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Do Giz A Afetividade - A Trama e o Drama Da Inteligência Multifocal

Neste livro prefaciado por Augusto Cury, professores especialistas em Psicanálise e Inteligencia Multifocal discutem como utilizar a TIM (Teoria de Inteligencia Multifocal) na educacao

Enviado por

Glaucia Yoshida
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Do Giz A Afetividade - A Trama e o Drama Da Inteligência Multifocal

Neste livro prefaciado por Augusto Cury, professores especialistas em Psicanálise e Inteligencia Multifocal discutem como utilizar a TIM (Teoria de Inteligencia Multifocal) na educacao

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A t rama e o drama da i ntel i gênci a mult i focal

janeiro – 2007

Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Organizadora:
Lúcia Kratz

Autores:
Aline Costa de Andrade
Andressa Nunes Teixeira
Gláucia Yoshida
Luis Alfredo Costa Freitas
Leonardo Rodrigues
Lívia Costa de Andrade
Lúcia Kratz
Marcelo Machado de Albuquerque

1 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Caro Leitor,

A idéia de escrever este livro veio da necessidade de se discutir e buscar informações e


conhecimentos sobre os construtos relativos à teoria da Inteligência Multifocal aplicada ao
contexto da sala de aula no âmbito da educação superior, ou seja, na educação de adultos. Isto
porque esta modalidade de ensino constitui-se em um grupo que trabalha no âmbito
universitário em nível de graduação e pós-graduação utilizando diversas lentes teóricas de
apreensão da realidade e de sua explicação na práxis cotidiana. Nesta constante busca, surgiu
a necessidade de compreender ainda estas realidades sob a lente da teoria da Inteligência
Multifocal, pois todos os autores fizeram um curso de pós-graduação Latu Sensu sobre
psicanálise e a Inteligência Multifocal.
Cabe ressaltar que muito se diz e faz a nível infantil e fundamental, mas em nível superior, no
caso da andragogia, poucos se aventuraram a escrever e a estudar esta perspectiva associando-
a teoria da Inteligência Multifocal. Sendo assim, este é um trabalho especulativo e teórico que
pretende provocar discussões iniciais sobre a integração dessas temáticas, com o objetivo de
contribuir para a elaboração deste construto teórico. O que resulta, em um primeiro
momento,na tentativa de se fazer ciência neste campo do conhecimento. Pois, consideramos a
especulação de qualidade uma forma válida de pesquisa essencial para formulação de
hipóteses de trabalho.
A possível grande contribuição deste livro advém da diversidade de profissionais que nele se
integram. Este livro conta com biólogos, sociólogos, administradores, pedagogos, psicólogos,
enfim, é um grupo multidisciplinar que resolveu debater e estudar a teoria da Inteligência
Multifocal no âmbito da aprendizagem de adultos.
Pretende-se uma leitura amigável e acessível no sentido de refletir sobre as “tramas” que
envolvem o processo de aprendizagem e os “dramas” percebidos pelos profissionais de ensino
superior que estão engajados na busca de um fazer diferenciado e efetivo para os alunos, e
conseqüentemente, para si mesmo e seus pares.
Esperamos que se divirta e que agregue conhecimentos e novas perspectivas ao se aventurar
nas linhas e entrelinhas deste livro.

Obrigada,

Organizadora
Lúcia Kratz.

2 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Instruções
para Visualizar a Imagem na
Capa do Livro

Nem tudo que se vê realmente é o que parece ser. Será? As ilusões de ótica indicam uma
segmentação entre a percepção de algo e da concepção desta outra realidade, a ordem de
percepção não influencia a compreensão de algumas imagens. Principalmente nos últimos 20
anos, os cientistas mostraram um progresso na área óptica. As ilusões causam surpresa quando
são percebidas de formas diferentes e até um certo tipo de divertimento.
As ondas de luz penetram no olho então entram em celas de foto receptiva na retina. A
imagem formada na retina é plana, contudo, percebemos forma, cor, profundidade e
movimento. Isso ocorre porque nossas imagens de retina, se em uma imagem 2D ou 3D, são
representações planas em uma superfície encurvada. Para qualquer determinada imagem na
retina, há uma variedade infinita de possíveis estruturas tridimensionais.
Porém, nosso sistema visual normalmente se conforma com a interpretação correta. Quando
um engano é cometido, uma ilusão de óptica acontece. Esta arte que mexe com nosso
inconsciente nos deixando por momentos sem saber o que está ocorrendo, ou até por longo
períodos refletirmos sobre uma ilusão apresentada.
Algumas ilusões trabalham exatamente no fato de sermos juntamente com os macacos os
únicos seres que percebem a noção de largura,altura e profundidade; uma das explicações para
este fato é que temos os olhos na frente da cabeça e não dos lados como na maioria dos
animais.
A percepção que uma pessoa tem do mundo exterior de seu olho não depende apenas do órgão
da visão, mas também de suas emoções, seus motivos, suas adaptações, etc. A Psicofsica
estuda estas percepções e mostra que o mesmo estímulo físico pode produzir percepções
muito variadas.
Se você quiser você pode comprovar olhando atentamente a capa deste livro. O que tem ela de
diferente? Bem olhe atentamente a imagem apresentada que terá uma grande surpresa. Pois
esta capa trabalha com o tipo de ilusões de ótica escondidas, que são imagens que a primeira
vista não apresentam nenhum significado, mas depois de observar atentamente me responda o
que você realmente vê...

3 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Formando a Inteligência

A produção de cadeias de pensamentos, o registro dessas


cadeias, a leitura e a utilização desse registro na
construção de novas cadeias de pensamentos resultam na
promoção do fluxo contínuo de idéias e na formação da
inteligência. (...)
Construir e expandir o mundo das idéias sobre o universo
intrapsíquico é viver uma poesia intelectual.

Augusto Jorge Cury.

4 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


SUMÁRIO

PREFÁCIO ................................................................................................................... 6
APRESENTAÇÃO: EDUCAÇÃO E INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL ............................. 8
CAPÍTULO I - A INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL SOB O OLHAR DA
NEUROBIOLOGIA ............................................................................................. 10
CAPÍTULO II – A AUTO-ESTIMA SOB O ENFOQUE DA INTELIGÊNCIA
MULTIFOCAL..................................................................................................... 22
CAPÍTULO III – A INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL NO PROCESSO DA
APRENDIZAGEM DE ADULTOS ....................................................................... 28
CAPÍTULO IV – Organizações Multifocais: o repensar humano frente aos desafios
do mundo do trabalho ........................................................................................ 28
CAÍTULO V - O CURRÍCULO ESCOLAR NA PERSPETIVA DA INTELIGENCIA
MULTIFOCAL: AS SUBJETIVIDADES EM CONSTRUÇÃO .............................. 40
CAPÍTULO VI - AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DA TEORIA DA INTELIGÊNCIA
MULTIFOCAL..................................................................................................... 56
CAPÍTULO VII - INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL: PERSPECTIVAS DA
AFETIVIDADE PARA A SALA DE AULA ........................................................... 62
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 69

5 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


PREFÁCIO

Atualmente o número de informações dobra-se a cada cinco anos. Esperávamos que


pela avalanche de informações que os alunos têm acesso, em especial os universitários,
tivéssemos nessa geração a casta mais brilhante e arguta de pensadores. Mas nos
enganamos! Estamos formando em todas as sociedades modernas uma massa de
repetidores de informações. O normal é recitar conhecimento, o anormal é produzi-los.
O normal é ser um deposito de idéias, o anormal é ser um construtor delas. A arte de
pensar está num processo de falência.
Por que uma minoria de pessoas produz novos conhecimentos? Por que apenas alguns
abrem o leque da inteligência? Quais fenômenos que estão presentes nos bastidores da
mente dos pensadores que os levam a brilharem no mundo das idéias? Têm eles um
cérebro notável, diferente dos demais mortais?
Como psiquiatra e pesquisador da ultima fronteira da ciência, o processo de construção
de pensamentos e do funcionamento da mente, estou convicto de que não é o cérebro
notável que os diferencia, apesar da variável genética ser importante. Os fenômenos
psíquicos e sociais são mais relevantes no desenvolvimento da inteligência, desde que o
córtex cerebral esteja preservado. A capacidade de pensar antes de reagir, proteger a
emoção, filtrar estímulos estressantes, gerenciar pensamentos, se colocar no lugar dos
outros, libertar a criatividade, são funções nobilíssimas da inteligência. Desenvolvê-las
depende muito mais do uso de ferramentas psíquicas multifocais do que de um cérebro
com excelente capacidade de armazenamento de dados.
Durante mais de vinte e cinco anos tive a felicidade de desenvolver uma nova teoria na
psicologia, mas que tem raízes psicopedagógicas, sociológicas, filosóficas, que
denominei de Inteligência Multifocal (ou Psicologia Multifocal – nome
norteamericano). Varias teses de mestrado em doutorado em diversos paises tem usado
a teoria da Inteligência Multifocal como referência, inclusive centenas de escolas, bem
como institutos, como o Instituto Inteligência no Porto - Portugal, para ajudar
sobredotados (gênios) a se adaptarem psicossocialmente e serem produtivos e
interativos. Como toda teoria tem de submeter à prova. Tem de ser testada, aplicada,
redesenhada, pois a verdade é um fim inatingível.
A teoria que desenvolvi não apenas estuda o processo de formação do eu, o processo de
arquivamento da história na memória e o processo de construção de pensamentos, mas
também o processo de formação de pensadores. Quais foram as ferramentas que fizeram
com que seres humanos comuns saíssem do cárcere da rotina se tornassem pensadores
capazes de expandir o universo das idéias?
Essa é uma grande questão educacional que raramente tem sido debatida no mundo
acadêmico. São elas: a capacidade de duvidar, repensar, ousar, correr riscos, raciocinar
esquematicamente, observar, deduzir, induzir, filtrar o irrelevante, focar. A maioria dos
pensadores usou-as sem noção completa de que as estava usando, usou-as
intuitivamente. Mas em que escola ou universidade se ensina sistematicamente essas
ferramentas?
Einstein tinha menos informações em seu tempo do que uma boa parte dos engenheiros
da atualidade, mas entre ele e eles há anos luz na produção de conhecimento. Por quê?
Não porque seu cérebro era muito mais privilegiado como muitos cientistas pensam,
mas pela sua intrepidez intelectual, sua ousadia em percorrer ares desconhecidos, sua

6 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência


Multifocal
coragem para questionar as verdades absolutas, sua argúcia para duvidar dos
paradigmas científicos vigentes, sua sensibilidade para expandir sua intuição criativa,
sua capacidade de usar o pensamento antidialético ou imaginário, sua visão multifocal
para ver multilateralmente os fenômenos que observava e organizá-los de maneira
inovadora. Assim produzir conhecimento foi para ele um processo espontâneo, gestado
num intelecto borbulhante, inquieto, inconformado.
Os alunos de graduação e pós-graduação estão aprendendo a usar essas ferramentas?
Infelizmente, a sua grande maioria não, pois simplesmente as desconhecem. Estão se
tornando depósitos de informações que registram dados em provas. Por isso nem
sempre os melhores alunos que terão melhor desempenho na vida. Num mundo tão
conturbado precisamos mais do que nunca da formação de uma casta de pensadores e
não servos do sistema. Precisamos de agentes modificadores e não espectadores
passivos do teatro social.
Aline Costa de Andrade, Andressa Nunes Teixeira, Gláucia Yoshida, Luis Alfredo
Costa Freitas, Leonardo Rodrigues, Lívia Costa de Andrade, Lúcia Kratz e Marcelo
Machado de Albuquerque, são profissionais brilhantes e na sua maioria professores
universitários notáveis. Eles têm aprendido a usar tais ferramentas. Têm se proposto a
ser agentes modificadores da sociedade. Têm aprendido a andar por ares nunca
respirados. Têm saído com ousadia do cárcere da rotina e aprendido a perder o medo de
se perder.
Eles fizeram pós-graduação Latu Sensus na teoria Inteligência Multifocal e aplicaram-
na nas mais diversas áreas educacionais. Produziram novas idéias além das minhas e as
colocaram neste livro para que servirem como cardápio do debate. Estudaram a auto-
estima, o processo de aprendizagem, os processos neurobiológicos, os desafios do
trabalho, o currículo escolar e o processo de avaliação dos alunos sob o enfoque da
Teoria da Inteligência Multifocal
Sonho que cada vez mais esse time de pensadores produza novas idéias parta que
possam fazer a diferença no teatro acadêmico e cientifico. Parabéns por andarem por
ares pouco respirados. Parabéns por pensarem e por serem apaixonados pela ciência e
pela humanidade.

Dr. Augusto Cury

7 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência


Multifocal
APRESENTAÇÃO: EDUCAÇÃO E INTELIGÊNCIA
MULTIFOCAL

A educação por sua institucionalização e história apresenta características, desafios e cenários


que merecem atenção especial daqueles que primam pelo desenvolvimento humano. Um
oceano de possibilidades e surpresas...

O Desenvolvimento dos seres humanos pressupõe formação, aprendizagem, ensino. Vários


são os fatores que viabilizam e/ou impedem esta situação. Por que? Ora porque tal formação
ao mesmo tempo motiva, e É motivada pelas ações humanas. Somos sujeitos e objetos deste
cenário em construção, onde somos os próprios autores vão e desenhamos nossa
aprendizagem...

Muito tem se falado das dificuldades que permeiam o ato de ensinar. Vários estudos apontam
pistas para o que poderiam ser causas e origens destes fatos.

Falar de educação e das abordagens da aprendizagem requer um olhar atento para as questões
que norteiam a inteligência. A inteligência em sua complexidade pode ser o viés que
viabilizará ou impedirá as mudanças nos indivíduos. É emergente e urgente para aqueles que
lidam com a educação, quer em sua manifestação formal de ensino ou no âmbito de suas
relações sociais, compreendê-la.– Do giz à afetividade a trama e o drama da Inteligência
Multifocal é uma discussão que aborda vários contextos educacionais.

Trata-se, de uma trama, à medida que nos deparamos com específicos momentos que
envolvem o processo do conhecimento e suas complexidades. Desde a estrutura biológica dos
indivíduos dotados de inteligência, passando pela aprendizagem, momento significativo em
que o educador (pais/professores/moderadores/gestores) assume papel fundamental.

A trama consiste em reconhecer contextos específicos da formação de pensamentos e


pensadores. As organizações são instituições pelas quais em suas especificidades determinam
inteligências e possibilidades de aprendizagens. Neste processo contínuo marcado pelo
ingresso e saídas das pessoas em cenários distintos, vemos a construção da auto-estima e em
que momentos somos ou não privilegiados no ato de pensar, nos tornando pessoas melhores
ou não...

Somos enfim, seres cujas trajetórias de vida são construídas conforme as instituições que nos
acolhem. Vemos que a escola, por sua institucionalização, e as instituições de ensino de modo
geral, são delineadas por seus currículos. Desta forma, mais uma vez a inteligência é tecida de
consoante às suas específicas expressões e subjetividades, gerando dramas pessoais e
organizacionais...

Como compreender o pensar e o agir dos indivíduos frente a esta trama? Assim emerge o
drama, pois na busca incansável de perceber e compreender esta trajetória, julgamos e
avaliamos, construímos ou destruímos pensamentos, emoções e pessoas... E nestas
construções amamos e emocionamos... E na busca ora sistematizada, ora intuitiva, surge o
educador cuja tarefa de ensinar requer compreender a trama e o drama da inteligência
humana...

8 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


A afetividade torna-se uma das possibilidades para este processo de concepção e compreensão
da inteligência. A sala de aula é o espaço onde ocorre a trama e o drama da educação e dos
processos de ensinagem. Um espaço mágico e trágico, de acordo com o olhar dos professores,
atores, diretores ou até mesmo expectadores. Neste cenário surgem as possibilidades para
infinidades de pensamentos. Construídos e registrados nas memórias e narrativas de
professores e alunos. Protagonistas ou coadjuvantes; na platéia ou no palco - cenário das
emoções. A quem compete a direção destas cenas? Quem irá controlar estas emoções? Como
são construídos, registrados e estimulados os pensamentos nestas cenas?

Este livro nasceu da inquietação constante de educadores em suas variadas formações. Pessoas
com diferentes histórias. Histórias de vida, de sala de aula de aprendizagem. Professores que
olharam para seus alunos não com o olhar do significado desta palavra “sem luz” e sim como
seres pensantes, brilhantes iluminados...Professores que sonharam com uma sala de aula
melhor. E como propiciar o ato de aprender e de ensinar sob este novo olhar?

INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL!!! Uma teoria que vem da prática e a prática objetiva.


Uma estratégia, uma possibilidade, uma tentativa e uma esperança que se inicia
aqui....Conhecer e viver a trama e o drama da educação com um olhar que permita ir além dos
desafios que a educação impõe.

Se ensinar pode ser também um ato de amor, mais do que técnicas de ensinagem, mais do que
o cumprimento de um currículo, mais do que a reprodução de avaliações, enfim olhar o outro
em todas as suas possibilidades. Ser professor multifocal significa experimentar e vivenciar
estas possibilidades. Eis a proposta deste livro. É um convite a todos que de alguma forma
educam. A educação tem solução., o desafio é seu, é meu é nosso! Sejamos todos educadores
multifocais. Vamos compartilhar a teoria em ações educativas. Entenda o que é esta
proposta!!!

9 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


CAPÍTULO I - A INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL SOB O
OLHAR DA NEUROBIOLOGIA

Por Luis Alfredo Costa Freitas 1

Alguém poderia perguntar-se: Como pode um


amontoado de células, emaranhadas umas com as
outras, dar origem a um ser vivo que pensa e sente,
que chora e ri e, com isso, alça o olhar para o universo
infinito e questiona-se sobre o sentido de sua
existência?
Francisco Mora

O SER INTELIGENTE
Você é inteligente?
Do ponto de vista da biologia, podemos dizer que sim; pois se você está vivo, isto demonstra
que está sendo suficientemente inteligente para cumprir o mandamento número um da vida:
SOBREVIVA! E caso tenha filhos, é duplamente inteligente, pois está conseguindo cumprir a
lei genética: REPRODUZA-SE! Do ponto de vista da biologia, quem não deixar
descendentes será considerado um fracasso genético, galho sem frutos da árvore evolutiva.
Mas não se desespere. Se você não deixar descendentes, seus irmãos ou irmãs, se os tiver,
poderão dar continuidade genética à sua família. E estará, ainda, em boa companhia, pois
muitos fracassos genéticos, como Sócrates, Jesus Cristo, Leonardo da Vinci, Isaac Newton,
Madre Tereza de Calcutá e os papas- líderes planetários da Igreja Católica espalhada pelo
mundo inteiro - não se reproduziram, mas deixaram heranças em termos de ideologias,
conhecimentos e lições espirituais inestimáveis à humanidade.
Olhando à nossa volta, percebemos que alguns sobrevivem e criam seus filhos em melhores
condições que outros. Podemos pensar, então, que viver de forma a ter suas necessidades
atendidas e seus direitos respeitados esteja relacionado ao uso que fazemos da inteligência que
temos. O cérebro de um mendigo geralmente é tão inteligente quanto o de um cientista, assim
como o seu computador pode ser tão moderno quanto o do seu concorrente. A teoria da
igualdade humanista diz que, apesar das diferenças, somos iguais na origem da inteligência,
no nascedouro das idéias e no espetáculo da construção dos pensamentos (CURY, 2003). A
diferença pode estar no domínio que temos dos programas que herdamos ou que vieram
instalados em nosso “HD” mental.
Você tem usado a sua inteligência de forma a resolver convenientemente seus problemas ou
tem sucumbido frente às necessidades e desejos de viver de forma mais satisfatória?
É senso comum que inteligência é a capacidade de resolver problemas. Quais são os
problemas que um ser vivo precisa resolver? Sobreviver e deixar descendentes. Esse é o
sentido e o significado da vida. O que você pensa sobre isso? Concorda? Discorda? Abstêm-se
de pensar?
1
Analista Ambiental do Ibama, Professor do Instituto de Pós-Graduação de Goiás (IPOG), biólogo (FTESM-
RJ), psicólogo (UCG-GO), especialista em Psicologia Analítica (OlhosDaAlmaSã-GO), pós-graduado em
Planejamento Urbano e Ambiental (UniEvangélica-GO), MBA em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental (Fac.
Oswaldo Cruz-SP), pós-graduado em Psicanálise e Inteligência Multifocal (Faculdade Michelângelo-DF) e
mestrando em Gestão e Auditorias Ambientais (FUNIBER-SC)..
10 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
Nossa vida, na perspectiva biológica, tem como principais componentes explicador por uma
equação de três incógnitas. Temos que, ao mesmo tempo:
1) conservar nossa identidade, isto é, tentar ser nós mesmos;
2) nos relacionarmos produtivamente com outros seres da nossa e de outras espécies e
3) nos adaptarmos ao ambiente externo não-vivo.
Integridade do Eu + Relacionamentos Construtivos com os Outros + Adaptação ao Ambiente = Sobrevivência

Em outras palavras, quanto melhor forem seus relacionamentos consigo mesmo, com os
outros e com o meio, maiores serão suas condições de sobrevivência e melhor sua qualidade
de vida. Isso nos obriga a refazer, continuamente e cotidianamente, nossa identidade em
função de um equilíbrio sempre perdido e reconquistado.
Para permanecermos vivos, então, precisamos estar constantemente encontrando soluções para
a equação acima citada. Temos que garantir nossa sobrevivência física, relacional e ambiental.
O comportamento que proporciona respostas satisfatórias a essas exigências será considerado,
nesse contexto, um comportamento inteligente; e o ser que é capaz de exibi-lo, um organismo
inteligente.
Você será considerado mais inteligente que um outro se as suas respostas aos problemas da
sobrevivência beneficiarem mais a você, aos outros e ao meio ambiente do que as soluções
propostas por ele. Beneficiar só a si mesmo em prejuízo alheio e ao meio ambiente, não é um
comportamento inteligente, pois não leva em consideração a segunda e terceira parcelas da
equação da sobrevivência. Nesse prisma, o mais esperto dos bandidos poderia ser considerado
um cidadão inteligente? Sim? Não? Por quê? Procure analisar multifocalmente, veja sob
vários enfoques e não apenas pelo que você está acostumado. Talvez na restrita comunidade
em que vive ele possa ser considerado um modelo de sucesso...

A inteligência seria uma propriedade do ser ou uma característica de suas relações?


Esta é uma das perguntas que os estudiosos da inteligência, como Gardner, Goleman e
Maturana fazem em suas obras (Romesín, 1998): a inteligência é herdada ou adquirida? Não
desconsiderando a importância genética da inteligência, a segunda hipótese nos parece um
terreno mais fértil para as sementes da educação, por ser menos determinista. Nessa
perspectiva, uma pessoa pode se tornar mais inteligente se melhorar suas interações, o que é
perfeitamente possível de se alcançar.
A capacidade de adaptação do indivíduo às suas próprias mudanças, às alterações dos outros
organismos e às variações ambientais é a expressão do fenômeno da inteligência. (Romesin,
1998). Isso quer dizer que inteligência é a tendência que os organismos têm de se comportar
de forma a promover uma vida o mais satisfatória possível, melhorando as próprias condições,
a vida dos outros e as relações com o meio ambiente. Isto só é possível quando se encontra o
equilíbrio entre os meios interno (subjetivo) e externo (concreto).
Devido à ânsia desenfreada por lucro rápido e fácil que a cultura capitalista nos introjetou, as
últimas gerações vêm degradando o ambiente de tal forma que podemos torná-lo impróprio
para a vida, comprometendo e ameaçando esta e as próximas gerações. Esse fato acrescenta
um novo elemento à equação da sobrevivência: a conservação do ambiente e dos recursos
naturais. Devemos nos responsabilizar pela recuperação dos ambientes degradados para que
nós mesmos e os demais seres vivos tenhamos onde buscar a matéria-prima de que
necessitamos para nos auto-construirmos. Assim, a iniciativa de recuperar e preservar o
ambiente seria, na perspectiva biológica, um exemplo de comportamento inteligente. A busca
do “desenvolvimento sustentável” surge como uma das idéias ecológicas mais justas e
11 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
inteligentes, pois propõe um desenvolvimento que satisfaça às necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas, bem como melhorar a
qualidade da vida humana sem ultrapassar a capacidade de suporte dos ecossistemas que a
sustentam (Ruscheinsky, 2002). Já o descuido com o meio ambiente denotaria uma conduta
não-inteligente.
Como têm sido suas relações com o ambiente? Tem sido de cuidado e preservação ou de
descuido e exploração cega?
Até agora falamos da inteligência de uma forma geral. Ela está presente em todos os sistemas
vivos que não foram varridos pelas múltiplas ondas de extinção que têm assolado a vida neste
planeta. Deter-nos-emos por ora, num tipo de inteligência presente, em tese, somente nos
humanos. É ela que nos torna capazes de produzir pensamentos e de termos consciência de
nós mesmos.
A inteligência humana tem sido estudada por vários teóricos. Neste trabalho elegemos a
Teoria da Inteligência Multifocal para abordarmos esse universo. Essa teoria trata dos
processos de construção da inteligência e afirma que esses processos são multifocais, isto é,
contribuem para formá-los vários aspectos, sejam eles o biológico, o psicológico, o socio-
histórico, o filosófico etc. A Teoria da Inteligência Multifocal estuda não apenas as
manifestações conscientes da inteligência humana (arte, comunicação, relações sociais,
ciências), mas principalmente como se dá o espetáculo da construção dos pensamentos, que se
expressam como idéias no anfiteatro da mente. Além disso, essa teoria pesquisa o
desenvolvimento socioeducacional da inteligência, contribuindo com uma infinidade de
sugestões para que eu e você possamos gerenciar nossos pensamentos e administrar nossas
emoções. De acordo com a perspectiva da IM, o maior

“(...) espetáculo que o homem pode produzir não está no cinema, no


teatro, nos museus ou nas feiras de informática, mas na construção dos
pensamentos ocorrida espontaneamente nos bastidores da mente de
qualquer ser humano, mesmo das crianças famintas na África ou
abandonadas nas ruas das grandes cidades. Sem a inteligência multifocal
não haveria a consciência existencial; sem a consciência existencial
estaríamos condenados à dramática condição de existir sem ter a
consciência da existência” (CURY, 2003, p. 45).

