0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 89 visualizações11 páginasPsicometria - Cap 01 - Origem e História Da Psicometria
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Psicometria
Teoria dos testes na
Psicologia e
na Educacao a)
y EDITO! RA
vozes 4° Edigao
wai ASQUALICapiTULO 1
Origem e¢ histérico da Psicometria
1-Intradngio
Estamos nos limiares do séeulo XX. Em Psicologia vigoravam v4
rias tendéncias epistemoldgicas, bastante isoladas umas das outras, procu-
rando superar o status pré-cientifico no estudo do ps(quive (Boring, 1957).
A tradicional diatribe de origem cartesiana. alma vs. corpo, subsi-
diava estas tendéncias. Assim, temos, de um lado, a psicologia alema da
introspegio, interessada na experiencia subjetiva e, do outro, o empirisino
inglés ¢ norte-americano interessado no comportamento, bem como a es-
cola (psicofisica) de Leipzig estudando os processos sensoriais. Fstas duas
grandes orientagdes se caracterizavam também pelo uso de procedimentos
mais descritivos, no caso da psicologia introspectiva, ¢ a procura de pro-
cedimentos mais quantitativistas por parte dos empiricistas, Portanto, nao
causa surpresa que as origens da Psicometria se encontrem no enfoque
empiricista das psicologias da época. Desta sua origem, a Psivometria,
tanto clissica quanto moderna (Teoria de Resposta ao Item), retém algu-
‘mas caracterizagées que permitem controvérsias. Entre elas, duas parecem
particularmente fortes ¢, quigd, preocupantes. Por um lado, a Psicometria.
pelo menos na sua pritica, é ainda guiada pela concepgao positivista ba-
coniana do empirismo, isto é, que a ciéncia do universal se faz através do
conhecimento do singular (inducao), entoque demonstrado como logi-
camente invidvel, tanto pelo empiricista Hume (1739-1740) quanto por
Popper (1972). Creio ser esta concepgio a responsével pelo descuido
inaceitivel da Psicometria com relagao & teoria psicoldgica, que deveria
ser a preocupaciio preliminar ¢ primordial na medida do psicologico. Preocu-
pagio esta que, felizmente, a Psicologia Cognitiva moderna procura res-
suscitar. Por outro lado, predomina em Psicometria a concepgiio estatistica
sobre a psicologica. Os precursores e os que desenvolveram a Psicometria
eram estatisticos de furmagao, unto que ainda se define Psicometria como
um ramo da Estatistica, quando na yerdade cla deve ser concebida como um
13ramo da Psicologia que interfaceia com a Estatistica, Thurstone (1937)
parecia preocupado com este problema, quando definiu como objeto de
estudo para a sociedade psicométrica que acabara de fundar a Psicologia
Matematica, esta concebida como ramo da Psicologia dedicada & pesquisa
dos modelos mateméticos dos processos psicolégicos, mas sempre a servi-
co destes.
2- Origem da Psicometria
2.1 —Apanhado historico
A Psicometria (mais especificamente, os testes psicoldgicos) poderia
ter tido origem em duas sitnagdes hastante distintas: (1) a psicolagia de ori-
entagdo empiricista ou (2) a psicologia mais mentalista de Binet, na Franga.
De fato, as duas tendéncias entraram em cena na mesmia época para resolver
os mesmos problemas, a saber, avaliar objetivamente as aptidées humanas.
Apenas, Binet ¢ Simon (1905) utilizando processos mentais e Galton (1883),
Speurman (1904b) & outros empiricistas fazendo uso de processos compor-
tamentais, mais especificamente, sensoriais. Embora o teste de inteligéncia
de. Rinet tenha tido grande sucesso na Psicologia, no foi sua orientacao que
den a origem & Psicometria e fomentou scu desenvolvimento porque Ihe
faltava o cnfoque primordial da quantificagao, que era v especifive da uli-
entagio da psicologia empiricista, Da psicologia introspeccionista da época
realmente no se poderia esperar a origem da Psicometria, dada sna oricnta-
G40 puramente descritiva dos processos psicoldgicos. Conta Joncich (1968)
que Thorndike (1904) ao enviar seu trabalho de medida em Psicologia a
William James (que era da orientagio descritiva) incluiu uma nota dizendo
que © manuscrito era para seus alunos € que ndo aconsclhava ao proprio
James sua leitura!
