Essa Crianca Nao e Minha So - Ela e de Todos Nos - A Educacao Das Criancas Sem Terrinha No MST
Essa Crianca Nao e Minha So - Ela e de Todos Nos - A Educacao Das Criancas Sem Terrinha No MST
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
EDNA RODRIGUES ARAÚJO ROSSETTO
Aos meus filhos, Ana Gabriela e Luis Pedro, que enchem minha vida de
alegria e me fazem acreditar que é possível uma sociedade de seres humanos
emancipados.
iv
AGRADECIMENTOS
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
This research discusses the "Children's Ciranda" of the MST (Landless Rural
Workers' Movement) with the objective of contextualizing how this educational
practice experienced by the landless children in the struggle for the land was built.
The "Ciranda" is a non-formal educational space kept by the Cooperatives,
Educational Centers and by MST itself, in order to build, along with the Landless
children, an educational work that stands out for its struggle as counter hegemonic
movement opposed to the neo-liberal capitalist model. Its perspective is that of
human emancipation, based on the concept of the work that produces life, that's to
say, work linked with cooperation and humanistic and socialist values. The
researched universe was the itinerant "Children's Ciranda" that takes place during
some activities of the MST, such as courses, marches, congresses, etc., and the
"Children's Ciranda Ana Dias" in Itapeva Region, in São Paulo State. The
methodological procedures were defined with the intention of revealing the
"Cirandas" from the inside, in its nature, and the development of its relations. Data
collection was done through the articulation of documentation research, field
observation and semi-structured interviews. The following categories were defined
for the data analysis: "social struggle" as observed in the studies of Roseli Caldart,
"Work as an educational principle", and as defended by the professor Luiz Carlos
de Freitas and Gaudêncio Frigotto, and the category "Self Organization", as
present in the works of the Russian educationalist Pistrak. The results of the
research indicate that the existing contradictions within MST are placed in the
relation with the private property, with the Bourgeois State and the settled people's
way of life. Despite these contradictions, the "Children's Cirandas" mean the
possibilities that the children, since very early age, become committed to the
struggle for the land. Struggle that, as it is understood by the MST, doesn't end
with the conquest of the land. This is so because it is just the first of many other
struggles to the transformation of this capitalist society. The "Children's Cirandas"
are spaces for the construction of the children's collective, in which they learn to
share their toys, their pencils, their snacks, they learn to share life in community,
and in this sense, they join with the quilombola children, indigenous children,
homeless children and riverside children to fight injustice and social inequality,
multiplying the collective victories and, filling the rural and urban area with joy,
dreams. utopias and possibilities of building a fair society to all children and adults
in this country.
vii
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
viii
MPA - Movimento dos pequenos Agricultores
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
OCAP - Oficina de Capacitação Pedagógica
ONGs - Organizações não-governamentais
PJR- Pastoras da Juventude Rural
PNERA- Pesquisa Nacional das Áreas de Reforma Agrária
PPP – Projeto Político Pedagógico
PRONERA – Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária.
SCA - Sistema Cooperativista dos Assentamentos
STR - Sindicatos de Trabalhadores Rurais
TAC - Técnico de Administração em Cooperativas
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
UDR - União Democrática Ruralista
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UFG - Universidade Federal de Goiás
ULTABs - União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil
UNB - Universidade de Brasília
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância
UNICAMP – - Universidade Estadual de Campinas
UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
USP - Universidade de São Paulo.
ix
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INCIAIS....................................................................................1
O OBJETO, O PROBLEMA E A HIPÓTESE......................................................5
OS OBJETIVOS.................................................................................................7
A PESQUISADORA E O OBJETO DE PESQUISA...........................................8
OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................12
x
2.3 – AS MULHERES NAS INSTÂNCIAS DO MOVIMENTO – AS CIRANDAS
ITINERANTES DO MST.......................................................................97
2.4 – CONSTRUINDO OUTROS ESPAÇOS NAS CIRANDAS INFANTIS –
“PARQUE INFANTIL ALTERNATIVO”...............................................117
2.5 - O PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS EDUCADORES E
EDUCADORAS INFANTIS NO MST...................................................120
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................187
ANEXOS ..............................................................................................................196
ANEXO A - CARTA DOS SEM TERRINHA AO
MST.........................................................................................196
xi
ANEXO B - CARTA DOS SEM TERRINHA DO RIO GRANDE DO SUL
AOS SEUS PROFESSORES..................................................198
ANEXO C - CARTA DO SEM TERRINHA PARA A COMUNIDADE
ASSENTADA DA AGROVILA III E GESTORES PÚBLICO DO
MUNICÍPIO DE ITABERÁ........................................................200
ANEXO D - LETRA DAS MÚSICAS QUE AS CRIANÇAS MAIS
CANTARAM DURANTE O PROCESSO DA
PESQUISA...............................................................................203
ANEXO E - LEVANTAMENTO DE TESES E DISSERTAÇÕES...........207
ANEXO F – JORNAL DO NÚCLEO CHE GUEVARA...........................216
xii
“MANIFESTO DOS SEM TERRINHA AO POVO BRASILEIRO.” 1
Nosso pai diz que a terra é nossa mãe e dela que sai o nosso sustento. É
ela que nos abraça sem sentirmos e quando ela produz é porque seus filhos são
bons, e têm o dom de tirar dela o feijão, o arroz, os legumes e tudo aquilo que é
importante para nós crescermos saudáveis. Onde nós moramos existem muitos
filhos maus que deixam a terra abandonada, sem carinho; não gostamos deles,
eles são maus, são fazendeiros com espírito assassino que roubam a terra, estão
acabando com a terra e querem matar nossos pais que quer plantar e dar vida
para aquelas terras abandonada. Eles são violentos e não gostam de ver a terra
produzindo, por isso, tombaram a plantação que nossos pais fizeram.
1
Texto retirado do arquivo de atividades do Setor de Educação do Estado de São Paulo
xiii
Os nossos pais gostam da terra e trabalham bastante – o dia inteiro – eles
ainda arrumam um tempinho para brincar com a gente. Se os nossos pais fossem
bandidos, não trabalhavam, nem estariam lutando para conseguir terra para nela
produzir. A gente pensava que a polícia era para prender ladrão e matadores, mas
descobrimos que isso não é verdade, porque foi a polícia que matou o pai dos
nossos amiguinhos, e até agora, ninguém foi preso, nem mesmo tal governo
chamado Almir Gabriel, que, segundo a gente ouviu, foi quem mandou matar
aqueles companheiro
Uma amiga nossa disse que no acampamento dela tem jagunço impedindo
os companheiros de trabalhar na terra; eles deram tiros para amedrontar as
famílias e, acabaram acertando uma moça da televisão. Essa amiga nos contou,
também, que levou uma cesta de flores a um deles, que abaixou a cabeça como
se fosse chorar, agarrando uma espingarda enorme, da altura de nossa amiga.
Outro amigo contou para nós que o pai dele já conseguiu a terra, eles
trabalham na cooperativa, têm casa, escola bonita, muitas frutas, têm até trator!
Mas, ele disse que todos tiveram que lutar muito para conseguir tudo isso, nossos
pais estão sempre lutando e nós também vamos lutar. Nossos pais falam que
vamos produzir bastante para alimentar todo o povo, mas muitos de nossos
amigos falam que é difícil vender a produção, porque o governo não ajuda em
nada, eles têm que ir às rodovias vender o que produziam para ajudar os pais.
xiv
O presidente fala na rádio e na televisão que faz a reforma agrária, nossas
avós falaram que outros também diziam a mesma coisa e nunca fizeram nada, o
tempo passa e ninguém faz nada. Nós „Sem Terrinha‟ queremos a terra e
condições para produzir, queremos a reforma agrária, porque sonhamos com um
futuro melhor, uma vida mais digna.
Por isso, convidamos todo povo! Menino, menina, pai, mãe, avó, avô e
jovens. Vamos fazer a reforma agrária?! A gente não pode esperar que as
crianças do nosso país morram de fome.
Nós não temos uma casa grande, nossos pais não têm um carro bonito,
nossa mãe não tem uma mão lisa, nossos pais têm o rosto queimado pelo sol e a
mão calejada de tanto trabalhar, nós andamos de pés no chão, mas, mesmo
assim, nos orgulhamos por sermos organizados; por nossos pais não serem
covardes; por nossas mães estarem juntas na luta e nós crianças sentirmos que
somos filhos da luta pela terra; sem medo de dizer: somos trabalhadores sem terra
e queremos garantir nosso futuro, queremos garantir o futuro de nosso país.
xv
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
2
Ao me referir ao MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, utilizarei a palavra
Movimento, com M maiúsculo ou MST, com todas as letras maiúsculas.
1
As Cirandas Infantis constituem um espaço de educação não formal; 3 elas são
mantida por Cooperativas, Centros de Formação e pelo próprio MST, o qual procura
construir – com as crianças Sem Terra – um trabalho educativo que prime por sua luta.
Assim, procuramos apontar contradições, possibilidades e limites, a partir do contexto
histórico da educação do MST e da luta pela Reforma Agrária. Buscamos compreender
as crianças sem terra, por meio de seus sonhos, seus pensamentos, suas brincadeiras,
sua utopia e sua visão de mundo.
3
Para o MST educação não formal é aquela que não está vinculada ao sistema educacional do
país e a educação formal é a oficial do país. Neste sentido, a prática educativa das Cirandas Infantis não
constitui uma política pública de Estado. Ela apresenta elementos significativos para a construção de
uma política pública de educação infantil do campo.
4
No Estado de São Paulo o MST está organizado em 10 regionais, são elas: Iaras, Campinas,
Vale do Paraíba, Grande São Paulo, Ribeirão Preto, Itapeva, Sorocaba, Promissão, Andradina, Pontal e
para melhor conhecimento da regional escolhida para pesquisa, faremos aprofundamento no III capitulo.
2
com a direção do setor de educação, com os pais e as mães, com as crianças, com as
educadoras e os educadores da Regional.
Essa conversa com os pais e as mães teve seu início numa das reuniões da
Ciranda Infantil. Estes foram muitos solícitos e ficaram bem curiosos, pois, segundo
eles, era a primeira vez que uma pesquisadora lhes pedia autorização. Mas, para não
5
Até 1996, o MST utilizava a terminologia “monitor” para identificar a pessoa que desenvolvia um
trabalho de educação nas áreas de assentamentos, principalmente, na EJA – Educação de Jovens e
Adultos. Este termo “monitor” foi questionado várias vezes por Paulo Freire. Neste sentido, ele levou o
Movimento a refletir sobre o significado do termo “Educador Social”, pois este implica no pertencimento a
uma classe social e, também, no pertencimento ao Movimento Sem Terra. Assim, a partir de 1997 no
MST, começamos a denominar de “Educador e Educadora” todos e todas que desenvolvem o trabalho
com a Educação no MST, mesmo os que têm uma formação de Nível Médio ou Superior.
3
atrapalhar a pauta da reunião, marcamos outra data para falar sobre a pesquisa e,
também, sobre a infância no assentamento. Depois desta reunião marcamos com cada
um deles a assinatura da autorização e também marquei as entrevistas com alguns pais
e mães, principalmente aqueles que têm crianças que freqüentam a Ciranda Infantil.
A pesquisa com as crianças foi bem aceita, todas queriam participar e dar
informações sobre suas brincadeiras, suas músicas preferidas, etc. Houve momentos
em que estava entrevistando uma criança, outras apareciam e acabavam participando.
É importante ressaltar que as falas das crianças que compõem este texto grande parte
foram colhidas durante as brincadeiras as quais participei juntamente, e também nas
semanas que realizei a observação de campo6. Outras falas foram coletadas depois de
cada atividade pedagógica que participamos, tais como: a Jornada pedagógica, o Dia
cultural, o Encontro dos Sem Terrinha, etc. Como havíamos delimitado que este estudo
seria com as pequenas, de 0 a 6 anos, fomos criando laços de confiança. Isso não quer
dizer que as crianças maiores passaram despercebidas no processo de pesquisa,
muitas vezes elas participavam relatando várias informações importantes.
Este espaço das brincadeiras foi muito significativo, pois estabeleceu uma
aproximação e uma cumplicidade entre a pesquisadora e as crianças. Hoje, cada vez
6
A observação de campo foi realizada no ano de 2007. Em cada mês deste ano, uma semana
era dedicada a observação das crianças no assentamento. Concomitante as observações foram feitas
as entrevistas.
4
que chegamos ao assentamento, somos recebidas pelas crianças com sorrisos,
abraços, beijos e convites para brincar.
5
O MST investe na educação da sua base social, desde a educação infantil até o
nível superior. Isto significa preparar pessoas para assumir o trabalho de romper com a
lógica do capital. Com esta compreensão, aliada ao compromisso ético e político,
delimitamos o objeto de investigação: A educação vivenciada pelas crianças pequenas
nas Cirandas Infantis do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, trazendo
suas contradições e possibilidades no contexto de luta pela terra.
Os objetivos
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a Ciranda Infantil no MST. Para isso,
consideramos este Movimento, como fruto das contradições geradas pelo capitalismo.
Nesse contexto, procuramos compreender a Ciranda Infantil no Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra a partir das práticas pedagógicas desenvolvidas como
uma alternativa de educação infantil do campo.
7
filhas de sua base social. Nosso entendimento é que ao analisar a experiência vamos
também trazer os sujeitos e o modo como se organizam para produzir a vida, como
também às contradições vivenciadas por eles na sociedade.
8
experiência. Porém, sabia que muitos desafios me esperavam. Mas, também, estava
ciente das possibilidades em superá-los.
Ter aceitado este convite significou a busca por algo novo à minha formação e
para o meu trabalho como educadora. Enfrentando os novos desafios, a vivência
coletiva em realidades diferentes das quais estava acostumada no meu cotidiano
ajudou-me a inovar nas minhas experiências pedagógicas. Assim, comecei a trabalhar
como educadora no Assentamento 1ª de abril, no município de Prado, e estava disposta
a construir novos conhecimentos e a contribuir dentro das minhas possibilidades com o
Setor de Educação no Estado da Bahia.
7
Neste período, no MST, ainda denominava-se a formação continuada dos educadores e
educadoras de Capacitação Pedagógica.
8
Para melhor aprofundamento sobre o assunto ver Educação em Movimento: Formação de
Educadores e Educadoras no MST, Editora Vozes, 1997, Roseli Caldart.
9
Este curso não é um curso regular como os cursos de pedagogia da terra, pois este se deu nos
moldes mais de formação de educadores e também de produção de material para as escolas de
assentamentos e acampamentos.
10
FUNDEP: Fundação de Desenvolvimento, Educação e Pesquisa da Região Celeiro do Estado,
com sede na cidade de Três Passos - RS, criada, em 1989, pelos Movimentos Sociais do Campo.
9
experiência de Educação Infantil que desenvolvíamos no Assentamento 1º de abril,
intitulado: Reforma Agrária uma Luta de Todos: dos Pequenos também.
11
Este foi o primeiro curso de Especialização em educação do campo. Tinha educandos e
educandas de vários movimentos sociais tais como MPA- Movimento dos Pequenos Agricultores, MAB-
Movimento dos Atingidos por Barragens, CPT – Comissão Pastoral da Terra, MST - Movimento dos
Trabalhadores Rurais , etc.
12
Esta escola tem o seu Projeto Político Pedagógico norteado pelos princípios da educação do
campo e já foi premida duas vezes pela fundação Getúlio Vargas por desenvolver uma das melhores
políticas públicas em escolas do campo.
11
no cotidiano dos educadores e educadoras era o Projeto Político Pedagógico, além dos
cursos de formação continuada, proporcionados pela prefeitura daquele município. O
meu trabalho de conclusão de curso está intitulado: Os Processos de Formação dos
Educadores e Educadoras das Escolas do Campo: Uma Análise da Experiência na
Escola Hermínio Pagôtto.
Desse modo, o interesse por este objeto de pesquisa surgiu a partir dessa
trajetória histórica como sujeito participante do processo de luta pela terra e da minha
participação nas experiências de educação desenvolvidas pelo MST – desde os
processos de mobilização pelo acesso à escola até as contribuições na construção
coletiva da proposta pedagógica do referido Movimento.
Os procedimentos metodológicos
A pesquisa qualitativa procura dar respostas aos aspectos da realidade que não
podem ser quantificados. Trabalha com o universo de significados, motivos,
12
aspirações, crenças, valores e atitudes, pois as informações qualitativas
permitem conhecer o significado que as pessoas atribuem aos fenômenos.
Para a coleta dos dados, foram utilizados três instrumentos básicos: a entrevista,
a pesquisa documental e a observação. No tocante a entrevista, optamos pela semi-
estruturada, pois esse tipo de entrevista admite certa flexibilidade, em função das
respostas obtidas, visando assegurar o alcance dos objetivos da pesquisa, geralmente
as questões são abertas e fechadas. As questões versaram sobre o percurso da
Ciranda Infantil, as dificuldades, os desafios, as brincadeiras das crianças, o que elas
mais gostam de fazer na Ciranda Infantil. Elas foram realizadas com os dirigentes, as
crianças13 e as educadoras que atuam no assentamento onde localiza a Ciranda Infantil
“Ana Dias” e que atuam no setor de educação do MST no Estado de São Paulo. Ao
todo, foram entrevistadas 24 pessoas, assim distribuídas: 05 dirigentes, 04 educadoras
e educadores, 15 crianças, todas pertencentes ao MST.
13
Como disse anteriormente, as falas das crianças foram coletadas durante as brincadeiras, nas
reuniões do coletivo infantil, nos momentos de avaliações das atividades pedagógico como também
durante o tempo de observação de campo.
13
Neste sentido, fizemos uma seleção dos materiais que encontramos,
estabelecendo um diálogo com meu objeto de pesquisa, como: o Manifesto do 1º
Encontro Estadual dos Sem Terrinha de São Paulo, Memória da Ciranda Infantil
“Sementinha da Terra” do 1ª curso de Pedagogia da Terra Unijuí – Ijuí/RS, 2001;
Relatório da Ciranda Infantil do V Congresso do MST; Relatório do Encontro Nacional
de Educadoras e Educadores Infantis em preparação ao V Congresso, ENFF – Escola
Nacional Florestan Fernandes, Guararema/SP; o Projeto Político Pedagógico da
Ciranda Infantil Saci Pererê, ENFF; e o Caderno de Educação Infantil nº 12 do MST.
Com o objetivo de estudar o que tem sido produzido sobre o MST e a educação,
realizamos um levantamento bibliográfico de dissertações e teses produzidas nas
universidades referentes ao tema e encontramos 147 trabalhos. Sendo que, a maioria
dos estudos são dissertações de mestrado e estão localizados, em especial, nas
Regiões Sul e Sudeste, com destaque em números para as seguintes universidades:
UFRGS (18), UFSC (16), UNICAMP (16), USP (06). Na região nordeste, destacamos
UFPB (11) e a UFC (09) pesquisas. Neste levantamento consideramos as produções
das universidades estaduais e federais e ainda algumas universidades comunitárias do
país
Nos últimos dez anos o interesse pelo tema Educação e MST tem aumentado,
pois, em estudos anteriores feitos por Damasceno & Bezerra14 acerca da Educação
Rural no Brasil (o que inclui educação e MST) nas décadas de 80 e 90 foram
produzidos 102 trabalhos, sendo 92 dissertações de mestrado e 10 teses de doutorado.
14
Cf. DAMASCENO, Maria Nobre & BEZERRA, Bernadete. Estudos sobre educação rural no
Brasil: estado da arte e perspectivas. Educação e Pesquisa nº 1, v. 30, jan./abr. 2004, São Paulo. Neste
estudo as autoras fazem um importante mapeamento do conhecimento produzido na área de educação
rural nas décadas de 80 e 90. Baseiam se nas seguintes fontes: produção discente de mestrado e
doutorado do banco de resumos de tese e dissertações da Associação Nacional de Pós Graduação e
Pesquisa em Educação -- ANPED; periódicos acadêmicos nacionais; os principais livros publicados
sobre a temática Educação Rural no período. Nas duas décadas foram produzidos 102 trabalhos.
14
encontramos algumas pesquisas, entre elas: Alves (2001), Silva (2002) Correia (2004),
que desenvolvem um estudo com as crianças de acampamento, Camini (1998),
Quinteiro (2000), Arenhart (2002), Machado (2003), um estudo sobre as escolas de
assentamento, Ferreira (2002), sobre os encontros dos sem terrinha no Estado do
Pernambuco, e um único estudo de mestrado da Neiva Marisa Bihain (2001) disponível
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul que desenvolvem um estudo com
crianças de 0 a 6 anos, nas Cirandas Infantis das cooperativas daquele Estado.
A análise dos dados tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma
tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para a
investigação e a interpretação dos dados tem como objetivo a procura do
sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros
conhecimentos anteriormente obtidos
15
Analisar os dados na pesquisa qualitativa significa então, trabalhar todo o
material obtido, isto é, os relatos de observação, as transcrições das entrevistas, as
análises documentais e as demais informações disponíveis. É evidente que este
exaustivo trabalho deverá ocorrer por intermédio de categorias preestabelecidas. Neste
sentido, estabelecemos as seguintes categorias de análises, como eixos fundamentais
para a compreensão da realidade:
A luta social educa para uma postura diante da vida, que é fundamental para a
identidade dos sujeitos coletivos, que tem nos seus objetivos a transformação social. Os
processos de transformação sociais são os que fazem a história e eles são obra de
sujeitos coletivos e não apenas de indivíduos. Sujeitos que são enraizados em uma
coletividade. Neste contexto, as crianças aprendem a tomar posição, fazer escolhas e
pensar os passos que precisam ser dados em cada realidade. Cada luta social forma
seus sujeitos com traços de uma identidade específica. Mas, a luta social que
efetivamente forma sujeitos sociais é aquela que se projeta como práxis revolucionária,
aquela que se coloca na perspectiva da luta de classes e para transformação mais
radical da sociedade e das pessoas, fazendo os sujeitos compreenderem na prática a
dimensão da historicidade.
Por isso, o MST tem construído espaços de participação das crianças no
processo de luta pela terra e em muitas das ações que desenvolve, tais como: marchas,
congressos, ocupações de secretaria de educação, ocupações de terra etc. geralmente
encontramos os sem terrinha participando. Caldart (2000:216) afirma que:
16
Assim sendo a luta social se consolida na medida em que os sujeitos estejam
intimamente vinculados à organização coletiva, de modo a se tornar uma cultura do
coletivo que ultrapassa a vida do Movimento Social e a esfera da luta política, atingindo
a vida social dos indivíduos em sua totalidade.
Neste contexto, uma educação que se pretenda ser emancipadora deve estar
vinculada às transformações das condições de vida e da realidade em que os sujeitos
estão inseridos.
17
tanto pedagogicamente quanto no campo da formação de consciência organizativa,
pois, segundo Pistrak (2002:150):
18
livro de Pistrak, Fundamentos da Escola do Trabalho, Maurício Tragtenberg (1981:15)
afirma que:
A escola será a base desse coletivo infantil no dia em que se constituir como
centro da vida infantil e não somente como o lugar de sua formação; quando for
capaz de transformar os interesses e as emoções individuais em fatos sociais,
fundados na iniciativa coletiva e na responsabilidade correspondente, através
da auto-organização
19
1– A LUTA PELA TERRA E PELA EDUCAÇÃO NO MOVIMENTO
DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST
Para os camponeses do nosso país, o acesso à terra foi muito difícil. Durante
350 anos da nossa história – de 1500 a 1850 – imperou a livre ocupação das terras
devolutas. As terras pertencentes à Coroa Portuguesa poderiam ser ocupadas, desde
que o ocupante preenchesse dois requisitos básicos: ser branco e rico. Este, após a
ocupação, poderia solicitar às autoridades um título que lhe garantisse o Direito de Uso
da propriedade. O Direito de Domínio continuava pertencendo à Coroa. Aos brancos e
pobres restavam como alternativa de vida o trabalho assalariado nas grandes fazendas.
Aos negros e aos indígenas, o trabalho escravo.
20
cartórios ou às casas paroquiais para registrarem as terras. Desta forma, pagavam
certa quantia pela terra e legalizavam suas posses.
(...) imensas áreas de terras, antes propriedade comunal dos indígenas, depois
apropriadas pela Coroa, agora eram finalmente privatizadas nas mãos de
grandes senhores que passaram de amigos da Coroa a senhores de terras, a
latifundiários.
21
processo de industrialização da agricultura e promoveu as relações de trabalho
assalariado. Nessa perspectiva, o processo de mecanização da agricultura não
somente tirou a terra do camponês, mas, ao potencializar seu uso, um grande número
de trabalhadores foi expulso de sua terra.
Com todo este processo de êxodo rural e de expansão dos grandes latifúndios,
surgiram vários Movimentos Sociais. Assim afirmam Stédile e Görgen (1993:17-18):
22
Entre 1950 e 1964, o movimento camponês organizou-se, dando origem às Ligas
Camponesas, à União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTABs) e
ao Movimento dos Agricultores Sem Terra (MASTER). Em 1964, no período da ditadura
militar no Brasil, estes movimentos foram reprimidos de varias formas tais como:
desaparecimentos, torturas, prisões e exílios de vários líderes de movimentos sociais.
É neste cenário que nasce o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST). Este movimento social surge de um processo de luta e resistência contra a
política de exclusão sofrida pelos trabalhadores rurais e urbanos, em pleno Regime
Militar e desenvolvimento do sistema capitalista. Neste sentido, ele não deve ser visto
como um Movimento novo na história do Brasil, pois se caracteriza como uma
continuidade de outras lutas similares empreendidas pelo campesinato no país.
Foi, precisamente, neste contexto social e político que o MST vem desenvolvendo o
seu Projeto Político-Pedagógico de Educação, vinculado ao seu projeto político de
Reforma Agrária. Neste sentido, a luta pela Reforma Agrária não se limita à conquista
da terra; ela é uma das primeiras lutas que se faz no processo do direito à cidadania do
trabalhador rural que, entre tantas coisas, inclui também o direito à educação.
A luta dos camponeses pela terra sempre esteve presente na história do Brasil.
Alguns deles, de alguma forma, sempre encontraram maneiras de resistência através
da participação organizada, em movimentos sociais, a fim de reivindicar o direito à terra
e superar a exclusão que lhes foi imposta historicamente. Assim, após ser duramente
massacrada pelo golpe militar de 1964, a luta iniciou de forma desarticulada na década
de 1970, em várias partes do Brasil. A necessidade de sobrevivência forja a luta e
23
transforma em ação o sonho de trabalhar a terra. É difícil saber, na luta dos
trabalhadores rurais sem terra, qual foi a primeira ação. Podemos dizer, de forma
metafórica, que a semente do MST foi plantada em meados de setembro de 1979,
especificamente nos dias 6 e 7, no ato da ocupação da Fazenda Macali, município de
Ronda Alta, no Rio Grande do Sul. Desta forma, teve início o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que atravessou por um período de gestação
de aproximadamente quatro anos, até a data oficial de sua fundação, que ocorreu em
1984.
Neste período, uma das preocupações dos sem-terra era colocar suas crianças
na escola. A educação escolar era uma necessidade das famílias acampadas e
assentadas, sendo o maior desejo delas a aprendizagem da leitura e da escrita. Para
concretizar tal sonho, tiveram início as primeiras atividades que visavam a inclusão
escolar das crianças. Segundo dados que constam em arquivos do Movimento, a
primeira experiência sistematizada ocorreu no acampamento de Encruzilhada Natalino,
em dezembro de 1980.
Segundo Camini15 (1998:32):
Havia uma educadora casada com um colono e mãe de dois filhos: Maria Salete
Campigotto era educadora da rede pública estadual, no município de Ronda Alta.
Ela passou a coordenar as atividades com as crianças no acampamento e foi
envolvendo algumas mães sensíveis ao mundo da infância, passou, assim, a
reunir a criançada e promover jogos e brincadeiras. Seguidamente, as crianças
interrogavam as mães sobre o que estava acontecendo naquele lugar, do qual,
impacientemente, esperavam poder sair. As próprias crianças se perguntavam
“para que tantas reuniões, caminhadas, fome, cruz, morte?”. Assim, o tempo de
espera e a rotina diária desenvolveram nos adultos e crianças a criatividade de
viver naquele lugar. O conhecimento de outras pessoas levou a construir, ali,
amizades profundas. Mais tarde, aquilo foi sendo um divertimento, quando todos
os dias se encontravam com os amigos para brincarem.
