Apostila Panorama Do Novo Testamento
Apostila Panorama Do Novo Testamento
APRESENTAÇÃO
2
Introdução
Que discute o significado e a
1ª Panorama Teológico necessidade da existência de umNovo
Seção
Testamento.
2ª Ambiente e antecedentes históricos
Panorama Histórico
Seção do Novo Testamento
3ª Qual é a estrutura literária do Novo
Panorama dos Livros
Seção Testamento?
4ª Quais os temas e assuntos
Panorama Temático
Seção abordados no Novo Testamento?
Como a geografia aparece no
5ª
Panorama Geográfico Novo Testamento e o que ela
Seção
acrescenta à nossa teologia?
3
Sumário
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6
CAPÍTULO I - PANORAMA TEOLÓGICO........................................................................ 8
1.1 Por que um Novo Testamento? ........................................................................... .......8
1.2 Características da Antiga Aliança .............................................................................. 9
1.3 Voltando à questão ................................................................................................... 10
CAPÍTULO II - PANORAMA HISTÓRICO ...................................................................... 13
PARTE 1 – Introdução aos Antecedentes Históricos ..................................................... 13
2.2 Antecedentes Históricos do Novo Testamento ......................................................... 13
2.2 Influências do Império Persa (555 a 331 a.C.) ......................................................... 15
2.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura (331 a 167 a.C.) ....................... 16
2.4 Influências Religiosas dos Judeus ............................................................................ 17
2.5 Influências do Império Romano (63 a.C. ao tempo de Cristo) ................................ 18
2.6 Introdução à Vida de Jesus ...................................................................................... 19
2.7 Paulo de Tarso e sua importância no cristianismo ................................................... 22
CAPÍTULO III – PANORAMA DOS LIVROS .................................................................. 23
3.1 Características e estrutura ........................................................................................ 23
3.2 Um pouco dos Evangelhos....................................................................................... 25
3.2.1 Os evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos ............................................. 25
3.2.2 O Evangelho de João ..................................................................................... 28
3.3 As cartas e epístolas ................................................................................................. 29
3.3.1 Epístolas Paulinas .......................................................................................... 29
3.3.2 Cartas Paulinas .............................................................................................. 34
3.3.3 Epístolas Não-Paulinas .................................................................................. 36
3.3.4 Demais escritos joaninos ............................................................................... 40
CAPÍTULO IV – PANORAMA TEMÁTICO ..................................................................... 43
4.1 Humanidade e divindade de Cristo .......................................................................... 43
4.1.1 Cristo Homem: o sacrifício perfeito .............................................................. 44
4.1.2 Cristo Deus: o soberano sofredor .................................................................. 46
4.1.3 Cristo Homem-Deus: o salvador acessível .................................................... 47
4.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos .................................... 47
4.2.1 Revelando o sonho do Reino ......................................................................... 48
4.2.2 Pescando “pecadores” ................................................................................... 49
4.2.3 Um homem maltrapilho ................................................................................ 50
4.2.4 A paralisia dos que não são perdoados .......................................................... 52
4
4.2.5 Por que estes pecadores estão celebrando? ................................................... 53
4.3 A Comunhão com o corpo de Cristo........................................................................ 54
4.3.1 Unidade na diversidade ................................................................................. 54
4.3.2 A vida em comum ......................................................................................... 55
4.3.3 Os mandamentos recíprocos.......................................................................... 57
4.4 A Grande Comissão ................................................................................................. 61
4.4.1 A grande ordem do homem-Deus ................................................................. 62
CAPÍTULO V – PANORAMA GEOGRÁFICO................................................................. 65
5.1 Introdução ................................................................................................................ 65
5.2 Os primeiros passos do Senhor ................................................................................ 66
5.3 O ministério na Judeia ............................................................................................. 69
5.4 O ministério na Galileia ........................................................................................... 70
5.5 Partindo da Galileia.................................................................................................. 71
5.5.1 O Servo Sofredor ........................................................................................... 71
5.5.2 Caminho entre os inimigos? .......................................................................... 71
5.6 Enfim, na Judeia....................................................................................................... 72
CAPÍTULO VI - A EXPANSÃO DO EVANGELHO POR MEIO DOS ANÔNIMOS .. 74
6.1 O Comissionamento de um povo ............................................................................. 74
6.2 Um movimento espiritual ........................................................................................ 75
6.3 Os percursos Paulinos .............................................................................................. 77
6.4 Primeira viagem missionária.................................................................................... 77
6.5 Segunda viagem missionária.................................................................................... 79
6.6 Terceira viagem missionária .................................................................................... 81
6.7 Aprisionamento e encarceramento em Roma .......................................................... 82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 85
5
INTRODUÇÃO
6
salvadora de Jesus Cristo, explicando a Sua vida, morte, ressurreição, ascensão e domínio
sobre todas as coisas. Obviamente, a vinda de Cristo elucida muito daquilo que ainda não
estava suficientemente claro para o entendimento humano.
No entanto, não quero dizer que o NT não possui conteúdos inovadores, pelo contrário,
já que se trata de uma continuidade, podemos falar de uma evolução da comunicação de Deus
com o homem. Na pessoa de Cristo, começamos a entender que o domínio de Deus sobre
todas as coisas não é apenas espiritual, ou físico, mas é, também, um domínio moral. Por isso,
Cristo afirma categoricamente que não veio abolir a Lei ou os profetas, mas veio cumprir as
Escrituras (Mt 5:17).
Se Ele não veio abolir, mas cumprir, podemos entender que não havia correções, nem
novas doutrinas, apenas esclarecimento de tudo aquilo que já estava escrito. Assim, até
mesmo a doutrina da ressurreição, nasce no AT ecumpre-se na pessoa de Cristo no NT.
Concluindo, os eventos tratados no NT são mais que um registro de conhecimento da
vida e obra de Jesus; são um chamado, uma convocação para darmos continuidade à sua obra
aqui na terra.
https://bible.org/seriespage/2-introduction-new-testamenthttp://mb-
soft.com/believe/txw/newtheo.htm
7
CAPÍTULO I - PANORAMA TEOLÓGICO
A palavra ‘testamento’1 é uma das traduções possíveis para o termo grego ‘diathekes’
e para termo hebraico ‘berith’. Outras possibilidades de tradução para esses mesmos termos
seriam as palavras ‘aliança’ ou ‘pacto’. Creio, inclusive, que essas duas últimas traduções
possam demonstrar com maior clareza que o termo ‘Novo Testamento’ não se refere apenas a
um conjunto de livros, mas sim a uma nova Aliança, ou um novo Pacto, realizado entre Deus e
os homens.
Mas, você já deve ter percebido que é mais comum que encontremos a expressão
‘Novo Testamento’ do que ‘Nova Aliança’ ou ‘Novo Pacto’. Por que essa preferência? Por que
associamos ao significado de diathekes e berith o termo grego kleronomias que segundo Luz
(2003, p. 785) se refere à ‘ação de lei de partilha’, mas é mais comumente traduzida como
herança. Assim, como veremos adiante, a palavra ‘aliança’ se associa à ‘herança’ e nos faz
optar pelo uso da palavra testamento2 que, em nossa língua e cultura, representa um ato
jurídico por meio do qual uma pessoa dispõe de seus bens (herança) em favor de outrem
(herdeiro) para depois de sua morte (ver Hb 9:16-17).
Mas, esse esclarecimento sobre o significado da palavra ‘testamento’ suscita uma nova
dúvida: por que Deus precisaria fazer uma nova aliança com a humanidade? Por que um
Novo Testamento seria necessário? Algo teria falhado no projeto divino? Vamos buscar a
resposta para essas perguntas no lugar mais propício para um esclarecimento legítimo, a
saber, nas Escrituras.
1
1 Utilizarei no decorrer desse material as aspas simples (‘...’) para enfatizar determinadas palavras e as aspas duplas (“...”)
quando estiver fazendo uma citação direta de outros autores.
2
No nosso material, usarei indistintamente as palavras testamento, aliança ou pacto, considerando apenas aquela que me
der melhor fluidez no texto e que se encaixe melhor com o que precisamos compreender. Mas, especificamente, quando me
referir ao conjunto de livros, utilizarei sempre a palavra Testamento.
8
1.2 Características da Antiga Aliança
Uma aliança, mesmo quando feita sob a forma de testamento, é um tratado entre duas
partes, onde cada um dos envolvidos tem que cumprir suas obrigações sob pena de torna-la sem
efeito (ver Tg 2:10). A aliança que chamamos de antiga está registrada no livro de Êxodo.
Particularmente na passagem Êx 20:3-17, estão registrados os chamados 10 Mandamentos,
que funcionam como um resumo da Lei. Em Êxodo 24, Moisés leu a Lei para o povode Israel e
eles responderam: “Faremos tudo que o Senhor ordenou” (v.3), firmando, assim, um pacto,
um contrato, com o Deus. Essa aliança tinha as seguintes características:
1) A aliança que Deus fez com o seu povo consistia de duas partes: Deus
e os israelitas firmaram um compromisso solene com base no conteúdodo Livro da
Aliança (Êx 24:7).
2) A aliança foi selada pela morte de animais que foram oferecidos a
Deus. O sangue desses animais foi aspergido sobre o altar e sobre o povo(Êx 24:8).
3) A aliança foi ratificada pelo povo que prometeu obediência a Deus(Êx 24:3 e 7).
