deitado em meu colo,
contando a história da sua família e
me deixando fazer perguntas
sobre o assunto. Enquanto isso, eu
mexia em seu cabelo loiro e liso,
fascinada com tudo o que ele
estava me dizendo.
– Meu bisavô era britânico e meu
nome foi em homenagem a ele, já
que ele foi basicamente a origem
de tudo.
– Como assim?
– Ele veio para o Brasil nos anos
20 e foi aqui onde conheceu a bela
Dulce Hunter, uma espanhola
que estava passando alguns dias no
país e acabou se encantando pelo
loiro do olhos verdes que era o
jovem Joshua. E acho que você já
pode deduzir o resto.
– Mas por que vocês não usam o
sobrenome do senhor Joshua, ao
invés do Hunter?
Joshua suspirou, pensativo.
– Ninguém gosta muito falar sobre
isso, mas ele não tinha sobrenome.
Por causa da guerra ele foi
abandonado pelos seus pais e
levado para um orfanato com
poucos meses de vida. Ele foi um
guerreiro.
– Talvez seja uma benção do nome.
Ele riu e negou com a cabeça,
modesto.
– Você faz bem para o meu ego.
Dei de ombros.
– Você faz bem para minha vida.
[...]
Acordei com a voz do Joshua
pedindo para eu levantar.
– Alguém precisa ir para a escola
nessa casa.
Me levantei devagar, ajeitando o
cabelo com a mão.
– Você tem mais dois irmãos para
isso – resmunguei com sono.
Ele soltou uma risada e tirou o
lençol que estava me cobrindo.
– Só podemos casar de verdade se
você terminar o ensino médio,
então levante sua delinquentezinha
– ele falou usando um tom de voz
fofo, como aqueles que usamos
para falar com crianças.
Dessa vez foi eu quem ri e fiz o que
ele mandou. Tinha me esquecido de
como os Hunter podiam ser
convincentes quando queriam.
Fui para o meu quarto e me arrumei
para um novo dia. É estranho
pensar que ontem tudo estava em
preto em branco e hoje até o Sol
parece mais brilhante, como se nos
desse bom dia e nos dissesse o
quão sortudos somos apenas pelo
fato de existir. O amor é algo
encantador – assim como o Joshua.
Depois de fazer tudo o que deveria,
desci pelas escadas até o térreo e
encontrei o Michael e o Joshua
tomando café, sentados um do lado
do outro na mesa.
– Quem diria que um dia eu veria
essa cena – comentei com um
sorriso.
Eles olharam para mim e depois um
para o outro, sorrindo também.
– É uma surpresa para nós também
– Michael retrucou observando o
irmão mais velho. – Mas já
estou me acostumando em não te
odiar.
Joshua revirou os olhos.
– É mais fácil do que se pode
imaginar.
Michael riu e fez que não com a
cabeça.
– Não mesmo.
– O que você quer dizer com isso?
– Joshua perguntou com uma falsa
irritação.
Michael levantou os braços em
sinal de rendição.
– Nada não irmãozinho.
– Irmãozão – Corrigiu o Joshua
com um sorriso divertido no rosto.
O caminho ate o colégio foi calmo
e tranquilo. Eu adorava isso.
Joshua demonstrava sua força
discretamente; com o fato de ir
dirigindo comigo ao lado, sem
parecer
nem lembrar do acidente. Mas, é
claro, eu não sabia o que ele estava
pensando.
– Tchau crianças, tenham uma boa
aula – Joshua falou ao estacionar,
sorrindo como se fosse nosso
pai ou algo assim.
Michael riu e saiu do carro,
acenando para nós enquanto
passava pela porta.
Olhei para o Joshua.
– Tem certeza de que pode ir para a
faculdade hoje? – Perguntei
preocupada, olhando para o peito
dele, bem onde ficava seu coração.
– Se ninguém inventar de me dar um
susto lá não vou ter nenhum
problema – respondeu com leveza.
– Se cuide, ok?
Ele mordeu o lábio inferior por um
segundo.
– Certo mãe.
Empurrei o ombro dele com uma
mão, com um sorriso dançando em
meus lábios sem que eu pudesse
controlar.
– Melhor ir logo para não me
atrasar – ele falou olhando para o
relógio de pulso. – Nos vemos
daqui
a algumas horas.
Ele me deu um selinho rápido antes
de eu me virar e sair. Corri até a
porta do colégio e subi as
escadas rapidamente, pulando de
dois em dois degraus.
Passei pelo corredor praticamente
voando e abri a porta ofegante.
Todas as pessoas olharam para
mim, até o mesmo o professor
Cavalcante, que estava parado no
meio da sala falando alguma coisa.
– Bom dia senhorita dos Alvez –
ele cumprimentou.
Passei direto por ele e fui para a
cadeira ao lado da Bia e da Isabela,
me lembrando imediatamente
de todas as coisas ruins que o
professor fez com ela.
– Se vocês estavam se perguntando
o porquê da minha ausência, acho
melhor pararem. Pois eu não
quero ninguém falando sobre isso
na minha sala ou fora dela. A única
coisa que vocês precisam
saber é que eu estou de volta e não
irei sair tão cedo – ele sorriu. –
Obrigado pela compreensão.
Isabela revirou os olhos ao meu
lado e deitou a cabeça na banca,
fingindo dormir.
– Então abram seus cadernos
porque hoje tem assunto novo.
Suspirei. Ele não merecia ser
professor.
Depois de mais ou menos uma hora
escrevendo sem descanso, o
professor Cavalcante foi se sentar,
deixando quem terminou conversar
enquanto os outros escreviam.
– Isabela venha aqui, por favor.
Estou com duvidas sobre sua nota –
ele falou, com um tom tão formal
que por um segundo eu não entendi
com quem ele estava falando.
Ela olhou na direção dele.
– Estou escrevendo ainda.
– Não vai demorar, só preciso que
você me explique o que quis dizer
nessa questão.
Todos da sala estavam em silencio
agora, esperando pela resposta
dela.
Por fim, ela se levantou e foi até ele
devagar, irritada por ser obrigada a
fazer isso.
Observei enquanto eles
sussurravam um para o outro, tão
inaudíveis que nem mesmo o
Daniel, o
garoto que sempre sentava na
primeira cadeira da fileira bem na
frente da mesa do professor,
conseguiu ouvir.
Alguns segundo depois, ela se virou
novamente e, em vez de voltar para
seu lugar, abriu a porta e
saiu da sala.
Olhei para o professor com cara de
interrogação, esperando que ele
desse alguma dica do que tinha
acontecido.
– O que vocês estão olhando?
Voltem para suas tarefas – mandou,
autoritário como um Hunter.
Me entreolhei com as meninas e
todas pareciam saber tanto quanto
eu. Pelo jeito só depois da aula
para descobrirmos.
Mas ela não voltou depois da aula.
Assim que o sinal que avisava que
as duas primeiras aula havia
terminado tocou, fui com as
meninas
para porta, esperando que a Isabela
aparecesse a qualquer momento. E
nada aconteceu. Nem sinal
dela.
– Onde será que ela foi? – A
Amanda perguntou intrigada.
– Talvez ela tenha ido conversar
com ele – falei pensativa.
– Ou ido para um canto chorar –
Gabi rebateu preocupada.
Eu estava prestes a dizer que a
gente devia ir ao banheiro procurar
ela quando o teacher Bernardo
apareceu, sorrindo para nós.
– Podem ir entrando, o show vai
começar – ele pediu com aquele
velho tom de animação na voz.
Fizemos o que ele mandou. Não
tinha como argumentar contra o
teacher Bernardo; as aulas dele
realmente eram um show.
Fomos para nossos lugares,
dividindo a atenção entre a porta e
o professor.
– Como nossa ultima aula foi de
assunto novo, vamos relaxar um
pouco nessa. Que tal algumas
músicas internacionais para vocês
traduzirem enquanto eu corrijo seus
livros?
Batemos palmas em concordância.
Ele sabia exatamente o que um
aluno queria fazer.
Juntei minha cadeira com a Bia
enquanto ele colocava Blank Space
da Taylor Swift para tocar e nos
entregava uma folha com a letra em
inglês para traduzirmos.
– Adoro essa música – Bia
comentou enquanto pegava seu
lápis no estojo.
Concordei com a cabeça e
começamos a cantar baixinho junto
com a Taylor, traduzindo as partes
óbvias primeiro.
Então a porta se abriu subitamente e
todos levantaram a cabeça,
esperando que fosse a Isabela.
Mas era o Richard.
Olhei confusa para o garoto
ofegante que entrava correndo na
classe, sem sequer pedir licença
para o professor, e vinha na nossa
direção, olhando fixamente para
Bia.
– Eu passei. – Ele falou quase sem
folego, apoiando-se na banca dela
para conseguir respirar melhor.
– Eu passei, Bia, agora eu sou um
aluno da universidade de
Cambridge.
Ela arregalou os olhos para ele.
Cambridge está entre as 10
melhores universidades de todo o
mundo.
– Você vai para a Inglaterra – ela
sussurrou mais para si mesmo do
que para ele.
Ele desviou os olhos.
– Eu sei... E eu sinto muito mesmo,
mas não posso deixar de aceit...
Ela negou com a cabeça e o
abraçou com força, como se a
qualquer segundo ele pudesse pegar
um
avião e ir embora.
– Eu não poderia estar mais
orgulhosa.
Ele se afastou um pouco para poder
olhar para ela. A música tinha
acabado e agora tocava Thinking
out loud do Ed Sheeran, como uma
trilha sonora perfeita para o
momento.
– E o que vai acontecer com a
gente? O curso é de seis anos, Bia.
Ela balançou a cabeça e o abraçou
novamente.
– Não vamos falar disso agora, ok?
Existe coisas mais importantes para
se pensar.
– Como o que? – Ele perguntou
confuso.
Ela sorriu.
– Como o fato de eu amar você.
Ele mordeu o lábio inferior e a
abraçou com mais força, ignorando
completamente todos ao seu
redor.
O professor tossiu para chamar
atenção.
– Me desculpem por atrapalhar o
momento, mas...
A Bia corou violentamente e se
afastou dele, lembrando-se naquele
momento de que havia dezenas de
pessoas olhando para ela.
– Na hora do intervalo falamos
sobre isso – O Richard avisou, se
virando para ir embora. – E só
para não deixar passar: Eu também
amo você.
[...]
Quando o sinal tocou para o
intervalo, praticamente pulei da
cadeira e fui para a porta, ansiosa
para saber o que aconteceu entre o
professor e a Isabela. Correndo
com as meninas até o pátio.
Enquanto isso, Bia passou direto
por nós, indo direto para o prédio
do terceiro ano falar com o
Richard. Ela havia ficado
extremamente silenciosa depois que
ele saiu da sala. Não posso culpá-
la.
Seu namorado iria morar na
Inglaterra por seis longos anos. E
quando eu fui perguntar como
ficariam
as coisas, ela simplesmente me
disse que daria um jeito, decidida.
– EI, MENINAS!
Nos viramos, dando de cara com a
Isabela, que sorriu radiante para
nós.
– O que aconteceu? – Elena
perguntou curiosa.
Ela correu até a gente e fechamos
uma rodinha para ela poder falar
sem ninguém ouvir.
– O Cavalcante, meu Deus, ele
explicou tudo.
– Do que você está falando? –
Perguntei.
– Ele me ama, Susan. Ele fingiu
ficar bebado para que o diretor não
descobrisse a verdade e não o
demitisse, pois ele não conseguiria
ficar longe de mim. E ele sabia que
eu só seria suspensa por no
máximo dois dias, e que ele
voltaria depois para o emprego. Ele
fez isso para me proteger. Para
proteger nós dois. Mas ele também
admitiu que estávamos fazendo algo
errado, e decidiu que iria
esperar. Ele vai esperar eu
completar 18 anos para que
possamos voltar. E por isso ele não
podia
perder o emprego, pois ele
precisava me ver. Assim como eu
preciso ver ele. Então, a partir de
hoje, nós seremos amigos.
Professor e aluna. Sem nenhum tipo
de relacionamento, mas nutrindo
esse
sentimento até que chegue o
momento de deixarmos as coisas
acontecerem de novo. – Ela fez uma
pausa para respirar. – Ele me pediu
perdão tantas vezes que eu perdi a
conta. E ele disse que não
conseguiu pensar em nada melhor
no momento, que conseguisse
encobrir o erro de ambos. Ele falou
que até tentou me ligar para
explicar tudo poucas horas depois,
mas eu não atendi e ele decidiu que
iria esperar para contar
pessoalmente. Ele não é um cretino.
Vocês têm noção de como isso
muda
tudo?
Olhei para ela surpresa. Eu
realmente não esperava por essa.
– E você vai esperar?
– São apenas oito meses, Clara. Eu
espero. Ele espera.
Sorrimos com a felicidade dela e
nos abraçamos em grupo, dando
alguns pulinhos de animação.
As coisas estavam dando certo para
quase todo mundo.
[...]
Bia não falou nada durante as aulas
depois do intervalo. Nem uma
única dica do que iria fazer em
relação ao Richard.
Enquanto isso, Isabela parecia
dançar de alegria. O professor
Cavalcante foi realmente muito
esperto em seu plano, e agora eu me
perguntava como não pude ter
pensado nisso; na possibilidade de
existir
uma segunda intenção do que ele
havia feito. As pessoas sempre
escondiam seus reais interesses.
Mas, pelo menos, ela estava feliz. E
eles iriam ser um casal um dia –
daqui a oito meses, para ser
exata.
E era em tudo que eu estava
pensando quando o professor PH
finalmente disse que estávamos
liberados, alguns minutos mais
cedo do que o normal.
Saltei da cadeira e fui até a porta.
Senti alguém atrás de mim e girei o
corpo para olhar quem era.
Michael.
Ele sorriu e abriu a porta para eu
passar.
– Dia agitado hoje.
Soltei uma risada e assenti com a
cabeça.
– Já me acostumei.
Ele riu também e me acompanhou
até a porta do colégio, esperando o
Joshua.
– Então, o que aconteceu com
Isabela e o professor Cavalcante?
– Eles se amam – respondi sem
muitos detalhes. Isso bastava. Isso
explicada tudo e mais um pouco.
Ele levantou uma sobrancelha.
– E o que exatamente isso
significa?
– Que as coisas vão dar certo no
final.
Ele não pareceu satisfeito com a
resposta, mas não rebateu. Nesse
momento, eu sabia que ele estava
pensando na Anna – e em como as
coisas com ela não deram certo no
final – e me perguntei se
algum dia ele conseguiria falar dela
normalmente, como a maioria das
pessoas falam de seus ex-
namorados.
Espero que sim.
Michael merece essa sorte.
Ficamos em silencio por alguns
minutos, cada um com seus
próprios pensamentos sobre tudo o
que
aconteceu.
Então, o carro do Joshua dobrou a
esquina e estacionou segundos
depois na nossa frente, quase que
gritando por atenção.
Me virei para ver o Nicolas se
despedindo do Felipe com um beijo
na bochecha – tão próximo da
boca que eu tive que pensar por um
segundo para ter certeza de que não
era um selinho – e depois
vindo sorridente em nossa direção.
Assim que entramos em casa eu me
sentei no sofá, pensando no que
tinha acontecido no colégio.
– Ei Michael, daqui a uma semana é
seu aniversário! – Ouvi o Nicolas
comentado enquanto se
sentava na poltrona.
Olhei surpresa para o Michael.
– Vai fazer festa?
Ele riu, negando com a cabeça.
– Não mesmo.
– Por quê? Eu posso perguntar pro
Bruno o nome do DJ que ele
contratou para a festa dele – Joshua
se ofereceu, se sentando ao meu
lado no sofá.
– Não precisa, sério. Eu não me
importo com esse dia.
Lá no fundo, ele parecia triste por
isso.
Joshua se levantou num pulo e
estralou os dedos, tendo uma ideia.
– Que tal se começássemos a
comemorar agora mesmo?
Michael estreitou os olhos para ele,
intrigado.
– No que você está pensando?
Joshua sorriu e se virou para a
porta.
– Sigam-me.
Ele saiu da casa, parando na
entrada para esperar por nós. Me
levantei e fui até ele, com os outros
dois Hunter me seguindo.
– Duas ideias em dois dias; isso é
algum tipo de recorde? – Michael
perguntou com um sorriso
travesso no rosto.
Joshua fingiu que não ouviu e foi
até o jardim, parando em frente ao
campo de futebol.
– Que tal uma partida?
– O que você está aprontando,
Joshua? – Nicolas perguntou
curioso.
– Nada, é claro. – Ele olhou em
volta, procurando alguma coisa. –
Será que ainda temos uma bola?
Michael negou com a cabeça,
envergonhado.
– Eu joguei ela na rua quando tinha
14 anos.
Joshua girou o corpo e olhou para
ele, abrindo a boca para falar
alguma coisa.
Então a campainha tocou.
Joshua arregalou os olhos,
surpreso. Sua respiração pareceu
falhar por um segundo, mas ele
rapidamente voltou ao seu estado
normal. Estranho.
– Atenda por favor, Michael.
O irmão mais novo assentiu e foi
em direção a porta.
Observei enquanto ele pegava a
chave no carteiro e parava em
frente a porta.
– Quem é?
Um segundo de silencio.
E Michael já estava se virando para
nós quando finalmente
responderam, com um tom trêmulo;
– Michael?– Uma voz feminina
perguntou com nervosismo. – É a
Anna.
43. Anna
Michael se virou para nós, com os
olhos arregalados de surpresa.
Joshua se limitou em assentir com
a cabeça em resposta.
Então, lentamente, Michael
destrancou a porta e a abriu, se
distanciando em seguida com algo
parecido com medo.
Não pude ver quem apareceu atrás
da porta, mas foi o suficiente para
fazer o Hunter dar outro passo
para trás.
– Anna... – Ele começou a falar,
apreensivo – O que você...?
Ele inclinou a cabeça para baixo no
meio da frase, olhando fixamente
para alguma coisa. Notei suas
mãos se fechando em punhos.
– Mamãe, esse é o tio Nicolas ou
tio Michael? – Uma voz doce e
infantil perguntou.
Senti todos os pelos do meu corpo
se arrepiando e olhei para o Joshua.
Ele olhou para mim de volta.
– Meu filho – sussurrou baixinho. –
E eu cheguei a pensar que ele não
existia...
Ele deu um passo em direção à
porta, mas eu o impedi, o puxando
pela mão.
Nicolas olhou para nós.
– Concordo com a Susan, você não
deveria atrapalhar a conversa
agora, Joshua.
Joshua ficou imóvel, olhando para
o irmão mais novo que estava à
metros de distância.
– É o tio Michael – Anna respondeu
por fim.
– É... – Michael murmurou ainda
olhando para baixo. – Vocês...
Querem entrar?
– Se não for um incômodo... – Anna
respondeu e, nesse momento, eu
percebi por que ela havia
conquistado dois Hunter; tudo em
sua voz era sexy e amável, como
uma série de flertes a cada sílaba
pronunciada. Eu nem precisava vê-
la para saber que ela era bonita.
Michael, no entanto, continuou sem
se mexer.
– Ele não vai nos deixar entrar? – A
voz infantil perguntou confusa.
– Ele vai, filho, é só que...
– Eu não estava esperando por isso
– Michael completou.
Ele deu um passo para o lado,
dando espaço para eles entrarem.
Joshua foi até eles.
Eu e o Nicolas o seguimos
instantaneamente.
Parei no segundo que a vi. Ela era
linda. Não linda de um jeito
tradicional, como as meninas que
passam pela rua e atraem apenas
alguns olhares. Ela era muito mais
do que isso.
Ela era de tirar o fôlego.
Seus olhos eram levemente
esverdeados e brilhavam em
contraste com sua pele bronzeada e
seu
cabelo longo e escuro, liso na raiz e
levemente ondulado nas pontas.
E ela não se parecia comigo.
Tudo nela era melhor, mais bonito.
Ela era uma versão melhorada de
mim mesma.
– E esse quem é? – A criança
perguntou olhando para o Joshua.
Anna olhou para o Michael como se
pedisse desculpas antes de
responder;
Seu pai.
✣Michael✣
Ele era loiro, foi a primeira coisa
que pensei ao vê-lo.
Seu cabelo era dourado e liso,
como o do pai. Enquanto sua boca
era desenhada e levemente rosada,
exatamente como a da mãe.
E ele seria a mistura perfeita deles
dois se não fossem pelos olhos.
Verdes-mar, como os da mamãe.
Como os meus.
Eu simplesmente não conseguia
desviar daquele par de olhos
curiosos e brilhantes.
Ele poderia ser meu filho.
Nicolas se apressou em se ajoelhar
em frente a ele, sorrindo. Ele
empatava com a Susan no quesito
de melhor pessoa naquele grupo.
– Qual seu nome, lindinho? –
Perguntou.
