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Livro O Cuidado Na Multidimensionalidade Do Envelhecimento Humano Meritos Editora 2015

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Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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1

2
o cuidado
na multidimensionalidade
do envelhecimento humano

3
Conselho Editorial Internacional de Ciências Humanas Méritos Editora

Alessandro Batistella
Doutorando em História (UFRGS) / prof. na UPF / Brasil

Arisa Araújo da Luz


Doutora em Educação (Unissinos) / profa. na UERGS / Brasil

Elio Masferrer Kan


Doctor en Antropología (ENAH) / prof. en la Escuela Nacional de Antropología e Historia / México

Elzbieta Budakowska
Doctor of Sociology (University of Warsaw) / profa. in the same institution / Poland

Gerson Wasen Fraga


Doutor em História (UFRGS) / prof. na Universidade Federal da Fronteira Sul / Brasil

Gilmar Mantovani Maroso


Doutor em História (PUCRS) / prof. na Universidade Luterana do Brasil

Jaime Giolo
Ph.D. em Educação Superior Brasileira (Unicamp) / prof. na Universidade Federal da Fronteira Sul

João Carlos Tedesco


Ph.D. em Ciências Sociais (Università degli Studi di Milano) / prof. na UPF / Brasil

Luiz Carlos Tau Golin


Ph.D. em História (Universidade de Lisboa) / prof. na UPF / Brasil

Nadir Antonio Pichler


Doutor em Filosofia (PUCRS) / prof. na UPF / Brasil

Thaís Janaina Wenczenovicz


Ph.D. em História (UFRGS e Instytut Studiów Iberyjskich i Iberoameryka) / profa. na UERGS / Brasil

Valentina Ayrolo
Doctora en Historia (Univ. Paris I, Panthéon-Sorbonne) / profa. en la Univ. Nacional de Mar del Plata / Argentina

4
Silvana Alba Scortegagna
Nadir Antonio Pichler
Luiz Antonio Bettinelli
Ana Maria Belloni Migott
(Organizadores)

o cuidado
na multidimensionalidade
do envelhecimento humano

– Série Gerontologia 5 –

5
© 2015
Livraria e Editora Méritos Ltda.
Rua do Retiro, 846
Passo Fundo, RS, CEP 99074-260
Fone/fax: (54) 3313-7317
Página na internet: www.meritos.com.br
E-mail: [email protected]

Charles Pimentel da Silva


Editor
Jênifer Bastian Hahn
Assistente de revisão

Importante: As opiniões expressas neste livro, que não sejam as es-


critas pelos organizadores em seus capítulos, não representam ideia(s)
destes. Cabe, assim, a cada autor a responsabilidade por seus escritos.

 Todos os direitos reservados e protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998.


Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora ou
do(s) autor(es), poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os
meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer
outros.

C966 O cuidado na multidimensionalidade do envelhecimento


humano / organizado por Silvana Alba Scortegagna,
Nadir Antonio Pichler, Luiz Antonio Bettinelli, Ana
Maria Belloni Migott. - Passo Fundo: Méritos, 2015.
280 p.

1. Gerontologia 2. Qualidade de vida 3. Atividade física


3. Envelhecimento - Cuidados - Saúde 4. Nutrição 5. Saúde
Men tal I. Scortegagna, Silvana Alba, (org.) II. Pichler,
Nadir
Antonio (org.) III. Bettinelli, Luiz Antonio, (org.) IV. Migott,
Ana Maria Belloni, (org.)
CDU: 613.98
Catalogação na fonte: bibliotecária Marisa Miguellis CRB10/1241

ISBN 978-85-8200-045-8

6
Sumário

Apresentação: Cuidado e empatia


Os organizadores............................................................................................................................................... 11

Em busca de um envelhecimento ativo e os


cuidados à saúde do idoso, através da
atividade física
Vanderléia Menegali Moojen Berti,
Ana Maria Belloni Migott................................................................................................................ 17

Algumas reflexões sobre os aspectos biopsicosso-


ciais e bioéticos no cuidado de idosos
Gerson Luis Urnau, Luciano Luis Alt,
Debora Falk Lopez Boscatto ......................................................................................................... 27

Cuidados paliativos e a fisioterapia


Julia Pancotte, Lia Mara Wibelinger,
Marlene Doring................................................................................................................................................ 39

O cuidado e as competências dos cuidadores


em instituições de longa permanência
Claudia Daiane Trentin Lampert, Silvana Alba Scortegagna,
Cristina Ribas Teixeira........................................................................................................................... 47

Síndrome da fragilidade do idoso e a interface


com o cuidado nutricional
Jaqueline Stürmer, Luana Ferrão, Luiz Antonio Bettinelli................ 59
7
Estética corporal: reflexões sobre o cuidado
no exercício físico com o idoso
Márcia Mello, Susan Vargas Parizzi, Nadir Antonio Pichler..... 75

Qualidade de vida e cuidados com a alimentação


ao envelhecer
Jocasta Gabriela Gehlen, Franciele Gianchini Esmerio,
Nadir Antonio Pichler ........................................................................................................................... 85

Atenção multiprofissional em cenários de


cuidados de longa duração
Eduarda Brum Guedes Salcher, Marilene Rodrigues Portella,
Helenice de Moura Scortegagna................................................................................................. 95

Bem-estar subjetivo e o cuidado na velhice


Cristina Ribas Teixeira, Silvana Alba Scortegagna,
Claudia Daiane Trentin Lampert.......................................................................................... 105

Um olhar de cuidado sobre a saúde mental


de idosos
Desirê Neuwald P. Hagen, Helenice de Moura Scortegagna......... 115

A fisioterapia no cuidado paliativo de pacientes


com neoplasia maligna afetados pela síndrome
de imobilismo
Régis Brum Nunes, Marcelo Biazus, Cleide Fátima Moretto...... 123

Cuidado no estado nutricional de indivíduos


cardiopatas
Vandressa Bristot, Ana Luisa Sant’Anna Alves, Camila Pereira
Leguisamo................................................................................................................................................................... 141

Atividade física como prevenção e cuidado à


saúde de idosos com diabetes mellitus tipo 2
Alisson Padilha de Lima, Tânia Rosane Bertoldo Benedetti,
Camila Pereira Leguisamo ............................................................................................................. 151
8
Cuidados à neuropatia diabética no contexto
do envelhecimento humano
Daniel Lima Varela, Luma Zanatta de Oliveira,
Camila Pereira Leguisamo................................................................................................................ 161

O cuidado ao paciente de cirurgia cardíaca:


papel da fisioterapia
Débora D´Agostini Jorge Lisboa, Patrícia De Carli Tonial,
Eliane Lucia Colussi.................................................................................................................................. 177

Intervenções de cuidado e educação no


controle da hipertensão arterial
Lili Wilke Klaesener, Marilene Rodrigues Portella,
Ana Maria Bellani Migott............................................................................................................... 189

Hábitos alimentares: um cuidado essencial


no diabetes mellitus
Maria Cristina Zanchim, Ana Carolina Bertoletti De Marchi,
Vanessa Ramos Kirsten .......................................................................................................................... 199

Eletroestimulação por microcorrente no


cuidado ao idoso com úlcera de pressão
Lauana D’Avila Eidelwein, Helenice de Moura Scortegagna..... 213

Treinamento com jogos de realidade virtual


para diminuir o declínio cognitivo em idosos
Fhaira Petter da Silva, Pablo Pasqualotti,
Adriano Pasqualotti...................................................................................................................................... 225

O cuidado ao paciente com câncer de próstata


Luana Ferrão, Jaqueline Stürmer, Luiz Antonio Bettinelli................ 235

Uso de ervas medicinais no cuidado ao idoso:


revisão narrativa da literatura
Sinara Guzzo Chioquetta, Helenice de Moura Scortegagna,
Barbara Leticia Dudel Mayer................................................................................................... 253

Sobre os autores............................................................................................................................ 269


9
10
Apresentação:
Cuidado e empatia

Silvana Alba Scortegagna


Nadir Antonio Pichler
Luiz Antonio Bettinelli
Ana Maria Belloni Migott

A Fábula-mito do Cuidado é de origens grega e romana.


Acredita-se que foi compilada pelo pensador romano Caio Júlio
Higino, na obra Fábulas ou Genealogias. Leonardo Boff, no livro
Saber cuidar – Ética do humano e compaixão pela terra, editora
Vozes, traduz do latim a “Fábula-mito de Higino”, ou “Fábula-
-mito do Cuidado”, da seguinte forma:

Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de bar-


ro e teve uma inspiração. Pegou no barro e começou a dar-lhe
forma. Enquanto contemplava a sua obra, apareceu Júpiter e
Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito sobre ela. Júpiter assim
fez. Mas, quando Cuidado quis dar um nome à criatura que ti-
nha moldado, Júpiter proibiu-o e exigiu que fosse imposto o seu
nome. Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente,
a Terra. E ela também quis conferir o seu nome à criatura, pois
esta foi feita de barro, material do seu corpo. Originou-se uma
discussão generalizada. Finalmente, de comum acordo, pediram
a Saturno que fosse o árbitro nesta questão. Saturno tomou a se-
guinte decisão: Tu, Júpiter, deste-lhe o espírito. Receberás, pois,
o espírito de volta por ocasião da sua morte. Tu, Terra, deste-lhe
o corpo. Receberás, portanto, de volta o corpo quando ela morrer.
Mas, como tu, Cuidado, moldastes a criatura, ela ficará sob os
teus cuidados, enquanto viver. E ela se chamará Homem, isto é,
feito de húmus, que significa terra fértil.

11
A natureza do cuidado original, essencial, primordial e subs-
tancial reside, sobretudo, na dimensão do pathos, dos sentimentos,
na capacidade humana de procurar colocar-se no lugar do outro.
Partindo desses pressupostos, esta Apresentação discorre
sobre alguns fundamentos que permeiam o cuidado, seu caráter
ontológico, a empatia e a felicidade. Na sequência, apresenta con-
tribuições de vários autores, discentes, docentes e colaboradores,
para elucidar e ampliar o conhecimento sobre essa temática.

Cuidado e seu caráter ontológico

Em sentido específico, para Boff (2014), o cuidado encontra-


-se na raiz profunda da condição humana, porque possui um
caráter ontológico, isto é, é algo primeiro, como um princípio,
do qual tudo provém e encontra sentido, pelo fato de, conforme
o mito-fábula, o Cuidado ter moldado a pessoa, tornando-se
responsável por ela. Por isso, o cuidado com a pessoa idosa vai
além dos procedimentos técnicos, dos instrumentos sofisticados e
dos conhecimentos, habilidades e competências das racionalidades
científicas e filosóficas. A razão instrumental consegue concretizar
o cuidado na dimensão do fazer, do financeiro e da técnica. Sua
racionalidade é procedimental, analítica, matemática, quantitativa,
essencial para administrar o modo de ser trabalho, pautado na
lógica da produção, circulação, distribuição e consumo de bens e
serviços. A dimensão do cuidado considera, ainda, a pessoa idosa
na sua totalidade, integridade, historicidade, temporalidade e
existencialidade, interretroconectada com a Terra e todos os seus
ecossistemas, com os outros, com o mundo, com o ser superior.
Cada pessoa idosa possui uma história de vida, um caminho
peculiar, único, percorrido de acordo com éthos local, social e cul-
tural herdados, incorporados e concretizados no decorrer de sua
existência, que ainda está em construção, porque o humano é um
ser inconcluso, inacabado, totalmente perfectível. Cada época, cada
geração, produz e reproduz, de forma incessante, ao seu modo,
seus valores, seus referenciais para a execução do projeto de vida
pessoal, social, profissional, cultural e espiritual.
12
As razões para viver, a busca da felicidade individual e co-
letiva das pessoas idosas, foram e são construídas e legitimadas,
de acordo com o caldo cultural, com a formação cultural que
receberam de suas instituições, principalmente da família, escola,
igreja, estado, mídia e mercado. Por isso, é possível deduzir e
afirmar que a pessoa é o que foi, sendo sua vida um resultado de
escolhas conscientes e inconscientes, de acordo com o paradigma
de cada época. Logicamente, as múltiplas patologias, principal-
mente as degenerativas crônicas, por serem adquiridas, podem
ser enquadradas nessa ótica.
Essa condição existencial de ser-no-mundo, com-o-mundo
e para-o-mundo situa-se e encontra-se sempre em construção,
passível, naturalmente, de qualidades e defeitos, de acertos e erros,
de realizações, conquistas, frustrações, de escolhas irracionais, de
carência de cuidado com o corpo, com a mente, com o espírito,
com as coisas. Nesse sentido, o cuidado, como um modo-de-ser,
com suas múltiplas dimensões, requer dos profissionais das áreas
das ciências humanas, da vida e da saúde, num sentido amplo, zelo,
leveza, compaixão, preocupação, responsabilidade, criatividade,
afetividade, atratividade, inquietude, solicitude, atitude, huma-
nização, hospitalidade, empatia, tanto para conduzir o cuidado
para com o outro quanto para consigo mesmo, e logo à felicidade.

Empatia, condições para o cuidado


e para o bem-estar subjetivo

A empatia é definida como uma resposta emocional que de-


riva da percepção ajustada e apropriada do estado ou condição de
outra pessoa, sendo congruente com essa situação (Eisenberg;
Strayer, 1987; Moore; Fine, 1992). Para Moore e Fine
(1992), a empatia difere dos fenômenos relacionados à piedade e
à simpatia, aos quais faltam objetividade e ocorre o incentivo de
identificações excessivas.
Esse constructo multidimensional complexo, envolve os se-
guintes componentes afetivos: i) partilhar e responder à experiência
emocional dos outros; ii) componentes cognitivos: compreeder
13
as intenções e perspectivas dos outros; iii) aspectos relacionados
à avaliação moral: julgar ações incorretas ou na punição de um
criminoso (Decety; Jackson, 2004; Decety et al., 2012).
Inclui a capacidade de compartilhar e compreender a experiência
subjetiva dos outros com referência a si-mesmo (Decety, 2011),
condição essencial para a interação humana, para a qualidade
dos relacionamentos com os outros, para a satisfação e bem-estar
subjetivo (Wei et al., 2011).
É importante destacar que a empatia não traz apenas bene-
fícios para a pessoa que é cuidada, que se sente escutada, aco-
lhida, mas também para quem dirige a ação cuidativa, já que o
bem-estar subjetivo é um termo científico utilizado para definir
o que as pessoas experimentam como felicidade (Seligman;
Csikszentmihalyi, 2000). Mehrabian (2000) sugeriu que
a empatia em relação aos outros aumenta o bem-estar subjetivo,
impulsiona o relacionamento interpessoal e conduz ao sucesso na
vida. Quando as pessoas são empáticas com os outros, as que são
acolhidas se sentem gratificadas e podem manifestar sentimentos
de gratidão em resposta. Isso pode auxiliar as pessoas a se sentirem
conectadas com os outros e a experimentarem felicidade. Desse
modo, pessoas que são empáticas podem sentir que são gentis
em relação aos outros e estão fazendo algo bom, e, por sua vez,
resultar em sentimentos positivos, de felicidade. Portanto, empatia
para com os outros é suscetível de ser associada com o aumento
da satisfação com a vida, com a felicidade e com o afeto positivo.
Assim, este livro, O cuidado na multidimensionalidade do en-
velhecimento humano, discute o cuidado na multidimensionalidade
no processo do envelhecimento humano a partir de múltiplas
experiências profissionais e de diversas pesquisas. Os capítulos são
oriundos, também, das discussões ocorridas nas aulas da disciplina
de Cuidado na Multidimensionalidade do Envelhecimento Humano,
realizada no semestre de 2014, do mestrado em Envelhecimento
Humano da Universidade de Passo Fundo.
Os organizadores e os autores desta obra desejam a todos
uma boa leitura!

14
Referências
Boff, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela
terra. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
Decety, J. The neuroevolution of empathy. Ann. N.Y. Acad. Sci.
1231, 35-45, 2011.
_____ .; Cowell, J. M. The complex relation between morality and
empathy. Trends Cogn. Sci. 18, 337-339, 2004.
Decety, J.; Michalska, K. J.; Kinzler, K. D. The contri-
bution of emotion and cognition to moral sensitivity: a neurodevelo-
pmental study. Cereb. Cortex, 22, p. 209-220, 2012.
Eisenberg, N.; Strayer, J. Critical issues in the study of em-
pathy. In: Eisenberg N.; Strayer J. (Orgs.). Empathy and its
development (p. 3-13). Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
Mehrabian, A. Manual for the balanced emotional empathy scale
(BEES). (Available from Albert Mehrabian, 1130 Alta Mesa Road,
Monterey, CA, USA 93940), 2000.
Moore, B.E.; Fine, B.D. Terminos y conceptos psicoanalíticos.
Biblioteca Nueva, 1997.
Seligman, M. E. P.; Csikszentmihalyi, M. Positive psycho-
logy: an introduction. American Psychologist, 55, 5-14, 2000.
Wei, M.; Liao, K. Y.; Ku, T.; Shaffer, P. A. Attachment, self-
compassion, empathy, and subjective well-being among college stu-
dents and community adults. Journal Personality, 79, 191-221, 2011.

15
16
Em busca de um
envelhecimento ativo e
os cuidados à saúde do idoso,
através da atividade física

Vanderléia Menegali Moojen Berti


Ana Maria Belloni Migott

Introdução

Preservar a qualidade de vida dos idosos tornou-se uma


tarefa multi e interdisciplinar constante, diante dos desafios que
esta população requer. Os avanços científicos e tecnológicos têm
crescido aceleradamente, no entanto, isto não parece ser sufi-
ciente para atenuar as consequências e o aumento das demandas
em saúde para uma população que vem envelhecendo e tendo
também sua expectativa de vida aumentada. Essa realidade vem
expressa em estimativas alertando que, até 2025, o Brasil ocupará
o sexto lugar no ranking mundial em número de idosos e deverá
ter 15% da sua população constituída por essa faixa etária (Ibge,
2000; 2012).
O Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso consi-
deram como população idosa as pessoas com 60 anos ou mais.
Em nível mundial, está ocorrendo uma revolução demográfica,
onde os grupos de idosos estão crescendo em relação aos de ou-
tras faixas etárias. Um agravo a essa realidade é expressado pelo
Centro Nacional de Estatística para a saúde, ao estimar que 84%
das pessoas com idade igual ou superior a 65 anos são depen-
17
dentes para realizar tarefas cotidianas. Também há estimativas
de que a população muito idosa, aí incluídas as pessoas de 80
anos ou mais, crescerá ainda mais, porém com algumas doenças
e comorbidades associadas, o que resultará em dependências, em
especial, relativas ao movimento.
Diante desta percepção, há de se pensar no que e como fazer
para atenuar as possíveis consequências que virão por conta do
processo de envelhecimento dependente. O declínio natural – que
na maioria das vezes vem acompanhado de inúmeras doenças
crônicas, déficit cognitivo, aumento do uso de medicamentos
prescritos – piora a capacidade fisiológica, facilita a incidência de
fraturas e estende as limitações às atividades da vida diária, entre
outros, ademais de propiciar uma série de doenças e incapacidades
relacionadas ao histórico de cada um.
É necessária a busca por alternativas que amenizem ou
atenuem este quadro. Segundo Schier (2010), políticas apontam
para a mudança de prioridade de atenção à saúde, privilegiando
a promoção de saúde na prevenção de doenças, com enfoque no
envelhecimento ativo e capacitação dos profissionais de educação
física no campo da geriatria e da gerontologia.
O presente capítulo tem como objetivo realizar uma reflexão
acerca do envelhecimento ativo aliado ao autocuidado apoiado,
procurando, assim, elucidar e criar uma perspectiva mais ampla
a respeito de possibilidades de ações na área da atividade física,
para investir na busca do envelhecimento saudável. O estudo foi
realizado através de revisões bibliográficas, com base na obra En-
velhecimento ativo: uma política de saúde (Oms, 2005), no livreto
Autocuidado apoiado: manual do profissional de saúde (Curitiba,
2012, Secretária Municipal da Saúde) e em 7 artigos pertinentes
à área da atividade física e ao envelhecimento ativo, nas bases de
dados Scielo, Lilacs e Bireme.
A atividade física tem ocupado um papel de destaque na
saúde geral do ser humano em todas as etapas da vida. Com o
advento do envelhecimento, parece haver consenso entre profis-
sionais da área da saúde e a população em geral que corroboram
a premissa da prática da atividade física como fator importante
no processo viver e envelhecer de forma saudável. De acordo
18
com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas, 2005), a
base para um envelhecimento saudável deve ser vista através de
uma perspectiva mais ampla em relação à saúde, onde haja um
trabalho intersetorial e transdisciplinar, abrangendo incentivo à
prática da atividade física em todas as idades.
Esta reflexão está estruturada em três tópicos básicos: a)
envelhecimento ativo como uma política de saúde; b) autocuidado
apoiado; c) atividade física para o idoso.

Envelhecimento ativo:
uma política de saúde

A atividade física é um dos caminhos que apresenta proprie-


dade e prioridade no que diz respeito aos benefícios no processo
do envelhecimento populacional, mas é necessário estar aliada ao
envelhecimento ativo, para promover a saúde.
O termo active ageing (envelhecimento ativo) foi adotado
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no final dos anos
90, com posterior contribuição da Segunda Assembleia das Na-
ções Unidas sobre Envelhecimento, realizada em abril de 2002,
em Madri, Espanha. Foi transcrito para o português em 2005
por Suzana Gontijo e procura transmitir uma mensagem mais
abrangente do que “envelhecimento saudável”, além de reco-
nhecer, mais do que cuidados com a saúde, outros fatores que
afetam o modo como os indivíduos e as populações envelhecem
(Kalache; Kickbusch, 1997). Para a Organização Mundial
da Saúde, “envelhecimento ativo”, para expressar o processo de
conquista dessa visão, significa um “processo de otimização das
oportunidades de saúde, participação e segurança, com objetivo
de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam
mais velhas” (Oms, 2005, p. 14).
A abordagem do envelhecimento ativo apoia-se numa pers-
pectiva de curso de vida ativa, onde as pessoas mais velhas possam
exercer responsabilidade e participação nos processos políticos e
aspectos gerais da vida em comunidade.
19
Nesse contexto, as doenças não transmissíveis (DNTs) têm
ocupado um papel de destaque no envelhecimento, ocasionando
morbidade, incapacidade e, por fim, mortalidade, num quadro
geral do qual países desenvolvidos e em desenvolvimento fazem
parte.
Existem bons propósitos para se investir em programas,
projetos e ações que tenham um envolvimento em comum no
processo do desenvolvimento da política do envelhecimento ativo.
É fundamental que haja um equilíbrio de responsabilidades, onde
poder público e comunidade em geral estejam alinhados com os
mesmos objetivos e necessidades.
Partindo desse pressuposto, a Organização Mundial da
Saúde instiga governos, organizações governamentais e socie-
dade civil a implementar políticas e programas em conjunto com
envelhecimento ativo, a fim de melhorar a saúde, a participação
e a segurança do público idoso (Oms, 2005).
Segundo a OMS (2005), deve-se avaliar a influência dos
fatores determinantes para se aproveitar as transições e janelas
de oportunidades a fim de estimular a saúde, a participação e a
segurança em seus diferentes estágios. A influência dos fatores
culturais é evidenciada no comportamento das pessoas, nas suas
atitudes em adquirir e buscar hábitos saudáveis. Para a OMS, é
inevitável a integração dos serviços sociais e do sistema de saúde,
atuando em prevenção, promoção e cuidados para o idoso. Os
cuidados de prevenção relacionam-se à saúde e ao serviço social,
onde todo e qualquer indivíduo deve ser tratado com dignidade e
respeito. Deseja-se, dessa forma, atenuar as enfermidades e contri-
buir para reduzir os riscos de incapacidades. Assim, promove-se o
envelhecimento ativo, através da disponibilidade do atendimento
básico primário com qualidade e a longo prazo. Incluem-se aí
também os serviços com saúde mental.

Autocuidado apoiado

O autocuidado apoiado é um termo baseado numa proposta


recente e inovadora, presente num manual de mesmo nome, criado
20
na cidade de Curitiba (PR), através da Secretária de Saúde, no
ano de 2012, para profissionais da área, especificamente da atenção
primária à saúde (APS). A publicação instrumentaliza metodologi-
camente o atendimento, dando suporte à decisão médica com base
em diretrizes clínicas, no atendimento compartilhado, no plano de
autocuidado, em tecnologias de mudanças comportamentais e na
supervisão da clínica médica, de enfermagem e odontologia. Esse
manual provê, em especial, subsídio informativo, suporte técnico
capaz de mobilizar a sociedade para contribuir na promoção de
saúde (Cavalcanti et al., 2012).
No manual Autocuidado apoiado, encontra-se um apoio per-
tinente à atividade física, um caderno de exercícios com itens
relacionados à avaliação e ao aconselhamento. A atuação do
profissional da saúde inicia com conversas sobre o estilo de vida
e condições de saúde. O texto “Sua saúde agradece” traz infor-
mações suficientes para conscientizar sobre hábitos importantes na
promoção e na manutenção das saúdes física e mental, incluindo
atividades físicas e práticas corporais. Dentro desta temática, é
checada a saúde do cidadão, peso atual, índice de massa corporal
(IMC), circunferência abdominal, pressão arterial, resultados de
exames laboratoriais, entre outros.
Ademais, o manual segue uma sequência metodológica que
leva o indivíduo a inúmeras reflexões através de questionários.
Identifica-se a situação e os objetivos do paciente diante do seu
contexto atual. Logo, busca-se a mudança de comportamento para
atingir as metas, sempre com o apoio de profissionais da área de
nutrição, educação física e psicologia.
Segundo a OMS, dentro do envelhecimento ativo, dos pro-
gramas e políticas de saúde, é necessário incentivar e equilibrar a
responsabilidade pessoal (consigo mesmo). Isso vai ao encontro
do autocuidado apoiado, quando se evidencia a questão da mo-
tivação relacionada à mudança explicada no referencial teórico
do manual do profissional da saúde. Embora este manual não
tenha sido escrito especificamente para a área da educação física,
ele pode dar um apoio ao público idoso através da metodologia
de suporte destinada a esta área de conhecimento.

21
Atividade física para o idoso

Dentro da multidimencionalidade em que a população idosa


se encontra, devido a questões sociais, econômicas, culturais,
civis, espirituais, biológicas e físicas, é importante elucidar o
envelhecimento ativo na área da saúde física, mental e social,
enfatizando seus benefícios como ferramentas indispensáveis a
todo este processo de cuidado com a saúde.
A participação em atividades físicas regulares e moderadas
pode retardar declínios funcionais, além de diminuir o aparecimen-
to de doenças crônicas em idosos saudáveis ou doentes crônicos
(Oms, 2005). Na política de saúde do envelhecimento ativo,
podemos constatar que uma vida ativa, através de exercícios físi-
cos, melhora a saúde mental e frequentemente promove contatos
sociais. Ainda, as pessoas idosas apresentam maior independência
por períodos de tempo mais longos, reduzindo assim o risco de
quedas. Isso pode representar importantes benefícios econômicos
para a saúde pública e os governos.
Segundo posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de
Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia diante dos efeitos da atividade física regular, pode-
mos citar inúmeros benefícios, tais como: aumento do consumo
máximo de oxigênio (VO2máx), maiores benefícios circulatórios
periféricos, aumento da massa muscular, melhor controle da
glicemia, melhora do perfil lipídico, redução do peso corporal,
melhor controle da pressão artéria de repouso, melhora da função
pulmonar, melhora do equilíbrio e da marcha, menor dependência
para realização de atividades da vida diária, melhoras da autoes-
tima, da autoconfiança, e da qualidade de vida.
Para se obter todos esses benefícios, é importante seguir o
envelhecimento ativo: uma política de saúde. Devemos desenvolver
informações e diretrizes, culturalmente apropriadas e baseadas
na população, sobre atividades físicas para homens e mulheres
idosos, fornecendo oportunidades acessíveis, baratas e agradáveis
para que idosos permaneçam ativos.
22
Independente das ações desenvolvidas nos projetos e progra-
mas na área da atividade física, é importante lembrar das limitações
e cuidados necessários para a adesão à estas práticas. Algumas
literaturas, como o Tratado de geriatria e gerontologia, preconizam
que todos os pacientes devem ser submetidos a uma avaliação
médica, que passa por história e exame clínico, não deixando de
incluir nessa analise fatores de risco cardiovasculares, cognição,
independência, aptidão física prévia, acuidade visual e auditiva e
estado emocional.
Já o posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medi-
cina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Geronto-
logia considera que, embora uma avaliação médica pré-participação
seja fundamental, a impossibilidade de acesso a ela não deve
impedir a adoção de um estilo de vida ativo. As alternativas de
avaliação vão desde simples questionários até exames sofisticados.
O segundo ponto a ser considerado é quanto às recomendações
e prescrição de exercícios a esta faixa etária. Para isso, ambas
instituições afirmam que se deve obedecer a alguns fundamentos
para assegurar a melhor relação risco/benefício. As principais va-
riáveis a serem observadas são: modalidade, duração, frequência,
intensidade e modo de progressão. Na modalidade, é importante
valorizar, acima de tudo, a possibilidade e preferência do idoso.
Dados mais recentes sugerem que a intensidade fique acima de
4,5 equivalentes metabólicos (METs). Já a intensidade da fase
aeróbica pode ser considerada através do percentual do VO2max
ou da frequência cardíaca máxima (FCmax). A duração varia de
30 a 90 minutos. Idosos na fase inicial podem beneficiar-se de
sessões de curta duração (5 a 10 minutos), duas ou mais vezes
por dia, na maioria dos dias da semana.
De fato, existem ótimas razões para implementar de pro-
gramas e políticas que promovam o envelhecimento ativo com
aumento de participação e redução nos custos com os cuidados
(Oms, 2005). Também é fundamental trabalhar nas prioridades
que levem o idoso a buscar autonomia, independência relacionada
às atividades da vida diária e qualidade de vida acompanhada de
uma expectativa de vida saudável.
23
Em relação a fatores comportamentais determinantes à
adoção de um estilo de vida saudável, independente da idade,
é consideravelmente importante deter-se aos cuidados com ali-
mentação saudável, abstinência ao fumo e álcool, uso correto de
medicamentos e atividade física regular.

Considerações finais

Parece haver um consenso quando pensamos que a saúde


apresenta uma relação direta com movimento/atividade física.
Visto isso, a atividade física apresenta uma possibilidade de ação
e escolha na busca de unir interesses em comum e colocar em
prática de forma efetiva os cuidados prioritários de uma nação.
Para se ter um envelhecimento ativo, segundo a OMS (2005),
é imprescindível a participação em atividades físicas regulares
e moderadas para retardar os declínios funcionais e diminuir o
aparecimento de doenças crônicas em idosos saudáveis ou doentes
crônicos. Ademais, custos médicos são significativamente menores
para pessoas idosas ativas (Oms, 1998).
Vale lembrar e estar certo de que em algum momento de
nossas vidas, vamos nos deparar com esta desafiadora realidade
de ter um familiar na condição de idoso necessitando de ampa-
ro, ou mesmo, na vida profissional, ter um paciente no contexto
total da prestação de nossos serviços. Se pensarmos mais longe
ainda, se tivermos o privilégio de viver longos anos, nós mesmos
faremos parte desta estatística de longevos. Todas essas situações
englobam o indispensável cuidado ao ser humano.
Para melhor trabalhar com a realidade do envelhecimento
populacional, é importante repensar o contexto multidisciplinar da
saúde e de áreas afins. Parece que, ultimamente, já não se suprem
as expectativas de melhor atender aos nossos idosos. É necessário
partir de propostas mais pretensiosas com a interdisciplinaridade,
integrando todas as áreas possíveis do conhecimento científico
e técnico, a fim de proporcionar mais e melhores condições de
atendimento a este público.
24
Seguindo a política do envelhecimento ativo, aliada a estra-
tégias do manual Autocuidado apoiado, entendemos ser possível
envelhecer com melhores condições de saúde, obtendo significa-
tivamente uma vida saudável com melhor qualidade.

Referências

CAVALCANTI, Ana Maria; OLIVEIRA, Angela Cristina Lucas.


Autocuidado apoiado: manual do profissional da saúde. Curitiba: Se-
cretaria Municipal da Saúde, 2012.
NAOMAR, Almeida Filho. Ciência e saúde coletiva: multidiscipli-
naridade e interdisciplinaridade. 1997.
R.V.M.E; Revista Brasileira Medicina do Esporte, vol. 5, n. 6. Niterói
nov./dez. 1999.
VICENTE, Fernanda Regina. Validação de conteúdo de um instrumento
para avaliação multidimensional do envelhecimento Ativo. 2012.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Envelhecimento ativo:
uma política de saúde. Tradução Suzana Gontijo. – Brasília: Orga-
nização Pan-Americana da Saúde, 2005.

25
26
Algumas reflexões sobre os
aspectos biopsicossociais e
bioéticos no cuidado de idosos

Gerson Luis Urnau


Luciano Luis Alt
Debora Falk Lopez Boscatto 

Introdução

O presente texto visa refletir sobre as questões que norteiam


o processo de envelhecimento humano, vinculadas aos aspectos
biopsicossociais e bioéticos no cuidado e atendimento às pessoas
idosas. É fruto de nossas discussões e estudos no programa de
mestrado em Envelhecimento Humano, na Universidade de
Passo Fundo – RS, e, também, tem base em nossa experiência
profissional em Medicina, atendendo a essa grande demanda da
população do interior do estado do Rio Grande do Sul.
O processo de envelhecimento demográfico é um fato que
repercute nas diferentes esferas da estrutura social, econômica,
política e cultural da sociedade, uma vez que os idosos, da mesma
forma que os demais segmentos etários (crianças, jovens e adul-
tos), possuem demandas específicas para a obtenção de adequadas
condições de vida. Tais demandas fizeram da velhice um tema
privilegiado de investigação nas distintas áreas de conhecimento,
elevando substancialmente o volume de obras publicadas nos
últimos tempos.
A era da tecnologia proporcionou ao ser humano padrões
de vida nunca antes experimentados e os avanços ocorridos nas
27
ciências, principalmente na área da saúde, são responsáveis pelo
acréscimo na expectativa de vida da população que caminha para
o envelhecimento.
Nesse sentido, pretende-se apontar algumas questões vin-
culadas aos aspectos bioéticos para pessoas idosas, visando os
aspectos biopsicossociais que norteiam o processo de envelheci-
mento humano, tendo como premissa básica o cuidado para com
o ser humano.
Para tanto, o texto está dividido em dois momentos: primeiro,
abordará os aspectos físicos, psicológicos e sociais no processo do
envelhecimento humano e, no segundo, algumas reflexões sobre
os aspectos vinculados ao cuidado de pessoas idosas levando-se
em conta as premissas da dignidade e bioética.

Aspectos físicos, psicológicos e sociais


na fase de envelhecimento humano

Nahas (2006) ressalta que a saúde é um dos atributos mais


preciosos para o indivíduo. Modernamente, não se entende saúde
apenas como o estado de ausência de doenças. Numa perspectiva
holística, é considerada uma condição humana com dimensões
física, social e psicológica. No desenrolar da história, as manifes-
tações do homem como ser corpóreo se diferenciam, dependendo
do seu contexto sócio-cultural.
O comportamento preventivo equivale aos hábitos de pre-
sunção em relação à vida do indivíduo e às regras da sociedade,
que proporcionam uma sensação de segurança, proteção e tran-
quilidade (Nahas, 2006). A nova realidade demográfica no
Brasil aponta para a necessidade urgente de se implantarem mais
programas e serviços de atenção à saúde do idoso, no sentido de
reverter o atual pré-conceito, que ainda se tem das pessoas idosas.
Com o declínio gradual das aptidões físicas, o impacto do
envelhecimento e das doenças tende a ir alterando hábitos de vida
e rotinas diárias do idoso. Os efeitos associados à inatividade e à
má adaptabilidade a diversas situações são muito sérios e podem
acarretar redução no desempenho físico, na habilidade motora,
28
na capacidade de concentração e reação, gerando processos de
autodesvalorização, apatia, insegurança, perda de motivação,
isolamento social e solidão.
Os efeitos da diminuição natural do desempenho físico podem
ser atenuados, se forem desenvolvidos com os idosos programas de
atividades de mobilização e sensibilização corporal para melhorar
as capacidades motoras, dando ênfase à manutenção das aptidões
físicas e ao bem-estar.
A solidão hoje sentida pela maioria dos idosos é uma doença
social, que faz o maior número de vítimas exatamente nesta faixa
etária. Essas pessoas já percorreram muitos caminhos, tiveram
suas decepções, sofreram adversidades, acordaram de todos os
sonhos, rotinaram a existência, encontram-se no crepúsculo da
vida ruminando e vivendo um passado remoto, povoado de sau-
dades, esperando muitas vezes apenas seu ponto-final. E tudo
acontece ainda com mais impetuosidade quando as pessoas vestem
a roupa dos anos vividos e entregam-se de corpo e espírito aos
problemas da velhice. Mas se os velhos tiverem o espírito jovem
e encararem a velhice como um estágio natural, ela tomará outro
rumo, mudará de feição.
É comum, também, nesta faixa etária ter sentimentos de per-
da, como a mudança do ritmo/alteração de vida, o distanciamento
dos filhos, a viuvez, a vida sedentário-improdutiva e a diminuição
das oportunidades de convívio. Tudo isso resulta, ao longo dos
anos, em isolamento social, perda progressiva da autonomia e da
identidade, atingindo de forma irreparável a autoestima, a moti-
vação, o prazer pela vida e o prazer em pertencer a uma sociedade
que o valorize como cidadão.
O idoso precisa resgatar seu sentimento de conquista, ter
um desejo a ser alcançado, ter esperança. É fundamental que
ele aprenda a lidar com as transformações de seu corpo e tire
proveito de sua condição, prevenindo e mantendo em bom nível
sua plena autonomia.
A atitude de identificar e controlar os riscos só tende a
beneficiar a saúde e a segurança de todas as pessoas. Uma vida
saudável inicia na infância, com boa alimentação, atividades físicas
29
variadas e regulares, cuidados médicos adequados e ambiente
familiar estimulante.
Os comportamentos preventivos recomendados para esta
fase são: usar cinto de segurança; praticar sexo seguro; evitar
ambientes e grupos onde a violência física seja motivo de ad-
miração; não fumar; beber com moderação; escolher alimentos
de maneira inteligente; proteger pele e olhos; manter uma vida
ativa, mas não exaustiva e realizar check-up e exames periódicos
(Nahas, 2006).
Durante a fase de envelhecimento humano, percebem-se
diversas modificações físicas nas pessoas: aumentam os riscos para
o desenvolvimento de patologias diversas, geralmente crônico-
-degenerativas. Aí se enquadram os problemas vasculares (como
a aterosclerose e cardiopatias isquêmicas), as demências, o câncer,
o acometimento do sistema osteoarticular e todas as outras que
demandam dos mecanismos biológicos oxidativos, acumulados
durante a vida.
Com relação à gênese das doenças vasculares em idosos, é
fundamental entender os mecanismos fisiopatológicos que levam
aos desfechos e à morbidade nesta população. Sabe-se que os va-
sos sanguíneos sofrem a ação inexorável da atividade inflamatória
sobre o endotélio, ao longo de toda a vida. A capacidade de libe-
ração do óxido nítrico por um endotélio doente (ou exaurido) já
não ocorre com a eficiência de outrora. Ao não haver a adequada
autorregulação endotelial e, somando-se à aterosclerose sistêmica,
acontecem os fenômenos oclusivos vasculares de diversas ordens,
como, por exemplo, angina instável, infarto agudo do miocárdio,
vasculopatias periféricas, acidentes vasculares encefálicos.
Todo este espectro de doenças limita, sobremaneira, a vida
do indivíduo idoso, sendo necessário atentar para isso. Este grupo
de doenças se notabiliza por ser extremamente frequente e gerar
estados mórbidos que vão desde a incapacidade de realizar ativida-
des físicas simples (geralmente associadas a sintomas de cansaço,
dores, falta de ar) até a incapacidade total, como a limitação ao
leito e toda a miríade que disso pode resultar. O acometimento do
idoso por demências também é frequente, sendo suas etiologias
30
as mais variadas, desde as de origem vascular até a doença de
Alzheimer (Melo, 2004).
Conforme Olson (2003), o risco de uma pessoa ser porta-
dora de demência dobra a cada cinco anos, a partir dos 60 anos
de idade. Estima-se que aproximadamente 50% das pessoas com
85 anos apresentem algum tipo de demência (Graeff, 2007).
Geralmente, o que as intervenções dos profissionais de saúde
conseguem fazer é retardar a evolução dos sintomas das demên-
cias, mas não impedir que elas progridam. É como reduzir a
velocidade de um carro desgovernado, sabendo que irá se chocar
mais adiante. Diante disso, deve-se primar pela paliação desde o
início dos quadros demenciais por quem for orientar paciente e
cuidadores (Olson, 2003).
As neoplasias malignas derivam, dentre outros fatores, dos
mecanismos oxidativos e cumulativos que ocorrem durante toda a
vida e acabam atingindo o indivíduo idoso com mais frequência.
Durante o processo de envelhecimento, as células podem dividir-
-se de maneira anômala, gerando células doentes, incapazes de
realizar as funções das células originais.
A complexa autovigilância orgânica (capacidade de reconhe-
cer erros em divisões celulares) dá sinais de falha, deixando que
se perpetuem equívocos celulares, que, sem retaliação imune (ou
deficiente), culminam com o desenvolvimento de diversos tipos
de câncer. As degenerações osteoarticulares, causando restrições
de mobilidade, costumeiramente progressivas, vêm associadas à
redução da propriocepção, o que pode levar o idoso à instabili-
dade e a quedas, sendo os traumas (até os de pequena monta)
importantes causas de limitação física e risco à vida na faixa etária
em questão.
Diante da constatação do declínio das capacidades físicas
e da dependência por conta das vulnerabilidades individuais,
socioeconômicas e familiares, muitos idosos podem desenvolver
depressão e outros transtornos de ordem psíquica. Os sentimen-
tos de inutilidade, menos-valia, baixa autoestima podem ocorrer
neste contexto.
31
A dependência física, emocional e pecuniária potencializa
estes sentimentos. Sentir-se negligenciados ou relegados faz com
que muitos indivíduos vivenciem o desligamento da vida – ou o
prenúncio da morte, momento em que podem se tornar indife-
rentes a si próprios, havendo a “deterioração do eu” e, inclusive,
o desejo de morrer. A solidão, não só pela comum viuvez, como
também pela negligência e desdém social e familiar, agrava este
quadro.
A incapacidade funcional e o ajustamento psicológico são hoje
de grande interesse de estudiosos nos vários segmentos da área
da saúde, porque os fatores psicológicos e socioculturais influem
no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas. Sabe-se que
os recursos psicológicos e sociais de que o indivíduo dispõe são
um caminho na determinação das implicações da incapacidade
funcional e adaptativa na vida das pessoas afetadas. Esses fato-
res psicossociais têm grande potencial para determinar em que
medida a vida será vivida eficazmente ou com debilidade, dor e
dependência.
Os recursos psicológicos adaptativos, como o controle pessoal
e o senso de significado, são importantes na forma de reservas que
permitem às pessoas enfrentarem mais efetivamente os eventos
críticos da vida. As crenças positivas têm impacto nos estados
emocionais, que, por sua vez, podem causar mudanças fisiológicas
e neuroendócrinas; também podem promover comportamentos
saudáveis, uma vez que pessoas dotadas de senso de autovalor
acreditam no seu poder de controle e são otimistas quanto ao
seu futuro.
Paralelamente, os movimentos de terceira idade, como as
universidades, presentes e profícuas em nossa sociedade atual,
consistem em um importante meio de resgate das potencialidades
do idoso, fazendo-o sentir-se acolhido e atuante (Pessini; BAR-
Chifontaine, 2005).
Ormezzano e Peliser (2006) recomendam que a inserção de
idosos em espaços sociais carregados de atividades significativas
move-os a pensar e a querer que essas atividades tenham con-
tinuidade, porque conduzem a encontros com novos e antigos
amigos. Então, nada mais justo e digno que favorecer os idosos
32
em sua integração sociocultural, de forma que melhorem a sua
qualidade de vida, façam garantir seus direitos e assumam seus
papéis de cidadãos. A prática de cuidados no envelhecimento hu-
mano, principalmente na rede pública de atendimento, apresenta
ainda uma grande distinção sobre teoria e prática clínica, pois o
real está muito distante do ideal. No cotidiano, o médico que
atende a comunidades carentes se depara com as mais diversas
situações corriqueiras: o idoso sozinho em consultas, analfabeto,
com dificuldade de entendimento, seja auditivo ou cognitivo.
Ao buscar-se os familiares, geralmente numerosos, muitas
vezes, encontra-se famílias desestruturadas, que dependem do
trabalho diário para subsistir. Com um ou mais empregos, difi-
cilmente conseguem dar a atenção ao idoso necessitado. Seja no
auxílio à alimentação, seja na administração das medicações ou
no acompanhamento a exames solicitados.
Assim, o idoso retorna incansáveis vezes à consulta médica
sem controle sobre os remédios, sem exames ou possibilidade de
diagnósticos mais precisos. Outras vezes, há um familiar como
cuidador. E há quem subsidie as despesas para que outro acompa-
nhe o idoso. Ainda assim, nem sempre conseguem dar conta de
tal encargo, por estarem vinculados 24 horas por dia ao paciente,
que começa a se sentir inútil ou deprimido e deixa sua própria
vida de lado. Assim, nos deparamos com casos de agressão ver-
bal, descaso, agressão física etc., ficando o profissional médico,
ou qualquer outro cidadão, responsável pela denúncia aos órgãos
competentes.
Pessini e Barchifontaine (2005) citam que, quando diante de
debilidades ou de problemas graves de saúde, se mantida a lucidez,
muitos idosos (e mesmo seus familiares e entes próximos) podem
se perguntar se é válido buscar tratamento (como por exemplo,
necessidade de uma cirurgia ou terapias oncológicas como quimio
e radioterapia). Do ponto de vista bioético, a autonomia do idoso
deve ser mantida.

33
Sobre a dignidade e a bioética
no cuidado humano

O princípio da dignidade das pessoas humanas, de acor-


do com Santin e Bettinelli (2010), está presente como um dos
fundamentos da própria existência da Constituição e do Estado
democrático de direito brasileiro, exposto no artigo 1, inciso III
da Constituição Federal de 1988, que tem como premissa básica a
dignidade da pessoa humana. Dessa forma, a partir de sua norma-
tização constitucional, passa a ser enquadrada como princípio
jurídico fundamental, norma que orienta a interpretação e apli-
cação das demais normas pertencentes ao ordenamento jurídico.
Rios (apud Santin; Bettinelli, 2010) enfatizam que
há um caráter de centralidade da dignidade humana diante de
outros conceitos, formulações e ideias jurídicas. Estando, portanto,
no centro de todo o ordenamento jurídico brasileiro, devendo ser
repelido qualquer ato, direto ou indireto, capaz de esvaziar “a força
normativa desta noção fundamental, tanto pelo seu enfraqueci-
mento na motivação das atividades estatais (executivas, legislativas
e judiciárias), quanto pela sua pura e simples desconsideração”.
Deve, portanto lançar suas luzes por todas as leis, regulamentos,
decretos e demais atos normativos, bem como orientar as políticas
públicas executadas pelos governantes brasileiros.
Santin e Bettinelli (2010, p. 22) fazem citação às conclusões
de Ingo Wolfgang Sarlet, que define dignidade humana como
uma qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que
o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do
Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo
de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto
contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como
venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma
vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa
e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão com os demais seres humanos.
Jahr propôs imperativo bioético que ampliava para as formas
de vida para o imperativo moral de Kant: “age de tal modo que
34
consideres a humanidade, tanto para tua pessoa como na pessoa
dos outros, sempre como um fim e nunca como simples meio”.
Essa proposta, segundo Pessini (2013), pode ser traduzida, então
por: Respeite todo ser vivo como princípio e fim em si mesmo e
trate-o, se possível, enquanto tal. O conceito de bioética de Jahr
é mais amplo que o dos pioneiros norte-americanos, incluindo
todas as formas de vida.
Pessini (2013) afirma que a bioética contemporânea, por
vezes, ficou reduzida ao âmbito das questões da ética médica
(consentimento informado, princípios, relação médico-paciente,
direitos do paciente etc.) e que se faz preciso a ampliação da
bioética com formulação da bioética integrativa: é necessário
que a bioética seja substancialmente ampliada e transformada
conceitual e metodologicamente, para que possa considerar as
diferentes perspectivas culturais, científicas, filosóficas e éticas
(abordagem pluralista), integrando essas perspectivas em termos
de conhecimentos que orientem e de ações práticas (abordagem
integrativa). Sendo que esta bioética integrativa, terá que harmo-
nizar, respeitar e aprender com a rica pluralidade de perspectivas
individuais e coletivas e com as culturas da comunidade global.

