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Tratamento Térmico em Ferro Fundido Branco Alto Cromo IID

Este trabalho estudou as propriedades como dureza, microdureza, quantidade de carbonetos secundários e desgaste da liga de ferro fundido branco classe II D tratada termicamente, com e sem tratamento prévio de recozimento. O objetivo foi verificar a possibilidade de aumento da resistência ao desgaste da liga mediante ajustes no tempo e na temperatura de tratamento térmico, e que o uso do estado inicialmente recozido pode possibilitar aumento da resistência ao desgaste e redução do tempo de desestabilização.

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Tratamento Térmico em Ferro Fundido Branco Alto Cromo IID

Este trabalho estudou as propriedades como dureza, microdureza, quantidade de carbonetos secundários e desgaste da liga de ferro fundido branco classe II D tratada termicamente, com e sem tratamento prévio de recozimento. O objetivo foi verificar a possibilidade de aumento da resistência ao desgaste da liga mediante ajustes no tempo e na temperatura de tratamento térmico, e que o uso do estado inicialmente recozido pode possibilitar aumento da resistência ao desgaste e redução do tempo de desestabilização.

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1

Otimização do Tratamento Térmico de Desesta-


bilização do Ferro Fundido Branco de Alto
Cromo Classe II D Usado em Moinhos Rolo
sobre Pista de Usinas Termoelétricas
P. Ortega, UFSC; P. Bernardini, UFSC e L.A, Torres, TRACTEBEL

ção da austenita (precipitação de carbonetos secundários, o


Resumo-Os rolos de moagem (dos moinhos rolo sobre que resulta no aumento da temperatura Ms da austenita) para
pista) de carvão utilizados nas usinas termelétricas são obtenção da máxima quantidade de martensita (logo, mínima
fabricados da liga de ferro fundido branco de alto cromo quantidade de austenita retida), dureza e resistência ao des-
da classe II D (norma ASTM A532). Tais rolos são trata- gaste abrasivo.
dos termicamente visando aumento da dureza e resistên-
cia ao desgaste, todavia, não há garantia de que o ciclo Assim, o presente trabalho teve os seguintes objetivos: a)
de tratamento térmico empregado atualmente resulte na investigar o efeito do estado inicial (bruto de fusão versus
máxima resistência ao desgaste. A literatura disponível recozido) sobre a dureza máxima obtida após desestabiliza-
apresenta dados sobre a maximização da dureza median- ção; b) investigar a relação entre dureza da liga e respectiva
te otimização da temperatura e do tempo do tratamento resistência ao desgaste visando maximizar tal resistência.
térmico. Portanto, neste trabalho são estudadas as dife-
renças nas propriedades como dureza, microdureza, II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
quantidade de carbonetos secundários e desgaste da liga
de ferro fundido branco classe II D tratada termicamen- A. Características dos Ferros Fundidos Brancos de Alto
te, com e sem tratamento prévio de recozimento. Verifi- Cromo
cou-se no presente trabalho a possibilidade de aumento
da resistência ao desgaste da liga atualmente empregada Os ferros fundidos brancos de alto cromo são ligas ferrosas
mediante ajustes no tempo e na temperatura de trata- com uma quantidade de cromo entre 11 -30% e 1,8 -3,6% de
mento térmico e que, o emprego do estado inicialmente carbono. Também é comum a presença de alguns elementos
recozido pode possibilitar o aumento da resistência ao de liga como silício, molibdênio, manganês, cobre e níquel
desgaste e a redução do tempo de desestabilização em [1]. A norma mais freqüentemente utilizada para classificar
relação aos utilizados atualmente. este tipo de ferro fundido é a ASTM A532.

