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APOSTILA - Princípio de Ciência Dos Materiais

Este documento apresenta o professor Valtency Ferreira Guimarães, autor do caderno de estudos sobre Ciências dos Materiais. O professor possui graduação em Matemática, Química e Física e mestrado e doutorado em Engenharia e Ciência dos Materiais. Ele leciona disciplinas relacionadas a materiais em uma faculdade e tem vasta experiência em educação a distância. O caderno de estudos tem como objetivo fornecer conceitos básicos de Ciência dos Materiais para alunos de Engenharia.

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Lais campos
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Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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APOSTILA - Princípio de Ciência Dos Materiais

Este documento apresenta o professor Valtency Ferreira Guimarães, autor do caderno de estudos sobre Ciências dos Materiais. O professor possui graduação em Matemática, Química e Física e mestrado e doutorado em Engenharia e Ciência dos Materiais. Ele leciona disciplinas relacionadas a materiais em uma faculdade e tem vasta experiência em educação a distância. O caderno de estudos tem como objetivo fornecer conceitos básicos de Ciência dos Materiais para alunos de Engenharia.

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Sobre o autor

Valtency Ferreira
Nome do Guimarães
professor

O autor do caderno de estudos é o professor Valtency Ferreira Guimarães,


brasileiro, natural de Barão do Monte Alto/MG, graduado em Matemática (1994),
Química (1996) e Física (1997) pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Santa
Marcelina (FAFISM), Especialista em Física pela Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP, 2001), Mestre em Engenharia e Ciência dos Materiais pela Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2009), e Doutor em Engenharia e
Ciência dos Materiais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(2013). É professor da Faculdade Redentor desde 2009, nos cursos de Engenharia
Civil, Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção. Tem experiência nas
disciplinas de Dinâmica I, Dinâmica II, Laboratório de Engenharia Mecânica,
Tecnologia Metalúrgica, Química e Princípio de Ciências dos Materiais. Adquiriu vasta
experiência em EaD ao atuar como tutor da UAB/CECIERJ de 2004 a 2013.
Apresentação

Olá querido aluno (a), seja muito bem-vindo (a)!

Dando sequência à sua formação em Engenharia, surge um novo desafio em


suas mãos. Estudar e entender nossa disciplina intitulada Princípio de Ciências dos
Materiais, que envolve a investigação das relações que existem entre as estruturas e
as propriedades dos materiais. Esta disciplina é muito importante para a sua formação
profissional e aborda tópicos significativos para o sucesso do seu curso, uma vez que,
como profissional da Engenharia, você irá uma vez ou outra ficar exposto(a) a um
problema de projeto que envolva materiais.
A aplicação de materiais é algo extremamente amplo, visto que tudo que
enxergamos e tocamos é constituído de algum tipo de material. Desde coisas mais
simples como as ferramentas ou talheres que usamos em uma tarefa cotidiana, até
modernas roupas utilizadas em competições esportivas de alto desempenho. Você já
pensou, por exemplo, nas complexidades que podem estar envolvidas em uma
engrenagem de transmissão, na superestrutura de um edifício, no componente de
uma refinaria de petróleo, ou em um chip de circuito integrado? Obviamente, os
Engenheiros devem ser especialistas que estão totalmente envolvidos na investigação
e no projeto dos materiais que integram essas complexidades.
É claro que quanto mais familiarizado estiver um(a) Engenheiro(a) com as
várias características e relações entre a estrutura e propriedade, bem como com as
técnicas de processamento dos materiais, mais capacitado e confiante ele ou ela
estará para desempenhar suas funções profissionais. Mas lembre-se, não se
consegue desenvolver a capacidade só observando o que está sendo descrito ou
mesmo os exemplos disponibilizados: é preciso praticar!
Esta disciplina foi dividida em 16 aulas, contendo exemplos e atividades a
serem resolvidas, sendo importante você manter uma constância em seus estudos.
Portanto, não acumule dúvidas! Consulte ao professor, participe dos fóruns, releia o
caderno, as bibliografias recomendadas, faça as simulações e os exercícios
programados, assista aos vídeos sugeridos e consulte sempre outras fontes que você
considerar importantes para sua aprendizagem.

Bons estudos!
Objetivos

A Ciência dos materiais é o campo da ciência de caráter interdisciplinar relativo


ao estudo das propriedades dos materiais e a relação entre a sua estrutura em escalas
atômicas ou moleculares com suas características macroscópicas, incorporando
elementos da física e da química como as formas de caracterização e processamento.
A disciplina Princípio de Ciências dos Materiais visa proporcionar uma formação
básica, e está sendo amplamente difundida como um campo específico e exclusivo
do curso de Engenharia.
Esperamos que ao final da disciplina, você aluno(a) tenha condições de
correlacionar o arranjo atômico com as propriedades macroscópicas dos materiais
cerâmicos, metálicos e poliméricos. Utilizar os conceitos básicos da química geral,
física geral e física do estado sólido e matemática, para constituir-se a base cientifica
que dá suporte à interpretação dos fenômenos que ocorrem nos materiais.

Este caderno de estudos tem como objetivos:

 Apresentar os fundamentos básicos das Ciências dos Materiais de acordo


com um nível apropriado para alunos universitários que buscam ampliar seus
conhecimentos e solidificar as bases fundamentais para o sucesso de seu curso de
Engenharia;
 Apresentar a disciplina em uma ordem lógica, desde conceitos mais simples
até os mais complexos para otimizar a compreensão dos materiais, propriedades,
características e fenômenos relacionados;
 Proporcionar aos alunos a oportunidade de compreender por completo os
assuntos abordados, em parceria com outras fontes de informações, fornecendo
alguma aplicabilidade prática;
 Incluir conceitos e ferramentas que irão acelerar o processo de aprendizado.
Numerosas ilustrações, simulações computacionais, vídeos explicativos, perguntas,
exemplos e problemas selecionados que auxiliem na auto-avaliação do aluno.
Sumário

AULA 1 - MATERIAIS DE ENGENHARIA


1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 16
1.1 Perspectiva histórica ....................................................................................... 16
1.2 Evolução do uso dos materiais ...................................................................... 18
1.3 A disciplina de ciências dos materiais ......................................................... 19
1.4 Classificação dos materiais ........................................................................... 23
1.5 Metais ............................................................................................................... 23
1.6 Cerâmicos ....................................................................................................... 25
1.7 Polímeros .......................................................................................................... 26
1.8 Compósitos ...................................................................................................... 28
1.9 Semicondutores............................................................................................... 29
1.10 Biomateriais .................................................................................................... 30

AULA 2 - ESTRUTURA ATÔMICA E LIGAÇÃO INTERATÔMICA


2 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 38
2.1 A estrutura dos átomos ................................................................................... 38
2.2 Atrações interatômicas entre os átomos ...................................................... 43
2.2.1 A ligação iônica ...................................................................................... 44
2.2.2 A ligação covalente ............................................................................... 49
2.2.3 A ligação metálica ................................................................................. 52
2.2.4 A ligação secundária, ou de Van Der Waals ..................................... 54

AULA 3 - ESTRUTURA DOS SÓLIDOS CRISTALINOS


3 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 65
3.1 Conceitos fundamentais ................................................................................ 65
3.1.1 A estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC) .................. 70
3.1.2 A estrutura cristalina cúbica de faces centradas (CFC) .................. 71
3.1.3 A estrutura cristalina hexagonal compacta (HC) .............................. 74
3.2 Cálculos da densidade .................................................................................. 75
3.3 Polimorfismo e alotropia ................................................................................. 76

AULA 4 - IMPERFEIÇÕES EM SÓLIDOS


4 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 86
4.1 Defeitos pontuais - Lacunas e Auto-Interstício ............................................. 86
4.2 Impurezas em sólidos - soluções sólidas ...................................................... 89
4.3 Defeitos lineares - discordâncias................................................................... 91
4.4 Defeitos planares - imperfeições interfaciais ............................................... 95
4.4.1 Contornos de macla............................................................................... 97
4.5 Defeitos volumétricos ou de massa............................................................... 98
4.6 Vibrações atômicas ........................................................................................ 98

AULA 5 - DIFUSÃO
5 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 108
5.1 Mecanismos da difusão ............................................................................... 110
5.1.1 Difusão por lacuna................................................................................ 110
5.1.2 Difusão intersticial .................................................................................. 111
5.2 Difusão em estado estacionário .................................................................. 112
5.3 Difusão em estado não-estacionário .......................................................... 115
5.4 Fatores que influenciam a difusão .............................................................. 116
5.4.1 Espécies difusivas .................................................................................. 116
5.4.2 Temperatura .......................................................................................... 117
5.5 Caminhos alternativos de difusão ............................................................... 119

AULA 6 - DIAGRAMAS DE FASES


6 A REGRA DA ALAVANCA ....................................................................................... 129
6.1 Definições e conceitos básicos ................................................................... 129
6.2 Fases ............................................................................................................... 130
6.3 Microestrutura ................................................................................................ 131
6.4 Equilíbrio de fases ......................................................................................... 132
6.5 Diagramas de fases em condições de equilíbrio ...................................... 133
6.5.1 Solução sólida completa ..................................................................... 134

AULA 7 - DIAGRAMAS DE FASES CONTINUAÇÃO


7 DIAGRAMA EUTÉTICO SEM SOLUÇÃO SÓLIDA ...................................................... 149
7.1 Diagrama eutético com solução sólida limitada....................................... 151
7.2 A transformação eutética ............................................................................ 154
7.3 Desenvolvimento das microestruturas em ligas isomorfas durante o
resfriamento lento - condições de equilíbrio....................................................... 157

AULA 8 - O SISTEMA FERRO-CARBONO


8 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 174
8.1 O diagrama de fases ferro-carbeto de ferro (Fe-Fe3C) ............................. 174
8.1.1 Discussão sobre o diagrama de fases ferro-carbono ..................... 177
8.1.2 A transformação eutetoide ................................................................. 179
8.1.3 Comentário sobre as ligas ferrosas presentes no diagrama Fe-C . 179
8.2 Desenvolvimento das microestruturas em ligas Fe-C ................................ 180
8.2.1 As ligas eutetoides ................................................................................ 181
8.2.2 As ligas hipoeutetoides......................................................................... 184
8.2.3 As ligas hipereutetoides........................................................................ 188
8.3 Resfriamento fora das condições de equilíbrio .......................................... 191

AULA 9 - O SISTEMA FERRO-CARBONO - FERROS FUNDIDOS


9 OS FERROS FUNDIDOS ............................................................................................. 201
9.1 O diagrama de equilíbrio ............................................................................. 201
9.2 A reação eutética no diagrama Fe-C ........................................................ 204
9.3 Discussão sobre o diagrama de equilíbrio ................................................. 206
9.3.1 Microestrutura dos ferros fundidos no diagrama Fe-C .................... 207

AULA 10 - LIGAS METÁLICAS


10 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 221
10.1 Ligas ferrosas ................................................................................................ 221
10.1.1 Aços carbono e de baixa liga .......................................................... 222
10.1.2 Aços de alta liga ................................................................................. 224
10.1.3 Superligas ............................................................................................. 228
10.1.4 Ferros fundidos ..................................................................................... 229
10.2 Ligas não-ferrosas ........................................................................................ 233
10.2.1 Ligas de alumínio................................................................................. 233
10.2.2 Ligas de cobre ..................................................................................... 235
10.2.3 Ligas de magnésio .............................................................................. 236
10.2.4 Ligas de titânio..................................................................................... 236
10.2.5 Ligas de níquel ..................................................................................... 237
10.2.6 Zinco, chumbo e outras ligas ............................................................ 238
10.3 Processamento de metais........................................................................... 241
10.3.1 Operações de conformação ........................................................... 242
10.3.2 Forjamento ........................................................................................... 243
10.3.3 Laminação ........................................................................................... 244
10.3.4 Extrusão ................................................................................................. 244
10.3.5 Estiramento ........................................................................................... 244
10.3.6 Fundição............................................................................................... 245
10.3.7 Fundição em molde de areia ........................................................... 246
10.3.8 Fundição com matriz .......................................................................... 246
10.3.9 Fundição de precisão ........................................................................ 247
10.3.10 Fundição contínua............................................................................ 247
10.4 Técnicas diversas ......................................................................................... 248
10.4.1 Metalurgia do pó ................................................................................ 248
10.4.2 Soldagem ............................................................................................. 249
10.5 Efeitos do processamento de metais ......................................................... 251

AULA 11 - PROCESSAMENTO TÉRMICO DE LIGAS METÁLICAS


11 TRATAMENTOS TÉRMICOS ....................................................................................... 265
11.1 Introdução .................................................................................................... 265
11.2 Definição e objetivos ................................................................................... 265
11.3 Fatores de influência nos tratamentos térmicos ....................................... 266
11.3.1 Aquecimento ....................................................................................... 267
11.4 Tempo de permanência à temperatura de aquecimento ...................... 269
11.4.1 Resfriamento ........................................................................................ 270
11.4.2 Atmosfera do forno ............................................................................. 272
11.5 Tratamentos térmicos usuais ....................................................................... 273
11.5.1 Recozimento ........................................................................................ 273
11.5.2 Recozimento pleno ou total .............................................................. 274
11.5.3 Recozimento para alívio de tensões ou subcrítico ........................ 275
11.5.4 Normalização ...................................................................................... 276
11.5.5 Esferoidização...................................................................................... 277
11.5.6 Tratamento térmico de têmpera...................................................... 277
11.6 Revenido ....................................................................................................... 285
11.6.1 Fragilidade do revenido ..................................................................... 285
11.6.2 Transformação da austenita retida .................................................. 286
11.7 Martêmpera e Austêmpera ........................................................................ 287
11.8 Têmpera superficial ..................................................................................... 288
11.8.1 Têmpera por chama .......................................................................... 289
11.8.2 Têmpera por indução ........................................................................ 289
11.9 Tratamentos termoquímicos ....................................................................... 291
11.9.1 Cementação (carbonetação) ......................................................... 292
11.9.2 Nitretação ............................................................................................ 297
11.9.3 Carbonitretação ................................................................................. 298
11.9.4 Cianetação.......................................................................................... 299

AULA 12 - PROCESSAMENTO TÉRMICO DE LIGAS METÁLICAS- APROFUNDAMENTO


NOS TRATAMENTOS TÉRMICOS
12 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 307
12.1 Processos de recozimento .......................................................................... 308
12.2 Recozimento intermediário ......................................................................... 309
12.3 Alívio de tensão ........................................................................................... 309
12.4 Recozimento de ligas ferrosas .................................................................... 310
12.4.1 Normalização ...................................................................................... 311
12.4.2 Recozimento pleno ............................................................................. 313
12.5 Recozimento para recristalização ............................................................. 315
12.6 Recozimento para alívio de tensões .......................................................... 316
12.7 Recozimento de recristalização x recozimento para alívio de tensões . 317
12.8 Cementita globulizada ................................................................................ 318
12.9 Sobre os tratamentos de recozimento ....................................................... 320
12.9.1 Trabalho a frio ...................................................................................... 320
12.9.2 Recuperação ...................................................................................... 321
12.9.3 Recristalização..................................................................................... 322
12.9.4 Crescimento de grão ......................................................................... 322
12.10 Tratamento térmico de aços .................................................................... 325
12.10.1 Martensita........................................................................................... 326
12.11 Bainita ......................................................................................................... 329
12.12 Austêmpera e Martêmpera ...................................................................... 330
12.12.1 Austêmpera ....................................................................................... 330
12.12.2 Martêmpera ....................................................................................... 333
12.12.3 Endurecibilidade ............................................................................... 335
12.12.4 Ensaio Jominy..................................................................................... 335
12.12.5 Curvas de endurecibilidade............................................................ 338
12.12.6 Influência do meio de resfriamento, do tamanho e da geometria
da amostra......................................................................................................... 341
12.13 Endurecimento por precipitação e por solubilização (envelhecimento) ..
..................................................................................................................... 344
12.13.1 Considerações................................................................................... 346

AULA 13 - CERÂMICAS E VIDROS


13 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 357
13.1 Cerâmicas - Materiais cristalinos ............................................................... 358
13.2 Vidros - materiais não-cristalinos ............................................................... 362
13.3 Vitrocerâmicas ............................................................................................. 364
13.4 A cinética das transformações de fase ..................................................... 366
13.5 Processamento de cerâmicas e vidros ..................................................... 368

AULA 14 - POLÍMEROS
14 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 383
14.1 Polimerização............................................................................................... 383
14.1.1 Características estruturais dos polímeros ......................................... 390
14.1.2 4 Polímeros termoplásticos ................................................................. 396
14.1.3 Polímeros termofixos............................................................................ 402
14.2 Aditivos ......................................................................................................... 407
14.2.1 Processamento de polímeros ............................................................ 409

AULA 15 - COMPÓSITOS
15 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 420
15.1 Compósitos reforçados com fibra .............................................................. 423
15.1.1 Fibra de vidro convencional ............................................................. 423
15.1.2 Compósitos avançados ..................................................................... 425
15.1.3 Madeira - um compósito natural reforçado com fibra ................. 429
15.1.4 Compósitos agregados ...................................................................... 432
15.1.5 Resistência interfacial ......................................................................... 439
15.2 Processamento de compósitos .................................................................. 441
AULA 16 - ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS (ENDS)
16 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 454
16.1 Ensaio visual ................................................................................................. 456
16.1.1 Sequência do ensaio.......................................................................... 457
16.1.2 Vantagens e desvantagens do ensaio ........................................... 458
16.2 Líquido penetrante ....................................................................................... 459
16.2.1 Etapas do ensaio................................................................................. 460
16.2.2 Vantagens e desvantagens do ensaio ........................................... 466
16.3 Ultrassom....................................................................................................... 467
16.3.1 Vantagens e desvantagens em relação a outros ensaios ........... 469
16.4 Ensaio por partículas magnéticas .............................................................. 470
16.4.1 Comportamento do campo magnético ........................................ 471
16.4.2 As partículas magnéticas................................................................... 473
16.4.3 Magnetização da peça .................................................................... 474
16.4.4 Radiografia industrial .......................................................................... 479
16.4.5 Correntes parasitas ............................................................................. 484
16.4.6 Emissão acústica ................................................................................. 488
16.4.7 Termografia .......................................................................................... 490
Iconografia
Aula 1
Materiais de engenharia

APRESENTAÇÃO DA AULA

Caro(a) aluno(a), nesta aula faremos uma breve introdução sobre os materiais,
apresentando uma perspectiva histórica e uma abordagem de suas principais classes,
destacando que os materiais desempenham um papel fundamental no amplo espectro
da ciência e tecnologia contemporâneas. Estudaremos as categorias que os materiais
sólidos têm sido convenientemente agrupados em três classificações básicas, a saber
metais, cerâmicos e polímeros, além dos três outros grupos de materiais importantes
na Engenharia - compósitos, semicondutores e biomateriais.
Veremos que para entender as propriedades desses materiais diversos, é
preciso examinar a estrutura em escala microscópica ou atômica.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Proporcionar uma ideia inicial da importância dos materiais para o


desenvolvimento da ciência e tecnologia;
 Introduzir uma série de conceitos básicos relacionados à estrutura,
propriedades e aplicação dos materiais;
 Conhecer os principais materiais, suas propriedades e aplicações
visando a especificação de materiais;
 Citar os quatro componentes que estão envolvidos no projeto,
produção e utilização de materiais, e descrever sucintamente as
relações entre estes componentes;
 Listar seis classificações diferentes de propriedades dos materiais que
determinam a sua aplicabilidade.
P á g i n a | 16

1 INTRODUÇÃO

Nesse momento vale a pena fazer uma


breve perspectiva histórica para que você se
situe de maneira adequada em relação à
disciplina. Vale destacar que os materiais estão
provavelmente mais entranhados na nossa cultura do que
a maioria de nós imagina. Transportes, habitação,
vestuário, comunicação, recreação e produção de
alimentos - virtualmente, cada seguimento de nossas
vidas diárias é influenciado em maior ou menor grau pelos
materiais.

1.1 Perspectiva histórica

Historicamente, o desenvolvimento e o avanço das


sociedades têm estado intimamente ligados às
habilidades dos seus membros em produzir e manipular
materiais para satisfazer as suas necessidades. De fato,
as civilizações antigas foram designadas pelo nível de
seus desenvolvimentos em relação aos materiais, como,
Idade da Pedra, Idade do Bronze, outros.
Os primeiros seres humanos tiveram acesso a
apenas um número limitado de materiais, aqueles que
ocorrem naturalmente: pedra, madeira, argila, peles, e
assim por diante. Com o tempo eles descobriram técnicas
para a produção de materiais que tinham propriedades
superiores às dos produtos naturais; estes novos
materiais incluíam as cerâmicas e os vários metais. Além
disso, foi descoberto que as propriedades de um material
poderiam ser alteradas através de tratamentos térmicos e
pela adição de outras substâncias.
Até meados do século XIX, o que se conhecia acerca dos materiais era
essencialmente empírico, ou na melhor das hipóteses, resultado de alquimia. Apenas
P á g i n a | 17

em tempos relativamente recentes que os cientistas compreenderam as relações


entre os elementos estruturais dos materiais e as suas propriedades. Este
conhecimento, adquirido ao longo do último século, deu-lhes condições de moldar, em
grande parte, as características dos materiais.
O desenvolvimento do microscópio eletrônico no
início do século XX, permitiu um grande salto no
conhecimento dos materiais. A observação ao microscópio,
permitiu estudos sistemáticos, que por sua vez conduziram
ao domínio dos materiais e de seus processos de fabricação
e transformação. Hoje, dispõe-se de aproximadamente
dezenas de milhares de materiais que compõem o cenário
industrial moderno, desenvolvidos com características
relativamente específicas que atendem as necessidades de
nossa moderna e complexa sociedade; estes incluem os
metais, os plásticos, os vidros e fibras.
O desenvolvimento de muitas tecnologias que tornam
nossa existência tão confortável tem estado intimamente
associado com a acessibilidade a materiais adequados. Um
avanço na compreensão de um tipo de material é
frequentemente o precursor da progressão escalonada de
uma tecnologia. Por exemplo, os automóveis não teriam
sido possíveis sem a disponibilidade de aço a baixo custo
ou de algum outro substituto comparável. Em nossos
tempos, dispositivos eletrônicos sofisticados dependem de
componentes que são feitos a partir dos chamados materiais semicondutores.
Neste momento, caro(a) aluno(a), você deve estar se
perguntando "mas como será possível para o Engenheiro ter um
conhecimento detalhado dos muitos milhares de materiais agora
disponíveis, assim como manter-se a par dos novos
desenvolvimentos?"
Pois acalme-se. Um bom Engenheiro deve é ter um conhecimento adequado
dos princípios gerais que governam as propriedades de todos os materiais. E lembre-
se sempre, esta disciplina irá lhe auxiliar no estudo da estrutura, que vai incluir desde
as características possíveis de uma observação direta até aquelas submicroscópicas;
P á g i n a | 18

desde as peças componentes até os grãos e cristais que compõem as mesmas e, até
mesmo, as partículas subatômicas que determinam as propriedades do material.

1.2 Evolução do uso dos materiais

Após essa explanação inicial, acompanhe na página a seguir a figura 1.1 que
apresenta de A-H um diagrama da evolução dos materiais de Engenharia ao longo
dos tempos e suas importâncias relativas. Observe que a escala não é linear.

Figura 1.1: A evolução dos materiais da Engenharia com o tempo.


P á g i n a | 19

Figura 1.1: A evolução dos materiais da Engenharia com o tempo (conclusão).

1.3 A disciplina de ciências dos materiais

Caro(a) aluno(a), você deve sempre ter em mente que a Ciência e Engenharia
dos Materiais é um campo interdisciplinar que estuda e manipula a composição e a
estrutura de materiais utilizando escalas de proporção, a fim de controlar as
propriedades dos materiais através de síntese e do processamento. Aí você pode se
perguntar, mas o que vem a ser composição, estrutura e processamento diante
do novo desafio de cursar essa disciplina?... Bem, então, vamos ver...
O termo composição indica a constituição química de um material. Já o termo
estrutura se refere à descrição detalhada do arranjo de átomos. Os cientistas e
Engenheiros lidam não só com o desenvolvimento de materiais, mas também com sua
síntese e seu processamento, bem como com os processos de fabricação
relacionados à produção de componentes. Tenha em mente caro(a) aluno(a), o termo
"síntese" refere-se ao modo como os materiais são feitos, a partir de quais substâncias
químicas naturais ou produzidas pelo homem; o termo "processamento" diz respeito
P á g i n a | 20

ao modo como os materiais são transformados em componentes úteis e com


propriedades adequadas. Parece complexo não é mesmo?... Mas lembre-se, uma das
mais importantes funções dos Engenheiros consiste exatamente em estabelecer a
correlação entre as propriedades e o desempenho de um material ou dispositivo, a
sua microestrutura, além da sua composição e do modo como o dispositivo foi
sintetizado e processado. Então, a Ciência dos Materiais concentra-se nos
fundamentos científicos da correlação entre síntese e processamento, microestrutura
e propriedades dos materiais; e a Engenharia dos Materiais desenvolve modos de
converter ou transformar materiais em dispositivos ou estruturas úteis.
Um dos aspectos mais fascinantes da Ciência dos Materiais envolve a
investigação da estrutura de cada material. De fato, a estrutura dos materiais tem
grande influência sobre muitas de suas propriedades, mesmo que a composição
química global não seja alterada.
Se você, por exemplo, dobrar um fio de cobre puro repetidamente,
ele vai se tornar não só mais rígido, mas também mais frágil. Por fim, o fio
de cobre puro vai ser rígido e frágil a ponto de quebrar. Além disso, a
resistividade elétrica do fio vai aumentar ao ser dobrado repetidamente.
Observe nesse exemplo simples, caro(a) aluno(a), que não alteramos a
composição do material (ou seja, sua composição química). As mudanças nas
propriedades do material decorrem de uma alteração de sua estrutura interna.
Se você observar o fio já dobrado, notará que ele parece o mesmo; no entanto,
sua estrutura interna foi alterada em escala microscópica. Nessa escala, a estrutura é
conhecida como microestrutura. Se você puder compreender o que mudou
microscopicamente, começará a descobrir meios de controlar as propriedades dos
materiais.
Agora vamos analisar um exemplo utilizando o tetraedro da ciência e
Engenharia de materiais, apresentado na figura 1.2, tendo como exemplo "chapas
de aço" usadas na fabricação de chassis de automóveis (figura 1.3).
E lembre-se sempre, você está estudando uma Engenharia situada na fronteira
entre ciências naturais (física e química) e aplicações na Engenharia.
P á g i n a | 21

Figura 1.2: Tetraedro da ciência e Engenharia de materiais.

Figura 1.3: Material utilizado na Engenharia em diferentes escalas.

Como você provavelmente sabe, o aço tem sido empregado na manufatura de


componentes há mais de cem anos, mas é provável que na Idade do Ferro, há
milhares de anos, já existisse alguma forma rudimentar de aço. Você deve saber
também que na fabricação de chassis de automóveis é preciso empregar um material
com resistência mecânica bastante elevada, mas que ainda possibilite a conformação
de superfícies com boas propriedades aerodinâmicas. Outro aspecto a considerar é a
economia de combustível, portanto, o aço em chapas deve ser também fino e leve.
Além disso, tais tipos de aço precisam, em caso de colisão, absorver quantidades
significativas de energia, elevando assim a segurança do veículo. Em suma, são
requisitos contraditórios. Portanto, nesse caso, os Engenheiros preocupam-se com as
seguintes características do aço na forma de chapas:
P á g i n a | 22

 Composição química;
 Resistência mecânica;
 Peso;
 Propriedades de absorção de energia;
 Maleabilidade (conformabilidade).

Na figura 1.4 está destacado a aplicação do tetraedro da ciência e Engenharia


de materiais a chapas de aço para chassis de automóveis. Observe que os fatores
composição-propriedades, microestrutura e processamento-síntese estão inter-
relacionados e afetam a razão desempenho-custo.

Figura 1.4: Tetraedro da ciência e Engenharia de materiais aplicado a chapas de aço para
chassis de automóveis.
- À base de ferro?
- O que é razão resistência - À base de alumínio?
mecânica-densidade? - Quais elementos de
- O que é conformabilidade? liga devem ser
- Como isso se relaciona com utilizados?
a resistências de um veículo a - Em que quantidades?
impactos?
- O que é custo de
fabricação?

- Quais características da
- Como a síntese e o processamento microestrutura limitam a
do aço podem ser controlados de resistência mecânica e a
modo que forneçam um alto nível de conformabilidade?
tenacidade e conformabilidade? - O que controla a
- Como um chassi de carro com boas resistência?
propriedades aerodinâmicas pode
ser conformado?
P á g i n a | 23

1.4 Classificação dos materiais

Uma pergunta óbvia feita por um aluno ou aluna de Engenharia que, como
você, ingressa nos estudos das Ciências dos Materiais é "que materiais estão
disponíveis para mim?"... Pois bem, saiba caro(a) aluno(a) que diversos sistemas de
classificação são possíveis para o amplo espectro de respostas a essa pergunta,
porém, segundo Callister (veja referência bibliográfica), os materiais sólidos têm sido
convenientemente agrupados em três classificações básicas: metais, cerâmicos e
polímeros. Esse esquema está baseado principalmente na composição química e na
estrutura atômica, e a maioria dos materiais se encaixa em um ou outro grupamento
distinto, embora existam alguns materiais intermediários. Adicionalmente, existem três
outros grupos de materiais importantes na Engenharia - compósitos, semicondutores
e biomateriais. Os compósitos consistem em combinações de dois ou mais materiais
diferentes, enquanto os semicondutores são utilizados devido às suas características
elétricas peculiares; os biomateriais são implantados no interior do corpo humano.
Antes de fazer uma pausa para o café, acompanhe a seguir uma explicação
sucinta dos tipos de materiais e suas características representativas.

1.5 Metais

Materiais metálicos são normalmente combinações de elementos metálicos.


Eles possuem um número grande de elétrons não-localizados; isto é, estes elétrons
não estão ligados a qualquer átomo em particular. Muitas propriedades dos metais
são atribuídas diretamente a estes elétrons. Os metais são condutores extremamente
bons de eletricidade e calor, e não são transparentes à luz visível; uma superfície
metálica polida possui uma aparência lustrosa. Além disso, os metais são muito
resistentes, e ainda assim deformáveis, o que é responsável pelo seu uso extenso em
aplicações estruturais.
Propriedades básicas dos metais:
 Fortes e podem ser moldados;
 Dúcteis (deformam antes de quebrar);
 Superfície "metálica";
 Bons condutores de corrente elétrica e de calor.
P á g i n a | 24

A figura 1.5 apresenta exemplos de peças metálicas comuns, incluindo várias


molas e garras, que são características de sua grande variedade de aplicações; e a
figura 1.6 apresenta a tabela periódica dos elementos com os elementos
inerentemente metálicos na natureza em destaque.

Figura 1.5: Exemplos de peças metálicas comuns.

Figura 1.6: Tabela periódica dos elementos. Os elementos metálicos aparecem em fundo
cinza.

Estudaremos com mais detalhes os metais em diversas aulas de nosso curso.


Entre eles os aços, ferros fundidos e as principais ligas ferrosas e não ferrosas.
P á g i n a | 25

1.6 Cerâmicos

Os cerâmicos são compostos entre os elementos metálicos e não-metálicos;


eles são frequentemente óxidos, nitretos e carbetos. A grande variedade de materiais
que se enquadra nesta classificação inclui cerâmicos que são compostos por minerais
argilosos, cimento e vidro. Estes materiais são tipicamente isolantes à passagem de
eletricidade e calor, e são mais resistentes a altas temperaturas e ambientes abrasivos
do que os metais e polímeros.
Com relação aos comportamentos mecânicos, os cerâmicos são duros, porém
muito quebradiços. Saiba, caro(a) aluno(a), que nos aprofundaremos no estudo das
cerâmicas na aula 13.
Acompanhe algumas propriedades básicas das cerâmicas e vidros:
 Combinação de metais com O, N, C, P e S;
 Altamente resistentes a temperatura (refratários);
 Isolantes térmicos e elétricos;
 Frágeis (quebram sem deformar);
 Menos densos do que metais;
 Podem ser transparentes.

Acompanhe na figura 1.7 um material de cozinha fabricado de uma cerâmica


vítrea, que oferece boas propriedades mecânicas e térmicas por suportar um choque
térmico de temperaturas simultaneamente altas (uma chama de fogo) e baixa (um
bloco de gelo); e a figura 1.8 apresenta a tabela periódica com os compostos
cerâmicos indicados por uma combinação de um ou mais elementos metálicos (em
cinza claro) com um ou mais elementos não-metálicos (em cinza escuro).

Figura 1.7: Material de cozinha fabricado de uma cerâmica vítrea.


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Figura 1.8: Tabela periódica indicando a combinação de elementos metálicos (em cinza
claro) com elementos não-metálicos (em cinza escuro).

Estudaremos com mais detalhes os materiais cerâmicos, suas propriedades e


tecnologia na aula 13 de nosso curso.

1.7 Polímeros

Os polímeros compreendem os materiais comuns de plástico e


borracha. Muitos deles são compostos orgânicos que têm sua química
baseada no carbono, no hidrogênio e em outros elementos não-
metálicos; além disso, eles possuem estruturas moleculares muito
grandes. Estes materiais possuem tipicamente baixas densidades e podem ser
extremamente flexíveis. Estudaremos a fundo os polímeros na aula 14.
Acompanhe, por enquanto, algumas propriedades básicas dos polímeros:
 São na maioria sintéticos - feitos pelo homem;
 Altamente moldáveis - plásticos;
 Formados pela combinação de unidades - "meros";
 Formados por um número bem limitado de elementos: C e H, O (acrílicos),
N (nylons), F (fluor-plásticos) e Si (silicones);
 Leves e não frágeis; e em geral, são menos resistentes do que metais e
cerâmicas.
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Veja na figura 1.9 alguns exemplos de classes de polímeros e na figura 1.10 a


tabela periódica destacando os elementos associados aos polímeros.

Figura 1.9: Classes de polímeros comuns do nosso cotidiano.

Figura 1.10: Tabela periódica com os elementos associados aos polímeros comerciais em
fundo cinza.
P á g i n a | 28

Fique tranquilo, caro(a) aluno(a), que estudaremos com mais detalhes a


tecnologia dos materiais poliméricos na aula 14 de nosso curso.

1.8 Compósitos

Você deve saber que materiais compósitos, que consistem em mais de um tipo
de material, têm sido cada vez mais desenvolvidos pela Engenharia. Pois bem, a fibra
de vidro é um exemplo familiar, no qual fibras de vidro são incorporadas no interior de
um material polimérico. Um compósito é projetado para mostrar uma combinação das
melhores características de cada um dos materiais que o compõe.
A fibra de vidro adquire resistência do vidro e flexibilidade do polímero. Muitos
dos desenvolvimentos recentes de materiais têm envolvido materiais compósitos.
Estudaremos os compósitos de forma aprofundada na aula 15. Para entendê-
los melhor neste momento, dê uma olhada na figura 1.11, que destaca em escala
microscópica um composto de fibras de vidro reforçando uma matriz de polímero; a
madeira, que também é um excelente exemplo de material natural com propriedades
mecânicas úteis, devido à sua estrutura reforçada com fibra; também o concreto, que
é um exemplo comum de compósito agregado, com a brita e a areia reforçando uma
complexa matriz cimento-silicato. Nem é preciso ilustrar uma região da tabela
periódica como característica dos compósitos, pois eles envolvem praticamente a
tabela inteira, exceto os gases nobres.
Propriedades básicas dos compósitos:
 Combinação de metais, cerâmicas e polímeros;
 Preservam as propriedades "boas" dos componentes e
possuem propriedades superiores às de cada componente separado.

Figura 1.11: Exemplo de um compósito de fibra de vidro.


P á g i n a | 29

Teremos a oportunidade de nos aprofundarmos nos


fundamentos e na tecnologia dos materiais compósitos na aula 15 de
nosso curso.

1.9 Semicondutores

Os semicondutores possuem propriedades elétricas que são intermediárias


entre aquelas apresentadas pelos condutores elétricos e pelos isolantes. Além disso,
as características elétricas destes materiais são extremamente sensíveis à presença
de minúsculas concentrações de átomos de impurezas, concentrações que podem
ser controladas ao longo de regiões espaciais muito pequenas. Os semicondutores
tornaram possível o advento dos circuitos integrados, que revolucionaram totalmente
as indústrias de produtos eletrônicos e de computadores, isso sem mencionar a sua
vida, caro(a) aluno(a), ao longo das últimas duas décadas.
Propriedades básicas dos semicondutores:
 compõem todos os componentes eletrônicos do computador;
 condutividade finamente controlada pela presença de
elementos impurezas - dopantes;
 podem ser combinados entre si para gerar propriedades eletrônicas e óticas
"sob medida";
 são a base da tecnologia de optoeletrônica - lasers, detetores, circuitos
integrados óticos e células solares.

Acompanhe na figura 1.12 a imagem de um microcircuito típico contendo um


complexo arranjo de regiões semicondutoras; e na figura 1.13 a tabela periódica com
os semicondutores elementares em cinza escuro e os elementos que formam os
compostos semicondutores em cinza claro.
Os compostos semicondutores são formados por partes de elementos das
colunas IIIA e VA (por exemplo, GaAs) ou das colunas IIB e VIA (por exemplo, CdS).
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Figura 1.12: Microcircuito contendo complexo arranjo de regiões semicondutoras.

Figura 1.13: Tabela periódica com os semicondutores elementares e com os elementos que
formam os compostos semicondutores.

1.10 Biomateriais

Os biomateriais são empregados em componentes


implantados no interior do corpo humano para a substituição de
partes do corpo doentes ou danificadas. Esses materiais não devem
produzir substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com os tecidos
do corpo; isto é, não devem causar reações biológicas adversas. Todos os materiais
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citados nos itens anteriores - metais, cerâmicos, polímeros, compósitos e


semicondutores - podem ser usados como biomateriais. Propriedades básicas dos
biomateriais:
 Materiais utilizados na área da saúde para ajudar o ser humano;
 Usado em medicina na substituição de partes do corpo humano.
 Formados pela combinação de unidades - "meros";
 Formados por um número bem limitado de elementos: C e H, O (acrílicos),
N (nylons), F (fluor-plásticos) e Si (silicones).
A figura 1.14 apresenta exemplos de biomateriais que possuem ampla gama
de aplicações clínicas típicas para a vida do ser humano.

Figura 1.14: Biomateriais de uso difundido para melhorar a vida do ser humano.

Bem, solícito(a) aluno(a), até aqui você iniciou a exploração do


campo da Engenharia e Ciência dos Materiais focalizando a ciência dos
materiais. Entendendo que se trata de um campo interdisciplinar que se
ocupa da descoberta de novos materiais e dispositivos e do
aperfeiçoamento dos materiais já existentes, pelo desenvolvimento de uma maior
compreensão das relações entre microestrutura-composição-síntese-processamento;
além da classificação dos materiais.
Nesse momento, é bom fazer uma breve pausa antes de dar prosseguimento
aos seus estudos. Mas não se preocupe, você verá que muitos dos conceitos que dão
continuidade a este capítulo podem já ter sido vistos em algum momento do seu curso.
Boa pausa e bom café.
P á g i n a | 32

Assista agora a três pequenos vídeos que tratam dos


conceitos iniciais que acabamos de ver nesta aula. Estes
vídeos vão te proporcionar uma visão geral mais ampla sobre
a classificação dos "materiais de Engenharia":
<https://www.youtube.com/watch?v=LkCyXRwbQ6E&list=PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-
o4P7yTbxNT8Kwt&index=5>.
<https://www.youtube.com/watch?v=ercdzLrY27Q&list=PLA90935055A0C9030&index
=2>.
<https://www.youtube.com/watch?v=qsDQ4lLO0g>.
Resumo

Nesta breve aula, caro(a) aluno(a), vimos que o desenvolvimento e o avanço


das sociedades está intimamente ligados à produção e manipulação dos materiais
para satisfazer as necessidades das civilizações, e que o desenvolvimento de muitas
tecnologias tornaram nossa existência muito mais confortável; por isso, um bom
Engenheiro deve ter um conhecimento adequado dos princípios gerais que governam
as propriedades de todos os materiais.

Fizemos também a abordagem sobre:


 A evolução do uso dos materiais;
 Como a Ciência e Engenharia dos Materiais estuda e manipula a
composição e a estrutura de materiais, a fim de controlar as propriedades dos
materiais através de síntese e do processamento;
 A classificação dos materiais, destacando os metais, as cerâmicas, os
polímeros, além dos compósitos, semicondutores e biomateriais.
Complementar

Caro(a) aluno(a), como esta nossa primeira aula é relativamente


simples e faz apenas abordagens sobre conceitos fundamentais, sendo muitos
deles para você somente uma revisão, recomendamos que faça os poucos
exercícios sugeridos. Você deve também continuar e iniciar o estudo da aula
2. Porém, seria muito interessante, para fixar ainda mais e para enriquecer
nosso material, que você reveja as vídeoaulas indicadas, leia o capítulo 1 dos
dois primeiros livros sugeridos nas referências bibliográficas, e também acesse
o link abaixo que traz uma boa e concisa informação preparada pela
UNICAMP sobre a introdução ao estudo dos "materiais de Engenharia":

<http://www.fem.unicamp.br/~caram/capitulo1.pdf>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 1

Questão 1. Com relação às afirmativas sobre a


classificação dos materiais, assinale a alternativa incorreta:
a) Materiais metálicos são formados essencialmente por
um metal ou pela combinação de elementos metálicos, mas que podem conter
elementos não metálicos ou semi-metálicos em menor proporção. Características: são
opacos, possuem brilho, conduzem bem o calor e a eletricidade, e podem ser
deformados. Ex. Aço (Fe-C), latão (Cu-Zn).
b) Materiais cerâmicos são materiais inorgânicos formados por elementos
metálicos e não- metálicos. Características: não tem o brilho metálico, são isolantes
de calor e eletricidade, possuem dureza elevada e são frágeis. Ex.: Alumina (óxido de
alumínio), quartzo (óxido de silício), zircônia (óxido de zircônio).
c) Materiais plásticos (polímeros) são materiais orgânicos formados pela união
de grandes cadeias moleculares (polímeros), com estrutura constituída por carbono,
hidrogênio e elementos não-metálicos. Ex.: Polietileno ...-C2H4-..., PVC ...- C2H3Cl-...
d) Compósitos são materiais formados pela combinação de mais de um tipo de
material. Ex.: Fibra de vidro e concreto.
e) Semicondutores são materiais que exibem propriedades intermediárias entre
aquelas apresentadas pelos metais e pelos sólidos iônicos. Ex.: Si, Ge, GaAs.

Questão 2. Compare alguns tipos de materiais de Engenharia - metálicos,


cerâmicos, poliméricos e compósitos - quanto à propriedade de densidade.

Questão 3. O que é microestrutura de um material?

Questão 4. Faça uma pesquisa e responda de forma sucinta o que são


materiais avançados?
Aula 2
Estrutura atômica e
ligação interatômica

APRESENTAÇÃO DA AULA

Caro(a) aluno(a), esta aula será um pouco mais longa que a primeira, porém
você não deve se preocupar pois muitos assuntos abordados já foram estudados em
algum momento do seu curso. Além disso, uma leitura mais ampla, porém elaborada,
lhe poupará tempo evitando necessidade de voltar várias vezes a um mesmo tópico.
Nesta aula, faremos uma breve introdução sobre os materiais, apresentando uma
perspectiva histórica e uma abordagem de suas principais classes, além de
estudarmos os conceitos básicos da estrutura atômica e das ligações interatômicas,
que nos permite explicar as propriedades de um material, dando ênfase às forças e
energias atrativa, repulsiva e líquida em função da separação interatômica para dois
átomos ou íons. Para auxiliá-lo ainda mais no estudo sobre esses conceitos,
indicaremos diversas simulações ao longo desta aula (e também nas próximas)
desenvolvidas pelo projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, disponíveis no site <http://www.cienciadosmateriais.org>.
São realmente muito interessantes e de fácil navegação. Bem-vindo!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Identificar os modelos atômicos e observar as diferenças entre eles;


 Descrever o importante princípio quântico-mecânico que se relaciona
às energias dos elétrons;
 Entender esquematicamente os diagramas de força e energia líquida
em função da distância interatômica;
 Descrever sucintamente as ligações iônica, covalente, metálica, de
hidrogênio e de van der Waals;
 Entender quais materiais exibem cada tipo de ligação estudada.
P á g i n a | 38

2 INTRODUÇÃO

Na aula anterior, você estudou uma introdução dos tipos básicos de


materiais disponíveis aos Engenheiros. Porém, deve entender que uma
base desse sistema de classificação é encontrada na natureza da ligação
atômica dos materiais. Logo, uma razão importante para se ter uma compreensão da
ligação interatômica em sólidos se deve ao fato de que, em alguns casos, o tipo de
ligação nos permite explicar as propriedades de um material. Por exemplo, considere
o carbono, que pode existir tanto na forma de grafite como na de diamante. Enquanto
o grafite é relativamente macio o diamante é o mais duro material conhecido. Essa
disparidade drástica nas propriedades é atribuída diretamente a um tipo de ligação
interatômica encontrada no grafite que não existe no diamante. Você terá
oportunidade de visualizar essa estrutura ao longo desta aula. Assim, levaremos em
consideração agora diversos conceitos fundamentais e importantes, com o objetivo de
preparar para discussões subsequentes, quais sejam: estrutura atômica,
configurações eletrônicas dos átomos e tabela periódica, e os vários tipos de ligações
interatômicas primárias e secundárias que mantêm unidos os átomos que compõem
um sólido.

2.1 A estrutura dos átomos

Lembramos a você, caro(a) aluno(a), que os


conceitos mencionados a seguir foram abordados no seu
curso na disciplina introdutória de Química Geral. Mas não
se preocupe se você se sentir em uma aula de Química,
Amadeo Avogadro (1776-
o que forneceremos aqui será apenas uma breve análise. 1856), físico italiano que,
entre outras
Para entender a ligação entre os átomos, temos de contribuições, criou o
termo molécula.
apreciar a estrutura dentro dos átomos individuais. Para Infelizmente, sua hipótese
esse propósito, basta usar um modelo planetário de que todos os gases
(em determinada
relativamente simples da estrutura atômica - ou seja, temperatura e pressão)
contém o mesmo número
elétrons (os planetas) giram em torno de um núcleo (o de moléculas por unidade
de volume, de modo
Sol). geral, não foi aceita como
correta antes de sua
Não é preciso considerar a estrutura detalhada do morte.
núcleo, para a qual os físicos catalogaram uma grande
P á g i n a | 39

quantidade de partículas elementares. Só precisamos considerar o número de


prótons e nêutrons no núcleo como base da identificação química de determinado
átomo. A figura 2.1 destaca um modelo planetário de um átomo de carbono.
Mas lembre-se, essa ilustração é esquemática e definitivamente não está em
escala.
Na realidade o núcleo é muito menor, embora contenha quase toda a massa
do átomo. Cada próton e nêutron possui uma massa de aproximadamente 1,66.10 -24
g.
Esse valor é denominado unidade de massa atômica (uma). É conveniente
expressar a massa dos materiais elementares nessas unidades. Por exemplo, o
isótopo de carbono mais comum, C12 (que aparece na figura 2.1), contém em seu
núcleo seis prótons e seis nêutrons, com uma massa atômica de 12 uma.
É também conveniente destacar que existem 6,023.10 23 uma por grama, e que
esse valor enorme é conhecido como número de Avogadro, representando o
número de prótons ou nêutrons necessários para produzir uma massa de 1 g. Então,
o número de Avogadro de átomos de C12 teria uma massa de 12,00 g.

Figura 2.1: Esquema do modelo planetário de um átomo de C12.


P á g i n a | 40

O número de Avogadro de átomos de determinado elemento é denominado


átomo-grama. Para um composto, o termo correspondente é mol; ou seja, um mol
de NaCl contém o número de Avogadro de átomos de sódio (Na) e o número de
Avogadro de átomos de cloro (Cl).
De modo geral, o número de prótons no núcleo é conhecido como número
atômico do elemento. A periodicidade bem conhecida dos elementos químicos é
baseada nesse sistema de números atômicos e massas atômicas elementares,
organizado em grupos (ou famílias) quimicamente semelhantes - colunas verticais -
em uma tabela periódica. Você já estudou por diversas vezes a tabela periódica,
lembra? Pois bem, olha ela sendo útil aí mais uma vez. A figura 2.2 destaca essa
importante ferramenta de estudos, mas você pode visitar o endereço:
<http://www.ptable.com/?lang=pt>.
e fazer uma fantástica "viagem" pelo mundo da tabela periódica.

Figura 2.2: Tabela periódica dos elementos, indicando o número atômico e a massa
atômica (em uma - unidades de massa atômica).
P á g i n a | 41

Enquanto a identificação química é feita em relação ao núcleo, a ligação


atômica envolve os elétrons e os orbitais eletrônicos. O elétron tem uma carga
negativa de 1,6.10-19 C (Coulomb) e é igual em magnitude à carga de +1,6.10-19 C de
cada próton. Naturalmente, o nêutron é eletricamente neutro.
Os elétrons são excelentes exemplos de dualidade onda-partícula; ou seja, eles
são entidades em escala atômica que exibem um comportamento tipo onda e tipo
partícula. Mas calma caro(a) aluno(a) que está além do escopo de nossos estudos
nesse momento tratar dos princípios da mecânica quântica que definem a natureza
dos orbitais eletrônicos (com base na característica ondulatória dos elétrons).
Entretanto, um breve resumo da natureza dos orbitais eletrônicos é útil neste ponto.
Como você pôde ver na figura 2.1, os elétrons são agrupados em posições
orbitais fixas em relação a um núcleo. Além disso, o raio de cada orbital é
caracterizado por um nível de energia, uma energia de ligação fixa entre os elétrons
e seu núcleo. Acompanhe na figura 2.3 um diagrama de níveis de energia para os
elétrons em um átomo do gás nobre criptônio (Kr).

Figura 2.3: Representação esquemática dos estados energéticos preenchidos para um


átomo de criptônio (36Kr).

É importante observar que os elétrons em torno de um núcleo de Kr ocupam


esses níveis de energia específicos, com energias intermediárias proibidas. Isto quer
dizer que as energias dos elétrons de um átomo são quantizadas; isto é, a energia de
um elétron pode mudar, mas ao fazê-lo, ele deve efetuar um salto quântico para uma
energia permitida mais elevada (com absorção de energia) ou para uma energia
permitida mais baixa (com emissão de energia). Com frequência, é conveniente
pensar nestas energias eletrônicas permitidas como estando associadas com níveis
P á g i n a | 42

ou estados energéticos. Você com certeza já ouviu falar em níveis de energia, não é
mesmo caro(a) aluno(a)?!... A figura 2.4 representa esquematicamente as energias
relativas dos elétrons para as várias camadas e subcamadas.

Figura 2.4: Níveis de energia associados com os orbitais atômicos.

Você tem agora a oportunidade de visualizar uma simulação sobre os


níveis de energia e os orbitais atômicos. Acesse o endereço eletrônico:
<http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2>.

Mas atenção, caro(a) aluno(a), para o perfeito funcionamento das


imagens interativas do link é necessário ter instalado os plug-in´s
ShockWavePlayer e FlashPlayer no seu computador. Se ainda não
tiver, o próprio site te proporciona essa ferramenta. Boa navegação!
Obviamente, nem todos os estados possíveis em um átomo estão preenchidos
com elétrons. Para a maioria dos átomos, os elétrons preenchem os orbitais
energéticos mais baixos possíveis nas camadas e subcamadas eletrônicas. Você
mesmo acompanhou na figura 2.3 a representação esquemática dos estados
energéticos preenchidos para um átomo de criptônio (36Kr). Quando todos os elétrons
ocupam as menores energias possíveis de acordo com as restrições anteriores, diz-
se que o átomo está em seu estado fundamental. Na notação convencional, o
P á g i n a | 43

número de elétrons em cada subcamada (ou subnível) é indicado por um índice


sobrescrito após a designação da camada e subcamada. Por exemplo, as
configurações eletrônicas para o hidrogênio, hélio e sódio são, respectivamente1s1,
1s2 e 1s22s22p63s1. Você certamente se lembra quando estudou as configurações
eletrônicas para os elementos de acordo com o famoso diagrama de Pauling, não é
verdade?! É importante alguns comentários em relação a estas configurações
eletrônicas. Em primeiro lugar, os elétrons de valência são aqueles que ocupam a
camada preenchida mais externa. Esses elétrons são extremamente importantes.
Como será visto, eles participam da ligação entre os átomos para formar os agregados
atômicos e moleculares. Além disso, muitas das propriedades físicas e químicas dos
sólidos estão baseadas nesses elétrons de valência. A figura 2.5 ilustra a distribuição
em níveis de energia dos elétrons do sódio, considerando o modelo planetário já
discutido anteriormente, para destacar a camada de valências.

Figura 2.5: Esquema do modelo planetário para o átomo de sódio (11Na).

2.2 Atrações interatômicas entre os átomos

Como a maioria dos materiais usados pelo Engenheiro é sólida


ou líquida, é desejável conhecer-se as atrações que mantêm os
átomos unidos nesses estados. Para que você entenda bem caro(a)
aluno(a), pense que na importância destas atrações ilustrada através
de um pedaço de fio de cobre. Nas condições usuais, as forças de atração que
mantêm os átomos unidos são fortes. Se tal não ocorresse, os átomos seriam
facilmente separados, e o cobre se deformaria sob pequenas solicitações. Assim,
como no caso deste fio, as propriedades de qualquer material dependem das forças
P á g i n a | 44

interatômicas presentes. Mas lembre-se, as atrações interatômicas são consequência


das estruturas eletrônicas dos átomos.
Três tipos diferentes de ligações primárias ou ligações químicas são
encontradas nos sólidos - iônica, covalente e metálica. Você com certeza já as
estudou nesse curso e no seu ensino básico. Para cada tipo, a ligação envolve
necessariamente os elétrons de valência; além disso, a natureza da ligação depende
das estruturas eletrônicas dos átomos constituintes. Em geral, cada um desses três
tipos de ligação se origina da tendência dos átomos para adquirir estruturas
eletrônicas estáveis, como as dos gases nobres, pelo preenchimento total da camada
eletrônica mais externa. Forças e energias secundárias também são encontradas em
muitos materiais sólidos; elas são mais fracas do que as primárias, mas ainda assim
influenciam as propriedades físicas de alguns materiais.

2.2.1 A ligação iônica

A ligação interatômica que é mais fácil de ser descrita é a ligação iônica, que é
o resultado da transferência de elétrons de um átomo para outro. A figura 2.6 ilustra
uma ligação iônica entre o sódio e o cloro. A transferência de um elétron do sódio é
favorecida porque produz uma configuração eletrônica mais estável; ou seja, o íon
positivo (cátion) Na+ resultante tem uma camada orbital externa completa, definida
como um conjunto de elétrons em determinada órbita. De modo semelhante, o cloro
aceita prontamente o elétron, produzindo um íon negativo (ânion) Cl- estável, também
com uma camada orbital externa completa. Assim, querido(a) aluno(a), lembre-se que
a transferência de elétrons na formação do NaCl produz camadas externas estáveis,
com íons positivos e negativos que se formam atraindo-se mutuamente através de
forças coulombianas formando a ligação iônica.
P á g i n a | 45

Figura 2.6: Ligação iônica entre átomos de sódio e cloro.

É importante observar que a ligação iônica é não-direcional; isto é, uma carga


positiva é atraída por todas as cargas negativas e uma carga negativa por todas as
positivas. Consequentemente, os íons Na+ ficam envolvidos por íons Cl-, e os íons Cl-
por íons Na+, sendo a atração igual em todas as direções. O principal requisito que
um material iônico sempre satisfaz é a neutralidade elétrica, isto é, o número de cargas
positivas é sempre igual ao número de cargas negativas. A figura 2.7 mostra a
representação esquemática da ligação iônica no cloreto de sódio (sal de cozinha).

Figura 2.7: Representação da ligação iônica no cloreto de


sódio.

Charles-Augustin de
Coulomb (1736-1806),
físico francês, foi o
primeiro a demonstrar
experimentalmente a
natureza das equações
de atração entre cargas
opostas. Além das
importantes
Como dito anteriormente, a ligação iônica é o contribuições para a
resultado da atração coulombiana entre as espécies com compreensão da
eletricidade e do
cargas opostas. Logo, é conveniente ilustrar a natureza da magnetismo, Coulomb
foi um pioneiro
força de ligação para a ligação iônica, uma vez que a Lei de importante no campo da
mecânica aplicada
Coulomb é uma relação simples já conhecida por você, (especialmente nas
áreas da fricção e
torção).
P á g i n a | 46

onde F é a força de atração coulombiana entre dois íons de cargas opostas, k


é uma constante de proporcionalidade, Z é a valência do íon carregado (por exemplo,
+1 para Na+ e -1 para Cl-), q é a carga de um elétron isolado (1,6.10-19 C) e a é a
distância de separação entre os centros dos íons. Uma representação gráfica da
equação 2.1, mostrada na figura 2.8(a), demonstra que a força de atração
coulombiana aumenta drasticamente à medida que a distância de separação entre
centros de íons adjacentes (a) diminui. Essa relação por sua vez, implica que o
comprimento de ligação (a) ideal seria zero. De fato, os comprimentos de ligação
definitivamente não zero, pois, a tentativa de juntar dois íons com cargas opostas para
aumentar a atração coulombiana é combatida por uma força repulsiva oposta, que é
devida à sobreposição dos campos elétricos com carga semelhante (negativa) de
cada íon, além da tentativa de juntar os dois núcleos carregados positivamente.
A força de ligação é a força de atração (ou repulsão) líquida em função da
distância de separação entre dois átomos ou íons. A figura 2.8(b) mostra a curva da
força de ligação (resultante) para um par de íons.

Figura 2.8: Representações gráficas (a) da força coulombiana em função da distância a, e


(b) da força de ligação resultante mostrando um comprimento de ligação em equilíbrio (a0)
para um par Na+Cl-.
P á g i n a | 47

Parece complexo não é mesmo caro(a) aluno(a)?!... Mas calma que estamos
apenas fazendo um estudo mais aprofundado sobre a ligação iônica, bem ao nível do
seu curso. Também é importante destacar a energia de ligação, E, que se relaciona
com a força de ligação por meio da expressão diferencial que aparece na figura 2.9.
𝑑𝐸
𝐹 = 𝑑𝑎 (2.2)

Essa relação demonstra que o comprimento da ligação em equilíbrio, a0, que


corresponde a F = 0, também corresponde a um mínimo na curva de energia.

Figura 2.9: Comparação entre a curva da força de ligação e a curva da energia de ligação
para um par Na+Cl-.

Assim, prezado(a) aluno(a), entenda que isso é uma maneira


de dizer que as posições estáveis de íons correspondem a um
mínimo de energia. Ou seja, para mover os íons de seu
espaçamento de equilíbrio, é preciso fornecer energia a esse
sistema. Por exemplo, pela carga compressiva ou de tensão, ou
ainda, através de energia térmica, relacionando-se com o ponto de fusão do material.
Neste momento é importante que você acompanhe uma simulação sobre a
energia de ligação entre um par de íons no endereço eletrônico:
<http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2&top=203>.
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Tendo estabelecido que existe um comprimento de ligação em equilíbrio, a0,


entenda que esse comprimento de ligação é a soma de dois raios iônicos. No caso do
NaCl,
𝑎0 = 𝑟𝑁𝑎+ + 𝑟𝐶𝑙− . (2.3)

Mas é importante dizer que essa equação implica que os dois íons sejam
esferas rígidas tocando em um único ponto. A figura 2.10 compara dois modelos de
um par de íons Na+ - Cl-: (a) mostra um modelo planetário simples dos dois íons, e (b)
mostra um modelo de esfera rígida do par iônico.

Figura 2.10: Comparação de (a) um modelo planetário de um par Na+ - Cl- com (b) um
modelo de esfera rígida.

Antes de seguir para o estudo da ligação covalente, é interessante você


observar um exemplo que mostra o cálculo da força de atração coulombiana entre Na +
e Cl- no NaCl.
P á g i n a | 49

Exemplo 2.1.: Usando a equação 2.1 (lei de Coulomb) e os raios iônicos,


calcule a força de atração entre Na+ e Cl- no sólido cristalino NaCl.

Solução.:Você saberia refazer o exemplo 2.1 se fosse o sólido cristalino Na 2O?


Utilize equação 2.1 e aceite este desafio.

2.2.2 A ligação covalente

Outra ligação forte é a ligação covalente. O nome covalente vem


do compartilhamento cooperativo dos elétrons de valência entre dois
átomos adjacentes. Como já foi dito anteriormente caro(a) aluno(a), a
estrutura eletrônica de um átomo é relativamente estável se o mesmo
contém oito elétrons na camada de valência (com exceção da camada K, que é estável
com dois elétrons). Então, muitas vezes, um átomo pode adquirir estes oito elétrons
compartilhando elétrons com um átomo adjacente. Um exemplo simples deste
compartilhamento é a molécula do gás cloro, Cl2, mostrada na figura 2.11, que destaca
em (a) um modelo planetário comparado com (b) a densidade de elétrons real, que é
nitidamente concentrada ao longo de uma linha reta entre os dois núcleos de Cl, e em
(c) a notação abreviada comum de elétrons como uma linha de ligação.
P á g i n a | 50

a) b) c)

Figura 2.11: Ligação covalente em uma molécula de gás cloro, Cl2, ilustrada com um
modelo planetário comparado com a densidade real de elétrons e um esquema de linha de
ligação, respectivamente.

Outra característica importante dos sólidos covalentes é o ângulo de ligação,


determinado pela natureza direcional do compartilhamento dos elétrons de valência.
Pois, enquanto a ligação iônica é não-direcional, a ligação covalente é altamente
direcional. A figura 2.12 ilustra o ângulo de ligação para um átomo de carbono típico,
que costuma formar quatro ligações igualmente espaçadas.
Essa configuração de tetraedro resulta em um ângulo de ligação de 109,5º.

Figura 2.12: Configuração de tetraedro das ligações covalentes com carbono.

Bem, caro(a) aluno(a), essa característica de ser direcional e formar ângulos


bem definidos nos leva à discussão de que a ligação covalente implica em intensas
forças de atração entre os átomos, o que pode ser evidenciado no diamante, por
exemplo, que é o mais duro material encontrado na natureza e que é inteiramente
constituído por carbono. Nele, existe uma ligação covalente entre cada par adjacentes
de átomos de carbono (C), como mostrado na figura 2.12 que mostra a estrutura
tridimensional da ligação no carbono sólido covalente. A força da ligação covalente no
diamante é demonstrada não só pela sua elevada dureza como também pela
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temperatura extremamente elevada (> 3500ºC) a que pode ser aquecido antes da
destruição da estrutura pela energia térmica, ou seja, promover a fusão do material.

Figura 2.13: Estrutura tridimensional das ligações do carbono no diamante.

Acesse o endereço para visualizar as estruturas do carbono e do grafite.


<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=6>.
Embora as ligações covalentes sejam sempre fortes, nem todos os materiais
com ligações covalentes apresentam pontos de fusão e ebulição elevados ou alta
dureza. O metano, por exemplo, tem muitas ligações covalentes, mas a molécula
resultante tem apenas uma pequena atração pelas moléculas adjacentes, porque
camadas eletrônicas externas já estão preenchidas (veja figura 2.13). Portanto, as
moléculas do metano, assim como os gases nobres, atuam quase que
independentemente das outras moléculas. Uma consequência disso é o fato de o
metano não se condensar até que a sua temperatura caia a -161ºC.

Figura 2.14: Ligação covalente em uma molécula de metano, CH4, ilustrada pela (a)
representação bidimensional, pelo (b) modelo tridimensional de esferas rígidas e por (c)
ligações covalentes.
P á g i n a | 52

Nesse momento, caro(a) aluno(a), faça um passeio pelo endereço eletrônico:


<http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2&top=203>.

para visualizar e comparar as ligações iônica e covalente. Isto vai ajudá-lo(a) a


entendê-las melhor. Acompanhe a simulação e aproveite para fazer uma comparação
entre elas.

2.2.3 A ligação metálica

Bem, caro(a) aluno(a), vamos relembrar, a ligação iônica envolve a


transferência de elétrons e é não-direcional; a ligação covalente envolve o
compartilhamento de elétrons e é direcional. Pois bem, a ligação
metálica, o último tipo de ligação primária, é encontrada em metais e
suas ligas e envolve o compartilhamento de elétrons e também é não-
direcional. Mas esse não é um compartilhamento qualquer dos elétrons
de valência. Para entender isso, foi proposto um modelo relativamente simples que
muito se aproxima do esquema de ligação. Os materiais metálicos possuem um, dois
ou, no máximo, três elétrons de valência, e estes elétrons não se encontram ligados
a qualquer átomo em particular no sólido e estão mais ou menos livres para se
movimentar ao longo de todo o metal. Eles podem ser considerados como
pertencendo ao metal como um todo, ou como se estivessem formando um "mar de
elétrons" ou uma "nuvem de elétrons".
A figura 2.14 é uma ilustração esquemática da ligação metálica. Os elétrons
livres protegem os núcleos iônicos carregados positivamente das forças eletrostáticas
mutuamente repulsivas que eles iriam, de outra forma, exercer uns sobre os outros.
Adicionalmente, esses elétrons livres atuam como uma "cola" para manter juntos os
núcleos iônicos. Este tipo de ligação pode ser fraco ou forte, o que faz com que as
energias de ligação variem muito; para se ter ideias, entre 68 kJ/mol para o mercúrio
e 850 kJ/mol para o tungstênio, e com isso as respectivas temperaturas de fusão
destes metais são muito diferentes, -39 e 3410ºC, respectivamente.
P á g i n a | 53

Figura 2.15: Ilustração esquemática da ligação metálica.

Embora esta descrição seja muito simplificada, ela Linus Carl Pauling
(1901-1994), químico
permite uma explicação útil para muitas propriedades dos quântico e bioquímico
americano, foi o
metais. Por exemplo, o arranjo cristalino dos átomos em um pioneiro na aplicação da
metal sólido (que você irá estudar na próxima aula) ajuda a Mecânica Quântica em
química tendo sido
determinar as propriedades mecânicas do metal. Os agraciado com o Nobel
de Química pelo seu
elétrons livres dão ao metal sua condutividade elétrica trabalho relativo à
natureza das ligações
elevada característica, pois podem se mover livremente sob químicas. Efetuou
também importantes
ação de um campo elétrico. Também a condutividade contribuições relativas à
térmica elevada está associada à mobilidade dos elétrons determinação da
estrutura de proteínas e
de valência, que podem transferir energia térmica de um cristais, sendo
considerado um dos
nível de alta temperatura para outro de baixa. Um outro fundadores da Biologia
Molecular.
efeito da ligação metálica é que os elétrons livres do metal
absorvem a energia luminosa, daí serem todos os metais
opacos. Nesse momento, querido(a) aluno(a), vale a pena parar um breve momento
para visualizar a nuvem eletrônica da ligação metálica, além dos núcleos atômicos
de um cristal iônico, em uma representação tridimensional.
Para isso, visite o endereço:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir &cap=2&top=204>.

Um último comentário que se faz pertinente é que vimos que a natureza das
ligações químicas entre os átomos do mesmo elemento e os átomos de diferentes
elementos depende da transferência ou do compartilhamento de elétrons entre
átomos adjacentes. O químico americano Linus Pauling definiu sistematicamente a
eletronegatividade como a capacidade de um átomo atrair elétrons para ele.
P á g i n a | 54

Os valores da eletronegatividade de Pauling para os


elementos são relacionados na tabela periódica, e esses
valores são úteis para prever a natureza das ligas
metálicas. Você pode se lembrar que vimos que a maioria
dos elementos na tabela periódica são de natureza
metálica, e claramente os elementos metálicos tendem a ter
valores mais baixos de eletronegatividade,
Johannes Diderik van
e os elementos não-metálicos têm os der Waals (1837-1923),
valores mais altos. Assista agora a um físico holandês,
melhorou as equações
vídeo-aula sobre a ligação metálica para de estado para os
gases, levando em
fixar ainda mais este assunto. consideração o efeito
das forças de ligação
Acesse: secundárias. Sua
brilhante pesquisa foi
<https://www.youtube.com/watch?v=UIPvKevNP7o>. publicada inicialmente
como uma dissertação
de tese que surgiu de
2.2.4 A ligação secundária, ou de Van Der Waals seus estudos de física
em tempo parcial. A
aclamação imediata para
Os três tipos de ligação considerados anteriormente o trabalho o levou à
transição de um
correspondem, todos, a ligações fortes. E realmente, pode- emprego como diretor
de uma escola
se dizer que a principal fonte da coesão em um dado secundária para uma
cátedra na Universidade
material da Engenharia é uma ou mais das três ligações de Amsterdã.
primárias (também chamadas simplesmente de ligações
químicas) já abordadas. Porém, caro(a) aluno(a), as ligações secundárias, mais
fracas, também contribuem para a atração interatômica, e são aqui agrupadas sob o
nome genérico de forças de Van der Waals. E se não fosse pelo fato de, muitas vezes,
serem as únicas forças que atuam, as forças de Van der Waals poderiam ser
desprezadas.
As forças de ligações secundárias surgem de dipolos atômicos ou
moleculares. Essencialmente, um dipolo elétrico existirá sempre que houver alguma
separação entre as frações positiva e negativa de um átomo ou molécula. A ligação
secundária fica evidente para os gases nobres, que possuem estruturas eletrônicas
estáveis, e ainda entre suas moléculas, em estruturas moleculares que são ligadas
covalentemente. A figura 2.15 ilustra como dois átomos neutros podem desenvolver
uma força de ligação fraca entre eles através de uma ligeira distorção de suas
distribuições de carga. O exemplo é argônio (Ar), um gás nobre que não tende a
P á g i n a | 55

formar ligações primárias, pois tem uma camada orbital externa preenchida e estável.
Um átomo de argônio isolado tem uma distribuição perfeitamente esférica da elétrica
da carga elétrica negativa cercando seu núcleo positivo. Entretanto, quando outro
átomo de argônio é aproximado, a carga negativa é ligeiramente atraída em direção
ao núcleo positivo do átomo adjacente. Aí, caro(a) aluno(a), entenda que essa ligeira
distorção da distribuição de carga ocorre simultaneamente nos dois átomos. O
resultado é um dipolo induzido.

Figura 2.16: Desenvolvimento de dipolos induzidos em átomos de argônio adjacentes


levando a uma ligação secundária fraca (com grau de distorção de carga mostrado aqui está
bastante exagerado).

Acompanhe a simulação do dipolo entre dois átomos de hidrogênio,


acessando:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2&top=204>.

Energias de ligação secundárias são um tanto maiores quando


unidades moleculares contendo dipolos permanentes estão envolvidas.
Talvez o melhor exemplo disso seja a ponte de hidrogênio, um tipo
especial de ligação secundária, que existe entre algumas moléculas que possuem
hidrogênio como um de seus constituintes, como a molécula de água (H 2O), por
P á g i n a | 56

exemplo. Sendo esse tipo de ligação é a responsável pelo alto ponto de ebulição e
elevado calor de vaporização da água. A figura 2.16 ilustra esse tipo de ligação para
a molécula de água.

Figura 2.17: Ponte de hidrogênio formada entre dois dipolos permanentes nas moléculas de
água adjacentes.

Você deve entender que devido à natureza direcional do compartilhamento de


elétrons nas ligações O-H covalentes, os átomos de H se tornam centros positivos e
os átomos de O se tornam centros negativos para as moléculas de H2O. Atente, ainda,
caro(a) aluno(a), que uma outra importante propriedade da água deriva da ponte de
hidrogênio, sua expansão ao congelar; isto se deve ao alinhamento regular e repetitivo
de moléculas adjacentes de H2O que leva a uma estrutura relativamente aberta, como
visto na figura 2.16. Na fusão, as moléculas de H2O adjacentes, embora
retendo a ponte de hidrogênio, juntam-se em um arranjo mais aleatório
e mais denso.
Neste momento, observe a excelente simulação sobre os
dipolos permanentes presentes na molécula de água através do endereço:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2&top=204>.

Outro ponto importante, caro(a) aluno(a), que você pode entender como uma
representação dramática das energias de ligação relativas dos vários tipos de ligação
desta aula, na comparação dos pontos de fusão. E só para lembrar, o ponto de fusão
de um sólido indica a temperatura à qual o material deve ser exposto para fornecer
energia térmica suficiente para quebrar suas ligações coesivas. A figura 2.17 mostra
P á g i n a | 57

uma tabela contendo uma comparação dos pontos de fusão para alguns materiais
representativos usados nesta aula, e também a contribuição relativa dos diferentes
tipos de ligação para as categorias fundamentais dos materiais da Engenharia (os três
tipos estruturais mais os semicondutores) exibida graficamente na forma de um
tetraedro de tipos de ligação.

Figura 2.18: Comparação dos pontos de fusão para alguns dos materiais representativos da
aula, e tetraedro representando a contribuição relativa de diferentes tipos de ligação para as
categorias dos materiais.

Assista agora ao vídeo que apresenta uma ótima


explicação sobre as ligações químicas, assunto que estudamos
nesta aula. Acesse o endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=qaitmlBzi98>.
Assista também uma tele aula que relaciona o assunto estudado com as
propriedades dos materiais. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=OykHT8ZSJPw&list=PLA90935055A0C9030&index=1>.
Para terminar, resolva os exercícios propostos nesta aula. E lembre-se,
sempre que possível, consulte o capítulo 2 dos livros do Callister e do
Shackelford, indicados nas referências, pesquise, e resolva outros
exercícios. No livros "Química-meio ambiente, cidadania e Tecnologia"
da autora Martha Reis e "Fundamentos da Química" de Ricardo Feltre, você
encontrará vários exemplos resolvidos e exercícios propostos sobre os
temas estudados nesta aula. Caso haja alguma dúvida, em relação à
teoria ou aos exercícios, entre em contato com o tutor da disciplina. Bons
estudos!
Resumo

Nesta aula, vimos que uma base para a classificação dos materiais da
Engenharia é a ligação atômica, e que embora a identidade de cada átomo seja
determinada pelo número de prótons e nêutrons dentro de seu núcleo, a natureza da
ligação atômica é determinada pelo comportamento dos elétrons que orbitam o
núcleo. E abordamos ainda que:

 Existem três tipos de ligações fortes, ou primárias, responsáveis pela coesão


dos sólidos;
 A ligação iônica envolve a transferência de elétrons e é não-direcional; sendo
que esta transferência de elétrons cria um par de íons com cargas opostas e que a
força de atração entre esses íons é de natureza coulombiana;
 A ligação covalente envolve o compartilhamento de elétrons e é altamente
direcional, o que pode levar a números de coordenação relativamente baixos e
estruturas atômicas mais abertas;
 A ligação metálica envolve o compartilhamento de elétrons delocalizados,
produzindo uma ligação não-direcional. Que essa nuvem de elétrons gera alta
condutividade elétrica;
 Na ausência de transferência ou compartilhamento de elétrons, uma forma
mais fraca de ligação é possível, a ligação de van der Waals (ligação secundária),
sendo o resultado da atração entre dipolos elétricos temporários ou permanentes.
Complementar

Para auxiliar na fixação desta aula, você pode visualizar um ótimo


material da PUCRS que retrata a ligação química nos sólidos, as energias e
forças de ligações, as ligações interatômicas primárias e ligação de Van der
Waals, em:
<www.feng.pucrs.br/~eleani/Protegidos/2-%20ligacoes%20quimicas.ppt>.

Assista também uma tele aula básica sobre os átomos e suas ligações
em:
<https://www.youtube.com/watch?v=-VHRXh-
NKj8&list=PL3qONjKuaO2TZJKZcVytYc4S1-f1Nm6wI&index=37>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER, Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

FELTRE, R., Fundamentos da Química. São Paulo, Editora Moderna.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

REIS, M., Química - Meio ambiente, Cidadania e Tecnologia. Vol 1, Editora


FTD, 2010.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6ª edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 2

Para as questões de 1 a 5, deve ser assinalada apenas uma alternativa. Você


deve assinalar a alternativa CORRETA se todas as outras estiverem erradas, e deve
assinalar a alternativa INCORRETA se todas as outras estiverem certas.
Questão 1.:
a) Todos os elementos foram classificados na tabela periódica de acordo com
a sua configuração eletrônica.
b) Os elétrons de valência são aqueles que ocupam a camada preenchida mais
externa.
c) Os elétrons de valência participam da ligação entre os átomos para formar
os agregados atômicos e moleculares.
d) Pode ser observado na tabela periódica que a maioria dos elementos se
enquadra sob a classificação de metal. Estes são às vezes chamados de elementos
eletropositivos, indicando que são capazes de ceder seus poucos elétrons de valência
para se tornarem íons carregados positivamente.
e) Os átomos apresentam maior tendência em aceitar elétrons se as suas
camadas mais externas estiverem quase totalmente preenchidas e se elas estiverem
mais afastadas do núcleo atômico.
Questão 2.:
a) Uma base para a classificação dos materiais da Engenharia é a ligação
atômica e que esta classificação admite um tipo de ligação em particular ou uma
combinação de tipos para cada categoria.
b) Os polímeros e semicondutores se combinam por ligações de hidrogênio.
c) Metais, como o ferro e o aço, ligam-se por ligações metálicas e os vidros
(sílicas - SiO2) ligam-se por ligações iônicas eletrovalentes.
d) A força de atração coulombiana é menor em materiais formados por ligações
iônicas que em materiais formados por ligações covalentes.
e) A ionização tem um efeito significativo sobre os raios efetivos (esfera rígida)
para as espécies atômicas envolvidas nas ligações metálicas, uma vez que a perda
ou ganho de um elétron por um átomo neutro muda seu raio.
Questão 3.:
a) A grandes distâncias, as interações entre os átomos são desprezíveis, mas
à medida que se aproximam, cada um exerce forças sobre o outro.
P á g i n a | 62

b) As forças entre os átomos são de dois tipos, atrativa e repulsiva.


c) A magnitude de cada força entre os átomos é função da separação ou
distância interatômica.
d) Existe um estado de equilíbrio entre átomos, cujos centros irão permanecer
sobrepostos um sobre o outro.
e) Algumas vezes é mais conveniente trabalhar com as energias potenciais
entre dois átomos no lugar das forças exercidas entre eles. Matematicamente, a
energia e a força estão relacionadas através da expressão: 𝐸 = ∫ 𝐹. 𝑑𝑟
Questão 4.:
a) Na ligação iônica as forças de ligação atrativas são de natureza coulombiana;
íons positivos e negativos, devido às suas cargas elétricas líquidas, atraem-se entre
si.
b) Na ligação covalente as configurações eletrônicas estáveis são adquiridas
pelo compartilhamento de elétrons entre átomos adjacentes.
c) A ligação metálica é encontrada em metais e suas ligas.
d) A ligação iônica é direcional e as ligações covalente e metálica são não-
direcional.
e) Os metais são bons condutores de calor e eletricidade, como consequência
dos seus elétrons livres.
Questão 5.:
a) As ligações secundárias, ligações de van der Waals, são ligações fortes
quando comparadas às ligações primárias.
b) As forças de ligações secundárias surgem de dipolos atômicos ou
moleculares.
c) Um dipolo elétrico existirá sempre que houver alguma separação entre dois
átomos bastante eletronegativos.
d) As ligações de hidrogênio é um tipo especial de ligação secundária e existirá
entre íons, como por exemplo entre o Na+ e o Cl-.
e) Os metais são bons condutores de calor e eletricidade devido às ligações
secundárias existentes entre seus átomos.
Questão 6.: Sabe-se que uma base para a classificação dos materiais da
Engenharia é a ligação atômica e que esta classificação admite um tipo de ligação em
P á g i n a | 63

particular ou uma combinação de tipos para cada categoria. A tabela a seguir ilustra
a característica de ligação dos quatro tipos fundamentais de materiais da Engenharia.

Com base no que foi exposto, faça uma breve discussão sobre as principais
diferenças e características de compostos como o ferro e a sílica.
Questão 7.: Indique o(s) tipo(s) de ligação que seria(m) esperada(s) para cada
um dos seguintes materiais: bronze, sulfeto de bário, fosfeto de alumínio, petróleo.

Questão 8.: Crie um esboço semelhante ao que mostramos na figura 2.6,


ilustrando os átomos de Mg e O e os íons em MgO.

Questão 9.: Compare as configurações eletrônicas para os átomos e íons


ilustrados no exercício anterior.

Questão 10.: Calcule a força de Coulomb atrativa entre um par de íons K+ e Cl-
que se tocam. Admita que o raio iônico do íon K+ é 0,133 nm e do íon Cl- é 0,181 nm.
Considere a constante de proporcionalidade k = 9.109 V.m/C e o módulo da carga q
de um elétron isolado igual a e = 1,6.10-19 C.

Questão 11.: Calcule a força de atração existente no óxido de sódio (Na 2O).
Considere que o raio do íon Na+ vale 0,098 nm e do íon O-2 vale 0,132 nm.
Questão 12.: Sabendo que a força atrativa entre o par de íons Na + e F- é
4,439.10-9 N.
Aula 3
Estrutura dos sólidos cristalinos

APRESENTAÇÃO DA AULA

Caro(a) aluno(a), agora que as categorias de materiais da Engenharia estão


firmemente estabelecidas, você pode começar a caracterizá-los. Para isso, essa aula
o levará a entender que a estrutura, em escala atômica, da maioria dos materiais é
cristalina, ou seja, os átomos do material são arrumados de maneira regular e
repetitiva comuns a todos os materiais cristalinos. Com isso, você verá que as
propriedades de alguns materiais estão diretamente relacionadas às suas estruturas
cristalinas. Nesta aula também indicaremos diversas simulações disponíveis no site
<http://www.cienciadosmateriais.org>., para auxiliá-lo ainda mais no estudo de
conceitos importantes. Bem-vindo(a) à compreensão da estrutura dos sólidos
cristalinos, e bons estudos!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Descrever a diferença nas estruturas atômicas/moleculares de


materiais cristalinos e não-cristalinos;
 Conhecer os sistemas cristalinos e as redes de Bravais;
 Conhecer e desenhar células unitárias para as estruturas cristalinas
cúbica de corpo centrado, cúbica de faces centradas e hexagonal
compacta;
 Entender o que são parâmetros de rede e fator de empacotamento
atômico (FEA);
 Calcular as densidades para metais com estruturas cristalinas cúbica
de corpo centrado e cúbica de faces centradas, dadas as dimensões
das suas células unitárias.
P á g i n a | 65

3 INTRODUÇÃO

Você viu que o módulo anterior tratou principalmente dos vários tipos
de ligação atômica, os quais são determinados pela estrutura eletrônica dos
átomos individuais. Pois bem, esta aula se dedica ao próximo nível da
estrutura dos materiais, especificamente a alguns arranjos que podem ser assumidos
pelos átomos no estado sólido. Dentro desse contexto, serão introduzidos os
conceitos de cristalinidade e não-cristalinidade. Para os sólidos cristalinos será
apresentada a noção de estrutura cristalina, especificada em termos de uma célula
unitária. E por fim, caro(a) aluno(a), as três estruturas cristalinas usuais encontradas
em metais serão então detalhadas.

3.1 Conceitos fundamentais

Materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade


segundo a qual os átomos ou íons estão arranjados em relação uns aos outros. Um
material cristalino é aquele no qual os átomos estão situados em um arranjo que se
repete ou que é periódico ao longo de grandes distâncias atômicas; isto é, existe
ordem de longo alcance, de tal modo que quando ocorre a solidificação os átomos se
posicionarão em um padrão tridimensional repetitivo, no qual cada átomo está ligado
aos seus átomos vizinhos mais próximos.
Para você saber querido(a) aluno(a), todos os metais, muitos materiais
cerâmicos e certos polímeros formam estruturas cristalinas sob condições normais de
solidificação. Para aqueles que não cristalizam, esta ordem atômica de longo alcance
está ausente, e são chamados de materiais não-cristalinos ou amorfos. Para entender
melhor este ponto, acesse o endereço eletrônico para visualizar os arranjos cristalino
e vítreo:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=3>.
Ao descrevermos estruturas cristalinas, os átomos (ou íons) serão
considerados como se fossem esferas sólidas que possuem diâmetros bem definidos.
Isso é conhecido como o modelo da esfera rígida atômica, no qual as esferas que
representam os átomos vizinhos mais próximos se tocam entre si. Um modelo de
esferas rígidas para o arranjo atômico encontrado em alguns metais elementares
P á g i n a | 66

comuns está mostrado na figura 3.1. Nesse caso particular, todos os átomos são
idênticos.

Figura 3.1: Estrutura cristalina usual para os metais.

Você deve estar percebendo que a ordenação atômica em sólidos


cristalinos indica que pequenos grupos de átomos formam um padrão
repetitivo. Dessa forma, ao descrever estruturas cristalinas, com
frequência torna-se conveniente subdividir a estrutura em pequenas entidades que se
repetem, chamadas células unitárias. As células unitárias para a maioria das
estruturas cristalinas são paralelepípedos ou prismas que possuem três conjuntos de
faces paralelas; você viu uma destas desenhada dentro do agregado de esferas na
figura 3.1, e que neste caso vem a ter a forma de um cubo.
Lembre-se, uma célula unitária é escolhida para representar a
simetria da estrutura cristalina, onde todas as posições dos átomos no
cristal podem ser geradas mediante translações proporcionais às
distâncias inteiras da célula unitária ao longo de cada uma das suas arestas. Assim,
a célula unitária consiste na unidade estrutural básica ou bloco de construção básico
da estrutura cristalina e define a estrutura cristalina em virtude da sua geometria e das
posições dos átomos no seu interior. Em geral, a conveniência dita que os vértices do
paralelepípedo devem coincidir com os centros dos átomos em forma de esferas
rígidas. A geometria geral de uma célula unitária geral aparece na figura 3.2.

Figura 3.2: Geometria de uma célula unitária geral.


P á g i n a | 67

O tamanho das arestas da célula unitária e os ângulos entre os eixos


cristalográficos são chamados de parâmetros de rede. A principal característica da
célula unitária é que ela contém uma descrição completa da estrutura como um todo,
pois a estrutura completa pode ser gerada pelo empilhamento repetitivo de células
unitárias adjacentes, face a face, por todo o espaço tridimensional. Só existem sete
formas exclusivas de célula unitária que podem ser empilhadas para preencher o
espaço tridimensional. São os sete sistemas cristalinos, definidos e ilustrados na
figura 3.3. Nela podemos observar os parâmetros de rede a, b e c, que são os
tamanhos das arestas da célula unitária e os parâmetros de rede α, β e γ, que são os
ângulos entre os eixos adjacentes da célula unitária.
Aproveite o momento para visualizar as células unitárias dos sistemas
cristalinos acessando o endereço:
<http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=6>.

Figura 3.3: Os sete sistemas cristalinos.


P á g i n a | 68

É importante saber que temos que considerar como os átomos podem ser
empilhados dentro de determinada célula unitária, e para isso, começamos
considerando periodicamente no espaço tridimensional, em vez dos átomos ou
esferas reais. Novamente, existe um número limitado de possibilidades conhecidas
como as 14 rede de Bravais, definidas na figura 3.4.
O empilhamento periódico de células unitárias mostradas na figura 3.3 gera
redes de pontos, conjuntos de pontos com vizinhanças semelhantes no espaço
tridimensional.
Essas redes são esqueletos sobre os quais as estruturas cristalinas são
montadas, colocando átomos ou grupos de átomos nos pontos da rede ou perto deles.
A figura 3.5 mostra a possibilidade mais simples, com um átomo centralizado
em cada ponto da rede. Algumas das estruturas mais simples são desse tipo. No
entanto sabe-se que existe um número muito grande de estruturas cristalinas reais.
A maioria delas resulta da existência de mais de um átomo associado a
determinado ponto da rede.

