ELEMENTOS DE PEDOLOGIA
Huberto José Kliemann1
5.1. Histórico
A PEDOLOGIA é a ciência que trata da gênese, classificação e distribuição dos solos;
para muitos é simplesmente sinônimo de ciência do solo. Trata dos fatores e processos de
formação, incluindo a descrição de perfis, dos corpos e padrões de distribuição dos diversos
tipos de solo sobre a superfície da Terra.
O solo, historicamente, tem sido estudado e conceituado sob os mais diversos enfoques.
Aristóteles (384-322 a.C.) e seu sucessor, Teofrasto (372-287 a.C.) estudaram o solo em relação
à nutrição de plantas, cuja linha básica de pensamento foi seguida pelos escritores romanos
Catão, Plínio e outros. No período renascentista, a ciência do solo ganhou novo alento com os
trabalhos de Palissy e de Liebig2 que, na verdade, marcam o início da agricultura científica.
Liebig considerou o solo como um depositário passivo de nutrientes de plantas. Na metade do
século XIX Raman e Fallou desenvolveram a agrogeologia, vendo o solo como uma parte
intemperizada, um tanto lixiviada, do manto rochoso superficial da crosta terrestre. Fallou
(1794-1877, In: Pedologie oder allgemeine und besondere Bodenkunde, 1862) - atualmente
considerado o "verdadeiro 'pai' da Pedologia" (Feller et al., 2008) - sugeriu o termo
"pedologia", significando a ciência do solo teórica e geológica, distinguindo-a do termo
"agrologia", que designava a aplicação da ciência do solo na prática agronômica (Lembrete:
antigamente o agrônomo era chamado de agrólogo, analogamente ao geólogo).
Na Rússia, Lomonosov (1711-1765) conceituou o solo como um corpo em evolução, ao
invés de estático. Em seqüência, Dokuchaiev (1800-1890) na Rússia, Hilgard (1833-1916) e
Müller na Alemanha, aproveitando os ensinamentos do mestre Humboldt, conceituaram o solo
como o resultado da ação conjunta de diversos fatores geográficos, geológicos, climáticos, etc.
Vladimir Vasilevich Dokuchaiev (1886), possivelmente baseado nos escritos de Fallou
(Pedologie oder allgemeine und besondere Bodenkunde,1862), estudando os solos Chernozem
na Rússia e aplicando os conceitos de morfologia de solos, descreveu os principais grupos,
produziu a primeira classificação científica e desenvolveu métodos de mapeamento no campo e
de cartografia no laboratório. Desenvolveu e usou conceitos conceitos sobre a natureza e a
gênese de perfis de solo e das paisagens de solos, a nomenclatura básica de horizontes (A-B-C)
e um modelo fatorial, no qual os solos e padrões de solos são vistos como uma função de
fatores de estado do ambiente, variando independentemente. Embora não universal, esse
modelo ainda permanece, em várias formas revisadas, permitndo que outros pesquisadores
desenvolvessem os conceitos de zonalidade. Ergueu os "alicerces" da geografia e da gênese do
solo. Propôs que a palavra "solo" fosse usada como termo científico referente aos horizontes de
rocha que mudam continuamente sua estrutura sob a influência conjunta da água, do ar e de
várias formas de organismos vivos e mortos. Mais tarde estabeleceu a seguinte definição:
“O solo é um corpo natural, independente e evolucionário, com
morfologia própria, formado sob a influência dos fatores clima,
material de origem, relevo, tempo e organismos vivos”.
Alguns anos depois, Glinka (1867-1929) e Neustruyev (1874-1928) enfatizaram o
conceito de solo como uma entidade geológica superficial intemperizada, mostrando feições
1
Professor Titular, Escola de Agronomia da UFG.
2
Bernard de Palissy (1499-1589) publicou a obra “On Various Salts in Agriculture”, descrevendo o solo com fonte de nutrientes minerais para
as plantas. Justus von Liebig publicou em 1840 seu tratado de Química Aplicada à Agricultura e à Fisiologia, em que estabelece as bases da
teoria da nutrição mineral das plantas, propondo o uso de fertilizantes minerais na agricultura. No entanto, o verdadeiro 'pai' de Nutrição
Mineral de Plantas é Carl Sprengel (Gröger, Chem. Unserer Zeit, 2010, 44, 340 – 343), que publicou seus trabalhos a partir de 1826).
2
correspondentes às zonas climáticas. Finalmente, Müller (1878) elucidou o caráter biológico da
gênese dos solos de florestas e Gedroiz (1912) introduziu o conceito de troca catiônica (Buol et
al., 1980).
Os ensinamentos de Dokuchaiev atravessaram o Atlântico para os Estados Unidos da
América com Hilgard, geólogo e cientista de solo, que estabeleceu relações entre solos e cli-
mas, trabalhando com solos alcalinos. Marbut (1863-1935) e Kellog (1902-?) trouxeram para o
Ocidente as idéias de Glinka, que foram amplamente utilizadas no "U.S. Soil Survey", funda-
mentando suas próprias idéias de desenvolvimento e classificação de solos nos conceitos lega-
dos por Dokuchaiev e Glinka (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1962, 1982).
Hans Jenny3 (1899-1992) escreveu um tratado magistral sobre os cinco fatores de
estado que governam o desenvolvimento de perfis de solo. Grande parte do livro é devotado ao
modelo funcional-fatorial de formação do solo, em que os solos são vistos como o produto dos
cinco fatores interativos: clima, organismos, relevo, materail de origem e tempo. Jenny
desenvolveu muitas funções numéricas, com cada equação mostrando como os solos mudam
quando quatro dos fatores são mantidos constantes, deixando variar apenas um. A esse respeito
Jenny (1941 e edições posteriores) notou que “a meta de um geógrafo do solo é a montagem do
conhecimento do solo na forma de uma mapa”. No entanto, ele verificou que a elucidação
quantitativa dos processos de formação de solos não podia ser efetuada sem um grande volume
de dados, não disponíveis à época de seus escritos.
5.2 Conceitos básicos em pedologia
Para fundamentar os conceitos atuais de gênese do solo vamos reportar-nos ao trabalho
de Whitehead (1925), que enumera três estágios para o desenvolvimento de uma disciplina,
também aplicáveis a essa parte da ciência do solo:
Estágio 1: Localização no tempo e no espaço – na gênese do solo a operação básica de um
mapeamento de solos, para registrar as suas posições no espaço – são um prerrequisito para o
seu desenvolvimento como ciência. A localização dos solos com respeito aos fatores
ambientais, dos quais o tempo é um, constitui-se na característica essencial desse estágio.
Estágio 2: Classificação – Whitehead (1925) denomina-a de "meio-caminho entre o lado
concreto e imediato das coisas individuais e a completa abstração dos conhecimentos
matemáticos". Uma grande variedade de classificações genéticas e descritivas de solos foram
construídas. A terminologia vai desde símbolos até termos sintéticos baseados nas línguas
clássicas (latim e grego) e finalmente uma parafernália de termos vulgares, nomes e adjetivos.
Por exemplo, variedades (fases de solos), espécies (tipos de solos) e vários grupos mais
amplos (grandes grupos de solos nos USA e tipos de solos na Rússia) são abstrações de
entidades definidas, necessárias nas classificações (Cline, 1949).
Estágio 3: Abstração matemática – na gênese do solo,abstrações de grau mais elevado são
possíveis por via matemática. Diversas relações e fenômenos dentro do solo podem ser expres-
sadas por métodos estatísticos paramétricos e não paramétricos, o que, em tese, eliminaria
grande parte do julgamento subjetivo, de forma que os fatores falariam por si mesmos, às
vezes de forma inesperada.
O solo do ponto de vista genético não necessita de definições que visam uma aplicação
imediata, do tipo, por exemplo, "o solo é meio de crescimento para as plantas", "o solo é uma
fonte de argila", etc. Deve-se, sim, considerar o solo como um corpo natural de matéria mineral
e orgânica que mudou ou ainda está mudando em resposta aos processos de formação do solo.
Buol et al.(1980) discute alguns conceitos fundamentais, que se tem mostrado úteis para
entender a gênese do solo:
3
Trata-se do clássico tratado "Factors of soil formation", cujos enunciados básicos, também calcados nos conceitos de Dokuchaiev e de Glinka,
tem aceitação universal, na sua quase totalidade, até nossos dias.
3
Conceito 1: Os processos pedogenéticos atuais operam através do tempo e do espaço. Isso inclui o
princípio do uniformitarismo de Hutton que diz: "O presente é a chave do passado". Assim, esse
princípio também inclui a idéia de os termos antigos usados para designar os processos de
formação do solo (podzolização, laterização, etc.) são, na realidade, partes de processos
semelhantes, atuando em diferentes proporções e intensidades, em diferentes tempos e em
diferentes lugares.
Conceito 2: Regimes distintos de processos de formação do solo produzem solos distintos.
Conceito 3: O solo e a cobertura vegetal modificam os processos de degradação do solo.
Conceito 4: A argila é produzida no solo.
Conceito 5: Complexos organo-minerais são produzidos no solo.
Conceito 6: No decurso da pedogênese ocorre uma sucessão de solos, isto é, o conceito de "ciclo
pedológico" inclui solos jovens, solos maturos e solos senis.
Conceito 7: A complexidade da gênese do solo é mais comum do que a simplicidade.
Conceito 8: Pouco do "continuun" do solo é mais velho do que o Terciário e a maior parte dele
não mais velho do que o Pleistoceno. Esta é uma medida da limitada estabilidade da superfície da
terra.
Conceito 9: Conhecimentos de climatologia são essenciais para o entendimento dos solos (o
conceito russo de zonalidade climático-vegetativa é fundamental na compreensão da gênese do
solo).
Conceito 10: O conhecimento do pleistoceno é um prerrequisito para o entendimento dos solos.
Conceito 11: Existem pontos observáveis de mudança acentuada nos índices e graus de resposta do
solo ao ambiente. Como exemplos tem-se as mudanças climáticas, isto é, existem solos com
estágios de desenvolvimento não condizentes com o clima atual dominante.
Conceito 12: O conhecimento da gênese do solo é básica para o manejo do solo. As influências do
homem nos fatores de formação podem ser controladas e planejadas à luz dos conhecimentos da
gênese do solo.
Conceito 13: A paleopedologia é um aspecto de importância crescente na ciência do solo. Apesar
de a gênese do solo preocupar-se primordialmente com as paisagens atuais dos solos, ela está ga-
nhando utilidade histórica pela sua extensão para dentro do passado.
Assim, um solo deve ser tratado, no mínimo, sob três aspectos: como espécimen
anatômico, como transformador de energia e como sistema aberto.
5.2.1 Conceito genérico de perfil do solo
Para a completa compreensão de um perfil de solo vamos explicitar os conceitos de
solum, de sequum de solo e de seção de controle no contexto da paisagem.
O solum é um perfil "incompleto" de solo, que é definido simplesmente como o solo
genético desenvolvido pelas forças de construção do solo (Estados Unidos. Soil Survey Staff,
1962). Assim, o solum, para ser entendido de forma apropriada, deve ser observado, no
mínimo, em uma camada abaixo para saber onde termina a zona de enraizamento. Daí, tem-se
que o solum é a parte do perfil influenciada pelo sistema radicular. Os solos são corpos que
mostram seqüências tridimensionais de características, donde se tem o sequum vertical e o
sequum horizontal.
O sequum vertical de corpos de solo reconhece-se desde a superfície (em
contato com o ar) até a profundidade onde o material não mais é influenciado pelo
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processo genético e, por isso, chamado de material geológico. No sequum vertical verifica-
se, nos casos mais gerais, a diminuição da matéria orgânica, o aumento dos teores de
argila até uma certa profundidade e depois o seu decréscimo.
Um perfil "completo" de solo é a exposição vertical de uma porção da superfície da
crosta terrestre, que inclui todas as camadas que foram alteradas pedogeneticamente durante o
período de formação do solo (Figura 5.1).
Figura 5.1 Indivíduo de solo como unidade natural inserido na paisagem, caracterizado pela
posição, tamanho, inclinação, perfil e outras feições.
O sequum horizontal é uma sucessão contígua de corpos de solos na direção horizontal
(eixos x e y). É geralmente gradual, a não ser quando influenciado pela geologia.
A seção de controle é uma porção do perfil do solo, delimitada em termos de uma
profundidade arbitrária ou de uma faixa de profundidade. Alguns sola são tão profundos ou
possuem limites (contornos) inferiores tão sutis, que, na prática, o solo é classificado e mapeado
sem o conhecimento do perfil completo, ou sem a sua referência exata. Se possível, a seção de
controle não deve ser usada.
5.2.2 Unidade de solo: pédon, polipédon, perfil de solo, solum.
O pédon é definido como a menor unidade que pode ser chamada de "um solo". Um
pédon possui três dimensões. Seu limite inferior é vago e, algumas vezes arbitrário, o limite
entre solo e "não-solo". As dimensões laterais são suficientemente grandes para permitir o
estudo da natureza de quaisquer horizontes presentes, porque um horizonte pode ser variável na
espessura ou até descontínuo. Sua área varia de 1 a 10 m2, dependendo da variabilidade nos
horizontes. Em casos de horizontes intermitentes ou cíclicos, em geral, pédons de 2 a 7 m2
incluem a metade do ciclo. Um ciclo menor do que 2 m2 ou onde todos os horizontes são
contínuos e de espessura homogênea, o pédon possui área de 1 m2. O formato do pédon é
grosseiramente hexagonal.
O polipédon é um corpo de solo, consistindo de mais de um pédon. O conceito de
polipédon fornece a ligação essencial entre as entidades básicas de solo (pédons) e os
indivíduos de solo, que formam unidades nos sistemas taxonômicos. Assim, o polipédon é
definido como um ou mais pédons contíguos, todos incluídos numa faixa definida de uma série
simples de solo. É um corpo de solo real, físico, limitado pelo "não-solo" ou por pédons de
características diferentes com respeito aos critérios usados para definir uma série (Figura 5.2).
Seu tamanho mínimo é o mesmo do pédon, isto é, 1 m2. Seus limites com outros polipédons são
determinados mais ou menos exatamente por definição (Johnson, 1963).
5
Um corpo individual de solo é limitado lateralmente por outros corpos de solo ou por
material "não-solo". Corpos de solo adjacentes podem ser diferenciados com base na
profundidade do solum. Para se situar o solo na paisagem e fornecer elementos para a classifi-
cação taxonômica devemos definir pédon e polipédon (Figura 5.2).
Figura 5.2 Pédon e perfil de solo.
5.2.3 Descrições de campo
A morfologia dos solos é estudada largamente em condições de campo e é melhor
avaliada "in situ" do perfil em trincheiras, suficientemente grandes para a observação de um
pédon. Segundo Santos et al. (2005) podem-se usar cortes de estradas para exames de perfis na
fase de mapeamento, mas para descrições detalhadas e amostragens importantes devem ser
evitados, salvo quando recentes, mas mesmo assim, após a limpeza cuidadosa dos perfis. Essa
recomendação deve-se a vários fatores, que podem alterar a morfologia original do solo, tais
como: exposição demasiada do solo à insolação, chuvas, ciclos alternados de umedecimento e
secamento, ação de máquinas (compactação, espelhamento), retirada de material da superfície
(decepação parcial ou total do horizonte A), contaminação do solo por calcários, materiais de
pavimentação, etc. Em áreas onde existem cortes, pode-se avaliar o perfil por meio de
sondagens, de preferência com trados de caneco ou holandês (Figura 5.3)
Figura 5.3 Parte do material de campo usado para exame de perfis de solo. 1. martelo pedoló-
gico; 2. trado de rosca; 3. trado holandês; 4. trado de caneco; 5. enxadão; 6. pá qua-
drada; 7. pá reta; 8. faca.
6
Para a descrição da morfologia de um solo, abrem-se trincheiras de tamanho suficiente,
para se possam avaliar as características morfológicas, tomar fotografias e coletar material. Na
maioria dos casos a abertura é feita maualmente. Para isso algumas ferramentas são
indispensáveis (Figura 5.xx), tanto para a abertura como para as avaliações morfológicas.
As dimensões das trincheiras, em razão das variações verticais e horizontais, devem ter,
sempre que possível, 2,0 m de profundidade para a descrição de perfis de solos profundos.
Assim, dimensões de trincheiras de 2,0 m de profundidade por 1,5 m de comprimento e 1,2 m
de largura (Figura 5.xx) são comumente usadas em levantamentos de solos. A principal
preocupação é a de que se tenha uma face vertical, pelo menos, bem lisa e iluminada, a fim de
expor claramente o perfil.
A superfície de observação do perfil não deve ser alterada e nem o material retirado
depositado sobre essa mesma face. Recomenda-se que em um dos lados da trincheira sejam
escavados degraus (Figura 5.xx) , para facilitar o acesso e o manuseio do material coletado
(etiquetagem, amarrio, preparo das amostras para densidade e micromorfologia).
Figura 5.4 Ilustração de uma trincheira preparada para a descrição do perfil do solo (Santos et
al., 2005).
5.2.2.1 Seleção do local e seqüência de exame morfológico do perfil
A seleção do local onde se vão examinar e descrever perfis depende das finalidades, que
podem ser diversas: a) identificação e caracterização de unidades de mapeamento, estudos de
7
unidades taxonômicas, estudos específicos de gênese, manejo, fertilidade, irrigação, trabalhos
de engenharia e meio-ambiente.
