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Apostila Panorama Do Novo Testamento

1) O documento discute a diferença entre um Panorama e uma Teologia do Novo Testamento, sendo que o Panorama fornece uma visão geral do contexto histórico e estrutural enquanto a Teologia se aprofunda na análise dos textos. 2) Ele será dividido em cinco seções tratando do panorama teológico, histórico, dos livros, temático e geográfico do Novo Testamento. 3) O objetivo é promover uma compreensão ampla da teologia, história, estrutura, temas

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Thiago Lins
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Apostila Panorama Do Novo Testamento

1) O documento discute a diferença entre um Panorama e uma Teologia do Novo Testamento, sendo que o Panorama fornece uma visão geral do contexto histórico e estrutural enquanto a Teologia se aprofunda na análise dos textos. 2) Ele será dividido em cinco seções tratando do panorama teológico, histórico, dos livros, temático e geográfico do Novo Testamento. 3) O objetivo é promover uma compreensão ampla da teologia, história, estrutura, temas

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1

APRESENTAÇÃO

Primeiramente, é necessário explicar que a diferença entre um Panorama do Novo


Testamento e uma Teologia do Novo Testamento é, tão somente, o método de estudo aplicado
na análise do conteúdo dos documentos que compõem essa porção das Sagradas Escrituras. A
palavra panorama não é utilizada no sentido de introdução, nem muito menos como indicação
de uma análise superficial; quando falamos em Panorama do Novo Testamento estamos nos
referindo à construção de um estudo global, amplo e contextualizador do material bíblico.
Para ser mais claros, embora de maneira simplista, podemos dizer que enquanto uma
Teologia do Novo Testamento utiliza os métodos dehermenêutica e exegese, visando a análise
dos textos e seus significados mais profundos; um Panorama do Novo Testamento deve
assumir o compromisso de sistematizar os conteúdos, analisar os contextos e fornecer
informações sobre pessoas, datas e lugares, oferecendo ao leitor uma visão global sem o
necessário compromisso com a investigação e interpretação dos textos.
A utilidade de um Panorama do Novo Testamento é, portanto, a compreensão
contextual e sistemática que pode e deve ser aplicada a tododesenvolvimento de uma Teologia
do Novo Testamente, ou seja, trata-se de um pré-requisito para o aprofundamento teológico
sem o qual a interpretação das Escrituras pode se tornar pouco acurada.
Mas, você deve ter observado que no título desse trabalho estamos usando a palavra
panorama sempre no plural. Isso é reflexo da metodologia que decidimos empregar. Nós
consideramos que por mais que desejemos teruma visão global, sempre partimos de pontos de
vista específicos. Assim, não podemos ter uma panorama geral do Novo Testamento, mas
panoramas que, partindo de um ponto de vista inicial, lançam luzes sobre o todo. Por exemplo,
podemos sentir a necessidade de entender o contexto histórico em que foi escrito o Novo
Testamento com a finalidade de compreender melhor a sua narrativa; ou, podemos sentir a
necessidade de entender como se organizam os livros do Novo Testamento, suas datas, seus
autores, seus temas e contextos.
O objetivo desse curso é promover uma visão geral e ampla sobre a teologia, a
história, a estrutura, os temas e a geografia do Novo Testamento. Para isso, dividimos o
estudo em cinco seções que serão discutidas em nossos encontros.

2
Introdução
Que discute o significado e a
1ª Panorama Teológico necessidade da existência de umNovo
Seção
Testamento.
2ª Ambiente e antecedentes históricos
Panorama Histórico
Seção do Novo Testamento
3ª Qual é a estrutura literária do Novo
Panorama dos Livros
Seção Testamento?
4ª Quais os temas e assuntos
Panorama Temático
Seção abordados no Novo Testamento?
Como a geografia aparece no

Panorama Geográfico Novo Testamento e o que ela
Seção
acrescenta à nossa teologia?

Esperamos que você compreenda a força e a importância desse conjunto de Escritos


sagrados, aplicando-os em sua vida e nas vidas das pessoas que lhe cercam.
A nossa oração é que este estudo, feito com uma leitura integrada das Escrituras, possa
aprofundar os seus conhecimentos sobre a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm
12:2b), capacitando-lhe para as boas obras que “Deus preparou de antemão para que nós as
praticássemos” (Ef 2:10b).

3
Sumário

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6
CAPÍTULO I - PANORAMA TEOLÓGICO........................................................................ 8
1.1 Por que um Novo Testamento? ........................................................................... .......8
1.2 Características da Antiga Aliança .............................................................................. 9
1.3 Voltando à questão ................................................................................................... 10
CAPÍTULO II - PANORAMA HISTÓRICO ...................................................................... 13
PARTE 1 – Introdução aos Antecedentes Históricos ..................................................... 13
2.2 Antecedentes Históricos do Novo Testamento ......................................................... 13
2.2 Influências do Império Persa (555 a 331 a.C.) ......................................................... 15
2.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura (331 a 167 a.C.) ....................... 16
2.4 Influências Religiosas dos Judeus ............................................................................ 17
2.5 Influências do Império Romano (63 a.C. ao tempo de Cristo) ................................ 18
2.6 Introdução à Vida de Jesus ...................................................................................... 19
2.7 Paulo de Tarso e sua importância no cristianismo ................................................... 22
CAPÍTULO III – PANORAMA DOS LIVROS .................................................................. 23
3.1 Características e estrutura ........................................................................................ 23
3.2 Um pouco dos Evangelhos....................................................................................... 25
3.2.1 Os evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos ............................................. 25
3.2.2 O Evangelho de João ..................................................................................... 28
3.3 As cartas e epístolas ................................................................................................. 29
3.3.1 Epístolas Paulinas .......................................................................................... 29
3.3.2 Cartas Paulinas .............................................................................................. 34
3.3.3 Epístolas Não-Paulinas .................................................................................. 36
3.3.4 Demais escritos joaninos ............................................................................... 40
CAPÍTULO IV – PANORAMA TEMÁTICO ..................................................................... 43
4.1 Humanidade e divindade de Cristo .......................................................................... 43
4.1.1 Cristo Homem: o sacrifício perfeito .............................................................. 44
4.1.2 Cristo Deus: o soberano sofredor .................................................................. 46
4.1.3 Cristo Homem-Deus: o salvador acessível .................................................... 47
4.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos .................................... 47
4.2.1 Revelando o sonho do Reino ......................................................................... 48
4.2.2 Pescando “pecadores” ................................................................................... 49
4.2.3 Um homem maltrapilho ................................................................................ 50
4.2.4 A paralisia dos que não são perdoados .......................................................... 52

4
4.2.5 Por que estes pecadores estão celebrando? ................................................... 53
4.3 A Comunhão com o corpo de Cristo........................................................................ 54
4.3.1 Unidade na diversidade ................................................................................. 54
4.3.2 A vida em comum ......................................................................................... 55
4.3.3 Os mandamentos recíprocos.......................................................................... 57
4.4 A Grande Comissão ................................................................................................. 61
4.4.1 A grande ordem do homem-Deus ................................................................. 62
CAPÍTULO V – PANORAMA GEOGRÁFICO................................................................. 65
5.1 Introdução ................................................................................................................ 65
5.2 Os primeiros passos do Senhor ................................................................................ 66
5.3 O ministério na Judeia ............................................................................................. 69
5.4 O ministério na Galileia ........................................................................................... 70
5.5 Partindo da Galileia.................................................................................................. 71
5.5.1 O Servo Sofredor ........................................................................................... 71
5.5.2 Caminho entre os inimigos? .......................................................................... 71
5.6 Enfim, na Judeia....................................................................................................... 72
CAPÍTULO VI - A EXPANSÃO DO EVANGELHO POR MEIO DOS ANÔNIMOS .. 74
6.1 O Comissionamento de um povo ............................................................................. 74
6.2 Um movimento espiritual ........................................................................................ 75
6.3 Os percursos Paulinos .............................................................................................. 77
6.4 Primeira viagem missionária.................................................................................... 77
6.5 Segunda viagem missionária.................................................................................... 79
6.6 Terceira viagem missionária .................................................................................... 81
6.7 Aprisionamento e encarceramento em Roma .......................................................... 82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 85

5
INTRODUÇÃO

Quando tomamos as Sagradas Escrituras em nossas mãos, vemos um único volume,


um único livro e deveríamos, também, ver uma única doutrina e uma única mensagem de
Deus para a sua única Igreja. Creio que era exatamente sobre isso que Paulo estava falando
quando disse que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que todo homem de Deus seja
apto e plenamente preparado para toda boa obra” (II Tm 3:16-17).
Hendriksen (2001, p. 371) ensina que quando Paulo diz toda a Escritura, “significa
tudo o que, por meio do testemunho do Espírito Santo na igreja, é reconhecido pela igreja
como canônico, ou seja, com autoridade”. Obviamente, Paulo não se referia apenas ao Antigo
Testamento, mas a tudo aquilo que ele mesmo, como instrumento de Deus, também, escrevia
para as igrejas e, agora, para o próprio Timóteo. Não há distinção, no tocante à inspiração
divina, entre qualquer livro ou qualquer parte da Bíblia.
O Novo Testamento (NT), portanto, não é nenhuma espécie de complemento, ou
correção do Antigo Testamento como alguns dizem. Longedisso, o NT é parte de uma unidade
e por isso nem mesmo deveria ser chamado novo. Permitam-me uma ilustração – reconheço
que se trata de uma ilustração pobre, mas falta-me uma melhor. Comparemos a Bíblia a uma
laranja, e imagine agora que alguém duvide que todos os bagos da laranja têm o mesmo sabor.
Para descobrir se isso é verdade, a pessoa abre a laranjae separa todos os bagos para que possa
experimentar um por um e assim comprovar, ou não, a sua teoria. Da mesma forma fazemos
com as Escrituras, separamos para que possamos compreendê-la melhor, experimentar cada
mensagem, cada parte. Mas, assim como uma laranja cortada não deixa de ser uma, a Bíblia
separada em partes menores não deixa de ser uma.
A palavra ‘Novo’ é utilizada apenas como uma divisão que se faz para compreender
melhor o contexto da realização da aliança feita em Cristo. Mas, essa aliança já estava feita
na eternidade e nada a impediria de tomar seu espaço na história. Então, o NT deve ser
entendido como uma continuação do registro escrito dos ensinos de Deus para o seu povo.
Jamais como uma porção separada ou independente, nem como uma nova doutrina, ou uma
nova ação de Deus.
Assim como no Antigo Testamento, esta porção da Palavra de Deus está recheada de
personagens, histórias, e eventos que, juntos, compõem a mensagem que o Senhor deseja nos
transmitir. Podemos dizer que o maior propósito do NT é apresentar as ‘boas novas’ da obra

6
salvadora de Jesus Cristo, explicando a Sua vida, morte, ressurreição, ascensão e domínio
sobre todas as coisas. Obviamente, a vinda de Cristo elucida muito daquilo que ainda não
estava suficientemente claro para o entendimento humano.
No entanto, não quero dizer que o NT não possui conteúdos inovadores, pelo contrário,
já que se trata de uma continuidade, podemos falar de uma evolução da comunicação de Deus
com o homem. Na pessoa de Cristo, começamos a entender que o domínio de Deus sobre
todas as coisas não é apenas espiritual, ou físico, mas é, também, um domínio moral. Por isso,
Cristo afirma categoricamente que não veio abolir a Lei ou os profetas, mas veio cumprir as
Escrituras (Mt 5:17).
Se Ele não veio abolir, mas cumprir, podemos entender que não havia correções, nem
novas doutrinas, apenas esclarecimento de tudo aquilo que já estava escrito. Assim, até
mesmo a doutrina da ressurreição, nasce no AT ecumpre-se na pessoa de Cristo no NT.
Concluindo, os eventos tratados no NT são mais que um registro de conhecimento da
vida e obra de Jesus; são um chamado, uma convocação para darmos continuidade à sua obra
aqui na terra.

https://bible.org/seriespage/2-introduction-new-testamenthttp://mb-
soft.com/believe/txw/newtheo.htm

7
CAPÍTULO I - PANORAMA TEOLÓGICO

Um breve panorama teológico do Novo Testamento nos ajudará a entender o que


significa a palavra Testamento, por que esse testamento é considerado Novo, qual a sua
relação com o Antigo Testamento e o que mudou de um testamento para outro.

1.1 Por que um Novo Testamento?

A palavra ‘testamento’1 é uma das traduções possíveis para o termo grego ‘diathekes’
e para termo hebraico ‘berith’. Outras possibilidades de tradução para esses mesmos termos
seriam as palavras ‘aliança’ ou ‘pacto’. Creio, inclusive, que essas duas últimas traduções
possam demonstrar com maior clareza que o termo ‘Novo Testamento’ não se refere apenas a
um conjunto de livros, mas sim a uma nova Aliança, ou um novo Pacto, realizado entre Deus e
os homens.

Mas, você já deve ter percebido que é mais comum que encontremos a expressão
‘Novo Testamento’ do que ‘Nova Aliança’ ou ‘Novo Pacto’. Por que essa preferência? Por que
associamos ao significado de diathekes e berith o termo grego kleronomias que segundo Luz
(2003, p. 785) se refere à ‘ação de lei de partilha’, mas é mais comumente traduzida como
herança. Assim, como veremos adiante, a palavra ‘aliança’ se associa à ‘herança’ e nos faz
optar pelo uso da palavra testamento2 que, em nossa língua e cultura, representa um ato
jurídico por meio do qual uma pessoa dispõe de seus bens (herança) em favor de outrem
(herdeiro) para depois de sua morte (ver Hb 9:16-17).

Mas, esse esclarecimento sobre o significado da palavra ‘testamento’ suscita uma nova
dúvida: por que Deus precisaria fazer uma nova aliança com a humanidade? Por que um
Novo Testamento seria necessário? Algo teria falhado no projeto divino? Vamos buscar a
resposta para essas perguntas no lugar mais propício para um esclarecimento legítimo, a
saber, nas Escrituras.

1
1 Utilizarei no decorrer desse material as aspas simples (‘...’) para enfatizar determinadas palavras e as aspas duplas (“...”)
quando estiver fazendo uma citação direta de outros autores.
2
No nosso material, usarei indistintamente as palavras testamento, aliança ou pacto, considerando apenas aquela que me
der melhor fluidez no texto e que se encaixe melhor com o que precisamos compreender. Mas, especificamente, quando me
referir ao conjunto de livros, utilizarei sempre a palavra Testamento.
8
1.2 Características da Antiga Aliança

Uma aliança, mesmo quando feita sob a forma de testamento, é um tratado entre duas
partes, onde cada um dos envolvidos tem que cumprir suas obrigações sob pena de torna-la sem
efeito (ver Tg 2:10). A aliança que chamamos de antiga está registrada no livro de Êxodo.
Particularmente na passagem Êx 20:3-17, estão registrados os chamados 10 Mandamentos,
que funcionam como um resumo da Lei. Em Êxodo 24, Moisés leu a Lei para o povode Israel e
eles responderam: “Faremos tudo que o Senhor ordenou” (v.3), firmando, assim, um pacto,
um contrato, com o Deus. Essa aliança tinha as seguintes características:

1) A aliança que Deus fez com o seu povo consistia de duas partes: Deus
e os israelitas firmaram um compromisso solene com base no conteúdodo Livro da
Aliança (Êx 24:7).
2) A aliança foi selada pela morte de animais que foram oferecidos a
Deus. O sangue desses animais foi aspergido sobre o altar e sobre o povo(Êx 24:8).

3) A aliança foi ratificada pelo povo que prometeu obediência a Deus(Êx 24:3 e 7).

Adaptado de KISTEMAKER, 2003, p. 357.

Essa aliança foi, portanto, firmada com o cumprimento de todos os pressupostos de um


acordo válido: foi registrada (Dt 31:24; Js 8:32); foi ditada por Deus (Êx 20:1) e foi
solenemente aceita pelo povo israelita (Êx 24:3,7). Não haveria como descaracterizar a sua
validade sob qualquer alegação.
No entanto, essa Lei não era capaz de libertar a consciência do pecador (ver Hebreus,
capítulos 8 e 9), não era capaz de fazê-lo perceber a presença de Deus em todos os seus passos
e o deixava sem o amparo do Espírito Santo. Em outras palavras, a Lei não é capaz de aliviar as
lutas internas, que acontecem nas profundezas de nossa alma e consciência (ver Rm 7),
assim, precisamos da graça que veio por meio de Cristo na nova aliança.

1.3 Voltando à questão

Jesus, na última ceia com os seus discípulos “tomou o cálice, deu graçase o ofereceu aos
discípulos, dizendo: ‘Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da [nova] aliança, que é
derramado em favor de muitos, para perdão de pecados’” (Mt 26:27,28; Lc 22:20),
estabelecendo, portanto, uma nova aliança, firmada no seu próprio sangue e sustentada pela
sua mediação (Hb12:24).
9
A questão que nos persegue é: por que foi necessário realizar essa novaaliança? O autor
da Carta aos Hebreus, fazendo uma longa citação de Jeremias 31, nos oferece uma explicação
nos capítulos 8 e 9. Ali, ele nos ensina que “as regras para adoração e o tabernáculo terreno”
(Hb 9:1) são “uma ilustração para os nossos dias, indicando que as ofertas e os sacrifícios
oferecidos não podiam dar ao adorador uma consciência perfeitamente limpa” (Hb 9:9).
Entendendo que antes mesmo da Lei, a vinda de Jesus e a nova aliança firmada através
do seu sangue já estava nos projetos de Deus (conforme Gn 3:15), podemos compreender em
que sentido a palavra ‘ilustração’ é utilizada nesse contexto. O autor quer nos mostrar que a
Lei, com todas as suas regras de adoração e de conduta pessoal e social, serviu, e serve até
hoje, para mostrar a incapacidade do ser humano de ser santo pelos seus próprios esforços.
Assim, ela ‘ilustra’, simultaneamente, a santidade de Deus e a incapacidade humana de
restaurar, por si mesmo, a imagem e semelhança com a Trindade.
Assim, era necessário que um sacrifício único e definitivo fosse feito paraque o Plano de
Salvação dos Filhos de Deus fosse cumprido em sua totalidade. Em Hb 9:22, aprendemos que
“quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há
perdão”.

13Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma novilha


espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os santificam
de forma que se tornam exteriormente puros, 14quanto mais, então, o
sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma
imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à
morte, de modo que sirvamos ao Deus vivo!
15Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que os
que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto que
ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira
aliança. (Hb 9:13-15, grifo nosso).