Considerações finais

O cuidado e a assistência com dignidade e ética, como


qualidade intrínseca das pessoas humanas, é irrenunciável e ina-
lienável, constituindo um elemento que qualifica o ser humano
como tal e dele não pode ser destacado, de tal sorte que não se
pode cogitar a possibilidade de determinada pessoa ser titular de
uma pretensão a que lhe seja concedida a dignidade (Durig
apud Sarlet, 2001).
Peduzzi (2001) sugere que as articulações das ações, a
coordenação, a integração dos saberes e a interação dos agentes
ocorram por meio da mediação simbólica da linguagem. Portanto,
a comunicação entre os profissionais é o determinador comum
do trabalho em equipe, o qual decorre da relação recíproca entre
trabalho e interação. Trata-se de um plano de ação para uma
35
situação concreta de trabalho coletivo em equipe, que toma em
consideração o projeto assistencial hegemônico, que não pode ser
ignorado por ser o modelo dominante de atenção à saúde, mas
procede à reelaboração que configura outro projeto comum. Tais
concepções, partilhadas com base no diálogo, permitem o reco-
nhecimento intersubjetivo das pretensões de validez, implícitas
nos atos de fala de todos os sujeitos partícipes.
Deve-se lembrar que, ao partilhar sobretudo o modelo
biomédico, hegemônico, dá-se um consenso em torno de um
único tipo de atenção à saúde, entendido como pertinente a toda
e qualquer situação referente ao processo de saúde-doença nos
planos individual e coletivo. Assim, os profissionais, além de não
compartilharem outros valores que poderiam cunhar novos mo-
delos, deixam de investir na construção conjunta de outro projeto
assistencial que abarque a complexidade e multidimensionalidade
das necessidades de saúde (Peduzzi, 2001).
Almeja-se que a bioética se torne um campo verdadeiramente
aberto de encontro e diálogo de várias ciências e profissões, com
visões e perspectivas de mundo reunidas para articular, discutir e
resolver questões éticas relacionadas à vida como um todo, com
capacidade de investigar a vida em todas as suas partes, tipos,
formas, estágios e manifestações, bem como de proporcionar boas
condições de vida, em especial aos nossos idosos.

Referências

GRAEFF, L. Instituições totais e a questão asilar: uma abordagem


compreensiva. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento, Porto
Alegre, v. 11, p. 9-27, 2007.
MELO, A. G. C. Os cuidados paliativos no Brasil. In: PESSINI,
L.; BERTACHINI, L. (Org.). Humanização e cuidados paliativos.
São Paulo: Loyola, 2004. p. 291-299.
NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos
e sugestões para um estilo de vida ativo. 4. ed. Londrina: Midiograf,
2006.
36
OLSON, E. Dementia and neuro degenerative diseases. In: MOR-
RISON, R. S.; MEIER, D. E. (Eds.). Geriatric palliative care.
Oxford: Oxford University Press, 2003. p. 160-172.
ORMEZZANO, G. R.; PELISER, M. (Re). Conhecendo o cor-
po feminino: a escultura na educação estética de idosas. In: POR-
TELLA M. R.; PASQUALOTTI, A.; GAGLIETI, M. (Org.).
Envelhecimento humano: saberes e fazeres. Passo Fundo: Ed. UPF,
2006. p. 229-245.
PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e ti-
pologia. Revista Brasileira de saúde Pública, 2001. Disponível em:
<htpp//fsp.usp\rsp>. Acesso em: 20 de agosto de 2014.
PESSINI, L. As origens da bioética: do credo bioético de Potter ao
imperativo bioético de Fritz Jahr. Revista Bioética, São Paulo, v. 21,
n. 1, p. 9-19, 2013.
PESSINI, L; BARCHIFONTAINE, C.P. de. Problemas atuais de
bioética. 7. ed. São Paulo: Centro Universitário São Camilo: Loyola,
2005.
SANTIN, J.R.; BETTINELLI, L.A. Bioetica, dignidade humana
e direitos fundamentais. In: SANTIN, J.R.; BETTINELLI, L.A.
(Org.). Bioética e envelhecimento humano: inquietudes e reflexões.
Passo Fundo: Berthier, 2010.
SARLET, I.W. A dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na
constituição federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

37
38
Cuidados paliativos
e a fisioterapia

Julia Pancotte
Lia Mara Wibelinger
Marlene Doring

Introdução

Os cuidados paliativos foram definidos pela Organização


Mundial da Saúde, em 2002, como abordagem ou tratamento para
melhorar a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de
doenças que ameacem a vida, e para controlar a dor e sintomas
de natureza física, social, emocional e espiritual. Tais medidas
começam ao diagnosticar a doença, junto com os tratamentos
capazes de modificar o curso da mesma, a fim de prolongar a
vida. Quanto mais estes tratamentos perdem a eficácia, mais
importantes se tornam os cuidados paliativos. Logo, ao final da
vida, representam o auge da sua importância, perdurando no
período de luto.
As medidas paliativas compreendem: alívio da dor e de outros
sintomas; auxílio no entendimento da morte como processo natu-
ral; integração dos aspectos psicológicos e espirituais; apoio para
os pacientes viverem da forma mais ativa possível; suporte para
lidar com a doença e o luto (pacientes e familiares); melhora da
qualidade de vida. E as medidas paliativas também compreendem
um auxílio para compreender e gerenciar as complicações clínicas,
assim como reconsiderar as prioridades de políticas de saúde.
A situação e a necessidade do paciente determinam os cui-
dados paliativos. As doenças mais agressivas, como o câncer e
39
a síndrome da imunodeficiência adquirida (Sida ou Aids),
causam, frequentemente, mais sintomas e necessidades, pela
intensidade, mutabilidade, complexidade e impactos individual
e familiar (MS, 2004).
A multidisciplinaridade da equipe é fundamental para os
cuidados paliativos pela ampla abordagem realizada, pois envol-
ve médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisiote-
rapeutas, nutricionistas e outros profissionais, dependendo da
necessidade do paciente (Oms, 2014). Essa equipe vinculará as
individualidades com a diversidade profissional, o que contribuirá
para alcançar o principal objetivo: melhorar a qualidade de vida
(Neto, 2010).
Assim, a fisioterapia tem como objetivo preservar, prevenir,
manter e reabilitar a integridade dos órgãos, sistemas ou funções.
Pode auxiliar nas alterações patológicas, nas repercussões psíquicas
e orgânicas e em qualquer outro cuidado que o paciente necessite.
Cada profissional realiza um papel fundamental dentro da equipe,
mas enfatizamos a função do fisioterapeuta pela sua importância
nessa fase da vida dos pacientes sob cuidados paliativos.
Por isso, apresentamos o capítulo em níveis de cuidados
paliativos e, depois, em cuidados paliativos e a fisioterapia.

Níveis de cuidados paliativos

Em 2004, o Programa Nacional de Cuidados Paliativos


(PNCP) definiu quatro níveis de cuidados paliativos: ações pa-
liativas, cuidados paliativos nível I, cuidados paliativos nível II e
cuidados paliativos nível III.
O nível de ações paliativas objetiva minimizar as repercussões
da doença sobre o bem-estar geral do paciente através de qualquer
medida terapêutica, sem intuito curativo. Podem ser realizadas
no hospital, no domicílio ou nos centros de saúde. É considerado
como nível básico de paliação.
Os Cuidados Paliativos Nível I dependem de estrutura e
equipe com formação diferenciada. O Nível II envolve equipes
40
multidisciplinares, disponibilidade e apoio 24 horas, também
nas áreas social, psicológica e espiritual. O Nível III depende de
equipe multidisciplinar especializada capaz de responder a casos
de alta complexidade (MS, 2004).
Os cuidados paliativos prezam por uma adequada comu-
nicação, pelo apoio à família, trabalho em equipe e controle dos
sintomas (Ascensão, 2013). Seus principais objetivos são a
redução de sintomas e a promoção da qualidade de vida.
Os sintomas que surgem com as doenças desencadeiam uma
série de alterações no bem-estar do doente e da família, por isso
saber reconhecer, avaliar e tratá-los adequadamente (Neto, 2010)
pode auxiliar o controle dos sintomas e até mesmo evitá-los.

Cuidados paliativos e a fisioterapia

A fisioterapia, que tem como objetivo preservar, prevenir,


manter e reabilitar a integridade dos órgãos, sistemas ou funções,
pode auxiliar nas alterações patológicas, nas repercussões psíquicas
e orgânicas e em qualquer outro cuidado que o paciente necessite
(Unic, 2009).
Na fase de doença em que o paciente paliativo se encontre,
seu organismo mostra-se cada vez mais frágil e ocorre um declínio
cada vez maior das suas funções até a perda total. Isso o deixa
incapaz de realizar atividades importantes da vida, inclusive as
da vida diária (Unic, 2009).
Os fisioterapeutas, ditos pela Confederação Mundial de
Fisioterapia especialistas em atividade humana e movimento, são
aptos para desenvolver, manter e restaurar funcionalmente pessoas
de qualquer fase da vida, independente da função estar alterada
por envelhecimento, lesões ou desordem da sua situação ou fator
ambiental (Ferreira, 2013).
A avaliação fisioterapêutica depende da doença que acomete
o paciente, mas geralmente observa a existência de dor, dispneia,
edema, fadiga, alterações na força e função muscular, capacidade
funcional na realização das atividades da vida diária, alterações
41
no sistema respiratório, neurológico e qualquer outra limitação.
O plano terapêutico, desenvolvido a partir da avaliação realizada
e da discussão do caso com a equipe responsável pelo paciente,
compreende técnicas e exercícios para o alívio dos sintomas e
preservação/manutenção/reabilitação das funções com qualidade
de vida.
Para auxiliar a avaliação, podem ser aplicados instrumentos
como questionários, escalas e índices como forma de mensuração.
Posteriormente, este método pode ser utilizado para comparar
os efeitos das técnicas utilizadas; verificar se a terapia está apre-
sentando resultados positivos ou negativos e se o paciente está
relativamente melhor ao seu quadro inicial.
A atuação da fisioterapia pode ser dividida conforme a
funcionalidade do paciente. Para aquele totalmente dependente,
o trabalho deve ser realizado quanto ao posicionamento e mu-
danças de decúbito, transferências e mobilizações para prevenir
deformidades e complicações (Perracini, 2000). Quanto mais
independente, mais se deve estimular o autocuidado, as atividades
da vida diária e a funcionalidade (Marcucci, 2005).
A imobilidade, situação que geralmente é vista em pacientes
paliativos, favorece o descondicionamento físico, a diminuição gra-
dual da força muscular, da flexibilidade, da capacidade aeróbica,
da amplitude de movimento articular, da coordenação motora, que,
consequentemente, causam pontos de dor. Ante este sintoma, mais
necessária se faz a presença de um fisioterapeuta (Unic, 2009).
Os recursos utilizados pela fisioterapia podem ser terapias
manuais, eletroterapia, termoterapia, cinesioterapia, posiciona-
mentos adequados e exercícios de relaxamento.
A cinesioterapia, através de exercícios físicos, favorece a mo-
bilidade, a restauração ou a melhora do desempenho funcional;
trabalha força muscular, trofismo muscular, propriocepção, ampli-
tude de movimento articular; previne a imobilidade, desenvolve
resistência à fadiga (Marcucci, 2005; Florentino et al.,
2012), além do equilíbrio, da coordenação motora e de auxiliar
no processo analgésico.
42
Técnicas manuais como massoterapia, drenagem linfática,
liberação miofascial/pompage, Maitland, Mulligan, mobilizações
articulares e de tecidos moles favorecem o relaxamento muscular,
a diminuição da sobrecarga muscular, redução da dor, de edemas
linfáticos, de bloqueios articulares; auxiliam no controle postural,
na redução do estresse e dos níveis de ansiedade (Arrais, 2014).
No que se refere à eletroterapia, sistema de geração de impul-
sos elétricos para o complexo neuromuscular, a estimulação elétrica
nervosa transcutânea (TENS) é a mais utilizada para analgesia
imediata (Watson, 2000). A redução da dor acontece através
da redução da condutividade e da transmissão dos impulsos do-
lorosos das fibras de dor para o sistema nervoso central ao ativar
o sistema descendente inibitório da dor e modular a atividade dos
neurônios de transmissão, a partir da liberação de opioides endó-
genos. Quando atinge fibras motoras, interfere no padrão normal
do músculo, o que reduz ainda mais esses estímulos dolorosos
(Magalhães et al., 2009; Marcucci, 2005; Florentino
et al., 2012). Os parâmetros para tratamento com essa corrente
elétrica devem ser de acordo com o tipo de dor e percepção da
dor do paciente.
Na termoterapia, o calor pode ser usado para favorecer o
relaxamento muscular, interferindo no ciclo dor/espasmo/dor. O
frio pode ser utilizado em disfunções musculoesqueléticas, trau-
máticas e inflamatórias. Ambos podem diminuir a dor.
Além das técnicas possíveis em um tratamento, o uso de
órteses/dispositivos como muletas, andadores e cadeiras pode
diminuir a dor e prevenir ou corrigir deformidades (Floren-
tino et al., 2012).
Ressalta-se que cada paciente deve ser avaliado antes de qual-
quer tipo de tratamento e requer aplicação da técnica que mais
lhe auxilie, lembrando que nem sempre essa poderá apresentar
resultados positivos. A avaliação é indispensável e, quando bem
feita, o paciente é bem tratado.
Através da avaliação de todos os sistemas e da definição dos
objetivos de tratamento, é estabelecido seu próprio diagnóstico.
43
Nos cuidados paliativos, a função do fisioterapeuta é otimizar a
funcionalidade do paciente até o seu falecimento.

Considerações finais
A abordagem do paciente sob cuidados paliativos sempre
deve ser humanista e integrada. Todos os tratamentos devem visar
o controle dos sintomas, principalmente da dor, a qualidade de
vida, manutenção das funções e a autonomia do paciente.
Tanto paciente quanto familiares e, sobretudo, profissionais,
devem compreender a forma de vida deste primeiro, pois, apre-
sentará diversas necessidades físicas, psicoemocionais, espirituais
e sociais.
Uma vez nessas circunstâncias, há que direcionar a equipe
multiprofissional ao paciente. Por isso deve ser especializada na
área, além de ter suporte para realizar os devidos cuidados, prin-
cipalmente psicológicos, pela alta exigência da situação.
Deve-se considerar, também, a diversidade de faixas etárias
que necessitam de cuidados paliativos, além do enorme número
de doenças que acometem as pessoas e as encaminham para essa
fase. O trabalho realizado deve sempre ter como propósito alcan-
çar o conceito de cuidados paliativos, melhorando a qualidade de
vida de pacientes e familiares, controlando a dor e sintomas de
natureza física, social, emocional e espiritual.

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45
46
O cuidado e as competências
dos cuidadores em instituições
de longa permanência

Claudia Daiane Trentin Lampert


Silvana Alba Scortegagna
Cristina Ribas Teixeira

Introdução

Envelhecer é um processo irreversível e multideterminado,


caracterizado por mudanças biológicas, físicas, cognitivas, sociais
e emocionais, sendo único para cada indivíduo, pois dependerá
das capacidades básicas adquiridas, do meio ambiente e das re-
servas investidas ao longo do percurso de vida (Camarano;
Kanso, 2011). Além das mudanças naturais no processo de
envelhecimento, Saliba et al. (2007) apontam que a ocorrência de
alterações mais severas no estado funcional do idoso pode levar à
necessidade de alguém para auxiliá-lo na execução de atividades
antes realizadas normalmente.
Além disso, a diminuição da capacidade funcional, associa-
da a doenças, dificuldades físicas, cognitivas ou emocionais, as
modificações na família brasileira, dentre elas a saída da mulher
para o mercado do trabalho, o aumento de domicílios chefiados
por elas e a diminuição do tamanho da família, resultam em uma
nova realidade para este idoso: a de ser cuidado e a presença de
um cuidador.
As questões relacionadas ao tema e ao papel do cuidador estão
sendo cada vez mais importantes. Desta forma, a necessidade de
47
uma nova modalidade de atividade ocupacional – a de cuidar de
uma pessoa mediante remuneração – passou a exigir reconheci-
mento, tanto em função das qualificações mínimas necessárias,
quanto da remuneração e do registro legal (Born, 2006).
Diante desse panorama, o objetivo deste capítulo é discutir
as competências pessoais dos cuidadores formais no cuidado a
idosos institucionalizados. Para tanto, o texto está organizado
em três seções: a definição de cuidador de idosos como categoria
profissional; cuidado enquanto condição para o desenvolvimento
emocional e, por fim, o cuidado com idosos institucionalizados
e as competências pessoais do cuidador no exercício de sua ação.

A profissão cuidador de idosos

Em 2002, o Ministério do Trabalho e Emprego reconheceu


o cuidador enquanto categoria ocupacional, por meio da inserção
na classificação brasileira de ocupações (CBO). A família ocupa-
cional de cuidadores compreende cuidadores de crianças, jovens,
adultos e idosos (CJAI), e sob o código 5162-10 denomina-se a
categoria acompanhante de idosos, cuidador de pessoas idosas e
dependentes, cuidador de idoso domiciliar e institucional e gero-
-sitter. Na CBO (2014), o cuidador é descrito como aquele que
“cuida de bebês, crianças, jovens, adultos e idosos, a partir de
objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou respon-
sáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene
pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida”.
Além disso, são estipuladas atividades pertinentes à função, como:
cuidar da pessoa, de sua saúde, de sua alimentação, promover o
seu bem-estar, acompanhá-la em atividades externas, cuidar do
ambiente domiciliar e institucional, incentivar a cultura e educação
e demonstrar competências pessoais.
Born (2006) define o cuidador em informal ou formal. O
cuidador informal é aquele que presta cuidados à pessoa idosa,
geralmente no domicílio, com ou sem vínculo familiar, e não
remunerado, tendo como perfil a identificação com as atividades
pertinentes e possuir noções básicas sobre o cuidado com o idoso.
48
O cuidador formal é uma pessoa capacitada para o cuidado, con-
tratado para trabalhar na moradia do idoso ou em uma instituição,
com remuneração, seguindo orientações dos familiares ou outros
profissionais de saúde que orientam o cuidado. Para o desempenho
da função de cuidador formal, além de gozar de condições físicas
e psíquicas saudáveis, identificar-se com as atividades, é necessário
um treinamento específico, com formação voltada para o cuidado
ao idoso. Para ambos os cuidadores – informais e formais –, a
autora se refere às habilidades técnicas e atributos físicos, intelec-
tuais, éticos, morais, emocionais, motivação e compromisso como
características fundamentais ao cuidador, podendo estas serem
desenvolvidas e aprimoradas.
Reconhecendo a importância do cuidador no contexto do
envelhecimento, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
apresenta, entre suas diretrizes, a formação e a educação perma-
nentes na área de saúde da pessoa idosa aos profissionais de saúde,
podendo ser estendidas aos cuidadores. Esta diretriz baseia-se no
pressuposto de que a atenção integral em saúde e prática de cui-
dados às pessoas idosas exige abordagem global, interdisciplinar
e multidimensional que leve em conta a grande interação entre
os fatores físicos, psicológicos e sociais influenciadores da saúde
dos idosos e a importância do ambiente no qual está inserido
(Brasil, 2006).
Para Sampaio et al. (2011), esta política reforça a necessidade
de o profissional que irá prestar assistência ao idoso desenvolver
habilidades e competências específicas capazes de diferenciar os
idosos das demais faixas etárias, prestar um cuidado humanizado,
competente e que propicie um envelhecimento ativo e saudável,
com dignidade e qualidade de vida.
Contudo, o desenvolvimento dessas habilidades e compe-
tências na tarefa do cuidar transcende a aprendizagem propor-
cionada em cursos de formação ou capacitação, sendo preciso
ampliar a compreensão sobre o cuidado, sua gênese, e implicações
do próprio desenvolvimento psíquico daquele que se propõe a
esta ação.

49
Cuidado: condição para o
desenvolvimento emocional

O teólogo e filósofo Leonardo Boff descreve com muita


propriedade e sabedoria: o cuidado “significa desvelo, solicitude,
diligência, zelo, atenção, bom trato” (2008, p. 91). Para o referido
autor, o cuidado configura-se como um modo de ser, constituindo-
-se na forma como a pessoa humana se estrutura e se realiza no
mundo com os outros. Cuidar é mais que um ato, é uma atitude,
uma ação dinâmica, refletida e pensada. Dessa forma, oferecer ao
outro, em forma de serviço, o resultado de seus talentos, preparo
e escolhas, é uma atitude de cuidado (Boff, 2008; Brasil,
2008; Saliba et al., 2007).
Entendendo o cuidado como condição imprescindível para
se tornar humano, os vínculos iniciais com o cuidador são consti-
tuintes. O primeiro cuidador que instaura o processo de tornar-se
humano é a mãe. Segundo Winnicott (1993), o desenvolvimento
emocional do primeiro ano de vida lança as fundações da saúde
mental do indivíduo humano, e exige a existência de uma mãe
suficientemente sadia e cuidadora. O cuidado materno é marca-
do pelo holding, ou seja, a promoção de um ambiente acolhedor,
contínuo e consistente, implicando a empatia materna. A “mãe
suficientemente boa” refere-se àquela capaz de captar e atender
às necessidades essenciais ou iniciais do filho de forma sentida,
sendo sensível, por meio da identificação com ele. Além disso,
uma “mãe suficientemente boa” reconhece a natureza essencial
de sua tarefa, cuidando também de si mesma (Winnicott,
1983, 1999).
Sampaio et al. (2011), a partir do ponto de vista winnicottia-
no, afirmam que o ato de cuidar constitui-se na produção de um
ambiente que facilite o processo de desenvolvimento da criança,
onde a mãe não é o elemento principal, mas oferece o suporte para
que a criança, por meio de seus processos psíquicos individuais,
atinja sua única e própria maturação.
50
Santos (2012), baseado na obra de Winnicott, afirma que
na relação de cuidado que se estabelece entre mãe e bebê, este já
estará em formação para se tornar uma pessoa total, por meio do
processo de amadurecimento pessoal e de integração. De acordo
com esta teoria, a integração é um estado a ser alcançado por
meio do estabelecimento de um si-mesmo unitário. Contudo,
para que o bebê exista como uma unidade e possa diferenciar
o seu “eu” do “não-eu”, é preciso um cuidado suficientemente
bom. Desse modo, a conquista da integração está baseada na
unidade pessoal do ser diante da maturidade apropriada à idade,
com o desenvolvimento gradual da capacidade de sentir que o
mundo externo e o mundo interno são coisas relacionadas ao eu
individual e particular.
A teoria do amadurecimento pessoal, de Winnicott, com-
preende a formação do indivíduo em dois modos fundamentais:
o de si-mesmo e o de ser-com-os-outros. Primeiro, a formação
de si-mesmo se dá em razão dos cuidados recebidos de alguém,
implicando um ambiente confiável, provedor das necessidades,
com oportunidade de criar um mundo pessoal no qual viver. A
formação para ser-com-os-outros, surge em consequência da
formação de si-mesmo e se dá pela conquista de uma capacidade
de poder assumir responsabilidade por suas ações em relação aos
outros e ao mundo (Santos, 2012).
Sendo assim, o desenvolvimento emocional saudável do indi-
víduo dependerá do cuidado recebido por um outro, nos primór-
dios feito pela mãe, que ofereça um holding adequado. Quando
as condições de cuidado são suficientemente boas, as bases para
a integralidade e o amadurecimento pessoal do indivíduo estão
constituídas, promovendo a integração do ser, a formação de si
mesmo, e, diante disso, pode se voltar para os outros.
Para que o cuidador possa oferecer um bom cuidado, um
holding adequado e ser capaz de ser-com-os-outros, é preciso que
este se constitua como um ser integrado e com maturidade pessoal.
Entende-se que, a partir da constituição psíquica do indivíduo,
é que este poderá desenvolver as capacidades e competências
necessárias para prestar o cuidado ao idoso.
51
Segundo Pavarini et al. (2005), a família permanece como
a responsável por oferecer os cuidados ao idoso, contudo, as
mudanças significativas ocorridas na estrutura familiar, como os
novos arranjos familiares com famílias menores, mulher inserida
no mercado de trabalho e parentes não próximos, doenças crônico-
-degenerativas e seu alto custo, podem dificultar as condições
funcionais para prestar o cuidado adequado ao seu idoso. Dessa
forma, a procura por instituições de longa permanência tende a
aumentar, optando-se por outras formas de atenção e cuidado
proporcionadas aos idosos. No contexto de institucionalização,
as figuras do cuidador formal e das equipes de saúde com capa-
citação pessoal e profissional para prestar serviços de qualidade
tornam-se fundamentais, como se verá a seguir.

O cuidado com idosos institucionalizados


Conforme Born e Boechat (2011), a instituição de longa
permanência (ILPI) deve ser uma moradia especializada, capaz
de oferecer continuados cuidados, entretanto, tanto sua estrutura
física quanto funcional devem se assemelhar a um ambiente do-
méstico, aconchegante, um lugar para morar, assemelhando-se à
vida em família. Para tanto, as ILPIs devem cumprir com suas
funções básicas de assistência gerontogeriátrica e primarem pela
qualidade do cuidado oferecido, por meio da qualificação de seus
funcionários e cuidadores.
No Brasil, ainda persistem ILPIs com configurações e
estruturas constrangedoras, com critérios padronizados e que
promovem a despersonalização do indivíduo (Born; Boechat,
2011), onde o cuidado oferecido não possibilita o respeito à sub-
jetividade e à autonomia do idoso. Nesse contexto, o papel do
cuidador, bem como sua formação profissional e competências
pessoais serão fundamentais para promover a mudança no modo
de fazer e de ser no cuidado para com estes idosos.
Dessa forma, a descrição de competências e habilidades de-
sejáveis no perfil do indivíduo que realiza a atividade de cuidador
é importante para orientar tanto os cuidadores na sua busca por
formação profissional e pessoal, quanto a familiares e instituições
52
responsáveis pelo idoso. Em vista disso, o Ministério do Trabalho
e Renda, por meio da CBO, indica as seguintes competências
pessoais do cuidador de idosos: a) demonstrar preparo físico;
b) capacidade de acolhimento; c) capacidade de adaptação; d)
empatia; e) respeitar a privacidade; f) capacidade de escuta; g)
capacidade de percepção; h) manter a calma em situações críti-
cas; i) capacidade de reconhecer limites pessoais; j) criatividade;
k) capacidade de buscar informações e orientações técnicas; l)
iniciativa; m) preparo emocional; n) transmitir valores a partir do
próprio exemplo; o) honestidade. Sampaio et al. (2011) apontam
o amor, o carinho, o zelo, a paciência e a dedicação como virtudes
indispensáveis para o perfil daquele que cuida do idoso.
Dentre as competências pessoais importantes para o exercício
do cuidado com o idoso, a empatia merece especial atenção. Con-
forme Falcone et al. (2013), é compreendida como um fenômeno
multidimensional complexo, envolvendo componentes cognitivos,
afetivos e comportamentais. O cognitivo refere-se à capacidade
de entender sentimentos e pensamentos de alguém em um de-
terminado contexto, sendo também conhecido como tomada de
perspectiva. O componente afetivo diz respeito ao interesse em
compartilhar sentimentos, experimentar compaixão, preocupação
ou consideração pelo estado de outra pessoa. As expressões ver-
bais e não-verbais que apontam para o entendimento do estado
da pessoa em questão definem o componente comportamental
(Falcone et al., 2013; Falcone et al., 2008; Falcone;
Gil; Ferreira, 2007).
No ambiente institucional, o cuidador é aquele que está
diretamente ligado ao cuidado integral do idoso, estando envol-
vido no ouvir e ver as demandas físicas e emocionais do mesmo.
Nesta relação cuidador/cuidado, a empatia significa a capacidade
de estabelecer um contato direto, ou seja, não somente mediado
por palavras ou conceitos, mas com estados afetivos do outro ser
humano, implicando um modo de cognição perceptual, que se dá
fora do campo verbal, discursivo ou proposicional (Pimentel;
Coelho Junior, 2009). A compreensão empática inclui
prestar atenção e ouvir sensivelmente. Comunicar-se de forma
empática inclui expressar entendimento verbal ou não verbal,
53
de forma sensível às necessidades do idoso e ao respeito à sua
individualidade (Falcone; Gil; Ferreira, 2007).
Dessa forma, pode-se afirmar que a empatia é uma escuta,
uma comunicação entre indivíduos, a partir da qual o cuidador
e o idoso podem estabelecer uma relação de confiança e afeto.
Conforme Falcone et al. (2013, p. 204), “a capacidade para
experimentar e expressar empatia é crucial para a construção e
manutenção de relações interpessoais gratificantes, bem como de
vínculos afetivos seguros”. Os autores enfatizam que, ao considerar
os sentimentos da outra pessoa, o indivíduo torna-se mais apto
a inibir padrões egocêntricos de angústia pessoal ou a manejar
os sentimentos de raiva de forma mais adaptativa, facilitando a
comunicação e o comportamento de ajuda.
Miguel, Pinto e Marcon (2007) assinalam que no cenário
das ILPIs, a dependência do idoso passa a ser uma preocupa-
ção. Ainda, o grande número de idosos com comprometimento
da funcionalidade social, psicológica, cognitiva e motora é um
indicador das condições de saúde/doença que precisam ser obser-
vadas nas ações dos cuidadores. Diante dessa realidade, cabe ao
cuidador zelar e investir na funcionalidade e autonomia do idoso
(Maffioletti; Loyola; Nigri, 2006). A necessidade de
o cuidador manter a autonomia do idoso passa pela capacidade
de este se disponibilizar a ajudar a fazer, o que demanda maior
paciência e tempo, em detrimento do fazer por um idoso. Isso
exige algumas qualidades do cuidador, entre elas a capacidade de
estabelecer uma relação terapêutica por meio da empatia.
Para adequar as ações prestadas aos idosos, no sentido de
fortalecer uma relação terapêutica positiva, Maffioletti, Loyola
e Nigri (2006) consideram dois aspectos fundamentais para o
cuidado: a especificidade clínica da velhice e a noção de singu-
laridade. A primeira relaciona-se às ressonâncias do envelheci-
mento biológico, aos lugares e aos discursos que o velho ocupa
no âmbito social, na família, nos conceitos de velhice do cuidador,
e às consequências destas na formação das referências para uma
assistência diferenciada. Já a singularidade particular e única
em cada sujeito, deve ser entendida como fundamento para um
54
cuidado singularizado que leve em consideração a forma como
cada um vive sua velhice e seu adoecer.
Entretanto, Sommerhalder (2001) lembra que o contexto do
cuidado é bastante complexo e envolve muitos fatores, inclusive
aspectos positivos e negativos associados ao cumprimento das
tarefas e da função de cuidar. É necessário considerar todos os
componentes envolvidos na assistência ao idoso institucionalizado.
Ribeiro et al. (2009) buscaram conhecer o cuidar nas ILPIs
por meio dos relatos dos cuidadores de idosos. Os resultados do
estudo apontaram que muitos cuidadores identificam neles pró-
prios o risco de institucionalização na velhice, associando-se ao
perfil desses profissionais no que se refere aos fatores de risco para
institucionalização, como: gênero, solidão, pobreza, aspectos comuns
entre idosos e seus cuidadores. A dificuldade mais frequentemente
relatada pelos cuidadores foi “de relacionamento com o idoso”.
Segundo Falcone et al. (2013), ao testemunhar o sofrimento
de alguém, pode-se sentir angústia pessoal, sendo uma expe-
riência vicária experimentada como desconforto e que motiva o
distanciamento. Pode-se inferir que estes cuidadores, ao entrarem
em contato com esta angústia experimentada no desconforto das
relações, realizam um movimento de afastar-se do idoso, causando
dificuldades de relacionamento. Os autores do estudo apontaram
a capacitação dos cuidadores para o desenvolvimento de habili-
dades para lidar com os problemas de relacionamento como uma
alternativa de enfrentamento.
Sampaio et al. (2011) esclarecem sobre os sentimentos simul-
tâneos como satisfação e desprazer presentes da rotina de trabalho
do cuidador. Uma experiência que costuma ser gratificante pode
ser ao mesmo tempo desgastante. De um lado há uma competên-
cia emocional do cuidador posta à prova, e, de outro, um idoso
fragilizado e muitas vezes dependente e, nesta situação delicada,
o sofrimento de ambas as partes pode se fazer presente. Diante
disso, os autores citados entendem que a preparação profissional
e pessoal, por meio de capacitações, pode auxiliar o cuidador na
maneira de cuidar e de construir uma relação suficientemente boa
com o idoso, estando a capacitação servindo ao papel de holding
para este cuidador.
55
Considerações finais

Cuidar é uma atitude complexa e que exige diversas compe-


tências pessoais daquele que se dispõe a prestar o cuidado.
Conforme visto na literatura e com base em Winnicott, a cons-
trução do eu depende de um cuidado inicial, uma maternagem
suficientemente boa, que ofereça um holding, entendido como a
ação de suprir, cuidar, conter e oferecer um ambiente favorável ao
desenvolvimento saudável, para que o indivíduo possa se tornar
um ser integrado e maduro.
Entende-se que o indivíduo que tenha recebido o cuidado e
tenha seu desenvolvimento emocional suficientemente saudável
possua condições psíquicas para se engajar na atividade de cui-
dar e na relação entre cuidador-cuidado possa estabelecer trocas
afetivas e terapêuticas por meio da empatia.
Considerando-se a complexidade do cuidado no contexto
das ILPIs, os cuidadores necessitam de um maior suporte para
darem conta das exigências que este trabalho lhes impõe. Dessa
forma, a eles também seria imprescindível o oferecimento de um
holding, o qual poderia se dar pela capacitação profissional, onde
o conhecimento sobre o envelhecimento serviria para amparar a
prática diária. Outra forma seria a instituição poder oferecer um
espaço de escuta para trocas de experiências, medos, angústias
e sentimentos experimentados na prática do cuidar. Além disso,
cuidar de si mesmo, com a busca pelo autoconhecimento é um
dos fatores que pode promover qualidade no cuidado prestado
ao idoso.

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58
Síndrome da fragilidade do
idoso e a interface com o
cuidado nutricional

Jaqueline Stürmer
Luana Ferrão
Luiz Antonio Bettinelli

Introdução

O Brasil vem passando por mudanças sociodemográficas


consideráveis e, em especial, na distribuição etária da sua popula-
ção. Por sua vez, no grupo de idosos ocorre uma série de desordens
nutricionais que precisam de avaliação e acompanhamento multi-
profissional. Neste contexto, está a relevância científica e social
da avaliação do estado nutricional dos idosos, repensando a visão
de que as alterações são normais no processo do envelhecimento
humano. Por sua vez, a maior incidência de doenças crônicas
e incapacidades associadas a mudanças no estilo de vida nesse
grupo vêm determinando uma prevalência crescente de distúr-
bios nutricionais (Ferreira; Marruci, 2008). Além disso, a
obesidade e a desnutrição são dois problemas que coexistem nos
tempos atuais. Apesar de a desnutrição em idosos apresentar-se
como um fator mais fortemente associado à mortalidade do que
o excesso de peso, a obesidade traz consigo importantes repercus-
sões clínicas. Sua importância está associada ao fato de acelerar
o declínio funcional do idoso e agravar suas limitações, gerando,
assim, a fragilidade e a perda de independência e autonomia
(Moreira; Horie, 2007).
59
Portanto, o objetivo deste capítulo é abordar a Síndrome da
Fragilidade no idoso como um processo multifatorial, influenciado
por diversos fatores, como a alimentação, nível de atividade física
e estilo de vida. Logo, o idoso está inserido em um contexto e
deve ser avaliado e acompanhado por equipes multiprofissionais,
podendo assim se fazer a detecção precoce tanto da síndrome da
fragilidade, quanto das alterações do estado nutricional, a fim de
diminuir possíveis agravos relacionados a essas desordens.

Envelhecimento humano

Nos últimos anos, os dados demográficos vêm mostrando


mudanças significativas com relação ao aumento da população
idosa em todo o mundo. Houve um aumento do número de idosos
no Brasil, de 8,6% para 10,8% da população, entre os anos de
2000 e 2010 (Vicente; Santos, 2013).
De acordo com o censo demográfico de 2010, a população
brasileira era de 190.755.199 pessoas, sendo consideradas idosas
20,59 milhões delas, ou seja, aproximadamente 10,8% da popu-
lação total. Desses idosos identificados, 55,5% (11.434.487) eram
mulheres e 44,5% (9.156.112) homens. O estado do Rio Grande
do Sul ocupou o segundo lugar no cenário brasileiro, tendo 15%
de idosos entre sua população total (Ibge, 2011).
Essa transição demográfica do envelhecimento da população
é decorrente de diminuições importantes de taxas de fecundidade,
natalidade e de coeficientes de mortalidade, que levaram a um
aumento da expectativa de vida ao nascer (Fabrício; Rodri-
gues, 2008). Entretanto, apesar do aumento da longevidade, a
expectativa de vida saudável (ou seja, livre de incapacidades) passa
a ser de 59,8 anos, cerca de 12 anos a menos do que a expectativa
total de vida (Schmidt et al., 2011).
Em conjunto com a transição demográfica, observa-se tam-
bém mudanças nos perfis nutricional e epidemiológico da popu-
lação, caracterizados respectivamente, por mudanças no padrão
alimentar, com consequente aumento das prevalências de excesso
de peso e obesidade (Santos; Machado; Leite, 2010), e
60
elevação das taxas de morbidade e mortalidade, decorrentes das
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e de suas compli-
cações, expressas em incapacidades e dependências (Schmidt
et al., 2011).
Atualmente, a saúde do idoso baseia-se no conceito da fun-
cionalidade global, caracterizado pela capacidade de o indivíduo
cuidar de sua própria vida e realizar suas atividades de maneira
autônoma e independente, mesmo na presença de doenças. Assim,
a saúde associa-se ao funcionamento integrado e adequado dos
seguintes sistemas funcionais do organismo: cognição, humor,
mobilidade e comunicação. A presença de doenças crônicas pode
acarretar comprometimento desses sistemas, gerando, assim, as
incapacidades, e consequentemente as síndromes geriátricas,
destacando-se entre elas a fragilidade (Opas, 2012).

Síndrome da fragilidade

A definição da síndrome da fragilidade (SF) é complexa e


ainda não há um consenso na literatura. Ao longo dos anos, este
conceito vem se modificando. Há décadas, definiu-se como frágil
o idoso dependente de outros para as atividades da vida diária
(Woodhouse et al., 1988). Contudo, hoje se sabe que apenas
limitações no desempenho de atividades não esclarecem todo o
quadro clínico e fisiopatológico desta síndrome (Calado, 2013).
Como apenas o declínio funcional não é suficiente para
caracterizar o quadro de fragilidade, alguns grupos de pesquisa-
dores em geriatria e gerontologia passaram a sugerir um quadro
sindrômico de fragilidade de caráter multissistêmico e de perda
de reserva fisiológica, na qual a diminuição da resistência do
organismo a eventos estressores levaria o portador a desenvolver
respostas adversas. Esta diminuição da reserva dificulta a manu-
tenção da homeostase em face de perturbações, resultando em
vulnerabilidade. Sendo assim, a baixa resposta do organismo aos
estressores, a fraca resposta às medidas terapêuticas e a deficiência
do sistema de defesa levariam à perda da autonomia, à piora da
qualidade de vida, ao declínio constante das funções fisiológicas
61
e à morte (Fried et al., 2001; Fried et al., 2004; Bergman
et al., 2004; Singh et al., 2008).
Portanto, a fragilidade é um estado multifatorial e resulta em
vulnerabilidade para o idoso. Quanto mais déficits uma pessoa
apresenta, mais probabilidade ela tem de se tornar frágil. Assim,
parece improvável que uma única causa ou recurso explique ade-
quadamente a fragilidade (Fried et al., 2001; Lally; Crome,
2007; Rolfson et al., 2006).
Um empecilho para o sucesso da definição da fragilidade
é a ausência de um método padronizado e validado para opera-
cionalizar o diagnóstico e o rastreio das pessoas verdadeiramente
frágeis (Meneses, 2014). Entretanto, no ano de 2001, na
conferência nacional do Instituto Nacional do Envelhecimento e
da Sociedade Americana de Geriatria, Fried et al. (2001) apre-
sentaram uma definição operacional do fenótipo da fragilidade,
baseada no estudo longitudinal cardiovascular health study. Esta
é a definição mais utilizada atualmente (Ferrucci et al., 2004;
Walston et al., 2006).
Fried et al. (2001) sugeriram um fenótipo de fragilidade
composto por três ou mais dos seguintes componentes para um
melhor entendimento desta doença: a) emagrecimento: perda de
peso, não intencional (≥ 4,5 quilos ou ≥ 5% do peso corporal no
ano anterior, por medição direta de peso); b) fraqueza: diminuição
da força de preensão da mão dominante, medida com dinamô-
metro, ajustada para gênero e IMC; c) diminuição da resistência
e da energia: cansaço autorreferido, avaliado através de duas
questões da escala de depressão do CES-D; d) lentidão: definida
com base no tempo para andar 4,6 m, ajustado para gênero e
altura; e) baixo nível de atividade física: medido pelo dispêndio
de energia semanal em quilocalorias, ajustado para gênero (com
base no autorrelato das atividades e exercícios físicos realizados,
avaliados pelo Minnesota Leisure Time Activities Questionaire).
Três ou mais critérios caracterizam a síndrome e a presença
de um ou dois critérios caracterizam um estágio pré-frágil (Fried
et al., 2001).
62
Dentre os critérios que caracterizam o fenótipo da fragilidade,
merecem destaque a redução da velocidade de marcha e a dimi-
nuição da força de preensão palmar, indicadores de força muscular
bastante utilizados por serem considerados parâmetros de fácil
medição. O enfoque nestes critérios se deve ao fato de que estas
alterações conferem maior risco para dependência nas atividades
básicas ou instrumentais da vida diária, para a incapacidade,
quedas, fraturas, hospitalização recorrente e morte (Macedo;
Gazzola; Najas, 2008).
Apesar de existir uma heterogeneidade nas manifestações
iniciais da síndrome, diminuição da força de preensão palmar
tem sido relatada como a manifestação inicial mais comum.
Este declínio da força muscular se deve à perda de massa e da
qualidade muscular. O fato de a diminuição da força preceder
as demais manifestações é atribuído a relatos de que a perda de
massa muscular inicia na meia idade (Xue, 2011).
Perda de peso não intencional é um importante componente
nos diferentes critérios utilizados para identificar fragilidade. A
inclusão da perda de peso como critério é compatível com a con-
ceituação de que a fragilidade é uma patologia de perdas e que
tem a sarcopenia como a sua maior característica fisiopatológica.
Entretanto, existem várias teorias que ligam a fragilidade à obesi-
dade e também induzem a um estado pró-inflamatório que pode
estar associado à fragilidade (Hubbard et al., 2010).
Embora critérios de fragilidade enquadrem-se num modelo
coerente e tenham validade, questionamentos têm sido levanta-
dos. Por exemplo, estudos indicam que pessoas obesas são uma
parcela das pessoas consideradas frágeis. Assim, utilizar perda de
peso como critério pode subestimar a prevalência da fragilidade.
E existe também uma tendência para a inclusão de componentes
adicionais nos critérios, como cognição e humor, os quais podem
ser desencadeados pelos mesmos processos biológicos que levam
às manifestações físicas da fragilidade (Bergman et al., 2007).
A incidência e a prevalência da síndrome da fragilidade
variam principalmente pela falta de um consenso acerca da defi-
nição. A prevalência e a incidência de fragilidade na amostra do
cardiovascular health study, realizado por Fried et al. (2001), nos
63
Estados Unidos com 5.317 participantes de 65 anos ou mais, foi
de 6,9% e 7,2%, respectivamente. No mesmo estudo, a fragilidade
esteve associada às seguintes variáveis: gênero feminino, etnia
afro-americana, situação socioeconômica desfavorável, baixo nível
de escolaridade, estado de saúde precário, comorbidade, doenças
crônicas e incapacidade.
No estudo de Chen et al. (2010), realizado em Taiwan, com
2.238 indivíduos idosos, a fragilidade foi identificada em 4,9%
de pessoas com idade igual ou acima de 65 anos, mostrando que
a prevalência de fragilidade foi menor em Taiwan do que nos
países ocidentais. A prevalência da fragilidade relacionou-se com
o aumento da idade e foi frequente nas mulheres. Neste mesmo
estudo, a fragilidade também foi associada com menor escolari-
dade, viuvez, presença de doenças crônicas, sintomas depressivos
e síndromes geriátricas.
A comorbidade, presença de duas ou mais doenças identifi-
cadas a partir de um diagnóstico médico, constitui um antecedente
de fragilidade bastante referenciado pela literatura. Silva et al.
(2009), por exemplo, num estudo envolvendo uma amostra de
conveniência de 113 idosos atendidos em unidades básicas de
saúde, constataram que 20% deles eram frágeis e tinham duas
vezes mais chances de acumular comorbidades do que os não
frágeis, além de apresentarem maior incapacidade para as ativi-
dades de vida diária.
Ao propor um fenótipo da fragilidade em 2001, Fried et al.
demonstraram a existência de um ciclo, mostrando os principais
componen­tes desta síndrome.
De acordo com Lang et al. (2009), esse ciclo consiste no
acúmulo, ao longo da vida, dos efeitos de fatores, como inatividade
física, nutrição inadequada, ambiente não-saudável, lesões, doenças
e drogas. Tais fatores, interconectados, levam à desnutrição crônica
(já exacerbada pelo próprio envelhecimento), com consequente
redução da massa óssea e muscular, sarcopenia, redução da ati-
vidade física e menor gasto energético total.
Essa desregulação energética multissistêmica representa um
processo de magnitude não previsível, ou seja, não se sabe quais
64
sistemas declinam primeiro. O que se sabe, é que tal disfunção
resulta de anormalidades no funcionamento de três principais
sistemas fisiológicos: endócrino, imunológico e neuromuscular
(Fried et al., 2009). Para Fried e Walston (1998), a inter-relação
desses três fatores explicaria a origem do ciclo da fragilidade.