Jesus, na última ceia com os seus discípulos “tomou o cálice, deu graçase o ofereceu aos
discípulos, dizendo: ‘Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da [nova] aliança, que é
derramado em favor de muitos, para perdão de pecados’” (Mt 26:27,28; Lc 22:20),
estabelecendo, portanto, uma nova aliança, firmada no seu próprio sangue e sustentada pela
sua mediação (Hb12:24).
9
A questão que nos persegue é: por que foi necessário realizar essa novaaliança? O autor
da Carta aos Hebreus, fazendo uma longa citação de Jeremias 31, nos oferece uma explicação
nos capítulos 8 e 9. Ali, ele nos ensina que “as regras para adoração e o tabernáculo terreno”
(Hb 9:1) são “uma ilustração para os nossos dias, indicando que as ofertas e os sacrifícios
oferecidos não podiam dar ao adorador uma consciência perfeitamente limpa” (Hb 9:9).
Entendendo que antes mesmo da Lei, a vinda de Jesus e a nova aliança firmada através
do seu sangue já estava nos projetos de Deus (conforme Gn 3:15), podemos compreender em
que sentido a palavra ‘ilustração’ é utilizada nesse contexto. O autor quer nos mostrar que a
Lei, com todas as suas regras de adoração e de conduta pessoal e social, serviu, e serve até
hoje, para mostrar a incapacidade do ser humano de ser santo pelos seus próprios esforços.
Assim, ela ‘ilustra’, simultaneamente, a santidade de Deus e a incapacidade humana de
restaurar, por si mesmo, a imagem e semelhança com a Trindade.
Assim, era necessário que um sacrifício único e definitivo fosse feito paraque o Plano de
Salvação dos Filhos de Deus fosse cumprido em sua totalidade. Em Hb 9:22, aprendemos que
“quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há
perdão”.
Na primeira aliança, o sacrifício era de bodes e touros, e tinha efeito exterior, sem
atingir as mentes e corações humanos; na nova aliança, o sacrifício é feito com o sangue do
próprio Filho de Deus e tem, por meio do Espírito Santo, efeito eterno na purificação da nossa
consciência, tornando- nos servos de Deus.
Os grifos do versículo 15 foram feitos para chamar a nossa atenção para algumas
questões importantes:
10
1) Há uma distinção clara entre aquilo que o autor chama de ‘novaaliança’ e ‘primeira
aliança’. Logo, podemos entender que as duas
porções das Escrituras estão separadas de maneira coerente com aprópria Palavra de
Deus;
2) A ‘nova aliança’ é realizada através um ‘Mediador’ por meio de
quem ela ganha eficácia. Assim, sendo Cristo o Mediador, é impossívelse falar de uma
aliança com Deus sem a presença d’Ele;
3) A ‘nova aliança’ tem um objetivo claro, “que os que são chamados recebam a promessa
da herança eterna”. Entendemos, então, que a nova aliança está relacionada com a primeira
aliança naquilo que se
remete ao seu objetivo final: a salvação dos filhos de Deus.
Por esta razão, não podemos dizer que a antiga aliança está invalidade, mas que ela está
sendo perfeitamente cumprida em Cristo Jesus que se torna o perfeito mediador e, ao mesmo
tempo, o perfeito sacrifício. “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir,
mas cumprir” (Mt 5:17).
Em que medida a antiga aliança continua válida? Na concepção moral do povo de
Deus, no exemplo prático de vida dos seus personagens, na doutrina profética, na
comprovação da histórica dos feitos divinos e ilustração para sempre lembrarmos que não
seremos capazes de alcançar aDeus sem a graça.
11
CAPÍTULO II - PANORAMA HISTÓRICO
Uma distinção simples, mas importante, precisa ser feita no início desse capítulo, trata-
se do tempo de ocorrência da história e o tempo de produção da narrativa. Nesse sentido, para
fins didáticos, podemos dividir os livros do NT em dois grandes grupos: 1) aqueles que
compõem uma narrativa dos fatos relativos à vida de Jesus e o início da Igreja, isto é, os
evangelho e Atos dos Apóstolos; e, 2) as cartas e profecia.
No primeiro grupo, existe uma diferença histórica entre os fatos e a produção
narrativa, isto significa que os evangelhos e atos dos apóstolos foram escritos alguns anos
após os fatos narrados. No segundo grupo, a produção escrita é o próprio evento histórico, ou
seja, o ensino e a profecia realizada nas epístolas são a história que queremos investigar.
Durante os três anos do seu ministério, Jesus ficou conhecido em todo o território de
Israel. E menos de trinta anos depois da sua morte já havia igrejas cristãs em um vasto
território (Grécia, Ásia e Europa). Você já se perguntou como a mensagem de Cristo pode
ter se expandido tão ampla e rapidamente em uma época em que não havia rádio, televisão,
jornais ou Internet? Ou como Paulo e seus amigos viajavam distâncias tão grandes para pregar
o evangelho e fundar novas igrejas?
Deus criou um ambiente propício para que o seu Reino se expandisse de acordo com
os seus planos. Uma grande sucessão de importantes eventos históricos preparou o caminho do
Messias.
12
Alguns fatores que Favoreceram o Ministério de Jesus
Retorno do povo judeu, que estava cativo na Babilônia, a Israel;
Desenvolvimento logístico do sistema de correios;
Globalização da língua grega;
Propagação da cultura e filosofia gregas;
Construção de um grande número de estradas;
Dispersão dos judeus e estabelecimento de várias sinagogas no mundoantigo;
A conjuntura que possibilitou tudo isso foi criada no chamado período Interbíblico,
também conhecido como Intertestamentário ou período do Silêncio de Deus. Esse último
nome se deve ao fato de que os acontecimentosaos quais nos referimos ocorreram entre o final
do ministério do profeta Malaquias (último profeta do Antigo Testamento) e o início do
ministério de João Batista (profeta que precede à chegada de Cristo).
3 O Império Persa, ou Medo-persa, teve início antes do início do período intertestamentário. Esse,
como se verá mais adiante, é um importante fato para a história do povo de Deus e para a formação do
ambiente do Novo Testamento.
13
Cada uma das situações políticas vividas pelo povo de Israel teve importantes
influências para a preparação do ambiente em que o nosso Salvador nasceria, vamos a elas:
O Império Persa teve seu início muito antes do Período Interbíblico, por volta do ano
555 a.C., quando começaram as grandes conquistas do rei Ciro. No entanto, Deus já tinha
planos muito especiais para eles.
Em 588/7 a.C., por causa da sua grande idolatria, o povo de Deus foi dominado pelos
babilônios e levado cativo, cumprindo a profecia anunciada por Jeremias (Jr 25 12-13; 29 10-
11).
Mas, era necessário que o povo voltasse para a terra de Israel, pois o Messias deveria
nascer em Belém, segundo vaticinaria mais tarde o profeta Miqueias (Mq 5:2).
Então, Deus usou o Império Persa da seguinte forma: Cronologia do Império
Persa em relação ao
Povo de Deus
1) Libertando os judeus do cativeiro na Babilônia, que
durou 70 anos, conforme havia sido prenunciado pelo • 930 a.C. – Morre o Rei
Salomão e o seu reino é
profeta Jeremias (Jr 25 12-13; 2910-11); dividido em dois: Israel e
Judá;
2) Permitindo que o povo judeu reconstruísse o Templo
• 911 a.C. – Início do
de Jerusalém na época de Esdras; Império Assírio;
3) Autorizando o povo judeu a restaurar a Lei eo • 722 a.C. – Samaria (capital
do Reino do Norte) foi
Sinédrio (Ed 6-10); invadida pelos Assírios e o
4) Permitindo que os muros da Cidade Santafossem Reino de Israel destruído. O
Reino do Sul se mantém
reconstruídos por Neemias; vivo, porém paga pesados
5) Desenvolvendo um avançado sistema decorreios. tributos aos assírios;
• 620 a.C. – Ascenção do
Império Babilônico;
Todas essas ações do Império Persa tiveram reflexos • 588/7 a.C. – A Babilônia
importantes no cumprimento dos planos de Deus para a conquista Israel e lhe impõe
70 anos de terrívelcativeiro;
formação do ambiente em que o Messias viria a nascer e para a • 555 a.C. – Ascenção do
rápida propagação da sua Santa Igreja. Império Persa, primeiras
conquistas de Ciro;
• 539 a.C. – Os Persas
invadem a Babilônia;
• 517 a.C. – O povo de
14
2.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura(331 a 167 a.C.)
Se os persas foram usados por Deus para permitir que o povo voltasse a
Jerusalém e restaurasse a sua religião, criando a atmosfera religiosa4 e geográfica adequada
para o nascimento de Jesus, os gregos deram as seguintes colaborações:
O Império Romano foi o sistema político prevalecente durante todo o período do Novo
Testamento. Manteve um sistema escravocrata. Teve característica essencialmente comercial,
deixando a agricultura em segundoplano, fato que gerou desemprego rural, trazendo as famílias
para as cidades. Organizou-se politicamente em um modelo de república, parecido com o
nosso, dividindo o império em províncias que tinham seus próprios governadores.
As principais colaborações desse império para o ambiente do NT e paraa propagação da
mensagem de Jesus foram:
O Império Romano abrangeu todo o período da vida de Cristo e dos autores do Novo
Testamento e, também, de grande parte dos chamados Pais da Igreja. As estruturas, a cultura e o
sistema político-religioso desenvolvido por Roma foi crucial para que o Novo Testamento
alcançasse tamanha amplitudeem tão pouco tempo.
