Ficha de Avaliação Diagnóstica de Língua Portuguesa – 5º Ano
Nome: _________________________________ Turma ____ Nº.____ Data____/____/____
Encarregado de Educação __________________________ Professora ________________________
Lê, atentamente, o texto que se segue .
Naquele tempo, o meu pai contava-me muitas histórias de gigantes. Eu não queria adormecer
sozinho, de maneira que ele sentava-se na minha cama e entretinha-me, enquanto não chegava o João
Pestana (1). A verdade é que o meu pai não sabia as histórias de cor e ia inventando, à medida que ia
contando. Algumas histórias, que começavam sempre com «Era uma vez um gigante», desconfio que
ele as inventou de uma ponta à outra. Mas a partir do momento em que a história era contada eu não
admitia variantes. Queria ali todos os pormenores. Acho que todos os miúdos têm esta atenta memória
que contradiz e mete na ordem os adultos contadores, quando são distraídos.
Pois naquela altura saltitava lá por casa um coelhito malhado. Não era um desses coelhos
anões, cinzentos e cheios de peneiras, armados em fidalgos, que se vendem agora nos centros
comerciais. Não. Era um robusto coelho do campo, muito curioso, de narizito sempre a farejar, grande
apreciador de cenouras. Houve alguém que nos ofereceu aquele coelho, no pressuposto de que o
destinaríamos à panela, com batatas e ervas cheirosas. Mas naquela nossa casa não havia ninguém
capaz de sacrificar um animal, para mais simpático e dado ao convívio.
De início, ficou numa marquise. Todas as manhãs, quando se abria a porta da marquise vinha
cumprimentar-nos, farejando-nos os pés e empinando-se a olhar para nós. Não tardou que circulasse
por toda a casa e me fizesse companhia naquelas brincadeiras que demoravam o dia inteiro.
Era um coelho extremamente asseado. Tinha lá o seu sítio de recolhimento e fez questão de
nunca deixar noutro lado aquelas bolinhas pretas e redondinhas que os coelhos costumam distribuir. E
bom companheiro que ele era. Tinha imenso jeito para andar nos carrinhos, ajudava a descarrilar o
comboio de brinquedo, e admirava, com sinceridade, as maravilhosas obras de engenharia que eu
construía com o meu «Meccano». Eu já deixara de invejar os outros miúdos que tinham cães e gatos
nos quintais. Nenhum se comparava ao meu coelho, nem sabia brincar com tanta classe.
Os homens são ingratos. Quando crescem, ainda mais. Imaginem que eu me esqueci
completamente do nome do meu coelhinho. Certo é que ele acudia aos chamamentos e vinha de onde
estivesse, saltitão, com o tufo peludo do rabito no ar. Eu podia agora improvisar um nome e fazer de
conta que o bicho se chamava, por exemplo, «Pinóquio» ou «Lanzudo». Mas não quero inventar nada.
Quero contar tudo como era. Esqueci-me do nome, passou-me, pronto!
Mas... um dia comecei a ouvir os adultos a segredar, lá em casa. Desconfiei logo que se
tratava do meu coelho, e era mesmo. Um amigo, possuidor duma quinta, tinha-se oferecido para instalar
o bicho no campo e os meus pais – com aquele irritante bom senso que compete aos mais crescidos –
haviam considerado a proposta interessante. Sempre era melhor para o animal andar em liberdade, ao
ar livre, entre arvoredos, na companhia dos seus iguais e das aves de capoeira... E quando eu
protestava, com muita força, limitavam-se a abraçar-me e sorrir.
E lá levaram o coelhinho, aproveitando uma distração minha. O que eu barafustei! Foi um
tremendo desgosto. Ao deitar, não quis ouvir histórias de gigantes. Durante toda a noite chorei e exigi a
devolução do meu companheiro. Em vão. Espero que ele tenha sido feliz lá na tal quinta. Ainda hoje,
quando vejo um orelhudo malhado a saltitar, pataludo, com os olhos vivos e o nariz sempre em ação,
consolo-me sempre com a ideia de que pode ser um dos descendentes daquele saudoso coelhinho da
minha infância. E quando contar aos meus netos histórias de gigantes, talvez introduza nos contos as
peripécias de um herói orelhudo.