Cuidados nutricionais

O idoso passa por uma série de alterações, que são, na


verdade, fisiológicas e naturais ao envelhecimento, mas que ao
mesmo tempo, torna-o mais frágil ao aparecimento de distúrbios
nutricionais, que podem, por fim, agravar seu estado de saúde
geral (Santos; Machado; Leite, 2010).
Na população idosa, tanto o baixo peso como o sobrepeso são
questões importantes a serem consideradas. Muitos fatores pare-
cem contribuir para a condição do estado nutricional decorrente
do envelhecimento. Os problemas físicos ou fisiológicos, relacio-
nados com a mastigação, a digestão e a absorção dos alimentos,
com a falta de apetite ou a motivação para preparar as refeições,
e a dificuldade de acesso ou a preparação de refeições, entre ou-
tros fatores, podem contribuir para a perda de peso. Além disso,
tabagismo, consumo de álcool e excesso do uso de medicamentos
também podem desempenhar um papel na má nutrição. Por outro
lado, o estilo de vida (sedentarismo, má alimentação), as alterações
hormonais e as doenças podem contribuir para o ganho de peso
(Boscatto et al., 2013).
O estado nutricional do indivíduo idoso exerce importante
influência sobre seu perfil funcional. As alterações na distribui-
ção da gordura corporal – baixo peso ou obesidade – têm sido
positivamente associadas à redução de sua capacidade funcional
(Apovian et al., 2002), sendo a redução da ingestão alimentar
e a perda de massa magra alguns dos fatores que podem desen-
cadear o início do ciclo da fragilidade. Associado a este processo,
destaca-se a perda rápida e não intencional de peso, iniciando assim
a chamada fragilidade nutricional (Bales; Ritchie, 2002).
65
Assim como a fragilidade, a sarcopenia é um processo
multifatorial influenciado por uma série de fatores intrínsecos
e extrínsecos ao indivíduo, incluindo estilo de vida sedentário e
ingestão calórica insuficiente. A redução na ingestão alimentar sem
causa aparente, conhecida como anorexia do envelhecimento, pode
levar à perda de massa muscular devido à falta de aminoácidos,
reduzindo a síntese de proteínas musculares e desencadeando o
processo de sarcopenia. Outro fator que pode estimular a perda de
massa muscular é a desnutrição proteica, visto que indivíduos nesta
condição são incapazes de ganhar massa e força muscular, mesmo
quando realizando exercícios de resistência (Paddon-Jones et
al., 2008; Rolland et al., 2008; Waters et al., 2003).
A sarcopenia é definida como perda involuntária de massa,
força e função muscoesquelética, limitando a capacidade funcio-
nal do indivíduo. Ela afeta a capacidade de locomoção e a força
mandibular, interferindo diretamente no consumo alimentar. Está
associada, também, ao aumento do risco de desidratação, pois
a ocorrência de sarcopenia diminui a quantidade de líquido do
organismo (Moraes et al., 2008).
Somado a isso, durante o próprio processo de envelhecimento
há redução progressiva da altura, de um a dois centímetros por
década; ganho progressivo de peso e índice de massa corpórea
(IMC) até 65-70 anos, diminuindo a partir de então; alterações da
composição corporal, com redistribuição de gordura, que diminui
perifericamente e aumenta no interior do abdômen, e redução da
massa magra (Who, 1995; Waitzberg; Ferrini, 2000).
Como o envelhecimento normal está associado ao progressivo
aumento da massa gorda, com pico por volta de 65 anos, tem sido
descrita uma síndrome reconhecida como obesidade sarcopenica,
na qual os indivíduos têm excesso de peso, com diminuição da
força e aumento da incapacidade física (Blaum, et al., 2005;
Zamboni, et al., 2008). Estas mudanças na composição cor-
poral ocorrem mesmo quando não há alterações significativas
de IMC e têm importantes consequências na parte metabólica e
fatores de risco cardiovascular. A combinação de obesidade com
sarcopenia representa o pior aspecto de ambas às condições, uma
66
potencializando o efeito da outra, resultando em um alto risco de
incapacidade, morbidade e mortalidade (Zamboni, et al., 2008).
Associado às alterações decorrentes do envelhecimento, é
frequente o uso de grande quantidade de medicamentos entre os
idosos, podendo prejudicar o estado nutricional, interferindo no
metabolismo e na absorção de nutrientes, ocasionando desnutrição
e, possivelmente, anorexia, prejudicando o estado de saúde geral
do idoso (Campos; Monteiros; Ornelas, 2000).
Atualmente, há evidências que revelam associação da desnu-
trição com a fragilidade em idosos. Segundo Woods et al. (2005),
em um estudo realizado com 40.657 mulheres de 65 a 79 anos,
observou-se que participantes com um IMC menor do que 18,5
kg/m2, apresentavam maior risco para a fragilidade, quando em
comparação com idosas com o IMC normal.
Apesar de a fragilidade ser considerada uma condição ca-
racterizada por perdas ponderais e de IMC, a literatura mostra
relação desta síndrome com a obesidade e valores aumentados
de circunferência da cintura (Blaum et al., 2005; Fried et
al., 2001; Hubbard et al., 2010; Moretto et al., 2012;
Woods et al., 2005).
No estudo de Fried et al. (2001), evidenciou-se que o aumen-
to do peso corporal, a obesidade central, o aumento da resistência
à ação da insulina e a síndrome metabólica estão associados à
fragilidade.
Hubbard et al. (2010) investigaram a relação entre fragi-
lidade e IMC. Neste estudo, a fragilidade foi definida através
do índice de fragilidade (IF) e do fenótipo de Fried. Os dados
foram ajustados para sexo, idade, nível educacional e tabagismo.
A associação entre IMC e IF apresentou uma curva em forma de
U. O índice de fragilidade foi maior naqueles com IMC menor
que 20 kg/m2 e naqueles com IMC maior que 30kg/m2. Quando
a fragilidade foi identificada através do fenótipo de Fried, a relação
com o IMC também exibiu uma curva em forma de U, sendo
maior a prevalência da síndrome entre aqueles com IMC menor
que 20 kg/m2 e maior que 35 kg/m2.
67
O idoso frágil necessita de um cuidado maior em relação à
sua alimentação e nutrição, em vista das dificuldades que encon-
tra desde a compra, armazenamento e preparo dos alimentos até
outros fatores relacionados à sua condição de saúde, rede social
e contexto de vida que acabam influenciando diretamente no seu
estado nutricional (Campos; Monteiro; Ornelas, 2001).
Além disso, idosos frágeis apresentam risco nutricional au-
mentado (ingestão de energia, geralmente menor que 21 kcal/kg
de peso corporal, baixa ingestão de proteína e nutrientes por via
oral, perda de peso não intencional maior que 5% em 3 meses
ou maior que 10% em 6 meses ou IMC menor que 20 kg/m2)
(Bartali et al., 2006; Jaime, 2014).
Para Souza e Guariento (2009), a intervenção nutricional em
geriatria deve ser realizada de maneira individualizada, em função
do estado nutricional e das múltiplas doenças que acometem essa
população; das mudanças biológicas e psicológicas associadas ao
envelhecimento; da capacidade funcional e das necessidades nutri-
cionais próprias de cada indivíduo. Seu objetivo é proporcionar
todos os nutrientes necessários em quantidades adequadas, para
manter um bom estado nutricional, considerando os aspectos
biopsicossociais.
A intervenção dietética com adequação da quantidade de
energia e proteína, rica em alimentos antioxidantes, ácidos graxos
mono e polinsaturados, nutrientes com atividade potencialmente
anti-inflamatória e vitamina D auxilia na prevenção e no trata-
mento da síndrome de fragilidade e, consequentemente, associada
a exercícios físicos, ajuda a evitar a progressão da sarcopenia
(Volkert et al., 2006).
Portanto, a dieta deve conter quantidade apreciável de no-
zes, peixes, óleo de oliva, carne, leite, legumes e vegetais em
quantidades adequadas e estimadas individualmente. E quando
necessário, ou seja, quando não se conseguir atender às necessi-
dades nutricionais apenas com este tipo de dieta, inicia-se o uso
de suplementos nutricionais por via oral, o que torna possível
aumentar a ingestão de calorias e nutrientes, além de manter ou
melhorar o estado nutricional e reduzir a mortalidade (Volkert
et al., 2006).
68
Apesar de não existir, até o momento, um tratamento especí-
fico para esta síndrome, a realização periódica de uma avaliação
geriátrica global por uma equipe multidisciplinar pode ser capaz
de retardar o declínio funcional e prevenir a fragilidade e, assim,
diminuir o índice de institucionalização e hospitalização, alte-
rando positivamente a taxa de morbimortalidade nesta parcela
da população. No entanto, protocolos sistematizados devem ser
estabelecidos para a otimização do processo de reabilitação desses
pacientes (Macedo; Gazzola; Najas, 2008). As caracterís-
ticas individuais e o grau de fragilidade devem ser observados na
definição dos planos de tratamento, sejam a curto ou longo prazo
(Espinoza; Walston, 2005).
Devido a todas essas alterações fisiológicas, bioquímicas,
psicológicas e sociais, que ocorrem já no envelhecimento saudável,
e principalmente mais acentuadas, quando associadas a algumas
patologias, é fundamental a abordagem e o acompanhamento do
nutricionista junto a essa população. Sobretudo, a atuação desse
profissional envolve a interpretação dos resultados de exames
laboratoriais, a avaliação nutricional, a análise das interações
medicamentos/nutrientes, além da investigação de todos os fa-
tores interferentes ao baixo consumo alimentar e da presença de
sarcopenia e da fragilidade. O conhecimento desses fatores auxilia
na qualificação do planejamento alimentar, que deve envolver a
família e os cuidadores dos idosos (Jacob Filho, 2000).
Quanto antes o diagnóstico da síndrome da fragilidade,
maiores serão as possibilidades de uma abordagem interdisciplinar
para proporcionar uma melhor qualidade de vida ao idoso.

Considerações finais

De modo geral, a síndrome da fragilidade pode ser desenca-


deada por diversos fatores, colocando a saúde do idoso em risco.
Porém, quando ele tem acesso a um acompanhamento multi-
profissional de qualidade, a fragilidade pode ser diagnosticada
precocemente, podendo-se reverter o quadro e consequentemente,
diminuir os danos à sua saúde.
69
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74
Estética corporal:
reflexões sobre o cuidado
no exercício físico com o idoso

Márcia Mello
Susan Vargas Parizzi
Nadir Antonio Pichler

Introdução

Pesquisas têm mostrado que a população de idosos vem


aumentando. Segundo o IBGE (2010), no Brasil, o ritmo desse
crescimento tem sido sistemático e consistente. Com uma taxa de
fecundidade abaixo do nível de reposição populacional, combinada,
ainda, com outros fatores, tais como os avanços da tecnologia,
especialmente na área da saúde, atualmente, o grupo de idosos
ocupa um espaço significativo na sociedade brasileira. Isso faz
com que a qualidade de vida e a prevenção do envelhecimento
humano precoce estejam entre os principais alvos de estudos nas
áreas das ciências sociais, humanas e da saúde. Como afirmam
Civinski, Montibeller e Braz (2011, p. 164),

o envelhecimento é um fenômeno mundial que resulta no cres-


cimento da população idosa, sendo reflexa a longevidade. Desta
forma, a qualidade de vida dos idosos tem sido motivo de dis-
cussões pelos aspectos que ela envolve e interfere. Os estudos
relacionados ao processo natural de envelhecimento e ao aumento
da população de idosos estão voltados para uma relação entre saúde
e envelhecimento, para a prática regular de exercícios físicos, à
capacidade funcional e à qualidade de vida.
75
Por essa razão, a população idosa está buscando novas al-
ternativas para obter um envelhecimento saudável. Não se trata
somente de benefícios fisiológicos, psicológicos, mas também de
uma grande melhora na imagem corporal. Muitos recursos e
serviços estão disponíveis para melhorar a estética facial, corpo-
ral, bucal, entre outras. Destacamos, neste contexto, o exercício
físico, buscado quando o assunto é imagem corporal do idoso. O
objetivo de mover com método e finalidade o corpo não é apenas
para que obtenha ganhos fisiológicos, mas para estimular o próprio
ato de socialização entre pessoas de diversas idades e vivências.
Com isso, surge o prazer em adotar um estilo de vida saudável e,
consequentemente, aceitação global do próprio esquema corporal.
Pessoas idosas não adeptas a exercícios físicos estão mais
vulneráveis a acidentes, pelo fato de não terem mais adequa-
do equilíbrio, força correspondente às necessidades básicas de
locomoção, resistência para executar movimentos em geral etc.
Sendo assim, eleva-se o risco de uma queda ao tomar banho ou
ao caminhar em algum piso irregular.
Com o passar dos anos, estas pessoas tendem a ficar sedentá-
rias, agravando ainda mais a própria situação, pois não têm tanta
disposição para se movimentar, praticar qualquer atividade ou até
mesmo sair da residência. Isso poderá causar doenças crônicas e
degenerativas, aumentando o caso de pessoas incapacitadas para
a prática de atividades cotidianas (Civinski et al., 2011, p. 165).
Segundo Fonseca et al. (2012, p. 354), o desgaste natural do
organismo, fato característico do idoso, provoca perda na multi-
plicidade do sistema sensorial e altera o processo de fornecimento
de informações sobre a percepção corporal. O envelhecimento
traz também impactos emocionais e uma interpretação distorcida
dos parâmetros corporais. Além disso, geram insatisfação com
a aparência: o insucesso na tentativa de reverter as mudanças
características do envelhecimento, a não aceitação do processo
de declínio e a exigência social por um ideal físico difícil de ser
alcançado.
Através dessa percepção, Morin nos incita a perceber que o
rejuvenescimento se democratiza e os seres humanos, cada vez
mais, correm em busca de meios para alcançá-lo (ginásticas, dietas,
76
cirurgias plásticas e outros), o que significa, “metafisicamente, um
protesto ilimitado contra o mal irremediável da velhice” (1999,
p. 157).
Essa insatisfação com o esquema corporal no indivíduo idoso
está fazendo com que muitas academias de ginástica ofereçam
serviços especializados em atividades com idosos. Mas será mesmo
que todos os educadores físicos são capacitados para atender às
necessidades e aos cuidados que esta população necessita?
Na maioria dos casos, quando os idosos procuram por uma
academia, é através da intervenção ou indicação médica e, por essa
razão, o cuidado deve ser maior, pois geralmente essa pessoa vem
acompanhada de patologias. No tratamento medicamentoso há
sempre uma preocupação, porque, quando um remédio faz bem
para uma patologia, pode estar prejudicando outro sistema. Isso
acontece também no exercício físico. Às vezes, um exercício pode
estar sendo benéfico a uma patologia, mas pode estar gerando
outro problema à saúde.
O profissional apto a atender à população idosa, seja ele
especialista ou não, sabe que essas pessoas apresentam, na maioria
dos casos, algumas patologias. As mais comuns são a hipertensão,
o diabetes e as artrites. Cabe ao educador físico facilitar para o
idoso o processo de envelhecimento, pois, certamente, o mesmo
não irá interromper sua rotina por esse novo hábito de vida. Ao
passar do tempo, além dos efeitos positivos no tratamento de
alguma patologia, vão surgindo sensações de bem-estar, felicida-
de, de autonomia, de reconhecimento e de autoconhecimento. A
soma de todos estes fatores mudará diretamente a visão da própria
melhora da autoestima e uma imagem corporal de forma positiva.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho é buscar compreender
o cuidado com o idoso, promovido pelos educadores físicos, a
estética corporal nessa fase da vida e a necessidade da educação
física neste processo.

77
O cuidado com o idoso

Para Waldow e Borges (2011), o cuidado engloba atos,


comportamentos e atitudes. Os atos realizados no cuidado variam
de acordo com as condições em que ocorrem e com o tipo de
relacionamento estabelecido. Existem maneiras distintas de cui-
dar, que variam de intensidade. Dependem da situação, como já
referido, da forma como nos envolvemos com elas e, neste estado,
com o sujeito, motivo de atenção do cuidado. O idoso necessita
de cuidados de todas as formas, como afirma Boff (2008, p. 33),
o que se opõe ao descuido e ao descaso. Cuidar é mais que um
ato, é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de
atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação,
preocupação, responsabilidade e envolvimento afetivo com o outro.
Cuidar é um ato muito amplo, envolve atitudes e sentimentos.
Todas as pessoas necessitam de cuidado e podem ser cuidadoras.
É da essência humana cuidar e ser cuidado. Os idosos requerem
formas mais delicadas de cuidado, já que, muitas vezes, estão
enfermos e necessitam de mais atenção, paciência e carinho.
O zelo pelo indivíduo é muito importante para se obter su-
cesso no ato de cuidar. O verdadeiro cuidado pressupõe, então,
a simpatia enquanto capacidade de compartilhar as alegrias ou as
tristezas, as dores ou os sofrimentos dos outros. Esse sentimento
é natural e pode desenvolver-se em faculdade moral, a saber, em
empatia e até mesmo em compaixão, embora o profissional da saú-
de deva também manter certo distanciamento. Todavia, o cuidado
é mais do que sentimento e é mais importante identificar o seu
objeto e o ato especificamente moral em face dele. Parece evidente
que o objeto do cuidado, no presente contexto, é o bem-estar do
sujeito de pesquisa e/ou do paciente. Nesse sentido, a saúde é um
integrante fundamental, mas não exclusivo (Pessini et al., 2014,
p. 209). Maciel (2010) também enfatiza que o envelhecimento é
um fenômeno complexo e variável, sendo o seu estudo realizado
sob uma perspectiva interdisciplinar.

78
As mudanças na estética corporal

A percepção da imagem corporal e os sentimentos de insa-


tisfação que podem influenciar negativamente a vida geral das
pessoas, seu desempenho profissional e mesmo o relacionamento
interpessoal estão associados a situações de sobrepeso e obesida-
de. Apesar disso, a insatisfação com o corpo também vem sendo
identificada em indivíduos com estado nutricional dentro dos
padrões de normalidade. Isso sugere anseios socioculturais e até
mesmo problemas para identificar (e aceitar) a própria imagem
corporal, nascidos de um imaginário por determinados padrões de
corpo, que, por sua vez, são massificados pela mídia (Pereira
et al., 2009).
Estudos comprovam que movimento e atividade física são
capazes de influenciar a percepção corporal. Trabalhar a percep-
ção do próprio corpo e desenvolver o sentimento de aceitação
das alterações pertinentes à idade são fundamentais para manter
a autoestima, o bem-estar físico e emocional na fase da vida
(Fonseca et al., 2012).
A busca pelo bem-estar é comum em mulheres e homens, de
todas as idades. No entanto, o que se percebe no público idoso
é a importância do relacionamento, dos laços de afetividade que
passam a se estreitar com as profissionais que prestam os serviços
de beleza. Esta característica peculiar dos idosos influencia no seu
estado de espírito, na sua autoestima, favorecendo a sensação de
bem-estar e maior qualidade de vida.
O padrão da estética e da beleza baseado somente na ótica
do jovem, e com a contribuição global da mídia, condena o en-
velhecimento, exalta a juventude e negligencia a longevidade.
A ideia de beleza, que se renovou constantemente ao longo
dos anos, andou sempre lado a lado com o comportamento e as
aspirações do sujeito na sociedade. Independente de cultura ou
época, o conceito de beleza surge como um espelho de costumes
e valores. As crises, as guerras, os tempos de abundância e pros-
peridade sempre condicionam o padrão, o modelo do que é belo.
Porém, também nos deparamos com a longevidade.
79
Segundo Lopes et al. (2007), as conquistas científicas pro-
porcionaram uma longevidade nunca antes vivenciada, enfatizada
por jornais, revistas, internet e televisão. No amálgama de valores
pululantes da contemporaneidade, expostos pela mídia, o novo
conceito ou preconceito da beleza chamou nossa atenção, pois ele
não se apresenta como adjetivo de longevidade, mas sim como
uma metáfora visual da velhice, onde o importante é ser jovem.
Isso nos dá material para estudos futuros quanto ao significado
de beleza.

A educação física e os cuidados com o idoso

A educação física é uma ciência que visa buscar, através do


esporte, das ginásticas, das atividades lúdicas, das lutas, socializar,
integrar e promover o bem-estar e a saúde, entre tantos outros
benefícios possíveis à vida do ser humano e ao seu processo de
envelhecimento.
Para Fraccari et al. (2012), a adoção de um estilo de vida
saudável, por meio da prática de atividades físicas regulares e
moderadas, pode retardar o declínio funcional, além de diminuir o
aparecimento de doenças crônicas no idoso, prevenir quedas e, em
consequência, aumentar a longevidade e a sua qualidade de vida.
Hoje, mundialmente, a mídia tem apresentado vários conte-
údos sobre os benefícios da atividade física, como forma de pre-
venção, de superação e até mesmo como um caminho para a cura
de muitas doenças. As pesquisas nas áreas das ciências humanas
estão ganhando força e várias descobertas estão sendo feitas em
um pequeno espaço de tempo. Com isso, as áreas que envolvem
a educação física vêm buscando atualizar-se. Apesar disso, de
acordo com Lopes et al. (2012), há poucos estudos que apontam
os conhecimentos e as habilidades necessárias ao profissional
de educação física no trabalho com os idosos. Questões sobre a
intervenção profissional em educação física, como por exemplo:
Em que se fundamentam os profissionais de educação física
para dar suporte às suas ações?
80
Qual o nível e tipo de conhecimento envolvido na prática
profissional?
São perguntas fundamentais, pois o envelhecimento popula-
cional é uma tendência mundial e os acadêmicos e profissionais
devem começar a questionar a sua atuação com esta parcela da
população.
Essa falta de conhecimento sobre o envelhecimento humano
na área da educação física, faz com que o profissional da área
esteja muitas vezes trabalhando com idosos, sem prestar atenção
às necessidades dessa população.
Dentro das questões levantadas acima, cabe responder que o
educador físico deve, em primeiro lugar, buscar o conhecimento
que envolve o processo de envelhecimento, que se inicia desde
o nascimento do ser humano, para somente, então, o educador
buscar ter como base a história de vida desse ser, respeitando suas
características e limitações.
É de suma importância obter o conhecimento sobre vivências,
estilo de vida e necessidades do ser idoso. O profissional deve
proporcionar um ambiente favorável e estimulante para desenvol-
ver seu trabalho de forma que possa dar suporte, orientação, cor-
rigir exercícios, enfim, prover atenção, seja ela física ou emocional.
O exercício físico também tem como finalidade intervir no
processo de cura emocional, sendo muitas vezes indicado por
especialistas nas áreas da psicologia e psiquiatria como um tra-
tamento auxiliar no processo de melhora para casos de tristeza,
fobias, estresse, depressão. Para este último, os benefícios do
exercício físico são enormes.
Porém, ao se refletir sobre as atividades físicas, precisa-se
pensar além dos benefícios biopsicossociais proporcionados pela
sua prática, como também, por exemplo, compreender as mudan-
ças de comportamentos individuais e/ou coletivos para a adesão e
manutenção dessas atividades. Essas só proporcionarão os devidos
benefícios se forem realizadas contínua e corretamente. Sendo as-
sim, tão importante quanto investigar os benefícios proporcionados
por essas práticas, é compreender como motivar as pessoas a se
manterem engajadas neste propósito (Maciel, 2010).
81
As universidades têm como meta promover novos conheci-
mentos evidenciando a tríade ensino, pesquisa e extensão, a fim de
preparar e profissionalizar indivíduos para atuarem em diferentes
áreas científicas e humanísticas.
A inclusão de disciplinas voltadas ao estudo do processo de
envelhecimento nos cursos de educação física bacharelado, bem
como o envolvimento dos acadêmicos dos referidos cursos em
projetos de extensão e de pesquisa, auxiliarão na formação de
profissionais qualificados (Lopes et al., 2012).

Considerações finais

Muito é questionado sobre o significado cultural de beleza.


Pois os conceitos de beleza sofreram modificações bem como graus
de importância no decorrer da longevidade. Observa-se que, ao
longo da vida, homens e mulheres tem propósitos diferentes ao
relacionar beleza física. Com o envelhecimento, mudam os olhares
para si mesmos.
Segundo muitos autores referidos neste texto, o envelhecimen-
to provoca grandes mudanças na estética corporal, psicológica e
social. Portanto, a saúde fragilizada e a aparência envelhecida não
representam o fim e sim um novo momento de cuidados, além de
estimularem uma busca por qualidade de envelhecimento. Com
estas novas prioridades, o bem-estar e o convívio com academias
e estéticas passam a ser um novo momento para os idosos. Cabe
aos profissionais saber atender a esse público e suas necessidades.
Porém, ao refletir sobre envelhecimento, ainda precisamos
buscar conhecimentos para atender melhor a esse público e cuidá-
lo com o devido respeito, priorizando o bem-estar, acolhendo-os
em nossas academias e estéticas com ambientes favoráveis à sua
locomoção, cientes do bem que proporcionamos à multidimen-
sionalidade no envelhecimento humano.

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83
84
Qualidade de vida
e cuidados com a alimentação
ao envelhecer

Jocasta Gabriela Gehlen


Franciele Gianchini Esmerio
Nadir Antonio Pichler

Introdução

O envelhecimento das populações é um fenômeno carac-


terístico dos séculos XX e a existência de um número cada vez
maior de pessoas idosas no mundo civilizado é um testemunho
evidente de que o Homem já conseguiu obter o elixir da vida.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo
inteiro, a proporção da população com idade igual ou superior a
60 anos está a crescer mais rapidamente do que qualquer grupo
etário (Oms, 1995).
Entre 1970 e 2025, prevê-se um crescimento da população
idosa da ordem dos 694 milhões, isto é, 223%. Em 2025, haverá
um total de 1,2 bilhões de pessoas com idade igual ou superior
a 60 anos. Em 2050, haverá 2 bilhões, dos quais 80% viverá em
países desenvolvidos (Ibge, 2006).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera idoso
aquele que tem idade a partir de 60 anos em países em desenvol-
vimento (Geneva, 1995). A população idosa brasileira cresce
três vezes mais que a população adulta, segundo dados do IBGE
(2000). Projetam o Brasil para 2025, como o sexto pais do mun-
do em população idosa, com cerca de 15%, com idade igual a
85
superior a 60 anos, atingindo uma população aproximadamente
de 32 milhões de idosos (Chaimowicz, 1998).
Com o aumento do percentual de idosos, revela-se um in-
cremento da esperança de vida, principalmente devido ao avanço
técnico-científico, onde as descobertas na área médica contribuem
para o envelhecimento da população, devido ao declínio acentua-
do e sistemático da fecundidade, ou seja, o controle da taxa de
natalidade, as altas taxas de mortalidade infantil e os processos
migratórios (Veras, 2003).
Os idosos constituem uma parcela da população com neces-
sidades e características ímpares, devido às constantes alterações
nutricionais, físicas, emocionais e metabólicas naturais do enve-
lhecimento, que influenciam nas suas relações interpessoais e na
qualidade de vida (Zaslavsky, 2002).
A antropologia traz contribuições fundamentais para inovação
da abordagem referente ao envelhecimento humano. Questões
referentes aos idosos, quando analisadas sob a ótica antropológica,
permitem ampliar o campo do estudo, no momento em que pos-
sibilitam uma apreensão da experiência subjetiva e de sua relação
com os múltiplos elementos existentes no contexto cultural e social.
Segundo Uchôa et al. (2002), as emoções, percepções e ações
dos indivíduos são construídas em referência a um universo cul-
tural de significados que lhes permite interpretar e responder aos
diferentes acontecimentos e situações da vida. A maneira como
o idoso se cuida sofre influência de suas características pessoais,
em associação com os conhecimentos peculiares advindos de sua
cultura. Desse modo, faz-se necessário ouvir e aprender com os
idosos, os reais significados de sua velhice e como ela interfere
em sua vida, no intuito de desmitificar atributos que ainda são
a eles associados, mas que, muitas vezes, não são incorporados
e considerados como verdades absolutas. O modo de se perceber
na velhice pode ter grande influência em como esse idoso cuida
de si no decorrer do seu processo de envelhecimento.
Existem várias mudanças que são naturais na velhice. A
diminuição do vigor físico não significa adoecimento ou falta de
saúde, mas constitui-se apenas em alteração fisiológica normal
86
atribuída ao processo de envelhecer. A pele enrugada, o cabelo
esbranquiçado demonstram que o organismo está envelhecen-
do, porém não estão relacionados às incapacidades e doenças.
Mesmo com um relativo declínio das capacidades funcionais no
idoso, o mesmo pode desfrutar de um envelhecimento saudável
e promissor.
Segundo Pelzer e Sandri (2002, p. 119),

o idoso é um ser em transformação, podendo ainda amar, em-


preender, trabalhar, criar, em suma, viver. Na nossa sociedade,
muitas vezes, nos esquecemos que o mundo dos afetos não sofre
um processo de deterioração com o avançar dos anos: cada um
de nós tem o desejo de amar e ser amado, ser útil e independente
e sentir o significado profundo que representa a sua existência ao
longo do curso de vida.

Assim, o objetivo deste texto é descrever alguns aspectos da


qualidade de vida e cuidados com a alimentação ao envelhecer.

Qualidade de vida

Sabe-se que, já em meados da década de 70, Campbell


(apud Awad; Voruganti, 1976, p. 558) tentou explicitar as
dificuldades que cercavam a conceituação do termo qualidade de
vida, como sendo “uma vaga e etérea entidade, algo sobre a qual
muita gente fala, mas que ninguém sabe claramente o que é”. Essa
afirmação, feita há cerca de trinta anos, ilustra a ênfase dada na
literatura mais recente às controvérsias sobre o conceito, desde
que este começou a aparecer na literatura, associado a trabalhos
empíricos.
Duas tendências quanto à conceituação do termo na área de
saúde são identificadas: qualidade de vida como um conceito mais
genérico, e qualidade de vida relacionada à saúde.
Interessados na clarificação desses conceitos, Smith et al.
(1998) investigaram a importância de três grandes dimensões:
87
saúde mental, funcionamento físico e funcionamento social sobre
a percepção da qualidade de vida e do estado de saúde.
Estudiosos enfatizam, então, que qualidade de vida só pode
ser avaliada pela própria pessoa, ao contrário das tendências
iniciais deste uso do conceito quando dita qualidade era avaliada
por um observador, usualmente um profissional de saúde. Nesse
sentido, há a preocupação quanto ao desenvolvimento de métodos
de avaliação e de instrumentos que devem considerar a perspec-
tiva da população ou dos pacientes, e não a visão de cientistas e
profissionais de saúde (Slevin et al., 1988).
As revisões de literatura cobriram que, ao lado dos esforços
direcionados para a definição e avaliação da qualidade de vida na
área de saúde, havia lacunas e desafios teóricos e metodológicos
a serem enfrentados. Gill et al. (1994) procuraram identificar
como a qualidade de vida estava sendo definida e mensurada na
área de saúde, mediante a revisão de 75 artigos que tinham este
termo em seus títulos, publicados em revistas médicas. Depois
de verificar que somente 15,0% dos trabalhos apresentavam uma
definição conceitual do termo e 36,0% explicitavam as razões para
a escolha de determinado instrumento de avaliação, os referidos
autores concluíram que havia falta de clareza e consistência quanto
ao significado do termo e à mensuração da qualidade de vida.
Para a população idosa, a qualidade de vida está relacionada
ao bem-estar, à felicidade e à realização pessoal. Segundo Neri
(2004), a melhor avaliação dessa qualidade envolve funcionalidade
física e cognitiva, valores, autojulgamento, maneira de utilização
do tempo, comportamento social, experiências, sentimentos e
expectativas. As particularidades que essa faixa etária apresenta
apontam a necessidade do desenvolvimento de instrumentos es-
pecíficos para avaliar sua qualidade de vida. Com esse objetivo,
o grupo World Health Organization Quality of Life Group
(WHOQOL) desenvolveu o questionário WHOQOL-OLD,
validado no Brasil por Fleck et al.

88
Cuidados com a alimentação ao envelhecer

O envelhecimento é um processo caracterizado por mudanças


biológicas normais que ocorrem com o passar da vida. Nos idosos,
as funções no organismo diminuem como um todo, diferenciando-
-se na intensidade segundo o órgão ou sistema em questão.
A comida traz sobre si um profundo significado simbólico, é
algo mais que nutrientes; família, história e cultura estão espelha-
das inconscientemente na prática do hábito alimentar, que reflete
diretamente o gosto e a preferência dos grupos sociais em que os
indivíduos estão inseridos (Woortman, 1985).
Além do aspecto econômico, outras condições de ordem social
podem afetar diretamente a alimentação dos idosos. O isolamento
familiar e social pode levar à falta de cuidado consigo mesmo,
resultando em um consumo elevado de alimentos industrializados
(como doces e massas) ou de fácil preparo (como chás e torradas),
que podem predispor a inadequações alimentares do ponto de
vista qualitativo e quantitativo (Canesqui, 2005).
O estado de ânimo do idoso para ingerir alimentos pode ser
modificado por simples atitudes, como, por exemplo, posicionar-
se confortavelmente à mesa, em companhia de outras pessoas
(Campos et al., 2000)
A alimentação desempenha, na vida das pessoas, um papel
abrangente que envolve não apenas uma simples incorporação de
material nutritivo necessário à sobrevivência, mas algo que pos-
sui um profundo significado subjetivo, social e cultural (Silva,
2007), ligado ao simbólico e ao imaginário (Philippi, 2008). A
nutrição é um fenômeno pluridimensional, que envolve o corpo,
os sentidos (prazer), a vida de relação (ritual), o intelecto, o afeto,
a sociabilidade e as relações sociais.
As práticas alimentares sofrem os efeitos da estruturação
econômica e política da sociedade; refletem as desigualdades
sociais, submetendo-se, no modo de vida urbano-industrial,
a novas e tradicionais relações sociais, modos de consumo, de
distribuição e uso dos alimentos. As ideias sobre os alimentos, as
crenças nas suas propriedades, os efeitos que os acompanham,
89
envolvem valores sociais, noções de moralidade, comportamentos
apropriados, relações entre distintos grupos de idade e gênero,
permeando ainda, pela identidade social, relações com o corpo e
o gosto (Canesqui, 2005).
O idoso pode ficar reduzido, gerando uma diminuição no
consumo alimentar e, consequentemente, deficiência de nutrientes
específicos e até estados de desnutrição. Para a avaliação nutri-
cional do idoso, é fundamental ressaltar uma história alimentar.
Contudo, é necessário questionar o idoso, assim como os fami-
liares, sobre alterações de peso, restrições alimentares voluntárias
ou impostas, alcoolismo, depressão, alterações gastrointestinais,
doenças crônicas e uso de medicamentos. Uma alimentação diver-
sificada, com alimentos de diferentes fontes, oferece os nutrientes
necessários para uma nutrição equilibrada, desde que ingeridos
na quantidade recomendada para suprir os gastos energéticos.
Alterações no estado nutricional em idosos também se asso-
ciam a modificações sensoriais, como a redução da sensibilidade
para os gostos primários – doce, amargo, ácido e salgado –, que,
juntamente com eventual perda da acuidade visual, audição e
olfato, passam a ser fatores relevantes na diminuição do consumo
alimentar. Além disso, o uso de medicamentos pode interferir
na ingestão, no sabor, na digestão e na absorção dos alimentos
(Monteiro, 2009).
O distúrbio nutricional mais importante observado em idosos
é o baixo peso. Este está relacionado à redução da qualidade de
vida e a elevados índices de mortalidade e susceptibilidade às
infecções (Veras, 2003), bem como à alta incidência de osteopo-
rose, fraturas, problemas respiratórios e cardíacos e a altas taxas
de mortalidade ligadas à gravidade das deficiências nutricionais.
Observa-se que a principal causa do baixo peso em idosos está
associada à diminuição do consumo alimentar, entre outras várias
condições, tais como: redução do apetite, frequentemente observa-
da e associada à baixa atividade física ou imobilização, isolamento
social e depressão; uso de medicamentos que ocasionam perda de
massa corporal pela diminuição do apetite, má absorção, aumento
do metabolismo ou combinação de anorexia e metabolismo aumen-
tado. Outras situações que contribuem para redução da ingestão
90
de alimentos são: diminuição da sensibilidade e menor capacidade
de identificar cheiros e sabores; dentição prejudicada, causando
restrições dietéticas por dificuldade em mastigar e ingerir dietas
monótonas associadas com problemas dentários e alterações do
estado mental (Campanella et al., 2007).
Nos idosos, assim como em toda a população, a quantidade
energética ingerida na alimentação é fundamental para manter
um estado nutricional adequado.
O fracionamento das refeições, assim como a diminuição do
seu volume, contribuem para o processo de digestão, absorção
e aproveitamento dos alimentos. Recomenda-se o consumo de
quatro a seis refeições diárias. Além disso, é importante a refeição
apresentar aspectos agradáveis, como cor, sabor, aroma e textura.
A redução na massa magra corpórea e a atividade física
estão associadas com a necessidade total de energia. O metabo-
lismo basal reduz cerca de 10% até os 60 anos, e aumenta com o
passar da idade, influenciando diretamente a diminuição do gasto
energético (Ferreira, 2007).

Considerações finais

Como vimos, para um bom envelhecer, é necessário qualidade


de vida, sendo essencial preocupar-se com moradia, ambiente
familiar, alimentação, higiene, condições socioeconômicas, con-
dições adequadas de atendimento à saúde, enfim, estar atento a
toda a estrutura para que um ser humano viva dignamente em
qualquer idade.
Uma das prioridades da qualidade de vida é a alimentação.
Na terceira idade, tudo muda: o paladar, a capacidade de identi-
ficar sabores e odores, o apetite. O organismo em si se modifica
totalmente e o idoso fica mais sensível para o processo de se
alimentar. Deve-se observar e adequar a alimentação, mudando
texturas, temperaturas, cuidando muito a qualidade nutricional,
pois nessa fase os idosos podem sofrer com desnutrição, anorexia
e às vezes obesidade, ocasionando outras patologias associadas à
nutrição.
91
A vida tem durado mais para a população em geral. A expec-
tativa de vida tem sido mais longa. É verdade. Porém, daqui a
alguns anos, o nosso país terá mais idosos do que jovens, devido,
entre outros fenômenos, à baixa fecundidade. Por isso, devemos
aprender mais sobre o processo de envelhecimento, começando
por compreender que idosos não são objetos, muito menos coisas
velhas descartáveis após o uso. São pessoas, por isso, importantes,
ademais de estarem cheias de experiências e sabedorias, pelos anos
vividos; de poderem contribuir, inclusive, com o bem-estar de
jovens e adultos. Basta proporcionar-lhes humanidade.

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94
Atenção multiprofissional
em cenários de cuidados
de longa duração

Eduarda Brum Guedes Salcher


Marilene Rodrigues Portella
Helenice de Moura Scortegagna

Introdução

Com a alteração no perfil demográfico e epidemiológico e


com o constante crescimento do contingente de idosos, eleva-se
também a possibilidade desse segmento ser atingido por doenças
crônicas não transmissíveis (DCNTs). As limitações funcionais e
incapacitantes, aliadas ou decorrentes das DCNTs, implicam um
aumento da demanda de cuidados por períodos prolongados e
contínuos (Tannure et al., 2010; Moraes, 2012; Gratão
et al., 2013).
De uma forma geral, a família sempre foi a prestadora de
cuidado. Devido ao aumento da participação das mulheres no
mercado de trabalho, do declínio da fecundidade, das mudanças
nos padrões de arranjo familiar, entre outros fatores, o cuidado
domiciliar está se tornando um recurso cada vez mais escasso.
Aumentando, assim, a procura por modelos alternativos de cuidado
de idosos em situação de dependência (Colomé et al., 2011;
Camarano; Kanso, 2010).
Os cenários de assistência ao indivíduo na condição aguda,
em geral, são reconhecidos como aqueles existentes nos serviços
de saúde, tais como hospitais, ambulatórios, clínicas entre outros.
95
Todavia, nas situações crônicas, além dos serviços de saúde, temos
o próprio domicílio do indivíduo e as residências coletivas nomi-
nadas de instituições de longa permanência para idosos (ILPI),
cuja função é o atendimento às necessidades dos longevos, das
famílias e da própria sociedade (Camarano, 2008; 2010).
Conforme normatiza a Resolução de Diretoria Colegiada
(RDC) nº 283 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), as ILPIs são instituições governamentais ou não
governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílios
coletivos de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com
ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e dignidade e
cidadania (Brasil, 2005).
Watanabe (2010) alerta que as ILPIs prestam serviço híbrido:
social e de saúde, e mesmo não tendo foco principal na saúde,
necessitam prestar esse tipo de cuidado, pois, em geral, as pessoas
procuram essa modalidade quando a família não dispõe de um
cuidador ou então a complexidade do cuidado se estendeu além
das suas possibilidades.
Por outro lado, Camarano et al. (2010) alertam que as
instituições nem sempre contam com uma estrutura financeira
suficiente no Brasil, e o mesmo se aplica aos recursos humanos
capacitados para atuar no contexto gerontogeriátrico. Nesse
alinhamento, Creutzberg et al. (2011) salientam que as ILPIs,
principalmente as destinadas a idosos de baixa renda, passam por
dificuldades para manter uma equipe multiprofissional que atenda
às especificidades da legislação vigente.
No que confere aos requisitos legais sobre a normatização de
funcionamento das residências coletivas, a RDC nº 283 delibera
a respeito dos recursos humanos, recomendando que a ILPI
tenha em seu quadro funcional profissionais com vínculo formal
de trabalho ou terceirizados, que desempenhem atividades de
cuidado, lazer, serviços de limpeza, alimentação e lavanderia.
Assim, entende-se que este cenário de cuidado envolve uma
equipe multiprofissional.
Este capítulo tem por objetivo fomentar discussão sobre a
composição das equipes multifuncionais de saúde atuantes em
96
instituições de longa permanência para idosos, bem como a sua
importância de atuação nesses cenários, refletindo na melhoria do
atendimento e cuidado prestado aos idosos institucionalizados.
Composição apropriada dos recursos humanos
para cenários de cuidado de longa duração

Uma equipe multiprofissional é destacada por Silva e Santos


(2010) como aquela destinada a desenvolver suas atividades de
forma complementar, podendo assistir o idoso integralmente. Para
tanto, a formação de recursos humanos em uma ILPI deve ser
minimamente composta por profissionais de diferentes categorias,
como ilustra a figura a seguir:

Enfermagem
Educação
Farmácia
física

Fisioterapia Odontologia

Categorias
profissionais

Nutrição Medicina

Assistência
Psicologia
social
Terapia
ocupacional

Proposição de uma equipe multiprofissional para atuação


em instituições de longa permanência para idosos – ILPIs.

97
Nessa linha de pensamento, Silva, Yamamoto e Fernandes
(2010) comentam que o trabalho multiprofissional não somente
melhora a qualidade do atendimento, como também demonstra
respeito à dignidade da pessoa idosa, atendendo suas necessidades
no plano multidimensional, requisito este entendido como princí-
pio fundamental pela Política Nacional do Idoso, pelo Estatuto do
Idoso e pela própria Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
(Brasil, 2006, 2010).
Comentando o enfoque da enfermagem na atenção ao ido-
so em ILPIs, Yoshitome (2010) frisa que o enfermeiro será o
profissional que efetiva o cuidado, além de prestar serviços que
englobam atividades de todas as suas áreas de atuação, e fará
também a articulação com toda a equipe multiprofissional. Isso
engrandece o serviço prestado em uma ILPI, além de garantir
uma assistência de qualidade aos residentes.
Aderindo a essa ideia, Luppi e Carvalho (2010), tratando da
atuação farmacêutica em ILPIs, concordam que uma instituição,
com equipe operando de forma interdisciplinar, atua de forma a
facilitar o enfoque gerontológico. Contudo, o farmacêutico não
está nas especificações da equipe mínima, conforme a RDC n.
283, mesmo as intervenções desses profissionais tendo se mostrado
benéficas na atenção ao idoso institucionalizado.
Abordando também a temática da equipe multiprofissional
atuante em ILPI, Fló (2010) afirma que, para o desenvolvimento
de boas relações no convívio dos residentes, a instituição precisa
contar com atendimento de fisioterapia, contribuindo, assim, à
melhoria da autonomia do idoso durante sua permanência no
estabelecimento. Logo, as ILPIs necessitam de modificações para
que a assistência vise à comodidade e ao conforto na senescência.
Da mesma forma, faz-se necessária a atuação do educador
físico frente ao processo de envelhecimento, pois este é o profis-
sional capacitado para desenvolver atividades físicas que respeitem
as transformações e limitações próprias deste estágio da vida.
Discutindo sobre a assistência prestada ao idoso institucionali-
zado, Vilela (2010) dá ênfase à atuação do médico articuladamente
com toda a equipe multidisciplinar, onde todos os profissionais
98
contribuem, sem diferenças de classe, para a mediação de agravos
de riscos, já que nesse caso o médico iria munir o grupo de tra-
balho com informações pertinentes a todos os residentes. Ainda
na atenção ao idoso, Vilela ressalta que, além da composição bá-
sica da equipe de saúde, pode vir a ser necessária a contratação
de profissionais especializados, para casos específicos dentro do
atendimento na instituição.
Tibério, Farac e Santos (2010), ao tratarem da relevância de
um profissional odontólogo atuando nas ILPIs, reforçam que
não somente o dentista, como também os outros profissionais de
saúde do grupo de trabalho podem cooperar com a conservação da
saúde bucal dos idosos, reforçando, assim, a complementaridade
e a importância que os profissionais de saúde terão se atuarem de
forma interligada na equipe.
Vindo a concordar com o já exposto anteriormente, Zenatti
(2010) dá relevância ao atendimento psicológico dentro das ins-
tituições de longa permanência para idosos. Enfoca a articulação
do psicólogo com a equipe multiprofissional, visando à atenção
em saúde mental com o residente e familiar, e também dentro da
equipe de saúde, pensando e reforçando a importância de ações
multidisciplinares.
Nessa visão, pode estar inserido o profissional do serviço
social. Berzins e Silva (2010) manifestam-se sobre a importância
deste profissional atuando em ILPI, por ter um olhar abrangente
da situação experimentada pela institucionalização. Incentivam
o desenvolvimento de ações para que as necessidades dos idosos
sejam preenchidas integralmente, bastando interligar os profis-
sionais que compõem a equipe de saúde. Reforçam que o serviço
social, juntamente com outros profissionais que trabalham com
o universo do envelhecimento podem contribuir na obtenção de
subsídios para concretizar a manutenção da cidadania e da dig-
nidade durante a institucionalização.
Conforme ressaltam Ferrari e Fonseca (2010), tratando do
exercício de trabalho do terapeuta ocupacional, este é um profis-
sional que deve integrar a equipe de saúde atuante na assistência
ao idoso residente, já que, por se tratar de atividades gerontoge-
99
riátricas, a atenção deve ter uma abordagem interdisciplinar, com
um trabalho contínuo, integral e progressivo.

Retratos de uma realidade

Em um estudo desenvolvido entre os anos de 2010 e 20131,


contemplando 14 ILPIs do município de Passo Fundo, entre os
vários aspectos estudados, incluiu-se a caracterização dos recursos
humanos atuantes nesses cenários, conforme quadro:

Profissional Caracterização da equipe de saúde

10 enfermeiros, apenas um do sexo masculino. O


tempo de formação foi em média de nove anos
e meio. Apenas um informou ser especialista na
área de gerontologia. Os demais informaram que
a prática profissional no contexto das ILPIs, dá-
-se pelas vivências diárias. Em média, trabalham
em torno de 28 horas semanais, com afazeres que
Enfermagem envolvem gestão do cuidado, gerenciamento de
pessoas e recursos. Cada enfermeiro tem cerca de
oito funcionários sob sua supervisão, envolvidos
diretamente nas atividades de cuidado. Atende a
todos os residentes, cujo grau de dependência pre-
dominante varia entre G II e III.
Oito nutricionistas. O tempo de formação foi em
média de cinco anos e sete meses. Somente três
indicaram ter especialização na área da nutrição
clínica. O tempo médio de experiência em ILPI
está em torno de dois anos e três meses. No que
Nutrição se trata do vínculo empregatício com a ILPI, cinco
são profissionais autônomos e três são contratados
pela instituição. Em média, realizam seis horas de
atividades semanais, atendendo cerca de 27 idosos.

1 Pesquisa intitulada “Cenários de cuidado de longa duração: possibilidades avaliativas,


interventivas e educacionais”. Foi desenvolvida pelo grupo de pesquisa Vivencer/CNPq/
UPF, agregada à linha de pesquisa “Aspectos educacionais e psicossociais do envelhe-
cimento humano”, sob a coordenação da profa. Dra. Marilene Rodrigues Portella, com
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UPF, sob o parecer no 393/2011.

100
Três educadores físicos, do sexo feminino, com tem-
po de formação entre seis e 19 anos, com experiên-
cia de trabalho com idosos em grupos de convi-
vência por mais de cinco anos, mas em ILPIs uma
média de dois anos e meio. Desses, dois profissionais
atendem à demanda da instituição, um através de
Educação física convênio com o município, o outro de forma autô-
noma, com trabalho personalizado, atendendo por
indicação familiar. Todos têm especialização, mas
não contemplam a área da gerontologia.
11 fisioterapeutas, sendo que cinco atuam em duas
instituições. Predomina o sexo feminino. Somente
quatro são homens. O tempo de formação varia
entre dois e 13 anos, e o tempo de experiência e
de atuação em ILPI em torno de quatro anos. Três
Fisioterapia possuem especialização na área de gerontologia.
Quanto ao vínculo empregatício, 10 são profis-
sionais autônomos e um é contratado pela institui-
ção. Quanto ao grau de dependência dos idosos,
há predominância dos G II e III
Seis psicólogos, apenas um do sexo masculino. Tem-
po de formação média de oito anos e meio, sendo
que dois profissionais são recém-formados. Dois
possuem especialização na área de gerontologia.
Psicologia O tempo de experiência em ILPI varia de três a 12
anos. As horas semanais de atividade desempe-
nhadas variam de duas a quarenta horas semanais

No referido estudo, incluíram-se ILPIs privadas com e


sem fins lucrativos, portanto, há que se considerar as diferentes
estruturas administrativas e a influência do aspecto financeiro
na gestão, em especial das filantrópicas. A composição de uma
equipe multiprofissional nos cenários de cuidado de longa dura-
ção estudados, está longe de atingir um parâmetro homogêneo.
O que existe de comum em todas é a composição da equipe de
enfermagem, explicada pela necessidade premente de cuidado
e assistência aos idosos, condição essa encontrada nos estudos
de Christophe (2009) e Camarano (2010), que contemplam a
realidade brasileira. Denota-se uma variabilidade na formação da
equipe acerca dos demais profissionais, uma vez que, em algumas
101
instituições, a composição fica atrelada à condição financeira da
família, do tutor ou dos próprios recursos do idoso, para a con-
tratação desse serviço.

