Copyright © 2020 Sarah Mercury
RENDIDA AO MAFIOSO
1ª Edição |Criado no Brasil
Edição digital
Autora: Sarah Mercury
Revisão e diagramação: Luana Souza
Capa: T.V. Designer
Artes: Luana Souza
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL DESTA OBRA, DE QUALQUER
FORMA OU POR QUALQUER MEIO ELETRÔNICO OU MECÂNICO, INCLUSIVE POR
MEIO DE PROCESSOS XEROGRÁFICOS, INCLUINDO AINDA O USO DA INTERNET,
SEM A PERMISSÃO EXPRESSA DA AUTORA (LEI9.610 DE 19/02/1998).
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LUGARES E
ACONTECIMENTOS DESCRITOS SÃO PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DA AUTORA.
QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS É MERA
COINCIDÊNCIA. TODOS OS DIREITOS DESTA EDIÇÃO SÃO RESERVADOS PELA
AUTORA.
Atenção
Dedicatória
Agradecimentos
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Trilogia "Camorra"
Outros trabalhos meus
Sobre a autora
Redes sociais
Esse livro trata-se de um romance dark. A obra contém cenas
de sexo explícito, violência, tortura, palavras de baixo calão e
assassinato. Portanto, é indicado para maiores de 18 anos. Se você
é sensível a esse tipo de conteúdo, não leia, pois contém gatilhos.
A autora não concorda de forma alguma com tais atrocidades.
É uma história fictícia.
Dedico a todas as pessoas que acreditam no meu trabalho,
abraçam meus personagens com carinho e me incentivam a
continuar melhorando cada vez mais.
Agradeço:
A Deus por me capacitar a continuar escrevendo mesmo com
tantas perseguições e críticas;
À minha tia Celma por ser uma grande incentivadora e acreditar
em meu potencial;
E aos meus amigos e leitores da Wattpad.
Sou grata em especial à minha revisora Luana, à minha amiga
Maiza, à Fran pelas divulgações e indicações, e à minha leitora Bete
Dorta.
Todos vocês foram essenciais para a criação dessa obra. Por
várias vezes quando pensei em desistir, me deram forças para
continuar.
Muito obrigada!
Marco Moretti sempre se sentiu perdido desde criança. Ele
passou a viver na sombra do seu melhor amigo Vincent para sentir
que tinha um propósito de vida. Nunca quis coisa alguma para si e
jamais ambicionou nada, até o dia em que em uma de suas missões,
seus olhos bateram nela. “Misericórdia” era uma palavra
desconhecida para o homem sem coração e com um único objetivo:
vingar a morte de sua mãe e colocar o melhor amigo no poder.
Angel foi quebrada tantas vezes que achava que seu propósito
de vida era sofrer. Sozinha e contando consigo mesma, se deixou ser
usada e caiu no mundo das drogas para aplacar a dor que sentia. Ela
nunca quis tanto sobreviver quanto no dia em que seus olhos
encontraram os dele. A garota achou que seria seu fim, mas foi o
início de tudo, e vai entender por bem ou por mal que quando Marco
fica obcecado por algo, ele luta com tudo dentro de si para conseguir.
O Anjo e o demônio terão que compreender que depois do
caos, sempre vêm as tempestades, mas que unidos podem
ultrapassar todas elas e saírem mais fortes.
Ela só quer recomeçar.
Ele deseja tê-la para si.
Ela foge dele porque o teme.
Ele a persegue porque precisa dela para se sentir vivo.
Duas almas perdidas e feridas são capazes de encontrarem a
redenção juntas?
O barulho alto do lado de fora do quarto me faz pular da cama.
Encontro Lorena no corredor, de roupão, tão assustada quanto eu.
Alguém está tentando invadir o apartamento e cada batida violenta
nos faz saltar. Nino pede para que façamos silêncio e mantenhamos
a calma. O que é quase impossível de acatar, já que a qualquer
momento poderemos estar todos mortos.
Uma semana se passou desde a saída de Marco e
continuamos no escuro. Dizer que o pior já tinha passado em minha
mente é um eufemismo.
Ninguém sabe de nada, e se sabem, não compartilham nem
mesmo com a esposa do chefe. Isso me faz acreditar que a situação
é muito pior do que aparenta.
Lorena segura firmemente uma das minhas mãos e esperamos
a bagunça terminar. Logo a porta do elevador se abre e vários
homens entram armados já se sentindo os donos do local. Nino parte
para uma luta corporal com alguns, e como esperado é nocauteado
rapidamente, levando um tiro à queima roupa. Lá se vai a nossa
única oportunidade de sobrevivência. Se é que tínhamos uma.
Eu sou uma pessoa que nasceu condenada. Eu tive uma
péssima mãe e um pai ainda pior. Mamãe era uma prostituta dos
Dragons Mc's e papai era um dos seus fodidos membros. Eu fui
criada em meio ao caos, no de pior que existe no mundo: drogas,
depravação, bebidas, armas, homens sem escrúpulo algum e
mulheres que fariam qualquer coisa para ter um colete e serem
consideradas uma old lady. Porém, a maioria delas era somente um
passatempo para os caras, ou como eles gostavam de nos chamar,
apenas cadelas. E minha mãe foi uma dessas sortudas. Um belo dia
ela percebeu que não ia conseguir o que tanto queria e sumiu no
mundo, me deixando ainda pequena para trás com um homem que
venderia a própria mãe para agradar o seu presidente, o que dirá a
filha.
Para o meu azar, eu nasci bonita e sempre chamava a atenção
do sexo oposto. Aos treze anos perdi minha virgindade e aos quinze
eu já tinha dormido com mais homens do que eu podia contar. Com o
tempo aprendi a usar meu corpo e manipular todos os homens para
eu ter o que precisava.
Estava indo tudo muito bem e eu tinha um plano:juntar dinheiro
o suficiente para fugir do estado e começar a estudar. Mas
novamente a vida me deu uma rasteira. Snake se interessou por
mim, e o que tanto outras garotas queriam dele, eu consegui de
graça a um alto custo. Com ele eu aprendi o que é sexo sujo e fui
apresentada à minha perdição:as malditas drogas ilícitas. Esse é um
caminho escuro e sem volta.
No início eu tinha tudo que eu queria dele e achava maravilhosa
a sensação de usar essas substâncias, até meu vício me controlar e
eu jogar baixo para conseguir o que desejava. Eu já não era tão
gostosa com a minha magreza e Snake me trocou por outra. Eu
passei de dormir com um homem só, a dormir com qualquer um que
me desse algumas migalhas de drogas, apenas para ter um pouco
mais do que me destruiu.
Eu me vendi, me perdi, abandonei meus propósitos e quase
paguei com a vida por isso.
Sonho todas às noites com aqueles olhos cor de mel. Ele tanto
me apavorou quanto fez eu me sentir viva. Quando apontou sua
arma para mim, jurei que eu morreria e ousei achar por alguns
segundos que alcançaria ao menos no fim da vida um pouco de
misericórdia e que qualquer coisa era melhor do que a vida que eu
estava levando. Mas ele hesitou e no último minuto me libertou.
Desde estão estou à procura de achar a minha libertação, a qual não
encontrei ainda.
O que fazer quando o próprio demônio em pessoa não teve
pena de mim? Estou muito lascada para esperar redenção dos céus.
— Angel! Troca de turno comigo! — Isa grita atrás de mim.
Lá vem! Hoje não é meu dia.
— Se eu puder ficar com metade das suas gorjetas, eu topo.
Ela abre a boca, em choque.
— Que maldade, Angel!
— Não é não. Terei que ficar praticamente toda a noite depois
de doze horas trabalhando. Nada mais justo do que você me pagar.
— Achei que amigos faziam favores uns aos outros.
Jogo o pano em cima da mesa, com raiva, e a encaro.
— Querida! Tenho cara de instituição de caridade? Não somos
amigas, e sim colegas de trabalho, e de graça nem injeção na testa.
Se não quiser me pagar para cobrir a sua bunda, se vira!
— Sua grossa! Tudo bem. Eu te pago. — Joga algumas notas
em cima da mesa e eu não me faço de rogada, nem volto atrás em
minhas palavras.
Até parece que sou trouxa! Todo dia uma desculpa diferente.
Uma vez ou outra, eu até faria, mas não direto com essas conversas
esfarrapadas para cima de mim. Eu venço não.
— Ótimo! — Pego o dinheiro e guardo no bolso.
Termino de limpar tudo e aproveito meu intervalo para sair um
pouco para fumar. Preciso de dinheiro. Muito dinheiro. Estou
tentando me manter limpa, mas está cada vez mais difícil não voltar a
usar substâncias.
Chris senta ao meu lado e faz um sinal para que eu divida com
ele meu cigarro. Ficamos apenas calados aproveitando o silêncio. O
mesmo tem me ajudado muito desde que eu pedi um emprego aqui.
Tá! Ajudar é um termo forte. Temos trocado favores. Eu fico
com ele em troca dele me deixar dormir num quartinho mequetrefe
que tem aqui nos fundos. É uma porcaria e cheira a mofo, só que é
melhor do que nada e eu economizo mais dinheiro.
Dinheiro que você compra drogas! — minha mente zomba de
mim.
— Estava pensando em nós dois termos um tempo mais tarde.
O que acha? — sugere.
— Não vai dar. Vou cobrir a Isa de novo. — aviso.
— Droga! Essa menina tem me dado muito prejuízo.
— Prejuízo por ela não te pagar as faltas dela como você
gostaria?
Ele gargalha.
— Algumas bocetas diferentes durante a semana é legal.
— É claro que é. Ainda mais se você não precisar pagar por
elas. — ironizo.
— Negócios, gata.
— Não tiro a sua razão.
E quando um deles nos vê diferente?
— Aquele cara estava rondando por aqui de novo. Eu não
quero confusão com a máfia.
— Não tenho culpa se ele é um idiota.
— Idiota ou não, ele pode me ferrar, e a sua boceta não vale
um estabelecimento novo.
Filho da puta!
Suspiro me lembrando o porquê de eu precisar ouvir essas
merdas e não mandá-lo ir se foder.
— Tudo bem. Prometo que se eu o ver hoje, vou falar com ele.
— Não me faça expulsá-la daqui, Angel! — Sai me deixando
com meus pensamentos insanos de novo.
— Babaca! — resmungo para mim.
Seis horas mais tarde eu fecho tudo e vou para meu quartinho/
depósito e me jogo no colchão.
A vozinha inquietante pede para eu pegar aquilo que sei que
me dará o alívio que preciso. Tento segurar o máximo que posso,
mas hoje ela me vencerá de novo. Estou no meu limite. Tive que
fazer um boquete em um cliente nojento que me ofereceu cinquenta
dólares e ainda aguentar as reclamações do Chris na minha cabeça.
Meia hora depois desisto de lutar comigo e aspiro o pó quase
mágico. Um dia perdido, um dia mais perto da morte. Eu sei que sou
patética e muito fraca. É o que eu ouvi a minha vida inteira de todos a
minha volta, e ultimamente estou começando a concordar com eles.
O cansaço me vence e eu durmo logo em seguida.
(...)
— Eu preciso de só mais um pouco, Erick. — imploro.
— Não dá. Você está me devendo muito. Logo é a minha
cabeça que irá rolar se você não me pagar.
— Eu faço o que você quiser. Final de semana eu irei receber e
te pago tudo. Por favor!
— Angel, você vai me colocar em encrenca!
— Eu faço anal. Por você, eu faço qualquer coisa.
Ele ri.
— Por mim nada. Por isso aqui. — Balança o pacotinho na
minha cara.
— Que seja! Dá no mesmo.
— Seu último comigo. E ai de você se me passar a perna!
— Tudo bem. — Pego a porcaria.
Depois de pagar o combinado, eu saio correndo feliz por
garantir pelo menos o de hoje.
Entro no beco que leva à lanchonete, ansiosa para ficar
sozinha, então paro quando vejo um vulto.
— Você não deveria estar usando isso. — uma voz me diz à
minha esquerda.
Observo a pessoa na sombra, encapuzada, não me permitindo
ver seu rosto.
— Foda-se! Eu te perguntei algo?
— Só estou te avisando. Isso vai te colocar em encrenca.
— Agradeço sua preocupação, mas eu sou bem grandinha e
sei me cuidar. — digo e passo por ele.
— Até logo, Angel.
Não respondo.
Cara estranho. Não vou dar moral para uma pessoa que se
mete na vida das outras e nem tem o respeito de mostrar a cara. Eu
não deveria usar? Ele acha que eu não sei disso? Idiota!
Faço duas carreiras, puxando para dentro, punindo meu corpo
pelas minhas idiotices e poluindo ainda mais a alma podre que eu
tenho. Olho para o teto e as luzes ficam mais brilhantes enquanto
passarinhos voam felizes e cantam pela floresta. O cheiro de flores
na mata verde e o barulho de uma água de um rio ao longe me
mostram o quanto é perfeito aqui. Será por pouco tempo essa
sensação e logo a realidade virá com força bater na minha cara e me
chamar de trouxa. Só posso dizer que se eu morresse agora, eu diria
com um grande sorriso no rosto:“Seja bem vinda, dona morte!”.
Obsessão: essa é a palavra certa para isso que estou fazendo.
Persigo-a mesmo depois de eu dizer que não queria mais vê-la na
minha frente. Culpa inteiramente dela. Passei a vê-la direto quando
eu vinha buscar o café do Vincent com a Lorena. E com tantas
Starbucks em Los Angeles, a garota tinha que conseguir emprego
logo nessa aqui que eu mais frequento e que consequentemente
meu chefe gosta também.
Ela está mais bonita. A aparência de adolescente doente sumiu
junto com a magreza, a deixando com cara de mulher. Eu me vi
desejando-a mais do que desejei qualquer outra que passou pela
minha cama nesses meus 31 anos. Nunca quis tanto algo como
quero essa menina. Eu só posso estar ficando louco. Seja lá o que
Vincent pegou, deve ser infeccioso, pois estou vendo alguns dos
sintomas se manifestarem em mim.
Saio do beco assim que ela entra no local de trabalho e vou
atrás do stronzo que descumpriu minhas ordens e lhe vendeu mais
drogas. É difícil esses moleques ao menos uma vez na vida
facilitarem o meu dia, porra?!
— Erick! — eu chamo e ele me olha de olhos arregalados.
— Senhor! Fiz algo errado?
— Eu não disse que não era para vender mais drogas para a
Angel?
— Ela implorou e até me ofereceu sexo em troca.
Meu sangue ferve com sua fala. Ela é minha e ninguém deve
tocar no que me pertence. Hoje esse cara vai entender essa merda
de uma vez por todas.
— E você, esperto como é, não resistiu aos seus encantos, não
foi? — indago com uma calma que não sinto por dentro.
— Sabe como é. Somos homens, e se uma mulher nos oferece
seu corpo, só aproveitamos, ainda mais sendo de uma gostosa como
a Angel. — ele gargalha e eu me mantenho sério.
Jogo meu cigarro no chão e piso com mais força do que o
necessário em cima, arrastando meu pé bem devagar sem tirar os
meus olhos dos seus. Ele engole em seco, sabendo que não estou
achando graça da sua piada ridícula.
— Interessante saber que você deixa seu pau tomar as
decisões na hora de fazer negócios.
Ele abre a boca várias vezes tentando achar uma desculpa
esfarrapada.
— Eu juro que vou cobrar ela depois.
Minha paciência fugiu correndo há uns dois minutos, e olha que
geralmente eu sou o mais sensato na hora de fazer meu trabalho.
— O negócio é o seguinte. — O empurro na parede. — Ela não
tem mais dívida com você, e se eu souber que andou vendendo para
ela de novo, vou te matar lentamente com a minha faca e arrancar
toda a sua pele imunda para fora do seu corpo com você ainda vivo.
Entendeu? — O solto, deixando-o cair no chão, tossindo.
— Si... Sim, senhor! — gagueja tentando se levantar
novamente.
— É bom mesmo que tenha entendido, porque eu não tenho o
costume de avisar duas vezes. Saia da minha frente antes que eu
decida voltar atrás sobre esperar!
Ele se levanta e sai tropeçando no lixo jogado no chão. Otário!
Coço a barba, pensando no que vou fazer para tirá-la desse
mundo em que se meteu. É um caminho fácil e atrativo de entrar, que
depois te suga e te destrói até não restar nada mais que um protótipo
de um ser humano.
Agora que a guerra está controlada estou me sentindo um
pouco perdido.
Tantos anos lutando por uma causa, e agora que vencemos, me
sinto sem propósito. Vincent está refazendo sua vida com a Lorena e
esperando seu primeiro filho. E eu? O que sobrou para mim depois
de tudo? Eu sinto que ele não precisa mais de mim. Não como antes.
E isso tanto me deixa feliz por ele quanto chateado. Nossa promessa
de estar sempre um pelo outro parece muito ridícula olhando por
esse ponto de vista. Mas vida que segue. Problemas não me faltam e
eu faço questão de pegar e tratar pessoalmente cada um deles para
ocupar a cabeça e não me sentir um inútil. Fui treinado para estar em
campo, na comissão de frente. Sentar e esperar as coisas caírem do
céu, nunca foi o meu forte.
Meu celular vibra no bolso e eu o pego já imaginando quem
seja. Poucas pessoas têm meu número e a maioria delas são quem
realmente eu preciso manter contato. Leio a mensagem de Vincent
pedindo para que eu passe na boate. Entro no carro e dou partida,
indo direto para lá.
Chego no Dark Nigth em menos de vinte minutos.
Provavelmente estourei os limites de velocidade permitida.
Sento-me no bar e peço uma dose de tequila. Observo os
corpos dançando na pista como se aqui fosse o lugar mais seguro do
mundo. E de certa forma não estão errados. Não porque somos
bons, e sim por nós sermos um perigo maior do que os que eles
temem lá fora.
Vincent se senta ao meu lado, todo sorridente, e isso me irrita.
Fico calado e não devolvo seu olhar avaliador.
— Anda sumido. É algo com que eu deva me preocupar?
— Não. Está tudo bem.
— Marco, sabe que pode confiar em mim, não é?
Balanço a cabeça positivamente.
Eu sei que posso, mas eu não quero compartilhar o que estou
sentindo. Ele agora é meu capo e nossas relações pessoais devem
ser restritas e se tornarem ainda mais profissionais do que antes.
Aqui na frente de todos, eu sou somente seu executor e ele é meu
chefe.
— Como está a Lorena? — eu pergunto e ele me olha sério,
sabendo que estou mudando de assunto de propósito.
— Bem. Andou perguntando por você.
— Não está fazendo o serviço direito e precisa de mim para
ajudar? — zombo dele.
— Foda-se! Você não vai usar suas ironias em cima de mim
para escapar das minhas perguntas.
— Eu tenho que ir. — Me levanto.
— Marco? — ele me chama e eu o olho, esperando suas
ordens. — Você não está usando de novo, está?
Franzo a testa com sua pergunta estranha, porém muito válida
para quem me conheceu no fundo do poço.
— Não. Você sabe que larguei essas porcarias há anos.
— Então o que está te deixando aéreo e o fazendo se afastar
desse jeito? É a garota da cafeteria?
— Desde quando você se tornou tão sentimental assim? — Não
aguardo sua resposta. — Preciso ir. Tenho algumas dívidas para
cobrar.
Saio o mais rápido que posso da boate, ainda sentindo sua
avalição pelas minhas costas. Eu sempre fui sozinho e nunca quis
essa besteira de família para mim, mas agora vendo como ele está,
começo a questionar se não seria bom eu tentar também. Não
parece tão ruim quanto eu achava antes.
Droga! Olha no que eu estou pensando! Só pode ser que
aquela bebida estava batizada.
— Marco? — Alec me chama.
— Me diz que temos alguém para esfolar vivo! Preciso
urgentemente de uma distração.
Ele ri achando engraçado, não sabendo que não estou
brincando nem um pouquinho.
— Então você vai gostar de saber que Snake está de volta
reagrupando os antigos membros que sobraram vivos e recrutando
alguns novos para os Dragons.
— Foda-se! Esse cara não pode ir montar seu grupo de Mc's na
casa do caralho?
— Pelo que eu andei averiguando, eles vieram com a intenção
de ficar.
Agora que Dragon morreu, provavelmente Snake ficará como
pres, e sabe lá atrás do quê ele está em busca, não é?
— Vingança. — afirmo. Não precisa ser muito esperto para
saber o que ele quer. — Vou pessoalmente cuidar disso. Fique de
olho por aqui!
— Tudo bem. E... Marco? — Alec me chama e eu me viro de
novo para ele. — A tal Angel pertencia ao Snake. Se você não a
reivindicou ainda, é melhor deixar claro que ela é sua.
Oh, eu vou! Se esse cara a quisesse, não a teria deixado para
trás para morrer. Não me surpreende Alec saber dos meus passos.
Eu o mataria se ele não fosse observador e estivesse sempre ciente
do que acontece a sua volta. Não é chefe da segurança do Vincent
por pouco, já que foi mérito seu conquistado por anos de trabalho
duro para chegar até aqui.
Passo metade da noite procurando por qualquer pista que me
leve ao novo lugar dos Dragons. Eles estão mais espertos depois do
que eu fiz com o velho galpão. Não estarão tão despercebidos, e isso
é perigoso, pois podem se sentir confiantes e tentarem nos atacar no
nosso território.
(...)
Subo a colina com o farol baixo para não chamar a atenção e
paro a uma distância segura do suposto lugar em que eles estão.
Não me surpreende quando percebo que voltaram para o primeiro
local de origem. A mensagem é clara:estão querendo de volta o que
perderam. Devo admitir que Snake é corajoso, mas muito idiota
também. Pode se achar esperto, só que não conta com uma coisa:
no forno que ele forja sua balas, eu não só comprei, como também
me tornei o especialista. Ninguém me provoca ou me desafia e fica
por isso mesmo.
Com base na vida que tive e na maneira que fui criado desde
muito jovem, aprendi que eu não seria merecedor de nada se não
provasse que realmente mereço, pois nada vem de graça. Nunca
senti que minha vida valesse algo para alguém, então assim decidi
que meu único objetivo enquanto eu respirar, será caçar, torturar e
matar em nome da máfia. Se eu morrer em batalha, tudo terá valido a
pena e eu terei vivido tempo o suficiente no meio dessa merda. Pela
famiglia, eu menti, roubei, extorqui e trafiquei, e tudo isso não foi o
suficiente para me fazer parar ou ficar de consciência pesada ao
colocar a minha cabeça no travesseiro.
A besta: é assim que eles me chamam pelas costas. Há quem
diga que sou o braço direito do próprio demônio. Já mandei tantas
almas para o inferno que acredito que isso seja realmente verdade.
Eu estou longe da redenção e nem a quero se for para me tornar um
ninguém. Eu nasci para essa vida e prefiro ser temido do que ter meu
nome levado ao caos e ao medo. Eu me sinto vivo assim e um dia
quando eu me for, eu ainda serei lembrando pelos meus feitos.
Aquele que mesmo sendo um bastardo rejeitado, deu o seu melhor
pela Camorra e conseguiu o seu espaço.
Entro na cafeteria, louco por um café amargo para ver se ele
espanta esse maldito sono. Horas sem dormir dentro do carro,
vigiando os Dragons, não foi fácil. Escolho uma mesa encostada na
parede. Essa é uma mania da qual nunca irei perder e agradeço ao
Henrique por isso. Gosto de poder olhar quem está à minha volta e
ter a certeza de quem entra e sai, porque assim estarei preparado
para eventuais acidentes.
A garçonete me atende receosa e eu quase rio por suas mãos
tremerem ao anotarem meu pedido. Em minha visão periférica,
procuro meu alvo e não a vejo. Eu tentei me convencer durante a
noite, enquanto pensava sozinho, que eu deveria deixá-la em paz e
não perturbá-la, mas não consegui, e aqui estou eu descumprindo
um juramento feito para mim mesmo, e tudo porque a porra do meu
pau fica duro só de imaginá-la nua embaixo de mim. Ela passou a
povoar minha mente como um maldito vicio e eu a quero, nem que
seja apenas por uma vez. Talvez assim essa ânsia e necessidade
descontrolada passe e eu possa seguir minha vida. Só pode ser pelo
desafio. Isso faz parte de mim e eu preciso me saciar para poder
voltar a ter o mesmo foco de antes.
— Menina, a Angel veio hoje? — pergunto.
— Sim. — A garota parece que vai desmaiar a qualquer
momento.
— Me trás um café puro e dois donuts!
A garçonete sai quase correndo.
Eu volto a procurar por ela. Encontrá-la aqui bem debaixo do
meu nariz e no meu território vai ser uma maravilha, do jeito que eu
gosto. A menina facilitou muito pegando nossos produtos e não
pagando.
Não demora muito para que ela apareça entregando uma
encomenda a um dos clientes, e eu me embebedo da sua beleza
porque sei que no exato momento que ela bater seus olhos em mim,
vai me reconhecer e fugir. Eu estou ansioso para sair à sua procura.
Droga! Uma vez com essa menina é muito pouco. Será minha
pelo tempo que eu necessitar dela, que só não sabe disso ainda. Eu
a poupei porque eu vi que ela é diferente, e eu tirei essa conclusão
no exato momento em que bati meus olhos nos seus. No fundo acho
que senti algo me puxando, mas não era o momento, além de que eu
precisava de tempo e tinha outras coisas em mente. Agora estou livre
para pegar o que me pertence.
Logo o seu rosto se vira em minha direção, então seu sorriso
morre e seus olhos se arregalam quando batem instantaneamente
nos meus. Choque, raiva e medo: eu vejo tudo isso claramente em
seu rosto, como da primeira vez. Conto até dez para vê-la sair do
transe, se virar e correr. E ela não me decepciona. Volta para a porta
de onde saiu, com certeza indo fugir pela outra dos fundos.
Respiro resignado. A garota vai me dar trabalho. Nunca soei
tanto por uma boceta. Mas foda-se se se eu fico animado por
imaginar o que farei com ela quando alcançá-la e o quão saborosa
será a minha recompensa!
Dou alguns segundos a mais de vantagem para que ela possa
escapar e gemo com a adrenalina correndo em minhas veias,
fazendo o meu membro pulsar em minha calça, friccionando nela ao
ponto de doer. Sorrio quando termino meu café e me levanto
deixando notas o suficiente na mesa para pagar bem mais do que
uma xícara do líquido preto fumegante e duas rosquinhas. Saio
calmamente estudando e tentando imaginar por onde ela foi e vou
para os fundos da lanchonete, onde de longe vejo somente seus fios
loiros pulando o muro de trás.
Lenta, minha Angel. Muito lenta.
Tudo pulsa mais forte em mim, e como um animal sentindo o
cheiro de sua presa sem conseguir enxergar mais nada em sua
frente, a não ser o seu alvo, eu respiro fundo, me preparo e corro
atrás dela. Pulo o muro e quase gargalho quando a vejo olhar para
trás e acelerar ainda mais sua fuga. Comparada a mim, ela é
pequena, e dois dos meus passos dão o dobro do dela.
Logo eu a alcanço, seguro seus braços e a jogo na parede mais
próxima, a fazendo gritar de susto.
— Eu fiquei fora do seu caminho. — diz sem fôlego.
— Não ficou, Angel. Você comprou drogas de um dos nossos
fornecedores. E adivinha quem eles mandam cobrar quando o cliente
tenta nos passar a perna?
Ela para de se mexer e me observa, com a respiração
descompassada.
— Eu vou pagar tudo.
— Eu sei que vai, e eu vou me certificar disso.
— Se vai me matar, faça isso logo!
— Você é uma suicida, não é? Eu te poupei aquele dia, mas
mesmo assim ainda está buscando um meio de conseguir de outra
pessoa o que não conseguiu de mim.
Seus olhos lacrimejam e ela vira o rosto, fungando.
— Você não sabe de nada.
— Não? Então me diga que não sente um grande vazio dentro
de si e que não consegue preenchê-lo! Então usa essas porcarias
para sentir um pouco de dormência.
— Eu não consigo mais pa... Parar. — sua voz falha no final.
— Eu sei que não, mas eu vou te ajudar.
— Por quê?
— Porque eu te livrei da sua dívida e pela segunda vez estou
poupando sua vida. Você me deve e eu sei exatamente como quero
que me pague.
Ela se afasta e começa a tirar a sua roupa na minha frente, me
deixando confuso com a sua rapidez de raciocínio.
— É isso que você quer? Então pegue! Me use! Tenha seu
prazer e vá embora!
Paro sua mão quando ela alcança a calcinha minúscula. Eu a
quero e Dio sabe o quanto eu desejo me afundar nela e só parar
quando ela estiver ordenhado a última gota de esperma de dentro de
mim. Mas não assim, sem vontade, em um beco sujo e nojento. Eu
preciso que ela me deseje, que implore por mim e me queira tanto
quanto eu a quero, quase que desesperadamente.
— Vista-se, querida!
— O quê? Não vai molhar seu pau?
Como uma tentação encarnada, ela aperta seus seios
pequenos de bicos rosados e desce a outra mão para o meio de suas
pernas.
— Pare, menina!
Ela ri alto agora.
— Oh! O executor mais perverso da Camorra não é capaz de
fazer o seu serviço direito?
Ela está usando o seu corpo para me provocar e tirar de mim a
reação que deseja.
Levo meus olhos para onde sua mão está e a minha boca seca
quer sentir, nem que seja um pouquinho, o seu gosto. Como se
estivesse hipnotizado, eu me aproximo e puxo sua mão, a trazendo
para meus lábios. Chupo seus dedos melados e gemo quando seu
sabor explode em minha língua, me deixando mais insano do que já
sou. Porra! É muito melhor do que eu imaginei.
Como o fodido que sou, bato minha boca na dela, matando ao
menos um pouco do meu desejo. Exploro seus lábios em um beijo
quente e molhado. Paro logo em seguida para falar.
— Você será minha, Angel! Mas antes disso terá que aprender
que dois podem jogar o mesmo jogo. Eu voltarei no final do dia para
pegá-la, e é melhor estar me esperando, ou vou caçá-la e puni-la
sem piedade.
Me afasto dela, a deixando ofegante, e saio sorrindo quando
vejo seu estado não muito diferente do meu. Esse é só o começo,
raposinha. Logo terei você à minha mercê e para o meu bel-prazer.
Acordar depois de uma noite em crise e uma experiência de
quase morte, deveria se considerar uma dádiva. Certo? Não para
mim. Eu tenho que viver com a lembrança constante de que sou um
fracasso em minhas tentativas de ser uma pessoa normal e até
mesmo nas de dar um fim em minha vida miserável.
As batidas fortes na minha porta me puxa do fundo do poço que
estou e me traz para a realidade.
— Angel?! Levante-se! Eu não te pago para dormir até tarde.
Droga! Perdi o horário de novo.
— Já vou! — Suspiro e me arrasto para o banheiro.
Tomo um banho, escovo os dentes, passo uma maquiagem
forte para esconder as olheiras e vou trabalhar.
Respiro fundo e gemo quando vejo a cafeteria, como de
costume, lotada. Okay! Sem café para mim por enquanto. Essas
pessoas parecem que madrugam junto com os pássaros.
Ajudo as meninas a atenderem para diminuir a fila enorme de
clientes até o último receber seus pedidos. O sino da entrada toca e
levanto meus olhos, vendo um dos estagiários da empresa da frente
entrar, como toda manhã, para buscar o café do seu chefe.
— Bom dia. — cumprimento entediada.
— Bom dia. Quero o de sempre.
Tento puxar na memória qual é o de sempre e a minha mente
falha, cansada pela noite mal dormida. Ele arqueia uma sobrancelha,
me olhando, e eu fico sem graça. Não quero dar motivos para irritá-lo
e ter alguém logo de manhã fazendo alguma reclamação sobre mim
para o Chris.
— Desculpa! Minha cabeça não está muito boa hoje. Pode
repetir para mim o seu pedido?
Ele sorri simpático.
— Tudo bem. Dois cappuccinos, um café puro e três cafés da
manhã completos com ovos mexidos, bacon, panquecas e tudo que
eu tiver direito.
— Okay!
Entrego seu pedido ao Chris e vou para as mesas atender
outros clientes que chegaram.
Duas horas mais tarde as coisas se acalmam e aí eu faço uma
pausa para comer algo. Já estou com o corpo tremendo. Não sei se é
fome ou o efeito das drogas passando. Como uma omelete com um
suco de laranja e volto para os meus afazeres.
— Pedido trinta e cinco pronto. — Chris avisa.
Eu pego o pedido e entrego ao John, um senhor muito
simpático que vem todos os dias aqui no mesmo horário para
comprar seu café da manhã.
— Como o senhor está hoje?
— Bem. Ainda mais porque é você me atendendo. — Pisca
todo faceiro.
— Muito galanteador, hum? — Rio das suas tentativas de me
conquistar.
— Tenho que ser. Ainda estou na flor da idade.
Sorrio quando ele me deixa uma gorjeta generosa e vai
embora.
Viro-me para verificar se tem mais alguém sem atendimento.
Pior erro. Meus olhos batem diretamente nele, o homem que me
observa feito um falcão. Arregalo meus olhos, o reconhecendo de
imediato, e me vem na mente suas palavras. Ele me disse que se me
visse de novo, eu morreria.
Saio pela porta dos fundos, deixando um Chris aos gritos para
trás. Pulo o muro o mais rápido que posso e corro porque eu sei que
se ele me alcançar, eu estou ferrada. Eu vi o que esse homem fez
aos Dragons. É cruel e sua fama lhe faz jus.
Eu só não contava que ele iria me alcançar. Logo me joga na
parede e eu tento me soltar, mas é em vão. Quando o cara me diz
que eu peguei as drogas de um dos seus fornecedores, sei que já
era para mim, porque pior do que a morte é dever algo aos mafiosos.
Ele irá me estraçalhar sem misericórdia.
Quando se vira para ir embora com a promessa de voltar, eu já
tenho um plano montado. É hora de me retirar e mudar para um novo
lugar. “Recomeço” já virou quase o meu nome do meio e isso nem
me assusta mais.
Visto minha roupa e volto para a cafeteria, onde não conto para
ninguém o que aconteceu.
Passo o dia trabalhando normalmente para não levantar
suspeita, e quase no fim do meu expediente, cato minhas poucas
coisas, pego no caixa o que sei que vale pelo meu salário da semana
e deixo um bilhete na cozinha com um pedido de desculpa onde sei
que o Chris vai encontrar. Ele vai pirar, mas que se foda! Não vou vê-
lo nunca mais mesmo. Estou apenas pegando o que é meu por
direito.
Paro um táxi e peço para ele me levar direto ao aeroporto mais
próximo. Não sei para onde eu devo ir, mas qualquer lugar é melhor
do que aqui no momento. Eu já andei sabendo por alguns boatos que
Snake está de volta, então será questão de tempo até o cara vir atrás
de mim. E Deus me livre de ir parar nas mãos dele novamente! A
besta ou a cobra:bela opções eu teria, hein?
Suspiro aliviada quando vejo o terminal, desço do carro, jogo
algumas notas no banco da frente para o motorista e vou comprar a
minha passagem para sabe lá Deus onde. O primeiro voo que tiver
saindo é o que eu irei escolher.
Mal saio do taxi, tendo dado apenas alguns passos, e sinto
mãos me agarrarem por trás. Não tive tempo de ver quem é ou me
defender. Um pano com cheiro forte é jogado em meu rosto e eu
automaticamente vou perdendo a consciência. Ao fundo só ouço
aquela maldita voz de novo dizendo que sou dele e que pertenço
somente a ele.
Tarde demais Angel. Muito tarde. A besta te pegou.
A garota se debate durante o sono, delirando. Seu corpo treme
como se ela estivesse com frio, mas o suor escorrendo pelo seu
rosto mostra o quanto está sofrendo por provavelmente sentir
abstinência pelas drogas. Faz uma semana que estamos no mesmo
jogo: Angel acorda, diz que está com fome, eu lhe trago a comida,
ela diz que não quer e chuta o prato para longe, gritando, ou chora e
me ameaça, mas eu não cedo.
Já estou acostumado com isso e outros comportamentos bem
piores. Molho um pano e coloco em sua testa, tentando ajudar seu
corpo a controlar a temperatura e evitar uma convulsão pela febre
alta.
— Por favor! Faz isso parar! — ela segura uma das minhas
mãos em meio a mais uma de suas crises de inconsciência.
— Calma, mio angelo! Seu corpo está eliminando todas as
toxinas dele.
— Você não entende. Eu preciso de só um pouco e vai
melhorar.
— Não. Você não precisa. É mais forte do que isso. Aguente
firme!
— EU VOU TE MATAR, SEU FILHO DA PUTA! ME SOLTA! —
grita desesperada, puxando seu braço preso na cabeceira da cama.
— Quando você estiver melhor, eu solto. Fora isso, vai
continuar presa para não arrancar o soro com o medicamento da
veia.
Anos tendo que torturar ou manter a vida dos inimigos por mais
algum tempo até arrancar todas as informações que precisamos, tem
lá seus benefícios. Eu aprendi um truque ou outro que veio a calhar
por várias vezes para nós em alguma situação de risco entre a vida e
a morte. Por muito tempo eu mesmo cuidei das minhas feridas
depois de dias de tortura nas mãos de Luigi ou dos seus homens. Eu
já estive no lugar dela e sei como é difícil largar essa porra de vício.
Quando Luigi me recrutou para a máfia, eu precisei passar por esse
desmame também. Levou um tempo para eu conseguir me livrar,
portanto vai ser difícil para a Angel, mas que assim como eu,
conseguirá também. Suas roupas estão novamente encharcadas de
suor e eu as tiro com cuidado do seu corpo para que ela não pegue
um resfriado.
A garota grita mais algumas palavras ofensivas, contudo eu
continuo meu trabalho. Logo ela terá consciência de novo e ai sim
nós vamos poder conversar.
Não demora muito e Angel cansa de lutar. Fecha os olhos,
dormindo, e eu fico aqui sentado na maldita poltrona, zelando por ela.
(...)
Lhe levo comida e água, mas como nos outros dias, ela sequer
olha. Eu não me importo de continuar tentando mesmo assim. Uma
hora a fome vai apertar e a necessidade de se alimentar será maior
do que as de colocar as drogas para dentro de si.
— Você precisa comer. — falo com paciência.
— Eu não quero.
— Não é questão de escolha, e sim de necessidade, Angel.
Coma ao menos um pouco! Você está muito fraca.
Coloco o prato de sopa perto dela e ela o chuta com raiva,
derramando tudo em mim e no chão.
Suspiro fundo. Eu não vou perder minha mente. Ela está muito
longe para saber o que está fazendo e eu seria um idiota se
revidasse.
A garota me encara como se me desafiasse a fazer algo.
— Okay! Uma pena você ter jogado fora, porque estava muito
bom.
— Então coma você!
Eu passo um dedo no meu peito, onde está escorrendo caldo, e
o levo até a boca, chupando bem devagar, sem tirar meus olhos dos
seus.
— Uma delícia. Mais gostoso do que esse caldo, somente o
gosto da sua boceta.
Sua pupila dilata e ela arfa com a minha provocação, mas eu
não cedo. Não ainda. Eu a quero totalmente consciente quando eu
entrar nela pela primeira vez.
Deixo-a deitada na cama e saio do quarto para que ela possa
pensar em sua atitude.
Abro meus olhos devagar, voltando a ter consciência de novo, e
observo ao meu redor, tentando reconhecer onde estou. Puxo meus
pulsos e constato que eles estão presos por uma algema. Meus
braços formigam por estarem na mesma posição há muito tempo.
Eu me desespero quando tudo volta e eu lembro do que
aconteceu. Ele me pegou. Tentei fugir, mas não deu tempo.
A porta se abre e ele entra me olhando sério. Está chateado,
mas é muito controlado, porém, mesmo assim dá para sentir a
tensão saindo dele e tomando conta do ambiente.
— Não cansa dessas tentativas tolas de me consertar?
— Não. Achou que poderia me enganar, Angel? — Senta na
poltrona, perto da cama.
— Me solta, seu desgraçado! Ou você vai se ver comigo!
Sei que eu não deveria provocá-lo, mas não ligo. Ele que me
sequestrou. Já estou ferrada mesmo. Olha lá se eu sair com vida
daqui.
— Tsc, tsc, tsc. — balbucia em reprovação. — É assim que
você costuma tratar as pessoas que te ajudam e cuidam de você?
— Eu não te pedi nada.
— Eu sei. E mesmo assim estou fazendo.
— Foda-se!
— Eu vou, querida. Na hora certa vou foder muito você. — diz
com uma certeza tão grande na voz que me irrita ainda mais.
— Eu quero sair daqui.
— Veja bem! Querer e poder são coisas completamente
diferentes. Eu não posso te libertar agora, pois você irá procurar o
caminho das drogas de novo. Isso me faria ter que te matar, e não é
isso que eu quero.
— Você teve a chance de cobrar e não me quis.
