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Sebastião Guimarães - Artigos Indispensáveis para Músicos Cristãos PDF

O documento discute a importância do culto comunitário para os cristãos. Em 3 frases: 1) O objetivo principal da igreja e de cada cristão é glorificar a Deus. O culto comunitário é o ponto alto para adoração coletiva. 2) O culto deve ser uma manifestação de louvor, adoração e gratidão dirigida unicamente a Deus, não a outros seres humanos. 3) Devemos oferecer a Deus o melhor culto possível com nossas habilidades, em reconhecimento que Ele merece nossa ad

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O documento discute a importância do culto comunitário para os cristãos. Em 3 frases: 1) O objetivo principal da igreja e de cada cristão é glorificar a Deus. O culto comunitário é o ponto alto para adoração coletiva. 2) O culto deve ser uma manifestação de louvor, adoração e gratidão dirigida unicamente a Deus, não a outros seres humanos. 3) Devemos oferecer a Deus o melhor culto possível com nossas habilidades, em reconhecimento que Ele merece nossa ad

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Artigos indispensáveis para

músicos cristãos
1. “Culto comunitário” por Rev. Sebastião Guimarães

“O PONTO CULMINANTE DA VIDA ECLESIAL”

Os teólogos de Westminster iniciaram o Breve Catecismo com a


pergunta: “Qual é o fim principal do homem?” Deram-lhe como resposta: “O
fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Então, os
seres humanos que não vivem para “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”
estão fugindo da finalidade suprema para a qual Deus os criou. Esta é a
finalidade da vida de todos, frisemos, mas só os filhos de Deus a reconhecem e
procuram vivenciá-la. Ora, se cada cristão, individualmente, tem como
finalidade principal na vida glorificar a Deus, porque a finalidade mudaria
quando esses indivíduos se reunissem como igreja? Não, não muda. A
finalidade principal continua a mesma: glorificar a Deus. Esta é a finalidade
principal do ser humano e é também a finalidade principal da igreja.

Estamos acostumados a ouvir afirmações de que a igreja existe,


primariamente, para evangelizar, e que esta é a sua grande prioridade, mas
insisto no ponto já ressaltado: a grande finalidade da igreja, como a
assembleia dos crentes em Cristo, é a adoração ao seu Senhor. A própria
evangelização visa à glória de Deus.

No primeiro capítulo da Epístola aos Efésios, o apóstolo Paulo mostra


isso. Depois de bendizer “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos
tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em
Cristo” (texto que contraria os que ensinam que os crentes podem estar
debaixo de maldição hereditária), ele afirma que Deus nos escolheu antes da
fundação do mundo, predestinou-nos para ele, para a adoção de filhos, tudo
“para louvor da glória de sua graça” (v. 6). Reafirma que fomos predestinados
segundo os seus desígnios, “a fim de sermos para louvor da sua glória” (v. 12).
Remata com a asseveração de que fomos selados com o Espírito Santo,

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penhor da nossa herança, até que a sua propriedade seja resgatada “em
louvor da sua glória”. (v. 14). Como diz Terry L. Johnson, “A finalidade ou o
propósito do evangelismo e de missões é criar um povo para adorar a Deus”.
O apóstolo Pedro ensina que nós somos um povo escolhido pelo Senhor para
atender a uma específica e determinada finalidade; qual? Proclamar as
virtudes de Deus (1Pe 2:9), que o texto original sugere ser uma atividade de
louvor.

Não é demais repetir aqui as palavras de John Piper:

Missões não é o objetivo principal da igreja, mas sim a adoração. Missões existem
porque Deus é o alvo e não o homem. Quando esta era passar e os incontáveis
milhões de redimidos caírem com o rosto em terra diante do trono de Deus, não
haverá mais missões. Trata-se de uma necessidade temporária, mas a adoração
existirá para sempre.

A herança reformada enfatiza a importância da adoração. Para Lutero


e seus apoiadores a grande questão era a justificação pela fé (como o
homem pode se apresentar justo diante de Deus?). Para Calvino e Zwinglio (e
os reformadores da Suíça em geral) a grande questão era a adoração (como
adorar a Deus?). Para os luteranos o grande inimigo eram as obras (Lutero, por
interpretar equivocadamente o ensino de Tiago sobre o lugar das obras,
chegou a chamar o seu livro de “epístola de palha”, afirmação que ele mais
tarde reconsiderou). Para os reformados o grande inimigo era a idolatria.
Johnson faz a seguinte citação de Carlos M. N. Eire: “O foco principal do
protestantismo reformado foi a interpretação da adoração (...)” Numa
comparação entre luteranos e zuinglianos, Eire distingue: “A diferença
principal é que, para os zuinglianos, a proposta reformada não era encontrar
um Deus justo, mas em voltar-se da idolatria para o Deus verdadeiro”.

Muitos crentes não veem o culto como o momento culminante da


vida eclesial; tanto não veem, que não o valorizam; afastam-se da assembleia
cúltica por qualquer banal pretexto e sem qualquer constrangimento. A igreja
devia entender que o culto é o seu grande momento, pois é a ocasião em
que ela presta adoração ao seu Senhor, e cumpre assim a finalidade principal
da sua existência..

Outra cláusula da nossa definição é a que afirma ser o culto

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UMA “MANIFESTAÇÃO DE LOUVOR, ADORAÇÃO E GRATIDÃO”

O que é louvor? Não é incomum o uso da palavra “louvor” como


sinônimo de adoração. Mas, na verdade, há uma distinção a ser feita.

Louvor é elogio. Quando no plenário dos concílios ou das


organizações internas das igrejas alguém propõe um voto de louvor a uma
pessoa que de algum modo se destacou, geralmente surge lá do plenário
uma voz discordante que exorta com gravidade: “Louvor só a Deus!”. Não é
bem assim. Louvor é elogio, e nós podemos elogiar os nossos semelhantes. Por
que não? Até a Bíblia nos dá respaldo para essa opinião. Em Provérbios 31
temos a descrição daquela mulher ideal, adornada de excelsas virtudes e,
referindo-se a ela, o escritor inspirado assevera: “... a mulher que teme ao
Senhor essa será louvada” (v. 30). Paulo diz, em Rm 13:3: “Queres tu não temer
a autoridade? Faze o bem e terás o louvor dela”.