O ASPECTO HERDADO DA INTELIGÊNCIA


Filho de peixe, peixinho é? Será que posso esperar ser tão inteligente quanto meu pai ou meu
avô? A questão de quanto da inteligência é herdada e quanto é adquirida por influência
ambiental tem desafiado os melhores cérebros da nossa geração e está longe de ser
respondida. Gostaríamos de mudar o foco e perguntar não quanto, mas...
Que aspecto da inteligência pode ser considerado herdado?
A inteligência, enquanto uma característica das relações que construímos com o mundo, não
pode ser medida nem observada de forma direta. O que podemos notar é a sua manifestação
em situações nas quais uma pessoa se comporta de forma inteligente, conseguindo resolver
um problema que a aflige, tornando-se mais adaptada e satisfeita consigo mesma.
Como você se sente quando consegue resolver um problema que a maioria das pessoas
considera difícil? Que tipo de problemas você gosta de resolver? Em que áreas da vida as
pessoas lhe percebem como “inteligente”? Que aspecto dessa inteligência é, com certeza,
herdado?
12 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
Se encaramos a inteligência como uma forma de realizar múltiplas interações adaptativas, não
podemos falar na herança desse fenômeno. Não se herda a inteligência, mas as estruturas que
possibilitam um comportamento inteligente, que pode ocorrer ou não. Dependendo do uso que
se faça dessas estruturas mentais, poderá ser realizada uma certa conduta, com uma dinâmica
determinada, em um ambiente específico. Você já reparou que certos dias não consegue agir
de forma inteligente, sendo que numa situação anterior, em condições semelhantes, lidou com
problemas piores e se saiu bem? O que mudou? As estruturas mentais ou a forma com as está
usando?
Lembra o que diz a teoria da evolução? Ela diz que o ambiente age sobre as estruturas
herdadas, (seu corpo físico e seus comportamentos possíveis), selecionando, escolhendo, as
que possibilitam a realização das condutas adaptativas e, conseqüentemente a sobrevivência e
reprodução dos organismos envolvidos (seleção natural darwiniana). Os organismos
selecionados (sobreviventes) transmitem, através dos gens, essas estruturas para seus
descendentes, aumentando suas probabilidades de adaptação.
Quando um ambiente privilegia os comportamentos inteligentes, dizemos que está havendo
seleção positiva da inteligência. Isso ocorre, por exemplo, quando pais e professores elogiam
a criatividade e a originalidade das respostas dos educandos. Por outro lado, se houver
repressão ou discriminação dos comportamentos inteligentes e valorização dos
comportamentos padronizados, como incentivo à repetição de respostas prontas e não à
criação de novas respostas, teríamos uma seleção negativa da inteligência. Comportamentos
ritualísticos e estereotipados, como copiar o que os outros fizeram, baixar trabalhos prontos da
internet e decorar respostas que não compreende, mesmo que gerem eventuais vantagens
adaptativas, como boas notas em provas, podem ser comportamentos não-inteligentes. Não é
inteligente porque não produz respostas novas e adequadas às novas situações, mas tenta
impor uma resposta obsoleta a um novo contexto que não compreende. Se você copia, gera
pouco significado e poucas idéias; mas se cria algo novo, novas idéias lhe ocorrem e mais
recursos são disponibilizados para enfrentar os futuros desafios. “Pôxa, professor, não é justo!
Agora que eu consegui decorar a resposta, o senhor muda a pergunta?” Inteligência implica
em construir novas respostas para os velhos problemas e não em repetir velhas respostas para
os novos problemas. O meio está em constante mudança e respostas padronizadas, frente às
mudanças, podem não ser mais adequadas.
O que você tem feito para encorajar comportamentos inteligentes no cotidiano do lar e da
escola? Como pretende se comportar da próxima vez que presenciar um comportamento
inovador? E um padronizado?

AS CULTURAS INTELIGENTES
Será que a cultura em que vivemos estimula nossa inteligência?
As culturas, em geral, tendem a podar comportamentos adaptativos inovadores, pois esses
podem ameaçar suas estabilidades. Podem impor, por meio da tradição e da repetição,
comportamentos semelhantes para realidades diferentes. Por exemplo: educar filhos em
centros urbanos é diferente de educá-los em cidades menores ou, mesmo, em ambientes rurais.
Portanto, as maneiras corretas de educar filhos não podem ser as mesmas, pois as aptidões
necessárias à sobrevivência em ambientes distintos não são as mesmas. Um comportamento
mais adaptativo, isto é, que traz mais benefícios para todos, pode fazer surgir líderes com
grandes possibilidades de competir com os que estão no poder. Por isso, os poderosos, em
muitas culturas, preferem recompensar as condutas mais submissas, que confirmam e
reforçam seus valores. Em contrapartida, perseguem e tentam destruir aos que propõe formas
alternativas para a solução de problemas sociais. Ao procederem assim, estão fazendo seleção

13 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


positiva ou negativa da inteligência? Responda, marcando uma das opções abaixo, segundo
seu entendimento:
( ) seleção positiva da inteligência;
( ) seleção negativa da inteligência.
Se respondeu negativa... acertou!!! É negativa porque desencoraja o comportamento
inteligente. Parabéns, você está entendendo esse conceito. Prossigamos.
Os “pacatos cidadãos” não representam ameaça aos poderosos, pois aceitam as coisas como
estão. Não são considerados sujeitos e sim assujeitados dos processos sociais. Não se sentem
capazes de produzir melhores soluções naquele campo ou preferem não se envolver.
Qualquer cultura que favoreça a produção e divulgação de propostas de interações dos
indivíduos com seu próprio mundo interior, com os outros e com o meio envolvente, não
impondo soluções que beneficiem só uma minoria, estaria fazendo que tipo de seleção da
inteligência?
( ) positiva;
( ) negativa.
Se respondeu positiva... acertou!!! Parabéns!! É positiva porque encoraja o comportamento
inteligente.
Quanto ao tema abordado, Romesin (1998) afirma que, de fato,

“(...) uma sociedade humana que seja eficiente ao discriminar e restringir o


comportamento humano no domínio da inteligência, como todo sistema
totalitário tenta ser, é uma sociedade mais estável que uma que seja menos
eficiente nesta restrição. (...) Numa sociedade restritiva, o comportamento
inteligente é uma ameaça social que deve ser neutralizada mediante sua
eliminação, ou através de uma estipulação rígida dos modos de conduta
que definem um domínio de variabilidade do comportamento, dentro do
qual a sociedade como sistema pode compensar (e absorver sem mudança)
as influências perturbadoras. Por tais razões, se não desejarmos viver em
uma sociedade que justifica a discriminação social, política, cultural ou
econômica e abusa com falsas noções de verdades científicas, de respeito à
humanidade, de bem-estar social, de superioridade nacional ou culto à
bandeira, devemos contribuir constantemente com nossa conduta cotidiana
à criação de uma sociedade definida por relações e instituições não-
discriminatórias e não-hierárquicas, em um domínio de interações sociais
que aceite e encoraje o comportamento inteligente”(Romesin, 1998, p.29-
30).

As pessoas que alcançaram maior sucesso são necessariamente as mais inteligentes?


Não. Ao contrário do senso comum, o êxito social não pode ser considerado como expressão
de maior grau de inteligência por parte da pessoa mais bem sucedida em comparação com as
pessoas menos exitosas. O sucesso geralmente consiste numa concessão de poder que os
membros de uma comunidade fazem segundo suas preferências, independente da capacidade
adaptativa intrínseca da pessoa. Uma sociedade que não se importa em desenvolver a
inteligência de seus cidadãos, considerará bem sucedidas pessoas que ostentam valores
efêmeros como beleza, habilidade atlética e riqueza material. Uma sociedade voltada para a
seleção positiva da inteligência privilegiará a solidariedade, a preservação ambiental, o cuidar
14 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
e a promoção de qualidade de vida para a maioria. Nosso comportamento está perpetuando
uma sociedade individualista e excludente ou está ajudando a transformá-la numa sociedade
mais justa e preocupada com a inclusão social?

SURGE O CÉREBRO
Certamente você já viu a imagem de um cérebro humano. Parece uma grande noz gelatinosa e
cinzenta, com quase um quilo e meio de massa. Sabia que ele é considerado a organização
mais complexa do universo conhecido? Apesar dessa complexidade, sua função básica em
todos os craniados parece simples: manter o indivíduo vivo e em constante contato com o
meio que o rodeia. Essa função amplia-se no homem fazendo-o sentir alegria e sofrimento,
sonhar que encontrou a fonte divina de onde se originou, discriminar entre beleza e fealdade,
distinguir o bem do mal, além de elaborar pensamentos e ter consciência de si mesmo. Ao
contemplar essa complexidade, indagamos intrigados:
Como o cérebro se formou?
Como tudo isso aconteceu? O modo como se chegou ao cérebro humano, esse invento quase
inimaginável, ao mesmo tempo divino e diabólico é, simplesmente, o mais profundo dos
desconhecimentos que temos.
Estudos e evidências deixadas por fósseis permitem supor que o cérebro tenha se construído
ao longo do processo evolutivo, como resultado de constantes mutações, interações e
reajustes, frente às variações ambientais, nos últimos 500 milhões de anos. Velho, não? Esse
processo de mudanças evolutivas, no qual as variações vantajosas são fixadas e as prejudiciais
eliminadas continua, tanto ao longo das gerações como na própria intimidade do cérebro de
cada ser humano, durante toda a vida.
Já viu um corte de tecido cerebral ao microscópio? Não? Pois saiba que visto através desse
instrumento, o tecido cerebral é um imenso e complexo bosque de células e conexões
intercelulares. Essa floresta emaranhada é composta de aproximadamente 100 bilhões (1x10¹¹)
de células nervosas chamadas neurônios, de formas e tamanhos diferentes. Cada neurônio é
protegido, sustentado e nutrido por cerca de 10 células nervosas gliais (1x10¹²). Tudo isso (1,1
x10¹²), juntamente com os vasos sangüíneos e algumas membranas protetoras, constituem a
base do cérebro.
O mais incrível é que o cérebro não é constituído por uma teia contínua como todos os outros
tecidos. Cada neurônio conserva uma individualidade perfeita, sem tocar diretamente em
nada. Apesar disso, cada um deles comunica-se com milhares de outras células, sejam
nervosas ou não. Quando recebemos um estímulo físico-químico, há uma mudança no
equilíbrio eletroquímico da membrana do neurônio e uma onda elétrica o percorre de ponta a
ponta. Mas, como os neurônios não se tocam, para que esse impulso possa chegar ao próximo
neurônio é necessário que substâncias produzidas pelo neurônio estimulado sejam despejadas
no espaço ínfimo que os separa. Esse espaço de trocas neuroquímicas é chamado de sinapse.
Os neurotransmissores atravessam a sinapse e chegam ao próximo neurônio, estimulando-o.
Esse, então, tem sua membrana alterada em sua polaridade e passa a conduzir o impulso
elétrico até o próximo neurônio. É por isso que se diz que o impulso nervoso ao longo do
neurônio é elétrico e entre um neurônio e outro é químico. Assim, é possível entender como
podemos encontrar no cérebro funções tão diversas como a vigília e o sono, a fome e a
saciedade, o entusiasmo e o desânimo, o amor e o ódio. Esses fenômenos estão na
dependência dos variados tipos de neurotransmissores e não seriam possíveis se o cérebro
fosse formado por um retículo contínuo como no resto do corpo.

15 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


A TRADUÇÃO DA REALIDADE OBJETIVA PELO CÉREBRO
Todos sabemos que é por intermédio de nossos receptores sensoriais (órgãos dos sentidos) que
fazemos contato com o mundo que nos cerca. O que pouca gente sabe é que esses receptores
são também transformadores. Eles transformam um tipo de energia em outro. Transformam
ondas eletromagnéticas, ondas de pressão, modificações mecânicas e térmicas da pele e
partículas químicas em sinais elétricos e neuroquímicos. Estes serão entendidos pelo cérebro
como imagens, sons, sensações cutâneas gustação e olfato.
O mundo que vemos é uma tradução fiel da realidade objetiva?
Essa é umas das questões que todo estudante de filosofia tem de enfrentar.
As pesquisas indicam que deve haver grande semelhança na maneira como percebemos o
mundo, devido ao fato de termos herdado estruturas neuronais de ancestrais comuns. Mesmo
assim, o mundo não é exatamente igual, nem para os gêmeos verdadeiros.
Segundo CURY (2003, p.161),

“a consciência existencial jamais atinge a realidade essencial dos


fenômenos, pois a consciência é virtual, antiessencial, ou seja, um sistema
de intenções que discursa incansavelmente sobre a realidade essencial,
mas nunca a incorpora intrinsecamente. A consciência existencial, ainda
que seja sustentada por uma produção de conhecimentos, capaz de gerar
aplicabilidades e previsibilidades dos fenômenos, nunca incorpora em si
mesma a realidade essencial dos fenômenos. (...) O que é virtual, ainda que
persiga com milhões de idéias a realidade essencial dos fenômenos, nunca
a incorpora, pois possuem naturezas distintas.”

Isto quer dizer que nosso cérebro nada entende sobre as energias que existem no mundo real, a
menos que sejam traduzidas em sinais eletroquímicos. A realidade que percebemos (realidade
virtual) não é uma tradução fiel da realidade à nossa volta (realidade essencial), mas uma
“reconstrução” que nosso cérebro faz com base em seu funcionamento e nos argumentos
apresentados pelos órgãos dos sentidos. Essa realidade pessoal, construída nas redes neuronais
com base em pré-programas herdados e determinados pelos sucessos alcançados ao longo da
luta evolutiva, é “realidade” enquanto nos serve para continuarmos vivos. Não questionamos
essa “realidade” reconstruída. Simplesmente não nos preocupamos e a aceitamos enquanto
nos for útil.
Se começar a haver discrepâncias entre a forma como você e os seus conhecidos percebem o
mundo, se houver falhas nas percepções visuais e auditivas, isto é, se você não enxerga o que
os outros enxergam e não escuta o que os outros escutam, provavelmente procurará um
médico especializado naquele sentido específico (visão, audição, etc), sem desconfiar que
pode ser o seu cérebro, e não os receptores, que esteja defeituoso (lesado).
Tentar entender como o cérebro constrói essa realidade “tão nossa”, com base nos programas
preexistentes herdados e nas informações eletroquímicas que lhe chegam, é um dos maiores
desafios da neurobiologia e uma das mais importantes contribuições da neurociência para o
conhecimento do próprio homem. O cérebro lutando por entender o cérebro é a própria
sociedade tratando de entender-se a si própria.

16 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


O MUNDO RECONSTRUÍDO NO CÉREBRO
Como o cérebro reconstrói a percepção de um objeto do mundo real?
Para responder a essa pergunta vamos utilizar o exemplo da laranja, apresentado por Mora
(2004), mas que pode ser generalizado para as outras percepções cerebrais.
Pegue uma laranja. Vamos lá... eu espero. Contemple-a por alguns segundos...
Já se perguntou como o cérebro constrói a sensação e a percepção de uma laranja?
Talvez você pense que a laranja é recebida como objeto único pela retina. Nada mais errado.
A neurociência tem demonstrado que a laranja, ou qualquer outro objeto real, é analisada e
decomposta pela retina nos vários componentes que a formam. Isso quer dizer que a cor, a
orientação, o movimento, a profundidade, a forma e as relações com outros objetos do espaço
são percebidos isoladamente. Esses componentes, assim separados, são distribuídos e
enviados de forma individualizada, por vias diferentes e paralelas, às várias áreas e circuitos
cerebrais, onde sofrem análise e são armazenados.
Se você está interessado nesse assunto, deve estar se perguntando: Como o cérebro analisa a
forma da laranja?
Bem, parece que os neurônios da retina decompõem, em pequenos pontos, o traço que delineia
a forma arredondada da laranja. Isso ocorre devido à capacidade que certos neurônios da
retina têm de captar os contrastes de luz e sombra, figura e fundo, provocados pela luz ao
incidir sobre os objetos. Assim, a linha que delineia a forma da laranja é decomposta em
milhares de minúsculos pontos arredondados. Essa análise inicial passa por uma síntese
progressiva, a cargo dos neurônios situados nas vias ópticas que partem da retina ao tálamo
(estação intermediária) e deste ao córtex visual localizado na região da nuca (lobo occipital).
Neste há muitas áreas específicas para processar os diferentes componentes mencionados.
O que ocorre, segundo Hubel e Wiesel (Mora, 2004) é que vários neurônios da retina e do
tálamo convergem para os neurônios do córtex visual, os quais integram os pontos captados
pela retina, criando linhas. Possivelmente, deste nível se passaria a informação a neurônios
mais complexos, capazes de “entender” configurações formadas por combinações de linhas,
até finalmente captar a forma da laranja.
- Que interessante!... E a cor laranja da laranja, como é percebida?
Quer mesmo saber? A cor da laranja que vemos é construída ativamente pelo cérebro, em
função dos receptores da retina, da estrutura neuronal e dos programas genéticos de seu
funcionamento. A cor laranja percebida em nossa retina depende do comprimento de onda da
luz refletida pelos pigmentos da casca e pelos pigmentos do fundo sobre o qual se destaca.
Esses contrastes de cor são detectados pelas células ganglionares da retina e enviados a uma
área específica do córtex cerebral, responsável por elaborar a sensação consciente de cor. Os
mecanismos do cérebro possibilitam a atribuição de uma cor a cada traço que seja
característico e constante do objeto considerado. Sabe-se também que em cada uma dessas
áreas cerebrais o processamento é ativo, pois são descartadas as informações irrelevantes.
Complicado? É mesmo...
Um leitor mais exigente e crítico já deve estar coçando a nuca e perguntando:
Se os componentes da laranja são arquivados de forma individualizada, então por que quando
evoco imagens mentais ou vejo uma laranja, sempre a percebo como um todo e não em seus
componentes individualizados? Boa pergunta.
Deve haver algum mecanismo que ative ao mesmo tempo todas as áreas cerebrais
correspondentes e reúna todas as suas características individuais, percebendo-a como objeto
único e integrado. Estudos realizados em 1998 por Singer (Mora, 2004) sugerem que os
17 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
mecanismos utilizados para reunir todas as propriedades de um objeto, reconstruí-lo e evocá-
lo conscientemente são produzidos pela atividade ou pelo disparo sincrônico de todos os
neurônios envolvidos na análise de cada propriedade da laranja, mesmo que localizados em
diferentes áreas do cérebro.
Uma aluna de psicologia, após ler esta parte nos originais do texto, me perguntou: A
experiência real de ver uma laranja e o fato de apenas recordá-la utilizam as mesmas
estruturas mentais? Respondi: Para a criação de “imagens mentais” necessita-se recrutar as
mesmas áreas e os mesmos circuitos utilizados para o processamento de qualquer informação
sensorial específica proveniente do mundo externo. Se evoco a laranja, muitos neurônios que
realizam a evocação são os mesmos que se ativam quando vejo a laranja física e
sensorialmente, bem como o seu componente emocional, se houver. Isso explica porque uma
lesão ou supressão química de uma área que analisa as cores impede o paciente não só de ver
fisicamente cores (discromatopsia), mas também o impede de imaginar ou sonhar em cores.
Podemos afirmar que, pelo menos nos processos de percepção, memória e evocação das
informações, o cérebro é multifocal. Ele procura abarcar todos os aspectos de uma
experiência, sejam eles conscientes ou não, usando o registro automático da memória e a
distribuição das informações pelos diversos territórios mnêmicos.

O CÉREBRO E AS ABSTRAÇÕES
Pense numa laranja por cinco segundos... Eu espero...
Você pensou numa laranja:
a. ( ) específica, única, que talvez tenha consumido recentemente e é capaz de descrevê-la em
detalhes ou
b. ( ) genérica, atendo-se apenas à forma, cor e, talvez, sabor.
Se você optou por a, o que ocorreu foi uma reconstrução de memória,
mas se respondeu b, seu cérebro fez uma abstração.

Como o cérebro faz abstrações?


O que permite ao cérebro formular o conceito de laranja, de forma que uma única laranja
represente todas as laranjas do mundo? Como o cérebro conseguiu alcançar a abstração?
Já imaginou a enorme economia de processamento e memória que o cérebro conseguiu com o
“invento” da abstração? Com tal capacidade o homem rompeu as cadeias do particular e do
concreto e liberou-se para recordar e comunicar cada coisa. Uma laranja representar todas as
laranjas do mundo... Pode imaginar maior síntese?
A abstração requer a capacidade do cérebro para estabelecer categorias entre os objetos, de
maneira que uma série deles possa ser agrupada em conjunto, por compartilharem um
determinado número de propriedades, independentemente de suas diferenças.
Esse tipo de classificação exige que o cérebro reaja de forma similar a um certo tipo de
estímulos fisicamente diferentes (reconhecer laranjas em diferentes situações), ao mesmo
tempo em que deve reagir de maneira distinta a estímulos fisicamente semelhantes (perceber
que apesar das semelhanças, não é uma laranja).
Parece que o sistema de memória do cérebro é capaz de reconhecer um objeto após sua
apresentação sob diversas perspectivas, ainda que nem todas as possíveis. Esse sistema é
capaz de fazer interpolações entre as diferentes visões e abstrair uma visão do objeto que

18 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


permita, posteriormente, seu reconhecimento, quando esse for mostrado em uma posição,
orientação ou forma jamais apresentada antes.
Tudo indica que o processo de abstração não está limitado a uma área cerebral, mas
possivelmente se trate de circuitos distribuídos em amplas áreas do cérebro, às quais chegam
os estímulos, depois de passarem pelos processamentos sensoriais neuronais primários e
básicos (Gross citado por Mora, 2003).

A IMPORTÂNCIA DO COLORIDO DAS EMOÇÕES


Em todos os níveis do processo de percepção da laranja, o processo é feito sem atribuir-se-lhe
significado algum de bom ou mau, prazeroso ou aversivo. O córtex cerebral occipital
“fotografa” a laranja sem nenhuma emoção, como algo neutro.
Onde, então, os fatos “frios” são coloridos de emoção?
Somente após ter sido analisada pelo córtex cerebral é que a informação entra no sistema
límbico ou emocional, em especial na amígdala cerebral. É aí que essa informação sensorial
objetiva é colorida afetivamente, pois recebe um julgamento de valor.
Na amígdala cerebral a laranja adquire um significado além da forma, da cor, do cheiro e do
sabor. Nesse novo nível a laranja não é mais apenas uma laranja. Essa laranja é boa ou ruim,
saudável ou podre, comestível ou não, desejável ou repugnante. Sua visão, agora, causa
aproximação ou afastamento, em função da resposta que essa experiência emocional nos traz.
O mesmo ocorre na convergência de significados, em que a visão da laranja e sua aceitação ou
rechaço se dá em função do estado de fome ou saciedade. Isso é assim porque os neurônios
localizados ao longo das vias e áreas visuais não respondem a nenhum componente emocional
(bom ou mau, prazer ou castigo), associado ao estímulo (laranja). É nas áreas posteriores a
esse processamento estritamente sensorial, no sistema límbico, que os neurônios respondem a
estímulos associados a reforços (positivos ou negativos) ou a componentes emocionais.