Mário de Carvalho, «O Coelho e os Gigantes», in Boletim Cultural – Memórias da Infância, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994
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(1) João Pestana – sono; em especial, o sono das crianças.
Nas questões 1. a 6., assinala com X a resposta correta, de acordo com o sentido do texto.
1. O narrador começa por recordar o tempo em que o pai lhe contava histórias, relatando, depois, algo
que se passou na mesma época da sua vida. O quê?
Os pais ofereceram-lhe um «Meccano» no seu aniversário.
Um coelho tornou-se o seu companheiro de brincadeiras.
A mãe ofereceu-lhe um robusto coelho malhado.
O pai começou a inventar histórias sobre coelhos.
2. O narrador não gostava que o pai
lhe contasse histórias de gigantes.
lhe lesse as histórias, saltando partes.
começasse as histórias com «Era uma vez...».
alterasse as histórias que lhe contava.
3. O narrador desta história é um
rapazinho apreciador de histórias de gigantes.
menino que é amigo de um coelho.
adulto que revive episódios da infância.
pai contador de histórias infantis.
4. «Nenhum se comparava ao meu coelho, nem sabia brincar com tanta classe.» No texto, a expressão
«brincar com tanta classe» significa
brincar com brinquedos tão caros.
brincar com tanta habilidade.
brincar com brinquedos tão diferentes.
brincar com tanta disciplina.
5. O narrador acha que foi ingrato, porque
se esqueceu do nome do coelho.
permitiu que levassem o coelho.
obrigou o coelho a brincar com ele.
descuidou o bem-estar do coelho.
6. Qual a justificação dada pelos pais para mandarem o coelho embora?
O coelho, em casa, incomodava toda a gente.
O filho perdia tempo a brincar com ele.
O coelho podia viver em liberdade, no campo.
Os pais queriam dar um presente ao amigo.
7. As frases a seguir apresentadas resumem a parte final da história. Segue o exemplo e numera-as, de
acordo com a ordem dos acontecimentos narrados. O 1 corresponde ao primeiro acontecimento, o 2
deve corresponder ao segundo e assim sucessivamente.
O coelhinho acabou por ser levado para a quinta.
1 Certo dia, os adultos começaram a segredar lá por casa.
Apesar dos protestos, os pais não lhe trouxeram o coelho de volta.
Um amigo dos pais tinha-se oferecido para levar o coelho para o campo.
Toda a noite, o menino chorou por causa da partida do coelho.
O menino, desconfiado, suspeitou que ia ficar sem o amigo.
Lê, agora, os textos informativos sobre o coelho e a lebre.
COELHO Quando se sentem em perigo, fogem em ziguezague
Habitat para despistar o predador. Tal
O coelho é abundante em regiões herbáceas, como as lebres, possuem, quando em posição vertical,
florestas, e mesmo zonas próximas de sapais(1), dunas um ângulo de visão de 360 graus, de forma que nunca
e costa rochosa. Em Portugal prefere as zonas de perdem o perseguidor de vista.
influência mediterrânica, nomeadamente montados de LEBRE
azinho(2), estepes cerealíferas(3) e zonas de cultura e Habitat
regadio. A lebre é um animal típico da planície, que habita
Distribuição geográfica geral preferencialmente terrenos planos, sobretudo junto a
Deve ser, em Portugal, o mamífero de porte médio mais áreas agrícolas, chegando a penetrar em aldeias pouco
bem representado, estando presente, em relativa movimentadas. Também pode surgir em pequenas
abundância, em todo o país. florestas
Modo de vida de árvores de folha caduca, evitando os pinhais.