Louvar a Deus, portanto, é elogiá-lo. Devemos louvá-lo, pelo que ele


fez, pelas suas maravilhosas obras. E não tem sido pouco o que Deus vem
fazendo por nós.

Adoração é “outro departamento”. Adoração é a manifestação que


devemos dirigir a Deus pelo que ele é em si mesmo, inerentemente. E ao nos
referirmos ao que Deus é, devemos nos lembrar de que ele é o que é,
absolutamente; seu nome é Eu Sou. Adoramos o Eu Sou pelo que ele é,
independente de suas obras. Se Deus não tivesse feito nada por nós (e ele fez
muito), ainda assim mereceria a nossa adoração pelo que ele é. Mas o que é
mesmo que ele é? Vejamos.

Os teólogos de Westminster, quando elaboravam o Breve Catecismo,


chegaram à solene pergunta: Quem é Deus? Discutiram por horas o assunto,
na busca da melhor resposta, mas não encontraram nenhuma que fosse
satisfatória. Realmente é uma tarefa tremenda definir Deus. A rigor, é
impossível descrever aquele que é infinito com as nossas pobres e limitadas
palavras humanas; como fazer Deus caber em nossas categorias, em nossas

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formas de raciocínio e de expressão? Depois de longa, mas infrutífera reflexão,
o presidente da assembleia anunciou que suspenderia os trabalhos para
retomá-los outro dia, e designou um dos teólogos para fazer a oração final
daquela sessão. O irmão designado então alçou a voz dizendo: “Ó Deus, tu
que és um espírito infinito, eterno, imutável em teu ser, sabedoria, poder,
santidade, justiça, bondade e verdade...” e prosseguiu. Quando terminou, os
teólogos se entreolharam significativamente e um consenso se estabeleceu:
aquela era a melhor definição que eles poderiam encontrar para Deus.
Nenhuma seria perfeita mesmo, mas eles não criam que pudessem encontrar
uma melhor. E ficou essa, conforme podemos constatar, examinando o Breve
Catecismo de Westminster.

Eis aí o que Deus é! E por sê-lo, merece a nossa adoração. E como só


Deus é o que é, só ele é digno de ser adorado. Devemos louvar a Deus, mas
podemos louvar também os nossos semelhantes. Entretanto, só a Deus
podemos adorar. Jesus repeliu o diabo com estas palavras:“ Retira-te, Satanás,
porque está escrito: „Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto‟”
(Mt 4:10).

“DIRIGIDA A DEUS”

Não é próprio se prestar homenagens a irmãos nossos, por mais


valorosos que sejam, no transcurso do culto. As homenagens, no culto, devem
ser todas para Deus. Não somos nós que assistimos ao culto, mas Deus. É
imprópria a expressão “vou assistir ao culto”. Culto não é algo a ser assistido;
presta-se culto, participa-se de culto, celebra-se culto, mas não se assiste a
culto. Deus, entretanto, assiste.

Alguém já comparou um culto a uma peça de palco; embora a


comparação seja um tanto precária, ela ilustra um ponto importante da
teologia do culto. Retomando-a, podemos dizer que os crentes em adoração
podem ser comparados com os atores, e Deus com a plateia. Ele, sim, assiste
ao culto. Não se evidenciarão impróprias, portanto, homenagens a pastores
ou a outros crentes como parte integrante do culto que oferecemos ao Deus
que ali está assistindo ao evento?

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Não estou negando a importância de se homenagear pessoas que de
algum modo se destacaram e se tornaram merecedoras do respeito, da
estima e da gratidão do povo de Deus. Aliás, a própria Bíblia nos exorta a fazê-
lo: “... honrai sempre a homens como esse” (Fp 2:29). Entretanto não é o culto
a hora própria para isto.

Quem já não ouviu uma irmãzinha piedosa, dizer, bem


intencionadamente, no meio do culto: “Vou cantar esse hino em homenagem
ao pastor pelo seu aniversário” ou “vou dedicar este solo a D. Fulana que hoje
completa 90 anos”. Errado!

Uma consequência inevitável do reconhecimento de que o culto


deve ser voltado para Deus, é a convicção de que devemos oferecer-lhe o
melhor culto que sejamos capazes de produzir.

O saudoso Rev. Valmir Soares, pastor por vários anos da Igreja


Presbiteriana de Olinda, homem que tinha um senso de humor notável, estava
na plataforma do púlpito de uma outra igreja, sentado junto do pastor local, e
começou a ficar incomodado com algo que estava se passando. Alguém
veio à frente e disse que não cantava bem, costumava desafinar, mas como
tudo ali era para a glória de Deus, ele ia entoar um hino assim mesmo. Outro
veio à frente, pouco depois, dizendo que não sabia falar, mas ia dar um
testemunho, porque era para a glória de Deus; outro pediu desculpas porque
não sabia tocar bem seu instrumento musical, mas ia tocar assim mesmo
porque era para a glória de Deus. O Rev. Valmir não se conteve, e valendo-se
da intimidade que tinha com o pastor local, disse baixinho no seu ouvido, com
a voz grave que o caracterizava e o marcado sotaque piauiense : “Fulano,
porque aqui na tua igreja tudo o que não presta é para a glória de Deus?”

O que você acha disso, Xavier? “Eu sou rouco, desafinado, fanhoso e
não ensaiei, mas como é para a glória de Deus, vou cantar”, Ora, se fosse
para a apreciação e o aplauso dos homens lá no teatro ou na televisão, tinha
que ser bonito, afinado, bem ensaiado; mas como é para a glória de Deus...
Entendo que exatamente por ser para a glória de Deus, a qualidade deveria
ser a melhor possível.