Fig 01: Regiões Cerebrais responsáveis por emoções, sentimentos, memória, aprendizado e
movimentos repetitivos

1 - Sistema límbico

2 - Estriato

Fonte: Suzane Frutuoso, Revista Época. Caderno SAÚDE & BEM-ESTAR, 25/05/2007 -
12:58 | Edição nº 466

19 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


O PAPEL DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM
Qual o papel da emoção na aprendizagem?
A emoção é de suma importância na conduta de qualquer mamífero. Um acontecimento
carregado emocionalmente tem muita força para ser guardado na memória. Nada se aprende, a
menos que o que há para ser aprendido nos emocione e nos motive. Só se aprende algo que
tenha um significado importante para nós.
A neurobiologia e a neuropsicologia nos ensinam que não existem planos que se estruturem
no abstrato e na frieza do córtex cerebral, sem o filtro emocional. Sem o fogo emocional
prévio, os planos são desintegrados, mal coordenados e sem manutenção nem realização.
A etologia evidencia que nenhum animal trabalha, faz algo, se não for em função da obtenção
de recompensas ou do esquivar-se do que lhe é desagradável ou frustrante, seja em cativeiro
ou em liberdade. Toda conduta está relacionada de alguma forma com a obtenção de comida,
bebida, satisfação sexual, alívio de tensões ou divertimento. Em uma única palavra:
recompensas.
Os sistemas de recompensas estão codificados no mais profundo de cada cérebro. Eles é que
dão o colorido emocional que a vida tem que ter. Quando tal não ocorre, o dia e tudo o que
nos cerca se transforma num quadro cinzento. É a depressão e com ela a apatia, o vazio e a
morte. Vida sem emoção é vida? Sim, mas não por muito tempo.
Se, por exemplo, dermos uma picada muito suave, indolor, sobre a pele de um animal, e
repetirmos esse estímulo várias vezes, sem mais conseqüências, isto é, que o estímulo não se
acompanhe de um dano (dor) ou de uma recompensa (prazer), ele termina por não reagir mais
a esse estímulo. Isso assinala que o animal se “habituou” ao estímulo. Todavia, se o estímulo
tiver uma conseqüência, seja dor ou prazer, então a resposta é potencializada, isto é, o animal
se “sensibiliza” diante desse estímulo e aumenta sua resposta ao invés de se adaptar. Ele passa
a guardar em sua memória o significado daquele evento. Tanto que, possivelmente para
sempre, evite (por dor) ou repita (por prazer) a conduta correspondente àqueles estímulos.
Passa, inclusive, a se afastar quando um evento prazeroso se torna doloroso, como cócegas em
excesso (Mora, 2003).

FUNCIONAMENTO DA CONSCIÊNCIA
Como funciona a consciência?
Enquanto um indivíduo focaliza a atenção em algo que lhe interessa durante mais de 60
milissegundos (tempo mínimo no qual o cérebro pode detectar algo e o guardar na memória,
sem contudo alcançar a consciência), um grupo de neurônios do córtex cerebral ativa-se
sincronicamente enquanto outros se inibem. Quando nosso foco de atenção muda para outro
objeto, outro grupo de neurônios é envolvido, entre os quais muitos do grupo anterior. Assim,
diferentes atos de atenção e de consciência podem recrutar muitos grupos diferentes de
neurônios, em múltiplas proporções, por todo o córtex cerebral e o tálamo.
Tononi e Edelman (citados por Mora, 2003) propõem uma metáfora para explicar a evolução e
o funcionamento do córtex cerebral, que passamos a descrever com modificações.
Imagine-se um conjunto musical peculiar, no qual cada músico (cada neurônio) tocasse
improvisando sobre as idéias musicais que lhe ocorrem e outras intuições que lhe aportam de
si próprio. E, ao mesmo tempo, tocasse baseando-se no som dos instrumentos dos outros
músicos. Enquanto não houvesse instrumentação conjunta, cada músico tocaria segundo seu
gosto pessoal e cada melodia, inicialmente, não estaria em sintonia com as dos outros músicos
da banda. Agora, imagine-se que os braços e as pernas dos músicos estejam conectados entre
si por milhares de fios muito finos, chamados “fios de atenção total ao outro”, de tal sorte que
20 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
seus movimentos e ações seriam rapidamente comunicados entre eles, marcando
simultaneamente os tempos de atuação de cada músico. Os “fios” que conectariam os
músicos, produziriam uma correlação dos sons emitidos por seus instrumentos. Assim, diante
dos esforços e dos sons independentes realizados por cada músico, surgiriam novos sons, mais
coesos e mais integrados. Esse processo de correlação também alteraria a próxima ação de
cada músico e, dessa forma, o processo se repetiria, com o surgimento de novos tons que
estariam cada vez mais correlacionados.
Ainda que não houvesse um maestro para reger ou coordenar esse grupo e cada músico
seguisse mantendo seu estilo e seu papel, a produção dos músicos, em seu conjunto, tenderia a
ser cada vez mais integrada e coordenada. Essa integração se inclinaria para um tipo de
música mutuamente coerente que cada músico, tocando sozinho, não poderia produzir. É isso
que ocorre numa apresentação de uma orquestra de jazz e no funcionamento do córtex
cerebral, em função da complexidade da tarefa a ser realizada.

DÁ PARA CONCLUIR?
Esses conhecimentos e reflexões nos levam a considerar a riqueza e a miséria do cérebro. Sua
riqueza está em nos permitir alcançar níveis de conhecimento insuspeitados. Deu-nos
conhecimentos sobre o modo como construímos o nosso mundo. Esse “mundo” vai além do
imediatismo da sobrevivência e nos permite criar o amor e a beleza, a arte e o conhecimento.
Essa é a grandeza do cérebro. Mas também com o conhecimento e a consciência se revelam a
miséria do cérebro, ao não nos permitir ver o futuro e nos deixar na agonia de nossa própria
finitude. O risco maior é que o cérebro, em seu afã desmedido de sobrevivência, acabe
destruindo os relacionamentos e o meio de que necessita para sobreviver. De tudo o que foi
dito, pensamos que se cada um usar o cérebro não só para sua própria sobrevivência, mas para
a sobrevivência das espécies e da Terra, poderemos deixar de ser o câncer no cérebro do
planeta, que o está levando aos desequilíbrios atuais, e nos tornaremos seus glóbulos brancos,
com a missão de lutar contra as constantes ameaças da poluição nos níveis individual,
relacional e ambiental.

21 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


CAPÍTULO II – A AUTO-ESTIMA SOB O ENFOQUE DA
INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL

Por Marcelo Machado de Albuquerque2

Uma viagem pelo território da minha infância na busca de um porquê. Na busca de uma
compreensão dos medos, dos traumas, da insegurança, da fobia e da timidez, pude identificar
que desde os primeiros anos de vida assisto com freqüência comentários e atitudes que
fortalecem no ser humano a crença e a supervalorização dos aspectos negativos.
Diante dos conceitos da Inteligência Multifocal pude observar neste comportamento o
fenômeno da Psicoadaptação, ou seja: capacidade de me adaptar psicologicamente à
realidade, mesmo que ela não ofereça qualidade de vida. Frente a este desafio buscamos
mecanismos para sobreviver perante às tensões psicológicas.
Quando o fenômeno da Psicoadaptação prevalece sobre a escolha interna e pessoal permite
nos visualizar que essa conduta e postura frente à vida não tem prazo de validade. O curioso é
que muitos acreditam que já vêm com defeito de fábrica, preconceitos (como: você é burro!
Você não faz nada corretamente! Duvido que irá conseguir ser alguém ou obter sucesso na
vida). Esta situação é também vivenciada no ambiente de sala de aula, quando professores
utilizam tais expressões ou deixam entender. Podemos então afirmar que estas atitudes
permeiam o nosso cotidiano.
Você já vivenciou isto? Pequenos detalhes mudam uma vida, pois estas informações
imprimem na memória imagens, pensamentos e emoções que passam no palco de nossa
mente. O registro de nossa memória é automático. Uma vez arquivados, os conteúdos
aparecerão assim que forem acessados. Isto é possível graças ao que se denomina de
fenômeno RAM.

ONDE ESTÁ O SEU FOCO?


A realidade é o que tomamos por verdadeiro. O que pensamos como verdadeiro é aquilo que
acreditamos. Se o nosso registro está contaminado por situações negativas – janelas killers,
nossa leitura do mundo torna-se distorcida. O que interpretamos baseia-se em nossas
percepções.
Qual é a sua percepção do mundo, das pessoas, da família, das relações?
Outro fenômeno que nos auxilia nessa compreensão é o da Janela da Memória, pois
representa uma região da memória onde podemos ancorar, fixar a leitura e construir
pensamentos. Se o ambiente aonde se fixar a leitura for saudável e ou positiva, poderá
construir idéias fascinantes. Se for doentia e ou negativa, poderemos produzir idéias drásticas.
Mais uma vez a opção é nossa, onde está o seu foco? Pense nisto!
Que tal mudar o foco! Onde estiver o seu foco estará a sua vida....
Já questionou sobre o seu papel no mundo?

2 Marcelo Machado de Albuquerque – Psicólogo, Especialista em Ciências Sociais- Consultor Organizacional- Professor
universitário,- Universo e Fasam, desenvolve atividades voltadas para Gestão de Pessoas- Auto-Estima e Desenvolvimento
Humano.
22 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
Se hoje nos encontramos aqui, amanhã seremos uma página virada na história daqueles que
são importantes para nós. Nosso corpo, essa ferramenta que possibilita o amadurecimento da
alma, é o depósito que, dependendo de nossas escolhas, pode-se tornar um túmulo frio e
solitário. Neste caso, estaremos saindo de cena.
No filme da nossa vida qual é o nosso papel?
Qual é o estilo desse filme? Comédia? Drama? Suspense?Terror?Aventura?
Se o filme da nossa vida é tão rápido, não deveríamos, construir e eleger as mais belas cenas?
As mais ricas experiências? Os mais fascinantes roteiros?
Será que o seu filme tem despertado o interesse dos clientes na locadora da vida?
Você locaria o filme da sua vida?
E você professor? Qual é o filme que você tem construído com os seus alunos? Tem focado
um enredo feliz? Tem agido como diretor das cenas que percebe a diversidade dos cenários?
Não faça do caos uma filosofia de vida, acredite nas possibilidades de mudanças.
Quando focamos no caos os nossos conceitos enfraquecem, minando a nossa criatividade. A
nossa crença fica fragilizada, nossa potencialidade que é nata fica esquecida.
O pior não é ouvir constantemente essas mensagens, mas sim, passar a acreditar nesses
conteúdos, que geram prejuízos emocionais avassaladores na nossa trajetória existencial.
Passamos a acreditar que somos deficientes e quanto maior for a crença nesses conteúdos,
maior será a nossa dependência, a nossa carência, o nosso comodismo e o enfraquecimento
diante do obstáculo, seja ele real ou imaginário.
Você já pensou em fazer uma revolução silenciosa?
Uma revolução inteligente. Uma revolução multifocal.
Comece a duvidar, criticar e determinar. Quem dá as cartas no jogo da vida? Das relações?
Quem participa das suas decisões e das suas escolhas?
Comece a questionar o seu script, o seu regimento interno, será que ele não está ultrapassado?
Veja quanta coisa à sua volta mudou desde a sua infância até o momento atual. Ainda
insistimos em permanecer estáticos, fixados e ancorados em uma fase de terror, violência,
envoltos na presença de pessoas e circunstâncias que não existem mais. Pare, pense e reflita:
quais são as leis que lhe governam? Será que você não está funcionando com um manual
velho, amarelado pelo tempo que não se adequa mais ao momento presente?
Nesse exato momento em que você está lendo este conteúdo, estabeleça um auto-diálogo e
responda:
Onde estão todos aqueles que lhe intimidam? Qual é o poder e a força que eles exercem sobre
você? Eles são reais, concretos, palpáveis ou imaginários? Quem escreve nas páginas do livro
de sua história?
Lembre-se: Você deve ser o autor e o protagonista da sua história.
Sabia que o registro em sua mente será mais privilegiado e terá mais chance de ser lido
quanto maior for o volume emocional envolvido em uma experiência?
É isso mesmo, já pensou na quantidade de experiências vividas por você desde os primeiros
dias de vida até o momento presente? Sem sombra de dúvidas resgatamos àquelas com maior
conteúdo emocional, como as que envolveram frustrações, medos, perdas e elogios. Veja a
importância de cuidar das nossas emoções, já que as mesmas determinam a qualidade do
nosso registro.

23 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Assuma uma atitude crítica e ativa diante dessas “forças” e “vozes” internas. Seu “eu” tem de
deixar de ser passivo.
Não terceirize a administração do “eu”, lembre-se de criticar, filtrar e selecionar melhor os
seus pensamentos.
Jamais permita que a sua inteligência, criatividade, competência, percepção e outras
habilidades, ferramentas essenciais que deveriam fomentar o seu crescimento e
desenvolvimento, sejam canalizadas para alimentar e favorecer o medo, a insegurança e todos
os seus sentimentos de baixa estima.
Descubra onde e com quem estão as rédeas da sua vida e assuma a responsabilidade de
determinar como você quer viver esta vida que é tão curta, bela, rica e extraordinária. Percebe
que nessa dinâmica de duvidar, criticar e determinar você pode mudar a direção elegendo
caminhos mais gratificantes e paisagens mais exuberantes.
Observando os obstáculos que surgem na sua trajetória existencial como você se percebe?
Quais são as ferramentas comportamentais que você elege diante dessas situações? Acredita
nos recursos internos disponíveis?
Você se acha incompetente?
Como você administra as suas crenças?
As crenças determinam como alguém irá experienciar a vida. Podendo ajudar ou atrapalhar.
Elas podem ser autoexaminadas e modificadas.
Desacreditado e desconhecedor da minha potencialidade e competência, passo gradativamente
a delegar a terceiros (família, governo, amigos, cônjuge e religião) a responsabilidade pela
minha qualidade e condução da minha vida. Há nessa atitude um enorme desperdício de
tempo, energia, dinheiro, prazer e realização, pois passo a crer que a solução vem de fora.
Assim sendo, não preciso fazer nada, a não ser esperar que algo de extraordinário aconteça lá
fora e transforme a minha vida.
As minhas respostas e ações que poderiam ser utilizadas na resolução de conflitos estão
enfraquecidas, diluídas, gerando resultados quase sempre ineficazes.

“Quando você olha para um copo metade cheia, metade vazia, tem
duas formas de encara-lo: pode achar que ele está quase vazio ou
pode apreciar a parcela cheia. Em geral, no trabalho com pessoas, é
comum vermos focando na metade vazia, que representa as suas
deficiências. A estratégia do focar na metade vazia, ou seja, no
problema, tem limites reais. A família, a escola, o governo, em
geral, focam nos problemas. Mas cada indivíduo precisa olhar para
a metade cheia do copo, ou seja, para as capacidades. É a estratégia
mais eficiente”. John Mcknight.

De modo geral, há uma idéia que povoa a mentalidade humana, assumida por cada indivíduo,
que não difere muito das instituições, sejam elas da família ou sociedade de um modo geral
Começo a mapear essas idéias ou a registrá-las sob o enfoque da teoria da Inteligência
Multifocal.
Um desses mapas foca no ser humano as suas necessidades, a natureza dos problemas, as
deficiências dos indivíduos. No exercício da minha profissão tenho convivido com esse
comportamento no consultório, na sala de aula e na convivência com os centros de ensinos.
24 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
Esse é um tipo de mapa que está na mente da maioria das famílias e o que é pior, dos
educadores. Os problemas são: o medo, a insegurança, a baixa estima, a angústia do
fracasso e da cobrança, a rejeição, o abuso infantil, a violência velada e declarada, a
ausência de contatos saudáveis e de encontros significativos na intimidade da família.
Estas situações são construídas no cotidiano escolar em variados aspectos. Provas, currículo,
relações professor-aluno, dificuldades de aprendizagem, afetos e desafetos. Enfim situações
que contribuem para consolidar oscilações ente alta e baixa auto-estima. Situações estas que
são deflagradas em grande parte por posturas profissionais do professor gerando perdas e
ganhos, carências e excessos.
Enfocando em especial no mapa de carências, observemos algumas conseqüências
inesperadas:
Primeira: A capacidade de se adaptar, ou seja, a psicoadaptação nos visita com a seguinte
mensagem : De tanto ouvir da família, inicialmente, e a sociedade, posteriormente sobre as
suas carências e deficiências, muitas vezes começamos acreditar apenas que somos carentes e
deficientes. Na medida em que cremos nessa idéia, nos tornamos pessoas dependentes.
Segundo: Vamos falar sobre um comportamento que tende a destruir as expectativas de
crescimento e esperanças de uma vida melhor.Isso acontece quando acionamos as janelas da
memória responsáveis pelos nossos arquivos que contém uma infinidade de informações
presentes no nosso córtex cerebral que podem ser obsessivas (geram idéias fixas), janelas
antecipatórias (geram os pensamentos sobre o amanhã), janelas da baixa auto-estima e timidez
(geram transtorno de auto-imagem e preocupações excessivas com a opinião dos outros).
Levando-nos a acreditar e a dizer: eu sou carente, eu preciso de pessoas e instituições que
possam me consertar. Assim concluímos que não temos forças suficientes, o que enfraquece a
nossa ação.
Terceiro: é que essa postura reforça a idéia de que, para sair dessa condição é necessário um
acontecimento externo do tipo: alguém virá para salvar-me, alguém virá para consertar a
minha vida, alguém virá para resolver os meus problemas. Terceirizamos a mudança,
delegamos o poder, as rédeas do nosso destino as instituições e pessoas que julgamos em
condições melhores do que as nossas para administrar as nossas vidas.
Quarto: Em que você acredita? Nem sempre nós sabemos em que acreditamos ou vivemos
o que dizemos acreditar. É que esse mapa de necessidades normalmente acaba sendo
canalizado em atenção, energia, inteligência, tempo e dinheiro fluindo para profissionais e
programas que vão consertar pessoas, ao invés de dinheiro para construir sobre os recursos
existentes na pessoa. Essa é a falha do pensamento positivo, pouco ou quase nada adianta
colar adesivos em todos os espelhos da casa dizendo “eu sou feliz de ser eu”, posso entoar
isto todos os dias na frente do espelho e ainda assim não experimentar os significados. A razão
pela qual não levará você ao outro lado da margem do “eu não sei” para uma experiência real
é porque você já está lá experienciando alguma outra coisa. Talvez você tenha vindo com o
bilhete da passagem carimbado “nada me faz feliz”. Esta é a real crença que está por baixo,
sabotando todas as afirmações positivas.
Quinto: Assumindo o papel de patrocinadores do caos, acabamos dando uma
recompensa ao fracasso. Nossas atitudes tendem a favorecer a manutenção de determinados
comportamentos que incentivam o comodismo, a dependência, a ignorância, o atraso, a fome,
a miséria. Exercemos o papel de patrocinadores das necessidades, das fraquezas e das
limitações. Quanto mais superproteção, assistencialismo e dinheiro fluem, mais necessidades
criamos e reificamos. Esta talvez seja a conseqüência mais negativa.
Finalmente esse registro de necessidades tem o efeito de criar a desesperança, o desespero. As
pessoas começam a achar que não têm dinheiro, são carentes e vêem os profissionais

25 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


recebendo dinheiro para consertá-las. Assim, as pessoas não mudam, pois ninguém nunca viu
nenhuma pessoa mudar com dinheiro aplicado em patrocinar as suas deficiências.
Como é negativamente poderoso este registro! Reforça as deficiências como sendo o mais
importante.
Há naturalmente um outro mapa, e este mapa é o mapa das competências. Não que o mapa das
necessidades não seja real ou verdadeiro, mas há outro mapa real.
Quando analisamos essas histórias, descobrimos que existem inúmeros recursos dentro das
pessoas para melhorar as coisas por conta própria. Esses recursos são as competências
inerentes a cada um que se apresentam como ingredientes para a construção de uma vida
melhor.
Vamos refletir sobre esses dois mapas: um de carências, com conseqüências muito negativas e
outro mapa em torno do que se pode dizer: é assim que as coisas mudam. É assim que
mudou porque o foco não estava nas necessidades, e sim nas competências.
Outro foco importante é que, o motivo pelo qual o crescimento e desenvolvimento acontecem,
quando se focaliza em competências é porque ninguém pode fazer nada com as necessidades
ou carências. Uma necessidade não pode lidar com outra necessidade. Criatividade,
inteligência, vontade, é o que nós temos para lidar com necessidades. É por isso que é tão
importante focalizar nas competências.
Uma auto-estima saudável é capaz de estabelecer relacionamentos fortes e significativos,
enquanto uma auto-estima frágil tem poucas conexões e relacionamentos satisfatórios.
Outro foco saudável: desenvolvemos mais quando o foco inicial é sobre o que temos de
melhor; sobre o nosso próprio valor e as nossas habilidades.
Não sabemos do que necessitamos enquanto não soubermos o que temos. Mudanças começam
de dentro para fora em um processo às vezes lento, porque cada ser humano tem o seu tempo,
e o seu momento.
Se estamos vivendo neste planeta para sermos felizes, por que ainda não somos?
Os modelos de felicidade que nos foram oferecidos não são nossos, são heranças dos nossos
antepassados, de uma geração que quer a qualquer custo, consciente e inconscientemente, nos
imprimir via convivência com os nossos pais, sociedade, cultura e religião. Vamos
assimilando gradativa ou aceleradamente as regras, os conceitos, à definição do certo e errado,
do belo e asqueroso, do positivo e negativo.
Parece muito cômodo. Basta chegar nesse mundo e se encaixar na estrutura que foi
previamente moldada exclusivamente para cada um de nós, e quanto mais nos parecermos
com o modelo que aí está que chamamos de “educação” melhor e mais “saudável” será a
nossa convivência.
O que nos faz singular, único, ímpar não é valorizado. Não somos considerados em nossa
essência. Os modelos estabelecidos pela sociedade nem sempre oportunizam a manifestação
genuína do que somos, pensamos e acreditamos. O pensar diferente incomoda, ameaça a Paz
vigente o que impede o aparecimento do nosso Eu.
Só o reexame dos velhos padrões absorvidos na infância nos fará abandonar as máscaras que
usamos. Aos poucos verificamos, para a nossa surpresa, que elas já não tem “valor de
sobrevivência”. Na verdade os outros gostam muito mais de nós sem elas, pois a
autenticidade é cativante.
Cada ser humano, à sua maneira, busca seu caminho de desenvolvimento. Temos somente que
aprender a compreendê-lo. Nós nascemos para realizar sonhos, não percamos a nossa
capacidade de sonhar! Já não somos mais quem fomos ontem. Mudar as vezes significa
26 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
colocar em movimento situações que parecem estagnadas. Certezas internas que podem ser
lendas e que podem ser revistas, situações externas que talvez se modifiquem.
Precisamos identificar o que significa ser feliz para nós? Devemos estar abertos, receptivos,
refletir sobre as nossas atitudes, nossos sonhos e entrar em contato com a nossa essência e
descobrir quem somos realmente.
Qual é a nossa natureza, nossas qualidades, nossos dons, nossos desafios a pagar o preço de
criar atitudes que favoreçam esse auto-encontro permitindo-se o silêncio interior, a
introspecção, momentos de autoconhecimento e esclarecimento. Criar espaços para a leitura,
estudo, aprendizagem e meditação, pois ignorar e ignorar-se é pura alienação e escravidão.
Superar o estado egocêntrico, para tornar-se útil socialmente, caracteriza o rompimento com
círculo familiar da infância e abre-o à comunidade, que é a grande escola da vida.
Incrível o que somos capazes de fazer quando resgatamos em nós, a capacidade de sonhar, de
voltar acreditar nas nossas possibilidades. Parece que conseguimos ressuscitar aquele gigante
adormecido e esquecido, fruto do nosso comodismo e da descrença na nossa força de operar
mudança nos mobilizando a fazer muito mais que temos realizado até então.
Começo a acreditar nos meus recursos pessoais que sempre estiveram presentes só que
engavetados, sinto que chegou o momento de acessá-los e explorá-los ao máximo.
Se a felicidade pode ser pensada e repensada de dentro pra fora, todos os espaços são
educativos no sentido de contribuírem para a formação dos indivíduos e portanto de interferir
em nossas escolhas. Como as organizações se tornam espaços de formação dos indivíduos?
Como nossa felicidade poderá ser construída e ou cerceada mediante os vínculos estabelecidos
nas organizações? Estas e outras questões serão pontuadas no capítulo a seguir.