Assim, a origem da Psicometria deve ser procurada nos trabalhos
do estatistico Spearman (1904a, 1904b, 1907, 1913), que, no que se refere
4 Psicologia, segui os procedimentos fisicalistas de Galton (1883). Tam-
bém ndo se deve estranhar que a Psicometria surgisse no campo das apti-
does humanas (mentais, fisicas, psicofisicas), pois, além de ser a tematica
psicoldgica da época, se coadunava melhor a um estudo quantitativo, pois
se pode ali contabilizar o comportamento em termos de acertos ¢ crros.
Alias, para methor entender a origem da Psicometria, pode-se se-
guir duas orientagdes, de inicio bastante independentes, que mais tarde se
unificariam no que podemos chamar da Psicometria Clissica, a saber, a
“4preocupacdo mais pratica e a preocupacéio mais te6rica da Psicometria. A
primeira tendéncia era mais aparente entre os psicélogos cujas preocupa-
ges eram mais de cariter psicopedagégico e clinico; estes psicélogos
utilizavam as provas psicolégicas para detectar, sobretudo, o retardo mental
© 0 potencial dos sujeitos para fins de predicdo na drea académica. A outra
tendéncia visava mais o desenvolvimento da propria teoria psicométrica ¢
era, sobretudo, perseguida por psicdlogos de orientagao estatistica. Esta
polaridade covaria com o que Boring (1957) chama de psicologia experi-
mental e psicologia individual, esta mais preocupada com problemas hu-
manos € aquela, mais com a ciéncia “pura”. Este cisma seria somente su-
perado 14 pelos anos 1940, com a influéncia decisiva da orientagao dos
psicdlogos que utilizavam a anélise fatorial, especialmente de Thuistune
(1938) com seus Primary Mental Abilities. Estas tendéncias podem ser
sumariamente visualizadas na exposigdo feita em 2.2.
A esta altura, parece relevante termos uma visdo de conjunto do
que aconteceu na historia da Psicometria, desde sua origem até o presen-
te momento, para, em seguida, desenvolver mais detalhadamente alguns
temas desta histéria. Na verdade, scguindo Boring (1957), a historia da
avaliagdo psicolégica toi. no inicio, dominada por alguns psicélogos ex-
pocutes ci diferentes épocas. Assim, pode-se esquematizar esta historia
cm termos da era de Galton, da era de Binet, etc., como veremos a seguir:
1) A década de Galton: 1880. Seus trabathos visavam a avaliagao
das aptiddes humanas através da medida sensorial, salientando-se sua obra
Inquiries into Human Faculty, de 1883. O trabalho de Galton ter enorme
impacto tanto na orientagdo mais pratica da Psicometria (Cattell ¢ outros
psicometristas americanos), quanto na tedrica (Pearson e Spearman).
2) A década de Cattell: 1890. Sob a influéncia de Galton. Cattell
desenvolvcu suas medidas das diferengas individuais e recolheu sua expe-
riéncia no Mental Tests and Measurements, de 1890, inaugurando, inclu-
sive, a terminologia de mental test (teste mental).
3) A década de Binet: 1900. Nessa década predominaram os inte
resses da avaliacdo das aptiddes humanas visando & predi¢iio na drea aca
démica ¢ ua area da saide, Embora Binet se destaque, outros expoentes
aparecem neste perfodo, salientando se sobretudo Spearman na Inglaterra.
Na verdade, no que se refere propriamente 4 teoria psicométrica, a década
de 1900 deve ser considerada a era de Spearman, o qual langou os funda
mentos da teoria da Psicometria clissica com suas obras The proof andmeasurement of association beiween two things (1904a), ‘General intelli-
gence’ objectively determined and measured (1904b), Demonstration of
formulae for true measurement of correlations (1907) e Correlations of
sums and differences (1913).
