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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIACADEMIA
CAMILA BOGADO RODRIGUES SILVA
ANÁLISE DO FILME “BELEZA AMERICANA” SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA
JUNGUIANA
JUIZ DE FORA
2020
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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIACADEMIA
CAMILA BOGADO RODRIGUES SILVA
ANÁLISE DO FILME “BELEZA AMERICANA” SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA
JUNGUIANA
Trabalho realizado como requisito parcial de
aprovação na disciplina Clínica Junguiana.
Orientação: Paulo Bonfatti.
JUIZ DE FORA
2020
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SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO...............................................................................................3
2. LESTER E SEU PROCESSO RUMO À INDIVIDUAÇÃO............................4
2.1 CAROLYN, SEU ANIMUS E SEU COMPLEXO AFETIVO........................7
2.2 O CORONEL FITTS E SUA SOMBRA.......................................................9
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................10
REFERÊNCIAS................................................................................................12
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1INTRODUÇÃO
Neste trabalho, propõe-se uma análise do filme “Beleza Americana” (1999),
drama com roteiro de Alan Ball e direção de Sam Mendes, sob a perspectiva de alguns
elementos conceituais que compõe a teoria junguiana. Dentre eles, serão abordados
os conceitos de Persona, Sombra, Anima e Animus, Self, Complexo Afetivo e
Arquétipo. Pode-se dizer que esses conceitos estão presentes na vida psíquica do
humano, demonstrando-se de forma intermitente, ou seja; que representam
tendências com as quais lidamos ao longo da vida, que podem ser melhor percebidas
em determinados momentos (estando mais ou menos expostos à nossa percepção) e
que fazem parte de uma cadeia psicológica unificada. Ao processo em que há maior
contato com esses elementos, do qual decorre o amadurecimento psíquico e a
amplificação da personalidade, dá-se o nome de “processo de individuação” (M.-L.
von FRANZ, 2016).
O “processo de individuação” é uma possibilidade de crescimento e maturação
imanente à toda pessoa. É considerado um fenômeno natural e espontâneo, embora,
a princípio, inconsciente. A consciência e a interação com esse processo são
possíveis através da análise simbólica dos sonhos, o que abre caminho para que o
inato (mas não percebido) seja integrado, realizado e vivido de forma integrada (M.-L.
von FRANZ, 2016).
Propõe-se que esta análise esteja majoritariamente voltada para o personagem
principal do filme (Lester Burnham), cujas informações, pensamentos e vivências
aparecem em maior número. Porém, outros personagens também estarão na
composição deste trabalho, especialmente ligados a conceitos que se demonstram de
forma marcante. É importante ressaltar que outras interpretações são perfeitamente
possíveis, já que a subjetividade de quem se propõe a analisar uma obra está
inteiramente envolvida no processo. Como metodologia, acredita-se que a forma mais
clara de se obterem os resultados almejados seja a análise dos personagens
escolhidos em tópicos separados, o que se inicia no próximo item.
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2 Lester e seu processo rumo à individuação
O filme começa com a notícia de que a história de Lester é contada por ele
mesmo, post mortem: aos 42 anos, Lester estará morto antes do seu próximo
aniversário. A notícia antecipada da morte e o tom da voz do personagem, que não
carrega nenhuma tristeza, demonstram que é a vivência de sua jornada, e não
somente o seu fim, o que dará significado à trama. Segundo Lester, sua sensação é
a de que vivia uma vida morta, de que já estava morto.
Ele, a esposa Carolyn e a filha Jane vivem uma tradicional vida de classe média
americana. Têm uma ampla e bem mobiliada casa, um gramado com rosas, ambos
trabalham e a filha cursa o ensino médio. Lester está em seu emprego em uma revista
há quase 15 anos, Carolyn trabalha com corretagem de imóveis e Jane é a típica
adolescente insatisfeita (detesta seus pais, “insegura e com raiva”). Aparentemente,
Lester é totalmente submisso às vontades da esposa, que escolhe o jantar, as
músicas, a decoração da casa, onde eles devem ou não devem ir... Ele segue a vida,
mantendo as aparências, cansado, letárgico e com a sensação de que “perdeu algo”,
pois nem sempre se sentiu assim e nem sempre viveu dessa forma.