27 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


CAPÍTULO III – A INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL NO
PROCESSO DA APRENDIZAGEM DE ADULTOS
Por Lúcia Kratz3

Os professores fascinantes transformam a informação em


conhecimento e o conhecimento em experiência. Sabem que
apenas a experiência é registrada de maneira privilegiada nos
solos da memória, e somente ela cria avenidas na memória
capazes de transformar a personalidade.
(Augusto Jorge Cury)

O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
O que é aprender? Como se dá esse processo? O que a inteligência multifocal tem a ver com a
aprendizagem? Você sabe? Estas e outras perguntas necessitam de respostas, porém muitas
delas ainda possuem um caminho longo a percorrer antes que se chegue a uma conclusão
produtiva específica. Para o atual processo de ensino-aprendizagem alguns autores apresentam
propostas tidas como “inovadoras” e que revolucionam a visão tradicional do ensino. Dentre
esses autores temos Dryden e Vos que diz:

“Algumas das novas técnicas recebem uma série de nomes: sugestopedia,


programação neuroliguística e aprendizagem acelerada integrativa.
Entretanto, as melhores combinam três coisas: são divertidas, rápidas e
satisfatórias. E as melhores envolvem relaxamento, ação estimulação, emoção
e prazer” (Dryden & Vos, 1996: 261).

Uma coisa é certa, a aprendizagem, no atual contexto, deve ser dinâmica, eficiente e,
principalmente, rápida, dado ao volume de informações oferecidas pelo ambiente e a
constante pressão sócio-econômica. Segundo Cury, a arte da dúvida é um pressuposto básico
para que haja conhecimento. Neste sentido, com o volume de informações e também pela sua
própria mutabilidade, temos que estar prontos para uma crítica constante de todos os
conhecimentos e estimular esta idéia nos alunos é a base na busca de um ser crítico e gestor de
sua história. Machado de Assis afirmava que a "palavra puxa palavra, uma idéia, traz a outra,
e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a
natureza compôs as sua espécies."
Os profissionais do ensino necessitam em todo o tempo buscar o conhecimento. Porém a
totalidade e amplitude do mesmo e o volume de informações sobre um determinado assunto
vem crescendo e se modificando de forma exponencial. Portanto, na busca da aprendizagem é
preciso praticidade, constante e permanente, transformando o nosso modo de pensar e agir,
principalmente, no nosso dia-a-dia. O aprendizado deve ser efetivo e aplicável à realidade,
buscando transformá-la concretamente. Aprender, portanto pode ser entendido como uma
mudança efetiva de nossa forma de ver e enxergar um determinado fato ou situação, através

3- Graduada em Administração pela UCG; Professora e Coordenadora dos Cursos de Administração na Universidade Salgado
de Oliveira - GO; Mestre em Administração pela CNEC/FACECA - MG, Especialista em Gestão de Negócios pela UCG;
Especialista em Consultoria e Coordenação de Grupos pela UCG/SOBRAP; Especializanda em Psicanálise e Inteligência
Multifocal pela Fac. Michelangelo-DF; Especializanda em Docência pela UNIVERSO-GO; Consultora Organizacional na
área de Recursos Humanos e Administração Geral.
28 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
das informações que estamos recebendo do meio. Sem nos esquecermos, entretanto, da arte da
dúvida, como já foi dito anteriormente para não bloquearmos o desenvolvimento do
pensamento de nossos alunos. A final, “o principal é fazer história, não escrevê-la”, como
afirma Bismark, chanceler unificador da Alemanha e príncipe alemão que viveu entre 1815 a
1898.
Harmonizar os fatores que envolvem o processo de aprendizado, de forma a estimulá-lo em
todas as dimensões de sua percepção, se dá quando buscamos um ambiente agradável e
propício para o aprendizado, estas e outras idéias serão aprofundadas no capítulo XVIII que
fala da afetividade no processo de ensino-aprendizagem. Um facilitador que estimule os
participantes buscando desenvolver um processo de aprendizagem adequado, proporciona
uma melhor apreensão das informações que se pretende repassar. E, para que não se percam
os conhecimentos com o tempo, as informações apreendidas e, a sua aplicabilidade na
realidade do aluno, devemos melhorar o processo de significação destas informações. Neste
momento, estamos adentrando ao mundo da Inteligência Multifocal, que tem como enfoque
entender o processo dos registros da memória e de compreender a forma como usamos estes
registros. Antes de aprofundarmos neste assunto iremos conversar um pouco sobre a
andragogia. Você sabe o que é? É o processo de aprendizagem dos adultos.

A APRENDIZAGEM NA ANDRAGOGIA E A INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL


Será que os adultos aprendem diferente das crianças? Diferente, talvez não, mas com uma
dinâmica diferenciada, sim. Quando se fala em aprendizagem de adultos é importante
observar qual o seu objetivo perante o conhecimento e a própria sociedade. No novo contexto
educacional, o facilitador deve assumir uma postura de orientador e motivador do aluno,
gerando um ambiente propício para a pesquisa e a construção do conhecimento:

“(...). Este processo produtivo começa do começo, ou seja, começa pela


cópia, pela escuta, pelo seguimento de ritos introdutórios, mas precisa evoluir
para a autonomia. Se educação é na essência emancipação, cabe fazer
acontecer, não apenas acontecer. Educação deve fundamentar a capacidade de
produzir e participar, não restringir-se ao discípulo, que ouve, toma nota, faz
prova, copia, sobretudo ‘cola’ ”. (Demo, 1993: 130)

Demo (1993:132) apresenta que “a produtividade, centrada na elaboração própria, é


representativa da atitude ativa, construtiva, confrontadora, compatível com a noção de sujeito
histórico crítico e criativo”. Com isso, apresenta que o orientador/facilitador deve ser capaz
de:
✓ dinamizar o ambiente acadêmico também em termos práticos – quando buscamos
dinamizar o ambiente estamos, na teoria multifocal, possibilitando que vários fatores
estimulem os gatilhos da memória e iniciem o auto-fluxo criando novas idéias e
pensamentos que serão melhor armazenados na memória do aluno.
✓ dominar os recursos modernos, tais como as instrumentações eletrônicas, e buscar
consolidar tais competências – estes fatores possibilitaram apresentarmos estímulos
emocionais durante o processo de ensino-aprendizagem, utilizando os vários sentidos
dos alunos;
✓ ter capacidade laboratorial, experimental, ou seja, de se renovar de acordo com as
inovações – o professor deve buscar estar antenado com a tecnologia para se colocar
no mundo de seus aprendizes;
29 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
✓ motivar a pesquisa – buscar a crítica o pensamento dialético, quando falamos de
inteligência multifocal, é fundamental para a construção de novos pensamentos e
aprendizados;
✓ ter capacidade de integrar o passado e o futuro, dinamizando esse elo evolutivo –
que, no caso da teoria da inteligência multifocal, reside no resgate do conhecimento
intrepretado, ou seja, nas experiências vividas anteriormente pelo aluno e em sua
capacidade de projetar seu futuro.
A aula tem como objetivo, também, o repasse de informações e deve servir somente como
gancho para a produção de novas idéias e conceitos demandadas pela sociedade. Portanto,
segundo Demo (1993:136):
✓ a vida acadêmica se faz no laboratório, onde todos pesquisam, experimentam, criam
ou, pelo menos, buscam criar, ainda que se comece sempre pela recriação;
✓ o importante não é escutar a cópia e ficar com a cópia da cópia, mas construir a
elaboração própria, para, superada a condição de discípulo, tornar-se agentes
transformador, tornar-se mestre;
✓ essencial é construir uma programação total, que os participantes sejam desafiados a
produzir; seminários – desde que não compartam apenas a ignorância acumulada –
são preferíveis a aula, ao exigirem trabalho, exposição, contribuição próprios;
✓ biblioteca renovada e atualizada é fundamental para o facilitador produtivo;
✓ instrumentos eletrônicos devem estar disponíveis para o facilitador para acompanhar
a evolução do mercado;
✓ a “autoridade” do facilitador deve provir da competência em termos de produção
própria;
✓ os facilitadores devem rever seus conceitos sobre ensinar e o processo de
aprendizado, arraigados pela sua própria realidade educacional.
A que estas afirmações nos remetem? Você concorda com elas? Uma coisa é certa, o atual
processo de ensino, que assistimos na grande maioria das universidades e faculdades atuais,
está na contramão das necessidades contemporâneas, que nos exigem atitude, criatividade e,
sobretudo, pensar diferente, com inovação. Nietzsche afirmava que “você precisa de uma alma
caótica para deixar nascer um bailarino”, se deseja ser criativo e inovador deve buscar a
angustia do pensar dialético.
Masetto (1992: 22-25), um dos maiores entendidos de Didática do Ensino Superior no Brasil,
realizou vários estudos sobre a educação do adulto e afirma que os facilitadores do processo
de aprendizagem devem se preocupar com seis etapas quando este está organizando um
momento de aprendizagem, são elas:
O momento do planejamento do curso – O planejamento nos remete ao futuro, a busca de
um objetivo. Quando estamos planejando uma aula devemos ter em mente os resultados
almejados. Para alcançarmos estes resultados deve-se responder a algumas questões como:
Quando será realizado, no início do semestre, no meio, no final? Estou levando em
consideração as expectativas, problemas e os interesses dos possíveis participantes? O curso
apresentou-se de forma flexível? Estou garantindo uma seqüência lógica dos conteúdos? Que
tipo de instrumento pretende utilizar para potencializar a relação entre participante-facilitador?
Se o planejamento foi inadequado e desfocado com relação aos objetivos pretendidos,
certamente quando for aplicado gerará resultados também inadequados. Portanto, devemos ter
muito cuidado neste momento, pois poderemos investir muito esforço para alcançarmos
resultados não desejados.

30 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


O momento da definição dos conteúdos - Para melhor selecionarmos de forma adequada os
conteúdos de um determinado curso devemos nos fazer, também, algumas perguntas como:
Os assuntos que pretendemos trabalhar são de interesse dos participantes? Estes
conhecimentos são úteis aos participantes? Os temas a se trabalhar relacionaram-se com os
conhecimentos anteriores dos participantes? Que tipo de debates entre facilitadores e
participantes podem ocorrer para que haja troca de experiências? Responder a estas questões
nos remete a um dimensionamento da amplitude e profundidade do campo cognitivo que
pretendemos.
Outro momento é o da seleção de estratégias que serão utilizadas durante o processo de
aprendizagem – Neste sentido, escolher as estratégias adequadas pode fazer grande diferença
no processo de aprendizagem. Portanto, devemos nos perguntar se: Quando elas forem
utilizadas e aplicadas estas se darão de formas variadas? Estarão propiciando a integração dos
participantes? Estão incentivando a participação “ativa” dos integrantes? Estão estimulando a
co-responsabilidade no processo de aprendizagem?
Outro momento é o da análise sobre o clima em sala de aula - Está é uma etapa que pode
ocorrer durante o processo ou após sua realização. Para podermos aprender com o processo e
buscar melhorias no mesmo, devemos no perguntar se: O processo se deu em um ambiente
aberto, onde o participante pôde questionar e ser respeitado? O facilitador trabalhou em clima
descontraído e na autoritário? Foi criado um ambiente participativo, relacionando a teoria à
prática? O clima em sala de aula é fundamental para que o processo de ensino-aprendizagem
ocorra, principalmente quando falamos de andragogia. Quando o aluno não participa e não se
sente integrado e motivado com a aula este desvia suas atenções do objeto de estudo e,
conseqüentemente, não irá privilegiar os registros relacionados com o momento do
aprendizado.
O momento do processo de avaliação - Este momento, também, se dará, principalmente, no
pós-aula e deverá responder se: O processo visou identificar o que o participante aprendeu?
Foi realizado ‘feedback’ imediato, buscando sua correção durante o processo de
aprendizagem? Foi um processo contínuo? Expressou comentários e explicações, quando
ocorreram dúvidas? Foi percebido, pelo aluno e pelo facilitador, como uma grande
oportunidade de aprender? Estas respostas nos darão indicativos se o aluno se motivou ou não
no momento do aprendizado.
Outro momento importantíssimo é o de avaliar as próprias características do facilitador
- Fazer uma auto-avaliação, no caso do professor, nunca é muito simples, porém se este deseja
um desenvolvimento e um crescimento profissional, principalmente, deve se perguntar: As
minhas informações foram reflexas de um discurso seguido de ações coerentes? Apresentaram
abertura para críticas e novas propostas? Possuíam competência específica na área em que os
alunos atuam? Eu possuo competência didática? Fiz um discurso com clareza e objetividade
na transmissão de informações? Fui preocupado com o participante e seus interesses?
Busquei incentivar a participação e tive capacidade de coordenação das atividades? Propiciei
um relacionamento pessoal e amigo? Tenho paixão pela docência?
Como pode ser percebido, não é simples ensinar, principalmente quando estamos lidando com
adultos. Dessa forma, para se criar uma condição favorável ao aprendizado, são necessários:
motivação para possível mudança de comportamento; consciência da inadequação de
determinados comportamentos que desenvolvemos atualmente; clareza quanto aos
comportamentos exigidos pelo mercado e pela sociedade em geral; quais as oportunidades de
se praticar e desenvolver estes comportamentos desejados; se proporcionem momentos de
reforço em resposta à atuação correta realizada pelo aluno; e que ocorra a interdisciplinaridade
na busca da integração dos conhecimentos fragmentados.

31 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Quando analisamos o processo de aprendizagem sob a ótica da inteligência multifocal
podemos conceber que, mais do que nunca, a emoção deverá fazer parte deste novo cenário.
Por que? É muito simples, pois se associarmos o fenômeno do registro da memória,
denominado nesta teoria como o processo RAM, e associarmos a este o papel da emoção na
qualidade do registro destas novas informações, o que você acha que poderemos ter? Segundo
esta teoria, teremos uma maior qualidade e acessibilidade destas informações no futuro.
O processo de aprendizagem do adulto se dará de forma mais efetiva quanto for:
✓ promovida a sua participação;
✓ valorizadas a sua experiência e as suas várias contribuições;
✓ explicados os significados das coisas;
✓ definidos claramente os objetivos e as metas de cada atividade;
✓ estabelecidos os recursos adequados, eficientes e avaliáveis;
✓ criado um sistema de ‘feedback’ contínuo;
✓ desenvolvida uma reflexão crítica;
✓ estabelecido um contrato psicológico com o grupo;
✓ adaptado o comportamento do facilitador a um processo de ensino próprio de
adultos. (Masetto,1992: 83-94)
O papel do orientador na andragogia é, portanto, bem diferente do esperado nos demais níveis
educacionais e requer um modelo de comportamento que precisa ser aceito pelos facilitadores
e participantes, que vêm, em sua grande maioria, do processo em que o facilitador repassa e o
participante aprende. “Nunca desencoraje ninguém que continuamente faz progresso, não
importa quão devagar” dizia o filósofo Platão que nos ensina a valorizar a diversidade e a
complexidade do processo de ensino-aprendizagem. É preciso que o aprendiz participante saia
da platéia e seja autor de sua história, construindo coletivamente o conhecimento.
Entender o processo de dinâmica de um determinado grupo, como o da sala de aula, é
começar a se relacionar de forma racional e produtiva fomentando o aprendizado. O processo
de dinâmica de um grupo pode ser considerado uma forma de integração, ou melhor, de
auxílio, quando queremos utilizar as técnicas didáticas visando um aprendizado mais efetivo e
eficaz. Como foi dito anteriormente, quando o participante tem a oportunidade de viver em
sala de aula o conhecimento, possibilita-se uma experimentação da teoria aplicada, gerando
um aprendizado mais duradouro e concreto para a realidade dos adultos.
“Estamos vivendo, no mundo de hoje, em uma sociedade tão dinâmica e
complexa, que a Escola passou a assumir novas responsabilidades e funções.
As rápidas e freqüentes modificações da vida atual, causadas, em três partes,
pelos grandes acontecimentos de repercussão mundial, criaram a necessidade
de um novo tipo de ensino. Assim, surgiram tendências e orientações através
de diferentes doutrinas pedagógicas, em função da própria evolução da
Sociologia, Filosofia e Psicologia, dando origem a um processo de renovação,
que vem tomando grande impulso desde o princípio deste século, daí
surgindo às idéias de ensino renovado”.(Alcântara, 1973: 11).
A aula vivencial, também conhecida como educação de laboratório, facilita o aprendizado e
possibilita as mudanças e o dinamismo encontrados no contexto atual. A educação de
laboratório surge, portanto, como uma das possibilidades de se obter um processo mais
dinâmico e efetivo, visando uma mudança no comportamento dos participantes, evidenciando,
portanto, o processo de aprendizagem.
“as mudanças pessoais podem abranger diferentes níveis de
32 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
aprendizagem: nível cognitivo (informações, conhecimentos e
compreensão intelectual); nível emocional (emoções e sentimentos,
gostos, preferências); nível atitudinal (percepções, conhecimentos,
emoções e predisposição para ação integrada); nível comportamental
(atuação e competência).” (Moscovici, 1998: 5)
Como nós mudamos? Que tipo de mudança necessitamos? Na verdade, dependendo do
processo de aprendizado que optamos podemos gerar mudanças em uma das dimensões ou em
todas elas. E nós necessitamos efetivar mudanças de forma integral e holística, ou seja, em
todas as suas dimensões. E, qual é o melhor tipo? Todos os tipos são importantes, não adianta
mudar em apenas uma dimensão.
Para que a mudança seja incorporada em nossa vida, devemos mudar em todas as dimensões.
O modelo atual de educação que presenciamos no nível universitário prioriza, principalmente,
para não dizer exclusivamente, o nível cognitivo. O nível emocional não se é esperado em um
ambiente universitário onde lidamos com a “ciência” e conceitos científicos. A educação de
um modo geral deseja que as mudanças a nível atitudinais sejam alcançadas, mas, na maioria
das vezes não são desenvolvidas e estimuladas.
A figura que segue apresenta e esclarece a escolha que podemos fazer de certos modelos e
técnicas que podem e devem ser utilizados de acordo com os objetivos e as condições
específicas de cada processo de ensino-aprendizagem. Em relação ao aprendizado do aluno,
dois fatores são fundamentais para a escolha do modelo que melhor atende às necessidades do
processo. São eles: a complexidade do conteúdo foco da aprendizagem e o nível de
capacidade de aprendizado do participante.

Figura 01: Relação entre variáveis da situação de aprendizagem e modelos de ensino.

COMPLEXO AUTODESENVOLVIMENTO
Modelos Humanísticos

Modelos Cognitivos
Conteúdo da ENSINO
Aprendizagem

Modelos Mecânicos
TREINAMENTO

SIMPLES BAIXA Capacidade do ALTA


Indivíduo

Fonte: MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal – Treinamento em grupo, 8.ª


edição, revisada e ampliada. Ed. José Olimpio: Rio de Janeiro, 1998, p. 6.

Assim, se o conteúdo da aprendizagem é mais complexo, pode-se optar por modelos


humanísticos. Em contrapartida, quanto mais fácil o conteúdo, mais o modelo a ser adotado
pode ser o mecânico, ou seja, o treinamento. Essas variáveis não são exatas e estáticas,
portanto, podem ser atendidas, ou melhor, dosadas pela escolha de um modelo de acordo com
as características específicas de cada indivíduo ou grupo, buscando sempre uma visão de que
não existem separações absolutas no processo humano do aprendizado.
Já em relação à experimentação ou à vivência do participante para a aprendizagem efetiva
poderá ser alcançada ao utilizarmos elementos da teoria multifocal, entre eles o gatilho da
33 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
memória. O adulto ao vivenciar experiências anteriores a partir do modelo de laboratório de
treinamento terá neste caráter experimental elementos da proposta do processo andragógico de
educação.

“A educação de laboratório preconiza a aprendizagem pela vivência global: a


exploração, o exame, a análise do evento em seu duplo aspecto, o objeto e o
sujeito. O enfoque puramente lógico, ou objetivo, tem sido, ultimamente,
contestado por artistas, filósofos e cientistas. As modernas teorias de
educação e administração mostram a tendência de atribuição de importância
crescente aos fatores emocionais e à criatividade na aprendizagem e na
produtividade, na liderança e na participação em grupo”.(Moscovici, 1998: 9)

É importante detectar qual nível de aprendizagem que se quer atingir, pois a educação de
laboratório visa desenvolver o nível atitudinal, enquanto a educação tradicional visa mais o
nível cognitivo. Não se pode, portanto fazer uma análise simplista ou linear sobre o processo
de ensino-aprendizagem, mas analisar as principais variáveis como a complexidade do
conteúdo e o nível da capacidade de aprendizagem do indivíduo, podendo gerar escolhas
metodológicas mais adequadas.
Mas, como desenvolver um laboratório de treinamento? Este deve ser desenvolvido buscando
atender às necessidades do aprendizado, dos indivíduos e/ou do grupo a que se destina. Pode
ser apresentado, de forma esquemática, como na figura abaixo:

Figura 05: Processo de aprendizagem em laboratório.

IV. Praticar / Utilizar I. Arriscar / Experimentar

III. Conhecer / Conscientizar II. Analisar

Fonte: MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal – Treinamento em grupo, 8.ª


edição, revisada e ampliada. Ed. José Olimpio: Rio de Janeiro, 1998, p. 11.

O que isso tudo quer dizer? Quer dizer que o processo vivencial de aprendizagem se
desenvolve a partir de quatro etapas seqüenciais e interdependentes, sendo elas:
✓ 1.ª Etapa: vivência do problema ou situação pelo indivíduo
O alcance desta etapa propõe acionar o gatilho da memória do aprendiz a partir de
mecanismos que levem o mesmo a relembrar de experiências vividas e acumuladas sobre
situações que lhe permitam a construção e/ou reconstrução de novas aprendizagens;
✓ 2.ª Etapa: análise e exame da experiência vivenciada

34 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Multifocalmente falando, seria a análise crítica dos resultados e do processo ou seja, duvidar
e criticar para decidir a aplicabilidade e continuidade dos elementos aprendidos e/ou
apreendidos.
✓ 3.ª Etapa: conceituação
Nesta etapa relaciona-se o vivenciado e a análise a partir dos conhecimentos teóricos. Desta
forma, a capacidade de decisão do aprendiz e de associação a partir das janelas da memória
subsidiará a sedimentação de novas estruturas conceituais.
✓ 4.ª Etapa: associação com a realidade do indivíduo
A aprendizagem significa mudança de comportamento, logo esta etapa propõe trazer os
conteúdos próximos à realidade do aprendiz afim de que haja um sentido maior para o mesmo,
bem como uma efetiva aplicabilidade do tema.
Como devemos utilizar metodologicamente estas etapas, sem alterar sua ordem? O mais
importante é que não nos esqueçamos de nenhuma delas. Para que o processo seja dinâmico e
flexível, é fundamental que se inverta a seqüência. Outro ponto importante e que devemos
ressaltar, é que não se pode generalizar este procedimento como o melhor procedimento
didático. Porém, possui alcance mais profundo e proporciona maiores possibilidades de
mudanças cognitivas, atitudinais/comportamentais, pois envolve a pessoa como um todo, nas
suas idéias, atitudes e sentimentos.
O que isso tudo tem a ver com a proposta multifocal? Como foi visto nos capítulos anteriores
e em especial na apresentação sobre a inteligência multifocal pode ser entendida como o
processo de construção da inteligência, que envolve a construção dos pensamentos, da
consciência existencial, da história intrapsíquica e da transformação da energia emocional e
motivacional.
Quando falamos em construção de pensamentos temos que compreender que as idéias devem
ser livres e que os pensamentos dependem da forma como interpretamos as idéias, da forma
como enxergamos a nossa verdade. Cada vez que pensamos desencadeamos cadeias de
pensamentos que partem do inconsciente e se tornam conscientes, porém de forma
involuntária. O nosso papel neste momento é o de criticar, o de gerenciar os pensamentos que
emergem de nosso inconsciente, para podermos utilizá-los de forma produtiva e positiva ao
nosso desenvolvimento ou para o desenvolvimento de nossos alunos. Afinal, “quando todos
pensam o mesmo, ninguém está pensando” falava Walter Lippmann.
Neste contexto me responda: Quando foi que você ficou incomodado com um pensamento
divergente de um colega? Como você reagiu? O que realmente é importante para que
possamos crescer e nos desenvolver? Devemos responder constantemente a estas perguntas,
pois o ser humano, na maioria das vezes, deseja que suas idéias sejam aceitas e acatadas. Você
é diferente?
E a consciência existencial? Como podemos entender este conceito? Podemos entendê-lo na
forma como nos percebemos no ambiente em que vivemos, de nossa identidade posicional da
personalidade. E a consciência de nossa capacidade de gerenciamento dos nossos
pensamentos, é o conhecimento de nosso mundo intrapsíquico. Para os pensadores da
Inteligência Multifocal (Cury: 2003), o “eu é gerado pela produção multifocal de cadeias
dialéticas e antidialéticas de pensamentos”. Mas, o que isso significa? Significa que o “eu” é
construído constantemente segundo as cadeias de pensamentos que produzimos, e que estas
cadeias são socialmente construídas e influenciadas pelos símbolos e imagens lingüísticas
construídas psicossocialmente, e que podem expressar fobias, prazeres, entre outras
expressões.
A história intrapsíquica, citada anteriormente, pode ser entendia como aquela que nós
construímos através da forma como enxergamos o mundo. Pensando assim, percebemos que a
35 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
verdade não existe, ela é criada por nós. Quando pensamos algo, pensamos de acordo com as
verdades que construímos sobre o certo e o errado, sobre o feio e o belo, assim por diante.
Todo o pensamento é influenciado por estes momentos que imaginamos ter ocorrido. Esta
afirmativa é totalmente revolucionária, você não acha?
Se a verdade é a nossa interpretação da verdade, e a interpretação do outro também é a sua
verdade, e se podemos interpretar de várias maneiras o mesmo fato, podemos, portanto, ter
várias verdades sobre um mesmo assunto. Esta informação aliada à possibilidade de
gerenciamento de nosso pensamento, nos traz possibilidades de mudarmos nossas convicções
e percepções sobre o mundo e, também, sobre o próprio conhecimento.
Por último, podemos citar a possibilidade de transformação da energia emocional em
motivacional, que na Inteligência Multifocal, é entendida como a co-interferência entre a
psique e o cérebro. Este fenômeno se dá através das janelas de transmutação psíquico-
cerebrais e/ou cérebro-psíquicas. Esta comunicação transforma estímulos internos e externos
em fenômenos psíquicos e/ou físicos.
Quando analisamos o processo de aprendizagem vivencial, com a inteligência multifocal,
encontramos um elemento integrador fundamental e que explica a eficácia da educação de
laboratório para os adultos. Que elemento é esse? É o estímulo que o aluno recebe ao associar
emoção e conhecimento. Quando estes elementos interagem de forma significativa, o cérebro
irá gerar elementos físico-químico, abrindo assim, janelas de transmutação, que associadas aos
estímulos intrapsíquicos gerará a história intrapsíquica do aluno. Neste momento, o aluno
gerará um registro de memória privilegiado que poderá ser acessado com mais facilidade
quando for demandado.
Para melhor compreender este processo, buscaremos aprofundar no processo de dinâmica de
grupo, analisando sua importância e sua interdependência com a inteligência multifocal.