Palavras-chave—Desestabilização, Desgaste, Ferro Fundido A microestrutura obtida em um dado ferro fundido branco
Branco Alto Cromo, Moinho Rolo sobre pista, Tratamento é resultante da composição química, da taxa de extração de
Térmico .
calor durante a solidificação e da velocidade de resfriamento
após a solidificação [2-5]. Em geral ao final da solidifica-
I. INTRODUÇÃO ção, os ferros fundidos brancos de alto cromo são constituí-
Os rolos e pistas de moinhos de carvão são fabricados de dos por uma fase primaria (dendrita de austenita) e um com-
ferro fundido branco da classe II D (norma ASTM A532). posto eutético M7C3) [6].
A microestrutura desta liga no estado bruto de fusão é cons-
tituída de carbonetos de cromo eutéticos dispersos em uma Os ferros fundidos brancos de alto cromo, no estado de
matriz metálica contendo elevada fração de austenita retida e trabalho, possuem em geral, uma elevada fração volumétrica
martensita. Após a solidificação, costuma-se empregar o de carbonetos eutéticos (10-30%) e uma matriz metálica que
tratamento de recozimento, visando uma redução de dureza pode ser constituída de diferentes proporções (dependendo
do material para fins de usinagem e, posterior a usinagem, é do histórico térmico) de austenita, carbonetos secundários e
realizado um tratamento térmico visando a desestabiliza martensita. A elevada fração volumétrica de carbonetos pro-
picia elevada dureza e, em geral, elevada resistência ao des-
gaste, o que torna estes materiais aplicáveis na indústria de
Agradecimentos a empresa Tractebel Energia pelo apoio nesta pesquisa. mineração e de cimento (equipamentos de moagem, carcaças
P. Ortega trabalha na Universidade Federal de Santa Catarina (e-mail: de bombas, revestimentos de moinhos e outros itens sujeitos
[email protected]).
P.A.N. Bernardini trabalha na Universidade Federal de Santa Catarina
a desgaste) [7,8].
(e-mail: [email protected]). Por outro lado, a possibilidade de se obter peças de geo-
L.A. Torres trabalha na Tractebel Energia (e-mail: ltor- metria complexa (devido emprego do processo de fundição),
[email protected]).
2

torna este material economicamente competitivo em relação temperatura resulta em maior solubilidade do carbono na
aos componentes usinados. austenita e, portanto, menor Ms e maior quantidade de aus-
tenita retida o que implica em menor dureza. Por outro lado,
quanto maior a temperatura de austenitização, maior a quan-
Finalmente, as propriedades dos ferros fundidos brancos
tidade de carbono dissolvido na austenita (maior precipita-
podem ser alteradas mediante modificações na composição
ção de carbonetos secundários) e a martensita resultante é
química e/ou no tratamento térmico visando diferentes obje-
mais dura (maior teor de carbono). As duas tendências opos-
tivos, tais como aumentar resistência à corrosão (aumentan-
tas acima explicam a existência de um pico de dureza ao
do o teor de cromo na liga) ou aumentar a dureza (mediante
longo da temperatura de desestabilização.
tratamento térmico) ou ainda aumentar a tenacidade (medi-
ante redução do teor de carbono e cromo, resultando em
menor quantidade de carbonetos na microestrutura) [9-11].

B. Transformações e Microestrutura Resultante no Final do


Resfriamento

Ao final da solidificação, os ferros fundidos brancos de


alto cromo são compostos essencialmente de dendrita primá-
ria de austenita e por um composto eutético (carboneto e
austenita). Os carbonetos do composto eutético não sofrem
posterior transformação ao longo do resfriamento subse-
qüente. Por outro lado, a austenita (tanto a da dendrita quan-
to do composto eutético), por ser rica em carbono e cromo,
apresenta elevada temperabilidade e elevada temperatura de
inicio (Ms) e de final (Mf) de transformação martensítica, Figura 1. Influência da temperatura de desestabilização na quantidade de
sofrendo transformações ao longo do resfriamento que de- austenita retida e dureza da liga.
pendem da velocidade de resfriamento no molde e da com-
posição química do ferro fundido [12]. E. Fenômenos que Ocorrem Durante a Desestabilização

A precipitação de carbonetos secundários depende da


C. Recozimento composição da liga e da temperatura de desestabilização
[14]. Os carbonetos precipitados podem ser M7C3, ou M23C6.
As peças feitas de ligas de ferro fundido branco de alto Em ligas de ferro fundido branco de alto cromo a precipita-
cromo que precisam ser usinadas antes da desestabilização, ção progride do centro da dendrita até a periferia dela.
para isso devem ser submetidas a um tratamento térmico de
recozimento, buscando obter uma matriz mais mole e com o O aumento da fração volumétrica de carbonetos precipita-
máximo de ferrita depois da solidificação. O fenômeno de dos ao longo do tempo (figura 2) resulta em redução do teor
decomposição da austenita em ferrita mais carbonetos ocorre de carbono dissolvido na austenita e, portanto, aumento das
aproximadamente entre 700 - 750°C. Para se obter a trans- temperaturas Ms e Mf, cuja conseqüência é diminuir a quan-
formação completa de austenita em ferrita, precisa-se de tidade de austenita retida (após o resfriamento) [14,15].
aproximadamente 6 horas a 700°C, dado obtido por meio do
ensaio de dilatometria[13].