15
Isabela Camini faz parte do Setor de Educação em nível nacional e participou das primeiras
discussões sobre a Escola Itinerante para os Sem Terrinha na época em que a escola foi aprovada. Há
várias matérias publicadas, em seu nome, sobre a Escola Itinerante. Atualmente, ela é doutora pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e seu tema de pesquisa é a educação nas escolas
itinerantes.
24
Ainda nesse acampamento, ocorreram as primeiras experiências de
alfabetização de jovens e adultos. Esta experiência foi articulada a pedido dos
acampados interessados em aprender a escrever o nome e que pressentiam que não
bastava apenas “terra para quem nela trabalha”. Esta experiência só foi possível porque
os acampados se organizaram com setores da igreja vinculados a Comissão Pastoral
da Terra (CPT) e de sindicatos considerados combativos, pois estes também ousavam
desafiar e burlar o controle do Estado. Deste processo, participaram estudantes e
religiosos com trabalho voluntário. O método de atuação para a organização das turmas
de Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi extraído da experiência de educação
popular.
25
Com as mudanças políticas ocorridas no final da década de setenta e no inicio
da década de oitenta - através do resultado da ação política da sociedade, diversos
movimentos sociais do campo e da cidade, promovem varias ações contra a ditadura
militar, no sentido de implementar a democracia no Brasil. Neste contexto os
movimentos sociais do campo ganharam espaço na sociedade. Assim, surgiram várias
organizações de trabalhadores e estes movimentos organizaram as ocupações de
terras em diferentes regiões do país.
Um dos movimentos sociais mais representativos, nascido neste período, foi o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele tem sua origem, nas
ocupações16 de terras, realizadas nos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. É importante lembrar que o MST não é o
primeiro movimento a lutar pela terra no Brasil; podemos citar como exemplo, outros
movimentos com lutas relevantes por terra: as lutas Indígenas, Quilombolas, Canudos,
Contestado, Ligas Camponesas, entre outras.
Neste sentido, podemos afirmar que o MST é fruto do processo histórico de
resistência dos camponeses brasileiros que tiveram a oportunidade de socializar as
suas experiências e ousaram unir-se a uma luta comum. Assim sendo, em janeiro de
1984, os sem terra, oriundos de vários Estados do Brasil, reuniu-se em Cascavel,
Estado do Paraná e realizaram o 1º Encontro Nacional dos Assentados, no qual o
Movimento foi fundado, oficialmente, com o nome de Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra. Segundo Delwek Matheus (Entrevista, 2008) 17, neste encontro,
foram definidos os principais objetivos18 do Movimento e as plataformas de lutas para
os próximos anos:
16
Quando o Movimento Social ocupa a terra, ele está ocupando um território que não está
produzindo alimentos para os trabalhadores; na grande maioria, estes latifúndios pertencem ao próprio
Estado.
17
Delwek Matheus é dirigente nacional do MST e faz parte do Setor de Produção Cooperação e
Meio ambiente do Estado de São Paulo. Entrevista realizada na Escola Nacional Florestan Fernandes
(ENFF), localizada em Guararema (SP) em 28 de junho de 2008.
18
Atualmente, os três principais objetivos do MST são: 1- Lutar pela terra; 2 - Lutar pela Reforma
Agrária; 3- Lutar por uma sociedade sem explorados e exploradores.
26
O principal debate era se fundava dois Movimentos: o dos com terra, para quem
já estava assentado, e o dos sem terra, para os que se encontravam nos
acampamentos. Neste debate, ficou decidido que seria um único Movimento e
quem já se encontrava assentado iria ajudar os acampados a conquistar sua
terra e que a luta seria pela Reforma Agrária, sendo que a palavra de ordem
seria „Terra não se ganha, se conquista‟.
Desta forma, foi fundado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Neste encontro, participaram 1.500 delegados que representaram 12 Estados do país:
RS, SC, PR, SP, MS, MG, ES, RJ, BA, SE, MA, RO, Estados em que o Movimento
estava organizado, ou ainda, para ser fundado.
No ano seguinte, em janeiro de 1985, o MST realizou o seu 1º Congresso, em
Curitiba, Paraná. A palavra de ordem deste Congresso foi: A Ocupação é a Única
Solução. Esta já apontava para a ocupação da terra como principal forma de luta
naquele período. Logo depois deste Congresso, começaram as ocupações em todo
Brasil. Em Santa Catarina, 5 mil famílias, vindas de 40 municípios, ocuparam 18
fazendas. Foi neste clima que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra deu
continuidade ao seu processo de expansão em âmbito nacional.
A necessidade de ter escolas19 para seus filhos, nos assentamentos e
acampamentos, não era apenas uma preocupação das famílias com o acesso ao
conhecimento para os seus filhos; estas famílias, já naquele momento, entendiam que a
escola é um direito a mais para ser conquistado. Segundo Camini (1998: 39.), em
março de 1982, as 165 famílias que estavam acampadas em Ronda Alta, um dos
acampamentos que deu origem o MST, realizou a primeira discussão sobre a escola.
Afirma a autora:
19
É importante ressaltar que as escolas dos assentamentos são públicas e mantidas pelo poder
Municipal ou Estadual
27
Com o início do ano letivo e a realidade de 180 crianças, em idade escolar,
sendo 112 crianças preparadas para entrar na 1ª série. Tal fato deixou todos
preocupados. Foi, então, que a educadora Salete, auxiliada por outra
educadora, Lúcia Webber, sensível aos problemas de educação e ligada à
Paróquia de Ronda Alta, passou a organizar, entre os acampado, a luta por
uma escola estadual de 1ª à 4ª séries. Ainda em maio de 1982, depois de
muitas reuniões e reivindicações, a Secretaria de Estado da Educação
autorizou a construção da escola e as duas educadoras começaram,
imediatamente, a lecionar. Esta escola passou a existir legalmente no
assentamento de Nova Ronda Alta, em outubro de 1983.
20
Annoni era o sobrenome da família proprietária da Fazenda ocupada em 1985, pelos Sem Terra
no município de Sarandí - RS.
21
1 Hectare (ha) equivale a 10.200m².
28
Foi debaixo de uma lona preta que começou a funcionar escola do
acampamento do MST. As aulas aconteciam, todas, no mesmo barracão, num
sistema de três turnos. Eram 23 educadores e educadoras para 700 crianças de
1ª à 4ª séries. No final do ano, as aulas passaram para o prédio novo.
Outra questão que merece destaque é que, quando as aulas foram iniciadas na
escola do acampamento, os educadores do Movimento contratados pelo município não
tinham uma titulação para as atividades para as quais estavam sendo indicados.
Mesmo assim, o número de crianças era tão grande que os educadores do
acampamento não supriam a necessidade para o atendimento de todos os educandos
que se constituíram em várias turmas. Assim, foi necessário deslocar educadores de
outros lugares para atender à demanda apresentada no acampamento. Camini
(1998:48) relata tal episódio:
22
Os Estados que participaram deste encontro foram: ES, RS, SC, PR, MS, SP e BA.
30
instrumento de luta neste período, e quando havia despejos, estes eram na sua grande
maioria violentos: as pessoas eram presas, espancadas e torturadas, sofriam violências
de várias maneiras. Muitas vezes, era preciso denunciar a violência dos policiais à
Comissão Nacional de Direitos Humanos. Assim, os grandes desafios, neste período,
eram: organizar sua base social e conquistar o respeito da sociedade. A superação
destes desafios se apresentava como indispensável para a própria sobrevivência do
Movimento Sem Terra.
O Movimento voltou-se mais à sua base de assentados: organizou da melhor
maneira possível os assentamentos e sistematizou sua experiência. Esse foi um
período no qual o Movimento passou por uma fase de refluxo, ou seja, passou olhar
mais para a realidade dos assentamentos, organizando as cooperativas numa
perspectiva da coletividade. Também passou a sistematizar suas experiências para
desenvolver o seu trabalho com as pessoas assentadas e acampadas. Além disso,
passou a estar mais atenta à formação político-ideológica de sua base social. Nesta
época, o lema do Movimento era: Ocupar, Resistir e Produzir.
Todo o processo de luta pela terra deste período foi muito violento. Os
acampamentos, seguidas vezes, eram cercados pela Brigada Militar. Esta, em muitos
Estados, fazia-se presente nos primeiros momentos da ocupação, amedrontando os
agricultores. Vários confrontos ocorriam nos locais dos acampamentos, mas esta
violência não foi suficiente para fazer com que a luta pela Reforma Agrária recuasse.
Como a história tem nos mostrado que toda ação sempre suscita uma reação,
podemos exemplificar que: as ações desenvolvidas pelo Movimento Sem Terra,
levaram ao surgimento de uma força poderosa a União Democrática Ruralista (UDR),
formada por latifundiários, para contrapor as ações do MST. Esta entidade era apoiada
pelos governos e as forças repressivas, com o objetivo de reprimir, assustar e conter a
ação organizada dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Desde então, os despejos foram
ficando cada vez mais violentos. Assim, alguns conflitos trágicos começaram a fazer
parte da vida de cada pessoa acampada.
Estes despejos tão violentos e tão próximos uns dos outros prenunciavam que o
MST iria sofrer muito em todo o país, perdendo militantes e chorando a injustiça
31
cometida em massacres como os de Curumbiara23 e Eldorado dos Carajás24. A dor e o
sofrimento não desanimaram os integrantes do Movimento Sem Terra que, com mais
fervor e garra, mantiveram a luta e, desta forma, davam continuidade ao Movimento
como parte de suas vidas. Neste momento, a palavra de ordem Ocupar, Resistir e
Produzir ressoava com mais força em cada assentamento e acampamento.
O setor de Educação iniciou a formação de Educadores com um passo
importante, pois, em janeiro de 1990, teve início a primeira turma de Magistério para
educadores de escolas de assentamentos e acampamentos, na cidade de Braga - RS.
Este curso foi organizado entre os movimentos sociais, sindicatos e prefeituras
municipais, juntamente com o Departamento de Educação Rural - DER - e a Fundação
de Desenvolvimento Educação e Pesquisa da Região Celeiro - FUNDEP. Esta entidade
educacional foi criada para atender às demandas de escolarização alternativa no meio
rural. Hoje, o curso do magistério continua no ITERRA - Instituto Técnico de
Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária, onde está situada a Escola Josué de
Castro, na cidade de Veranópolis - RS.
Entre 10 e 27 de janeiro de 1994, ocorreu o Curso de Pedagogia, na cidade de
Belo Horizonte, Minas Gerais. Nele, houve dois grupos de trabalho que produziram
materiais específicos para desenvolver as atividades pedagógicas junto às crianças
assentadas e acampadas. Um dos grupos, denominado Brigada Axé 25, produziu um
caderno e uma fita k7 com as músicas infantis, e o outro, denominado Brigada
Brincaeduca26, produziu um caderno com jogos e brincadeiras.
As atividades pedagógicas desenvolvidas com as crianças nos assentamentos
possibilitam que estas estejam permanentemente em movimento. As lições aprendidas
no seio da luta pela terra contribuem para a criação de uma cultura de mobilizações.
Em outras palavras, a ausência de políticas públicas - escolas, postos médicos,
23
Conflito entre agricultores Sem Terra e policiais, acontecidos em de agosto de 1995, no Estado
de Rondônia, com um saldo de dez mortos.
24
Confronto entre famílias sem terra acampadas na Fazenda Macaxeira e sessenta e oito homens
do Batalhão da Polícia Militar de Parauapebas e mais duzentos homens do Batalhão de Marabá, que
resultou no massacre de dezenove trabalhadores sem terra, em 17 de abril de 1996, no Estado do Pará.
25
Para maior conhecimento, ver o Caderno Plantando Ciranda.
26
Para melhor entendimento, consulte o Caderno de Educação nº. 07.
32
educadores, etc.–, vivenciada pelas crianças do Movimento, são traduzidas em
variadas formas de mobilizações. Tudo isso levou ao surgimento de um ambiente
propício à formação da consciência política das crianças do MST que no seu dia a dia
constroem seus próprios espaços de participação, tais como: os encontros dos sem
terrinha, as cirandas infantis, os núcleos infantis, acampamento-escola; participação em
feiras de ciências, olimpíadas e festivais; concurso nacional de desenho e redação etc.
Esta participação das crianças no MST é fruto de processos históricos
vivenciados por elas, ou seja, um conjunto de ações resultantes do protagonismo de
cada uma das crianças, como parte das lutas do próprio Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra.
Os Encontros dos Sem Terrinha são considerados como atividades político-
organizativas realizadas pelo MST desde 1994, geralmente no mês de outubro, e
corresponde à Semana da Criança. Esta atividade faz parte do processo de
organização das crianças dos acampamentos e assentamentos do MST e é realizada
nos estados em que o MST está organizado tendo uma abrangência regional ou
estadual, dependendo das condições de cada Estado. A duração, em média, é de 3 a 4
dias. O número das crianças participantes no encontro também varia conforme o
estado: há casos contabilizados de 150 ou, até mesmo, 700 crianças. O Estado do
Pernambuco tem a experiência de ter realizado encontros com a participação de duas
mil crianças.
Em alguns Estados, os encontros têm caráter mais reivindicatório; em outros, de
estudo, lazer e troca de experiências; em alguns, juntam-se o caráter da reivindicação
ao estudo e lazer. Geralmente, o centro da reivindicação é a luta por escolas
adequadas nos assentamentos e acampamentos.
No Estado de São Paulo, ocorreram três encontros: o 1ª Encontro Estadual
Infanto Juvenil, nos dias 12, 13 e 14 de outubro de 1996, com 700 crianças. Foi neste
encontro, na fase preparatória, que as crianças sem terra começaram a se identificar
33
como Sem Terrinha, ou seja, começaram a assumir a identidade própria das crianças
Sem Terra. Segundo Ramos27, (1999: 26):
O nome Sem Terrinha surgiu por iniciativa das crianças que participaram do
Primeiro Encontro Estadual das Crianças Sem Terra do Estado de São Paulo,
em 1996. Elas começaram a se chamar assim durante o encontro e o nome
acabou sendo incorporado à identidade das crianças que participam do MST
em todo Brasil
O lema do primeiro Encontro dos Sem Terrinha no estado de São Paulo foi:
Reforma agrária, uma luta de todos, dos Sem Terrinha também, e teve a intenção de
trabalhar o pertencimento das crianças ao MST. Nesta época, a maioria delas tinha
vergonha de se identificar como sendo do Movimento, pois eram discriminadas nas
escolas. Este encontro possibilitou que elas, ao se reunirem na Praça da República
para a negociação de sua pauta de reivindicação com a Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo, pudessem partilhar sua alimentação com os meninos e meninas,
moradores de rua. Elas ficaram indignadas com a situação vivida por estas crianças .
Estes foram momentos fortes, vivenciados pelas 700 crianças assentadas e
acampadas, oriundas de diferentes regiões do Estado.
No encontro, as crianças cantaram, dançaram, deram entrevistas para a
imprensa e discutiram alguns pontos do Estatuto da Criança e do Adolescente, como
também o seu papel na sociedade e no MST, dando significado à escola em sua vida.
Além disso, foi produzido um manifesto das crianças28. Este documento começou a ser
elaborado pelas crianças na fase preparatória nas regionais; e, posteriormente,
unificaram as idéias em um único documento que, depois, foi aprovado pelas 700
27
Márcia Mara Ramos é dirigente do Setor de Educação no Estado de São Paulo, como também, é
assentada na Regional de Itapeva e Educanda do curso de Pedagogia da Terra na Universidade Federal
de Minas Gerais
28
O Manifesto dos Sem Terrinha a Sociedade produzido neste encontro se encontra como
destaque na abertura deste trabalho.
34
crianças do Encontro Estadual dos Sem Terrinha. Durante a marcha das crianças, pelas
ruas de São Paulo, o manifesto foi distribuído às pessoas que se encontravam no
percurso da mesma. Depois, este documento foi enviado a várias entidades da
sociedade. Além da produção deste documento, todo o encontro foi permeado por
brincadeiras, apresentações culturais e diversas oficinas.
35
possível, as escolas. Desta maneira, foram realizados vários encontros em pequenos
grupos. Para cada 10 crianças, formava-se um grupo. Nestes grupos, havia um
coordenador e uma coordenadora das crianças. Nos mesmos, eram levantadas as
demandas reais, as necessidades das crianças e da comunidade e o estudo do tema
do encontro. Posteriormente, era elaborada a programação do encontro, a pauta de
negociação e divididas as responsabilidades e as tarefas entre os educadores e as
crianças A preparação da mística geralmente envolve apresentações teatrais, recital de
poemas, músicas, brincadeiras, noite cultural, palavras de ordem, símbolos – tais como
camiseta, cartaz, bandeiras –; tudo isto é preparado com antecedência para o Encontro
dos Sem Terrinha. Nos estudos sobre a mística do MST, Ademar Bogo (2002:25) afirma
que esta:
[...] é um elemento fundamental na luta pela terra, pois ela contribui para manter
a coesão da luta, e a sua materialização se dá na realização dos rituais, na
valorização da memória e herança dos lutadores e lutadoras do povo. Ela se
materializa também nas músicas, nos símbolos como a bandeira, o boné, as
ferramentas de trabalho, nas palavras de ordem, no hino da organização. No
MST, acredita-se que a mística tem o poder de ressignificar a beleza da luta e
de quem fez e faz a luta. Dessa forma, o MST busca nas próprias
características camponesas alguns aspectos da mística que vem da própria
cultura - e característica camponesa e não é algo que se constrói de fora para
dentro, mas desenvolve-se a partir dos sujeitos da luta. A mística do MST
continua cultivando os sonhos e as utopias socialistas e ao mesmo tempo
incendiando consciências da necessidade da revolução contra o capital e o
império. A mística no MST é uma energia que busca não deixar as crianças, as
mulheres e os homens em sua vida cotidiana virarem pedras ou máquinas, na
sua jornada de luta por uma sociedade socialista; a mística é um dos momentos
em que se afirma como sujeitos sociais a necessidade de, parafraseando o
Che, “ lutar sempre, mas sem perder a ternura jamais.”
A mística do MST vem da sua ligação com a Igreja Católica através da CPT. Com
o processo de luta ela foi ganhando novos elementos, tais como: a música, as
ferramentas de trabalho na lona preta de cada acampamento do MST, no hino do MST,
o hino da Internacional etc. Hoje, a mística tornou um elemento fundamental na luta
36
pela terra, pois ela alimenta os objetivos da transformação da sociedade e alimento
também da utopia dos seus integrantes viverem em prol da emancipação da classe
trabalhadora. A materialização da mística no MST vai desde organização do
acampamento ou do assentamento, nos ambientes das escolas, centros de formação
etc., até na valorização da memória dos lutadores e lutadoras do povo, tais como: Karl
Marx, Ernesto Che Guevara etc. Com isso, o MST consegue manter viva nos seus
militantes a crença nas possibilidades de transformação da sociedade capitalista e na
construção da sociedade socialista
Assim sendo, o MST constrói a mística através das suas próprias características
da luta pela transformação da sociedade. No MST, ela vem se constituindo como uma
característica peculiar, e tem contribuído para o Movimento se afirmar como referência
para a classe trabalhadora do Brasil e da América Latina.
É importante salientar que nos Encontros dos Sem Terrinha a mística esta
presente em todos os momentos; desde as tarefas assumidas coletivamente, pelas
crianças, que se auto-organizam para realizá-las, nas apresentações culturais, na
marcha pela cidade, nas negociações com o poder público, ou seja, esta presente em
todos os momentos da realização do Encontro dos Sem Terrinha, pois a mística
perpassa todo o encontro.
A realização do Encontro
37
com o objetivo de integração nos debates referentes à problemática geral do país e a
marcha com a entrega de documentos de reivindicações aos poderes públicos.
Os encontros dos Sem Terrinha são espaços que propiciam às crianças
exercitarem a autonomia e a auto-organização, ou seja, são elementos que constituem
complexidade e exigem tempo e dedicação, além de uma vivência coletiva. As marcas
das contradições aparecem na educação dos adultos nos momentos em que eles
demonstram não acreditar na capacidade de auto-organização das crianças, e, por
vezes, tentam comandá-las e controlá-las, impedindo-as da potencialidade infantil de
realizar tarefas tão importantes quanto às dos adultos. Os objetivos dos encontros dos
Sem Terrinha são: propiciar a vivência de uma organização coletiva; a participação de
crianças e adolescentes no Movimento; a realização de confraternização e lazer; a
realização de uma passeata na cidade e de audiências na Secretaria de Educação, no
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, ou em outras instituições
para as quais as crianças entregam uma pauta de reivindicações.
39
Infelizmente, no período de duas semanas que ainda fiquei no Assentamento
Catalunha, período este que foi contemplado com a comemoração do dia das
crianças, na escola, não houve nenhuma ação concreta que pudesse ser
caracterizada como um resgate do que havia acontecido no V encontro
estadual dos Sem Terrinha: nem pelas educadoras, nem pelas Crianças.
40
comportamento arbitrário, os efeitos educativos serão sempre baixos. O autor fala da
necessidade de implementar uma educação permanente e intencional em todas as
dimensões, ou seja, uma educação ampla. Isto é essencial no Movimento, visto que as
crianças, embora assentadas ou acampadas, são sujeitos participantes de um processo
de luta permanente, e estão inseridas em uma sociedade de mercado, em que
predominam valores e relações sociais antagônicas aos valores defendidos pelo
Movimento. Estas crianças vivem em permanente tensão entre os valores e as relações
sociais do MST e os da sociedade capitalista, que se contrapõem e se chocam
permanentemente, exigindo sempre dos educadores e educadoras uma série de
reflexões sobre o modo de vida, em todos os locais de vivência das crianças.
29
Maria Nalva Rodrigues de Araújo é Professora da Universidade Estadual da Bahia e faz parte do
Setor de Educação em nível nacional.
41
Os encontros dos Sem Terrinha também educam os adultos, sendo que, ao acompanhá-
los, eles precisam ouvi-los, respeitá-los como crianças diferentes que estão se formando
em um contexto de luta, exigindo dos adultos, muita paciência pedagógica. Desse modo,
o processo do encontro é um cabedal de possibilidades de construção de um ser humano
para outro projeto histórico. Contribuem, ainda, para romper o isolamento das crianças e
das escolas do campo, possibilitando atividades conjuntas, onde várias escolas de
assentamentos e acampamentos precisam se articular e permitem que sejam feitas
parcerias com universidades, centros esportivos, grupos culturais, visitas aos locais
históricos.
42
para o Brasil. Assim, os pequenos agricultores e os movimentos sociais do campo se
organizaram para refletir sobre este projeto. No processo de luta pela terra, então,
esses Movimentos unificaram-se através da Via Campesina31, a fim de lutar por um
Brasil sem latifúndio.
Nesse sentido, as pautas de reivindicações dos movimentos sociais do campo se
unificaram e ficaram mais específicas, no que tange à educação. Através destas
reivindicações, o Setor de Educação possibilitou a garantia do direito e a escolarização
para todos e, sua viabilização, com mais qualidade. Em janeiro de 1995, foi publicado o
Caderno de Educação nº6: Como fazer a escola que queremos: o planejamento. A luta
por escola continua na pauta do Movimento ainda hoje. As conquistas mais recentes
vêm das escolas itinerantes para os filhos e filhas dos acampados. Esta conquista
ocorreu no ano de 1996, no Estado do Rio Grande do Sul. Conforme Camini (1998:63):
31
A Via Campesina, no Brasil, existe desde 1992 e é formada por vários Movimentos Sociais do
Campo, tais como: MMC - Movimento de Mulheres Camponesas, MPA - Movimento dos Pequenos
Agricultores, MAB - Movimento dos Atingidos por Barragem, CPT- Comissão Pastoral da Terra, MST -
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, PJR - Pastoras da Juventude Rural etc. Convêm
destacar, ainda, que a Via Campesina está organizada tanto em nível Nacional e quanto em nível
Internacional.
43
É importante salientar que o ponto da escola era o último da pauta da reunião.
Com a chegada das crianças, o Conselho Estadual de Educação trouxe o ponto para
ser o primeiro a ser votado. O projeto foi aprovado por unanimidade pelos conselheiros.
Atualmente, existem as escolas itinerantes em alguns estados32. No Estado do Paraná,
a escola funciona desde a Ciranda Infantil até o Ensino Médio e, atualmente, há 11
escolas itinerantes funcionando.
32
As escolas itinerantes funcionam em acampamentos e são reconhecidas legalmente pelo
Conselho Estadual de Educação. Esta experiência existe há 12 anos no Rio Grande do Sul e, mais
recentemente, nos estados PR, GO, AL, PI.
33
As frentes de trabalho são formadas por pessoas do Coletivo Nacional que têm certas
habilidades para desenvolver as tarefas que a frente se propõe a realizar.
44
experiência de educação infantil, vivenciada junto às crianças do assentamento 1º de
abril, no município de Prado, estado da Bahia. O título do trabalho foi Reforma Agrária
uma Luta de Todos: dos pequenos também. Este trabalho descreve a experiência de
educação infantil, daquele assentamento. Assim sendo, nesta etapa do curso foi
possível forjar, pela primeira vez no Setor de Educação, uma discussão sobre a
educação infantil no MST. A partir dessa discussão, passou a existir a Frente de
Educação Infantil Nacional.
34
Os Estados em que o Movimento não está organizado atualmente são: Acre, Amazonas, Amapá.
A partir de 2008 o MST inicia sua organização no Estado de Roraima.
45
Permanentes ou Itinerantes; Encontros dos Sem Terrinha; Escolas Itinerantes nos
Acampamentos; Educação de Jovens e Adultos; Cursos Formais para a Formação dos
Educadores e Educadoras. Todas estas experiências educativas são desenvolvidas
tendo em vista os princípios filosóficos e pedagógicos do Movimento.
Os princípios filosóficos35 dizem respeito à visão de mundo que o Movimento
defende; à sua concepção de sociedade, de pessoa humana e educação que pretende
e que constrói. Conforme sua proposta pedagógica, os princípios filosóficos da
educação do MST são:
35
Para melhor aprofundamento consultar o caderno: Princípios da Educação do MST nº. 08.
46
Educação para a ação: propõe que a sua educação seja capaz de
preparar os sujeitos para intervir na realidade, de maneira que
transcendam da consciência crítica (denúncia e discussão de
problemas) à consciência organizativa (da crítica à ação organizada
para intervir na realidade).
Educação aberta ao novo: objetiva desenvolver uma educação que
possibilite aos sujeitos a construção de novos valores, novas relações
sociais.
47
construção da vida, busca-se a realização e construção de direitos de cidadania, tendo
em vista a emancipação humana.
48
A busca da igualdade e o respeito às diferenças.
O afeto entre as pessoas.
A capacidade permanente de sonhar, de partilhar os sonhos e de
agir para realizá-los.
49
proposta de educação, especialmente na parte metodológica dos processos educativos
desenvolvidos. Os princípios pedagógicos que impulsionam este trabalho são:
Sendo assim, para o Movimento Sem Terra esse princípio é muito importante,
pois propicia às crianças a capacidade de estabelecer relações com os outros em
várias situações da sua vida.
50
reafirma que a realidade a que se refere é a realidade da classe trabalhadora, e
argumenta que, quando se fala em realidade, está referindo-se não apenas à realidade
próxima que se vive ou enxerga, e sim a uma realidade local para se chegar a uma
mais geral ou vice-versa como, por exemplo, ao explorar a situação da agricultura, do
assentamento, como atividade educativa, esta tem possibilidade de propiciar às
crianças uma compreensão local, mas, também, compreender o papel e a estratégia
das grandes corporações da agricultura mundial.
51
A ideia é conhecer a realidade para apresentar propostas coerentes com as reais
necessidades, além de contribuir para o registro escrito, para a reflexão e para o
histórico da realidade. Araújo (2007:61.) afirma que: Esse princípio tem por objetivo
também provocar nos educandos e educadores uma atitude diante do mundo, uma
atitude para ir além das aparências e buscar a essência das coisas. Este processo
envolve a participação dos educandos e educadores. Assim, a pesquisa, que no
primeiro momento é articulada com o ensino, transforma-se em uma ferramenta que os
educadores e educadoras lançam mão para, junto aos educandos e educandas,
buscarem a superação de situações e problemas da realidade.
