A Trajetória Da Produção de Conhecimentos em Serviço Social
A Trajetória Da Produção de Conhecimentos em Serviço Social
A trajetória da produção de
conhecimentos em Serviço Social
Avanços e tendências (1975 a 1997)
Nobuco Kameyama*
*
Assistente Social, Doutora pela École des Hautes Études em Sciences Sociales (Paris, 1978). Professora
Titular da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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A trajetória da produção de conhecimentos em Serviço Social
Nobuco Kameyama *
I - Introdução
*
Assistente Social, Doutora pela École des Hautes Études em Sciences Sociales (Paris , 1978). Professora
Titular da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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É nesta época que surgem as primeiras escolas de Serviço Social - em São Paulo
(1936) e Rio de Janeiro (1937). Nos anos posteriores foram criadas outras escolas, isoladas ou
vinculadas às universidades públicas ou privadas, perfazendo atualmente 77 escolas, das quais
apenas vinte (20) são públicas.
A formação dos assistentes sociais enquanto profissionais, dado seu caráter
interventivo, privilegiou fundamentalmente o aspecto técnico-operativo, em detrimento da
produção de conhecimento.
A produção de conhecimento na área de Serviço Social, iniciou-se a partir dos
anos 70, quando foram criados os primeiros cursos de pós-graduação na área de Ciências
Sociais e, especificamente, na área de Serviço Social, em plena vigência da ditadura militar
(1964/80). Esta instaurou a reforma educacional, principalmente no ensino superior,
adequando-o ao novo modelo econômico denominado “modernização conservadora”. Nesse
sentido, a refuncionalização e a expansão do ensino superior engendra a oferta, em todo o país,
de cursos de Serviço Social, efetivando a sua inserção no circuito universitário. No mesmo
período, emergem os cursos de pós-graduação na área de Ciências Sociais e
conseqüentemente na de Serviço Social. Em 1972 foi criado o primeiro curso de pós-
graduação em Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo − PUC/SP,
Rio Grande do Sul − PUC/RS, 1978 na Universidade Federal da Paraíba − UFPB, 1979 na
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A partir de 1985 a área de Serviço Social passa a ser reconhecida pelos órgãos de
fomento à pesquisa: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
e Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES,
passando a receber apoio financeiro e bolsas de estudos: pesquisadores, alunos dos cursos de
doutorado, mestrado e graduação (bolsas de iniciação científica).
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O Serviço Social caracteriza-se por conter ao mesmo tempo uma dimensão
intelectual e uma dimensão interventiva. Enfrenta o desafio de decifrar a dinâmica da sociedade
e do Estado e suas determinações no âmbito profissional. Por isso, as investigações
apresentam-se como movimento de articulação teoria/realidade, de busca de construção de
conhecimento, apontando como subjacente um movimento de crítica às dimensões aparentes,
fenomênicas ou reificadas do real.
O Serviço Social configura-se como uma forma particular de inserção na
sociedade. Caracteriza-se pela forma de intervenção na vida social, contendo uma dimensão
intelectual e uma dimensão interventiva.
As linhas centrais que orientaram a produção científica do Serviço Social não
sofreram alterações substanciais durante duas décadas. Houve, no entanto, ampliação das áreas
temáticas e alterações nas formas de abordagem e nas referências teórico-metodológicas.
Neste trabalho daremos prioridade à análise das áreas de maior concentração e
centralidade: prática profissional, política social, formação profissional, teoria e método em
Serviço Social, movimentos sociais, gênero e família. A análise desses temas ganham maio r
densidade e se verticalizam, enquanto que as temáticas política social, criança e adolescente e
processo de trabalho ganham a centralidade nas investigações dos dois últimos anos.
As temáticas realidade social, processos sócio -culturais, saúde e deficiência física e
mental, instrumentos e técnicas, análise institucional, embora constituam temas da atualidade, a
proporção em relação ao conjunto das produções não têm sofrido alterações. Já o tema
desenvolvimento de comunidade tende a desaparecer enquanto objeto de investigação.