O caso mais comum de levantamento de solos, em que o objetivo final é a representação
da unidade de mapeamento, deve-se ter o cuidado de escolher locais, para a descrição de perfis
e coleta de material, que sejam representativos da referida unidade. Por isso a seleção do local
sódeve ser feita o reconhecimento da área. Dessa forma, não se recomendam locais de transição
entre unidades de mapeamento. Sempre que possível, a descrição de perfis e respectiva coleta
de material dos horizontes devem ser em áreas ainda sob vegetação natural.
O uso da faca e, ou, do martelo pedológico, facilita a percepçãp das alterações da
consistência, o grau de desenvolvimento da estrutura e a textura do solo ao longo do perfil. A
observação visual permite a diferenciação da cor, a transição entre horizontes, tamanho e forma
da estrutura e mesmo a textura, em alguns solos. Ainda são perceptíveis materiais facilmente
intemperizáveis, fragmentos de rocha, cerosidade, cimentação, nódulos e concreções minerais e
coesão. Muitas vezes, dados analíticos são usados para ajustes posteriores.
Após a abertura da trincheira ou preparo do corte de estrada, inicia-se o exame do perfil
pela separação dos horizontes, sub-horizontes e, ou, camadas, determinando-se em seqüência: a
cor,a textura, as consistências seca, úmida e molhada de cada horizonte e, ou, camada, com as
respectivas transições entre eles, conforme especificações detalhadas adiante.
Qualquer informação relevante deve acompanhar a descrição do perfil, tasi como:
distribuição de raízes; atividade biológica; presença de linhas de pedras (“stone lines”), de
concreções ou nódulos; acúmulo de sais; compactação; local de descrição (trincheira, corte de
estrada ou tradagem); altura do lençol freático, etc.
No exame do perfil do solo todas os horizontes e, ou, camadas são separadamente
registrados e descritos. Descrições objetivas são absolutamente essenciais, pois sem boas
descrições e coletas de amostras dos perfis, os dados de laboratórionão podem ser corretamente
interpretados.
Para algumas classes de solos é necessária a observação de certas características
morfológicas com diferentes teores de umidade no perfil. Citam-se as classes de Latossolos
Amarelos e Argissolos Amarelos (confirmação do seu grau de coesão), Latossolos Brunos
(observação do fendilhamento quando secos, o que é pouco comum em outros Latossolos),
Vertissolos (fendilhamento, dureza, plasticidade e pegajosidade) e Organossolos (mudanças de
coloração com a oxidação do material) (Santos et al., 2005).
5.2.3.2.1. Espessura e arranjamento dos horizontes
Feita a separação dos horizontes, mede-se a espessura de cada horizonte ou camada.
Para isso coloca-se uma fita métrica ou trena na posição vertical, fazendo coincidir o zero (0)
com a parte superior de horizonte superficial (desprezando-se o horizonte O) e daí se começa a
leitura da profundidade [Figura 5.5(a)]. As medidas de profundidade e espessura são dadas em
centímetros, sendo usada em horizonte com linha de separação plana ou horizontal. Quando a
faixa ou linha de separação entre horizontes é sinuosa, ondulada, irregular, descontínua ou
quebrada, procede-se como mostra a Figura 5.5 (b).
(a) (b)
Figura 5.5. Representação das medições das profundidades dos horizontes quando a linha ou
faixa de separação perfil completo - (a) é plana ou horizontal; (b) ondulada,
irregular, descontínua ou quebrada (Santos et al., 2005).
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5.2.3.2.2 Transição entre horizontes
A caracterização de transição entre horizontes é importante tanto em relação à gênese,
quanto fatores práticos de uso e manejo, com destaque para: a) suscetibilidade à erosão, b)
continuidade do sistema poroso; e c) desenvolvimento do sistema poroso.
A transição refere-se à nitidez ou contraste de separação entre os mesmos. Os graus de
distinção (Figura 5.6 a,b,c,d, respectivamente) quanto à faixa ou linha sepração:
– transição abrupta – < 2,5 cm;
– transição clara – 2,5-7,5 cm;
– transição gradual – 7,5-12,5 cm;
– transição difusa – >12,5 cm.
As formas (topografia), quanto à linha ou faixa de separação entre horizontes (Figura
5.6, a, b, c e d, respectivamente ) podem ser:
– transição horizontal ou plana – aproximadamente plana e paralela à superfície do
solo;
– transição ondulada ou sinuosa – sinuosa, com níveis mais largos do que profundos,
em referência ao plano horizontal;
– transição irregular – em referência ao plano horizontal, apresenta desníveis mais
profundos do que largos;
– transição descontínua ou quebrada – a separação não é contínua, podendo-se
verificar partes de um horizonte parcial ou totalmente desconectadas de outras partes do
mesmo perfil.
(a) b) (c) (d)
Figura 5.6 Transições entre horizontes. a: horizontal ou plana; b: ondulada ou sinuosa; c:
irregular; d: descontínua ou quebrada. e a linha for ondulada, anota-se a transição
gradual e ondulada (Lemos & Santos, 1996).
Assim, por exemplo, quando a faixa de transição for maior que 12,5 cm e a linha de
separação for plana, a notação será: transição difusa e plana; se a faixa variar entre 7,5e 12,5 cm
5.2.3 Características morfológicas do solo
A morfologia do solo refere-se à descrição qualitativa das propriedades detectadas pela
visão e pelo tato: cor, textura, estrutura, porosidade, consistência, etc. nos horizontes e, ou,
camadas. É feita no momento da descrição do perfil do solo, para cada horizonte ou camada
individualmente, seguindo registros padronizados.
O exame de campo revela muitas feições, permitindo inferências que nem sempre
podem ser obtidas a partir de dados de laboratório. O motivo é simples: o solo é um corpo
dinâmico, cujas carcterísticas variam com o tempo, às vezes em curtos intervalos, como a
umidade, a temperatura, a população e atividade microbianas. Partes integrantes do solo – a
vegetação e suas raízes, fauna e seu habitat, a organização estrutural, por exemplo – não são
preservadas em amostras transportadas para o laboratório. Isso não significa que dados de
laboratório não sejam importantes, porém, muitas conclusões, inferências e transferência de
conhecimentos baseiam-se em informações de campo ancoradas em dados de laboratório.
Constatações de campo e dados de laboratório tendem a se complementar (Santos et al, 2005).
9
5.2.3.1 Cor
A cor do solo é uma das propriedades mais proeminentes e facilmente determinável. Por
isso é usada para identificar, descrever e diferenciar os solos no campo. Apesar de ter pequena
influência no comportamento do solo, ela permite a avaliação indireta de propriedades
importantes que informam sobre a ação combinada dos fatores e processos de formação. Por
essa razão, na maioria dos sistemas de classificação de solos a cor é usada como atributo
diferencial de classe em vários níveis categóricos.
Diversas inferências podem ser feitas a partir da cor sobre propriedades do solo e sua
gênese. Cores escuras podem indicar acumulação de matéria orgânica (excetuando-se solos
sódicos, em que o sódio dispersa a MOS), especialmente emno horizonte superficial (A), em
ambientes mal drenados ou de temperaturas mais baixas. Em horizontes subsuperficiais a cor
escura indica a presença de minerais de ferro (magnetita ou maghemita), complexos organo-
ferrosos e organo-manganosos e matéria orgânica translocada, na forma ferro-húmica
(horizonte Bhs em Espodossolos, por exemplo). A cor é, provavelmente, a feição mais óbvia do
solo,facilmente visível até por leigos.
As cores avermelhadas até amareladas de solos minerais indicam a presença de
diferentes formas químicas de óxidos de ferro, como atestam Kämpf & Schwertmann (1983) e
Schwertmann (1985), caracterizando pedogênese diferenciada. Os matizes vermelhos e
amarelos são relacionados com variadas proporções de goetita e hematita, aumentando as
pigmentações amrela e vermelha, respectivamente. O predomínio da hematita é indicador de
ambiente mais bem drenado, com regimes de umidade mais seco e térmico mais elevados; a
goetita predomina em ambientes ainda bem drenados, mas com regimes de umidade e de
temperatura mais baixos. A presença da hematita ou da goetita no solo também pode
realcionar-se ao material de origem: facilmente intemperizáveis propiciam elevadas taxas de
liberação de ferro para a solução tendem a formar hematita; materiais cuja liberação de ferro é
lenta, formam preferencialmente a goetita.
Em ambientes hidromórficos as cores alaranjadas relacionam-se à lepidocrita; as cores
amarelo-brunadas, à presença de ferrihidrita, que tende a acumular-se na forma de gel.
As cores esbranquiçadas e acinzentadas relacionam-se à maior concentração de
minerais claros como caulinita, carbonatos, quartzo, etc., indicando, em geral, a perda de oxi-
hidróxidos.
Cores mosqueadas ou variegadas, comuns em solos com lençol freático oscilante,
realcionam-se a processos de oxi-redução de oxi-hidróxidos de ferro, formando plintitas. Com
umedecimento e secamento alternados formam-se concreções ou camadas petroférricas ou
petroplínticas concrecionárias (USDA, 1975; Moreira, 2006). Em solos poucos desenvolvidos
as cores mosqueadas ou variegadas relacionam-se à presenca de minerais em vários estágios de
intemperismo.
As relações entre cores do solo e composição e ambiente muitas podem ser observadas
ao longo de toposseqüencias. As cores vermelhas são encontradas, em geral, em solos de
superfícies convexas, elevadas e bem drenadas, na parte superior da enconsta; as cores
amareladas e horizontes mosqueados em solos de superfícies côncavas, com drenagem
deficiente e no terço inferior da encosta; e as cores cinzentas e escuras e os horizontes
mosqueados, na parte inferior de encostas mal drenadas.
5.2.3.1.1 Determinação da cor solo
O matiz é a cor espectral dominante e é relacionada ao comprimento de onda da luz. O
valor é a tonalidade da luz e é relacionado à quantidade de luz refletida. O croma é a medida da
pureza da cor espectral, ou intensidade de saturação (Figura 5.7).
Para descrever as cores dos solos usa-se uma parte das cartas de Munsell, dentro da
faixa dos matizes vermelho e amarelo (Figura 5.8)
10
O matiz é a cor espectral dominante e é relacionada ao comprimento de onda da luz.
Cada página da escala de Munsell corresponde a um matiz, cuja simbologia encontra-se no
canto superior direito de cada página.
O croma (intensidade ou saturação ou pureza de cor) é determinada da seguinte
maneira: cada matiz será combinada em diferentes proporções com cada uma das tonalidades
cinza, como se vê na Figura 5.8b. Vamos tomar o matiz 5,0 R e o valor 6, com 20 subdivisões.
Assim, o número 0 (zero) é composto de 20 partes de cinza número 6 e nenhuma parte da matiz
5,0 R. Podem ser feitas diversas combinações, mas nas cartas de solos apenas são aproveitadas
as combinações de números 2 a 8 (Figura 5.8).
Figura 5.7 Matizes que compõe o espectro e que aparecem nas cartas de cores de Munsell.
(a)
(b)
Figura 5.8 Esquemas demonstrativos da formação dos matizes das cartas de cores (hue) (a);
das tonalidades ou valores (value)(b); e (c) da combinação dos matizes com as
tonalidades usados para formar os padrões de determinação das cores do solo.
O valor é a tonalidade da luz e é relacionado à quantidade de luz refletida. O croma é a
medida da pureza da cor espectral ou intensidade de saturação (Figura 5.8b)
A carta completa de cores de Munsell para solos apresenta nove folhas, com diferentes
matizes, totalizando 248 padrões. No alto à direita o matiz 5,0 é cor vermelha pura; o matiz 7,5
YR é formado de 87,5 de vermelho e 12,5 de laranja; o matiz 10 R tem 75% de vermelho e
25% de laranja; o matiz 2,5 R tem 62,5% de vermelho e 37,5% de laranja; o matiz 5,0 YR tem
50% de vermelho e 50 % de amarelo (Figura 5.8).O valor representa a combinação de preto
11
(ausência de cor) e de branco (combinação de todas as cores). Assim, o valor 0 (zero) significa
ausência de brilho e o valor 10 (dez) a presença total de brilho. Nas cartas de Munsell para
solos aparecem os valores de tonalidade de 2 a 8.
À direita de cada folha acha-seo valor alfanumérico do matiz (hue). Na primeira coluna
da esquerda para a direita e de baixo para cima estão os valores (value), indicados por números
que vão de 2 a 8. Indo da esquerda para a direita aumenta a intensidade das cores (saturação),
em que proporcionalmente diminuem as tonalidades de cinza e aumenta a pureza da cor.
É possível adquirir folhas especiais para certos tipos de solos gleizados, contendo os
matizes 5GY, 5G, 5BG e 5B. Algumas páginas das cartas de cores de solos de Munsell
possuem símbolos como N 6/, que denotam cores totalmente acromáticas (cores neutras), não
possuindo matiz e croma, mas somente valor.
Caso a cor do solo não coincidir exatamente com as cores da escala de Munsell, ela
pode ser determinada por interpolação, com aproximações de meia unidade de valor e croma, e
meia ou uma unidade de matiz. Por exemplo, para uma amostra entre os matizes 2.5 Y e 5YR,
porém mais próximo de 2.5YR, o matiz poderia ser 3YR; situando-se mais próximo de 5YR,
poderia ser anotado com 4YR. Interpolações de matizes melhoram a correlação entre a cor do
solo e os constituintes minerais que lhes conferem a cor, principalmente os óxidos de ferro
(Kämpf & Schwertmann, 1983).
Tabela 5.1. Quantidade, tamanho e contraste dos mosqueados (Santos et al., 2005)
Quantidade Tamanho Contraste
Classe Àrea Superficial Classe Tamanho do eixo maior Classe Definição
Pouco < 2% Pequeno < 5 mm Difuso Indistinto, visível apenas
com exame detalhado
Comum 2-20% Médio 5-15 mm Distino Facilmente visível
Abundante > 20% Grande > 15 mm Proeminente Diferença da cor da matriz
do solo é de várias unidades
de matiz, valor ou croma
É necessário especificar a condição de umidade na qual a cor foi determinada (seco,
seco triturado, úmido e úmido amassdo). O registro da cor do solo é feito na seqüência: nome
da cor, matiz, valor, croma e a condição de umidade, como segue, por exemplo: Vermelho-
escuro, 5YR 3/5 (úmido). A cor da matriz é a cor dominante do solo, mas alguns horizontes
podem estar estar com mais de uma cor. Esse padrão é denominado de mosqueado e, ou,
variegado, que deve ser tomado separadamente da cor da matriz. Apenas a cor úmida é
suficiente na determinação da cor do mosqueado, e a notação é feita da seguinte maneira: cor
de fundo (matriz) e cor ou cores das manchas; e arranjamento do mosqueado (Figura 5.9). A
quantidade, tamanho e contraste dos mosqueados encontram-se na Tabela 5.1.
A designação da cor do solo é feita com a tradução padronizada e homologada pela
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Tabela 5.2). Um detalhe importante na detrminação
de cor é a presença de boa iluminação e ângulo adequado de incidência dos raios solares.
Observando-se as cores de um perfil de solo, deve-se procurar as mesmas condições de
iluminação da amostra, anotando-se a cor mais aproximada dos padrões de referência.
5.2.3.2 Textura
Pela desagregação de uma amostra de terra observa-se que ela é composta de partículas
sólidas de diversos tamanhos e de natureza predominatemente mineral. Pelo seu diâmetro as
partículas são classificadas em frações granulométricas, compostas de terra fina seca ao ar
(areias, silte e argila, menores que 2 mm) e das frações mais grosseiras (cascalhos, calhaus e
matacões, maiores que 2 mm).
12
Figura 5.9 Referencial de estimativa das percentagens de mosqueados em uma área do perfil
do solo (Santos et al., 2005).
Tabela 5.2 Correspondências dos nomes das cores de solos das cartas de Munsell do inglês
para o português.
Cor Cor
Munsell (Inglês) Português Munsell (Inglês) Português
Black Preto Light reddish brown Bruno-avermelhado-claro
Bluish black Preto-azulado Light reddish gray Cinzento-avermelhado-claro
Bluish gray Cinzento-azulado Light yellowish brown Bruno-amarelo-claro
Brown Bruno Bluish gray Cinzento-azulado
Brownish yellow Amarelo-brunado Olive Oliva
Dark bluish gray Cinzento-azulado-escuro Olive brown Bruno-oliváceo
Dark brown Bruno-escuro Olive gray Cinzento-oliváceo
Dark gray Cinzento-escuro Olive yellow Amarelo-oliváceo
Dark grayish brown Bruno-acinzentado-escuro Pale brown Bruno-claro-acinzentado
Dark grayish green Verde-acinzentado-escuro Pale green Verde-claro-acinzentado
Dark greenish gray Cinzento-esverdeado-escuro Pale olive Oliva-claro-acinzentado
Dark olive Oliva-escuro Pale red Vermelho-claro-acinzentado
Dark olive brown Bruno-oliváceo-escuro Pale yellow Amarelo-claro-acinzentado
Dark olive gray Cinzento-oliváceo-escuro Pink Rosado
Dark red Vermelho-escuro Pinkish gray Cinzento-rosado
Dark reddish brown Bruno-avermelhado-escuro Pinking white Branco-rosado
Dark reddihs gray Cinzento-avermelhado-escuro Red Vermelho
Dark yellowish brown Bruno-amarelado-escuro Reddish black Preto-avermelhado
Dusky red Vermelho-escuro-acinzentado Reddish brown Bruno-avermelhado
Gray Cinzento Reddish gray Cinzento-avermelhado
Grayish brown Bruno-acinzentado Reddish yellow Amarelo-avermelhado
Grayish green Verde-acinzentado Strong brown Bruno-forte
Greenish black Preto-acinzentado Very dark brown Bruno muito escuro
Greenish gray Cinzento-esverdeado Very dark gray Cinzento muito escuro
Light bluish gray Cinzento-azulado-escuro Very dark grayish brown Bruno-acinzentado muito escuro
Light brown Bruno-claro Very dusky red Vermelho muito escuro-acinzentado
Light brownish gray Cinzento-brunado-claro Very pale brown Bruno muito claro-acinzentado
Light gray Cinzento-claro Weak red Vermelho-acinzentado
Light greenish gray Cinzento-esverdeado-claro White Branco
Light olive brown Bruno-oliváceo-claro Yellow Amarelo
Light olive gray Cinzento-oliváceo-claro Yellowish brown Bruno-amarelado
Light red Vermelho-claro Yellowish red Vermelho-amarelado
13
A textura refere-se à proporção relativa das frações texturais mais finas de areias, silte e
argilas. No campo a proporção dessas frações texturais é estimada pelo tato, manipulando-se
entre o polegar e o indicador uma amostra previamente umedecida (sem excesso de água) e
amassada na palma da mão até formar uma massa homogênea. Esse procedimento é
fundamental para se obter a completa dispersão e orientação das partículas do solo (Schneider
et al., 2007). Para a fração areia há a sensação tátil de aspereza, não plástica e não pegajosa,
quando molhada e grãos simples quando seca; para a fração silte, a sensação é de sedosidade,
ligeiramente plástica e não pegajosa quando molhada; para a fração argila a sensação é de
pegajosidade plástica e pegajosa quando molhada.