4) A era dos testes de imeligéncia: 1910 — 1930. Varios foram os
fatores que concorreram para o desenvolvimento dessa era, a saber, 0 teste
de inteligéncia de Binet-Simon (1905), 0 artigo de Spearman sobre 0 fator
G (1904), a revisiio do teste de Binet para os Estados Unidos (Terman,
1916) e o impacto da Primeira Guerra Mundial com a imposigio da nec
sidade de selegdo répida, eficiente c universal de recrutas para 0 exé
(0s testes Army Alpha c Beta).
5) A década da andlise fatorial: 1930, JA por volta de 1920, 0 en-
tusiasmo com os testes de inteligéncia vinha caindo muito, sobretudo
quando se mostrou que eram demasiadamente dependentes da cultura
onde eram criados, nio apyiando a ideia de um fator geral universal, como
proposto por Spearman. Tais eventos fizeram com que os psicdlogos esta-
tisticos comegassem a repensar as ideias de Spearman. De fato. Kelley
quebrou com a tradigdo de Spearman em 1928. Esta tendéncia foi seguida.
na Inglaterra, por Thomson (1939) e Burt (1941) e nos Estados Unidos da
América, por Thurstone (1935, 1947). Este tiltimo autor é especialmente
retevante nesta época, pois além de desenvolver a andlise fatorial miltipla,
atuou no desenvolvimento da escalonagem psicolégica (1927, 1928,
Thurstone & Chave, 1929), bem como por ter fundado, em 1936, a So-
ciedade Psicometrica Americana, juntamente com a revista Psychome-
trika, ambas dedicadas ao estudo e avango da Psicometria.
6) A era da sistematizacdo: 1940 - 1980. Duas tendéncias opostas
marcam esta época: os trabalhos de sintese e os de critica. Nas obras de
sintese, temos Guilford (1936, Psychometric Methods, reeditada em
1954), tentando sistematizar os avangos em Psicometria até entio conse-
guidos; Gulliksen (1950, Theory of Mental Tests), sistematizando a teoria
Classica dos testes psicolégicos e Torgerson (1958, Theory and Methods of
Scaling), sistematizando a teoria sobre a medida escalar. Alem disso,
Thurstone (1947) e Harman (1967) recolheram os avangos na drea da and-
lise fatorial; Cattell (1965; Cattell & Warburton, 1967) procurou sintetizar
os dados da medida em personalidade e Guilford (1967) procurou siste-
matizar uma teoria sobre a inteligéncia. Por outro lado, Burus (1938) ini-
ciou uma coleténea de todos os testes existentes no mercado, a qual ver
sendo refeita periodicamente (mais ou menos a cada cinco anos), publica~
16da no Mental Measurement Yearbook. Na mesma epoca, A American
Psychological Association — APA (1954, 1974, 1985) introduziu as nor-
mas de elabor: © uso dos testes,
No lado da critica, temos Stevens (1946) questionando o uso das es-
calas de medida que deu/dé muita polémica na drea (Lord, 1953: Gaito,
1980; Michell, 1986: Townsend & Ashby. 1984) e. sobretudo, surge a pri-
meira grande critica & teoria cldssica dos testes na obra de Lord e Novick
(1968 ~ Statistical Theory of Mental Tests Scores), que iniciou 0 desenvol-
vimento de uma teoria alternativa, a teoria do traco latente, que vai desem-
bocar na teoria moderna da Psicometria, a Teoria de Resposta ao Item
(TRU), mais tarde sintetizada por Lord (1980). Outra tendéncia de critica
para superar as dificuldades da Psicometria clissica foi iniciada pela Psico-
logia Cognitiva de Sternberg (1977, 1982, 1985; Sternberg & Detterman,
1979; Sternberg & Weil, 1980) com seu modelo, procedimentos ¢ pesquisas
sobre os componentes cognitivos, na drea da inteligéncia.