Auguste Bravais (1811-1863),


cristalográfico francês, foi
produtivo em um número
extraordinariamente grande de
áreas, incluindo botânica,
astronomia e física.
No entanto, ele é mais lembrado
por sua derivação dos 14
arranjos de pontos possíveis no
espaço. Essa realização foi a
base para nosso conhecimento
atual da estrutura atômica dos
cristais.
P á g i n a | 69

Figura 3.4: As 14 redes cristalinas (Bravais)..

A princípio, caro(a) aluno(a), pode até parecer muita informação, porém saiba
que apenas três estruturas cristalinas relativamente simples são encontradas para a
maioria dos metais mais comuns em temperatura ambiente, elas são: cúbica de corpo
centrado, cúbica de faces centradas, e hexagonal compacta. E não se preocupe,
vamos aprofundar um pouco mais no estudo destas três estruturas.

Figura 3.5: A rede cúbica simples se tornando a estrutura cristalina cúbica simples quando
um átomo é colocado em cada ponto da rede.
P á g i n a | 70

3.1.1 A estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC)

A figura 3.6 mostra a estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) para metais
que exibem (a) o arranjo de pontos de rede para uma célula unitária, (b) o
empacotamento real dos átomos (representados como esferas rígidas) dentro da
célula unitária e (c) a estrutura CCC repetitiva, equivalente a muitas células unitárias
adjacentes. Perceba que nessa rede de Bravais existe um átomo no centro da célula
unitária e um oitavo de átomo em cada um dos oito cantos da célula unitária. (Cada
átomo de canto é compartilhado por oito células unitárias adjacentes.) Assim, existem
dois átomos em cada célula unitária CCC.

Figura 3.6: Estrutura cristalina cúbica de corpo centrado, (a) célula unitária com esferas
reduzidas, (b) empacotamento real dos átomos, e (c) um agregado de muitos átomos.

O cromo (Cr), o ferro (Fe α - forma estável na temperatura ambiente), o


tungstênio (W), o molibdênio (Mo), o vanádio (V), bem como diversos outros metais
exibem estrutura cristalina do tipo CCC. Nessa estrutura, os átomos no centro e nos
vértices tocam-se ao longo da diagonal do cubo, e o comprimento da célula unitária a
e o raio atômico R estão relacionados através da expressão:
4𝑅
𝑎= (3.1)
√3

Este resultado pode ser obtido por trigonometria básica e você poderá
confirmá-lo em um dos exercícios propostos.
P á g i n a | 71

Duas outras características importantes de uma estrutura cristalina são o


número de coordenação e o fator de empacotamento atômico (FEA). Para
metais, cada átomo possui o mesmo número de vizinhos mais próximos ou de átomo
em contato, o que se constitui no seu número de coordenação. No caso das estruturas
cristalina cúbicas de corpo centrado, o número de coordenação é 8; ou seja, cada
átomo central possui como vizinhos mais próximos os seus oito átomos
localizados nos vértices do cubo. O FEA representa a fração do volume de
uma célula unitária que corresponde a esferas sólidas, assumindo o modelo
da esfera atômica rígida, ou,
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 á𝑡𝑚𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑢𝑚𝑎 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑎
𝐹𝐸𝐴 = (3.2)
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑎

Para a estrutura CCC, o fator de empacotamento é de 0,68. O cálculo deste


valor de FEA também está incluído como um dos exercícios propostos deste módulo.
Tipicamente, os metais possuem fatores de empacotamento atômico relativamente
elevados, a fim de maximizar a proteção dada pela nuvem de elétrons livres.

3.1.2 A estrutura cristalina cúbica de faces centradas (CFC)

A figura 3.7 mostra a estrutura cúbica de faces centradas (CFC) para metais
que exibem (a) o arranjo de pontos de rede para uma célula unitária, (b) o
empacotamento real dos átomos dentro da célula unitária e (c) a estrutura CFC
repetitiva, equivalente a muitas células unitárias adjacentes. Observe que nessa rede
existe meio átomo(ou seja, um átomo compartilhado entre duas células unitárias) no
centro de cada face da célula unitária e um oitavo de átomo em cada canto da célula
unitária, com um total de quatro átomos em cada célula unitária CFC.
P á g i n a | 72

Figura 3.7: Estrutura cristalina cúbica de face centrada, (a) célula unitária com esferas
reduzidas, (b) representação da célula unitária através de esferas rígidas, e (c) um agregado
de muitos átomos.

Os metais típicos com estrutura CFC incluem o ferro (Fe γ - estável de 912 a
1394ºC) alumínio (Al), o níquel (Ni), o cobre (Cu), a prata (Ag), a platina (Pt) e o ouro
(Au). Nessa estrutura cúbica, as esferas ou núcleos iônicos se tocam uma às outras
através da diagonal da face; e o comprimento da aresta do cubo a e o raio atômico R
estão relacionados através da expressão.

Este resultado é comprovado no exemplo 3.1 mostrado a seguir, juntamente


com o cálculo do volume de uma célula unitária CFC. Observe, caro(a) aluno(a), que
neste tipo estrutura cristalina, o número de coordenação é 12, que pode ser
confirmado através de um exame da figura 3.5(a); o átomo na face frontal possui
quatro átomos vizinhos mais próximos localizados nos vértices ao seu redor, quatro
átomos de faces que se encontram em contato pelo lado de trás, e quatro outros
átomos de faces equivalentes localizados na próxima célula unitária, à frente, que não
é mostrada.
Acompanhe um exemplo sobre o cálculo do volume de uma célula unitária CFC;
e lembre-se, o fator de empacotamento atômico para essa estrutura é de 0,74, que
consiste no máximo empacotamento possível para um conjunto de esferas onde todas
possuem o mesmo diâmetro. O cálculo deste valor de FEA aparece no exemplo 3.2.
P á g i n a | 73

Exemplo 3.1.: Calcule o volume de uma célula unitária CFC em termos do raio
atômico R. Solução.: Observando a célula unitária CFC ilustrada, percebemos que
os átomos se tocam uns nos outros ao longo de uma diagonal da face, cujo
comprimento equivale a 4R.

Figura 3.8

Uma vez que a célula unitária é um cubo, seu volume é a3, onde a representa
o comprimento da aresta da célula unitária. A partir do triângulo reto na face

𝑎2 + 𝑎2 = (4𝑅)2
ou, resolvendo para a,

𝑎 = 2𝑅√2
O volume da célula unitária CFC, VC, pode ser calculado a partir da expressão

𝑉𝐶 = 𝑎3 = (2𝑅√2)3 = 16𝑅 3 √2

Exemplo 3.2.: Mostre que o fator de empacotamento atômico para a estrutura


CFC é 0,74. Solução.: Como vimos, o FEA é definido como sendo a fração do volume
que corresponde às esferas sólidas em uma célula unitária, ou
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 á𝑡𝑚𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑢𝑚𝑎 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑎
𝐹𝐸𝐴 =
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑎
4
𝜋𝑅 3 Tanto o volume total das esferas como o volume da célula unitária
3
podem ser calculados em termos do raio atômico R. O volume para uma esfera é de
, uma vez que existem quatro átomos por célula unitária CFC, o volume total das
esferas na CFC é de
P á g i n a | 74

4 16 3
𝑉𝐸 = (4) 𝜋𝑅 3 = 𝜋𝑅
3 3

A partir do exemplo 3.1, o volume total da célula unitária é de

𝑉𝐶 = 𝑎3 = (2𝑅√2)3 = 16𝑅 3 √2𝑉𝐶 = 𝑎3 = (2𝑅√2)3 = 16𝑅 3 √2

Portanto, o fator de empacotamento atômico é de:


16
) 𝜋𝑅 3
(
𝐹𝐸𝐴 = 3 = 0,74
3
16𝑅 √2

3.1.3 A estrutura cristalina hexagonal compacta (HC)

Nem todos os metais possuem células unitárias co simetria cúbica. A última


estrutura cristalina comumente encontrada nos metais que vamos discutir possui uma
célula unitária com o formato hexagonal. A figura 3.8 mostra para essa estrutura, que
é conhecida como hexagonal compacta (HC), (a) uma célula unitária com esferas
reduzidas (a e c representam os comprimentos das arestas curta e comprida,
respectivamente), (b) a representação da célula unitária através de esferas, e (c) um
agregado de muitos átomos.
Aqui, caro(a) aluno(a), você pode observar que as faces superior e inferior da
célula unitária são compostas por seis átomos que formam hexágonos regulares e
que se encontram em torno de um único átomo centro. Um outro plano que fornece
três átomos adicionais para a célula unitária está localizado entre os planos superior
e inferior. Os átomos nesse plano intermediário possuem como vizinhos mais
próximos os átomos em ambos os planos adjacentes. Perceba que o equivalente a
seis átomos está contido em cada célula unitária; um sexto de cada um dos 12 átomos
localizado nos vértices das faces superior e inferior, metade de cada um dos dois
átomos centrais localizados nas faces superior e inferior, e todos os três átomos
interiores no plano intermediário.
Na estrutura HC, se as distâncias a e c (parâmetros da rede) mostrados na
figura 3.8 representarem, respectivamente, as dimensões menor e maior da célula
P á g i n a | 75

unitária, a razão c/a deve ser de 1,633; contudo, no caso de alguns metais que
apresentam essa estrutura, essa razão apresenta um desvio em relação ao valor ideal.
Os metais típicos com a estrutura HC incluem berílio (Be), magnésio (Mg), zinco
(Zn) e zircônio (Zr). O número de coordenação e o fator de empacotamento atômico
para a estrutura cristalina HC são os mesmo que para a estrutura CFC, ou seja: 12 e
0,74, respectivamente.

Figura 3.9: Estrutura cristalina hexagonal compacta, (a) célula unitária com esferas
reduzidas, (b) representação da célula unitária através de esferas rígidas, e (c) um agregado
de muitos átomos.

Agora, caro(a) aluno(a), é muito importante que você acompanhe e manipule


as simulações de todas as estruturas estudadas (CCC, CFC, HC). Você poderá
manipular as células unitárias primitivas tridimensionalmente. Acesse o endereço:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=6>.

3.2 Cálculos da densidade

Um conhecimento da estrutura cristalina de um sólido metálico permite o


cálculo da sua densidade verdadeira ρ, que é obtida através da relação

𝑛. 𝐴
𝜌= (3.4)
𝑉𝐶 . 𝑁𝐴

onde:
n = número de átomos associados a cada célula unitária;
A = peso atômico;
VC = volume da célula unitária;
P á g i n a | 76

NA = número de Avogadro (6,023.1023 átomos/mol)

Nesse momento querido(a) aluno(a), achamos que você merece


um breve descanso antes de prosseguir para o próximo tópico e para a
resolução dos exercícios. Aproveite para tomar uma água ou um café e
'esticar' o esqueleto. Primeiro, acompanhe um exemplo do cálculo da densidade para
praticar um pouco e fixar esse conceito.
Exemplo 3.3: O cobre possui um raio atômico de 0,128 nm (1,28 Å), uma
estrutura cristalina CFC, e um peso atômico de 63,5 g/mol. Calcule a sua densidade
e compare a resposta com a sua densidade medida experimentalmente.
Solução: Vamos emprega a equação 3.4 para resolução desse problema. Uma
vez que a estrutura cristalina é CFC, n, o número de átomos por célula unitária, é 4.
Além disso, o peso atômico ACu é dado como sendo 63,5 g/mol. O volume da célula
unitária VC para a CFC foi determinado no exemplo 3.1 como sendo 16R3√2, onde o
valor de R, o raio atômico, é de 0,128 nm.
A substituição dos vários parâmetros na equação 3.4 fornece:

O valor encontrado na literatura para a massa específica do cobre é de


8,94 g/cm3, que está em excelente concordância com o resultado encontrado.

3.3 Polimorfismo e alotropia

Alguns metais, bem como alguns não-metais, podem ter mais do que uma
estrutura cristalina, um fenômeno conhecido por polimorfismo. Quando encontrado
em sólidos elementares, esta condição é frequentemente conhecida por alotropia.
A estrutura cristalina que prevalece depende tanto da temperatura como da
pressão externa. Um exemplo familiar é encontrado no ferro puro (Fe) que possui uma
estrutura cristalina CCC (chamada de Fe α) à temperatura ambiente, que se altera
para uma estrutura CFC (Fe γ) à temperatura de 912ºC, e volta a ser CCC (Fe δ) a
partir de 1396ºC, mantendo esta estrutura até sua fusão. Estudaremos estas formas
P á g i n a | 77

alotrópicas do ferro na aula 8. Acompanhe na figura 3.10 uma representação das


formas alotrópicas do ferro com as mudanças dos arranjos cristalinos. Na maioria das
vezes, uma mudança da densidade e de outras propriedades físicas acompanha uma
transformação polimórfica.
De modo geral, os metais que apresentam estrutura cristalina do tipo CCC, são
mais duros e menos maleáveis que os metais com estruturas compactas, como as
estruturas CFC e HC. Quando o metal é deformado por aquecimento, por exemplo,
os planos de átomos podem escorregar uns sobre os outros, e isto é mais difícil nas
estruturas CCC. O endurecimento dos metais, que envolvem a introdução de
impurezas ou defeitos em suas camadas cristalinas, são mecanismos que bloqueiam
o escorregamento.

Figura 3.10: Representação das formas alotrópicas do ferro com as mudanças dos arranjos
cristalinos, em função da temperatura.

Agora caro(a) aluno(a), é com você. Deve praticar os exercícios


propostos para esta aula. Refaça todos os exemplos apresentados. Caso
haja alguma dúvida, em relação à teoria ou aos exercícios, entre em
contato com o tutor da disciplina. E para cristalizar os conceitos importantes discutidos
nesta aula, indicamos pequenos vídeos que retratas as células unitárias estudadas e
os cálculos dos FEA das células unitárias cristalinas primitivas CCC, CFC e HC.
Resumo

Nesta aula, vimos que a maioria dos materiais usados pelo Engenheiro são de
natureza cristalina; ou seja, sua estrutura em escala atômica é regular e repetitiva, em
contraste com a distribuição atômica aleatória e desordenada encontrada em
materiais não-cristalinos ou amorfos. Essa regularidade permite que a estrutura seja
definida em termos de uma unidade estrutural fundamental, a célula unitária. E vimos
ainda que:

 Os átomos podem ser representados como esferas sólidas, e, para os


sólidos cristalinos, a estrutura do cristal é exatamente o arranjo espacial
dessas esferas;
 Existem sete sistemas cristalográficos, que correspondem às possíveis
formas das células unitárias, e com base nesses sistemas, existem 14
redes de Bravais que representam os arranjos de pontos possíveis no
espaço tridimensional;
 Existem três estruturas cristalinas principais relativamente simples
observadas para os metais comuns: a cúbica de corpo centrado (CCC),
a cúbica de faces centradas (CFC) e a hexagonal compacta (HC);
 Na ausência de transferência ou compartilhamento de elétrons, uma
forma mais fraca de ligação é possível, a ligação de van der Waals
(ligação secundária), sendo o resultado da atração entre dipolos
elétricos temporários ou permanentes;
 Duas características de uma estrutura cristalina são o número de
coordenação (ou número de átomos vizinhos mais próximos) e o fator
de empacotamento atômico (FEA, a fração do volume das esferas
sólidas na célula unitária);
 O número de coordenação e o FEA são os mesmos para as estruturas
cristalinas CFC e HC, cada uma das quais pode ser gerada mediante o
empilhamento de planos compactos de átomos.
Complementar

Como completo, visualize uma teleaula introdutória sobre tratamentos


térmicos que retrata as estruturas cristalinas básicas estudadas nesta aula.
Bons estudos!

<https://www.youtube.com/watch?v=dBjwz15UVDU&list=
PLBB675DE5972742E0&index=1>.

Acesse os endereços:
<https://www.youtube.com/watch?v=-erbsyRlqRA>.
<https://www.youtube.com/watch?v=Yy2NianhnBs&index=8&list=
PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt>.
<https://www.youtube.com/watch?v=L0qJzJ0HOek&index=10&list=
PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt>.
<https://www.youtube.com/watch?v=FygrpuHoLH4&list=
PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt&index=7>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER, Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

FELTRE, R., Fundamentos da Química. São Paulo, Editora Moderna.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

REIS, M., Química - Meio ambiente, Cidadania e Tecnologia. Vol 1, Editora


FTD, 2010.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6ª edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 3

Para as questões de 1 a 6, deve ser assinalada apenas uma


alternativa. Você deve assinalar a alternativa CORRETA se todas as outras
estiverem erradas, e deve assinalar a alternativa INCORRETA se todas as
outras estiverem certas.
Questão 1.
a) Muitos materiais sólidos possuem uma ordenação de longa distância no
arranjo de seus átomos constituintes, que é denominada rede cristalina.
b) A menor porção da rede com característica geométrica definida é
denominada célula unitária do sistema cristalino.
c) As estruturas mais empacotadas são a CFC e a HC, ou seja, o volume
ocupado por átomos na célula é maior em relação a estrutura CCC.
d) A organização atômica existente no material não influencia em suas
propriedades mecânicas.
e) No interior de um material cristalino existe um ordenamento atômico regular.
Questão 2.
a) As estruturas cristalinas são arranjos regulares, tridimensionais, de átomos
no espaço.
b) A regularidade com que os átomos se agregam nos sólidos decorre de
condições geométricas impostas pelos átomos envolvidos, pelo tipo de ligação
atômica e pela compacidade.
c) A estrutura do cristal perfeito é um agrupamento regular de átomos,
distribuídos numa rede espacial, os arranjos atômicos podem ser descritos
completamente pela especificação das posições dos átomos num modelo unitário
repetitivo da rede espacial.
d) As estruturas cristalinas observadas nos sólidos são descritas através de um
conceito geométrico chamado rede espacial, e podem ser explicadas pelo modo como
os poliedros de coordenação se agrupam, a fim de minimizar a energia do sólido.
e) Os pontos de uma célula unitária representam posições atômicas, mas não
podem representar pontos da rede.
Questão 3.
a) A célula unitária é uma forma de representação da unidade que se repete
indefinidamente numa estrutura cristalina.
P á g i n a | 82

b) O FAE da estrutura cristalina CFC é igual ao da estrutura cristalina HC.


c) Para as estruturas cristalinas CFC e CCC, existem dois tipos diferentes de
sítios intersticiais. Em cada caso, um tipo de sítio é maior do que o outro, e este sítio
maior é normalmente ocupado por átomos de impurezas.
d) Os cristais apresentam estrutura cristalina cujas células unitárias são
representadas através de esferas rígidas.
e) A razão entre o comprimento da aresta a o raio atômico R da célula unitária
CCC é 4/√2.
Questão 4.
a) Na estrutura cristalina CCC, existem dois átomos por célula unitária.
b) O número de coordenação dos átomos na estrutura cristalina CCC é igual a
8.
c) A relação entre o comprimento da aresta a da célula unitária e o raio R dos
átomos na estrutura CFC é: a = 2R√2.
d) Sabendo-se que o bário possui estrutura CCC e parâmetro de rede a =
0,5019 nm, a 20ºC, o valor do raio de um átomo de bário será: R = 0,1273 nm.
e) Se o cobre é CFC e possui parâmetro de rede a = 0,3615 nm, o raio de um
átomo de cobre será: R = 0,1278 nm
Questão 5.
a) O volume de uma célula unitária CFC em termos do raio atômico R é igual a
VC = 16R3√2.
b) O Fator de Empacotamento Atômico (FEA) para a estrutura cristalina CFC é
de 0,84.
c) O Fator de Empacotamento Atômico (FEA) para a estrutura cristalina HC é
igual a 0,70.
d) O conhecimento da estrutura cristalina de um sólido metálico não permite o
cálculo da sua densidade verdadeira.
e) A ionização tem um efeito significativo sobre a estrutura cristalina dos metais;
por exemplo, o FEA pode aumentar em função dessa ionização.
Questão 6.
a) O número de coordenação dos átomos na estrutura cristalina HC é igual 8.
b) O cádmio tem raio atômico r = 0,148 nm. Sabendo que o fator de
empilhamento é 0,74, pode-se afirmar que o volume da célula unitária será igual a VC
= 0,310 nm3.
P á g i n a | 83

c) O zinco puro tem estrutura cristalina HC e parâmetros de rede a = 0,2665


nm e c = 0,4947 nm. O volume da célula unitária da estrutura cristalina do zinco é igual
a VC = 0,09128 nm3.
d) A razão entre o parâmetro de rede e o raio atômico (a/r) para um metal que
possui a estrutura CCC é: a/r = 0,786
e) O cobre tem estrutura cristalina CFC, raio atômico r = 0,1278 nm e massa
atômica ACu = 63,54 g/mol. Considerando que os átomos são esferas rígidas que se
tocam ao longo das diagonais das faces da célula unitária CFC, o valor teórico da
densidade do cobre é igual a ρ = 9,36 g/cm3.
Questão 7.
A figura mostra a estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) para metais
mostrando (a) o arranjo de pontos da rede para uma célula unitária, (b) o
empacotamento real de átomos dentro da célula unitária e (c) a estrutura CCC
repetitiva, equivalente a muitas células unitárias adjacentes. Calcule a relação entre o
parâmetro de rede e o raio atômico (a/r) e o fator de empacotamento atômico (FEA)
para um metal que possui esta estrutura.
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Questão 8.
A figura mostra a estrutura cúbica de face centrada (CFC) mostrando o arranjo
de átomos para uma célula unitária e o empacotamento real de átomos dentro da
célula unitária. Sabendo que o níquel (Ni) apresenta esta estrutura e possui um raio
atômico igual a R = 0,125.10-7 cm, determine quantas células unitárias estão presentes
em um centímetro cúbico do Ni.

Questão 9. O zircônio (Z = 40) possui estrutura cristalina HC como


representada, massa atômica AZr = 91,2 g/mol e densidade ρZr = 6,51 g/cm3.
Determine o volume de sua célula unitária em m3.
Questão 10. Sabendo que à temperatura ambiente o ferro possui uma estrutura
cristalina CCC, um raio atômico de 0,124 nm e um peso atômico de 55,85 g/mol,
determine sua densidade teórica.
Aula 4
Imperfeições em sólidos

APRESENTAÇÃO DA AULA

Na aula anterior, examinamos uma grande variedade de estruturas em escala


atômica, características de materiais importantes da Engenharia. Vimos essas
estruturas cristalinas como se fossem perfeitamente repetitivas. Porém, como você
deve ter descoberto muito antes desse contato com o mundo das ciências dos
materiais, nada em nosso mundo é tão perfeito. Não existe um material cristalino que
não tenha pelo menos algumas falhas estruturais. Pois bem, nesta aula estudaremos
sistematicamente essas imperfeições cristalinas. Você verá, caro(a) aluno(a), que na
realidade, muitas das propriedades dos materiais são profundamente sensíveis a
desvios da perfeição cristalina, e com frequência, características específicas são
deliberadamente moldadas pela introdução de quantidades ou números controlados
de defeitos específicos. Atenção, nesta aula mais que qualquer outra, é muito
importante que você visualize as simulações tridimensionais que serão propostas
sobre os defeitos cristalinos. Irá te auxiliar muito na compreensão destes importantes
fundamentos. Bons estudos!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Descrever os defeitos cristalinos lacuna (vacância) e auto-intersticial;


 Calcular o número de lacunas em equilíbrio em um material a uma
temperatura específica, das as constantes pertinentes;
 Citar os dois tipos de soluções sólidas e fornecer por escrito uma
definição sucinta e/ou um esboço esquemático de cada um deles;
 Entender as discordâncias em aresta (linha) e em hélice (espiral);
 Descrever a estrutura atômica dentro da vizinhança de um contorno de
grão.
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4 INTRODUÇÃO

Até agora admitimos tacitamente que, em uma escala atômica, existe uma
ordem perfeita ao longo da totalidade da extensão dos materiais cristalinos. Contudo,
esse tipo de sólido idealizado não existe; todos os materiais (veja bem, caro(a)
aluno(a), 'todos os materiais') contêm grandes números de variedade de defeitos ou
imperfeições.
Por "defeito cristalino" designamos uma irregularidade na rede cristalina com
uma ou mais das suas dimensões na ordem de um diâmetro atômico. A classificação
de imperfeições cristalinas é feita frequentemente de acordo com a geometria ou
dimensionalidade do defeito. Teremos nesse módulo a oportunidade de discutir e
entendermos várias dessas imperfeições.
O tipo mais simples de imperfeição é o defeito pontual, como um átomo faltando
(lacuna ou vacância). Esse tipo de defeito é o resultado inevitável da vibração térmica
normal dos átomos em qualquer sólido em uma temperatura acima do zero absoluto.
Defeitos lineares, ou discordâncias, seguem um caminho longo e, às vezes, complexo
através da estrutura cristalina. Defeitos planares representam o limite entre uma
região cristalina quase perfeita e seus arredores.

4.1 Defeitos pontuais - Lacunas e Auto-Interstício

O mais simples dos defeitos pontuais é a lacuna (também chamada


de vacância), ou sítio vago da rede cristalina, onde um sítio que
normalmente deveria estar ocupado está com um átomo faltando. Veja a
figura 4.1. Todos os sólidos cristalinos contêm lacunas. Na realidade, não é possível
criar um material que esteja isento desse tipo de defeito. A necessidade da existência
de lacunas é explicada utilizando-se os princípios da termodinâmica; essencialmente,
a presença de lacunas aumenta a entropia (isto é, aleatoriedade) do cristal.
Lembre-se, caro(a) aluno(a), que devido à agitação térmica, os
átomos de um cristal real estão sempre vibrando. Quanto maior a energia
térmica (ou temperatura), maior será a chance de átomos saírem de suas
posições, deixando um vazio em seu lugar. Por outro lado, dentro da rede cristalina
existem inúmeros interstícios, espaços vazios entre os átomos, nos quais é possível
alojar outros átomos.
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Um auto-intersticial é um átomo do cristal que se encontra comprimido no


interior de um sítio intersticial, um pequeno espaço vazio que sob circunstâncias
ordinárias não é ocupado. Este tipo de defeito também está representado na figura
4.1. Em metais, um auto-intersticial introduz distorções relativamente grandes na rede
cristalina circunvizinha, pois o átomo é substancialmente maior do que a posição
intersticial na qual ele está situado. Consequentemente, a formação desse defeito não
é muito provável, e ele existe somente em concentrações muito reduzidas, que são
significativamente menores do que aquelas exibida pelas lacunas.
A figura 4.1 destaca a lacuna e o auto-intersticial, além de impurezas intersticial
e substitucional que serão abordadas no próximo tópico.

Figura 4.1: Visualização das imperfeições pontuais num sólido cristalino.

Você pode visualizar e manipular os defeitos pontuais acessando o endereço:


<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=10>.

Saiba, caro(a) aluno(a), que o número de lacunas (vacâncias) em equilíbrio Nv


para uma dada quantidade de material depende da temperatura,
aumentando em função da temperatura de acordo com a seguinte
expressão
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Nesta expressão, N representa o número total de sítios atômicos, Qv


é a energia necessária para a formação de uma lacuna (energia de ativação
para o defeito), T é a temperatura absoluta em Kelvin e k é a constante de
Boltzman ou dos gases. O valor de k equivale a 8,62.10-5 eV/átomo.K. Dessa forma,
percebe-se que o número de lacunas aumenta exponencialmente em função da
temperatura. Para a maioria dos metais, a fração de lacunas Nv/N (também chamada
de concentração de defeitos) a uma temperatura imediatamente inferior à temperatura
de fusão é da ordem de 10-4; isto é, um sítio da rede cristalina em cada 10.000 sítios
estará vazio. Para entender bem essa ideia de concentração de defeitos, dê uma boa
olhada no exemplo 4.1. Também o livro do Callister (capítulo 4) mostra um bom
exemplo, em que calcula o número de lacunas em equilíbrio por metro cúbico de
cobre. Vale a pena dar uma conferida. Acompanhe agora o exemplo sobre o cálculo
da concentração de vacâncias em diferentes temperaturas para o cobre.
Exemplo 4.1: Calcule a concentração de vacâncias em cobre a 200ºC
(temperatura baixa), e a 1080ºC, bem próximo do seu ponto de fusão (Tf = 1084ºC).
Dados a energia de ativação Qv = 0,9 eV/atomo e a constante deBoltzman k = 8,62.10-
5 eV/átomo.K. Solução: Observando a equação 4.1, e atentando que a razão Nv/N
nos fornece fração de lacunas, ou seja, a concentração de defeitos (C D), com a
utilização dos dados:

nos permite calcular

O que nos mostra que a 1080ºC existirá aproximadamente 1/2 vacância a cada
1000 átomos, ou ainda, aproximadamente 1/2 vacância a cada 10 átomos em cada
direção.
P á g i n a | 89

4.2 Impurezas em sólidos - soluções sólidas

Lembre-se sempre meu(minha) caro(a) aluno(a) que não é possível evitar a


contaminação de materiais práticos. Atém mesmo produtos semicondutores de alta
pureza possuem algum nível mensurável de átomos de impurezas. Muitos materiais
da Engenharia contêm quantidades significativas de vários componentes diferentes,
como as ligas metálicas comerciais.
Como resultado, todos os materiais como os quais o Engenheiro lida
diariamente são, na realidade, soluções sólidas. A princípio, o conceito de uma
solução sólida pode ser difícil de entender. Na verdade, ele é essencialmente
equivalente à uma solução líquida que lhe seja familiar, como o sistema água-álcool
mostrado na figura 4.2. A solubilidade total do álcool na água é o resultado da mistura
molecular completa. Um resultado semelhante pode ser visto na figura 4.3, que mostra
uma solução sólida de átomos de cobre e níquel compartilhando a estrutura cristalina
CFC. O níquel atua como um soluto dissolvido no solvente cobre. Esses dois
elementos são completamente solúveis um no outro, em qualquer proporção.
Essa configuração, em particular, é conhecida como solução sólida
substitucional, pois os átomos de níquel estão substituindo os átomos de cobre nos
sítios atômicos CFC. Essa configuração ocorre quando os átomos não diferem muito
em tamanho.

Figura 4.2: Formação de uma solução líquida de água e álcool.


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Figura 4.3: Solução sólida de níquel no cobre mostrada ao longo de um plano.

Aqui é bom destacar que o sistema água-álcool, mostrado na figura 4.2,


representa dois líquidos completamente solúveis entre si em todas as
proporções. Para ocorrer essa mistura completa nas soluções de sólidos
metálicos, os dois metais precisam ser muito semelhantes, conforme
definido pelas regras de Hume-Rothery:
1. Fator do tamanho atômico - Menos de cerca de 15 % de diferença nos raios
atômicos;
2. Estrutura cristalina - A mesma estrutura cristalina;
3. Eletronegatividade - Eletronegatividade semelhantes (capacidade de o
átomo atrair um elétron);
4. Valências - A mesma valência.

Se um ou mais das regras de Hume-Rothery forem violadas, somente uma


solubilidade parcial será possível. Por exemplo, menos de 2%at (porcentagem
atômica) de silício é solúvel em alumínio.
Quando os tamanhos atômicos diferem muito, a substituição do átomo menor
em um sítio da estrutura cristalina pode ser energeticamente instável. Nesse caso, ela
é mais estável para um átomo menor simplesmente para caber em um dos espaços,
ou interstícios, entre átomos adjacentes na estrutura cristalina. Essa solução sólida
intersticial é exibida na figura 4.4, que mostra o carbono dissolvido intersticialmente
no Fe α. Essa solução intersticial é uma fase dominante nos aços. Embora mais
estável que uma configuração substitucional de átomos de C os sítios da rede do Fe,
a estrutura intersticial da figura 4.4 produz uma considerável tensão localmente à
P á g i n a | 91

estrutura cristalina do Fe α, e menos de 0,1% de C é solúvel no Fe α. Você saberia


calcular a relação entre o tamanho do átomo de carbono e o tamanho do interstício
para essa rede cristalina? Pense sobre isso, pois logo mais à frente você terá que
desenvolver essa relação em um exercício proposto.

Figura 4.4: Solução sólida do carbono no ferro α.

4.3 Defeitos lineares - discordâncias

Vimos que os defeitos pontuais (dimensão zero) são imperfeiçoes estruturais


resultantes da agitação térmica. Defeitos lineares (unidimensionais) são associados
principalmente à deformação mecânica, em torno do qual alguns átomos estão
desalinhados. Os defeitos lineares são também conhecidos como discordâncias. Um
exemplo simples aparece na figura 4.5, que mostra uma porção extra de um plano de
átomos, ou semiplano, cuja aresta termina no interior do cristal. Isto é conhecido como
discordância aresta. Se você observar bem caro(a) aluno(a), este é
um defeito linear que está centralizado em torno da linha que fica
definida ao longo da extremidade do semiplano de átomos adicional.
Isto é algumas vezes conhecido por linha de discordância, que, para
a discordância aresta mostrada na figura 4.5, é perpendicular ao plano da página. Que
fique claro, dentro da região em torno da linha da discordância existe uma distorção
localizada da rede cristalina. Os átomos acima da linha da discordância são
pressionados uns contra os outros, e os átomos abaixo são puxados um para longe
do outro.
Uma informação importante é o fato de que as discordâncias são responsáveis
pelo comportamento mecânico dos materiais quando submetidos a cisalhamento 1. E
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também, que as discordâncias são responsáveis pelo fato de os metais serem cerca
de 10 vezes mais "moles" do que deveriam.
1Fenômeno de deformação ao qual um corpo está sujeito quando as forças que
sobre ele agem estão em sentidos opostos, porém em direções semelhantes no
material analisado. Exemplo: a aplicação de forças perpendiculares, mas em sentidos
opostos.

Figura 4.5: Posições atômicas em torno de uma discordância de aresta. Os semiplanos


atômicos adicionais estão mostrados em perspectiva.

Perceba que esse defeito linear normalmente é designado pelo


símbolo de "T" invertido ( ). Essa configuração serve para uma
designação quantitativa simples, o vetor de Burges (b). Esse parâmetro
é simplesmente o vetor deslocamento necessário para completar uma
trajetória fechada em torno do defeito. Em um cristal perfeito, figura 4.6(a), uma
trajetória passando pelas posições atômica regressa ao ponto de partida. Na região
de uma discordância (figura 4.6(b)), a mesma trajetória são seria fechada. O vetor de
fechamento (b) representa a magnitude do defeito do defeito estrutural. Para
discordância de aresta, o vetor de Burges é perpendicular à linha de discordância.
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Figura 4.6: Definição do vetor de Burges (b) em relação a uma discordância de aresta.

Existe um outro tipo de discordância, chamado de discordância espiral, que


deriva seu nome do empilhamento espiral, ou helicoidal, de planos cristalinos em torno
da linha de discordância. Para a discordância espiral, o vetor de Burges é paralelo à
linha de discordância. A figura 4.7 mostra a discordância espiral.

Figura 4.7: Discordância espiral no interior de um cristal.

As discordâncias de aresta e espiral podem ser consideradas os


extremos puros da estrutura com defeito lineares. A maioria dos defeitos
lineares nos materiais reais será mista, como mostra a figura 4.8. Nesse
caso geral, a discordância mista tem características de aresta e espiral.
O vetor de Burges para a discordância mista não é perpendicular nem paralelo à linha
da discordância, mas mantém uma orientação fixa no espaço, coerente com as
definições anteriores para as regiões puramente de aresta ou espiral.
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Figura 4.8: Discordância mista no interior de um cristal.

Neste momento, é muito importante você visualizar a simulação sobre as


discordâncias (defeitos lineares) visto neste item. Acesse:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=10>

As discordâncias podem ser observadas em materiais cristalinos mediante o


uso de técnicas de microscopia eletrônica. Na figura 4.9, que representa uma
micrografia eletrônica de transmissão de alta ampliação, as linhas escuras são as
discordâncias. Você deve se lembrar sempre, caro(a aluno(a), que, virtualmente, todo
os materiais cristalinos contêm algumas discordâncias que foram introduzidas durante
a solidificação, durante a deformação plástica e como uma consequência das tensões
térmicas que resultam de um resfriamento rápido.

Figura 4.9: Micrografia eletrônica de transmissão de uma liga de titânio na qual as linhas
escuras são discordâncias.
P á g i n a | 95

4.4 Defeitos planares - imperfeições interfaciais

Os defeitos pontuais e os defeitos lineares são confirmações de que os


materiais cristalinos não podem ser isentos de falhas, pois essas imperfeições existem
no interior de cada um deles. Mas também temos de considerar que estamos limitados
a uma quantidade finita de qualquer material, e que ele está contido em alguma
superfície de contorno. Essa superfície, por si só, é uma ruptura do arranjo de
empacotamento atômico do cristal. Assim, podemos dizer que as imperfeições
interfaciais são contornos que possuem duas dimensões e normalmente
separam as regiões dos materiais que possuem diferentes estruturas
cristalinas e/ou orientações cristalográficas.
O defeito planar mais importante para nossa consideração nesse
curso introdutório ocorre no contorno de grão, a região entre dois monocristais
adjacentes, ou grãos. Temos que entender que dentro da região do contorno, que
possui provavelmente a largura equivalente à distância de apenas alguns poucos
átomos, existem alguns desencontros atômicos na transição da orientação cristalina
de um grão para aquela de outro grão adjacente. Fora a indústria eletrônica, os
materiais de Engenharia mais práticos são os policristalinos, e não aqueles em forma
de monocristais. A característica microestrutural predominante (ou seja, a arquitetura
em escala microscópica) de muito materiais da Engenharia é a estrutura granular,
como mostrado na figura 4.10. Entenda, caro(a) aluno(a), que as propriedades de
muitos materiais são altamente sensíveis a essas estruturas granulares.

Figura 4.10: Micrografia óptica típica de uma estrutura granular.


P á g i n a | 96

São possíveis vários graus de desalinhamento cristalográfico entre grãos


adjacentes. Quando esse desencontro da orientação é pequeno, da ordem de apenas
uns poucos graus, o termo contorno de grão de baixo ângulo é usado. Esses
contornos podem ser descritos em termos de arranjos de discordâncias. Um contorno
de grão de baixo ângulo simples é formado quando discordâncias de aresta estão
alinhadas de acordo com a maneira mostrada na figura 4.11, ou seja, apenas por
alguns graus. Este tipo é chamado de um contorno inclinado. O ângulo de
desorientação (θ) também está indicado na figura.

Figura 4.11: Demonstração de como um contorno inclinado que possui um ângulo de


desorientação θ resulta de um alinhamento de discordâncias.

Para que você entenda melhor caro(a) aluno(a), deve agora visualizar uma
excelente simulação sobre um contorno simples composto de dois conjuntos de
deslocações em hélice. Acesse o endereço eletrônico:
Simulação 5.o
Entenda, ainda, que a maioria dos contornos de grão envolve grãos adjacentes
em ângulos de desorientação arbitrários e razoavelmente grandes. A estrutura de
contorno de grão nesse caso geral é consideravelmente mais complexa do que a
mostrada na figura 4.11, e não iremos abordar aqui. No entanto, tem havido um
P á g i n a | 97

progresso considerável nas duas últimas décadas na compreensão da natureza da


estrutura do contorno de grão geral com altos ângulos.
Outra informação importante é que existe uma energia interfacial ou
do contorno de grão, devido ao fato de os átomos estarem ligados de
maneira menos regular ao longo de um contorno de grão. A magnitude
dessa energia é uma função do grau de desorientação, sendo maior para contornos
de grande ângulo. Os contornos de grão são quimicamente mais reativos do que os
grãos propriamente ditos, como consequência dessa energia de contorno. Além disso,
os átomos de impurezas com frequência se segregam preferencialmente ao longo
desses contornos, devido aos seus maiores estados de energia. Os grãos crescem
quando se encontram a temperaturas elevadas, a fim de reduzir a energia de contorno
total, um fenômeno que você estudará no item 3.7.4 da aula 12. E para finalizar,
meu(minha) caro(a) aluno(a), entenda que apesar desse arranjo desordenado dos
átomos e da falta de uma ligação regular ao longo dos contornos de grãos, um material
policristalino ainda é muito forte; as forças de coesão estão presentes no interior e
através do contorno. Além disso, a densidade de uma amostra de um material
policristalino é virtualmente idêntica àquela de um monocristal feito do mesmo
material.

4.4.1 Contornos de macla

Um contorno de macla é um tipo especial de contorno de grão através do qual


existe uma simetria específica em espelho da rede cristalina; isto é, os átomos em um
dos lados do contorno estão localizados em posições de imagem em espelho dos
átomos no outro lado do contorno, como mostrado na figura 4.12. As maclas resultam
de deslocamentos atômicos que são produzidos a partir de forças mecânicas de
cisalhamento aplicadas, e também durante tratamentos térmicos de recozimento após
deformações.
Além de observar a figura 4.12, caro(a) aluno(a), aproveite
para fazer uma breve pausa e acompanhar sua representação no
endereço eletrônico abaixo:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=10>.
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Figura 4.12: Demonstração de um plano ou contorno de macla, destacando as posições


atômicas adjacentes.

4.5 Defeitos volumétricos ou de massa

Existem outros tipos de defeitos presentes em todos os materiais sólidos que


são muito maiores do que todos aqueles que foram discutidos até agora. Estes
incluem poros, trincas, inclusões exógenas e outras fases. Essas imperfeições são
normalmente introduzidas durante as etapas de processamento e fabricação. A figura
4.13 destaca (a) vazios em fluência em microscopia eletrônica de um metal, e (b)
trincas de corrosão intergranular em aço INOX 316. Alguns desses defeitos e seus
efeitos sobre as propriedades dos materiais serão discutidos nos módulos
subsequentes.

Figura 4.13: Imagens de defeitos volumétricos em sólidos cristalinos.

4.6 Vibrações atômicas

Todos os átomos presentes em um material sólido estão vibrando muito


rapidamente em torno da sua posição reticular dentro do cristal. Em um certo sentido,
essas vibrações podem ser consideradas imperfeições ou defeitos. Em um dado
P á g i n a | 99

momento, os átomos em um material não estão todos vibrando com a mesma


frequência e amplitude, tampouco com a mesma energia. Para uma dada temperatura
existirá uma distribuição das energias dos átomos constituintes em torno de um valor
de energia médio. Ao longo do tempo, a energia vibracional de qualquer átomo
específico também irá variar de uma maneira aleatória. Com o aumento da
temperatura, essa energia média aumenta, e, de fato, a temperatura de um sólido é
realmente apenas uma medida da atividade vibracional média dos átomos e
moléculas que compõem o sólido.
Muitas propriedades e processos em sólidos são manifestações deste
movimento de vibração apresentado pelos átomos. Por exemplo, a fusão ocorre
quando as vibrações são vigorosas o suficiente para romper grandes números de
ligações atômicas.
Para terminar, caro(a) aluno(a), não se esqueça de consultar as
referências indicadas, pois lá você encontrará várias maneiras de reforçar
a aprendizagem do nosso conteúdo, também por consulta a outros sites,
vídeos e programas computacionais.

Assista também a um vídeo em espanhol sobre os defeitos


cristalinos que irá solidificar os conceitos estudados. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=n-HkS2mgjDo>.

Caso persista alguma dúvida em relação à teoria ou aos exercícios,


entre em contato com o tutor da disciplina.
Resumo

Nesta aula vimos que nenhum material real usado na Engenharia é tão perfeito
quanto as descrições estruturais vistas na aula 3. Assim, todos os materiais sólidos
contêm grandes números de imperfeições ou desvios da perfeição cristalina. Vimos
ainda que:
 Os vários tipos de imperfeição são classificados com base nas suas
geometrias e tamanhos. Defeitos pontuais são aqueles associados com
uma ou duas posições atômicas, incluindo lacunas (ou sítios vagos na
rede cristalina), auto-intersticiais (átomos hospedeiros que ocupam
sítios intersticiais) e átomos de impurezas;
 Uma solução sólida pode se formar quando átomos de impurezas são
adicionados a um sólido, em cujo caso a estrutura cristalina original é
mantida e nenhuma nova fase é formada.
 Quando os átomos de impureza ou solutos, são semelhantes aos
átomos do solvente, ocorre a solução substitucional, em que os átomos
da impureza repousam em sítios da rede cristalina. A solução intersticial
ocorre quando um átomo do soluto é pequeno o suficiente para ocupar
espaços vagos entre átomos adjacentes na estrutura cristalina;
 Defeitos lineares, ou discordâncias, correspondem a um semiplano extra
de átomos em um cristal que, afora isso, seria perfeito. Embora
estruturas com discordâncias possam ser complexas, elas também
podem ser caracterizadas por um parâmetro simples, o vetor de Burges;
 Os defeitos planares incluem qualquer superfície de contorno ao redor
de uma estrutura cristalina. Essas imperfeições interfaciais abrangem
contornos de grão (baixo e alto ângulo), contornos de macla, e outros
não abordados nesse material.
 A característica microestrutural predominante para muitos materiais da
Engenharia é a estrutura granular, em que cada grão é uma região com
uma orientação cristalina característica.
 Cada tipo de imperfeição, incluindo os defeitos volumétricos, possui
alguma forma de influência sobre as propriedades de um material.
Muitos destes defeitos importantes e dos elementos estruturais dos
materiais possuem dimensões microscópicas, e a observação destes só
é possível com o auxílio de um microscópio.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 4

Para as questões de 1 a 5, deve ser assinalada apenas


uma alternativa. Você deve assinalar a alternativa CORRETA se
todas as outras estiverem erradas, e deve assinalar a alternativa
INCORRETA se todas as outras estiverem certas.
Questão 1.
a) Impurezas ou átomos estranhos estarão sempre presentes nos materiais, e
alguns irão existir como defeitos cristalinos pontuais.
b) os metais não são altamente puros; ao contrário, são ligas nas quais os
átomos de impurezas foram adicionados intencionalmente para conferir
características específicas ao material.
c) A adição de átomos de impurezas a um metal irá resultar na formação de
uma solução sólida e/ou uma nova segunda fase, dependendo dos tipos de
impurezas, de suas concentrações e da temperatura da liga.
d) O soluto representa o elemento ou composto que está presente em maior
quantidade; ocasionalmente, os átomos de soluto são também chamados de
hospedeiros. O solvente indica o elemento ou composto que está presente em menor
concentração.
e) Uma solução sólida se forma quando, à medida que os átomos do soluto são
adicionados ao material hospedeiro, a estrutura cristalina é mantida e nenhuma nova
estrutura é formada.
Questão 2.
a) Muitas das propriedades importantes dos materiais policristalinos são
determinadas pelas várias imperfeições neles existentes.
b) As descontinuidades da rede espacial são chamadas imperfeições da rede
e podem ser caracterizadas geometricamente, segundo uma linha ou sobre uma
superfície.
c) Os cristais reais não são compostos simplesmente de átomos idênticos
situados em sítios idênticos, sobre uma rede tridimensional regularmente repetitiva.
Eles contêm defeitos ou imperfeições.
d) Uma imperfeição pontual é uma interrupção muito localizada na regularidade
da rede.
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e) Nas imperfeições pontuais a perturbação está centrada ao longo de uma


linha e que essa imperfeição pode ser considerada como a fronteira entre duas regiões
de uma superfície, que são em si mesmas perfeitas, havendo, porém, entre elas, um
desajuste.
Questão 3.
a) Quantidades apreciáveis de um soluto podem ser acomodadas nas soluções
sólidas somente quando a diferença entre os raios atômicos dos dois tipos de átomos
é menor do que aproximadamente ± 15%.
b) Quando os raios atômicos dos elementos em uma solução sólida diferem
mais que 10% uma nova fase irá se formar.
c) Os Para que a solubilidade dos sólidos seja apreciável, as estruturas
cristalinas para os metais de ambos os tipos de átomos devem ser diferentes.
d) Quanto mais eletronegativos forem os elementos, maior será a tendência de
que eles venham a formar um composto intermetálico.
e) Se as valências dos átomos ligantes forem diferentes existirá uma maior
tendência de formação de uma solução sólida substitucional.
Questão 4.
a) Uma discordância é um defeito linear ou unidimensional em torno do qual
alguns dos átomos desalinhados.
b) O contorno de grão é um defeito cristalino que separa dois pequenos grãos
ou cristais que possuem diferentes orientações cristalográficas em materiais
policristalinos. Dentro da região do contorno, que possui provavelmente a largura
equivalente à distância de apenas alguns poucos átomos, existem alguns
desencontros atômicos na transição da orientação cristalina de um grão para aquela
de outro grão adjacente.
c) O número de lacunas em equilíbrio N0 para uma dada quantidade de material
depende da temperatura, aumentando em função da temperatura de acordo com a
𝑄
seguinte expressão: 𝑁0 = 𝑁𝑒𝑥𝑝 (− 𝑘𝑇𝑣 ).

d) Em uma discordância de aresta o defeito corre ao longo da aresta da linha


extra de átomos; nela, o vetor de Burges é paralelo à linha de discordância.
e) Em uma discordância espiral ocorre um empilhamento espiral de planos
cristalinos em torno da linha de discordância; nela, o vetor de Burges é paralelo à linha
de discordância.
P á g i n a | 104

Questão 5.
a) Com base na tabela contendo informações para alguns elementos, pode-se
afirmar que o cobalto e o cobre são completamente solúveis entre si.
b) A tabela mostra que entre os elementos, pode-se afirmar que alumínio e
silício são solúveis entre si somente em um grau limitado, pois eles não satisfazem a
todas as regras de Hume-Rothery.
c) Observando a tabela percebe-se que o zinco e o cobre possuem mesma
valência e por isso formam uma solução sólida com miscibilidade total.
d) É possível constatar que a prata e o alumínio satisfazem todas as quatro
regras de Hume-Rothery.
e) É possível concluir que prata e alumínio formam uma solução sólida
intersticial.

Questão 6.
A tabela apresenta os valores para o raio atômico, estrutura cristalina,
eletronegatividade e valências mais comuns para vários elementos. Para aqueles que
são não-metais, apenas os raios atômicos estão indicados.
Quais desses elementos irá formar com o cobre:
(a) uma solução sólida substitucional com solubilidade completa?
(b) uma solução sólida substitucional com solubilidade incompleta?
(c) uma solução sólida intersticial?
P á g i n a | 105

Questão 7. Numa estrutura CCC o maior tipo de interstício é encontrado sobre


as faces, situados a meio caminho entre duas arestas da célula unitária sobre esta
face e a um quarto da distância entre as outras duas arestas da célula unitária, como
mostrado na figura. Indique quantas vezes é maior que o interstício o átomo de C na
ferrita – Fe α (CCC). Dados RC = 0,077 nm e RFe = 0,124 nm.

Questão 8. O sítio intersticial para dissolver um átomo de carbono no Fe-α


estudado nesta aula está representado na figura (a). Vimos que um átomo de carbono
é mais do que quatro vezes maior para o local e, por conseguinte, a solubilidade do
carbono no Fe-α é muito baixa. Considere agora o caso para a solução intersticial do
P á g i n a | 106

carbono na estrutura de alta temperatura (CFC) do Fe-γ. O maior sítio intersticial para
um átomo de carbono, cujo raio é rC = 0,077 nm, é representado na figura (b).
Determine por quanto o átomo de C no Fe-γ excede o tamanho. Considere que o raio
atômico para o ferro CFC é 0,126 nm.

Questão 9. Calcule a concentração de vacâncias (CD) para o chumbo na sua


temperatura de fusão de 327ºC. Suponha uma energia para a formação de lacunas
equivalente a 0,55 eV/átomo, e considere a constante de Boltzmann k = 8,62.10-5
eV/atom.K
Questão 10. Calcule o número de lacunas em equilíbrio por m 3 de cobre (Cu),
a 1000oC. A densidade do cobre é igual a ρ = 8,93 g/cm3, sua massa atômica vale M
= 63,45 g/mol, e seu raio atômico vale R = 0,128 nm. A energia para formação de uma
lacuna é de 0,9 eV/atomo.
Questão 11. Cite as orientações relativas para o vetor de Burges-linha da
discordância para discordâncias de aresta, espiral e mistas.
Questão 12.
(a) Para um dado material, você esperaria que a energia de superfície fosse
maior que, igual ou menor que a energia do contorno de grão? Por quê?
(b) A energia do contorno de grão para um contorno de grão de baixo ângulo é
menor do que aquela para um de alto ângulo. Por que isso acontece?
(c) Descreva sucintamente uma macla e um contorno de macla.
Aula 5
Difusão

APRESENTAÇÃO DA AULA

Na aula anterior, você foi apresentado(a) a uma série de defeitos pontuais,


como as vacâncias, os quais normalmente resultam da vibração térmica dos átomos
no material. Nesta aula, veremos a relação detalhada entre a temperatura e o número
desses defeitos, especialmente a concentração deles, que aumenta
exponencialmente com a elevação da temperatura. Irá entender que muitas reações
e processos que são importantes no tratamento de materiais dependem da
transferência de massa, seja no interior de um sólido específico (geralmente em um
nível microscópico) ou de uma outra fase sólida. Aprenderemos que isso é realizado
obrigatoriamente através da difusão, que é o fenômeno de transporte de material
através do movimento dos átomos. Iremos, portanto, caro(a) aluno(a), discutir os
mecanismos atômicos pelos quais a difusão ocorre, a matemática da difusão e a
influência da temperatura e do componente que está se difundindo sobre a taxa de
difusão.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Citar e descrever os dois mecanismos atômicos da difusão;


 Distinguir entre a difusão em estado estacionário e a difusão em estado
não-estacionário (transiente);
 Escrever a primeira Lei de Fick na forma de equação e definir todos os
seus parâmetros;
 Entender os fatores que influenciam na difusão.
P á g i n a | 108

5 INTRODUÇÃO

Em temperaturas suficientes, átomos e moléculas podem ser


bastante móveis em líquidos e sólidos. Basta observar uma gota de tinta
cair em um recipiente de água e se espalhar até que toda a água seja
colorida por igual, para perceber uma demonstração simples de difusão.
É fácil entender que ocorre movimento das moléculas de uma região de maior
concentração para uma de menor concentração. Mas esse fenômeno não é restrito a
materiais diferentes. Em temperatura ambiente, moléculas de H2O na água pura estão
em movimento contínuo e migrando pelo líquido como um exemplo de autodifusão.
Esse movimento em escala atômica é relativamente rápido nos líquidos e um
tanto fácil de visualizar. É mais difícil visualizar a difusão em sólidos rígidos; mas
apesar disso, ela ocorre no estado sólido. A principal diferença entre a difusão no
estado sólido e no estado líquido é a baixa taxa de difusão nos sólidos.
O fenômeno da difusão pode ser demonstrado mediante o uso de um par de
difusão, que é formado ao se colocarem juntas as barras de dois metais diferentes, de
modo que exista um contato íntimo entre as duas faces; isso está ilustrado para o
cobre e o níquel na figura 5.1, que inclui representações esquemáticas das posições
atômicas e da composição através da interface. Esse par de difusão é aquecido a uma
temperatura elevada (porém abaixo da temperatura de fusão para ambos os metais)
por um período de tempo prolongado, e resfriado até a temperatura ambiente.
É possível ver também as concentrações de cobre e níquel em função da
posição ao longo do par de difusão.
P á g i n a | 109

Figura 5.1: Par de difusão cobre-níquel (a) antes e (b) após ser submetido a um tratamento
térmico a temperatura elevada.

Para entender melhor, caro aluno(a), acesse o link a seguir para


visualizar essa difusão de átomos:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=19>.

Uma análise química revelará uma condição semelhante à


representada na figura 5.1, ou seja, cobre e níquel puros localizados nas
duas extremidades das barras, separados por uma região onde existe a
liga dos dois metais. Falaremos muito sobre a liga cobre-níquel nas aulas seguintes,
caro(a) aluno(a). Principalmente nas aulas sobre diagramas de fase (aulas 6 e 7); por
isso é bom já darmos esse fácil exemplo no estudo da difusão. As concentrações de
ambos os metais variam de acordo com a posição, conforme está mostrado na figura
5.1(b). Este resultado indica que os átomos de cobre migraram ou se difundiram para
o interior do níquel, e que o níquel se difundiu para o interior do cobre. Esse processo,
no qual os átomos de um metal se difundem para o interior de um outro,
é chamado de interdifusão, ou difusão de impurezas.
P á g i n a | 110

5.1 Mecanismos da difusão

Você já deve ter entendido caro(a) aluno(a) que de uma perspectiva atômica, a
difusão é tão-somente a migração em etapas dos átomos de um sítio para outro sítio
do retículo cristalino. De fato, os átomos em materiais sólidos estão em movimentação
constante, mudando rapidamente as suas posições. Para um átomo fazer esse tipo
de movimento, duas condições devem ser atendidas: (1) deve existir um sítio
adjacente vazio e (2) o átomo deve possuir energia suficiente para quebrar as ligações
atômicas que o une aos seus átomos vizinhos e então causar alguma distorção na
rede cristalina durante o deslocamento. Essa energia é de natureza vibracional (reveja
o tópico 7 da aula anterior). A uma dada temperatura específica, uma pequena fração
do número total de átomos é capaz de realizar movimento por difusão, em virtude das
magnitudes das suas energias vibracionais. Essa fração aumenta em função do
aumento da temperatura. Foram propostos vários modelos diferentes para este
movimento atômicos; dessas possibilidades, duas são dominantes para a difusão em
metais e serão aqui discutidas.

5.1.1 Difusão por lacuna

Como o próprio nome indica, este é um mecanismo que envolve o


deslocamento de um átomo de uma posição normal da rede cristalina para um sítio
vago do retículo, ou lacuna (vacância), adjacente, conforme está
representado esquematicamente na figura 5.2. Obviamente, esse processo
exige a presença de lacunas, e a extensão segundo a qual a difusão por
lacuna pode ocorrer é uma função do número desses defeitos que estão presentes.
Uma vez que os átomos em difusão e as lacunas trocam de posições, a difusão
dos átomos em uma direção corresponde ao movimento das lacunas na direção
oposta. Tanto a autodifusão como a interdifusão ocorrem por este mecanismo; no
caso desta última, os átomos de impureza devem substituir os átomos hospedeiros.
P á g i n a | 111

Figura 5.2: Representação esquemática da difusão por lacuna.

5.1.2 Difusão intersticial

O segundo tipo de difusão envolve átomos que migram de uma


posição intersticial para uma outra vizinha que esteja vazia. Esse
mecanismo é encontrado para interdifusão de impurezas tais como
hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio, que possuem átomos pequenos o
suficiente para se encaixarem no interior das posições intersticiais. Os átomos
hospedeiros e os átomos de impurezas substitucionais raramente formam intersticiais
e normalmente não se difundem através deste mecanismo. Esse fenômeno é
chamado apropriadamente de difusão intersticial.
A figura 5.3 representa esquematicamente esse mecanismo de difusão.

Figura 5.3: Representação esquemática da difusão intersticial.

É importante você saber, caro(a) aluno(a) que na maioria das ligas metálicas,
a difusão intersticial ocorre muito mais rapidamente do que a difusão por lacunas, uma
P á g i n a | 112

vez que os átomos intersticiais são menores, e dessa forma são também mais móveis.
Além disso, existem mais posições intersticiais vazias do que lacunas; portanto, a
probabilidade de um movimento atômico intersticial é maior do que para a difusão por
lacunas.
É importante você acessar agora o link para visualizar os mecanismos de
difusão nos sólidos:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=19>.

5.2 Difusão em estado estacionário

Como já discutido, a difusão é um


processo que depende do tempo; isto é, em
um sentido macroscópico, a quantidade de um
elemento que é transportado no interior de outro elemento
é uma função do tempo. Frequentemente torna-se
necessário saber o quão rápido ocorre a difusão, ou seja, a
taxa de transferência de massa. Essa taxa é expressa
Adolf Eugen Fick (1829-
como um fluxo de difusão (J), definido como sendo a 1901), fisiologista
alemão. As ciências
massa M (ou, de forma equivalente, o número de átomos)
médicas
que está em difusão através e perpendicularmente a uma constantemente
aplicam princípios
área unitária de seção reta do sólido por unidade de tempo. desenvolvidos
anteriormente nos
O tratamento matemático formal do fluxo difusional campos da matemática,
física e química. No
começa com uma expressão conhecida como a primeira entanto, o trabalho de
Fick na escola
lei de Fick,
'mecanística' da
fisiologia foi tão
excelente que serviu
como guia para as
ciências físicas. Ele
desenvolveu as leis da
difusão como parte de
onde Jx é o fluxo , ou taxa de fluxo, das espécies em um estudo do fluxo de
sangue.
difusão na direção x devido a um gradiente de
𝜕𝑐
concentração ( 𝜕𝑥 )

O coeficiente de proporcionalidade, D, é chamado de coeficiente de difusão


ou simplesmente, difusividade. A geometria da equação 5.1 é ilustrada na figura 5.4.
P á g i n a | 113

Figura 5.4: Geometria da primeira lei de Fick.

Se o fluxo difusivo não variar ao longo do tempo, existe uma condição de estado
estacionário. Um exemplo comum de difusão em estado estacionário é a difusão
dos átomos de um gás através de uma placa metálica para a qual as concentrações
(ou pressões) do componente em difusão em ambas as superfícies da placa são
mantidas constantes. Isto está representado esquematicamente na figura 5.5(a).
Quando a concentração C é plotada em função da posição (ou distância) no
interior do sólido, x, a curva resultante é conhecida por perfil de concentração; a
inclinação, ou coeficiente angular, em um ponto particular sobre esta
curva é o gradiente de concentração. No tratamento em questão,
admite-se que o perfil de concentração é linear, conforme mostrado na
figura 5.5(b); o que leva a uma solução relativamente simples, pelo fato de o fluxo ser
proporcional ao gradiente de concentração, de acordo com a expressão:

Figura 5.5: (a) Difusão em estado estacionário através de uma placa fina. (b) Perfil de
concentração linear para a situação de difusão representada em (a).
P á g i n a | 114

O sinal negativo na expressão 5.2 indica que a direção da difusão se dá contra


o gradiente de concentração, isto é, da concentração mais alta para a concentração
mais baixa.
Para problemas de difusão, algumas vezes torna-se conveniente expressar a
concentração em termos da massa do componente em difusão por unidade de volume
do sólido (Kg/m3 ou g/cm3).
Aproveite este momento para pensar mais sobre o assunto,
acessando o endereço e visualizar a simulação da difusão em
estado estacionário e perfil de concentração:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=19>.

Para você entender melhor, querido(a) aluno(a), saiba que um


exemplo prático da difusão em estado estacionário pode ser encontrado
na purificação do gás hidrogênio. Um dos lados de uma chapa fina de
paládio metálico é exposta ao gás impuro, composto pelo hidrogênio e por outros
componentes gasosos, como o nitrogênio, o oxigênio e o vapor d'água. O hidrogênio
se difunde seletivamente através da chapa, para o lado oposto, que é mantido sob
uma pressão de hidrogênio constante e inferior.
A matemática da difusão permite uma descrição precisa da variação da
composição química dentro dos materiais, como resultado de diversos processo de
difusão. Um exemplo importante é a carbonetação dos aços, na qual a superfície é
enrijecida pela difusão dos átomos de carbono a partir de um ambiente rico em
carbono. Observe agora um exemplo que aborda esse último comentário.
Parece complicado meu (minha) caro(a)?... Para que você veja que não é,
acompanhe o exemplo a seguir sobre a primeira Lei de Fick.
Exemplo 5.1: Uma placa de ferro é exposta a uma atmosfera carbonetante
(rica em carbono) por um de seus lados, e a uma atmosfera descarbonetante
(deficiente em carbono) pelo outro lado, a 700ºC. Se uma condição de estado
estacionário é atingida, calcule o fluxo de difusão do carbono através da placa,
sabendo-se que as concentrações de carbono nas posições a 5 e a 10 mm abaixo da
superfície carbonetante são de 1,2 e 0,8 Kg/m 3, respectivamente. Suponha um
coeficiente de difusão de 3.10-11 a essa temperatura.
P á g i n a | 115

Solução: A primeira lei de fick, equação 5.2, é usada para determinar o fluxo
por difusão. A substituição dos valores acima naquela expressão fornece
𝐶𝑎 − 𝐶𝑏 −11 2
(1,2 − 0,8)𝐾𝑔/𝑚3
𝐽𝑥 = −𝐷 = −(3. 10 𝑚 /𝑠) = 2,4. 10−9 𝐾𝑔/𝑚2 . 𝑠
𝑥𝑎 − 𝑥𝑏 (5. 10−3 − 10−2 )𝑚

5.3 Difusão em estado não-estacionário

Como você mesmo deve estar pensando, caro(a) aluno(a), a maioria


das situações práticas envolvendo difusão ocorre em condições de estado
não-estacionário (condições transientes). Isto é, o fluxo de difusão e o
gradiente de concentração em um ponto específico no interior de um sólido variam ao
longo do tempo, resultando num acúmulo ou esgotamento líquido do componente que
se encontra em difusão. Isso está ilustrado na figura 5.6, que mostra os perfis de
concentração em três momentos diferentes do processo de difusão.

Figura 5.6: Perfis de concentração para um processo de difusão em estado não-


estacionário, tomados em três diferentes instantes de tempo, t1, t2 e t3.

Para entender melhor sobre os perfis de concentração para


condições transientes ou não-estacionárias, acesse o endereço e
visualize a simulação:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=19>.
P á g i n a | 116

Imaginamos, caro(a) aluno(a), que você deve logo se perguntar se vem alguma
coisa complicada por aí, certo? Pois bem, sob condições de estado não-estacionário,
o uso da equação 5.2 (primeira lei de Fick) não é mais conveniente; em lugar disso, é
usada uma equação diferencial de segunda ordem, conhecida por segunda lei de
Fick. Mas você pode se tranquilizar, caro(a) estudante, que foge do escopo dessa
nossa discussão explorar matematicamente a segunda lei de Fick.
Achamos, porém, muito importante que você entenda, caro(a)
aluno(a), que a difusão sob condições de estado não-estacionário é uma
excelente ferramenta para a compreensão da difusão de um material em
um sólido semi-infinito1, em que a concentração na superfície das espécies se
difundindo permanece constante. Dois exemplos desse sistema seriam o revestimento
de metais e a saturação de materiais com gases atmosféricos reativos. Como já
discutido, especificamente, as superfícies de aço normalmente são enrijecidas pela
carbonetação, a difusão dos átomos de carbono no aço a partir de um ambiente rico
em carbono.
1Uma barra sólida é considerada semi-infinita se nenhum dos átomos em
difusão é capaz de atingir a extremidade da barra durante o tempo de procedimento
da difusão.

5.4 Fatores que influenciam a difusão

5.4.1 Espécies difusivas

A magnitude do coeficiente de difusão D é um indicativo da taxa segundo a qual


os átomos se difundem. Os coeficientes, tanto de autodifusão como de interdifusão,
para vários sistemas metálicos podem ser encontrados no livro do Callister (Ciência e
Engenharia de Materiais: Uma Introdução) que, como você sabe, consta nas
referências. Saiba, no entanto, que as espécies difusivas, bem como o material
hospedeiro, influenciam o coeficiente de difusão.
Por exemplo, existe uma diferença significativa na magnitude entre a
autodifusão e a interdifusão do carbono no ferro α a 500ºC, e o valor de D é maior
para a interdifusão do carbono (3,0.1021 contra 2,4.10-12 m2/s). Essa comparação
também proporciona um contraste entre as taxas de difusão por lacuna e intersticial,
P á g i n a | 117

conforme você viu anteriormente. A autodifusão ocorre mediante um mecanismo de


lacunas, enquanto a difusão do carbono no ferro é intersticial.

5.4.2 Temperatura

A temperatura apresenta uma influência das mais


profundas sobre os coeficientes e taxas de difusão. Por
exemplo, para a autodifusão do Fe no Fe α, o coeficiente
de difusão aumenta em aproximadamente seis ordens de
magnitude (de 3,0.10-21 para 1,8.10-15 m2/s) ao se elevar a
temperatura de 500 para 900ºC. Svante August
A dependência dos coeficientes de difusão em Arrhenius (1859-1927),
químico sueco, deixou
relação à temperatura se dá de acordo com a expressão diversas contribuições
para a físico-química,
incluindo a
demonstração
experimental da
equação5.3 para as
taxas de reação química.

onde D0 é uma constante pré-exponencial independente da temperatura, Qd é


a energia de ativação para a difusão, R é a constante dos gases (8,62.10-5 eV/átomo)
e T é a temperatura absoluta.
A energia de ativação pode ser considerada como aquela energia necessária
para produzir o movimento difusivo de um mol de átomos. Uma energia de ativação
elevada resulta em um coeficiente de difusão relativamente pequeno.
Como último comentário desse tópico, caro(a) aluno(a), nos permita fazer uma
sucinta abordagem matemática sobre a equação 5.3, também conhecida como
equação de Arrhenius. Se forem feitos o logaritmo natural de cada lado dessa
equação, obtém-se uma 'linearização' da função e, fazendo um gráfico em escala
semilogarítmica de D em função do inverso da temperatura absoluta, teremos uma
linha reta dos dados da taxa de difusão, que possui coeficientes angular e linear
(inclinação e interseção com o eixo y). Veja a figura 5.7, para entender melhor esta
discussão.
P á g i n a | 118

Figura 5.7: Gráfico de Arrhenius típico dos dados em comparação com a equação 5.3.

Para que essa discussão fique clara, caro(a) aluno(a), acesse o link
sobre o gráfico de Arrhenius para obtenção da energia de ativação Q e
constante c:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=18>.

Entenda também que isso é, na realidade, a maneira como os valores de Qd e


D0 são determinados experimentalmente.
A partir desse tipo de gráfico para diversos sistemas de ligas, pode-se observar
que existem relações lineares para todos os casos discutidos.
Algumas estão indicadas na figura 5.8.
P á g i n a | 119

Figura 5.8: Gráfico do logaritmo do coeficiente de difusão em função do inverso da


temperatura absoluta para diversos metais.

5.5 Caminhos alternativos de difusão

Para terminar, caro(a) aluno(a), antes de você fazer aquela merecida


pausa para ir com todo vigor aos exercícios dessa aula, vale um aviso final
a respeito do uso de dados de difusividade específicos para analisar o
processamento de um material em particular.
É que até este ponto, consideramos a difusão volumétrica, ou difusão no
sólido, através da estrutura cristalina de um material, por meio de algum mecanismo
de defeito. No entanto, a migração atômica também pode ocorrer ao longo das
discordâncias, contorno de grão e superfícies externas, algumas vezes chamados de
caminhos de difusão de "curto-circuitos". Isto é associado a caminhos de difusão mais
fáceis, uma vez que as taxas de difusão são muito maiores do que aquelas para a
difusão nomeio da massa sólida.
A figura 5.9 mostra que os coeficientes de autodifusão para a prata variam de
várias ordens de grandeza, dependendo da rota para o transporte difusional. Como
podemos ver, a difusão é muito mais rápida (com um Q inferior) ao longo de um
contorno de grão. Conforme você estudou no item 5 da aula anterior, essa região de
divergência entre grãos cristalinos adjacentes na microestrutura do material é uma
estrutura mais aberta, permitindo uma difusão intensificada nos contornos de grão.
P á g i n a | 120

Figura 5.9: Diagrama dos coeficientes de autodifusão para a prata em função da


temperatura.

Você pode verificar a simulação dos aspectos discutidos e mostrados


no diagrama da figura 5.9 acessando o endereço:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=19>.

Pode-se perceber que a superfície cristalina é uma região ainda mais aberta, e
a difusão superficial permite o transporte de átomos mais facilmente ao longo da
superfície livre menos obstruída por átomos adjacentes. O resultado geral é que:

Esse resultado não significa que a difusão superficial sempre é o processo


importante simplesmente porque Dsuperfície é o maior. Mais importante é a quantidade
de região de difusão disponível. Na maior parte dos casos, a difusão volumétrica
domina. Para um material com um pequeno tamanho de grão médio e, portanto, uma
área de contorno de grãos grande, a difusão de contorno de grão pode dominar. De
modo semelhante, em umpó fino com uma área superficial grande, a difusão
superficial pode dominar.
P á g i n a | 121

Assista para encerrar ao vídeo que mostra um resumo breve


para fixarmos o conteúdo que acabamos de ver.
É um vídeo em espanhol da Universidade Politécnica de
Valência, mas você entenderá tranquilamente. Acesse o link:
<https://www.youtube.com/watch?v=oTeC0jvO6d8&list=
PL5CAA89BD44DCDD7D&index=5>.

Lembre-se de praticar resolvendo os exercícios propostos


para esta aula.
Caso alguma dúvida persista, em relação à teoria ou aos
exercícios, entre em contato com o tutor da disciplina.

Bons estudos!
Resumo

Nesta aula, vimos que os defeitos pontuais introduzidos no módulo anterior


desempenham um papel central no movimento dos átomos pela difusão no estado
sólido e que vários problemas práticos na produção e aplicação dos materiais da
Engenharia envolvem esses processos difusionais. Vimos também que esse
movimento atômico se processa em etapas; e ainda que:

 Dois mecanismos são possíveis: por lacunas e intersticial. Para um dado


metal hospedeiro, espécies atômicas intersticiais normalmente se
difundem mais rapidamente;
 O termo "autodifusão" se refere a migrações de átomos hospedeiros;
para átomos de impurezas, é usado o termo "interdifusão";
 As concentrações de defeito pontual aumentam exponencialmente com
a temperatura absoluta, em outra expressão de Arrhenius;
 Como a difusão em estado sólido nos materiais cristalinos ocorre por
meio de um mecanismo de defeito pontual, a difusividade, definida pelas
leis de Fick, também aumenta exponencialmente com a temperatura
absoluta seguindo uma expressão de Arrhenius;
 O modelamento matemático da difusão permite uma descrição
relativamente precisa dos perfis de concentração química das espécies
em difusão. Para algumas geometrias de amostras, o perfil de
concentração se aproxima de uma forma simples e linear após um tempo
relativamente longo. Essa difusão em estado estacionário é bem
ilustrada pelo transporte de gás por membranas finas;
 No caso de materiais policristalinos finos, ou pós, o transporte de
material pode ser dominado pela difusão nos contornos de grão ou
difusão superficial, respectivamente, pois, em geral Dvolume < Dcontorno de
grão < Dsuperfície;
 Outro resultado é que, para determinado sólido policristalino, a
penetração de impurezas será maior ao longo dos contornos de grão e
ainda maior ao longo da superfície livre.
Complementar

Você pode ampliar seus conhecimentos com um material


do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
Acesse:
<http://www.pmt.usp.br/pmt5783/Difus%C3%A3o.pdf>
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 5

Questão 1. Com relação ao que foi estudado nesta aula


sobre a difusão no estado sólido, analise as afirmativas abaixo e
assinale a INCORRETA:
a) A difusão é o movimento de átomos de uma região de
maior concentração para uma de menor concentração.
b) A autodifusão ocorre mediante um mecanismo de lacunas.
c) A difusão do carbono no ferro é intersticial e é um bom exemplo de
autodifusão.
d) Um exemplo comum de difusão em estado estacionário é a difusão dos
átomos de um gás através de uma parede gasosa, cujas concentrações do
componente em difusão são mantidas constantes ao longo da parede.
e) A primeira lei de Fick é utilizada para determinar o fluxo por difusão em
estado estacionário ao longo de uma única direção.
Questão 2. Com relação ao que foi estudado nesta aula sobre a difusão no
estado sólido, analise as afirmativas abaixo e assinale a CORRETA:
a) As discordâncias desempenham um papel fundamental no movimento dos
átomos pela difusão no estado sólido.
b) A difusão no estado sólido diminui exponencialmente com a temperatura.
c) O modelamento matemático da difusão permite uma descrição relativamente
precisa dos perfis de concentração química das espécies em difusão.
d) A difusão será sempre maior nos contornos de grão que ao longo da
superfície livre do material.
e) A segunda lei de Fick explica a difusão em estado estacionário.
Questão 3. Explique sucintamente a diferença entre autodifusão e interdifusão.
Questão 4.
(a) Compare os mecanismo atômicos de difusão intersticial e por lacunas.
(b) Cite duas razões pelas quais a difusão intersticial é normalmente mais
rápida que a difusão por lacunas.
Questão 5. Explique sucintamente o conceito de estado estacionário e sua
aplicação à difusão.
Questão 6. Realize uma pesquisa e cite os valores dos coeficientes de difusão
para a interdifusão do carbono no ferro α (CCC) e no ferro γ (CFC) a 900 ºC. Qual
valor é maior? Tente explicar por que isso acontece.
P á g i n a | 126

Questão 7. Você estudou que a difusão atômica pode ser definida como um
mecanismo pelo qual a matéria é transportada através da matéria. Os átomos em
gases, líquidos e sólidos estão em constante movimento. O movimento atômico é
relativamente rápido. O movimento atômico em sólidos é bastante restrito, já que as
forças de ligação atômicas são elevadas e, também, devido à existência de posições
de equilíbrio bem definidas. Viu que a difusão atômica em metais e ligas é,
particularmente, importante, pois a maioria das reações de estado sólido, que são
fundamentais em metalurgia, envolve movimentos atômicos. Suponha uma placa de
ferro, semelhante ao exemplo 5.1 deste módulo, exposta a uma atmosfera
carbonetante por um de seus lados, e a uma atmosfera descarbonetante pelo outro
lado, a 700ºC, em estado estacionário de difusão. Calcule o fluxo de difusão do
carbono através da placa, sabendo-se que as concentrações de carbono nas posições
a 1 e a 10 mm abaixo da superfície carbonetante são de 1,8 e 0,8 Kg/m 3,
respectivamente. Suponha um coeficiente de difusão de 3.10 -11 a essa temperatura.
Questão 8. Você viu no tópico 5 dessa aula que um exemplo prático da difusão
em estado estacionário é a purificação do gás hidrogênio através de uma chapa de
paládio. Suponha que seja usada uma chapa de 5,0 mm de espessura de paládio com
uma área de seção reta de 0,2 m2 como membrana difusional em estado estacionário
para purificar o hidrogênio. Se a concentração de hidrogênio no lado de alta pressão
(gás impuro) da chapa for 0,3 Kg/m3 e o coeficiente de difusão para o hidrogênio no
Pd for 1,0.10-8 m2/s, calcule a massa do hidrogênio purificada por hora.
Questão 9. Para a membrana de purificação dada no exercício anterior, quanto
hidrogênio seria purificado por hora se a membrana usada tiver 3 mm de espessura,
com todas as outras condições inalteradas?
Questão 10. Uma chapa de aço com 1,5 mm de espessura e a 1200ºC possui
atmosferas de nitrogênio em ambos os lados, e se lhe permite atingir uma condição
de difusão em estado estacionário. O coeficiente de difusão para o nitrogênio no aço
a essa temperatura é de 6.10-11 m2/s, e se determina o fluxo de difusão de 1,2.10 -7
Kg/m2s. Sabe-se ainda que a concentração do nitrogênio no aço na superfície com
alta pressão é de 4 Kg/m3. A que profundidade para o interior da chapa, a partir deste
lado com pressão elevada, a concentração será de 2,0 Kg/m 3? Considere um perfil de
concentrações linear.
Questão 11. Existe uma diferença de pressão de nitrogênio através de uma
parede de aço de um forno com espessura de 2 mm. Depois de algum tempo, a
P á g i n a | 127

difusão em estado estacionário do nitrogênio é estabelecida pela parede. Dado que a


concentração de nitrogênio na superfície de alta pressão da parede é de 2 Kg/m3 e na
superfície de baixa pressão é de 0,2 Kg/m 3, calcule o fluxo de nitrogênio através da
parede (em Kg/m2.h) se o coeficiente de difusão para o nitrogênio nesse aço for 1,0.10-
10 m2/s na temperatura de operação do forno.
Questão 12. Uma mistura gasosa contendo H2, N2, O2 e vapor d’água é
pressurizada contra uma lamina de 6 mm de espessura de Paládio cuja área é 0,25
m2 a 600°C. O coeficiente de difusão é DH/Pd (600°C) = 1,7x10-8 m2/s e a concentração
no lado da placa de alta e baixa pressão é respectivamente 2,0 e 0,4 KgH2/m3 Pd. A
difusão acontece em estado estacionário. H2 é purificado por difundir-se mais
rapidamente que os demais gases, atingindo a outra face da lamina que está mantida
sob pressão atmosférica. Calcule o fluxo de difusão do H2 (purificação) em kg/hora.
Aula 6 e 7
Diagramas de fases

APRESENTAÇÃO DA AULA

Caro(a) aluno(a), como o tema diagramas de fases é muito importante e irá


demandar uma atenção especial de sua parte, tomamos a liberdade de dividir o
assunto em duas aulas sequenciais. Nestas duas aulas vamos compreender que o
conhecimento de diagramas de fases para sistemas de ligas é extremamente
importante, pois existe uma forte correlação entre a microestrutura e as propriedades
mecânicas, e o desenvolvimento da microestrutura em uma liga está relacionado às
características do seu diagrama de fases. Iremos entender que os diagramas de fases
fornecem informações valiosas sobre os fenômenos da fusão, fundição, cristalização
e outros. Nestas aulas navegaremos pela terminologia associada aos diagramas de
fases, pela interpretação dos diagramas de fases binários mais comuns (aula 6) e
eutéticos (aula 7), além do desenvolvimento de microestruturas em equilíbrio, quando
submetidas a resfriamento, para diversas situações. Lembre-se sempre de assistir aos
vídeos indicados e acessar as simulações propostas. Bons estudos!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Esboçar esquematicamente diagramas de fases simples isomorfos e


eutéticos;
 Identificar as diferentes regiões das fases reconhecendo as curvas
líquidus, sólidus e solvus;
 Determinar as fases, a composição e as frações mássicas das fases
para um determinado diagrama de fases binário;
 Localizar as temperaturas e composições de todos os eutéticos, além
de escrever as reações para essa transformação.
P á g i n a | 129

6 A REGRA DA ALAVANCA

Desde o início desta aula, caro(a) aluno(a), vimos que o conceito fundamental
da ciência dos materiais é que as propriedades dos materiais seguem suas estruturas
atômicas e microscópica. Vimos, por exemplo, a dependência das propriedades de
transporte com a estrutura em escala atômica na aula anterior. Pois bem, para
apreciar totalmente a natureza das muitas propriedades sensíveis à microestrutura
dos materiais da Engenharia, temos de gastar algum tempo explorando as formas
como a microestrutura é desenvolvida.
Uma ferramenta importante nessa exploração é o diagrama de fases, que é
um mapa que nos guiará na resposta à pergunta geral: que microestrutura deverá
existir em determinada temperatura para determinada composição de material? Essa
é uma questão com uma resposta específica, baseada, em parte, na natureza de
equilíbrio do material.
Antes, porém, de iniciarmos essa viagem pelo mundo dos diagramas de fases
nessas duas aulas e nos dedicarmos à sua interpretação e utilização, é necessário
estabelecer um alicerce de definições e conceitos básicos relacionados às ligas, fases
e equilíbrio. Está pronto?... Então vamos nessa.

6.1 Definições e conceitos básicos

Comecemos com definições de termos dos quais precisaremos para entender


a discussão sobre a quantificação da natureza das microestruturas. O termo
componente é usado com frequência nessa discussão; os componentes são metais
puros e/ou compostos que compõem uma liga. Por exemplo, em um latão cobre-zinco,
os componentes são Cu e Zn. São o soluto e solvente, que são também termos
comuns e foram definidos no item 3 da aula 4. Um outro termo usado nesse contexto,
caro(a) leitor(a), é sistema, que possui dois significados.
Em primeiro lugar, sistema pode se referir a um corpo específico de material
sob consideração (por exemplo, uma panela de fundição com aço fundido). Ou, ele
pode estar relacionado à série de possíveis ligas que consistem nos mesmos
componentes, porém independente da composição da liga (por exemplo, o sistema
ferro-carbono).
P á g i n a | 130

O conceito de solução sólida foi também apresentado na seção 3


da aula 4, lembra-se?... Para fins de revisão, uma solução sólida consiste
em pelo menos dois tipos diferentes de átomos; com os átomos de soluto
ocupando posições substitutivas ou intersticiais no retículo cristalino do
solvente, sendo a estrutura cristalina do solvente mantida.
O limite de solubilidade é a concentração máxima de átomos de
soluto que pode se dissolver no solvente para formar uma solução sólida.
É claro, a adição de soluto em excesso, além desse limite de solubilidade,
resulta na formação de uma outra solução sólida ou de outro composto que possui
composição marcadamente diferente. Para ilustrar esse conceito, considere o sistema
água-açúcar (H2O-C12H22O11); inicialmente, à proporção que o açúcar é adicionado à
água, forma-se uma solução ou xarope água-açúcar, mas à medida que mais açúcar
é introduzido a solução se torna mais concentrada, até que o limite de solubilidade é
atingido, e as adições seguintes simplesmente se sedimentam no fundo do recipiente.
Aí, o sistema consistirá em duas substâncias separadas: uma solução líquida de
xarope água-açúcar e cristais sólidos de açúcar que não foram dissolvidos. O limite
de solubilidade depende da temperatura, sendo que normalmente ele aumenta com a
elevação da temperatura.

6.2 Fases

Também crítico para a compreensão de diagramas de fases é o conceito de


fase. Uma fase pode ser definida como uma porção homogênea de um sistema que
possui características físicas e químicas uniformes. Todo material puro é considerado
como sendo uma fase; da mesma forma são todas as soluções sólidas, líquidas e
gasosas. Por exemplo, a solução de xarope água-açúcar discutida no item anterior é
uma fase, enquanto o açúcar sólido é uma outra fase. Esse fenômeno decorre da
solubilidade limitada do zinco no cobre.
Entenda, caro(a) aluno(a), que cada uma dessas fases possui
propriedades físicas diferentes (uma é líquida, a outra é um sólido); além
disso, cada fase é quimicamente diferente (isto é, possui uma composição
química diferente); uma é solução de H2O e C12H22O11, a outra é virtualmente açúcar
puro. Algumas vezes, um sistema que possui uma única fase é chamado de
"homogêneo". Sistemas compostos por duas ou mais fases são conhecidos por
P á g i n a | 131

"misturas" ou "sistemas heterogêneos". A maioria das ligas metálicas e, para tal, os


sistemas cerâmicos, poliméricos e compósitos são heterogêneos.
Geralmente, as fases interagem de tal maneira que a combinação das
propriedades do sistema multifásico é diferente de qualquer uma das fases individuais
e mais atrativa que estes.
É preciso distinguir fase de componente, que, como vimos, é uma substância
química distinta da qual a fase é formada. Por exemplo, descobrimos no tópico 3 da
aula 4 que o cobre e o níquel têm natureza tão semelhantes que são completamente
solúveis entre si em quaisquer proporções de liga (por exemplo a figura 4.3). Para tal
sistema, existe uma única fase (uma solução sólida) e dois componentes (Cu e Ni).
Porém, para uma liga de cobre e zinco contendo mais que aproximadamente 30% de
Zn, alguns dos átomos de zinco em excesso se ligarão a alguns dos átomos de cobre
para formar um composto CuZn (veja a figura 6.1). Nesse caso, caro(a) aluno(a) irão
coexistir duas fases sólidas: uma solução sólida de cobre saturado (com
aproximadamente 30% de zinco) mais um composto CuZn. Por fim, caro(a) aluno(a),
temos de entender que, para certas composições, o resultado são duas fases, cada
uma mais rica em um componente diferente.

