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Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

O documento discute a importância da linguagem dialógica no ensino remoto, onde o professor precisa planejar materiais digitais que conversem com o aluno de forma a suscitar reflexões e tornar claro o processo de aprendizagem. A linguagem dialógica considera o aluno como um sujeito único com conhecimentos e referências próprias.

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Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

O documento discute a importância da linguagem dialógica no ensino remoto, onde o professor precisa planejar materiais digitais que conversem com o aluno de forma a suscitar reflexões e tornar claro o processo de aprendizagem. A linguagem dialógica considera o aluno como um sujeito único com conhecimentos e referências próprias.

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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

 Capítulo 1 

LINGUAGEM DIALÓGICA

1 INTRODUÇÃO

Já se imaginou entrando em sala de aula sem cumprimentar sua turma, sem


perguntar sobre suas expectativas quanto à aula, e sem explicar o conteúdo e
trazer re exões para a realidade dos alunos? Difícil, não é mesmo? Nessa situação,
certamente todo professor se sentiria como uma máquina que reproduz conteúdo
de forma mecânica, e se questionaria sobre sua função e importância nesse papel.

Sabemos que a realidade não é bem essa. Como já ouvimos muitas vezes, o papel
do professor é de mediador. É aquele que não só transmite o conhecimento, como
também toma decisões sobre a ação de transmitir (o que, quando, como e por que
transmitir). Decisões re exivas que máquina nenhuma é capaz de assumir.

É nesse sentido que você está sendo convidado a estudar a linguagem dialógica.
Nas aulas remotas, o professor se depara com o desa o de produzir materiais e
orientar seus alunos numa modalidade de ensino com a qual não está habituado.
É preciso orientar? Como orientar? Que linguagem usar? São dúvidas comuns que
surgem no momento do planejamento, e que, a partir deste material, você poderá
re etir sobre elas.

Iniciamos, então, com uma discussão sobre dialogismo. Você já ouviu este termo?
A que ele te remete?

2 DIALOGISMO: O QUE É?

QUADRO 1 – RECEITA

Bolo de cenoura com cobertura de chocolate

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Ingredientes para o bolo:


 Capítulo 1 
3 cenouras médias (cerca de 360g ou 2 ¼ xícaras (chá) de cenoura descascada e
ralada)
4 ovos
1 xícara (chá) de óleo de milho
1 ½ xícara (chá) de açúcar
2 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 pitada de sal manteiga e farinha de trigo para untar e polvilhar a forma

FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/3dZAQvq>. Acesso em: 27 jun. 2020.

Bom, você deve ter se perguntado “qual o propósito do autor ao colocar os


ingredientes de uma receita de bolo na abertura de um livro sobre linguagem
dialógica?”, certo? Acredite, não foi uma simples coincidência. Agora, imagine se
você encontrasse este fragmento de receita de bolo neste livro e não tivesse uma
explicação do autor sobre o porquê de estar ali. Possivelmente, você se sentiria
perdido e travaria a continuidade de sua leitura, ou criaria várias hipóteses que
jamais teriam respostas, não é mesmo?! Vamos além: imagine que você se propõe
a preparar um bolo de cenoura e apenas encontra os ingredientes, como o
exemplo do Quadro 1, sem o modo de fazer. Desa ador!

É assim que nossos alunos se sentem quando, muitas vezes, são confrontados
com atividades ou conteúdos novos que geram aquelas famosas perguntas “o que
é pra fazer?” ou “por que eu tenho que aprender isso?”, em sala de aula. E o que o
professor faz quando isso acontece? Explica, contextualiza. A nal, os alunos
precisam desse “modo de fazer” que só o professor, com sua experiência e
formação, tem condições de apresentar. 

