0 notas0% acharam este documento útil (0 voto) 149 visualizações50 páginasCenografia - Anna Mantovani
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FRNGOS
Anna, Mantovani
CENOGRAFIA
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Areas deinteresse do-volume USE - BieLieyECA CON Jesu
¢ Arquitetura ¢ Ar
Outras treas da série
pologia * Artes © Ciéncias 7 ToHBO BOTH
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@Anna Mantovani
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Areas de interesse do- volume
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Outras treas, da série
Administracao ° A FonmD BOTH
} CaDirecdo
Benjamin Abdala Junior
‘Samira Youssef Campedelli
Preparacao de texto
‘Sergio Roberto Torres
Edigdo de arte (miolo)
‘Milton Takeda
Divina Rocha Corte
Composigao/Diagramacao em video
Eliana Aparecida Fernandes Santos
Rosa Hatsue Abe
Capa
Ary Normanha
Antonio Ubirajara Domiencio
Barroco
Na Inglaterra, o teatro elisabetano —_11
Influéncia do teatro a italiana no Brasil _______ 11
Cenografia hoje ___
O cendgrafo _ es 2
O termo cenografia. Pequeno hist6rico 1B
3. Nascem novas propostas... no fim do
século XIX
Os Meininger 19
Richard) Wagnets Ss Sidhe uae a TT
Antoine e Stanislavsky —____22
*
é
Sumario
1. Introdugao ——" SS
2. O lugar teatral. A cenografia _______ 7
Grécia. Roma, Idade Média __ 7
O Renascimento 8
| 9
i
{
Paul Fort 28
| Bijgnd: Poe MAES Saas li. Aa ir NETS)
ih Meyerhold 2D
| t 4, No século XX 29
ISBN 85 08 034490 Appia 30
Craig 31
Ballets Russos eee EEE
4989 Futurismo 36
Jodo 08 diraltos zsewades, " Expressionismo = 37
Editora Atica S.A, — Rua Bardo de \guape, 1
‘Tels (PABX) 278-9822 — Caixa Postal 8656 A Vanguarda Russa 39
End. Telegratico “Bomlivro” — So Paulo Bauhaus —__ 4Gropius. Schlemmer —_____ 4
Moholy-Nagy —______— 42
inne iigaeeenioea eee 44
5. Voltando ao lugar teatral —____ 46
presferielhaug © ee ee 49
Peter Behrens ea 49
Georg Fuchs — ea TT)
Jacques Copeaut ie OOS TS
Max Reinhardt SS
Ra aire seen meee SS
Fee ean ie irate ome ee anes ST
6. (A)pos 1945 63
Introdugao paeeebi
Fer panama Se
Brecht eee
Theo Otto 8
Nos Estados Unidos ee 69
‘Tones, Simonson e Bel Geddes ____. 69
fo) fearon gO
Living Theatre I 2
Outros grupos fh ita)
Pa ropa a ee
Peter Brook 16
Jerzy Grotowski —______——. 78
Josef Svoboda 81
Enquanto isso, no Brasil wares 22)
Santa Rosa aan IN 83
© Teatro Brasileiro de Comédia _______— 84
© Teatro de Arena _________— 84
O\Teatro Oficina === eee 85
Em cartaz,.. —___ die heciorhiched BB
7. Vocabulario critico 1
8. Bibliografia comentada —_______— 93
|
|
|
|
Introdugao
Vamos ao cinema, & pera, ao balé ¢ ao teatro, ou Os
assistimos na televisio, além de novelas, filmes publicitérios,
nusicais, videoclipes ¢ shows. Em todos encontramos um
tlemento que sempre faz parte do espetculo: a cenografia.
Entao, um espetaculo composto por virios elemen-
tos organizados e orquestrados de tal forma que o especta
dor possa aprecid-los no seu conjunto, Podemos dizer que
todo e qualquer tipo de espetéculo é 0 resultado de um tra-
alho coletivo.
No espetaculo teatral, em geral a equipe é composta
por varios profissionais especializados, O encenador ou dire
tor concebe © espeléculo como um todo (a partir do texto
dramitico a ser encenado ou de outra proposta sem uso do
texto), ditige 0 trabalho dos atores e coordena todo 0 gr
po. Os atores etiam as personagens, atuam. 0 cendgrafo
oria a cenografia, acompanha a exeeusdo dos ‘cendrios pelos
Smnotécnicos, pintores ou outros profissionais (como por exer.
plo 0s aderecistas, os que fazem os efeitos especiais ete.). ©
figurinista cria os figurinos e'acompanha a sua execuedo Pe-
Jas costureiras. O iluminador cria ¢ esquematiza a luz. pro.
gramador visual cria 0 catdlogo ¢ o cartaz do espetéculo. O
Sonoplasta eria o-som. © coredgrafo — ou outro profissio-
hal especializado em expressio corporal — cria ¢ coordena© movimento dos atores em cena, Existe, ainda, uma equi
pe administrativa e de producao, responsével pela divulga-
cao, pela compra de materiais e objetos necessirios, contra-
tos, pagamentos, enfim, que cuida da parte financeira,
Existem diretores que também so cendarafos ou criam
a iluminagao; ou cenégrafos que também fazem figurinos,
Ha muitos profissionais que atuam em reas ao mes-
mo tempo. De qualquer forma, o espeticulo & sempre fru-
to do trabalho coletivo.
A formacdo de uma equipe de trabalho depende da
Proposta e objetivos do espetdculo e até do dinheiro de que
& produedo dispde. Por isso, no ha regras: cada espetécu-
lo é nico na sua concepgao e resultado. Além disso, no ca-
so de Teatro, mesmo depois de pronto o trabalho, cada
apresentacdo é “diferente” da anterior, porque a relacao
cena/piiblico muda de acordo com este € com a disposigao
do ator, que, no sendo uma maquina, tem uma mancira
de se expressar em cada apresentagao.