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Não podemos ser rígidos nessa matéria e, por exemplo, só admitir que
cantem na igreja grandes artistas, gente de voz burilada, educada, porque
realmente a igreja não é um teatro nem o culto é um show. Mas o culto deve
ser planejado e executado com esmero, cada ministrador, seja qual for a área
da sua ministração, deve cumprir o seu papel com a maior eficiência de que
for capaz. Se não sair tudo primorosamente, que não seja por descaso, por
relaxamento, por negligência. Não saiu perfeito, mas cada um fez realmente o
melhor que pôde para a glória de Deus; aquele, de fato, era o melhor de
cada um.

Em Eclesiastes 9:10 lemos: “Tudo o que te vier à mão para fazer, faze-o
conforme as tuas forças”. Este texto estabelece um princípio: devemos nos
esforçar para executar todas as tarefas que nos forem designadas com a
maior eficiência de que formos capazes. Na desincumbência dessas tarefas,
devemos dar o melhor de nós. Aliás, Jesus era um cuidadoso observador desse
princípio. Seus contemporâneos o reconheceram: “Tudo ele tem feito
esplendidamente bem” (Mc 7:37). Se é assim com referência às nossas tarefas
comuns, prosaicas, quanto maior não deverá ser o nosso empenho ao
fazermos algo que seja especifica e objetivamente para a glória de Deus!

Maria, amiga de Jesus, lá de Betânia, ungiu-o com um perfume de


nardo puro preciosíssimo que custou um dinheirão: mais de 300 denários;
quantia que representava o ganho de um trabalhador comum durante um
ano inteiro. Houve até críticas formuladas por quem via naquele gesto um
desperdício. A alegação era de que o dinheiro poderia ser melhor empregado
se fosse investido na assistência aos pobres. Mas Jesus louvou o gesto de Maria
e aceitou com satisfação a homenagem. A lição que Maria nos dá é a de que
o Senhor merece o melhor.

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2. O fim do período de louvor – Rev. Charles Melo

A hinódia da igreja evangélica brasileira possui uma identidade muito


interessante, tendo em vista que recebemos rico repertório advindo das
incursões missionárias em nosso país.

Os pioneiros missionários estrangeiros trouxeram consigo suas músicas, com


destaque para o mavioso trabalho de Sarah Pouton Kalley, esposa do pioneiro
da Igreja Evangélica Congregacional, Robert Reid Kalley. O trabalho destes
pioneiros começou em 1855, com sua chegada ao Brasil, mas foi somente seis
anos mais tarde que Sarah Kalley compilou 50 hinos e salmos na primeira
edição do "Salmos e Hinos", o qual foi utilizado pela primeira vez em 17 de
novembro de 1861. Também não pode ser deixado de mencionar o trabalho
de Henry Maxwell Wright, português, mas filho de ingleses, o qual auxiliou
Moody em uma campanha de evangelização na Inglaterra em 1874 e 1875,
com intensa contribuição musical. Wright conheceu o trabalho de Ira Sankey,
o qual acompanhava Moody nos Estados Unidos, e traduziu diversos hinos
para o português (por exemplo, "Louvores sem Fim" - 38 do Hinário Novo
Cântico), introduzindo também em nossos rincões um repertório mais popular,
os chamados "corinhos".

Uma intensa transformação foi iniciada pelo surgimento de Vencedores


Por Cristo e outros grupos missionários que atuavam principalmente entre
jovens, como Jovens da Verdade, Novo Alvorecer e Som Maior. A
transformação se deu por meio da divulgação de cânticos populares
traduzidos do inglês, como as composições de Ralph Carmichael ("Nas
Estrelas", por exemplo). Porém, o divisor de águas foi mesmo o lançamento do
LP (long play - o disco de vinil) "De Vento em Popa", em 1972. Este disco
popularizou composições dos próprios brasileiros, como Sérgio Pimenta,
Guilherme Kerr, Artur Mendes e Aristeu Jr.. Até aí, tudo normal, pois vários
compositores, como o Rev. Oscar Chaves, autor de "Só o Poder de Deus" e "Eu
Só Confio no Senhor", já deixavam sua contribuição. No entanto, as
composições gravadas no disco de Vencedores Por Cristo utilizavam estilos
musicais que não haviam nascido nos arraiais do evangelicalismo brasileiro. A
bossa nova e o samba-canção escandalizaram muitos crentes de diversas

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partes do país, os quais se manifestaram através de cartas de protesto e
acusações de mundanização através da música. Mais tarde, o disco caiu no
uso popular cristão e até hoje é lembrado e cantado não somente pelos que
eram jovens na década de 1970, mas também pelos que receberam essas
músicas como herança dos pais.

A partir de então, novos compositores surgiram por todo cenário


nacional: Nelson Bomilcar, João Alexandre, Jorge Rehder, Jorge Camargo,
Lamartine Posella, Asaph Borba, Edilson Botelho, Stênio Marcius, Adhemar de
Campos, Jairinho, Paulo César, Carlos Sider e muitos outros. Com o aumento
do número de produções musicais fonográficas provenientes de igrejas,
comunidades evangélicas e novos grupos musicais (Comunidade da Graça,
Igreja Batista do Morumbi, Comunidade de Nilópolis, Goiânia, Ministério Life,
Grupo Logos, Igreja Bíblica da Paz, Ministério Diante do Trono e, recentemente,
Igrejas Vineyard, por exemplo), um crescente número de músicas populares
cristãs tem sido oferecido para uso da igreja brasileira. Muitas dessas músicas
são traduções do inglês provenientes de grupos como Maranatha Music,
Hosana Music, e de vários cantores e compositores estrangeiros, como David
Quinlan, Bob Fitts, Michael W. Smith, Steve Curtis Chapman e Ron Kenoly. Fato
é que centenas, senão milhares de músicas são disponibilizadas a cada ano. A
tendência é que esta abundância de repertório moderno devore as antigas
opções, geralmente mais ricas poeticamente e mais profundas
teologicamente. A popularização das cifras musicais ainda influencia no
crescente abandono do repertório mais antigo, também mais erudito e que
requer conhecimento teórico musical para ser executado corretamente.