Figura 6.1: Ligas de cobre-zinco com mais de 30% de zinco formando uma segunda fase
em razão da solubilidade limitada do zinco no cobre.

6.3 Microestrutura

Muitas vezes, as propriedades físicas e, em particular, o


comportamento mecânico de um material dependem da microestrutura.
A microestrutura está sujeita a observação microscópica direta,
utilizando-se microscópios óticos ou eletrônicos. Em ligas metálicas, a microestrutura
P á g i n a | 132

é caracterizada pelo número de fases presentes, por suas proporções, e pela maneira
pela qual elas estão distribuídas ou arranjadas. No item 5 da aula 7, caro(a) aluno(a),
discutiremos bem sobre isso e você poderá observar as diferentes microestruturas
diretamente nos diagramas de fases, e poderá comprovar a dependência de variáveis
como os elementos de liga presentes, suas concentrações e o tratamento térmico da
liga (isto é, a temperatura, o tempo de aquecimento à temperatura do tratamento e a
taxa de resfriamento até a temperatura ambiente.

6.4 Equilíbrio de fases

Equilíbrio é um outro conceito essencial. É mais bem descrito em termos de


uma grandeza termodinâmica que não iremos discutir aqui, mas, de forma sucinta, é
uma função da energia interna de um sistema e também da aleatoriedade ou
desordem dos átomos ou moléculas (entropia). Para nós, basta entender que em um
sentido macroscópico, isso significa que as características do sistema não mudam ao
longo do tempo, mas persistem indefinidamente; isto é, o sistema é estável.
Importante também, meu(minha) caro(a), é entender que uma alteração na
temperatura, na pressão e/ou na composição de um sistema em equilíbrio resultará
em aumento da energia e em possível mudança espontânea para um outro estado na
qual a energia seja reduzida.
A expressão equilíbrio de fases, usada com frequência no contexto desta
discussão, se refere ao equilíbrio, uma vez que se aplica a sistemas nos quais pode
existir mais de uma fase. O equilíbrio de fases é refletido por uma constância no que
se refere às características da fase de um sistema em relação ao tempo. Talvez um
exemplo ilustre melhor esse conceito. Suponha que o xarope água-açúcar, já discutido
anteriormente, esteja contido no interior de um vaso fechado, e que a solução esteja
em contato com açúcar no estado sólido a 20ºC. Se o sistema se encontra em
equilíbrio, a composição do xarope é de 35%p H2O - 65%p C12H22O11, e as
quantidades e composições de xarope e de açúcar sólido irão permanecer constantes
ao longo do tempo. Se a temperatura do sistema for aumentada repentinamente,
vamos dizer, para 100ºC, esse equilíbrio ou balanço ficará temporariamente
perturbado no sentido de que o limite de solubilidade foi aumentado para 80%p
C12H22O11. Dessa forma, parte do açúcar sólido irá se transferir para a solução, no
P á g i n a | 133

xarope. Esse fenômeno prosseguirá até que a nova concentração de equilíbrio do


xarope seja estabelecida à temperatura mais elevada.
Esse exemplo água-açúcar ilustrou o princípio de fases usando um sistema
líquido-sólido. Em muitos sistemas metalúrgicos e de materiais de interesse, o
equilíbrio de fases envolve apenas fases sólidas. Nesse sentido, e mais importante
caro(a) aluno(a), podemos concluir que o estado do sistema está refletido nas
características da microestrutura, a qual necessariamente inclui não apenas as fases
presentes e as suas composições, mas além disso, as quantidades relativas das fases
e os seus arranjos ou distribuições espaciais.

6.5 Diagramas de fases em condições de equilíbrio

Como discutido até o momento, muitas das informações sobre o


controle da microestrutura ou da estrutura das fases de um sistema de
ligas específico são mostradas de maneira conveniente e concisa no que
é chamada de diagrama de fases, também chamado frequentemente de diagrama
de equilíbrio. Muitas microestruturas se desenvolvem a partir de transformações de
fases, as alterações que ocorrem entre as fases quando a temperatura é alterada
(geralmente mediante resfriamento). Isso pode envolver a transição de uma fase para
outra, ou o aparecimento ou desaparecimento de uma fase. Os diagramas de fases
são úteis para prever as transformações de fases e as microestruturas resultantes,
que podem apresentar caráter de equilíbrio ou de ausência de equilíbrio.
Os diagramas de fases em equilíbrio representam as relações entre a
temperatura e as composições, e as quantidades de cada fase em condições de
equilíbrio. Existem diversos tipos de diagramas diferentes; porém, na abordagem
deste módulo, a temperatura e a composição são os parâmetros variáveis para ligas
binárias. Uma liga binária, caro(a) aluno(a), é uma que contém dois componentes.
Se mais de dois componentes estiverem presentes, os diagramas de fases se tornam
extremamente complicados e difíceis de serem representados. Nos exemplos a
seguir, lembre-se de que os diagramas de fases são mapas. Especificamente, os
diagramas binários são mapas das fases em equilíbrio associadas a diversas
combinações de temperatura e composição. Nossa preocupação será ilustrar a
mudança nas fases e a microestrutura associada que vem das mudanças nas
variáveis de estado (temperatura e composição).
P á g i n a | 134

6.5.1 Solução sólida completa

Provavelmente, o tipo mais simples de diagrama de fases é aquele associado


aos sistemas binários em que os dois componentes exibem solução sólida completa
entre si nos estados sólido e líquido. Vimos esse comportamento presente no sistema
Cu-Ni discutido no item 3 da aula 4, mais especificamente na figura 4.3. Se não se
lembra, vale a pena dar uma nova olhada.
A figura 6.2 mostra um diagrama de fases típico para esse sistema.
Observe que o diagrama mostra a temperatura como a variável na escala
vertical e a composição como a variável horizontal. Os pontos de fusão dos
componentes A e B puros são indicados. Para temperaturas relativamente altas, a
qualquer composição terá se fundido completamente para dar origem a um campo de
fase líquida, a região do diagrama de fase que corresponde à existência de um líquido
e que é rotulada com L. Em outras palavras, A e B são completamente solúveis entre
si no estado líquido. O que é incomum nesse sistema é que A e B também são
completamente solúveis no estado sólido. As regras de Hume-Rothery (veja seção 3
da aula 4) indicam os critérios para esse fenômeno nos sistemas metálicos.

Figura 6.2: Diagrama de fases binário mostrando solução sólida completa.


P á g i n a | 135

Em temperaturas relativamente baixas, existe um único campo de


fase de solução sólida rotulado com SS. Entre os dois campos
monofásicos existe uma região bifásica rotulada com L + SS. O limite
superior da região de duas fases é chamado de linha liquidus (ou seja, a linha acima
da qual uma única fase líquida estará presente). O limite inferior da região de duas
fases é chamado de linha solidus e é a linha abaixo da qual o sistema se solidificou
completamente. Em determinado ponto de estado (um par de valores de temperatura
e composição) dentro de duas fases, um líquido rico em A existirá em equilíbrio com
uma solução sólida rica em B. a composição de cada fase é estabelecida como mostra
a figura 6.3.

Figura 6.3: Composições das fases em uma região bifásica do diagrama de fases.

Observe que a linha horizontal (temperatura constante) que passa pelo ponto
de estado cruza as linhas liquidus e solidus. A composição da fase líquida é dada pelo
ponto de interseção com a linha liquidus. De modo semelhante, a composição da
solução sólida é estabelecida pelo ponto de interseção com a linha solidus. Essa linha
horizontal que conecta as duas composições de fase é chamada de linha de
amarração. Essa construção se mostrará ser ainda mais útil na seção 6.2, quando
calcularemos as quantidades relativas das duas fases pela regra da alavanca. A figura
P á g i n a | 136

6.4 resume as microestruturas características das diversas regiões do diagrama de


fases binário.

Figura 6.4: Diversas microestruturas características das diferentes regiões no diagrama de


fases de uma solução sólida completa.

É primordial nesse momento, caro(a) aluno(a), que você


observe uma simulação sobre diagrama de solução sólida binário.
Acesse o endereço eletrônico:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=14>.

Lembre-se, meu(minha) caro(a), o sistema Cu-Ni apresentado na


figura 6.5 é o exemplo clássico de um diagrama binário com solução sólida
completa. Esse diagrama merece uma discussão adequada que será feita
em seguida; porém, para que você saiba, diversas ligas comerciais de cobre e níquel
caem dentro desse sistema, incluindo uma superliga chamada Monel.
P á g i n a | 137

Figura 6.5: Diagrama de fases do Cu-Ni.

Você pode perceber nesse diagrama, caro(a) aluno(a), três regiões, ou


campos, de fases diferentes, um alfa (α), um líquido (L) e um campo bifásico α + L.
Cada região é definida pela fase ou pelas fases que existem ao longo das faixas de
temperaturas e de composições que estão delimitadas pelas curvas de fronteira entre
as fases.
O líquido L consiste em uma solução líquida homogênea, composta tanto por
cobre como por níquel. A fase α consiste em uma solução sólida substitutiva que
contém átomos tanto de Cu como de Ni, e que possui uma estrutura cristalina CFC.
A temperatura abaixo de aproximadamente 1080ºC, o cobre e o níquel são
mutuamente solúveis um no outro no estado sólido, para toda e qualquer composição.
Essa solubilidade completa, como dissemos, é explicada pelo fato de que tanto o Cu
como o Ni possuírem a mesma estrutura cristalina (CFC), raios atômicos e
eletronegatividades praticamente idênticas, e valências semelhantes; ou seja,
satisfazerem às condições de Hume-Rothery já discutidas. O sistem cobre-níquel é
chamado de isomorfo devido a essa completa solubilidade dos dois componentes
nos estados líquido e sólido.
P á g i n a | 138

Façamos, agora, alguns comentários importantes em relação à nomenclatura.


Em primeiro lugar, para ligas metálicas, as soluções sólidas são designadas
usualmente por letras gregas minúsculas (α, β, γ, etc.). Além disso, percebemos a
curva liquidus, que separa os campos das fases L e α + L, e a curva solidus, localizada
entre as regiões α e α + L, abaixo da qual existe somente a fases sólida α.
Também no diagrama da figura 6.5, e na simulação sugerida,
podemos perceber que o aquecimento do cobre puro corresponde a se
mover verticalmente para cima ao longo do eixo da temperatura no lado
esquerdo. O cobre permanece sólido até que a sua temperatura de fusão seja atingida
(1085ºC). Se o aquecimento ocorrer para o níquel puro, ao longo do eixo da
temperatura no lado direito, ele permanece sólido até a sua temperatura de fusão
(1455ºC). Entenda, caro(a) aluno(a), que para qualquer composição que não seja
aquelas dos componentes puros, esse fenômeno de fusão ocorrerá ao longo de uma
faixa de temperatura entre as curvas solidus e liquidus; as duas fases, sólido α e
líquida, estarão em equilíbrio dentro desta faixa de temperaturas. Por exemplo, ao se
aquecer uma liga com composição de 50%p Ni - 50%p Cu, a fusão tem início a uma
temperatura de aproximadamente 1280ºC; a quantidade da fase líquida aumenta
continuamente com a elevação da temperatura até aproximadamente 1320ºC, quando
então a liga fica completamente líquida. Para entender muito bem essa explicação,
caro(a) aluno(a), aconselhamos que acompanhe uma simulação fantástica da relação
entre as curvas de resfriamento e diagrama de equilíbrio. Você vai entender
claramente a causa de a região binária ser representada dessa maneira em soluções
sólidas completas. Visite o endereço eletrônico:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=14>.
Na seção 1 desta aula estudamos que o uso dos diagramas de fases permite
determinar as fases presentes no equilíbrio em um dado sistema e suas
microestruturas correspondentes. A linha de amarração (por exemplo, na figura 6.3)
fornece a composição de cada fase em uma região bifásica. Agora, estendemos essa
análise para determinar a quantidade de cada fase na região bifásica.
Primeiro, temos de observar que, para regiões monofásicas, a análise é trivial.
Por definição, a microestrutura é composta por 100% da única fase. Nas regiões com
duas fases, a análise não é trivial, mas apesar disso, é simples. Vamos aprender?!...
P á g i n a | 139

As quantidades relativas das duas fases em uma microestrutura são facilmente


calculadas a partir de um equilíbrio de massas. Vamos considerar novamente o caso
do diagrama binário com solução sólida completa. O diagrama mostrado na figura 6.6
é equivalente ao que mostramos na figura 6.3 e, novamente, mostra a linha de
amarração que indica a composição das duas fases associadas a um ponto de estado
na região L + SS. Além disso, as composições de cada fase e do sistema global são
indicadas.

Figura 6.6: Tratamento quantitativo da linha de amarração.

Um equilíbrio de massa total requer que a soma das massas das duas fases
seja igual à massa total do sistema.
Considerando uma massa total de 100 g, temos uma expressão.

Também podemos calcular um equilíbrio de massas independente em qualquer


um dos dois componentes. Por exemplo, a quantidade de B na fase líquida mais a
quantidade na solução sólida precisa ser igual à quantidade total de B na composição
global. Observando a figura 6.2, na qual (para temperatura, T1) L contém 30 %B,
podemos escrever.
P á g i n a | 140

As equações 6.1 e 6.2 possuem duas incógnitas, permitindo-nos obter as


quantidades de cada fase:
mL = 60 g e mSS = 40 g

Você deve concordar, caro(a) aluno(a), que esse cálculo de equilíbrio de


material é conveniente, mas uma versão ainda mais facilitada pode ser gerada. Para
obter esse dado, podemos calcular o equilíbrio das massas em termos gerais. Para
duas fases, α e β, o equilíbrio de massas geral será:

onde xα e xβ são as composições das duas fases e x é a composição global.


Essa expressão pode ser modificada para fornecer a quantidade relativa de cada fase
em termos das composições:

Juntas, as equações 6.4 e 6.5 constituem a regra da alavanca (regra da


alavanca invertida).
Essa analogia mecânica com o cálculo do equilíbrio de massas é ilustrada na
figura 6.7. Sua utilidade é devida, em grande parte, ao fato de ela poder ser visualizada
muito facilmente em termos do diagrama de fases. A composição global corresponde
ao pivô de uma alavanca com comprimento correspondente à linha de amarração.
P á g i n a | 141

Figura 6.7: Analogia mecânica da regra da alavanca para o cálculo do equilíbrio de massa.
A (a) linha de amarração na região bifásica é semelhante a (b) uma alavanca equilibrada
sobre um pivô.

Perceba que a massa de cada fase é suspensa a partir da extremidade da


alavanca correspondente à sua composição. A quantidade relativa da fase
α é diretamente proporcional ao comprimento do 'braço oposto da
alavanca' (xβ - x, nesse caso). Essa relação que permite que as
quantidades relativas das fases sejam determinadas por uma inspeção visual simples.
O livro do Callister faz uma abordagem um pouco mais difundida sobre a regra da
alavanca ao explicitar que a composição global da liga está localizada ao longo da
linha de amarração, e é representada por C0, enquanto as frações mássicas estão são
representadas por W (no caso Wα e Wβ). Segundo esse autor, a partir da regra da
alavanca, o valor de Wα e Wβ podem ser calculados, respectivamente, por:

Dessa forma, para um liga binária, a regra da alavanca pode ser empregada
para determinar as quantidades relativas ou as frações das fases em qualquer região
bifásica, desde que a temperatura e a composição sejam conhecidas e que o equilíbrio
tenha sido estabelecido. Para entender muito bem o que está sendo discutido neste
tópico, caro(a) aluno(a), acompanhe uma simulação da aplicação da regra da
alavanca no sistema Cu-Ni. Visite o endereço eletrônico:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=14>.
P á g i n a | 142

Acompanhe agora um exemplo do cálculo das quantidades relativas de cada


fase com utilização da regra da alavanca para uma liga genérica, e, logo em seguida,
um outro exemplo para o diagrama de fases do Cu-Ni.
Exemplo 6.1: A temperatura de 1 Kg da liga mostrada na figura 6.6 é reduzida
lentamente até que a composição da solução líquida seja de 18%p B e a composição
da solução sólida seja 66%p B. Calcule a quantidade de cada fase.
Solução: Usando as equações 6.6 que representam a regra da alavanca,
obtemos:

Calculando essas porcentagens de cada fase para a massa total da liga dada
(1 Kg), temos:

Nota: Claro que também poderíamos calcular mSS mais rapidamente


simplesmente observando que mSS = 1.000 g - mL; o que leva a mSS = (1.000 - 333) g
= 667 g., no entanto, vamos continuar a usar as duas equações 6.6 nos exemplos de
problema deste módulo por questão de prática e como uma verificação cruzada.
Exemplo 6.2: Considerando o sistema Cu-Ni, mostrado na figura 6.5, percebe-
se que na temperatura de 1250ºC, as fases α e líquida estão presentes para a liga
com composições de 35%p Ni-65%p Cu. Calcule, então, as frações de cada uma
dessas fases (α e líquida).
Solução: Pela observação direta no diagrama da figura 6.4 temos que o
percentual em peso de níquel e de cada uma das fases são C0 = 35%p Ni, Cα = 42,5%p
Ni, e CL = 31,5%p Ni, respectivamente. Usando a regra da alavanca, obtemos
𝐶𝛼 −𝐶0 42,5−35
𝑊𝐿 = → 𝑊𝐿 = = 0,68 ≈ 68%
𝐶𝛼 −𝐶𝐿 42,5−31,5
P á g i n a | 143

de maneira semelhante para a fase α


𝐶0 −𝐶𝐿 35−31,5
𝑊𝛼 = → 𝑊𝛼 = = 0,32 ≈ 32%
𝐶𝛼 −𝐶𝐿 42,5−31,5

Neste momento, seria importante que você acompanhe a


resolução de um exercício sobre o diagrama Cu-Ni com
aplicação da regra da alavanca em uma breve video-aula.
Acesse o endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=2V-DIBO75yQ>.

Um último comentário, antes de seguirmos para o tópico seguinte


se faz necessário caro(a) aluno(a). É que se torna fácil confundir os
procedimentos anteriores para a determinação das composições das
fases e das quantidades fracionais das fases; assim torna-se importante um breve
resumo. As composições das fases são expressas em termos de percentuais em
peso dos componentes (por exemplo, %p Cu, %p Ni). Para qualquer liga que consista
em uma única fase, a composição daquela fase é a mesma que a composição global
da liga (C0). Se duas fases estiverem presentes, deve ser empregada a linha de
amarração, cujas extremidades determinam as composições das respectivas fases.
Em relação às quantidades fracionais das fases (por exemplo, a fração mássica da
fase α ou da fase líquida), quando existe uma única fase, a liga é composta totalmente
por aquela fase. Por outro lado, para uma liga bifásica, é utilizada a regra da alavanca,
na qual é tomada a razão entre os comprimentos dos segmentos da linha de
amarração. Neste momento, caro(a) aluno(a), seria importante você rever os
exemplos desenvolvidos e as simulações sugeridas, e resolver os exercícios
propostos antes de seguir para a aula seguinte, que dá a continuidade sobre o tema
diagramas de fase.
Aproveite para entrar em contato com o seu tutor, se existirem dúvidas e
questionamentos. Aproveite também para fazer uma pausa merecida antes de passar
à resolução dos exercícios. Lembre-se sempre, os livros sugeridos nas referências
abordam o assunto estudado nesta aula de forma bastante explicativa e ilustrativa.
Não deixe de pesquisar sempre.
Bons estudos!
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 6

Questão 1. Explique com suas próprias palavras o que


são digramas de fases de um composto, para que serve e dê
alguns exemplos?
Questão 2. Com relação aos diagramas de fase, qual a
diferença entre uma fase e um microconstituinte?
Questão 3. Uma série de pontos a, b, c foram colocados no diagrama de fases
hipotético mostrado abaixo. Todos esses pontos estão sobre a isoterma de 1300ºC e
correspondem às composições 20, 40 e 60% de B, respectivamente. Em cada caso
identifique:
a) as fases e as composições;
b) a quantidade de cada fase e a quantidade de cada constituinte, considerando
100 g a massa total da liga.

Questão 4. Abaixo são dadas as temperaturas solidus e liquidus para o sistema


germânio-silício. Construa o diagrama de fases para esse sistema e identifique cada
região.
P á g i n a | 146

Considere o diagrama para uma liga Cu-Ni, já mostrado na figura 6.5 e


apresentado novamente abaixo, para resolver as questões de 5 a 8:
P á g i n a | 147

Questão 5. Descreva qualitativamente o desenvolvimento microestrutural que


ocorrerá no resfriamento lento de um líquido formado por partes iguais (em peso) de
cobre e níquel.
Questão 6. Considere o diagrama mostrado na questão anterior para uma liga
com 70% de Ni e 30% de Cu.
a) Faça a análise das fases presentes em equilíbrio à temperatura de 1350ºC.
Na análise das fases inclua:
i.Quais são as fases presentes?
ii.Qual é a composição química de cada uma das fases?
iii.Qual é a proporção de cada uma das fases?
b) Faça uma análises semelhante para a temperatura de 1500ºC.
Questão 7. Uma liga cobre-níquel com composição de 70%p Ni - 30%p Cu é
aquecida lentamente a partir de uma temperatura de 1300ºC.
a) A que temperatura se forma a primeira fase líquida?
b) Qual é a composição dessa fase líquida?
c) A que temperatura ocorre a fusão completa da liga?
d) Qual é a composição do último sólido que permanece no meio antes da fusão
completa?
Questão 8. Utilize a regra da alavanca estudada e calcule a quantidade de
cada fase presente em 1 Kg de uma liga de solda 50%p Ni-50%p Cu a:
a) a 1400ºC,
b) a 1300ºC,
c) a 1200ºC.
Questão 9. Nesta aula foram propostas diversas simulações sobre diagramas
de fase através do endereço eletrônico www.cienciadosmateriais.org. Em uma delas,
você acompanhou representações esquemáticas de um diagrama binário Cu-Ni, como
o representado na figura. Foi considerado nessa simulação uma liga 35 %Ni a 1250°C.
Responda:
a) Qual(ais) fase(s) está(ão) presente(s)?
b) Qual(ais) é(são) a(s) composição(ões) da(s) fase(s)?
c) Qual(ais) é(são) a(s) proporção(ões) da(s) fase(s)?
P á g i n a | 148

Questão 10. Nesta aula foi sugerida uma video-aula de um exercício sobre
diagramas de fase binário, através do endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=2V-DIBO75yQ>.
Após acompanhamento da resolução. Responda:
a) Qual(ais) foi(foram) a(s) fase(s) presente(s)?
b) Qual(ais) foi(foram) a(s) composição(ões) da(s) fase(s)?
c) Qual(ais) foi(foram) a(s) proporção(ões) da(s) fase(s)?

Questão 11. Faça uma pesquisa sobre ligas isomorfas que se solidificam fora
das condições de equilíbrio e descreva os fenômenos conhecidos por segregação e
estrutura zonada.
P á g i n a | 149

7 DIAGRAMA EUTÉTICO SEM SOLUÇÃO SÓLIDA

Agora, passamos para um sistema binário que é o oposto daquele discutido na


aula anterior. Alguns componentes são tão diferentes que a solubilidade entre eles é
quase insignificante.
A figura 7.1 ilustra o diagrama de fases característico para tal sistema.

Figura 7.1: Diagrama de fases eutético binário, que não mostra solução sólida.

Diversos aspectos distinguem esse diagrama daquele típico de


solubilidade sólida completa. Vamos a eles?... Primeiro, é o fato de que,
em temperaturas relativamente baixas, existe um campo de duas fases
para sólidos puros A e B, consistentes com nossa observação de que os dois
componentes (A e B) não podem se dissolver um no outro. Segundo, a linha solidus
é uma linha horizontal que corresponde à temperatura eutética. Esse nome vem da
palavra grega eutektos, que significa "facilmente derretido". Nesse caso, o material
com a composição eutética está totalmente fundido na temperatura eutética.
Qualquer composição diferente da eutética não se fundirá totalmente na temperatura
eutética. Em vez disso, esse material precisa ser aquecido ainda mais através de uma
região bifásica até a linha liquidus. Essa situação é semelhante à região bifásica (L +
SS) encontrada na figura 6.1. A figura 7.1 é diferente porque temos duas dessas
regiões de duas fases (A + L e B + L) no diagrama eutético binário.
P á g i n a | 150

Algumas microestruturas representativas do diagrama eutético


binário aparecem na figura 7.2. As microestruturas líquido e líquido +
sólido são semelhantes aos casos encontrados na figura 6.4. Existe,
porém, uma diferença fundamental na microestrutura do sistema totalmente sólido.
Na figura 7.2 encontramos uma microestrutura eutética formada por pequenos
grãos, na qual existem camadas alternadas dos componentes, A puro e B puro.
Fique tranquilo, caro(a) aluno(a), que faremos uma discussão mais completa
das microestruturas no estado sólido com a utilização da regra da alavanca discutida
na aula anterior. Por enquanto, podemos enfatizar que o ponto de solidificação agudo
da composição eutética geralmente leva à natureza granulada da microestrutura
eutética.

Diversas microestruturas características de diferentes regiões em um diagrama de fases


eutético binário sem solução sólida.

Para que fique clara esta discussão inicial, caro(a) aluno(a),


acompanhe uma simulação sobre um diagrama de equilíbrio binário
hipotético para elementos A e B que são completamente solúveis em todas
as proporções no estado líquido, mas apenas parcialmente solúveis no
estado sólido. Acesse o endereço:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=14.>
P á g i n a | 151

7.1 Diagrama eutético com solução sólida limitada

Para muitos sistemas binários, os dois componentes são


parcialmente solúveis entre si. O resultado é um diagrama de fases
intermediário entre os dois casos que tratamos até aqui. A figura 7.3
mostra um diagrama eutético com solução sólida limitada. Ele geralmente se parece
com a figura 6.6, exceto pelas regiões de solução sólida perto de cada borda.
Essas regiões monofásicas são semelhantes à região SS na figura 6.1, exceto
pelo fato de que os componentes da figura 7.3 não existem em uma única solução
sólida próximo ao meio do intervalo de composições. Como resultado, as duas fases
da solução sólida, α e β, são distinguíveis e frequentemente possuem estruturas
cristalinas diferentes. De qualquer forma, a estrutura cristalina de α será a de A, e a
estrutura cristalina de β será a de B, pois cada componente serve como um solvente
para o outro componente de 'impureza' (por exemplo, α consiste em átomos de B em
solução sólida na rede cristalina de A).

Figura 7.2: Diagrama de fases eutético binário com solução sólida limitada.

Perceba, caro(a) aluno(a), que o uso das linhas de amarração para determinar
as composições de α e β nas regiões de duas fases é idêntico ao diagrama mostrado
na figura 7.3, e exemplos são mostrados na figura 7.4, com microestruturas
representativas.
P á g i n a | 152

Figura 7.3: Diversas microestruturas características das diferentes regiões no diagrama de


fases eutético binário com solução sólida limitada.

O sistema cobre-prata (Cu-Ag) é um excelente exemplo de


composto eutético binário com solução limitada, e está representado na
figura 7.5. Diversas características desse diagrama de fases são
importantes dignas de observação. Em primeiro lugar, são encontradas três regiões
monofásicas distintas no diagrama: α, β e líquida. A fase α consiste em uma solução
rica em cobre; ela possui a prata como o componente soluto, além de uma estrutura
cristalina CFC. A solução sólida que compõe a fase β também possui uma estrutura
cristalina CFC, mas nela o cobre é o soluto. Tecnicamente, o cobre puro e a prata
pura são considerados as fases α e β, respectivamente.
Dessa forma, a solubilidade em cada uma dessas fases sólidas está limitada,
no que a qualquer temperatura abaixo da curva BEG apenas uma concentração
limitada de prata irá se dissolver no cobre (para a fase α), e de maneira semelhante
para o cobre na prata (para a fase β). O limite de solubilidade para a fase α
corresponde à curva de fronteira, identificada por CBA, entre as regiões das fases α/(α
+ β) e α/(α + L); ele aumenta com a temperatura até um valor máximo (8%p Ag a
779ºC), no ponto B, e diminui novamente para zero na temperatura de fusão do cobre
puro, ponto A (1085ºC).
P á g i n a | 153

Figura 7.4: Diagrama de fases para o sistema cobre-prata.

A temperaturas abaixo de 779ºC, a curva do limite de solubilidade do sólido,


que separa as regiões das fases α e α + β, é conhecida por curva solvus; a fronteira
AB entre os campos α e α + L é a já conhecida curva solidus, como está indicado na
figura 7.5. Para a fase β, as curvas solvus e solidus também existem, e são as curvas
HG e GF, respectivamente, como está mostrado na figura. A solubilidade máxima do
cobre na fase β, ponto G (8,8%p Cu), também ocorre a 779ºC. A linha horizontal BEG,
paralela ao eixo das composições e se estendendo entre essas posições de
solubilidade máxima, também pode ser considerada uma curva solidus; ela representa
temperaturas mais baixa na qual uma fase líquida pode existir para qualquer liga
cobre-prata que e encontre em equilíbrio.
Perceba, caro(a) aluno(a), que existem também três regiões bifásicas que
podem ser encontradas no sistema cobre-prata: α + L, β + L, e α + β.
Você consegue identificá-las no diagrama da figura 7.5? Dê uma olhada mais
atenta.
As soluções sólidas das fases α e β coexistem em todas as composições e
temperaturas dentro do campo das fases α + β; as fases α + líquido e β + líquido
também coexistem nas respectivas regiões das fases.
Além disso, as composições e as quantidades relativas das fases podem ser
determinadas usando-se linhas de amarração e a regra da alavanca, da mesma forma
como foi descrito no item 2.2 da aula anterior.
P á g i n a | 154

7.2 A transformação eutética

Outro fato importante que você deve entender é que à medida que
a prata é adicionada ao cobre, a temperatura na qual a liga se torna
totalmente líquida diminui ao longo da curva liquidus, curva AE; dessa
forma, a temperatura de fusão do cobre é reduzida por adições de prata. O mesmo
pode ser dito para a prata: a introdução de cobre reduz a temperatura de fusão
completa ao longo da outra curva liquidus, FE. Essas curvas liquidus se encontram no
ponto E do diagrama de fases, através do qual também passa a linha
isoterma horizontal BEG. O ponto E é chamado de ponto invariante,
designado pela composição CE e pela temperatura TE; para o sistema
cobre-prata, os valores de CE e TE são de 71,9%p Ag e 779 ºC, respectivamente.
Ocorre uma reação importante para uma liga com composição CE à medida que
ela muda de temperatura ao passar através de TE; essa reação pode ser escrita da
seguinte maneira:

Ou, sob resfriamento, uma fase líquida é transformada nas duas fases sólidas,
α e β, à temperatura TE; a reação oposta ocorre com o aquecimento. Essa é chamada
uma reação eutética (lembre-se, eutético significa facilmente fundido), e CE e TE
representam a composição e a temperatura do eutético, respectivamente; CαE e CβE
são as respectivas composições das fases α e β à temperatura TE.
Dessa forma, para o sistema cobre-prata, a reação eutética pode ser escrita da
seguinte maneira:

Frequentemente, a curva solidus horizontal em TE é chamada de isoterma


eutética. A reação eutética, sob resfriamento, é semelhante à solidificação para
componentes puros no sentido de que a reação prossegue até seu término a uma
temperatura constante, ou seja, de maneira isotérmica, à temperatura TE. Entretanto,
é bom salientar que o produto sólido da solidificação eutética consiste sempre em
P á g i n a | 155

duas fases sólidas, enquanto no caso de um componente puro ocorre a formação de


somente uma única fase.
Um outro bom exemplo de sistema eutético binário com solução
limitada muito comum é aquele para o chumbo e o estanho (Pb-Sn), e
está representado na figura 7.6. Perceba que possui um formato geral
semelhante àquele para o sistema cobre-prata, sendo que, no diagrama Pb-Sn, o
ponto invariante eutético está localizado em 61,9%p Sn e 183ºC. Para você saber, as
ligas de solda comuns estão incluídas nesse sistema. Suas baixas faixas de fusão
permitem a junção da maioria dos metais por métodos de aquecimento convenientes,
com baixo risco de dano a partes sensíveis ao calor. As soldas com menos de 5%p
de estanho são usadas para vedar recipientes e revestir e unir metais, além de serem
usadas para aplicações com temperaturas de serviço que excedam 120ºC. As soldas
entre 10% e 20%p de estanho são usadas para selar radiadores celulares de
automóveis e preencher emendas e amassados em fuselagem de automóvel. As
soldas de uso geral normalmente têm 40% ou 50%p de estanho. Essas soldas
possuem uma consistência pastosa característica durante a aplicação, associada ao
líquido bifásico mais a região sólida logo acima da temperatura eutética. Sua grande
faixa de aplicações inclui exemplos bem conhecidos, de encanamento à eletrônica.
As soldas próximas da composição eutética (aproximadamente 60%p de estanho) são
usadas para componentes eletrônicos termicamente sensíveis, que exigem aplicação
mínima de calor.

Figura 7.5: Diagrama de fases Pb-Sn.


P á g i n a | 156

Acompanhe uma simulação sobre a curva de resfriamento


Pb-Sn acessando o link abaixo, e em seguida um exemplo sobre
as fases, composições e quantidades nesse diagrama de equilíbrio
eutético (Pb-Sn).
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=14>.
Exemplo 7.1: Para uma liga Pb-Sn mostrada na figura 6.11, com 40%p Sn-
60%p Pb a 150ºC, indique (a) qual(is) é(são) a(s) fase(s) presente(s), (b) qual(is) a(s)
composição(ões) da(s) fase(s), e (c) calcule as quantidades relativas de cada fase
presente em termos da fração mássica.
Solução: (a) Localizando esse ponto temperatura-composição de fases (ponto
B na figura deste exemplo), vemos que esse ponto está dentro da região α + β, tanto
a fase α como a fase β coexistirão nessas condições.
(b) Uma vez que duas fases estão presentes, torna-se necessário construir
uma linha de amarração através do campo das fases α + β, a 150ºC, como está
indicado na figura do exemplo. A composição da fase α corresponde à interseção da
linha de amarração com a fronteira entre fases solvus α/(α + β) - em aproximadamente
11%p Sn-89%p Pb, representada como Cα. Um procedimento semelhante é adotado
para a fase β, que terá uma composição de aproximadamente 98%p Sn-2%p Pb (Cβ).

Figura 7.6

(c) Uma vez que a liga consiste em duas fases, torna-se necessário empregar
a regra da alavanca. Considerando C1 como a composição global da liga, as frações
P á g i n a | 157

mássicas podem ser calculadas pela subtração das composições, em termos do


percentual em peso de estanho, da seguinte forma:

7.3 Desenvolvimento das microestruturas em ligas isomorfas durante o


resfriamento lento - condições de equilíbrio

Agora, estamos em condições de acompanhar de perto o


desenvolvimento de microestruturas em diversos sistemas binários.
Em todos os casos, vamos considerar a situação comum de resfriamento
de determinada composição a partir de uma única fase fundida. A microestrutura é
desenvolvida no processo de solidificação. Consideramos apenas o caso do
resfriamento lento; ou seja, o equilíbrio é essencialmente mantido em todos os pontos
ao longo da trajetória de resfriamento. Vamos retornar ao mais simples dos diagramas
binários, o caso de solubilidade completa nas fases líquida e sólida. A figura 7.7
mostra a solidificação gradual da composição 50% A - 50% B tratada anteriormente
(figuras 6.3, 6.4 e 6.6). A regra da alavanca (figura 6.7) é aplicada em três
temperaturas diferentes na região de duas fases (L + SS). É importante notar que a
aparência das microestruturas na figura 7.7 corresponde diretamente à posição
relativa da composição global do sistema ao longo da linha de amarração.
Em temperaturas mais altas (por exemplo, T1), a composição global está
próxima do limite da fase líquida, e a microestrutura é predominantemente líquida. Em
temperaturas inferiores (por exemplo, T3), a composição global está próxima do limite
da fase sólida, e a microestrutura é predominantemente sólida. Naturalmente, as
composições das fases líquida e sólida mudam continuamente durante o resfriamento
pela região bifásica. Em qualquer temperatura, porém, as quantidades relativas de
cada fase são tais que a composição global seja 50% A e 50% B, que é uma
manifestação direta da regra da alavanca, conforme já discutido e definido pelas
equações 6.6.
P á g i n a | 158

Figura 7.7: Desenvolvimento microestrutural durante o resfriamento lento de uma


composição 50% A - 50% B em um diagrama de fases com solubilidade sólida completa.

O conhecimento do desenvolvimento microestrutura no sistema eutético binário


é grandemente auxiliado pela regra da alavanca. O caso da própria composição
eutética é simples e foi ilustrado anteriormente nas figuras 7.2 e 7.4. A figura 7.8 repete
esses casos com um pouco mais de detalhes. Um comentário adicional, caro(a)
aluno(a), é que a composição de cada fase em solução sólida (α e β) e suas
quantidades relativas mudarão ligeiramente com a temperatura abaixo da eutética. O
efeito microestrutura (correspondente a esse ajuste composicional devido à difusão
no estado sólido) geralmente é secundário.
Ainda com relação ao diagrama eutético apresentado na figura 7.8, entenda
que as únicas diferenças entre a estrutura α2 e β2 e a microestrutura T1 são as
composições de fase e as quantidades relativas de cada fase. Por exemplo, a
quantidade de b será proporcional a:
P á g i n a | 159

Figura 7.8: Desenvolvimento microestrutural durante o resfriamento lento de uma


composição eutética.

O desenvolvimento microestrutural para uma composição


não-eutética é um pouco mais complexo, mas vamos explicá-lo
detalhadamente para que você entenda de maneira clara. A figura
7.9 ilustra o desenvolvimento microestrutural para uma
composição hipereutética (composição maior que a eutética).
Perceba que o crescimento gradual de cristais de β acima da temperatura
eutética se compara ao processo encontrado na figura 7.7 para o diagrama completo
da solução sólida. A única diferença é que o crescimento do cristalino pára na
temperatura eutética com apenas 67% da microestrutura solidificada, como pode ser
visto na figura 7.9. A solidificação final ocorre quando o líquido restante (com a
composição eutética) se transforma abruptamente na microestrutura eutética no
resfriamento através da temperatura eutética. De certa forma, os 33% da
microestrutura que estão líquidos logo acima da temperatura eutética sofrem a reação
eutética ilustrada na figura 7.8.
Um cálculo da regra da alavanca logo abaixo da temperatura eutética (T3 na
figura 7.9) indica corretamente que a microestrutura é formada por 17% α3 e 83% β3.
Entretanto, o acompanhamento da trajetória de resfriamento inteira indicou que a fase
β está presente em duas formas. Os grãos maiores produzidos durante o resfriamento
lento através da região bifásica (L + β) são chamados de β proeutético; ou seja, eles
P á g i n a | 160

aparecem 'antes do eutético'. Os grãos de β mais finos no eutético lamelar são


chamados apropriadamente de β eutético.

Figura 7.9: Desenvolvimento microestrutural durante o resfriamento lento de uma


composição hipereutética.

A figura 7.10 mostra uma situação semelhante, que se desenvolve para uma
composição hipoeutética (composição menor que a eutética). Esse caso é
semelhante ao da composição hipereutética.

Figura 7.10: Desenvolvimento microestrutural durante o resfriamento lento de uma


composição hipoeutética.
P á g i n a | 161

Perceba na figura 7.10, caro(a) aluno(a), que podemos ver o


desenvolvimento de grandes grãos de α proeutético junto com a
microestrutura eutética das camadas α e β. Você pode acompanhar essa
simulação acessando o endereço eletrônico:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=14.>

Dois outros tipos de desenvolvimento microestrutura são ilustrados na figura


7.11. Para uma composição global com 10% B, a situação é muito semelhante à dos
sistemas binários com solubilidade sólida completa da figura 7.7. A solidificação leva
a uma solução sólida monofásica, que permanece estável no resfriamento a baixas
temperaturas. A composição com 20% B se comporta de modo semelhante, exceto
que, no resfriamento, a fase α se torna saturada com átomos de B. Um resfriamento
adicional leva à precipitação de uma pequena quantidade da fase β. Na figura 7.11(b),
essa precipitação aparece ao longo dos contornos de grão. Em alguns sistemas, a
segunda fase se precipita dentro dos grãos. Para um determinado sistema, a
morfologia da segunda fase pode ser uma função sensível à taxa de resfriamento.

Figura 7.11: Desenvolvimento microestrutural para duas composições que evitam a reação
eutética.

( (
P á g i n a | 162

Acompanhe uma ótima simulação sobre o diagrama de equilíbrio eutético Pb-


Sn e as microestruturas que foram discutidas neste tópico. Acesse o link abaixo:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=14.>

Para encerrar, caro(a) aluno(a), acompanhe dois excelentes exemplos sobre


cálculos sobre as fases presente, e sobre o desenvolvimento microestrutural para ligas
eutéticas. Depois tente resolver os exercícios propostos. Eles serão eficientes para
consolidar o seu conhecimento. É importante que você entenda que se entender bem
os conceitos aprendidos nesta aula, tornará fácil a compreensão dos diagramas de
fase que estudaremos nas aulas 8 e 9.
Exemplo 7.2: A figura 7.9 mostra o desenvolvimento microestrutural para uma
liga com 80%p B. considere, em vez disso, 1 Kg de uma liga com 70%p B. Calcule (a)
a quantidade de fase β em T3, e (b) que fração do peso dessa fase β em T3 é
proeutética.
Solução: (a) Uma vez que a liga consiste em duas fases, torna-se necessário
empregar a regra da alavanca.
𝐶0 −𝐶𝛼 70−30
𝑊𝛽,𝑇3 = → 𝑊𝛼 = = 0,667 ≈ 66,7%
𝐶𝛽 −𝐶𝛼 90−30

𝑊𝛼 = 66,7% 𝑥 1 𝐾𝑔 → 𝑊𝛼 = 0,667 𝐾𝑔 = 667 𝑔

(b) Lembrando que o β proeutético é aquele que estava presente na


microestrutura em T2 (acima da temperatura eutética):
𝐶0 −𝐶𝐿 70−60
𝑊𝛽,𝑇2 = → 𝑊𝛼 = = 0,333 ≈ 33,3%
𝐶𝛽 −𝐶𝛼 90−60

Essa parte da microestrutura é retida no resfriamento que passa pela


temperatura eutética, dando
𝑝𝑟𝑜𝑒𝑢𝑡é𝑡𝑖𝑐𝑎 𝛽
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑒𝑢𝑡é𝑡𝑖𝑐𝑎 =
𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝛽
333 𝑔
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑒𝑢𝑡é𝑡𝑖𝑐𝑎 = = 0,50
667 𝑔

Exemplo 7.3: Considere 1 Kg de liga de alumínio fundido com 10%p de silício,


como mostrado na figura do diagrama de fases do Al-Si.
P á g i n a | 163

Figura 7.12

(a) No resfriamento, em que temperatura o primeiro sólido apareceria?


(b) Qual é a primeira fase sólida e qual é sua composição?
(c) Em que temperatura a liga se solidificará completamente?
(d) Quanto de fase proeutética será encontrado na microestrutura?
(e) Como o silício está distribuído na microestrutura a 576ºC?

Solução:
Seguimos esse desenvolvimento microestrutural com o auxílio da figura 6.17:
(a) Para essa composição, o líquido está em ~595ºC.
(b) É a solução sólida α com uma composição de ~1%p Si.
(c) Na temperatura eutética, 577ºC.
P á g i n a | 164

(d) Praticamente toda a fase α proeutética terá sido desenvolvida por volta de
578ºC. Usando a equação da regra da alavanca, obtemos
𝐶𝐿 − 𝐶0 12,6 − 10
𝑊𝛼 = → 𝑊𝛼 = = 0,236 ≈ 23,6%
𝐶𝐿 − 𝐶𝛼 12,6 − 1,6

(e) A 576°C, a microestrutura geral é α e β. A quantidade de cada uma das


fases é:

Contudo, encontramos em (d) que 236 g de α estão na forma de grãos


relativamente grandes da fase proeutética, dando:
𝛼𝑒𝑢𝑡é𝑡𝑖𝑐𝑜 = 𝛼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝛼𝑝𝑟𝑜𝑒𝑢𝑡é𝑡𝑖𝑐𝑜 = 915 𝑔 − 236 𝑔 = 679 𝑔
A distribuição do silício é, então, dada pela multiplicação de sua fração em peso
em cada região microestrutural pela quantidade dessa região:

Assista agora ao vídeo que mostra a determinação das fases


presentes, proporção e composição para uma liga Pb-10Sn em
duas temperaturas diferentes. Acesse o endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=xcyowPQQ9OU>.

Lembre-se, você deverá praticar resolvendo os exercícios


propostos; refaça todos os exemplos, se for necessário. Observe
novamente as figuras mostradas nos tópicos da aula. Nos livros do
Callister, Shackelford e Van Vlack, sugeridos nas referências, você encontrará vários
exemplos resolvidos e exercícios propostos. Caso haja alguma dúvida, em relação à
teoria ou aos exercícios, entre em contato com o tutor da disciplina. Bons estudos!
Resumo

Caro(a) aluno(a), nas aulas 6 e 7 vimos que o desenvolvimento da


microestrutura durante o resfriamento lento dos materiais a partir do estado líquido
pode ser analisado por meio de diagramas de fases. Vimos que esses 'mapas'
identificam as quantidades e composições das fases que são estáveis em
determinadas temperaturas. Estudamos que vários tipos de diagramas binários
normalmente são encontrados e que para componentes muito semelhantes, a
solubilidade sólida completa pode ocorrer tanto no estado sólido como no estado
líquido; e ainda que na região de duas fases, a composição de cada fase é indicada
por uma linha de amarração. E vimos também que:

 A linha de amarração que identifica as composições das fases em uma


região bifásica também pode ser usada para calcular a quantidade de
cada fase;
 O cálculo das quantidades de cada fase é feito usando-se a regra da
alavanca, em que a linha de amarração é tratada como uma alavanca
com seu pivô localizado na composição global. As quantidades das duas
fases são tais que 'equilibram a alavanca';
 Muitos sistemas binários exibem uma reação eutética, em que uma
composição com ponto de fusão baixo (eutético) produz uma
microestrutura granular fina, com duas fases;
 Os diagramas eutéticos são associados à solubilidade sólida limitada;
 Muitos diagramas binários incluem diversos compostos intermediários,
levando a uma aparência (microestrutura) relativamente complexa;
 A regra da alavanca pode ser usada para acompanhar o
desenvolvimento microestrutural, enquanto uma composição global é
lentamente resfriada a partir da fusão, o que é especialmente útil para
se entender a microestrutura que resulta em uma composição próxima
de uma composição eutética.
Complementar

Para enriquecer ainda mais seus conhecimentos sobre


diagramas binários, caro(a) aluno(a), você pode encontrar no
endereço eletrônico abaixo um excelente material da USP,
baseado no livro do Van Vlack que consta na nossa bibliografia:
<http://sites.poli.usp.br/d/pmt2100/Aula05_2005%201p.pdf>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 7

Utilize o diagrama binário Cu-Ag a seguir para responder


as questões 1 e 2:

Questão 1. Indique qual é a solubilidade máxima a 700ºC:


a) do Cu na Ag? b) da Ag no Cu?
Questão 2. Uma liga com 90%p Ag - 10%p Cu é aquecida até uma temperatura
dentro da região das fases β + líquida. Se a composição da fase líquida é de 85%p
Ag, determine:
a) a temperatura da liga;
b) a composição da fase β;
c) as frações mássicas de ambas as fases.
Questão 3. No exemplo 6.4 calculamos a informação microestrutural sobre a
fase β para a liga de 70%p B mostrada na figura 6.14. Veja novamente essa figura e,
de modo semelhante, calcule:
a) a quantidade da fase α em T3 para 1 Kg de uma liga com 50%p B,
b) a fração em peso dessa fase α em T3, que é proeutética.
Questão 4. A figura mostra o desenvolvimento microestrutural em um
diagrama binário eutético para uma solução sólida A+B com 80%p B. Considere, em
P á g i n a | 169

vez disso, 1 Kg de uma liga com 60%p B. Calcule a quantidade de fase β presente em
T3 (1 grau abaixo da temperatura eutética).

Questão 5. No exemplo 6.5 monitoramos o desenvolvimento microestrutural


para 1 Kg de uma liga Si-Al com 10%p Si - 90%p Al. Repita esse problema para uma
liga 20%p Si - 80%p Al.
Questão 6. Uma prata de lei, uma liga contendo aproximadamente 90% de
prata e 10% de cobre é aquecida nas temperaturas 600, 800 e 1100ºC. Determine as
fases presentes e suas proporções. Utilize o diagrama Ag-Cu mostrado na figura
abaixo.

Questão 7. Tivemos a oportunidade de estudar os diagramas de fase de


diferentes ligas metálicas. Foi estudado nesta aula um bom exemplo de liga eutética,
P á g i n a | 170

a liga chumbo-estanho (Pb-Sn), que caracteriza a solda elétrica, muito comum em


componentes eletrônicos. O diagrama Pb-Sn está mostrado na figura. Considere uma
solda Pb-Sn 50:50 a uma temperatura de 200ºC. Determine:
a) as fases presentes;
b) suas composições;
c) suas quantidades relativas (expressas em porcentagem em peso).

Questão 8. Considere o diagrama da solda mostrada na questão anterior com


40% de estanho e 60% de chumbo a 150ºC, determine:
a) quais as fases presentes,
b) qual a proporção de cada fase.
Questão 9. Você acompanhou diversas simulações através do endereço
eletrônico www.cienciadosmateriais.org. Em uma delas, foi apresentada
representações esquemáticas das microestruturas em condições de equilíbrio para
uma liga chumbo-estanho com composições C1, C2, C3 e C4, à medida em que era
resfriada, desde a região de fase líquida, como representado na figura abaixo.
P á g i n a | 171

Com base no diagrama de equilíbrio demonstrado,


a) Escreva a reação eutética para a liga Pb-Sn.
b) Supondo uma liga 60%Pb – 40%Sn, indique qual(ais) fase(s) está(ão) presente(s)?
c) Supondo uma liga 60%Pb – 40%Sn, qual(ais) é(são) a(s) proporção(ões) da(s)
fase(s)?
Questão 10. Só para lembrar, os sistemas eutéticos binários são aqueles em
que uma mistura adequada de dois elementos produz uma liga que possui menor
ponto de fusão do que qualquer um dos elementos em separado. O termo eutético
significa facilmente fundido. O diagrama que ilustra as fases presentes nas ligas é
conhecido como diagrama de fases eutético binário. São mostradas duas fases
sólidas (α e β) e uma líquida. Por exemplo, no sistema cobre-prata a fase α é a fase
rica em cobre (fase α CFC contendo a prata como elemento soluto), e a fase β é a
fase rica em prata contendo cobre como elemento soluto (fase β CFC). O limite de
solubilidade do soluto nas soluções sólidas α e β é definido pelas linhas solvus e
sólidus. A linha horizontal BEG também pode ser considerada uma linha sólidus. Ao
se observar esta linha AE, nota-se que na medida em que a prata é adicionada ao
cobre puro, a temperatura na qual o cobre torna-se líquido diminui. Do mesmo modo,
na medida em que o cobre é adicionado à prata pura, a temperatura na qual a prata
P á g i n a | 172

está totalmente líquida diminui (linha FE). O ponto E é o ponto de encontro dessas
linhas liquidus com a isoterma BEG, e é definido ponto eutético. Considere a liga
cobre-prata de composição Ag (60%)-Cu (40%) indicada no diagrama de fases.

a) Quais as fases presentes nesta liga a 650ºC?


b) Qual composição aproximada de cada uma das fases?
c) Quais as quantidades relativas em peso (%p) destas fases?
Questão 11. (PETROBRÁS-adaptada) O diagrama de fases do sistema cobre-
prata está representado na figura da questão anterior. Considerando que α e β são
fases ricas em cobre e prata, respectivamente, quais são as quantidades das fases
presentes a 800°C para uma liga com 20%p Ag - 80%p Cu?
a) α = 40% e β = 60%
b) α = 40% e líquido = 60%
c) β = 30% e líquido = 70%
d) β = 60% e líquido = 40%
e) α = 80% e líquido = 20%
Aula 8 e 9
O sistema ferro-carbono

APRESENTAÇÃO DA AULA

Caro(a) aluno(a), tomamos a liberdade de dividir o estudo do diagramas de


fases Fe-C em duas aulas sequenciais para explorar de maneira mais aprofundada
este importante tema, e, assim, contar com uma atenção especial de sua parte. Nestas
duas aulas vamos compreender que de todos os sistemas de ligas binárias,
possivelmente o mais importante é aquele formado pelo ferro e o carbono. Veremos
que tanto os aços como os ferros fundidos, que são os principais materiais estruturais
em toda e qualquer cultura tecnologicamente avançada, são essencialmente ligas
ferro-carbono. Estudaremos os diagramas de fases ferro-carbono (Fe-C), ou, mais
precisamente, ferro-carbeto de ferro (Fe-F3C), e aprenderemos a correlação entre as
microestruturas dos aços e ferros-fundidos, cujos desenvolvimentos estão
relacionados às características deste diagrama de fases. Nestas aulas navegaremos
pela terminologia associada aos diagramas Fe-C através da interpretação dos pontos
eutetoides (aula 8) e eutéticos (aula 9). Bons estudos!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Localizar as temperaturas e composições de todos os eutetoides e


eutéticos, e transformações de fases congruentes1;
 Escrever as reações para todas as transformações eutetoides e
eutéticas do diagrama ferro-carbono;
 Especificar se uma liga é hipoeutetoide ou hipereutetoide, para uma
dada composição da liga, e identificar a fase proeutetoide;
 Calcular as frações mássicas da fase proeutetoide e da perlita;
 Fazer um diagrama esquemático das microestruturas a uma
temperatura imediatamente abaixo da eutetoide.

1Transformações congruentes são transformações de fases para as quais não


existem alterações na composição das fases envolvidas.
P á g i n a | 174

8 INTRODUÇÃO

O sistema Ferro-carbono é, de longe, o diagrama de fases


comercial mais importante que encontraremos. Ele fornece a principal
base científica para as indústrias de ferro e aço. De fato, para o estudo
dos aços e dos ferros fundidos, que são os principais materiais estruturais da indústria
moderna, se faz necessário a compreensão deste fundamental diagrama de fases.
Através dele, podemos também explicar o desenvolvimento microestrutural em muitos
sistemas relacionados com três ou mais componentes (por exemplo, alguns aços
inoxidáveis que incluem grandes quantidades de cromo). É bom deixar claro, caro(a)
aluno(a), que embora o carbeto de ferro (Fe3C), e não o carbono, seja um componente
nesse sistema, o eixo de composição normalmente é dado percentualmente em peso
de carbono, como você poderá constatar. Outro fato importante, caro(a) aluno(a), é
que por mais que possa te parecer complexo este diagrama as áreas de interesse
estão ao redor das reações eutetoide e eutética (esta será estudada na aula
subsequente), e não a reação perto de 1500ºC, que não tem consequência prática e
nenhum interesse tecnológico.

8.1 O diagrama de fases ferro-carbeto de ferro (Fe-Fe3C)

Uma parte do diagrama de fases ferro-carbono está


apresentada na figura 8.1. O ferro puro, ao ser aquecido,
experimenta duas alterações na sua estrutura cristalina antes de se
fundir, como você já teve a oportunidade de observar na figura 3.9.
Vale a pena dar uma conferida novamente. Perceba que à temperatura ambiente, a
forma estável, conhecida por ferrita, ou ferro α, possui uma estrutura cristalina CCC.
A ferrita experimenta uma transformação polimórfica para austenita, com estrutura
cristalina CFC, ou ferro γ, à temperatura de 912ºC. Essa austenita persiste até 1394ºC,
temperatura em que a austenita CFC reverte novamente para uma fase com estrutura
CCC, conhecida por ferrita δ, a qual finalmente se funde a uma temperatura de
1538ºC. Todas essas alterações estão aparentes ao longo do eixo vertical, à
esquerda, no diagrama de fases.
Perceba, querido(a) aluno(a), que o eixo das composições na figura 8.1 se
estende somente até 6,7%p C; nessa concentração, se forma o composto
P á g i n a | 175

intermediário carbeto de ferro, ou cementita (Fe3C), representado por uma linha


vertical no diagrama de fases. Desse modo, o sistema ferro-carbono pode ser dividido
em duas partes: uma porção rica em ferro, como mostrado nesta figura 8.1; e a outra
(não mostrada) para composições localizadas entre 6,7 e 100%p C (grafite puro).
Na prática, todos os aços e ferros fundidos possuem teores de carbono
inferiores a 6,7%p C; portanto, consideramos somente o sistema ferro-carbono de
ferro. Por isso este diagrama poderia ser identificado de uma maneira mais apropriada
por diagrama de fases Fe-Fe3C, uma vez que o Fe-Fe3C é agora considerado um
componente.
A convenção e a conveniência, no entanto, ditam que a composição ainda seja
expressa em termos de "%p C" e não por "%p Fe 3C"; assim, 6,70%p C corresponde
a 100%p Fe3C.

Figura 8.1: Diagrama de fases do Fe-Fe3C.

Acompanhe este diagrama fundamental para o sucesso do seu curso de


Engenharia acessando o endereço eletrônico:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=13>.
P á g i n a | 176

Na verdade, caro(a) aluno(a), é nosso dever dizer que,


ironicamente, o diagrama do Fe-Fe3C não é um diagrama de
equilíbrio verdadeiro. O sistema Fe-C, mostrado na figura 8.2,
representa o verdadeiro equilíbrio. Embora o grafite (C) seja um
precipitado mais estável do que o Fe3C, a taxa de precipitação do grafite é muito mais
lenta do que a do Fe3C. O resultado é que, em aços comuns (e em muitos ferros
fundidos), a fase do Fe3C é metaestável; ou seja, para todas as finalidades práticas,
ele é estável com o tempo. Observe, ainda, que esse diagrama da figura 8.2 é quase
idêntico ao lado esquerdo do diagrama do Fe-Fe3C (figura 8.1). Nesse caso, porém,
o composto intermediário Fe3C não existe.

Figura 8.2: Diagrama de fases do Fe-C.


P á g i n a | 177

8.1.1 Discussão sobre o diagrama de fases ferro-carbono

Você deve se lembrar que o carbono é uma impureza


intersticial no ferro, como discutido na aula 4 (evidenciada na figura
4.4), e forma uma solução sólida tanto com a ferrita α como com a
ferrita δ, e também com a austenita, como está indicado pelos campos
monofásicos α, γ e δ na figura 8.1. Na ferrita α, com estrutura CCC, somente pequenas
concentrações de carbono são solúveis; a solubilidade máxima é de 0,022%p a 727ºC.
A solubilidade limitada pode ser explicada pela forma e pelo tamanho das posições
intersticiais nas estruturas CCC, que tornam difícil acomodar os átomos de carbono.
Embora ele esteja presente em concentrações relativamente baixas, o carbono
influencia de maneira significativa as propriedades mecânicas da ferrita.
Essa fase ferro-carbono, em particular, é relativamente macia, pode ser tornada
magnética a temperaturas abaixo de 768ºC e possui uma densidade de 7,88 g/cm 3.
A figura 8.3(a) é uma fotomicrografia da ferrita α.
A austenita, ou fase γ do ferro, quando ligada somente com carbono, não é
estável a uma temperatura inferior a 727ºC, como está indicado na figura 8.1.
A solubilidade máxima do carbono na austenita, 2,11%p C (alguns autores
consideram 2,14%p C), ocorre a 1147ºC. Essa solubilidade é aproximadamente 100
vezes maior do que o valor máximo para a ferrita com estrutura CCC, uma vez que as
posições intersticiais na estrutura cristalina CFC são maiores e, portanto, as
deformações impostas sobre os átomos de ferro que se encontram em volta do átomo
de carbono são muito menores. Como as discussões que se seguem
demonstram, as transformações de fases envolvendo a austenita são
muito importantes no tratamento térmico de aços. A propósito, deve
ser mencionado que a austenita é não-magnética.
A figura 8.3(b) mostra uma fotomicrografia dessa fase
austenita.
P á g i n a | 178

Figura 8.3: Fotomicrografias de (a) ferrita α (ampliação de 90X) e da (b) austenita


(ampliação de 325X).

A ferrita δ é virtualmente a mesma que a ferrita α, exceto pela faixa de


temperaturas em que cada uma existe. Uma vez que a ferrita δ é estável somente a
temperaturas relativamente elevadas, ela não é de qualquer importância tecnológica,
e assim não mais será discutida. Tenha então em mente, caro(a) aluno(a), as
microestruturas (ou fases) que realmente interessam no diagrama Fe-C: ferrita,
austenita e cementita. A cementita (Fe3C) se forma quando o limite de solubilidade
para o carbono na ferrita α é excedido a temperaturas abaixo de 727ºC (para
composições dentro da região das fases α + Fe3C). Como indicado na figura 8.1, o
Fe3C também coexistirá com a fase γ entre as temperaturas de 727 e 1147ºC.
Mecanicamente, a cementita é muito dura e frágil; a resistência de alguns aços é
aumentada substancialmente pela sua presença.
Aqui vale um comentário; é que, rigorosamente falando, a cementita é um
material apenas metaestável; isto é, à temperatura ambiente, ela
permanecerá indefinidamente como um composto. Porém, se
aquecida até entre 650 e 700ºC por vários anos, ela irá gradualmente
mudar ou se transformar em ferro α e carbono, na forma de grafite,
os quais irão conservar-se após um subsequente resfriamento até a temperatura
ambiente. Dessa forma, e também por essa razão, o diagrama de fases que está
mostrado na figura 8.1 não representa um verdadeiro diagrama de equilíbrio, pois a
cementita não é um composto em condições de equilíbrio. Contudo, uma vez que a
taxa de decomposição da cementita é extremamente lenta, virtualmente todo o
carbono no aço estará na forma de Fe3C, e não de grafite, e o diagrama de fases para
P á g i n a | 179

o sistema ferro-carbeto de ferro será válido para todos os fins práticos. Como será
visto na aula 9, que dá sequência a este assunto, a adição de silício a ferros fundidos
acelera enormemente essa reação de decomposição da cementita para formar grafite.
Falemos antes da reação mais importante para os aços presente no diagrama Fe-C,
a eutetoide.

8.1.2 A transformação eutetoide

Falemos agora das regiões bifásicas que estão identificadas na figura 8.1. Você
pode observar, caro(a) aluno(a), que existe um eutético para o sistema ferro-carbeto
de ferro, localizado a 4,30%p C e 1147ºC; para essa reação eutética,

O líquido se solidifica para formar as fases austenita e cementita. Obviamente,


o resfriamento subsequente até a temperatura ambiente promoverá mudanças de
fases adicionais.
Pode ser observado que existe um ponto invariante eutetoide
para uma composição de 0,77%p C e a uma temperatura de 727ºC.
Essa reação eutetoide pode ser representada pela expressão:

Ou, mediante resfriamento, a fase γ, sólida, se transforma em ferro α e em


cementita. As mudanças de fases eutetoides descritas pela equação 8.2 são muito
importantes, sendo fundamentais durante o tratamento térmico de aços, como será
explicado em discussões futuras.

8.1.3 Comentário sobre as ligas ferrosas presentes no diagrama Fe-C

As ligas ferrosas são aquelas nas quais o ferro é o componente principal, porém
o carbono, assim como outros elementos de formação de liga, poderão estar
presentes. No esquema de classificação das ligas ferrosas com base no teor de
P á g i n a | 180

carbono, existem três tipos de ligas: ferro, aço e ferro fundido. O ferro comercialmente
puro contém menos do que 0,008%p C e, a partir do diagrama de fases, é composto
à temperatura ambiente quase que exclusivamente pela fase ferrita. As ligas ferro-
carbono que contém entre 0,008 e 2,14%p C são classificadas como aços. Na maioria
dos aços, a microestrutura consiste tanto de fase α como de fase Fe3C.
Com o resfriamento à temperatura ambiente, uma liga dentro dessa faixa de
composições deve passar através de pelo menos uma porção do campo da fase γ (dê
uma olhada no diagrama e verifique isto); subsequentemente, são produzidas
microestruturas distintas, como será discutido no tópico seguinte.
Embora uma liga de aço possa conter até 2,14%p C, na prática, as
concentrações de carbono raramente excedem 1,0%p. As propriedades e as diversas
classificações dos aços serão tratadas na aula 10. Os ferros fundidos
são classificados como ligas ferrosas que contêm entre 2,14 e 6,70%p
C. Entretanto, os ferros fundidos comerciais contêm normalmente
menos que 4,5%p C. Como já dissemos, não se preocupe, essas ligas
serão discutidas mais adiante na aula 9, e também na aula 10. Se achar que é muita
informação, caro(a) aluno(a), faça uma pausa para tomar uma água, um café, ou
simplesmente esfriar a cabeça. Conceitos importantes ainda serão discutidos nesta
aula.

8.2 Desenvolvimento das microestruturas em ligas Fe-C

Muitas das várias microestruturas que podem ser produzidas em ligas de aço
e também as suas relações com o diagrama de fases ferro-carbeto de ferro serão
agora discutidas, e, como você já deve estar imaginando, caro(a) aluno(a), será
mostrado que a microestrutura que se desenvolve depende tanto do teor de carbono
como do tratamento térmico. A discussão ficará restrita ao resfriamento muito lento de
ligas de aço, para as quais o equilíbrio é mantido continuamente. Uma exploração
mais detalhada da influência do tratamento térmico sobre a microestrutura e, por fim,
sobre as propriedades mecânicas dos aços será discutida nas aulas 11 e 12.
P á g i n a | 181

8.2.1 As ligas eutetoides

As mudanças de fases que ocorrem mediante a passagem da região γ para o


campo das fases α + Fe3C, ou sej a, da região da austenita para o campo da ferrita +
cementita (veja a figura 8.1), são relativamente complexas e semelhantes àquelas
descritas para os sistemas eutéticos. Considere, por exemplo, uma liga de
composição eutetoide (0,77%p C) à medida que ela é resfriada de uma temperatura
dentro da região da fase γ, digamos, a 800ºC, isto é, começando no ponto a na figura
8.4 e se movendo para baixo ao longo da linha vertical xx'. Inicialmente, a liga é
totalmente composta pela fase austenita, tendo uma composição de 0,77%p C e a
microestrutura correspondente, esta última também indicada na figura 8.4. À medida
que a liga é resfriada, não ocorrerão alterações até que a temperatura eutetoide
(727ºC) seja atingida. Ao cruzar essa temperatura e até o ponto b, a austenita se
transforma de acordo com a equação 8.2.
A microestrutura para esse aço eutetoide que é lentamente resfriado através
da temperatura eutetoide consiste em camadas alternadas ou lamelas compostas
pelas duas fases (α e Fe3C), que se formam simultaneamente durante a
transformação. Nesse caso, a espessura relativa da camada é de aproximadamente
8 para 1. Essa microestrutura, que está representada esquematicamente na figura
8.4, ponto b, é conhecida por perlita, pois, quando vista ao microscópio sob pequenas
ampliações, ela possui uma aparência que lembra a madrepérola.

Figura 8.4: Representações esquemáticas das microestruturas para uma liga ferro-carbono
de composição eutetoide (0,77%p C) acima e abaixo da temperatura eutetoide.

Na verdade, a
composição 0,77%p C é
uma aproximação.
Muitos diagramas de
fases para o sistema Fe-
C dão a composição
eutetoide aproximada
como 0,8%p C. Por uma
questão prática,
qualquer composição
eutetoide perto de
0,77%p C dará uma
microestrutura
predominantemente
eutetoide.
P á g i n a | 182

É importante agora você acompanhar a evolução da microestrutura de


uma liga Fe-C eutetoide através de uma simulação muito legal e explicativa.
Acesse o link:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=13>.

A figura 8.5 mostra uma fotomicrografia de um aço eutetoide


exibindo a perlita. A perlita existe como grãos, frequentemente
chamados de "colônias"; dentro de cada colônia, as camadas
estão orientadas essencialmente na mesma direção, a qual varia
de uma colônia para outra. As camadas claras mais grossas
representam a fase ferrita, enquanto a fase cementita aparece como lamelas finas, a
maioria apresentando cor escura. Muitas camadas de cementita são tão finas que os
contornos adjacentes entre fases não conseguem ser distinguidos; essas camadas
aparecem escuras nessa ampliação. É importante você saber, caro(a) aluno(a), que
mecanicamente, a perlita apresenta propriedades intermediárias entre a macia e dúctil
ferrita e a dura e frágil cementita.

Figura 8.5: Fotomicrografia de um aço eutetoide mostrando a microestrutura da perlita, que


consiste em camadas alternadas de ferrita α (a fase clara) e Fe3C (camadas finas as quais a
maioria aparece escura). Ampliação de 500X.

Entenda que as camadas alternadas α e Fe3C na perlita se formam como tal


pela mesma razão que se forma a estrutura eutetoide, porque a composição da fase
que lhe deu origem (nesse caso a austenita) é diferente de ambas as fases geradas
como produto (ferrita e cementita), e porque a transformação de fases exige que exista
uma redistribuição do carbono por difusão. A figura 8.6 ilustra esquematicamente as
P á g i n a | 183

alterações microestruturais que acompanham essa reação eutetoide; aqui as direções


da difusão do carbono estão indicadas pelas setas. Os átomos de carbono se
difundem para longe das regiões da ferrita, com 0,022%p, e em direção às camadas
de cementita, com 6,7%p C, à medida que a perlita se estende do contorno do grão
para o interior do grão de austenita não reagido. Então, a perlita se forma em camadas
porque com a formação dessa estrutura os átomos de carbono precisam se difundir
apenas ao longo de distâncias mínimas.
Além do mais, caro(a) aluno(a), entenda que o resfriamento subsequente da
perlita a partir do ponto b na figura 8.4 produzirá alterações microestruturais
relativamente insignificantes.

Figura 8.6: Representação esquemática da formação da perlita a partir da austenita; a


direção da difusão do carbono está indicada pelas setas.

Vejamos agora um exemplo de cálculo das quantidades relativas dos


constituintes de um aço eutetoide.
Exemplo 8.1: Para 1 Kg de aço eutetoide em temperatura ambiente, calcule a
quantidade presente em cada fase (α e Fe3C).
Solução: Usando a regra da alavanca e o diagrama de fases Fe-C (figura 8.1),
temos:
P á g i n a | 184

8.2.2 As ligas hipoeutetoides

As microestruturas para as ligas ferro-carbeto de ferro que possuem


composições diferentes da composição eutetoide serão agora exploradas. Considere
uma composição C0 à esquerda do eutetoide, entre 0,022 e 0,77%p C; essa é
conhecida como uma liga hipoeutetoide (menos do que o eutetoide). O resfriamento
de uma liga com essa composição é representado pelo movimento vertical, para baixo,
ao longo da linha yy' na figura 8.7. A aproximadamente 875ºC, ponto c, a
microestrutura consistirá inteiramente em grãos da fase γ, como mostrado
esquematicamente na figura. Ao resfriar até o pondo d, a uma temperatura de
aproximadamente 775ºC, e que se encontra dentro da região das fases α + γ, essas
duas fases coexistirão como está mostrado na microestrutura esquemática. A maioria
das pequenas partículas α se formarão ao longo dos contornos originais dos grãos γ.
As composições tanto da fase α como da fase γ podem ser determinadas utilizando a
linha de amarração apropriada; essas composições correspondem, respectivamente,
a aproximadamente 0,020 e 0,40%p C.
Enquanto se resfria uma liga através da região das fases α + γ, a composição
da fase ferrita se altera com a temperatura ao longo do contorno entre as fases α - (α
+ γ), curva MN, tornando-se ligeiramente mais rica em carbono. Por outro lado, a
alteração na composição da austenita é mais dramática, prosseguindo ao longo da
fronteira (α + γ) - γ, curva MO, à medida que a temperatura é reduzida.
O resfriamento do ponto d até o ponto e, imediatamente acima do eutetoide,
porém ainda na região α + γ, produzirá uma proporção maior da fase α, bem como
uma microestrutura semelhante àquela também mostrada: as partículas α crescerão
em tamanho. Nesse ponto, as composições das fases α e γ são determinadas pela
construção de uma linha de amarração na temperatura Te; a fase α conterá 0,022%p
C, enquanto a fase γ terá a composição do eutetoide, ou seja, 0,77%p C.
P á g i n a | 185

Figura 8.7: Representações esquemáticas das microestruturas para uma liga ferro-carbono
com composição hipoeutetoide C0 (contendo menos do que 0,77%p C) à medida que ela é
resfriada desde dentro da região da fase austenita até abaixo da temperatura eutetoide.

À medida que a temperatura é abaixada para imediatamente abaixo do


eutetoide, até o ponto f, toda a fase γ que estava presente à temperatura Te (e que
possuía a composição do eutetoide) se transformará em perlita, de acordo com a
reação representada pela equação 8.2. Virtualmente não existirá qualquer alteração
na fase α que existia no ponto e ao se cruzar a temperatura eutetoide - ela estará
normalmente presente como uma fase matriz contínua ao redor das colônias de perlita
isoladas. A microestrutura no ponto f aparecerá como mostrado no detalhe
esquemático correspondente na figura 8.7. Assim, a fase ferrita estará presente na
perlita e também como a fase que se formou enquanto se resfriava ao longo da região
P á g i n a | 186

das fases α + γ. A ferrita que está presente na perlita é chamada de ferrita eutetoide,
enquanto a outra, aquela que se formou a temperaturas acima de Te, é conhecida por
ferrita proeutetoide (significando pré, ou antes, do eutetoide), conforme identificado
na figura 8.7.
Para clarear ainda mais sua mente, caro(a) aluno(a), e consolidar a
explicação sobre a evolução da microestrutura de uma liga Fe-C
hipoeutetoide, acompanhe uma excelente simulação sobre essa liga
acessando o endereço:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=13>.

A figura 8.8 mostra uma fotomicrografia de um aço com 0,38%p C; as regiões


brancas, com maiores dimensões, correspondem à ferrita proeutetoide. Para a perlita,
o espaçamento entre as camadas α e Fe3C varia de grão para grão; uma parte da
perlita aparece escura, pois as muitas camadas com pequeno espaçamento não estão
resolvidas e definidas na ampliação desta fotomicrografia.

Figura 8.8: Fotomicrografia de um aço com 0,38%p C que possui uma microestrutura
composta por perlita e ferrita proeutetoide. Ampliação de 635X.

Obviamente, caro(a) aluno(a), as quantidades relativas tanto


de α total (eutetoide e proeutetoide) como de cementita são
determinadas utilizando-se a regra da alavanca, juntamente com uma
linha de amarração que se estende através da totalidade da região
que compreende as fases α + Fe3C, desde 0,022 até 6,7%p C. Vejamos nesse
P á g i n a | 187

momento um exemplo de cálculo das quantidades relativas dos constituintes de um


aço hipoeutetoide.
Exemplo 8.2: Para 1 Kg de aço contendo 0,5%p C, calcule a quantidade de α
proeutetoide nos contornos de grão.
Solução: Usando a figura 8.9 para a ilustração do problema e o diagrama de
fases Fe-C (figura 8.1) para o cálculo, basicamente precisamos calcular a quantidade
em equilíbrio de α a temperatura de 728ºC (ou seja, 1 grau acima da temperatura
eutetoide). Usando a regra da alavanca, temos:
𝐶𝑒𝑢𝑡𝑒𝑡𝑜𝑖𝑑𝑒 − 𝐶0 0,77 − 0,50
𝑤𝛼 = = = 0,36 ≈ 36 % = 0,360 𝐾𝑔 = 360 𝑔
𝐶𝑒𝑢𝑡𝑒𝑡𝑜𝑖𝑑𝑒 − 𝐶𝛼 0,77 − 0,022

Nota: Você pode ter notado que esse cálculo perto da composição
eutetoide usou um valor de Cα representativo da solubilidade máxima do
carbono no Fe α (0,022%p). Em temperatura ambiente, essa solubilidade cai
para aproximadamente zero.

Figura 8.9: Representações esquemáticas das microestruturas para uma liga ferro-carbono
com composição hipoeutetoide C0 = 0,50%p C.
P á g i n a | 188

8.2.3 As ligas hipereutetoides

Como dissemos, continuamos explorando as microestruturas


para as ligas ferro-carbeto de ferro que possuem composições
diferentes da composição eutetoide. Considere, então, aquela liga que
contém entre 0,77 e 2,11%p C, conhecida como liga hipereutetoide (mais do que o
eutetoide), resfriadas a partir de temperaturas dentro do campo da fase γ. Considere
uma liga com composição C1, mostrada na figura 8.10, a qual, mediante resfriamento,
se move verticalmente para baixo ao longo da linha zz'. No ponto g, somente a fase γ
estará presente com uma composição de C1; a microestrutura aparecerá conforme
está mostrado, apresentando apenas os grãos da fase γ. Com o resfriamento para
dentro do campo das fases γ + Fe3C, isto é, até o ponto h, a fase cementita começará
a se formar ao longo dos contornos dos grãos iniciais da fase γ, de maneira
semelhante ao que ocorre para a fase α na figura 8.7, ponto d, discutida no item
anterior. Essa cementita é chamada cementita proeutetoide, aquela que se forma
antes da reação eutetoide. Observe com atenção a figura 8.10 (aço hipereutetoide) e
a compare com a figura 8.7 (aço hipoeutetoide). As coisas estão ficando mais claras,
não é mesmo?...

Figura 8.10: Representações esquemáticas das microestruturas para uma liga ferro-
carbono com composição hipereutetoide C1 (contendo entre 0,77 e 2,11%p C) à medida que
ela é resfriada desde dentro da região da fase austenita até abaixo da temperatura
eutetoide.
P á g i n a | 189

Obviamente, a composição da cementita permanece constante (6,70%p C) à


medida que a temperatura é alterada. Contudo, a composição da fase austenita se
moverá ao longo da curva PO em direção à eutetoide. À medida que a temperatura é
reduzida através da eutetoide até o ponto i, toda a austenita restante com composição
eutetoide será convertida em perlita; assim, a microestrutura resultante consistirá em
perlita e cementita proeutetoide como microconstituintes.
Acompanhe uma ótima simulação sobre a evolução
microestrutural de uma liga Fe-C hipereutetoide acessando o link:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=13>.

Na fotomicrografia de um aço com 1,40%p C mostrada na figura 8.11, é


possível observar que a cementita proeutetoide aparece clara. Uma vez que ela tem
uma aparência muito semelhante à da ferrita proeutetoide (figura 8.8), existe alguma
dificuldade em se distinguir entre os aços hipoeutetoide e hipereutetoide
simplesmente com base na microestrutura.

Figura 8.11: Fotomicrografia de um aço com 1,40%p C que possui uma microestrutura
composta por uma rede de cementita proeutetoide, branca, que envolve as colônias de
perlita. Ampliação de 1000X.

As quantidades relativas dos dois microconstituintes (perlita e Fe 3C


proeutetoide) podem ser calculadas para ligas de aços hipereutetoide de maneira
P á g i n a | 190

análoga à que foi empregada para os materiais hipoeutetoides; a linha de amarração


apropriada se estende entre 0,77 e 6,70%p C. Veja o exemplo seguinte.
Exemplo 8.3: Calcule a quantidade de cementita proeutetoide nos contornos
de grão de 1 Kg do aço hipereutetoide com 1,13%p C, ilustrado na figura 8.12 abaixo.
Solução: Usando a ilustração do problema (figura 8.12) e o diagrama de fases
Fe-C (figura 8.1) para o cálculo, basicamente precisamos calcular a quantidade em
equilíbrio de cementita à temperatura de 728ºC. Assim:
𝐶0 − 𝐶𝑒𝑢𝑡𝑒𝑡𝑜𝑖𝑑𝑒 1,13 − 0,77
𝑤𝐹𝑒3 𝐶 = = = 0,0608 = 0,0608 𝐾𝑔 = 60,8 𝑔
𝐶𝐹𝑒3𝐶 − 𝐶𝑒𝑢𝑡𝑒𝑡𝑜𝑖𝑑𝑒 6,70 − 0,77

Figura 8.12: Representações esquemáticas das microestruturas para uma liga ferro-
carbono com composição hipereutetoide C0 = 1,13%p C.
P á g i n a | 191

8.3 Resfriamento fora das condições de equilíbrio

Como último comentário, caro(a) aluno(a), devemos dizer que


na discussão sobre o desenvolvimento microestrutural de ligas ferrro-
carbono supôs-se que, durante o resfriamento, condições de
equilíbrio metaestável2 eram continuamente mantidas; isto é, era
dado tempo suficiente em cada nova temperatura para qualquer ajuste necessário nas
composições e nas quantidades relativas das fases, conforme previsto a partir do
diagrama de fases para o sistema Fe-Fe3C. Na maioria das situações, essas taxas de
resfriamento são impraticavelmente lentas e realmente desnecessárias; de fato, em
muitas ocasiões são desejáveis condições fora do equilíbrio.
2corresponde a qualquer estado do sistema diferente do estado de equilíbrio
mais estável; que tenha consigo associado uma restrição que impeça a transição
imediata deste para o estado mais estável sem alguma perturbação significativa de
origem geralmente externa ao sistema.
Dois efeitos de importância prática fora das condições de equilíbrio são: (1) a
ocorrência de mudanças ou transformações de fases em temperaturas que não
aquelas previstas pelas curvas nos contornos entre fases no diagrama de fases, e (2)
a existência à temperatura ambiente de fases fora do equilíbrio que não aparecem no
diagrama de fases.
Assista agora a dois vídeos que irão te proporcionar
uma compreensão eficiente e necessária sobre os diagramas
ferro-carbono.
Acesse o endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=kQ75hoKCIf8&list=
PL5CAA89BD44DCDD7D&index=17>.
<https://www.youtube.com/watch?v=Nk0zHEHx74I>.
Assista também a outro vídeo que retrata a regra da alavanca aplicada
ao diagrama ferro-carbono.
Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=JjjjrY1_JIo>.
P á g i n a | 192

Resolva os exercícios propostos; pratique sempre; veja


novamente os exemplos da aula; se atente para as figuras
que ilustram a aula e para as simulações sugeridas.
Elas realmente vão auxiliá-lo muito na compreensão
deste fundamental conceito científico.
Os livros sugeridos nas referências trazem vários exemplos e exercícios
propostos.
Outra coisa, aconselhamos que após um bom descanso, continue e
estude a aula seguinte (aula 9) de uma vez.
Ela, na verdade, é um complemento do que vimos aqui.
E lembre-se sempre, caso alguma dúvida persista, entre em contato
com o tutor da disciplina.

Bons estudos!
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 8

Questão 1. Essa primeira questão refere-se aos conceitos


teóricos que é muito importante que você conheça. Se
necessário, faça uma pesquisa em um bom livro e mãos à obra.
Responda as questões abaixo:
a) Cite as principais formas alotrópicas do ferro e suas principais
características.
b) Qual a estrutura do ferro que é magnética? Até que temperatura o ferro é
magnético?
c) Aços são as principais ligas de Fe-C de ampla aplicação na Engenharia.
Como o carbono encontra-se na estrutura cristalina do ferro?
d) A solubilidade do carbono é maior na ferrita ou na austenita? Explique.
e) Qual a composição dos aços quanto ao teor de carbono?
f) Como variam as propriedades mecânicas dos aços, como resistência, dureza
e ductilidade, de acordo com o teor de carbono?
g) Com base no diagrama Fe-C, qual a solubilidade máxima do carbono nos
aços e a que temperatura ocorre?
h) Com base no diagrama Fe-C, especifique as temperaturas e composições
das reações eutética e eutetoide.
i) Qual a diferença entre aços hipoeutetoides e hipereutetoides?
j) Como são as microestruturas características dos aços eutetoides, hipo e
hipereutetoides?
k) Quais são as principais fases que podem estar presentes nos aços à
temperatura ambiente, se resfriados lentamente? Cite as principais propriedades
mecânicas dessas fases.
l) Use a regra das alavancas para determinar a fração da ferrita e da cementita
na perlita.
Questão 2. Para a liga composta por Fe-C como a estudada nessa aula,
determine:
a) A temperatura eutetoide;
b) A reação eutetoide;
c) Mostre no diagrama as regiões:
i) eutetoides;
P á g i n a | 195

ii) hipoeutetoides;
iii) hipereutetoides.
Questão 3. Calcule a proporção de ferrita e perlita no ponto f da liga
hipoeutetoide mostrada na figura abaixo. Admita sendo C0 = 0,35%C.