D. Desestabilização

Quando se deseja diminuir a quantidade de austenita reti-


da (aumentar a quantidade de martensita) visando maior
dureza e resistência ao desgaste se emprega tratamento tér-
mico de desestabilização que consiste no tratamento equiva-
lente à tempera dos aços, porém com o emprego de maior
tempo de austenitização, visando desestabilizar a austenita.
Figura 2. Volume de precipitação de carbonetos secundários como uma
Especificamente, a desestabilização da austenita consiste função do tempo de patamar da desestabilização para cada temperatura
estudada.
em propiciar a precipitação de carbonetos secundários vi-
sando aumentar Ms e Mf e, portanto, diminuir a quantidade
de austenita retida (estabilizada) no material. F. Desgaste do Ferro Fundido Branco de Alto Cromo
A figura 1 ilustra que o aumento da temperatura de deses-
tabilização resulta em aumento da quantidade de austenita O desgaste se pode definir como a mudança cumulativa e
retida e na existência de um valor máximo de dureza, sendo indesejável nas dimensões de uma peça motivada pela remo-
que este máximo resulta de dois fenômenos. O aumento da ção gradual de partículas das superfícies que estão em conta-
3

to com movimentos relativos, devido às ações mecânicas.


Neste trabalho, o enfoque principal será o mecanismo de
desgaste abrasivo, que é o mecanismo predominante no des-
gaste dos moinhos rolos sobre pista.

As ligas de ferro fundido branco são resistentes ao desgas-


te dependendo do tipo de microestrutura que apresente a
matriz e a quantidade de fração volumétrica de carbonetos
presentes na liga [16-18]. Portanto, é importante estudar as
influências destes microconstituintes na resistência ao des-
gaste. Além do mais dependendo da microestrutura e do
ensaio abrasivo usado os resultados de desgaste podem ser
diferentes.

A dureza e a resistência ao desgaste não são diretamente


proporcionais, porém nas liga de ferro fundido branco de
alto cromo classe II D a relação existe. Quando a dureza da
liga e da matriz aumenta a resistência ao desgaste também
incrementa. Fig.3: Princípio de operação do moinho rolo sobre pista.

G. Moinho de Carvão Rolo sobre Pista

Os moinhos de carvão são equipamentos que recebem o


carvão bruto dos alimentadores e o pulverizam até uma fina
granulometria, promovendo uma secagem do mesmo, envi-
ando-o diretamente aos queimadores ou aos silos de carvão
pulverizado.

O moinho sobre pista é constituído de três rolos de moa-


gem estacionários, que giram em torno de si mesmos sobre
uma pista de moagem, conforme figura 3 que ilustra o prin-
cipio de operação. O carvão é admitido pela parte lateral e Fig.4: Forma de desgaste no rolo.
chega até o cone de distribuição, por gravidade, sendo então
arrastado pela força centrifuga até a pista de moagem onde é
triturado pelos rolos que giram devido ao atrito entre a su- III. MATERIAIS E MÉTODOS
perfície externa do aro e a pista. Os rolos estão igualmente
espaçados na circunferência da pista de moagem, a qual é
composta por 12 segmentos. Diante do objetivo de otimizar o tratamento térmico e vi-
sando maximizar a resistência ao desgaste do ferro fundido
Os rolos de moagem são em número de 3 e constam de branco dos moinhos de rolo pista da classe II D da norma
uma parte estática e uma parte girante. Os rolos são fixados ASTM A532 [19], foram estudadas as propriedades e a mi-
com um ângulo de 15° em relação à vertical produzindo um croestruturas deste material com e sem recozimento, assim
desgaste ao longo da sua vida útil não uniforme, que intro- como com os distintos tratamentos de desestabilização.
duz há necessidade de inverter a posição do rolo depois de
um período de trabalho, aproximadamente é de 6000 horas. A. Corpos de Prova do Moinho usados na Usina Termoelé-
trica
Adicionalmente, o desgaste sofrido pelo rolo não é uni-
forme no sentido radial. O acúmulo de carvão à frente do
Estas amostras foram extraídas dos rolos dos moinhos que
rolo, gera movimento relativo (deslizamento) entre o carvão
estavam em operação. Para a retirada das amostras se usou a
e a face do rolo [18], resultando em uma superfície desgas-
técnica de trepanação e posteriormente eletroerosão para
tada com forma ondulada, conforme ilustrado na figura 4.
obter os corpos de prova de 50 x 20 x 12mm. A liga de ferro
fundido branco de alto cromo com a qual são fabricados os
moinhos é a II D da norma ASTM A532.

