Fé é um ato concreto ou um situação simplesmente abstrata?
Quando pensamos na fé como aquilo que não se vê, mas que apenas
acreditamos com nosso coração, parece que expressa uma verdade universal.
Mas será que isto é uma verdade absoluta? A fé ela tem dois princípios básicos
ao nosso ver: a fé é concreta e subjetiva. Ela é concreta por que ela tem que
ser vista, notada pelos outros, por isso deve ser expressa por ações concretas.
Subjetiva por que ela é expressa não de forma uniforme, constante, mas sim
de acordo com as experiências pessoais, isto é, cada um demonstra a fé de
acordo com suas experiências pessoais, sua vivência e mesmo carisma.
Vamos ver algumas situações em que Jesus nos apresenta que a fé é fruto de
gestos concretos, isto é, a pessoa tem que demonstrar que aquilo que temos
em nosso coração precisa necessariamente ser demonstrado.
Temos três passagens que demonstram que esta demonstração “libera” aquilo
que almejamos. Nestas passagens vemos que foram situações em que Jesus
por si só não faria aquelas curas, não porque não se importasse ou mesmo por
que não queria, mas por que Ele se encontrava em situações das quais não
tinha como agir, que por que não via a pessoa ou mesmo não conseguia ouvir
as pessoas devido ao grande número de pessoas que o cercavam.
Neste primeiro momento Jesus se encontrava dentro de sua casa e alguns
homens almejavam que seu amigo fosse curado da paralisia. Arrancam o
telhado descem este amigo para que Jesus o percebesse, assim vendo a fé
daqueles amigos Jesus cura o homem o faz andar. Lc 5: 17-25:
"17.Um dia estava ele ensinando. Ao seu derredor
estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de
todas as localidades da Galileia, da Judéia e de
Jerusalém. E o poder do Senhor fazia-o realizar várias
curas. 18.Apareceram algumas pessoas trazendo num
leito um homem paralítico; e procuravam introduzi-lo na
casa e pô-lo diante dele. 19.Mas, não achando por onde
o introduzir, por causa da multidão, subiram ao telhado e
por entre as telhas o arriaram com o leito ao meio da
assembléia, diante de Jesus. 20.Vendo a fé que
tinham, disse Jesus: “Meu amigo, os teus pecados te
são perdoados”. 21.Então, os escribas e os fariseus
começaram a pensar e a dizer consigo mesmos: “Quem
é este homem que profere blasfêmias? Quem pode
perdoar pecados senão unicamente Deus?”. 22.Jesus,
porém, penetrando nos seus pensamentos, replicou-
lhes: “Que pensais nos vossos corações? 23.Que é mais
fácil dizer: Perdoados te são os pecados; ou dizer:
Levanta-te e anda? 24.Ora, para que saibais que o Filho
do Homem tem na terra poder de perdoar pecados
(disse ele ao paralítico), eu te ordeno: levanta-te, toma o
teu leito e vai para tua casa”. 25.No mesmo instante,
levantou-se ele à vista deles, tomou o leito e partiu para
casa, glorificando a Deus"
São Lucas, 5- Bíblia Católica Online
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Aqui o que nos chama a atenção é exatamente o termo que está grifado
“Vendo a fé que eles tinham”, como já havia sido dito acima, foi necessário um
gesto concreto e subjetivo, e inclusive neste caso vemos quem demonstrou a
fé não foi o paralitico, mas seus amigos. Foram de certo modo atrevidos e até
mesmo inconseqüentes, pois causaram um dano na casa alheia, mas tendo em
vista aquilo que seria adquirido, isto é a cura do seu amigo.
Já em um segundo exemplo que podemos demonstrar, faz parte de uma
narrativa que aparenta e demonstra o desespero desta pessoa. Trata-se aqui
do único curado por Jesus que é chamado pelo nome: Bartimeu. Isto nos
mostra que o escritor inspirado conhecia esta pessoa. Mt 10: 46-52
46. Chegaram a Jericó. Ao sair dali Jesus, seus
discípulos e numerosa multidão, estava sentado à beira
do caminho, mendigando, Bartimeu, que era cego, filho
de Timeu. 47. Sabendo que era Jesus de Nazaré,
começou a gritar: "Jesus, filho de Davi, em compaixão
de mim!" 48. Muitos o repreendiam, para que se calasse,
mas ele gritava ainda mais alto: "Filho de Davi, tem
compaixão de mim!" 49. Jesus parou e disse: "Chamai-
o" Chamaram o cego, dizendo-lhe: "Coragem! Levanta-
te, ele te chama." 50. Lançando fora a capa, o cego
ergueu-se dum salto e foi ter com ele. 51. Jesus,
tomando a palavra, perguntou-lhe: "Que queres que te
faça? Rabôni, respondeu-lhe o cego, que eu veja! 52.