A habilidade em estimar a textura do solo pelo tato pode ser desenvolvida por
comparação, manipulando-se amostras cuja composição granulométrica foi previamente
determinada em laboratório ou estimada por técnico experiente.
É importante salientar que a sensação ao tato, além de pelo tamanho de partículas,
também é inflenciada pela natureza das partículas minerais e pela matéria orgânica. A argila
tende a aumentar a plasticidade e a pegajosidade do solo, ao passo que a matéria orgânica tende
a diminuí-la. Em solos com argilas 2:1 expansivas, a sensação de plasticidade e pegajosidade é
mais intensa que em solos com argilominerais 1:1, com os mesmos teores de argila.
Os solos argilosos com altos teores de óxidos de ferro possuem microagregação estável,
que transmite a sensação de silte ou areia ao tato quando as amostras não tiverem sido
suficientemente amassadas. Somente após amassamento prolongado, consegue-se dispersar
esses microagregados, possibilitando a sensação real de plasticidade e pegajosidade da fração
argila. Em geral, a dispersão desses solos em laboratório também é difícil, sendo necessário, em
muitos casos, a remoção dos óxidos de ferro.
Embora seja difícil avaliar, no campo, a proporção das frações de areia em sua forma
subdividida (areia muito grossa, grossa, média, fina e muito fina), a prática permite algumas
inferências importantes. Por exemplo, um solo arenoso será tanto mais áspero, quanto maior for
o teor de areia muito grossa. Os grãos de areia são facilmente observados a olho nu, podendo
ser percebida a textura também pelo som, quando o material é esfregado entre os dedos (Santos
et al., 2005).
Figura 5.10 Triângulo textural representado as classes texturais dos solos (Estados Unidos,
1959, 1993).
Dependendo da textura, os solos podem ser agrupados em classes texturais, de acordo
com o triângulo textural de (Estados Unidos, 1959, 1993) (Figura 5.10). Assim, uma amostra
14
que apresenta em torno de 40% de argila, 10% de silte e 50% de areia, pelo triângulo textural,
enquadra-se na classe argilo-arenosa
Nos trabalhos de levantamentos de solos produzidos no Brasil têm sido usadas 13
classes texturais em 5 grupamentos:
– Textura arenosa – compreende as classes texturais areia e areia franca.
– Textura argilosa – compreende as texturais, ou parte delas, tendo na composição
granulométrica de 35% s 60% de argila.
– Textura média – compreende classes texturais ou parte dekas que apresentam na
composição granulométrica menos de 35% de argila e mais de 15% de areia, exluídas
as classes areia e areia franca.
– Textura siltosa – compreende parte de classes texturais que tenham silte maior que
50%, areia menor que 15% e argila menor que 35%.
Na descrição morfológica de solos devem-se registrar as frações grosseiras quanto ao
tamanho e grau de arredondamento (Figura 5.11). No campo devem ser descritos com o auxílio
de lupa de mão de 10 aumentos. A nomenclatura guarda eqüivalência comaquela adotada pelo
laboratório do Setor de Mineralogia da Embrapa Solos.
A B C D E
Figura 5.11 Classes de arredondamento. A: angular; B: subangular; C: subarredondada; D:
arredondada; E: bem arredondada (Santos et al., 2005).
Para as frações grosseiras, independentemente da natureza do material, são adotadas as
seguintes denominações:
– Tamanho:
Cascalho – fração de 2 a 20 mm;
calhaus – fração de 20 a 200;
matacões – frações maiores de 200 mm.
A ocorrência de cascalhos será registrada como qualificativo da textura nas descrições
morfológicas da seguinte maneira:
– Percentagem
muito cascalhento – mais de 50% de cascalho;
cascalhento – entre 15% e 50% de cascalho;
com cascalhos – entre 8% e 15% de cascalhos.
A constituição mineralógicas dessas frações dever ser especificada sempre que possível.
O termo seixo é utilizado apenas para as frações grosseiras que apresentam contornos
arredondados (rolados). Exemplo: cascalhos de quartzo constituídos por seixos. No caso de o
material apresentam sensação micácea, ou seja, material com abundância de mica, deve-se
apresentar após a classe de textura, entre parênteses, a palavra micácea. Ex.: argila micácea.
5.2.3.3 Estrutura do solo
A estrutura refere-se à agregação de partículas individuais de solo em unidades maiores,
com planos de fraqueza entre eles. Os agregados individuais são conhecidos como peds e os
15
solos que não possuem agregados com contornos naturalmente preservados (peds) são
considerados sem estrutura. Duas formas sem estrutura são reconhecidas, isto é, grãos simples
e estrutura massiva. No segundo caso as partículas mostram coesão tão íntima que a massa não
mostra planos de fraqueza.
Para averiguar a estrutura de um horizonte de solo deve-se agir de maneira que a ação
de observação não venha a promover a destruição ou o aparecimento de determinada estrutura.
Para tanto, os agregados são separados calmamente com os dedos, permitindo distingui-los nas
estruturas maiores.
A classificação para a estrutura dos agregados mais empregada é a de Nikiforoff (1951),
que contempla as características forma, tamanho e grau de desenvolvimento das unidades
estruturais. A forma define o tipo de estrutura; o tamanho, a classe de estrutura; o grau de
desenvolvimento, o grau de estrutura.
O tamanho dos agregados em macro-estrutura e micro-estrutura é feito arbitrariamente,
de maneira subjetiva, à vista desarmada, sem o uso de lentes. Em condições de campo observa-
se a macro-estrutura de modo qualitativo. Podemos distinguir as estruturas (Figura 5.12):
– laminar – quando as partículas estão arranjadas num plano horizontal e apresentam
aspecto de lâminas de espessura variável, mas a dimensão horizontal é sempre a
maior. Esse tipo de estrutura ocorre em solos de regiões secas e frias, onde há
congelamento. É mais encontrado nos horizontes A e E e ainda no C, em perfis não
perturbados. Também pode ser encontrado em solos compactados;
– prismática – essa estrutura apresenta o formato de prismas quando as partículas estão
em torno de uma linha vertical dominante. Os limites verticais são aproximadamente
arredondados;
– em blocos – é uma estrutura poliédrica (com várias faces), em que as três dimensões
são aproximadamente iguais. Pode ser dividida em blocos angulares e blocos suban-
gulares. Nos blocos angulares as faces são planas e os vértices com ângulos vivos;
os blocos subangulares têm misturas de faces arredondadas e planas com a maioria
dos vértices arredondados;
– granular ou esferoidal – é uma estrutura que apresenta a forma e o aspecto
arredondado, porém não apresenta faces de contato com as unidades estruturais
vizinhas, como ocorre na estrutura em blocos.
Figura 5.12 Tipos de estrutura: a: laminar; ba: prismática; bb: colunar; ca: blocos angulares;
cb: blocos subangulares; d: granular (Santos et al., 2005).
Na estrutura granular distinguem-se dois sub-tipos: a estrutura granular propriamente
dita e a estrutura em grumos. A diferença reside essencialmente na porosidade; enquanto que
na estrutura granular as unidades estruturais são pouco porosas, nos grumos a porosidade é
muito alta.
O tamanho das unidades estruturais é dividido segundo as classes: muito pequeno,
16
pequeno, médio, grande e muito grande. Na Tabela 5.3 vemos que nas diferentes classes os
diâmetros variam com o tipo de estrutura.
A terceira característica considerada é o grau de desenvolvimento da estrutura, que
reflete as condições de coesão inter e intra-agregados. Os graus de estrutura dividem-se em:
Sem unidades estruturais ou peds – grãos simples, não coerente, maciça-coerente;
com estrutura – são definidos três graus de estrutura:
fraca – as unidades estruturais são poucos freqüentes em relação à terra solta;
moderada – as unidades estruturais são separadas com facilidade e há pouco
material solto;
forte – as unidades estruturais são separadas com facilidade e quase não se
observa material de solo solto.
Tabela 5.3. Tipos e classes de estruturas (EUA. Soil Survey Staff, 1951; Nikiforoff, 1951).
Tipos (formas e arranjos dos agregados)
Classes Laminar Prismática Blocos Grânulos Grumos
Prismática Colunar Angulares Subangulares (não porosos) (porosos)
Muito pequena < 1 mm < 10 mm < 10 mm < 5 mm < 5 mm < 1 mm < 1 mm
Pequena 1 a 2 mm 10 a 20 mm 5 a 10 mm 5 a 10 mm 5 a 10 mm 1 a 2 mm 1 a 2 mm
Média 2 a 5 mm 20 a 50 mm 20 a 50 mm 10 a 20 mm 10 a 20 mm 2 a 5 mm 2 a 5 mm
Grande 5 a 10 mm 50 a 100 mm 50 a 100 mm 20 a 50 mm 20 a 50 mm 5 a 10 mm -
Muito grande > 10 mm > 100 mm > 100 mm > 50 mm > 50 mm > 10 mm -
Esses três graus são definidos em função da resistências dos agregados, da sua
distinção na face exposta do horizonte na trincheira e pela proporção entre materiais agregados
e não-agregados. Assim, um solo com B latossólico pode apresentar estrutura forte muito
pequena granular, ou fraca muito pequena blocos subangulares ou outras variações, conforme
o grau de desenvolvimento, classe de tamanho e tipos dos elementos de estrutura. Num solo
com horizonte B textural encontra-se a estrutura moderada (grau), média (classe) e blocos
subangulares (tipo) e num solo com B nátrico a estrutura é forte grande colunar. No caso do
horizonte B latossólico tipo "pó-de-café" a estrutura mais comum é a forte muito pequena
granular.
A estrutura varia em função da umidade e por isso é necessário estabelecer o limite de
umidade ideal para a observação de campo. Segundo Santos et al. (2005) a condição mais
favorável é a ligeiramente mais seca que úmida. Os perfis de solos dificilmente apresentam
estrutura uniforme na seqüência dos horizontes componentes. A variação mais comum é
aquela apresentada na Tabela 5.4, referindo-se, principalmente aos horizontes A, E, B e C.
Tabela 5.4 Relação genérica de tipos de estrutura e horizontes principais dos perfis dos solos.
Tipos de estrutura Horizontes principais
(ou ausência) A E B C
Grumosa +
Granular * x x x
Blocos sub-angulares o o * x
Blocos angulares * x
Prismática * x
Colunar +
Grãos simples o * x x
Maciça o x x
Notações: + privativa; * preferencial; x corrente; o rara. Fonte: Oliveira et al. (1992)
Atenção especial deve ser dada ao registro da estrutura de horizontes que apresentam
propriedades vérticas, anotando detalhes de formas e dimensões das unidades estruturais. Na
sua descrição, os termos paralelepipédica e cuneiforme podem ser empregados (Figura 5.13).
– Paralelepipédica – é um tipo de estrutura prismática, em que as unidades estruturais
17
apresentam a forma de paralelepípedos.
– Cuneiforme – é um tipo de estrutura prismáticana qual as unidades estruturais
apresentam a formas de cunhas.
Figura 5.13 Representação das formas estruturais: paralelepipédica (a) e cuneiforme (b).
Fonte: Schoeneberger et al. (1998)
Diversos fatores são responsáveis pela estrutura do solo, dependendo dos fatores e
processos e do manejo do solo A experiência mostra que:
– A estrutura granular é mais comum no horizonte A, onde tende a ser maior e mais
fortemente desenvolvida que no horizontes subsuperficiais. Para tal contribuem os
maiores teores de matéria orgânica, a atividade da biota (microorganismos e fauna do
solo), o sistema radicular, amplitudes de temperatura, ciclos de umedecimento e
secamento;
– a estrutura do horizonte B dos Latossolos pode ser bastante variada e relacionada
com a mineralogia e o teor de argila:
os de textura franco-arenosa tendem a apresentar textura fraca pequena granular
ou fraca pequena ou média blocos subangulares;
os mais cauliníticos, argilosos ou muito argilosos em geral possuem estrutura em
blocos subangulares fraca ou moderadamente desenvolvida;
os mais oxídicos (estrutura ”pó de café”) forte pequema granular, justificada pela
ocorrência expressiva de óxidos de alumínio (gibbsita) e, ou, ferro (hematita e
goethita);
no horizonte Bw de Latossolos Brunos do Sul do Brasil, além da estrutura em
blocos moderadamente desenvolvida, é comum o seu marcante fendilhamento
quando seco;
o horizonte Cg de Gleissolos normalmente apresenta aspecto maciço, resultado da
saturação de água constante, menores atividade microbiana, amplitudes térmicas e
ciclos de umedecimento e secagem, exceto quando drenados artificialmente;
– horizontes subsuperficiais de solos argilosos, com predomínio de argila expansiva
2:1 (Vertissolos, Luvissolos, Chernossolos Argilúvicos) tendem a apresentar arestas
mais vivas nas faces dos elementos estruturais (blocos angulares fortemente
desenvolvidos e estrutura composta (prismática composta de blocos). Nesse caso,
ambas as formas de estruturas devem ser descritas;
– horizontes subsuperficiais de solos com percentagem de saturação por sódio (PST)
elevada e presença de argilominerais 2:1 tendem a apresentar estrutura colunar ou
prismática;
–Chernossolos e Nitossolos apresentam estrutura granular fortemente desenvolvida no
horizonte A e em blocos angulares ou subangulares no B.
18
Luvissolos e Planossolos da região semi-árida do NE brasileiro podem apresentar
estrutura fracamente desenvolvida no A, às vezes com aspecto de maciça, que
contrasta de forma marcante com a estrutura prismática ou colunar B.
5.2.3.4 Cerosidade
A cerosidade do solo é o aspecto brilhoso e ceroso apresentado nas superfícies das
diferentes faces das unidades estruturais, manifestado por uma cor de matiz mais intenso; as
superfcíces geralmente são livres de grãos de areia e silte. São modificações da textura e da
estrutura de superfície naturais nos materiais de solo, devido à concentração de constituintes
particulares de solo ou modificação "in situ" do plasma (Brewer, 1964). Essas modificações
são consideradas feições micro-estruturais, cuja descrição detalhada é melhor executada em
laboratório. Todavia, é importante descrever as cerosidades tanto quanto possível no campo.
Uma lente de 10x é desejável e assim podem ser reconhecidos os seguintes tipos de cutans: de
argila, de compressão (tensão), de óxidos e de matéria orgânica.
Os cutans de argila (argillans) são em grande parte compostos por argila que foi
transportada pela água através dos poros (vazios) maiores e depositada nas paredes de
unidades estruturais (peds). São "coatings" de argila, caracterizados por filmes (películas) de
argila (Tonhautchen), em que é observada a espessura e um limite abrupto entre o filme de
argila e o interior do ped. A feição é visível com uma lupa de 10x.
Os cutans de compressão (stress cutans) formam-se quando os peds são pressionados
uns contra os outros por ocasião do molhamento do solo. Se a superfície do ped aparece lisa e
o revestimento não mostra espessura observável, quando vista em seção transversal, é provável
que se trate de cutans de compressão e não de argila iluvial. São superfícies tipicamente
inclinadas em relação ao prumo dos peds.
Um tipo especial de feição de compressão são as superfícies de fricção (slickensides),
com estriamentos causados pelo deslizamento e atrito da massa do solo, decorrentes de sua
expansão e contração durante os processos alternados de umedecimento e secamento.
Encontram-se em solos com argilas 2:1, como nos solos vérticos ou intergrades vérticos.
Os cutans de óxidos são finas camadas de óxidos metálicos, normalmente de ferro
(sesquans) ou de manganês (mangans). A cor do cutan, em geral, difere daquela do interior do
ped é vermelha se é de óxido de ferro e preta se o manganês é o constituinte mais importante.
Os cutans de matéria orgânica (organs) também são pretos na aparência, mas não na aparência
dura e lisa dos cutans de argila e dos slickensides.
A cerosidade pode ser classificada quanto ao grau de desenvolvimento e à quantidade:
– Grau de desenvolvimento – são usados os termos: fraca, moderada e forte, de acordo
com a maior ou menor nitidez e constraste mais ou menos evidente com as partes
sem cerosidade e a facilidade de identificação.
– Quantidade – são usados os termos: pouco, comum e abundante, de acordo com o
revestimento das superfícies dos agregados.