Quando, em 1582, o Papa Gregório XIII instituiu o calendário da era Cristã6, definindo
o ano de nascimento de Jesus, houve um equívoco no cálculo dos anos. A Bíblia nos mostra
que Jesus nasceu na época em que Herodes, o Grande, estava reinando em Israel (Mt 2:1-20),
César Augusto era o Imperador de Roma (Lc 2:1) e Quirino era governador da Síria (Lc 2:2).
Quanto ao tempo de César Augusto e Quirino, não há problemas de datação com o
Calendário Gregoriano. Mas, o reinado de Herodes, o Grande, iniciou em 37 a.C. e terminou
com a sua morte em 4 a.C., considerando que quando Herodes se deu conta de que havia sido
enganado pelos magos, ordenou que se matassem todas as crianças com menos de 2 anos
(Mt 2:16), podemos supor que já havia certo tempo do nascimento de Jesus. Então, é
razoável se estabelecer que o isso aconteceu entre os anos 6 e 5 a.C.7.
Essa conclusão nos leva a outro problema de datação que a tradição gregoriana nos
5
A ‘infiltração’ de cristãos no exército romano foi tão forte e significativa para a propagação do Reino de Deus que alguns
políticos da época atribuíram ao comportamento cristão do Reino de Deus que alguns políticos da época atribuíram ao
comportamento cristão (misericórdia e respeito à vida alheia) a responsabilidade pela queda do império romano. Fato que
Santo Agostinho contesta no seu livro A Cidade de Deus, no século IV d.C.
6
Conhecido como Calendário Gregoriano, foi imediatamente adotado pela Espanha, Itália, Portugal, Polónia e,
posteriormente, por todos os países ocidentais. É o calendário que utilizamos até hoje.
7
Maiores detalhes em: HEDRIKSEN (2003, p. 15-97).
17
deixa, trata-se da ideia de que Jesus teria morrido aos 33 anos. O argumento para defende essa
idade segue duas passagens bíblicas: 1) em Lc 3:23, o evangelista nos ensina que Jesus tinha
aproximadamente 30 anos quando iniciou a sua vida pública; 2) a narrativa feira no evangelho
segundo João (precisamente em 2:13-23; 5:1; 6:4 e na descrição da morte de Jesus)
encontramos quatro festas da páscoa, considerando que a festa é anual e que a morte de Jesus
ocorreu na páscoa, poderíamos inferir que Ele haveria morrido aos 33 anos.
Esse argumento nos deixaria com problemas para harmonizar as datas mais precisas
que temos em relação à vida e morte de Jesus. Antes de morrer, Herodes, o Grande, fez um
testamento que distribuía o reino entre os seus filhos: a Iturea e Traconite ficaram com Filipe
que governou entre 4 a.C. e 34 d.C.; a Galileia ficou para Herodes Antipas que governou entre
4 a.C. e 39 d.C.; e a Judéia ficou para Arquelau que, sendo considerado um mal governador,
foi deposto em 6 d.C. e substituído por uma sequência de governadores, dentre eles Pôncio
Pilatos que governou entre 26 e 36 d.C.
Em Lucas 3:1, aprendemos que o ministério de Jesus teve início no décimo quinto ano
do reinado de Tibério César. Essa informação nos leva para o ano 28, fato que não contraria
Lucas 3:23 quando afirma que Jesus tinha aproximadamente 30 anos quando iniciou sua vida
pública, pois ele teria 33 ou 34 anos nessa época. Tomando as informações descritas por João,
citadasacima, teríamos que a Jesus viveu até 36 ou 37 anos.
Talvez isso seja uma surpresa para você, mas essa idade conferiria com o fato de Ele
ter nascido no período de Herodes, o Grande, e de ter morrido no governo Pôncio Pilatos.
Mas, o que nos importa a idade de Jesus? Trata-se de termos coerência histórica sobre a vida
do Senhor e sermos capazes de responder a indagações baseadas nesses fatos. Esse nível de
coerência nos permite defender a nossa fé, fato que é mais importante do que manter uma
tradição que nos coloca em dúvida diante de qualquer estudo histórico, visto que a idade de 33
anos não confere com as descrições do próprio evangelho.
O quadro abaixo faz um ordenamento cronológico desses
acontecimentos:
18
Morte de Herodes, o Grande
Retorno do Egito eida Divisão do Reino entre os filhos de Herodes
4 a.C. para Nazaré (Galileia) Filipe Herodes Arquelau
(Mt 2:19-23) | Antipas |
Itureia e | Galileia | Judeia
Traconite
Queda de
6 d.C.
Arquelau
Jesus vai pela primeira Insurreição de
7 d.C. vez ao Judas da
Templo (Lc 2:41) Galileia
Morte de Augusto Cesar e início do reinadode
14 d.C.
Tibério Cesar
Edificação de
18 d.C. Tiberíades Por
Herodes
Antipas
Início do
26 d.C. Governo de
Pôncio Pilatos
Início do Ministériode
28 d.C. Jesus
Batismo (Mt 3:13-17)
Tentação (Mt 4)
31 d.C. Crucificação
Fim do
34 d.C. governo
de Filipe
Fim do
36 d.C. governo de
Pilatos
Fim do
39 d.C. governo de
Antipas
19
2.7 Paulo de Tarso e sua importância no cristianismo
Paulo é o maior dos autores do Novo Testamento, a ele são atribuídas as escritas de 13
cartas/epístolas que são fundamentais para a compreensão da mensagem de Cristo e para a sua
aplicação na vida cotidiana.
Nascido na cidade de Tarso, Paulo filho de judeus e se apresenta assim:
“circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim,
verdadeiro hebreu; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo; perseguidor da igreja; quanto à
justiça, que há na lei, irrepreensível”(Fl 3:5).
Atos 13:9
20
CAPÍTULO III – PANORAMA DOS LIVROS
21
Tabela 2 – Seções de distribuição dos livros do Novo Testamento
Livros Autores Ideia Principal8
Mateus Mateus Jesus, o Messias Prometido
Evangelhos Marcos Marcos Jesus, o Servo de Deus
Lucas Lucas, o médico Jesus, o Filho do Homem
João João9 Jesus, o Filho de Deus
Histórico Atos dos
Lucas, o médico A Igreja
Apóstolos
Romanos A vida pela fé
I Coríntios As desordens na Igreja
II Coríntios A autoridade apostólica
Gálatas A graça
Efésios Unidade da Igreja
Gerais
8
Essa visão sobre a ideia geral de um livro pode variar de autor para autor.
9
Embora haja divergências entre teólogos e historiadores, o Evangelho, as três cartas e Apocalipse são atribuídos ao mesmo
autor;
10
É quase unânime a teoria de que se trata, realmente, do irmão de Jesus.
22
II Pedro Pedro Alerta contra o perigo dentroda
igreja
I João João, o evangelista Vida de comunhão comDeus
11
Ver detalhes sobre a autoria dessa epístola nos comentários finais da seção 3.3.3.
23
se inicia.
Vejamos algumas análises sobre cada um dos livros que compõem essegrupo.
12
Gentio é o termo usado pelos judeus para se referir a todos aqueles que não têm origem israelita. Algumas vezes, funciona
como sinônimo de incrédulos.
13
Afirmar que o autor é anônimo, implica dizer que ele não assinou a carta. Mas, as análises históricas e a tradição da igreja
nos dão sustentação suficiente para confiar na autoria atribuída.
24
Receptores: a igreja em Roma (de acordo com Papias), o que explica
sua preservação junto com os Evangelhos de Mateus e de Lucas, maisextensos.
Ênfase: o tempo do governo de Deus (o reino de Deus) chegou, com Jesus; Jesus
realizou o novo êxodo prometido em Isaías; o Messias real veio em fraqueza, sua
identidade sendo um segredo exceto para aqueles a quem ela é revelada; o caminho do
novo êxodo leva à morte de Jesus em Jerusalém; o caminho do discipulado consistem
em carregar a cruz e segui-lo.
Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 328).
Autor: de acordo com uma tradição muito antiga, Lucas, o médico eantigo
companheiro do apóstolo Paulo (Cl 4:14), o único autor gentio da Bíblia.
Data: incerta; os estudiosos se dividem entre uma data anterior à morte de Paulo (64 d.C.,
ver At 28:30-31) e outra depois da queda de Jerusalém(70 d.C., pelo uso que o autor faz do
Evangelho de Marcos).
Receptor(es): Teófilo é de outro modo desconhecido; seguindo o costume dos prefácios
desse gênero na literatura greco-romana, ele provavelmente foi o patrocinador do livro de
Lucas-Atos, subscrevendo portanto a sua publicação; os leitores implícitos são cristãos
gentios, cujolugar na história de Deus é assegurado por meio da obra de Jesus Cristo e do
Espírito Santo.
Ênfase: O Messias de Deus veio até seu povo, Israel, com a prometida inclusão dos
gentios; Jesus veio para salvar os perdidos, incluindo todos os tipos de pessoas
marginalizadas que para a religião tradicional estariam fora dos limites; o ministério de
Jesus é executado sob o poder do Espírito Santo; a necessidade de morte e ressurreição
de Jesus (que cumpriram promessas do AT) para o perdão dos pecados.
25
d) Atos dos Apóstolos
26
Conteúdo: a história de Jesus, Messias e Filho de Deus, contada a partirde uma
perspectiva pós-ressurreição; na sua encarnação, Jesus revelou a Deus e tornou sua vida
disponível a todos por meio da cruz.
Autor: as evidências internas apontam para João, o discípulo amado, aquele “que
escreveu essas coisas” (21:24; cf 13:23; 19:25-27; 20:2; 21:7).