Para responder as próximas questões, utilize o Diagrama Fe-C estudado e


reproduzido a seguir!
P á g i n a | 196

Questão 4. O diagrama ferro-carbono é um dos mais importantes do ponto de


vista tecnológico, pois nos permite compreender a estrutura dos aços e ferros-fundidos
(ligas ferro-carbono), bem como as transformações que estas ligas experimentam em
tratamentos térmicos. Durante o aquecimento do ferro puro, antes de ser atingida a
temperatura de fusão, a estrutura cristalina deste metal se altera duas vezes. Como
visto anteriormente, este fenômeno diz respeito à alotropia do ferro, conforme ilustra
a linha vertical à esquerda do diagrama da Figura. Na temperatura ambiente o ferro
puro tem estrutura cristalina CCC (ferro α) e denomina-se ferrita. Esta ferrita sofre uma
transformação para austenita (ferro i) de estrutura CFC na temperatura de 912ºC. A
austenita se mantém estável até 1394ºC, quando ocorre nova transformação
(reversão) para a estrutura CCC (ferro δ). A fusão do ferro puro acontece a 1538ºC.
Considere o diagrama Fe-C dado na figura, dê o que se pede, indicando:
a) as fases presentes;
b) a porcentagem máxima de carbono presente na ferrita e na austenita;
c) a temperatura eutetoide e eutética.
P á g i n a | 197

Questão 5. Uma liga Fe-C com 0,5% C é fundida a 1600oC, sendo a seguir
resfriada lentamente, em condições que podem ser consideradas como sendo de
equilíbrio. Responda:
a) Qual é a temperatura de início de solidificação dessa liga?
b) Qual é a primeira fase sólida que se solidifica à temperatura definida no item
anterior?
c) Qual é a temperatura na qual termina a solidificação dessa liga?
d) A 1140oC, quais são as fases presentes, as suas composições e as suas
proporções relativas?
e) A 720oC, quais são os constituintes dessa liga, as suas composições e as
suas proporções relativas?
Questão 6. Um aço contendo 1% C é resfriado lentamente em condições que
podem ser consideradas como sendo de equilíbrio, desde o estado líquido até a
temperatura ambiente. Sobre essa liga, responda:
a) Quais são as fases presentes à temperatura de 750ºC?
b) Considere a temperatura de 600oC. Quais são:
i) as composições das fases presentes:
ii) as proporções relativas dessas fases:
Questão 7. Considere 2,5 Kg de austenita contendo 0,65%p C, resfriada até
abaixo de 727ºC. Indique:
a) qual é a fase proetutetoide.
b) quantos quilogramas se formam de cementita e de ferrita total.
Questão 8. Com relação ao diagrama Fe-C, um estudante de Engenharia
afirmou que "a austenita é um carboneto contendo 2,11% de carbono e que a
solubilidade do carbono nesse constituinte é máxima a 1148°C!" Caso o estudante
tenha cometido algum erro, faça a devida correção.
Questão 9. Com relação ao diagrama mostrado e seus constituintes, conclui-
se que
a) a austenita é um carboneto contendo 2,11% de carbono.
b) a solução sólida do carbono do ferro é chamada cementita.
c) este é, de fato, um diagrama Fe-Fe2O3, visto que a extremidade direita do
mesmo corresponde a 6,7% de carbono, que representa a solubilidade máxima do
carbono no Fe2O3.
P á g i n a | 198

d) a solubilidade do carbono na austenita é máxima a 1148°C e corresponde a


4,3% de carbono.
e) este é, de fato, um diagrama Fe-Fe3C, visto que a extremidade direita do
mesmo corresponde a 6,7% de carbono, que é a composição aproximada do
carboneto de ferro Fe3C.
Questão 10. Durante o resfriamento, a austenita se decompõe na reação
eutetoide (727ºC) em camadas alternadas ou lamelas das duas fases (ferrita e
cementita), que se formam simultaneamente durante a transformação, numa
microestrutura conhecida como perlita. A presença de perlita nos aços carbono é
característica:
a) somente de aços com 0,76%p C, independente da velocidade de
resfriamento adotada.
b) somente de aços com mais do que 0,76%p C, independente da velocidade
de resfriamento adotada.
c) de aços com menos do que 0,76%p C, mas somente quando submetidos a
resfriamentos rápidos.
d) de aços com 0,76%p C, mas somente quando submetidos a resfriamentos
rápidos.
e) de aços com qualquer quantidade de carbono, mas somente quando
submetidos a resfriamentos lentos ou moderadamente lentos.
Questão 11. Deseja-se conhecer a composição química de uma liga ferrosa
não ligada, mas não existem informações disponíveis. Procede-se a uma análise
quantitativa em uma amostra do material, que determina a quantidade total de Fe3C
como equivalente a 0,6%. Com o uso do diagrama da questão anterior e, em função
da quantidade carbono (%p), este material deverá ser classificado como:
a) aço hipoeutetoide.
b) aço eutetoide.
c) aço hipereutetoide.
d) ferro fundido hipoeutetoide.
e) ferro fundido hipereutetoide.
Questão 12. [PETROBRÁS- 2012] Aços hipereutetoides são empregados na
fabricação de lâminas de faca e trilhos de trem, porque apresentam, após o tratamento
de normalização, uma microestrutura mais dura e resistente à abrasão, que consiste
em:
P á g i n a | 199

a) ferrita pura
b) ferrita pró-eutetoide e perlita
c) perlita pura
d) cementita pró-eutetoide e perlita
e) cementita pura
Questão 13. [PETROBRÁS-2012] O diagrama Fe-C metaestável é constituído
das seguintes fases na região de importância tecnológica: líquido, austenita, ferrita
alfa, ferrita delta e cementita. Essas fases sofrem diversas transformações em função
da temperatura, sabendo-se que, durante o
a) resfriamento, o líquido eutético se transforma em ferrita e perlita.
b) resfriamento, o líquido eutético se transforma em ferrita e austenita.
c) resfriamento, a austenita eutetoide se transforma em ferrita e cementita.
d) aquecimento, a ferrita e a austenita se transformam em líquido eutético.
e) aquecimento, a ferrita peritetoide se transforma em austenita e líquido.
Questão 14. Os metais são geralmente empregados na forma de ligas, ou seja,
"substâncias que consistem em misturas íntimas de dois ou mais elementos químicos,
dos quais pelo menos um é metal, e possuindo propriedades metálicas". As ligas
constituem, pois, uma combinação de duas ou mais variedades de átomos, resultando
numa substância que apresenta alterações às vezes muito profundas, tanto nas
propriedades físicas como químicas, em relação aos elementos correspondentes. Na
maioria dos casos, entretanto, elementos estranhos são intencionalmente adicionados
a um metal, com o fim de melhorar as propriedades usuais ou obter certas
propriedades específicas. Se tal adição se tornar parte integral da fase sólida, a fase
resultante é chamada "solução sólida"; nesta, portanto, o metal puro dissolve o
elemento adicionado propositadamente. Com base nos seus conhecimentos sobre as
soluções sólidas e sobre o que foi estudado a respeito do diagrama Fe-C, assinale a
opção INCORRETA:
a) quando os átomos de um elemento podem substituir totalmente os do outro
elemento, a solução sólida chama-se substitucional.
b) o tipo de solução sólida intersticial é aquele em que menores átomos de um
determinado elemento se localizam nos interstícios existentes entre os átomos
maiores do outro elemento. O exemplo mais conhecido é o da liga Fe-C (aço).
c) o carbono, cujo átomo é muito pequeno, pode penetrar nos interstícios do
átomo e produzir solução sólida de carbono no ferro. No estado alotrópico alfa, abaixo
P á g i n a | 200

de 912ºC até a temperatura ambiente, o reticulado sendo cúbico centrado (CCC), os


interstícios entre os átomos de ferro tornam-se maiores, facilitando a acomodação de
átomos de carbono.
d) para que se forme uma solução sólida é preciso haver entre os elementos
envolvidos - solvente e soluto - uma certa semelhança das dimensões da estrutura
atômica e semelhantes estruturas eletrônicas.
e) a solução sólida de cobre e níquel é um exemplo de solução com total
miscibilidade, isto é, qualquer fração dos átomos da estrutura original do cobre pode
ser substituída por níquel, ou seja, as soluções sólidas substitucionais Cu-Ni podem
variar desde praticamente 0% de Ni e quase 100% de Cu até quase 100% de Ni e
praticamente 0% de Cu.
Questão 15.Você estudou nesta aula que no diagrama de equilíbrio Fe-C o teor
de carbono não excede a 6,7%, que é a composição do composto carbeto de ferro ou
cementita (Fe3C), localizado na extremidade direita do diagrama. Todos os aços e
ferros fundidos comuns ao carbono situam-se nesta faixa de composições. Você viu
também que os aços podem conter até 2,11%C, embora as ligas de aço comerciais
tenham 1,0%C no máximo. Os ferros fundidos contêm de 2,11%C até 6,7%C, mas
normalmente os ferros fundidos comerciais possuem menos de 4,5%C em peso.
Sobre o composto Fe3C pode-se afirmar:
a) A formação da cementita ocorre quando o limite de solubilidade do C na
ferrita é excedido em temperatura menos do que 1148ºC.
b) Como a cementita é muito dura e frágil, o aumento da resistência de alguns
aços se deve à presença desse composto.
c) A cementita é uma fase metaestável que permanece indefinidamente como
microconstituinte da liga ferrosa na temperatura ambiente.
d) Com a taxa de decomposição da cementita é muito lenta, e a solubilidade
do carbono no ferro é muito pequena (≈ 0,022%C na ferrita), praticamente todo o
carbono presente no aço estará na forma de Fe3C.
e) Em ferros fundidos a adição do elemento silício aumenta muito a taxa de
decomposição da cementita. Por isso, o carbono está normalmente na forma livre na
microestrutura do ferro fundido; este constituinte é conhecido por grafita.
Aula 9
Ferros fundidos

9 OS FERROS FUNDIDOS

Vamos estudar agora, caro(a) aluno(a), com o auxílio do conhecimento do


diagrama do equilíbrio Fe-C, que costuma-se definir ferro fundido como ligas Fe-C
cujo teor de carbono se situa acima 2,0% aproximadamente. Face à influência do
silício nessa liga, sobretudo sob o ponto de vista de sua constituição estrutural, o ferro
é normalmente considerado uma “liga ternária Fe-C-Si”, pois o silício está
frequentemente presente em teores superiores ao do próprio carbono. Por outro lado,
em função de sua constituição estrutural, o carbono está geralmente presente, em
grande parcela, na forma “livre”. E nesse contexto, caro(a) aluno(a), na forma "livre"
quer dizer na forma de "grafita" (ou grafite).
Nessas condições, a definição de ferro fundido abordada será a
seguinte: Ferro fundido é a liga ferro-carbono-silício, de teores de
carbono geralmente acima de 2,0%, em quantidade superior à que é
retida em solução sólida na austenita, de modo a resultar carbono parcialmente livre,
na forma de veios ou lamelas de grafita. Com relação à microestrutura, os ferros
fundidos podem apresentar parte do carbono sob a forma de grafita ou a de cementita
(Fe3C). Em ambas as formas, apresentam ductilidade insuficiente para operações de
conformação mecânica. Deste modo, os componentes fabricados em ferros fundidos
só podem ser obtidos pelos processos de fundição.

9.1 O diagrama de equilíbrio

Tratando-se de ligas Fe-C-Si, como dissemos, o estudo da solidificação dos


ferros fundidos é fundamentado no diagrama ternário Fe-C-Si. Entretando, caro(a)
aluno(a), para nossa sorte e facilidades no estudo, para teores de Si de até 3%p, os
cortes pseudobinários do diagrama Fe-Si-C são muito similares ao diagrama Fe-C. De
fato, ocorre uma diminuição da quantidade de C do ponto eutético e uma pequena
alteração das temperaturas que representam o equilíbrio.
Assim, a solidificação dos ferros fundidos contendo grafita pode ser estudada
com o diagrama estável Fe-C considerando-se ao invés de carbono, uma grandeza
denominada carbono equivalente (CE).
Mesmo sabendo que nós não nos aprofundaremos nesse estudo, nem
tampouco cobrar esse conceito, achamos importante que você entenda que o carbono
P á g i n a | 202

equivalente (CE) considera os efeitos do Si e P sobre o ponto eutético do diagrama


Fe-C. Sua expressão é definida como:

A porcentagem de carbono que correspondente ao eutético do diagrama


estável seria de 4,26%p., entretanto, emprega-se uma aproximação, considerando
como eutético aqueles que possuem CE = 4,3 %p C.
Outra informação que nesse momento vem apenas enriquecer nossa
discussão, e que será aprofundada no momento certo, é o fato de que o estudo da
solidificação dos ferros fundidos sem grafita (ferros fundidos brancos) é realizado com
o auxílio do diagrama metaestável Fe-Fe3C, e a dos ferros fundidos contendo grafita,
com o diagrama estável Fe-C.
P á g i n a | 203

A figura 9.1 mostra um esboço desses diagramas combinados.

Figura 9.1: Diagrama de fases Fe-C e Fe-Fe3C.


P á g i n a | 204

Não se preocupe se esse diagrama apresentado na figura 9.1 lhe


deixou confuso, caro(a) aluno(a). Na verdade, vamos estudar as reações
microestruturais dos ferros fundidos no já conhecido diagrama ferro-
carbono. Discutiremos um pouco mais esse assunto nos itens seguintes. Antes,
porém, vamos entender um pouco mais sobre a reação eutética no diagrama Fe-C.

9.2 A reação eutética no diagrama Fe-C

Como você estudou já na seção 2.3 da aula anterior, os ferros fundidos são
definidos como ligas de ferro com mais de 2%p carbono. E, como dito no tópico
anterior desta aula, eles geralmente também contêm até 3%p silício para controle da
cinética da formação de carbeto, ou seja, para estabilizar a precipitação do grafite.
De uma forma geral, os ferros fundidos possuem temperaturas de fusão
relativamente baixas.
Vimos também na seção 2.1 da aula 7 que a transformação do líquido eutético
em uma microestrutura relativamente granulada de duas fases sólidas no resfriamento
pode ser descrita como um tipo especial de reação química. Só para lembrar, essa
reação eutética foi aqui reescrita:

(9.2)

Isto se fez necessário somente para fixar que também no diagrama Fe-C, sob
resfriamento, uma fase líquida pode ser transformada em duas fases sólidas;
Neste caso, γ e Fe3C. Isto quer dizer que existe também um eutético para o
sistema ferro-carbeto de ferro, localizado a 4,3%p C e TE = 1147ºC. Claro que a reação
oposta ocorre com o aquecimento. Novamente lembramos, caro(a) aluno(a), que
eutético significa facilmente fundido.
Perceba que nessa reação, chamada reação eutética para o diagrama Fe-C,
o líquido se solidifica para formar as fases austenita e cementita. Obviamente, o
resfriamento subsequente até a temperatura ambiente promoverá mudanças de fases
adicionais. Dessa forma, no sistema Fe-C, a reação eutética pode ser escrita da
seguinte maneira:

(9.3)
P á g i n a | 205

Vamos colocar novamente a figura de um diagrama ferro-carbono para que


você possa identificar a região eutética com mais facilidade; lembrando que os ferros
fundidos são ligas de ferro com mais de 2%p carbono; na prática, entre 3 e 4,5%p C.
Em seguida, faremos uma interessante discussão sobre o diagrama de equilíbrio
verdadeiro para os ferros fundidos.

Figura 9.2: Diagrama de fases do Fe-Fe3C.

Vale destacar que essa região do diagrama Fe-C (entre 3 e 4,5%p


C) é uma área de interesse nos estudos dos ferros fundidos, que serão
aprofundados na aula 10, que trataremos das ligas metálicas.
Neste momento, porém, não estamos interessados em estudar os tipos
principais de ferros fundidos, nem tampouco suas microestruturas e propriedades.
Como dissemos, vamos deixar isso para a aula 10.
Vamos, momentaneamente, apenas fazer uma discussão sobre a formação
dos ferros fundidos no diagrama Fe-C sobre as possíveis microestruturas.
P á g i n a | 206

9.3 Discussão sobre o diagrama de equilíbrio

Um reexame do diagrama de fases para o sistema ferro-carbeto de ferro nos


revela que as ligas dentro dessa faixa de composições se tornam completamente
líquidas a temperaturas entre aproximadamente 1150 e 1300ºC, o que é
consideravelmente mais baixo do que para os aços. Dessa forma, eles
são derretidos com facilidade e suscetíveis à fundição. Ainda, alguns
ferros fundidos são muito frágeis, e a fundição é a técnica de fabricação mais
conveniente. Estudaremos técnicas de processamento mais adiante.
Para que você se lembre, a cementita (Fe3C) é um composto metaestável e
sob algumas circunstâncias pode-se fazer com que ela se dissocie ou se decomponha
para formar ferrita α e grafita. Esse contexto será exaustivamente discutido na aula
10, mas de qualquer forma vale a pena expor a equação que representa essa
decomposição:

Dessa forma, o diagrama de equilíbrio verdadeiro para o ferro e o


carbono não é aquele apresentado na figura 9.2, mas sim o que está mostrado na
figura 9.3. Você já viu um diagrama como este na figura 8.2, lembra-se?
Perceba que os dois diagramas das figuras 9.2 e 9.3 são virtualmente idênticos
no lado rico em ferro (por exemplo, as temperaturas do eutético e eutetoide para o
sistema Fe-Fe3C são de 1147 e 727ºC, respectivamente, em comparação com 1153
e 740ºC para o sistema Fe-C); contudo, a figura 9.3 se estende até 100%p carbono,
de tal modo que a fase rica em carbono consiste em grafita, em vez de cementita a
6,7%p C.
P á g i n a | 207

Figura 9.3: O verdadeiro diagrama de fases ferro-carbono em condições de equilíbrio com a


grafita, em lugar da cementita, como uma fase estável.

Por enquanto, caro(a) aluno(a), basta entender que essa


tendência para formar grafita é regulada pela composição e pela taxa de
resfriamento. Ainda, taxas de resfriamento mais lentas durante a
solidificação favorecem a grafitização (a formação de grafita).
Na verdade, para a maioria dos ferros fundidos, o carbono existe como grafita,
e tanto a microestrutura quanto o comportamento mecânico dependem da
composição e do tratamento térmico.

9.3.1 Microestrutura dos ferros fundidos no diagrama Fe-C

A figura 9.4 apresenta a trajetória para um ferro fundido branco.


A microestrutura esquemática pode ser comparada a uma micrografia que será
apresentada na aula seguinte, na figura 10.1(a).
P á g i n a | 208

Figura 9.4: Desenvolvimento microestrutural para o ferro fundido branco (contendo 3,0%p
C).

Acompanhe, antes de prosseguirmos, um exemplo sobre a regra da alavanca


aplicada aos ferros fundidos. Veja como é relativamente simples.
Exemplo 9.1: Calcule a quantidade de flocos de grafite presentes na
microestrutura de 1 Kg de ferro fundido branco contendo 3%p C, a 735ºC.
Solução: Usando as figuras 9.3 e 9.4, observamos que 735ºC é ligeiramente
abaixo da temperatura eutética. Para encontrar a porcentagem de grafite devemos
utilizar a regra da alavanca (equação 6.6). Logo obtemos:
P á g i n a | 209

Nota: Esse cálculo segue o sistema ideal da figura 9.4 e ignora a possibilidade
de qualquer perlita metaestável ser formada.
O sistema Fe-C mostrado na figura 9.5 oferece uma ilustração do
desenvolvimento da microestrutura do ferro fundido cinzento. Esse
esboço pode ser comparado com a micrografia da figura 10.1(b) mostrado
na próxima aula. Uma grande diferença é que, na microestrutura real, uma
quantidade substancial de perlita metaestável foi formada na temperatura eutetoide.
Também é interessante comparar esse esboço com o do ferro fundido branco na figura
9.4. A pequena quantidade de silício acrescentada para promover a precipitação do
grafite não aparece nesse diagrama de dois componentes.

Figura 9.5: Desenvolvimento microestrutura para o ferro fundido cinzento (contendo 3,0%p
C).
P á g i n a | 210

Acompanhe como também é bem simples a regra da alavanca aplicada ao ferro


fundido cinzento.
Exemplo 9.2: Para 1 Kg de ferro cinzento contendo 3%p C, calcule a
quantidade de flocos de grafite presentes na microestrutura (a) a 1153ºC e (b) em
temperatura ambiente.
Solução: (a) Usando as figuras 9.3 e 9.5, observamos que 1153ºC é pouco
abaixo da temperatura eutética. Usando a regra da alavanca, temos:

(b) Em temperatura ambiente, obtemos:

Um último comentário se faz pertinente, caro(a) aluno(a). Você deve ter achado
estranho que nos dois exemplos mostrados (figuras 9.4 e 9.5) a quantidade de
carbono era a mesma, 3,0%p nesse caso, e o resultado foi diferente; ou
seja, os ferros fundidos e suas respectivas microestruturas foram
diferentes. Mas lembre-se que o elemento silício (Si) é o responsável por
essa característica como também, e principalmente, a taxa de resfriamento. Mas não
se preocupe!... Isso será devidamente explicado na aula 10, como já foi dito mais de
uma vez. Por ora, esperamos que tenha compreendido essa nova 'possibilidade' do
diagrama de equilíbrio ferro-carbono: a compreensão da possível formação de ferros
fundidos. Outro comentário, percebeu como essa aula foi curta?... Mas os assuntos
discutidos nela complementam de forma consistente o estudo sobre o diagrama ferro-
carbono (aula 8), e também fornece bases para que você compreenda mais facilmente
o estudo dos ferros fundidos que trataremos na aula seguinte, que irá tratar das ligas
metálicas. É muito importante que faça essa associação. Lembre-se sempre, você
deve tentar resolver os exercícios propostos. Se necessário, refaça todos os exemplos
mostrados. Uma boa fonte de pesquisa está nos livros listados nas referências
bibliográficas; neles você encontrará vários outros exemplos e exercícios propostos.
Caso haja alguma dúvida, em relação à teoria ou aos exercícios, entre em contato
com o tutor da disciplina. Bons estudos!
Resumo

Caro(a) aluno(a), nas aulas 8 e 9 uma atenção considerável foi dada ao sistema
ferro-carbono, e especificamente ao diagrama de fases para o sistema ferro-carbeto
de ferro, que tecnologicamente é um dos mais importantes. Vimos que o
desenvolvimento microestrutural dos aços e dos ferros fundidos durante o
resfriamento lento a partir do estado líquido é fortemente influenciado pela
porcentagem de carbono (%p C). Estudamos que esse desenvolvimento da
microestrutura dos aços depende da reação eutetoide na qual a fase austenita com
estrutura cristalina CFC, de composição 0,77%p C, se transforma isotermicamente na
fase ferrita α (0,022%p C), com estrutura CCC, e no composto intermetálico, cementita
(Fe3C). Ainda, que o produto microestrutural de uma liga ferro-carbono de composição
eutetoide é a perlita, um microconstituinte que consiste em camadas alternadas de
ferrita e cementita. Aprendemos que o desenvolvimento microestrutural dos ferros
fundidos também pode ser analisado no diagrama Fe-C, e que nas regiões de duas
fases desse diagrama, a composição de cada fase é determinada pela regra da
alavanca. E vimos também que:

 As microestruturas de ligas que possuem teores de carbono inferiores


ao eutetoide (hipoeutetoides) são compostas por uma fase ferrita
proeutetoide, além da perlita. Por outro lado, a perlita e a cementita
proeutetoide constituem os microconstituintes para ligas hipereutetoides
- aquelas com teores de carbono que excedem a composição eutetoide;
 Apesar dos ferros fundidos serem ligas ternárias Fe-C-Si, são
fundamentados no diagrama de fases Fe-C, devido aos baixos teores de
Si (até 3%p);
 O silício é o elemento responsável pela formação da grafita como forma
estável da presença de carbono nos ferros fundidos;
 A composição eutética do diagrama Fe-C é uma região de suma
importância para compreensão dos diferentes ferros fundidos.
Complementar

Além de um bom livro, caro(a) aluno(a), um material bem completo


desenvolvido pela PUC, e que pode lhe ser útil, pode ser encontrado no
endereço eletrônico:
<http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/3721/3721_3.PDF>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 9

Questão 1. Considere o diagrama Fe-C mostrado na


figura abaixo. Suponha que uma liga com 3,0%p C (como as
estudadas nas figuras 9.4 e 9.5) seja fundida a 1400ºC, sendo a
seguir resfriada lentamente, em condições que podem ser
consideradas como sendo de equilíbrio.

Pergunta-se:
a) Qual é a temperatura de início de solidificação dessa liga?
b) Qual é a primeira fase sólida que se solidifica à temperatura definida no item
(a)?
c) A 1147ºC (logo abaixo do eutético), quais são as fases presentes, as suas
composições e as suas proporções relativas?
P á g i n a | 215

d) A 723ºC (logo abaixo do eutetoide), quais são os constituintes dessa liga, as


suas composições e as suas proporções relativas?
Questão 2. Você estudou no diagrama de equilíbrio Fe-C que o teor de carbono
não excede a 6,7%p, que é a composição do composto carbeto de ferro ou cementita
(Fe3C), localizado na extremidade direita do diagrama. Todos os aços e ferros
fundidos comuns ao carbono situam-se nesta faixa de composições. Você viu também
que os aços podem conter até 2,11%p C, embora as ligas de aço comerciais tenham
1,0%p C no máximo. Os ferros fundidos contêm de 2,11 até 6,7%p C, mas
normalmente os ferros fundidos comerciais possuem menos de 4,5%C em peso.
Sobre o composto Fe3C pode-se afirmar:
a) A formação da cementita ocorre quando o limite de solubilidade do C na
ferrita é excedido em temperatura menor do que 727ºC.
b) Como a cementita é muito dura e frágil, o aumento da resistência de alguns
aços se deve à presença desse composto.
c) A cementita é uma fase metaestável que permanece indefinidamente como
microconstituinte da liga ferrosa na temperatura ambiente.
d) Com a taxa de decomposição da cementita é muito lenta, e a solubilidade
do carbono no ferro é muito pequena (≈0,022%p C na ferrita), praticamente todo o
carbono presente no aço estará na forma de Fe3C.
e) Em ferros fundidos, a adição do elemento silício proporciona a decomposição
da cementita.
Questão 3. (ENADE-ENGENHARIA) Os ferros fundidos denominados
hipoeutetoides são ligas de Fe-C que possuem teor de carbono entre,
aproximadamente, 2,0 e 4,3%.
PORQUE
A liga binária Fe-C com teor de carbono de 4,3% corresponde à liga de mais
baixo ponto de solidificação ou fusão (temperatura de 1148°C), sendo esta liga
denominada eutética.
Analisando essas afirmações, conclui-se que:
a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira.
b) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira.
c) a primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa.
d) a primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira.
e) as duas afirmações são falsas.
P á g i n a | 216

Questão 4. Assinale com um X a alternativa correta dos itens a seguir:


a) Os ferros fundidos são ligas de:
i) ( ) silício e carbono;
ii) ( ) ferro e tungstênio;
iii) ( ) carbono e tungstênio;
iv) ( ) ferro e carbono.
b) A porcentagem de carbono no ferro fundido gira em torno de:
i) ( ) 2 e 4%;
ii) ( ) 2,5 e 4,5%;
iii) ( ) 2 e 4,5%;
iv) ( ) 2,5 e 5%.
c) Quando a porcentagem de carbono é alta na composição do ferro fundido,
ele se torna:
i) ( ) mais frágil;
ii) ( ) macio;
iii) ( ) laminável;
iv) ( ) forjável.

Para resolver as questões de 5 até 9, utilize o verdadeiro diagrama de fases


ferro-carbono em condições de equilíbrio com a grafita, em lugar da cementita, como
uma fase estável (figura 9.3)
P á g i n a | 217

Questão 5. Considere uma liga ferro-carbono de composição 5%p C - 95%p


Fe. Faça os esboços esquemáticos da microestrutura que seria observada para
condições de resfriamento muito lento às seguintes temperaturas: 1175ºC, 1145ºC e
700ºC.
Questão 6. Determine o percentual em peso da(s) fase(s) presente(s) à 1400ºC
para um ferro fundido branco com uma composição global de 2,5%p C.
Questão 7. Repita a questão anterior para uma temperatura de 1200ºC.
Questão 8. Determine o percentual em peso da(s) fase(s) presente(s) à 1400ºC
para um ferro fundido cinzento com uma composição global de 3,0%p C.
Questão 9. Repita a questão anterior para uma temperatura de 1200ºC.
Questão 10. Ao comparar a microestrutura esquemática em equilíbrio na figura
9.5 com a microestrutura real, à temperatura ambiente, mostrada na figura abaixo, fica
aparente que a perlita metaestável pode se formar na temperatura eutetoide (devido
a um tempo insuficiente para a formação mais estável, porém mais lenta, do grafite).
Supondo que as figuras 9.3 e 9.5 sejam precisas para 100 Kg de um ferro fundido
cinzento (3,0%p C) até 738ºC, mas que a perlita se forme sob resfriamento através da
P á g i n a | 218

temperatura eutetoide, calcule a quantidade de perlita esperada na microestrutura à


temperatura ambiente.

Questão 11. A reação eutética é definida como aquela na qual, durante a


resfriamento, uma fase líquida se transforma de maneira isotérmica e reversível em
duas fases sólidas, que se encontram intimamente ligadas num produto bifásico de
baixo ponto de fusão, conhecido como sólido eutético. Para o sistema cobre-prata, a
equação da reação eutética poderia ser descrita como:

A reação eutética também é típica do sistema ferro-carbono, cuja reação ocorre


a) somente nos aços, desde que em solidificações dentro das condições de
equilíbrio.
b) somente nos aços com 0,76%p C, desde que em solidificações dentro das
condições de equilíbrio.
c) somente nos ferros fundidos eutetoides, desde que em solidificações dentro
das condições de equilíbrio.
d) somente nos ferros fundidos, desde que em solidificações dentro das
condições de equilíbrio.
e) nos aços e ferros fundidos, desde que em solidificações dentro das
condições de equilíbrio.
P á g i n a | 219

Questão 12. Com relação ao que foi estudado nesta aula sobre os ferros
fundidos, analise as afirmativas seguintes e coloque nos parênteses a soma dos itens
corretos:
(01) O ferro fundido é uma liga ternária Fe-C-Mg
(02) Em todos os tipos de ferros fundidos estudados o teor de silício (%p Si)
será sempre a mesma
(04) O diagrama ferro-carbono utilizado no estudo dos ferros fundidos é
diferente daquele para o estudo dos aços
(08) Ferro fundido branco é considerado uma liga hipoeutetoide.
(16) A reação eutética que ocorre nos ferros fundidos pode ser escrita da
seguinte maneira:

(32) A cementita (Fe3C) é um composto metaestável que não está presente nos
ferros fundidos, somente nos aços, uma vez que o carbono se apresenta na forma de
grafite.
(64) A grafitização é reação de formação do grafite que ocorre nos ferros
fundidos.
SOMA: ( )
Aula 10
Ligas metálicas

APRESENTAÇÃO DA AULA

Como você deve saber, caro(a) aluno(a), os Engenheiros estão frequentemente


envolvidos em decisões que implicam a seleção de materiais, as quais exigem que
eles tenham familiaridade com as características gerais de uma ampla variedade de
metais e suas ligas (bem como de outros tipos de materiais). Assim, nesta aula vamos
realizar uma discussão de algumas das mais importantes ligas que são utilizadas na
Engenharia em termos das suas composições, propriedades, aplicações e técnicas
de fabricação. Iremos analisar as ligas metálicas em função de suas composições,
agrupadas em duas classes distintas: ferrosas e não ferrosas. E, por fim,
consideraremos como as diversas ligas metálicas são fabricadas em formas
convenientes para as aplicações da Engenharia. Indicaremos diversos pequenos
vídeos nesta aula; é muito importante que você os assista para consolidar os
conhecimentos. Bons estudos!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Citar diferentes de aços e, para cada tipo, citar as diferenças em


composição, as propriedades que os distingue e algumas de suas
aplicações típicas;
 Conhecer os quatro tipos de ferro fundido e, para cada tipo, descrever
a sua microestrutura e observar as suas características mecânicas
gerais;
 Compreender diferentes ligas não ferrosas e citar as suas
características físicas e mecânicas que as distingue, e, além disso,
listar pelo menos algumas de suas aplicações típicas;
 Citar e descrever as operações de conformação que são usadas para
dar forma a ligas metálicas;
 Citar e descrever as técnicas de fundição.
P á g i n a | 221

10 INTRODUÇÃO

Muitas vezes um problema relacionado a materiais consiste realmente em uma


simples questão de seleção de um material que possua a combinação correta de
características para uma aplicação específica. Portanto, as pessoas que estão
envolvidas no processo de tomada de decisões devem possuir algum conhecimento
das opções disponíveis. Os metais e ligas metálicas são materiais muito importantes
e que podem ter, ou adquirir, a combinação perfeita para aplicação tecnológica. De
fato, caro(a) aluno, conforme discutimos na aula 1, provavelmente nenhum material
está mais associado à profissão de Engenharia do que o metal, tal como o aço
estrutural. Assim, a discussão sobre metais desta aula depende muito dos conceitos
fundamentais levantados em diversas aulas já estudadas por você até o momento.
Iniciemos com exemplos dominantes: as ligas baseadas em ferro,
ou ligas ferrosas, nas quais o ferro é o componente principal, que
incluem aços carbono, aços-liga e os ferros fundidos; e as ligas não-
ferrosas, todas aquelas ligas que não contêm o ferro como constituinte principal,
como as ligas compostas por alumínio, magnésio, cobre, níquel, zinco, titânio e
chumbo, além dos metais refratários e preciosos. Também é muito importante
considerarmos como as diversas ligas metálicas são fabricadas em formas
convenientes para as aplicações da Engenharia, ou seja, o processamento das ligas,
para que tenhamos um conhecimento mais completo da natureza de cada material, e,
mais importante, para que agucemos nossa compreensão dos efeitos do histórico de
processamento sobre as propriedades. Ainda, para nos auxiliar de forma expressiva
na compreensão dos procedimentos de tratamentos térmicos que serão abordados
nas duas aulas seguintes.

10.1 Ligas ferrosas

Mais de 90% em peso dos materiais metálicos usados pelos seres humanos
são ligas ferroas, o que representa uma imensa família de materiais de Engenharia
com uma ampla faixa de microestruturas e propriedades relacionadas. A maioria dos
projetos de Engenharia que exigem suporte de carga estrutural envolve ligas ferrosas.
P á g i n a | 222

Por uma questão prática, essas ligas estão incluídas em duas


categorias gerais baseadas na quantidade de carbono na composição da
liga, já abordadas nas aulas 8 e 9: o aço, que geralmente contém entre
0,05 e 2,0%p C, e os ferros fundidos, geralmente com 2,0 e 4,5%p C.
entro da categoria do aço, vamos distinguir se é usada ou não uma quantidade
significativa de elementos de liga além do carbono. Uma composição com adição total
de 5% p de elementos, que não o carbono, servirá como um limite arbitrário entre
aços de baixa liga e de alta liga. Esses elementos de liga são escolhidos
cuidadosamente porque, invariavelmente, apresentam elevados custos. Eles são
justificados apenas por melhorias essenciais nas propriedades, como maiores
resistências mecânica e à corrosão.

10.1.1 Aços carbono e de baixa liga

A maioria das ligas ferrosas é de aços carbono e aços de baixa liga.


Os motivos para isso são simples. Essas ligas possuem preço moderado,
devido à ausência de grandes quantidades de elementos de liga, e são
suficientemente dúcteis para serem prontamente conformadas. O produto final é forte
e durável. Esses materiais eminentemente práticos têm aplicações desde esferas de
rolamento até chapas de metal conformadas na fuselagem de automóveis. Um
sistema de designação1 conveniente para essas ligas úteis é dado na tabela 10.1.
Nesse sistema, da American Iron and Steel Institute-Societu of Automotive Engineers
(AISI-SAE), os dois primeiros números são um código designando o tipo de elementos
de liga e os dois ou três últimos são o conteúdo médio de carbono em centésimos de
percentual em peso. Como exemplo, um aço carbono comum com 0,40%p C é um
aço 1040, enquanto um aço com 1,45%p Cr e 1,50%p C é um aço 52150. Deve-se ter
em mente que as composições químicas mencionadas em designações de liga, como
as mostradas na tabela 10.1 são aproximadas e variarão ligeiramente de um produto
para outro dentro dos limites aceitáveis do controle de qualidade industrial. Para que
você saiba e fique muito bem claro, uma classe interessante de ligas, conhecidas
como aços de alta resistência e baixa liga (ARBL), têm surgido em resposta aos
requisitos de redução de peso de veículos. As composições de muitos aços ARBL
comerciais são patenteadas e especificadas pelas propriedades mecânicas, em vez
da composição. Um exemplo típico, porém, poderia conter 0,2%p C e cerca de 1%p
P á g i n a | 223

ou menos de elementos como Mn, P, Si, Cr, Ni ou Mo. A alta resistência dos aços
ARBL é resultado da seleção da liga ideal e do processamento controlado
cuidadosamente, como a laminação a quente (deformação em temperaturas
suficientemente elevadas para permitir algum alívio de tensão).
Aconselhamos que observe bem a tabela 10.1, caro(a) aluno(a), e também
achamos que é o momento de você assistir uma teleaula sobre a classificação dos
aços.
Acesse o endereço eletrônico pois temos certeza que irá te
auxiliar muito na compreensão deste assunto:
<https://www.youtube.com/watch?v=_o2iZqDy15o>.
P á g i n a | 224

1As designações de liga são listagens convenientes, porém arbitrárias,


normalmente padronizadas por organizações profissionais como a AISI e SAE; porém,
tenha mente, caro(a) aluno(a), que essas designações tradicionais tendem a ser tão
variadas quanto as próprias ligas.

Tabela 10.1: Sistema de designação AISI-SAE para aços carbono e de baixa liga.

10.1.2 Aços de alta liga

Conforme mencionado anteriormente no item 2, caro(a) aluno(a), a adição de


elementos de liga precisa ser feita com cuidado e justificadamente, pois eles são
caros. Pois bem, veremos três casos em que os requisitos de processo de Engenharia
justificam composições de alta liga (ou seja, acréscimos totais de elementos, que não
o carbono, maiores que 5% p). Os aços inoxidáveis, por exemplo,
exigem a adição de elementos de liga para impedir os estragos de uma
atmosfera corrosiva. Os chamados aços ferramenta exigem acréscimos
de elementos de liga para obter dureza suficiente para aplicações de
P á g i n a | 225

usinagem. As superligas exigem acréscimos de elementos de liga para fornecer


estabilidade em aplicações de alta temperatura, como lâminas de turbina. Vamos,
então, discutir separadamente um pouco mais cada uma destes aços de alta ligas.
Antes acompanhe um exemplo que auxilia no entendimento destes conceitos.
Exemplo 10.1.: Cite três razões devido as quais as ligas ferrosas são usadas
tão amplamente. Cite também três características das ligas ferrosas que limitam a sua
utilização.
Solução: As ligas ferrosas são usados extensivamente porque:
1) o minério de ferro existe em quantidades abundantes;
2) a extração é econômica, e o refino e fabricação são técnicas já dominadas;
3) as ligas podem ser adaptadas para ter uma ampla gama de propriedades;

Algumas desvantagens de ligas ferrosas são:


1) elas são suscetíveis à corrosão;
2) possuem uma densidade relativamente elevada;
3) têm condutividade elétrica relativamente baixas.

10.1.2.1 Aços inoxidáveis

Os aços inoxidáveis são mais resistentes à corrosão e ferrugem do que o aço


carbono e os aços de baixa liga, principalmente devido à presença do cromo. A
quantidade de cromo é de, pelo menos, 4% p e normalmente se encontra acima de
10% p. Às vezes, são usados níveis de até 30%p Cr.
A tabela 10.2 resume as designações de liga para vários dos aços inoxidáveis
comuns em quatro categorias principais:
1. Os aços inoxidáveis austeníticos têm a estrutura da austenita retida em
temperatura ambiente. Conforme estudamos na aula 8, o Fe γ, ou austenita, tem a
estrutura CFC e é estável acima de 910 ºC. Essa estrutura pode ocorrer em
temperatura ambiente quando for estabilizada pelo acréscimo de um elemento de liga
apropriado, como o níquel. Enquanto a estrutura CCC é energicamente mais estável
do que a estrutura CFC para o ferro puro em temperatura ambiente, o oposto é
verdadeiro para o ferro que contém um número significativo de átomos de níquel em
solução sólida substitucional.
P á g i n a | 226

2. Sem o alto conteúdo de níquel, a estrutura CCC é estável, como nos aços
inoxidáveis ferríticos. Para muitas aplicações que não exigem a alta resistência à
corrosão dos aços inoxidáveis austeníticos, esses aços inoxidáveis ferríticos de mais
baixa liga (e menos dispendiosos) são bastante úteis.
3. Um tratamento térmico com resfriamento rápido, que será discutido nas
aulas 11 e 12, permite a formação de uma complexa estrutura cristalina tetragonal de
corpo centrado, chamada martensita. Essa estrutura cristalina gera alta resistência e
baixa ductilidade. Como resultado, esses aços inoxidáveis martensíticos são
excelentes para aplicações como cutelaria e molas.
4. O endurecimento por precipitação, outro tratamento térmico que será
abordado na aula 12, envolve a produção de uma microestrutura multifásica a partir
de uma microestrutura monofásica. O resultado é uma maior resistência ao movimento
de discordâncias e, portanto, uma maior resistência ou dureza. Os aços inoxidáveis
com endurecimento por precipitação podem ser encontrados em aplicações como
elementos estruturais resistentes à corrosão.

Tabela 10.2: Designações de liga para alguns aços inoxidáveis comuns.


P á g i n a | 227

10.1.2.2 Aços ferramentas

Aços ferramentas são usados para cortar, conformar e modelar de alguma


maneira outro material. Alguns dos principais tipos são resumidos na tabela 10.3.
Um aço carbono comum (W1) é incluído no final da tabela. Para operações de
modelagem que não sejam muito exigentes, esse tipo de material é adequado.
Na verdade, os aços ferramenta eram historicamente do tipo carbono comum
até meados do século XIX. Agora, a adição de grandes quantidades de elementos de
liga é comum.
Sua vantagem é poder fornecer a dureza necessária com tratamentos térmicos
mais simples e mantê-la em temperaturas operacionais mais altas.
Os principais elementos de liga usados nesses materiais são tungstênio,
molibdênio e cromo.
Antes de prosseguir, caro(a) aluno(a), é importante assistir a uma
teleaula sobre as ligas de aço para consolidar muito bem este conceito.
Em seguida, acompanhe o exemplo sobre a importância dos elementos
de liga nos aços.
Acesse o endereço:
<https://www.youtube.com/watch?v=icSkAEVplyM&list=PL3qONjKuaO2Twx7P
1mpCdSZkdKEhhd5Uy&index=6>.
P á g i n a | 228

Tabela 10.3: Designações de liga para alguns aços ferramenta comuns.

Exemplo 10.2: Discuta de maneira breve a importância dos elementos de liga


nos aços.
Solução: É através da adição de elementos de ligas que podemos obter
melhorias de algumas propriedades como diminuição ou aumento do ponto de fusão,
aumento da dureza, aumento da resistência mecânica e/ou outras características
desejadas de acordo com o uso do metal.

10.1.3 Superligas

Superligas incluem uma grande classe de metais com resistência


especialmente alta em temperaturas elevadas (até mesmo acima de 1000ºC). Muitos
dos aços inoxidáveis da tabela 10.2 têm um duplo papel como ligas resistentes ao
calor. Esses aços são superligas baseadas em ferro. No entanto, caro(a) aluno(a), a
tabela 10.4 que resume alguns dos principais exemplos de superligas também inclui
ligas baseadas em cobalto e níquel. Perceba que a maioria contém adições de cromo
P á g i n a | 229

para resistência à oxidação e corrosão. Esses materiais são caros, em alguns casos
extremamente caros, mas os rigorosos requisitos da tecnologia moderna
constantemente justificam esses custos.

Tabela 10.4: Designações de liga para algumas superligas comuns.

10.1.4 Ferros fundidos

Como já vimos nas aulas anteriores, podemos definir ferros fundidos como as
ligas de ferro com mais de 2%p carbono. Eles também, geralmente, contêm até 3%p
silício para controle da cinética da formação de carbeto. Vimos, também, que os ferros
fundidos possuem temperaturas de fusão relativamente baixas e viscosidades na fase
líquida, não formam filmes superficiais indesejáveis quando derramados e sofrem
contração moderada durante a solidificação e o resfriamento. O ferro fundido é
conformado em uma forma final derramando-se metal fundido em um molde. A forma
do molde é mantida pelo metal solidificado. Propriedades mecânicas inferiores
resultam de uma microestrutura menos uniforme, incluindo alguma porosidade.
Lembre-se, caro(a) aluno(a), que na aula anterior estudamos os ferros fundidos com
P á g i n a | 230

base no diagrama de equilíbrio ferro-carbono; a reação eutética e a


aplicação da regra da alavanca. Agora estamos mais interessados nos
diferentes tipos, suas morfologias e características. Existem quatro tipos
gerais de ferros fundidos:
(a) Ferro fundido branco possui uma superfície de fratura cristalina
caracteristicamente branca. Grandes quantidades de Fe3C são formadas durante a
fundição, gerando um material duro e frágil.
(b) Ferro fundido cinzento tem uma superfície de fratura cinzenta, com uma
estrutura finamente facetada. Um conteúdo de silício significativo (2 a 3% p) promove
a precipitação do grafite (C) em vez da cementita (Fe3C). Os flocos de grafite afilados
e pontudos contribuem para sua fragilidade característica e para a aparência
acinzentada, daí o seu nome.
(c) Acrescentando uma pequena quantidade (0,05% p) de magnésio ao metal
fundido da composição do ferro cinzento, tem-se a precipitação do grafite esferoidal,
em vez da formação de flocos. Esse ferro fundido dúctil (ou nodular) resultante
obtém seu nome das propriedades mecânicas melhoradas. A ductilidade é aumentada
por um fator de 20, e a resistência, dobrada.
(d) Uma forma mais tradicional de ferro fundido com ductilidade razoável é o
ferro fundido maleável, que é, primeiro, fundido como ferro branco e, depois, tratado
termicamente para produzir precipitações de grafite nodular.
A figura 10.1 mostra microestruturas típicas desses quatro ferros fundidos.
Nesta figura podemos observar (a) ferro branco (400x), carbeto eutético (constituinte
claro) mais perlita (constituinte escuro); (b) ferro cinzento (100x), flocos de grafita em
uma matriz de 20% ferrita livre (constituinte claro) e 80% perlita (constituinte escuro);
(c) ferro dúctil (100x), nódulos de grafita (esferulitas) revestidas por envelopes de
ferrita livre, tudo em uma matriz de perlita; e (d) ferro maleável (100x), nódulos de
grafita em uma matriz de ferrita. A tabela 10.5 lista exemplos de composições.
P á g i n a | 231

Figura 10.1: Microestruturas típicas dos quatro ferros fundidos; (a) ferro branco (400x), (b)
ferro cinzento (100x), (c) ferro dúctil (100x), e (d) ferro maleável (100x).

Tabela 10.5: Designações de liga para alguns ferros fundidos comuns.

Antes de seguirmos para o estudo das ligas não-ferrosas, é importante


que você faça uma pausa para refrescar a cabeça; não se pode aprender
tudo de uma só vez. Antes, porém assista a uma teleaula sobre os ferros
fundidos que irá lhe auxiliar muito na compreensão deste tema. Acesse o
endereço eletrônico:
P á g i n a | 232

<https://www.youtube.com/watch?v=Bs90acfHGsk&list=
PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt&index=16>

Observe também a seguir um exemplo que relaciona as


micrografias dos principais ferros fundidos. Perceba que ele
aborda as morfologias dos ferros fundidos mostrados na figura 10.1, e discutidos neste
item.
Exemplo 10.3.: Como você observou no vídeo indicado, o ferro fundido
normalmente é obtido da fusão do ferro gusa com sucata (até 50%) em fornos do tipo
cubilô, ou fornos elétricos. O carbono está presente nos ferros fundidos sob duas
formas: grafite (carbono puro) – ferro fundido cinzento, nodular, e parcialmente no
maleável; cementita (carboneto de ferro Fe3C) – ferro fundido branco, e parcialmente
no maleável. Os principais elementos que influenciam, na obtenção do tipo de ferro
fundido, são o silício e o manganês, sendo que o primeiro elemento químico favorece
na obtenção do fofo cinzento e o segundo elemento químico favorece na obtenção do
fofo branco. Sobre o que foi estudado sobre as microestruturas dos ferros fundidos,
faça a correta relação entre a coluna das letras, que apresenta alguma propriedade
e/ou característica, com a coluna dos números, que apresenta a imagens
micrográficas:
P á g i n a | 233

Solução: A correlação correta é: A-3; B-1; C-4; D-2

10.2 Ligas não-ferrosas

Embora as ligas ferrosas sejam usadas na maioria das aplicações metálicas


nos projetos atuais de Engenharia, as ligas não-ferrosas desempenham um papel
grande e indispensável em nossa tecnologia, e a lista delas é longa e complexa.
Estudaremos de forma breve as principais famílias de ligas não-ferrosas e seus
atributos.

10.2.1 Ligas de alumínio

Com certeza as ligas de alumínio não são nenhuma novidade para


você, caro(a) aluno(a); elas são mais conhecidas por sua baixa densidade
e resistência à corrosão. A condutividade elétrica, facilidade de fabricação
e aparência também são características atraentes. Devido a esses recursos, a
produção mundial de alumínio aumentou muito nos últimos anos. Por exemplo, a
massa total de um novo automóvel norte-americano diminuiu consideravelmente, em
grande parte, como resultado da diminuição no uso de aços convencionais e o
aumento no uso de ligas de alumínio, além, é claro, do uso de polímeros e compósitos.
As reservas de minério para o alumínio são grandes (representam 8% da crosta
terrestre), e o alumínio pode ser facilmente reciclado. O sistema de designação de liga
P á g i n a | 234

para as ligas de alumínio forjado é resumido na tabela 10.6. Uma das áreas de
desenvolvimento mais ativas na metalurgia do alumínio está na série 8XXX,
envolvendo lítio (Li) como principal elemento de liga. De fato, as ligas de Al-Li
oferecem densidade especialmente baixa, além de maior rigidez. O maior custo do Li
(em comparação com o custo dos elementos de liga tradicionais) e o processamento
em atmosfera controlada (devido à reatividade do lítio) são justificáveis para várias
aplicações avançadas em aeronáutica.

Tabela 10.6: Dados de metals handbook.

Antes de observar o exemplo a seguir e passarmos às próximas ligas,


caro(a) aluno(a), acesse o endereço eletrônico para acompanhar uma
teleaula sobre as ligas de alumínio:
<https://www.youtube.com/watch?v=RU7Fo_cTYXQ&list=
PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt&index=20>.

Exemplo 10.4.: No Brasil, é comercializada uma cadeira de rodas de alumínio


com peso aproximado de 12 Kg, que representa cerca da metade do peso de um
modelo convencional.
Construída em estrutura tubular de uma liga de alumínio aeronáutico,
essa cadeira de rodas possui alta resistência mecânica, além de ter custo
reduzido.
Disponível em:<http://www.hospitalar.com>
P á g i n a | 235

O alumínio aeronáutico possui uma combinação única de propriedades que o


torna um material de construção versátil, altamente utilizável e atrativo. Essas
características são devidas a quais propriedades?
a) Alta resistência mecânica e baixa densidade.
b) Baixa plasticidade e alto ponto de fusão.
c) Alta dureza a quente e baixa dutilidade.
d) Baixa plasticidade e alta soldabilidade.
e) Alta dureza e alta densidade.

Solução: Resposta correta letra "a"

10.2.2 Ligas de cobre

As ligas de cobre possuem diversas propriedades superiores. Sua


excelente condutividade elétrica as torna o principal material de instalação
elétrica. Sua excelente condutividade térmica leva a aplicações para
radiadores e trocadores de calor. Uma resistência à corrosão superior é exibida em
ambientes marinhos e outros ambientes corrosivos. A estrutura CFC contribui para
sua ductilidade e conformabilidade geralmente altas. Sua coloração normalmente é
usada para detalhes arquitetônicos. O uso generalizado das ligas de cobre na história
tem levado a uma coleção um tanto confusa de termos descritivos, caro(a) aluno(a).
Mas podemos dizer que as principais famílias de ligas de cobre são listadas na tabela
10.7, de acordo com seus principais elementos de liga. Os latões, em que o zinco é
a impureza (soluto) substitucional predominante, são as ligas de cobre mais comuns.
Alguns exemplos são o bronze amarelo, naval e para cartucho. Algumas
aplicações são radiadores de automóvel, moedas, invólucros de cartuchos,
instrumentos musicais e joias. Os bronzes, ligas de cobre que envolvem elementos
como estanho, alumínio, silício e níquel, oferecem um alto grau de resistência à
corrosão associado aos latões, mas uma resistência um tanto
maior. As propriedades mecânicas das ligas de cobre se comparam
com os aços em sua variabilidade. O cobre de alta pureza é um
material excepcionalmente macio.
P á g i n a | 236

Para assistir a um vídeo que retrata a importância, características e aplicações das


de cobre, caro(a) aluno(a), acesse o endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=zNNeKAxX6VY&index=25&list=
PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt>.
Acompanhe em seguida o exemplo 10.5, que explica a diferença entre as duas
principais ligas de cobre.

Tabela 10.7: Classificação do cobre e da ligas de cobre.

Exemplo 10.5.: Qual é a diferença principal entre um latão e um bronze?


Solução: Ambos são ligas à base de cobre. Para latões, o principal elemento
de liga é o zinco, enquanto os bronzes estão ligados com outros elementos, tais como
o estanho, alumínio, silício ou níquel.

10.2.3 Ligas de magnésio

As ligas de magnésio possuem densidade ainda menor que as de alumínio e,


como resultado, aparecem em diversas aplicações estruturais, como projetos
aeroespaciais. A densidade do magnésio de 1,74 g/cm 3 é, de fato, a menor dentre os
metais estruturais comuns. Ligas de magnésio extrudadas 2 encontraram uma grande
variedade de aplicações em produtos de consumo, desde raquetes de tênis até
molduras de malas. Esses componentes estruturais exibem razões resistência-
densidade especialmente altas.

10.2.4 Ligas de titânio

As ligas de titânio são muito usadas desde a Segunda Guerra Mundial. Antes
disso, não havia um método prático para separar o titânio metálico dos óxidos reativos
P á g i n a | 237

e nitretos. Uma vez formada, a reatividade do titânio trabalha em seu proveito. Uma
camada de óxido fina e persistente se forma em sua superfície, oferecendo excelente
resistência à corrosão. As ligas de titânio, como Al e Mg, são de densidade inferior à
do ferro. Embora mais densas que as ligas de Al ou Mg, as ligas de titânio possuem a
vantagem única de manter a resistência em temperaturas de serviço moderadas (por
exemplo, temperaturas de fuselagem de aeronaves de alta velocidade), levando a
diversas aplicações em projetos aeroespaciais.
2Extrusão é a passada forçada, através de um orifício, de uma porção de metal
(ou de plástico) para que adquira forma alongada ou filamentosa.
O titânio compartilha a estrutura HC do magnésio, levando a uma ductilidade
tipicamente baixa. Entretanto, uma estrutura CCC de alta temperatura pode ser
estabilizada em temperatura ambiente pelo acréscimo de certos elementos de liga,
como o vanádio.

10.2.5 Ligas de níquel

As ligas de níquel têm muito em comum com as ligas de cobre. Já usamos o


sistema Cu-Ni como exemplo clássico da solubilidade sólida completa (seção 2.1, da
aula 6). Se você se lembra, caro(a) aluno(a), Monel é o nome dado às ligas comerciais
com razões Ni-Cu de aproximadamente 2:1 em peso. Essas ligas são bons exemplos
de endurecimento por solução, em que as ligas são fortalecidas pela restrição da
deformação plástica devida à formação de solução sólida. O níquel é mais duro que o
cobre, mas o Monel é mais duro que o níquel. O níquel exibe excelente resistência à
corrosão e resistência a altas temperaturas.
Bastante usadas em motores a jato e desenvolvidas durante um período de
aproximadamente 70 anos, as superligas baseadas em níquel normalmente contêm
precipitados com uma composição de Ni3Al. Já listamos algumas das ligas de níquel
com as superligas da tabela 10.4, entre elas Inconel (níquel-cromo-ferro) e Hastelloy
(níquel-molibdênio-ferro-cromo), que são exemplos importantes. Se necessário, dê
uma nova olhada.
P á g i n a | 238

10.2.6 Zinco, chumbo e outras ligas

As ligas de zinco são mais adequadas para fundições com molde, por causa
de seu ponto de fusão baixo e da ausência de reação corrosiva com cadinhos e
moldes de aço. As peças e ferramentas de automóvel são aplicações estruturais
típicas, embora a extensão de uso nesse setor esteja diminuindo constantemente por
questão de economia de peso. Revestimentos de zinco sobre ligas ferrosas são meios
importantes de proteção anticorrosão. Esse método é chamado de galvanização.
As ligas de chumbo são materiais duráveis e versáteis. As altas densidades e
deformabilidade do chumbo, combinadas com um baixo ponto de fusão, aumentam
sua versatilidade. Para você ter uma ideia, os canos de chumbo instalados pelos
romanos nas banheiras públicas em Bath, Inglaterra, quase 2000 anos atrás, ainda
estão em uso. As ligas de chumbo podem ser usadas em malhas de bateria (com
cálcio ou antimônio), em soldas (com estanho), como blindagem contra radiação e em
estruturas de controle acústico. Porém, a toxidade do chumbo restringe aplicações em
projetos e o manuseio de suas ligas.
Os metais refratários incluem molibdênio, nióbio, rênio, tântalo e tungstênio.
Eles são, ainda mais que as superligas, especialmente resistentes a altas
temperaturas. Contudo, sua reatividade geral com oxigênio exige que trabalhos em
altas temperaturas sejam realizadas em atmosfera controlada ou com revestimentos
protetores.
Os metais preciosos incluem ouro, irídio, ósmio, paládio,
platina, ródio, rutênio e prata. A excelente resistência à corrosão,
combinada com diversas propriedades inerentes, justifica as muitas
aplicações caras desses metais e suas ligas. Circuitos de ouro na
indústria eletrônica, diversas ligas dentárias e revestimentos de
platina para conversores catalíticos são alguns dos exemplos mais conhecidos. Os
compostos intermetálicos baseados em platina, como Pt 3Al, são candidatos
promissores para a próxima geração de materiais para motores a jato por causa de
seus altos pontos de fusão. Como último comentário nessa seção, caro(a) aluno(a),
informamos que, do mesmo modo que para as ligas ferrosas, também avançam a
pesquisa e o desenvolvimento para ligas não-ferrosas rapidamente solidificadas. De
fato, diversas ligas amorfas baseadas em Ni têm sido desenvolvidas por suas
propriedades magnéticas superiores. Ligas de alumínio e titânio rapidamente
P á g i n a | 239

solidificadas têm demonstrado propriedades mecânicas superiores em temperaturas


elevadas. O controle dos precipitados microgranulados pela solidificação rápida é um
fator importante para esses dois sistemas de liga relevantes para o setor aeroespacial.
Por fim, acrescentando múltipos elementos de liga, a cinética de cristalização
pode se tornar suficientemente lenta, de modo que possam ser produzidas ligas
amorfas massivas; essas ligas baseadas em titânio e zircônio foram produzidas em
tamanhos grandes o suficiente para serem fabricadas como cabeças de taco de golfe.
Acompanhe agora um exemplo que aborda o cálculo da densidade de ligas
não-ferrosas, e apresenta para isso uma importante tabela que relaciona o constituinte
principal e as porcentagens dos principais elementos de liga que constituem algumas
ligas metálicas.
Exemplo 10.6.: Uma base comum para selecionar ligas não-ferrosas é sua
baixa densidade em comparação com a densidade dos aços estruturais. A densidade
da liga pode ser aproximada por uma média ponderada das densidades dos
elementos constituintes. Desse modo, calcule as densidades das ligas de alumínio
(A93003 e A92048) indicadas na tabela abaixo que mostra a constituição para
algumas ligas metálicas típicas.
P á g i n a | 240

Tabela 10.8

Solução: Com base na tabela que mostra as porcentagens de cada elemento


nas ligas citadas e utilizando as densidades desses elementos, temos:
P á g i n a | 241

10.3 Processamento de metais

Ocasionalmente, caro(a) aluno(a), a adequação de um


material para uma aplicação é regida pela facilidade com que se
produz uma forma desejada e pelo custo que está envolvido. As
técnicas de fabricação dos metais consistem nos métodos segundo
os quais os metais e as ligas são conformados ou são manufaturados em produtos de
utilidade. Essas técnicas são precedidas por processos de refino, formação de ligas
e, com frequência, processos de tratamento térmico que produzem as ligas com as
características desejadas.
As classificações das técnicas de fabricação incluem vários métodos de
conformação dos metais, como fundição, metalurgia do pó, soldagem e usinagem. A
tabela 10.9 resume algumas das principais técnicas de processamento para os
metais. Com frequência, duas ou mais dessas técnicas devem ser usadas antes que
uma peça esteja terminada.

Tabela 10.9: Principais métodos de processamento de metais.

Os métodos selecionados dependem de diversos fatores; os mais importantes


são as propriedades do metal, o tamanho e a forma da peça acabada e, obviamente,
o custo. As técnicas de fabricação dos metais discutidas nesta aula são classificadas
de acordo com o esquema que está ilustrado na figura 10.2.
P á g i n a | 242

Figura 10.2: Esquema de classificação das técnicas de fabricação de metais.

10.3.1 Operações de conformação

As operações de conformação consistem naquelas onde a forma de uma peça


metálica é alterada mediante deformação plástica. Obviamente, a deformação deve
ser induzida por uma força ou tensão externa, cuja magnitude deve exceder o limite
de escoamento do material. A maioria dos materiais metálicos é suscetível a esses
procedimentos, sendo pelo menos moderadamente dúcteis e capazes de sofrer
alguma deformação permanente sem trincar ou fraturar.
Quando a deformação é obtida a uma temperatura acima
daquela na qual a recristalização ocorre, o processo é conhecido por
trabalho a quente; de outro modo, o processo é conhecido por trabalho
a frio. No caso das operações de trabalho a quente são possíveis
grandes deformações, que podem ser repetidas sucessivamente, pois o metal
permanece mole e dúctil. Ainda, as exigências em relação à energia de deformação
são menores do que as energias para o trabalho a frio. Contudo, alguns metais
experimentam alguma oxidação da sua superfície, o que resulta em perda do material
e em um deficiente acabamento final da superfície.
O trabalho a frio produz um aumento na resistência com uma
consequente redução na ductilidade, uma vez que o metal 'encrua'.
Não se preocupe, caro(a) aluno(a), que iremos estudar o trabalho a
frio e o 'encruamento' detalhadamente nas aulas 11 e 12. De qualquer
forma, vamos neste momento oportuno, fazer algumas considerações. As vantagens
em relação ao trabalho a quente são uma melhor qualidade do acabamento
P á g i n a | 243

superficial, melhores propriedades mecânicas e uma maior variedade dessas, bem


como um controle dimensional mais preciso da peça acabada.
Uma descrição muito sucinta das técnicas de conformação está ilustrada
esquematicamente na figura 10.3, e serão discutidas a seguir.

Figura 10.3: Deformação de um metal durante (a) forjamento, (b) laminação, (c) extrusão e
(d) estiramento.

Ocasionalmente, a deformação total é obtida mediante uma série de etapas


onde a peça é submetida sucessivamente a pequenas magnitudes de trabalho a frio,
sendo então submetida a um processo de tratamento térmico; entretanto, esse é um
procedimento caro e inconveniente. Vejamos agora algumas técnicas de
conformação.

10.3.2 Forjamento

O forjamento consiste no trabalho mecânico ou na deformação de uma única


peça de um metal que está normalmente quente; isso pode ser obtido pela aplicação
de sucessivos insuflamentos ou mediante compressões contínuas. Os forjamentos
são classificados como sendo de matriz fechada ou de matriz aberta. No primeiro
caso, uma força atua sobre duas ou mais metades de uma matriz que possuem a
P á g i n a | 244

forma acabada, de tal modo que o metal é deformado na cavidade entre essas partes
da matriz; veja a figura 10.3(a). No caso de uma matriz aberta, são empregadas duas
matrizes que possuem formas geométricas simples (por exemplo, chapas planas
paralelas, semicírculos), normalmente em grandes peças de trabalho.
Os itens forjados possuem estruturas de grão excepcionais, além
da melhor combinação de propriedades mecânicas. Chaves e
ferramentas, virabrequins dos motores e barras de conexão de pistões
automotivos são itens típicos que são conformados usando essa técnica.

10.3.3 Laminação

A laminação, que é o processo de deformação mais amplamente utilizado,


consiste em se passar uma peça metálica entre dois rolos; uma redução na espessura
resulta das tensões de compressão exercidas pelos rolos.
A laminação a frio pode ser usada na produção de chapas, tiras e folhas com
elevada qualidade de acabamento de superfície.

10.3.4 Extrusão

Na extrusão, uma barra metálica é forçada através de um orifício em uma


matriz, mediante uma força compressiva que é aplicada a um êmbolo; a peça
extrudada que emerge possui a forma desejada e uma área de seção reta menor.
Dentre os produtos de extrusão estão inclusos as barras e os tubos que possuem
geometrias de seção reta relativamente complexas; os tubos sem costura também
podem ser extrudados.

10.3.5 Estiramento

O estiramento consiste em se puxar uma peça metálica através de uma matriz


que possui um orifício cônico mediante a aplicação de uma força de tração no lado de
saída do material. Tem-se como resultado uma redução na área de seção reta, com
um correspondente aumento no comprimento. A operação completa de estiramento
pode consistir em um número de matrizes em uma sequência em série. Barras,
arames e produtos de tubulação são fabricados geralmente dessa maneira.
P á g i n a | 245

Você terá a oportunidade de fazer exercícios ao final desta aula abordando as


técnicas de conformação.
Nesse momento, porém, observe um exemplo que auxilia na explicação.
Exemplo 10.7: Cite algumas vantagens e algumas desvantagens da
conformação de metais por extrusão em comparação com a laminação.
Solução: As vantagens de extrusão em relação à laminação são:
1) peças que apresenta secção transversal com geometrias complexas
podem ser formada;
2) tubos sem costura podem ser produzidos;
As desvantagens são como se segue:
1) deformação não uniforme através da secção transversal;
2) pode resultar variação nas propriedades ao longo de um corte transversal
de uma peça extrudida.

10.3.6 Fundição

A fundição é um processo de fabricação no qual um metal


totalmente fundido é derramado no interior da cavidade de um molde que
possui a forma desejada; com a solidificação, o metal assume a forma
do molde, porém experimenta algum encolhimento. As técnicas de fundição são
empregadas quando:
1. a forma acabada é tão grande ou complicada que qualquer outro método
seria impraticável,
2. uma liga específica possui uma ductilidade tão baixa que a conformação
tanto a quente como a frio seria difícil, e
3. em comparação a outros processos de fabricação, a fundição é o processo
mais econômico.

Além disso, a etapa final no processo de refino, até mesmo de


metais dúcteis, pode envolver um processo de fundição. Um problema
em potencial com a fundição, é a presença de porosidade residual (figura
10.4). O uso da deformação mecânica para dar forma ao produto final no
processo de forjamento elimina bastante essa porosidade.
P á g i n a | 246

Figura 10.4: Microestrutura de uma liga fundida (alumínio 354-T4). 50x. Os pontos pretos
são poros e as partículas cinzas são uma fase rica em silício.

Como você deve imaginar, caro(a) aluno(a), uma variedade de diferentes


técnicas de fundição é comumente empregada, incluindo a fundição em molde de
areia, com matriz, de investimento e contínua. Vamos fazer somente uma breve
introdução sobre cada uma dessas técnicas.

10.3.7 Fundição em molde de areia

No caso da fundição em molde de areia, que é o método de fundição mais


comumente utilizado, a areia comum é utilizada como material de molde. Um molde
em duas partes é formado mediante a compactação de areia ao redor de um molde
que possui a forma da peça que se deseja fundir. Além disso, um sistema de canais
de alimentação é geralmente incorporado ao molde para acelerar o escoamento do
metal fundido para dentro da cavidade e para minimizar defeitos internos de fundição.
As peças fundidas em areia incluem blocos de cilindros automotivos, hidratantes de
incêndio e grandes conexões de tubulação.

10.3.8 Fundição com matriz

Na fundição com matriz, o metal liquefeito é forçado para dentro de um molde


sob pressão e a uma velocidade relativamente elevada, e deixado solidificar com a
manutenção da pressão. Utiliza-se um molde permanente de aço em duas peças ou
matriz; quando unidas uma à outra, as duas peças constituem a forma desejada.
Quando a solidificação completa é atingida, as peças da matriz são abertas e a peça
fundia é ejetada. São possíveis taxas rápidas de fundição, tornando esse um método
P á g i n a | 247

barato; além disso, um mesmo conjunto de matrizes pode ser usado para milhares de
fundições. Contudo, essa técnica se presta apenas para peças relativamente
pequenas, bem como somente para ligas de zinco, alumínio e magnésio, que
possuem baixas temperaturas de fusão.

10.3.9 Fundição de precisão

Para a fundição de precisão (algumas vezes chamada de fundição pelo


processo de "cera perdida"), o modelo padrão é feito a partir de cera ou plástico,
materiais que possuem baixas temperaturas de fusão. Despeja-se uma lama fluida ao
redor do modelo padrão, que se estabelece e sedimenta para formar um molde ou
revestimento sólido. O molde é então aquecido, de modo tal que o modelo padrão se
funde e é queimado, deixando para trás uma cavidade de molde que possui o formato
desejado. Essa técnica é empregada quando são necessários elevada previsão
dimensional, reprodução de pequenos detalhes e excelente acabamento (por
exemplo, em joalharia e em coroas dentárias e obturações). Ainda, as lâminas para
turbinas a gás e os propulsores de motores a jato são fabricados usando a fundição
de precisão.

10.3.10 Fundição contínua

Ao término dos processos de extração, muitos metais fundidos são solidificados


pela sua fundição em grandes moldes de lingotes. Esses lingotes estão normalmente
sujeitos a uma operação primária de laminação a quente, cujo produto é uma chapa
plana ou uma chapa grossa; esses formatos são os mais convenientes para serem
usadas como ponto de partida para operações secundárias subsequentes de
conformação de metais, ou seja, forjamento, extrusão, estiramento. Essas etapas de
fundição e laminação podem ser combinadas através de um processo de fundição
contínua (algumas vezes também chamado de "fundição em fios"). Ao se usar essa
técnica, o metal beneficiado e fundido é moldado diretamente na forma de um fio
contínuo que pode ter uma seção reta retangular ou circular; a solidificação ocorre em
uma matriz resfriada com água com a geometria de seção reta desejada. A
composição química e as propriedades mecânicas são mais uniformes ao longo de
todas as seções retas no caso de fundições contínuas do que para produtos do tipo
P á g i n a | 248

de fundição de lingotes. Além do mais, a fundição contínua é altamente automatizada


e mais eficiente. Você deve estar percebendo, caro(a) aluno(a), que mesmo discutindo
de maneira sucinta, ainda é muita informação. Lembre-se de parar para tomar uma
água ou um café nos momentos em que se sentir cansado. Antes, porém, veja um
exemplo sobre as técnicas de fundição.
Exemplo 10.8: Liste quatro situações onde a fundição é a técnica de fabricação
preferível.
Solução: Quatro situações em que a fundição é a técnica de fabricação
preferida são:
1) para peças grandes e/ou formas complicadas;
2) quando a força mecânica não é uma consideração importante;
3) para as ligas que têm baixas ductilidades;
4) quando é a técnica de fabricação mais econômica.

10.4 Técnicas diversas

10.4.1 Metalurgia do pó

Uma outra técnica de fabricação envolve a compactação de um metal em pós,


seguida por um tratamento térmico para produzir uma peça mais densa. O processo
é chamado de maneira apropriada por metalurgia do pó. Essa técnica torna possível
a produção de uma peça virtualmente não-porosa que possui propriedades quase
equivalentes às do material de origem totalmente denso. Os processos de difusão
durante o tratamento térmico são fundamentais para o desenvolvimento dessas
propriedades. Você estudará um pouco mais sobre esse assunto, caro(a) aluno(a), na
aula sobre compósitos (aula 15).
Esse método é especialmente adequado para metais que
possuem baixas ductilidades, uma vez que existe a necessidade da
ocorrência de apenas uma pequena deformação plástica das partículas
pulverizadas. Metais que possuem temperaturas de fusão elevadas são difíceis de
serem derretidos e fundidos, e a fabricação é acelerada com a utilização da técnica
de metalurgia do pó. Também, peças que exigem tolerâncias dimensionais muito
restritas (como, por exemplo, buchas e engrenagens) podem ser produzidas de
maneira econômica utilizando essa técnica.
P á g i n a | 249

10.4.2 Soldagem

Em um certo aspecto, a soldagem pode ser considerada uma


técnica de fabricação. Na soldagem, duas ou mais peças metálicas são
unidas para formar uma única peça, em casos em que a fabricação de
uma peça única é cara ou inconveniente. Tanto metais similares como dissimilares
podem ser soldados. A ligação de união é metalúrgica (envolvendo alguma difusão),
em vez de se somente mecânica, como acontece com os casos em que as peças são
rebitadas ou aparafusadas. Como você bem sabe, existe uma variedade de métodos
de soldagem, incluindo a soldagem a arco e a soldagem a maçarico, bem como a
solda-brasagem (ou solda forte) e a solda branca (ou solda fraca ou solda de estanho).
Durante a soldagem a arco e a soldagem a maçarico, as peças a serem unidas
e o material de enchimento (isto é, o bastão ou eletrodo de solda) são aquecidos até
uma temperatura suficientemente elevada para fazer com que ambos se fundam; com
a solidificação, o material de enchimento forma uma junção fundida entre as peças de
trabalho. A figura 10.5 ilustra a junção por fusão; especificamente, a soldagem com
arco metálico blindado. Dê uma boa olhada nela que você certamente se lembrará da
soldagem.

Figura 10.5: Esquema do processo de soldagem (junção por fusão).


P á g i n a | 250

É importante destacar que existe uma região adjacente à solda que pode
experimentar alterações microestruturais e de suas propriedades; essa região é
conhecida por zona termicamente afeta (algumas vezes abreviada por ZTA). Dentre
as possíveis alterações, pode-se incluir o seguinte:
1. Se o material da peça de trabalho foi previamente trabalho a frio, essa zoa
termicamente afetada pode ter experimentado uma recristalização e um crescimento
dos grãos, e dessa forma, uma diminuição da resistência, da dureza e da tenacidade.
A ZTA para essa situação está representada esquematicamente na figura 10.6.
2. Com o resfriamento, tensões residuais podem se formar nessa região, as
quais enfraquecem a junta.
3. Para aços, o material nessa zona pode ter sido aquecido até temperaturas
que são suficientemente elevadas para promover a formação de austenita. Com o
resfriamento à temperatura ambiente, os produtos microestruturais que se formam
dependem da taxa de resfriamento e da composição da liga.
4. alguns aços inoxidáveis podem ser "sensitizados" durante a soldagem, o que
os torna suscetíveis à corrosão intergranular.

Figura 10.6: Representação esquemática da seção reta mostrando as zonas na vizinhança


de uma solda por fusão típica.

É muito importante agora, caro(a) aluno, que você faça uma pausa
para assistir um excelente vídeo sobre processamentos de
materiais da UNIVESP. É um vídeo em formato de aula que irá lhe
auxiliar muito na compreensão do que foi estudado. Acesse o
endereço: <https://www.youtube.com/watch?v=G82UgSXWXkM>.
P á g i n a | 251

10.5 Efeitos do processamento de metais

A tabela 10.9 resume algumas regras práticas sobre os efeitos do


processamento de metais nos parâmetros de projeto. Lembrando que os
metais exibem uma faixa especialmente grande de comportamento em
função do processamento. De fato, caro(a) aluno(a), entenda que
variações na composição da liga e na história termomecânica permitem um ajuste
considerável dos parâmetros de projeto estruturais. Assim como quaisquer
generalizações, temos de estar alertas às exceções. Então, além dos tópicos de
processamento fundamentais discutidos nesta aula, a tabela 10.10 refere-se a
questões de desenvolvimento microestrutural e tratamento térmico, que serão
discutidos nas aulas 11 e 12.

Tabela 10.10: Resumo esquemático de diversas técnicas para a solidificação rápida das
ligas metálicas.
Técnicas de esfriamento
Remoção de calor por condução: resfriamento por imersão
em líquido, fundição por fluxo planar, resfriamento por rolete
duplo, esfriamento por injeção, deposição por jato de
plasma.
Coeficiente de transferência de calor, h = 0,1-100 kW/m2K.
Remoção de calor por convecção: diversas formas de
atomizadores de gás e água, atomizadores unidirecionais e
centrífugos, processo de copo rotativo, jato de plasma. h =
0,1 - 100 kW/m2K.

Remoção de calor por irradiação: processo eletro-


hidrodinâmico, processo de plasma em baixa pressão. h =
10 W/m2K.

Técnicas de energia direcional concentrada: lasers para


remoção de calor por condução (pulsado e contínuo), feixe
de elétrons. h → ∞.
Técnicas de sub-resfriamento

Emulsão de gotas
P á g i n a | 252

Zona mole em equilíbrio

Levitação (jato de gás ou corrente de indução

Fluxo nucleante

Aplicação rápida de pressão

Para encerrar, assista a alguns vídeos que mostram algumas das


técnicas de operações de conformação, fundição e operações diversas que
estudamos. Entre elas, extrusão e trefilação, forjamento,
laminação e estampagem, respectivamente.
<https://www.youtube.com/watch?v=UAahZj1erSQ>.

<https://www.youtube.com/watch?v=M5KZGzm3eH4>.
<https://www.youtube.com/watch?v=NttTwsdsrnw>.
<https://www.youtube.com/watch?v=fjvyv0XajZA>.

Para terminar, tente resolver os exercícios propostos.


Reveja e faça todos os exemplos, grife no texto os pontos
principais. Se possível, assista aos vídeos propostos mais de
uma vez. Caso haja alguma dúvida, em relação à teoria ou
aos exercícios, entre em contato com o tutor da disciplina.
Não se esqueça de consultar o material complementar, pois lá você
encontrará várias maneiras de reforçar a aprendizagem do nosso conteúdo,
tanto por consulta a outros sites, vídeos quanto por programas
computacionais.
Resumo

Caro(a) aluno(a), nesta aula10 estudamos que os metais desempenham um


papel importante em projetos de Engenharia, especialmente como elementos
estruturais. Vimos que mais de 90% em peso dos materiais usados para Engenharia
são baseados em ferro, ou ligas ferrosas, que incluem os aços e os ferros fundidos;
sendo que a maioria dos aços envolve um mínimo de elementos de liga para manter
custos moderados. Estes são os aços carbono comum ou de baixa liga (< 5 %p total
de elementos que não o carbono). Para especificações de projetos exigentes, vimos
que são necessários aços de alta liga (˃ 5 %p total de elementos que não o carbono).
E estudamos ainda que:

 A adição de cromo produz aços inoxidáveis com resistência à corrosão;


 A adição de elementos como o tungstênio leva a ligas de alta dureza,
usadas como aços ferramenta.
 Superligas incluem muitos aços inoxidáveis que combinam resistência à
corrosão com alta resistência em temperaturas elevadas;
 Ferros fundidos branco e cinzento normalmente são frágeis, enquanto
ferros dúcteis e maleáveis são caracteristicamente dúcteis;
 Ligas não-ferrosas incluem uma grande variedade de materiais com
atributos individuais; sendo que ligas de alumínio, magnésio e titânio têm
grande uso como membros estruturais leves.
 Ligas de cobre e níquel são especialmente atraentes para resistência
química e à temperatura, e aplicações elétricas e magnéticas.
 Outras ligas não ferrosas importantes são as ligas de zinco e chumbo e
os metais refratários e preciosos.
 Muitas aplicações em projetos de Engenharia dependem do
processamento do material, sendo muitas ligas metálicas comuns
produzidas no processo de forjamento, e outras produzidas diretamente
por fundição; e algumas formas estruturais mais complexas dependem
de técnicas de junção como a soldagem.
 Uma alternativa aos processos de forjamento e fundição é a técnica
inteiramente em estado sólido da metalurgia do pó.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 10

Questão 1. Liste as quatro classificações dos aços. Para


cada uma dessas classificações, descreva sucintamente as suas
propriedades e aplicações típicas.
Questão 2. (a) Qual é a função dos elementos de liga nos
aços-ferramenta?
(b) Qual o princípio de classificação dos aços de acordo com a
SAE/AISI/ABNT?
Questão 3. A figura apresenta curvas de transição dúctil-frágil de dois materiais
distintos, material A e material B.

De acordo com a figura, essas curvas podem representar


a) dois aços comuns de mesma quantidade de carbono após têmpera (A) e
têmpera e revenido (B).
b) dois aços comuns hipoeutetoide e de mesma quantidade de carbono após
normalização (A) e recozimento (B).
c) dois aços ligados após têmpera e revenimento, sendo que no material A
houve fragilização no revenimento.
d) dois aços comuns com diferentes quantidades de carbono, um hipoeutetoide
(A) e outro hipereutetoide (B), ambos após recozimento.
Questão 4. Compare os ferros fundidos cinzento e maleável em relação a (a)
composição e tratamento térmico, (b) microestrutura, e (c) características mecânicas.
Questão 5. Compare os ferros fundidos branco e nodular em relação a (a)
composição e tratamento térmico, (b) microestrutura, e (c) características mecânicas.
P á g i n a | 256

Questão 6. Os aços ABNT 1020 não são temperáveis, isto é, não podem
passar pelo tratamento térmico de têmpera (que será estudado na próxima aula). Isto
ocorre porque
(a) é baixo o teor de carbono desses aços.
(b) se trincam quando submetidos a um resfriamento rápido.
(c) possuem elementos de liga que aumentam seu ponto de fusão.
(d) só possuem fase austenítica.
(e) somente os aços-ligas são passíveis de têmpera, pois os aços comuns ao
carbono não são.
Questão 7. As figuras mostradas abaixo ilustram as microestruturas do ferro
fundido estudadas em sala de aula. Faça as corretas associações quanto às
características de cada tipo de ferro fundido, colocando a letra correspondente no
espaço adequado:

( ) A maior parte do carbono se mantém na forma de cementita.


( ) Grafite em forma de veios cercados por ferrita/perlita.
( ) Utilizado em elementos de ligação, juntas universais e pequenas
ferramentas.
( ) Assemelha-se à microestrutura de um material compósito.
( ) Se aquecido por dezenas de horas, a ≈ 800 °C, a cementita se decompõe
em grafite.
P á g i n a | 257

Questão 8. Estudamos que ligas metálicas são uniões de dois ou mais metais,
podendo ainda incluir semimetais ou não metais, mas sempre com predominância dos
elementos metálicos. Aprendemos que as ligas metálicas apresentam características
diferentes dos metais puros e por isso podem ser utilizadas com maior vantagem em
relação ao metal puro. Vimos que os ferros fundidos são ligas Fe-C com concentração
acima de 2,1 wt% C (tipicamente entre 3 e 4,5%). Nesta faixa de concentrações, a
temperatura de fusão é substancialmente mais baixa do que a dos aços. Isto facilita o
processo de fundição e moldagem destes materiais.
Sobre essas ligas, dois estudantes de Engenharia afirmaram:
ESTUDANTE I – As propriedades dos ferros fundidos mudam radicalmente em
função do tratamento térmico e da concentração de C e outras impurezas, como Si,
Mg e Ce.
ESTUDANTE II – Apesar da diversidade de propriedades dos ferros fundidos,
como facilidade de produção e baixo custo, eles ainda apresentam muitas limitações,
como a baixa densidade, baixa condutividade elétrica e corrosão.
a) Somente o estudante I está correto.
b) Somente o estudante II está correto.
c) Os dois estudantes estão corretos.
d) Os dois estudantes estão errados.
e) O estudante I estaria correto se dissesse os elementos Co, Ba e Ce como
impurezas.
Questão 9. O ferro fundido cinzento é largamente utilizado como base de
máquinas, carcaças de bombas, tampas de válvulas, dentre milhares de outras
aplicações. Considerando a aplicação desse material em produtos da fabricação
mecânica, avalie as afirmações que se seguem.
I. A grafita presente se encontra na forma de lamelas, o que lhe confere a
propriedade de ser um excelente absorvedor de vibrações.
II. Todas as classes de ferro fundido são de fácil usinagem, uma vez que o
carbono se encontra na forma de grafita.
III. Os ferros fundidos cinzentos são maus condutores de calor, visto que a
grafita presente na sua estrutura diminui a condutibilidade térmica do material.
IV. A temperatura de fusão do ferro fundido é menor do que a temperatura de
fusão do aço, pois sua composição se encontra próxima ao ponto eutético da liga
ferro-carbono (Fe-C).
P á g i n a | 258

É correto apenas o que se afirma em

Questão 10.
A empresa Usinagem Exata fornece
componentes automotivos em ferro fundido
cinzento de matriz ferrítica. Contudo,
observou-se que o último lote adquirido de
peças brutas fundidas tem ocasionado um
desgaste prematuro das ferramentas de
corte. Com o propósito de identificar as
possíveis causas da diminuição da vida útil
dessas ferramentas, procedeu-se a uma
análise metalográfica em um corpo de prova
retirado aleatoriamente do lote em questão,
cujo resultado é representado na
micrografia. Com base na micrografia, pode-
se afirmar que:
I. a matriz perlítica, por ser mais dura, é a responsável pelo maior desgaste nas
ferramentas de corte.
II. os nódulos de grafita, por serem duros e quebradiços, são os responsáveis
pelo maior desgaste nas ferramentas de corte.
III. a micrografia indica que o ferro fundido foi submetido a têmpera, e, por esse
motivo, causa um maior desgaste nas ferramentas de corte.
IV. os grãos de ferrita foram encruados durante a fundição, por esse motivo são
os responsáveis pelo maior desgaste nas ferramentas de corte.
Indique a(s) afirmativa(s) correta(s).
Questão 11. Aços e ferros fundidos são materiais muito utilizados na indústria
metal-mecânica, devido à sua versatilidade. A respeito desse grupo de materiais, é
incorreto afirmar que
a) muitas das propriedades que os aços apresentam têm relação com a sua
capacidade de se associar a diferentes elementos para a formação de ligas.
P á g i n a | 259

b) são materiais facilmente recicláveis, se comparados aos materiais


poliméricos.
c) aços inoxidáveis apresentam uma resistência elevada à corrosão, devido ao
tratamento térmico que sofrem.
d) ferro fundido nodular apresenta maior tenacidade que ferro fundido cinzento.
e) aço-ferramenta é amplamente utilizado na confecção de ferramentas de
corte e matrizes para estampo.
Questão 12. O metal presente nas ligas de latão e bronze é:

Questão 13. (PETROBRÁS 2010) Na natureza, o cobre pode existir como


cobre metálico e, por isto, foi extraído, com sucesso, das rochas antes do ferro, visto
que as baixas temperaturas necessárias para sua extração podiam ser alcançadas
mais facilmente.
Assim, as ligas de cobre
a) apresentam baixa resistência à corrosão.
b) são comercialmente conhecidas como bronzes quando advindas de misturas
entre cobre e zinco.
c) são facilmente endurecidas por solução sólida.
d) são facilmente endurecidas por encruamento.
e) possuem massa específica e resistências mecânicas superiores às ligas de
alumínio e, portanto, sempre apresentam uma resistência específica superior às
daquele metal.
Questão 14. O ouro simboliza a perfeição da matéria, pois não sofre corrosão,
não é atacado por quase nenhuma substância e não perde o brilho com o tempo –
representa, pois, a imortalidade. O ouro puro é chamado de ouro 24 quilates (24 ct).
O número de quilates indica o número de partes de ouro puro em 24 partes da liga.
Dessa forma, o ouro 18 quilates, muito usado na confecção de joias, tem 18 partes de
ouro em 27 pares de liga, o que corresponde a 75% de ouro na liga. Em relação a
esse assunto indique:
(a) O ouro 18 quilates é uma liga metálica homogênea, heterogênea ou um
composto intermediário? Justifique.
(b) O ouro 14 quilates tem uma tonalidade mais avermelhada que o ouro 18
quilates. A que você atribui essa coloração?
P á g i n a | 260

Questão 15. Diga quais as propriedades que distinguem, as limitações, e as


aplicações para os seguintes grupos de ligas: ligas de titânio, metais refratários,
superligas e metais nobres.
Questão 16.Ao reprojetar um automóvel para um novo modelo, 25 Kg de peças
de aço convencional são substituídos por ligas de alumínio com as mesmas
dimensões. Calcule a economia em massa resultante para o novo modelo,
aproximando as densidades da liga por aquelas para Fe e Al puros, respectivamente,
ρFe = 7,87.106 g/m3 e ρAl = 2,70.106 g/m3
Questão 17. Uma liga de cobre-níquel é necessária para determinada
aplicação estrutural. A liga precisa ter um limite de resistência à tração maior que 400
MPa e uma ductilidade (alongamento) menor que 45% (em 50 mm). Usando a figura
abaixo em que são apresentadas as variações das propriedades mecânicas dessa
liga com a composição, determine o intervalo de composição permissível da liga.
Lembre-se de que cobre e níquel formam um diagrama de fases com solubilidade
sólida completa, como estudamos na aula 6.