7) A era da Psicometria moderna (Teoria de Resposta ao Ttem —
TRI): 1980. Chamar a era atual de era da TRI talvez seja inadequado, por-
que (1) esta teoria, embora estcja sendo o modelo no dito primeiro mundo.
ainda nao resolveu todos seus problemas fundamentais para se tornar 0
modelo moderno definitivo de Psicometria e (2) ela no veio para substi-
tuir toda a Psicometria classica, mas apenas partes dela. De qualquer for-
ma € 0 que ha de mais novo no campo. Alias, poderfamos melhor sinteti-
zar 0 que esté ocorrendo hoje no mundo da Psicometria, arrolando as prin-
cipais linhas genéricas nas quais os psicometristas vém atuando:
a) Sistematizagio da Psicometria Classica: Anastasi (1988), Crocker
@ Algina (1986), Thorndike (1982)
b) Pesquisa na TRI: Lord (1980), Hambleton ¢ Swaminathan (1985),
Hambleton, Swaminathan e Rogers (1991) sistematizam esta
rea e mostram a quantidade de pesquisa que nela esté sendo re
alizada.
c) Pesquisa em uma série de areas paralelas da Psicometria:
testes com referéneia a critério (Berk, 1984);
— testes sob medida (computer adaprive resting — Wainer, 1990);
— banco de itens: Applied Psychological Measurement (1987),
Millman & Arter (1984), Wright & Bell (1984);= equiparagdo dos escores; Augoft (1984), Holland & Rubin
(1982), Skaggs & Lissitz (1986);
— validade dos testes: Wainer & Braun (1988);
— vieses dos testes: Berk (1982), Reynolds & Brown (1984), Os-
lerlind (1983); e funcionamento diferencial dos itens (Dorans
& Holland, 1992; Green, 1994; Holland & Thayer, 1988; Ho
land & Wainer, 1994; Swaminathan, 1994):
— construgao de itens: Brown (1983), Gronlund (1988), Mehrens:
& Lemann (1984), Osterlind (1989), Roid (1984), Roid &
Haladyna (1980, 1982).
d) Neste contexto podemos igualmente situar 0 impacto dos traba-
Thos da Psicologia Cognitiva (Sternberg, 1977, 1982, 1985; Sternberg:
& Detterman, 1979; Sternberg & Weil, 1980; Carpenter, Just, &
Shell, 1990) com suas pesquisas na drea das aptiddes, através do
estudo dos componentes cognitivos.
c) Finalmente, vale a pena rclacionar as principais revistas onde es
to sendo hoje publicados os trabalhos de Psicometria (em pa-
rénteses, 0 ano de fundagao da revista):
= Psychometrika (1936)
~ Educational and Psychological Measurement (1941)
~The Rritish Journal of Mathematical and Statistical Psychology
(1948)
— Journal of Educational Measurement (1964)
— Journal of Educational Statistics (1976)
~ Applied Psychological Measurement (1977)
Psychological Bulletin (1903)
~ Behavior Research Methods, Instruments & Computers (1969)
2.2 — Os testes psicoldgicos
Os testes psicoldgicos que furam surgindo ny final do século XIX
€ nas primeiras décadas do século XX representaram © campo propicio
onde a Psicometria se originou e mais se desenvolveu. Assim, algumasnotas histéricas neste campo so dteis para estudar 9 desenvolvimento da
prépria teoria psicométrica
Embora haja relatos de uso de testes para selec de funcionérios
civis da China If por 3.000 a.C. (Dubois, 1970), as origens efetivas destes
instrumentos psicolégicos podem ser rastreadas aos trabalhos de Galton
(1822-1911) no seu laboratério em Kensington, Inglaterra,
De fato, havia dois tipos de preocupagdes na area da avaliagao do
psicol6gico:
1) Preocupacao psicopedagégica e psiquiatrica na Franca (Esqui-
rol, Seguin, Binet). Esta tendéncia se preocupava com © tratamento mais
humano a ser dado aos doentes mentais que eram definidos por retardos
mentais mais ou menos graves, havendo, portanto, lugar para sc distinguir
diferentes niveis de doenga mental ou retardo mental. E 0 trabalho do mé-
dico francés Esquiral (1838). De interesse para a Psicometria & sua preo-
cupagdo com a questio de como identificar o nivel de retardo mental,
Concluiu que é na drea da linguagem (uso da lingua) onde estaria o crité-
rio para tal deciso. Seu colega Seguin (1866-1907) também se preocupou
com o retardo mental, mas sua atuagdo foi mais no sentido de tratar esses
deficientes através de treinamento fisiolégico. Na mesma linha de agio se
encontra outro francés, © psicologo Binet, que desenvolveu um teste men-
tal para avaliar o retardo mental (sobre ele, mais adiante).
