Oswald de Andrade
Poemas Menores
Obra Completa
Sumário
Erro de português 3
Epitáfio 3
Hip! Hip! Hoover! 3
Glorioso destino do café 5
ERRO DE PORTUGUÊS
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
1925
EPITÁFIO
Eu sou redondo, redondo
Redondo, redondo eu sei
Eu sou uma redond'ilha
Das mulheres que beijei
Por falecer do oh! amor
Das mulheres de minh'ilha
Minha caveira rirá ah! ah! ah!
Pensando na redondinha
1925
HIP! HIP! HOOVER!
MENSAGEM POÉTICA AO POVO BRASILEIRO
América do Sul
América do Sol
América do Sal
Do Oceano
Abre a jóia de tuas abras
Guanabara
Para receber os canhões do Utah
Onde vem o Presidente Eleito
Da Grande Democracia Americana
Comboiado no ar
Pelo vôo dos aeroplanos
E por Todos os passarinhos
Do Brasil
As corporações e as famílias
Essas já saíram para as ruas
Na ânsia
De o ver
Hoover!
E este país ficou que nem antes da descoberta
Sem nem um gatuno em casa
Para o ver
Hoover!
Mas que mania
A polícia persegue os operários
Até nesse dia
Em que eles só querem
O ver
Hoover!
Pode ser que a Argentina
Tenha mais farofa na Liga das Nações
Mais crédito nos bancos
Tangos mais cotubas
Pode ser
Mas digam com sinceridade
Quem foi o povo que recebeu melhor
O Presidente Americano
Porque, seu Hoover, o brasileiro é um povo de sentimento
E o senhor sabe que o sentimento é tudo na vida
Toque!
1928
GLORIOSO DESTINO DO CAFÉ
Para o Germinal Feijó
Pequena árvore
Cheia de xícaras
Te dei
Adubo
Trato
Colono
Céu azul
E tu deste
A safra
Dos meus anos fazendeiros
Depois deste
O desastre
E de borco no chão
Me recusei
A achar desgraçados os meus dias
Senti que como tu
Pequena árvore
Milhões de homens de minha terra
Haviam sido queimados
Decepados dos seus troncos
Para que se salvasse
Sobre a miséria de muitos
O interesse dos imperialismos
E se apaziguasse a gula
De seus sequazes tempestuosos
E deste
Em xícaras
O travo da tua cor madura
Senti no teu calor
Aquecido nos fogareiros pobres
O rubi da revolução
E como muitos me armei
Cavaleiro de ferro
Nos lençóis rasgados
Dos cortiços
E nas praças tumultuosas
E como tu pequena árvore debordada
Debordado do latifúndio
Saí ao encalço da felicidade da terra
1944