Na primeira aliança, o sacrifício era de bodes e touros, e tinha efeito exterior, sem
atingir as mentes e corações humanos; na nova aliança, o sacrifício é feito com o sangue do
próprio Filho de Deus e tem, por meio do Espírito Santo, efeito eterno na purificação da nossa
consciência, tornando- nos servos de Deus.
Os grifos do versículo 15 foram feitos para chamar a nossa atenção para algumas
questões importantes:

10
1) Há uma distinção clara entre aquilo que o autor chama de ‘novaaliança’ e ‘primeira
aliança’. Logo, podemos entender que as duas
porções das Escrituras estão separadas de maneira coerente com aprópria Palavra de
Deus;
2) A ‘nova aliança’ é realizada através um ‘Mediador’ por meio de
quem ela ganha eficácia. Assim, sendo Cristo o Mediador, é impossívelse falar de uma
aliança com Deus sem a presença d’Ele;
3) A ‘nova aliança’ tem um objetivo claro, “que os que são chamados recebam a promessa
da herança eterna”. Entendemos, então, que a nova aliança está relacionada com a primeira
aliança naquilo que se
remete ao seu objetivo final: a salvação dos filhos de Deus.

Sobre a nova aliança firmada em Cristo, Kistemaker (2003, p. 358)escreveu:


Qual é o significado da palavra “nova” na expressão nova aliança?
Primeiro, a nova vem da antiga, isto é, a nova aliança tem a mesma
base e características da antiga aliança. E, em ambas as alianças,
sacrifícios foram apresentados a Deus; mas enquanto os sacrifícios
oferecidos para expiar as transgressões do povo na época da primeira
aliança não podia libertar o pecador, o supremo sacrifício da morte de
Cristo redimiu o povo de Deus e pagou por seus pecados. Além do
mais, na estrutura da primeira aliança, o mediador (isto é, o sumo
sacerdote) era imperfeito. Na nova aliança Cristo é o mediador que
garante a promessa da salvação. Deus põe suas leis na mente e as
escreve no coração de seu povo redimido, para que como resultado
eles conheçam a Deus, experimentem remissão de pecados e gozem
uma comunhão pactual com ele.

Por esta razão, não podemos dizer que a antiga aliança está invalidade, mas que ela está
sendo perfeitamente cumprida em Cristo Jesus que se torna o perfeito mediador e, ao mesmo
tempo, o perfeito sacrifício. “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir,
mas cumprir” (Mt 5:17).
Em que medida a antiga aliança continua válida? Na concepção moral do povo de
Deus, no exemplo prático de vida dos seus personagens, na doutrina profética, na
comprovação da histórica dos feitos divinos e ilustração para sempre lembrarmos que não
seremos capazes de alcançar aDeus sem a graça.

11
CAPÍTULO II - PANORAMA HISTÓRICO

Uma distinção simples, mas importante, precisa ser feita no início desse capítulo, trata-
se do tempo de ocorrência da história e o tempo de produção da narrativa. Nesse sentido, para
fins didáticos, podemos dividir os livros do NT em dois grandes grupos: 1) aqueles que
compõem uma narrativa dos fatos relativos à vida de Jesus e o início da Igreja, isto é, os
evangelho e Atos dos Apóstolos; e, 2) as cartas e profecia.
No primeiro grupo, existe uma diferença histórica entre os fatos e a produção
narrativa, isto significa que os evangelhos e atos dos apóstolos foram escritos alguns anos
após os fatos narrados. No segundo grupo, a produção escrita é o próprio evento histórico, ou
seja, o ensino e a profecia realizada nas epístolas são a história que queremos investigar.

PARTE 1 – Introdução aos Antecedentes Históricos

O Novo Testamento narra um ambiente social, político cultural estabelecido através de


fortes influências dos povos que dominaram Israel nos últimos quatrocentos anos. Esse
ambiente foi determinante para a propagação do evangelho e para a expansão da igreja cristã
no mundo antigo.

Assim, vamos começar esse capítulo estudando os antecedentes históricos do Novo


Testamento, buscando compreender como o chamado período intertestamentário interferiu
nos eventos históricos e na produção da narrativa e da doutrina que encontramos nas páginas
das Sagradas Escrituras.

2.2 Antecedentes Históricos do Novo Testamento

Durante os três anos do seu ministério, Jesus ficou conhecido em todo o território de
Israel. E menos de trinta anos depois da sua morte já havia igrejas cristãs em um vasto
território (Grécia, Ásia e Europa). Você já se perguntou como a mensagem de Cristo pode
ter se expandido tão ampla e rapidamente em uma época em que não havia rádio, televisão,
jornais ou Internet? Ou como Paulo e seus amigos viajavam distâncias tão grandes para pregar
o evangelho e fundar novas igrejas?

Deus criou um ambiente propício para que o seu Reino se expandisse de acordo com
os seus planos. Uma grande sucessão de importantes eventos históricos preparou o caminho do
Messias.
12
Alguns fatores que Favoreceram o Ministério de Jesus
Retorno do povo judeu, que estava cativo na Babilônia, a Israel;
Desenvolvimento logístico do sistema de correios;
Globalização da língua grega;
Propagação da cultura e filosofia gregas;
Construção de um grande número de estradas;
Dispersão dos judeus e estabelecimento de várias sinagogas no mundoantigo;

Anseio de liberdade dos judeus.

A conjuntura que possibilitou tudo isso foi criada no chamado período Interbíblico,
também conhecido como Intertestamentário ou período do Silêncio de Deus. Esse último
nome se deve ao fato de que os acontecimentosaos quais nos referimos ocorreram entre o final
do ministério do profeta Malaquias (último profeta do Antigo Testamento) e o início do
ministério de João Batista (profeta que precede à chegada de Cristo).

Cronologia Panorâmica das Escrituras


Antigo Testamento Período Interbíblico Novo Testamento
1700 a.C. – 430 a.C. 430 a.C. – 30 d.C. 30 d.C. – 100 d.C.

Embora muitos historiadores e teólogos chamem os quatrocentos e sessenta anos que


separam o livro de Malaquias do início do ministério de João Batista de Período de Silêncio, o
que podemos perceber é que Deus preparou tudo para que o Messias viesse; e para que a Sua
presença fosse rapidamente anunciada. Nessa época, Israel passou por quatro períodos
políticos importantíssimos, incluindo três dominações por outros povos e um tempo de
independência promovido pelos Macabeus. Veja o quadro abaixo:

Situação Política Datas


3
Domínio Persa 555-331 a.C.
Domínio Grego 331-167 a.C.
Independência (Período dos Macabeus) 167-63 a.C.
Domínio Romano 63 a.C. ao tempo de Cristo.

3 O Império Persa, ou Medo-persa, teve início antes do início do período intertestamentário. Esse,
como se verá mais adiante, é um importante fato para a história do povo de Deus e para a formação do
ambiente do Novo Testamento.
13
Cada uma das situações políticas vividas pelo povo de Israel teve importantes
influências para a preparação do ambiente em que o nosso Salvador nasceria, vamos a elas:

2.2 Influências do Império Persa (555 a 331 a.C.)

O Império Persa teve seu início muito antes do Período Interbíblico, por volta do ano
555 a.C., quando começaram as grandes conquistas do rei Ciro. No entanto, Deus já tinha
planos muito especiais para eles.

Em 588/7 a.C., por causa da sua grande idolatria, o povo de Deus foi dominado pelos
babilônios e levado cativo, cumprindo a profecia anunciada por Jeremias (Jr 25 12-13; 29 10-
11).
Mas, era necessário que o povo voltasse para a terra de Israel, pois o Messias deveria
nascer em Belém, segundo vaticinaria mais tarde o profeta Miqueias (Mq 5:2).
Então, Deus usou o Império Persa da seguinte forma: Cronologia do Império
Persa em relação ao
Povo de Deus
1) Libertando os judeus do cativeiro na Babilônia, que
durou 70 anos, conforme havia sido prenunciado pelo • 930 a.C. – Morre o Rei
Salomão e o seu reino é
profeta Jeremias (Jr 25 12-13; 2910-11); dividido em dois: Israel e
Judá;
2) Permitindo que o povo judeu reconstruísse o Templo
• 911 a.C. – Início do
de Jerusalém na época de Esdras; Império Assírio;
3) Autorizando o povo judeu a restaurar a Lei eo • 722 a.C. – Samaria (capital
do Reino do Norte) foi
Sinédrio (Ed 6-10); invadida pelos Assírios e o
4) Permitindo que os muros da Cidade Santafossem Reino de Israel destruído. O
Reino do Sul se mantém
reconstruídos por Neemias; vivo, porém paga pesados
5) Desenvolvendo um avançado sistema decorreios. tributos aos assírios;
• 620 a.C. – Ascenção do
Império Babilônico;
Todas essas ações do Império Persa tiveram reflexos • 588/7 a.C. – A Babilônia
importantes no cumprimento dos planos de Deus para a conquista Israel e lhe impõe
70 anos de terrívelcativeiro;
formação do ambiente em que o Messias viria a nascer e para a • 555 a.C. – Ascenção do
rápida propagação da sua Santa Igreja. Império Persa, primeiras
conquistas de Ciro;
• 539 a.C. – Os Persas
invadem a Babilônia;
• 517 a.C. – O povo de

14
2.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura(331 a 167 a.C.)

O Império Grego teve início com as conquistas de Alexandre, o Grande (também


conhecido como Alexandre Magno). E se caracterizou por uma administração diferente de
todos os grandes impérios que o antecederam.

Se os persas foram usados por Deus para permitir que o povo voltasse a
Jerusalém e restaurasse a sua religião, criando a atmosfera religiosa4 e geográfica adequada
para o nascimento de Jesus, os gregos deram as seguintes colaborações:

1) A Língua Grega – A rápida propagação do Evangelho carecia de uma língua


universal que permitisse a circulação da Palavra sem necessidade de transmitir para
outras línguas;
2) A Filosofia Grega –os filósofos gregos desmascararam as falsas ideias religiosas
daquela época, levando as pessoas a procurarem uma religião que não fosse baseada
em mitos. Eles ensinaram, também, que:
2.1) A realidade não era temporal, nem material; mas, eterna e espiritual (ver o
Timeu de Platão);
2.2) Há uma forte distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado; isto é, já
discutiam sobre ética e moral;
2.3) o futuro eterno do homem é uma reflexão importante para o ser humano
(ver Apologia a Sócrates e Críton de Platão).
3) Enfraquecimento do politeísmo e do misticismo através da racionalidade
materialista, criando um ambiente perfeito para a mensagem de Cristo, oferece uma
perspectiva espiritual que não abandona a razão.

Enfim, os gregos cooperaram para a criação de um ambiente intelectual propício à fé


cristã. A valorização do conhecimento lógico e do caráter crítico de avaliação do mundo
colaborou com o desenvolvimento de uma mensagem que supre, de fato, as necessidades
espirituais e racionais dopovo antigo e de todas as épocas.

2.4 Influências Religiosas dos Judeus

Embora seja um período de grande importância histórica, a influência religiosa dos


judeus não está restrita ao período de independência política (167 a 63 a.C.). Nessa época, o
povo já estava restabelecido no território de Israel, Jerusalém estava murada e protegida, o
Templo estava reconstruído eem pleno funcionamento.
4
Depois de serem libertos do cativeiro na Babilônia, os Israelitas nunca mais cometeram o pecado da idolatria. Veremos a
importância disso mais adiante.
15
Então, as colaborações dos judeus foram as seguintes:

1) Monoteísmo – O judaísmo estava solidamente vinculado ao Deus único, que lhes


falou por meio da Lei (Moisés) e dos profetas;
2) O Antigo Testamento – O alicerce fundamental do cristianismo está no AT, com
seus ensinos morais e suas profecias acerca da vinda de Cristo;
3) Sistema Ético – Diferentemente da ética prevalecente na Grécia, os judeus não
consideravam que o pecado fosse apenas um fracasso moral externo, mas a violação da
vontade de Deus;
4) As Sinagogas – Para os judeus o lugar certo para adorar era o Templo (Único), mas,
no tempo do cativeiro babilônico, as sinagogas se tornaram lugar de adoração, dando
início à doutrina que ensina que Deus pode ser adorado em todo lugar;
5) A Esperança Messiânica – O judaísmo, embora não tenha reconhecido a Cristo,
acreditava vigorosamente na vinda do Messias que estabeleceria justiça sobre a terra;
6) a Filosofia da História – Para o judeu a história tem significado. Para eles, o
Soberano Deus triunfará na história a despeito da falha humana, trazendo a era
duradoura e o triunfo eterno.

Se os gregos e os persas trouxeram uma estrutura ambiental e cultural para o Novo


Testamento, os judeus nos deram as raízes da teologia neotestamentária. O AT, contando a
história da relação de Deus com o Povo,a Lei, formando o mais perfeito sistema ético de todos
os tempos, a profecia, antecipando o ensino e a história do Messias, e a Esperança na vinda de
Cristo e no Triunfo eterno de Deus dão sustentação à doutrina que aprendemos no Novo
Testamento.

2.5 Influências do Império Romano (63 a.C. ao tempo de Cristo)

O Império Romano foi o sistema político prevalecente durante todo o período do Novo
Testamento. Manteve um sistema escravocrata. Teve característica essencialmente comercial,
deixando a agricultura em segundoplano, fato que gerou desemprego rural, trazendo as famílias
para as cidades. Organizou-se politicamente em um modelo de república, parecido com o
nosso, dividindo o império em províncias que tinham seus próprios governadores.
As principais colaborações desse império para o ambiente do NT e paraa propagação da
mensagem de Jesus foram:

1) A Cidadania Romana – O romanos desenvolveram um sentido de unidade e


pertencimento que serviu de luz para a agregação do povo de Deus. Além disso, a
cidadania romana possibilitava a circulação do povo de Deus em todo o Império,
facilitando a pregação da Palavra;
16
2) A Paz Romana – Além da cidadania que dava o direito legal da livre circulação, o
exército romano garantia a paz e a segurança nas estradas da Ásia, África e Europa,
tornando as viagens mais seguras para todos;
3) O Sistema de Estradas – As estradas romanas eram feitas de estruturas que duraram
séculos (ainda se pode trafegar pela Via Appia nos dia atuais) e facilitaram as viagens
dos comerciantes, das tropas militares e,também, dos missionários na sua época;
4) O Exército Romano – Roma recebia como soldados os homens das áreas
conquistadas, fazendo deles soldados romanos. Isso ajudou a propagar a mensagem do
cristianismo dentro do próprio exército5;
5) A Tolerância Religiosa dos Romanos – Os romanos permitiam que os povos
conquistados mantivessem os seus cultos. Muitos desses povos não conseguiram
sustentar as suas crenças diante da filosofia greco- romana e acabaram entrando em
‘vácuo’ espiritual que foi, mais tarde,em larga medida, preenchido pelo cristianismo.

O Império Romano abrangeu todo o período da vida de Cristo e dos autores do Novo
Testamento e, também, de grande parte dos chamados Pais da Igreja. As estruturas, a cultura e o
sistema político-religioso desenvolvido por Roma foi crucial para que o Novo Testamento
alcançasse tamanha amplitudeem tão pouco tempo.

2.6 Introdução à Vida de Jesus

Quando, em 1582, o Papa Gregório XIII instituiu o calendário da era Cristã6, definindo
o ano de nascimento de Jesus, houve um equívoco no cálculo dos anos. A Bíblia nos mostra
que Jesus nasceu na época em que Herodes, o Grande, estava reinando em Israel (Mt 2:1-20),
César Augusto era o Imperador de Roma (Lc 2:1) e Quirino era governador da Síria (Lc 2:2).
Quanto ao tempo de César Augusto e Quirino, não há problemas de datação com o
Calendário Gregoriano. Mas, o reinado de Herodes, o Grande, iniciou em 37 a.C. e terminou
com a sua morte em 4 a.C., considerando que quando Herodes se deu conta de que havia sido
enganado pelos magos, ordenou que se matassem todas as crianças com menos de 2 anos
(Mt 2:16), podemos supor que já havia certo tempo do nascimento de Jesus. Então, é
razoável se estabelecer que o isso aconteceu entre os anos 6 e 5 a.C.7.
Essa conclusão nos leva a outro problema de datação que a tradição gregoriana nos

5
A ‘infiltração’ de cristãos no exército romano foi tão forte e significativa para a propagação do Reino de Deus que alguns
políticos da época atribuíram ao comportamento cristão do Reino de Deus que alguns políticos da época atribuíram ao
comportamento cristão (misericórdia e respeito à vida alheia) a responsabilidade pela queda do império romano. Fato que
Santo Agostinho contesta no seu livro A Cidade de Deus, no século IV d.C.
6
Conhecido como Calendário Gregoriano, foi imediatamente adotado pela Espanha, Itália, Portugal, Polónia e,
posteriormente, por todos os países ocidentais. É o calendário que utilizamos até hoje.
7
Maiores detalhes em: HEDRIKSEN (2003, p. 15-97).
17
deixa, trata-se da ideia de que Jesus teria morrido aos 33 anos. O argumento para defende essa
idade segue duas passagens bíblicas: 1) em Lc 3:23, o evangelista nos ensina que Jesus tinha
aproximadamente 30 anos quando iniciou a sua vida pública; 2) a narrativa feira no evangelho
segundo João (precisamente em 2:13-23; 5:1; 6:4 e na descrição da morte de Jesus)
encontramos quatro festas da páscoa, considerando que a festa é anual e que a morte de Jesus
ocorreu na páscoa, poderíamos inferir que Ele haveria morrido aos 33 anos.
Esse argumento nos deixaria com problemas para harmonizar as datas mais precisas
que temos em relação à vida e morte de Jesus. Antes de morrer, Herodes, o Grande, fez um
testamento que distribuía o reino entre os seus filhos: a Iturea e Traconite ficaram com Filipe
que governou entre 4 a.C. e 34 d.C.; a Galileia ficou para Herodes Antipas que governou entre
4 a.C. e 39 d.C.; e a Judéia ficou para Arquelau que, sendo considerado um mal governador,
foi deposto em 6 d.C. e substituído por uma sequência de governadores, dentre eles Pôncio
Pilatos que governou entre 26 e 36 d.C.
Em Lucas 3:1, aprendemos que o ministério de Jesus teve início no décimo quinto ano
do reinado de Tibério César. Essa informação nos leva para o ano 28, fato que não contraria
Lucas 3:23 quando afirma que Jesus tinha aproximadamente 30 anos quando iniciou sua vida
pública, pois ele teria 33 ou 34 anos nessa época. Tomando as informações descritas por João,
citadasacima, teríamos que a Jesus viveu até 36 ou 37 anos.
Talvez isso seja uma surpresa para você, mas essa idade conferiria com o fato de Ele
ter nascido no período de Herodes, o Grande, e de ter morrido no governo Pôncio Pilatos.
Mas, o que nos importa a idade de Jesus? Trata-se de termos coerência histórica sobre a vida
do Senhor e sermos capazes de responder a indagações baseadas nesses fatos. Esse nível de
coerência nos permite defender a nossa fé, fato que é mais importante do que manter uma
tradição que nos coloca em dúvida diante de qualquer estudo histórico, visto que a idade de 33
anos não confere com as descrições do próprio evangelho.
O quadro abaixo faz um ordenamento cronológico desses
acontecimentos:

Ano Vida de Jesus Vida do Império Romano


Nascimento de
5 a.C. Jesus (Mt 2:1) Recenciamento de Quirino(Lc
2:1-2)
Fuga para o Egito(Mt
2:13-15)

18
Morte de Herodes, o Grande
Retorno do Egito eida Divisão do Reino entre os filhos de Herodes
4 a.C. para Nazaré (Galileia) Filipe Herodes Arquelau
(Mt 2:19-23) | Antipas |
Itureia e | Galileia | Judeia
Traconite
Queda de
6 d.C.
Arquelau
Jesus vai pela primeira Insurreição de
7 d.C. vez ao Judas da
Templo (Lc 2:41) Galileia
Morte de Augusto Cesar e início do reinadode
14 d.C.
Tibério Cesar
Edificação de
18 d.C. Tiberíades Por
Herodes
Antipas
Início do
26 d.C. Governo de
Pôncio Pilatos
Início do Ministériode
28 d.C. Jesus
Batismo (Mt 3:13-17)
Tentação (Mt 4)
31 d.C. Crucificação
Fim do
34 d.C. governo
de Filipe
Fim do
36 d.C. governo de
Pilatos
Fim do
39 d.C. governo de
Antipas

19
2.7 Paulo de Tarso e sua importância no cristianismo

Paulo é o maior dos autores do Novo Testamento, a ele são atribuídas as escritas de 13
cartas/epístolas que são fundamentais para a compreensão da mensagem de Cristo e para a sua
aplicação na vida cotidiana.
Nascido na cidade de Tarso, Paulo filho de judeus e se apresenta assim:
“circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim,
verdadeiro hebreu; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo; perseguidor da igreja; quanto à
justiça, que há na lei, irrepreensível”(Fl 3:5).
Atos 13:9

20
CAPÍTULO III – PANORAMA DOS LIVROS

A Bíblia é uma biblioteca! Ela é composta por 39 livros do AntigoTestamento e por 27


livros do Novo Testamento, totalizando 66 livros. Com temáticas especialmente
desenvolvidas por Deus para servirem de orientação para a Igreja e para cada indivíduo em
todos os tempos.

