Timbre e Piano - Artigo
Timbre e Piano - Artigo
Resumo: Ainda que incompletos, os dados fornecidos pelas pesquisas científicas sobre a acústica do piano nessas
últimas décadas permitem destacar com precisão um comportamento típico do instrumento, que pode ser reduzido
a um princípio de decréscimo ponderado da complexidade de espectros proporcional à altura da frequência funda-
mental. Explicitadas as causas deste princípio, este texto recorda em que medida esta “permanência causal” (Schae-
ffer) pode ser moldada pelas diversas modalidades de ação sobre a interface do instrumento e mostra como o controle
do compositor e do intérprete se exercem sobre as duas dimensões que determinam a qualidade (timbrística) inicial
de uma dada altura – os registros e as intensidades. Destaca-se destas observações uma dissociação funcional funda-
mental entre estas duas dimensões: a escrita do registro impõe uma escolha passiva dentre as invariantes possíveis e
a escrita das intensidades indica uma direção e uma taxa de modulações a serem efetuadas sobre as invariantes es-
colhidas. Após uma sessão sobre a incidência da ação dos pedais sobre o timbre, é proposta uma avaliação geral das
condições de controle das variáveis, do que se conclui que a notação, mesmo a convencional, é capaz de representar
simbolicamente o timbre resultante das prescrições notadas, desde que formalizadas as correlações entre o som e o
símbolo e definida uma estratégia funcional de decodificação.
Palavras-chave: Piano; Organologia; Acústica; Timbre; Performance; Composição para piano; Análise.
Timbre and Piano Writing: for an Incorporation of Piano’s Acoustic Behavior for Musical Composition and Analysis
Abstract: Last decades’ researches on the acoustics of piano allow to pinpoint a typical behavior of the instrument.
This can be defined by a principle of weighted decrease of the complexity of the spectra, which are proportional to
the pitch of the fundamental frequency. After explaining the causes of this behavior, this paper considers to what
extent this “causal permanence” (Schaeffer) can be shaped by the different modes of action on the interface of the in-
strument. Additionally, it shows how the composer and the performer can control the two dimensions which deter-
mine the initial quality (timbristic) of a given pitch - register and intensity. These two dimensions are characterized
by fundamental functional dissociation between them: the notation imposes a passive choice among the possible in-
variants (the pitches) and the written “dynamics” indicate a direction and a rate of the modulations to be applied on
the chosen invariants. After a session dealing with the role of pedaling on timbre, a general assessment of the condi-
tions of control variables is proposed, which leads to the conclusion that the notation, even conventional, is able to
represent symbolically the resulting timbre of the prescriptions, as long as the correlations between sound and sym-
bol set and a functional decoding strategy are formalized.
Keywords: Piano; Organology; Acoustics; Timbre; Performance; Composition for piano; Analysis.
Revista Música Hodie, Goiânia - V.14, 238p., n.1, 2014 Recebido em: 11/12/2013 - Aprovado em: 17/03/2014
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le piano, organizado pelo Grupo de Acústica Musical em 1967, afirma que “uma nota ao
piano é praticamente indeformável” (LIENARD, 1967). Mas quando todos os pianistas são
unânimes em reconhecer que a essência do instrumento reside no controle da sonorida-
de, que eles têm a sua disposição “uma paleta sonora da qual é impossível enumerar to-
das as cores, de tão diversas” (GIL-MARCHEX, 1925), pode-se pensar que existe no míni-
mo uma ambiguidade no sentido da expressão “timbre do piano” e os dados e fatos que
ela encobre.
De fato, as propriedades heterogêneas dos materiais utilizados na fabricação do ins-
trumento (feltro, madeira, couro, metal), o comportamento não linear dos contatos e a fric-
ção de diferentes componentes do mecanismo do piano, permaneceram por muito tempo, e
ainda permanecem em grande parte, difíceis de mensurar. Entretanto, avanços importan-
tes, realizados nos últimos trinta anos nas técnicas de avaliação, tornaram mais fácil a me-
dição dos fenômenos complexos que interferem na produção de um som no piano e da in-
teração pianista/mecânica. Um importante artigo de Hideo Suzuki e Isao Nakamura (1990)
traz os resultados mais significativos e realiza um panorama das orientações atuais das pes-
quisas neste campo.
Nós nos contentaremos aqui em relembrar o essencial do comportamento do ins-
trumento, sob a luz dos dados que a acústica nos forneceu, na medida em que as informa-
ções trazidas por esta disciplina nos permitam avançar na definição do que pode ser com-
preendido com “timbre” no piano, quando um compositor, um intérprete ou um ouvinte se
referem a ele.
