O ENSINO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL NAS ESCOLAS
COMO INSTRUMENTO AO APRIMORAMENTO DA CIDADANIA
THE EDUCATION OF THE FEDERAL CONSTITUTION IN SCHOOLS
AS AN INSTRUMENT TO THE ENHANCEMENT OF CITIZENSHIP
Vinícius José Pereira Paiva∗
Martsung F. C. R. Alencar**
RESUMO
A aplicação do ensino da Constituição Federal nas escolas se mostra fundamental para o
desenvolvimento da cidadania participativa no Brasil. Vivemos num país de desigualdades
sociais e econômicas extremas, resultado consubstanciado pelo desconhecimento e
desinformação acerca de direitos, deveres e do funcionamento da estrutura político-social
brasileira. As escolas são a natural e maior fonte de conhecimento científico e, portanto, o
estudo sobre o Direito Constitucional deve ser implantado desde a base, desenvolvendo o
intelecto dos alunos para uma matéria que propiciará a formação dos cidadãos na sua plenitude.
Para tanto, utilizando o método hipotético-dedutivo e elaboração de uma proposta, deve-se
aplicar o Direito Constitucional desde o Ensino Fundamental II, logo, a partir do 6º ano do
ensino básico, aproveitando o terreno cerebral fértil de crianças em processo de transição para
a adolescência. Continuamente, esse estudo seria ministrado até o 3º ano do Ensino Médio,
abordando temas constitucionais e correlacionando-os à realidade vivida pelos alunos, família
e sociedade. A formação dos professores deve ser específica, tendo em vista a complexidade
dos conteúdos, bem como a abordagem técnica-jurídica da Carta Magna, o que facilitará a
transmissão e compartilhamento do conhecimento disciplinar. Para esse trabalho, entende-se
que a escola é local de aprendizado de conhecimento científico, sem olvidar da necessária
abordagem social, tendo em vista os fins almejados, quais sejam, a intelectualização dos
indivíduos e o aprimoramento da cidadania em suas mais amplas vertentes.
∗
Bacharelando no 10º período do curso de direito do UNIPÊ, turma A. [email protected]
Agradeço aos familiares e amigos que colaboraram na minha formação intelectual, ética e moral, bem como ao
professor orientador por me guiar no caminho da ciência jurídica.
**
Mestre e Doutor em Direito e professor do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ e da Universidade
Federal da Paraíba - UFPB.
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Palavras-chave: Constituição. Cidadania. Educação. Escola.
ABSTRACT
The application of Federal Constitution teaching in schools is fundamental for the development
of participatory citizenship in Brazil. We live in a country of extreme social and economic
inequalities, a result consubstantiated by ignorance and disinformation about rights, duties and
the functioning of the Brazilian political-social structure. Schools are the natural and major
source of scientific knowledge and therefore the study of Constitutional Law must be
implemented from the bottom up, developing the students' intellect to a subject that will provide
the formation of citizens in their fullness. To do so, using the hypothetical-deductive method
and elaboration of a proposal, one must apply the Constitutional Law from Elementary School
II, soon, from the 6th year of basic education, taking advantage of the fertile brain terrain of
children in the process of transition for adolescence. Continuously, this study would be taught
until the 3rd year of high school, addressing constitutional issues and correlating them to the
reality lived by students, family and society. The training of teachers should be specific, given
the complexity of the contents, as well as the legal-technical approach of the Magna Carta,
which will facilitate the transmission and sharing of disciplinary knowledge. For this work, it
is understood that the school is a place of learning of scientific knowledge, without forgetting
the necessary social approach, in view of the aims sought, namely, the intellectualization of
individuals and the improvement of citizenship in its broadest aspects.
Keywords: Constitution. Citizenship. Education. School.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo principal o ensino da Constituição Federal nas escolas e
suas repercussões no aprimoramento da cidadania e, consequentemente, do corpo social. Tendo
em vista a complexidade do tema e a amplitude que tal assunto abrange, fez-se necessário
delimitar o estudo em alguns aspectos.
Primeiramente, como se trata de tema constitucional, restringe-se ao campo legislativo
da Constituição da República Federativa do Brasil, bem como de leis especiais relativas à
Educação e, além disso, por se tratar de uma problemática nacional, o lugar é limitado ao
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território brasileiro. Outro ponto, já implícito na legislação, está presente na expressão
“cidadania”, tendo em vista que está conexo ao direito social, e, por fim, o século XXI como a
última delimitação referente ao lapso temporal, considerando que reflete um tema atual.
Nesse escopo, podem-se deduzir algumas hipóteses que auxiliarão na reflexão de uma
proposta de solução. Em primeiro plano, percebe-se que o exercício da cidadania existe para a
materialização de direitos individuais, sociais, coletivos e difusos, logo, não aplicar o ensino da
Constituição Federal nas escolas representa a mitigação do sobredito exercício, omissão que
permeia a injustiça.
Num país em que os direitos individuais e sociais são reiteradamente e ilegalmente
suprimidos, a ausência de conteúdos especificamente constitucionais na grade de ensino
nacional obrigatório vem a corroborar com a incapacidade sofrida pela população de requerer
e cobrar ações políticas, culminando numa desassistência social por parte do poder público.