Data: provavelmente entre 90-95 d.C.
Receptores: parece-nos ter sido enviada a uma comunidade cristã bastante
conhecida do apóstolo, provavelmente a mesma a quem sedirige em I João.
Ênfase: Jesus é o Messias, o filho de Deus; em sua encarnação ele tanto revelou o amor
de Deus como redimiu a humanidade; discipulado significa “permanecer na videira”
(que é Jesus) e dar fruto (amar como ele amou); o Espírito Santo será concedido ao seu
povo para continuar
sua obra.
É comum, mas não pacífico, entre os estudiosos aceitar que cartas são aquelas
correspondências que são enviadas a uma pessoa específica sem a intensão de que deva ser
mostrada à comunidade. Enquanto epístolas seriam justamente o contrário, aquelas
correspondências que se destinam a uma comunidade, sem direcionamento pessoal.
As cartas e epístolas são um subconjunto precioso no NT, são nove epístolas e quatro
cartas atribuídas a Paulo; mais Hebreus, Tiago, I e II Pedro e I e II João que são epístolas e III
João que é uma carta endereçada a Gaio. Vamos dividi-las da seguinte maneira:
As epístolas Paulinas são, sem dúvida, a maior fonte de ensino do Novo Testamento,
toda a doutrina cristã emerge desse conjunto de livros. Obviamente, elas são um complemento
aos evangelhos e somam-se com asoutras obras da Bíblia. Mas, enfatizo a grande importância
desse pequeno grupo de livros para o amadurecimento da fé cristã nos corações dos dias
atuais.
27
Conteúdo: instrução e exortação apresentando a compreensão
que Paulo tem do evangelho – de que judeus e gentios, juntos,
formam o povo de Deus, com base na justiça recebida pela fé em
Jesus Cristo e na
dádiva do Espírito.
Receptores: a igreja em Roma, que não foi fundada por Paulo
nem estava sob sua jurisdição – embora ele saúde ao menos vinte
e seis pessoas conhecidas suas
(16:3-16).
Romanos Ocasião: uma combinação de três fatores: 1) a visita que Febe
tinha intenção de fazer a Roma (16:1-2); 2)a visita de Paulo a
Roma e o desejo de ir até a Espanha com a ajuda dos irmãos
romanos (15:17-29); e, 3) informações sobre tensões entre os
cristãos judeus e
gentios ali.
Ênfase: judeus e gentios como povo único de Deus; o papel dos
judeus na salvação de Deus por meio de Cristo; a salvação
somente por meio da graça, recebida pela fé me Jesus Cristo e
efetuada pelo Espírito; o fracasso da Lei e o êxito do Espírito em
produzir justiça verdadeira; a necessidade de ser transformado
pelo Espírito para viver em unidade como o povo de Deus no
presente.
30
Conteúdo: ações de graças, encorajamento,
exortação e informação para cristãos gentios recém-convertidos.
Nas epístolas Paulo se dirigiu com ênfase à Igreja de Cristo em sua coletividade, ele
nos ensinou a ser Igreja. Sua mensagem permeou temas importantes como, por exemplo, os
dons do Espírito (I Co 12-14 e Ef 4) como forma permanente da ação da Trindade na
evangelização dos povos (cf. At 1:8); a necessidade da pregação aos gentios (Gl 1:16; 2:7-9) de
um evangelhoexclusivamente vindo de Deus (Gl 1:6-9; 2:2; Cl 1:5-6). Seu ensino sempre teve
como fundamento e alvo o Cristo crucificado e ressuscitado (I Co 2:2; 15:3-4; Gl 3:1) e a
expectativa da Segunda vinda (I Ts 4:13-511; II Ts 2).
31
3.3.2 Cartas Paulinas
32
Ênfase: a verdade do evangelho como a misericórdia de Deus
demonstrada a todas as pessoas; o caráter que precisam ter os líderes da
igreja; os ensinos especulativos, o ascetismo e o amor à polêmica e o
amor ao dinheiro desqualificam a pessoa para a liderança da igreja;
Timóteo, firmando-se no evangelho, deve dar exemplo de liderança e
caráter cristãos genuínos.
33
evangelho da graça se contrapõe aos falsos ensinosbaseados na lei
judaica.
Conteúdo: o propósito exclusivo dessa carta é garantir operdão a
um escravo (provavelmente fugitivo) chamado
Onésimo. Uma grande lição de restauração de
relacionamentos.
Receptores: Filemon é um cristão gentio em Colossos (Cl 4:9),em cuja
Filemon casa a igreja se reúne.
Ocasião: Onésimo se converteu recentemente e tem servido a Paulo, que
está na prisão; ele agora está sendo enviado de volta a Filemon,
acompanhado por Tíquico; este também leva consigo cartas às igrejas em
Colossos (Colossenses) e na
Ásia (Efésios).
Ênfase: O evangelho reconcilia as pessoas umas com as outras, não
apenas judeus (Paulo) e gentios (Filemon), mas, também, escravos e seus
senhores, tornando todos irmãos.
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 441-461)
Vou chamar de epístolas não-paulinas aquelas escritas por Pedro, Tiago e Judas, bem
como a epístola aos Hebreus. Excluo, também, as epístolas de João, pois serão tratadas
separadamente. Não é uma nomenclatura a que se deva nenhuma explicação, mas apenas uma
forma de separar os livros do Novo Testamento.
Esse conjunto de epístolas é especialmente diverso, dificilmente caberia dentro de
qualquer outra classificação que tentassem lhe atribuir. O que podemos encontrar em comum
entre elas? Muito pouco, mas, nessas epístolas, de maneira geral, o Senhor nos comunica a
34
profunda mudança da relação entre Deus e a sua criação, ocorrida por ocasião do sacrifício de
Cristo. Os temas centrais dessas epístolas estão ligados ao abandono da visão imperfeita da
religião judaica e a aproximação com a plenitude de Deus emCristo.
Vamos conhecê-las melhor?
Ênfase: Deus pronunciou a sua palavra final absoluta por meio de seu
Filho; abandonar a Cristo é abandonar a Deus completamente; Cristo é
superior a tudo o que veio antes – a antiga revelação, seus mediadores
angélicos, o primeiroxodó (Moisés e Josué) e todo o sistema sacerdotal;
o povo de Deus pode ter plena confiança no Filho de Deus, o perfeito
sumo sacerdote, que oferece a todas as pessoas o
acesso imediato a Deus.
35
Receptores: os fiéis em Cristo entre os judeus da Diáspora.
Ocasião: desconhecida, mas o tratado mostra uma preocupação quanto
à situação real nas igrejas, incluindo diversas provações, discórdias
causadas por palavras duras
e de julgamento e abuso dos pobres pelos ricos.
Ênfase: a fé prática por parte dos cristãos; alegria epaciência em
meio às provocações; a natureza da
verdadeira sabedoria (cristã); as atitudes dos ricos emrelação aos
pobres; o bom e o mau uso da língua.
Conteúdo: encorajamento aos cristãos passando por sofrimento,
instruindo-os sobre como responder de maneiracristã aos perseguidores
e exortando-os a viver uma vida
digna do seu chamado.
Receptores: aos cristãos da dispersão, nas cinco provínciasda Ásia
Menor (a Turquia moderna).
Ocasião: provavelmente uma preocupação quanto ao surto de
I Pedro
perseguição local que alguns cristãos recentes estavam experimentando
como resultado direto de sua féem Cristo.
36
Conteúdo: uma carta pastoral de exortação, advertindo
severamente acerca de alguns falsos mestres que “seinfiltraram” entre
eles.
Receptores: desconhecidos, provavelmente uma congregação
constituída predominantemente de cristãos judeus, em algum lugar na
Palestina, bastante familiarizado
Judas com o Antigo Testamento e com a literatura apocalíptica judaica.
c) a autoria da carta de Judas: para que não haja confusão, não é deJudas Iscariotes, o
traidor. Esse Judas se apresenta humildemente como irmão de Tiago, portanto, estamos nos
referindo a mais um irmão do próprio Jesus.
37
3.3.4 Demais escritos joaninos
38
Conteúdo: advertência contra os falsos mestres que negam
a encarnação de Cristo.
Receptores: veja I João
II João
Ocasião: a ‘senhora eleita’ é ou uma igreja local específica
ou uma mulher que hospeda uma igreja na sua casa; ‘seusfilhos’ são os
membros da comunidade cristã.
Ênfase: a mesma de I João.
Conteúdo: a alegria de João em razão da fidelidade deGaio, seu filho
na fé.
Receptores: Gaio, filho na fé de João, que vive em outracidade.
III João Ocasião: uma carta anterior à mesma igreja havia sido ridicularizada por
Diótrefes, que, também, recusou hospitalidade aos amigos de João, além
de excluir da igreja quem lhes desse guarita. Consequentemente, João
escreve
a Gaio, pedindo-lhe que receba Demétrio.
Ênfase: as obrigações de hospitalidade cristã,
especialmente para com os ministros itinerantes aprovados.
Conteúdo: uma profecia cristã, apresentada na forma de epístola,
tratando dos dias vindouros e trazendo os temas da grande tribulação
(sofrimento) e do juízo que se abaterá
sobre toda a terra.
Receptores: igrejas da província romana da Ásia (atualTurquia).
39
A abordagem joanina, em todos os seus escritos, é fundamentalmente voltada para
salvação e vida eterna. É nos escritos joaninos que encontramos a centralidade da missão de
Jesus. João é o único que registra o diálogo do Messias com Nicodemos, em que Jesus declara
que “Deus amou o mundo detal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3:16).