Os coelhos são sobretudo crepusculares(4), mas, se Distribuição geográfica geral
não forem incomodados, apresentam Até aos anos 40, a lebre era muito comum em todo o
também atividade durante o dia. Vivem em grandes nosso país, sendo atualmente mais rara,
famílias, regra geral de um macho com várias fêmeas, preferencialmente concentrada no Sul e no Interior.
que habitam verdadeiras cidades subterrâneas Modo de vida
compostas por um sistema de galerias, alargado nos É uma espécie fundamentalmente noturna, embora
cruzamentos e com um grande número de saídas. também possa ter atividade durante o dia. Quando em
repouso, permanece deitada numa cavidade pequena à aos saltos, e com a cauda estendida, funcionando como
superfície do solo, introduzindo os membros na estabilizador. Quando assustada, emite um «choro»
depressão e deitando a cabeça sobre a terra solta que particular, ou reage com ataques à dentada.
acumulou à sua volta. Em corrida, atinge
caracteristicamente grandes velocidades, deslocando-se
Clara Pinto Correia, Portugal Animal, Lisboa, Editora Dom Quixote, 1991
(texto com adaptações)
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(1) sapais – terras alagadas de água, normalmente junto da foz de alguns rios. (2) montados de azinho – terrenos de azinheiras.
(3) estepes cerealíferas – regiões planas onde se cultivam cereais. (4) animais crepusculares – os que só aparecem ao anoitecer.
8. Segue os exemplos e preenche o quadro seguinte, comparando algumas das particularidades
específicas do coelho e da lebre, referidas nos textos informativos que leste.
ASPETOS COELHO LEBRE
Locais onde se encontra, em Está presente em todo o país. _____________________
Portugal _____________________
______________________ Fundamentalmente noturno.
Período diário de atividade ______________________
Foge em ziguezague para _____________________
Comportamento face ao perigo despistar _____________________
o predador
Responde, agora, às questões acerca do funcionamento da Língua Portuguesa.
9. O narrador da história do coelhinho tentou lembrar-se do nome do amigo e fez uma lista: Pinóquio,
Pataludo, Lanzudo, Malhado, Orelhudo, Pompom, Narizito, Malandreco, Saltitão. Escreve os
nomes dessa lista por ordem alfabética.
_________________________ _________________________
_________________________ _________________________
_________________________ _________________________
_________________________ _________________________
_________________________
10. Completa o quadro, escrevendo as formas dos diferentes graus dos nomes nele indicados.
Grau diminutivo Grau normal Grau aumentativo
nariz
patorra
rapazinho
11. Identifica, colocando um X na coluna respetiva, a classe e a subclasse das palavras retiradas da
frase seguinte e apresentadas a negrito, no quadro.
Eu não invejo aqueles miúdos que têm cães e gatos nos quintais, pois nenhum se compara ao meu
coelho, nem sabe brincar com tanto gosto.
Eu aqueles nenhum meu tanto
Demonstrativos
Determinantes Possessivos
Indefinidos
Pessoais
Demonstrativos
Pronomes
Possessivos
Indefinidos
12. Reescreve a frase que se segue, colocando o adjetivo curioso no grau superlativo absoluto sintético.
Era um coelho muito curioso. ____________________________________________________
13. Completa as frases, escrevendo os verbos destacados nos tempos do Modo Indicativo
apresentados entre parênteses.
O coelhinho ________________________ (vir – Pretérito Imperfeito) sempre que
________________________ (ver – Pretérito Imperfeito) o menino e ____________________ (ter
– Pretérito Imperfeito) muita paciência para brincar com ele. Por isso, o menino
____________________________ (protestar – Pretérito Perfeito) quando os pais
____________________________ (mandar – Pretérito Perfeito) o coelho embora.
14. Identifica as funções sintáticas na frase que se segue:
Naquela altura, saltitava lá por casa um coelhito malhado.
Sujeito _____________________________________________________________________________
Predicado __________________________________________________________________________
Expressão Escrita
15. Imagina que o coelhito malhado não se adaptou à vida na quinta. Vivo como era, um dia, fugiu e
partiu à descoberta do mundo. Decidiu, porém, deixar um recado para o seu dono não se preocupar.
Escreve esse recado tendo em conta as características deste tipo de texto.
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Bom Trabalho!
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