Por outro lado, já existem e são aplicadas outras disciplinas escolares que versam
indiretamente sobre direito e cidadania, entretanto, são superficialmente transmitidas, talvez,
pela falta de formação específica dos professores que, embora abarcando boas intenções, não
alcançam a complexidade do conteúdo, limitando a capacidade de aprendizado dos discentes
acerca de um tema fundamental à prática e consolidação de direitos e da cidadania. Portanto,
necessário se faz a implantação do ensino da Constituição Federal nas escolas, para a formação
de cidadãos conhecedores dos seus direitos e deveres, resultando num corpo social consolidado
no exercício da cidadania.
A inclusão da disciplina de Direito Constitucional na grade curricular da Educação
Básica torna os conteúdos da Constituição Federal de conhecimento geral e cotidiano,
possibilitando a formação cidadã dos alunos, dando-lhes ferramentas para criticar, refletir e
construir um Estado Democrático de Direito que garanta liberdade, justiça e igualdade entre os
indivíduos.
Para alcançar os objetivos propostos, serão explanadas a vertente metodológica, método
de abordagem, método de procedimento, pesquisa quanto ao objetivo geral, a pesquisa quanto
ao procedimento técnico e a técnica de pesquisa. A seguir, constar-se-á a explicação de cada
um desses critérios.
A natureza da vertente metodológica desta pesquisa terá uma abordagem qualitativa,
bem como a elaboração de uma proposta, tendo em vista que o tema trata da possibilidade de
implantação do Direito Constitucional na grade escolar brasileira e sua aplicabilidade repercute
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no Plano Nacional de Educação (PNE), nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Básica (DCNEB), o que torna esse tema de cunho social e do interesse da ciência do Direito.
Nesse sentido, considerando a flagrante mitigação do exercício da cidadania ocorrente
no país, demonstra-se necessário a implantação do ensino da Constituição da República
Federativa do Brasil nas escolas a fim de propiciar um cenário de conhecimento abrangente de
direitos e deveres fundamentais à formação plena do cidadão.
Ademais, em decorrência do tema e da forma como este será tratado, o método de
abordagem utilizado será o hipotético dedutivo, tendo em vista a complexa aplicação da
proposta, contudo, visando solucionar o problema da mitigação ao exercício da cidadania e do
desrespeito aos direitos básicos dos cidadãos, expondo-os à incertezas e sensação de injustiça
quanto aos seus pleitos sociais, políticos e judiciais. No entanto, através da análise de
informações contidas no Plano Nacional de Educação (PNE), bem como nas Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Básica, far-se-á um estudo mais aprofundado para
confirmar se esta medida é viável e necessária ou se há outros meios de solução da demanda,
assim como seus possíveis efeitos jurídicos e sociais.
Para este trabalho, ainda serão utilizados dois métodos de procedimento: o método
histórico e o monográfico. Será histórico porque este conteúdo em específico requer uma
comparação entre os elementos constitutivos da cidadania pretérita e contemporânea, bem
como um acompanhamento da evolução da Constituição da República Federativa do Brasil no
que tange as diversas transformações do conceito e aplicação do exercício da cidadania; e
monográfico porque há situações normativas a serem analisadas, tendo em vista a vasta
regulamentação do Plano Nacional de Educação e suas implicações práticas na vida dos
cidadãos.
Pelo objetivo geral descrito até aqui, far-se-á o uso de pesquisa explicativa, pois é
necessário entender que, analisando a complexa estrutura da Educação nacional, a solução deve
ser bem fundamentada e planejada, pois causará grande impacto social, político e jurídico. Para
tal, o procedimento técnico aplicado será a pesquisa bibliográfica, em conjunto com a
documental, e, portanto, a técnica de pesquisa aplicada será a documentação, tendo em vista
que a visão de autores renomados, do PNE, e das DCNEB auxiliam a decidir acerca da melhor
proposta possível para elucidar a sua melhor aplicação.
Nesse sentido, espera-se apresentar estratégias metodológicas pertinentes para a solução
desta problemática, introduzindo a disciplina de Direito Constitucional nas escolas e nas vidas
dos alunos de hoje, para o aprimoramento dos cidadãos do amanhã.
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2 A CIDADANIA E A CF/88
A cidadania é um complexo de direitos e deveres, o exercício destes e suas repercussões.
Entretanto, não podemos defini-la objetivamente, tendo em vista que os seus desdobramentos
permeiam o campo da subjetividade. Trata-se de uma ideia que necessita de atos e fatos
concretos para se materializar na sociedade.
Nenhuma outra constituição brasileira foi tão importante e incisiva, quanto a
Constituição Federal de 1988, na construção de normas e planos para a efetivação da cidadania.
A nossa Carta Magna foi e é a impulsionadora de leis que buscam aplicar princípios cidadãos
aos seus textos, criando assim, um conjunto de ideias e ações nesse sentido.
2.1 A CIDADANIA
Diversos pensadores tentaram conceituar a cidadania, contudo e justamente por sua
natureza multifacetada, não lograram êxito pleno. Por esse motivo, para este trabalho, sobre o
significado desse termo fundamental ao exercício dos direitos e deveres do indivíduo,
apresentaremos um recorte temporal de espectros conceituais de alguns dos mais importantes
pensadores da história da humanidade, tais como, Aristóteles (filósofo grego, 384 a.C. – 322
a.C.), Thomas Hobbes (matemático, teórico político e filósofo inglês, 1588 – 1679), Max
Webber (jurista e economista alemão, 1864 – 1920) e Thomas Humphrey Marshall (sociólogo
britânico, 1893 – 1981).