3.1 Características e estrutura

A Tabela 1 nos ajuda a compreender as principais características das duas coleções


que compõem a biblioteca completa:

Tabela 1 – Características dos Testamentos

Antigo Testamento Novo Testamento


Livros 39 livros 27 livros
Língua Hebraico e aramaico Grego
Aliança Lei Graça
Local da Aliança Sinai Calvário
Selo Sangue de animais Sangue de Cristo
Ministério Deus Pai O Filho e o Espírito Santo

Os livros do Novo Testamento são centralizados na pessoa de Cristo, mas mantém


profunda relação com o Antigo Testamento. Eles são uma continuação da história do Povo de
Deus e do ensino perfeito de Deus para toda a humanidade.
Os focos na Lei e na Graça são a grande distinção entre os dois testamentos, mas isso
não implica que não haja graça no AT. Apenas que o AT mostra o quanto a graça é necessária
para pecadores que não podem alcançar as exigências da Lei.
Quando afirmamos que no AT encontramos o Ministério de Deus Pai e no NT o de
Jesus e do Espírito Santo, estamos fazendo menção ao fato de que cada pessoa da Trindade se
mostra mais presente em determinados momentos da história e do ensino. Evidentemente, os
três, como indissolúveis,estão juntos em todos os tempos e lugares, gozando dos mesmos
atributos, domesmo poder e da mesma glória.
No que tange à forma e a ideia principal, os 27 livros do NovoTestamento estão
dispostos em seis seções, conforme mostra a Tabela 2.

21
Tabela 2 – Seções de distribuição dos livros do Novo Testamento
Livros Autores Ideia Principal8
Mateus Mateus Jesus, o Messias Prometido
Evangelhos Marcos Marcos Jesus, o Servo de Deus
Lucas Lucas, o médico Jesus, o Filho do Homem
João João9 Jesus, o Filho de Deus
Histórico Atos dos
Lucas, o médico A Igreja
Apóstolos
Romanos A vida pela fé
I Coríntios As desordens na Igreja
II Coríntios A autoridade apostólica
Gálatas A graça
Efésios Unidade da Igreja
Gerais

Filipenses Alegria em Cristo


Colossenses Caráter de Jesus
Paulinas

I Paulo A segunda vinda de Cristo


Tessalonicenses
EPÍSTOLAS

II A segundo vinda de Cristo


Tessalonicenses
I Timóteo Orientações para liderança
II Timóteo Cuidado com o falso ensino
Pastorais

Tito Orientação para liderança


Filemon Conversão de um fugitivo
Hebreus Desconhecido Cristo, mediador de uma
nova aliança.
Não-paulinas

Tiago Tiago, irmão de A verdadeira religião


10
Jesus1
I Pedro Pedro Carta a uma igreja
perseguida

8
Essa visão sobre a ideia geral de um livro pode variar de autor para autor.
9
Embora haja divergências entre teólogos e historiadores, o Evangelho, as três cartas e Apocalipse são atribuídos ao mesmo
autor;
10
É quase unânime a teoria de que se trata, realmente, do irmão de Jesus.
22
II Pedro Pedro Alerta contra o perigo dentroda
igreja
I João João, o evangelista Vida de comunhão comDeus

II João João, o evangelista Precação com os falsos


mestres
III João João, o evangelista Orientações de liderança
11
Judas Judas1 Alerta contra a apostasia

Profecia Apocalipse João, o evangelista Triunfo final de Cristo

3.2 Um pouco dos Evangelhos

A palavra evangelho (euaggeloj) significa o ‘anúncio de boas novas’. Então, quando,


por exemplo, falamos no Evangelho de Lucas, estamos falando das boas novas contadas por
Lucas. Assim, entendemos que os quatro evangelistas contaram, cada um da sua própria
forma, as boas novas que receberam de Deus para deixar para todos nós. O evangelho de João
segue uma estrutura diferente, por isso costuma ser estudado à parte. João, talvez por ter sido
o apóstolo mais próximo de Cristo, é o evangelho que apresenta o maior conteúdo exclusivo,
isto é, no evangelho de João encontramos o maior volume de ensinos e histórias que não estão
presentes nos outros três evangelhos.

3.2.1 Os evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos

Chamamos de Sinóticos os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, pois eles narram a


boa nova de Cristo dentro de uma mesma estrutura que, acredita-se, tenha sido desenvolvida
por Marcos. Assim, ao ler esses três evangelhos, podemos encontrar as mesmas histórias e os
mesmo ensinamentos de Jesus sendo contados sob pontos de vista diferentes, mas
divinamente inspirados. Mas, é importante lembrar que cada um desses evangelhos, também,
possui conteúdos exclusivos.
Atos dos Apóstolos é incluso nesse grupo, por que se trata de uma continuação do
Evangelho de Lucas (veja Lc 1:1-4 e At 1:1-3). Em Atos, Lucas busca apresentar a forma
como os ‘doze’, juntamente com os demais discípulos de Cristo, deram continuidade à
propagação do Reino de Deus. É a história magna do início da Igreja. Onde o treinamento que
Jesus lhes deu durante os três anos de ministério é aplicado na vida da nova comunidade que

11
Ver detalhes sobre a autoria dessa epístola nos comentários finais da seção 3.3.3.
23
se inicia.
Vejamos algumas análises sobre cada um dos livros que compõem essegrupo.

a) Evangelho segundo Mateus

Conteúdo: a história de Jesus, incluindo seções extensas de ensino, indodo anúncio do


seu nascimento até o comissionamento dos discípulos para fazer discípulos entre os
gentios12.
Autor: anônimo13; Papias (125 d.C.) atribui o “primeiro Evangelho” ao apóstolo
Mateus. Alguns estudiosos discordam.
Data: desconhecida (visto que ele usou Marcos, muito provavelmente foi na década
de 70 ou 80 d.C.).
Receptores: desconhecidos; mas quase certamente cristãos judeus
comprometidos com a missão aos gentios, sendo a opinião mais comumque tenham
vivido em Antioquia da Síria e arredores.
Ênfase: Jesus é o Filho de Deus, Rei (messiânico) dos judeus; Jesus é Deus presente
conosco (Emanuel) em poder milagroso; Jesus é o Senhor da igreja; o ensino de Jesus
tem importância contínua para o povo de Deus; o evangelho do reino é para todos os
povos – judeus e gentios igualmente.
Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 318).

b) Evangelho segundo Marcos

Conteúdo: história de Jesus, do batismo até a ressurreição. Dois terços danarrativa


relatam seu ministério na Galileia, enquanto o último terço relata a sua última
semana em Jerusalém.
Autor: anônimo, atribuído (por Papias, 125 d.C.) a João Marcos, um antigo
companheiro de Paulo (Cl 4:10), e depois de Pedro (I Pe 5:13).
Data: cerca de 65 d.C. ( de acordo com Papias, logo depois da morte de Paulo e de
Pedro em Roma).

12
Gentio é o termo usado pelos judeus para se referir a todos aqueles que não têm origem israelita. Algumas vezes, funciona
como sinônimo de incrédulos.
13
Afirmar que o autor é anônimo, implica dizer que ele não assinou a carta. Mas, as análises históricas e a tradição da igreja
nos dão sustentação suficiente para confiar na autoria atribuída.
24
Receptores: a igreja em Roma (de acordo com Papias), o que explica
sua preservação junto com os Evangelhos de Mateus e de Lucas, maisextensos.

Ênfase: o tempo do governo de Deus (o reino de Deus) chegou, com Jesus; Jesus
realizou o novo êxodo prometido em Isaías; o Messias real veio em fraqueza, sua
identidade sendo um segredo exceto para aqueles a quem ela é revelada; o caminho do
novo êxodo leva à morte de Jesus em Jerusalém; o caminho do discipulado consistem
em carregar a cruz e segui-lo.
Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 328).

c) Evangelho segundo Lucas

Conteúdo: a história de Jesus como a primeira parte de Lucas-Atos, que é a história da


salvação de “Israel”, que Cristo e o Espírito realizaram; essa parte começa com o anúncio
do nascimento de Jesus e continua até a sua ascensão.

Autor: de acordo com uma tradição muito antiga, Lucas, o médico eantigo
companheiro do apóstolo Paulo (Cl 4:14), o único autor gentio da Bíblia.

Data: incerta; os estudiosos se dividem entre uma data anterior à morte de Paulo (64 d.C.,
ver At 28:30-31) e outra depois da queda de Jerusalém(70 d.C., pelo uso que o autor faz do
Evangelho de Marcos).
Receptor(es): Teófilo é de outro modo desconhecido; seguindo o costume dos prefácios
desse gênero na literatura greco-romana, ele provavelmente foi o patrocinador do livro de
Lucas-Atos, subscrevendo portanto a sua publicação; os leitores implícitos são cristãos
gentios, cujolugar na história de Deus é assegurado por meio da obra de Jesus Cristo e do
Espírito Santo.
Ênfase: O Messias de Deus veio até seu povo, Israel, com a prometida inclusão dos
gentios; Jesus veio para salvar os perdidos, incluindo todos os tipos de pessoas
marginalizadas que para a religião tradicional estariam fora dos limites; o ministério de
Jesus é executado sob o poder do Espírito Santo; a necessidade de morte e ressurreição
de Jesus (que cumpriram promessas do AT) para o perdão dos pecados.

Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 338).

25
d) Atos dos Apóstolos

Conteúdo: a parte 2 do relato de Lucas sobre as boas-novas de Jesus;


de que maneira, pelo poder do Espírito, as boas-novas se espalharam deJesus até Roma.

Autor: ver o Evangelho segundo Lucas (Lc 1:1-4 e At 1:1-3).


Data: ver informações sobre o Evangelho de Lucas.
Receptores: ver Lucas.
Ênfase: as boas-novas da salvação de Deus por meio de Jesus são para os judeus e os
gentios igualmente, cumprindo assim as expectativas do AT; o Espírito Santo guia a
igreja para disseminar as boas-novas; a igreja tem o bom senso de se ajuntar a Deus
com respeito à salvação que ele realiza e à inclusão dos gentios; a salvação para fora dos
muros judaicosé atividade de Deus e nada pode impedi-la; alguns aceitam as boas-
novas com alegria e outro as as rejeitam com ira.
Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 349).

3.2.2 O Evangelho de João

O evangelho segundo João narra a história de Jesus em uma perspectiva posterior à


ressurreição e à dádiva do Espírito Santo. “Depois que ressuscitou dos mortos, os discípulos
lembraram-se do que ele tinha dito. Então creram na Escritura e na palavra que Jesus dissera”
(Jo 2:22; ver também: 12:6; 14:26; 16:13-14). João escreveu atestando a veracidade da
encarnação de Deus.
Assim, João apresenta, logo no primeiro capítulo, Jesus como a Palavra, o autor da
criação (vs. 1:1-4, 10) e como aquele que veio ao mundo em missão de amor ao mundo criado
(3:16). Outra figura forte que João apresenta, ainda no primeiro capítulo, é a de “Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo” (1:29), indicando o caminho sacrificial do Deus
encarnado.

26
Conteúdo: a história de Jesus, Messias e Filho de Deus, contada a partirde uma
perspectiva pós-ressurreição; na sua encarnação, Jesus revelou a Deus e tornou sua vida
disponível a todos por meio da cruz.
Autor: as evidências internas apontam para João, o discípulo amado, aquele “que
escreveu essas coisas” (21:24; cf 13:23; 19:25-27; 20:2; 21:7).
Data: provavelmente entre 90-95 d.C.
Receptores: parece-nos ter sido enviada a uma comunidade cristã bastante
conhecida do apóstolo, provavelmente a mesma a quem sedirige em I João.

Ênfase: Jesus é o Messias, o filho de Deus; em sua encarnação ele tanto revelou o amor
de Deus como redimiu a humanidade; discipulado significa “permanecer na videira”
(que é Jesus) e dar fruto (amar como ele amou); o Espírito Santo será concedido ao seu
povo para continuar
sua obra.

3.3 As cartas e epístolas

É comum, mas não pacífico, entre os estudiosos aceitar que cartas são aquelas
correspondências que são enviadas a uma pessoa específica sem a intensão de que deva ser
mostrada à comunidade. Enquanto epístolas seriam justamente o contrário, aquelas
correspondências que se destinam a uma comunidade, sem direcionamento pessoal.
As cartas e epístolas são um subconjunto precioso no NT, são nove epístolas e quatro
cartas atribuídas a Paulo; mais Hebreus, Tiago, I e II Pedro e I e II João que são epístolas e III
João que é uma carta endereçada a Gaio. Vamos dividi-las da seguinte maneira:

3.3.1 Epístolas Paulinas

As epístolas Paulinas são, sem dúvida, a maior fonte de ensino do Novo Testamento,
toda a doutrina cristã emerge desse conjunto de livros. Obviamente, elas são um complemento
aos evangelhos e somam-se com asoutras obras da Bíblia. Mas, enfatizo a grande importância
desse pequeno grupo de livros para o amadurecimento da fé cristã nos corações dos dias
atuais.

27
Conteúdo: instrução e exortação apresentando a compreensão
que Paulo tem do evangelho – de que judeus e gentios, juntos,
formam o povo de Deus, com base na justiça recebida pela fé em
Jesus Cristo e na
dádiva do Espírito.
Receptores: a igreja em Roma, que não foi fundada por Paulo
nem estava sob sua jurisdição – embora ele saúde ao menos vinte
e seis pessoas conhecidas suas
(16:3-16).
Romanos Ocasião: uma combinação de três fatores: 1) a visita que Febe
tinha intenção de fazer a Roma (16:1-2); 2)a visita de Paulo a
Roma e o desejo de ir até a Espanha com a ajuda dos irmãos
romanos (15:17-29); e, 3) informações sobre tensões entre os
cristãos judeus e
gentios ali.
Ênfase: judeus e gentios como povo único de Deus; o papel dos
judeus na salvação de Deus por meio de Cristo; a salvação
somente por meio da graça, recebida pela fé me Jesus Cristo e
efetuada pelo Espírito; o fracasso da Lei e o êxito do Espírito em
produzir justiça verdadeira; a necessidade de ser transformado
pelo Espírito para viver em unidade como o povo de Deus no
presente.

Conteúdo: uma carta de correção, uma exortação ao


comportamento dos membros daquela igreja queafrontava o
evangelho de Cristo e a vida no Espírito.
Receptores: a igreja em Corinto, composta
principalmente por gentios (12:2; 8:7).
I Coríntios Ocasião: Paulo responde a uma carta da igreja (7:1) epara relatar
que a recebeu (1:11; 5:1).
Ênfase: o Messias crucificado como a mensagem central do
evangelho; a cruz como a sabedoria e o poder de Deus; o
comportamento cristão que se conforma ao evangelho; a
verdadeira natureza da vida no Espírito; a futura ressurreição
corporal dos cristãos mortos.

Conteúdo: é possível que se trate de duas cartas (1-9e 10-13)


II Coríntios combinadas em uma, tratando
principalmente do relacionamento tênue de Paulo
28
com a igreja coríntia, e de várias outras questões: o ministério de
Paulo, a coleta para os pobres de Jerusalém e a questão referente
a alguns cristãos
judeus itinerantes que invadiram a igreja.
Receptores: os mesmos de I Coríntios
Ocasião: o retorno de Tito de uma visita recente (7:5- 7) e a
esperada terceira visita de Paulo à igreja (13:1) à luz da
necessidade de a igreja estar com a coleta pronta antes de Paulo
chegar e da prontidão deles
em acolher “falsos apóstolos [...] disfarçando-se de apóstolos de
Cristo” (11:13).
Ênfase: o ministério cristão como serviço, refletindo o de Cristo;
a glória maior da nova aliança em contraste com a antiga; a glória
do evangelho exibida na franqueza dos seus ministros; o
evangelho como
reconciliação; dar aos pobres como uma expressão de
generosidade, não de obrigação.
Conteúdo: uma argumentação contra alguns
‘missionários’ cristãos judeus que insistem em que os
gálatas (por serem originalmente gentios) deviam secircuncidar
para ser parte do povo de Deus.
Receptores: cristãos gentios da Galácia.
Ocasião: as igrejas da Galácia foram invadidas por alguns
agitadores (5:12) que questionaram o evangelho de Paulo e seu
Gálatas apostolado; alguns gálatas, aparentemente, estão prestes a se
render ao ensino
deles, o que desencadeia uma vigorosa defesa por parte de Paulo
de seu evangelho e chamado.
Ênfase: o apostolado e o evangelho de Paulo vêm diretamente de
Deus e de Cristo, não por mediação humana; a morte de Jesus
deu fim às observâncias étnicas; o Espírito produz a justiça que a
Lei não podiaproduzir; o Espírito capacita os cristãos a não ceder
aos desejos pecaminosos; recebe-se o Espírito por
meio da fé em Cristo Jesus.