Surge ainda no horizonte os temas emergentes, tais como terceira idade, cidadania,
democracia e direitos sociais, crime e violência, questão urbana e poder local, questão agrária e
meio ambiente (cf. gráficos 2 e 3).
É importante sinalizar que as investigações sobre os temas referentes ao Serviço
Social: prática profissional, teoria e método em Serviço Social e história do Serviço Social,
constituem aproximadamente 40% das produções, demonstrando que a preocupação do
Serviço Social ainda está centrada na busca de sua identidade.
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Gráfico 1
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Fonte: Resumos de Dissertação de Mestrado e Teses de doutorado.
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Gráfico 2
Classificação das Produções segundo Área Temática
Áreas Temáticas No %
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Gráfico 3
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Áreas de Concentração
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
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Gráfico 4
Distribuição das Produções segundo os Programas de Pós-Graduação em
Serviço Social
5 7
4 6 8
3 PUC/SP
PUC/RJ
UFRJ
PUC/RS
UFPB
UFPE
UNB
1 UNESP-FRANCA
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1. Prática Profissional
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Nos dois últimos anos emerge a tendência de resgatar a abordagem individual,
priorizando a relação de "ajuda" como um das formas de atendimento às demandas reais dos
usuários. Os assistentes sociais buscam compreender a prática cotidiana, no plantão, na terapia
familiar, na relação com os doentes e seus familiares, ou seja, nas áreas onde a intervenção se
caracteriza como de aspecto psicosocial.
No cenário do final da década de 90, as pesquisas deslocam-se para a análise de
experiências realizadas pelos assistentes sociais junto às prefeituras municipais, participando nos
processos de descentralização: na formação de conselhos municipais de saúde, de assistência,
de criança, etc. Nessas experiências os assistentes sociais participam na construção de novas
relações entre o governo local e a sociedade civil.
2 - Formação Profissional
1
Ao longo da história, particularmente nas duas décadas, a Associação Brasileira de Ensino em Serviço
Social - ABESS vem assumindo uma posição de vanguarda na tarefa de pensar a Formação Profissional, no
que diz respeito à elaboração/reformulação do currículo dos cursos de Serviço Social, à capacitação docente,
à implantação da pós-graduação e à produção científica, particularmente a partir de 1987, com a criação do
Centro de Documentação em Políticas Sociais e Serviço Social - CEDEPSS, como órgão acadêmico com o
objetivo de estimular a produção de conhecimentos na área de Serviço Social e ao mesmo tempo criar
espaços para divulgação das pesquisas, além de outras iniciativas que atestam a sua preocupação com o
avanço da formação e da prática profissional do Assistente Social.
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No que diz respeito às produções sobre a temática "Formação Profissional",
grande parte das investigações consiste no resgate do debate vivenciado pelo docentes na
elaboração do currículo mínimo nas suas unidades de ensino.
No final da década dos anos 80 surge a preocupação com o ensino da disciplina
“métodos de intervenção” e “pesquisa”. As investigações sobre estes objetos procuraram
apreender as tendências do ensino dessas disciplinas em Serviço Social, e particularmente
analisar a contribuição da pesquisa na produção de conhecimentos da área.
No final dos anos 90, a preocupação dos pesquisadores volta-se para analisar o
papel do Serviço Social nas equipes multidisciplinares, pois diante das novas requisições,
competências e condições de trabalho profissional, o assistente social tende a inserir-se, e ao
mesmo tempo dissolver-se, em equipes multidisciplinares em diversas áreas: saúde, recursos
humanos, programas de qualidade total, treinamento, comunicação social, planejamento
estratégico.
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Nesse sentido, as investigações que se enquadram na temática "Teoria e Método
em Serviço Social" são aquelas que não só procuram resgatar os postulados teórico-
metodológicos que influenciaram o Serviço Social, mas de pesquisar objetos atuais e potenciais.
