Unidade 2
Unidade 2
PRIVADO
-1-
Olá!
Você está na unidade Temas de Direito Internacional Público. Conheça aqui conceitos básicos sobre temas
Aprenda a respeito das fontes do Direito Internacional. Compreenda aspectos relacionados ao Estado como
sujeito de Direito Internacional, que proporcionarão insights para o seu desenvolvimento e espírito crítico em
Bons estudos!
-2-
1 Fontes
O Doutor Roberto Luiz Silva, professor decano de Direito Internacional Público da Universidade Federal de
Minas Gerais – UFMG, um dos principais expositores do Direito Internacional no Brasil conceitua fontes como:
“(...) o modo pelo qual o direito se manifesta. A partir dela surgirão as normas jurídicas relacionadas a
determinados sistemas” (SILVA, 2018, Locais do Kindle: 2829). As fontes do Direito Internacional estão
relacionadas no Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (CIJ) que as classifica como fontes primárias
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem
submetidas, aplicará:
a.as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente
b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito;
d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais
qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de Direito. A
presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono,
Fique de olho
Damasceno (2018, p. 396) traz duas importantes observações neste aspecto: “Esta
classificação é importante, uma vez que as decisões da Corte deverão ser fundamentadas nas
fontes principais, tendo as fontes auxiliares um papel secundário de auxílio na aplicação de
Tratados, Costumes e Princípios Gerais do Direito Internacional. Ressalta-se que, apesar do
Estatuto da CIJ possuir aplicação apenas entre os Estados que são signatários dentro de sua
jurisdição, esse documento é utilizado por ser a CIJ o mais importante órgão judicial nas
relações jurídicas internacionais, sendo amplamente reconhecido como a formulação mais
autorizada a respeito das fontes do Direito Internacional”.
A partir de agora iremos tratar das fontes de Direito Internacional Público trazidas pelo Estatuto da CIJ.
-3-
1.1 Tratados internacionais
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, concluída em 23 de maio de 1969 e ratificada pelo Brasil em
2009, conceitua tratado como um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo
Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,
Esse conceito necessita alguns apontamentos importantes, então, vamos lá! Conforme podemos verificar, nele
ACORDO Quanto a este primeiro elemento, devemos compreender que o efeito do tratado é
Aqui um alerta muito importante: não é correto afirmar que todo Tratado de Direito
ESCRITO Internacional é escrito, porém a Convenção de Viena sobre o Direito somente terá
POR ESTADOS regulados pela Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e
UM OU MAIS
Ou seja, não importa se o acordo afirmado consta apenas um documento ou se há
INSTRUMENTOS
demais protocolos ou anexos.
CONEXOS
DIVERSAS Também não faz diferença qual o nome dado ao tratado, seja tratado, acordo, estatuto
DENOMINAÇÕES etc.
-4-
Figura 1 - Direito internacional
Fonte: niroworld, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: A imagem apresenta um globo escolar com bandeiras de vários países do mundo e um martelo de
direito sobre uma mesa, simbolizando os sistemas de direito internacional, a justiça, os direitos humanos e o
conceito de jurisdição global. O martelo de juiz é um dos mais fortes e conhecidos símbolos do direito e da justiça
no mundo.
de validade a capacidade das partes, a habilitação dos agentes signatários, objeto lícito e possível e o
mútuo consentimento.
• Possuem capacidade os Estados, as organizações internacionais, a Santa Sé, os Estados beligerantes (aos
que reconhecem a sua autonomia) e, em determinados casos, as unidades federadas internas (ver art. 56
da CRFB/1988).
• São habilitados para a celebração e assinatura o Chefe de Estado/Governo, o Ministro das Relações
Exteriores e o Chefe da Missão Diplomática (embaixador perante o Estado e em tratados bilaterais), ou
aquele que apresente a carta de plenos poderes.
• Objeto lícito e possível/realizável é aquele que não viola norma de jus cogens, que são normas
internacionais gerais que não podem ser violadas nem derrogadas.
• O erro, dolo ou corrupção são considerados vício de consentimentos relativos, portanto aquele tratado é
anulável; a coação é vício absoluto (erga omnes) e, portanto, nulo.
Lembrando que esse entendimento se trata para a coação política, não a econômica. Importante ressaltar que,
-5-
•
BILATERAIS
• ABERTOS
Quando puderem ser ratificados por sujeitos que não participaram das negociações ou fechados, quando
• TRATADO-LEI
Aquele que traz normas gerais e abstratas ou tratado contrato, que apresenta obrigações específicas.