Questão 18. Na questão anterior determinamos o intervalo de composições da


liga de cobre-níquel que atendem aos requisitos estruturais para resistência e
P á g i n a | 261

ductilidade. Faça uma determinação semelhante para as seguintes especificações:


dureza maior que 80 RF e ductilidade menor que 45%.
Questão 19. Cite algumas vantagens e algumas desvantagens da metalurgia
do pó em relação à fundição.
Questão 20. Um dos processos de conformação mecânica consiste no
dobramento de chapas. Para que um material metálico seja submetido a esse
processo, as variáveis que devem ser consideradas para uma boa qualidade do
produto final são
a) textura do material, raio de dobra, ângulo de curvatura, elasticidade do
material.
b) elasticidade do material, anisotropia da chapa, textura do material, raio de
dobra.
c) raio de dobra, ângulo de curvatura, ductilidade do material, espessura da
chapa.
d) espessura da chapa, elasticidade do material, textura do material, ângulo de
curvatura.
e) ângulo de curvatura, anisotropia da chapa, espessura da chapa, elasticidade
do material.
Questão 21. A tabela a seguir apresenta alguns atributos importantes a serem
considerados na seleção de processos de conformação mecânica.
P á g i n a | 262

Nos itens a seguir, são apresentadas considerações acerca dos processos


apresentados na tabela.
I - O forjamento a quente é adequado para obtenção de peças de alta
complexidade geométrica, mas com acabamento superficial inferior ao da laminação
e volume de produção equivalente ao da extrusão.
II - A laminação é adequada para obtenção de peças de alta complexidade
geométrica, e possibilita uma precisão dimensional superior a extrusão e um volume
de produção maior que o forjamento.
III - A extrusão é utilizada apenas para obtenção de peças com perfis de
geometria simples e de espessura constante, e apresenta um acabamento superficial
melhor que o forjamento e melhor precisão dimensional que a laminação.

Considerando as características dos processos e os atributos apresentados na


tabela, indique quantas afirmativas está(ão) correta(s).
Aula 11 e 12
Processamento térmico de ligas
metálicas

APRESENTAÇÃO DA AULA

Caro(a) aluno(a), nas aulas anteriores foram discutidas diversos metais e ligas
metálicas, seus diagramas de equilíbrio, além dos diferentes constituintes dos aços e
ferros fundidos. Assim, é muito importante compreender que técnicas de
processamento térmico também estão disponíveis para a produção, em ligas
metálicas, de certos estados mecânicos que são exigidos para aplicações específicas.
É essencial uma compreensão dos mecanismos, das dependências em relação ao
tempo e à temperatura, e das consequências desses tratamentos. Tomamos, então,
a liberdade de dividir o estudo do processamento térmico de ligas metálicas em
duas aulas sequenciais para explorar de maneira mais aprofundada este importante
tema, e, para que você perceba que não está diante de nada muito complicado, mas
de extrema importância nos cursos de Engenharia. Essas aulas serão um pouco mais
longas, e nós vamos estudar que, de fato, as propriedades mecânicas de uma liga
submetida previamente a um tratamento térmico podem ser alteradas de maneira
significativa se essa liga for posteriormente aquecida (como em uma operação de
soldagem). Veremos que o uso de tratamentos térmicos em ligas comerciais consiste
em uma prática extremamente comum. Nessa primeira aula (aula 11), com uma
linguagem mais 'descritiva', estudaremos de forma conceitual os principais tipos de
tratamentos térmicos; e na aula em sequência (aula 12), faremos um estudo mais
voltado à tecnologia de todos os procedimentos discutidos na aula 11. Bons estudos!...

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Conhecer os principais tipos de tratamentos térmicos e termoquímicos


(superficiais), e aprender a diferenciá-los, com ênfase em suas
finalidades;
P á g i n a | 264

 Conhecer as etapas que envolvem os tratamentos térmicos das ligas


metálicas: aquecimento, tempo de permanência e resfriamento;
 Entender a maneira com que os tratamentos térmicos modificam a
microestrutura das ligas, resultando na alteração de suas propriedades;
 Declarar os objetivos e descrever os procedimentos para os seguintes
tratamentos térmicos: recozimento intermediário, recozimento para o
alívio de tensões, normalização, recozimento pleno e recozimento
subcrítico;
 Definir endurecibilidade;
 Aprender sobre os tratamentos térmicos para endurecimento dos aços;
 Conhecer as microestruturas originadas de procedimentos de
tratamentos térmicos;
 Descrever e explicar os tratamentos térmicos usados para endurecer
uma liga metálica por precipitação, com uso do diagrama de fases;
 Entender a forma da curva esquemática da resistência (ou do
endurecimento) à temperatura ambiente em função do tempo.
P á g i n a | 265

11 TRATAMENTOS TÉRMICOS

11.1 Introdução

Como dissemos na apresentação das aulas, caro(a) aluno(a), nós já discutimos


vários fenômenos que ocorrem em metais e ligas a temperaturas elevadas, por
exemplo, a decomposição da austenita. E, de fato, esses fenômenos são eficazes na
alteração das características mecânicas quando são empregados tratamentos
térmicos ou processos térmicos apropriados. Portanto, conhecer os principais
processos de tratamento térmico e suas particularidades é crucial para a carreira de
um bom Engenheiro; e vamos fazer isto nessa primeira aula sobre o assunto.
Então, vamos em frente...

11.2 Definição e objetivos

Tratamento térmico é o conjunto de operações de aquecimento e


resfriamento a que são submetidas as ligas metálicas, sob condições
controladas de temperatura, tempo, atmosfera e velocidade de
resfriamento, com o objetivo de alterar as suas propriedades ou conferir-lhes
características determinadas. As propriedades das ligas metálicas dependem, em
princípio, de sua microestrutura. Os tratamentos térmicos modificam, em maior ou
menor escala, a microestrutura das ligas, resultando, em consequência na alteração
de suas propriedades.
Os principais objetivos dos tratamentos térmicos são os seguintes:
 remoção de tensões,
 aumento ou diminuição da dureza,
 aumento da resistência mecânica,
 melhora de ductilidade,
 melhora da usinabilidade,
 melhora da resistência ao desgaste,
 melhora das propriedades de corte,
 melhora da resistência à corrosão,
 melhora da resistência ao calor,
 modificação das propriedades elétricas e magnética.
P á g i n a | 266

A simples enumeração dos objetivos acima evidencia claramente


a importância e a necessidade do tratamento térmico dos metais e ligas.
Em geral, a melhora de uma ou mais propriedades, mediante um
determinado tratamento térmico, é conseguida com prejuízo de outras. Por exemplo,
o aumento da ductilidade provoca simultaneamente queda nos valores da dureza e
resistência à tração. Saiba, no entanto, caro(a) aluno(a), que é necessário, pois, que
o tratamento térmico seja escolhido e aplicado criteriosamente, para que os
inconvenientes apontados sejam reduzidos ao mínimo. Não se verifica, pela simples
aplicação de um tratamento térmico, qualquer alteração da composição química do
metal. Há casos, entretanto, em que interessa somente uma modificação parcial de
certas propriedades mecânicas; por exemplo, melhorar superficialmente a dureza de
um aço. Esse efeito é conseguido pela alteração parcial da sua composição química.
Os tratamentos em que a combinação de operações de aquecimento e resfriamento
é realizada em condições tais que conduzem a uma mudança parcial da composição
química da liga e, consequentemente, uma modificação parcial de suas propriedades
mecânicas, serão chamados de "tratamentos termoquímicos".

11.3 Fatores de influência nos tratamentos térmicos

Antes de serem definidos e descritos os vários tratamentos térmicos, faremos


uma rápida recapitulação dos diversos fatores que devem ser levados em conta na
sua realização. Representando o tratamento térmico um ciclo tempo-temperatura, os
fatores a serem inicialmente considerados são:
1. aquecimento,
2. tempo de permanência à temperatura, e
3. resfriamento.

Além desses, outro de grande importância é a atmosfera do recinto de


aquecimento, visto que a sua qualidade tem grande influência sobre os resultados
finais dos tratamentos térmicos.
Após essa discussão inicial, caro(a) aluno(a), antes de começarmos a
estudar cada um dos fatores de influência nos tratamentos térmicos assista a
uma teleaula que muito irá auxiliá-lo no entendimento dos tratamentos
P á g i n a | 267

térmicos, e nesses fatores que devem ser levados em consideração durante


estes processos. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=dbjwz15uvdu&list=plbb675de5972742e0>.

11.3.1 Aquecimento

O aquecimento é geralmente realizado a uma "temperatura acima da crítica",


para que se consiga a completa austenitização1 do aço, ou seja, total dissolução do
carboneto de ferro. Essa austenitização é o ponto de partida para as transformações
posteriores desejadas, as quais se processarão em função da velocidade de
resfriamento adotada. Entenda, caro(a) aluno(a), que a chamada "temperatura acima
da crítica" sempre será determinada no diagrama de fases ferro-carbeto de ferro, na
vizinhança do eutetoide. A figura 11.1 destaca essa região de aquecimento para a
austenitização da microestrutura, a saber, acima das chamadas curvas A 3 e Acm.

Figura 11.1: Faixa do diagrama de fases ferro-carbeto de ferro na vizinhança do eutetoide,


indicando as faixas de temperatura para austenitização do aço.

Na fase de aquecimento, dentro do processo de tratamento


térmico, devem ser apropriadamente consideradas a velocidade de
aquecimento e a temperatura máxima de aquecimento. A
velocidade de aquecimento, embora na maioria dos casos seja
fator secundário, apresenta certa importância, principalmente
quando os aços estão em estado de tensão interna ou possuem tensões residuais
P á g i n a | 268

devidas a "encruamento" prévio ou ao estado inteiramente "martensítico" porque,


nessas condições, um aquecimento muito rápido pode provocar empenamento ou
mesmo aparecimento de fissuras. Não se preocupe, caro(a) aluno(a), que na próxima
aula veremos com detalhes o termo encruamento e martensítico. Por enquanto, basta
você entender que se trata de processos relacionados aos aços para modificação
(melhora) de suas propriedades mecânicas. Há casos, contudo, de aços fortemente
encruados que apresentam uma tendência para excessivo crescimento de grão
quando aquecidos lentamente dentro da zona crítica, sendo então conveniente
realizar um aquecimento mais rápido através dessa zona de transformação.
Nas mesmas condições estão, certos aços especiais que exigem temperatura
final de austenização muito elevada; também nesses casos quando no aquecimento
é atingida a zona crítica é necessário quer a mesma seja ultrapassada mais ou menos
rapidamente para evitar excessivo crescimento de grão de austenita.
A temperatura de aquecimento é mais ou menos um fator fixo, determinado
pela natureza do processo e dependendo, é evidente, das propriedades e das
estruturas finais desejadas, assim como da composição química do aço,
principalmente do seu teor de carbono.
Quanto mais alta essa temperatura, acima da zona crítica, maior segurança se
tem da completa dissolução das fases no ferro gama; por outro lado, maior será o
tamanho de grão da austenita. As desvantagens de um tamanho de grão excessivo
são maiores que as desvantagens de não ser ter total dissolução das fases no ferro
gama, de modo que se deve procurar evitar temperaturas muito acima de linha
superior (A3) da zona crítica (veja figura 11.1). Na prática, o máximo que se admite e
500ºC acima de A3 e assim mesmo para os aços hipoeutetoides.
Para os hipereutetoides, a temperatura recomendada é inferior à da linha A cm.
A razão é óbvia; a linha Acm sobe muito rapidamente em temperatura com o aumento
do teor de carbono; para que haja, portanto, completa dissolução do carboneto de
ferro no ferro gama, são necessárias temperaturas muito altas com consequente e
excessivo crescimento de grão de austenita, condição essa mais prejudicial que a
presença de certa quantidade de carboneto não dissolvido. Veja na figura 11.2 as
regiões do diagrama Fe-C discutidas nesse parágrafo. Aqui também não iremos
discutir de maneira aprofundada estes pontos do diagrama; deixemos para a aula
seguinte onde ele será novamente abordado.
P á g i n a | 269

Figura 11.2: Diagrama de fases ferro-carbeto de ferro na vizinhança do eutetoide, indicando


as faixas de temperatura do tratamento térmico para aços comuns ao carbono.

11.4 Tempo de permanência à temperatura de aquecimento

A influência do tempo de permanência do aço à temperatura escolhida de


aquecimento é mais ou menos idêntica à da máxima temperatura de aquecimento,
isto é, quanto mais longo o tempo à temperatura considerada de austenização, tanto
mais completa a dissolução do carboneto de ferro ou outras fases presentes (elemento
de liga) no ferro gama, entretanto maior o tamanho de grão resultante, como mostra
a figura 11.3.

Figura 11.3: Influência do tempo e temperatura de tratamento térmico no tamanho de grãos.


P á g i n a | 270

Procura-se evitar, pois, permanência à temperatura do estritamente necessário


para que se obtenha uma temperatura uniforme através de toda a seção do aço e para
que se consigam as modificações estruturais mais convenientes. Tempo muito longo
pode também aumentar a oxidação ou descarbonetação do material. Sob o ponto de
vista de modificação estrutural, admite-se que uma temperatura ligeiramente mais
elevada seja mais vantajosa que um tempo mais longo a uma temperatura inferior,
devido à maior mobilidade atômica. De qualquer modo, o tempo à temperatura deve
ser pelo menos o suficiente a se ter sua uniformização através de toda a seção.

11.4.1 Resfriamento

Este, caro(a) aluno(a), é o fator mais importante, pois é ele que determinará
efetivamente a estrutura e, em consequência, as propriedades finais dos aços.
Como pela variação da velocidade de resfriamento pode-se obter desde a
perlita grosseira de baixa resistência mecânica e baixa dureza até a martensita que é
o constituinte mais duro resultante dos tratamentos térmicos. Por outro lado, a
obtenção desses constituintes não é só função da velocidade de resfriamento,
dependendo também como se sabe, da composição do aço (teor em elemento de liga,
deslocando a posição das curvas em C), das dimensões (seção) das peças, etc.
Os meios de esfriamento usuais são: ambiente do forno, ar e meios líquidos.
O resfriamento mais brando é, evidentemente, o realizado no próprio interior do
forno e ele se torna mais severo às medidas que se passa para o ar ou para um meio
líquido, onde a extrema agitação dá origem aos meios de esfriamento mais drásticos
ou violentos.
Na escolha do meio de esfriamento, o fator inicial a ser considerado é o tipo de
estrutura final desejada a uma determinada profundidade. Não só, entretanto.
De fato, a seção e a forma, da peça influem consideravelmente na escolha
daquele meio. Muitas vezes, por exemplo, a seção da peça é tal que a alteração
estrutural projetada não ocorre à profundidade esperada, conforme mostrado na figura
11.4.
P á g i n a | 271

Figura 11.4: Influência de diferentes meios físicos para alcançar taxas de resfriamento em
tratamentos térmicos.

Por outro lado, algumas vezes a forma da peça é tal que um


resfriamento mais drástico, como em água, pode provocar consequências
inesperadas e resultados indesejáveis tais como empenamento e mesmo
ruptura da peça. Um meio de resfriamento menos drástico, como óleo, seria o indicado
sob o ponto de vista de empenamento ou ruptura, porque reduz o gradiente de
temperatura apreciavelmente durante o resfriamento, mas não podem satisfazer sob
o ponto de vista de profundidade de endurecimento. Entenda, caro(a) aluno(a), que é
preciso, então, conciliar as duas coisas: resfriar adequadamente para obtenção da
estrutura e das propriedades desejadas à profundidade prevista e, ao mesmo tempo,
evitar empenamento distorção ou mesmo ruptura da peça quando submetida ao
resfriamento .Tal condição se consegue com a escolha apropriada do aço.
De qualquer modo, o meio de resfriamento é fator básico no que se refere à
reação da austenita e em consequência, aos produtos finais de transformação.
Os meios de resfriamento mais utilizados são : soluções aquosas, águas, óleo
e ar. Como já foi observado, a escolha do meio de resfriamento não depende somente
das propriedades finais desejadas no aço, pois o empenamento ou as fissuras que
podem resultar ao ser o material resfriado, assim como o aparecimento de apreciáveis
tensões internas podem determinar o substituto do meio ideal sob o ponto de vista de
propriedades desejadas, por um meio menos severo, de modo a serem contornadas
aquelas dificuldades. Pode-se chegar, então, à necessidade de se usar meios de
resfriamento cada vez menos severos, o que implica na escolha simultânea de aços
com temperabilidade1 cada vez maior, de modo a ser atingido o objetivo final -
P á g i n a | 272

estrutura e propriedades desejadas com um mínimo de empenamento e tensões


internas - nas melhores condições.
Outro fator que deve ser levado em conta é o da circulação do meio de
resfriamento ou agitação da peça no interior, pois pode ocorrer o empenamento das
peças e até mesmo fissuras; para isso, temos que usar meios menos drásticos como
óleo, água aquecida ou ar, são banhos de sal ou banho de metal fundido.

11.4.2 Atmosfera do forno

Nos tratamentos térmicos dos aços, deve-se evitar dois fenômenos muito
comuns e que podem causar sérios aborrecimentos: a oxidação que resulta na
formação indesejadas da “casca de óxido” e a descarbonetação que pode provocar a
formação de uma camada mais mole na superfície do metal.
As reações de oxidação mais comuns são:
2 Fe + O2 → 2 FeO, provocada pelo oxigênio
Fe + Co → FeO + Co, provocada pelo anídrico carbônico
Fe + H2O → FeO + H2, provocada pelo vapor de água.
Os agentes descarbonetantes usuais são os seguintes:
2 C + O2 → 2 CO
C + CO2 → 2CO
C + 2 H2 → CH4
Tais fenômenos de oxidação e de descarbonetação são evitados pelo uso de
uma atmosfera protetora ou controlada no interior do forno, a qual, ao prevenir a
formação da “casca de óxido”, torna desnecessário o emprego de métodos de limpeza
e, ao eliminar a descarbonetação, garante uma superfície uniformemente dura e
resistente ao desgaste.
1Termo usado para descrever a capacidade de um material de ser endurecido
quando é exposto ao calor e, depois, ser arrefecido rapidamente. Esta propriedade
não deve ser confundida com dureza, que se refere à força de um material e sua
capacidade de resistir a danos.
Nesta disciplina não temos a intenção de fazer uma descrição completa dos
vários tipos de atmosfera protetora usada nos tratamentos térmicos. Às vezes, para
obter os mesmos resultados proporcionados pelas atmosferas protetoras, usa-se
P á g i n a | 273

como meio de aquecimento banhos de sal fundido; o tratamento térmico dos aços
rápidos constitui o exemplo mais importante.

Após essa discussão inicial, caro(a) aluno(a), faça uma pausa na leitura para assistir
a uma teleaula muito explicativa que irá auxiliá-lo no entendimento dos tratamentos
térmicos dos aços. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=0ZcW7fz_128&list=
PLBB675DE5972742E0&index=2>.

11.5 Tratamentos térmicos usuais

Iremos nesta aula conhecer e estudar os aspectos mais importantes dos


principais tratamentos térmicos usuais das ligas metálicas: recozimento,
normalização, têmpera, revenido, colascimento e os tratamentos isotérmicos.

11.5.1 Recozimento

É o tratamento térmico realizado com o fim de alcançar um ou


vários seguintes objetivos: remover tensões devidas ao tratamentos
mecânico a frio ou a quente, diminuir a dureza para melhorar a
usinabilidade do aço, alterar as propriedades mecânicas como resistência, ductilidade
etc, modificar os característicos elétricos e magnéticos, ajustar o tamanho de grão,
regularizar a textura bruta, remover gases, produzir uma microestrutura definida,
eliminar, enfim, os efeitos de quaisquer tratamento térmicos ou mecânicos a que o aço
tiver sido anteriormente submetido. Muita coisa, não é mesmo caro(a)
aluno(a)?... Não se preocupe, pois, vamos nos aprofundar um pouco
mais neste tema. Antes, porém, assista a uma teleaula que retrata
o tratamento térmico de recozimento.
Acesse o link:
<https://www.youtube.com/watch?v=4ELS5LXahrc&list=
PLBB675DE5972742E0&index=3>.
P á g i n a | 274

11.5.2 Recozimento pleno ou total

Como dissemos, o tratamento térmico genérico recozimento abrange alguns


tratamentos específicos. Este é o primeiro deles. Lembre-se que sob o ponto de vista
de ganho de propriedades, o recozimento tem papel fundamental na construção
mecânica quando se trata de obter características de baixa dureza e elevada
ductilidade nas ligas metálicas. Em especial, quando aplicado a ligas de aço de baixo
e médio teores de carbono, o objetivo claro de tal tratamento é a obtenção da perlita
grosseira. Na prática, a execução do Recozimento Pleno ou Total exige a
austenitização, o que implica na dissolução completa dos elementos químicos que
compõem a liga de aço. A velocidade de resfriamento é estabelecida desligando-se o
forno com a peça no seu interior ou controlando-se a queda de temperatura.
O recozimento pleno ou total pode ainda ser empregado para regularizar a
estrutura bruta de fusão, modificar propriedades elétricas, remover gases e eliminar
quaisquer tratamentos térmicos que a peça tenha sofrido anteriormente (têmpera,
normalização, etc.).
Na figura 11.5 observa-se a microestrutura de um aço hipoeutetoide após
tratamento resultando em um ganho considerável de produtividade na usinagem, em
função da baixa dureza que apresenta. Dê uma boa observada nesta figura, pois você
poderá compará-la com outras microestruturas que estudaremos ao longo destas
duas aulas (aulas 11 e 12). Em seguida, acompanhe o primeiro e importante exemplo
sobre recozimento.

Figura 11.5: Microestrutura de um aço hipoeutetoide recozido.


P á g i n a | 275

Exemplo 11.1: Dê as faixas de temperaturas ao longo das quais é desejável


austenitizar cada uma das seguintes ligas ferro-carbono durante um tratamento
térmico de recozimento pleno:
a) 0, 25%p C,
b) 0, 45%p C,
c) 0, 85%p C,
d) 1, 10%p C.
Solução: Devemos ir para a faixa de temperatura na qual várias ligas de ferro-
carbono devem ser austenitizadas durante um tratamento térmico de recozimento
pleno.
Com base no diagrama apresentado na figura 11.2, e para as porcentagens de
carbono apresentadas, temos que
a) Para 0,25%p C, aquecimento entre 845 e 870ºC uma vez que a temperatura
da curva A3 é 830ºC.
b) Para 0,45%p C, aquecimento entre 790 e 815ºC uma vez que a temperatura
da curva A3 é 775ºC.
c) Para 0,85%p C, aquecimento entre 742 e 767ºC uma vez que a temperatura
da curva A1 é 727ºC.
d) Para 1,10 %p C, aquecimento entre 742 e 767ºC uma vez que a temperatura
da curva A3 é 727ºC.

11.5.3 Recozimento para alívio de tensões ou subcrítico

Aços que contêm teores médios e altos de carbono e que possuem uma
microestrutura composta por perlita grosseira uniforme podem ainda ser muito duros
para serem convenientemente usinados ou deformados plasticamente. Esses aços, e
na realidade qualquer aço, podem ser termicamente tratados ou recozidos para
desenvolver a estrutura da cementita globulizada, conforme será descrito no subitem
a seguir. Tem como objetivos fundamentais o alívio de tensões originadas durante a
solidificação ou que surgem durante operações de conformação mecânica a frio
(estampagem, endireitamento), soldagem e usinagem.
Por ora, é preciso entender que os aços que sofrem recozimento subcrítico são
moles, possuem um máximo de ductilidade, e são facilmente usinados ou deformados.
Assim, o tratamento térmico de recozimento subcrítico consiste em se aquecer a
P á g i n a | 276

liga até uma temperatura imediatamente abaixo da temperatura eutetoide (linha A1 na


figura 11.2, ou até aproximadamente 700ºC) na região α + Fe3C do diagrama de fases.
Se a microestrutura original contiver perlita, os tempos de recozimento
subcrítico irão ficar, em geral, na faixa entre 15 e 25 h. Durante esse recozimento,
existe uma coalescência2 do Fe3C para formar as partículas globulizadas.
Ainda outros tipos de tratamento de recozimento são possíveis. Por exemplo,
os vidros são recozidos, com o objetivo de remover tensões internas residuais que
tornam o material excessivamente fraco. Além disso, alterações microestruturais e as
consequentes modificações das propriedades mecânicas de ferros fundidos resultam
do que são em certo sentido, tratamentos de recozimento.

11.5.4 Normalização

O tratamento térmico de recozimento conhecido por normalização é usado


para refinar os grãos (isto é, para diminuir o tamanho médio do grão) e produzir uma
distribuição de tamanhos mais uniforme e desejável; aços perlíticos com grãos finos
são mais tenazes do que aços perlíticos com grãos mais grosseiros. Aços que foram
deformados plasticamente mediante, por exemplo, uma operação de laminação, são
compostos por grãos de perlita (e, muito provavelmente, uma fase proeutetoide), que
possuem um formato irregular e que são relativamente grandes, mas que variam
substancialmente em tamanho.

2Propriedade de as coisas se fundirem ou unirem. As substâncias ou os


materiais coalescentes são aqueles que se podem unir num único corpo.

Para que você saiba, caro(a) aluno(a), a normalização é obtida mediante o


aquecimento a uma temperatura de aproximadamente 55 a 85ºC acima da
temperatura crítica superior, que é, obviamente, dependente da composição, como
está indicado na figura 11.2. Após ser dado tempo suficiente para que a liga seja
completamente transformada em austenita, no que se constitui um procedimento que,
como vimos, é conhecido por austenitização, o tratamento é encerrado pelo
resfriamento ao ar.
P á g i n a | 277

11.5.5 Esferoidização

Este tratamento térmico caracteriza-se quando uma liga de aço que possui uma
microestrutura perlítica for aquecida e deixada a uma temperatura abaixo da
temperatura eutetoide durante um período suficientemente longo, por exemplo, a
aproximadamente 700ºC por entre 18 a 24 horas, uma microestrutura conhecida por
cementita globulizada irá se formar.

Figura 11.6
Essa microestrutura, mostrada na
figura 11.6, é o resultado do tratamento de
esferoidização. O tratamento é assim
chamado porque as partículas de cementita
tornam-se esféricas após tempos
prolongados de exposição a temperaturas
ligeiramente subcríticas. Perceba que em
lugar das lamelas alternadas de ferrita e
cementita (perlita), a fase Fe3C aparece como
partículas com aspecto esférico que estão encerradas em uma matriz contínua da fase
α. É importante destacar, caro(a) aluno(a), que essa transformação ocorre mediante
uma difusão adicional de carbono, sem qualquer alteração nas composições ou
quantidades relativas das fases ferrita e cementita. A força motriz para essa
transformação é a redução na área de contornos entre as fases α e Fe3C. Destaca-
se, ainda, que os aços de baixo teor de carbono quase nunca são esferoidizados
porque são muito moles e deformáveis e empastam a ferramenta, provocando
aquecimento da ferramenta e desgaste excessivo.

11.5.6 Tratamento térmico de têmpera

Sob o ponto de vista de propriedades mecânicas requeridas em


componentes mecânicos e ferramentas industriais, a têmpera tem
papel fundamental no sentido de garantir o aumento de resistência
mecânica e também da dureza. Estas duas propriedades estão
associadas no mesmo material, quando este é resfriado rapidamente da região
austenítica até a temperatura de formação martensítica. O tratamento de têmpera
P á g i n a | 278

consiste em aquecimento até uma temperatura 50 C acima da temperatura crítica (a


mesma faixa utilizada para o recozimento pleno) e em seguida resfriamento brusco
em água, óleo ou em meios de têmpera de composição química especial.

11.5.6.1 Temperaturas do processo

Assim como outros tipos de tratamento térmico, a têmpera requer a


transformação de fase cristalina, bastando para tanto a análise da composição
química do aço a ser tratado. É muito importante você entender que as propriedades
ótimas de um aço que foi submetido a um processo de têmpera e depois de
revenimento podem ser obtidas somente se durante o tratamento térmico por têmpera
a amostra tiver sido convertida para conter um elevado teor de martensita. Se você se
perguntar o que vem a ser 'aços martensíticos' ou 'martensita' e também revenimento,
não se preocupe, pois será tratado e bem explicado nos subitens seguintes. Durante
o tratamento de têmpera, é impossível resfriar a amostra a uma taxa uniforme ao longo
de toda a sua extensão; as regiões na superfície irão sempre resfriar mais
rapidamente do que as regiões no interior. Portanto, a austenita irá se transformar ao
longo de uma faixa de temperaturas, produzindo uma possível variação nas
microestruturas e propriedades em função da posição no interior de uma amostra.
O sucesso de um tratamento térmico de aços para produzir uma estrutura
predominantemente martensítica ao longo de toda a seção reta do material depende
principalmente de três fatores:
1. da composição da liga,
2. do tipo e da natureza do meio de resfriamento, e
3. do tamanho e da forma da amostra.

11.5.6.2 Resfriamento

A seleção do meio de têmpera é feita a partir da observação de cada tipo de


aço a ser tratado. Para tanto, deve-se seguir a orientação descrita em literaturas
apropriadas. De uma maneira geral, pode-se optar pelos seguintes meios de
resfriamento:
 Aços-carbono: água ou salmoura (água + 10% de NaCl) → Resfriamento
drástico;
P á g i n a | 279

 Aços-liga: óleo, banho de sais, ar soprado ou mesmo ar → Resfriamento


brando.
Você pode até estar achando estranho, caro(a) aluno(a), mas é
isso mesmo. Para alguns aços-ligas que contém altos teores de
elementos de liga como Cr, Mo e Ni é possível obter-se martensita a
partir de um resfriamento ao ar. O efeito destes elementos de liga é o de retardar as
transformações para estruturas ferrítico-perlíticas. A utilização destes aços é
conveniente quando é grande o risco de surgimento de trincas em ferramentas com
geometrias complexas e de grandes dimensões.
Assim, podemos concluir que a severidade do meio de têmpera está
diretamente relacionada com a composição química do aço. Acompanhe um exemplo
teórico.
Exemplo 11.2: Cite duas propriedades térmicas de um meio líquido que irão
influenciar a sua eficácia em um processo de têmpera.
Solução: As duas propriedades térmicas de um
meio líquido que influenciam a eficácia da têmpera são
condutividade térmica e capacidade térmica.

11.5.6.3 O surgimento da martensita

A martensita é uma estrutura monofásica que não


se encontra em equilíbrio, resultante de uma Adolf Martens (1850-
1914), metalúrgico
transformação sem difusão da austenita. Assim, a alemão, graduou-se em
Engenharia mecânica.
transformação martensítica ocorre quando a taxa de No início da carreira, ele
se envolveu no campo
têmpera é rápida o suficiente para prevenir a difusão do em desenvolvimento do
carbono. Qualquer difusão que porventura venha a ocorrer teste de materiais para
construção. Foi pioneiro
resultará na formação das fases ferrita e cementita. no uso do microscópio
como ferramenta
É bom entender, caro(a) estudante que a martensita analítica prática para os
metais. Mais tarde, em
é uma fase cristalina que tem sua formação associada ao um cargo acadêmico,
ele produziu o altamente
resfriamento rápido da austenita. Esta operação faz com respeitado Handbuch
que a transformação microestrutural fuja do equilíbrio der Materialienkunde
(1899).
termodinâmico, não possibilitando o surgimento dos
produtos normais de transformação (ferrita e perlita).
P á g i n a | 280

A transformação martensítica não é bem compreendida. Entretanto, um grande


número de átomos experimenta movimentos cooperativos, no sentido de que existe
apenas um pequeno deslocamento de cada átomo em relação aos seus vizinhos. Isso
ocorre de maneira tal que a austenita CFC experimenta uma transformação
polimórfica em uma martensita tetragonal de corpo centrado (TCC). Na próxima aula
iremos discutir mais apropriadamente esta transformação cristalina.
Uma célula unitária dessa estrutura cristalina consiste simplesmente em um
cubo de corpo centrado que foi alongado ao longo de uma de suas dimensões; essa
estrutura é muito diferente daquela para a ferrita CCC. Todos os átomos de carbono
permanecem como impurezas intersticiais na martensita; como tal, eles constituem
uma solução sólida supersaturada capaz de se transformar rapidamente em outras
estruturas, se aquecidos a temperaturas nas quais as taxas de difusão se tornam
apreciáveis. Muitos aços, no entanto, retêm quase indefinidamente a sua estrutura
martensítica quando mantidos à temperatura ambiente.
Entenda também, caro(a) aluno(a), que a transformação martensítica não é,
contudo, exclusiva das ligas ferro-carbono. Ela é encontrada em outros sistemas e é
caracterizada, em parte, pela transformação com ausência de difusão.
A martensita é uma fase extremamente frágil. Na verdade, ela é tão frágil que um
produto composto por 100% de martensita seria inútil, semelhante a um martelo de
vidro.

11.5.6.4 Temperabilidade dos aços

A temperabilidade ou endurecimento dos aços é a capacidade do


aço endurecer da superfície em direção ao núcleo. Ao contrário do que
se pensa, a dureza estabelecida na superfície do aço durante uma
têmpera, não é a mesma do seu centro. Isto pode ser explicado pelas diferentes
velocidades de resfriamento que ocorrem com o componente mecânico quando este
sofre o choque térmico necessário para produzir-se a martensita. A princípio este
fato não teria muita importância se a análise se limitasse somente à resistência ao
desgaste que muitas peças são projetadas. Um bom exemplo são as esferas de
rolamento, idealizadas para minimizar o atrito em mancais que devem associar
também tratamento térmico de têmpera para possibilitar uma vida útil adequada ao
equipamento no qual será instalado.
P á g i n a | 281

Para peças em que a têmpera tem por objetivo um aumento da resistência


mecânica, interessa que a martensita se forme em distâncias maiores a partir da
superfície, o que garantirá melhores resultados de comportamento mecânico. Assim,
têm-se no mercado, aços considerados de baixa, média e alta temperabilidade,
aplicados segundos critérios de projetos bem definidos. Para classificá-los, existe um
ensaio padrão de temperabilidade usuais em aciarias, o ensaio Jominy.

11.5.6.5 Ensaio de temperabilidade Jominy

É o ensaio mais usado na indústria, pois a partir de um único corpo de prova é


possível determinar-se a diminuição do teor de martensita no aço, como função do
seu tamanho. Vamos nos aprofundar na discussão deste ensaio na próxima aula, de
acordo com a norma ASTM A255, que trata do método de ensaio padronizado para o
ensaio da extremidade temperada para a endurecibilidade dos aços. Porém, nesse
momento, é importante uma breve abordagem para completar todos os aspectos
teóricos do tratamento de têmpera.
Para você saber, caro(a) aluno(a), este ensaio consiste na austenitização,
seguido de um resfriamento rápido, de um corpo de prova de dimensões
normalizadas. Como a estrutura inicial tem uma importância muito grande na
temperabilidade, o corpo de prova é submetido a um tratamento térmico de
normalização antes de ser ensaiado (refino dos grãos de perlita). Para realização do
ensaio é necessário a construção de um aparato específico, no qual se tem controle
de pressão da água de resfriamento sobre o corpo de prova. Como dissemos,
deixemos a descrição completa do ensaio para a próxima aula, que dá sequência a
esse assunto. Aqui, basta entender que para que este ensaio tenha êxito, é importante
que alguns cuidados sejam observados na sua execução.

11.5.6.6 Curvas de temperabilidade

Iremos discutir de forma mais aprofundada os diagramas de temperabilidade


na aula seguinte (lá chamada de curvas de endurecibilidade), porém devemos nesse
momento entender o que vem a ser uma curva de temperabilidade. Na verdade, uma
P á g i n a | 282

curva de temperabilidade Jominy relaciona a dureza


Walter Jominy (1893-
Rockwell C3 na ordenada com o comprimento do corpo de 1976), metalurgista
norte-americano.
prova na abcissa. Os resultados dessas medições geram Contemporâneo de E. C.
uma curva que decresce da posição de 100% de Bain, também foi um
pesquisador produtivo
transformação martensítica até obtenção de microestrutura no campo da metalurgia
ferrosa. Ele mantinha
perlítica ou ferrito-perlítica. compromissos
importantes em
Neste momento, caro(a) aluno(a), seria laboratórios industriais
do governo e de
importante assistir a um vídeo que retrata a dureza universidades.
Rockwell, para clarear mais ainda sua mente. Acesse
o endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=FzHHzN6YqJ0&index=12&list=
PLCDB832645CFBB442>.
3O método Rockwell é um método de medição direta da dureza,
sendo um dos mais utilizados em indústrias. Este é um dos métodos mais simples e
que não requer habilidades especiais do operador. Além disso, várias escalas
diferentes podem ser utilizadas através de possíveis combinações de diferentes
penetradores e cargas, o que permite o uso deste ensaio em praticamente todas as
ligas metálicas, assim como em muitos polímeros.
É possível observar na figura 11.7 a correlação entre esta curva e o corpo de
prova que lhe deu origem.

Figura 11.7: Correlação entre dureza Rockwell C e distância da extremidade temperada,


gerando a curva de temperabilidade Jominy.
P á g i n a | 283

É possível perceber que a velocidade de resfriamento decresce da extremidade


da barra temperada e, consequentemente a dureza também cai. Com a diminuição da
velocidade de resfriamento, mais tempo é permitido para a difusão e a formação de
outras fases cristalinas além da martensita (bainita, perlita e/ou ferrita). De fato, é
possível ver na figura 11.7 a correlação entre a curva Jominy, posição do corpo de
prova e as diferentes velocidades de resfriamento obtidas. Na figura 11.8
observa-se curvas de temperabilidade de alguns tipos de aços. Mas não
se apavore, caro(a) aluno(a), pois esse tipo de diagrama será
amplamente abordado na aula seguinte. Aqui estamos fazemos apenas uma
exemplificação da eficácia do ensaio.

Figura 11.8: Curva de temperabilidade Jominy para divesos tipos de aços.

Observe um excelente exemplo que irá relacionar algumas propriedades dos


aços com o tratamento térmico de têmpera.
Exemplo 11.3: Com base na observação do gráfico de tempo de resfriamento
em função da tensão de cedência (resistência ao escoamento), explique o
P á g i n a | 284

comportamento dos aços relacionados de acordo com os resfriamentos nos


tratamentos térmicos.

Solução: Observando o gráfico de tempo de resfriamento em função da tensão


de cedência (resistência ao escoamento) verificamos que aços com baixa quantidade
de carbono (0,10%) não sofrem mudanças de resistências nos diferentes tipos de
tratamento térmico, isto acontece, pois, a quantidade de carbono é pequena e não
forma estrutura martensíticas (estrutura dura) mesmo que o resfriamento seja
extremamente rápido.
Nos aços com média quantidade de carbono (0,40%), notamos que houve um
aumento de resistência quando aumentamos a velocidade de resfriamento, ou seja,
quando temperamos o material, isto porque houve a formação de uma pequena
quantidade de martensita nos resfriamos rápidos (tempera). Nos aços com alto teor
de carbono notamos que a resistência aumentou signitivamente quando resfriado
rapidamente, isto porque em resfriamentos rápidos (temperas) aços com alto teor de
carbono (0,5 a 0,8%) formam grande quantidade de estrutura matensita,
consequentemente formando estrutura duras, ou seja, material com alto tensão de
cedência.
Concluímos, então, que quanto mais quantidade de carbono e quanto mais
rápido o resfriamento, maior é a tendência de formação de estrutura martensita,
consequentemente mais duro é o material.
P á g i n a | 285

11.6 Revenido

O revenido (ou revenimento) é um tratamento térmico aplicado aos


aços que foram temperados, com o objetivo de aliviar as tensões e corrigir
a dureza obtida ao final do processo. Deve-se programar o revenido
imediatamente após a têmpera, pois o risco de aparecimento de trincas é muito
grande. Não se pode, de maneira nenhuma, colocar em serviço os componentes
mecânicos que não tiveram suas tensões aliviadas por revenido. Para entender
melhor como ocorre este alívio de tensões, é necessário primeiro conhecer como
surge a martensita (discutida no item 4.4.3), que é a fase cristalina característica das
peças temperadas.

11.6.1 Fragilidade do revenido

Diversos aços, principalmente aço-liga de baixo teor em liga, caracterizam-se


por adquirirem fragilidade, quando são aquecidos na faixa de temperaturas 375 -
575ºC, ou quando são resfriados lentamente através dessa faixa. Este fenômeno é
conhecido com o nome de “fragilidade de revenido”. A fragilidade ocorre mais
rapidamente na faixa 450 - 475ºC. Os aços-carbono comuns contendo manganês
abaixo de 0,30% não apresentam o fenômeno. Contudo, aços contendo apreciáveis
quantidades de manganês, níquel e cromo, além de uma ou mais impurezas tais como
antimônio, fósforo, estanho ou arsênio, são suscetíveis ao fenômeno.
Não se tem uma explicação clara desse fato, caro(a) aluno(a), embora se tenha
observado concentração de impurezas nos contornos dos grãos o que comprova que
é necessária a presença dessas impurezas, juntamente com um elemento de liga,
para provocar esta fragilidade. Esta é somente revelada no ensaio de resistência ao
choque, pois as outras propriedades mecânicas e própria microestrutura não são
afetadas. A não ser que se utilize matérias-primas muito puras, os aços Cr-Ni são mais
sucetíveis aos fenômenos.
Aparentemente, o molibdênio, em teores 0,5 a 1,0% retarda a
suscetibilidade à fragilidade de revenido. Os aços que se tornaram
frágeis, devido às causas apontadas, podem voltar ao seu normal e ter a
tenacidade por assim dizer restaurada, pelo aquecimento em torno de 600ºC ou
acima, seguido de resfriamento rápido, abaixo de aproximadamente 300ºC. Salienta-
P á g i n a | 286

se, mais uma vez, o fato de que a eliminação de impurezas indutoras do fenômeno
evita a fragilidade. Como o antimônio é aparentemente o elemento mais prejudicial ele
deve ser evitado a qualquer custo. Na prática, tanto o antimônio como o arsênio não
estão comumente presentes. Desse modo, a maior atenção de ser dirigida ao estanho
e ao fósforo, cujas quantidades não devem ultrapassar 0,005% e 0,001%
respectivamente.
Uma última prática para reduzir a severidade da fragilidade de revenido é
manter o aço por longo tempo numa faixa de temperaturas entre as curvas A1 e A3 do
diagrama Fe-C. Contudo, esse tratamento, também chamado “inter-crítico”, só deve
ser aplicado em caso específico.

11.6.2 Transformação da austenita retida

Como já se viu, dependendo da composição do aço, pode-se ter à temperatura


ambiente uma certa quantidade de “austenita retida” ou “austenita residual”, que, ao
se transformar posteriormente, pode ocasionar o fenômeno de instabilidade.
A transformação dessa austenita residual é realizada por intermédio de
diversos procedimentos. Um deles é o revenido. Como se viu, o chamado “segundo
estágio de revenido” - entre 200 e 300ºC - transforma a austenita retida em bainita
(estudaremos sobre a bainita na próxima aula. Esta reação do revenido prevalece
somente em aços de médio ou alto carbono. Na realidade, no revenido, para a
obtenção de um certo grau de estabilidade dimensional, seria necessário empregar-
se a máxima temperatura de aquecimento permissível, tendo em vista a dureza
desejada, de modo a desenvolver-se a contração máxima possível. Em alguns tipos
complexos de aços - como os aços rápidos - surge a necessidade de mais de uma
revenido, visto que no resfriamento posterior ao primeiro revenido, forma-se
martensita que deve, em consequência, ser revenida, o que se faz através de um
segundo aquecimento do aço.
Outro método para transformar a austenita retida seria um artifício que se
poderia chamar de “sazonamento”, ou seja, manuntenção das peças tratadas em
estoque por um determinado período de tempo ou submetendo-as repetidamente aos
extremos de temperaturas esperadas em serviço. Procura-se, assim, forçar a
ocorrência das modificações dimensionais antes de se utilizar as peças, o que,
entretanto, raramente se consegue.
P á g i n a | 287

Outro método que possibilita a transformação da austenita retida é a promoção


de um certo grau de encruamento nas peças, o que, obviamente, não serve para
garantir a estabilidade dimensional. Choque mecânico tem sido usado como o mesmo
objetivo com resultados limitados, contudo, devido à dificuldade do seu controle.
Finalmente, frequentemente têm sido usados ciclos acelerados de
envelhecimento, com resultados aproximadamente idênticos aos obtidos do revenido
comum. Acompanhe agora um exemplo sobre o tratamento de revenimento.
Exemplo 11.4: A martensita como temperada é extremamente dura e frágil.
Componentes mecânicos com martensita correm risco de falha estrutural, exceto
quando apresentam baixo teor de carbono. Com o objetivo de otimizar a relação entre
a resistência mecânica e a tenacidade do material, adota-se, após a têmpera, outro
tratamento térmico denominado revenimento. Nessa perspectiva, um estudante de
Engenharia Mecânica afirmou que "o revenimento dos aços consiste em um
aquecimento uniforme do material até uma temperatura de austenitização, mantendo-
o nessa temperatura por tempo suficiente para a obtenção das propriedades
mecânicas desejadas; o que irá fornecer condições para haver difusão do carbono,
que sairá na condição de supersaturação para se precipitar como carboneto!"
Você concorda com toda a afirmativa feita pelo estudante? Corrija-o caso algo
esteja errado.
Solução: O erro cometido pelo estudante foi afirmar que "o revenimento dos
aços consiste em um aquecimento uniforme do material até uma temperatura de
austenitização, mantendo-o nessa temperatura por tempo suficiente para a obtenção
das propriedades mecânicas desejadas"; o restante da afirmativa está correto.

11.7 Martêmpera e Austêmpera

Novamente, caro(a) aluno(a), alertamos que essas formas alternativas de


têmpera serão discutidas na aula seguinte (seção 4.3), sequencial do assunto. Mas
vamos, nesse momento, descrever de forma mais conceitual os processos. Um
possível problema com o resfriamento convencional e o revenido é que a peça pode
ser deformada e trincada devido ao resfriamento desigual durante essa etapa. O
exterior se resfriará mais rapidamente e, portanto, transformar-se-á em martensita
antes do interior. Durante o breve período de tempo em que o exterior e o interior
possuírem estruturas cristalinas diferentes, pode haver tensões significativas. A região
P á g i n a | 288

que tem a estrutura da martensita, logicamente, é altamente frágil e suscetível a


trincas. Uma solução simples para esse problema é um tratamento térmico conhecido
como martêmpera. Nesse tratamento o resfriamento é interrompido acima da região
(temperatura) de formação da martensita. Um resfriamento lento permite que a
transformação martensítica ocorra por igual em toda a peça. Novamente, a ductilidade
é produzida por uma etapa final de revenido.
Um método alternativo para evitar a deformação e a trinca da
têmpera convencional é o tratamento térmico conhecido como
austêmpera. A austêmpera tem a vantagem de evitar completamente a
dispendiosa etapa de reaquecimento. Assim como a martêmpera, o
resfriamento é interrompido logo acima da temperatura de formação da martensita.
Na austêmpera, a etapa isotérmica é estendida até que ocorra a transformação
completa para a bainita. Como essa microestrutura (α + Fe3C) é mais estável do que
a martensita, um resfriamento adicional não produzirá a martensita. O controle da
dureza é obtido pela escolha cuidadosa da temperatura de transformação da bainita.
A dureza aumenta com a diminuição da temperatura de transformação, por causa da
estrutura cada vez mais fina. Antes de prosseguir, caro(a) aluno(a), é momento
de uma merecida pausa. Aproveite para tomar uma água, um café, ou
simplesmente esfriar a cabeça. Antes, no entanto, é essencial que assista a
uma pequena teleaula que aborda o que foi discutido sobre 'endurecimento
dos aços'; ou seja, sobre tudo o que foi discutido neste item 4.4.
Relembrando, têmpera, martensita, temperabilidade, revenido,
martêmpera e austêmpera. Acesse o endereço:
<https://www.youtube.com/watch?v=SxXSXa8NeIs&list=
PLBB675DE5972742E0&index=4>.

11.8 Têmpera superficial

A têmpera superficial é vantajosa na construção de componentes mecânicos


que requerem combinação de tenacidade e dureza superficial. Como exemplo de
aplicações desse tratamento podemos citar juntas homocinéticas, eixos,
engrenagens, virabrequins, eixos de comando de válvulas e outros.
O princípio do processo baseia-se no aquecimento rápido da superfície da peça
através de diferentes formas de geração de energia térmica até a temperatura de
P á g i n a | 289

austenitização. No processo mais simples, o aquecimento pode ser realizado através


de chama oxiacetilênica e, no mais complexo e preciso, o aquecimento é realizado
através de indução eletromagnética.

11.8.1 Têmpera por chama

Neste processo o calor é gerado por uma chama de gás oxiacetilênio,


localizada sobre a superfície da peça a ser tratada, de maneira que proporcione um
aquecimento rápido e com uma profundidade determinada, seguindo-se um
resfriamento em meio adequado, dependendo da composição do aço a ser tratado. A
figura 11.9 mostra duas imagens do processo de têmpera por chama.
Os dispositivos de têmpera superficial são projetados em função da geometria
da peça a ser temperada. Em casos mais simples, pode-se fazer têmpera localizada.
Em outros mais precisos, pode-se adaptar o cabeçote de chama múltipla e o jato de
água em um torno, o que permite aquecimento e resfriamento de eixos e pequenas
engrenagens.

Figura 11.9: Imagens de têmpera por chama.

11.8.2 Têmpera por indução

Da mesma maneira que a têmpera por chama, o objetivo é aquecer


rapidamente a superfície da peça, seguindo-se um resfriamento rápido, porém com a
diferença que o controle do processo é bem mais preciso, levando-se em conta
profundidade desejada e temperatura estabelecida para a austenitização do aço
tratado. A figura 11.10 mostra duas imagens do processo de têmpera por indução.
P á g i n a | 290

O princípio físico da geração de calor pose ser assim explicado: quando uma
corrente alternada flui através de um indutor ou bobina de trabalho, estabelece-se
nesta um campo magnético altamente concentrado, o qual induz um potencial elétrico
na peça a ser aquecida e envolvida pela bobina e, como a peça representa um circuito
fechado, a tensão induzida provoca o fluxo de corrente. A resistência da peça ao fluxo
da corrente induzida é que causa o aquecimento. A profundidade e temperatura de
trabalho são estabelecidas através da alta frequência gerada por equipamento
apropriado. Assim, estabelece-se a seguinte relação: "quanto maior a frequência,
menor a profundidade de aquecimento e quanto menor a frequência, maior a
profundidade de aquecimento".

Figura 11.10: Imagens de têmpera por indução.

Sob o ponto de vista de vantagens do processo sobre a têmpera convencional,


podemos relacionar os seguintes fatores:
1. O aquecimento é tão rápido (alguns segundos na maioria dos casos), que a
superfície praticamente não oxida. Apenas uma certa modificação na cor é observada.
2. O aquecimento é perfeitamente uniforme e reproduzível de peça para peça,
por meio de um rigoroso controle de tempo de aquecimento.
3. O aquecimento pode ser localizado, isto é, limitado com grande exatidão a
determinadas áreas.
4. A estrutura cristalográfica do aço se mantém inalterada (dureza de forja,
fundição ou laminação), pois a têmpera atinge só a superfície.
5. O calor é gerado na própria peça, objeto de tratamento. Isto ocorre sem
qualquer contato com o indutor (bobina).
6. A peça não fica deformada porque as forças produzidas na superfície não
chegam a alterar a forma do núcleo, que permanece frio.
P á g i n a | 291

7. O aquecimento indutivo proporciona a possibilidade de usar aços carbono


comum na fabricação de diversas peças que, com o emprego de processos de
tratamentos térmicos convencionais, deveriam ser feitos de aços especiais de alto teor
de liga. Resulta disso uma grande economia na produção de certas peças.
8. O tratamento por indução pode ser facilmente automatizado, devido a grande
uniformidade do processo, reduzindo-se ao mesmo tempo, a quebra e o refugo.
9. A área de aquecimento é limitada a superfície coberta pelo indutor.
10. Economia por eliminação das operações de limpeza, remoção da crosta por
meio de jato de areia ou outros.
11. Distorção mínima: a ausência quase absoluta de distorção durante a
têmpera, elimina operações posteriores de endireitamento e retífica.
12. O processo garante alta dureza superficial, e tenacidade do núcleo, ideal
para peças sujeitas a impacto.

Após a discussão deste tópico 4.7, assista a uma telaula


sobre os tratamentos de têmpera superficial, por chama e por
indução. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=3AYUq8kTBTA&index=6&list=
PLBB675DE5972742E0>.

11.9 Tratamentos termoquímicos

São tratamentos que visam o endurecimento superficial dos aços,


pela modificação parcial da sua composição química e aplicação
simultânea de um tratamento térmico. Os tratamentos termoquímicos são
também conhecidos como tratamentos de endurecimento superficial (que é sua
principal finalidade). A modificação da composição química se dá por difusão
termoquímica de elementos na superfície do aço como: carbono, nitrogênio e boro,
entre outros. Este tipo de tratamento, caro(a) aluno(a), pode ser usado também para
inserir propriedades como resistência à fadiga, à corrosão e à oxidação em altas
temperaturas. Em geral, materiais extremamente duros têm elevada resistência ao
desgaste, porém baixa tenacidade/resistência ao impacto. Por outro lado, materiais
menos duros, embora mais tenazes, em geral não apresentam boa resistência ao
desgaste.
P á g i n a | 292

Em peças como engrenagens, deseja-se um núcleo tenaz e uma superfície


resistente ao desgaste. Para essa aplicação, aços com baixo teor de carbono são
submetidos, por exemplo, ao tratamento termoquímico de cementação, que eleva o
teor de carbono na superfície, aumentando sua resistência ao desgaste, ao mesmo
tempo que preserva a tenacidade do núcleo, mantido com baixo teor de carbono.
Os meios para realização dos tratamentos termoquímicos são fontes de
carbono e nitrogênio, principalmente. Podem ser sólidos, líquidos e gasosos.
Na atualidade, porém, meios líquidos e gasosos têm sido preferidos devido à
maior velocidade do processo quando realizado com esses fluidos como meios.
Vamos, agora, discutir um pouco sobre os tipos mais comuns de tratamentos
termoquímicos. Ao final da discussão, um excelente vídeo sobre este assunto será
indicado.

11.9.1 Cementação (carbonetação)

A cementação é um tratamento térmico austenítico, em que o


carbono é introduzido na fase γ (austenita), e irá originar martensita com
o posterior resfriamento da peça. De fato, enquanto no núcleo os aços
cementados contêm de 0,15 a 0, 25% de carbono, na superfície o teor de carbono
pode ser ajustado para valores entre 0,8 e 1%. A cementação pode ser realizada em
meio sólido, líquido ou gasoso, também podendo ser utilizado plasma.
O processo de difusão dos átomos de carbono na matriz rica em ferro do aço
depende de alguns fatores:
• Temperatura de tratamento.
• Tempo de tratamento (até a saturação).
• Composição química do aço, incluindo o teor de carbono.
• Potencial químico do carbono na superfície da peça.

A figura 11.11 ilustra o perfil da variação do teor de carbono, em comparação


do comprimento "a" de uma trinca como função da profundidade da camada
cementada para diferentes aços SAE 51xx.
P á g i n a | 293

Figura 11.11: Variação do teor de carbono como função da profundidade da camada


cementada.

11.9.1.1 Cementação sólida

É o processo mais antigo de cementação, que inicialmente envolvia somente o


uso de meios de cementação (cementos) sólidos. Entretanto, devido à lentidão da
cementação sólida e às dificuldades de controle preciso dos resultados obtidos com
esse processo, acabou sendo superado por outros processos, como a cementação
gasosa e a cementação líquida. Por estes motivos, passou a ter aplicação restrita,
embora do ponto de vista microestrutural seja uma base para os demais processos.
Embora a fonte de carbono seja sólida, o carbono é transportado pelo gás que
se forma em torno da peça, a qual é envolvida pelo meio de carbonetação. Logo,
ocorre devido a presença do oxigênio atmosférico presente na caixa produzindo CO 2
e que após formado continua a reagir com o carvão, segundo a reação

Na superfície do aço o CO é quebrado formando:

sendo o carbono atômico rapidamente dissolvido na austenita e difundido para


o interior do aço. O CO2 reage novamente com o carvão. Assim, a correta maneira de
representar a reação é:
P á g i n a | 294

Sendo que, se a temperatura aumenta e a pressão é mantida constante, a


reação ocorre no sentido da direita para a esquerda, isto é, mais CO é produzido.
Diminuindo a tempratura, a proporção do CO2 aumenta em detrimento do CO.
Os cementos sólidos são tradicionalmente constituídos por uma mistura de
carvão vegetal moído, porém não muito fino, e carbonatos, os quais agem como
catalisadores, aumentando a proporção de CO em relação à de CO 2. Na figura 11.12
está ilustrado o processo.

Figura 11.12: Ilustração da cementação sólida.

Como comentado, a cementação sólida é lenta, requerendo algumas horas de


permanência acima da zona crítica (900 a 1000ºC) e durante este tempo ocorre
crescimento de grão austenítico. Por esse motivo, após a cementação sólida em caixa
é necessário um tratamento térmico que permita refinar o grão, geralmente a
normalização. Após a normalização a camada superficial pode ser endurecida por
têmpera.
Como resultado da cementação e da têmpera, a temperatura de têmpera é
suficiente para temperar a região cementada, devido ao seu alto teor de carbono;
porém não modifica muito as propriedades do núcleo da peça, que, deste modo,
preserva sua ductilidade. O interior da peça permanece na região intercrítica com
resfriamento lento (perlita e ferrita), e a superfície da peça é austenitizada e depois
temperada, resultando em martensita.
Saiba, caro(a) aluno(a), que os revenimentos de peças cementadas são
obrigatoriamente realizados em baixas temperaturas para afetar o mínimo possível a
dureza da camada cementada. A profundidade (espessura da camada cementada)
P á g i n a | 295

depende do tempo de tratamento, uma vez que a espessura da camada cementada


aumenta com o tempo de cementação.
Na cementação sólida é inviável o ajuste do potencial químico do carbono,
havendo considerável risco de cementação excessiva, inclusive formação de
cementita em rede, que causa trincas na têmpera e no acabamento superficial.
Quando os gradientes de teor de carbono são muito altos há risco de lascamento da
camada cementada.

11.9.1.2 Cementação líquida

A cementação líquida se dá através de um banho das peças num meio líquido


composto de sais fundidos. Isto está representado na figura 11.13. A composição dos
banhos é à base de cianetos e o processo é dividido em duas variantes:
1. Banhos de baixa temperatura – operam em temperaturas entre 845 e 900
°C. São mantidos com uma camada protetiva de carbono (carvão moído) e são
indicados para camadas mais finas, com profundidades entre 0,13 a 0,25 mm.
2. Banhos de alta temperatura - operam em temperaturas entre 900 e 955ºC.
São indicados para profundidades de camadas mais espessas, entre 0,5 mm e 3,0
mm; entretanto, sua principal característica é o rápido desenvolvimento de camadas
entre 1 e 2 mm.

Figura 11.13: Cementação líquida em banho de sais.


P á g i n a | 296

As camadas cementadas pelo meio líquido são similares às


obtidas com o meio gasoso, entretanto, os ciclos são mais curtos devido
ao período de aquecimento ser mais rápido. Os banhos de sal
apresentam coeficientes de transferência de calor muito elevados por
apresentarem, simultaneamente, condução, convecção e radiação.
Este tratamento apresenta como principais características:
 ser um processo mais rápido (camadas entre 1 e 2 mm);
 apresentar proteção efetiva contra oxidação e descarbonetação;
 facilidade de manuseio das peças (uso de ganchos, ou cestas);
 controle preciso da camada cementada;
 maior facilidade de realização de cementação localizada.
 Mas claro, o processo também apresenta algumas desvantagens:
 necessidade de sistema de exaustão sobre o banho, uso de EPIs
(Equipamentos de Proteção Individual) e cuidados adicionais para evitar
contaminação por cianetos;
 neutralização dos banhos via processamento químico, após um determinado
período de operação;
 sais extremamente tóxicos.

11.9.1.3 Cementação gasosa

A cementação gasosa é muito empregada na indústria, porém a limpeza


superficial da peça a ser cementada é muito importante. Possibilita o controle do
potencial de carbono através do uso de gases que contêm CO, CO 2, H2, H2O e CH4.
Além do controle do potencial de carbono, também é necessário o controle do
potencial de oxigênio. Para assegurar uma distribuição adequada de carbono após a
cementação é realizado um tratamento de difusão de carbono no campo austenítico.
A microestrutura resultante da cementação depende de dois fatores
conjugados: variação de velocidade de resfriamento (têmpera) e variação de
composição química (difusão de carbono). Assim, há diferentes microestruturas na
superfície da peça cementada, dependendo da velocidade de resfriamento após a
cementação e do teor de carbono.
P á g i n a | 297

Na cementação gasosa, além da reação representada na equação 11.2, vários


hidrocarbonetos podem participar da reação. Pode-se, por exemplo, ter a reação com
o metano:

sendo neste caso, a umidade presente no gás apresentando grande influência


no potencial de carbono e controlada pelo ponto de orvalho 4.

11.9.2 Nitretação

O tratamento termoquímico de nitretação é um processo que


também altera a composição de uma camada superficial do aço. Ao
contrário da cementação, a camada nitretada não necessita ser
temperada, pois os nitretos que se formam já possuem dureza
elevada evitando o empenamento da peça. É realizado com a difusão do nitrogênio
na fase α (ferrita) em temperaturas (relativamente) baixas - entre 500 e 570ºC - sem
provocar mudança de fase quando o aço é resfriado até temperatura ambiente.
A reação de nitretação pode ser representada pela dissociação da amônia em
contato com a superfície aquecida do aço:

Lembrando,
caro(a) aluno(a), que o nitrogênio na forma atômica pode ser absorvido
pelo aço. Ao se atingir um determinado nível de saturação de
nitrogênio, nitretos são formados através do mecanismo de nucleação
e crescimento. Uma consequência do tratamento termoquímico superficial de
nitretação é o fato de resultar em menor distorção e em camadas menos espessas
(raramente ultrapassando 0,8 mm) do que as que são obtidas por cementação; além
de melhorar a resistência à corrosão em aços não inoxidáveis.
P á g i n a | 298

A nitretação, em geral, leva à formação de uma camada rica em compostos


(entre eles nitretos) próxima à superfície da peça, a qual é comumente conhecida
como “camada branca”. Como exemplo, num aço 4340 temperado, revenido e
nitretado, forma-se uma camada branca de nitreto de alta dureza.

11.9.3 Carbonitretação

A carbonitretação é um tipo especial de cementação.


Geralmente é utilizada em pequenas e médias profundidades de
cementação. Além de carbono também são difundidas
simultaneamente quantidades menores de nitrogênio na camada
superficial, proveniente da amônia. Neste processo, o nitrogênio age
como elemento de liga na superfície da peça. Através disso, é melhorada a
temperabilidade superficial, possibilitando a utilização de aços mais baratos (por
exemplo, aços não ligados ou de baixa liga, aços para usinagem fácil e aços para
conformação) para uma têmpera.
4O ponto de orvalho é definido como a temperatura até a qual o ar (ou gás)
deve ser resfriado para que a condensação de água se inicie, ou seja, para que o ar
fique saturado de vapor de água. Na temperatura do ponto de orvalho a quantidade
de vapor de água presente no ar é máxima.
Saiba, caro(a) aluno(a), que normalmente a cabonitretação ocorre em
temperaturas entre 800 e 930°C. As profundidades de carbonitretação obtidas
geralmente ficam entre 0,06 e 0,60 mm; isto depende da temperatura e do tempo de
tratamento: quanto maior a temperatura menor será a absorção do nitrogênio.
Por isso, a temperatura de tratamento deve estar de acordo com as
propriedades desejadas. Realiza-se a carbonitretação na faixa de temperatura
superior quando a dureza da camada de difusão possui grande importância; e na faixa
de temperatura inferior, quando se deseja obter um acúmulo maior de nitrogênio na
superfície, aumentando a resistência ao desgaste.
Após o resfriamento brusco, as peças carbonitretadas são revenidas.
Nos aços não ligados, isto normalmente é feito entre 150 e 180°C e com aços
ligados entre 160 e 200°C.
P á g i n a | 299

A resistência ao desgaste e as características funcionais sob condições


desfavoráveis da camada superficial enriquecida em nitrogênio são melhores e a
resistência após revenimento é maior do que é possível obter com a cementação
convencional. Quanto maior o teor de nitrogênio da camada cementada, maior poderá
ser a temperatura de revenimento escolhida. Como último comentário
sobre o processo da carbonitretação, entenda que ele não é
considerado como processo de nitretação, mas sim de têmpera.
A razão disso é que são difundidas somente pequenas
quantidades de nitrogênio na estrutura, não formando uma camada branca (ou
camada de compostos).
Observe, agora, um exemplo teórico sobre os tratamentos termoquímicos.
Exemplo 11.5: Nos tratamentos termoquímicos de endurecimento superficial
de aços com baixo teor de carbono, há o enriquecimento desses com átomos
intersticiais por um mecanismo de difusão atômica. Nesse contexto, analise as
afirmações abaixo.
I. As reações que ocorrem na cementação são irreversíveis.
II. A nitretação de um aço só ocorre na forma austenítica.
III. No tratamento termoquímico de cianetação, ocorre enriquecimento
superficial de carbono e nitrogênio através de um banho de sal.
IV. A carbonitretação consiste no enriquecimento superficial de carbono e
nitrogênio em uma atmosfera gasosa.
É correto apenas o que se afirma em:

Solução: Apenas as afirmativas III e IV estão corretas; logo alternativa a ser


assinalada "C".

11.9.4 Cianetação

Este último tratamento termoquímico abordado consiste em


aquecer o aço em temperaturas acima da curva A1 (veja figura 11.2),
em um banho de sal fundido, de modo que a superfície do aço absorva
carbono e nitrogênio. Após a têmpera em óleo ou água o aço
desenvolve uma camada dura, resistente ao desgaste. As temperaturas utilizadas
P á g i n a | 300

variam entre 760 a 870ºC e os equipamentos são os mesmos empregados na


cementação líquida. O processo é aplicado usualmente aos aços carbono e baixa liga.
Uma vantagem da cianetação é a menor distorção nas peças produzidas. Com relação
à cementação líquida, a cianetação introduz menos carbono e mais nitrogênio, e a
profundidade da camada cianetada, saiba, caro(a) aluno(a), que os tratamentos de
cianetação implicam no uso de sais tóxicos no estado líquido, exigindo cuidados
especiais de segurança. São realizados mediante a imersão das peças em sais
fundidos contendo cianetos, havendo dupla absorção, de carbono e nitrogênio. Após
tempo adequado as peças cianetadas são temperadas a partir do banho de sais.
Os banhos de sal contêm cianeto de sódio (30 a 97%), carbonato de sódio (2 a
40%) e cloreto de sódio (0 a 30%). Estes dois últimos são mais inertes, adicionados
para controlar o ponto de fusão da mistura e sua fluidez.
A profundidade de penetração do carbono e do nitrogênio e, por consequência
a dureza, variam com a temperatura e com o tempo.
Assista agora uma videoaula para concretizar os
conhecimentos sobre os tratamentos termoquímicos. Neste vídeo
você poderá fixar melhor o que estudamos sobre este assunto.
Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=PgoR5egJtG4&index=5&list=
PLBB675DE5972742E0>.

Você deve ter percebido, caro(a) aluno(a), que esta aula foi um
pouco mais longa que o habitual. Mas saiba que ela é extremamente
importante para que você faça a associação de tudo o que já
aprendemos ao longo de curso. O conhecimento dos tratamentos
térmicos é essencial para o curso de Engenharia.
Por isso, reveja os exemplos, tente resolver todos os exercícios propostos,
pesquise mais sobre o tema e consulte seu tutor a todo momento.
A aula seguinte dará uma continuidade a este assunto, e serão necessários os
conhecimentos adquiridos aqui.

Bons estudos!
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 11

Questão 1. Com suas próprias palavras, descreva de


maneira sucinta os seguintes procedimentos de tratamento
térmico para aços e, para cada um deles, a microestrutura final
que se pretende obter: recozimento, normalização, têmpera e
revenimento.
Questão 2. Como vimos, os tratamentos térmicos são um conjunto de
operações que têm por objetivo modificar as propriedades dos aços e de outros
materiais através de processos que incluem o aquecimento e o resfriamento em
condições controladas. Cite alguns dos principais objetivos que levam ao tratamento
térmico de um aço.
Questão 3. Seguem, abaixo, duas colunas. A primeira apresenta alguns
objetivos relacionados a vários tratamentos térmicos usados para mudar as
propriedades e a microestrutura dos materiais. A segunda, os tratamentos térmicos
aos quais esses objetivos se referem.

Faça a correta relação da primeira coluna com a segunda. Faça a correta


relação da primeira coluna com a segunda.
Questão 4. Os Tratamentos Térmicos consistem em alterar as microestruturas
das ligas metálicas e como consequência as propriedades mecânicas como o
aumento ou diminuição da dureza, aumento da resistência mecânica, melhora da
ductilidade, melhora da usinabilidade, melhora da resistência ao desgaste, melhora
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da resistência à corrosão, melhora da resistência ao calor, melhora das propriedades


elétricas e magnéticas, entre outras propriedades mecânicas. Um estudante de
Engenharia fez a seguinte afirmativa sobre o tratamento térmico de Normalização: “É
um tipo de tratamento que visa aumentar o tamanho de grão e permite a obtenção de
um estado próximo do equilíbrio termodinâmico provocando a formação de estruturas
de ferrita+carbonetos, depois da passagem por um estado total ou parcialmente
austenítico! ” Você concorda com o estudante? Discuta a afirmativa feita por ele.
Questão 5. No tratamento térmico de alívio de tensões, o material sofre um
resfriamento lento após ter permanecido durante certo tempo em temperatura abaixo
daquela crítica. Tal procedimento contribui de maneira decisiva para o aumento da
a) resistência à fadiga.
b) resistência à deformação plástica.
c) condutividade elétrica.
d) condutividade térmica.
e) dureza.
Questão 6. A respeito de tratamento térmico de aços, é incorreto afirmar que
a) o revenido que segue o tratamento térmico de têmpera nos aços tem como
finalidade diminuir tensões internas e a dureza do material, tornando-o mais tenaz e
menos sujeito a empenamento e trincas.
b) recozimento é um tratamento indicado para componentes que sofreram
severo encruamento, e cujo objetivo é aumentar sua ductilidade e tenacidade.
c) toda têmpera deve ser feita em água, para alcançar a microestrutura
desejada.
d) resfriamento em óleo ou banhos de sal são muito utilizados para tratamentos
isotérmicos.
e) tratamentos térmicos de têmpera são pouco efetivos para aços doce.
Questão 7. Cite três fontes de tensões internas residuais em componentes
metálicos. Quais são as duas possíveis consequências adversas dessas tensões?
Questão 8. O que pode ser afirmado sobre a Linha A2 do Diagrama Fe-C?
a) A partir dela o aço inicia a sua solidificação.
b) Corresponde à mudança de estado paramagnético para o ferromagnético do
Fe.
c) É onde ocorre a transformação magnética do ferro CFC.
d) Indica a reação eutetoide da austenita para a ferrita.
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e) Também é conhecida como a Temperatura Curie da Austenita.


Questão 9. Dê as faixas de temperaturas ao longo das quais é possível
austenitizar cada uma das seguintes ligas ferro-carbono durante um tratamento
térmico por normalização:
a) 0,20%p C,
b) 0,76%p C,
c) 0,95%p C
Questão 10. Qual é o propósito de um tratamento térmico de recozimento
subcrítico? Para quais classes de ligas esse tratamento é normalmente utilizado?
Questão 11. O conceito de temperabilidade de um aço é a(o)
a) capacidade dessa liga metálica formar martensita a uma determinada
profundidade em uma peça.
b) medida da variação de dureza entre a superfície e o centro de uma peça.
c) variação da dureza superficial, antes e depois da têmpera.
d) propriedade do aço em poder ou não ser submetido a uma têmpera.
e) percentual de microconstituintes formados a uma determinada profundidade.
Questão 12. A transformação de fase martensítica
a) ocorre, apenas, nos aços, sendo atérmica e adifusional.
b) endurece igualmente qualquer tipo de aço.
c) difunde o carbono no aço, endurecendo-o.
d) forma uma fase do equilíbrio, dura, no diagrama de equilíbrio de fases Ferro-
arbono.
e) não é exclusiva dos aços, sendo atérmica e adifusional.
Questão 13. Cite os três fatores que influenciam o grau segundo o qual a
martensita é formada ao longo de toda a seção reta de uma amostra de aço.
Questão 14. A martensita como temperada é extremamente dura e frágil.
Componentes mecânicos com martensita correm risco de falha estrutural, exceto
quando apresentam baixo teor de carbono. Com o objetivo de otimizar a relação entre
a resistência mecânica e a tenacidade do material, adota-se, após a têmpera, outro
tratamento térmico denominado revenimento. Nessa perspectiva, o revenimento dos
aços.
a) consiste em um aquecimento uniforme do material até uma temperatura de
austenitização, mantendo-o nessa temperatura por tempo suficiente para a obtenção
das propriedades mecânicas desejadas.
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b) fornece condições para haver difusão do carbono, que sairá na condição de


supersaturação para se precipitar como carboneto.
c) promove transformações que podem ser agrupadas em cinco estágios,
sendo que no terceiro (200 a 350ºC) existe a precipitação de cementita, e a martensita
mantém sua tetragonalidade, transformando-se em ferrita.
d) envolve o coalescimento ferrita, entre 350 e 700ºC, que se torna totalmente
esferoidal a 700ºC, após as transformações que ocorrem durante o processo.
e) pode gerar fragilização do material e, neste caso, fragilização no revenido e
fragilização da martensita revenida estão associadas às mesmas características de
mudanças microestruturais.
Questão 15. Agora sabemos que os Tratamentos Térmicos consistem em
alterar as microestruturas das ligas metálicas e como consequência as propriedades
mecânicas como o aumento ou diminuição da dureza, aumento da resistência
mecânica, melhora da ductilidade, melhora da usinabilidade, melhora da resistência
ao desgaste, melhora da resistência à corrosão, melhora da resistência ao calor,
melhora das propriedades elétricas e magnéticas, entre outras propriedades
mecânicas. Compare os processos de austêmpera e martêmpera com a têmpera
convencional.
Questão 16. Elementos de máquinas, tais como, as engrenagens de aço baixo
carbono, podem ter a superfície endurecida por um tratamento termoquímico de
cementação. Normalmente, esse tipo de tratamento é realizado para temperaturas
acima da temperatura de austenitização do material. Considerando que o cálculo do
coeficiente de difusão D segue o modelo de Arrhenius, obtém-se D = Do.exp(-Q/RT).
A solução para a cementação, com base na segunda lei de Fick, satisfaz à
seguinte relação: [(Cx – Co) / (Cs – Co)] = 1 – erf [x/(2√Dt)]
Desse modo, a utilização de uma temperatura maior do tratamento produz
a) uma camada de carbono mais uniforme.
b) um aumento na resistência à corrosão.
c) uma distribuição do tamanho de grão mais uniforme.
d) um tempo menor de cementação.
e) a economia do agente carburante.
Questão 17. (PETROBRÁS-2010) Tratando-se de aços, uma possibilidade de
endurecimento diferenciado entre a superfície e o interior do material consiste no
emprego de tratamentos termoquímicos. Nesses tratamentos, o aumento local de
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dureza está associado com o transporte (difusão) de átomos, principalmente de


carbono (carbonetação), nitrogênio (nitretação) e boro (boretação), de um meio para
a superfície do componente (material hospedeiro). Em relação aos tratamentos
termoquímicos, conclui-se que
a) aços de baixo carbono endurecem mais facilmente por nitretação.
b) aços de alto carbono endurecem mais facilmente por carbonetação.
c) os tratamentos termoquímicos contribuem para o aumento da resistência à
fadiga do material.
d) a profundidade da camada superficial endurecida depende da temperatura,
mas independe do tempo de tratamento.
e) a profundidade da camada superficial endurecida independe da capacidade
do meio em fornecer átomos para o material hospedeiro, mas depende da capacidade
de difusão e solubilidade de tais átomos no material hospedeiro.
Questão 18. Foi indicado para você assistir a pequenos vídeos sobre os
tratamentos térmicos. Um deles retratou os Tratamentos Termoquímicos a que podem
ser submetidos os aços, através da modificação parcial de sua composição química.
Escolha um dos Tratamentos Termoquímicos (cementação, nitretação,
carbonitretação, cianetação) dentre os tipos estudados, e discuta de forma breve.
Aula 12
Aprofundamento nos tratamentos
térmicos

12 INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), agora que nós já discutimos e aprendemos vários dos


principais tipos de tratamentos térmicos e termoquímicos, apresentados na aula
anterior, vamos nos arriscar um pouco mais nos diversos fenômenos que ocorrem em
metais, aços e ligas a temperaturas elevadas.
Vamos aprender que esses fenômenos são eficazes na alteração das
características mecânicas quando são empregados os tratamentos térmicos
apropriados.
Portanto, nesta aula, iremos considerar os detalhes tecnológicos de alguns dos
processos já estudados na aula anterior (relembrando alguns), aprofundando no
entendimento dos procedimentos de recozimento, tratamento térmico de aços e o
endurecimento por precipitação, além de conhecer algumas das microestruturas
resultantes desses procedimentos. Se achar necessário, reveja os vídeos sobre estes
temas que foram indicados na aula anterior.

Bons estudos!
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12.1 Processos de recozimento

Como vimos na seção 4.1 da aula anterior, o termo recozimento


se refere a um tratamento térmico no qual um material é exposto a uma
temperatura elevada por um período de tempo prolongado, sendo ele
então resfriado lentamente. Normalmente, o recozimento é realizado com os objetivos
de
1. aliviar tensões;
2. tornar o material mais mole, dúctil e tenaz; e/ou
3. produzir uma microestrutura específica.

É possível realizar diferentes tratamentos térmicos de recozimento; eles são


caracterizados pelas mudanças que são induzidas, as quais muitas vezes são
microestruturais, e que são responsáveis pela alteração das propriedades mecânicas.
Qualquer processo de recozimento consiste em três estágios, quais sejam:
 aquecimento até a temperatura desejada,
 manutenção ou "encharcamento" naquela temperatura, e
 resfriamento, geralmente até a temperatura ambiente.

Lembre-se, caro(a) aluno(a), que o tempo é um parâmetro


importante nesses procedimentos. Durante o aquecimento e o
resfriamento, existem gradientes de temperatura entre as partes de fora
e de dentro da peça; as suas magnitudes dependem do tamanho e da geometria da
peça. Se a taxa de variação de temperatura for muito grande, podem ser induzidos
gradientes de temperatura e tensões internas que podem levar ao empenamento ou
até mesmo ao trincamento. Ainda, o tempo real de recozimento deve ser longo o
suficiente para permitir quaisquer reações de transformações necessárias.
A temperatura de recozimento também é um importante fator a ser
considerado; o recozimento pode ser acelerado pelo aumento da temperatura, uma
vez que normalmente estão envolvidos processos de difusão (já estudados na aula 5,
você se lembra?!?...).
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12.2 Recozimento intermediário

O recozimento intermediário consiste em um tratamento térmico


usado para anular os efeitos da deformação plástica1 a frio, isto é, para
amolecer e aumentar a ductilidade de um metal que tenha sido
previamente submetido a um processo de encruamento 2. Ele é utilizado geralmente
durante procedimentos de fabricação que exigem uma extensa deformação plástica,
de modo a permitir uma continuidade da deformação sem haver ocorrência de fratura
ou um excessivo consumo de energia.
É permitida a ocorrência de processos de recuperação e de recristalização.
Estes dois termos serão discutidos em tópicos seguintes. Normalmente, deseja-se
obter uma microestrutura com grãos finos, portanto, o tratamento térmico é encerrado
antes que se tenha um crescimento de grão apreciável. A oxidação da superfície ou
escamação pode ser prevenida ou minimizada mediante um processo de recozimento
a uma temperatura relativamente baixa (porém acima da temperatura de
recristalização) ou em uma atmosfera não-oxidante.
1Regime de deformação em que ocorre mudança dimensional permanente,
ocorrido quando se excedem os limites de deformação elástica. Em outras palavras,
é a deformação permanente decorrente do deslocamento de átomos ou moléculas
para novas posições no reticulado.
2Elevação da tensão de escoamento na fase de deformação plástica, ou seja,
é o fenômeno que ocorre no metal com aumento da dureza devido à deformação
plástica (só ocorre a frio). O encruamento causa modificações nas propriedades
mecânicas do material.

12.3 Alívio de tensão

Tensões residuais internas podem se desenvolver em peças metálicas em


resposta ao seguinte:
1. processos de deformação plástica, tais como usinagem e lixamento;
2. resfriamento não-uniforme de uma peça que foi processada ou fabricada a
uma temperatura elevada, tal como em uma solda ou uma fundição; e
3. uma transformação de fases que seja induzida mediante um resfriamento
onde as fases de origem e de produto possuem densidades diferentes.
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Distorção e empenamento podem ocorrer se essas tensões residuais não


forem removidas. Essas tensões residuais podem ser eliminadas através de um
tratamento térmico de recozimento para o alívio de tensões, onde a peça é aquecida
até a temperatura recomendada, mantida a essa temperatura por um tempo suficiente
para se atingir uma temperatura uniforme, e finalmente resfriada ao ar até a
temperatura ambiente. A temperatura de recozimento é normalmente uma
temperatura relativamente baixa, de tal modo que os efeitos que resultam da
deformação plástica a frio e de outros tratamentos térmicos não sejam afetados.
Nos aprofundaremos nesse tipo de tratamento térmico no item 3.3, quando
estivermos tratando do recozimento de ligas ferrosas.

12.4 Recozimento de ligas ferrosas

Como você deve se lembrar, caro(a) aluno(a), diversos procedimentos de


recozimento diferentes são empregados para melhorar as propriedades de ligas de
aço. Entretanto, antes de esses métodos serem discutidos, torna-se necessário fazer
retomar alguns comentários (já feitos na aula anterior) em relação à identificação das
fronteiras entre as fases. A figura 12.1 mostra a parte do diagrama de fases ferro-
carbeto de ferro na vizinhança do eutetoide (lembra-se dela?...). A linha horizontal na
temperatura eutetoide, identificada por convenção como A1, é conhecida
por temperatura crítica inferior, abaixo da qual, sob condições de
equilíbrio, toda a austenita terá se transformado nas fases ferrita e
cementita. As fronteiras entre fases que estão identificadas por A3 e Acm representam
as linhas que compõem a temperatura crítica superior para os aços hipoeutetoides
e hipereutetoides, respectivamente. Para temperaturas e composições acima dessas
fronteiras, somente a fase austenita irá prevalecer. Como foi explicado anteriormente
nas aulas 8 e 10, outros elementos de liga irão deslocar o eutetoide e as posições
dessas linhas de fronteira de fases.
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Figura 12.1: Diagrama de fases ferro-carbeto de ferro na vizinhança do eutetoide, indicando


as faixas de temperatura do tratamento térmico para aços comuns ao carbono.

12.4.1 Normalização

Como vimos na seção 4.2 da aula anterior, caro(a) aluno(a),


a normalização visa refinar a granulação grosseira das peças de aço
fundido principalmente. Com o mesmo objetivo, é também aplicada
em peças depois de laminadas ou forjadas. A normalização é ainda
usada como tratamento preliminar à têmpera e ao revenido, justamente para produzir
microestrutura mais uniforme do que a obtida por laminação, por exemplo, além de
reduzir a tendência ao empenamento e facilitar a dissolução dos carbonetos e
elementos de liga.
Entenda que o aço com grãos grandes tende a apresentar maior
heterogeneidade de propriedades e maior fragilidade; e o refino do grão garante maior
homogeneidade de propriedades, e maior tenacidade. Assim, o tratamento térmico de
normalização consiste no aquecimento do aço até 60ºC acima do limite superior da
zona crítica (A3 ou Acm), sempre garantindo austenitização total do material.
Em seguida, é retirado do forno e deixado resfriar ao ar natural. A estrutura
resultante é de pequenos grãos de ferrita e perlita fina. A figura 12.2 ilustra o
procedimento de normalização, e a figura 12.3 mostra a faixa do diagrama de fases
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Ferro-Carbono na vizinhança do eutetoide, indicando as faixas de temperatura para a


normalização. Esse tratamento é bem mais barato que o de recozimento pleno pois o
forno pode ser desligado logo após o fim do período de austenitização.

Figura 12.2: Influência do tempo e temperatura da normalização no tamanho de grãos.

Figura 12.3: Faixa do diagrama de fases Fe-C na vizinhança do eutetoide, indicando as


faixas de temperatura para a normalização.
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Nos aços-liga, quando os mesmos são resfriados lentamente


após a laminação, os carbonetos tendem a ser maciços e
volumosos, difíceis de se dissolver em tratamentos posteriores de
austenitização. A normalização corrige esse inconveniente.
Os aços-liga hipereutetoides são normalizados para
eliminação total ou parcial dos rendilhados dos carbonetos que caracterizam suas
microestruturas. Obtém-se, assim, uma microestrutura que, num tratamento de
esferoidização posterior, apresenta-se 100% esferoidizada, conferindo boa
usinabilidade ao material e é mais adequada ao tratamento de têmpera.

12.4.2 Recozimento pleno

Relembrando um pouco sobre esse tipo de recozimento, estudado


na seção 4.1.1 da aula anterior, caro(a) aluno(a), vimos que se trata de
um tratamento térmico usado com frequência em aços com teores baixos
e médios de carbono que serão submetidos a usinagem ou que irão experimentar uma
extensa deformação plástica durante uma operação de conformação.
A liga é austenitizada pelo seu aquecimento a até 15 a 40ºC acima das linhas
A3 ou A1, conforme indicado na figura 12.1, até que seja atingida uma condição de
equilíbrio. A liga é então resfriada no próprio forno; isto é, o forno de tratamento
térmico é desligado e tanto o forno como o aço resfriam até a temperatura ambiente
à mesma taxa, um processo que demanda várias horas de resfriamento.
A figura 12.4 representa graficamente o ciclo térmico onde pode-se observar
os três estágios do tratamento (aquecimento, encharcamento e resfriamento).
A temperatura deve ser estabelecida diretamente sobre o diagrama de
equilíbrio Fe-C, quando forem tratados aços comum ao carbono.
Para aços-liga deve-se consultar literaturas específicas.
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Figura 12.4: Ciclo térmico para recozimento pleno ou total.

O produto microestrutural desse recozimento é uma perlita grosseira (além de


qualquer fase proeutetoide), relativamente mole e dúctil. O procedimento de
resfriamento em um recozimento pleno demanda tempo; entretanto, tem-se como
resultado uma microestrutura que possui grãos pequenos e uma estrutura granular
uniforme.

12.4.2.1 Determinação da temperatura de recozimento pleno ou total

O aquecimento do aço para o Recozimento Pleno ou Total deve ser feito com
o objetivo de obter transformação de fase cristalina.
Para tanto, aplica-se a seguinte lógica:
 Para aços hipoeutetoides deve-se somar 50ºC acima da linha A3 (γ).
 Para aços eutetoides deve-se somar 50ºC acima da linha A1 (γ).
 Para aços hipereutetoides deve-se somar 50ºC acima da linha A1 (γ + Fe3C).

Utilizando-se então o diagrama mostrado na figura 12.1, a leitura de


temperatura é feita diretamente sobre o mesmo. Por exemplo, para um aço ABNT
1050 (0,5%p C), têm-se a leitura do diagrama igual a 770ºC obtida sobre a linha de
transformação A3. Deve-se ainda somar 50ºC a este valor, o que resultará numa
temperatura de aquecimento para recozimento Pleno ou Total de 820ºC, conforme
mostrado na figura 12.5. Assim, caro(a) aluno(a), entenda que é necessário saber a
composição do aço para determinar a temperatura de tratamento térmico.
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Figura 12.5: Diagrama de equilíbrio Fe-C com detalhes da determinação de temperatura de


tratamento para um aço ABNT 1050.