— Prefiro minhas mulheres sãs quando as tenho embaixo de
mim.
— E por que se importa? Eu não sou nada sua.
Ele me analisa por um longo tempo em silêncio e eu acho que
nem vai me responder.
— Eu também não sei.
— Não sabe o quê?
— O porquê me importo com você.
— Por favor, Marco! Nos poupe tempo! Eu faço qualquer coisa
que você quiser. Tudo mesmo.
Seus olhos escurecem e ele me olha com raiva.
— Não. Seus jogos não funcionarão comigo, menina.
Porra! Era meu maior trunfo.
— Quero usar o banheiro. — Uma ideia se forma em minha
cabeça.
Ele se levanta, me solta e aponta uma porta no nosso lado
direito.
Entro no banheiro e procuro por um meio de fuga. Faço as
minhas necessidades e ligo a torneira para disfarçar o barulho da
minha tentativa de abrir a janela. Mas é muito pequena e não dá para
sair por ela. Olho no canto e vejo um pequeno espelho. Não penso
muito e somente o pego. Taco-o no chão para quebrá-lo e usar como
uma arma.
Tá. Não é muito inteligente, porém, pode ser minha única
chance. Não vou ser prisioneira de mais ninguém.
— O que está fazendo? Que barulho foi esse? — ele grita e
invade o banheiro.
Pego o caco maior e me jogo em cima dele, tentando acertá-lo.
A ponta corta um dos seus braços, o fazendo grunhir feito um animal
feroz. Mas mesmo ferido, ele consegue me imobilizar com facilidade
e tomar o vidro das minhas mãos.
— Tudo bem, Angel. Eu já entendi que você gosta das coisas
do jeito mais difícil. Por essa ousadia vai ficar presa e eu não a
soltarei nem para ir sozinha ao banheiro de novo.
— Seu filho da puta! Eu não sou um objeto para você achar que
é meu dono.
— Se não é um objeto, porque usa seu corpo como um? —
Segura meu cabelo, me fazendo encará-lo.
— Isso não é da sua conta, seu idiota!
— É da minha conta a partir do momento que você cruzou o
meu caminho.
Ele me joga na cama, me prende e sai do quarto batendo a
porta com força. Meu corpo está marcado com seu sangue e meu
suor. Eu tinha que tentar sair, mesmo que no processo eu me
condenasse de vez. Merda! Eu preciso da minha dose diária, ou vou
pirar. Maldito Snake! É tudo culpa dele.
(...)
Muito mais tarde ele volta com um prato de comida e água,
deixa em cima da mesinha e entra no banheiro, ficando um tempo lá
dentro. Em seguida sai e vem na minha direção com una
determinação que me assusta.
— O que vai fazer? — pergunto
— Te ajudar a se limpar.
— Eu sei fazer isso sozinha.
— Não me importo com o que você sabe.
Ele me ajuda a levantar e me leva para o chuveiro.
Está calado, apenas compenetrado na tarefa de passar a
esponja suavemente pelo meu corpo. Ele me deixa tão confusa. Que
tipo de homem tem uma mulher a sua mercê e não abusa dela? Eu
não consigo entender o que esse cara quer de mim ou quais são
suas verdadeiras intenções.
Ele termina de me ajudar e aponta para a cadeira na minha
frente.
— Sente-se ali e coma! — diz como se ordenasse e eu
obedeço porque estou realmente com fome.
Como toda a comida que ele me trouxe, sob sua supervisão.
— Quanto tempo pretende me manter aqui?
— O tempo que precisar.
— Marco? O que você quer?
— Você é minha, Angel. Eu te poupei porque eu quero você
para mim.
Sua sinceridade me deixa sem palavras. Eu já reparei que ele é
um tipo de homem que fala exatamente o que está pensando,
mesmo que doa. Olho para seu braço enfaixado e sinto um pouco de
pena.
Ele segue meu olhar e prende seus olhos nos meus.
— Me desculpe por isso! Eu estava desesperada e só queria
me defender.
— Eu sei. Eu teria feito o mesmo.
— Posso sair do quarto?
— Preciso sair agora. Quando eu voltar, te libero para andar
dentro da casa.
Balanço a cabeça, dando sinal que entendi, e ele se vai outra
vez, trancando a porta. Bom... Se ser agressiva não funcionou, nem
oferecer o meu corpo, vou ter que me comportar e descobrir quais
táticas aplicar. Todo mundo tem um ponto fraco, e tudo que eu
preciso é deixa-lo achar que baixei a cabeça e aceitei suas ordens,
para descobrir o que usar contra ele.
Ele disse que voltaria ontem, mas não voltou, e ficar presa aqui
está me deixando louca. Se pelo menos eu tivesse uma televisão, ela
poderia me ajudar a passar mais rápido o tempo. Bufo com meus
pensamentos.
Você está presa Angel. Não é uma colônia de férias ou um Spa.
A fechadura mexe e eu pulo da cama, ansiosa, mas para a
minha completa surpresa, quem entra não é ele, e sim a mulher que
ia na cafeteria comprar café da manhã quase todos os dias.
— Eu sabia! — ela grita, me assustando.
— Sabia o quê? — pergunto confusa.
Será que é mulher dele e o cafajeste me trouxe para cá com o
intuito de me esconder e me ter como amante?
— Que Marco andava aprontando alguma coisa.
Fodeu, caralho!
— Olha, moça, eu não quero problemas com você. Me deixa
sair daqui e eu prometo que você nunca mais me verá na sua vida!
— Calma! Eu não quero te fazer mal, apenas conhecê-la.
Levanto uma sobrancelha, em descrença.
— Se quer realmente me ajudar, me deixe ir! — quase suplico à
desconhecida.
— Lorena? — um cara entra no quarto atrás dela e eu retenho
meu corpo, dando dois passos para trás quando o reconheço.
O capo! Estou muito ferrada!
— Estou bem, Vincent.
— Você não deveria vir aqui. — ele diz.
— Como me achou tão rápido? — ela pergunta parecendo
surpresa.
— Te segui. — responde com uma naturalidade, como se
tivesse dito que estava passeando.
— Eu precisava ver com meus olhos quem era a mulher que fez
Marco ficar todo estranho e sumir lá de casa.
— Isso não é problema nosso, querida. Se ele a esconde aqui,
deve ter um motivo.
Ela cruza os braços e o olha como se o desafiasse. É
engraçado vê-la controlar a situação e tê-lo em suas mãos, sem
parecer que tem medo dele.
— Vocês mafiosos e essa mania de achar que tudo se resolve
com sequestro ou prisão. — a mulher rebate.
Algo brilha em seus olhos e eu fico quietinha encostada na
parede feito uma telespectadora assistindo uma novela mexicana,
apenas os olhando com curiosidade.
— Aqui não é o lugar para se ter essa conversa. Vamos
embora! — Ele a puxa por um braço e ela se solta com rapidez, vindo
em minha direção e o ignorando.
Não perco o aviso de morte que ele me lança quando me olha.
Ótimo! É tudo que eu precisava.
— Não ligue para ele! Venha comigo e vamos conversar um
pouco! Quero ser sua amiga. — ela me estende uma mão.
— Eu não acho que seremos alguma coisa. Está claro que não
pertencemos ao mesmo ciclo social. — aponto para mim e ela, e
depois para o capo, que não desvia seus olhos dela em nenhum
momento.
A impressão que eu tenho é de que ele nem pisca para não
perder nada.
— Bobagem! Logo você será da família, Angel.
Sem que eu diga “sim” ou “não”, ela me pega por uma mão e
me tira do quarto.
— Me fala! Como você está se sentindo? — pergunta.
— Bem. Eu acho.
— Ele tem te tratado bem?
— Sim. Só não entendo o que realmente quer de mim. Ele não
parece ser do tipo que ajuda alguém sem querer algo em troca.
— Ele não sabe se expressar bem, mas tenho certeza de que
gosta de você.
O chefe senta-se um pouco distante, nos vigiando.
— Eu duvido disso.
— Acredite em mim! Eles são durões porque precisam ser
assim, mas Marco é um urso por dentro depois que o conhece
melhor.
— Urso? — Seguro a vontade de revirar os olhos para a sua
fala. Em que mundo essa mulher vive?
— Sim. Ele é só um homem ferido que precisa de cuidados.
Não me aguento e gargalho.
— Você está consciente de que aquele homem já matou e
torturou mais pessoas do que pode contar?
— Estou. Mas confia em mim: você é a mulher certa para o
Marco e vai derrubar aquela armadura de gelo que ele tem.
É impressão minha ou ela está praticamente nos juntando?
— Olha! Vai com calma aí, cupido! Eu não tenho interesse em
ter um relacionamento com ninguém. Só quero que ele pare de me
perseguir.
— Isso será difícil. Ele não te deixou viva apenas para que você
saia por aíficando com qualquer um por drogas. — o capo, que até o
momento se manteve calado, fala.
Eu tenho certeza que minhas bochechas estão escarletes de
vergonha por ele saber desse detalhe sobre mim.
— Eu disse que ia pagar tudo a ele. — Me sinto de repente
chateada por ele falar isso como uma acusação.
— Uma pessoa viciada é capaz de tudo. Eu espero que você
seja ao menos um pouco inteligente e não tente nada contra ele ou
contra ela. — aponta para a mulher na minha frente. — Eu não vou
me importar de te procurar e fazer picadinho de você se fizer
qualquer coisa que prejudique qualquer um dos dois. Capiche?
Maravilha, Angel! Na mira do mafioso.
— Vincent! Quer parar de assustá-la? — a mulher, que agora
eu sei que se chama Lorena, ralha ele.
— Tudo bem. Eu entendi seu recado. — respondo com cautela.
— Bom. — retruca.
— Você já comeu alguma coisa? — Lorena pergunta.
— Ainda não. Marco ficou de voltar ontem e não apareceu.
O que quer dizer que ele não se importa tanto com você. —
minha consciência zomba.
— Oh! Então venha! Vamos fazer algo para comermos e nos
conhecermos melhor.
A sigo, calada, me dando ao luxo de somente agora olhar ao
meu redor. Reparo que estamos em uma casa de madeira bem
trabalhada. É bonita e rústica. Os móveis são na maioria de cores
escuras. Parece que a casa foi mobiliada há pouco tempo de tão
novos que são. Bem a cara do seu dono.
— Gosta de lasanha? — Lorena puxa minha mente de volta.
— Sim. Eu gosto.
— Ótimo! Vamos fazer lasanha então.
Pegamos os ingredientes na geladeira e começamos a preparar
o prato.
E até que não é ruim ter companhia. A conversa flui bem
enquanto a lasanha fica pronta para comermos.
Eu descobri que a moça é brasileira e que tinha sido
sequestrada pelo antigo chefe, o Luigi. O que não foi tão ruim, na
minha opinião, já que ela se casou com o atual, que pelo jeito que a
olha de longe, lambe o chão que a mesma passa. Muito Interessante!
Eu achava que todos os mafiosos eram insensíveis e traiam suas
mulheres. Bem... Os motoqueiros não são diferentes deles. Claro que
não posso dizer muito sobre fidelidade e amor, ou sei lá que nome se
dá a isso.
Quando o micro-ondas apita nos avisando que a Lasanha está
pronta, sentamos cada um em nossas cadeiras e desfrutamos em
total silêncio da comida, que está muito gostosa.
Logo que terminamos, Marco chega e o clima muda quando ele
vê os que estão como visitas em sua casa.
— Que merda está acontecendo aqui? — ele pergunta furioso.
— Viemos te visitar, já que anda sumido e muito misterioso. —
Lorena responde.
— Já parou para pensar que talvez eu não queira receber
visitas e que por isso me afastei, porque preciso desse espaço?
— Achei que fôssemos família. Que mal há aparecer de vez em
quando para nos ver?
Ele passa uma mão na barba, claramente nervoso com os
questionamentos.
— Independente de sermos família ou não, isso não lhes dão o
direito de invadir minha casa e se meter em meus negócios.
— Chega vocês dois! — Vincent ordena. — Lorena, se despeça
e vamos embora! E você... — Aponta para o Marco. — Lá fora!
Agora! Me deve muitas explicações sobre tudo isso.
— Foi um prazer te conhecer, Angel! Vá me visitar quando
quiser!
— Não. Ela não vai na sua casa enquanto eu não tiver a
certeza de que podemos confiar nela. — Marco fala com os dentes
cerrados.
— Não seja um chato! Ela será bem-vinda sempre que quiser.
— Ela sorri e se despede. Eu aceno dando um adeus.
Ambos saem e Marco traz sua atenção de volta para mim. Me
observa por tanto tempo que eu começo a me remexer, me sentindo
tímida de repente sob sua avalição. Troco o peso de um pé para o
outro, aguardando que ele fale algo e me preparo inclusive para
receber algumas ofensas por eu ter saído do quarto, mesmo que não
tenha sido inteiramente minha culpa. Mas como sempre, ele é
imprevisível e muito difícil de ler.
Ele se aproxima devagar e em cada passo que dá em minha
direção, dou dois para trás, o temendo, até que sinto a parede em
minhas costas.
— Quando é que vai aprender que não se pode fugir de mim,
Angel?
— Não sei. — Foco na sua boca muito perto da minha e lambo
meus lábios com sede e ânsia pelo seu toque.
Mas que porra! Ele é muito bom em manipular meus
movimentos e jogá-los contra mim. Será questão de tempo até
cumprir sua promessa velada.
— Eu vou me despedir deles e quero que você me espere
quietinha aqui. Tudo bem?
Balanço a cabeça positivamente e ele circula meus lábios com
um dedo, me fazendo arfar com essa carícia inesperada.
— Eu quero ouvir da sua boca que você me entendeu.
— Sim. Eu entendi.
— Boa menina.
Ele encosta delicadamente sua boca na minha e mordisca meu
lábio inferior, o chupando em seguida. Então segura a minha cintura,
me trazendo para mais perto de si, e eu me entrego ao beijo, que fica
quente e exigente. Queria entendê-lo ao menos um pouco nesse
momento.
Como se tivessem vida própria, minhas mãos vão para os
cabelos do Marco, o puxando mais para mim. Meu corpo o
reconhece, mesmo que não tenhamos passado de um simples beijo
encostados no muro no dia que eu fugir dele. Estou quente e
desejosa. Minha vagina pinga de necessidade, o querendo dentro de
mim. Quando fica palpável que estamos nos comendo ainda vestidos
na sua sala, com seu chefe e mulher lá fora o esperando, ele sai do
momento inebriante em que nos colocou e se afasta com a promessa
de muito mais depois.
— Eu já volto. Preciso falar algo com o capo.
— Okay!
Ele se vira e sai da sala, me deixando mais confusa do que
quando entrou.
Não sei que porra aconteceu aqui nesses poucos minutos, mas
é óbvio que não ficará pela metade. E ao mesmo tempo que eu
quero mandá-lo ir se foder por me manter aqui contra a minha
vontade, eu desejo conhecer mais dele também. Acho que ainda é
efeito das drogas saindo do meu corpo e me causando algum tipo de
delírio surreal.
Encarar Vincent depois de passar dias o ignorando é um
merda. Esse cara me conhece mais do que qualquer um. Então em
vez de mentir e ser desmascarado, eu prefiro apenas fazer o meu
serviço e ter o mínimo de contato possível com ele e sua
adorável esposa intrometida.
Desço os degraus e o encontro já me esperando. Era pedir
muito que ele tivesse pegado a dica e ido embora? Não o Vincent
que eu conheço. Ele nunca desistiu de nada sem uma boa luta e
agora não seria diferente.
Não avisto a Lorena e imagino que ela esteja no carro, o
aguardando, e quase agradeço aos céus por isso. Pelo menos só
terei que me explicar à única pessoa que me importa. Não me levem
a mal. Respeito a Lorena, e tudo, mas vamos dizer que eu ainda não
confio completamente nela, nem lhe dou total abertura para me
conhecer e muito menos alguma liberdade para ela se meter na
minha vida pessoal. O laço que tenho com Vincent é único e não se
estende à sua esposa.
— Então eu estava certo. Você estava sumido por conta dela?
— questiona sem rodeios.
— Não. Estou sumido porque ando vigiando os Dragons e
tentando descobrir qual é o plano diabólico deles antes de matá-los.
— tento me esquivar.
— Não precisa mentir para mim, Marco. Você pode enganar
qualquer um com essa sua fachada de "não estou nem aí para
nada", mas nós dois sabemos que desde que assumi o cargo e me
casei com a Lorena, você mudou, se afastou e passou apenas a se
dedicar às minhas ordens como chefe.
Foda-se! O filho da puta gosta de enfiar a faca na ferida e torcê-
la.
— Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Só preciso
desse tempo para mim. Eu continuo fazendo meu serviço como
sempre. Não estou te deixando na mão.
— Eu sei que não, mas eu me preocupo com você, que é o
meu único irmão. E sabe que mesmo antes de eu saber disso,
éramos somente os dois, um pelo outro. Não ache que agora que
casei e estou construindo minha família, que você não faz parte dela!
Tudo que construímos com o tempo, só será quebrado quando um
de nós não estiver mais aqui.
— Não quero atrapalhar vocês. Ainda é difícil para mim confiar
nas pessoas. Não esqueci da minha promessa e sempre estarei aqui
para você, irmão.
— Esquece essa porra de promessa! Nós vencemos e agora
teremos a chance de recomeçar do nosso jeito. Lorena gosta de você
e está tentando duramente deixá-lo se sentir parte dessa nova etapa
em nossas vidas. Tente ao menos aparecer mais vezes! Sentimos
sua falta, cara.
— Eu sei. — Como explicar que você se sente perdido e fora do
lugar? — Me dê esses dias e eu irei me esforçar para ficar mais
presente!
— Tudo bem. A garota lá dentro não é a que Snake está
procurando?
É claro que ele saberia disso.
— Sim. Ele não é louco de tentar algo em nosso território. Sabe
que estaria assinando seu atestado de óbito.
— Bom... Eu confio em você. Só tome cuidado! Não sabemos
de onde ela vem e do que é capaz. Preste atenção no que faz e fala
perto dela! Tenha a certeza de que a garota é confiável e que na
primeira oportunidade que tiver não irá correr e entregar alguma
informação preciosa nossa para eles!
— Estou de vigia. Não se preocupe!
Quem diria? Há uns dois anos era eu dando esse aviso a ele e
agora estamos trocando de lugar. A vida é uma piada de muito
péssimo gosto.
— Tenho que ir. Lorena não está se sentindo bem, e por mais
que eu tenha lhe dado ordens de ficar em casa, veio atrás de você.
— Já disse que não quero me meter em sua vida, mas esse
não é o momento da sua esposa ficar brincando de gato e rato com
você. Estamos sob ameaça de ataque e espero que ela se lembre
disso antes de se colocar em perigo de novo.
— Vou conversar com ela. Se cuide!
Fico olhando o carro dele sair, e assim que ele some das
minhas vistas, eu entro em casa.
Angel está sentada no sofá, olhando a janela, pensativa.
Gostaria de saber o que se passa em sua mente nessas horas em
que ela parece ficar perdida em pensamentos. Não voltei para casa
ontem e à noite inteira me mantive pensando nessa garota. Eu estou
cansando de tentar entender o que sinto ou se realmente valerá a
pena investir nela. Todas as outras mulheres que eu tive, parecem
pálidas diante dela. Eu desejo ajudá-la, e muito mais que isso, eu a
quero comigo. Eu sei que ainda é muito cedo e que no momento ela
quer ir embora, mas pretendo trabalhar a sua confiança em mim para
que a mesma se torne tão dependente de mim quanto eu já dependo
dela.
Eu passei a minha vida inteira sendo rejeitado e fui usado por
muitas mulheres desde muito jovem, inclusive algumas da máfia
insatisfeitas com suas vidas conjugais. A Angel é diferente e me
chamou a atenção, mas não porque é bonita, e sim por ser tão
quebrada quanto eu. Sendo assim, não me tratará feito lixo e nem
poderá se sentir superior a mim, como as outras faziam questão de
pontuar. Somos como duas metades iguais separadas. Por mais que
não tenhamos a mesma idade, eu me sinto ligado e responsável por
ela. O quão fodido isso é? O cara mais temido da Camorra
praticamente de joelhos por uma ninfeta de dezenove anos com a
boceta doce e um belo rosto angelical.
— Você só vai ficar aí me olhando? — ela pergunta com um
sorriso zombeteiro na voz.
— Eu deveria te punir por ser tão rebelde. — devolvo sua
provocação.
— Então por que não me pune, executor?
Um sorriso escapa de meus lábios e eu a alcanço em poucos
passos. A faço ficar de pé e ataco sua boquinha carnuda em formato
de um pequeno coração.
— Não me provoque se na primeira oportunidade vai sair
correndo, menina!
— Não vou correr. Eu quero que termine o que começou.
— Acha que não quero o que você tem a me oferecer, sua
pervertida?
— Eu já disse: pegue! — Se afasta, tirando seu short e sua
blusinha de alcinha.
— Angel, Angel! Não se deve fazer um trato com o diabo e
achar que ele não vai cobrar com todos os juros.
— Então me consuma! — Desce devagar a calcinha pequena,
deixando a mostra seu triângulo de cabelos loiros bem aparados.
Não vou mentir. Estou salivando feito um cachorro em frente a
um bom pedaço de carne suculenta. Consigo até mesmo sentir o
gosto dela em minha boca. Mais um pouco e eu até posso sair
latindo feito um cão adestrado.
Essa menina é perigosa e eu não posso dar mole perto dela.
Tenho que mostrar quem está no comando dessa porra.
— Sente-se no sofá, Angel, e se toque para mim!
Ela não se faz de rogada e muito menos fica insegura. Sinal de
que já está acostumada a fazer isso há muito tempo. A ira de que
vários outros a tocaram antes de mim, me deixa revoltado. Para não
quebrar o clima, engulo a vontade de procurar e matar cada um deles
e apenas curto o momento.
— Assim? — Desce as mãos pela barriga plana, indo em
direção ao seu monte de vênus. Seus dedos adentram seus lábios
rosados, que brilham com sua lubrificação.
— Mova seus dedos! — ordeno sem tirar os olhos do que ela
faz.
Angel movimenta os dedos devagar e aos poucos coloca um
dentro de si e depois o tira, levando esse melado ao seu clitóris
inchado. Não preciso tocá-lo para saber que ele está palpitando de
necessidade. Meu pau a essa altura não está diferente.
Quando ela acelera o dedo, soltando alguns gemidos sôfregos,
pronta para gozar, eu a faço parar.
— Chega! — Sorrio quando seus olhos com as pupilas
dilatadas me observam desesperados pelo orgasmo interrompido.
Seus peitos sobem e descem com a respiração acelerada e os
bicos deles estão pontudos, implorando pela minha atenção.
— Chupe seus dedos, Angel, bem devagar! E depois comece
tudo de novo!
Ela faz como eu mando e novamente se dá prazer, buscando
por um alívio que somente eu e meu dolorido pau lhe dará. O suor
escorre pelo seu corpo e a minha vontade é de me levantar e lambê-
la todinha. Sou egoísta demais para desperdiçar cada sabor seu.
Angel revira os olhos, se preparando para gozar, e eu me
levanto para tirar sua mão do local. Ela grita frustrada por mais uma
interrupção, mas dessa vez eu quem quero iniciar essa doce tortura.
Passo minha língua por toda a extensão da sua boceta, provando
seu delicioso sabor direto da fonte, como quis fazer desde a primeira
vez, e sugo seus lábios vaginais suavemente, deixando seu clitóris
por último de propósito. Depois de chupá-la como queria e ter seu
doce mel em meus lábios, eu subo para seu ponto doce, onde
minhas chupadas passam a ser mais vorazes e certeiras, a levando
para o precipício do prazer.
— Ah, Marco! — Segura em meus cabelos com força, tentando
me fazer acelerar.
Não me contenho mais e subo apenas o suficiente para puxar
meu pau para fora, que pula inchado e furioso por somente agora ir
entrar na brincadeira. Passo a glande em sua entrada, a provocando,
e entro nela com uma única estocada, a fazendo soltar um grito pela
invasão. É muito apertada e está bem molhada, mas mesmo assim
inicio os movimentos suaves para que ela se acostume comigo.
Beijo sua boca com volúpia, excitado por finalmente estar
dentro do seu delicioso corpo. Minhas estocadas se tornam firmes e
rápidas. Nós dois gememos com a explosão de sentimentos postos
nesse contato tão íntimo e explosivo. A cada toque dela, seguido de
seus gemidos, são como músicas para os meus ouvidos.
— Venha para mim, querida!
— Ah, que gostoso!
Angel goza gritando meu nome e eu não me seguro mais.
Acelero para acompanhá-la, gozando forte junto com ela e sentindo
sua boceta quente me ordenhar até não ter mais nada a ser
entregue.
— Isso foi... uau! — Ela sorri.
— “Uau” é uma boa definição. — Beijo suas pálpebras
sonolentas.
Não é preciso dizer muito. Foi espetacular e indescritível esse
momento. Viro de lado, a puxando para meus braços, e faço um
cafuné em seus cabelos loiros. Não demora muito e seus olhos azuis
se fecham e sua respiração fica rasa e suave.
Eu posso imaginar uma vida com essa garota se ela me quiser
depois que ficar totalmente liberta das drogas. Eu espero que nesse
tempo em que Angel estiver comigo, me conheça e goste do meu
outro eu. Sei que não precisarei fingir e ser quem não sou para
agradá-la.
Quero conseguir apagar todos os vestígios de qualquer filho da
puta que tenha a tocado antes de mim, e se eu não conseguir de
primeira, tralharei duro para que isso aconteça num futuro não tão
distante.
Acordo do cochilo, confusa sobre o que aconteceu, e me
levanto devagar. A primeira coisa que se passa em minha cabeça
quando me desvencilho de seus braços é olhar para a chave do carro
em cima da mesinha e depois para a porta. Quanto tempo levaria
para eu sair correndo daqui e ele me alcançar de novo?
Penso com cuidado, e depois de analisar as minhas opções
decido não provocá-lo mais. Se meu único meio de saída é ele me
liberar, eu terei que tirar a fuga da cabeça. Não quero ficar com um X
marcado na minha testa pela máfia e muito menos pelo executor.
Estar duas vezes sob sua mira e não morrer foram chances demais
para desperdiçar.
Solto um bufo, inconformada, e me sento na outra poltrona, o
observando de longe. Não vou mentir que gostei da maneira que ele
me tocou e me fodeu. Nenhum cara tinha sido tão gentil comigo
antes. O que é meio estranho para o tipo de homem que o Marco é.
Eu estava esperando violência e agressividade, não gentileza. Vejo
que suas mãos são tão habilidosas para tocar uma mulher quanto
para usar uma arma. Um verdadeiro mistério. Um que não tenho
certeza se vou querer desvendar. Sinceramente tenho medo do que
irei descobrir se começar a cavar fundo demais.
Coloco a cabeça entre as mãos, tentando me acalmar e não
fazer uma besteira.
— Pensando em uma maneira de me matar, Angel? — Seus
olhos cores de mel me observam.
— Na verdade eu estava analisando se uma fuga seria
vantajosa para mim com você na minha cola. — sou sincera.
— O que te faz correr? O que tem para você lá fora que tanto te
atrai? Somente a porra das drogas?
Suas perguntas me batem na cara, me deixando sem palavras.
O que eu tenho lá? Por que eu quero sair?
— Já parou para pensar no que você gostaria de fazer se não
fosse controlada pelos seus vícios? — continua seu questionamento
cruel.
— Eu nunca parei para pensar nisso. Nunca tive um real motivo
para fazer planos.
— Talvez esteja na hora de pensar mais além, Angel. Você é
muito jovem.
— Por que se importa com o meu bem estar, Marco?
— Eu já fui como você: um viciado, rejeitado e humilhado por
todos. A diferença entre nós é que em vez de tentar contra a minha
vida e me vitimizar, eu aceitei as mãos que me foram estendidas e fui
à luta para ser mais do que o filho bastardo de uma prostituta. Eu
mudei a minha história e não baixei a cabeça. Provei para todos
aqueles que me fizeram mal ou zombaram de mim, que eu era dono
do meu destino e não aceitava menos.
Uau! Se ele queria me dar um choque de realidade, conseguiu.
A pancada foi forte e certeira. Abaixo a cabeça, envergonhada,
primeiro por eu ter me colocado nessa situação, e segundo por eu ter
pela primeira vez na minha vida uma pessoa que queira me ajudar, e
tudo que eu faço é ficar planejando fugir dela.
— Angel? Olha para mim! — Levanto meu rosto em direção ao
seu. — Você é uma menina linda e com uma vida inteira pela frente.
Eu não sei da sua história e espero um dia ser merecedor de sua
confiança para saber sobre cada detalhe. Se não quiser me contar,
tudo bem também. Isso não me incomoda.
Tento abrir a boca para falar, mas ele me silencia com um dedo
e continua sua fala.
— Se dê uma chance! Pare de sabotar as oportunidades que a
vida te dá! Tudo que eu consegui foi na base de muito sangue, suor e
lágrimas. Você não precisa passar por isso do jeito mais difícil.
— Eu não sei o que dizer. Foram muitos anos aprendendo que
era eu contra o mundo, e agora tudo parece tão irreal que não ouso
acreditar que vai durar muito tempo.
— Curta o momento, Angel! Porque sofrer pelo futuro se
estamos no presente? Como está sentindo hoje?
Péssima.
— Estranhamente bem.
— A verdade, menina!
Droga! É difícil enganar ele. Respiro fundo e resumo o que
estou sentindo.
— Ainda sinto tremores e uma vontade imensa de procurar por
algum alívio, mas já fiquei mais tempo que isso sem usar as drogas e
depois acabei cedendo e voltando. Não acredito que dessa vez vá
ser diferente.
— Vamos canalizar essa ansiedade e frustração em algo
positivo. Que tal?
— Tipo o quê? Sexo? — zombo.
Ele ri jogando a cabeça para trás, e é a coisa mais linda. Todo
seu rosto muda com sua expressão relaxada e muito suave. Agora
parece quase humano, não um homem feito, frio e cruel capaz de me
matar apenas em segundos.
— Eu não irei reclamar se você quiser me usar para isso, mas
estou falando de exercícios. Treino foi muito bom para mim e talvez
te ajude também.
— Podemos tentar.
Eu duvido que algo poderá me salvar, mas como ele está tão
empenhando em me fazer acreditar que posso ser salva, talvez
tentar não me custe nada.
— Muito bem. Amanhã começaremos seu treino. Agora vamos
para outro assunto mais sério. Quero que me fale o que sabe.
Entendeu?
Fico apreensiva, mas concordo.
— Você deve estar ciente de que Snake está atrás de você. Eu
quero entender o que você sabe e o quanto essa informação é
importante para ele. Preciso que me conte tudo, sem deixar nada de
fora.
— Eu não sei nada de importante.
Ele fecha a cara para mim e a expressão do mafioso impiedoso
está de volta.
— Não minta para mim, Angel! Você está falando com o cara
que sabe ver através das pessoas antes mesmo delas abrirem a
boca para revelarem o que eu quero. Não queira que eu tire
informações de você da maneira mais difícil.
— Eu era apenas a prostituta que o servia. Desde que ele foi
preso, eu não o vi mais. Provavelmente o cara me quer de volta
porque acha que sou dele.
— Não é por isso. Ele colocou vários homens atrás de você e
até mesmo andou subornando alguns dos meus para ter informações
suas. Há algo que você está deixando de fora e eu quero saber
agora.
Desvio meus olhos e penso se devo contar ou não. Essa
informação é valiosa demais e sempre foi meu trunfo quando eu
queria arrancar dinheiro de Snake ou do meu pai.
Balanço uma perna, ansiosa. Mania que tenho quando estou
muito nervosa. O tempo parece parar a nossa volta e o tic tac do
relógio atrás de nós não ajuda a tensão a passar.
Olho para o Marco, que me observa pacientemente, e resolvo
contar parte do que sei. Não quero que ele tire algumas informações
de mim me torturando.
— Os Dragons têm há anos, por debaixo dos panos, feito
parcerias com a máfia russa. Prometeram-lhes o território de Los
Angeles de volta se eles os ajudassem a derrubar Luigi e Vincent.
Quando você acabou com todos no clube aquela vez, um
representante de dentro do cartel mexicano estava os ajudando
nesse plano também.
Sua expressão fica feroz e mortal.
— Como ficou sabendo disso?
— Eu estava lá na reunião onde o trato foi feito. Dragon queria
tirar o capo e o subchefe daqui do comando para que outra pessoa
assumisse esses negócios. Ambos iam comandar tudo. Eles sabiam
do tráfico de armas que vocês fizeram com os árabes e tiveram
grande interesse nisso especificamente. Dragon ficou chateado por
Vincent tê-lo deixado de fora e prometeu vingança.
Ele fala algo em italiano que não entendo e levanta-se muito
puto, socando a parede, com raiva.
— Esse homem, o representante, estava na reunião também?
— Sim.
— Nomes, Angel! Eu quero os nomes dos meus próximos
cadáveres.
— Eles o chamavam de pastor. Eu não sei dizer o porquê, já
que ele não se parecia com um. É tudo que eu sei. — digo apenas
metade da verdade.
Ele pega o celular e se afasta para conversar baixo com
alguém. Não pergunto com quem seja ou sobre o que fala. Sinto que
a coisa vai feder e eu estarei, querendo ou não, nesse fogo cruzado.
O negócio é que eu sei quem é o tal pastor e eu sou ligada
indiretamente à família dele por parte de mãe. Se eu os entregasse,
estaria muito ferrada. Provavelmente Snake quer saber a mesma
coisa que Marco. Somente Dragon, meu pai e eu ficamos sabendo
desse segredinho sujo, mas graças a Deus os dois primeiros estão
mortos e não podem mais me usar.
Que ele não descubra sobre as minhas origens! Ou eu irei virar
massinha de modelar em suas mãos por ter uma ligação sanguínea
com aquele velho sádico.
Ligo imediatamente para Vincent assim que Angel me passa as
informações que eu preciso. Por mais que eu ainda tenha a
impressão de que ela não me contou tudo que sabe, por hora não
vou pressioná-la mais. O que não quer dizer que eu vou ficar de
braços cruzados sem fazer nada. Irei ao fundo dessa história e
descobrirei toda a verdade. Não terei pena de punir todos que
estiverem envolvidos nessa porcaria.
Estou cheio de pessoas se achando espertas para montarem
armadilhas para nós, só que a mesma disposição que elas têm de se
unirem com nossos inimigos para tentarem nos derrubar, eu tenho
para destruí-las uma por uma com o maior prazer. Traidores devem
ser tratados como traidores e punidos como tal. Uma vez na minha
mira, só sairá com vida quem for inocente. Caso contrário, os
buracos estarão prontos para recebê-los.
— Você acha que esse pastor é o mesmo que Gabriel nos disse
que estava investigando? — Vincent chama a minha atenção de volta
para a nossa conversa.
— Acho que sim. Vou fazer a nossa própria investigação e
descobrir melhor sobre isso. Creio que o agente não vai querer
compartilhar conosco suas descobertas.
— Com certeza não. Temos que ficar fora de qualquer confusão
com os mexicanos. Acabamos de limpar nosso nome com o FBIe
não vamos querer estar sob a mira deles novo. Tudo tem que ser
feito por debaixo dos panos.
— Pode deixar! Ficarei de olho neles e seguirei com bastante
cautela nossos planos. Dessa vez não haverá falhas. Eu prometo.
— E se ela tiver do lado deles, Marco?
— Duvido muito que esteja, mas estou ligado que ela é do tipo
que salva a própria pele.
— Percebi isso também, e talvez isso a torne valiosa para eles.
Uma pessoa inescrupulosa e cheia de vícios é capaz de tudo.
— Não a julgue com base no que se vê no exterior, Vincent.
Lembre-se que um dia Lorena esteve em nossa mira e nós nos
enganamos sobre ela.
Ele fica em silêncio por um tempo.
— Só não a deixe brincar com você! Eu ainda acho que ela não
te contou tudo.
Eu odeio que talvez ele possa estar certo. Não quero abrir mão
dela, e eu irei pirar se ela estiver mentindo para mim. Meus olhos
dançam o tempo todo sobre seu rosto enquanto eu falo com o
Vincent ao telefone sobre a nova descoberta.
— Prefiro ela aqui onde eu tenha controle.
— Muito bem. Tem carta branca para fazer o que precisar.
— Obrigado!
Nos despedimos e eu desligo.
A ligação demorou mais do que eu pretendia. Tudo faz mais
sentido agora: os malditos mexicanos junto com o Dragon usaram o
Mariano sem o babaca perceber. Eles estavam tentando bem mais
do que tirar Luigi e Vincent do poder. Todos queriam dominar nossos
negócios e deixamos passar essa merda bem debaixo do nosso nariz
enquanto acreditávamos que os únicos que estavam de olho no
nosso território eram os malditos russos.
Droga! Isso nunca acaba. Quando se derruba um, sempre vai
haver mais ratos para sair dos seus esconderijos.
Vou na direção dela, que me olha com cautela. Percebo que ela
não consegue confiar nas pessoas tão facilmente. Terei muito
trabalho, não só para fazê-la sair dos vícios, como também para
conseguir sua permissão para eu entrar em sua mente. Não que eu a
julgue. Angel não é diferente de mim e isso me mostra o quanto ela
foi ferida no passado. Isso a deixou arisca com quem se aproxima
demais e eu tenho que tomar muito cuidado. Antes de deixar meu
pau me governar, tenho que me lembrar que ela é um mistério e já
esteve nas mãos dos inimigos.
— Quer treinar um pouco? — tento quebrar o clima pesado e
distraí-la da nossa conversa de antes.
— Aqui?
— Sim. Tenho um galpão no fundo da casa, onde treino todos
os dias.
— Legal! Vamos tentar do seu jeito então. — Me dá um sorriso
tímido.
Saímos pelas portas do fundo e seguimos para a área que uso
para meus treinamentos diários. Ela observa tudo com curiosidade.
— Tem algum tipo de exercício específico que você goste? —
pergunto.
— Não. Nunca me preocupei com isso.
— Para começar, vou te ensinar boxe. O combate corpo a
corpo é minha especialidade. Tanto vai te ajudar a ter disciplina,
como te ensinará a se defender sem precisar necessariamente de
uma arma em punho.
— Okay!
A ajudo a colocar as luvas nas mãos e lhe dou algumas
instruções sobre postura correta e os tipo de golpes que vamos
treinar hoje. Ela começa a bater de um jeito meio desengonçado e eu
a incentivo a continuar aplicando mais força sobre mim.
— Canalize suas frustrações em cada batida, Angel! Não
precisa se segurar, pois seu oponente não terá pena de te atingir em
uma luta real.
— Estou tentando. — Bate com mais força. Não tão forte ao
ponto de me derrubar, porém com mais intensidade do que antes.
— Isso, querida! Pense que em cada golpe, você está
descontando algo ruim que está guardado dentro de si.
Seus golpes ficam mais rápidos e ela ofega com cada batida.
Eu apenas me defendo, a deixando se acostumar com cada soco
que me dá.
Pouco tempo depois Angel pede para parar porque seus braços
estão doendo. Jogo uma garrafa de água para ela, que aceita sem
pestanejar, abrindo-a e engolindo vários goles do líquido gelado. O
suor escorre pelo seu rosto delicado de menina e suas bochechas
estão coradas, a deixando ainda mais bonita.
— Como se sente? — pergunto.
— Cansada, porém mais leve.
— Quando a ansiedade bater em você, jogue-a para fora!
Canalizar os sentimentos negativos em algo produtivo vai te ajudar a
passar por isso. Não vou dizer que vai ser fácil, mas confie em mim:
vai ser menos doloroso do que ficar parada.
— Eu espero que você tenha razão. Ter força de vontade, eu
sempre tive, só que nunca consegui sair totalmente dessa coisa.
Me aproximo dela e tiro seus fios de cabelos molhando de sua
testa.
— Você vai conseguir. — afirmo.
— Como pode ter tanta certeza de que agora vai funcionar? —
Cruza os braços, me olhando desdenhosa.
— Porque agora você tem a mim e eu acredito em você e no
seu potencial.
Ela abre a boca, em choque, e eu sorrio, tocando com um dos
meus dedos a ponta do seu pequeno nariz arrebitado.
— Você nem me conhece direito. Como pode colocar tanta
confiança em mim?
— Eu não seria o executor se não tivesse habilidades
especiais, Angel. Eu vejo através de você. Só não traia a minha
confiança, ou eu não hesitarei em acabar contigo! Entendeu?
Ela balança a cabeça positivamente com os olhos arregalados.
— Vamos entrar e tomar um banho! Preciso ir trabalhar daqui a
pouco e você irá comigo. — Viro-me para sair e escuto seus passos
ao meu lado.
— Onde iremos? — pergunta curiosa.
— Fazer pesquisa de campo.
