UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
1.3.5. NOÇÕES DE TRIGONOMETRIA ESFÉRICA
A Trigonometria nasceu entre gregos em 300 aC visando resolver problemas de
Astronomia Pura. As primeiras aplicações práticas ocorrem com Ptolemaios 150 dC, em estudos
astronômicos e determinação da latitude e longitude de cidades e de outros pontos geográficos de
interesse em seus mapas. As aplicações da Trigonometria Esférica até 1.600 dC foram
fundamentalmente na Astrono- mia, Cartografia e Navegação Oceânica. Ainda hoje, a
Trigonometria Esférica é imprescindível ao estudo de Astronomia de Posição, Cartografia e da
Geodésia Elementar (ARANA, 2006).
A Trigonometria é a parte da Matemática que estuda as funções
trigonométricas e a resolução dos triângulos. Tem-se a Trigonometria Plana (estuda os triângulos
situados em uma superfície plana) e a Trigonometria Esférica (estuda a resolução dos triângulos
situados em uma superfície esférica).
1.3.5.1. Conceitos Básicos
Alguns conceitos básicos são importantes e aplicáveis na Trigonometria Esférica: entre
elesas unidades de medida e conversões, propriedades dos ângulos, etc.
1.3.5.1.1 Unidades de medidas de arcos e ângulos e conversões
- Grau (°): arco que mede 1/360 da circunferência. As subunidades do grau são o
minuto de arco (1/60 do grau) e o segundo de arco (1/60 do minuto). Os segundos são
subdivididos em decimais.
- Grado (gr): arco que mede 1/400 da circunferência. Seus submúltiplos são decimais.
- Radiano (rad): arco cujo comprimento é igual ao raio da circunferência (rad). O
radiano subdivide-se em submúltiplos decimais.
Nas conversões de unidades, valem as relações: 180° = 200 gr = 24 h = π rad.
Sendo π = 3,14159265358979 rad, tem-se que 1” é igual a 0,0000048481 rad, e também
que sen 1” = 0, 0000048481. Os valores citados são usados na transformação angular de segundo
de arco para radiano (basta multiplicar por sen 1”, ou, efetuando o arredondamento, dividir por
206.000. Para transformar pequenas quantidades (valores absolutos) de radiano para segundo de
arco, multiplica-se por 206.000.
1.3.5.1.2 Propriedades dos arcos e ângulos
Sendo “a” um valor angular, são válidas as seguintes relações entre funções circulares:
sen2 a + cos2 a = 1 tg a = sen a / cos a sec a = 1 / cos a
cotg a = tg-1 a = cos a / sen a cossec a = 1 / sen a (1.9)
Diz-se que dois arcos de mesma origem têm extremidades associadas quando estas
sãosimétricas em relação ao centro, ou a um dos eixos. Tem-se:
- complemento b = 90° – a - suplemento b = 180° – a
- explemento b = 180° + a - replemento b = 360° – a (1.10)
16
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
No caso de arcos respectivos, tem-se as igualdades trigonométricas dadas por (1.11)
(extraído de ARANA,2006):
complemento suplemento explemento replemento
sen (90° - a) = cos a sen (180° - a) = sen a sen (180° + a) = - sen a sen (360° - a) = - sen a
cos (90° - a) = sen a cos (180° - a) = - cos a cos (180° + a) = - cos a cos (360°- a) = cos a
tg (90°- a) = cotg a tg (180° - a) = - tg a tg (180° + a) = - tg a tg (360° - a) = - tg a
cotg (90° - a) = tg a cotg (180° - a) = -cotg a cotg (180° + a) = cotg a cotg (360°- a) = - cotg a
sec (90° - a) = cossec a sec (180° - a) = - sec a sec (180° + a) = - sec a sec (360°- a) = sen a
cossec (90°- a) = sec a cossec(180°- a) = cossec a cossec(180°+ a)= -cossec a cossec(360°- a) = -cossec a
1.3.5.2. Triângulo Esférico. Excesso Esférico
Chama-se polígono esférico a porção da superfície esférica limitada exclusivamente por
arcos de circunferência máxima. Ângulo esférico é a figura formada por dois arcos de círculos
máximos traçado por um mesmo ponto da esfera denominado vértice do ângulo. A medida de um
ângulo esférico é dada pelo ângulo plano formado pelas tangentes dos lados dos ângulos e
traçadas pelo vértice do ângulo.