12.5 Recozimento para recristalização

É utilizado para corrigir a morfologia dos grãos de metais ou ligas


metálicas que passaram por processos de conformação mecânica a frio.
Como consequência do trabalho de conformação mecânica os grãos
deformam-se e assumem o aspecto alongado, gerando no material características de
aumento de dureza, aumento da resistência mecânica e diminuição da resistência ao
impacto (material encruado). Em algumas situações é conveniente manter-se este
tipo de propriedades, mas na maioria dos casos torna-se indesejável. As temperaturas
de recozimento de recristalização variam conforme o tipo de metal ou liga metálica
que está sendo tratado. Na tabela 12.1 estão identificadas algumas temperaturas de
tratamento e nas figuras 12.6(a) e 12.6(b), aspectos da morfologia dos grãos de um
aço ABNT 1005 antes e depois da recristalização.
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Tabela 12.1: Alguns metais e ligas metálicas com suas respectivas temperaturas de
recristalização.

Figura 12.6: (a) Aço ABNT 1005 encruado, e (b) aço ABNT 1005 recristalizado.

Uma abordagem mais completa e importante sobre a recristalização de um


material será feita na seção 3.7 e seus subitens.

12.6 Recozimento para alívio de tensões

Lembramos, caro(a) aluno(a) que este tratamento não necessita de


temperaturas austeníticas para produzir os resultados esperados. Ele foi abordado no
item 4.1.2 da aula anterior. Nele, o aquecimento é feito em temperaturas subcríticas,
utilizando-se normalmente fornos com circulação forçada de ar (garantindo
homogeneidade de aquecimento), podendo ser resfriado posteriormente ao ar calmo.
É importante observar que esta operação não gera transformações de fase cristalina
como o tratamento de recozimento pleno ou total. As temperaturas empregadas
dependem de cada liga de aço a ser tratada, normalmente em torno de 600ºC,
conforme o ciclo térmico apresentado na figura 12.7.
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Figura 12.7: Ciclo térmico para recozimento de alívio de tensões.

12.7 Recozimento de recristalização x recozimento para alívio de tensões

Um modo relativamente fácil de estudar-se as modificações de propriedades


alcançadas nestes dois tratamentos térmicos é apresentado graficamente na figura
12.8.

Figura 12.8: Gráfico representando a modificação de propriedades de um material


submetido a recozimento de alívio de tensões e recristalização.
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Tenha em mente, caro(a) aluno(a), que essas propriedades serão


amplamente discutidas na próxima aula. Por enquanto, estamos
interessados que você conheça os tipos usuais de tratamentos térmicos
e aprenda a diferenciá-los.

12.8 Cementita globulizada

Os aços com alto teor de carbono % C > 0,8% (por exemplo, aços
para rolamento) apresentam uma rede frágil de cementita ao redor da
perlita. Esta quantidade maior de cementita presente nestes aços torna-os
difíceis de usinar. Para melhorar a usinabilidade destes aços faz-se um tratamento de
esferoidização (também chamado de globulização, visto na seção 4.3 da aula
anterior). Este tratamento produz cementita esferoidal em uma matriz de ferrita,
eliminando a presença de perlita e a rede de carbonetos frágeis anteriormente
existentes na microestrutura. Há várias maneiras de produzir tal estrutura, a saber:
a. aquecimento a uma temperatura logo acima da linha inferior de
transformação, seguindo de esfriamento lento;
b. aquecimento por tempo prolongado a uma temperatura logo abaixo da linha
inferior de zona crítica. Este tratamento é também chamado de “recozimento
subcrítico”;
c. aquecimento e resfriamento alternados entre temperaturas que estão logo
acima e logo abaixo da linha de transformação inferior.

A figura 11.9 destaca as faixas de temperatura para a normalização na faixa do


eutetoide do diagrama de fases Fe-C, e a figura 12.10 (também já vista na aula
anterior) apresenta a microestrutura da 'esferoidita', resultante no tratamento térmico
de esferoidização.
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Figura 12.9: Faixa do diagrama de fases Fe-C na vizinhança do eutetoide, indicando as


faixas de temperatura para a normalização.

Figura 12.10: Fotomicrografia de um aço que possui uma microestrutura de cementita


globulizada. As partículas pequenas são de cementita; a fase contínua consiste em ferrita α.
Ampliação de 1000X.
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Na aula anterior você assistiu a uma vídeoaula que retratava


tratamentos térmicos para 'amolecimento' dos aços, lembra-se?... e o
tratamento de esferoidização foi discutido nesse vídeo. Se você quiser
relembrar, segue acesse o link, e vá para o tempo de 12 min do vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=QHDEpnsbT2U>.

12.9 Sobre os tratamentos de recozimento

Como foi dito, o recozimento é um tratamento térmico


comparável, onde a dureza de uma microestrutura mecanicamente
deformada é reduzida em altas temperaturas. A compreensão dos
detalhes desse desenvolvimento microestrutural fica mais bem compreendidos
quando exploramos quatro termos: trabalho a frio, recuperação, recristalização e
crescimento de grão.

12.9.1 Trabalho a frio

Trabalho a frio significa deformar mecanicamente um metal em


temperaturas relativamente baixas. Esse conceito relaciona o
movimento de discordâncias com a deformação mecânica. A quantidade
de trabalho a frio é definida com relação `a redução na área da seção transversal da
liga por processos como laminação e estiramento. Veja na figura 12.11 essa
demonstração. Observe nessas ilustrações esquemáticas que a redução na área,
causada pela operação de trabalho a frio, está associada à orientação preferencial
dos grãos. A porcentagem de trabalho a frio é dada por:

onde A0 é a área da seção transversal original e Af é a área da seção transversal


final após o trabalho a frio.
A dureza e resistência das ligas são aumentadas com o aumento da % TF, um
processo chamado de endurecimento por encruamento. O mecanismo para esse
endurecimento é a resistência à deformação plástica causada pela alta densidade de
discordâncias produzidas no trabalho a frio (lembre-se das discordâncias estudadas
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na aula 6). A densidade das discordâncias pode ser expressa como o


comprimento das linhas de discordância por unidade de volume (por
exemplo, m/m3 ou unidades líquidas de m-2). Acesse nesse o link para
acompanhar uma interessante representação esquemática do
tamanho de grão recristalizado em função do encruamento prévio:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=12>.

Entenda, caro(a) aluno(a), que uma liga recozida pode ter uma densidade de
discordâncias tão baixa quanto 1010 m-2, com uma dureza correspondentemente
baixa. Uma liga altamente trabalhada a frio pode ter uma densidade de discordâncias
tão alta quanto 1016 m-2, com uma dureza (e resistência) significativamente mais alta.
Uma microestrutura trabalhada a frio aparece na figura 12.11(a). Os grãos
severamente distorcidos são bastante instáveis. Levando a microestrutura a
temperaturas mais altas, onde está disponível uma mobilidade atômica suficiente, o
material pode ser amolecido, e uma nova microestrutura pode surgir.

Figura 12.11: Exemplos de operações de trabalho a frio: (a) laminação a frio de uma barra
ou chapa e (b) estiramento a frio de um fio.

12.9.2 Recuperação

O estágio mais sutil do recozimento é a recuperação. Nela não


ocorre qualquer mudança microestrutural visível. A mobilidade atômica,
porém, é suficiente para diminuir a concentração de defeitos pontuais
dentro dos grãos e, em alguns casos, permitir que as discordâncias se movam para
posições de energia mais baixa. Esse processo gera uma diminuição modesta na
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dureza e pode ocorrer em temperaturas logo abaixo daquelas necessárias para


produzir mudanças microestruturais significativas. Embora o efeito estrutural da
recuperação (principalmente o número reduzido de defeitos pontuais) produza um
efeito modesto no comportamento mecânico, a condutividade elétrica aumenta
significativamente.

12.9.3 Recristalização

O resultado microestrutural da exposição a temperaturas onde a


mobilidade atômica é suficiente para afetar as propriedades mecânicas é
chamado de recristalização e ilustrado drasticamente na figura 12.12(a).
Novos grãos equiaxiais3, livres de tensão, nucleiam em regiões de alta tensão na
microestrutura trabalhada a frio, como mostrado na figura 12.12(b). 3Com dimensões
aproximadamente iguais em todas as direções.
Esses grãos, então, crescem juntos até constituírem a microestrutura inteira,
como mostrado em 12.12(c) e (d). Como a etapa de nucleação ocorre para estabilizar
o sistema, não é surpresa que a concentração de novos núcleos de grãos aumente
com o grau de trabalho a frio. A diminuição na dureza devido ao recozimento é
substancial. Finalmente, a regra prática citada no início desta discussão da
recristalização efetivamente define a temperatura de recristalização. Para
determinada composição da liga, a temperatura precisa de recristalização dependerá
ligeiramente da porcentagem do trabalho a frio. Valores mais altos de % TF
correspondem a graus mais altos de endurecimento por encruamento e temperaturas
de recristalização mais baixas; ou seja, menor fornecimento de energia térmica é
exigido para iniciar a reforma da microestrutura.

12.9.4 Crescimento de grão

A microestrutura desenvolvida durante a recristalização ocorre


espontaneamente. Isso pode ser visto na figura 12.12(d). A
microestrutura recristalizada, porém, contém uma grande concentração de contornos
de grão. Observamos frequentemente, desde a aula X, que a redução dessas
interfaces de alta energia é um método para maior estabilização de um sistema. O
engrossamento das microestruturas recozidas pelo crescimento de grão é um
P á g i n a | 323

exemplo desse tipo. A figura 12.12(e) ilustra o crescimento de grão, que não é
diferente da união de bolhas de sabão, um processo controlado de modo similar pela
redução da área superficial.

Figura 12.12: a) bronze trabalhado a frio (deformado por roletes, de modo que a área da
seção transversal da peça foi reduzida em um terço; (b) aparecimento de novos grãos, após
3 s a 580ºC; (c) muito mais grãos novos surgem, após 4 s a 580ºC; (d) ocorrência da
recristalização completa, após 8 s a 580ºC; (e) ocorrência de substancial crescimento de
grão, após 1 h a 580ºC. Todas as micrografias possuem uma ampliação de 75X.

Acesse ao link para visualizar simulações da etapa de crescimento


de grão:

<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=21>.

Observe agora a figura 12.13; ela mostra que o estágio de crescimento de grão
produz pouco amolecimento adicional da liga. Este efeito está associado
predominantemente à recristalização.
P á g i n a | 324

Figura 12.13: Ilustração esquemática do efeito da temperatura de recozimento sobre a


resistência e a ductilidade de uma liga de bronze.

Veja um exemplo que aborda a associação de algumas propriedades


mecânicas com o trabalho a frio de ligas metálicas.
Exemplo 12.1: Uma barra de latão 70 Cu-30 Zn recozido (10 mm de diâmetro)
é estirada a frio através de uma matriz com um diâmetro de 8 mm. Observando a
figura 12.14 que apresenta a variação das propriedades mecânicas de duas ligas de
latão com o grau de trabalho a frio, determine qual é
(a) o limite de resistência à tração, e
(b) a ductilidade da barra resultante?
P á g i n a | 325

Figura 12.14: Variação das propriedades mecânicas de duas ligas de latão com o grau de
trabalho a frio.

Solução: Os resultados estão disponíveis na figura 12.14, uma vez que a


porcentagem do trabalho a frio é determinada. Essa porcentagem é dada por
𝐴0 −𝐴𝑓
% 𝑇𝐹 = 𝑥 100%
𝐴0

para determinado histórico de processamento,


𝜋 𝜋
(10 𝑚𝑚)2 − (8 𝑚𝑚)2
4 4
% 𝑇𝐹 = 𝜋 𝑥 100% = 36%
(10 𝑚𝑚)2
4

Pela figura 12.14, vemos que:


(a) limite de resistência à tração = 520 MPa, e
(b) ductilidade (alongamento) - 9%

Antes de prosseguir, caro(a) aluno(a), é importante que você


acompanhe uma interessante simulação que relaciona as
propriedades mecânicas, o tamanho de grão e a microestrutura
para uma liga metálica durante a recristalização. Acesse o link:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=21>.

12.10 Tratamento térmico de aços

Os procedimentos convencionais de tratamento térmico para produção de aços


martensíticos envolvem normalmente o resfriamento rápido e contínuo de uma
amostra austenitizada em algum tipo de resfriamento, tal como a água, o óleo ou o ar.
Este tipo de procedimento, como estudado no item 4.4 da aula anterior, é conhecido
como têmpera.
P á g i n a | 326

Para aços comuns ao carbono, as temperaturas de têmpera podem ser obtidas


diretamente sobre o diagrama de equilíbrio Fe-C. A figura 12.15 apresenta a faixa do
diagrama de fases Fe-C na vizinhança do eutetoide, onde são indicadas as faixas de
temperatura para a têmpera.
Para aços-liga a temperatura de têmpera é obtida através de catálogos de
fabricantes de aços ou literaturas especializadas em metalurgia. Isto é necessário
porque a adição de elementos de liga modifica a posição das linhas de transformação
do diagrama de equilíbrio.

Figura 12.15: Faixa do diagrama de fases Fe-C na vizinhança do eutetoide, indicando as


faixas de temperatura para a têmpera.

12.10.1 Martensita

Estudamos o surgimento da martensita na subseção 4.4.3 da aula anterior,


caro(a) aluno(a). Se você se lembra, vimos que é o microconstituinte, ou fase, formado
quando ligas ferro-carbono austenitizadas são resfriadas rapidamente (ou
temperadas) até uma temperatura relativamente baixa (na vizinhança da temperatura
ambiente). Vamos, agora, nos aprofundar um pouco mais e conhecer a tecnologia da
martensita e sua morfologia. O aço, quando aquecido a temperaturas elevadas, têm
P á g i n a | 327

seus átomos de carbono solubilizados na rede cristalina do ferro gama, ou seja, os


espaços interatômicos desta rede, sendo maiores, permitem que o átomo intersticial
(C) se movimente entre os átomos de ferro. Quando esta estrutura é resfriada
rapidamente, não existe tempo para o átomo de carbono sair da posição intersticial e
formar carbonetos. O que ocorre é simplesmente uma passagem do cristal de ferro
gama para ferro alfa, formando a martensita. Portanto, a martensita nada mais é do
que uma solução supersaturada de carbono em ferro alfa. Estudos mais recentes
comprovam que o reticulado cristalino formado na têmpera não é cúbico, mas sim
tetragonal, formado a partir da distorção causada pelo átomo de carbono nos
interstícios do reticulado CCC, conforme mostra a figura 12.16. Esta figura destaca
em (a) uma célula CFC (austenita) com átomo intersticial no seu interior, em (b) a
célula CCC (ferrita) sem átomo intersticial, e em (c) uma célula TCC (martensita) com
átomo intersticial representando a supersaturação de carbono no ferro alfa que ocorre
na têmpera.

Figura 12.16: (a) Célula CFC (austenita) com átomo intersticial, (b) célula CCC (ferrita) sem
átomo intersticial, e (c) célula TCC (martensita) com átomo intersticial.

A figura 12.17 ilustra o ciclo térmico de têmpera, destacando as transformações


no retículo cristalino durante o processo.
P á g i n a | 328

Figura 12.17: Ciclo térmico para têmpera.

Uma técnica comum para ajustar as propriedades


mecânicas de um aço consiste em se produzir, primeiro, um
material completamente martensítico pelo resfriamento rápido.
Então, esse aço pode ser transformado em algo menos frágil com
um cuidadoso reaquecimento até uma temperatura onde é
possível a transformação para as fases de equilíbrio α e Fe3C. Com o reaquecimento
por um curto período de tempo em uma temperatura moderada, obtém-se um produto
de alta dureza e baixa ductilidade. O reaquecimento por tempos maiores resulta em
maior ductilidade (devido à menor quantidade de martensita). Esse processo
convencional é conhecido como revenido (ou revenimento), também visto na aula
anterior (item 4.5). A microestrutura α + Fe3C produzida pela têmpera é diferente da
perlita, destacada na figura 8.2 (aula 8) e para a bainita, como será visto na figura
12.19, o que não é surpresa à luz das transformações fundamentalmente diferentes
envolvidas. Perlita e bainita são formadas pelo resfriamento da austenita, uma solução
sólida cúbida de face centrada. A microestrutura da martensita revenida é formada
pelo aquecimento da martensita, uma solução sólida tetragonal de corpo centrado de
Fe e C. A morfologia mostrada na figura 12.18 mostra que o carbeto se uniu em
partículas isoladas em uma matriz de ferrita.
P á g i n a | 329

Figura 12.18: Microestrutura da martensita revenida. Ampliação de 825X.

12.11 Bainita

A formação da perlita é encontrada desde a temperatura autetoide (727ºC) até


cerca de 400ºC. Abaixo de 400ºC, a microestrutura perlítica não é mais formada. A
ferrita e a cementita se formam como agulhas extremamente finas em uma
microestrutura conhecida como bainita (figura 12.19), que representa uma
distribuição ainda mais fina da ferrita e da cementita do que na perlita fina. Embora
uma morfologia diferente seja encontrada na bainita, a tendência geral da estrutura
mais fina, com a diminuição da temperatura, continua.
A figura 12.19 mostra a microestrutura da bainita, destacando agulhas
extremamente finas de Fe α e Fe3C, em contraste com a estrutura lamelar da perlita.

Figura 12.19: Microestrutura da bainita. Ampliação de 535X.


P á g i n a | 330

Como último comentário sobre a bainita, caro(a) aluno(a), saiba que ela
apresenta algumas variações estruturais. Não vamos aprofundar aqui sobre essas
variações, mas um breve comentário é importante. A chamada “bainita superior”, em
aços hipoeutetoides, apresenta-se como uma pilha de tiras ou agulhas de ferrita; o
excesso de carbono que resulta da transformação da austenita, fica acumulado nesta
austenita, sendo que uma parcela desta, enriquecida de carbono da austenita, na
forma de cementita, resultando um agregado não lamelar
de ferrita e cementita, o qual constitui a “bainita”. E
também a chamada “bainita inferior”, que forma-se a
temperaturas abaixo de aproximadamente 350ºC. Sua
estrutura difere da correspondente à bainita superior. No
lugar de tiras de ferrita, surgem placas. A fase carboneto
que se forma inicialmente é epsilon e não propriamente a
Edgar Collins Bain
cementita. Contudo, durante o tempo que o aço fica na (1891-1971),
metalurgista norte-
temperatura de formação da bainita, esse epsilon muda americano, descobriu a
microestrutura que
para cementita. Essa mudança depende do teor de liga agora recebe seu nome.
Suas muitas realizações
presente nos aços. no estudo dos aços o
tornaram um dos
metalurgistas mais
12.12 Austêmpera e Martêmpera homenageados de sua
geração.

Como vimos na aula anterior, existem maneiras de evitar o problema com o


resfriamento convencional durante o tratamento de têmpera e revenimento, que pode
fazer com que a peça venha se deformar e trincar devido ao resfriamento desigual
durante essa etapa. Vamos então nos aprofundar nesse assunto.

12.12.1 Austêmpera

Este tratamento tem substituído, em diversas aplicações, a


têmpera e o revenido. Baseia-se no conhecimento dos diagramas de fase
e aproveita as transformações da austenita que podem ocorrer a
temperatura constante. Por esse motivo, a austenita é considerada um
tratamento isotérmico. O constituinte que se origina na austêmpera, pelo esfriamento
da austenita a uma temperatura constante é a bainita, que como vimos no item 4.2,
tem propriedades idênticas, senão mesmo superiores, às das estruturas martensíticas
P á g i n a | 331

revenidas. As estruturas bainíticas obtidas na austêmpera, caracterizam-se pela


excelente ductilidade e resistência ao choque, com durezas elevadas.
Como nesse tratamento evita-se a formação direta da martensita, eliminam-se
os inconvenientes que essa estrutura apresenta quando obtida pela têmpera direta e
que são somente eliminados pelo posterior revenido. O aço é austemperado mediante
a seguinte sequência de operações e transformações:
a. aquecimento a uma temperatura dentro da faixa de austenitização -
geralmente de 785 a 870ºC;
b. resfriamento em um banho mantido a uma temperatura constante,
geralmente entre 260 e 400ºC;
c. permanência no banho a essa temperatura, para promover,
isotermicamente, a transformação da austenita em bainita;
d. resfriamento até a temperatura ambiente, geralmente em ar tranquilo.

A figura 12.20 ilustra transformação bainítica em função da temperatura e do


tempo, como descrito.

Figura 12.20: Influência do tempo e temperatura na formação da bainita durante o


tratamento de austêmpera.

Para assegurar uma completa transformação da austenita em bainita, o


material deve ser resfriado a partir da temperatura de austenização até a temperatura
do banho de austêmpera muito rapidamente para evitar que outra transformação da
austenita que não em bainita. A grande vantagem da austêmpera se deve ao fato de
que, devido à estrutura bainítica formar-se diretamente da austenita, as tensões
P á g i n a | 332

internas resultantes são muito menores; consequentemente, praticamente não há


distorção ou empenamento, e, do mesmo modo, a possibilidade de aparecimento de
fissuras de têmpera é quase que completamente eliminada.
Entretanto, nem todos os tipos de aço, assim como nem todas as seções de
peças, apresentam resultados positivos da austêmpera. No que se refere aos tipos de
aço, os mais convenientes para a austêmpera são, em linhas gerais, os seguintes:
a. aços-carbono comuns, contendo (0,50 a 1,00% de carbono e um mínimo de
0,60% de manganês;
b. aços-carbono de alto-carbono, contendo mais do que 0,90% de carbono e,
possivelmente, um pouco menos do que 0,60% de manganês;
c. certos aços-carbono (como, por exemplo, o 1041), com carbono abaixo de
0,50 %, mas com manganês na faixa 1,00 a 1,65%;
d. certos aços-liga, de baixo teor em liga (tais como a série 5100) contendo
carbono acima de 0,30% os aços das séries 1300 a 4000 com teores de carbono
acima de 0,40 %; e outros aços como 4140, 6145 e 9440.

O banho de austêmpera mais indicado e usado é em sal fundido,


constituído essencialmente de nitratos de sódio e de potássio, e
eventualmente nitrato de sódio porque transfere calor rapidamente. Sua
viscosidade é uniforme numa larga faixa de temperatura, eliminando
virtualmente o problema de uma barreira de vapor durante o estágio inicial do
resfriamento, permanecendo estável às temperaturas de operação e é completamente
solúvel em água, facilitando assim as operações subsequentes de limpeza.
A aplicação do tratamento de austêmpera é feita em peças fabricadas a partir
de barras de pequeno diâmetro ou de tiras e chapas de pequena espessura. Aplica-
se em particular em peças de pequena seção de aço-carbono exigindo uma
tenacidade excepcional. Entretanto, devemos entender que, muitas vezes, é mais
importante que a austêmpera produza nas peças as desejadas e esperadas
propriedades mecânicas, do que uma estrutura inteiramente bainítica.
A bainita apresenta algumas variações estruturais. A chamada “bainita
superior”, em aços hipoeutetoides, apresenta-se como uma pilha de tiras ou agulhas
de ferrita; o excesso de carbono que resulta da transformação da austenita, fica
acumulado nesta austenita, sendo que uma parcela desta, enriquecida de carbono da
austenita, na forma de cementita, resultando um agregado não lamelar de ferrita e
P á g i n a | 333

cementita, o qual constitui a “bainita”. A chamada “bainita inferior” forma-se a


temperaturas abaixo de aproximadamente 350ºC. Sua estrutura difere da
correspondente à bainita superior.

12.12.2 Martêmpera

Esse tratamento é usado para diminuir a distorção ou empenamento passíveis


de serem produzidos durante o resfriamento rápido de peças de aço. Assim, a
martêmpera é usada principalmente para diminuir a possibilidade de empenamento
das peças. Nós tratamos dele rapidamente na aula anterior, se lembra caro(a)
aluno(a)?...
Quando a endurecibilidade do aço é adequada, a aplicação da
martêmpera resulta em controle dimensional melhor do que mediante
resfriamento convencional por têmpera, visto que as variações
dimensionais são mais uniformes. Do mesmo modo, desenvolve-se menor quantidade
de tensões residuais do que na têmpera convencional. Assim, a formação da
martensita se dá de modo bastante uniforme através de toda seção da peça, durante
o resfriamento até a temperatura ambiente, evitando-se, como consequência, a
formação de excessiva de tensões residuais.
Esse tipo de têmpera compreende a seguinte sequência de operações:
a. aquecimento a uma temperatura dentro da faixa de austenização;
b. resfriamento em óleo quente ou sal fundido mantido a uma temperatura
correspondente parte superior (ou ligeiramente acima) da faixa martensítica;
c. manutenção no meio de resfriamento até que a temperatura através de toda
a seção do aço se torne uniforme;
d. resfriamento (geralmente no ar) a velocidade moderada, de modo a prevenir
qualquer grande diferença de temperatura entre a parte externa e a parte interna da
seção.

A figura 12.21 posterior destaca o tratamento de martêmpera. Perceba que


nesse caso também ocorre o subsequente tratamento de revenimento (revenido) da
peça martemperada.
P á g i n a | 334

Figura 12.21: Influência do tempo e temperatura na formação da bainita durante o


tratamento de martêmpera.

Como na austêmpera, na martêmpera também se deve levar em conta a


espessura ou seção das peças a serem tratadas. Entretanto, para algumas aplicações
não é absolutamente necessária uma estrutura inteiramente martensítica. O processo
de martêmpera depende - como, aliás, qualquer outro tipo de tratamento térmico - de
um número de variáveis, que devem ser rigorosamente controladas, tais como, a
temperatura de austenitização, que entre outros fatores afeta a própria temperatura
correspondente ao início de formação da martensita. O processo da martêmpera é
frequentemente chamado também de “têmpera interrompida”.
Há um processo de martêmpera, que é chamado martêmpera modificada, o
qual difere da martêmpera convencional pelo fato da temperatura do banho de
martêmpera ser baixa. Por esse processo, conseguem-se velocidades de
resfriamento mais rápidas, o que é importante para aços de endurecibilidade inferior.
Nessas condições, a martêmpera modificada é aplicada a uma maior quantidade de
composições de aço.
Com dissemos, caro(a) aluno(a), talvez nesse ponto seja importante você
assistir novamente o vídeo indicado na aula anterior que discutia sobre austêmpera e
martêmpera.
Aproveite para fazer uma pausa.
Um bom café o ajudará a retornar com ânimo renovado.
P á g i n a | 335

12.12.3 Endurecibilidade

A influência da composição da liga sobre a habilidade de uma liga de aço em


se transformar em martensita para um tratamento de têmpera específico está
relacionada a um parâmetro que é conhecido por endurecibilidade. Para cada liga
de aço diferente existe uma relação específica entre as propriedades mecânicas e a
taxa de resfriamento. "Endurecibilidade" é um termo usado para descrever a
habilidade de uma liga de ser endurecida pela formação de martensita como resultado
de um dado tratamento térmico. Mas atenção, caro(a) aluno(a), a endurecibilidade não
é o mesmo que "dureza", significando esta última uma resistência à impressão; ao
contrário, a endurecibilidade é uma medida qualitativa da taxa segundo a qual a
dureza cai em função da distância ao se penetrar no interior de uma amostra como
resultado do menor teor de martensita.
Uma liga de aço que possui uma endurecibilidade elevada é uma
liga que endurece, ou forma martensita, não apenas na sua superfície,
mas em elevado grau também ao longo de todo o seu interior. No restante
desta aula, encontraremos diversos tratamentos com a finalidade principal de afetar a
dureza de uma liga metálica. E, é importante saber que uma comparação sistemática
do comportamento dos diferentes aços precisa levar em consideração a enorme
variedade de composições dos aços comerciais; ou seja, a capacidade relativa de um
aço ser endurecido pelo resfriamento. Felizmente, um experimento relativamente
simples tornou-se padrão para a indústria fornecer essa comparação sistemática: o
ensaio Jominy. Vamos estudá-lo?

12.12.4 Ensaio Jominy

O ensaio Jominy da extremidade temperada4 consiste num procedimento


padrão amplamente utilizado para determinar a endurecibilidade. Nesse
procedimento, à exceção da composição da liga, todos os demais fatores que podem
influenciar a profundidade até a qual uma peça endurece (isto é, o tamanho e a forma
da amostra, e o tratamento por têmpera) são mantidos constantes. Veja a figura 12.21.
4Norma ASTM A255, "Método de Ensaio Padronizado para Ensaio da
Extremidade Temperada para a Endurecibilidade de Aços".
P á g i n a | 336

Figura 12.22: Ilustração esquemática do ensaio Jominy da extremidade temperada para a


endurecibilidade.

Vamos descrever mais detalhadamente este ensaio, caro(a) aluno(a). Uma


barra de aço de tamanho padrão (25 mm de diâmetro por 100 mm de comprimento) é
levada à temperatura de austenitização e, então, após ser retirado do forno e montado
rapidamente sobre um suporte, uma de suas extremidades é exposta a um jato de
água. Dessa forma, a taxa de resfriamento assume um valor máximo na extremidade
que está sendo temperada, diminuindo em função da posição desde esse ponto e ao
longo do comprimento do corpo de prova. Para praticamente todos os aços carbono
e de baixa liga, esse processo de resfriamento padrão produz um gradiente de taxa
de resfriamento comum ao longo da barra de Jominy, pois as propriedades térmicas
(por exemplo, condutividade térmica) são quase idênticas para essas várias ligas.
Devemos entender que para que este ensaio tenha êxito é importante que
alguns cuidados sejam observados ao executar-se o tratamento térmico, tal como
segue:
 Período de tempo entre a retirada do corpo de prova do forno e início da
têmpera pela água deve ser no máximo 5 segundos;
 O dispositivo de têmpera deve estar seco;
 Acionamento do dispositivo de abertura rápida da água, dando início a
têmpera;
 Evitar agitação do ar ambiente em torno do corpo de prova;
 Deixar a água fluir durante no mínimo 10 minutos sob a superfície do corpo
de prova;
P á g i n a | 337

 Decorrido o período de tempo previsto no item anterior, considerar terminada


a têmpera, podendo então o corpo de prova ser indiferentemente mergulhado em água
ou deixado ao ar até atingir a temperatura ambiente.
Após a peça ter resfriado até a temperatura ambiente, chanfros achatados com
0,4 mm de profundidade são cortados ao longo do comprimento do corpo de provas,
e são realizadas medições de dureza para os primeiros 50 mm ao longo de cada
chanfro achatado; para os primeiros 12,8 mm, as leituras de dureza são tiradas em
intervalos de 1,6 mm, enquanto par os demais 38,4 mm as leituras são tomadas a
cada 3,2 mm. A figura 12.22 ilustra este procedimento. Uma curva de endurecibilidade
é produzida quando a dureza é plotada como uma função da posição a partir da
extremidade temperada (figura 12.23). Discutiremos, a seguir, sobre essas curvas de
endurecibilidade.

Figura 12.23: Diagrama esquemático de um corpo de prova para ensaio Jominy da


extremidade temperada, (a) montado durante a têmpera, e (b) após ensaio de dureza a
partir da extremidade temperada ao longo de um trecho plano e polido.
P á g i n a | 338

Figura 12.24: Curva esquemática de um corpo de prova após ensaio Jominy a partir da
extremidade temperada.

12.12.5 Curvas de endurecibilidade

Uma curva de endurecibilidade típica está representada na figura


12.24. A extremidade temperada é resfriada mais rapidamente e exibe a
maior dureza; para a maioria dos aços, o produto nessa posição é 100%
de martensita. A taxa de resfriamento diminui em função do aumento da distância até
a extremidade resfriada, e a dureza também diminui, como está indicado na figura.

Figura 12.25: A taxa de resfriamento para a barra de Jominy variando ao longo de sua
extensão.
P á g i n a | 339

Um gráfico semelhante, comparando diversos aços, é mostrado na figura


12.25, que relaciona as curvas de endurecibilidade para cinco ligas de aço diferentes,
todas com 0,40%p C porém contendo quantidades diferentes de outros elementos de
ligas. Aqui podem ser feitas comparações de endurecibilidade, em que ela
corresponde à magnitude relativa da dureza ao longo da barra de Jominy, pois, de
forma geral, um aço que é muito endurecível irá reter grandes valores de dureza ao
longo de distâncias relativamente longas; um aço pouco endurecível não irá reter
grandes valores de dureza. Além disso, cada liga de aço possui a sua própria e
exclusiva curva de endurecibilidade.

Figura 12.26: Curvas de endurecibilidade para diversos aços com o mesmo conteúdo de
carbono (0,40%p) e diversos teores de elementos de liga.

Os perfis de dureza mostrados nesta figura são indicativos da


influência da taxa de resfriamento sobre a microestrutura.
Provavelmente, a característica mais significativa dessas curvas é o
seu formato, que se relaciona com a endurecibilidade. Nesse caso,
por exemplo, todas as cinco ligas possuem durezas idênticas na
extremidade temperada; essa dureza é função exclusivamente do teor de carbono, e
que, nesse caso, é o mesmo para todas essas ligas.
P á g i n a | 340

Esta dependência do teor de carbono está demonstrada na figura 12.26 para


uma série de aços-liga onde somente a concentração de carbono é variada. A dureza
em qualquer posição Jominy aumenta em função do aumento da concentração de
carbono.

Figura 12.27: Curvas de endurecibilidade para quatro ligas da série 8600 contendo a
concentração de carbono indicada.

Veja agora um interessante exemplo abordando a curva de endurecibilidade


para diversos aços com o mesmo conteúdo de carbono (0,40%p) e diversos teores de
elementos de liga.
Exemplo 12.2: Uma medida de dureza é feita em um ponto crítico em uma forja
de eixo de trailer de aço 4340. O valor de dureza é 45 na escala Rockwell C, com base
na figura 12.25 que mostra a curva de endurecibilidade para esse aço. Determine que
taxa de resfriamento foi experimentada pela forja no ponto em questão?
P á g i n a | 341

Solução: Usando a figura 12.25, vemos que um ensaio Jominy da extremidade


temperada nessa liga produz uma dureza de Rockwell C45 em 22/16 pol. da
extremidade temperada, que é igual a:
22 𝑚𝑚
𝐷𝑞𝑒 = 𝑝𝑜𝑙. 𝑥 25,4 = 35 𝑚𝑚
16 𝑝𝑜𝑙.
Voltando à figura 12.24, que se aplica a aços carbono e de baixa liga, vemos
que a taxa de resfriamento foi de aproximadamente:
4ºC/s (a 700ºC)
Nota: Para ser mais exato na resposta a uma pergunta como esta, é apropriado
consultar um gráfico da 'banda de dureza' de uma série de ensaios de Jominy na liga
em questão. Para a maior parte das ligas, existe um considerável intervalo de dureza
que pode ocorrer em determinado ponto ao longo de Dqe

12.12.6 Influência do meio de resfriamento, do tamanho e da geometria da


amostra

O tratamento anterior da endurecibilidade discutiu a influência tanto da


composição da liga como da taxa de resfriamento ou de têmpera sobre a dureza. No
entanto, caro(a) aluno(a), a taxa de resfriamento de uma amostra depende da taxa de
extração de energia térmica, a qual, por sua vez, é uma função das características do
meio de resfriamento que está em contato com a superfície da amostra, bem como do
tamanho e da geometria da amostra.
A "severidade da têmpera" é um termo usado com frequência para
indicar a taxa de resfriamento; e, de fato, quanto mais rápido for o
resfriamento, mais severa a têmpera. Dos três meios de resfriamento
mais comuns - água, óleo e ar -, a água produz o resfriamento mais severo, seguida
pelo óleo, que por sua vez é mais eficaz do que o ar. O grau de agitação de cada meio
também influencia a taxa de remoção de calor. O aumento da velocidade do meio de
resfriamento ao longo da superfície da amostra melhora a eficácia da têmpera. As
têmperas realizadas em óleo são adequadas para o tratamento térmico de muitos
aços-liga. De fato, para aços com maiores teores de carbono, uma têmpera em água
é muito severa, pois podem ser produzidas trincas ou empenamento. O resfriamento
ao ar de aços comuns ao carbono austenitizados produz, normalmente, uma estrutura
que é quase que exclusivamente perlítica.
P á g i n a | 342

Durante a têmpera de uma amostra de aço, a energia térmica deve ser


transportada para a superfície antes que ela possa ser dissipada para o interior do
meio de resfriamento. Como consequência, a taxa de resfriamento dentro e ao longo
de todo o interior de uma estrutura de ao varia de acordo com a posição e depende
da geometria e do tamanho do material. As figuras 12.27(a) e 12.27(b) mostram a taxa
de resfriamento (a 700ºC) para barras cilíndricas como uma função do diâmetro, em
quatro posições radiais diferentes (na superfície, a três quartos do raio, na metade do
raio e no centro). A têmpera se processa em água, figura 12.27(a), e em óleo,
12.27(b), com agitação moderada; a taxa de resfriamento também está expressa em
termos da distância Jominy equivalente, uma vez que esses dados são usados com
frequência em conjunção com as curvas de endurecibilidade.

Figura 12.28: Taxa de resfriamento como uma função do diâmetro em diferentes posições
para barras cilíndricas temperadas em (a) água e (b) óleo em meio moderadamente agitado.

No que se refere à forma da amostra, uma vez que a energia térmica é


dissipada para o meio de resfriamento na superfície da amostra, a taxa de
P á g i n a | 343

resfriamento para um tratamento de têmpera em particular depende da razão da área


superficial sobre a massa da amostra. Quanto maior essa razão, mais rápida será a
taxa de resfriamento e, consequentemente, mais profundo será o efeito de
endurecimento. Formas irregulares com arestas e cantos possuem razões superfície-
massa maiores do que a formas regulares e arredondadas (por exemplo, esferas e
cilindros), e são, portanto, mais sensíveis ao endurecimento por têmpera.
Antes de continuar, caro(a) aluno(a), observe um exemplo que aborda a taxa
de resfriamento como uma função do diâmetro em diferentes posições para barras
cilíndricas temperadas em óleo em meio moderadamente agitado.
Exemplo 12.3: Uma peça cilíndrica de aço com 25 mm (1,0 pol.) de diâmetro
deve ser temperada em óleo sob agitação moderada. As durezas superficiais e no
centro da peça devem ser de pelo menos 55 e 50 HRC, respectivamente. Com base
na figura 12.27(b), determine quais das seguintes ligas irão satisfazer essas
exigências: 1040, 5140, 4340, 4140 e 8640? Justifique a sua seleção.
Solução: De acordo com a figura 12.27(b), em óleo moderadamente agitado
as distâncias equivalentes a partir do final para uma barra de 1 pol. de diâmetro, nas
posições de superfície e de centro são 3 mm (1/8 pol.) e 8 mm (11/32 pol.),
respectivamente. As durezas nessas duas posições para as ligas citadas,
determinadas usando a figura 12.27(b), são dadas na tabela:

Tabela 12.2

Assim, as ligas 4340, 4140 e 8640 irão satisfazer os critérios para ambas as
durezas, superficial e central.
P á g i n a | 344

12.13 Endurecimento por precipitação e por solubilização (envelhecimento)

A resistência e a dureza de algumas ligas metálicas podem ser


melhoradas pela formação de partículas extremamente pequenas e
uniformemente dispersas de uma segunda fase no interior da matriz da
fase original; isso deve ser obtido mediante tratamentos térmicos apropriados. O
processo é conhecido por endurecimento por precipitação, pois as pequenas
partículas da nova fase são conhecidas por "precipitados". O termo "endurecimento
por envelhecimento" também é usado para designar esse procedimento, pois a
resistência se desenvolve ao longo do tempo ou à medida que a liga envelhece, como
será descrito mais à frente. Exemplos de ligas que são endurecidas por tratamentos
de precipitação incluem as ligas alumínio-cobre, cobre-berílio, cobre-estanho e
magnésio-alumínio; algumas ligas ferrosas também são endurecíveis por
precipitação.
É bom que você entenda, caro(a) aluno(a), que o endurecimento por
precipitação e o tratamento de aços para formar martensita revenida são fenômenos
totalmente diferentes, embora os procedimentos do tratamento térmico sejam
semelhantes. Dessa forma, os processos não devem ser confundidos. A figura 12.28
mostra a ilustração mais comum, encontrada no sistema alumínio-cobre. Percebemos
a extremidade rica em alumínio no diagrama de fases Al-Cu, com a microestrutura
que se desenvolve no resfriamento lento. Quando os precipitados são relativamente
grosseiros e isolados nos contornos de grãos, pouco endurecimento é produzido pela
presença da segunda fase.
P á g i n a | 345

Figura 12.29: Precipitados grosseiros formando-se em contornos de grão em uma liga Al-Cu
(4,5%p) quando resfriados lentamente da região monofásica (k) do diagrama de fases para
a região de duas fases θ + k.

Uma história térmica substancialmente diferente aparece na figura 12.29. Aqui,


a microestrutura grosseira é, primeiro, reaquecida para a região monofásica (k), o que
é adequadamente chamado de tratamento de solubilização. Depois, a estrutura
monofásica é resfriada até a temperatura ambiente, na qual a precipitação é muito
lenta e a solução sólida supersaturada permanece como uma fase metaestável. No
reaquecimento para alguma temperatura intermediária, a difusão em estado sólido
dos átomos de cobre no alumínio é suficientemente rápida para permitir a formação
de uma dispersão fina de precipitados. Esses precipitados são barreiras de
discordâncias eficazes e levam a um endurecimento substancial da liga. Como essa
precipitação leva tempo, como já dissemos, tal processo também é chamado de
endurecimento por envelhecimento.
A figura 12.30 ilustra o superenvelhecimento, onde o processo de
precipitação é continuado por tanto tempo que os precipitados têm oportunidade de
se unir em uma dispersão mais grosseira. Essa dispersão é menos eficaz como uma
barreira de discordâncias.
P á g i n a | 346

Figura 12.30: Dispersão fina de precipitados formando-se dentro dos grão de k para uma
liga de Al-Cu (4,5%p) resfriada rapidamente (temperada) e depois reaquecida.

Figura 12.31: (a) Superenvelhecimento no endurecimento de uma liga. (b) Variação na


dureza com a duração da etapa de reaquecimento (tempo de envelhecimento).

12.13.1 Considerações

Algumas considerações sobre o que foi discutido nesta aula são importantes.
Uma delas é que os efeitos combinados de encruamento e endurecimento por
precipitação podem ser empregados em ligas de alta resistência. A ordem desses
procedimentos de endurecimento é importante na produção de ligas que possuem a
combinação ótima de propriedades mecânicas. Normalmente, a liga é tratada
termicamente por solubilização e então temperada. Isso é seguido por deformação
P á g i n a | 347

plástica a frio e, finalmente, pelo tratamento térmico de endurecimento por


precipitação. No tratamento final, uma pequena perda de resistência é experimentada
como resultado da recristalização. Se a liga for endurecida por precipitação antes de
ser submetida a uma deformação plástica a frio, mais energia deverá ser gasta na sua
deformação; adicionalmente também poderão ocorrer trincas devido a uma redução
na ductilidade que acompanha o processo de endurecimento por precipitação.
A maioria das ligas submetidas a endurecimento por precipitação está limitada
pelas suas temperaturas máximas de serviço. A exposição a temperaturas nas quais
ocorre o envelhecimento pode levar a uma perda de resistência devido a
superenvelhecimento.
Para encerrar esta aula com chave de ouro, caro(a) aluno(a), assista
agora a um vídeo que retrata os tratamentos térmicos e
termoquímicos nos aços e ferros fundidos preparado pela
UNIVESP. Este vídeo irá auxiliá-lo muito na associação destas
técnicas abordadas nas aulas 11 e 12 com o que já havíamos aprendido sobre
os metais e suas ligas ao longo de nosso curso. Acesse o endereço
eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=5XYbfGbiTFM>.

Não se esqueça de consultar o material que consta nas referências


bibliográficas, pois lá você encontrará várias maneiras de reforçar a
aprendizagem do nosso conteúdo, e também de tentar resolver os exercícios
propostos.
Resumo

Caro(a) aluno(a), nestas duas últimas aulas discutimos alguns dos tratamentos
térmicos usados para moldar as propriedades mecânicas de ligas metálicas.
Estudamos que o processo de exposição a uma temperatura elevada por um período
de tempo prolongado seguido pelo resfriamento até a temperatura ambiente, a uma
taxa relativamente lenta, é conhecido por recozimento; sendo vários tratamentos
específicos de recozimento discutidos de maneira sucinta. Além disso, vimos também
alguns tratamentos térmicos para 'endurecimento' dos aços, e algumas
microestruturas produzidas durante esses procedimentos. E vimos também que:
 Durante o recozimento intermediário, uma peça que foi submetida a uma
deformação plástica é tornada mais mole, porém também mais dúctil, como
consequência da recristalização;
 Tensões internas residuais que tenham sido introduzidas no material são
eliminadas durante um recozimento para alívio de tensões;
 O trabalho a frio envolve a deformação mecânica de uma liga em uma
temperatura relativamente baixa; e em combinação com o recozimento, o trabalho a
frio fornece um vasto controle sobre o comportamento mecânico;
 Em ligas ferrosas, a normalização é usada para refinar e aprimorar a
estrutura dos grãos.
 Se a austenita for resfriada em um resfriamento suficientemente rápido,
ocorrerá uma transformação sem difusão, ou martensítica. O produto será uma
solução sólido metaestável supersaturada de C e Fe, conhecida como martensita.
 A microestrutura martensítica é convertida em martensita revenida durante
um tratamento térmico de revenimento;
 A endurecibilidade é um parâmetro usado para avaliar a influência da
composição sobre a suscetibilidade à formação de uma estrutura predominantemente
martensítica durante um tratamento térmico específico;
 A determinação da endurecibilidade é conseguida através do ensaio Jominy
da extremidade temperada, que é padronizado, a partir do qual as curvas de
endurecibilidade são geradas;
 A martêmpera é um tratamento térmico ligeiramente diferente, em que o aço
é resfriado até um pouco acima da temperatura para início da transformação
martensítica e, depois, resfriado lentamente através da região martensítica;
 Na austêmpera novamente o resfriamento é interrompido próximo à região
martensítica, mas nesse caso, a austenita resfriada é mantida por um tempo suficiente
para a formação da bainita.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 12

Questão 1. A figura ilustra a representação esquemática de diferentes ciclos


de tratamento térmico, relacionando a temperatura de tratamento versus a
composição em %C. Identifique quais regiões assinaladas indicam o
tratamento de Normalização e Esferoidização, respectivamente.

Questão 2. Analise as três imagens de um aço ABNT 1028 obtidas através de


micrografia, apresentadas a seguir.
P á g i n a | 351

A sequência de amostras que indica, respectivamente, o material em seu


estado obtido após o lingotamento, um tratamento térmico de normalização e um
tratamento térmico de coalescimento é

Questão 3. Após observar o diagrama abaixo que retrata da dureza em função


do tempo e temperatura de tratamento térmico para amostras de aço, um estudante
de Engenharia fez a seguinte afirmativa: "A martensita revenida é quase tão dura
quanto a martensita. Como o revenido envolve difusão do carbono, quanto menor a
temperatura e/ou o tempo de tratamento, maior será a taxa de crescimento das
partículas de Fe3C e, portanto, do amolecimento da martensita." Verifique se ele
cometeu algum erro e corrija-o se for o caso.

Questão 4. As propriedades mecânicas de componentes fundidos são


influenciadas pelo tamanho dos seus grãos cristalinos. No que se refere aos aços
fundidos de baixa resistência mecânica, considere as afirmativas abaixo.
I - O uso de inoculantes durante a solidificação do material favorece o
crescimento de grão do material.
P á g i n a | 352

II - A técnica de inoculação na solidificação caracteriza um tipo de nucleação


conhecida como homogênea.
III - Menor tamanho de grão diminui a temperatura de transição dúctil-frágil do
material.
IV - Maior tamanho de grão aumenta o limite de resistência do material.

Está correto APENAS o que se afirma em:

Questão 5. Um eixo de transmissão de potência foi projetado com um diâmetro


de 50 mm, devendo apresentar durezas mínimas, no centro e a 10 mm da superfície
de 40 HRC e 50 HRC, respectivamente, após revenido. A figura acima apresenta as
curvas de temperabilidade de diferentes aços após um ensaio Jominy. De acordo com
os resultados deste ensaio, atende(m) adequadamente às exigências do projeto
APENAS o(s) aço(s)
P á g i n a | 353

Questão 6. A tabela apresenta aços identificados como A1, A2, A3, A4, e A5,
bem como suas respectivas propriedades de resistência e tenacidade à fratura.

Qual dos aços apresentados na tabela acima é o mais indicado para o emprego
em trem de pouso de avião?
a) A1, por ter boa tenacidade e resistência mecânica.
b) A2, por ser o aço de maior tenacidade à fratura.
c) A3, por ser o aço de maior resistência mecânica.
d) A4, por combinar alta resistência e tenacidade.
e) A5, por ser resistente à corrosão e tenaz.

Questão 7. O diagrama apresentado na figura 12.13 (reproduzido aqui) retrata


a variação das propriedades mecânicas em função da temperatura de tratamento
térmico, destacando a etapa de recristalização (formação de novos grãos) que ocorre
no tratamento térmico de recozimento. Um estudante analisou o diagrama e afirmou
que: "A etapa de recristalização, que ocorre acima de 400ºF, é muito importante para
o alívio de tensões que ocorre no tratamento térmico de recozimento isotérmico!" Você
concorda com o estudante? Caso contrário, corrija-o.
P á g i n a | 354

Questão 8. (PETROBRÁS 2010) Após a etapa de recristalização, os grãos


livres de deformações continuarão a crescer se o material for deixado em uma
temperatura elevada, num fenômeno conhecido como crescimento de grão. Neste
processo de modificação microestrutural,
a) o crescimento de grão ocorre pela difusão dos seus contornos.
b) o crescimento de grão somente ocorre após as etapas de recuperação e
recristalização do material.
c) o tamanho médio dos grãos é influenciado pela temperatura do tratamento,
mas não pelo tempo.
P á g i n a | 355

d) nem todos os grãos aumentam de tamanho, porém os grãos maiores


crescem à custa dos menores, que diminuem.
e) à medida que os grãos aumentam de tamanho, a área total dos contornos
de grão aumenta, produzindo uma consequente redução na energia total, que se torna
a força motriz termodinâmica de seu crescimento.

Questão 9. Explique sucintamente a diferença entre dureza e endurecibilidade.

Questão 10. Qual a influência que a presença de elementos de liga (outros


além do carbono) têm sobre a forma de uma curva de endurecibilidade? Explique
sucintamente esse efeito.

Questão 11. No exemplo 12.1 calculamos o limite de resistência à tração e


ductilidade para uma barra trabalhada a frio de latão 70 Cu-30 Zn com base no
diagrama mostrado na figura 12.14. Determine agora para essa liga:
a) que aumento percentual esse limite de resistência à tração representa em
comparação com o da barra recozida?
b) que diminuição percentual essa ductilidade representa em comparação com
a da barra recozida?

Questão 12. No exemplo 12.2 fomos capazes de estimar uma taxa de


resfriamento que leva a uma dureza Rockwell C45 em um aço 4340. Que taxa de
resfriamento seria necessária para produzir uma dureza de
a) C50; b) C40.

Questão 13. Estime a dureza que seria encontrada no ponto crítico do eixo
discutido no exemplo 12.2 se essa peça fosse fabricada a partir do aço 4140, em vez
do aço 4340.

Questão 14. Na questão anterior, descobrimos que a dureza de um aço 4140


é inferior à de um aço 4340 (para taxas de resfriamento iguais). Determine a dureza
correspondente para:
a) um aço 9840; b) um aço 8640; c) um aço 5140.
Aula 13
Cerâmicas e vidros

APRESENTAÇÃO DA AULA

Cerâmicas e vidros representam alguns dos materiais mais antigos e mais


ambientalmente duráveis para a Engenharia. Eles também representam alguns dos
materiais mais avançados, sendo desenvolvidos para as indústrias aeroespacial e
eletrônica. Nesta aula, dividimos essa coleção altamente diversificada de materiais de
Engenharia em três categorias principais, as cerâmicas cristalinas, os vidros e as
vitrocerâmicas. Então, caro(a) aluno(a), de agora em diante, daremos um tempo nos
conhecimentos sobre os metais e suas ligas e iremos nos arriscar por esse estudo tão
importante para o curso de Engenharia. Veremos que algumas das propriedades das
cerâmicas podem ser explicadas através das suas estruturas; por exemplo, a
transparência ótica dos materiais vítreos inorgânicos, a hidroplasticidade das argilas
(isto é, o desenvolvimento de plasticidade com a adição de água).

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Aprender sobre as cerâmicas cristalinas, os vidros e sobre as


vitrocerâmicas;
 Conheça diferentes tipos de cerâmicas e suas composições;
 Aprender sobre as características dos vidros, suas composições, e
entender que sua conformação envolve o cuidadoso controle da
viscosidade do silicato líquido super-resfriado;
 Entender que as transformações de fase que ocorrem nos sistemas
não-metálicos são importantes para o processamento de cerâmicas e
vidros;
 Conhecer algumas das principais técnicas de processamento para
cerâmicas e vidros, como a fundição por suspensão e a sinterização;
além de técnicas avançadas como o processamento biomimético, que
imita os processos naturais de fabricação.
P á g i n a | 357

13 INTRODUÇÃO

Se você se lembra, caro(a) aluno(a), os materiais cerâmicos foram


discutidos sucintamente na aula 1, que observou que eles são materiais
inorgânicos e não-metálicos. A maioria das cerâmicas consiste em
compostos que são formados entre elementos metálicos e elementos não-metálicos,
para os quais as ligações interatômicas ou são totalmente iônicas ou são
predominantemente iônicas com alguma natureza covalente. Na verdade, meu(minha)
caro(a), o termo "cerâmica" vem da palavra grega keramikos, que significa "matéria-
prima queimada", indicando que as propriedades desejáveis desses materiais são
normalmente atingidas através de um processo de tratamento térmico a alta
temperatura conhecido por ignição. Assim, da mesma forma que os metais, o
processamento das cerâmicas e vidros pode afetar profundamente seu desempenho
como materiais estruturais. Os métodos tradicionais de processamento de cerâmica
incluem fusão e fundição por suspensão, sinterização e prensagem a quente. Métodos
tradicionais de formação de vidro, às vezes, são seguidos por devitrificação controlada
para produzir vitrocerâmicas. Métodos de processamento mais recentes incluem
técnicas de sol-gel e biomiméticas e síntese autopropagante em altas temperaturas
(SHS). Como dissemos na apresentação desta aula, dividimos essa seleção
diversificada de materiais de Engenharia em três categorias principais, as cerâmicas
cristalinas, os vidros e as vitrocerâmicas. As Cerâmicas cristalinas incluem os
silicatos tradicionais e os muitos compostos óxidos e não-óxidos bastante usados em
tecnologias tradicionais e avançadas. Vidros são sólidos não-cristalinos com
composições comparáveis às cerâmicas cristalinas. A ausência de cristalinidade, que
resulta de técnicas de processamento específicas, fornece um conjunto exclusivo de
propriedades mecânicas e ópticas. Quimicamente, os vidros são subdivididos
convenientemente em silicatos e não-silicatos. Vitrocerâmicas, a terceira categoria,
são outro tipo de cerâmicas cristalinas formadas inicialmente como vidros e, depois,
cristalizadas de uma maneira cuidadosamente controlada. Esse processo de
cristalização será discutido com algum detalhe. Composições um tanto específicas
prestam-se a essa técnica, e o sistema Li2-Al2O3-SiO2 é o exemplo comercial mais
importante. Para fechar bem essa introdução, acesse o endereço eletrônico
para observar uma estrutura do vidro de quartzo e do tetraedro de sílica:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=11>.
P á g i n a | 358

13.1 Cerâmicas - Materiais cristalinos

É apropriado começar nossa discussão sobre cerâmicas cristalinas


examinando os silicatos à base de SiO2. Como silício e oxigênio juntos são
responsáveis por aproximadamente 75% dos elementos na crosta da Terra (veja a
figura 13.1), esses materiais são abundantes e baratos. De fato, muitas das cerâmicas
tradicionais que usamos estão nessa categoria. Uma das melhores ferramentas para
caracterizar as antigas civilizações é a louça, argila queimada que tem sido um
produto comercial desde aproximadamente 4.000 a.C. A louça é uma parte da
categoria das cerâmicas conhecida como louças brancas, que são cerâmicas
queimadas comerciais com uma microestrutura normalmente branca e com grãos
finos. Além das louças brancas, a argila é a base dos produtos estruturais de argila,
como tijolos, telhas e canos de esgoto. A gama de cerâmicas de silicato reflete a
diversidade dos minerais de silicatos que, normalmente, estão disponíveis a fábricas
de manufatura locais. A tabela 13.1 resume as composições gerais de alguns
exemplos comuns. Essa listagem inclui refratários baseados na argila queimada.
Refratários são materiais estruturais resistentes à alta temperatura, que
desempenham papéis fundamentais na indústria (por exemplo, no processo de
fabricação do aço). Cerca de 40% da produção da indústria de refratários consiste de
silicatos baseados em argila. É possível ver que a tabela 13.1 também contém uma
lista representativa da indústria do cimento. O exemplo é o cimento portland, uma
mistura complexa que pode ser descrita, em geral, como um aluminossilicato de
cálcio. Não se preocupe, estudaremos bastante sobre o cimento portland na aula 15.
P á g i n a | 359

Figura 13.1: Abundância relativa de elementos na crosta terrestre.

Tabela 13.1: Composiçõesa de algumas cerâmicas de silicatos.

A tabela 13.2 lista diversos exemplos de cerâmicas de óxidos de não-


silicatos, que incluem alguns materiais tradicionais como magnésia (MgO), um
refratário bastante usado na indústria do aço. Em geral, porém, essa tabela inclui
muitos dos materiais cerâmicos mais avançados. Entenda, caro(a) aluno(a), que
óxidos puros são compostos com níveis de impureza às vezes menores que 1 %p e,
em alguns casos, níveis de impureza na faixa de ppm. No entanto, muitos dos
produtos nesta tabela com um óxido predominante podem conter a adição de
apreciáveis proporções de óxidos e impurezas.
P á g i n a | 360

Tabela 13.2: Algumas cerâmicas de óxidos de não-silicatos.

Na tabela 13.2, o UO2 é nosso melhor exemplo de uma cerâmica nuclear.


Esse composto contém urânio radioativo e é largamente usado como combustível
para reator. A zircônia parcialmente estabilizada (ZrO2) é uma candidata importante
a aplicações estruturais avançadas, incluindo muitas executadas tradicionalmente por
metais. Cerâmicas eletrônicas, como o BaTiO3, e magnéticas, como a NiFe2O4
(ferrita de níquel), representam a maior parte do mercado de cerâmica Indústrial.
A tabela 13.3 lista exemplos de cerâmicas de não-óxidos. Alguns deles, como
o carbeto de silício, são materiais Indústriais comuns há várias décadas. O carbeto de
silício tem servido como elemento de aquecimento de fornos e como material abrasivo.
O nitreto de silício e materiais relacionados (por exemplo, o SiAlON
contendo oxigênio) são, com a zircônia parcialmente estabilizada, o foco
de pesquisa e desenvolvimento substancial durante as três últimas
décadas para fins de produção de componentes melhores para turbinas
a gás. É bem verdade, caro(a) aluno(a), que o desenvolvimento de um motor de
cerâmica para automóveis é um objetivo atraente, porém geralmente impreciso.
Apesar disso, os compósitos de cerâmica de matriz de carbeto de silício ainda são
candidatos atraentes para motores a jato para operação em ultra-altas temperaturas.
P á g i n a | 361

Tabela 13.3: Algumas cerâmicas de não-óxidos.

Acompanhe agora o primeiro dentre os diversos exemplos que mostraremos no


decorrer desta aula.
Exemplo 13.1: A fórmula molecular da mulita é 3Al2O3.2SiO2. Calcule a fração
em peso do Al2O3 em um refratário de mulita.
Solução: Usando as massas atômicas de cada elemento com base na tabela
periódica, temos
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐴𝑙2 𝑂3 = [2(26,98) + 3(16,00)] = 101,96 𝑢𝑚𝑎
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑆𝑖𝑂2 = [28,09 + 2(16,00)] = 60,09 𝑢𝑚𝑎

Portanto,
3(101,96)
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝐴𝑙2 𝑂3 = = 0,718
3(101,96) + 2(60,09)

Para encerrar bem este tópico que discutiu as cerâmicas, caro(a) aluno,
é importante fazer uma pausa para assistir a um vídeo que muito lhe auxiliará
sobre este tema. Acesse o endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=hxB0udRVdnU>.
P á g i n a | 362

13.2 Vidros - materiais não-cristalinos

Falar em vidros certamente não é nenhuma novidade para você,


caro(a) aluno(a). Mas você sabia que exemplos tradicionais desse tipo de
material são os vidros de silicatos, e que, assim como os silicatos
cristalinos, esses vidros geralmente têm custo moderado devido à abundância dos
elementos Si e O na crosta terrestre? Para grande parte da manufatura rotineira do
vidro, o SiO2 está prontamente disponível em depósitos de areia locais com pureza
adequada. De fato, a manufatura de vários produtos de vidro representa um peso
muito maior que aquele envolvido na produção de cerâmicas cristalinas. A tabela 13.4
lista os principais exemplos de artigos de vidro de silicatos comerciais.

Tabela 13.4: Composições de alguns vidros de silicatos.

Vamos realizar um pequeno comentário para entender melhor os tipos de


vidros listados nesta tabela, e interpretar com mais significado suas composições:
1. Sílica vítrea é SiO2 de alta pureza. Vítrea significa 'vitrificada' e geralmente
é usada com o sentido de amorfa e não-cristalina. A sílica vítrea pode suportar
temperaturas de trabalho superiores a 1.000ºC. Cadinhos de alta temperatura e
janelas de forno são aplicações típicas.
2. Vidros de borossilicatos envolvem uma combinação de poliedros
triangulares BO33- e tetradedros SiO44- na rede formadora do vidro. Cerca de 5 %p
Na2O fornece boa conformabilidade do artigo de vidro sem sacrificar a durabilidade
associada aos óxidos de formação de vidro. Os borossilicatos são bastante usados
por essa durabilidade em aplicações como artigos de laboratório químico e artigos
para cozinhar. A maioria dos vidros de janela e recipientes de vidro comuns pode
ser encontrada dentro de um moderado intervalo de composições.
P á g i n a | 363

3. A composição do Vidro-E da tabela 13.4 representa uma das fibras de vidro


mais comuns. Esse será um exemplo central dos sistemas de reforço de compósitos
por fibra que veremos na aula 15.
4. Esmaltes são camadas de vidro aplicadas a cerâmicas, como as
porcelanas. O esmalte geralmente fornece uma superfície substancialmente mais
impermeável do que o material não-esmaltado sozinho. Permite um grande controle
de aparência da superfície.
5. Vernizes são camadas de vidro aplicadas aos metais. Esse termo precisa
ser diferenciado do verniz aplicado a tintas com base polimérica. Constantemente,
mais importante do que a aparência da superfície fornecida pelo verniz é a barreira
protetora que ele oferece contra ambientes corrosivos ao metal.

Para terminar nossa discussão sobre os vidros, caro(a) aluno(a),


falta somente fazer um breve comentário sobre vidros de não-silicatos,
listados na tabela 13.5. Os vidros de óxidos de não-silicatos, como B2O3,
geralmente possuem pouco valor comercial devido à sua reatividade com ambientes
típicos, como o vapor de água. No entanto, eles podem ser aditivos úteis aos vidros
de silicatos (por exemplo, os vidros de borossilicato comuns). Alguns dos vidros de
não-óxidos se tornaram comercialmente significativos. Por exemplo, as fibras de vidro
de tetrafluoreto de zircônio (ZrF4) provaram ter propriedades superiores para
transmissão de luz na região do infravermelho em comparação com os silicatos
tradicionais.

Tabela 13.5: Alguns vidros de não-silicatos.

O exemplo a seguir demonstra a determinação do percentual em peso da


matéria-prima presente no vidro. Veja com calma e atenção!
Exemplo 13.2: O vidro de sílica de cal de soda comum é feito pela fusão de
Na2CO3, CaCO3 e SiO2. Os carbonatos se rompem, liberando bolhas do gás CO2 que
ajudam a misturar o vidro fundido. Para 1.000 Kg de vidro para recipiente (15%p Na2O,
P á g i n a | 364

10%p CaO, 75%p SiO2), qual é a fórmula do lote da matéria-prima (percentual em


peso de Na2CO3, CaCO3 e SiO2?
Solução: Sabendo que 1.000 Kg de vidro consiste em 150 Kg de Na 2O, 100
Kg de CaO e 750 Kg de SiO2, e usando as massas atômicas dos elementos
constituintes, temos os pesos molares
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑁𝑎2 𝑂 = 2(22,99) + 16,00 = 61,98 𝑢𝑚𝑎
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑁𝑎2 𝐶𝑂3 = 2(22,99) + 12,00 + 3(16,00) = 105,98 𝑢𝑚𝑎
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐶𝑎𝑂 = 40,08 + 16,00 = 56,08 𝑢𝑚𝑎
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐶𝑎2 𝐶𝑂3 = 40,08 + 12,00 + 3(16,00) = 100,08 𝑢𝑚𝑎
Logo
105,98
𝑁𝑎2 𝐶𝑂3 𝑒𝑥𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜 = 150 𝐾𝑔 𝑥 = 256 𝐾𝑔
61,98
100,08
𝐶𝑎2 𝐶𝑂3 𝑒𝑥𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜 = 100 𝐾𝑔 𝑥 = 178 𝐾𝑔
56,08
𝑆𝑖𝑂2 𝑒𝑥𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜 = 750 𝐾𝑔
Então, a fórmula do lote é
256 𝐾𝑔
𝑥 100 = 21,6%𝑝 𝑁𝑎2 𝐶𝑂3
(256 + 178 + 750)𝐾𝑔
178 𝐾𝑔
𝑥 100 = 15,0%𝑝 𝐶𝑎2 𝐶𝑂3
(256 + 178 + 750)𝐾𝑔
750 𝐾𝑔
𝑥 100 = 63,3%𝑝 𝑆𝑖2 𝑂2
(256 + 178 + 750)𝐾𝑔

13.3 Vitrocerâmicas

Entre os materiais cerâmicos mais sofisticados estão as


vitrocerâmicas, que combinam a natureza das cerâmicas cristalinas
com o vidro. O resultado é um produto com qualidades especialmente
atraentes. Vitrocerâmicas começam como artigos de vidro relativamente comuns.
Uma vantagem significativa é sua capacidade de ser conformada de uma maneira
barata e precisa como os vidros. Por um tratamento térmico cuidadosamente
controlado, mais de 90% do material vítreo se cristaliza (você verá isto na figura 13.2).
A pequena quantidade da fase vítrea residual preenche efetivamente o volume dos
contornos de grão, criando uma estrutura sem poros. O produto final de vitrocerâmica
é caracterizado por resistências mecânicas convencionais.
P á g i n a | 365

Para você saber, caro(a) aluno(a), a resistência das vitrocerâmicas ao choque


mecânico deve-se, em grande parte, à eliminação dos poros concentradores de
tensão. A resistência a choque térmico resulta dos coeficientes de expansão térmica
tipicamente baixos desses materiais.
Faremos referência à importância de um tratamento térmico
cuidadosamente controlado para produzir a microestrutura
uniformemente granular da vitrocerâmica no próximo item, onde
veremos a cinética das reações no estado sólido. Por enquanto,
precisamos saber que a cristalização de um vidro é um processo de estabilização.
Essa transformação começa (ou é nucleada) em algum limite de fase de impureza.
Para um vidro comum no estado fundido, a cristalização tenderá a se nuclear em
poucos pontos isolados ao longo da superfície do recipiente que contém o material
fundido. Esse processo é seguido pelo crescimento de alguns cristais grandes. A
microestrutura resultante é grosseira e não-uniforme. A tabela 13.6 lista as principais
vitrocerâmicas comerciais. De longe, caro(a) aluno(a), o exemplo mais importante é o
sistema Li2O-Al2O3-SiO2. Diversos materiais comerciais nessa faixa de composição
exibem excelente resistência a choque térmico devido ao coeficiente de expansão
térmica da cerâmica cristalizada. Em seguida, acompanhe um exemplo que mostra o
cálculo da composição de uma vitrocerâmica. Atente-se que os cálculos dos pesos
molares são muito importantes nesses cálculos. Como foi também nos dois exemplos
anteriores.

Tabela 13.6: Composições de algumas vitrocerâmicas.

Exemplo 13.3: Qual seria a composição (em percentual em peso) de um


composto de vitrocerâmica inteiramente de β-espodumênio? Considere que o β-
espodumênio é Li2O.Al2O3.4SiO2.
Solução: Usando as massas atômicas dos elementos constituintes, temos
P á g i n a | 366

𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑁𝑎2 𝑂 = 2(22,99) + 16,00 = 61,98 𝑢𝑚𝑎


𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐿𝑖2 𝑂 = [2(6,94) + 16,00] = 29,88 𝑢𝑚𝑎
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐴𝑙2 𝑂3 = [2(26,98) + 3(16,00)] = 101,96 𝑢𝑚𝑎
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑆𝑖𝑂2 = [28,09 + 2(16,00)] = 60,09 𝑢𝑚𝑎

Gerando,
29,88
%𝑝 𝐿𝑖2 𝑂 = 𝑥 100 = 8,0%
29,88 + 101,96 + 4(60,09)
101,96
%𝑝 𝐴𝑙2 𝑂3 = 𝑥 100 = 27,4%
29,88 + 101,96 + 4(60,09)
4(60,09)
%𝑝 𝑆𝑖𝑂2 = 𝑥 100 = 64,6%
29,88 + 101,96 + 4(60,09)

Nesse momento, caro(a) estudante, antes de vermos o processamento de


cerâmicas e vidros, último assunto desta aula, vamos entender um pouco melhor
como se dá a cinética das transformações de fase durante a solidificação dos
materiais cerâmicos, retratada de forma sucinta no próximo item. Se achar que está
na hora de fazer uma pausa para um café...

13.4 A cinética das transformações de fase

Saiba, caro(a) aluno(a), que as taxas em que as transformações de fase


ocorrem nos sistemas não-metálicos são importantes para o processamento desses
materiais. Por exemplo, o controle cuidadoso para o crescimento e a subsequente
purificação de grandes monocristais, que são a base da indústria de semicondutores.
Os vidros e as cerâmicas estão bastante associados à nucleação e cinética de
crescimento. Esses produtos são formados como vidros e, depois, cuidadosamente
cristalizados para produzir um material policristalino. O resultado, como já
comentamos, pode ser cerâmica relativamente fortes, produzidas em formas
complexas por um custo modesto. Uma relação típica de temperatura-tempo para
produzir uma cerâmica vítrea é mostrada na figura 13.2.
P á g i n a | 367

Figura 13.2: História térmica típica para produzir uma cerâmica vítrea através do controle da
nucleação e do crescimento de grãos cristalinos.

O assunto do crescimento de grão tem desempenhado um papel


especialmente importante no desenvolvimento do processamento da
cerâmica nas últimas décadas. Nós falamos muito sobre o 'crescimento
de grão' no item 3.7.4 da aula anterior, lembra-se? Principalmente devido
a esse fenômeno se deve as propriedades das cerâmicas, por exemplo a
transparência de uma cerâmica policristalina de Al2O3. De fato, o material pode ser
quase transparente se for essencialmente livre de poros. No entanto, é formado pela
densificação de um pó. A ligação de partículas de pó ocorre pela difusão do estado
sólido. No decorrer desse estágio de densificação, os poros entre partículas
adjacentes encolhem continuamente. Esse processo geral é conhecido como
sinterização, e se refere a qualquer processo de formar uma massa densa pelo
aquecimento, mas sem fusão. O mecanismo de encolhimento é a difusão dos átomos
para fora do contorno de grão (entre partículas adjacentes), em direção ao poro. Com
efeito, o poro é preenchido pelo material da difusão, veja a figura 13.3(a).
Infelizmente, o crescimento de grão pode começar muito antes que o
encolhimento do poro termine. O resultado é que alguns poros são aprisionados
dentro dos grãos. O caminho de difusão do contorno de grão até o poro é muito longo
para permitir uma maior eliminação dos poros, como mostrado na figura 13.3(b). A
P á g i n a | 368

solução para esse problema é acrescentar uma pequena quantidade (cerca de 0,1%p)
de MgO, o que retarda bastante o crescimento de grão e permite que o encolhimento
do poro seja concluído.

Figura 13.3: (a) Ilustração do mecanismo de sinterização para o encolhimento de um pó


compactado, e (b) crescimento de grão atrapalhando a densificação do pó compactado.

Veja agora um exemplo abordando os aspectos teóricos da associação da


formação da argila, uma cerâmica abordada nesta aula, e os cimentos, um compósito
que estudaremos na aula 15.
Exemplo 13.4: Em agregados à base de argila forma-se uma fase líquida
durante a queima, que se infiltra nos poros entre as partículas não fundidas, e após o
resfriamento, este líquido se torna um vidro, que serve como a fase de colagem.
Compare a forma segundo a qual o agregado de partículas fica colado entre si durante
o processo de cozimento para as misturas à base de argila descrita com os cimentos.
Solução: Com cimentos, o processo de ligação é uma reação química,
hidratação entre a água que tenha sido adicionada e os vários componentes de
cimento. As partículas de cimento estão ligadas em conjunto por meio de reações que
ocorrem nas superfícies das partículas.

13.5 Processamento de cerâmicas e vidros

A tabela 13.7 resume algumas das principais técnicas de processamento para


cerâmicas e vidros. Entenda, porém, caro(a) aluno(a), que a conformação por
deformação das cerâmicas é limitada por sua fragilidade inerente. Embora os
trabalhos a frio e a quente não sejam práticos, uma variedade maior de técnicas de
fundição está disponível.
P á g i n a | 369

Tabela 13.7: Alguns dos principais métodos de processamento para cerâmicas e vidros.

Neste nosso curso, caro(a) aluno(a), vamos fazer uma sucinta


abordagem sobre esses principais métodos de processamento para as
cerâmicas e vidros. Claro que se você interessar pelo assunto, pode
pesquisar em outras fontes pois este assunto é muito amplo e rico de
detalhes. A fundição por fusão refere-se a um processo equivalente à fundição do
metal. Essa técnica não é predominante para as cerâmicas devido a seus pontos de
fusão geralmente altos. Alguns refratários de baixa porosidade são formados dessa
maneira, mas a um custo relativamente alto. A fundição por suspensão, mostrada
na figura 13.4, é uma técnica de processamento de cerâmica mais típica.
Aqui, a fundição é feita em temperatura ambiente. A 'suspensão' é uma mistura
de pó e água que é derramada em um molde poroso. Grande parte da água é
absorvida pelo molde, deixando uma forma de pó relativamente rígida, que pode ser
removida do molde. Para desenvolver um produto forte, a peça precisa ser aquecida.
Inicialmente, a água absorvida restante é descartada. A queima é feita em
temperaturas mais altas, normalmente acima dos 1.000ºC. Assim como na metalurgia
do pó, grande parte da resistência da peça queimada deve-se à difusão no estado
sólido. Para muitas cerâmicas, especialmente artigos de argila, são envolvidas
reações adicionais a altas temperaturas. A água quimicamente combinada pode ser
removida, diversas transformações de fase podem ocorrer, e fases substancialmente
vítreas, como silicatos, podem ser formadas. A sinterização é o correspondente direto
da metalurgia do pó. Entenda, ainda, caro(a) estudante, que os altos pontos de fusão
das cerâmicas comuns tornam a sinterização uma técnica de processamento
largamente difundida. Assim como na metalurgia do pó, a compressão isostática a
P á g i n a | 370

quente tem encontrado cada vez mais aplicações nas cerâmicas, especialmente
fornecendo produtos totalmente densos com propriedades mecânicas superiores.

Figura 13.4: (a) Esquema da fundição por suspensão de cerâmicas; (b) Grande parte da
água é absorvida pelo molde poroso. A forma final precisa ser queimada em temperaturas
elevadas para produzir uma peça estruturalmente forte.

Veja agora, caro(a) aluno(a), os processos típicos de conformação do vidro


que são mostrados nas figuras 13.5 e 13.6. Entenda que a natureza viscosa do estado
vitrificado desempenha um papel fundamental nesse processamento.
P á g i n a | 371

Figura 13.5: Vários estágios do controle cuidadoso da viscosidade do material durante a


conformação de um recipiente de vidro.

Figura 13.6: Camada de vidro estirada através de um banho de estanho fundido. O alto
grau de planicidade alcançado nas placas de vidro usadas na arquitetura moderna é o
resultado do processamento flutuante do vidro.
P á g i n a | 372

A devitrificação controlada (ou seja, a cristalização) leva à formação das


vitrocerâmicas. Esse tópico foi levantado anteriormente (reveja o item 13.4). O
processamento por sol-gel está entre as novas tecnologias que se desenvolvem
mais rapidamente para a fabricação de cerâmicas e vidros. Para as cerâmicas, o
método resulta na formação de particulados uniformes e finos de alta pureza a
temperaturas relativamente baixas. Esses pós podem subsequentemente ser
sinterizados até altas densidades com propriedades mecânicas relativamente boas. A
fase 'sol' dispersada é, então, convertida para um 'gel' rígido que, por sua vez, é
reduzido para uma composição final por vários tratamentos térmicos. Uma
vantagem importante do processo de sol-gel é que o produto formado
inicialmente por essa rota de fase líquida pode ser cozido em temperaturas
mais baixas, em comparação com as temperaturas usadas nos processos cerâmicos
convencionais. A economia no custo final usando temperaturas de cozimento mais
baixas pode ser significativa. Antes de prosseguir, caro(a) aluno(a), veja uma
representação da estrutura de um gel. Observe como é curiosa esta estrutura.
Acesse:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=11>.

Vamos agora fazer uma discussão um pouco menos corriqueira


e menos trivial sobre um interessante método de processamento para
cerâmicas, o processamento biomimético. É que recentemente, os
Engenheiros de cerâmica observaram que certos processos naturais
de fabricação de cerâmica, como a formação de conchas do mar, tomam a rota de
processamento em fase líquida para sua conclusão final. A figura 13.7 ilustra a
formação de uma concha de abalone que ocorre em um meio inteiramente aquoso em
temperatura ambiente, sem qualquer etapa de cozimento. Recursos atraentes dessa
biocerâmica natural incluem uma microestrutura final que é microgranulada com
ausência de porosidade e microtrincas e uma alta resistência e tenacidade à fratura
resultante. Aqui, caro(a) aluno(a), vale a pena você ir no Google e fazer uma
pesquisa sobre imagens da concha de abalone. Você ficará maravilhado, com certeza.
Essas biocerâmicas normalmente são produzidas em uma baixa taxa de crescimento
a partir de um intervalo limitado de composições, normalmente carbonato de cálcio,
fosfato de cálcio, sílica ou óxido de ferro.
P á g i n a | 373

Assim, processamento biomimético é o nome dado às estratégias de


fabricação para cerâmicas de Engenharia que imitam processos como aquele
ilustrado na figura 13.7 (ou seja, baixa temperatura, sínteses aquosas de óxidos,
sulfetos e outras cerâmicas pela adaptação de princípios biológicos). Três aspectos
fundamentais desse processo foram identificados:
1. a ocorrência dentro de microambientes específicos (implicando na
estimulação da produção de cristais em certos sítios funcionais e na inibição do
processo em outros sítios),
2. a produção de um mineral específico com tamanho e orientação cristalina
definidos,
3. crescimento macroscópico pela união de muitas unidades incrementais
(resultando em uma estrutura compósita ímpar e acomodando estágios posteriores de
crescimento e restauração). Esse processo natural ocorre para o osso e o esmalte
dentário, além das conchas.

Figura 13.7: Esquema da formação de uma concha de abalone. Podemos ver uma camada
de madrepérola, composta de plaquetas de CaCO3 ligadas por moléculas orgânicas
(proteínas e açúcares).
P á g i n a | 374

Saiba, caro(a) aluno(a), que os processos biomiméticos em


Engenharia ainda não foram capazes de reproduzir o sofisticado
nível de controle exibido nos materiais naturais. Mesmo assim,
resultados promissores vieram de esforços nessa direção. Um
exemplo simples, caro(a) aluno(a), é a adição de polímeros solúveis em água a
misturas de cimento portland, reduzindo, assim, os estragos causados por ciclos de
congelamento-descongelamento, inibindo o crescimento de grandes cristais de gelo.
As partículas de cimento tipo cerâmica se assemelham ao tecido duro biológico. A
adição de polímeros pode mudar as reações de endurecimento, microestrutura e
propriedades de produtos de cimento da mesma forma como os biopolímeros
extracelulares contribuem para as propriedades de ossos e conchas. A pesquisa atual
em processamento biomimético está centrada no controle da nucleação e no
crescimento cristalino em cerâmicas avançadas, usando polímeros inorgânicos e
orgânicos, além de biopolímeros.
Um último tipo de processamento de cerâmica, a síntese autopropagante em
altas temperaturas (SHS), é ilustrado na figura 13.8. Essa nova técnica envolve o
uso do calor substancial liberado por certas reações químicas, uma vez iniciadas, para
sustentar a reação e produzir o produto final. Embora altas temperaturas sejam
envolvidas, a SHS compartilha a vantagem dos processos sol-gel e biomimético de
temperaturas relativamente baixa (ou seja, economia de energia, porque grande parta
da alta temperatua na SHS vem das reações auto-sustentáveis). Além disso, a SHS
é um processo simples que fornece materiais relativamente puros e a possibilidade de
formação e densificação simultâneas do produto. Uma grande variedade de materiais
é formada dessa maneira. Esses materiais geralmente são produzidos em forma de
pó, embora produtos densos possam ser formados pela subsequente sinterização ou
aplicação simultânea de operações de compressão ou fundição durante a combustão.
Além da formação de cerâmicas, compostos intermediários (por exemplo, TiNi) e
compósitos podem ser produzidos pela SHS.
P á g i n a | 375

Figura 13.8: Imagem da ignição no topo de pastilha de pó de Ti em uma atmosfera de N2


gasoso, levando a uma reação auto-sustentável por toda a amostra, e a completa conversão
em TiN.

Colocamos a seguir, caro(a) aluno(a), um último exemplo que discute


algumas características dos materiais cerâmicos em relação a seus processos
de fabricação. Antes de observá-lo, acesse o link abaixo para assistir a uma
teleaula sobre as cerâmicas. Temos certeza que ela lhe será muito útil para
consolidar tudo o que estudamos ao longo desta aula:
<https://www.youtube.com/watch?v=fSgfMQJQNJE&list=
PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt&index=26>.

Exemplo 13.5: Cite duas características desejáveis dos minerais argilosos


relativas aos processos de fabricação.
Solução: Duas características desejáveis de minerais de argila em relação aos
processos de fabricação são:
1) tornar-se hidroplástico (e, por conseguinte, apto a ser conformado), quando
misturado com água; e
2) durante a queima, argilas derreter ao longo de uma gama de temperaturas,
o que permite a ligação dos compostos, sem fusão completa, evitando perda da
integridade mecânica.
P á g i n a | 376

Assista agora a uma rápida aula em vídeo da PUCPR que faz


uma abordagem de tudo o que vimos sobre as cerâmicas. Acesse
o endereço:
<https://www.youtube.com/watch?v=0NWeXpC_lhc>.

Para encerrar bem esta aula, caro(a) aluno(a), lembre-se sempre que
você deverá resolver os exercícios propostos. Veja novamente todos os
exemplos mostrados, se for necessário. Perceba que muitos deles abordaram
cálculos sobre os materiais cerâmicos e os vidros.
Nos exercícios propostos, no entanto, vários conceitos
também serão abordados.
Vale a pena desenvolvê-los para fixar bem os assuntos.
Lembre-se, leia quantas vezes for preciso a aula; e por
mais que os assuntos discutidos possam parecer confusos, entenda que essa
classe de materiais é bastante diversificada, mas alguns conceitos são
principais e merecem atenção. Caso haja alguma dúvida, em relação à
teoria ou aos exercícios, entre em contato com o tutor da disciplina.

