DIREITO CONSTITUCIONAL
CP I B
1º PERÍODO 2021
TEMA 03
Tema 03:
Hermenêutica constitucional:
Princípios da interpretação constitucional. Critérios de interpretação.
1ª QUESTÃO:
A alteração na situação de fato que foi levada em consideração no momento de elaboração
de uma lei pode levar ao reconhecimento de que ela passou a ser inconstitucional?
RESPOSTA:
Sim. Algumas leis são constitucionais em razão de determinado fato. A eventual alteração
pode levar ao futuro reconhecimento de sua inconstitucionalidade. É o que o STF chama
de "norma ainda constitucional", trazida da doutrina alemã.
Se a desigualdade desaparece com o tempo, a lei passa a ser inconstitucional, pois estará
tratando de forma desigual pessoas em igualdade. (ver Informativo 272 - RE 341717).
MINISTERIO PUBLICO. ACAO CIVIL EX DELICTO. CODIGO DE PROCESSO
PENAL, ART. 68. NORMA AINDA CONSTITUCIONAL. ESTAGIO
INTERMEDIARIO, DE CARATER TRANSITORIO, ENTRE A SITUACAO DE
CONSTITUCIONALIDADE E O ESTADO DE INCONSTITUCIONALIDADE. A
QUESTAO DAS SITUACOES CONSTITUCIONAIS IMPERFEITAS.
SUBSISTENCIA, NO ESTADO DE SAO PAULO, DO ART. 68 DO CPP, ATE QUE
SEJA INSTITUIDA E REGULARMENTE ORGANIZADA A DEFENSORIA
PUBLICA LOCAL. PRECEDENTES. DECISAO: A controvérsia constitucional objeto
deste recurso extraordinário já foi dirimida pelo Supremo Tribunal Federal, cujo Plenário,
ao julgar o RE 135.328-SP, Rel. Min. MARCO AURELIO, fixou entendimento no
sentido de que, enquanto o Estado de São Paulo não instituir e organizar a Defensoria
Pública local, tal como previsto na Constituição da República (art. 134), subsistira,
integra, na condição de norma ainda constitucional - que configura um transitório estagio
intermediário, situado .entre os estados de plena constitucionalidade ou de absoluta
inconstitucionalidade. (GILMAR FERREIRA MENDES. Controle de
Constitucionalidade., p. 21, 1990, Saraiva) -, a regra inscrita no art. 68 do CPP, mesmo
que sujeita, em face de modificações supervenientes das circunstancias de fato, a um
processo de progressiva inconstitucionalização, como registra, em lucida abordagem do
tema, a lição de ROGERIO FELIPETO (.Reparação do Dano Causado por Crime., p. 58,
item n. 4.2.1, 2001, Del Rey). E que a omissão estatal, no adimplemento de imposições
ditadas pela Constituição - a semelhança do que se verifica nas hipóteses em que o
legislador comum se abstém, como no caso, de adotar medidas concretizadoras das
normas de estruturação orgânica previstas no estatuto fundamental - culmina por fazer
instaurar situações constitucionais imperfeitas. (LENIO LUIZ STRECK, .Jurisdição
Constitucional e Hermenêutica., p. 468-469, item n. 11.4.1.3.2, 2002, Livraria do
Advogado Editora), cuja ocorrência justifica .um tratamento diferenciado, não
necessariamente reconduzível ao regime da nulidade absoluta. (J. J. GOMES
CANOTILHO, .Direito Constitucional., p. 1.022, item n. 3, 5. ed., 1991, Almedina,
Coimbra - grifei), em ordem a obstar o imediato reconhecimento do estado de
inconstitucionalidade no qual eventualmente incida o Poder Público, por efeito de
violação negativa do texto da Carta Política (RTJ 162/877, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, Pleno). E por essa razão que HUGO NIGRO MAZZILLI (.A Defesa dos
Interesses Difusos em Juízo., p. 72, item n. 7, nota de rodapé n. 13, 14. ed., 2002, Saraiva),
ao destacar o caráter residual da aplicabilidade do< > < > art. 68 do CPP - que versa
hipótese de legitimação ativa do Ministério Público, em sede de ação civil - assinala, em
observação compatível com a natureza ainda constitucional da mencionada regra
processual penal, que .Essa atuação do Ministério Público, hoje, só se admite em caráter
subsidiário, até que se viabilize, em cada Estado, a implementação da defensoria pública,
nos termos do art. 134, parágrafo único, da CR (...). (grifei). Daí a exata afirmação feita
por TEORI ALBINO ZAVASCKI, eminente Magistrado e Professor (.Eficácia das
