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Unidade 2

Este documento discute as fontes do direito internacional público. Ele define tratados internacionais e costume internacional como as principais fontes primárias segundo o Estatuto da Corte Internacional de Justiça. Tratados requerem um acordo escrito entre Estados ou organizações internacionais, enquanto costumes se desenvolvem a partir da prática consistente dos Estados com a crença de que tal prática é obrigatória.

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Este documento discute as fontes do direito internacional público. Ele define tratados internacionais e costume internacional como as principais fontes primárias segundo o Estatuto da Corte Internacional de Justiça. Tratados requerem um acordo escrito entre Estados ou organizações internacionais, enquanto costumes se desenvolvem a partir da prática consistente dos Estados com a crença de que tal prática é obrigatória.

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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E

PRIVADO

TEMAS DE DIREITO INTERNACIONAL


PÚBLICO
Gabriel Pedro Moreira Damasceno

-1-
Olá!
Você está na unidade Temas de Direito Internacional Público. Conheça aqui conceitos básicos sobre temas

importantes para o Direito Internacional.

Aprenda a respeito das fontes do Direito Internacional. Compreenda aspectos relacionados ao Estado como

sujeito de Direito Internacional, que proporcionarão insights para o seu desenvolvimento e espírito crítico em

relação ao Direito Internacional.

Bons estudos!

-2-
1 Fontes
O Doutor Roberto Luiz Silva, professor decano de Direito Internacional Público da Universidade Federal de

Minas Gerais – UFMG, um dos principais expositores do Direito Internacional no Brasil conceitua fontes como:

“(...) o modo pelo qual o direito se manifesta. A partir dela surgirão as normas jurídicas relacionadas a

determinados sistemas” (SILVA, 2018, Locais do Kindle: 2829). As fontes do Direito Internacional estão

relacionadas no Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (CIJ) que as classifica como fontes primárias

e secundárias, conforme podemos ver abaixo:

A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem

submetidas, aplicará:

a.as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente

reconhecidas pelos Estados litigantes;

b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito;

c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;

d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais

qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de Direito. A

presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono,

se as partes com isto concordarem (ONU, 1945).

Fique de olho
Damasceno (2018, p. 396) traz duas importantes observações neste aspecto: “Esta
classificação é importante, uma vez que as decisões da Corte deverão ser fundamentadas nas
fontes principais, tendo as fontes auxiliares um papel secundário de auxílio na aplicação de
Tratados, Costumes e Princípios Gerais do Direito Internacional. Ressalta-se que, apesar do
Estatuto da CIJ possuir aplicação apenas entre os Estados que são signatários dentro de sua
jurisdição, esse documento é utilizado por ser a CIJ o mais importante órgão judicial nas
relações jurídicas internacionais, sendo amplamente reconhecido como a formulação mais
autorizada a respeito das fontes do Direito Internacional”.

A partir de agora iremos tratar das fontes de Direito Internacional Público trazidas pelo Estatuto da CIJ.

-3-
1.1 Tratados internacionais

A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, concluída em 23 de maio de 1969 e ratificada pelo Brasil em

2009, conceitua tratado como um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo

Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,

qualquer que seja sua denominação específica.

Esse conceito necessita alguns apontamentos importantes, então, vamos lá! Conforme podemos verificar, nele

foram trazidos cinco elementos:

ACORDO Quanto a este primeiro elemento, devemos compreender que o efeito do tratado é

INTERNACIONAL gerar relações jurídicas dentro da sociedade internacional.

Aqui um alerta muito importante: não é correto afirmar que todo Tratado de Direito

ESCRITO Internacional é escrito, porém a Convenção de Viena sobre o Direito somente terá

aplicação aos tratados escritos.

Em realidade, há Tratados que poderão ser realizados entre organizações

REALIZADO internacionais e Estados, ou apenas entre organizações internacionais – estes

POR ESTADOS regulados pela Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e

organizações internacionais ou entre organizações internacionais de 1986.