Considerações finais

A família é reconhecida como o elemento primordial no


cuidado do seu ente idoso, todavia a transição demográfica e
epidemiológica aponta novos desafios. Nesse aspecto, cuidar de
um familiar idoso nem sempre é uma tarefa fácil para a família.
Quiçá para os que não são da família.
As ILPIs são alternativas necessárias e destinadas a esta
questão urgente, mesmo que seu quadro funcional não contem-
ple uma equipe multiprofissional reconhecida como apropriada,
observa-se que essa tendência está a caminho.
É de responsabilidade também das instituições formadoras de
recursos humanos preocupar-se com essa problemática, seja com
a inclusão da temática em seus currículos, seja com o fomento ao
debate encaminhado por meio de eventos pertinentes, tais como
congressos, jornadas, seminários, simpósio entre outros.
Por outro lado, os conselhos de classe, necessitam assumir sua
parcela de contribuição, discutindo entre seus pares, a inserção
dos profissionais nesses cenários de cuidado.
Ainda, somente a consolidação das políticas públicas de
atenção à pessoa idosa poderá garantir que, no futuro, venhamos
a contemplar a qualificação do cuidado nos cenários de cuidado
de longa duração

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104
Bem-estar subjetivo
e o cuidado na velhice

Cristina Ribas Teixeira


Silvana Alba Scortegagna
Claudia Daiane Trentin Lampert

Introdução

O envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de


vida dos idosos é uma realidade mundial e, especialmente, brasilei-
ra. Os baixos índices de mortalidade e os avanços das conquistas
tecnológicas acenam para um alto crescimento da população de
indivíduos com 80 anos ou mais, em um futuro breve. Para Ca-
marano e Kanso (2010), a certeza desse crescimento populacional
e a maior sobrevivência de pessoas com redução da capacidade
cognitiva, física e mental, despertam preocupações e incertezas
em várias áreas do conhecimento, com relação às possibilidades
e condições de cuidados para com estes longevos. Partindo do
pressuposto de que, para se envelhecer com saúde e qualidade
de vida, é preciso encarar este processo de forma positiva, vale
a pena entender os influenciadores de uma velhice saudável. O
objetivo deste trabalho é, portanto, descrever e analisar os fatores
que intervêm na velhice saudável e as contribuições do bem-estar
subjetivo (BES) na promoção de qualidade de vida do idoso, entre
estes o cuidado e seus significados.
Para isso, o texto encontra-se estruturado em dois tópicos.
No primeiro, descreve-se o conceito de cuidado, seus significa-
dos, abordando alguns estudos filosóficos, estabelecendo uma
relação com a constituição do indivíduo, como algo essencial nas
105
relações interpessoais. No segundo, aborda-se o BES, os seus
componentes, sua importância para o ingresso e a adaptação na
velhice. Dessa forma, é preciso pensar as potencialidades internas
do idoso que possibilitem a adaptação aos diferentes contextos do
envelhecimento.

Cuidado: conceito e significados

A palavra cuidado significa atenção, precaução, cautela, di-


ligência, desvelo, preocupação (Boff, 2008). Segundo o autor,
deriva do latim cura (coera) de uso em contextos que envolviam
relações de amor e amizade (Bouwman, 2011). A palavra ex-
pressava atitudes de ocupação, responsabilização e envolvimento
afetivo com o ser cuidado. Desse modo, o cuidado passa a existir
quando a existência do outro passa a ter um significado na vida
de quem cuida. Já para Waldow (2008), o cuidado humano é
compreendido como uma forma de ser, viver e se expressar. Sen-
do assim, implica um modo de ser no mundo, onde o indivíduo
passa a olhar o outro na sua amplitude, sendo a base propulsora
do desenvolvimento do ser como humano (Boff, 2008).
O cuidado, por sua própria natureza, possui dois significa-
dos que estão inter-relacionados, por ser uma atitude de atenção
e desvelo para com o outro, ao mesmo tempo em que representa
inquietação e preocupação, devido ao envolvimento emocional
com quem está sendo cuidado (Boff, 2008; Dalbosco,
2006). Para Waldow (2006), o ato de cuidar tem início como uma
forma de sobrevivência ou expressão de carinho e envolvimento
emocional com o outro. Desse modo, cuidar implica colocar-se
no lugar do outro, ter empatia, entrar em sintonia, afinar-se com
ele (Dalbosco, 2006). O autor refere, ainda, o cuidado como
forma de garantia para o desenvolvimento cognitivo, moral e
estético do indivíduo. Está relacionado a uma atitude, envolve
conhecimento, valores, habilidades. É o que dá sustentação às
relações interpessoais (Bouwman, 2011; Dalbosco, 2006).
Segundo Waldow (2006), o cuidado é um fenômeno exis-
tencial, relacional e contextual. Existencial, porque é parte do
106
ser humano; relacional, porque ocorre com relação a outro ser
e, contextual, devido às maneiras e diferenças de cuidado que se
expressam conforme o meio em que ocorre. Waldow (2008) refere
que o ser humano é um ser de cuidado; necessita de cuidados
para que possa constituir-se, entretanto a maneira como o indi-
víduo foi cuidado durante as etapas da sua vida vai refletir nas
atitudes de cuidado com o outro e consigo mesmo, já que o ato
de cuidar tem a intenção de promover o bem-estar do indivíduo,
com qualidade de vida.

Bem-estar subjetivo e o cuidado na velhice

O BES é o julgamento subjetivo do quanto as pessoas estão


felizes com suas próprias vidas (Diener; Scollon; Lu-
cas, 2003). Possui um componente emocional (afeto positivo
e negativo) e um cognitivo (satisfação de vida). O componente
emocional reflete a intensidade e a frequência com que as pessoas
sentem emoções. Ou seja, indivíduos com altos escores para o
afeto positivo vivem frequente e intensamente episódios de prazer,
enquanto indivíduos com altos escores em afeto negativo têm a
mesma experiência com episódios de desprazer (Watson, 2005).
Dessa forma, a maneira como o idoso se percebe e se reconhece
possibilita ao mesmo cuidar de si.
O BES também é conhecido como felicidade (Albuquer-
que; Tróccoli, 2004; Giacomoni; Souza; Hutz, 2014),
sendo um sinalizador de saúde mental, além de ser considerado
um constructo essencial para ingresso e adaptação na terceira idade
(Guedea et al., 2006). Pode contribuir a partir da avaliação
que as pessoas fazem de suas vidas e das outras pessoas. Além
disso, pode auxiliar de maneira prazerosa em situações cotidianas
do indivíduo, nas relações interpessoais, no convívio social e na
formação de vínculos, participação em grupos (Aparecido;
Passareli, 2007; Schneider; Irigaray, 2008).
Estudos evidenciaram que a satisfação com a vida é maior
em adultos que possuem sentimentos de esperança (Bailey;
Snyder, 2007); mostrou-se relacionada ao alcance de objetivos.
107
E pessoas que cultivam a esperança tendem a alcançar seus ob-
jetivos mais facilmente, porque mantêm a persistência em buscar
várias formas para consolidá-los.
As variáveis positivas do bem-estar subjetivo (BES) e os
traços de personalidade também foram foco de estudos. Day
et al. (2010) investigaram a associação entre a esperança e a
personalidade. Os autores encontraram correlação positiva entre
esperança e extroversão e correlação negativa entre esperança e
neuroticismo. Esta correlação, possivelmente, aconteceu porque,
ao procurar por um objetivo, o indivíduo esperançoso precisa se
comportar de um modo mais extrovertido. Segundo Neri (2006),
a extroversão, os afetos positivos e o otimismo estão associados
a uma maior longevidade, uma vez que, idosos bem humorados
e otimistas têm maior longevidade, menor risco de doenças,
cardiovasculares e possuem melhor recuperação pós-cirúrgicas.
Outros estudos demonstraram que os resultados das corre-
lações entre a personalidade e o otimismo foram semelhantes aos
obtidos com a esperança. Norem e Chang (2002) encontraram
correlação positiva entre otimismo e extroversão. Marshall et al.
(1992) descobriram correlação positiva entre otimismo, extro-
versão e afetos positivos. Robins et al. (2001) relataram que a
personalidade é um fator decisivo na autoestima. Indivíduos com
escores de autoestima elevada foram emocionalmente estáveis,
extrovertidos e abertos a experiências. Conforme Neri (2006), o
BES sofre influência da personalidade, uma vez que, a dinâmica
emocional do indivíduo tem como base os processos constitutivos
da estrutura de traços de personalidade e os processos constitu-
cionais herdados pelo indivíduo, mas que ambos podem sofrer
influências do meio e do processo de desenvolvimento. Desse
modo, conforme o contexto em que o idoso está inserido, terá
maior ou menor flexibilidade para expressar emoções positivas
e negativas.
É importante destacar que o BES contribui não apenas para
a avaliação que as pessoas fazem de suas vidas, mas também de
outras pessoas, e pode auxiliar de uma maneira mais prazerosa
em situações cotidianas de cuidado, nas relações interpessoais,
no convívio social, na participação em grupos e na formação de
108
vínculos (Passareli; Silva, 2007; Schneider; Irigaray,
2008). Entretanto, as avaliações de satisfação com a vida per-
manecem estáveis no ciclo de vida, já as relações afetivas sofrem
influências de fatores contextuais, fisiológicos mantendo-se estáveis
no decorrer da vida (Neri, 2006).
Algumas pesquisas mostram que os níveis de afeto são estáveis
ao longo do tempo (Lyubomirsky; King; Diener, 2005) e
há evidências de que o afeto positivo e o negativo são fatores in-
dependentes (Diener; Emmons, 1985). Assim, é possível que
uma pessoa obtenha pontuações mais altas em ambas as dimensões.
Os resultados apontam para uma correlação positiva de esperança
com o afeto positivo e uma relação inversa com o afeto negativo
(Brouwer et al., 2008). Norem e Chang (2002) observaram
uma correlação positiva entre o otimismo, a autoestima e o afeto
positivo. Pessoas com bem-estar subjetivo elevado estabelecem
mais relações sociais do que aquelas cujo BES é mais baixo. As
relações sociais positivas, como participar de grupos e estabelecer
vínculos sociais são fundamentais nesse contexto (Guedea et
al., 2006; Passareli; Silva, 2007). Os autores referem que
o BES pode estar associado à saúde e à longevidade, uma vez
que pessoas felizes valorizam suas conquistas, sem se aterem a
frustrações passadas.
Neri (2006) refere-se a esse recurso de adaptação do idoso
como sendo saúde objetiva, considerada um importante fator da
satisfação com a vida, devido à sua relevância para a manutenção
das competências comportamentais, da produtividade, da partici-
pação social, da atividade e do autocuidado consigo. Do mesmo
modo que, mediante situações de afetos negativos, o idoso tende
a perder o interesse pelo seu autocuidado, assim como, falta de
investimento para com sua saúde, desmotivação para realização
de atividades diárias, em alguns casos levando até mesmo ao
isolamento social (Neri, 2007).
Sendo assim, Guedea et al. (2006) salientam a importância
de se fazer uma diferenciação entre os componentes afetivos e
cognitivos na avaliação do BES, principalmente quando relacio-
nado à velhice, pois o estudo apontou que o componente cognitivo
e a satisfação com a vida foram maiores que os componentes
109
afetivos. Esse resultado se assemelha ao de outras pesquisas, que
demonstraram uma tendência da satisfação com a vida aumentar
na longevidade (Albuquerque; Sousa; Martins, 2010;
Marconcin, 2009; Otta; Ficher, 2004; Rabelo; Neri,
2005). Com o passar da idade, os idosos que buscam enfrentar
seus problemas de uma forma mais direta, buscando soluções,
dando apoio, sentindo-se responsáveis, são os que indicam maior
bem-estar (Resende et al., 2010).
O estudo indicou que os componentes cognitivos e afetivos do
bem-estar subjetivo (BES) possuem manifestações diferenciadas
entre os idosos, relacionadas com a maneira de enfrentamento
e apoio social recebido (Guedea et al., 2006). A satisfação
com a vida foi a que mostrou maior relação com o apoio social
e o enfrentamento. Entretanto, a pesquisa também indicou um
aumento dos afetos positivos quando relacionados o apoio rece-
bido e a satisfação. Com o enfrentamento direto dos problemas,
ao contrário, houve diminuição do afeto negativo quando houve
recebimento de apoio social, ao mesmo tempo que houve um
aumento perante situações de dificuldades enfrentadas.
Diante do exposto, é importante considerar a capacidade do
idoso em se adaptar às situações novas e, ao mesmo tempo, criar
estratégias que possibilitem condições favoráveis ao seu bem-es-
tar e a um desenvolvimento cognitivo saudável (Argimon;
stein, 2005). Destaca-se a importância da família no processo
de envelhecimento, as relações estabelecidas, com afeto, atenção
e cuidado, já que, este é constituinte do ser humano. As relações
de convivência podem ser uma forma de desenvolver e manter
o equilíbrio afetivo entre os idosos e suas famílias, uma vez que
a boa convivência familiar é considerada para o idoso um dos
sinônimos de felicidade na velhice (Neri, 2006).

Considerações finais

O BES contribui não apenas para a avaliação que as pesso-


as fazem de suas vidas, mas também de outras pessoas, e pode
auxiliar de maneira mais prazerosa em situações cotidianas, nas
110
relações interpessoais, de cuidado, no convívio social, na forma-
ção de vínculos e na participação em grupos. Está o bem-estar
subjetivo associado à saúde e à longevidade, uma vez que pessoas
felizes valorizam suas conquistas, sem se aterem a frustrações
passadas e, quanto maior a idade, maior a capacidade de lidar com
as dificuldades do dia-a-dia. Partindo da possibilidade de se enve-
lhecer com saúde e qualidade de vida, é preciso pensar os fatores
que podem influenciar positivamente para um envelhecimento
pleno, saudável, voltados aos aspectos psicológicos, biológicos
e sociais de modo interdisciplinar, principalmente no que tange
aos aspectos relacionados ao ato de cuidar. Este requer colocar-se
no lugar do outro, ter empatia, uma vez que, o cuidado passa a
existir quando a existência do outro passa a ter um significado
na vida de quem cuida.

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114
Um olhar de cuidado sobre a
saúde mental de idosos

Desirê Neuwald Pauletti Hagen


Helenice de Moura Scortegagna

Introdução

Nos últimos anos, a sociedade brasileira, seguindo uma


tendência mundial, foi marcada pelo aumento da expectativa de
vida, gerando um envelhecimento populacional acelerado e expres-
sivo. Esse fenômeno, intimamente ligado ao avanço tecnológico
e da medicina, vêm possibilitando cada vez mais que as pessoas
prolonguem seu tempo de vida, representando uma conquista.
No entanto, diante da longevidade em cenários preocupantes,
deparamo-nos com uma meta fundamental: atender às demandas
de saúde e cuidado, conferindo bem-estar e boa qualidade para
a vida que se estende. Importante, então, considerar que atual-
mente há um significativo número de pessoas vivendo a velhice
ao mesmo tempo e que o processo de envelhecimento e a etapa
da velhice não acontecem da mesma forma entre as pessoas. Em
muitos casos, em virtude das transformações físicas, psíquicas e
emocionais podem surgir fragilidades, sentimentos de perdas e de
incapacidade, provocando frustração e sensação de menor valia.
Logo, identificamos a importância de compreender o papel do
cuidado junto da população idosa, relevando a realidade e sub-
jetividade do seu contexto, como forma de melhorar a qualidade
de vida desse grupo minimizando fatores de risco.
115
Nesse sentido, a partir do pressuposto de que a vida deve ser
acrescida de qualidade e não apenas de anos – para que a velhice
seja uma experiência positiva, satisfatória e caracterizada por um
bem viver –, há que se levar em conta o cuidado em saúde mental.
Para tanto, tomando por base o Caderno de Atenção Básica n.
34 do Ministério da Saúde e o banco de dados SCIELO, nos
quais se encontraram artigos e edições de referência que trazem
informações e estudos acerca do cuidado em saúde mental, este
capítulo visa refletir sobre o cuidado como forma de promover
saúde mental, observando a multidimensionalidade e a subjeti-
vidade que envolve o viver e o envelhecer da pessoa idosa, no
sentido de propiciar o seu bem-estar.

Cuidado em saúde mental

Segundo o Caderno de Atenção Básica nº 34, que trata da


Saúde Mental (Brasil, 2013) o “cuidado em saúde mental” tem
sua porta de entrada na atenção básica, a qual tem como princípio,
possibilitar o primeiro acesso das pessoas ao sistema de saúde. As
intervenções são desenvolvidas em um território geograficamente
conhecido, o que proporciona ao profissional de saúde uma maior
proximidade com o usuário e um conhecimento mais fidedigno
da realidade onde vive. Esse contexto se torna bastante estraté-
gico, uma vez que facilita o acesso do usuário ao profissional de
saúde e vice-versa. As intervenções em saúde mental devem ser
direcionadas a promover ao indivíduo uma maior capacidade de
modificar e qualificar seu modo de viver, objetivando a produção
de vida e saúde e não apenas ficar restrito à cura de doenças.
Significa dizer que se deve acreditar que a vida pode ter várias
formas de ser “percebida, experimentada e vivida”. Para isso, o
sujeito deve ser olhado a partir de suas múltiplas dimensões, sen-
do compreendido como um ser proveniente de desejos próprios,
anseios, valores e escolhas.
A saúde do idoso relaciona-se com a preservação da sua
capacidade funcional global, que lhe confere autonomia e inde-
pendência. Dentre os domínios (cognição, humor, mobilidade
116
e comunicação) que lhe permitem gerir a vida, enfrentando e
resolvendo as dificuldades do cotidiano, a cognição, integrada
com o humor, permite ao idoso interagir com as pessoas e o seu
entorno (Vilela et al., 2008).
Moraes (2012) define conceitualmente o “humor” como a
motivação necessária para a realização de atividades e participação
social. O humor é uma das funções indispensáveis para a pre-
servação da autonomia do sujeito. Em casos de baixa de humor,
podem ocorrer desordens depressivas, o que o autor adverte ser
frequente em idosos, variando de 8 a 16%, mas muitas vezes
negligenciadas ou subestimadas pela incorreta identificação das
mesmas, na ocasião da assistência. Segundo o autor:

Existe a depressão-sintoma e a depressão-doença. Os transtor-


nos depressivos podem ser acompanhados de tristeza ou não. A
depressão refere-se a uma síndrome psiquiátrica caracterizada
por humor deprimido, perda do interesse ou prazer, alterações
do funcionamento biológico, com repercussões importantes na
vida do indivíduo e com uma duração de meses a anos. Não é
uma consequência natural do envelhecimento. Está entre as três
principais causas de incapacidade no mundo moderno e constitui-
-se em verdadeira “epidemia silenciosa”, cuja importância na
morbimortalidade geral se aproxima à observada nas doenças
crônico-degenerativas (Moraes, 2012, p. 29).

Portanto, quando se fala em saúde mental, é inerente pensar


na depressão, em seus diversos níveis, desde os mais singelos sinto-
mas até sua forma incapacitante. Andrade e colaboradores (2010)
encontraram, ao estudar a temática, que a depressão é uma das
doenças frequentes em idosos, potencializando o desenvolvimento
de incapacidades funcionais. Muitas vezes seus sintomas não são
reconhecidos nem por si próprios nem por pessoas que convivem
com o idoso, dificultando assim seu tratamento. Para os autores,
a deficiência no diagnóstico se deve pelo fato de a depressão ser
uma patologia facilmente mascarada e confundida com situações
de vida, como, instabilidade emocional, insônia, falta de apetite,
entre outras, ou até mesmo associada ao envelhecimento natural.
A deficiência também é responsável pela falta de bem-estar na
117
velhice, o que nos leva ao desafio de planejar e investir em estra-
tégias minimizadoras desses efeitos.
Veras e Caldas (2004) falam sobre o movimento das uni-
versidades da terceira idade, discutindo essa como uma proposta
estratégica de melhoria da qualidade de vida da população idosa.
A partir desse movimento, pretende-se possibilitar o convívio
entre pessoas de diferentes gerações como meio de redução da
discrepância de valores e conceitos. Compreendem que o idoso,
sendo integrado a um espaço até então destinado às pessoas mais
jovens, realizando atividades similares e tão relevantes quanto as
já oferecidas, possibilitará a oferta de um serviço de qualidade,
com relevância social, não se reduzindo a ações para apenas a
ocupação do tempo livre. Os autores ainda destacam as obras
de Simone de Beavoir (1970), Eneida Haddad (1996) e Ecléa
Bosi (1997) como referências no sentido de abordarem a perda
do valor social do idoso. Para as autoras mencionadas, esse evento
se dá pelo avanço do capitalismo, que acaba tornando o idoso
um “elemento descartável” em um sistema que singulariza sua
capacidade produtiva. A partir daí, profissionais dedicados ao
campo do envelhecimento vêm travando um embate na tentativa
de resgatar o valor social do idoso, como forma de preservar a
saúde mental deste a partir de uma identidade positiva.
Sabe-se que na velhice as situações emocionais e de saúde,
incluindo as sociais e econômicas, irão influenciar no desfecho
dessa etapa. O que se observa é que as implicações emocionais,
muitas vezes, não são levadas em consideração, nem são motivo
de atenção especial; vistas até com certa intolerância e causa
de aborrecimento por quem convive com o idoso. Envelhecer
de forma saudável suscita pensar em saúde num sentido mais
amplo, não apenas na ausência de doenças físicas, mas sim em
um equilíbrio entre corpo e mente. Sentimentos de respeito,
reconhecimento, segurança, pertencimento, ou seja, um estado
de bem-estar emocional.

118
Propostas de saúde mental de idosos

No que se refere ao grupo como estratégia positiva e bem


sucedida para a saúde do idoso, Rocha et al. (2009), em um estudo
exploratório, identificaram grupos de terapia comunitária (TC)
com idosos no município de João Pessoa - PB. Após enumerar
os principais problemas relatados e suas estratégias de enfrenta-
mento, revelou que a TC pode ser uma ferramenta de cuidado
nos programas de inserção e apoio à saúde mental da população.
Esse modo de terapia constitui-se num espaço de acolhimento
para a partilha de sofrimentos e sabedorias de vida, de escuta,
reflexão e troca de experiências, criando uma teia social entre
os participantes, objetivando soluções para conflitos pessoais e
familiares. Os autores concluíram que houve benefícios nas re-
lações interpessoais para a formação de redes sociais solidárias e
na utilização da cultura popular como subsídio para soluções de
problemas vividos pela comunidade.
Ainda em relação à TC, Andrade et al. (2010, p. 132)
destacam que os vários temas trabalhados acabam fortalecendo
a formação de vínculos entre as pessoas. “Das rodas de TC par-
ticipam pessoas de faixas etárias diferentes, tanto homens como
mulheres, podendo esses recuperarem sua autoestima e, através do
processo de resiliência, empoderarem-se, tornando-se terapeutas
de si mesmos, a partir da escuta da vida”. Esse tipo de inserção
acaba sendo muito interessante, pois quando os assuntos são
compartilhados em um grupo, tornam-se mais fáceis de serem
elaborados.
Entretanto, apesar de muito relevante o estabelecimento de
laços entre pessoas da mesma comunidade e em uma fase seme-
lhante da vida, igualmente importante são as relações intergera-
cionais. Oliveira (2011), em sua dissertação de mestrado, explora
a relação entre netos e avós. Ela coloca que o grande aumento
da esperança média de vida associada à melhoria da qualidade
de vida contribui para o crescimento horizontal da família, o que
teoricamente deveria consolidar um melhor entrosamento entre as
gerações. Porém, na realidade, o que se observa é um fenômeno
119
oposto, ou seja, uma diminuição das relações intergeracionais
principalmente no seio familiar. A partir dessa constatação da
realidade, a autora escolhe essa temática como uma forma de
alertar para as suas vantagens e seu desaparecimento. Ao fim
de sua pesquisa, conclui que “os laços que se estabelecem entre
os avós e os netos, não resultam de uma simples relação física,
mas sim de um contato envolto em preocupação, atenção, amor
e partilha, daí que esta relação seja parte integrante e marcante
no crescimento dos netos e no amadurecimento dos avós” (Oli-
veira, 2011, p. 62).
Em relação à intergeracionalidade, Marquês (2009) apresenta
um projeto que tem como pressuposto a intergeracionalidade como
constituinte de um dos valores fundamentais da educabilidade
humana. A dinâmica intergeracional pode ser compreendida
como uma estratégia comum que conduz ao autoconhecimento
individual e único no sentido da socialização coletiva. A interge-
racionalidade construtiva pode ser percebida como uma estratégia
para encontrarmos respostas para situações sociais problemáticas,
bem como prevenir outras possíveis situações já previstas. A pro-
moção da intergeracionalidade, na compreensão da autora, está
relacionada com a aprendizagem permanente e continuada ao
longo da vida, tendo como princípios a valorização das culturas
e das experiências individuais de cada um.
Assim, pode-se avaliar que a convivência em grupo, carac-
terizado pela intra ou intergeracionalidae, e o cuidado em saúde
mental estão intimamente relacionados, uma vez que a sociabi-
lização e as interações intersubjetivas acabam por fomentar um
sentimento de validez, pertencimento, atribuindo valor ao sujeito
envelhecido. Nesse sentido, faz-se importante preservar e também
construir oportunidades em que o mais velho participe de forma
efetiva de movimentos que tenham como objetivo a promoção da
intra e intergeracionalidade, estimulando a vivência de experiências
positivas aumentando assim o bem-estar.

120
Considerações finais

Cuidado em saúde mental vai além de tratar patologias, como


a depressão. Por saúde mental, podemos entender um estado
muito mais complexo, não é apenas a ausência de problemas
mentais, mas sim todo um contexto de estado emocional, que
envolve sentimentos de bem-estar, vontade para realizar tarefas,
relacionar-se com seu entorno, desejo em estar vivo, entre outros.
Para que possamos agregar atitude positiva à vida que se pro-
longa, precisamos de programas efetivos que cuidem do bem-estar
emocional. O envelhecimento ativo, positivo, com saúde, deve ser
estimulado a partir de ações efetivas que trabalhem a questão de
uma consciência gerontológica social que qualifique a vida dos
que já se encontram na velhice, dos que estão ainda vivenciando
o processo de envelhecimento, bem como crianças e jovens que
devem ter consciência de que também ficarão velhos e para isso
são necessários cuidados desde jovem para que essa etapa venha
agregada de qualidade. Enfim, podemos dizer que ainda precisam
ser desenvolvidos estudos que subsidiem ações de políticas públi-
cas, uma vez que um indivíduo envelhecido e doente se tornará
muito mais oneroso do que um indivíduo envelhecido e ativo.

Referências

ANDRADE, Fábia Barbosa de et al. Promoção da saúde mental do


idoso na atenção básica: as contribuições da terapia comunitária. Texto
Contexto Enferm, Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 129-136, jan./mar. 2010.
BRASIL. Cadernos de Atenção Básica, n. 34, Saúde Mental. Minis-
tério da Saúde (DF), Secretaria de Atenção à Saúde, Brasília, 2013.
MARQUÊS, Silvia Alexandra Vilares. Educabilidade e construção
de laços intergeracionais. Acta do X Congresso Galego-Português de
Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009.
MORAES, Edgar Nunes de. Atenção à saúde do idoso: aspectos
conceituais. Ministério da Saúde, Brasília, 2012.
121
OLIVEIRA, Cristina Maria Nunes de. Relações intergeracionais: um
estudo na área de Lisboa. 2011. Dissertação de Mestrado (Mestra-
do em Políticas Sociais) – Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas, Lisboa.
ROCHA, Ianine Alves da et al. A terapia comunitária como um novo
instrumento de cuidado para saúde mental do idoso. Revista Brasi-
leira de Enfermagem, Brasília, v. 62, n. 5, p. 687-694, set./out. 2009.
VERAS, Renato Peixoto; CALDAS, Célia Pereira. Promovendo
a saúde e a cidadania do idoso: o movimento das universidades da
terceira idade. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p.
423-432, 2004.
VIEIRA, Chrystiany de Brito et al. Práticas do cuidador informal
do idoso no domicílio. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.
64, n. 3, p. 570-579, mai./jun., 2011.
VILELA, Ana Lucia et al. Grandes síndromes geriátricas. In:
BORGES, Ana Paula Areu; CASTILHO, Ângela Maria. (Org.).
Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Rio de Janeiro: Fundação
Oswaldo Cruz / Escola de Saúde Pública Sérgio Arouca / Educação
a Distância, 2008. p. 193-268.

122
A fisioterapia no cuidado
paliativo de pacientes com
neoplasia maligna afetados
pela síndrome de imobilismo

Régis Brum Nunes


Marcelo Biazus
Cleide Fátima Moretto

Introdução

O cuidado está inserido na vida dos seres humanos desde


os primórdios da humanidade, principalmente como resultado
do atendimento às carências na extensão ontológica ou espiritual.
O cuidado é apresentado por Boff (2013) como uma das coisas
fundamentais na vida, sendo ele um veículo de princípios, valores
e atitudes, que fazem da vida um bem-viver e das ações um reto
agir, consigo e com os outros.
Todos nós precisamos de cuidado em praticamente todas as
fases da vida, infância, adolescência, adultez e velhice. Em qual-
quer dessas etapas, principalmente na última, estamos suscetíveis
a enfermidades, entre elas as doenças crônicas, que nos afirmam
ainda mais a necessidade de sermos cuidados.
Com o passar dos anos, as doenças crônicas vêm apresentando
expansão significativa em relação ao número de casos, como exem-
plo desse crescimento podemos observar doenças multifatoriais,
entre elas o câncer, que pode atingir pessoas em diferentes faixas
123
etárias, aumentando sua incidência principalmente após os 60 anos,
conforme estudos do Instituto Nacional do Câncer (Inca, 2007).
Diante dessa realidade, os meios tecnológicos e os agentes
profissionais da saúde tiveram que se adequar, aperfeiçoando-se
para tentar acompanhar a batalha contra essa doença que, por
vezes, apresenta-se de maneira potencialmente fatal. Esse avanço
material e humano, paulatinamente, vem prolongando a vida dos
pacientes com câncer, que, em muitas ocasiões, não apresentam
mais possibilidade de cura, já estando em situação de imobilização
junto ao leito.
Em razão da contemporização de vida desses pacientes, cada
vez mais se torna necessário um cuidado especial, voltado às mu-
danças impostas pela doença, um cuidado que auxilie no alívio
do sofrimento e contribua para a autonomia do paciente. Diante
dessa necessidade de surgimento de um cuidado peculiar, surge
o cuidado paliativo (CP), que teve seu conceito definido pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990 e foi revisado
em 2002, sendo fixado da seguinte maneira:

Assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que obje-


tiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares,
diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e
alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável
e tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos
e espirituais (Who, 2002).

O cuidado paliativo surge como um aliado junto a diversos


profissionais da saúde, dentre eles, o fisioterapeuta. Tal observa-
ção vem ao encontro dos pensamentos de Marcucci (2005), que
salienta a importância desse profissional nesse tipo de cuidado,
pois possui recursos que podem intervir no tratamento paliativo
de pacientes com câncer, monitorando e diminuindo sinais e
sintomas físicos, psicológicos e espirituais.
Diante do exposto, esse estudo tem como objetivo explanar
de que maneira a fisioterapia pode atuar, utilizando suas diversas
técnicas e recursos, no cuidado paliativo ao paciente com neoplasia
maligna, acometido pela síndrome do imobilismo.
124
Envelhecimento populacional e o câncer

Ao longo dos anos, o envelhecimento populacional tem se


tornado um processo recorrente, não somente em países desen-
volvidos, como também nos países em transição e em desen-
volvimento. Desse modo, o aumento da longevidade em nível
mundial, a partir da elevação dos índices de expectativa de vida,
vem sendo uma das principais características do atual contexto
demográfico, significando um crescimento elevado da população
idosa com relação aos demais grupos etários (Camarano, 2002;
Nunes, 2013).
Em consequência disso e das mudanças no perfil de mor-
talidade, Guerra, Galo e Mendonça (2005) destacam que cada
vez mais vem ocorrendo uma redução na taxa de doenças infec-
ciosas em todo o mundo, ao passo que, a incidência de doenças
crônico-degenerativas, como as cardiovasculares e principalmente
o câncer, vem aumentando significativamente.
Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (Oms,
2012), somente no ano de 2012, aproximadamente 8,2 milhões
de pessoas morreram de câncer no mundo. No Brasil, segun-
do o Instituto Nacional do Câncer (INCA), houve em 2014 a
ocorrência de 576.230 casos de câncer, sendo 302.350 para o
sexo masculino e 274.230 para o sexo feminino (Inca, 2014).
De acordo com a mesma fonte, a parcela mais velha da popu-
lação foi a mais atingida pela doença. Acredita-se que 60% dos
pacientes oncológicos brasileiros tenham 65 anos ou mais e que
70% das mortes decorrentes da doença ocorram nessa fase da
vida (Vieira, 2011).
O câncer corresponde a um grupo de doenças que atinge as
células, sendo definido pelo INCA, da seguinte forma:

Conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o cres-


cimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos.
Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito
agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores
malignos, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo
(Inca, 2014).
125
Para Jorde et al. (2010), o câncer também é tido como uma
das principais causas de morte no mundo, sendo definido como
uma doença genômica, que surge em decorrência de alterações
cumulativas no material genético (DNA) de células normais, as
quais sofrem modificações até se tornarem malignas. O câncer
maligno, segundo Jacobson (2004), consiste em um crescimento
celular destrutivo, que invade os tecidos vizinhos e pode espalhar-
-se por metástase para outras áreas do corpo, dividindo-se rapi-
damente, tornando-as altamente invasivas. Menos especializadas
nas suas funções do que as correspondentes normais, as células
cancerígenas vão substituindo as saudáveis, invadindo os tecidos,
que consequentemente vão perdendo suas funções (Almeida
et al., 2005).
O tratamento para o câncer é realizado de diversas formas,
entre elas, a quimioterapia é a mais frequente, associada ou não
à radioterapia, cirurgia, imunoterapia e hormonioterapia. O pro-
tocolo de tratamento é instituído de acordo com o tipo de tumor,
seu comportamento biológico, localização, extensão da doença,
idade e condições gerais do paciente (Inca, 2008).
Devido à complexidade no tratamento do câncer, a internação
hospitalar faz-se necessária na maioria das situações. Uma das
limitações dessa modalidade de tratamento é o fato de que isola
o indivíduo de seu ambiente social, interrompe suas atividades,
proporcionando pouca ou nenhuma oportunidade de fazer com
que lide com o impacto da doença em seu cotidiano. Além disso,
o paciente fica exposto a riscos que podem vir a fragilizar mais
sua saúde (Pelaez Doro et al., 2004).
Mesmo que o paciente esteja no domicílio, o convívio social
e sua rotina comum são alterados em razão dos sintomas e des-
confortos que consequentemente os induzem ao leito. Gutiérrez
et al. (2007) assinalam que o abalo emocional e o convívio com
as repercussões negativas do tratamento geram debilidade física
e afetam o desenvolvimento de atividades diárias.
A restrição ao leito é parte integrante do tratamento de várias
patologias agudas ou crônicas como o câncer. Apesar de a imobi-
lização ser benéfica nessas doenças, permitindo o tratamento e a
recuperação do paciente comprometido, inúmeras complicações
126
podem ocorrer em diversos órgãos e sistemas, principalmente em
razão do desuso (Videira, 2004).
Entre os principais motivos que levam o paciente a inter-
romper suas atividades, limitando-o ao leito, a dor tem destaque
especial. Para Pimenta (1997), muitos pacientes descobrem a
doença quando ela já está em um estágio avançado e sem possi-
bilidade de cura. O autor atribui o fato à falta de acesso à infor-
mação por parte da população e à carência de recursos na área
da saúde nos países em desenvolvimento, situação que ocasiona
retardo no diagnóstico e tratamento complexo. Em cerca de 80%
dos casos, o processo patológico somente é identificado em fases
muito avançadas, quando a dor é muito frequente. Florentino et
al. (2012) acrescentam que a dor no câncer talvez seja o sintoma
mais angustiante que um paciente com neoplasia possa apresen-
tar, principalmente em razão do isolamento social, diminuição
da capacidade funcional e deterioração de sua qualidade de vida.
Para Sampaio, Moura e Resende (2005), a dor oncológica
frequentemente limita a livre movimentação e a atividade física
de modo geral. Essa condição de mobilidade restrita pode levar
ao comprometimento gradual do condicionamento físico, força
muscular, flexibilidade e capacidade aeróbica, predispondo o
paciente ao desenvolvimento da síndrome do imobilismo, que, uma
vez instalada, pode trazer sérios prejuízos à saúde do paciente,
comprometendo a coordenação motora, além de gerar retrações
tendíneas, que acabam reduzindo a amplitude de movimento
articular.

Síndrome do imobilismo: consequências


e cuidados durante o tratamento
fisioterapêutico

Para Chaimowicz et al. (2013, p. 146), a síndrome da imo-


bilização é definida e caracterizada da seguinte maneira:

Conjunto de sinais e sintomas decorrentes da imobilidade, por


restrição a uma poltrona ou ao leito, por tempo prolongado, asso-
127
ciada a múltiplas causas e com implicações físicas e psicológicas,
e que pode levar ao óbito. Caracteriza-se por um complexo de
sinais e sintomas resultantes da limitação de movimentos e da
capacidade funcional, que geram empecilho à mudança postural
e à translocação corporal.

Somado a esse conceito, Silva et al. (2010) identificam a


síndrome do imobilismo como um conjunto de alterações que
ocorrem no indivíduo acamado por um período prolongado, tendo
como consequência a redução na capacidade funcional dos siste-
mas musculoesquelético, tegumentar, respiratório, cardiovascular,
gastrointestinal, geniturinário e nervoso.
Para explicar o tempo de limitação ao leito que corresponde
à imobilidade, Knobel (1994) diz que o intervalo entre sete e
dez dias é caracterizado como um período de repouso; de doze a
quinze dias, já pode ser considerado de imobilidade e, a partir de
quinze dias, tem-se o decúbito de longa duração. Portanto, pode-
-se dizer que o paciente que se encontra na fase de imobilização
já está em um estágio avançado da doença.
Diante desse contexto, Farias e Maia Neto (2008) propõem
que as alterações induzidas pelo imobilismo podem começar nas
primeiras 24 horas e, se continuarem, podem resultar em outras
complicações. Silva et al. (2010) acrescentam que, para se chegar
ao diagnóstico da síndrome do imobilismo, deve ser levada em
consideração a presença de dois critérios:
a) Um critério maior, que pode ser um déficit cognitivo de
médio à grave e a presença de contraturas e;
b) Um critério menor, que abrange as alterações cutâneas,
como a úlcera de decúbito ou pressão e descamações da pele, difi-
culdade de deglutir, incontinência, além de perda parcial ou total
da fala e entendimento da linguagem. O paciente é diagnosticado
com essa síndrome quando apresenta um critério maior e, pelo
menos, dois menores.
Os principais sistemas acometidos pela síndrome do imobilis-
mo e algumas de suas complicações aparecem no quadro a seguir:

128
• Dermatites, principalmente dermatite amo-
niacal, dermatofitoses.
• Atrofia da pele, escoriações e equimoses.
Sistema • Úlcera por pressão (mais comum nas proxi-
tegumentar midades das proeminências ósseas: maléolos,
escápulas, calcanhares, ombros, côndilos dos
joelhos, cotovelos, trocânter, orelhas, sacro e
tuberosidade dos ísquios.

Sistema • Perda de massa.


musculoesquelético • Perda de força muscular.

• Redução da amplitude dos movimentos.


Sistema
• Rigidez articular.
articular
• Tendência de contratura em flexão.

• Trombose venosa profunda (edema unilate-


Sistema ral, eritema, dor empastamento da panturrilha,
cardiovascular aumento da temperatura local).
• Hipotensão postural.

• Retenção urinaria e “bexigoma”.


Sistema
• Infecções do trato urinário.
urinário
• Incontinência urinária.

• Anorexia.
Sistema • Constipação intestinal e formação de fe-
digestivo caloma.
• Incontinência fecal.

• Diminuição da tolerância à dor.


• Alterações do sono, ansiedade, agitação,
Sistema irritabilidade.
neuropsíquico
• Delirium.
• Depressão.

• Diminuição da capacidade respiratória,


aumento das secrecties e diminuição do re-
Sistema flexo de tosse.
respiratório
• Pneumonia de aspiração e broncopneu-
monia.
Fonte: Chaimowicz et al. (2013, p. 148).

129
Partindo das complicações decorrentes da síndrome do
imobilismo, assinaladas por Chaimowicz et al. (2013), podemos
observar, na sequência, algumas técnicas e recursos que o fisio-
terapeuta pode utilizar, visando cuidado especial ao paciente com
câncer em estágio avançado, já em fase de imobilização.

Sistema tegumentar

Nas lesões da pele, a orientação quanto a mudanças de


decúbito é de grande importância para prevenir novos apareci-
mentos (Marcucci, 2005). Em relação às úlceras de decúbito,
o fisioterapeuta pode utilizar técnicas de estimulação elétrica,
ultrassom e laserterapia de baixa intensidade, conforme relatam
Abbade et al. (2006).

Sistema musculoesquelético e articular

Conforme Sibinelli et al. (2012), o sistema musculoesque-


lético é projetado para se manter em movimento, com isso, são
necessários apenas sete dias de repouso no leito para reduzir a
força muscular em 30%, com uma perda adicional de 20% da
força restante a cada semana. A imobilização exerce efeitos sobre
a resistência, tornando-a reduzida por meio da queda da força,
da atividade metabólica e circulatória. Essa combinação, entre
perda de força, resistência e atrofia resulta em incoordenação dos
movimentos das extremidades, limitando as atividades da vida
diária (Videira, 2004). Com isso, Marcucci (2005) identifica,
também, o aumento da fibrose nos tecidos periarticulares, dimi-
nuição da massa óssea e queda na produção de líquido sinovial.
Diante de tantas complicações osteomioarticulares, Kisner e
Colby (2009) reforçam que fisioterapia pode atuar na prevenção,
manutenção e tratamento dessas complicações, utilizando princi-
palmente exercícios terapêuticos que podem ser aliados a técnicas
de alongamento e exercícios de amplitude articular, respeitando
a condição de cada paciente.
130
Sistema cardiovascular

Para Kisner e Colby (2009), a fisioterapia é recomendada


em todos os estratos de risco, seus métodos profiláticos consistem
em cinesioterapia para membros inferiores, deambulação precoce,
compressão pneumática intermitente, elevação de membros infe-
riores, uso de bandagens e meias elásticas.

Sistema urinário

Para o sistema urinário, Moreno (2009) menciona vários


tratamentos que a fisioterapia utiliza com o intuito de restabelecer
a função dos músculos e nervos que compõem o assoalho pélvico.
Entre as técnicas não cirúrgicas assinalam-se a eletroestimulação,
os cones vaginais, os exercícios perineais e o biofeedback.

Sistema digestivo

Nunes e Portella (2003) realizaram um estudo com idosos


acamados no município de Três Passos – RS, onde identificaram
a ausência total ou parcial de dentes, uso de próteses de maneira
inadequada, além de falta de apetite. Também foi notada a pre-
sença de constipação intestinal e formação de fecaloma na maioria
dos idosos.
Nesse caso, a fisioterapia atua no intuito de prevenir a
constipação intestinal, através de exercícios para fortalecimento
do assoalho pélvico. De acordo com Bernardes et al. (2000), a
cinesioterapia pode ser um dos meios mais eficazes para o forta-
lecimento dessa musculatura, podendo ser aplicada isoladamente
ou associada a outras técnicas. Aliado a isso, o grau de compro-
metimento muscular e/ou neurológico do paciente é importante
para estabelecer as metas e as modalidades fisioterapêuticas mais
indicadas para o tratamento (Baracho, 2007).

131
Neuropsíquico

Conforme Boechat et al. (2012), a imobilidade (ou limitações


de movimento) pode alterar o estado emocional do indivíduo,
independente da condição que o levou ao decúbito prolongado,
podendo apresentar ansiedade, apatia, depressão, labilidade emo-
cional e isolamento social.
Entre as diversas modalidades de tratamento de que o fisio-
terapeuta dispõe, Sampaio, Moura e Resende (2005) assinalam
que a massoterapia pode ser utilizada com o objetivo de induzir o
relaxamento muscular, a redução do estresse e os níveis de ansie-
dade, além de alguns efeitos colaterais provocados pela medicação.

Sistema respiratório

Para facilitar a solução de problemas pulmonares, o fisio-


terapeuta administra tratamentos para melhorar a ventilação e
aumentar a oxigenação, diminuir o consumo de oxigênio, melhorar
a eliminação de secreções, maximizar a tolerância ao exercício e
reduzir a dor (Irwin; Teckin 2003).

Dor

Somadas a tantas complicações que afetam os pacientes, não


podemos deixar de fazer referência novamente à dor, pois, segundo
Pena, Barbosa e Ishikawa (2008), a dor é o sintoma mais intenso
que ocorre na maioria dos doentes com neoplasia, ela atinge cerca
de 50% dos pacientes no curso da doença, podendo estar presente
em até 90% nas fases avançadas.
Em relação a esse sintoma, o profissional de fisioterapia
auxilia o paciente através da utilização de recursos analgésicos
como a eletroterapia, termoterapia, massoterapia e exercícios
(Marcucci, 2005). Para Franks e Teich (1990), a redução da
temperatura local através da crioterapia, também pode ser um
recurso utilizado no controle da dor inflamatória, a qual pode
132
surgir em determinados tipos de cânceres, como os carcinomas
inflamatórios.

O tratamento fisioterapêutico
como cuidado paliativo

Diante de tantas complicações sofridas pelos pacientes neo-


plásicos com síndrome do imobilismo, os profissionais da saúde,
entre eles o fisioterapeuta, atuam utilizando um cuidado especial,
empregando meios que auxiliam na melhora da qualidade de vida
desses pacientes, os quais muitas vezes se encontram em estágio
terminal. Silva e Hortale (2006) reconhecem o câncer como uma
das doenças crônicas degenerativas que mais causam transtornos
de diversas dimensões aos pacientes e seus familiares.
Entre os tipos de cuidado que podem melhor compreender
esse tipo de atuação, Menezes (2004) destaca o cuidado pa-
liativo, uma forma de cuidar que estabelece uma relação entre
profissionais, pacientes e familiares, atuando através de decisões
compartilhadas, cada um com seu papel, porém, diferente do
modelo habitual de assistência à saúde. A palavra paliativo deriva
do vocábulo latino pallium, que significa manto, cobertor, expres-
sando um propósito de proteção contra as intempéries. Portanto,
cuidado paliativo pode ser entendido como cuidado de proteção,
dentro de uma visão holística das várias dimensões do ser humano
(Floriani; Schramm, 2007).
Nesse contexto, o paciente com neoplasia maligna, acometido
pela síndrome do imobilismo, está inserido nessa necessidade de
cuidado especial, em razão das complicações impostas por essa
etapa da doença. Menossi, Lima e Correa (2008) salientam que o
tratamento é frequentemente direcionado para os cuidados palia-
tivos, pois a doença geralmente é diagnosticada em fase avançada,
devido, muitas vezes, à identificação tardia e à impossibilidade
de tratamento curativo.
Araújo et al. (2009) completam que o amparo ao enfermo
deve estar apoiado em um princípio ético de atendimento que seja
apropriado para esses pacientes, proporcionando medidas que não
133
almejem simplesmente curar, mas sim aliviar o sofrimento. Em
complemento, como destacam Santin e Bettinelli (2010), associa-se
à ética nas relações do cuidado, premissa indispensável, que faz
com que o profissional atue respeitando a dignidade da pessoa
que se encontra sob seus cuidados.
Dessa forma, para o Ministério da Saúde, os cuidados pa-
liativos devem ser realizados por uma equipe multiprofissional
composta por, no mínimo, médicos, enfermeiros, psicólogos,
nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais e terapeutas
ocupacionais, que devem atuar numa perspectiva interdisciplinar
sendo reconhecidos e valorizados igualmente (Boemer, 2009).
Para Costa Filho et al. (2008), a abordagem dessa equipe multi-
disciplinar, adequadamente treinada, é importantíssima, pois vai
identificar e reduzir problemas nas esferas física, psicológica,
espiritual e/ou social do paciente terminal.
Dentro da equipe multidisciplinar, Bueno et al. (2007)
destacam a atuação do profissional de fisioterapia, que dispõe de
diversas alternativas e métodos que auxiliam nesse tipo de cuidado
especial. Tal destaque é corroborado por Melo (2003), quando
ele salienta que o fisioterapeuta é um dos profissionais que atua
de forma direta com o paciente oncológico, não só durante o
período de reabilitação, mas também na fase paliativa da doença,
quando a dor é o sintoma mais frequente, causando sofrimento.
Para melhor associarmos a fisioterapia ao cuidado paliativo,
basta observarmos a resolução nº 424 de 08/07/13, do Conselho
Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, que
versa sobre a aprovação do Código de Ética do Profissional de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional. No inciso I do artigo 14, está
explícito como dever do fisioterapeuta no exercício profissional:
“respeitar a vida humana desde a concepção até a morte, jamais
cooperando em ato em que voluntariamente se atente contra ela,
ou que coloque em risco a integridade física, psíquica, moral,
cultural e social do ser humano” (Coffito, 2014).
Dessa forma, o COFFITO destaca a importância do fi-
sioterapeuta contribuir complementando a assistência paliativa,
atuando diante do seu alcance profissional no cuidado que o
134
paciente necessita, agregando o paciente como um todo, não só
no aspecto físico. Significa lidar também com seus aspectos emo-
cionais, inclusive, desde sua concepção até a morte. Com isso, o
profissional de fisioterapia, utilizando-se de suas diversas técnicas
e recursos, atua incansavelmente no cuidado paliativo, mostrando-
-se capacitado para atender pacientes em diferentes estágios da
neoplasia maligna, inclusive no período terminal, quando estes
se encontram imobilizados.
Perracini (2000) destaca que, durante a atuação do profis-
sional, o fisioterapeuta deve realizar uma avaliação fisioterapêu-
tica, estabelecendo um programa de tratamento adequado com
utilização de recursos, técnicas e exercícios, tendo como foco,
através da abordagem multiprofissional e interdisciplinar, o alívio
do sofrimento, da dor e outros sintomas estressantes, oferecendo
suporte para que os pacientes vivam o mais ativamente possível,
com qualidade de vida, dignidade e conforto, além de oferecer
suporte para ajudar os familiares na assistência propriamente dita
ao enfermo, no enfrentamento da doença e durante o luto.