52
O MST compreende que é necessário formar pessoas que valorizem o que
fazem. Apesar do lugar de submissão, ocupado pela pequena agricultura no modelo de
desenvolvimento deste país, o Movimento argumenta que é de suma importância
trabalhar a auto-estima dos trabalhadores para que estes se disponham a colaborar, a
se preparar e assumir, cada vez mais, a produção coletiva, que, conseqüentemente, se
reverterá em melhorias das condições de vida dos trabalhadores.
Nas escolas e nos assentamentos, os educandos se organizam em grupos e
cada grupo desenvolve algum tipo de trabalho previamente planejado, que varia desde
arrumação de biblioteca, arrumação dos brinquedos, ao cultivo de hortas e jardins,
irrigação de canteiros, criação de pequenos animais, limpeza e embelezamento da
escola e de seus arredores. Vale ressaltar que todo esse tipo de atividade ainda
permite o exercício de planejamento, responsabilidade, experiência de coordenação de
atividades, cooperação e avaliação do processo, além da convivência e crescimento
coletivo.
Em vista disso, o MST defende a necessidade do trabalho como princípio
educativo e para a produção da vida no conjunto de atividades socioculturais que se
desenvolvem em todos os espaços educativos: nas escolas, nas Cirandas Infantis, nos
cursos, nos encontros e nos seminários.
53
Vínculo orgânico entre educação e cultura
54
Este princípio toma como referência o próprio jeito que o Movimento se organiza
em seus acampamentos e assentamentos, isto significa dizer que não basta as
crianças, educadores e educadoras estudarem ou discutirem sobre a democracia, pois
é necessário vivenciarem um espaço de participação democrática, educando-se pelo
coletivo.
Nessa perspectiva, o MST busca a sustentação teórica desse princípio na
Pedagogia Socialista. Por isso, organiza os coletivos infantis, coletivos dos educadores
e educadoras; a auto- organização dos estudantes; a participação da comunidade
assentada e acampada nas decisões dos espaços educativos do Movimento, ou seja,
incentiva todos os sujeitos da sua base social a se envolver no processo educativo.
Estes se envolvem nos coletivos pedagógicos, na direção coletiva.
Segundo Makarenko (1987: 17): (...) coletivo é um complexo de indivíduos
animados de um fim determinado, que estão organizados e possuem organismos
coletivos (...). Por sua vez, para Pistrak (2002:77), (...) as crianças e também os
homens, em geral, formam um coletivo, quando estão unidos por determinados
interesses, dos quais têm consciência e que lhes são próximos (...). É com esse
entendimento que o MST propõe que funcionem os vários coletivos nos assentamentos
e acampamentos, nas escolas, ou seja, na totalidade do Movimento, dos quais
participam educandos, pais, educadores e dirigentes do Movimento, entendendo que a
educação não deve ser de responsabilidade apenas do educador e da educadora.
55
sujeitos do coletivo têm o papel educativo durante o processo, alimentando o direito de
sonhar, criar, ousar, propor e se desafiar a fazer tarefas novas.
Outro ponto importante deste princípio é direção coletiva que o MST traz desde a
sua fundação. Na dimensão da escola, refere-se a cada processo pedagógico que vai
além dos seus participantes mais diretos, porque todos são envolvidos no processo:
pais, educadores, educandos, direção do assentamento e acampamento. Com isso, as
decisões da escola são tomadas de forma coletiva. A auto-organização para o MST
implica em que os sujeitos tenham tempo e espaço autônomos para encontrar-se,
discutir suas próprias questões, tomar suas decisões. Desse modo, a auto –
organização é destacada como conteúdo pedagógico, para desenvolver a consciência
organizativa das crianças. Em relação ao processo de criação e funcionamento dos
coletivos é necessário que as crianças tenham um espaço de liberdade e iniciativas
suficientes para organizar a vida nestes coletivos, sob orientação dos Educadores e
Educadoras.
56
Embora o projeto educacional do MST esteja delineado, não está pronto e
acabado, mas em construção, sendo vivenciado e recriado no dia a dia nos espaços
educativos do MST. Contudo, apesar de inacabada, a proposta de educação do MST
continua sendo a mesma que norteia o pensar e o fazer pedagógico e desafia,
permanentemente, os sujeitos que dele fazem parte.
Cabe ressaltar, ainda, que esta proposta educativa foi construída num período
em que as discussões no MST sobre a educação tinham como meta a organização e a
luta pelas escolas nos assentamentos e esta luta ainda continua nos dias de hoje.
Neste sentido, tal proposta está centrada na forma de como organizar os saberes nas
escolas de assentamentos e acampamentos.
Depois da proposta delineada, outros espaços educativos no MST foram
surgindo, como é o caso das Cirandas Infantis. Assim sendo, para contemplar as
crianças de idade entre zero a seis anos, se faz necessária a ampliação dos princípios
pedagógicos, que já estão apontados na proposta, que contemple este público. Tal
ampliação deve estar vinculada às vivências pedagógicas e às realidades das Cirandas
Infantis do MST.
57
amplamente analisadas em trabalhos como os de Araújo (2000-2008), Camini (1998),
Machado (2003), Pizetta (1999), Vendramini (1998- 2000).
Em 28 a 31 de julho de 1997, ocorreu o 1º Encontro Nacional dos Educadores e
das Educadoras da Reforma Agrária - 1º ENERA36 - no campus da Universidade de
Brasília - UnB. A organização deste encontro foi da seguinte forma: em um período,
ocorreram as grandes plenárias, nas quais se discutiram os grandes temas e, em outro,
aconteceram os trabalhos em miniplenárias organizadas por frentes do Setor de
Educação, para discussão específica. Em cada Grupo de Trabalho (GT), havia a
presença de educadores especialistas nas áreas de trabalho para ajudar na reflexão de
cada tema e no debate. Assim, projetou-se o trabalho de cada frente do Setor de
Educação. O lema trabalhado no ENERA foi: Movimento Sem Terra: Com Escola, Terra
e Dignidade. Este lema assumiu, com mais força, a educação como um direito a ser
construído e conquistado pelos assentados e acampados.
36
Este encontro foi promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, com
diferentes parcerias: a Universidade de Brasília - UnB, o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
58
recorriam ao seu uso. Tal ação gerou uma discussão que, para as
próximas cirandas, o planejamento deveria ser elaborado com os
Educadores e Educadoras.
59
Em julho de 1998, ocorreu a 1° Conferência Nacional Por uma Educação Básica
do Campo37, em Brasília, com a participação de 970 pessoas. Esta Conferência teve
por objetivo contribuir para recolocar o debate sobre a educação no meio rural na
agenda política do país, com o desafio de pensar e fazer uma educação vinculada à
estratégia de desenvolvimento do povo do campo. Com a participação dos vários
Movimentos Sociais do Campo, das Universidades, de Órgãos Governamentais,
Secretarias de Educação, Organismos de Igrejas presentes na conferência, foram
apontadas os vários desafios a serem trabalhados pelos Movimentos Sociais,
especialmente, os valores, os princípios e os objetivos38 que constroem a identidade e a
unidade à articulação da Educação do Campo.
37
No início, a Conferência definiu lutar por uma educação básica do campo, posteriormente, foi
suprimida a idéia apenas da educação básica. Assim, entendeu-se que apenas a educação básica
estava limitada e que os povos do campo têm direito à educação, desde a infância até o nível superior.
Assim, passou-se, então, a adotar a expressão “por uma educação do campo”.
38
Para maior aprofundamento destes princípios, valores, objetivos consultar o Caderno “Por uma
Educação Básica do Campo” nº. 01
60
Neste contexto, os Movimentos Sociais têm desenvolvido algumas experiências
de educação do campo, ou seja, construído um movimento pedagógico no campo. O
campo não está parado perante o caos ao qual está submetido, pelo contrário, ele está
em movimento. Experiências de educação indígenas, quilombolas, ribeirinhas, entre
outras, estão em movimento, mas, segundo estes Movimentos Sociais, a realidade do
campo ainda tem muitos desafios. Na maioria das escolas do campo, há uma infra-
estrutura precária: elevado número de escolas multisseriadas, principalmente nos
estados do Norte e Nordeste; os educadores, além de ministrarem as aulas,
desenvolvem outras funções, como por exemplo preparam a merenda (quando esta
existe na escola); cuidam da limpeza, entre outras tarefas, porque não há funcionário
suficiente para atenderem às demandas da escola.
Além disso, os educadores moram na cidade e viajam horas pelas estradas até
chegarem à escola, em função das condições precárias das estradas. Enfim, há uma
nítida ausência das políticas públicas nas escolas do campo.
62
Com a aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas
Escolas do Campo, a Educação do Campo passou a ser reconhecida em Lei como
direito dos trabalhadores do campo, e passou a ter no Ministério da Educação - MEC,
desde 2003, um Grupo de Trabalho. Em 2004, entrou em funcionamento também no
MEC a Coordenadoria da Educação do Campo que realizou em quase todos os
estados, juntamente com as Secretarias de Educação dos estados e os Movimentos
Sociais do Campo, Seminários de Educação do Campo para a divulgação das
Diretrizes Operacionais para a Educação Básica do Campo e para viabilização de sua
implementação nas escolas em todo o país. Neste processo, a educação do campo
avançou numa perspectiva de formação de educadores, de elevação do nível de
escolarização dos filhos dos assentados e acampados. Mas ainda se percebe uma
distância enorme entre o que está escrito nas leis da Educação e a realidade do campo.
63
com as Universidades, atrasando parcelas de pagamento. Ainda assim, as parcerias
junto às Universidades possibilitaram algumas conquistas como:
- A participação com os movimentos sociais na pressão para que o PRONERA
funcionasse.
- A formação de um coletivo de educadores das varias áreas do conhecimento
para atuar no PRONERA em efetiva parceria com os movimentos sociais.
- Engajamento de vários educadores, pesquisadores, estudantes, que
desenvolviam várias pesquisas e ações ligadas ao tema.
- Uma afirmação junto às Universidades de uma aliança que respeite a
autonomia e a identidade dos Movimentos Sociais.
Atualmente, a luta pelo acesso a terra e a permanência nela vai além da disputa
de terra com o latifúndio. Hoje aparecem com muita força as empresas multinacionais
que expulsam os trabalhadores do campo. Alguns dados organizados pelo educador
Ariovaldo Umbelino de Oliveira (USP), com base nas estatísticas do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária - INCRA (cadastro 2003) e do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE (Censo Agropecuário: 1995-1996), mostram que nos
últimos anos, para cada emprego gerado, 11 lavradores foram expulsos. Esta é uma
das consequências da expansão do modelo econômico implantado no campo brasileiro,
conhecido atualmente como agronegócio, que além de reduzir o emprego na cidade,
promoveu a expulsão dos trabalhadores do campo. Como resultado desta experiência,
temos a concentração ainda maior da propriedade de terras no Brasil.
64
absorvem 95% da mão de obra daqueles que habitam no campo, e ainda contratam
outras 994.508 pessoas. As médias propriedades, com 200 a 2000 hectares, são de
310.158 imóveis e ocupam 164.765.509 hectares. Estas absorvem 4% do pessoal, ou
seja, 565.761 pessoas, e contratam 1.124.356 pessoas. Já as propriedades acima de
2.000 hectares são apenas 32.264 e ocupam 132.632.500 hectares. Estas absorvem o
trabalho de 45.208 pessoas que moram no campo (0,3%), e empregam outras 351.942
pessoas.
Estes números, por si só, mostram como o capitalismo tem agido no campo,
promovendo a expropriação dos trabalhadores de seus direitos a terra e ao trabalho.
No Brasil, mais de cinco milhões de famílias encontram-se sem terra. Soma-se a isto a
presença de trabalho escravo; a brutal concentração de terras – 56% da terra
agricultável pertencem a 1% dos proprietários, o que leva a mercantilização da “reforma
agrária” e ao aumento dos conflitos, com morte de camponeses.
Esta concentração de terra e este modelo de produção geram grandes conflitos que,
segundo a Comissão Pastoral da Terra – CPT, entre os anos de 1985 e 2005
aconteceram no Brasil 1.063 casos de conflitos envolvendo pessoas que lutam pela
terra, provocando a morte de 1.425 camponeses. Somente no ano de 2005 foram
assassinadas 102 pessoas em decorrência da luta pela terra. Segundo Araújo
(2007:72):
65
É importante ressaltar que o avanço do agronegócio é um dos pilares de
sustentação da política econômica do atual governo, que através das exportações
garante os recursos para o pagamento dos juros da dívida externa e beneficia as
multinacionais, em detrimento do mercado interno, do desenvolvimento econômico
nacional, da criação de postos de trabalho e de redistribuição de renda para os
trabalhadores brasileiros.
66
Atualmente, o MST e outras organizações que compõem a Via Campesina têm
diversos cursos em convênios com várias universidades do Brasil. Podemos citar como
exemplos os cursos: Pedagogia da Terra (17), sendo que destes, 07 já terminaram e 10
estão em andamento; Ciências Agrárias (01); História da Terra (02); Direito da Terra
(01); Geografia (01); Agronomia (03); Letras (02); Licenciatura em Educação do Campo
(03); Especialização em Educação do Campo (01); Especialização em Educação de
Jovens e Adultos (01). Além destes cursos, destacam-se aqueles de nível Médio, como:
Magistério (10); Agroecologia (06) e Saúde (03).
A elite já se deu conta desta importante ferramenta que proporciona o acesso a
educação em todos os níveis dos trabalhadores do campo, e já passaram a questionar
na justiça a validade destes cursos. Os cursos questionados até o momento foram:
Agronomia, onde os próprios estudantes da Universidade Federal de Sergipe entraram
na justiça contra o curso39. O Movimento recorreu e ganhou a causa e, em julho de
2008, esta turma concluiu seu curso. Em 2007, foi a vez do curso de Veterinária, na
Universidade Federal de Pelotas – RS que foi embargado antes mesmo de iniciar e, no
ano de 2008, o Curso de Direito na Universidade Federal de Goiás também está sendo
questionado na Justiça e corre o risco de ser embargado.
Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a educação não
acontece somente nos cursos, mas em diversos espaços, como, por exemplo, na
participação das crianças, mulheres, jovens e idosos nas marchas, assembléias,
escolas, caminhadas, trabalhos voluntários, gestos de solidariedade, ocupações,
mobilizações. Neste sentido, cada ocupação realizada, cada escola conquistada é
resultado das lutas e mobilizações que o Movimento vem desenvolvendo ao longo da
sua história. O MST acumula experiências históricas de mobilizações pelo acesso à
escola, bem como pela construção e implementação da proposta de Educação
emancipatória, norteada pelos seus princípios filosóficos e pedagógicos 40. Assim, o
39
Geralmente, os questionamentos sobre a validade dos cursos são: por ser um curso específico
para os filhos e filhas dos assentados e também a forma de seleção, ou seja, um vestibular especial.
40
Os Princípios Pedagógicos e Filosóficos da Educação do MST encontram-se no Caderno de
Educação nº 8.
67
MST defende ser possível construir espaços com novas formas de relações sociais,
tendo como objetivo central a emancipação humana.
As crianças que vivem e estudam nos assentamentos e acampamentos possuem
uma experiência gestada nos conflitos de luta pela terra e pela educação. Por isso, o
MST almeja uma educação que tenha no seu centro a pessoa humana, uma educação
preocupada com várias dimensões deste sujeito, voltada para a cooperação, para os
valores humanistas e socialistas e com profunda crença no seu processo de formação e
transformação.
A proposta de educação do MST está delineada em vários documentos 41,
produzidos coletivamente pelo Setor de Educação, e esta expressa uma concepção de
escola pública, gratuita, de qualidade e mantida pelo Estado, e que esta seja orientada
de acordo com os interesses dos trabalhadores sem terra. Nesta perspectiva, a
implantação da proposta educativa do MST é permeada de contradições e
possibilidades.
Nas suas palavras de ordem, desde o 1º Encontro Nacional dos Assentados em
1984: Terra para quem nela trabalha; no 1º Congresso Nacional: Ocupação e a única
solução; no 2º Congresso: Ocupar, Resistir Produzir; no 3º Congresso: Reforma agrária
uma luta de todos, onde o Movimento conclamou a união dos trabalhadores do campo
e da cidade; no ano de 2000, no seu 4º Congresso a palavra de ordem foi Reforma
Agrária por um Brasil sem Latifúndio e no seu último e V Congresso realizado em 2007,
a palavra de ordem atual é Reforma agrária: por justiça social e soberania popular, se
percebe que o MST vem sempre propondo a fazer o com o debate sobre a sociedade e
realidade do país.
Observa-se que o Movimento, ao longo da sua história, tem avançado cada vez mais
na busca de mudanças globais e não apenas setoriais como era no seu início. Estas
mudanças ficaram mais visíveis a partir do seu 3º Congresso. Desse modo, é possível
41
MST, Caderno de Formação n. 18 - O que queremos com as escolas de assentamentos; MST,
Caderno de Educação nº 01 Como fazer a escola que queremos; MST, Caderno de educação nº. 8
Princípios da educação do MST; Caderno de Educação nº 09 Como fazemos a escola de educação
fundamental no MST.
68
afirmar que o MST é um sujeito político que historicamente em suas lutas enfrenta o
pilar central do capital, a saber: a propriedade privada.
O MST tem a convicção de que somente a luta pela terra não liberta o
trabalhador da exploração, e que só a escola também não é capaz de libertar o sem
terra da exploração do latifúndio. Assim propõe a junção destas duas conquistas: a
primeira, o acesso a terra e, a segunda, o acesso à escola, ao conhecimento e à
educação.
Para o desenvolvimento deste trabalho e do processo de luta pela terra, o MST vem
organizando de várias maneiras a participação da sua base social. Em suas Normas
Gerais42 (1989), ele se define como um movimento de massas, aberto a todos que
queiram participar. São norteados princípios tais como:
Direção Coletiva – Este princípio alerta aos integrantes do Movimento para a
necessidade de tomar as decisões coletivamente; desta forma, o Movimento
propõe que todas as instâncias deverão ser formadas por pequenos
coletivos, todos com igual direito e poder de decisão, e acrescenta que tudo
deve ser decidido pela maioria e cumprido por todo o coletivo. Igualmente
deve ser a realização das tarefas, que devem ser divididas estimulando a
participação de todos e evitando o centralismo e o personalismo.
42
As Normas Gerais do MST são um conjunto de normas e princípios que regem o Movimento em
nível nacional. As normas nasceram e foram criadas na mesma medida que o Movimento. Foram sendo
instituídas nos diversos coletivos que integram o Movimento e evoluindo conforme as necessidades da
organização. As Normas Gerais do MST foram aprovadas em três coletivos diferentes: no primeiro
Congresso Nacional, nos cinco encontros nacionais realizados anualmente de 1984 a 1989, e nas
reuniões da coordenação nacional que são realizadas trimestralmente. Todo esse acúmulo foi editado
pela primeira vez em 1989 em um pequeno livreto de bolso. Essas normas norteiam o MST na sua
totalidade e são abertas a todos os estados fazerem complementos, conforme a realidade local. As
Normas Gerais são compostas de 15 capítulos que deixam claro o que é o Movimento. Os seus
princípios, as plataformas de lutas, as instâncias do poder nacional, os critérios gerais dos membros das
instâncias, os princípios organizativos das instâncias, a organização interna, a articulação das mulheres,
os símbolos e meios de comunicação, as finanças, as normas gerais dos assentamentos, as relações
internacionais, as instâncias estaduais e locais, a personalidade jurídica e os assuntos gerais. Há ainda
um anexo para serem acrescentadas as Normas gerais do Movimento em nível estadual
69
Planejamento – O Movimento parte do pressuposto de que nada acontece
por acaso, mais que, tudo devem ser planejado e organizado, a partir da
realidade e das condições objetivas da organização.
Organicidade é a relação entre cada uma das partes de um todo, como se fosse
um corpo vivo, entre si e com o todo. Ninguém pode perder a noção do
conjunto, e isto só é possível quando se sabe como funciona, a finalidade de
cada uma das partes do todo e qual o seu papel em vista dos objetivos
estratégicos da organização. Embora as tarefas sejam diferentes, as partes têm
a mesma importância.
Isto significa o jeito, a forma como o MST vem organizando a participação ativa
das pessoas que compõem a sua base social. Segundo Bogo (1999: 31):
70
A Organização da Base - a base social do Movimento é composta pelas famílias
assentadas e acampadas. As famílias se estabelecem por meio dos núcleos de base,
compostos por um número de 10 a 15 famílias organizadas por proximidades do local
de moradia. A orientação é que todos os membros do MST devam pertencer a um
núcleo para fazerem parte do Movimento e continuar o processo de formação e
mobilização.
Cada núcleo é dirigido por um coordenador e uma coordenadora, uma pessoa
para secretariar e um representante por setor do Movimento, que, junto com os demais
representantes de outros núcleos, formam os setores no assentamento ou
acampamento. Cada núcleo se reúne uma ou duas vezes ao mês, e em alguns
assentamentos o núcleo é também organizado para produzir e morar coletivamente. As
formas de cooperação são diversas (mutirão, roça comunitária, grupos coletivos,
cooperativas, associações, horta medicinal, compra de equipamentos e implementos.).
É a partir dos núcleos de base que os integrantes do MST são escolhidos para fazerem
parte das outras instâncias, tanto em nível estadual, quanto em nível nacional.
71
- Encontro Nacional – Este acontece a cada dois anos. Nesta instância são
definidas as plataformas de lutas imediatas, de acordo com a conjuntura da
sociedade e as necessidades do Movimento, além de eleger a direção
nacional e coordenação nacional, indicada pelos estados. Sua composição,
caráter, local e data são definidos pela direção nacional.
- Coordenação Nacional - É uma instância que tem como funções encaminhar as
resoluções aprovadas nos encontros e congressos nacionais; zelar pela
aplicação dos princípios do Movimento; tomar decisões políticas de caráter
nacional que no que se refere ao Movimento; acompanhar a implementação
da organicidade nos estados. Esta instância é composta por dois
representantes de cada estado, indicados nos encontros estaduais, pelos
membros da direção nacional e um ou dois representante de cada setor. Este
coletivo se reúne duas vezes ao ano, e todos os membros da coordenação
possuem igual poder, não havendo presidente, secretário, tesoureiro - as
tarefas e funções a serem encaminhadas são divididas.
- Direção Nacional - Esta tem como função pensar, discutir e propor as linhas
políticas para o Movimento, procurando garantir a sua efetivação. Planejar as
estratégias de lutas em conjunto com a coordenação nacional; acompanhar os
setores. Elaborar o método de trabalho e promover constantemente a
formação política dos participantes do Movimento. Esta instancia é composta
por dois membros, (um homem e uma mulher), eleita nos encontros estaduais
e referendada no Encontro Nacional para um período de dois anos. Reúne-se
a cada 60 dias ou em caráter extraordinário, sempre que o momento político
exigir.
72
Cultura e mais o Coletivo da Juventude. É importante ressaltar que esta é a forma
como o MST tem organizado a participação dos Sujeitos Sem Terra na sua base social.
43
Esta Conferência Nacional por uma Educação do Campo contou com a participação de 1.100
delegados representantes de Movimentos Sociais, como: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Atingidos por Barragens
(MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(CONTAG), além dos ribeirinhos, pescadores e extrativistas, assalariados rurais, quilombolas e
indígenas. Também esteve presente na Conferência, representantes de universidades, Organizações
não-governamentais (ONGs), Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e de outros órgãos de
gestão pública com atuação vinculada à educação e ao campo, assim como, trabalhadores, educadoras,
educandos das escolas do campo.
44
Sobre a produção coletiva da concepção de Educação do Campo utilizamos como referência
teórica os: Cadernos de Educação do Campo: nº. 01: Por uma Educação Básica do Campo (1999); nº.
02: A educação Básica e o Movimento Social (1999); nº. 03: Projeto Popular e Escolas do Campo (2001);
nº. 04: Educação do Campo: Identidade e Políticas Públicas (2002), e mais recentemente, o nº. 05:
Contribuições para a Construção de um projeto de Educação do Campo (2004).
73
No âmbito da formação de educadores, realizou-se pela Universidade de Brasília (UNB)
o primeiro Curso de Especialização em Educação do Campo e Desenvolvimento
Sustentável do país, em parceria com o ITERRA. Na atualidade, a educação do campo
articula duas ações básicas:
- Luta pelo acesso dos sujeitos do campo à educação/escola do campo pública,
gratuita e de qualidade em todos os níveis;
- Consolidação da concepção e do projeto da Educação do Campo, entendida
aqui como educação dos sujeitos, organizados em movimentos sociais do
campo.
Dessa forma, é importante reafirmar que a Educação do Campo surgiu das
necessidades vivenciadas pelos Movimentos Sociais do Campo, que nas suas
trajetórias vêm demarcando uma concepção de sociedade, desenvolvimento rural,
educação e campo, diferentemente da concepção hegemônica que vê o meio rural
como atrasado.
Com isso, uma das características centrais da Educação do Campo, defendida
pelos Movimentos Sociais, é o fato dela ter nascido junto com as lutas pelos direitos
sociais dos trabalhadores, entre eles, o direito à educação. Deste modo, rompe-se com
a lógica antiga de educação para os povos do campo, transformando estes em sujeitos
protagonistas do processo de construção desta Educação. Dessa forma, só tem sentido
a educação do campo se esta for implementada junto com um projeto popular de
desenvolvimento do campo e da sociedade que se quer construir. É preciso que os
Movimentos Sociais se interroguem cotidianamente sobre essas questões.
O momento histórico em que se configura a educação do campo no Brasil é um
momento de profundas contradições e disputas de modelos de desenvolvimento,
conseqüentemente, do projeto de educação a ser desenvolvido no campo. Os
Movimentos Sociais que estão nesta luta buscam outras possibilidades de
desenvolvimento, que atendam às reais necessidades da classe trabalhadora e não das
empresas capitalistas instaladas no campo.
O período atual requer dos Movimentos Sociais um posicionamento para além da
conquista de direitos sociais. É verdade que as mazelas que estão no campo precisam
74
ser corrigidas através de lutas por direitos considerados reformistas, mas essas lutas
precisam pender para uma estratégia revolucionária, buscando construir uma
sociedade justa, solidária, igualitária, ou seja, uma sociedade socialista.
75
2 – A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS NA LUTA PELA TERRA
Léa do Itamaracá
76
caracteriza como política pedagógica de escola urbana, sem levar em conta as
diferenças entre campo e cidade, como o trabalho na agricultura, a forma de organizar
os períodos de colheita e plantio, a distância entre casa e escola e, o mais
preponderante, a diversidade da cultura camponesa.
Desta forma, não se procura lidar com as diferenças, respeitá-las e compreender
as marcas da condição humana do mundo rural. Dificilmente temos escola no campo
que trabalhem as diferenças da infância camponesa, suas vivências, seus medos, suas
alegrias, suas brincadeiras, suas lutas. É importante para essas crianças que a sua
cultura e suas vivências sejam levadas em consideração e apareçam de forma
sistematizada nos conteúdos escolares. Independentemente de ser ou não trabalhado
na escola, que seria um espaço próprio para isso, as crianças criam espaços para a
troca de brincadeiras, para se relacionarem na hora do recreio, no caminho de volta da
escola, nos encontros de fins de semana. Muitos desses momentos são ricos e
marcantes para uma criança, fazendo com que sua infância seja lembrada, em sua vida
de adulto, como um bom tempo.
Martins, (1991:58) ao falar das crianças do meio rural, que migram juntamente
com suas famílias à procura de uma vida mais digna, enfatiza que (...) isso gera uma
exploração decorrente da exploração do trabalho dos pequenos bóias-frias e das
mortes violentas na luta pela terra (...). Como conseqüência, gera não somente a
exploração do trabalho infantil e, sim, de todos os trabalhadores do campo.