Sentenças na Jurisdição Constitucional., p. 115/116, item n. 5.5, 2001, RT), cuja lição, a
propósito do tema ora em exame, põe em evidencia o relevo que podem assumir, em
nosso sistema jurídico, as transformações supervenientes do estado de fato: . Isso explica,
tambem,uma das técnicas de controle de legitimidade intimamente relacionada com a
clausula da manutenção do estado de fato: a da lei ainda constitucional. O Supremo
Tribunal Federal a adotou em vários precedentes (...). Com base nessa orientação e
considerando o contexto social verificado a época do julgamento, o Supremo Tribunal
Federal rejeitou a arguição de inconstitucionalidade da norma em exame, ficando claro,
todavia, que, no futuro, a alteração do status quo poderia ensejar decisão em sentido
oposto.. (grifei) Cabe referir, por necessário, que esse entendimento tem sido observado
em sucessivas decisões proferidas por esta Suprema Corte (RE 196.857-SP (AgRg), Rel.
Min. ELLEN GRACIE - RE 208.798-SP, Rel. Min. SYDNEY SANCHES - RE 213.514-
SP, Rel. Min. MOREIRA ALVES - RE 229.810-SP, Rel. Min. NERI DA SILVEIRA -
RE 295.740-SP, Rel. Min. SEPULVEDA PERTENCE), como o demonstra o julgamento
do RE 147.776-SP, Rel. Min. SEPULVEDA PERTENCE, efetuado pela Colenda
Primeira Turma deste Tribunal (RTJ 175/309-310): . Ministério Público: legitimação para
promoção, no juízo cível, do ressarcimento do dano resultante de crime, pobre o titular
do direito a reparação: C. Pr. Pen., art. 68, ainda constitucional (cf. RE 135328): processo
de inconstitucionalização das leis. 1. A alternativa radical da jurisdição constitucional
ortodoxa, entre a constitucionalidade plena e a declaração de inconstitucionalidade ou
revogação por inconstitucionalidade da lei com fulminante eficácia ex tunc, faz abstração
da evidencia de que a implementação de uma nova ordem constitucional não e um fato
instantâneo, mas um processo, no qual a possibilidade de realização da norma da
Constituição - ainda quando teoricamente não se cuide de preceito de eficácia limitada -
subordina-se muitas vezes a alterações da realidade fáctica que a viabilizem. 2. No
contexto da Constituição de 1988, a atribuição anteriormente dada ao Ministério Público
pelo art. 68 C. Pr. Penal - constituindo modalidade de assistência judiciaria - deve reputar-
se transferida para a Defensoria Pública: essa, porém, para esse fim, só se pode considerar
existente, onde e quando organizada, de direito e de fato, nos moldes do art. 134 da própria
Constituição e da lei complementar por ela ordenada: até que - na União ou em cada
Estado considerado - se implemente essa condição de viabilização da cogitada
transferência constitucional de atribuições, o art. 68 C. Pr. Pen. será considerado ainda
vigente: e o caso do Estado de São Paulo, como decidiu o plenário no RE 135328.. (grifei)
Todas essas considerações, indissociáveis do exame da presente causa, evidenciam que o
acordão ora recorrido diverge, frontalmente, da orientação jurisprudencial que esta
Suprema Corte fixou na matéria em análise. Sendo assim, e tendo em consideração as
razoes expostas, conheço e dou provimento ao presente recurso extraordinário (CPC, art.
557, . 1.-A), em ordem a reconhecer a plena legitimidade ativa do Ministério Público do
Estado de São Paulo para propor a ação civil ex delicto, nos termos do art. 68 do CPP,
invalidando, por isso mesmo, a extinção do processo, sem julgamento de mérito,
decretada pelo E. Tribunal de Justiça paulista (fls. 287/291) e restaurando, em
consequência, a decisão que procedeu ao saneamento do processo (fls. 229), operando-
se, a partir dai, o regular prosseguimento da causa. Publique-se. Brasília, 10 de junho de
2002. Ministro CELSO DE MELLO Relator; STF.
2ª QUESTÃO:
KONRAD HESSE expôs ao mundo jurídico guias do processo interpretativo,
direcionadas à maior consistência dos seus resultados, sob a fórmula de princípios da
interpretação constitucional. Dentre esses princípios, ele nos trouxe o princípio da
unidade da constituição.