À medida que os cânticos mais populares se espalharam pelo país e


passaram a compor o culto, a liturgia evangélica brasileira passou a carecer
de uma definição: qual o lugar dos hinos mais eruditos e dos cânticos mais
populares?

Não cabe, obviamente julgar entre um e outro qual o melhor e mais


apropriado, apenas partindo da designação “hino” e “cântico”. Essa
designação não qualifica a música como boa ou ruim. Talvez seja interessante
antes de continuar, definir melhor qual a diferença entre hino e cântico. A
diferença não está no nível de complexidade, na polifonia ou no estilo, mas na

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permanência na hinódia. Os hinos de hoje eram os cânticos de antigamente.
Meu professor de Teologia do Culto, Rev. Fôlton Nogueira da Silva, certa vez
sugeriu a criação de um “semi-hinário”, uma pasta com canções populares
que seria manipulada mediante a retirada ou inclusão de músicas conforme a
relevância e uso. As que permanecessem por mais de 20 anos receberiam o
status de “hino”. Então o melhor critério para se exercer discernimento
apropriado entre música boa e música ruim não é a classificação como hino
ou cântico, mas a boa relação entre impressão e expressão. A impressão é o
sentimento que a música transmite, a ideia que ela passa e como ela prepara
o ambiente. Isso só o instrumental já faz. A expressão tem a ver com a
mensagem que a letra da música transmite ou o texto que ela subsidia. A
música boa é aquela que tem estilo apropriado a cada ambiente ou ocasião
(boa impressão) e que comunica a verdade da Palavra de Deus (boa
expressão). Note que esta regra se aplica a todas as músicas em geral,
mesmo as que não foram compostas por cristãos. Como não podemos julgar
se a música é boa ou ruim pela índole do compositor, mesmo porque não
podemos acessar seu coração, o critério justo e seguro é usar o crivo da
Palavra de Deus.

Assim, o cristão deveria se ocupar em ouvir, não necessariamente


apenas músicas compostas por crentes, mas a música boa,
independentemente de ser cantada ou executada por um cristão (Fp 4.8; Tt
1.12). Afinal, toda verdade é de Deus, como disse João Calvino, o reformador
de Genebra.

Se não há necessidade de preferência de um em detrimento do outro,


então o melhor a fazer é simplesmente distribuir um e outro na liturgia pelo
critério da função no momento litúrgico. Mais especificamente, seria assim:
como o cântico “Enquanto eu Calei” (Salmo 32) é apropriado para o
momento de contrição, então deve ser usado assim como o hino
“Necessidade” (68 do HNC), por exemplo, indistintamente. Assim, o culto se
torna mais uniforme tematicamente e subserviente à pregação da Palavra de
Deus. Mas, e o “período de louvor”? Este momento, quando distinto no culto, é
estranho, pois sugere uma liturgia dentro da outra. Ainda mais quando o líder
inicia o momento com o tradicional “boa noite” ou “bom dia, irmãos”. Ali

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começou uma nova celebração. A ordem do culto perde o sentido porque
num único momento do culto, músicas de louvor, contrição, dedicação
pessoal e declaração de fé se entrelaçam sem qualquer lógica. Além disso,
quando se pratica o “período de louvor”, o critério para a escolha das músicas
geralmente é o longo tempo sem a música ser cantada ou então, a variedade
estilística. “Vamos começar com uma animada, depois passamos para essa
mais lenta”. Percebeu como esse critério empobrece o culto e o torna menos
compreensível?

A adoção deste princípio de indistinção entre hinos e cânticos oferece


muitas vantagens: força os ministros a pensarem mais sobre o conteúdo das
músicas do culto; torna o culto mais inteligível; cessa a contenda sobre a
preferência por um por outro; torna o culto mais racional, porém vibrante e
fervoroso; favorece a submissão dos musicistas; prepara os ouvintes para a
mensagem. No entanto, para que esta medida seja adotada, alguns cuidados
devem ser observados. Os músicos não podem ficar muito distantes do local
onde tocam seus instrumentos. A lacuna de tempo entre o anúncio do cântico
e a execução deste, até que todos empunhem seus instrumentos, é
indesejável. É positivo que os músicos tenham lugar fixo, como o coral da
igreja. Também o pequeno sermão antes de cada cântico ou hino se torna
dispensável. Se houver necessidade de algum comentário, o próprio pastor da
igreja ou auxiliar litúrgico o poderá fazer de modo apropriado. Também esta
medida exige melhor comunicação entre o pastor e os músicos. Os cânticos e
hinos devem ser previamente escolhidos conforme o tema do culto, a
mensagem e o momento litúrgico.

Para encerrar, posto aqui uma sugestão de ordem litúrgica conforme foi
praticada em minha igreja recentemente.

• Cântico: “Majestade, Poderoso Tu És”


• Leitura Bíblica: Romanos 1.16,17
• Cântico: Hino 304 – “A Voz do Evangelho”
• Oração
• Leitura Bíblica: 2 Coríntios 5.18 – 6.3
• Cântico: Hino 71 – “Perdão, Senhor”
• Oração de Contrição
• Cântico: “Louvemos”
• Leitura Bíblica: Salmo 24.1
• Cântico: Hino 225 (Devolução dos Dízimos e Ofertas)

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• Oração Diaconal
• Mensagem: Efésios 6.15
• Ceia do Senhor
• Cântico: “Jesus Riscou a Cédula”
• Oração Final
• Bênção Apostólica

3. A música litúrgica - IPIB


A música nasceu e sempre deve nascer da Palavra. Ela deve ser a
maneira expressiva pela qual a Palavra de Deus se encarna numa palavra
humana. Fundamentalmente, a música litúrgica deve expressar não só o
significado, mas também o sentimento autêntico do texto bíblico, para que
este seja entendido e sentido e, por meio dele, todo o povo de Deus exprima
sua oração em conjunto e sinta-se integrado no culto. A música litúrgica faz
parte integral do culto através dos cânticos e responsos congregacionais, dos
cantos corais e da música instrumental.