5.2.3.5 Consistência do solo
O termo empregado para designar as manifestações de coesão entre partículas do solo e
de adesão das partículas a outros materiais, com a variação dos teores de umidade é a
consistência. Ela varia com os teores de umidade, mas também é influenciada pela textura,
quantidade e natureza da argila e do silte, estrutura, tipos de cátions presentes e matéria
orgânica presentes. Por isso, a determinação a campo é grosseira, sem precisão, mas, mesmo
assim, necessária na delimitação de horizontes no perfil.
A terminologia para a caracterização da consistência é determinada, de acordo com
os três graus padronizados de umidade do solo: seco, úmido e molhado, de acordo
com os procedimentos de Santos et al. (2005).
19
Consistência do solo seco – é caracterizada pela dureza ou tenacidade. Para avaliá-
la, comprime-se um torrão seco entre o dedo polegar e o indicador:
Solta – não consistente entre o dedo e o indicador;
macia – a massa é fracamente consistente e frágil; quebra-se facilmente em
material pulverulento;
ligeiramente dura – fracamente resistente à pressão, quebrando-se facilmente
entre os dedos polegar e indicador;
dura – moderadamente resistente à pressão, podendo ser quebrado facilmente
com as mãos, mas dificilmente entre os dedos polegar e indicador;
muito dura – pode ser quebrado com a mão com muita dificuldade;
extremamente dura - não pode ser quebrado com a mão.
– Consistência do solo úmido – a consistência é caracterizada pela friabilidade, o
estado de umidade do solo entre seco ao ar e a capacidade de campo. Essa
determinação tem um certo grau de subjetividade, pois a sua precisão é
condicionada pelo conteúdo de água no solo. Com a amostra ligeiramente úmida
tenta-se esboroar um torrão. Tem-se, assim:
Solta – não consistente;
muito friável – o material esboroa-se facilmente, mas pode agregado pro
compressão posterior;
friável – o material esboroa-se sob pressão fraca a moderada entre o polegar e o
indicador e agrega-se por compressão posterior;
firme – o material esboroa-se sob pressão moderada entre o polegar e o in-
dicador, mas a resistência é perfeitamente perceptível;
muito firme – o material esboroa-se sob forte pressão; dificilmente se esmaga
entre os dedos polegar e indicador;
– extremamente firme – o material esboroa-se apenas sob forte pressão; não é
possível esmagá-lo entre os dedos; deve ser fragmentado com as mãos.
Em caso de material estruturado difícil de ser umedecido, a consistência úmida não é
descrita, registrando-se o motivo no item observações.
– Consistência do solo quando molhado - é caracterizada pela plasticidade e pela
pegajosidade. É determinada em amostras pulverizadas e homogeneizadas, com
conteúdo de umidade ligeiramente acima da capacidade de campo.
– Plasticidade - expressa o grau de resistência que o solo oferece à deformação e a
capacidade de mudar continuamente de forma e manter a forma imprimida quando
cessar a força que causou a deformação.
Após o molhamento amassa-se e rola-se o material de solo até modelar entre o polegar
e o indicador um cilindro fino (3 a 4 mm de diâmetro). Expressa-se como:
Não plástico – nenhum fio ou cilindro se forma;
ligeiramente plástico – forma-se um fio deformável;
plástico – forma-se um fio, que é deformável com pressão moderada;
muito plástico – forma-se um fio, mas é necessária muita pressão para deformá-
lo.
Pegajosidade – é a propriedade de um solo molhado aderir a outros objetos, quando
trabalhado. No campo a massa de solo é homogeneizada entre os dedos polegar e
indicador. Tem-se:
Não pegajoso – após cessar a pressão, quase não se nota adesão natural de
material de solo entre os dedos;
20
ligeiramente pegajoso – o material de solo adere a um dos dedos e a outro não;
pegajoso – o material de solo adere a ambos os dedos e quando estes são afas-
tados, tende a esticar-se um pouco, rompendo-se após;
muito pegajoso – após a compressão, o material de solo adere fortemente a
ambos os dedos, esticando-se perceptivelmente quando estes são afastados.
5.2.3.6 Cimentação do solo
A cimentação refere-se à consistência quebradiça e dura de materiais de solo causada
por agentes cimentantes, como carbonato de cálcio, sílica e óxidos de ferro e alumínio.
A cimentação típica é aquela que permanece dura e quebradiça após o umedecimento,
não se alterando significativamente depois do molhamento. A cimentação pode ser contínua
ou descontínua dentro de um dado horizonte de solo. Adota-se a seguinte classificação:
– Fracamente cimentada – a massa cimentada é quebradiça, tenaz ou dura, mas pode ser
quebrada com as mãos;
– fortemente cimentada – a massa cimentada é quebradiça, tenaz ou dura, de tal modo
que não pode ser quebrada com a mão, mas facilmente com o martelo;
– extremamente cimentada – a massa cimentada não enfraquece sob umedecimento
prolongado e é tão extremamente dura que, para quebrá-la, é necessário um vigoroso
golpe de martelo que, em geral, tine com a pancada.
5.2.3.7 Nódulos e concreções minerais
Os nódulos e concreções devem ser analisados primeiramente pela sua natureza. O
termo nódulo, de um modo geral, é preferido quando não se conhece exatamente o seu proces-
so de formação.
A descrição é feita pela quantidade, tamanho, dureza, cor e natureza das concreções ou
nódulos.
– Quantidade - o problema que existe é similar ao caso das rochas e fragmentos
minerais. Uma vez que os nódulos são uma classe relativamente limitada, poucos
excedendo 2 cm em diâmetro, preferem-se as quantificações em termos de volume:
muito poucos – menos que 5 % do volume;
poucos – entre 5 e 15 % do volume;
freqüentes – entre 15 e 40 % do volume;
dominantes – mais que 80 % do volume.
– Tamanho:
pequeno – menor que 1 cm de diâmetro(maior dimensão);
grande – maior que 1 cm de diâmetro (maior dimensão).
O tamanho médio pode ser indicado entre parênteses se os nódulos forem
excepcionalmente pequenos (menores que 0,5 cm) ou grandes (mais de 2 cm);
– Dureza:
macio – quando o nódulo pode ser quebrado entre o dedos polegar e indicador;
duro – não pode ser quebrado entre os dedos.
– formados os nódulos e concreções, deve ser indicada pelos nomes: ferromagnesiano
("ironstone"), gibbsita, carbonato de cálcio, etc.
O conteúdo de carbonatos evidencia-se pela efervescência com HCl a 10%. Pode ser:
ligeira – efervescência fraca, mas visível;
forte – efervescência visível;
violenta – as partículas de carbonatos são perfeitamente visíveis e a eferves-
21
cência é muito forte.
O conteúdo de manganês é detectado pela reação com água oxigenada:
ligeira – efervescência fraca, apenas audível;
forte – efervescência visível;
violenta – a efervescência é forte, chegando em alguns casos a destruir os
nódulos.
A presença de sulfetos ocorre em áreas de drenagem restrita, como manguezais,
pântanos, ou mesmo associadas a rochas sedimentares, principalmente como sulfeto ferroso.
Não se dispõe de um teste plenamente confiável no campo, mas o aparecimento de
eflorescências de cor amarela na parte externa dos torrões ou junto a canais de raízes em áreas
drenadas artificialmente, é um indicativo expedito.
A determinação do pH (no campo) e depois em amostras em capacidade de campo,
resulta em valores de pH abaixo de 3,5, indicando a presença de sulfetos. Essa propriedade é
usada na identificação de Gleissolos Tiomórficos e Organossolos Tiomórficos.
5.2.3.8 Eflorescências
As eflorescências, em geral, ocorrem em regiões semi-áridas e áridas sob forma de sais
cristalinos, como revestimentos, bolsas e crostas. São constituídas de cloreto de sódio (sabor
salgado), sulfatos de cálcio, magnésio e sódio e raramente de carbonatos de cálcio e magnésio.
O aparecimento dessas eflorescências decorre da evaporação maior do que a precipitação. Por
ascensão capilar a solução do solo atinge a superfície, concentrando-se na forma de cristais
individualizados.
5.2.3.9 Coesão
A coesão é avaliada no perfil do solo em condições de umidade inferiores à
capacidade de campo ao separar os horizontes. Essa característica é mais expressiva em
alguns Argissolos Amarelos e Latossolos Amarelos desenvolvidos de sedimentos da
Formação Barreiras, ocorrendo, em geral, nos horizontes de transição e, ou, BA (Santos et
al., 2005).
Apenas dois graus serão considerados, pois o não-coeso é desnecessário, porque o
solo é considerado normal:
– Moderadamente coeso – resiste à penetração do martelo pedológico ou trado e
mostra uma fraca organização estrutural; a consistência do solo seco é geralmente
dura, e a consistência quando úmido varia de friável a firme;
– fortemente coeso – o solo quando seco, resiste fortemente à penetração do martelo
pedológico ou trado, não mostrando organização estrutural visível; apresenta
consistência do solo seco, geralmente dura, e a consistência quando úmido varia de
friável a firme.
5.2.3.10 Poros
Aproximadamente a metade do volume do solo é constituído pelo espaço poroso,
ocupado por ar e água. No campo a porosidade é determinada por tamanho e quantidade:
Tamanho de poros:
Sem poros visíveis – não visíveis nem mesmo com uma lupa de 10x;
muito pequenos – menores que 1 mm;
pequenos – entre 1 e 2 mm;
médios – entre 2 e 5 mm;
grandes – entre 5 e 10 mm;
muito grandes – maiores que 10 mm;
22
– Quantidade de poros
poucos poros – horizonte Bg ou Cg em Gleissolos e Bf e Cf em Plintossolos;
poros comuns – Bt de textura argilosa em Argissolo Vermelho-Amarelo, com
estrutura em blocos moderada a bem desenvolvida;
muitos poros – Bw em Latossolo (“pó de café”), Neossolos Quartzarênicos.
5.2.4 Identificação e nomenclatura dos horizontes do solo
As descrições morfológicas de perfis de solo devem incluir a seleção do local, a
espessura e o arranjamento dos horizontes, a transição entre horizontes e o estudo das
características morfológicas dos horizontes. Para a completa descrição de um perfil de solo é
necessário conceituar horizonte de solo, camada de solo, horizonte ou camada de constituição
mineral, horizonte ou camada de constituição orgânica, horizontes pedogênicos e horizontes
diagnósticos.
5.2.4.1 Conceito e natureza de horizontes e camadas
O horizonte do solo é uma seção de constituição mineral ou orgânica, paralela à
superfície do terreno ou aproximadamente, parcialmente exposta no perfil do solo e dotada de
propriedades geradas por processos formadores do solo, que lhe confere características de inter-
relacionamento com outros horizontes componentes do perfil, dos quais se diferencia pela
diversidade de propriedades, resultantes da ação da pedogênese.
Resumindo: "O horizonte é uma camada de solo, aproximadamente paralela à superfície
do solo, com características produzidas pelos processos de formação dos solos" (Estados
Unidos. Soil Survey Staff, 1962).
A camada de solo é uma seção de constituição mineral ou orgânica, à superfície do
terreno ou aproximadamente paralela a esta, parcialmente exposta do perfil do solo e possuindo
um conjunto de propriedades não resultantes ou pouco influenciadas pela atuação dos processos
pedogenéticos. É, no entanto, integrante do perfil, caso possua relação com seções que o
compõe e tenha expressiva influência no provimento de material originário de horizonte ou
mesmo de outra camada do perfil, distinguindo-se das seções que lhe sejam adjacentes, devido
à disparidade de propriedades (Brasil. Embrapa/SNLCS, 1988).
O horizonte ou camada de constituição mineral é uma seção formada pelo intemperismo
das rochas, com maior proporção de minerais secundários que de minerais primários. Os
componentes minerais sempre superam os constituintes orgânicos, de modo que o material do
horizonte ou camada tenha: menos de 12 % de carbono orgânico (por peso), se 60% da fração
inorgânica for constituída de argila; menos de 8% de carbono orgânico, se a fração não contiver
argila; conteúdo de carbono orgânico inferior a valores intermediários, proporcionais a
conteúdos intermediários de argila (até 60%), de acordo com a relação: C < 8 + 0,076 x %
argila. (FAO, 1974; Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1975; Brasil. Embrapa/SNCLS, 1988).
O horizonte ou camada de constituição orgânica é uma seção produzida por acumulação
sob condições de saturação de água por longos períodos do ano em ambiente palustre
(estagnação de água) ou produzido por acumulação sob condições livres de saturação com água
ainda ocasionalmente saturado por alguns dias do ano. Quantitativamente, os constituintes
orgânicos são preponderantes nas propriedades dos horizontes ou camadas, de modo que
tenham: 12% ou mais de carbono orgânico (por peso), se a fração mineral contiver mais de
60% de argila; 8% ou mais de carbono orgânico se a fração mineral não contiver argila;
conteúdo de carbono orgânico proporcional ao conteúdo de argila (até 60%), de acordo com a
relação: C 8 + 0,067 argila %. (FAO, 1974; Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1975; Brasil.
Embrapa/SNLCS, 1988).
23
O horizonte pedogenético expressa a avaliação da diferenciação (ou transmutação de
propriedades), referente ao conjunto de atributos de uma da seção do perfil, a qual assume
distinção que subsiste em razão da diferença (de natureza ou grau), comparativamente com as
partes imediatamente acima ou abaixo da seção considerada em razão da diferença em relação
às propriedades que se presume tenha tido o material originário do qual se transformou.
O horizonte diagnóstico é pertinente ao estabelecimento de requisito(s) referente(s) a
um conjunto de propriedades selecionadas e arbitradas como expressivas para construções
taxonômicas, isto é, para criar, identificar e distinguir classes (taxa de solos).
Os horizontes diagnósticos podem atingir abranger diferentes horizontes genéticos,
representados por símbolos distintos, porém as variações eventualmente apresentadas podem
não ser suficientemente relevantes para justificar mais de uma espécie de horizonte diagnóstico.
Os horizontes pedogênicos, mesmo que expressem a manifestação de transformações
resultantes dos processos de formação dos solos, podem não ser escolhidos para concessão de
prerrogativa taxonômica em termos de características diferenciais para estabelecimento e
distinção de classes. A conceituação referente aos horizontes pedogênicos é de natureza mais
genética e o enunciado das definições é ordinariamente mais qualitativo. No caso dos
horizontes diagnósticos as conceituações são de tendência mais distintiva, com fins taxonômi-
cos de delimitação de classes e o enunciado das definições é desejavelmente mais quantitativo
(Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
5.2.3.2 Designação e caracterização dos horizontes principais e comparação da simbologia de
descrição de perfis
A tendência mundial de aperfeiçoar a metodologia de descrição de perfis do 'Soil
Survey Manual' (Estado Unidos. Soil Survey Staff, 1975 e 1981) e FAO (1974) culminou com
as novas normas editadas pelo SNCLS em 1988 (Brasil. EMBRAPA, 1988). Na Tabela 5.5
apresentamos a equivalência aproximada dos sistemas – EPFS/1962 e Embrapa/SNLCS/1986
(Embrapa, 1988). O solo é constituído de diversos horizontes ou camadas superpostas e ao
conjunto é dado o nome de perfil. Atualmente, num perfil "completo" de solo, reconchecem-se
oito horizontes e camadas principais, designados por letras maiúsculas O, H, A, E, B, C, F, R.
Destes, três são, por definição, sempre horizontes e são designados por A, E, B. As designações
O, H, C, F, em função da evolução pedogenética, identificam horizontes ou camadas; R designa
exclusivamente camada.
O – é um horizonte ou camada superficial de cobertura, de constituição orgânica, sobreposto a alguns solos
minerais, podendo estar ocasionalmente saturado de água. Consiste também em horizonte superficial de
material orgânico, pouco ou nada decomposto, originado em condições de drenagem livre, mas super-úmidas,
de alguns solos minerais altimontanos. Os materiais orgânicos são de origem mormente animal, parcialmente
decompostos ou não, mas ser ainda reconhecível a estrutura de partes de plantas e animais. Podem ocorrer só
ou em mistura, em proporção maior ou menor de material mineral subjacente, desde que satisfaçam o re-
quisito referente a teor de carbono orgânico e percentagem de argila especificados na "conceituação de
horizonte ou camada de constituição orgânica, isto é, C=8+0,0067x argila%4. Desta conceituação excluem-se
horizontes enriquecidos com matéria orgânica decomposta, incorporada abaixo da superfície do solo mineral,
especialmente no caso de decomposição de raízes e atividade biológica, característica do horizonte (FAO,
1974).
Este horizonte ou camada pode estar soterrado por material mineral.
H – é um horizonte ou camada de constituição orgânica, superficial ou não, composto de resíduos orgânicos
acumulados ou em acumulação sob condições de prolongada estagnação de água, salvo se artificialmente
drenado. Consiste de camadas ou horizontes de matéria orgânica, superficiais ou não, em vários estágios de
decomposição, incluindo materiais pouco ou não decompostos, correspondendo à manta morta acrescida à
4
A conversão do carbono orgânico determinado pelo CNPSolos (ex-SNLCS), para ser correspondente aos valores do SCS (Soil Conservation
Service- USDA), deve ser multiplicado pelo fator 1,5 ou, inversamente, ser dividido pelo valor do SCS.
24
superfície, com material fibroso ("peat") localizado mais profundamente ou material bem decomposto,
superficial ou não. Em todos os casos esse material orgânico é acumulado em condições palustres e
relacionados a solos orgânicos e outros solos hidromórficos.
Quando o horizonte H for constituído de horizonte superficial com espessura menor que 40 cm, ou 80 cm
no caso de seu volume ser formado por 75 % ou mais de esfagno.