UM OU MAIS
Ou seja, não importa se o acordo afirmado consta apenas um documento ou se há
INSTRUMENTOS
demais protocolos ou anexos.
CONEXOS

DIVERSAS Também não faz diferença qual o nome dado ao tratado, seja tratado, acordo, estatuto

DENOMINAÇÕES etc.

-4-
Figura 1 - Direito internacional
Fonte: niroworld, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: A imagem apresenta um globo escolar com bandeiras de vários países do mundo e um martelo de

direito sobre uma mesa, simbolizando os sistemas de direito internacional, a justiça, os direitos humanos e o

conceito de jurisdição global. O martelo de juiz é um dos mais fortes e conhecidos símbolos do direito e da justiça

no mundo.

Três dicas importantes:


• Contrato entre uma empresa transnacional e um Estado não é considerado tratado. Isso não quer dizer
que não seja válido ou que não crie obrigações jurídicas, mas que essas relações não serão
regulamentadas pelo Direito Internacional.
• Conforme vimos, as organizações internacionais possuem capacidade de celebrar tratados.
• O tratado não precisa “ter nome de tratado”, como expresso no elemento “diversas denominações”, basta
que haja a manifestação de vontade.
Ademais, segundo Silva (2018), podemos compreender que os tratados internacionais possuem como condições

de validade a capacidade das partes, a habilitação dos agentes signatários, objeto lícito e possível e o

mútuo consentimento.
• Possuem capacidade os Estados, as organizações internacionais, a Santa Sé, os Estados beligerantes (aos
que reconhecem a sua autonomia) e, em determinados casos, as unidades federadas internas (ver art. 56
da CRFB/1988).
• São habilitados para a celebração e assinatura o Chefe de Estado/Governo, o Ministro das Relações
Exteriores e o Chefe da Missão Diplomática (embaixador perante o Estado e em tratados bilaterais), ou
aquele que apresente a carta de plenos poderes.
• Objeto lícito e possível/realizável é aquele que não viola norma de jus cogens, que são normas
internacionais gerais que não podem ser violadas nem derrogadas.
• O erro, dolo ou corrupção são considerados vício de consentimentos relativos, portanto aquele tratado é
anulável; a coação é vício absoluto (erga omnes) e, portanto, nulo.
Lembrando que esse entendimento se trata para a coação política, não a econômica. Importante ressaltar que,

quanto à classificação, os tratados podem ser classificados como:

-5-

BILATERAIS

Quando há duas partes acordantes ou multilaterais, quando há mais de duas partes.

• ABERTOS

Quando puderem ser ratificados por sujeitos que não participaram das negociações ou fechados, quando

não permite a entrada de outros sujeitos.

• TRATADO-LEI

Aquele que traz normas gerais e abstratas ou tratado contrato, que apresenta obrigações específicas.

Fique de olho
Se um tratado é celebrado entre uma organização internacional que possui cinquenta
membros e um outro Estado não membro daquela organização, será um tratado bilateral e não
multilateral. Isso porque há duas partes: a organização internacional e o Estado não parte.
Lembre-se: a organização internacional possui personalidade jurídica própria e distinta dos
Estados que ab initio a criaram.

Silva (2018) aponta como causas de extinção de tratados:

Condição resolutória (extinção do objeto).

Execução integral.

Consentimento mútuo.

Substituição por outro tratado.

Termo (prazo de validade).

Ruptura de relações diplomáticas.

Superveniência de jus cogens.

-6-
1.2 O costume internacional

Conforme visto no art. 38 do Estatuto da CIJ, o costume internacional foi definido como uma prática geral aceita

como sendo o direito, ou seja, os costumes são as normas gerais consagradas com o longo do uso e consagradas

na norma internacional como obrigatórias.

Esse conceito nos demonstra a existência de dois elementos:

MATERIAL Precedentes (elemento continuidade).

SUBJETIVO Opinio iuris (elemento da prova da manifestação de vontade).