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O som imediato resulta de um modo cujo decréscimo é bastante evidente e que cor-
responde a uma solicitação da tábua (harmônica) seja perpendicularmente ao seu pla-
no (no caso de uma só corda) ou seja pelas duas (ou três) cordas vibrando praticamen-
te em fase, logo após o ataque: as vibrações são significativas e esgotam rapidamente
a energia das cordas. Então, o som imediato é intenso porém se extingue rapidamente.
O som residual vem da solicitação da tábua por uma só corda em outro plano de po-
larização, ou por duas cordas vibrando em grande defasagem de fase [conesertar em
todas as aparições] (pouco após o ataque [...]); ao inverso do som imediato, a tábua
vibra pouco, mas por mais tempo. (BOUTILLLON, 1990, p. 813 [grifo nosso])
Esta queda está ligada a fenômenos físicos como o da fricção e da radiação (RISSET,
1978), que as técnicas de compensação utilizadas por fabricantes e afinadores atenuam, mas
não suprimem. Ela depende também da velocidade do ataque (HAURY, 1987). Ela é geral-
mente interrompida antes de terminar, através da intervenção dos abafadores, no momento
do relaxamento do toque. A ação do pedal da direita tem como efeito deixar decrescer na-
turalmente esta fase.
Nós sabemos, desde Stumpf (1926), que uma grande parte do timbre se define pe-
las transitoriedades do ataque. Mas no piano a transitoriedade da extinção se torna um fator
preponderante para o reconhecimento do som. Schaeffer (1966) reportou experiências se-
gundo as quais em certas condições e, sobretudo, nos registros inferiores, um corte na fase
de ataque não impede a identificação da fonte sonora. Inversamente, se gravarmos um som
de piano cortando a fase de extinção, a fonte sonora se torna irreconhecível (experiência de
Houtsma apud ROSSING, 1989). Leipp (1971) afirma que a transitoriedade da extinção “é
suficiente, por si só, para indicar que não se trata nem de um violino, nem de uma flauta”.
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3.1 Cordas
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Nesta Tabela, nenhuma das frequências observada dos parciais de um Sol se en-
contra naquelas frequências dos parciais de um dos Sol que é superior12. Como o número
de parciais é mais importante na medida em que a frequência fundamental diminui, e que
sua enarmonia cresce em proporção (como vimos acima), a dissonância provocada por es-
tes múltiplos batimentos de frequências vizinhas aumenta igualmente, inversamente àque-
la frequência fundamental.
Intensidade relativa e comportamento temporal dos parciais. O registro não é o
único fator de variação do número de parciais: o tempo é outro fator. A intensidade varia de
uma maneira que parece difícil criar um modelo, em função dos fatores anteriormente des-
critos e, além disso, do tempo. Certamente, o fenômeno de extinção do som está correlacio-
nado com a extinção progressiva e geral de seus parciais.
Além disso, em princípio, os parciais superiores se desativam mais rapidamente
que os parciais inferiores (SCHUCK; YOUNG, 1943). Contudo, o exame das curvas gráficas
do decréscimo de cada parcial de cada nota estudada por Fletcher et al. mostram que a es-
trutura (número e intensidade individual) mudam a cada instante: certos parciais podem
até crescer em intensidade relativa antes de começar a decrescer. A alteração experimental
da intensidade dos parciais influi significativamente no som geral.
Uma constante relativa na estrutura das intensidades relativas parece residir no
fato que abaixo do Dó4, o parcial mais forte não é a fundamental. O nível do parcial mais
próximo da fundamental, e de intensidade relativa dominante, se eleva na medida em que
se desce para o grave. Considerando a a intensidade máxima – 0dB – obtêm-se os seguintes
parciais13: para Dó4 (e abaixo): f1; para Sol3 e Do3: f2; para Sol2: f2 e f3 (os dois parciais al-
cançam 0dB); para Do2: f1 e f4; para Sol1: f3; para Dó1: f4; para Lá0: f5, f19 e f21.
Além disso, se observa (QUITTER, 1958) que para os sons graves o oitavo parcial e
seus múltiplos são notavelmente ausentes, “por conta do nó causado pelo ataque do marte-
lo às frações do comprimento da corda” (ibid, 98). Então, estamos aqui na presença de dois
fatores suplementares de aumento da enarmonia em função do registro. Não é possível tirar
conclusões acerca do comportamento atípico da intensidade relativa dos primeiros parciais
do Dó2, que distorce uma curva de crescimento relativamente linear.
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O resultado mais notável deste estudo diz respeito ao duplo regime de duração de
contato, dependendo se nos encontramos no registro grave (abaixo do Dó3) ou não. No pri-
meiro caso, o contato é mais longo quando a velocidade do impacto do martelo é mais rápi-
da. Os autores deste estudo explicam este comportamento singular na região grave através
do fato que o contato do martelo com as cordas grossas é multiplicado por uma espécie de
ricochete. O lugar de mudança de regime coincide com a mudança de material e número de
cordas por nota. Por outro lado, as durações de contato não mudam proporcionalmente ao
período fundamental de vibração da corda17: nos graves o contato não dura mais que uma
fração do período. No médio, por volta de meio período e no agudo dura vários períodos.