A – é um horizonte mineral, superficial ou em seqüência a horizonte ou camada O ou H, de concentração de
matéria orgânica decomposta, com perda ou decomposição principalmente de componentes minerais. A
matéria orgânica está intimamente associada aos constituintes minerais e é incorporada ao solo mais por
atividade biológica do que por translocação.
As características do horizonte A são influenciadas pela matéria orgânica, cuja adição, associada à
atividade biológica e às perdas e decomposição, são os fenômenos que determinam as características desse
horizonte, no qual não há predominância de propriedades do horizonte E ou B. Quando o primeiro horizonte
mineral superficial apresenta propriedades tanto do horizonte A como do E, mas se o caráter distintivo for
acumulação de matéria orgânica decomposta, é reconhecido como horizonte A.
O horizonte A, em seu estado natural, pode ser mais claro que o horizonte imediatamente subjacente,
ou pode conter apenas pequenas quantidades de matéria orgânica, ou a fração mineral pode estar ou nada
transformada, ou podem prevalecer combinações dessas situações. Todavia, o horizonte superficial com
propriedades predominantes, devidas à pouca efetividade de incorporação da matéria orgânica, é reconhecido
prioritáriamente como horizonte E. Quando o horizonte superficial apresenta propriedades decorrentes do cultivo,
pastoreio ou pedoturbações semelhantes, é da mesma forma reconhecido como horizonte A (Estados Unidos. Soil
Survey Staff, 1981).
Tabela 5.5 Comparação da simbologia que qualifica horizontes e camadas principais.
EPFS SNCLS EPFS SNCLS EPFS SNCLS EPFS SNCLS EPFS SNCLS
(1962) (1986) (1962) (1986) (1962) (1986) (1962) (1986) (1962) (1986)
0 O A1 A AC AC B3 BC - C/A
01 Oo, Ood, A2 E - A/C - B/C - C/B
02 Od, Odo A3 AB ou EB B B - B/R - C/R
- H AB AB ou EB B1 BA ou BE - F R R
A A/O - A/B - B/A C C - B/C/R
- A/H A&B E/B B&A B/E C1 CA
B2 B C1 CB
E – é um horizonte mineral, cuja característica principal é a perda de argilas silicatadas, óxidos de ferro e alumínio
ou matéria orgânica, individualmente, ou em conjunto, como resultante da concentração residual de areia e
silte constituídos de quartzo e ou outros minerais resistentes e, ou, resultante descoloramento, inclusive de
argila, expressando desenvolvimento genético no perfil do solo.
O horizonte E forma-se próximo à superfície, encontrando-se sobre um A ou O, dos quais se distingue
pelo menor teor de matéria orgânica e cor mais clara, podendo raramente encontrar-se à superfície, devido à pouca
efetiva incorporação da matéria orgânica ou devido a truncamento do perfil. Via de regra, tem coloração mais clara
que o horizonte B imediatamente abaixo, quando existente no mesmo sequum, do qual se diferencia por cor de
valor mais alto ou croma mais baixo, por textura mais grosseira, menor teor de matéria orgânica ou ainda por
combinação dessas propriedades. Em alguns casos a cor é devida às partículas de areia, silte ou mesmo de argila,
porém, em muitos outros, cutans de ferro ou mesmo a outros compostos que mascaram a cor das partículas
primárias. O horizonte E eventualmente pode encontrar-se soterrado (FAO, 1974; Estados Unidos. Soil Survey
Staff, 1981).
B – é um horizonte mineral formado sob um E, A ou H, comparativamente bastante afetado por transformações
pdeognéticas, em que pouco ou nada resta da estrutura original da rocha e, mesmo quando remanescentes
dessa estrutura sejam evidentes, prevalece maior expressão de alteraçào do material parental de sua condição
original com conseqüente neo-formação de argilas silicatadas e produção de óxidos, promovendo
desenvolvimento de cor, normalmente formação de estrutura em blocos, prismática, colunar ou granular, em
conjunção ou não com acumulação iluvial de argila silicatada, sesquióxidos (a rigor, óxidos, hidróxidos e
hidroxi-óxidos) de ferro e alumínio, matéria orgânica, de per se, ou em combinações.
O horizonte B pode atualmente encontrar-se à superfície, pela remoção dos horizontes superiores (E, A, H
ou O) por erosão (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
25
R – é a camada mineral de material consolidado (tão"coeso" que, quando úmido, não pode ser cortado com a pá e,
constituído substrato rochoso contínuo ou praticamente contínuo, a não pelas poucas e estreitas fendas que
pode apresentar. (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
C – é um horizonte ou camada mineral de material inconsolidado sob o solum, relativamente pouco afetado por
processos pedognéticos, a partir do qual, o solum pode ou não ter se formado, sem ou com pouca expressão de
propriedades identifica de qualquer outro horizonte principal (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
Figura 5.14 Simbologia descritiva para horizontes principais, transicionais e intermediários de
um perfil de solo "completo", segundo as designações das metodologias adotadas
pela Embrapa/CNPS (Embrapa, 1988)
F – é um horizonte de material mineral consolidado sob A, E ou B, rico em ferro e, ou, alumínio e pobre em
matéria orgânica, proveniente do endurecimento irreversível da plintita ou originado de formas de
concentração possivelmente não derivadas de plintita, inclusive por translocação lateral do ferro e, ou, do
alumínio. Em em qualquer caso exclui acumulação iluvial de complexos organo-sesquióxidos amorfos
dispersíveis.
Quando proveniente de plintita, geralmente ainda apresenta coloração variegada, avermelhada ou
amarelada, sob a forma de padrões laminares, poligonais ou reticulados, vesiculares ou não, indicando a sua
origem devida a feitos de ciclos repetidos de hidratação e desidratação, gerando camadas maciças ou contendo
canais mais ou menos verticais, tubulares, de diâmetro variável, interligados, preenchidos por terra fina. Nesses
casos em que a formação resulta de consolidação irreversível da plintita, frequentemente esta ainda persiste em
profundidade.
Na Tabela 5.6 e Figura 5.14 são apresentadas as equivalências aproximadas de símbolos
do SNCLS (Embrapa, 1988) com a de outros sistemas (Soil Survey Manual e FAO).
Formações de constituição análogas são encontradas como resultantes da consolidação de
26
materiais enriquecidos decorrentes de outras formas de concentração de ferro e, ou,
alumínio. Nesse caso não há ou são incertos os indícios de sua possível origem de
consolidação da plintita.
Tabela 5.6. Equivalência aproximada de símbolos convencionais do SNLCS (Embrapa, 1988)
com os de outros sistemas (Soil Survey Manual, 1962, 1981; FAO, 1974).
SNLCS1 SSM2 FAO3
1962 1988 1962 1981 1974
0 O 0 (pp)4 O (pp) O
01 Oo, Ood 01 Oi, Oe --
02 Od, Odo 02 Oa, Oe --
-- H O (pp) O (pp) H
A A A A A
-- A/O -- -- --
-- A/H -- -- --
A1 A A1 A A
A2 E A2 E E
A3 AB ou EB A3 AB ou EB AB ou EB
-- A/B -- -- --
A&B E/B A&B E/B E/B
AC AC AC AC AC
-- A/C -- -- A/C
B B B B B
B1 BA ou BE B1 BA ou BE BA ou BE
-- B/A -- -- B/A
B&A B/E B&A B/E B/E
B2 B B2 B ou Bw B
B3 BC B3 BC ou CB BC
-- B/C -- B/C B/C
-- B/R -- B/R --
-- F -- -- --
C C C C C
C1 CA -- -- CA
C1 CB -- -- CA
-- C/A -- C/A C/A
-- C/B -- C/B C/B
-- C/R -- -- C/R
R R R R R
-- B/C/R -- -- --
1
Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS/EMBRAPA).
2
Soil Survey Stuff (Soil Survey Manual).
3
Food and Agricultural Organization (FAO).
4
pp (pro parte).
5.2.4.1 Horizontes transicionais
Os horizontes transicionais são miscigenados, nos quais propriedades de dois
horizontes se associam, evidenciando a coexistência de propriedades comuns a ambos, de tal
modo que não há individualização de partes distintas de um e de outro. São horizontes em que
as propriedades de um horizonte principal subjuga propriedades de outro horizonte principal,
quando se combinam. Horizontes dessa natureza são designados pela junção de letras
conotativas dos horizontes principais em questão, como, por exemplo, AO, AH, AB, AC, EB,
BE, BC. A primeira letra indica o horizonte principal, isto é, a que mais se relaciona com o
horizonte transicional (FAO, 1974; Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
5.2.4.2 Horizontes intermediários
São horizontes mesclados, que podem transicionais ou não, nos quais porções de um
horizonte principal são envolvidas por material de outro horizontal principal, sendo as
distintas partes identificáveis como pertencentes aos respectivos horizontes em causa.
Horizontes dessa natureza são designados pela combinação dos horizontes principais em
27
questão, separadas as letras por uma barra transversal, como, por exemplo, A/B, A/C, E/B,
B/C, B/C/R. A primeira letra indica o horizonte principal que ocupa o maior volume. Até o
presente, o único caso conhecido de mesclagem de três horizontes compreende B/C/R (FAO,
1974; Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
5.2.4.3 Designação e características dos horizontes e camadas subordinadas
Para designar processos pedogenéticos particulares (ou variações de processos) usam-se
símbolos para indicar essas variações ou modalidades subordinadas às indicadas pelas letras
maiúsculas A, B e C, a saber:
a – Propriedades ândicas
Usado com A, B, C para designar constituição dominada por material amorfo, de natureza mineral,
oriundo de transformações de materiais vulcanoclásticos, que é expressada por: densidade aparente
(global) de 0,9 g cm-3, referente à terra fina a 1/3 de bar de retenção de água; valor de retenção de fosfato
maior que 85% e teores de alumínio extraível com oxalato ácido igual ou maior que 2,0 %.
b – Horizonte enterrado
Usada com O, A, E, B, F, para designar horizontes enterrados, se suas características pedogenéticas
principais puderem ser identificadas como tendo sido desenvolvidas antes do horizonte ser enterrado.
Não é usado para qualificar estrato de constituição orgânica intercalado com estratos minerais. Horizon-
tes genéticos podem ou não terem se formado no material de cobertura, o qual pode ser similar ou
diferente do que se supõe que tenha sido o material do solo enterrado (International Committee on the
Classification of Andisols, 1983).
c – Concreções ou nódulos endurecidos
Usado com A, E, B, C, para designar acumulação significativa de concreções ou nódulos não
concrecionários (solidificação variável), cimentados por material outro que não seja a sílica. Não é usado
se as concreções ou nódulos são dolomita ou calcita ou sais mais solúveis (vide k, y, z), mas é usado se os
nódulos concreções são de ferro, alumínio, manganês ou titânio e quando especificamente provenham da
consolidação de plintita (petroplintita). Sua consistência é especificada na descrição do horizonte.
(Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
d – Acentuada decomposição de material orgânico
Usado com O, H, para designar muito intensa ou avançada decomposição do material orgânico, do qual,
pouco ou nada resta de reconhecível da estrutura dos resíduos de plantas, acumulados conforme descritos
nos horizontes O e H. corresponde em parte à definição de "muck". Predomínio de material orgâ-
nico intermediário entre d e o é designado pela notação do e quando entre o e d, pela designação od
(Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
e – Escurecimento da parte externa dos agregados por matéria orgânica não associada a
sesquióxidos.
Usado com B e parte inferior de A espessos, para designar horizontes mais escuros que os contíguos,
podendo ou não ter teores mais elevados de matéria orgânica, não associada com sesquióxidos, do que o
horizonte subjacente. Em qualquer caso, essas feições não são associadas com iluviação de: alumínio (h
ou s); sódio (parte de n); argila ( parte de t); ou enterramento (b). Equivale à feição morfológica que vem
sendo denominada "foncé" (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1975).
f – Material laterítico e, ou, bauxítico brando (plintita)
Usado com A, B, C para designar concentração localizada (segregação) de constituintes secundários
minerais ricos em ferro e, ou, alumínio, em qualquer caso, pobre em matéria orgânica e em mistura com
argila e quartzo. Ocorre como material de coloração variegada, avermelhada ou amarelada, sob a forma
de padrões laminares, poligonais ou reticulados, de consistência firme a muito firme quando úmido, dura
a muito dura quando seco e áspera ao tato quando friccionado. É característica inerente desses materiais
transformarem-se irreversivelmente, sob repetidos ciclos de hidratação e desidratação, em corpos
individualizados, vesiculares ou não, de formas variáveis, laminares, esferoidais, nodulares ou agregados
irregulares, conFigurando concreções ou nódulos endurecidos, lateríticos ou bauxíticos, de cores
variegadas, conotados pela designação cf. A consolidação irreversível, sob o efeito de repetidos ciclos de
hidratação e desidratação, pode originar formações cimentadas contínuas ou semi-contínuas de canga
28
laterítica ou bauxítica - bancadas, couraças ou carapaças - conotadas pela designação f (Daniels, 1978).
g – Glei
Usado com A, E, B, C, para designar desenvolvimento de cores cinzentas, azuladas, esverdeadas ou
mosqueamento bem expresso dessas cores, decorrentes da redução do ferro, com ou sem segregação.
Como as cores de croma baixo podem ser devidas à devido do ferro ou a própria cor das partículas
desnudas de areia e silte, ou mesmo a própria argila, o símbolo g somente será usado no caso de materiais
pobres em argila se esses forem expostos ao ar, mudarem de cor por oxidação. Somente se usa g com B,
quando além da redução, outras características qualificam o horizonte com B. Caso contrário, o horizonte
é identificado por Cg (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
h – Acumulação iluvial de matéria orgânica
Usado exclusivamente com B para designar relevante acumulação iluvial, essencialmente de matéria
orgânica ou de complexos organo-sesquioxídicos amorfos dispersíveis, se o componente sesquioxídico é
dominado pelo alumínio e esteja presente somente em muito pequenas quantidades em proporção à
matéria orgânica. O material organo-sesquioxídico ocorre tanto como revestimentos nas partículas de
areia e silte, como pode ocorrer como grânulos individualizados. Em alguns horizontes os revestimentos
estão coalescidos, preenchendo poros, produzindo um pan cimentado. O símbolo é usado também em
combinação com s, como Bsh, se a quantidade dos componentes sesquioxídicos é significante, mas valor
e croma do horizonte estão abaixo de 3 (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
i – Incipiente desenvolvimento de horizonte B
Usado exclusivamente com B para designar transformações pedogenéticas expressas pelas manifestações
que se seguem: a) decomposição fraca ou pouco adiantada do material originário e dos próprios
constituintes minerais, originais e secundários, associada à formação de argila, ou desenvolvimento de
cor, ou de estrutura, em acréscimo a maior, menor ou total obliteração da estrutura original da rocha pré-
existente; b) alteração intensa (alteração química) dos constituintes minerais, originais e secundários,
associada à formação de argila, ou desenvolvimento da cor, ou de estrutura, com obliteração apenas
parcial da estrutura original da rocha pré-existente; c) desenvolvimento de cor em materiais areno-
quartzosos edafizados, quando integrantes do solum. Em qualquer dos casos, com inexpressiva ou nula
evidência de enriquecimento de constituintes minerais secundários ou orgânicos, iluviais ou não iluviais.
Horizontes que se enquadram neste conceito, precedidos por outro horizonte, que tenha manifestação de
propriedades pedogenéticas mais fortemente expressa e que ocorra sob o A, não são reconhecidos com
Bi e sim como BC ou C (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
j – Tiomorfismo
Usado com H, A, B, C para designar material palustre, permamente ou periodicamente alagado, de
natureza mineral ou orgânica, rico em sulfetos (material sulfídrico). A drenagem dos solos causa
oxidação dos materiais sulfídricos, produzindo H2SO4, que pode abaixar o pH em água 1:1 a < 3,5,
ocasionando a formação de jarosita, atributo este característico de horizonte sulfúrico (FAO, 1974;
Estados Unidos. Soil Survey Saff, 1975).
k – Presença de carbonatos
Usado com A, B, C, para designar presença de carbonatos alcalino-terrosos, remanescentes do material
originário, sem acumulação, geralmente carbonato de cálcio (Canada Department of Agriculture, 1978).
– Acumulação de carbonato de cálcio secundário
O símbolo (do alfabeto cirílico)é usado com A, B, C, para designar horizonte de enriquecimento com
carbonato de cálcio secundário, contendo, simultaneamente, 15 % (por peso) ou mais de carbonato de
cálcio equivalente e no mínimo 5 % (por peso) a mais que o horizonte ou camada subjacente, ou que o
horizonte C, ou que o material que lhe deu origem (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1975; Canada
Department of Agriculture, 1978).
m – Extremamente cimentado
Usado com B, C, para designar cimentação pedogenética extraordinária e irreversível (mesmo sob
prolongada imersão em água), contínua ou quase, em horizontes que são cimentados em mais de 90 %,
embora possam apresentar fendas ou cavidades. Raízes penetram nas fendas. A natureza do constituinte
acumulado, que ao mesmo tempo é o agente cimentante, deve ser especificado pela letra símbolo
conotativa adequada, anteposta à notação m. Ex. qm, sm (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
n – Acumulação de sódio trocável
29
Usado com H, A, B, C, para designar acumulação de sódio trocável, expresso por (Na/CTC)100 8 %,
acompanhada ou não de acumulação de magnésio trocável (FAO, 1974; Estados Unidos. Soil Survey
Staff, 1975).
o – Material mal ou não decomposto
Usado com O, H para designar incipiente ou nula decomposição do material orgânico, no qual ainda resta
ainda muito de reconhecível das estrutura das plantas, material esse acumulado conforme descrito nos
horizontes O e H. Como exemplos temos determinados solos altimontanos, em que o horizonte vem
sendo designado por 01 (antigo Aoo) (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1962, 1981).
p – Aração ou outras pedoturbações
Usado com H ou A para indicar modificações da camada superficial pelo cultivo, pastoreio, ou outras
modificações. Um horizonte mineral, presentemente, modificado por pedoturbação, mesmo que
perceptível sua condição anterior de E, B ou C, passa a ser reconhecido com Ap. Quando orgânico, é
designado Hp (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
q – Acumulação de sílica
Usado com B ou C para designar acumulação de sílica secundária (opala e outras formas de sílica).