Segundo Ovídio Jairo Rodrigues Mendes (2010, p. 21-23), para Aristóteles, a cidadania
seria mais uma condição para a participação política na gestão da polis. Essa acepção é
facilmente vislumbrada ante a experiência democrática ateniense, que se dava com um número
irrisório de indivíduos (cidadãos), em oposição a quase totalidade da população.
Os entendidos cidadãos (que não eram as mulheres, os escravos, os estrangeiros, entre
outros), então, participavam das assembleias e, por isso, tinham o poder de resolver questões
da cidade. Neste sistema, todos (os cidadãos) sujeitavam-se às mesmas normas e todos podiam
igualmente manifestar-se. Desta forma, obtinham o consenso sobre os dilemas da polis. O
interessante da concepção da cidadania grega é que, além de classificar juridicamente quem era
ou não cidadão, ela se caracterizava como uma manifestação da habilidade intrínseca que
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poderia ser desenvolvida e coletivamente exercida, o que significaria, hoje, características
psicológicas do indivíduo.
Exercer a cidadania exigia a obtenção de responsabilidade e comprometimento, que se
dava de forma livre e em prol do coletivo, pois a democracia grega possibilitava que cada um
vivesse da melhor forma, mas estas aspirações deveriam se harmonizar com o bem comum.
Ainda, para Mendes, Thomas Hobbes não se debruçou sobre a análise da cidadania
diretamente, antes, traz um contratualismo vertical, instaurador do poder do Leviatã. Para ele,
"(...) a ordem hierarquicamente estabelecida na sociedade e que atinge seu vértice no rei, é,
racionalmente, a melhor das ordens possíveis".
Critica Aristóteles enunciando:
(...) o posicionamento já latente desde Maquiavel de que o guia da ação não deve
repousar em noções idealmente elaboradas do que seja a vida humana, mas da crua
realidade de como os homens agem e pensam no decorrer da vida cotidiana.
Assim, influenciado pelo desenvolvimento científico do seu tempo, contrapõe as ideias
de Aristóteles, segundo a qual a contemplação racional é o estado próprio da natureza humana.
Adapta tais princípios à psicologia e defende que, "(...) assim como o universo não é estático,
também a natureza humana encontra-se em permanente ebulição originadora de desejos
ilimitados". Desta forma, Hobbes, moralmente, desloca a ética da influência das virtudes e dos
valores aristocráticos, como entendeu Aristóteles, para uma igualdade fundada na justiça, ou
seja, "(...) ao depositar no rei a fonte da legislação e da proteção social, por meio de um
contrato social, todos se tornam iguais em oportunidades e benefícios sociais". Seria o
principal destes benefícios "(...) o controle do desejo insaciável de poder e evitar a morte
violenta causada pela mútua predação".
O estado hobbesiano, então, é o mal necessário para superar o homo homini
lupus (homem é lobo do homem). Se antes do contrato social imperava a anarquia, após o
contrato social, o soberano assume a responsabilidade de manter a ordem social estável e afastar
as guerras civis da sociedade, possibilitando o desenvolvimento da ação racional e da cidadania.
Por sua vez, na visão de Jessé Souza (2000, p. 39), Max Webber, da mesma forma que
Hobbes, não se preocupou em traçar um conceito de cidadania. Em sua análise sobre o processo
de modernização, apresenta o indivíduo capaz de criticar a si mesmo e à sociedade em que vive.
Nesse cenário, a cidadania está conectada à modernização, esta vista como processo de
racionalização de distinção em diversas esferas (cultural, social, econômica, política, etc.) que
se autonomizam, embora dominadas pela racionalidade instrumental-cognitiva da ciência e da
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tecnologia. Para ele, o direito torna-se ciência e é dominado, também, por esta razão
instrumental, quer dizer, pelo mero emprego de meios técnicos para atingir os fins.
Já na perspectiva de Liszt Vieira (2000, p. 22), Thomas Humphrey Marshall foi o
primeiro estudioso que criou um conceito fixo e linear de cidadania. Em sua perspectiva, a
cidadania se divide em três diferentes dimensões: a civil, a política e a social. Os direitos civis
são concebidos no século XVIII, ao passo que os direitos políticos e sociais surgem nos séculos
XIX e XX, respectivamente.
Os primeiros direitos estariam facilmente visualizados pela liberdade individual e
igualdade formal; os direitos políticos, pela liberdade de associação e reunião, assim como pela
organização política e sindical, sufrágio universal, entre outros; os direitos sociais, por sua vez,
são os relacionados ao trabalho, à saúde, à educação, à aposentadoria, ou seja, às garantias de
acesso aos meios de vida que possibilitem o bem-estar social e o pleno exercício da cidadania.
Portanto, percebe-se que a cidadania, seja na sua conceituação, seja na sua efetivação, é
um fenômeno que se constrói num tempo e espaço específicos, logo, se apresenta como um
processo cognitivo e social, devendo ser aprimorado segundo as necessidades contemporâneas
de cada geração. Por esse motivo, aplicar o ensino do Direito Constitucional na educação básica
é fundamental para que crianças e adolescentes possam compreender a construção histórica,
sociológica e jurídica da cidadania e, assim, possam exercê-la com fundamentação legal.
2.2 A CIDADANIA NA CF/88 E SUAS REPERCUSSÕES
Pode-se definir a Constituição Federal como o conjunto de leis, normas, princípios e
regras primárias de um país. Elas regulam e organizam o funcionamento do Estado, limitando
poderes e definindo os direitos e deveres dos cidadãos. Nenhuma outra lei no país pode entrar
em conflito com a denominada Carta Magna.