DINÂMICA DO GRUPO: PERSPECTIVA PAR UMA APRENDIZAGEM MULTIFOCAL


Por que os grupos se formam? Qual a necessidade do ser humano de fazer as coisas
coletivamente? O homem é um ser gregário. Um dos fatores que pode levar à formação de um
grupo é a necessidade de aprender. Esta necessidade motiva à formação de grupos de
aprendizagem que tenham objetivos comuns. O grupo trabalha visando atender a necessidades
específicas e a não declaradas. Portanto, o facilitador deve ter em mente os motivos que levam
cada indivíduo a participar de um determinado grupo. Para que isso aconteça, faz-se
necessário indagar alguns itens de motivação. Para que se possa melhor compreender suas
necessidades, sendo elas:
✓ por que alguns membros se entregam mais às atividades de grupo que outros?
✓ o indivíduo está orgulhoso da organização de seu grupo?
✓ ele gosta de que os outros saibam que ele pertence a esse grupo?
✓ tem ele um forte sentimento de solidariedade?
✓ quando fala no grupo, usa o termo nós, nosso grupo?
✓ ele está preocupado com o êxito ou o fracasso de seu grupo?

O resultado dessas perguntas reflete o comprometimento do indivíduo com o grupo. Em


alguns membros, pode-se perceber um envolvimento total e integral; em outros, conta-se com
uma participação marginal e descomprometida. Seu grau de integração, certamente, reproduz
a atmosfera social e psíquica do grupo com que está interagindo.
36 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
O grupo é estático ou dinâmico? O grupo evolui? Certamente é dinâmico e evolui. A evolução
da maturidade do grupo pode ser comparada ao desenvolvimento do ser humano, na infância,
adolescência e estado adulto. Na infância, o grupo está mais ligado ao líder e à sua orientação.
Na adolescência, o grupo busca a sua identidade, os conflitos surgem e os questionamentos
são constantes, há o desligamento do líder e o grupo começa a caminhar com suas próprias
pernas. Na maturidade, o grupo deve buscar a ação recíproca, ou seja, a troca e o
desenvolvimento conjunto e integrado. Ou seja, o professor/facilitador deve buscar apoiar o
grupo de acordo com o seu momento dando ao grupo os recursos necessários para que este
consiga, evoluir e buscar seus caminhos.
A primeira impressão de um programa de treinamento (autodesenvolvimento) é fundamental
para o seu sucesso. Normalmente, num programa novo, a resistência à mudança é fator que
contribui para a má impressão do novo processo. O líder deverá direcionar suas ações ao
progresso e à superação do medo. Medo esse que se dá de forma natural e em graus diferentes
dependendo da pessoa e do assunto tratado no momento. É claro que o alunos ou professor
que domina o conhecimento e o universo pretendido terá menos medo que algum que inicie
um projeto totalmente desconhecido. Os integrantes podem apresentar comportamentos de
fúria ou de ataque ao iniciarem uma determinada atividade e criar um clima favorável de ajuda
na superação desses comportamentos.

“Nesta fase inicial de formação de grupos, o indivíduo cria uma im-


postura, uma atitude artificializada, com dissociação no pensar, no sentir
e no agir. Deixa de assumir sua própria postura para atuar como se, com
comportamentos parcializados, dissociados, verdadeiras semicondutas. O
indivíduo passa a ser seu próprio ‘negativo’”. (Minicucci, 1997: 156).

Existem alguns problemas, segundo Minicucci, que retardam a maturidade do grupo. São eles:
os integrantes que não participam e os agressivos. Em relação aos que não participam, esses
apresentam, principalmente, falta de confiança nas próprias idéias, falta de interesse
emocional nos assuntos discutidos, falta de capacidade de expressão, incapacidade de pensar
com rapidez, meditação profunda das idéias antes de falar, uma atitude de observador à
margem do processo, timidez habitual, preocupação com problemas pessoais, temor à
rejeição, sentimento de superioridade, entre outros.
Os integrantes demasiadamente agressivos podem ser classificados em: participantes sinceros,
mas com impaciente desejo de ajudar o grupo; de conduta inconsciente, que possuem uma
necessidade sociológica de dominar a situação; e os deliberados, que possuem a finalidade de
gerenciar ou liderar o grupo.
Mas, o que é necessário para se trabalhar em grupo? É necessário aprender a conhecer as
etapas de aquisição de comportamento grupal. E são as seguintes as etapas desse processo:

“Desenvolvimento da percepção do outro; Papéis (roles) desempenhados;


Atitudes grupais; Mecanismos de resistência à atração efetiva;
Desenvolvimento do comportamentos de liderança; Compreensão dos
problemas de comunicação.” (Minicucci, 1997: 129).

Ainda, o aprendizado do trabalho de grupo depende e abrange valores/idéias, princípios,


atividades e sentimentos dos participantes. Aprender a trabalhar em grupo é a primeira meta
37 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
para o trabalho grupal. Quando se fala em aprendizado grupal, estamos falando de educação,
ou seja, de ensinar as pessoas a procederem de forma diferente e a desenvolverem a sua
capacidade adaptativa às novas realidades. O termo educação refere-se ao desenvolvimento de
habilidades de aprendizes.

“O indivíduo tem de experimentar, explorar, tentar errar, aprender, até que se


comporte adequadamente, e, para atingir esse desenvolvimento, conta com a
colaboração dos outros.” (Minicucci, 1997: 130).

O grupo de treinamento visa o aprimoramento das habilidades num processo de


aprendizagem, e o grupo de trabalho focaliza as tarefas e os alcances dos resultados almejados
através da solução de problemas pré-estabelecidos. Este projeto visa atuar como um
treinamento e não como na formação de um grupo de trabalho. O processo de treinamento
passa por etapas psicológicas definidas. São elas:
• insatisfação que gera um problema;
• escolha de novos comportamentos;
• prática e aplicação dos novos comportamentos;
• obtenção de indícios de resultados;
• generalização, aplicação e integração do conceito para o todo.
Quando pensamos em grupos de treinamentos, estamos buscando mudar a maneira de agir, de
pensar, de interagir e não de resolver problemas através de tarefas pré-determinadas. A técnica
pode ser percebida como uma das possibilidades para a formação almejada no nível
universitário.
Qual o grande desafio de um professor multifocal, o qual visa mudar o comportamento de
seus alunos? Porque precisamos entender esta dinâmica? Qual a importância destes
conhecimentos para um facilitador no nível universitário? Estas são perguntas que devemos
responder com muito cuidado e atenção.
Com relação ao desafio do professor, pode-se destacar que sua essência seria a busca de uma
metodologia de ensino que tenha uma amplitude maior que simplesmente trabalhar o
cognitivo, ou seja, o conhecimento. Mudar crenças e paradigmas que estão enraizados nos
pensamentos sobre o que é o mundo didático das universidades é buscar revolucionar este
meio. Muito se fala, porém pouco se pratica neste meio. As aulas são essencialmente
explanatórias e os alunos escutam em uma postura passiva de repasse de informações. Os
próprios alunos, quando submetidos a novas experiências, sentem-se desconfortáveis e
questionam a nova conduta. Entretanto, com o passar do tempo e com a insistência de alguns
professores estes, os alunos, percebem a diferença quando são de fato estimulados, quando são
instigados a fazer, a agir, a interagir.
Entender a dinâmica de um grupo é se flexibilizar, e buscar, no caso do professor, se adaptar
ao grupo, e não o contrário, como ocorre na maioria das vezes. Os alunos devem se adaptar
aos modelos do professor. Assim pensam boa parte dos professores e, até, de alunos no nível
universitário. Porém, na prática, quando o inverso ocorre se potencializam os resultados de
aprendizagem em questão. O professor passa a atender, de forma mais natural e flexível, as
necessidades dos alunos, e isso faz com que a motivação deste aflore e conseqüentemente o
interesse e a atenção se multiplique. Isto é um registro privilegiado de informações, como
proposto na perspectiva da Inteligência Multifocal.

38 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


A importância destes conhecimentos para o facilitador é clara. Se o objetivo do professor é o
aprendizado do aluno, conhecer esta dinâmica possibilitará fomentar esta meta, fazer com que
este conhecimento não seja efêmero, se perdendo no mundo do inconsciente e não mais
podendo ser acessado.
As informações precisam ser registradas e acessadas constantemente de forma produtiva e
efetiva, aplicável na vida diária do aluno, promovendo a tão desejada mudança de
comportamento. Afinal, não é isso que desejamos? São estas possibilidades que deverão
permear a prática pedagógica de um professor multifocal. A qualidade dos registros dependerá
da qualidade da emoção. Logo posturas equivocadas de professores poderão ao invés de
promover a aprendizagem, comprometer a mesma, interferindo em áreas diversas dos
indivíduos, entre elas, sua auto-estima.

39 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


CAPÍTULO IV – Organizações Multifocais: o repensar humano
frente aos desafios do mundo do trabalho
Por Aline Costa de Andrade 4
Lívia Costa de Andrade 5

(...) pesquisas feitas durante décadas sobre o que as pessoas mais


esperam de suas organizações mostraram sempre o dinheiro no quarto
ou quinto lugar da lista. O tratamento digno e respeitoso, a capacidade
de contribuir para o sucesso da organização, o sentimento de
participação sempre apareceram acima do dinheiro. Infelizmente, a
maioria dos líderes optou por não acreditar nas pesquisas.
(James C. Hunter)

No atual quadro da nossa sociedade, praticamente todo o processo produtivo provém de


organizações. O lugar em que o ser humano passa a maior parte do seu tempo, e de onde retira
os meios para sua sobrevivência, e mesmo seu desenvolvimento intelectual, é nas
organizações.
Mas nem sempre estas constituem um ambiente saudável o suficiente para se viver uma
grande parcela do tempo e para se desenvolver o relacionamento de co-dependência entre
patrões e funcionários, relacionamento este que define a produtividade de cada organização, e,
logo, o seu status no mercado de trabalho.
No processo histórico de “mecanização” da mão-de-obra humana, que gerou um certo
“atrofiamento” das mentes envolvidas neste processo, temos, hoje, um cenário organizacional
que prioriza a qualidade e a excelência voltadas ao cliente externo, tendo como objetivo maior
o lucro. Simultaneamente, o cliente interno, que nem é visto como cliente, é relegado a um
terceiro plano, como se não dependesse dele também, e acima de tudo, a qualidade e a
excelência que irão gerar lucros às organizações.
A valorização do ser humano, enquanto ser pensante, pulsante e emocional, ainda é muito
precária no ambiente organizacional. Este capítulo, portanto, traz alguns conceitos de
organização, suas variáveis, e o ideal das organizações multifocais, ideal este a ser almejado e
efetivado, humanizando assim estes espaços de convivência e troca contínua, e colaborando
para o desenvolvimento e aproveitamento do real potencial de cada indivíduo que compõe as
organizações.

Organizações: conceitos e variáveis de um mesmo cenário


Com certeza, quando se fala em organização, grande parte das pessoas têm uma noção sobre o
assunto, mesmo porque todas elas trabalham em alguma. Mas o que é, de fato, uma
organização?
O dicionário Aurélio (2001) define organização como “Associação ou instituição com
objetivos definidos”, ou ainda “Planejamento, preparo”. No Direito atual, entende-se que o
homem, apesar de ser dotado de capacidade jurídica, não consegue sozinho realizar grandes

4 Aline Costa Andrade, Graduação em Letras UNIVERSO, pós-graduanda em Docência Universitária, instrutora de cursos e
treinamentos de capacitação na empresa Crescimento RH, e na Câmara dos Dirigentes Lojistas de Goiânia.
5 Lívia Costa Andrade Pedagoga UCG, Especialista em Educação Infantil UCG, Especialista em Educação em Valores

Humanos UNIVERSO, pós-graduanda em Docência Universitária, professora universitária.

40 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


empreendimentos. Portanto, logo foi identificada uma grande necessidade de somar esforços,
de união com outros homens para a realização de determinados empreendimentos, o que, a
princípio, não é tão difícil, visto o homem ser caracteristicamente social. A personalização
destes grupos formados torna-os sujeitos a direitos e obrigações, e juridicamente, passam a ser
denominados Pessoas Jurídicas.
Estas Pessoas Jurídicas, ou organizações, agregam então recursos físicos e tecnológicos para
interações positivas e negativas de determinados objetivos, que seriam inatingíveis por meio
de uma pessoa apenas, o que reflete o espírito de sinergia que caracteriza o conceito de
organização, mas que, na realidade, é praticamente inexistente, pois o que prevalece ainda é o
jogo de interesses.
Traçando um breve histórico até os dias atuais, pode-se dizer que a expansão comercial, que
colaborou para o fim da sociedade medieval, ocasionou também a fundação de várias cidades
comerciais e industriais. Surgiu então, por volta do séc. XII, o comércio com os árabes e com
os vikings, e este comércio propiciou grande quantidade de mercadorias produzidas para a
exportação, e assim nasceram as grandes feiras que, no séc. XV, começaram a se transformar
em cidades comerciais (Hunt & Sherman, 1999). Com o surgimento dos mercadores-
capitalistas, que assumiram o controle sobre o processo produtivo, culminando na propriedade
das máquinas, instrumentos de trabalho e, até mesmo, dos locais onde a produção era
realizada, o trabalhador passou a vender apenas a sua força de trabalho, tornando-se mão-de-
obra.
O salário, segundo manuscritos de Karl Marx, passou a ser determinado “pela árdua luta entre
o capitalista e o trabalhador”. Ainda nas palavras de Marx (2001),
O sistema econômico atual reduz ao mesmo tempo o preço e a
remuneração do trabalho, aperfeiçoa o trabalhador e degrada o
homem. A indústria transformou-se em guerra e o comércio em
jogo. (...) O interesse desta classe (os que vivem do lucro) não
possui, assim, a mesma relação com o interesse geral da
sociedade (...)
E, através desta história, chegamos ao cenário organizacional atual, em que o trabalhador é
chamado de colaborador, e a busca da qualidade, com direito a treinamentos intensivos, é
constante. Mas.... será que alguma coisa mudou? Ou será que mudaram apenas as palavras e
denominações, e os objetivos e recursos utilizados ainda são os mesmos?
Vejamos os tipos de organizações que predominam nos dias de hoje. Existem tipos específicos
de organizações, como veremos a seguir. As pessoas jurídicas empresárias adotam a forma de
sociedade limitada (Ltda.) ou sociedade anônima (S/A) - (Coelho, 2002).
De acordo com os costumes contemporâneos, o novo Código Civil enuncia as seguintes
pessoas jurídicas: as associações, as sociedades, e as fundações.
As sociedades mercantis são regidas pelas leis comerciais, e têm finalidade lucrativa. As
associações não têm, obrigatoriamente, fins econômicos, sendo constituídas de agrupamentos
de indivíduos que se associam em torno de objetivo comum, integrando um ente autônomo e
capaz. Já as fundações são constituídas por um patrimônio destinado a determinado fim
sempre altruísta, e não existe nestas uma finalidade direta de lucro (Venosa, 2003).
Ainda segundo Venosa (2003), as corporações englobam as sociedades e associações, e nestas
os interesses são exclusivos dos sócios, que deliberam de forma autônoma sobre sua
destinação, podendo ainda alterar a finalidade social.

41 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Neste amplo cenário, composto por esta diversidade de organizações, a característica
predominante ainda é o objetivo ao lucro, à produção, aos resultados, que muitas vezes
justificam os meios equivocadamente utilizados, em uma visão, literalmente, maquiavélica. A
proposta conceitual sinérgica de organização não atende ao seu propósito, pois a real sinergia
requer o aproveitamento de potencialidades, o desenvolvimento de habilidades, a harmonia
entre a equipe, respeitando-se e aproveitando as diferenças e diversidades, através de uma
liderança justa e humanizadora, e de um ambiente propício a estes propósitos.
Portanto, a imagem da organização precisa estar estreitamente alinhada à prática, à filosofia da
empresa e à vivência diária de valores relevantes por parte dos diretores e colaboradores.
Ainda que a empresa tenha uma imagem ética, transparente, que respeita a diversidade, justa e
ambientalmente responsável, não será o suficiente se estes valores não se transformarem em
uma realidade dentro da organização, e se os colaboradores da mesma não mantiverem o foco,
devidamente estimulados por meio de um ambiente diferenciado e da valorização do seu
trabalho. E não há a menor possibilidade dos colaboradores se comprometerem com os
objetivos organizacionais e se manterem satisfeitos se não forem envolvidos de forma aberta e
inclusiva.
Investir na satisfação dos colaboradores que compõem as organizações não se limita a salários
e benefícios compatíveis com o mercado, ou até mesmo mais arrojados. O grande diferencial
está na proposta da empresa, na sinergia de valores, na coerência entre o discurso e a prática e
na crença de um futuro para a organização, futuro este em que os colaboradores tenham
oportunidades e condições de fazer parte.

As Instituições de Ensino sob um enfoque empresarial


Destacamos ainda, neste contexto as instituições de ensino, organizações voltadas,
teoricamente, para a formação, o ensino/aprendizagem e a capacitação profissional. Mas a
realidade destas instituições, ou, pelo menos, da grande maioria delas, reflete uma ditadura
intelectual, tão criticada pelo Dr. Augusto Cury. O ensino é imposto, muitas vezes com a
utilização de metodologias inapropriadas, sem o incentivo às perguntas e à crítica, e gerando
uma interpretação superficial e voltada para o que o “educador” deseja, anulando a
criatividade do educando.
O papel ideal de desenvolver pensadores originais, ou, “engenheiros de idéias” (Cury), está
longe do plano real.
Por um lado, as estratégias de ensino/aprendizagem deveriam superar o “monólogo”do
professor em sala de aula, que caracteriza a exposição tradicional, e que dificulta o
entendimento do estudante, para evidenciar que existem outras formas de se transmitir o
conteúdo e construir o conhecimento.
O envolvimento surge, então, como aspecto fundamental, que deve se apresentar em ambas as
partes: aluno e professor. Cabe ao docente assumir o papel de mediador (VYGOTSKY, 1998),
preparando e dirigindo as tarefas e atividades, facilitando, e não centralizando o processo de
ensino-aprendizagem. Estas atividades devem atender às características dos sujeitos que estão
construindo o conhecimento (público alvo destas organizações), além de levarem em
consideração os recursos disponíveis.

O maior agravante, neste contexto, é que estas instituições são responsáveis pela educação, em
um processo que deveria ser libertador, mas que, ao contrário, vem atrofiando as mentes que
deveriam estar em pleno processo de desenvolvimento.

42 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Outro aspecto relevante neste cenário, que se contrapõe ao ideal de educação e formação de
seres humanos, é o lado administrativo e financeiro destas organizações, que gerenciam os
colaboradores, os lucros e as possibilidades de investimento, e que nem sempre são geridos
por pessoas que partilham do ideal educacional.
Analisando estes dois aspectos, como conciliar desejos, realidades e possibilidades? Sob a
ótica multifocal, gerenciando idéias e atitudes, somos responsáveis por gerir nossa própria
história, nossos sonhos e transformá-los em realidade. Assim sendo se gestores e
colaboradores trabalharem em prol de diálogos francos e bem honestos, resultados melhores
podem ser atingidos, abrindo janelas construtoras e criadoras.
Será que temos consciência de que limitar um profissional da educação é paralisar o progresso
do mundo? Quantas vezes sonhamos com um mundo melhor, mais digno, mais honesto? Onde
está a chave para estas portas? A resposta a estas questões é tão clara que pode reverberar: Nas
Instituições de Ensino. Ou, usando maior especificidade, dentro das salas de aula, na
qualidade da relação entre educadores e educandos. Mas, para que isto se torne possível,
existe um pressuposto básico: a formação de um vínculo confiável entre a instituição, como
um todo, e o educando.
No momento, as instituições de ensino não estão atendendo nem ao cliente externo
(estudantes), que sai despreparado para enfrentar o mercado de trabalho, nem ao cliente
interno, ou colaboradores, pois, além da pressão em relação a normas e procedimentos muitas
vezes desnecessários, as condições de trabalho são altamente precárias, e, muitas vezes,
inapropriadas.
Além disso, o Projeto Político Pedagógico das Instituições de Ensino precisam contemplar
possibilidades que viabilizem a construção de uma nova educação, saindo da burocratização
excessiva e passando para o plano do concreto. O que queremos dizer com isto? Para que
possamos refletir: de que adianta tantos encargos operacionais, exigidos por gestores
despreparados, se o educador não tem possibilidade de criar, de executar suas criações, seus
projetos, ou seja, investir mais no estratégico e minimizar os operacionais?
Ao trabalhar com formação humana, o modelo (exemplo) é o ponto nevrálgico do processo.
Como formar seres autônomos, capazes de gerenciar seus pensamentos, de criarem suas
histórias, de transformarem o mundo, se lhes é apresentado um modelo que diz exatamente o
contrário? Um modelo em que ele percebe educadores despreparados, ou até preparados, mas
cerceados por um grande número de “chefes” que precisam aprovar isto, analisar aquilo e que
acabam por vetar grandes propostas em virtude de uma suposta economia que, em matéria de
humanidade, acaba por se tornar caríssima. Mas, eles não entendem este ideal....eles não são
capazes de avaliar o real CUSTO x BENEFÍCIO neste processo de castração.
As instituições de ensino precisam ser visionárias, comprometidas com novas propostas, com
novos paradigmas, que objetivem deixar o que é fraco e ruim de lado, passando a recriar o
mundo atual. Para tanto, faz-se necessário investir nos seus profissionais: os educadores,
coordenadores, diretores. Quando todos falarem a mesma “língua”, compartilhando o real
foco das instituições de ensino, que é a educação; quando a formação destes colaboradores for
contínua, não só do ponto de vista cognitivo, mas também do afetivo, social e humano;
quando isto acontecer, estas organizações atravessarão um novo limiar de realizações e
possibilidades. Um olhar multifocal deve adentrar estas instituições tão especiais, que são
responsáveis por transformar realidades.
A verdade é que: quanto mais doamos, mais recebemos em troca. Quando estas organizações
perceberem que quanto mais investirem em seu potencial humano (tanto em relação aos

43 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


educadores, quanto aos educandos) mais elas estarão investindo nelas mesmas, pois satisfação
gera rumores positivos, que se espalham, consolidando a força de sua marca.
Buscamos assiduamente relações harmoniosas, baseadas na aceitação incondicional e no
respeito. Relações não só familiares e afetivas, mas em toda dimensão da palavra, inclusive
relações profissionais que gerem energia positiva, satisfação, que nos tragam alegria em
executar nosso trabalho, da melhor forma possível. Neste sentido, repensar as organizações
sob o enfoque multifocal requer um desafio de posicionamento individual, que gere maior
engajamento sistêmico, saindo do micro para o macro, do local para o global, do “eu” para o
“nós”. E a educação é o locus que permite visualizar esta situação, e que possibilita esta
transformação.