1.3.5.2.1 Triângulo Esférico
Um triângulo esférico (euleriano) é a porção da superfície esférica limitada por três
arcos de circunferência máxima, menores que 180°. Ou seja, é a figura formada por meio de três
arcos de círculos máximos que ligam dois a dois, três pontos de uma esfera. Os três lados que
unem os 3 vértices são normalmente designados pelas letras minúsculas a, b c. Os 3 ângulos
formados no vértice do triângulo são representados por letras maiúsculas A, B, C. A resolução de
um triângulo esférico implica em determinar três de seus elementos sendo conhecidos os demais
três elementos.
Um triângulo esférico pode ter 1, 2 ou 3 ângulos retos, sendo então retângulo, birretângulo
outrirretângulo.
Figura 1.12 - Esfera e Triângulo esférico - Fonte: SANTIAGO, 2020
Não é qualquer figura de três vértices desenhada sobre uma esfera que define um
triângulo esférico, ou seja, seus lados devem ser arcos de grande círculo. Nos triângulos
17
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
esféricos, tanto seus ângulos quanto os seus lados são medidos em unidades angulares.
Figura 1.13 - Triângulo esférico
Os lados do triângulo esférico são medidos pelos ângulos planos das faces do diedro,
assim, o ângulo AÔC mede o lado b. Já o ângulo CÂB mede o vértice A (figura anterior).
Os triângulos esféricos possuem algumas propriedades:
a. A soma dos ângulos de um triângulo esférico está compreendido entre 180° e 540°,
o u s e j a , 180°< A + B + C < 540°.
b. A soma dos lados do triângulo esférico é sempre menor que 360° → (a + b + c < 360°).
c. Um lado sempre é menor que a soma dos outros dois lados e maior que a diferença
dos mesmos. Assim: a < b + c e a > b – c.
d. Ao lado maior de um triângulo esférico se opõe ao ângulo maior.
e. Para lados iguais se opõe ângulos iguais.
f. A soma de 180° a um ângulo do triângulo esférico é maior que a soma dos outros
dois ângulos A + 180° > B + C.
g. Todo triângulo esférico trirretângulo é trirretilátero e vice-versa. A = B = C = 90° ,
implica afirmar que a = b = c = 90°.
h. Um triângulo esférico é determinado quando são conhecidos dois lados e o ângulo
compreendido, ou dois ângulos e o lado adjacente, ou os três ângulos ou os três lados.
i. Dois triângulos esféricos são polares quando os vértices do primeiro são os pólos dos
lados homônimos do outro, e reciprocamente. Daí decorre a seguinte relação entre os triângulos
polares: “os lados de um triângulo esférico polar são suplementos dos ângulos do triângulo dado,
e seus ângulos são os suplementos dos lados do triângulo dado”.
Figura 1.14 - Triângulos polares
18
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
Polar – é o lugar geométrico dos pontos da superfície esférica que distam 90° dos polos.
Como decorrência da relação anterior tem-se:
A + a’ = 180° ; B + b’ = 180°; C + c’ = 180°
a + A’ = 180° ; b + B’ = 180°; c + C’ = 180°
1.3.5.2.2 Excesso Esférico e àrea do Triângulo Esférico
A soma dos ângulos de um triângulo esférico ultrapassa 180°. O que excede de 180° é
chamado de excesso esférico ε, que pode ser calculado pela expressão (1.12).
ε = A + B + C – 180° (1.12)
O excesso esférico, pode ser calculado em função dos lados (Fórmula de L’Huillier):
(1.13)
A área S do triângulo esférico, determinada a partir de seu excesso esférico (R é o raio da esfera):
(1.14)
A expressão anterior define o Teorema de Girard, (ou S= (A+B+C ̶ π).R , com ângulos 2
em radianos), que denota que a área de um triangulo esférico é proporcional ao seu excesso
esférico.
1.3.5.3. Fórmulas fundamentais
A seguir serão apresentadas as fórmulas fundamentais de suporte à Trigonometria
Esférica. Seja a figura abaixo:
Figura 1.15 - Figura básica para dedução de fórmulas - Fonte: Adaptado de Santiago, 2020
Na figura anterior tem-se o triângulo esférico de vértices ABC, e lados a, b, c. O lado b é
um arco de círculo máximo que mede o ângulo entre os segmentos de reta OA e OC e assim
sucessivamente, sendo O centro da esfera. O lado b é oposto ao ângulo B, o qual mede a
19
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
separação entre os planos OBA e OBC.