A criança sorriu por ser finalmente
o centro das atenções. Ele tinha o
ego do Joshua.
– Micael e o seu?
Meu coração deu um salto. Eu
conhecia esse nome.
Uma vez, quando era menor, a
professora mandou a gente procurar
a origem dos nossos nomes. E eu
descobri que Micael é Michael em
hebraico, o idioma original do meu
nome – Mikhael.
E Anna sabia disso.
– Nicolas – respondeu. Mas eu não
estava mais ouvindo.
– Precisamos conversar – falei
desviando minha atenção para a
Anna. Ela parecia um milhão de
vezes mais bonita hoje em dia do
que quando a conheci.
Ela ajeitou a postura.
– Mica, que tal ir brincar um pouco
com seu tio Nicolas? Eu chego já –
disse em um tom
extremamente maternal e adorável.
O garoto sorriu com um ar travesso
e puxou meu irmão pela mão,
correndo para o campo de futebol.
Quando eles saíram de vista, nos
entreolhamos.
– Susan – Joshua chamou.
– Oi?
– Será que você poderia nos dar
lince...
– Não – interrompi –, ela fica.
Eu não podia deixar ela ir embora
por dois motivos; 1) Ela merecia
ter conhecimento de toda e
qualquer coisa dita naquela
conversa, e 2) Ela era, de longe, a
pessoa que eu mais confiava ali.
Mas, é claro, eu nunca contaria isso
para alguém.
Todos os três olharam surpresos
para mim, mas ninguém contestou.
– Venham, vamos falar lá dentro –
Joshua falou apontando para casa.
Assentimos e o seguimos até a
entrada. Notei os olhos da Anna se
fechando por alguns segundos
quando ela passou pela porta.
Imagino quantas centenas de
lembranças estavam passando pela
mente
dela nesse exato momento.
Me sentei na poltrona em frente ao
sofá – eu não queria ficar ao lado
de ninguém agora. Susan e
Joshua se sentaram bem na minha
frente e a Anna na diagonal, mais
próxima de mim.
– Então, quem começa falando? –
Perguntei cruzando os braços.
– O que exatamente você quer
saber? – Joshua perguntou
estreitando os olhos para mim.
– Tudo. Antes, durante e depois –
expliquei e me virei para Anna. –
Prefiro que você comece. Eu já
ouvi a história do Joshua antes.
Ela respirou fundo antes de
começar a falar.
– Primeiro de tudo, eu realmente
sinto muito por...
Neguei com a cabeça, impedindo-a
de continuar.
– Não quero pedidos de desculpas.
Não preciso disso. Eu quero apenas
a verdade – falei com um
tom frio e sério. Lá estava o
Michael mal de novo, se erguendo
como um muro para que as pessoas
não enxergassem o que eu estava
sentindo.
– Ah Michael... Tudo bem, se é
assim que você quer – ela suspirou
antes de falar. – Nada daquilo
estava nos meus planos. A única
coisa que eu queria quando fui falar
com o Joshua naquela tarde era
conseguir entender porque um
garoto que havia sido tão legal
comigo no primeiro dia
simplesmente
parou de me enxergar de uma hora
para outra. Eu sentia, sabe? Eu
notava o jeito como o Joshua
desviava o olhar quando eu passava
e não respondia nem mesmo que
horas eram para mim. E quando
eu o vi sentado no sofá, sozinho,
vendo TV, cheguei na conclusão de
que aquele seria o momento
perfeito para conversar com ele;
para entender o que aconteceu.
Então eu fui lá e me sentei ao lado
dele, puxando assunto. E ele, para
minha surpresa, retribuiu depois de
poucos segundos, como se
estivesse decidindo com si mesmo
se iria ou não falar. Nós
começamos conversando sobre o
Nicolas
e não me lembro mais o quê,
quando, de repente, eu senti o que
estava acontecendo. Eu senti o
clima.
E eu saí, Michael, eu me levantei,
dei uma desculpa qualquer e fui
direto para meu quarto, porque eu
não podia sequer pensar na ideia de
sentir alguma coisa pelo seu irmão.
Mas ele bateu na porta mais
ou menos um minuto depois de eu
ter entrado no quarto. E eu juro que
abri a porta para mandá-lo ir
embora, mas não consegui. A coisa
que eu mais me arrependo na vida é
de ter aberto aquela maldita
porta. – Ela fez uma pausa por um
segundo, olhando fixamente para
mim. Desviei os olhos. Não sou
forte o bastante para a olhar
diretamente. – O que aconteceu
durante você já sabe. Não
conversamos
nenhuma vez. As coisas
simplesmente aconteceram. Tanto
que, alguns minutos antes de você
entrar no
quarto, eu estava dizendo para o
Joshua que éramos dois idiotas.
– E eu estava concordando com
isso – Joshua completou com algo
parecido com vergonha, mas não
exatamente. Joshua não sentia
vergonha de nada.
Assenti com a cabeça, fingindo uma
indiferença que na verdade eu não
sentia. Eu estava em choque.
Tudo aquilo era novo para mim.
Meu coração borbulhando era algo
novo para mim.
Eu já tinha me acostumado em não
sentir nada por ninguém, já tinha me
acostumado em estar sempre
do mesmo jeito por dentro.
E lá estava a Anna de novo,
fazendo eu sentir as coisas. Isso não
era justo.
– E depois? – Perguntei.
Joshua passou no cabelo,
incomodado.
Ele era tão previsível.
Balancei a cabeça tentando afastar
o pensamentos contra ele.Você o
perdoou, o Michael bom lembrou
para o resto da minha mente.
– Nós paramos de nos falar. Ela me
odiava e eu não suportava a ideia
de ter trocado um irmão por
uma única noite. Nos sentíamos tão
culpados que passamos a sequer
nos olharmos, como se um não
existisse para o outro, e como se,
assim, pudéssemos perdoar a nós
mesmos – ele olhou para a
Anna. – E isso continuou até mais
ou menos três semanas depois,
quando, numa manhã, ela veio falar
comigo chorando. Ela me disse que
estava grávida. E eu fiquei com
tanta raiva, Michael. De mim
mesmo principalmente. Como eu
pude deixar uma merda dessas
acontecer? Eu não conseguia pensar
num jeito de lidar com isso. Nossos
pais iriam me matar. Nicolas me
julgaria. E você... Ah, eu não
podia nem ter noção do quanto iria
doer em você ver meu filho com a
menina que você amou
crescendo. Então eu tive uma ideia
para que ninguém tivesse que lidar
com isso; a criança iria viver longe
de todos nós e, assim,
esqueceríamos que tudo isso um dia
aconteceu. Pensando assim, eu fui
para o meu quarto, imprimi as
passagens de avião e peguei
dinheiro do meu cofre, indo atrás
da
Solange em seguida, contando para
ela tudo o que aconteceu. E ela
aceitou, é claro. Era muito
dinheiro, Michael. Dei um pequeno
roteiro para ela falar aos nossos
pais e a avisei que a Anna não
poderia saber do que nosso acordo.
Mas você contou. Eu sei pelo jeito
como você não ficou surpreso
quando eu te disse o que aconteceu.
Você sabia, Michael. Você sempre
foi esperto.
– E depois disso? – Insisti,
ignorando completamente seus
elogios. Nada daquilo valia algo
para
mim.
– Durante uns dois dias eu até
conseguia lidar bem com tudo
aquilo, mas a culpa foi me
consumindo
aos poucos. No terceiro dia eu já
estava incapaz de dormir à noite.
Eu não parava de pensar que tinha
mandado meu filho para longe
como se ele fosse um peso, sem dar
a mínima para onde ele tinha ido
parar e como ele estava. Eu
abandonei meu próprio filho,
Michael. Tem noção de como isso é
perturbador? De como eu me senti
um monstro? Era mais do que eu
podia suportar. Então eu decidi
tomar uma providência. Liguei para
a Solange pedindo os dados da
Anna, como o CPF e o número
do celular, e ela me passou sem
fazer muitas perguntas. E com isso
eu abri uma conta para o meu
filho em nome da Anna,
depositando uma certa quantia de
dinheiro todos os meses e
aumentando
mais do que o dobro em Outubro,
pois seria o aniversário do meu
filho e eu queria que ele tivesse um
bom presente e uma festa de
verdade. Eu sempre me importei
com ele, mesmo sem saber seu
nome ou
seu sexo ou até se ele existia
mesmo. Porque eu não poderia
correr o risco dele ter uma infância
menos do que perfeita. Eu sempre o
amei, Michael.
Lá no fundo, eu não estava
surpreso. Eu já tinha ouvido algo
entre ele e Anna em uma de suas
conversas pelo telefone. Mas eu
jamais imaginei que ele pudesse ser
tão paternal. Na verdade, isso
nunca sequer passou pela minha
cabeça. Joshua nunca foi uma
pessoa sentimental.
– E você, Anna? – Perguntei me
virando para ela.
Ela respirou fundo antes de
responder, lembrando. Havia
muitas coisas para serem
lembradas.
– No começo, eu fiquei
desesperada. Eu só tinha 15 anos.
Tudo aquilo era muito para mim e
cada dia
parecia pior do que o outro, com
todas as pessoas me julgando sem
pena. Mas eu tentava não ligar,
sabe? Por mim, pela minha família,
mas principalmente pelo meu filho.
Eu não queria que ele tivesse
uma mãe mal falada. Então eu
comecei a me comportar de
maneira exemplar, ajudando as
pessoas e
tirando as maiores notas na escola.
E, aos poucos, as pessoas
começaram a se calar e perceberam
que eu era apenas uma garota boa
que havia cometido um erro bem
grande. E os amigos começaram a
aparecer em massa para mim. As
coisas começaram a dar certo. E
quando eu descobri que a criança
que eu aguardava seria um menino,
automaticamente me lembrei do dia
que nós estávamos
conversando e você me disse que
Micael era Michael no idioma
original. Eu nem pensei duas vezes
antes de decidir que esse seria o
nome dele, em sua homenagem.
Porque eu te amava tanto, tanto.
Nem eu tinha noção do tamanho
disso.
Desviei os olhos, incomodado com
o rumo da conversa. Não queria
falar de amor com a Anna. Eu
não estava preparado para isso.
Ela percebeu minha movimentação
e suspirou um pouco frustrada.
– Então ele nasceu. E eu nunca
pensei que pudesse amar tanto
alguma coisa. Ele sempre valeu o
sacrifício. Durante mais ou menos
dois anos eu consegui lidar bem
com tudo, mas depois um tempo
eu fiquei cansada. Minha mãe era o
principal motivo para isso. Ela
nunca me dava folga; ela parecia
ter raiva de mim por tudo que
aconteceu e nós brigávamos quase
sempre. Então, em janeiro, quando
eu fiz 18 anos, eu sai de casa. Tirei
minha carteira de motorista, aluguei
um apartamento, entrei numa
faculdade e arranjei um emprego de
meio período para...
– E quem cuida do Micael enquanto
você faz tudo isso? – Joshua a
interrompeu no mesmo segundo.
Ela olhou surpresa para ele.
– Ele tem uma babá fixa desde que
ele era apenas um bebê – explicou.
– Ela cuida muito bem dele.
Joshua se levantou do sofá, irritado.
– Então quer dizer que você
simplesmente jogou a
responsabilidade de cuidar dele
para uma babá
enquanto passa o dia todo fora?
Ela se levantou também, na
defensiva.
– Eu não disse isso! Micael está
tendo uma ótima infância.
– Sem pais presentes? Ah deve ser
ótimo mesmo – Joshua falou com
ironia.
– A culpa não é minha que você
nunca sequer se deu o trabalho de ir
visita-lo!
– VOCÊ NUNCA ME DEU ESSA
CHANCE! Você nunca nem me
disse o nome dele, quem dirá me
convidar para ir vê-lo!
Eles estavam gritando um com o
outro como se fossem um casal.
Senti os pelos da minha nuca se
arrepiando.
– SE VOCÊ TIVESSE O MÍNIMO
DE CONCIÊNCIA IRIA ATRÁS
DELE, JAMES.
– Mas...
– Você que nunca deu a mínima
para isso! Você sempre achou que
dinheiro pagaria a sua ausência,
mas não paga, Joshua. Dinheiro não
significa nada.
– Então por que você trabalha ao
invés de ficar com ele? – Ele
retrucou furioso.
– Porque eu quero que ele tenha um
futuro brilhante. E eu não trabalho a
semana inteira. Todos os fins de
semana nós saímos para algum
lugar e sempre viajamos nas férias.
Eu sou uma boa mãe.
Joshua bufou com raiva.
– Eu também quero isso para ele,
mas não acha que seria muito pior
ele ter um pai que nunca ver do
que simplesmente achar que não
tem um? Ele não pode sentir falta
de algo que não sabe que existe.
– Mas eu posso. E eu nunca escondi
sua existência dele, Joshua. Ele
sabe que aconteceu alguma coisa
no passado que fez com que o pai
dele fosse para longe, porque eu
não posso apagar isso. E eu não
quero que ele viva uma mentira.
Joshua deu um passo para trás.
– Você falou de mim para ele?
– Ele é esperto. Ele notou algo
errado quando todos os coleguinhas
dele levaram alguém para o Dia
dos Pais e ele não.
– Eu não sabia... – Ele abaixou os
olhos. – Eu não sabia que estava
sendo um idiota em não ir até
vocês. Isso nunca passou pela
minha cabeça. Eu... Eu sinto muito.
Olhei para ele sem acreditar.
Joshua nunca pedia desculpas.
Anna também ficou surpresa, tanto
que desviou os olhos dos dele.
– Tudo bem... Ele não tem nem três
anos ainda... As coisas podem
mudar a partir de agora – Ela
murmurou baixinho, tímida.
– Eu vou dar o meu melhor.
Eles se olharam ao mesmo tempo e
eu senti um arrepio descendo pela
minha coluna. Eles pareciam
marido e mulher.
Susan se levantou, olhando
fixamente para a Anna.
– Então, você tem namorado? – Ela
perguntou com ciúmes escorrendo a
cada palavra.
Sorri com o canto da boca,
impressionado. Susan nunca se
intimidava com alguém.
Joshua olhou para ela no mesmo
segundo e andou até ficar ao seu
lado, passando a mão pelo seu
ombro como se pedisse desculpas
pela cena.
– Eu namorei há mais ou menos um
ano com um garoto que era amigo
meu, mas não deu certo. Eu não
conseguia sentir o amor que ele
sentia por mim, sabe? Eu tive que
terminar, porque era como se eu
tivesse o usando ou algo assim.
Meu coração não estava preparado
para outra pessoa ainda.
Ela olhou para mim.
Mordi o canto da boca para não
gritar com ela. Isso era tão
estupidamente injusto. Tudo isso.
Eu, ela, o Joshua, o filho deles, até
mesmo a Susan parecia perder com
o que estava acontecendo.
– Tem mais alguma coisa que você
quer saber? – Ela perguntou para
mim.
Pensei um pouco.
– Por que você está aqui?
– Joshua me chamou. Ele disse que
nós três precisávamos dessa
conversa. Acabar com isso de uma
vez por todas. E eu vim, é claro. Eu
concordava com ele.
– E você acha que deu certo? –
Perguntei com uma sobrancelha
levantada.
– Você quem pode responder a isso.
Soltei um suspiro.
– Eu não sei o que dizer; ou o que
pensar. Eu não faço a menor ideia
do que está acontecendo aqui –
confessei. – Eu ainda não consigo
acreditar que você está na minha
frente agora mesmo. Isso não
parece real para mim.
Os olhos dela brilharam como se eu
a tivesse elogiado.
Mas o que eu falei não foi um
elogio.
Ela parecia um pesadelo se
tornando realidade.
– O que isso quer dizer? – Ela
perguntou com um ar de malícia.
Tudo nela era um grande flerte.
– Não estava nos meus planos
conhecer meu sobrinho hoje –
respondi friamente.
Seus olhos estreitaram por uma
fração de segundo. Não passou pela
cabeça dela que eu diria isso.
Mas eu não iria facilitar as coisas.
– Que tal nós comermos alguma
coisa? – Susan perguntou para
aliviar o clima. – Estamos
conversando a um bom tempo.
Olhei para ela com gratidão.
– Ótima ideia.
Joshua assentiu com a cabeça e
retirou os braço do ombro da
Susan, pegando seu celular do
bolso em
seguida.
– Querem pizza?
– Claro – Susan respondeu antes de
todos, com um sorrisinho no rosto.
Ela era tão apaixonada.
– Vou perguntar para o Nicolas se
ele quer também – Joshua falou
indo para a porta.
Anna foi até ele.
– Eu vou com você.
Eles se olharam por um segundo
antes de passarem pela porta,
juntos.
Susan fez cara de nojo.
– Você viu o jeito como eles se
falam? – Ela perguntou quando ele
saíram de vista. – Eles parecem
um casal! Isso é tão irritante.
– Concordo, mas não precisa ficar
com ciúmes. Ele ama você.
Ela respirou fundo.
– Eu sei, mas... É chato, sabe? Eles
têm um filho juntos.
Dei de ombros.
– Se isso não significa nada para
eles, não devia significar para você
– falei tentando convencer a
mim mesmo também.
Ela andou até mim e se inclinou
antes que eu pudesse dizer alguma
coisa. Seus braços passaram
pelos meus ombros e ela me
abraçou. Senti todos os meus
músculos tensionados e me mantive
imóvel
por alguns segundos.
– Obrigada – sussurrou no meu
ouvido, como um segredo.
Me levantei para poder abraçá-la
melhor. Minhas mãos se firmaram
em sua cintura e ela me puxou
para perto, com a cabeça em meu
ombro.
– Obrigado a você – retruquei
enquanto apoiava minha cabeça na
sua.
Ficamos assim por alguns
segundos, cada um com seu próprio
pensamento. Eu estava abraçando a
Susan. Quantas coisas inesperadas
podem acontecer durante 24 horas?
Isso deve ser algum tipo de
recorde.
– Nunca pensei que abraçaria
Michael Hunter assim um dia – Ela
comentou e pela sua voz eu podia
saber que estava sorrindo.
– Ah, eu sou irresistível.
Ela riu e se afastou de mim, com os
olhos brilhando.
– Claro. Tanto que a Anna só voltou
para você pegar ela de novo – ela
falou rindo.
Mordi o lábio inferior enquanto
pensava na ideia.
– Isso iria dar uma merda tão
grande – falei enquanto analisava a
possibilidade. – Ela não mora aqui,
Susan. Eu só iria me apaixonar e
perdê-la como na ultima vez. Não
quero passar por aquilo
novamente.
Ela desviou os olhos.
– Não sei o que dizer.
– Não precisa dizer nada. Eu só...
Isso está sendo mais difícil do que
eu deixo transparecer.
– Eu sei. Você sempre soube
esconder seus sentimentos muito
bem.
– Anos de prática – rebati.
Ela abriu a boca para responder,
mas foi interrompida pelo barulho
da porta se abrindo. Nos
viramos. Micael entrou correndo e
rindo, chegando onde estávamos em
uma fração de segundo.
– Ei ei, bora brincar de esconde-
esconde? Todo mundo aceitou só
faltam vocês dois – ele disse com
a voz animada.
Susan e eu nos entreolhamos,
sorrindo.
– Com toda certeza! – Ela
respondeu com o mesmo tom de voz
de animação. – Quem chegar
primeiro
no jardim conta.
Ele soltou um gritinho e saiu
correndo para fora da casa.
O seguimos, rindo da situação.
Susan me empurrou no caminho
para que eu chegasse por ultimo e
riu vitoriosa quando me viu
cambaleando para trás, perdendo
tempo. Tentei alcançá-la, mas era
tarde demais. Cheguei quase
cinco segundos depois que eles no
jardim. Micael soltou uma risada
maldosa.
– Você conta! – Ele falou com
diversão.
Suspirei com falsa tristeza e me
virei para parede ao meu lado,
fechando os olhos em seguida.
– Até quanto? – Perguntei.
– 50 – Ouvi a voz do Nicolas
respondendo.
Sorri. Ele era uma criança.
Contei até cinquenta devagar,
ouvindo passos em vários lugares
atrás de mim. Talvez eu também
seja
uma criança.
– 49... 50! Lá vou eu! – Gritei
enquanto abria os olhos e me virava
para um jardim completamente
vazio. – Vocês são bons.
– Sei disso – ouvi uma voz infantil
responder ao longe.
Ri e fingi que não tinha ouvido.
Andei para o lado contrário da voz,
indo para a quadra.
Ouvi passos rápidos atrás de mim e
me virei bem a tempo de ver a
Anna correndo para bater na
parede. Corri até ela alta
velocidade e praticamente me
joguei para impedi-la. Minha mão a
puxou
para o lado e ela se desequilibrou,
me levando junto para o chão. Cai
por cima dela, rindo.