Angel me olha sem entender, e quando percebe que não irei lhe
dar mais informações, se cala. Espero que eu não tenha me
enganado com ela e não quebre a cara futuramente. Quero
realmente ajudá-la, porém, algo me diz que tenho que ficar em alerta,
e meu sexto sentido nunca me enganou. Há alguma coisa que me
incomoda desde a primeira vez que nos vimos, e seja o que for que
ela me esconde, eu sinto que não é boa coisa. Não sou nenhum
idiota e nem nasci ontem.
Eu prefiro tê-la sob minha proteção e ficar de olho em cada
passo seu. Primeiro porque eu a quero, e segundo porque prefiro que
ela esteja sob a minha supervisão do que deixá-la solta por aíe dar a
chance a Snake de pegá-la. Apesar de ser muito nova, e por mais
bonita e atraente que seja, eu vejo que Angel está acostumada a
manipular os homens. Não posso cair em suas armadilhas, ou
colocarei tudo a perder por conta da atração que sinto. A protegerei e
a ajudarei enquanto ela estiver comigo e eu a considerar inocente.
Tudo que eu disse foi muito sério e eu não saio por ai fazendo
ameaças em vão. Se eu descobrir que existe algum perigo por trás
dos seus segredos, que irá prejudicar todo o meu trabalho e colocar
a vida do capo em risco, será muito doloroso para mim, mas pelo
bem da máfia, eu darei um fim nela, se estiver mentindo para mim, e
em todos que se colocarem em meu caminho. Minhas
responsabilidades sempre virão em primeiro lugar, independente dos
meus sentimentos estarem em jogo. Eu fui treinado para ser fiel à
organização e morrer defendendo-a. Eu não traio a famiglia e muito
menos meu irmão. O meu juramento só termina com a minha morte.
Saímos em silêncio e entramos no seu carro.
Por um bom tempo a música Preach de John Legend tocando
baixinho é a nossa única companhia, ajudando-nos a quebrar o
silêncio forçado até chegarmos ao nosso destino, ou ao lugar que eu
imagino que seja a nossa parada.
Eu quero perguntar várias coisas, mas me calo todas as vezes
em que as palavras se formam em minha língua. Fico indecisa se ele
me dará essa abertura ou se tudo que tem feito é apenas por instinto
de proteção. Ele olha para a frente fixamente com os dedos
apertando o volante tão fortemente que eles ficam brancos. Eu me
questiono se fiz algo para deixá-lo chateado desse jeito. Será que é a
missão que está o deixando tão irritado assim?
— Fale logo, Angel! O que tanto quer me perguntar?
Minha boca seca e inconscientemente minha língua sai para
molhar meus lábios ressecados.
— Está chateado comigo? — pergunto insegura de que eu
possa estar pisando em ovos com ele.
— Não. Só estou estressado com algumas coisas que
aconteceram. Era isso que queria perguntar?
— Não. Eu queria saber mais sobre você.
Ele traz seus olhos para os meus e arqueia a sobrancelha
esquerda. Quase me bato por ser tão estúpida.
Eu trato de completar a fala rapidamente diante do seu
questionamento desconfiado e silencioso.
— Curiosidade sobre como você virou um executor. Antes de
nos conhecermos, eu já havia escutado muitas histórias suas.
Imagino que para se tornar um assassino frio, teve anos de
treinamento, não é?
Ele parece respirar com alívio e eu fico curiosa sobre o porquê
dele parecer de repente distante e cauteloso comigo.
— Sim. Alguns de nós já nascemos com um instinto assassino,
e outros, como eu, passam por um rigoroso treinamento desde
criança para se tornar um.
— E não é difícil tirar a vida das pessoas?
— No início sim, mas com o tempo aprendemos que somos nós
ou os outros. Ninguém terá pena de você se puder trocar de lugar na
hora de puxar o gatilho. É nisso que eu foco.
— Eu já fiz muita coisa errada, mas nunca passou pela minha
cabeça tirar a vida de alguém.
— Somente a sua. — rebate com os dentes trincados.
— Só a minha. Ela não vale muito, então não vejo porque não
dar um fim nela.
Em dois tempos ele puxa meu queixo para si e o segura com
um pouco mais de força do que o necessário.
— Você nunca mais tentará isso de novo, menina! Ou eu
mesmo te punirei por isso. Sua vida me pertence agora e somente eu
decido se você deve morrer ou viver. Entendeu?
A intensidade das suas palavras me deixa sem fôlego.
— S... Sim. — gaguejo de nervoso, não conseguindo formular
mais nada para respondê-lo.
— Não quero te ouvir falar que não merece viver por conta dos
seus erros. Acredite em mim quando eu lhe digo que tudo que você
já fez, não chega aos pés do que muitos de nós fizemos! Tem muitas
pessoas que não deveriam estar vivas por aípoluindo o ar com suas
respirações imundas.
Franzo a testa com a maneira que ele fala sobre essas
pessoas. É como se conhecesse todas elas pessoalmente e odiasse
cada uma.
— Você acha que é uma dessas pessoas? — pergunto curiosa.
— Eu sou a pior delas, Angel. Estou além da redenção. Quando
eu me for, não passarei nem na beira dos portões dos céus, muito
menos verei luz e anjos me esperando.
— Nossa! Por que não parece preocupado com isso?
— Porque o inferno não pode ser pior do que tudo que eu já vi e
vivi. Estou acostumado com o mau e não me arrependo de nada que
fiz. Então não tem porque eu me enganar.
— Se a máfia é tão ruim assim, não entendo o porquê de você
colocar sua vida em risco por eles.
— Porque nascemos e vivemos nela, respiramos ódio e
ansiamos pelo medo. Aqui nós somos a lei. Eu não me imagino em
outra vida e tenho ciência de que um dia a minha morte irá chegar, e
logo em seguida outro irá pegar meu lugar e continuar de onde eu
parei. É assim que nós somos e é para isso que nascemos. Essa
tatuagem é muito mais do que uma promessa de vida. Ela é um
lembrete de que sem a máfia não somos absolutamente ninguém.
Ele se cala depois dessa análise arrepiante e eu apenas o
observo por um tempo antes de me virar para a frente.
Minutos se passam, ou talvez horas. Seus olhos estão em
alerta na nossa frente, onde várias motos entram e saem pouco
tempo depois. Me pergunto porque ele não entra lá e acaba logo com
tudo, como da outra vez. Seria menos cansativo e estressante do
que ficar de castigo aqui dentro do carro.
— O que você está exatamente procurando aqui? — não
aguento ficar calada e pergunto.
— Não é o quê, mas sim quem. — Aponta para o carro luxuoso
que entra pelos portões de ferro do lugar.
— É o carro do pastor. — reconheço o automóvel.
— Bom. Sinal de que você não mentiu sobre isso. Vamos
aguardar sua saída e o segui-lo de perto.
Uma batida na janela nos chama a atenção.
— Droga! Maldito agente! Eu vou abrir a janela e você vai ficar
de bico fechado! — avisa e desce o vidro.
— Marco! — o homem todo tatuado o cumprimenta.
— Gabriel! Não vou dizer que é uma surpresa encontrá-lo por
aqui, já que imagino que esteja atrás do mesmo que eu.
— Você não deveria estar aqui. Esse é o meu caso e não vou
deixar vocês estragarem minha investigação.
— A contar que você está em nosso território e não tem nada
contra nós, não tem porque sermos inimigos.
O agente semicerra seus olhos para o Marco e eu o vejo
colocar a mão na cintura, onde está escondida uma de suas armas.
Gabriel também acompanha o movimento, ficando em alerta. Meu
coração acelera e eu começo a suar de ansiedade pelo que está
prestes a acontecer bem a minha frente. Mas antes que qualquer um
deles fale ou faça alguma coisa, o carro sai de dentro do local,
acelerado, levantando uma nuvem de poeira na estrada de chão e
chamando a atenção dos dois. Eu quase choro de alívio por essa
distração.
— Espero que você e Vincent estejam cientes de que se me
prejudicarem terão não só a mim como inimigo, mas também o FBI
na cola de vocês.
— Estamos cientes disso. Como eu disse, temos interesse em
comum, então não tem porquê brigarmos em meio a uma provável
guerra a caminho.
Gabriel traz seus olhos para mim e eu me encolho no canto
com medo de ser reconhecida. Não me lembro dele, mas estive
drogada tantas vezes no clube que não me admiraria algum dia eu
ter ficado com ele e não me lembrar do seu rosto. Mas como se meu
anjo da guarda estivesse com pena de mim, mesmo sem eu merecer,
mais uma vez me livra de uma possível enrascada.
— Acho que está na hora de você ir. — Marco sugere calmo,
mas com um claro aviso na voz.
O agente, como se fosse para provocar e provar algum
estúpido ponto, pisca para mim e se afasta rapidamente da porta.
— Boa noite, senhorita. Nos vemos por aí, executor. — Sorri
desdenhoso olhando para Marco.
— Para o seu bem, eu espero que não, agente. — ele devolve
o atrevimento.
Gabriel some no meio da mata e Marco liga o carro para sair.
— Está com fome? — Me olha.
— Muita! Você não é um bom parceiro de crime.
Seus olhos brilham com humor.
— Então vamos comer, Angel, porque toda essa adrenalina me
deixou muito excitado e eu quero estar dentro de você o mais rápido
possível. É melhor aplacar isso antes que eu resolva ir atrás desse
agente filho da puta para meter uma bala na cabeça dele por ser um
atrevido e cobiçar o que é meu.
Meu corpo esquenta e eu sinto minha boceta palpitar de desejo.
Esfrego uma perna na outra, tentando conter o incômodo. Ele sorri
ao perceber minha reação diante das suas insinuações pervertidas.
— Você parecia muito calmo até ele chegar. — tento tirar o foco
do fogo que sinto, mudando de assunto antes que eu pule nele e o
faça me foder aqui mesmo.
— Geralmente sou tranquilo. Não sou do tipo impulsivo. Tudo
que faço é meticulosamente calculado.
— Já notei.
Ele acelera o carro e nos leva a uma Starbucks para comprar
nosso lanche.
Eu não sou hipócrita. Desde mais cedo anseio por mais de seus
toques. O Marco é gostoso com G maiúsculo e não vejo o porquê de
eu não aproveitar cada segundo com o cara. Talvez não tenha sido
coincidência meu destino ser entrelaçado ao dele. Se ele continuar a
cuidar de mim, não irei me importar de ser somente sua e tentar levar
adiante o que temos. Não tenho nada a perder mesmo. O que de pior
poderia vir de um relacionamento com um homem poderoso e
respeitado como executor e braço direito do capo?
Olho pela janela os pingos de chuva baterem no vidro
transparente e acompanho as gostas escorrerem vagarosamente até
sumirem. Suspiro fundo tentando colocar meus pensamentos no
lugar e chegar a um consenso comigo mesma.
Eu preciso voltar. Minha vida está sendo uma droga aqui. Todo
o dinheiro que peguei com o Luigi já acabou e eu só tenho arranjado
alguns serviços meia boca que me pagam quase nada. Meus gastos
dobraram ao decorrer do tempo e nada que eu faça alivia esse meu
fardo. Ser mãe solteira é muito difícil, e o fato de não ter um pedaço
de papel nas mãos chamado diploma me impede de arrumar um
emprego que pague um bom salário.
Esse é o resultado de quando se fica presa e a única profissão
que se conhece é vender o corpo. Não me adiantou de nada essa
liberdade se não tenho mais família e grana para me sustentar. Mas
como vou conseguir mais? Fiquei sabendo que os Dragons estão de
volta em Los Angeles e estão se reagrupando. Será que eu teria a
sorte de me tornar uma old lady? Seria uma chance de ouro, mas
acho muito difícil, já que meu corpo não é o mesmo de antes depois
da gravidez conturbada que tive e fiquei com marcas na pele.
Eu queria mesmo era estar com o meu homem. Marco sempre
será a grande paixão da minha vida e deixá-lo para trás foi a decisão
mais difícil que tomei. Eu queria que ele tivesse me olhado com
outros olhos. Eu fiz de tudo para conquistá-lo, mas o executor nunca
me enxergou mais do que uma mulher fácil para se aliviar. Tentei
provar várias vezes que eu o amava, mas o mesmo não se importou.
Homem sem coração!
Eu não me importaria de amar por nós dois. Se eu tivesse
ganhado uma chance de estar em seus braços, isso seria o suficiente
para mim. Ele provavelmente me mataria se eu aparecesse hoje na
sua frente.
Pensa, Ashley! O que te faria dar a volta por cima?
Se ao menos eu soubesse que Lorena não guarda mágoa de
mim, eu poderia ir até ela e pedir sua ajuda, mas a mesma deve me
odiar pelo que eu fiz, e agora sendo a mulher do chefe, o poder deve
ter subido a sua cabeça, tornando-a uma esnobe como as outras
madames da alta sociedade. Não a condeno, porque eu também
estaria aproveitando uma vida de rainha e curtindo cada minuto se
estivesse no lugar dela. Lorena agiu com inteligência e se deu bem,
ao contrário de mim que me desesperei quando as coisas ficaram
feias e pulei do barco assim que pude, me colocando em um beco
sem saída.
O choro estridente do moleque no berço me causa ainda mais
dor de cabeça e eu olho a criatura que só me trouxe prejuízo, a
começar pelo estrago que fez em meu corpo que uma vez foi
perfeito. Eu deveria tê-lo abortado quando tive a chance, mas no
fundo tive a esperança de que ele fosse do Marco, mesmo eu
sabendo que as chances eram quase nulas. Foi um enorme engano
da minha parte. O menino nasceu a cara do imbecil do Romeo,
puxando dele até mesmo a manchinha vermelha no pescoço.
Uma luz se acende em minha mente. Claro! Porque não pensei
nisso antes, porra? Marco e Romeo são muito parecidos fisicamente.
Se eu falar que o bebê é dele, todos irão acreditar, já que ele ficava
comigo na mesma época que aquele estúpido. Somente eu saberei
da verdade. O executor poderá acreditar na minha história e me
perdoar por eu ter fugido, se eu contar meus motivos, ainda mais por
ele ser filho bastardo e rejeitado de uma prostituta — informação que
mantive somente para mim, mas que agora poderei explorar bem. —
Marco ficará com pena da minha situação e me aceitará de volta ao
se lembrar de como a mãe dele foi tratada por tê-lo, e com toda a
certeza me protegerá e não deixará nada acontecer comigo e nem
com a criança.
Bato palma, maravilhada e muito feliz que minha sorte parece
ter mudado de repente.
— Quem diria, hein, pestinha, que você me serviria de alguma
forma?
— Mamã! — Ele sorri se babando todo e eu torço o nariz com
nojo.
Não nasci para ser mãe e não tenho um pingo de paciência
para cuidar de criança, mas o fato de não tê-lo tirado de mim na
época, talvez tenha sido a minha melhor escolha até agora.
— Você será a minha passagem dessa vida miserável para
uma de luxo, pirralho. É melhor conquistar o coração daquelas
pessoas, porque eu não lhe tive para ser um estorvo. Chegou a hora
de você pagar pelos estragos que me fez. Todos os meus sacrifícios
têm que ser recompensados.
Ele inclina a cabeça para o lado com a mão gordinha na boca,
sem entender nada do que eu digo. Também quem pudera! Só tem
um ano e meio e mal sabe falar o básico. Mas esse tempo que fiquei
sumida vai vir a calhar agora. Foi o suficiente para eu me preparar,
arrumar uma boa desculpa e deixar as coisas esfriarem.
— Mamã! — Pietro começa a chorar de novo, querendo sair do
berço.
— Vamos voltar para o seu papá! — digo a última palavra bem
pausadamente para que ele se acostume com ela e aprenda a
pronunciá-la. Chegou a hora de pegarmos o que é nosso. — Espero
que dê tudo certo e você me ajude com isso. Fale “papá”, Pietro!
— Papá?
Sorrio por ele pegar de primeira. Não posso negar que o
moleque é muito inteligente e curioso, e isso é maravilhoso para
meus planos.
— Isso mesmo! Seu papá! — Pulo animada, o fazendo rir.
Pego ele no colo e o deixo sentando no chão para brincar.
Corro para o guarda-roupa e jogo na cama as nossas poucas coisas
e começo a organizar tudo numa pequena mala velha. Marco, Marco!
Não perde por esperar. Estou voltando para você, meu amor, e dessa
vez é para ficar. Espero que ainda esteja sozinho. Eu odiaria saber
que me substituiu tão facilmente. Irei tirar qualquer uma que estiver
em meu caminho.
Antes de aparecer para ele, vou sondar primeiro como as
coisas estão por lá depois que eu saí. Paciência é uma qualidade
que eu não tenho, mas vou me treinar a ter para não cometer
nenhum erro e colocar tudo a perder.
Los Angeles, aívou eu!
DOIS MESES DEPOIS
Entramos em uma rotina confortável nas semanas que se
passaram. Saímos durante o dia e na maioria das vezes ele me leva
nas suas vigias. Não sei se por gostar da minha presença ou por não
confiar em mim ainda. Como se eu pudesse fugir dessa fortaleza
cercada de homens lá fora. À noite é diferente. É quando caímos
exaustos um nos braços do outro de tanto nos darmos prazer. Marco
é um amante incrível e eu tenho aproveitado cada segundo disso.
Por alguns dias me incomodei por não sairmos em público ou por eu
não ser levada a outros lugares que não fosse um passeio longe de
todos que ele conhece ou uma lanchonete cuidadosamente
escolhida pelo mesmo.
Contudo, para mim tanto faz, e eu não ligo para o que ele
realmente sente por mim, desde que continue me tratando bem como
faz. É um ganho e tanto. Não tenho do que reclamar.
O deixo conversando no celular e entro no banheiro para tomar
um banho pós-treino. Não demora muito e sinto o exato momento
que ele entra também. Meu corpo reconhece e anseia imediatamente
pelo seu com apenas um único olhar dele.
— Não me esperou, raposinha? — pergunta.
Sorrio com o apelido estúpido que ele tem me chamando nas
últimas semanas.
— Você estava no telefone. Não quis te incomodar.
— Estar a sós com você nua, nunca é um incomodo. — Roça
seu grosso pau na minha bunda.
— Eu vejo.
Sorrio olhando por cima do ombro e devolvo a sua provocação
com uma rebolada.
— Você é uma tentação, Angel. Empina essa bunda gostosa
para mim! Eu vou te foder duro e rápido. Preciso sair depois.
Faço exatamente o que Marco ordena. Ele não precisa de muito
para me ter do jeito que deseja. Eu me pego cada vez mais me
inclinando para seguir suas ordens feito uma cadela adestrada. Oh,
droga! A quem eu quero enganar? Se esse homem me pedisse para
colocar uma coleira e andar de quatro, eu faria sem nem mesmo
pestanejar ou questionar.
Marco entra em mim em uma estocada firme e profunda que
me tira o fôlego. Minha vagina o recebe com gula, pingando desejo.
Ele me estoca devagar e eu começo a ir ao seu encontro, ansiando
por mais dele.
— A minha pequena quer mais? — pergunta.
— Sim, Marco! — gemo extasiada.
— Fala como quer, que eu te dou, safada!
— Mais forte, por favor!
— Então toma! — Acelera mais suas investidas, me deixando
de pernas bambas por tamanha força aplicada.
Eu adoro quando ele fica solto e me pega com vontade.
Percebo que fica totalmente cru e selvagem, e para meu completo
desespero, eu amo esse seu lado sombrio e animalesco. Cada
momento nosso é uma aventura, e por mais que nunca tenhamos
conversado sobre o que temos, não me sinto desvalorizada. De um
jeito estranho parecemos um casal, que mesmo no silêncio nos
entendemos. Seja cada um em seus pensamentos ou se tocando em
cada oportunidade que temos. Ele respeita meu espaço e eu o dele.
Se eu acreditasse em almas gêmeas, diria que encontrei a minha
outra metade. Nos completamos muito bem, tanto na cama, como
fora dela, e temos uma cumplicidade extraordinária. Com o passar
dos dias tem ficado cada vez mais evidente que esse jogo é perigoso
e nenhum de nós dois estamos dispostos a cair fora ou dar um nome
real para o que estamos vivendo.
— Vem, querida! Goza no meu pau! — Segura em minha
cintura e morde a dobra do meu pescoço, me fazendo arrepiar da
cabeça aos pés.
— Oh, Marco! Assim! Mais rápido!
Ele bate forte em algum lugar dentro de mim, me fazendo
desmanchar em um orgasmo arrebatador que me arranca um grito
de prazer.
— Aguente mais um pouco, que agora é a minha vez. — Tira
seu membro e entra de novo com tudo em meu canal.
— Ai, que delícia! Mete, safado! Mete com força!
Levo um tapa colocado na bunda. Ele fica louco quando eu o
atiço.
Uma mão sua vai para o meu cabelo, me segurando firme para
um beijo exigente. Ele levanta uma das minhas pernas e eu sinto seu
membro me estocar ainda mais e ir muito mais fundo nessa posição.
Nossos corpos batem um no outro, fazendo um baralho
molhado. Ele estimula meu clitóris com suavidade e outro orgasmo
vem se formando. Logo em seguida o clímax me toma, o trazendo
junto comigo. Nos entregamos ao momento como se nada no mundo
fosse mais importante do lado de fora.
Marco sai de dentro de mim e desce minha perna. Sem dizer
nada, pega o sabonete e ensaboa meu corpo com paciência e
dedicação. Quando termina, eu retribuo seus cuidados comigo. Nos
enxaguamos e saímos para nos arrumar.
— Vamos a mais uma vigia? — questiono.
— Não. Tenho outros negócios para cuidar. Deixarei você com
a Lorena. Ela quer sua companhia para ir comprar coisas para o
bebê.
Faço uma careta. De alguma forma que não consigo entender,
a mulher cismou que somos melhores amigas e sempre pede minha
companhia.
— Eu não sei se é uma boa ideia. Seu chefe não parece gostar
muito de mim e temo pela minha segurança.
— Ele só quer cuidar da esposa e tem medo que algo possa
chegar a ela por conta dos Mc's estarem atrás de você.
— Mais um motivo para eu não ir.
Ele inclina a cabeça, me estudado, e devagar me puxa para
seus braços.
— Por mais que eu odeie dizer isso, eu concordo com você,
mas não quero trazer um furacão para a minha porta.
Gargalho alto.
— Está com medo dela?
— Não. Só não quero ter um motivo para lutar contra o chefe
por conta da sua mulher sem juízo.
— Tudo bem. Vou salvar sua pele somente dessa vez, ursinho.
— zombo com o apelido que Lorena citou uma vez e ele rosna para
mim.
— Evite confusão! E... Angel?
— Sim. — O ajudo a arrumar a gravata.
— Não faça nada estúpido!
— Tipo o quê? Dançar em cima de uma mesa, andar pelada
pela rua ou agarrar alguns dos soldados?
Ele semicerra os olhos.
— Quais soldados? Me diga os nomes dos desgraçados, que
eu vou dar cabo deles agora mesmo!
Rio mais forte da sua cara.
— Você de terno e com ciúme fica tão gostoso. — Beijo sua
barba.
— Menina! Não brinque comigo!
— Ou o quê? Vai rasgar minha roupa, espancar minha bunda e
me foder até eu perder os sentidos? Estou pronta, querido. — Abro
os braços e dou uma piscadinha provocadora.
— Você ainda vai ser a minha morte. — Sorri de lado e me
puxa para um beijo. — Vamos! Não quero chegar atrasado.
Sorrio quando ele vira-se para pegar suas coisas.
Se soubesse que em tão pouco tempo me tem nas suas mãos
e chegou em lugares tão inexplorados e adormecidos que eu nem
imaginava que existiam, eu estaria muito ferrada. Posso ser sua
morte, mas ele foi a minha ruína. Depois de Marco Moretti, nunca
mais conseguirei ser de outro homem.
Desço do carro à procura do meu chefe de segurança, no
entanto paraliso no lugar ao ver em minha frente Vincent passando
as ordens para os seus soldados presentes.
— Que porra é essa? — questiono em voz alta, chamando a
atenção de alguns a minha volta.
— Ele acabou de chegar e disse que vai conosco. — Sebastian
avisa.
— Não mesmo. — digo chateado fazendo Alec ri baixinho ao
meu lado.
— Boa sorte em tentar convencê-lo do contrário.
Olho para ele, sério.
— Tudo pronto para sairmos? — pergunto.
— Sim, senhor. Nino irá fazer a segurança da senhora
Lourenço, junto com o Sávio e o Ádamo.
— Já mandei mais dois dos meus para lá também. Não quero
me preocupar com nada quando sairmos.
Acho que é pedir demais para que meu querido irmão e chefe
sente o rabo na sua cadeira de couro, acenda um charuto e somente
lata suas ordens como todos os outros capos que passaram por lá
antes dele fizeram, já que ele não aguenta fazer isso.
— Você só está esquecendo uma coisa. — Me viro ao ouvir o
motivo da minha dor de cabeça e o vejo bem na minha frente. Me
custa acreditar que esse idiota veio se pôr em perigo. — Nós temos
um informante dentro da organização e no momento eu não confio
nem na minha sombra. — resmunga aborrecido.
— Não era para você estar aqui. Tem que ficar o mais longe
possível das lutas, chefe. — retruco sua teimosia.
— Mas eu estou e vou para a luta.
— Eu disse a você que eu cuidaria disso. Não sabemos quem
estará nos esperando ou se realmente eles têm interesse em fechar
um acordo. Pode ser uma armadilha, e sua segurança é o mais
importante nesse momento. — Trinco os dentes, quase os
quebrando de raiva.
— Não sou nenhum covarde que se esconde atrás de soldados,
Marco. No dia em que eu ver meus homens indo para uma luta e eu
não estiver junto com eles na comissão de frente defendendo o que é
meu, pode meter uma bala na minha cabeça, pois larguei de ser um
homem com um pau e duas bolas no meio das pernas.
Suas falas exaltadas trazem algumas exclamações a nossa
volta. Claramente agradou os ouvidos dos presentes que estão
acostumados apenas a servirem e muita das vezes morrerem por um
homem que nem se importa em saber quais são os seus nomes.
Porém, isso não justifica a decisão dele. Vincent tem muita sorte de
estarmos cercados e eu ter que acatar suas ordens em público como
um bom soldado. Se estivéssemos sozinhos como os amigos de uma
vida inteira, eu iria meter a porrada em sua cara por burlar todo o
esquema de segurança que montei para protegê-lo.
Sorrio de um jeito forçado para ele, que me observa taciturno,
sabendo exatamente o que estou pensando nesse momento. Tem
certas coisas que pode passar anos, mas nunca muda, e uma delas
é o conhecimento que temos um sobre a mente do outro sem nem
mesmo expressarmos nenhuma palavra no processo.
— Tudo bem. Mas como seu braço direito, peço que não fique
tão a vista dos inimigos e siga o protocolo que montamos
cuidadosamente para essa missão, ou todos nós iremos morrer
preocupados com um possível ataque sobre você. — informo.
— Só estamos querendo fazer tudo com eficiência, chefe. —
Alec complementa e eu fico grato por ele me entender e ficar ao meu
lado.
Vincent balança a cabeça, concordando a contragosto com
nossa decisão.
— Vou no carro do meio, como o combinado, e na hora que
forem entrar no local, eu tomo a frente da reunião. — o capo dá seu
ultimato final, se virando para entrar no seu veículo.
— Quero o carro dele cercado. E mande outros dos nossos
homens para o local determinado! Teremos que fazer uma troca
rápida de carros antes de entrarmos no território dos Herrera. —
ordeno.
— Considere feito. — Alec sai me deixando com os outros
soldados.
Suspiro com impaciência e passo as ordens aos demais antes
de sairmos.
Foram dois meses de pesquisa e muitas noites perdidas de
sono montando estratégias, mas enfim conseguimos derrubar o
chefe do cartel mexicano que estava tramando contra nós por
debaixo dos panos. É claro que agora iremos negociar com o novo
que ficou em seu lugar, que segundo meus informantes, é sobrinho
do antigo e está ansioso por uma aliança com a nossa organização.
Em uma coisa Vincent sempre teve razão:pior que os russos são os
mexicanos. Pelo menos sabemos que a máfia russa é nossa inimiga
e não esperamos lealdade, nem parcerias com eles, já que tentam há
anos dominar nossos territórios, porém nunca tiveram êxitos. A luta
com os Volkovs sempre será olho por olho e dente por dente. Já os
malditos cartéis, nunca sabemos suas verdadeiras intenções. Uns
querem parcerias para ganhar proteção contra futuros ataques de
fora e outros querem alianças somente para entrarem em nosso
território e tramarem contra a nossa organização bem na nossa cara,
ainda dando tapinhas nas nossas costas. Eles são tão
inescrupulosos quanto nós, mas a diferença é que no território deles,
somente eles que mandam, e aqui disputamos com vários outros
inimigos, os quais não quero nem listar nesse momento para não me
desconcentrar. Stronzos!
Todos eles pagarão por suas traições, principalmente Snake.
Todavia, é uma coisa de cada vez. Primeiro os cartéis e depois
cuidamos dos Mc's.
Saímos para o local, determinados, e como planejado trocamos
de carros no meio do caminho para não chamar tanta atenção para a
nossa chegada. Estamos indo em veículos de modelos mais simples.
Isso nos ajudará a passarmos despercebidos.
Meu celular toca e imediatamente eu o atendo com calma,
tentando aparentar tranquilidade na voz.
— Pode falar! — digo.
— Senhor, estamos chegando no lugar, e até o momento os
homens que mandamos na frente para averiguar de perto, disseram
que está tudo certo. — Diego me informa.
Não sei porque, mas não consigo ficar tranquilo com a notícia.
— Devem estar chegando mais alguns dos nossos a qualquer
momento. Quero que diga a eles para ficarem em pontos
estratégicos e não baixarem em nenhum momento a guarda, porque
estamos com o chefe a caminho. — aviso.
— Entendido.
Finalizo a ligação, ainda me sentido inquieto.
Em menos de quarenta minutos depois paramos em frente a
um casarão muito antigo. Sou o primeiro a descer do carro e tomar
partido de como estão as coisas a nossa volta. A ansiedade acelera
meu sangue nas veias e eu apago qualquer medo, resistência ou
preocupação da minha mente. Vai dar tudo certo, e se não der, é
uma falha que terei que pagar com meu sangue por não fazer meu
trabalho direito. Nesse momento me torno o mafioso que fui treinado
a ser:preparado para matar e pronto para morrer.
Recebo todos os sinais positivos que preciso para liberar a
saída do capo. Assim que ele desce do veículo, é formada uma linha
de segurança a sua volta. Minha atenção está o tempo todo nele e
em alerta para eventuais ameaças de ataques. Um jovem rapaz loiro
desce a escada, sorridente, e nos mantemos em alerta. Ele nos
cumprimenta sem tirar o olhar admirado quando vê o chefe presente.
— É um imenso prazer recebê-los. Confesso que eu não
esperava ver com meus próprios olhos o novo capo aqui.
— Gosto de tratar dos meus negócios pessoalmente. — Vincent
responde.
— Muito bom! Um cara que não foge da luta. Gosto disso.
— Então é você que esta no comando do cartel? — Vincent vai
direto ao ponto, não querendo prolongar a conversa. O que
obviamente não funciona.
— Sim. Que falta de educação a minha. Sou Mathias Herrera.
Vamos entrar e saborear uma boa tequila enquanto colocamos todas
as nossas dúvidas na mesa!
Meu sexto sentido está apitando alto. Tudo está muito amistoso
e receptivo. Isso deveria parecer bom e me tranquilizar, mas em
nossos anos de treinamentos e experiência em campo, aprendemos
da pior maneira que silêncio demais é sinal de problema, e dos
grandes. Mal finalizo minha linha de raciocínio e começamos a subir
a escada de pedra pintada de vermelha, quando o barulho alto de
uma explosão atrás de mim nos chama a atenção. Eu sou o mais
próximo e sinto a força do impacto instantaneamente.
— Projetam o chefe! — grito não me importando com a
ardência nas minhas costas.
— Você foi atingido. Está sangrando. — Vincent diz ao meu
lado.
— Não importa. Continue em frente! — respondo.
— Vamos entrar! Tenho um quarto seguro lá dentro que pode
nos proteger. Meus homens e os seus cuidarão disso. — Mathias fala
e sobe correndo o restante dos degraus.
— É melhor acompanhá-lo. Isso vai ficar feio. — sugiro.
— Caralho! — Alec grita. — Eles vieram com fogo total.
Vários carros aparecem mais a frente e os caras não estão para
brincadeira. Só dá tempo de gritar para Vincent se abaixar quando a
chuva de tiro vem em nossa direção. Me jogo em cima dele,
recebendo as balas que eram para atingi-lo. Sinto a dor me dilacerar
no peito e não consigo me mexer.
— Marco?! Seu estúpido! Não ouse morrer aqui! Você e essa
mania de me proteger como se eu fosse o moleque que você
conheceu.
Vincent está tentando ser forte. Eu o conheço o bastante para
saber que ele está desesperado, todavia se mantém firme como um
bom chefe.
— Minha vida pela sua. — o lembro do nosso juramento.
— Não feche os olhos, Marco! Mantenha-os abertos!
— Estou tentando. — Já o vejo embaçado.
— Vai ficar tudo bem. Me ouviu? Acredite em mim! Ajude a
levá-lo para dentro, Alec!
É a última coisa que ouço quando perco a luta e a sensação de
paz vem. Me sinto flutuando com a leveza em meu corpo. Fecho os
olhos e vejo um anjo vestido de branco com os cabelos e olhos
castanhos como os meus, sorrindo. Sorrio reconhecendo a mulher
jovem e bonita. Estico as minhas mãos, pegando suas as suas
pequenas e delicadas mãos, deixando essa sensação boa de
felicidade me acalentar.
Ele não está respirando. O aperto em meu peito é insuportável.
Isso não pode estar acontecendo comigo. Eu sabia que algo iria
acontecer e eu sentia isso. Foi por esse motivo que eu fiz questão de
vir junto.
— Façam alguma coisa! Me ajudem aqui, porra! — grito com
todos a minha volta.
— Ele recebeu uma bala no peito, chefe. Não tem nada que
possamos fazer. Estamos muito longe do hospital para pedir socorro.
— Foda-se! Eu não aceito isso.
Começo a massagear o peito de Marco, mas nada dele voltar a
respirar.
Lá fora o tiroteio continua a todo o vapor. Sinal de que nem se
quiséssemos sair daqui, conseguiríamos. Ao menos não pela frente
da casa.
— Me deixe tentar! Eu não sei muito sobre medicina, mas sei o
básico de primeiros socorros. — Sebastian se ajoelha e começa os
procedimentos.
Estou sem chão. Não posso perder meu irmão. Já passamos
por muita coisa juntos e sua morte significaria a minha também.
Alguns poucos minutos se passam e ele volta a respirar. A
minha vontade é de mandar todos irem se foder e chorar.
— Temos que tirar ele daqui o mais rápido possível, chefe. Sua
respiração voltou, mas está muito fraca. Quase não sinto sua
pulsação. — Sebastian comenta.
— Traga o carro! Nós vamos sair. — ordeno.
— Não tem como. Estamos no meio de um tiroteio. — Diego
informa.
O agarro pelo pescoço.
— Está me dizendo que toda a equipe que Marco formou não é
capaz de lidar com essa merda? Escute bem, rapaz! Todos vocês
terão que acertar as contas comigo se ele parar de respirar de novo!
— Nós daremos cobertura e faremos tudo que tiver ao nosso
alcance.
— Ótimo! Eu quero ao menos um deles vivo. Ninguém me
ataca e fica vivo para contar a história. Eu preciso do nome do
mandante.
— Entendido. — Alec responde prontamente. — Os homens de
Mathias disseram que tem uma saída pelos fundos. Dá para sair sem
sermos vistos.
— Então vamos! O que estão esperando para me ajudarem a
tirar o Marco para fora?
Saímos pelo caminho indicado pelos homens de Mathias, que
nesse meio tempo sumiu de vista. O monte de bosta nem para
defender a sua casa presta. Se enfiou no quarto de segurança
enquanto todos nós nos fodemos aqui fora.
O caminho até o pronto-socorro está no mínimo tenebroso. A
rua é de cascalho, e em cada balançada que o carro dá, Marco geme
de dor. O que é um bom sinal, já que ele nos dá a certeza de que
ainda está conosco.
Chegamos ao hospital e o local vira um inferno. Cada um que
encontro pelo caminho, eu ameaço para atender o Marco o mais
rápido possível. Subornamos desde enfermeiros até mesmo alguns
policias que foram notificados do que aconteceu.
No fim tudo dá certo e somos cobertos para que a nossa
presença não chame a atenção dos demais curiosos.
Depois de duas horas na mesa de cirurgia, o médico vem nos
informar que Marco está estável e será transferido para o quarto.
— Eu preciso vê-lo. — peço com urgência.
— Poderá vê-lo por pouco tempo. As primeiras vinte e quatro
horas são muito importantes para a avalição e recuperação do
paciente. Qualquer risco de infecção pode ser fatal.
— Eu entendo. Preciso somente de alguns minutos.
Depois de me preparar adequadamente, sou liberado para
entrar no quarto onde ele está ligado a vários aparelhos. A máquina
apitando me leva direto para o dia em que Lorena foi baleada e eu
quase a perdi. É desesperador ver as pessoas que você gosta nessa
situação e não poder fazer nada.
— Não se preocupe, amigo! Me vingarei por você. Isso não vai
ficar assim.
Sua respiração calma é minha única resposta.
Depois de verificar que tudo está tranquilo, é que saio para meu
acerto de contas.
(...)
— Conseguiram acabar com os desgraçados? — interrogo.
— Sim. Apenas ficamos com o que se parece o líder deles. —
Alec responde.
— Conferiu se o babaca do Hererra não tem nada a ver com
isso?
— Aparentemente ele não sabia de nada, chefe. A armadilha
era para o próprio. Parece que tem algumas pessoas que não estão
felizes por ele ser o novo chefe.
— Não acredito nisso. Foi muita coincidência.
Entro na casa velha caindo aos pedaços e vou direto ao homem
amarrado.
— Você me conhece? — pergunto, o estudando.
— Não. — sua negativa poderia parecer verdadeira se não
fosse o seu corpo tenso e seu olhar amedrontado o entregando.
— Vou perguntar de novo. Alguém mandou vocês naquele local
para me matar?
— Não vou contar nada. Eu irei morrer de todo jeito.
— Você tem razão, só que de uma maneira bem mais dolorosa
por não colaborar.
— Foda-se! — retruca cheio de coragem.
É sempre a mesma coisa. Todos eles são corajosos até eu
começar.
Tiro meu soco inglês do bolso e acerto sua mandíbula, o
fazendo cair para trás da cadeira. Enquanto sinto meu sangue ferver
de raiva, eu não paro meus golpes. Quando me dou por satisfeito e
noto que descontei um pouco das minhas frustrações, eu paro.
Acerto uma facada em seu pulmão, o fazendo gritar feito uma garota.
— Aposto que agora não parece tão prazeroso, não é? Vou
dizer o que vai acontecer com você nos próximos minutos. — Acendo
um cigarro e me sento calmamente para explicar. — Você irá sangrar
feito um porco, seu pulmão bom vai encher de sangue e a falta de ar
logo virá. Estará buscando por ar e não vai conseguir respirar. Pode
demorar horas para acabar essa agonia e eu irei ficar aqui assistindo
tranquilamente você sufocar até a morte.
— Por favor! Só acabe com isso de uma vez!
— Só depende de você, amico! Eu quero o nome do mandante
e tudo isso estará acabado em um piscar de olhos.
— Não conhecemos ele pelo nome, somente por pastor.
Aperto com tanta raiva a minha mão, que minhas unhas rasgam
a pele. Esse cara vai morrer. Eu disse ao Gabriel que ficaria de fora e
olha no que deu. O FBInão sabe resolver porra nenhuma com essa
merda de burocracia. Isso terá um fim e será pelas minhas mãos.
Me viro para sair com a mente fervilhando de ódio.
— E... Espera! Você disse que iria me matar rápido.
Sorrio para meus homens que assistem a tudo calados.
— E eu cumpro a minha promessa. — Apago o cigarro em sua
pele, puxo meu punhal de seu peito e o degolo. Fico assistindo até
ter certeza que ele parou de respirar. — Vamos, rapazes! Acredito eu
que vocês estão com vontade de se divertirem um pouco. Limpem
essa bagunça!
— Esse pastor não é o mesmo que está em parceria com o
Snake? — Sebastian questiona.
— Sim. Não entrem em contato com ninguém da organização e
muito menos avisem sobre o ocorrido. Deixem os caras acharem que
seus planos deram certo. Vamos pegar todos eles de surpresa. Essa
missão falhou e todos nós estamos mortos. Entenderam?
— Sim, senhor.