Importante ressaltar que a CIJ definiu a opinio juris no acórdão sobre a Plataforma Continental do Mar do Norte

em 1969:

Corte Internacional de Justiça – CIJ Caso da Plataforma Continental do Mar do Norte (...) os atos em

questão devem constituir-se não somente de uma prática estabelecida, mas também devem ter tal

caráter ou realizar-se de tal forma que demonstrem a crença de que tal prática se estima obrigatória

em virtude de uma norma jurídica que a prescreva. A necessidade de tal crença, ou seja, a existência

de um elemento subjetivo, está implícita no próprio conceito de opinio juris sive necessitatis. O

Estado interessado deve sentir que cumpre o que supõe ser uma obrigação jurídica. Nem a

frequência, nem o caráter habitual dos atos, é, em si,suficiente.

Em relação à diferenciação entre uso e costume, Silva (2018, Locais do Kindle 4729-4743), apresenta que:

O costume é, desta forma, norma jurídica obrigatória. Se não for cumprido, acarreta uma sanção, que é a ação de

responsabilidade internacional. Já o uso não tem essa característica, pois é prática não obrigatória para os

sujeitos internacionais e que, quando violada, não acarreta sanções, como decidido pela Corte no Caso Haya de la

Torre, abaixo: É certo que existe uma prática segundo a qual o Agente diplomático solicita imediatamente o

salvo-conduto e este lhe é concedido: mas essa prática, que se explica por motivos de conveniência, não gera

obrigaçãopara o Estado territorial.

-7-
1.3 Os princípios do Direito Internacional

A inclusão dos Princípios Gerais de Direito Internacional ao Estatuto da CIJ é uma das mais notáveis inovações da

Carta das Nações Unidas. Segundo Silva (2018, Locais do Kindle 4949):

Os princípios gerais de direito têm a finalidade de preencher lacunas do Direito, sendo elemento

subsidiário para a decisão da CIJ, apresentando-se ou como princípios gerais comuns à ordem

interna e internacional, como o pacta sunt servanda, o princípio da boa-fé e do direito adquirido ou

como princípios gerais de Direito Internacional.

Segundo Silva (2018), a Resolução n. 2.625 (XXV) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 24/10/1970, com

base no relatório de seu Comitê Especial dos Princípios de Direito Internacional apresenta:

Solução pacífica dos litígios internacionais.

Abstenção de ameaça ou uso da força.

Não intervenção em assuntos de jurisdição interna.

Cooperação.

Igualdade de direitos e livre determinação dos povos.

Igualdade soberana.

Cumprimento em boa-fé das obrigações contraídas pelos Estados.

Primado do Direito Internacional sobre a lei interna.

Respeito à independência dos Estados.

Continuidade dos Estados.

Responsabilidade internacional.

Patrimônio comum da humanidade.

A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece em seu Artigo 4:

A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

-8-
VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e

cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de

nações.

-9-
1.4 Decisões judiciárias

Segundo Silva (2018, Locais do Kindle 5232):

Trata-se, a priori, das decisões judiciais originárias da própria Corte Internacional de Justiça – CIJ,

mas inclui, ainda, decisões judiciais de outros tribunais internacionais, decisões arbitrais, pareceres

da CIJ, laudos e relatórios dos diversos mediadores das comissões de conciliação internacional,

apesar de, segundo o artigo 59 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, a decisão não ser

obrigatória senão para as partes em litígio e em relação a esse caso específico, ou seja, os tribunais

internacionais não são obrigados a seguir as decisões judiciais anteriores.

Damasceno (2018, p. 403) nos diz que

Sendo das decisões da CIJ obrigatórias aos Estados que aceitam a sua jurisdição, portanto,

constituindo-se em fonte do Direito Internacional, ela deve se ater às particularidades das relações

jurídicas internacionais, até mesmo para não perder a credibilidade que os Estados a ela dispõem,

uma vez que as suas decisões são implementadas sem à necessidade de ratificação dos Estados.

Em relação às decisões da Corte, são estritas ao que fora requerido pelas Partes e, por se tratar de uma fonte de

Direito Internacional, baseado no princípio do voluntarismo, suas decisões precisam ser condizentes

(DAMASCENO, 2018, p. 403).