A cenografia, 0 figurino, a luz e, de certa forma, o ator
so elementos visuais do espetéculo, A cenografia pode ser
considerada uma composicdo em um espaco tridimensional
— o lugar teatral, Utiliza-se de elementos basicos, como cor,
Juz, formas, volumes e linhas. Sendo uma composicao, tem
eso, tensdes, equilfbrio ou desequilfbrio, movimento e contrastes,
Nao podemos confundir cenografia com decoracdo. Ce-
nografia ¢ um elemento do espetdculo (teatral, cinematogré-
fico etc,), ¢ decoracdo é sindnimo de arquitetura de interiores.
Cada um dos espetdculos mencionados — cinema, épe-
ra, balé etc. — 6 diferente, tem proposta e objetivo diferen-
tes, possui uma linguagem especifica. Assim, como elemen-
10 desses espeticulos, a cenografia também tem propostas
€ objetivos adequados a cada espetaculo.
Aqui, vamos tratar especificamente da cenografia no
‘Teatro Dramético.
"0 termo Teatro se refere no universo teatral — desde a
© espetéculo. © termo teatro se refere ao edificio teatral
ramavurgia até
2
O lugar teatral.
A cenografia
Falamos que a cenografia é uma composigdo e um es-
pago tridimensional — o lugar teatral. Chamamos de lugar
teatral o lugar onde é apresentado o espetsculo teatral e on-
de se estabelece a relacdo cena/piiblico. Usamos o termo Iu-
gar teatral em vez de teatro, porque esi tltimo significa so-
mente o edificio teatral. Na verdade, 0 espetdiculo pode ser
apresentado em qualquer lugar, desde a praca a um lugar
alternative — um galpao, por exemplo —, e nao necessaria-
mente em um teatro institucionalizado, que é um lugar fi-
Xo na cidade, com uma fungdo sécio-cultural estabelecida,
dependendo da época e do pais.
ugar teatral é composto pelo lugar do espectador e
pelo lugar cénico — onde atua o ator e acontece a cena.
No teatro, o lugar cénico é 0 paleo, que, como edificio, mu-
da de uma época para outra e de um pais para outro,
Grécia. Roma. Idade Média
No inicio, as representagdes teatrais na Grécia eram
ao ar livre,.os primeiros teatros foram construfdos em ma:
deira.¢ sé no século V se passou a construi-los em pedraFram concéntricos e circulares. O Teatro tinha um cardter
religidso, e no edificio ndo havia divisdes para o puiblico
fem classes sociais. A estrutura era: orkh@stra, o circulo cen-
tral onde atuava 0 coro; Kéilon, lugar do espectador, um
anfiteatro em degrau que envolvia o circulo central; pros:
Kénion, lugar onde atuavam os atores, situado dentro
do circulo central; e-a skené, uma parede maior que o dia
‘metro do circulo central, com entradas e saidas para os alores.
(© teatro romano era diferente do grego. Era divi
por classe social, onde os melhores lugares eram reservados
para uns poucos privilegiados. O Teatro perde 0 carditer reli-
gi0so, porque para os romanos significava divertimento, ©
edificio era concéntrico e circular. Elimina-s¢ 0 cfrculo cen-
tral — que passa a ser um semiessule —} praticamente se
dispensa 0 coro; eo anfiteatro — lugar do espectador — acon
panha este formato hemicicliso, © proscénio se amplia, ¢ ©
muro correspondent skend envolve todo 0 edificio, Os tea-
tros eram grandiosos e ricamente decorados: 0 Teatro de
‘Marcello tinha 150 metros de diémetro ¢ 14 000 lugares.
( teatro grego era um lugar de reunio de uma comu-
nidade, enquanto 0 teatro romano era um edifieio fecha-
do para oferecer diverstio a um grande piiblico.
Na [dade Média no se construiram edificios. O lugar
teatral era a praca; 0 piiblico passeava a frente dos palcos
ae mansion. A representagao era um acontecimento na cida-
de e todos participavam, O Teatro oficial era o religios
no qual se representavam os Mistérios. ee
G Renascimento
© edificio teatral, como nés conhecemos até hoje, tem
suas raizes nesse periodo histérico. © cardter religioso vai
desaparecendo € 0 Teatro profano volta a ser apresentaclo
inicialmente nos sales dos paldcios dos principes, onde
eram constiuidos os palcos ¢ 0 publico era somente a cor
te, O Teatro passou a ser considerado uma arte erudita ¢ as-
sim foi estudado e analisado a partir do Teatro Greco-Roma-
no. O edificio também foi pensado a partir do modelo gre-
co-romano e era entendido como um lugar de abrigo pa-
ta um povo ideal, com divisdes hierdrquicas, onde esse pur
desse celebrar seus faustos. Por isso foi pensado com luga
res definidos para cada classe social. Entre as propostas te6-
ricas e a construgao dos edificios, se passaram muitos anos,
Um dos primeiros foi o Teatro Olimpico (1585) de Vi-
cenza, do arquiteto Andrea di Pietro, 0 Palladio, No pal
co, um cenario fixo — Tuas e paldcios — construido em
perspectiva. Na frente, um anfiteatro, E uma construgao
de transicdo, com influéncia tanto da Grécia e de Roma co-
mo da Idade Média.