Quando há cimentação, contínua ou quase contínua, com sílica, usa-se qm (Estados Unidos. Soil Survey
Staff, 1981).
r – Rocha branda ou saprolito
Usado com C para designar camada de rocha subjacente, intensamente ou pouco alterada, desde que
branda ou semi-branda, em qualquer caso permanecendo bastante preservadas as características
morfológicas macroscópicas inerentes à rocha original. o material pode ser cortado com uma pá. O
subscrito r é de uso privativo de horizonte ou camada C (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
s – Acumulação iluvial de sesquióxidos com matéria orgânica
Usado exclusivamente com horizonte B para indicar relevante acumulação iluvial ou de translocação
lateral interna no solo de complexos organo-sequioxídicos amorfos dispersíveis, desde que, tanto a
matéria orgânica como os sesquióxidos sejam significantes e valor e croma do horizonte sejam maiores
que 3. Em alguns casos o símbolo s é usado em combinação com h, isto é, Bhs, se tanto a matéria
orgânica como os sequióxidos constituírem acumulação significativa, com valor e croma do horizonte
igual ou menor que 3, em contrapartida ao caso de horizonte Bs. Em alguns horizontes, essa iluviação
pode ter espessura que não excede uns poucos centímetros ou milímetros, podendo mesmo constituir um
pan cimentado, formando uma crosta (placa) (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
t – Acumulação de argila
Usado exclusivamente com B para designar relevante acumulação ou concentração de argila (fração <
0,002 mm), que tanto pode ter sido translocada por iluviação, com ter sido formada no próprio horizonte,
ou por concentração relativa devido à destruição ou perda de argila do horizonte A (Estados Unidos. Soil
Survey Staff, 1981).
u – Modificações e acumulações antropogênicas
Usado para A e H para designar horizonte formado ou modificado pelo uso prolongado do solo com lugar
de residência ou lugar de cultivos por períodos relativamente prolongados, com adição de material
orgânico ou material mineral estranho e outros com ossos, conchas cacos de cerâmica em mistura ou não
com material original (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
v – Características vérticas
Usado com B, C para designar material mineral expressivamente afetado por propriedades e
comportamento mecânico dos constituintes argilosos, que conferem ao material do horizonte ou camada
pronunciadas mudanças em volume e movimentação de material, condicionadas por variação do teor de
umidade. São bem distintas as características de alta expansibilidade e contractibilidade evidenciadas por:
deslocamento do material, resultando na formação de superfícies de fricção ("slickensides"), segundo
planos interceptantes, ou associadas à formação de agregados arestados, de configuração variavelmente
prismático-oblíqua, cuneiforme e paralelepipedal, coexistindo fendilhamento vertical condicionado à
possibilidade de secagem (FAO, 1974; Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1975).
30
w – Intensa alteração com inexpressiva acumulação de argila, com ou sem concentração de
sesqióxidos
Usado exlcusivamente com B para designar formação de material mineral em estágio bem avançado de
intemperização, expressa por alteração completa ou quase completa dos constituintes que lhe deram
origem e dos constituintes secundários do material do horizonte resultando concomitantemente em:
a) formação de argila de muito baixa atividade (CTC < 13 cmol+/kg de argila a pH 7,0, após correção
para carbono);
b) desenvolvimento de cores vivas brunadas, amareladas, alaranjadas e avermelhadas);
c) desenvolvimento de estrutura granular, em blocos e mais raramente blocos com estrutura prismática,
agregação e floculação;
d) com ou sem concentração residual de óxidos de ferro e alumínio e em qualquer caso, de inexpressiva
ou nula acumulação iluvial de matéria orgânica e nula ou inexpressiva acumulação de argila iluvial
ou não iluvial (Brasil. Embrapa/SNLCS, 1988).
x – Cimentação aparente, reversível
Usado com B, C e eventualmente com E, para designar desenvolvimento de seção superficial
relativamente compacta, que se apresenta adensada, dura e extremamente dura e aparentemente
cimentada quando seca, constituída predominantemente por quartzo e argilas silicatadas. O material
exibe pseudo-cimentação, contínua ou quase contínua, sendo a sua rigidez reversível sob umidecimento
com água. Firmeza, "quebradicidade" (britleness) fraca e moderada, alta densidade aparente (global) ou a
combinação destas, são atributos típicos dessa modalidade de fragipan, cujo material adicionalmente
apresenta a propriedade de não esboroar quando imerso em água, embora se torne menos resistente,
quebradço, podendo se fraturar ou desprender pedaços (Canada Department of Agriculture, 1978).
y - Acumulação de sulfato de cálcio
Usado com B ou C para indicar acumulação de sulfato de cálcio (FAO, 1974; Estados Unidos. Soil
Survey Staff, 1981).
z - Acumulação de sais mais solúveis em água fria que sulfato de cálcio
Usado com H, A, B, C para indicar acumulação de sais mais solúveis em água fria do que sulfato de
cálcio (FAO, 1974; Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
5.2.4.3.1 Comparação da simbologia que qualifica distinções subordinadas
A seguir, apresentamos um sumário de todas as designações e características de
horizontes e camadas subordinadas do SNLCS (Embrapa, 1988) na Tabela 5.7, comparada às
designações antigas da EPFS/1962( Embrapa, 1988)
5.2.4.3.2 Uso do apóstrofe para horizontes repetidos
Em alguns casos poderão ocorrer, em um mesmo perfil, dois ou mais horizontes com
designações idênticas, separadas por horizontes ou camadas de natureza diversa. Exemplo:
seqüência E-Bt1-Bt2-B/E-Bt1-Bt2-Btx-C. No caso há repetição da seqüência Bt1 e Bt2.
Usa-se então o símbolo ('), posposto à letra maiúscula designativa do segundo horizonte
repetido na seqüência: A-E-Bt1-Bt2-B/E-B't1-B't2-Btx-C. Em caso de ocorrerem três
seqüências repetidas de horizontes usa-se o duplo símbolo (''). Exemplo: A-E-Bhs-B/E-B'hs-
Bs/E-B''hs (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
5.2.4.3.3 Normas complementares para notação de horizontes ou camadas
É bom lembrar que horizontes de transição não recebem sufixos. Nos demais horizontes
os sufixos não podem ser usados indiscriminadamente. Todos os horizontes e camadas
principais, exceto R, e algumas vezes C e E, devem ser qualificados por algum sufixo
conotativo de horizonte subordinado. Os sufixos, em letras minúsculas, seguem imediatamente
após a designação de letras maiúsculas indicativas de horizonte principal ou camada.
Sufixos usados nos horizontes:
31
O.... d,o
H .... d,j,n,o,p,u,z
A .... a,b,c,e,f,g,k, ,m,n,q,v,x,y,z
E .... b,c,g,x
B .... a,b,c,e,f,g,j,k,k,m,n,q,v,x,y,z, h,i,s,t,w5
C .... a,c,f,g,j,k,k,m,n,q,v,x,y,z,r
F .... b
Tabela 5.7 Equivalência da simbologia antiga da EPFS/1962 (Embrapa, 1988) com a
simbologia adotada a partir de 1986 (Embrapa, 1988).
Simbologia adotada
EPFS SNLCS Distinção subordinada
(1962) (1986)
- a Propriedades ândicas
b b Horizonte enterrado
cm c Concreções ou nódulos endurecidos
- d Acentuada decomposição de material orgânico
- e Escurecimento da parte externa dos agregados por matéria orgânica não associada a sesquióxidos
pl f Material laterítico e, ou, bauxítico brando (plintita)
g g Glei
h h Acumulação iluvial de matéria orgânica
- i Incipiente desenvolvimento de horizonte B
- j Tiomorfismo
- k Presença de carbonatos
ca Acumulação de carbonato de cálcio secundário
m m Extremamente cimentado
- n Acumulação de sódio trocável
- o Material mal ou não decomposto
p p Aração ou outras pedoturbações
si q Acumulação de sílica
- r Rocha branda ou saprólito
ir s Acumulação iluvial de sesquióxidos com matéria orgânica
t t Acumulação de argila
- u Modificações e acumulações antropogênicas
- v Características vérticas
- w Intensa alteração com inexpressiva acumulação de argila, com ou sem acumulação de sesquióxidos
x x Cimentação aparente, reversível
cs y Acumulação de sulfato de cálcio
sa z Acumulação de sais solúveis em água fria maior que sulfato de cálcio
- Símbolo que designa o segundo horizonte repetido na mesma seqüência
- Símbolo que designa o terceiro horizonte repetido na mesma seqüência
Quando é o caso do uso de mais de um sufixo, as letras d, i, o, h, s, t, u, r, w tem
precedência sobre os demais sufixos necessários para complementar a designação integral de
horizontes ou camadas.
O sufixo b, conotativo de horizonte enterrado, deve ser precedido de outro sufixo,
quando em notação binária, como, por exemplo, Btb.
Nos horizontes intermediários mesclados, aplicam-se as notações expressas por E/Bh,
Bh/E, Bs/E, E/Bs, Bt/A, Bw/C/R, Cr/A, A/Cr, Cr/B e B/Cr.
São reconhecidos os horizontes transicionais conotados pelas designações Hdo, Hod,
Odo, Ood, isto é, H e O são constituídos de matéria orgânica em estágio intermediário de
decomposição. No entanto, o sufixo p, de uso exclusivo do horizonte A, H não é aplicável a
horizontais transicionais.
Os sufixos numéricos são indicativos tão somente de divisões segundo a seqüência em
5
Os sufixos sublinhados são privativos do horizonte em questão.
32
profundidade, quer de horizonte principal ou camada, quer de horizonte subordinado. A
notação de algarismo arábico de tais divisões é registrada sempre após os sufixos de letras
minúsculas (Estados Unidos. Soil Survey Staff, 1981).
5.2.4.4 Descontinuidades de material de origem
As descontinuidades de material de origem detectam-se por discrepâncias significativas
entre horizontes com respeito à granulometria ou mineralogia, indicando a discordância dos
materiais originários em que se formou cada horizonte. Nestes casos, números arábicos são
usados com prefixos, precedendo H, A, E, B, C, R. Se o solo provém de material originário
uniforme, omite-se o prefixo, já que se pressupõe ser o perfil no seu todo proveniente de
material único que seria designado pelo prefixo 1. Se o material originário for o único, omite-se
o prefixo. Inicia-se o uso de prefixos a partir do segundo material, isto é, 2, 3, etc., conforme a
seqüência. O prefixo numérico é usado com R, se admitido que o material originário do solo
não foi produzido por rocha da mesma natureza da subjacente. Por exemplo, Bt-C-2R.
Em solos orgânicos as descontinuidades entre diferentes espécies de camadas não são
qualificadas por prefixo numéricos. Na maioria dos casos as diferenças são designadas por
sufixos alfabéticos (letras minúsculas), caso as diferentes seções seja orgânicas, ou por letras
maiúsculas se as diferentes seções são de constituição mineral. Tem-se, assim, exemplos de
medição de horizontes orgânicos de solos minerais: quando os horizontes orgânicos têm
espessura menor que 40 cm, são medidos em sentido decrescente. Por exemplo,
Ho1 30 – 15 cm
Oo 6 – 4 cm
Ho2 15 – 0 cm
Od 4 – 0 cm
Cg 0 – 30 cm
A 0 – 20 cm
5.2.5 Registro de dados gerais associados à descrição de perfis (Lemos & Santos, 1996;
Santos et al., 2005)
Na descrição dos perfis a maneira de registrar os dados varia ligeiramente entre equipes
de diversas instituições, mas, de um modo geral, todas incluem, em formulários apropriados,
os seguintes itens:
– Identificação do perfil;
– altitude, situação, declive e georreferenciação;
– litologia, formação geológica, período geológico e material de origem;
– pedregosidade e rochosidade;
– relevo regional e local;
– erosão;
– drenagem interna do perfil;
– clima;
– vegetação;
– uso atual;
– examinadores.
5.2.5.1 Identificação do perfil
A identificação do perfil são incluídos dados referentes à instituição de pesquisa (ou
projeto), ao número do perfil, à classificação genética do solo, unidade de mapeamento e à
localização.
33
Na localização, além do Estado, município e localidade incluem-se as coordenadas
(obtidas de mapas-base e, quando disponível, deve-se usar o GPS) e vias de acesso ao local.
Sem as últimas informações é muito difícil (ou impossível) a localização futura do mesmo
perfil por outros pesquisadores que não os próprios examinadores.
Na unidade de mapeamento é preciso especificar se o perfil é típico, de transição ou
intermediário.
5.2.5.2 Altitude, situação e declive
A altitude é determinada com altímetro (tipo barométrico), a nível regional, em
relação ao nível do mar, com medidas de 20 em 20 metros ou mais precisas.Especifica-se a
posição do perfil no relevo (crista, meia-encosta, baixada, etc.), registrando-se a declividade
do local com clinômetro tipo "Abney', que pode ser utilizado de duas maneiras:
– Por altura visual – usa-se o clinômetro na altura visual do observador, visando, de
preferência o chapéu do auxiliar, que deverá estar a uma distância de pelo menos 40
metros. A medida é expedita;
– Por instrumento apoiado – para medidas mais precisas usam-se duas varas de 1,65
m, distanciadas a 40 metros uma da outra, que pode ser enterrada ou enterrada pelo
auxiliar. Numa apóia-se o clinômetro e visa-se o topo da outra. Faz-se a leitura "de-
vante" e, para maior precisão, o auxiliar faz uma retrovisada. Usa-se a média das
duas leituras.
5.2.5.3 Litologia, período e formação geológica e material de origem
Na litologia discriminam-se as rochas que compõe o local do perfil, especificando a
unidade litogenética (formação geológica) à qual se referem as rochas do substrato. O
período geológico, embora menos importante, serve de informação complementar.
O material originário do solo, em inúmeros casos não é o substrato ou a unidade
litogenética. Por isso, deve-se informar a natureza do material primitivo do qual se originou
o solo, com base nas observações do local do perfil. Quando possível, aconselha-se
especificar a granulometria, a composição mineralógica e a permeabilidade; ainda, se o
material é brando, semi-brando ou consolidado.
Na descrição de solos orgânicos é indispensável especificar a natureza dos resíduos
vegetais que compõe o material de origem (muck ou peat). Sempre que possível, deve-se
informar se há influência de material autóctone ou pseudo-autóctone.
5.2.5.4 Pedregosidade e rochosidade
A pedregosidade refere-se à proporção relativa de calhaus (2 a 20 cm de diâmetro) e
matacões (20 a 100 cm de diâmetro) sobre a superfície e, ou, massa de solo. É dividida nas
seguintes classes:
– não pedregosa – quando não se constata a presença de calhaus e, ou, matacões ou
quando sua presença é insignificante de fácil remoção, não interferindo na ração;
– ligeiramente pedregosa – os calhaus e, ou, matacões chegam a ocupar cerca de 0,01
a 0,1 % da superfície e, ou, massa do terreno, com distâncias de 10 a 30 cm. Podem
interferir na aração, mas mesmo assim, os cultivos são possíveis;
– moderadamente pedregosa – os calhaus e, ou, matacões ocupam de 0,1 a 3% da
massa e, ou, superfície do terreno, com distâncias variáveis de 1,5 a 10 m. Os
cultivos são impraticáveis, entretanto, tais solos podem utilizados para pastagens
naturais e, ou, melhoradas, caso as demais propriedades forem favoráveis;
34
– pedregosa – os calhaus e, ou, matacões chegam a ocupar de 3 a 15% da massa e,
ou, superfície do terreno, com distâncias variando de 0,75 m a 1,5 m. É impraticável
o uso de máquinas agrícolas, a não ser implementos leves ou manuais. Tais solos
devem reservados para a preservação ambiental (flora e fauna);
– muito pedregosa – os calhaus e, ou, matacões ocupam de 15 a 50% da massa e,
ou, superfície do terreno, com distâncias menores que 0,75 cm. É totalmente
inviável o uso de qualquer tipo de implemento agrícola, mesmo manual. Tais solos
são viáveis apenas para florestas nativas;
– extremamente pedregosa – os calhaus e, ou, matacões ocupam de 50 a 90% da
superfície do terreno; quando a cobertura ultrapassa os 90%, passam a ser
considerados tipo de terreno.