Todavia, uma vez que a jurisdição da CIJ é voluntária, os Estados não a buscariam se ela inovasse no Direito

Internacional e se criasse normas em suas decisões. Em realidade ela dirime um conflito, determina se há ou não

violação e qual é a medida que deve ser tomada pelo Estado condenado.

Assista aí

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- 10 -
1.5 Doutrina

O Art. 38 enunciou, ainda, como fonte auxiliar a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações.

Porém, a crítica apontada por Silva (2018, Locais do Kindle 5257) é de extrema importância:

A Doutrina no Estatuto da Corte, artigo 38, reflete um pensamento eurocêntrico quando afirma que

válida é a doutrina dos juristas mais qualificados, os quais seriam, é claro, os europeus. Atualmente, é

muito difícil obter-se o consenso doutrinário, pelo fato de haver muitos novos entes na Sociedade

Internacional, por isso, a doutrina é raramente invocada na CIJ. Quando é citada, restringe-se aos

votos vencidos, nos quais a doutrina é denominada “opinião geral” ou “doutrina dominante.

- 11 -
1.6 Analogia / Equidade

De acordo com Silva (2018), ambos institutos não se tratam de fontes de direito, todavia, tratam-se de métodos

de raciocínio jurídico utilizados em caso de existência de lacunas nas normas ou inexistência de normas que

disciplinem a matéria. O autor ainda ressalta que não são obrigatórias para os sujeitos de Direito Internacional e

sua utilização é extremamente reduzida.

A CIJ é o principal tribunal internacional de natureza permanente da Sociedade Internacional. Apesar das

normas contidas em seu Estatuto enumerar normas de direito que possuem alcance apenas em sua jurisdição, a

enumeração de suas fontes acaba por se tornar referencial para os estudos de DIP (SILVA, 2018).

Dessa forma, o Art. 38 – 1 apresenta as fontes do Direito Internacional que serão utilizadas para decidir as

controvérsias que forem submetidas à Corte. O que se verifica no Art. 38 – 2 é que, havendo concordância entre

as partes litigantes, poder-se-á decidir uma questão com base na equidade.

Rousseau (apud SILVA, 2018) define equidade como aplicação dos princípios de justiça a um determinado caso.

Trata-se de um meio pelo qual o aplicador do direito cria a regra e decide a controvérsia sem a preocupação de

obedecer ao sistema positivo dado, levando em consideração a justiça, como valor absoluto (SILVA, 2018).

Conforme disposto no artigo supracitado, há necessidade de manifestação das partes litigantes por meio de

cláusulas de julgamento segundo a equidade. Essas cláusulas permitem que o juiz ou árbitro não apenas

preencham possíveis lacunas no direito, mas também afastem a aplicação do direito positivo e decidam contra

legem (DINH; et. al., 2003).

Tabela 1 - Funções da equidade


Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

#PraCegoVer: A imagem apresenta uma tabela com as definições das funções da equidade: infra legem, contra

legem e praeter legem.

- 12 -
Fique de olho
Você já ouviu falar da arbitragem Abyei – Governo do Sudão vs. Movimento/Exército de
Libertação do Povo Sudanês? O litígio envolvia o estabelecimento dos limites da área Abyei.
Nesse caso foram escolhidos peritos da ABC Experts que na delimitação da área envolvida
utilizaram-se do princípio da equidade, não havendo autorização expressa do Governo do
Sudão. A Corte Permanente de Arbitragem concluiu que os peritos excederam o mandato.

Por outro lado, a analogia se trata da aplicação de norma jurídica a ser utilizada para uma situação semelhante.

Todavia, a analogia não consta no enunciado do Art. 38 da CIJ. Silva (2018) afirma que não é possível construir

pela analogia restrições à soberania dos Estados, nem obrigar um Estado ou ente da Sociedade Internacional a

submeter-se a determinado juízo internacional.

- 13 -
1.7 Atos unilaterais

Em determinados casos, os atos unilaterais dos Estados, incluindo as declarações feitas por representantes da

administração pública, podem originar obrigações jurídicas internacionais (SHAW, 2010).