2) Preocupacdo experimentalista (Alemanha. Inglaterra e Estados
Unidos). A preocupacao central dos psicdlogos desta orientagao era a des-
coberta de uniformidades no comportamento dos individuos, nao tanto as
diferengas individuais (como na escola francesa), Aliés, as diferengas
cram conccbidas como desvios ou erros. Scus temas versavam sobre 0
comportamento sensorial, preocupacio que espelha a origem destes psi-
cologos como fisicos ¢ fisiologistas. Um outro elemento importante para a
futura psicometria foi a preocupagdio com o controle das condigdes em que
se faziam as observagées. Um enfoque mais individual neste gmpo de
psicdlogos foi o de Cattell, psicGlogo americano estudando na Europa, que
se interessou sobretudo precisamente pelas diferengas individuais dos
jeitos (dele, mais adiante).
Alguns expoentes destas tendéncias sero brevemente detalhados a
seguir.
Sir Francis Galton (1883), cientista, explorador ¢ antropomettista
inglés, acreditava que as operagdes intelectuais poderiam ser avaliadas
19através de medidas sensoriais. Dado que, dizia ele, toda a informacao do
homem chega pelos sentidos, quanto melhor 0 estado destes, methores
seriam as operacdes intelectuais. Assim, ele se preocupou em estabelecer
08 pardmetros das dimensdes idcais dos sentidos, fazendo um levanta-
mento amplo de medidas sensoriais. Considerava particularmente impor-
tante nos individnos a capacidade de discriminagio sensoriul do wo ¢ dos
sons, Galton de fato contribuiu para a Psicometria cm trés fray: (1) me-
dida da discriminagao sensorial, onde desenvolveu testes, cujos conceitos
ntilizados (barras para medir percepgio de comprimento, apito
Para percep¢ao de altura do tom): (2) escalas de pontos. questionarios ¢
associagio livre, que cle utilizava apds as medidas sensoriais; (3) desen-
volvimento e simplificagio de métodos estatisticos para analisar quantita-
tivamente os dados coletados, tarefa levada adiante por seu famoso dis
pulo Karl Pearson,
James McKeen Cattell, psielogo americano, fez sua tese em Le
zig sobre diferencas individuais no tempo de reagdo, apesar do scu orien-
lador ¢ estudioso do mesmo tema, Wundt, nao gostar deste tipo de pesqui-
sa, dado que este estava A procura de uniformidades ¢ nao de difercngiey
individuais. Como professor em Cambridge (1988) ficou mais animado
com a sua orientagdo vendo ¢ sentindo a influéncia de Galton que também
trabalhava com a medida das diferengas individuais. Famoso é seu artigo
de 1890, porque nele Cattell usa pela primeira vez, « expressiio, que fez
sucesso internacional ¢ histérico, de teste mental (menial test) para as pro-
vas aplicadas anualmente aos alunos universitarivs no sentido de avaliar
seu nivel intelectual nos Estados Unidos. Cattell seguiu as ideias de Gal-
ton, dando énfase as medidas sensoriais porque elas permitiam maior pre-
cisio. Perccbeu cle que medidas objetivas para funcdes mais complexas,
que vinham sendo usadas sobretudo na Alemanha, tais como testes con-
tendo operagdes simples de aritmética, testes de meméria ¢ resisténcia &
fadiga (Kraepelin, 1895), bem como testes de cailculo, duragiio de memé-
ria e complementagiio de sentengas (Ebbinghaus, 1897), no produzian
resultados condizentes com © desempenho académico. Contudo. os pré-
prios testes de Cattell também nao produziam resultados congruentes entre
si (Sharp, 1899; Wissler, 1901) ¢ nem corretacionavam com a aval jacdio
que os professores faziam do nivel intelectual dos alunos (Bolton, 1892:
Gilbert, 1894) © nem mesmo correlacionavam com o desempenho acadé-
mico desses alunos (Wissler, 1901).