A rochosidade refere-se à proporção relativa de exposição de rochas do embasamento,
tanto afloramento de rochas, quanto camadas de solos sobre rochas ou ocorrência significativa
de matacões com mais 100 cm. É dividida nas seguintes classes:
– não rochosa – não ocorrem afloramento de rochas do substrato rochoso e nem de
matacões. Sua ocorrência é muito pequena, ocupando menos de 2% da superfície do
terreno, não interferindo na aração do solo;
– ligeiramente rochosa – os alforamentos são suficientes para interferir na aração,
mas ainda permitem o cultivo entre rochas. Os afloramentos e, ou, matacões
distanciam-se de 30 a 100 m, ocupando de 2 a 10% da superfície do terreno;
– moderadamente pedregosa – os afloramentos são tão freqüentes a ponto de tornar
impraticáveis os cultivos entre as rochas e matacões, mas ainda é possível o cultivo
de forrageiras ou pastagem natural melhorada. Os afloramentos e matacões
distanciam-se de 10 a 30 m, ocupando de 10 a 25% da superfície do terreno;
– rochosa – os afloramentos são em tal número que tornam impraticável a
mecanização, excetuando-se máquinas leves. Os afloramento rochosos e matacões
distanciam-se de 3 a 10 m, cobrindo de 25 a 50% da superfície do terreno. Tais
terrenos devem ser usados para a preservação da flora e fauna;
– muito rochosa – os afloramentos rochosos, matacões e manchas delgadas de solos
sobre rochas distanciam-se menos de 3 m, cobrindo de 50 a 90% da superfície do
terreno. Qualquer tipo de mecanização é inviável nestes terrenos, devendo, por isso,
ser usados para florestas nativas;
– extremamente rochosa – os afloramentos de rochas e, ou, matacões ocupam mais
90% da superfície do terreno, sendo, então, considerados tipos de terreno.
Eventualmente é necessário combinar as classes de pedregosidade com as de
rochosidade, em que se tem que considerar a influência simultânea das duas condições no uso
do solo. Um terreno moderadamente rochoso e moderadamente pedregoso deve ser
considerado tipo de terreno.
5.2.5.5 Relevo
No registro do relevo são usadas as seguintes classes: plano, suave ondulado,
ondulado, forte ondulado, montanhoso e escarapado (veja Figura 5.15):
– Plano – trata-se de superfície com topografia aproximadamente horizontal, com
desníveis muito pequenos e declividades menores que 3%;
– suave ondulado – a superfície apresenta topografia pouco movimentada, constituída
por um conjunto de colinas ou outeiros (elevações relativas de 50 m e 100 m,
respectivamente), com declividades variando de 3 a 8%;
– ondulado – a superfície tem topografia pouco movimentada, constituída por colinas e
outeiros, com declives acentuados de 8 a 20%;
35
– forte ondulado – a superfície tem topografia movimentada formada por outeiros ou
morros (elevações relativas de 100 m a 200 m), com declives fortes entre 20 e 45%;
– montanhoso – a superfície tem topografia vigorosa, predominando as formas
acidentadas, constituídas por morros, montanhas e maciços montanhosos e
alinhamentos montanhosos, com desníveis relativamente grandes e declives fortes e
muito fortes, da ordem de 75%;
– escarpado – regiões dominadas por formas abruptas, com vários tipos de
escarpamentos: aparados, itaimbés, frentes de cuestas, falésias, flancos de serras
acantiladas, vertentes de declives muito fortes de vales encaixados, com declives
maiores que 75%.
Figura 5.15. Formas de relevo: 1. plano; 2. suave ondulado; 3. ondulado; 4. forte ondulado; 5.
montanhoso; 6. escarpado (Santos et al., 2005).
5.2.5.6 Erosão
A erosão do solo refere-se à remoção da parte superficial e subsuperficial do solo por
ação da água (erosão hídrica) e do vento (erosão eólica), como resultado da exposição do solo
ao escoamento superficial, desmatamento, pastoreio excessivo, etc.
Na descrição morfológica de perfis duas formas de erosão são consideradas:
– Erosão eólica – A erosão eólica é expressiva em regiões semi-áridas ou com
períodos marcantes de seca ao longo do ano, em materiais de solo fracamente
agregados. Ele não é dependente da declividade, podendo atuar de forma intensa em
terrenos planos. O risco de erosão eólica é acentuado pela remoção ou redução da
cobertura vegetal.
– Erosão hídrica
Erosão laminar – refere-se à remoção mais ou menos uniforme de solo de
uma área, sem evidência de sulcos na superfície. Pode ser evidenciada pelas
diferentes colorações que eventualmente aparecem na superfície de um
mesmo tipo de solo;
erosão em sulcos – a remoção dá-se por meio de sulco e canais formados
pela concentração do escoamento superfície em determinados pontos do
36
solo. Os casos extremos desse tipo de erosão evidenciam-se pela formação
de sulcos profundos e muito profundos, com o aparecimento progressivo de
voçorocas. Seus efeitos são avaliados pela sua freqüência e profundidade.
Quanto à freqüência, os sulcos podem ser:
– Ocasionais – quando as distâncias entre sulcos são superiores a 30 m;
– freqüentes – quando as distâncias entre sulcos são inferiores a 30 m, ocupando,
porém, menos de 75% da área do terreno;
– muito freqüentes – quando os sulcos ocupam mais de 75% da área do terreno, e a
distância entre eles é menor do que 30 m;
Quanto à profundidade, os sulcos podem ser:
– Superficiais – podem ser cruzados por máquinas agrícolas, sendo desfeitos pelas
práticas normais de preparo do solo;
– rasos – apresentam comumente profundidade menor do que a largura e podem ser
cruzados por máquinas agrícolas, não sendo, porém, desfeitos pelas práticas normais
de preparo do solo;
– profundos –apresentam profundidade até 2 m, sendo esta, em geral, maior do que a
largura, não podendo ser cruzados por máquinas agrícolas;
– voçorocas – consideradas como casos extremos da erosão em sulcos, evidenciados
por cortes profundos ou muito profundos no terreno. Em geal, formam-se nas linhas
naturais de drenagem quando é retirada a vegetação primária, em sulcos onde o
escoamento da água foi intensificado por práticas agrícolas inadequadas, nas
entrelinhas de cultivo, em ruas ou em locais onde houve rompimento dos terraços
artificiais. Esse tipo de erosão não pode ser resolvido por práticas de cultivo simples.
A profundidade máxima é controlada pela presença de camadas impermeáveis, pela
natureza e estratificação do material de origem e pelo nível-base da drenagem geral.
5.2.5.6.1 Classes de erosão
A estimativa da perda de solo é obtida a partir da comparação da espessura do
horizonte superficial deste com outro do mesmo tipo, na mesma classe de pendente e declive,
mas onde não foi constatado processo erosivo. Para efeito de comparação são consideradas as
classes:
– Não aparente – o solo nesta classe não apresenta sinais perceptíveis de erosão eólica,
laminar ou em sulcos;
– ligeira – pelos menos 25% de horizonte A foi removido (incluindo AB ou A + E
originais ou dos primeiros 20 cm superficiais, para solos que apresentam horizonte A
ou A + E originais com menos de 20 cm de espessura. Didvidem-se nas classes:
Sulcos ocasionais, superficiais ou rasos;
acúmulo de sedimentos na base da encosta ou nas depressões do terreno;
poucas áreas descontínuas, onde a camada arável inclui material de horizontes
subsuperficiais.
Nesta classe de erosão os solos, usualmente, são foram ssuficientemente afetados a
ponto de alterar características diagnósticas do horizonte A.
– moderada – o solo teve 25% a 75% do horizonte A (incluindo AB ou A + E)
removido da maior parte da área. Pode apresentar freqüenes sulcos rasos que não são
desfeitos pelas práticas normais de preparo do solo. A camada arável, em geral,
consiste em remascentes dos horizontes A e, ou, E, em alguns casos, da mistura dos
horizontes A e E, ou mesmo de materiais transicionais AB e BA;
– forte – o solo teve mais de 75% do horizonte A (incluindo AB ou A + E) removido
da maior parte da área. Em terrenos com erosão em sulcos, estes são profundos ou
rasos e muito freqüentes.
37
Os sulcos em parte da área onde ocorrem essa classe de erosão não são desfeitos pelas
práticas normais de preparo do solo. Pode ocorrer exposição dos horizontes BA ou B à
superfície ou a camada arável é constituída, em parte, de materiais destes horizontes.
Ocasionalmente podem ocorrer voçorocas.
– muito forte – o solo teve o horizonte A ou A + E completamente removido. O
horizonte B exposto na superfície do terreno, já foi parcialmente removido por
sulcos profundos e ocasionais sulcos muito profundos e, ou, voçorocas. O solo
original pode ser identificado apenas em pequenas áreas da paisagem. Essa classe de
erosão já não permite mais o trânsito de máquinas agrícolas.
– extremamente forte – os horizontes A e B foram completamente removidos, já
havendo exposição do horizonte C, com ocorrência muito freqüente de sulcos muito
profundos e de voçorocas, tornando-o inapto para fins agrícolas.
5.2.5.7 Drenagem do perfil
Usam-se as seguintes classes de drenagem:
– Excessivamente drenado – a água é removida muito rapidamente, seja por excessiva
porosidade e permeabilidade do solo, seja por declive ou por ambos os fatores. O
equivalente de umidade é sempre baixo. São exemplos típicos desta classe de
drenagem os Neossolos Quartzarênicos e os Regolíticos;
– fortemente drenado – A água é rapidamente removida do perfil e os perfis
apresentam pouca diferenciação de horizontes, são muito porosos e de textura
média. Como exemplos típicos citam-se os Latossolos (Vermelhos, Vermelho-
Amarelos e Amarelos (nãos-coesos) de textura média;
– acentuadamente drenado – A água é rapidamente removida do perfil, e a maioria
dos perfis têm pequena diferenciação de horizontes, com textura variável de argilosa
a média, porém sempre muitos porosos e bem permeáveis. Exemplos típicos são os
Latossolos com estrutura granular fortemente desenvolvida do tipo “pó de café”;
– bem drenado – a água é removida do perfil com facilidade, porém não rapidamente.
Os perfis de solos apresentam pouca diferenciação de horizontes, sendo via de regra
de textura argilosa, porém sempre muito porosos e bem permeáveis. Normalmente
não apresentam mosqueados; entratanto, quando presentes, localizam-se a grandes
profundidades. Exemplos típicos são os Nitossolos Vermelhos, alguns Argissolos e
parte dos Latossolos e Argissolos Amarelos Coesos (Formação Barreiras e afins)
– moderadamente drenado – a água é removida um tanto lentamente, de forma que
perfil fica molhado por um período significativo de tempo. Os solos apresentam
comumente uma camada de permeabilidade lenta no ou imediatamente abaixo do
sólum, com lençol freático imediatamente abaixo do solum ou afetando a parte
inferior do horizonte B, por adição de água por translocação lateral; e, ou,
translocação lateral interna. Apresentam mosqueado no perfil, com indícios de
gleização; de redução na parte inferior do horizonte B ou no seu topo, associada à
diferença textural acentuada entre A e B. Como exemplos, tems-e alguns Argissolos
Coesos, Argissolos Vermelho-Amarelos e Cambissolos de textura argilosa;
– imperfeitamente drenado – a água é removida lentamente do solo, que permanece
molhado por um período significativo, mas não durante a maior parte do ano. Os
solos dessa classe apresentam camada de permeabilidade lenta no solum, lençol
freático alto, adição de água por meio da translocação lateral interna. Apresentam
mosqueados no perfil, podendo ter na parte baixa indícios de gleização. Como
exemplos, temos alguns Vertissolos, Plintossolos e Planossolos;
– mal drenado – a água é removida tão lentamente do perfil, que o solo permanece
molhado e o lençol freático está à superfície ou próximo durante parte considerável
do ano. Apresentam camada de permeabilidade lenta no, ou, imediatamente abaixo
38
do solum. As condições de má drenagem são devidas a lençol freático elevado,
camada lentamente permeável no perfil, aadição de água por meio de translocação
lateral interna ou alguam combinação dessas condições. Há ocorrência de
mosqueado no perfil, com características de gleização. Exemplo típicos são alguns
perfis de Gleissolos, Plintossolos, Planossolos e Espodossolos;
– muito mal drenado – a água é removida tão lentamente do perfil, de tal modo que o
lençol freático está à superfície, ou próximo à, durante a maior parte do ano. A má
drenagem é devida ao lençol freático superficial, com adição de água por
translocação lateral interna. Ocupam áreas planas ou depressões sem drenagem
externa, causando estagnação. Há caracterísitcas de gleização e, ou, acúmulo, pelo
menos na parte superficial, de matéria orgânica (muck ou peat). Exemplos típicos
são os Gleissolos (principalmente os Tiomórficos) e Organossolos hidromórficos.
5.2.5.6. Vegetação primária
A descrição da vegetação primitiva tem por objetivo fornecer subsídios referentes às
condições térmicas e hídricas em que se formaram os solos em questão e, adicionalmente, ao
eventual eutrofismo ou distrofismo desses mesmos solos. Os principais tipos de vegetação
primária com os respectivos regimes de umidade, atualmente reconhecidos (Carvalho, et al.,
1986; Camargo et al., 1987; Reunião, 1979; Lemos & Santos, 1996) (Tabela 5.8.).
Tabela 5.8 Formas de vegetação primária usadas pelo Centro Nacional de Pesquisa de Solos
para fasamento de classes de solos (Santos et al., 2005).
Vegetação/Floresta Regime de Umidade Vegetação/Floresta Regime de Umidade
Perúmida Cerrado equatorial subperenifólio
Perenifólia1, 2 Campo cerrado equatorial
Subperenifólia1, 2 Vereda equatorial
Floresta Equatorial
Subcaducifólia1 Cerrado Cerrado tropical: Subperenifólio
Higrófila de várzea Cerradão tropical: Subperenifólio
Hidrófila de várzea Campo cerrado tropical2
Perúmida3 Vereda tropical
Perenifólia3 Campo equatorial2
Subperenifólia3 Campo equatorial higrófilo de várzea
Floresta Tropical Subcaducifólia3 Campo equatorial hidrófilo de várzea
Caducifólia3 Campo tropical
Higrófila de várzea Campo tropical higrófilo de várzea
Vegetação Campestre
Hidrófila de várzea Campo tropical hidrófilo de várzea
Perúmida2 Campo subtropical2
Perenifólica2 Campo subtropical hidrófilo de várzea
Subperenifólia Campo xerófilo
Floresta Subtropical
Subcaducifólia Pampas
Higrófila de várzea Campo hidrófila de surgente
Hidrófila de várzea Floresta ciliar de carnaúba
Floresta não hidrófila de restinga Formações de praias e dunas
Floresta hidrófila de restinga Formações halófilas
Outras Formações
Vegetação de Restinga Manguezal
Restinga arbustiva e campo
Formações rupestres
de restinga
Complexos
1 2 3
Floresta dicótilo palmácea (babaçual), quando for o caso; Distinguir altimontana (o), se for o caso; De várzea se for o caso.
5.2.5.7. Raízes
Na descrição de perfis de solos registra-se a presença de raízes, usando a denominação:
muitas, comuns, poucas e raras, não mencionando a ausência de raízes. Especificam-se os
tipos de raízes: fasciculadas, pivotantes, secundárias. Registram-se ainda os diâmetros das
39
raízes em cada horizonte, conforme espcificações: – muito finas – < 1 mm; – finas – de
1–2 mm; – médias – 2–5 mm; – grossas – 5–10 mm; – muito grossas – > 10 mm.
5.2.5.8 Fatores biológicos
Indica-se ação de organismos vivos, tais como minhocas, cupins, formigas, tatus, etc.,
nos respectivos horizontes, anotando o local de máxima atividade e distribuição pela área.
5.2.6. Boletins técnicos, com exemplos de descrição de perfis de solos
Nos boletins técnicos (que obrigatoriamente acompanham os memoriais descritivos)
devem constar dados gerais, como informações sobre o perfil estudado, o declive e o relevo
(plano, suave ondulado, ondulado, forte ondulado, montanhoso e escarpado), posição na paisa-
gem (topo, meia-encosta ou terço inferior), o clima, a vegetação, a geologia (formações), a lito-
logia, os materiais de origem, pedregosidade, indicativos de erosão, examinadores, etc.
Vamos usar um exemplo de descrição de perfil de solo, descrito por Amaury C. Filho,
Nilson R. Nogueira e Philipe Blancaneaux, localizado na Rodovia BR-457, trecho Silvânia-
Leopoldo de Bulhões - GO.
As correlações com regimes de umidade e temperatura do solo são calculados pelos
procedimentos do “Soil Taxonomy” (Estados Unidos, 1975) e estabelecidas pela verificação
dos regimes calculados pelos dados meteorológicos pelo país afora e relacionadas com os tipos
de vegetação primária ou tipos coexistentes (p. ex., floresta e cerrado; campo e nas imediações
dos locais de medição).
5.2.6.1. Dados gerais do perfil de solo
Perfil 4
Número de Campo - TS1
Data - 14.08.91
Classificação - Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico A moderado, textura muito argilosa,
fase cerrado tropical subcaducifólio relevo plano.
Unidade de Mapeamento, Município e Coordenadas - Rodovia BR-457, trecho Silvânia-
Leopoldo de Bulhões, 7 km após o trevo para Silvânia, 700 metros à esquerda, Silvânia, GO.
16041'1"S e 48041'10"W Gr.
Situação, declive e cobertura vegetal sobre o perfil - Descrito e coletado em trincheira aberta
em área de chapada com aproximadamente 1% de declive, sob pastagem de braquiarão.
Altitude - 1.050 metros.
Litologia - Cobertura argilo-laterítica.
Formação Geológica - Cobertura detrítico laterítica terciária.
Cronologia - Terciário.
Material Originário - Produto da alteração do material supracitado.
Pedregosidade - Não pedregosa.
Rochosidade - Não rochosa.
Relevo local - Plano.
Relevo regional - Plano e suave ondulado.
Erosão - Não aparente.
Drenagem - Acentuadamente drenado.
Vegetação primária - Cerrado tropical subcaducifólio.
Uso atual - Pastagem de braquiarão.
Clima - Cwa, da classificação de Köppen.