A reta perpendicular ao plano OBC e que passa pelo vértice A do triângulo da figura 1.15
é representada pelo segmento AP. A partir do ponto P, traça-se a reta PM perpendicular ao
segmento OB, e a reta PN perpendicular a segmento OC. Ou seja, o ponto P é a projeção do
vértice A sobre o plano xOy e M e N são as projeções de P sobre os segmentos de reta OB e OC
respectivamente. Desta forma ficam definidos vários triângulos planos retângulos: APM, APN,
OMP, ONP, OMA, ONA e OPA. Para cada um destes triângulos, o ângulo reto está situado no
vértice no meio do nome do triângulo (por ex: o triângulo APM é reto no vértice em P). Isto
permite a dedução das fórmulas seguintes.
1.3.5.3.1 Analogia dos senos.
Considerando os triângulos retângulos APM e OMA, com o lado comum AM, escreve-se:
AM = OA sen c = AP / sen B (o ângulo A^MP é o mesmo do vértice B)
Considerando os triângulos ONA e APN que tem como lado comum AN, escreve-se:
AN = OA sen b = AP / sen C (o ângulo A^NP é o mesmo do vértice C)
Assim:
AP / OA = sen c sen B = sen b sen C, donde resulta que:
sen b / sen B = sen c / sen C
Analogamente, esta igualdade vale para a razão sen a / sen A. Tem-se a analogia dos
senos, que relaciona dois lados e dois ângulos opostos. Seu enunciado é “em todo triângulo
esférico os senos dos lados são proporcionais aos senos dos ângulos opostos”. A Lei dos Senos
também é conhecida como lei de al-Biruni.
sen a = sen b = sen c
sen A sen B sen C (1.15)
1.3.5.3.2 Fórmula dos 4 elementos
Chamada de Lei dos cossenos da Trigonometria Esférica, este grupo de fórmulas
relaciona três lados e um ângulo do triângulo esférico (fórmula dos lados). A fórmula dos 4
elementos para triângulos esféricos é a mais importante para resolução destes triângulos, e por
meio dela pode-se determinar os seis elementos de um triângulo: 3 lados e os 3 ângulos internos.
Para o triângulo ONA, o ângulo com vértice em O deste triângulo mede a separação entre
o cateto ON e a hipotenusa OA, que nada mais é que o lado b do triângulo esférico. Assim:
cos b = ON / OA ; sen b = AN / OA
Para o triângulo OMA, também de hipotenusa OA, tem-se:
cos c = OM / OA ; sen c = AM / OA
Considerando os triângulos OMP e ONP com hipotenusa dada por OP e os ângulos α e β
no vértice O, tem-se:
20
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
cos α = OM / OP ; cos β = ON / OP
Decorre que OM = OP cos α. Substitui-se esta igualdade na expressão cos c = OM / OA e
sabendo que α + β = a, tem-se:
OM = OA cos c = OP cos (a‒β) = OP (cos a cos β + sen a sen β)
Substituindo as expressões que envolvem ângulos α e β, tem-se:
OA cos c = OP (cos a ON/OP + sen a NP/OP)=ON cos a + NP sen a. Mas ON = OA cos b
OA cos c = OA cos b cos a + NP sen a (*)
A partir do triângulo APN, tem-se (lembrando que AN = OA sen b e considerando o fato
de que o ângulo do triângulo APN com vértice em N é o mesmo ângulo C do triângulo esférico):
NP = AN cos N = AN cos C = OA sen b cos C
Substituindo a expressão obtida para NP na expressão (*) tem-se:
OA cos c = OA cos b cos a + NP sen a = OA cos b cos a + OA sen b cos C sen a
cos c = cos a cos b + sen a sen b cos C
Observe que o lado envolvido no 1º. membro da expressão anterior associa-se ao ângulo
no final da fórmula (c e C). Analogamente são escritas as demais expressões:
cos a = cos b cos c + sen b sen c cos A
cos b = cos a cos c + sen a sen c cos B
cos c = cos a cos b + sen a sen b cos C (1.16)
As expressões da Lei dos Cossenos da Trigonometria Esférica tem como enunciado: “O
cosseno de um lado é igual ao produto do cosseno dos outros dois lados mais o produto dos
senos dos mesmos lados pelo cosseno do ângulo por eles formado” (conhecida lei de al-Battani).