Entro no carro e volto para o hospital. No caminho aviso apenas
a Nino que iremos demorar um pouco mais. Arrumo uma desculpa
qualquer para acalmar Lorena sobre minha ausência nos próximos
dias e peço que ele se mantenha calado e não passe informações
sobre nosso paradeiro.
O rato que avisou sobre nossa vinda para cá deve estar
festejando a essa hora e sua alegria vai ser sua ruína nos próximos
dias quando ele não tiver nenhuma notícia nossa e mostrar sua
verdadeira face. Eu estarei esperando esse momento.
As amigas de Lorena conversavam sem parar desde a hora que
chegaram no clube. Confesso que sentia falta disso, de ver gente
nova para me distrair e jogar conversa fora. Contudo, hoje não é um
bom dia para mim. Tento sorrir e fingir que estou adorando o papo
empolgante sobre bebês e maternidade, mas com o passar das
horas está cada vez mais difícil continuar prestando atenção.
Marco não sai da minha cabeça e eu sinto que alguma coisa
está errada. Experimento aquele sentimento de perda e uma agonia
sufocante que eu não consigo explicar em palavras. Por mais que eu
tente dizer que é coisa da minha cabeça, sei que não é besteira.
Levanto-me disfarçando e vou procurar um dos soldados que
estão designados a proteger a esposa do capo. Não ousaria dizer
que eu estava no pacote VIP daqui, já que provavelmente eu seria
esquecida ou entregue ao inimigo se tivessem que escolher entre
mim e a mulher do chefe.
Encontro Nino encostado na parede observando o ambiente e
me aproximo cautelosa. Minha presença chama sua atenção e eu
respiro fundo antes de tentar fazer a pergunta que vem martelando
na minha cabeça o dia inteiro.
— Precisa de alguma coisa? — pergunta.
— Você saberia me dizer se o Marco vai demorar?
Ele me analisa por alguns segundos antes de responder.
— Não sei dizer. No momento estamos sem contato com eles.
— Isso não parece ser bom. Não disseram quando irão voltar?
— Não. Mas fique tranquila! Toda missão é assim. Em breve
estarão aqui.
Não sinto verdade no que ele diz e sei que está mentindo para
mim, porém não insisto. Para eles não sou ninguém importante para
que devam dar alguma explicação. Forçar seria perda de tempo e eu
poderia me colocar em uma situação nada agradável.
Sigo meu caminho até a porta do banheiro, me tranco lá dentro
em uma falha tentativa de me acalmar e lavo meu rosto.
Quando acho que já fiquei tempo demais aqui, saio e volto para
a roda de conversa que segue animada.
— Você está bem? — a mulher que me foi apresentada como
Lara questiona, chamando a atenção do grupo, que fica em silêncio e
aguardam a minha resposta com curiosidade.
— Você está pálida. Aconteceu alguma coisa? — Rebeca, a
ruiva bonita e desbocada, complementa.
— Sim. Acho que comi algo que não me fez bem. — minto
tentando tirar o foco de mim.
— Da última vez que eu achei que estava com intoxicação
alimentar, nove meses depois sarou. — Rebeca comenta.
O grupo cai na gargalhada e pela primeira vez na noite sorrio
das brincadeiras das meninas.
— Oh! Mas esse não é meu caso. Eu não posso ter filhos. —
Mordo a ponta da língua pela facilidade em que a informação saiu.
— E como sabe disso? — Lorena pergunta.
— Eu... Antes de Marco, eu fui casada por um tempo, e bom...
Nunca engravidei. Então imagino que não posso ter filhos.
— Às vezes o problema era nele, não em você. — Camilla, a
cunhada da ruiva, fala.
— Pode ser isso. — Sorrio colocando um fim na conversa.
Não é. Eu fiquei com vários homens, só que essa informação
não passarei adiante. Não quero ser a rechaçada do grupo de
mulheres perfeitas e independentes.
Olho para cima e Lorena tem seus olhos presos em mim. Não
vejo pena neles, e sim entendimento. Isso me faz imaginar que sua
história deve ser bem interessante, já que ela não é uma italiana
legítima, e para chegar ao posto de esposa de um capo, a luta
provavelmente foi intensa. Até onde eu sei, os mafiosos são bem
tradicionais, principalmente no quesito de aparência diante da
sociedade.
A conversa volta a fluir e eu agradeço que a atenção delas se
dispersou bem fácil do assunto.
Minha mente voa longe novamente, indo até o homem moreno
de olhos cores de mel. Essa espera está me matando.
— Não acha, Angel? — Lorena me chama.
— Desculpa! Me distraí. Do que estavam falando?
— Eu acho que você iria gostar da instituição. Por que não nos
faz uma visita? — Lara resume o que eu perdi.
— Eu iria adorar com certeza. Lorena fala muito sobre os
projetos e eu já fiquei apaixonada pelo trabalho de vocês. Mas não
sei se eu poderia ajudar, já que não terminei nem o ensino médio.
— Bobagem! Temos muitos voluntários por lá que ajudam com
base em suas experiências de vida. Mas se me permite dizer, você
está muito nova ainda e tem tempo de correr atrás do prejuízo. —
Camilla diz sorridente.
— Será um prazer fazer uma visita e conhecer a instituição.
— Muito bom.
— O papo foi maravilhoso. Temos que marcar mais encontros
como esse. Ser mãe é uma benção, mas até mesmo nós precisamos
desse tempo de meninas para colocar a mente no lugar. Deixa eu
voltar para o meu cavalão, que ele deve estar se sentido perdido sem
mim. — Rebeca avisa.
— Sei bem que perdido é esse. — Camilla cutuca.
— Fazer o quê se sou gostosa e seu irmão não resiste a um
pedacinho desse corpinho aqui?
Rimos das provocações das duas.
— Foi um prazer conhecer você, Angel! Espero vê-la mais
vezes. — Lara me abraça. — Se precisar conversar, estarei sempre à
disposição.
— Eu agradeço. Adorei o nosso dia.
Todas se despedem e vão embora com a promessa de outros
encontros em breve e a alegria momentânea passa.
— Se não se importa, eu já estou indo também. Quero estar em
casa para quando Marco chegar. — falo com Lorena.
— Eu acho melhor você vir comigo. Pelo que sei, nossos
homens não voltarão hoje, e eu detesto ficar sozinha. Vamos fazer
companhia uma a outra e assim você me conta melhor essa história
de já ter sido casada.
Engulo em seco. Droga! Como faço para sair dessa?
— Não foi nada demais. Eu não gosto de falar do meu passado,
pois foi um tempo muito difícil para mim e ainda não me recuperei.
Entende?
Ela me olha como se estivesse pensando sobre o que eu falei.
Por fim sorri e gruda seu braço no meu.
— Tudo bem. Não está mais aqui quem perguntou. Vamos para
a minha casa fazer algo para comermos então.
— Claro!
Lorena sempre faz uns pratos diferenciados da sua terra e eu
gosto de comê-los, apesar de algumas vezes ela exagerar na
pimenta.
(...)
Depois de nos entupirmos de comida e guloseimas, estamos
assistindo a um filme para nos distrair. Vejo que sua expressão
denota preocupação tanto quanto a minha.
— Acha que aconteceu algum imprevisto? — pergunto.
— Não. Eles se mantêm fechados e incomunicáveis quando
estão nessas missões. Eu particularmente odeio. Fico inquieta e
muito nervosa quando Vincent sai a trabalho.
— É assustador. — confirmo que isso me incomoda também. E
olha que estou nessa vida há muito pouco tempo.
— Você gosta mesmo do Marco, não é?
— Vamos dizer que nesse tempo juntos, ele me surpreendeu.
— Torço muito por vocês. Ele merece ser feliz e você também.
Sei que ainda está insegura para me depositar sua confiança. O que
é bem engraçado se parar para pensar, já que Marco também é
reservado assim. — Rimos. — Entretanto, Angel, eu não forçarei
nada. Quando estiver pronta, confie em mim. Quero que saiba que
pode contar comigo para o que precisar. Eu me vejo em você e quero
muito ser mais próxima de vocês dois.
— Eu agradeço. Só o fato de estarmos aqui é um grande
passo. No início seu homem queria me matar.
Ela gargalha.
— Vincent é muito protetor, mas te garanto que ele tem um
grande coração.
— Se ele te ouvir dizer isso, vai pirar. Um mafioso detesta que
acabem com suas reputações de fatais e tudo mais.
Rimos mais forte dessa vez.
Conversamos mais um pouco, e quando temos a certeza de
que não chegará novas informações sobre eles, nos deitamos para
dormir.
Para ser sincera comigo, nem preciso que me digam nada. Eu
sinto que ele precisa de mim. Não sou adepta a nenhuma religião e
nem sei se tenho esse direito depois de tantos erros cometidos em
minha vida, no entanto, mesmo não me achando merecedora de
qualquer piedade divina, faço uma pequena prece pedindo que onde
quer que ele esteja, meus pensamentos positivos o alcance e o traga
para mim são e salvo.
O barulho alto do lado de fora do quarto me faz pular da cama.
Encontro Lorena no corredor, de roupão, tão assustada quanto eu.
Alguém está tentando invadir o apartamento e cada batida violenta
nos faz saltar. Nino pede para que façamos silêncio e mantenhamos
a calma. O que é quase impossível de acatar, já que a qualquer
momento poderemos estar todos mortos.
Uma semana se passou desde a saída de Marco e
continuamos no escuro. Dizer que o pior já tinha passado em minha
mente é um eufemismo.
Ninguém sabe de nada, e se sabem, não compartilham nem
mesmo com a esposa do chefe. Isso me faz acreditar que a situação
é muito pior do que aparenta.
Lorena segura firmemente uma das minhas mãos e esperamos
a bagunça terminar. Logo a porta do elevador se abre e vários
homens entram armados já se sentindo os donos do local. Nino parte
para uma luta corporal com alguns, e como esperado é nocauteado
rapidamente, levando um tiro à queima roupa. Lá se vai a nossa
única oportunidade de sobrevivência. Se é que tínhamos uma.
Quero me aproximar e ver se Nino ainda está respirando, mas
me mantenho paralisada no lugar. Isso foi uma luta injusta, já que
somente ele estava aqui em cima contra pelo menos uns dez deles.
Eu me pergunto o que aconteceu lá embaixo com os outros para que
eles alcançassem a cobertura tão facilmente.
— O que vocês querem aqui? — Lorena questiona tentando
soar firme.
— Olha só se não é a vadia do chefe! Ou devo dizer ex-chefe?
— um jovem zombeteiro diz.
Pela sua postura, acredito que ele seja o mandante da baderna.
Ou o cara é muito burro em invadir um dos locais da máfia ou é
suicida mesmo.
— Do que está falando? Meu marido voltará em breve da
missão e acabará com todos vocês por essa ousadia.
— Oh! Vejo que não te falaram, não é?
— Não falaram o quê? — ela pergunta com a voz trêmula.
— Seu marido e todos que foram com ele, estão mortos,
querida.
Não! Sinto o estômago doer, o coração acelerar e minhas
pernas fraquejarem com a notícia.
— É mentira sua! — Lorena grita desesperada. — Afinal, quem
é você, hein?
— Eu sou o Lorenzo. Há tempos que quero te conhecer melhor,
principessa. Por sua causa o meu irmão foi morto, sabia? Quero
saber qual o gosto da boceta que fez o seu querido marido matá-lo
em frente ao Conselho. Deve ser muito doce, já que saiu do cargo de
prostituta direto para o de esposa do capo.
Arfo com tamanha grosseria. Agora entendo o porquê ela diz se
ver em mim. Viemos da mesma vida.
— Você não respeita mulheres grávidas, seu escroto?! O que te
garante que eles estão mortos? Viu o corpo deles? — o enfrento
tentando ganhar tempo.
Ele gargalha com seus homens, anda até o balcão de bebidas,
pega uma garrafa de vinho, abre-a calmamente e bebe direto do
gargalo.
— Você deve ser a vagabunda do Marco, aquela que Snake
está criando quase uma guerra para ter de volta.
Dou alguns passos para trás com a menção do nome do meu
ex. Se for verdade tudo que ele diz, estamos muito ferradas.
Principalmente eu.
— O que foi? O gato comeu sua língua, gatinha? Não parece
tão corajosa agora. — Ri maldoso do meu nervosismo. — Vamos
indo! Eu tenho muito o que fazer e aqui não é o meu lugar favorito.
— Para onde irá nos levar? — pergunto quando estamos
descendo escoltadas por ele e seus capangas.
— Você é parte do meu acordo e essa daítem contas a acertar
comigo. — Empurra Lorena para a frente.
Quando chegamos ao primeiro andar nos assustamos com a
cena que presenciamos:corpos esparramados para todos os lados e
algumas das meninas jogadas sobre os sofás e mesas, sendo
violentadas por alguns homens nojentos. É de causar repugnância o
cheiro de sangue e toda a violência.
Somos colocadas em uma van preta. Agarro o braço de Lorena
tentando lhe passar conforto ao mesmo tempo em que tento pegar
um pouco para mim. Ela está tremendo, com as mãos geladas, e isso
me deixa preocupada. Claramente está em choque com todas as
informações que foram jogadas em cima dela. Eu me sinto
sangrando por dentro, contudo não tenho tempo para me entregar.
Estou pensando em um meio de nos livrar dessa e tudo que me vem
à cabeça é que vamos morrer.
O veículo arranca em alta velocidade.
Estamos andando há algum tempo, quando um tiroteio começa
e o carro anda em zig zag nos jogando tanto para a frente quanto
para trás. Um impacto forte na traseira vem e sentimos que paramos
de nos movimentar.
— Que porra está acontecendo ai?! — um dos caras mal-
encarados pergunta.
— Estamos sendo perseguidos. — o motorista responde. —
Temos que sair. São muitos.
Os homens saem em uma gritaria e mais barulho de tiros
começam.
— Lorena? Temos que aproveitar. É a nossa única chance.
— Iremos ficar no fogo cruzado.
— Se ficarmos aqui, iremos morrer também. Temos que tentar.
— Tudo bem! O que está pensando?
— No “três” sairemos e vamos correr o mais rápido que
pudermos. Okay?
Ela balança a cabeça, concordando.
Chuto com força a porta traseira, que para a nossa sorte, eles a
esqueceram apenas encostada. Saio em disparada puxando Lorena
pela mão. Estamos em uma estrada de terra cercada de floresta e
isso nos possibilita ir para a mata fechada. Uma chance de ouro que
talvez não teremos mais se eles nos alcançarem. Corremos sabendo
que nossas vidas dependem disso. A dela mais ainda, pois em seu
ventre está o seu filho.
— Oh, meu Deus! Estou escutando gritos atrás da gente. Eles
estão nos alcançando. — Lorena choraminga.
— Continue! Não pare! Estamos juntas nessa e eu não vou te
deixar para trás.
— Não dá! Eu não aguento mais. Minha barriga dói.
Ela se segura em uma árvore para buscar fôlego e eu paro
olhando tudo em volta. Pego um pedaço de pau no chão para pelo
menos tentar nos defender dos agressores e puxo Lorena para trás
de algumas árvores. Faço sinal de silêncio e ficamos quietas
tentando ouvir qualquer barulho suspeito.
— Droga! Perdemos elas de vista. Continuem procurando! Não
devem ter ido muito longe.
Lorena me cutuca e abre a boca para falar algo, mas eu a tapo.
Não sabemos se a pessoa é confiável, portanto não podemos nos
mostrar.
— Vocês não são muito boas em se esconderem.
Gritamos com a voz atrás de nós.
Levanto o pedaço de pau e com toda a força que tenho acerto o
golpe na cabeça de um dos homens.
— Não, Angel!
Só depois que Lorena fala, é que eu olho quem é a pessoa.
Vincent está caído no chão, xingando até a minha quarta geração, e
Marco está rindo do nocaute que o seu chefe levou.
— Está doida mulher? Não viu que éramos nós? — Vincent
questiona.
— Não, vossa alteza. Eu estava mais preocupada em nos
proteger do que cuidar com carinho de quem nos perseguia. —
retruco.
— Tem muita sorte de que estou ferido e preocupado com
Lorena, ou você ia se ver comigo.
Ele só pode estar brincando com a minha cara. Coloco as mãos
na cintura e o encaro com raiva.
— Tudo que eu ouvi foi um: “Obrigada, Angel, por proteger a
minha esposa e o meu bebê!”— sou sarcástica.
Ele treme um canto do lábio superior e levanta uma
sobrancelha.
— Tudo bem. Dessa vez vou deixar passar. Obrigado! Te devo
uma.
— Espero que isso seja bom. — respondo duvidosa.
— Acredite:é sim. — Marco se aproxima.
Somente depois da minha pequena discussão com o Vincent, é
que finalmente olho somente para Marco e a minha ficha cai, me
trazendo para a realidade. Solto mais alguns gritos quando confirmo
que ele está bem, vivo e inteiro. Menos o capo, que escorre o sangue
da têmpora por conta do meu ataque.
— Marco?! — Pulo em seus braços. — Você me assustou.
Estávamos sendo perseguidas por um tal de Lorenzo e seu homens.
— Já acabou, pequena. Vocês estão seguras agora.
Respiro aliviada e vejo Vincent abraçando sua mulher. Sorrio
feliz por eles estarem realmente aqui e por aquela notícia ter sido um
infeliz engano.
— Eles falaram que vocês estavam mortos. — eu conto.
— Era preciso que todos pensassem assim. Vamos para casa!
Amanhã tenho muita coisa para resolver. — Marco explica.
Percebo que ele está mais magro, e mesmo que tente disfarçar,
está pálido.
— Você está ferido? — pergunto.
— Estou bem. — ele responde.
— Precisa descansar, Marco. Já fez muito esforço por hoje. —
Vincent diz ao nosso lado.
Um olhar estranho se passa entre eles e eu não perco Vincent
encarando-o com um aviso.
— Eu vou cuidar dele. — chamo a atenção deles e recebo um
beijo do meu homem na testa.
— O que tiver que resolver, deixarei para amanhã. — Marco
reforça.
Ambos finalizam a conversa oculta que apenas eles entendem.
Saímos para a estrada e cada um entra em seu carro. Olho o
campo de guerra na nossa frente. É surreal o que esses homens
podem fazer em alguns minutos. Não é por pouco que são tão
temidos. Por onde eles passam, o rastro de morte é inevitável. Eu
quase sinto pena do otário que entrou no caminho deles. Se só aqui
foi essa chacina, o “amanhã”promete cabeças rolando na guilhotina.
Olho para Marco no mesmo instante em que ele se vira para
me ver e eu sorrio feliz deitando a minha cabeça em seu ombro. Ele
entrelaça sua mão na minha e juntos voltamos para o conforto do
nosso lar.
Ficar escondido e longe de casa, não me deixou exatamente
feliz. Pior ainda quando o médico me disse que eu precisaria ficar
guardando repouso por alguns dias. Eu queria matar todos a minha
volta por ter falhado. Jamais fui um homem de sentar e esperar
pacientemente por nada, e sim de pegar o que eu quero ou destruir
tudo que preciso. Entretanto, dessa vez não foi como desejado. Pela
nossa segurança e minha melhora, tivemos que fazer diferente.
Pelo menos os desgraçados estão todos mortos e Vincent
conseguiu o nome de um dos mandantes. Sim. Porque têm mais
algumas ratazanas por trás. Uma só não teria tanto poder e nem
informações privilegiadas sobre nós. Além disso, tem alguém de
dentro da Camorra passando tudo em primeira mão. Só de imaginar
que mesmo depois de toda a limpeza que fizemos, ainda temos
gente da famiglia com juramentos falsos se aliando a esses filhos da
puta, meu sangue ferve de ódio. Mas vou lembrá-los do porquê
somos prósperos e temos mais respeito do que qualquer outra
organização que existe no mundo. Suas traições serão a ruína de
suas famílias. Dessa vez não deixarei nenhum deles vivos para
montarem suas vinganças. Terá um banho sangrento maior e a vista
de todos para dar-lhes uma lição de uma vez por todas.
— Você está tremendo. Tem certeza que está bem? — Angel
pergunta.
— Sim. Só estou cansado.
— Venha! Deixe eu cuidar de você!
Sorrio e a olho com carinho. Ela me surpreendeu ao ajudar
Lorena e ganhou alguns pontos positivos com o chefe. Sem querer
acabou provando sua lealdade e isso me deixou muito orgulhoso.
Dias sem vê-la foi doloroso, e o medo de que os inimigos viessem
para cima dela sem eu estar por perto, era desesperador. Ainda bem
que chegamos a tempo. Eu nunca me perdoaria se tivesse
acontecido qualquer coisa com ela por minha causa.
— Senti sua falta, raposinha. — A puxo para um beijo.
— Eu também senti a sua. Vai me dizer o que aconteceu com
você, não vai?
— Eu prefiro que você seja poupada de todos os detalhes
tenebrosos dessa viagem. Se eu pudesse, esqueceria dela também.
— Foi tão ruim assim?
Aliso seu rosto delicado e me inebrio de suas feições
angelicais.
— Foi pior do que qualquer coisa que eu passei em toda a
minha vida. Eu morri e voltei.
Levanto a blusa e lhe mostro a cicatriz recente e ainda
avermelhada no peito.
— Meu Deus, Marco! — Coloca a mão na boca e seus olhos se
enchem de lágrimas. — Eu sabia que algo grave tinha acontecido
com você. Ninguém me falava nada. Eu perguntava e todos sempre
respondiam a mesma coisa: que não sabiam nada sobre vocês ou
que estavam sem contato. — Passa devagar os dedos sobre a
marca e fala tudo de uma vez, nervosa.
— Ei! Respira! Eu estou bem agora. Eles terão que fazer
melhor da próxima vez. — Tento sorrir para que ela veja verdade. O
pior já passou.
— Não é engraçado, Marco. Você poderia ter morrido. Eu... Eu
não estou preparada para isso. Não é justo você me fazer te amar
somente para me deixar sem você depois.
Paro de respirar com seu desabafo. Eu ouvi direito? Será que
ela acabou de dizer o que eu acho que ouvi?
— Você me ama? — Meu coração bate forte no peito
aguardando sua resposta.
Porra! Eu quero ouvir de novo.
— O quê? — Me olha com cautela.
— Você me ama?
Ela abaixa a cabeça, envergonhada, e eu levanto seu queixo
para ela me olhar nos olhos.
— Fale, Angel! Me diga o que sente por mim!
— Eu amo você, Marco Moretti! Mesmo você agindo feito um
estúpido às vezes.
Encosto minha testa na dela e uma emoção me toma quando
ouço a sua confirmação. A lembrança da última vez que ouvi essas
palavras doces de mamma me vem à cabeça.
Eu te amo, bebê! Você é uma criança muito especial. Nunca se
esqueça disso.
Em toda a minha vida, Angel é a segunda pessoa a me dizer
essa frase. Eu quero dizer o mesmo, mas as palavras ficam presas
na garganta. Então faço uma promessa que desejo cumprir enquanto
respirar.
— Angel! Eu não sei se tenho um coração aqui dentro ou se
valho alguma coisa, mas posso te prometer agora que tudo que
tenho e sou, te pertence, pequena.
— Você vale muito para mim.
A abraço apertado, cheirando seus cabelos, para matar toda a
saudade. Agora me sinto completo.
Eu estou dominado por ela e o engraçado é que não me
importo. Muito pelo contrário: eu gosto desse sentimento de
pertencer a alguém, de ter outra pessoa por quem lutar, para quem
voltar. Angel veio para dar mais sentido à minha vida, a que eu achei
que estava perdida. Essa menina se tornou parte de mim e por ela
sou capaz de tudo.
— Vamos sair desse carro! Seus soldados estão olhando para
cá. — Sorri travessa.
Olho para fora e vejo meus homens encarando curiosos. As
notícias devem ter se espalhado e eles querem ver se o executor
está de volta à ativa. Ainda bem que os vidros do carro são escuros,
ou eu teria que sair e ameaçar todos eles para manterem suas bocas
fechadas sobre o que viram.
— Vamos! Quero tomar um banho e comer algo substancial que
de preferência não seja líquido. Meus dentes não sabem o que é
mastigar uma refeição descente há dias. É perigoso alguns caírem
com a primeira colherada que eu colocar na boca.
— Que exagero! — Ela ri me fazendo acompanhá-la.
Saio do carro e logo sou cercado pelos soldados que me
recebem felizes e empolgados para saber o que aconteceu na
missão. Deixando de fora os detalhes que somente alguns de
extrema confiança saberão, faço o resumo da história e me despeço
deles com a promessa de uma reunião depois para montarmos uma
estratégia para a retaliação. É bom estar de volta em casa e saber
que sou bem-vindo.
Abraço minha menina, me firmo nela e entramos no nosso
refúgio, de onde não pretendo sair até me sentir revigorado e pronto
para outra.
— Como diabos eles estão vivos, caralho?! — Jogo o copo de
bebida na parede, com raiva.
— Eu não sei os detalhes. Só fiquei sabendo que eles estão de
volta e pegaram o Lorenzo na estrada.
— Aquele desgraçado vai abrir a boca e contar tudo. Temos
que agir rápido. Vamos para nosso esconderijo. Avisem a todos que
sairemos em uma hora!
— Será feito. E quanto à moça ali?
Olho para cima e vejo Ashley nos espionar. Quando ela
percebe que foi descoberta, sai correndo.
— Deixa ela comigo!
Subo as escadas e vou direto para quarto que ela tem ocupado.
Dois meses foi tempo o suficiente para essa garota tomar uma
atitude. Se não for cumprir a sua parte no trato, não tem porquê eu
protegê-la mais. Empurro a porta com força, a fazendo pular de
susto.
— Dê o fora da minha casa! Você prometeu me ajudar, mas até
agora só tem me feito raiva. — esbravejo.
— Que culpa eu tenho? Se não tivesse me traído e mandado
matá-lo, eu teria conseguido te ajudar.
— Olha como fala comigo, sua vadia! Eu te ajudei a entrar na
cidade sem ser morta pela máfia por causa da sua promessa de
trazer a minha mulher de volta. Não pense que você e essa sua
boceta flácida vão me enganar!
— Calma! Agora que ele está de volta, eu tenho que vê-lo.
Tentei chegar até Lorena, mas por sua culpa, ela está cercada por
soldados.
— Você disse que tinha um trunfo que faria o executor comer
na sua mão, mas tudo que tem feito desde que chegou aqui é se
trancar nesse quarto com esse moleque e não fazer absolutamente
nada. Cansei dos seus jogos. Essa será a sua última chance de
provar sua lealdade a mim ou eu mesmo cortarei sua cabeça e a
jogarei na porta do capo, como um presente. Ele vai adorar saber
que a mulher que os traiu está morta.
Ela se encolhe no canto e eu saio do quarto para não meter a
mão na cara dela. Odeio ser feito de idiota e minha paciência chegou
ao fim. Eu vou ter minha Angel de volta, custe o que custar.
A fila de homens do lado de fora deixa claro o quanto eles estão
ansiosos para o que iremos fazer. Depois de participarmos do enterro
de Nino e prestarmos nossas condolências aos seus familiares, todos
estamos abalados e com gosto de vingança na boca. Ele era um
bom soldado de extrema confiança que morreu fazendo o que todos
nós esperávamos dele:protegendo nossas mulheres. E isso não tem
gratidão o suficiente que pague.
Hoje será um dia importante para cada um de nós, portanto não
temos tempo de guardar luto. Mandamos chamar todos os membros
essenciais do Conselho para uma reunião especial e na frente deles
a lição irá ser passada. Vincent está inquieto, e por mais que tente
passar tranquilidade e calma, eu o conheço tempo o suficiente para
saber que o nervosismo está tomando conta dele.
É a primeira vez que isso vai acontecer, e depois de muita
conversa, foi a melhor estratégia que arrumamos: derrubar os
traidores na frente a todos, e não mais às escondidas, como
estávamos fazendo.
— Não é muito cedo para entrar em uma luta? Você só
descansou por dois dias e mesmo assim não deixou de trabalhar. —
Angel me abraça preocupada.
— Não podemos deixá-los achando que estamos com medo.
Se não reagirmos rápido, mais deles irão usar esse ataque contra
nós.
— Eu sei. É só que... Estou com medo.
— Não fique, raposinha! Estou melhor e sou o executor. Tenho
que estar ao lado do chefe sempre.
— Pelo jeito não vai ser nada bonito, já que estão nos
mandando para um esconderijo. Olhe para eles! Estão quase
salivando por sangue.
— Essa é a intenção: deixar uma impressão de terror. Todos
têm que saber que não vamos tolerar mais desrespeito e muito
menos perdoar qualquer falha, mesmo que seja de um dos nossos.
Beijo seus lábios e peço que Sebastian a leve em segurança.
Não sabemos o que vai acontecer. Talvez tudo saia como
planejamos, mas também pode haver surpresas indesejáveis. O
nosso foco é no resultado e é somente nisso que tentaremos pensar.
— Vincent? Tem certeza que vai mesmo fazer isso? Ainda dá
tempo de desistir. — questiono.
— Não vou voltar atrás. Isso tem que acabar. Não iremos
conseguir finalizar essa guerra com nossos inimigos externos se
tivermos gente nossa tramando contra nós.
— Eu sei. Então vamos ao local! Nossa rota será mudada de
última hora para a nossa segurança. Alec me avisou que tudo está
como você pediu.
— Bom. Como nos velhos tempos. — Tenta sorrir. — Marco?
Se acontecer algo comigo...
— Nada vai acontecer. — o corto.
— Mas se acontecer, quero que proteja a Lorena e meu filho.
Me promete isso?
— Sabe que poderá contar sempre comigo. Eu sei que faria o
mesmo por mim.
— Obrigado! Eu faria sim. Agora vamos em frente, pois
estamos atrasados!
Apenas confirmo com um balançar de cabeça silencioso e o
sigo.
Pouco tempo depois chegamos no galpão e vários dos nossos
convidados já estão presentes. Eles vêm na nossa direção,
aparentemente nada felizes.
— Quando você disse que queria a presença do Conselho, eu
achei que era para uma reunião em um lugar mais apropriado. —
Anthony comenta com certo desgosto na voz.
— Peço desculpa por não recebê-los com um grande jantar
digno de celebridades. A ocasião não é para festas. — Vincent
responde com ironia.
— E para quê seria? — Carlo questiona curioso.
— Vocês logo saberão quando os outros chegarem. — O capo
sai, os deixando irritados pela curta conversa.
Quando todos que precisamos se juntam a nós, peço que Alec
busque Lorenzo e o traga para que possamos iniciar o nosso plano.
— O que vocês estão fazendo com o meu filho? — Anthony se
exalta ao ver o merdinha sendo jogado no chão.
— Ele é o nosso convidado VIP. — respondo com deboche
fazendo vários dos homens rirem da piada.
— Quando seu filho mais novo me desafiou na frente da
famiglia, eu achei que tinha deixado claro que não iria aceitar que
mais ninguém tramasse contra mim ou duvidasse da minha gestão.
Ao que parece, não deixei explicado o suficiente. Eu sabia que tinha
alguém aqui de dentro ajudando o cartel mexicano e os Mc's. —
Vincent começa.
Os membros começam todos a falarem ao mesmo tempo,
tentando se justificarem e dizerem que não têm nada a ver com isso.
— É mentira dele! Não veem como ele nos odeia e nunca teve
consideração por nós? Lorenzo jamais faria isso contra a
organização. — Anthony defende o filho.
— Não? Então vai me dizer que seu filho não estava por trás do
atentando contra mim? O que me diz do ataque à minha boate e
sobre o fato da minha mulher ter sido sequestrada por ele?
Todos ficam em silêncio e tensos com a discussão. É possível
ouvir o barulho apenas da nossa respiração descompassada.
— Eu sabia que você ajudava meu tio e mesmo assim lhe dei a
chance de ficar com seu cargo. Deixei claro que não iria misturar a
minha opinião pessoal com a profissional. Me enganei ao pensar
assim e esse erro não cometerei de novo. — Vincent continua.
— O que quer dizer com isso? — Anthony pergunta assustado.
— A punição pela traição é a morte. Disso você já sabe. Nem
você ou seu filho fazem mais parte da organização.
— Você não merece esse cargo, seu bastardo! Sua mãe era
uma vadia... — Vincent não deixa ele terminar, já que o derruba no
chão com um soco e corta sua língua com seu punhal logo em
seguida.
— Eu não admito que ninguém fale com desrespeito dos meus
pais. — Puxa a arma e a descarrega no peito de Anthony.
— Seu desgraçado! Eu deveria ter acabado com você
pessoalmente. Se não tivesse chegado a tempo, sua mulher estaria
morta. Eu teria fodido muito aquela boceta e depois a cortaria em
pedacinhos. — Lorenzo grita na frente de todos fazendo exatamente
o que queríamos: a confissão dos seus erros. Assim ele deixa os
membros presentes assistirem a cena ao nosso lado.
— É uma pena que não conseguiu. Seu erro, Lorenzo, foi
confiar no outros de fora. Sua traição não tem perdão. Entre no
tatame e lute comigo até a morte! — o capo pede.
— Com o maior prazer. Vou destruir você e ser o novo chefe. —
levanta do chão, com raiva.
— Veremos!
Rio de sua patética tentativa de me acertar no rosto e o
empurro para dentro do tatame, quase sentido pena do filho da puta.
Essa luta só terá um vitorioso e todos nós sabemos quem será.
— Eu convido todos vocês a se sentarem para assistirem a
uma luta exclusiva. — informo aos demais.
— Ao menos bebida vai ter, não é? — Alessandro questiona
animado.
De todos os antigos membros, ele é o único que não nos deu
problemas. Ainda.
Dou sinal para que tragam bebidas e nos sentamos para ver a
luta dos dois.
Vincent não nos decepciona e dá um show e tanto. Lorenzo até
tenta de todas as formas derrubá-lo, contudo, em menos de trinta
minutos perde e é surrado até a morte pelo capo. O sangue
espirrando para todos os lados e o barulho dos ossos quebrando é
quase um êxtase para nós que estamos de fora acompanhando ao
vivo e às cores. É selvagem e animalesca toda a violência aplicada.
Assim que a luta termina nos levantamos para congratular o chefe.
Vincent faz sinal com as mãos, pedindo silêncio, e inicia o seu
discurso final.
— Hoje eu inicio uma nova era dentro da nossa organização e
para isso darei uma chance a todos vocês. Tenho duas propostas. A
primeira é para o Conselho:aqueles que são contra que eu esteja no
posto de chefe, entre aqui e lute comigo pelo cargo, cara a cara,
como verdadeiros homens feitos. Se eu perder, entregarei ao
vencedor a cadeira.
Todos exclamam a nossa volta. Ninguém dá sequer um passo à
frente.
— Vamos lá! É uma oportunidade de ouro. Vocês lutam e
conseguem me tirar daqui de uma maneira justa. Simples e fácil.
Ninguém se habilita? — Ele sorri desdenhoso, abrindo os braços.
O cara é assustador. Está todo ensanguentado, porém invicto.
Um verdadeiro assassino de sangue frio.
Seguro a vontade de rir ao notar o desespero dos demais. Os
corajosos têm coragem para montarem armadilhas, entretanto, não
têm para lutarem pelo cargo que tanto desejam.
— Nós nunca desejamos isso, chefe. Estamos felizes pelo seu
desempenho na Camorra.
— Não é o que tenho visto. Desde que peguei a minha posição,
a qual me pertence não só pelo meu nome, como também por anos
de trabalho duro, sempre vem um de vocês tentar me tirá-la. Essa é
a chance. Façam isso agora ou calem-se para sempre! E já deixo
avisado que aquele que tramar contra mim novamente, não só o
matarei pessoalmente, como também a cada membro de suas
famílias. Eu aprendi com meu último erro. — Aponta para os dois
cadáveres.
Silêncio total no lugar. Tento ver se alguém vai tentar a sorte,
sobretudo, os presentes nem parecem respirar.
— Tudo bem. Depois não digam que eu não avisei. Agora
vamos para a próxima questão: quem são os indicados para o cargo
de subchefe da Sicília?
Alguns nomes são apresentados e muitos estão aqui
acompanhando o desenrolar da reunião.
— Maravilha! Os sortudos podem subir no tatame e lutarem
entre si. O vencedor ficará com o cargo. Boa sorte!
— Nunca fizemos isso. — Alessandro fala.
— E é por isso que não valorizam quando conquistam.
— Henrique dá o ar de sua graça, nos pegando de surpresa. — Peço
desculpa pelo atraso.
— Você concorda com essa ideia absurda? — Carlo pergunta
indignado.
— Sim. Acho que a partir de agora todos deveriam passar por
avaliação. Há muitos anos que somente são indicados nomes das
principais famílias, que muitas das vezes são moleques
inconsequentes que não sabem nem o valor dos seus juramentos. —
ele explica com calma.
— Eu poderia citar pelo menos seis dos meus soldados que
merecem esse cargo por terem feito bem mais pela famiglia do que
esses que acabaram de ser indicados. — complemento a fala de
Henrique.
— Não confiam em seus indicados? Como vamos confiar neles
se nem vocês acreditam que eles estejam capacitados para o
comando? — Vincent retruca.
— Façam seus testes! E que vença o melhor. — Alessandro
diz.
— Ótimo! Pode iniciar, Marco. — Henrique finaliza.
Depois de fazer os testes com cada um e avaliá-los,
escolhemos o que melhor se destacou. Finalizamos a reunião e
saímos aliviados com o resultado positivo. Ao menos um dos nossos
problemas conseguimos resolver com êxito. Agora é a vez de Snake.
Esse é somente meu. Terei o maior gosto de fazê-lo pagar por tudo
que me fez passar, e com o maior prazer. Ele selou sua morte no dia
em que se meteu no meu caminho. Está na hora dele saber que não
deixarei passar a sua estúpida tentativa de me matar e ficar com o
que é meu.
— Tenho uma consulta hoje. Vou descobrir o sexo do bebê.
Quer vir comigo? — Lorena se joga no sofá ao meu lado.
— Não é propenso o pai acompanhar? — questiono sem
nenhum pouco de vontade de sair hoje.
— Sim. Porém Vincent está muito ocupado com os negócios da
máfia. Não quero perturbá-lo com isso. Além do mais, tive uma ideia
de fazer um chá para revelar o sexo do bebê. Com tantas coisas
pesadas que aconteceram nos últimos dias, seria legal uma festa
para animar. E você precisa ir comigo porque será a única a saber o
sexo do bebê até lá. — Bate palma entusiasmada e eu sorrio de sua
felicidade.
Eu queria dizer “não”, mas não quero decepcioná-la depois de
tudo que tivemos que passar.
— Parece uma ótima ideia. O bom é que vou poder te torturar
até chegar o dia. — Esfrego as mãos, a fazendo gargalhar.
— Você é muito má.
— Só quando quero. — Balanço as sobrancelhas.
— Então vamos! Não quero chegar atrasada, ou a Dra. Collens
irá me matar.
— Só se ela quiser morrer depois pelas mãos do seu doce
marido.
Rimos mais forte e saímos para a bendita consulta.
Sentamos na sala de espera com várias outras mulheres.
Algumas em estágios mais avançados do que Lorena. É tudo
estranho para mim, sobretudo, parece encantador para elas esse
momento. Eu tento me colocar no lugar delas e me imaginar
passando por essa experiência, mas quanto mais eu penso nisso,
mais longe eu me coloco. Eu não seria uma boa mãe. Como eu
poderia, se não tive uma para me ensinar a ser uma pessoa melhor?
Talvez seja um castigo eu não ter gerado uma criança ou uma dádiva
se parar para analisar por onde passei até chegar aqui.
— Lorena Lourenço?
Suspiro de alívio quando a enfermeira a chama. É muita mãe
para um lugar só.
— Se anime! Não estregue meu momento com essa cara de
tacho! — Lorena me cutuca.
— Vou tentar agir normalmente.
— Você não é uma pessoa normal, bitch.
— Está cutucando a pessoa errada. Eu posso acidentalmente
contar ao Marco sobre o sexo do bebê.
— Nãaaao! Ele contaria ao Vincent. Os dois são como cu e
rola.
— É o quê? — Rio alto chamando a atenção das outras
mulheres.
— É um ditado muito popular no Brasil. Você sabe... Fetiche
masculino por sexo anal e tudo mais.
— E o que uma coisa tem a ver com a outra?
— Quer dizer que eles são inseparáveis, tipo pão e manteiga.
— O certo não seria rola e vagina então? — pergunto confusa.
— Você ficaria chocada com o tanto de ditado relacionado a cu
que tem no meu país.
— Vocês são muito estranhos. — Balanço a cabeça, ainda não
acreditando nessa maluquice.
A coitada da enfermeira nos olha com a boca aberta. Creio que
pensando se nos deixa entrar ou se chama um guarda para nos pôr
para fora.
— Por aqui, por favor! — Ela sai quase correndo na nossa
frente.
— Acho que o assunto sobre pau a deixou desconfortável. —
falo baixo segurando o riso.