Conteúdo: encorajamento e exortação, situada contra o pano de


fundo dos ‘poderes’ (6:12 NVI, outras versões trazem poderios ou
potestades), que retrata Cristo unindo judeus e gentios como o
único povo de
Efésios Deus e como seu triunfo e glória máximos.
Receptores: talvez uma epístola circular para muitasigrejas na
província da Ásia, de que Éfeso é a capital.
Ocasião: Tíquico, que está levando a carta (6:21-22), também
está levando duas outras cartas a Colossos (Colossenses e
Filemon, ver Cl 4:7-9); talvez depois de
refletir mais sobre a situação dessa cidade e a glória
29
de Cristo, e conhecendo o temor asiático dos ‘príncipes deste
mundo de trevas’, Paulo tenha escrito essa carta como uma
epístola geral para os pastores
das igrejas dessa área.
Ênfase: o alcance cósmico da obra de Cristo; a reconciliação
efetuada por Cristo entre judeus e gentios por meio da cruz; a
supremacia de Cristo sobre ‘as potestades’ em prol da igreja; o
comportamento
cristão que reflete a unidade do Espírito.
Conteúdo: ação de graças, encorajamento e exortação da parte
de Paulo à comunidade de cristãos em Filipos, que passa por
aflição e
experimenta alguns conflitos internos.
Receptores: a igreja em Filipos, fundada por Paulo,
Silas e Timóteo.
Ocasião: Epafrodito, que havia trazido informações sobre a
Filipenses
igreja a Paulo na prisão, e entregue ao apóstolo a oferta dela
(2:30; 4:18), está prestes a retornar a Filipos, tendo acabado de
se recuperar de
uma enfermidade quase fatal (2:26-27).
Ênfase: a parceria de Paulo e dos filipenses no evangelho; Cristo
absolutamente fundamental para toda a vida, do início ao fim;
conhecer a Cristo, tornando-se como ele em sua morte; alegrar-se
em Cristo até mesmo no sofrimento; unidade por meio da
humildade e do amor; a certeza e a busca do prêmiofinal.

Conteúdo: encorajamento aos cristãos relativamentenovos a


continuar na verdade de Cristo que recebera,
e os advertindo contra influências religiosas externas.
Receptores: os cristãos (principalmente gentios) emColossos e
Laodiceia (Cl 4:16).
Ocasião: Epafras, colaborador de Paulo que fundou as igrejas no
vale do Lico, recentemente veio a Paulo trazendo notícias da
Colossenses igreja, em geral boas, mas
algumas nem tanto.
Ênfase: A absoluta supremacia e total suficiência de Cristo, o
Filho de Deus; o fato de que Cristo tanto perdoa o pecado como
liberta a pessoa do terror dos poderes (ou potestades); regras e
regulamentos religiosos não contam para nada, mas a vida ética
que reflete a imagem do próprio Deus conta para tudo; a vida à
semelhança de Cristo afeta todo tipo
de relacionamentos.

30
Conteúdo: ações de graças, encorajamento,
exortação e informação para cristãos gentios recém-convertidos.

Receptores: recém-convertidos a Cristo tem


Tessalônica, a maioria deles gentios (I Ts1:9-10).
I tessalonicenses Ocasião: o retorno de Timóteo a Paulo e Silas em Corinto,
Timóteo tinha sido enviado a Tessalônica para ver como estavam
os novos cristãos (I Ts 3:5-7).
Ênfase: a preocupação amorosa de Paulo pelos seus amigos em
Tessalônica; o sofrimento como parte da vida cristã; a
necessidade de se realizar o próprio trabalho, não vivendo da
generosidade alheia; a
ressurreição dos cristãos que morreram; a prontidão para a vinda
de Cristo.
Conteúdo: Paulo continua a encorajar a congregação em face do
sofrimento; é também umaadvertência contra ser confundido com
respeito àvinda do Senhor, e de exortação a certos indivíduos a
trabalhar com as próprias mãos em vez de abusar da generosidade
alheia.

Receptores: veja I Tessalonicenses


Ocasião: Paulo recebeu informações de que certos indivíduos
II Tessalonicenses
(provavelmente por meio de palavra profética) falaram em nome
do apóstolo no sentido de que o dia do Senhor (a vinda de Cristo)
já teria ocorrido; além disso, que os ociosos problemáticos a
quem ele já havia se dirigido em I Tessalonicenses ainda não
haviam corrigido seus hábitos.

Ênfase: a salvação certa dos cristãos tessalonicenses e o


julgamento certo de seus perseguidores; o dia do Senhor ainda
está por vir e será precedido pela ‘apostasia’; aqueles que são
preguiçosos e causam
transtorno devem trabalhar por seu próprio sustento.
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 374-440)

Nas epístolas Paulo se dirigiu com ênfase à Igreja de Cristo em sua coletividade, ele
nos ensinou a ser Igreja. Sua mensagem permeou temas importantes como, por exemplo, os
dons do Espírito (I Co 12-14 e Ef 4) como forma permanente da ação da Trindade na
evangelização dos povos (cf. At 1:8); a necessidade da pregação aos gentios (Gl 1:16; 2:7-9) de
um evangelhoexclusivamente vindo de Deus (Gl 1:6-9; 2:2; Cl 1:5-6). Seu ensino sempre teve
como fundamento e alvo o Cristo crucificado e ressuscitado (I Co 2:2; 15:3-4; Gl 3:1) e a
expectativa da Segunda vinda (I Ts 4:13-511; II Ts 2).

31
3.3.2 Cartas Paulinas

As cartas formam um conjunto de correspondências íntimas, em que Paulo, sob a


divina inspiração (ver I Tm 1:1-2; II Tm 1:1-2; Tt 1:1-4; Fl 1-2), se reporta diretamente aos
amigos/discípulos, trazendo orientações sobre caráter, vida prática, serviço cristão, ânimo
para enfrentar as dificuldades, exercício de liderança e muito mais.
Essas cartas são atualmente lidas por todas as igrejas cristãs e, obviamente, não se trata
de invasão de privacidade, nem de curiosidade sobre a vida dos outros, mas de profundos
ensinos sobre temas de extrema relevância para a nossa ‘cidadania celestial’.
Basicamente, posso dizer, nessas cartas, Paulo nos ensina a ser cristãos na nossa
intimidade, já que nas suas epístolas ele havia nos ensinado a ser cristão na igreja e na
sociedade.
Vamos a elas:

Conteúdo: uma acusação contra alguns falsos mestres – reprovando o


seu caráter e ensino -, com instruções quanto a várias questões
comunitárias que esses mestres colocaram em crise, intercaladas com
palavras de encorajamento.

Receptores: Timóteo, jovem companheiro de longa data doapóstolo.


I Timóteo

Ocasião: Paulo havia deixado Timóteo encarregado de umasituação muito


difícil na igreja em Éfeso, onde falsos mestres (possivelmente presbíteros
locais) estão desencaminhando algumas igrejas nas casas; Paulo escreve
a Timóteo, visando capacitá-lo para por um fim à obra desses presbíteros
desviados e de algumas viúvas que os seguiam.

32
Ênfase: a verdade do evangelho como a misericórdia de Deus
demonstrada a todas as pessoas; o caráter que precisam ter os líderes da
igreja; os ensinos especulativos, o ascetismo e o amor à polêmica e o
amor ao dinheiro desqualificam a pessoa para a liderança da igreja;
Timóteo, firmando-se no evangelho, deve dar exemplo de liderança e
caráter cristãos genuínos.

Conteúdo: um apelo a Timóteo para que se mantenha fiel a Cristo, ao


evangelho e a Paulo, incluindo uma última investida contra os falsos
mestres de quem ele falou na
primeira carta.
Receptores: ver I Timóteo.
Ocasião: Paulo foi novamente preso e levado a Roma (o mais provável é
que ele tenha escrito de Trôade, e sob instigação de Alexandre, 4:13-15
II Timóteo [talvez, o mesmo homem que foi excomungado em I Tm 1:19-20]); a
carta pede que Timóteo venha em auxílio Paulo, mas principalmente
lhe
oferece uma espécie de testamento.
Ênfase: a obra salvadora de Cristo, que “tornou inoperante a morte e
trouxe luz à vida e a imortalidade por meio do evangelho” (1:10);
lealdade a Cristo pela perseverança no sofrimento e na privação;
lealdade a Paulo pela lembrança de seu relacionamento de longa data;
lealdade ao evangelho pela fidelidade em proclamar/ensinar ‘a palavra’
(mensagem do evangelho); a difusão legal, mas o fim certo, do falso
ensino; a salvação daqueles que são de
Cristo.

Conteúdo: instruções a Tito para colocar em ordem as igrejasem Creta,


incluindo a designação de presbíteros
qualificados e instruções a vários grupos sociais, situadas emcontraste
com os falsos mestres.
Receptores: Tito, um gentio e antigo companheiro deviagem de Paulo
(v. Gl 2:1-3; II Co 7:6-16).
Ocasião: Paulo havia deixado Tito em Creta para terminar de ordenar e
Tito
estruturar as igrejas, enquanto ele e Timóteo (aparentemente) foram a
Éfeso, onde se depararam com uma situação bastante complicada (v. I
Tm). Paulo,contudo, teve de prosseguir até a Macedônia (I tm 1:3; cf. Fp
2:19-24); talvez o Espírito Santo o tenha lembrado, enquanto ele
escrevia I Timóteo, de que problemas
semelhantes haviam surgido em Creta, de modo que ele se dirige às
igrejas por meio de Tito.

Ênfase: o povo de Deus precisa ser bom e fazer o bem – eisso se


aplicada especialmente aos líderes da igreja; o

33
evangelho da graça se contrapõe aos falsos ensinosbaseados na lei
judaica.
Conteúdo: o propósito exclusivo dessa carta é garantir operdão a
um escravo (provavelmente fugitivo) chamado
Onésimo. Uma grande lição de restauração de
relacionamentos.
Receptores: Filemon é um cristão gentio em Colossos (Cl 4:9),em cuja
Filemon casa a igreja se reúne.
Ocasião: Onésimo se converteu recentemente e tem servido a Paulo, que
está na prisão; ele agora está sendo enviado de volta a Filemon,
acompanhado por Tíquico; este também leva consigo cartas às igrejas em
Colossos (Colossenses) e na
Ásia (Efésios).
Ênfase: O evangelho reconcilia as pessoas umas com as outras, não
apenas judeus (Paulo) e gentios (Filemon), mas, também, escravos e seus
senhores, tornando todos irmãos.
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 441-461)

Os relacionamentos de Paulo com Timóteo, Tito e Filemon têm, obviamente, graus de


intimidade distintos, porém as cartas exalam amor e cuidado com cada um deles na mesma
intensidade. Aos jovens Timóteo e Tito, que estão na liderança de igrejas locais, Paulo dá
conselhos sobre vida, caráter e doutrina que devem ser absorvidos por todos os líderes das
igrejas cristãs.
Mas, no bilhetinho que Paulo escreve a Filemon, hospedeiro e, provavelmente líder, da
igreja na cidade de Colossos, contem um pedido que só pode ser feito a quem possui Cristo no
coração e na consciência. Paulo pede que Filemon receba de volta um escravo que fugiu da
sua casa, que o trate com a mesma dignidade que trataria o próprio Paulo (v. 17) e que lhe
perdoe os prejuízos causados (v. 18, provavelmente roubo). É o bilhete do perdão radical.
Uma linda lição de cristianismo.

3.3.3 Epístolas Não-Paulinas

Vou chamar de epístolas não-paulinas aquelas escritas por Pedro, Tiago e Judas, bem
como a epístola aos Hebreus. Excluo, também, as epístolas de João, pois serão tratadas
separadamente. Não é uma nomenclatura a que se deva nenhuma explicação, mas apenas uma
forma de separar os livros do Novo Testamento.
Esse conjunto de epístolas é especialmente diverso, dificilmente caberia dentro de
qualquer outra classificação que tentassem lhe atribuir. O que podemos encontrar em comum
entre elas? Muito pouco, mas, nessas epístolas, de maneira geral, o Senhor nos comunica a
34
profunda mudança da relação entre Deus e a sua criação, ocorrida por ocasião do sacrifício de
Cristo. Os temas centrais dessas epístolas estão ligados ao abandono da visão imperfeita da
religião judaica e a aproximação com a plenitude de Deus emCristo.
Vamos conhecê-las melhor?

Conteúdo: uma “palavra de exortação” (Hb 13:22) enviada


na forma de epístola, encorajando à perseverança fiel à luzda suprema
palavra final que Deus falou por meio de Cristo.
Receptores: um grupo desconhecido, mas específico de cristãos de
origem judaica, por isso, chamados hebreus; não se sabe se esses
cristãos estavam em Roma (13:24), mas, aparentemente, estavam
cortando relações com a comunidade cristã mais ampla (10:25;
13:7,17) e, por esta
razão, são exortados.
Hebreus Ocasião: a comunidade está desencorajada por causa do sofrimento
(10:35-39), e talvez devido a dúvida quanto a se Jesus realmente
resolveu o problema do pecado; o autor escreve para convencê-los:
“não abram mão da confiança que vocês têm, ela será ricamente
recompensada” (10:35, cf. 2:1 e 4:14).

Ênfase: Deus pronunciou a sua palavra final absoluta por meio de seu
Filho; abandonar a Cristo é abandonar a Deus completamente; Cristo é
superior a tudo o que veio antes – a antiga revelação, seus mediadores
angélicos, o primeiroxodó (Moisés e Josué) e todo o sistema sacerdotal;
o povo de Deus pode ter plena confiança no Filho de Deus, o perfeito
sumo sacerdote, que oferece a todas as pessoas o
acesso imediato a Deus.

Conteúdo: um tratado consistindo em uma série de


Tiago pequenos ensaios morais, enfatizando a perseverança no sofrimento
e a vida cristã responsável, com uma
preocupação especial no sentido de que os cristãos
pratiquem o que pregam e vivam em harmonia.

35
Receptores: os fiéis em Cristo entre os judeus da Diáspora.
Ocasião: desconhecida, mas o tratado mostra uma preocupação quanto
à situação real nas igrejas, incluindo diversas provações, discórdias
causadas por palavras duras
e de julgamento e abuso dos pobres pelos ricos.
Ênfase: a fé prática por parte dos cristãos; alegria epaciência em
meio às provocações; a natureza da
verdadeira sabedoria (cristã); as atitudes dos ricos emrelação aos
pobres; o bom e o mau uso da língua.
Conteúdo: encorajamento aos cristãos passando por sofrimento,
instruindo-os sobre como responder de maneiracristã aos perseguidores
e exortando-os a viver uma vida
digna do seu chamado.
Receptores: aos cristãos da dispersão, nas cinco provínciasda Ásia
Menor (a Turquia moderna).
Ocasião: provavelmente uma preocupação quanto ao surto de
I Pedro
perseguição local que alguns cristãos recentes estavam experimentando
como resultado direto de sua féem Cristo.

Ênfase: o sofrimento por causa da justiça não deve nos surpreender; os


cristãos devem se submeter ao sofrimento injusto da mesma forma que
Cristo se submeteu; Cristo sofreu em nosso favor para nos libertar do
pecado; o povo de Deus deve viver de modo justo em todas as épocas,
masprincipalmente em face da hostilidade; a nossa esperança
para o futuro se baseia na certeza da ressurreição de Cristo.

Conteúdo: um discurso de despedida enviado em forma epistolar,


exortando ao crescimento e à perseverança dos cristãos no contexto de
alguns falsos mestres que quanto negam a segunda vinda de Cristo
como vivem
descaradamente no pecado.
Receptores: um grupo de cristãos desconhecido, masespecífico.
II Pedro
Ocasião: o desejo de firmar os leitores na fé e na vida santa
e piedosa, e ao mesmo tempo de adverti-los quanto aosfalsos mestres
e seu modo de vida.
Ênfase: interesse em que o povo de Deus cresça em santidade e a
demonstre em sua vida; o julgamento inevitável dos falsos mestres
devido à conduta pecaminosa deles; a certeza da vinda do Senhor,
apesar da zombaria
dos falsos mestres.

36
Conteúdo: uma carta pastoral de exortação, advertindo
severamente acerca de alguns falsos mestres que “seinfiltraram” entre
eles.
Receptores: desconhecidos, provavelmente uma congregação
constituída predominantemente de cristãos judeus, em algum lugar na
Palestina, bastante familiarizado
Judas com o Antigo Testamento e com a literatura apocalíptica judaica.

Ocasião: uma ameaça apresentada por alguns ministros


itinerantes que transformaram a graça em libertinagem ese
introduziram entre eles com dissimulação.
Ênfase: o julgamento inevitável daqueles que vivem deforma
negligente e ensinam outros a fazer o mesmo; a
importância da vida santa e piedosa; o amor de Deus pelosseus fieis e sua
preservação deles.
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 462-487)

A autoria de três dessas epístolas precisa de cuidados especiais, vamos entender


melhor:
a) a autoria da epístola de Tiago: a tradição nos informa de que o autordessa epístola é
mesmo o irmão de Jesus Cristo. Durante o ministério terrenos de Jesus, Tiago e seus irmãos
não criam nele (Jo 7:5). Tiago provavelmente passou a crer depois que Jesus ressurreto
apareceu a ele (I Co 15:7). Depois aascensão de Jesus, Tiago estava no cenáculo junto com os
seus irmãos e os apóstolos (At 1:13-14). Ele assumiu a liderança da igreja em Jerusalém (At
12:17; 15:13) e foi reconhecido como líder da igreja (Gl 1:19; 2:9, 12) e até encontrou-se com
Paulo para ouvir os seus relatos missionários (At 21:18).
b) a autoria da carta aos Hebreus: embora haja uma insistência por parte de alguns
leigos em afirmar que esta carta foi escrita por Paulo, é senso comum, entre os eruditos, que
não foi. Já no ano 225 d.C. Orígenes, um dos pais da igreja, dizia que só Deus sabe quem
escreveu esse texto. Obviamente, a única coisa que precisamos saber é que se trata de um
material divinamente inspirado;

c) a autoria da carta de Judas: para que não haja confusão, não é deJudas Iscariotes, o
traidor. Esse Judas se apresenta humildemente como irmão de Tiago, portanto, estamos nos
referindo a mais um irmão do próprio Jesus.