Então me dei conta da situação.
Senti minhas bochechas queimando
no mesmo segundo e me levantei
depressa, limpando as mãos na
barra da calça. Ela continuou
deitada na grama, olhando
fixamente para mim.
Ela era tão sexy.
– Senti saudades – ela falou
baixinho.
Respirei fundo, tentando controlar
minha respiração.
– Me ajude a procurar os outros –
disse para tentar mudar de assunto.
Ela deu de ombros, sorrindo com
malícia.
– Já achei o que eu queria.
A observei por um segundo.
Tudo nela era perfeito. Suas curvas,
seus olhos, seu sorriso, sua boca.
Até sua voz parecia
programada para fazer alguém de
sentir bem.
Nem precisei pensar antes de
responder;
– Mas eu não achei ainda.
44. Notícias
Corri para longe do Michael,
procurando um lugar para me
esconder.
Enquanto isso, minha cabeça estava
quase explodindo de informações.
Micael, Michael, Joshua, Anna.
Eu ainda estava decidindo quem me
preocupava mais quando senti algo
me puxando para o lado pela
mão.
Trombei meu corpo com o da
pessoa, assustada, e ouvi uma
risada doce em resposta. A
reconheci no
mesmo segundo.
– Joshua, meu Deus, que susto! –
Reclamei enquanto me afastava
dele.
Ele riu por mais alguns segundos
antes de responder.
– Jurava que você tinha me visto,
mas pelo jeito você estava em outro
planeta.
Dei de ombros, andando até ficar
ao lado dele, escondida colada a
uma parede branca.
– Tenho muitas coisas para pensar –
retruquei enquanto sentia sua mão
se entrelaçando com a minha.
Ele desviou os olhos.
– Eu ia falar sobre isso agora... Eu
sinto muito por você ter que passar
isso, de verdade.
– Não precisa se desculpar.
– Preciso sim – ele rebateu no
mesmo segundo –, não deve ser
nada divertido ver seu namorado
brincando com o filho dele, mas eu
juro que, se pudesse controlar, nada
disso estaria acontecendo.
Eu fui um idiota no passado e me
desculpa mesmo por isso interferir
no nosso presente.
Seus olhos foram para os meus e eu
percebi o quão culpado ele estava
se sentindo. Me aproximei
dele, colocando as mãos em sua
nuca e me erguendo para poder
olhá-lo da mesma altura.
– Tá tudo bem, Joshua – falei, mas
lá no fundo eu não sabia se estava
sendo sincera.
Ele negou com a cabeça, olhando
para baixo.
– Era por isso que eu não queria
chamá-la, Susan; não era só pelo
Michael. Eu não conseguia sequer
imaginar como você se sentiria.
– Eu... Estou lidando bem com isso,
eu acho. Poderia ser pior, sabe?
Mas não é tão ruim assim. É
apenas confuso e novo, como toda
essa história para mim – confessei
baixinho, quase sussurrando.
Ele assentiu compreensivo.
– O que eu preciso fazer para
melhorar isso? O que eu preciso
dizer para te fazer sentir melhor? –
Ele perguntou olhando para mim
novamente, seus olhos brilhando de
determinação.
Sorri.
– Apenas diga que me ama, Joshua.
Ele sorriu, revirando os olhos.
– Mas falar isso é tão óbvio quanto
dizer que o céu é azul.
Estreitei os olhos para ele, fingindo
desentendimento.
– Então você não vai dizer?
Ele arregalou os olhos, surpreso.
– Claro que vou meu Deus, quantas
vezes você quiser – ele falou
acelerado, me puxando para mais
perto. – Eu amo você, Susan dos
Alvez. Eu amo, amo, amo, amo,
amo você. Eu amo você com todos
os significados que o verbo amar
pode ter. E eu vou amar você para
sempre – ele concluiu devagar,
olhando fixamente para mim.
Senti meus olhos marejando de
leve. Eu não conseguiria explicar o
que passava pelo meu corpo ao
ouvi-lo dizer isso, mas era algo
único, mágico. Ele me amava. Meu
coração explodia em meu peito
enquanto eu tentava formular uma
frase para respondê-lo à altura.
– Eu também amo você, caso você
esteja se perguntando, você não
pode imaginar o quanto.
– Claro que eu posso. Se for mais
ou menos o quanto eu te amo deve
ser infinito.
O sorriso em meu rosto aumentou
ainda mais. Ele era tão especial.
Tudo nele, para ser sincera,
parecia perfeito para mim.
– Mais alguma coisa que eu possa
dizer? – Perguntou, passando a mão
pelo meu cabelo suavemente,
me arrepiando. – Eu faço qualquer
coisa.
– Só... Me diga como você está se
sentindo, em relação a tudo isso.
Ele suspirou antes de responder,
sem parecer muito feliz pela minha
resposta. Mas era o que eu
queria saber. Eu não conseguia ter
noção do que se passava em sua
mente.
– É complicado, sabe? Tudo isso é
novo para mim também. – Ele deu
uma pausa, pensando em como
iria continuar. – Eu nunca pensei
que pudesse amar alguém dessa
forma. Mas lá está o Micael, rindo
e brincando, com o mesmo tom
loiro do meu cabelo e o mesmo
jeito levemente narcisista de falar
que eu tinha quando era criança. Eu
sou pai, Susan. Isso é tão
impactante para mim. E eu o amo
tanto.
Mas, não é da mesma forma que eu
amo você ou que eu amo a minha
mãe, é algo completamente
novo. Eu só quero colocar ele numa
caixa e protegê-lo de todo o mal.
Eu não suportaria a ideia de
vê-lo sofrendo ou chorando. Isso é
tão estranho. Eu mal o conheço. E
ele já é uma das coisas mais
preciosas de toda a minha vida.
Desviei os olhos. Não que aquela
resposta me surpreendesse, mas
mesmo assim era difícil ouvi-la.
Eu queria ser a mãe do Micael, do
filho do Joshua. E eu serei, é claro,
um dia, mas eu queria ter sido a
primeira a dar essa sensação a ele;
com o nosso filho.
– Eu entendo.
– Não, nem eu entendo. Eu não faço
a menor ideia do que está
acontecendo. A única coisa que eu
sei
é que eu gostaria de criá-lo com
você.
Por um segundo, fiquei surpresa.
– Sério?
Ele riu da minha reação.
– Eu queria que ele fosse nosso,
não da Anna. Ela não é o amor da
minha vida, Susan. Mas você é. E
se eu pudesse decidir alguma coisa
na vida, eu nos tornaria uma
família.
Em resposta, eu o beijei.
Não havia que pudesse ser dito. Eu
o amava. Simples assim. Como um
piscar de olhos ou uma
respiração, eu o amava com
naturalidade. E beijá-lo era o
melhor jeito de provar isso.
Deixando que
ele sentisse com o corpo todo o
meu amor por ele; já que alma não
fala.
Quando nos afastamos para
respirar, ele estava sorrindo de um
jeito quase bobo.
– Obrigado, Susan – ele sussurrou
para mim, inclinando-se. – Por
tudo, aliás.
Abri a boca para responder que não
precisava agradecer, quando
ouvimos um gritinho infantil
cortando o ar.
Micael correu até nós, rindo.
– Achei vocês! – Berrou ele ao nos
ver.
Joshua levantou uma sobrancelha,
com os olhos brilhando de fascínio.
– Eu achava que o Michael quem
tinha que procurar.
Micael deu de ombros.
– Ele pediu minha ajuda.
Joshua se ajoelhou para ficar da
altura do filho. De cima, dava
apenas para ver o par de cabelos
loiros e lisos.
– Então quer dizer que é você quem
as pessoas chamam quando não
conseguem concluir os
serviços?
A criança sorriu orgulhosa.
– Claro, Jayjay.
Ri junto com o Joshua do novo
apelido e me ajoelhei ao lado dele,
olhando para o Micael.
– Jayjay é? – Joshua perguntou
rindo alto.
– Joshua é muito sem graça – ele
retrucou com um gesto com as
mãos.
Joshua estreitou os olhos em uma
falsa irritação.
– É sem graça é? – falou
ameaçadoramente.
Micael riu com divertimento e
assentiu com a cabeça.
– Pois sabe de uma coisa que é
muito engraçada?
– O que?
Joshua o puxou pela mão no mesmo
segundo, o deitando no chão e
começando um ataque de cócegas.
Micael gargalhou, mexendo as
pernas para tentar parar o pai.
– Isso não é justo! – Gritou ele
enquanto o Joshua segurava suas
pernas e o colocava no colo, o
girando em seguida. Ele riu tão alto
que eu acabei rindo junto.
– Cuidado Joshua.
Me virei e vi Michael e Anna
andando até nós. Para minha
surpresa, foi Michael quem gritou.
– Ah maninho, eu sei o que estou
fazendo – Joshua rebateu enquanto
jogava Micael no ar e o pegava
fazendo a criança chorar de tanto
rir.
– Desde quando? – Michael
perguntou sorrindo, mas seu tom
falava sério. Michael e suas duas
personalidades.
Joshua se agachou e pôs o Micael
no chão, que começou a protestar
no mesmo segundo.
– Não, eu quero mais! – Pediu ele
fazendo beicinho.
Joshua riu.
– Depois, ok?
– Ok... Jayjay.
– Do que você me chamou? –
Joshua perguntou levantando uma
mão.
Micael soltou um gritinho e saiu
correndo no mesmo segundo.
Meus olhos foram até os do Joshua
e ele me perguntou sem palavras se
podia sair correndo também.
Sorri em resposta, eu estava
adorando ver esse lado paternal do
Joshua. Ele entendeu e foi atrás do
mais novo dos Hunter.
– Adorável, não? – Ouvi Michael
sussurrar ao meu ouvido.
– Acho que surpreendente que é a
palavra certa.
Ele sorriu e se afastou de mim.
– Vou ter que dar uma saída, mas
depois eu volto – avisou já se
virando para ir embora. – Tchau
Susan, tchau Anna.
Acenamos enquanto ele
desaparecia de vista.
– Acho que precisamos conversar –
Anna falou quando ouvimos o
barulho do portão sendo fechado.
– Concordo com você.
Ela deu um sorriso perfeito e me
guiou para dentro da casa – como
se ela morasse ali e não eu –, até
chegarmos ao sofá da sala. Me
sentei nele enquanto ela ia para a
poltrona, séria.
– Primeiro de tudo, como você
está? – Ela perguntou me olhando
com algo parecido com pena, mas
não exatamente. Solidariedade,
talvez.
– Bem – respondi mais seca do que
deveria.
Ela fez que sim a cabeça, pensativa.
Eu nunca me senti tão mais nova do
que alguém quanto agora.
– Eu sei que deve está sendo difícil
pra você tudo isso.
– Não é meu dia preferido.
– Mas o que eu puder fazer para
melhorar, eu faço, ok?
Ela parecia ser sincera e eu deixei
que um sorriso tomasse conta dos
meus lábios.
– Ok. Obrigada mesmo.
Então um silencio tomou conta de
nós. Eu não fazia ideia do que dizer
para ela e ela não parecia
muito longe disso.
Depois de alguns segundos longos,
ela se ajeitou na poltrona,
endireitando a coluna.
– Você sabe se o Michael tá
gostando de alguém? – Perguntou
um tanto quanto tímida.
Por dentro, me surpreendi com a
pergunta; mas não demonstrei.
– Acho que não... Ele não é uma
pessoa muito aberta.
Ela não respondeu, então eu pensei
que era para continuar.
– Por quê? Você tem algum
interesse nele?
Eu já sabia a resposta, é claro, só
queria uma confirmação.
– Eu... Falei com ele agorinha,
sobre ele ser provavelmente o que
eu estava procurando. E ele me
disse que não era assim que ele me
via, que ele não tinha encontrado o
que queria ainda... – Seus
olhos se encheram de lágrimas. – E
eu sei que é tudo culpa minha.
Porque eu fui idiota há três anos e
ele não me perdoou e por isso não
confia mais em mim.
Abaixei os olhos sem saber o que
falar.
– E eu não acho isso justo, sabe?
Eu só tinha 15 anos quando tudo
aconteceu! Eu não tinha maturidade
o suficiente para entender a merda
que estava fazendo com o Michael
e comigo mesma – continuou
ela. – E ele não consegue esquecer
isso.
– É meio difícil esquecer uma
traição quando o fruto dela está
correndo de um lado para o outro –
deixei escapar, me arrependo no
segundo em que as palavras saíram
de minha boca. Mas agora era
tarde demais.
Levantei os olhos e ela estavam me
encarando. Ficamos assim por um
segundo. Seus olhos tinham
exatamente a mesma tonalidade que
os meus, mas sua maquiagem os
fazia parecer mais brilhantes e
vivos. Ela não era uma adolescente.
– Eu sei, por isso eu vou embora
daqui a 5 dias – ela respondeu por
fim.
– Joshua concordou com isso?
– Ele não precisa concordar, Susan.
É o meu filho.
– Ele não é só seu. Joshua o ama
tanto quanto você – falei na
defensiva. Joshua iria sofrer muito
se perdesse o Micael novamente.
Ela deu de ombros, indiferente.
– Ele pode nos visitar quando
quiser, mas eu não vou abandonar
minha vida na minha cidade por
ele.
Além do que, ficar longe do
Michael fará bem para mim, pois só
assim eu iria conseguir superar o
que aconteceu e seguir em frente.
Não podia discutir com isso. Era a
vida dela. Era o coração dela. Eu
não podia me meter.
– Eu entendo, Anna. Mas acho que
você deveria conversar com o
Joshua sobre isso, sabe? Ele pode
se magoar.
– Desde quando Joshua tem
coração mesmo? – Ela perguntou
com um sorriso sarcástico,
exatamente
igual ao do Michael. – Brincadeira.
Eu vou falar com ele daqui a pouco.
– Ótimo, espero que fique tudo bem
entre vocês.
Ela sorriu para mim.
– Você é muito especial, Susan.
Poucas meninas da sua idade
conseguem ter tanto raciocínio e
delicadeza ao mesmo tempo – ela
fez uma pausa enquanto eu sentia
minhas bochechas corando. –
Joshua tem sorte.
– Obrigada Anna, você também é
especial. Seja lá quem for o cara
com quem você terminar, ele será
um sortudo.
Ela se levantou e caminhou até
mim. Me levantei também.
Então, sem que ninguém que tivesse
que dizer mais nada, nos
abraçamos.
Ela era um pouco mais alta do que
eu e seu cabelo era mais longo e
mais ondulado, como uma
cascata escura caindo sobre seus
ombros e descendo até um pouco
acima da cintura.
Mas ela tinha meus olhos.
E ela tinha um bom coração, no
final das contas.
Todo mundo erra.
E ela era a prova viva de que as
pessoas podem se arrepender e
mudar, amadurecer. Ela era uma
pessoa boa que havia cometido um
erro terrível na adolescência. Mas
esse erro não mudava o quanto
ela era fascinante com suas
diversas faces – assim como o
Michael.
Quando nos afastamos um pouco,
ela sorriu.
– Só eu tenho a impressão de que
seremos grandes amigas? –
Perguntou com aquele tom de voz
gentil
e doce, aquele eterno flerte que ela
não precisava forçar para fazer.
– Eu também sinto isso – falei com
sinceridade.
Ela sorriu ainda mais e nos
abraçamos de novo.
Eu era amiga de Anna.
Tomando a frase do Michael para
mim: Quantas coisas inesperadas
podem acontecer em um dia?
Passamos o resto do dia brincando
com o Micael. Ele simplesmente
não cansava e queria mais e
mais e mais. Exatamente como o
pai.
– Cadê seus pais? – Anna perguntou
para o Joshua em algum momento
da tarde.
– Eles só voltam amanhã de manhã.
– E eles sabem sobre...? – Ela
olhou para o Micael e depois para
o Joshua.
Ele negou com a cabeça.
– Vou precisar de sua ajudar com
isso. Enquanto a Susan e meus
irmãos estiverem na escola a gente
conta.
– Certo – ela falou apreensiva. Eu
também teria medo da reação do
senhor Fernando. Ele era
imprevisivelmente mau.
Olhei para eles dois assim,
conversando pacificamente sobre o
futuro, e percebi que todos nós
poderíamos ser amigos. Ou uma
família quem sabe. Micael merecia
isso.
Era tarde da noite quando ouvimos
a porta se abrindo. Minha mãe
estava lavando os pratos após o
jantar e o Micael estava brincando
no tapete enquanto eu, Joshua, Anna
e Nicolas víamos um filme de
comédia. Ergui a cabeça para ver
quem era.
Michael.
– Boa noite – cumprimentou
enquanto entrava.
– Onde você estava? – Joshua
perguntou intrigado.
– Na casa da Jane, nós estávamos
conversando sobre a vida.
Senti meu estomago revirando de
nojo. Esqueci completamente que
ainda existia Jane no mundo.
– E ai? – Joshua insistiu.
– Nós conversamos muito, muito
mesmo. E ela decidiu que vai sair
do país próximo mês, pois foi
aceita em uma faculdade boa nos
Estados Unidos.
Suspirei aliviada. Adorava a ideia
dela bem longe de mim e do Joshua.
– Algo a acrescentar? – Perguntei.
Ele olhou para o irmão mais velho.
– Ela te agradeceu por tudo.
Joshua levantou uma sobrancelha.
– Diga para ela que não foi nada.
– Ela sabe que foi alguma coisa.
Você a salvou, Joshua. Isso
simplesmente mudou tudo o que ela
pensava em relação a você e a
Susan. Ele está verdadeiramente
arrependida por tudo o que fez.
Michael sempre falava bonito
quando queria.
– Ótimo – Joshua falou enquanto
passava o braço pelo meu ombro –,
agora as coisas vão começar a
se acalmar.
– Espero – respondi ao mesmo
tempo que o Michael.
Sorrimos um para o outro.
Mais uma coisa para acrescentar na
lista de coisas improváveis do dia.
[...]
Acordei com a mão do Joshua se
movimentando em minha cintura.
Me virei para ele. Se é que era
possível, ele parecia mais bonito
ainda dormindo.
– Precisamos acordar, Joshua –
sussurrei quase inaudível. Não
queria sair dos seus braços.
Ele sorriu com o canto da boca.
– Podemos fazer várias coisas
acordados nessa cama.
Senti meu rosto queimando. Joshua
não muda mesmo.
– Pena que temos aula.
– Pena que você é muita areia pro
meu coração – ele retrucou me
puxando para mais perto.
Inclinei a cabeça para cima para
poder olhá-lo melhor.
– Daqui a 4 dias a gente dá um jeito
nisso.
Ele sorriu com a ideia.
– Fechado.
Sua mão desceu até encontrar a
minha e ele a guiou até a própria
barriga. Um sorriso travesso tomou
conta de seu rosto.
– Vou pode te ensinar algumas
coisas a mais? – Ele perguntou de
um jeito pervertido.
Mordi o lábio inferior, pensativa.
– O que você quiser, Joshua –
respondi no mesmo tom.
Ele se sentou na cama no mesmo
segundo, num pulo.
Observei enquanto ele andava até o
meio do quarto, ajeitando a camisa
branca para que cobrisse sua
cueca.
– Vou ao banheiro – ele falou indo
para a porta. – E a culpa é toda sua.
– Por que você não está vestido
direito, Joshua? – Nicolas
perguntou quando o irmão desceu
as
escadas. Eu, ele e o Michael
estávamos tomando café da manhã.
– Não vou para a faculdade hoje,
mas já liguei para o Gustavo e ele
chega já – explicou ele.
– Por que não? – Perguntei curiosa.
– Nossos pais podem chegar a
qualquer momento e eu quero está
aqui para apresentar o Micael para
ele.
Assenti com a cabeça, entendo
completamente a situação. Joshua
ficaria para controlar a reação do
pai, principalmente.
Michael se levantou, limpando as
mãos na barra da calça jeans preta.
– Boa sorte – falou. – Nosso pai
não parece ser o tipo de cara que
aceita bem ter um neto da ex filha
da empregada.
Joshua sorriu com um toque de
arrogância.
– Eu dou um jeito nele.
Michael riu com frieza.
– Eu sei muito bem disso.
Eles se encararam por um segundo
e eu quase podia ver aquela velha
parede se formando novamente
entre eles.
Então o Michael respirou fundo e
um sorriso sincero apareceu em seu
rosto.
– Mas pelo menos vai dar tudo
certo.
Joshua assentiu com a cabeça.
– Obrigado pela torcida.
– Claro ué, estamos falando do meu
sobrinho.
Alguma coisa ardeu em meu peito
ao ouvi-lo falar isso. Ele parecia
bem. E, por algum motivo que eu
não conseguia entender, era só isso
que importava agora.
Chegamos no colégio em um piscar
de olhos. Nicolas praticamente
saltou do carro de tanta animação
e, quando eu perguntei o porquê,
ele simplesmente respondeu "hoje é
dia 13" e saiu correndo para dentro.