Jesus disse-lhe: Vai, a tua fé te salvou." No mesmo
instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo
caminho.
Dá pra perceber que para ele se revela três grandes obstáculos para alcançar
o seu desejo. Ele era cego, pedinte e além disso era constantemente
repreendido por aqueles que compunham o multidão que cercava Jesus. Vale
a pena deixar bem claro que as pessoas que seguiam o Senhor era bastante
barulhenta, se acotovelavam até de forma violenta para conseguir ficar bem
próximos de Jesus. Isto em relação aos três exemplos que trouxemos aqui.
Então Bartimeu precisou ser ousado e inconveniente para chamar a atenção do
Senhor. Temos como aqui como parâmetro a parábola de Lc 11: 5-8: “5. Em
seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à
meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, 6. pois um amigo meu
acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe
oferecer; 7. e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está
fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar
os pães; 8. eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por
ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe
dará quantos pães necessitar”. Vemos que o escritor inspirado conhecia o cego
pedinte, ele pediu, mas foi repreendido, mas ao invés de se calar, ele gritou
com mais força e mais alto até que fosse notado por seu gesto concreto, com a
sua subjetividade, isto é, suas experiências pessoais como pedinte,pois
precisava ser persistente para conseguir as coisas para sobreviver. Com estas
atituides veio a pergunta de Jesus, "Que queres que te faça?”, e depois a
afirmação clara de Jesus que foi a fé que operou o milagre. “tua fé te salvou”.
Daí em diante Bartimeu colocou-se a serviço.
Por fim, a mais poderosa demonstração ao nosso ver, da Fé, a mulher que por
anos era assombrada com uma hemorragia menstrual, que a fazia sangrar sem
parar, inclusive consumindo seu patrimônio. Lc: 8, 43-48
“43. Ora, uma mulher que padecia dum fluxo de sangue
havia doze anos, e tinha gasto com médicos todos os seus
bens, sem que nenhum a pudesse curar, 44. aproximou-se
dele por detrás e tocou-lhe a orla do manto; e no mesmo
instante lhe parou o fluxo de sangue. 45. Jesus perguntou:
Quem foi que me tocou? Como todos negassem, Pedro e os
que com ele estavam disseram: Mestre, a multidão te aperta
de todos os lados... 46. Jesus replicou: Alguém me tocou,
porque percebi sair de mim uma força. 47. A mulher viu-se
descoberta e foi tremendo e prostrou-se aos seus pés; e
declarou diante de todo o povo o motivo por que o havia
tocado, e como logo ficara curada. 48. Jesus disse-lhe:
Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz”
Mas ela apenas pensou consigo, isto é, utilizou a sua subjetividade, como
assim, ela era mulher, viúva e já não tinha mais o patrimônio que havia
recebido de seu marido. Pelo simples fato de ser mulher tudo já lhe era difícil,
ainda mais por ser viúva. Mas ela estava decidida a realizar seu gesto
concreto, qual seria, tocar a orla, isto é, a barra da veste de Jesus. Pois bem
ela foi la e fez como tinha pensado, mas algo estranho aconteceu. Mesmo
tocando somente a barra da veste de Jesus ele sentiu a FORÇA DESTA FÉ, e
pergunta quem o tocou?. Lembram que falamos que as pessoas se empurram
e se acotovelavam para tocar e chegar mais próximos de Jesus, pois bem,
como ele percebeu que alguém havia tocado nele de forma “diferente”. Ele usa
uma frase singular e marcante, “46. Jesus replicou: Alguém me tocou, porque
percebi sair de mim uma força.”( Lc: 8, 46). Olha ai o gesto concreto dentro
daquilo que é a realidade daquela mulher.
Com tudo isto queríamos demonstrar que a fé não apenas algo que sentimos e
que não precisamos demonstrar e ficar apenas em nosso intimo. Mas algo que
deve ser exposto de testemunhado como força da vida de Jesus em nossas
vidas.
Outra coisa que chama a atenção em todas estas situações é a intima ligação
entre a FÉ e a ESPERANÇA na realidade destes três eventos. Pois nenhum
deles tinha a certeza de que sua fé seria retribuída, mas tão somente a
vontade de ser atendido, isto é a ESPERANÇA, que será tratada depois.
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