‘A redescoberta da perspectiva é de extrema importdn-
cia. Através dela se representa a terceira dimensio em um
plano bidimensional, Ao ver um quadro onde foi usada, 0
espectador tem a ilusdo de que esta terceira dimensdo exis-
te realmente no plano bidimensional da obra. Ela nos indi-
ca como era a relagao do homem com 0 mundo, no Renas-
cimento e nas épocas sucessivas até sua destruigdo no sécu-
io XX. Brunelleschi a redescobriu, e Alberti a teorizou
(1436). 14 nos teatros palacianos era utilizada para os cend-
tios. E alguns destes foram pintados por artistas de reno-
me, como Raffaello Sanzio ¢ Baldassare Peruzzi. A perspec-
tiva utilizada no Renascimento é central, isto é com um
\inico ponto de fuga para onde convergem todas as Tinhas.
O Barroco
No Barroco, o Teatro Farnese (1628) de Parma, do ar-
quiteto Giovanni Batista Aleotti, tinha uma estrutura on-
de ficava determinado o lugar do espectador — enormes es-
cadarias para abrigar um grande mimero de pessoas (na rea-
lidade eram o principe, seus héspedes e a corte). A platéia
era livre e parecia uma praca, servia para os torneios.
\10
Nas construcdes que se sucederam, as escadarias sao
substituidas por balcdes construidos em andares. Concreti-
za-se entio 0 teatro & italiana, resultado das teorias que
surgiram no Renascimento e da necessidade de atender a
um piblico pagante e, portanto, dividi-lo, dependendo de
sua classe social. Nesta época o povo, em pé, ocupava &
platéia, e os nobres e os ricos ficavam nos balcées.
O edificio teatral vai gradativamente assumindo seu lu-
gar nas cidades e se tornando grandioso ¢ luxuoso. O Tea-
tro Alla Scala (1778) de Milao, do arquiteto Giuseppe Pier-
marini, foi o modelo para esse tipo de edificio teatral que
se espalhou pelo mundo ocidental ¢ ¢ usado até hoje, mes-
mo nao correspondendo mais &s propostas contempordneas
de encenagao.
X__ 0 teatro italiana, internamente, tem uma sala em for-
mma de ferradura; poltronas na platéia; frisas ou camarotes,
quase ao nivel da platéia; baledes ¢ camarotes divididos em
andares ou ordens; galerias (a galeria da tiltima ordem é cha-
mada também de galinheiro ou poleiro, e ¢ o lugar onde 0
ingresso é mais médico). As ante-salas so saldes luxuosos,
salas de gala, com grandes escadarias. O espetaculo inici
nessas ante-salas, com os espectadores desfilando até ocupa-
rem seus lugares segundo uma hierarquizagao social. O pal-
co tem medidas minimas para espetaculos de grande porte,
como a dpera. O palco que é visto pelo espectador tem as
mesmas medidas embaixo, em cima e nas laterais, como se
existissem cinco palcos, em que um é visivel e quatro nao.
Ele é feito assim para permitir a utilizagdo das mdquinas ¢8-
nicas e para a mudanca rdpida de cenarios, que podem su-
bir, descer, ou entrar pelas laterais. © palco é uma caixa mé-
gica. A Opera (1875) de Paris, do arquiteto Charles Garnier,
um bom exemplo do teatro a italiana no dpice de sua gléria.
No teatro a italiana ha a separacdo entre: palco (lugar
cénico) e platéia (lugar do espectador). A representacao na
caixa ética — 0 palco — fica distante do pablico como se
fosse uma janela aberta para um “outro mundo”,
ao, i
7
ui
Na Inglaterra, 0 teatro elisabetano
Até a construcdio dos primeiros edificios teatrais, os es-
peticulos eram apresentados nos saldes dos palicios ou
em lugares abertos, como as pracas é os patios. Em 1576
foi construido o The Theatre. O ator James Burbage, seu
idealizador, 0 desenhou sob influéncia dos lugares abertos:
0s patios das tavernas. Era um edificio “publico’’, onde
se pagava 0 ingresso, Outros apareceram posteriormente.
mais famoso € 0 Globe, em forma circular. Podia abri-
gar de 1 600 a 2 300 espectadores.
A planta desses teatros podia ser quadrada, circular
ou octogonal. O edificio era recoberto por um telhado de
palha deixando a parte central aberta. Internamente havia
© palco, de forma retangular ou trapezdide; tinha 7 a 10 me-
ros de profundidade e ocupava boa parte da platéia. Atrés
dele, complementando-o, havia uma construgdo que termi-
nava com uma pequena torre onde era colocada a bandei-
ra com o emblema do teatro. As galerias envolviam a pla-
téia e o palco. Eram dispostas em trés andares para o pili
co mais abastado, que, dependendo de o quanto podia pa-
gar, ocupava os"quartos dos senhores ou alugava um assen-
to € ocupava mesmo o paleo. O resto da platéia era ocupa-
do pelo povo em pé, A estrutura arquitet6nica do edificio
permitia a ocupagiio do espaco na altura, largura, compri-
mento e profundidade, e é nessas trés dimensOes que se da-
va a relacdo puiblico/cena. William Shakespeare viveu ¢ apre-
sentow os seus dramas nessa época. Todos os teatros foram
fechados em 1642 por decreto do governo, que considerava
6 Teatro uma arte imoral. Os edificios foram todos demolidos.
Influéncia do teatro 4 italiana no Brasil
No Brasil temos varios exemplos de teatros & italiana,
como © Municipal do Rio de Janeiro ou 0 Municipal dea
Cn
‘Sao Paulo — e em todas as eapitais do pais. Todos siio gran-
diosos € luxuosos. © ptiblico, ao ingressar, encont
las eseadarias ¢ sal6es antes da platéia — a parte res
da ao ptiblico. Esta é dividida em poltronas, frisas, camaro-
tes, baledes, galerias numeradas e gerais. A platéia é, co-
mo vimos, em forma de ferradura. A frente dela encontra-
mos 0 conjunto composto pelos camarins e outras depen-
déncias para atores e técnicos, além do paleo. Este ¢ com-
Posto pelas coxias ou bastidores, a boca de cena, o proscé-
nio, o urdimento e 0 pordo. Uma vez sentado, 0 especta-
dor verd a boca de cena fechada por uma cortina — 0 pa-
no de boca —, que ao abrir-se deixard a mostra os cené-
tios emoldurados pelas bambolinas e reguladores.