(ibid. p. 60 -61).
As pesquisas efetuadas no Japão, em particular por Nakamura e Yanagisawa (in
SUZUKI; NAKAMURA, 1990), corroboram com estas informações, tanto no que diz respei-
to à mudança brusca de regime – explicada diferentemente por Nakamura – quanto na po-
breza harmônica das notas agudas e do múltiplo contato do martelo com as maiores cordas.
Lugar de contato. A zona percutida pelo martelo afeta a estrutura espectral da cor-
da vibrante. McFerrin (op cit. p. 45) localiza esta zona entre 1/7 e 1/9 do comprimento da
corda (contado de qualquer extremidade). Tal distância fornece mais parciais e previne os
enarmônicos que começam a ser percebidos a partir do 7º parcial.
3.3 Abafadores
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valor bastante abaixo. Entretanto, a ligação entre estes cálculos e os parâmetros perceptivos
significantes não foram estabelecidos (BOUTILLON, 1990). Além disso, quanto maior a tá-
bua harmônica, menos ressonância ela tem e mais rapidamente as vibrações se extinguem,
sem que uma razão para tal tenha sido encontrada até o momento (SUZUKI; NAKAMURA
op cit. p. 194).
4. Timbre vs Registro
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5. Timbres vs Intensidades
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cial da região das frequências agudas (ASKENFELD; JANSSON, 199022) e pelas perturba-
ções no seu comportamento no decorrer do tempo (ibid). Podemos dizer, como Jean Haury
(op. cit.), que neste sentido, “timbrar” ou “destimbrar” significa mudar imperceptivelmen-
te a intensidade, e deduzir assim um principio corolário àquele da relação do timbre com o
registro, segundo o qual a complexidade do espectro é linearmente função da intensidade.
Assim, sobre um dado eixo qualitativo onde, por exemplo, harmonia e enarmonia
constituem os limites, dois parâmetros contribuem para situar uma nota n de piano: um
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e a segunda uma intensidade suave (pp por exemplo). Esta qualificação ponderada consis-
te em uma codificação unificada de duas dimensões da escrita, tendo em conta o espaço de
controle disponível no interior das restrições físicas impostas pelo meio instrumental, e sua
correlação estreita para a definição de cada elemento unitário.
Os pedais são a “alma a piano” (QUIDANT, 1888, p. 16). Esta metáfora empresta-
da da fabricação de instrumentos de arco tem o mérito de atribuir, sem ambiguidade, aos
pedais uma função fundamental de expressão artística. De fato, os pedais agem de manei-
ra radical sobre os aspectos gerais do timbre. Contudo, os estudos sistemáticos consagra-
dos a eles são pouco numerosos: a maior parte foi identificada e apresentada por Unkari
(1993). Eles concernem sempre a aspectos históricos ou modos de aplicação segundo os
estilos e compositores30: nenhum dos estudos aos quais tivemos acesso aborda o fenôme-
no puramente acústico da intervenção dos pedais na sonoridade. Particularmente, não foi
possível conhecer, em termos de medidas acústicas, a contribuição das vibrações simpá-
ticas do conjunto de cordas, no momento da elevação dos abafadores causada pelo uso do
pedal da direita – que chamaremos agora e por convenção “P” – ao espectro global de sons
simultaneamente emitidos pela ação das teclas. A maioria dos pianos possui três pedais
(BANOWETZ, 1992; HELFFER; MICHAUD-PRADEILLES, 1985).
Efeito. Levantando os abafadores, este pedal libera as cordas; ele tem dois efeitos
simultâneos: a) as cordas que foram atacadas pelo martelo não são mais reprimidas em sua
vibração, pois os abafadores são mantidos elevados. Desta forma, a energia residual do si-
nal aumenta (LEHTONEN, 2007, p. 1796). Lehtonen mostrou também que a duração da
fase de extinção aumenta em grande proporção no registro mediano (até mais 50% para o
Dó4), mas diminui levemente no registro grave (menos 10% aproximadamente para o Dó2)
(LEHTONEN, op. cit., p. 1789-1790, onde procura explicar este fenômeno de um ponto de
vista físico); b) as outras cordas ressoam em simpatia, “os harmônicos de uma corda são en-
riquecidos pela ressonância das outras cordas que fazem parte da mesma série harmôni-
ca” (DYSON, MENHENNICK, 1988). A intensidade sonora das cordas postas em vibração
por simpatia é proporcional ao número de cordas atacadas e à intensidade com a qual são
atacadas.