A partir dos anos 80, as investigações revestiram-se de uma postura crítica,
valendo-se de categorias analíticas mais amplas que articulam as teorias básicas, da área dentro
do contexto global. Outras buscam resgatar os fundamentos teórico-metodológicos que
influenciaram o Serviço Social tradicional e procuram realimentar, revigorar e modernizar a
profissão através de novos aportes das Ciências Sociais.
Algumas dissertações elegeram como objeto de investigação as formas de
aproximação ao pensamento marxista, determinando que o denominado processo de "intenção
de ruptura" fundamentou-se não apenas no pensamento de Marx, mas também nos
pensamentos de Gramsci e Lukács. Nos anos 90, aparecem investigações que apresentam
abordagens sobre as principais categorias marxistas, tais como mediação, indústria cultural,
reificação ideológica, representações sociais, cotidiano, indivíduo, subjetividade, identidade,
etc.
No final dos anos 90 aparecem algumas reflexões teórico-políticas da relação entre
intencionalidade e a realização do compromisso profissional posto pela perspectiva de "intenção
de ruptura”.
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emergência do Serviço Social enquanto instrumento de controle social que participa do
processo de reprodução do modo de vid a burguês junto à classe trabalhadora. Tem como
suposto que o discurso (re)produzido pelo Serviço Social, bem como sua prática profissional -
se articula com outros discursos e com outras práticas que também visam à construção da
figura social de um trabalhador subordinado à lógica do capital.
Existem abordagens que privilegiam determinados objetos de estudo no resgate
histórico da profissão, tais como: a trajetória da formação profissional, reforma e assistência,
movimento de reconceituação, etc.
Quanto aos procedimentos metodológicos utilizados para a pesquisa, alguns
orientaram-se pela perspectiva teórico-metodológica da nova história e história de
mentalidades, e outros utilizaram a síntese de recomposição segundo Lincoln de Abreu Penna
ou análise historiográfico-descritiva. As técnicas utilizadas foram a análise de textos e
documentos, história oral, entrevistas com as pioneiras do Serviço Social.
No conjunto das investigações sobre História do Serviço Social nas suas
particularidades regionais, a História do Serviço Social é resgatada no estudo da criação de
várias escolas de Serviço Social.
5 - Política Social
Embora Política Social constitua um tema central da área e tenha sido colocada
como campo prioritário de atuação e pesquisa, principalmente a partir de 1978, as primeiras
dissertações sobre o tema surgem a partir de 1983.
Nas dissertações de mestrado, observamos que, no início, privilegiava-se a análise
das políticas sociais setoriais e/ou específicas, abordando de forma particular o processo de
implantação e execução de programas e projetos. Dava -se ênfase na análise dos impactos e
repercussões dos projetos e programas implantados sobre a população usuária e a resposta
que esta população elaborava, no sentido de mudar o caráter e a natureza das políticas sociais
para que as mesmas atendessem de forma efetiva as necessidades sociais.
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Um dos temas que mereceu uma análise aprofundada foi o da “assistência”, que
constituiu um dos temas centrais em torno do qual aglutinaram-se os doutorandos/docentes do
Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC/SP, produzindo várias teses
de doutorado e dissertações de mestrado, além de textos que foram publicados, resgatando a
concepção, o significado e as perspectivas da política de assistência. Estes estudos contribuíram
para subsidiar os debates que precederam à formulação da Lei Orgânica de Assistência Social
- LOAS (Lei n, 888.742) promulgada em 1994.
Até os anos 90, na análise da Política Social, prevaleceu o enfoque superestrutural,
isto é, como prática política e ideológica do qual se vale o Estado para exercer sua função de
controle social e de legitimação política.