O Art. 38 (1) do Estatuto da CIJ não prevê atos unilaterais em seu rol, porém eles podem constituir fontes

de obrigação. Cretella Neto (2012) exemplifica que quanto ao Direito do Mar, o mesmo se formou por

meio de atos unilaterais e regulamentação por parte de cada Estado individualmente, criando-se

inúmeras noções jurídicas tais como zona contígua, de mar territorial, zona econômica exclusiva etc.

Em 1982, houve a elaboração da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Montego Bay) em que a

repetição constante desses inúmeros atos unilaterais contribuiu de forma decisiva para formação de algumas

normas costumeiras nesse campo.

Segundo Silva (2018), são condições para que um ato unilateral ocorra:

Deve ser público, ou seja, de conhecimento da Sociedade Internacional.

Necessita ser emanado por sujeito de Direito Internacional (principalmente Estado, mas não exclui outros).

Seu conteúdo deve ser materialmente possível (não pode violar jus cogens).

Deve haver a intenção de se obrigar (não é possível fazer-se ato unilateral obrigando outro Estado).

Ainda, os atos unilaterais podem ser classificados da seguinte forma:

1) Protesto: A oposição do sujeito a manifestação de vontade do outro sujeito de Direito

Internacional. Objetiva “prevenir que uma situação que se possa alegar contra o Estado

que esteja protestando contra ela, privando-a de todo efeito legalmente válido. A eficácia

do protesto depende de sua continuidade” (SILVA, 2018). Exemplo: Protesto Argentino

contra a posse das Ilhas Malvinas (Falklands) pelo Reino Unido, objetivando evitar que
EXPRESSOS
este requeira à CIJ reembolso de despesas de guerra, bem como a demonstrar que a

Argentina aceitou o domínio da Inglaterra sobre as ilhas. 2) Renúncia/reconhecimento: o

sujeito aceita o ato, renunciando a seu direito ou aceitando reconhecer o direito da outra

parte. Exemplo: aceitação de independência de Estado, reconhecimento de situação de fato

(SILVA, 2018).

É o caso do silêncio, significando que o sujeito de Direito Internacional ao não se

manifestar em relação a determinado ato unilateral acata esse mesmo ato. Para isso, é

- 14 -
TÁCITOS necessário que o ato unilateral tácito atenda a três condições: O Estado interessado deve

conhecer o fato; O objeto do ato unilateral deve ser um interesse jurídico. Deve ser

concedido um prazo razoável para que o Estado interessado se manifeste (SILVA, 2018).

1.8 Decisões das organizações internacionais

Segundo Silva (2018), são normas originárias de uma organização internacional que se tornam obrigatórias para

os seus Estados-membros independentemente de sua ratificação. As organizações internacionais não possuem

meios para garantir a eficácia de suas decisões, estas se originam do princípio da boa-fé, havendo organizações

internacionais mais eficazes do que outras.

Possuem a seguinte classificação:

• DIREITO PRIMÁRIO

É originado dos tratados, havendo competência delegada pelos Estados diretamente para as

organizações internacionais (SILVA, 2018).

• DIREITO SECUNDÁRIO

Origina-se dos órgãos criados no seio das organizações internacionais (SILVA, 2018).

- 15 -
2 O Estado como sujeito de direito internacional: conceito
e elementos
Segundo Silva (2018), o Estado é o contingente humano a viver sob alguma forma de regramento dentro de certa

área territorial.

Damasceno e Neves (2018, p. 95) apontam que

A globalização está modificando estruturalmente o que se entende por Direito Internacional, ainda

que, muitas vezes, essas transformações ocorrem de forma tão sutil que passam despercebidas. Os

pilares da Ordem Jurídica Internacional observados sobre a ótica clássica enfrentam novos desafios

constantemente: verifica-se que a distinção entre direito interno e internacional torna-se cada vez

mais precária, normas de soft law são cada vez mais difundidas, a igualdade soberana dos Estados é

gradualmente prejudicada, e a base da legitimidade do direito internacional interestatal clássico está

cada vez mais posta em cheque.