Quase todos os teatros no Brasil derivam desta forma
simplificada, isto é, de cena frontal e platéia. a
Cenografia hoje
Cenografia hoje ¢ um ato criativo — aliado a0 conhe-
cimento de teorias e técnicas especificas — que tem a prio-
17a intencao de organizar visualmente o lugar teatral para
que nele se estabeleca a relagdo cena/puiblico. O cenétio, co-
mo produto deste ato criativo, tem que traduzir esta inten-
40 e, portanto, sé pode ser analisado dentro do contexto
especifico da montagem teatral encenada,
Em outras palavras, criar e projetar um cendrio signi-
fica fazer cenografia. Assim qualquer proposta, sendo ade-
quada a concepsao do espetdculo, pode ser um cenério. A
qualidade deste esta tanto em ser perfeitamente integrado
a proposta central da encenacdo quanto na inventividade e
no uso adequado dos elementos e materiais propostos.
O cenégrafo
O cendgrafo é o profissional que adquiriu conhecimen-
tos que Ihe permitem criar a cenografia. Ele conhece teo-
tias e técnicas especificas, como por exemplo histéria da ar-
te e do espetaculo, desenho, pintura, escultura, modelagem,
composigao e cenotécnica, entre outros, Ele se expressa atra.
vés de uma linguagem visual, e encena plasticamente um
texto dramatico ou outra proposta de espetdculo, Uma vez
convidado a fazer parte de uma equipe, 0 cendgrafo deve
entrar em contato com os outros profissionais, se inteirar
do trabalho. Passard depois a estudar e analisar a propos-
ta ou texto dramético, para iniciar uma pesquisa antes de
criar a cenografia. Esbocard ¢ desenhard a sua proposta até
a execugio da maquete, que sera apresentada a0 grupo e,
se aprovada, iniciard a fase propriamente dita de execuco
dos cendrios. Essa fase, dependendo do que sejam os cené-
ios, necessita de outros profissionais para ser executada
Este processo de trabalho é genérico, pois cada profissio-
nal ¢ equipe estabelece o seu, Lembramos que os cendrios
so habitados por atores e constituem um dos elementos
do espetdculo. Assim sendo, tém que ser adequados a ele,
€ no podem sobressair aos outros elementos,
Definimos a cenografia e apontamos o que é 0 proces-
so de trabalho do cendgrafo hoje, Entao nao foi sempre assim?
O termo cenografia. Pequeno histérico
O termo cenografia (skenographie, que composto
de skené, cena, e graphein, escrever, desenhar, pintar, colo-
rir) se encontra nos textos gregos — A poetica, de Aristéte-
les, por exemplo. Servia para designar certos embelezamen-
tos da skené. Posteriormente é encontrado nos textos em la-
tim (De architectura, de Vitruvio): scenographia. Era usa-
do provavelmente para definir no desenho uma noeao de
profundidade. No Renascimento 0s textos de Vitruvio fo-
tam traduzidos, e 0 termo cenografia passou a ser usado
para designar os tragos em perspectiva e notadamente os
tragos em perspectiva do cendrio no espetaculo teatrala
‘A cenografia existe desde que existe o espeticulo tea-
tral na Grécia Antiga, mas em cada época teve um significa-
do diferente, dependendo da proposta do espeticulo tea
tral. O Teatro como toda arte, intimamente relacionado
com o meio social onde surge, e sera definido conforme o
pensamento de cada época. Assim, 0 Teatro ¢ a cenografia
da Grécia Antiga so diferentes dos de Roma, da Idade Mé-
dia, do Renascimento e do Barroco.
O cenario da Antigitidade era fixo, tinha poucos elemen-
tos e servia de ornamentago para a cena. Na Idade Médi
adquire um cardter mistico e religioso, como o proprio Tea-
tro: representava um lugar — 0 céu, a terra, o inferno — on-
deo ator ia atuar. O espetdculo nesse periodo foi apresenta-
do primeiro nas igrejas e posteriormente nas pracas.
© Renascimento na Itilia trouxe os cendirios construi-
dos em trés dimensGes. Eram pintados utilizando-se a téc-
nica da perspectiva central e recriavam paisagens urbanas,
‘ou campestres, acompanhando 0 tipo de encenagao (tragé-
dia, comédia ou sétira),
Na Inglaterra o Renascimento trouxe a cena elisabeta-
na, onde 0 cenério construido é permanente, e nele podem
set aerescidos alguns elementos cénicos adequados & encenacao.
No Barroco a perspectiva usada é a obliqua, os cend-
rios construfdos em trés dimensdes, como no Renascimen-
to, so extremamente ricos em detalhes grandiosos. O pal-
co passou a ser uma caixa de magica e de truques. Deixar
© piiblico maravilhado era a principal funcZo da cenografia.
‘A Reyolugdo Francesa muda 0 contexto social, ¢ conse-
qiientemente o artista e sua obra. Outras mudangas foram
provocadas pela Revoluco Industrial. O aparecimento da lo-
comotiva ¢ da velocidade muda o olhar. A fotografia altera
0 panorama artistico. O sistema de fabrica muda o comporta-
mento e forma uma nova classe social: 0 proletariado. A luz
artificial altera o tempo do cotidiano e também muda o olhar.