Nos últimos anos, aparecem produções cujas análises são orientadas dentro de
uma perspectiva marxista. Trata-se de estudos das articulações da Política Social com
determinações macro-estruturais da sociedade capitalista na era dos monopólios. Dentro desta
perspectiva aparecem produções que além de propor um debate crítico, constrói a
particularidade da política social no Brasil.
Neste contexto, a Política Social passa a ser analisada enquanto instrumento que o
Estado utiliza para limitar a dilapidação da força de trabalho favorecendo sua reprodução e
subsidiando a expansão e a acumulação do capital.
No contexto do debate sobre a “crise do Welfare State” e reestruturação do
Estado de Bem-Estar Social nos países avançados, algumas investigações assumem propósitos
de examinar as principais tendências de evolução e alterações da política social no contexto do
neoliberalismo que preconiza a tese do Estado mínimo. Na agenda dos neoliberais, a
reestruturação dos programas sociais aparecem três propostas: a privatização, a focalização e a
descentralização dos programas, além da renda mínima.
Nos últimos anos tem aumentado significativamente as produções que procuram
refletir sobre as políticas sociais, principalmente na implementação das políticas de Seguridade
Social, Saúde e Assistência Social no processo de municipalização. As reflexões mostram que a
efetivação das políticas sociais pelos governos municipais, apesar destas serem formuladas no
nível nacional, apresentam um perfil diferenciado devido à forma como o governo local se
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relaciona com a sociedade civil, especificamente com a população excluída. A atuação do
Serviço Social na implementação e execução das políticas sociais, apresenta maior visibilidade,
na medida em que o governo municipal assume uma prática calcada na cultura dos direitos.
6 - Movimentos Sociais
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Dentre os movimentos sociais analisados, sobressaem as investigações sobre a
organização da classe trabalhadora e de categorias profissionais, particularmente a de
assistentes sociais, como fórum de luta por um poder popular na trama das relações sociais.
Busca ainda explicitar sua relação com os processos de rearticulação da sociedade civil, seu
papel enquanto bloco de poder de resistência, como potencial de luta e contestação e espaços
para construir novas formas de participação política e articulação com os trabalhadores.
As dissertações de mestrado sobre movimentos sociais visam resgatar alguns
aspectos importantes, tais como a condição de emergência, a dinâmica das práticas populares,
seus avanços e recuos, a resposta popular às diversas políticas oficiais, o saber e o poder
popular nas relações sociais, as práticas de participação e negociação, a democracia interna, os
mecanismos de cooptação utilizados nos chamados Movimentos Sociais Urbanos.
A maioria das produções, no entanto, analisam a nova configuração que assumem
os Movimentos Sociais na contemporaneidade. A relação entre os intelectuais e os movimentos
populares na perspectiva de construção de hegemonia das classes subalternas, através de
participação popular nos mecanismos de gestão; abertura de novos canais de participação;
relação com o poder público; participação popular criando espaço de negociação e os avanços
no processo democrático. Estas análises são subsidiadas pelas teorias de Gramsci e Habermas
(ação comunicativa como prática pedagógica).
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7 - Gênero e Família
8 - Criança e Adolescente
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As diretrizes que nortearam a atuação do Serviço Social foram definidas pela
Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor - FUNABEM, criada em 1964 e extinta em
1990, quando a assistência ao menor passa a ser normatizada pela Lei N.9069, de 13 de julho
de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente − ECA. A mudança do paradigma “menor”
(sujeito de códigos) a “criança e adolescente” (sujeito de direitos), demanda a construção de
uma rede de proteção. O que muda, portanto, é a política do menor, que de certa forma vai
influenciar a ação do Serviço Social.
No nível da pós-graduação, as primeiras produções datam dos anos de 68.
Geralmente, as investigações da primeira década se centravam na descrição da atuação do
Serviço Social junto a crianças e adolescentes nos processos de ressocialização e adoção, e no
desenvolvimento de programas de profissionalização.