No processo de luta pela terra no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, as
crianças começaram a ser vistas de distintas formas: primeiro, como criança; segundo,
como criança acampada ou assentada e terceiro como criança Sem Terrinha. Na luta
pela terra, em alguns momentos as crianças reagiam, conforme as ações vividas neste
processo, de forma mais espontânea, como exemplifica o depoimento de Görgen, em
julho de 1981, numa entrevista para compor o estudo de Caldart (2000:190):
77
Neste período, encontra-se o acampamento de Encruzilhada Natalina, em
Ronda Alta, passava por seu momento mais dramático. Estava cercado pelo
Exército Nacional e a Polícia Federal comandava a operação no local. O
coronel, Sebastião Rodrigues de Moura, o temido coronel Curió... Tudo o que
vi, ao meu redor, foi desilusão, insegurança e desespero. Caminhei por todo o
acampamento, rodeado por agentes da Polícia Federal, sem poder conversar
com ninguém... Tentei trocar alguns olhares, encorajamento com algumas
lideranças que via pelo caminho, mas, àquelas alturas, eu mesmo considerava
aquela batalha perdida. Meu coração estava aflito e minha mente perturbada.
Naquelas condições, não havia resistência possível. Foi quando me chamou a
atenção uma criança de uns quatros anos de idade, sentada encima de um
tronco de árvore, quase ao centro do acampamento, parecendo alheia a tudo
que ali estava acontecendo, sem se importar com o aparato militar que rodeava,
cantava a plenos pulmões a música – hino dos sem terra naquela época: “A
grande Esperança”. Parei, tomado de emoção, ouvindo aquela voz infantil,
rompendo com o silêncio imposto pela ditadura militar e pelas elites aos
camponeses, que estavam ousando lutar pela terra. E a voz infantil cantava: “a
classe roceira e a classe operária, ansiosa espera a reforma agrária” - Cantava
a vozinha inocente, acordando em mim a coragem amortecida. Naquele
momento, me deu uma súbita certeza: este povo vai resistir e vai vencer. Pela
simples razão, de que, só assim, haveria esperança de futuro para aquela
criança e a multidão de outras que se acotovelavam nos barracos. As crianças
sofriam, mas também, brincavam pelas ruas dos barracos daquele
acampamento. E assim, se deu. A criança venceu o coronel, que hoje é cinza
na história e as crianças continuam por aí pelos acampamentos e
assentamentos dos Sem Terra, com seus olhinhos brilhando, com algazarra e
alegria, com sua felicidade brotando do meio da miséria, com sua esperança
sempre viva, com sua vivacidade e esperteza, instigando a consciência dos que
têm coragem de deparar-se com elas.
78
A vivência da infância dá-se no interior de experiências cotidianas coletivas e de
enfrentamento, seja diante de uma situação de conflito direto com o Poder
Judiciário e com a Polícia, numa ação de despejo, ou também, na conquista do
respeito dos colegas na escola. A luta social passa a ser, na vida destas
crianças, uma vivência cotidiana. É essa situação permanente de conflito que
as define como crianças de movimento social.
Neste sentido, a luta social na vida destas crianças passa a fazer parte do seu
cotidiano. É a materialidade e a historicidade da luta da qual as crianças participam que
educa, é o próprio movimento da luta concreta, em suas contradições, enfrentamentos,
idas e vindas, conquistas e derrotas. Isto também tem a ver com a materialidade da
organização coletiva, ou seja, com a estrutura orgânica, para poder potencializar a
formação de sujeitos. Neste contexto de participação das crianças na luta, trazemos um
depoimento da irmã Elda, ainda no estudo de Caldart (2000:191):
79
a vida nos assentamentos é difícil, a falta de infra-estrutura é muito grande. As crianças
passaram a freqüentar as escolas das cidades. Muitas delas são discriminadas pelos
próprios colegas de sala. Por isso, são organizadas e realizadas algumas atividades
pelas próprias crianças e pelo setor de educação nas escolas onde estas estudam,
como: palestras, seminários, entrevistas, com dirigentes dos acampamentos e
assentamentos para explicar a todos e todas que estudam na escola sobre o tema da
Reforma Agrária.
Neste processo, as crianças se mobilizam para a conquista das escolas nos
assentamentos e acampamentos. Estas ações fazem com que elas participem da
organização e a sua presença no MST se torna cada vez mais evidente. No
assentamento “Nova Santa Rita”, próximo à cidade de São José dos Campos, no
Estado de São Paulo, as crianças organizaram uma ação deste tipo, pois, no
assentamento não há escola e o transporte escolar, além de estar geralmente em
péssimas condições, não entra no assentamento. As crianças têm que caminhar até a
rodovia para tomar o ônibus e chegar à escola. Mara45, num estudo realizado por
Rossetto (2001:28), afirma que:
45
Mara era a coordenadora do setor de educação na Regional do Vale do Paraíba, onde fica o
assentamento no período de 1997 a 1998. Vale ressaltar que até nos dias de hoje, a regional continua na
luta por escola no assentamento ou, no mínimo, que o ônibus escolar entre no assentamento para pegar
as crianças. Mas a “briga” entre Estado e Município é muito grande, e quem sofre as conseqüências disto
são as crianças da regional.
80
Vale ressaltar que as crianças sempre estiveram presentes na luta pela terra, até
porque a articulação feita em prol da ocupação ocorre com a família, e muitas destas
vão para as atividades, pois a mesma não tem com quem deixá-las.
A luta pela terra é uma luta em família, e a presença das crianças cria novas
necessidades para a organização do movimento. Assim, o espaço e a vivência
no acampamento passam, obrigatoriamente, a envolver não somente adultos,
mas, necessariamente, novos sujeitos: as crianças. Todo esse processo vai
materializando a preocupação do Movimento e do Setor de Educação com
esses novos sujeitos, que não são passivos, muito pelo contrário, aprendem a
mobilizar-se e a indignar-se com o sofrimento e a luta de seus pais e passam,
também, a incorporá-la; certamente que não na mesma dimensão que os
adultos.
81
estrutura que contemple as necessidades das crianças, pois elas são sujeitos que
participam ativamente das lutas do movimento. Muitas vezes, o MST é acusado pela
mídia por levar as crianças às atividades, principalmente nas ocupações; a mídia alega
as crianças são “usadas”. A pergunta a ser feita não é se o movimento usa ou não as
crianças, mas: por que as famílias foram acampar? Ninguém gosta ou deseja a vida de
acampado. Somente vai para o acampamento quem realmente enxerga nele a
possibilidade de conquistar uma vida mais digna.
Vale ressaltar, ainda, que o movimento luta contra a propriedade privada que
justifica a existência do capitalismo. O Estado, de certa forma, é mantido pelos impostos
de toda a população, como também é controlado pela classe dominante que se opõe
aos direitos sociais para todos, como: saúde, educação, cultura, entre outros. Tendo em
vista tal apontamento, o MST afirma que luta pela Reforma Agrária por ter a clareza de
que, enquanto houver este “Estado Burguês”, tal reforma não ocorrerá, porque sua
essência é zelar, por meio de suas instituições, pelo direito à propriedade privada, e
qualquer um que tentar violar este direito será reprimido através de todos os
mecanismos dos quais o Estado dispõe.
46
Palestra realizada no seminário O Lugar da infância no MST no período de 09 a 11 de maio na
Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF- SP).
82
Conforme ocorre no Movimento, as contradições fazem parte do processo de luta
pela terra. O MST continua organizando a cidade de lona preta como define muito bem
Gorgën (1993:22):
É importante ressaltar que, para muitas crianças que participam das ocupações,
este é o primeiro contato com a luta pela terra, e, às vezes, com o próprio grupo de
pessoas que estão na ocupação. Nem por isso, as crianças deixam de participar. Logo
estão brincando de assembléia, cantando as músicas da luta, falando as palavras de
ordem. Assim, a experiência da partilha se faz presente no processo, mantém-se à
medida que a luta continua. Segundo Alves (2001:208):
83
É com esta realidade e conjuntura que as crianças participam da luta pela terra,
como sujeito social, juntamente com suas famílias. Participam, também, da ocupação
de terra e, no acampamento, constroem novas relações a partir daquela realidade
concreta.
No acampamento, os Sem Terrinha criam e recriam suas brincadeiras; o graveto
torna-se giz e o chão seu caderno; a garrafa de plástico com um pedaço de barbante
logo se torna carrinho; sacos plásticos um dentro do outro, aos poucos, criam formas
arredondadas, e, quando menos se espera, uma bola está nos pés das crianças. O
acampamento torna-se um espaço livre para as invenções dos Sem Terrinha, de tal
forma, que estes criam e recriam suas brincadeiras; a partir de seu olhar e dos conflitos
ocorridos na luta pela conquista da terra, passam a compor-se a novas experiências, e
também seu imaginário.
É nessa cidade de lona preta que as crianças conquistaram seus espaços na luta
pela terra, e se assumiram nela à medida que se inseriram como participantes de uma
coletividade. Os Sem Terrinha se organizam, compartilham as brincadeiras, jogos,
experiências de luta e de vida. No processo de luta pela terra, as crianças percebem
que, além da terra, outros direitos que lhes foram negados, como o acesso a uma
escola pública de qualidade, à moradia, à alimentação, ao trabalho para sua família.
Tais fatores geram outras reflexões como, por exemplo, que as crianças já vêm sendo
violadas em seus direitos antes de ir para o acampamento, e a conquista da terra é a
possibilidade de acesso aos direitos básicos.
Portanto, é importante olhar para um acampamento Sem Terra como produto de
um conflito social, resultado de uma ação coletiva, que é transitória, desencadeada com
o propósito de modificar a realidade social. É neste processo de luta no acampamento
que as pessoas acampadas, sejam crianças, jovens, adultas ou idosas vivem situações
comuns de aprendizados que contribuem para a formação da identidade de Sem Terra,
e de valores tais como: solidariedade, companheirismo, coletividade.
Mesmo assim, precisamos compreender o acampamento como parte da luta pela
terra e olhá-lo como um período de transição nesta luta; é necessário que as famílias
consigam a posse da terra e conquistem as condições que proporcionem a
84
permanência, o trabalho e a produção na terra. Como afirma Bogo (1999:27), Quando
chegar na terra, Lembre de quem quer chegar, Quando chegar na terra, Lembre que
tem outros passos para dar.
Tanto o acampamento quanto o assentamento são espaços de múltiplas
aprendizagens culturais, sociais e políticas. A partir destas vivências das crianças no
processo de luta pela terra, o MST foi construindo algumas experiências educativas
juntamente com sua base, as pessoas assentadas, proporcionado uma melhor
condição de vida para as crianças sem terrinha.
Para isso, no MST alguns setores vêm se organizando para dar conta destes
desafios, como por exemplo, o Setor de Educação que se organizou por frentes para a
realização dos trabalhos. Este trabalho tem envolvido um número significativo de
sujeitos: na Frente do Ensino Fundamental, conta-se com 3.800 educadores e
educadoras para desenvolver um trabalho com 150.000 estudantes, em 1.500 escolas
de assentamentos; na Frente de Educação de Jovens e Adultos, 1.500 educadores de
EJA (Educação de Jovens e Adultos) desenvolvem um trabalho com 25.000 jovens e
adultos; na Frente da Formação de Educadores há, atualmente, parcerias com mais de
40 universidades, com cursos formais entre Magistérios e Pedagogia da Terra; na
Educação Infantil, há 400 educadores infantis, que desenvolvem um trabalho nas
Cirandas Itinerantes e Permanentes em todos os Estados.
Neste estudo, traremos somente a experiência desenvolvida na Frente de
Educação Infantil, restrita ao espaço das Cirandas Infantis no Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra. Com relação à escolha do nome para o espaço da
Educação Infantil que substituiria o nome de creche, a Frente de Educação Infantil
realizou uma consulta nacional aos Estados. Houve várias sugestões de nome, e o
escolhido foi “Ciranda Infantil”, que remete à cultura popular na qual estão presentes as
danças, as brincadeiras, as cantigas de roda, vivenciadas pelas crianças no coletivo
infantil.
Em relação às políticas públicas para educação infantil do campo, existe uma
distância entre o que está escrito nas leis e o que realmente está acontecendo com a
educação infantil do campo.
85
Em pesquisa realizada pelo INEP/PRONERA/FIPE/USP, em 2004, citada
anteriormente, apresentam-se alguns47 dados sobre a Educação infantil do Campo
sendo que:
Entre as crianças de até 3 anos de idade, num total de 155 mil crianças, somente
4% freqüentam a escola de Educação Infantil e 96 % não freqüentam. Entre
crianças de 4 a 6 anos de idade, num total de 165 mil crianças, 47% freqüentam
a escola e, destas, 52 % estão na série indicada e 47%, fora da série indicada
para a sua idade. As que não freqüentam a escola são 53%.
Considerando que os números não são simples dados, podemos afirmar que a
Educação Infantil, no meio rural, é praticamente inexistente como política pública do
Estado, principalmente para as crianças de 0 a 3 anos de idade. Os dados do MEC48
também deixam claro esta ausência do Estado em relação às políticas públicas para
educação infantil do campo: (...) somente 4,6% das crianças de 0 a 3 anos no meio
rural freqüenta creche e 44,5% das crianças de idade 4 e 5 anos freqüenta a pré-escola
no meio rural.
Estes dados nos levam à reflexão sobre os muitos direitos das crianças de zero a
seis anos no campo que estão deixando ser efetivados. Com isso, podemos afirmar que
as Cirandas Infantis são experiências importantes, pois esta tem possibilidade de ser
uma referencia nas discussões e implementação das políticas públicas de Educação
Infantil do campo.
47
Esta pesquisa foi realizada em 6.338 assentamentos, com abrangência de 8.679 Escolas
(incluindo as escolas do entorno dos assentamentos, que recebem alunos assentados), e envolvem
10.200 famílias. Nesta pesquisa, foram aplicados 24.674 questionários por 693 pesquisadores, e teve a
abrangência de 1.651 municípios. Esta pesquisa ficou conhecida como PNERA- Pesquisa Nacional das
Áreas de Reforma Agrária
48
Dados apresentados pela Prof. Dra. Rita Coelho, da Coordenação Geral da Educação Infantil do
MEC, em palestra sobre a Educação Infantil no Brasil na Faculdade de Educação da UNICAMP em 2008.
86
2.2 – A participação das mulheres no trabalho das
Cooperativas - As Cirandas Permanentes do MST
49
Para melhor aprofundamento sobre as cooperativas do MST, recomendamos o Christoffoli
(2000) e MST (1991) Sistema Cooperativista dos Assentamentos – SCA.
50
De acordo com Clodomiro S. Morais (1986), o laboratório de produção, é um ensaio prático e
real no qual se busca introduzir em um grupo social a consciência organizativa, de que se necessita para
atuar em práticas organizadas coletivamente.
51
Hoje, no Setor de Produção Cooperação e Meio Ambiente, os setores são chamados de
unidades ou setores produtivos.
52
Entrevista realizada com Delwek Matheus em 1/06/2007.
87
Nesta experiência podemos analisar três questões importantes no surgimento
das Cirandas Infantis. A primeira questão diz respeito à participação das mulheres no
trabalho, pois neste momento, especialmente o Setor de Produção era composto quase
que somente por homens. Esta experiência leva o Movimento a discutir a participação
da mulher no trabalho e na organização. Assim, as mulheres sem terra começam a se
organizar e discutir a sua participação na luta pela terra no MST. Em 1996 realizou-se o
I Encontro Nacional de Mulheres Militantes do MST, cujo objetivo maior era o
fortalecimento do Coletivo das Mulheres Sem Terra. Em 1998, aconteceu o II Encontro
Nacional de Mulheres Militantes do MST. Ao longo do processo, estas mulheres foram
se organizando e articulando formas de participação, e percebendo que teriam que
participar da estrutura orgânica do Movimento, ou seja, das suas instâncias de
decisões.
Assim, com a saída para o trabalho nas cooperativas e com processo de luta
pela terra, as mulheres sem terra organizaram-se internamente no Movimento e para
realizar o enfrentamento contra o capital. Em 2000, no Encontro Nacional do MST, foi
aprovada a criação do Setor de Gênero. Na atualidade, as mulheres do MST vêm
travando varias lutas com as grandes empresas multinacionais. Estas lutas ficam mais
visíveis para a sociedade no dia 08 de março data em que as mulheres fazem várias
ações, denunciando o modelo agrícola que grandes empresas como Monsanto, Vale do
Rio Doce, Aracruz, etc., vêm desenvolvendo no campo brasileiro. Analisando esta
experiência, podemos ressaltar que ela possibilitou às mulheres e crianças saírem do
seu espaço privado, ou seja, sair de casa, e conquistar seu espaço público no MST.
Daniela Finco (2004: 87), no seu estudo de mestrado sobre as relações de
gênero com meninos e meninas na pré-escola afirma que:
88
(...) para os homens, o público e a política, para as mulheres, o privado e a
casa. (...) dos meninos espera-se agressividade, capacidade de liderança,
racionalidade, e das meninas espera-se delicadeza, sensibilidade e beleza.
89
Cirandas Infantis. Aos poucos este debate de gênero foi ganhando corpo no MST.
Como dissemos anteriormente, nos dias atuais, muitas mulheres ocupam o cargo de
dirigentes nas instâncias do MST, em vários Estados, participaram do processo de
implementação das cooperativas nos assentamentos.
90
procurou trabalhar na formação dos filhos dos assentados e programou o curso Técnico
de Administração em Cooperativas (TAC), em funcionamento na Escola Josué de
Castro, no ITERRA.
91
O debate teórico que envolve o trabalho na atualidade é relevante para a
construção de alternativas que identifiquem possibilidades de superação da
sociabilidade do capital. Em alguns Movimentos Sociais, identificados com a construção
do socialismo, estão pautadas com destaque as proposições de um projeto de
formação que auxilie na tarefa de construir um novo projeto histórico. Ora, o trabalho,
como princípio educativo, é aquele que articula a coletividade e, Pistrak (2002: 31)
afirma que:
Por isso, para o MST se faz necessário vincular as Cirandas Infantis às ações
concretas que apontem às crianças o caminho do trabalho coletivo. Como também não
podemos desvincular a ciranda dos seus educadores e educadoras para que estes/as
tenham, no seu horizonte, uma prática educativa na perspectiva de uma educação
emancipadora.
92
trabalho coletivo - também se constituem, na realidade macro e micro, atividades
educativas e de troca de experiências, possibilitadas pela mistura e encontro de
diferentes culturas.
Analisando a experiência da Ciranda Infantil podemos afirmar que ela surge lado
a lado com o debate de temas importantes como gênero, trabalho e coletividade. E
mais, as Cirandas Infantis, no Movimento Sem Terra, já na sua origem, têm no seu
horizonte a emancipação humana e a construção de um projeto de sociedade
socialista.
53
Este levantamento foi realizado juntamente aos dirigentes do Setor de Educação em nível
nacional, durante duas reuniões do coletivo nacional de educação do MST nos meses de julho e
novembro de 2008. Os outros estados que não aparecem no levantamento é porque tem somente as
Cirandas Itinerantes pontuais nos encontros, reuniões, etc. Aqui está incluída a *Ciranda Saci Pererê da
Escola Nacional Florestan Fernandes - SP e a**Ciranda Pequeno Colibri – ITERRA - RS.
93
Quadro 1- Levantamento das Cirandas Infantis Permanentes do MST
Estado Ciranda Permanente nos Ciranda Permanente Total
assentamentos ou nos de
acampamentos Centros de Formação Cirandas
Alagoas 04 00 04
Brasília e Entorno 03 02 05
Santa Catarina 01 01 02
Sergipe 02 02 04
Paraíba 01 01 02
Goiás 00 01 01
Piauí 00 01 01
Espírito Santo 00 01 01
São Paulo * 04 04 08
Bahia 00 02 02
Rio Grande do Sul** 04 03 07
Paraná 07 04 11
Ceará 06 05 11
Minas Gerais 00 01 01
Total 32 28 60
Fonte: Este quadro foi construído pela autora a partir do levantamento e também de relatos feito junto
aos dirigentes nas reuniões do coletivo de educação em 2008.
94
Nesse espaço, as crianças sem terra constroem as relações entre si, com as
pessoas adultas e com a comunidade. Aprendem viver coletivamente, compartilhando
suas coisas. Seu José54 disse: As crianças na ciranda aprendem a respeitar o seu
companheiro, criam amizade com as outras crianças e inventam muitas coisas e Dona
Lurdes afirma que elas aprendem a dividir o lápis, o brinquedo, o lanche, aprendem a
brincar. A Ciranda Infantil é, pois, um espaço de criação, de inventar, de recriar.
Mesmo com toda esta riqueza pedagógica desenvolvida, resulta muito difícil para as
famílias assentadas manter as Cirandas Infantis Permanentes com mais qualidade,
principalmente no que se refere à infra-estrutura, pois as mesmas apresentam um alto
custo. A grande maioria das Cirandas é mantida com doações de entidades e amigos
do MST, principalmente de materiais pedagógicos. As famílias assentadas estão
cientes da necessidade de organizar este espaço para as crianças, pois entendem que
a Ciranda Infantil é um direito das crianças sem terra. Neste sentido, existe uma tensão
muito grande entre as famílias assentadas a respeito da participação do Estado, como
pode observar-se no seguinte registro:
54
Seu José e Dona Lurdes são assentados e este depoimento foi colhido, durante a reunião da
Ciranda realizada no dia 10 de outubro de 2007, no assentamento “Nova Santa Rita” - SP. Ele e Ela são
pai e mãe de crianças que freqüentam a Ciranda Infantil.
95
Lutamos para que as Cirandas Infantis Permanentes venha ser uma política
pública de Estado? Ou continuamos levando a experiência por nossa conta? Há
possibilidade desta experiência, ser financiada pelo Estado, sem desvincular do
55
projeto maior que estamos construindo?
São questões como estas que estão norteando o debate nos vários setores do
Movimento Sem Terra, na perspectiva de encontrar saídas para manter as Cirandas
Infantis Permanentes funcionando.
Conforme nossa análise, as práticas educativas desenvolvidas em espaços não
institucionalizados têm um potencial emancipatório maior, por responderem
fundamentalmente às necessidades e exigências do Movimento Social e por não
estarem totalmente submetidas ao controle do Estado. Neste sentido, as Cirandas
Infantis têm esta possibilidade de uma prática educativa emancipatória, mas que por si
só não é capaz de promover mudanças maiores. Assim, coloca-se a necessidade da
sua estreita vinculação com as formas materiais de produção da vida, ou seja, com o
trabalho, com a luta social e com o projeto de sociedade.
Itinerantes do MST
96
Assim sendo, as Cirandas Itinerantes têm data para começar e para terminar,
pois são organizadas como espaços pedagógicos para as crianças que acompanham
seus pais e mães em algumas ações no processo de luta pela terra.
A primeira Ciranda Infantil Itinerante Nacional ocorreu no ENERA - Encontro
Nacional dos Educadores/as da Reforma Agrária, em 1997, na cidade de Brasília, com
80 crianças de todo o país. Vale lembrar que esta Ciranda apresentou vários desafios,
como por exemplo, a formação de educadores e educadoras e a organização do
ambiente da Ciranda Infantil.
No ano de 2000, durante o IV Congresso Nacional do MST, o Setor de Educação
organizou uma Ciranda Infantil Itinerante que atendeu 320 crianças, filhas de militantes
que participavam como delegados e delegadas, provenientes dos 24 Estados do Brasil.
O espaço da Ciranda Infantil foi organizado com uma intencionalidade pedagógica: a
troca de saberes e de experiências entre as crianças. Esta Ciranda tornou-se uma
referência para a organização das Cirandas, por parte do Setor de Educação nos
Estados.
Na Marcha Nacional, realizada em maio de 2005, de Goiânia a Brasília,
participaram 130 crianças na Ciranda Infantil Itinerante, e, com seus “Pezinhos na
Estrada”56, enfrentaram diversas dificuldades, tais como: o número de educadores era
insuficiente para o número de crianças, a infra-estrutura era muito precária para atender
às necessidades e os deslocamentos, entre outros. Maria Cristina Vargas57, numa
reunião do Coletivo Nacional de Educação, afirmou:
56
O nome escolhido pelas crianças da Ciranda Infantil foi “Pezinhos na Estrada”.
57
Maria Cristina Vargas é dirigente Nacional do Setor de Educação do MST e na Marcha ela fazia
parte da Coordenação geral da Ciranda Infantil. Esta fala foi numa reunião do coletivo nacional realizada
em julho do mesmo ano. Esta fala foi no momento de avaliação das atividades do setor durante o
semestre daquele ano.
97
a necessidade de criar um meio para educar e cuidar das crianças, permitindo
que os espaços de debates sejam ocupados também pelas mulheres. Hoje
essa lógica mudou; hoje a ciranda não é um espaço somente para educar e
cuidar, mas também um espaço de participação das crianças na luta pela terra.
Isso não quer dizer que as crianças, só agora, na Marcha, apareceram na luta
pela terra. Elas estão na luta desde os primeiros acampamentos do MST.
Muitas vezes, chamando nossa atenção com sua fragilidade (desnutrição),
gerando a morte nos primeiros anos de suas vidas. Ou em outros momentos,
nos confrontos com a polícia, nos despejos violentos; ou ainda, sendo motivo
para desencadear campanhas de arrecadação de alimentos para que elas não
morram de fome. É importante ressaltar que o MST começa a olhar para as
crianças quando as mulheres militantes começam participar das instâncias e
dos cursos de formação, e quando o Setor de Produção começar organizar a
produção coletiva dos alimentos nos assentamentos e acampamentos
58
Isabel Grein faz parte da direção nacional do MST e esta fala foi no Seminário Nacional sobre a
Infância sem terra, realizado nos dias 09 a 11 de novembro de 2007.
98
educadoras infantis, o descuido de pais e mães com os próprios filhos e filhas, a
preocupação com a infra-estrutura etc.
Em 2007, no V Congresso59, foi montada a Escola Itinerante, com 1000 crianças
e 300 educadores e educadoras. A escola foi pensada na perspectiva da infância, ou
seja, para as crianças de 0 a 10 anos. Segundo Moraes60 (2001:15):
59
O V Congresso do MST aconteceu nos dias 11 a 15 de junho de 2007, em Brasília, com 18 mil
delegados vindos de todos os assentamentos e acampamentos do MST em todo o Brasil. A Escola
Itinerante recebeu o nome de Paulo Freire. Para melhor aprofundamento, ver caderno de educação do
MST nº 05 da coleção fazendo escola.
60
Marli Z. de Moraes é das educadoras da escola itinerantes do estado do Rio Grande do Sul que
está sendo fechada no estado pelo governo daquele estado. Este depoimento pode ser encontrado no
caderno das escolas itinerantes do MST intitulado de Escola Itinerante – Movimento Sem Terra: Uma
escola que caminha.
99
cuidado especial com sua formação, pois as crianças sem terra são sujeitos que
participam ativamente da luta pela terra.
Esta escola também chamou atenção para alguns espaços educativos nos
assentamentos e acampamentos, Assim, quando algumas crianças eram chamadas por
seus pais: vamos para a escola; elas respondiam para a escola não mãe, para a
ciranda61. A partir disso, nos perguntamos o que significa este “não querer ir para
escola”, até porque poderia ser ao contrario (não querer ir para a ciranda). Mas também
perguntamos: o que faz as crianças gostarem tanto desse espaço com tão poucas
condições estruturais? Da mesma forma, os educadores e educadoras falavam eu vim
para participar da Ciranda Itinerante62. Assim sendo, este espaço ficou conhecido como
“Escola Ciranda Itinerante Paulo Freire”
100
Secretaria: equipe deslocada para Brasília uma semana antes do início do
Congresso, para a organização dos materiais que eram doados através de
campanhas feitas por grupos de amigos da Infância Sem Terra. Outras
tarefas da equipe eram: organização e realização das inscrições das
crianças; gerenciamento da maior parte das informações; recepção de
visitantes à Ciranda Infantil, principalmente pessoas convidadas de outros
países; realização do credenciamento de educadores e educadoras; e
distribuição de materiais didático-pedagógicos para as atividades da Escola.
Também ficou sob sua responsabilidade a elaboração do relatório.
64
A rádio-poste foi instalada numa sala os equipamentos para gravação das entrevistas e nos
poste que estava distribuído no acampamento foi instalados alto-falante para que todos e todas do
acampamento tivessem acesso às noticias e avisos sobre o congresso.