Essa sensação de letargia, de desligamento de si, das pessoas e das
atividades, sensação de uma vida vivida no “automático” leva à hipótese de que
Lester vivia em um estado de desconexão com seu self e de predomínio de sua
persona, em que imperavam valores sociais superficiais e idealizados. Esse momento
pode ter se iniciado quando, a partir de determinado momento de sua vida, Lester
dedicou-se somente a projetos pré-determinados, interesseiros e pouco livres, como
a manutenção de um emprego que o fazia infeliz e de uma vida familiar com pouca
intimidade em prol de uma aparente estabilidade. Lester vivia a persona de pai de
meia idade, pacato e submisso – essa foi a forma como ele pôde se adaptar aos
papéis que desempenhava ( FIALHO, SENNA, 2016; M.-L. von FRANZ, 2016).
Porém, o fato de estar mergulhado em um estado de tédio e em uma sensação
de estagnação demonstram que essa desconexão e essa persona não eram bem
vindas, embora forjadas por ele mesmo, ainda que de forma inconsciente. Suas
lembranças de um passado mais feliz e a sensação de ter perdido alguma coisa nos
remetem à ideia de que em algum momento Lester já estivera melhor orientado em
seu processo de desenvolvimento; além disso, demonstram que sua persona, na fase
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que vivia, era incompatível e insuportável ao seu verdadeiro eu ( FIALHO, SENNA,
2016; M.-L. von FRANZ, 2016).
Na teoria junguiana, o self representa a totalidade da psique, abrangendo todas
as particularidades do consciente e inconsciente. O self dirige o processo de
desenvolvimento psíquico, atuando como um centro regulador e orientador para o
crescimento e relacionando-se com o ego, centro da consciência, em um processo
dinâmico e contínuo de comunicação. Existe, nessa interação, a tendência de
estabilização do ego pelo self – se o ego está estabilizado, o self também está, porém,
se há desestabilização no ego, o self manifesta-se no sentido de retomar a harmonia
do psiquismo (GOLFETO, 1989). Depende, essencialmente, do desejo humano dar
lugar às intuições e mensagens ordenadas pelo self, bem como manter essa ligação
na consciência, em cooperação ativa no sentido da busca por uma vida dotada de
sentido e profundidade. É nesse caminho que ocorre o processo de individuação (M.-
L. von FRANZ, 2016).
No caso de nosso personagem, então, pode-se pensar em uma
desestabilização do ego, representada por todos os sentimentos já mencionados e,
ao mesmo tempo, em uma “sinalização-retomada” de contato com essa interioridade
que leva ao crescimento? Acredita-se que sim, e que, nesse caminho, Lester precisará
estar próximo de sua anima.
Nas palavras do próprio Lester, “nunca é tarde para recomeçar”. Esse
recomeço acontece quando, em uma apresentação de dança na escola da filha,
Lester conhece Angela. Desde o primeiro momento em que bate os olhos na
adolescente, ele passa a viver um turbilhão de sentimentos e uma profusão de
fantasias. A imagem da menina, jovem, sexy e bem encaixada nos padrões de beleza
sociais provoca em Lester, a princípio, a possibilidade de sentir toda a energia sexual
que estava adormecida em sua vida (ele se sente imediatamente atraído por ela, como
que hipnotizado). Mas este é apenas o momento inicial em que o personagem parece
estar em contato com suas potencialidades (nesse caso, sair de um estado letárgico
e se apaixonar). A partir de seus “encontros” (ainda que em fantasia) com Angela,
Lester expande seus horizontes, modificando toda a sua forma de viver e de se
relacionar.
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Agora, ele fuma maconha (algo que lhe dá prazer); pratica esportes; é franco
com a esposa e com a filha; pede demissão de seu emprego na revista, passando a
trabalhar em uma lanchonete (algo que não lhe exige tanta responsabilidade) e dirige
o carro que sempre almejou. Seu humor e sua postura mudam e, embora ele saiba
que já não é mais o mesmo de sua juventude, aposta em um caminho mais natural
para si mesmo, mais à vontade consigo e com as pessoas, mais satisfeito.