Fique de olho
Se um tratado é celebrado entre uma organização internacional que possui cinquenta
membros e um outro Estado não membro daquela organização, será um tratado bilateral e não
multilateral. Isso porque há duas partes: a organização internacional e o Estado não parte.
Lembre-se: a organização internacional possui personalidade jurídica própria e distinta dos
Estados que ab initio a criaram.
Execução integral.
Consentimento mútuo.
-6-
1.2 O costume internacional
Conforme visto no art. 38 do Estatuto da CIJ, o costume internacional foi definido como uma prática geral aceita
como sendo o direito, ou seja, os costumes são as normas gerais consagradas com o longo do uso e consagradas
Importante ressaltar que a CIJ definiu a opinio juris no acórdão sobre a Plataforma Continental do Mar do Norte
em 1969:
Corte Internacional de Justiça – CIJ Caso da Plataforma Continental do Mar do Norte (...) os atos em
questão devem constituir-se não somente de uma prática estabelecida, mas também devem ter tal
caráter ou realizar-se de tal forma que demonstrem a crença de que tal prática se estima obrigatória
em virtude de uma norma jurídica que a prescreva. A necessidade de tal crença, ou seja, a existência
de um elemento subjetivo, está implícita no próprio conceito de opinio juris sive necessitatis. O
Estado interessado deve sentir que cumpre o que supõe ser uma obrigação jurídica. Nem a
Em relação à diferenciação entre uso e costume, Silva (2018, Locais do Kindle 4729-4743), apresenta que:
O costume é, desta forma, norma jurídica obrigatória. Se não for cumprido, acarreta uma sanção, que é a ação de
responsabilidade internacional. Já o uso não tem essa característica, pois é prática não obrigatória para os
sujeitos internacionais e que, quando violada, não acarreta sanções, como decidido pela Corte no Caso Haya de la
Torre, abaixo: É certo que existe uma prática segundo a qual o Agente diplomático solicita imediatamente o
salvo-conduto e este lhe é concedido: mas essa prática, que se explica por motivos de conveniência, não gera
-7-
1.3 Os princípios do Direito Internacional
A inclusão dos Princípios Gerais de Direito Internacional ao Estatuto da CIJ é uma das mais notáveis inovações da
Carta das Nações Unidas. Segundo Silva (2018, Locais do Kindle 4949):
Os princípios gerais de direito têm a finalidade de preencher lacunas do Direito, sendo elemento
subsidiário para a decisão da CIJ, apresentando-se ou como princípios gerais comuns à ordem
interna e internacional, como o pacta sunt servanda, o princípio da boa-fé e do direito adquirido ou
Segundo Silva (2018), a Resolução n. 2.625 (XXV) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 24/10/1970, com
base no relatório de seu Comitê Especial dos Princípios de Direito Internacional apresenta:
Cooperação.
Igualdade soberana.
Responsabilidade internacional.
A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
IV - não-intervenção;
VI - defesa da paz;
-8-
VII - solução pacífica dos conflitos;
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações.
-9-
1.4 Decisões judiciárias
Trata-se, a priori, das decisões judiciais originárias da própria Corte Internacional de Justiça – CIJ,
mas inclui, ainda, decisões judiciais de outros tribunais internacionais, decisões arbitrais, pareceres
da CIJ, laudos e relatórios dos diversos mediadores das comissões de conciliação internacional,
apesar de, segundo o artigo 59 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, a decisão não ser
obrigatória senão para as partes em litígio e em relação a esse caso específico, ou seja, os tribunais
Sendo das decisões da CIJ obrigatórias aos Estados que aceitam a sua jurisdição, portanto,
constituindo-se em fonte do Direito Internacional, ela deve se ater às particularidades das relações
jurídicas internacionais, até mesmo para não perder a credibilidade que os Estados a ela dispõem,
uma vez que as suas decisões são implementadas sem à necessidade de ratificação dos Estados.
Em relação às decisões da Corte, são estritas ao que fora requerido pelas Partes e, por se tratar de uma fonte de
Direito Internacional, baseado no princípio do voluntarismo, suas decisões precisam ser condizentes
Todavia, uma vez que a jurisdição da CIJ é voluntária, os Estados não a buscariam se ela inovasse no Direito
Internacional e se criasse normas em suas decisões. Em realidade ela dirime um conflito, determina se há ou não
violação e qual é a medida que deve ser tomada pelo Estado condenado.