– Só eu não entendi? – Michael
perguntou enquanto observava o
irmão.
– Dia 13 é o aniversário de namoro
deles – falei me lembrando de uma
de nossas primeiras
conversas.
Michael olhou para mim surpreso,
com um sorriso surgindo no mesmo
segundo.
– Melhor casal – comentou
enquanto se virava e ia para a
entrada do colégio.
– Ah eu gosto de Annel – disse o
seguindo.
Ele riu.
– Figurinha repetida, Susan.
– São as que dão mais lucros –
retruquei.
Ele revirou os olhos e não
respondeu.
Subimos as escadas para o
corredor e eu dei de cara com uma
Bia radiante, erguendo uma carta e
balançando enquanto uma roda se
formava ao redor dela. Fui para
perto para ouvir melhor.
– ...E como eu não sou capaz de
viver sem o Rick, eu corri para
fazer uma prova extra, exclusiva
para alunos que possuem potencial
mas não conseguiram fazer o teste
no dia certo – disse ela
abaixando a carta e a abrindo. – Eu
não li ainda, mas eles
encaminharam a resposta em uma
velocidade incrível, então... – Ela
abriu a carta e começou a ler
devagar, em pensamento. – EU
PASSEI! – Gritou quando acabou
de ler. – EU PASSEI NA
UNIVERSIDADE DE
CAMDBRIGE!
Como um raio, alguém a tomou nos
braços, a abraçando com força
enquanto ela dava pulos de
felicidade. Richard.
– Eu estou tão orgulhoso de você,
Bia. Essas provas extras são quase
o dobro de dificuldade e eles
só aceleram o resultado quando o
resultado é máximo – falou ele a
segurando pela cintura, sua voz
entrecortada pela emoção. – Eu
amo tanto você.
Então eles se beijaram. Meu
coração deu um pulo animado com
o amor deles. Era algo tão gritante.
Tão simples e tão fascinante ao
mesmo tempo. Ela iria para
Inglaterra por ele. Porque ela não
suportaria a ideia de perdê-lo. Ela
preferia perder seu terceirão do que
passar alguns anos longe
dele.
E todos deviam está pensando
como eu pois, de uma forma tão
automática quanto seria se
estivessem
ensaiando, uma salva de palmas
começou, junto com assobios e
gritos de felicidade.
O amor tinha dessas coisas.
Ele contagiava.
✣Joshua✣
Olhei para o Micael. Ele ficava tão
angelical assim, quietinho,
brincando de fazer castelinhos com
lego. Como eu iria aguentar viver
sem ele todos os dias? Eu já estava
apegado.
Anna entrou na sala, vindo se sentar
ao meu lado no sofá. Ela seguiu
meu olhar e sorriu.
– Como eu posso me arrepender de
tudo o que eu fiz vendo esse
menininho? – Perguntei sem me
virar
para ela. – Ele tinha que existir.
Ela fez que sim com a cabeça.
– Eu penso o mesmo. O tempo todo,
para ser sincera, eu fico me
perguntando por que as coisas tem
que ser tão confusas se ele é algo
tão... Certo.
– Porque a vida é assim – respondi.
– Ela não vê o certo e o errado. Ela
só chega e faz as coisas
acontecerem, como um autor
criativo que vira a vida dos seus
personagens sem dó.
– Você é bem profundo, Joshua.
Dei de ombros.
– Eu sou mais velho do que você.
Ela empurrou meu ombro e soltou
uma risada.
– Mas eu sou mais madura.
– Não concordo com isso – rebati
rindo também.
Então, um barulho de porta se
abrindo nos parou. Senti um arrepio
descendo pela minha espinha e me
virei devagar, apreensivo.
Por sorte, era a Melissa.
Soltei o ar que não sabia que estava
segurando e olhei para ela aliviado.
– O que aconteceu?
– Seus pais estão na porta, vim
avisar para que você tivesse tempo
de pensar no que fazer – ela
respondeu cumplice e saiu da casa,
voltando para a porta principal.
Me virei para a Anna rapidamente.
– Vá com o Micael para a cozinha e
fiquem lá escondidos enquanto eu
amacio o terreno. Só voltem
quando eu mandar, ok?
Ouvimos passos ao longe.
– Ok? – insistir apressado.
– Ok – ela respondeu se levantando
e colocando o Micael no colo,
tampando a boca dele para que
ele não falasse nada.
Corri para o tapete e empurrei as
peças de lego para debaixo da
estante da TV.
Me sentei novamente no sofá em
seguida e esperei, pensando no que
iria dizer.
Então a porta se abriu e meus pais
entraram na sala. Meu pai estava
mais bronzeado do que o normal
e sorria radiante por algum motivo.
Minha mãe, como sempre, parecia
em um poço de amor e
felicidade. Mordi o canto interno
da boca. Espero que isso continue
depois que eu contar sobre o
pequeno detalhe chamado Micael.
Me levantei para falar com eles.
– Pai, mãe... Precisamos conversar
– falei lentamente, tentando
controlar minha voz. Que merda. Eu
nunca ficava nervoso. Eles iriam
notar alguma diferença no meu tom.
Mas, por sorte, eles sorriram para
mim.
– Claro filho, pode falar – minha
mãe respondeu com um sorriso
enorme.
Engoli em seco.
Papai estreitou os olhos por um
segundo.
– Joshua...?
Então um vulto baixinho passou por
mim, sendo seguido por um grito de
não tão alto que eu me virei
bem a tempo de ver o Micael
correndo até meu pai e dando
pulinhos na frente dele.
– Quem é essa criança? – Meu pai
perguntou sem reação.
Respirei fundo.
– Meu filho.
45. Eu os amava
✣Joshua✣
Meu pai levantou uma sobrancelha.
– Que tipo de piada é essa, Joshua?
– Perguntou sério, olhando
fixamente para mim.
Desviei os olhos.
– Acho... Acho melhor vocês
sentarem – falei apreensivo.
Senti uma mão tocando meu ombro
e me virei. Anna sorriu com o canto
da boca.
– Vai dar tudo certo – disse ela tão
baixo que quase não ouvi.
Assenti com a cabeça, levemente
mais seguro. Eu não estava sozinho
nessa.
– Anna? – Minha mãe olhou
surpresa para ela. – O que você
está fazendo aqui?
– Por favor – pedi –, sentem.
Papai hesitou por um segundo,
olhando para o Micael – que estava
dando pulinhos em sua frente –,
mas, por fim, andou até a poltrona
vermelha e sentou-se cruzando os
braços. Mamãe o seguiu, indo se
sentar no sofá ao lado.
– Pode começar – ordenou meu pai
com frieza.
Meus olhos foram até os da Anna e
ela fez que sim de leve com a
cabeça. Suspirei e andei até ficar
de frente para eles.
– Como vocês sabem, Anna morou
conosco por alguns meses há três
anos... – Comecei.
– E namorou o Michael nesse
tempo – meu pai me interrompeu,
me testando. Seus olhos estreitos
para mim.
– Eu sei, mas... – Pensei um pouco
em como diria isso. Era
complicado. – Aconteceu. E o
Micael
nasceu desse momento.
Minha mãe abriu a boca, surpresa e
exasperada pela informação.
– Você traiu seu irmão? – Ela
perguntou em choque. Seus olhos,
sempre brilhantes, estavam
apagados
de decepção.
Abaixei a cabeça.
– Eu sinto muito – disse baixinho
com sinceridade. – Eu era muito
novo, eu não sabia direito o que
estava fazendo.
– Então você trocou a reputação da
nossa família por uma noite? – Meu
pai perguntou irritado.
– Fernando! – Minha mãe protestou.
– Esse não é o problema!
– Qual é então? O que pode ser
pior do que isso? – Ele retrucou
olhando com nojo para a Anna.
Fechei o punho. Odiava quando ele
olhava assim para alguém.
– Eles são irmãos! Você tem noção
de como o Michael sofreu, bem
embaixo de nossos narizes? –
Mamãe perguntou com a voz
preocupada irradiando culpa.
Meu pai deu de ombros.
– Ninguém pode culpar a Anna por
escolher o Joshua.
Mamãe se levantou furiosa.
Dei uma olhada rápida no Micael –
preocupado com o que ele poderia
estar achando de tudo isso – e
o vi encostado na parede, escutando
tudo com atenção. Anna ainda
estava ao meu lado.
– Como você pode ser tão parcial?
Michael só tinha 13 anos!
Meu pai revirou os olhos.
– Será que podemos voltar para a
parte dos Hunter ter uma reputação
a zelar, que não pode ser
manchada por...
– Mais uma palavra e eu peço o
divórcio! – Mamãe o cortou com
seriedade.
– Mas...
– Eu não vou admitir que você fale
uma coisa dessas do meu neto.
Mordi o canto interno da boca para
conter meu sorriso. Ela chamou o
Micael de neto.
– Você está aceitando isso? – Meu
pai perguntou angustiado.
– Se ele é filho do meu Joshua,
como eu posso não aceitar?
– Não importa – ele rebateu sem um
único pingo de sentimentos. – Ele
não é meu neto. Nem nunca
será.
Então, como se tivesse ouvido uma
deixa, Micael correu até a mãe.
Senti um aperto no coração ao
ver seus olhos cheios de lágrimas.
– Por esse homem não gosta de
mim? – Ele perguntou com a voz
entrecortada de tristeza.
Olhei surpreso para ele. Micael era
esperto; ele sentiu o desprezo do
meu pai.
– Não sei, filho – Anna respondeu.
– Vai lá perguntar.
Sorri com diversão. Anna não tinha
medo de nada.
Micael andou devagar até meu pai,
parando em frente a poltrona e
colocando as mãos na cintura.
Personalidade forte.
Mamãe se inclinou para olhar para
ele. Eles se encararam por alguns
segundos. Então ela se ergueu
novamente, com um sorriso no
canto da boca.
– Fernando, olhe para ele.
Papai não se mexeu.
– Fernando, por favor – pediu
novamente.
Ele suspirou e se inclinou para o
Micael, que se virou lentamente
para ele.
– Nada vai mudar a minha opiniã...
– Ele começou a dizer. Então seus
olhos encontraram os do
Micael e ele se calou, surpreso. –
Esses olhos... Nicole, ele...
– Ele tem meus olhos. E o seu
cabelo – ela completou sorrindo.
Um suspiro escapou de seus lábios
antes dela voltar a falar. – Não
importa de que família a mãe dele
é, Nando. Ele é um Hunter. E eu o
amo por isso.
Com o canto do olho, vi uma
lágrima escorrendo do rosto da
Anna. Me aproximei dela e passei o
braço pelo seu ombro.
Meu pai olhou para mim.
– Por que você não nos contou?
– Eu estava esperando o momento
certo – falei com sinceridade. – É
complicado para mim.
Ele assentiu.
– Para todos nós.
– Mas ser complicado não o torna
menos adorável – disse um pouco
na defensiva.
Ele olhou para o Micael
novamente, que estava no colo da
mamãe. Seus olhos brilharam com a
visão.
– Eu sei que não... Me desculpe por
ter dito aquelas coisas – ele falou
sendo sincero.
Sorri para ele. Eu o desculpava.
Porque, lá no fundo, ele era uma
pessoa boa. O único problema era
que ele era uma pessoa que
possuía bases erradas. Mas o amor
o ajudava a lidar com isso – o amor
pela minha mãe, pelos seus
filhos, pelo seu mais novo neto.
– Nando, vem ouvir o que ele está
falando – mamãe o chamou,
olhando fascinada para o Micael.
Meu pai se aproximou deles.
Micael girou o corpo para ele. Eles
se olharam por uma fração de
segundo.
Então o Micael sorriu. Ele não
guardava mágoas.
Olhei para eles três enquanto sentia
o mão da Anna ao redor da minha
cintura. Ela se virou para mim, seus
olhos marejados transbordando
felicidade.
Sorri para ela.
As coisas estavam começando a dar
certo.
[...]
– Cansei. Que tal pararmos um
pouco? – Falei depois de jogar o
Micael no alto e o pegar pela
décima vez.
A criança fez biquinho.
– Não, Jay, vamos mais – pediu
agitando as mãozinhas na minha
direção.
Revirei os olhos e o coloquei no
chão, rindo da sua breve raiva.
– Se você quiser, eu faço
brigadeiro para a gente – ofereci
para tentar melhorar a situação.
Ele pareceu pensar no meu caso.
– Melhor chamar a mamãe, ela faz
o melhor brigadeiro do mundo!
– Isso porque você nunca
experimentou o meu – retruquei
com uma leve pontada de ciúmes na
voz.
Ele concordou com a cabeça.
– Ok, você venceu. Mas depois a
gente volta.
– Não prometo nada – rebati
enquanto o guiava para a cozinha. –
Sente-se ai que eu vou preparar o
nosso lanche – comandei apontando
para a mesa do café. Ele fez o que
eu pedi.
Abri o armário e peguei os
ingredientes, sorrindo comigo
mesmo por toda a situação. Isso
parecia
tão certo.
Então, enquanto eu estava girando o
corpo para pegar a panela, a
companhia tocou.
Micael correu para a porta,
curioso. Fui atrás, correndo
também.
– Quem é? – Perguntei intrigado.
Susan e meu irmãos só iriam chegar
daqui a umas duas horas.
– Sua inspiração de vida – a voz do
Bruno respondeu com humor.
Soltei uma risada e abri a porta
para ele.
– Saudades, bebê – disse enquanto
o abraçava.
Ele assentiu com a cabeça.
– Eu também, mas essa faculdade tá
me deixando sem tempo até para
respirar. Amanda morre de
raiva – falou já entrando. Fechei a
porta atrás dele.
– Quem é esse? – Micael perguntou
com aquela curiosidade infantil.
Bruno olhou para ele surpreso e
depois para mim, perguntando sem
palavras se era quem ele pensava
que era.
Fiz que sim com a cabeça.
– Pode me chamar de tio Bruno –
disse se ajoelhando para ficar da
altura dele. O imitei para
participar da conversa. – E qual seu
nome?
– Micael – respondeu sorrindo para
ele. – Quer brincar com a gente?
– Claro – Bruno respondeu no
mesmo segundo.
Ergui uma sobrancelha.
– Que eu lembre nós tínhamos dado
uma pausa – falei com um tom
acusatório.
Micael riu.
– Mas o tio Bruno acabou de dizer
que quer brincar – rebateu
apontando para o meu amigo.
Bruno soltou uma risada e olhou
para mim fascinado.
– Ele é sempre assim? – Perguntou
baixinho.
– Adorável como o pai – respondi
mais baixo ainda e ele riu
revirando os olhos.
– Vamos ou não? – Micael
interrompeu apressado.
Bruno se levantou. Fiz o mesmo
automaticamente.
– Joshua é o pega! – Bruno gritou e
saiu correndo em seguida,
exatamente como uma criança faria.
Micael soltou um gritinho animado
e correu também.
Respirei fundo e fui atrás deles,
rindo.
[...]
– Até que seu brigadeiro é bom,
Jayjay – Micael falou enquanto
colocada a quinta colher cheia na
boca.
Sorri e me encostei na parede, ao
lado da porta de casa. Bruno estava
ao meu lado, completamente
exausto. Já estávamos brincando a
umas duas horas.
– Melhor do que o da sua mãe? –
Perguntei competitivo.
Ele parou pensar no assunto.
– Empate, pode ser? – Resolveu
por fim.
– Pode – respondi feliz com a
resposta.
– Aliás, cadê ela? – Bruno indagou
olhando ao redor.
– Foi ver umas amigas e comprar
algumas coisas, mas acho que ela
volta já.
Bruno olhou para mim com um
sorriso malicioso.
– Ela ainda é bonita daquele jeito?
Revirei os olhos.
– Nem olhei – falei com
sinceridade. – Mas pela cara que o
Michael fez acho que sim.
– Ah... Ele ainda gosta dela?
– É complicado – respondi olhando
para o Micael. – Ele já sofreu
demais por ela, sabe?
Bruno assentiu com a cabeça,
sempre compreensivo; essa era uma
das coisas que eu admirava nele.
Ficamos em silêncio por alguns
minutos, cada um com seus
próprios pensamentos. Até o
Micael
parecia refletir sobre alguma coisa
enquanto comia lentamente seu
brigadeiro de colher.
Então a porta se abriu de repente.
Levantei a cabeça, assustado por
um segundo.
– ... E desde quando você é melhor
amigo da Jane? – Ouvi a Susan
perguntar enquanto ela e meus
irmãos entravam em casa.
Nicolas foi o último a aparecer,
trancando a porta atrás de si em
seguida.
– Somos amigos, ué – Michael
respondeu como se fosse óbvio. –
Passamos por muitas coisas juntos.
Susan colocou as mãos na cintura,
quase irritada. Estreitei os olhos
para ela, surpreso por ela não ter
me notado ainda.
Micael agitou as mãos para o alto.
– Oi para vocês – cumprimentou
chamativo.
Eles arregalaram os olhos para nós.
Nicolas correu para se sentar ao
lado do Micael, seus olhos
brilhantes cintilavam como sempre.
Michael e Susan, no entanto,
continuaram de pé, se encarando.
– Só não voltem a fazer aquelas
coisas de novo – Susan pediu com
algo parecido com nervosismo.
– Aquele tempo já passou, Susan.
Agora nem eu nem ela está
interessado na infelicidade de
vocês.
– Certeza? – Insistiu ela.
Ele sorriu e passou a mão pelo seu
ombro.
– Absoluta.
Me levantei e fui até eles,
levemente enciumado com toda
aquela amizade.
Assim que me viu, ela girou o
corpo para mim e se afastou do
Michael para pode pegar em minha
mão. Sorri. Eu não precisava sentir
ciúmes.
– Como foi na escola? – Perguntei
enquanto a puxava para perto de
mim.
Michael piscou para nós e foi até
onde o Bruno estava, sentando-se
ao seu lado. Observei enquanto
seus olhos iam até os do Micael e
um suspiro baixo escapava de seus
lábios. Não conseguiria
imaginar o que ele está sentindo.
– Bem. Só estou um pouco triste
porque a Bia vai para a Inglaterra,
mas sei que é o melhor para ela –
falou olhando para baixo.
– Por que ela vai para lá? –
Perguntei me lembrando da menina
baixinha e inteligente que às vezes
eu via com a Susan na hora da
saída.
Ela pousou seus olhos nos meus.
Nunca iria me acostumar com o
quanto ela era bonita.
– Ela vai para uma faculdade de
sucesso, que está entre as 10
melhores do mundo para você ter
uma
ideia. O Richard, namorado dela,
falou que ia e ela nem pensou duas
vezes antes de fazer um teste
para ir também. E é claro que ela
foi aprovada, ela é extremamente
inteligente – explicou.
– Não fique triste por isso, Susan.
O futuro dela será brilhante. E ela
ainda teve a sorte de conseguir o
amor e o sucesso ao mesmo tempo,
isso é pra poucos – disse tentando
fazê-la se sentir melhor. – E
a gente pode sugerir a ideia de ir
para a Inglaterra nas férias do meio
do ano, que tal?
Ela arregalou os olhos para mim.
– Não, meu Deus, é muito caro.
Soltei uma risada.
– Acho que temos condição
financeira para isso. E se o resto da
família não quiser ir, vamos só eu e
você, não tem problema. – Sorri
com o canto da boca. – Pode ser até
melhor.
Ela sorriu também, seus olhos
brilhando com intensidade.
– Depois a gente fala disso, ok? –
Completei para ela saber que eu
estava falando sério. Eu iria para
qualquer lugar do mundo para vê-la
feliz. – Agora é hora de almoçar.
Ela assentiu e eu me virei para falar
com o Micael.
– Joshua – ouvi-a chamando atrás
de mim.
Rodei o corpo para olhar para ela.
– Susan?
Um sorrisinho tomou conta de sua
boca antes dela completar;
– Eu te amo.
Meu coração deu um pequeno salto
para trás. Eu nunca iria me cansar
de ouvir isso.
– Eu também te amo.
Ela mordeu o lábio inferior por um
segundo e eu senti aquela velha
vontade imensa de beijá-la até o
fim dos tempos. Ah, céus, como eu
a amava.
– Bem, – Bruno falou nos
interrompendo. Olhei para ele. –
acho que eu vou indo.
– Fique para o almoço, Brubru –
ofereci.
– Nem dá, combinei de ir almoçar
com a Amanda. Hoje fazemos dois
meses de namoro.
Susan sorriu e bateu palmas. Sorri
também, eu sabia como a Amanda o
fazia feliz.
– É justo – falei enquanto ele se
levantava. – Até amanhã?
– Mal posso esperar – retrucou com
um sorriso, já se virando para a
porta.
Micael correu até ele, parando em
sua frente.
– Tchau tio.