Assista aí

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De acordo com Varella (2009), entre os sujeitos de Direito Internacional, o Estado é o único que possui

capacidade jurídica plena, ou seja, habilidade de munir-se de direitos, de poderes e de obrigações. Conforme

afirmam Silva e Damasceno (2019, p. 210): “(...) os meios encontrados para as relações cotidianas entre dos

Estados (...) são encontradas na reivindicação destes da titularidade da soberania”.

Nesse sentido, ao se analisar o conceito de Estado, segundo Azambuja (2001) é possível identificar a existência

de três elementos essenciais, sendo eles a população, o território e soberania:

Corresponde ao contingente humano. “O Estado ultrapassa os limites da tribo, do clã, da

POPULAÇÃO reunião de algumas famílias; não há, porém, um máximo nem um mínimo certo para sua

população” (AZAMBUJA, 2001, p. 18)

A base física que enquadra os limites à sua jurisdição e até mesmo o fornece seus recursos
TERRITÓRIO
materiais.

- 16 -
SOBERANIA O poder do Estado.

Segundo Damasceno e Silva (2015, p. 28) os Estados possuem como um dos seus elementos constitutivos a

chamada soberania, desdobrada em enfoque interno (sendo poder de decisão máximo dentro do seu território) e

externo (sendo homólogo aos outros Estados, estando em par de igualdade e podendo se autoadministrar, sem a

interferência destes), porém os Estados não podem ser absolutamente independentes uns dos outros, abrindo

mão de parcela de sua soberania a fim da concretização de interesses em comum.

Fique de olho
“Decerto que, nas últimas décadas, o cenário internacional tem sofrido intensas
transformações. Por um lado, o aumento da velocidade e volatilidade da economia mundial, o
surgimento de movimentos políticos fora do seu quadro territorial – como a proteção de
direitos humanos e do meio ambiente – e o compartilhamento de poderes eminentemente
“estatais” com atores não estatais no âmbito internacional – como a determinação das taxas de
câmbio e de juros definidas pelo mercado, bem como a imposição de programas de ajuste
estrutural do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional – FMI. Por outro, a eleição do
conservador Donald Trump como presidente dos EUA, a decisão de retirada da União Europeia
– UE tomada pelo Reino Unido, sob a alcunha de “Brexit”, refletindo o seu descontentamento,
bem como o de diversos outros membros, com o fraco desenvolvimento econômico, o aumento
da imigração e, sobretudo, uma vontade supranacional adotada por seus órgãos, numa
tentativa de se recuperar a ideia de soberania absoluta estatal. (...) Assim, as relações jurídicas
internacionais, que já foram concentradas apenas na figura do Estado soberano, passam a
conviver em um cenário com novos atores, lógicas, racionalidades, dinâmicas e procedimentos
que dialogam e extrapolam as fronteiras estatais. Mesmo no atual cenário, os Estados
continuam sendo os únicos dotados de soberania, porém, esta deixa de ser imprescindível para
se reivindicar personalidade jurídica internacional, enquanto aptidão para ser titular de
direitos e deveres na Sociedade Internacional, como se nota a partir da consagração das
organizações internacionais e do indivíduo enquanto sujeitos de Direito Internacional” (SILVA;
DAMASCENO, 2019, pp. 2010-211).

É importante ressaltar o apontado por Damasceno e Neves (2018, p. 96):

É cada vez mais constante a troca de informação entre os Estados. Essas redes governamentais são

uma característica fundamental da ordem mundial no século XXI. O avanço nas tecnologias tornou

possível a expansão e a difusão de culturas, ignorando as fronteiras nacionais e transformando o

cenário internacional (...).

- 17 -
2.1 Reconhecimento de Estado

Segundo Silva (2018), reconhecimento de Estado é o ato pelo qual os Estados já existentes constatam a

existência de um novo membro da Sociedade Internacional, realizado, via de regra, a pedido do Estado que

surgiu, o qual notifica as potências da Sociedade Internacional, requerendo o reconhecimento.

São requisitos para o reconhecimento do Estado:

Possuir governo independente e autônomo na conduta dos negócios estrangeiros (requisito volátil) (SILVA,

2018).