A partir da metade do século XIX a filosofia positivista de
Comite e Spencer propicia o aparecimento do Naturalismo, ¢
neste movimento @ concepgao da cenografia também muda.
Grego Arcaico Grego Classico Helenico Romano
Primitivo
18 & época romana. Reprodugaio
de foto. (WAA. Le Théatre. sit, Bordas,
1980, p.12)
A — Evolugéo do lugar teatral antigo das
origen:
(2 direita).
2. Thumelé; 3. Orkhéstra;
7, Cavea; 8. Vomitoria; 9. Cadeiras de
honra; 10. Vomitorium principal;
11. Proscenium (Pulpitum); 12. Frons
grego ( esquerda) eo romano
4, Parodos; 5. Proskénion; 8. Skené;
Scenae; 13. Scena. Reproducao de
foto. (VA. Le Théatre. Op. cit., p. 12)
B — Esquema comparativo entre o teatro
1. Theatron;
8
1
n
2
3
4%Teatro Olimpico, arquiteto Palladio, 1585, Vieenzalttali. Plants interior.
‘Op. cit., p. 197)
tp a
ho do interior do Teatro Swan. Reprodugao de
oe
foto. (VWAA, Le Théatre. Op. cit., p. 45.)Exemplo do teatro a italiana no seu malor esplendor. Viena. Arquiteto E. Bolten Stem. Reprodugao de foto.
(WAA. Le Théatre. Op. cit, p. 198.)
Nascem novas propostas...
no fim do século XIX
O século XIX, 0 século das revolugdes, Mudangas so-
ciais, aceleramento do tempo cotidiano, pesquisa histérica,
a busca constante do novo, a ruptura com 0 pasado, os
descobrimentos cientificos, 0 papel da mulher, Anarquis-
mo, Socialismo, Marxismo, 0 homem muda a forma de
olhar € a sua relagao com o mundo. © artista se assume co-
mo intelectual, as propostas artisticas traduzem essas mu-
dangas e se inovam. Romantismo e Naturalismo, os Arqui-
tetos do Ferro, os Neos ¢ 0 Art Nouveau. Pintores como
Delacroix, Corot e Courbet; misicos como Liszt, Chopin
e Tehaikovski; e dperas de Verdi e Wagner. Escritores co-
mo Dickens, Edgard A. Poe, Vitor Hugo, Balzac, Dostoievs-
ki, J. M. Sand. Sem contar os filésofos Kant, Marx, Hegel
etzsche. Todos vivem este século de mudangas.
O Teatro nao fica alheio a todo este fervilhar, ¢ tam-
bém se questiona. Nascem novas propostas.
Os Meininger
O estudo da historia da arte ¢ dos estilos arquitetni-
cos marca o século XIX, e esta atitude influencia também20
‘© Teatro, O duque Georg II von Meininger (1826-1914) reti-
ne um grupo dirigido por Ludwig Chronegk (1837-1891) pa-
ra eneenar peas sob esta dtica: a busca da realidade histé-
rica, uma atitude desconhecida até entio, Inaugura assim
a pesquisa como atitude obrigatéria ao se encenar um tex-
to dramatico. Em cada montagem o cendgrafo buscava
uma reproducio fiel da época e dos costumes, que tivesse
realismo tanto nos detalhes como no conjunto. O grupo se-
guia uma disciplina rigida de trabalho; ninguém tinha mais
importancia do que o outro; combateu-se 0 vedetismo to
em voga na época. O diretor coordenava 0 grupo, numa
atitude que corresponde 4 atual. A cenografia deixa de ser
um mero elemento decorativo, de apoio aos atores, para fa-
zer parte do conjunto do espeticulo: assim, muda a relacao
entre cenarios e atores. A cenografia organiza o lugar c&
co, ndo é autOnoma e independente, mas parte do todo, in-
tegrando-se, sendo vivenciada pelos atores, que deverdo uti-
lizé-la e explord-la como um recurso para a atuiagao.
Essa busca de unidade é uma atitude totalmente nova
no século XIX. Os cenéios formam um espaco verdadei-
ro para a atuacdo. Esses agora tém que respeitar as propor-
g6es reais. Antes, havia o contraste entre os cenirios pinta-
dos € 0 corpo do ator movimentando-se a frente deles. Até
© advento da luz artificial, o ator declamava praticamente
no proseénio, para poder ser visto, ¢ os cendirios atras nao
chamavam muita atengdio. Com a chegada da luz elétrica,
a possibilidade de iluminar a cena faz com que se perceba
nitidamente 0 contraste entre os teldes pintados e a tridi-
mensionalidade do corpo do ator. Agora, 0 ator pode ser
visto até no fundo do palco.
A influéncia dos Meininger foi grande. Antoine, Sta-
nislavsky, assim como Wagner, Appia, Craig e Reinhardt
conhecem seus principios e os desenvolvem. Quais foram
estes prine{pios? A busca de uma unidade na concepeao
de cada cena e do espetdculo. Cada elemento tem que ser
pensado ¢ estar interligado ao outro, O cenario ¢ subordina-
21
——— ez
do a agao € ao texto dramatico; existe uma relagdo dinami-
ca do ator com o cenario: o ator se movimenta em cena, is-
to 6, no cenario.
Richard Wagner
© advento da luz artificial favorece 0 escurecimento
da platéia. Antes disso, a sala ficava iluminada, teria sido
muito diffeil apagar as velas que eram acesas antes da entra-
da do puiblico. Ja a iluminago a gas permitia a variagdo
da intensidade da luz, bem como a possibilidade de o pal-
co ter maior luminosidade. Isto favoreceu a concepeao da
pera de Richard Wagner como espetiiculo total. O Fesispie-
Jhaus (1876) de Bayreuth foi uma renovagao na arquitetu-
Ya teatral criada em funcdo da concepedo wagneriana.