Bruno o puxou para cima e o
abraçou. Micael riu, satisfeito com
a atenção.
– Já disseram que ele tem seu ego,
Joshua?
Dei de ombros.
– Devem ter comentado.
Depois do almoço, Susan e Nicolas
foram para seus quartos fazer
atividade de casa. Micael
finalmente pareceu cansar e eu o
coloquei para dormir no meu quarto
enquanto a Anna não chegava.
– Oi irmão – cumprimentei o
Michael que estava sentado no sofá
vendo televisão. – Como você está?
Ele se virou para olhar para mim.
– Normal, eu acho.
– Isso é bom?
Ele riu fraco.
– Eu estou bem, Joshua. Seu filho é
realmente adorável.
Suspirei e me sentei ao lado dele,
pensando no que poderia dizer.
– Quer um pedido de desculpas? –
Perguntei com sinceridade. Se ele
quisesse, eu daria.
– Não precisa. Estou começando a
achar que foi melhor assim, sabe?
Micael precisava existir.
– Eu também penso nisso quando
estou com ele. Eu me arrependo
pelo jeito como as coisas
aconteceram, mas não pela
consequência.
Ele assentiu.
– Eu entendo, Joshua. Seus olhos
brilham só de falar nele.
Sorri com o canto da boca.
– Faz sentido. Eu o amo tanto,
Michael.
– Eu sei, mas admito que seu lado
paternal me surpreendeu –
confessou.
– A mim também – retruquei com
um sorriso.
Ele olhou para mim por um segundo
antes de voltar a atenção novamente
para a TV. Respirei fundo e
me encostei no sofá, pensando em
como o dia estava dando certo.
When the days are cold...
Senti meu celular vibrando ao
mesmo tempo que a música
começava a tocar. O peguei do
bolso e
atendi.
– Boa tarde, Joshua Montenegro se
encontra? – Uma voz feminina e
suave perguntou.
– Está falando com ele.
– Ah, olá. O Dr. Pacheco mandou
informar que não poderá fazer a
cirurgia no dia marcado e
perguntou se poderia adiantá-la
para hoje.
Pensei por um segundo.
– Agora?
– Exatamente, senhor.
Mordi o canto interno da boca
enquanto pensava no que responder.
Tinha que admitir, eu estava com
medo.
– Não pode ser amanhã?
– Só se o senhor não se importar
em receber um médico substituto,
que também é muito bom, é claro,
mas...
– Não, tudo bem, eu entendo. Que
horas seria essa cirurgia?
– Daqui a cinco horas, senhor
Hunter.
Assenti com a cabeça. Daqui até lá
eu iria me acalmar.
– Ok, pode ser. Comunique para ele
que eu aceitei.
– Certo. Obrigada pela atenção e
tenha uma boa tarde – ela se
despediu e desligou.
Olhei para o Michael com os olhos
arregalados.
Ele se virou para mim, levantando
uma sobrancelha.
– O que houve?
– A cirurgia foi transferida para
hoje à noite.
Ele olhou para mim surpreso.
– Por quê?
– O médico disse que não poderia
fazer daqui a cinco dias e pediu
para ser daqui a cinco horas –
resumi com apreensão.
Michael coçou a cabeça com a
mão, pensativo.
– Não precisa ficar assim, sabe?
Ele é um doutor renomado, vai dar
tudo certo.
– Espero, irmão.
[...]
As horas se arrastaram para passar.
Anna chegou mais ou menos meia
hora depois da ligação e
pareceu ficar preocupada quando
eu contei o que iria acontecer, mas
tentou me tranquilizar dizendo o
quanto o médico era bom. Susan, no
entanto, ficou bem calma em
relação a tudo, apenas me disse que
iria passar e que era até melhor que
fosse agora, para acabar com essa
ansiedade. E ela estava certa, é
claro. Quanto mais cedo isso
acabar melhor.
Por isso eu não conseguia esconder
meu sorriso ao levantar os olhos
para o relógio da parede e ver
que só faltava uma hora para a
cirurgia. Toda a minha família
estava na sala esperando, incluindo
Susan, Melissa e Anna.
– Vamos? – Perguntei olhando para
o relógio.
Anna negou com a cabeça.
– Eu vou ficar aqui com o Micael,
não quero que ele vá ao hospital.
– Não precisa. Eu posso cuidar
dele enquanto você vai – a mãe da
Susan se ofereceu.
Anna pareceu pensar no assunto.
– Mas ele dá muito trabalho...
– Eu sou mãe também, Anna, há
muito mais tempo que você – ela
lembrou. – Vão logo, não é bom se
atrasar para uma coisa dessas.
Eu concordava com ela.
– Por que não deixa ele ir também?
Há uma parte infantil lá, ele pode
ficar brincando. Além do que a
gente não sabe que horas vamos
chegar – Susan falou pensativa. Ela
era tão esperta.
Anna pareceu surpresa com a ideia.
– Não tinha pensado nisso.
Susan sorriu enquanto corava de
leve, agoniada por ser o centro das
atenções.
Me levantei do sofá.
– Assunto encerrado então, todo
mundo vai. Agora será que
podemos ir?
Michael olhou para mim
impressionado. Ele devia está
achando que eu estava com medo.
Mas eu não
estava mais. Agora eu só tinha
pressa para que tudo isso acabasse
e eu pudesse curtir minha vida
com total saúde.
– Ok, vamos – papai decidiu. –
Joshua, você pode dirigir?
– Claro – respondi com segurança.
Nada podia dar errado.
Entramos no hospital e fomos direto
para a área de espera, aguardando
enquanto o doutor não
chegava.
Mais ou menos um minuto depois
de todos nós nos sentarmos, quatro
enfermeiros chegaram
segurando uma maca aberta e vazia.
Um homem alto e forte apareceu
atrás deles, pegando alguns
papeis no bolso de seu jaleco
fechado e olhando para mim em
seguida.
– Joshua Montenegro Hunter? Suba
aqui, por favor – pediu
educadamente.
Olhei para a Susan por um segundo.
– Posso conversar com uma pessoa
antes?
Ele suspirou.
– Você tem vinte minutos – avisou
enquanto se virava para sair.
Levantei e fui até onde a Susan
estava, no sofá da frente, sorrindo
com nervosismo para mim.
– Eu volto já, ok? – Falei me
sentando ao lado dela.
Ela assentiu, mas desviou o olhar.
– Não me diga que está com um mal
pressentimento – pedi quase
implorando.
– Não é isso, é que... Eu não sei o
que eu faria se perdesse você,
Joshua – ela confessou levantando
os olhos para os meus.
Ergui a mão e passei pelo seu
cabelo suavemente. Ela fechou os
olhos por um segundo, sentindo meu
toque.
– Você nunca vai me perder.
E isso era verdade. Eu amaria
Susan dos Alvez por toda a
eternidade.
– Mas e se...
Neguei com a cabeça e a beijei
para interromper sua fala. Ela
retribuiu o beijo no mesmo segundo
e
eu senti seu peito subindo e
descendo colado no meu. Ela
estava nervosa. A beijei mais
devagar,
lentamente, tentando acalmar os
dois.
Paramos por causa do ar.
– Eu amo você – disse por fim.
Ela sorriu, mais calma dessa vez.
– Eu sei disso, Joshua.
Me inclinei para beijar sua
bochecha antes de me levantar
novamente. Eu ainda tinha que falar
com
mais duas mulheres.
Fui até a Anna com cautela, que
estava me observando do outro
lado da sala, ao lado de um Micael
adormecido.
– Oi – ela cumprimentou enquanto
eu me aproximava.
Continuei em pé à sua frente,
pensando no que poderia dizer para
ela.
Ela se levantou antes que eu
pudesse sequer abrir minha boca e
me puxou para um abraço quase
fraternal.
– Quando essa cirurgia acabar,
você me pode ajudar a escolher a
cor do quarto do Micael – ela
soprou baixinho no meu ouvido.
Me afastei assustado e surpreso.
Ela realmente havia dito aquilo?
– Do que você está falando?
Ela sorriu.
– Seu pai me ofereceu um emprego
na empresa dos Hunter e eu posso
trabalhar enquanto estudo na
faculdade daqui; ele também me
ofereceu o quarto de hóspedes e
disse que, se eu quisesse, poderia
ficar com uma das casas vazias da
rua da sua casa – explicou. – Minha
mãe vem próxima semana
com todas as nossas coisas.
Arregalei os olhos para ela, sem
conseguir colocar em palavras a
explosão de felicidade que eu
estava sentindo naquele momento.
– Micael vai morar comigo?!
Ela assentiu sorrindo ainda mais.
– Meu Deus, meu Deus – falei
enquanto tentava encontrar o que
dizer. Isso era tão incrível. – Eu
vou ver meu filho crescer!
– Agradeça ao seu pai por ter me
convencido de que esse era o
melhor para todos.
Sorri para ela e fui até onde meu
pai estava, o puxando para cima tão
rapidamente que ele quase
soltou um grito.
– O que você está fazendo? –
Perguntou assustado enquanto eu o
puxava para um abraço forte.
– Obrigado, pai.
Ele olhou para a Anna por um
segundo e ela se limitou em assentir
com a cabeça para ele.
– O que eu não faço por você? –
Ele falou me abraçando de volta.
Senti um braço passando pela meu
ombro e me virei a tempo de ver
minha mãe se juntando a nós.
– Quero participar! – Ela protestou
como uma criança.
Meu pai passou a mão por sua
cintura e a colocou dentro do
abraço em grupo.
Sorri.
Isso sim era uma família de
verdade.
– Ei, ei, vocês ainda lembram que
têm mais de um filho? – Ouvi o
Nicolas perguntar atrás de mim.
Me afastei do meu pai para poder o
colocar dentro do abraço.
Então meu olhos passaram por cima
do ombro da mamãe e eu vi o
Michael nos observando com
cuidado.
– Você também faz parte disso,
Michael – falei alto o bastante para
ele ouvir.
Ele revirou os olhos.
– Desde quando?
Mamãe sorriu ao responder;
– Desde sempre.
Ele pareceu satisfeito com a
resposta e andou até nós devagar,
procurando um espaço. Ele entrou
entre eu e o Nicolas, sorrindo com
o canto da boca com um timidez
que eu nunca tinha visto antes.
Ficamos assim por alguns
segundos, cada um sentindo a
montanha de significado que aquele
abraço
possuía.
Eu os amava. Cada um deles,
individualmente e completamente.
Eu os amava não só porque eles
eram do meu sangue e portavam o
mesmo sobrenome que o meu. Eu os
amava porque eles eram,
acima de tudo, os meus guias para a
vida. Eles eram a minha família.
Nesse momento, a porta se abriu e
o abraço se desfez. Sorrimos entre
si, sentindo que, agora, as
coisas iriam começar a mudar.
– Dei ainda alguns minutos de
sobra para o senhor – o doutor
comentou apontando para o relógio
Sorri agradecido e corri para dar
um beijo na testa do Micael antes
de ir para a maca. Susan me
mandou um beijo no ar e a dona
Melissa me lançou um sorriso de
esperança, como se dissesse que
iria ficar tudo bem.
Assenti para ambas e fui me deitei
na cama móvel, olhando para cima
com algo muito maior do que
felicidade no peito.
– Preparado? – O doutor perguntou.
– Com toda certeza.
✣Susan✣
As horas seguintes foram
agoniantes. Ninguém sabia ao certo
quanto tempo demorava uma
cirurgia
daquele nível, mas já haviam se
passado três horas desde que o
Joshua passou por aquela porta,
com
um sorriso enorme no rosto.
Micael acordou há exatamente dez
minutos e agora estava brincando
com as peças de montar que
trouxe de casa – em cima do sofá,
já que chão de hospital era algo
muito contraindicado. Anna estava
ajudando ele a montar uma casinha
enquanto o Michael olhava para
eles com um ar leve. Ele parecia
bem melhor depois daquele abraço
em grupo.
Nicolas e eu estávamos um ao lado
do outro, com minha cabeça
apoiada em seu ombro há quase
meia
hora. Ele não reclamava.
– Só eu estou me sentindo
sufocado? – Ele sussurrou apenas
para eu ouvir.
– Acho que todos aqui estão –
murmurei olhando em volta.
Dona Nicole suspirou do outro lado
da sala, como se participasse da
nossa conversa.
– Vou lá perguntar quanto tempo
falta – avisou se ajeitando para se
levantar.
Mas o senhor Fernando a impediu
com uma mão, a puxando de leve
para que se sentasse novamente.
– Vai demorar o tempo que for
preciso.
Ele estava certo. Eu esperaria um
dia inteiro se isso fosse o
necessário para que o Joshua
ficasse
curado. Na verdade, eu esperaria
mais; muito mais. Eu faria qualquer
coisa para vê-lo bem.
– Se estão tão entediados por que
não vem aqui ajudar a montar essa
cidade? – Michael perguntou
pegando duas peças e as juntando,
formando um pequeno cubo
vermelho.
Olhei para o Nicolas como se
perguntasse o que ele iria fazer.
Em resposta, ele se levantou e foi
até lá. O segui imediatamente.
Micael sorriu para nós e eu o
coloquei em meu colo para
conseguir um lugar. Anna se ajeitou
para dar espaço ao Nicolas e o
Michael se acomodou ao lado dela.
– Qual é a sua ideia? – Perguntei
para o Micael enquanto o
observava montar algo parecido
com uma
porta, mas não exatamente.
– Eu vou fazer a casa de vocês –
ele falou pegando mais algumas
peças da caixa.
Anna olhou para ele.
– Aquela casa vai ser nossa
também, Micael.
Ele arregalou os olhos, surpreso.
– Sério?
– Aham – ela confirmou com um
sorriso.
Dei uma olhada rápida para o
Michael e o vi sorrindo também.
Ele era tão compreensivo. Ele
sabia
que morar naquela casa seria o
melhor para o Micael e a Anna e
por isso ele não estava com raiva
ou
triste. Ou pelo menos era isso que
ele demonstrava sentir.
– E eu vou poder brincar com o
Jayjay o dia todo? – Ele perguntou
com os olhos brilhando.
Ela assentiu.
– Mas você poderia começar a
chamar ele por outro nome.
Ele riu.
– Joshua é sem graça – falou
repetindo sua frase.
Ela negou com a cabeça.
– Não estou falando de Joshua.
Estou falando de chamá-lo de pai.
Ele franziu a sobrancelha,
notavelmente confuso.
Ela suspirou e deu de ombros.
– Com o tempo ele se acostuma –
falou para ninguém específico.
Fiz que sim com a cabeça e voltei
minha atenção para as pecinhas,
ajudando o Micael a montar a
miniatura da casa.
[...]
Devo ter pego no sono.
Acordei com um luz fraca no meu
rosto. Eram raios de sol que
surgiam pelas frestas da cortina.
Esfreguei os olhos para tentar me
focalizar e senti meu pescoço
doendo. Eu havia dormido sentada.
Olhei para baixo e vi, para minha
surpresa, o Michael deitado no meu
colo, respirando lentamente
como se estivesse dormindo, mas
com os olhos abertos e ativos.
Empurrei ele de leve com a mão.
– Alguma notícia? – Perguntei
quando ele levantou os olhos para
mim.
Ele negou.
– Nem um sinal de Joshua. Mamãe
desceu a pouco tempo para tomar
um calmante.
– E o resto? – Falei olhando em
volta e vendo quase todos
dormindo.
– Micael só começou a dormir
agora, mas a Anna e o Nicolas já
tinham desistido faz tempo. Eu
fiquei brincando com ele até o ver
pegando no sono.
– E você?
Ele sorriu fraco.
– Eu não conseguir dormir, Susan.
Nem por um segundo.
Ele se sentou ao meu lado e olhou
para a porta.
– Tem alguém vindo – falou
enquanto se ajeitava.
Apurei a audição e consegui ouvir
os passos ao longe. Ele realmente
estava mais ativo do que todos
aqui.
Cinco segundos depois, a porta se
abriu. Dona Nicole e o doutor que
estava comandando a cirurgia
entraram na sala. O rosto da mãe
dos Hunter ainda estava ansioso, o
que significava que ela sabia
tanto quanto eu.
– Acorde a todos – ela pediu
olhando para nós.
Me levantei sem contestar e fui até
onde minha mãe estava, balançando
seu ombro até ela despertar.
Ela piscou os olhos e me focalizou,
entendendo a situação no mesmo
segundo. Depois dela, fui até o
Nicolas e o Micael, que dormiam
um ao lado do outro no sofá, e os
acordei falando baixinho. Eles
demoraram mais tempo para
assimilar a realidade, mas também
pareceram despertar com clareza.
Michael acordou a Anna e o
próprio pai, usando o mesmo tom
calmo para falar com ambos.
Demoramos alguns minutos até que
todos estivessem preparados para
qualquer que fosse a notícia,
mas, assim que isso aconteceu, nos
levantamos e fizemos uma roda ao
redor do doutor, esperando.
Apenas Micael continuou no sofá,
mais interessado em seu sono do
que em qualquer coisa.
O médico respirou fundo.
– Como foi a noite? – Perguntou
com educação.
– Diga logo o que aconteceu –
senhor Fernando o cortou com
rispidez.
O doutor engoliu em seco,
pressionando os lábios em seguida.
Dona Nicole deu um passo para
trás.
Ele olhou para mim por um segundo
antes de finalmente falar, com um
tom baixo e suave, projetado
exatamente para situações como
essa.
– A cirurgia foi um fracasso. O
paciente não resistiu.
46. E todos nós o amávamos de
volta
– O que você disse? – O senhor
Fernando perguntou com a voz
trêmula.
Mas eu já havia entendido.
Senti meus joelhos fraquejando e
meu corpo se inclinando para trás
em seguida, prestes a desmaiar.
Então alguém puxou meu braço com
força, sem delicadeza alguma. Um
segundo depois, Michael me
encarou enquanto colocava os
braços ao meu redor, me mantendo
em pé.
– Não desmaie – sussurrou ele
autoritário e frio. – Não agora.
Fechei os olhos e assenti com a
cabeça sem contestar, tentando me
concentrar apenas em me manter
consciente.
– Sinto muito – o doutor falou
depois do que pareceu um longo
tempo. – Fizemos o possível.
Dona Nicole soltou um grito agudo
de dor, como se estivesse sendo
esfaqueada, e caiu no chão em
seguida, com os olhos fechados.
Nicolas correu para fora da sala no
mesmo segundo, chamando por
ajuda. Um enfermeiro alto surgiu
praticamente voando na sala e pôs a
mãe dos Hunter no colo, a
carregando para fora da sala com
agilidade.
Eu via todas essas cenas escondida
entre os braços do Michael, na
pequena brecha entre seu pescoço
e seu ombro. Minha cabeça parecia
prestes a explodir, mas eu
batalhava para me manter acordada,
para ver o que iria acontecer antes
que eu não fosse mais capaz de
aguentar.
– Você me disse era uma cirurgia
simples, de poucos riscos – o
senhor Fernando lembrou ao
cirurgião. Sua voz parecia
entrecortada de dor, mas, mesmo
assim, ele ainda conseguia impor
um
medo irracional em que a ouvisse.
– Ela dá certo em 80% dos
pacientes, mas o senhor Joshua
não...
Então aconteceu.
O senhor Fernando se jogou contra
o médico em um piscar de olhos, o
arrastando até o imprensar
contra a parede com uma mão e o
atacar com a outra, numa sequencia
de murros fortes e certeiros,
em todos os cantos possíveis do
rosto do doutor, que soltava gritos
de susto e dor enquanto era
esmurrado pelo Hunter com fúria.
Vários enfermeiros entraram
correndo na sala, com os olhos
arregalados de surpresa, e correram
para tentar apartar. Michael me
puxou para trás, segurando minha
mãe com outra mão e tentou guiar
ambas para fora da sala.
Ouvi um grito alto junto com o
barulho sendo quebrado.
– PELO MEU FILHO! – Ouvi o
senhor Fernando gritar após o grito
alheio.
Fechei os olhos com força, me
sentindo enjoada e extremamente
tonta. Aquilo era demais para o
meu
emocional.
– Eu vou desmaiar, Michael –
avisei baixinho, com a voz rouca e
a cabeça pesando para cair.
Ele negou com a cabeça e me
abraçou mais forte, largando a mão
da minha mãe para poder me
segurar melhor.
– Não me deixe aqui sozinho – ele
implorou quase sem voz. – Eu juro
que te tiro daqui e te levo para
longe dessa confusão. Apenas não
desmaie. Por favor.
Encostei a cabeça em seu ombro,
me afogando na escuridão mesmo
estando de olhos abertos. Ao
longe, eu ouvia os berros dos
enfermeiros. Eu não queria ficar
acordada. Eu não queria me manter
assim, pensando, raciocinando,
entendendo o que eu não gostaria de
entender e tentando ao máximo
não deixar a ficha cair e não me
quebrar ao meio de tanta dor.