É João que reiteradas vezes registra as declarações mais veementes do Cristo sobre
quem Ele é e o que veio fazer aqui: “eu vim para que tenham vida, e que a tenham
plenamente” (Jo 10:10). As suas epístolas, definitivamente, têm teor confirmatório da
mensagem do seu evangelho. E sua base está na certeza da vida eterna.
Nesses dois trechos, vemos que o propósito de João, tanto no evangelho quanto nas
cartas é o mesmo: comunicar que todo aquele que crê já tem a vida eterna. Esse propósito não é
distinto em Apocalipse, pois nele João anuncia aquilo que “em breve há de acontecer” (Ap
1:1). E que razão haveria para uma profecia sobre o fim dos tempos, se não para nos proteger
do mal e nos guiar para a eternidade?
40
CAPÍTULO IV – PANORAMA TEMÁTICO
41
necessário que a mais perfeita auto revelação de Deus viesse em amor, pois essa é a sua
essência (I Jo 4:8), para “dar a sua vidaem resgate de muitos” (Mc 10:45b), a saber, de todos os
que creem (Jo 3:16).
Assim, Cristo se revela como o que veio para “buscar e salvar os que estavam
perdidos” (Lc 19:10). Fazendo da sua encarnação (Jo 1:14) o meio para que Ele pudesse ser,
simultaneamente, o redentor e o sacrifício perfeito e inequívoco que tiraria o pecado do mundo
(Jo 1:29). Vamos entender comoEle pode ser, ao mesmo tempo, homem e Deus.
Os evangelhos escritos por Mateus e Lucas iniciam a narrativa das boas novas de
Cristo a partir do seu nascimento virginal, dando certa ênfase à genealogia de Cristo. A
narrativa apresentada por Marcos ignora a infância do Senhor Jesus e já começa com o
ensinamento moral do seu evangelho, convocando a todos, na voz de João Batista, para o
arrependimento dos pecados. O quarto evangelho, narrado por João, surpreende por uma
narrativa inteiramente voltada para o reconhecimento da natureza divina de Jesus e da
espiritualidade da Sua obra, mas, considera fundamental a informação de que Cristo foi
homem. Vejamos, então, quais os aspectos da humanidade de Cristo.
Jesus Cristo, como já mencionado, está nas listas das genealogiashumanas (Mt 1:1-16;
Lc 3:23-38). Excetuando-se a concepção divina, seu nascimento foi totalmente humano (Mt
1:25; Lc 2:7; Gl 4:4). Ele cresceu e se desenvolveu como qualquer pessoa (Lc 2:40-52; Hb
5:8). Ele apresentou as mesmas limitações que qualquer um de nós: cansaço (Jo 4:6); fome (Mt
21:18), sede (Mt 11:19). O sofrimento o afligiu como a qualquer outro ser humano (Mc 14:33-
36; Lc 22:63; 23:33). Emocionou-se como qualquer um, demonstrando:
tristeza (Mt 26:37); supresa (Lc 7:9); alegria (Lc 10:21), compaixão (Mt 9:36) e até ira (Mc
3:5). E a última prova de sua vida plenamente humana é o fato dele ter padecido por meio de
armas e torturas humanas (Lc 22:44; Jo 19:33).
Outra evidência da plena humanidade de Cristo é que Ele estudou, meditou e explicou
as Escrituras (Mt 4:4; 19:4; Lc 2:46; 24:47). Ele orava publicamente (Lc 3:21) e participava
42
das cerimônias públicas de adoração (Lc 4:16). Apresentava-se ao Pai na sua devoção íntima e
pessoal (Lc 6:12).
Apesar de sua superioridade em relação à sabedoria de qualquer ser humano (Jo 1:47;
4:29; Lc 6:8; 9:47) e de ser um exímio conhecedor das Escrituras (Mt 22:29; 26:54,56; Lc
4:21ss; 24:27, 44ss), Jesus Cristo tinha limitações de conhecimento (Mc 5:30ss; 6:38; 9:21; Lc
2:46; Mc 13:22).
d) Suas tentações
Apesar de jamais haver pecado, Cristo foi tentado em todas as coisas, assim como
qualquer um de nós (Hb 4:15).
Mas, em tudo, é preciso ressaltar, Jesus jamais pecou, apesar de ser plenamente
humano. Ele foi o substituto perfeito de Adão, o primeiro homem, que introdução o pecado no
mundo (Rm 5). Ele nunca sucumbiu a depravação moral oriunda da Queda (Hb 4:15; 7:26; II
Co 5:21).
Por isso, Ele foi o sacrifício perfeito, o único que poderia tirar o pecado do mundo (Jo
1:29), levar sobre si as nossas culpas (Is 53), trazendo-nos a paz que era impossível por meio
da nossa fragilidade humana (Ef 2).
a) Os milagres de Cristo
43
b) As palavras de Cristo sobre a sua própria divindade
Severa (2010, p. 231) ensina: o próprio Cristo tinha consciência da sua divindade. Ele
mesmo se iguala ao Pai na vida (Jo 5:26), na honra (Jo 5:23), na glória (Jo 17:5), na eternidade
(Jo 8:58), no nome (Jo 8:24), na fórmula batismal (Mt 28:19). Ele declara sua união com o Pai
(Jo 5:18; 10:33, 38). Portanto, não foram só os discípulos que creram ser Jesus o Filho de
Deus. O próprio Cristo sabia da sua natureza divina.
Severa (2010, p. 231-232), também, nos lembra que: Jesus Cristo exerce atribuições
que só cabem à divindade. Ele tem autoridade para perdoar pecados (Mc 2:10), tem
autoridade sobre o sábado (Mc 2:28); sobre a vida dos homens (Mt 16:24-26), e tem poder
para salvar os homens dos seus pecados (Mt 1:21; Jo 8:34-36).
Estas são algumas das demonstrações de que, segundo a Bíblia, Jesus realmente é
Deus. Mesmo dotado de tamanho poder, Ele “embora sendo Deus, não considerou que o ser
igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo,
tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si
mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fl 2:6-8).
44
4.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos14
A expressão grega basileia tou~ Qeou~ (basileia tou Theo) diz respeito ao governo, ou
domínio, absoluto de Deus sobre todas as coisas. Um reino que se estende por todo o céu e por
toda a terra. Quando ouvimos falar de algo assim, pensamos sobre a forma como o Senhor vai
comandar tudo isso e quegrande exército Ele vai convocar. Mas, estranhamente, o Senhor tem
convocado um exército bastante diferente do que se imaginava.
Até aqui na narrativa da história de Jesus no Novo Testamento, o Reino de Deus não
foi definido. Os ensinos de Jesus e o exemplo de sua vida com seus discípulos acrescentaram
detalhes ao conceito do Reino. Jesus desafia as expectativas extremamente nacionalistas dos
judeus. Mostra aos seus seguidores como entrar no reino e conhece-lo. No processo, fica claro
que o Reino de Deus não é simplesmente algo que acontece no coração de cada indivíduo que
se acerta com Deus. Jesus está claramente decidido a ser líder da criação de uma nova
sociedade, uma nova nação, uma contracultura distinta que existe, prospera e jura lealdade a
Cristo como Rei, bem no meio dos reinos, sociedades, nações e culturas deste mundo rebelde.
14
Adaptado do livro: GIRARD, R. C. & RICHARDS, L. Guia fácil para entender a vida de Jesus. Ed. Thomas Nelson Brasil:
Rio de Janeiro, 2013.
15
Obviamente, o próprio Deus Pai.
45
Cristo quebra todas as regras que normalmente regem onde e como um reino obtém
seu poder. A história mostrou que ele foi o monarca mais poderoso que já reinou, mas todas
as estratégias de Jesus refletem “Deus se humilhando ao se tornar um servo”. A grandeza é
medida em termos de disposição para servir e sacrifício.
De acordo com a história contada por Mateus (4:23-24), Jesus pregava “as boas novas
do Reino” onde quer que as pessoas ouvissem. Logo se espalharam notícias de que ele tinha
poder para curar. De todas as partes da Galileia vinham pessoas. Logo as multidões de Jesus
adquiriram um perfume distinto: os doentes, fustigados pela dor, perturbados mental e
emocionalmente, epilépticos, tetraplégicos e paraplégicos – os destruídos, fracos,
atormentados, os que sofriam, vulneráveis, confusos, compulsivos e viciados. Naquele dia, os
mais necessitados foram levados por amigos ou se arrastaram para sair da cama e dos lugares
de confinamento e solidão. Eles acharam o caminho até Jesus porque ouviram de alguém que
ele poderia ajudar. Que jeito de edificar um reino! Heim?
Certa manhã, Jesus novamente andava perto do lago. As multidões sempre presentes o
cercavam. Era a mesma parte da praia onde, antes, ele havia chamado quatro pescadores para
deixarem o trabalho que faziam e se juntarem a ele. Mais uma vez, os barcos estavam
emparelhados na praia e os homens estavam levando as redes. Precisando de uma posição
melhor da qual pudesse falar à multidão, Jesus entrou no barco que era de seu amigo Simão
(Pedro) e pediu-lhe para ancorá-lo um pouco afastado da praia. Jesus sentou-se no barco para
ensinar. Sua voz reverberou na água, o que parecia um megafone, por isso a multidão na praia
pôde ouvi-lo.