Dessa forma, quando estamos diante de uma situação de ensino não presencial,
esta função do professor de sala de aula passa a ser assumida pelos materiais que
disponibiliza ao aluno e pelo modo que interage com ele em ferramentas de texto
virtuais. O professor passa a planejar, escolher e desenvolver materiais digitais
pensando na autonomia do aluno e nos objetivos de aprendizagem que este deve
alcançar, e para além disso, precisa explicitar seu planejamento e tornar claro ao
estudante o percurso que deverá seguir em direção a estes objetivos. Ou seja, para
que haja sucesso na aprendizagem, todo esse processo pedagógico imaginado
pelo docente precisa estar claro ao aluno e adaptado a sua realidade e visão de
mundo, e é aí que entra a importância de uma linguagem dialógica.

FIGURA 1 – RETRATO DO ENSINO NÃO PRESENCIAL

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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

 Capítulo 1 

FONTE: <https://bit.ly/2ZHjJtb>. Acesso em: 27 jun. 2020.

No contexto das aulas remotas, grosso modo, podemos entender a linguagem


dialógica como sendo uma linguagem que suscita re exões e que conversa com o
aluno. Calma. Antes de entrarmos na discussão sobre o conceito, já que trata-se de
um conceito muito mais complexo, cabe a mim fechar a discussão sobre a receita
de bolo, explicando que o único propósito real para ela estar ali no início (e de
forma incompleta), é para que você compreenda a importância da
contextualização e da linguagem dialógica durante a elaboração de aulas remotas.
Algo que você, certamente, só conseguiu compreender a partir dos parágrafos
seguintes à receita, escritos de forma dialógica, por sinal.

Seguimos, então, para o conceito de dialogismo. Não podemos falar sobre ele de
forma didática, sem antes visitar concepções tradicionais no campo da Educação e
da Linguística. Scorsolini-Comin (2014) trata de duas perspectivas de dois grandes
nomes quanto a este tema: Paulo Freire (educador e lósofo brasileiro) e Mikhail
Bakhtin ( lósofo e pensador russo). E destaca que embora estes não tratem
especi camente dos processos interativos dialógicos mediados por tecnologias, já
que suas obras antecedem essa realidade de educação virtualizada, suas visões
sobre a interação podem ser estendidas a estes processos.

  Em Paulo Freire, vemos, então, uma concepção de dialogicidade, centrada no


diálogo como sendo aquilo que dá sentido ao homem (SCORSOLINI-COMIN, 2014).
O diálogo tem em sua essência “o re etir e o agir”, termos chaves na obra de
Freire, que tornam o momento de diálogo um ato de criação. Assim, o diálogo não
pode ser nunca uma imposição de ideias de um para o outro, e nem mesmo uma
mera troca de mensagens. Para Freire, “o diálogo é mais que isso, e contribui para
a humanizar e transformar a realidade do mundo” (FREIRE, 2010, p. 91).

Já para Bakhtin, onde a ênfase está no dialogismo, o diálogo é situado histórica,


cultural e socialmente, e envolve uma interação em que há uma recepção ativa

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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

mútua, ou seja, não apenas um intercâmbio de códigos e mensagens ao acaso.


 Capítulo
Scorsolini-Comin (2014, p. 250) explica que: 1 

A presença das palavras do outro nas palavras do eu é um dos primeiros


elementos que caracterizam o conceito de dialogismo, que pressupõe o
relativismo da autoria individual. Mesmo no diálogo interior, esses múltiplos
outros participam ativamente, de modo que se opera a ilusão de que as palavras
são produto dos atos de fala de um dado sujeito, o que, em Bakhtin, abre espaço
para um sujeito-coletivo, produtor e recriador de práticas presentes no espaço
discursivo.

Em outros termos, o autor explica como nossos discursos se relacionam com


outros já ditos, e como as palavras são carregadas de subjetividade e ideologias.
Elas estão relacionadas a contextos e possuem múltiplos signi cados, sendo que o
receptor possui um papel importante na sua escolha/interpretação/compreensão
durante o diálogo.

Como podemos ver, estas duas visões contribuem para compreendermos que o
diálogo com nossos alunos via ferramentas virtuais deve partir sempre de uma
visão desse sujeito como alguém único, que deve ser ouvido e provocado a buscar
novos conhecimentos, a re etir etc. O processo de aprendizagem, assim, constitui-
se na interação, uma interação em que nosso aluno não é apenas um receptor
vazio, sem conhecimentos e referências próprias. É preciso considerar que o
diálogo, materializado nas nossas palavras e discursos, tem poder sobre como este
processo acontecerá.