101
de diferentes setores do MST, e garantiu água, banheiros e todas as barracas
da Escola Ciranda. O abastecimento de água era uma das maiores
preocupações desta equipe durante o congresso, que foi realizado num
período de clima considerado muito crítico para a cidade de Brasília. Os
barracos foram construídos levando em consideração as atividades e
necessidades das crianças maiores (com idade entre 7 a 10 anos) e menores
(entre 0 a 6 anos). Havia, ainda, um barracão grande onde aconteceram
atividades para todas as crianças.
65
Núcleos de base é o jeito como as famílias se organizam nos acamamentos e assentamentos
para participar da coletividade do assentamento. Este jeito de organizar as crianças tem como objetivo
auto-organização das crianças.
102
encontravam. O desafio para as próximas cirandas é pensar numa organização das
crianças independente da idade.
103
O encontro entre os educadores e educadoras do núcleo dos maiozinhos (4 e 6)
anos e os Sem Terrinha também não foi fácil; foram preciso alguns minutos de
conversa para transformar a birra delas em alegria.
A acolhida das crianças de 7 a 8 anos foi bem movimentada. Elas cantaram,
contribuíram no embelezamento do barraco onde estavam, conversaram sobre a Escola
Ciranda Itinerante Paulo Freire e sua organicidade e, por fim, escolheram os nomes de
66
seus núcleos de bases e Ana Maria , de 08 anos, assim justificou sua proposta de
nome para o núcleo do qual fazia parte, dizendo:
Eu sei que é um escritor (...) que gostava do MST, assim eu também gosto e
muito dele e acho que não tem outro nome para nosso núcleo de base: é Paulo
Freire.
66
Fala colhida durante a escolha do nome do núcleo de base.
104
crianças e assistiram, junto com os Sem Terrinha, a apresentação de circo que estava
acontecendo.
Após o almoço, os Sem Terrinha voltaram para os núcleos de base, onde todos
trabalharam questões relacionadas ao tema do V Congresso Nacional. Reforma
Agrária: Por Justiça Social e Soberania Popular. Esse tema foi trabalhado, através de
algumas perguntas como: Por que a terra e a água são importantes? O que é Reforma
Agrária? Para que serve uma ocupação de terra? A síntese do debate entre as
crianças foi expressa, por meio de desenhos, construção de painéis coletivos através
de sementes e outros.
João67, de 7 anos, contou para seu núcleo sua experiência em uma ocupação: Eu já
participei de três acampamento juntamente com minha mãe.
Enquanto aguardavam o início da apresentação do grupo Unigrudi, os Sem
Terrinha ensinavam brincadeiras para os educadores e educadoras. O trio Unigrudi,
com suas roupas feitas de material reciclado, tocou marchinhas de carnaval, cantigas
de roda, e interagiu com os Sem Terrinha, que se divertiram muito. Os pequenos que já
andavam, entraram na dança, enquanto outros passeavam pelos arredores das
barracas com os educadores e as educadoras, observando as brincadeiras. Mais tarde
aconteceu uma oficina de capoeira.
Neste dia, por falta de combinação entre coordenação e o responsável pelas
crianças, aconteceu de uma criança ficar durante o dia inteiro na Escola Ciranda
Itinerante, pois o combinado entre educadores e educadoras com os responsáveis das
crianças eram que: nos horários de almoço e do jantar, as crianças iam fazer as
refeições junto com seus responsáveis nas barracas de seus Estados.
No segundo dia de Escola Ciranda, a chegada das crianças foi mais tranqüila,
sem grandes choros. À medida que chegavam, já procuravam algo para brincar. Assim,
os educadores e educadoras logo organizaram uma cantoria de roda com os pequenos
e todos foram brincar inclusive os bebês, nos colos dos educadores e educadoras
67
Fala colhida durante a realização das atividades pedagógica na ciranda infantil
105
infantis. Posteriormente, organizaram um passeio no espaço todo da Escola Ciranda e,
mais tarde, os pequenos de 0 a 6 anos receberam uma massagem Shantala 68 feita
pelos educadores e educadoras. O cheirinho bom incendiou todo ambiente desta
barraca.
Os maiores, já devidamente ambientados com o espaço, e também e sabendo o
que ia acontecer durante o dia, preparavam os materiais para a mística que realizariam
na plenária após o lanche, e conversavam sobre temas como a identidade Sem Terra e
o direito das crianças. Nas palavras de Mateus69, de 6 anos,
68
É uma mistura com varias essência forma uma pomada ou óleos que se usa muito em
massagens.
69
Fala colhida durante a realização das atividades pedagógica na Ciranda Infantil
70
Fala colhida durante a ida para o local da Rádio poste no terceiro dia
106
momento vamos receber uma delegação muito importante para todos nós. Vamos
receber as nossas crianças Sem Terrinha! 71.
Com esse anúncio, as crianças, em marcha com faixas e painéis, foram entrando
até o centro da plenária, cantando, puxando gritos de ordem fazendo uma batucada
com seus brinquedos. Dois Sem Terrinha fizeram a leitura da Carta dos Sem Terrinha
para o V Congresso Nacional do MST no palco do ginásio, ressaltando a importância da
educação no MST. Com seus gritos de ordem Brilha no céu, a estrela do Che, nós
somos Sem Terrinha, do MST!, Os Sem Terrinha contagiaram todos os que estavam
presentes na plenária do V Congresso.
À tarde, foi a vez das oficinas, tais como: música, confecção de brinquedos
populares, balangandãs, desenho, pintura, dobradura, recorte e colagem, canto, saúde
e meio ambiente. Houve também a apresentação do teatro de mamulengos com a
participação das crianças na construção da história de Virgulino e Rosinha.
Uma criança de um dos núcleos de 7 a 8 anos propôs a realização de uma avaliação
das atividades até então realizadas. No entanto, como já estava na hora do lanche da
tarde, a avaliação foi adiada para a manhã do dia seguinte. Após o término do 2º dia, os
educadores e coordenadores se reuniram, assim como nos outros dias, para avaliar e
replanejar a Escola Itinerante.
71
Anotações do caderno de campo
107
Depois disso o grupo das crianças de 0 a 6 foi assistir a um teatro de fantoche chamado
“A história de Benedito e Severina”.
As atividades nos núcleos de 7 a 8 anos, foram precedidas da cantoria de
músicas como, por exemplo, Só sai Reforma Agrária e de gritos de ordem puxados
pelas próprias crianças: MST: a luta é pra valer!, Reforma Agrária: por justiça social e
soberania popular!. Logo depois, as crianças fizeram uma avaliação das atividades que
haviam sido realizadas na Escola Ciranda Itinerantes Paulo Freire e, também,
participaram de uma oficina de música; assistiram ao teatro de fantoches A história de
Benedito e Severina e realizaram desenhos sobre seus sonhos e o cotidiano das áreas
de acampamento e assentamento e a Reforma Agrária.
Nos núcleos de base das crianças de 9 a 10 anos, também foi realizada uma
avaliação das atividades logo no início da manhã. A seguir, participaram de uma oficina
de desenho e poesias, assistiram ao teatro de fantoches A história de Benedito e
Severina e realizaram desenhos sobre seus sonhos e o cotidiano das áreas de
acampamento e assentamento e a Reforma Agrária.
À tarde, as crianças, juntamente com os educadores, juntaram-se aos mais de
17.000 Sem Terra na marcha. Essa saiu do ginásio Nilson Nelson até a Praça dos Três
Poderes; como forma de protesto contra o agronegócio, o imperialismo e a não-
realização de uma Reforma Agrária. À noite, na festa da colheita, grande parte das
crianças cantou com Zé Vicente numa grande roda, experimentaram comidas típicas de
cada região brasileira e dançaram ao som de forró, samba, vanerão, xote.
O quarto e último dia da Escola Ciranda Itinerante Paulo Freire, tal como o
primeiro dia, foi acompanhado de muitas expectativas, pois, neste dia, o Ministro da
Educação72 visitaria as crianças. A movimentação entre as crianças, bem como entre
educadores e educadoras era muito grande. O Ministro chegou na primeira parte da
manhã. O encontro com os Sem Terrinha foi na barraca comum a todos, que estava
72
O ministro estava acompanhado dos integrantes da Direção Nacional do MST, Marina dos
Santos e João Pedro Stédile; da coordenadora do PRONERA/INCRA/MDA, Clarice dos Santos e; da
Coordenadora de Educação do Campo/MEC, Sara Lima.
108
ornamentada com vários painéis, cartazes e desenhos feitos nos dias anteriores pelas
crianças.
As crianças apresentaram as demandas da Educação do Campo: cirandas,
parques infantis, escolas em assentamentos, melhoria dos prédios das escolas, etc. E
começaram os gritos de ordem: Bandeira, bandeira, bandeira vermelhinha, o futuro da
nação está nas mãos dos Sem Terrinha”, “Brilha no céu a estrela do Che, nós somos
Sem Terrinha do MST!.
Uma comissão de crianças leu a pauta e entregou ao ministro, e antes mesmo
deste se pronunciar, formou-se uma fila de crianças pedindo a palavra para falar sua
reivindicação.73 Como exemplos, destacamos:
Matheus (06 anos) reivindicou a construção de Cirandas Infantis nos assentamentos e
denuncia a dificuldade de acesso às escolas.
Lucas, (09 anos) reivindicando a construção de vias (estradas) de acesso às escolas,
além de recursos para a Educação de Jovens e Adultos.
Maria Clara (06 anos) queria área de lazer, brinquedoteca, parque infantil e quadras de
esporte no assentamento onde vive.
Paula, (08 anos), reivindicou construção de mais escolas nos assentamentos, pediu
mais recursos para Educação de Jovens e Adultos.
Para o encerramento do grande arraial, todos os presentes na visita foram convidados.
A mesa do lanche estava farta: muitas frutas, sucos, arroz doce, pinhão, pipoca,
trazendo a diversidade de todos os Estados. Depois deste encerramento da Escola
Ciranda Itinerante, todas as crianças foram para o grande encerramento do congresso.
É importante ressaltar, um número significativo da presença masculina, sendo
educadores infantis nessa Ciranda Infantil. Observamos o seu fazer pedagógico, como
eles se entendiam com as crianças, tanto nas brincadeiras, como no trocar as fraldas
dos bebes. Neste sentido, entendemos que a participação dos educadores tem
demonstrado a possibilidade de uma discussão de gênero na Ciranda Infantil,
compreendendo que a discussão sobre gênero, dentro do MST, é uma reflexão
73
Anotações do meu caderno de campo
109
construída principalmente com a participação das mulheres nas instâncias e nas
demais atividades do MST.
Por isso, consideramos a participação dos educadores infantis, como um dos
elementos importante, no sentido de introduzir essa discussão na Ciranda Infantil, com
a finalidade de promover uma transformação nas relações de gênero, principalmente na
de participação das mulheres e dos homens nas atividades do MST, para que estas
sejam mais igualitárias. Mas, ressaltamos que esta participação é carregada de tensões
tanto por parte dos educadores como por parte das mulheres, pois segundo Odair74
Eu gosto de participar dos encontros para ficar nas Cirandas Infantis, gosto de
brincar com as crianças. No inicio foi difícil convencer as mães das crianças que
eu tinha capacidade de educar e cuidar das crianças, que eu poderia trocar
uma fralda de um bebe tão bem quanto uma educadora. Muitas vezes quando
havia mobilizações das mulheres eu fui para ficar com as crianças, e quando eu
entrava no ônibus, juntamente com as companheiras, muitas delas vinha me
perguntar o que eu ia fazer na mobilização.
74
Odair é educador infantil é Coordenador da frente da Infância no Estado do Parará e este
depoimento foi colhido no Encontro dos Educadores e Educadoras da Infância da Região Sul entre os
dias 10 a 21 de junho de 2008, na Escola Josué de Castro, em Veranopólis, estado do Rio Grande do
Sul.
75
Edivaldo é educador infantil e Estudante do Curso de Pedagogia da Terra, em parceria com a
UFSCar-SP. Este depoimento foi colhido na Ciranda Infantil do V Congresso
110
nos educadores, principalmente quando só existem educadores na ciranda.
Parece que este espaço, por ser formado na sua grande maioria por
educadoras, é proibido à presença masculina.
Já Enio76 afirma:
Eu gosto de trabalhar na ciranda, mas vejo que nós temos muito que avançar,
pois encontramos muitas dificuldades, tanto ao organizar o cotidiano da ciranda
Infantil como nas relações com as mães e pais das crianças, mas tenho clareza
que esta participação nossa na Ciranda Infantil é um processo que vai se
construído aos poucos.
76
Enio é educador infantil e Coordenador da frente da infância no Estado de Santa Catarina. Este
depoimento foi colhido na ENFF no dia 16/12/2008, no período que ele estava fazendo estágio do
magistério na Ciranda Infantil Saci Pererê
111
vivenciar as várias expressões artísticas. Márcia Gobbi (2004:170) em sua pesquisa
sobre os desenhos de crianças pequenas em Mário de Andrade, ela afirma que:
77
Fala colhida no momento de avaliação do dia
78
Fala colhida na reunião da avaliação do dia
112
episódios, como por exemplo: a criança que sumiu do seu núcleo de base, deixando os
educadores e as educadoras numa grande tensão. Acompanhamos este episódio. No
intervalo do almoço, os pais ou responsáveis pelas crianças começam a chegar para
pegá-las. Neste dia, eu estava acompanhado o núcleo de base de 3 a 4 anos 79.
Aconteceu que:
Através deste episódio notamos a importância das misturas das idades, pois as
crianças têm outros critérios para escolher suas brincadeiras e com quem brincar. E, do
ponto de vista da transgressão, Finco (2004: 89) na sua pesquisa sobre relações de
gênero com crianças pequenas afirma que:
79
Nesta faixa de idade havia 187 crianças, assim elas forma divididas em pequenos grupos de
aproximadamente 10 crianças cada, formando o núcleo de base.
80
Episódio registrado no meu caderno de campo no dia 12 de junho de 2007, quando
acompanhava a Ciranda do Congresso, tanto como pesquisadora, quanto como militante do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Terra.
113
Meninos e meninas, em brincadeiras coletivas, movimentam-se, circulam e
agrupam-se de diferentes formas Nesses movimentos (...) há, as transgressões
e as resistências aos modelos pré-determinados de brincadeiras e
comportamentos de meninos e meninas. Eles e elas são capazes de múltiplas
relações, estão a todo o momento experimentando diferentes formas de
brincadeira, buscando novos prazeres, por possuírem curiosidade e vontade de
conhecer o mundo. Ao encontrarem espaço para a transgressão, vão além dos
limites do que é pré-determinado. (...)
Assim foi todo o processo da Escola Ciranda Itinerante, marcado pelas tensões
por parte dos educadores e educadoras, e pelas transgressões por parte das crianças.
Durante todo o processo de atividades, os Sem Terrinha mostraram que a infância pode
ter sentidos diversos daqueles que predominam na atitude das pessoas adultas em
relação às crianças. Mostraram também sua indignação durante a visita do ministro da
educação, ao colocar para ele a realidade da educação do campo. São, enfim, crianças
muito críticas, ao falar de sua realidade e da luta pela terra. E sua indignação ficou
muito presente na entrega da pauta ao ministro, pois as crianças não confiaram
somente na entrega do documento – a partir do momento que elas tiveram
oportunidade de falar de imediato, formou-se uma fila, e as crianças pegaram o
microfone começaram a expor suas reivindicações.
Pelos elementos citados acima, analisamos que o V Congresso proporcionou às
crianças participarem do conjunto das atividades, reafirmando a possibilidade de que
outra infância no campo esta sendo construída, e está sendo protagonizada pelos
sujeitos construindo, também, sua própria história.
Outras Cirandas Itinerantes vêm desafiando o MST: trata-se das Cirandas Itinerantes
dos cursos formais, principalmente daqueles que envolvem outros movimentos sociais
do campo. Porque ao pensar o cotidiano destas Cirandas, é preciso pensar em todas
as crianças que vêm de diversos movimentos sociais do campo presentes no curso,
reuniões, encontros etc.
O MST juntamente com o Setor de Educação avalia que se por um lado é um
desafio, por outro lado há algo muito importante acontecendo entre as crianças dos
114
diversos movimentos ao se juntarem, pois há uma troca de saberes, vivencias e
experiências muito significativa entre elas. Em alguns Movimentos Sociais do Campo
tais como: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Pequenos
Agricultores (MPA), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), estão discutindo
e organizando as Cirandas Infantis em suas reuniões, cursos e seminários.
115
tanto os enraizados da sociedade capitalista quanto os que se constroem a partir das
vivências coletivas numa perspectiva de uma educação emancipadora. É na constante
relação dialética entre estes valores distintos, advindos de modelos de sociedades
diferentes, que se estabelece o jeito de ser e de relacionar-se. As relações se
constroem no cotidiano como, por exemplo: a coletividade, o companheirismo, as
relações de gênero e etnia.
81
Existe uma cartilha de circulação interna com as medidas e sugestões de brinquedos alternativos
que compõem o parque. Na construção do parque foi também usada muito da criatividade dos próprios
pais na construção dos brinquedos.
116
2.4 – Construindo outros espaços nas Cirandas Infantis – O
“Parque Infantil Alternativo”
117
O MST afirma que a intencionalidade da construção do parque é que as crianças
usem este espaço para suas brincadeiras. É importante ressaltar que a proposta do
Parque infantil Alternativo do MST se defere da Proposta do PI de Mário de Andrade,
ainda assim, o MST justifica esta prática pelo fato de que o parque infantil constitui um
espaço no qual a criança tem a oportunidade de brincar, conviver e relacionar-se com
outras crianças; de estabelecer regras necessárias no processo de convivência, tendo
autonomia e responsabilidade nas decisões individuais e coletivas, explorando este
espaço para as suas brincadeiras, usando-os com criatividade.
Em relação à construção dos brinquedos, é importante garantir o envolvimento
das crianças, pois, é nestes momentos educativos e divertidos que elas se impõem
diante de suas questões históricas, sociais, culturais e políticas; mostrando que são
capazes de criar, recriar e aperfeiçoar suas brincadeiras e; promovendo um
desenvolvimento mais amplo do indivíduo que relaciona tais experiências com sua
realidade. Assim, podemos descobrir e valorizar a criança não só como indivíduo
capacitado de corpo e mente, mas sim, como uma pessoa que possui conhecimentos,
sentimentos e precisa, acima de tudo, de um espaço, de um tempo e de atenção para o
ser criança, o ser Sem Terrinha.
Para a construção do Parque infantil Alternativo, no Estado de São Paulo, o
MST/SP (2005:8) criou alguns passos que orientam a construção deste espaço
educativo, tais como:
º
1 Passo: Discutir com a comunidade sobre as crianças, como vivem, onde
brincam e o que se deseja para os Sem Terrinha. Refletir sobre a importância
das brincadeiras para a saúde física, mental e intelectual das crianças.
Apresentar a proposta do parque infantil para a comunidade, levantar as idéias
para a construção dos brinquedos e fazer a discussão com os assentados
sobre: o local e os dias para a construção do parque infantil; o material
necessário; organização das pessoas em equipe de trabalho para coleta e
organização do material necessário e preparo do almoço coletivo; organização
do mutirão e divisão das tarefas para a construção do parque infantil;
organização das mudas de árvores para o embelezamento do parque infantil.
118
o
2 Passo: As equipes de trabalho que ficaram responsáveis pela coleta e
organização do material irão à cidade mais próxima e procurarão negociar com
as prefeituras, secretarias de educação, borracharias e demais entidades que
possam ajudar nesta atividade importante para as crianças do assentamento. É
importante que, nesse dia, a equipe já articule o transporte para levar o material
ao assentamento.
º
3 Passo: Limpeza do local escolhido para a construção do parque infantil. É
sempre bom lembrar que o parque deve ser construído próximo à escola ou da
Ciranda Infantil, da praça do assentamento, da área comunitária etc.
º
4 Passo: É o momento de buscar, na reserva florestal do assentamento, as
madeiras mortas (toras, ripas, caibros, etc.) que serão necessárias para a
construção do parque.
º
5 Passo: Depois de conseguir todos os materiais, planejar a construção do
parque infantil.
Os brinquedos podem ser feitos nas praças, em frente às escolas, nas Cirandas
Infantis, ou em outro local escolhido pelos assentados; Usar o material
encontrado no local, ou nas proximidades.
Aproveitar todo material, como cordas, estacas, pneus de todo tamanho,
mourão, pregos, parafusos, ripas, palhas, tintas de diversas corres e outros
materiais, conforme o brinquedo a ser feito no parque infantil.
Prever todas as ferramentas.
Furar os pneus para evitar o acúmulo de água e prevenir contra o mosquito da
dengue.
Usar a imaginação na construção de novos brinquedos.
119
Após a construção do parque, é escolhido o seu nome. Este momento é
considerado festivo no assentamento. Para tal festividade, geralmente, todas as
pessoas que contribuíram no processo de construção do Parque Infantil
Alternativo são convidadas.
Depois de tudo pronto, o Parque Infantil passa a fazer parte de um espaço que
deve ser preservado, e todos devem contribuir para sua manutenção. Para tanto,
forma-se um coletivo direcionado para o trabalho ou insere-se o cuidado com o parque
na estrutura de trabalho coletivo já existente no assentamento
Nesta experiência, podemos afirmar que, sem dúvida, esta é uma iniciativa significativa,
mas ainda há um desafio para o MST no sentido de promover essa atividade em todas
as áreas dos assentamentos e acampamentos. Para desenvolver as experiências
pedagógicas com as crianças sem terra o MST vem realizando um processo de
formação continuada com os educadores e educadoras infantis.
120
O educador ou educadora é aquela pessoa cujo trabalho principal é o de fazer e
o de pensar a formação humana, seja ela na escola, na família, na comunidade,
no movimento social...; seja educando as crianças, os jovens, os adultos ou os
idosos. Nesta perspectiva todos são de alguma forma educadora, mas isto não
tira a especificidade desta tarefa: nem todos têm como trabalho principal o de
educar as pessoas e o de conhecer a complexidade dos processos de
formação humana
121
socialização de experiências e saberes com outros educadores, principalmente no que
diz respeito à aquisição de novos conteúdos, não só pedagógicos, mas sociais,
políticos, econômicos, culturais.
Nos cursos de formação, os temas geralmente são organizados, alguns para
debates através das palestras, conferências, etc., outros em oficinas práticas como
construção de brinquedos alternativos, livrinho de pano, dobraduras, etc. Assim sendo,
faz-se necessário que os educadores sistematizem estas informações, escrevendo a
respeito das suas práticas pedagógicas, das suas experiências.
Com isso, o educador tem a oportunidade de vivenciar uma formação
pedagógica mais específica, ou seja, voltada para realidade do campo, envolvendo uma
competência técnica e pedagógica com uma dimensão política, que será de
fundamental importância para seu cotidiano nas Cirandas Infantis e no entendimento do
processo da luta pela terra. Além do acesso ao conhecimento técnico-pedagógico, ele
pode, assim, ter uma clareza maior do projeto político do MST, no qual está inserido, e
isso ajuda a identificar e traçar as estratégias necessárias para conseguir colocar a
Pedagogia do Movimento em prática.
Isso implica em uma reflexão mais consciente da sua experiência, enquanto
educador e educadora social num mundo carregado de interesses sociais e realidades
diferentes. Por isso, a defesa de uma formação específica para os educadores e
educadoras que atuam no campo: boa parte deste ideário pedagógico que os
movimentos sociais do campo vêm construindo é algo novo. Então, podemos afirmar
que, participando das lutas sociais, os educadores e educadoras infantis também
estarão vivenciando um processo de formação, pois o processo da luta e da
organização também educa. Segundo Ribeiro (2001:13):
122
de um saber técnico comprometido; que juntando aos saberes históricos
acumulados pelos agricultores, em suas lidas seculares com a terra, com o
conhecimento. Que decorre das experiências científicas, que ocorrem nas
instituições de pesquisa e nas universidades. A luta é, ainda, uma luta política
de participação nas instâncias de cidadania.
123
sendo que destes, três cursos são de Pedagogia da Terra e uma turma é de Magistério
com ênfase na Educação Infantil.
O curso de formação dos educadores do MST nasceu com o propósito de ser um
instrumento na luta pela garantia do direito à educação, somando-se à luta pelo acesso
a terra, ao conhecimento e a dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras do campo.
No processo de formação dos educadores infantis, alguns limites, desafios e
tensões foram colocados para o MST, principalmente na organização do processo
pedagógico. E alguns temas que “eram tão velhos, mas tão novos” voltaram com força
nos debates em espaços de formação dos educadores e educadoras, como por
exemplo, as brincadeiras das crianças, a contação de história, a cantoria de roda, o
contar caso, etc. A pergunta era: como trabalhar com estes temas com as crianças
pequenas?
Desta maneira, alguns entendimentos sobre este debate foram sendo traçados,
mas com certeza, ainda é preciso que sejam sempre retomados nas formações dos
educadores e educadoras, pois há muito a ser aprofundado. Isso foi muito importante
porque o MST observou que, além da necessidade de aprofundamento teórico, muitos
tinham uma dificuldade com a prática, como por exemplo, o saber brincar com as
crianças.
Ressaltamos que a grande maioria destes educadores e educadoras não tinha o
ensino médio completo, e existia, - e ainda existe - uma rotatividade muito grande de
educadores e educadoras infantis no MST. Isso porque grande parte vai para outras
atividades do Movimento, principalmente quando não se identifica com o trabalho nas
Cirandas Infantis. Portanto, nos cursos de formação sempre há pessoas novas, que
participam pela primeira vez destes espaços. Dessa forma, se faz necessário retomar
alguns temas e isso, às vezes, impede o avanço no processo de formação.
Por outro lado, neste processo, alguns pontos foram melhor compreendido pelo o
MST, tais como: a brincadeira é muito importante no cotidiano da criança - ela não é só
é fonte de prazer, como também de conhecimento. É o momento em que a criança
exercita sua capacidade de sonhar, sentir, decidir, arquitetar, aventurar, agir,
esforçando-se para superar os desafios dos jogos e brincadeiras, respeitando e
124
recriando regras, numa dinâmica de fundamental importância para o coletivo infantil.
Através da brincadeira, a criança apropria-se da realidade e expressa, de forma
simbólica, as fantasias, os desejos, os medos, a indignação, as impressões e as
opiniões sobre a realidade. As brincadeiras levem as crianças a pensar, a refletir, a
duvidar, a agir, a discutir, a questionar, a criar, a imaginar, etc.
A criança não é produtora de cultura em si, mas sim, a partir de uma base que
já está dada e faz parte do contexto de sua história. Nesse sentido, ela é
também resultado de uma cultura maior em termos de uma cultura específica. O
que revela que as manifestações culturais das pessoas estão imbuídas em
vínculos que estabelecem.
125
“menorzinhos”, para os “maiores”, para todos juntos; se a brincadeira era prazerosa, se
estimulava a competição ou a dimensão da coletividade. O brincar de amarelinha, pular
corda, cinco Maria, o ir e vir do balanço, o brincar com a cadeira, que não era cadeira,
mas um ônibus que vai para a ocupação; estas e outras brincadeiras foram aparecendo
no cotidiano cada vez mais complexo da Ciranda Infantil, e no processo de formação
dos educadores e educadoras infantis.
Isso, sem falar na televisão, que faz uma verdadeira padronização dos
brinquedos, brincadeiras, moda (sandália, roupas, brincos pulseiras, etc.) de algumas
pessoas consideradas pela TV como “personalidades” do público infantil, visando
127
somente o consumo e os interesses econômicos, sem nenhuma preocupação com as
crianças.
Preocupados com essa situação o MST vem produzindo, ainda de forma muito
tímida, algumas músicas infantis82, e também alguns livros de literatura infantil e
infanto-juvenil83. Mas, este é ainda um desafio, pois produzir para crianças numa
linguagem de criança é bastante difícil, às vezes se “esquece” que esta produção é
para um público que tem outras sensibilidades.
Estes materiais vêm sendo criados para que os educadores e as educadoras
tenham subsídios para trabalhar com as crianças. A formação desses no MST tem
como principal objetivo, fazer um aprofundamento teórico sobre a infância do campo e
também a valorização da cultura lúdica como espaço de criação e subversão da
realidade, no sentido de repensar as práticas pedagógicas das Cirandas Infantis,
trazendo as brincadeiras locais, regionais e específicas das crianças no seu trabalho
pedagógico.