B. Corpos de Prova para Tratamentos em Laboratório

Estas amostras foram fundidas na composição II D segun-


do norma ASTM 532. Foram fundidos blocos com as se-
guintes dimensões 231 x137x120 mm. O processo de fundi-
4

ção foi realizado em um forno de indução. Para a obtenção


dos corpos de prova de 75 x 25 x 12,5mm, os cortes foram
TABELA I
realizados por jato de água. COMPOSIÇÃO QUIMICA DOS CORPOS DE PROVA DA LIGA II D

Corpo
C. Tratamentos Térmicos Elemento C Si Mn Mo Ni Cr Cu
Prova

Rolo
Para a realização dos tratamentos térmicos foram usados Valor 2,81 0,91 0,72 1,85 0,41 23,28 0,09
os corpos de prova do item anterior. Para efetuar o estudo, Liga
Experi-
foram preparados corpos de prova com e sem recozimento mental 2,98 0,71 0,75 1,90 0,35 21,22 0,06
Bruta
prévio a 700°C por 6h. Para o estudo do tratamento térmico de
ASTM 1,0 1,5 18,0- 1,2
de desestabilização, trabalharam-se os corpos de prova com A532 0,5 -1,5
Fusão 2,0 – máx 1,0-2,0 máx 23,0 máx
e sem recozimento, a temperaturas entre 950°C e 1100°C e
tempos entre 0,5h e 5h. Finalmente foi realizado um trata- B. Influência da Temperatura e Tempo de Desestabilização
mento de revenimento no material a 200°C por 1 hora. O nas Propriedades do Ferro Fundido Branco de Alto Cromo
resfriamento de todos os tratamentos foi realizado ao ar.
Os seguintes resultados de dureza, microdureza, conta-
D. Análise Química gem de carbonetos secundários e resistência ao desgaste,
foram obtidos das amostras de ferro fundido branco classe
A determinação da composição química foi feita através II D testados com diferentes tratamentos térmicos, confor-
de espectrofotômetro de emissão ótica baseado na norma IT me apresentado a seguir.
7433.
C. Influência da Temperatura e Tempo de Desestabilização
E. Macro e Microdureza na Dureza
A dureza Rockwell C foi medida nos corpos de prova com Variou-se a temperatura e tempo de desestabilização, par-
e sem tratamento térmico antes da preparação metalográfica. tindo-se tanto do estado bruto de fusão quanto do estado
Foram realizadas dez medições de dureza Rockwell C na recozido, obtendo-se os seguintes resultados:
superfície das amostras de acordo com a norma ABNT-NBR
6671-1981, em um durômetro de bancada. No ensaio foi Estado inicial: bruto de fusão
usado uma pré-carga de 10 kgf e uma carga de 150 kgf. Para Na figura 5 se mostra à tendência da dureza com a evolução
o ensaio de microdureza os corpos de prova foram prepara- da temperatura e o tempo para uma liga de ferro fundido
dos e atacados. O equipamento usado foi o microdurômetro branco de alto cromo II D no estado inicial bruto de fusão.
Shimadzu HMV com uma carga de 100g (HV 0,1).
A figura 5 (a) mostra que a dureza inicialmente aumenta e
F. Ensaios de Desgaste depois diminui com o aumento da temperatura, havendo um
máximo de dureza (63 HRC) a 1000°C por 6 horas.
O ensaio de desgaste abrasivo ASTM G65-00 foi escolhi-
do para testar estas ligas, já que é o ensaio que tem mais A figura 5 (b) ilustra que, para temperaturas até 1050°C,
similaridade com o tipo de desgaste que sofrem os moinhos ao longo do tempo a dureza inicialmente diminui e depois
rolo sobre pista. Na série de ensaios, optou-se pelo procedi- aumenta ao longo do tempo. Para temperatura de 1100°C, a
mento A da norma, 6000 rotações e 130 N que é o procedi- dureza diminui ao longo do tempo.
mento para materiais de elevada dureza e alta resistência ao
desgaste. Os resultados dos corpos de prova retirados dos Estado inicial: recozido
moinhos foram comparados com os obtidos da liga IID tra- Ao estudar o comportamento da liga de ferro fundido branco
tada no laboratório. de alto cromo II D em estado inicial recozido (700°C por
6h), obtiveram-se os dados de dureza que se mostram na
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO figura 6.
A. Análise Química
Observa-se, na figura 6 (a) tal como no estado bruto de
fusão, a dureza inicialmente aumenta e depois diminui com o
A composição química dos corpos de prova retidos dos aumento da temperatura, havendo um máximo de dureza
moinhos e da liga tratada na fusão e no laboratório são apre- (64,8 HRC) a 1050°C por 0,5 hora.
sentados na tabela 1 juntamente com as indicadas pela nor-
ma ASTM A532.