FIGURA 2 – DIÁLOGO NAS FERRAMENTAS VIRTUAIS

FONTE: <https://bit.ly/38BbeEe>. Acesso em: 27 jun. 2020.

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Contextualizadas estas visões de Freire e Bakhtin, passamos a compreender a


 Capítulo
Linguagem Dialógica Instrucional dentro do1 contexto do ensino remoto e da 
Educação a distância de forma geral.

Partindo das teorias de Freire e Bakhtin, em especial deste último, o qual considera
que a dialogicidade está presente em todos os textos por essência, Piva, Freitas e
Miskulin (2009) propõem o conceito de Linguagem Dialógica Instrucional para
explicar a linguagem utilizada no contexto de ensino on-line. Esta concepção de
linguagem tem como premissa a utilização da dialogicidade explícita (PIVA;
FREITAS; MISKULIN, 2009, s.p.), em outras palavras, situação em que o apresenta
marcas, combinações e relações textuais que o caracterizam.

Entenderemos um pouco mais sobre o uso desse conceito na subseção a seguir,


momento em que a discussão se volta ao aspecto dialógico nos materiais.

3 LINGUAGEM DIALÓGICA EM MATERIAIS PARA AULAS NÃO


PRESENCIAIS

Você, professor, possui um papel extremamente importante na transmissão do


conhecimento e na aprendizagem de seu aluno, e ao propor aulas remotas isso
não é diferente. Não basta selecionar e enviar materiais prontos para toda a
turma. Seu aluno (no singular, já que também devemos considerar as
particularidades desse sujeito) precisa do olhar do professor para o seu processo
de aprendizagem autônomo e progressivo, que implique em escolhas pedagógicas
e orientações claras do que fazer, como fazer e por que fazer.

Nessa perspectiva, Ota e Vieira (2012) explicam que é por meio da interação com o
objeto preparado pelo professor que a aprendizagem do aluno acontece. Trata-se
de uma relação “que promove o desenvolvimento de esquemas mentais
superiores em que o indivíduo possa estabelecer relações ao manipular o novo
conhecimento nos aspectos cognitivos da aprendizagem humana” (OTA; VIEIRA,
2012, p. 4). É por essa razão, explicam os autores, que nas modalidades de ensino
on-line adota-se uma Linguagem Dialógica Instrucional em que há uma interação
entre o aluno e o objeto.

FIGURA 3 – INTERAÇÃO ENTRE ALUNO E MATERIAL DIDÁTICO

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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

 Capítulo 1 

FONTE: <https://bit.ly/3e6i4Tg>. Acesso em: 27 jun. 2020.

Tal linguagem tem como princípio básico oferecer condições para que o aluno
estude sem a necessidade da interferência de um professor, ou seja, que este
aluno possa conduzir seus estudos de forma autônoma. Ela costuma ser usada
tanto nos materiais desenvolvidos pelos docentes quanto nas interações que
ocorrem dentro do ambiente virtual. Basicamente, em textos escritos, tem como
característica a forma didática de expor o conteúdo, com uso de exemplos,
sugestões, questionamentos, re exões e referências que conversam com a
realidade do aluno e que o fazem pensar. Ou seja, o texto é conduzido na forma
de diálogo, sempre buscando que este aluno se sinta motivado e encorajado a
aprender. De acordo com Ota e Vieira (2012, p. 5):

O diálogo é um ponto fundamental do design instrucional no ambiente on-line


que se expressa nas indicações e orientações dos AVAs, no material didático, nas
imagens selecionadas e nos roteiros dos vídeos apresentados. Este diálogo
instrucional possui características próprias na mediação do conteúdo ou objeto
como a aprendizagem, esta mediação só ocorre diante da interação dos sujeitos
envolvidos no processo educativo, que com a constante análise, construção e
reconstrução de signos e signi cados, possibilitam uma dinâmica dialógica e
constante nos ambientes virtuais de aprendizagem, assim como, está em seu
contexto como um disparador desta ação o uso do material didático elaborado
especi camente para o uso online nos cursos a distância.

