Tendências da Psicologia na atualidade
Novas correntes da psicologia – A perspetiva cognitivista: computacional e cultural
O resgate da mente
Ler a pequena biografia de Jerome Bruner
– pág. 278
O movimento cognitivista constituiu uma revolução que pretendeu trazer a mente de
volta às ciências humanas. O objetivo consistiu na reintrodução da mente no seio da psicologia
mas este objetivo só foi conseguido após duas tentativas diferentes: uma de ordem
computacional e outra de ordem cultural.
Perspetiva computacional – ainda que pareça estranho, o aparecimento dos
computadores levou os psicólogos a entender melhor o funcionamento como o homem
recebe a informação e a organiza. O cérebro seria semelhante ao computador e os processos
mentais aos seus programas, (entrada e saída de informação). O funcionamento do
computador pode comparar-se ao funcionamento do cérebro humano. Baseado nesta analogia
os psicólogos cognitivistas começam a valorizar o modo como a informação é armazenada e
organizada internamente.
Inspirando-se nos modelos computacionais, os cognitivistas sublinham a necessidade
de estudar a mente reintroduzindo - a como objeto de estudo.
O desenvolvimento da cibernética e da informática não tiveram só efeitos na
organização social e na vida das pessoas, afetaram o modo como a psicologia organizou as
suas reflexões e investigações. Compreende-se que o comportamento humano não possa ser
um prolongamento do comportamento animal, que se analisaria de forma objetiva e rigorosa.
Compreende-se então as limitações do behaviorismo e assiste-se a um regresso à mente.
Começa então a vigorar a ideia de que o que fazemos e o modo como reagimos envolve um
conjunto de processos complexos que não são observáveis.
A mente trataria a informação armazenada, depois de recolhida no meio ambiente. O
modo de recolher, processar e transformar a informação é próximo do funcionamento dos
computadores: o cérebro corresponde ao hardware e os processos mentais ao software. A
comparação entre a maneira de funcionar da mente e a forma do funcionamento dos
computadores conduziu ao modelo de mente computacional, modelo que marcou as
investigações e estudos em várias áreas da psicologia. Registemos em esquema algumas delas:
Perceção – como é que a informação é recolhida e chega até à mente?
Cognição – como é que a informação é tratada, uma vez na mente?
Memória – como é que a informação é armazenada?
Aprendizagem – como é que a informação é adquirida?
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Inteligência – como é que, se criam representações que levam a ações mais
adequadas?
Procurou-se também perceber como é que a mente trabalha para resolver
problemas:
que estratégias mentais utiliza?
Quais são as consequências das operações mentais que conduzem à
resolução de um problema?
Perspetiva cultural
Jerome Bruner, não apreciou as influências vindas da cibernética e da informática,
considerando que o modelo computacional afastava a psicologia dos ideais que tinham
inspirado a revolução cognitivista. Assim, inicia um segundo movimento em que a
mente é equacionada de modo inovador, aquilo a que chamou psicologia cultural. O
autor foi citado milhares de vezes em livros e convénios de psicologia.
Leitura do texto 5 – página 280
Bruner encara a mente e a vida humana num sentido mais amplo considerando que o seu
estudo deve ter em conta múltiplas perspetivas. O ser humano é um produto de símbolos, um
construtor de significados e de sentidos.
Significado= aquilo que uma coisa exprime ou representa.
Importância dos significados
Na perspetiva da psicologia cultural, encara-se a mente como a capacidade de atribuir
significado à realidade. A atribuição de significado é um processo que resulta da interação
recíproca entre mente e cultura.
Segundo Bruner a mente não surgiu espontaneamente a criar e atribuir significado às
coisas. Ela foi-se constituindo no interior de uma comunidade cultural com dados e símbolos
linguísticos e com um conjunto de significados prévios destinados a interpretar o que se passa.
É o património partilhado de significados que se constitui como estruturante da
mente. Esta constitui a cultura e é constituída pela cultura. As interpretações ou significados
dos factos estão inseridos nos grandes contextos do conhecimento da História e da Cultura.
Por exemplo, há uma forma padronizada do Ocidente olhar o Islão e deste olhar para o
Ocidente. Somos para Bruner o resultado do processo de produção de significados, realizado
com o auxílio dos sistemas simbólicos da cultura.
Neste novo mentalismo, a mente é uma estrutura que se enraíza na cultura e ao
mesmo tempo se prolonga nos contextos culturais em que a pessoa se desenvolve.
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A narrativa como construtora de identidade
Narrativa - relato de um facto, acontecimento ou sequência de eventos
As nossas experiências transformam-se em narrativas. Estas são uma espécie de intermediário
entre o Eu e o mundo social, são o espelho um do outro.
Eu – as narrativas refletem a pessoa que as narra;
Mundo social – as narrativas refletem a componente social, em virtude do Eu se ter
gerado no contato com as mentes que com ele convivem.
A narrativa revela a participação do narrador, fruto cultural e histórico, numa
comunidade que vê o mundo em função de um sistema de representações.
As narrativas traduzem identidades quer individuais quer sociais e têm que ser
tomadas em conta no estudo da mente. Estas narrativas de acordo com Bruner são a matéria
da vida daqueles cujo comportamento os psicólogos desejam estudar.
Em síntese: o objeto de estudo da psicologia para Bruner é o modo como o ser
humano constrói representações da realidade, como produz e é influenciado pelos
significados, pelas narrativas, modos esses, elaborados e partilhados por um dado meio
sociocultural.
O ser humano é um ser que constrói significados na sua relação com o mundo e que ao
mesmo tempo é produto das narrativas mediante as quais cada cultura se transmite aos seus
membros. As narrativas são as representações que cada comunidade cultural elabora sobre
como organizar a vida social, sobre os valores que são estimáveis, sobre as suas aquisições
fundamentais.
Somos para Bruner o resultado de processos de produção de significados, realizado
com o auxílio dos sistemas simbólicos da cultura. A mente constitui a cultura e é constituída
pela cultura, como já foi sublinhado.