Observa-se na tabela 1 que as composições químicas dos


corpos de prova dos moinhos e no material bruto de fusão
esta dentro da norma ASTM A532. Portanto a liga estudada
é hipoeutética, e a primeira fase em solidificar é a austenita.
O composto eutético apresenta carbonetos do tipo M7C3.
5

Nas figuras 6 (a) e (b) se observa que para constatar os


máximos de dureza no tempo de 0,5 hora e na temperatura
de 1050°C foram levantadas 2 curvas neste tempo e tempe-
ratura e um dos dados foi referenciado com o ano de reali-
zação dos ensaios 2004.

Síntese dos resultados de dureza


Realizando a comparação dos gráficos das figuras 5 e 6
pode-se observar que são conseguidas durezas maiores em
corpos de prova com tratamento térmico de desestabilização
em estado inicial recozido, em tempos menores. Corpos de
prova em estado inicial bruto de fusão precisa de tempos
longos para obter altas durezas, que não conseguiram ser tão
altas quanto às dos corpos de prova previamente recozidos.

A tabela 2 sintetiza os resultados relativos à obtenção de


máxima dureza depois dos tratamentos térmicos do ferro
fundido branco classe II D, com e sem recozimento, onde
pode-se constatar que a dureza máxima encontrada foi obti-
da quando o estado inicial era recozido e a desestabilização
foi em um tempo de 0,5 hora a 1050°C.

Fig.5: Durezas após desestabilização da liga ferro fundido branco II D no


TABELA II
DUREZAS MÁXIMAS
estado inicial bruto de fusão.
DUREZA DUREZA
MATERIAL ESTADO ESTADO MÁXI- TEMPERATURA TEMPO
INICIAL INICIAL MA °C HORAS
HRC HRC
II D BRUTO DE 56,0 63,1 1000 6
FUSÃO

II D RECOZIDO 40,2 64,8 1050 0,5

D. Influência da Temperatura e Tempo de Desestabilização


na Microdureza

Na figura 7 junto à macrodureza e a quantidade de carbo-


a netos secundários esta ilustrada a curva da microdureza da
matriz para o tempo de 6 horas e a temperatura 1000°C
que foi o tratamento que apresentou melhores resultados de
dureza no item C, para a liga II D com estado inicial bruto
de fusão (Resultados e Discussão).

Na figura 8 junto à macrodureza e a quantidade de carbo-


netos secundários esta ilustrada a curva da microdureza da
matriz para o tempo de 0,5 hora e a temperatura de 1050°C
que foi o tratamento que apresentou melhor resultados de
dureza no item C, para a liga II D com estado inicial recozi-
do (Resultados e Discussão).

Uma vez que a quantidade de carbonetos eutéticos não é


alterada pelos tratamentos térmicos, a evolução da dureza
b com o tempo depende apenas da matriz. Portanto, existe
uma correlação entre a dureza da liga e microdureza da ma-
triz que é confirmada nos dados representados nas figuras 7
Fig.6: Durezas após desestabilização da liga de ferro fundido branco II D
no estado inicial recozido. e 8 onde as curvas de dureza da liga e de microdureza da
A figura 6 (b) ilustra que, dentro de todos os tempos estu- matriz apresentam a mesma tendência.
dados, a máxima dureza ocorre quando se utiliza 0,5 hora de
desestabilização. E. Influência da Temperatura e Tempo de Desestabilização
na Quantidade de Carbonetos Secundários
6