— Com uma bunda desse tamanho, duvido que pelo menos
uma vez na vida ela não tenha experimentado dar esse rabo.
— Meu Deus, Lorena! Você é maluca! — Rio de novo e me
seguro na parede. — Parece que a Rebeca anda muito te
influenciando, hein?
— Pode ser. Convenhamos que ela é uma mulher empoderada
e invejável.
Concordo com ela. A mulher é linda, do tipo de parar o trânsito.
Passamos pela porta e somos recebidas pela doutora, que sorri
ao nos ver. Lorena conversa com ela e explica como tem passado o
mês. A médica lhe receita medicamentos e pede que ela deite na
maca para começar a ultrassom. Uma gosma transparente é jogada
na barriga dela para o aparelho deslizar mais facilmente. Meus olhos
vão para a tela, onde aparece uma imagem borrada que aos poucos
pega forma. Um rosto com uma mãozinha na boca fica nítido e me
pego sorrindo quando a doutora diz ser o bebê. Lhe explico que
Lorena não pode saber o que é, porque prefere descobrir junto com o
marido na festa que iremos fazer, então ela diz apenas para mim.
Depois da médica detalhar o exame e colocar o barulho do
coraçãozinho para escutarmos, ela encerra a consulta dizendo que
mãe e bebê estão muito bem.
A doutora sai da sala e Lorena levanta para se trocar.
Olho para a máquina com curiosidade, e atrevida como sou,
pego-a e analiso se não tem alguém chegando. Então jogo um pouco
do gel na minha barriga e passo o aparelho sobre ela para saber
como é a sensação.
— Não é assim. Está muito em cima. Tenta colocar mais abaixo
do umbigo! — Lorena me ajuda na travessura.
E para a nossa surpresa, uma pequena imagem aparece, me
fazendo soltar de uma vez a máquina.
— Angel? Você viu aquilo?! — ela parece abismada tanto
quanto eu.
— É impossível.
— Não é o que parece. Deixa a médica voltar, que iremos tirar
essa dúvida.
— Não quero.
— Por que não? Isso é maravilhoso. Marco ficará feliz.
Estou tremendo. Como se no automático e muito assustada,
quando a médica volta, deixo que Lorena explique o que aconteceu.
A pedido dela, deito na mesa e o exame é refeito da maneira correta.
E para a minha perdição e preocupação, é confirmada a gestação de
dez semanas. Eu estou grávida! Oh, meu Deus! Estou grávida do
Marco.
Sento em choque ouvindo todas as recomendações da Dra.
Collens enquanto ela passa vários pedidos de exames.
— Você vai contar para ele? — Lorena pergunta assim que
saímos do consultório.
— Acho que não agora. Eu ainda não acredito que é verdade.
— É normal se sentir perdida. Eu também fiquei assim na
minha primeira gravidez.
— Essa não é a sua primeira?
— Não. Meu primeiro bebê, eu perdi quando fui sequestrada
por Luigi.
— Eu sinto muito. — sou sincera.
— Tudo bem. Não era o momento certo naquela época. Meu
anjinho está em um bom lugar.
Ela é tão forte e decidida. Eu queria ser assim também. O meu
problema é que sou muito pessimista e não acredito que tudo que
tenho vivido vá durar. Sempre levo essa sensação comigo. Temo que
Marco decida que eu não valho a pena e me chute de sua vida
quando não for mais conveniente me ter por perto.
— Eu vou pensar em como abordar esse assunto com ele.
Ainda não me sinto pronta para compartilhar.
— Eu te entendo. Faça no seu tempo! — Me abraça com
carinho.
Entramos no carro e eu fico calada por todo o caminho. Lorena
respeita esse momento e se mantém quieta pensativa.
Quando ela me deixa em casa com a promessa de me ligar
depois para saber como estou, eu ainda me sinto fora de mim. Deito
na cama e fico olhando o teto, pensando em como vai ser daqui para
a frente. O que devo fazer nessa situação? Marco ficará realmente
feliz ou fugirá? Choro angustiada e indecisa sobre o futuro até cair no
sono.
(...)
Somente acordo quando um corpo quente se junta ao meu, me
abraçando por trás, e no calor de seus braços me permito descansar
de novo e pensar amanhã sobre o assunto.
A abraço por trás, sentido sua respiração suave. Tenho notado
o quanto ela está distante. Angel pensa que não percebo, mas
custou a dormir na noite passada. Inalo seu cheiro, que serve como
um afrodisíaco para o meu corpo. Ele está tão impregnado em mim
que eu o sinto por todos os cantos que vou, mesmo distante dela.
Beijo o seu pescoço e vou descendo devagar, a explorando
com calma. Angel geme gostoso e me deixa doido para pular para a
próxima etapa. Não sei o que anda acontecendo, visto que há alguns
dias venho notando que ela tem ficado mais quieta e pensativa, e
isso me preocupa. Temo uma recaída sua nas drogas. No que
depender de mim, não deixarei isso acontecer.
— Marco? Você quer ser pai um dia?
Paro e levanto a cabeça para olhá-la. A pergunta me pegou de
surpresa.
Claro que antes dela, nunca tive essa vontade, mas agora sinto
que com ela posso tudo.
— Você quer ser mãe? — devolvo a pergunta e beijo a ponta do
seu nariz.
— Se eu disser que sim, vai sair correndo?
— Não. Vou dizer que com você, eu quero absolutamente tudo,
inclusive ter uma mini Angel correndo pela casa e me deixando de
cabelos brancos antes do tempo.
— Pode ser um mini Marco.
— Não importa. Sendo uma mistura nossa, vou amar.
Ela dá um sorriso tão largo que me tem quase de joelhos.
— Eu estou grávida. Descobri na consulta com a Lorena. —
solta de uma vez.
Caralho! A puxada do curativo foi rápida. Paro de respirar,
surpreso. Aos poucos seu sorriso vai morrendo e ela se afasta sem
jeito.
— Angel? — Tento pegar em sua mão.
— Eu não soube dizer. Pensei em mil formas e... Desculpa! Não
sou boa em fazer surpresas.
— Angel? É sério ou está apenas me testando? — Levanto e
vou até ela.
— Estou com quase três meses.
— Baby! — Meu coração parece que vai saltar do peito.
— Você ficou feliz? — Vejo insegurança em seus olhos e tenho
vontade de me bater por não saber expressar direito tudo que estou
sentido nesse momento.
— Querida, eu estou tão feliz com essa notícia que nem sei
como dizer. Você acabou de me fazer o homem mais completo desse
mundo.
— Oh, meu Deus! Você me assustou quando ficou calado.
Achei que iria dizer que queria, porém mais para a frente. Afinal, mal
nos conhecemos.
— Estamos juntos há tempo o suficiente para saber o que
sentimos. Construir uma família é tudo que eu quero com você.
Ela pula em meus braços e eu a levo de volta para a cama. A
beijo com todo amor e carinho, muito emocionado para conseguir
dizer mais alguma coisa nesse momento tão especial.
Um filho! A mulher da minha vida me dará um filho. Minha vida
não poderia ser melhor. Eu nem sei o que eu fiz de tão certo para
receber um presente tão maravilhoso como esse. Seja lá o que for,
farei por merecê-lo todos os dias.
A minha ânsia por ela só aumentou com essa notícia. Coloco
minha língua em seus lábios vaginas, sentido seu doce néctar, e me
saboreio do seu gosto único. Ela se contorce em minha boca e não
demora muito para gozar gritando meu nome.
Me encaixo entre suas pernas para penetrá-la, mas antes de
entrar, paro com medo. E se eu machucá-la? Ou pior... E se eu
machucar meu filho?
— Por que parou? — Me puxa para um beijo.
— Será que podemos? Quer dizer... Eu não sei muito sobre
isso. Será que não vai machucar o bebê? — exponho minhas
dúvidas.
Angel me olha séria por um tempo e depois gargalha.
— Marco! Está tudo bem. Não se preocupe!
— Tem certeza? Eu nunca perguntei ao Vincent. Talvez eu deva
pegar algumas dicas.
Ela gargalha de novo.
— Amor! Não vai machucar. Pode confiar em mim. Só me foda
gostoso, que eu estou com saudade!
Sorrio do seu jeito manhoso. Desde quando voltei, não fizemos
nada devido à minha recuperação. Quer dizer... “Nada”é muito forte.
Brincamos um com o outro moderadamente. Não foi por falta de
vontade minha de avançar o sinal, é claro, mas a minha mulher é
muito teimosa e levou a sério o que o médico falou.
— Seu desejo é uma ordem. — Entro nela delicadamente nos
fazendo gemer. — Oh, minha menina! Você está tão apertadinha e
tão molhadinha que não quero sair de dentro de você hoje.
— Então não saia. Me ame até não aguentarmos sair dessa
cama!
Eu faço exatamente isso. Junto nossas mãos e chupo seus
lábios com todo o meu desejo. Aos poucos vou acelerando os
movimentos até não poder mais me controlar e deixo apenas nossos
corpos comandarem o ritmo.
— Vem para mim, Angel! Aperte meu pau com essa bocetinha
gulosa! — Abaixo a cabeça e chupo um dos seus seios.
— Oh, Marco! — grita arranhando minhas costas.
— A quem você pertence, Angel? — O animal em mim quer
ouvir dela que ela é minha, mesmo que eu já tenha certeza.
— Sua, Marco!
— Sim, querida! Você é todinha minha e eu sou completamente
seu.
A estoco mais rápido, fazendo-a morder meu ombro. Eu fico
louco quando ela faz isso. Perco o total controle sobre tudo e me
deixo vir. Jogo toda a minha essência em seu canal, marcando-a
como minha. Enquanto ainda pulso dentro dela, coloco para fora as
palavras que não disse no dia em que ela se declarou para mim. Não
por ter alguma incerteza, e sim porque não consegui dizer da forma
que eu achava que minha menina merecia.
Dane-se minhas inseguranças! Eu sou louco pela minha Angel
e quero que ela saiba disso de todas as formas.
— Eu te amo, pequena! — A olho, sem fôlego.
Sinto uma sensação boa de plenitude tomar todo o meu ser.
— Eu te amo! — devolve com os olhos cheios de lágrimas.
— Minha mulher!
Volto a me mexer dentro dela e a amo de novo como se não
houvesse o amanhã. Há apenas esse momento, esse lugar...
Somente nós três e mais nada.
Sair de casa depois do dia de ontem recheado de emoções, foi
um sacrifício. Já mandei aumentar a segurança e colocar câmeras
extras apenas por precaução. Não estou neurótico, apenas acho que
todo o cuidado com a minha família é pouco. Não quero deixar
nenhuma abertura para que aquele filho da puta chegue perto da
Angel.
Desço do carro, passo algumas ordens aos soldados e me viro
para entrar na boate. Vincent me ligou de madrugada, e pela sua
voz, as notícias não serão nada agradáveis.
— Cadê ele? — pergunto ao Alec.
— No escritório. Senhor?
— Sim?
Ele parece nervoso. Não gosto disso.
— Ele não está sozinho. Ashley voltou.
A ira me sobe ao ouvir esse nome. Quem ela pensa que é para
aparecer aqui depois de tudo que nos fez?
Entro no escritório sem avisar e lá está sentada na cadeira a
cadela que nos traiu no passado.
— O que faz aqui? Perdeu a noção do perigo? — cuspo meu
ódio para cima dela, sem piedade.
— Marco! Ela tem algumas informações sobre o Snake. Você
vai querer ouvir. — Vincent entra na minha frente, impedindo que eu
chegue até a vagabunda.
— Lorena sabe que você está protegendo a mulher que a
vendeu para o Luigi? Ou se esqueceu desse detalhe, porra?!
— Eu não me esqueci disso. E se Ashley não está com os
miolos espalhados por esse tapete agora, é porque realmente é
muito importante o que ela me falou.
Tento me acalmar e não perder o resto da minha paciência. Se
Vincent não a matou, é porque realmente tem um motivo muito
válido. Vou até a prateleira de bebidas e me sirvo de duas doses de
vodca. Sento na poltrona, longe dela, confiando em meus instintos
que gritam que devo sufocá-la até a morte e depois enterrá-la em
uma cova bem funda para que nunca mais infernize ninguém.
— Fale! Eu espero que seja valiosa sua informação, ou sairá
daqui direto para um buraco no meio do nada. — Ela arregala os
olhos com minha fala.
O quê? Ela não achou que depois de tudo que fez, iria ser
recebida com pompas porque sabe de algo que possivelmente não
sabemos, não é?
— Snake quer derrubar vocês, e para isso está usando a Angel.
— Reteso quando ouço o nome da minha menina.
— E como sabe disso? Mudou de clientes e se tornou a vadia
dos Mc's agora?
— Ele tem me mantido presa sob chantagem.
— Você não me parece uma pessoa presa agora. Esse Snake
deve ser um fraco, já que nem os reféns dele, controla. — zombo da
sua farsa. — Vai me dizer que o enganou também como fez
conosco? Me deixe adivinhar: abriu as pernas por alguns dólares ou
quem sabe por uma moradia como sua prostituta de luxo. Acertei?
Ela me olha com raiva e se levanta, vindo em minha direção.
— Eu não vou aceitar que fique me ofendendo. Não a mim, a
mulher que se colocou em risco para salvar a vida do seu filho.
— Meu filho? — Gargalho alto. — Chega! Eu vou embora. Não
quero ouvir mais nenhuma de suas mentiras.
— Estou falando a verdade, Marco. Nós temos um filho e Snake
quer colocar seu domínio sobre ele para te manipular. Não sei dizer
como o cara soube disso, mas desde então tem me ameaçado por
conta desse segredo. Eu consegui fugir, porém, não será por muito
tempo. Ele virá atrás de mim e do bebê novamente.
Paro, a olhando, e tento achar uma rachadura na sua falsa
alegação. Por mais incrível que seja, parece que ela realmente está
falando a verdade. Ao menos seu desespero aparenta ser real.
— Mesmo que essa criança exista, ela pode ser de qualquer
um, até mesmo do Vincent. Você dormia com várias pessoas naquela
época. Se bem me lembro, todas as vezes que ficamos, eu me
protegi.
— É seu. Um exame de DNA pode confirmar o que estou
dizendo. Veja! — Pega uma foto e me entrega.
Analiso com calma a criança, buscando em sua fisionomia algo
que pareça comigo. O moleque lembra muito a mim quando
pequeno, mas isso pode ser uma coincidência. Até uma certa idade,
todas as crianças se parecem, não é?
Suspiro com impaciência. Viro meu rosto para Vincent, que se
mantém quieto, apenas nos observando.
— Você acredita nela? — quero ouvir a opinião dele sobre o
assunto.
— A idade do menino bate com a época que vocês estavam
juntos. Como ela mesma pontuou, um exame pode desmentir sua
história. Duvido que ela seja burra o suficiente para usar uma criança
contra nós. Sabe o que lhe acontecerá se estiver nos manipulando.
— Onde o menino está? — a questiono ainda não acreditando
nela.
— Lá em cima com a Lorena. — Vincent responde.
— Eu quero a comprovação da paternidade, e somente depois
disso conversaremos.
— Marco? Tem mais. — Vincent me para quando eu me viro
para sair. — Fale para ele tudo que me contou! — pede à Ashley.
— Alguém daqui passa todas as informações sobre você para o
Snake. Eu já o ouvi falar por telefone com essa pessoa várias vezes.
— ela explica.
— Já sabíamos sobre isso. Era Lorenzo, e foi resolvido. — a
corto.
— É a Angel. — ela concluiu.
— Cuidado! Não toque no nome dela e nem a acuse. — Dou
dois passos em sua direção e sou parado pelo capo.
— E se estivermos errados sobre ela todo esse tempo? — ele
me pergunta com receio.
— Não acredito nisso. Você não a conhece, então não a julgue
por algumas palavras vindas de uma traidora!
— Eu não estou julgando. Estou questionando. Você sabe que
não é a primeira vez que temos um infiltrado dentro da organização.
— Chega! Eu não aceito que abra a sua boca para duvidar
dela. Eu te respeito muito, mas não vou aceitar que fale dessa forma
da minha mulher sem ter provas em mãos de que ela é culpada.
— Tudo bem. Apenas peço que busque qualquer ligação dela
com o Snake. Tem que ter uma justificativa para tudo isso. É muita
coincidência tudo que vem acontecendo conosco, e aquele ataque foi
muito bem planejado.
— Cuide desse assunto! — Aponto para a Ashley. — Eu preciso
ir agora.
— Marco! Busque por um telefone! Ela pode ter algum
escondido. — Ashley grita atrás de mim, tentando me alcançar.
— Se você estiver tentando prejudicá-la, eu mesmo acabarei
com você, sendo mãe de um filho meu ou não.
Ela dá alguns passos para trás, e eu, para não perder a cabeça
e fazer uma merda, abro a porta e saio não querendo ouvir mais
nada.
Minha Angel não faria isso comigo. Minha menina é inocente.
Não acredito nessas mentiras. Ashley está inventando. Para qual
finalidade, eu não sei, mas vou descobrir.
Fico no carro com a mente conturbada e respiro fundo tentando
colocar meus pensamentos no lugar. Tudo parecia perfeito demais.
Eu nem deveria me surpreender com essa bomba. Vou buscar a
verdade, e quando tiver essa cadela em minhas mãos, irei acabar
com ela por tentar incriminar e jogar todos contra a minha mulher. E
se Angel estiver no meio dessa bagunça, que Deus me ajude, porque
eu nem sei do que sou capaz de fazer com ela se em todo esse
tempo andou ajudando os Mc's.
Dio! Em que confusão eu fui me meter? Não me deixe estar
errado!
— Está acontecendo alguma coisa que vocês não estão me
contando? — pergunto à Lorena.
Há dias venho notando que todos a minha volta mudaram
comigo. Não aguento mais essa sensação de julgamentos.
— Não. Por que diz isso? — percebo que ela não me olha
quando responde.
— Marco está muito estranho esses dias. Achei que era por
conta da gravidez que o pegou de surpresa, mas tenho percebido a
forma diferente do meu marido quando estou no mesmo local que
ele. E até mesmo você mudou sua postura.
— É impressão sua, Angel. Eu só estou nervosa com a festa.
Mesmo com Vincent dizendo que menina ou menino não fará
diferença para ele, eu sei o quanto é importante para os homens da
máfia terem um filho homem. Tenho medo de que se for uma garota,
eu venha passar por represálias, e creio que ele teme a mesma coisa
que eu.
Faz sentido. Afinal, somente eu sei o quanto os meninos valem
nas famílias poderosas.
— Ninguém da organização seria estúpido de menosprezar
você ou falar algo por isso. Até porque filho continua sendo filho,
independente do gênero que tiver. — tento amenizar sua
preocupação.
— Eu sei. É só bobagem minha, com certeza. Esses hormônios
estão me matando. — Sorri.
Escolhemos a decoração e o bufê para a festa. Tudo muito
luxuoso gritando dinheiro para agradar as senhoras exigentes da
máfia. Aproveitamos para passar em algumas lojas e comprar
roupinhas para nossos bebês. Lorena pega alguns macacões
masculinos grandes e sua preferência me intriga.
— Não é muito grande? — Aponto para as roupinhas e ela me
olha sem jeito.
— Oh, não! Quero presentear o filho de uma amiga. Ela está
passando uns dias lá em casa.
— Ah! São lindos! Você tem bom gosto.
Depois de comprar bastante coisas, as quais creio que a
criança não irá usar nem a metade, saímos da loja.
— Marco vai demorar de chegar hoje. Posso ficar um tempo
com você?
Ela fica séria e eu já estou prestes a pedir desculpa por ser
indelicada e me convidar para passar o dia em sua companhia.
— Eu... Claro! Por que não?
— Lorena! Se estiver muito ocupada, não tem problema. Eu vou
para casa.
— Não! Você vem comigo e almoça conosco.
Não me sinto convencida, mas já que me convidei, agora devo
ir, mesmo que eu tenha me arrependido do que pedi.
Quando chegamos em sua casa, uma mulher bonita está na
sala com um bebê.
— Ashley, essa é a Angel, a minha amiga e namorada do
Marco.
Não perco o clima de tensão e o olhar silencioso que as duas
trocam. Será que a mulher é ex do Marco?
— Oh! Lorena fala tanto de você, que já sinto que te conheço
há muito tempo. — ela se dirige a mim.
— Espero que bem. — Sorrio ao ver o bebê gordinho se
arrastar e tentar se levantar segurando no sofá. — É seu?
— Sim.
— Ele é lindo!
— Igual ao pai. — diz com certa melancolia na voz.
— Imagino! Espero que o meu puxe ao Marco também.
— Vo...Você está grávida?
— Sim. — compartilho a notícia, muito orgulhosa.
— Do Marco?
A encaro.
— Claro!
Que pergunta indiscreta e desrespeitosa foi essa?
Vejo uma faísca de raiva em minha direção e eu fico confusa
com a hostilidade vinda dela. Okay! Com certeza é uma ex. E pelo
jeito veio com a intenção de pegar meu homem. Não pode ser uma
simples coincidência esse comportamento e todas essas perguntas
infundadas.
Viro-me para Lorena, esperando uma explicação, que não vem.
Começo a juntar uma peça na outra, lembrando como ela tem ficado
sem graça comigo nos últimos dias. Oh, meu Deus! Não pode ser o
que estou pensando.
— Há algo que eu precise saber, Lorena? Quem é essa?
— Deixe que eu me apresente direito, querida! Sou Ashley, mãe
do primeiro filho de Marco Moretti.
— Ashley! O que foi que nós conversamos? — Lorena começa
a discutir com a sonsa, que sorri ao me ver perdida e sem fala. —
Não temos certeza se a criança é realmente do Marco.
— Não têm? E iam me falar quando? Na revelação do teste de
paternidade? Ou talvez, sei lá, aproveitar a festa e fazer dois em um?
— Angel! Não é assim. Esse assunto somente o Marco poderia
lhe contar.
— Eu vou embora. — Me levanto para sair, me sentido
sufocada e apunhalada pelas costas.
— Espere, querida! Você não está em um bom momento para
ficar sozinha.
— Não importa. Vou esperar por ele e saber dessa história pela
boca dele.
Não espero que falem mais alguma coisa e saio à procura de
um soldado que possa me levar daqui. Seguro as lágrimas que
insistem em sair. Não vou chorar. Essa mulher veio em busca de
confusão e não será hoje que conseguirá me deixar destruída.
Chego em casa e tomo um banho. Faço um lanche e pego um
livro qualquer para tentar ler, somente para que o tempo passe mais
rápido.
Sou Ashley, a mãe do primeiro filho de Marco Moretti.
Vadia!
Jogo o livro na parede e derrubo alguns quadros no chão.
Ela falou aquilo para me machucar. O sorriso de deboche em
seu rosto quando jogou aquilo na minha cara, deixou claro suas
intenções. Uma pessoa mesquinha é capaz de tudo.
Entro no banheiro, satisfeita. Tudo tem dado certo até agora e
na festa eu darei a cartada final. Irei mostrar diante de todos a mulher
que ela é. Ninguém vai querer aceitá-la na famiglia. Vim para lutar
com tudo dentro de mim e sairei daqui com tudo que eu mereço.
Terei o Marco de volta, e para que isso aconteça, preciso tirar essa
mulher do meu caminho de uma vez por todas.
Essa festa será minha entrada triunfal. Só tenho que conferir
com Snake se o nosso plano ainda continua de pé e se o babaca não
vai me deixar na mão.
Ligo para ele e o espero atender.
— Tomara que tenha uma boa notícia para mim. — sua voz
rouca de tanto fumar aparece no alto falante.
— Tudo está saindo conforme planejamos.
— Finalmente! Isso sim é uma ótima notícia.
— Você vai me ajudar a forjar o exame, certo?
— É claro que vou. Não se preocupe com isso!
Respiro aliviada.
— Eles já desconfiam dela. Plantei a dúvida e agora o resto é
com você.
— Tudo bem. Deixe comigo! Você a viu?
— Sim. Ela ficou abalada quando eu disse que sou a mamãe do
bebê Moretti.
Sua risada explode pelo telefone.
— Daria tudo para ver a cara dela nessa hora.
Sorrio relembrando o episódio.
— Tenha paciência, que você logo a verá pessoalmente.
— Não vejo a hora.
— Tenho que desligar. Estão me vigiando. Aviso assim que eu
estiver indo para o laboratório fazer o maldito exame.
— Okay! Até mais.
Tudo bem, Ashley. Falta pouco. Você será logo, logo, a senhora
Moretti.
Retoco o batom e saio para fazer o meu papel de boa mãe.
O papel queima na minha mão. Eu não queria acreditar, mas as
provas estão aqui. Angel tem mentido para mim todo esse tempo.
Além de me usar, ainda não me contou sobre as suas origens.
— Tem certeza que são verdadeiros? — pergunto me sentindo
um idiota por me apegar a um resquício de esperança.
— Sim. O que vai fazer? — Vincent me analisa.
Lutei anos para conseguir o respeito de todos, e olha a minha
posição agora. Por uma boceta, eu coloquei o inimigo dentro de
casa, perto do chefe, arriscando a sua vida, meu cargo e todos os
segredos da organização.
— Colocar o lixo para fora. — respondo ríspido e viro toda a
bebida na boca.
— Marco! Eu vou entender se não quiser fazer nada agora.
Afinal, ela está grávida de um filho seu.
— E quem disse que essa criança é minha? Pode muito bem
ser de outro. Se ela mentiu todo esse tempo, quem me garante que
não mentiu sobre isso também?
Ele fica calado, pois sabe que estou falando a verdade.
Ninguém pode garantir mais nada e a culpa é inteiramente minha. Eu
sou uma fraude de homem.
— Estou aqui para te apoiar, seja qual for a sua decisão.
— Obrigado! Mas isso somente eu poderei resolver.
Meu peito se comprime. Eu a amei mais do que a qualquer
pessoa um dia. Nunca me senti tão traído e enganado como agora.
Entro no carro, acelerando por estrada a fora. Preciso pensar
com cautela e analisar esses documentos de novo, com calma e
sozinho. Vou tirar a limpo essa história com ela, mas antes irei limpar
a minha mente de qualquer sentimento, e somente depois farei o que
for preciso para manter a minha segurança. Controle sobre mim é
tudo que eu preciso.
Dois dias esperando e Marco não apareceu em casa. Eu sei
que ele está me evitando. Com certeza Lorena lhe disse o que
aconteceu.
Me arrumo para a festa e peço que Sebastian me leve. De lá,
ele não me escapa. Deve estar fazendo a segurança do lugar. Eu irei
lhe pôr contra a parede.
Chego ao local e o procuro. Sinceramente pouco me importa
essa festa. Todos mentiram para mim, inclusive Lorena, que achei
ser minha amiga. Idiota:isso que eu sou. Dei abertura para entrarem
na minha vida e consequentemente poderem para me machucar.
Olho em volta e apenas vejo a tal Ashley com o bebê sendo
paparicado por várias outras mulheres. Lorena está junto de Vincent,
fazendo a boa anfitriã, recebendo os convidados.
Fico no canto, disfarçando e aguardando o momento certo.
Horas se passam, e nada dele. Quando o sexo do bebê é
revelado, todos aplaudem e comemoram as boas novas, contudo, eu
me mantenho distante. Esse não é mais meu lar. Nunca foi.
— O que faz aqui? — uma das matriarcas da família grita.
— Desde quando aceitamos traidores entre nós? Isso é uma
afronta! — outra fala alto fazendo o burburinho começar a minha
volta, chamando a atenção de todos na festa.
— Não sei do que você está falando. — respondo tentando
manter a calma.
— Essa não é uma infiltrada? Eu ouvi falar que ela foi umas das
mandantes do ataque ao capo.
Mais comentários e ofensas vêm na minha direção. Eu fico
petrificada no lugar, não entendendo o porquê de tanta grosseria e
acusações.
Olho para Lorena, que se mantém calada, e quando percebe
que eu a olho, abaixa a cabeça. Ashley sorri vitoriosa logo atrás das
mulheres. A cadela tem dedo nisso. Não preciso sequer perguntar o
porquê.
— Saia daqui! Aqui não é o seu lugar. — Mais gritos das
mulheres na multidão.
Nunca me senti tão humilhada como agora. Já fui indesejada
em muitos lugares, mas passar por esse vexame ficará no topo da
minha lista de vergonhas.
— Chega! Deixem ela em paz! Quem vocês pensam que são?
Por acaso tem algum santo aqui? — Rebeca é a única a vir ao meu
socorro.
Toco seu braço em um agradecimento silencioso e seguro as
lágrimas traidoras que desejam sair.
Antes que me tirem a pontapé daqui, eu mesma saio correndo
porta a fora e volto para a casa de Marco. Sim... Não sinto que seja
mais minha. Meu tempo aqui acabou.
(...)
Faz pouco tempo que cheguei, então escuto a porta se abrir.
Me levanto e dou de cara com Marco.
Ele olha para o chão e depois de volta para mim. Noto rigidez
em suas feições e sei que essa conversa não será boa para nenhum
de nós.
— Quando ia me contar? — pergunto logo, não querendo
enrolar, nem lhe dar tempo de arrumar uma desculpa qualquer.
— Sobre o quê?
— Do bebê e sobre tudo que está acontecendo.
— Quando o resultado do exame saísse. — diz com calma,
como se não tivesse falado de nós, e sim de outras pessoas.
— É por isso que mudou comigo?
— Não sou eu que devo explicações, Angel, e sim você.
— Sabia que tinha um filho perdido por aí? Não mente para
mim! — grito chateada. — Seja sincero comigo!
Ele vem na minha direção e fecha a mão em punho. Me
preparo para levar um soco em meu rosto. Fecho os olhos e escuto o
barulho perto da minha cabeça. O encaro, vendo que ele socou a
parede ao meu lado e respira com dificuldade.
— E quando você foi verdadeira comigo, Angel? Tem certeza
que não me esconde nada sobre a sua vida antes de mim?
Me calo. Existe somente uma coisa a meu respeito que ele não
sabe, e diante dessa situação, não irei falar. Não sei se o tenho ao
meu lado ou como inimigo. Me julguem! Estou me protegendo. Se as
coisas ficarem feias, tudo que menos desejo é ser usada como
moeda de troca.
— Esse celular estava dentro do seu antigo quarto. Você o
usava para falar com Snake?
— De que porra você está falando? Eu nunca mais falei com
ele. Da última vez que soube dele, foi quando você me trouxe para
cá.
— Suas mentiras não parecem convincentes para uma pessoa
que tem todas as provas contra seus argumentos. Eu sei que você é
parente dos Javier. — ele revela e o meu sangue gela. Sinto minhas
pernas fraquejarem. — Foram eles que te mandaram se infiltrar aqui?
Me fazer de trouxa?
— Você que foi atrás de mim, não o contrário. Antes que venha
me julgar por não lhe falar tudo, lembre-se que disse que não iria me
pressionar até eu estar pronta. Você também não me contou tudo
sobre sua vida e eu nunca te pressionei a nada.
— Como eu pude me enganar com você, menina? Eu fiz tudo
que pude para te proteger, e em troca você me trai e mente para mim
da pior forma que existe. Eu quase morri em uma armadilha, mas
todo esse tempo a traidora estava dormindo na minha cama, como a
puta barata que sempre foi.
Minha mão vai instantaneamente parar no seu rosto, acertando-
lhe um tapa.
— Pode me acusar do que quiser. Eu não fiz nada contra você
ou contra a porcaria da sua organização. Acredite nessa farsa! Eu
não faço questão de provar a minha inocência. No fim das contas, o
único barato aqui é você, que morre por um chefe que não te
escolheria acima da família preciosa dele.
— Cale a sua boca! Eu acreditaria em você se tivesse me
contado a verdade. Agora não me importo mais.
As lágrimas banham o meu rosto e a vontade que eu tenho é de
encher ainda mais a cara dele de porrada.
Eu cansei. Ele não foi o único a me enfiar a faca, no entanto,
será o último.
Viro-me, o deixando na sala, e vou para o quarto pegar minhas
coisas. Não fico mais aqui nem que me metam uma bala. Sou
orgulhosa e não aceito ser capacho de ninguém. Se Marco não
confia em mim, não tem porquê eu continuar aqui me humilhando.
Todos já colocaram na cabeça que eu estou por trás das coisas ruins
que aconteceram com eles. Entendo tudo agora.
— Onde pensa que vai? — ele entra no quarto e eu nem faço
questão de responder.
Saio pela porta com uma pequena mochila e sinto que ele vem
atrás de mim.
— Você não vai sair daqui! Esquece essa porra! Não pense que
fugirá de mim depois de tudo que me fez!
— Para quê eu ficaria? Para ser punida por algo que não fiz?
Se vai me matar, mata logo, porque aqui eu não fico nem sob tortura.
— Não seria uma má ideia. Tratamos nossos inimigos bem pior.
— a raiva em sua voz me faz tropeçar para trás.
Quem é esse homem?
— Bastou sua ex voltar para todos duvidarem de mim. Só está
faltando me dizer que não acha que o bebê que espero seja seu
também.
Ele não responde e isso é como uma facada certeira no meu
coração.
— Marco? Você acha que o nosso bebê não é seu? —
pergunto incrédula.
— Eu não sei de mais nada sobre você. Claramente me
escondeu segredos que me colocaram em risco.
— Eu te amei e confiei em você, seu desgraçado. — Rio com
raiva de mim. — Eu já deveria ter aprendido que não devo baixar a
guarda para ninguém.
— Você fez isso para si mesma. Não culpe outras pessoas por
seus estúpidos erros!
— Você está certo nisso, e eu aprendo com meus erros. Um dia
a verdade virá à tona, e saiba que não vou te perdoar por isso.
Nunca! — Bato a porta sem olhar para trás.
Encontro Sebastian do lado de fora e peço que ele me tire
daqui. No que depender de mim, não ficarei onde não sou bem-
vinda. Me sinto tão perdida e magoada.
— Não querendo me meter...
— Já se metendo. — corto as falas do Sebastian.
— Eu só quero te ajudar.
— Como? Não acredita que eu seja uma traidora também?
— Não acredito nisso. Acho que a tal Ashley armou para você.
Eu tenho uma casa mais ao sul, que ninguém sabe dela. Se quiser,
te deixo lá até você se acalmar.
— Seria bom. Não tenho para onde ir.
— Marco vai cair na real. Tenha paciência.
— Que caia de um penhasco. Não me importo.
Ele ri achando que eu contei uma piada, não sabendo ele que
nesse momento eu mesma empurraria seu chefe de um penhasco,
só de raiva.
(...)
Quando ele vai embora, me deixando na sua casa, sozinha, me
permito cair na real. Eu o perdi. A melhor coisa que aconteceu na
minha vida, se foi. Mas dessa vez vou lutar por mim. Cansei de tentar
provar meu valor e depois ser jogada de lado. Quem quiser, que me
prove ser merecedor do meu amor, porque eu não vou deixar que
mais ninguém me use e me diminua. Ao menos para me tornar mais
forte, essa experiência me serviu. Pelo meu filho, eu irei fazer valer a
pena cada segundo dessa segunda chance que a vida me deu.
Vê-la ir embora me quebrou, mas foi o melhor. Só que para
quem, ainda não sei. Eu deveria ter feito mais, ter punido ela como
merecia, como esperavam que eu fizesse, porém, não tive coragem
de colocar todo o meu plano em ação.
Não posso deixá-la me enganar de novo. Angel fez as escolhas
dela e eu as minhas. Tudo que pude fazer foi não matá-la, e sim
libertá-la de mim e da máfia que iria dilacerá-la viva. Depois eu me
entendo com o Vincent. Se tem uma pessoa que não pode me julgar,
esse alguém é ele. Estive ao seu lado quando sua história começou
com sua esposa e permaneci lá quando ele enfrentou o Conselho
para se casar com a estrangeira. O capo me deve muito e não pode
me cobrar nada.
Volto ao quarto e deito na nossa cama, sentido ainda seu cheiro
fresco por todo o lugar. Vai ser difícil esquecê-la, todavia, irei superar.
Já passei por coisas piores que um maldito coração partido. A
tristeza já é minha companhia há muito tempo e a solidão sempre foi
a minha fiel amiga.
O pior de tudo é que não me arrependo de ter passado esse
tempo ao lado dela. Pode ser burrice minha, mas foram os melhores
meses da minha vida. Infelizmente a alegria foi momentânea e isso
teria que acabar um dia. Tolo foi eu de achar que conseguiria ser feliz
para sempre. Isso é uma porra de um conto de fadas e no nosso
mundo tudo que eu menos sou é um príncipe encantado.
Levanto da cama e tomo meu banho. Preciso apagar suas
lembranças desse lugar e seguir adiante. Recomeçar.
No meio desse inferno, talvez algo de bom tenha acontecido. O
bebê da Ashley realmente é meu, e por esse motivo preciso estar
inteiro para ele. Não faço a mínima ideia de como é ser pai. Com a
Angel, eu não me preocupava e parecia certo isso acontecer, mas
mesmo esse filho não sendo meu e dela, o Pietro não tem culpa.
Tentarei ser e dar o meu melhor. Só tenho que me esforçar. Sei que
sou capaz de ser um bom pai.
Meu celular vibra com o nome de Vincent na tela e eu o olho
por algum tempo. Não quero conversar com ninguém, porém
continuo fazendo parte da famiglia, e bem ou não, meu cargo não
pode esperar por mim.
— Precisa de algo? — atendo e pergunto de um jeito
profissional.
— Não. Só liguei para saber como você está.
— Como sempre. — tento soar animado.
— Marco? Eu te conheço. Estive aíonde está agora. Lembra?
— Sim. E sobreviveu. Eu também irei.
— Você a matou? — pergunta baixo, com certeza não
querendo que Lorena o ouça.
Ele sabe que não fiz isso. Jamais teria essa coragem. Não com
ela.
— Não. A deixei ir. Fiz errado?
— Fez a escolha certa. Eu não teria feito diferente com a
Lorena.
— Poderíamos tê-la usado como barganha no cartel mexicano.
— novamente falo indiferente, não querendo demonstrar fraqueza.
— Não teria valido a pena. Teríamos mais inimigos à espreita.
— como sempre sendo sensato.
— Só estou muito perturbado. Provavelmente eu teria feito tudo
errado se não fosse pelos seus conselhos.
— Tire alguns dias de folga e coloque a cabeça no lugar! Não
quero perder meu irmão por ele não estar inteiro para uma missão.
— Não preciso de tempo. Estou bem e amanhã começarei
minhas buscas por Snake.
— Eu disse que não! Não estou falando como seu amigo ou
irmão, Marco, e sim como seu capo. Só voltará à frente das missões
quando eu vê-lo recuperado.
Xingo alto, o fazendo rir.
— Okay! Você que manda.
— Aproveite esse tempo livre e conheça melhor o seu filho! O
resultado do exame chegou e eu te mandei há uns dois dias. A
criança precisa de um pai. Não seja um mau exemplo, como o seu foi
para você.
Se ele queria me enfiar um punhal, acertou o lugar certo.
— Porra! Me comparar ao Luigi foi jogo baixo, Vincent. Até
mesmo para você.
Não estou fugindo das minhas responsabilidades. Só foi muita
coisa para eu processar de uma vez.
— Eu sei. E é por isso que estou aqui para te lembrar disso.
Pode duvidar de si mesmo agora, mas eu acredito em você e sei que
será o melhor pai que meu sobrinho precisa. Você cuidou de mim a
vida inteira, Marco. Está na hora de começar a cuidar mais de si
próprio.
Filho da puta! Ele me conhece bem. Até melhor do eu mesmo.
Sabe que estou com medo de falhar e veio me mostrar seu apoio, me
lembrando que não estou sozinho depois de tudo que passei, para
que eu não me perca.
— Amanhã mesmo irei procurar pela Ashley e resolver tudo.
— Não esperava menos de você. Se precisar de algo, estarei
sempre aqui.
— Obrigado! — Desligo a chamada.
Meus pensamentos vão teimosamente nela. Pego o celular e
mando uma mensagem para Sebastian, marcando uma reunião para
amanhã cedo, e cogito perguntar para onde ele a levou. Começo a
escrever a mensagem, mas quando percebo o que estou fazendo,
apago-a antes que eu cometa outro erro. Me recrimino por ainda me
preocupar com ela.
Olho o clarão da lua no lado de fora e em pouco tempo
adormeço.
Não consegui pregar os olhos a noite inteira. Mal o dia
amanhece e eu já estou de pé, ansiosa.
Sebastian chega com o café da manhã e eu tomo coragem de
lhe pedir um favor.
— Tudo bem? — ele pergunta sorrindo.
— Preciso que me ajude. Vou entender se não quiser.
— Peça! — Me avalia.
— Quero entrar no México, mas para isso preciso de proteção.
Snake deve saber do que aconteceu e eu tenho medo que ele faça
algo comigo ou com o bebê.
— Posso dar um jeito nisso.