A fórmula dos 4 elementos também pode ser aplicada a ângulos e resulta:
cos A = ‒ cos B cos C + sen B sen C cos a
cos B = ‒ cos A cos C + sen A sen C cos b
cos C = ‒ cos A cos B + sen A sen B cos c (1.17)
As expressões anteriores relacionam 3 ângulos e um lado, e podem ser deduzidas a partir
das 3 expressões da fórmula dos 4 elementos para os lados aplicada para triângulos polares (lados
a´ b´ c´ e ângulos A´ B´ C´) e as igualdades dos triângulos polares (por ex: A + a’ = 180° ; a + A’
= 180° ). Para triângulos polares, tem-se por ex: cos A´ = ‒ cos B´ cos C´ + sen B´ sen C´ cos a
Ex. de aplicação: Dados A =60°, b =30° e c =60°, determine o lado e ângulos restantes.
cos a = cos30° cos60° + sen30° sen60° cos60° = 0,649519053 → a = 49°29'41"
cos c = cos a cos b + sen a sen b cos C→cos C = ‒0,164398988 → C = 99°27'44"
cos b = cos a cos c + sen a sen c cos B → cos B = 0,821 994 937 → B = 34° 42' 54".
21
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
As fórmulas dos 4 elementos (dos cossenos), a analogia dos senos, a fórmula das
cotangentes são também conhecidas como fórmulas de Bessel.
1.3.5.4. Fórmula das Cotangentes. Fórmula dos 5 elementos
A fórmula das cotangentes relaciona 2 lados e 2 ângulos do triângulo esférico.
cotg A sen B = cotg a sen c ‒ cos c cos B
cotg B sen C = cotg b sen a ‒ cos a cos C
cotg C sen A = cotg c sen b ‒ cos b cos A
cotg A sen C = cotg a sen b ‒ cos b cos C
cotg B sen A = cotg b sen c ‒ cos c cos A
cotg C sen B = cotg c sen a ‒ cos a cos B (1.18)
A fórmula dos 5 elementos relaciona 3 lados e 2 ângulos do triângulo esférico.
sen b cos A = cos a sen c ‒ sen a cos c cos B
sen c cos B = cos b sen a ‒ sen b cos a cos C
sen a cos C = cos c sen b ‒ sen c cos b cos A
sen b cos C = cos c sen a ‒ sen c cos a cos B
sen c cos A = cos a sen b ‒ sen a cos b cos C
sen a cos B = cos b sen c – sen b cos c cos A (1.19)
1.3.5.5. Fórmulas de Borda
Este grupo de fórmulas envolve as expressões com seno e cosseno. As expressões
envolvendo a tangente são conhecidas como Fórmulas do Marinheiro. (Fórmulas 1.20)
22
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
1.3.5.6 Analogias de Delambre e de Nepper
As Analogias de Delambre, também conhecidas como Equações de Gauss, são
muito usadas como fórmulas de verificação. Envolvem os 6 elementos do triângulo e conduzem a
uma identidade quando os elementos obtidos pelo cálculo são corretos (ARANA, 2006).
Quadro 1 – Analogias de Delambre e as de Neper (Fórmulas 1.21).
1.3.5.7. Triângulo esférico retângulo. Regra de Mauduit
Um triângulo esférico é retângulo caso possua pelo menos um ângulo reto. É
retilátero se apresentar pelo menos um lado de 90°.
Considerando A=90°, algumas das fórmulas de Bessel vistas anteriormente resultam:
cos a = cos b . cos c + sen b . sen c . cos A → cos a = cos b . cos c
sen a = sen b → sen b = sen a . sen B
sen A sen B
23
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
cot a. sen b = cos b . cos C + sen C . cot A
cot a. sen b = cos b.cos C→ cot a = cos b.cos C→cot a = cotg b.cos C→ cos C = cot a . tg b
sen b
Para resolver estes triângulos, há uma regra mnemônica denominada Regra de Mauduit.