P é mais efetivo nas notas graves, em virtude do comprimento e da amplitude supe-
rior das cordas. Além disso, as ressonâncias por simpatia são mais numerosas e tem a van-
tagem de se situar na melhor zona de percepção do ouvido (por volta de 2000Hz). Este pedal
não tem nenhum efeito nas últimas cordas, que não possuem abafadores.
Excluida a extinção de fase que não demostra um comportamente linear, como vi-
mos, pode-se deduzir destas informações um decréscimo do efeito de P na medida em que
o registro sobe. Este decréscimo acontece no sentido de uma curva natural do piano ao em-
pobrecimento timbrístico para o agudo, sobre a qual já comentamos.
O fenômeno de vibração por simpatia é muito delicado de avaliar, pois como vimos
que são os parciais harmônicos que são a priori postos em vibração de maneira privilegiada,
as outras cordas e o conjunto de cordas do instrumento, não deixam de o ser em um nível
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menor. Se pudermos concluir sem grandes riscos que o efeito de P sobre o timbre consis-
te em um acréscimo de seus componentes espectrais, e pôr em presença parciais bastante
inarmônicos, é difícil avaliar a taxa relativa destas contribuições.
Modo de ação. Unkari (op. cit.) enumera quatro fases na ação de P: 1) os abafadores
começam a se distanciar apenas quando P se encontra na metade de seu percurso; 2) eles
se afastam, mas guardam ainda contato com as cordas; 3) eles se encontram suficientemen-
te longe para que não haja contato; as cordas então vibram livremente; 4) o pedal continua
ainda a ser pressionado e os abafadores se afastam ainda mais um pouco. “As fases 2 e 3 tem
um feito sobre o som, as fases 1 e 4 são somente de ação do pianista” (ibid.).
Quatro modos de intervenção. P pode ser acionado (NEUHAUS, 1971; ROSEN,
1981; DESCHAUSSEES, 1982): 1) antes do ataque do som (pedal dito “acústico” ou “anteci-
pado”); 2) simultaneamente ao ataque (pedal “rítmico”); 3) posteriormente ao ataque (pedal
“sincopado”); 4) de maneira repetida (“vibrato” de pedal).
O número de cordas postas em vibração por simpatia e a intensidade das vibrações
decresce nos três primeiros modos. Neste plano qualitativo, o quarto modo se assemelha à
primeira oscilação do primeiro modo, pois o movimento repetido dos abafadores tem por
efeito acelerar a perda de intensidade da vibração.
Três modos de relaxamento. Schnabel (1954) reconhece três maneiras de soltar P,
sendo elas: 1) antes da nota seguinte, 2) simultaneamente ao ataque da nota seguinte, 3) pos-
teriormente à nota seguinte. Aqui, o efeito do pedal varia com o modo de relaxamento utili-
zado. O efeito máximo é obtido com o terceiro modo, onde as vibrações provocadas por duas
notas (ou agregações) sucessivas se misturam no fim do toque.
Coordenação aplicação/relaxamento. O modo 4 de aplicação do pedal será con-
siderado como uma variação de ordem qualitativa de intervenção do pedal. É preciso res-
saltar que os três modos básicos de aplicação (1, 2, 3) podem ser combinados com todos os
modos de relaxamento: o intérprete lida assim com uma apreciável paleta de dosagem – 9,
precisamente – da intensidade do efeito do pedal, escolhendo os momentos de sua ação e,
portanto, a duração desta ação.
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bre o timbre (HAURY, 1987, p. 21, nota 3). A amplitude da velocidade das cordas unitárias
no momento do impacto, quando utilizado o UC, foi mesurada cientificamente (SUZUKI;
NAKAMURA, op. cit., p. 179). Mas de uma maneira geral, como por P, as medidas físicas
são complexas e muito pouco correlacionadas com o contexto. Em si, elas não fornecem ne-
nhum meio de quantificar seu impacto abstrato no nível do pensamento e da escrita.
Nota-se enfim que desde Beethoven foi percebida a possibilidade da colocação pro-
gressiva do pedal UC, praticamente simétrica àquela de P [cf. supra 8.1.2]. O “meio pedal”
UC “desloca ligeiramente a mecânica dos martelos, de modo que o martelo ataca o conjunto
de cordas com uma parte mais mole de sua superfície, aquela que não é habitualmente uti-
lizada” (UNKARI, op. cit., p. 12). É, então, de um falso “due corde” que se trata, mas o ou-
vido, no qual a análise é grosseira neste plano, percebe bem qualquer coisa como um efeito
intermediário entre o som normal e o som do UC ativado completamente.