O que se cogita como possibilidade para que tamanha mudança esteja associada à
imagem de Angela é a possibilidade de que ela represente a projeção da Anima de
Lester. Segundo von – Franz, sobre a Anima:
Anima é a personificação de todas as tendências psicológicas
femininas na psique do homem – os humores e sentimentos
instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ao irracional, a
capacidade de amar, a sensibilidade à natureza e, por fim, mas
não menos importante, o relacionamento com o inconsciente
(M.-L. von FRANZ, 2016, p. 234-235).
Pode-se dizer que Lester, em contato com sua Anima, retoma, principalmente,
sua capacidade de amar (comentarei adiante). Aparentemente ele está mais impulsivo
e irracional, já que larga seu emprego e modifica radicalmente sua forma de lidar com
a esposa e a filha, mas impulsividade e irracionalidade contrastam com sua antiga
persona, não com seu self e com o que lhe faz feliz. Outro indício de que Angela pode
ser interpretada como a Anima de Lester depreendemos da seguinte passagem:
Todos esses aspectos da anima (...) podem ser projetados de
maneira a parecerem qualidades pertencentes a determinada
mulher. É a presença da anima que faz um homem apaixonar-
se subitamente, ao avistar pela primeira vez uma mulher,
sentindo de imediato que é “ela” (M.-L. von FRANZ, 2016, p.
239).
No caso como o da citação, em que ocorre o “amor à primeira vista” (que é
justamente o caso do personagem analisado) pode ocorrer o sentimento de que se
conhece a mulher desde sempre, fixando-se a ela de maneira tão forte que os que
estão em volta não deixam de notar. Jane, a filha de Lester, é a primeira a perceber
como o pai está hipnotizado por Angela. Esse “apaixonamento repentino” de Lester,
na verdade, é o ensejo que impulsiona seu conflito interior, a máscara que serve em
seu desejo de mudança, o anúncio de que ele está mudando sua posição subjetiva
(M.-L. von FRANZ, 2016).
Acredita-se que é à medida que o personagem vai reconhecendo sua anima
como interior, em um movimento de amadurecimento de sua personalidade, que sua
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relação com a esposa, a filha e a vida vão se acalmando. Lester consegue sair da
alienação à que pertencia em seu antigo papel e rumar para a autorrealização,
tornando-se e sentindo-se único, “si mesmo”. Ele parece seguir o caminho para a
realização de suas potencialidades e para a amplificação de sua consciência (VIANA,
2017).
Não é à toa que, na oportunidade de consumar sua grande fantasia sexual, que
era a de estar com Angela, Lester recua. Ele percebe que, na verdade, não era aquilo
o que ele queria e que sua felicidade não estava na consumação de qualquer ato em
si, mas em algo que ultrapassava prazeres imediatos e aparências. Nesse mesmo dia,
momentos antes de sua morte, Lester recordava de momentos felizes em família: ele,
a filha e a esposa em um parque de diversões... Seu olhar para a família na fotografia
já não é de tédio, tampouco raiva, mas de ternura (ele recupera sua capacidade de
amar!). Em seu último segundo, as imagens de sua vida que lhe vêm à tona são as
mais significativas: olhar as estrelas deitado quando criança; ver as folhas de uma
árvore caindo; a pele das mãos de sua avó; a primeira vez que viu o carro que sempre
admirou; sua filha criança, sua filha já moça (a filha como a projeção de realizações
positivas!). Ele não está mais no lugar subjetivo que estava quando começou essa
jornada, está além – sentindo gratidão e vendo a beleza do mundo em seus pequenos
detalhes.
2.1 Carolyn, seu Animus e seu complexo afetivo
Na personagem de Carolyn podemos refletir sobre os aspectos negativos das
manifestações de seu Animus, o lado masculino de seu inconsciente. Seu marido
comenta sobre um dia, no passado, em que ela foi diferente e feliz. No entanto, o que
ela nos passa agora é a imagem de uma mulher extremamente apegada às
aparências e gananciosa. Ela investe e anuncia sua imagem de corretora bem
sucedida de forma insistente e convicta, apoiada por mensagens de autoajuda
grotescas.