Quando terminou de falar: Jesus virou-se para seu amigo e disse: “vamos pescar uns
peixes” (veja Lucas 5:4). Simão, a língua mais rápida do oeste, pensou que Jesus precisava
estar mais bem informado sobre os detalhes da pesca na Galileia. Ele e seus parceiros estavam
exaustos. Pescaram naquelaságuas durante a noite toda e não fisgaram nem um lambari!
“Mas, por que és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes”, diz Simão com
resignação (Lc 5:5). De repente, os peixes começaram a aparecernas redes, mais do que Pedro e
André podiam aguentar! Eles pediram a Tiago e João que enfileirassem o barco ao lado do
deles e ajudassem. Os dois barcos logo estavam cheio de peixes.
Enquanto os barcos sobrecarregados seguiam para a praia, Pedro caiu de joelhos diante
de Jesus, tomado pela consciência de que não era digno de estar na presença de tal autoridade,
46
confessando ser um homem pecador16. Todo o grupo de pescadores sentiu o mesmo temor.
“Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”, disse Jesus (Lc
5:10). Essa foi a terceira vez que ele abordou esses quatro homens para falar sobre serem seus
discípulos. Dessa vez, eles tomaram uma atitude definitiva, “deixaram tudo e o seguiram”
(5:11).
A única defesa da sociedade contra a lepra era a quarentena. Pela lei, o leproso deveria
viver sozinho ou com outros leprosos fora do acampamento.Ele não poderia ter nenhum contato
humano normal. Intocável, o leproso não podia ser empregado e érea obrigado a se submeter à
mendicância, embora pudesse esperar sofrer nove anos antes de morrer. Josefo17 relata que os
leprosos eram tratados como se fossem homens mortos.
Os efeitos psicológicos eram os piores aspectos do sofrimento do leproso. Uma
sensação de culpa e de rejeição por Deus muitas vezes acompanhava a doença, mesmo que o
leproso não fosse, pessoalmente, responsável por contraí-la. Ninguém precisava ser tocado
mais do que o leproso excluído. Jesus sabia disso.
Ao se prostrar diante de Cristo, esse leproso sentiu algo que talvez não sentisse havia
muito tempo. A mão de Jesus abaixou-se para tocar sua carne doente. “Quero. Seja
purificado!”, disse Jesus (Lc 5:13). Os horrores daquela terrível doença se foram com uma
palavra e um toque. Depois disso, Jesus deu duas ordens ao leproso curado:
16
Uma expressão idiomática judaica do século 1 para alguém que abandona a sinagoga.
17
Historiador judeu, contemporâneo de Jesus.
47
Razões das ordens de Jesus
Não sabemos se o homem foi até o sacerdote, mas o fato é que ele desobedeceu à
primeira ordem e, por isso, o número de pessoas para ver Jesus aumentou consideravelmente.
O Reino de Jesus foi se constituindo assim, da maneira mais improvável, Ele mostrava o
seu poder, com os seguidores menos influentes da sociedade, Ele fez com que a sua
mensagemse espalhasse.
Se Jesus tivesse seguido a lógica humana tradicional, não teria conseguido expandir o
seu Reino. Mas, em sua grande sabedoria e poder, Ele novamente escolhe os fracos. Ele fez
paralíticos andarem, e, também, fez homens ‘sãos’ ficarem paralisados.
48
carregando um paralítico em umamaca. Não podendo passar pela porta, eles subiram no
telhado, retiraramalgumas telhas e baixaram o homem até a sala, colocando em frente a Jesus.
Para surpresa dos estudiosos da Bíblia reunidos ali, Jesus disse ao paralítico: “Os seus
pecados estão perdoados”. Houve um silêncio ensurdecedor na sala. Incrédulos, os boatos
ficaram olhando para Jesus. Ninguém falou, mas todos pensaram um milhão de coisas!
“Blasfêmia! Somente Deus pode perdoar pecados!”
“Que é mais fácil dizer: ‘os seus pecados estão perdoados’, ou:’ levante- se e ande’?”,
perguntou Jesus (Mt 9:5). O silêncio ensurdecedor persistiu. “Mas,para que vocês saibam que o
Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico – levante-
se, pegue a sua maca e vá para casa” (Mt 9:6).
O homem levantou-se, pegou sua maca e saiu pela porta gritando “Aleluia” (ou
alguma expressão de gratidão a Deus). Enquanto isso, aqueles que se achavam mais dignos do
Reino, ficaram paralisados, preferindo não crer.
A busca continuava, nos lugares mais inusitados, Jesus ia à procura de pessoas para o
seu Reino. Ele não se preocupava com sua própria reputação,apenas considerava a necessidade
de escolher pessoas que precisassem do seu amor. Esse é, definitivamente, um reino diferente,
onde o rei é servo dos súditos.
“São estes que vim curar”, respondeu Jesus. Ele não defendeu o estilo de vida deles.
Ele os chamou à mudança (Lc 5:32). Jesus estava interessado nos excluídos sociais de sua
época. Ele passou tempo com eles. Amou-os. Elesouviram, e muitos se tornaram discípulos.
Em contrapartida, os fariseus acreditavam que seu dever religioso era permanecer o
mais distante possível dos infiéis a ponto de nem ensinarem a lei. Comer com essas pessoas
era pior do que conversar com elas, assim pensavam os fariseus, porque repartir um prato de
comida significava reconhecer e acolher os pecadores.
Para Jesus, ser política ou religiosamente correto era inútil. Era para apresentar
49
pessoas errantes à graça de Deus que ele viva.
Outro tema de grande importância do Novo Testamento é a ideia de Corpo. Era muito
comum na Grécia Antiga utilizar a analogia com o corpo para enfatizar a necessidade de
comprometimento de cada pessoa com o seu grupo social (ver, por exemplo, o Organon de
Aristóteles). Na Bíblia essa analogia é utilizada com um sentido mais amplo, refletindo sobre
a unidade em meio à diversidade.
O Novo Testamento, especialmente nas epístolas paulinas, nos faz entender que a
Igreja do Senhor é formada por muitas pessoas e, consequentemente, há uma grande diferença
entre cada indivíduo. No entanto, essas diferenças individuais, chamadas de diversidade, não
podem atrapalhar a unidade da Igreja. Por isso, a metáfora do corpo é utilizada para dizer:
somos todos diferentes e por isso temos diferentes funções no corpo, somos todos importantes
e por isso precisamos uns dos outros, temos todos o mesmo valor para Cristo e por isso Ele
nos quer unidos.
Essa importante temática sobre o sentido de Corpo está largamente presente na
doutrina do Novo Testamento. Além da evangelização, que veremos no tópico a seguir, a
comunhão dos Santos é o principal eixo de manutenção da Igreja de Cristo.
Esses dois trechos das Escrituras nos remetem ao tipo e à profundidade do vínculo que
o Senhor criou conosco através da Cruz do Calvário. Ele trouxe unidade, inicialmente para
dentro de nós. No primeiro trecho, Paulo nos fala sobre a cura de nossa alma. Éramos pessoas
divididas, havia, em um mesmo corpo, dois homens que guerreavam dentro de nós. A
primeira solução de Cristo foi trazer paz para o nosso coração, acabando com a nossa
esquizofrenia espiritual e nos fazendo um só diante dele.
Ao transformar a nossa mente, Cristo nos colocou em unidade com todos os irmãos
que têm a mesma fé. Não somos mais estrangeiros, somos concidadãos, participantes do
mesmo Reino, membros da mesma família. Mas, o que isso significa na prática?
Infelizmente, a história da Igreja vem, de fato, nos mostrando que essa visão de
Stedman não é apenas um arrogo negativista, mas uma realidade triste se consumando sob a
forma de individualismo extremado dentro da casa de Deus. O fato é que precisamos retomar
o caminho através das Escrituras.
O apóstolo João nos ensina que a koinonia é, necessariamente, realizada em duas vias,
51
ou duas dimensões: precisamos estar ligados a Deus para que possamos estar ligados aos
irmãos.
Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também
tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu
Filho Jesus Cristo. (I Jo 1:3).
O pecado nos afasta de Deus e da própria comunidade divina, que é sobrenatural. Estar
perto da igreja física, não implica estar próximo da Igreja de Deus. Principalmente, quando o
pecado é a discórdia dentro ministério terreno. Assim, é necessário confessar os pecados,
purificar os nossos corações, corrigir os nossos delitos e restaurar a nossa relação com o Pai
paraque possamos restabelecer a vida íntegra na igreja de Cristo.
Conviver em pequenos grupos pode ser uma boa solução para a unidade da Igreja,
considerando, principalmente, a união com Cristo. Mas, esses pequenos grupos devem ser
sempre regidos pelos ensinos bíblicos. Aqui,separamos os chamados mandamentos recíprocos,
aqueles que nos são dados com a expressão “uns aos outros”. Esse enunciado nos remete a
ideia de existem mandamentos bíblicos que mostram a preocupação de Cristo com a unidade
do Seu Corpo.
a) Ama uns aos outros – esse mandamento engloba todos os outros, é, sem dúvida, o
principal mandamento de Cristo para a relação entre os irmãos.
52
O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros Jesus Jo 15:12
como eu os amei.
Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros. Jesus Jo 15:17
Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de Paulo Rm 13:8
uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximotem
cumprido a lei.
Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que Paulo I Ts 3:12
vocês têm uns para com os outros e para com todos,a exemplo
do nosso amor por vocês.
b) Servir uns aos outros – esse é um mandamento que Cristo nos ensinou como
ninguém, tanto em palavras, como em atitudes. Lavando os pés dos seus discípulos (Jo 13),
assumindo o papel de servo, mesmoo sendo o grandeRei (Mc 10:45 e Fl 2), morrendo em nosso
lugar. Dessa forma, a Bíblia nos ensina:
A ideia de servir uns aos outros parece ser um grande problema para os cristãos
modernos. Mas, esse é um mandamento que continua vivo nas sagradas Escrituras. John Stott
(1969, p. 87) já ensinava o seguinte: “certamente sem algum serviço ou mobilização de orden
prática, a comunhão de qualquer grupo cristão está mutilada”.
O Dr. Stott está certo! Não podemos falar em comunhão no corpo, em unidade no
corpo, se não tivermos a capacidade de servir uns aos outros de forma totalmente voluntária e
despretensiosa.
c) Levar o fardo uns dos outros – a vida, desde a queda no Éden, é repleta de
desequilíbrios, algumas pessoas com muito, outras com pouco. As diferenças de
oportunidades são latentes. Assim, o Senhor nos faz perceber a partir de sua palavra que é
necessário ajudar uns aos outros a superar as dificuldades e intemperes.
53
Na sua carta aos Gálatas, Paulo ensina: “Levem os fardos pesados uns dos outros e,
assim, cumpram a lei de Cristo” (Gl 6:2). Essa é, e sempre será, uma das marcas registradas
da verdadeira Igreja de Cristo, a disponibilidadepara ajudar o próximo, sem nenhuma intensão
de retorno.
Esses versículos nos ensinam que, mesmo que a Igreja tenha um alto grau de
comunhão verdadeira, sempre haverá irmãos e irmãs imperfeitos, como nós, para serem
perdoados. E que nós mesmos sempre cometeremos erros que precisarão do perdão de outras
pessoas. Assim, é necessário que noCorpo de Cristo haja, também, reciprocidade na disposição
para perdoar.
54
e) Confessar nossos pecados uns aos outros – a confissão de pecados é terapêutica e
pode funcionar para duas coisas: 1) para nos policiar, isso mesmo, ao confessar nossos
pecados a alguém em quem confiamos, teremos, supostamente, mais dificuldade de voltar a
cometer o mesmo pecado, pois agora temos a quem prestar contas de nossa vida; 2) para que
recebamos apoio em oração e que os efeitos espirituais dos nossos erros sejam suplantados pela
força da fé e da súplica diante de Deus.
Tiago, o irmão de Jesus, nos ensina assim: “confessem os seus pecados uns aos outros
e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tg
5:16).
Observação: não há como relacionar esse mandamento à doutrina da confissão da
Igreja Católica, pois, em primeiro lugar, trata-se de um mandamento recíproco, onde as
pessoas devem ter mutualidade na sua confissão e não confessar a uma autoridade. Em
segundo lugar, a confissão aqui não tem caráter punitivo, nem penitencial, é uma confissão
terapêutica.
f) Edificar uns aos outros – o conhecimento da Palavra de Deus deve seaperfeiçoar nos
nossos diálogos e nas nossas atitudes. Devemos compartilharo nosso conhecimento acerca das
Escrituras e, também, usar o sábio conhecimento para admoestar os irmãos quando eles
cometerem pecados. Da mesma forma, devemos ter corações e mentes ensináveis a fim de que
possamos receber ensinamentos e admoestações dos nossos irmãos.
Na carta aos Romanos, Paulo demonstra sua confiança nos crentes da cidade de Éfeso,
pois sabe que os que ali participam da igreja do Senhor são, de fato, convertidos e
conhecedores da Palavra, por isso ele escreve: “Meus irmãos, eu mesmo estou convencido de
que vocês estão cheios de bondadee plenamente instruídos, sendo capazes de aconselhar-se uns
aos outros” (Rm15:14).
Na igreja de Tessalônica, esse comportamento já era praticado pelos cristãos que ali
congregavam, mesmo assim, Paulo insiste na instrução, dizendo: “exortem-se e edifiquem-se
uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo” (I Ts 5:11). O motivo da sua insistência está
nos versículos anteriores: a salvação em Cristo (v.9) e a união eterna com Deus (v.10).
Assim, podemos concluir que a edificação das nossas mentes, por meio da Palavra de
Deus, é o ato de provocar crescimento espiritual e desenvolvimento da nossa relação com o
Pai. Em um diálogo com os fariseus, Jesus, questionado sobre especulações de casamento no
céu, responde que os fariseus cometem engano por que não conhecem as Escrituras, nem o
poder de Deus (Mt 22:29). O contexto nos mostra que sem o pleno conhecimento das
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Escrituras e do poder de Deus, não seremos capazes de compreender, realmente as coisas
espirituais.
A Igreja não existe para a satisfação de seus membros. Estamos no mundo para prestar
testemunho da graça de Deus em Cristo. Somos a [...] “geração eleita, sacerdócio real, nação
santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz” (I Pe 2:9).
O equívoco mais comum que os cristãos cometem nesse ponto é admitira importância da
Grande Comissão, porém atribuí-la apenas ao trabalho dosque são especificamente preparados
18
Adaptado de BOICE, J. M. Fundamentos da fé cristã. Um manual de teologia ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Ed.
Central, 2011.
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para ela: os missionários. Alguns são chamados à obra missionária como uma vocação
especial, mas testemunharde Cristo não cabe só a estes: é dever de todo cristão.
A aceitação dessa responsabilidade foi um fator decisivo na expansão impressionante
da Igreja primitiva. Não foram apenas Paulo e outros líderes que levaram o evangelho aos
confins mais longínquos do mundo romano. Pelo contrário, pessoas anônimas, como você e
eu, participaram efetivamente desse crescimento.
Mas, não era apenas a Igreja primitiva que precisava do cumprimento dessa ordem. A
Igreja, nos dias atuais, ainda, depende largamente dos esforços de cada cristão para a
propagação da Palavra de Deus e do vívidotestemunho de Cristo.
Jesus Cristo desafia diariamente cada cristão da terra a deixar o seu conforto, arriscar a
sua vida, para levar o evangelho a todas as pessoas, inclusive aquelas que nos ridicularizam,
que nos causam repulsa, ou que nos amedrontam. Evangelizar é o grande mandamento divino.
Toda a vida cristãé uma preparação para a pregação do Evangelho a toda criatura.
Esse mandamento, conhecido como a Grande Comissão, é encontrado cinco vezes no
Novo Testamento: uma vez em cada um dos evangelhos e outra em Atos dos Apóstolos. Não
é possível minimizar a importância de um mandamento mencionado tantas vezes e de
maneiras tão claras.
Em cada inserção, a ênfase da Comissão da igreja é um pouco diferente, o que nos
convida a estuda-la e refletir sobre ela sob diferentes ângulos. Em Marcos, a ênfase é no Juízo
Final.
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pelo Pai: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio” (Jo 20:21b).
Em Atos, o mandamento está vinculado a um projeto para a evangelização do mundo:
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CAPÍTULO V – PANORAMA GEOGRÁFICO
Nesse panorama geográfico, queremos analisar três dos principais percursos descritos
no Novo Testamento: 1) o itinerário de Jesus; 2) o avanço da Igreja por meio dos anônimos; e,
3) as viagens missionárias de Paulo. Esses três percursos perfazem toda a amplitude do NT,
neles teremos, também, uma visão geopolítica da época em que o NT estava sendo vivido por
seus participantes.
5.1 Introdução
Na antiguidade, a formação geopolítica das nações era muito frágil e as fronteiras eram
constantemente redefinidas por guerras e/ou acordos entre reis. Mas, no contexto específico da
época de Jesus, Israel era dominado por Roma e havia certa estabilidade política em todo o
Império; era a Pax Romana criando uma trégua entre as nações dominadas. Naquele ambiente,
as maiores variações ocorriam tão somente dentro dos próprios países por meio da
distribuição de cargos e domínios políticos.
Desta forma, as características étnicas de Israel foram pouco afetadas com a atuação
do Império Romano, possibilitando-nos ter informações mais acuradas sobre quem são, por
exemplo, as pessoas que mantiveram diálogos com Jesus; ou as razões pelas quais ele escolhe
termos militares para falar com os habitantes de Decápolis, enquanto usa parábolas agrícolas
para conversarcom os galileus.
Então, podemos entender que um dos exercícios de compreensão do Novo Testamento
é a localização geográfica e as características disponíveis das populações que entram em
diálogo com Cristo. Ao acompanhar a trajetória de Cristo, percebemos que Ele muda suas
estratégias ministeriais, mas sem jamais modificar o sentido da sua missão.
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isso, a profecias surpreende, ninguém esperava que o Rei de Israel viesse de uma terra tão
insignificante do ponto de vista político. Mas, Jesus não viveu em Belém, Ele cumpriu a
profecia do seu nascimento e, conforme visto no Panorama Histórico, seus pais tiveram que
fugir para o Egitoa fim de evitar que Ele fosse assassinado na matança promovida por Herodes,
o Grande (ver Mt 2).
De acordo com o evangelho de Lucas, o governador da Síria, Quirino convocou um
recenseamento, ordenando que cada cidadão deveria ir à sua cidade natal para se apresentar e
fazer uma espécie de registro. Desta forma, José levou Maria para a sua cidade, Belém. Ali,
Jesus nasceu (Lc 2:1-7).