O pedal tonal ou “sostenuto” (TP) é o pedal do meio, aquele que se encontra entre o
pedal de ressonância, da direita e de UC, da esquerda. Ele remove os abafadores correspon-
dentes às teclas que já estão pressionadas. Assim, estas cordas continuam a vibrar mesmo
depois que o pianista tenha relaxado a pressão sobre a tecla, mas os abafadores das cordas
restantes funcionam normalmente (BLATTER, 1980, p. 223). Apresentado em Paris pela
primeira vez em 1844 por um fabricante de Marselha, Boisselot and Sons (BANOWETZ,
1992, p. 4) este tipo de acionamento do pedal foi patenteado 30 anos depois, em 1874, pela
Steinway (ROSENBLUM, 1993, p. 173; BANOWETZ, 1992, p. 4). O pedal tonal já era bem
conhecido na época de Debussy, mas só foi mencionado explicitamente em uma partitura
muito mais tarde33. Isto não significa, evidentemente, que ele não fosse utilizado anterior-
mente, do contrário não faria sentido os fabricantes continuarem a instalá-lo.
Este pedal foi concebido inicialmente como uma alternativa a P, que permitia esco-
lher quais cordas seriam liberadas dos abafadores, isto, em parte, com o fim de evitar vibra-
ções “anti-harmônicas” (MARMONTEL), que podem ser percebidas como indesejáveis em
um contexto tonal e, também, com o fim de permitir manter os pedais de baixo, liberando
a mão esquerda para outras tarefas.
Certos compositores o utilizaram como meio de por em evidência planos sonoros di-
ferenciados. A Terceira Sonata de Boulez e a Sequência IV de Berio são paradigmáticas des-
ta incorporação do TP à escrita (GUIGUE, 2011, p. 263; ROSEN, 2002, p. 218; ROSENBLUM,
1993, p. 175).
Existe uma alternativa manual à ação do TP: o pianista pressiona silenciosamente
e anteriormente as teclas que devem ressoar por simpatia quando as próximas notas forem
tocadas. No ponto de vista da análise, estas duas ações (TP ou toque manual) são equiva-
lentes no resultado sonoro34.
8.4 Usos, notação
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nual sobre as teclas. Esta categoria, onde o uso do pedal é dependente de prescrições ex-
trínsecas, e sem dúvida a primeira a ser historicamente explorada; por não necessitar de
notação especial, tais fazem parte das escolhas do intérprete35 e são uma ferramenta suple-
mentar para a execução de prescrições explícitas ou implícitas.
A segunda categoria leva em conta de maneira autônoma os efeitos que os pedais
produzem sobre o timbre, sem esperar que as dimensões extrínsecas mencionadas acima
sugiram o seu emprego. Esta categoria foi desenvolvida, sobretudo, no nosso século, ain-
da que Beethoven já pressentisse a sua importância. Ela precisa, em geral, de algum tipo
de notaçao autônoma e de uma formalização no planejamento composicional. O intérprete
pode também tomar decisões relevantes nesta categoria de uso dos pedais, particularmente
quando a notação é apenas implícita, como é o caso em Debussy36, ou deficiente.
Rosenblum (1993, p. 175) comenta sobre o detalhamento do pedal na escrita de al-
guns compositores37, onde os resultados dessa pedalização são tão importantes para o som
quanto são a dinâmica e articulação, e um alto grau de virtuosidade é necessário para sa-
tisfazer uma performance.
A Tabela abaixo é uma interpretação das conclusões deduzidas dos trabalhos elen-
cados na primeira parte deste artigo. Elas são complementadas pelas observações de E.
Leipp (1967, p. 13) sobre as medidas físicas do piano e seus significados. Esta Tabela indica,
para cada constituinte do timbre, seu grau aproximado de “controlabilidade” e os meios de
controle. Esta tabela diz respeito ao controle através da escrita e/ou do toque em tempo real
de uma nota n tomada isoladamente.
Os parâmetros invariantes – aqueles nos quais a possibilidade de controle é nula
– representam cerca de um terço da lista, eles estão ligados às restrições mecânicas do ma-
terial e da estrutura das cordas e da tábua harmônica, assim como do mecanismo de trans-
missão. Eles poderão somente ser controlados “passivamente” através da escolha de alturas
nominais. Os parâmetros acessíveis ao controle são suficientemente numerosos para in-
fluenciar de maneira sensível a estrutura timbrística de um som: o número, a intensidade, o
envoltório temporal dos parciais audíveis e a ressonância são particularmente moduláveis
pela ação humana (grau de controle “elevado”).