Estado inicial: bruto de fusão Estado Inicial: recozido


A figura 7 (a) indica que a quantidade de carbonetos por A figura 8 (a) ilustra a existência de um valor máximo na
unidade de área apresenta um valor máximo ao longo da quantidade de carbonetos ao longo da temperatura. A queda
temperatura. Este máximo pode ser devido à ocorrência de da quantidade de carbonetos com o aumento da temperatura
dois fenômenos de tendências opostas. Em baixas tempera- de 1050°C para 1100°C é talvez conseqüência do aumento
turas a quantidade precipitada é limitada pela cinética de da solubilidade do carbono e cromo na austenita. Todavia as
difusão. Aumentando a temperatura, acelera a difusividade razões para o aumento da quantidade de carbonetos com o
e, portanto, a quantidade de carbonetos precipitados. Por aumento da temperatura de 900°C até 1050°C não são claras
outro lado, incrementando a temperatura, a solubilidade para quando se admite que a austenita, no início do tratamento, se
o carbono aumenta, resultando em menor supersaturação da encontra “sub-saturada” (devido ao recozimento prévio).
austenita e, portanto, menor quantidade a ser precipitada.
A figura 8 (b) ilustra um comportamento diferente ao da
A figura 7 (b) ilustra haver um aumento da quantidade de figura 7 (b), isto é, que existe a probabilidade de um decrés-
carbonetos por unidade de área ao longo do tempo, na tem- cimo na quantidade de carbonetos por unidade de área ao
peratura de 1000°C e é possível que resulte do fato da auste- longo do tempo, na temperatura de 1050°C. Não há, na lite-
nita (estado bruto de fusão) estar inicialmente supersaturada ratura, discussão sobre este aspecto, mas supõe-se que, uma
de carbono. vez que no presente caso o material foi tratado a partir do
estado recozido, no início da austenitização a austenita se
encontra “sub saturada” pelo carbono e, ao longo do tempo,
ocorre dissolução dos carbonetos precipitados (no recozi-
mento anterior), conforme figura 8 (b). Não foi possível di-
ferenciar se, ao longo do tempo, a queda da quantidade de
carbonetos teve origem apenas na dissolução dos mesmos na
austenita ou se, adicionalmente, houve coalescimento.

Constata-se na figura 8 haver relação entre a quantidade


de carbonetos secundários presentes na matriz e a microdu-
reza da mesma, conforme esperado.

F. Resultados de desgaste
a
Os ensaios de desgaste foram realizados na liga II D, para
amostras desestabilizadas a 950, 1000 e 1050°C (todas por 6
horas) no estado inicial bruto de fusão, e em amostras deses-
tabilizadas a 1000, 1050 e 1100°C (todas por 0,5h) no esta-
do inicial recozido.

Estes ciclos escolheram-se porque envolviam as regiões


onde as propriedades estudadas nos itens anteriores apresen-
tavam seus valores ótimos para a liga II D tanto em estado
inicial bruto de fusão como recozido.

Amostras da liga II D retiradas dos moinhos também fo-


ram testadas no ensaio de desgaste, para ter um valor de
referência de perda de volume do material atualmente em-
pregado na indústria. Os valores médios da perda de volu-
b
me no ensaio de desgaste se apresentam na figura 9.

Fig 7: Relação quantidade carbonetos secundários, macrodureza e micro-


dureza para a liga II D no estado inicial bruto de fusão

Observou-se a tendência e a relação entre a quantidade de


carbonetos secundários presentes na matriz e a microdureza
da mesma, conforme esperado, pois o aumento da quantida-
de de carbonetos precipitados por si só aumenta quantidade
de martensita na microestrutura e a dureza da matriz, e por-
tanto, a dureza da liga.

a
7

bém são recozidos), obtendo-se uma maior resistência ao


desgaste (menor perda de volume) nas amostras tratadas no
laboratório (menor tempo de desestabilização em laboratório
0,5 hora, atualmente a industria utiliza de 4 a 6 horas de de-
sestabilização).

V. CONCLUSÕES
Diante do objetivo de desenvolver o ciclo de tratamento
térmico que maximize a resistência ao desgaste de liga da
classe II D, os resultados permitiram concluir que:

A maior resistência ao desgaste é obtida quando do em-


prego de recozimento (700°C por 6 h) seguido de desestabi-
lização a 1050°C por 0,5 hora de patamar;

O emprego de recozimento antes da desestabilização re-


sulta em maiores valores de dureza máxima e de resistência
ao desgaste do que em liga desestabilizada a partir do estado
bruto de fusão;

A maior dureza (e maior resistência ao desgaste) resultan-


te do emprego inicial de recozimento tem relação com a
Fig. 8: Relação quantidade carbonetos secundários, macrodureza e micro- maior microdureza da matriz (pois a fração volumétrica de
dureza para a liga II D no estado inicial recozido. carbonetos eutéticos não se altera com os tratamentos) e esta
maior microdureza tem relação com a maior quantidade de
carbonetos por unidade de área precipitados na matriz (após
desestabilização).