— Se alguém perguntar por mim, diga que fugi.
— Não quer esperar as coisas esfriarem? Ainda é muito cedo
para tomar decisões precipitadas.
— Não, Sebastian. Eu preciso pensar somente em mim. O
melhor é eu procurar a minha família e pedir que eles me aceitem.
Não estou protegida aqui fora.
— Está certo. Te ajudarei. Me dê alguns dias e montarei uma
equipe de minha confiança para te acompanhar!
— Obrigada! — Suspiro aliviada. — Sei que não pode fazer isso
e está se colocando em risco. Por isso agradeço sua ajuda.
— Estou fazendo isso porque sei que Marco irá acordar um dia
e ver a burrada que fez. Se ele me perguntar da criança, o que eu
digo?
— Que abortei. — respondo rapidamente, trincando os dentes.
— Ele não acredita ser dele, então não tem porquê saber que eu o
terei.
— Certo. Sinto muito mesmo.
— Não sinta! Era para ser assim.
Ele se despede e sai, me deixando sozinha com meus
pensamentos.
Não tenho certeza se a família de minha mãe irá me ajudar,
mas é minha única tentativa de salvação. Agora que Snake sabe que
não estou sob a proteção do capo, irá vir atrás de mim. Tenho que
pensar no meu filho. Aceitarei qualquer condição, desde que eu me
livre dessa escória e esteja segura.
(...)
Alguns dias depois e já estamos embarcando. O nervosismo
toma conta de mim, mas me mostro forte e decidida, mesmo que por
dentro eu esteja em pedaços e sangrando.
Quando chegamos na frente da mansão, me apresento e uso
meu sobrenome materno pela primeira vez.
A conversa com meu tio, não está nada fácil. Minha doce mãe
não deixou boas lembranças, e para a minha sorte, meu avô, o
famoso Javier carrasco, é falecido, e no lugar dele ficou o meu tio
Alejandro. Quando explico minha história e o porquê de
provavelmente ninguém saber da minha existência, ele amolece.
— Sinto muito saber disso tudo somente agora. Quando sua
mãe foi embora com o traste do seu pai, seu avô proibiu até mesmo
que citassem seu nome dentro dessa casa. Paola é a filha deserdada
e Jorge é o fruto de umas das indiscrições de mamãe. Portanto,
nenhum dos dois tem direito à herança deixada para a nossa família.
Isso explica muita coisa.
— Ela me abandonou quando eu ainda era pequena. Nunca
mais soube do seu paradeiro.
— Bem típico da Paola. Sempre foi uma aventureira.
— Preciso que saiba de mais uma coisa.
— Fale! Não matou alguém e eu preciso encobrir, né? — Ele
sorri e espera pacientemente eu dar continuidade.
— Estou grávida do executor da Camorra. Devido a algumas
armações de sua ex, ele não acredita que esse filho seja dele e me
expulsou.
— Que interessante! Então quer dizer que tenho algo de valioso
da máfia italiana?
— Não vai usar meu filho contra eles, vai? — Me levanto pronta
para uma briga.
— Calma aí, mamãe ursa! Pensa muito pouco de mim. Não sou
esse tipo monstro. Só não vou mentir que adorarei ter um mafioso,
depois de tudo que nos fizeram, se ajoelhando aos meus pés para ter
o que lhe pertence de volta.
— Não acabou de me ouvir? O executor não se importa. E eu
prefiro que ele não saiba que eu tive a criança.
— Confie em mim: mais cedo ou mais tarde, virão atrás de
você. Eu estarei sentado em minha poltrona esperando por esse
momento esplêndido. Diga-me uma coisa:ele é tudo isso que falam?
Poderoso e animal?
Levanto uma sobrancelha, confusa com sua pergunta.
— Sim. Marco é fatal e intimidante.
— Não estou falando disso, bobinha. Quero dizer na cama.
Engasgo com a saliva.
— Você é gay?
Ele assovia.
— Ops! Mais um segredo sujo da família, querida sobrinha. Já
que vou guardar o seu... — Pisca sorridente.
Por essa eu não esperava.
— Uau! Deve ter sido interessante a sua convivência com o seu
pai.
— Digamos que ele tentou me matar algumas vezes. Eu tive
muita sorte dele ter morrido primeiro. Você ainda não me respondeu.
— cantarola.
— Sim. Ele é um animal no sexo também. Agradeceria se não
ficasse me perguntando dele.
Ele abana a mão na frente do rosto, fingindo calor.
— Vida bandida! Nada de surreal acontece comigo. Isso é
muito injusto.
Gargalho pela primeira vez em dias. Vamos nos dar muito bem.
— Obrigada por me aceitar! Sei que não tinha nenhuma
obrigação em me deixar ficar.
— E perder toda essa emoção que veio com você? Só se eu
estivesse louco, minha querida. Agora vamos conhecer seu quarto!
Eu preciso fazer uma festa para te apresentar aos meus amigos.
Quanto mais gente te ver comigo, mais estará segura. Todos têm que
entender que você se tornou a minha protegida e causarão uma
guerra se ousarem te tocar.
— Entendo.
Sinto um frio na barriga. Passarei a ser definitivamente uma
Javier assumida. Pela primeira vez na minha vida, serei alguém com
um sobrenome de respeito.
— Angel? — Alejandro dá uma batidinha em uma das minhas
mãos.
— Sim?
— Quando o bebê nascer, terá que ser treinada. Em minha
falta, você e a criança serão meus herdeiros. Tem noção de que
todos os olhos estarão em você, não é?
— Tenho sim. Na verdade, eu estava pensando nisso agora
mesmo.
— Geralmente os homens que são obrigados a serem
treinados, mas como não tenho filhos, lhe deixarei como meu braço
direito. Alguns negócios serão comandados por você e precisa estar
preparada para isso.
— Irei me dedicar e aprender tudo, tio. Não vou te decepcionar.
Prometo.
— Muito bem. Você é verdadeiramente um anjo. Seremos uma
dupla imbatível.
Sorrio feliz e agradecida.
A Angel medrosa, indefesa e sem propósito, já não poderá
existir mais. No lugar dela nascerá Angelina Javier, uma mulher forte
que será mãe e que com suas próprias mãos irá se vingar de cada
um que lhe fez mal. Chega de me esconder nas sombras ou
depender de alguém para me salvar! A única que pode me salvar,
sou eu mesma.
2 ANOS DEPOIS
Visto meu vestido vermelho sangue e passo um batom da
mesma tonalidade. A “dama de vermelho” virou um apelido do qual
tenho muito orgulho de usar. Dois anos foram essenciais para que eu
amadurecesse e me tornasse a mulher que sou hoje. Passar por
todos os treinamentos pesados, não foi fácil. Fui testada ao extremo
para provar que mereço estar na frente dos negócios da família.
Olhando agora tudo que conquistei, valeu a pena.
— Espetacular! — tio Alejandro solta um grito, me assustando.
— Era o mínimo que eu esperava depois de gastar uma
pequena fortuna nesse Channel. Quero causar na minha entrada.
— E vai conseguir o que quer. Seu boy está lá embaixo. Meu
útero deu cambalhotas quando eu o vi chegar. Oh, homem gostoso!
Rio de suas palhaçadas.
— Desde quando você tem útero?
— Não sei. Sinto umas fisgadas estranhas quando vejo um
pedaço de mau caminho e creio que seja meu lado feminino
desejando ser mãe.
Rio mais forte.
— Só você mesmo, Alejandro, para me fazer rir em uma hora
dessas. E para esclarecer, ele não é meu boy.
— Ah, se eu tivesse chance! Tenho certeza que ele matará no
mínimo uma meia dúzia de homens essa noite por olharem para
você.
— Juan que lute com seu ciúme. Não lhe pertenço. Eu me
pertenço.
— Acho que o bonitão não pensa dessa forma, minha linda. O
homem lambe o chão por onde você passa.
— Ótimo! Enquanto ele estiver lambendo o chão, eu o deixarei
por perto, e quando passar essa fase, eu o troco por outro.
— Poderosa! É assim que se fala. Estou muito orgulhoso da
mulher forte e decidida que você se tornou.
— Devo a você, que acreditou em mim e me ajudou a encontrar
uma versão minha que nem eu sabia que existia.
— Não, Angel! — Ele me abraça por trás, colocando a cabeça
em meu ombro. Nos encaramos pelo espelho por um tempo. — Essa
mulher que você vê ali, sempre esteve aí dentro, e só floresceu no
tempo certo. Tudo que ela precisava era que alguém a regasse todos
os dias e a dissesse o quanto é forte e que pode ter o mundo aos
seus pés.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Todo esse apoio foi
essencial nessa nova fase da minha vida.
— Você é mestre em me fazer chorar. — digo.
Ele beija minha cabeça e se afasta, disfarçando suas emoções.
— Onde está o nosso príncipe? — tio Alejandro pergunta.
Sorrio ao me lembrar do meu pequeno.
— Dormindo. Pedi que Elisa o levasse. Detesto vê-lo chorando
quando preciso me ausentar. Está crescendo tão rápido. Às vezes
me culpo por não passar mais tempo com ele.
— Você é uma mãe maravilhosa e nosso menininho sabe disso.
É completamente apaixonado por você. Ele arrancará muitos
corações quando for maior.
— E eu sou apaixonada por ele. Minha vida só ganhou mais
sentido depois que Enzo nasceu.
— O poder da maternidade.
Mudando de assunto, sabe que tem chances de encontrá-lo
nesse jantar, não sabe?
— Sei sim. Estou a par da lista de convidados e o capo foi
convocado. É fato que o cão acompanhará o dono.
— Menina má. Queria ser uma mosca para ver a cara dele
quando te ver linda e fatal assim.
— Esse jantar é muito importante para nós e é nisso que estou
focando. Quem vai estar presente nele, não me importa nenhum
pouco.
— Não deixe que te humilhem! Chore em casa. Na frente dos
inimigos, você quem manda. Cabeça erguida sempre.
— Sempre!
— Agora desça! Vá com aquele deus que te espera na sala e
arrase! Depois ensine para ele do que uma Javier é capaz! — Faz
uma dancinha sensual batendo as mãos no ar.
Eu rio de novo da cara de safado que ele faz.
— Você é terrível. Pode deixar, que sou uma boa professora. —
Pisco charmosa entrando na onda.
— É assim que se fala.
— Promete que vai me ligar se Enzo sentir minha falta e
chorar?
— Vá se divertir! Ele está seguro. E se... algo acontecer, eu
prometo que te aviso.
— Obrigada!
Beijo o rosto dele e desço as escadas para encontrar meu
acompanhante.
Juan é um homem lindo, moreno, alto e muito inteligente.
Juntando essas qualidades com o fato de ser filho do governador, dá
um prato cheio para os olhos. Graças ao nosso caso, tenho
acessibilidade aos homens mais poderosos da política. Sem contar
que ele é bom de cama.
O quê? Não acharam que eu ia ficar chorando a vida inteira por
alguém que me chutou quando eu mais precisei, não é?
Assim que eu tive meu filho, voltei a ativa. Virei mãe, não freira.
Até mesmo porque conhecendo Marco, se ele não estiver com a
sonsa da Ashley, já pegou metade de Los Angeles nesses dois anos.
A única parte ruim do meu caso com Juan é o fato de porque
estarmos juntos há algum tempo, ele passou a se achar meu dono e
vive me cobrando uma oficialização da nossa união. E eu não quero
ser domada por ninguém. Prefiro ficar sozinha e continuar com meus
planos.
— Linda como sempre. — Me dá um selinho.
— Digo o mesmo. Adoro você de terno.
— Vamos? Estou louco para que tudo termine e eu a tenha por
um tempo só para mim.
Vamos em direção ao nosso carro blindado e eu fico satisfeita
em ver meus seguranças a posto.
— Precisa mesmo levar seus seguranças? Os meus podem te
proteger. — questiona olhando os carros que pedi para nos
acompanhar.
— Nós dois estaremos rodeados de inimigos. No caso de algo
sair errado, seus homens protegerão você. Prefiro ter os meus da
minha extrema confiança zelando por mim.
Nem a pau que confio minha proteção de novo a alguém.
— Independente como sempre.
— Você me conheceu assim. Não tente me moldar ao seu jeito,
porque não sou massinha de modelar, gato.
— Me desculpe! Não está mais aqui quem falou. — Beija uma
das minhas mãos com carinho. — Espero que um dia confie em mim
completamente.
Não respondo. Ele sabe que não me terá da maneira que
pensa. Não serei a esposa troféu, nem dele, nem de ninguém.
— Melhor irmos, ou iremos nos atrasar. — finalizo não
querendo falar do assunto “compromisso”de novo.
Entro no carro, sendo seguida por ele, que continua emburrado.
Em pouco tempo chegamos na mansão do futuro senador.
Todos têm somente um propósito:conseguir firmar uma parceria com
o homem para que não tenham um inimigo no governo derrubando
seus negócios. Para a minha sorte, eu já fiz uma reunião particular
com ele e já dei a minha generosa contribuição para sua campanha.
Não seria idiota de tentar fazer uma proposta somente agora.
Juan desce do carro e me estende a mão. Flashs pipocam em
meu rosto, quase me cegando. É claro que a imprensa estaria em
peso aqui cobrindo o evento.
Entramos no salão muito bem decorado, digno de uma jantar da
elite. No início eu odiava vir e andar no meio dessas pessoas, mas
agora me sinto em casa. Aqui somos de iguais para iguais e todos
precisamos uns dos outros. Lógico que ninguém é besta de diminuir
uma pessoa com nome e influência forte, mesmo que não goste dela.
É mais do tipo:ou atura ou surta.
Sorrio para as esposas de alguns empresários que conheço. As
coitadas têm tantas cirurgias plásticas que mais parecem bonecas de
cera.
— O senador nos convidou para sentarmos em sua mesa. —
Juan fala no meu ouvido.
É claro que ele convidou. Depois de todo o dinheiro que lhe
enviei, vai querer sua mina de ouro por perto.
— Angel, minha querida, é um prazer ter sua companhia!
— Ah, Ramon! Galanteador como sempre.
— Espero que nossa concorrência seja apenas na política.
Odiaria disputar a mão da dama também. — Juan o provoca.
— Me sinto lisonjeado em saber que me tem como adversário
fora da política, filho.
— Ele teria se fôssemos algo. — retruco e sorrio simpática.
— Uhuu! Eu acho que não está com essa bola toda que pensa.
— o senador brinca.
— Por enquanto. Logo meu anel estará em seu dedo.
— Eu achei que o assunto em pauta hoje à noite seria sobre a
campanha do senador. Não me lembrava que minha mão estava em
discussão. — faço a mesa rir.
— Está certíssima, minha querida. — Ramon puxa a cadeira
para que eu me sente ao seu lado.
— Afinal, sua mão é muito cara. Duvido que tenha um homem
nessa mesa que consiga comprá-la. — Mathias cutuca.
Esse cara é um babaca. Desde que comecei a representar a
minha família, ele não perde a oportunidade de me provocar.
— Pela última vez, eu não estou à venda e minha mão não será
o assunto desse jantar. — O encaro sem vacilar. — Estou ansiosa
mesmo é para ouvir a sua proposta e dos demais ao senador. Espero
que seja bem generosa e esteja a nível de ultrapassar a minha. —
Levanto minha taça de champanhe, sendo sarcástica, e o deixando
vermelho de raiva.
— Muito bem dito, Angel. Como sempre, sábia nas palavras. —
Ramon bate sua taça na minha.
Mais adiante vejo Vincent com Lorena me observando. Finjo
que não os vejo e continuo prestando a atenção na conversa frívola
que rodeia a mesa.
Na metade do jantar, me levanto para buscar um pouco de ar. O
tédio dos assuntos me deixou cansada. Vou ao banheiro e
rapidamente mando uma mensagem para o meu tio, perguntando
sobre Enzo. Ele me responde que tudo está bem e eu respiro
tranquila.
Quando estou lavando minhas mãos, sinto uma presença atrás
de mim. Olho no espelho e me deparo com o meu maior pesadelo.
Nos encaramos por um tempo. Minhas pernas tremem e meu
coração acelera ao vê-lo de novo. Se eu dissesse que não senti seus
olhos em mim a noite toda, estaria mentindo, mas mesmo minha pele
queimando com sua presença óbvia, me mantive firme e não o
procurei.
— Você mudou bastante. — fala quando percebe que não irei
dizer nada.
Olho para a minha direita e depois para a esquerda.
— Uau! O cão saiu da coleira? Estou impressionada. Não estou
vendo seus donos por perto, Marco. Sugiro que volte para onde eles
estão.
Seus olhos escurecem e ele dá dois passo em minha direção.
Não consigo identificar seus sentimentos, e nem quero. Me
mantenho firme no lugar, mesmo que por dentro tudo de mim peça
para eu fugir.
— O que aconteceu com a criança, Angel?
— Aquela que você duvidou ser sua? Abortei. Não queria nada
que me lembrasse do meu maldito passado.
Por dentro me dói dizer isso. Nunca seria maldosa a esse
ponto. Meu filho é minha vida.
— Como pode ser tão fria?
— Talvez você tinha razão e eu sempre fui assim.
— Marco? — Lorena entra no banheiro. — Vincent precisa de
você.
Seus olhos não desgrudam dos meus e eu faço de tudo para
que nesse momento eles transpareçam toda a indiferença e raiva
que sinto por ele.
— Isso não terminou, Angel.
— Terminamos sim. E se me perseguir de novo, as coisas
ficarão bem feias para você, executor. — deixo a ameaça velada no
ar.
— Marco? Por favor! — Lorena segura em seu braço.
— Seja um bom animal de estimação e obedeça a esposa do
chefe, ou poderá ser castigado por deixá-la chateada. — Levanto
uma sobrancelha, sendo esnobe.
Ele se vira, sai batendo a porta e eu sorrio satisfeita.
Lorena me olha por um tempo e eu a encaro, desafiando-a a
abrir a boca.
— Ele sofreu muito com sua partida e ainda sofre com tudo o
que aconteceu.
Eu a corto, não querendo ouvir mais nada.
— Ótimo! Fico satisfeita em ouvir isso. Tenho que dizer que
você é muito engraçada, querida.
— Como? — pergunta na defensiva.
— Você no mínimo é muito ingênua ao achar que ainda somos
amigas para trocar figurinhas no banheiro ou muito estúpida por
pensar que me importo em saber algo sobre o que Marco passou ou
deixou de passar. O mesmo aviso que dei a ele, serve para você
também: fique fora do meu caminho, ou não vou me responsabilizar
pelo que pode te acontecer.
Saio do banheiro, a deixando paralisada e sem palavras. Dizer
que estou feliz com esse embate é mentira, porém, não me sinto mal
em ter feito os dois ouvirem ao menos um pouco do que mereciam.
Tirei o que estava preso em minha garganta nesses dois anos.
Lorena não ficou do meu lado, e mesmo sabendo que eu estava
grávida, não me deu o benefício da dúvida e deixou que eu fosse
humilhada depois de tudo que fiz para salvar a sua vida. O que
fizeram contra mim, eu poderia perdoar, só que colocaram a vida do
meu filho em risco por conta de uma mentira, e isso eu nunca vou
esquecer. Não tenho pena dela e nem ligo para o que ela pensa. A
única pessoa que devo me preocupar está longe daqui dormindo
protegido deles, como deve ser.
Deus! Dois anos se passaram e isso ainda dói. Suas palavras
me bateram tão forte que eu fiquei sem ação. Angel não só mudou
na aparência, como na postura e personalidade também. Eu queria
dizer que sinto muito pela perda do bebê. Lorena me contou o quanto
ela havia ficado feliz e que comentou sobre como achava que não
poderia ser mãe. Quando Sebastian me deu a notícia, primeiramente
senti alívio, mas depois de saber de tudo, a culpa me consumiu.
Estraguei tudo. Eu deveria ter cuidado dela, mas minha raiva
me cegou e custou caro para nós dois. Eu ainda a amo. Como não
poderia amá-la? Todo esse tempo separados, parece ter sido em
vão. O sentimento é o mesmo e é como se não tivesse passado um
só dia da última vez que nos vimos.
Assim que a vi, tudo que eu queria era tê-la jogado na parede e
saciado essa ânsia infinita que tem me tirado a paz e toda a saudade
que tenho de nós dois, que nenhuma outra conseguiu me fazer
esquecer.
Quando ela entrou no salão, o ar fugiu dos meus pulmões. Eu
sabia que iria reencontrá-la, só não esperava que as minhas
emoções viriam tão descontroladas. Senti uma avalanche de
sentimentos me atropelar e não vi mais nada, a não ser ela com
aquele almofadinha esnobe. Minha vontade foi de socar a cara do
imbecil só para ter o prazer de vê-lo sangrar até a morte. Depois eu
jogaria a Angel em meus ombros e gritaria para todos os homens
presentes que a comeram descaradamente com os olhos, que ela é
minha e sempre será.
Eu perdi a noção de tudo a minha volta e não consegui desviar
meus olhos da Angel, nem me concentrar em mais nada. O que me
fez errar de novo. Deixei meu posto e fui atrás dela como o cão que
ela me acusou de ser.
— O que pensa que está fazendo, Marco? — Vincent me
empurra na parede, me acertando no rosto.
— Não sei. — digo com sinceridade e cuspo sangue no chão.
— Estamos fora do nosso território e Angel agora está na frente
dos negócios da família dela. Parou para pensar na confusão que
teria se formado se ela tivesse dito que você a atacou ou algo do
tipo? Estaríamos mortos se Lorena não tivesse te tirado de lá.
Estamos em menor número e no terreno inimigo.
Droga! Eu não pensei. Quando vi, já estava lá dentro. Eu
precisava vê-la de perto, pelo menos por alguns segundos.
— Eu me perdi. — O empurro para trás, não querendo brigar
com ele. — Não me venha com sermões, Vincent! Você fez bem
mais que desafiar os inimigos por sua mulher.
— Isso está ficando fora de controle. Esqueça essa mulher, ou
irei considerar uma traição se você me desafiar mais uma vez!
Dou alguns passos para trás com o impacto de suas palavras.
Estou perdendo tudo.
— Marco? Não foi isso que eu quis dizer. — Ele coça a cabeça,
claramente nervoso.
Eu nunca o desafiei e nem deixei de seguir uma ordem sua.
Olha para mim agora. Dois anos se passaram e eu continuo me
sentido traído, sozinho e sedento por ela. Coloquei a vida do capo
em perigo pelo que ainda sinto por aquela maldita. Tão linda e
corajosa! Gostei de vê-la se posicionando sem medo na mesa
cercada de homens poderosos. Eu sei que não deveria, mas orgulho
foi tudo o que senti ao encontrá-la de novo. Minha menina
amadureceu e eu não estava lá participando de sua evolução. Eu
deveria odiá-la depois de tudo que ela fez. Por que não consigo? Por
que me culpo?
— Marco?
Suspiro fundo e tomo coragem de olhá-lo. Tento não
demonstrar o quanto estou abalado.
— E se tivermos errados? — Um nó se forma em minha
garganta só de imaginar que pode existir a possibilidade de eu ter
agido sem pensar. — E se armaram para ela e eu caí feito um
patinho? Não sei o que pensar.
— Talvez. Sem Snake, não poderemos descobrir a verdade.
— Aquele desgraçado desapareceu. Estou começando a achar
que Gabriel o escondeu de nós.
— Se ele tiver feito isso, será um homem morto.
— Com toda certeza será.
— Vamos para o hotel descansar! Por hoje já deu o que tinha
que dar. Lorena precisa dormir também. Todos nós precisamos
esfriar a cabeça.
— Vamos! — respondo sem a mínima vontade de continuar
esse papo emocional.
Entramos cada um em seu carro e partimos para o hotel que
estamos hospedados.
Me tranco no quarto, querendo ficar sozinho, e rolo na cama,
inquieto, não aguentando mais essa agonia.
Me levanto de madrugada, desisto de dormir, me visto e deixo
ordens para que os soldados fiquem atentos a qualquer
movimentação estranha e me liguem se necessário.
Ligo o carro e saio à procura do endereço que tive que trocar
vários favores para me conseguirem mais cedo. Decorei ele de tanto
que li. Não havia ido atrás dela ainda por falta de coragem, contudo,
preciso ouvir da sua boca que ela me odeia. Preciso tocá-la, mesmo
que isso signifique minha morte, como a mesma teve o prazer de
cuspir na minha cara.
Paro a uma distância segura e olho os portões da casa que é
sua atual moradia. Quanta loucura! Me tornei um perseguidor, um
doente neurótico de amor. Que irônico! Me orgulhava de ser calmo e
calculista, sendo que hoje não consigo nem mesmo pensar direito
quando o assunto tem a Angel no meio.
Uma mensagem com a foto do Pietro chega e eu visualizo o
nome da Ashley.
“Estamos com saudade! :( ”
Não respondo e apenas ignoro, como sempre faço. Odeio
quando ela usa o menino para tentar me manipular. Não a vejo como
a boa mãe que tenta me mostrar que é. A criança na maioria das
vezes até mesmo parece ter medo dela. Já pedi que ela não me ligue
ou mande mensagem se o assunto for relacionado a nós dois. Sobre
meu filho, eu estou pronto para atender e continuar me esforçando
para ter uma relação com ele, mesmo não sentindo a ligação paterna
que vejo no Vincent com a Gianna. Eu gosto do Pietro. Ele é
inteligente e tímido. Tento fazer o que posso para que o menino não
se sinta abandonado, no entanto, parece que Ashley não entende
que isso não se estende a ela e que nunca existiu nós dois. Se
depender de mim, isso vai continuar assim.
A batida na janela do carro me assusta e eu olho rapidamente,
puxando minha arma do coldre. Eu a guardo assim que vejo que é a
Angel.
Desço do carro, ficando de frente para a minha perdição, a
dona dos meus pensamentos mais sombrios e de todo o meu
descontrole desses últimos tempos.
— O que faz aqui, Marco? Perdeu a noção do perigo?
— Queria te ver. — falo a verdade.
— Já viu. Agora pode ir embora.
— Angel! A puxo, colando seu corpo no meu. Por favor! Só me
ouça por alguns minutos! É tudo que peço.
Perco seu calor quando ela se afasta, impondo distância entre
nós.
— Por que agora? Você me chutou da sua vida como se eu
fosse um animal de rua, duvidou de mim e ainda me diminuiu ao
valor de nada. Estou melhor sem você. Vá embora!
— Eu não posso. Preciso saber se teve a criança, Angel.
— Eu já disse que a tirei. Ela não existe mais, e como tudo que
houve entre nós, ficou no passado. — Seus lábios tremem e ali vejo
a minha raposinha ferida.
— Eu sinto muito. Eu... Me desculpe!
— Pelo quê, Marco? Pelo que você sente? Por ter duvidado de
mim? Ou por ter me humilhado?
— Pela criança.
Seus olhos escurecem e eu vejo neles somente dor. Fico sem
entender o que falei de errado para deixá-la ainda mais chateada.
— Me responda uma coisa, Marco! Você ao menos tentou ir
atrás da verdade? Ou ficou todo esse tempo esperando que ela caia
como mágica na sua cabeça?
Tento responder, entretanto, me calo por não ter uma resposta
que possa satisfazê-la. Estou perdido todo esse tempo e na maioria
dos dias nem sei como sobrevivo. Me sinto dormente e sem vontade
de continuar me levantando e fazendo meu serviço que antes era
tudo para mim, mas que agora se reduziu a um tanto faz.
— Suma daqui! Volte para a vagabunda da Ashley e vá cuidar
do filho de vocês!
— Angel, eu não estou com ela. — me sinto na obrigação de
deixar isso claro.
— Deveria. Vocês formariam uma família perfeita. Afinal, não foi
por isso que ela armou tudo?
— Não é ela que eu amo.
Me aproximo da Angel e a encurralo no carro. Com tudo de
mim, eu a beijo. Tomo sua boca, despejando toda a minha saudade,
a dor de perdê-la e a dor dela não ser mais minha como eu gostaria
que fosse.
Gemo quando ela morde um dos meus lábios, arrancando um
pouco de sangue.
— Nunca mais ouse aparecer na frente da minha casa e se
aproximar de mim! — Lágrimas escorrem dos seus lindos olhos e eu
me sinto um idiota por ser mais uma vez o motivo de sua tristeza.
— ANGEL! — grito quando ela se vira correndo mais uma vez
para longe de mim. — Eu vou procurar a verdade. Eu prometo.
Seja ela qual for, eu vou tentar concertar isso.
— Vá agora, Marco! Eu quero que suma daqui e nunca mais
apareça! Ou mandarei atirarem em você. — fala sem me olhar e
some para dentro dos portões.
Entro no carro sob a mira das armas dos seguranças dela e
saio em disparada.
Volto ao hotel sentido seu gosto em meus lábios. Me sento no
chão e choro feito um tolo apaixonado. Se Luigi me visse agora, iria
rir de mim e me daria um tiro na cabeça por eu ser um fraco. Talvez
eu mereça esse destino. Um homem que cresceu prendendo as
emoções, sempre se mostrando imbatível e destemido, foi
nocauteado por uma jovem mulher. Porra! Eu sou uma vergonha
para a famiglia. Não mereço nada do que conquistei. Estrago tudo
que toco. Nem mesmo ser um bom exemplo e fazer uma ligação
emocional mais forte com meu próprio filho, consigo. Provavelmente
eu seja como o sádico do meu pai: um merda, inútil, um ser
desprezível. É isso que me tornei sem o meu anjo ao meu lado.
O jogo na cama, indo por cima dele, e rebolo devagar, o
deixando enlouquecido. Gosto de sentir que estou no comando aqui
e Juan é do tipo de homem que come em sua mão depois de uma
noite de sexo bem feito.
— Você é muito gostosa, Angel! — geme me segurando pela
cintura.
Homens! Seguro a vontade de revirar os olhos.
— Venha para mim, querido! Porque eu não vou durar muito. —
Aperto meus seios, imaginando ser outra pessoa que depois de
muito tempo povoa a minha cabeça e tenta me dominar.
Gozo forte mordendo meu lábio inferior para que o traidor não
ouse citar seu nome.
— Angeeeel! — Juan me segue com um grito selvagem e eu
caio na real do que eu fiz. Aquele maldito encontro mexeu comigo
muito mais do que deveria.
Me jogo ao seu lado, não querendo nenhum contato. Prefiro
deixar as coisas a nível físico. Parece tosco uma mulher falando isso,
não é? Nós mulheres somos deusas com quem merece, mas
viramos tigresas quando feridas. Confio meu corpo, porém jamais
meu coração novamente. Esse já tem dono e se chama Enzo Javier.
— Preciso de sua ajuda com um plano. — Coloco para fora o
que está fervilhando em minha cabeça há alguns dias. Para ser mais
exata, desde que descobri que os Vitiello estão armando de derrubar
a Camorra.
Pelo jeito, o tratado de paz com o casamento do consigliere foi
apenas temporário. Não bastando buscar aliança com os Mc's e
alguns membros da própria famiglia, eles querem mais. Pretendem
comandar os nossos carteis como se fossem deles, e nisso eu terei
que me meter. Eu tenho o plano perfeito para derrubar os
gananciosos.
— Qual seria?
— Poderia procurar uma pessoa para mim?
— Tenho meus meios.
— Quero que me coloque de frente ao representante dos
Volkov.
— Como é que é? — Ele se levanta rapidamente. — O que
quer com os russos?
— Parceria. Temos inimigos em comum e a ajuda deles viriam a
calhar.
— Angel, eles não são confiáveis.
— E os italianos são? Estão cada vez mais dentro do nosso
território, e os babacas que comandam a maioria dos carteis andam
fechando alianças com eles, os deixando não só entrarem, como
comandarem nossos negócios de mão beijada.
— Nisso você tem razão. Eu odeio que esses malditos tenham
se tornado fichas carimbadas por aqui.
— E do jeito que estão tomando conta, não vai demorar para
que eles venham para a política. Imagina nós sendo comandados por
alguém escolhido pelos italianos. — jogo minha cartada final.
— Não! Isso não pode acontecer. Temos que fazer algo, e
depressa.
Sorrio com minha vitória.
— E vamos! Temos que buscar aliados fortes que pegarão
nossas lutas e nos deixarão de fora quando a bomba estourar.
Entendeu?
— Claro! Combater inimigos com inimigos.
— Exato!
Meu plano não é fazer uma aliança definitiva, e sim uma
parceria temporária com a máfia russa até eu colocar minhas mãos
em Snake sem ficar em risco. Tenho algumas informações sigilosas e
bem valiosas que irão me ajudar a convencer o líder a ficar do meu
lado. As pessoas ficariam surpresas com o quanto alguns dólares
fazem alguns abrirem a boca. Você descobre até mesmo podres de
seus antepassados.
Luigi não só deixou rastros de podridão por onde passou, como
não fez muita questão de escondê-los, e eu só tenho a agradecer o
escroto por isso.
— Você é muito inteligente, Angel. Daria uma ótima primeira
dama.
Faço uma careta com o seu comentário.
— Ou eu posso entrar na política, me tornar a presidente e
colocar você como meu conselheiro. Que tal? Eu me vejo melhor
nessa posição.
— Você é indomável. — Rio ao ouvir seu resmungo. — Me
considere seu aliado nesse plano mirabolante.
— Adoro quando você usa frases poéticas. — zombo dele.
Ele gargalha, jogando a cabeça para trás, e puxa minha canela
para um beijo. Em seguida sobe para o meio das minhas pernas, me
dando prazer com sua boca maravilhosa.
— O que não faço por você, meu anjo? — pergunta.
— Ainda não testei todas as suas habilidades. — Pisco.
— Deixa eu te mostrar o quanto sou hábil em lhe tirar alguns
orgasmos arrebatadores, querida!
— A tu gusto! — o instigo.
— Com o maior prazer. — Chupa meu clitóris, me tirando
alguns gritos nada sutis.
O prefiro ali, me servindo, como deve ser. Com Juan, eu tenho
o controle e sei que ele não vai poder me ferir.
(...)
— Cadê o príncipe da mamãe? — Abro os braços para que
meu homenzinho corra para mim.
— Mãeeee!
Sorrio boba. Há alguns dias Enzo aprendeu a falar e eu chorei
feito uma manteiga derretida quando ele me chamou de “mãe” pela
primeira vez.
— Você comeu todo o seu papá, mi amor? — o incentivo a
aprender novas palavrinhas.
— Papá! — Aponta para a cozinha, me fazendo rir da sua
esperteza.
Jogo minha bolsa de lado e me sento com o meu filho no meio
da bagunça de brinquedos e brinco com uns bloquinhos de
construção. Faço enormes prédios, apenas para que o ele derrube
tudo e gargalhe com minha fingida cara de espanto.
— Danadinho! Já vi que você é mais de destruir do que de
construir, não é?
— Esse aí será um desmontador. Nunca vi uma criança ter
tanta energia. Estou morto. — Alejandro reclama, como se não
gostasse de fazer piseiro com o meu pequeno.
— Você reclama, mas quando ele sai, só falta colocar Elisa
doida para voltar para casa.
— Nunca reclamei. — Mente na cara dura, me fazendo
gargalhar. — Enzo é um conquistador e me tem de joelhos desde
que nasceu.
— É um príncipe muito lindo. — Toco o narizinho do meu amor.
— Agora me conta! Como foi o encontro com o gostosão do
Marco? — pergunta curioso.
— Alejandro! — ralho com ele por citar o nome do traste perto
do Enzo.
— Uma hora você vai ter que contar.
— Somente quando eu estiver com toda a verdade
escancarada e todos os que tramaram contra mim visitarem o mundo
dos mortos.
— Passa ano, entra ano, e você com esses planos misteriosos.
— E não faria o mesmo se fosse acusado de algo que não fez?
— pergunto chateada.
— Faria sim. Jogaria todos eles na soda cáustica.
— Depois a ruim sou eu. Para resumir, Marco me cercou no
banheiro, perguntou da minha gravidez e eu disse que a abortei.
Também joguei algumas verdades na cara dele e na da mulher do
capo. Depois saí.
— Credo! Cadê a emoção dos detalhes? Quero que me conte
suas reações.
— Surpresa. Acho que eles não esperavam uma Angel direta e
que sabe se defender. O pior nem foi isso. — Suspiro ao me lembrar
dele.
— Conte-me tudo!
— Ele veio aqui e ficou plantado na frente do portão me
esperando chegar.
— Que romântico! — Coloca a mão no coração.
Jogo alguns bloquinhos no meu tio, fazendo Enzo rir dos gritos
dele.
— Do lado de quem você está? — pergunto.
— Do seu, é claro. Tem que concordar comigo que foi um ato
de desespero.
— Foi sim. Eu poderia ter matado ele por invadir aqui.
— E não fez isso por quê? — Me analisa.
Odeio quando ele me coloca contra a parede.
— Não sei. — minto.
— Sabe sim. Só não quer dizer em voz alta.
— Tanto faz. Isso é o que menos importa agora.
— Só espero que não se arrependa de nada do que fizer,
docinho.
— Não vou.
— A vingança é um caminho sem volta e ela nem sempre traz a
paz que procuramos.
— Quero somente limpar meu nome, Alejandro. E se para isso
eu precisar causar uma guerra pelo caminho, vou causá-la para
conseguir o que desejo.
— Às vezes você fala igualzinho ao seu avô. Ele dizia: “O fim
justifica os meios”. E usando essa frase, desertou aldeias sem
sequer sentir remorso.
Sinto um arrepio pelo corpo quando ele termina.
Eu sei que ir atrás da verdade me trará consequências, mas
estou tentando pensar com cuidado e analisar todas as minhas
opções para não falhar. Minha única preocupação é o Enzo e esse é
um dos motivos de eu mantê-lo escondido a sete chaves.
Alejandro senta-se no chão para brincar conosco e mudamos
de assunto. Sem querer me pego pensando no maldito beijo. Marco
está mais forte e com a barba maior. Por um momento me deixei
levar, apenas para me sentir completa de novo, mas logo tudo ruiu
quando me lembrei do porquê estamos separados. Foi como um
banho de água fria.
Preciso achar Snake. Farei de tudo para provar a minha
inocência. Será a minha cartada final mostrar o quanto todos foram
injustos comigo. Aí sim poderei deixar tudo para trás e ser feliz de
novo.
— Trouxe o que eu pedi? — pergunto impaciente ao Sebastian.
— Sim. Todas as gravações daquela semana, com quem entrou
e saiu da casa.
— Ótimo! Quero pessoalmente estudar cada uma delas e achar
quem pode ter possivelmente implantado o celular.
Ele me olha sério e eu bufo indignado.
— Também acha que fiquei louco? — Bato o copo de vodca na
mesa, derramando metade do conteúdo.
— Muito pelo contrário. Estou feliz que finalmente começou a
abrir seus olhos.
— Quer dizer que acredita na inocência dela? — Franzo a
testa, duvidoso.
— Sempre achei estranho, senhor, o fato de coincidentemente
Ashley dizer que Snake foi atrás dela por conta da criança, um
menino que ela tinha certeza que era seu, mas mesmo assim preferiu
escondê-lo durante todo aquele tempo e somente aparecer com
aquela história, logo quando a Angel era alvo dos Mc's. Não faz
sentido.
Olhando por esse lado...
— Você tem razão. Na época não me liguei aos detalhes.
— Se me permite opinar, eu faria outro exame de DNA.
— Acha que ela jogaria tão baixo assim, forjando o resultado de
um exame?
— Com todo o respeito, não é a primeira prostituta que tenta
dar o golpe da barriga em alguém com cargo alto na famiglia.
Será? Eu mato essa vadia se ela estiver me enganado todo
esse tempo.
— Suas observações são muito válidas, Sebastian. Agradeço
pela sua discrição.
— Pode contar comigo para ajudá-lo no que precisar.
— Vou refazer o exame como você me aconselhou. Se eu não
for o pai, quero que faça um serviço para mim. Sei que não preciso
avisar, mas não quero que essa conversa saia desse escritório.
— Entendido. Pode confiar em mim, chefe.
— Pode sair.
Se sua suspeita estiver correta, tudo fará muito sentido. Por que
Ashley só trouxe a criança quase dois anos depois de seu
nascimento? Ela não teria perdido a oportunidade de aparecer antes.
Não sabendo que era mãe do filho do executor. E como Snake soube
da paternidade primeiro que eu, que sou supostamente o pai?
Muitas perguntas sem respostas. Caralho! Por que somente
agora a venda caiu dos meus olhos e estou vendo essas falhas
grotescas? Eu decaítanto assim?
Para desencargo de consciência, é melhor tirar essa dúvida
logo. Mesmo que ela tenha falsificado o exame, eu ainda terei ligação
com a criança. Já lhe registrei e não pretendo fazê-la pagar pelos
erros da mãe.
(...)
ALGUNS DIAS DEPOIS
— Aqui estão os resultados tão esperados. — a enfermeira me
entrega o exame.
Eu tremo quando pego os papéis que parecem pesar muito
mais do que algumas gramas.