Bons estudos!
Resumo

Nesta aula, caro(a) aluno(a), vimos que cerâmicas e vidros representam uma
família diversificada de materiais de Engenharia. Aprendemos que o termo cerâmicas
é associado a materiais predominantemente cristalinos, em que silicatos são
exemplos abundantes e econômicos usados em diversos produtos de consumo e
industriais. Ainda, que vidros são sólidos não-cristalinos quimicamente semelhantes
às cerâmicas cristalinas. Uma atenção especial foi dada às vitrocerâmicas, à cinética
das transformações e às formas de processamento das cerâmicas e vidros, onde
destacamos que:

 As vitrocerâmicas é um material denso, microgranulado, com excelentes


resistências mecânica e a choque térmico;
 As cerâmicas podem ser conformadas por fundição por fusão, semelhante à
fundição de metal; sendo a fundição por suspensão a mais comum.
 A sinterização e compressão isostática a quente (HIP) são diretamente
análogas aos métodos de metalurgia do pó;
 A conformação de vidro envolve o cuidadoso controle da viscosidade do
silicato líquido super-resfriado;
 O processamento biomimético, que imita os processos naturais de
fabricação, faz uso de uma rota com uma fase líquida para a produção econômica de
produtos superiores.
Complementar

Como complemento, caro(a) aluno(a), leia um excelente


material desenvolvido pela Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo com base no livro do Callister, que consta nas nossas
referências. Acesse o site e baixe o pdf:
<http://sites.poli.usp.br/d/pmt2100/Aula10_2005%201p.pdf>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 13

Questão 1. Cite uma razão pela qual os materiais


cerâmicos são, em geral, mais duros, porém mais frágeis, do que
os metais.
Questão 2. Cite duas características desejáveis para os
vidros.
Questão 3. Qual é a distinção entre a temperatura de
transição vítrea e a temperatura de fusão.
Questão 4.
(a) Faça um breve comentários sobre os materiais refratários baseados na
argila queimada.
(b) Comente o que são esmaltes de cerâmicas e vernizes listados na tabela
13.4.
(c) Comente a técnica de fundição por suspensão no processamento de
cerâmicas e vidros.
Questão 5. Com base nas características mecânicas associadas aos
comportamentos mostrados na figura 13.6, comente por que um vidro pode ser
estirado na forma de fibras enquanto um óxido de alumínio cristalino não pode.
Questão 6.
(a) O que é devitrificação?
(b) Cite duas propriedades que podem ser melhoradas através de um processo
de devitrificação e duas que podem ser prejudicadas.
Questão 7. Explique sucintamente por que os materiais vitrocerâmicos em
geral não são transparentes. Se necessário, faça uma pesquisa sobre.
Questão 8. Por que você acha que peças cerâmicas grossas são mais
suscetíveis a trinca quando submetidas a um processo de secagem do que as peças
mais finas? Você saberia explicar por que isso acontece?
Questão 9. Você saberia explicar por que uma argila, uma vez cozida a uma
temperatura elevada, perde a sua hidroplasticidade.
Questão 10. Os três componentes principais de uma cerâmica do tipo louça
branca, tal como a porcelana, são o quartzo, a argila e um fluxo. Comente o papel que
cada um desses componentes desempenha nos procedimentos de conformação e
cozimento.
P á g i n a | 381

Questão 11. Por que é tão importante controlar a taxa de secagem de um corpo
cerâmico que tenha sido conformado hidroplasticamente ou através de uma fundição
por suspensão?
Questão 12. Cite três fatores que influenciam o grau segundo o qual a
vitrificação ocorre em peças cerâmicas à base de argila.
Questão 13. Alguns materiais cerâmicos são fabricados mediante um processo
de prensagem isostática a quente, que, além de ser um processo caro, apresenta
algumas outras limitações e desvantagens. Você saberia dizer mais uma?
Questão 14. No exemplo 13.1 calculamos a fração em peso do Al2O3 em um
refratário de mulita. Calcule agora a fração em peso do Al 2O3 no espinélio (MgAl2O4)
sabendo que o peso molecular do MgO é 40,31 uma e do Al2O3 é igual a 101,96 uma.
Questão 15. No exemplo 13.2 calculamos uma fórmula do lote para um vidro
de sílica de cal de soda comum, que é feito pela fusão de Na 2CO3, CaCO3 e SiO2.
Para melhorar a resistência química e as propriedades funcionais, Al2O3 normalmente
é acrescentado ao vidro pela inclusão de feldspato de soda (conhecido como albita),
Na(AlSi3)O8, à fórmula de lote. Calcule a fórmula do vidro produzido quando 2.000 Kg
da fórmula de lote forem suplementados com 100 Kg desse feldspato. Sabendo que
Na(AlSi3)O8 = ½Na2O + ½Al2O3 + 3SiO2 Considere os pesos molares dados:
Na(AlSi3)O8 = 262,24 uma; ½Na2O = 30,99 uma; ½Al2O3 = 50,98 uma; 3SiO2 =
180,27 uma
Questão 16. Com base no que foi mostrado no exemplo 13.3, qual seria o
percentual de Li2O, Al2O3, SiO2 e TiO2 na primeira composição comercial de
vitrocerâmica da tabela 13.6? Considere os pesos molares: Al 2O3 = 101,96 uma;
SiO2= 60,09 uma; Li2O = 29,88 uma; TiO2 = 79,90 uma
Aula 14
Polímeros

APRESENTAÇÃO DA AULA

Continuamos nossas discussões sobre metais e cerâmicas com uma terceira


categoria de materiais estruturais, os polímeros. Um sinônimo comum para polímeros
é plástico, um nome derivado da formabilidade associada à fabricação da maioria dos
produtos poliméricos. Para alguns críticos, plástico é sinônimo de cultura moderna.
Preciso ou não, ele representa o impacto que essa complexa família de materiais de
Engenharia tem em nossa sociedade. Polímeros, ou plásticos, estão disponíveis em
uma grande variedade de formas comerciais: fibras, filmes e folhas finos, espumas e
em corpos volumosos. Nesta aula, caro(a) aluno(a), forneceremos alguns dos
fundamentos da química orgânica necessários para se avaliar a natureza exclusiva
dos materiais poliméricos. Mas não se apavore pois você já estudou química orgânica
em algum momento de sua vida acadêmica; se não se lembra, vamos retomar juntos,
fazendo diversos exemplos ao longo da aula. Vamos lá?!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Diferenciar polímeros termoplásticos dos polímeros termofixos;


 Compreender a polimerização como um processo pelo qual moléculas
da cadeia longa ou em rede são formadas a partir de moléculas
orgânicas relativamente pequenas;
 Diferenciar a polimerização por adição e a polimerização por
condensação;
 Entender o que é um copolímero e o que é grau de polimerização;
 Conhecer alguns polímeros termoplásticos e termofixos comuns e de
Engenharia;
 Compreender os aditivos que tradicionalmente têm sido usados na
tecnologia de polímeros para fornecer-lhes características específicas;
 Aprender sobre as principais formas de processamento de polímeros.
P á g i n a | 383

14 INTRODUÇÃO

Os metais, cerâmicas e vidros que consideramos nas aulas


anteriores são materiais inorgânicos. Os polímeros discutidos de forma
sucinta nesta aula são orgânicos. Entenda, porém, caro(a) aluno(a), que
nossa decisão de limitar a discussão para polímeros orgânicos é muito
comum, embora seja um tanto arbitrária. De fato, diversos materiais inorgânicos
possuem estruturas compostas de blocos de montagem conectados em configurações
em cadeia e em rede. Ocasionalmente, indicamos que as cerâmicas e vidros de
silicatos são alguns exemplos. Começamos nossa discussão sobre polímeros
investigando a polimerização. As características estruturais dos polímeros resultantes
são exclusivas em comparação com materiais inorgânicos. Para muito polímeros, o
ponto de fusão e a rigidez aumentam o grau de polimerização e com a complexidade
da estrutura molecular.
Uma tendência importante em projetos de Engenharia é a
crescente concentração nos chamados polímeros de Engenharia, que
podem substituir os metais estruturais tradicionais. Talvez os exemplos
mais importantes sejam encontrados na indústria automotiva. Veremos que os
polímeros podem ser classificados em duas categorias principais. Os polímeros
termoplásticos são materiais que se tornam menos rígidos quando aquecidos,
enquanto os polímeros termofixos se tornam mais rígidos com o aquecimento. Para
ambas as categorias é importante entender os papéis desempenhados por aditivos,
que fornecem características importantes, como maiores resistência e rigidez, cor e
resistência à combustão.

14.1 Polimerização

O termo polímero significa simplesmente 'muitos meros', onde mero é o bloco


de montagem da molécula da cadeia longa ou da rede. A figura 14.1 mostra como
uma estrutura de cadeia longa resulta da junção de muitos monômeros através de
reação química. A polimerização, processo pelo qual moléculas da cadeia longa ou
em rede são formadas a partir de moléculas orgânicas relativamente
pequenas, pode ocorrer de duas maneiras distintas. O crescimento em
cadeia, ou polimerização por adição, envolve uma reação rápida entre
P á g i n a | 384

cadeias de monômeros quimicamente ativados. O crescimento em estágios, ou


polimerização por condensação, envolve reações químicas individuais entre pares
de monômeros reativos, e é um processo mais lento. De qualquer forma, a
característica crítica de um monômero, que permite sua união com moléculas
semelhantes e a formação de um polímero, é a presença de sítios reativos - ligações
duplas no crescimento em cadeia, ou grupos funcionais reativos no
crescimento em estágios. Como você já deve ter estudado, caro(a)
aluno(a), cada ligação covalente corresponde a um par de elétrons
compartilhados entre átomos adjacentes. A ligação dupla envolve dois pares desse
tipo. A reação por crescimento em cadeia na figura 14.1 converte a ligação dupla no
monômero em uma ligação simples no mero. Os dois elétrons restantes se tornam
partes das ligações simples que unem meros adjacentes. Você se lembra dessas
'cadeias' carbônicas, não é mesmo?!... Elas são muito importantes para o melhor
entendimento dos polímeros.

Figura 14.1: Polimerização (união de monômeros individuais) do cloreto de vinila, C2H3Cl,


para formar um polímero (C2H3Cl)n.

Acesse o link para visualizar uma representação


esquemática e a microestrutura de um polímero:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=11>.
P á g i n a | 385

A figura 14.2 ilustra a formação do polietileno pelo processo de crescimento em


cadeia. A reação geral pode ser expressa como
𝑛𝐶2 𝐻4 → (−𝐶2 𝐻4 −)𝑛 (14.1)

O processo começa com um iniciador - um radical livre hidroxila, neste caso.


O radical livre é um átomo reativo ou grupo de átomos que contém um elétron não
emparelhado. A reação de iniciação converte a ligação dupla de um monômero em
uma ligação simples. Uma vez completada, o elétron da ligação não-satisfeita (veja a
etapa 1 da figura 14.2) está livre para reagir com o monômero de etileno mais próximo,
aumentando a cadeia molecular em uma unidade (etapa 2). Essa reação em cadeia
pode continuar em rápida sucessão, limitada apenas pela disponibilidade dos
monômeros de etileno não-reagidos. A rápida progressão das etapas de 2 a n é a
base do termo descritivo polimerização por adição. Finalmente, outro radical hidroxila
pode atuar como terminador (etapa n), gerando uma molécula estável com n
unidades de mero (etapa n). Para o caso específico dos grupos hidroxila como
iniciadores e terminadores, o peróxido de hidrogênio é a fonte dos radicais:
𝐻2 𝑂2 → 2𝑂𝐻 ∙
(14.2)

Figura 14.2: Mecanismo detalhado de por um processo de crescimento em cadeia


(polimerização por adição.
P á g i n a | 386

Entenda, caro(a) aluno(a), que cada molécula de peróxido de hidrogênio


fornece um par iniciador-terminador para cada molécula polimérica. A etapa de
terminação na figura 14.2 é chamada de recombinação. Embora mais simples de
ilustrar, ela não é o mecanismo mais comum de terminação. Se uma
solução de diferentes tipos de monômeros for polimerizada, o resultado
é um copolímero (figura 14.3), semelhante à liga de uma solução sólida
dos sistemas metálicos. A figura 14.3 representa especificamente um copolímero em
bloco; ou seja, os componentes poliméricos individuais aparecem em 'blocos' ao
longo de uma única cadeia de átomos de carbono ligados. O arranjo alternativo dos
diferentes meros pode ser irregular (como mostra a figura 14.3) ou regular.

Figura 14.3: Copolímero de etileno e cloreto de vinila, semelhante a uma liga metálica de
uma solução sólida.

Neste momento, caro(a) aluno(a), aproveite para visualizar o arranjo


tridimensional de diversos arranjos de copolímeros. Acesse o endereço
eletrônico:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=11>.

Uma blenda (figura 14.4) é outra forma de liga em que diferentes tipos de
moléculas poliméricas já formadas são misturados.
Essa mistura é semelhante às ligas metálicas com solubilidade sólida limitada
(discutidas na aula 7).
P á g i n a | 387

Figura 14.4: Uma blenda de polietileno e policloreto de vinila, semelhante a uma liga
metálica com solubilidade sólida limitada.

Os diversos polímeros lineares ilustrados nas figuras 14.1 e 14.4 são baseados
na conversão de uma ligação dupla carbono-carbono para duas (14.3)
ligações simples
carbono-carbono. Também é possível converter a ligação dupla carbono-oxigênio no
formaldeído em ligações simples. A reação geral para esse caso pode ser expressa
como:
𝑛 𝐶𝐻2 𝑂 → (−𝐶𝐻2 𝑂−)𝑛

e é ilustrada na figura 14.5. Compare essa figura com a figura 14.1 já vista.
O produto é conhecido por vários nomes, incluindo poliformaldeído,
polioximetileno e poliacetal. O importante grupo acetal dos polímeros de Engenharia
é baseado na reação da figura 14.5.

Figura 14.5: Polimerização do formaldeído para formar poliacetal.


P á g i n a | 388

A figura 14.6 ilustra a formação do fenol-formaldeído pelo processo de


crescimento em estágios. Mostramos somente um único estágio. As duas moléculas
de fenol são ligadas pela molécula de formaldeído em uma reação na qual os fenóis
liberam um átomo de hidrogênio e o formaldeído libera um átomo de
oxigênio para produzir uma molécula de água como subproduto (produto
de condensação). A polimerização extensiva requer que essa reação de
três moléculas seja repetida para cada incremento unitário no comprimento molecular.
O tempo exigido para esse processo é substancialmente maior que aquele para a
reação em cadeia da figura 14.2. A ocorrência comum dos subprodutos da
condensação nos processos com crescimento em estágios gera o termo descritivo
polimerização por condensação.

Figura 14.6: Um único estágio na formação do fenol-formaldeído por um processo de


crescimento em estágios (polimerização por condensação). Uma molécula de água é o
produto da condensação.

Vejamos alguns exemplos envolvendo as discussões feitas até este


momento. Se achar prudente, caro(a) aluno(a), faça uma pausa
para tomar uma água ou um café. Aproveite esta pausa para
assistir a uma interessante e explicativa teleaula do telecurso
2000 sobre os plásticos, que muito irá auxiliá-lo na compreensão deste tema.
Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=jitq5y8JLAU&index=44&list=
PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt>.
P á g i n a | 389

Exemplo 14.1: Uma amostra de polietileno tem um peso molecular médio de


15.000 uma. Qual é o grau de polimerização, n, da molécula de polietileno 'média'?
Solução:
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 (−𝐶2 𝐻4 −)𝑛
𝑛= 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐶2 𝐻4

Usando as massas atômicas dos elementos listadas na tabela periódica, temos


25.000 𝑢𝑚𝑎
𝑛 = [2(12,01)+ 4(1,008)𝑢𝑚𝑎 = 891

Exemplo 14.2: Quanto H2O2 precisa ser acrescentado ao etileno para gerar um
grau médio de polimerização de 750? Considere que todo o H 2O2 se desassocia em
grupos OH que servem como terminais para as moléculas, e expresse a resposta em
percentual em peso.
Solução: Com relação à figura 14.2, observamos que existe uma molécula de
H2O2 (= dois grupos OH) por molécula de polietileno. Assim,
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐻 𝑂
%𝑝 𝐻2 𝑂2 = 750 𝑥 (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟2 𝐶2 𝐻 𝑥 100
2 4)

Usando os dados das massas atômicas listadas na tabela periódica, temos


2(1,008) + 2(16,00)
%𝑝 𝐻2 𝑂2 = 𝑥 100 = 0,162%𝑝
750[2(12,01) + 4(1,008)]

Exemplo 14.3: Um copolímero regular de etileno (C2H4) e cloreto de vinila


(C2H3Cl) contém meros alternados de cada tipo. Qual é o percentual em peso do
etileno nesse copolímero?
Solução: Como existe um mero de etileno para cada molécula de cloreto de
vinila, podemos escrever
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐶2 𝐻4
%𝑝 𝑒𝑡𝑖𝑙𝑒𝑛𝑜 = 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 (𝐶
2 𝐻4 + 𝐶2 𝐻3 𝐶𝑙)

Usando os dados das massas atômicas dos elementos de acordo com a tabela
periódica, temos:
[2(12,01)+4(1,008)]𝑥 100
%𝑝 𝑒𝑡𝑖𝑙𝑒𝑛𝑜 = [2(12,01)+4(1,008)]+[2(12,01)+3(1,008)+35,45] = 31,0%𝑝
P á g i n a | 390

Exemplo 14.4: Calcule o peso molecular de uma molécula de poliacetal


(apresentado na figura 14.5) com um grau de polimerização de 500.
Solução:
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 (−𝐶𝐻2 𝑂 −)𝑛 = 𝑛 (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 𝐶𝐻2 𝑂)

Usando os dados das massas atômicas dos elementos, obtemos:


𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 (−𝐶𝐻2 𝑂 −)𝑛 = 500[12,01 + 2(1,008) + 16,00]𝑢𝑚𝑎 = 15,010 𝑢𝑚𝑎

14.1.1 Características estruturais dos polímeros

O primeiro aspecto da estrutura polimérica que precisa ser


especificado é o comprimento da molécula. Por exemplo, qual é o
comprimento de n em (-C2H4-)n? Em geral, n é chamado de grau de
polimerização. Normalmente, ele é determinado a partir da medida de propriedades
físicas, como viscosidade e espalhamento de luz. Para polímeros comerciais típicos,
n pode variar de aproximadamente 100 a 1.000, mas, para determinado polímero, o
grau de polimerização representa uma média. Como você pode supor, caro(a)
aluno(a), dada a natureza dos mecanismos de crescimento em cadeia e em estágios,
a extensão do processo de crescimento molecular varia de uma molécula para outra.
O resultado é uma distribuição estatística de comprimentos moleculares conforme
mostra a figura 14.7.

Figura 14.7: Distribuição estatística dos comprimentos moleculares em determinado


polímero, conforme indicados por n, o grau de polimerização.

Diretamente relacionado ao comprimento molecular está o peso molecular, que


é simplesmente o grau de polimerização (n) vezes o peso molecular do mero individual
P á g i n a | 391

(como você pôde acompanhar nos exemplos 14.1 e 14.4 mostrados). Mais complexo
é o conceito de comprimento molecular. Pois, caro(a) aluno(a), para estruturas em
rede, por definição, não existe uma medida de comprimento unidimensional
significativa. O resultado de uma análise estatística (que envolve um conceito
matemático que não vamos estudar aqui) é o de uma cadeia linear livremente
contorcida, conforme ilustra a figura 14.8. Cada ângulo de ligação entre três átomos
de C adjacentes é de aproximadamente 109,5º, mas, como podemos ver na figura
14.8, esse ângulo pode ser rotacionado livremente no espaço. O resultado é a
configuração molecular contorcida e enrolada.

Figura 14.8: Comprimento da cadeia molecular contorcida devido à livre rotação do ângulo
da ligação C - C - C de 109,5º.

Uma geometria de 'dente de serra' da molécula estendida é ilustrada na figura


14.9. Os comprimentos relativos dos átomos de carbono e hidrogênio aparecem na
configuração do polietileno.

Figura 14.9: Geometria de 'dente de serra' de uma molécula totalmente estendida.


P á g i n a | 392

Para polímeros bifuncionais lineares típicos, como polietileno e PVC, existem


dois comprimentos de ligação por mero, ou

𝑚 = 2𝑛 (14.4)

onde n é o grau de polimerização.


Em geral, a rigidez e o ponto de fusão dos polímeros aumentam
com o grau de polimerização. Assim como qualquer generalização, pode
haver exceções importantes. Por exemplo, o ponto de fusão do náilon
não muda com o grau de polimerização. Esse fato conduz a uma regra prática muito
útil; ou seja, a rigidez e o ponto de fusão aumentam à medida que a complexidade da
estrutura molecular aumenta. Por exemplo, a estrutura do fenol-formaldeído da figura
14.6 produz um polímero rígido, até mesmo frágil. Ao contrário, a estrutura linear do
polietileno, na figura 14.2, produz um material relativamente mole. De fato, caro(a)
aluno(a), os alunos de Engenharia civil deverão estimar a rigidez de uma estrutura
com muitos elementos cruzados. A estrutura em rede tem a resistência das ligações
covalentes que ligam todos os meros adjacentes. Neste momento, caro(a)
aluno(a), é interessante assistir a um excelente vídeo sobre a polimerização,
discutida neste tópico. Este vídeo está em espanhol, mas é totalmente
inteligível e temos certeza de que irá auxiliá-lo muito na compreensão deste
tema. Acesse o endereço abaixo para visualizar o vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=utgwhBmiZSA&index=16&list=
PL5CAA89BD44DCDD7D>.

Vamos agora, caro(a) aluno(a), explorar uma série de


características estruturais que aumentam a complexidade das moléculas lineares e as
trazem para mais perto da natureza da estrutura em rede.

14.1.1.1 Cristalinidade e complexidade

Vamos começar com a cadeia de hidrocarbonetos idealmente simples do


polietileno, mostrado na figura 14.10(a). Substituindo alguns átomos de hidrogênio por
grandes grupos laterais (R), tem-se uma molécula menos simétrica. O posicionamento
dos grupos laterais pode ser regular e com todos eles em um mesmo lado, ou
P á g i n a | 393

isotático, como na figura 14.10(b), ou o posicionamento dos grupos pode ser


alternado entre lados opostos, ou sindiotático, como mostrado na figura 14.10(c).
Uma molécula ainda menos simétrica é a forma atática, como na figura 14.10(d), onde
os grupos laterais são posicionados aleatoriamente. Para R = CH3, a figura 14.10(b)
a (d) representa o polipropileno. Pode-se observar que essas ilustrações podem ser
imaginadas como 'vistas superiores' das representações mais pictóricas da figura
14.9.
À medida que os grupos laterais tornam-se maiores e mais
irregulares, a rigidez e o ponto de fusão tendem a aumentar por dois
motivos. Primeiro, os grupos laterais servem como barreiras para o
deslizamento molecular. Em contraste, as moléculas de polietileno,
mostradas na figura 14.10(a), podem deslizar umas sobre as outras facilmente sob
uma tensão aplicada. Segundo, o aumento do comprimento e da complexidade do
grupo lateral leva a maiores forças de ligação secundárias entre moléculas adjacentes
(veja aula 2). Uma extensão do conceito da inclusão de grandes grupos laterais é a
adição de uma molécula polimérica à lateral da cadeia. Esse processo, chamado de
ramificação, é ilustrado na figura 14.11. Ele pode ocorrer como uma flutuação no
processo de crescimento em cadeia ilustrado pela equação 14.1 (onde um hidrogênio
mais atrás na cadeia é extraído por um radical livre) ou como resultado de um agente
aditivo que remove um hidrogênio, permitindo que o crescimento em cadeia comece
nesse local.
P á g i n a | 394

Figura 14.10: (a) Molécula simétrica de polietileno. (b) Molécula menos simétrica produzida
substituindo-se um H em cada mero por um grande grupo lateral R. (c) Grupos R alternados
regularmente em lados opostos na estrutura sindiotática. (d) Estrutura menos simétrica com
grupos laterais se alternando aleatoriamente em lados opostos, (atática).

Figura 14.11: Inclusão de uma molécula polimérica à lateral da cadeia molecular principal
(ramificação).
P á g i n a | 395

Neste momento, caro(a) aluno(a), acesse o link para


visualizar os arranjos tridimensionais atático, isotático e sindiotático
das moléculas:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=11>.

A transição completa da estrutura linear para a estrutura em rede


é produzida pela formação de ligações cruzadas, ou entrelaçamento,
como mostra a figura 14.12, que ilustra a vulcanização. Borrachas são
os exemplos mais comuns de ligações cruzadas. O mero de isopreno
bifuncional ainda contém uma ligação dupla após a polimerização inicial, o que permite
a ligação covalente de um átomo de enxofre com dois meros adjacentes. o grau de
entrelaçamento é controlado pela quantidade de enxofre adicionado. Isso permite que
se controle o comportamento da borracha desde um material pegajoso até um material
resistente e elástico e, finalmente, até um produto duro e frágil, à medida que o
conteúdo de enxofre é aumentado.

Figura 14.12: Entrelaçamento produzindo uma estrutura em rede pela formação de ligações
primárias entre moléculas lineares adjacentes. Exemplo clássico da vulcanização da
borracha.

Nas aulas 3 e 4, apontamos que a complexidade das estruturas moleculares


com cadeia longa leva a estruturas cristalinas complexas e um grau significativo de
estruturas não-cristalinas em materiais comerciais. Agora, caro(a) aluno(a), podemos
comentar que o grau de cristalinidade diminuirá com o aumento de complexidade
estrutural, discutido neste item. Por exemplo, a ramificação no polietileno
pode reduzir a cristalinidade de 90% para 40%. Um polipropileno isotático
pode ser 90% cristalino, enquanto o polipropileno atático é quase todo
P á g i n a | 396

amorfo. Na verdade, caro(a) futuro(a) Engenheiro(a), o que queremos que você


entenda é que o controle da estrutura polimérica tem sido um componente essencial
no desenvolvimento de polímeros que competem com os metais em várias aplicações
de projeto de Engenharia. Vejamos mais um exemplo, agora abordando a
cristalinidade e complexidade das cadeias poliméricas.
Exemplo 14.5: Vinte gramas de enxofre são acrescentados a 100 g de
isopreno. Qual é a fração máxima de sítios para formação de ligações cruzadas que
poderiam ser conectados?
Solução: Conforme ilustrado na figura 14.12, o entrelaçamento completo
envolve dois átomos de S para dois meros de isopreno (ou seja, 1 S: 1 isopreno). A
quantidade de enxofre necessária para o entrelaçamento completo de 100 g de
isopreno seria
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 𝑆
𝑚𝑠 = 𝑥 100 𝑔
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 𝑖𝑠𝑜𝑝𝑟𝑒𝑛𝑜

Usando as massas dos elementos disponíveis na tabela periódica, temos


32,06
𝑚𝑠 = 𝑥 100 𝑔 = 47,1
5(12,01)+ 8(1,008)

Supondo que todos os 20 g de S acrescentados nesse caso participem da


formação de ligações cruzadas, descobrimos que a fração máxima de sítios de
entrelaçamento será
𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑆 𝑎𝑐𝑟𝑒𝑠𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑑𝑎
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 =
𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑆 𝑛𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒𝑙𝑎ç𝑎𝑑𝑜
20 𝑔
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 = = 0,425
47,1 𝑔

14.1.2 4 Polímeros termoplásticos

Polímeros termoplásticos se tornam moles e deformáveis sob


aquecimento, o que é característico das moléculas poliméricas lineares
(incluindo aquelas que são ramificadas, mas não cruzadas). A
plasticidade em altas temperaturas se deve à capacidade de as moléculas deslizarem
umas sobre as outras, que é outro exemplo de um processo ativado termicamente, ou
de Arrhenius. Nesse sentido, os materiais termoplásticos são semelhantes aos metais,
que ganham ductilidade em altas temperaturas (por exemplo, deformação por
fluência). Deve-se observar que, assim como os metais, a ductilidade dos polímeros
P á g i n a | 397

termoplásticos é reduzida pelo resfriamento. A principal distinção entre termoplásticos


e metais é o que queremos dizer com 'altas' temperaturas. A ligação secundária, que
precisa ser superada para deformar os termoplásticos, pode permitir a deformação
substancial por volta de 10ºC para termoplásticos comuns. No entanto, a
ligação metálica geralmente restringe a deformação por fluência a
temperaturas próximas de 1.000ºC nas ligas típicas. Embora, em geral,
não se espere que os polímeros possam reproduzir totalmente o comportamento
mecânico das ligas metálicas tradicionais, um grande esforço tem sido feito para
produzir alguns polímeros com resistência e rigidez suficientes para serem sérios
candidatos a aplicações estruturais, outrora dominada por metais. Esses polímeros
são indicados na tabela 14.1 como polímeros de Engenharia, os quais mantêm boa
resistência e rigidez até 150-175ºC. Na verdade, caro(a) aluno(a), as categorias são
de certa forma arbitrárias.
O náilon de fibra têxtil de 'uso geral' também é um exemplo pioneiro de um
polímero de Engenharia, e ele continua a ser o mais importante. Estima-se que a
indústria tenha desenvolvido mais de meio milhão de projetos de peças de polímero
de Engenharia especificando o náilon. Os outros membros da família de polímeros de
Engenharia fazem parte de uma lista em constante expansão. Tenha em mente,
caro(a) aluno(a), que a importância desses materiais para Engenheiros de projeto vai
além de sua porcentagem relativamente pequena no mercado total de polímeros,
conforme indicado pela tabela 14.1. Apesar disso, a maior parte desse mercado é
dedicada aos materiais conhecidos como polímeros de uso geral, que incluem os
diversos filmes, tecidos e materiais de embalagem que fazem parte da vida diária.
P á g i n a | 398

Tabela 14.1: Alguns polímeros termoplásticos comuns.


P á g i n a | 399

Tabela 14.2: Alguns polímeros termoplásticos comuns (conclusão).


P á g i n a | 400

Uma coisa a se perceber, caro(a) aluno(a), é que os valores de


porcentagem de mercado para polímeros de Engenharia na tabela 14.1
são afetados por essas aplicações do 'dia-a-dia'. As fatias de mercado
para náilon e poliéster incluem seus principais usos como fibras têxteis, que é o motivo
para a maior fatia de mercado do poliéster, embora o náilon seja um substituto mais
comum para o metal. E também, que a tabela 14.1 inclui alguns dos nomes comerciais
de produtos mais familiares, além dos nomes químicos dos polímeros. Vamos fazer
um breve comentário sobre alguns deles.
O polietileno, termoplástico mais comum, é subdividido em polietileno de baixa
densidade (LDPE), polietileno de alta densidade (HDPE) e polietileno de ultra-alto
peso molecular (UHMWPE). O LDPE tem muito mais ramificações de cadeia do que
o HDPE, que é essencialmente linear. O UHMWPE possui cadeias muito longas,
lineares. O aumento da linearidade e do comprimento da cadeia tende a aumentar o
ponto de fusão do polímero, devido à maior cristalinidade possível na morfologia do
polímero.
O acrilonitrila-butadieno-estireno (ABS) é um exemplo importante de
copolímero, conforme discutimos no item 2, sobre polimerização. O ABS é um
copolímero por enxerto, ao contrário do copolímero em bloco, mostrado na figura
14.3. Cadeias de acrilonitrila e estireno são 'enxertadas' na cadeia polimérica principal,
composta de polibutadieno.
Uma terceira categoria de materiais na tabela 14.1 é a dos elastômeros
termoplásticos. Elastômeros são polímeros com comportamento mecânico
semelhante à borracha natural. As borrachas sintéticas tradicionais se
tornam, sob vulcanização, polímeros termofixos, conforme discutiremos
no próximo item. Os elastômeros termoplásticos relativamente novos são
basicamente compósitos de domínios elastoméricos rígidos em uma matriz
relativamente mole de um polímero termoplástico cristalino. Se você está pensando o
que é um 'compósito' caro(a) aluno(a), não se preocupe que será assunto de nossa
próxima aula. Uma vantagem importante dos elastômeros termoplásticos é a
conveniência de processamento pelas técnicas termoplásticas tradicionais, incluindo
o fato de eles serem recicláveis.
Acompanhe agora um exemplo sobre o náilon e outro sobre o copolímero ABS.
P á g i n a | 401

Exemplo 14.6: Uma liga de náilon e óxido de polifenileno (PPO) produz um


polímero de Engenharia com resiliência1 melhorada e módulo em alta temperatura
comparado ao náilon padrão. Dado que o PPO é:

Figura 14.13:

calcule o peso molecular do mero de PPO.


1propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após
terem sido submetidos a uma deformação elástica.

Solução: Sabendo que o símbolo hexagonal representa um anel de seis


átomos de carbono, o número total de átomos de carbono é, então, 6 + 2 = 8. Existe
um total de oito átomos de hidrogênio (incluindo dois implícitos nos cantos não
marcados do anel de carbono) e, naturalmente, somente um átomo de oxigênio. O
peso molecular correspondente é
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 𝑚𝑒𝑟𝑜 = [8(12,01) + 8(1,008) + 16,00] = 120,1 𝑢𝑚𝑎
Exemplo 14.7: Um copolímero de ABS contém frações em peso iguais de cada
componente polimérico. Qual é a fração molar de cada componente?
Solução: Suponha que 100 g de copolímero gere 33,3 g de cada componente
(acrilonitrila, butadieno e estireno). Usando informações da tabela 14.1 e as massas
atômicas dos elementos, temos
33,3 𝑔
𝑚𝑜𝑙𝑠 𝐴 = [3(12,01)+3(1,008)+14,01] 𝑔/𝑚𝑜𝑙 = 0,628 𝑚𝑜𝑙
33,3 𝑔
𝑚𝑜𝑙𝑠 𝐵 = [4(12,01)+6(1,008)] 𝑔/𝑚𝑜𝑙 = 0,616 𝑚𝑜𝑙
33,3 𝑔
𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑆 = [8(12,01)+8(1,008)] 𝑔/𝑚𝑜𝑙 = 0,320 𝑚𝑜𝑙

Nota: Existem seis átomos de carbono e cinco de hidrogênio associados ao


anel de benzeno da tabela 13.1, gerando
0,628 𝑚𝑜𝑙
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐴 = = 0,402
(0,628 + 0,616 + 0,320) 𝑚𝑜𝑙
P á g i n a | 402

0,616 𝑚𝑜𝑙
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐵 = = 0,394
(0,628 + 0,616 + 0,320) 𝑚𝑜𝑙
0,320 𝑚𝑜𝑙
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑆 = = 0,205
(0,628 + 0,616 + 0,320) 𝑚𝑜𝑙

14.1.3 Polímeros termofixos

Polímeros termofixos são o oposto dos termoplásticos.


Eles se tornam duros e rígidos sob aquecimento. Diferentemente
dos polímeros termoplásticos, esse fenômeno não se perde com o
resfriamento, que é característico das estruturas moleculares em
rede formadas pelo mecanismo de crescimento em estágios.
Os estágios da reação química são acentuados pelas temperaturas mais altas
e irreversíveis; ou seja, a polimerização permanece sob resfriamento. Produtos
termofixos podem ser removidos do molde na temperatura de fabricação
(normalmente, 200 a 300ºC). Ao contrário, os termoplásticos precisam ser resfriados
no molde para se evitar deformações.
Polímeros termofixos comuns são ilustrados na tabela 14.2, subdividida em
duas categorias: termofixos e elastômeros. Nesse caso, termofixo refere-se a
materiais que compartilham com os polímeros de Engenharia da tabela 14.1
resistência e dureza significativas, de modo que são substitutos comuns dos metais.
Contudo, os termofixos têm as desvantagens de não serem recicláveis e, em geral,
terem técnicas de processamento menos variáveis.
Conforme observamos no item anterior, caro(a) aluno(a), os elastômeros
tradicionais são copolímeros termofixos. Diversos exemplos importantes são listados
na tabela 14.2. Novamente, alguns nomes comerciais familiares são indicados. Além
das muitas aplicações encontradas na tabela 14.1, como filmes espumas e
revestimentos, a tabela 14.2 inclui a importante aplicação como adesivos. O adesivo
serve para unir as superfícies de dois sólidos (aderentes) por forças secundárias
semelhantes àquelas entre as cadeias moleculares nos termoplásticos. Se a camada
adesiva for fina e contínua, o material aderente normalmente falhará antes do adesivo.
Finalmente, também pode ser observado que os copolímeros em rede podem
ser formados de modo semelhante aos copolímeros em bloco e por enxerto, já
discutidos para os termoplásticos. O copolímero em rede resulta da polimerização de
P á g i n a | 403

uma combinação de mais de uma espécie de monômeros polifuncionais. Veja o


exemplo a seguir sobre o cálculo da fração em peso de um elastômero.
Exemplo 14.8: Um anel de borracha é feito de um elastômero com partes
equimolares de fluoreto de polivinilideno e hexafluoropropileno. Calcule a fração em
peso de cada polímero.

Solução: Usando as informações da tabela 14.2 e a tabela periódica, temos


𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑓𝑙𝑢𝑜𝑟𝑒𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑙𝑖𝑣𝑖𝑛𝑖𝑙𝑖𝑑𝑒𝑛𝑜 = [2(12,01) + 2(1,008) + 2(19,00) = 64,04 𝑢𝑚𝑎
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑒𝑥𝑎𝑓𝑙𝑢𝑜𝑟𝑜𝑝𝑟𝑜𝑝𝑖𝑙𝑒𝑛𝑜 = [3(12,01) + 6(19,00) = 150,0 𝑢𝑚𝑎
As frações em peso são, então,
64,04 𝑢𝑚𝑎
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑓𝑙𝑢𝑜𝑟𝑒𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑙𝑖𝑣𝑖𝑛𝑖𝑙𝑖𝑑𝑒𝑛𝑜 = = 0,299
(64,04 + 150,0) 𝑢𝑚𝑎
150,0 𝑢𝑚𝑎
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑒𝑥𝑎𝑓𝑙𝑢𝑜𝑟𝑜𝑝𝑟𝑜𝑝𝑖𝑙𝑒𝑛𝑜 = = 0,701
(64,04 + 150,0) 𝑢𝑚𝑎
P á g i n a | 404

Tabela 14.3: Alguns polímeros termofixos comuns.


P á g i n a | 405

Tabela 14.4: Alguns polímeros termofixos comuns (conclusão).

Veja agora outro exemplo que aborda o cálculo do peso molar de um polímero
termofixo. Observe como são usados dados das massas atômicas dos elementos que
compõem o polímero e também sua densidade.
Exemplo 14.9: Amostras metalúrgicas a serem polidas para microscopia óptica
normalmente são montadas em um cilindro de fenol-formaldeído, um polímero
termofixo. Devido à estrutura em rede tridimensional, o polímero é basicamente uma
molécula grande. Qual seria o peso molar de um cilindro de 10 cm 3 desse polímero?
(A densidade do fenol-formaldeído é 1,4 g/cm3).
Solução: Em geral, a molécula de fenol é trifuncional (ou seja, um fenol é
conectado a três outros fenóis por três pontes de formaldeído). Uma ponde desse tipo
aparece na figura 14.6. Como cada ponte de formaldeído é compartilhada por dois
fenóis, a razão geral de fenol para formaldeído que precisa reagir para formar a
P á g i n a | 406

estrutura tridimensional da figura 14.6 é 1:3/2 ou 1:1,5. Como cada reação de


formaldeído produz uma molécula de H2O, podemos escrever que
1 𝑓𝑒𝑛𝑜𝑙 + 1,5 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙𝑑𝑒í𝑑𝑜 → 1 𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑒𝑛𝑜𝑙 + 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙𝑑𝑒í𝑑𝑜 + 1,5 𝐻2 𝑂 ↑
Desse modo, podemos calcular o peso molar do mero como
(𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟)𝑚𝑒𝑟𝑜 = (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟)𝑓𝑒𝑛𝑜𝑙 + 1,5(𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟)𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙𝑑𝑒í𝑑𝑜 − (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟)𝐻2 𝑂
= [6(12,01) + 6(1,008) + 16,00] + 1,5(12,01 + 2(1,008) + 16,00] − 1,5[2(1,008) + 16,00] = 112,12 𝑢𝑚𝑎

A massa do polímero em questão é


𝑚 = 𝜌. 𝑉 = 1,4 𝑔/𝑐𝑚3 𝑥 10 𝑐𝑚3 = 14 𝑔
Portanto, o número de meros no cilindro é
14 𝑔
𝑛= = 7,52. 1022 𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠
112,12 𝑔/6,023.1023 𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠

ocasionando um peso molar de


𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 = 7,52. 1022 𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑥 112,12 𝑢𝑚𝑎/𝑚𝑒𝑟𝑜 = 8,43. 1024 𝑢𝑚𝑎

Talvez seja novamente momento de fazer uma pausa,


caro(a) aluno(a). Você deve estar percebendo que esta aula é
um pouco mais longa e aborda uma gama enorme de possíveis
compostos que constituem os polímeros.
E veja que estamos resumindo o máximo as discussões para que fique
mais claro possível para você; além de estarmos colocando exemplos que
abordam conceitos químicos necessários ao melhor entendimento desta
classe dos materiais.
De qualquer forma, não se preocupe.
Você poderá praticar bastante nos exercícios propostos da aula.
Boa pausa, retorne com disposição.
P á g i n a | 407

14.2 Aditivos

Copolímeros e blendas foram discutidos no item 2 desta aula


como análogos às ligas metálicas. Existem vários outros aditivos tipo
liga, que, tradicionalmente, têm sido usados na tecnologia de
polímeros para fornecer-lhes características específicas. Vamos fazer
uma breve abordagem sobre alguns destes componentes dos polímeros.
O plastificante é acrescentado para amolecer um polímero. Esse aditivo é
essencialmente para uma blenda com um polímero de baixo peso molecular
(aproximadamente 300 uma). Observe que um grande acréscimo de plastificante
produz um líquido. A tinta comum é um exemplo. A 'secagem' da tinta envolve a
evaporação do plasticizante (normalmente acompanhada pela polimerização e
formação de ligação cruzada pelo oxigênio).
Um material de enchimento, ou carga, por outro lado, pode fortalecer um
polímero, restringindo a mobilidade das cadeias. Em geral, os enchimentos são
bastante usados para a substituição de parte do volume do polímero, fornecendo
estabilidade dimensional e custo reduzido. São usados materiais relativamente
inertes. Alguns exemplos são celulose de fibra curta (um enchimento orgânico) e
amianto (um enchimento inorgânico). Para você saber, caro(a) aluno(a), cerca de um
terço do pneu de automóvel típico é enchimento (ou seja, negro de fumo).
Reforços, como fibras de vidro, também são classificados como aditivos.
Esses reforços são bastante usados nos polímeros de Engenharia da tabela 14.1 para
aumentar sua resistência e rigidez, elevando, assim, sua competitividade como
substitutos do metal. Os reforços geralmente recebem tratamentos superficiais para
garantir boas adesão interfacial com o polímero e, portanto, eficiência máxima na
melhoria das propriedades. O uso desses aditivos até um nível de aproximadamente
50% vol produz um material geralmente ainda considerado um polímero. Para
acréscimos acima de aproximadamente 50% vol, o material é mais corretamente
chamado de compósito. Um bom exemplo de compósito é a fibra de vidro, que iremos
discutir com detalhes na próxima aula.
Estabilizadores são aditivos usados para reduzir a degradação do polímero.
Eles incluem um complexo conjunto de materiais, devido à grande variedade de
mecanismos de degradação (oxidação, térmica e ultravioleta). Por exemplo, o látex
de borracha natural contém grupos fenólicos complexos, que retardam as reações de
P á g i n a | 408

oxidação em temperaturas ambiente. Entretanto, esses antioxidantes naturais não são


eficazes em temperaturas elevadas. Assim, estabilizadores adicionais (por exemplo,
outros fenóis, aminas ou compostos de enxofre) são acrescentados à borracha a ser
aplicada como pneu.
Retardadores de chamas são acrescentados para reduzir a combustibilidade
inerente a certos polímeros, como o polietileno. A combustão é simplesmente a reação
de um hidrocarboneto com oxigênio acompanhado por liberação substancial de calor.
De fato, alguns hidrocarbonetos, como o PVC, exibem combustibilidade reduzida. A
resistência do PVC à combustão aparentemente vem da liberação dos átomos de
cloro da cadeia polimérica. Esses halogênios impedem o processo de combustão,
terminando as reações da cadeia com radicais livres.
Corantes são aditivos usados para fornecer cor a um polímero em que a
aparência é um fator na seleção de materiais. Dois tipos de corantes são usados,
pigmentos e tinturas. Pigmentos são materiais insolúveis e coloridos acrescentados
em forma de pó. Exemplos típicos são cerâmicas cristalinas como óxido de titânio e
silicato de alumínio, embora também existam pigmentos orgânicos. Tinturas são
corantes solúveis, orgânicos, que podem fornecer cores transparentes. Observe um
exemplo que aborda o cálculo da densidade de um polímero de náilon. Ele
complementa os outros exemplos já mostrados.
Exemplo 14.10: Um polímero de náilon 66 é reforçado com 33%p de fibra de
vidro. Calcule a densidade desse polímero de Engenharia. Considere a densidade de
um náilon 66 = 1,14.106 g/cm3, e a densidade do vidro de reforço = 2,54.106 g/cm3.
Solução: Para 1 Kg de produto final, haverá
0,33 x 1 Kg = 0,33 Kg vidro, e
1 kg - 0,33 Kg = 0,67 Kg náilon 66.
O volume total do produto será
𝑉𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 = 𝑉𝑛á𝑖𝑙𝑜𝑛 + 𝑉𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜
𝑚𝑛á𝑖𝑙𝑜𝑛 𝑚𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜
𝑉𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 = +
𝜌𝑛á𝑖𝑙𝑜𝑛 𝜌𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜
0,67 𝐾𝑔 0,33 𝐾𝑔
𝑉𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 = +
1,14.106 𝑔 2,54.106 𝑔

1.106 𝑔
𝑉𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 = 1.000 𝐾𝑔 = 7,18. 10−4 𝑚3

A densidade total do produto final é, então,


P á g i n a | 409

1 𝐾𝑔 1.106 𝑔
𝜌= 𝑥 = 1,39. 106 𝑔/𝑚3
7,18.10−4 𝑚3 1.000 𝐾𝑔

14.2.1 Processamento de polímeros

Chegamos, então, caro(a) aluno(a) ao último tema dessa nossa


aula, mas não menos importante. Lembre-se, se estiver cansado ou se
os exemplos foram de alguma forma exigentes, uma breve pausa fará
com que recomece firme e forte.
Para iniciar, meu(minha) caro(a), observe a tabela 14.3. Ela resume algumas
das principais técnicas de processamento para os polímeros. Para os termoplásticos,
a moldagem por injeção e a moldagem por extrusão são os processos
predominantes. A figura 14.13 ilustra a técnica de moldagem por injeção, e a figura
14.14 ilustra a técnica de moldagem por extrusão. A moldagem por injeção envolve a
fusão do pó do polímero antes da injeção. Tanto a moldagem por injeção quanto à por
extrusão são semelhantes ao processamento metalúrgico, mas executadas em
temperatura relativamente baixas.
A moldagem por insuflação (figura 14.15) é uma terceira técnica
de processamento importante para os termoplásticos. Com essa técnica,
o processo de conformação específico é muito semelhante à técnica de
conformação do vidro da figura 13.5, exceto que são exigidas temperaturas de
moldagem relativamente baixas. Assim como na manufatura de recipientes de vidro,
a moldagem por insuflação constantemente é usada para produzir recipientes
poliméricos. Além disso, vários produtos comerciais, incluindo peças de automóveis,
podem ser fabricadas economicamente por esse método.

Tabela 14.5: Alguns dos principais métodos de processamento de polímeros.


P á g i n a | 410

Figura 14.14: Moldagem por injeção de um polímero termoplástico.

Figura 14.15: Moldagem por extrusão de um polímero termoplástico.


P á g i n a | 411

Figura 14.16: Moldagem por insuflação de um polímero termoplástico.

A moldagem por compressão e a moldagem por transferência


são os processos predominantes para polímeros termofixos. A moldagem
por compressão é ilustrada na figura 14.16(a) e a moldagem por
transferência é ilustrada na figura 14.16(b). A moldagem por compressão geralmente
não é útil para termoplásticos porque o molde teria de ser resfriado para garantir a
forma da peça na ejeção do molde. Na moldagem por transferência, um material
parcialmente polimerizado é comprimido em um molde fechado, onde ocorre o
entrelaçamento final em temperatura e pressão elevadas.

Figura 14.17: (a) Moldagem por compressão e (b) moldagem por transferência de um
polímero termofixo.
P á g i n a | 412

Anteriormente nesta aula, caro(a) aluno(a), você viu várias referências ao efeito
da estrutura polimérica sobre o comportamento mecânico; pois bem, a tabela 14.4
resume essas diversas relações, além das referências correspondentes às técnicas
de processamento que levam às diversas estruturas.
Finalmente, a figura 14.17 resume os procedimentos gerais para a manufatura
de diversos produtos de borracha. A nível de curiosidade, vale a pena dar uma olhada
nesta figura antes de seguir para os exercícios sobre esta aula.

Tabela 14.6: Relação entre processamento, estrutura e comportamento mecânico para os


polímeros.
P á g i n a | 413

Figura 14.18: Diagrama de fluxo típico para a manufatura de diversos produtos de borracha.

Para encerrar de forma brilhante esta aula, caro(a) aluno(a),


que tal assistir a uma teleaula sobre os mais famosos dos
polímeros, os plásticos!?!... Acesse o endereço eletrônico:
<https://www.youtube.com/watch?v=jitq5y8JLAU>.

Lembre-se sempre que deve praticar os exercícios


propostos. Então, se for necessário, refaça todos os exemplos e
assista novamente aos vídeos. Nos livros propostos nas referências,
você encontrará vários exemplos resolvidos e exercícios. Caso
haja alguma dúvida, em relação à teoria ou aos exercícios, entre em contato
com o tutor da disciplina. Bons estudos!
Resumo

Caro(a) aluno(a), nesta aula (um pouco mais longa que o normal) uma atenção
considerável foi dada ao polímeros, ou plásticos. Aprendemos que são materiais
orgânicos compostos de moléculas orgânicas de cadeia longa ou em rede, formadas
de pequenas moléculas (monômeros) por reações de polimerização. Vimos que essa
polimerização ocorre por crescimento da cadeia (polimerização por adição) ou
crescimento em estágios (polimerização por condensação). E vimos ainda que:

 Copolímeros e blendas são semelhantes a ligas metálicas;


 O número de meros ligados para formar uma molécula polimérica é chamado
de grau de polimerização;
 Para muitos polímeros, a rigidez e o ponto de fusão aumentam com o
aumento do comprimento e da complexidade molecular; sendo essa complexidade
aumentada pela irregularidade estrutural, pela ramificação e pela formação de
ligações cruzadas;
 Polímeros termoplásticos tornam-se mais moles sob aquecimento; incluem
polímeros de Engenharia para substituição de metais e elastômeros termoplásticos,
materiais tipo borracha com a conveniência de processamento dos termoplásticos
tradicionais;
 Polímeros termofixos são estruturas em rede que se formam sob
aquecimento, resultando em maior rigidez, e incluem os tradicionais elastômeros
vulcanizados;
 Aditivos são materiais adicionados aos polímeros para fornecer
características específicas. Assim como os copolímeros e as blendas os polímeros
com aditivos são semelhantes às ligas metálicas;
 Polímeros termoplásticos geralmente são processados com moldagem por
injeção, moldagem por extrusão ou moldagem por insuflação. Polímeros termofixos
geralmente são conformados com moldagem por compressão ou moldagem por
transferência.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 14

Questão 1.
(a) Compare o estado cristalino em materiais metálicos e
nos polímeros.
(b) Compare o estado não-cristalino na forma como ele se
aplica aos polímeros e aos vidros cerâmicos.
Questão 2. Explique sucintamente por que a tendência
que um polímero tem para se cristalizar diminui em função de um aumento no peso
molecular.
Questão 3. Com base na tabela de temperaturas de fusão e de transição vítrea
para alguns materiais poliméricos mais comuns dada, nomeie dentre os seguintes
polímeros aquele(s) que seria(m) adequado(s) para a fabricação de copos para café
quente: polietileno, polipropileno, cloreto de polivinila, poliéster, PET e policarbonato.
Por quê?

Questão 4. Dentre aqueles polímeros listados na tabela da questão anterior,


qual(ais) polímero(s) seria(m) mais adequado(s) para o uso como bandeja para cubos
de gelo. Por quê?
Questão 5. Faça comparações entre os polímeros termoplásticos e os
polímeros termofixos (a) em termos das características mecânicas quando estes são
aquecidos, e (b) de acordo com possíveis estruturas moleculares.
P á g i n a | 417

Questão 6.
Realizando uma pesquisa, um estudante de Engenharia constatou que não é
possível triturar e depois reutilizar um polímero fenol-formaldeído, mas isso é possível
o polipropileno. Você saberia dizer os motivos desse fato?
Questão 7.
(a) Cite quatro fatores que determinam qual técnica de fabricação é usada para
conformar os materiais políméricos.
(b) Cite as diferenças principais entre as técnicas de polimerização por adição
e condensação.
(c) Compare as técnicas de moldagem por compressão, injeção e
transferência, que são usadas para conformar materiais plásticos.
Questão 8.
(a) Em termos da estrutura molecular, explique por que o fenol-formaldeído
(baquelite) não será um elastômero.
(b) Qual é a distinção entre corantes por tintura e por pigmento?
Questão 9. No exemplo 14.1 calculamos o grau de polimerização, n, da
molécula de polietileno. Qual seria o grau de polimerização de um PVC com peso
molecular médio de 25.000 uma?
Questão 10. Quanto H2O2 deve ser acrescentado ao etileno para produzir um
grau médio de polimerização de (a) 500 e (b) 1.000? Se necessário, reveja o exemplo
14.2.
Questão 11. Com base no que vimos no exemplo 14.3, qual seria o percentual
molar de etileno (C2H4) e cloreto de vinila (C2H3Cl) em um copolímero irregular que
contém 50%p de cada componente? Considere as massas molares: M(C2H4) = 28,05
uma e M(C2H3Cl) = 62,49 uma
Questão 12. Calcule o grau de polimerização para uma molécula de poliacetal
com um peso molecular de 25.000 uma. (Veja o exemplo 14.4).
Questão 13. No exemplo 14.5 vimos que quando vinte grama de enxofre são
acrescentados a 100 g de isopreno, a fração máxima de sítios para formação de
ligações cruzadas que poderiam ser conectados foi mS = 47,1. Calcule agora que
número real de sítios esse cálculo representa nos 100 g de isopreno. Observe para
isso a figura 14.12.
P á g i n a | 418

Questão 14. Com base no que vimos no exemplo 14.7, calcule as frações em
peso para um copolímero de ABS que tenha frações molares iguais de cada
componente.
Questão 15. Qual seria o peso molecular de um polímero de PPO com grau de
polimerização de 700? Reveja, se necessário, o exemplo 14.6.
Questão 16. Para um elastômero semelhante ao do exemplo 14.8, calcule a
fração molar de cada componente se houver frações em peso iguais de fluoreto de
polivinilideno e hexafluorpropileno.
Questão 17. O peso molar de um produto de fenol-formaldeído é calculado no
exemplo 14.9. Quanto de água é produzido na polimerização desse produto?
Questão 18. O exemplo 14.10 descreveu um polímero de Engenharia de alta
resistência e alta rigidez. Resistência e rigidez aumentadas ainda mais por uma 'carga'
maior de fibras de vidro. Calcule a densidade de um náilon 66 com 43%p de fibras de
vidro.
Aula 15
Compósitos

APRESENTAÇÃO DA AULA

Muito bem caro(a) aluno(a), chegamos à nossa última categoria de materiais


estruturais de Engenharia, os compósitos. Esses materiais envolvem alguma
combinação de dois ou mais componentes dos tipos fundamentais de material
abordados nas aulas anteriores. Uma filosofia chave na seleção de materiais
compósitos é de que eles devem fornecer o 'melhor dos dois mundos' (ou seja, as
propriedades atraentes de cada componente). Exemplos clássicos são a fibra de
vidro, o concreto e a madeira. Então, nesta aula, iremos aprender que muitas das
nossas tecnologias modernas exigem materiais com combinações incomuns de
propriedades que não podem ser atendidas pelas ligas metálicas, cerâmicas e
materiais poliméricos convencionais. Sejam bem-vindos a esse novo conhecimento!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Identificar os principais materiais compósitos;


 Entender que as propriedades dos compósitos são uma função das
propriedades das fases constituintes;
 Compreender sobre os compósitos reforçados com fibra, entre eles a
fibra de vidro e suas composições;
 Compreender sobre os compósitos avançados e compósitos de matriz
metálica e matriz cerâmica;
 Entender os compósitos naturais reforçados com fibra; entre eles a
madeira, um excelente material estrutural;
 Compreender sobre os compósitos agregados, entre eles o concreto e
suas excepcionais propriedades para a Engenharia;
 Identificar os principais tipos de processamentos de compósitos.
P á g i n a | 420

15 INTRODUÇÃO

Como dissemos na apresentação desta aula, caro(a) aluno(a),


conhecendo os vários tipos de compósitos é possível projetar
materiais que possuam combinações de propriedades melhores do
que aquelas encontradas em ligas metálicas, cerâmicas e materiais
poliméricos; mas para que isso seja feito, devemos também
compreender a dependência dos seus comportamentos em relação às características,
às quantidades relativas, à geometria/distribuição e às propriedades das fases
constituintes. Por exemplo, os Engenheiros da indústria aeronáutica estão cada vez
mais buscando materiais estruturais que possuam baixas densidades, sejam fortes,
rígidos e apresentem resistência à abrasão e ao impacto, e que ao mesmo tempo não
sejam facilmente corroídos. Isso é uma combinação de
características consideravelmente formidável. Com frequência, os
materiais mais fortes são relativamente densos; ainda, o aumento
da resistência ou da rigidez resulta, em geral, em uma diminuição
da resistência ao impacto.
De fato, caro(a) aluno(a), as combinações e as faixas das propriedades dos
materiais foram, e ainda estão sendo, ampliadas através do desenvolvimento de
materiais compósitos. De uma maneira geral, pode-se considerar um compósito como
sendo qualquer material multifásico que exiba uma proporção significativa das
propriedades de ambas as fases que o constituem, de tal modo que é obtida uma
melhor combinação de propriedades.
Compósitos de diversos tipos já foram discutidos neste curso; esses incluem
as ligas metálicas, as cerâmicas e os polímeros multifásicos. Por exemplo, os aços
perlíticos (reveja o item 3 da aula 8, em que discutimos o desenvolvimento das
microestruturas em ligas Fe-C) possuem uma microestrutura que consiste em
camadas alternadas de ferrita α e cementita (veja a figura 8.5). A fase ferrita é mole e
dúctil, enquanto a cementita é dura e muito frágil. As características mecânicas
combinadas da perlita (que apresenta ductilidade e resistência razoavelmente altas)
são superiores àquelas de ambas as fases constituintes. Como outro exemplo muito
comum, podemos citar a resistência das fibras de vidro de pequeno diâmetro é
combinada com a ductilidade da matriz polimérica. Também a combinação desses
dois componentes fornece um produto superior a qualquer um deles isolados.
P á g i n a | 421

Muitos compósitos, como o concreto, envolvem diferentes componentes de


um único tipo de material. Em geral, usaremos uma definição bastante estreita de
compósitos. Vamos considerar apenas os materiais que combinam
diferentes componentes em escala microscópica (em vez de
macroscópica). Mas entenda que não incluiremos ligas e cerâmicas
multifásicas, que são resultantes do processamento de rotina que
discutimos nas aulas 6 e 7, e aulas 13, respectivamente. De toda forma, caro(a)
aluno(a), veremos que essa categoria inclui uma coleção tremendamente diversificada
de materiais, dos comuns a alguns dos mais sofisticados. Fibra de vidro, madeira e
concreto, como já dissemos, estão entre nossos materiais de construção mais
comuns. Aprenderemos que cada vez mais esses materiais avançados estão sendo
usados em aplicações civis, como em pontes com melhores razões resistência-peso
e automóveis com uso mais eficiente de combustível.
A fibra de vidro, ou polímero reforçado com fibra de vidro, é um excelente
exemplo de compósito reforçado com fibra sintética. O reforço de fibra
geralmente é encontrado em uma das três configurações principais:
alinhado em uma única direção, cortado aleatoriamente ou tramado em
um tecido que é laminado com a matriz. A madeira é um material
estrutural semelhante à fibra de vidro (ou seja, um compósito reforçado com fibra
natural). As fibras de madeira são alongadas e feitas de células biológicas mortas. A
matriz corresponde aos depósitos de lignina e hemicelulose. O concreto é o melhor
exemplo de compósito agregado, no qual partículas, em vez de fibras, reforçam a
matriz. Embora o concreto seja um material de construção há séculos, existem vários
compósitos desenvolvidos nas últimas décadas que usam um conceito semelhante de
reforço particulado.
Faça uma pausa, caro(a) aluno(a), para fazer a visualização da
microestrutura do concreto. Perceba como é interessante essa observação
utilizando técnicas de microscopia. Acesse o link:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=12>.
P á g i n a | 422

Muitos materiais compósitos são compostos por apenas duas


fases; uma é chamada de matriz, que é contínua e envolve a outra
fase, chamada de fase dispersa. As propriedades dos compósitos
são uma função das propriedades das fases constituintes, das suas
quantidades relativas e da geometria da fase dispersa. Nesse contexto, por geometria
da fase dispersa subentende-se a forma das partículas, e seu tamanho, sua
distribuição e sua orientação; essas características estão representadas na figura
15.1.

Figura 15.1: Representações das diversas características geométricas e espaciais das


partículas da fase dispersa que podem influenciar as propriedades dos compósitos: (a)
concentração, (b) tamanho, (c) forma, (d) distribuição e (e) orientação.

(a) (b) (c)

(d) (e)

De fato, caro(a) aluno, entenda que no projeto de materiais compósitos, os


cientistas e Engenheiros combinam de maneira engenhosa vários metais, cerâmicas
e polímeros para produzir uma nova geração de materiais com características
extraordinárias. A maioria dos compósitos foi criada para melhorar combinações de
características mecânicas, tais como a rigidez, tenacidade e resistência nas condições
ambientes e a altas temperaturas. Os chamados compósitos avançados têm oferecido
algumas características bastante atraentes, como altas razões resistência-peso. É
exigido algum cuidado na citação dessas propriedades, pois elas podem ser de
natureza altamente direcional.
P á g i n a | 423

Enfim, caro(a) aluno(a), ao final dessa introdução, podemos


dizer que o processamento de compósitos reflete a grande gama de
composições químicas e microestruturas envolvidas nessa categoria
altamente diversificada de materiais. Focalizaremos alguns exemplos
comuns. Por exemplo, o processamento de compósitos de matriz de polímero vem do
processamento de polímeros, que discutimos na aula anterior (aula 14).

15.1 Compósitos reforçados com fibra

Os materiais mais comuns de materiais compostos sintéticos são aqueles com


fibras de reforço em escala micrométrica. Dentro dessa categoria estão dois
subgrupos distintos: (1) fibra de vidro, geralmente usando fibras de vidro com valores
moderadamente altos de módulo elástico1, e (2) compósitos avançados com fibras de
módulos ainda mais altos. Também compararemos esses materiais sintéticos a um
importante compósito reforçado com fibra natural - a madeira.

15.1.1 Fibra de vidro convencional

Fibra de vidro é um exemplo clássico de compósito moderno. As fibras de


reforço são mostradas na figura 15.2(a), e uma superfície de fratura típica de um
compósito que mostra essas fibras embutidas na matriz polimérica pode ser
visualizada na figura 15.2(b). A tabela 15.1 lista algumas composições de vidro
comuns usadas como fibra de reforço. Cada uma é resultado de um desenvolvimento
substancial, que levou à conveniência ideal para aplicações específicas. Por exemplo,
a composição de fibra de vidro mais utilizada é o vidro-E, em que E significa 'tipo
elétrico'. O baixo conteúdo de sódio do vidro-E é responsável por sua condutividade
elétrica especialmente baixa e sua atratividade como dielétrico. De fato, caro(a)
aluno(a), sua popularidade nos compósitos estruturais está relacionada à durabilidade
química da composição do borossilicato.
A tabela 15.2 lista alguns dos materiais de matriz polimérica comuns. Três
configurações de fibra comuns são ilustradas na figura 15.3. As partes (a) e (b)
mostram o uso de fibras contínuas e fibras discretas (curtas), respectivamente.
1Módulo de elasticidade é um parâmetro mecânico que proporciona uma medida
da rigidez de um material sólido.
P á g i n a | 424

A parte (c) da figura 15.3 mostra a configuração de tecido tramado, disposta


em camadas com o polímero matriz para formar um laminado. Devemos ter em mente
que a resistência ideal é obtida pelo reforço com fibras alinhadas e contínuas. No
entanto, é preciso ter cuidado na citação dessa resistência, pois ela só é máxima na
direção paralela aos eixos da fibra. Em outras palavras, a resistência é altamente
anisotrópica - ela varia com a direção.

Figura 15.2: (a) Fibras de vidro a serem usadas como reforço em um compósito de fibra de
vidro. (b) Imagem de microscópio eletrônico de varredura de uma superfície de fratura
mostrando o reforço de fibra de vidro em um compósito de fibra de vidro.

(a) (b)

Tabela 15.1: Composições de fibras de vidro de reforço.


P á g i n a | 425

Tabela 15.2: Materiais de matriz polimérica para fibras de vidro.

Figura 15.3: Três configurações de fibra comuns para reforço compósito; (a) fibras
contínuas, (b) fibras discretas (ou curtas) e (c) tecido tramado, que é usado para criar uma
estrutura laminada.

(a)

(b)

(c)

15.1.2 Compósitos avançados

Compósitos avançados incluem aqueles sistemas em que as


fibras de reforço possuem módulos maiores que o do vidro-E. Por
exemplo, a fibra de vidro usada na maioria das hélices de helicópteros
dos EUA contém fibras de vidro-S de alto módulo (veja tabela 15.1).
No entanto, compósito avançados geralmente envolvem fibras que não são feitas de
vidro. A tabela 15.3 lista uma série de sistemas de compósitos avançados. Esses
P á g i n a | 426

sistemas incluem alguns dos materiais mais sofisticados desenvolvidos para algumas
das aplicações de Engenharia mais exigentes. O crescimento do setor de compósito
avançados começou com os avanços de materiais da Segunda Guerra Mundial e
acelerou rapidamente com a corrida espacial dos anos 1960 e com o subsequente
crescimento na demanda por produtos de aviação comercial e de lazer.
Reforços de fibra de carbono e Kevlar representam avanços em relação às
fibras de vidro tradicionais para compósitos de matriz de polímero. O diâmetro das
fibras de carbono normalmente varia entre 4 e 10 μm, com o carbono sendo uma
combinação de grafite cristalino e regiões não-cristalinas. Kevlar é um nome comercial
da Du Pont para o poliparafenileno tereftalamida P (PPD-T), uma para-amida com
fórmula:

(15.1

Tabela 15.3: Sistemas compósitos avançados que não usam fibras de vidro.
P á g i n a | 427

Para você saber, caro(a) aluno(a), epóxis e poliésteres (polímeros termofixos)


são matrizes tradicionais. Um progresso substancial tem sido feito no
desenvolvimento de matrizes de polímero termoplástico, como poliéster-éter-cetona
(PEEK) e sulfero de polifenileno (PPS). Esses materiais têm como vantagens maior
resiliência e reciclabilidade. Polímeros reforçados com carbono e Kevlar são usados
em vasos de pressão, e o reforço de Kevlar é bastante utilizado em pneus. PEEK e
PPS reforçados com carbono demonstram boa resistência à
temperatura e, como resultado, são atraentes para aplicações
aeroespaciais. Compósitos de matriz metálica têm sido
desenvolvidos para uso em condições de temperatura, condutividade
e esforço além da capacidade dos sistemas com matriz de polímero. Por exemplo, o
alumínio reforçado com boro é usado no Ônibus Espacial, e o alumínio reforçado com
carbono é usado no telescópio Hubble. O alumínio reforçado com alumina é usado
em componentes de motor de automóvel.
Uma força motriz importante para o desenvolvimento de
compósitos de matriz cerâmica é a resistência superior a altas
temperaturas. Esses compósitos, ao contrário das cerâmicas
tradicionais, representam a maior promessa na obtenção de dureza
para aplicações estruturais, como projetos de motor a jato de alta eficiência.
Um sistema de compósito especialmente avançado nessa categoria é o
compósito carbono-carbono. Esse material de alto módulo de elasticidade e alta
resistência também é muito caro. O custo aumenta significativamente por causa do
processo de formação das moléculas longas de cadeias de carbono da matriz pela
pirólise (aquecimento em uma atmosfera inerte) de um hidrocarboneto polimérico. Os
compósitos carbono-carbono atualmente estão sendo usados em automóveis de alto
desempenho, como materiais resistentes à fricção, e em diversas aplicações
aeroespaciais, como blindagens protetivas para veículos de reentrada.
As fibras metálicas constantemente são fios de pequeno diâmetro. O reforço
com resistência especialmente alta vem dos uísqueres, pequenas fibras
monocristalinas que podem ser crescidas com uma estrutura cristalina quase perfeita.
Infelizmente, os uísqueres não podem ser crescidos como filamentos contínuos como
as fibras de vidro ou fios metálicos. A figura 15.4 compara a grande variedade de
geometrias de seções transversais associadas às fibras de reforço.
P á g i n a | 428

Figura 15.4: Áreas relativas da seção transversal e formas de uma grande variedade de
fibras de reforço.

Saiba no entanto, caro(a) aluno(a), que um único compósito


pode conter diversos tipos de fibras de reforço. Os híbridos são
tecidos tramados que consistem em dois ou mais tipos de fibras
de reforço (por exemplo, carbono e vidro ou carbono e aramida).
A combinação é uma técnica de projeto para otimizar o
desempenho do compósito. Por exemplo, fibras de alta resistência, sem carbono,
podem ser acrescentadas a fibras de carbono para melhorar a resistência ao impacto
do compósito global. Como informação para terminar nossa discussão sobre os
compósitos avançados, caro(a) aluno(a), vale destacar que aplicações emergentes
destes produtos incluem o mercado naval (por exemplo, lanchas de alto
desempenho), estruturas de Engenharia civil com melhores razões resistência-peso e
o desenvolvimento de carros elétricos. Um desafio fundamental para a maior utilização
de compósitos avançados no setor automobilístico em geral é a necessidade de
custos reduzidos, o que não pode ocorrer até que exista uma maior capacidade de
produção. Por sua vez, a capacidade de produção não pode ser aumentada sem uma
maior demanda no campo automotivo.
P á g i n a | 429

15.1.3 Madeira - um compósito natural reforçado com fibra

Os compósitos listados na tabela 15.3 representam algumas das


realizações mais criativas dos Engenheiros de materiais. Mas, como
tantas realizações dos seres humanos, esses compósitos reforçados
com fibra imitam a natureza. A madeira comum é um compósito desse
tipo, que serve como excelente material estrutural.
Para visualizar a microestrutura de uma madeira, caro(a) aluno(a), e
enriquecer ainda mais este estudo, acesse o endereço eletrônico:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=12>.

Algumas madeiras comuns são listadas na tabela 15.4. Encontramos duas


categorias: madeiras moles e madeiras duras. Essas categorias são termos
relativos, embora as madeiras moles geralmente tenham menor resistência.

Tabela 15.4: Algumas madeiras comuns.

A estrutura da madeira ilustra sua semelhança com os compósitos sintéticos


discutidos no item anterior. A figura 15.5 mostra uma visão dramática da
microestrutura do pinho-do-sul, uma madeira mole importante. A característica
dominante da microestrutura é o grande número de 'células' tubulares orientadas
verticalmente. Essas 'células' longitudinais são alinhadas com o eixo vertical da
árvore. Foi o brilhante Robert Hooke (você deve se lembrar da famosa 'Lei de Hooke')
quem criou o termo célula para descrever os blocos de montagem estruturais dos
P á g i n a | 430

sistemas biológicos, que ele descobriu nos estudos com


microscópio óptico. Existem algumas células radiais
perpendiculares às longitudinais. Como o nome sugere, as
células radiais se estendem do centro do tronco da árvore
radialmente para a superfície. As células longitudinais
formam tubos que transportam seiva e outros fluidos
necessários às células da planta. As paredes de célula são
Robert Hooke (1635-
compostas de celulose (veja tabela 14.1). Essas células 1703), físico inglês, foi
tubulares têm o papel de reforço desempenhado pelas um dos cientistas mais
brilhantes do século
fibras de vidro nos compósitos de fibra de vidro. A XVII, além de uma de
suas personalidades
resistência das células na direção longitudinal é uma mais intratáveis. Suas
brigas com colegas
função do alimento da fibra nessa direção. As células são cientistas, como Isaac
Newton, não diminuíram
mantidas juntas por uma matriz de lignina e hemicelulose. seus feitos, que
A lignina é um polímero em rede de fenol-propano, e a incluíram a lei do
comportamento elástico.
hemicelulose é a celulose polimérica com um grau de
polimerização relativamente baixo.

Figura 15.5: (a) Esquema simplificado da microestrutura da madeira. Nesse caso, é


ilustrada uma madeira mole; (b) micrografia eletrônica de varredura mostrando a
microestrutura do pinho-do-sul (45X).

(a) (b)

A estrutura química complexa e a microestrutura da madeira se manifestam


como uma macroestrutura altamente anisotrópica, conforme a figura 15.6. Em relação
a esse conceito, as dimensões e também as propriedades da madeira variam muito
com os níveis de umidade atmosférica.
P á g i n a | 431

Figura 15.6: Macroestrutura anisotrópica da madeira.

Vejamos agora, caro(a) aluno(a), antes de uma breve pausa merecida, dois
exemplos que abordam a matemática do que estudamos até o momento.
Exemplo 15.1: Um compósito de fibra de vidro contém 70% vol de fibras de
vidro-E em uma matriz de epóxi. (a) Calcule o percentual em peso das fibras de vidro
no compósito, e (b) Determine a densidade do compósito. Considere a densidade do
vidro-E igual a 2,54.106 g/m3 e para o epóxi igual a 1,1.106 g/m3
Solução: (a) Para 1 m3 de compósito, teríamos 0,70 m3 de vidro-E e 0,30 m3
de epóxi. Então a massa de cada componente será:
2,54. 106
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜−𝐸 = 𝑥 0,70 𝑚3 = 1,77. 106 𝑔
1 𝑚3
1,1. 106
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎𝑒𝑝ó𝑥𝑖 = 𝑥 0,30 𝑚3 = 0,33. 106 𝑔
1 𝑚3
fornecendo,
1,77. 106 𝑔/𝑐𝑚3
%𝑝 𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜 = 𝑥 100 = 84,3%
(1,77 + 0,33). 106 𝑔
(b) A densidade será dada por:
𝑚 (1,77 + 0,33). 106 𝑔/𝑐𝑚3
𝜌= = = 2,10. 106 𝑔/𝑚3
𝑉 1 𝑚3

Exemplo 15.2: A hemicelulose é um componente importante na madeira.


Calcule seu peso molecular para um grau de polimerização de 200.
Solução: O mero a celulose é dado na tabela 14.1 e pode ser escrito de forma
compacta como:
P á g i n a | 432

C6H10O5

Relembramos da aula 14 que o peso molecular de um polímero é simplesmente


o grau de polimerização vezes o peso molecular de seu mero. Usando as massas
atômicas dos elementos disponíveis na tabela periódica, podemos escrever
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 = (200)(6 𝑥 12,01 + 10 𝑥 1,008 + 5 𝑥 16,00)𝑔/𝑚𝑜𝑙 = 32,430 𝑔/𝑚𝑜𝑙

15.1.4 Compósitos agregados

Como vimos, caro(a) aluno(a), a fibra de vidro é um exemplo


conveniente e familiar de compósito reforçado com fibras. De modo
semelhante, o concreto é um excelente exemplo de compósito
agregado, no qual partículas reforçam uma matriz. O concreto
comum é formado por brita e areia em uma matriz de aluminossilicato de cálcio
(cimento). Assim como a madeira, esse material de construção comum é usado em
quantidades incríveis. Para você ter uma ideia, o peso de concreto usado anualmente
excede o de todos os metais juntos.
Para o concreto, o agregado é uma combinação de areia (agregado fino) e
brita (agregado grosso). Esse componente do concreto é um material natural como a
madeira. Normalmente, esses materiais são escolhidos por sua densidade e
resistência relativamente altas. Uma tabela de composições de agregados seria
complexa e sem muito sentido. Em geral, os materiais agregados são
silicatos geológicos escolhidos a partir de depósitos disponíveis na
região. Assim, eles são exemplos complexos e relativamente impuros
dos silicatos cristalinos introduzidos no item 2 da aula 13. Os tamanhos
relativos de areia e brita são medidos e controlados pela passagem desses materiais
por peneiras-padrão. Os tamanhos de partícula relativos de areia e brita são medidos
e controlados pela passagem desses materiais por peneiras-padrão. Os tamanhos
das aberturas de telas de peneira são indicados na tabela 15.5.
É interessante neste momento, caro(a) aluno(a), você visualizar
fotomicrografias do concreto. Aproveite para pensar sobre os compósitos
agregados . Acesse o endereço eletrônico:
<http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=11>.
P á g i n a | 433

Tabela 15.5: Tamanhos de aberturas em peneiras-padrãoa.

Uma distribuição típica do tamanho de partícula, para agregados finos e


grossos, é ilustrada na figura 15.7. O motivo para uma combinação de agregados finos
e grossos em determinada mistura de concreto pode ser entendido examinando-se a
figura 15.8, a qual mostra que o espaço é preenchido de forma mais eficiente por uma
variedade de tamanhos de partícula. As partículas finas preenchem os interstícios
entre as partículas grandes. A combinação de agregados finos e grossos é
responsável por 60-75% do volume total do concreto final.
P á g i n a | 434

Figura 15.7: Distribuição típica de tamanho de partícula para agregado no concreto.


(Observe a escala logarítmica para os tamanhos de partículas classificados através das
aberturas da peneira).

Figura 15.8: Preenchimento do volume de concreto com agregado.

Como foi dito, e você certamente sabe, caro(a) aluno(a), a matriz que envolve
o agregado é o cimento, que, como o nome indica, liga as partículas agregadas em
um sólido rígido. O concreto moderno utiliza o cimento portland (que recebe o nome
da Ilha de Portland, na Inglaterra, onde uma rocha calcária assemelha-se ao produto
sintético), um aluminossilicato de cálcio. Na verdade, existem cinco tipos comuns de
cimento portland, como mostra a tabela 15.6. Eles diferem nas concentrações relativas
de quatro minerais que contêm cálcio. As variações resultantes nas características
são mostradas na tabela 15.6.
P á g i n a | 435

Tabela 15.6: Composições dos cimentos portland.

Como você também deve saber meu(minha) caro(a), a matriz é formada pela
adição de água ao pó do cimento apropriado. Os tamanhos das partículas para os pós
de cimento são relativamente pequenos em comparação com o mais fino dos
agregados. A variação no tamanho das partículas do cimento pode afetar fortemente
a taxa em que o cimento hidrata. Essa reação de hidratação é que endurece o cimento
e produz a ligação química da matriz com as partículas agregadas. E como você
poderia esperar pelo exame das composições complexas do cimento portland (tabela
15.6), a química do processo de hidratação é igualmente complexa.
O concreto constantemente é reforçado com barras de aço embutidas antes da
preparação do cimento. Essa técnica é especialmente eficaz quando as barras são
mantidas sob uma alta força de tração até que o concreto endureça. A subsequente
liberação da força de tração aplicada faz com que as barras se contraiam e coloquem
o concreto sob uma tensão residual compressiva. Como resultado, esse concreto
frágil, tipo cerâmica, é mais resistente a trincas. O concreto protendido não pode ser
fraturado até que uma tensão de tração aplicada exceda, pelo menos, a magnitude da
tensão residual compressiva. O concreto protendido é usado rotineiramente na
construção de pontes.

Para entender melhor sobre o concreto protendido,


assista a um vídeo que retrata essa importante tecnologia.
Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=s-0fiyovvzu>.
P á g i n a | 436

Na tecnologia de polímeros (discutida mais a fundo na aula anterior),


observamos diversos aditivos que fornecem certas características desejáveis ao
produto final. Na tecnologia de cimento, existem misturas, que são aditivos que
oferecem certas características. Qualquer componente do concreto que não seja
agregado, cimento ou água é, por definição, um aditivo (tabela 15.7). Um dos aditivos
listados é o incorporador de bolhas de ar, que nos lembra que o ar pode ser
considerado um quarto componente do concreto. De fato, praticamente todo concreto
aumenta a concentração das bolhas de ar capturadas, normalmente para aumentar a
trabalhabilidade durante a conformação e a resistência a ciclos de gelo/degelo.

Tabela 15.7: Tipos, características e exemplos de misturas.

Antes de prosseguir, é muito interessante que você assista


a um vídeo que retrata a fabricação do cimento portland. Ele
irá auxiliá-lo no entendimento deste importantíssimo compósito
para os Engenheiros e para a Engenharia. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=2F6A9nY1DBc>.

Embora o concreto seja um material de Engenharia importante, um grande


número de outros sistemas de compósitos é baseado em reforço com partículas.
P á g i n a | 437

Alguns exemplos aparecem na tabela 15.8. Assim como a tabela 15.3, esses sistemas
incluem alguns de nossos materiais de Engenharia mais sofisticados. Perceba,
caro(a) aluno(a), que dois grupos de compósitos modernos são identificados na tabela
15.8.

Tabela 15.8: Sistemas de compósitos agregados diferentes do concreto.

O termo “compósitos particulados” refere-se


especificamente aos sistemas em que as partículas dispersas são
relativamente grandes (com, pelo menos, vários micrometros de
diâmetro) e estão presentes em concentrações relativamente altas
(maiores que 25% vol e frequentemente entre 60% e 90% vol). Já encontramos um
sistema de materiais que pode ser incluído nessa categoria - os polímeros que contêm
cargas, discutidos no item 6 da aula anterior. Lembre-se de que os pneus de
automóveis são uma borracha com aproximadamente um terço de partículas de negro
de fumo. Um bom exemplo de compósito particulado é o WC/Co, caro(a) aluno(a), um
excelente material para ferramenta de corte. Um carbeto de alta dureza na matriz
metálica dúctil é um exemplo importante de cermet, um compósito de cerâmica-metal.
O carbeto é capaz de cortar aço endurecido, mas precisa da resiliência fornecida pela
matriz dúctil, o que também impede a propagação de trincas que seriam causadas
pelo contato partícula-partícula da fase frágil do carbeto.
Os metais reforçados por dispersão contêm concentrações muito pequenas
(menos de 15% vol) de partículas de óxido fortalecem o metal, servindo como
obstáculos ao movimento de discordâncias.
P á g i n a | 438

Vejamos agora um exemplo bem completo sobre as


quantidades no cimento portland.
Exemplo 15.3: Referimo-nos ao cimento portland como um
aluminossilicato de cálcio. Calcule o percentual em peso total de CaO
+ Al2O3 + SiO2 no cimento portland tipo I. (Ignore quaisquer óxidos puros, como CaO,
que poderiam contribuir para a coluna 'outras' da tabela 15.6).
Solução: Se considerarmos 100 Kg de cimento tipo I, descrito na tabela 15.6,
ele conterá 45 Kg de C3S, 27 Kg de C2S, 11 Kg de C3A, e 8 Kg de C4AF, onde a
notação da tecnologia de cimento é utilizada (por exemplo, C = CaO). Usando os
dados das massas dos elementos envolvidos, podemos determinar as frações em
peso de cada composto:
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝐶𝑎𝑂 𝑒𝑚 𝐶3 𝑆
3 (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐶𝑎𝑂)
=
3 (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝐶𝑎𝑂) + (𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑆𝑖𝑂2 )
3 (40,08 + 16,00)
= = 0,737
3 (40,08 + 16,00) + (28,09 + 2 𝑥 16,00)
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝑆𝑖𝑂2 𝑒𝑚 𝐶3 𝑆 = 1,000 − 0,737 = 0,263

De modo semelhante,
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝐶𝑎𝑂 𝑒𝑚 𝐶2 𝑆
2 (40,08 + 16,00)
= = 0,651
2 (40,08 + 16,00) + (28,09 + 2 𝑥 16,00)
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝑆𝑖𝑂2 𝑒𝑚 𝐶2 𝑆 = 1,000 − 0,651 = 0,349
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝐶𝑎𝑂 𝑒𝑚 𝐶3 𝐴
3 (40,08 + 16,00)
= = 0,623
3 (40,08 + 16,00) + (2 𝑥 26,98 + 3 𝑥 16,00)
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝐴𝑙2 𝑂3 𝑒𝑚 𝐶3 𝐴 = 1,000 − 0,623 = 0,377
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝐶𝑎𝑂 𝑒𝑚 𝐶4 𝐴𝐹
4 (40,08 + 16,00)
= = 0,462
4 (40,08 + 16,00) + (2 𝑥 26,98 + 3 𝑥 16,00) + (2 𝑥 55,85 + 3 𝑥 16,00)
𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑒 𝐴𝑙2 𝑂3 𝑒𝑚 𝐶4 𝐴𝐹
2 𝑥 26,98 + 3 𝑥 16,00
= = 0,210
4 (40,08 + 16,00) + (2 𝑥 26,98 + 3 𝑥 16,00) + (2 𝑥 55,85 + 3 𝑥 16,00)
Massa total de CaO:
𝑚𝐶𝑎𝑂 = (𝑥𝐶𝑎𝑂/𝐶3 𝑆 )(𝑚𝐶3 𝑆 ) + (𝑥𝐶𝑎𝑂/𝐶2 𝑆 )(𝑚𝐶2 𝑆 ) + (𝑥𝐶𝑎𝑂/𝐶3 𝐴 )(𝑚𝐶3 𝐴 ) + (𝑥𝐶𝑎𝑂/𝐶4 𝐴𝐹 )(𝑚𝐶4 𝐴𝐹 )
P á g i n a | 439

𝑚𝐶𝑎𝑂 = (0,737)(45 𝐾𝑔) + (0,651)(27 𝐾𝑔) + (0,623)(11 𝐾𝑔) + (0,462)(8 𝐾𝑔) = 61,3 𝐾𝑔
De modo semelhante,
𝑚𝐴𝑙2 𝑂3 = (0,377)(11 𝐾𝑔) + (0,210)(8 𝐾𝑔) = 5,8 𝐾𝑔
𝑚𝑆𝑖𝑂2 = (0,263)(45 𝐾𝑔) + (0,349)(27 𝐾𝑔) = 21,3 𝐾𝑔
Como lidamos com 100 Kg de cimento, essas massas são numericamente
iguais aos percentuais em peso, dando
%𝑝 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 (𝐶𝑎𝑂 + 𝐴𝑙2 𝑂3 + 𝑆𝑖𝑂2 ) = 61,3 + 5,8 + 21,3)% = 88,4%
Nota: Desconsiderando quaisquer óxidos puros, o cimento portland tipo I é
composto por aproximadamente 90 %p de um aluminossilicato de cálcio.

15.1.5 Resistência interfacial

Uma consideração importante, até aqui aceita sem questionamento, foi que a
interface entre a matriz e a fase descontínua precisa ser forte o suficiente para
transmitir a tensão ou a deformação devida a uma carga mecânica de uma fase para
a outra.
De fato, sem essa força, a fase dispersa pode deixar de se 'comunicar' com a
matriz.
Em vez de ter o 'melhor dos dois mundos', conforme indicado na apresentação
desta aula, podemos, ao contrário, obter o pior comportamento de cada componente.
As fibras de reforço que facilmente deslizam para fora de uma matriz podem ser um
exemplo.
A figura 15.9 ilustra as microestruturas contrastantes de (a) interfaces
fracamente ligadas e (b) interfaces fortemente ligadas em um compósito de fibra de
vidro. Foi dedicado um esforço substancial para controlar a resistência interfacial.
O tratamento da superfície, a composição química e a temperatura são
algumas considerações na 'arte e ciência' da ligação interfacial.
Em resumo, alguma resistência interfacial é exigida em todos os compósitos
para garantir que a média das propriedades esteja disponível em níveis de tensão
relativamente baixos.
P á g i n a | 440

Figura 15.9: Micrografias eletrônicas de varredura contrastando (a) uma ligação fraca com
(b) uma interface fortemente ligada num compósito de matriz de polímero.

(a) (b)

Para terminar a discussão deste item, devemos entender que duas filosofias
fundamentalmente diferentes são aplicadas em relação ao comportamento dos
compósitos de fibra em níveis de tensão relativamente altos.
Para compósitos de matriz de polímero e matriz metálica, a falha origina-se em
ou ao longo das fibras de reforço. Como resultado, uma alta resistência interfacial é
desejável para maximizar a resistência geral do compósito (figura 15.9).
Já em compósitos de matriz de cerâmica, a falha geralmente se origina na
matriz.
Nesse caso, para maximizar a resiliência à fratura para esses materiais, é
desejável que se tenha uma ligação interfacial relativamente fraca, que permita que
as fibras deixem a matriz.
Como resultado, uma trinca iniciada na matriz é desviada ao longo da interface
matriz-fibra.
Essa extensão aumentada do caminho da trinca melhora significativamente a
resiliência à fratura. Esse mecanismo é mostrado na figura 15.10.
P á g i n a | 441

Figura 15.10: (a) Uma trinca na matriz aproximando-se de uma fibra é (b) desviada ao longo
da interface matriz-fibra. Para o compósito global (c), a maior extensão do caminho da trinca
devido à remoção da fibra melhora a resiliência à fratura.

(a)

(b) (c)

15.2 Processamento de compósitos

Como vimos, caro(a) aluno(a), os compósitos representam uma variedade de


materiais estruturais tão grande que uma lista rápida de técnicas de processamento
não faria justiça ao campo inteiro.
A tabela 15.9 é restrita aos principais exemplos de compósitos do início desta
aula.
E até mesmo esses poucos materiais representam um conjunto diversificado
de técnicas de processamento.
Vamos discutir brevemente cada uma delas logo após a tabela.
P á g i n a | 442

Tabela 15.9: Principais métodos de processamento para três compósitos discutidos.