A Escolha

A escolha dos hinos, dos salmos e dos responsos que serão cantados
deve aprofundar-se nos princípios teológicos e litúrgicos da tradição
reformada, atendendo às normas bíblicas por ela sempre defendidas. É
preciso estar consciente da ação litúrgica como um todo, e do papel da
música em cada momento do culto. Quando o canto tem papel na ação
litúrgica, ele interpreta, juntamente coma Palavra, o tema central do tempo
litúrgico (Advento, Natal, Páscoa etc.); a função de cada momento litúrgico
(Adoração, confissão, gratidão, intercessão, comunhão etc.); e o tipo de
celebração (Batismo, Ordenação, Bênção Matrimonial etc.). No conceito dos
reformadores, os hinos são orações cantadas. Por isso devemos ser criteriosos
na escolha das músicas e das letras que serão dirigidas a Deus pelo seu povo,
para que elas expressem a atitude de oração. Como orações, os hinos e
responsos são dirigidos a Deus, que presente de maneira ativa (falando,
iluminando, perdoando, amando, julgando, sarando, salvando, enviando); por
isso, é importante o estilo direto.

Responsos

Os responsos são mais curtos que os hinos. São cantados nos vários
momentos do culto, quando se requer uma resposta a Deus, por parte de todo
o povo, em conjunto. Os responsos pertencem à congregação, podendo ser
reforçados pelo coro; entretanto, jamais devem ser cantados somente pelo
coro. A congregação deve aprender os responsos e cantá-los de cor com
todo o fervor e fé que a oração exige. O "Amém" sempre pertence ao povo.

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O Coral

O Coral faz parte da assembléia e deve estar bem integrado na


comunidade. Sua função não é a de um coro de concertos, mas de um
membro atuante da assembléia reunida para adorar a Deus. O coral tem a
função de guiar e apoiar a participação cantada do povo de Deus; de
ensinar e acompanhar o canto congregacional (salmos, hinos e responsos); e
de orar em favor da congregação, através dos intróitos e outras formas
musicais. A Palavra é proclamada não apenas pela leitura e pregação, mas
também através do canto coral, cujos textos sempre devem ser baseados nas
Escrituras. Para que a palavra seja compreendida pelos fiéis, é preciso esmerar
na dicção do texto cantado.

Música Instrumental

Os instrumentos têm, na igreja, a função de sustentar o canto, sem


contudo encobri-lo. A música essencial do culto é a vocal; os instrumentos
devem servir apenas como apoio, com exceção do prelúdio e poslúdio.

O prelúdio e poslúdio são orações não verbais. Devem ter o caráter


evocativo e de adoração. Eles devem ser interpretados com sinceridade de
coração, como orações feitas em nome da congregação, como parte
integrante da liturgia. Por sua vez, a congregação deve participar com
reverência e receptividade. A música instrumental no culto jamais deve ser
usada para encobrir ruídos, mas sim, para desempenhar sua função litúrgica,
no momento litúrgico apropriado.

O Processional é a caminhada dos oficiantes, coro e outros


participantes, representando a chegada do povo sendo reunido por Deus
para adorá-lo.

O recessional por sua vez representa a saída do povo atendendo a


ordem de Deus para ir anunciar o Evangelho. Tanto o Processional quanto o
Recessional podem ser acompanhados por música instrumental.

Fonte: Manual do Culto da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, p. 341.

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4. A Proposta Litúrgica da Igreja Presbiteriana do Brasil
por Rev. René Alves Stófel

A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma igreja confessional, buscando


pautar, sempre, a sua conduta geral pelas Escrituras Sagradas, tendo como
símbolo de fé a Confissão de Fé de Westminster. Acreditamos que os piedosos
homens que escreveram a nossa Confissão de Fé durante o período de julho
de 1643 a fevereiro de 1649 procuraram interpretar fielmente a Palavra de
Deus, legando-nos esse precioso trabalho doutrinário. Nossa Igreja procura em
tudo ser fiel ao Senhor e à sua Palavra, principalmente na condução litúrgica
do culto, ensinando através desse serviço a Deus as doutrinas da fé cristã.
Cada serviço litúrgico deve ser um instrumento para ensinar a sã doutrina.
Procuramos primar pela ordem e preparo do culto, almejando oferecer o
melhor ao nosso Senhor. Além da nossa confissão, temos um capítulo especial
em nosso Manual Presbiteriano que expressa os nossos ''Princípios de Liturgia''
para nortear a ordem da Igreja no culto. O apóstolo dos gentios, conhecedor
do mundo pagão onde a Igreja atuava, preocupado com os desvios no culto
da Igreja de Corinto, termina o capítulo 14 da primeira carta à mesma, com a
recomendação: ''Tudo, porém, seja feito com decência e ordem'' (14:40). O
culto na Presbiteriana pede equilíbrio, moderação e bom senso, e acima de
tudo fidelidade à Palavra de Deus. O que Deus deseja do seu povo? Como ele
deseja ser adorado? Diante disso buscamos as prescrições de Deus em sua
Palavra. Vejamos uma primeira contribuição da nossa Confissão em relação à
nossa preocupação em acertar na vontade de Deus:

“Todo conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias


para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é
expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente
deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem
por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens;
reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito
de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra,
e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo
da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser
ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as
regras da Palavra, que sempre devem ser observadas. (CF I. IV).