Não há nenhum deles que não possa ser objeto de prescrições notadas ou que não
possa ser incorporado ao planejamento composicional. As notações dos pedais e das resso-
nâncias se tornaram cada vez mais precisas e o efeito acústico produzido é totalmente in-
corporado ao projeto composicional38. O controle da ligação entre um gesto instrumental
expresso simbolicamente (uma nuance, um acento) e seu efeito sobre o espectro pode ser
analisado precisamente pelos meios eletrônicos e computacionais, mesmo em tempo real,
de modo que muitos dos imponderáveis – variações espontâneas do intérprete no momento
da execução – se tornaram, finalmente, “pensáveis” a priori pelo compositor e integráveis ao
projeto, se assim desejado. A utilização da informática para auxiliar a composição ou a sín-
tese de timbres obriga uma quantificação muito precisa de todas as prescrições simbólicas
que afetam a estrutura do timbre, e em particular daquelas que concernem as intensidades
e durações relativas de seus constituintes39.
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Este conhecimento mais refinado do elo entre o símbolo e seu efeito não implica,
necessariamente, uma complexidade da notação, mas antes uma maior identificação entre
as prescrições e os resultados. Não é o sistema de notação que é deficiente, impreciso ou
parcial, mas o nosso conhecimento preciso do resultado sonoro que está ligado a ele. Visto
sob este ângulo, o suporte simbólico – a partitura – pode assumir um status de representa-
ção completa da obra, inclusive na sua dimensão especificamente sonora. Por sua vez, a sua
análise, apoiada numa formalização das correlações entre o som e o símbolo, pode preten-
der acessar todas as dimensões do projeto musical.
De outra maneira, a partir do momento no qual o trabalho analítico é visto como
um estudo das relações entre diferentes objetos, a relatividade da notação simbólica sobre
certas dimensões é necessária e suficiente para as informações comparativas das quais se
tem necessidade. A análise de como os timbres pianísticos contribuem na expressão do
discurso musical é a análise da interação destas “variáveis interdependentes” (DUFOURT,
1986) onde a escrita é a sua representação simbólica. É através de sua de/recodificação que
teremos acesso a esta dimensão do projeto composicional.
Notas
1
Este artigo tem sua origem numa pesquisa de Didier Guigue consignada no cap. 1 da Segunda Parte da Tese de
Doutorado, Une Étude “pour les sonorités opposées” (GUIGUE, 1997, p. 97-137). A presente publicação consiste
numa tradução, remanejamento, revisão e atualização, a seis mãos, desta fonte. No texto que segue, o Dó central
do piano (261.63 Hz) é nomeado “Dó4”.
2
Os fabricantes selecionam criteriosamente a madeira do teclado (sobre a qual vão repousar as teclas) em função
do ruído de impacto que eles desejam obter (ASKENFELT; JANSSON, 1991).
3
Shead (1978, p. 152) atenta ao fato que o ruído é um elemento importante do timbre pianístico (o ruído das teclas
sobre o teclado, dos martelos sobre as cordas, do mecanismo) e que a proporção ruído/som varia conforme o registro.
4
O fato de que o piano só integrou a orquestra sinfônica tardiamente parece essencialmente ligado aos seus atri-
butos de instrumento percussivo: de fato, esta qualidade não havia sido detectada anteriormente e, além disso,
foi somente no século XX que a percussão, de uma maneira geral, pôde ser plenamente integrada na linguagem
musical ocidental.
5
No artigo de Suzuki e Nakamura já citado (1990, p. 180 – 186) são expostos os resultados de experiências que
mostram as curvas de extinção de várias notas, do grave ao agudo, realizadas por Meyer e Melka, e das experi-
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ências de Nakamura sobre os diferentes graus de desafinação de duas cordas de uma nota, comparadas à impe-
dância da tábua harmônica/cordas.
6
Para outros pesquisadores, estes parciais não tem praticamente nenhuma incidência na composição do som
imediato (por exemplo, PALMER; BROWN, 1991).
7
Encontrada reproduzida, por exemplo, em McFerrin (1972, p. 29).
8
A prática de pôr mais de uma corda por nota tem origem no cravo. O pianoforte de Cristofori possuía duas cordas
por nota, como os cravos contemporâneos (DYSON; MENHENNICK, 1988). Porém, a função das mais de uma
corda por nota era outra – uma função dinâmica rudimentar (mas perfeitamente adequada à linguagem barroca),
que o pedal una corda imitou posteriormente. É provável que a necessidade intrínseca do piano de ter determi-
nado número de cordas por nota proporcional ao registro e estabelecê-lo em função de um equilíbrio de timbre
só apareceu mais tarde, com a evolução dos imperativos da linguagem musical, a ponto de tornar ultrapassado
o “piano e forte” do barroco.
9
No tempo de Beethoven, os instrumentos podiam ter quatro ou mesmo cinco cordas por nota, como era o caso
do último piano emprestado a ele pela fábrica vienense Graf.
10
É com a mesma finalidade – melhorar a qualidade dos sons agudos – que a fábrica de pianos Bosendorfer adicio-
nou ao seu piano de cauda inteira cordas graves (descendo até o Dó0), uma solução menos econômica.