A figura 15.11 ilustra a fabricação de configurações típicas de


fibra de vidro. Essas configurações normalmente são métodos-padrão
de processamento de polímero com as fibras de vidro adicionadas em
um ponto apropriado no procedimento. Um fator importante que afeta
as propriedades é a orientação das fibras. Observe que os processos de molde aberto
(mostrados na parte "a") incluem a pultrusão, que é especialmente bem adequada
para a produção contínua de produtos de seção transversal complexa. Vale destacar,
caro(a) aluno(a), que não desejamos que você 'decore' os processos de fabricação
típicos mostrados na figura 15.11, mas a destacamos como uma maneira de
enriquecer esta aula. Você deve aproveitar pois sempre se aprende coisas novas.
As configurações do processo de corte podem afetar a
estrutura da madeira e, portanto, a natureza do produto. Há também
uma variação na densidade presente no equilíbrio com diversos níveis
de umidade na atmosfera. As propriedades mecânicas normalmente
são especificadas em um estado-padrão, como desidratada em forno até 12% de
umidade. O processamento de cimento portland é um processo de fabricação
complexo. O estágio final dessa produção é feito na conhecida betoneira de cimento,
em que o cimento portland é combinado com os agregados e a água. As principais
considerações nesse estágio final incluem a razão água/cimento e a
extensão do ar retido (porosidade).
Antes de uma boa olhada na figura 15.11, caro(a)
aluno(a), assista a um interessante vídeo que aborda os
compósitos de maneira geral. Acesse:
P á g i n a | 443

<https://www.youtube.com/watch?v=kc78libmcka>.

Figura 15.11: Resumo dos diversos métodos de processamento de produtos de fibra.

(a)
P á g i n a | 444

Figura 15.12: Resumo dos diversos métodos de processamento de produtos de


fibra. (b) métodos de pré-conformação, e (c) processos com moldes fechados
(conclusão).

(c)
P á g i n a | 445

Assista agora a uma excelente aula em vídeo da série


Soluções de Engenharia que aborda tudo o que estudamos, e
que com certeza irá lhe auxiliar nos conceitos que realmente
importam sobre os compósitos. Acesse o endereço:
<https://www.youtube.com/watch?v=o2zLVQsiv_Q>.

Antes iniciar a resolução dos exercícios propostos, assista também a um


vídeo do Discovery que mostra a construção de um barco de fibra de vidro,
um importante compósito discutido por nós nesta aula. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=x-gufpvjrti >.

Lembre-se de estudar sempre. Fazer todos os exercícios, consultar


materiais complementares, e caso haja alguma dúvida, em relação à teoria
ou aos exercícios, entrar em contato com o tutor da disciplina. Bons estudos!
Resumo

Nesta aula, caro(a) aluno(a), vimos que os compósitos reúnem em um único


material os benefícios dos diversos componentes discutidos nas aulas anteriores.
Aprendemos um pouco sobre os compósitos reforçados com fibra, em particular a fibra
de vidro que tipifica os compósitos reforçados com fibras sintéticas. Também sobre
alguns compósitos avançados, de matriz polimérica, metálica e cerâmica; e sobre a
madeira, um compósito natural reforçado com fibra. Estudamos sobre o concreto, que
é um excelente exemplo de compósito agregado, sobre resistência interfacial e sobre
o processamento de materiais compósitos. E vimos ainda que:

 A fibra de vidro fornece alta resistência e módulo em uma matriz polimérica


que fornece ductilidade;
 A média das propriedades que resulta da combinação de mais de um
componente em um material compósito é altamente dependente da geometria
microestrutural do compósito;
 Um parâmetro adicional de importância para aplicações aeroespaciais (entre
outras) é a resistência específica ou razão resistência-peso;
 O processamento de compósitos envolve uma grande variedade de
métodos, representando a natureza especialmente diversificada dessa família de
materiais.
Complementar

Dois excelentes materiais de apoio em PDF, você irá


encontrar nos endereços abaixo. Acesse e enriqueça seus
conhecimentos.
<http://disciplinas.ist.utl.pt/qgeral/mecanica/MatComp.pdf>.
<https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/3779571592480/Compositos_0.pdf>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 15

Questão 1.
(a) Qual é a distinção entre as fases matriz e dispersa em
um material compósito?
(b) Compare as características mecânicas das fases
matriz e dispersa para compósito reforçados com fibras.
Questão 2.
(a) Qual é a distinção entre cimento e concreto?
(b) Cite três limitações importantes que restringem o uso do concreto como
material estrutural.
(c) Sucintamente, explique uma técnica utilizada para aumentar a resistência
do concreto por reforço.
Questão 3.
Para um compósito reforçado com fibras de matriz polimérica,
(a) Liste três funções da fase matriz;
(b) Compare as características mecânicas desejadas para as fases matriz e
fibra; e
(c) Cite duas razões pelas quais deve existir uma ligação forte entre a fibra e a
matriz na sua interface.
Questão 4.
(a) Cite algumas razões pelas quais os compósitos reforçados com fibras de
vidro são amplamente usados.
(b) Cite algumas limitações deste tipo de compósito.
Questão 5.
Liste pelo menos uma razão pela qual as fibras de vidro são mais comumente
utilizadas como reforço.
Questão 6.
(a) O que é compósito híbrido?
(b) Cite uma vantagem importante dos compósitos híbridos em relação aos
compósitos com fibras normais.
Questão 7.
Descreva sucintamente os seguintes processos de fabricação: pultrusão e
laminação contínua.
P á g i n a | 450

Questão 8.
Compósitos cerâmicos a base de hidroxiapatita e dióxido de titânio são
utilizados na fabricação de arcabouços porosos para crescimento celular ósseo. Em
um dos métodos de fabricação desses arcabouços, os pós cerâmicos são peneirados
em peneiras ABNT n°. 80 (abertura de 180 mm), misturados em moinhos de bolas,
mergulhados em uma solução de água com álcool, secos em temperatura ambiente,
calcinados a 500ºC e sinterizados em temperaturas entre 1 250°C e 1 350°C.
As micrografias eletrônicas de varredura para peças com uma composição de
50% de hidroxiapatita – 50% de TiO2 –, produzidas com um mesmo tempo de
sinterização, são apresentadas na figura a seguir, em função da temperatura de
sinterização.

GALDINO. Micrografias eletrônicas de varredura para o compósito com 50% de


hidroxiapatita e 50% de dióxido de titânio, sinterizados a: (a) 1250ºC; (b) 1300°C; (c)
1350°C (com adaptações).
Com base nessas micrografias observa-se que, com o aumento da temperatura
de sinterização, houve:
I. aumentos da retração linear de queima e densidade aparente, além de menor
absorção de água.
II. diminuições da retração linear de queima e densidade aparente, além de
maior absorção de água.
III. crescimento de partículas por difusão de átomos de partículas menores para
partículas maiores, o que diminui a porosidade aparente e aumenta a densificação da
amostra.
P á g i n a | 451

IV. crescimento de partículas por difusão de átomos de partículas menores para


partículas maiores, o que aumenta a porosidade aparente e diminui a densificação da
amostra.
É correto apenas o que se afirma em
a) II. b) IV. c) I e III. d) I e IV. e) II e III.
Questão 9. No exemplo 15.1, encontramos a densidade de um compósito típico
de fibra de vidro. Repita os cálculos para 50% vol de fibras de vidro-E em uma matriz
de epóxi.
Questão 10. Repita o problema anterior fazendo os cálculos para 75% vol de
fibras de vidro-E em uma matriz de epóxi.
Questão 11. Com base no que foi visto no exemplo 15.2, calcule o peso
molecular de uma molécula de hemicelulose com um grau de polimerização (a) n =
150 e (b) n = 250.
Questão 12. No exemplo 15.3 calculamos o percentual em peso do CaO +
Al2O3 + SiO2 no cimento portland tipo I. Calcule agora esse percentual no cimento
portland tipo III.
Aula 16
Ensaios não destrutivos (ENDS)

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta nossa última aula, caro(a) aluno(a), você será apresentado(a) a uma
série de Ensaios Não Destrutivos, conhecidos como ENDs, que são técnicas
altamente valiosas por permitirem o controle das propriedades dos materiais
estudados ao longo deste nosso curso, com economia de tempo e dinheiro, e são uma
ferramenta comumente usada em Engenharia forense, Engenharia mecânica,
Engenharia elétrica, Engenharia civil, sistemas de Engenharia, Engenharia
aeronáutica, medicina e até na arte. Vamos aprender que esses ensaios representam
um conjunto amplo de técnicas de análise utilizadas na ciência e na indústria para
avaliar as propriedades de um material, componente ou sistema, sem causar danos,
não implicando em qualquer tipo de alteração permanente nas propriedades físicas,
químicas, mecânicas ou dimensionais, baseando-se na aplicação de fenômenos
físicos tais como ondas eletromagnéticas, acústicas, elasticidade, emissão de
partículas subatômicas, capilaridade, absorção, etc. Indicaremos diversos vídeos ao
longo desta aula que irão te auxiliar muito. E como apresentação eficaz, assista ao
vídeo "O mundo invisível dos ENDs", do Instituto Britânico de Ensaios Não Destrutivos
(British Institute of non-destructive testing - BINDT) que fará você se maravilhar com
esse assunto.
Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=2rqK6MziiwQ#t=47>.

Esperamos de verdade que essa aula feche com maestria tudo o que tivemos
oportunidade de aprender ao longo deste tempo que estudamos juntos, detalhando
os conceitos e princípios das Ciências dos Materiais; essa disciplina tão abrangente e
que proporciona conhecimentos básicos importantes para o sucesso do seu curso e
de sua carreira como Engenheiro. Bons estudos!

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
P á g i n a | 453

 Identificar os principais métodos de Ensaios Não Destrutivos (ENDs);


 Descrever o ensaio visual como o primeiro ensaio aplicado em qualquer
tipo de peça ou componente, sendo frequentemente associado a outros
ensaios de materiais;
 Entender os procedimentos do ensaio por líquido penetrante, suas
vantagens, limitações e aplicações;
 Aprender sobre o END por ultrassom, e suas vantagens e
desvantagens em relação a outros ensaios;
 Conhecer o ensaio não destrutivo por meio de partículas magnéticas,
seus princípios físicos e fundamentos;
 Conhecer a técnica de radiografia industrial, variações, vantagens e
desvantagens deste ensaio;
 Aprender sobre a inspeção por correntes parasitas; uma técnica de
inspeção não-destrutiva baseada na introdução de uma corrente
elétrica no material e observação da interação entre essas correntes e
o material;
 Conhecer sobre o método de END baseado na detecção de ondas
acústicas emitidas por um material quando sujeito a uma força ou
deformação que revela a qualidade desse material, a emissão acústica;
 Conhecer sobre o método de END que utiliza os raios infravermelhos
para medir temperaturas ou observar padrões diferenciais de
distribuição de temperatura, a termografia;
 Entender que não há nenhum método de Ensaio Não Destrutivo (END)
mais completo ou importante que outros; mas que todos possuem suas
vantagens, desvantagens e áreas específicas para atuação.
P á g i n a | 454

16 INTRODUÇÃO

Os Ensaios Não Destrutivos (ENDs) são testes realizados


em materiais acabados ou semi-acabados para verificar a
existência ou não de descontinuidade ou defeitos. Estes ensaios
são feitos através de princípios físicos definidos, sem alterar suas
características físicas, químicas, mecânicas ou dimensionais e sem
interferir em seu uso posterior.
De fato, caro(a) aluno(a), o END é uma das principais ferramentas do controle
da qualidade de materiais e produtos, contribuindo para reduzir os custos e aumentar
a confiabilidade da inspeção. São utilizados na fabricação, construção, montagem,
inspeção em serviço e manutenção. Além disso, são largamente aplicados em soldas,
fundidos, forjados, laminados, plásticos, concreto, entre outros, nos setores
petróleo/petroquímico, nuclear, aeroespacial, siderúrgico, ferroviário, naval,
eletromecânico e automotivo. Além do uso industrial, tem crescido significativamente
a aplicação dos ENDs para a conservação de obras de arte, assim como na
agropecuária - controle da camada de gordura de bovinos e suínos - e a própria
utilização, largamente difundida, na medicina. Comparativamente, podemos afirmar
que o "controle da qualidade" que o médico faz de um corpo humano na avaliação da
saúde ou da patologia de um paciente, é o mesmo aplicado na indústria, só que para
materiais e produtos.
Entre os métodos de ENDs estão aqueles capazes de proporcionar
informações a respeito do teor de defeitos de um determinado produto, das
características tecnológicas de um material, ou ainda, da monitoração da degradação
em serviço de componentes, equipamentos e estruturas. Os métodos mais usuais
(convencionais) compreendem os tradicionais que não utilizam hardware e software
com alta tecnologia, atendendo as normas de fabricação de uma maneira geral, são
eles: ensaio visual, líquido penetrante, partículas magnéticas, ultrassom, radiografia
(Raios X e Gama); alguns dos ensaios não convencionais são: correntes parasitas,
análise de vibrações, termografia, emissão acústica, estanqueidade, sherografia,
ultrassom – Phased Array/Tofd/Automatizado, ACFM (Alternating Current Field
Measurement), IRIS (Internal Rotary Inspection System), e radiografia digital.
Entre os ensaios não destrutivos, três dentre os convencionais são
representados na figura 16.1.
P á g i n a | 455

Figura 16.1: Ensaios não destrutivos (ENDs) (a) visual, (b) líquido penetrante, e (c)
partículas magnéticas.

(a) (b) (c)

Como você deve estar percebendo, caro(a) aluno, são muitas as atribuições e
diversos tipos (métodos) de Ensaios Não Destrutivos (ENDs). Iremos nessa aula,
conhecer e discutir alguns dos principais apresentados. Antes, porém, é necessário
comentar que nenhum ensaio não destrutivo deve ser considerado o mais sensível ou
o mais completo, pois as limitações e as vantagens fazem com que aplicação de cada
ensaio seja objeto de análise e estudo da viabilidade de sua utilização, em conjunto
com os Códigos e Normas de fabricação.
Uma importante fonte de códigos, normas, e recomendações para END é dada
no livro Annual Book of The American Society of Testing and Materials, ASTM.
O volume 03.03 Nondestructive Testing é revisado anualmente, cobrindo
muitos procedimentos ENDs incluindo emissão acústica, corrente parasita,
estanqueidade, líquidos penetrantes, partículas magnéticas, radiografia, termografia
e ultrassom. Por exemplo, existem guias padrões em ensaios radiográficos:
 ASTM E 94 “Radiographic Testing”
 ASTM E 242 “Radiographic Images”
 ASTM E 748 “Thermal Neutron Radiography”
 ASTM E 1000 “Radioscopy”
 ASTM E 1030 “Radiographic Examination of Castings”

Terminando nossa discussão inicial, saiba, caro(a) aluno(a) que para obter
resultados satisfatórios e válidos, é essencial possuir uma equipe formada por
profissionais treinados e qualificados. E como dissemos, os testes devem seguir os
procedimentos de execução de ensaios qualificados com base nas normas e critérios
de aceitação e os equipamentos precisam estar devidamente calibrados.
P á g i n a | 456

16.1 Ensaio visual

O ensaio visual é o ensaio não destrutivo básico.


É uma das mais antigas atividades nos setores industriais, sendo
o primeiro ensaio aplicado em qualquer tipo de peça ou componente, e
está frequentemente associado a outros ensaios de materiais. De fato, todos os outros
ENDs devem ser executados após uma boa inspeção visual, que pode ser feito, à
vista desarmada, com o auxílio de lupa ou com aparelhos ou instrumentos para
inspeção remota. Para a inspeção de peças ou componentes que não permitem o
acesso direto interno para sua verificação (dentro de blocos de motores, turbinas,
bombas, tubulações, por exemplo) utilizam-se de fibras óticas conectadas a espelhos
ou microcâmeras com alta resolução, além de sistemas de iluminação, fazendo a
imagem aparecer em oculares ou em monitores de TV.
O ensaio visual é um importante recurso para a verificação de alterações
dimensionais, padrão de acabamento superficial e na observação de
descontinuidades superficiais visuais em materiais e produtos em geral, tais como:
trincas, corrosão, deformação, alinhamento e cavidades, porosidade, montagem de
sistemas mecânicos e muitos outros.
As descontinuidades são simplesmente observadas tal como elas aparecem na
superfície examinada, ou ligeiramente ampliadas.
A figura 16.2 apresenta uma imagem dos padrões detectados em um ensaio
visual de uma peça soldada.
P á g i n a | 457

Figura 16.2: Imagem dos padrões de acabamento superficial durante o ensaio visual em
uma peça soldada.

Até recentemente, os ensaios visuais abrangiam todas as técnicas que


permitiam a direta observação de superfícies, mesmo quando estas estavam
posicionadas em locais remotos ou pouco acessíveis; por definição as técnicas estão
limitadas à detecção de descontinuidades superficiais. Mais recentemente, a definição
passou a cobrir todas as técnicas, mesmo aquelas mais sofisticadas, baseadas na
detecção das interações entre os materiais e a luz visível. A norma Petrobrás N-1597,
fixa as condições exigíveis para a realização do ensaio visual.

16.1.1 Sequência do ensaio

Como você bem pôde acompanhar no vídeo que indicamos, basicamente, a


sequência de cada ensaio visual se compõem de apenas duas etapas que abrangem
a preparação da superfície, quando necessário:
1) limpeza da superfície
A análise para necessidade de limpeza ou não, deve ser criteriosa, pois se a
limpeza for executada de modo descuidado podem-se mascarar imperfeições.
P á g i n a | 458

A limpeza deve ser realizada de tal maneira que facilite a observação de


descontinuidades, ou seja, que resíduos como graxas, óleos, poeira, pintura,
oxidação, fiapos de estopa, etc., não impeçam a detecção de possíveis
descontinuidades e/ou até de defeitos. Na necessidade de se utilizar escovamento,
lixamento ou esmerilhamento, devem-se tomar cuidados especiais, quanto à
contaminação, caso o material inspecionado seja em aço inoxidável austenítico e ligas
de níquel. Nestes casos, as ferramentas de limpeza devem ser do mesmo material ou
revestidas com o mesmo.
2) acabamento da superfície
O acabamento superficial resultante de alguns processos de fabricação -
fundição, forjamento, laminação - pode mascarar ou esconder descontinuidades;
portanto, dependendo dos requisitos de qualidade da peça, elas devem ser
cuidadosamente preparadas (decapadas, rebarbadas, usinadas) para, só então,
serem examinadas.

16.1.2 Vantagens e desvantagens do ensaio

Como dissemos na introdução, não existe um ensaio não destrutivo mais


sensível ou mais completo que os demais, sendo que todos os métodos irão
apresentar possíveis limitações na execução, além de vantagens e desvantagens
características da técnica. Para o ensaio visual, podemos destacar:
Possíveis vantagens:
 Ensaio de mais baixo custo, a olho nu ou vista armada;
 Determina o escopo de inspeção para outros métodos quando necessário,
otimizando o tempo de utilização destes;
 Não utiliza equipamentos específicos, podendo ser realizado em áreas sem
recursos d’água (ultrassom automatizado) ou geradores de energia elétrica (raio X e
ultrassom automatizado).

Possíveis desvantagens:
 O ensaio depende totalmente da experiência do inspetor;
 É limitado à detecção de pequenos defeitos superficiais.
P á g i n a | 459

Agora, caro(a) aluno(a), para fazer a fixação ideal,


assista a uma vídeoaula que vai abordagem sobre este simples
e eficaz END, o ensaio visual, além da importância destas
técnicas de inspeção de materiais fundamentais para a
Engenharia. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=imc0lJASPvA>.

16.2 Líquido penetrante

O ensaio por líquido penetrante é considerado um dos melhores métodos de


teste para a detecção de descontinuidades superficiais de materiais isentos de
porosidade tais como: metais ferrosos e não ferrosos, alumínio, ligas metálicas,
cerâmicas, vidros, certos tipos de plásticos ou materiais organo-sintéticos. O END por
líquido penetrante também é utilizado para a detecção de vazamentos em tubos,
tanques, soldas e componentes. Iremos descrever com mais detalhes
este método, caro(a) aluno(a) , mas de maneira muito resumida,
podemos dizer que consiste em fazer penetrar na abertura da
descontinuidade um líquido. Após a remoção do excesso de líquido da
superfície, faz-se sair da descontinuidade o líquido retido através de um revelador.
A imagem da descontinuidade fica então desenhada sobre a superfície. A figura
16.3 mostra as descontinuidades de uma peça após o END por líquido penetrante.

Figura 16.3: Imagem das descontinuidades visíveis em uma peça ensaiada por líquido
penetrante.
P á g i n a | 460

O líquido penetrante, é um composto de diversos elementos, principalmente


óleos finos, devidamente balanceados, que possui a capacidade de penetrar em
aberturas muito estreitas, tais como trincas.
Esta capacidade independe da ação da gravidade, e da mesma forma que este
líquido penetra nestas fendas, ele também deve ter capacidade de sair, quando sob a
ação de um material absorvente, o revelador.
O líquido penetrante é aplicado com pincel, pistola, ou com lata de aerossol ou
mesmo imersão sobre a superfície a ser ensaiada, que então age por um tempo de
penetração. Efetua-se a remoção deste penetrante da superfície por meio de lavagem
com água ou remoção com solventes. A aplicação de um revelador (talco) irá mostrar
a localização das descontinuidades superficiais com precisão e grande simplicidade
embora suas dimensões sejam ligeiramente ampliadas.
Para você saber caro(a) aluno(a), este método está baseado no fenômeno da
capilaridade que é o poder de penetração de um líquido em áreas extremamente
pequenas devido a sua baixa tensão superficial.
O poder de penetração é uma característica bastante importante uma vez que
a sensibilidade do ensaio é enormemente dependente do mesmo.
Descontinuidades em materiais fundidos tais como gota fria, trincas de tensão
provocadas por processos de têmpera ou revenimento, descontinuidades de
fabricação ou de processos tais como trincas, costuras, dupla laminação,
sobreposição de material ou ainda trincas provocadas pela usinagem, ou fadiga do
material ou mesmo corrosão sob tensão, podem ser facilmente detectadas pelo
método de líquido penetrante.

16.2.1 Etapas do ensaio

As etapas principais do ensaio não destrutivo por líquido


penetrante estão resumidamente descritas na figura 16.4.
Em seguida, detalharemos um pouco mais a sequência do
ensaio. Tenha em mente, no entanto, caro(a) aluno(a), que se trata de
um END de fácil e simples execução.
P á g i n a | 461

Figura 16.4: Ilustração das etapas do processo de aplicação do líquido penetrante.

Vamos nesse momento detalhar um pouco mais a


sequência do ensaio por líquido penetrante. Porém, seria
interessante se antes assistisse a um vídeo que irá detalhar mais
este tipo de END e seus procedimentos. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=5HLio0E4bKU>.

a) Preparação da superfície - limpeza inicial


Antes de se iniciar o ensaio, a superfície deve ser limpa e seca. Não devem
existir água, óleo ou outro contaminante. Os principais métodos de preparação da
superfície são escovamento, lixamento e esmerilhamento. Tenha em mente, no
entanto, caro(a) aluno(a), que a escolha do método de preparação é uma função do
tipo de material que está sendo inspecionado, do processo de fabricação da peça, do
tipo de descontinuidade a ser detectada, e do tipo de líquido penetrante a ser utilizado.
A figura 16.5 ilustra a primeira das etapas do ensaio.
P á g i n a | 462

Figura 16.5: Ilustração da etapa de preparação da superfície.

b) Aplicação do líquido penetrante


Esta etapa consiste na aplicação de um líquido chamado penetrante,
geralmente de cor vermelha, de tal maneira que forme um filme sobre a superfície e
que por ação do fenômeno chamado capilaridade penetre na descontinuidade. Como
já dissemos, a aplicação do líquido penetrante pode ser feita por pulverização,
pincelamento ou até mesmo por imersão da peça a ser ensaiada. A escolha do modo
de aplicação irá depender das instalações e equipamentos disponíveis, das
dimensões da peça, da localização da área a ser inspecionada na peça, da quantidade
peças a serem inspecionadas, da facilidade de manuseio das peças, e, por fim, da
economia. A figura 16.6 ilustra esta etapa do ensaio, e a figura 16.7 mostra imagens
das formas de aplicação do líquido penetrante.

Figura 16.6: Ilustração da etapa de aplicação do penetrante.

Figura 16.7: Imagens da aplicação do penetrante por (a) pulverização e (b) pincelamento.
P á g i n a | 463

Neste ponto, caro(a) aluno(a), vale a pena fazer uma discussão sobre as
propriedades físicas do penetrante a ser aplicado. De uma maneira geral, deve:
 ter habilidade para rapidamente penetrar em aberturas finas;
 ter habilidade de permanecer em aberturas relativamente grandes;
 não evaporar ou secar rapidamente;
 ser facilmente limpo da superfície onde for aplicado;
 em pouco tempo, quando aplicado o revelador, sair das descontinuidades
onde tinha penetrado;
 ter habilidade em espalhar-se nas superfícies, formando camadas finas;
 ter um forte brilho;
 a cor ou a fluorescência deve permanecer quando exposto ao calor, luz ou
luz negra;
 não reagir com sua embalagem nem com o material a ser testado;
 não ser facilmente inflamável;
 ser estável quando estocado ou em uso.

c) Remoção do excesso de penetrante


Consiste na remoção do excesso do penetrante da superfície, através de
produtos adequados, condizentes com o tipo de líquido penetrante aplicado, devendo
a superfície ficar isenta de qualquer resíduo na superfície. A figura 16.8 continua com
o esquema, ilustrando esta etapa do ensaio. Compare-a com a figura 16.6 para notar
a diferença.

Figura 16.8

Ilustração da etapa de remoção do excesso do penetrante.


P á g i n a | 464

A tabela 16.1 apresenta alguns tipos de penetrante, de acordo com a


designação, e possíveis métodos de remoção, além dos tipos de revelador
comumente utilizados.

Tabela 16.1: Tipos de penetrante, formas de remoção do excesso e formas de revelação.

No vídeo sugerido, foi feito uma discussão entre os personagens sobre a forma
de remoção do excesso do penetrante, você se lembra?... Algumas situações podem
ser citadas, de acordo com a tabela 16.1:
 remoção do excesso com água (I A e II A)
 remoção do excesso com água após a emulsão (I B e I D)
 remoção do excesso com solvente (I C e II C)

d) Revelação
Esta etapa consiste na aplicação de um filme uniforme de revelador sobre a
superfície. O revelador é usualmente um pó fino (talco) branco. Pode ser aplicado
seco ou em suspensão, em algum líquido. O revelador age absorvendo o penetrante
das descontinuidades e revelando-as. A figura 16.8 ilustra esta etapa.

Figura 16.9

Ilustração da etapa de aplicação do revelador.


P á g i n a | 465

A camada de revelador deve ser fina e uniforme (espécie talco), no caso de


inspeção manual. Peças que foram totalmente inspecionadas com penetrante são
mais difíceis para se manter uma camada uniforme de revelador. O melhor método
neste caso é o spray. Em qualquer caso, a aplicação do revelador deve ser isenta de
escorrimentos, excessos, contaminações com produtos estranhos ao processo
(exemplo água ou óleo).
e) Avaliação e inspeção
Após a aplicação do revelador, as indicações começam a serem observadas
através da mancha causada pela absorção do penetrante contido nas aberturas, e
que serão objetos de avaliação. A figura 16.9 mostra a ilustração esta etapa do
ensaio.

Figura 16.10

Ilustração da etapa de avaliação e inspeção.

É importante enfatizar que a inspeção deve ser feita sob boas condições de
luminosidade, se o penetrante é do tipo visível (cor contrastante com o revelador) ou
sob luz negra, em área escurecida, caso o penetrante seja fluorescente.
A figura 16.10 mostra uma imagem de uma peça testada pelo END por líquido
penetrante após as etapas citadas de a) até e).

Figura 16.11

Imagem de uma peça apresentando descontinuidades após as etapas descritas no o ensaio


por líquido penetrante.
P á g i n a | 466

A interpretação dos resultados deve ser baseada no código de fabricação da


peça ou norma aplicável ou ainda na especificação técnica do cliente. Nesta etapa,
deve ser preparado um relatório escrito que mostre as condições do ensaio, tipo e
identificação da peça ensaiada, resultado da inspeção e condição de aprovação ou
rejeição da peça.
f) Limpeza pós ensaio
A última etapa, geralmente obrigatória, é a limpeza de todos os resíduos de
produtos, que podem prejudicar uma etapa posterior de trabalho da peça (soldagem,
usinagem, etc....).

16.2.2 Vantagens e desvantagens do ensaio

O ensaio por meio de líquido penetrante tem sensibilidade muito boa


e detecta até descontinuidades muito pequenas. Além disso podemos
destacar.
Outras possíveis vantagens:
 A forma da peça não é um problema, pois é um método que se aplica tanto
a superfícies planas quanto a superfícies curvas;
 É um ensaio rápido, de fácil execução e custo relativamente baixo;
 É aplicável em materiais magnéticos e não magnéticos;
 Para o treinamento de operadores e inspetores se requer menor tempo que
para os outros tipos de ensaios não-destrutivos.

Possíveis desvantagens:
 Detecta somente descontinuidades abertas para a superfície e que não
estejam obstruídas;
 Não proporciona registro permanente dos resultados;
 O resíduo de penetrante que permanece nas descontinuidades (se o
penetrante for de remoção muito difícil) pode ser prejudicial à peça ou solda quando
em serviço.
P á g i n a | 467

16.3 Ultrassom

O ensaio por ultrassom detecta e avalia descontinuidades


superficiais e internas em materiais baseando-se no fenômeno de
reflexão de ondas acústicas de alta frequência, quando encontram
obstáculos à sua propagação, dentro do material. Sendo um pouco
mais específico, pode-se dizer que um pulso ultrassônico é gerado e transmitido
através de um transdutor especial, encostado ou acoplado ao material.
Os pulsos ultrassônicos refletidos por uma descontinuidade, ou pela superfície
oposta da peça, são captados pelo transdutor, convertidos em sinais eletrônicos e
mostrados numa tela LCD ou em um tubo de raios catódicos (TRC) do aparelho.
O princípio básico de funcionamento, indicado na figura 16.11, consiste na
emissão de uma onda mecânica por um transdutor (a), a partir do momento em que
esta onda é emitida o aparelho começa a contar o tempo.
Ao incidir na descontinuidade ocorre uma reflexão da onda que retorna ao
transdutor (b), e gera um sinal elétrico, que é processado e mostrado na tela do
aparelho de análise (c), sendo a posição do eco proporcional ao caminho percorrido
pelo som até a descontinuidade da peça.

Figura 16.12: (a) Ilustração da emissão do pulso de ultrassom, (b) ilustração do eco gerado
pelo reflexo da onda na descontinuidade, e (c) detalhe do gráfico formado pela emissão e
eco do ultrassom.

a) b) c)

Lembre-se caro(a) aluno(a), que os ultrassons são ondas acústicas com


frequências acima do limite audível. Normalmente, as ondas utilizadas no ensaio de
ultrassom utilizam frequências da ordem de 0,5 MHz a 25 MHz (500.000 a
P á g i n a | 468

25.000.000 Hz) produzidas através do transdutor. Cristais piezelétricos (materiais com


capacidade de converter pressão mecânica em tensão elétrica e vice-versa) são
usados nos transdutores para converter um tipo de energia em outra. Neste caso,
converte a energia elétrica de excitação em mecânica de vibração com a mesma
frequência da elétrica, ou seja, absorve a energia mecânica e transforma em energia
elétrica. Geralmente, as dimensões reais de um defeito interno podem ser estimadas
com uma razoável precisão, fornecendo meios para que a peça ou componente em
questão possa ser aceito, ou rejeitado, baseando-se em critérios de aceitação da
norma aplicável. Na verdade, caro(a) aluno(a), o END por ultrassom é, sem sombra
de dúvidas, o método não destrutivo mais utilizado e o que apresenta o maior
crescimento. A figura 16.13 destaca a imagem do ensaio no momento de sua
realização.

Figura 16.13: Imagem da realização do ensaio por ultrassom.

Utiliza-se o ensaio por ultrassom também para medir espessura e determinar


corrosão com extrema facilidade e precisão. Modernamente, este ensaio é utilizado
na manutenção industrial, na detecção preventiva de vazamentos de líquidos ou
gases, falhas operacionais em sistemas elétricos, vibrações em mancais e
rolamentos. Sendo um pouco mais específico, podemos dizer que as aplicações deste
ensaio são inúmeras: soldas, laminados, forjados, fundidos, ferrosos e não ferrosos,
ligas metálicas, vidro, borracha, materiais compostos, tudo permite ser analisado por
ultra-som. Indústria de base (usinas siderúrgicas) e de transformação (mecânicas
pesadas), Indústria automobilística, transporte marítimo, ferroviário, rodoviário, aéreo
e aeroespacial, todos utilizam ultrassom. Mesmo em hospitais: a primeira imagem de
um feto humano é obtida por ultrassom.
P á g i n a | 469

16.3.1 Vantagens e desvantagens em relação a outros ensaios

O método ultrassônico possui alta sensibilidade na detetabilidade de pequenas


descontinuidades internas, por exemplo, trincas devido a tratamento térmico, fissuras
e outros de difícil detecção por ensaio de radiações penetrantes (radiografia ou
gamagrafia). Além disso:
 Dispensa processos intermediários para interpretação das indicações,
agilizando a inspeção;
 Ao contrário dos ensaios por radiações penetrantes, o ensaio ultrassônico
não requer planos especiais de segurança ou quaisquer acessórios para sua
aplicação;
 Não necessita o processo de revelação do filme, como nos métodos de
radiografia, que, via de regra, demanda tempo do informe de resultados;
 A localização, avaliação do tamanho e interpretação das descontinuidades
encontradas são fatores intrínsecos ao exame ultrassônico, enquanto que outros
exames não definem tais fatores. Por exemplo, um defeito mostrado num filme
radiográfico define o tamanho, mas não sua profundidade e em muitos casos este é
um fator importante para proceder um reparo;
 Realiza inspeção em juntas de geometria complexa.
Porém, como em qualquer método de END, o ensaio por ultrassom também
apresenta limitações em relação a outros ensaios. Destacando-se:
 Requer grande conhecimento teórico e experiência por parte do inspetor;
 O registro permanente do teste não é facilmente obtido;
 Faixas de espessuras muito finas, constituem uma dificuldade para aplicação
do método;
 Requer o preparo da superfície para sua aplicação. Em alguns casos de
inspeção de solda, existe a necessidade da remoção total do reforço da solda, o que
demanda tempo.

Para encerrar a discussão sobre o ensaio por ultrassom,


caro(a) aluno(a), assista a uma vídeoaula que retrata de forma
brilhante este END. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=Y3gtMsFfApg>.
P á g i n a | 470

16.4 Ensaio por partículas magnéticas

O ensaio por meio de partículas magnéticas tem larga


aplicação indústrial, sendo utilizado para localizar descontinuidades
superficiais e sub-superficiais em peças de material ferromagnético, tais
como ligas de ferro e níquel. De maneira resumida, o método consiste
na aplicação de uma corrente de magnetização, ou de um campo magnético à peça
inspecionada, com o objetivo de gerar nesta um campo magnético. A presença de
descontinuidades superficiais ou sub-superficiais irá produzir 'campos de fuga' na
região da descontinuidade, causando uma polarização localizada, que é detectada
pelas partículas ferromagnéticas que são aplicadas sobre a peça. A grande utilização
do ensaio por partículas magnéticas se deve ao fato de que, pela facilidade de
aplicação e pela grande sensibilidade na detecção de descontinuidades, dispensa
uma preparação sofisticada na superfície a inspecionar. É um ensaio frequentemente
utilizado em equipamentos que requerem elevado grau de confiança, como por
exemplo nas esferas de armazenamento de gás liquefeito de petróleo. O aumento da
confiabilidade deste ensaio está associado diretamente a diferentes técnicas de
magnetização que podem ser utilizadas.
A figura 16.14 mostra o END por partículas magnéticas sendo realizado em
uma peça.

Figura 16.14: Imagem da realização do ensaio por partícula magnética.

Antes de nos aprofundarmos nos fundamentos deste importante método


de END, caro(a) aluno(a), é muito importante que acesse o endereço
eletrônico para assistir a uma vídeoaula que muito lhe auxiliará na sua
compreensão:
P á g i n a | 471

<https://www.youtube.com/watch?v=14ZyMT_xH1o>.

16.4.1 Comportamento do campo magnético

Se você se lembra, caro(a) aluno(a), campo magnético pode ser definido como
sendo a região do espaço em torno de um condutor percorrido por uma corrente
elétrica ou em torno de um ímã. O campo magnético é formado pelo conjunto de linhas
de fluxo magnético, também denominado de linhas de força, cujo número e forma
dependem da fonte geradora. As linhas de fluxo magnético, ou
linhas de campo, são as linhas que formam o campo descrito
anteriormente. As linhas de campo formam uma curva na qual cada
ponto é tangente à direção que tomaria uma agulha imantada, caso
fosse localizada nesse ponto, como representado na figura 16.15(a). Essas linhas não
se cruzam e buscam o caminho de menor resistência. As linhas de campo são o que
determina o ensaio por partículas magnéticas. É possível visualizar essas linhas
quando colocamos um ímã sob uma folha de papel e sobre esta, limalha de ferro, que
é utilizada para visualizar as linhas de campo. Você pôde ver isso no vídeo que
sugerimos sobre este ensaio. Convencionou-se que as linhas de campo no interior de
um ímã têm direção e sentido que vão do pólo sul para o pólo norte e, externamente
ao imã, a direção e o sentido das linhas de força são do pólo norte para o sul, de modo
que o circuito magnético fique fechado, como mostra a figura 16.15(b). Perceba que
as linhas estão mais concentradas nos pólos do ímã; isso explica a razão de ocorrer
um maior acúmulo de partículas nestas regiões. Quanto mais próximas estiverem as
linhas de fluxo magnético, maior será a intensidade do campo, e quanto maior for a
intensidade do campo magnético do material, mais claras ficarão as linhas de fluxo.

Figura 16.15: a) Ilustração das linhas de campo destacando a direção tangente que tomaria
uma agulha imantada sobre a linha; (b) configuração das linhas de campo em um imã.
(a) (b)
P á g i n a | 472

Quando existe uma falha, ocorre uma repulsão das linhas de fluxo que é
chamada campo de fuga. Nesse ponto de repulsão, ocorre a atração da limalha de
ferro, o que mostra a descontinuidade. Na verdade, o desvio das linhas de campo dá
origem a novos pólos, provocando a dispersão das linhas de fluxo magnético que dão
origem ao campo de fuga. A figura 16.16 mostra uma ilustração do campo de fuga
gerado devido a uma descontinuidade em um material ferromagnético. Através deste
princípio, é possível detectar descontinuidades superficiais e subsuperficiais de até
aproximadamente 3 mm.

Figura 16.16: Representação do campo de fuga devido a descontinuidade.

A figura 16.17 ilustra o procedimento do ensaio por partículas


magnéticas, destacando as linhas de fluxo do campo magnético, as
imperfeições com acúmulo da limalha denunciando a imperfeição em
uma peça de aço.

Figura 16.17: Ilustração do END por partículas magnéticas.


P á g i n a | 473

16.4.2 As partículas magnéticas

As partículas magnéticas, na sua forma mais geral, são pequenas porções


finamente divididas de material ferromagnético, como mostradas na figura 16.16. São
classificadas comumente de acordo com a sua coloração ou com o veículo que as
transporta sobre a peça ensaiada. Quanto à visibilidade, podem ser coloridas sob luz
normal ou fluorescentes. Partículas alongadas e laminadas desenvolvem polaridade
intensa em suas extremidades, alinhando-se rapidamente. São propícias para a
aplicação a seco, uma vez que não são movimentadas pelos veículos líquidos.
As partículas ovaladas e globulares possuem menor capacidade de formação
de pólos magnéticos. Porém, em suspensão, adquirem mobilidade de forma a atingir
facilmente as regiões de campo de fuga nos quais são retidas.

Figura 16.18: Imagem de partículas magnéticas.

A escolha do tipo das partículas magnéticas fica associada ou definida em


função da cor de fundo, cor da superfície da peça em inspeção, temperatura da
superfície, e posição da peça. A forma de aplicação das partículas magnéticas na
região em ensaio pode ser na forma de pó, pastas ou suspensão em líquidos. Em
todos os casos, como já foi comentado, as partículas devem constituir um pó
ferromagnético de dimensões, tamanho, forma, densidade e cor adequada ao ensaio.
Denomina-se de via ou veículo, o meio no qual a partícula está
sendo aplicada. Podemos considerá-lo em dois grupos, via seca e via
úmida, cujas aplicações são destacadas na figura 16.18. As partículas
por via úmida requerem a preparação da suspensão ou banho e
podem estar na forma de pó ou pasta. Já as partículas por via seca não necessitam
de nenhuma preparação e são retiradas diretamente das embalagens para os
P á g i n a | 474

aplicadores de pó. A preparação da suspensão por via úmida é muito importante para
garantir a homogeneização do banho e a dispersão das partículas na região
inspecionada após sua aplicação. Os fabricantes indicam, nas próprias embalagens,
os valores de concentração a serem utilizados. Assim, recomenda a quantidade em
gramas de partículas que deve ser adicionada a um litro de veículo para se obter à
concentração adequada para a suspensão. Algumas partículas são utilizadas tanto
em querosene quanto em água; apenas requerendo, para o uso em água, a adição
de uma substância acondicionadora.

Figura 16.19: Imagens das aplicações das partículas magnéticas por (a) e (b) via seca, e
por (c) e (d) via úmida.

16.4.3 Magnetização da peça

Existem várias técnicas de magnetização da peça a ser ensaiada, pois no caso


de a descontinuidade estar paralela com às linhas de fluxo será mais difícil detectar
um desvio do campo, devido a sua menor intensidade. A magnetização da peça está
representada na figura 16.20, e pode ser (a) longitudinal, (b) circular ou multidirecional.
P á g i n a | 475

Figura 16.20: Ilustração das formas de magnetização da peça a ser ensaiada: (a)
longitudinal, e (b) circular.

Vamos discutir um pouco cada uma das formas de magnetização:


 Magnetização longitudinal: É assim denominado por produzir um campo
magnético longitudinal à peça. Neste método, o campo magnético tem suas linhas de
força passando longitudinalmente pela peça e fechando o circuito através do ar.
Portanto, é o método recomendado para a detecção de descontinuidades transversais
ao comprimento da peça. A magnetização longitudinal é obtida por indução de campo.
 Magnetização circular: Neste método, que pode ser tanto por indução de
campo como por passagem de corrente, as linhas de força que formam o campo
magnético circulam através da peça em circuito fechado, não fazendo uma "ponte"
através do ar. Este tipo de magnetização é usado para detecção de descontinuidades
longitudinais à direção de aplicação da corrente ou transversais à direção de aplicação
do campo magnético.
 Magnetização multidirecional: Também conhecida como combinada ou
vetorial. É um método em que simultaneamente são aplicados na peça dois campos
magnéticos: um pelo método longitudinal e o outro pelo método circular. A combinação
das duas técnicas produz um vetor rotativo, e permite observar, de uma só vez, as
descontinuidades em diversas orientações. A magnetização multidirecional é a mais
indicada, porque reduz o tempo de análise, economiza partículas magnéticas e
diminui a possibilidade de erro. A desvantagem é a dificuldade de conseguir o
equilíbrio entre os dois campos, de modo a não haver sobreposição entre eles.
P á g i n a | 476

16.4.3.1 Técnicas de magnetização

Na indústria, o ensaio não desctrutivo por meio de partículas magnéticas possui


cinco técnicas de magnetização. A primeira a ser difundida foi a técnica de
magnetização do yoke e, a partir dela, é que surgiram as demais: técnica dos
eletrodos, técnica da bobina, técnica do contato direto e técnica do condutor central.
Normalmente a técnica mais empregada é a técnica do yoke em razão de
requerer pouco investimento e proporcionar mais versatilidade e conforto ao inspetor
durante o ensaio, devido ao equipamento ser leve e portátil.
Por isso, caro(a) aluno(a), nesta aula vamos retratar apenas essa técnica.
Se você se interessar em conhecer as outras técnicas, pode fazer uma
pesquisa nas referências bibliográficas indicadas ao final da aula.
Esta técnica de magnetização utiliza um eletroímã apoiado à peça a ser
ensaiada. Ela é empregada em juntas soldadas, peças fundidas, forjadas e laminadas.
O campo magnético gerado pelo yoke é denominado campo longitudinal, sendo
resultante de uma indução magnética e cuja finalidade é detectar descontinuidades
no sentido transversal a este campo. A figura 16.21 mostra o esquema e o emprego
da técnica de magnetização com o yoke.

Figura 16.21: (a) Ilustração e (b) imagem da magnetização de uma peça com a utilização do
yoke.

( (

Para você saber, caro(a) aluno(a), o yoke é um circuito magnético constituído


de um núcleo magnético de pequena relutância, com uma bobina de N espiras na
parte superior e dois pólos magnéticos que, apoiados sobre uma peça a ser ensaiada,
formam um circuito magnético fechado. O núcleo é constituído de lâminas de ferro
silício, isoladas eletricamente entre si e de elevada permeabilidade magnética. A sua
P á g i n a | 477

vantagem está em não aquecer os pontos de contato, já que a técnica usa corrente
elétrica magnetizante que flui pelo enrolamento da bobina do yoke, e não pela peça.

16.4.3.2 Preparação da superfície de ensaio

De acordo com a sequência de execução, o ensaio começa com a limpeza e/ou


preparação da superfície. O método de preparação da superfície depende do tipo,
tamanho e quantidade de peças a serem inspecionadas. Os métodos de limpeza
normalmente utilizados são o jato de areia ou granalha, a escova de aço, panos
umedecidos em solventes ou secos. O objetivo é retirar da superfície da peça toda a
sujeira, oxidação, carepas, respingos ou inclusões superficiais que prejudiquem o
ensaio com a formação de campos de fuga falsos ou que contaminem o banho, isto,
caso a execução seja através de um equipamento estacionário.

16.4.3.3 Observação e avaliação

Estando atendidas as condições de limpeza, magnetização e de aplicação de


partículas ou suspensão, de acordo com os requisitos das normas, torna-se
necessário a observação e a avaliação das indicações. Esta é a etapa mais
importante e subjetiva do ensaio, pois depende exclusivamente da capacidade de
visualização e de interpretação do inspetor. Por isso torna-se necessário que todos os
requisitos anteriores tenham sido cumpridos conforme estabelecido nos
procedimentos de ensaio ou conforme determinam as normas aplicáveis.
Devemos ressaltar, conforme foi mencionado no vídeo, que o nível de
iluminação é fundamental e seus requisitos são os seguintes:
 Luz visível ou normal: O nível de iluminamento mínimo recomendado é de
1000 lux1, sem a presença de reflexos ou brilhos incômodos;
 Luz negra ou ultravioleta: O grau de escurecimento do local de ensaio deve
ser o equivalente a 20 lux e a lâmpada ultravioleta deve, após o aquecimento por um
período de 5 minutos, emitir luz ultravioleta com intensidade mínima de 1000
W/cm2. A avaliação é feita com a lâmpada a 380 mm da superfície da peça e com
um instrumento sensível à luz ultravioleta. O espectro da luz ultravioleta deve ser
equivalente ao comprimento de onda de 330 a 390 nm, para evitar danos físicos ao
inspetor. A figura 16.22 destaca as duas formas de iluminação para observação e
P á g i n a | 478

avaliação das descontinuidades no ensaio por partículas magnéticas, e também uma


imagem da observação em condições de iluminação especial.

Figura 16.22: (a) Ilustração da iluminação com luz visível; (b) Ilustração da iluminação com
luz ultravioleta; e (c) imagem das continuidades de uma peça com iluminação ultravioleta.
Luminária de luz
Luminária de (a) Negra (b) (c)
luz branca

Partícula
Partícula
Fluorescente
Colorida

16.4.3.4 Vantagens e desvantagens do ensaio

Como você pôde constatar, caro(a) estudante, o END por partículas


magnéticas é um método de muita confiança para encontrar as trincas superficiais e
sub-superficiais, em especial trincas rasas. Além disso, podemos destacar
Algumas outras vantagens:
 Os operadores podem aprender o método facilmente, sem a necessidades
de um treinamento de longa duração;
 É um método portátil e de baixo custo;
 Possui maior sensibilidade que o líquido penetrante;
 Detecta as descontinuidades preenchidas com metal de enchimento (solda);
1Lux (S.I.) é a unidade de iluminamento, intensidade de iluminação ou
iluminância. Corresponde à incidência perpendicular de 1 lúmen em uma superfície
de 1m2. Lúmen é a unidade de medida da luz emitida por uma lâmpada.
 Trabalha bem em camadas finas de pintura, ou em outros materiais não
metálicos;
 Método adaptável para a automatização;
 Fornece resultados imediatos, não tendo os tempos de espera requeridos
pelo ensaio por meio de líquido penetrante.
Algumas desvantagens do método
 Trabalha somente em materiais ferromagnéticos;
P á g i n a | 479

 Não detecta descontinuidades internas, abaixo da camada sub-superficial;


 A desmagnetização é frequentemente necessária, quando trabalhamos com
corrente contínua;
 Deve ser feita uma preparação e limpeza da superfície, para que não
apresente um problema no que diz respeito à aplicação de força magnetizante para
produzir um campo no sentido apropriado;
 É necessária a limpeza final das peças;
 O ensaio não gera um registro permanente do resultado do exame.
 O manuseio individual das peças para a magnetização é geralmente
necessária, uma desvantagem particularmente com um grande número peças
pequenas.
 A geometria da peça pode dificultar e/ou tornar a inspeção não confiável, ou
mesmo impossível em alguns casos.

16.4.4 Radiografia industrial

A radiografia é um método usado para inspeção não destrutiva


que baseia-se na absorção diferenciada da radiação penetrante pela
peça que está sendo inspecionada. A absorção da radiação poderá ser
detectada através de um filme, ou através de um tubo de imagem ou
mesmo medida por detectores eletrônicos de radiação. A radiografia é um método
capaz de detectar com boas sensibilidade defeitos volumétricos desde que não sejam
muito pequenos em relação à espessura da peça.
O método está fundamentado na mudança de atenuação da radiação
eletromagnética (raios X ou gama), causada pela presença de descontinuidades
internas, quando a radiação passar pelo material e deixar sua imagem gravada em
um filme, sensor radiográfico ou em um intensificador de imagem.
A radiografia foi o primeiro método de ensaio não destrutivo introduzido na
indústria para descobrir e quantificar defeitos internos em materiais. Seu enorme
campo de aplicação inclui o ensaio em soldas de chapas para tanques, navios,
oleodutos, plataformas offshore; uma vasta aplicação em peças fundidas
principalmente para as de segurança na indústria automobilística como porta-eixos,
carcaças de direção, rodas de alumínio, airbags, assim como blocos de motores e de
P á g i n a | 480

cambio; produtos moldados, forjados, materiais compostos, plásticos, componentes


para Engenharia aeroespacial, são outros exemplos.
Após esta breve introdução, caro(a) aluno(a), aconselhamos seriamente que
assista a um conjunto de 3 teleaulas do Telecurso 2000 que aborda tudo sobre este
tipo de END. Elas são rápidas, claras, e irão auxiliá-lo(a) muito na compreensão deste
método de END. Acesse os endereços abaixo na ordem indicada, e bons estudos!
<https://www.youtube.com/watch?v=1fHDPNlJZTM>.
<https://www.youtube.com/watch?v=j4wkMsviSX4>.
<https://www.youtube.com/watch?v=8FUXxG6wOvc>.
Saiba, caro(a) aluno(a), que a radiografia industrial utilizada na
detecção de falhas segue o mesmo princípio da radiografia clínica usada nos seres
humanos, porém com doses de radiação 10 vezes maiores, o que exige um nível de
segurança elevado. O princípio básico de funcionamento consiste em emitir os raios
(X ou gama), sendo que uma parte é absorvida pelo material e a outra parte irá
atravessá-lo sensibilizando o filme e produzindo uma imagem. O ensaio que utiliza
raios X é chamado de radiografia, e o ensaio que utiliza raios gama é chamado de
gamagrafia, e exige maiores cuidados, pois uma vez ativado emitem radiação
constantemente. O Raio X é produzido acelerando, por meio de uma diferença de
potencial, velocidade com o metal do alvo (ânodo), causam instabilidade na
eletrosfera liberando calor e ondas eletromagnéticas (os raios X). Os raios X de uso
industrial são gerados numa ampola de vidro denominada tubo de Coolidge, figura
16.23.

Figura 16.23: (a) Esquema de funcionamento de um (b) tubo de Coolidge.

(a) (b)

O raio gama é obtido a partir de um isótopo radioativo que emite partículas e


radiações eletromagnéticas de três tipos: alfa (α), beta (β) e gama (γ). As partículas
alfa e beta possuem cargas elétricas que podem ser desviadas por um campo
P á g i n a | 481

magnético, já as radiações eletromagnéticas gama, de natureza ondulatórias, são de


alto poder de penetração. Os isótopos mais usados são o irídio 192, o césio 137, o
túlio 170 e o cobalto 60. Na Figura 16.24 temos (a) o aparelho gerador de raios gama,
(b) o seu princípio de funcionamento, e (c) a leitura realizada pelo aparelho impressa
em um filme.

Figura 16.24: a) Irradiador gama para fontes radioativas; (b) esquema da utilização do
irradiador gama, e (c) foto produzida pela radiação.

Talvez, caro(a) aluno(a), para que você se atente para


característica das técnicas, seja interessante neste momento
fazermos um comparativo entre raios X e raios gama. No caso dos
raios X, a emissão de radiação cessa quando se desliga o
equipamento. Por outro lado, os equipamentos para gamagrafia são
mais simples, tem um menor custo inicial e requerem menor manutenção. Ainda, a
fonte de raios gama emite radiação continuamente e por isso deve ser guardada em
locais específicos e preparados para esta finalidade, não necessitando de energia
elétrica para se gerar raios gama. Portanto, eles podem ser usados não só em locais
remotos como em locais de difícil acesso e não há a necessidade de energia elétrica.
Uma coisa comum às técnicas, o filme radiográfico, consiste de uma fina chapa de
P á g i n a | 482

plástico transparente, revestida de um ou ambos os lados com uma emulsão de


gelatina, de aproximadamente 0,03 mm de espessura, contendo finos grãos de
brometo de prata. Quando expostos aos raios X, raios gama ou luz visível, os cristais
de brometo de prata sofrem uma reação que os tornam mais sensíveis ao processo
químico (revelação), que os converte em depósitos negros de prata metálica. Em
ambas os procedimentos, a exposição à radiação cria uma imagem latente no filme,
e a revelação torna a imagem visível. Há ainda uma técnica que usa radiações
ionizantes que devemos abordar, a chamada radioscopia. Nela a peça é manipulada
à distância dentro de uma cabine a prova de radiação, proporcionando uma imagem
instantânea de toda peça em movimento, portanto tridimensional, através de um
intensificador de imagem acoplado a um monitor de TV. Imagens da radioscopia
agrupadas digitalmente de modo tridimensional em um software, possibilita um efeito
de cortes mostrando as descontinuidades em três dimensões o que nada mais é do
que uma tomografia industrial.
Como comentado, a importância do END por radiografia industrial está no fato
de detectar falhas em equipamentos que exigem alta confiabilidade, como gasodutos
transportando óleo à alta pressão, caldeiras de vapor e equipamentos de refinaria. De
fato, caro(a) aluno(a), a radiografia industrial e o ensaio de ultrassom são dois
métodos muito utilizados para comprovar a qualidade de uma peça e para poder
confrontar com o que determinam as normas de fabricação e serviço.
A figura 16.25 mostra uma execução deste tipo de END.

Figura 16.25: Imagem da análise de uma peça por radiografia industrial.

PLACA DE
FÓSFORO

OBJETO À
INSPECIONAR

FONTE
RADIOATIVA
P á g i n a | 483

16.4.4.1 Radioproteção

Como você deve saber, caro(a) aluno(a), as radiações


ionizantes dos tipos X ou gama têm uma ação nociva sobre o
organismo humano. Os efeitos dependem da quantidade de raios que
o corpo recebe. Para se evitar qualquer problema, deve ser
rigorosamente seguido o plano de proteção radiológica previsto para cada caso, o
qual prevê as áreas a serem isoladas e os controles a serem efetuados (contador
Geiger, canetas dosimétricas, filmes dosimétricos, etc.). Você deve se lembrar que no
vídeo que indicamos para esse ensaio não destrutivo, foi abordado este tópico.

16.4.4.2 Vantagens, limitações e desvantagens do ensaio

Algumas vantagens do ensaio por radiografia industrial podem ser citadas:


 Registro permanente dos resultados;
 Detecta facilmente defeitos volumétricos, tais como porosidades, inclusões,
falta de penetração, excesso de penetração.
Algumas limitações e desvantagens:
 Descontinuidades bidimensionais, tais como, trincas, duplas-laminações e
faltas de fusão são detectadas somente se o plano delas estiver alinhado ou paralelo
ao feixe de radiação;
 É necessário o acesso a ambas as superfícies de uma peça para radiografá-
la (como visto na figura 16.23);
 Dependendo da geometria da peça não é possível obter radiografias com
qualidade aceitável, que permitam uma interpretação confiável;
 A radiografia afeta a saúde dos operadores, inspetores e do público e deve
por isso, ser criteriosamente utilizada;
 É necessária a interrupção de trabalhos próximos para a exposição da fonte;
 O custo do equipamento e material de consumo são relativamente altos;
 É um ensaio relativamente demorado;
 No caso de raios X, o aparelho não é totalmente portátil, dificultando a
execução de radiografias em lugares de difícil acesso;
 A interpretação requer experiência e conhecimento dos processos de
soldagem, para identificação correta das descontinuidades.
P á g i n a | 484

16.4.5 Correntes parasitas

A inspeção por correntes parasitas, também


conhecida como corrente de Foucault ou Eddy Currents, é
uma técnica de inspeção não-destrutiva baseada na
introdução da corrente elétrica no material a inspecionar e
observação da interação entre as correntes e o material. De
modo bem resumido, o campo magnético gerado por uma
sonda ou bobina alimentada por corrente alternada produz Jean Bernard Léon

correntes induzidas (correntes parasitas) na peça sendo Foucault (1819-


1868), físico e astrôn
ensaiada. O fluxo destas correntes depende das
omo francês. Mais
características do metal.
conhecido pela
Este ensaio é muito utilizado para detectar invenção do pêndulo
descontinuidades superficiais e sub-superficiais (trincas, de Foucault, um

dobras ou inclusões). Se aplica também para detectar dispositivo que


demonstra o efeito da
trincas de fadiga e corrosão em componentes de estruturas
rotação da Terra. Ele
aeronáuticas e em tubos instalados em trocadores de calor,
também fez uma
caldeiras e similares. Ainda para detectar mudanças nas medição inicial da
características físico-químicas ou da estrutura (composição velocidade da luz,

química, granulação, dureza, profundidade de camada descobriu as


correntes de Foucault
endurecida, têmpera, etc.) em metais ferromagnéticos e não
e, embora não o
ferromagnéticos, em produtos siderúrgicos (tubos, barras e
tenha inventado, é
arames), e em auto-peças (parafusos, eixos, comandos, creditado por nomear
barras de direção, terminais, discos e panelas de freio), o giroscópio. A

entre outros. É importante entendermos bem todo o cratera Foucault


sobre a Lua e
processo envolvido nesta, caro(a) aluno(a), e para isso
o asteroide 5668
vamos aprofundar um pouco mais nos seus fundamentos no
Foucault são assim
próximo tópico. chamados em sua
Antes, porém, indicamos veementemente que assista homenagem.

nesse momento ao excelente vídeo em inglês sobre este


'não tão conhecido' END, acessando o link:
<https://www.youtube.com/watch?v=oriFJByl6Hs>.
P á g i n a | 485

16.4.5.1 Por dentro do ensaio

Iniciemos nossa interação sobre o ensaio informando que a Lei


da Indução eletromagnética ou lei de Faraday-Lenz2 explica como é
gerada a corrente elétrica sob efeito de um campo magnético variável.
Essas correntes induzidas podem servir para a análise de falhas ou
descontinuidade. A variação do campo magnético gera, por indução eletromagnética,
correntes que ao atravessarem uma massa metálica, aumentam a temperatura do
corpo. Na análise dessas correntes é que se origina a técnica de inspeção não
destrutiva por correntes parasitas. Saiba que correntes parasitas podem ser
produzidas intencionalmente, por exemplo, em fogões de indução; mas também
podem ser indesejadas, como nos núcleos de aço dos transformadores, por exemplo.
A corrente elétrica resultante do fluxo magnético vai afetar a impedância da
bobina que a gerou. Com isso, qualquer variação no fluxo das correntes parasitas
atuantes em uma peça implica a variação dessa medida (impedância). A possibilidade
de variação dessa medida é utilizada como método de ensaio para identificar e
localizar possíveis descontinuidades existentes em uma peça que está sujeita ao
ensaio. As possíveis falhas interferem no fluxo das correntes parasitas. Pela variação
na medida de impedância da bobina de ensaio podemos analisar o tipo de defeito,
como ilustrado na figura 16.26(a). O tratamento eletrônico e análise desses sinais, por
aparelhos específicos, permitem ao inspetor avaliar e localizar o problema.
O equipamento utilizado nesse tipo de teste são bobinas. Elas têm diversas
formas como a cilíndrica que é semelhante a uma caneta. Com seu sensor podemos,
passando-o sobre o material, identificar trincas e descontinuidades superficiais, como
na imagem mostrado na figura 16.26(a). Nas formas circular, quadrada ou oval que
permitem a passagem da peça, podem-se analisar não só as descontinuidades, mas
também as variações físico-químicas de uma peça.
2A lei de Faraday-Lenz, ou lei da indução eletromagnética, é uma lei básica
do eletromagnetismo que relaciona a variação temporal de campos magnéticos
atravessando circuitos elétricos com o aparecimento de forças eletromotrizes nesses
circuitos. Esta lei descreve o princípio fundamental de funcionamento
de transformadores, geradores e motores elétricos.
P á g i n a | 486

Figura 16.26: (a) Princípio da detecção por correntes parasitas; (b) inspeção por correntes
parasitas em fuselagem de avião, e (c) gráfico formado no visor do aparelho detector.

As correntes parasitas geradas são afetadas por variações que ocorrem na


condutividade elétrica, permeabilidade magnética e na geometria do material.
Os resultados, após o seu processamento pelo aparelho são mostrados na tela,
figura 16.24(c), exigindo do operador bom conhecimento. É um ensaio rápido
(velocidade de inspeção), limpo, com baixo custo operacional, além de possibilitar
automatização do processo de inspeção. Além da vasta área de aplicações já citadas,
o ensaio por correntes parasitas ainda oferece uma série de vantagens tais como: a
possibilidade de produtos (materiais) siderúrgicos serem ensaiados diretamente,
mesmo ainda quentes. Esse ensaio não causa nenhum dano à superfície de produtos
lapidados ou polidos, nem objetos (peças, obras) de arte ou de arqueologia.
Não existe risco algum durante a operação de inspeção, uma vez que a sonda
não entra em contato com a superfície.

16.4.5.2 Vantagens e limitações do ensaio

Como qualquer tipo de END, o ensaio por correntes parasitas apresenta suas
características próprias, levando a vantagens sobre outro tipo de ensaio não
destrutivo, mas também apresenta suas limitações.
P á g i n a | 487

Podemos destacar algumas vantagens:


 As indicações são obtidas instantaneamente não requerendo tempo de
revelação;
 O método é sensível a muitas variáveis físicas e metalúrgicas. Dessa forma,
são muitas as aplicações possíveis, desde que as variáveis que não são de interesse
possam ser eliminadas ou suprimidas;
 A única ligação entre o aparelho e a peça inspecionada é o campo
magnético;
 A maioria dos aparelhos utilizados é portátil e com baterias;
 É sensível a presença de pequenas trincas e outras descontinuidades;
 Pode detectar descontinuidades superficiais e sub-superficiais;
 Podem ser utilizados para inspeção de peças de geometria complexa;
 É um método limpo e rápido de ensaio não destrutivo;
 Tem baixo custo operacional;
 Possibilita automatização a altas velocidades de inspeção.
Algumas limitações podem ser citadas
 Requer tecnologia e prática na realização e interpretação dos resultados;
 O sucesso do procedimento de inspeção é diretamente dependente da
habilidade do inspetor em suprimir os efeitos das variáveis que não são de interesse;
 É aplicável somente a materiais condutores;
 A profundidade de penetração deste método de ensaio é limitada às regiões
próximas a superfície; nas aplicações comuns a profundidade é menor que 5 mm;
 A inspeção de materiais ferromagnéticos é mais difícil de realizar.
Geralmente são feitos com menor sensibilidade;
 O treinamento dos operadores é mais rigoroso que para outros métodos de
teste;
 O acabamento superficial pode interferir nos resultados do ensaio;

Necessidade de gabaritos para o exame de geometrias complexas.


P á g i n a | 488

16.4.6 Emissão acústica

O método de END por emissão acústica é baseado na


detecção de ondas acústicas emitidas por um material quando sujeito
a uma força ou deformação que revela a qualidade desse material.
Qualquer falha (trinca, descontinuidade ou defeito) altera o perfil de
propagação da onda acústica. Esse fato localiza a imperfeição. Os resultados do
ensaio por emissão acústica não são convencionais;
Para você saber, caro(a) aluno(a), uma descontinuidade submetida a uma
solicitação térmica ou mecânica, emite ondas que podem ser analisadas para
identificar e localizar a falha. Uma área que contém defeitos é uma área de
concentração de tensões. Quando estimulada por esforço externo, origina uma
redistribuição das tensões, que ocorre com a liberação de ondas de tensão
(mecânica). Essas ondas são captadas através de transdutores piezoelétricos 3 e
transformadas em sinais elétricos. A condição necessária para esse ensaio é que o
material ou equipamento a ser ensaiado seja solicitado térmica ou mecanicamente
para que possa ativar as fontes de emissão de ondas características dos defeitos.
A grande inovação desse ensaio é a possibilidade de realizar o teste com o
equipamento em operação.
Devemos ressaltar, que este método de END não deve ser utilizado para
determinar o tipo ou tamanho das descontinuidades em uma estrutura, mas sim, para
se registrar a evolução das descontinuidades durante a aplicação de tensões para as
quais a estrutura estará sujeita, desde que as cargas sejam suficientes para gerar
deformações localizadas, crescimento do defeito, destacamento de escória, fricção,
ou outros fenômenos físicos. Assim, aplicamos a emissão acústica quando queremos
analisar ou estudar o comportamento dinâmico de defeitos em peças ou em estruturas
metálicas complexas, assim como registrar sua localização. De fato, este ensaio não
identifica as falhas ou descontinuidades que não interferem na estrutura da peça,
assim como também não indica a sua morfologia ou dimensão. Há, portanto, a
necessidade de ensaios complementares de ultrassom e partículas magnéticas.
A combinação desses ensaios é boa alternativa de avaliação da integridade de
um equipamento.
O ensaio por emissão acústica permite a localização da falha, captados por
sensores instalados na estrutura ou no equipamento a ser monitorado. É o caso da
P á g i n a | 489

monitoração de cilindros contendo gás sob pressão para abastecimento, do teste


hidrostático e pneumático em vasos de pressão, teste de fadiga, controle de processos
de soldagem, e ainda da caracterização de materiais. A Figura 16.25(a) mostra o
funcionamento de um sensor de emissão acústica, onde é possível compreender de
forma gráfica o funcionamento do ensaio. Destacamos que esse tipo de ensaio é
aplicado em vasos de pressão, na indústria aeroespacial, petroquímica e na
construção civil. Como dissemos, quando existir alguma descontinuidade na estrutura
que estiver sendo tensionada, serão geradas ondas que são percebidas pelo sensor.
Esses sinais são processados e mostrados na figura 16.25(a).
3Piezoeletricidade é a capacidade de alguns cristais gerarem tensão
elétrica por resposta a uma pressão mecânica. O termo piezoeletricidade provém
do grego piezein, que significa apertar/pressionar. Referente à geração de corrente
elétrica, juntou-se a designação eletricidade, de modo que piezoeletricidade é
interpretado como a produção de energia elétrica devido à compressão sobre
determinados materiais.

Figura 16.27: (a) Princípio da detecção de falhas por emissões acústicas; (b) inspeção por
emissão acústica, e (c) aparelho utilizado nas inspeções por emissões acústicas.

Esse ensaio produz os seguintes benefícios diretos:


 Redução das áreas de inspeção, e consequentemente do tempo de ensaio;
 Detecção e localização de descontinuidades significativas para as condições
de carregamento estrutural durante o próprio ensaio;
P á g i n a | 490

 Avaliação de locais com geometrias complexas, com dificuldades de


utilização de outros Ensaio Não Destrutivo (END)s;
 Realização do ensaio em operação ou durante resfriamento da unidade.

Aproveite agora, caro(a) aluno(a), para assistir a um breve


vídeo que mostra o ensaio por emissão acústica em tubulações.
Acesse o vídeo em:
<https://www.youtube.com/watch?v=DhTZ53xzIqI>.

16.4.7 Termografia

Enfim, caro(a) aluno(a), chegamos ao último tipo de END que


vamos abordar em nosso curso. Esperamos que você tenha
aprendido muita coisa sobre este vasto campo do conhecimento
científico. Aproveitamos para lembrar que cada método de END
apresenta suas particularidades, vantagens e limitações próprias; e que muitas vezes,
os ensaios se completam para a adequada inspeção dos materiais e equipamentos.
A termografia é uma técnica não destrutiva que utiliza os raios infravermelhos
para medir temperaturas ou observar padrões diferenciais de distribuição de
temperatura. É uma técnica de inspeção extremamente útil, uma vez que permite
segurança, permitindo realizar medições sem contato físico com a instalação e sem
interferência na produção; ou seja, permite verificar equipamentos em pleno
funcionamento.
O objetivo principal do uso da inspeção termográfica é o de identificar as
variações de temperaturas, para com isso realizar a manutenção, prevenir a
ocorrência de falhas, e, dessa forma, prolongar a vida útil e a eficiência dos sistemas.
Para a execução da termografia, não há a necessidade da ocorrência de paradas de
produção de qualquer maquinário ou equipamentos, o que gera uma redução
relevante nas finanças da empresa, com a redução de 20% a 50% dos custos. É bom
lembrar, caro(a) aluno(a), que a termografia é a ciência que permite tirar fotografias
da energia térmica dos materiais. Todos os corpos que existem no planeta irradiam
energia sob a forma de raios infravermelhos. Com uma câmera termográfica é
possível “ver” esta energia ou o calor que a olho “nu” não é possível, auxiliando assim,
por meio da diferença de temperaturas, a identificação de áreas com possíveis
P á g i n a | 491

ocorrências de problemas antes que eles ocorram. A imagem térmica produzida


mostra o calor gerado por um equipamento, como mostrado na figura 16.27, e que
podem ser observados alguns exemplos de componentes ou estruturas com
temperaturas excessivas.

Figura 16.28: Imagens de componentes com temperaturas excessivas analisadas por


termografia.

São indicação de problemas componentes com aquecimento superior a 35°C


em relação à temperatura ambiente, exceto resistências de aquecimento, alguns
núcleos de bobinas, lâmpadas acesas e alguns resistores. As imagens com tons
claros correspondem às regiões de maior temperatura e tons escuros correspondem
às regiões de menor temperatura.
Após a análise, deve-se indicar as distorções operacionais e suas respectivas
ações corretivas, ilustrados com os respectivos termogramas e registros fotográficos
dos pontos de calor excessivo. Na indústria automobilística é utilizada no
desenvolvimento e estudo do comportamento de pneumáticos, desembaçador do
para-brisa traseiro, no turbo, nos freios, no sistema de refrigeração, etc. Na siderurgia
tem aplicação no levantamento do perfil térmico dos fundidos durante a solidificação,
na inspeção de revestimentos refratários dos fornos. A indústria química emprega a
termografia para a otimização do processo e no controle dos reatores e torres de
refrigeração, a Engenharia civil inclui a avaliação do isolamento térmico de edifícios e
determina detalhes construtivos das construções como, vazamentos, etc.
A figura 16.27(a) apresenta a foto de um disjuntor visto a olho nu que está
aparentemente em perfeito estado de funcionamento. Mas a observação desse
mesmo disjuntor com uma câmera termográfica mostra a imagem térmica, figura
16.27(b), possibilitando perceber que o equipamento está com um problema de
aquecimento pontual interno, o que é característico de um problema por mau contato.
P á g i n a | 492

Mesmo que a temperatura não se encontre fora dos padrões aceitáveis, deve-se
planejar a troca (ou manutenção, se possível), pois possivelmente o problema poderá
se agravar com o tempo, gerando problemas que podem ocasionar paradas não
programadas e perda de tempo de produção.

Figura 16.29: (a) Imagem de um disjuntor visto a olho "nu", e (b) disjuntor visto com uma
câmera termográfica.

Antes de ver as vantagens do END por termografia, assista


a um excelente vídeo que retrata os conceitos e a execução desta
técnica:
<https://www.youtube.com/watch?v=vwEZs58iyqs>.

Como você deve ter notado, caro(a) aluno(a), este END pode ser considerado
um tipo de ensaio de grande importância no auxílio à inspeção preditiva, já que sua
utilização possibilita uma grande redução na ocorrência de manutenções corretivas,
reduzindo assim os gastos e o tempo com manutenção, e também com energia
elétrica, já que um desequilíbrio de gasto de energia em algum material acarreta um
consumo elevado de energia elétrica. Além disso, podemos destacar algumas outras
aplicações do ensaio não destrutivo por termografia:
 Classificação de componentes elétricos defeituosos (placas e circuitos
eletrônicos, em empresas geradoras, distribuidoras e transmissoras de energia
elétrica);
 Cálculo de trocas térmicas;
 Monitoramento de sistemas mecânicos como rolamentos e mancais;
 Vazamentos de vapor em plantas industriais;
 Análise de isolamentos térmicos e refratários;
P á g i n a | 493

 Acompanhamento de pesquisas científicas de trocas térmicas;


 desenvolvimento e estudo do comportamento de pneumáticos;
 levantamento do perfil térmico dos fundidos durante a solidificação;
 inspeção de revestimentos refratários dos fornos;
 otimização do processo e no controle dos reatores e torres de refrigeração;
 avaliação do isolamento térmico de edifícios;

E sempre lembramos, caro(a) aluno(a); você deverá


praticar resolvendo os exercícios propostos. Eles servirão para
clarear ainda mais sua mente e lhe dará uma oportunidade
de refletir sobre tudo o que estudamos nesta última aula.
Caso dúvidas sobre os métodos de ENDs persistam, em relação à teoria
ou aos exercícios, entre em contato com o tutor da disciplina.
Ele está sempre disponível para lhe atender.

Bons estudos!
Resumo

Nesta aula, caro(a) aluno(a), tivemos a oportunidade de ver que o


conhecimento sobre os ensaios não destrutivos é muito importante para o profissional
do ramo da Engenharia. Vimos que conhecer seus tipos e características ajuda no
momento da escolha do melhor procedimento a ser adotado na manutenção de um
equipamento ou na automação da verificação da qualidade de um trabalho ou produto.
O estudo do ensaio visual, como o primeiro procedimento na avaliação, bem como a
escolha dos demais ENDs estudados, partículas magnéticas, líquido penetrante,
ultrassom, radiografia, correntes parasitas, emissão acústica, termografia, indica a
qualidade e o nível de nossa avaliação. Aprendemos que cada um deles, com suas
particularidades e características, determinam a sua empregabilidade no processo de
controle e avaliação de um equipamento industrial. Para encerrar e resumir de forma
completa o que estudamos, o melhor é assistir a um excelente vídeo em que diversos
ENDs são executados.

Assista a uns pequenos vídeos sobre a aplicação do Ensaio Não


Destrutivo por Líquido Penetrante.
Observe a execução todas as etapas do processo. Acesse:
<https://www.youtube.com/watch?v=NQE4MG5qmlY>.
<https://www.youtube.com/watch?v=tlE3eK0g6vU>.
Referências Bibliográficas

Básica:
ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais.
Editora Cengage Learning, 2015.

CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


introdução. Editora LTC, 2002.

GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e


Científicos.

SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora


Pearson Education do Brasil, 2008.

VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio


de Janeiro, Editora Campus.

Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017.


Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola
Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004.
Exercícios
AULA 16

Questão 1.
Ensaios não destrutivos, por não provocarem alterações
físicas, químicas e microestruturais, permitem avaliações em
materiais, componentes e estruturas que não afetam suas
futuras aplicações ou continuidade das operações de serviço.
Nesse contexto, considere as afirmativas abaixo.
I - O comportamento de partículas magnéticas próximas a um campo de fuga é
influenciado pela viscosidade do meio.
II - Partículas magnéticas e radiografia são métodos usualmente adotados na
detecção de trincas de fadiga.
III - Líquidos penetrantes e partículas magnéticas são métodos que permitem a
detecção de porosidades subsuperficiais em cordões de solda.
Está correto APENAS o que se afirma em:
a) I b) II c) III d) I e II e) II e III
Questão 2. (PETROBRÁS-2012) Líquidos penetrantes é uma das principais
técnicas de ensaios não destrutivos. Nessa técnica, aplica-se um líquido sobre a
superfície do componente. Esse líquido penetra no interior da descontinuidade, que é
indicada por um agente revelador. Nesse contexto, considere as afirmativas abaixo.
I - A presença de ar no interior da descontinuidade dificulta a penetração do
líquido.
II - O líquido penetra no interior da descontinuidade por efeito de forças
capilares.
III - Líquidos menos viscosos penetram mais facilmente nas descontinuidades.
IV - Líquidos menos viscosos penetram com menor velocidade nas
descontinuidades.
Está correto o que se afirma em
a) I e III, apenas.
b) II e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
P á g i n a | 497

Questão 3. Os ensaios não destrutivos permitem a inspeção de uma peça


antes de sua utilização inicial e também inspeções contínuas ao longo de sua vida útil.
Sobre esses ensaios, analise as afirmativas a seguir indicando V para as verdadeiras
e F para as falsas.
a) ( ) O ensaio por Raios X é um ensaio não destrutivo que pode ser
aplicado em qualquer peça e está associado a outros ensaios.
b) ( ) O ensaio por líquido penetrante permite avaliar a existência de
descontinuidades superficiais e subsuperficiais através da utilização de um líquido de
cor avermelhada e uma técnica relativamente simples.
c) ( ) O ensaio por corrente parasita detecta descontinuidades internas em
materiais, baseando-se no fenômeno de reflexão de ondas acústicas quando
encontram obstáculos à sua propagação, dentro do material.
d) ( ) São, em geral, qualitativos e poucas vezes quantitativos
e) ( ) Requerem pouca ou nenhuma preparação de amostras e, em geral,
são mais econômicos e do que os ensaios destrutivos.
f) ( ) Podem examinar, simultânea ou sucessivamente, diversas regiões
críticas de uma mesma peça.
g) ( ) Líquidos penetrantes e partículas magnéticas são métodos que
permitem a detecção de porosidades subsuperficiais em cordões de solda.
h) ( ) A técnica de Radiografia não destrutiva envolve os raios X, gamagrafia
e corrente parasita.
Questão 4. (PETROBRÁS-2011) Que tipo de ensaio não destrutivo tem por
objetivo a detecção de defeitos ou descontinuidades internas, os quais estão
presentes nos mais variados tipos ou formas de materiais ferrosos ou não ferrosos?
a) Fadiga
b) Visual
c) Ultrassom
d) Partículas magnéticas
e) Líquidos penetrantes
Questão 5. (PETROBRÁS-2010) A inspeção da parede interna de tubos de
pequeno diâmetro e das partes internas de uma peça, quando realizada pelo ensaio
visual, utiliza o tuboscópio como instrumento ótico auxiliar. Esse instrumento
a) possui um volante, cujo objetivo é amplificar a imagem virtual gerada pela
lente ocular.
P á g i n a | 498

b) possui cabeças de diversos formatos e ângulos de incidência, possibilitando


inspeções em vários ângulos.
c) opera no âmbito da manutenção preditiva, permitindo a obtenção contínua
de dados para uma análise de tendências da evolução do estado de uma peça.
d) opera simultaneamente com o ensaio de ultrassom, de modo a melhor
caracterizar eventuais trincas na superfície interna de uma peça.
e) realiza inspeção e limpeza de superfícies internas com a retirada de
impurezas que se fixam nessas superfícies.
Questão 6. (PETROBRÁS-2010) O ensaio não destrutivo por líquidos
penetrantes é caracterizado como um dos principais métodos de teste para a detecção
de descontinuidades abertas nas superfícies de diversos materiais. Todavia, algumas
características o impedem de ser utilizado. Dentre estas, destaca-se a
a) dificuldade de aplicação em peças de grandes dimensões.
b) dificuldade de utilização nas aplicações de campo.
c) não adequação para superfícies muito rugosas.
d) não adequação ou incompatibilidade com materiais não ferrosos.
e) não adequação ou incompatibilidade com materiais frágeis.
Questão 7. (PETROBRÁS-2010) A inspeção de peças com eventuais
descontinuidades superficiais e/ou subsuperficiais, por meio do ensaio com partículas
magnéticas, é relativamente simples e rápida. Além dessas vantagens para a
inspeção, destaca-se, também, como característica desse ensaio, o fato de o(a)
a) tamanho e a forma da peça inspecionada apresentarem grande influência
nos resultados.
b) aquecimento das peças examinadas não ser perceptível, uma vez que, em
geral, são utilizadas baixas correntes elétricas.
c) ensaio fornecer melhores resultados quando aplicado em peças de material
diamagnético (permeabilidade magnética inferior a 1), como a prata, o zinco e o
chumbo.
d) forma e a orientação da descontinuidade em relação ao campo magnético
interferirem fortemente no resultado do ensaio.
e) desmagnetização da peça ser quase sempre desnecessária após o ensaio.
Questão 8. Em um experimento sobre líquidos penetrantes, um estudante de
Engenharia pôde comprovar que nessa técnica aplica-se um líquido sobre a superfície
do componente a ser analisado; esse líquido penetra no interior da descontinuidade,
P á g i n a | 499

que é indicada por um agente revelador. Nesse contexto, considere as afirmativas


abaixo e indique nos parênteses a SOMA dos itens corretos:
(01) O líquido penetra no interior da descontinuidade por efeito de forças
capilares.
(02) Uma vantagem deste ensaio, em relação aos demais ENDs é que pode
ser aplicado em todos os materiais.
(04) O ensaio opera no âmbito da manutenção preditiva sendo muito
semelhante ao ensaio por partículas magnéticas.
(08) Este tipo de ensaio não destrutivo se baseia na reflexão sofrida por uma
onda ao incidir por descontinuidades ou defeitos existentes na peça.
(16) O ensaio por líquidos penetrantes pode avaliar profundidades de trincas
superficiais.
(32) A viscosidade dos líquidos influenciam no ensaio.
SOMA: ( )

Questão 9. O ensaio não destrutivo que utiliza os Raios X permite a detecção


de descontinuidades, como inclusões, bolhas, alteração da massa específica e
microtrincas, no interior de uma peça. Dois fatores de extrema importância na
qualidade dos resultados obtidos por essa técnica são a distância e a posição relativas
entre os elementos fonte de radiação, peça e filme. Analise as afirmativas a seguir,
relacionadas a esses dois fatores.
I – O filme e a peça devem ficar o mais possíveis próximos para que a imagem
projetada represente o tamanho real da peça.
II – A fonte de radiação deve ficar o mais afastado possível da peça e do filme
para minimizar o efeito de ampliação da imagem.
III – Quanto maiores as dimensões da fonte emissora, maior a nitidez da
imagem.
IV – Para se eliminar a distorção da imagem, a fonte emissora deve ser
posicionada o mais perpendicular possível à base da peça e ao filme.
Está(ão) correta(s) APENAS a(s) afirmativas
a) I e II. b) III e IV. c) I, II e IV. d) I, III e IV. e) II, III
e IV.
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Questão 10. Os ensaios não destrutivos permitem a inspeção de uma peça


antes de sua utilização inicial e também inspeções contínuas ao longo de sua vida útil.
Sobre esses ensaios, analise as afirmativas a seguir.
I – São, em geral, quantitativos e poucas vezes qualitativos.
II – Requerem pouca ou nenhuma preparação de amostras e, em geral, são
mais econômicos e mais rápidos do que os ensaios destrutivos.
III – Podem examinar, simultânea ou sucessivamente, diversas regiões críticas
de uma mesma peça.
Está(ão) correta(s) APENAS a(s) afirmativa(s)
a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III.

Questão 11. (PETROBRÁS-2010) Comparando-se os ensaios não destrutivos


que utilizam os Raios gama (γ) e os Raios X, afirma-se que
a) não é necessário empregar energia elétrica para gerar os Raios gama.
b) no caso dos Raios gama, a emissão de radiação cessa quando se desliga o
equipamento.
c) o equipamento gerador dos Raios gama permite o ajuste do comprimento
das ondas eletromagnéticas pelo ajuste da tensão a ele aplicada.
d) os equipamentos de Raios X são mais simples e requerem menor custo
inicial e menor manutenção.
e) a fonte dos Raios X emite radiações continuamente, requerendo uma
blindagem para ser guardada.

Questão 12. (PETROBRÁS-2010) Um dos ensaios mais utilizados na detecção


de descontinuidades internas em um material é o ensaio por ultrassom. No
procedimento que utiliza o método de reflexão,
a) quanto menor a frequência de vibração, menor é o tamanho do defeito
possível de ser detectado.
b) quanto maior a frequência de vibração, maior é a absorção do sinal.
c) o tamanho do defeito não pode ser determinado, mesmo sendo
desconsiderado o eco de retorno da onda mecânica.
d) os ensaios são, em sua grande maioria, realizados de forma contínua e
automatizada.
P á g i n a | 501

e) a onda refletida impede a localização da área do defeito e a determinação


de sua profundidade.

Questão 13. Sobre o ensaio não destrutivo por ultrassom, analise as


afirmativas a seguir.
I – Embora utilize equipamentos eletrônicos, suas respostas não são imediatas.
II – A obediência aos padrões de calibração do equipamento é condição
obrigatória para a realização de um ensaio confiável.
III – A ligação entre o equipamento de ensaio e a peça deve ser realizada pela
aplicação de substâncias específicas (acoplantes).
Está(ão) correta(s) APENAS a(s) afirmativa(s)
a) I b) II c) III d) I e II e) II e III

Questão 14. O ensaio por partículas magnéticas pode ser utilizado na


indicação de descontinuidades em diferentes etapas do projeto, desde a qualificação
de soldadores até a garantia da qualidade do componente em serviço. São
características do ensaio por partículas magnéticas, EXCETO:
a) detectar variações metalúrgicas no material.
b) haver distorções no campo magnético quando da presença de
descontinuidades no material.
c) indicar poros internos em peças fundidas, independente das dimensões de
ambos.
d) existir dificuldade da indicação de descontinuidade, em função da orientação
da descontinuidade e do fluxo magnético.
e) poder provocar problemas na usinagem posterior do componente.

Questão 15. Os Ensaios Não Destrutivos (ENDs) são técnicas utilizadas na


inspeção de materiais e equipamentos sem danificá-los, sendo executados nas etapas
de fabricação, construção, montagem e manutenção. Constituem uma das principais
ferramentas do controle da qualidade de materiais e produtos, contribuindo para
garantir a qualidade, reduzir os custos e aumentar a confiabilidade da inspeção.
Escolha duas dentre as técnicas de ENDs estudadas por você e faça um pequeno
comentário sobre sua metodologia, destacando suas principais vantagens e
desvantagens.

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