Exponha, em poucas linhas, o que você entende pelo princípio citado e responda se existe
hierarquia entre normas que compõem o texto constitucional.
RESPOSTA:
Curso de Direito Constitucional, Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco,
8ª edição, 2013. Ed. Saraiva. Pag. 94:
"O primeiro desses princípios, o da unidade da Constituição, postula que não se considere
uma norma da Constituição fora do sistema em que se integra. Dessa forma, evitam-se
contradições entre as normas constitucionais. As soluções dos problemas constitucionais
devem estar em consonância com as deliberações elementares do constituinte. Vale, aqui,
o magistério de Eros Grau, que insiste em que "não se interpreta o direito em tiras, aos
pedaços", acrescentando que "a interpretação do direito se realiza não como mero
exercício de leitura de textos normativos, para o que bastaria ao intérprete ser
alfabetizado. Esse princípio concita o intérprete a encontrar soluções que harmonizem
tensões existente entre as várias normas constitucionais, considerando a Constituição
como um todo unitário.
Convém ao intérprete, a esse propósito, pressupor a racionalidade do constituinte, ao
menos como ponto de partida metodológico da tarefa hermenêutica. Essa racionalidade -
tomada como uma diretiva, mais do que como uma hipótese empírica - leva o aplicador
a supor um ordenamento constitucional ótimo, ideal, que não entra em contradição
consigo mesmo. Para que o princípio da unidade, expressão da racionalidade do legislador
constituinte, seja confirmado na atividade interpretativa, o intérprete estará legitimado a
lançar mão de variados recursos argumentativos, como o da descoberta de lacunas
axiológicas, tendo em vista a necessidade de confirmar o esforço coerente do constituinte
de promover um ordenamento uniformemente justo.
O princípio da unidade da Constituição tem produzido julgados dignos de nota. Desse
princípio, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal extraiu a inexistência de hierarquia
entre as normas que compõe o texto constitucional."
ADI 815
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=815&
classe=ADI&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M> /
DF, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES
Julgamento: 28/03/1996 Órgão Julgador: Tribunal Pleno
Publicação
DJ 10-05-1996 PP-15131 EMENT VOL-01827-02 PP-00312
Parte(s)
REQTE.: GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
ADVS.: GABRIEL PAULI FADEL E OUTRO
REQDO.: CONGRESSO NACIONAL
Ementa
EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. Parágrafos 1º e 2º do artigo 45 da
Constituição Federal. - A tese de que há hierarquia entre normas constitucionais
originárias dando azo à declaração de inconstitucionalidade de umas em face de
outras e incompossível com o sistema de Constituição rígida. - Na atual Carta Magna
"compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição"
(artigo 102, "caput"), o que implica dizer que essa jurisdição lhe é atribuída para
impedir que se desrespeite a Constituição como um todo, e não para, com relação a
ela, exercer o papel de fiscal do Poder Constituinte originário, a fim de verificar se
este teria, ou não, violado os princípios de direito suprapositivo que ele próprio havia
incluído no texto da mesma Constituição. - Por outro lado, as cláusulas pétreas não
podem ser invocadas para sustentação da tese da inconstitucionalidade de normas
constitucionais inferiores em face de normas constitucionais superiores, porquanto
a Constituição as prevê apenas como limites ao Poder Constituinte derivado ao rever
ou ao emendar a Constituição elaborada pelo Poder Constituinte originário, e não
como abarcando normas cuja observância se impôs ao próprio Poder Constituinte
originário com relação as outras que não sejam consideradas como cláusulas
pétreas, e, portanto, possam ser emendadas. Ação não conhecida por
impossibilidade jurídica do pedido.
DIREITO CONSTITUCIONAL
CP I B
1º PERÍODO 2021
TEMA 04
Tema 04:
Reformas constitucionais:
Emendas;
Revisão;
Mutação constitucional formal e informal.