Quais sflo as inovagdes? A platéia é um grande anfiteatro
om forma de trapézio, sdo eliminados balcdes, galerias ete.
Ela € escurecida para que a atenco do piiblico seja direcio-
nada totalmente para o palco. A orquestra é retirada do
palco, ¢ se cria 0 vao para a orquestra entre ele ea platéia,
abaixo ¢ a frente do proscénio, A distancia entre 0 palco ¢
a platéia ¢ aumentada. E com tudo isso o carter ilusionis-
ta do espeticulo é acentuado. A proposta é que se estabele-
ga uma relagio magica entre ptiblico ¢ cena, que foi chama-
da de Golfo Mistico ou Abismo Mistico. Uma vez com a
atencdo direcionada s6 para o paleo, 0 piiblico é envolvi-
do com o que esta acontecendo: a aedo ¢ a atuagio dos ato-
res, a mtisica, os cendrios ¢ especialmente a cor. Muda en-
to 0 comportamento do espectador: antes, ir ao teatro sig-
nificava, mais que nada, um encontro social. Agora, este
encontro ficou em segundo plano; em primeiro ficou 0
“ver’” o espetiiculo.
Por outro lado, com a iluminagio da cena 0 ptiblico
percebia também o que havia de errado. Nessa época os cend-
grafos eram cendgrafos-pintores, os teldes ¢ os panos de fun-2
do pintados compunham os elementos dos cenarios, ¢ isso
contrastava com 0 ator ea sua movimentagao em cena. Os
cendrios eram ricos, anedéticos — porque nao se baseavam
em uma pesquisa histérica — e ilusionistas — porque 0 pair
blico era levado a ver algo que parecia verdadeiro mas nao era.
Wagner influenciou 0 Teatro com suas teorias ¢ inova-
des, como a do lugar teatral — ¢ nele, por exemplo, o vio
da orquestra, que passou a fazer parte de todos os teatros
a italiana,
Antoine e Stanislavsky
Por volta da metade do século XIX, com influéncias
do pensamento positivista e do contexto social, o Naturalis-
mo surge ¢ se manifesta em todas as linguagens artisticas.
© Positivismo prega a crenga no progresso ¢ no cientificis-
mo. O seu lema é “‘Ordem e Progresso", ¢ naquela época
favoreceu a atitude dos artistas de transpor os métodos
© espirito cientifico para os seus trabalhos. Emile Zola dis-
se que a ‘Arte € conhecimento”. O artista terd que absor-
ver ¢ analisar a realidade, e sua obra deverd mostrar esta
atitude, Todos os assuntos so importantes, pois todos fa-
zem parte da realidade, e melhor sera quem souber capta-
lac analisé-la, Retratar objetivamente, descrever exatamen-
te os fatos, a obra como uma “fatia’” da vida, estes so
08 objetivos dos artistas do Naturalismo. No Teatro estes
objetivos chegaram mais lentamente, A sociedade tinha mu-
dado, ¢ se, como disse 0 préprio Zola, para cada época
ha um Teatro que corresponde as suas necessidades, 0 espi-
rito experimental e cientifico passa a influenciar a drama-
turgia e posteriormente 0 espetdculo.
‘André Antoine funda em 1887 0 Thédtre-Libre, que
funcionaré até 1896, Durante esses nove anos so apresenta~
dos 124 trabalhos de autores novos. Antoine (1858-1943)
foi ator, diretor teatral e cinematogréfico.
SSCL
+
Ligado ao Naturalismo, Antoine colocou em pratica
seus prineipios ¢ objetivos em varias montagens no Théatre-
Libre. Muitos foram os cendgrafos que trabalharam com
ele: Ménessier, Cornil, Jusseaume, Bertin, Ponsin. A fun-
do dos cendrios nao € representar, mas ser um ambiente
onde nascem, vivem e morrem as personagens. Hé uma re-
lacdo precisa entre ator e cenario, e os cendrios nao sao
um lugar, mas ambientes. Como a vida do homem é condi-
onada ao ambiente em que vive, assim 0 serao as persona-
gens aos cendrios. Elas serao influenciadas por eles em to-
das as suas caracteristicas, comportamentos, cardter e habi-
tos, O cendirio passa a ter uma utilidade precisa ¢ se torna
indispensavel ao espetdculo. Assim sendo, cada peca tem
que ter 0 seu cenario especifico. O proceso de criago da
cenografia compreende uma profunda preparacdo e obser-
vagiio, que vai da pesquisa arqueologica a histérica e social.
Nao 6 Antoine teve estas atitudes; Stanislavsky, com
© cendgrafo Simov, chegaram mais longe, Buscavam nas
pesquisas captar 0 “estado de alma” para ser extremamen-
te figis, Quando montaram A ralé, de Gorki, em 1903, co-
mo este texto dramatico retrata a vida dos mendigos, pati-
fes e miserdveis, vao visitar o mercado de Khitrov, os abri-
gos noturnos, conversam com estas pessoas, descobrem co-
mo vivem, véem a miséria e a exploracdo. Como os pesqui-
sadores cientificos, que analisam através do microscspio,
05 artistas analisam ¢ se possivel vivem a realidade que que-
rem transpor para suas obras.
Aatitude de pesquisar iniciada por Meininger é amplia-
da e aprofundada, Penetra-se nos ambientes, leva-se as titi-
mas conseqiiéncias os detalhes para mostrar a realidade; a
preocupacdio 6 ser-se exato e auténtico. Famosas sto as
montagens de Antoine, como Les Bouchers, onde os cend-
ios eram um agougue com pedagos de carne sangrando.