37
3.3.4 Demais escritos joaninos

Além do evangelho, já comentado, João, também, escreveu três epístolas, ou cartas, e


o livro de Apocalipse. Uma de suas principais características é o uso da experiência particular
com Jesus e a ênfase no fato de que Ele é a Palavra encarnada (veja Jo 1:1-14; I Jo 1:4), que
Ele é a Verdade (Jo 14:6; II Jo 1,2; III Jo 1) e que Ele voltará (Ap 1:1-3).
As palavras emotivas, a abordagem mais sobrenatural e a ênfase nos relacionamento,
também, são características joaninas. O Apocalipse é um escrito particularmente diferente de
todos os outros da própria Bíblia. Ali, João registra uma mensagem recebida de Deus por meio
oral e visual. Figuras estranhas, aterrorizantes mesmo, aparecem no livro que revela “aos seus
servos o que em breve há de acontecer” (Ap 1:1).
Amor descrito de forma quase poética e a mais espantosa profecia sobre a segunda via
de Jesus são componentes marcantes dos escritosjoaninos.

Conteúdo: um tratado que oferece segurança a alguns cristãos


específicos, encorajando-os a serem leais à fé e prática cristãs – em
resposta a alguns falsos profetas que
deixaram a comunidade.
I João Receptores: uma comunidade cristã, bem conhecida do
autor, a quem ele se reporta como ‘filhinhos’. A tradiçãoaponta para
Éfeso.
Ocasião: a apostasia dos falsos profetas e seus seguidores, que
colocaram em questão a ortodoxia – tanto na fé quanto na prática –
daqueles que permaneceram leais àquilo que
remonta ao ‘princípio’.
Ênfase: Jesus, que veio em carne, é o Filho de Deus; Jesus mostrou o
amor de Deus por nós por meio de sua encarnação e crucificação; os
verdadeiros cristãos amam uns aos outros assim como Deus os amou em
Cristo; os filhos de Deus não pecam habitualmente, mas quando pecam,
recebem o perdão; os cristãos podem ter plena confiança no Deus que os
ama; porque cremos em Cristo, agora temos
a vida eterna.

38
Conteúdo: advertência contra os falsos mestres que negam
a encarnação de Cristo.
Receptores: veja I João
II João
Ocasião: a ‘senhora eleita’ é ou uma igreja local específica
ou uma mulher que hospeda uma igreja na sua casa; ‘seusfilhos’ são os
membros da comunidade cristã.
Ênfase: a mesma de I João.
Conteúdo: a alegria de João em razão da fidelidade deGaio, seu filho
na fé.
Receptores: Gaio, filho na fé de João, que vive em outracidade.

III João Ocasião: uma carta anterior à mesma igreja havia sido ridicularizada por
Diótrefes, que, também, recusou hospitalidade aos amigos de João, além
de excluir da igreja quem lhes desse guarita. Consequentemente, João
escreve
a Gaio, pedindo-lhe que receba Demétrio.
Ênfase: as obrigações de hospitalidade cristã,
especialmente para com os ministros itinerantes aprovados.
Conteúdo: uma profecia cristã, apresentada na forma de epístola,
tratando dos dias vindouros e trazendo os temas da grande tribulação
(sofrimento) e do juízo que se abaterá
sobre toda a terra.
Receptores: igrejas da província romana da Ásia (atualTurquia).

Ocasião: João escreve em meio a um clima politicamente tenso entre os


Apocalipse cristãos e o Império Romano, advertindo que as coisas ainda iriam
piorar muito antes de melhorar.
Exortando e animando o povo para manter-se fiel a Jesus Cristo a pesar
de todas as dificuldades.
Ênfase: o controle absoluto de Deus sobre a história; o contraste entre o
sofrimento terreno e a salvação garantida para todos os cristãos que
perseveram; o julgamento de Deus virá sobre os responsáveis pelo
sofrimento da Igreja; a
restauração por parte do Senhor (Ap 21-22) de tudo aquilo que foi
perdido ou distorcido no princípio (Gn 1-3).
Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 488-518)

39
A abordagem joanina, em todos os seus escritos, é fundamentalmente voltada para
salvação e vida eterna. É nos escritos joaninos que encontramos a centralidade da missão de
Jesus. João é o único que registra o diálogo do Messias com Nicodemos, em que Jesus declara
que “Deus amou o mundo detal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3:16).
É João que reiteradas vezes registra as declarações mais veementes do Cristo sobre
quem Ele é e o que veio fazer aqui: “eu vim para que tenham vida, e que a tenham
plenamente” (Jo 10:10). As suas epístolas, definitivamente, têm teor confirmatório da
mensagem do seu evangelho. E sua base está na certeza da vida eterna.

João 20:31 I João 5:13


Mas estes foram escritos para que vocês Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que
creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de crêem no nome do Filho de Deus, para
Deus e, crendo, tenham que vocês saibam que
vida em seu nome. têm a vida eterna.

Nesses dois trechos, vemos que o propósito de João, tanto no evangelho quanto nas
cartas é o mesmo: comunicar que todo aquele que crê já tem a vida eterna. Esse propósito não é
distinto em Apocalipse, pois nele João anuncia aquilo que “em breve há de acontecer” (Ap
1:1). E que razão haveria para uma profecia sobre o fim dos tempos, se não para nos proteger
do mal e nos guiar para a eternidade?

40
CAPÍTULO IV – PANORAMA TEMÁTICO

O tema dominante do Novo Testamento é a pessoa de Cristo apresentada como “o


caminha, a verdade e a vida” (Jo 14:6) e como a “luzdo mundo” (Jo 8:12), vinda para guiar os
nossos passos fora das trevas. Mas, na pessoa de Jesus, outros temas se tornam vivos no Novo
Testamento, a salvação pela fé, a perseverança como evidência da salvação e a expectativa do
Dia Triunfal do Senhor.
Esses temas estão permeando todo o Novo Testamento, não se encontram
sistematizados nas Escrituras, pois eles emergem juntamente com vivência de Cristo e dos seus
discípulos. Isso nos faz perceber os temas do Novo Testamento como ensinos totalmente
entranhados no sentido e significado de nossas próprias vidas. Afinal, todas as profecias ali
contidas estão diretamente vinculadas ao desenvolvimento do nosso caráter por meio da
santificação (Fl2:12).

4.1 Humanidade e divindade de Cristo

O cristão deposita toda a sua esperança em Cristo, a salvação, a eternidade da alma, a


vida comunitária baseada em justiça e amor, o fim do sofrimento terreno, o triunfo da vida
sobre a morte; enfim, o cristão deposita muitas expectativas na pessoa de Jesus Cristo.
Essas expectativas, evidentemente, só podem ser alcançadas se estivermos falando de
Deus e não de um simples homem. Mas, ao mesmo tempo, não podemos negar que Jesus
Cristo foi plenamente humano, ele andou pela terra, viveu um tempo cronológico como
qualquer um de nós, comeu, bebeu, sorriu, chorou e conviveu com pessoas.
Mas, o fato é que Jesus realizou uma obra que seria impossível a um homem que não
fosse Deus e inacessível a um Deus que não fosse homem. Brunner (1950, p. 339), citado por
Boice (2011, p. 231) diz:

Somente quando eles [os discípulos] o entenderam como Senhor


absoluto, a quem pertence a plena soberania divina, a Páscoa, como
vitória, e a Paixão, como um fato da salvação, tornaram-se inteligíveis.
Somente quando conheceram Jesus como o Senhor celestial do
presente, entenderam-se como aqueles que teriam o seu quinhão no
Reino messiânico como homens do novo, da Era messiânica.

A Páscoa como vitória, a que Brunner (1939) se refere, é a entrega do sacrifício


único e perfeito que selaria toda a história cosmológica da obra divina sobre a terra. Era

41
necessário que a mais perfeita auto revelação de Deus viesse em amor, pois essa é a sua
essência (I Jo 4:8), para “dar a sua vidaem resgate de muitos” (Mc 10:45b), a saber, de todos os
que creem (Jo 3:16).
Assim, Cristo se revela como o que veio para “buscar e salvar os que estavam
perdidos” (Lc 19:10). Fazendo da sua encarnação (Jo 1:14) o meio para que Ele pudesse ser,
simultaneamente, o redentor e o sacrifício perfeito e inequívoco que tiraria o pecado do mundo
(Jo 1:29). Vamos entender comoEle pode ser, ao mesmo tempo, homem e Deus.

4.1.1 Cristo Homem: o sacrifício perfeito

Os evangelhos escritos por Mateus e Lucas iniciam a narrativa das boas novas de
Cristo a partir do seu nascimento virginal, dando certa ênfase à genealogia de Cristo. A
narrativa apresentada por Marcos ignora a infância do Senhor Jesus e já começa com o
ensinamento moral do seu evangelho, convocando a todos, na voz de João Batista, para o
arrependimento dos pecados. O quarto evangelho, narrado por João, surpreende por uma
narrativa inteiramente voltada para o reconhecimento da natureza divina de Jesus e da
espiritualidade da Sua obra, mas, considera fundamental a informação de que Cristo foi
homem. Vejamos, então, quais os aspectos da humanidade de Cristo.

a) Sua vida plenamente humana

Jesus Cristo, como já mencionado, está nas listas das genealogiashumanas (Mt 1:1-16;
Lc 3:23-38). Excetuando-se a concepção divina, seu nascimento foi totalmente humano (Mt
1:25; Lc 2:7; Gl 4:4). Ele cresceu e se desenvolveu como qualquer pessoa (Lc 2:40-52; Hb
5:8). Ele apresentou as mesmas limitações que qualquer um de nós: cansaço (Jo 4:6); fome (Mt
21:18), sede (Mt 11:19). O sofrimento o afligiu como a qualquer outro ser humano (Mc 14:33-
36; Lc 22:63; 23:33). Emocionou-se como qualquer um, demonstrando:
tristeza (Mt 26:37); supresa (Lc 7:9); alegria (Lc 10:21), compaixão (Mt 9:36) e até ira (Mc
3:5). E a última prova de sua vida plenamente humana é o fato dele ter padecido por meio de
armas e torturas humanas (Lc 22:44; Jo 19:33).

b) Sua vida de devoção ao Pai

Outra evidência da plena humanidade de Cristo é que Ele estudou, meditou e explicou
as Escrituras (Mt 4:4; 19:4; Lc 2:46; 24:47). Ele orava publicamente (Lc 3:21) e participava

42
das cerimônias públicas de adoração (Lc 4:16). Apresentava-se ao Pai na sua devoção íntima e
pessoal (Lc 6:12).

c) Seu conhecimento limitado

Apesar de sua superioridade em relação à sabedoria de qualquer ser humano (Jo 1:47;
4:29; Lc 6:8; 9:47) e de ser um exímio conhecedor das Escrituras (Mt 22:29; 26:54,56; Lc
4:21ss; 24:27, 44ss), Jesus Cristo tinha limitações de conhecimento (Mc 5:30ss; 6:38; 9:21; Lc
2:46; Mc 13:22).

d) Suas tentações

Apesar de jamais haver pecado, Cristo foi tentado em todas as coisas, assim como
qualquer um de nós (Hb 4:15).
Mas, em tudo, é preciso ressaltar, Jesus jamais pecou, apesar de ser plenamente
humano. Ele foi o substituto perfeito de Adão, o primeiro homem, que introdução o pecado no
mundo (Rm 5). Ele nunca sucumbiu a depravação moral oriunda da Queda (Hb 4:15; 7:26; II
Co 5:21).
Por isso, Ele foi o sacrifício perfeito, o único que poderia tirar o pecado do mundo (Jo
1:29), levar sobre si as nossas culpas (Is 53), trazendo-nos a paz que era impossível por meio
da nossa fragilidade humana (Ef 2).

4.1.2 Cristo Deus: o soberano sofredor

As Escrituras, também, nos revelam a divindade de Cristo. Mostrando que além de


sacrifício perfeito, Ele foi um soberano que teve a ousadia de sofrer como um servo por seu
povo. As Escrituras apresentam a sua divindadeda seguinte forma:

a) Os milagres de Cristo

Os milagres de Cristo, considerando apenas os que foram narrados no Novo


Testamento, pois muitos não foram escritos (Jo 21:25) tomariam muito espaço aqui. Mas, a
sua concepção divina (Mt 1:20; Lc 1:34, 35) e a sua ressurreição testemunhada por muitos
(Atos 1:3; veja Lucas 24:36-43) sãoprovas inquestionáveis da divindade de Cristo.

43
b) As palavras de Cristo sobre a sua própria divindade

Severa (2010, p. 231) ensina: o próprio Cristo tinha consciência da sua divindade. Ele
mesmo se iguala ao Pai na vida (Jo 5:26), na honra (Jo 5:23), na glória (Jo 17:5), na eternidade
(Jo 8:58), no nome (Jo 8:24), na fórmula batismal (Mt 28:19). Ele declara sua união com o Pai
(Jo 5:18; 10:33, 38). Portanto, não foram só os discípulos que creram ser Jesus o Filho de
Deus. O próprio Cristo sabia da sua natureza divina.

c) Jesus tinha os atributos divinos

Severa (2010, p. 231-232), também, nos lembra que: Jesus Cristo exerce atribuições
que só cabem à divindade. Ele tem autoridade para perdoar pecados (Mc 2:10), tem
autoridade sobre o sábado (Mc 2:28); sobre a vida dos homens (Mt 16:24-26), e tem poder
para salvar os homens dos seus pecados (Mt 1:21; Jo 8:34-36).

Estas são algumas das demonstrações de que, segundo a Bíblia, Jesus realmente é
Deus. Mesmo dotado de tamanho poder, Ele “embora sendo Deus, não considerou que o ser
igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo,
tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si
mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fl 2:6-8).

4.1.3 Cristo Homem-Deus: o salvador acessível

A dupla natureza de Cristo é fruto da encarnação. Quando “aquele que é a Palavra


tornou-se carne e viveu entre nós” (Jo 1:14a), o mundo mudou eternamente e a própria
concepção de história foi alterada, pois a eternidade ganhou, definitivamente, espaço na vida
cotidiana. Assim, “vimosa sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e
de verdade” (Jo 1:14b). Desta forma, a encarnação e a imagem de Deus se revelam de maneira
única na pessoa de Cristo, que tornou a nossa salvação possível por meio da sua entrega e nos
deu pleno acesso ao Pai, quando nos ensinou a orar em seu nome. Ele nos deu o sacerdócio
santo (I Pe 2:9).

44
4.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos14

A expressão grega basileia tou~ Qeou~ (basileia tou Theo) diz respeito ao governo, ou
domínio, absoluto de Deus sobre todas as coisas. Um reino que se estende por todo o céu e por
toda a terra. Quando ouvimos falar de algo assim, pensamos sobre a forma como o Senhor vai
comandar tudo isso e quegrande exército Ele vai convocar. Mas, estranhamente, o Senhor tem
convocado um exército bastante diferente do que se imaginava.

De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou- se, saiu de


casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando. Simão e seus
companheiros foram procurá-lo e, ao encontrá-lo, disseram: "Todos
estão te procurando!" Jesus respondeu: "Vamos para outro lugar, para
os povoados vizinhos, para que também lá eu pregue. Foi para isso que
eu vim". (Mc 1:35-38).

O jovem Messias viu-se diante de decisões importantes. Em meio à vertigem da


celebridade, ele tem de conversar com seu Mentor15. Ele precisava orar. Como muitas vezes
faria ao longo dos três anos seguintes, ele se levantou antes do nascer do sol, caminhou até um
lugar tranquilo e, antesque o resto do mundo abrisse os olhos, teve uma conversa com seu Pai
celestial. Afastou distrações da sua mente, pediu direções e entendeu de forma renovada a
visão daquilo que havia sido enviado para fazer. Quando Simão e os outros o encontraram, ele
soube qual deveria ser seu passoseguinte. Sua decisão dissipou a cortina de fuma do sucesso.

4.2.1 Revelando o sonho do Reino

Até aqui na narrativa da história de Jesus no Novo Testamento, o Reino de Deus não
foi definido. Os ensinos de Jesus e o exemplo de sua vida com seus discípulos acrescentaram
detalhes ao conceito do Reino. Jesus desafia as expectativas extremamente nacionalistas dos
judeus. Mostra aos seus seguidores como entrar no reino e conhece-lo. No processo, fica claro
que o Reino de Deus não é simplesmente algo que acontece no coração de cada indivíduo que
se acerta com Deus. Jesus está claramente decidido a ser líder da criação de uma nova
sociedade, uma nova nação, uma contracultura distinta que existe, prospera e jura lealdade a
Cristo como Rei, bem no meio dos reinos, sociedades, nações e culturas deste mundo rebelde.

14
Adaptado do livro: GIRARD, R. C. & RICHARDS, L. Guia fácil para entender a vida de Jesus. Ed. Thomas Nelson Brasil:
Rio de Janeiro, 2013.
15
Obviamente, o próprio Deus Pai.
45
Cristo quebra todas as regras que normalmente regem onde e como um reino obtém
seu poder. A história mostrou que ele foi o monarca mais poderoso que já reinou, mas todas
as estratégias de Jesus refletem “Deus se humilhando ao se tornar um servo”. A grandeza é
medida em termos de disposição para servir e sacrifício.
De acordo com a história contada por Mateus (4:23-24), Jesus pregava “as boas novas
do Reino” onde quer que as pessoas ouvissem. Logo se espalharam notícias de que ele tinha
poder para curar. De todas as partes da Galileia vinham pessoas. Logo as multidões de Jesus
adquiriram um perfume distinto: os doentes, fustigados pela dor, perturbados mental e
emocionalmente, epilépticos, tetraplégicos e paraplégicos – os destruídos, fracos,
atormentados, os que sofriam, vulneráveis, confusos, compulsivos e viciados. Naquele dia, os
mais necessitados foram levados por amigos ou se arrastaram para sair da cama e dos lugares
de confinamento e solidão. Eles acharam o caminho até Jesus porque ouviram de alguém que
ele poderia ajudar. Que jeito de edificar um reino! Heim?