11
Fontes: FLETCHER et al. 1962, Tabelas I à VII para as notas Lá e Sol e fig. 6 para as notas Dó. Ressaltamos que
os autores não indicam qual a intensidade com que foram tocadas estas notas.
12
Estes dados tendem a mostrar que não se encontra, stricto senso, nenhuma consonância de oitava no piano. Esta
constatação generalista não avança muito, uma vez que as oitavas, neste caso, continuam a ser pensadas e perce-
bidas cognitivamente como um intervalo consonante. Ela permite, por outro lado, considerar o timbre do piano
com base em um princípio de dissonância geral controlada.
13
A adaptação da fig. 6 de Fletcher et al. (1962) por Rossing (1989) difere sensivelmente do modelo quanto à repre-
sentação dos níveis de intensidade relativos dos primeiros parciais do Dó 1. Ver também Quitter op. cit..
14
A tendência atual será também, de acordo com Dyson e Menhennick (op. cit.), a um crescimento da densidade
do feltro, de maneira a obter uma sonoridade capaz de preencher vastas salas e de responder às necessidades da
música comercial.
15
O artigo já citado de E. Blackham contêm dois croquis superpostos (p. 37), um do mecanismo original de Cris-
tofori “marcado de engenhosidade” (BOUTILLON) e outro do mecanismo de um piano atual, marcado por sua
complexidade. Estes dois croquis constituem uma ilustração bastante marcante das características da evolução
da fabricação de pianos da qual falamos.
16
Disklavier Yamaha é um piano que possui todas as características de um piano tradicional, sobre o qual foi im-
plementada uma interface MIDI que o torna capaz de ler e escrever informações digitalizadas em um suporte de
armazenamento. A firma Bosendorfer dotou seu prestigioso modelo Imperial com um sistema MIDI semelhante.
17
O período do Dó1, nota mais grave deste estudo, é de aproximadamente 30ms.
18
O 5º parcial do Lá0, que é, como vimos, o primeiro parcial dominante desta nota, é uma frequência muito próxi-
ma do Dó#3 (138Hz nos cálculos e observações de Flecther, no lugar de 139.59Hz de um Dó#3 “real”). Os casos
de assonância deste Lá com outras alturas simultâneas são muito restritos. A escrita de um Lá grave, mesmo em
um acorde de Lá maior, resulta por si em uma dissonância inevitável, inerente ao instrumento.
19
Este autor constata que a escrita, que reconhece no máximo uma dúzia de símbolos, fica bastante aquém das
variações de intensidade possíveis.
20
Os resultados completos são reproduzidos em SUZUKI; NAKAMURA, op cit., p. 151, Tabela 1.
21
Leipp (1971): “A relação inicial de amplitude entre os parciais depende da excitação fornecida pelo martelo, o que
faz variar a sonoridade em função da nuance de toque adotada”.
22
Askenfelt e Jansson observaram que as taxas de variação de duração do contato do martelo variam na nuance
pp (contato longo) e ff (contato curto), para uma dada nota, em uma proporção de 1.5 a 3. Este encurtamento
pronunciado implica, segundo eles, em um aumento considerável da região das frequências agudas do espectro,
na medida em que se aumenta a intensidade (op. cit., p. 61).
23
Os outros controladores – os pedais – serão estudados em seguida.
24
Nós apoiaremos prudentemente estes dois autores nesta última hipótese, baseada sob o postulado de uma extin-
ção “muito rápida” da energia dos parciais superiores. Não se pode deixar de observar que em certas circunstân-
cias (registro grave e velocidade elevada) estes parciais superiores não se desativam tão rapidamente de modo
que não sejam percebidos no decorrer desta fase e, então, que não sejam suscetíveis de serem relacionados aos
constituintes “estáveis” do timbre. Sabe-se, porém, que de um lado o número de parciais é muito reduzido no
agudo e, de outro lado, a amplitude relativa da fundamental diminui proporcionalmente à sua frequência, até se
tornar quase inaudível no grave, onde ela é dominada por um ou dois parciais mais elevados (até o 5º). A hipó-
tese de Palmer e Brown só é válida, stricto sensu, para a oitava média do piano (Dó4 – Dó5).
25
Estas expressões, e outras semelhantes, apareceram frequentemente durante nossas pesquisas bibliográficas. A
definição do sintetizador como “instrumento musical de teclado” tem, inexplicavelmente, se mantido no decor-
rer do tempo. As interfaces, teclados ou outras, que permitem realizar a síntese sonora, não têm nenhum ponto
em comum com aquilo que chamamos instrumento musical.
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26
Herold (2011) desenvolveu uma proposta de análise de obras pianísticas do séc. XIX com um mapeamento tridi-
mensional das dimensões do timbre inspirado em Grey (cf. p. 215 et sq.).