Descrito e coletado por - Amaury C. Filho, Nilson R. Pereira e Philippe Blancaneaux.
40
5.2.6.2. Descrição morfológica
A seguir, tem-se a descrição morfológica do perfil, de acordo com as normas adotadas
pelo SNLCS (Lemos & Santos, 1996; Embrapa, 1988a,b; Santos et al, 2005).
Ap1 0 - 12 cm, bruno-avermelhado-esuro (5YR 3/4, úmido) e bruno-avermelhado (6YR 5/4,
seco); muito argiloso; moderada pequena e média granular; ligeiramente duro, friável,
plástico e pegojoso; transição plana e clara.
Ap2 12 - 31 cm, bruno-avermelhado (5YR 4/5, úmido) e vermelho-amarelado (5YR 4/5, seco);
muito argiloso; fraca média, blocos subangulares e forte pequena granular; ligeiramente
duro; friável, plástico e pegajoso; transição plana e clara.
AB 31 - 49 cm, vermelho-amarelado (5YR 4/5, úmido e 5YR 4/6, seco); muito argiloso; fraca
média blocos subangulares e forte pequena granular; ligeiramente duro, muito friável,
plástico e pegajoso; transição plana e gradual.
BA 49 - 75 cm, vermelho-amarelado (5YR 4/5, úmido e 5YR 5/6, seco); muito argiloso, fraca
média blocos subangulares e forte pequena granular; ligeiramente duro, muito friável,
plástico e pegajoso; transição plana e gradual.
Bw1 75 - 121 cm, vermelho-amarelado (5YR 4/6, úmido e 5YR 5/6, seco); muito argiloso;
fraca média pequena blocos subangulares e forte pequena e muito pequena granular;
ligeiramente duro, muito friável, plástico e pegajoso; transição plana e difusa.
Bw2 121 - 175, vermelho-amarelado (5YR 4/5/, úmido e 5YR 4,5/6, seco); muito argiloso;
fraca e pequena média blocos subangulares que se desfaz em forte muito pequena
granular; ligeiramente duro, muito friável, plástico e pegajoso; transição plana e difusa.
Bw3 175 - 200 cm+, vermelho (3,5YR 4/6, úmido) e vermelho-amarelado (5YR 4/6, úmido
amassado e 5YR 4,5/6, seco); muito argiloso; fraca pequena e meia blocos subangulares
que se desfaz em forte muito pequena granular; macio, muito friável, plástico e pegajoso.
Raízes – Muitas finas, fasciculares, e poucas médias no horizonte Ap1; comuns finas e raras
médias no Ap2 e AB; comuns finas no BA, Bw1, Bw2 3 Bw3.
Observações:
– O horizonte Ap1 encontrava-se pulverizado.
– os horizontes Ap2 e AB apresentavam-se adensados.
– o horizonte Bw3 não foi coletado.
– ocorrência incipiente de mosqueamento a 280 cm de profundidade, onde o solo
apresentava umidade elevada (observação realizada com trado).
5.2.6.3 Boletim de análises físicas e químicas de solos
5.2.6.3.1 Amostragem de solos
As análises de laboratório são essenciais na classificação definitiva dos solos. Por isso
devem ser coletadas amostras de solos nos locais exatos das observações e descrições morfoló-
gicas, georreferenciadas e acompanhadas da classificação preliminar. A eficácia da coleta de
amostras no campo resume-se em dois itens: a) seleção do pédon a ser coletado; b) precisão na
descrição e registro de características morfológicas in situ das amostras. Na Tabela 5.9 é apre-
sentado um boletim de análises físicas e químicas de solos padronizado.
Os pédons selecionados devem ser representativos das classes de solos. A amostragem é
feita em locais não perturbados, pois propriedades essenciais e importantes para a classificação,
uso e manejo pode ser alteradas em locais perto de estradas, áreas de agricultura e pastejo, etc.
Após a descrição, coletam-se as amostras de horizontes ou camadas de perfis. Descartam-se as
porções não típicas do horizonte que está sendo amostrado, isto é, os materiais nas faixas
limites entre horizontes adjacentes, que não expressam as propriedades de nenhum deles per
se. A amostragem, sempre que possível, deve atingir o horizonte C ou R (Santos et al., 2005).
41
Em horizontes intermediários, tipo A/B, A/E, deve-se coletar e analisar em separado
uma amostra de cada uma das porções dos dois horizontes (A e B; A e E). No caso de
horizonte intermediário coletado como amostra única, é conveniente assinalar tal fato no
rodapé da tabela de dados analíticos. As dimensões dos sacos das amostras devem ser 24 cm x
30 cm ou 24 cm x 40 cm e espessura suficiente para resistir ao transporte e ao armazenamento.
A coletas das amostras deve ser feita a partir dos horizontes inferiores em direção aos
superiores, na aproximada quantidade de 2 kg por horizonte ou camada, aumentando-se as
quantidades quando as proporções de frações grosseiras for grande ou apresentar elevado teor
de matéria orgânica, como no caso de horizonte ou camada O e H.
A etiquetagem deve ser feita em duplicata com etiquetas de cartolina, com uma no
interior dos sacos e outra amarrada na parte externa, com as seguintes informações: projeto ou
instituição; classificação; nº do perfil; Município e Estado; e coletor(es).
Tabela 5.9 Resultados de análises físicas e químicas de amostras de perfis de levantamentos
pedológicos segundo procedimentos de Embrapa (1997).
Perfil 4. de campo: TS1. Nº de laboratório: 91.0879/0884 SNCLS/Embrapa.
Composição granulométrica -TFSA
Horizonte Frações da amostra total -%
(dispersão com NaOH ou Calgon) - %
Prof. Calhaus Cascalhos Terra fina Areia grossa Areia fina Silte Argila
Símbolo
(cm) > 20 mm 20 - 2mm 2 - 0,2 mm 0,2- 0,02 mm 0,02-0,05 mm 0,05-0,02 mm < 0,02mm
Ap1 0- 12 0 0 100 6 4 21 69
Ap2 - 31 0 0 100 6 3 9 82
AB - 49 0 0 100 5 4 9 82
BA - 75 0 0 100 4 3 10 83
Bw1 -121 0 0 100 5 4 9 82
Bw2 -175 0 0 100 5 4 10 81
Bw2 -175 0 0 100 5 4 10 81
Argila dispersa Grau de Equiv.
Horizonte Densidade (kg dm-3) Porosidade Umidade (atm.)
em água Floculação Razão Umidade %
% % Silte/Argila (% vol.)
Símbolo Prof. (cm) Aparente Real 1/10 1/3 15
Ap1 - 12 41 41 0,31
Ap2 - 31 49 40 0,11
AB - 49 4 95 0,11
BA - 74 0 100 0,12
Bw1 -121 0 100 0,11
Bw2 -175 0 100 0,12
Horizonte pH (1:2,5) Cátions trocáveis Valor S
2+ 2+ + +
Símbolo Prof.(cm) Água KCl N Ca Mg K Na (Ca,Mg,K,Na)
----------------------------------cmolc kg-1------------------------------------
Ap1 0- 12 5,4 5,0 2,9 1,5 0,14 0,04 4,6
Ap2 - 31 4,9 4,4 0,5 0,5 0,06 0,03 1,1
AB - 49 4,8 4,5 0,5 - 0,03 0,02 0,6
BA - 74 5,2 4,6 0,5 - 0,03 0,02 0,6
Bw1 -121 5,0 5,2 0,5 - 0,02 0,03 0,6
Bw2 -175 4,9 5,6 0,5 - 0,02 0,03 0,6
42
Horizonte Acidez extraível Valor Saturação por C N
Valor T C/N P assimil.
V Alumínio Orgânico Total
3+ + -1
Símbolo Prof.(cm) Al H (S+Al+H) 100.S/T (100.S)/(S+Al) -------------g kg --------- g.ml-
-1 1
---------------cmolc kg -------------- --------------------------------%-----------------------------------
Ap1 0- 12 0,00 6,5 11,1 41 0 21,3 2,2 10 4
Ap2 - 31 0,00 5,6 7,7 14 48 16,2 1,2 14 1
AB - 49 0,60 4,8 5,8 10 40 12,4 1,0 12 <1
BA - 74 0,60 3,8 4,4 14 0 8,9 0,8 11 <1
Bw1 -121 0,60 3,1 3,7 16 0 7,0 0,8 9 <1
Bw2 -175 0,60 2,1 2,7 22 0 5,8 0,7 8 <1
Horizonte Ataque sulfúrico (H2SO4 1:1) Relações moleculares F2O3 Equiv.
LivreCaCO3
SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 P2O5 Mn SiO2/Al2O3 SiO2/R2O3 -1
SímboloProf.(cm) Al2O3/Fe2O3----g kg ----
---------------------------g kg-1------------------------------- (Ki) (Kr)
Ap1 0- 12 18,5 24,5 10,6 1,45 1,28 1,01 3,63
Ap2 - 31 19,6 25,2 10,6 1,52 1,32 1,04 3,63
AB - 49 19,2 26,7 10,7 1,52 1,22 0,97 3,91
BA - 75 18,4 25,6 10,6 1,53 1,22 0,97 3,79
Bw1 -121 19,5 27,7 11,2 1,63 1,20 0,95 3,88
Bw2 -175 18,5 2,66 11,4 1,17 1,18 0,93 3,66
Sat. (%) Água % C E - Extrato Íons dos sais solúveis no extrato de saturação
Horizonte -1
0 -------------------------------(cmolc kg )-------------------------------
com Na na pasta Satur. 25 C
-1 2+ 2+ +
SímboloProf.(cm) 100.Na/T saturada (dS m ) Ca Mg K Na HCO3-, CO32-
+
Cl- SO42-
Ap1 0- 12 <1
Ap2 - 31 <1
AB - 49 <1
BA - 75 <1
Bw1 -121 1
Bw2 -175 1
O procedimento de coleta é o mesmo usado na coleta do perfil, podendo-se, em alguns
casos, recorrer à coleta com o trado, portanto sem descrição morfológica ou com descrição
parcial (profundidade, cor da amostra amassada ou triturada, textura , consistência quando
molhado).
5.2.6.3.1 Amostras extras para caracterização analítica
Muitas vezes, para evitar um número excessivos de amostras a analisar, coletam-se
apenas alguns dos horizontes mais representativos dos processos pedogenéticos do solo (perfil
complementar ou amostras extras). Dessa maneira, quando julgado necessário, coletam-se de
um perfil amostras do horizonte A e, ou, B ou então A, B e C.
5.2.6.3.2 Amostras para a determinação da densidade
Para a determinação da densidade do solo usam-se anéis volumétricos tipo Kopecki de
3
50 cm , ou similar, ou ainda extratores de solos, de forma que se obtenham amostras com o
mínimo de deformação da estrutura. Devem-se coletar amostras de todos os horizontes, sendo
aconselhável a coleta de duas amostras por horizonte, acondicionadas em latas de alumínio ou
sacos plásticos devidamente identificados.
O teor de umidade no momento da coleta da amostra é importante pelo risco de maior
deformação ocorrer com o solo muito úmido, ou perda de material se estiver muito seco. Se
43
possível, estimar ou quantificar o teor de umidade da amostra no momentoda coleta e registrar
essa informações na planilha de resultados analíticos.
Quando não for possível utilizar anéis ou extratores, coletam-se torrões,
acondicionando-se também em latas de alumínio.
5.2.6.3.3 Amostras com estrutura indeformada
Para a determinação da condutividade hidráulica coletam-se amostras com extratores
tipo Uhland ou similar, ou com anéis volumétricos, sempre de cima para baixo, com três
repetições para horizonte ou camada. No caso de o horizonte superficial ser muito espesso,
deve-se retirar uma amostra na parte superficial e outra no terço inferior). Quando se trata de
determinação físico-hídrica completa do perfil, sugere-se amostrar todos os horizontes até uma
profundidade de 120 cm.
Nas amostragens para análises de agregados (horizontes superficiais, devem-se coletar
as amostras com cuidado, em quantidades aproximadas de 500 g, e acondicioná-las em
recipientes rígidos para não destruir os agregados durante o transporte.
5.2.6.3.4 Amostras indeformadas para determinações micromorfológicas
No caso de muitos solos ou sedimentos relativamente macios, coerentes e não
pedregosos, recomenda-se o uso de caixas de Kubiena (em forma de paralelepípedo),
metálicas (alumínio, aço inoxidável ou latão), compostas de duas tampas destacáveis e
estrutura de quatro lados, que possa ser aberta num dos cantos, para facilitar a retiradas das
amostras. As caixas podem ter dimensões de, por exemplo, 11 cm x 6 cm x 3,5 cm.
As técnicas de amostragem para determinações micromorfológicas são descritas em
textos como o de Fitzpatrick (1984).
5.2.6.3.5 Amostras de rochas para estudos complementares
Faz-se a coleta de amostras de rochas representativas do material de origem dos solos.
Devem ter, aproximadamente 10 cm x 10 cm x 10 cm, o menos alterada possível. O registro é
feito tendo os seguintes dados:
Instituição ou Projeto –
Amostra de rocha nº –
Localização, município, estado e coordenadas –
Solo (classificação do solo próximo ao local de coleta –
Coletor –
Observações: Especificar se o material é dominante no embasamento; se é o possível
material de origem do perfil coletado; se ocorre sob a forma de intrusões, dique, sill, ec.; se é
coletado em afloramento, além de mencionar o acidente geogáfico onde foi coletado (margem
de rio ou canal de drenagem, enconsta, colúvio, etc.)
5.2.6.3.6 Amostras para caracterização analítica da fertilidade para fins de levantamento
Além da coleta de perfis e de amostras extras, poderão ser coletadas amsotrasda partes
superficial e subsuperficial do solo, para de fertilidade. As amostras da parte superficial
deverão ser tomadas e uma profundidade de 0 cm a 20 cm, ou maior, dependendo do objetivo
do levantamento e uso da área, e em diversos pontos do terreno.
As amostras subsuperficiais deverão ser coletadas, quando possível, a profundidades de
40 cm a 60 cm e, se procedente, de 100 cm a 120 cm, podendo variar de acordo com as
características do solo.
44
5.2.6.3.7 Amostras para caracterização analítica da fertilidade para fins de assistência ao
agricultor
Nas análises com propósitos de assistência ao agricultor, a coleta deverá feita de
acordo com os procedimentos:
Dividir a gleba em lotes uniformes de cerca10 hectares para a retirada das amostras.
Deverá ser uniforme na topografia, cor e textura do solo, bem como nos históricos
de adubações e calagens.
Cada uma das áreas deverá ser percorrida em ziguezague, retirando-se com trado
subamostras de 15 a 20 pontos diferentes, para formar uma amostra composta,
misturada num balde. Após a mistura das subamostras, retiram-se cerca de 200 g
para ser enviada ao laboratório;
As amostras deverão ser retiradas da camada superficial até 20 cm de profundidade,
ou outra(s) profundidade(s), dependendo da cultura e do solo;
Nunca amostrar locais próximos de residências, galpões, estradas, formigueiros,
depósitos de adubos, etc., ou quando o terreno estiver encharcado;
Indentificar as amostras com itens apresentados em formulário apropriado.
5.2.6.3.8 Amostras de solos com elevado teor de matéria orgânica
Por causa do ambiente em se formam os solos com altos teores de matéria orgânica,
em geral com alta umidade, a presevação de diversos atributos requer a manutenção da
umidade de campo. As variações mais proeminentes ocorrem no pH, no teor dos elementos
solúveis em água, na condutividade elétrica, na presença de sulfetos e sulfatos e ainda no N
total. Assim, o acondicionamento das amostras deve ser reforçado, tratando-as de forma
diferenciada no laboratório, antes da secagem.
Atenção especial deve-se dar aos Organossolos tiomórficos e Gleissolos Tiomórficos:
medidas de pH no campo e no material ainda úmido são essenciais para a classificação desses
solos. A amostragem também deve ser cuidadosa em horizontes ou camadas com materiais
orgânicos não alterados (restos de galhos, troncos, raízes mortas, etc.), onde a distribuição do
material de solo é irregular e descontínua. Nas amostra indeformadas e nas medições físico-
hídricas existe grande variabilidade vertical e horizontal do material orgânico, o que requer
maior número de amostras para representar atributos de solo avaliados em sua forma natural,
como a densidade do solo, a porosidade, a condutividade hidráulica, etc.).
5.3 Gênese – fatores e processos de formação de solos
5.3.1 Modelos e conceitos de formação de solos
Os solos são fenômenos naturais muito complexos. Existem na interface da litosfera, da
biosfera e da atmosfera e excecutam funções vitais dentro do ciclo hidrológico. Eles herdam,
reagem com e são impactados espacial e temporalmente por todos esses três domínios. Erosão,
soterramento, mudanças climáticas, movimento biomecânico e processos de mistura, efeitos do
lençol freático, entradas de poeira eólica, efeitos microclimáticos e topográficos e inúmeras
outras nuances do ambiente de formação do solo, todos interagem para formar o mais complexo
dos sistemas naturais (Schaetzl & Anderson, 2006).
O uso de modelos conceituais auxilia-nos a compreender o sistema solo e sua formação,
e assim distinguir um sinal de todo esse ruído. Modelos conceituais são ferramentas essenciais
em ciência; são descrições simplificadas de sistemas naturais. Ao invés de serem descrições
matemáticas precisas que podem ser solucionadas, com dados amplos, são usados para ajudar a
pôr a informação do solo na perspectiva e fornecer a introspecção (insight) na interrelações do
sistema, vinculações precisas e nuances da pedogênese e da geomorfologia do solo (Dijkerman,