4.2.2 Pescando “pecadores”

Certa manhã, Jesus novamente andava perto do lago. As multidões sempre presentes o
cercavam. Era a mesma parte da praia onde, antes, ele havia chamado quatro pescadores para
deixarem o trabalho que faziam e se juntarem a ele. Mais uma vez, os barcos estavam
emparelhados na praia e os homens estavam levando as redes. Precisando de uma posição
melhor da qual pudesse falar à multidão, Jesus entrou no barco que era de seu amigo Simão
(Pedro) e pediu-lhe para ancorá-lo um pouco afastado da praia. Jesus sentou-se no barco para
ensinar. Sua voz reverberou na água, o que parecia um megafone, por isso a multidão na praia
pôde ouvi-lo.
Quando terminou de falar: Jesus virou-se para seu amigo e disse: “vamos pescar uns
peixes” (veja Lucas 5:4). Simão, a língua mais rápida do oeste, pensou que Jesus precisava
estar mais bem informado sobre os detalhes da pesca na Galileia. Ele e seus parceiros estavam
exaustos. Pescaram naquelaságuas durante a noite toda e não fisgaram nem um lambari!
“Mas, por que és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes”, diz Simão com
resignação (Lc 5:5). De repente, os peixes começaram a aparecernas redes, mais do que Pedro e
André podiam aguentar! Eles pediram a Tiago e João que enfileirassem o barco ao lado do
deles e ajudassem. Os dois barcos logo estavam cheio de peixes.
Enquanto os barcos sobrecarregados seguiam para a praia, Pedro caiu de joelhos diante
de Jesus, tomado pela consciência de que não era digno de estar na presença de tal autoridade,

46
confessando ser um homem pecador16. Todo o grupo de pescadores sentiu o mesmo temor.
“Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”, disse Jesus (Lc
5:10). Essa foi a terceira vez que ele abordou esses quatro homens para falar sobre serem seus
discípulos. Dessa vez, eles tomaram uma atitude definitiva, “deixaram tudo e o seguiram”
(5:11).

4.2.3 Um homem maltrapilho

Um reino formado por pessoas absolutamente improváveis e para pessoas


absolutamente improváveis. Não é que Jesus tenha apenas chamado pessoas fracas para
participar do seu Reino, é que Ele contou comelas para que o Reino expandisse.

Estando Jesus numa das cidades, passou um homem coberto de lepra.


Quando viu a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra e rogou-lhe: "Se
quiseres, podes purificar-me". (Lc 5:12).

A única defesa da sociedade contra a lepra era a quarentena. Pela lei, o leproso deveria
viver sozinho ou com outros leprosos fora do acampamento.Ele não poderia ter nenhum contato
humano normal. Intocável, o leproso não podia ser empregado e érea obrigado a se submeter à
mendicância, embora pudesse esperar sofrer nove anos antes de morrer. Josefo17 relata que os
leprosos eram tratados como se fossem homens mortos.
Os efeitos psicológicos eram os piores aspectos do sofrimento do leproso. Uma
sensação de culpa e de rejeição por Deus muitas vezes acompanhava a doença, mesmo que o
leproso não fosse, pessoalmente, responsável por contraí-la. Ninguém precisava ser tocado
mais do que o leproso excluído. Jesus sabia disso.
Ao se prostrar diante de Cristo, esse leproso sentiu algo que talvez não sentisse havia
muito tempo. A mão de Jesus abaixou-se para tocar sua carne doente. “Quero. Seja
purificado!”, disse Jesus (Lc 5:13). Os horrores daquela terrível doença se foram com uma
palavra e um toque. Depois disso, Jesus deu duas ordens ao leproso curado:

16
Uma expressão idiomática judaica do século 1 para alguém que abandona a sinagoga.
17
Historiador judeu, contemporâneo de Jesus.
47
Razões das ordens de Jesus

“Não conte isso a ninguém” (5:14a) “vá mostrar-se ao sacerdote”


(5:14b)
• Para evitar um movimento popular • Obedecer à Lei de Deus;
prematuro com o intuito de coroá-lo • Remover oficialmente as marcas da
como rei antes que ele tivesse a chance lepra;
de demonstrar o tipo de Reino que ele • Dar um testemunho aos sacerdotes do
estava edificando; messiado de Jesus.
• Para evitar que o leproso purificado se
desviasse, recontando sua história, em
vez de seguir o procedimento que
Moisés prescreveu para validação da
cura;
• Para manter as multidões em um
tamanho controlável de modo que não
impedisse sua liberdade
de ir a qualquer lugar que precisasse ir
no ministério.

Não sabemos se o homem foi até o sacerdote, mas o fato é que ele desobedeceu à
primeira ordem e, por isso, o número de pessoas para ver Jesus aumentou consideravelmente.
O Reino de Jesus foi se constituindo assim, da maneira mais improvável, Ele mostrava o
seu poder, com os seguidores menos influentes da sociedade, Ele fez com que a sua
mensagemse espalhasse.

4.2.4 A paralisia dos que não são perdoados

Se Jesus tivesse seguido a lógica humana tradicional, não teria conseguido expandir o
seu Reino. Mas, em sua grande sabedoria e poder, Ele novamente escolhe os fracos. Ele fez
paralíticos andarem, e, também, fez homens ‘sãos’ ficarem paralisados.

Alguns homens trouxeram-lhe um paralítico, deitado numa cama.


Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: "Tenha bom
ânimo, filho; os seus pecados estão perdoados".
(Mt 9:12).

No retorno de Jesus a Cafarnaum, representantes do Judaísmo oficialapareceram em


sua casa. Ele estava cercado de fariseus e intérpretes da leiquando quatro homens apareceram

48
carregando um paralítico em umamaca. Não podendo passar pela porta, eles subiram no
telhado, retiraramalgumas telhas e baixaram o homem até a sala, colocando em frente a Jesus.
Para surpresa dos estudiosos da Bíblia reunidos ali, Jesus disse ao paralítico: “Os seus
pecados estão perdoados”. Houve um silêncio ensurdecedor na sala. Incrédulos, os boatos
ficaram olhando para Jesus. Ninguém falou, mas todos pensaram um milhão de coisas!
“Blasfêmia! Somente Deus pode perdoar pecados!”
“Que é mais fácil dizer: ‘os seus pecados estão perdoados’, ou:’ levante- se e ande’?”,
perguntou Jesus (Mt 9:5). O silêncio ensurdecedor persistiu. “Mas,para que vocês saibam que o
Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico – levante-
se, pegue a sua maca e vá para casa” (Mt 9:6).

O homem levantou-se, pegou sua maca e saiu pela porta gritando “Aleluia” (ou
alguma expressão de gratidão a Deus). Enquanto isso, aqueles que se achavam mais dignos do
Reino, ficaram paralisados, preferindo não crer.

4.2.5 Por que estes pecadores estão celebrando?

A busca continuava, nos lugares mais inusitados, Jesus ia à procura de pessoas para o
seu Reino. Ele não se preocupava com sua própria reputação,apenas considerava a necessidade
de escolher pessoas que precisassem do seu amor. Esse é, definitivamente, um reino diferente,
onde o rei é servo dos súditos.

Passando por ali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na


coletoria, e disse-lhe: "Siga-me". Mateus levantou-se e o seguiu.
Estando Jesus em casa, foram comer com ele e seus discípulos muitos
publicanos e "pecadores". Vendo isso, os fariseus perguntaram aos
discípulos dele: "Por que o mestre de vocês come com publicanos e
‘pecadores’?" Ouvindo isso, Jesus disse: “Não são os que têm saúde
que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt 9:9-12).

“São estes que vim curar”, respondeu Jesus. Ele não defendeu o estilo de vida deles.
Ele os chamou à mudança (Lc 5:32). Jesus estava interessado nos excluídos sociais de sua
época. Ele passou tempo com eles. Amou-os. Elesouviram, e muitos se tornaram discípulos.
Em contrapartida, os fariseus acreditavam que seu dever religioso era permanecer o
mais distante possível dos infiéis a ponto de nem ensinarem a lei. Comer com essas pessoas
era pior do que conversar com elas, assim pensavam os fariseus, porque repartir um prato de
comida significava reconhecer e acolher os pecadores.
Para Jesus, ser política ou religiosamente correto era inútil. Era para apresentar

49
pessoas errantes à graça de Deus que ele viva.

4.3 A Comunhão com o corpo de Cristo

Outro tema de grande importância do Novo Testamento é a ideia de Corpo. Era muito
comum na Grécia Antiga utilizar a analogia com o corpo para enfatizar a necessidade de
comprometimento de cada pessoa com o seu grupo social (ver, por exemplo, o Organon de
Aristóteles). Na Bíblia essa analogia é utilizada com um sentido mais amplo, refletindo sobre
a unidade em meio à diversidade.
O Novo Testamento, especialmente nas epístolas paulinas, nos faz entender que a
Igreja do Senhor é formada por muitas pessoas e, consequentemente, há uma grande diferença
entre cada indivíduo. No entanto, essas diferenças individuais, chamadas de diversidade, não
podem atrapalhar a unidade da Igreja. Por isso, a metáfora do corpo é utilizada para dizer:
somos todos diferentes e por isso temos diferentes funções no corpo, somos todos importantes
e por isso precisamos uns dos outros, temos todos o mesmo valor para Cristo e por isso Ele
nos quer unidos.
Essa importante temática sobre o sentido de Corpo está largamente presente na
doutrina do Novo Testamento. Além da evangelização, que veremos no tópico a seguir, a
comunhão dos Santos é o principal eixo de manutenção da Igreja de Cristo.

4.3.1 Unidade na diversidade

Desde o princípio, a Igreja de Cristo foi formada por pessoas de nacionalidades


diferentes, culturas diferentes e posições sociais diferentes (veja At 13:1). Mas, os membros
da nova Igreja estavam conscientes de que eles faziam parte de um novo Reino e que suas
nacionalidades, culturas e posições terrenas nada significavam, pois algo maior os unia. Por
isso, o sentido de corpo é mais do que uma metáfora organizacional, ou política, é o
sentimento de pertencimento à família de Cristo.

Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o


muro de inimizade, anulando em seu corpo a lei dos mandamentos
expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos
dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar com Deus os dois
em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade (Ef
2:14-16).

Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas


concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo
50
como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para
tornar-se um santuário santo no Senhor(Ef 2: 19-21).

Esses dois trechos das Escrituras nos remetem ao tipo e à profundidade do vínculo que
o Senhor criou conosco através da Cruz do Calvário. Ele trouxe unidade, inicialmente para
dentro de nós. No primeiro trecho, Paulo nos fala sobre a cura de nossa alma. Éramos pessoas
divididas, havia, em um mesmo corpo, dois homens que guerreavam dentro de nós. A
primeira solução de Cristo foi trazer paz para o nosso coração, acabando com a nossa
esquizofrenia espiritual e nos fazendo um só diante dele.
Ao transformar a nossa mente, Cristo nos colocou em unidade com todos os irmãos
que têm a mesma fé. Não somos mais estrangeiros, somos concidadãos, participantes do
mesmo Reino, membros da mesma família. Mas, o que isso significa na prática?

4.3.2 A vida em comum

A vida em comunidade continua sendo um grande desafio para a Igreja de Cristo.


Apesar de tudo que manteve unida a Igreja primitiva, mesmo no meio de suas imperfeições, a
história da Igreja nos mostra verdadeiras tragédias de convívio entre os irmãos, entre as
lideranças e, consequentemente, entre o homem e Deus. O convívio cristão é baseado naquilo
que temos em comum, viabilizando que estejamos juntos.
Mas, na igreja moderna, talvez tenhamos dificuldade de entender o que temos em
comum além do fato de nos reunirmos no mesmo templo. A palavra grega para comunhão é
koinonia, essa palavra era utilizada para sociedades comerciais, para se referir à relação de
Jesus com os discípulos e para apresentar tudo o que a Igreja tinha em plena comunhão (At
2:42-47).
O que falta nos dias de hoje? Ray Stedman afirma o seguinte:

O que está terrivelmente faltando é a experiência da vida no Corpo;


aquela comunhão calorosa de cristão com cristão que o Novo
Testamento chama de koinonia, e que era uma parte essencial do
cristianismo primitivo. (STEDMAN, 1972, p. 107).

Infelizmente, a história da Igreja vem, de fato, nos mostrando que essa visão de
Stedman não é apenas um arrogo negativista, mas uma realidade triste se consumando sob a
forma de individualismo extremado dentro da casa de Deus. O fato é que precisamos retomar
o caminho através das Escrituras.
O apóstolo João nos ensina que a koinonia é, necessariamente, realizada em duas vias,

51
ou duas dimensões: precisamos estar ligados a Deus para que possamos estar ligados aos
irmãos.

Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também
tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu
Filho Jesus Cristo. (I Jo 1:3).

Na mesma carta, ele insiste na necessidade de reconhecermos que nosso


relacionamento com os irmãos é um reflexo daquilo que vivemos com Deus.

Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas


trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na
luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (I Jo 1:6-7).

O pecado nos afasta de Deus e da própria comunidade divina, que é sobrenatural. Estar
perto da igreja física, não implica estar próximo da Igreja de Deus. Principalmente, quando o
pecado é a discórdia dentro ministério terreno. Assim, é necessário confessar os pecados,
purificar os nossos corações, corrigir os nossos delitos e restaurar a nossa relação com o Pai
paraque possamos restabelecer a vida íntegra na igreja de Cristo.

4.3.3 Os mandamentos recíprocos

Conviver em pequenos grupos pode ser uma boa solução para a unidade da Igreja,
considerando, principalmente, a união com Cristo. Mas, esses pequenos grupos devem ser
sempre regidos pelos ensinos bíblicos. Aqui,separamos os chamados mandamentos recíprocos,
aqueles que nos são dados com a expressão “uns aos outros”. Esse enunciado nos remete a
ideia de existem mandamentos bíblicos que mostram a preocupação de Cristo com a unidade
do Seu Corpo.
a) Ama uns aos outros – esse mandamento engloba todos os outros, é, sem dúvida, o
principal mandamento de Cristo para a relação entre os irmãos.

Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu


os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão
que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros. (Jo
13:34-35).

Esse mandamento é repetido de outras formas, veja a tabela abaixo:

52
O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros Jesus Jo 15:12
como eu os amei.
Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros. Jesus Jo 15:17
Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de Paulo Rm 13:8
uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximotem
cumprido a lei.
Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que Paulo I Ts 3:12
vocês têm uns para com os outros e para com todos,a exemplo
do nosso amor por vocês.

O amor é um mandamento para ser exercido reciprocamente dentro efora da Igreja,


mas, principalmente dentro dela. O Corpo de Cristo se movimenta por meio do amor. Trata-
se de um amor intencional, refletido em cada gesto e em cada palavra. Trata-se de se importar
com a pessoa que está junto a você na mesma comunidade. De ser amoroso e tolerante com
ela.

b) Servir uns aos outros – esse é um mandamento que Cristo nos ensinou como
ninguém, tanto em palavras, como em atitudes. Lavando os pés dos seus discípulos (Jo 13),
assumindo o papel de servo, mesmoo sendo o grandeRei (Mc 10:45 e Fl 2), morrendo em nosso
lugar. Dessa forma, a Bíblia nos ensina:

Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a


liberdade para dar ocasião à vontade da carne; pelo contrário, sirvam
uns aos outros mediante o amor. (Gl 5:13).

A ideia de servir uns aos outros parece ser um grande problema para os cristãos
modernos. Mas, esse é um mandamento que continua vivo nas sagradas Escrituras. John Stott
(1969, p. 87) já ensinava o seguinte: “certamente sem algum serviço ou mobilização de orden
prática, a comunhão de qualquer grupo cristão está mutilada”.
O Dr. Stott está certo! Não podemos falar em comunhão no corpo, em unidade no
corpo, se não tivermos a capacidade de servir uns aos outros de forma totalmente voluntária e
despretensiosa.

c) Levar o fardo uns dos outros – a vida, desde a queda no Éden, é repleta de
desequilíbrios, algumas pessoas com muito, outras com pouco. As diferenças de
oportunidades são latentes. Assim, o Senhor nos faz perceber a partir de sua palavra que é
necessário ajudar uns aos outros a superar as dificuldades e intemperes.

53
Na sua carta aos Gálatas, Paulo ensina: “Levem os fardos pesados uns dos outros e,
assim, cumpram a lei de Cristo” (Gl 6:2). Essa é, e sempre será, uma das marcas registradas
da verdadeira Igreja de Cristo, a disponibilidadepara ajudar o próximo, sem nenhuma intensão
de retorno.

d) Perdoar uns aos outros – o perdão é parte fundamental do comportamento de um


Cristão. Isso verdadeiramente é uma característica da conversão e da salvação da alma. Um
cristão que não perdoa, não pode ser perdoado por Deus (Mt 6:15). Por isso, esse mandamento
está tão presente no Novo Testamento, inclusive na oração que o próprio Cristo nos ensinou,
quando Ele diz: “perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores” (Mt
6:13).
Veja, no quadro a seguir, algumas das principais passagens do Novo Testamento que
nos ordenam o perdão genuíno em favor de todos aqueles que nos ofenderam:

Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira


digna da vocação que receberam. Sejam completamente
humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros Paul Ef 4:1-3
com amor. Façam todo o esforço para conservar a unidade do o
Espírito pelo vínculo da paz.

Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia,


bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos Paul
uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como o Ef 4:31-32
Deus
perdoou vocês em Cristo.
Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado,
revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade,
mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as Paul Cl 3:12-
queixas quetiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor o 13
lhes perdoou.

Esses versículos nos ensinam que, mesmo que a Igreja tenha um alto grau de
comunhão verdadeira, sempre haverá irmãos e irmãs imperfeitos, como nós, para serem
perdoados. E que nós mesmos sempre cometeremos erros que precisarão do perdão de outras
pessoas. Assim, é necessário que noCorpo de Cristo haja, também, reciprocidade na disposição
para perdoar.

