Uma análise sobre o quarto evangelho
O evangelho segundo João
O quarto evangelho é chamado de evangelho espiritual de João, pois não é sinótico. Ele difere em muitos
pontos das narrativas dos outros três evangelhos. Este evangelho só foi aceito como canônico, isto é, para
fazer parte do cânon por causa de Irineu, bispo de Lion do segundo século, que queria que os evangelhos
fossem quatro, porque a terra tem quatro cantos, quatro pontos cardeais etc....
Inicialmente, este evangelho sofreu rejeição pelos pais da igreja e bispos do primeiro século. primeiro
devido a sua autoria, que apesar de ser atribuído a João, é questionável, pois o apocalipse, escrito pelo
mesmo autor, João se identifica na primeira pessoa: "Eu, João, que tmabém sou vosso irmão.... " Ap 1,9 ;
o que não acontece neste evangelho. A única identificação mencionada neste evangelho, no capitulo 21, o
autor se identifica como o discípulo que Jesus amava, o que também desqualifica ser João, porque João
não era discípulo, era apóstolo. E havia um discípulo que Jesus amava, narrado no mesmo livro, chamado
Lazaro. Este é provavelmente seu autor.
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Segundo que este evangelho omite fatos importantes da vida de Jesus e expõe outros igualmente
importantes, que não foram mencionados pelos sinóticos. O evangelho segundo João, foi compilado, ou
seja, vários manuscritos atribuidos ao mesmo autor, foram todos copiados em um livro/rolo só. Isso explica
a falta de ordem cronológica do livro. Logo na caítulo 2 Jesus esta fazendo sua entrada triunfal em
Jerusalém e nos capítulos seguintes vemos Jesus na Judéia e Galileia, o que contradiz a narrativa dos
sinóticos.
Certas expressões e elementos presentes no quarto evangelho, desde o ínicio da igreja, foram
observados como elementos não judeus. Talvez o autor tivesse sofrido uma influência gnóstica ou do
helenismo romano. Quando Jesus chama sua mãe de "Mulher", no capítulo 2, por exemplo, pela halachá
judaica da época isso seria uma blasfêmia! Estes elementos foram motivos de discussões e discórdias
acerca deste evangelho.
Um dos principios básicos de hermeneutica e interpretação, é de que um livro bíblico, por ser inspirado,
não pode contradizer outro livro. Teólogos cristãos sempre harmonizam as contradições, por mais que
pareçam impossíveis. Um exemplo clássico neste evangelho é o caso dos samaritanos, que segundo
Lucas, Jesus não entrou na aldeia dos samaritanos, ao ponto dos apostolos quererem pedir fogo do céu
para puni-los (Lc9, 52-55). Segundo Mateus, Jesus ordena que eles não entrem em aldeias de
samaritanos (Mt 10,5). e segundo João, Jesus não só entra na aldeia dos samaritanos, como é bem
recebido e permanece ali por dois dias (Jo 4,40). Os teologos para harmonizar esta contradição dizem que
foram duas vezes e em vilas diferentes. Mas é estranho a omissão acerca disso. Nem João menciona ser
uma segunda vez e nem os outros. O autor de João da a entender que ele, Jesus foi bem recebido pelos
samaritanos e omite as rejeições mencionadas pelos outos sinóticos. Que por sua vez omitem essa
aceitação só notada por João.
Até a traição de judas é omitida no quarto evangelho, pois segundo o autor, Jesus mesmo se apresenta e
se identifica, omitindo o sinal de judas e até sua traição.
"Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem
buscais? Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava
com eles. Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra.Tornou-lhes, pois, a perguntar:
A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno.Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois,
me buscais a mim, deixai ir estes; Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me
deste nenhum deles perdi" (Jo 18, 4-9)
Frases ditas por Jesus neste evangelho se contradizem. Ora Jesus diz que não veio julgar o mundo, ora
diz que julga:
"E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para
salvar o mundo." (João 12 : 4) "Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo." (João 8 : 15)
"E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo;" (João 5 : 22)
"Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo porque não busco a
minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou." (João 5 : 30)
Ora diz que não testifica de sí mesmo, ora diz que se testefica de sí mesmo seu testemunho é verdadeiro."Se eu
testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro; Há outro que testifica de mim, e sei que
o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro." (João 5 , 31- 32)
"Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de
onde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou." (João 8 : 14) Esses são apenas
alguns exemplos, que ao analisarmos mais detalhadamente, percebemos essas contradições. Algumas
vezes percebemos que não parecem ser do mesmo autor, pois isso torna o messias incoerente. Por isso
esse evangelho não é considerado sinótico, pois difere dos outros evangelhos e contradiz a sí mesmo em
alguns pontos.
É o evangelho que mais contém acréscimos, como a mulher adultera, de João 8. E é também o que mais
tem passagens que se assemelham a escritos pagãos, como a introdução que parece que não havia
originalmente, ou a mulher do poço, por exemplo. A introdução do evangelho é idêntica a um veda Hindu
de no minimo uns 3 mil anos antes. Ai muitos dizem que é obra se satanás, ou que o veda é uma fraude.
Na verdade, basta perguntar a um hindu, pois o hinduismo é uma das religiões mais antigas do mundo e
existem diversas comunidades de hinduismo no Brasil. Na idade média não era fácil comprovar uma
alegação dessa. Mas hoje com a internet, basta uma rápida pesquisa que encontramos toda informação
nescessária.
Frases que só aparecem neste evangelho, como "Meu reino não é deste mundo", ou "Na casa de meu pai
tem muitas moradas" já serviram de base para diversas teorias, das mais absurdas as mais geniais, e
estranhamente, Jesus só diz tais frases neste evangelho. A simplicidade dos sinóticos é quebrada por
este evangelho que mostra um Jesus mais mistico, com ensinamentos mais espiritualizados e com
frases mais interiorizadas, como "Antes que abraão existisse, eu sou"
É o evangelho mais utilizado pelos trinitaristas, pois como dito anteriormente, neste evangelho, jesus
aparece de uma forma mais mistica, se igualando ao pai, como por exemplo : "Eu e o pai somos
um", frase apenas dita segundo este evangelho, e mesmo que no contexto, ser Um não signifique ser o
mesmo (basta ver João17) ainda assim, neste evangelho vemos um messias mais divinizado, se
igualando ao pai e mais dizarmonico com os conceitos judeus da época.
Quando você ve qualquer comparação de Jesus com messias pagãos, em sites ateus como zeitgeist,
nota-se que sempre é o evangelho de João que é utilizado nessas comparações. Pois seu estilo de escrita
e a forma como apresenta Jesus, difere e em muito da forma como os sinóticos apresentam o Messias.
Para chegarmos a essência do evangelho de João, devemos sempre compara-lo com os sinóticos e com
os demais livros da bíblia. Talvez o evangelho original fosse bem menor do que o que temos hoje, mas
como foi compilado e acrescido, tornou-se assim. Por isso eu utilizo a essência deste evangelho, o que é
original. É claro que boa parte do evangelho foi escrita pelo mesmo autor e que não podemos negar sua
inspiração divina. Mas devemos analisar bem suas passagens, pois conforme já dito, um livro por ser
inspirado não pode contradizer outro livro e muito menos a sí mesmo. Esta postagem é só para reflexão
e análise. Não é uma crítica e nem para desmerecer a escritura, mas apenas para os que estudam a
palavra, levarem em consideração estes pontos que divergem.
Boa reflexão a todos!