Nesta regra tem-se que o cosseno do elemento médio é igual ao produto das cotangentes dos
elementos conjuntos (adjacentes) ou produto dos senos dos elementos separados (opostos).
Cos = cotg cotg = sen sen ou Cos = co co = se se
Figura 1.16 - Triângulo retângulo
O elemento médio é escolhido aleatoriamente (exceto o ângulo reto) e que é base para
definição dos conjuntos e separados.
Para aplicação da regra de Mauduit, existem as seguintes considerações (ARANA, 2006):
a) admitindo-se a como elemento médio (pode-se escolher qualquer outro elemento do
triângulo, exceto o ângulo reto), seus elementos conjuntos serão os ângulos B e C, e seus
elementos separados serão b e c;
b) para o elemento reto no triângulo, não se aplica a regra. Se admitirmos b como
elemento médio, seus conjuntos serão C e c;
c) não se adota o valor angular dos catetos, mas seus complementos: Se A for o ângulo
reto, usaremos (90° – c) e não c; (90°–b) e não b. A hipotenusa é tomada em verdadeira grandeza.
Figura 1.17 - Regra de Mauduit - Ângulo reto
Tem-se por exemplo:Cos a = cot B . cot C
Cos (90°‒ c) = cot B . cot (90°‒ b) → sen c = cot B . tg b → tg b = sen c . tg B
24
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
Cos a = sen (90°‒ b) . sen (90°‒ c)→cos a = cos b . cos c
Cos (90°‒ b) = sen a . sen B → sen b = sen a . sen B
Cos C = sen (90°‒ c) . sen B → cos C = cos c . sen B
Cos (90°‒ b) = cotg C . cotg (90°‒ c) → sen b = cotg C . tg c
Para o caso de um triângulo esférico retilátero (possui pelo menos um lado igual a 90°):
Figura 1.18 - Triângulo Retilátero
Fórmulas fundamentais são obtidas com as devidas substituições considerando o lado reto.
Para a resolução do triângulo esférico retilátero utilizando da Regra de Mauduit,
procede-se da seguinte maneira:
a) Nas propriedades de triângulos polares, nota-se que um triângulo polar ao triângulo
retilátero será um triângulo retângulo.
b) Usando propriedades de triângulos polares,define-se o triângulo polar ao triângulo dado.
c) Por Mauduit, resolve-se o triângulo polar (definido pelas propriedades polares);
d) Resolvido o triângulo polar (pela regra de Mauduit), novamente com as propiredades
dos triângulos poalres, calcula-se o triângulo dado.
Sendo a=90º, considera-se o ângulo oposto como (180°‒ A), os lados com b e c; e no lugar dos
ângulos B e C adota-se seus complementos (90°‒ B) e (90°‒ C) (vide figura 1.19).
Figura 1.19 - Regra de Mauduit - Lado reto
25
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
Algumas expressões: cos c = sen b . sen (90°‒C) → cos c = sen b . cos C
Cos (180°‒A) = cot b . cot c → ‒ cos A = cot b . cot c → cos A = ‒ cot b . cot c
Cos b = sen c . sen (90°‒B) → cos b = sen c . cos B
Cos b = cot (180°‒A) . cot (90°‒C) → cos b = ‒ cot A . tg C → tg C = ‒ tg A . cos b
Cos (90°‒C) = sen (180°‒A) . sen c → sen C = sen c . sen A
Exercício de aplicação
Havana tem coordenadas geográficas: latitude 23°07´N e longitude 82°22´W. Glasgow
na Escócia, tem latitude 55°51´N e longitude 4°15´W. Determine a distância entre elas.
Figura 1.20 - Distancia entre cidades por coordenadas geográficas - Adaptado de NADAL,1998
Considerando o vértice A do triângulo esférico que coincide com o pólo Norte, e
dispondo das latitudes e longitudes dos pontos B e C, pode-se determinar os valores dos
lados b e c e do ângulo A do triângulo esférico ABC. O arco AD mede 90° e o arco BD tem
latitude 55°51´N, entãoo lado c mede c = 90°‒55°51´ = 34°09´. Por raciocínio semelhante tem-se
b = 90°‒23°07´ = 66°53´. O arco DE define o ângulo A, que para ser calculado, basta fazer a
diferença entre as longitudes, ou seja, A = ‒4°15´ ‒ (‒82°22´) = 78°07´. Aplicando na fórmula
dos 4 elementos:
cos a = cos b cos c + sen b sen c cos A e substituindo tem-se:
cos a = cos (66°53´) . cos (34°09´) + sen (66°53´) . sen (34°09´) . cos (78°07´)
cos a = (0,392604665 . 0,827570769) + (0,919707332 . 0,561361400 . 0,20591954)
cos a = 0,324908144 + 0,106313828 = 0,431221972
a = arcos (0,431221972) →a = 64,454865°
Considerando o Raio da Terra como R = 6.371 km, aplica-se a regra de 3
simples:360 ° ‒ 2·π.R
64,454865° ‒ x que resulta a distância de aproximadamente de 7.167,054 km.