54
e) Confessar nossos pecados uns aos outros – a confissão de pecados é terapêutica e
pode funcionar para duas coisas: 1) para nos policiar, isso mesmo, ao confessar nossos
pecados a alguém em quem confiamos, teremos, supostamente, mais dificuldade de voltar a
cometer o mesmo pecado, pois agora temos a quem prestar contas de nossa vida; 2) para que
recebamos apoio em oração e que os efeitos espirituais dos nossos erros sejam suplantados pela
força da fé e da súplica diante de Deus.
Tiago, o irmão de Jesus, nos ensina assim: “confessem os seus pecados uns aos outros
e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tg
5:16).
Observação: não há como relacionar esse mandamento à doutrina da confissão da
Igreja Católica, pois, em primeiro lugar, trata-se de um mandamento recíproco, onde as
pessoas devem ter mutualidade na sua confissão e não confessar a uma autoridade. Em
segundo lugar, a confissão aqui não tem caráter punitivo, nem penitencial, é uma confissão
terapêutica.

f) Edificar uns aos outros – o conhecimento da Palavra de Deus deve seaperfeiçoar nos
nossos diálogos e nas nossas atitudes. Devemos compartilharo nosso conhecimento acerca das
Escrituras e, também, usar o sábio conhecimento para admoestar os irmãos quando eles
cometerem pecados. Da mesma forma, devemos ter corações e mentes ensináveis a fim de que
possamos receber ensinamentos e admoestações dos nossos irmãos.
Na carta aos Romanos, Paulo demonstra sua confiança nos crentes da cidade de Éfeso,
pois sabe que os que ali participam da igreja do Senhor são, de fato, convertidos e
conhecedores da Palavra, por isso ele escreve: “Meus irmãos, eu mesmo estou convencido de
que vocês estão cheios de bondadee plenamente instruídos, sendo capazes de aconselhar-se uns
aos outros” (Rm15:14).
Na igreja de Tessalônica, esse comportamento já era praticado pelos cristãos que ali
congregavam, mesmo assim, Paulo insiste na instrução, dizendo: “exortem-se e edifiquem-se
uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo” (I Ts 5:11). O motivo da sua insistência está
nos versículos anteriores: a salvação em Cristo (v.9) e a união eterna com Deus (v.10).
Assim, podemos concluir que a edificação das nossas mentes, por meio da Palavra de
Deus, é o ato de provocar crescimento espiritual e desenvolvimento da nossa relação com o
Pai. Em um diálogo com os fariseus, Jesus, questionado sobre especulações de casamento no
céu, responde que os fariseus cometem engano por que não conhecem as Escrituras, nem o
poder de Deus (Mt 22:29). O contexto nos mostra que sem o pleno conhecimento das
55
Escrituras e do poder de Deus, não seremos capazes de compreender, realmente as coisas
espirituais.

g) Consolar uns aos outros – a compaixão e o amor ao próximo marcam o coração


cristão. Na cidade de Tessalônica, aparentemente, houve alguns óbitos de irmãos da
congregação cristã. Paulo se comove com o sofrimento dos irmãos da igreja e lhes ensina
sobre a doutrina da ressurreição, consolando-os com a viva esperança de que Cristo trará de
volta todos os que nele dormem. Então, faz uma recomendação a todos: “consolem-se uns aos
outros com essas palavras” (I Ts 4:18).
Aqui, encontramos o conhecimento da sã doutrina sendo utilizado para confortar os
corações aflitos que choravam a morte dos seus entes queridos. Os dois últimos mandamentos
recíprocos estão em ação, mostrando a sua utilidade no Reino de Deus.

4.4 A Grande Comissão18

A Grande Comissão é um dos temas fundamentais do Novo Testamento. Essa é a


ordem suprema de Jesus Cristo para a sua Igreja. A obediência irrestrita ao “ide” do Senhor é
a nossa maior responsabilidade no que diz respeito à manutenção e vida da Igreja.

É impossível discutir a responsabilidade dos cristãos na comunhão da igreja sem


esclarecer também que parte de sua atividade deve ser direcionada para o mundo. Gene Getz
observa isso em sua referência à saúde e vitalidade da Igreja:

Os cristãos precisam de três elementos vitais para se tornarem cristãos


maduros. Eles precisam de um bom ensino bíblico que lhe dê
segurança espiritual e teológica; eles precisam de relacionamentos
profundos e gratificantes tanto uns com os outros como com Jesus
Cristo; e precisam ver pessoas indo a Jesus como resultado do
testemunho individual e coletivo para o mundo não cristão. (GETZ,
1974, p. 80)

A Igreja não existe para a satisfação de seus membros. Estamos no mundo para prestar
testemunho da graça de Deus em Cristo. Somos a [...] “geração eleita, sacerdócio real, nação
santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz” (I Pe 2:9).
O equívoco mais comum que os cristãos cometem nesse ponto é admitira importância da
Grande Comissão, porém atribuí-la apenas ao trabalho dosque são especificamente preparados

18
Adaptado de BOICE, J. M. Fundamentos da fé cristã. Um manual de teologia ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Ed.
Central, 2011.
56
para ela: os missionários. Alguns são chamados à obra missionária como uma vocação
especial, mas testemunharde Cristo não cabe só a estes: é dever de todo cristão.
A aceitação dessa responsabilidade foi um fator decisivo na expansão impressionante
da Igreja primitiva. Não foram apenas Paulo e outros líderes que levaram o evangelho aos
confins mais longínquos do mundo romano. Pelo contrário, pessoas anônimas, como você e
eu, participaram efetivamente desse crescimento.
Mas, não era apenas a Igreja primitiva que precisava do cumprimento dessa ordem. A
Igreja, nos dias atuais, ainda, depende largamente dos esforços de cada cristão para a
propagação da Palavra de Deus e do vívidotestemunho de Cristo.

4.4.1 A grande ordem do homem-Deus

Jesus Cristo desafia diariamente cada cristão da terra a deixar o seu conforto, arriscar a
sua vida, para levar o evangelho a todas as pessoas, inclusive aquelas que nos ridicularizam,
que nos causam repulsa, ou que nos amedrontam. Evangelizar é o grande mandamento divino.
Toda a vida cristãé uma preparação para a pregação do Evangelho a toda criatura.
Esse mandamento, conhecido como a Grande Comissão, é encontrado cinco vezes no
Novo Testamento: uma vez em cada um dos evangelhos e outra em Atos dos Apóstolos. Não
é possível minimizar a importância de um mandamento mencionado tantas vezes e de
maneiras tão claras.
Em cada inserção, a ênfase da Comissão da igreja é um pouco diferente, o que nos
convida a estuda-la e refletir sobre ela sob diferentes ângulos. Em Marcos, a ênfase é no Juízo
Final.

E disse-lhes: "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as


pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será
condenado” (Mc 16:15-16).

Em Lucas, a ênfase está no cumprimento da profecia:

Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as


Escrituras. E lhes disse: "Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e
ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria
pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações,
começando por Jerusalém” (Lc 24:45-47).

No relato de João, Jesus colocou o plano de Deus no contexto de Suaprópria missão

57
pelo Pai: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio” (Jo 20:21b).
Em Atos, o mandamento está vinculado a um projeto para a evangelização do mundo:

Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e


serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria,
e até os confins da terra (At 1:8).

A declaração mais conhecida da diretriz pessoal de Jesus Cristo a todos os Seus


seguidores está em Mateus, onde a ênfase recai sobre a autoridade de Cristo:

Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a


autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas
as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei
sempre com vocês, até o fim dos tempos" (Mt 28:18-20).

Nessas quatro passagens, independentemente da ênfase da mensagem que cada autor


lhe dá, a ordem é uma só: evangelizar o mundo. Jesus não apenas nos manda evangelizar, Ele
nos diz, também, como fazê-lo.Primeiro, devemos fazer discípulos de todas as nações. Temos a
obrigação de pregar o evangelho a eles, de forma que pelo poder das Escrituras e do Espírito
Santo eles se convertam de seus pecados e entreguem-se a Cristo, passando a segui-lo como
seu Senhor.
O evangelismo é a primeira e óbvia tarefa nessa Comissão. Por outrolado, sem o
que vem depois dele, o evangelismo perde muito de seu sentido.
Jesus foi em frente para dizer, em segundo lugar, que aqueles que são seus devem
conduzir seus convertidos ao ponto de serem publicamente batizados em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo. E esse batismo isso significa duas coisas: 1) o total
comprometimento de coração com Jesus como Salvador e Senhor deve tornar-se público; 2) o
novo cristão está agora se unindo à Igreja, o Corpo visível de Jesus Cristo.
Por fim, Jesus instruiu os que levam à frente a Sua Comissão para que ensinem aos
outros tudo que Ele lhes tem ensinado. Uma vida inteira de aprendizado segue a conversão e a
adesão à Igreja. A obra missionária completa é anunciar o evangelho, ganhar vidas para
Cristo, trazê-los para a comunhão da igreja e, então, cuidar para que se tornem discípulos
aprendendo as verdades das Escrituras.

58
CAPÍTULO V – PANORAMA GEOGRÁFICO

Nesse panorama geográfico, queremos analisar três dos principais percursos descritos
no Novo Testamento: 1) o itinerário de Jesus; 2) o avanço da Igreja por meio dos anônimos; e,
3) as viagens missionárias de Paulo. Esses três percursos perfazem toda a amplitude do NT,
neles teremos, também, uma visão geopolítica da época em que o NT estava sendo vivido por
seus participantes.

5.1 Introdução

Na antiguidade, a formação geopolítica das nações era muito frágil e as fronteiras eram
constantemente redefinidas por guerras e/ou acordos entre reis. Mas, no contexto específico da
época de Jesus, Israel era dominado por Roma e havia certa estabilidade política em todo o
Império; era a Pax Romana criando uma trégua entre as nações dominadas. Naquele ambiente,
as maiores variações ocorriam tão somente dentro dos próprios países por meio da
distribuição de cargos e domínios políticos.
Desta forma, as características étnicas de Israel foram pouco afetadas com a atuação
do Império Romano, possibilitando-nos ter informações mais acuradas sobre quem são, por
exemplo, as pessoas que mantiveram diálogos com Jesus; ou as razões pelas quais ele escolhe
termos militares para falar com os habitantes de Decápolis, enquanto usa parábolas agrícolas
para conversarcom os galileus.
Então, podemos entender que um dos exercícios de compreensão do Novo Testamento
é a localização geográfica e as características disponíveis das populações que entram em
diálogo com Cristo. Ao acompanhar a trajetória de Cristo, percebemos que Ele muda suas
estratégias ministeriais, mas sem jamais modificar o sentido da sua missão.

5.2 Os primeiros passos do Senhor

Os deslocamentos de Jesus mostram a evolução do seu ministério e a autenticidade da


sua divindade e da sua autoridade. Nas profecias do Antigo Testamento, encontramos pistas de
por onde o Messias andaria: "Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de
Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no
passado distante, em tempos antigos" (Mi 5:2).
Belém-Efrata era uma cidade muito pequena, localizada na província da Judeia. Por

59
isso, a profecias surpreende, ninguém esperava que o Rei de Israel viesse de uma terra tão
insignificante do ponto de vista político. Mas, Jesus não viveu em Belém, Ele cumpriu a
profecia do seu nascimento e, conforme visto no Panorama Histórico, seus pais tiveram que
fugir para o Egitoa fim de evitar que Ele fosse assassinado na matança promovida por Herodes,
o Grande (ver Mt 2).
De acordo com o evangelho de Lucas, o governador da Síria, Quirino convocou um
recenseamento, ordenando que cada cidadão deveria ir à sua cidade natal para se apresentar e
fazer uma espécie de registro. Desta forma, José levou Maria para a sua cidade, Belém. Ali,
Jesus nasceu (Lc 2:1-7).
Já no evangelho segundo Mateus, magos vindos do oriente, guiados por uma estrela,
visitaram o rei Herodes a fim de saber onde estava o meninoque seria rei dos judeus. Ao ouvir
as palavras dos magos, Herodes procurou, sem sucesso, saber onde estava Jesus, não
conseguindo a informação, ordenou a morte de todas as crianças com menos de dois anos que
vivessem em Belém e nas proximidades. Avisados dos planos de Herodes por um anjo, José e
Maria fugiram parao Egito (Mt 2:1-18). O retorno só aconteceu quando Herodes morreu. Eles
voltaram a viver em Nazaré, pois a Galileia, ao contrário da Judeia, estava sendo governada
com jugo suave.

60
Mapa 1 – Primeiras viagens de Jesus

Fonte: Dowley(2010)

O mapa acima dá uma ideia da distância percorrida pelos pais de Jesus na ocasião do seu
nascimento. Hoje, se olharmos no Google, vamos encontrar que a distância entre Nazaré e
Belém é de cerca de 30 Km. Mas, perceba, no mapa acima, que o percurso foi feito evitando a
passagem pela região da Samaria, pois judeus e samaritanos não se davam bem (c.f. Jo 4:9).
Dessa maneira, estima-se que o percurso tenha sido de aproximadamente 100 Km.
Mas, uma distância muito maior foi percorrida na fuga para o Egito. Descrita,

61
rapidamente, em Mt 2:13-14, não podemos saber quanto tempo, exatamente, Jesus
permaneceu naquele país. Mas, sabemos que foi uma longa e exaustiva viagem.

Mapa 2 – A fuga para o Egito

Fonte: Dowley(2010)

O percurso do primeiro mapa, ou seja, de Nazaré para Jerusalém, passaria a ocorrer


todos os anos da infância de Jesus, na época da Páscoa (Lc 2:41). E seria, também, a última
trajetória descrita da Sua vida, quando Ele “ia passando pelas cidades e povoados proclamando
as boas novas do Reinode Deus” (Lc 8:1).
É essa narrativa de Lucas que nos fará analisar o ministério de Cristo a partir da
geografia Palestina, percebendo as diferentes estratégias missionárias, os diferentes assuntos
abordados e as diferentes ações de acordo com o público e a região. Nessa caminhada “pelas
cidades e povoados”, Jesus vai revelando o seu ministério e, também, caminhando em direção
ao Seu próprio martírio. Os caminhos da infância de Jesus parecem ter um tom profético em
sua história. Por isso, vamos dividir, nas seções seguintes algumas características do
ministério de Cristo de acordo com a região onde ele se encontrava.

62
5.3 O ministério na Judeia

Antes de descrever o ministério de Jesus na Judeia, vamos compreender um pouco de


como funcionava essa divisão política de Israel naquela época. Lembremos, em primeiro lugar,
que essa era a terra de Canaã, que foi dada a Abraão, onde viveram Isaque e Jacó (que teve o
seu nome mudado para Israel em Gn 30) e que foi reconquistada pelo povo de Israel depois do
cativeiro egípcio.
Naquela época, a Palestina estava dividida em Judeia, Samaria, Galileia, Peréia e
Ituréia. Decápolis era uma região ocupada por muitos militares do exército romano, porém de
profunda influência da cultura grega.

Mapa 3 – A Palestina nos dias de Jesus

Fonte: Dowley(2010)

Champlin (2002) chama a nossa atenção para o fato de o evangelho de João narrar um
ministério preliminar de Jesus na Judeia. Apresentando no trecho 1:29-51 os contatos iniciais
com os primeiros discípulos; em seguida, no capítulo 2, o primeiro milagre de Jesus,
transformar água em vinho; no capítulo3, está narrada a entrevista de Jesus com Nicodemos; e,
no capítulo 4, sua passagem pela Samaria.
Também, podemos encontrar no trecho 2:13-22 o que teria sido a primeira purificação
63
do templo. No entanto, há dúvidas sobre essa passagem,pois muitos eruditos a consideram fora
da ordem cronológica dos acontecimentos.
Importante destacar o encontro de Jesus com João Batista, narrado no primeiro e
segundo capítulo do evangelho de João. Jesus identificou-se com o ministério de João Batista,
pregando o arrependimento dos pecados e o caminho da santidade.

5.4 O ministério na Galileia

Alguns acontecimentos preliminares precisam ser descritos aqui também. Embora


ainda não declarasse abertamente, Jesus se identificacomo Filho do Homem, dando indicação
de sua missão messiânica. Jesus inicia suas pregações nas sinagogas judaicas, tornando-as nos
seus principais pontos de pregação. Ali, ele reexaminava os ensino da Lei, pregava o seu
código ético e demonstrava sua autoridade. Apesar de não ter nenhum pré- requisito ordinário
para ser considerado mestre nas sinagogas, Ele era muito bem aceito como tal (ver Mt 4-8).
Ali, na Galileia, Jesus escolhe os doze que iriam lhe acompanhar pelo resto da vida
(ver Mt 10) e profere cinco grandes discursos que estão registrados com maior acuracidade no
evangelho de Mateus (ver as seguintes passagens: 5-7; 10; 13; 18 e 24:1-26:2). Nesses
discursos, Jesus fala sobre os princípios éticos do Reino de Deus; a nova lei; a lei do amor;
instruções aos doze; discursos sobre a natureza do Reino de Deus; problemas comunitários
da Igreja; e, apresenta suas profecias sobre o fim dos tempos.

5.5 Partindo da Galileia

Depois de iniciar o seu ministério na Galileia, Jesus parte em direção à Jerusalém. As


passagens Mc 7:31 e 8:24 nos fazem perceber que Jesus passou um tempo na cidade de Tiro,
na Síria. Ali, ele teve um encontro com a mulher sifo-fenícia (Mc 7:24-30), também curou um
homem surdo-mudo.
Após a visita a Tiro, Jesus voltou para Betsaída, onde realizou alguns milagres e, em
seguida, foi para as aldeias de Cesaréia de Filipe, onde Pedro apresentou a sua confissão (Mt
16:13-20 e Mc 8:27-33). Nessa viagem, também, aparece o serviço de Jesus em Decápolis
(Mc 7:31).
Dois fatos importantes aparecem nesse trajeto da Galileia à Jerusalém:
1) Jesus começa a explicar claramente a necessidade da sua morte, explicando aos doze tudo
que eles precisavam entender acerca desse acontecimento e como deveriam agir quando Ele

64
partisse; 2) nessa época, Jesus não gostava de ser seguido pelas multidões (ver Mc 7:24), é um
período de maior introspecção, em que, além do ensino aos mais próximos, Ele planeja e ganha
coragem para realizar os acontecimentos que Ele sabia que iriam suceder em breve.

5.5.1 O Servo Sofredor

Pedro confessou a filiação divina de Jesus (Mt 16:13-20), aparentementeentendendo que


Jesus seria o Servo Sofredor. Champlin (2002, p. 9) diz: “as pedras fundamentais estavam
lançadas para a doutrina cristã, e o cristianismo seria distintivamente firmado como revelação
separada do judaísmo”. Isso por que pela primeira vez Jesus se referira à edificação da Sua
Igreja.

5.5.2 Caminho entre os inimigos?

Há certa discussão sobre que caminho Jesus teria tomado na parte da viagem em que
teria que desviar a Samaria. No Mapa 1, nós podemos observar que o trajeto normal era
desviar a Samaria, mas Mc 10:1 nos dá a ideia de que Jesus teria adentrado o território
samaritano. Alguns acreditam que Jesus, de fato, foi pela Pereia, outros apontam para a ideia
de Jesus teriaadentrado a Samaria e os seus discípulos foram pela Pereia.
Nessa parte da caminhada, Jesus apresenta a ideia de que a sua vida seria dada em
RESGATE DE MUITOS (Mc 10:42-45). Esse é outro ponto crucial da doutrina cristã que é
apresentado na caminhada para Jerusalém.

5.6 Enfim, na Judeia

A chegada à Judeia é o ponto culminante do ministério terreno do Senhor Jesus Cristo.