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/d119f50a783dc375b292816eb395dd14
- 10 -
1.5 Doutrina
O Art. 38 enunciou, ainda, como fonte auxiliar a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações.
Porém, a crítica apontada por Silva (2018, Locais do Kindle 5257) é de extrema importância:
A Doutrina no Estatuto da Corte, artigo 38, reflete um pensamento eurocêntrico quando afirma que
válida é a doutrina dos juristas mais qualificados, os quais seriam, é claro, os europeus. Atualmente, é
muito difícil obter-se o consenso doutrinário, pelo fato de haver muitos novos entes na Sociedade
Internacional, por isso, a doutrina é raramente invocada na CIJ. Quando é citada, restringe-se aos
votos vencidos, nos quais a doutrina é denominada “opinião geral” ou “doutrina dominante.
- 11 -
1.6 Analogia / Equidade
De acordo com Silva (2018), ambos institutos não se tratam de fontes de direito, todavia, tratam-se de métodos
de raciocínio jurídico utilizados em caso de existência de lacunas nas normas ou inexistência de normas que
disciplinem a matéria. O autor ainda ressalta que não são obrigatórias para os sujeitos de Direito Internacional e
A CIJ é o principal tribunal internacional de natureza permanente da Sociedade Internacional. Apesar das
normas contidas em seu Estatuto enumerar normas de direito que possuem alcance apenas em sua jurisdição, a
enumeração de suas fontes acaba por se tornar referencial para os estudos de DIP (SILVA, 2018).
Dessa forma, o Art. 38 – 1 apresenta as fontes do Direito Internacional que serão utilizadas para decidir as
controvérsias que forem submetidas à Corte. O que se verifica no Art. 38 – 2 é que, havendo concordância entre
Rousseau (apud SILVA, 2018) define equidade como aplicação dos princípios de justiça a um determinado caso.
Trata-se de um meio pelo qual o aplicador do direito cria a regra e decide a controvérsia sem a preocupação de
obedecer ao sistema positivo dado, levando em consideração a justiça, como valor absoluto (SILVA, 2018).
Conforme disposto no artigo supracitado, há necessidade de manifestação das partes litigantes por meio de
cláusulas de julgamento segundo a equidade. Essas cláusulas permitem que o juiz ou árbitro não apenas
preencham possíveis lacunas no direito, mas também afastem a aplicação do direito positivo e decidam contra
#PraCegoVer: A imagem apresenta uma tabela com as definições das funções da equidade: infra legem, contra
- 12 -
Fique de olho
Você já ouviu falar da arbitragem Abyei – Governo do Sudão vs. Movimento/Exército de
Libertação do Povo Sudanês? O litígio envolvia o estabelecimento dos limites da área Abyei.
Nesse caso foram escolhidos peritos da ABC Experts que na delimitação da área envolvida
utilizaram-se do princípio da equidade, não havendo autorização expressa do Governo do
Sudão. A Corte Permanente de Arbitragem concluiu que os peritos excederam o mandato.
Por outro lado, a analogia se trata da aplicação de norma jurídica a ser utilizada para uma situação semelhante.
Todavia, a analogia não consta no enunciado do Art. 38 da CIJ. Silva (2018) afirma que não é possível construir
pela analogia restrições à soberania dos Estados, nem obrigar um Estado ou ente da Sociedade Internacional a
- 13 -
1.7 Atos unilaterais
Em determinados casos, os atos unilaterais dos Estados, incluindo as declarações feitas por representantes da
O Art. 38 (1) do Estatuto da CIJ não prevê atos unilaterais em seu rol, porém eles podem constituir fontes
de obrigação. Cretella Neto (2012) exemplifica que quanto ao Direito do Mar, o mesmo se formou por
meio de atos unilaterais e regulamentação por parte de cada Estado individualmente, criando-se
inúmeras noções jurídicas tais como zona contígua, de mar territorial, zona econômica exclusiva etc.
Em 1982, houve a elaboração da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Montego Bay) em que a
repetição constante desses inúmeros atos unilaterais contribuiu de forma decisiva para formação de algumas
Segundo Silva (2018), são condições para que um ato unilateral ocorra:
Necessita ser emanado por sujeito de Direito Internacional (principalmente Estado, mas não exclui outros).
Seu conteúdo deve ser materialmente possível (não pode violar jus cogens).
Deve haver a intenção de se obrigar (não é possível fazer-se ato unilateral obrigando outro Estado).