Em outras palavras, a linguagem dialógica é praticamente um requisito no design


dos materiais elaborados para o contexto do EAD e se constitui como uma das
estratégias da modalidade para fazer a mediação entre o conteúdo e o aluno. Para
que essa mediação ocorra, vários materiais podem ser utilizados enquanto objetos

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de conhecimento. Como bem destacam os autores, nesse contexto, tanto textos


 verbais quanto não verbais podemCapítulo 1
ser materiais dialógicos. A nal, o que vai 
determinar se um material é ou não dialógico é a forma com que ele foi pensado e
estruturado para se relacionar com o aluno e seus conhecimentos pré-existentes.

Quanto aos textos verbais, Tafner et al. (2010) destacam que a forma com que o
texto é redigido pelo professor in uencia na motivação e continuidade, ou não, da
leitura pelo aluno em seus estudos a distância. Por essa razão, ao escrevê-lo, é
necessário considerar a bagagem de conhecimentos que esse aluno possivelmente
tem, e antecipar dúvidas que possam surgir. É possível fazê-lo lançando perguntas
que levem o aluno à re exão, chamando a atenção para determinados pontos ou
conceitos, bem como fazendo comparações com outros textos e conexões com o
que foi ou ainda vai ser dito no material (TAFNER et al., 2010).

Nessa mesma perspectiva, Piva, Freitas e Miskulin (2009) apresentam outros


princípios que podem ser seguidos na construção de materiais para a modalidade
de estudos a distância dentro de uma Linguagem Dialógica Instrucional. Con ra-os
no quadro a seguir.

QUADRO 2 – ORIENTAÇÕES PARA UMA LINGUAGEM DIALÓGICA INSTRUCIONAL

a) usar sentenças curtas e evitar sentenças compostas;

b) evitar excesso de informações na sentença;

c) usar voz ativa e pronomes pessoais;

d) manter itens iguais ou equivalentes em paralelo e listar as condições


separadamente;

e) usar exemplos familiares ao público alvo;

f) escrever o mais próximo possível de como se fala;

g) evitar jargões e palavras difíceis e desnecessárias;

h) utilizar termos técnicos somente quando necessários e, sempre que possível,


devem vir acompanhados de explicações;

i) colocar as sentenças e parágrafos em uma sequência lógica: primeiro as


coisas que sensibilizam ou são contextualizadas por muitos e depois as coisas
com baixa sensibilização e contextualização; primeiro o geral, depois o
especí co; primeiro os conceitos permanentes, depois os temporários.

FONTE: Piva, Freitas e Miskulin (2009, s.p.)

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Esses aspectos deixam claro que uma linguagem dialógica depende da


 aproximação com o público-alvo, oCapítulo 1
que implica considerar os conhecimentos 
prévios do leitor e fazer uso de um vocabulário que não lhe cause estranhamento.
Da mesma forma, pressupõe a criação de estratégias textuais baseadas em uma
aprendizagem signi cativa, onde a própria organização do texto favorece aspectos
como a atenção e a assimilação do conteúdo pelo aluno.

Finalizada esta contextualização sobre o conceito de linguagem dialógica, em


seguida, veremos na prática como desenvolver trilhas pedagógicas e sequências
didáticas nessa perspectiva.

4 A ELABORAÇÃO DE TRILHAS DE APRENDIZAGEM E


SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DIALÓGICAS

Você, professor, pode adotar diversas estratégias textuais que potencializem o


aprendizado do aluno ao produzir uma trilha pedagógica. Antes de conhecermos
estas estratégias, você sabe o que é uma trilha de aprendizagem? Você já produziu
uma?