‘A proposta é ser tudo e todos os detalhes verdadeiros: 0 ce-
nario nao representa, ele € 0 ambiente. Os teldes pintados
siio abolidos. A luz elétrica contribui, ¢ a iluminagio pas-24
sa.a ser um dos elementos do espeticulo. Antoine dizia que
a luz era a alma da encenagio, acentuando a atmosfera,
dando vida ao espetdculo, O mesmo valor foi dado & ilumi-
nacdo por Stanislavsky e Simov, que procuravam imprimir
ao espetéculo um tom natural.
Cabe a estes dois diretores, Antoine e Stanislavsky, a
descoberta e a utilizagfio de sons integrados a0 conjunto
dos elementos do espetdculo. Os atores deviam representar
de uma forma tao natural como se ndo existisse o ptiblico,
sem nunca se dirigir a ele, e 0 piblico devia assistir como
se olhasse através de um buraco de fechadura. Para isso
se convencionou que na boca de cena passaria a existir uma
quarta parede invisivel e opaca, para os atores e para o pi-
blico, Ha uma separagdo radical entre cena e puiblico. A
caixa dtica é um espago ctibico, fechado e independente,
uma janela para uma realidade que pretende ser a verdade
Os questionamentos surgem, a critica se manifesta con-
a a este excesso de verdade em cena, Aponta que Tea-
tro é Teatro e vida é vida, e que o Naturalismo confunde
obra de arte com virtuosismo. Nao existe uma verdade ou
uma realidade, elas so multiplas e variadas. O ptiblico é le-
vado a verificar se a reprodugdo é exata: ele apenas obser-
va, nao é levado a imaginar. Outro problema levantado &
0 da impossibilidade de usar estes principios p:
formas dramiticas. Eles servem s6 para os textos que so
naturalistas.
Mesmo assim 0 Naturalismo deixou contribuigdes im-
portantes para a historia do espetdculo e da cenografia. A
necessidade de uma equipe de trabalho afinada, o papel
do encenador como criador do espetdculo, a homogeneida-
dea interligacdo de todos os elementos. Para que isso acon-
teca, 0 cendgrafo deve participar da equipe e, principalmen-
te, deve haver um entendimento ¢ uma colaboragao muitua
entre cendgrafo e diretor.
Os que contribufram para a renovacdo do Teatro e da
cenografia partem da negarao do Naturalismo, mas nao
25
se esquecem do que ele deixou como contribuigao na histé-
ria do Teatro.
Paul Fort
A época moderna inicia no século XIX e se prolonga
até a II Guerra Mundial: nela todas as linguagens artisticas
possuem caracteristicas comuns, todas pertencem a Moder-
nidade. A aceleracao do tempo faz com que, ao contrario
de antes, os movimentos tenham uma duragao curta e en-
cerrem neles mesmos a sua critica, Isto quer dizer que se au-
todestroem e ao mesmo tempo propiciam o aparecimento
de um novo movimento. Esse novo movimento critica o an-
terior ¢ se instaura como novo, Este ao mesmo tempo é cri-
tico de si mesmo, tem vida breve e serd substitufdo por ou
tro. E assim por diante. Este romper constante também é
uma caracteristica da Modernidade, como o € a busca da
perfeigdo, que, como é impossivel, estard sempre no futu-
ro. A crenga no futuro é uma caracteristica do homem mo-
demo.
O Impressionismo tem seu épice na exposigdo de 1874,
no esitidio do fotégrafo Nadar; a segunda exposigdo foi
em 1877, a tltima em 1886. Bm 1884 acontece a ruptura
com 0 Neo-Impressionismo. Por outro lado, 0 Simbolis-
mo surge em antitese ao Neo-Impressionismo e como supe-
racio do Impressionismo. Mallarmé é © representante na
poesia, e, entre outros, Gustave Moreau na pintura. A bus-
ca da realidade além do visivel, a fantasia como fonte pa-
ra revelar esta realidade, estas so as caracteristicas gerais
clo Simbolismo, que terd também no Teatro seus represen-
tantes.
Antoine funda o Thédtre-Libre em 1887, e em 1890,
numa reagéo ao Naturalismo, Paul Fort funda em Paris 0
Théatre d’Art: 0 Simbolismo chega aos palcos. Rompe ¢
critica 0 Naturalismo, nega os cendrios que reproduzem26
uma ‘“fatia’” da realidade e propde cenarios que sugiram e
evoquem, que despertem a imaginagao do espectador. O es-
petdculo simbolista da primazia a palavra, e afirma que es-
ta cria a cenografia. Entdo os cenarios serao um fundo pic-
t6rico e, como esoreveu Pierre Quillard — autor da peca
simbolista La fille aux mains coupées — na Revue d’Art
Dramatique de 1? de maio de 1891, no texto intitulado
“Da inutilidade absoluta da encenagao exata’”:
0 décor deve ser uma pura fragao ornamental que complete
a ilusdo através de analogias e linhas com o drama. A maio-
ria das vezes sera suficiente um fundo e algumas cortinas
méveis para dar a impressao de o Infinito multiplicar-se do
‘tempo e do lugar. Assim, os cenérlos deverdo ser simples ¢
deverao ser completados pela imaginagao do espectador,
A proposta do Teatro Simbolista é de ser um Teatro mental,
colocando-se contra 0 Teatro comercial ou aquele que é s6
uma diversdo para o piiblico»Para poderter uma equivalén-
cia no cenétio, sao buscados pintores para executi-lo. O ce-
nario, de produto artesanal, passa a produto artistico. Ar-
tistas como Paul Sérusier, Maurice Denis, Pierre Bonnard
eriaram um décor artistico para os espetaculos
A cenografia simbolista enfatiza a cor como linguagem sim-
bolica, a imaginagao ea emogio, e nega a reproducio foto-
grafica. Nao descreve; ¢ uma evocagao imprecisa com a fun-
co de ser um fator emocional que levard o puiblico a uma
receptividade maxima. O ‘Teatro Simbolista, por seu herme-
tismo, foi um Teatro de elite, e dentro da cenografia inaugu-
ra uma corrente que passaré a utilizar-se da pintura como
elemento do espetaculo.