Nos países democráticos, a Constituição Federal é elaborada por uma Assembleia
Constituinte, pertencente ao poder legislativo, eleita pelo povo, podendo, no transcurso de sua
vigência, receber emendas e reformas, ressalvadas as cláusulas pétreas, as quais não podem ser
modificadas ou abolidas. O Brasil já teve sete constituições depois de sua Independência em
1822.
A Constituição brasileira vigente foi promulgada pela Assembleia Constituinte no ano
de 1988. Ela recebeu o apelido de "Constituição Cidadã", uma nomenclatura que assim a define
pelo fato de ser concebida após anos do Regime Militar, por ter havido intensa participação
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popular na sua confecção, bem como por conter em seu texto preceitos e metas, objetivando
uma sociedade mais justa, plural e igualitária, características próprias do exercício da cidadania.
Naquela época, o cenário era de abertura política. O Brasil, como sobredito, acabara de
sair do Regime Militar (1964-1984) e a sociedade brasileira buscava criar uma nova
Constituição para assegurar a liberdade de pensamento e mecanismos para evitar abusos de
poder do Estado.
A Carta Magna anterior havia sido promulgada em 1967. Ela é considerada a mais
autoritária das constituições brasileiras por reunir medidas como a eleição indireta para
presidente da República, a suspenção de direitos políticos de qualquer cidadão, a censura da
imprensa e o poder absoluto para o presidente fechar o Congresso Nacional. Havia um consenso
de que essas leis precisavam ser removidas.
Com a promessa de promover a democracia após duas décadas de ditadura, a construção
de uma nova Lei Suprema trilhou um longo caminho. Respondendo a uma pressão popular,
uma Assembleia Nacional Constituinte foi convocada pelo presidente José Sarney para debater
e encaminhar as sugestões de leis.
Comandada pelo deputado Ulysses Guimarães, a Assembleia Nacional Constituinte foi
instalada em 1987 e era formada por deputados e senadores escolhidos entre seus colegas por
meio do voto. A sociedade também teve um maior protagonismo nesse processo político, com
o objetivo de retomar a participação do povo nas decisões políticas, emergindo um novo cenário
de exercício da cidadania.
Além dos parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, cidadãos e
entidades representativas (associações, sindicatos e movimentos sociais) puderam discutir os
princípios gerais que deveriam nortear a constituição e encaminhar suas sugestões para a nova
Carta. Foi a primeira vez que emendas populares foram permitidas em uma constituinte
brasileira e que se realizaram audiências e consultas públicas no Congresso.
Trabalhadores rurais, operários, mulheres, indígenas, professores, estudantes e outros
segmentos se articularam em torno de algumas ideias, elaboraram emendas e foram às ruas
colher apoio popular. O cidadão também pode enviar uma sugestão por correio através de um
formulário. A adesão foi alta: 15 milhões de brasileiros assinaram mais de 50 emendas
populares ao texto básico. Foi uma explosão de cidadania!
Os artigos que compõem o texto foram sugeridos, escritos e revisados durante 20 meses.
Foram mais de 80 mil emendas propostas ao todo. Além de legislar normalmente como um
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Congresso, os congressistas tinham que votar as propostas em plenário, um trabalho que
demorou dez meses.
A nova Carta entrou em vigor no dia 5 de outubro de 1988. Naquele dia, no Plenário da
Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães assinou os exemplares originais da Constituição,
ergueu-se de sua cadeira com um exemplar na mão e disse “Declaro promulgada. O documento
da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social do Brasil. Que Deus nos ajude para
que isso se cumpra!” A partir desse momento, passava a valer a nova Constituição do Brasil.
Já em seu art. 1º, a CF/88, através da Assembleia Constituinte e do anseio popular,
evidenciava a preocupação pela efetivação da cidadania, vejamos:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Além de destacar a cidadania como fundamento do Estado brasileiro, o primeiro artigo
da Constituição de 1988 ainda consagra os princípios da democracia representativa.
Na sequência, a CF/88, em seu segundo artigo define o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário como os Poderes da União.
O Brasil continuaria a ser uma República presidencialista, mas teria de volta as eleições
livres e diretas para presidente da República, governador, prefeito, deputado, senador e
vereador. As Forças Armadas poderiam garantir a “ordem interna”, desde que solicitadas pelos
poderes constituídos. O texto também acaba com a censura à Imprensa e obras artísticas e
estabelece o direito à liberdade de expressão.
No âmbito da Justiça, o Poder Judiciário voltou a ter maior protagonismo. A
Constituição previu ainda diversos mecanismos como o Habeas corpus, o mandado de
segurança e as ações populares.
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A Lei Máxima de 1988 foi definida por Ulysses Guimarães como “Constituição cidadã”
porque amplia os direitos e garantias individuais em várias áreas. Além disso, contou com a
participação efetiva da população. Por esses motivos, especialistas a consideram a mais
democrática de nossa história e uma das mais progressistas do planeta.
Movida pelo ideal de igualdade, a partir da nova Carta Magna, todos os brasileiros se
tornaram iguais perante a lei e têm direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade. Entre
os princípios fundamentais da República, estão a cidadania e a dignidade da pessoa humana,
conceitos até então inéditos na lei brasileira. O documento garantiu ainda o acesso universal à
educação, à saúde e à cultura.