O governo deve ter autoridade efetiva dentro de seu território, congregando as forças ali existentes (SILVA,

2018).

Deve possuir território delimitado (SILVA, 2018).

Quanto às características, o reconhecimento do Estado é:

É ato unilateral (manifestação da vontade de um único ente da Sociedade Internacional) (SILVA, 2018).

É ato irrevogável, mas não é perpétuo (SILVA, 2018).

Se o Estado perder os elementos que o caracterizam como tal, deixará de sê-lo. Exemplo: A Ilha de Nauru não

terá mais território daqui a algum tempo, dada a exploração de minerais ali existente (SILVA, 2018).

É ato discricionário. O Estado faz o reconhecimento quando bem entende (SILVA, 2018).

É ato retroativo, tendo em vista a teoria de que o reconhecimento é apenas uma constatação (SILVA, 2018).

- 18 -
2.2 Sucessão de Estados

Segundo Silva (2018) a sucessão de Estados ocorre quando um Estado sofre transformações que atingem seus

elementos constitutivos – território e povo – por meio da mudança da soberania sobre eles exercida, tendo como

principais ocorrências:

Cessão de um Estado a outro de parcela de seu território.

Anexação por um Estado do território ou parte do território de outro.

Fusão entre dois ou mais Estados.

Integração de um Estado a uma Federação.

Desmembramento ou partilha do território de um Estado.

Separação ou secessão de parcelas do território de um Estado que ascendem a essa categoria, isto é,

transformam-se em novos Estados.

Amorim, 2018, pp. 272-273, diz que

Em 1999, no âmbito das Nações Unidas, a Comissão de Direito Internacional elaborou um manual

visando assegurar direitos à nacionalidade das pessoas em caso de sucessão de Estados, mostrando,

assim, que existe uma preocupação internacional em não deixar o indivíduo vulnerável. No entanto,

esse instrumento ainda não se encontra em vigor na ordem jurídica internacional, permanecendo

sob forma de esboço. (...) Portanto, da mesma forma que o costume internacional permitiu a

elaboração de instrumentos jurídicos que versassem sobre bens, arquivos e dívidas públicas quando

da sucessão de Estados, é imperioso que a comunidade internacional também esteja mais sensível às

consequências para o elemento humano no processo de sucessão. Algo precisa ser feito, seja para

obstar a apatridia, seja para evitar a formação de grupos de estrangeiros em situação irregular.

Assista aí

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é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer as noções acerca das fontes do Direito Internacional;

- 19 -
• conhecer as noções acerca das fontes do Direito Internacional;
• compreender os processos relativos aos tratados internacionais;
• identificar as fontes do Direito Internacional;
• conhecer as noções e preliminares que o conceito de Estado;
• estudar sobre o processo de reconhecimento de Estado;
• conhecer as possibilidades de sucessão de Estado.

Referências
AMORIM, A. R. A Sucessão de estados no direito internacional. Análise do caso El Salvador vs. Honduras

(Interveniente: Nicarágua). Cadernos de Direito, v. 18, n. 34, pp. 249-276.

AZAMBUJA, D. Teoria geral do estado. 42. ed. São Paulo: Globo, 2001.

BRASIL. Decreto nº. 7.030. 2009.

CASELLA, P. B.; ACCIOLY, H.; NASCIMENTO, G. E. Manual de direito internacional público. 20. ed. São Paulo:

Saraiva, 2012.

CRETELLA NETO, J. Curso de direito internacional econômico. São Paulo: Saraiva, 2012.

DAMASCENO, G. P. M; DA SILVA, L. L. A constitucionalidade do tribunal penal internacional. Revista Eletrônica

de Direito Internacional. [on-line] / Coordenação Geral Leonardo Nemer Caldeira Brant. – v.16 - (2015-2). Belo

Horizonte: CEDIN, 2015.

DAMASCENO, G. P. M. As decisões da corte internacional de justiça como fonte de direito internacional: análise

documental do caso “Oil Platforms”. Tribunais internacionais e a implementação procedimental de suas

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