Considerações finais

Conforme podemos observar, o câncer é uma doença crô-


nica que vem aumentando significativamente sua incidência, na
medida em que ocorre aumento da população. A doença, quando
se apresenta de forma maligna, tende a afetar diversos órgão e
sistemas, debilitando o paciente em razão da dor e das limitações,
entre as quais, a síndrome do imobilismo se torna uma das mais
preocupantes, pois uma vez instalada, acaba acelerando o surgi-
mento de várias complicações, tanto físicas quanto psicológicas.
A fisioterapia tem papel importante nos cuidados paliativos,
porque atua utilizando, além de técnicas mecânicas, técnicas ma-
nuais que também agem no sistema neuropsíquico, otimizando e
humanizando o atendimento aos pacientes em estágio terminal.

135
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139
140
Cuidado no estado nutricional
de indivíduos cardiopatas

Vandressa Bristot
Ana Luisa Sant’Anna Alves
Camila Pereira Leguisamo

Introdução

As doenças cardiovasculares representam a principal causa


de morte e incapacidade no mundo, tendo o estado físico como
importante fator prognóstico e preditor independente de morta-
lidade (HU et al., 2007; Who, 2014). Cerca de 17 milhões de
pessoas morrem anualmente em consequência dessas condições
(Who, 2014). Em 2003, 27,4% dos óbitos no Brasil foram
atribuídos a essas doenças, atingindo 37%, quando excluídos os
óbitos por causas mal definidas e por violência (Lotufo, 2005).
A cardiopatia é definida como uma anormalidade estrutural
macroscópica do coração ou dos grandes vasos intratoráxicos,
com repercussões funcionais significantes ou potencialmente
significantes (Mitchell et al., 1971).
Dentre essas, as complicações cardiovasculares representam a
primeira causa de hospitalização no setor público, representando
em torno de 17% das internações de pessoas com idade entre
40 e 59 anos e 29% entre os idosos (Passos; Assis; Bar-
reto, 2006), sendo as doenças coronárias as mais prevalentes
das patologias cardiovasculares em todo o mundo. Seu caráter
multidimensional e suas consequências para o indivíduo e para a
141
sociedade levaram a Direção Geral da Saúde a considerá-la um dos
problemas mais importantes de saúde pública (Antunes, 2008).
Indivíduos portadores de cardiopatias apresentam uma taxa
elevada de deficiência física, pela incapacidade de realizarem
atividades diárias em consequência das alterações patológicas
que ocorrem na musculatura esquelética (Strassburg et al.,
2005). Além disso, as alterações no estado nutricional desses
indivíduos também acabam inferindo diretamente na perda de
massa muscular e, consequentemente, no aumento da prevalência
de comorbidades, mortalidade e tempo de internação.
Portanto, o objetivo deste capítulo é destacar a importância
do estado nutricional em cardiopatas, a fim de minimizar possí-
veis agravos.

Avaliação nutricional

Conforme Correia (1998), a avaliação nutricional ideal deve


ser prática, fácil de ser realizada, não-invasiva, sem necessidade de
aparelhos ou exames complementares, realizável à beira do leito,
com sensibilidade e especificidade apropriadas e com resultado
imediato.
Porém para o Guidelines for use of parenteral and enteral nutri-
tion in adult and pediatric (ASPEN, 2002), a avaliação do estado
nutricional consiste de dois componentes: avaliação nutricional
e avaliação metabólica. A nutricional mensura compartimentos
corporais e examina as alterações causadas pela desnutrição. A
metabólica inclui a análise das estruturas e funções de órgãos e
sistemas, de alterações metabólicas relacionadas à perda de peso
e massa magra e outros compartimentos corporais, e a resposta
metabólica à intervenção nutricional.
A história do paciente e o exame físico são requeridos para
uma adequada avaliação do estado nutricional. Esta checagem
deve focar a história de peso, hábitos alimentares não usuais e
restrições, função gastrointestinal. A avaliação física inclui o as-
pecto geral do paciente, se ele apresenta edema, ascite, caquexia,
obesidade, alterações cutâneas, alterações mucosas, petéquias ou
142
equimose, glossite, estomatite ou queilose. O sistema musculoes-
quelético deve ser inspecionado e palpado, com atenção especial
aos bíceps, tríceps, quadríceps e aos músculos interósseos das
mãos, temporais, supra e infraescapular.
No entanto, a utilização de um indicador isolado não possi-
bilita o adequado diagnóstico nutricional do indivíduo. É neces-
sário utilizar uma associação de vários indicadores para melhorar
a precisão e a acurácia do diagnóstico nutricional dos pacientes
hospitalizados (Kamimura et al., 2002).

Antropometria

A antropometria clássica foi sistematizada, compreendendo


a estimativa da composição corporal do indivíduo por meio de
aferições do peso e altura, através do cálculo do IMC e posterior
classificação do mesmo. Aferição das circunferências (circunferên-
cia do braço, da panturrilha, do abdômen etc.) e dobras cutâneas
(tricipital, bicipital, subescapular etc.) (Acuña; Cruz, 2003).

Exames bioquímicos

Outro método para a avaliação do estado nutricional de


pacientes hospitalizados utiliza os marcadores bioquímicos. Estes
testes podem ser classificados em blocos de avaliação de massa
muscular corpórea, estado nutricional protéico e competência
imunológica (Bottoni et al., 2000). Os parâmetros hematoló-
gicos mais utilizados são: hematócrito, hemoglobina e linfócitos
totais (Bottoni et al., 2000). Dentre as proteínas séricas fre-
quentemente avaliadas, destacam-se a albumina, a transferrina e
a pré-albumina (Smith; Mullen, 1991).

Avaliação muscular subjetiva

A avaliação muscular subjetiva também é um método que


busca destacar a importância do exame físico na prática clínica,
observando a atrofia de determinados grupamentos musculares,
143
correlacionando com a sua atividade. Os grupamentos musculares
são: músculo temporal e masseter, músculo adutor do polegar e
musculatura da panturrilha (Lameu; Andrade; Smith,
2004).
Desse modo, a história clínica detalhada e o exame físico
criterioso fornecem informações essenciais para a composição do
diagnóstico das desordens nutricionais (Acuña; Cruz, 2003)
e permanecem como métodos fundamentais para uma adequada
avaliação nutricional (Lameu; Andrade; Luiz, 2005).

Abordagem nutricional no cuidado


das cardiopatias

O comprometimento do estado nutricional é comumente


encontrado em pacientes internados e pode ter influência direta
sobre as taxas de morbidade e mortalidade. Um estudo multicên-
trico conduzido na América Latina, mostra que mais de 50% dos
pacientes encontram-se desnutridos na admissão hospitalar e 70%
perde peso durante a internação (Correia; Campos; Elan,
2003). Já no Brasil, a desnutrição hospitalar atinge quase metade
(48,1%) dos pacientes internados na rede pública (Waitzberg;
Correia; Caiaffa, 1999), sendo uma consequência tanto de
fatores socioeconômicos quanto de características das doenças. Em
decorrência da desnutrição, a resposta ao tratamento é afetada,
causando maior risco de complicações clínicas (Waitzberg;
Gama-Rodrigues; Correia, 2000).
As alterações do estado nutricional tendem a surgir pela
inapropriada ingestão de nutrientes ou em decorrência de altera-
ções no metabolismo, causadas por doenças (Fujino, 2007) A
baixa aceitação das dietas servidas em ambiente hospitalar tem se
mostrado como um fator de risco para desnutrição em pacientes
hospitalizados (Yabuta; Cardoso; Isosaki, 2003). Dentre
as condições clínicas que mais interferem na aceitação da dieta
devido às restrições dietéticas, tais como redução de sódio e de
gorduras alimentares, destacam-se as de origem cardiovascular
(Prieto et al., 2006). Em qualquer um dos casos, segue-se
144
a redução da massa corporal magra e a subsequente perda de
estrutura e função dos tecidos (Fujino, 2007).
Em pacientes com valvulopatias, a desnutrição resulta em
expressiva perda de massa muscular esquelética, que contribui
para o aumento da prevalência de comorbidades, mortalidade e
tempo de internação no pós-operatório (Andrade; Lameu;
Luiz, 2005). Também foi observada redução significativa da
massa corporal magra em 40% dos pacientes que aguardavam
a cirurgia cardíaca para troca valvar, ocasionando maior tempo
de hospitalização e aumento de mortalidade (Freund, 1996).
Esta condição também pode estar presente nas cirurgias de
grande porte, pela necessidade de suporte ventilatório prolongado
com intubação orotraqueal, procedimentos dialíticos, associando-
-se também à falha no reconhecimento da necessidade da terapia
nutricional precoce (Matsuba, 2003).
A musculatura cardíaca também é consumida nos casos de
desnutrição. Os achados de necropsia têm demonstrado que o
peso do coração na desnutrição prolongada pode cair à metade
(Levenson; Crowley; Seifter, 1975). Durante a desnu-
trição aguda, as alterações funcionais cardíacas são proporcionais
à perda de peso corporal e surgem precocemente (décimo dia)
durante o jejum (Consolazio et al., 1967).
Buchanan et al. (1977) investigaram pacientes com doença
valvar mitral no pré e pós operatório, observando que os mesmos
apresentavam-se desnutridos no pré-operatório e que isto parecia
estar relacionado principalmente à anorexia.
É provável que diversos fatores estejam associados à anorexia,
ressaltando-se a hipomotilidade gastrointestinal com diminuição
do esvaziamento gástrico, a distensão abdominal originada pela
hipóxia e edema, náuseas e ascite. Além disso, a anorexia parece
ser compensatória, já que durante o período pós-prandial ocorre
aumento do trabalho miocárdico (França, 1998; Morley,
2001).
A desnutrição em pacientes coronariopatas pode manifestar-
-se de duas formas: a caquexia cardíaca clássica e a desnutrição
iatrogênica ou nosocomial (França, 1998; Freund, 1996).
145
A caquexia cardíaca clássica é demonstrada em um terço dos
pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, ocorrendo devido
a inúmeros fatores, tais como: anorexia, elevada taxa metabólica
basal, hipóxia celular devido à hipoperfusão, diminuição de nu-
trientes nos tecidos e aumento das perdas de nutrientes urinária
e fecal. Já a desnutrição iatrogênica ou nosocomial ocorre como
resultado de complicações da cirurgia cardíaca ou algum outro
tipo de complicação cirúrgica em pacientes cardíacos (Freund,
1996; Mustafa; Levere, 2001).
Alguns nutrientes específicos utilizados para a produção
energética miocárdica podem estar reduzidos na insuficiência
cardíaca como a L-carnitina, a coenzima Q10 e a tiamina. Pode
ocorrer também relativa deficiência de taurina, aminoácido que
modula os níveis intracelulares de cálcio e aumento do estresse
oxidativo, influenciando a função e o metabolismo da musculatura
esquelética (Sole; Jeejeebohoy, 2000). A adequada nutrição
parece ser essencial como estratégia terapêutica na insuficiência
cardíaca. Sendo assim, o suporte nutricional pré-operatório pode
melhorar a função cardíaca em pacientes com caquexia cardíaca
(Webb; Kiess; Chan-Yan, 1986).
Segundo Velloso (1996), pacientes cardiopatas com desnu-
trição calórica moderada ou grave apresentam duas vezes mais
risco de mortalidade. Diante disso, é essencial que a identificação
dos pacientes desnutridos ou em risco de desnutrição seja feita no
início da internação hospitalar, para a definição de uma terapia
nutricional que possa corrigir as alterações nutricionais e melhorar
o prognóstico do paciente, reduzindo-se assim os custos hospi-
talares e a mortalidade (Schneider; Hebuterne, 2005;
Baxter, 1999; Chima, 1997).

Considerações finais

Indivíduos portadores de cardiopatias apresentam uma taxa


elevada de deficiência física, em consequência das alterações pato-
lógicas que ocorrem na musculatura esquelética que acabam sendo
146
exacerbadas pelas alterações no estado nutricional apresentados
nesses indivíduos.
Dessa forma, torna-se fundamental a realização da avaliação
nutricional detalhada, classificando o estado nutricional e, se
necessário, intervir com alimentação adequada e suplementação
nutricional para evitar o desenvolvimento de comorbidades, e
aumento da prevalência de mortalidade, bem como tempo de
internação, decorrentes das cardiopatias. Destacando que a avalia-
ção deve ser realizada constantemente a fim de manter o estado
nutricional e intervir quando necessário.

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149
150
Atividade física como
prevenção e cuidado à saúde
de idosos com diabetes
mellitus tipo 2

Alisson Padilha de Lima


Tânia Rosane Bertoldo Benedetti
Camila Pereira Leguisamo

Introdução

Com o aumento da expectativa de vida e, consequentemente,


da idade, verifica-se aumento na prevalência do diabetes, dimi-
nuição na adesão a programas de cuidados à saúde e de exercícios
físicos (Silva et al., 2010).
O processo de envelhecimento humano causa alterações
biopsicossociais que podem ocasionar uma desestruturação or-
gânica na aptidão funcional e contribuir para o aparecimento de
doenças (Lima; Delgado, 2010). Essas alterações podem ser
amenizadas com a prática de atividades físicas que auxiliam na
manutenção da boa qualidade de vida, da composição corporal,
das capacidades físicas em níveis adequados e da aptidão funcio-
nal compatível com as atividades que se quer realizar (Lima et
al., 2011).
Além disso, um programa de exercício físico, quando bem
orientado, oferece diversos benefícios para a população idosa
(Lima et al., 2011; Lima; Cardoso, 2013), como, por exem-
plo, uma relação positiva entre a atividade física e o diabetes. Os
151
fatores que contribuem positiva ou negativamente a esse processo
são histórico familiar, idade, condições socioeconômicas, nível de
tabagismo, nível de etilismo, estado nutricional, consumo alimentar
adequado e os níveis de atividade física. A atividade física, que será
objeto deste estudo, vem sendo evidenciada no cenário brasileiro
como uma estratégia de saúde (Brasil, 2010).
Lee et al. (2012) afirmam que a adoção da prática de ativi-
dades físicas poderia aumentar a expectativa de vida da população
do mundo em 0,68 anos e reduzir o diabetes melittus em 7%.
A hiperglicemia ocasiona lesões em distintos órgãos do corpo
humano, especialmente no coração, rins, sistema nervoso e olhos,
que, a longo prazo, podem sofrer complicações patológicas, como
a nefropatia diabética e a retinopatia diabética, que pode deixar a
pessoa cega (Ada, 2008; Sbd, 2014).
Dessa forma, este capítulo traz uma breve revisão da impor-
tância da atividade física na prevenção e no cuidado à saúde de
idosos com diabetes mellitus tipo 2.

Diabetes mellitus tipo 2


no processo de envelhecimento

O diabetes mellitus é identificado por várias disfunções


metabólicas. É caracterizado por hiperglicemia, resultante de um
déficit na produção de insulina, na ação da insulina, ou ambos
(Ada, 2008). Entre as patologias crônicas não transmissíveis, o
diabetes mellitus se enquadra entre a mais importante causa de
morbidade e mortalidade, especialmente entre idosos (Francis-
co et al., 2010).
Já em nível mundial, as doenças cardiovasculares, diabetes,
câncer e doenças respiratórias crônicas são as patologias crônicas
não transmissíveis de maior impacto. No Brasil, são responsáveis
por 72% das causas de óbitos, sendo que 31,3% são por doenças
do aparelho circulatório, 16,3% por câncer, 5,8% por doenças
respiratórias e 5,2% por diabetes, apresentando como grupos mais
vulneráveis os idosos e as pessoas de baixa renda (Schmidt et
al., 2011).
152
Assim, com o aumento no número de idosos, há uma ten-
dência a sedentarismo e hábitos alimentares inadequados pela
população, além de outras mudanças sócio-comportamentais que
contribuem para a maximização da incidência de diabetes e da
mortalidade pela doença (Sbd, 2014).
O hábito alimentar da população brasileira tem obtido uma
mudança no consumo de alimentos saudáveis, como frutas e
hortaliças. A frequência com que adultos consomem cinco ou
mais porções diárias dessas duas classes de alimentos (consumo
recomendado) foi modesta na maioria das capitais estudadas,
variando entre 15,7% em Rio Branco e 29,8% em Florianópolis
(Brasil, 2014).
O diabetes melittus tipo 2 (DM2) é uma das doenças crôni-
cas não transmissíveis com maior diagnóstico entre a população
mundial (Leite; Marlow; Fernandes, 2013). Além de
atingir a população idosa com maior frequência, está aumentando
em crianças, adolescentes e adultos jovens (Chen et al., 2012).
Esses índices de DM2 estão ligados à modernização social (novas
tecnologias), à inatividade física, ao aumento do consumo de ca-
lorias por meio de alimentos inadequados e à crescente obesidade
na população arábica (Badran; Laher, 2012).
Os fatores mais associados ao aparecimento do diabetes melli-
tus (DM) são: sobrepeso, obesidade central, alto teor de gordura
corporal, níveis baixos de aptidão cardiorrespiratória, resistência
cardiorrespiratória diminuída e déficit de massa magra (Winett
et al., 2014). Portanto, é importante o desenvolvimento de pro-
gramas na atenção básica, que contemplem a saúde do idoso com
DM como meio de prevenção e controle dessa patologia crônica
(Chao et al., 2014).
Esses cuidados com as condições de saúde do idoso diabético
são uma realidade também presente no Brasil. A incidência de
DM2 cada vez mais tem se expandido na população, necessitando
de diagnóstico precoce, bem como de reduzido tratamento na
profilaxia de suas possíveis complicações (Rodrigues Junior
et al., 2014).
153
Por isso, é importante a detecção precoce da DM, onde se-
gundo Charles et al. (2013), esse diagnóstico, realizado no início
da doença, pode prevenir complicações clínicas mais graves e
evitar que o idoso desenvolva uma neuropatia diabética ocasio-
nando danos ao sistema nervoso, afetando assim sua saúde e sua
qualidade de vida.
Complicações são comuns em diagnósticos tardios da DM2.
Foram identificadas também em idosos libaneses, aos quais a pre-
dominância de longa data com o diabetes ocasionou descontrole da
pressão arterial, perfil lipídico, uso de medicamentos excessivos, e
desencadeou neuropatia diabética (Noureddine et al., 2014).
Portanto, ser diagnosticado com DM2 precocemente pode ter
forte impacto nos aspectos físicos, sociais, mentais e no bem-estar
do idoso, evitando que demais riscos de patologias que possam
vir a se instalar no seu organismo, como, por exemplo, doenças
cardiovasculares, hipertensão, retinopatia, nefropatia, amputações
e a neuropatia e outros problemas que possam desencadear de-
pressão (Mitkov; Aleksandrova; Orbetzova, 2013).

Cuidado à saúde do idoso


com diabetes mellitus tipo 2

É importante planejar programas de atenção à saúde para


idosos com diabetes mellitus, no contexto comunitário, com intuito
da educação em saúde por meio de uma equipe multidisciplinar
que vise à prevenção e ao cuidado dessa patologia para evitar
agravos (Grillo; Gorini, 2007).
Programas de atenção à saúde do idoso portador de diabetes
devem objetivar manter os níveis glicêmicos normais, evitar lesões
micro e macrovasculares, controlar os fatores de riscos cardiovas-
culares, rastrear e tratar as síndromes geriátricas comuns. Devem
também mantê-los na sua capacidade física máxima, de forma a
resguardar sua independência física e mental, tanto na comunidade
como na família (Lourenço, 2004).
A profilaxia e o cuidado de complicações do diabetes são
possíveis por meio de programas educativos, destacando-se que,
154
por ser uma doença crônica, que afeta milhões de pessoas no
mundo, há a necessidade da criação de enfoques e metodologias
que capacitem as pessoas e seus familiares por meio do acesso à
informação e a oportunidades que os permitam fazer escolhas por
uma vida mais saudável (Brasil, 2005).
Conforme as políticas de atenção à saúde do idoso (Brasil,
2006), em relação à promoção da saúde, a inserção de ações locais
deverá ser norteada pelas estratégias de implementação, contem-
pladas na política nacional de promoção da saúde, portaria 687/
GM, de 30 de março de 2006, tendo como prioridade as seguintes
ações específicas:
a) Divulgação e implementação da Política Nacional de Pro-
moção da Saúde (PNPS);
b) Alimentação saudável;
c) Prática corporal/atividade física;
d) Prevenção e controle do tabagismo;
e) Redução da morbi-mortalidade, em decorrência do uso
abusivo de álcool e outras drogas;
f) Redução da morbi-mortalidade por acidentes de trânsito;
g) Prevenção da violência e estímulo à cultura de paz;
h) Promoção do desenvolvimento sustentável.
Essas ações foram reafirmadas em 2014, embora a prioridade
passou a ser formação e educação permanente, sendo precedidas
das mesmas ações (Brasil, 2014).

Atividade física para o idoso


com diabetes mellitus tipo 2

A atividade física é entendida como qualquer movimento


corporal produzido pela contração da musculatura esquelética
com aumento da energia dispendida. Já o exercício físico refere-se
a uma atividade física planejada, estruturada e com movimentos
repetitivos para melhorar ou manter um ou mais componentes
da aptidão física (Acsm, 2009).
155
O Colégio Americano de Medicina do Esporte e a Associa-
ção Americana de Saúde afirmam que a intensidade e a duração
da atividade física devem ser baixas no início, para indivíduos
idosos, por estes serem altamente descondicionados, funcional-
mente limitados, ou terem doenças crônicas, como o diabetes
mellitus tipo 2, que afeta a capacidade de executar tarefas físicas.
A progressão das atividades deve ser individual e personalizada.
Inclusive, fortalecimento muscular e equilíbrio podem ser neces-
sários antes de iniciar o treinamento aeróbico em idosos muito
frágeis (Acsm, 2011).
As diretrizes de atividade física para os americanos afirmam
que a atividade física regular reduz os riscos adversos à saúde e
proporciona benefícios à melhora da qualidade de vida, todavia
enfatizam que, para se obter benefícios à saúde, a quantidade
de atividade física a ser praticada deve ser prescrita pela maior
intensidade, maior frequência ou maior duração (Dhhs, 2008).
O indivíduo idoso deve ultrapassar os valores mínimos de
atividade física recomendada se eles desejam aumentar sua aptidão
física, porém, se doenças crônicas impedem que seja realizada a
quantidade mínima de 150 minutos de atividade física, de inten-
sidade moderada por semana, o idoso deve realizar atividades
físicas toleradas de modo a evitar o sedentarismo (Acsm, 2009).
Já a Sociedade Brasileira de Diabetes afirma que a adoção de
um estilo de vida adequado, com a prática regular de atividades
físicas e a ingestão de dieta adequada, é praticamente duas vezes
mais eficiente do que o tratamento farmacológico no controle do
diabetes mellitus (SBD, 2006).
Segundo Costa et al. (2011), com a mudança do estilo de vida
adotado pelo indivíduo com diabetes mellitus, juntamente com
o apoio dos familiares e amigos, através da inserção de atividade
física regular e hábitos alimentares adequados, pode se obter
benefícios mais eficazes por ter o fator motivacional inserido,
influenciando positivamente no controle glicêmico e na melhora
da qualidade de vida.
O Colégio Americano de Medicina do Esporte e a Associação
Americana de Diabetes (2010) posicionaram-se sobre os diversos
156
tipos de exercícios físicos e suas práticas. A recomendação para
a maioria dos indivíduos com diabetes tipo 2 é acumular pelo
menos 150 minutos de exercício aeróbico por semana em inten-
sidade moderada e de alto impacto para alcançar uma redução
do risco de doenças cardiovasculares. Isso vale para os indivíduos
com neuropatia periférica que não apresentem úlcera aguda. Ao
participar de exercícios físicos, ressalta-se o cuidado abrangente
com os pés, devendo haver uma inspeção diária dos pés e do
uso de calçados adequados para a prevenção e detecção precoce
de feridas ou úlceras. Vale lembrar, também, que a caminhada
moderada provavelmente não aumenta o risco de úlceras nos pés
ou ulceração com neuropatia periférica, desde que se atente para
essas prevenções necessárias.
Ainda assim, é importante afirmar que, para quem não faz
nenhum tipo de atividade física, o fato de caminhar por 10 minutos
contínuos ou mudar pequenos hábitos – como usar escadas em
vez de elevador, fazer pequenos trajetos a pé etc. –, são estratégias
válidas para começar a mudança de hábitos.

Considerações finais

A atividade física é muito importante na prevenção e no


cuidado à saúde dos idosos com diabetes mellitus tipo 2, devido
aos efeitos benéficos à melhora e ao controle dos níveis glicêmi-
cos, proporcionando a essa população uma melhor capacidade
funcional e qualidade de vida. Pequenas mudanças em hábitos
de locomoção contribuem para trazer benefícios à saúde.

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160
Cuidados à neuropatia
diabética no contexto
do envelhecimento humano

Daniel Lima Varela


Luma Zanatta de Oliveira
Camila Pereira Leguisamo

Introdução

A prevalência de diabetes com o envelhecer tem aumentado


consideravelmente nos últimos anos, sendo o seu combate con-
siderado prioridade em programas de saúde pública no mundo
inteiro. Estima-se que aproximadamente 8% da população mundial
entre 30 e 69 anos tenham diabetes, devendo esta porcentagem
representar 438 milhões de pessoas em 2030 (Idf, 2009).
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, estima-
-se em cerca de 11 milhões os portadores de diabetes, sendo que
7,5 milhões sabem que tem a doença, e o restante ainda não foi
diagnosticado.
Os diagnósticos de diabetes no Brasil aumentam com a idade
e também são mais frequentes entre pessoas com até oito anos
de escolaridade.
A duração e o nível de hiperglicemia são importantes deter-
minantes das complicações microvasculares do diabetes, incluindo
a neuropatia.
O controle do surto das doenças crônicas não transmissí-
veis (DCNT) representam um grande desafio para as políticas
de Saúde Pública no Brasil (Brasil, 2011; Brasil, 2005).
161
Desse modo, é de fundamental importância implementar ações
de educação e prevenção, a fim de levar ao conhecimento da
população em geral e portadores conhecimentos sobre a doença
e suas potenciais complicações.
Ao lado do processo de envelhecimento, as doenças crônicas
começaram a representar um aumento de serviços de saúde, corro-
borando a necessidade de monitorar sua prevalência. A senilidade
colabora com o aumento dos riscos para as DCNTs. Entre os
57 milhões de óbitos em 2008, 63% foram em decorrência das
DCNTs, principalmente doenças cardiovasculares e diabetes.
Em 2007, no Brasil, a taxa de mortalidade por DCNT foi de
540 mortes por 100 mil habitantes (Ministério da Saúde,
2011), sendo hoje o foco de importantes políticas de prevenção
(Schmidt et al., 2011).
O objetivo deste texto é justamente fazer uma síntese, baseada
em evidências, do que há de mais recente e impactante sobre o
metabolismo da glicose na população idosa, o estado diabético
propriamente dito, a neuropatia diabética no seu estado mais
precoce e as formas preventivas com atuação multidisciplinar para
modificar a evolução da doença.

Estados de intolerância à glicose


com a idade

Intolerância à glicose está relacionada ao envelhecimento. A


idade tem sido associada a níveis elevados de glicose e insulina,
após o teste de sobrecarga de glicose. Durante as 2 horas de teste
de tolerância oral à glicose, com 75 gramas (TTOG), os níveis
plasmáticos aumentam mais abruptamente. Como o resultado,
indivíduos mais velhos são mais comumente classificados como
tendo intolerância à glicose, se comparados com os mais jovens.
Alguns investigadores acreditam que o diagnóstico de diabetes
poderia ser feito muitos anos antes usando o TTOG em detri-
mento do teste rápido isolado em pessoas idosas.

162
Alteração do metabolismo da glicose
com a idade

A sensibilidade à insulina é demonstradamente reduzida no


corpo inteiro de pessoas mais velhas. O comprometimento das
taxas de oxidação intracelular da glicose na população mais velha
também tem sido relatada. Explicações para a efetividade reduzida
da insulina com a idade incluem: a) aumento da massa gorda ab-
dominal; b) atividade física reduzida; c) sarcopenia; d) disfunção
mitocondrial; e) mudanças hormonais (isto é, redução do fator
de crescimento insulínico tipo 1 e da dehidroepiandrosterona);
f) aumento do estresse oxidativo e inflamação (Kalyani, 2013).
Entretanto, observa-se que a sensibilidade à insulina decresce
com a idade, mesmo após ajustes para diferença na adiposidade,
distribuição de gordura e atividade física.
A disfunção das células beta-pancreáticas, com a idade,
também é um fator contribuinte significativo para o metabolismo
anormal da glicose.

Complicações do diabetes em idosos

Complicações micro e macrovasculares ocorrem em pacientes


idosos, similarmente às pessoas mais jovens, embora o risco car-
diovascular absoluto seja muito maior nos adultos mais velhos. O
diabetes na população mais velha, contudo, é heterogêneo e inclui
indivíduos com início na vida adulta média (3ª, 4ª e 5ª décadas)
e aqueles após os sessenta anos, sendo este grupo responsável por
até um terço dos casos.
Adultos com diabetes mellitus (DM) de início na faixa etária
mediana geralmente apresentam pior controle glicêmico e são
mais propensos à utilização de medicamentos hipoglicemiantes.
Considerando que a prevalência de doenças macrovasculares
(acidente vascular cerebral, doença arterial coronariana e arterial
periférica) pode ser semelhante entre a faixa etária mediana e
a população idosa com DM, a carga de doença microvascular
163
(particularmente retinopatia) tende a ser maior nos primeiros.
Portanto, a idade de início do DM pode ter um impacto da doença
nas complicações diabéticas presentes em pacientes idosos.

Síndromes geriátricas associadas


com o diabetes

As síndromes geriátricas descritas por ocorrerem mais fre-


quentemente em pessoas com DM incluem perda de função
muscular, limitação funcional e incapacidade, além de fragilidade
– todas estas podem ter um impacto significativo na qualidade de
vida dos pacientes idosos –, em adição à mortalidade precoce. O
DM também aumenta o risco de outras complicações comuns em
pacientes geriátricos, como depressão, disfunção cognitiva, dor
crônica, quedas, incontinência urinária e polifarmácia.

A neuropatia diabética

A neuropatia diabética (ND) é a mais comum e perturbadora


complicação do diabetes mellitus, envolvendo aproximadamente
metade dos pacientes, levando a grande morbidade e mortalidade,
e resultando em um forte impacto econômico, se considerados os
gastos com cuidados crônicos, sem contar que piora a qualidade
de vida. Adultos com 60 anos ou mais têm uma prevalência de
diabetes maior que duas vezes, se comparados com grupos mais
jovens, e o número de pessoas idosas com diabetes continuará a
crescer com o envelhecimento populacional.
A patogênese da ND inclui hiperglicemia persistente, insufi-
ciência microvascular, estresse oxidativo, defeito no neurotropismo
e disfunção nervosa autoimune.
A ND crônica associada ao diabetes mellitus consiste em
um processo patológico insidioso e progressivo, no qual a seve-
ridade não está diretamente representada nos sinais e sintomas
desenvolvidos pelos pacientes. A ND, por si só, é suficiente para
causar parestesia dolorosa (dor neuropática), ataxia sensorial e
164
deformidade de Charcot. A detecção e identificação precoce do
processo neuropático oferece uma oportunidade crucial para o
paciente diabético, no sentido de ativamente procurar o controle
glicêmico ótimo e prevenir uma série de complicações com os
pés, antes de a morbidade se tornar incapacitante.
As NDs compreendem, de forma resumida, a polineuropatia
diabética (PD), forma simétrica e distal que atinge tipicamente
neurônios sensitivos com axônios longos, e as neuropatias focais
ou mononeuropatias, incluindo as neuropatias compressivas
clássicas como síndrome do túnel do carpo, neuropatia ulnar
no cotovelo, meralgia parestésica (compressão do nervo cutâneo
lateral da coxa no ligamento inguinal) e a neuropatia fibular na
cabeça da fíbula. Outras mononeuropatias, mais especificamente
identificadas em pacientes diabéticos, incluem radiculopatias
intercostais e abdominais, paralisias dos nervos oculomotores
e acometimento do plexo lombossacro (amiotrofia diabética ou
síndrome de Bruns Garland).
Brown e Asbury subdividiram a PD em subtipos, com o
grupo misto (motora, sensitiva e autonômica), representando
70% dos pacientes. Um fenótipo predominantemente sensitivo
foi encontrado em 39%, sendo ainda dividido em fibras grossas,
fibras finas ou neuropatias mistas. As formas puramente motora
ou autonômica foram incomuns (aproximadamente 1% cada).
A PD sintomática tipicamente apresenta-se com sintomas
espontâneos positivos (parestesias descritas como formigamento,
“alfinetes e agulhas”, ardência, sensação anormal de temperatura
e dor), ou negativos (dormência, insensibilidade a lesões) nos
dedos dos pés. Com o tempo, estas sensações podem avançar
para os pés e pernas e envolver as mãos. A dor neuropática é um
achado precoce proeminente e pode ser severa apesar de sinais
mínimos de polineuropatia. Os pacientes descrevem seus pés
como “apertados”, tendo dor do tipo formigamento, em ardência,
tipo choque ou sensação de picada. Tipicamente, os sintomas são
proeminentes à noite, e a qualidade do sono e da vida como um
todo são significativamente comprometidas. Pode haver alodinia
(dor desencadeada por estímulos simples) relacionada com os
165
cobertores da cama ou com o simples ato de caminhar. A marcha
pode ser dolorosa e hesitante ou instável. Embora os pacientes
diabéticos geralmente não exibam uma marcha atáxica clássica,
com base alargada e instável, a perda de sensibilidade ao toque e
pressão nas plantas dos pés e, mais tardiamente, a perda de axônios
proprioceptivos podem predispor as quedas. As anormalidades
sensitivas são de distribuição “em botas e luvas”, refletindo o
envolvimento de nervos mais longos.
Em adição à perda sensitiva, que pode envolver os dedos,
pés ou pernas, pode ocorrer perda ou diminuição dos reflexos
aquileus e, em casos mais avançados, dos reflexos patelares e dos
membros superiores.
Na PD distal, a manifestação motora mais precoce é a atrofia
do músculo extensor curto dos dedos. A fraqueza na dorsiflexão
do hálux e demais dedos ocorre mais tarde. O envolvimento mo-
tor axonal sutil pode levar a anormalidades na postura dos pés,
contribuindo para ulceração e desequilíbrio na marcha. Juntas de
Charcot, por exemplo, nos tornozelos, são artropatias destrutivas
secundárias à injúria repetitiva muitas vezes não percebidas pelo
paciente.
A identificação precoce do processo neuropático é fundamen-
tal para oferecer ao paciente a possibilidade de alterar ativamente
o curso do controle glicêmico subótimo, previamente ao dano
nervoso irreversível (Boulton, 1998).
A história clínica e o exame físico em combinação com o es-
tudo eletrofisiológico constituem o padrão ouro para diagnóstico
e mensuração da severidade da neuropatia.
A evidência atual sugere métodos simples de screening para
PD, focados primariamente no uso de monofilamentos (de
Semmes-Weinstein), que é barato, facilmente realizado, rápido e
reprodutível. Escores clínicos têm sido desenvolvidos para suma-
rizar um grande volume de informações, entre eles os pioneiros
descritos por Dyck e colaboradores, de Michigan e de Toronto. Os
escores levam em conta sintomas e sinais (dor nos pés, parestesia,
fraqueza, ataxia e sintomas nos membros superiores), teste dos
reflexos aquileus e patelares e teste de sensibilidade em todas as
166
modalidades (dor, temperatura, tato superficial, vibratória e de
posição).
Por fim, a eletroneuromiografia (ENMG), através do estudo
de neurocondução, mede a habilidade do nervo periférico em
conduzir sinais elétricos, e é anormal quando mudanças pato-
lógicas estão presentes na mielina, nodos de Ranvier e axônios.
A PDSM é tipicamente axonal, e a ENMG pode determinar a
intensidade da mesma; excluir outras desordens, especialmen-
te a polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica, cujo
tratamento imunológico é disponível; além de poder detectar
mononeuropatias compressivas em diversos locais com elevado
grau de especificidade.

Abordagem multidimensional
do diabetes no idoso

Os objetivos do tratamento do diabetes em pacientes idosos


incluem: a) controle da hiperglicemia; b) prevenção e tratamento
de complicações micro e macrovasculares; c) evitar a hipogli-
cemia; d) preservar a qualidade de vida. Embora os objetivos
sejam semelhantes aos dos adultos jovens, idosos com diabetes
são heterogêneos em suas capacidades física e cognitiva, múltiplas
comorbidades, e expectativa de vida. Por outro lado, adultos mais
velhos conservados, com expectativa de vida maior que 10 anos,
podem se beneficiar de metas glicêmicas semelhantes aos mais
jovens (ou seja, hemoglobina glicada - HbA1c <7%) para evitar
complicações diabéticas.
Para os idosos mais fragilizados, com múltiplas comorbidades
e expectativa de vida mais limitada, no entanto, evitar a hipogli-
cemia e hiperglicemia sintomática e preservar a qualidade de vida
passam a ser os alvos principais, sendo o alvo glicêmico menos
rigoroso (isto é, HbA1c <8%). Além disso, as preferências do
paciente também devem ser reconhecidas nas decisões relativas
ao manejo do diabetes. Recomendações de estilo de vida incluem
atividade física e controle dietético.
167
Neuropatia periférica e cuidados
com os pés

DM tipo II está presente em 90% dos pacientes e dentre as


complicações crônicas estão às lesões ulcerativas dos membros
inferiores (MMII), que são decorrentes da neuropatia a qual gera
perda de sensibilidade periférica tátil, térmica e dolorosa, podendo
levar a uma amputação (Gomes; Cobas, 2009).
A cada 30 segundos, um membro inferior é amputado ao
redor do mundo e 15% de indivíduos diabéticos desenvolverão
ulceração dos pés em algum momento de suas vidas e, portan-
to, ficarão expostos à possibilidade de amputação de membros
inferiores.
Diante disso, os diabéticos devem ter alguns cuidados diários
com os pés, como lavá-los com água morna, quase fria, secar
bem entre os dedos e examiná-los; não utilizar hidratantes entre
os dedos, apenas na região do pé; cortar as unhas em linha reta;
usar meias de algodão sem costura e preferencialmente claras;
elevar os pés para melhorar a circulação sanguínea; inspecionar
os calçados internamente antes de colocá-los em busca de algum
objeto que possa machucar.
As complicações com os pés desses pacientes acabam sendo
um problema de saúde pública, sendo necessárias medidas emer-
genciais de conhecimento dos processos que envolvem a disfunção
microcirculatória e prevenção, tais como o emprego de equipes
multidisciplinares e educação, a fim de acompanhar o pé em risco
e antecipar-se aos problemas. Isso minimiza de forma significativa
as taxas de amputação. A educação tem sido identificada como a
melhor estratégia para melhorar o cuidado com os pés. Até 85%
das amputações poderiam ser evitadas através de um programa
que envolvesse o cuidado com pé diabético, controle glicêmico
adequado, educação e informação (Magalhaes; Bouskela,
2008). Além disso, demais medidas preventivas, como o uso de
palmilhas e calçados especiais, estão relacionadas à redistribuição
da pressão plantar, existindo evidências de que estes dispositivos
168
são capazes de reduzir os picos de pressão plantar entre 20 e 80%
dos casos (Bus, 2008), evitando possíveis amputações.
Dessa forma, fica claro que a estratégia primária para evitar
as amputações dos MMII são medidas de conhecimento por parte
dos profissionais envolvidos com esses cuidados e a educação
continuada aos portadores.

Risco de quedas em idosos diabéticos


com neuropatia

Entre os idosos, as quedas são um dos prin­cipais fatores de


morbidade e mortalidade, pois acarretam perda de mobilidade,
restrição social, dependência para realização de atividades da vida
diária (AVD) e perda da autonomia (PANEL ON PREVEN-
TION OF FALLS IN OLDER PERSONS), em especial nos
idosos diabéticos, onde existem inúmeras alterações musculoes-
queléticas causadas pela neuropatia, tais como: fraqueza muscular
(principal­mente da musculatura intrínseca dos pés) e redução de
amplitude de movimento (ADM), colaborando para a diminuição
das aferências do sistema proprioceptivo e ocasionando instabili-
dade postural (Sacco et al., 2007).
Alguns estudos como o de Bretan et al. revelam correlação
positiva entre alterações da sensibilidade cutânea plantar (carac-
terística da neuropatia) e distúrbios do equilíbrio em idosos com
DM, e também observam que a perda da sensibilidade cutânea
plantar está asso­ciada ao risco de quedas (Bretan; Pinheiro;
Corrente, 2010). Além disso, estudos preliminares mostram
que a fisiotera­pia em indivíduos com neuropatia é eficaz na dimi-
nuição de alguns sintomas, entre eles: dormência, formigamento e
queimação, mobilidade e melhora na estabilidade postural e força
muscular (Kruse; Lemaster; Madsen, 2010).
Em resumo, parece que a neuropatia acarreta déficits na am-
plitude do passo, velocidade da marcha, equilíbrio, coordenação,
aumento da pressão plantar, devido à própria doença e a dificul-
169
dades na fase de apoio terminal e pré-balanço, em decorrência
das alterações na ativação do tríceps sural.
Não obstante, pesquisas futuras sobre o exato mecanismo
de quedas e como preveni-las ainda deverão ser exploradas com
o intuito de detalhar os fatores relacionados aos riscos de quedas,
velocidade e cadência da marcha, variabilidade e amplitude do
passo (Fregonesi; Camargo, 2010). Sabe-se que, além da
atividade física, a orientação desses indivíduos é mister, uma vez
que, pacientes bem orientados e com o conhecimento sobre a sua
doença, são indivíduos mais prevenidos.

Considerações finais

O rápido envelhecimento da população, a urbanização e o


estilo de vida com dietas inadequadas, o sedentarismo, e o con-
sumo de tabaco e álcool são os fatores responsáveis pelas doen-
ças crônicas serem a principal causa de mortalidade no mundo
moderno (Word Health Organization, 2009), sendo
o DM uma dessas. Muitos são os desafios encontrados, como,
por exemplo, controle da doença, cuidados com o tratamento,
dificuldades sociais e até mesmo de aceitação do seu portador.
O DM tipo 2 é um conjunto de fatores genéticos e de estilo
de vida, no qual a ativação de uma predisposição genética soma-se
a questões ambientais e fatores comportamentais, principalmente
àqueles associados ao estilo de vida. Fatores de risco modificáveis
estão envolvidos, dentre eles: sobrepeso, sedentarismo, aspectos
nutricionais, hipertensão e aumento dos triglicerídeos (Alberti;
Zimmet; Shaw, 2007).
Está cada vez mais embasada a recomendação de hábitos de
vida mais saudáveis, onde a prática de atividade física regular, o
consumo de fibras, verduras e frutas possam tornar-se aliados
de grande importância na redução da incidência de DM tipo 2
(Laaksonen, 2005).
Em indivíduos com DM, a educação é a ferramenta essencial
para o controle da doença, envolvendo aspectos culturais e de
170
conhecimento sobre a patologia. Uma pesquisa realizada no Rio
de Janeiro mostrou que a prática da atividade física é menor em
indivíduos com baixa escolaridade, ajudando a justificar a maior
prevalência de DM nesta camada populacional (Van et al., 2007).
Isso faz sentido, na medida em que entendemos que a pouca
escolaridade pode dificultar a aquisição de novos conhecimentos,
orientações terapêuticas no cuidado com a doença, e aquisição de
novos hábitos de vida (Monteneze, 2004).

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175
176
O cuidado ao paciente
de cirurgia cardíaca:
papel da fisioterapia

Débora D´Agostini Jorge Lisboa


Patrícia De Carli Tonial
Eliane Lucia Colussi

Introdução

Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Abrange mais


que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa
uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de
envolvimento afetivo com o outro (Boff, 1999).
Para um cuidado zeloso, autêntico, é preciso compreender
aquele que será cuidado. Isso requer um olhar atento do cuidador
sobre a experiência existencial do ser que receberá sua atenção
(Graças; Santos, 2009).
O cuidado é uma relação intersubjetiva que se desenvolve
em um tempo contínuo, e que, além do saber profissional e das
tecnologias necessárias, abre espaços para negociação e inclusão
do saber, dos desejos e das necessidades do outro. Acreditamos
que todos devemos cuidar e só saberemos cuidar do outro quando
deixarmos que nos cuidem. Desta forma, o cuidado fisioterapêu-
tico constitui-se em um ponto fundamental da recuperação dos
pacientes submetidos à cirurgia cardíaca.
Os dados demográficos no Brasil e nos países desenvolvidos
apontam um evidente aumento da população de idosos (Loures
et al., 2000). No Brasil, as doenças cardiovasculares representam
177
a primeira causa de morte, sendo responsáveis por, aproximada-
mente, 34% dos óbitos no país, segundo o Ministério da Saúde
(1993).
A literatura mostra que a incidência de patologias cardiovas-
culares vem crescendo a cada ano, aumentando, assim, o número
de indivíduos submetidos a cirurgias cardíacas. Segundo a Or-
ganização Mundial da Saúde, a doença coronariana continuará
sendo a principal causa de mortalidade no mundo (Titoto et
al., 2005; Beaglehole, 1990).
A cirurgia cardíaca é um procedimento invasivo de alto risco,
que tem como alvo um órgão vital, o coração. Dessa forma, os
pacientes desse procedimento necessitam de um cuidado maior por
parte de toda a equipe multiprofissional durante o pós-operatório,
pois a forma de abordagem é que irá contribuir para a obtenção de
resultados satisfatórios ou não, resultando no aumento ou declínio
da taxa de morbi-mortalidade (Ferreira; Viegas, 2004).
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão
bibliográfica, abordando o papel da fisioterapia no cuidado do
paciente submetido à cirurgia cardíaca. Assim, este capítulo será
dividido em duas partes: a primeira, sobre a cirurgia cardíaca, seus
fatores de riscos, suas complicações; e a segunda, onde será reali-
zada uma abordagem sobre a fisioterapia no cuidado do paciente
no período perioperatório da cirurgia cardíaca, englobando as
técnicas utilizadas, bem como, sua aplicação nas complicações
pós-operatórias e no manejo do paciente.

Cirurgia cardíaca

A cirurgia cardíaca (CC) está associada à elevada morbi-


-mortalidade devido à alta prevalência de co-morbidades, à
menor reserva funcional destes pacientes (Laizo et al., 2010)
e à diminuição da capacidade de defesa e adaptação (Valle;
Costa et al., 2010).
Pacientes submetidos a CC desenvolvem, em sua maioria,
disfunção pulmonar (PO) com redução importante dos volumes
pulmonares, prejuízos na mecânica respiratória (Luchesa et
178
al., 2009; Blattnet et al., 2008), diminuição na complacên-
cia pulmonar e aumento do trabalho respiratório. A redução dos
volumes e capacidades pulmonares contribui para alterações nas
trocas gasosas, resultando em diminuição na capacidade de difu-
são. O quadro restritivo perdura por período superior a 116 dias.
As taxas de complicações pós-operatórias (PO) relacionadas
à Cirurgia Cardíaca (CC) permanecem expressivas, despontando,
entre elas, as complicações pulmonares (Reddy; Yusuf, 1998;
Babik et al., 2003; Staton et al., 2005), que são as causas mais
comuns de morbidade e mortalidade. Sua incidência tem ampla
variação, de 6% a 76% (Boissea et al., 2001). As alterações ra-
diológicas mais comumente observadas no PO são as atelectasias
(Freinet; Falcoz, 2010).
Embora tenham evoluído ao longo dos anos, as cirurgias
cardíacas não estão livres de complicações pós-operatórias. Estas
têm relação com fatores ligados à condição clínica e funcional do
paciente e ao tipo de procedimento cirúrgico. Atualmente, os fato-
res clínicos de maior importância são hipertensão arterial, história
de tabagismo, dislipidemia, idade, diabetes mellitus, reoperação,
insuficiência renal, doenças pulmonares prévias, distúrbios neu-
rológicos e hipertireoidismo (Kagohara et al., 2006).
Entre os fatores de risco cirúrgico, encontram-se os danos na
parede torácica devido ao tipo de incisão, uso de anestesia geral,
circulação extracorpórea (CEC), disfunção diafragmática e posição
do dreno pleural (Imle, 2006). Portanto, em função da técnica e
da via de acesso, a cirurgia implica extensa manipulação intratorá-
cica, levando à disfunção ventilatória. Esta disfunção inclui redu-
ção do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1),
da capacidade residual funcional (CRF), capacidade vital forçada
(CVF) e da capacidade pulmonar total (CPT). Isso predispõe a
ocorrência de complicações respiratórias, ou seja, hipoventilação,
alteração do mecanismo de tosse, podendo levar à hipersecreção e
ao colapso alveolar e consequentemente à hipoxemia (Kagoha-
ra, et al., 2006; Dean, 2004; Botelho; Lima, 2006). Os
principais objetivos dos programas de reabilitação cardiovascular
são permitir aos cardiopatas retornarem, o quanto antes, à vida
179
produtiva e ativa, a despeito de possíveis limitações impostas pelo
seu processo patológico.
Nos pacientes submetidos à cirurgia com circulação extra-
corpórea (CEC), particularmente, podem ocorrer reações infla-
matórias desencadeadas por este procedimento, que acarretam
deterioração da função pulmonar no pós-operatório (Brasher
et al., 2003), sendo estas complicações responsáveis pelo pro-
longamento do tempo de internação com aumento dos custos
hospitalares (Pasquina, 2003), além de serem importantes
causas de morbidade e mortalidade (Romanini et al., 2007;
Borghi-Silva et al., 2005).