Este estudo sugere que para o ferro fundido branco de al-


to cromo classe II D, recozido previamente, não precisa
tempos longos para ser desestabilizado (como recomenda a
literatura), portanto, empresas que fundem e utilizam estes
materiais em moinhos, podem testar a sua fabricação com
tempos menores de desestabilização podendo gerar maior
resistência ao desgaste e diminuição de custos (custos de
fabricação e manutenção).

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] G. Laird, R.Gundlach, K. Rohrig, “Abrasion - Resistant Cast Iron
Handbook,” Edited by AFS, Copyright 2000, p.1-215.
[2] V. Chiaverini, “Aços e Ferros Fundidos. Associação Brasileira de Fun-
dição,” 5a Ed, SP, 1984.
[3] R.Gundlach, “High-alloy white irons,” Metals Handbook Ninth Edi-
Fig. 9: Perda de volume (desgaste) no ensaio ASTM G-65-00 do ferro
tion, Vol 15, 1988.
fundido branco de alto cromo IID com estado inicial, bruto de fusão e
[4] J. ASensio, J.A. Pero-Sanz, J.I. Verdeja, “Microstructure Selection
recozido, a diversas temperaturas de desestabilização.
Criteria for Cast Irons with more that 10 wt. % Chromium for Wear Appli-
cations,” Materials Characterization, Vol. 49, p.83-93, 2003.
Na figura 9 observa-se que os tratamentos onde se obtive- [5] C.G. Schön, A. Sinatora, “Simulation of solidification Paths in High
ram as menores perdas de volume (maior resistência ao des- Chromium White Cast Irons For Wear Applications,” Calphad, Vol. 22,
gaste) foram: 1000°C por 6 horas para estado inicial bruto No. 4, p.437-448, 1998.
[6] J.A. Sanz-Pero; D. Plaza, J.I. Verdaja, J. Asensio, “Metallographic
de fusão e 1050°C por 0,5 hora para estado inicial recozido. Characterization of Hypoeutectic Martensitic White Cast Irons: Fe-C-Cr
Portanto, a maior resistência ao desgaste ocorre em situações System,” Elsevier Science Inc, p. 33-39, 1999.
em que a dureza é máxima. [7] D.J Do Carmo, J.F. Dias, “Aplicação da Dilatometria na Otimização de
Ainda na figura 9 pode-se constatar que a resistência ao Processo de Obtenção de Ferros Fundidos Brancos de Alto Cromo,” Con-
gresso de Fundição, 1997 São Paulo, p.1-22.
desgaste obtida a partir de estado previamente recozido é [8] C.P,Trabett, I.R. Sare, “Effect of High Temperature and Sub Ambient
maior que aquela obtida em tratamento a partir de estado Treatments on the Matrix Structure and Abrasion Resistance of a High
bruto de fusão. Chromium White Iron. Scripta Materialia,” Vol. 38, p. 1747-1753, 1998.
[9] O. Préti, P. Bernardini, “Caracterização das Ligas de Ferro Fundido
Branco Resistentes a Abrasão segundo a Norma ASTM A 532 no Estado
A perda de volume das amostras dos moinhos (linha azul, Bruto de Fundição,” Dissertação de Mestrado, Pós-Graduação Engenharia
figura 9) só pode ser comparada com as amostras da liga no de Materiais, UFSC, Florianópolis, Maio 2004.
estado inicial recozido (os moinhos na sua fabricação tam-
8

[10] K.H. Zum Gahr, “Abrasive Wear of White Cast Irons, Wear,” Vol. 64,
p. 175-194, 1980.
[11] J. Fulcher, T.H. Kosel, N.F. Fiore, “The Effect of Carbide Volume
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[13] J.D. Carmo, J.F. Nasser, A. R. Bellon, “Desenvolvimento de Processo
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[14] A. Bedolla Jacuinde, L. Arias, B. Hernández, “Kinetics of Secondary
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[15] M.X. Zhang, P.M. Kelly, L.K. Bekessy, J.D. Gates, “Determination of
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