Ao improvisarmos no culto, corremos o risco de exagerarmos em


elementos cúlticos que não agradam ao Senhor. É comum no meio de uma
congregação adoradora que improvisa sempre, ouvirmos colocações do tipo:
'' os irmãos não devem reparar no que estamos fazendo; o que fazemos é
para o Senhor!'' Ora, se é para o Senhor, é como lhe preparar um banquete
com conteúdo que o deleitará. Afirma o Rev. Ludgero: ''... Se verdadeiramente

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desejamos agradar ao Todo Poderoso Combatente que lutou bravamente por
nossa salvação devemos encontrar coisas que o deleite, e apresentar essas
coisas a Ele. Não é somente o fato do banquete, mas o conteúdo do
banquete que é importante, o conteúdo, os elementos que compreendem o
culto são da mesma forma importantes.‟‟1
Há muita crítica em relação ao culto prescrito e bem ordenado, de que
ele coíbe a emoção, exaltando a razão. Entendemos, no entanto, que as
vezes, os que assim argumentam, estão mais preocupados com a
centralização das emoções, do que com o próprio culto, o que constitui
uma ameaça ao culto em ''espírito e em verdade''. A respeito disso afirma o
Rev. Cleómines, ''... o homem deve ser equilibrado entre a razão e a emoção.
Contudo, deixar o emocionalismo dominar o culto pelas lágrimas,
manifestações, arrepios, gozos, pode ser sério risco ao louvor verdadeiro...
Pontuou certo pregador que 'religião demais' pode ser capa para 'pecado
demais'.''2 Poderíamos a tais manifestações denominar de ''a idolatria exterior''
como escreveu João Calvino, comentando o segundo mandamento da lei de
Deus que alude à adoração de Deus, afirma:

''Portanto, o fim do segundo mandamento é que Deus não quer que seu
legítimo culto seja profanado mediantes ritos supersticiosos. Pelo que, em
síntese, ele nos afasta totalmente das insignificantes observâncias
materiais que nossa mente sempre tende a buscar em razão da sua
grosseria natural, costuma inventar quando concebe a ideia de Deus. E,
daí, Deus nos instrui a seu legítimo culto, isto é, ao culto espiritual e é
estabelecido por si próprio. Assinala, ademais, o que é o mais grosseiro
defeito nesta transgressão: a Idolatria exterior.‟‟3

O culto, portanto, se objetiva a agradar a Deus, observando sempre o


que ele requer de nós conforme a sua Palavra.

Princípios de Liturgia e Confissão de Fé:

Temos em nossos Princípios de Liturgia (IPB), no capítulo III, sobre CULTO


PÚBLICO, as seguintes definições:
Artigo 7º - O culto público é um ato religioso, através do qual o povo de
Deus adora o Senhor, entrando em comunhão com Ele, fazendo-lhe confissão
de pecados e buscando, pela mediação de Jesus Cristo, o perdão, a
santificação da vida e o crescimento espiritual. É a ocasião oportuna para
proclamação da mensagem redentora do Evangelho de Cristo e para
doutrinação e congraçamento dos crentes.
Artigo 8º - O culto Público consta ordinariamente de leitura da palavra de
Deus, pregação, cânticos sagrados, orações e ofertas. A ministração dos

1 Ludgero Bonilha Moraes, O que é Culto? Boletim Especial, 4.


2 Figueiredo, Louvor e Vida, 47.
3 João Calvino, Institutas II, 8.17.

14
Sacramentos, quando realizada no culto público, faz parte dele.

Confiramos ainda em nossa Confissão de Fé:

''A leitura das Escrituras com o temor divino, a sã pregação da Palavra e a


consciente atenção a ela em obediência a Deus, com inteligência, fé e
reverência; o cantar salmos com graças no coração, bem como a
devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por
Cristo - são partes do ordinário culto a Deus, além dos juramentos
religiosos; votos solenes e jejuns e ações de graças em ocasiões
especiais, tudo o que, em seus vários tempos e ocasiões próprias, deve
ser usado de modo santo e religioso.''4

Podemos observar através do nosso Manual e da nossa Confissão de Fé


que não temos uma fórmula preestabelecida para o culto. Temos, todavia, em
nossos manuais acima, orientações extraídas das Escrituras Sagradas que
ordenam o culto santo ao nosso Deus. (É importante que leiamos atentamente
os textos bíblicos que são relacionados em nossa Confissão de Fé ao lado de
cada capítulo). O artigo 7º nos aponta para um culto que é mediado por
Jesus Cristo; Ele propicia o nosso culto a Deus.
O elemento mais importante do culto está concentrado na leitura e
exposição da Palavra de Deus que proclama o evangelho redentor e doutrina
os crentes; o congraçamento dos fieis aparece depois. Observemos
novamente o artigo 8°; temos ali os elementos para o culto que aparecem
abundantemente na Bíblia. Ultimamente temos deparado com uma
adoração carregada de elementos que não aparecem nas Escrituras com
relação ao culto. Devemos utilizar na adoração a Deus apenas elementos
autorizados em sua Palavra. Quando analisamos textos bíblicos que apontam
para os ajuntamentos solenes do povo de Deus, contemplamos Deus sendo
adorado com elementos, na maioria, apontando para reconhecimento da
soberania de Deus que contrasta profundamente com a nossa
transitoriedade. O Deus trinitário e sua Palavra têm lugar central no culto.
Definimos essa centralidade como Culto Vertical, ou seja, o culto vem de
Deus, é orientado por sua Palavra, Jesus Cristo é adorado, e o culto retorna a
Ele mesmo; nisso deve estar a nossa plena satisfação, ainda que não
agrademos a carne.

Focalizemos um pouco a nossa atenção para a experiência que o profeta


Isaías teve no seu encontro com Deus, conforme o capítulo 6 do livro do
profeta. Temos no texto um encontro iniciado por Deus com o homem
pecador. Sentimos num primeiro momento o profeta incomodado com a
presença santa do trino Deus. Em face da santidade de Deus e da sua
pecaminosidade, Isaías sentiu-se nada a vontade. Para o Rev. Cleómines