  A trilha é um instrumento pedagógico usado para guiar os estudos do aluno


quando não há a mediação do professor, ou seja, é ela quem vai ditar o percurso
que este aluno deve seguir em direção aos objetivos de aprendizagem propostos.
Basicamente, a trilha reúne os materiais e o planejamento do professor em forma
de texto para que o aluno saiba por onde começar, quais conteúdos e materiais
explorar, e quando explorar. Nos cursos de educação a distância, essa trilha de
aprendizagem compõe o ambiente virtual do aluno, onde ele encontra todas as
informações necessárias para estudar em uma sequência didática orientativa.

Nessa mesma perspectiva da trilha, ao propormos aulas remotas, devemos ter em


mente que o nosso aluno precisa receber os materiais elaborados pelo professor
em uma ordem lógica de aprendizagem, e, para isso, devemos fornecer-lhes uma
explicação geral, em forma de conversa, convidando-os a acessar ou consultar os
materiais propostos. No caso da Educação Infantil, as orientações são destinadas
aos pais, porém, da mesma forma, devem ser escritas de forma clara e prática.

FIGURA 4 – RETRATO DE UM PAI FAZENDO A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

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 Capítulo 1 

FONTE:  <https://bit.ly/2Aym6G7>. Acesso em: 27 jun. 2020.

Como você já sabe, para alcançar o aluno, o material produzido no âmbito da


educação a distância deve apresentar uma linguagem dialógica, que desperte a
atenção e a curiosidade do estudante, e que o leve a diversas possibilidades de
entender, explorar, e comparar um determinado conteúdo.

Em seu texto (ou trilha de aprendizagem), você pode usar diversas estratégias,
como mencionei antes. Para começar a escrever, você pode usar estratégias de
entrada, por exemplo. Vejamos a que se referem:

QUADRO 3 – ESTRATÉGIAS DE ENTRADA

Estratégias de entrada (anedotas, estudos de caso, perguntas, relatos de


experiência, fragmentos literários): podem motivar, provocar o estudante a se
introduzir no processo e deixam o conteúdo mais atrativo.

FONTE: Tafner et al. (2010, p. 47)

Como podemos ver, existem várias possibilidades de começarmos nosso texto e


chamarmos nosso aluno para os estudos. Outra forma interessante, além destas
listadas por Tafner et al. (2010), é tornar esse momento inicial um diálogo afetivo,
em que o professor mostra que con a no potencial de seu aluno e que consegue
enxergar o seu esforço nos estudos. Nada melhor que começar com um elogio,
não é mesmo?! Claro, este elogio não pode ser vago ou clichê, para que o aluno
não sinta que está sendo enganado. Deve basear-se no reconhecimento
verdadeiro do desempenho das atividades anteriores, com foco no que realmente
foi observado pelo professor ao longo das propostas de estudo.

No caso das atividades remotas, em que semana após semana, muitas vezes, o
professor precisa elaborar uma trilha nova para que o aluno possa estudar em
casa, outra forma de iniciar o texto pode ser trazendo um feedback das atividades

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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

anteriores, fazendo com que o aluno se sinta reconhecido por tê-la realizado e por
 CapítuloVejamos
ter alcançado os objetivos previstos. 1 agora as estratégias de 
desenvolvimento:

QUADRO 4 – ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

Estratégias de desenvolvimento: como o próprio nome sugere, o conteúdo


pode ser trabalhado com a conjugação de diferentes enfoques (considerando-
se vários horizontes de compreensão: econômico, produtivo, social, cultural,
ecológico, religioso, psicológico etc.); pôr em experiência, isto é, sair da
dimensão teórica e relacionar o conteúdo com as experiências dos alunos;
perguntar e recorrer aos mais variados materiais de apoio (GUTIERREZ; PRIETO,
1994).

FONTE: Adaptado de Tafner et al. (2010, p. 47)

Como você pode perceber, as estratégias de desenvolvimento dizem respeito a


forma como o texto será conduzido, incorporando explicações, complementações,
enfoques, perguntas e materiais para o aluno. Dentro dessas estratégias de
desenvolvimento, vejamos um exemplo prático de texto, a título de ilustração. O
exemplo é parte do artigo de Piva, Freitas e Miskulin (2009), titulado Linguagem
Dialógica Instrucional: A (re)construção da linguagem para cursos on-line, o qual
discute os princípios da Linguagem Dialógica Instrucional.