Limites do poder de reforma. Cláusulas pétreas e sua extensão.
O papel do Supremo Tribunal Federal.
1ª QUESTÃO:
Lei Distrital dispôs sobre a emissão de certificado de conclusão do ensino médio, no
sentido de que as escolas expedirão o respectivo certificado e o histórico escolar aos
alunos da terceira série de ensino médio que comprovarem aprovação em vestibular para
ingresso em curso de nível superior, independente do número de aulas frequentadas pelo
aluno. Deverá o referido documento ser providenciado em tempo hábil de modo que o
aluno possa matricular-se no curso superior para o qual for habilitado.
Inconformada, a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino propôs ação
arguindo a inconstitucionalidade da referida lei. Comente a hipótese discorrendo a
respeito dos princípios da proporcionalidade, razoabilidade e recepção da norma.
RESPOSTA:
ADI-MC 2667 / DF - DISTRITO FEDERAL
MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO; Julgamento: 19/06/2002; Órgão Julgador:
Tribunal Pleno; Publicação: DJ 12-03-2004 PP-00036; EMENT VOL-02143-02 PP-
00275.
Parte(s)
REQTE.: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO
- CONFENEN
ADVDO.: VALÉRIO ALVARENGA MONTEIRO DE CASTRO
REQDA.: CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL
Ementa
E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI DISTRITAL
QUE DISPÕE SOBRE A EMISSÃO DE CERTIFICADO DE CONCLUSÃO DO
CURSO E QUE AUTORIZA O FORNECIMENTO DE HISTÓRICO ESCOLAR PARA
ALUNOS DA TERCEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO QUE COMPROVAREM
APROVAÇÃO EM VESTIBULAR PARA INGRESSO EM CURSO DE NÍVEL
SUPERIOR - LEI DISTRITAL QUE USURPA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
OUTORGADA À UNIÃO FEDERAL PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA -
CONSIDERAÇÕES EM TORNO DAS LACUNAS PREENCHÍVEIS - NORMA
DESTITUÍDA DO NECESSÁRIO COEFICIENTE DE RAZOABILIDADE - OFENSA
AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE - ATIVIDADE LEGISLATIVA
EXERCIDA COM DESVIO DE PODER - PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DO
PEDIDO - DEFERIMENTO DA MEDIDA CAUTELAR COM EFICÁCIA "EX
TUNC". A USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA, QUANDO
PRATICADA POR QUALQUER DAS PESSOAS ESTATAIS, QUALIFICA-SE
COMO ATO DE TRANSGRESSÃO CONSTITUCIONAL. - A Constituição da
República, nas hipóteses de competência concorrente (CF, art. 24), estabeleceu
verdadeira situação de condomínio legislativo entre a União Federal, os Estados-
membros e o Distrito Federal (RAUL MACHADO HORTA, "Estudos de Direito
Constitucional", p. 366, item n. 2, 1995, Del Rey), daí resultando clara repartição vertical
de competências normativas entre essas pessoas estatais, cabendo, à União, estabelecer
normas gerais (CF, art. 24, § 1º), e, aos Estados-membros e ao Distrito Federal, exercer
competência suplementar (CF, art. 24, § 2º). - A Carta Política, por sua vez, ao instituir
um sistema de condomínio legislativo nas matérias taxativamente indicadas no seu art.