Fisioterapia na cirurgia cardíaca

Atualmente, diversos programas de reabilitação cardíaca


vêm sendo desenvolvidos com o propósito de proporcionar aos
pacientes um retorno mais precoce às atividades diárias e com
melhora da qualidade de vida, objetivando a prática regular dos
exercícios físicos com segurança (Titoto et al., 2005).
No Brasil, o serviço pioneiro em fisioterapia pré e pós-
operatória especializada em cirurgia cardíaca foi instalado em
Curitiba, em 1973 (Botelho; Lima, 2006). A intervenção
pré-operatória em adultos mostra resultados satisfatórios na pre-
venção de complicações respiratórias (Botelho; Lima, 2006;
Garbossa et al., 2009).
Programas de reabilitação cardíaca baseiam-se na reabilitação
física com consequentes reduções da morbidade e mortalidade,
sendo, ainda, a redução do estresse emocional parte importante
nesses programas. As mortes no primeiro ano pós-infarto ou
revascularização do miocárdio reduziram 75% no grupo de indi-
víduos que participaram desses programas (Regenga, 2000).
Alguns fatores que predispõem as complicações respirató-
rias no pós-operatório podem ser minimizados por adequada
avaliação e manejo pré-operatório, incluindo o uso de fisioterapia
respiratória (Stiller; Munday 1992), broncodilatadores,
180
antibióticos, tratamento da insuficiência cardíaca e interrupção
do fumo (Macedo; Moreschii, 2001).
Dentre as complicações pulmonares, cerca de 65% dos
pacientes desenvolvem atelectasias e 3% adquirem pneumonia
(Pasquina, 2003). Por essa razão, a fisioterapia possui papel
essencial no tratamento desses pacientes, como objetivo de pre-
venir ou amenizar tais complicações (Brasher et al., 2003).
Sua atuação inicia-se com a aplicação de técnicas de desmame
ventilatório, descritas em alguns estudos do Consenso Brasileiro
de Ventilação Mecânica (2007) e de Costa et al. (2005), e estende-
-se até manutenção do paciente em ventilação espontânea após a
extubação (Muller et al., 2006).
Após a extubação, inicia-se uma fase importante do atendi-
mento fisioterapêutico com o objetivo primordial de manutenção
de ventilação espontânea no paciente, evitando o retorno à prótese
ventilatória (Muller et al., 2006). Dentre os recursos em-
pregados na fisioterapia respiratória, estão manobras de higiene
brônquica e expansão pulmonar, CPAP, BIPAP (dois níveis de
pressão na via aérea), EPAP (pressão positive expiratória), RPPI
(respiração com pressão positiva intermitente) e o uso de inspirô-
metro de incentivo (EI), que constituem recursos seguros e de fácil
aplicação no período pós-operatório (Romanini et al., 2007).
De acordo com o Consenso Brasileiro de Ventilação Mecâ-
nica (2000), os exercícios respiratórios aumentam a coordenação
e eficiência dos músculos respiratórios e mobilizam a caixa torá-
cica. São realizados na forma ativa, com a orientação e o auxílio
do fisioterapeuta. Os exercícios de inspirações profundas, com
no mínimo cinco incursões seguidas, mantidas por cinco a seis
segundos, são eficazes no tratamento e prevenção de atelectasias
refratárias, com melhora na capacidade vital e complacência pul-
monar. Além disso, estes exercícios melhoram o volume corrente
e facilitam a remoção de secreções (Brasher et al., 2003).
O estímulo da tosse vem sendo empregado como técnica de
higiene brônquica para remoção de secreções em pacientes no
pós-operatório de cirurgia cardíaca (Romanini et al., 2007;
Borghi-Silva, et al., 2005). A inalação de solução salina
hipertônica com NaCl a 6% associada à fisioterapia respiratória
181
convencional mostra-se eficaz no clearance mucociliar, induzindo
a tosse produtiva (Silva et al., 2006).
A intervenção fisioterapêutica na reabilitação cardíaca é
rotineiramente empregada em pacientes que foram submetidos
à cirurgia cardíaca. A aplicação de exercícios de respiração pro-
funda, estímulo à tosse, manobras de vibração na caixa torácica
e o CPAP pode prevenir a deterioração da função pulmonar e
reduzir a incidência de complicações pulmonares (Borghi-
-Silva et al., 2005).
A fisioterapia tem assumido papel inconteste no processo de
reabilitação cardíaca em sua fase hospitalar (Garbossa et al.,
2009; Leguisamo et al., 2005).
Segundo a literatura e a vivência clínica, a fisioterapia deve
ser iniciada no pré-operatório, de forma a avaliar e orientar os
pacientes. No período pós-operatório, o tratamento consiste ba-
sicamente em exercícios ventilatórios e estímulo de tosse (Hess,
2001; Cuello et al., 1988; Sciaky, 2004).
De acordo com Westerdahl et al., (2005) e Feltrim et al.
(2007), os pacientes desenvolvem disfunção pulmonar pós-ope-
ratória (PO) com redução importante dos volumes pulmonares,
prejuízos na mecânica respiratória, diminuição na complacência
pulmonar e aumento do trabalho respiratório. A redução dos
volumes e capacidades pulmonares contribui para alterações nas
trocas gasosas, resultando em hipoxemia e diminuição na capa-
cidade de difusão (Renault et al., 2008).
Ainda de acordo com Renault el al., (2008), atelectasia e
hipoxemia encontram-se entre as principais complicações pulmo-
nares no pós-operatório de CC, porém, outras, como tosse seca ou
produtiva, dispneia, broncoespasmo, hipercapnia, derrame pleural,
pneumonia, pneumotórax, reintubação e insuficiência ventilatória
também são observadas (Feltrim et al., 2007).
Em uma revisão envolvendo 115.021 pacientes submetidos
à cirurgia cardíaca, Ribeiro et al. (2006) encontraram uma taxa
de mortalidade global de 8%, ocorrida em sua grande maioria no
período PO, sendo as complicações pulmonares uma das causas
prevalentes.
182
Dentro desse contexto, a fisioterapia respiratória tem sido
cada vez mais requisitada, já que utiliza técnicas capazes de me-
lhorar a mecânica respiratória, a reexpansão pulmonar e a higiene
brônquica. No entanto, revisão sistemática da literatura evidencia
que existem controvérsias a respeito do tema, tornando difícil a
decisão sobre qual recurso seria mais útil e menos dispendioso
no manejo desses pacientes. As técnicas utilizadas na fisioterapia
respiratória variam de acordo com os países e a prática de cada
serviço (Jerre et al., 2007; Azeredo, 2002).  
Observa-se que, apesar da indicação frequente de fisioterapia
respiratória no PO de CC e da ampla gama de técnicas utilizadas
com o intuito de reverter a frequente disfunção pulmonar neste
período, não existe consenso acerca da melhor modalidade a ser
utilizada (Arcêncio et al., 2008).
Alguns recursos podem ser utilizados para realizar a fisiotera-
pia respiratória no pós-operatório de cirurgia cardíaca, tais como
manobras fisioterapêuticas, pressão positiva contínua, pressão aérea
positiva de dois níveis, pressão expiratória, respiração intermitente
com pressão positiva e incentivador respiratório, que são seguros,
fáceis de aplicar e podem ser utilizados durante todo período pós-
operatório. Existem diferenças técnicas entre esses recursos, pois
cada um tem uma ação específica para a recuperação da função
pulmonar e da mecânica respiratória (Romanini et al., 2007;
Muller et al., 2006).
Além da fisioterapia respiratória, a fisioterapia motora tem
grande significado para o desenvolvimento da capacidade respira-
tória, procurando evitar atelectasia em áreas pulmonares inferiores
e sendo importante na prevenção de processos vasculares venosos,
particularmente tromboembolismo e tromboflebites, entre outros,
sobretudo por alterações venosas no membro inferior. A mobili-
zação precoce reduz os efeitos prejudiciais do repouso no leito e
maximiza a velocidade em que as atividades habituais podem ser
reassumidas (Titoto et al., 2005).

183
Considerações finais

São muitas as complicações pós-operatórias de pacientes


submetidos à cirurgias cardíacas, sendo que a atelectasia é a
complicação mais frequente. A fisioterapia utiliza recursos para
reduzir o risco de complicações pulmonares, melhorar a ventilação
pulmonar, diminuir a dor no pós-operatório, acelerando o processo
de recuperação pulmonar.
Nesse contexto, fica claro que a cirurgia cardíaca leva a
alterações na função pulmonar, bem como o cuidado fisiotera-
pêutico favorece a reversão e melhora do paciente submetido ao
procedimento cardíaco.
A fisioterapia respiratória é parte integrante na gestão dos
cuidados do paciente cardiopata, tanto no pré quanto no pós-
operatório, pois contribui significativamente para um melhor
prognóstico desses pacientes. No pré-operatório, a fisioterapia
respiratória atua com técnicas que visam à prevenção das com-
plicações pulmonares e, no pós-operatório, atua com manobras
de higiene e reexpansão pulmonar. Assim como a fisioterapia
respiratória, a motora tem grande significado na cirurgia cardíaca,
ambas modalidades contribuindo para uma melhora na qualidade
de vida e no cuidado do paciente cardiopata.
Dessa forma, considera-se de fundamental importância a
atuação da fisioterapia no atendimento a pacientes submetidos ao
procedimento de cirurgia cardíaca, proporcionando qualidade de
vida e retorno às atividades da vida diária. A fisioterapia, mais do
que uma técnica, consiste em uma forma de cuidado amplo da
saúde global do paciente, trabalhando, ainda, aspectos emocionais
e psicológicos.

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188
Intervenções de cuidado e
educação no controle
da hipertensão arterial

Lili Wilke Klaesener


Marilene Rodrigues Portella
Ana Maria Bellani Migott

Introdução

O envelhecimento populacional é uma das consequências da


transição demográfica, isto é, do declínio das taxas de fecundidade
e mortalidade (Brasil, 2011). Embora os países desenvolvidos
acusem expressiva proporção de idosos, a velocidade do envelhe-
cimento é maior para os países em desenvolvimento (Carneiro
et al., 2013). O Brasil está entre os países que possuem as maiores
taxas de envelhecimento populacional, pois envelhece mais rapi-
damente que os países europeus, a exemplo da França que levou
mais de um século para aumentar a população com idade igual
ou superior 65 anos em 7%. Em nosso país, em apenas 30 anos,
o crescimento superou esse percentual. Segundo as projeções da
Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano de 2025, o
grupo de pessoas com 60 anos de idade ou mais deverá aumentar
em quinze vezes (Medeiros, 2012; Carneiro et al., 2013).
O aumento da expectativa de vida provoca também uma mu-
dança no perfil de doenças que acometem os idosos. O destaque
fica para o aumento notável da frequência de doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT), consideradas as mais prevalentes na
população (Carneiro et al., 2013). Tal conjuntura repercute
189
de forma incisiva na área da saúde, não só no que diz respeito às
necessidades de maior conhecimento sobre as doenças que acome-
tem a população idosa, mas também em relação à necessidade de
propor novas estratégias de promoção de saúde e prevenção dos
agravos. As pessoas idosas com condições crônicas, geralmente
têm comorbidade que demandam mais serviços de saúde, além
de crescentes gastos com cuidados de longa duração (Brasil,
2006; Gragnolati et al., 2011; Carneiro et al., 2013).
O perfil epidemiológico da população brasileira aponta a
tendência de envelhecimento populacional, com aumento na
prevalência das doenças crônicas, associado ao estilo de vida dos
indivíduos. Podemos identificar esses fatos diante do crescimento
econômico brasileiro, da falta de educação alimentar que vem
desde a infância, junto ao sedentarismo facilitado pelo progresso
tecnológico. Percebe-se um aumento do sobrepeso e obesidade
da população em geral, com reflexos importantes no aumento
da morbi-mortalidade por doenças crônicas degenerativas, prin-
cipalmente as cardiovasculares, entre elas a hipertensão arterial
(Pierin, 2013).
As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de
morbimortalidade na população brasileira e mundial. Dentre elas,
destaca-se a hipertensão arterial como um dos principais fatores
de risco, constituindo importante problema de saúde pública
(Brasil, 2006).
A estimativa aponta que, no Brasil, cerca de 17 milhões da
população são portadores de doença crônica como hipertensão
arterial; 35% dos indivíduos são da faixa etária de 40 anos ou
mais, e esse identificador é crescente. Sua manifestação está cada
vez mais precoce e estima-se que cerca de 4% das crianças e ado-
lescentes sejam portadoras. A carga de doenças concebida pela
morbimortalidade devida à hipertensão arterial é muito elevada e
por tudo isso esta doença é um problema grave de saúde pública
no Brasil e no mundo (Brasil, 2006).

190
Hipertensão arterial

Hipertensão arterial é definida como pressão arterial sistólica


maior ou igual a 140 mmHg, ou pressão arterial diastólica maior
ou igual a 90 mmHg, em indivíduos que não usam medicação
anti-hipertensiva (Brasil, 2006, p. 14).
Podemos ainda caracterizar a hipertensão arterial pela manu-
tenção elevada dos níveis pressóricos, provocando ao longo do
tempo importantes lesões em órgãos-alvo (Laterza; Rondon;
Negão, 2007, p. 104).
A Sociedade Brasileira de Hipertensão (2013) afirma que a
pressão arterial alta pode acometer os vasos sanguíneos, coração,
rins e cérebro. Quando o sangue circula com pressão elevada,
provoca danos na camada fina que recobre os vasos. Dessa for-
ma, os vasos sanguíneos tornam-se vulneráveis à obstrução ou ao
rompimento, podendo ocasionar a angina e até mesmo o infarto.
No cérebro, a obstrução ou o rompimento causa derrame cerebral
ou acidente vascular cerebral (AVC). Nos rins, podem ocorrer
alterações na filtração até a paralisação dos órgãos. Todas essas
situações são de fato muito graves, mas podem ser evitadas com
tratamento e prevenção.
Para o Ministério da Saúde (Brasil, 2006), a hipertensão
arterial é a mais frequente das doenças cardiovasculares. É, tam-
bém, o principal fator de risco para as complicações mais comuns
como acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio,
além da doença renal crônica terminal.

Benefícios do exercício físico no controle da


pressão arterial: vivências práticas

Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (Bra-


sil, p. 17, 2011), o envelhecimento ativo é o processo de otimi-
zação das oportunidades de saúde, participação e segurança,
com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as
pessoas ficam mais velhas.
191
Diversos estudos relatam que o efeito do exercício físico
nos níveis pressóricos é tão expressivo que uma única sessão de
exercício físico aeróbico provoca redução na pressão arterial por
várias horas após sua realização.
O estudo de Soares e Dias (2012), onde constataram que os
mecanismos anti-hipertensivos do exercício parecem ser multifato-
riais e podem divergir entre os indivíduos, devendo ser encarado
como uma terapia para prevenção primária, tratamento e controle
da hipertensão.
Para o Ministério da Saúde (Brasil, 2006), pessoas hiper-
tensas devem praticar algum tipo de exercício físico regular, pois,
além de diminuir a pressão arterial, reduz consideravelmente o
risco de doença arterial coronária, acidentes vasculares cerebrais
e mortalidade em geral. A recomendação do exercício físico como
ferramenta de promoção e prevenção de doenças cardiovasculares
baseia-se nos parâmetros de frequência, duração, intensidade e
modo de realização. Deve ser realizado por pelo menos 30 minu-
tos, de intensidade moderada, na maior parte dos dias da semana
(5 dias) de forma contínua ou acumulada.
Monteiro et al. (p. 110, 2007), demonstraram um resultado
importante em sua pesquisa. Apenas quatro meses de exercício
regular foram suficientes para reduzir a pressão arterial de pacien-
tes hipertensos. O que sugere que um período longo de exercício
poderia alterar efetivamente a pressão arterial.

Vivências de cuidado e promoção da saúde


no controle da hipertensão arterial

O tratamento da hipertensão e a prevenção das complicações


crônicas exigem uma abordagem multiprofissional. Assim como
todas as doenças crônicas, a hipertensão arterial necessita de um
processo contínuo de motivação para que a pessoa não abandone
o tratamento (Brasil, 2006, p. 76).
Na sequência, apresentaremos o relato de uma experiência
bem sucedida aplicada no controle da hipertensão arterial, cen-
trada na mudança do estilo de vida. O programa incorporou um
192
conjunto de estratégias de educação em saúde que objetivava, em
especial, a adesão à prática de atividade física.
O programa apresenta um modelo de assistência à saúde,
onde o desenvolvimento de programas na área da promoção da
saúde e prevenção de riscos e doenças tem como objetivo a mu-
dança do modelo assistencial vigente e a melhoria da qualidade
de vida.
O programa oferece acompanhamento integral com equipe
multiprofissional composta por médico assistente, enfermeira,
educadores físicos, nutricionistas, fisioterapeuta e farmacêutico. O
serviço inclui avaliação e acompanhamento com enfermeira; ativi-
dade física orientada e personalizada de acordo com a necessidade
e a doença de cada paciente; orientação nutricional, preconizando
a reeducação alimentar; atenção farmacêutica na utilização correta
do medicamento e acompanhamento fisioterápico.
A equipe multiprofissional participa das ações, as quais ocor-
reram de forma individualizada e proativa, seguindo protocolos
específicos que buscam o autocuidado. O paciente é destinado a
uma das duas áreas de atenção: à Saúde do Adulto ou à Saúde
do Idoso.
O programa realiza ações monitorando os clientes portadores
das seguintes condições crônicas:
• Diabetes mellitus;
• Sobrepeso/obesidade;
• Cardiopatias;
• Hipertensão arterial sistêmica;
• Cardiocerebrovascular;
• Dislipidemia;
• Sedentarismo;
• Insuficiência renal crônica;
O objetivo do tratamento da hipertensão é a manutenção
de uma pressão arterial adequada. Inclui ações de mudança no
estilo de vida e, nos casos em que o médico prescreve o uso de
medicações, o próprio paciente torna-se responsável por estas
mudanças. A enfermagem tem função de realizar orientação e
193
acompanhamento frente a estas novas adaptações. Por essa razão, é
um sistema de educação continuada e de estímulo ao autocuidado.
O método de controle da pressão arterial consiste em aferir
a pressão antes e após a prática do exercício físico. E realizada
com a pessoa na posição sentada, com técnica adequada e com
esfignomanômetros confiáveis, conforme orientação e procedimen-
to descrito no Caderno de Atenção Básica nº 16 – Hipertensão
Arterial.
A média da pressão arterial é feita mensalmente. Segue a
tabela com exemplo da média de pressão arterial de 10 pacien-
tes, com a comparação de antes de participarem do programa e
atualmente com a inserção da prática de exercício físico.

Tabela 1. Média de pressão arterial de 10 idosos hipertensos.

Média de pressão Média de pressão arterial


Idade arterial sem exercício com a prática de exercício
físico físico 3 vezes por semana

75 143/63 112/89
82 161/66 118/70
81 152/64 113/66
76 156/66 116/70
80 149/62 116/67
70 144/64 122/70
81 152/62 114/68
85 149/84 119/71
75 143/75 121/80
82 147/86 121/65

Dentre os benefícios que o exercício proporciona aos pacientes


hipertensos, podemos citar:
• Melhora a efetividade da circulação do sangue em todo
o corpo;
• Reduz os batimentos cardíacos;
194
• Diminui a ansiedade e a depressão;
• Facilita a eliminação do sódio pelos rins;
• Reduz o peso;
• Contribui na dimensão do consumo do cigarro e do álcool;
• Aumenta a força muscular do corpo todo, proporcionando
maior disposição para atividades da vida diária;
• Aumenta o HDL colesterol (colesterol bom);
• Melhora o efeito do remédio anti-hipertensivo.

É preciso lembrar que saúde não é apenas uma questão de


assistência médica e acesso a medicamentos. Promover um “estilo
de vida saudável” deve ser encarado como estratégia. Os benefícios
da prática de atividade física para a saúde têm sido amplamente
trabalhados e documentados (Brasil, 2006).
Diante deste fato, o Ministério da Saúde recomenda o exer-
cício físico para controle da hipertensão arterial em parâmetros
de frequência, duração, intensidade e modo de realização. Deve
ser realizado no mínimo 30 minutos, na maior parte dos dias, ou
seja, 5 vezes por semana de forma continuada ou acumulada. O
paciente deve incluir o exercício físico nas suas atividades da vida
diária, mas sempre com orientação de um profissional responsável
(Brasil, 2006).
Tem-se observado que, após a realização de uma única sessão
de exercício físico dinâmico, os níveis de pressão arterial diminuem
e permanecem abaixo dos níveis pré-exercício. Essa resposta fisio-
lógica é observada em pacientes normotensos e principalmente em
hipertensos (Laterza; Rondon; Negrão, 2007).
Portanto, pacientes hipertensos devem iniciar atividades físicas
regulares, pois, além de diminuir a pressão arterial, o exercício
pode reduzir consideravelmente o risco de doença arterial coro-
nária e de acidentes vasculares cerebrais, além da mortalidade
em geral, facilitando ainda o controle do peso (Brasil, 2006).
Percebeu-se, no programa, que a prática regular de exercício
físico é primordial na prevenção e no tratamento da hipertensão
195
arterial, além de melhorar a saúde e a aptidão física de adultos e
idosos. É importante ressaltar que a atividade física bem orientada,
dentro dos níveis de intensidade e volume recomendados, pode
e deve ser indicada ao indivíduo hipertenso, agindo de forma
imprescindível na melhora do quadro geral de sua saúde como
forma isolada ou complementar ao tratamento medicamentoso.
Ainda podemos observar que, além de todos os itens citados,
o exercício físico oferece uma excelente qualidade de vida para
as pessoas e reduz a pressão arterial, mas deve ser encarado com
seriedade. Para que o exercício físico tenha efetividade é necessário
que seja realizado com intensidade moderada de no mínimo 3 a
5 vezes na semana, durante 30 minutos por dia. É de suma im-
portância lembrar que em toda a prática esportiva para indivíduos
hipertensos deve haver liberação médica e acompanhamento de
um educador físico.
Em suas ações, o enfermeiro tem como responsabilidade
acercar-se de temas relativos a medidas preventivas e de controle
de pressão arterial, tais como controle do peso, realização de ativi-
dade física, importância da redução do sal e aumento da ingestão
de potássio, relação da ingestão de álcool com a hipertensão e
recomendações dietéticas. O enfermeiro também deve abordar
assuntos pertinentes à fisiopatologia da hipertensão arterial, com-
plicações e tipos de tratamento (Micheli; Bitarello, 2008).

Considerações finais

Assim, o enfermeiro atua com habilidades, competências e


atitudes que possibilitam resolutividade no processo do trabalho
em saúde, podendo contribuir significativamente na equipe multi-
disciplinar, na forma de prevenção e tratamento da hipertensão
arterial.
Prevenir e tratar a hipertensão arterial envolve, fundamen-
talmente, ensinamentos para introduzir, inclusive, a mudança de
hábitos de vida. A implementação dessas mudanças, porém, é
lenta e na maioria das vezes não se mantém com a continuidade
necessária (Kieller; Cunha, 2004, p. 22).
196
Promover um estilo de vida saudável deve ser prioridade
das equipes multiprofissionais. A prevenção de complicações nos
hipertensos deve focar nos fatores de risco, nos quais a enferma-
gem deve atuar para eliminar ou reduzir, evitando as complicações
da doença em base. É de responsabilidade da enfermagem propor
métodos para a mudança de hábitos de estilo de vida e transformar
o sujeito em um agente ativo e participante do seu processo de
reeducação e melhora de qualidade de vida.

Referências

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partamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa
idosa. Cadernos de Atenção Básica n. 19. Brasília, 2006.
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TAR. Cartilha para a modelagem de programas para promoção da saúde
e prevenção de riscos e doenças/ Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Rio de Janeiro: ANS, 2011.
_____ . Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Prevenção clínica de doença cardiovascular, cerebrovascular
e renal crônica. Cadernos de Atenção Básica n. 14. Série A. Normas e
Manuais Técnicos. Brasília, 2006.
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n. 15. Brasília, 2006.
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v. 5, p. 20-4, 2004.
LATERZA, M. C.; RONDON, M. U. P. B.; NEGRÃO, C. E.
Efeito anti-hipertensivo do exercício. Rev. Bras. Hipertens, v. 14, n.
2, p. 104-111, 2007.
MEDEIROS, P. Como estaremos na velhice? Reflexões sobre en-
velhecimento e dependência, abandono e institucionalização. Revista
Polêmica, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 56-60, jul./set. 2012.
197
MENEZES, A. G. M. P.; GOBBI, D. Educação em saúde e pro-
grama de saúde da família: atuação da enfermagem na prevenção
de complicações em pacientes hipertensos. O Mundo da Saúde, São
Paulo, v. 34, n. 1, p. 97-102, 2010.
MICHELI, T.; BITARELLO, D. A. O enfermeiro, na atenção
básica, ao lidar com hipertensão como fator de risco para insuficiência
renal crônica. Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 8, n. 3, p.
329-337, 2008.
MONTEIRO, H. L. et al. Efetividade de um programa de exer-
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PIERIN, A. M. G. A atuação da enfermagem na promoção e incentivo
à prática de atividade física em hipertensos sedentários acompanhados
em estratégia saúde da família da região oeste da cidade de São Paulo.
Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação de Enfermagem
na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de
São Paulo. São Paulo, 2013.

198
Hábitos alimentares:
um cuidado essencial
no diabetes mellitus

Maria Cristina Zanchim


Ana Carolina Bertoletti De Marchi
Vanessa Ramos Kirsten

Introdução

O diabetes mellitus (DM) é definido como uma doença


metabólica, caracterizada pela hiperglicemia crônica devido à
ausência, deficiência/ou resistência à ação do hormônio insulina
sintetizado pelas células betapancreáticas (Borges et al., 2011).
Alguns aspectos etiológicos da doença ainda são desconhecidos,
porém, estudos reconhecem a predisposição genética e familiar,
estilo de vida e fatores ambientais na sua manifestação (Socie-
dade Brasileira de Diabetes, 2014).
Atualmente, o DM tipo 2 é reconhecido como problema de
saúde pública e representa cerca de 90% dos casos de diabetes
no Brasil dentre todos os outros tipos da doença (Sociedade
Brasileira de Diabetes, 2014). Aponta-se que sua preva-
lência elevada e ascendente seja resultado das maiores taxas de
urbanização, expectativa de vida da população, hábitos alimentares
não saudáveis, inatividade física e do incremento nos índices de
sobrepeso e obesidade (International Diabetes Fede-
ration, 2013; Eskinazi et al., 2011).
Esta enfermidade, quando não controlada adequadamente,
favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, renais,
199
infecções, neuropatias e amputações, apontadas como causas fre-
quentes de incapacitações na realização das atividades diárias e
laborais, aposentadorias precoces, redução da qualidade de vida,
além do considerável impacto econômico, por conta dos gastos
excessivos em saúde e frequentes hospitalizações (Schaan;
Harzheim; Gus, 2013).
Conviver com DM requer além do conhecimento da doen-
ça, comportamento e habilidades para o cuidado que devem ser
incorporados diariamente para um melhor convívio com a doença
(Grillo et al., 2008). A ciência tem destacado que uma das
formas de cuidado é o manejo nutricional – sendo este fundamen-
tal para a manutenção do controle metabólico, estado nutricional
adequado – na formação de hábitos alimentares saudáveis e
qualidade de vida, bem como na prevenção ou no tratamento de
complicações agudas e crônicas advindas da doença (American
Diabetes Association, 2014).  
É estabelecido que o acompanhamento nutricional favorece o
controle glicêmico, promovendo redução de 1% a 2% nos níveis
de hemoglobina glicada. Sabe-se também que, quando associado
a outros componentes do cuidado em diabetes, pode melhorar
ainda mais os parâmetros clínicos e metabólicos da enfermidade
(Sociedade Brasileira de Diabetes, 2014).
O DM, por ser uma doença crônica, impõe ao indivíduo
mudanças importantes no seu cotidiano, pois para mantê-la con-
trolada é necessário que os doentes integrem às suas atividades
diárias, além da prática de exercícios físicos, hábitos de alimentação
saudáveis, muitas vezes diferindo do consumo habitual. A adesão
ao plano alimentar torna-se, então, uma questão-chave para o
sucesso do tratamento (Apóstolo et al., 2007).
Embora o cumprimento de uma dieta adequada seja parte
fundamental para um adequado controle glicêmico, um problema
frequente encontrado por profissionais de saúde tem sido o baixo
seguimento dos pacientes à prescrição alimentar, principalmente
por ser considerado um fator comportamental e social de difícil
modificação, o que reconhecidamente aumenta as complicações
da doença (Villas Boas et al., 2011).
200
Para que os objetivos propostos pela terapia nutricional sejam
alcançados, o conhecimento de aspectos referentes ao controle
metabólico e nutricional é fundamental no gerenciamento do
diabetes. Nesse sentido, a assistência multiprofissional deve ser
instituída tão logo se confirme o diagnóstico, para que o pacien-
te possa adquirir conhecimento, habilidade e segurança para o
autocuidado.
Diante desse contexto, estruturamos este texto em três mo-
mentos. No primeiro, discutiremos a epidemiologia do diabetes
e a relação dos hábitos modernos de vida no perfil de saúde da
população. No segundo e terceiro momento, serão abordados os
princípios básicos da conduta nutricional para indivíduos com
diabetes, além de aspectos relacionados à promoção da saúde e
estilo de vida saudável.

Epidemiologia do diabetes e fatores


associados

O progresso tecnológico, a globalização e outros aspectos


do mundo moderno propiciaram a transição nutricional, que,
associada à demográfica, trouxe um novo cenário para o mundo,
em termos de morbidade e mortalidade, impactando na saúde
humana. Doenças infecciosas deixaram de ser as principais causas
de mortalidade, dando lugar às doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT), dentre as quais está o DM tipo 2 (Ferreira, 2010).
O número de diabéticos em todo o mundo no ano de 2013
era de 371 milhões, com expectativa de, em 2035, alcançar 592
milhões de pessoas portadoras dessa enfermidade (Interna-
tional Diabetes Federation, 2013).
No Brasil, dados disponíveis no banco de dados do Datasus
mostram que a prevalência do DM na população é de 11,7%
(Brasil, 2012). De acordo com informações recentes do Vigitel,
o diagnóstico da doença autorreferida nos brasileiros passou de
5,5% para 6,8% entre 2006 e 2013 (Brasil, 2014). Essa pesquisa
constatou ainda que a sua ocorrência é mais comum em indivíduos
com menor escolaridade, indicando que 12,2% dos que têm até
201
8 anos de estudo possuem diabetes, em contrapartida aos 3,2%
dos com mais de 12 anos de estudo, perfazendo uma diferença
de mais de 50%. Outro levantamento observado foi a influência
da idade na prevalência do diabetes, caracterizando o aumento
da sua incidência de 0,8% na faixa etária de 18 a 24 anos, para
22% na população de idosos com mais de 65 anos.
De modo geral, os fatores de risco para a manifestação do
DM tipo 2 estão associados às demais DCNT. Entre os muitos
fatores de risco citados na literatura, alguns têm por característica
o fato de não poderem ser modificados, como a raça, a idade e a
carga genética. No entanto, fatores como nível de atividade física,
índice de massa corporal (IMC), deposição central de gordura
e padrão dietético são considerados modificáveis e possibilitam a
reversão da situação de risco para a doença (Seus et al., 2012).
Atualmente, o perfil alimentar da população tem resultado
em excesso de peso e adiposidade visceral, com consequências
negativas à saúde. A prevalência de excesso de peso é notória e
está aumentando de forma conjunta ao DM tipo 2 (Schmidt et
al., 2011). Em nosso país, o percentual de indivíduos com excesso
de peso supera o daqueles com déficit de peso. Dados divulgados
pelo Vigitel de 2013 apontam que 50,8% dos brasileiros estão
com o peso acima do ideal e, dentre estes, 17,5% estão obesos
(Brasil, 2014).
As mudanças no perfil de atividade física e a disseminação de
atividades sedentárias favorecem o excesso de peso, que, por sua
vez, pode colaborar no aumento da resistência à insulina. Neste
contexto, indivíduos insuficientemente ativos possuem maiores
chances de apresentar sobrepeso e consequentemente maior risco
de desenvolver DM tipo 2 (Santos, 2012). Estudos sobre os
padrões de atividade física ainda são escassos e de representa-
tividade limitada no Brasil, entretanto, as pesquisas sugerem que
os baixos níveis são mais frequentes entre as mulheres, grupos
de meia idade, idosos e pessoas com baixo nível de escolaridade
(Brasil, 2014; Anjos et al., 2012).
Somado a estes aspectos, outro fator de risco relevante é a
modificação no consumo alimentar, caracterizado pelo aumento
na ingestão calórica e de alimentos industrializados e altamente
202
processados. Observa-se a substituição do consumo de alimentos
in natura, ricos em fibras, vitaminas e minerais por uma dieta rica
em gordura, açúcar, alimentos refinados e sódio (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, 2011). A
pesquisa do Vigitel evidenciou essa piora qualitativa do padrão ali-
mentar brasileiro, indicando uma queda do consumo de alimentos
tradicionais como o arroz e feijão, frutas e verduras, concomitante
ao aumento da ingestão de carnes com excesso de gordura, lácteos
integrais e refrigerantes (Brasil, 2014).
Esses resultados, tomados em conjunto, apontam tendên-
cias desfavoráveis, uma vez que esse padrão, caracterizado pelo
consumo de alta densidade energética, escassez de fibras, micro-
nutrientes, excesso de gorduras saturadas, somado a inatividade
física é um importante condicionante da morbimortalidade por
doenças crônicas ao longo de todas as fases da vida. Nessa ver-
tente, o cuidado nutricional baseado no estabelecimento de dieta
saudável, associado à mudança no estilo de vida, à inclusão da
prática de atividade física, é considerado terapia de primeira
escolha no gerenciamento e controle do diabetes (Sociedade
Brasileira de Diabetes, 2014).

Princípios da terapia nutricional


no diabetes mellitus

A terapia nutricional em diabetes é recomendada como um


componente eficaz do plano global do tratamento. É consenso
que a dieta é fundamental na obtenção de um estado metabólico
ótimo, de forma a assegurar o controle de lipídios, glicemia,
pressão arterial, alcance de um peso corporal adequado, além de
prevenir as complicações tardias da doença (American Dia-
betes Association, 2014).
Desse modo, para que os objetivos do tratamento sejam
atendidos, é estabelecido que a conduta nutricional no diabético
deve ter como foco o indivíduo, considerando todas as fases da
vida, diagnóstico nutricional e adaptação ao uso de fármacos,
hábitos alimentares e nível socioeconômico, permitindo, dessa
203
forma, a elaboração de um plano alimentar que melhor se adapte
às necessidades do paciente (Boas et al., 2011).
A terapia nutricional vem sofrendo modificações ao longo do
tempo. Atualmente, as recomendações dietéticas estão baseadas
nos princípios de alimentação saudável e bons hábitos alimenta-
res. A composição da dieta indicada para portadores da doença
assemelha-se à recomendada para a população em geral, uma dieta
balanceada, estabelecida a partir de concentrações adequadas de
macro e micronutrientes essenciais (Sociedade Brasileira
de Diabetes, 2014).
Em geral, um dos aspectos relevantes do plano alimentar
no diabetes é a sua consistência em relação ao fracionamento das
refeições, tipos de alimentos consumidos e combinações, pois,
quando realizadas em intervalos regulares e em quantidades
adequadas, as refeições contribuirão para um melhor controle
glicêmico (Barsaglini; Canesqui, 2010).
De acordo com Barbieri (2009), a associação entre dieta
hipocalórica – com diminuição de 250 a 1000 calorias do consu-
mo habitual – e a perda de peso ponderal, entre 5 e 10%, podem
fornecer benefícios clínicos na redução da glicemia, pressão arterial
e do perfil de lipídios em indivíduos diabéticos com sobrepeso e
obesidade. Uma metanálise, que incluiu 17 estudos randomizados
e controlados, avaliou o efeito da intervenção no estilo de vida
sobre os níveis de HbA1c e IMC em pacientes diabéticos tipo
2, evidenciando que as intervenções que aumentaram o nível de
exercício físico foram benéficas e associaram-se a melhorias nos
níveis de HbA1c (diferença média ponderada de, -0,32%, IC
95%, -0,44% para -0,21%) e no IMC (-1,05 kg/m2, IC 95%,
-1,31 para -0,80) (Avery et al., 2012).
Referente à ingestão de carboidratos no plano alimentar, há
consenso que deve representar de 45% a 60% do requerimento
energético, preferencialmente de baixo índice glicêmico, sendo
recomendado o consumo a partir de hortaliças, leguminosas, pro-
dutos lácteos desnatados, frutas e grãos integrais (Sociedade
Brasileira de Diabetes, 2014).
204
Atualmente, as diretrizes descrevem que sacarose não au-
menta glicemia a níveis superiores do que outros carboidratos
quando consumidos em quantidades equivalentes. Dessa forma,
a Sociedade Brasileira de Diabetes (2014) preconiza que seu
consumo possa ser inserido no contexto de uma dieta saudável,
dependendo do grau de controle do indivíduo e da supervisão
contínua do nutricionista.
Estudos têm apontado um efeito benéfico do uso de adoçantes
artificiais no controle do consumo de energia e consequentemente
na redução do peso corporal, quando comparado à ingestão de
açúcar na dieta (Raben; Richelsen, 2012; Sorensen
et al., 2014). Nesse sentido, os adoçantes não são essenciais ao
tratamento do diabetes como a medicação e a monitorização da
glicemia, mas podem favorecer o convívio social e uma maior fle-
xibilidade do plano alimentar. Segundo as Diretrizes da Sociedade
Brasileira de Diabetes (2014), edulcorantes, como o acessulfame
K, aspartame, sacarina sódica e sucralose, mostraram-se seguros
para o consumo na população em geral, quando a ingestão acei-
tável diária foi respeitada.
O consumo de fibra deve ser incentivado em diabéticos, pois
favorece a redução dos picos glicêmicos pós-prandiais, contribui
para a saciedade, reduz a absorção intestinal de glicose e do co-
lesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), além de
atuar na preservação da saúde intestinal. Portanto, há um consenso
nas diretrizes em incentivar o consumo de alimentos fontes de
fibras, tais como grãos integrais, leguminosas, hortaliças e frutas
(Ferreira, 2010). A American Diabetes Association (2014) não
recomenda, entretanto, um consumo de maior quantidade de
fibras na dieta, sendo a ingestão mínima sugerida de 25g por dia
para mulheres e 38g para os homens.
Embora as gorduras não devam ser consumidas em grande
quantidade, são indispensáveis no plano alimentar, pois fornecem
as maiores taxas de energia, ácidos graxos essenciais, além de
serem condutoras de vitaminas lipossolúveis (Sociedade Bra-
sileira de Diabetes, 2009). Segundo a American Diabetes
Association (2014), a ingestão total de gordura deve representar
até 30% da energia consumida na dieta, sendo que 10% deve ser
205
derivada de gordura poli-insaturada, 7% ou menos de saturada e
uma ingestão energética menor do que 200 mg/dia de colesterol.
O consumo de gorduras saturadas, trans e colesterol deve ser
restrito de modo a reduzir o risco cardiovascular, contribuindo
para a redução do peso, e de até 16% da LDL-C.
A Sociedade Brasileira de Diabetes (2009) preconiza que as
proteínas devem ser ingeridas em quantidades suficientes para
que possam exercer suas funções principais que se relacionam
com a formação, renovação e manutenção estrutural de células e
tecidos. Quanto à oferta proteica, recomenda-se para um balanço
energético positivo, um percentual de 15% a 20% do valor caló-
rico da dieta ou de 0,8 a 1 g/kg/peso/dia. Na situação de doença
renal crônica em estágio 3 ou 4 é aconselhada a redução para 0,6
a 0,8g/kg/dia, de modo a diminuir a progressão da doença renal.
Boa parte da oferta deve provir de proteínas de boa qualidade
biológica e de fácil digestibilidade como das carnes magras, leite,
ovos, queijos e iogurtes com baixo teor de gordura. Leguminosas,
cereais integrais e oleaginosas devem complementar a oferta de
aminoácidos (Sociedade Brasileira de Diabetes, 2014).
As vitaminas e minerais distribuem-se pelos vários alimentos
e são indispensáveis para o pleno aproveitamento dos nutrientes e
funcionamento do organismo. Em diabéticos, a sua deficiência é
frequente e as principais causas são as perdas na urina, a diminui-
ção na capacidade de absorção intestinal, além da baixa ingestão
dietética (Chehade, 2009). Para que as necessidades diárias
de vitaminas e minerais sejam atendidas, o plano alimentar deve
ser variado, com o consumo mínimo de duas a quatro porções
de frutas ao dia, sendo pelo menos uma rica em vitamina C e de
três a cinco porções de hortaliças cruas e cozidas (American
Diabetes Association, 2014).
A recomendação de sódio é a mesma da população em geral,
sendo limitada a 2.400mg/dia, o que equivale a 5 g de sal de cozi-
nha. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2010),
o consumo acima dessa meta é causa importante de hipertensão
arterial. Produtos alimentícios ricos em ingredientes fontes de só-
dio devem ser evitados, como os embutidos, conservas, enlatados,
defumados, salgados de pacote, macarrão instantâneo, temperos
206
em cubos e molhos prontos. Torna-se relevante realizar escolhas
conscientes, incluindo na alimentação temperos naturais, frutas,
vegetais e processados com menor teor de sódio (Sociedade
Brasileira de Diabetes, 2014).
Com relação ao consumo de álcool, as diretrizes recomen-
dam que a ingestão seja de uma dose ou menos para mulheres e
duas doses ou menos para homens (1 dose, 150 ml, de vinho ou
360 ml de cerveja ou 45 ml de destilados, medida equivalente
em média a 15 g de etanol). Recomenda-se, ainda, a ingestão de
carboidrato antes e/ou durante o uso da bebida, sendo necessário
em alguns casos, ajuste na dose da insulina (American Dia-
betes Association, 2014).
Diante deste contexto, as estratégias para o tratamento nutri-
cional no diabetes, devem dar ênfase à disciplina na ingestão de
nutrientes adequados e no fracionamento alimentar, minimizan-
do, assim, as oscilações glicêmicas e refletindo em uma melhor
qualidade de vida.

Adesão ao cuidado nutricional


no diabetes mellitus

São várias as razões que contribuem para muitas pessoas


acreditarem que a terapia nutricional é o componente mais difícil e
desafiador no tratamento do DM. Entre os fatores preponderan-
tes para a adesão insatisfatória às recomendações nutricionais do
diabético, está a limitação econômica para aquisição de alimentos
adequados, a não personalização do plano alimentar, influência da
família no consumo alimentar, a falta de motivação e de clareza
na análise da relação custo/benefício entre adesão às orientações
e os fatores de risco associados às descompensações glicêmicas
(Marques; Sousa; Domingos, 2012).
Estima-se que o percentual de diabéticos que não segue
plenamente a dieta recomendada varia de 40% a 60% (Groff
et al., 2011; Oliveira et al., 2014).
Diversos estudos têm apontado uma associação positiva entre
limitação econômica e pior capacidade para o gerenciamento da
207
saúde, de forma especial no DM. Gucciardi et al. (2014), em
uma revisão sistemática, observam que a insegurança alimentar é
prevalente entre famílias onde ao menos uma pessoa convive com
diabetes e, da mesma forma, o diabetes é, também, mais frequente
em domicílios onde há insegurança alimentar. Os autores destacam
que muitos diabéticos apresentam acesso limitado a alimentos
em quantidade e qualidade, pois parte do orçamento financeiro
é destinado à aquisição de medicamentos, insumos, tratamentos
médicos, além de despesas com moradia. Isso agrava a insegurança
e exerce influência na compra e consumo de uma dieta de baixo
custo, densa em calorias e pobre em nutrientes.
O estudo realizado por Ramos et al. (2014) demonstrou que
a não adesão às orientações alimentares ocorre, principalmente,
pela dificuldade em recriar hábitos alimentares, devido à não
aceitação das restrições recebidas. Peres et al. (2006), em sua
pesquisa, também identificaram que os diabéticos não seguiam
as orientações devido à percepção negativa quanto ao tratamento
dietético, associando-o com a condenação de se privar de praze-
res. Desse modo, o paciente se nega a seguir o tratamento, com
consequente piora do estado de saúde.
A saúde e a alimentação do diabético também são influen-
ciadas pelos hábitos de vida da família. Santos et al. (2012) desta-
cam que, dentre àqueles que apresentam dificuldade em seguir a
dieta, muitos apontam a falta de apoio familiar como responsável
pela manutenção do plano alimentar. Assim, a abordagem familiar
é primordial para a conscientização das mudanças necessárias ao
sucesso do tratamento (Costa et al., 2011).
A possibilidade de ser saudável em diabetes se dá com a reali-
zação correta do tratamento e também pelo convívio consciente
do paciente com a sua condição de saúde. Nesse sentido, o acon-
selhamento nutricional bem aplicado, realizado pelo profissional
nutricionista, viabiliza melhor adesão, evitando-se modificações
traumáticas de estilo de vida, principalmente quanto ao amplo
aspecto do ato de comer (Marques; Sousa; Domingos,
2012).
Além do cuidado nutricional, torna-se essencial inserir-se ao
contexto sociocultural do paciente. O abandono do sedentarismo
208
requer prática de exercícios físicos diários e automonitorização da
glicemia e o uso adequado de medicamentos, fatores que juntos
proporcionam o adequado gerenciamento do DM tipo 2. Con-
siderando que mudanças a longo prazo no comportamento são
difíceis de serem alcançadas, a assistência multiprofissional aos
pacientes diabéticos é fundamental para que sejam identificadas
e trabalhadas estratégias que motivem o autocuidado, com con-
tribuições no controle da doença e no cuidado de forma integral
(Mechanick et al., 2012).

Considerações finais

O diabetes mellitus vem crescendo de forma epidêmica,


reflexo de um estilo de vida sedentário e de hábitos alimentares
inadequados. O tratamento desta patologia implica grande res-
ponsabilidade pelo paciente ao longo da vida. A adesão às reco-
mendações nutricionais, apesar de ser desafiante no cuidado do
diabetes, é um componente essencial para o controle metabólico
e qualidade de vida. Dessa forma, são fundamentais estratégias
de promoção da saúde que possam levar à mudança nos hábitos
de vida para participação ativa e efetiva do paciente no curso da
sua doença.

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212
Eletroestimulação por
microcorrente no cuidado
ao idoso com úlcera de pressão

Lauana D’Avila Eidelwein


Helenice de Moura Scortegagna

Introdução

A essência do cuidado faz parte da vida do ser humano,


sendo entendida como uma maneira de ser, pois engloba atos
como carinho, compaixão, afeto, atenção. Cuidar é saber se co-
locar no lugar do outro, ou seja, ser humanista, benevolente e
altruísta. O desenvolvimento do cuidado é capaz de resgatar o
lado humanístico do homem, que surge quando alguém, ao ajudar,
torna-se importante para outrem, formando laços e sentimento de
desvelo. O cuidado está na constituição do ser humano, sem ele
deixaríamos de existir. Podemos até considerá-lo uma atitude que
precisa estar presente em tudo que dizemos e fizemos (Fonseca
et al., 2010; Waldow, 2011; Boff, 2004).
Com a acelerada transição demográfica brasileira, o aumento
da população idosa é cada vez maior, o que requer novas políti-
cas públicas para atender com equidade aos idosos que acabam
necessitando de cuidados especiais. Assim, configura-se o desafio
de atenção à saúde. Perante essa realidade, porém, há uma preo-
cupação devido à escassez de serviços públicos e privados voltados
a essa faixa etária, sendo necessário um aumento de profissionais
qualificados na prática do cuidado ao idoso de forma humanizada
(Berlezi et al., 2011).
213
O aumento da população longeva ratificou a necessidade da
criação de estratégias à saúde do idoso, aumentando o número de
profissionais capacitados, maior infraestrutura, aporte tecnológico
e programas de atenção ao idoso visando ao cuidado integral.
Envelhecer bem não depende exclusivamente dos fatores fisio-
lógicos, mas também do contexto social, limitações. As doenças
fazem parte do processo de envelhecimento, ressaltando a impor-
tância da prevenção de doenças e promoção da saúde para um
envelhecer ativo e de qualidade. A vulnerabilidade, bem como a
prevalência de doenças crônicas, na senescência, podem acarretar
a diminuição da capacidade funcional e a dependência do idoso,
aumentando as chances de acamamento (Conceição, 2010;
Figueiredo et al., 2008).
A úlcera de pressão é um problema que se destaca durante a
senescência, principalmente na população idosa com baixa mobi-
lidade. Seu desenvolvimento é rápido e pode resultar em graves
complicações que comprometem a saúde do idoso (Saatkamp,
2012).
De acordo com Neiva et al. (2014, p. 305),

a úlcera por pressão (UP) é um grave problema de saúde em todo


o mundo. No Brasil, poucos são os estudos referentes à incidência
e à prevalência de úlceras, contudo, o problema é semelhante
ao encontrado em outros países, apresentando incidência de 2 a
29,5% na população em geral.