FIGURA 5 – OS PRINCÍPIOS DA LINGUAGEM DIALÓGICA INSTRUCIONAL

FONTE: Piva, Freitas e Miskulin (2009, s.p.)

Como podemos ver, o texto 1a foi construído na voz de segunda pessoa,


diferentemente do texto 2a, em que, embora quem fale seja um personagem
robotizado, a primeira pessoa é usada seguindo princípios da Linguagem Dialógica
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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

Instrucional (PIVA; FREITAS; MISKULIN, 2009). Obviamente, no caso dos materiais


 didáticos, não há a obrigatoriedade Capítulo 1
da incorporação de um personagem na trilha 
do professor, podendo ser um diálogo direto entre professor e aluno. O que
merece destaque, nesse caso, é o uso da primeira pessoa, tornando o texto muito
mais interativo e próximo, e interferindo na afetividade do leitor. No
desenvolvimento, outro ponto a ser destacado, é o emprego da pedagogia da
pergunta ao longo do texto, aproximando o leitor e convidando-o a interagir com o
emissor, “vamos começar?”. Contudo, vale ressaltar que, ao lançarmos perguntas
sobre o conteúdo, devemos considerar o momento certo, o propósito e a
qualidade da questão levantada, podendo esta ser retórica ou não.

Vamos ver na prática exemplos de trilhas dialógicas para cada etapa escolar?
Começaremos com um exemplo de orientação dialógica enviada aos pais.

QUADRO 5 – TEXTO PARA EDUCAÇÃO INFANTIL OU ENSINO FUNDAMENTAL I

Prezados pais,

Espero encontrar todos vocês muito bem.

Nesta semana, envio atividades que preparei sobre o tema “[...]”. Este tema é
importante porque a criança pode aprender a [...]. Espero contar com sua
costumeira ajuda no apoio aos pequenos para a leitura e realização dessas
atividades em casa.

Envio um planejamento sobre como começar, acompanhar e nalizar as


atividades com as crianças (anexar aqui planejamento do professor em
linguagem dialógica).

Peço, gentilmente, que me envie relatos e registros das atividades, assim


consigo acompanhar e saber o que os pequenos estão conseguindo aprender
neste período em que estamos distantes. Após o envio de seus registros, farei a
devolutiva.

Estou à disposição para ajudar e esclarecer dúvidas.

Um abraço,

Prof. Carlos

FONTE: O autor

Agora, veja um exemplo de trilha de aprendizagem aplicado ao ensino de Língua


Espanhola como língua estrangeira.

https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 11/16
05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

QUADRO 6 – TRILHA DIALÓGICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL II


 Capítulo 1 
Olá! Na aula de espanhol desta semana vamos trabalhar com os "falsos
amigos", também chamados de "falsos cognatos" ou heterosemánticos. Sabia
que nem todas as palavras do espanhol que se parecem com o português
possuem signi cados semelhantes nas duas línguas?

Antes de conhecermos estas palavras “diferentes”, proponho que cantemos e


relembremos a música Despacito, do cantor Luis Fonsi:
https://www.youtube.com/watch?v=kJQP7kiw5Fk.

Para complementar, leia a letra da música em espanhol na integra (sem


tradução): https://www.letras.mus.br/luisfonsi/despacito/. Dica: aproveite este
momento de leitura para treinar a sua oralidade na língua espanhola.

Conseguiu? Desa ador! Ao terminar a leitura que sugeri, tente adivinhar, e


escreva no caderno, os signi cados das palavras: rato, mirada, solo, acercando,
cuello, rmar, pelo e apellido.

Escreveu? Você vai se surpreender com o signi cado delas! Assista essa
reportagem sobre o tema desta aula:
http://g1.globo.com/pernambuco/videos/v/despacito-ajuda-a-aprender-
osfalsos-cognatos-da-lingua-espanhola/6158443/.