24 - dentre as quais avulta, por sua importância, aquela concernente ao ensino (art. 24,
IX) -, deferiu ao Estado-membro e ao Distrito Federal, em "inexistindo lei federal sobre
normas gerais", a possibilidade de exercer a competência legislativa plena, desde que
"para atender a suas peculiaridades" (art. 24, § 3º). - Os Estados-membros e o Distrito
Federal não podem, mediante legislação autônoma, agindo "ultra vires", transgredir a
legislação fundamental ou de princípios que a União Federal fez editar no desempenho
legítimo de sua competência constitucional e de cujo exercício deriva o poder de fixar,
validamente, diretrizes e bases gerais pertinentes a determinada matéria (educação e
ensino, na espécie). - Considerações doutrinárias em torno da questão pertinente às
lacunas preenchíveis. TODOS OS ATOS EMANADOS DO PODER PÚBLICO ESTÃO
NECESSARIAMENTE SUJEITOS, PARA EFEITO DE SUA VALIDADE
MATERIAL, À INDECLINÁVEL OBSERVÂNCIA DE PADRÕES MÍNIMOS DE
RAZOABILIDADE. - As normas legais devem observar, no processo de sua formulação,
critérios de razoabilidade que guardem estrita consonância com os padrões fundados no
princípio da proporcionalidade, pois todos os atos emanados do Poder Público devem
ajustar-se à cláusula que consagra, em sua dimensão material, o princípio do "substantive
due process of law". Lei Distrital que, no caso, não observa padrões mínimos de
razoabilidade. A EXIGÊNCIA DE RAZOABILIDADE QUALIFICA-SE COMO
PARÂMETRO DE AFERIÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DOS
ATOS ESTATAIS. - A exigência de razoabilidade - que visa a inibir e a neutralizar
eventuais abusos do Poder Público, notadamente no desempenho de suas funções
normativas - atua, enquanto categoria fundamental de limitação dos excessos emanados
do Estado, como verdadeiro parâmetro de aferição da constitucionalidade material dos
atos estatais. APLICABILIDADE DA TEORIA DO DESVIO DE PODER AO PLANO
DAS ATIVIDADES NORMATIVAS DO ESTADO. - A teoria do desvio de poder,
quando aplicada ao plano das atividades legislativas, permite que se contenham eventuais
excessos decorrentes do exercício imoderado e arbitrário da competência institucional
outorgada ao Poder Público, pois o Estado não pode, no desempenho de suas atribuições,
dar causa à instauração de situações normativas que comprometam e afetem os fins que
regem a prática da função de legislar. A EFICÁCIA EX TUNC DA MEDIDA
CAUTELAR NÃO SE PRESUME, POIS DEPENDE DE EXPRESSA
DETERMINAÇÃO CONSTANTE DA DECISÃO QUE A DEFERE, EM SEDE DE
CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO. - A medida cautelar, em sede de fiscalização
normativa abstrata, reveste-se, ordinariamente, de eficácia "ex nunc", "operando,
portanto, a partir do momento em que o Supremo Tribunal Federal a defere" (RTJ
124/80). Excepcionalmente, no entanto, e para que não se frustrem os seus objetivos, a
medida cautelar poderá projetar-se com eficácia "ex tunc", com conseqüente repercussão
sobre situações pretéritas (RTJ 138/86), retroagindo os seus efeitos ao próprio momento
em que editado o ato normativo por ela alcançado. Para que se outorgue eficácia "ex tunc"
ao provimento cautelar, em sede de fiscalização concentrada de constitucionalidade,
impõe-se que o Supremo Tribunal Federal expressamente assim o determine, na decisão
que conceder essa medida extraordinária (RTJ 164/506-509, 508, Rel. Min. CELSO DE
MELLO). Situação excepcional que se verifica no caso ora em exame, apta a justificar a
outorga de provimento cautelar com eficácia "ex tunc".
2ª QUESTÃO:
XXIX Concurso (08/04/98) - PROVA ESPECÍFICA PARA INGRESSO NA
CARREIRA DA MAGISTRATURA - RJ - ADAPTADA
O Promotor de Justiça da sua Comarca requereu, com fundamento no artigo 247, § 2º, do
ECA, a apreensão de todos os exemplares de uma determinada revista local, que circula
semanalmente, por ter noticiado assalto com emprego de arma praticado por dois menores
(15 e 16 anos de idade) residentes na cidade. Em face da liberdade de informação
garantida na Constituição Federal, como decidiria a questão?
Fundamente.
RESPOSTA:
A questão coloca em conflito dois direitos fundamentais, previstos na CRFB88: o direito
à privacidade do menor de idade, que tem o âmbito de proteção extremamente alargado,
e o direito à informação. Deve-se levar em consideração que nenhum direito é absoluto,
mas o direito de informação tem limites, e deve se cingir apenas a noticiar o fato, e, por
se tratar de menor, apenas as iniciais dos nomes devem constar na notícia. No entanto,
devemos levar em consideração também a extensão territorial e o número de habitantes,
pois, em se tratando de um número diminuto, fica fácil, pelo teor da notícia, identificar
os infratores e os mesmos sofrerem represálias muito comuns em cidades pequenas.