— Pode ler para mim? Estou muito ansioso.
— Claro! — Ela sorri. — Você queria saber se tinha alguma
ligação parental com a criança, certo?
— Sim.
— Como expliquei no dia da coleta, esse exame aqui é
diferente do teste de paternidade. Ele estuda mais profundamente o
DNA dos indivíduos.
— Sim. Me lembro da diferença entre um e o outro.
— Okay! — Ela abre o primeiro papel e eu estou suando frio
esperando. — Você não é o pai, mas esse teste aqui comprova sim
laços sanguíneos.
— E tem como identificar quais os nossos graus de parentesco.
Se minhas desconfianças estiverem certas, pode ser que o
menino seja meu irmão. Afinal, Luigi estava a pagando pelos seus
serviços sujos na época em que fugiu.
— Sim. O cromossomo Y bate em alguns pontos. Vê? — Estica
o papel para que eu veja melhor. — São quase idênticos.
— E isso significa o quê?
— Que você está mais para um tio paterno.
Sorrio ao ouvir a explicação dela, faltando gritar de alegria.
Peguei a safada na mentira.
— Você disse tio paterno? — Meu sorriso morre quando eu
repasso suas palavras.
— Sim.
Caio sentado na cadeira. Porraaa!
Que porra é essa, Marco?! — Vincent esbraveja ao olhar os
papeis que joguei em sua mesa.
— Isso, amico, chama-se prova. Eu não sou o pai de Pietro, e
sim um tio.
— Então Ashley falsificou o resultado do outro exame?
— Sim. E com toda a certeza teve ajuda. Esse aí eu fiz por
conta própria sem ela saber. Agora basta descobrir se o pai é você
ou o Romeo.
— Foda-se! Logo de manhã, você me chega com essa bomba
e s soca na minha bunda!
Gargalho alto e Henrique me acompanha.
— Ela está bem mais grandinha do que da última vez que eu a
vi. — debocho, o fazendo me lançar seu olhar de capo recriminador.
— Vejo que seu bom humor voltou, e em uma hora bem
imprópria, eu diria.
— Estou feliz sim. Tirei um peso das minhas costas. E se
Ashley armou isso, tudo conspira para que ela tenha mentido sobre o
resto da história.
— Só essa que me faltava. Lorena vai me matar, cara.
— Faça o exame e tire sua dúvida!
— Podemos tirá-la diretamente da causadora. — Henrique
aconselha. — Se tiver chance do Vincent ser o pai, ela falará.
— Ou não. Mentirosa como é, pode dizer que o garoto é meu,
só para me ferrar. Prefiro fazer o teste. Até mesmo porque se eu não
for o pai, Ashley e o menino continuarão sob minha proteção, já que
Romeo era o nosso irmão, portanto, a criança ainda assim tem o
nosso sangue.
— Penso o mesmo. Até porque teríamos que falar da nossa
ligação com Romeo, e tenho certeza que ninguém aqui quer ser
exposto por ela em praça pública. — concordo com sua linha de
raciocínio. Isso seria um prato cheio para o Conselho conseguir tirar
Vincent da cadeira.
— O que te fez duvidar da paternidade? — Henrique me
pergunta curioso.
— Uma leve desconfiança. Ashley demorou para vir atrás dos
seus direitos. E conhecendo-a, sei que ela não teria esperado tanto
tempo para exigir algo usando o menino se ele fosse realmente meu.
Eu achei que Pietro fosse filho dela com Luigi e por isso pedi um
exame mais detalhado.
— A não ser que seja do Vincent. Ela sabe que os bastardos na
máfia não tem valor. — Henrique fala pensativo.
Franzo a testa quando ele cita o que todos pensam. Eu sou um
desses que ninguém queria ou valorizava, mesmo sabendo o que
Luigi fez com minha mãe.
— Na minha gestão, essa porra não vale de nada. Você mais
do que ninguém deveria saber que nem eu estaria aqui por conta
dessa estúpida lei. E o que eu puder fazer para que todos estejam
protegidos, farei em vida, sendo bastardo ou não. — Vincent grunhe
raivoso.
— Me desculpe! Não quis ofender nenhum dos dois. Para mim
não tem diferença. Família é família. Vocês sabem o quanto ainda
tenho ódio do que Luigi fez à minha irmã. — Henrique tenta concertar
sua falha.
— Tudo bem. Já ouvi coisa pior. — digo.
É por isso que mesmo que Vincent não seja o pai do Pietro, eu
vou assumir essa responsabilidade. Não quero que o menino passe
pelo que eu passei a minha vida inteira e seja punido por algo que
não é sua culpa.
— Se quiserem, eu e Giovanna podemos adotá-lo. Temos duas
meninas, e um menino seria muito bem-vindo em nossa casa.
— Sua proposta é muito generosa, Henrique, porém passo. A
criança não é uma bolinha de ping pong. Se fosse um bebê, até que
iria, mas já tem três anos. Confundir a cabeça dele, só o fará crescer
revoltado, achando que não é o suficiente para ter uma família que
zele por ele. — defendo meu ponto de vista.
— Marco está certo. É nossa responsabilidade cuidar dele e
mantê-lo seguro. — Vincent concorda.
— Vocês que sabem. Se mudarem de ideia, estarei à
disposição.
— Agradeço sua preocupação. Como foi sua viagem ao Milão?
— levo a conversa para outro rumo.
— Muito boa. O desfalque que Luigi deixou está praticamente
inexistente.
— Enfim uma boa notícia! — o capo exclama.
— Diga por você. Eu diria que hoje é um ótimo dia. — o
provoco.
— Quer resolver no ringue, Marco?
— Saudade dos tempos em que eu chutava a sua bunda?
— Qual é o seu problema com a minha bunda, cara?
— Vê, Henrique? Depois que ele se casou com a Lorena, ficou
todo sentimental. Antes não ligava que eu limpasse as suas cagadas.
— Figlio diputtana! — grita nos fazendo rir de novo.
— Se vocês dois não fossem irmãos nessa vida, com certeza
seriam em uma outra. Nunca vi duas pessoas serem tão parecidas e
unidas.
Ele fala isso porque não sabe das minhas escorregadas.
— Eu não me importo com os eventos que formaram a nossa
ligação, nem dos laços sanguíneos duvidosos. Marco sempre seria
meu irmão, pois isso vai além do sangue.
— Quer me fazer chorar? Está quase conseguindo. — disfarço
a garganta seca de emoção.
— Isso é contagioso? Porque ser for, me avisem! Que eu saio
daqui. Minha masculinidade está se sentido ofendida com tantos
dramas. — Henrique esnoba, mas seu sorriso não esconde o orgulho
que sente de nós, seus pupilos.
— O que sabemos sobre a missão dos Mc's? — Vincent
pergunta.
— Ainda nada. As conversas nas ruas é que Snake fez um
acordo com o FBI e está sob a proteção da polícia. — Henrique
confirma nossas suspeitas.
— Não acredito! Gabriel nos passou a perna debaixo do nosso
nariz. — Me levanto e me sirvo com outra bebida.
— Se for verdade, ele está fora do nosso alcance. — Vincent
diz pensativo. — Não podemos cobrar favores depois de tudo que
fizemos para nos livrar do governo.
— Tem que ter um jeito. — Me sento tentando pensar em algo.
— Acredito que o melhor seja esperar o desenrolar das coisas.
Gabriel não irá nos dizer que está com ele. — Vincent retruca.
Fale por ele. Eu não pretendo sentar e esperar a boa vontade
do FBI.
— Não mesmo. — Henrique concorda.
— Enquanto isso vamos focar em trazer Mathias para o nosso
lado. A reunião com o futuro senador não nos trouxe benefício algum.
E pelo que ouvi, o homem não está de acordo com a nossa entrada
em suas fronteiras. Acredito que se ele ganhar, iremos ter muita dor
de cabeça.
— Iremos pensar em uma forma de dobrá-lo. Todo mundo tem
seu preço. Ele sendo um político, não é diferente. — Henrique
aconselha.
— Sei não. Na reunião, além de demonstrar muita confiança em
suas convicções, vi que ele tem bons aliados. — Vincent me olha,
deixando claro que fala da Angel.
— Vou pesquisar sua vida e acharemos algum podre dele. —
digo de antemão, cortando suas chances de falar dela.
Me levanto para ir. Preciso apertar o pescoço de uma certa
serpente.
— Marco? — Vincent me chama.
— Sim?
— Eu sei o que pretende fazer e prefiro que não a assuste sem
ter uma prova mais concreta contra ela. Aguarde ao menos o meu
exame sair! Aísim nós dois iremos colocá-la contra a parede.
— Faça logo! Eu não pretendo esperar mais tempo pela
verdade. Têm furos que somente Ashley pode cobrir.
— Tudo bem. Serei o mais breve possível.
Suspiro impaciente. Me mandar esperar é fácil. Quero as cartas
postas na mesa, e quanto mais cedo, melhor. Pelo menos uma coisa
ficou claro:Ashley mentiu. E se ela teve ajuda para manipular o teste
de paternidade, o cúmplice pode tê-la ajudado em outros planos, e
eu vou descobrir quem foi, nem que seja a última coisa que eu faça
em vida.
— Tenho o que me pediu. — Juan entra animado.
— Sério?
— Sim. Quero ser muito bem recompensado depois. Não foi
fácil conseguir o contato do homem.
— Querido! Se ele for tão valioso quanto eu imagino, será um
prazer pagar esse favor.
Ele sorri de um jeito cafajeste e eu me pergunto porque não
posso amar um homem desse. Juro que me esforcei, mas algo deve
ter quebrado. Só tenho olhos para o meu filho.
E para o Marco. — minha mente grita e eu a mando ficar
caladinha. Ela só me colocou em encrencas.
— O nome do chefe é Andrey Volkov. Ele está há pouco tempo
no lugar do pai. É solteiro e muito ambicioso. — Juan me informa.
— Algum ponto fraco?
— Mulherengo. Vive nas revistas de fofocas com beldades
incríveis. Mas há algo muito interessante sobre sua posição como
líder.
— O quê? — pergunto esperançosa de que seja mais algum
segredo sujo que me ajude.
— Parece que ele matou o pai quando descobriu um segredo
do passado que envolvia a Camorra. Por isso a sede de vingança por
essa família.
— Que interessante! — Bato os dedos na mesa. — Alguma
dica do que seja? — questiono como quem não quer nada, só para
constar se ele sabe demais.
— Tudo que sei é que tem a ver com o desaparecimento de
uma das suas irmãs. Foi tudo que consegui descobrir sobre a relação
dele com a família.
Pego o dossiê do Andrey e começo a folheá-lo. Tem
informações sobre seus negócios e endereços de onde eu possa
encontrá-lo.
— Maravilhoso! Isso é mais do que o suficiente. Sigo sozinha a
partir daqui.
— Jantar hoje à noite?
— Claro! Por que não? — Seguro sua camiseta e o puxo para
um beijo.
— Quando vai me apresentar adequadamente ao seu tio?
Precisamos oficializar direito. Minha família quer conhecê-la.
— Não estrague o clima! Até o momento, você está com a bola
toda.
Ele faz uma carinha de desanimado e eu me culpo mais uma
vez por somente usá-lo.
— Te espero no mesmo lugar então.
— Juan? — o chamo quando ele se vira para sair.
— Sim?
— Me espere nu! Quero compensá-lo com tudo que tiver direito.
— Mordo o lábio de modo sedutor e pisco para ele.
— Às suas ordens, tigresa. — Manda um beijo da porta e a
fecha em seguida.
Suspiro derrotada, me jogando na poltrona. Isso está ficando
insustentável. Juan é um bom homem e eu não sou, nem nunca
serei, a mulher certa para ele. Às vezes acho que tio Alejandro tem
total razão quando me diz que tudo isso vai me consumir a um nível
tão alto que não vou poder mais controlar.
Ah, Marco! Seu desgraçado! Por que você tinha que me marcar
tão profundamente assim? Tudo poderia ter sido diferente se não
fosse pelas circunstâncias que nos separaram.
Dias melhores virão. Tenho que continuar pensando positivo e
não fraquejar.
MOSCOU - RÚSSIA
Horas de viagem tensas e cansativas. Tudo para conseguir falar
com o líder da máfia russa que não pode sair da sua bolha para ir ao
meu encontro em outro país. Espero que valha a pena deixar meu
bebê longe de mim por algum tempinho. É a primeira vez que me
afasto dele para ir tão longe.
—Tem certeza que seguirá com isso, docinho? — Alejandro
pergunta ajeitando seu terno.
— Claro! É nossa chance de nos livrarmos do Lucca em nosso
território.
— Está fazendo isso por conta da invasão às nossas fronteiras
ou porque seu amado está no meio do fogo cruzado?
Caralho! Ele não perde uma.
— Estou pensando em nós. O resto é consequência.
— Sei! Vou fingir que acredito.
— Se der certo, nós junto com eles, derrubaremos os Vitiello, e
por fim, os russos pegam o Snake para mim. Só há vantagens.
— Se sairmos daqui com vida, você quer dizer, né?
— Pense positivo! — Bato em sua mão para acalmá-lo.
— Será que ele virá?
— Claro que sim. Minha proposta foi tentadora. Nem que seja
por curiosidade, ele aparecerá.
— Espero que tenha algo muito bom para persuadi-lo. Há um
grande motivo para nenhum cartel ter feito parceria com eles até
hoje. Você está quebrando todas as regras.
— Isso porque vocês não tinham uma mulher inteligente como
eu no comando. — Pisco os olhos, brincando com ele, o fazendo rir.
— Somos estrategistas, tio. Você me ajudou a montar um bom plano.
Confie em mim! Eu sei o que estou fazendo.
— Que Deus nos ajude.
Pouco tempo depois o Andrey chega. Todo o lugar parece parar
com sua entrada. O cara tem presença, uma áurea pesada e ainda
por cima é muito bonito. Seus olhos escuros se prendem aos meus
sem desviar. O desgraçado está tentando me intimidar.
— Me dê um motivo para eu não esquartejá-los e mandar seus
membros serem espalhados por todo o México! — ele se pronuncia.
Alejandro chuta a minha canela por debaixo da mesa enquanto
lança um olhar de “eu te avisei”. Não me deixo abater e ainda rio
como se aquilo fosse uma piada muito engraçada para mim.
— Eu já tinha ouvido que vocês russos são charmosos e
seguros de si, mas não que eram comediantes. — rebato.
— Devo admitir que você é muito corajosa.
— Esse é meu nome do meio, querido.
— A que devo a honra de suas ilustres presenças em meu
país? — Se senta na cadeira à minha frente.
— Devo dizer que é um prazer finalmente conhecê-lo
pessoalmente. — Sorrio.
— Espero que tenha algo realmente do meu interesse. Fiquei
curioso quando recebi seu recado. Você é bem... — Me olha devagar,
descaradamente parando de propósito em meus seios, que graças à
amamentação estão bem fartos. — Ousada.
— Digamos que temos assuntos mal resolvidos em comum, e
juntos tenho certeza que podemos nos ajudar.
— E seria? — Coloca seu braço na mesa, me estudando.
— Destruir alguns italianos.
Ele sorri interessado.
— Continue! — Faz sinal para que o garçom venha à nossa
mesa. — Aceitam uma bebida?
— Obrigada! Não bebo. — Não aqui, pelo menos.
— Eu vou acompanhar. — Alejandro entra em sua performance
de homem importante.
— Senhorita Angel... — Ele faz uma pausa para beber seu
drink. — Não posso entrar em território americano. Meu nome está
no topo dos mais procurados pelo FBIe eu não vou deixar que eles
me tenham tão facilmente assim. Nem por uma mulher atraente
como você. — Sorri safado.
— Quanto a isso... — Lhe entrego a pasta com todas as
informações sobre seus negócios. — Tenho amigos influentes que
podem te ajudar a recuperar sua posição e entrar e sair de lá sem ser
notado.
Ele pensa por um tempo e eu espero pacientemente.
— Diga o que quer! — pede.
— Quero dois favores seus. Que destrua os Vitiello e pegue
alguém que está sob o comando de um certo agente.
— Gostei da primeira. Da segunda nem tanto.
— É um serviço bem pessoal e preciso que alguém de fora o
faça.
— Por que os Vitiello? Meu alvo sempre foi a Camorra.
— Então você não sabe que os Vitiello ajudaram o Luigi a
sequestrar sua irmã e eventualmente matá-la?
Sua expressão fica sombria e eu juro que ele irá pular no meu
pescoço.
— O que sabe sobre a minha família?
— O suficiente para ajudá-lo em sua vingança.
— Não tenho interesse em sua proposta. — Se levanta para
sair.
Eu jogo a minha última carta na manga.
— Nem pelo seu sobrinho?
Ele para e senta novamente, agora devagar.
— Deve ter se confundido. Eu não tenho sobrinho.
— Tem sim. Sua irmã teve um bebê e ele está vivo. Te conto
onde a criança foi colocada e com quem, se me prometer que irá
deixar a Camorra fora dessa luta e focar somente em Lucca Vitiello, o
seu maior inimigo ainda vivo para você cobrar a dívida da morte de
sua irmã Louise.
— Como posso confiar em sua palavra? Meu pai acreditou nos
italianos, e olha o resultado.
— Vocês são conhecidos por não cumprirem promessas, tanto
quanto eles.
— Não seríamos a Bratva se ficássemos por aí distribuindo
alianças, moça. A pergunta aqui é: vai querer correr o risco mesmo
assim?
— Primeiro: não sou sua inimiga, Andrey, e muito menos
italiana. E segundo: eu quero justiça, tanto quanto você. É pegar ou
largar.
— Me dê uma prova do que acabou de me falar!
— Aqui. — Entrego algumas fotos e uma certidão de
nascimento que comprovam o que falo. — Sou uma mulher
preparada, e só para que saiba, o menino está com outro nome e
bem protegido. Só darei a sua localização quando nosso tratado for
firmado e executado.
Andrey visualiza por um longo tempo as documentações e eu
começo a ficar insegura e duvidar que ele vá aceitar.
— Tudo bem. Tem a minha palavra de que ajudarei e que por
enquanto não irei atrás de Vincent Lourenço.
Foda-se esse babaca! Só não quero ver Marco se matando
para salvá-lo de novo. Temos ainda muito o que resolver antes que
ele dê seu último suspiro.
— Temos um trato? — Estico minha mão.
— Temos. Em breve entrarei em contato. Enquanto isso, cuide
para que a minha entrada não seja rastreada!
Suspiro aliviada. Já é alguma coisa.
— Te dou a minha palavra.
Ele sai do restaurante e eu me viro para Alejandro, que parece
que vai vomitar a qualquer momento.
— Obrigada, tio! Foi de grande ajuda a sua presença.
— Nem vem! Meu cérebro travou na parte em que o Lucifer
falou em me esquartejar.
— Você não tem jeito mesmo. — Balanço a cabeça. — O
importante é que tudo foi como esperávamos.
— Juro que vi minha vida passando diante dos meus olhos. Eu
pequeno, papai me batendo quando me pegou com o menino que eu
gostava, minha primeira noite de amor, eu sendo jogado em um
terreno qualquer e todo cortado em vários pedaços... — sua voz vai
afinando conforme vai falando.
Eu não aguento e caio na gargalhada.
— Quanto drama! Vamos embora! Esse lugar me dá arrepios.
— Se fosse só em você. Me senti indo para o abatedouro desde
que desci do jato.
— Ai, tio! O que seria de mim sem você? Deveria ser um
comediante.
Nos abraçamos e entramos no carro para voltar.
Primeira parte do plano:okay. Vamos para a próxima etapa!
Entro na casa que evito ao máximo comparecer, procurando por
Pietro. Nos últimos dias quase não o vi e minha consciência começou
a me cobrar por essa falha.
— Marco? Que prazer em vê-lo! — Ashley vem na minha
direção e eu desvio meus passos, a deixando no vácuo.
— Cadê o menino? Vou levá-lo para passar o final de semana
comigo.
— Em dois tempos estaremos prontos, como uma família deve
ser.
— Somente eu e ele. Você fica.
Seu sorriso escorrega.
— Eu não entendo. Dois anos esperando te esperando tomar
uma atitude e me pedir em casamento para que juntos possamos
criar nosso filho, e você só me ignora.
Minha vontade é de pegar o papel do exame e fazê-la engolir
junto com sua falsidade.
— O único compromisso que terá de mim é esse aqui. Com
você, eu não quero nada. Só a sua presença me enoja. — Pietro! —
grito para chamar a atenção do menino.
— Sua prostituta não vai voltar, Marco. Angel nunca te amou
como eu. Você espera por uma mulher que na primeira oportunidade
boa que teve, te enganou.
Em dois passos, eu a empurro na parede e aperto seu pescoço
da maneira que venho imaginado nos últimos dias.
— Nunca mais fale dela! Você não vale o chão que ela pisa,
sua vagabunda!
— Marco! Por favor! — Seus olhos saltam e ela começa a ficar
vermelha, buscando ar.
— Papai! Me chamou? — a voz doce de Pietro me tira do
transe, no qual estou ansioso para ver o fim da Ashley.
Solto ela e me viro de frente para o menino.
— Ei, campeão! Adivinha o que vamos fazer!
— Acampar? — pergunta incerto.
Há um tempo ele me pediu para levá-lo para acampar, como
seus colegas contaram que fizeram com seus pais. Sobretudo, meus
dias atrás de provas contra a Ashley tem ocupado muito do meu
tempo.
— Isso e tomar aquele sorvetão de chocolate que você tanto
gosta.
— Ebaaa!
Sorrio com sua animação.
— Pegue suas coisas! Temos que chegar cedo para pegar
alguns peixes. Acho que tenho que te ensinar a pescar também,
hum?
— E vamos assar marshmallow na fogueira?
— Claro! Que acampamento seria esse se não tivesse muito
chocolates e marshmallow?
— Legaaal! — Sai correndo, quase tropeçando nas coisas.
— Vou te dar dois segundos para sumir da minha frente,
Ashley, ou vou redecorar essa sala de vermelho carmesim, e te
garanto que não será com tinta. — aviso não suportando olhar sua
cara.
— Você continua o mesmo. Se acha melhor que os outros e é
tão ruim quanto o Luigi foi. Ele deveria ter te matado quando teve a
chance. — cospe seu ódio.
— Como eu deveria fazer com você agora? — Pego minha
faca. — Lembre-se querida, que você veio a mim e entrou de volta
para a máfia, não o contrário! O menino já está com meu sobrenome,
então eu não preciso de você para mais nada. Ninguém sentirá a sua
falta quando morrer, porque não é ninguém importante. — digo baixo
e friamente.
— Monstro! Você é um monstro, Marco Moretti! — Sai chorando
escada a cima.
Pietro volta com sua bolsinha e eu o pego, saindo rapidamente
da casa, antes que eu descumpra a minha palavra dada ao capo e
mate a Ashley dolorosamente por tudo que ela me fez passar.
Entrar novamente na terra do tio Sam é tanto animador quanto
revoltante. Me faz lembrar de uma época sombria que eu gostaria de
esquecer. Por muitos anos procurei pela minha irmã gêmea, e
quando estava quase conseguindo colocar as mãos no desgraçado
que a levou de mim, fui pego em uma armadilha do FBIcom a ajuda
dos malditos italianos. Por sorte bati em retirada a tempo e voltei para
a minha terra, no propósito de me reerguer e voltar um dia para
cobrar a minha dívida de sangue. E graças a uma loira de boca
esperta e um corpo escultural, esse dia chegou mais cedo do que eu
esperava.
Confesso que pensei em não cumprir suas exigências. Nunca
fomos conhecidos por seguir as regras ou por sermos bonzinhos,
mas darei por enquanto uma chance à mulher que teve coragem de
viajar para o meu território e me encarar de frente. Ela com certeza
tem mais bolas do que qualquer homem que já encontrei em meus
trinta e oito anos.
— Angel! É um prazer revê-la! — Beijo sua mão. — Bela como
sempre.
— Encantador! Como foi a viagem?
— Melhor do que eu esperava. — confesso animado.
— Maravilha!
— Ansiosa para pôr as mãos no seu cara? — pergunto curioso
sobre a história dos dois.
— Você não faz ideia. Temos contas para acertar há anos. Além
de que ele é valioso para uma troca que eu quero.
— Bom! Tudo que eu quero é terminar e sair daqui. Estou
ansioso para eliminar um certo capo.
— Imagino. Te encontro onde combinamos.
— Okay.
— E... Andrey? — ela me chama e eu me viro para vê-la. —
Pelo amor de Deus, não seja pego!
— Não se preocupe, linda! Você não vai se livrar de mim tão
facilmente. — Pisco, a fazendo me xingar de algo que não entendo.
Entro na van rindo.
— Senhor Andrey! O agente estará escoltando em uma hora o
homem que você procura.
— Vamos cercá-los. Preciso que o serviço seja rápido e limpo.
Temos que ir para Las vegas o mais rápido possível.
— Como quiser.
— É hora do show. — falo fazendo meus homens rirem da
piada.
Montamos a armadilha e ficamos aguardando a passagem do
carro que nos foi informado.
Não muito tempo depois avistamos o comboio aparecer.
— Veio mais carros do que nos foi informado.
— Mudança de planos, meus amigos. Vamos fazer uma
bagunça inesquecível. — ordeno.
Meus homens jogam algumas bombas caseiras na direção dos
carros de trás e chuva de tiros pipocam como fogos de artifício aos
meus olhos.
Alcanço o carro, onde tenho certeza que o agente está, e meto
bala no trinco.
— Se afaste, filho da puta!
Gargalho com a coragem do tira atrevido.
— Eu acho que não. Você está cercado, e aí dentro tem o que
eu quero. Adivinha quem vai se dar mal!
Ele olha a sua volta, vendo seus companheiros no chão e
alguns dos carros virados pegando fogo. Em seguida trinca o maxilar
e se afasta da porta.
— Muito bem! Jogue a arma no chão, Gabriel! Você tem sido
um pé nas minhas bolas há muito tempo. Seria horrível eu ter que
matá-lo aqui.
— Nós iremos pegar você. Não sei como entrou aqui e nem
quem te ajudou, mas vou caçá-lo e pegá-lo. É só uma questão de
tempo.
Sorrio desdenhoso.
— Boa sorte ao tentar! Enquanto isso, o meu trabalho é te
atrasar.
Disparo dois tiros em sua direção, acertando um em seu braço
e o outro um pouco acima da cintura.
— Desgraçado! — grita segurando o braço.
Eu chego mais perto e chuto sua arma para longe.
— De nada. Considere um presente ainda estar respirando.
Vejo meus homens tirarem o imbecil sapateando do carro e
levá-lo para a van.
— Foi muito bom rever você. Fica para uma próxima a nossa
conversa amigável. — falo.
— Não haverá uma próxima, porque você será um homem
morto.
— Ingratidão é a pior forma de agradecimento, agente.
— Foda-se!
Me viro para ir embora e terminar minha visita por aqui.
Os carros param do lado de fora e eu fico onde estou para
analisar se mais alguém está na espreita. Confio em Andrey, mas
desconfiando.
Eles sobem as escadas com o meu adorável ex-marido e o joga
no chão como um saco de batatas.
— Missão dada é missão cumprida. — Andrey diz debochado.
— Quando eu disse para ser discreto, não incluía você
aparecendo poucas horas depois de sua chegada nos noticiários,
Andrey.
— Citaram meu nome?
— Não. Mas não precisa de muita inteligência para saber que
era você.
— Ossos do ofício. Saiu um pouco dos meus planos originais,
mas o importante é que deu certo. Agora não me leve a mal. Sou um
homem de negócios e cumpri com minha parte no trato. Falta a sua.
— Cumpriu com a primeira parte do combinado. E os Vitiello?
— pergunto apenas para confirmar se ele não deu para trás.
— Estou indo para lá. Ele será carta fora do nosso baralho.
— Quando terminar o serviço, terá o que quer. Não vou lhe
entregar o endereço sem ter certeza de que você não me deixou na
mão.
— Você é dura na queda. — Se aproxima lentamente de mim e
passa um dedo em minha bochecha. Dou tudo de mim para não me
afastar e socar sua cara. — Não tente me enganar, Angel! Não vai
me querer como seu inimigo.
— Suas ameaças não surtiram efeitos da primeira vez, Volkov,
e também não me farão correr agora. Não me tenha por tola!
Gemidos no chão chamam a nossa atenção e eu olho para o
causador de toda essa confusão.
— Seu convidado acordou. — Ele aponta para Snake se
debatendo no chão, amordaçado.
— É melhor você ir. Sabe onde me encontrar quando tiver feito
o que me prometeu.
— Eu vou, e em poucos dias estarei de volta. — Sai da sala
com seus homens.
Ando devagar saboreando o medo e a raiva nos olhos de
Snake.
— Quanto tempo, querido! Soube que estava atrás de mim. —
Chuto seu rosto várias vezes, e quando me dou por satisfeita, dou
sinal para que meus soldados o leve para baixo. — Quero que vocês
o tratem da maneira que tratamos os nossos inimigos. Somente
depois irei vê-lo.
— Considere feito. — Camillo o leva da minha frente.
A partir de agora, todas as coisas têm que ser muito bem
pensadas. Arrancarei tudo dele, e depois que tiver toda a verdade,
farei uma troca com o Marco. Snake por Ashley. Sim. Temos muito a
conversar. Eu sei que ela estava por trás de tudo que me aconteceu.
Só não pude provar naquela época. Meu sexto sentido me diz que
dessa vez eu não só estou certa, mas que também terei como provar
a minha inocência a todos eles. Quero ver Marco de joelhos me
implorando perdão com lágrimas de sangue por tudo que me disse e
me fez passar. Só assim eu poderei me sentir vingada.
(...)
Desço as escadas escutando as conversas e os risos dos
homens. Abro a porta e todos eles param o que estão fazendo para
me encararem.
— Tudo bem, senhora?
— Sim. Fizeram tudo?
— Tudo que a senhora pediu. A câmera foi montada e o rapaz
já teve um tratamento VIP.
— Ótimo! Acorde ele!
Camillo liga a mangueira e o encharca. Snake acorda e começa
a tossir pela intensidade da água sobre seu rosto e eu saboreio de
sua tortura, lembrando das vezes em que ele me deixou trancada no
quarto, com fome, no frio, machucada pelos seus abusos constantes
e sentido abstinência pelas drogas.
Ele me olha por algum tempo com apenas um de deus olhos
abertos. O outro está fechado pelas pancadas que levou.
— Você não parece atraente. — debocho.
— Sua vagabunda! Você que está por trás disso tudo?
— Claro que sim. Não achou que eu ia deixar você ganhar
imunidade do FBIe sair livre, não é?
— Eu vou te matar! — grita revoltado.
— O único defunto aqui será apenas você. Quero saber tudo
que andou fazendo contra a Camorra e contra mim, e talvez eu não
te entregue ao capo para acabar contigo. Aposto que o cara está
louco para por as mãos no homem que andou tramando com os seus
inimigos contra ele.
Ele gargalha.
— Depois do que te fizeram, ainda quer ajudar seu amado?
Bastou a ex voltar que ele te jogou para escanteio. Você continua
sendo um lixo. Ninguém te quer, porque não vale nada.
Suas palavras me atingem muito mais do que eu gostaria. É
exatamente assim que me sinto: rejeitada, ferida, usada por todos e
jogada fora quando não sou mais o suficiente.
Disfarço minha dor e debocho.
— Ajudar? Vejo que você nunca me conheceu bem, ou saberia
que tenho muito mais interesse pessoal. Se olhar direito a sua volta,
não sou eu que estou amarrada aíe nem com os dias contados.
— Veio correndo para a sua família. Eu deveria ter imaginado
que faria isso. No fim, parece que não é tão diferente de mim ou do
seu pai.
— Não, querido. Engano seu. Eu sou muito pior. Jogue mais
água e dê um choque nele, Camillo! Talvez assim ele entenda quem
está no comando aqui.
Camillo faz o que eu mando, e quando Snake está quase
perdendo a consciência, ele para.
— É muito prazeroso te ver aía minha mercê. Por muitos anos,
eu imaginei como te mataria. E veja isso! Não sinto arrependimento,
nem pena. Última chance para você se comportar e me contar tudo,
ou vai sentir na pele o que é ter seu corpo usado contra a sua
vontade várias e várias vezes.
— O que quer saber?
— Conte-me, Snake! Foi você que ajudou a Ashley, não é?
— Sim.
Aperto as mãos com ainda mais raiva ao ter a minha
confirmação.
— Você que foi atrás dela, como ela disse?
— Não. Ela me procurou e ofereceu uma parceria.
— A troco de quê?
Eu já desconfio, todavia, quero que ele fale.
— Eu a ajudava entrar na Camorra e ela me ajudaria a te tirar
da proteção do capo.
— Eu não entendo. Se ela tinha a criança, não precisava de
você.
— O menino não é filho do Marco. Eu paguei uma enfermeira
para forjar os documentos. — diz com tanta naturalidade que me
deixa com sangue nos olhos.
— Desgraçado! Constantemente achando um jeito de me ferir.
Eu sempre fui manipulável para você. Quando viu que não podia me
controlar, me viciou para continuar com seus joguinhos sádicos.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Meu filho foi colocado em
risco por uma mentira. Eu fui quebrada de todas as formas,
simplesmente por ser quem sou.
Vou até a mesa, onde tem algumas armas de tortura, e pego
uma barra de ferro. Volto até Snake e começo a bater nele. Todas as
imagens vêm à minha mente: a humilhação na festa, Marco me
jogando na rua e duvidando da paternidade...
Jogo toda a mágoa acumulada em cada pancada que acerto
nele. Lágrimas descem pelo meu rosto, me rasgando por dentro.
— Senhora! Vai matá-lo. — Camillo me alerta.
Paro e olho Snake desmaiado.
— Você vai levar um recado para mim com essa filmagem. —
Vou até a câmera e a desligo. — Quero aquela piranha nas minhas
mãos e não vou aceitar um “não”como resposta. Entendeu?
— Entendido.
Saio tremendo e passo por todos os rostos surpresos com a
minha explosão. Depois de tudo, ainda me sinto frágil.
Entro no carro para voltar até o meu filho. Preciso dele em
meus braços para me lembrar do porquê continuar indo até o final,
mesmo que isso me destrua de vez.
A sala pesa com a caixa sobre a mesa e eu tenho a impressão
de que tudo a nossa volta cheira a morte. As expressões são
fechadas e até mesmo Vincent está tão transtornado que Lorena não
ousou ficar para saber o que aconteceu. Chegar perto de qualquer
um nesse momento é um suicídio.
Eu me encosto na parede e daqui não tenho coragem nem de
mudar de posição. Eu sinto vergonha. Sim. Vergonha de ter a
colocado nessa posição de se sentir tão sozinha e desesperada que
precisou ir procurar ajuda com os nossos inimigos para nos provar o
quanto errados todos nós fomos com ela. Minha menina está em
perigo e a famiglia também. Tudo que lutamos por anos, estamos
vendo cai peça por peça diante dos nossos olhos, sem sabermos o
que fazer. Eu não tenho ninguém a quem culpar, a não ser a mim
mesmo. Eu não fiz meu trabalho direito e cada falha minha foi
criando uma bola de neve que ficou extremamente descontrolada, e
algumas pessoas, sendo elas as mais próximas de mim, pagaram
caro por minhas estúpidas e egoístas escolhas.
— O que vamos fazer? Os Vitiello foram derrubados pelos
russos. A guerra foi declarada. É questão de tempo até virem atrás
de nós. — Henrique diz o óbvio que nos tem de mãos atadas sem
sabermos o que será do amanhã.
— Não chega a tanto, Henrique. Logo eles se refazem. Com
certeza já escolheram outro capo para governar. — digo o que
penso.
— Tudo por culpa daquela mulher. Ela os trouxe para cá.
Tínhamos conseguido afastá-los, e olha onde estamos de novo. —
Vincent se senta e coloca as mãos no rosto.
— Angel fez o que qualquer um de nós teríamos feito. Ela
sozinha provou o que todos nós no fundo já sabíamos. Fomos
injustos e a deixamos por sua conta, quando deveríamos ter lhe dado
ao menos uma chance de se defender. — minha voz fica trêmula no
final das minhas falas, porque eu fui o pior deles.
Sinto a necessidade de esclarecer suas atitudes. Angel apenas
se defendeu. Ninguém pode culpá-la por procurar aliados. Se eu não
tivesse sido tão idiota, eu teria a ajudado e ficado ao seu lado, como
deveria.
— Ainda ousa defende-la? Ela se aliou aos Volkov, Marco! —
Vincent grita.
— Eu fui o causador de tudo isso. Eu irei concertar.
— Ah, vai? Como? Vai se render às chantagens absurdas da
Angel, depois dela claramente ter se juntado aos nossos inimigos e
nos fazer uma ameaça? — Aponta para a caixa, onde tem a mão de
Snake.
— EU COMECEITUDO ISSO, VINCENT! — grito com ele. —
Somente eu poderei dar um fim.
— Nós todos temos nossa parcela de culpa. Ela não é tão
inocente quanto você pensa e essa filmagem mostra muito bem isso.
— É a mim que ela quer. Fui eu que fiz promessas e na
primeira armadilha descumpri. Tenho que pagar pelos meus erros.
— Não ouse fazer o que eu acho que pretende! — Vincent me
joga na parede e soca a minha cara. É a segunda vez que brigamos,
e como na primeira, não me defendo. — Seu filho da puta! Não me
venha com merdas para cima de mim!
— Eu preciso fazer isso.
— Do que vocês estão falando? Marco, o que vai fazer? —
Henrique se levanta de onde apenas nos observava e vem na nossa
direção.
— Ele quer se entregar ao cartel. Depois de anos para
conseguir tudo que merecemos, Marco quer jogar tudo pela janela e
se sacrificar.
— Não! Vamos pensar em outra coisa. Você não precisa fazer
isso. Eu te treinei para ser o melhor, um homem de honra, e não um
covarde que se rende. — Henrique tenta argumentar.
— Já está decidido. — afirmo convicto.
— Você não vai! Eu te proíbo de fazer qualquer coisa que te
coloque em perigo!
— Não estou te pedindo, Vincent. Estou afirmando que vou até
ela, como pede na porra do papel.
— É capo! Eu sou seu capo e estou lhe dando uma ordem.
Ninguém sai daqui sem que eu permita! Não me faça atirar em você,
Marco!
— Então vai ter que fazer isso, irmão.
— Eu vou ter que pará-lo e mandar irem atrás de você. — Seu
rosto está inexpressivo de emoções.
Eu sei que Vincent está tentando ser forte e manter a pose de
durão, mas está tão perdido nesse momento quanto eu. Ele fará
qualquer coisa para não me ver sair.
— Você não pode me pedir isso. Não você. Não depois de tudo
que fiz por nós.
— É por ter muita consideração à nossa história, que não lhe
deixarei se matar indo lá.
— Eu prefiro morrer do que viver mais um dia longe dela. Olhe
para mim! Eu não sou mais o mesmo. Estou morto por dentro e nem
sei mais o que quero. Estou perdido, sobrevivendo dia após dia
nesses dois anos. Se for o meu destino, quero morrer pelas mãos da
mulher que fez meu coração bater de novo, que se entregou a mim e
eu abandonei. Minha culpa não me deixa ter paz.
— Tem ideia do que está fazendo? Em que posição me
colocou?
— Tenho. Nem você e nem ninguém vai me fazer mudar de
ideia. Se for me matar, faça isso nesse momento, porque eu irei com
ou sem o seu apoio.
— Muito bem. Você não me deixou escolha. — Ele vira as
costas e vai até sua mesa se sentar. — Se sair por aquela porta, vou
considerá-lo um traidor. Será destituído do seu cargo e não entrará
mais em meu território.
— Vincent! Isso é muito precipitado e sórdido. Está falando do
seu irmão, não de um simples soldado. — Henrique tenta apaziguar
a situação que não tem mais volta.
Eu o entendo. Não estou com raiva da sua decisão, todavia,
não significa que isso doa menos.
— Até um soldado me respeita mais do que ele, Henrique. —
Vincent fala e eu sinto a dor me rasgar, como se ele tivesse me
enfiado seu punhal e girado várias vezes. — Se Marco for, não fará
mais parte da famiglia.
Uma decisão difícil e irreversível.
— Como quiser, capo. — dou minha última palavra.
Deixo, depois de anos juntos lutando e o protegendo, que ele
me veja por completo. Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto e
silenciosamente me despeço dele. Selo meu destino nesse
momento, deixando clara a minha posição.
— Marco? Pense um pouco mais! — Henrique tenta me parar.
— Eu sinto muito, tio. Pela primeira vez vou pensar em mim. Eu
não sou uma pessoa que vocês iriam querer por perto. É melhor
assim para todos nós.