26
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
1.3.5.8. Exercícios
1. Calcular a área de um triângulo esférico trirretilátero que foi desenhado sobre uma
esferade raio de 20 m. Resp: S=628,32m2
2. Calcular a distância esférica entre Curitiba e Calcutá na Índia e também o azimute
esférico inicial entre ambas. As coordenadas geográficas são: Curitiba: =2526´52”S e
=4913´50”W; Calcutá: =2233´25”N e =8820´12”E.Resp: d=15711 km e A=8505´32”
3. Sendo dados de um triângulo esférico A = 60°, b = 30° e c = 60°, achar o lado e
ângulos restantes. Resp: a = 49° 29' 41", C = 99° 27' 44", B = 34° 42' 54".
4. Resolver o triângulo esférico retângulo em A, sendo a=75°28’52” e b = 67°56’28”.
5. Resolver o triângulo esférico retilátero: c = 90°00’00”; a = 55°55’55”, B = 77°56’00”.
6. Resolver o triângulo esférico de lados a =52°05’50”; b = 66°06’10”; c = 68°13’00”.
7. Resolver o triângulo esférico, dados: A = 110°30´20”; B = 130°40’10”; C = 100°20’50”.
Respostas:4)c=48°07'22", C=50°16'36", B=73°12'38"; 5)b=80°01'40", A=55°20'07",
C=96°49' 43"; 6)A=56°52'16",B =76°00'39",C=80°14'41"; 7)a =108°12'58", b=129°43'02",
c=86°04'17”.
1.4. Aplicações da Geodésia
Dentre as aplicações práticas da Geodésia, tem-se o levantamento de pontos de apoio à
fotogrametria por meio de poligonais geodésicas. Com o avanço das tecnologias de mapeamento,
algumas aplicações têm sido substituídas ou adequadas à atualidade.
Dentre inúmeras aplicações geodésicas, pode-se enumerar algumas:
a) atividades de mapeamento, no estabelecimento de pontos de controle horizontal e
vertical;
b) gerenciamento urbano, em atividades de documentação;
c) projetos de engenharia, como no caso da construção de barragens, pontes, etc, com o
monitoramento dos movimentos horizontais e verticais em grandes estruturas;
d) demarcação de limites municipais, estaduais e internacionais, os quais necessitam de
uma rede de pontos geodésicos com coordenadas conhecidas;
e) ecologia, por exemplo na detecção e monitoramento de movimentos ocorridos pela
extração de água, óleo e minerais do subsolo, ação do homem no meio ambiente, etc;
f) gerenciamento ambiental, sendo que os sistemas de informação para transportes, uso
do solo, comunicações, serviços sociais, etc, baseiam-se em lotes ou unidades de
terreno, cujas localizações devem estar referenciadas a uma rede geodésica;
g) hidrografia, no que se refere à técnicas de posicionamento, determinação da
profundidade da água (batimetria);
h) oceanografia, com uso de marégrafos, além de envolver a dinâmica da superfície do
mar e desvios sofridos entre a superfície média do mar e a equipotencial do campo de
gravidade da Terra e informações necessárias na definição do datum vertical. Estuda o
movimento da linha costeira e posicionamento de objetos marinhos (navios, blocos de
gelo, etc), e fornece aos oceanógrafos a altitude relativa nos marégrafos e respectivos
movimentos verticais.