Uma das alternativas para o tratamento das úlceras de pressão


é a microcorrente, considerada um recurso eletroterápico com
finalidade de restabelecer a bioeletrecidade tecidual (Korelo,
2012).
O presente estudo constitui-se de uma revisão bibliográfica
de caráter descritivo, através da revisão com base em artigos
nacionais e internacionais e livros. Foi realizada leitura e seleção
dos tópicos de interesse da pesquisa em pauta, com a finalidade
de conhecer as contribuições em nível científico da microcorrente
em idosos com úlceras de pressão.
214
O objetivo deste trabalho é investigar as contribuições da
eletroestimulação por microcorrente na úlcera de pressão para
a melhoria da assistência ao cuidado do idoso. Observa-se a
importância dos cuidados com portadores de úlceras de pressão,
destacando e enfatizando a população idosa que possui peculiari-
dades do envelhecimento, o que propicia o acometimento dessas
lesões, bem como as dificuldades de cicatrização tecidual.

A pele do idoso e as úlceras de pressão

Considerada o maior órgão do corpo humano, a pele possui


diversas funções importantes indispensáveis à vida. No decorrer
do processo de envelhecimento, suas estruturas sofrem alterações
devido a fatores intrínsecos e extrínsecos, resultando em um efeito
deletério à saúde, requerendo cuidados especiais indispensáveis.
Modificações no tecido cutâneo são comuns na senescência, en-
tre elas a diminuição da síntese de colágeno e elastina feita pelos
fibroblastos, que possuem papel importante na manutenção da
integridade dos tecidos. A espessura da pele diminui drastica-
mente, bem como a elasticidade e a hidratação, deixando-a alípica,
frágil e propícia ao rompimento. Ocorre também diminuição da
vascularização e fragilidade dos vasos sanguíneos, favorecendo o
aparecimento de lesões cutâneas, termorregulação desequilibrada,
diminuição das glândulas sudoríparas, menor sensibilidade de-
vido à redução dos receptores sensoriais, e resposta inflamatória
deficiente, devido à menor produção de histamina e cisalhamento
(Freitas et al., 2010; Resende et al., 2006).
A pele, conhecida também como tegumento, pode ser um
meio indicador de alterações no organismo ou da saúde geral
de um indivíduo, com função de proteger o corpo humano de
fatores extrínsecos como microorganismos e radiação ultravioleta,
regular a temperatura corpórea, armazenar e sintetizar a vitamina
D, conter as substâncias vitais e as estruturas do corpo. Essas
funções passam por vicissitudes quando há feridas incapacitantes
que dificultam o processo de cicatrização tecidual, sendo indis-
215
pensáveis cuidados para diminuir o risco de complicações e gastos
com a saúde (Panato, 2014).
Durante a senescência, a pele passa por modificações rela-
cionadas à genética, idade, radiação solar, tabagismo e agentes
químicos. Esses fatores acabam tornando-a desidratada, enrugada,
flácida e com neoplasias benignas. Consequentemente aumenta o
risco à formação de lesões cutâneas (Creutzberg et al., 2011).
Juntamente ao processo de envelhecimento, há risco de
doenças crônicas. Entre elas, destacam-se as cardiovasculares,
metabólicas e respiratórias, que podem subsidiar o aparecimento
de feridas como as úlceras de pressão. Essas feridas podem inten-
sificar as incapacidades funcionas e cognitivas do indivíduo idoso,
aumentando o número de internações hospitalares e diminuindo
a sua qualidade de vida (Cavalcante et al., 2010).
Alterações na estrutura da pele do idoso são comuns com o
avanço da idade, aumentando a vulnerabilidade a doenças e lesões,
entre elas as lesões teciduais como a úlcera por pressão (UP),
que tende a aparecer nos indivíduos em momentos de restrição
de mobilidade e fragilidade. As úlceras por pressão são necroses
cutâneas que se desenvolvem quando o tecido mole é comprimido
por um longo período com determinada intensidade e pressão,
como por fatores intrínsecos e extrínsecos, onde há diminuição
ou interrupção de irrigação sanguínea, e podem ser superficiais
ou profundas. A UP acomete 23% dos pacientes acamados em
cuidados domiciliares e 9% dos hospitalizados, enfatizando a
importância do acompanhamento e da assistência profissional
para minimizar os efeitos deletérios e acelerar a cura da lesão
(Freitas et al., 2011).
A fisiopatologia da UP deve-se à imobilidade do paciente por
um longo período, juntamente à pressão externa aplicada sobre as
proeminências ósseas, podendo ocasionar hipóxia local prolongada
e consequentemente a necrose tecidual. A tolerância variável dos
tecidos à isquemia é individual, pois seu período crítico é variável
entre as pessoas. A etiologia da úlcera de pressão é multifatorial,
envolvendo fatores intrínsecos (idade, perfusão tecidual, estado
nutricional, uso de alguns medicamentos, doenças crônicas entre
outros) e extrínsecos (umidade da pele, fricção, pressão e cisalha-
216
mento), sendo que a pressão exercida sobre os tecidos é o principal
fator causador da patologia (Santos, 2011).
As úlceras de pressão são diagnosticadas através da inspeção,
sendo relevante envolver e considerar história, estado nutricional,
exame físico, estado psicológico, tal como ocorrência de distúrbios
que levam o retardo das lesões. No tocante à úlcera, é importante
avaliar e levar em consideração diversos fatores como sua localiza-
ção, estadiamento, dimensão, processo infeccioso local, presença
de fístulas, dor, odor e condições da pele adjacente (Fernandes
et al., 2012).
Denominadas também como “escaras de decúbito”, as úlceras
de pressão podem ser classificadas em estágios originais de I a
IV, sendo que sua causa pode estar associada a diversos fatores
(Coêlho, 2013).
As UPs, geralmente localizadas em áreas de proeminências
ósseas, dividem-se em quatro graus: Grau I, pele íntegra, mas
pode apresentar dor, calor/frio, rubor e edema; Grau II, pele com
isquemia, afetando epiderme e derme; Grau II, perda total da es-
pessura da pele, há necrose ou lesão tecidual; Grau IV, ocorrência
de lesões nos ossos e músculos (Panato, 2014).
Em média, 70% da população geriátrica desenvolve úlceras de
pressão. Fatores como diminuição da hidratação corporal, menor
resistência à tração, integridade da pele, perda do tecido subcu-
tâneo, menor estabilidade e vascularização tendem a colaborar
para o aparecimento das lesões que ocorrem principalmente sobre
proeminências ósseas. Existem três fatores que sempre devem ser
abordados e considerados no tratamento de uma ferida crônica
para que ocorra a cura: equilíbrio bacteriano, tecido necrosado
e equilíbrio da umidade tecidual. Potenciais intervenções para a
prevenção das úlceras de pressão (UPs) são de extrema impor-
tância, como o reposicionamento do acamado, nutrição adequada,
hidratação da pele seca, diminuição da umidade da pele, proteção
da pele contra efluentes (como urina e fezes), uso de superfícies
de apoio para reduzir a pressão sobre o tecido subcutâneo. Apesar
de necessária a prevenção, nem sempre evita o surgimento das
lesões, que, quando em estágio avançado, necessitam de inter-
217
venção cirúrgica, levando muitas vezes à amputação do membro
lesado (Gist et al., 2009).
A úlcera de pressão gera complicações físicas, emocionais e
sociais, diminuindo a qualidade de vida, principalmente de idosos
sem mobilidade, acamados em leitos hospitalares ou domésticos.
Sua etiologia é multidimensional. Fatores como etilismo, tabagis-
mo, fricção, nutrição, idade, cisalhamento, hipertemia, umidade
da pele, imobilidade e menor sensibilidade afetam os tecidos,
diminuindo a resistência à pressão (Almeida et al., 2012).
O processo cicatricial de um ferimento consiste em fases
sobrepostas e interdependentes, dentre elas a regenerativa, que é
subdividida em proliferação, produção e remodelamento. Quando
ocorre uma agressão tecidual, cargas elétricas endógenas, gera-
das pelo próprio organismo, enviam sinais ao corpo de que há
algo errado, estimulando, assim, a autorreparação, no entanto,
em feridas já consideradas crônicas acontece uma “interrupção”
elétrica que gera resistência ao fluxo elétrico, dificultando a cura
da lesão (Santos et al., 2009).

Eletroestimulação por microcorrente

A estimulação elétrica neuromuscular por microcorrente é


uma corrente polarizada, aplicada com baixa intensidade em mi-
croampères (μA), com modalidades contínuas ou alternadas. É
um método não invasivo, indolor, de fácil aplicação e baixo custo,
com poucas contra-indicações (irritação à corrente elétrica, eixo
do marca-passo e sobre útero gravídico). Possui compatibilidade
com o campo eletromagnético do corpo humano, sintonizando
com os níveis elétricos das trocas iônicas que ocorrem em nível
celular, normalizando a bioeletrecidade tecidual e estimulando o
crescimento celular fisiologicamente. Entre os efeitos fisiológicos
e terapêuticos estão: aumento da síntese de ATP e de proteínas,
aumento do transporte através da membrana, aceleração do pro-
cesso de cicatrização e estimulação dos fibroblastos (Cruz et al.,
2011; Korelo et al., 2012; Mendonça et al., 2009).
218
Imitando os impulsos elétricos produzidos pelo organismo, a
microcorrente é considerada uma corrente homeostática e fisioló-
gica capaz de diminuir a resistência dos tecidos, favorecendo sua
regeneração e condutância (Kuplich et al., 2013).
A microcorrente é uma técnica de eletroestimulação de
baixa intensidade com correntes de baixa frequência, estímulos
pulsados e contínuos. Entre seus efeitos, o que ganha destaque
na literatura é a capacidade de restabelecer a bioeletricidade dos
tecidos (Rodrigues et al., 2009).
O uso da eletroestimulação da microcorrente é considerado
compatível com as correntes endógenas que agem em nível celular
no organismo, contribuindo para a aceleração cicatricial em feridas.
O estímulo elétrico sobre uma lesão tem como objetivo ace-
lerar o reparar tecidual. Um estudo realizado com suínos utilizou
duas modalidades de corrente (contínua e alternada) sobre úlceras
de pressão, resultando na rápida diminuição das áreas afetadas,
quando expostas a estímulos contínuos, e na minimização do
volume das feridas, quando expostas a estímulos alternados.
Observou-se, também, que houve orientação das fibras colágenas
nos ferimentos. Noutro estudo feito com suínos que receberam
aplicação de corrente elétrica contínua, com intensidade de 50 a
300 (μA), o processo cicatricial resultou no aumento da produ-
ção de colágeno entre o 5º e 7º dia de tratamento, o que indica
que estímulos elétricos influenciam na proliferação e migração
de células epiteliais e de tecido conjuntivo que fazem parte da
regeneração e reparação de lesões (Cruz, 2007).
Aplicações de micricorrente em úlceras de pressão em hu-
manos, com intensidade entre 200 a 800 (μA), resultaram na
diminuição do desconforto do tecido lesado, em comparação ao
grupo controle que não obteve melhoras (Cruz, 2007).
Para avaliar os efeitos da aplicação em gel do ativo Aloe Vera,
combinado ou não com a microcorrente no reparo de lesões cirur-
gicamente conduzidas, ratos machos com 120 dias foram divididos
em quatro grupos experimentais: grupo controle, animais tratados
com gel de Aloe Vera, animais tratados com microcorrente e ani-
mais tratados com Aloe Vera e microcorrente. As cobaias foram
219
submetidas à tricotomia dorsal e, 24h depois do procedimento,
iniciaram as aplicações que tiveram duração de 10 dias. Após o
período de intervenção, os animais foram sacrificados para aná-
lise morfométrica e estrutural, que identificou fase proliferativa
precoce nos animais submetidos à aplicação de Aloe Vera (AV)
mais microcorrente (MC), havendo ação sinergia entre o AV e a
MC, sendo essa associação uma boa escolha nos tratamentos de
feridas abertas (Mendonça et al., 2009).
Um trabalho experimental avaliou os efeitos da microcorrente
em queimaduras de terceiro grau, induzidas em 100 ratos que
foram divididos em dois grupos, contendo 50 ratos no grupo de
intervenção e 50 no grupo controle. Os animais foram submetidos
à tricotomia na região dorso-lombar e em seguida à queimadura
por uma placa metálica em alta temperatura. As cobaias corres-
pondentes ao grupo de intervenção receberam, após a lesão por
queimadura, a aplicação de 15 sessões de microcorrente no período
de 21 dias, contribuindo para o fechamento da úlcera. O grupo
controle apresentou complicações que mantiveram a lesão aberta,
alto processo inflamatório e infecção bacteriana.
O uso de corrente elétrica por microcorrente em lesões na
pele de coelhos, no período de 8h por três dias consecutivos,
resultou no aumento de hidroxiprolina e, consequentemente, da
síntese de colágeno (Cruz, 2007).
Cruz (2007) realizou um estudo para quantificar os efeitos
da microcorrente (MC) sobre a densidade do colágeno tipo I e
III nas fases de cicatrização tecidual pós-operatória. Foram sub-
metidos ao estudo 30 ratos machos que receberam dois cortes na
região dorsal. Posteriormente suturados, os animais foram dividi-
dos em três grupos de dez, conforme a iniciação da aplicação da
MC. Foram utilizadas intensidades entre 0 a 500 microampéres
e frequência de 2 a 500 Hz, sendo que somente um dos cortes
(superior) de cada rato recebeu o estímulo, sendo o outro corte
(inferior) considerado controle. O estudo resultou no aumento
significativo do colágeno no 14º dia nas regiões profundas e cen-
tral da lesão que foi submetida ao tratamento com microcorrente.

220
Considerações finais

Este estudo demonstrou a importância do cuidado aos ido-


sos, com a integridade da pele prejudicada, e salientou os riscos
que as úlceras de pressão podem causar à saúde, bem como à
diminuição da qualidade de vida da população idosa. Nesse
sentido, a microcorrente possui uma corrente elétrica, tal como
aqui demonstramos, compatível com as correntes endógenas do
corpo humano, sendo capaz de restabelecer a bioeletrecidade dos
tecidos. Bem por isso é vista como uma alternativa benéfica que
possibilita a cicatrização de lesões cutâneas, favorecendo o reparo
tecidual de forma não invasiva e sem efeitos colaterais.

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223
224
Treinamento com jogos
de realidade virtual para
diminuir o declínio cognitivo
em idosos

Fhaira Petter da Silva


Pablo Pasqualotti
Adriano Pasqualotti

Introdução

Importantes mudanças transparecem nas diversas dimensões


da sociedade cada vez mais informatizada. As novas gerações
entram em contato com tecnologias inovadoras desde o nasci-
mento, desenvolvendo ampla desenvoltura e intimidade com a
operacionalização dos meios eletrônicos (Moreira; Kramer,
2007). Contudo, alguns setores sociais ficam à margem desse pro-
cesso. Grande parte da população idosa convive, ainda, de forma
conflituosa com as rápidas e complexas alterações tecnológicas.
Nem sempre manipular novos eletrodomésticos, celulares, caixas
eletrônicos e, principalmente, o computador, são consideradas
tarefas fáceis por quem tem mais de 60 anos. Porém, esse perfil
do idoso excluído da interação com a tecnologia está mudando.
Dados atuais mostram que a maioria dos novos usuários de inter-
net são idosos, o que faz muitos pesquisadores questionarem se
essa aquisição tecnológica e a consequente aprendizagem de uma
nova linguagem são capazes de trazer melhorias ao estilo de vida
dessa população (Mincache et al., 2011).
225
Ultimamente, as pesquisas que aliam o uso das tecnologias
à questão da qualidade de vida vêm demonstrando que essa arti-
culação pode produzir grande impacto ao bem-estar individual,
além de ressonância junto à população em geral. No entanto,
para subsidiar a adaptação de uma tecnologia e a formatação
de um conteúdo de relevância ao cotidiano dos idosos, faz-se
necessário realizar primeiro um diagnóstico situacional com foco
nas necessidades e expectativas autorreferidas pelo segmento de
usuários (Miranda; Farias, 2009). Alguns aspectos psicos-
sociais negativos, comuns na velhice (como solidão, isolamento
social, alienação), podem ser minimizados com o devido uso da
internet e de aparelhos eletrônicos. A criação de uma nova rede de
amigos, buscando informações sobre assuntos de interesse pessoal
e sobre o que acontece ao seu redor e no mundo são atitudes que
reinserem o idoso no meio social em que vive (Karavidas;
Lim; Katsikas, 2005).
Por isso, o objetivo deste capítulo é demonstrar como os avan-
ços da tecnologia vêm despertando a importância da manutenção
da cognição através dos efeitos positivos das atividades ligadas a
jogos interativos de vídeo, tornando-se um meio de treinamento
para melhorar estados de saúde. Sendo assim, estruturamos o
capítulo em torno de jogos de vídeo, envelhecimento humano e
pessoas idosas e cognição.

Jogos de vídeo

A maioria das pessoas pensa em jogos de vídeo como entre-


tenimento, mas, pelo contrário, há um crescente interesse nessa
atividade como um meio de treinamento para melhorar estados
de saúde (Durkin, 2010). Os efeitos positivos de se engajar
em jogos de vídeo destinados aos cuidados de saúde estão nas
finalidades inovadoras de usá-los para aperfeiçoamento ou trei-
namento cirúrgico, ou ajudando pacientes a serem mais aderentes
aos regimes de tratamento (Kato, 2010). Aparelhos de consoles,
tais como Nintendo Wii, Wii Balance Board, X-Box com Kinect e
Playstation Movie, foram testados para treinamento em pacientes
226
de forma lucrativa em comparação com equipamentos caros de
realidade virtual (Sin; Lee, 2013).
Essas tecnologias de vídeo têm aplicações importantes que
vão além do entretenimento, podendo mudar comportamentos
de saúde e o bem-estar das pessoas. Por mais que muitas mídias
tenham apontado vários efeitos negativos dos jogos de vídeo,
desde a obesidade até a agressividade, várias pesquisas, como as
de Spence, Feng (2010) e Kato (2010), revelam que alguns jogos
podem, desde outro ponto de vista, fazer bem à saúde psíquica
e funcional. Relativamente, pouca atenção havia sido dada aos
efeitos positivos de se engajar nessa atividade, mas hoje esta área
está em alta. Jogos de vídeo, na área da saúde, proporcionam
amplos exemplos de formas inovadoras de usar jogos comerciais
existentes para a melhoria da saúde (Kato, 2010).
A realidade virtual (RV) é uma tecnologia emergente que
proporciona uma sensação de realidade através de respostas auditi-
vas e visuais. Qualquer limitação na formação temporal e espacial
pode ser praticamente superada usando este tipo de tecnologia. A
RV tem sido empregada para treinamentos complexos, arriscados
e até para algumas tarefas dispendiosas, como atividades esporti-
vas, simulação de voos, mesmo manobras cirúrgicas (Kim et al.,
2013). A tecnologia vem demonstrando eficácia inclusive como
ferramenta de reabilitação para pessoas com diversas doenças.
Terapias baseadas em RV para pacientes com AVC e paralisia
cerebral ganharam atenção, porque os exercícios convencionais em
centros de reabilitação sempre demandam tempo, espaço, recursos
humanos e custos elevados (Bateni, 2012). Uma variedade de
dispositivos de consoles baseados em jogos para uso doméstico
foi desenvolvida com viabilidade e acessibilidade aos ambientes
comunitários. Dispositivos como Nintendo Wii, Wii Balance
Board, X-Box com Kinect e Playstation Movie foram testados
para treinar os pacientes de forma econômica, em comparação
com equipamentos caros de realidade virtual (Sin; Lee, 2013).
Um programa de exercícios baseado em RV é capaz de melhorar
a força muscular do quadril e o controle de equilíbrio dinâmico
em adultos mais velhos. Pode, portanto, ser uma ferramenta útil
para melhorar a funcionalidade física diminuída em pessoas ido-
227
sas, além de que estas podem realizar os exercícios no conforto
da própria casa (Kim et al., 2013).
O uso de jogos de vídeo como ferramenta para desenvolvi-
mento cognitivo é comprovado por diversos estudos (Anguera
et al., 2013; Clark et al., 2010) que realçam a plasticidade
robusta do sistema de controle cognitivo pré-frontal no cérebro
durante o envelhecimento, e fornecem a primeira evidência, a
nosso conhecimento, de como um videogame de design perso-
nalizado pode ser usado para avaliar as habilidades cognitivas em
toda a vida. Avaliam também os mecanismos neurais subjacentes e
servem como uma poderosa ferramenta para a melhoria cognitiva
(Karavidas; Lim; Katsikas, 2005). O comprometimento
cognitivo traz consequências que podem ir desde dificuldades nas
atividades instrumentais da vida diária do idoso até as de convívio
social (Olchik et al., 2012).

Envelhecimento humano

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que


tem gerado reflexão e discussão no meio acadêmico, nos serviços
de saúde, nas instâncias governamentais e não governamentais.
Esse acontecimento revela uma questão demográfica, que exige
reflexão, planejamento e conhecimento do cuidado com o idoso,
requerendo transformações nas ações de planejamento e prática
de cuidado, para, assim, oportunizar qualidade de vida aos ido-
sos. Os hábitos de vida e os efeitos acumulativos da exposição a
riscos socioeconômicos e biológicos ao longo da existência estão
diretamente relacionados com a maneira como envelhecemos.
Atualmente, há uma discussão se o aumento da esperança de
vida traz como consequências limitações funcionais e cognitivas,
além de incapacidades. Os estudos recentes (Kaare et al., 2009;
Owen et al., 2010) mostram que a resposta está em aberto, mas
já se tem conhecimento de que os processos de envelhecimento
são modificáveis e que as pessoas estão vivendo mais tempo sem
incapacidade grave. Esta descoberta ocorre em tempos de grandes
avanços tecnológicos, seja no aumento da capacidade de processar
228
e armazenar, assim como no desenvolvimento de equipamentos
cada vez mais sofisticados, o que tem permitido à medicina e à
área da saúde, de uma forma geral, avançar no campo da pesquisa
e de descobertas de novas formas e possibilidades de diagnós-
ticos, prevenção e cura diante dos desafios do envelhecimento
populacional.
Uma proporção cada vez maior de pessoas, em países de alta
renda, está sobrevivendo em sua décima década. Um estudo reali-
zado na Dinamarca (Kaare et al., 2013) apontou que a chance
de sobreviver, desde o nascimento até os 93 anos, é 28% maior
naqueles que nasceram em 1915 do que em 1905 e a possibilidade
de atingir 95 anos foi 32% maior nessa mesma população. Aqueles
nascidos em 1915 marcaram significativamente melhor no teste
mini-mental do que os de 1905, com uma proporção substancial-
mente maior de participantes que obtiveram pontuação máxima.
Da mesma forma, a pontuação cognitiva composta foi significa-
tivamente melhor em 1915 do que em 1905. As populações não
diferiram de forma consistente nos testes de desempenho físico. Os
resultados obtidos mostraram que o grupo dinamarquês nascido
em 1915 teve mais sobrevida e marcou significativamente bem em
ambos testes cognitivos e teve melhor resultado nas atividades da
vida diária do que o grupo nascido em 1905, apesar de ser dois
anos mais velho, no momento da avaliação. Este achado sugere
que mais pessoas estão vivendo as idades avançadas com melhor
funcionamento global. Se isso continuar, os futuros problemas
funcionais e a necessidade de cuidados de pessoas muito idosas
podem ser menores do que se imagina. Em países desenvolvidos,
as pessoas estão vivendo mais e com menores limitações e inca-
pacidades, tanto físicas quanto cognitivas. Possivelmente, esses
achados tenham uma relação muito íntima com o avanço médico
e tecnológico presente na atualidade (Bateni, 2012).

Pessoas idosas e cognição

Com o envelhecimento humano, algumas habilidades se


alteram, em particular, as de memória episódica e de memória
229
ocupacional que possuem um declínio significativo (Yassuda et
al., 2005). A independência e a autonomia do idoso estão ligadas à
manutenção da cognição que pode ser potencialmente modificada
(Ramos, 2003).
Controle cognitivo é definido como um conjunto de processos
neurais que nos permitem interagir com o nosso ambiente com-
plexo de forma dirigida a objetivos. Os seres humanos desafiam
regularmente esses processos de controle ao tentar realizar simulta-
neamente vários objetivos (multitarefas), gerando interferências
como resultado de limitações fundamentais de processamento de
informações. É claro que o comportamento multitarefa tornou-se
onipresente no mundo tecnologicamente denso de hoje, e evidên-
cias substanciais têm indicado as dificuldades de multitarefa e dé-
ficits de controle cognitivo em nosso envelhecimento populacional.
Um estudo analisou a melhora no controle cognitivo em
idosos que jogaram uma versão adaptativa de um videogame, no
modo multitarefa, em relação a um grupo de controle que não o
jogou. O treinamento resultou em benefícios que se estenderam em
habilidades de controle cognitivo, atenção sustentada e memória
de trabalho, tendo um aumento no poder tetafrontal mediano,
prevendo o aumento induzido por treinamento em atenção sus-
tentada e preservação de melhoria multitarefa 6 meses mais tarde.
Com isso, foi observado que videogames personalizados podem
ser usados para avaliar as habilidades cognitivas ao longo da vida,
os mecanismos neurais e servir como uma ferramenta poderosa
para a melhoria cognitiva (Anguera et al., 2013).
A neurociência cognitiva começou a explorar a possibilidade
de melhorar a memória de trabalho. Para tal comprovação, tem
se usado treinamentos baseados em jogos de videogames. Esses
podem ter um impacto positivo sobre o desempenho de tarefas
não treinadas (Van Muijden; Band; Hommel, 2012).
Outro estudo, realizado pelo Programa de Neurociências
da Universidade de Illinois – EUA, publicado recentemente,
investigou a relação entre as diferenças individuais de alterações
induzidas pelo treinamento na atividade cerebral, onde foram
examinadas as mudanças ocorridas após um treinamento de 30
horas em mulheres adultas. Foi utilizado um jogo de vídeo que
230
envolvia o uso da memória de trabalho, raciocínio lógico, con-
trole motor e atenção. Os resultados sugeriram que aquelas que
obtiveram o maior benefício do treinamento com o jogo, também
foram as em que o treinamento teve o maior impacto neural (Ni-
kolaidis et al., 2014).

Considerações finais
O processo de envelhecimento causa diversos tipos de perdas,
dentre as principais, encontram-se a cognição e a funcionalidade.
Nas perdas funcionais, destacam-se o centro de gravidade e a
força de contração muscular. Na perda cognitiva, observa-se di-
minuição da memória, atenção e tempo de reação. Devido a esses
e outros fatores associados, os idosos apresentam, por exemplo,
risco de quedas maior do que a população em geral. Por causa de
suas fragilidades, tais quedas podem proporcionar lesões sérias e
incapacitantes (Gonçalves et al., 2008). Apresentam, também,
afastamento e isolamento, devido às perdas cognitivas e à falta de
intimidade tecnológica.
É justamente nesse cenário que entram os jogos de vídeo,
ou videogames interativos, como, por exemplo o Wii Fitnes e o
XBox com Kinect, mostrando-se tão eficazes quanto os trata-
mentos fisioterápicos tradicionais na melhora do equilíbrio e da
marcha de pessoas idosas, no desenvolvimento neuromotor, além
de introduzir o idoso no meio social moderno (Bateni, 2012).

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233
234
O cuidado ao paciente
com câncer de próstata

Luana Ferrão
Jaqueline Stürmer
Luiz Antonio Bettinelli

Introdução

O envelhecer populacional é um desafio à sociedade e aos


profissionais da saúde. Junto com o envelhecimento, as pessoas são
acometidas por doenças crônicas, dentre elas o câncer. O câncer de
próstata é um exemplo onde o fator de risco importante é a idade.
Sua incidência e mortalidade aumentam após os 50 anos, e acresce
principalmente se o pai e o irmão tiveram câncer de próstata antes
dos 60 anos. Muitos homens sofrem com o diagnóstico de câncer
de próstata, temendo a mutilação do seu corpo pelo tratamento.
Isso compromete seu bem-estar físico e emocional, afetando a
qualidade de sua vida pessoal, familiar, profissional e social. O
cuidado prestado por uma equipe multidisciplinar vai além da
execução de técnicas, envolve o suporte emocional ao paciente e
aos familiares para o enfrentamento desse processo que traz muita
angústia, medo e insegurança.
O câncer é um dos mais graves problemas de saúde pública
em todo o mundo, provocando repercussões e impactos diversos
no cotidiano dos pacientes e de seus familiares. É ocasionado pelo
crescimento desordenado de células anormais em tecidos e órgãos,
representando mais de 100 doenças diferentes. As causas podem
estar relacionadas ao meio ambiente, a hábitos de vida e herança
235
genética. Por exemplo, a exposição a fatores de risco por tempo
prolongado, junto ao envelhecimento, faz com que as células
sofram mudanças tornando-se suscetíveis a alterações malignas.
O câncer é um dos diagnósticos que mais amedronta as
pessoas, pois, mesmo havendo a possibilidade de cura, ainda está
associado ao sofrimento, à incurabilidade e à morte. A dinâmica
envolvida na interpretação da enfermidade está diretamente ligada
ao contexto em que a pessoa está inserida, sendo que a doença
representa uma grande ameaça à vida. O impacto do diagnósti-
co de câncer de próstata e o tratamento provocam uma série de
reações e sentimentos distintos em cada indivíduo, pois cada ser
humano é único e singular.
Assim, o objetivo deste capítulo é refletir sobre o cuidado
necessário ao paciente com câncer de próstata. Para isso, o texto
procura explicar esta doença, o diagnóstico, os impactos na vida co-
tidiana, os desafios e, por fim, os cuidados ao paciente oncológico.

Câncer de próstata

O câncer de próstata tem como característica a multiplicação


e o crescimento desordenado e descontrolado das células da glân-
dula prostática. Este pode ser um processo lento, assintomático e
sem ocasionar problemas, ou acelerado, necessitando de medidas
de tratamento para evitar ou adiar a progressão da doença para
outros órgãos (Brasil, 2009).
O câncer de próstata constitui-se em um problema de saúde
pública, pois sua incidência tem aumentado de forma bastante sig-
nificativa, sendo a causa de morte de 12% da população mundial.
No mundo, é o sexto tipo mais comum e o mais prevalente entre
os homens. Dos casos diagnosticados, 70% ocorrem em países
desenvolvidos. Este tipo de câncer representa 10% de todos os
tipos de cânceres no mundo. Cerca de três quartos dos casos
acomete homens a partir dos 65 anos de idade, sendo considerado
um câncer da terceira idade. Por sua vez, no Brasil, o número
estimado de casos novos de câncer de próstata para o ano de 2010
236
foi de 52.350, significando um risco de 54 casos novos para cada
100 mil homens.
O câncer de próstata, sem considerar os tumores de pele
não melanoma, é o mais comum entre a população masculina
brasileira, em todas as regiões do país (Inca, 2014), seguido das
neoplasias de pulmão, estômago, cólon e reto. Com o aumento
da expectativa de vida e da elevação do número de idosos, o
câncer de próstata constitui uma preocupação de saúde quando
se considera o significativo aumento da expectativa de vida da
população (Brasil, 2009).
Conforme estimativas da incidência do câncer no Brasil
(Inca, 2014), a estimativa mundial aponta o câncer de próstata
como o segundo tipo mais frequente em homens, sendo que, 1,1
milhão de casos novos aconteceram em 2012. E, com o cresci-
mento da expectativa de vida em nível mundial, o aumento de
novos casos será de 60% para o ano de 2015.
O Rio Grande do Sul tem o maior número de casos novos.
A estimativa para 2014 foi de 91,24 para cada 100 mil habitantes.
Este é o tipo de câncer que mais mata nesse estado, onde o número
de mortes pode estar associado a questões de gênero e cultura
do povo gaúcho. O traço forte do machismo, por exemplo, gera
preconceito à prevenção do câncer de próstata, principalmente ao
diagnóstico da doença.

O diagnóstico do câncer de próstata

O câncer de próstata se desenvolve silenciosa e assintomati-


camente em seus estágios iniciais. No entanto, alguns sintomas
sugerem o aparecimento da doença, como a dificuldade para
urinar, urinar pouco e com frequência, principalmente durante
a noite, dor ou sensação de ardor ao urinar, presença de sangue
na urina ou sêmen e ejaculação dolorosa. A doença, numa fase
avançada, promove os sintomas urinários, dor óssea e, em estados
mais graves, pode causar infecção generalizada e/ou insuficiência
renal (Inca, 2014).
237
O diagnóstico sugestivo para câncer de próstata pode ser
obtido através de achados clínicos (toque retal), exames de
sangue para dosagem do antígeno prostático específico (PSA),
ultrassonografia (US) pélvica e/ou retal, com biópsia prostática
transretal, para o estudo histopatológico do tecido. O resultado
do anatomopatológico busca definir a graduação histológica do
sistema de Gleason, o que indica a provável taxa de crescimento
do tumor e a possibilidade de disseminação, sendo imprescindível
para a escolha do tratamento para o paciente (Inca, 2014).
No entanto, o diagnóstico torna-se comprometido pela pouca
procura dos homens aos serviços de saúde. Isso porque mitos
e aspectos culturais da masculinidade e sexualidade fazem os
homens adiar ou mesmo recusar a busca pela promoção de sua
saúde. É uma questão de gênero vivida culturalmente, onde a
doença reflete a fragilidade do ser masculino. Para as mulheres,
é uma responsabilidade para o desempenho do cuidado desde
muito cedo. Isso ajuda a entender porque os homens são mais
vulneráveis a doenças crônicas e degenerativas, morrem mais,
pois se cuidam menos e não buscam serviços de saúde (Gomes,
2003; Brasil, 2009; Campos et al., 2011).

O câncer de próstata na vida do homem


e os desafios impostos

A representação social da doença oncológica é distinta das


demais patologias, pois amedronta, trazendo consigo a perspectiva
da finitude da vida. O ser humano é único e reage individualmente
frente ao diagnóstico de câncer, vivenciando as mais diversas sen-
sações e emoções, entre elas, a ansiedade, o desespero, o medo e
a esperança. É um momento onde a realidade vem à tona, pois,
além de a doença ser associada à incurabilidade e à morte, as
pessoas defrontam-se com sua autoimagem debilitada, de possível
mutilação, pelo tratamento, além do transtorno que invade a vida
profissional, familiar e social (Gonçalves, 2010).

238
O diagnóstico do câncer tem usualmente um efeito devastador. Ele
ainda traz a ideia de morte, embora atualmente ocorram muitos
casos de cura. Traz o medo de mutilações e desfiguramento, dos
tratamentos dolorosos e das muitas perdas provocadas pela doença
(Carvalho, 2002, p. 164).

É importante mencionar que,

o impacto do câncer é significativo, tanto no paciente como em


sua família e equipe de saúde envolvida no tratamento. Frente
ao diagnóstico de câncer, o homem possivelmente terá sua vida
alterada em vários aspectos: social, familiar, profissional e pessoal
(Vieira, 2010, p. 6).

O valor da cultura masculina idealiza noções de invulnera-


bilidade, comportamento de risco e de uma sexualidade instintiva
e incontrolável. É um modelo da masculinidade hegemônica
que associa a verbalização das necessidades de saúde como uma
demonstração de fraqueza e de feminilização perante os outros
(Leite, 2010).
O viver com o câncer amedronta, indo além de uma ameaça.
São repercussões em diversos âmbitos e com interrupções no
projeto de vida.

As repercussões do câncer vão além da esfera pessoal. Pela


abrangência de sua ocorrência, é uma doença que traz impactos
sociais e econômicos importantes. Há que se considerar, ainda,
que, na maioria dos casos, é uma doença crônica de prognóstico
nem sempre favorável, exigindo tratamentos demorados e difíceis
de serem tolerados pelo doente (Silva, 2005, p. 16).

O câncer de próstata é o mais comum entre os homens, no


entanto, é aquele que apresenta maior dificuldade ao ser abordado,
impossibilitando o cuidado. O exame do toque retal, importante
para a detecção desta patologia, ainda sofre preconceitos por
estereótipos de gênero, o que dificulta a promoção da saúde
(Moscheta; Santos, 2012).
239
Em termos de diagnóstico precoce do câncer de próstata,
“costuma-se recomendar o exame clínico (toque retal ou toque
digital da próstata) e o exame de sangue para a dosagem do an-
tígeno prostático específico”, conhecido por PSA, sigla inglesa
da expressão prostatic specific antigen (Gomes, 2008, p. 1976;
Inca, 2002, p. 11-12).
Todavia, o toque retal “é um procedimento que mexe com
o imaginário masculino, a ponto de afastar inúmeros homens da
prevenção” (Gomes, 2003, p. 828). Contudo, conforme o INCA
(2002, p. 10), “o toque retal é o teste mais utilizado, apesar de
suas limitações,” é indolor e pouco incomoda o homem, a não
ser quando o indivíduo apresenta tendências machistas e pode se
considerar molestado em seu brio masculino por este procedimento
(Freire, 2003; Gomes et al., 2008).
Ante esta realidade, há que trabalhar bastante na sensi-
bilização dos homens com informações sobre as limitações, os
benefícios e os riscos da detecção precoce do câncer de próstata.
Apenas deparar-se com o diagnóstico desta doença já é motivo
para alterações físicas, psíquicas e sociais na maioria dos homens.
O impacto inicial consiste em choque, medo, tristeza e raiva. São
sentimentos e preocupações quanto à realização de um tratamento
adequado e os efeitos desta terapêutica nas suas funções e imagem
corporal. O câncer de próstata “propicia a emergência de conflitos
sexuais, constitui-se em ameaça à integridade egoica e identidade
masculina” (Vieira, 2010, p. 3).
Nesse sentido, o câncer é um evento estressor, causado
pela comunicação do diagnóstico, muitas vezes resultando em
medo da possível mutilação do seu corpo pelo tratamento. Fato
que compromete não somente o bem-estar físico e psicológico,
mas que reflete, também, na qualidade de vida pessoal, familiar,
profissional e social.

É comum que o paciente sinta-se estigmatizado uma vez que,


no imaginário coletivo, a doença é frequentemente associada à
morte. Além disso, o câncer de próstata afeta especificamente
uma localização anatômica responsável pelas funções sexuais do
240
homem e tem o potencial de desencadear uma série de conflitos
ligados à sua sexualidade (Moscheta; Santos, 2012, p. 1226).

O momento do diagnóstico e a possibilidade de realizar um


tratamento para o câncer gera uma situação estressante e angus-
tiante na vida do paciente e das pessoas envolvidas. No entanto,
cada um reage de forma diferente, alguns melhor e outros pior,
tudo depende de fatores pré-existentes e do contexto em que está
inserido (Chambers; Baade; Pinnock, 2010).

O diagnóstico de câncer de próstata e o tratamento provocam


profundas modificações na vida do homem. As alterações fisio-
lógicas decorrentes do envelhecimento e/ou condições médicas,
como o CaP, afetam a sexualidade masculina e o desempenho
sexual, o corpo é sentido como estranho. Há um desempenho
entre a força do desejo e a impossibilidade desse corpo funcionar
como instrumento de satisfação desse desejo (Vieira, 2010, p. 2).

A fase entre o diagnóstico e o tratamento gera uma apre-


ensão maior no paciente devido à repercussão que terá na sua
família, no seu trabalho e nas suas atividades diárias. Portanto, o
sentimento de impotência surge por talvez não cumprir o papel
do homem provedor dos recursos financeiros e pela frustração
de sua masculinidade.
Para os homens que têm relação estável, a esposa se torna a
principal cuidadora. Aliado a isto, há uma melhor aceitação do
homem em relação ao processo que está vivenciando, já que este
tem interferência na intimidade do casal e com grande impacto
emocional e afetivo (Vieira; Araújo; Vargas, 2012).
A alteração da função e imagem corporal remete ao homem
a fantasia de perda da virilidade. A sexualidade é uma das ca-
racterísticas inseridas socioculturalmente e imposta aos homens,
onde a sua responsabilidade era de satisfazer a sua parceira. E,
neste contexto, confunde-se masculinidade com desempenho
sexual (Gianini, 2004).
A disfunção erétil e a incontinência urinária são os efeitos
que podem ocorrer pelo tratamento e ambos atingem a essência
241
da masculinidade. Estas reações remetem à inutilidade do homem
e parceiro, com o sentimento do ser impotente. A perda de iden-
tidade e o isolamento social geram o aborrecimento, a frustração
e o constrangimento do ser masculino (Gianini, 2004).
A vivência do adoecer por câncer modifica toda uma existên-
cia, visto que atinge o corpo tanto de forma objetiva como sub-
jetiva, além de aflorar uma série de angústias pela nova condição
imposta neste existir. São alterações que envolvem os hábitos de
vida, os efeitos secundários ao tratamento, a perda da autonomia,
a sensação de impotência e o isolamento (Soares, 2010).
Por sua vez, o enfrentamento do câncer relaciona-se com as
características pessoais de saúde e energia de cada um, com o sistema
de crenças, metas de vida, autoestima, autocontrole, conhecimento,
capacidade de resolução de problemas e práticas sociais. Devendo-
-se considerar as particularidades socioculturais dos envolvidos
paciente/família (Pedrolo; Zago, 2002; Silva, 2005).
Quando surge uma situação estressante, como é o diagnóstico
de câncer, utilizam-se estratégias para se adaptar à nova situação.
E o enfrentamento surge para a adequação desta circunstância
psicológica do indivíduo e da sua família (Silva, 2005).
A família é uma rede de apoio muito importante para auxi-
liar na estratégia de enfrentamento. Nesse momento, tem como
função amparar o paciente nas possíveis modificações de sua
vida num todo, minimizando ou evitando os fatores estressores
(Pedrolo; Zago, 2002).

O tratamento do câncer de próstata


e suas implicações

O tratamento do câncer de próstata é individualizado e pode


ser curativo ou paliativo. A partir do diagnóstico, considera-se a
doença como localizada, que afeta somente a próstata, e localmente
avançado ou avançado, caso em que o câncer já se moveu para
além dos limites da próstata avançada (Inca, 2002).
Existem diferentes tipos de tratamento para o câncer de
próstata, tal como mostra o quadro a seguir:
242
Tipo de tratamento Indicação Repercussões Autor

Pacientes idosos ou com problemas INCA, 2002;


Observação vigilante de saúde. CaP assintomático, Camargo,
(PSA e toque retal) crescimento lento e restrito na 2014.
próstata.

• Incontinência urinária
INCA, 2002;
Cirurgia CaP localizado. TU contido dentro • Disfunção erétil
(prostatectomia radical) da glândula prostática. Visa à cura. Camargo,
• Estenose de uretra ou colovesical
2014.
• Lesão de reto

243
Pacientes com doença localizada • Alteração gastrointestinal
ou que tenham contra-indicação de • Micção frequente, ardor ao
cirurgia. INCA, 2002;
urinar, sangue na urina ou
Teleterapia Camargo,
sensação constante de que a
2014.
E para diminuir o tumor e aliviar a bexiga está cheia
Radioterapia
(RTX) dor na doença de estágio avançado. • Impotência

Pacientes com bom prognóstico e • Incontinência urinária INCA, 2002;


Braquiterapia complementar à RXT externa para • Disfunção erétil Camargo,
casos de pior prognóstico. • Estenose de uretra ou colovesical 2014.
Tipo Indicação Repercussões Autor

Hormonioterapia • Ondas de calor crescimento das


ou privação androgênica: mamas osteoporose
Pacientes onde a cura é improvável. • Fraqueza
Orquiectomia • Perda de massa muscular
(castração cirúrgica) Usada antes da cirurgia ou • Anemia
radioterapia, e também quando • Cansaço INCA, 2002.
estas não são boas opções, onde o
Terapia com análogo de • Depressão
câncer se alastrou ou voltou após
LHRH (castração química) • Aumento do peso
um primeiro tratamento.

244
• Diarreia
Antiandrogênicos • Perda definitiva do desejo sexual

- Perda de apetite
Utilizada quando a doença não - Náuseas e vômitos
está mais restrita à próstata e - Queda de cabelos INCA, 2002.
Quimioterapia não tem mais resultados com
a hormonioterapia. Não cura o - Queda das células de
câncer. defesa: susceptível a infecção,
sangramento, hematoma e
cansaço.
O paciente e o seu médico irão decidir qual será o tipo de
tratamento mais adequado à individualidade do primeiro, com a
definição de riscos e benefícios. Esse depende de alguns fatores
como o estadiamento da doença, a idade, o estado geral de saúde,
a chance de cura de cada tratamento, bem como os sentimentos
do paciente em relação aos efeitos colaterais e as consequências na
sua vida. Os tipos de terapêutica mais comuns envolvem: cirurgia,
radioterapia, terapia hormonal e quimioterapia (Inca, 2002).

Cuidados ao paciente oncológico

A radioterapia é um tratamento realizado a partir de feixe de


radiações ionizantes, ou seja, raios de alta energia (como raios-X)
e partículas (como elétrons e prótons). Para destruir as células
tumorais, aplica-se uma dose pré-calculada de radiação, por um
determinado tempo e a um volume de tecido que engloba o tumor
(Inca, 2014).
Os efeitos colaterais da radioterapia alteram a qualidade de
vida do paciente, mas tendem a desaparecer em algumas semanas
após o término do tratamento. No entanto, outros podem atra-
palhar por muitos anos. É uma terapêutica que provoca reações
debilitantes ao homem, interferindo de forma significativa no seu
modo de viver.
A próstata está localizada logo abaixo da bexiga e à frente
do reto e, no tratamento com radioterapia, o feixe de radiação
atinge toda esta área. Por isso as reações provocadas envolvem
estes órgãos. Os efeitos aparecem na terceira semana de aplica-
ção, e os mais expressivos incluem: cansaço, perda de apetite,
reações da pele, diarreia, sangramento retal, sintomas urinários
como micções frequentes, urgência e queimação. Outra implica-
ção é a impotência, onde os nervos que controlam a ereção são
danificados pela radiação, levando meses ou anos para se instalar,
mas que pode ser temporária (Inca, 2002; Oncoguia, 2014;
CAMARGO, 2014).
Alguns cuidados preventivos são importantes durante o
tratamento radioterápico (Inca, 2014):
245
Repouso: o organismo gasta muita energia na reparação das
estruturas irradiadas, causando cansaço e fadiga. É importante
que o paciente possa reconhecer seus limites e os respeite com
horários de descanso no decorrer do dia.
Dieta: a perda de peso deve ser evitada, sendo necessário
manter uma dieta balanceada e com ingestão hídrica suficiente
para uma boa hidratação. Os efeitos colaterais como falta de
apetite, sintomas urinários e diarreia necessitam ser corrigidos
imediatamente com uma abordagem multidisciplinar.
Pele: a radiação pode provocar, na região tratada, vermelhi-
dão, irritação, ressecamento e assadura. No entanto, a pele reage
de maneira diferente para cada pessoa. E algumas orientações
preventivas devem ser repassadas ao paciente para evitar ou
minimizar a radiodermite:
• Lavar a pele irradiada sempre com sabonete de glicerina
e água morna;
• Não aplicar pomadas ou cremes sobre a pele sem aprovação
do serviço de radioterapia;
• Usar roupas folgadas;
• Não esfregar nem coçar a região tratada;
• Não aplicar nenhum tipo de adesivo sobre a área;
• Proteger a pele dos raios solares, se possível, cobrindo a
região com roupas claras;
• Aplicar compressas com chá de camomila sobre a pele para
a prevenção de radiodermite.
A quimioterapia é outro tratamento realizado para o câncer de
próstata. Utiliza medicamentos para destruir as células malignas,
através de via intravenosa ou oral. As drogas quimioterápicas
atuam nas células cancerosas que se dividem rapidamente. No
entanto, ao mesmo tempo, afetam outras células do corpo, como
as da medula óssea, as do revestimento da boca e dos intestinos,
e os folículos pilosos, que também se dividem rapidamente, tra-
zendo alguns efeitos colaterais indesejáveis, tais como alopecia
(perda de cabelo), inflamações na boca, perda de apetite, náuse-
as, vômitos, diarreia, infecções, fadiga, reações alérgicas. Esses
246
efeitos podem ser leves, intensos e/ou de curto prazo. Dependem
do tipo de medicamento, da dose, do período de tratamento e
do próprio paciente. Desaparecem com o término do tratamento
(Inca, 2014).
Os cuidados preventivos durante a quimioterapia envolvem
uma abordagem multidisciplinar. Algumas orientações devem ser
repassadas aos pacientes (Inca, 2013):
• Realizar pequenas refeições ao longo do dia;
• Não ingerir comidas gordurosas ou frituras e condimen-
tados;
• Ingerir bastante líquido, porém não próximo dos horários
das refeições;
• Não ingerir bebidas gasosas;
• Evitar a exposição a cheiros fortes;
• Vestir roupas folgadas, evitando comprimir o abdômen;
• Manter o domicílio sempre limpo e arejado;
• Evitar ambientes fechados, sem ventilação e com aglome-
ração de pessoas;
• Tomar os medicamentos prescritos conforme orientações;
• Comunicar a equipe multidisciplinar, se persistirem os
efeitos colaterais ou apresentarem qualquer alteração;
• Medir a temperatura sempre que perceber qualquer alte-
ração. Febre é sempre sinal de urgência;
• Procurar o hospital em caso de febre igual ou superior a
37,8ºC, pintas ou manchas avermelhadas na pele, sangra-
mentos e palidez ou cansaço aos pequenos esforços.
Os efeitos colaterais do tratamento radio e quimioterápico
podem ser minimizados a partir de uma estratégia de enfren-
tamento utilizada pelo paciente, com informação plena do que
esperar e com a sua detectação precoce. O acompanhamento
multidisciplinar é de suma importância para atender às expectativas
deste paciente na sua integralidade. Além disso, o apoio familiar
durante o processo é fundamental.
247
A família é uma unidade de cuidado do ser doente, parti-
cipante ativa no processo saúde-doença, e merece uma atenção
especial pelos profissionais, pois é primordial na recuperação e
manutenção da saúde do paciente. O cuidar da família envolve a
atenção através da conversa, do abraço, atitudes que possibilitam
consolo para o sofrimento vivenciado (Souza; Santo, 2008;
Silva et al., 2003).