O documento assinalou o direito dos analfabetos ao voto e permitiu o voto de jovens a
partir de 16 anos. Ele trouxe ainda novas conquistas de direitos humanos e para grupos como
crianças, jovens, idosos, mulheres, negros, índios e pessoas com deficiência.
Para garantir a qualidade de vida, foi determinado que o Estado deveria prover serviços,
programas e ações em benefício da população. Na Saúde, foi criado o Sistema Único de Saúde
(SUS). A Educação foi considerada como dever do Estado e foi ampliada a educação rural.
Foram estabelecidos mais direitos trabalhistas e foi feita a reforma do sistema tributário.
O direito do consumidor também foi reconhecido, assim como a importância da biodiversidade
e da preservação do Meio Ambiente.
A Constituição de 1988 trouxe uma estabilidade política ao país e entrou para a história
por causa do resgate da democracia e dos grandes avanços na conquista da cidadania. De 1988
para cá, o documento sofreu diversas alterações, refletindo as novas demandas do Brasil. Até
dezembro de 2017, foram acrescentadas 104 emendas.
Por todo o exposto, é nítido que o conhecimento do texto constitucional é fundamental
para o exercício da cidadania. Sendo assim, o ensino da disciplina de Direito Constitucional na
educação básica é um instrumento de suma importância para que os cidadãos compreendam
seus direitos e deveres e possam verdadeiramente exercê-los.
3 O PROJETO DE LEI Nº 70/2015 DO SENADO FEDERAL
Estudar a Constituição brasileira nos ensinos fundamental e médio é uma proposta que
pretende transformar o ensino da Constituição Federal de 1988 em disciplina obrigatória nas
escolas das redes pública e particular do Brasil.
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Dessa forma, no dia 03 de março de 2015 foi encaminhado um Projeto de Lei à
Comissão de Educação, Cultura e Esporte, em decisão terminativa e no dia 09 de setembro de
2015 foi recebido o Relatório do Senador Roberto Rocha, substitutivo do Senador Romário
Faria, com voto pela aprovação do Projeto que, na justificação da iniciativa o autor lembra a
importância de cultivar os princípios da cidadania na juventude do país à luz da Constituição
de 1988.
A proposta prevê a alteração dos artigos 32 e 36 da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional) que passará a vigorar com a seguinte redação:
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na
escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação
básica do cidadão, mediante:
(...)
II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, do exercício da
cidadania, da tecnologia, das artes e dos valores morais e cívicos em que se
fundamenta a sociedade;
(...)
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, a disciplina
Constitucional, além de conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos
adolescentes, tendo como diretriz a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente), observada a produção e distribuição de material didático
adequado.
(...)
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum
Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta
de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a
possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
(...)
IV – serão incluídas a disciplina Constitucional, a Filosofia e a Sociologia como
disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio.
Ademais, em 29 de setembro de 2015, através da 48ª Reunião Ordinária a Comissão
aprovou a reformulação do projeto feita pelo Senador Roberto Rocha (PSB-MA), alterando o
artigo 27 da Lei nº 9.394/96 nos seguintes termos:
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes
diretrizes:
I – a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos
cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática, com a introdução ao
estudo da Constituição Federal.
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Ainda, o Senador Roberto Rocha alterou o artigo 32 da Lei nº 9.394/96, sobre o ensino
de “valores morais e cívicos” para “valores éticos e cívicos”.
Em 06 de outubro de 2015 a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado
Federal aprovou em definitivo o Projeto de Lei nº 70/2015 e no dia 21 de outubro de 2015 o
projeto foi encaminhado à Câmara dos Deputados para revisão conforme o artigo 65 da
Constituição Federal onde se tornará lei caso não haja reprovação ou arquivamento do mesmo.
O projeto representa uma norma genérica acerca do tema e um passo importante na
implantação do ensino da CF nas escolas, contudo, para que se efetive tal objetivo, necessário
de faz o estabelecimento de modelos didáticos-pedagógicos de aplicação teórica do disciplina
nas escolas, de modo a direcionar a forma e os critérios de sua implantação.
4 PROPOSTAS DIDÁTICAS E PEDAGÓGICAS DE APLICAÇÃO DO DIREITO
CONSTITUCIONAL NAS ESCOLAS
Todo e qualquer trabalho científico, implantação de mudanças de paradigmas sociais,
ou aplicação de programas governamentais necessitam de uma delimitação do campo de
atuação, seja para simplificar a linguagem e comunicação dos objetivos, seja para vislumbrar o
grupo de seres afetados, ou mesmo para não extrapolar a área de competência, a qual, neste
caso, é a Educação.
A rede de ensino público e mesmo algumas escolas da rede privada de Educação no
Brasil, como explícito é, possuem uma estrutura física sucateada, meios tecnológicos quase
inexistentes e uma estrutura de pessoal desvalorizada econômico e socialmente, fatores que
poderão tornar mais árdua a implantação do estudo da Constituição Federal (CF).
Se depreende que, se o conjunto de condições atuais não atende as expectativas
hodiernas, provavelmente não facilitará a aplicação de uma nova e desafiadora disciplina.
Todavia, importante perceber que essa problemática é do âmbito educacional com
implicação no exercício da cidadania, esta, por sua vez, concebida em sua forma legal à luz da
CF, logo, encontra-se assim, mais um motivo para que a Lei Suprema seja amplamente debatida
nas salas de aula, objetivando a formação de estudantes conhecedores e cobradores das
condições mínimas e adequadas para aquisição do conhecimento.