Desta forma, os cursos de formação dos educadores e das educadoras infantis
possibilitam o conhecimento das diversas brincadeiras, histórias, músicas infantis
existente nas regiões deste país. Dessa forma, o processo de formação dos
educadores e educadoras infantis por meio da organização e da pesquisa de sua
própria prática, tem se constituído como um fator importante para o avanço das práticas
pedagógicas nas Cirandas Infantis. A atualização político-pedagógica, a construção e
reconstrução de saberes e conhecimentos vinculados à proposta de educação do MST,
são necessidades concretas que vêm sendo trabalhadas ao longo dos 25 anos do
Movimento, na perspectiva de construir uma educação emancipadora.
82
O CD plantando Ciranda foi produzido pelos educadores e educadoras e alguns militantes que
vem desenvolvendo um trabalho com a música no MST.
83
Esta coletânea se chama “Terra dos Livros”, e é publicada pela Editora Expressão Popular. Os
livros na sua grade maioria são de escritores amigos do MST que esta se dedicando mais esta grandiosa
tarefa.
128
3– O PROCESSO PEDAGÓGICO DA CIRANDA INFANTIL “ANA
DIAS”
129
área da antiga fazenda Pirituba, pertencente ao governo do Estado de São Paulo. Esta
fazenda tem um total de 17 mil hectares, abrangendo os municípios de Itapeva, Itaberá
e Itararé. O sétimo assentamento está localizado no município de Apiaí. Ainda, nesta
regional, há seis meses, existe um acampamento, no município de Riversul.
Na década de 1950, o governo estadual idealizou um processo de
assentamentos rurais na fazenda Pirituba, destinando os lotes para famílias de
camponeses que tivessem disposição de desenvolver o plantio do trigo, aproveitando a
potencialidade das terras e o clima da região. A responsabilidade desse projeto foi
entregue à família Vicenzi, de origem italiana, que, distorcendo o objetivo do projeto
criado, utilizou-se da concessão que lhe foi dada em benefício próprio. Assim, passou a
vender os lotes ou a doá-los para pessoas do seu círculo de amizades.
Já, na década de 1970, o governo Carvalho Pinto, novamente preocupado em
atender às demandas dos camponeses sem terra e de desenvolver a agricultura no
Estado, procurou retomar o projeto de assentamentos na fazenda. Este novo projeto
previa assentar 6 mil famílias em terras públicas do Estado de São Paulo. Além disso,
estabelecia critérios bem claros: os lotes não deveriam ultrapassar o tamanho de 100
hectares; os beneficiários deveriam morar na área; prioritariamente seriam beneficiados
os sem-terras da região. Também, receberiam prioridade, os que desenvolvessem a
agricultura familiar, ocupando a mão-de-obra da própria família.
Apesar dos critérios serem claros, o projeto fracassou porque, novamente, sua
responsabilidade de execução foi entregue a pessoas interessadas, unicamente, em
tirar proveito próprio. Nesse caso, o projeto ficou sob a responsabilidade de um
agrônomo, que cedia os lotes para fazendeiros. Dessa vez, foram beneficiadas famílias
de origem holandesa.
Como reação a essa experiência de apropriação das terras públicas,
anteriormente destinadas a um programa de reforma agrária, começou um processo de
ocupação da fazenda. Ora, as ocupações se iniciaram de forma isolada, no início dos
anos 80. Em 1982, ocorreu a segunda ocupação da área, dessa vez, organizada pelos
Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR) da região e pela Igreja Católica. Em 13 de
130
maio de 1984, ocorreu a terceira ocupação da área, envolvendo cerca de 300 famílias,
vindas de vários municípios da região, inclusive do Estado do Paraná.
Posteriormente, as famílias de origem italiana (às quais nos referimos
anteriormente) retiraram-se da atividade agropecuária, priorizando o comércio na
região, com influência bastante forte, enquanto que as famílias de origem holandesa
permaneceram em pequeno número na atividade agrícola.
Hoje, as famílias assentadas trabalham em grupos coletivos ou em cooperativas.
Para desenvolver o trabalho há, em média, uns 80 tratores nas 06 áreas de
assentamentos, perfazendo um total de um trator para cada 15 famílias. A economia da
regional está baseada na produção tradicional de milho, feijão e trigo, diversificando
para a produção de leite, mel, suinocultura e de frutas.
Em pesquisa realizada por Márcia Ramos, ela aponta que:
Por sua vez, Antônio Júlio de Menezes Neto (2003:85-86) em sua pesquisa
sobre a educação e cooperação no MST aponta que o sistema de cooperação
desenvolvida pelo Movimento apresenta as seguintes etapas:
131
O Grupo Semi-coletivo – Neste grupo parte da terra e parte dos meios de
produção são coletivos e outra parte é individual.
O Grupo Coletivo – Apresenta um estagio mais avançado, pois a terra, os meios
de produção, o planejamento do trabalho ficam sob controle do coletivo.
A Cooperativa de Prestação de Serviços - Servem para comercializar, prestar
assistência técnica, viabilizar os serviços com as máquinas, oferece cursos de
formação política e capacitação técnica para organizar e beneficiar a produção.
Nesta organização os meios de produção estão sob controle da cooperativa.
A Cooperativa de Produção Agropecuária – Difere das outras na sua essência,
pois é uma empresa de gestão, produção e trabalhos coletivos. A terra fica sob
controle do coletivo e a cooperativa deve esta localizada em área estratégica,
ter plano de desenvolvimento. Todos os meios de produção estão sob controle
da cooperativa. O Plano de produção é centralizado pela cooperativa.
As famílias desta região vieram de vários Estados do país, tais como: Bahia,
Alagoas, Minas Gerais, sendo que a maioria delas veio do Paraná e do próprio Estado
de São Paulo. Estas famílias estavam à procura de trabalho e a alternativa que
encontraram, para isso, foi se organizar e lutar por um pedaço de terra. Uma boa parte
delas não havia concluído o ensino médio, mas isso não impediu que desenvolvessem
uma militância com responsabilidade dentro do Movimento. Nota-se, nos dirigentes,
uma enorme preocupação com a educação e a formação das crianças. Hoje, vários
dirigentes dessa regional já concluíram o ensino médio, graças aos cursos em parcerias
84
Entrevista realizada dia 15/06/2008.
132
com as universidades – que o Movimento vem implementando em vários Estados – e,
também, na Escola Josué de Castro no RS.
133
educadores e educadoras também organizam a leitura com as crianças uma vez por
semana. Também organizam com as crianças um sistema de empréstimo de livros para
quem quer levar para casa.
Na Regional do Pontal do Paranapanema se desenvolvem várias parcerias
como, por exemplo, o Projeto Guri, que é um projeto para estudo de música e que
abrange, aproximadamente, 200 crianças.
87
No Estado de São Paulo, esta experiência aconteceu em duas regionais: a Regional de
Promissão e a Regional de Itapeva.
134
O Laboratório de produção deste assentamento aconteceu no ano de 1994,
depois disso instalou-se a Cooperativa de Produção Agropecuária Vó Aparecida
(COOPAVA). Até hoje a cooperativa mantém o setor da Ciranda Infantil para dar
continuidade à participação das mulheres no trabalho da cooperativa.
Nos estudos, realizado por Faria (2006:284) sobre a pequena infância, educação
e gênero, afirma que:
A Ciranda Infantil “Ana Dias” há 14 anos vem desenvolvendo seu trabalho com
as crianças assentadas. Quem desenvolve este trabalho são as educadoras associadas
à cooperativa. A escolha do nome da Ciranda Infantil de “Ana Dias”, segundo Zezinho:
Foi em homenagem a uma lutadora que participou da luta pela terra, desde seu
início na regional. Esta companheira foi quem iniciou o debate sobre a creche nas
reuniões dos laboratórios e foi, também, quem fez as primeiras discussões com
as mulheres sobre a creche e a participação das mulheres no trabalho da
135
cooperativa. Então, quando fomos escolher o nome da creche na Assembléia da
cooperativa, o nome mais votado foi o dela. Assim, também foi o nome da
cooperativa, Vó Aparecida, que, também, homenageou a uma companheira que
participou na luta pela terra, desde o seu início, aqui na regional e, há pouco
88
tempo as duas vieram a falecer.
88
Entrevista realizada na sede cooperativa dia 14/05/2008. Zezinho. Ele é Presidente da
Cooperativa e, também faz parte da Direção Estadual do MST/ SP, é assentado na agrovila III e está
acompanhado o processo da Ciranda Infantil da Cooperativa desde seu início.
136
Para qualificar trabalho pedagógico na Ciranda Infantil, a cooperativa foi
desenvolvendo parecerias com universidades e com os amigos do MST89, onde
segundo Zezinho:
É importante ressaltar que a “Ciranda Ana Dias”, ainda hoje, mantém estas
parcerias, principalmente com os amigos do MST. São eles que na sua maioria
desenvolvem um trabalho de formação com os educadores e educadoras, e também
desenvolvem várias atividades com as crianças no assentamento.
Analisando essas parcerias pude perceber que existem algumas tensões, entre
as pessoas com quem se estabelece este processo, pois muitos desses amigos do
MST vêm de uma prática com crianças urbanas e ao chegar no assentamento se
deparam com uma realidade bem diferente da cidade, mas são tensões que vão sendo
superadas no processo. Neste sentido, há uma preocupação do coletivo de educação
da regional em fazer o acompanhamento das atividades desenvolvidas que envolvem
os mesmos.
Importa dizer que o trabalho pedagógico na Ciranda Infantil “Ana Dias”, com as
crianças no assentamento, é desenvolvido por duas educadoras: dona Maria, que tem a
7ª série e; Judite, que tem o 2º ano do ensino médio. Elas são assentadas, na Agrovila
III, e são sócias da COOPAVA. – Cooperativa de Produção Agropecuária Vó Aparecida
89
Os amigos do MST são pessoas que apóia a luta pela terra e de certa forma vem contribuído com
o MST
90
Entrevista realizada na sede cooperativa dia 14/05/ 2008
137
3.2.1 - A organicidade e o cotidiano da Ciranda Infantil
O cotidiano da Ciranda Infantil “Ana Dias” é organizado a partir do plano de
produção da cooperativa, que leva em conta a combinação das necessidades básicas
de alimentação das famílias, garantindo que as mesmas produzam várias espécies de
verduras e frutas; vários tipos de cereais, que são úteis a alimentação humana. Estas
atividades garantem a alimentação das famílias e também uma pequena produção para
a industrialização. Elas são projetadas de forma que cada família assentada obtenha
uma renda mensal para o sustento, tendo por base a diversificação da produção.
As várias formas de cooperação, que o MST vem desenvolvendo nos
assentamentos, contribuem para viabilizar a subsistência das famílias; criando
oportunidades e possibilidades de ações conjuntas para jovens e mulheres.
Através do processo produtivo, o MST vem discutindo um novo jeito de organizar a vida
no assentamento, evidenciando que o uso dos insumos industriais produz o
envenenamento das pessoas e da natureza e conscientizando às famílias assentadas
que o modelo da monocultura e da química só serve aos interesses capitalistas. Desta
forma, as famílias são orientadas a fazer uso da produção agroecológica, no sentido de
construir um novo modelo de produção e uma nova maneira de se relacionar com a
natureza.
Neste contexto, a Ciranda Infantil - que é um setor da cooperativa -, ao elaborar
seu plano de trabalho e sua programação diária, leva em consideração o trabalho das
mulheres e as necessidades das crianças do assentamento, pois muitas crianças que
freqüentam a Ciranda, também em outro período, vão à Escola Che Guevara, na
Agrovila III. Assim sendo, a idade das crianças que freqüentam a ciranda varia dos 08
meses de vida aos 10 anos de idade.
Segundo a Educadora Judite 91
91
Entrevista realizada no dia 13/05/2008 na própria Ciranda Infantil “Ana Dias”
138
Quando não existia a estrutura da ciranda esta nunca deixou de funcionar; às
vezes, funcionava até nas casas das educadoras ou na casa de alguma família
assentada que cedia seu espaço para o funcionamento da ciranda. Já nessa
época, nós tínhamos parceria com alguns amigos do MST que colaboravam na
formação dos educadores e educadoras, bem como alguns projetos com
entidades parceiras para manter a Ciranda funcionando.
Uma Cozinha, banheiros, quartos próprios do sono com camas e berços (ainda
é aquele de grade), sala pedagógica (que é uma sala grande onde se
desenvolvem todas as brincadeiras, a contação de historias, a sessão de
cinema, e também a reunião com os pais etc.). A ciranda ainda conta com uma
sala para guardar o material pedagógico e está em fase de construção uma
92
pequena biblioteca .
92
Caderno de campo 24/09/2007
93
Entrevista realizada na sede cooperativa dia 14/05/2008.
139
Como podemos observar, há uma flexibilidade no funcionamento da Ciranda
Infantil “Ana Dias”, ou seja, ao organizar sua programação diária têm como referência o
trabalho na cooperativa, levando em consideração também as necessidades das
crianças.
A Ciranda Infantil “Ana Dias” conta com pouco material pedagógico. Para suprir
essa deficiência, as educadoras usam todo tipo de material reciclado que encontram no
assentamento, como: latinhas, garrafas pet, sementes, folhas secas, terra, argila, etc.
Para ter acesso a estes materiais às educadoras organizam as crianças em pequenos
grupos e cada um fica responsável pela coleta do material. De igual modo, o trabalho
de organizar o material no espaço adequado é realizado por todas as crianças.
Assim, podemos afirmar que as crianças assumem pequenas tarefas na Ciranda
Infantil. Arenhart afirma que (2007:32):
140
portanto, dividem tarefas e responsabilidades, atuam e analisam os resultados e
participam efetivamente dos processos de produção como sujeitos. Ao formar o coletivo
das crianças há um entendimento que estas também vivem e são sujeitos deste
processo de produção da vida, que segundo Pistrak (2002:41):
É preciso reconhecer de uma vez por todas que as crianças, não se preparam
apenas para viver, mas já vivem uma verdadeira vida. Devem
conseqüentemente organizar esta vida. A auto-organização deve ser para elas
um trabalho sério, compreendendo obrigações e sérias responsabilidades [...]
as crianças não se preparam para se tornar membros da sociedade, mas já o
são, tendo já seus problemas, interesses, objetivos, ideais, já estando ligadas à
vida dos adultos e do conjunto da sociedade.
94
Entrevista realizada na sede cooperativa dia 14/05/ 2008
141
Ao propor a organização das crianças em coletivos, percebemos que esta forma está
vinculada ao jeito do Movimento Sem Terra se organizar para fazer a luta pela Reforma
Agrária. Quando as educadoras incentivam as crianças a se auto-organizarem, elas
criam espaços para que as mesmas possam estudar, decidir e dividir as tarefas. Essas
ações de forma organizada, numa perspectiva da coletividade, estão vinculadas a um
conjunto de práticas pedagógicas dos movimentos sociais, que tem como propósito a
transformação da realidade. Segundo Pistrak (2002: 56):
142
Sendo assim, quando as crianças Sem Terra se identifica como Sem Terrinha e
assumem esta identidade, elas chamam a atenção dos adultos que também querem
vivenciar a Pedagogia do Movimento Sem Terra. Caldart ( 2000:87) em seus estudos
sobre a Pedagogia do Movimento afirma que:
143
pela qual os sujeitos humanos se afirmam no mundo, modificando a realidade objetiva
e, para poderem transforma – lá, transformando-se a si mesma. (KONDER, 1992:115).
A partir das considerações, anteriormente realizadas, podemos afirmar que o
Movimento Sem Terra é a referência maior das crianças. Estas sempre estão de olho
nas ações dos adultos, no que está acontecendo à sua volta, para depois trazer
presente em suas brincadeiras ou, então, nas conversas entre si. Desta maneira, se faz
necessário que os adultos olhem para as experiências educativas vivenciadas pelas
crianças, pois essas práticas têm muito do jeito como os adultos também se organizam
no processo de luta pela Reforma Agrária.
Ao definir a auto-organização das crianças da Ciranda Infantil algumas
responsabilidades foram assumidas por este Coletivo Infantil, como: as atividades de
organizar o material pedagógico de uso coletivo, a coleta de material reciclado, a
organização e a participação das crianças nas apresentações culturais, nas festas da
Ciranda Infantil e do assentamento etc. Segundo Judite95
Quando as crianças realizam estas pequenas tarefas elas não gostam que
ninguém mexa. Quer ver as crianças ficar chateadas é tirar alguma coisa do
lugar onde elas colocaram. Eu entendo isso como um trabalho educativo para
as crianças e para nos educadoras. Por que muitas vezes nos não valorizamos
o trabalho delas e organizamos tudo do nosso jeito sem levar em consideração
o trabalho, que as crianças tiveram para organizar o material coletado no
assentamento
95
Entrevista realizada no dia 13/05/2008 na própria Ciranda Infantil “Ana Dias”
144
crianças vivenciem essas situações no cotidiano Neste sentido, o depoimento citado
acima, pela educadora Judite ressalta a importância do trabalho das crianças e também
o valor que os adultos devem dar para os trabalhos realizados por elas. Frigotto
(1991:32) em sua pesquisa sobre o trabalho como principio educativo, afirma que:
Por isso, o trabalho, como princípio educativo, não se resume a uma técnica
didática ou metodológica no processo de aprendizagem, mas situa-se na perspectiva
da produção social da vida, o qual exige a participação de todas as pessoas na
produção de bens materiais, culturais e simbólicos. Por esta razão, Kosik afirma que
(1986:72), o trabalho é um processo que permeia todo o ser do homem e constitui a
sua especificidade.
O trabalho como práxis, é aquele que possibilita criar e recriar, não apenas no
plano econômico, mas no âmbito da arte, da cultura, da linguagem e dos símbolos; ou
seja, criar e recriar o mundo humano como resposta às suas múltiplas necessidades.
Isto nos leva a afirmar que a participação das crianças no trabalho pedagógico na
Ciranda Infantil é de fundamental importância.
Sabemos que estas questões não rompem com as determinações sociais postas
pelo trabalho na atualidade, mas nas suas contradições não podemos deixar de
identificar que é pelo trabalho que o ser humano se apropria do pensamento, do
concreto, que é objeto de sua atividade prática. Entretanto, pela urgência da
145
necessidade de superar o atual modo de produção – que destrói a vida humana – não
podemos desprezar o tempo histórico que isso exige, interromper o debate e ir fazendo
“experimentos” sem preocupação com a tendência à destruição que se amplia
cotidianamente na vida das pessoas.
Desta forma, a Pedagogia do Movimento Sem Terra, ao propor uma organização
do trabalho pedagógico que leve em conta a atuação das diferentes matrizes
formadoras do ser humano, na construção de didáticas e metodologias inspiradas no
jeito de educar dos Movimentos, torna-se um grande desafio para os educadores e
educadoras. Neste sentido, os educadores e educadoras infantis buscam compreender
com mais rigor e profundidade os processos de formação humana que acontecem
dentro e fora da Ciranda Infantil. Pois, o MST compreende que a dinâmica e a
organização dos Movimentos Sociais ensinam sobre formação de sujeitos sociais 96; e
esta formação, por sua vez, ensina sobre a humanização. Segundo Caldart (2000:91):
Para o MST, a matriz formadora básica dos sujeitos é a luta social vinculada com
a organização coletiva, ou seja, a base da formação dos sujeitos é a materialidade e a
historicidade da luta da qual participam: condições objetivas e o modo de transformar a
realidade. O Movimento Sem Terra afirma que, o que educa as pessoas, é o próprio
movimento da luta concreta, em suas contradições, enfrentamentos, idas e vindas,
conquistas e derrotas. Nestes processos é que acontece, portanto, a formação humana.
96
Sujeitos sociais se referem a sujeitos coletivos: associação de pessoas que passam a ter uma
identidade de ação social e, portanto, de formação; revelam-se pelo nome próprio através do qual a
sociedade passa a identificar que é de um determinado Movimento.
146
A luta social forma o ser humano porque exige sua condição de sujeito e aciona
diferentes dimensões de sua humanidade, conformando-lhe determinados traços de ser
humano. Ou seja, são os sujeitos coletivos os que fazem a história através de
diferentes processos de transformação da realidade. E a continuidade ou ruptura
histórica de um sujeito social depende de sua constituição, como sujeito político, isto é,
sujeitos que enraizados em uma coletividade, aprendem a tomar posição, fazer
escolhas, enfrentar conflitos e pensar os próximos passos que precisam ser dados em
cada realidade para realização de seu projeto de sociedade.
Em nossa análise podemos perceber que esta concepção de formação humana
estabelece um vínculo orgânico com outros lugares de formação de sujeitos sociais.
Isto implica em uma compreensão teórica cada vez mais rigorosa sobre estes
processos de formação humana universais. Neste sentido, é muito importante refletir
constantemente a formação dos educadores e educadoras infantis do vinculando ao
projeto de sociedade que o MST vem construído no seu interior.
147
A brincadeira de boneca e boneco geralmente acontece no período da tarde,
quando as crianças maiores chegam à Ciranda Infantil e querem brincar com as
pequenas. A brincadeira geralmente é de dar comidinha para os pequenos, ou
levar para passear no campo de futebol etc. Para ser a boneca as crianças
escolheram Michele, de 09 meses, e para ser o boneco escolheram Diego, de
08 meses. As crianças maiores têm um carinho e cuidado muito grande com os
97
bebês para que elas possam participar de todas as brincadeiras , juntamente
com todas as crianças.
Essas brincadeiras que as crianças criam, fazem parte do seu mundo, de suas
experiências. Dessa forma, a invenção das crianças tem possibilidade para transformar
em brinquedo aquilo que a natureza coloca a sua disposição, criando, a partir desses
materiais, as suas próprias brincadeiras.
Em muitas destas brincadeiras analisamos que as crianças procuram se
organizar em função do grupo de crianças que participam no coletivo infantil, no sentido
das escolhas das brincadeiras e da participação de todas. No coletivo quando há
crianças menores; as maiores ajudam os menores a participarem da brincadeira. Como
exemplo, podemos destacar as palavras da educadora, Judite98, quando afirma:
97
Anotações do caderno de campo 29/11/2007
98
Entrevista realizada no dia 13/05/2008 na própria Ciranda Infantil “Ana Dias”. É importante ressaltar
que neste momento na só tem estes dois bebes pequenos freqüentando a ciranda infantil, as outras
crianças são maiores com idades variadas.
148
Assim, as crianças vão se constituindo como sujeito lúdico, resignificando seu
brincar e sua experiência cultural. Como disse Florestan Fernandes (2004:115) em seu
estudo ao observar as brincadeiras das crianças na cidade de São Paulo:
A escolha do brinquedo pode está relacionada à forma como ele vem sendo
oferecido e permitido. Pois são os adultos que esperam que as meninas sejam
de um jeito e que os meninos sejam de outro. Eles e elas são capazes de
múltiplas relações, estão a todo o momento experimentando diferentes formas
de brincadeira, buscando novos prazeres, por possuírem curiosidade e vontade
de conhecer o mundo.
99
Esta fala de Beatriz foi colhida na Ciranda Infantil depois das atividades do dia em 25/10/2007.
149
brincadeiras têm uma intencionalidade pedagógica como, por exemplo, nas atividades
das oficinas, como: dobradura, construção de brinquedos alternativos, musicalização,
capoeira, atividade de preservação das nascentes, com as sementes etc. Observando
estas brincadeiras analisamos que elas acontecem em qualquer lugar, em casa, nas
ruas do assentamento, na Ciranda Infantil, na escola, pois, as brincadeiras provocam
nelas a satisfação, instiga a sua curiosidade e estimula o seu imaginário infantil.
As brincadeiras que os educadores e as educadoras proporcionam às crianças
nutrem, ainda mais, alegria, ludicidade e curiosidade, promovendo sua autonomia e
proporcionando a vivência de outros valores, como: solidariedade, companheirismo e
amor pela terra, valores estes que contrapõem o individualismo, o consumismo e a
competitividade pregados pela sociedade capitalista.
Em relação às questões expostas acima, faz se necessário um olhar mais atento,
por parte dos educadores e das educadoras infantis ao participar e organizar as
brincadeiras, possibilitando uma relação entre as crianças, para que estas façam novas
descobertas, e, isto proporciona o inventar e reinventar as brincadeiras.
Nessa perspectiva, é importante que as educadoras e os educadores organizem
os espaços físicos e os tempos das brincadeiras para garantirem um equilíbrio entre as
atividades dirigidas – ou seja, com intencionalidade política e pedagógica –, livres,
individuais e coletivas; levando em consideração os sujeitos envolvidos, para que estas
atividades sejam adequadas e prazerosas para todas as crianças.
A criança exercita sua capacidade de inventar, sentir, decidir, arquitetar,
reinventar, se aventurar, agir para superar os desafios das brincadeiras. Por meio
delas, também, a criança apropria-se da realidade, e demonstra, de forma simbólica, os
seus desejos, medos, sentimentos, agressividade, suas impressões e opiniões sobre o
mundo que a cerca. A Ciranda infantil, então, é este espaço no qual desenvolvem o
gosto pelo brincar, de fazer e de encontrar amigos. Para exemplificar nossa análise,
trabalharemos algumas colocações destas crianças.
150
Eu gosto de ir à ciranda para brincar com Diego e Michele, pois eles são os
nossos bonecos e bonecas na Ciranda Infantil (Natália 05 anos)
E para Vanessa102:
100
Estas falas colhidas na ciranda infantil depois das atividades do dia em 25/10/2007
101
Falas colhidas na Ciranda Infantil depois das atividades do dia em 28/10/2007
102
Idem.
151
Observamos que tanto a fala de Felipe quanto a de Vanessa, trazem um dado
muito interessante, que independente da língua, as crianças se entendem entre elas e
com os adultos. E para o MST, este é mais um desafio, que se faz necessário na
formação dos educadores e educadoras, pois, os mesmos já estão encontrando limites
de poder se comunicar com as pessoas que vêm visitar os assentamentos e que vão
até as Cirandas Infantis. Segundo Judite103:
É importante analisar esta fala da Judite, pois ela revela a existência de uma troca
de saberes entre as crianças e os educadores, e uma abertura por parte das
educadoras em aprender com as crianças. Isso, para o projeto educativo do MST, é
muito importante, pois é neste dialogo entre educadoras e crianças que vão sendo
construídas as possibilidades de mudanças das práticas educativas por parte dos
educadores e educadoras. A educadora Judite104 traz outro depoimento do seu fazer
pedagógico, afirmando que:
103
Entrevista realizada no dia 13/05/2008 na própria Ciranda Infantil “Ana Dias”
104
Entrevista realizada no dia 13/05/2008 na própria Ciranda Infantil “Ana Dias”
152
É importante observar que, as relações entre as mães, educadoras e crianças
foram se construindo no processo. Outra questão a ser analisada é: Será que as
crianças queriam somente ter um espaço para brincar longe das mães? Ou será que a
presença da mãe é tão marcante na vida dos filhos e filhas, que a sua simples presença
na Ciranda Infantil mantém as crianças numa “certa ordem?” Para Zezinho 105 este
contexto foi mudando e hoje não só as mães, como também os sócios da cooperativa
participam das atividades da Ciranda Infantil e ele afirma que:
Neste processo a Ciranda Infantil “Ana Dias” foi envolvendo os pais nas atividades
com as crianças. Hoje muitos deles têm um entendimento que a ciranda é um espaço
muito importante para o coletivo das crianças e também da comunidade. Assim os pais
e mães afirmam que:
105
Entrevista realizada na sede cooperativa dia 14/05/ 2008
106
Seu Antonio é assentado na Agrovila III e esta fala foi colhida depois de uma reunião realizada no dia
09/11/ 2007 na sede da cooperativa e um dos pontos da pauta foi a Ciranda infantil.
153
A Ciranda Infantil é um espaço de encontro das crianças para que elas possam
107
brincar com seus colegas. (Maria, mãe de uma criança da ciranda)
107
Dona Maria é assentada na Agrovila III e esta fala foi colhida depois de uma reunião realizada no
dia 09/11/ 2007 na sede da cooperativa e um dos pontos da pauta foi a Ciranda infantil.