20Alfred Binet ¢ V. Henrt (1896), psicOlogos franceses, comegaram
com uma séria critica a todos estes testes, afirmando que eles: (1) ou eram
puramente medidas sensoriais que, embora permitindo maior preciso,
nao tinham relagdo importante com as fungdes intelectuais (irrelevancia)
ou, (2) se eram testes de conteuido intelectual, estes se dirigiam a habilida~
des demasiadamente especificas, como puro memorizar. calcular, et
quando os testes deveriam se orientar para medir fangdes mais amplas
como a memoria, imaginagao, atengao, compreensao etc. De fato, Binet &
Simon (1905) descnvolveram seu famoso teste de 30 itens para cobrir uma
gama variada de fungdes (como julgamento, compreensiio e raciocinio)
com 0 objetivo de avaliar © nivel de mnteligéncia de criancas e adultos,
através do qual estavain especialiuente interessadus em detectar 0 retardo,
mental. Esta orientagéo de Binet ¢ Simon em elaborar testes de contetido
mais cognitive (€ nao sensorial) e cobrindo fungdes mais amplas (nao e:
pecificas) fez grande sucesso nos anos subsequentes, especialmente nos
Estados Unidos com a tradugio do scu teste por Terman (1916), inaugu-
rando de vez a era dos testes, inclusive com a introdugio do QI, sendo
matematicamente representado por:
QI = 100 (IM / IC)
onde,
QU = quociente intelectual
IM = idade mental
IC = idade cronoligica.
Este quociente substituiu a forma de Binet ¢ Simon de expressar 0.
nivel intelectual do sujeito em termos de Idade Mental (Age Mentale)
dade mental significava 0 seguinte: a crianga teria aquela idade mental
equivalente aos itens que uma crianga de dada idade cronolégica respon-
dia corretamente, acrescendo as bonificagdes em meses decorrentes da
resolugdo correta de itens soltos de idades mais avangadas.
Apés estes primérdios, os testes se popularizam. sobretudo com a
vinda da Primeira Guerra Mundial, na qual 0 exército americano desen-
volveu uma série de baterias de testes (Army Alpha e Army Beta) para
sclegdo de soldados, introduzindo, inclusive, os testes de aplicagio coleti-
va (até 0 momento, os testes cram todos de aplicago individual). Finda a
guerra, a inddistria e as instituigdes em geral iniciaram o uso macigo dos
estes. No campo das aptiddes, contudo, foi Thurstone (1938, 1941) quem
21deu impulso inovador.a estas técnicas com o uso da andlise fatorial, da
qual foi um expoente tedrico, ¢ sua bateria Primary Mental Abilities, que
incentivou © aparccimento de uma pléiade de outras baterias (DAT.
GATB, TEA, WISC, WAIS). A drea da personalidade nao ficou atras.
Testes e inventérios de personalidade surgiam as dezenas (MMPI. 16PF,
EPPS, POL, CPI, CEP, EPI), além de instrumentais menos objetivos, os
ditos testes projetivos (TAT, CAT, Rosenzweig, Szondi, Rorschach,
HTP). Estava, enfim, instalada a tecnocracia dos testes e da Psicometria.