27
Usualmente, somente o fabricante tem acesso a este parâmetro, através de diversas escolhas de material ou de
mecânica que entram inclusive em questões de estética (SHAEFFER, 1966).
28
As 88 notas que têm normalmente os pianos atuais.
29
O controle destas variações de velocidade é efetuado, evidentemente, pelas indicações de intensidade, mas tam-
bém, entre outras, pelas indicações de articulação.
30
Cf., por exemplo, ROWLAND, 1993, que retrata a história da pedalização.
31
Bouasse (op. cit., p. 416) calcula que se admitirmos que o martelo transmite a uma corda uma fração da energia
que ele transmite a três cordas “a força periódica que se exerce no cavalete se torna 1.73 vezes menor [...] Em cer-
tas a amplitude é multiplicada por √3; mas como a tensão útil é dividida por 3, o produto AT é dividido por √3”,
A sendo a amplitude e T a força. “A diminuição da intensidade é ainda maior quando se passa de três cordas a
uma, se admitirmos que no primeiro caso (sendo o choque do martelo mais regular) é transmitida mais energia”.
32
Van der Meer (1977, p. 80) afirma que o efeito una corda é bem mais presente nos pianos antigos do que nos
instrumentos modernos. De toda forma, o efeito varia muito de acordo com o tipo de instrumento (cf. HEROLD,
op. cit., p. 53).
33
De acordo com Unkari (op. cit.), na obra Piano Variations de A. Copland (1930).
34
Em Ein Kinderspiel, Lachenmann escreveu as duas versões (com e sem TP) para Akiko, terceiro movimento da
peça.
35
Repp (1997, 1996) tem duas pesquisas dedicadas ao estudo das variações temporais de acionamento dos pedais.
36
Debussy não gostava de incluir indicações de pedal na partitura pois acreditava na diversidade do resultado
sonoro que pode variar de uma sala para outra e de um piano para outro (GERIG, 2007, p. 323).
37
John Cage foi muio cuidadoso ao criar uma notação para cada um dos quatro tipos de uso dos pedais grafados
com notação específica em Music of Changes (ROSENBLUM, 1993, 175).
38
Cf. Guigue, a respeito da obra Serynade de Helmut Lachenmann (2011, p. 342 et sq.).
39
Com um protocolo de comunicação padrão como a norma MIDI, os desejos de Neuhaus (cf supra) se tornaram
realidade: o compositor dispõe de diversas listas digitais (de 0 a 127) para a escrita de diversos parâmetros, em
particular das velocidades de ataque e intensidades. Nada o impede de introduzir tal refinamento de escrita em
uma partitura destinada à execução por um intérprete. A aprendizagem, deste último, da ligação entre a escrita
simbólica e suas próprias micronuances dinâmicas – que Neuhaus enumerou em uma centena – não é mais
complexa do que o processo de aprendizagem desta paleta dinâmica.
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Didier Guigue - Professor Associado da Universidade Federal da Paraíba. Sua atuação nas áreas de Musicologia
do Séc. XX, Musicologia sistemática e Computação aplicada à Análise Musical, eixo central da sua atividade no
Programa de Pós-Graduação em Música desta Universidade, se sinaliza por um consistente número de projetos de
pesquisa, publicações e comunicações no Brasil e no Exterior, onde se destaca recentemente seu livro Estética da
Sonoridade publicado pela Editora Perspectiva, São Paulo. Doutor pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales
(Paris, 1996) sob a orientação de Hugues Dufourt, realizou em 2007/2008 pós-doutorado no CICM, Paris. Um dos
membros fundadores do COMPOMUS (o Laboratório de Composicão da UFPB), é Coordenador do Grupo de Pes-
quisas Mus3 (Musicologia, Sonologia e Computação). Pesquisador no CNPQ, também é pesquisador Associado do
Observatoire Musical Français (Université de Paris-Sorbonne), e do NUSOM (USP, São Paulo)..
Bibiana Bragagnolo - Graduada em Licenciatura em Música e Bacharelado em Piano pela Escola de Música e Be-
las Artes do Paraná (EMPAB) e mestre em Práticas Interpretativas - Piano pela Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), Bibiana Bragagnolo cursou também especialização para pianistas concertistas no Musikeon (Valência,
Espanha) sob a orientação do professor Luca Chiantore. Teve artigos publicados nos anais do PERFORMA, XXII e
XXIV Congressos da ANPPOM, além de artigo publicado na revista DAPesquisa. Como pianista, tem se apresenta-
do frequentemente, tendo atuado como solista frente à OSUFPB Cordas em 2013, sob regência do Maestro Marcos
Arakaki. Atualmente faz parte do grupo de pesquisa Mus3.
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