Mas foi exatamente isso que eu fiz.
Porque o Michael havia pedido, e
isso era o bastante para mim.
– Mãe, o que está acontecendo? –
Ouvi a voz doce e fina do Micael
vindo do sofá. Fechei os olhos
instantaneamente. Eu havia
esquecido que ele existia, que ele
estava aqui, dormindo enquanto um
doutor dava a notícia de que seu pai
havia morrido.
Meu peito estava apertado e eu
tinha dificuldade para respirar; mas
isso não tinha nada a ver com o
meu corpo encolhido dentro do
abraço do Michael. Não era dor
física. Era pior.
Era dor na alma.
Então eu senti o Michael me
empurrando com cuidado, ainda me
deixando apoiada a ele, só que de
lado. Abri os olhos para ver o que
estava acontecendo. Senhor
Fernando estava deitado no chão,
inconsciente.
Observei enquanto uma das
enfermeiras guardava uma agulha
pequena no bolso. Eles doparam o
senhor Fernando!
Os dois únicos enfermeiros homens
foram para as extremidades do
Hunter no chão e o ergueram com
certa dificuldade, o botando numa
maca em seguida e o tirando da
sala.
Notei, naquele segundo, que o
cirurgião não estava mais ali.
As outras enfermeiras lançaram um
olhar de pena para nós e saíram em
seguida também, deixando eu,
minha mãe, o Michael, o Micael e a
Anna sozinhos.
– Eu não quero mais ver tudo isso,
Michael – falei baixinho para ele.
– Susan, por favor, eu não sou
capaz de desmaiar.
– O que você quer dizer com isso?
Ele olhou para mim.
– Meu corpo tende a continuar
acordado quando eu estou
preocupado ou triste. Eu não
consigo
desmaiar com nada – ele explicou
em um tom de súplica.
Assenti com a cabeça e apoiei
minha cabeça no ombro dele,
tentando bloquear todos os
pensamentos
ruins que iriam chegar. Eu estava
fingindo para mim mesmo que tudo
estava bem.
Nesse momento, a porta se abriu de
repente. Bruno passou voando por
ela, correndo até nós com os
olhos arregalados e uma calça de
moletom junto com uma camisa do
avesso.
– Nicolas me ligou – foi o que ele
conseguiu dizer enquanto colocava
a mão no outro ombro do
Michael e se apoiava nela para
respirar. – Me digam que ele estava
brincando ou eu quebro esse
hospital inteiro – ele falou com a
voz tremida de ódio e dor.
Raiva, eu percebi, era sempre a
primeira reação.
Depois, só depois, a pessoa
desmoronava.
Mas eu ainda não havia chegado
nesse nível. Eu estava no processo
de negação, ignorando os fatos e
tentando me concentrar apenas em
estar aqui, ao lado do Michael,
observando tudo.
Michael encarou o Bruno, retirando
sua mão de seu ombro e colocando
a sua no ombro dele,
trocando de posição. Eles se
olharam.
Então o Bruno caiu de joelhos no
chão, com as mãos no rosto e os
ombros tremendo sem parar.
– Não, não, não... – ele implorou
enquanto se inclinava ainda mais
para frente. Abaixei-me junto com o
Michael e o abraçamos. Ele negou
com a cabeça, chorando ainda mais.
– Ele... Não... Por favor,
não. – Suplicou baixinho, passando
os braços pelos próprios joelhos e
abaixando a cabeça entre
eles.
Olhei para o Michael. Ele não
demonstrava nenhum sentimento.
Em outro lugar da sala, ouvi o
barulho da Anna tentando ninar o
Micael novamente. Sua voz tremia
enquanto ela cantava uma canção
para ele. Reconheci a voz da minha
mãe ajudando, mesmo que
também meio fraca. Ninguém estava
preparado para isso.
– Ajude elas – Michael pediu. –
Micael não precisa passar por esse
momento.
Neguei com a cabeça. Bruno ainda
chorava à minha frente, mais baixo
agora, soluçando em
intervalos curtos.
– Não vou sair daqui.
Ele me encarou com raiva.
– Abraçar ele não vai trazer o
Joshua de volta – ele falou com
frieza. – Mas fazer o Micael dormir
por fazer uma pessoa a menos ficar
traumatizada.
Olhei para ele sem acreditar,
sentindo minha garganta se fechar e
toda a dor que eu estava tentando
controlar sair em forma de
lágrimas.
Joshua não iria voltar.
Me afastei do Michael como se ele
tivesse me dado um murro e senti
meus olhos inchando de
lágrimas, que caiam sem parar pelo
meu rosto. Meio segundo depois,
senti um braço ao meu redor.
Me virei para minha mãe e chorei
ainda mais, abraçada com ela. Ela
passava a mão no meu cabelo
devagar enquanto eu sentia todo o
meu organismo derretendo. A dor
emocional era tão grande que se
tornava física.
Minha cabeça parecia estar sendo
apertada por um quebra-nozes e
minha barriga estava contraída
por causa do movimento de chorar.
Meu corpo inteiro tremia. Eu
poderia morrer ali.
– Me desculpa – ouvi o Michael
dizer para minha mãe, que não
respondeu. – Eu achei que isso
fosse
demorar mais para acontecer.
Eu também achei, pensei com o
fundo da minha mente, a única parte
que não estava se
desmanchando.
– Ai meu Deus!
Levantei os olhos por um segundo,
apenas a tempo de ver um Nicolas
destruído entrando na sala. Ele
correu até nós, parando no meio de
mim e do Bruno; tentando decidir
quem iria consolar primeiro.
– Por favor, não chore também –
Michael pediu calmamente.
– Já fiz isso – Nicolas respondeu
com a voz abafada, como se
estivesse dentro de uma caverna.
Toda
sua doçura nata havia ido embora,
dando lugar a uma tristeza infinita,
que percorria cada parte do seu
tom.
Me encolhi ainda mais, sentindo os
braços da minha mãe ficando mais
fortes ao meu redor. Eu sentia
que, sem seus braços, eu iria me
desmanchar de verdade, como
açúcar em água.
– Onde estão nossos pais? – Ouvi o
Michael perguntando ao longe, tão
baixo e distante como seria se
ele estivesse a metros de distância.
Mas ele estava ao meu lado. A dor
estava me colocando em uma
bolha.
– Os dois estão desacordados num
dos apartamentos do hospital,
juntos – Nicolas respondeu com a
voz séria e madura, mesmo que
cheia de sofrimento. Ele era o
irmão mais velho agora.
E foi exatamente no momento em
que eu pensei nisso que meu
cérebro sentiu uma pontada de dor,
como se estivesse sendo rasgado ao
meio com uma espada.
A última coisa que eu ouvi foi o
soluço do Bruno, ecoando pela
escuridão até eu não sentir mais
nada.
[...]
Minha cabeça doía.
Não sei quanto tempo se passou
desde que eu desmaiei, mas, assim
que minha consciência voltou,
todas as lembranças vieram juntas,
sem esperar nem um único segundo
para metralharem em minha
mente.
Fechei os olhos de novo. Eu não
queria ter que enfrentar isso.
Mas eu tinha.
Pelo Joshua, acima de tudo.
Joshua.
O nome flutuou nos meus
pensamentos, fazendo uma série de
imagens passarem como um
flashback
longo e torturante pela minha
cabeça.
Ele me mudou.
Ele me mostrou, com todos aqueles
incontáveis atos fascinantes, o que
é viver de verdade.
Quem mais, além de Joshua,
procuraria o tom exato do azul de
seus olhos apenas para comprar
pedrinhas dessa cor?
Quem mais, além do Joshua, faria
um casamento dentro de um quarto
ser o momento mais perfeito de
toda uma vida?
Quem mais, além do Joshua, seria
capaz de se arrepender de todos os
seus erros e pedir perdão sem
hesitar? Quem mais teria essa
humildade? Quem mais teria essa
nobreza?
Não, ninguém jamais seria como o
Joshua.
Senti as lágrimas descendo
suavemente pelo meu rosto. Chorar
era a única coisa que eu podia
fazer.
E, ainda assim, não era nada.
– Ela acordou.
Abri os olhos devagar. Michael em
pé ao meu lado, olhando para mim
com uma mistura de
preocupação e alívio. Nesse
segundo, pude sentir sua mão
cobrindo a minha, com seu dedão
dando
voltas suaves na minha palma.
Minha mãe chegou em seguida,
ficando ao lado do Michael. O
movimento em minha mão parou
instantaneamente.
– Ah filha... – Ela falou baixinho
enquanto passava a mão no meu
cabelo. Ela sabia o que eu estava
sentindo. Ou talvez para ela tivesse
sido ainda pior, já que o papai
morreu quando eu tinha apenas
três anos.
– Vou deixar vocês a sós – Michael
disse se afastando de mim. Sua mão
apertou a minha por um
segundo antes de soltá-la e ir
embora. Senti vontade de chorar
ainda mais. Era o Michael, afinal
de
contas.
– Ele é tão forte... – Minha mãe
sussurrou para mim quando ele
saiu. – Foi o único que não chorou
ainda.
Assenti com a cabeça.
– Por dentro ele deve estar
completamente exausto – continuou
ela. – Mas por fora... Susan, ele não
demonstra nada! – Ela parecia
impressionada de verdade,
enfatizando sua voz mesmo que
estivesse a
oitavos do tom normal.
– Ele construiu uma fortaleza ao seu
redor – respondi, me
surpreendendo com o quanto minha
voz
estava rouca e fraca, arranhando
minha garganta a cada palavra. –
Ele teve que fazer isso.
Ela fez que sim com a cabeça e
abaixou os olhos para olhar para
mim. E, por mais impossível que
isso possa soar eu me sentir melhor
ao olhar para ela. Me senti segura,
mesmo que todo o meu mundo
tivesse partido ao meio.
– Eu amo você, mãe – sussurrei,
tendo que fazer força para
conseguir emitir alguma coisa.
Ela assentiu.
– Eu também amo você, filha.
[...]
O resto do dia eu passei no
hospital, praticamente sem sair da
cama – apenas para fazer minhas
necessidades e comer.
Quase não havia barulho de
conversa.
A única pessoa que falava e fazia
algo de verdade era o Micael –
Anna havia decidido não contar
para ele ainda, apenas omitir até
que ele tivesse capacidade de
entender direito o que aconteceu.
Ela não queria contar para ele que
ele era órfão.
– Quero ir para casa. – Ouvi o
Michael falando para o Nicolas no
sofá ao meu lado. – Eu não
aguento mais esse lugar.
Nicolas não respondeu. Eu não
sabia se concordava com o
Michael; ir para casa significava
lembrar-
se do Joshua de uma forma um
milhão de vezes maior.
Então, a porta se abriu devagar e o
senhor Fernando entrou no
apartamento. Seus olhos estavam
inchados e vermelhos, mas ele
ainda assim parecia feroz.
– Vamos embora daqui – ele falou
com aquela autoridade nata.
Ninguém discordou.
Me levantei com cuidado, sentindo
o peso dos meus ossos pela
primeira vez na vida. Eu estava
exausta, mesmo que não tivesse
feito absolutamente nada o dia todo.
Nicolas se levantou e segurou
minha mão. Olhei para ele por um
segundo, tentando entender como
ele
conseguia consolar alguém quando
seu rosto deixava transparecer o
quanto ele estava destruído por
dentro.
– Obrigada – agradeci baixinho.
Ele negou com a cabeça.
– Não é nada.
Ele apertou minha mão de leve e
me guiou até fora do apartamento.
Nicolas era o irmão que eu não
tive a sorte de ter.
Senti uma mão no meu ombro e me
virei para ver a Anna, sorrindo
solidária para mim. Seus olhos
também estavam opacos e sem
vida, mesmo que não tão inchados
quanto os dos outros. Ela não havia
conhecido o verdadeiro Joshua por
tempo o suficiente.
Michael carregava o Micael no
colo enquanto andava, mesmo que
minha mãe tivesse se oferecido
para segurá-lo.
Fomos até o estacionamento. Dona
Nicole ia à frente, sem falar
absolutamente nada. Não
conseguiria
encontrar um número alto o bastante
para definir sua dor agora. Eu sabia
disso. Sabia que, por pior
que eu estivesse, ela estava muito
mais triste. Sua dor era maior do
que a de todos nós.
Senhor Fernando andou mais rápido
para alcançá-la e passou o braço
pelo seu ombro, fazendo-a
encostar a cabeça neste. Sua mão
descia e subia devagar pelo braço
dela com cuidado; com amor.
Bruno estava encostado no carro
dos Hunter, como se estivesse lá há
muito tempo.
Olhei para ele sem entender.
– Vocês vão precisar de uma carona
– ele falou apontando para o carro
do Joshua. Sua voz era tão
profundamente triste que meu
coração parou por um segundo. Isso
não era justo com ninguém aqui.
Michael assentiu com a cabeça. Ele
era o único que não parecia ter sido
tocado.
– Anna, Micael, Susan e Melissa
podem ir com você – ele falou
olhando para nós.
Senhor Fernando olhou para ele por
uma fração de segundo,
extremamente impressionado com
sua
atitude. E, nesse momento, percebi
que ele nunca havia olhado de
verdade para o Michael. Ele nunca
tinha notado o quanto seu filho era
forte.
Nicolas soltou minha mão e beijou
minha bochecha antes de se juntar a
seu irmão.
– Vamos. – Ele falou enquanto
Michael passava o braço pelo
ombro dele.
Olhei para os dois por um segundo.
Joshua adoraria ter visto isso.
[...]
Obviamente, não consegui dormir
naquela noite.
Minha mente parecia que iria
explodir a qualquer momento,
tamanha a dor que eu estava
sentindo.
Eu não conseguiria explicá-la, se
alguém me perguntasse.
Mas era a pior coisa que eu já
havia sentindo em toda minha vida,
a sensação de que não há
absolutamente nada que você possa
fazer a não ser relembrar de tudo e
chorar como uma criança
depois de uma queda. E era isso
que eu estava fazendo, cada
segundo dessa longa noite.
Não foi apenas o Joshua que
morreu. Foi meu coração; metade
da minha alma. Ele levou tudo o
que
valia a pena junto de si.
Ele levou o motivo de acordar feliz
para um novo dia.
Ele levou toda e qualquer graça que
um raio de Sol poderia ter.
Porque ele era o próprio raio de
Sol da minha vida.
Foi ele quem chegou e a iluminou
com suas ironias e frases doces.
Ele me iluminou com sua luz
própria.
Seu coração era tão grande que
possuía uma gravidade interna,
atraindo as pessoas para junto dele.
Eu fui atraída.
Todos nós – todos nós que o
conhecemos por mais de 5 minutos
– fomos atraídos por essa força sem
tamanho que era o Joshua.
Por isso não era justo ele ir
embora.
O mundo precisa de pessoas
genuinamente boas como ele para
continuar girando de forma
equilibrada, sem deixar que todo o
mal o consuma.
Ninguém merecia a dor de não
perder alguém como ele.
Passei a mão pelo meu cabelo e me
sentei na cama, tentando não deixar
meu cérebro explodir.
Me levantei e fui ao banheiro. Fiz
tudo o que deveria fazer e saí do
quarto, pensando em como o dia
de hoje poderia estar sendo
maravilhoso se as coisas tivessem
tomado outro rumo.
Desci as escadas, passando direto
pelo corredor do quarto do Joshua.
Deve ser insuportável entrar
lá.
Michael estava deitado no sofá,
olhando para uma televisão
desligada. Fui até ele com cuidado
e
sentei ao seu lado.
Ele se ergueu um pouco e se
arrastou até colocar a cabeça no
meu colo.
– Oi. – Ele cumprimentou baixinho.
– Oi.
Ele se virou para me olhar nos
olhos.
Me surpreendi com a cor vermelha
deles, como se ele tivesse chorado
a noite toda.
Então me lembrei que foi
exatamente isso que deve ter
acontecido, já que o Michael só
consegue se
deixar sentir algo de verdade
quando está a sós com si mesmo.
– Eu sinto muito – foi o que eu
conseguir dizer.
Ele assentiu.
– Eu também sinto.
Nos encaramos sem dizer nada por
um tempo.
Então ele se sentou, olhando para a
mesinha de centro e apontando com
o queixo para ela. Segui seu
olhar; havia um papel dobrado nela,
levemente molhado.
– O que é isso? – Perguntei.
– Eu fui ao quarto do Joshua e... –
Ele parou por um segundo, olhando
para cima e respirando fundo.
– Ele escreveu isso ontem, algumas
horas antes da cirurgia.
Olhei para a carta sem acreditar.
– Você leu?
Ele assentiu com a cabeça.
– Eu ia esperar para ler com todos,
mas... Eu tinha que saber o que ele
estava sentindo antes de...
Antes de partir – respondeu ele
com a voz entrecortada.
Peguei a carta com as mãos,
segurando ela como se fosse feita
de vidro. A parte de cima estava
molhada com um único pingo
incolor. Uma lágrima.
Olhei para o Michael e ele se
limitou em pressionar os lábios. Às
vezes, sua fortaleza caía.
– Eles não vão ficar com raiva? –
Perguntei um pouco apreensiva. Eu
não sabia se estava preparada
para isso.
– Ninguém aqui consegue sentir
nada além de dor, Susan – ele
retrucou calmamente.
Mordi os lábios por um segundo,
tentando ao máximo não abraçá-lo.
Ele não iria gostar que o
tratasse assim, como alguém que
merece algum tipo de
solidariedade. Mas ele merecia. A
vontade
que eu tinha era de consolá-lo até
ficar tudo bem para ambos.
Mas isso iria demorar muito.
Abri a carta do mesmo jeito que se
tira um curativo; rapidamente para
tentar não sentir o impacto.
Respirei fundo antes de começar a
ler.
Oi.
Me sinto meio ridículo falando com
um papel, mas eu preciso botar
para fora o que eu estou
sentindo, então vamos fingir que
você possui vida, ok? Obrigado
pela compreensão.
Há mais ou menos meia hora me
ligaram falando que minha cirurgia
do coração foi adiada para daqui
a 5 horas e eu não sei como lidar
com isso. Uma parte de mim diz
para eu relaxar, que vai ficar tudo
bem; afinal eu só tenho 20 anos,
sabe? Eu ainda tenho muita coisa
pela frente e tal.
Mas o complicado é que essa parte
é o equivalente a 0,5% da minha
mente.
Todo o resto está desesperado e
com mau pressentimento,
completamente apavorado pela
ideia de
deixar todas as pessoas que eu amo
para trás.
Eu não quero morrer.
Não exatamente por mim, é claro.
Morrer não seria uma barreira se eu
não amasse tantas pessoas.
Eu tenho um filho, sabia? Eu tenho
uma família completa, um amor
para a vida toda e um amigo-
irmão.
É por eles que eu não posso morrer.
Eu ainda preciso ver o Micael
crescendo; ainda preciso ter meu
filho com a Susan e ser padrinho do
casamento do Nicolas com o
Felipe. Eu ainda preciso ver o
Michael se apaixonar e ser feliz
com
alguém. Eu ainda preciso ver meu
pai e minha mãe velhinhos numa
cadeira de balanço, de mãos
dadas enquanto lembram-se de
todas as dificuldades que eles
passaram até chegar ali.
Eu não quero nem posso morrer,
mas eu sei que existe essa
possibilidade. Eu entendo isso.
Entendo
que às vezes o Universo faz coisas
que ninguém entende o porquê e
prega peças na vida de todas as
pessoas boas ou ruins. Eu não sou
ingênuo. Eu sei que posso entrar
naquela sala de cirurgia e nunca
mais sair, por causa de uma falha
humana ou artificial.
Por isso eu estou escrevendo isso.
Porque eu sei que, se eu morrer,
esse será meu ultimo documento.
Se alguém que não seja eu estiver
lendo isso, é por que eu não
sobrevivi. Porque, se eu passar por
tudo isso e ficar tudo bem, eu vou
queimar essa carta.
Então, eu vou me prevenir.
Espero que nada que eu diga a
seguir seja útil no futuro. Mas, bem,
vamos lá. Estou respirando fundo
agora, enrolando para não precisar
escrever o que eu realmente
deveria.
Ok, vamos.
Agora.
Isso dói.
Meu peito está subindo e descendo
enquanto minha garganta arde de
medo. Eu não quero ter que
escrever meu testamento. Isso não
me parece justo.
Mas eu vou. Por eles (como
sempre).
• Primeiro de tudo; eu possuo uma
conta no banco com um bom
dinheiro – basicamente todo o
dinheiro que eu ganhei de presente
ou de mesada desde que eu tinha 12
anos –. É dinheiro o
suficiente para ser divido
igualmente para duas pessoas e
conseguir sustentá-las por um bom
tempo.