  Ao assistir a reportagem, você deve ter visto que muitas palavras na música
Despacito são chamadas de “falsos cognatos”, não é mesmo? Inclusive estas
que você anotou aí no caderno: rato signi ca tempo; mirada signi ca olhar etc. 
Ou seja, parecem com palavras do português, mas no espanhol signi cam
outra coisa. Agora que você já sabe do que se trata, corrija as traduções que
você colocou no caderno e busque o signi cado das demais na internet. 

Vamos nos divertir um pouco mais? Assista a este vídeo, e conheça outros
exemplos de frases com “falsos cognatos”

Espero que tenha gostado da aula que preparei para hoje. Lembre-se de que
estou aqui, caso haja dúvidas ou queira conversar sobre o conteúdo.

Bons estudos e até a próxima semana!

Prof. Carlos Rodrigo de Oliveira

FONTE: O autor

Por m, vejamos um exemplo aplicado ao ensino de Língua Portuguesa e


Literatura:

https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 12/16
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QUADRO 7 – TRILHA DIALÓGICA PARA O ENSINO MÉDIO


 Capítulo 1 
Bom dia, pessoal. Mais uma semana de estudo começando, mas antes de
passar a atividade desta semana, vamos aos recadinhos importantes!

Estou dando feedback nas atividades recebidas, e quero parabenizar a


todos que estão se esforçando e entregando cada uma delas.

Alguns alunos não estão entregando as atividades conforme combinado,


mas entendo que alguns imprevistos podem acontecer e atrapalhar a
rotina de estudos. Nesse caso, procurem-me para conversarmos e
negociarmos novos prazos.

Agora, sim, vamos à atividade! Pessoal, esta semana vamos aprofundar nosso
conhecimento literário. “Aprofundar”, porque tenho certeza que você já ouviu
falar desse importante nome da literatura brasileira. Consegue imaginar quem
é?! Leia este texto para saber de quem se trata:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/10/cultura/1544426497_594113.html.

Certamente, este texto é uma ótima fonte de estudos sobre este escritor(a).
Você sabia dessa história de que o nome deste(a) escritor(a) causava
inquietação nos críticos? Curioso, não é mesmo?!

Agora eu pergunto: você reparou no site que visitou? E na estrutura do texto


que leu, você se atentou? Tanto o suporte quando o gênero textual são muito
importantes no momento de construirmos sentido de um texto. Saiba mais
assistindo a este vídeo.

Agora que leu ao texto e assistiu ao vídeo, você já está pronto para responder
as seguintes questões que preparei sobre o texto:

1. De que gênero textual se trata o texto?

2. 2. Quais as características desse gênero?

3. De que expoente da literatura o texto trata?

4. Qual a origem e contexto familiar desse escritor(a)?

5. Comente algumas de suas principais obras e pesquise sobre sua corrente


literária.

Responda as questões em seu caderno. Não é necessário copiar o conteúdo do


site ou as questões, se você tem acesso posterior a eles. Lembrando que a

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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

realização da atividade compõe nota e gera presença para a disciplina de


 Língua portuguesa. Capítulo 1 
Muito bem! Atividade nalizada, missão cumprida! Ficou com dúvidas? Não
deixe de anotá-las e entrar em contato comigo.

Bons estudos, e um abraço forte!

Prof. Carlos

FONTE: O autor

É possível notar que em todas as trilhas, optou-se por uma escrita dialogada em
que o aluno é conduzido para a realização das atividades. Obviamente, trata-se de
exemplos de como conduzir seu texto de forma interativa, porém, você pode
construir o seu próprio modelo ou fazer uma mistura dos três, conforme sua
preferência ou estilo textual.

Lembrando que ao propor sua trilha, você deve seguir uma sequência didática,
que segundo Alves e Meira “são consideradas um conjunto de tarefas
sequenciadas utilizadas para se ensinar um dado conteúdo ou objeto” (2018, p.
  279). As autoras baseiam-se em Dolz, Noverraz e Schneuwly para quem as
sequências didáticas referem-se a “um conjunto de atividades escolares
organizadas de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou
escrito” (2004, p. 97).