4 Capítulo XXI, V.

15
temos na experiência do profeta a descrição de uma cerimônia cúltica,
realizada no céu com seus reflexos na terra. As circunstâncias que envolviam
este culto eram solenes.5 Para o Dr. Russell Shedd o atributo que mais penetrou
na consciência do profeta foi a santidade de Deus.6
Minha intenção neste pequeno comentário litúrgico sobre a experiência
que o profeta Isaías teve no seu encontro com Deus é apontar para uma cena
que segundo o Rev. Hermisten tem sido considerada como o “Lócus Classicus”
do modelo litúrgico das Igrejas Presbiterianas e outras.7 O adorador Isaías,
desiludido com tanta indiferença do seu povo para com o Deus de Israel
(confira no capítulo 5 de Isaías), depois da morte do rei Uzias, braço no qual se
apoiara até então, entra na Casa do Senhor e depara com a santidade de
Deus que o confronta profundamente. Isaías sente o peso do pecado de Israel
e do seu próprio; não pensa noutra coisa, senão na sua própria morte: “Estou
perdido diante da santidade de Deus!” Somente depois de contemplar a
santidade de Deus, de sentir-se profundamente confrontado, de ter seus
pecados perdoados, se dispõe ao comissionamento de Deus. Ninguém estará
apto para o comissionamento de Deus até que entenda os atributos de Deus.
Quando conhecemos Deus, caímos contritos diante dele, nos colocamos em
nosso devido lugar admitindo que não passamos de criaturas decaídas, servos
pecadores e redimidos pela misericórdia de Deus. Quando as Escrituras
Sagradas narram o encontro de vários servos de Deus com o Senhor de suas
vidas, ela aponta sempre para uma atitude de profunda reverência e
quebrantamento deles.
Ao depararmos no culto solene com o Deus santo, devemos ter a mesma
sensação do profeta Isaías, ainda que não tenhamos uma experiência
semelhante a que ele teve. Todavia, contemplamos o mesmo Deus em todos
os seus atributos. Não contemplamos Deus da forma como o profeta o
encontrou, nem por isso, nosso culto é menos rico de significado; não
perdemos a sensibilidade no culto ao Senhor, pelo contrário, todos nós que,
pela fé fomos incorporados em Jesus Cristo, o qual nos fez assentar em lugares
celestiais (Ef. 2:6), devemos associar esta verdade à experiência. Esta verdade
inegável vem sendo negada e até se apagará por completo de nossa
consciência se dependermos unicamente da visão física. Olhemos com
atenção para as passagens bíblicas de Ef 1: 17,18 / Co 11:10 / Hb12:22-24 / Hb
11:1 e sintamos a nossa posição privilegiada e ao mesmo tempo responsável
diante do Deus da nossa salvação.

Esquemas Litúrgicos e Homiléticos no Capítulo 6 de Isaías:

Apreciemos abaixo alguns esboços tirados da experiência do profeta


Isaías no seu encontro com Deus, usando a contribuição de alguns servos de
Deus que se interessaram pelo assunto. Sugerimos que o texto do capítulo 6 de

5 Figueiredo, Louvor e Vida, 5


6 Russell P. Shedd, Adoração Bíblica, p.6
7 Costa, Teologia do Culto.

16
Isaías seja pregado ou estudado na igreja com a utilização do próprio texto
para os elementos litúrgicos do dia. Deparamos no texto com adoração,
contrição, confissão e comissionamento.
Shedd8 comenta o texto dividindo-o em:

1)CONTEMPLAÇÃO E COMUNHÃO (1-4)


2)CONVICÇÃO, CONFISSÃO E PURIFICAÇÃO (5-7).
3)COMUNHÃO E DISPOSIÇÃO (8, 9)

O Rev. Cleómines9 comenta o texto teologicamente, chamando a


experiência de um culto “Na terra como no céu”, com tema e sub-temas:

TEMA: UNIDADE ESSENCIAL DO CULTO

SUB-TEMAS:

1. ADORAMOS UM DEUS TRINO: (Santo, Santo, Santo) ''Por isso as bases do limiar
tremem à sua voz''

2. A EXPERIÊNCIA MANIFESTA A PRESENÇA UNIVERSAL DO CULTO. COMO?


Temos um ensino completo e vemos a presença de todo o universo. Onde a
glória de Deus se faz presente, tudo se torna universal e eterno.

 Deus e sua essência básica, que é Santidade (6.3).


 O homem em sua natureza pecaminosa (6.5).
 A graça perdoadora em seu favor imerecido (6.6).
 A vocação irresistível no seio da Igreja (6.8).
 A missão profética num chamado espinhoso (6. 9-10).

3. REVERÊNCIA: (v 2)
''Tal era a glória de Deus contemplada que inspirou nos querubins profunda
reverência. O encontro com Deus sempre despertou no homem atitude de
respeito, reverência e temor. Moisés e Josué tiraram as sandálias dos seus pés.
Manoá tremeu, Jacó se maravilhou, Jó se humilhou, Isaías se sentiu reduzido
ao pó, Pedro, após a ressurreição, se lançou nas águas, Tomé caiu de joelhos...
e João em Patmos caiu como morto... “10

4. A DOUTRINA DO HOMEM É ENSINADA E O COMISSIONAMENTO ENTREGUE: O


profeta recebe no culto a impressão do Espírito e se vê como pecador e
impuro. Ao mesmo tempo a Graça de Deus se manifesta na purificação de
seus lábios com a brasa do altar. Após isso, ele ouve a voz que chama: “A
quem enviarei, quem há de ir por nós?”.

8 Shedd, Adoração Bíblica, 119.


9 Figueiredo, Louvor e Vida, 60-63.
10 Ibid

17
O Rev. Hermisten11 dá forma aos elementos Litúrgicos encontrados no
texto, na seguinte ordem:

1. ADORAÇÃO (1-3) “Santo, santo, santo” (v.3)


2. CONTRIÇÃO: (5) '' Sou homem de lábios impuros''
3. LOUVOR: (6,7) ''A tua iniquidade foi tirada '' (7)
4. EDIFICAÇÃO: (8a) "A quem enviarei ?''
5. CONSAGRAÇÃO: (8b) '' Eis-me aqui, envia-me a mim''.