A própria CF/88, em seu art. 6º, assim dispõe:
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“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,
o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
Percebe-se que a educação está elencada num rol de grande relevância constitucional,
os direitos sociais, compartilhando o espaço com saúde, alimentação, trabalho, entre outros
fundamentais para o exercício da plena cidadania.
A atuação de um profissional educador na aplicação do ensino da CF deve considerar
alguns fatores, dentre outros, a faixa etária, desenvolvimento psicossocial, complexidade do
conteúdo, bem como elaborar a instrução segundo o Projeto Pedagógico da escola. Obedecido
a observação de tais fatores, entende-se que o ensino da CF deve ter início na 6ª (sexta) série
do Ensino Fundamental e se prolongar até a 3ª (terceira) série do Ensino Médio.
A faixa etária escolar pode ser entendida como o período frequentado por crianças e
adolescentes em ambiente estudantil, conforme o desenvolvimento das atividades e percepções
correspondentes a cada idade. Ressalte-se a existência e especificidade da Educação de Jovens
e Adultos (EJA), que é detentora de particularidades que devem ser respeitadas pelo educador.
Por sua vez, o desenvolvimento psicossocial, segundo a teoria de Erik Erikson expõe
que o crescimento psicológico ocorre através de estágios e fases e não ao acaso, dependendo da
interação da pessoa com o meio que a rodeia.
Considerando os dois primeiros fatores, caberá ao docente, em consonância com o
Projeto Pedagógico escolar, transmitir o ensino da CF, utilizando forma, material e linguagem
adequados a cada situação e condição do corpo discente.
Importante ainda citar que, impreterivelmente, o profissional educador deve possuir
formação em curso superior de Bacharelado em Direito, visto que só alguém com tal trajetória
acadêmica terá os instrumentos necessários para transmitir o conhecimento e especificidades
do texto da Carta Magna. A própria linguagem normativa seria um entrave a um profissional
de outra área de formação, logo, é imperativo que tal estudo seja aplicado por, no mínimo, um
bacharel em Direito.
Vale ressaltar que o presente trabalho não defende a ideia do ensino do Direito
Constitucional em toda a sua plenitude, antes, pretende-se introduzir, de forma adequada à faixa
de idade, conteúdos da CF que são basilares para a formação do cidadão, portanto, temas
demasiadamente complexos ou de natureza estritamente técnica ou jurídica não serão objetos
do estudo nas escolas de ensino Fundamental II e Médio.
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4.1 NO ENSINO FUNDAMENTAL II
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, elaboradas pelo
Ministério da Educação e Cultura, o Ensino Fundamental II compreende o período da 6ª à 9ª
série do Ensino Fundamental, que, em regra, possui um intervalo etário entre 11 (onze) e 14
(quinze) anos de idade. Esta é uma fase na qual o indivíduo assume gradativamente o papel de
um sujeito de direitos, portanto, a apropriada implantação do universo constitucional nas mentes
juvenis, possivelmente consubstanciará a correta concepção dos direitos e deveres inerentes a
todo e qualquer cidadão nacional.
4.1.1 Na 6ª série
A 6ª série contém o intervalo etário entre 11 e 12 anos, portanto, a pré-adolescência,
uma fase de descobertas individuais e coletivas, modificações corporais abruptas e maior
participação social. Todavia, o indivíduo nessa faixa de idade é, geralmente, imaturo
socialmente e ainda está a desenvolver as faculdades intelectuais básicas, objetivando
transcender a infantilidade.
Nessa etapa, o docente deve, utilizando de linguagem adaptada à faixa etária, introduzir
o conteúdo constitucional considerando tais elementos e imprimir conhecimentos primários e
gerais acerca da Carta Magna, seus princípios básicos, bem como apresentar sucintamente o
ideal de cidadania, relacionando-o aos princípios constitucionais e à realidade social.
Se propõe, para tanto, o seguinte macro modelo didático-pedagógico:
1. O que é uma Constituição;
2. Breve histórico das CF brasileiras;
3. CF/88;
4. Importância da CF para a democracia e o Estado de Direito;
5. Princípios constitucionais;
6. A CF e os direitos e deveres;
7. A cidadania.
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4.1.2 Na 7ª série
A 7ª série possui um intervalo etário entre 12 e 13 anos, portanto, ainda compondo a
pré-adolescência, fato que propicia que os estudantes mantenham características muito
semelhantes aos da 6ª série.
Nessa fase, considerando a breve introdução já ministrada na série anterior, a proposta
é efetivamente iniciar os discentes no estudo do texto constitucional propriamente dito. Nesse
objetivo, se propõe o seguinte macro modelo:
1. Introdução ao estudo da CF:
1.1. Conceito;
1.2. Classificações;
1.3. Eficácia;
1.4. Poder Constituinte;
1.5. Entrada em vigor de uma nova CF;
1.6. Princípios de interpretação;
1.7. Elementos.
4.1.3 Na 8ª série
A 8ª série, por sua vez, tem o intervalo etário entre 13 e 14 anos, faixa que representa o
início da transição de pré-adolescente para adolescente. Nesse momento o indivíduo, com maior
clareza, se auto percebe como sujeito participante da conjuntura social e anseia por
representatividade e identidade de grupo.