Internacional. Objetiva “prevenir que uma situação que se possa alegar contra o Estado
que esteja protestando contra ela, privando-a de todo efeito legalmente válido. A eficácia
contra a posse das Ilhas Malvinas (Falklands) pelo Reino Unido, objetivando evitar que
EXPRESSOS
este requeira à CIJ reembolso de despesas de guerra, bem como a demonstrar que a
sujeito aceita o ato, renunciando a seu direito ou aceitando reconhecer o direito da outra
(SILVA, 2018).
manifestar em relação a determinado ato unilateral acata esse mesmo ato. Para isso, é
- 14 -
TÁCITOS necessário que o ato unilateral tácito atenda a três condições: O Estado interessado deve
conhecer o fato; O objeto do ato unilateral deve ser um interesse jurídico. Deve ser
concedido um prazo razoável para que o Estado interessado se manifeste (SILVA, 2018).
Segundo Silva (2018), são normas originárias de uma organização internacional que se tornam obrigatórias para
meios para garantir a eficácia de suas decisões, estas se originam do princípio da boa-fé, havendo organizações
• DIREITO PRIMÁRIO
É originado dos tratados, havendo competência delegada pelos Estados diretamente para as
• DIREITO SECUNDÁRIO
Origina-se dos órgãos criados no seio das organizações internacionais (SILVA, 2018).
- 15 -
2 O Estado como sujeito de direito internacional: conceito
e elementos
Segundo Silva (2018), o Estado é o contingente humano a viver sob alguma forma de regramento dentro de certa
área territorial.
A globalização está modificando estruturalmente o que se entende por Direito Internacional, ainda
que, muitas vezes, essas transformações ocorrem de forma tão sutil que passam despercebidas. Os
pilares da Ordem Jurídica Internacional observados sobre a ótica clássica enfrentam novos desafios
constantemente: verifica-se que a distinção entre direito interno e internacional torna-se cada vez
mais precária, normas de soft law são cada vez mais difundidas, a igualdade soberana dos Estados é
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/e905ef6c0fce61f28841f37288a77d71
De acordo com Varella (2009), entre os sujeitos de Direito Internacional, o Estado é o único que possui
capacidade jurídica plena, ou seja, habilidade de munir-se de direitos, de poderes e de obrigações. Conforme
afirmam Silva e Damasceno (2019, p. 210): “(...) os meios encontrados para as relações cotidianas entre dos
Nesse sentido, ao se analisar o conceito de Estado, segundo Azambuja (2001) é possível identificar a existência
POPULAÇÃO reunião de algumas famílias; não há, porém, um máximo nem um mínimo certo para sua
A base física que enquadra os limites à sua jurisdição e até mesmo o fornece seus recursos
TERRITÓRIO
materiais.
- 16 -
SOBERANIA O poder do Estado.
Segundo Damasceno e Silva (2015, p. 28) os Estados possuem como um dos seus elementos constitutivos a
chamada soberania, desdobrada em enfoque interno (sendo poder de decisão máximo dentro do seu território) e
externo (sendo homólogo aos outros Estados, estando em par de igualdade e podendo se autoadministrar, sem a
interferência destes), porém os Estados não podem ser absolutamente independentes uns dos outros, abrindo
Fique de olho
“Decerto que, nas últimas décadas, o cenário internacional tem sofrido intensas
transformações. Por um lado, o aumento da velocidade e volatilidade da economia mundial, o
surgimento de movimentos políticos fora do seu quadro territorial – como a proteção de
direitos humanos e do meio ambiente – e o compartilhamento de poderes eminentemente
“estatais” com atores não estatais no âmbito internacional – como a determinação das taxas de
câmbio e de juros definidas pelo mercado, bem como a imposição de programas de ajuste
estrutural do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional – FMI. Por outro, a eleição do
conservador Donald Trump como presidente dos EUA, a decisão de retirada da União Europeia
– UE tomada pelo Reino Unido, sob a alcunha de “Brexit”, refletindo o seu descontentamento,
bem como o de diversos outros membros, com o fraco desenvolvimento econômico, o aumento
da imigração e, sobretudo, uma vontade supranacional adotada por seus órgãos, numa
tentativa de se recuperar a ideia de soberania absoluta estatal. (...) Assim, as relações jurídicas
internacionais, que já foram concentradas apenas na figura do Estado soberano, passam a
conviver em um cenário com novos atores, lógicas, racionalidades, dinâmicas e procedimentos
que dialogam e extrapolam as fronteiras estatais. Mesmo no atual cenário, os Estados
continuam sendo os únicos dotados de soberania, porém, esta deixa de ser imprescindível para
se reivindicar personalidade jurídica internacional, enquanto aptidão para ser titular de
direitos e deveres na Sociedade Internacional, como se nota a partir da consagração das
organizações internacionais e do indivíduo enquanto sujeitos de Direito Internacional” (SILVA;
DAMASCENO, 2019, pp. 2010-211).