Esta sequência de atividades deve partir de um bom plano de aula, o qual deve
estar de acordo com documentos curriculares o ciais, como a Base Nacional
Comum Curricular. A elaboração deste plano pelo professor parte de algumas
ações, conforme Haydt (2001). Dessa forma, ao planejar uma aula, o docente:

prevê os objetivos imediatos a serem alcançados (conhecimentos,


habilidades, atitudes);

especi ca os itens e subitens do conteúdo que serão trabalhados durante a


aula;

de ne os procedimentos de ensino e organiza as atividades de aprendizagem


de seus alunos (individuais e em grupo);

indica os recursos (cartazes, mapas, jornais, livros, objetos variados) que vão
ser usados durante a aula para despertar o interesse, facilitar a compreensão
e estimular a participação dos alunos;

estabelece como será feita a avaliação das atividades (HAYDT, 2001, s.p.).

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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

Além disso, basicamente, um bom plano didático, segundo o autor, apresenta:


 coerência e unidade; continuidadeCapítulo 1
e sequência; exibilidade; objetividade e 
funcionalidade; precisão e clareza (HAYDT, 2001, s.p.).

Não é exagero dizer que um bom plano de aula também explora diferentes
materiais e ferramentas para que o aluno consiga construir uma visão mais ampla
em seu aprendizado. Dessa forma, sempre que possível, para impulsionar sua
proposta no contexto das aulas remotas, visite diferentes ferramentas digitais
disponíveis, como lives, fóruns, enquetes e videoaulas, por exemplo. Ao trazê-las
para seu planejamento, procure manter uma linguagem dinâmica e didática ao
aluno. Procurando não só orientá-lo, mas estimulá-lo a estudar mesmo em casa.

Por último, destaco que, no contexto de pandemia, todos os itens que compõem
um plano de aula (como o tema; objetivos; conteúdos; habilidades; tempo de
execução; metodologia; avaliação; materiais necessários; e referências) precisam
ser adaptados para uma linguagem dialógica, em que tanto os pais quanto os
alunos possam entender o que o professor idealizou para a realização das
atividades. Isso implica dizer que se deve evitar termos técnicos ou rebuscados
que são facilmente compreendidos por especialistas da educação, mas que exigem
esforço e conhecimentos prévios de leitores que não são da área. Sua forma de
falar e escrever neste momento de construção da autonomia do aluno e na
orientação dos pais, professor, são fundamentais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese ao que estudamos até aqui, a sensibilização dos alunos e a assimilação


do conteúdo só é possível quando conseguimos produzir um texto que aproxime
de sua realidade, como bem pontua Piva, Freitas e Miskulin (2009).  A autonomia
no estudo do aluno depende, em parte, do planejamento do professor, dos
materiais e atividades que este propõe, e das estratégias textuais que utiliza para
alcançar e estimular este aluno.

Neste material, foi possível conhecer um pouco sobre uma das características
principais dos materiais elaborados para o contexto de estudo a distância: a
linguagem dialógica. Foram apresentados princípios teóricos de Paulo Freire e
Bakhtin (grandes referências no estudo da dialogicidade), para posteriormente
compreendermos a linguagem dialógica em propostas de aulas remotas. Também
foi possível observar na prática como funciona a linguagem dialógica na produção
de trilhas de aprendizagem e sequências didáticas com o uso de exemplos e
sugestões.

Para nalizar, ressalto que as propostas apresentadas devem ser adaptadas à


particularidade de cada sistema de ensino, pois muitos adotam a forma híbrida,
em que as trilhas e as sequências didáticas propostas são tanto on-line quanto
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05/09/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA

impressas para alunos que não têm acesso à internet. Dessa forma, vídeos devem
 Capítulovisando
ser substituídos por textos, por exemplo, 1 o ajuste à realidade local do 
aluno, porém, dentro do mesmo princípio interativo da dialogicidade.

Espero que este material tenha contribuído de alguma maneira para sua formação
neste período.

Até um próximo encontro!

Apresentação 

Conteúdo escrito por:


Todos os direitos reservados © 2020
Prof. Carlos Rodrigo de Oliveira

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