Considerando os fatores supramencionados, o macro modelo didático-pedagógico
proposto é o seguinte:
1. Direitos e garantias fundamentais:
1.1. Principais direitos individuais e coletivos;
1.2. Remédios constitucionais;
1.3. Direitos sociais;
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1.4. Nacionalidade;
1.5. Direitos políticos;
1.6. Partidos políticos.
2. Organização do Estado:
2.1. Visão geral;
2.2. Entes federados;
2.3. Repartição de competências;
2.4. Intervenção;
4.1.4 Na 9ª série
A 9ª série, na qual o intervalo etário compreende as idades entre 14 e 15 anos, é uma
etapa de afirmação social e de identidade de grupo, ao passo que representa a condição oficial
de adolescente. Outrossim, é a última série do Ensino Fundamental, ou seja, se qualifica como
rito de passagem para algo desconhecido, porém, estimulante e desafiador para o juvenil, o
Ensino Médio.
Para essa etapa, se sugere o seguinte macro modelo:
1. Administração pública:
1.1. Visão geral;
1.2. Servidores públicos.
2. Poder Legislativo:
2.1. Composição;
2.2. Comissões parlamentares;
2.3. Atribuições;
2.4. Estatuto dos Congressistas;
2.5. Tribunal de Contas da União.
4.2 NO ENSINO MÉDIO
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Acerca da conceituação, características e objetivos do Ensino Médio, as Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Básica, elaboradas pelo Ministério da Educação e Cultura,
assim explanam:
“Os princípios e as finalidades que orientam o Ensino Médio, para adolescentes em
idade de 15 (quinze) a 17 (dezessete), preveem, como preparação para a conclusão do
processo formativo da Educação Básica (artigo 35 da LDB):
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino
Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
II – a preparação básica para o trabalho, tomado este como princípio educativo, e para
a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar
novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III – o aprimoramento do estudante como um ser de direitos, pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico;
IV – a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos presentes na
sociedade contemporânea, relacionando a teoria com a prática.”
O inciso III, do artigo supramencionado demonstra que a administração pública, através
dos seus órgãos de competência educacional, tem preocupação no aprimoramento do estudante
como um ser de direitos, bem como expõe o propósito em defini-lo como pessoa humana, logo,
remetendo ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
Outrossim, a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos, inclui,
naturalmente, todas as ciências pertinentes à faixa etária dos estudantes, nas quais está contida
a ciência do Direito, tendo em vista a sua atuação fundamental para a formação da cidadania.
4.2.1 Na 1ª série
A 1ª série do Ensino Médio contém o intervalo etário entre 15 e 16 anos, sendo um
momento de transição de estágio individual e social do estudante. O discente se percebe mais
maduro e apto a exposições de pensamentos, posicionamentos e direitos. É nessa fase, inclusive,
que o indivíduo pode desempenhar o direito de alistamento eleitoral que, embora facultativo,
representa a sua efetiva participação na vida política, fator necessário ao pleno exercício da
cidadania.
O estudante da 1ª série do Ensino Médio se insere num universo de novas
responsabilidades e objetivos, projeta seus sonhos e é compelido a caminhar rumo à realização
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pessoal e profissional e, para que haja solidez nessa trajetória e correção no ato do sufrágio
universal, essencial é o entendimento do funcionamento do Estado e o seu papel nesse contexto.
Para tanto, o macro modelo didático-pedagógico sugerido é:
1. Processo Legislativo:
1.1. Processo Legislativo ordinário;
1.2. Emenda Constitucional;
1.3. Medida Provisória;
1.4. Lei delegada;
1.5. Decreto legislativo;
1.6. Resoluções;
1.7. Tratados internacionais;
1.8. Irrepetibilidade;
1.9. Controle judicial;
2. Poder Executivo:
2.1. Funções;
2.2. Presidente da República;
2.3. Impedimentos e vacância;
2.4. Vice-presidente da República;
2.5. Ministros de Estado;
2.6. Poder regulamentar;
2.7. Responsabilização do Presidente da República;
4.2.2 Na 2ª série
Compreendendo as idades entre 16 e 17 anos, a 2ª série do Ensino Médio representa
uma continuidade e evolução do estágio educacional e social do estudante. Alguns conceitos e
ideias acerca do meio em que vive já estão consolidados. Nessa etapa, devido a reafirmação do
indivíduo enquanto sujeito de direitos e cidadão, deve o professor apresentar novos paradigmas
de forma a fazer o discente questionar a validade de determinados conceitos ou preconceitos,
compelindo-o a autorreflexão e ao entendimento de que o conhecimento é um processo ad
eternum, e não uma fórmula acabada.
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Nesse âmbito, é salutar trazer conteúdos desafiadores, que estejam além do cotidiano e
que demonstrem a necessidade da descoberta de saberes. Para atingir essa nova competência,
se propõe o seguinte macro modelo:
1. Poder Judiciário:
1.1. Estrutura;
1.2. Funções típicas e atípicas;
1.3. Garantias;
1.4. Vedações;
1.5. Conselho Nacional de Justiça;
1.6. Superior Tribunal de Justiça;
1.7. Supremo Tribunal Federal.
2. Ministério Público:
2.1. Conceito;
2.2. Princípios;
2.3. Composição e chefias;
2.4. Iniciativa de Lei de organização;
2.5. Garantias;
2.6. Vedações;
2.7. Funções;
2.8. Conselho Nacional do Ministério Público.
4.2.3 Na 3ª série
A 3ª série contém o intervalo etário entre 17 e 18 anos, portanto, uma fase de transição
da menor para a maioridade, de constatação de responsabilidades e de expectativa de aprovação
no processo educacional.