Carolyn dirige a vida profissional e familiar de forma autoritária, mas superficial,
conversa com a filha e com o marido através de comentários ácidos e depreciativos,
lança olhares de desdém a todo momento. Ela busca aprovação social; mostra-se em
ocasiões com outras pessoas como alguém convicta de suas ações. Seguindo esse
pensamento, pode-se citar que o animus
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(...) aparece mais comumente como uma convicção secreta
“sagrada”. Quando uma mulher anuncia tal convicção com voz
forte, masculina e insistente, ou a impõe às outras pessoas por
meio de cenas violentas, reconhece-se facilmente sua
masculinidade encoberta. (...) podemos nos deparar com algo
de obstinado, frio e totalmente inacessível em uma mulher (M.-
L. von FRANZ, 2016, p. 251).
Aparentemente, a única coisa que ela deseja é seu sucesso profissional,
chegando ao ponto de se relacionar com seu concorrente, que é a versão masculina
do que ela gostaria de ser. O lema da vida de seu amante, que ela prontamente adota,
é: “para se ter sucesso, é preciso projetar uma imagem de sucesso o tempo todo”.
Além disso, Carolyn não consegue se manter em equilíbrio psíquico, e, sempre
que se sente fracassada em alguma de suas pretensões, passa por crises (uma
mistura de desespero, tristeza e ansiedade). Esses momentos, dos quais ela se obriga
à recomposição imediata, dando-se tapas no rosto e se auto direcionando com temas
curtos, como “você não é vítima”, apontam para um complexo afetivo gerador de
perturbações internas. Do seu passado, sabemos apenas que ela não teve a vida
confortável de atualmente e também de uma lição; segundo ela, a mais importante
que teve em sua vida: “não conte com ninguém além de você mesmo” (ROCHA,
2017).
Os complexos afetivos correspondem a conteúdos psíquicos de forte carga
afetiva e que funcionam como um núcleo, atraindo para si conteúdos semelhantes e
crescendo. Esse núcleo se forma no inconsciente pessoal a partir de um arquétipo do
inconsciente coletivo e funciona como um padrão de organização psíquica. Dessa
forma, quando ativados, podem despertar emoções incontroláveis, “dominando a
pessoa”. Podem estar associados a memórias dolorosas, traumas ou situações não
suportadas pela consciência e podem parecer estranhos ao eu. (ROCHA, 2017). A
seguinte passagem auxilia na compreensão:
Há tantos arquétipos quantas situações típicas na vida.
Intermináveis repetições imprimiram essas experiências na
constituição psíquica, não sob a forma de imagens preenchidas
de um conteúdo, mas precipuamente apenas formas sem
conteúdo, representando a mera possibilidade de um
determinado tipo percepção e ação. Quando ocorre na vida algo
que corresponde a um arquétipo, este é ativado e surge uma
compulsão que se impõe ao modo de uma reação instintiva
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contra toda razão e vontade, ou produz um conflito de
dimensões eventualmente patológicas. Isto é, uma neurose
(JUNG, 2000b, p.58 apud MORAES, 2010).
Pode-se atribuir as crises de Carolyn ao tipo de formação mencionada, já que
eram reações emocionais aparentemente incontroláveis, demonstrando uma
desestabilização interior. Fica claro, porém, que os fenômenos comentados deixam
Carolyn mal, que ela não está realmente feliz... Não se pode afirmar que ela seja uma
pessoa sádica, que sinta prazer em causar desconforto aos que estão em volta. A vida
de aparências que ela tenta sustentar não a satisfaz, seu casamento também não.
Pode-se inferir que ela também passa por uma crise e que mudanças seriam bem-
vindas.