108
Dona Ana é assentada na Agrovila III e esta fala foi colhida depois de uma reunião realizada no dia
09/11/ 2007 na sede da cooperativa e um dos pontos da pauta foi a Ciranda infantil.
109
Seu José é assentado na Agrovila III e esta fala foi colhida depois de uma reunião realizada no dia
09/11/ 2007 na sede da cooperativa e um dos pontos da pauta foi a Ciranda infantil.
154
exercitando sua autonomia. Um destes espaços é o coletivo infantil, do assentamento,
denominado Núcleo Che Guevara
A experiência do coletivo infantil vem se dando mais nos Estados do Rio Grande
do Sul e São Paulo. Para se formar o coletivo infantil depende, simplesmente, do querer
participar, então, a idade aqui, não é um fator determinante para a participação das
crianças. Isto se configura conforme o interesse de cada criança. Segundo Ramos
(1999:25): No coletivo infantil participam todas as crianças, geralmente entre 3 e 12
anos de idade; não há uma idade estipulada que determine a participação das crianças.
As crianças se reúnem para desenvolver várias atividades pedagógicas como:
assistir filmes, fazer um estudo e debate sobre determinado tema, jogar futebol, brincar
tocar flauta e cantar etc. Ramos (1999:29) afirma que:
155
Lorena110 justifica a escolha deste nome em sua poesia no Jornal Sem Terrinha, onde
diz o seguinte:
110
Este trecho desta fala esta na poesia no Jornal das crianças Sem Terrinha, ano I, nº03, do mês
06/ 2008.
111
Entrevista realizada no dia 18/05/2007.
156
campo, a lida com a terra e com a vida, dando outros conteúdos e novos rumos
em suas vidas.
112
Entrevista realizada no dia 20/10/2007
157
Não adianta tentar mudar a opinião da criança, pois naquele momento é
importante que se respeite a autonomia de cada criança e de seu tempo
quanto, criança.
113
As entrevista f oram realizada com as crianças nos dias 17, 18 e 19 /10 /2007
114
Segue em anexo as músicas que as crianças citam durante o processo de pesquisa
158
Geralmente essas músicas, principalmente Asa Branca115 e Cálix Bento, são
cantadas por alguns dos assentados nos finais de tarde depois do roçado. E assim, as
crianças cantam as músicas que representam a luta pela terra e pela transformação da
sociedade, como: A Internacional para as homenagens aos 100 anos de Oscar
Niemayer116, e essas músicas vai fazendo parte do cotidiano das crianças.
115
Também segue anexo, as letras das músicas
116
Lamentavelmente, Oscar Niemeyer não pode participar de tal homenagem, pois ficou doente e a
apresentação, no Rio de Janeiro com mais de 100 crianças entres elas as crianças do Núcleo Che
Guevara, foi cancelada. Nesta apresentação ele pediu que as crianças do MST cantassem para ele a
internacional e o Hino do MST.
117
Entrevista realizada dia 19 /10 /2007.
118
Este projeto é em parceria com o governo federal para incentivar os esportes nas escolas.
159
que devemos ter com a preservação ambiental. A mesma envolve as escolas dos
assentamentos e também os pequenos agricultores da região. Sobre esta atividade as
crianças afirmam: 119.
Eu também fui neste dia plantar árvore na nascente. Eu plantei uma árvore e
minha mãe trouxe água da mina para beber em casa. (Ana Flávia, 4 anos)
119
Entrevista realizada nos dias 17 e 18 /10/2007.
120
Rosinha é dirigente do Setor de educação no assentamento e da regional, ela faz o curso de
Pedagogia de Terra em parceria com a UFSCar, este depoimento foi durante a 3ª etapa 20/02 de 2009
160
juntamente com as famílias assentadas, as crianças realizam o plantio das árvores nas
áreas escolhidas pela comunidade.
Neste sentido entendemos o coletivo infantil enquanto um dos espaços de
formação humana das crianças sem terra. Assim, percebemos que este toma como
referência, o projeto educativo do MST. Então, o coletivo se torna um espaço de troca
de saberes e de encontro das crianças. Neste processo de formação das crianças
notam que alguns elementos são trabalhados com cada criança no sentido que as
mesmas percebam que elas têm um papel importante na luta pela terra e na construção
de uma nova sociedade.
As próprias crianças121 dizem que:
121
Entrevista realizada no dia 20/10/de 2007
161
crianças, como nas próprias brincadeiras que são desenvolvidas com as mesmas, ou
seja, a coletividade vivenciada pelas pessoas adultas são referências para as mesmas.
No assentamento as crianças estão presentes em todos os espaços da
comunidade: festas, encontros, ciranda e organização do próprio assentamento. Sua
presença nestes espaços educa o olhas das pessoas adultas no sentido de entender
que estas crianças são sujeitos que estão na luta e que também estão construindo este
projeto de sociedade. Walter Benjamin (1984:85) afirma que, é na coletividade infantil
que podemos encontrar a “atualidade da criação” e a irradiação das mais poderosas
forças. Assim sendo, acreditamos que as crianças no MST têm possibilidades de ser
esta “força poderosa”, pois essas, muitas vezes movem seus pais para lutar por uma
sociedade mais justa.
122
Esta atividade ocorre em vários assentamentos, principalmente, onde os mesmos estão
localizados próximos às universidades em que os estudantes se propõem em desenvolver as
experiências pedagógicas com os Sem Terrinha. No assentamento da agrovila III essa atividade é
organizada por duas pessoas amigas do MST Paulo e Marilene, juntamente com o Coletivo de Educação
do Assentamento.
162
apresentações geralmente são compostas por poesias, músicas, peças de teatro,
brincadeira de roda etc. As crianças são estimuladas a criar, improvisar suas próprias
apresentações culturais, as quais são realizadas em duplas, trio, ou mais crianças. O
importante é que elas se organizem para fazer usa apresentação. Dessa forma, os
grupos de crianças que vão apresentar suas canções, poesias, teatro, etc. para a
comunidade, lançam mão de todos os elementos, tais como roupas, violão, poemas
etc., que facilitam e ajudam na suas apresentações Na peça de teatro as crianças têm a
oportunidade de inventar e vivenciar os personagens Durante a pesquisa de campo tive
a oportunidade de assistir algumas destas apresentações. Como por exemplo, a peça
da Rapunzel
As peças infantis são sempre um sucesso, pois as crianças têm uma imaginação
criadora e descobrem saídas para todos os problemas que encontram no processo de
construção de cada apresentação cultural. Walter Benjamin (1984:87-88) ao organizar
seus estudos sobre o “teatro infantil proletário”, afirma que:
123
Anotações do meu caderno de campo dia 30/11/2007
163
Nesta atividade, quando há necessidade, as mães ou os pais são convidados a
participarem desta coletividade como, por exemplo, no dia do baile de máscara 124:
A Jornada Pedagógica é uma atividade que acontece uma vez por ano, cujo
objetivo principal é o envolvimento das crianças como um todo na vida do
assentamento, ou seja, de uma forma mais geral em seu cotidiano. É uma atividade
que, normalmente, dura de 5 a 8 dias, conforme a realidade da regional e do
assentamento no qual a jornada pedagógica ocorre. Esta atividade requer um
124
Anotações do meu Caderno de campo dia 30/11/2007.
164
planejamento coletivo e a participação de toda a comunidade. A mesma consta de três
momentos significativos:
- Antes: Articulação dos apoios amigos do movimento, de toda a infra-estrutura, da
preparação da programação, da divisão das responsabilidades etc.
- Durante: Acompanhar as atividades que foram programadas para ver se estão
acontecendo conforme o planejado; reunir a coordenação para avaliar cada dia e, se for
o caso, replanejar o dia seguinte, garantindo que as atividades aconteçam.
- Após: Avaliar todo o processo e apontar os limites e desafios para os próximos anos.
Durante a semana em que se realizou a atividade as crianças visitaram às famílias
assentadas. O objetivo desta visita era envolver todas as famílias assentadas na
atividade. Para isso, cada noite as crianças se encontravam na Ciranda Infantil,
juntamente com os Educadores e as Educadoras e se organizavam em dois grandes
grupos. Cada grupo percorria uma determinada rua do assentamento para fazer as
visitas e marcavam um ponto de encontro quando terminassem.
Estas visitas eram acompanhadas de cantoria com flautas, violão e muitas
pipocas. As visitas não eram avisadas para os adultos, era surpresa, por isso havia
varias reações dos adultos, como, por exemplo, ficarem atrapalhados sem saber onde
as crianças se sentariam – pois cada grupo tinha em média 50 sem terrinha – o que
oferecer para as crianças, se eram balas ou pirulitos ou pipocas etc. O certo era que
todas as famílias assentadas fizeram uma boa acolhida às crianças. Nas visitas, as
crianças geralmente cantavam uma música e ofereciam à família, e esta também pedia
uma música para as crianças cantarem. Nesse momento, era realizado o convite para
a família participar das atividades da Jornada Pedagógica e era entregue uma
lembrancinha à família.
Analisando estas visitas, percebemos que muitas pessoas idosas lembraram de alguns
episódios da sua infância e isso se manifestou através do pedido das músicas como,
por exemplo, canta Asa Branca eu lembro quando era pequena e meu pai cantava para
nos.125. Pedidos como este se repetiram diversas vezes. Segundo Lorena 126,
125
Anotações do caderno de campo dia 15/10/2007
165
A jornada pedagógica foi muito boa, pois havia bastantes brincadeiras, oficinas.
Eu gostei muito de visitar as famílias. Todas as crianças participaram e foi muito
bom tocar na flauta a música que as famílias pediram, elas ficavam bem feliz,
Dona Ana chorou quanto tocamos Asa Branca para ela. (Lorena, 10 anos)
A jornada pedagógica foi ótima. Gostei mais da pipoca na casa das famílias e
de todas as brincadeiras e asa branca foi a música mais pedida pelas famílias
127
(Fabinho, 09 anos )
A jornada foi muito boa. Eu brinquei bastante e fui visitar todas as famílias, nos
cantamos asa branca , comenos pipoca, bolo, e na casa de Dona Ana nos
128
ganhamos pirulito. (Ana Flávia, 4 anos)
126
Fala colhida durante o processo de avaliação pelas crianças da jornada pedagógica
127
Fala colhida durante o processo de avaliação pelas crianças da jornada pedagógica
128
Fala colhida durante o processo de avaliação pelas crianças da jornada pedagógica
166
As oficinas foram pensadas e organizadas a partir dos sujeitos envolvidos na
Jornada. Foram organizadas as seguintes oficinas: plantio de flores, confecção de
brinquedos, artesanato com as mulheres, manicure e maquiagem, poesia,
contabilidade/controle, dança, dobradura, cartão com sementes, espanhol etc. As
oficinas apresentaram várias possibilidades de brincadeiras e de criação para as
crianças, pois, cada uma apresentava uma novidade, porém, a oficina de Espanhol foi a
mais comentada e concorrida. Outro ponto a se destacar nas oficinas foi o envolvimento
dos professores da escola do assentamento. Este envolvimento na atividade foi muito
significativo, tanto para as crianças, quanto para os professores.
As crianças demonstravam certa felicidade em apresentar e explicar para os
professores os espaços do assentamento, como por exemplo, a pocilga onde se cria os
porcos, a horta coletiva, o roçado, o mercado, a Ciranda Infantil, as máquinas e aqui foi
bem interessante, pois também explicava o processo de fazer o óleo de semente de
girassol para usar no trator, como todo o processo de como usar o esterco de porco e
do gado para produzir o gás de cozinha e energia para aquecer o chuveiro das casas
através do biodigestor. Sobre todos estes pontos, as crianças tinham um conhecimento
e repassavam aos seus professores. Para muitos professores, esta foi uma
oportunidade de conhecer um pouco da realidade das crianças e entender melhor o seu
cotidiano e sua luta.
Ainda falando das oficinas, podemos destacar a participação das
mulheres, em especial, nas oficinas de pintura em tecido, manicure e maquiagem e de
alimentos alternativos. Nestas oficinas, além de aprender toda a técnica de manuseio
das ferramentas. Elas também levaram às mulheres a refletir sobre a questão
econômica. Sem falar no espaço de socialização das aprendizagens entre as mulheres.
De um modo geral toda comunidade participou e se empenhou para a realização da
Jornada Pedagógica. Onde segundo Zezinho129.
129
Fala colhida durante o processo de avaliação pelo setor de educação da regional sobre a
jornada pedagógica
167
A jornada pedagógica foi uma atividade que movimentou as crianças, a Escola,
e a comunidade, isto é, muito significativo para nós do assentamento, pois a
comunidade assumiu as responsabilidades com uma grandeza imensa e
participou de todas as atividades propostas (Zezinho.)
168
Toda a experiência leva as crianças a experimentar o prazer de criar, inventar,
recriar, ou seja, inventar este jeito de ser criança do campo. Essas crianças são filhos e
filhas de trabalhadores rurais sem terra que, como qualquer outra criança brasileira,
devem ser incentivadas a experimentar estas dimensões nas brincadeiras, pois,
segundo Prado (1998: 95) É na dimensão brincalhona que permite um encontro com o
desconhecido, uma troca entre diferentes e um reconhecimento entre semelhantes.
Através da ação do brincar, a ciranda infantil vem recuperando as várias
brincadeiras que, hoje, estão esquecidas pelas crianças, pela a influência tanto da
industrialização dos brinquedos (prontos), quanto da televisão. Nas cirandas podemos
afirmar que elas vêm potencializando o lúdico e as atividades mais coletivas.
Outra questão que podemos analisar nas experiências educativas é a
participação das crianças no processo de luta pela terra, através da vivência coletiva
buscando vivenciar a coletividade como um princípio que, segundo Arenhart (2007:66):
Assim podemos dizer que, as sem terra constroem sua participação na luta pela
terra mostrando dignidade e confiança no coletivo, isto é, no Movimento Sem Terra.
Ainda, reitera Arenhart (2007:43) que:
O Movimento social que produz essa força no interior dos seus processos
educativos. Assim como, a experiência da infância para elas – crianças
empobrecidas – não constitui um conto de fadas, como idealiza a concepção
burguesa, é possível pensar que a inserção no Movimento Sem Terra as ampara
169
em relação à possibilidade de sonhar e de acreditar num mundo melhor,
especialmente porque estão construindo, através da luta, outras realidades de
presente e futuro.
170
Também destacamos nesta pesquisa algumas contradições e possibilidades que
foram aparecendo neste processo, entendendo que nem tudo nesta experiência atingiu
sua plenitude, ao contrário, todas as práticas educativas desenvolvidas no MST vêm se
desenvolvendo atravessadas por uma série de contradições.
Para o Movimento Sem Terra o ato de atuar, experimentar, descobrir, fazer, refazer,
repetir, contradizer, questionar, movimentar, constitui grande riqueza educativa no
desenvolvimento de suas práticas. É justamente nesse movimento permanente que vão
se produzindo as contradições, e é no contexto das contradições que também se
produzem as possibilidades. Como afirma o professor Luiz Carlos de Freitas, (1995:13)
as contradições é um campo aberto de possibilidades.
Entendemos que a apreensão desta dimensão, no contexto das lutas
desenvolvidas pelo MST na atualidade, possa contribuir para o estabelecimento de
alguns parâmetros políticos – organizativos no intuito de fortalecer ou nortear o
desenvolvimento de futuras experiências educacionais –, para que deste modo possa
haver uma conjugação das experiências passadas com as possibilidades e
necessidades identificadas pelo próprio Movimento em sua estratégia futura.
130
Nos estudos de Gramsci, ele atribuiu aos intelectuais o papel de organizadores da cultura.
Segundo ele o intelectual orgânico é aquele que surge em ligação direta com os interesses da classe que
ascende ao poder, ao mesmo tempo em que, lhe dão homogeneidade e consciência da própria função,
não apenas no campo econômico, mas também no social e político. As classes dominantes em geral
possuem seus intelectuais orgânicos, cuja função é fazer com que os dominados pensem com a cabeça
da classe dominante. Do mesmo modo, a classe trabalhadora possui seus intelectuais, cuja função é
desenvolver as idéias contra-hegemônicas.
172
um bem necessário à sobrevivência e resistência do homem, mulheres, jovens e
crianças do campo.
Nas Cirandas Infantis pesquisadas, ficou claro que a produção do conhecimento
não é aleatória; esse tem uma intencionalidade política para o Movimento, ou seja, ele
tem uma função social na perspectiva de contribuir para a emancipação humana,
contradizendo os propósitos do capital. Neste sentido, podemos afirmar que o acesso
ao conhecimento para o MST não é algo supérfluo, mas é um elemento constitutivo da
pessoa humana. Portanto, está situado no rol dos direitos fundamentais da pessoa
humana. Deste modo, o MST rompe com a ideia dominante no Brasil, desde a
colonização, de que, a produção e o acesso ao conhecimento é privilégio de alguns ou
daqueles que podem comprar tal mercadoria.
Sendo, as Cirandas Infantis no MST uma experiência de educação não formal,
observamos a produção do conhecimento tem um forte vínculo com as questões
políticas. Este vínculo evidenciou-se nas seguintes atividades políticas organizadas
pelo Movimento, que contaram com a participação das crianças:
Na elaboração da pauta reivindicatória e na entrega da mesma ao Ministro da
Educação esteve presente na Ciranda Infantil do V Congresso do MST;
Nos Encontros dos Sem Terrinha ao elaborar o manifesto e a pauta de
reivindicação aos poderes públicos; como também na troca de saberes e
entre as crianças principalmente nas oficinas e nas apresentações culturais
realizada no encontro.
Na participação na vida do assentamento através do coletivo infantil e da
Ciranda “Ana Dias”, ou seja, nas diversas mobilizações organizadas pelo
MST.
Na participação das atividades pedagógicas tais como: preservação das
nascentes, na jornada pedagógica, no dia cultural, as crianças têm a
oportunidade, desde bem pequenas, vivenciarem tais práticas educativas e
outras relações sociais, numa perspectiva de outra sociedade.
173
Tomando como referência a concepção de educação do MST, que expressa em
seu projeto educativo, (princípios filosófico e pedagógico) e nas práticas educativas das
Cirandas Infantis pesquisadas, pode-se afirmar que, para o MST, o acesso ao
conhecimento é tão importante quanto o acesso a terra, porque o conhecimento
trabalhado nas Cirandas Infantis não se apresenta tendo um fim em si mesmo, mas
como possibilidades de compreender, problematizar e transformar a realidade para ser
usufruída por todas as crianças.
Neste sentido é importante ressaltar que o conhecimento nas Cirandas infantis
emerge a partir do estudo da realidade, ou seja, das situações concretas, como
também da organização e a apropriação deste conhecimento, tendo como finalidade a
coletividade. Ainda, podemos analisar que o acesso ao conhecimento nas Cirandas
Infantis pesquisadas se apresentou como conquista de direitos, de propósito e
compreensão para a transformação da realidade, mas, principalmente, como elemento
necessário à construção do projeto de uma sociedade socialista.
No estudo da realidade, as Cirandas Infantis pesquisadas organizam as
vivencias das crianças a partir das situações concretas no sentido de responder e
ampliar coletivamente as interpretações que as crianças já têm da realidade.
Na organização do conhecimento, se trabalha para a compreensão da
problematização inicial do estudo da realidade. É um momento intenso de trabalho e
pesquisa nos quais os educadores e as educadoras trabalham com as crianças muitas
informações e colocam as crianças em contato com outros referencias, no sentido de
buscar o que ainda não se conhece para responder as questões iniciais.
A organização do conhecimento nas Cirandas Infantis, nas escolas, nos
assentamentos e acampamentos, é mais do que criticar os conteúdos, e sim, consiste
em vivenciar concretamente a vida social, suas contradições, analisar limites e criar
possibilidades de superação, na perspectiva de produzir outros conhecimentos para a
formação dos sujeitos na atualidade, ou seja, aquilo que tem sentido para o nosso
tempo. Freitas (2003:56) afirma que;
174
Deve se entender por formação na atualidade tudo aquilo que na vida da
sociedade do nosso tempo tem requisitos para crescer e desenvolver-se, ou
seja, tem a ver com as grandes contradições da própria sociedade capitalista e
a contradição central é que os homens não devem explorar outros homens -
isso não é ético.
175
espaços se estabelecem alguns com tensão entre projeto de sociedade capitalista e o
projeto de uma sociedade socialista que está em construção. Segundo Araújo
(2007:125):
176
com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa
educacional significativamente diferente
177
organização do trabalho pedagógico nas Cirandas Infantis Itinerantes e Permanentes
do MST.
- Em relação à formação dos educadores infantis, percebemos que falta
aprofundamento teórico da própria proposta pedagógica do MST, que, talvez possa
permitir um movimento de ação/reflexão/ação nas atividades pedagógicas
desenvolvidas nas Cirandas Infantis. Assim, se faz necessário perguntar quem faz esta
formação com estes educadores e educadoras: o Estado burguês, o MST, ou as
universidades? Pois, sabemos que cada um destes segmentos tem uma concepção de
educação e defende um projeto de sociedade. No processo da pesquisa nota-se que
existe por parte dos educadores e educadoras infantis uma disposição e boa vontade
em construir uma educação para além do capital, entretanto lhes faltam também as
condições materiais necessária para alavancar o trabalho pedagógico. A formação se
faz necessária, desde os coletivos de coordenadores do setor de educação em níveis
macro e micro, até os educadores e educadoras infantis que estão no dia-a-dia das
cirandas infantis.
- Em relação à organização dos assentamentos e acampamentos, eles são
pensados a partir dos sujeitos e suas necessidades de construir uma educação
emancipatória? E isso se manifesta no modo de vida das pessoas. Para Mészàros,
(2005:38) a educação emancipatória significa internalizar outros valores contrários à
ordem social do capital; deste modo a questão apontada caracteriza um grande desafio
teórico e prático. Pensar o assentamento ou o acampamento a partir dos sujeitos,
significa pensar também as crianças no processo de produção na sua plenitude, com
suas necessidades, avanços e limites. Pois elas ajudam organizar sua existência,
trazem consigo limites próprios do processo a que foram submetidas ao longo de suas
vidas. Entendemos que as crianças e os assentados são frutos de uma sociedade
capitalista que fez e continua fazendo estragos na vida das pessoas deixando suas
marcas na sua forma de pensar e agir, de relacionar-se, com as suas escolhas e
preferências.
Desse modo, há muitas dificuldades e limitações como: apreensão crítica do
mundo pelos Sem Terra, pois constantemente estes negam e afirmam a sociedade
178
capitalista. Nesse contexto é fundamental questionar onde se encontram os limites da
base social do MST para a compreensão e internalização de valores contrários à ordem
social capitalista, a fim de produzir uma educação emancipatória. Ao considerar que a
formação da consciência não se dá de maneira automática, exige-se, então, um longo
processo educativo tanto nas Cirandas Infantis como das escolas e em todos os
espaços educativos do MST.
Entendemos que estas reflexões que evidenciamos acima não estão postas
hegemonicamente, no conjunto do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
que organizados buscam a todo instante romper os desafios apresentados, construindo
coletivamente outro projeto histórico de sociedade, de ser humano e de educação.
Nesse contexto é possível afirmar que as Cirandas infantis desenvolvidas pelo MST
demonstram possibilidades de uma educação emancipatória quando estas contribuem
para alteração da prática social dos participantes. Isso demonstra que as Cirandas
Infantis podem produzir possibilidades de mudanças coletivas a serviço da classe
trabalhadora à medida que forem vinculadas aos movimentos de lutas sociais.
Os dados indicam que para construir uma educação emancipatória não basta
apenas a intencionalidade de transformação social na Programação do Cotidiano ou no
Projeto Político Pedagógico da Ciranda Infantil, se estes conteúdos não são
trabalhados e vinculados a um projeto de transformação social. Estes conteúdos
precisam ser alimentados cotidianamente, mediante práticas de transformação da
realidade. Na construção de relações educativas emancipatórias é imprescindível que
não seja negligenciado o fato de que – nesta sociedade capitalista – o direito a viver
como sujeitos autônomos do seu próprio processo educativo, que foi usurpado das
crianças. Além disso, percebemos que as crianças sem terra são capazes de erguer
suas próprias bandeiras, organizando-se com autonomia e educando-se na luta. Isto
não significa que elas deixaram de ser crianças, mas brincado, pulando, saltando,
chorando, cantando, vão construído essa Ciranda Infantil, por que ela é de todos nós,
ela é de todos nós.
179
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa hipótese era que as Cirandas Infantis, desenvolvidas pelo MST, têm seu
inicio, em função da participação das mulheres no processo produtivo dos
assentamentos e nas instâncias da organização. Esta hipótese veio a ser confirmada
pela pesquisa, pois, constatamos que é cada vez maior o número de homens levam
180
seus filhos e filhas para as atividades das quais participam, tais como: reuniões, cursos,
congresso, seminários etc. Ou seja, a preocupação com o cuidar e educar os filhos e
filhas, hoje no MST, é partilhada, em boa medida, entre homens e mulheres. Este fato
permitiu às mulheres assumirem, cada vez mais, outras responsabilidades na
organização. Outrossim, evidencia as reais possibilidades de avanço da e na
discussão de gênero.
Neste contexto, merece destaque o valor histórico da luta pela Reforma Agrária
empreendida pelo MST, com todas as contradições e desafios que surgem no momento
em que se procura mudar as relações sociais e as relações de produção. Em segundo
lugar, por que a visão do pesquisador é sempre limitada com relação à totalidade que
se apresenta no contexto real, no plano concreto, podendo assim, não dar conta da
profundidade necessária que o objeto exige. Além disso, compreende-se que a análise
181
da realidade dada perpassa nossos valores culturais, nossa visão de mundo e a
escolha de parâmetros científicos capazes de dar sustentação a nossa análise.
Esta mesma constatação também pode ser feita com relação às Cirandas
Itinerantes por nós pesquisadas. Nelas, observamos, com especial cuidado: a
participação nas lutas e nas mobilizações em prol das conquistas coletivas; os valores
cultivados, como companheirismo e solidariedade; os referenciais de lutadores e a
organização coletiva em busca da sua emancipação humana. Observamos, também, o
cultivo da mística e de valores tais como: companheirismo, solidariedade, etc.
No caso específico da Ciranda Infantil do V Congresso Nacional, por exemplo, o
grande arraial contribuiu também com elementos importantes na beleza da mística,
como, por exemplo, as suas bandeirolas, os bonecos com suas roupas coloridas,
diversos cartazes e muitas bandeiras de diversos movimentos sociais. Tudo isso fazia
parte da ornamentação das barracas da Ciranda Infantil. Dessa forma, as músicas das
crianças, as palavras de ordem, a marcha das crianças até a plenária, a negociação
com o ministro de educação, o grande baile da festa da colheita fez parte da mística
como também da vida das crianças que participaram deste V Congresso do MST.
Na Ciranda “Ana Dias”, a mística se faz presente na escolha dos nomes dos
núcleos de base, homenageando lutadores e lutadoras do povo, na elaboração das
palavras de ordem, no ensaio das canções que são apresentadas para a comunidade,
nas apresentações culturais, na elaboração e execução das grandes atividades tais
como: a Jornada Pedagógica, o Dia Cultural, o Encontro dos Sem Terrinha, como
também na elaboração de normas e princípios de convivência coletiva pelas próprias
crianças.
182
Para o MST, o cultivo da mística é uma demonstração de ânimo na luta, ou seja,
embora a conquista do assentamento tenha se consolidado, é importante mostrar que o
processo de formação de novos seres humanos não se esgotou com a conquista da
terra. A mística se configura como princípio educativo no MST.
Estas atividades demonstram o engajamento das crianças na luta pela terra, desde
bem pequenos, em diferentes níveis de abrangência, tanto a nível local, quanto em
nível de Estado. Neste sentido, podemos afirmar como avanço nas práticas educativas
da Ciranda Infantil os seguintes:
184
Deste modo, o processo das atividades é muito enriquecedor e, conforme a
organização coletiva do assentamento, as crianças têm mais possibilidades de
organizar os seus coletivos infantis, pois as elas se inspiram nas pessoas adultas.
Sendo assim, podemos reafirmar que a Pedagogia do MST produz uma infância em
movimento, ou seja, crianças que participam da luta e juntamente com sua família lutam
pelos seus direitos.