Já no evangelho segundo Mateus, magos vindos do oriente, guiados por uma estrela,
visitaram o rei Herodes a fim de saber onde estava o meninoque seria rei dos judeus. Ao ouvir
as palavras dos magos, Herodes procurou, sem sucesso, saber onde estava Jesus, não
conseguindo a informação, ordenou a morte de todas as crianças com menos de dois anos que
vivessem em Belém e nas proximidades. Avisados dos planos de Herodes por um anjo, José e
Maria fugiram parao Egito (Mt 2:1-18). O retorno só aconteceu quando Herodes morreu. Eles
voltaram a viver em Nazaré, pois a Galileia, ao contrário da Judeia, estava sendo governada
com jugo suave.
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Mapa 1 – Primeiras viagens de Jesus
Fonte: Dowley(2010)
O mapa acima dá uma ideia da distância percorrida pelos pais de Jesus na ocasião do seu
nascimento. Hoje, se olharmos no Google, vamos encontrar que a distância entre Nazaré e
Belém é de cerca de 30 Km. Mas, perceba, no mapa acima, que o percurso foi feito evitando a
passagem pela região da Samaria, pois judeus e samaritanos não se davam bem (c.f. Jo 4:9).
Dessa maneira, estima-se que o percurso tenha sido de aproximadamente 100 Km.
Mas, uma distância muito maior foi percorrida na fuga para o Egito. Descrita,
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rapidamente, em Mt 2:13-14, não podemos saber quanto tempo, exatamente, Jesus
permaneceu naquele país. Mas, sabemos que foi uma longa e exaustiva viagem.
Fonte: Dowley(2010)
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5.3 O ministério na Judeia
Fonte: Dowley(2010)
Champlin (2002) chama a nossa atenção para o fato de o evangelho de João narrar um
ministério preliminar de Jesus na Judeia. Apresentando no trecho 1:29-51 os contatos iniciais
com os primeiros discípulos; em seguida, no capítulo 2, o primeiro milagre de Jesus,
transformar água em vinho; no capítulo3, está narrada a entrevista de Jesus com Nicodemos; e,
no capítulo 4, sua passagem pela Samaria.
Também, podemos encontrar no trecho 2:13-22 o que teria sido a primeira purificação
63
do templo. No entanto, há dúvidas sobre essa passagem,pois muitos eruditos a consideram fora
da ordem cronológica dos acontecimentos.
Importante destacar o encontro de Jesus com João Batista, narrado no primeiro e
segundo capítulo do evangelho de João. Jesus identificou-se com o ministério de João Batista,
pregando o arrependimento dos pecados e o caminho da santidade.
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partisse; 2) nessa época, Jesus não gostava de ser seguido pelas multidões (ver Mc 7:24), é um
período de maior introspecção, em que, além do ensino aos mais próximos, Ele planeja e ganha
coragem para realizar os acontecimentos que Ele sabia que iriam suceder em breve.
Há certa discussão sobre que caminho Jesus teria tomado na parte da viagem em que
teria que desviar a Samaria. No Mapa 1, nós podemos observar que o trajeto normal era
desviar a Samaria, mas Mc 10:1 nos dá a ideia de que Jesus teria adentrado o território
samaritano. Alguns acreditam que Jesus, de fato, foi pela Pereia, outros apontam para a ideia
de Jesus teriaadentrado a Samaria e os seus discípulos foram pela Pereia.
Nessa parte da caminhada, Jesus apresenta a ideia de que a sua vida seria dada em
RESGATE DE MUITOS (Mc 10:42-45). Esse é outro ponto crucial da doutrina cristã que é
apresentado na caminhada para Jerusalém.
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Acontecimento Passagens
A Entrada Triunfal Mt 21:1-11; Mc 11:1-11; Lc 19:28-40; Jo 12:12-19
A traição Mt 26:14-16; Mc 14:10,11; Lc 22:1-6; Jo 13:18-30
A Última Ceia Mt 26:17-30; Mc 14:12-26; Lc 22:7-23; Jo 13:18-30
Jardim do Getsêmani Mt 26:36-46; Mc 14:32-42; Lc 22:39-46
Aprisionamento Mt 26:47-56; Mc 14:43-52; Lc 22:47-53; Jo 18:1-11
Julgamento de Jesus Mt 26:57-67; Mc 14:53-65; Lc 22:66-71; Jo 18:12-14;
19-24; 28-40.
A Crucificação Mt 27:32-44; Mc 15:21-32; Lc 23:26-43; Jo 19:16-27
A descida ao Hades I Pe 3:18-20
A Ressurreição Mt 28:1-10; Mc 16:1-8; Lc 24:1-12; Jo 20:1-9
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CAPÍTULO 6 - A EXPANSÃO DO EVANGELHO POR MEIO DOS
ANÔNIMOS
Após a ressurreição, Jesus disse aos seus discípulos para não saírem de Jerusalém a
fim de esperar a promessa de Deus (At 1:4). Jesus certamente se referia a profecia de Joel
2:28-32 que se cumpriria mais adiante, no dia de Pentecostes.
Mas, tudo aquilo tinha um sentido muito forte, Jesus estava comissionando todos os
cristãos para que levassem o seu nome por toda a terra. “Mas receberão poder quando o
Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a
Judéia e Samaria, e atéos confins da terra” (At 1:8).
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6.2 Um movimento espiritual
Fonte: Dowley(2010)
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Marshall (1999) chama a atenção para o fato de que o evangelho ainda não havia
alcançado os gentios e que na narrativa de Atos 2 não há gentios, mas sim judeus de todas
essas localidades que viram o fenômeno eouviram o discurso de Pedro (2:14-36) e muito deles
se converteram (ver 2: 41). Veja que algumas das cidades presentes no Mapa 4, isto é, em At
2:9-11, são posteriormente visitadas por Paulo nas suas viagens missionárias. Inclusive
Roma,igreja para quem Paulo escreve uma grande e importante carta.
O que podemos aprender desse aspecto geográfico? Que muitas pessoas, cujos
nomes não estão escritos na Bíblia, nem em qualquer livro de história, que não receberam
qualquer honra nessa terra, creram e pregaram o nome do Senhor Jesus ao ponto de dar
continuidade à obra do próprio Cristo.
O poder que recebemos do Senhor Jesus nos é dado, mediante aconversão, para que
possamos ser como aqueles anônimos de Atos dos Apóstolos, testemunhas vivas das maravilhas,
profetas das palavras eimitadores do nosso Senhor Jesus.
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A Ásia Menor também está presente em At 2:9-11.
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Mapa 5 – Primeira Viagem Missionária de Paulo
Fonte: Dowley(2010)
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Mapa 6 – Segunda Viagem Missionária de Paulo
Fonte: Dowley(2010)
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anos, Paulo escreveu I e II Coríntios, Romanos, e talvez (ainda que não todas) algumas das
chamadas epístolas da prisão – I e II Timóteo e Tito. De Antioquia Paulo partiu para Éfeso. Ali
passoucerca de três anos, tendo estabelecido um dos centros mais importantes do cristianismo,
a despeito da feroz oposição, movida tanto pelos judeus como pelos aderentes da adoração à
deusa Artemisa (Diana). Desse ponto, provavelmente Paulo visitou diversas outras áreas ao
redor, mas seu trabalho principal se concentrou em Éfeso. Também tornou a visitar as
congregações cristãs ao redor do mar Egeu, que haviam sido anteriormente fundadas.
Atravessando Trôade, Paulo chegou à Macedônia, onde escreveu a epístola chamada II
Coríntios, e dali partiu para Corinto. Nessa cidade ele passou o inverno e escreveu a epístola
aos Romanos, antes de continuar viagem até Mileto, um porto próximo de Éfeso.
Fonte: Dowley(2010)
Por essa altura, Paulo desejou subir a Jerusalém, a fim de levar auxílio aos crentes
pobres dali (empobrecidos pela perseguição e pela fome), enviados pelos crentes gentílicos. A
princípio ele queria ir à Síria por via marítima, mas, devido a uma armadilha que lhe fizeram
para tirar-lhe a vida, preferiu viajar por terra, tendo atravessado a Macedônia. Dali, ele e seus
companheiros de viagem tomaram um navio e velejaram ao longo das costas ocidentais da Ásia
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Menor. Breves paradas foram efetuadas em diversos lugares, incluindo Mileto, cidade
portuária de Éfeso, o que forneceu a Paulo a oportunidade de despedir-se, finalmente, dos
crentes que ali habitavam. Eventualmente desembarcaram em Tiro, na costa da Síria. A
despeito das várias advertências sobre os perigos que ele teria de enfrentar em Jerusalém,
Paulo prosseguiu viagem. Paulo chegou em Jerusalém no Pentecoste, provavelmente em cerca
de 56 d.C. Sua terceira viagem missionária, por conseguinte, terminou após um pouco mais de
três anos de atividades.
Fonte: Dowley(2010)
Dali, viajando pelo mar, Paulo partiu para Roma, juntamente com muitos outros
prisioneiro. Fez diversas paradas ao longo do caminho, incluindo uma permanência de três
meses em Malta. Paulo chegou a Roma em 59 d.C., não como homem livre, mas, não obstante,
como poderosa testemunha do cristianismo. Chegando a Roma, Paulo não foi tratado como
prisioneiro no sentido ordinário, e nem como criminoso. Ali ele desfrutou do que se
denominava ‘libera custodia’, isto é, podia viver em sua própria casa, desfrutando de muitos
privilégios de liberdade e ação, mas sempre acompanhado de um guarda. Paulo pregava
àqueles que o visitava, explicando-lhes as razões de seu aprisionamento; e também enviava
epístolasa lugares distantes. Foi nesse período que, provavelmente, foram escritas as epístolas
aos Colossenses, a Filemom, aos Filipenses (e, provavelmente, aos Efésios).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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