Considerações finais

O diagnóstico e o tratamento do câncer geram uma mescla


de sentimentos para o paciente e para a família. Esta por sua
vez, é uma rede de apoio importante no processo de diagnóstico,
tratamento, cura e recuperação do paciente.
O atendimento multidisciplinar tem como propósito auxiliar
o paciente e sua família no enfrentamento da doença e tratamento
proposto. A assistência deve contemplar orientações específicas
do tratamento, reforçando os seus efeitos colaterais, bem como os
cuidados a serem seguidos. O diálogo constante entre os profis-
sionais e os pacientes é uma estratégia importante para o enfren-
tamento da doença, pois, nestes momentos, os pacientes podem
expressar seus sentimentos, dificuldades, medos e preocupações.
A equipe, portanto, precisa tornar-se a referência dos pacientes
e da família, fornecendo informações/orientações a respeito da
doença e do tratamento.

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251
252
Uso de ervas medicinais
no cuidado ao idoso:
revisão narrativa da literatura

Sinara Guzzo Chioquetta


Helenice de Moura Scortegagna
Barbara Leticia Dudel Mayer

Introdução

As plantas produzem substâncias químicas que podem agir


beneficamente ou de forma tóxica sobre o organismo humano.
O uso de ervas para fins medicinais exige cuidado e segurança;
engloba pesquisas químicas, farmacológicas e toxicológicas (Rit-
ter et al., 2002).
O uso e consumo de plantas medicinais está presente na tradi-
ção familiar e tornou-se prática generalizada na medicina popular.
Muitos as consideram terapia complementar ou alternativa para
a promoção da saúde (Loya et al., 2009). A sabedoria popular
acerca do uso de plantas está presente no imaginário dos idosos,
especialmente para morbidades de pouca gravidade (Dergal et
al., 2002; Veiga, 2008; Feijó et al., 2012; Lima et al., 2012;
Oliveira; Menini; Neto, 2012).
Pesquisas apontam que as plantas medicinais têm valor tera-
pêutico e possuem algumas propriedades reconhecidas de cura,
prevenção, diagnóstico ou tratamento de sintomas de doenças.
O uso das mesmas é benéfico e recomendado em muitos casos
(Arnous et al., 2005; Cunha et al., 2010; Guedes et al.,
2012). Entretanto, outros estudos mostram que muitas dessas
253
plantas possuem substâncias maléficas e, por essa razão, devem
ser utilizadas com cautela, respeitando seus riscos toxicológicos
(Rodrigues et al., 2013, p. 62).
O modelo de saúde hegemôneo – vigente na sociedade oci-
dental contemporânea – centra-se no cuidado direto da doença, ou
seja, na especialidade de partes do corpo humano e no tratamento
alopático. Isso ignora outras dimensões de saber, onde o cuidado
segue a lógica da saúde, não se restringindo ao corpo humano,
mas à família, à natureza, concretizada pela terra, pelo trabalho
e pela seleção e produção.
Segundo Albuquerque e Andrade (2002), todas as ciências
que se ocupam de investigar a relação entre pessoas e plantas estão
preocupadas em registrar e conhecer as estratégias e conhecimentos
de povos ancestrais, procurando também usar essa informação em
benefício das pessoas na contemporaneidade.
Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é identificar pro-
duções científicas acerca da temática do uso de plantas medicinais
no cuidado à saúde, com ênfase no cuidado ao idoso.

Contexto e estudos

Este capítulo compreende um estudo qualitativo sob o méto-


do de revisão narrativa da literatura. A análise qualitativa de um
objeto de investigação concretiza a possibilidade de construção
de conhecimento e possui todos os requisitos e instrumentos
para ser considerada e valorizada como um constructo científico
(Minayo, 2011).
A revisão narrativa compreende publicações amplas, apro-
priadas para descrever e discutir o desenvolvimento ou o estado
da arte de um determinado assunto, sob o ponto de vista teórico
ou contextual. Assim, constituem-se basicamente, de análise da
literatura publicada em livros, artigos de revistas impressas e/ou
eletrônicas para interpretação e análise crítica (Cordeiro, 2007).
Desse modo, foram consultados artigos científicos, publicados
a partir do ano de 2010, em língua portuguesa.
254
A busca foi realizada de 01 a 07 de outubro de 2014, em
duas bases, e compreendeu diferentes estratégias. Na base Scielo,
foram utilizadas 4 delas com os seguintes descritores: “plantas
medicinais”, “cuidado com o idoso”, “envelhecimento”, sendo
estes encontrados em: “Medicamento fitoterápicos AND idoso”,
“Plantas medicinais AND Idoso”, “Plantas medicinais AND
Envelhecimento” e, “Assistência domiciliar AND Plantas medi-
cinais”. Estas estratégias resultaram em 3 artigos, sendo que 2
não estavam disponíveis.
Na base Lilacs, foram 3 estratégias de busca: “Medicamentos
fitoterápicos AND Idoso”, “Plantas medicinais AND Idoso” e,
“Plantas medicinais AND Envelhecimento”, que resultaram em
37 artigos, dos quais 16 foram excluídos por estarem em idioma
inglês, 2 não estavam disponíveis, 5 estavam repetidos e 2 foram
excluídos por serem do ano de 2008.
Desse modo, o corpus do estudo compreendeu 13 artigos,
apresentados mais adiante, no subtítulo Resultados comparativos,
onde se identificam a metodologia do estudo, os resultados da
pesquisa e a sua referência bibliográfica.
A autoria dos artigos provém de enfermeiros (7 artigos),
farmacêuticos (6 artigos) e biólogos (1 artigo). Suas pesquisas
foram desenvolvidas nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste
do Brasil.
Começaremos apresentando os resultados da pesquisa de
Ceolin et al. (2012), que teve por objetivo investigar o processo
de transmissão do conhecimento relacionado a plantas medicinais
entre as gerações familiares, no contexto de agricultores de base
ecológica do sul do Rio Grande do Sul. Os agricultores reconhe-
ceram 196 plantas medicinais entre nativas e exóticas nesse estado
brasileiro. Referem ter adquirido o conhecimento sobre plantas
medicinais, em maior frequência, com a família. A maioria dos
sujeitos informou primeiro realizar o tratamento com as plantas
medicinais para, em seguida, buscar o serviço formal de saúde.
A construção do conhecimento relacionado às plantas medicinais
pelas famílias é predominantemente oral, realizada através do con-
vívio diário entre seus membros e compartilhada com os demais
membros da comunidade na qual estão inseridos.
255
Já na outra ponta do país, Roque, Rocha e Loiola (2014)
buscaram investigar a forma de uso de plantas medicinais nativas
do bioma caatinga, em uma comunidade rural no município de
Caicó, Rio Grande do Norte. Os especialistas locais citaram 62
espécies nativas do Nordeste, com potencial medicinal, na tentativa
de entender a inter-relação da população com as plantas nativas,
visto que as mesmas estão ligadas somente às crenças locais.
Albuquerque e Andrade (2002) demonstram a importância
de se desenvolver estudos sistemáticos com as plantas nativas de
uma região, podendo estes identificar problemas ocasionados
pelo mau uso dos recursos vegetais disponíveis, uma vez que, a
partir dessas informações, pode-se oferecer alternativas eficazes
que diminuam o impacto da coleta sobre o desenvolvimento da
planta e manutenção das espécies nativas.
A pesquisa de Badke et al. (2011) buscou conhecer o coti-
diano popular dos moradores da comunidade assistida por uma
Unidade de Saúde da Família, num município do Rio Grande
do Sul, e também o emprego terapêutico de plantas medicinais
no cuidado à saúde. Constatou-se que o uso de chá caseiro era
comum entre os sujeitos da pesquisa e que a maioria das plantas
medicinais utilizadas pelos entrevistados tem suas indicações
terapêuticas populares semelhantes às encontradas na literatu-
ra científica. Os autores evidenciam que pesquisas voltadas ao
uso de ervas medicinais são relevantes à sociedade, visto que
compreendem necessária aproximação entre o saber popular e o
científico, bem como para a criação de projetos que trabalhem
com essa temática.
Por sua vez, Feijó et al. (2014) buscaram investigar como as
plantas medicinais atuam de maneira complementar no tratamento
de sintomas do diabetes mellitus (DM), quando utilizadas por
idosos assistidos em uma Unidade Básica de Saúde de Pelotas,
no Rio Grande do Sul. Foram citadas 20 plantas medicinais
como terapia complementar no tratamento do DM. Os parti-
cipantes relataram que seu uso para esta finalidade foi indicado
por médico, familiares, amigos e pessoas acometidas pela doença
e que tiveram efeito positivo com a mesma utilização. Inclusive,
algumas não necessitaram medicação posterior. Os pesquisadores
256
destacaram, também, que há necessidade de cuidados ao utilizar
uma planta medicinal, pois nem todas têm o efeito esperado por
quem as utiliza. Isso pode ocorrer devido à forma inadequada de
preparo ou ao fato de a planta não possuir o princípio ativo para
a ação desejada.
Marinho, Silva e Andrade (2014) realizaram um levantamen-
to das plantas medicinais utilizadas no município de São José de
Espinharas, Paraíba, no Nordeste Brasileiro, caracterizando o uso
dessas plantas pela população local. As informações obtidas dessa
pesquisa referiam-se às indicações terapêuticas e às formas de uti-
lização mais frequentes dessas espécies. A idade dos informantes
variou de 30 a 60 anos, com 50% acima de 50 anos, mostrando
a importância dessa faixa etária no domínio desse tipo de conhe-
cimento. Ainda, o maior número de entrevistados pertenceu ao
sexo feminino (70%), com tempo de residência local entre 10 e
66 anos. Segundo Amorozo (1996), o tempo durante o qual uma
determinada sociedade ocupa um ambiente é muito importante
para estabelecer o nível de precisão e profundidade do conhe-
cimento das plantas medicinais com propriedades terapêuticas.
Araújo e Galato (2012) buscaram conhecer o risco de fragi-
lização (repetidas internações hospitalares) e o perfil de utilização
de medicamentos em idosos vinculados ao Serviço de Assistência
Integral à Saúde da Universidade do Sul de Santa Catarina, lo-
calizado na cidade de Tubarão. Em se tratando da avaliação da
utilização de medicamentos de uso contínuo, 117 responderam
afirmativamente, referindo utilizar entre 1 e 13 medicamentos,
conferindo uma média de 3,5 medicamentos por idoso. Destes,
29 foram classificados como polimedicados, ou seja, utilizavam
cinco ou mais medicamentos simultaneamente.
Avaliando-se o uso de medicamentos por automedicação,
70,8% dos idosos afirmaram adotar esta prática e 64,4% referiram
utilizar plantas medicinais. Analisando-se os fatores relacionados
ao risco de fragilização, o fator que mostrou-se associado foi o de
polimedicação. Porém, o sexo, a idade, o uso de medicamentos
inapropriados, a prática da automedicação, a ocorrência de quedas
e o uso de plantas medicinais não se mostraram associados.
257
A pesquisa de Costa e Mayworm (2014), junto à comunidade
do bairro dos Tenentes (Extrema, Minas Gerais), verificou como
é feito o tratamento de doenças a partir do uso de plantas medici-
nais, bem como, identificou e relacionou as plantas utilizadas com
a literatura científica. Foram coletadas 239 espécimes de plantas
utilizadas naquela comunidade. Observou-se que o conhecimen-
to medicinal das plantas, vinha sendo adquirido e transmitido
de geração a geração por familiares (58%), amigos e vizinhos
(38%) e através da literatura e meios de comunicação (4%). A
utilização das plantas medicinais pela maioria dos entrevistados
foi relacionada à precariedade do sistema de saúde da cidade, ou
à distância para buscar atendimento médico.
Já em Pernambuco, Junior et al. (2014) buscaram avaliar o
conhecimento e uso tradicional de plantas medicinais por idosos
de alguns bairros do município de Petrolina, e, ao mesmo tempo,
levar informações a esta determinada faixa etária da população,
orientando quanto ao uso correto de plantas medicinais como
uma terapêutica complementar às já existentes, direcionando sua
utilização de forma racional e, consolidando, desta forma, essa
prática como integrativa frente aos serviços de saúde. A maioria
dos idosos afirmou utilizar frequentemente remédios caseiros
preparados à base de plantas. 72% relataram fazer uso de plantas
medicinais há mais de 10 anos. 26% dos entrevistados disseram
fazer uso de chás três vezes ao dia. Vale lembrar que isso aumenta
os riscos de intoxicação, tendo em vista que, a depender da dose,
os constituintes químicos da planta deixam de promover efeito
terapêutico e passam a desencadear reações adversas aos seus usuá-
rios. Os idosos relataram em algum momento terem feito uso de
chás e medicamentos simultaneamente e cerca de 65% afirmaram
terem substituído o medicamento por algum produto natural.
Sobre o tratamento da hipertensão, Lopes et al. (2014) tive-
ram por objetivo investigar o uso espontâneo de plantas medicinais,
por pacientes voluntários e hipertensos, frequentadores de um
centro de saúde, que utilizavam ou utilizaram plantas medicinais
neste tratamento. Os pesquisadores também buscaram descobrir
quais eram essas plantas. A faixa etária dos entrevistados variou
entre 50 e 70 anos. Das entrevistas realizadas, 44% foram com
258
pacientes do sexo masculino e 55,6% com os do sexo feminino.
67,5% eram hipertensos e 37% utilizavam ou utilizaram plantas
medicinais como auxiliares no tratamento. Quanto às plantas
utilizadas pelos pacientes no tratamento de hipertensão, foram
citadas algumas que podem ser utilizadas com finalidades tera-
pêuticas, no caso, a prevenção ou controle da elevação da pressão
sanguínea arterial.
Noutra pesquisa, Oliveira e Moreira (2010) tiveram o intuito
de descrever o tratamento anti-hipertensivo não-farmacológico
seguido por um grupo de idosos portadores de hipertensão, na
tentativa de subsidiar o cuidado de enfermagem, assim como,
chamar a atenção dos enfermeiros para a importância de se co-
nhecer os domínios que envolvem o cuidado global do idoso. A
partir dos critérios de inclusão, foram investigados alguns aspectos
importantes do tratamento anti-hipertensivo não-medicamentoso
de 54 idosos, de ambos os sexos, frequentadores ativos das reuniões
do salão do idoso. Houve prevalência do sexo feminino, na faixa
etária de 70 a 79 anos, quanto ao uso de algum tipo de planta
medicinal ou fitomedicamento para auxílio no controle pressório.
Dos 54 participantes da pesquisa, pouco mais da metade relatou
essa prática, alguns por indicação de profissionais da saúde, co-
nhecimento prévio da planta ou indicação de amigos e familiares.
Apesar de poucos estudos afirmando a eficácia de determinadas
plantas no combate aos níveis pressóricos elevados, nota-se que
muitas pessoas recorrem a esse tipo de tratamento.
No Tocantins, Ribeiro, Gonçalves e Bessa (2014) buscaram
verificar o uso de plantas medicinais e a conduta terapêutica
utilizada pelos idosos da Unidade Básica de saúde (UBS) do
município de Gurupi-Tosão, seus benefícios ou riscos à saúde.
Verificaram a conduta dos idosos diante de terapias medicamen-
tosas e suas associações, a utilização das plantas medicinais como
medicamentos convencionais e a comunicação dessa alteração ao
médico ou a outro profissional da saúde. Dos idosos participantes
do grupo estudado, 9 possuíam de 58 a 69 anos e 11 deles tinham
de 70 a 90 anos.
Constataram, pelos depoimentos, que as plantas medicinais
são uma opção terapêutica de grande relevância para a comuni-
259
dade, pois fazem parte de um tratamento de fácil acesso. Um
dos maiores problemas encontrados quanto à conduta do idoso
foi a substituição de um medicamento alopático pela planta me-
dicinal. Isso revela um problema de saúde pública, pois muitos
idosos portadores de doenças crônicas podem não controlar seus
problemas hemodinâmicos devido a uma substituição inadequada.
Balbinot, Velasquez e Dusman (2014), por sua vez, em sua
pesquisa, tiveram por objetivo valorizar o saber popular por meio
da obtenção de informações sobre as plantas medicinais utilizadas
pelos idosos do município de Marmeleiro, no Paraná. Dos idosos
entrevistados, 94,3% utilizavam plantas medicinais para tratar
suas enfermidades, sendo que somente 5,7% não faziam este uso.
Inclusive, 71,4% utilizavam plantas medicinais frequentemente/
diariamente, e somente 22,9%, raramente, enquanto 5,7% nunca
as empregavam. Das plantas medicinais apresentadas aos idosos,
todos (100%) conheciam a babosa, a camomila, a erva-cidreira,
entre as principais lembradas.
Rodrigues et al. (2013), em Santa Catarina, buscaram identi-
ficar as plantas medicinais utilizadas no tratamento da hipertensão
em pacientes do grupo HIPERDIA, de uma Unidade Estratégia
Saúde Família, de um bairro do município de Crisciúma. Depois,
confrontaram as informações obtidas com a literatura preconizada
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para avaliação e
segurança de fitoterápicos. Foram entrevistados 34 participantes,
entre 34 a 88 anos, sendo que 50% deles tinham entre 61 e 70
anos. De todos eles, 10 pessoas não faziam uso e não conheciam
plantas medicinais para o tratamento da hipertensão, justificando
que não gostavam e/ou não tinham o hábito de ingerir chás,
pois, na opinião desses pacientes, o tratamento convencional
era satisfatório. Os outros 24 pacientes afirmaram conhecer
alguma planta medicinal utilizada no tratamento da hiperten-
são arterial. Quando questionados sobre como adquiriram tal
conhecimento, os vizinhos, amigos e familiares foram os mais
citados, seguidos de pais e avós, cursos da pastoral da saúde e
consultas médicas.

260
Resultados comparativos

Nº Metodologia Resultados

Os agricultores conheceram
196 plantas medicinais, entre
Qualitativa, com oito
nativas e exóticas do Rio Grande
famílias de agricultores
1 do Sul. Referiram ter adquirido
do município de
o conhecimento sobre plantas
Pelotas - RS.
medicinais, em maior frequência,
com a família.
Referência: CEOLIN, T. et al. Plantas medicinais: transmissão do conhecimento nas famílias
de agricultores de base ecológica no Sul do RS. Rev. Esc. Rnferm., São Paulo, v. 45, n. 1,
mar. 2011. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080>.
Acesso em: 07/10/2014.

Os especialistas locais citaram 62


Qualitativa, com espécies nativas do Nordeste, com
observação do potencial medicinal, porém, em
participante, pesquisas trabalhos de plantas medicinais
2 estruturadas e semi- realizados neste bioma, onde
estruturadas. foram consideradas tanto espécies
nativas quanto introduzidas, o
número de espécies nativas é
relativamente baixo.
Referência: ROQUE, A. A.; ROCHA,R. M.; LOIOLA, M. I. B. Uso e diversidade de
plantas medicinais da Caatinga na comunidade rural de Laginhas, município de Caiacó,
Rio Grande do Norte (Nordeste do Brasil). Rev. Bras. Plantas Med., Botucatu, v. 12,
n. 1, jan./mar. 2010. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbpm/v12n1/v12n1a06.pdf>.
Acesso em: 07/10/2014.

O uso de chá caseiro era comum


Qualitativa, com entre os participantes. Das 17
coleta de dados por plantas medicinais citadas e
meio de entrevista utilizadas pelos entrevistados,
3
semiestruturada 15 delas apresentavam
e observação dos indicações terapêuticas populares
participante. semelhantes às encontradas na
literatura científica.
BADKE, M. R. et al. Plantas medicinais: o saber sustentado na prática do cotidiano
popular. Esc Anna Nery (impr.), p. 132-139, jan./mar. 2011. Disponível em: <www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414...>. Acesso em: 07/10/2014.

261
Nº Metodologia Resultados

Os participantes citaram 20
Qualitativa, com
plantas medicinais usadas
caráter descritivo, no
4 como terapia complementar no
município de Pelotas
tratamento do diabetes mellitus
- RS.
(hipoglicemiantes).
FEIJÓ, A. M. et al. Plantas medicinais utilizadas por idosos com diagnóstico de diabetes
mellitus no tratamento dos sintomas da doença. Rev. Bras. Plantas Med., Botucatu,
v. 14, n. 1, 2012. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbpm/v14n1/v14n1a08.pdf>.
Acesso em: 07/10/2014,

Entrevistas semi-
estruturadas, com Os entrevistados, em sua
coletas botânicas e totalidade, afirmaram que desde
entrevistas mensais. criança iniciaram a observação do
Para obter os dados uso de plantas medicinais.
5 etnobotânicos, A comunidade estudada utilizava
foram distribuídos a fitoterapia como forma de curar
20 questionários, muitas doenças e usava as plantas
sendo, nove para os medicinais tanto para prevenção
informantes da área como por costume.
urbana e onze da rural.
MARINHO, M. G. V; SILVA, C. C; ANDRADE, L. H. C. Levantamento etnobotânico
de plantas medicinais em área de caatinga no município de São José de Espinharas,
Paraíba, Brasil. Rev. Bras. PI. Med., Botucatu, v. 13, n. 2, p. 170-182, 2011. Disponível
em: <www.scielo.br/pdf/rbpm/v13n2/v13n2a08.pdf>. Acesso em: 07/10/2014.

Avaliando-se o uso
Entrevistas em de medicamentos por
ambiente domiciliar automedicação, 70,8% dos idosos
6 e os resultados afirmaram adotar esta prática e
apresentados por 64,4% referiram utilizar plantas
estatística descritiva. medicinais.

ARAÚJO, P. L.; GALATO, D. Riscos de fragilização e uso de medicamentos em idosos


residentes em uma localidade do sul de Santa Catarina. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol.,
Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, 2012. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?pid=S1809-
-98232012000100013&script=sci...>. Acesso em: 08/10/2014.

262
Nº Metodologia Resultados

Qualitativa, com
entrevistas semi-
estruturadas e
estruturadas em 50
entrevistados e coletas
de plantas utilizadas na Foram coletadas 239 espécimes
7 medicina popular local, de plantas utilizadas pela
as quais, após processo comunidade pesquisada.
de herborização e
identificação, foram
comparadas com
informações de
literatura especializada.
COSTA, V. P.; MAYWORM, M. A. S. Plantas medicinais utilizadas pela comunidade
do bairro dos Tenentes- Município de Extrema, MG, Brasil. Rev. Bras. Plantas Med.,
Botucatu, v. 13, n. 3, 2011. Disponível em: <www.sbpmed.org.br/download/issn_11_3/
v13_3_06.pdf • Arquivo PDF>. Acesso em 08/10/2014.

A maioria dos idosos afirmou


Qualitativa, com utilizar remédios caseiros
entrevistas estruturadas preparados à base de plantas
8
e um questionário pré- frequentemente, 72% relatou que
estabelecido. faz uso de plantas medicinais há
mais de 10 anos.
JUNIOR, R. G. O. et al. Plantas medicinais utilizadas por um grupo de idosos do município
de Petrolina, Pernambuco. REF-ISSN 1808-0804, Vol. IX(3), 16-28, 2012. Disponível
em: <revistas.ufg.br › Capa › v. 9, n. 3 (2012) › Junior>. Acesso em: 09/10/2014.

67,5% dos entrevistados eram


hipertensos e 37% utilizavam
ou utilizaram plantas medicinais
Qualitativa, com como auxiliares no tratamento.
questionário e um
9 Quanto às plantas utilizadas
roteiro de entrevista
semiestruturado. pelos pacientes no tratamento
de hipertensão, foram citadas a
beringela, erva cidreira, erva doce,
boldo, pata de vaca e camomila.
LOPES, G. A. L. et al. Plantas medicinais: indicação popular de uso no tratamento de
hipertensão arterial sistêmica (HAS). Rev. Ciênc. Ext,. v. 6, n. 2, p. 143, 2010. Disponível
em: <ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/377>. Acesso em: 09/10/2014.

263
Nº Metodologia Resultados

Foram investigados idosos de


ambos os sexos.
Descritiva, transversal,
10 com natureza Dos 54 participantes da pesquisa,
quantitativa. pouco mais da metade relatou
a prática do uso de plantas
medicinais.
OLIVEIRA, C. J.; MOREIRA, T. M. M. Caracterização do tratamento não-farmacológico
de idosos portadores de hipertensão arterial. Rev. Rene., Fortaleza, v. 11, n. 1, p. 76-85,
jan./mar. 2010. Disponível em: <www.revistarene.ufc.br › Capa › v. 11, n. 1 (2010) ›
Oliveira>. Acesso em: 09/10/2014.

As plantas medicinais eram uma


Exploratória, de
opção terapêutica de grande
abordagem qualitativa,
11 relevância para a comunidade,
com entrevista
pois fazem parte de um
semiestruturada.
tratamento de fácil acesso.
RIBEIRO, U. L.; GONÇALVES, G. R.; BESSA, N. G. F. Plantas medicinais e conduta
terapêutica de idosos atendidos em unidade básica de saúde do município de Gurupi-
-Tocantins. Rev. Bras. de Ciências da Saúde, ano 11, n. 37, jul./set. 2013. Disponível
em: <seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/.../1894/1460>. Acesso
em: 09/10/2014.

Qualitativa, com
entrevista de
grupo local. Foram Dos idosos entrevistados, 94,3%
apresentados aos utilizavam plantas medicinais para
idosos, amostras tratar suas enfermidades, sendo
de 20 espécies de que somente 5,7% não faziam
plantas medicinais este uso.
12 in vivo, coletadas
na região urbana do Das plantas medicinais
município, escolhidas apresentadas aos idosos, todos
após levantamento (100%) conheciam a babosa, a
bibliográfico e devido camomila, a erva-cidreira, entre as
ao seu reconhecido principais lembradas.
uso pela população do
município.
BALBINOT, S.; VELASQUEZ, P. G.; DUSMAN, E. Reconhecimento e uso de plantas
medicinais por idosos no Município de Marmeleiro-Paraná. Rev. Bras. PI. Med., Cam-
pinas, v. 15, n. 4, supl. I, p. 632-638, 2013. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1516>. Acesso em: 09/10/2014.

264
Nº Metodologia Resultados

Quantitativa,
transversal, prospectiva, Foram entrevistados 34
por meio de formulário participantes do grupo Hiperdia.
individual estruturado Dos quais 10 não faziam uso e
com perguntas abertas não conheciam plantas medicinais
e fechadas. para o tratamento da hipertensão.
13
Solicitou-se a cada Os outros 24 pacientes afirmaram
entrevistado a coleta conhecer alguma planta medicinal
de uma amostra das utilizada no tratamento da
plantas medicinais hipertensão arterial.
citadas, para a correta
identificação botânica.
RODRIGUES, D.T. et al. Avaliação do uso de plantas medicinais por um grupo de
hipertensos em uma unidade ESF de um bairro no município de Criciúma. Rev. Inova
Saúde, Criciúma, v. 2, n. 1, jul. 2013. Disponível em: <periodicos.unesc.net/index.php/
Inovasaude/article/view/1203>. Acesso em: 09/10/2014.

Considerações finais

Os resultados do presente estudo mostram a importância


de se obter maiores informações sobre o uso indiscriminado de
plantas medicinais, principalmente pelos idosos, que, com pouca
informação, buscam um complemento à medicação convencional
alopática ou, em muitas vezes, utilizam-nas como única forma de
tratamento. Isso pode levar a sérios riscos à saúde.
Evidenciou-se uma abordagem maior sobre a forma de trans-
missão do conhecimento do uso das plantas, passado de geração
em geração por familiares, amigos, vizinhos, sendo a mulher a
maior fonte do referido conhecimento.
Os idosos possuem, portanto, uma capacidade maior de
identificar as plantas, por sua vivência numa época em que não
tinham alcance ao atendimento primário, mas sim acesso a plantas
como cura para muitas enfermidades.
265
Nesse contexto, ficou evidenciada a relação do cuidado com
o uso de plantas medicinais, principalmente pela população idosa,
visto que a tradição no uso das mesmas se sobrepõe às condições
econômicas, sociais e culturais de conhecimento e acesso ao tra-
tamento convencional alopático.
Faz-se necessário estudos que ofereçam à população em geral
orientações claras sobre o uso racional das plantas, seus efeitos
colaterais, interações medicamentosas, formas de cultivo, preparo e
armazenamento, assim como seus benefícios e efeitos terapêuticos
comprovados sem sobreposição ao uso da terapia alopática ou
tratamento convencional pré-estabelecido.

Referências

ALBUQUERQUE U. P.; ANDRADE L.H.L. Conhecimento


botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado
do Pernambuco. Acta Botânica Brasileira, v. 16, n.3, p. 273-285, 2002.
ARAÚJO, P. L.; GALATO, D. Riscos de fragilização e uso de
medicamentos em idosos residentes em uma localidade do sul de
Santa Catarina. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, v. 15,
n. 1, p. 136-148, 2012.
CEOLIN, T. et al. Plantas medicinais: transmissão do conhecimento
nas famílias de agricultores de base ecológica no Sul do RS. Rev. Esc.
Enferm., São Paulo, v. 45, n. 1, p. 890-900, Mar. 2011.
ROQUE, A. A.; ROCHA, R. M.; LOIOLA, M. I. B. Uso e
diversidade de plantas medicinais da Caatinga na comunidade rural
de Laginhas, município de Caiacó, Rio Grande do Norte (Nordeste
do Brasil). Rev. Bras. Plantas Med., Botucatu, v. 12, n. 1, p. 78 - 88,
jan./mar. 2010.
BADKE, M. R.. et al. Plantas medicinais: o saber sustentado na
prática do cotidiano popular. Esc Anna Nery (impr.), v. 03, n. 01, p.
132-139, 2011.
FEIJÓ, A. M. et al. Plantas medicinais utilizadas por idosos com
diagnóstico de diabetes mellitus no tratamento dos sintomas da doença.
Rev. Bras. Plantas Med., Botucatu, v. 14, n. 1, p. 579 - 589, 2012.
266
MARINHO, M. G. V.; SILVA, C. C; ANDRADE, L. H. C. Le-
vantamento etnobotânico de plantas medicinais em área de caatinga
no município de São José de Espinharas, Paraíba, Brasil. Rev. Bras.
Plantas Med., Botucatu, v. 13, n. 2, p. 170-182, 2011.
COSTA, V. P. ; MAYWORM, M. A. S. Plantas medicinais utilizadas
pela comunidade do bairro dos Tenentes - município de Extrema,
MG, Brasil. Rev. Bras. Plantas Med., Botucatu, v. 13, n. 3, 2011.
JUNIOR, R. G. O. et al. Plantas medicinais utilizadas por um grupo
de idosos do município de Petrolina, Pernambuco. Rev. Bras. Plantas
Med., Botucatu, v. 9, n. 3, p. 16-28, 2012.
LOPES, G. A. L. et al. Plantas medicinais: indicação popular de uso
no tratamento de hipertensão arterial sistêmica (HAS). Rev. Ciênc.
Ext., v. 6, n. 2, p. 143 - 149, 2010.
OLIVEIRA, C. J.; MOREIRA, T. M. M. Caracterização do
tratamento não-farmacológico de idosos portadores de hipertensão
arterial. Rev. Rene. Fortaleza, v. 11, n. 1, p. 76-85, jan./mar. 2010.
RIBEIRO, U. L.; GONÇALVES, G. R.; BESSA, N. G. F. Plantas
medicinais e conduta terapêutica de idosos atendidos em Unidade
Básica de Saúde do município de Gurupi-Tocantins. Rev. Bras. de
Ciências da saúde, ano 11, n. 37, jul./set. 2013.
BALBINOT, S.; VELASQUEZ, P. G.; DUSMAN, E. Reco-
nhecimento e uso de plantas medicinais por idosos no município
de Marmeleiro-Paraná. Rev. Bras. PI. Med., Campinas, v. 15, n. 4,
supl. I, p. 632-638, 2013.
RODRIGUES, D. T. et al. Avaliação do uso de plantas medicinais
por um grupo de hipertensos em uma unidade ESF de um bairro
no município de Criciúma. Rev. Inova Saúde, Criciúma, v. 2, n. 1,
p. 56-66, jul. 2013.

267
268
Sobre os autores

Adriano Pasqualotti. Licenciado em Matemática pela Universi-


dade de Passo Fundo (UPF), mestre em Ciência da Computação
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
doutor em Informática na Educação pela Universidade Federal do
Rio do Sul (UFRGS). Pós-Doutor em Sociedade, Comunicação
e Cultura pela Universidade de Lisboa (UL), Lisboa, Portugal.
Docente do programa de Pós-graduação em Envelhecimento
Humano da Universidade de Passo Fundo – UPF.

Alisson Padilha de Lima. Educador físico, graduado pela


Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Especialista em
Educação Especial pela Universidade Católica Dom Bosco
(UCDB/MS). Pesquisador do Laboratório de Temas Filosóficos
em Conhecimento Aplicado LABFILC, Universidade Estadual
do Rio de Janeiro UERJ. Mestrando do Programa de Pós-gra-
duação em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo
Fundo (UPF/RS), Bolsista pesquisador PROSUP/CAPES.

Ana Carolina Bertoletti De Marchi. Bacharel em Informá-


tica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul. Mestre em Computação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFGRS). Doutora em Informática na Educação
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS).
Docente nos cursos de Ciência da Computação e Sistemas para
Internet, Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Hu-
mano e Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada
na Universidade de Passo Fundo (UPF).

269
Ana Luisa Sant’Anna Alves. Nutricionista, graduada pela
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Mestre em
Ciências da Saúde - Área de Saúde Coletiva pela Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Doutora em Epidemiologia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Docente na Universidade de Passo Fundo (UPF).

Ana Maria Belloni Migott. Enfermeira e psicóloga, graduada


pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Mestre em Enfer-
magem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Doutora em Clínica Médica Ciências da Saúde pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Docente
do programa de Pós-graduação em Envelhecimento Humano da
Universidade de Passo Fundo – UPF.

Barbara Letícia Dudel Mayer. Enfermeira. Graduada pela


Universidade de Ijuí (UNIJUI). Especialista em Gestão de
Pessoas pela Universidade de Ijuí (UNIJUI). Mestranda pelo
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). Coordenadora do Núcleo em
Enfermagem e Preceptoria de Enfermagem em Cardiologia pelo
Programa de Residência Multiprofissional do Hospital da Cidade
de Passo Fundo (HC) e Universidade de Passo Fundo (UPF).
Camila Pereira Leguisamo. Fisioterapeuta. Graduada pela Univer-
sidade Luterana do Brasil (ULBRA/Canoas). Mestre e doutora
em Ciências da Saúde - Cardiologia pela Fundação Universitá-
ria de Cardiologia de Porto Alegre. Docente na Faculdade de
Educação Física e Fisioterapia e no programa de Pós-graduação
em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo
(UPF).

Claudia Daiane Trentin Lampert. Psicóloga. Graduada pela


Universidade de Passo Fundo (UPF). Formação em Psicologia
Hospitalar pelo Hospital Pequeno Príncipe/APTO. Especialis-
ta em Psicologia da Saúde pela Universidade de Passo Fundo
(UPF). Pós-graduanda em Avaliação e Diagnóstico Psicológico
270
pelo Instituto de Ensino Meridional (IMED), Passo Fundo/RS.
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento
Humano pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Bolsista
Taxa/Capes.

Cleide Fátima Moretto. Economista. Graduada pela Uni-


versidade de Passo Fundo (UPF). Mestre em Economia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutora
em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo (USP).
Docente nos cursos de Ciências Econômicas e no Programa de
Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade
de Passo Fundo (UPF).

Cristina Ribas Teixeira. Psicóloga graduada em Ciencias


Contáveis pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e espe-
cialista em Psicopedagogia pela mesma instituição. Especialista
em Libras- Tradução/ Interpretação pela Universidade Tuiuti.
Assistente pedagógico (psicóloga) na Universidade de Passo
Fundo, tradutora intérprete de Libras- TILS. Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano pela
Universidade de Passo Fundo.

Daniel Lima Varela. Médico. Graduado pela Universidade de


Passo Fundo (UPF). Especialista em Neurologia pela Universi-
dade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
em convênio com o Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto
Alegre. Especialista em Doenças Neuromusculares e Neurofi-
siologia Clínica pela Santa Casa. Mestrando do Programa de
Pós-graduação em Envelhecimento Humano pela Universidade
de Passo Fundo (UPF).

Débora D´Agostini Jorge Lisboa. Fisioterapeuta, graduada


pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Especialista em
Fisioterapia com ênfase em Terapia Intensiva e Especialista em
Fisioterapia Hospitalar pelo Hospital Moinhos de Vento de Porto
271
Alegre. Mestranda do programa de Pós-graduação em Envelhe-
cimento Humano pela Universidade de Passo Fundo.

Debora Falk Lopez Boscatto. Médica. Graduada pela Uni-


versidade de Passo Fundo (UPF). Especialista em Medicina
Estética pela Faculdade Souza Marques (FIESM). Especialista
em Saúde da Família e Comunidade pela Sociedade Brasileira
de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). Médica no
Pronto-atendimento Pediátrico em Passo Fundo/RS. Mestranda
do Programa de Pós-graduação em Envelhecimento Humano
da UPF.

Desirê Neuwald Pauletti Hagen. Psicóloga. Graduada pela


Universidade de Passo Fundo (UPF). Pós-Graduada em Violên-
cia Doméstica contra Crianças e Adolescentes pela Universidade
de São Paulo (USP). Mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo.
E-mail: [email protected].

Eduarda Brum Guedes Salcher. Enfermeira, graduada pela


Universidade de Passo Fundo (UPF). Participante do grupo
de pesquisa Vivencer UPF/CNPq. Mestranda do Programa de
Pós-graduação em Envelhecimento Humano da UPF.

Eliane Lucia Colussi. Historiadora, graduada pela Universi-


dade de Passo Fundo (UPF). Mestre e doutora em História pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Docente do programa de Pós-Graduação em Envelhecimento
Humano da Universidade de Passo Fundo (UPF).

Fhaira Petter da Silva. Nutricionista, graduada pela Universi-


dade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestranda do Programa
de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano pela Universi-
dade de Passo Fundo (UPF). Bolsista Capes/Fapergs

272
Franciele Gianchini Esmerio. Enfermeira, graduada pelo
Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, Fundação Uni-
versitaria de Cardilogia. Especialista em Cardiologia.

Gerson Luis Urnau. Médico. Graduado pela Universidade de


Passo Fundo (UPF). Especialista em Cardiologia e em Medicina
Interna pelo Hospital São Vicente de Paulo. Docente da Universi-
dade de Passo Fundo. Mestrando do Programa de Pós-graduação
em Envelhecimento Humano da UPF.

Helenice de Moura Scortegagna. Enfermeira. Graduada


pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Mestre e doutora
em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina/
UFSC. Gerontóloga pela Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia-SBGG. Docente do Programa de Pós-Graduação
Mestrado em Envelhecimento Humano da Universidade de
Passo Fundo.

Jaqueline Stürmer. Nutricionista, graduada pela Uiversidade


de Cruz Alta (Unicruz). Atua na Secretaria Municipal de Saúde
de Marau/RS. Mestranda do programa de Pós-Graduação em
Envelhecimento Humano da UPF. Bolsista Taxa/Capes.

Julia Pancotte. Fisioterapeuta, graduada pela Universidade de


Passo Fundo (UPF). Mestranda no Programa de Pós-Graduação
em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo.
Bolsista Prosup/Capes.

Jocasta Gabriela Gehlen. Nutricionista, graduada pela Uni-


versidade de Passo Fundo (UPF).

Lauana D’Avila Eidelwein. Esteticista e cosmetóloga, graduada


pelo Centro Universitário Univates. Especialista em Estética pela
Universidade Estácio de Sá. Mestranda do Programa de Pós-
273
-Graduação em Envelhecimento Humano pela Universidade de
Passo Fundo (UPF).

Lia Mara Wibelinger. Fisioterapeuta, graduada pela Univer-


sidade de Cruz Alta. Especialista em Saúde Pública pela Uni-
versidade de Ribeirão Preto. Mestre e doutora em Gerontologia
Biomédica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUCRS). Docente colaboradora do Programa de Pós
Graduação de Envelhecimento Humano da Universidade de
Passo Fundo.

Lili Wilke Klaesener. Enfermeira, graduada pela Universidade


Regional Integrada de Erechim (URI). Mestrando do Programa
de Pós-graduação em Envelhecimento Humano pela Universi-
dade de Passo Fundo (UPF).

Luana Ferrão. Enfermeira, graduada pela Universidade de


Passo Fundo (UPF). Enfermeira no Serviço de radioterapia do
Hospital São Vicente de Paulo - Passo Fundo. Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano pela
Universidade de Passo Fundo.

Luciano Luis Alt. Médico, graduado pela Universidade Federal


de Rio Grande (FURG). Especialista em Medicina Interna pela
Santa Casa de Rio Grande/RS. Especialista em Oncologia Clínica
pelo Hospital Erasto Gartner/PR. Docente da Universidade de
Passo Fundo. Mestrando do Programa de Pós-graduação em
Envelhecimento Humano da UPF.

Luiz Antonio Bettinelli. Enfermeiro, graduado pela Universi-


dade de Caxias do Sul. Mestre em Enfermagem pela Universi-
dade de Federal de Santa Catarina. Pós-doutor em Enfermagem
pela Universidade de Federal de Santa Catarina. Docente do
Instituto de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação
em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo.
274
Luma Zanatta de Oliveira. Fisioterapeuta, graduada pela
Universidade de Passo Fundo. Mestranda do Programa de Pós-
-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de
Passo Fundo. Bolsista-pesquisadora PROSUP/CAPES.

Maria Cristina Zanchim. Nutricionista, graduada pela Uni-


versidade de Passo Fundo (UPF). Especialista em Nutrição
Clínica, Metabolismo, Prática e Terapia Nutricional pela Uni-
versidade Gama Filho (RJ). Nutricionista Clínica, preceptora da
Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso, membro da
Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional do Hospital São
Vicente de Paulo de Passo Fundo. Mestranda no Programa de
Pós-graduação em Envelhecimento Humano pela Universidade
de Passo Fundo. Bolsista Taxa/Capes.

Marilene Rodrigues Portella. Enfermeira, graduada pela Uni-


versidade de Passo Fundo. Mestre e doutora em Enfermagem
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente
do programa da Pós-Graduação Mestrado em Envelhecimento
Humano da Universidade de Passo Fundo. Membro da Socie-
dade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Líder do Grupo de
Pesquisa Vivencer UPF/CNPq.

Marcelo Biazus. Fisioterapeuta, graduado pela Universidade de


Passo Fundo (UPF). Formação em Pilates pelo Instituto Korpus.
Mestrando em Envelhecimento Humano pela Universidade de
Passo Fundo. Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade
de Passo Fundo. Bolsista Taxa/Capes.

Marlene Doring. Enfermeira, graduada pela Universidade de


Passo Fundo (UPF). Mestre e doutora em Saúde Pública pela
Universidade São Paulo. Docente do curso de Enfermagem e do
Programa de Pós Graduação em Envelhecimento Humano da
Universidade de Passo Fundo.

275
Márcia Mello. Graduada em Estética Capilar pela Universida-
de Luterana do Brasil – ULBRA.
Pós-Graduada em Estética
e Cosmetologia pelo Instituto Superior de Ensino, Pesquisa e
Extensão – ISEPE.

Nadir Antonio Pichler. Filósofo, graduado pela Fundação Edu-


cacional de Brusque. Mestre em Filosofia pela Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Doutor em Filosofia pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-
-RS). Docente do Programa de Pós-Graduação Mestrado em
Envelhecimento Humano da UPF.

Pablo Pasqualotti. Bacharel em Quiropraxia pela Universidade


Feevale (FEEVALE). Mestrando do Programa de Pós-Gradu-
ação em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo
Fundo (UPF). Bolsista Capes/Fapergs

Patrícia De Carli Tonial. Nutricionista, graduada pela Uni-


versidade de Santa Cruz do Sul. Pós-graduada em Nutrição
Clínica- Fundamentos Metabólicos e Nutricionais - pela Univer-
sidade Gama Filho do Rio de Janeiro. Especialista em Terapia
Nutricional Parenteral e Enteral pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Mestranda do Programa de
Pós-graduação em Envelhecimento Humano pela Universidade
de Passo Fundo.

Régis Brum Nunes. Fisioterapeuta, graduado pelo Instituto


Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo - IESA. Pós-
graduado em Terapia Manual pelo Instituto Cenecista de Ensino
Superior de Santo Ângelo- IESA. Mestrando do Programa de
Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade
de Passo Fundo-RS (UPF).

Silvana Alba Scortegagna. Psicóloga, graduada pela Univer-


sidade de Passo Fundo (UPF-RS). Doutora em Psicologia pela
Universidade São Francisco (USF-SP). Mestre em Educação
276
(UPF-RS). Especialista em Diagnóstico Psicológico (PUC-RS).
Docente do Curso de Psicologia (UPF-RS), do Programa de Pós-
graduação Mestrado em Envelhecimento Humano (UPF-RS)
e do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração
(UPF-RS). Líder do Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas
e da Saúde UPF/CNPq. Membro do GT de Métodos Projetivos
nos Contextos da Avaliação Psicológica da Associação Nacional
de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia ANPEPP.

Sinara Guzzo Chioquetta. Farmaceutica, graduada pela Uni-


versidade Católica de Pelotas. Especialista em Gestão de Labo-
ratórios Clínicos pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas.
Responsável técnica e diretora do laboratório do Hospital da
Cidade Passo Fundo, Passo Fundo/RS. Preceptora do Programa
de Residência Multiprofissional do Hospital da Cidade de Passo
Fundo. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Envelhe-
cimento Humano da UPF.

Susan Vargas Parizzi. Educadora física, graduada pela Univer-


sidade de Passo Fundo e pós-graduada em Fisiologia do Exercício
- Prescrição do Exercício pela Universidade Gama Filho. Sócia e
proprietária da Corpus Sanus Academia, Passo Fundo.

Tânia Rosane Bertoldo Benedetti. Educadora física, graduada


pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestrado
em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal
de Santa Catarina e pós doutorado pela University of Illinois at
Urbana-Champaign EUA (2011). Docente associada da Uni-
versidade Federal de Santa Catarina.

Vanderléia Menegali Moojen Berti. Educadora física, gradua-


da pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Especialista em
Atividade Física Adaptada e Saúde pela UGF-RJ. Especialida-
de em Dança nas modalidades de Ballet Clássico, Jazz e Street
Dance. Sócia-proprietária da Academia Léia Berti Arte e Saúde,
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de Veranópolis - RS. Integrante do grupo de pesquisa no projeto
Veranópolis Estudos da Longevidade.

Vandressa Bristot. Nutricionista, graduada pela Universidade


de Passo Fundo - UPF. Nutricionista da Fundação Beneficente
Lucas Araujo Passo Fundo/RS. Mestranda no Programa de Pós-
-Graduação em Envelhecimento Humano pela Universidade de
Passo Fundo, bolsista Taxa/Capes.

Vanessa Ramos Kirsten. Nutricionista, graduada pelo Centro


Universitário Franciscano (UNIFRA). Especialista em Nutrição
Clínica pela Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS).
Mestre em Medicina e Ciências da Saúde pela Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutora
pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do
Adolescente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Docente do Curso de Nutrição da Universidade
Federal de Santa Maria (CESNORS - Palmeira das Missões).

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www.meritos.com.br

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