Sob o “encanto” e o “desafio” do resgate da mente: as organizações sob a ótica da Teoria


Multifocal
Por que Inteligência Multifocal?
Como o próprio nome já diz, esta vertente abrange mais que apenas um aspecto da mente
humana, como por exemplo o fator emocional. É uma teoria que traz em si várias outras, que
em nossa realidade estão interligadas em vários campos (Psicologia, Filosofia, Educação...).
Esta teoria procura, de certa forma, integrar e contribuir para explicar as demais teorias,
trazendo assim, novos campos para as mesmas.
A inteligência humana agrega em si tantos fatores, ou faces, diferenciados que, se buscarmos
apenas um, não conseguiremos entendê-lo bem em sua amplitude.
Vivemos na busca de respostas para certas indagações, que no processo multifocal de
conhecimento humano, certamente encontraríamos não só respostas, como possibilidades reais
de trabalhar/melhorar o potencial humano.
Tendo com autor um cientista brasileiro, Dr. Augusto Jorge Cury, esta teoria vem buscando
apreender a inteligência humana em suas diversidades.
Para falarmos sobre as organizações sob o enfoque da Teoria Multifocal, temos que alinhar o
indivíduo/colaborador dentro deste contexto, com suas características pessoais, seus valores, e
sua forma de agir, reagir e interagir, que são transportados para o relacionamento interno, na
maneira de interpretar as ações da organização e de apresentar resultados.
Qualquer pessoa, ao ingressar em uma organização, carrega consigo sua visão, postura,
conceitos e pré-conceitos, além das condutas, que podem divergir das ações da empresa, e são
estas diferenças que geram os pontos de diversidades nos ambientes organizacionais
Para o desenvolvimento da Teoria Multifocal, o Dr. Augusto Cury utilizou sete
procedimentos, dentre os quais destacamos aqui três de suma importância e relevância na
compreensão e aproveitamento desta diversidade no ambiente organizacional, sendo eles: a
arte da formulação de perguntas, a arte da dúvida, e a arte da crítica. No mundo profissional,
por mais que as organizações almejem resultados, elas dependem de seres humanos, que não
são máquinas, que têm “o poder de criar, produzir e executar”, por meio de mentes em
constante desenvolvimento. O aproveitamento das diversidades, conforme foi dito, caracteriza
a real sinergia, e compete às organizações envolver seus colaboradores e canalizar de forma
adequada cada potencial, sem anular a vivência anterior e a bagagem que cada um carrega
consigo.
A constante formulação de perguntas, a dúvida e a crítica são necessárias nestes
colaboradores, e podem auxiliar no progresso de cada empresa ou instituição, se forem bem

44 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


aproveitadas. Estas três características indicam seres pensantes, que realmente querem fazer
parte de algo e crescer, e isto é fundamental para as organizações. De acordo com Paulo Freire
(1996) “Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe
pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que
fazemos.” A busca de uma interpretação sem preconceitos, o constante desenvolvimento
através da construção do conhecimento, e o auto-conhecimento, por meio de uma auto-análise
sincera que leve em consideração fatores determinantes da personalidade, deveriam ser
atributos buscados e incentivados nos possíveis colaboradores de qualquer organização, e não
ser duramente criticados e rejeitados.
Hoje, a capacidade de relacionar-se com os outros, aprender e apreender, é tão importante
quando as habilidades técnicas. Mas como aprender e apreender sem a dúvida e a crítica?
Estamos em um milênio em que o grande desafio é deixar de lado os processos externos para
acessarmos os inquietantes e polêmicos processos internos dos indivíduos. Conhece-te a ti
mesmo. Ninguém pode conquistar o mundo de fora se não aprender a conquistar o mundo de
dentro.
Fomos treinados para atuar no mundo exterior e não no interior. Mas como ter uma boa
atuação no mundo exterior, se o mundo interior não estiver bem? Todos nós trazemos,
intrinsecamente, um aglutinado de possibilidades que vêm sendo deixadas de lado pela
necessidade emergente de assumirmos determinados papéis evidenciados pelos perfis que nos
são impostos, e aqui vamos focar o perfil profissional.
Acabamos, dessa forma, ficando enclausurados na diversidade que estas representações nos
trazem, e que nossa disciplina, culturalmente construída, nos impõe.
Acompanhando, portanto, as tendências deste século, vem a teoria multifocal, para nos
descortinar um novo horizonte, trazendo a luz de que: mesmo que a vida nos imponha
determinados papéis, não precisamos ficar “engessados” nas especificidades dos mesmos.
Podemos exercer as características próprias de cada papel, continuando com toda a
potencialidade que trazemos em nós, e, acima de tudo, continuando também a desenvolver
estas potencialidades.
Este fator é de suma importância para atingirmos, e até mesmo, atendermos às exigências que
o mercado de trabalho traz. E, se os gestores e os colaboradores das organizações falarem esta
mesma linguagem, a sinergia acontecerá de fato, gerando maior lucro para as empresas e
maior satisfação para os seus colaboradores.
Quando ouvimos os discursos sobre a formação do homem integral, muitas vezes pensamos
que isto é uma utopia, algo surreal, que está diretamente ligado aos “contos de fadas”
contemporâneos.
Ledo engano! Esta é uma discussão baseada, segundo a UNESCO, em pesquisas mundiais
para a continuidade da espécie humana.
Soa forte aos nossos ouvidos uma expressão neste teor de seriedade, entretanto, analisando
cautelosamente a história da humanidade, a falta de amplitude de conhecimentos e ações, vêm
gerando processos degenerativos em nosso mundo.
Quando agimos individualmente, sem pensar no processo global, a tendência maior é
prejudicarmos o todo em função de um único foco. Precisamos urgentemente desta
transformação, e para isso se faz necessário acessarmos todo o nosso potencial, ou seja,
trabalharmos nossa inteligência de uma maneira multifocal, para não perdermos de vista as
diversas possibilidades de uma mesma situação.

45 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


No entanto, é mister lembrarmos que, quanto antes iniciarmos este processo, mais tranqüila
será a transição, e, segundo um antigo provérbio chinês: Uma jornada de duzentos quilômetros
começa com um simples passo..
A educação é a mola mestra para impulsionar esta mudança organizacional, sobretudo no que
tange às relações entre colaboradores e gestores. A sociedade agrega inúmeras organizações,
mas em especial as Instituições de Ensino.
Se direcionarmos para este ambiente, que forma não só a competência cognitiva, bem como a
técnica, a humana e a social, uma formação, ou melhor, um desenvolvimento multifocal da
inteligência, certamente os resultados irão repercutir em uma mudança global, visto que o
mundo em que vivemos é resultado de nossas ações e reações.
Desta forma, faz-se necessário um investimento educacional no sentido de capacitar as
organizações no processo multifocal de inteligência, pois, em posse deste conhecimento, estas
atuarão como multiplicadores da teoria, que por sua vez, sairá do status de apenas teoria para
ser direcionada enquanto ação transformadora.
No momento em que todo e qualquer profissional romper a barreira do “eu” (ou do foco
individual) e se abrir para todas as possibilidades existentes, haverá um crescimento quântico
da sociedade moderna, e isto, com certeza, será revertido em prol da transformação planetária,
que hoje é o grande sonho de todos nós!

46 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


CAÍTULO V - O CURRÍCULO ESCOLAR NA PERSPETIVA
DA INTELIGENCIA MULTIFOCAL: AS SUBJETIVIDADES
EM CONSTRUÇÃO

Por Leonardo Rodrigues de Moraes 6

A educação está na pauta das discussões


mundiais. Em diferentes lugares do mundo
discute-se cada vez mais o papel essencial que
ela desempenha no desenvolvimento das
pessoas e das sociedades.
(MEC/SEF)

TECENDO OS FIOS DA EDUCAÇAO BRASILEIRA: INTRODUÇÃO


A educação, ao contrário de outros aspectos da vida social ocupa espaço cativo nas vidas das
pessoas. Você já pensou, quando uma criança nasce na maior do mundo, especialmente o
mundo ocidental, terá um destino certo: tão logo chegue a idade entrará para a escola. E esta
idade é cada vez menor, no sentido de quando iniciar na escola, com 7 anos, 6 anos, quatro,
três porque não com dois? Já para terminar, o sentido é o mesmo, ou seja, deve ampliar o
máximo o espaço de freqüência a escola. Aliás, será que possamos falar em terminar em
educação? Já ir ao medico, por exemplo, esta freqüência não é mesma.
Diante disso, a vida social, especialmente a educacional, parece um quebra-cabeças com
peças que ao serem justapostas, acabam gerando outros desencontros, que precisam buscar
outros encontros e assim infinitamente. Portanto, quando falamos ou mesmo pensamos, no
nosso cotidiano em educação, em especial do seu caráter formativo - deve ser entendido como
a construção de valores e conhecimentos importantes para a vida de um indivíduo, o que nos
vem à mente? Que conteúdos são significativos para a formação de um cidadão crítico?
Quem são nossos educandos e educandas? O que esperam da educação e, especialmente da
escola e sua profissionalização? Que conteúdos (saberes) são necessários para sua formação?
O que impede, em muitos casos, a aprendizagem satisfatória, demonstrada pelo alto índice de
dificuldades de aprendizagens, evidenciada por inúmeras pesquisas e diagnósticos,
encomendados, inclusive pelo próprio governo?
A proposta de estudar a educação e seus diversos aspectos constitutivos, quais sejam, a
escola, os educandos, os educadores, os processos de escolarização, o currículo, dentre tanto
outros, relva a dimensão de sua complexidade e profundidade. Tal complexidade a coloca,
como a epígrafe acima deixa claro, em destaque, nas atuais discussões mundiais. Se
considerarmos que tal afirmação, advém do discurso estatal (governo), no caso do Brasil,
responsável pelas políticas públicas de gestão e na maioria dos casos do financiamentos de
todos os níveis e modalidades educacionais, tal importância reitera seu papel político e social

6 Graduado em Ciências Sociais pela UFG , especialização em História do Brasil: Nacional Regional e Local pela UFG ,
especialização em Docência Universitária pela UNIVERSO, especialização em Psicanálise e Inteligência Multifocal pela
Faculdade Michelangelo, especialização em Gestão de Arquivos pela Universidade Castelo Branco e mestrado em História
pela UnB. Atualmente é Professor Titular de Pos Graduação da UNIVERSO. Tem experiência na área de Educação, com
ênfase em Formação de Professores. Atuando principalmente nos seguintes temas: representação e cotidiano, formação de
professores, cidadania.

47 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


na formação dos sujeitos e dos profissionais que, vão e estão gestando novos processos de
desenvolvimentos social.
Esta dimensão central da educação, enquanto discursos e ação de sujeitos, não é nova. Já
muito tempo ela – a educação – vem ganhando espaço e importância outrora silenciado.
Portanto, tal visibilidade revela dentre outros aspectos ser a educação um campo estratégico
para o desenvolvimento de sujeitos, socialmente comprometidos com o mundo em que
vivem.
Assim, de certa forma, muito de nós vemos a educação. Um oceano de aparentes igualdades,
representadas por inúmeras salas de aulas, educadores planejando suas aulas, corrigindo suas
avaliações e tantas outras cenas que por certo vêm no teatro da mente, porém, isto, ao
contrário do que possamos imaginar, é recortado, por várias e profundas diferenças. Uma
dessas, diferenças poder sinalizada pelos sentidos inscritos na educação e os processos de
escolarização no mundo inteiro. Isso mesmo, sentidos e processos no plural, isto porque na
perceptiva da Inteligência Multifocal, a educação não pode ser entendida como um sentido,
com um objetivo ou como uma proposta, mas sim por um universo de sentidos, por uma teia
de significados, que vão tecendo as teias da vida social. Portanto, um desses sentidos, é ser
caráter formativo e formador, isto porque a educação é ao mesmo tempo processo de
formação de pessoas, como é influenciada pela ação dessas pessoas.
Neste mar de complexidade e diversidades da educação, no seu processo de construção, vai
agregando águas de outros mares e ao mesmo tempo transformando as que já tinha e as que
esta recebendo, apresenta-se, em muitas das vezes como uma imensidão de igualdade,
resultado deste processo que ao mistura foram esse amálgama.
Imagine se você esta dentro de uma navio, olhe para o oceano. Nao parece uma igualdade
infinita? Será mesmo igual? Se não onde esta as diferenças? Como elas são? Que sujeitos
estão ali naquele momento? O que esta por trás do os olhos podem alcançar? Os olhos vêm,
mas conseguem penetrar nas profundezas daquele oceano?
A busca por estas e tantas outras questões que podem estar atormentando nossa mente, por
certo não é um caminho fácil, ao contrário, esta repleto de situações, que revelam nossa s
fragilidades, diante do mundo educacional. Para tentar, apresentar, algumas reflexões a estas
questões pensando multifocalmente, estaremos priorizando como eixo de nossa análise o
currículo escolar, que ao nosso ver, absorve muitas das questões apresentadas até o momento,
especialmente, o caráter formativo da educação.
Mas o que é o currículo? Por certo já ouviu esta palavra? Onde? Em que momento? O que
vem a sua mente quando fala em currículo? São inúmeras as reflexões que podemos sugerir.
Vamos primeiramente tentar entender melhor o currículo e suis dimensões constitutivas.
O currículo, como campo de saber, apresenta a formação básica necessária a estruturação das
diversas profissões. O impacto do currículo ao ser aplicado na sala de aula evidencia esta
carga de subjetividades. Os objetivos constantes no currículo vão nortear tanto a escolha dos
conteúdos a serem trabalhados como a abordagem do assunto, e, por fim, o método de ensino
para o aluno.
Por parte do aprendiz o interesse pelos conteúdos vai sendo despertado a partir da própria
prática de ensino-aprendizagem, ou seja, na medida em que o aluno exercita os conteúdos
ministrados, ele gera em sua memória RPSs (representações psico-semânticas). A
proliferação dessas RPSs geram a base crítica para novos conteúdos, ou, em outras palavras,
geram a criticidade que foi subjetivamente proposta no currículo.

48 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Uma das conseqüências desse choque de subjetividades entre o que se quer ensinar e aquilo
que o aluno espera aprender resulta na falta de paciência por parte do professor, quando este
percebe os ritmos de aprendizados diferentes entre seus alunos. Desta situação surge o
dilema: com relação ao aluno, o que este cenário pode gerar?
Em primeiro lugar, percebe-se a angústia da aplicação prática de cada saber. Por que estou
aprendendo isto? Como esse conteúdo pode me ajudar a viver melhor? Onde aplico essa
teoria? Sou capaz de aprender o que está sendo ensinado? Normalmente os alunos são
pessimistas quanto às suas capacidades de aprendizagem, o que tende a aumentar seu estresse.
Em segundo lugar, a forma de avaliar e o quê se avalia vão ser objetos de conflitos da
subjetividade do professor em relação à subjetividade do aluno. Como será abordado mais
aprofundadamente no capítulo sobre a avaliação, quanto menor for a identificação do
educando com o currículo, maior será a dificuldade de ser avaliado. Os currículos como
“prisões”(aqueles que são elaborados sem gerar autonomia aos alunos, “engessando-os”
enquanto meros reprodutores de conteúdos) não são capazes de visualizar as reais
necessidades daquele que aprende. Como as subjetividades de quem ensina e de quem
aprende estão em confronto, o resultado é o que chamamos de fracasso escolar, em algum
momento dentro da trajetória escolar deste aluno desde o seu ingresso no sistema educacional
até o atual estágio.
Pressupondo que a sociedade, o mercado de trabalho e os próprios desafios do mundo
moderno esperam que ele deverá ser um agente de mudanças com foco em um mundo mais
sustentável e capaz de gerar um olhar mais esperançoso em relação ao nosso futuro, que
esperanças queremos ter com relação a este futuro?
Um dos objetos de estudo que passa por profundas reflexões, seja nas universidades seja nas
escolas de educação básica, tem sido as diversas subjetividades 7 que influenciam a
implementação dos currículos escolares. Estes estudos tentam resolver as zonas de conflitos
geradas por estas subjetividades, principalmente com relação ao seu processo de aplicação.
Mas, qual é o papel do currículo neste contexto? Provavelmente, um desinteresse por parte
dos mesmos, que irão buscar algo diferente ao que estava proposto inicialmente pelo
currículo.
Do ponto de vista da Mutifocal comportamentos como olhares arredios e distanciados, tanto
de professores como dos alunos, indicam uma ativação do gatilho de suas memórias que
disparam pensamentos como: “vocês não estão prestando atenção às aulas; depois não vão
reclamar dos resultados das avaliações”, por parte dos professores, ou “para que precisamos
aprender isso, para que isso serve?”, por parte dos alunos. Este tipo de questionamento, em
muitos casos, pode gerar verdadeiros momentos de crise. Não raro, resultam num desgaste
emocional muito grande entre professores e alunos. O que, provavelmente, origina esse tipo
de conflito? Normalmente, a incapacidade de assumir a liderança do eu no palco das
emoções. Preferem não assumir o papel de educadores, mas sim o de técnicos da sala de aula,
fechando seus olhos para situações que revelam suas fragilidades. Isto revela que, por mais
que estejam preparados no campo dos conteúdos, estão despreparados no cenário das
emoções.
Qual a função da escola nesses acontecimentos? Ela deve preparar seus professores e alunos
no campo das emoções? As escolas têm papel fundamental para a mudança de postura e
atitude por ambas as partes. Sua função principal é formar atores sociais que possam mudar e

7Subjetividade – são as variáveis que interferem direta e indiretamente em um determinado objeto, associado à percepção de
cada pessoa envolvido no processo.

49 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


melhorar o mundo em que vivemos e que sejam autores de suas próprias histórias. Portanto,
sim; ela deve preparar seus alunos e professores para o mundo das emoções.
Parece ocorrer uma relação entre estas e outras situações de crise na escola, como, por
exemplo, a educação continuada de seus professores. Ter uma visão estratégica da
necessidade de formação técnica destes professores é fundamental para a construção do nosso
futuro. E qual é o papel destas estratégias para a educação? Seu principal papel é a
viabilização das mudanças demandadas e desejadas. Não há como deixar de reconhecer sua
importância na cultura política e tecnológica de qualquer país. Mas cuidado, os riscos são
significativos quando focamos exclusivamente na formação tecnicista e nos esquecemos de
formar profissionais que sabem lidar com o mundo das emoções.
E, quais são os principais riscos deste tipo de formação? Tal apelo à educação, de buscar uma
formação tecnicista, pode gerar uma recorrência, formando profissionais meramente
reprodutores e não transformadores. A utilização deste tipo de estratégias traz um certo
desconforto, particularmente aos profissionais envolvidos com escola, ensino e escolarização.
Esse desconforto ocorre sobretudo porque a educação, colocada como condição primeira para
promover mudança e impulsionar o país rumo ao progresso/modernidade/desenvolvimento/
globalização, para viabilizar o almejado bem estar social, não tem conseguido cumprir o que
promete. No Brasil, desde o século XIX, a educação foi proclamada como a “mola-mestra”
que impulsionaria o país rumo ao progresso e à civilização. Você se lembra de ter lido os
discursos políticos da época nos livros de história? Porém, como você bem sabe, os avanços
anunciados não ocorreram de fato.
O atraso do país sempre foi identificado com seu passado cultural e com a desordem entre as
camadas subalternas da população, as “classes pobres e perigosas” (MUNIZ , 1999: 183).
Vista e veiculada como condição básica para a transformação buscada, alimentou-se a crença
romântica da capacidade ilimitada da educação de promover o desenvolvimento, via
acumulação e a ruptura com o atraso. Esta visão está fundamentada pela crença iluminista,
evidencia os modelos e práticas educacionais no Brasil, desde o século XVIII - nas primeiras
escolas régias da colônia - e ao longo do século XIX, nas escolas primárias de instrução
pública. Na citação abaixo Diva Muniz, reforça a visão iluminista da capacidade
transformadora da educação.

(...) Afinal, as políticas públicas educacionais dessa época pautavam-se


pela concepção iluminista, na qual a educação é vista como fator de
prosperidade e bem – estar geral do país, como mola propulsora para o
“progresso” e a “civilização”, como dispositivo capaz de conter a livre
manifestação dos “instintos viciosos”, que estavam identificados como
características peculiar e intrínseca às classes pobres e perigosas, como
processo capaz de transformar o indivíduo em cidadão virtuoso e
trabalhador.(...). (MUNIZ, 2000: 195).

O que você pode observar? Observou uma indissociação entre progresso e educação?
Concorda que é possível operar a solução das questões sociais simplesmente com a
escolarização do contingente populacional excluído da escola e da história? Não é por acaso
que um dos objetivos buscados são o da formação de indivíduos ordeiros, trabalhadores e
civilizados. Noções de civilidade são veiculadas e disseminadas no cotidiano escolar, já que
se partia do pressuposto de que “iluminada” pelo conhecimento adquirido na escola, a
sociedade conseguiria realizar as transformações necessárias em direção a um mundo melhor.

50 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Este era o mundo “civilizado”, segundo o modelo europeu, de civilização (MUNIZ, 2000:
195). Confere com sua visão? Pois é, essa é a nossa história.
No século XX, a idéia de educação associada às transformações requeridas pela sociedade
passa a ser vinculada em âmbito nacional, já que aparece nos discursos e nas políticas
governamentais como uma das prioridades de governos, especialmente no que se refere à sua
regulamentação e normatização. E a idéia de progresso? De forma geral, pode-se afirmar que
no século XX, foi mantida a idéia de progresso. O que acrescentou-se à idéia de progresso?
A modernização e o desenvolvimento. Todas passaram a referenciar a educação como
condição básica para a desejada ruptura com o atraso e com a dependência política-
econômica. E a educação no espaço escolar? Vamos aprofundar mais esta abordagem?

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESPAÇO ESCOLAR


O universo escolar, indiferente de sua modalidade ou nível, é constituído por inúmeras
realidades que, inseridas num contexto macro, são comumente chamadas de escolas ou
universidades. Isso revela certa hierarquia dos sistemas educacionais, separando a educação
básica da educação superior. No entanto, independente destas “separações”, podemos
verificar, na medida que examinamos tais realidades, certos aspectos que apresentam muitas
semelhanças, especialmente no seu fazer cotidiano.
Você sabe onde podemos perceber tais semelhanças? Sem desconsiderar toda as
especificidades que envolvem cada situação (por isso falo em semelhanças e não em
igualdades), estas podem ser visualizadas na própria organização do sistema educacional. E
em que situações podem ser percebidas? Na prática, estas podem ser evidenciadas quando os
alunos e alunas submetem-se aos “rigores institucionais” escolares ou universitários,
especialmente nas metodologias das aulas. Neste cenário, os professores e professoras, apesar
de significativas tentativas de mudanças, são colocados como os centralizadores dos saberes,
nas metodologias e nas práticas avaliativas. Estas, muitas vezes, são instrumentos punitivos
e/ou premiadores e, além disso tudo, são instrumentos que visam “medir” o grau de
aprendizados dos estudantes. Mas, quem dita as regras? Quem tem o poder de julgar? De
quem é a verdade? A subjetividade, novamente entra em cena. E, o poder do cargo, na
maioria das vezes, prevalece.
No conjunto de ações voltadas para a educação, a escola é vista como o lugar em que se
processa a gestação dos “sujeitos sociais”, com base nas experiências cotidianas de ensino. É
por meio desse processo, operado por ações intencionais, sistemáticas e pontuais, que se
imprime a “modelagem” dos sujeitos, segundo concepções, princípios, valores, normais e
papéis que legitimam o padrão cultural que norteia as relações com os outros e com o mundo
do trabalho. Você deve estar pensando, por que modelar? É possível modelar as pessoas?
Modelar, literalmente falando, não. Neste texto, devemos entender a escola como espaço
modelador, disciplinador e reprodutor, como um locus de resistência, enquanto espaço
atravessado por relações de poder, de criação e de produção da sociedade. Com esta visão,
este espaço visa imprimir padrões de comportamentos de atitudes demandadas socialmente.
Na prática, eticamente falando, as escolas assumem o papel de transformador e de quem dita
as regras; portanto, acaba “modelando” as idéias, as crenças, os paradigmas, os valores, em
fim, a visão de mundo dos alunos.
Não há como deixar de reconhecer que se a ação pedagógica e as práticas educativas
escolares, são operacionalizadas com o propósito de conformação dos sujeitos aos modelos
educacional e cultural vigentes, de forma a realimentar a função reprodutora da escola, estas
práticas cumprem também a função de reprodução da própria sociedade. Essa conformação se

51 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


dá em termos absolutos? Não, pois em toda apropriação de saberes ocorre uma ressignificação
operada pelos sujeitos a partir das suas experiências de vida. Falando Multifocalmente, a
história intra-psíquica dos sujeitos da educação modifica diretamente a visão que é oferecida
socialmente, com a finalidade de torná-la coerente com seus valores e crenças. Esta é,
portanto, ressignificada de acordo com a história de vida de cada um, ou seja, com sua
percepção de mundo.
Tendo-se em vista que as pessoas “não cumprem sempre, nem cumprem literalmente, os
termos das prescrições de sua sociedade” (SCOTT, 1990: 88) a escola apresenta-se igualmente
como espaço de resistências. E, quais seriam estas formas de resistência? Seriam a rejeição às
prescrições, o enfrentamento de forças impositivas. Além de resistir, exerce o papel de
criadora de novos conhecimentos, caracterizando-se, portanto, em sua função produtora.
Admitindo-se que a escola tem a função de transformar a sociedade, em que a criação e
implementação dos currículos podem auxiliar? Como devemos construir nossos currículos
para a formação de seres que sejam autores de sua história e agentes de transformações
sociais?