Os quatro evangelhos narram, de maneira harmônica, mas não igual, a última estada de Jesus
Cristo na Judeia e, especificamente, em Jerusalém. Ali, Ele havia estado muitas vezes em
companhia dos seus pais, e, também, teria participado de outros momentos festivos da cultura
judaica. Mas, nessa última vez, tudo seria diferente, não haveria festa, não aqui na terra.
Destacamos os seguintes acontecimentos:

65
Acontecimento Passagens
A Entrada Triunfal Mt 21:1-11; Mc 11:1-11; Lc 19:28-40; Jo 12:12-19
A traição Mt 26:14-16; Mc 14:10,11; Lc 22:1-6; Jo 13:18-30
A Última Ceia Mt 26:17-30; Mc 14:12-26; Lc 22:7-23; Jo 13:18-30
Jardim do Getsêmani Mt 26:36-46; Mc 14:32-42; Lc 22:39-46
Aprisionamento Mt 26:47-56; Mc 14:43-52; Lc 22:47-53; Jo 18:1-11
Julgamento de Jesus Mt 26:57-67; Mc 14:53-65; Lc 22:66-71; Jo 18:12-14;
19-24; 28-40.
A Crucificação Mt 27:32-44; Mc 15:21-32; Lc 23:26-43; Jo 19:16-27
A descida ao Hades I Pe 3:18-20
A Ressurreição Mt 28:1-10; Mc 16:1-8; Lc 24:1-12; Jo 20:1-9

Todos esses importantes acontecimentos ocorreram entre um período de valiosos


ensinos. Jesus ensinou sobre o Reino de Deus até o último momento, falando sobre o seu
sentido espiritual e profetizando sobre a sua segunda vinda onde o Reino se estabelecerá
definitivamente. Também falousobre as consequências de não manter a fé na segunda vinda e
a necessidade de estarmos constantemente preparados para esse momento.

66
CAPÍTULO 6 - A EXPANSÃO DO EVANGELHO POR MEIO DOS
ANÔNIMOS

Comumente, atribuímos a Paulo a grade expansão do evangelho e a criação daquela


que conhecemos como Igreja Primitiva, ou seja, a igreja do primeiro século do cristianismo.
Essa não é uma atribuição injusta, pois Paulo, de fato, foi o grande veículo de Deus para a
pregação do evangelho no seutempo (At 9:15).
No entanto, precisamos lembrar que a Bíblia nos fala sobre igrejas que existiam
naquela época e que Paulo jamais esteve em nenhuma delas. Por exemplo, as igrejas em
Roma, Colossos, Filadélfia, Esmirna, Pérgamo dentre outras. Então, quem as fundou? Quem
levou o evangelho a esses lugares? Os outros apóstolos? Aqueles discípulos que andavam com
Jesus? É possível, mas nos parece mais plausível uma explicação que surge a partir das
próprias escrituras. Precisamente no capítulo 2 de Atos dos Apóstolos. Naquele trecho das
Sagradas Escrituras está a narrativa de um fato poderoso da Igreja Primitiva, não apenas pela
manifestação do Espírito com o fenômeno da glossolalia, mas pelo ensino prático do
sacerdócio universal de todo cristão.

6.1 O Comissionamento de um povo

Após a ressurreição, Jesus disse aos seus discípulos para não saírem de Jerusalém a
fim de esperar a promessa de Deus (At 1:4). Jesus certamente se referia a profecia de Joel
2:28-32 que se cumpriria mais adiante, no dia de Pentecostes.
Mas, tudo aquilo tinha um sentido muito forte, Jesus estava comissionando todos os
cristãos para que levassem o seu nome por toda a terra. “Mas receberão poder quando o
Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a
Judéia e Samaria, e atéos confins da terra” (At 1:8).

O que Jesus tinha em mente era o comissionamento de um povo que testemunhasse do


seu poder e do seu amor para todo o mundo. Ele já havia falado sobre na Grande Comissão,
mas agora tudo está prestes a acontecer, o Espírito Santo estava assumindo o protagonismo do
ministério junto à Igreja e instrumentando o povo para que o Nome jamais fosse esquecido.

67
6.2 Um movimento espiritual

Não é raro ver as pessoas discutindo sobre a manifestação do Espírito em Atos 2.


Aquele fenômeno foi único na história e precisa ser compreendido assim. A real expectativa
daquele evento não era o ‘poder sobrenatural’, mas o poder missional. Isto é, o que aconteceu
em Atos 2 foi a instrumentação dopovo de Deus para a pregação da Palavra.
Vejamos a profecia de Joel, que Pedro evoca para justificar aquilo queestá acontecendo
(At 2:16-21). Ela afirma que Deus derramaria, como derramou, o seu Espírito sobre todos os
povos, que os filhos e filhas profetizariam, que os jovens teriam visões e o velho teriam
sonhos, que as servas também profetizariam e que grandes maravilhas seriam mostradas no
céu e na terra. A ênfase, indiscutivelmente, está no sacerdócio universal e na comunicação
transcultural do evangelho. Duas expressões ganham força nessa profecia e se projetam no
seu cumprimento: ‘todas as nações’ e‘profetizarão’.
Quando ele fala do Espírito sobre todas as nações, soma-se à noção de ‘os confins da
terra’ em 1:8 e com o sacerdócio universal de I Pe 2:9-10. A expressão ‘profetizar’ nada mais
significa do que pregar, ou anunciar. Não tem, necessariamente, relação com anunciar coisas
do futuro, mas toda pregação do evangelho, se vier de Deus é uma profecia.
Assim, o sentido de Atos 2 é que todos deveriam proclamar o evangelho nos lugares
onde vivem. O Mapa 4, abaixo, representa a passagem 2:9-11.

Mapa 4 – As nações em Pentecostes

Fonte: Dowley(2010)
68
Marshall (1999) chama a atenção para o fato de que o evangelho ainda não havia
alcançado os gentios e que na narrativa de Atos 2 não há gentios, mas sim judeus de todas
essas localidades que viram o fenômeno eouviram o discurso de Pedro (2:14-36) e muito deles
se converteram (ver 2: 41). Veja que algumas das cidades presentes no Mapa 4, isto é, em At
2:9-11, são posteriormente visitadas por Paulo nas suas viagens missionárias. Inclusive
Roma,igreja para quem Paulo escreve uma grande e importante carta.
O que podemos aprender desse aspecto geográfico? Que muitas pessoas, cujos
nomes não estão escritos na Bíblia, nem em qualquer livro de história, que não receberam
qualquer honra nessa terra, creram e pregaram o nome do Senhor Jesus ao ponto de dar
continuidade à obra do próprio Cristo.
O poder que recebemos do Senhor Jesus nos é dado, mediante aconversão, para que
possamos ser como aqueles anônimos de Atos dos Apóstolos, testemunhas vivas das maravilhas,
profetas das palavras eimitadores do nosso Senhor Jesus.

6.3 Os percursos Paulinos


Não resta dúvidas de que Paulo foi o maior missionário da Igreja de Cristo em todos
os tempos. Ele foi desbravador e teve a ousadia de assumir todos os riscos necessários para
proclamar a mais maravilhosas história de amor da humanidade. Além de ser responsável pela
explanação mais ampla e profunda do evangelho, Paulo assumiu, também, a postura prática de
ir atéos confins da terra e pregar o evangelho.
Os textos abaixo, sobre as três viagens missionárias de Paulo são extraídos do
volume do coleção O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo de Russell
Norman Champlin, Ph. D. Apresentado em nossa bibliografia.

6.4 Primeira viagem missionária


Em cerca de 46 d.C., Paulo e Barnabé foram comissionados pela igrejaem Antioquia a
se atirarem numa excursão evangelística. Essa viagem fê-los atravessar a ilha de Chipre (onde
Barnabé nascera), tendo passado pelo sul da Galácia (ver Atos 13 e 14). Na companhia de
Paulo e Barnabé ia, também, João Marcos, autor do chamado evangelho de Marcos. Este era
primo de Barnabé. Ao chegarem a Perge, capital da Panfília 19, por razões para nós
desconhecidas, Marcos preferiu descontinuar a viagem e retornar para Jerusalém, sua terra.
Talvez Marcos não estivesse disposto a dar prosseguimento a uma tão difícil viagem. Paulo
ressentiu a sua partida, julgando-a como ato de deserçãoo, e mais tarde não consentiu que ele
19
Esta é uma região presente em At 2:9-11.
69
o acompanhasse em outra excursão missionária (ver At 13:58). Isso tornou-se motivo de
acirrado debate entre Paulo e Barnabé, pois também eram humanos e estavam sujeitos a errar.
De Perge viajaram a Psídia, um distrito em uma ilha, onde realmente teve começo a
evangelização da Ásia Menor20. Em Antioquia da Psídia, em um dia de sábado, os dois
missionários expuseram a sua importante mensagem messiânica, e foram acolhidos. No
sábado seguinte, entretanto, já fora criada uma amarga oposição por parte de alguns judeus
radicais. E os missionários cristãos foram obrigados a abandonar a cidade.
Dali, partiram para Icônio, importante cidade comercial da Licaônia. Seguindo seu
costume original, pregaram na sinagoga dos judeus, e obviamente tiveram êxito, pois ficaram
ali por tempo considerável. Mas eis que os radicais novamente provocaram um levante, que
forçou Paulo e Barnabé a fugirem, finalmente. Dali, foram para Listra e Derbe, nenhuma das
quais era considerada cidade de grande importância. Essas cidades ficavamlocalizadas na parte
oriental da Licaônia. As superstições locais levaram as multidões a identificarem os
missionários com Zeus (Barnabé) e Hermes (Paulo). Um culto improvisado na hora, por alguns
sacerdotes locais, em honra aos dois ‘deuses’, teve ser interrompido pelos missionários, porque
sabiam que tal título não era merecido. Mas não demorou que os judeus radicais atacassem
novamente, e em Listra (Atos 4) Paulo foi apedrejado.
Alguns interpretes acreditam que foi nessa ocasião que Paulo teve a sua visão do
terceiro céu (II Co 12), e que ele realmente esteve morto, mas reviveu. [Mas nada se
comprova nesses termos]. O certo é que os enviados, tendo partido de Listra, foram pregar em
Derbe. Começaram a voltar desse ponto, a fim de confirmarem na fé os da Psídia. Oficiais
foram eleitos para as congregações. Dali partiram os missionários chegando, embarcaram em
um navio a fim de irem para Antioquia da Síria, de onde tinham partido dois anos antes. Essa
primeira viagem levara-os às áreas de Chipre, Panfília, Psídia e Licaônia, e nesses lugares
novas igrejas cristãs foram estabelecidas.

20
A Ásia Menor também está presente em At 2:9-11.
70
Mapa 5 – Primeira Viagem Missionária de Paulo

Fonte: Dowley(2010)

6.5 Segunda viagem missionária


Paulo, então, já dono de maior experiência em viagens missionárias, ansiava por
partir novamente. Mas, devido às divergências com Barnabé, por causa de João Marcos, dessa
vez Paulo preferiu levar a Silas (ver Atos 15:40- 18:22). Partindo de Antioquia, seguiram por
terra para as igrejas do sul da Galácia, e em Listra o grupo foi engrossado com a adesão do
jovem Timóteo. Ali chegando, o Espírito Santo desviou-os da direção ocidental, e passaram a
viajar na direção do norte, atravessando o norte da Galácia. Em Trôade, Lucas se reunira ao
grupo missionário, e parece certo que nesse tempo começou a escrever a sua importantíssima
narrativa, chamada Atos dos Apóstolos, obra da qual se obtém quase todo o conhecimento de
que dispomos acerca de Paulo e suas viagens, bem como do desenvolvimento da igreja
primitiva emgeral.

71
Mapa 6 – Segunda Viagem Missionária de Paulo

Fonte: Dowley(2010)

Durante suas viagens, Paulo se mantinha em contato com as congregações cristãs


anteriormente organizadas por meio de epístolas, certo número das quais têm chegado até nós,
tendo-se tornado parte do nosso Novo Testamento. As epístolas I e II Tessalonicenses devem
ter sido escritas a esse tempo. De Corinto, Paulo partiu para Éfeso, onde ficou durante pouco
tempo. Dali, em viagem apressada, passou por Jerusalém e chegou a Antioquia da Síria.
Dessa maneira se encerrou a sua segunda viagem missionária. Essa segunda viagem
missionária evidentemente ocupou de ano e meio a dois anos, e provavelmente terminou em
cerca de 51 d.C. Depois disso Paulo passou mais algum tempo (quanto, exatamente, não
sabemos), em Antioquia da Síria.

6.6 Terceira viagem missionária


Foi a época do ministério em torno do Mar Egeu (ver Atos 18:23-20:38).Sob diversos
aspectos, esse foi o período mais importante da vida de Paulo. A província da Ásia foi
evangelizada, e postos avançados do cristianismo foram lançados na Grécia. Durante esses

72
anos, Paulo escreveu I e II Coríntios, Romanos, e talvez (ainda que não todas) algumas das
chamadas epístolas da prisão – I e II Timóteo e Tito. De Antioquia Paulo partiu para Éfeso. Ali
passoucerca de três anos, tendo estabelecido um dos centros mais importantes do cristianismo,
a despeito da feroz oposição, movida tanto pelos judeus como pelos aderentes da adoração à
deusa Artemisa (Diana). Desse ponto, provavelmente Paulo visitou diversas outras áreas ao
redor, mas seu trabalho principal se concentrou em Éfeso. Também tornou a visitar as
congregações cristãs ao redor do mar Egeu, que haviam sido anteriormente fundadas.
Atravessando Trôade, Paulo chegou à Macedônia, onde escreveu a epístola chamada II
Coríntios, e dali partiu para Corinto. Nessa cidade ele passou o inverno e escreveu a epístola
aos Romanos, antes de continuar viagem até Mileto, um porto próximo de Éfeso.

Mapa 7 – Terceira Viagem Missionária de Paulo

Fonte: Dowley(2010)

Por essa altura, Paulo desejou subir a Jerusalém, a fim de levar auxílio aos crentes
pobres dali (empobrecidos pela perseguição e pela fome), enviados pelos crentes gentílicos. A
princípio ele queria ir à Síria por via marítima, mas, devido a uma armadilha que lhe fizeram
para tirar-lhe a vida, preferiu viajar por terra, tendo atravessado a Macedônia. Dali, ele e seus
companheiros de viagem tomaram um navio e velejaram ao longo das costas ocidentais da Ásia
73
Menor. Breves paradas foram efetuadas em diversos lugares, incluindo Mileto, cidade
portuária de Éfeso, o que forneceu a Paulo a oportunidade de despedir-se, finalmente, dos
crentes que ali habitavam. Eventualmente desembarcaram em Tiro, na costa da Síria. A
despeito das várias advertências sobre os perigos que ele teria de enfrentar em Jerusalém,
Paulo prosseguiu viagem. Paulo chegou em Jerusalém no Pentecoste, provavelmente em cerca
de 56 d.C. Sua terceira viagem missionária, por conseguinte, terminou após um pouco mais de
três anos de atividades.

6.7 Aprisionamento e encarceramento em Roma


Paulo se movimentara com admirável liberdade, embora nunca o tivesse feito sem
teste, tribulação e perseguição. Jerusalém rejeitara muitos homens piedosos, muitos profetas, e
o próprio Jesus; e Paulo não estava destinado a conseguir maior êxito ali. O trecho de Atos
21:17-28:16 conta a história. Os judeus radicais, nessa ocasião, não tiveram de perseguir a
Paulo, mas ele caiu direito na armadilha que lhe armaram. O mais estranho é que a dificuldade
foi provocada por alguns judeus que vinham da província da Ásia, que por acaso estavam no
templo e reconheceram Paulo; foram eles que agitaram as multidões e fizeram-nas atacar o
apóstolo. As autoridades romanas aprisionaram Paulo por estar perturbando a ordem. A essa
altura, Paulo fez um discurso na escadaria do templo, contando com pormenores como ele
fora perseguido dos crentes, como ele se convertera, e como pregara a Jesus como Messias de
Israel. Paulo foi ameaçado de açoites pelas autoridades romanas, mas, informando-as que era
cidadão romano, o tribuno militar resolveu soltá-lo. Mas essa ação causou tal protesto, por
parte dos judeus que, para usa própria proteção, Paulo foi levado de volta às barracas
militares. Os judeus, ato contínuo, conspiraram em matá-lo, e por isso Paulo foi removido para
Cesaréia, com um grupo armado. Ali Paulo foi conduzido à residência de Félix, procurador
romano. Paulo foi guardado sob sentinela, no palácio de Herodes. Evidentemente esteve em
Cesaréia pelo espaço de dois anos, e alguns crêem que ali ele escreveu a sua epístola aos
Colossenses, aos Efésios e a Filemom; mas uma data posterior para essas epístolas é mais
provável.
Após dois anos de administração mal-sucedida, Félix foi chamado de volta a Roma, e
Pórcio Festo tomou o seu lugar. Este era homem de caráter amargo (Isso aconteceu em cerca
de 58 d.C.). Quando o novo procurador recusou-se a ouvir o caso de Paulo, em Jerusalém, os
judeus desceram a Cesaréia, a fim de acusarem a Paulo ali. Assacaram graves acusações contra
ele, mas que Paulo negou categoricamente. Foi então que Paulo apelou para César, que era
direito de todos os cidadãos romanos, e dessa maneira se criouo motivo de sua viagem a Roma.
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Antes de partir para Roma, Paulo falou perante o rei Agripa II e sua irmã, Berenice. Esse
Herodes era o bisneto de Herodes, o Grande. Nessa oportunidade, Paulo repetiu a história de
suaconversão, e é óbvio que impressionou favoravelmente os que o ouviram.

Mapa 8 – Viagem de Paulo a Roma

Fonte: Dowley(2010)

Dali, viajando pelo mar, Paulo partiu para Roma, juntamente com muitos outros
prisioneiro. Fez diversas paradas ao longo do caminho, incluindo uma permanência de três
meses em Malta. Paulo chegou a Roma em 59 d.C., não como homem livre, mas, não obstante,
como poderosa testemunha do cristianismo. Chegando a Roma, Paulo não foi tratado como
prisioneiro no sentido ordinário, e nem como criminoso. Ali ele desfrutou do que se
denominava ‘libera custodia’, isto é, podia viver em sua própria casa, desfrutando de muitos
privilégios de liberdade e ação, mas sempre acompanhado de um guarda. Paulo pregava
àqueles que o visitava, explicando-lhes as razões de seu aprisionamento; e também enviava
epístolasa lugares distantes. Foi nesse período que, provavelmente, foram escritas as epístolas
aos Colossenses, a Filemom, aos Filipenses (e, provavelmente, aos Efésios).

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