27
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
i) tectônica de placas e geodinâmica;
j) geofísica: ciência com grande afinidade com a Geodésia. Informações geométricas de
pontos devido à variação temporal da Terra (geodinâmica), monitoração de
movimentação tectônica. Variações temporais do campo de gravidade fornecem
dados sobre os movimentos verticais da crosta, atualmente estudados no contexto da
Geodinâmica. A Geofísica, por sua vez, explica a reação física da Terra sob a ação de forças,
as variações de densidade no seu interior e os efeitos da estrutura interna nos seus
movimentos. Essas informações são necessárias na escolha de modelos matemáticos de
interesse geodésico;
k) geologia, nas atividades de mapeamento geológico incluindo a morfologia e
estabilidadede diferentes formações geológicas;
l) astronomia, sendo entre outras o monitoramento constante do movimento do eixo
derotação terrestre. A Geodésia interage com a Astronomia desde o seu nascimento;
m) ciências espaciais: foco no posicionamento de estações rastreadoras permanentes e
posicionamento através de satélites artificiais;
n) outras: agricultura de precisão, estudos atmosféricos, etc.
Considerando a interação da Geodésia com outras ciências, tem-se a figura ilustrativa de
Vanicek (1986).
Figura 1.21 – A Geodésia e outras disciplinas. Fonte (VANICEK, 1986). Disponível em:
https://www2.unb.ca/gge/Personnel/Vanicek/ Geodesy_chapter.pdf
Referências Bibliográficas
ABREU, S.M., OTTONI, J.E. Geometria Esférica e Trigonometria Esférica aplicadas a Astronomia de
Posição. Trabalho de Conclusão de Curso do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional
PROFMAT Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ / Campus Alto Paraopeba - CAP Sociedade
Brasileira de Matemática - SBM. 2015. Disponível em: https://www.ufsj.edu.br/portal2-
repositorio/File/profmat/TCC%20Shyrlene%20Martins%20de%20Abreu%20Versao%20Final.pdf
28
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – IGEO – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia
Disciplina: GEO 05071 – Fundamentos de Geodésia - Professor: Gilberto Gagg
Apostila
ARANA, J. M., Trigonometria Esférica: Notas de Aula. FCT - Faculdade de Ciências e Tecnologia -
UNESP - Presidente Prudente. 40p. 2006.
BOMFORD. G., Geodesy, Oxford, Clarendon Press, 1980.
FEATHERSTONE, W.E.; RÜEGER, J. M. The Importance of Using Deviations of the Vertical for the
Reduction of Survey Data to a Geocentric Datum. The Australian Surveyor, vol. 45, n.2, p. 46-61. dec
2000.
GEMAEL, C. Introdução à Geodésia Geométrica 1ª. Parte, UFPR, 1987.
GEMAEL, C. Introdução à Geodésia Geométrica 2ª. Parte, UFPR, 1988.
IBGE, 2007. IBGE registra efeitos do aquecimento global na costa brasileira. Agência de Notícias.
Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/ agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/13318-asi-ibge-registra-efeitos-do-aquecimento-global-na-costa-brasileira.
LARSON, K.M. Geodesy. In: PARKINSON, B.W.; SPILKER JUNIOR, J.J. (Ed.) Global Positioning
System:Theory and Applications. American Institute of Aeronautics and Astronautics Inc, 1996. v.163,
p.539-557.
NADAL, C. A., Introdução à trigonometria Esférica – Aplicações na Astronomia e na Cartografia.
UFPR/Setor de Tecnologia – Departamento de Geociências. Curitiba. 1998.
OLIVEIRA, C., “DICIONARIO DE CARTOGRAFIA” IBGE.
SÁ, N. C., Elementos de Geodésia, USP. 2000.
SANTIAGO, B., UFRGS, 2020. Disponível em:
https://www.if.ufrgs.br/oei/santiago/fis2005/textos/esferast.htm
SEEBER, G., Satellite Geodesy: foundations, methods, and applications, 1993.
TORGE, W., Geodesy, Berlin, 1991.
VANICEK, P., KRAKIWSKY, E., Geodesy: The Concepts, Amsterdam, 1986.
ZANETTI, M.A.Z., FREITAS, S.R.C., VEIGA, L.A.K., Determinação do desvio da vertical, Revista
Brasileira de Cartografia No 60/04, dezembro 2008.
www.ibge.gov.br/seminario_referencial _geocêntrico,2006
http://astro.if.ufrgs.br/trigesf/trigesf.htm
https://www2.unb.ca/gge/Personnel/Vanicek/ Geodesy_chapter.pdf (Cap. 2).
29