A CONSTRUÇAO DO CURRICULOS E SUAS SUBJETIVIDADES


Um outro aspecto que consideramos importante para entender os espaços educativos como
espaços de significação e ressignificação de saberes, especificamente nas instituições
educativas, e que propomos discutir com mais ênfase neste capítulo, é a organização
curricular, especialmente o currículo e suas subjetividades. A reflexão sobre as
especificidades em que se inscreve o currículo nos leva a fazer algumas análises dos
processos escolares, em suas múltiplas dimensões. E quais são estas dimensões? Estamos
falando especialmente sob a perspectiva das relações de poder (subjetividades). Para tanto,
faz-se necessário uma leitura dos currículos escolares e/ou universitários, já que estes são
entendidos, na acepção que lhe dá Tomaz Tadeu da Silva, como

(...) texto, como discurso, como matéria significante, tampouco pode ser
separado de relações de poder. Vincular a educação e, particularmente,
o currículo, a relações de poder tem sido central para o projeto
educacional crítico. Pensar o currículo como ato político consiste
precisamente em destacar seu envolvimento em relações de poder.(...).
(SILVA, 2001: 24).

Neste sentido, o currículo, apresenta-se também como um campo estratégico, como “matéria
significante”, não podendo, em razão disso, estar desvinculado da educação e das relações de
poder em qualquer análise que se faça sobre estas ou sobre aquela. Com efeito, ao ser a
referência pontual e explícita para a configuração dos cursos, ela é o elemento catalizador e
balizador da formação oferecida, produtura/reprodutora dos valores/princípios/concepções/
atribuições/papéis que informam uma ordem social, bem como suas hierarquizações e
exclusões.
Pensá-lo sob tal perspectiva, ou seja, “como ato político”, implica atentar para o modo como
ele opera na conformação dos sujeitos educacionais8 envolvidos no processo de ensino que
responde pela sua operacionalização.

8Entende aqui por sujeitos educacionais todos aqueles envolvidos no processo de aprendizagem das escolas e universidades,
especialmente alunos/as e professores/as

52 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Como força/poder, o currículo possibilita tanto “modelar os corpos”, homogeneizar condutas
e procedimentos, segundo os modelos normativos de educação, como ressignificar conteúdos
a partir da experiência de cada um dos sujeitos envolvidos. Isso ocorre porque cada professor,
ao planejar e executar suas aulas a partir do que está estabelecido no programa curricular,
procede a algumas escolhas e recortes pessoais e subjetivos quanto a temas/procedimentos,
num exercício claro de poder que escapa ao estabelecido e mantém a engrenagem do poder
funcionando.
É neste momento, por exemplo, que opera uma das subjetividades inscritas no currículo
advindas da experiência anterior de professores/as e alunos/as em sua historia
escolar/educacional. Isto revela que ao operacionalizar o escrito, como friamente descreve o
currículo, procede-se a uma reconstrução inconsciente de informação, o que vai aos poucos e
suavemente reconstruindo o currículo. Isso porque

“As reconstruções pela interpretação das experiências passadas


produzem inevitáveis micro ou macrotraições da interpretação que
promovem a revolução das idéias e o desenvolvimento psicossocial do
homem, estabelecendo um dos mais importantes princípios da evolução
da personalidade humana e das sociedades como um todo.” (CURY,
1998. p.97)

Neste sentido, as subjetividades, expressas pelas interpretações humanas, apontam para as


diversas possibilidades que cercam o campo escolar e curricular, de maneira que o
inconsciente age de forma a re-escrever as ações cotidianas dos sujeitos educacionais.
Dessa forma o currículo, enquanto campo/matéria carregada de subjetividade e sentidos, é
muitas vezes entendida como a “grade” que aprisiona e também liberta pois, em sua relação
com o ensino, acaba por permitir que as subjetividades se expressem. Entende-se, portanto, a
vinculação entre os dois e sua importância em qualquer programa ou reforma educacional.
Nos processos de “reformas curriculares”, especialmente os que incidem sobre a formação de
professores, estas diretrizes vêem ao encontro de uma tendência observada desde o final da
década de 1970, em que as reformas educacionais levadas a efeito no país, objetivaram
“adequar o sistema educacional ao processo de reestruturação produtiva e aos novos rumos do
Estado.” (SILVA, Op. cit. p. 02.)
Reconhecer a dimensão criadora do currículo não significa desconhecer sua força como
dispositivo disciplinador, normalizador, reprodutor. Afinal, ele é elaborado justamente com
esse propósito e não é por acaso que é constituído por um conjunto de disciplinas
distribuídas pelas conhecidas “grades curriculares”. Tais disciplinas são distribuídas a partir
de múltiplas hierarquizações que vão desde a importância dada a cada uma no conjunto das
disciplinas do curso até à definição do quantitativo de aulas para cada uma delas, tendo como
base a referida definição de sua importância na formação do aluno.
Sob tal perspectiva, observa-se que umas são mais relevantes do que outras, embora todo o
conjunto tenha por função “disciplinar”, ou seja, impor padrões de conduta – intelectual,
política, ética e moral – homogeneizando-a em consonância com aqueles. “Disciplinar” é
impor o controle da conduta e se operacionaliza tanto na sala de aula, enquanto estrutura
micro, como na sociedade, enquanto estrutura macro. Nesse sentido, podemos afirmar,
reportando-nos a Stuart Halll, que o poder do currículo, enquanto constitutivo do “poder
disciplinar” de que fala Foucault (FOUCAULT, 1998, p. 244), que opera pela vigilância
hierarquizada das disciplinas/saberes, reside

53 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


(...) em manter “as vidas, as atividades, o trabalho, as infelicidades e os
prazeres do indivíduo”, assim como sua saúde física e moral, suas
práticas sexuais e sua vida familiar, sob estrito controle e disciplina,
com base no poder dos regimes administrativos, do conhecimento
especializado dos profissionais e no conhecimento fornecido pelas
“disciplinas” das Ciências Socais. Seu objetivo básico consiste em
produzir “um ser humano que possa ser tratado como corpo dócil(...)”
(HALL, 2001, p.42.)

Considerar o currículo como um dos elementos constitutivos do dispositivo disciplinar, dessa


rede de relações de poder que atravessa o tecido social (FOUCAULT, Op. cit. p. 244),
particularmente sua tessitura educacional, implica atentar para as hierarquizações processadas
no interior do mesmo e reproduzidas graças ao processo de internalização, de “inculcação”
resultantes da ação pedagógica cotidiana. Hierarquizações que conferem a cada disciplina
uma classificação, ordenação e distribuição na ordem curricular de forma a assegurar os
lugares de produção/reprodução do conhecimento e da sociedade.

O RECORTE DA INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL NO CURRICULO

Considerando as análises empreendidas sobre a escola e o currículo e suas dimensões


constitutivas, podemos aprofundar tais discussões inscrevendo-as na perspectiva sinalizada
por CURY (1998), sobre a concepção da Inteligência Multifocal, afirmando que

“(...)todos os processos de construção da inteligência são multifocais: a


leitura da memória, a construção das cadeias de pensamentos, as
variáveis da interpretação e os fenômenos intrapsíquicos e sócio-
educacionais. Todos esses processos co-interferem para construir o
espetáculo indescritível da inteligências do homem, espetáculo este que
faz com que a humanidade seja uma espécie ímpar.” (CURY, 1998, p.
200)

Conforme a argumentação do autor, a inteligência está recortada no processo de


construção/reconstrução por diversos fatores que, somados, vão construindo a vida social dos
homens e das mulheres. Não seria diferente na ação pedagógica, onde os sujeitos
educacionais vão consolidando suas concepções sobre as realidades, especialmente no
momento de operacionalização do que está prescrito no currículo, momento singular onde o
jogo das inteligências vai contribuindo para que professores/as e alunos/as construam e
reconstruam suas subjetividades.
Como assinala Chauí, se os indivíduos e grupos de indivíduos são e estão submetidos a
esquemas interpretativos do mundo, se a sociedade funda-se e organiza-se a partir de um
sistema de valores e normas que determinam práticas, fundam a ética que, por sua vez,

(...) se move no campo das paixões, dos desejos, das ações e dos
princípios, possuindo uma dimensão volorativa e normativa. Por um
lado, valores e normas são exteriores e anteriores a nós, definidos por
54 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
uma cultura e pela sociedade onde vivemos; mas, por outro lado,
somos sujeitos éticos e, portanto capazes de interiorizar valores e
normas existentes, quanto a de criar novos valores e normas.(...)
(CHAUÍ, 1994, p. 307)

Considerando, todos essas imensidões da escola e seus processos constitutivos, especialmente,


pela sua ativa participação na formação das mentes humanas que por certo, carregam em si a
capacidade de mudar o mundo e muda-lo para melhor. Um outro mundo é possível. Ou não?
Avaliar/refletir sobre o nosso papel, não apenas como educador, mas sujeito do mundo, deve
ser objeto de nossas análises. Vamos estabelecer momentos de avaliação em nossas vidas?
Como podemos aprofundar a avaliação, inscrita na teoria da inteligência multifocal? Estas são
idéias que serão estruturadas no próximo capítulo.

55 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


CAPÍTULO VI - AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DA TEORIA
DA INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL
Andressa Nunes Teixeira 9

Reavaliando a Avaliação
O que avaliar? Como avaliar? Para que avaliar? Como fazer com que as notas atribuídas aos
alunos representem seu real conhecimento? Questionamentos como estes já foram abordados
por alguns autores. Porém, pela importância da temática, levantaremos através deste artigo,
reflexões sob um enfoque diferenciado, analisando a verdadeira função e contribuição da
avaliação no processo de ensino-aprendizagem através do contexto da inteligência multifocal.
O que é mais importante: TER o conhecimento ou SER o conhecimento? Como a avaliação
pode converter-se em um instrumento valioso na construção do indivíduo questionador e
pensante, capaz de criar, solucionar e agir de maneira ativa e funcional no mundo?
Para refletir sobre estas questões, definiremos o conceito e a finalidade contemporânea do
processo de avaliação. Atualmente percebemos que o processo de avaliação ainda é
confundido com medição. Isso se deve, talvez, à origem histórica da avaliação.
As avaliações tradicionais, geralmente, classificam os alunos entre bons ou maus, bem ou mal
sucedidos. Ou seja, avalia-se uma pequena porcentagem de conhecimento e o aluno torna-se
simplesmente um retransmissor de informações, impedindo a construção e o desenvolvimento
deste conhecimento. Diante disso, o aluno é valorizado por sua capacidade de memorização
(ação puramente mecânica), ou seja, é mais valorizado pela lembrança do que lhe foi
transmitido, do que por aquilo que pode fazer com o conhecimento construído.
As limitações de alguns métodos e instrumentos de avaliação devem, urgentemente, ser
reavaliados. Embora o assunto possa gerar controvérsias, é primordial o repensar do processo
avaliativo.
Atualmente, uma boa nota, é vista por alguns professores e pais, como requisito fundamental
para um excelente aluno. E a construção do conhecimento, que deveria ser prioridade, torna-se
esquecida.
Observamos que o excelente aluno, com boas notas, é valorizado e mais aceito pela sociedade.
Herança de uma cultura capitalista? O aluno percebe que obtendo boas notas, recebe
recompensas como: elogios, supervalorização, destaque e até presentes para que continue
repetindo este modelo, visto como o adequado. E quando não corresponde a este modelo, pode
ser até submetido à punição. Este tipo de visão pode fazer com que o aluno estude para sair-se
bem na prova, tirar uma boa nota, ao invés de aprender. E vou mais além! Esta cobrança
externa pode gerar uma cobrança interna excessiva, tendo como conseqüências grandes males
como a ansiedade por antecipação ou até mesmo sentimento de culpa por não ter alcançado o

9 Graduação em Fonoaudiologia pela UCG. Capacitação Profissional em Fonoaudiologia Empresarial em Comunicação e


Recursos Humanos nas áreas de Consultoria, Assessoria e Treinamento pelo Centro de Otimização Profissional de São Paulo –
COP Consultoria. Especialização em Inteligência Multifocal aplicada à Educação pela Faculdade Miguelangelo e Instituto
Saber de Brasília – DF. Practtioner em Programação Neurolinguística, Consultora e Assessora Organizacional e Empresarial.
Instrutora de Treinamento e Palestrante. Docente nas áreas de linguagem, psicolingüística, saúde pública, comunicação,
expressão verbal e oratória em cursos de pós-graduação. Sócia-Proprietária e Diretora de Desenvolvimento da Empresa
Crescimento RH – Centro de Capacitação e Desenvolvimento. Atuou como docente em cursos de graduação nas áreas de
Linguagem e Comunicação, Deficiência Mental, Deficiência Auditiva e Visual, Aspectos Fonéticos na Universidade Salgado
de Oliveira.

56 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


objetivo esperado. Estes sintomas podem ser carregados por longos anos, desenvolvendo
grandes conflitos internos. Lembro-me nitidamente, que da infância à graduação, vivenciei
estes processos avaliativos. Foi uma experiência negativa. Antes de uma avaliação, sentia
medo e crises de ansiedade. Também lembro-me de colegas que perdiam o controle antes de
uma avaliação, chegando ao choro. Tudo isso, para ter uma boa nota. Essa era a preocupação
central.
Será que boa nota é garantia para que um aluno se torne um indivíduo participativo no meio
em que vive e que conquiste o sucesso pessoal e profissional? Apresento um desafio: busque
informações e biografias sobre pessoas de sucesso. Você terá uma grande surpresa! Nem
todos foram considerados bons ou excelentes alunos, e muito menos apresentaram um
currículo de notas espetaculares!
Então como avaliar o verdadeiro potencial de aprendizagem do aluno? Como utilizar o
processo de avaliação para incentivar e estimular os alunos a se tornarem indivíduos críticos,
capazes de transformar conhecimento em experiência? Um indivíduo capaz de lidar com o seu
mundo (interno) e o mundo (externo)?

Foco na Aprendizagem: Avaliar para Modificar


Apesar da evolução da tecnologia e das mudanças constantes no mundo, percebo que as
metodologias de avaliação parecem ter continuado as mesmas.
Será que o modelo de avaliação utilizado tem incentivado os alunos a permanecerem em sua
zona de conforto? Receber, memorizar e retransmitir informações?
O que é essencial? A avaliação ou a aprendizagem?
Qual a melhor definição sobre aprender? Recorrendo a Reboul (1982), aprender é trazer uma
mudança de comportamento do indivíduo, que pode ser passageira, ou duradoura.
É um processo ativo em que o sujeito exerce ação própria e em conjugação com outras
pessoas. Não é simplesmente memorizar para reproduzir.

“A finalidade verdadeira de uma aprendizagem consiste não


simplesmente em reproduzir um modelo, mas em resolver situações
e, em alguns casos, criar, reinventar soluções. O aluno aprende
quando consegue ultrapassar conflitos, integrar as contradições
aparentes num conjunto de esquemas mais gerais que ele possuía.”
(DEPRESBITERIS, 1997)

É importante destacar as funções da avaliação e suas finalidades. Como elas funcionam e


influenciam no desenvolvimento do aluno. Muito se tem falado sobre as funções diagnóstica e
formativa da avaliação. Vamos entender cada uma delas:
1. Função Diagnóstica: geralmente tem como finalidade descobrir as
causas que impedem a aprendizagem;
2. Função Formativa: geralmente apresenta-se como uma forma de indicar
quais objetivos o aluno alcançou e os que deixou de alcançar.
Estas funções devem ter como finalidade primordial o auxílio ao aluno, no descobrir os
processos que lhe permita o progresso de sua aprendizagem. Utilizá-las desse modo é
proporcionar ao aluno um meio de o conduzir ao domínio de suas capacidades.

57 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Diante disso, a avaliação não tem a função de apenas classificar. Possui um enfoque
fundamental: o aprendizado. É necessário otimizar oportunidades de ação- reflexão, num
acompanhamento permanente do professor, devendo ocorrer ao longo de todo um processo e
não somente em um momento do mesmo. A atuação do professor deve ser investigativa,
utilizando critérios mais viáveis de avaliação no processo de aprendizagem, proporcionando o
despertar e o desenvolvimento das capacidades do aluno como um todo.

“(...) um ensino que visa a uma aprendizagem ampla procurará


desenvolver a inteligência, priorizando as atividades do sujeito
inserido numa situação social.” (DEPRESBITERIS, 1997)

Muito tem sido dito sobre a formação integral do ser, do aluno. Nossos métodos de avaliação
tem contribuído de forma positiva no desenvolvido do ser humano total?

Avaliação da Aprendizagem no Parâmetro da Inteligência Multifocal


A teoria da Inteligência Multifocal tem sua aplicação nos campos da Educação, Filosofia,
Psiquiatria, Psicologia e Neurociência. É uma revolução do conhecimento pragmático, que
estimula a formação do homem como pensador, um ser humano multifocalmente inteligente.
Este ser desenvolve a arte de pensar antes de reagir, a arte da dúvida, a arte da crítica,
aprendendo com os seus erros e transformando seus problemas em desafios. Neste sentido,
sugerimos uma reflexão da avaliação da aprendizagem à luz da Inteligência Multifocal.
Qual deve ser a postura do docente multifocal no processo de avaliação da aprendizagem?
Percebemos que, no processo educacional, ainda se acredita que o conhecimento é adquirido
de ‘fora para dentro’. Este fato leva os alunos a conhecerem muito o mundo em que estão, mas
pouquíssimo o mundo que eles são. Pouco expande a inteligência, a democracia das idéias e o
gerenciamento dos pensamentos e das emoções. Pouco estimula o desenvolvimento
sistemático da arte da formulação de perguntas, da dúvida e da crítica. (Cury, 1998, p. 313). A
partir desta concepção, observamos que alguns docentes ainda utilizam a memória como
depósito de informação, estimulando seus alunos a repetirem como máquinas. Isto é
comprovado pelo sistema de provas que ainda é aplicado em diversas organizações de ensino.
Muitas vezes, o aluno decora para responder às provas de questões escritas. Grande parte
destas informações é esquecida. A maioria das provas engessa a inteligência. Este processo de
avaliação contribui para a formação de seres humanos repetidores de informações.
O docente multifocal utiliza a memória como suporte da arte de pensar. A avaliação, neste
contexto, tem como foco a criatividade, ensinando os alunos a pensarem. As informações são
mais úteis quando transformadas em conhecimento e experiência. Temos que analisar como o
processo avaliativo pode estimular o aluno a desenvolver uma consciência crítica e ativa.
Observamos que a sociedade e as empresas carecem de indivíduos motivados, criativos e com
alta capacidade de adaptação. A partir disso, será que a metodologia de avaliação
psicopedagógica, que a maioria das organizações de ensino adota, tem sido bem desenvolvida
e aplicada correspondendo às necessidades atuais?
Para entendermos bem o que representa uma avaliação sob o enfoque da inteligência
multifocal, abordaremos uma das estruturas mais misteriosas e fundamentais da inteligência: a
memória.

58 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Cada informação ou experiência psíquica é armazenada na memória como um sistema de
código físico-químico (CURY, 2001, p. 78), definido como representações psicossemânticas
(RPS). As RPS representam informações psíquicas (mais objetivas) e experiências psíquicas
(mais subjetivas e complexas).
A história intrapsíquica de uma pessoa é formada através da memória existencial (ME) e a
memória de uso contínuo (MUC). A memória existencial representa o registro das
experiências de uma pessoa ao longo da vida. A memória de uso contínuo representa as
informações que são usadas continuamente no cotidiano. Assim, a MUC nos permite acessar
tais informações quando é necessário. Tal processo estabelece uma relação com a avaliação de
aprendizagem, quando os alunos apresentam maior facilidade em resgatar (lembrar) os
conteúdos que são mais solicitados a partir de um tema ou assunto trabalhado. À medida que
estas informações são menos acessadas, há maior dificuldade de busca, por serem substituídas
e arquivadas na memória em pontos de acesso mais difícil. Isso explica a dificuldade que um
aluno pode apresentar em uma avaliação. O conhecido “branco na hora da prova”, nem
sempre significa falta de conhecimento por parte do aluno, pode ser uma dificuldade maior em
acessar esta informação específica. Verificamos que, havendo tempo para o aluno acessar esta
informação, o conteúdo pode ser lembrado. Isto ocorre devido ao tempo necessário para sua
lembrança ser reconstituída.
Diante disso, ao desenvolver uma avaliação, é importante considerar a forma e a freqüência
com que os conteúdos são trabalhados. Deve-se atentar para que, de acordo com a freqüência
com que o conteúdo é apresentado, o aluno pode necessitar de maior tempo para acessar tais
informações no momento da avaliação, por exemplo. Isso nos leva a refletir sobre a
importância da organização da estrutura da avaliação, que pode facilitar ou dificultar o acesso
das RPS.

Processo de Construção e Reconstrução do Passado


Segundo Cury, reconstruímos as experiências do passado a partir da leitura multifocal da
história intrapsíquica e dos sistemas variáveis intrapsíquicos do presente, que atuam
psicodinamicamente nessas experiências. Isso representa que quando uma pessoa lembra de
fatos do passado, a memória está reconstruindo sua história a partir de reinterpretações das
RPS.

“(...) o objetivo fundamental da memória é ser utilizado para


produzir continuamente novas experiências, idéias, pensamentos e
emoções, e, assim promover e até provocar a evolução psicossocial,
o desenvolvimento da personalidade, da construção da inteligência
como um todo.” (CURY, 2001, p.83)

Os registros resgatados de momentos de prazer ou dor emocional são denominados de


sistemas de códigos físicos frios. Quando lembramo-nos das experiências do passado, abre-se
espaço para reinterpretações e novas leituras da memória e para a produção de novos
pensamentos e emoções. Em cada momento, quando resgatamos e reconstruímos experiências
do passado, nós o fazemos de maneira diferente (CURY, 2001, p.85). A cada nova
interpretação desses registros frios, reinterpretações são feitas e conseqüentemente novas
RPSs surgem.

59 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Tudo isso representa um grande ganho para a educação e para o sistema de avaliação, sendo
um ambiente rico a oferecer a construção de experiências, releitura das mesmas, novas RPSs e
conseqüentemente a evolução intelectual do indivíduo, que modifica sua forma de pensar e
mudar o seu “eu”, a sua história. Uma nova metodologia de avaliação, elaborada a partir da
teoria da inteligência multifocal, provoca uma mudança significativa no aluno, fazendo com
que estabeleça novas leituras de si e do mundo, favorecendo a construção e reconstrução das
experiências, bem como o desenvolvimento das capacidades de adaptação e de criatividade.
Desta forma, o docente multifocal deve estimular a construção de pensamentos dos seus
alunos, orientando-os na produção de novas idéias e reinterpretações, promovendo a formação
de indivíduos pensantes, formadores de opiniões.

“A qualidade da história intrapsíquica dependerá “diretamente” da


qualidade das RPSs, que dependerá “diretamente”da qualidade das
construções psicodinâmicas, que dependerá “parcialmente”da
qualidade dos estímulos socioeducacionais e do gerenciamento do
eu sobre os processos de construção da inteligência.” (CURY,
2001, p.86)

A partir disso, a avaliação deve ser elaborada a fim de direcionar e redirecionar os alunos ao
processo de interpretação, construção dos pensamentos, leitura e releitura da memória. Assim,
o docente multifocal, incentiva o aluno a se tornar mais independente, provocando no mesmo,
reflexões sobre si e sua ação ativa no meio, sendo capaz de administrar seus pensamentos e
emoções. As mudanças de comportamentos acontecem a partir da capacidade de
gerenciamento do eu. E o docente multifocal é o mediador de todo esse processo. Deve deixar
de ser um simples treinador que treina os alunos para responder e resolver questões de provas,
em busca de “notas”, para tornar-se um elemento ativo no intercâmbio de idéias, nas relações
aluno-aluno e aluno-professor, promovendo o desenvolvimento da arte da formulação de
perguntas, da dúvida e da crítica de seus alunos.