Nos anos 80, as investigações passam a privilegiar a questão da violência dos pais
em relação aos filhos, buscando elucidar as diversas variáveis que contribuem para a sua
ocorrência. Este tipo de investigação objetiva caracterizar o sistema familiar por onde perpassa
a problemática.
As investigações desse período se preocupam em conhecer a situação de vida e de
trabalho das crianças e adolescentes, buscando a compreensão da problemática do menor
carente, as causas que os conduzem a se inserirem precocemente no mercado de trabalho, os
tipos de atividades laborativas que exercem, seja no mercado formal ou informal, as várias
formas de exploração a que são submetidos, a compreensão que os mesmos têm da realidade e
seus projetos de vida.
Algumas pesquisas se direcionam no estudo dos menores infratores
institucionalizados, buscando revelar as representações sociais dos mesmos, isto é,
interpretação que o menor infrator institucionalizado atribui às normas sociais as quais transgride
e/ou incorpora. Outras submetem a uma reflexão crítica a prática institucional.
A partir dos anos 90, as investigações se voltam para o estudo dos meninos e
meninas de rua: a concepção que se tem dos meninos(as) de rua, o cotidiano, a visão do
mundo, elementos relacionados com os seus níveis de consciência, formas de resistência ou
conformismo com a realidade. Buscam ainda revelar como se processa a relação entre os
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meninos de rua e suas famílias, para compreender os seus atores e os significados e
representações que atribuem às suas vivências. O estudo sobre a problemática da crianca e do
adolescente se complementa com a análise crítica das propostas de atendimento formuladas
pelas instituições públicas e privadas, particularmente as Organizações Não Governamentais -
ONGs.
Os estudos atuais orientam-se na análise do processo de formação da criança e do
adolescente de rua, propondo alternativas que favoreçam a luta que está sendo desenvolvida,
mudando a relação de poder/saber com as Instituições, com a Polícia Civil, o Juizado de
Infância e Juventude e as Obras Institucionais. Há estudos que apontam a dificuldade de dar um
enfoque integrado às políticas sociais para a criança e o adolescente que se efetive na prática
em uma verdadeira rede de proteção conforme consta no ECA, devido às divergências entre a
Política Nacional e Política Municipal. Esta tem como objetivo a integração das ações, de
descentralização e de participação da sociedade civil organizada.
Finalmente, há estudos que analisam a violência sexual contra crianças e
adolescentes e o atendimento destas a partir da denúncia do caso, bem como apontar algumas
representações surgidas ao longo do processo e a repercussão destas na prática dos
profissionais e dos pais das crianças.
9 - Processo de Trabalho
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- estudos que analisam a formalização de operacionalização das políticas de
recursos humanos e de benefícios sociais em empresas mistas e empresas privadas.
Enquanto os estudos da década de 80 privilegiam a temática de acidentes de
trabalho e implementação das políticas de recursos humanos e de benefícios sociais, as
investigações dos anos 90 voltam-se mais para uma análise crítica.
Neste sentido, há trabalhos que procuram desvelar, na política de recursos
humanos, o movimento de coerção e consenso existentes nas relações de trabalho, norteada
para a reprodução material e ideológica da força de trabalho na lógica das relações de trabalho
capitalista. Mostra, ainda, os nexos existentes na articulação entre processo produtivo e a
valorização da força de trabalho na produção capitalista.
Existem ainda, investigações que procuraram apreender o exercício do poder
disciplinador na organização do processo de trabalho industrial. Prática de poder nas relações
entre diretores, gerentes, supervisores, chefe s e encarregados da indústria, que penetra o
espaço privado do trabalhador e as formas de resistência criados pelos mesmos.
Os estudos dos anos 90 estão voltados para a análise das transformações no
mundo do trabalho, decorrentes da Reestruturação produtiv a. Os temas de pesquisa estão
centradas no estudo do novo ethos que permeia as empresas, na qualidade total, exclusão
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pesquisas caracteriza-se como “estudos de casos” que permitiram aos pesquisadores coletar
dados e informações no campo empírico. O conjunto dos estudos não podem ser
generalizados, mas podem sinalizar as tendências e mudanças (Kameyama, 1998:8).