Nesse momento é imperativo ao docente orientar os estudantes acerca do planejamento
e opção do curso superior ou técnico, ou ainda da profissão que desejará exercer, salientando a
necessidade de racionalidade para tal escolha. Essa é a etapa do vislumbre do ingresso na vida
universitária, no ensino técnico ou no exercício profissional.
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Nesse ínterim, se apresenta aos estudantes conteúdos mais complexos, precursores da
realidade que os aguarda, sendo sugerido o seguinte macro modelo didático-pedagógico:
1. Sistema Tributário Nacional:
1.1. Conceitos relevantes;
1.2. Tributo;
1.3. Imposto;
1.4. Taxa;
1.5. Contribuições de melhoria;
1.6. Empréstimo compulsório;
1.7. Contribuições sociais;
1.8. Tributos anômalos;
1.9. Limitações ao poder de tributar.
2. Ordem econômica e financeira:
2.1. Fundamentos e princípios;
2.2. Atuação do Estado no domínio econômico;
3. A ordem social:
3.1. Seguridade Social;
3.2. Educação, cultura e desporto;
3.3. Ciência, tecnologia e comunicação social;
3.4. Meio ambiente;
3.5. Proteção à família, crianças, adolescentes, jovens e idosos;
3.6. Índios.
4. Emendas Constitucionais
Vale ressaltar que tais modelos didático-pedagógicos são sugestões e não definições,
portanto, esse trabalho se apresenta aberto a outras propostas, assim como a abrangências
diversas das aqui expostas. Conquanto, sejam fundamentadas nas Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica, elaboradas pelo Ministério da Educação e Cultura e conectadas
à Ciência do Direito.
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Finalmente ter-se-ia o estudo da CF sido tratado nas escolas de ensino Fundamental II
e Médio, respeitando as peculiaridades da faixa etária, desenvolvimento psicossocial,
complexidade do conteúdo e projeto pedagógico, bem como objetivando a formação da plena
cidadania.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vivemos num país de contrastes e desigualdades marcantes, que acabam por privilegiar
uma camada social em detrimento de outra marginalizada pela falta de conhecimento básico
dos seus direitos e deveres. Por tal falta, exercer a cidadania torna-se uma tarefa árdua e quase
impossível, portanto, estudar a Constituição Federal nas escolas do ensino básico é, antes de
tudo, dar esperança e expectativa de uma vida que vale a pena ser vivida. Com o conhecimento
transmitido às novas gerações poderemos ver, com os nossos olhos, ainda em nossas vidas, uma
coletividade funcionando de forma mais equilibrada.
Para tanto, se faz necessário que políticos, movimentos sociais, entidades educacionais
e a sociedade, conjuntamente, empenhem todos os esforços possíveis, no sentido de facilitar a
implantação dos conteúdos constitucionais nas escolas, as quais representam o cenário perfeito
para a execução desse projeto.
É fato notório que aqueles que possuem conhecimento científico mais abrangente se
destacam na sociedade. A transformação individual é o principal meio de construir um corpo
social mais participativo. Na construção do mundo atual, num Estado Democrático de Direito,
é fundamental que as pessoas saibam seus direitos e deveres, bem como conheçam os institutos
e princípios basilares do ordenamento jurídico nacional, a fim de que sejam efetivos cidadãos,
participando ativamente da vida política e social do país onde vivem.
No momento histórico brasileiro, caracterizado por diversas transformações e luta pela
efetivação da democracia, é de suma importância levantar essa proposta e sugerir tal projeto,
pois assim os alunos de hoje poderão refletir e gerar um futuro digno para as próximas gerações.
Importante ressaltar que, por ser a Lei Suprema do país, é inadmissível que seus
nacionais desconheçam o seu conteúdo e significados. Logo, se faz extremamente necessário a
abordagem de conteúdos legiferantes, tais como, a democracia, a cidadania, a educação, o que
representa o Estado, quais instrumentos que cada cidadão possui na luta pelos seus direitos e
como a mudança no conhecimento pode gerar melhoria significativa na vida dos brasileiros.
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Através da implantação dessa proposta, o processo educacional certamente sofrerá uma
considerável mudança e evolução, pois, fundamentados na Constituição Federal os alunos
poderão se tornar grandes instrumentos para a construção de uma sociedade consciente das suas
atuações e limitações enquanto sujeito de direitos.
A cidadania é a mais importante manifestação da vida do ser humano integrado à sua
realidade social. Mitigar tal conhecimento é sepultar o futuro das pessoas e, consequentemente,
da nação. Portanto, o ensino do Direito Constitucional nas escolas se apresenta como um passo
firme no caminho do pleno exercício da cidadania e da materialização do tão sonhado estado
de bem-estar social.
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Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB), para inserir novas disciplinas obrigatórias
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Constituição e Democracia: estudos em homenagem ao Constituição e Democracia: Professor
J.J. Canotilho. São Paulo: Malheiros, 2006.
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MENDES, Ovídio Jairo Rodrigues. Concepção de Cidadania. 2010. Dissertação (Mestrado
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P142e Paiva, Vinícius José Pereira.
O ensino da Constituição Federal nas escolas como instrumento ao
aprimoramento da cidadania.
Vinícius José Pereira Paiva. João Pessoa, 2018.
23f.
Orientador: Prof. Martsung F. C. R. Alencar.
Artigo Científico (Curso de Direito) –
Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ
1. Constituição. 2. Cidadania. 3. Educação 4. Escola
I. Título.
UNIPÊ / BC CDU – 342.733