Âncora da Memória: Sua Importância no Processo de Avaliação


A âncora da memória é um fenômeno inconsciente que se refere ao território de leitura da
memória num determinado momento da existência. Em cada ambiente que nos encontramos, a
âncora da memória dirige o território da leitura da memória para um grupo de informações
básicas. Por isso, temos freqüentemente uma construção de cadeias de pensamentos e de
reações emocionais particulares em cada um desses ambientes e circunstâncias (CURY, 2001,
p.138). Diante disso, podemos ativar através da âncora da memória, quando em contato com
estes ambientes ou situações, informações associativas ligadas a fobias, ansiedade,
insegurança. O desconhecimento de como controlar este mecanismo, produz mais RPSs,
podendo reforçar cada vez mais estes sentimentos. Quando o aluno possui uma relação de
tensão e medo do professor, há o acesso e leitura de situações e sentimentos que podem
comprometer sua capacidade de aprendizagem, gerando RPSs com informações ligadas a
estes sentimentos negativos em relação ao professor, sua disciplina e sua avaliação.
O docente da atualidade tem contribuído para a geração de RPSs associada a sentimentos
positivos, a partir da construção de um ambiente leve, tranqüilo e motivador?
Os estímulos intrapsíquicos, extrapsíquicos e intraorgânicos deslocam constantemente a
âncora da memória, influenciando decisivamente na qualidade do processo de interpretação e,
60 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal
conseqüentemente, na qualidade da produção dos pensamentos e na qualidade das
experiências emocionais e motivacionais que temos em cada momento (CURY, 2001, P.140).
A partir desta citação, percebemos a influência de um ambiente propício e prazeroso para a
construção saudável e positiva do processo de aprendizagem e avaliação. Neste ambiente, a
âncora da memória ativa territórios de leitura associados a sentimentos positivos, facilitando a
aprendizagem. Assim, o aluno apresenta tranqüilidade, controle e gerenciamento do eu,
tornando fácil a elaboração das respostas, no momento da avaliação. Ao contrário, se o aluno
está exposto a um ambiente hostil e estressante, pode resgatar emoções de territórios de leitura
da memória, provocando a produção de pensamentos e reações de insegurança e medo. Frente
a estímulos muito estressantes, podem acontecer bloqueios dos conteúdos (“o branco”) pelo
aluno, que envia a ‘âncora de memória’ para aquela área da memória. Assim, quando estiver
na presença do professor ou se submeter à avaliação de sua disciplina, tais sentimentos
poderão ser despertados.
Percebemos a importância do processo de avaliação neste contexto multifocal, como resultado
das experiências proporcionadas em sala de aula e relação aluno-professor. Quanto mais
prazeroso for este contato, mais sentimentos positivos serão construídos, favorecendo o
aprendizado do pensar antes de agir, o gerenciamento dos pensamentos e sua influência no
desenvolvimento e crescimento intelectual e introspectivo de cada aluno, bem como sua
atuação no meio.

Considerações Finais
Uma nova perspectiva de avaliação exige do docente-educador a modificação, o
desenvolvimento e a concretização de práticas cotidianas em uma direção inovadora que
resulte em um aumento qualitativo do processo de ensino aprendizagem. Para que avaliar, o
que avaliar e como avaliar devem ser reflexões contínuas para que o educador não perca o seu
objetivo principal, o desenvolvimento integral do aluno.
A avaliação multifocal significa quebrar paradigmas, mudar concepções, mudar a prática,
modificar seres de informações em seres de conhecimentos, conscientes e transformadores.
Sabemos que avaliar multifocalmente é um grande desafio. E temos duas opções: sermos
simplesmente transmissores de informações assistidos por espectadores passivos ou sermos
agentes facilitadores e instigar os nossos alunos a duvidarem do conhecimento e a
questionarem o seu processo de produção. Qual é a sua escolha?

61 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


CAPÍTULO VII - INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL:
PERSPECTIVAS DA AFETIVIDADE PARA A SALA DE AULA
Por Gláucia Yoshida 10

(...) o inconsciente é povoado de esquemas sensório motores ou operatórios


já organizados em estrutura, mas exprimindo o que o seu jeito pode “fazer" e
não o que ele pensa. Do ponto de vista qfetivo, ele está mesmo provido de
tendências, de encargos energéticos, logo de esquemas afetivos do caráter
(...) o presente afetivo é bem determinado, pelo passado do indivíduo, mas o
passado é ele mesmo incessantemente reestruturado pelo presente. Ora, isso
é profundamente verdadeiro nos sistemas cognitivos. (...) a tomada de
consciência é sempre em parte uma reorganização e não somente uma
tradução ou uma evocação.

Jean Piaget

A construção do indivíduo e o mal estarem na civilização


Quem não tem vivenciado a sociedade contemporânea em sua complexidade? Todos os dias
somos confrontados em diversas situações que nos remetem a reflexões e posturas que, na
verdade, nem sempre retratam quem somos. Na tentativa de compreender os indivíduos
inseridos nesta sociedade complexa, necessário se faz analisar conceitos que até então nos
permitia apreendê-lo em sua perspectiva social e também individual. As ciências
especializadas trataram com maestria de tais percepções e enfoques acerca do indivíduo.
Todavia não podemos mais compartimentalizá-lo pois, embora pareça múltiplo, cada ser
humano é único. Não podemos ainda delegar a um especialista a busca de explicações e/ou
generalizações para tudo aquilo que aparentemente tem sido expressões do cotidiano e da
realidade social.
Compreender as pessoas na complexidade de suas ações, bem como em suas diversidades
sociais, requer , portanto, a busca de uma configuração de pressupostos teóricos e/ou
interpretações. Uma tentativa desta compreensão é a oportunidade de percepção daquilo que
enquanto indivíduos somos capazes de produzir mesmo que involuntariamente, ainda que
inconscientemente, ou seja, suas emoções.
Falar de emoção pressuponha inicialmente uma tarefa para áreas do conhecimento da
psicologia, psicanálise, enfim ciências que poderiam lidar com o indivíduo em sua relação
consigo mesmo. A proposta desta discussão se dá na perspectiva de evidenciar que variados
instrumentos podem ser utilizados para uma melhor percepção dos indivíduos enquanto
agentes transformadores de sua própria realidade. À luz da teoria multifocal, significa
compreender a construção do indivíduo a partir do gerenciamento do ser “eu”, ou seja, como
um ser capaz de decidir e gerir pensamentos e portanto sua história.
Se a sociedade contemporânea tem causado mal estar nos indivíduos, como bem pontuou
Freud ao afirmar que isto é resultado da própria civilização, surge então outra possibilidade: o
indivíduo como agente transformador do seu eu interior. Significa afirmar que apesar das

10Msc em Educação – UFG, Socióloga - UFG, Especialista em Docência Universitária UNIVERSO, Especialista
em Educação e Inteligência Multifocal – Faculdade Michelangelo, profª de Pós-graduação, Diretora de Extensão
Universidade Salgado de Oliveira – Campus/Goiânia.

62 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


turbulências externas que em grande maioria fogem ao alcance das pessoas, todavia suas
emoções, seu intelecto, seus pensamentos poderão ser administrados, tornando-o feliz
independente da realidade. Isto não significa fazer o jogo do contente - como proposto na
literatura juvenil – Poliana, significa o auto- conhecimento e domínio próprio. Desta forma, o
conhecimento pessoal se dá definitivamente em sua relação como o outro e também consigo
mesmo.

Inteligência Multifocal e emoção


Mas afinal o que é gerir a emoção? O que é ser autor de sua história? Boa parte de nossas
atitudes são movidas por uma emoção. A qualidade dos registros da memória se darão
conforme a emoção. Os indivíduos se constróem e são construídos, tendo como embasamento
suas emoções, ou seja, os alicerces da afetividade. Ao observarmos portanto, a complexidade
de comportamentos e pensamentos dos indivíduos em uma sociedade também complexa, é
que a Teoria da Inteligência Multifocal poderá ser uma destas possibilidades de compreensão
dos mesmos e propostas para novas posturas.
A Inteligência Multifocal é uma nova teoria, de extrema importância, sobre o funcionamento
da mente humana e os processos de construção dos pensamentos. Através desta teoria é
possível compreender alguns dos complexos papéis da memória e dos fenômenos que
transformam a energia emocional e constroem as cadeias de pensamentos. Ela é multifocal
porque investiga múltiplas áreas da inteligência humana e das relações do homem consigo
mesmo e com o mundo. Toda a produção e construção dos pensamentos é realizada
inconscientemente nos bastidores da mente.
Segundo a Teoria da Inteligência Multifocal o “eu” é o único fenômeno consciente que produz
e gerencia os processos de construção da inteligência, uma vez que o mesmo se refere à
“consciência de si mesmo”, ou seja, consciência de que existimos, de que pensamos e nos
emocionamos e de que podemos administrar a inteligência. O eu é o fenômeno que expressa a
vontade consciente do homem. Sem esta, o homem é um ser que vaga irracionalmente como
os demais seres da natureza. Se fôssemos capazes de destruir o eu, estaríamos encerrados na
mais terrível solidão, existiríamos sem ter consciência de que existimos. As psicoses
esquizofrênicas comprometem a estrutura e a lógica do eu, por isso elas são graves.
A construtividade diária de pensamentos ultrapassa os limites do controle do “eu”. Ela é
gerada pelo fluxo vital dos fenômenos que produzem os processos de construção da
inteligência. Se os processos de construção dos pensamentos fossem produzidos apenas pelo
“eu”, e não também pelos fenômenos que estão nos bastidores da mente, esse período
fundamental do desenvolvimento da personalidade não ocorreria. Assim, todas as etapas do
processo de formação da personalidade não ocorreriam, pois o eu jamais atingiria por si
próprio o mínimo de maturidade para se auto-organizar, produzir pensamentos conscientes e
administrá-los.
A medida em que compreendemos a importância da emoção para a construção dos
pensamentos, do registro da memória e por fim na elaboração da inteligência, verificamos a
importância dos nossos papéis como gestores educativos ou educacionais. Em todas as
situações somos agentes e atores do processo educacional, quer profissionalmente quer nas
nossas relações cotidianas como pais e cidadãos que somos. Por assim dizer, somos
responsáveis em boa parte sobre as emoções que provocamos. Quantos de nós não fomos
submetidos a emoções conflitantes e estressantes em sala de aula ou em nossas relações
familiares por um descuido de um educador, pais ou parentes e até de nós mesmos? Quantos

63 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


de nós não submetemos outras pessoas a emoções conflitantes por não termos o conhecimento
necessário sobre a relevância das emoções?
O que fica registrado depende da emoção. A teoria multifocal reporta à existência das janelas
da memória, ou âncora da memória que fará com que pensamentos sejam produzidos no
impacto de determinada situação ou emoção. Temos portanto, as janelas killer que poderão
nos bloquear para novas situações, até mesmo de aprendizagem, se o registro da emoção tenha
sido algo desprazeroso.

Gerenciamento da Inteligência
Mas como gerenciar pensamentos e inteligência? Gerenciar a inteligência é um trabalho
intelectual complexo e difícil, pois grande parte dos pensamentos é produzida sem a
determinação e a elaboração do eu. Todos podemos afirmar que é impossível submeter
totalmente o mundo dos pensamentos ao nosso controle consciente. Porém, se a inteligência
não contasse com os três mordomos da mente nas quatro primeiras etapas da interpretação, o
eu, que é o grande gerenciador da inteligência, não chegaria a se formar.
O processo socioeducacional, produzido pelos pais e educadores, é apenas um ator
coadjuvante da complexa e sofisticada tarefa de produzir pensamentos. É claro que, quanto
mais eficiente e profundo for o processo socioeducacional, quanto mais levar em consideração
o desenvolvimento da inteligência e o processo de interiorização, mais chances tem o homem
de expandir e aprimorar sua racionalidade, sua produção de pensamentos.
Ao considerarmos o significativo papel que os educadores apresentam no sentido de
contribuir, para uma expressiva produção dos pensamentos do indivíduo, neste caso seu
respectivo educando, perceberemos que também, enquanto tarefa educativa, compete ao
educador o desenvolvimento de ações educativas que viabilizem um melhor gerenciamento da
inteligência do educando, e com o exercício desta habilidade, através da educação seja
possível também ser um agente de transformação e contribuição para o gerenciamento do eu.
A aprendizagem é um fenômeno que poderá ser analisado sob vários enfoques e olhares e
desta maneira cada ára do connhecimento poderia tratá-la conforme seu método. A
analisarmos a possibilidade de aprendizagem sob um enfoque multifocal, significa admitir que
a apreendizagem é automotivada, cada indivíduo ao abrir suas janelas da memória fará de
forma singular e única. Portanto serão as emoções registradas os coadjuvantes no sentido de
promovê-la. Todavia não devemos confundir aprendiagem com o armazenamento de
informações e sim considerarmos a mesma enquanto mudança de comportamento.

Práxis Pedagógica e afetividade


Qual seria portanto, do papel do educador como provedor de emoções em sala de aula? Seria o
educador o responsável pelo processo de gerenciamento do eu do educando? Até que ponto as
salas de aula poderão promover a liberdade de pensamentos do indivíduo se por tanto tempo
significou o cárcere das emoções? Objetivando discutir a aplicabilidade da inteligência
multifocal na realização da atividade pedagógica é preciso entender que inúmeras estratégias
foram e são discutidas no âmbito da pedagogia.
A pedagogia moderna chega até mesmo a renunciar a educação ao admitir as que as
impossibilidades e dificuldades detectadas durante um processo educativo poderá ser
diagnosticado e/o resolvido pela (psico) pedagogia. Sob este olhar é preciso evidenciar que
não se trata de uma renuncia de seu objeto, nem omissão de papéis. A partir de uma proposta

64 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


multifocal, o que é trabalhado e observado é a interpretação dos fenômenos e ações sobre os
mesmos, sem a perspectiva da generalidade. È preciso ressaltar que os indivíduos, ainda que
apresentem suas múltiplas características , são únicos.
Para viver este fato, qual seja, uma práxis pedagógica baseada na multiplicidade de
intervenções é que a afetividade emerge enquanto estratégia e possibilidade de um ato
educativo efetivo. Todavia é preciso estar atento ao conceito e aplicabilidade de afetividade.
Segundo (SALTINI 2002: p.78) “o ato amoroso consiste em se querer alguém que nos
entenda, nos ouça e nos veja. Não são necessários grandes carinhos, precisamos apenas de
alguém que nos veja, observe, perceba que existimos e que estamos aqui - a isso chamo de
relação afetiva.”.
Portanto, falar em práxis pedagógica, consiste em observar a capacidade que o educador
possui ou propõe em transformar a realidade de seu educando, bem como a sua a partir da
atividade docente. Neste sentido, a teoria multifocal permitirá ao educador compreender os
fenômenos da construção da inteligência não apenas a sua, mas em especial a de seu
educando. Desta forma, poderá aprender a se interiorizar, a criar raízes profundas dentro de si
mesmo, a melhorar a qualidade dos seus pensamentos a fim de gerenciar dores, perdas,
frustrações psicossociais e, sobretudo, a desenvolver a consciência crítica, o que possibilita se
transformar em agente da sua própria história, ou seja, um sujeito da práxis.
Nesta perspectiva afirma SALTINI (2002: p.81)

A educação é uma arte. Não é uma mera profissão ser educador.


Manipulamos a educação com as duas mãos: a do afeto e a da lei e
das regras. Enganam-se aqueles que vêem na educação construtivista,
uma educação caótica. O afeto buscando o prazer se transforma em
interesse e este por sua vez provoca a interação com o meio.

A afetividade está intimamente ligada ao exercício da docência. Ser educador consiste em


exercitar o afeto com os educandos. Neste caso o afeto ressurge enquanto estratégia pedagógica.
Só é capaz de aprender quem conseguir amar, só é possível ensinar quem for capaz de amar.
Para tanto, faz-se necessária a construção de vínculos entre educadores e educandos, no
sentido de solidificar os laços de confiança, carinho, proteção e cuidado, de ambas as partes.
Uma vez estabelecidos os vínculos saudáveis, a afetividade permeará as relações e assim elas
só tenderão a estabelecer um “eu” mais seguro e confiante nos educandos.

Princípios e Possibilidades para um Educador Multifocal


Várias são as propostas pertinentes á formação de educadores. Boa parte delas imbuídas num
único propósito, a capacitação de mestres a fim de exercerem com prudência e maestria a
importante tarefa de educar. Assim ao questionarmos valores e princípios para a formação do
bom educador, observamos alguns princípios que deverão nortear sua práxis pedagógica.
Significa a ruptura com antigos paradigmas e a vontade de uma nova possibilidade. Ser
educador um multifocal é muito mais do que exercitar as habilidades exigidas pelo magistério.
Para realização desta proposta, é de extrema importância um bom curso de licenciatura ou
docência planejado com cuidado por estudiosos da área.

65 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Trata-se portanto, do envolvimento e da paixão, da boa vontade e da crença, do desafio e da
esperança. Esperança de uma sala de aula melhor, de um laboratório de idéias, do gozen
(paraíso - separado) ao invés do cárcere. Ser um educador multifocal significa gerenciar sua
própria emoção antes de gerir as emoções do educandos, significa construir e reconstruir sua
historia sob novos alicerces. Saber conduzir focos de tensão produzidos no cotidiano
acadêmico superando o homo bion para alcançar o homo sapiens (inteligente).
Traduzindo estas reflexões em diretrizes e possibilidades para operacionalizações práticas,
descrevo a seguir algumas competências do educador multifocal:

• Buscar atuar no processo de construção dos pensamentos, na transformação da energia


emocional, na formação da história intrapsíquica e na formação do eu do educando.

• Estimular a capacidade de pensar do educando para que ele não apenas seja capaz de
criticar o mundo que o envolve, mas também de criticar a. interpretação do educador, suas
técnicas e seus procedimentos.

• Estimular a capacidade de análise multifoca1 do educando para que possa superar as


contradições e as contrariedades da vida.

• Levar o educando a proteger sua emoção diante dos estímulos estressantes e trabalhar suas
perdas e frustrações.

• Estimular os educandos a desenvolverem a arte da contemplação do belo, o prazer pela


vida e o sentido existencial.

• Conduzir os educandos a compreenderem os papéis da memória e a reescrever a história


consciente e inconsciente nela arquivada.

• Estimular os educandos a terem como meta não apenas a resolução de sua aprendizagem,
mas a procurar a sabedoria como meta de vida.

• Levar o educando a resgatar a liderança do eu nos focos de tensão.

• Possibilitar ao educando a expansão do território de leitura da memória (Âncora da


memória).

• Conduzir o educando a gerenciar a construção dos pensamentos e a transformação da


energia emocional produzidos pelo fenômeno do autofluxo e pelo gatilho da memória.

Estas ações são pertinentes à prática educativa. Sendo assim o educador poderá em suas ações
cotidianas refletir e aprofundar os elementos que poderão contribuir para a aprendizagem
efetiva de seus educandos. Sistematizando este processo, apresento como ocorre na vivência
em sala de aula a aplicabilidade dos conceitos da Teoria de Inteligência Multifocal.

66 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


Aplicando a Teoria Multifocal em Sala de Aula

• imagens
Professor Conteúdo
• som
• diálogo

Recursos
Procedimentos Multifocais Didáticos

Aluno Arte da formulação de


Gatilho da
perguntas Memória

Autochecagem da memória Resgate de


conteúdos
anteriores
Emoções Arte da dúvida
Fantasias
Sinapses

Pensamentos Arte da crítica Organização dos


dialéticos elementos da
aprendizagem

Representações
Diretivas: o conteúdo apresentado
Psicossemânticas
interage com o sujeito do conhecimento
Associativas: O conteúdo em si não
expressa relação com o sujeito, mas pode
ser associado a outros sentimentos.

Produção de
Pensamentos Aprendizagem Práxis
Essenciais

Educar multifocalmente é sem dúvida uma proposta didático pedagógica e que cada educador
poderá adotar como princípio profissional. Quando trabalhamos na formação de novos
profissionais, no caso das licenciaturas, ou seja, a formação de novos educadores, estas
concepções poderiam tornar-se sistemáticas se fizessem parte de uma matriz curricular.
Recentemente tive a oportunidade de ler em um depoimento de uma aprendiz que após fazer
magistério e tornar-se acadêmica do curso de Licenciatura em História, que inicialmente seus
primeiros contatos com a disciplinas da área de didática levaram-na a pensar que seria tudo a
mesma coisa. No entanto, enquanto educadora que busca um aporte teórico-metodológico na
teoria da inteligência multifocal, foi possível a mim, resgatar elementos que viabilizaram um
novo olhar para esta futura educadora. Em um primeiro momento ela achou algumas idéias
utópicas, hoje ela concorda que o exercício docente só se realiza a partir do sonho inicial dos

67 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


educadores. Entre os desafios do ensinar e do aprender está o de compartilhar...educandos e
educadores imbuídos em um só propósito. O importante é acreditar no sonho...
Para ser portanto, um educador multifocal é preciso sonhar e também cuidar da qualidade de
vida. Como administrar uma sala de aula se o educador não souber administrar suas emoções?
Como abrir as janelas da memória dos educandos se a dele estiver fechada, bloqueada para o
novo, desencantada para o belo?
Minhas alunas, formandas em Pedagogia experimentaram durante 12 Semanas a proposta de
mudarem suas vidas. Com atitudes simples, gestos pequenos e com uma grande capacidade de
decidirem por serem felizes e verdadeiras profissionais, elas se prontificaram em se
prepararem para serem educadoras fascinantes. A universidade se incumbiu de lhes
repassarem metodologias, porém suas decisões pessoais e seus entendimentos do que é se ser
um educador multifocal e que houve por parte delas trabalharem para serem educadoras
fascinantes.

68 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para ser válida toda educação, toda ação educativa, deve


necessariamente ser precedida de uma reflexão sobre o
homem e de uma análise do meio de vida concreto, do
homem concreto a quem queremos educar ou melhor, a
quem queremos ajudar a que se eduque. Se vier a faltar tal
reflexão sobre o homem, corre-se o risco de adotar
métodos educativos e maneiras de agir que reduzem o
homem à condição de sujeito quando a sua vocação é a de
ser sujeito e não objeto.
Paulo Freire

A teoria da inteligência multifocal vem justamente respaldar a necessidade de aproximação de


variadas ciências no sentido de compreender a essência da mente humana. No caso dos
educadores, especificamente, necessário se faz apreender os mecanismos que viabilizem o
processo de ensino-aprendizagem, sendo que parte deles estão relacionados à aproximação
entre educador e educando sob o âmbito afetivo. E ainda que, parte das dificuldades de
aprendizagem podem ser detectadas ao identificar a limitação de educadores em compreender
o funcionamento da mente e, portanto, comportamentos considerados desviantes, se o referido
educador pautar-se em pressupostos de uma pedagogia tradicional.
As contribuições da teoria multifocal na educação, servirão para instrumentalizar educadores
para que o ato educativo seja de fato, a expressão de uma práxis-pedagógica, em que
elementos e conceitos como o inconsciente permitam que tal ato ultrapasse os limites do giz e
construa a trama e o drama da educação, a partir da compreensão de instâncias que não
apenas pelas questões educativas e cognitivas, mas também pelas afetivas.
Um caminho longo e árduo ainda precisa ser trilhado para que esta nova teoria seja validada e
reconhecida, mas discussões como estas são os primeiros passos de um longo processo de
busca de construção sistemática de conhecimento, que, neste livro, perpassou pelas discussões
que vão desde as bases biológicas deste processo, pelo olhar da auto-estima, das influências
desta teoria na prática andragógica, pelos contextos das organizações e dos currículos com
suas subjetividades, e fechando com o olhar da afetividade que permeia o processo de ensinar
e aprender no espaço da sala de aula.
Esperamos, com este trabalho, estimular novas pesquisas que possam corroborar com a
elucidação de dúvidas e lacunas que precisam ser sanadas e preenchidas para que uma
compreensão mais aprofundada e científica possa ocorrer quando se fala do tema Inteligência
Multifocal e espaço do aprender, que neste livro em especial, é o espaço do Ensino Superior.

69 Livro – Do Giz a Afetividade – A Trama e o Drama da Inteligência Multifocal


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