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5 - Intensificação da pesquisa. Basta dizer que entre 1996 e 1997 houve um
aumento de mais de 20% do total das Dissertações de Mestrado e Teses de doutorado
produzidas entre 1975 a 1995. Atualmente existem cerca de 60 grupos de pesquisa (30 grupos
de pesquisa nos Programas de Pós-Graduação stricto sensu), envolvendo mais de 400
pesquisadores.
Embora a área tenha desenvolvido trabalhos expressivos que abordaram os mais
sérios e polêmicos problemas sociais da atualidade, as pesquisas realizadas ao nível de
dissertações de mestrado apresentam algumas debilidades próprias da área, de pouca tradição
de pesquisa, que estão sendo superadas na medida em que avança a investigação científica.
As debilidades mais freqüentes são as seguintes:
1 - Dificuldade de identificar e/ou delimitar o objeto de pesquisa e construí-lo com
base nas sucessivas abstrações, que a partir da realidade, permitem ir gradualmente precisando,
delimitando e particularizando o objeto. Em alguns casos os mestrandos confundem as
determinações com os objetos da pesquisa.
2 - Na medida em que o objeto não é delimitado, o pesquisador revela
dificuldades para elaborar ou construir seu quadro conceitual, necessário para orientar a análise
do seu objeto de estudo, escolher os instrumentos de investigação, realizar a sistematização,
analisar os dados para elaboração de novos conceitos:
Esta dificuldade é característica das pesquisas vinculadas às práticas profissionais
em instituições ou movimentos sociais. Estas pesquisas freqüentemente se baseiam no
procedimento técnico da pesquisa-ação ou da observação participante.
Embora seja indiscutível a importância do uso da pesquisa-ação no avanço da
prática profissional, na medida em que ela se limita à descrição ou sistematização da prática,
corre-se o risco de apreender apenas a aparência dos fenômenos analisados.
A sistematização pode ser configurada como um passo preliminar da pesquisa,
sem, no entanto, confundir-se com ela. A sistematização mostra-se, de uma parte, como
urgência, para levantar os pontos de estrangulamento da prática profissional, para sugerir a
necessidade de novos aportes teóricos e, de outra, para analisar a emergência de fenômenos e
processos eventualmente inéditos (Netto, 1987)
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3 - Dificuldade em realizar a mediação entre a universalidade, singularidade e
particularidade, ou seja, dificuldade de passar de categorias abstratas para objetos reais, e
também, de construir novas categorias particulares a partir de categorias genéricas.
Existe uma grande quantidade de pesquisas que elaboram um marco teórico na
perspectiva marxista , utilizando categorias de contradição, totalidade, mas no momento da
coleta dos dados ou das informações, caem no empirismo. Isto significa que, apesar de utilizar
os conceitos e leis gerais do materialismo histórico, na investigação social não aparece a relação
dialética entre o sujeito e o objeto, na construção do saber. Tratam-se de produções que se
caracterizam como formalistas/empiristas. Manifesta-se ainda o problema de substituir o
método de exposição pelo método de investigação nas redações das dissertações de mestrado.
4 - Muitas pesquisas teóricas ficam no nível de sistematização bibliográfica, que
pode ser considerado como um momento pré-teórico. A pesquisa teórica consiste na
elaboração de um marco conceitual dos conhecimentos existentes sobre determinado objeto de
estudo, que pode corresponder ao conhecimento que o pesquisador já possui e que o motivou
para o aprofundamento, com os conhecimentos que podem ser agregados como fruto de
revisão bibliográfica e documental sobre o tema.