Essas duas pessoas serão Susan e
Micael. A metade da Susan pode
ser gastar com o que ela quiser,
podendo ser até transferida para a
conta da Melissa se ela decidir
assim (o que é bem a cara dela,
para ser sincero). A metade do
Micael, no entanto, deve ser
utilizada acima de tudo para sua
educação; pagando sua mensalidade
no colégio JK até ele se formar (e o
dinheiro que sobrar no mês
pode ser usado para seu lazer).
• Segundo; minha herança paterna
deve ser dividida igualmente entre
o Michael e o Nicolas, meus
irmãos. Diga a eles que eu os amo,
mesmo que eu não tenha dito isso
muitas vezes. Eles são pessoas
fascinantes e tão brilhantes que eu
sei que, seja lá quanto dinheiro
minha parte na herança possua,
eles não vão precisar dele.
• Terceiro; minha herança materna
pode ser toda doada para alguma
instituição de caridade (talvez
um orfanato ou algo do tipo). Minha
mãe decidirá isso. Ela tem um
coração de ouro.
• Quarto; todos os meus bens
materiais devem ser administrados
pelo Bruno. Ele sabe o que eu faria
com eles, e eu sei que ele cuidará
de tudo o que foi precioso para
mim com perfeição. Eu confiaria
minha vida ao Bruno. E ele sabe
disso.
• Quinto e último; essa carta deve
ser guardada com meu pai e apenas
com ele (mesmo que possa ser
lida por qualquer outra pessoa que
eu tenha citado acima).
É isso.
Foi ruim ter que escrever tudo? Foi.
Provavelmente a pior sensação que
eu já senti em toda a minha
vida. Mas eu tinha que o fazer.
Agora eu vou sair do quarto e dar a
noticia para todos da minha família
sobre a cirurgia.
Espero queimar essa carta quando
eu voltar.
Mas, se isso não acontecer, avisem
a Susan que ela foi a melhor coisa
que já aconteceu em toda a
minha vida. Eu a amo. Ela sabe
disso. Todo mundo sabe disso.
Digam o mesmo para o Micael,
quando ele crescer. Ele é a coisa
mais fascinante que eu já tive a
honra de tocar.
Muito obrigado ao Michael,
Nicolas e Bruno. Meus irmãos. Sem
vocês, eu não seria nada.
Mãe, pai e avó; eu não preciso nem
comentar. Vocês sabem. Vocês
sabem o que vocês significam
para mim e sabem que tudo –
absolutamente tudo – que eu sou só
existe por causa da forma como
vocês me moldaram. Eu amo vocês.
- Joshua Montenegro Hunter
Fechei os olhos depois de ler,
tentando me lembrar de como se
respira.
Michael estava com o braço no meu
ombro desde que eu havia
começado a chorar – mais ou
menos
depois da primeira linha – e me
apertava forte contra ele.
– Eu sei. – Ele falou com
solidariedade.
Assenti com a cabeça e me encostei
em seu ombro, deixando as
lágrimas caírem sem parar.
Me pergunto se, algum dia, isso irá
passar.
[...]
O enterro do Joshua foi no dia
seguinte, no cemitério onde estavam
seus bisavôs.
O caminho até aqui foi silencioso –
assim como quase todos os outros
segundos desde ontem.
Não havia nada que pudesse ser
dito.
Fui ao lado dos Hunter até a
primeira fileira de cadeiras e me
sentei bem em frente ao pequeno
altar do padre. O caixão estava ao
lado dele, mas eu não o olhei. Eu
não conseguia olhar para ele
sabendo que o Joshua – meu Joshua
– estava ali dentro.
Ao meu redor, reconheci algumas
pessoas – como as meninas da
minha sala e quase todos os meus
professores – mas a maioria eram
desconhecidos para mim. Boa parte
dos desconhecidos eram
jovens da idade do Joshua,
provavelmente da faculdade dele.
Algumas pessoas vieram
cumprimentar os Hunter, dando
condolências. Felipe foi o único
que se
juntou a nós após dar seus pêsames,
sentando-se ao lado do Nicolas e o
abraçando com força.
Nicolas enterrou seu rosto no peito
do parceiro e eu finalmente o vi
chorando, com os ombros
tremendo enquanto o Felipe
acariciava as ondas suaves de seu
cabelo, apoiando o queixo da
cabeça
deste. Eles se amavam tanto.
– Por favor, sentem-se todos.
Levantei os olhos para o padre na
minha frente, que tinha uma Bíblia
em sua frente e usava uma
manta branca e simples, que
combinava perfeitamente com o tom
pacifico de seus olhos azuis claros.
Todos fizeram o que ele mandou e o
barulho de conversa foi
rapidamente substituído por um
silencio
ecoante.
O padre começou a discursar sobre
Deus, falando coisas como “tudo o
que Ele quer acontece por
uma razão” e “nosso querido
Joshua agora está em um lugar
muito melhor”. Mas eu não estava
prestando atenção. Ao invés disso,
eu observava o caixão do Joshua,
tentando imaginá-lo vivo lá
dentro, batendo na madeira
enquanto gritava para alguém o
ouvi-lo, com seu coração batendo
no
peito. Em minha mente, ouvíamos o
barulho do Joshua e corríamos para
abrir a caixa de madeira, o
tirando de dentro com vida. Eu o
beijava. Eu dizia que o amava e
segurava a mão dele sem acreditar
que isso estava mesmo
acontecendo.
Fechei os olhos com dor.
Até sonhar ficava torturante quando
o sonho era tão impossível.
–... E agora eu vou pedir para que
alguém da família venha fazer um
pequeno discurso sobre a
importância do Joshua – o padre
falou depois de quase 20 minutos.
Olhei ao meu redor enquanto os
Hunter decidiam silenciosamente
quem iria falar. Dona Nicole usava
um óculos escuro grande e negou
com a cabeça no mesmo segundo,
soluçando em seguida. Senhor
Fernando a abraçou e fez que não
com a cabeça também. Nicolas
ainda estava nos braços do Felipe,
com a cabeça encostada de leve em
seu ombro, com lágrimas
silenciosas caindo de seus olhos
claros.
Michael se levantou.
Ele era o único que tinha condições
de falar.
Observei levemente surpresa
enquanto ele caminhava até o altar,
dando lugar ao padre. Ele ajeitou a
gravata branca e passou a mão pelo
cabelo, notavelmente
desconfortável.
Seus olhos foram até os meus e ele
respirou fundo enquanto mexia no
microfone para ficar na sua
altura.
– Bem, – começou ele, falando
baixinho e com seriedade. Ele não
desviava os olhos dos meus. –
como vocês podem notar, há muitas
pessoas aqui. Provavelmente o
dobro do que normalmente em
ocasiões como essa. E eu sei o
porquê disso – ele suspirou antes
de continuar, como se estivesse
buscando palavras. – Porque era o
Joshua. E tanto eu quanto vocês sei
o quão significante ele era. E
ninguém, nem mesmo eu, precisaria
falar isso em voz alta. Era só
conversar com ele por mais de
cinco minutos. Ele emitia sua
energia brilhante com naturalidade,
sem esforço algum. Ele emitia
essa... Liderança. Como se sempre
soubesse exatamente o que deveria
ser feito a seguir. E ele
sempre foi assim. – Agora Michael
falava quase rápido, como se
estivesse fascinado em lembrar-se
do irmão. – Ele sempre esteve um
passo a frente de todos nós, mesmo
sem saber. Ele era brilhante,
inteligente e engraçado ao mesmo
tempo. Era fácil amá-lo. Eu sei
disso por que já tentei sentir o
contrário, já tentei nadar contra a
corrente que era o Joshua, sempre o
puxando para o seu lado. E foi
impossível, mesmo que tenha dado
certo por algum tempo. Eu sempre
voltava. E ele sempre estava
lá, de braços abertos para me
perdoar e dizer que, mesmo depois
de tudo, eu era seu irmão, todas as
vezes que eu fazia isso – ele parou.
Todos estavam imóveis, esperando
ele continuar. – Eu tive a
honra de ser irmão do Joshua. De já
nascer com uma pessoa tão
fascinante ao meu lado, mesmo que
às vezes eu não notasse o quão
especial ele era. É tão fácil ter
raiva de algo que brilha demais; é
tão fácil achar que isso o ofusca,
quando, na verdade, o ilumina. E é
por isso que existem tantas pessoas
aqui. Porque era o Joshua. E isso
sempre foi autoexplicativo. Não era
qualquer um, sabem? Não era
um cara que você possui ele e mais
quatro iguais. Não, não, nada disso.
Era o Joshua. Era meu irmão.
Era a única pessoa que eu me
sentiria honrado em copiar. Porque
ele sabia de mais coisas do que
qualquer um de nós – ele parou
novamente, por mais tempo dessa
vez. Suas palavras ecoavam em
minha mente. – E eu o amava,
apesar de não me lembrar de ter
dito isso mais de duas vezes para
ele.
Não houve palmas. Não houve
assobios ou qualquer outro barulho
que poderia ter. Não, longe disso.
Todos estavam estáticos enquanto
Michael descia do altar e se
sentava ao meu lado, quieto.
Ninguém
parecia esperar por esse discurso
vindo do Michael – nem mesmo eu,
para ser sincera.
O padre voltou para o altar. Até ele
parecia surpreso.
– Isso foi... Belo – ele comentou
devagar. – Creio que todos aqui
concordem plenamente com você.
Assenti com a cabeça.
Eu concordava.
Michael deu de ombros e olhou
para o chão, como se pensasse se
disse ou não a coisa certa.
Então o senhor Fernando se
levantou de repente.
Olhei pra o Hunter que caminhava
até nós, parando bem em frente ao
filho mais novo.
Michael levantou os olhos para ele,
que o olhava em algo parecido com
choque.
– O que eu fiz de errado? –
Perguntou na defensiva.
Senhor Fernando negou com a
cabeça e se inclinou para o filho,
respirando fundo antes de falar.
– Me perdoe, Michael.
Olhei para ele sem acreditar.
Michael parecia igualmente
surpreso.
– Eu fui um péssimo pai por anos e
eu sei disso. Por favor, me perdoe –
ele implorou com humildade.
Seu rosto nunca foi tão parecido
com o do Joshua. – Só agora eu
percebi o tamanho do seu coração.
Me perdoe por demorar tanto. Eu
fui um cretino.
Michael abaixou a cabeça,
respirando fundo para se controlar.
– P-pai... – ele gaguejou fraco. Ele
não podia acreditar no que estava
ouvindo.
Senhor Fernando passou os braços
ao redor do Michael e o abraçou.
Eles ficaram assim um tempo,
sentindo um ao outro de uma forma
que nunca haviam feito antes.
– Eu amo você, filho, mesmo que
nunca tenha te dito isso.
Eles se afastaram apenas o bastante
para se olhar.
Michael sorriu com o canto da boca
enquanto olhava para cima,
tentando ao máximo não chorar. Eu
não podia nem imaginar o que ele
estava sentindo agora.
– Eu também amo você, pai.
47. Eu esperaria
✣Joshua✣
O começo foi ruim.
Eu fiquei desesperado, é claro. Eu
achei que tivesse perdido tudo, bem
no momento em que eu não
precisava de mais nada.
Eu tinha um filho, pais que me
amavam, irmãos que eram meus
amigos e amigos que eram como
meus
irmãos.
E eu tinha a Susan; um grande e
explosivo amor para a vida inteira.
Eu, com apenas 20 anos, tinha
conquistado tudo que algumas
pessoas com 40 ainda nem
sonhavam
em conseguir. Eu era a pessoa mais
feliz do mundo.
E, no entanto, eu morri.
Não sei quanto tempo se passou até
eu me acostumar com a ideia, mas
posso prometer que não foi
como no mundo mortal; o tempo
passa de um jeito diferente por
aqui. É complicado.
Mas eu consegui, em algum
momento, entender por que eu tive
que ir embora. A mente fica mais
clara
quando passamos para esse lado.
E eu descobri que era um espírito
de luz – ou um anjo, se quiser
chamar assim.
Quando eu nasci, salvei o
casamento dos meus pais. Eles
estavam numa crise de alguns
meses por
causa de uma discussão forte; e
minha mãe estava jogando suas
coisas em sua mala quando viu um
pacote de absorvente fechado. Ela
não menstruava há dois meses.
Houve gritos e choros. Eles
voltaram e se casaram. Com a
minha vinda, perceberam que se
amavam
acima de qualquer discussão.
Essa foi minha primeira missão.
Ao crescer, fui o irmão que os pais
do Bruno não puderam dar para ele;
o tirei da solidão mesmo sem
ter noção disso. Eu o guiei e ele me
guiou dia após dia até que os meus
dias acabassem. E Bruno
rezou para mim todas as noites,
mesmo depois de eu ter ido
embora.
Minha segunda missão durou minha
vida inteira e foi a mais fácil de ser
executada.
Também teve o Michael.
Admito que, no começo, eu só
baguncei a vida dele. Meu pai era
parcial, emitindo mais amor para
mim do que para qualquer outro
filho – não que eu fosse o culpado,
é claro, eu não pedi para isso
acontecer; mas eu tinha minha
parcela de culpa.
No entanto, eu o fiz amadurecer
enquanto estava vivo e, ao ir
embora, eu deixei um espaço que
deveria ser dele o tempo todo. Ele
recebeu o amor do meu pai, que
estava guardado abaixo do amor
por mim.
Minha terceira minha missão só foi
concluída com a conclusão da
minha vida.
A minha quarta e principal missão
foi a Susan, foi meu amor e minha
dedicação a ela. Foi a mais
intensa de todas, que exigiu mais
esforço de mim, mas essa vocês já
conhecem.
[...]
Olhei para o garoto loiro à minha
frente. Ele não me notou; sua
concentração estava voltada a uma
gravata vermelha que ele não
conseguia colocar.
Tossi baixinho, chamando sua
atenção.
Ele se virou para mim, levemente
surpreso pela minha presença, mas
não assustado com ela.
- Você não cumpriu sua promessa –
falou enquanto voltava sua atenção
para a própria roupa. – Eu
achei que te veria no meu
aniversário.
Passei a mão pela cabeça, irritado
comigo mesmo.
- Nunca fui bom com juramentos –
confessei. – Me desculpa?
Ele deu de ombros, tentando
esconder o quanto estava magoado
comigo. Fui até ele e parei em sua
frente, o forçando a olhar para mim.
- As coisas nesse lado são
diferentes, Matheus. Eu perco a
noção do tempo às vezes.
- Muitas vezes – corrigiu ele.
- Você não vai me desculpar? –
Perguntei.
- Claro que vou, Joshua – ele sorriu
com leveza. – Eu entendo.
- Não, você não entende; mas
obrigado por me perdoar – disse
sorrindo de volta.
- Enfim, por que você está aqui
então?
- É aniversário da sua mãe, eu não
poderia perder. E faz tempo que eu
não vejo aquelas pessoas.
Ele abriu a boca para dizer que eu
poderia ver mais vezes se eu
quisesse, mas se calou no mesmo
segundo. Ele era compreensivo
como a mãe.
- Papai está preparando essa festa
faz quase um mês; ele disse que não
é todo dia que se faz 40 anos e
chamou todas as pessoas possíveis
– comentou.
Observei o garoto de 13 anos com
atenção enquanto o ouvia falar. Ele
era mais maturo do que os
outros meninos da sua idade e seu
dom nato de enxergar além do
plano corporal me deu a
oportunidade de conversar com
alguém da família.
Me lembro quando apareci para ele
pela primeira vez, quando ele tinha
um ano. Não havia percebido
que ele me notava até que ele
chorou quando eu saí do cômodo
onde ele estava. Voltei no mesmo
segundo, intrigado. Ele me
acompanhou com os olhos e
levantou as mãos, como se pedisse
para eu o
pegar no colo – coisa que eu não
poderia fazer, é claro. Então eu fui
embora; voltando apenas dois
anos depois e o vendo novamente,
com ele me pedindo para brincar de
bonecos com ele. E isso
continuou com mais frequência até
que eu o acostumei com a minha
presença quase diária até seus
oito anos. Os pais dele achavam
que eu era seu amigo imaginário.
Eu gostava desse tempo.
Mas então ele cresceu e sua vida
começou a ficar um pouco ocupada
e eu me afastei dele aos poucos,
vindo apenas de vez em quando vê-
lo. Nós tínhamos nos tornado
amigos, de certa forma, apesar das
minhas visitas terem ficado cada
vez mais raras.
Então eu ouvi batidas na porta, me
tirando dos meus pensamentos.
Matheus olhou para mim com o
rosto intrigado. Ele gostava de me
ver fazendo “coisas de fantasma”
– como ele chamava quando era
pequeno.
- É seu pai – falei.
Ele sorriu satisfeito e abriu a porta
do quarto.
- Se você demorar mais vai perder
o começo da festa – reclamou o pai
dele assim que entrou. Seus
olhos desceram até sua gravata mal
colocada e ele sorriu com diversão.
– Problemas ai?
Matheus assentiu, levemente
envergonhado por não ter
conseguido colocar.
O pai foi até ele e fez um nó em
poucos segundos, ajeitando sua
camisa social em seguida. Um
sorriso orgulhoso surgiu em seu
rosto.
- Agora está perfeito.
Eles sorriram um para o outro.
- Então, já podemos descer? –
Matheus perguntou.
- Claro, sua mãe já deve está na
sala – respondeu o pai, se virando
para sair do quarto.
Matheus e eu o seguimos pelo
corredor e descemos as escadas
para o primeiro andar. Sua casa era
enorme – até maior do que a que eu
morei. Eu tinha muito orgulho da
mãe dele por ter conquistado
tudo isso. Ela merecia.
Fomos até a sala principal e vi a
mãe e a irmã do Matheus sentadas
no sofá, conversando enquanto os
convidados não chegavam. Ambas
sorriram para eles, que se juntaram
a elas.
- Parabéns – falei para a mãe dele,
mesmo sabendo que ela não podia
me ouvir. – Eu amo você.
Matheus olhou para mim por um
segundo, rapidamente desviando
para outro local. Ele fingia que não
conseguia me ver quando estava
com a família.
Susan franziu o cenho por um
segundo, sentindo minha presença.
Queria que ela conseguisse me ver,
mesmo que só por um minuto; mas
sabia que isso não faria bem a ela.
Foi muito complicado para ela
me perder e demorou muitos anos
até que conseguisse acordar para
um novo dia sem sentir uma dor
no peito. Eu não a faria relembrar
de tudo isso. Ela merecia ser feliz.
E por isso – pelo amor
incontrolável e eterno que eu sinto
por ela – eu estava aqui, esperando.
Esperando pelo momento em que
ela irá se juntar a mim – que eu
espero que demore muito, é claro;
ela ainda tem muita coisa para
viver. Eu não passaria para o
próximo plano até que isso
estivesse
concluído. Eu podia esperar. Por
ela.
Seu marido se sentou ao seu lado e
eu os observei. Ela ainda era linda,
exatamente igual à Melissa na
época em que a conheci. Suas
curvas eram bem marcadas devido
à academia, mas sua beleza era
natural; seus olhos brilhavam sem
esforço e seu cabelo castanho,
agora cortado no ombro, descia
suavemente até tocar sua pele. Eu
poderia admirá-la por mais
cinquenta anos e não me importaria.
No entanto, levantei os olhos para a
porta, sentindo a presença de pelo
menos dez pessoas. Matheus
seguiu meu olhar e esperamos
alguns segundos até ouvirmos a
campanhia.
Alice se levantou num pulo e correu
para a porta de entrada, ajeitando o
cabelo longo e escuro. Ela
era a adolescente mais bonita da
sua escola – e provavelmente da
cidade inteira. Seu cabelo era tão
negro que brilhava em contraste a
pele branca e os olhos claros,
exatamente iguais aos do irmão.
Assim que abriu a porta, uma
enxurrada de gente entrou na grande
casa, todos conversando e rindo.
Exatamente dez pessoas. Susan, do
outro lado da sala, se levantou e foi
até seus amigos, com o
marido ao lado, sorrindo.
Bruno foi o primeiro a abraçá-la e
dar seu presente. Seus olhos azuis
agora possuíam a companhia de
rugas de sorriso e seu cabelo,
outrora completamente preto, agora
estava com alguns fios brancos. A
idade o fez bem, eu tinha que
admitir.
Amanda correu para abraçar a
amiga depois do marido. Sorri para
elas. Susan conseguiu manter a
maior parte das amizades do
colegial. Ela tinha noção do quanto
a amizade é algo importante e
cultivou todas elas, dando o seu
melhor sempre.
- Cadê o Jay? – Susan perguntou se
referindo ao filho deles, Joshua.