Lugné-Poe
Lugné-Poe (1869-1940) se encontra nesta corrente, ¢
0s espeticulos apresentados no Théatre d’Oeuvre, desde
1
sua inauguragdo em 1893 em Paris, tem cendgrafos-pinto-
res como Bonnard, Denis, Munch, Sérusier, Toulouse-Lau-
tree ¢ Vuillard, um de seus fundadores junto com Lugné-
Poe. Convivendo com os Nabis, Lugné-Poe verifica que a
evolucao cenografica depende das artes plasticas. Condena
todo e qualquer exagero ¢ diz que os cendrios tém a funcao
de sugerir ¢ traduzir a atmosfera do espeticulo.
A montagem de Peliéas e Mélisande em 1893, de Mau-
rice Maeterlinck, poeta e dramaturgo belga, foi um marco
na histéria do Teatro. A ago do texto se desenrolava em
dezenove quadros; os cenarios eram dois, que, sem méyei
e acessérios, foram baseados apenas na cor, em tons que
traduziam 0 mistério ¢ a melancolia do texto dramitico:
azuis, laranjas, verdes; a luz acentuava o cardter € a atmos-
fera da peca. Cenografia como ato criativo, cendrios conce-
bidos como uma composi¢ao cromatica. O cendgrafo co-
mo artista cria ¢ se liberta das rubri¢as do dramaturgo, is
to é, ndo faz mais o que este manda e indica no seu texto.
Em 1896, 0 D'Oeuvre apresenta Ubu-Rei de Alfred Jarry
(1873-1907, precursor de Artaud). Os cendgrafos sao os pin-
tores Sérusier e Bonnard, assistidos por Vuillard, Toulouse-
Lautree e Ranson. Um cenério tinico que tem a func&o de
traduzir visualmente a farsa. O ator criard o resto através
de sua acdo, movimento ¢ atuagdo.
Meyerhold
Stanislavsky passou a questionar o Naturalismo, e es-
pecialmente o fez Meyerhold (1874-1942), ator e diretor rus-
so, no Teatro Studio, Este rompe com esse movimento ¢
propée, a partir de 1905, uma modernizacéo na encenacdo
correspondente as necessidades do puiblico e & dramaturgia
da época. A func&o dos cenérios é indicar ao espectador
uma direco para sua imaginagao, Meyerhold substitui_ 0
universo cénico realista por um jogo de planos; tentard28
reduzit a cena as duas dimensdes de um quadro, Os pinto-
res que trabalham com ele buscam a estilizagao, a simp!
cagtio, a busca do essencial, O cendrio ndo devera chamar
aatengao do espectador em detrimentoda atuacdio dos atores.
No texto “As técnicas e a histéria”, de 1907, Meyerhold
escreve:
© corpo do homem e os acessérios — mesas, cadeiras, ca-
mas, armarios — tém trés dimens6es. Portanto o Teatro, on.
de o ator é objeto principal, precisa recorrer ao trabalho das
artes plasticas e nao da pintura. Para o ator, a base é a ar
te da escultura,
Com isso, sem abolir os cenarios, dara prioridade aos mo-
vimentos plasticos do ator. Tentou também estabelecer uma
nova relagao sala/cena, onde o cendgrafo tinha a fungéo
de aproximar 0 ator do piiblico.
Lembramos que a importancia de Meyerhold nao fica
s6 no seu desempenho como encenador; foi pedagogo ¢ ted-
rico, e inova o trabalho do ator através da teoria da “bio-
mecdnica”’, que se opde ao que propunha Stanislavsky. De-
pois da Revolugdo de Outubro, participa do Teatro de Agit-
prop. Desapareceu misteriosamente em 1938, ou, segundo
alguns historiadores, foi preso ¢ fuzilado em 1940, depois
de ter sido uma personalidade no panorama teatral russo.
Foi o principal encenador da dramaturgia de Maiakovski,
como veremos, onde se utiliza das propostas da Vanguar-
da Russa para realizar 0 cendrio.
No século XX
O fim do século XIX e inicio do século XX correspon-
de a Belle Epoque. A Exposicdo Universal de 1889 consa-
gra o Art Nouveau. A crenga no progresso exalta a maqui-
na, 0 carro, 0 avido, o telefone.
‘A fotografia se aperfeicoa ¢ é considerada uma lingua-
gem artistica. Os meios de comunicagéo, como o cartaz,
passam a fazer parte do cotidiano. A imprensa se torna
uma poténcia e o cinema, uma indiistria que modificaré 0
comportamento das pessoas.
A ciéncia se desenvolve rapidamente. Einstein revolu-
ciona 0 pensamento com a Teoria da Relatividade. Freud
abre caminho para o conhecimento do ser humano com
seus estudos. Tudo contribui para que o homem mude a
sua vistio de mundo e a forma de inserir-se nele.
Nas artes plasticas, os ismos se sucedem: 0 Expressionis-
mo, 0 Cubismo, o Futurismo. A destruigéo da perspectiva in-
dica uma nova concepeao do espaco pictérico, a cor é exalta-
da, a maquina também. O homem nao vé mais 0 mundo
da mesma forma, e as Vanguardas mostram este novo olhar.
Surge 0 desenho industrial na Werkbund, na Alema-
nha, ¢ com ele a andlise do objeto em relacdo a sua funcao
@ & fabricaedo em série, Continua uma discusso iniciada
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