5 - Tendência ao pragmatismo. Algumas pesquisas buscam avaliar os modelos
e/ou procedimentos técnico-operativos, objetivando subsidiar, direta ou indiretamente, a prática
profissional. Embora se fale da utilidade ou função prático-social da ciência, o conhecimento
verdadeiro é útil na medida em que, com base nele, o homem pode transformar a realidade. No
entanto, é preciso considerar que a investigação social é instrumental para a transformação
social, isto é, subsidia ou contribui para a transformação, mas não a realiza, porque não é sua
função específica. É preciso estabelecer uma clara distinção entre a ação investigativa e a ação
profissional. Por isso, o conhecimento é útil na medida em que é verdadeiro, e não
inversamente, verdadeiro porque é útil, como afirma o pragmatismo.
6 - Pesquisas de caráter isolado e que abordam universos muito limitados e
particulares, cujos resultados não podem ser generalizados, não contribuindo para o
aprofundamento e complementação de conhecimentos sobre o tema.
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7 - Rebatimento tardio de temas na área do Serviço Social, o que leva os
pesquisadores a utilizarem a bibliografia dos autores da área de Ciências Sociais, sem a
preocupação de buscar as fontes em que se basearam estes autores. Este fato traz
conseqüências para a produção do Serviço Social, na medida em que não distingue as
diferentes concepções presentes sobre uma determinada temática, e incorpora,
indiscriminadamente, as contribuições de autores de diferentes paradigmas, caindo no
ecletismo.
8 - Tendência à utilização de métodos qualitativos, considerando, falsamente, que
o método quantitativo é de caráter positivista, ou porque tem pouco domínio sobre os
conhecimentos de estatística.
9 - Amplitude das áreas temáticas, ocasionando dispersão e fragmentação dos
conhecimentos. Privilegiar a verticalização ao invés de horizontalização, buscando o
aprofundamento de uma temática, abordando-a de diferentes ângulos e dentro de uma
perspectiva interdisciplinar.
Na medida em que o Serviço Social se volta para o conhecimento de realidade
social, política e econômica - contexto onde se gestam as “questões sociais” - o estudo de seu
objeto científico requer o conhecimento substantivo de outras áreas e habilitação em técnicas
especializadas. Daí a necessidade de formação de grupos de pesquisa interdisciplinar, que
possibilitem uma pluralidade e diversificação de abordagens, no sentido de aprofundar os
conhecimentos sobre uma temática.
Atualmente, as agências de fomento à pesquisa exigem que as produções, tanto do
corpo docente como do discente, estejam vinculadas às linhas de pesquisa do curso, e que as
pesquisas sejam integradas, com a participação de alunos de doutorado, mestrado e
graduação.
10 - A inexistência de uma política coerente de pesquisa no sentido de definição de
prioridades e objetivos, tendo como referência as necessidades da área, acarretando falta de
relevância dos temas. É preciso mencionar ainda os “modismos” que caracterizaram as
flutuações dos enfoques de pesquisa na área.
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IV - Bibliografia
BISNETO, José Augusto. “Serviço Social e Análise Institucional - Estudo das contribuições ao
debate contemporâneo e ao processo de renovação no Brasil”, Dissertação de mestrado,
UFRJ, 1996.
DURIGUETO, Maria Lúcia. "A temática dos Movimentos Sociais e sua incorporação no
Serviço Social", Dissertação de mestrado, UFRJ, 1996.
___. “Lutas urbanas e movimentos populares: alguns pontos para reflexão”, in Espaço e
debate, n.8, Cortez, São Paulo, 1983.
MOSCOVICI, S. La psychanalise, son image et son public, 2a ed. Ed. PUF, Paris, 1976.
www.ts.ucr.ac.cr 28
MOTA, A. E. A nova fábrica de consensos. São Paulo: Cortez, 1998.
SCHOONS, Selma Maria. "Assistência Social entre a ordem e a desordem: mistificação dos
direitos sociais e da cidadania", Dissertação de mestrado, PUC/SP, 1994;
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