Lembro-me de quando Amanda
ficou grávida, no mesmo ano em
que Felipe e Nicolas tiveram seu
primeiro filho por fertilização
assistida. Houve uma briga para
quem usaria o nome Joshua para a
criança, mas meu irmão acabou
cedendo quando percebeu que meu
sangue correria pelas veias do
menino, não importando qual o
nome que ele tenha, enquanto o do
Bruno não possuiria tais genes. O
que é um ótimo exemplo de como
os anos se passaram e Nicolas
continuou o mesmo coração doce,
apesar de tudo que aconteceu.
- Deve estar por ai com a sua filha
– rebateu Bruno rindo. – Alice o
pegou de jeito.
O pai dela empurrou o ombro do
Bruno, soltando uma risada. Eles
eram amigos.
- Seu filho que é muito atirado.
- Ele é apenas um conquistador –
retrucou Bruno.
Susan riu e deixou-os conversando,
indo em direção a outro grupo.
- Meu amor! – Cumprimentou
Nicolas enquanto a tomava nos
braços. – Parabéns, bebê. Mais
quarenta anos pela frente, por favor
– disse que o mesmo tom suave de
sempre. Sua voz mal
engrossou ao longo dos anos e
quem o visse diria que era muito
mais novo do que sua idade real.
Nicolas sempre soube se cuidar
bem.
Ela sorriu agradecida e se virou
para receber um abraço do Felipe.
- Tudo de bom, Susan. Hoje e
sempre – falou o Felipe com a voz
grossa e gentil ao mesmo tempo.
Ele a considerava como uma irmã.
- Obrigada meus amores – ela
respondeu grata, pegando o
presente deles e colocando na
mesinha ao
lado.
- Feliz aniversário tia – desejou o
filho mais velho deles, Luís. Seus
olhos eram azuis tão claros
quanto os do Nicolas e brilhavam
da mesma forma. Ele a abraçou por
mais alguns segundos antes de
se afastar e segurar a mão de uma
garota ruiva. – Essa é a minha
namorada, Milena.
- Oi tia – disse a garota sorrindo
com o rosto salpicado de sardas.
Ela era filha do Eduardo e da
Monica. – Parabéns!
- Sempre soube que vocês iam
acabar namorando – Susan
comentou com um sorriso e eles
coraram
de leve.
- Enzo não pôde viajar a tempo da
França para cá, mas ele já deve ter
mandado os parabéns pelo
celular – Nicolas explicou sobre o
filho mais novo, que estava fazendo
faculdade de música na
Europa. Ele era muito bom, para
ser sincero. Seus genes eram os do
Felipe, o que o proporcionou um
lindo cabelo liso e castanho e um
par de olhos cor de mel. Ambos os
filhos deles eram bonitos – e
héteros, caso alguém tenha dúvidas
sobre isso.
Susan fez que sim com a cabeça,
olhando ao redor como se estivesse
incomodada com alguma coisa.
Era a segunda vez no dia que ela
sentia minha presença.
Fui para frente dela, tentando
focalizar minha energia para que
ela conseguisse me ver –
esquecendo
completamente meu acordo interno
de não aparecer para ela.
Por um segundo, ela arregalou os
olhos, que estavam parados mais ou
menos no meu nariz, mas
rapidamente balançou a cabeça.
- O que foi? – Perguntou Nicolas.
Ela deu de ombros, ainda intrigada.
- Eu poderia jurar que... Esquece –
ela balançou a cabeça novamente. –
Já volto.
Nesse segundo, percebi que ela não
havia me visto realmente, mas
apenas o meu contorno. Ela
contaria para o Nicolas se tivesse
enxergado o irmão dele.
A segui pelo salão, observando
todas as mesas lotadas – as pessoas
estavam chegando enquanto eles
conversavam. Ela era muito querida
por todas as pessoas que estavam
ao seu redor.
- Susan! – Anna chamou, correndo
até a melhor amiga de anos e a
abraçando com força. – Parabéns
amor.
Elas sorriram e se abraçaram, já
começando a falar sobre a vida.
Elas haviam chegado ao nível de
amizade que eu possuía com o
Bruno.
Deixe-as conversando e fui atrás do
Micael; eu não o via desde o dia do
nascimento do seu filho.
Varri os olhos pela sala e percebi
que ele não estava em nenhuma das
mesas. Fui até a cozinha,
imaginando que ele poderia estar
ali para esquentar uma mamadeira
ou algo do tipo.
Eu estava certo. Assim que entrei
na cozinha o vi segurando o
pequeno Nando com uma mão
enquanto lavava uma chupeta com a
outra. Andei até ficar em frente a
eles, observando com orgulho
o homem que havia se tornado meu
filho. Ele era alto e forte devido às
horas de malhação intensa,
sua pele era bronzeada e seu cabelo
havia escurecido um pouco com o
tempo, tomando o tom de
castanho claro. Ele poderia passar
a ideia de durão, se não fosse por
aquele par de olhos verdes
angelicais, que transmitia com
sinceridade a alma doce que ele
possuía.
- Quero a mamãe! – Pediu a criança
que tinha mais ou menos dois anos
de idade, balançando as
perninhas em protesto.
Micael suspirou, olhando para o
próprio filho.
- Mamãe está na casa da vovó
agora, você sabe que ela não pode
ficar saindo de casa por causa da
sua irmãzinha – explicou
suavemente e pelo seu tom eu
percebi que não era a primeira vez
que ele
tinha que dizer isso.
Olhei para o bebê pela primeira
vez, observando seus traços. Seu
rosto me lembrava muito os traços
da Anna, mas seus olhos eram
levemente puxados como os da
mães. Senti meu ser vibrar ao notar
o
tom deles; azuis Denim. Ele tinha
meus olhos. Sorri feliz com esse
fato e me inclinei para ver melhor.
Então, ele olhou para mim.
Seus olhos foram até os meus e ele
sorriu, batendo palmas. Me afastei
por um segundo, surpreso. Ele
continuou me olhando, agora
curioso com a minha reação. Seus
bracinhos se ergueram para mim e
eu
neguei com a cabeça devagar,
aliviado pelo Micael não ter notado
os gestos do filho.
Os olhos dele se encheram de
lágrimas pela minha rejeição. Fiz
uma careta que aprendi quando era
criança e ele soltou uma risada,
atraindo a atenção do Micael.
- Em que você está pensando,
anjinho?
- No avô dele – respondi baixinho,
sorrindo.
Sai de perto deles, ouvindo um
choro ao longe quando entrei na
sala.
Agora até mesmo os sofás estavam
lotados de gente, conhecidas e
desconhecidas para mim.
Duas crianças passaram por mim
correndo, brincando de super-herói.
Reconheci no mesmo segundo
como sendo os gêmeos filhos da
Bia e do Richard; eles foram os
últimos da turma a ter filhos, já que
escolheram fazer doutorado e pós-
doutorado antes de constituir uma
família. Eles foram o único
casal que praticamente não
brigaram em 20 anos juntos – até
mesmo Bruno e Amanda passaram
por
algumas crises, nada demais, é
claro, mas houve. E todo o amor da
Bia pelo Richard apenas se
multiplicou quando descobriu sua
gravidez, há mais ou menos sete
anos, de um lindo casal de gêmeos
– Letícia e Robert, os dois com as
covinhas do pai, os olhos escuros
da mãe e a inteligência de
ambos. Robert aprendeu a ler com
três anos enquanto Letícia
conseguia recitar todos os números
de 0
a 100 em francês, inglês e italiano.
Sorri ao passar pela mesa deles
com os outros ex-alunos da classe
da Susan e do Nicolas; Elena e
Pedro estavam de mãos dadas por
baixo da mesa enquanto Isabela e
seu marido davam um selinho –
Acabou que não deu certo entre ela
e o professor, mesmo que a paixão
deles tenha durante todo o
ensino médio dela e até o começo
da faculdade. Mas ela estava feliz e
apaixonada pelo Joe, que
conheceu durante uma viagem para
os Estados Unidos –. Gabrielle e
Arthur discutiam sobre o
estúdio de música deles com a
Clara e o Caio, todos eles casados,
com seus filhos espalhados pela
casa, conversando e rindo – a
maior parte deles estudavam na
mesma sala, no JK.
- Obrigada, Dona Nicole – ouvi a
voz da Susan agradecendo em
algum lugar perto de mim.
Me virei em direção a elas e fui até
uma mesa maior do que as outras,
com meus pais, a mãe da
Susan e a mãe da Anna.
- Parabéns Susan – meu pai falou se
levantando para abraçá-la. Sorri
com a visão, mesmo que já
tivesse visto centenas de vezes.
Desde que eu fui embora, meu pai
havia começado a perceber mais
nas pessoas ao seu redor. Ele
aprendeu da pior forma possível
que não se deve colocar alguém
acima
de todas as outras pessoas.
Melissa sorriu, mostrando algumas
rugas ao redor dos olhos escuros e
brilhantes como os da filha.
Ela não poderia estar mais
orgulhosa da filha, que havia
conquistado simplesmente tudo de
bom que
se pode querer. Eu entendia o que
ela estava sentindo.
- Boa noite a todos.
Levantei a cabeça para o palco
colocado no final do salão, com o
marido da Susan segurando um
microfone.
Todos se calaram instantaneamente
e olharam para o homem alto e
bonito usando uma camisa social
preta, destacando-se em sua pele
clara. Ele respirou fundo antes de
falar, pensando no que iria dizer.
- Acho que, agora que todos os
convidados chegaram, eu posso
fazer um discurso para o amor da
minha vida – das nossas vidas,
corrigi internamente. Susan sorriu
ao se aproximar do palco. – Bem, –
ele fez outra pausa, esperando a
Susan se senta a sua frente. Eles
sorriram um para o outro – você
salvou minha vida. Você salvou
minha vida de todas as formas que
uma pessoa pode salvar outra.
Porque você me mostrou, sem
esforço algum, o que é senti alguma
coisa por alguém. Você é o tipo de
mulher que transforma os homens,
que pega suas essências e as molda
com amor. Você é diferente –
ele parou novamente. Eu
concordava com ele em todos os
sentidos. – Eu lembro que, no
começo, eu
tentei negar o que eu sentia por
você por causa da nossa história.
Você era minha melhor amiga,
sabe? Eu tinha aquele clássico
medo adolescente de estragar nossa
amizade. Isso sem contar os
outros fatores que todos aqui sabem
muito bem – houve um silencio
geral. Ele estava se referindo a
mim. Ele suspirou por um segundo.
– Mas eu não consegui. Não por
muito tempo. Você era especial
demais para eu deixar ir embora,
você era especial demais para eu
ter apenas como amiga. Eu tinha
que tocá-la, Susan. Porque eu
estava, e estou, completamente
apaixonado por você. E eu sei que
algumas pessoas tem a ignorância
de dizer que o amor vira rotina ao
longo dos anos, mas elas não
estão certas. Eu poderia viver mil
anos e, mesmo assim, eu amaria
você na mesma intensidade em
que amo agora. Ou talvez mais.
Porque você me conquista dia após
dia. E eu sou o homem mais feliz
do mundo por ter você ao meu lado.
Todos aplaudiram. Susan subiu no
palco e o beijou.
Sorri. Eles se amavam e ele fazia a
Susan feliz. Era isso, e apenas isso,
que importava para mim.
Anna – que estava na mesa com seu
marido Dylan, primo da Clara –
soltou um grito de felicidade e
puxou um parabéns, ecoando por
toda a casa. Um dos garçons correu
para empurrar a mesa com o
enorme bolo para o centro da sala e
ligou as velas. Susan, seu marido,
Matheus e Alice foram para
lá, ao redor da mesa.
Aplaudi junto deles, mesmo que
não emitisse som. Ouvi uma risada
infantil vinda da mesa do Micael
e me virei para sorri para o meu
neto. Ele encontrou meus olhos e
riu ainda mais, com as bochechas
rosadas e adoráveis salientando o
rosto gordinho.
Girei o corpo novamente para o
centro do salão e vi o Matheus
piscando para mim, sorrindo
enquanto batia palmas para a mãe.
Sorri de volta, sentindo as
vibrações de felicidade emanando
de
todo o local. Será que a Susan tinha
noção do quanto era amada?
Olhei para as mesas, sentindo
minha atenção sendo atraída por um
cabelo longo e ruivo. Jane estava
aqui. Fui até ela, surpreso com a
sua presença. Ela sorria ao lado de
um homem de ombros largos e
sorriso arrogante. Senti meus olhos
se arregalando ao perceber que era
o David, meu primo. Seus
olhos azuis Denim foram o bastante
para me confirmar isso. Ele estava
com a mão pousada sobre a
sua coxa e eu podia sentir a enorme
tensão sexual entre eles. Sorri
comigo mesmo. Observei que não
havia nenhum adolescente ou
crianças perto deles e cheguei à
conclusão de que ela não havia tido
filhos. Era de se esperar,
considerando sua personalidade e
do David. Eles combinavam.
- Tia, você viu meu pai? – A
menina ruiva que eu vi no começo
da festa perguntou; seus olhos
castanhos se tornavam dourados
perto da pupila e ela tinha um
sorriso lindo.
- Acho que ele está na mesa com o
Richard e o Pedro, Milena – ela
falou apontando para uma mesa
apenas com homens.
- Obrigada. E oi tio David – ela
cumprimentou sorrindo para meu
primo, que apenas deu de ombros,
pouco interessado. Sempre um
cretino.
A segui até a mesa e sorri ao ver o
Micael e o Bruno sentados um ao
do outro. Bruno o tratava como
próprio filho muitas vezes, dando
conselhos e o ajudando sempre que
podia. Ele o amava e o Micael
sentia o mesmo.
- ...Então eu decidi fazer outra
quadra de esporte para as crianças
– Bruno continuou a história que
estava contando, seus olhos
brilhando de orgulho ao falar da
própria escola de ensino
fundamental I.
- Quantas são as escolas mesmo
participam da redé? – Richard
perguntou curioso, seu sotaque
inglês
acentuando algumas palavras.
- Contando com a JH daqui da
cidade, ainda possuímos cinco no
Sul, três no Norte, duas no
Nordeste
e seis no Sudeste, mas estamos
providenciando a primeira no
Centro-Oeste – ele falou com o
mesmo
tom de voz que um pai falaria de
um filho. – E eu estou pensando em
começar uma com o fundamental
II e o ensino médio, com o nome de
JH também.
- Creio que JH signifique Joshua
Hunter, certo estou? – Richard
indagou com os olhos brilhando de
curiosidade. Ele sempre queria
saber mais sobre tudo.
Micael abaixou a cabeça por um
segundo, respirando fundo. Eu sei o
quanto ele gostaria de conseguir
se lembrar de mim, mas era
impossível, considerando o pouco
tempo em que estivemos juntos e a
idade que ele possuía. Nós não
tiramos nenhuma foto juntos
enquanto eu estava vivo. Eu achei
que
teria tempo para isso.
- Você sempre está certo Rick – o
Eduardo falou com humor para
aliviar o clima.
Bruno parecia ter esquecido-se do
que estava falando por um momento
e um suspiro passou pela sua
boca.
- Não poderia ser diferente. Joshua
queria ser professor, então nada
mais justo do que eu abri minha
escola com seu nome... – Ele parou,
refletindo. Seus pararam de brilhar.
– Eu apenas pequei em ter
feito uma apenas para crianças, já
que ele queria ser professor de
Física. Mas eu vou me redimir; até
o fim desse ano eu começo a
construção de um segundo andar na
escola JH e abro as matriculas para
até o terceiro do ensino médio.
- Assim que abrir me avise para eu
matricular a Iana – Pedro falou se
referindo a filha dele com a
Elena.
- Milena também irá estudar lá, o
que vai trazer o Luís no mesmo
segundo – Eduardo comentou rindo.
- Ouvi o nome do meu filho? –
Felipe perguntou, aproximando-se
da mesa com a mão na cintura do
Nicolas.
Eles sorriram e abriram espaço
para mais duas cadeiras. Eles se
sentaram ao redor da mesa, Nicolas
ao lado do sobrinho e do marido.
Eu os amava tanto.
- Pai, vem ver!
Joshua apareceu correndo até a
mesa, segurando o pequeno Nando
no colo. Seus cabelos negros
balançavam com leveza enquanto
seus olhos puxados brilhavam. Ele
era a cara da mãe, mas
escandaloso como o pai.
Micael sorriu automaticamente ao
ver o filho, exatamente como eu
fazia ao vê-lo muitos e muitos
anos atrás.
- O que foi menino? – Bruno
perguntou.
- Fala de novo, Nandinho – Ele
pediu para a criança em seu colo
que, pelas bochechas mais
vermelhas do que normalmente,
estava correndo por ai antes de vim
parar aqui.
- Jayjay vai brincar! – O menino
disse agitando os braços.
O sorriso do Bruno se apagou,
assim como o meu. Micael também
parecia incomodado, lembrando-
se de quantas vezes sua mãe
comentava sobre como ele me
chamava.
- O que foi? – Joshua perguntou
estranhando as reações.
- Nando, não o chame assim, ok? É
só Jay – Micael falou para o filho,
mesmo sabendo que ele não
entenderia o que estava
acontecendo.
- Mas eu gostei de Jayjay –
Reclamou o adolescente.
Bruno o encarou.
- Não. – Disse simplesmente. –
Existem coisas que não podem ser
contestadas, Jay.
Ninguém o chamava de Joshua.
Nunca. Eu me sentia honrado com
isso, é claro, mas entendia que
devia ser difícil para ele ter um
nome que não podia ser dito sem
quer todos se entreolhassem
depois. Chamá-lo de Jay era mais
fácil para todo mundo.
Sai de perto deles, indo para onde a
Susan estava.
A mão do seu marido estava acima
da dela, com o seu dedão fazendo
pequenos círculos sobre ela.
Ele nem precisava dizer que a
amava para que todos soubessem
disso. E ela também o amava, é
claro. Não do mesmo jeito que ela
me amou, mas apenas porque
nenhum amor é igual a outro. Ela
não o amava mais nem menos,
apenas de forma diferente do que
foi comigo; até porque eles tiveram
algo que eu pude ter: tempo.
Tempo para se conhecer, tempo
para brigar e reconciliar, tempo
para constituir uma família e entrar
em uma igreja com ela usando um
vestido lindo, tempo, acima de
tudo, para se amar. Eu tive dois
meses com a Susan. Ele teve vinte
anos e até hoje. E a única coisa que
me impede de me sentir mal
por isso era o fato dele ser o
homem perfeito para ela.
Seus filhos estavam ao seu lado,
Alice ria de algo que estava lendo
no celular enquanto Matheus
conversava com a Laura, filha da
Gabrielle e do Arthur. Eles eram
melhores amigos desde o maternal
e todo mundo achava que eles
teriam um caso um dia. É claro que
eu poderia contar para ele que ela
seria a mãe de seus filhos, mas
preferia que ele descobrisse isso
sozinho, com o tempo.
Ela era linda, aquela família. Eles
eram unidos, acima de tudo. E
sempre que era possível – quando a
Susan não estava ocupada com seus
livros de sucesso ou o pai deles
com as aulas que dava para a
faculdade de Direito – eles
viajavam para algum lugar do
mundo. Susan era uma mãe
maravilhosa,
como era de se esperar.
E Alice e Matheus pareciam
esculpidos de tão bonitos,
divinamente abençoados com tanta
semelhança com a mãe.
Mas seus olhos eram do pai.
Verdes-mar, os olhos que o pai
deles puxou da avó
Os olhos que o Michael puxou da
mamãe.
Document Outline
1. Seja bem-vinda... Ou não
2. Irmãos Hunter
3. Aquele loiro só pode estar
brincando
4. O Passeio
5. Estranho e bom
6. Que porra foi essa?
7. Não sei como explicar
8. Almoço com os Hunter
9. Escola JK
10. Surpresas
11. Hunter que eu amo x
Hunter que eu odeio
12. Agora deu merda
13. Por que era tudo tão
complicado?
14. Talvez as coisas estejam
melhorando
15. Um ótimo dia
16. Festa do Bruno
17. Autocontrole de uns...
18. O resto de um dia ruim
19. Eu não iria aguentar viver
sem você
20. Ele me ama. Isso que
importa.
21. Pistas
22. Unidos pelo ódio
23. Nenhum Hunter é igual ao
outro
24. Jantar, revelações e Joshua
25. Primeira vez
26. Amor, amor, amor
27. O Acampamento
28. Plano cruel
29. A pior coisa que poderia
acontecer
30. Notícia ruim se espalha
rápido
31. Tentei não sentir pena
32. Cada irmão com seu
problema
33. A verdade, no fim, sempre
aparece
34. A segunda vez é ainda
melhor
35. O novo e o inesperado
36. Festa que deu errado
37. Depois
38. Os motivos do Michael -
Parte I
39. Os motivos do Michael -
Parte II
40. Eu não sabia o que pensar
41. Eu senti sua falta
42. Ninguém esperava por
essa
43. Anna
44. Notícias
45. Eu os amava
46. E todos nós o amávamos
de volta
47. Eu esperaria