O Pastor Ivênio dos Santos12 trabalha assim com o texto:

TEMA: '' AS VISÕES DE DEUS''


1. VISÃO DA GLÓRIA E SANTIDADE DE DEUS: ''Deus está assentado num alto
e sublime trono''- ''Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos; toda a terra
está cheia da sua glória''.
2.VISÃO DA NOSSA PECAMINOSIDADE E DA PECAMINOSIDADE HUMANA :
''Sou um homem de impuros lábios e habito no meio de um povo de impuros
lábios''
3. VISÃO DA GRAÇA DE DEUS: ''Então um dos serafins voou para mim
trazendo na mão uma brasa viva que tirara do altar com uma tenaz; com a
brasa viva tocou a minha boca, e disse: a tua iniquidade foi tirada, e
perdoado o teu pecado.''
4. VISÃO DA NECESSIDADE DE DEUS: '' A quem enviarei e quem há de ir por
nós?''.

INCENTIVO Seja fiel, quer seja oportuno, quer não. John Blanchard afirmou: “O
crescimento cristão requer mais do que conhecimento da Bíblia; ninguém se
alimenta decorando cardápios”.13

11 Costa, Teologia do Culto, 35.


12 Ivênio dos Santos, Revista Mensagem da Cruz, Editora Betânia.
13 John Blanchard, Revista Fé para Hoje, 13, 2002, 8.

18
5. Uma comparação de algumas liturgias reformadas
por Revista Ordained Servant

Martin Bucer, Strassburg, João Calvino, Strassburg, Diretório de Westminter,


John Knox, Escócia, 1564
1537 França, 1540
1644

Sentença da Escritura:
Confissão de pecados Confissão de pecados. Chamado à adoração.
Salmos 124:8

Oração de aproximação;
petição pela presença santa
Palavras da Escritura de
Confissão de pecados Oração de perdão. de Deus, aceitação dos
perdão; Absolvição.
adoradores e benção sobre
as leituras da Palavra.

Cântico de um salmo, hino,


ou Kyrie eleison (grego para Cântico de um salmo ou
Senhor, tenha misericórdia) e Palavras da Escritura de Cântico de um salmo salmos metrificado s (antes,
Gloria in Excelsis Deo (latim perdão; Absolvição. metrificado. entre e/ou depois das
para Glória a Deus nas leituras da Escritura).
alturas)

Cântico dos Dez


Mandamentos metrificados
Leitura do Antigo
Oração por iluminação. com Kyrie eleison (grego Oração por iluminação.
Testamento.
para Senhor, tenha
misericórdia) após cada lei.

Cântico de um salmo
Oração por iluminação Leitura da Escritura Leitura do Novo Testamento.
metrificado.

Oração: de confissão de
Leitura da Escritura. Leitura da Escritura Sermão pecados, intercessão e por
iluminação.

Coleta de ofertas para os


Sermão Sermão Sermão
pobres

Oração de ação de graças Oração geral: ação de


Coleta de ofertas para os Coleta de ofertas para os
e intercessão, a Oração do graças e intercessões; a
pobres pobres
Senhor. Oração do Senhor.

Oração de intercessão,
concluída por uma longa
- - -
paráfrase da Oração do
Senhor.

**** **** **** ****

O Credo dos Apóstolos.


Cântico do Credo dos Cântico do Credo dos Exortação e convite;

19
Apóstolos. Apóstolos. acercar-se à Mesa.

Consagração dos elementos


Oração de intercessão,
Oração de consagração; a (pela Palavra e oração):
consagração; a Oração do Palavras de instituição.
Oração do Senhor. palavras de instituição e
Senhor.
oração de consagração.

Exortação. Palavras de instituição. Exortação Fração (partir do pão).

Palavras de instituição. Exortação. Oração de consagração. Distribuição.

Fração (partir do pão). Fração (partir do pão). Fração (partir do pão). Comunhão.

Exortação para viver vidas


Distribuição. Distribuição. Comunhão dos ministros.
dignas.

Distribuição da comunhão
Comunhão (durante a qual Comunhão (durante a qual para o povo (durante a qual Oração de ação de graças.;
os salmos eram cantados). os salmos eram cantados). “toda a história da Paixão” e para uma vida digna.
era lida).

Oração de ação de graças.

O Princípio Regulador do Culto afirma apenas


isto: “O verdadeiro culto é ordenado somente
por Deus; o falso culto é algo que Ele não
ordenou”.

20
Bibliografia para consulta:

1. SHEDD, Russel P., Adoração Bíblica – Vida Nova.

2. JOHNSON, Terry L., Adoração Reformada – Puritanos.

3. MAC ARTHUR, John, Nossa Suficiência em Cristo – Fiel.

4. COSTA, Hermistém M. P., Teologia do Culto, Cultura Cristã.

a
5. MORAIS, Ludgero Bonilha, Pastoral Dança Litúrgica, 1 Igreja BH.

6. FIGUEIREDO, Cleómines Anacleto de, Louvor e Vida, Edição Independente.

7. TURNBULL, M. Ryerson, Levítico, Santidade, o Alvo da Vida, Cultura Cristã.

8. MACKINTOSC, C.H., Estudos sobre o Livro de Levítico.

9. CALVINO, John, Institutas, volume 1.

10. HUSTAD, Donald P., A Música na Igreja, JUERP.

11. O Novo Dicionário da Bíblia, Vida Nova.

12. Boletim Teológico da Fraternidade Latino-Americana – volume 9 – número


28.

13. SANTOS, Dr. Valdeci, “Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão” (Fides
Reformata vol. III número 2/1998.

14. FRAME, John, Em Espírito e em Verdade, Cultura Cristã.

15. HORTON, Michael, Um Caminho Melhor, Cultura Cristã, S.Paulo, 1ª Edição,


2007.

16. HORTON, Michael, A Face de Deus, Cultura Cristã, S. Paulo, 1ª Edição, 1999.

17. DICKIE, Robert L., O que a Bíblia ensina sobre Adoração, S.P. Fiel, 1ª Edição,
2007.

18. MASTERS, Peter, Louvor em Crise, S. Paulo, Fiel, 1ª Edição, 2007.

19. BASDEN, Paul (Editor), Adoração ou Show? S. Paulo, Vida, 1ª Edição, 2006.

20. CUNHA, Guilhermino, O Culto que Agrada a Deus, SP, Cultura Cristã, 1ª
Edição, 2002.

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