2.2 O coronel Fitts e sua sombra
Supõe-se que é nesse personagem que aspectos tão relevantes de
personalidade estejam na sombra. A sombra guarda características que poderiam ser
conscientes, mas que, por serem penosas para a pessoa, permanecem não
integradas e gerando efeitos não desejados. No caso de Fitts, esse efeito era uma
atitude agressiva e hostil contra a homossexualidade, como ideia e como fato
(ROCHA, 2017)
Ele se apresenta sempre como membro das forças armadas, no que parece
uma tentativa de se vincular a uma imagem austera. Curto, grosso e desconfiado, trata
o filho em “rédeas curtas”, vigia tudo. No filme, em três cenas ele tem atitudes
extremamente avessas ao homoerotismo: quando o casal vizinho vai lhe dar as boas-
vindas, quando escuta algo no rádio sobre o tema e quando erroneamente acredita
que seu filho esteja envolvido com o vizinho.
Tudo isso, na verdade, escondia tendências, afetos e desejos que ele negava
existirem em si mesmo. Conseguia perfeitamente ver o homoerotismo no mundo,
odiando suas aparições, porém seu repúdio denunciava o que ele sentia, mas queria
manter afastado da consciência. Tal ideia se confirma no fim do filme, em que Fitts
tenta beijar Lester. Esses sinais corroboram a noção de que o coronel, homossexual
“latente”, mantinha essa característica em sua sombra. Seguindo o pensamento de
M.-L. von Franz (2016, p.229), “o problema teria fácil solução se pudéssemos integrar
a sombra na nossa personalidade consciente, tentando apenas ser honestos e usar
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nossa lucidez”. Mas, no caso analisado, quando a ideia chega à consciência e o
personagem é rejeitado em sua investida (quando tenta o beijo), ele reage da forma
mais violenta possível: matando o objeto de sua investida, também única testemunha
dessa verdade escondida – sua atração por homens. Ocorreu, nesse caso, o que M.-
L. von Franz (2016, p.229) explica na seguinte passagem: “há um impulso de tamanha
força na nossa sombra que a razão não consegue triunfar”.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O filme beleza americana, lançado há vinte anos, fazia uma grande crítica à
sociedade norte-americana da época. Há uma resenha na Folha Ilustrada, feita pelo
editor Sérgio Dávila na época do filme (2000), que comenta que “American Beauty” é
o nome de um tipo de rosa vermelha, muito bonita, mas sem cheiro. Essas rosas,
aparentemente, são as mesmas cultivadas no jardim da casa de Lester e perpassam
quase todas as cenas que envolvem suas fantasias com Angela, uma figura também
muito típica para a época (lembrando o estilo Britney Spears).
Essa crítica aos padrões dominantes ao longo da trama mostra o quanto o que
é aparentemente bom na verdade pode estar constituído por várias camadas
complexas, às vezes obscuras, mas todas muito humanas. Quase todos os
personagens, com exceção de Jane e Rick, mantêm suas personas na tentativa de
uma vida satisfatória. A questão é conseguir alguma satisfação se nos mantemos
somente na superficialidade.
Não acredito que as coisas estejam muito diferentes, aliás, os meios de
propagação (mídias sociais) dos almejados padrões só aumentaram ou foram
popularizados, com o agravo de estarem o tempo todo armazenando informações que
nos levam ao encontro com temas, imagens e produtos que talvez não teríamos.
Talvez, em minha percepção, conseguimos dar mais espaço aos grupos e às pessoas
que contestam tudo isso, especialmente em alguns dos movimentos de grupos.
Na articulação do filme com a teoria junguiana foi possível perceber como esta,
embora considere fenômenos de tão longa data em sua construção, está muito
próxima do que nos ocorre. Além disso, percebeu-se como essa teoria conserva algo
de benevolente, talvez de amoroso ou de esperançoso em relação ao ser humano
quando preceitua que todos temos o potencial e a tendência ao desenvolvimento.
Enfrentar ou estar consciente de aspectos não desejáveis (como nossa sombra), seria
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uma etapa de um processo que levaria à individuação, ao alargamento da
consciência, à uma unificação do eu que parece muito benéfica.
Talvez a possibilidade do “bem maior” para as pessoas devesse ser o fim de
qualquer produção de saber, nas psicologias e nas outras áreas de conhecimento.
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REFERÊNCIAS
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1999.
DÁVILA, S. O melhor filme do ano. Folha de São Paulo, 2010. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2502200006.htm. Acesso em 29 out.
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