É cada vez mais constante a troca de informação entre os Estados. Essas redes governamentais são
uma característica fundamental da ordem mundial no século XXI. O avanço nas tecnologias tornou
- 17 -
2.1 Reconhecimento de Estado
Segundo Silva (2018), reconhecimento de Estado é o ato pelo qual os Estados já existentes constatam a
existência de um novo membro da Sociedade Internacional, realizado, via de regra, a pedido do Estado que
Possuir governo independente e autônomo na conduta dos negócios estrangeiros (requisito volátil) (SILVA,
2018).
O governo deve ter autoridade efetiva dentro de seu território, congregando as forças ali existentes (SILVA,
2018).
É ato unilateral (manifestação da vontade de um único ente da Sociedade Internacional) (SILVA, 2018).
Se o Estado perder os elementos que o caracterizam como tal, deixará de sê-lo. Exemplo: A Ilha de Nauru não
terá mais território daqui a algum tempo, dada a exploração de minerais ali existente (SILVA, 2018).
É ato discricionário. O Estado faz o reconhecimento quando bem entende (SILVA, 2018).
É ato retroativo, tendo em vista a teoria de que o reconhecimento é apenas uma constatação (SILVA, 2018).
- 18 -
2.2 Sucessão de Estados
Segundo Silva (2018) a sucessão de Estados ocorre quando um Estado sofre transformações que atingem seus
elementos constitutivos – território e povo – por meio da mudança da soberania sobre eles exercida, tendo como
principais ocorrências:
Separação ou secessão de parcelas do território de um Estado que ascendem a essa categoria, isto é,
Em 1999, no âmbito das Nações Unidas, a Comissão de Direito Internacional elaborou um manual
visando assegurar direitos à nacionalidade das pessoas em caso de sucessão de Estados, mostrando,
assim, que existe uma preocupação internacional em não deixar o indivíduo vulnerável. No entanto,
esse instrumento ainda não se encontra em vigor na ordem jurídica internacional, permanecendo
sob forma de esboço. (...) Portanto, da mesma forma que o costume internacional permitiu a
elaboração de instrumentos jurídicos que versassem sobre bens, arquivos e dívidas públicas quando
da sucessão de Estados, é imperioso que a comunidade internacional também esteja mais sensível às
consequências para o elemento humano no processo de sucessão. Algo precisa ser feito, seja para
obstar a apatridia, seja para evitar a formação de grupos de estrangeiros em situação irregular.
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/72cb58c920f38815479ef60ab2c790fe
é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
- 19 -
• conhecer as noções acerca das fontes do Direito Internacional;
• compreender os processos relativos aos tratados internacionais;
• identificar as fontes do Direito Internacional;
• conhecer as noções e preliminares que o conceito de Estado;
• estudar sobre o processo de reconhecimento de Estado;
• conhecer as possibilidades de sucessão de Estado.
Referências
AMORIM, A. R. A Sucessão de estados no direito internacional. Análise do caso El Salvador vs. Honduras
AZAMBUJA, D. Teoria geral do estado. 42. ed. São Paulo: Globo, 2001.
CASELLA, P. B.; ACCIOLY, H.; NASCIMENTO, G. E. Manual de direito internacional público. 20. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
CRETELLA NETO, J. Curso de direito internacional econômico. São Paulo: Saraiva, 2012.
de Direito Internacional. [on-line] / Coordenação Geral Leonardo Nemer Caldeira Brant. – v.16 - (2015-2). Belo
DAMASCENO, G. P. M. As decisões da corte internacional de justiça como fonte de direito internacional: análise
DINH, N. Q.; DAILLER, P.; PELLET, A. Direito internacional público. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2003.
ROUSSEAU, C. Droit international public. Paris: Sirey, 1970 apud SILVA, Roberto Luiz. Curso de direito
internacional. 2018.
internacional. In: Direito internacional [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/ UFG / PPGDP.
- 20 -
Coordenadores: Dirceu Pereira Siqueira, Florisbal de Souza Del Olmo, Joao Henrique Ribeiro Roriz j –
- 21 -