185
No decorrer deste trabalho, percebemos a quantidade de mudanças ainda a
serem feitas nas Cirandas Infantis do MST, como também, a relevante atuação de
todos e todas que estão envolvidos na “empreitada”. Percebemos, ainda, nossa própria
dificuldade em transgredir a visão do senso comum e o quanto é difícil tecer algum tipo
de análise para além dele.
Zé Pinto
186
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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191
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192
___________________________. Jornal das crianças Sem Terrinha, ano I, nº 03, do
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RIBEIRO, Marlene. Uma escola básica do campo como condições estratégicas para o
desenvolvimento sustentável. Caderno de Conferências: II Conferencia Estadual do
Rio Grande do Sul: Por uma Educação Básica do Campo. Rio Grande do Sul:
Editora Kenya Ribeiro, abril 2002.
STEDILE, João Pedro. A reforma agrária e a luta do MST. Petrópolis: Vozes, 1997.
194
__________________. Assentamentos: a resposta econômica da reforma agrária.
Petrópolis: Vozes, 1989.
195
ANEXOS
Querido MST:
Somos filhos e filhas de uma história de lutas. Somos um pedaço da luta pela terra e do
MST. Estamos escrevendo esta carta pra dizer a você que não queremos ser apenas
filhos de assentados e acampados. Queremos ser SEM TERRINHA, pra levar adiante a
luta do MST.
No nosso país há muita injustiça social. Por isso queremos começar desde já a ajudar
todo mundo a se organizar e lutar pelos seus direitos. Queremos que as crianças do
campo e da cidade possam viver com dignidade. Não gostamos de ver tanta gente
passando fome e sem trabalho pra se sustentar.
Neste Encontro dos Sem Terrinha que estamos comemorando o Dia da Criança nos
seus 15 anos, assumimos um compromisso muito sério: seguir o exemplo dl lutadores
como nossos pais e Che Guevara, replantando esta história por onde passarmos.
Prometemos a você:
Ser verdadeiros Sem Terrinha, honrando este nome e a terra que nossas
famílias conquistaram.
Ajudar os nossos companheiros que estão nos acampamentos, com doações
de alimentos e roupas, incentivando para que continuem firmes na luta.
Estudar, estudar, estudar muito para ajudar na construção de nossas escolas:
nossos assentamentos, nosso Brasil.
Ajudar nossas famílias a plantar, a colher, ter uma mesa farta de alimentos
produzidos por nós mesmos e sem agrotóxicos.
196
Embelezar nossos assentamentos e acampamentos, plantando árvores
flores, e mantendo tudo limpo.
Continuar as mobilizações e fazer palestras nas comunidades e escolas (
todo o Brasil.
Divulgar o MST e sua história, usando nossos símbolos com grande orgulho.
Ainda não temos 15 anos, mas nos comprometemos a trabalhar para que você nós,
MST, tenha muitos 15 anos de lutas e de conquistas para o povo que acredita em você
e é você.
197
ANEXO B – CARTA DOS SEM TERRINHA DO RIO GRANDE DO SUL AOS SEUS
PROFESSORES E PROFESSORAS
Estamos escrevendo esta carta para dar nossos parabéns a vocês pelo seu dia:
15 de outubro. Queremos aproveitar para agradecer e também para pedir algumas
coisas.
Acreditamos que nossas escolas podem ser ainda melhores do que são. Para
isso fazemos a você alguns pedidos:
Queremos ter nossa bandeira na escola, cantar o hino do MST e também cantar
outras músicas. Queremos trabalhar mais nos livros, melhorar o estudo da matemática
e fazer mais educação física. Também queremos pedir que vocês trabalhem mais com
música, poesia e brincadeiras.
198
Queremos que em todas as nossas escolas tenha trabalho em equipe e pedimos
que vocês ajudem na nossa organização.
Queremos que a escola trabalhe junto com a comunidade e que todos tenham
direito de participar das decisões. Nós também.
Pedimos a vocês que estejam sempre prontos para nos ensinar e sempre
dispostos a escutar o que temos a dizer, respeitando nossas idéias e tendo paciência e
muito carinho conosco. Também pedimos que vocês tragam mais brinquedos para a
escola.
Pedimos que estudem cada vez mais para nos ensinar melhor. Estudem sobre o
movimento porque ele é muito importante para nós. Estudem também os livros do Paulo
Freire porque aprendemos aqui que ele é um educador legal e muito nosso amigo.
Para finalizar esta carta queremos dizer a vocês que o Brasil precisa de muitos
professores que ensinam o povo a Ter liberdade e dignidade. E que nós Sem Terrinha,
que somos sementes de transformação, também queremos ajudar a construir um Brasil
sem latifúndio.
que participaram do
199
ANEXO C – CARTA DO SEM TERRINHA PARA A COMUNIDADE ASSENTADA
DA AGROVILA III E GESTORES PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE
ITABERÁ.
200
Na escola; Ter um parque infantil, ter quadra de esporte, ter aula de
computação para todos da agrovila, ter uma piscina publica.
Ter curso de manicure para a comunidade.
A Alimentação da escola, ter arroz, feijão, saladas, legumes, carne, peixe e
suco natural.
Ter ventilador, pois a escola é muito quente.
Reformar o ônibus escolar, pois tem goteira quando chove e os bancos estão
estragados.
Construir uma nova ESCOLA!
Na horta da escola tem almeirão, couve, alface, cenoura, beterraba, cebolinha
e salsinha.
Na escola: Foi recebido muito livro esse ano.
No quintal da escola plantar mais árvores.
Melhoras o refeitório.
Ter telefone na Escola.
Arrumar sala do Pré.
No Assentamento da Agrovila III:
Ter horta para todos, saber da importância da verdura e legumes para manter
a saúde e ficar forte e precisamos experimentar de tudo da horta. Na horta
coletiva ter mais verdura e legumes, não deixar crescer o mato, não ter lixo e
proteger das galinhas e porcos.
Que o mercado volte a funcionar.
Voltar a aula de musica com o professor, para o núcleo Che Guevara. Ter
uma brinquedoteca.
Fazer uma praça, com muitas árvores e bancos.
Colocar energia elétrica nos lugares que ainda não tem, e quando chover
exigir que não falte energia.
Colocar iluminação no campo de futebol, pois a noite tem pessoas que faz
caminhada.
201
Ter mais crianças para brincar de outros lugares.
Que não seja jogado lixo no meio ambiente, não contar as arvores e matas,
cuidar das nascentes plantando arvores e não jogando lixo. As arvores
servem de abrigo para os pássaros e limpa o ar.
A organização do lixo depende de nós.
As crianças comer menos salgadinho e mais comida saudável.
Ter mais esporte para as meninas e meninos e fazer mais torneio de futebol.
Não devemos plantar eucalipto perto das nascentes.
Melhorar as casa e limpar os quintais, não ter água parada, falta embelezar
mais a comunidade com flores e arvores.
Fazer a separação do lixo no assentamento e o lixo orgânico colocarem nos
lotes para virar esterco e colaborar para não poluir mais.
Fazer passeio de ônibus com as crianças.
Posto de saúde: ter mais médicos; atendimento dentário que deveria ser no
postinho de saúde, pois para esse atendimento precisa ir para Itaberá ou
Itapeva, Itararé.
Melhorar a estrada, pois quando chove não é possível chegar à escola de
Engenheiro Maia, porque o ônibus não passa e se alguém fica doente, não
consegue ir para a cidade.
Agilizar a rede de esgoto.
Falta tratamento da água no assentamento.
Exigir que o Leiteiro da cidade de Itaberá para de soltar cachorro e gato no
assentamento!
Todos e todas devem colaborar, ajudando para conservar o assentamento, os
costumes, as lutas e a história.
202
ANEXO D - LETRA DAS MÚSICAS QUE AS CRIANÇAS CANTARAM DURANTE O
PROCESSO DE PESQUISA
Ai quando eu vim
da minha terra
Despedi da parentália
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaia
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes batáia,ai, ai
204
3-Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
206
ANEXO E – LEVANTAMENTO DE TESES E DISSERTAÇÕES
207
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra –
MST
15 Luiz Bezerra Avanços e retrocessos da educação rural UNICAMP D 2003
Neto no Brasil
16 Maria Cecília Extensão rural: novas perspectivas a UNICAMP M 1994
Masselli partir da situação de assentamento
17 Mauro Titton A organização do trabalho pedagógico na UFBA M 2006
formação de professores do MST:
realidade e possibilidades
18 Rosana Mara O projeto pedagógico do MST: a intenção UFBA M 2003
Chaves e o gesto
Rodrigues
19 Marize Souza Formação de professores frente as UFBA M 2003
Carvalho demandas dos movimentos sociais:
indicações para a universidade
necessária.
20 Maria Tereza O papel da escola no interior do MST no UFBA M 1994
Lemos Vilaça Extremo Sul da Bahia
21 Maria Nalva As contradições e as possibilidades de UFBA D 2007
Rodrigues construção de uma educação
Araújo emancipatória no contexto da luta pela
terra
22 Solange Helena Projeto político pedagógico para escola UFMA M 2003
Ximenes Rocha do campo: dialogando com Paulo Freire
23 Carlos Antonio Pedagogias que brotam da terra: um UFRGS D 2007
Bonamigo estudo sobre práticas educativas do
campo
24 Carlos Antônio Pra mim foi uma escola ... o princípio UFRGS M 2002
Bonamigo educativo do trabalho cooperativo
25 José Carlos da Conflitos e cooperação: escutas e UFRGS M 2004
Silva aprendências no assentamento Sinos
26 David Stival O processo educativo dos agricultores UFRGS M 1987
sem terra na trajetória da luta pela terra
27 Armando Cruz Sem escola sem terra: para uma UFRGS M 1994
sociologia da expropriação simbólica
28 Carla Patrícia O educativo das relações de gênero no UFRGS M 2003
Pinto Núñez assentamento Águas Claras: algumas
considerações sobre o tempo trabalho e
lazer .
29 Gelsa Knijnik Cultura, matemática, educação na luta UFRGS D 1995
pela terra
30 Nadir A pedagogia socialista e a formação do UFRGS D 2007
Casagrande educador do campo no século XXI: as
contradições da pedagogia da terra
31 Roseli Salete Escola é mais do que escola na UFRSG D 2000
Caldart pedagogia do Movimento Sem Terra
32 Neiva Marisa A trajetória da educação infantil no MST: UFRGS M 2001
Bihain de ciranda em ciranda aprendendo a
cirandar
33 Ivana Acunha Ocupar, resistir e produzir também na UFRGS M 2001
Guimarães educação: uma análise do discurso
pedagógico do MST
208
34 Neucélia Organização social e representação UFRGS M 2002
Meneghetti de gráfica: crianças da escola itinerante do
Pieri MST
35 Elli Beincá O senso comum pedagógico: práxis e UFRSG D 2002
resistência
36 Valter Morigi Escola do MST: uma utopia em UFRSG M 2003
construção
37 Marilda de Programa Nacional de Educação na UFRGS M 2005
Oliveira Costa Reforma Agrária: o curso da Pedagogia
da Terra, da Universidade do Estado de
Mato Grosso, Cáceres/MT
38 Arlete Feijó Historia de trabalhadores rurais cruzando- UFRGS M 2005
Salcides se no passado e no presente:
alfabetização de adultos - uma análise
das praticas de “colonizadores” e
“colonizados”
39 Marcelo de Instituto de Educação Josué de Castro: UFRGS M 2005
Faria Corrêa Paulo Freire e a Escola Diferente
Andreatta
40 Isabela Camini O cotidiano pedagógico de professores e UFRGS M 1998
professoras em uma escola de
assentamento do MST
41 Robinson Autogestão e educação popular: o MST USP D 1998
Janes
42 Sônia Aparecida MST, professores e professoras: Sujeitos USP D 2002
Branco em movimento
Beltrame
43 Irene Alves de Os aprendizados da prática coletiva: USP D 2003
Paiva assentados e militantes no MST.
44 Fernando Autonomia , cooperativismo e MST: UPS M 2003
Bonfim Mariana contribuições educativas para a
pedagogia de levante
45 Antonio Júlio Além da terra: cooperativismo e trabalho USP D 2003
de Menezes na educação do MST
Neto
46 Edvaneide Encontros e desencontros. A ação USP D 2008
Barbosa da política - pedagogia entre educadores e
Silva as famílias no assentamento Pirituba II –
Sudoeste paulista (1984 - 2008)
47 Antônio Cláudio Os Impactos do PRONERA no UNESP D 2004
Moreira Costa assentamento Reunidas: as relações
entre universidade x movimentos sociais
x governo federal
48 Antônio Claudio A educação de jovens e adultos UNESP M 1999
Moreira Costa trabalhadores sem terra: a experiência do
curso de magistério
49 Regina Sueli de Razão e movimento social: as UNESP D 2002
Souza radicalidades vividas do MST
50 Giovana de A alfabetização de jovens e adultos no UFMG M 2003
Souza MST, na perspectiva das variedades
Rodrigues lingüísticas.
51 Luzeni Ferraz Práticas de leitura de homens e mulheres UFMG M 2008
209
de Oliveira do campo: um estudo exploratório no
Carvalho assentamento Paulo Freire – Bahia
52 Luciana Os filhos da luta pela terra: as crianças UFMG M 2004
Oliveira Correia do MST- significados atribuídos por
crianças moradoras de um acampamento
rural ao fato de pertencerem a um
movimento social
53 Samuel Ramos Movimento, comunicação e linguagem na UFSC M 2003
da Silva educação de jovens e adultos no MST.
54 Gustavo O Movimento Sem Terra e a educação: UFSC M 2000
Sepúlveda trajetória dos educadores no projeto
político pedagógico da escola do
Assentamento, Abelardo Luz – SC
55 Evandro Costa A dimensão educativa da mística sem UFSC M 2002
de Medeiros terra: a experiência da Escola Nacional
Florestan Fernandes
56 Suzy de Castro As experiências educativas das crianças UFSC M 2001
Alves no acampamento Índio Galdino
57 Maurício José Da cultura como mediação `a mediação UFSC M 2000
Siewerdt como cultura política: um estudo de
recepção com educadores do MST frente
aos recursos audiovisuais
58 Joana Célia A escola do movimento e o movimento UFSC M 1997
dos Passos pela escola: um estudo sobre a escola do
assentamento Conquista de 5 de Maio -
Calmon /SC.
59 Célia Regina Ocupar, resistir e produzir – MST: uma UFSC M 1992
Vendramini proposta pedagógica
60 Naira Estela Formação para o trabalho no contexto do UFSC M 2006
Roesler Mohr MST
61 Deise Arenhart A mística, a luta e o trabalho na vida das UFSC M 2003
crianças do assentamento Conquista na
Fronteira: significados e produções
infantis
62 Sandra Luciana Trabalho, coletividade, conflitos e sonhos UFSC M 2002
Dalmagro : a formação humana no assentamento
Conquista da Fronteira
63 Vanderci Cooperação e trabalho na escola do MST: UFSC M 2001
Benjamin a cooperativa dos estudantes da Escola
Ruschel Agrícola de 1º Grau 25 de Maio
64 Ivana Maria Acampamento Manoel Alves Ribeiro: UFSC M 2005
Farias Gomes uma saída para o desemprego?
65 Moacir Trabalho e relações de gênero no UFSC M 2005
Francisco Pires assentamento Sepé Tiaraju
66 Rosângela Juventude e sexualidade no contexto UFSC M 2004
Steffen Vieira escolar de assentamentos do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra .
67 Natacha “Fuxicando” sobre a cultura do trabalho e UFSC M 2004
Eugênia Janata do lúdico das meninas – jovens –
mulheres de assentamentos do MST
68 Lyvia Maurício Desafios e possibilidades na educação de UFSC M 2006
Rodrigues jovens e adultos no contexto do
210
PRONERA.
69 Rosane da Etnomatemática e a calculadora em um UNISINOS M 2003
Silva Maestrí assentamento do Movimento Sem Terra
70 Helena Doria Atividades produtivas do Campo, UNISINOS M 2000
Lucas de Etnomatemática e a educação do
Oliveira Movimento Sem Terra.
71 Lillyan Pereira Ocupar , resistir e produzir também na UNIMEP M 2006
de Lima educação : uma analise da configuração
textual de um material didático produzido
pelo Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra.
72 Adelmo Iurczak Escola Itinerante: uma experiência de UTP M 2007
educação do campo no MST.
73 Margarete Um olhar sobre a experiência do UNIJUI M 2002
Terezinha Departamento Rural – DER; sonhos,
Sirena conflitos e aprendizagens.
74 Maria Nalva Da luta contra a exclusão e reinvenção da UNIFRAN M 2000
Rodrigues escola pública popular: a luta pela
Araújo escolarização no MST Bahia
75 Ruth Lenara A construção da identidade cultural- PUC-RS D 2004
Gonçalves política em escolas de assentamentos
Ignácio rurais do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra: a Escola Municipal do
Ensino Fundamental Nossa Senhora de
Fátima – Viamão/RS .
76 Claudia Dias Movimento dos Sem Terra: um estudo PUC -Rio M 2002
Mogrovejo sobre as idéias políticas religiosas de
algumas lideranças
77 Maria Jucilene Esperança e persistência:os significados PUC – MG M 2006
Lima Ferreira. da docência em um assentamento do
MST.
78 Antonia O PRONERA e a importância da PUC -SP M 2005
Fernandes da escolarização na visão de assentados
Silva Santos rurais do sertão do Estado de Sergipe
79 Fátima Maria A formação contínua do educador Sem UCSantos M 2006
dos Santos Terra em um assentamento: alcances,
limites e perspectivas
80 Claudia Pereira Escola Darcy Ribeiro: um assentamento UCDB M 2005
Xavier rural, uma história, muitos
olhares.reflexões sobre a identidade e as
implicações na formação docente - uma
professora , uma experiência, um
aprendizado
81 Romofy Bicalho Alfabetização de jovens e adultos nos UFF M 2003
dos Santos acampamentos e assentamentos do MST
na Baixada Fluminense
82 Celso Acácio Experiências sócias – educativas na UFF M 2004
Galaxes de formação da consciência dos sem terra
Almeida de Campos de Goytacazes
83 Roberta Maria A dialética do trabalho no MST: a UFF D 2005
Lobo da Silva construção da Escola Nacional Florestan
Fernandes.
211
84 Marli de Fátima Da luta pela educação à educação na UFF M 1999
Rodrigues luta: memórias, narrações e projetos de
assentamentos e projetos dos assentados
e professores do MST na fazenda
Giacometi
85 Edna Castro de Os processos de formação na educação UFF D 2005
Oliveira de jovens e adultos: a “panha” dos
girassóis na experiência do PRONERA
MST/ES.
86 Regina Célia Educação de líderes dirigentes de UnB M 1992
Corbucci trabalhadores rurais: um estudo do
discurso sindical
87 Isabel O tornar – se sem terra na contradições UnB M 2004
Christiani de um acampamento /assentamento do
Susnday Berois MST: a experiência de Oziel Alves II
88 Mônica A contribuição do PRONERA na UnB D 2003
Castagna construção de políticas públicas de
Molina educação do campo e desenvolvimento
sustentável
89 Josué Viana O processo de alfabetização de jovens e UnB M 2003
Alvarino adultos nos assentamentos da reforma
agrária na região extremo - norte /ES
90 Joselita A dimensão educativa da mística na luta UFPB M 2003
Ferreira de Lima política do MST
91 Rita de Cássia Aprendizes da terra: a voz e a resistência UFPB M 2002
Cavalcante do MST na Paraíba
92 Rita de Cássia Os sem terra e o desejo de aprender UFPB M 2000
Curvelo da silva
93 Lauro Pires Projeto histórico – socialista e a escola UFPB M 2005
Xavier Neto do MST: possibilidade – realidade frente
ao projeto histórico – capitalista
94 Vera Lúcia de Dimensão política e educativa da música UFPB M 2004
Lima Silva na luta pela terra: aprendendo e
ensinando uma nova lição
95 Sávia Cássia Semeando educação do campo: a UFPB M 2004
Francelino experiência da I Turma de Magistério
Ribeiro Norte/Nordeste do MST. Elizabeth
Teixeira
96 Débora Regina Educação do Campo: o casso do UFPB M 2000
de Oliveira assentamento Dona Helena
Fernandes
96 Maria Neuma Educação ambiental nos assentamentos UFPB D 2006
Clemente do MST
Galvão
97 Isaura Maria de O trabalhador com (d)eficiência física na UFPB M 2002
Andrade da área de assentamento rural
Silva
98 Lucicléa A formação política de educadores e UFPB M 2006
Teixeira Lins educadoras do MST.
99 Marcos Aurélio Teatro – educação: uma experiência com UFPB M 2000
Montenegro um movimento rural, elaborada
Batista
212
100 Nohemy Caminhos e descaminho na construção UFC M 1995
Rezende Ibanez de uma práxis educativa entre pequenos
produtores rurais assentados e técnicos
101 Sandro Soares Eventos de letramento e portadores UFC M 2002
de Souza textuais: a educação de jovens e adultos
sem terra na assentamento Che Guevara
do MST ( Ocara/CE)
102 Daniely Spósito Somos o que podemos ser, sonhos que UFC M 2003
Pessoa de Melo podemos ter: o conceito de sociabilidade
no grupo de jovens do assentamento
Pedro Inácio – Camarazal /Pernambuco .
103 Celecina de Criações coletivas da juventude no UFC D 2003
Maria veras campo político: um olhar sobre is
Sales assentamentos rurais do MST.
104 Maria das Dores Participação: ainda uma trilha na reforma UFC M 2002
Ayres Feitosa agrária do Ceará: o Assentamento Santa
Bárbara.
105 Maria Iolanda A construção da identidade coletiva dos UFC M 2000
Maia Holanda sem terra: um estudo a partir do cotidiano
dos alunos do PRONERA.
106 Alessandro Quando “trabaio” é “ensinação pra rude “ UFC D 2006
Augusto de e estudo é bom “pro cabra” consegui em
Azevedo prego melhor: falas, representações e
vivencias de educação escolar
107 Liana Brito de Sociabilidade no assentamento rural de UFC D 2006
Castro Araújo Santana: terra e trabalho na construção
de ser social
108 Sandra Maria Educação na reforma agrária: PRONERA, UFC D 2006
Gadelha de uma políticas pública?
Carvalho
109 Marcelo Pereira O Lúdico e o revolucionário no Movimento UFPE M 2002
de Almeida dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: a
Ferreira prática pedagógica no encontro dos sem
terrinha
110 Simone Maria MST e educação: perspectivas de UFPE M 2003
de Souza construção de uma nova hegemonia
111 Nadir O processo de trabalho pedagógico no UFPE M 2001
Casagrande MST: contradições e superação no campo
da cultura.
112 Vânia Cristina Educação do Campo: demandas dos UFPG M 2006
Pauluk de Jesus trabalhadores
113 Liane Vizzotto Educação do campo – limites e UFPR M 2007
Vendrame possibilidades da Proposta de Concórdia
a partir da concepção de escola unitária
de Gramsci
114 Fabiano Trabalho e educação do campo; evasão UFPR M 2006
Antonio dos da juventude nos assentamentos de
Santos reforma agrária – O caso do
assentamento José Dias
115 Deise Fontana Adaptações do ensino de matemática: UFPR M 2006
uma análise de pratica dos educadores
do campo
213
116 Fernando José Ocupação da escola e gestão UFPR M 2004
Martins democrática: limites e possibilidades a
partir da prática educacional realizada em
acampamentos e assentamentos do MST
117 Cecília Maria A formação dos educadores no espaço UFPR M 2007
Ghedini dos movimentos sociais: um estudo da I
Turma de Pedagogia da Terra da Via
Campesina / Brasil.
118 Everton Fêrrêr Colaboração educacional como princípio UFSM M 2001
de Oliveira educativo gerador de ações educativas
críticas na formação de professores da
educação básica do campo.
119 Vilmar Bagetti Educação, movimentos sociais e UFSM M 2000
formação de professores: o projeto CUIA
no contexto da reforma agrária.
120 Darlan Faccin Que fazer pedagógico em acampamento UFSM M 2000
Weide de reforma agrária no Rio Grande do Sul
121 Paulo Roberto MST, habitus e campo educacional: UFRN D 2004
Palhano Silva plantando sementes de uma educação
libertadora
122 Gilberto A construção da identidade na formação UFRN M 2006
Ferreira Costa do professor: um olhar sobre os alunos do
curso de Pedagogia da Terra na UFRN
123 Hiramisis Paiva Educação e Sustentabilidade: UFRN D 2005
de Paula Assentamento Maria da Paz – João
Câmara/RN
124 Sônia Meire Navegar é preciso: viver é traduzir rumos UFRN D 2003
Santos Azevedo e rotas do MST .
Jesus
125 Maria José O processo formativo - educativo dos UFRN D 2006
Nascimento trabalhadores rurais do MST/SE: a prática
Soares pedagógica dos monitores – professores .
126 Sidiney Alves Os sem terra e a educação: um estudo UFSCAR M 2002
Costa de tentativa de implementação da
proposta pedagógica do MST em escolas
de assentamentos no estado de São
Paulo
127 Maria Tereza Jovens sem terra: identidades em UFSCAR D 1999
Castelo Branco movimento.
128 Célia Regina Terra, trabalho e educação: experiências UFSCAR D 1997
Vendramini sócias- educativas em assentamentos do
MST.
129 Adelar João As escolas de assentamentos no Espírito UFES M 2001
Pizetta Santo: da história do MST a formação e
práxis dos professores
130 Eliéser Toretta Pedagogia da Terra: a formação do UFES M 2006
Zen professor sem terra...
131 Sônia Mara A pedagogia do MST: para além do seu UFMS M 2001
Flores da Silva próprio movimento
Porfírio
132 Cláudio Freire A terra e o homem. A luta dos sem terra UFMS M 1995
de Souza e a educação nos assentamentos do sul
214
do Mato Grosso do Sul.
133 Maria José Um estudo da proposta de educação do UEM M 2000
Castelano MST
134 Kiyomi Hirose A mística e a educação do MST da UEM M 2004
região do noroeste do Paraná
135 Ingrit Roselaine A educação no contexto histórico de um UFPEL M 2001
Diekow assentamento de reforma agrária no RS
136 Elizabete da A emancipação sócio – educativa de UFPEL M 2004
Silveira Ribeiro trabalhadores e trabalhadoras rurais sem
terra na região de Herval: a reinvenção da
vida entre o sonho e a enxada
137 Andréia Como sujeitos que vivenciaram o UFPEL M 2004
Barbosa dos processo de alfabetização de adultos
Santos representam sua nova identidade:
reflexões acerca de elementos que
constituem a transição do deixar de ser
analfabeto para ser alfabetizado
138 Lílian Lorenzato O que a universidade pode fazer por UFPEL M 2002
Rodriguez nós? Desenvolvendo ações colaborativas
com os professores no processo de
construção de uma escola pública no
assentamento rural Conquista de
Jaguarão
139 Lílian de Castro Santos do céu, santos na terra: UFG M 2003
Junqueira implicações sócio-educativas da
pentecostalização de assentamentos
rurais em Goiás
140 Margarete Sueli Memória coletiva em assentamentos UFG M 2002
Bertti rurais goianos
141 Ineiva Religião e educação: a face (re)veladora UFG M 1999
Terezinha do movimento rural
Kreutz
142 Luzia Antônia A educação da infância entre os UFG M 2002
de Paula Silva trabalhadores rurais sem terra.
143 Ari Lazzarotti O processo educativo da luta pela terra UFG M 2000
Filho
144 Lindalva M. Educação escolar no MST: UFG D 2006
Novaes Garske Intencionalidade pedagógica e políticas
145 Nilva Maria Uma escola para crianças e jovens no UCG M 2003
Gomes de campo: desafios, perspectivas e
Coelho repercussões da LDB nos assentamentos
Che Guevara (Itaberaí ) e São Domingos
(Morrinhos ) em Goiás
146 Jocenaide Manifestações artísticas do MST: UFMT M 2000
Maria Rossetto educação, identidade e cultura.
Silva
215
ANEXO F – JORNAL DO NÚCLEO CHÉ GUEVARA
216
217