Os olhos do meu irmão estão lacrimejando, mas mesmo não
gostando dessa situação, ele não dá o braço a torcer. Essa é a minha
família. Henrique não seria o consigliere se falasse que a decisão é
errada e nem Vincent seria o chefe se aceitasse tudo numa boa.
Mesmo me doendo, dessa vez eu escolho a Angel. Eu já coloquei a
organização sobre meus desejos por muito tempo, mas dessa vez é
pessoal e eu não tenho escolha. Irei até ela e acabarei de vez com
esse mal-entendido.
— Angel! Eu estou aqui como pediu. — os gritos me assustam.
— Marco? — Levanto para olhar pela janela.
— Acho que seu amado veio a mando da Camorra. —
Alejandro diz ao meu lado, o olhando também.
Dias se passaram e a Camorra não respondeu ao meu envio.
Eu achei que eles não iam aceitar.
— Só vejo ele. Vincent não o mandaria sozinho. — suponho.
— E parece com muita raiva.
— Droga! Vou descer e resolver.
— Cuidado! — me adverte.
— Proteja o Enzo!
— Deixe comigo, docinho!
Desço as escadas correndo e saio para o jardim.
— Devemos atirar? — Camillo pergunta.
— Não. O traga para mim no escritório.
— Okay.
Volto para casa e sento em minha cadeira, o esperando.
Pouco tempo depois, ele entra, e para a minha completa
surpresa, se joga no chão e se ajoelha. Mesmo que eu tente me
manter indiferente e fria, meu coração bate mais forte por tê-lo tão
perto, do jeito que eu queria.
— Estou aqui, Angel, como pediu. O único culpado por tudo foi
eu. Puna somente a mim!
O analiso, prestando atenção agora nas suas olheiras e na sua
aparência abatida. Definitivamente não é o Marco convencido e cheio
de si que eu conheci.
— Talvez eu faça isso. Costumamos fazer bem pior com nossos
inimigos. — repito suas falas daquela noite.
Ele apenas fica de cabeça baixa, submisso e derrotado.
— Me torture! Me mate! Faça o que quiser comigo! Só deixe a
Camorra em paz! — Abre os braços, entregue.
Filho da puta!
— O capo te mandou de novo para você ser morto no lugar
dele? Que chefe exemplar! — debocho.
— Eu escolhi vir. Deixe eles de fora da sua vingança!
— A Camorra nunca foi meu alvo. Tudo que fiz foi somente por
sua causa. Até mesmo ter mandado o Andrey matar o Vitiello, que
estava tramando contra vocês.
Ele balança a cabeça, confirmando que entendeu.
— Onde está a Ashley? — pergunto tentando recuperar meu
fôlego.
— Lá fora com seus homens.
— Ótimo! Assim irei acabar com isso de uma vez.
Ele levanta os olhos, os prendendo em mim.
— Me perdoe, Angel! Mesmo que me mate, quero que saiba
que nunca deixei de te amar.
Lágrimas escorrem sorrateiramente dos meus olhos traidores e
um soluço escapa contra a minha vontade.
— Fui abandonada várias vezes enquanto crescia, e quando
você me resgatou de mim mesma, eu acreditei que poderia ser feliz
ao seu lado, que eu poderia finalmente ter uma família. Mas me
enganei. Você foi o único que conseguiu me ferir de uma maneira tão
profunda que não consigo esquecer.
— Me desculpa! Eu sei que errei com você. — Ele se levanta
para vir até mim e eu vou chegando para trás.
— Não encoste em mim! — faço ele parar há poucos passos.
— Eu mereço seu desprezo e seu ódio, mas não me peça para
ficar parado vendo-a sofrer desse jeito!
Ele me puxa para si e me prende em seus braços.
— Você é um imbecil! Eu deveria te matar agora.
— Então mate! Se isso vai te fazer feliz, faça! — Pega sua arma
e me entrega. Depois abre a jaqueta de couro e leva minha mão para
cima do seu coração, onde um pouco acima tem tatuado as asas de
um anjo. — Mate, Angel! Um tiro e tudo estará acabado. É só puxar o
gatilho.
Eu não posso e esse desgraçado sabe disso.
— Eu odeio você! — digo.
— Não. Não odeia. Sabe por quê? Porque eu tentei te odiar e
isso só serviu para me fazer sofrer. A cada vez que tentei te
esquecer, uma parte de mim, morria. Eu sou seu, querida. Sempre
serei.
Ele junta nossas bocas em um beijo sôfrego, desesperado e
cheio de palavras não ditas.
— Se tivesse que escolher entre mim e a Camorra, quem
escolheria, Marco? — pergunto fazendo um teste.
— Você. Sempre será você. Eu te amo! Sem você comigo,
nada do que eu tinha, valia a pena. Eu estou sendo considerado um
traidor por ter abandonado tudo e vir até aqui. O engraçado é que
não me importo, porra! Não se eu lhe tiver de novo. Me perdoa?
Sorrio em meios às lágrimas.
— Ainda continua sendo um idiota.
— Um idiota que você ama.
— Para a minha total perdição, sim.
— Então fala! Quero ouvir da sua boca.
— Eu te amo, Marco Moretti!
Ele me pega em seu colo e me deita na poltrona.
— Me deixe amar a minha mulher como sonhei nesses dois
anos!
Deixo que Marco tire as minhas roupas e beije meu corpo da
maneira que somente ele sabe fazer, me tocando em cada
terminação nervosa.
— Ah, sim! — gemo extasiada com sua boca me sugando.
— Me desculpa, querida! Preciso entrar em você, ou vou
explodir em minhas calças.
Ele se levanta, tira aos poucos sua calça e fica completamente
e deliciosamente nu. Babo em seu corpo musculoso.
— Venha! — o chamo, ansiosa para tê-lo em mim.
— Como quiser.
Ele entra em mim com uma única estocada em meu interior, me
fazendo arfar. Devagar começa a se mexer e em pouco tempo
estamos os dois gemendo tão alto que tenho certeza que a casa
inteira está escutando. Arranho suas costas e chupo seu pescoço.
— Senti tanta saudade! — confessa e morde a minha orelha.
Ele me vira de quatro e entra em mim outra vez com estocadas
mais firmes. Caralho! Era disso que eu sentia falta: do sexo cru,
selvagem, cheio de sentimentos em cada pegada forte e sem
frescuras.
— Eu senti mais. Estou vindo. — choramingo sentido todo o
meu corpo se arrepiar.
— Aperte meu pau, baby! Molhe ele com sua essência!
Meu orgasmo vem tão desenfreado que por alguns segundos
tenho a impressão de perder a consciência. Volto a mim no exato
momento em que ele rosna e me segura junto ao seu corpo
enquanto se derrama em mim.
Me viro e deito de frente para ele. Meus olhos passeiam
novamente na tatuagem, que quando fui embora, não estava ali. Não
acredito que Marco esteja aqui na minha frente do jeito que eu
imaginei e que agora podemos tentar recomeçar.
— Quando fez? — pergunto curiosa sobre a tatuagem.
— Poucos dias depois que você se foi.
— Por quê?
— Eu queria me lembrar de você, e quando olhava para ela,
tinha certeza que um dia iria lhe ter de novo.
— Confiante, não?
— Esperançoso.
— Preciso te dizer algo. Na verdade, eu quero que você veja.
— Me levanto rapidamente e tomo uma respiração profunda.
— O que quer me mostrar?
— Se vista e venha comigo!
Subimos juntos as escadas e eu paro incerta em frente ao
quarto do Enzo.
— Tudo de mais valioso no mundo para mim está aqui. Se não
estiver preparado para encarar de frente e me perdoar, prefiro que vá
embora. — digo sem fôlego e temerosa.
— Angel! Eu não vou embora. Seja o que for, estou preparado.
Abro a porta devagar e puxo Marco pela mão até o berço.
Paramos lado a lado e espero ele entender a minha dica.
— Você teve um filho? — Toca na perninha do Enzo.
— Nosso filho.
— Angel! Olhe para mim!
Levanto meus olhos, pronta para uma briga se ele for me julgar
por ter o escondido isso dele, e mais uma vez sou surpreendida
quando o vejo chorar.
— Você teve o nosso bebê? — Sorri.
— Sim. — Devolvo o sorriso. — Ele se chama Enzo. Eu jamais
tiraria o meu pequeno milagre.
— Querida! Tem noção do quanto está me dando nesse
momento? Eu perdi tudo que tinha e nesse instante estou
recuperando tudo que precisava.
— Não está bravo?
— Por você ter protegido o nosso filho? Jamais! Eu queria
voltar no tempo e ter feito diferente, ter acompanhado as consultas e
ter visto sua barriga crescer.
— Não vamos pensar nos “ses”. Certo?
Se iremos recomeçar, não podemos ficar relembrando o
passado.
— Não vamos. Só quero que saiba que por vocês, eu faria
qualquer coisa. — Se abaixa para beijar a cabeça do Enzo. — Papai
está aqui, filho, e nunca mais irá sair de perto de vocês.
Ele fica um tempinho conversando baixinho com o nosso filho, e
por mais medo que eu tenha, acredito nele. Sei que Marco vai fazer
tudo que estiver ao seu alcance para se redimir.
Ele se levanta e me abraça. Ficamos um tempo olhando o Enzo
dormir e contemplando sua respiração suave.
Meu filho é lindo! Ainda não acredito que sou pai. Sorrio bobo
apaixonado por cada detalhe dele. Claro que Pietro me trouxe
experiências maravilhosas e meu carinho por ele não vai mudar
nunca, contudo, o sentimento pelo Enzo é diferente. Ver um pedaço
meu em nele é como uma segunda chance que a vida me dá. Eu
achei que renasci quando acordei do coma, mas estava errado de
tantas maneiras que nem sei por onde começar. Renascido estou me
sentido agora, tendo a mulher da minha vida ao meu lado, e sabendo
que apesar de tudo, ela ainda me ama e teve o fruto do nosso amor.
Enzo é perfeito! Uma mistura minha e dela. Arrependimento e
felicidade tomam conta de mim e é impossível não chorar feito uma
garota ao apreciar a vida que fizemos juntos.
— Temos que descer e terminar o serviço. — Angel toca em
meu braço.
— Não podemos deixar para depois? Eu não quero sair daqui.
Ela sorri e coloca a cabeça em meu ombro.
— Enzo não vai fugir, Marco. Quando voltarmos, ele estará
aqui, provavelmente ainda dormindo.
— Eu sei. É que não quero perder mais nenhum minuto longe
dele. Será que ele irá me aceitar como seu pai? — a insegurança me
bate.
— E por que não aceitaria? Enzo ainda é um bebê e você
saberá lidar com ele, afinal, você já é pai, mesmo que o menino da
Ashley não seja seu.
Pietro me vem na cabeça. Não pude trazê-lo, já que regras são
regras. Ele é uma criança da máfia e não pertence nem a mim, nem
à Ashley.
Angel fez bem em esconder Enzo. Ela o protegeu não só de
mim, como de todos os inimigos. Uma vez nascido aqui dentro, não
sai. Logo serei procurado e terei minha cabeça colocada a prêmio.
— Sabe como são as coisas na organização. Não pude tirá-lo
de lá sem causar uma guerra. Para piorar, ele não é meu filho
legítimo, e sim de Romeo, outro filho bastardo de Luigi. O que
complica ainda mais a situação.
— Sinto muito por saber disso!
— Pietro está seguro. Disso eu tenho certeza. — Vincent jamais
o puniria por minha causa. — Sei que já pedi, mas tenho que dizer de
novo: me perdoe por eu ter sido tão cego! Me conte como foi sua
gravidez! Quero poder saber sua experiência.
— Eu registrei tudo em fotos e vídeos. Alejandro filmou o parto.
Você poderá ver depois. Vamos!
Mesmo não querendo sair do quarto, a acompanho.
— Vejo que se entenderam. — um homem jovem sorridente
vem na nossa direção.
— Tio, esse é o Marco, como sabe. Marco, esse é o meu tio
Alejandro.
— É um prazer conhecê-lo! Quero agradecer por ter cuidado
dela e do meu filho. Eu te devo a minha vida.
— Que bom que aceitou ele de volta, Angel, ou eu iria pegá-lo
para mim.
Franzo a testa, sem entender. Angel cai na gargalhada me
olhando.
— Tio Alejandro é gay.
— Ah! — Me calo sem saber o que dizer.
— Calma, bonitão! Não vou atacá-lo. Já entendi que você é
másculo, e analisando os gritos que ouvi da minha sobrinha, é um
verdadeiro animal.
— Alejandro! Dá um tempo! — Angel ralha com ele.
— Vocês não foram exatamente silenciosos. Que culpa eu
tenho de ter ficado com um imenso calor?
— Toma um banho gelado que passa! — minha menina rebate.
— Cruella de vil! — ele resmunga.
— Vamos logo! Tenho uma galinha para depenar e vocês dois
estão me atrapalhando. — Angel adverte.
— Uhuuu! Finalmente ação nessa casa. Me deixa dá uns tapas
naquela piranha? Quero me sentir útil. — Alejandro se anima.
Fico observando paralisado os dois descendo e discutindo os
tipos de tortura que devem aplicar na Ashley, como se discutissem os
pratos que irão servir no almoço. Confesso que essa não é uma cena
rotineira para mim, já que estou acostumado com nós homens
fazendo todo o serviço pesado na máfia. Aqui, pelo que vejo, as
coisas são diferentes.
— Você não vem? — Angel pergunta quando percebe que eu
não estou seguindo eles.
— Sim. Eu só estava tentando entender tudo isso.
Alejandro ri.
— Querido! Se acostume! As meninas por aqui são quem
comandam. Aaaah! Um aviso. — Ele para na minha frente, sério, e
toda a brincadeira acaba. — Jamais tente machucá-la de novo, ou eu
mesmo matarei você! Não pense que porque sou homossexual, não
sei manusear uma arma e esconder um corpo! Carreguei o cartel nas
costas por muito tempo e não vou deixar que você brinque conosco.
— Entendido.
Lhe respeito ainda mais agora.
— Ótimo! Bem-vindo à família! — O sorriso volta no seu rosto.
Olho para a Angel, que apenas nos observa, séria.
— Vocês já terminaram? Ou ficaremos o dia todo aqui medindo
qual pau é maior? — ela questiona.
— Com toda a certeza o dele, né, docinho?
— Você não tem jeito, tio.
Saímos da casa e vamos para um barracão não muito distante.
Snake está amarrado em correntes e Ashley está na cadeira, não
muito diferente.
— Que maravilha! Reunião de atuais e ex? — Ashley zomba.
— Se eu fosse você, ficaria caladinha. O negócio aqui não está
para Stand Up. Não para você, é claro. — Alejandro retruca.
— Parece não ter valido a pena suas armações, não é, Ashley?
— Angel zomba.
— Cale a boca, sua vadia! Eu o tive primeiro. Você só está
ficando com os meus restos.
Angel gargalha.
— Vamos ver! Eu morei com o Marco, tive um filho legítimo dele
e foi por mim que ele abriu mão de ser o executor. Acho que nem
preciso te dizer o quanto você foi insignificante na vida dele.
— Você saiu da Camorra?! Está louco?! Será um homem
morto! — Ashley grita na minha direção.
— Isso não é da sua conta! — rebato.
— Seu estúpido! — cospe suas ofensas e recebe da Angel um
soco no rosto, que a derruba com a cadeira e tudo.
— A única estúpida aqui foi você, que armou para mim e achou
que eu ia deixar por isso mesmo, como sua amiga Lorena. Mas isso
acaba hoje para vocês dois. Solte ela, Camillo! Quero ver o quanto
essa daí é mulher para me encarar de frente sem a proteção da
Camorra.
Eu apenas me afasto para assistir o acerto de contas que eu
mesmo quis várias vezes cumprir.
— Acha que tenho medo de você? — Ashley provoca.
— Deveria. Você não sabe quantas vezes sonhei em te ter em
minhas mãos. — Angel parte para cima dela.
Ao contrário do esperado em uma briga feminina, onde têm
tapas e puxões de cabelos, minha menina acerta um chute no peito
da Ashley, a derrubando no chão, e depois senta por cima dela, lhe
desferindo vários socos na cara e a deixando sem nenhuma chance
de revidar.
Angel se levanta enquanto Ahley tenta voltar ficar de pé, mas
sua tentava patética é falha quando minha menina lhe dá outro chute,
agora na barriga, a fazendo cair de cara no chão.
— Isso é por ter armado para mim! — Chuta no rosto. — Isso
foi por ter me feito passar por toda aquela humilhação na festa! —
Chuta na costela. — E por fim, eu poderia deixar todos os meus
homens brincarem com você por ter ousado me entregar de volta ao
Snake, porém, eles estão acostumados com mulheres refinadas, não
com uma puta de quinta categoria!
— Tipo você? — Ashley provoca e tosse sangue no chão.
— Não, querida. Eu estou em outro patamar, um do qual nem
você, nem Lorena, nunca vão alcançar. Me dê sua arma, Camillo! —
Angel pede e eu fico curioso para saber se ela vai realmente saber
usar.
Pelo menos quando estava comigo, não cheguei ensiná-la a
manusear uma, apenas lhe guiei no combate corpo a corpo.
— Marco! Por favor! Não deixe que ela me mate! Podemos ser
felizes juntos...
A frase da Ashley é cortada por Angel, que dispara vários tiros
nela, sem sequer vacilar.
— Isso foi sexy. — digo admirado.
— Drogaaaa! Por que eu não trouxe pipoca? — Alejandro
lamenta.
— Você não ia ajudar? — o questiono.
— E quebrar minhas unhas que fiz ontem? Acho que não. —
nos faz rir. — Mas isso até que foi rápido, docinho.
— Eu poderia fazê-la pagar lentamente pelo que me fez, só que
não valeria a pena. O castigo maior foi ela saber que perdeu tudo
que tentou tirar de mim e ainda morrer sabendo que Marco não
levantou um dedo para defendê-la.
— Cruel! Ainda bem que somos parentes. Detestaria ser seu
inimigo.
— Vou deixar você com esse filho da puta. Ele não irá durar
muito. Já fizemos duas transfusões de sangue para mantê-lo vivo.
Preciso tomar um banho e tirar o sangue dessa vagabunda de mim.
— Não irei demorar. — respondo aliviado por finalmente esse
ser o fim de toda a minha tortura.
— Que assim seja! — Ela sai com Alejandro.
— Agora é entre mim e você. — Tiro minha jaqueta, coloco meu
soco inglês na mão e o acerto no estômago, fazendo ele se
engasgar.
Depois de descontar todas as minhas frustrações no principal
causador e vê-lo morrer sufocado no próprio sangue, me dou por
satisfeito. Um novo ciclo acaba de se abrir para mim e nesse
momento tudo que mais desejo é desfrutar dele o máximo que eu
puder. Sinto muito que Vincent não pôde me entender e ficar ao meu
lado. Entretanto, não me arrependo. Se eu morrer futuramente por
essa escolha, morrerei sabendo que dessa vez eu fiz a escolha certa
e pelas pessoas que importam.
ALGUNS MESES DEPOIS
Pego a caixinha que comprei há dois anos e a coloco no bolso.
Guardei-a comigo por todo esse tempo e tinha certeza que um dia
iria entregá-la à sua dona. Pelo menos pensava positivo para não
pirar na época. Fico feliz que eu estava certo.
Escuto Enzo chorar e corro para o seu quarto. A babá está
trocando sua roupa e ele se mexe querendo sair de suas mãos.
— Não está apertada? Ele não parece gostar dessa roupa. —
comento.
— Na verdade, esse rapazinho não gosta de se vestir.
— Deixe que eu troco ele! — Pego meu pequeno no colo, que
muito sapeca sorri feliz por ter escapado do seu momento de tortura.
— Não quer ir passear?
— Passear. — repete.
— Para passear precisa vestir a roupa.
— Não queio!
— Quer sim. E não pode ficar fazendo birra. Menino bonzinho
obedece para ganhar algodão doce.
— Gudão doceee!
— É algodão, filho. — o corrijo. — E só vai ganhar se vestir a
roupa que a mamãe escolheu.
Ele aponta para a cama e balança as perninhas gordinhas para
descer. Por agora o convenci.
— Desse jeito você vai deixá-lo mal-acostumado. — Angel fala.
Ela pega as roupas para vesti-lo, e como sempre, Enzo vai
correndo para a mãe, levantando os braços, e é vestido rapidinho
sem reclamar.
— Eu queria saber que truque você usa para ele fazer o que
você quer sem reclamar. — digo enquanto os admiro.
— Toda mãe tem seus truques. Qualquer dia te ensino. — Pisca
e ri da minha cara.
— Prontos para o desfile? — eu pergunto e Enzo bate palmas,
animado. — Eu acho que isso é um “sim”.
Hoje vamos fazer um passeio em família e o dia coincide com
um dos eventos mais famosos do México. Como de costume,
durante esse período, iremos ver a mágica — como a Angel gosta de
dizer — ao acompanhar as celebrações do Día de los Muertos, que
acontece entre o final de outubro e o início de novembro. Eles
acreditam que nessa época seus entes queridos que partiram têm
permissão para vir ao mundo dos vivos visitá-los. Levam tão a sério
essa crença que fazem uma enorme festa. De um jeito estranho e
diferente, celebra-se nesse dia a vida e a morte, tudo junto.
Não que eu tenha interesse em ver ou sentir a presença de
alguma assombração. Eu mandei os mortos para o outro lado com
um único objetivo e somente com a passagem de ida. Espero que
continuem por lá.
Entretanto, se é isso que minha mulher deseja, estou pronto
para realizar. Irei aproveitar e fazer esse dia ser especial para ela. Eu
sei que não é uma época romântica, mas se Angel acredita ser uma
data alegre, por que não colaborar?
Alejandro me ajudou a planejar tudo com seus toques de
purpurina. Agora é só esperar o momento certo para surpreendê-la.
(...)
Andamos entre a multidão que canta e dança feliz. Angel para
várias vezes mostrando tudo ao Enzo, que olha com curiosidade.
— Olha, filho! Fogos! — Mostra as luzes brilhantes e coloridas
no céu.
É agora. Paro e espero o momento que ela irá perceber tudo.
Em meios às explosões, várias bexigas são soltas, e em um timing
perfeito, elas voam no ar com o nome da Angel a frase que me tem
ansioso e suando frio.
“Angel, casa comigo?”
Desço ao chão, ficando de joelhos, e abro a caixinha,
esperando ela se virar.
— Marco? Isso é seu? — pergunta com a voz esperançosa.
— Eu acho que só tem um anjo por aqui, principessa.
Ela me olha no chão e dá um grito, pulando com Enzo, que
gargalha sem entender o que se passa.
— Oh, Marco! Você tinha que ser tão perfeito?
— Para ficar mais perfeito, precisa responder, querida.
— É claro que aceito, seu bobo. — Sorri em meios às lágrimas.
— Espero que esse choro seja de felicidade.
— É claro que é. Estou tão feliz que estou explodindo pelos
olhos.
Coloco o anel de pedra azul turquesa com corte princesa em
seu dedo e a beijo ouvindo as palmas a nossa volta.
— Se não for para causar, nem caso.
Rio de sua felicidade contagiante.
— Que bom que gostou.
— Foi muito minha cara esse pedido. Obrigada!
— Queria ganhar todos os créditos sozinho, mas deve
agradecer ao Alejandro também. A ideia dessa grandiosidade foi
dele. Eu sou péssimo em surpresas.
— Te amo, ursinho!
— Te amo, minha raposinha! — repito a frase que tenho falado
muito ultimamente em nossos momentos íntimos.
— Para sempre, não é, miamor?
Ela beija a bochecha gordinha de Enzo, que está mais
interessado em apontar para o céu e mostrar os balões.
Namoro o anel em meu dedo e não me canso de olhá-lo. Tudo
parece um sonho. Às vezes me pego com medo de que tudo vire de
cabeça para baixo de novo. Marco todos os dias tem feito juras de
amor, me tratado com carinho e me dado muitos mimos. Sejam estes
um jantar romântico feito por ele ou alguma joia que viu e disse que
se lembrou de mim.
Todavia, às vezes vejo em seus olhos uma pontada de tristeza,
que é rápida e ele disfarça bem. Sentei com ele e lhe perguntei se
sentia falta da Camorra e se queria minha ajuda para voltar, mas o
mesmo me disse está feliz aqui e que seu tempo por lá acabou. Sei
que a forma que saiu, o causou mágoas. Ele me contou toda sua
história e me revelou ser irmão do Vincent. Fiquei muito revoltada em
saber que mesmo depois de tantos sacrifícios, Marco foi tratado
dessa forma por aquele capo metido a rei.
Minha vontade é de chamar Andrey de volta e mandá-lo pipocar
a cara do desgraçado, mas pelo meu homem, eu vou deixar para lá
esse assunto. Só que desde então tenho pensando em uma forma
de resolver o problema entre ele e Vincent. Marco tem me feito tão
feliz que desejo vê-lo da mesma forma, e se para isso acontecer, eu
tenha que ir lá e enfrentar pessoalmente o chefe, eu irei. Vou dizer
umas boas verdades na cara daquele imbecil até que a razão lhe
volte, e claro, oferecê-lo uma proposta irrecusável que trará muitos
benefícios à Camorra. Não quero pensar que a culpada pela
separação deles seja eu, então pelo menos tentarei alguma coisa.
Não vou contar nada para Marco. Não quero lhe dar esperança
para talvez depois arrancá-la dele. Até mesmo porque cuidadoso
como está comigo desde o dia que descobri que estou novamente
grávida, não me deixaria ir. Só falta me carregar no colo e dar comida
na minha boca.
Sorrio apaixonada me lembrando de como ele me surpreendeu
ontem. Cheguei em casa e o quarto estava repleto de velas e pétalas
de rosas, com Marco nu em sua glória me esperando na cama.
Como um deus grego, se levantou e me carregou para o banheiro,
onde ganhei um banho e depois uma massagem deliciosa que meu
homem chamou de kit Moretti. Ri muito quando ele falou o nome que
deu. Modéstia a parte, que kit maravilhoso! Fiquei tão relaxada
depois dele e passei o dia hoje sorrindo até para as paredes. Meu
ursinho é impossível.
Não tem nada que eu não faria pela minha família e é por esse
motivo que tomarei as devidas providências, para tê-los sempre
felizes, mesmo que isso me custe engolir um sapo e aguentar
Vincent por perto.
Acordar de madrugada para viajar às escondidas e aparecer
em território inimigo não eram bem meus planos para essa semana
tão especial para mim. Porém, minha consciência pede por essa
oferta de paz. Se for para ver Marco feliz, valerá a pena.
Desço do carro e entro na boate, que se dependesse de mim,
eu nunca mais gostaria de colocar meus pés. Sebatian é o primeiro a
me ver e vir ao meu encontro.
— Angel! O que faz aqui?
— Preciso falar com seu querido chefe.
— Isso não me parece uma boa ideia.
— Deixe que eu mesma decido isso, Sebastian! — Vincent fala
logo atrás dele. — O que faz aqui?
— Podemos ter um lugar para conversar ou os italianos
perderam totalmente a compostura na hora de tratar dos seus
negócios?
— Não tenho nada a tratar com você.
— Discordo. E sugiro que desça desse seu pedestal e me ouça.
É do seu interesse. Acredite: estou odiando voltar aqui depois de
tudo que me fizeram.
Ele fecha a cara e mostra a porta na nossa direita.
— Cinco minutos e nada mais que isso. — exige.
— É mais do que o suficiente.
Como se eu quisesse ficar olhando sua cara por mais tempo.
Entro na sala e sento-me na cadeira, não esperando por
cortesia.
— Vim oferecer uma trégua. — falo logo de uma vez.
— Trégua? — Ri debochado.
— Sim. Você sabe... Aquilo que as pessoas fazem para não
viverem se matando por pouca coisa. — devolvo o deboche.
— Vá direto ao ponto!
Lhe entrego o envelope e espero que ele leia todo o seu
conteúdo.
— Não entendo. O que isso significa?
— É exatamente isso que você está vendo. Eu ajudei Andrey a
acabar com os Vitiello para proteger a Camorra. Eles estavam
armando com os Mc's e o cartel Sanches para derrubar vocês. Aliás,
de nada por isso.
— Por quê? — Coloca a mão embaixo do queixo e aperta os
olhos em descrença.
— Não é óbvio? O capo daqui não é nenhuma miss simpatia
para trazer aliados por vontade própria. Fiz por Marco, é claro.
— E o que quer com isso agora? Como pode ver, ele não faz
mais parte daqui.
— Quero que você faça as pazes com ele. Nós dois o amamos
e isso aqui tem que ter um fim.
— Perdeu seu tempo. Não voltarei atrás na minha palavra. —
Joga o envelope de volta para mim.
— Não estou pedindo que você devolva o cargo dele, querido.
Ele está muito bem comigo. Quero que reconsidere o fato de tê-lo
excluído do convívio familiar. Afinal, vocês são irmãos.
— Ele te contou? — pergunta com os dentes cerrados.
— Sim. Ao contrário de você, não escondemos nada um do
outro.
— Cuidado! Certas coisas mantive em segredo por um motivo e
prefiro que elas continuem lá.
— Ou é muito egoísta para reconhecer que errou e o seu posto
de poderoso chefão não quer fazê-lo baixar a cabeça.
— Você não me conhece, então não me venha dizer como devo
comandar minha vida, garota!
— Não me importo em como você comanda essa organização
ou seu casamento a base de mentiras. Me interessa parar de ver o
Marco cabisbaixo pelos cantos às vésperas do nosso casamento,
sem o apoio do irmão. O homem que lutou e deu a vida por você
quando recebeu aquele tiro, foi depois descartando como se fosse
um nada.
— Ele fez as escolhas dele.
— “Escolhas”que você o obrigou a fazer. Se Marco fosse uma
pessoa ruim, teria te destruído contando tudo que sabe ao Conselho.
Seria a vingança perfeita depois do que você fez com ele. Se
esquece que também é um bastardo?
— Está me ameaçando? Dentro do meu território?
Bufo uma risada.
— Estou te mostrando o óbvio. O quão injusto foi com ele
depois de tê-lo ao seu lado em todos esses anos? Se ainda está
nessa cadeira dando ordens e fingido ser o todo poderoso, é graças
ao Marco. Sem ele, você não seria nada.
— Eu poderia te matar agora por ser tão estúpida em vir aqui
me desafiar.
— Lata a vontade, Vincent! Eu não tenho medo. Se quer mais
uma vez machucar Marco, faça isso, e mostre o quão ingrato é
matando a mulher que ele ama depois dele ter protegido a sua.
Ele aperta as mãos, com raiva, e sei que atingi meu ponto.
— É melhor ir embora.
— Eu vou. Mas quero deixar bem claro duas coisas. Marco uma
vez me revelou que achou que era parecido com o Luigi por ter
errado tanto em sua vida. Ele estava enganado. O filho parecido com
o Luigi é você, uma pessoa capaz de usar seu próprio sangue para
alcançar seus objetivos e depois cuspi-lo fora quando não precisa
mais dele. Você não é um capo justo e só está repetindo os mesmos
erros do seu pai.
— Chega! Nem minha esposa me desrespeita dessa forma. —
grita batendo na mesa.
— Não terminei! — grito de volta. — Está na hora de parar de
ser um garoto mimado e ver o que está fazendo com vocês dois.
Semana que vem irei me casar com SEU Irmão. É melhor tirar a
cabeça do seu rabo e aceitar essa proposta, que é bem mais do que
você merece depois do que nos fez. É bom aparecer! Se não for na
cerimônia, irei fazer tudo que estiver ao meu alcance para que o
Marco apague seu tempo aqui da memória e nossos filhos nunca irão
saber sobre o tio desprezível que têm. E o único culpado será
somente você.
O deixo lá cuspindo seu veneno em minha direção e saio de
alma lavada. Falei tudo que tinha para dizer. Fiz minha parte. Agora é
com ele.
Angel está na sacada há horas, pensativa, e eu me preocupo
que ela esteja arrependida de ter aceitado meu pedido. A abraço por
trás e dou um beijo em seu pescoço.
— Não desceu para jantar e sumiu o dia inteiro. Aconteceu
algo?
— Não. Só estou cansada com todos esses preparativos.
— Não deveria exigir tanto de si, meu amor. Ainda mais nesse
estado. — Coloco minha mão em sua barriga pequenina que leva
nosso segundo filho.
— Estamos bem. Quero que tudo saia perfeito, do jeito que
imaginei.
— Me deixe ajudar mais! Quero fazer parte de cada detalhe.
— Achei que vocês homens odiassem essa parte.
— Eu odeio vê-la exausta e acordando de madrugada para dar
conta de tudo.
— Me desculpe! Prometo que na minha próxima saída vou te
levar comigo. Só não pode reclamar.
— Prometo dar o meu melhor. Principalmente se tiver comida
envolvida. — eu digo e ela ri. — Agora vá deitar um pouco! Pretendo
fazer uma massagem em você.
— Qual delas?
— O kit Moretti, meu anjo, com direito a meu pau fazendo uma
deliciosa massagem no seu interior para te deixar bem relaxada.
Ela gargalha me fazendo rir junto.
— Às vezes acho que esse kit é mais para você, seu
aproveitador.
— Quê isso? Olha como já melhorou seu humor. Essa é a
minha especialidade.
— Me dá vários orgasmos até eu desmaiar?
— Não. Vou te amar e cuidar de você.
— Humm! Que fofo! Sou toda sua.
A carrego para a cama, onde reafirmo mais uma vez, não só
em palavras, como também com meu corpo, o quanto sou grato por
tê-la em minha vida. A amo como merece: devagarinho e com
suavidade, deixando minha marca em seu corpo e em seu coração,
como ela deixou no meu.
Nela, eu encontrei a minha redenção e não poderia estar mais
feliz. Um filho lindo e outro a caminho é muito mais do que eu
mereço. Grazie a Dio por ele me dar a chance de cuidar da minha
família que tanto desejei.
Desço para treinar e jogar um pouco dessa ansiedade para
fora. Estou nervoso para caralho, temendo me embolar na hora da
cerimônia e não conseguir pronunciar minhas falas. Angel disse para
eu escrever minha parte e ensaiar, que conseguirei decorar. Mas não
quero nada robótico, pois desejo dizer o que sinto na hora, no calor
da emoção. E devido à minha teimosia, agora estou ansioso com a
hora que nunca parece chegar.
Soco o saco de areia até não aguentar mais, e somente quando
me sinto esgotado, é que paro para buscar fôlego.
— Nem casou e já está frustrado?
Reteso ao ouvir a voz do Vincent atrás de mim.
— Deixa eu adivinhar: veio me matar pessoalmente? —
questiono sem me virar.
— Estou tão sem moral assim com você, que pensa que eu
viria no dia do seu casamento para matá-lo?
— Não me surpreenderia, afinal, sou um desertor.
Ele se senta ao meu lado e eu continuo de cabeça baixa, não
querendo encará-lo e ver a verdade em seus olhos.
— Eu falhei contigo de tantas formas que nem sei por onde
começar. — ele inicia.
— Pelo começo está ótimo. — o faço rir.
— Nós crescemos juntos, apanhamos juntos, fomos castigados
e humilhados pela nossa ligação fraternal, e em todas as vezes
repetíamos tudo de novo, mesmo sabendo o resultado. Você esteve
lá por mim em todos os momentos da minha vida e ficou do meu lado
quando mais ninguém quis. Acreditou em mim e lutou com unhas e
dentes para me pôr onde estou.
— Vincent? — começo a falar, contudo, sou cortado por ele.
— Me deixe terminar! Eu preciso fazer isso. — Meneio a
cabeça, concordando. — Fui egoísta e falei o que não deveria à
única pessoa que escolheu morrer por mim. O mais engraçado é que
precisei que uma mulher marrenta, sem noção nenhuma dos perigos
que correu, fosse até mim para me jogar as verdades na cara.
Levanto a cabeça na mesma hora e o encaro.
— Angel foi até você? Quando?
— Há poucos dias. Foi pessoalmente me dar um ultimato e
mais uma vez provou ser a pessoa certa para você. Eu entendo o
porquê abandonou tudo por ela, cara. Angel te ama e é muito leal a
você. Eu a admiro pela coragem.
— Eu não pretendo voltar para a Camorra. Achei outro
propósito para a minha vida.
— Eu sei.
— E vai me deixar viver mesmo assim?
— Não vai ouvir muito de mim essas palavras, Marco, e
provavelmente será a primeira e a última vez. Peço que me desculpe
por tudo que eu te disse, e principalmente pelas minhas atitudes. Eu
estava errado e sabia disso no exato momento que você saiu por
aquela porta. Quero que saiba que estou muito orgulhoso de você.
Viro o rosto para que ele não veja o quanto estou tocado com
suas palavras.
— Só desculpo depois que você lutar comigo e me deixar
descontar todas as porradas que você andou me dando.
Ele ri, se levanta e tira a parte de cima do seu terno.
— Por mim tudo bem.
— Não vou pegar leve.
— Isso é bom, porque eu também não.
Entramos num ringue improvisado que fiz para treinar e
começamos a nos preparar.
Lutamos como nos velhos tempos em que Henrique nos
treinava. Vincent me acerta alguns golpes e eu não fico atrás. Coloco
para fora tudo que guardei calado durante todos esses anos.
Paramos no momento que ouvimos o grito da Angel atrás de
nós.
— Seu filho da puta! Eu disse que era para comparecer e fazer
as pazes, não bater nele!
— Tudo bem, amor. É a nossa forma de deixar tudo no
passado. — tento acalmá-la.
— Tudo bem uma ova! Olhe para você! Todo deformado. Como
vou casar com a cópia mal feita do Frankenstein?
Franzo a testa para o seu ataque. A gravidez tem a deixado
bastante sensível. Vincent ri baixinho logo atrás.
— Quê isso, mulher? A parte mais importante está inteira para
a lua de mel. — tento brincar para distraí-la.
— Marco, você não me irrite! Ou eu cortarei seu kit Moretti e te
farei engoli-lo a seco. Se queria apanhar, era só ter me pedido.
Coloco as mãos no meu pau, o segurando por precaução. Do
jeito que ela está, não duvido de nada.
— Querida, estou bem. Vai dar tudo certo. Eu prometo. — A
puxo para mim e a abraço.
— Mas o que aconteceu aqui? — Lorena chega para completar
a paródia. Que Angel não me ouça.
— O desgraçado do seu falecido marido resolveu brincar de
porrada com o rosto do meu.
— Como assim falecido? — Lorena pergunta na ingenuidade.
— Não está óbvio que irei matá-lo? — Angel tenta se soltar dos
meus braços, fazendo Vincent agora gargalhar.
Lorena nos observa e volta a olhar para a Angel. Ela está tão
acostumada a ver Vincent assim, que nem estranha mais.
— Angel, não é querendo colocar lenha na fogueira, mas
Vincent está pelo menos umas três vezes pior que Marco.
Angel para de se debater e olha para trás para conferir, e
quando vê que entre mim e ele, eu estou praticamente intacto, ela
sorri feliz.
— O olho roxo combina bem com você, vossa alteza. — ela
provoca o Vincent.
— Ainda bem que iremos morar longe uns dos outros. — ele
devolve a provocação, cruzando os braços.
— Tenho pena de você. Perderá toda a animação sem a minha
ilustre presença, principalmente em suas festas entediantes.
— Bom. Chega de elogios! Precisamos te arrumar, Angel.
Agora que conferiu que Marco está bem, podemos voltar. — Lorena
sai a puxando por um braço.
— Me deve muitos kits depois de hoje, Marco. — grita de longe.
— Pagarei com o maior prazer, querida. — Sopro um beijo
quando ela olha para trás e em seguida some das nossas vistas, mas
não antes de olhar para Vincent e fazer um sinal de que está de olho
nele, nos fazendo rir de novo.
— Acho que agora é a hora. — falo mais tranquilo.
— Está pronto?
— Como nunca estive antes.
— Seja feliz, irmão! Você merece. — Ele bate em minhas
costas.
— Sem ressentimentos? — pergunto para conferir em qual
posição estamos.
— Sem ressentimentos. Tem a minha palavra.
— Como está o Pietro?
— Por que não pergunta diretamente a ele? Eu o trouxe, e se
for querer realmente ficar com ele, eu o deixarei ficar.
— E o que falará ao Conselho?
— Que eu aceitei a proposta feita pela chefe do cartel e você se
casou com ela para firmamos uma aliança.
— Acha que irão engolir essa história? — pergunto pensativo.
— Sim. Com a prova de que os Vitiello estavam por trás de
armações contra nós, não deixará dúvidas sobre a minha decisão de
tomar nossos próprios caminhos para não perder nossos negócios
aqui.
— Foquei tanto nos Mc's, que não desconfiei dos Vitiello. Achei
que o casamento de Henrique com a filha do Lucca, os manteriam do
nosso lado. — falo ainda abismado com tamanha ganância.
— Eles nunca me enganaram. Você sabe o quanto fui contra
isso na época. Por minha conta aquela aliança nunca teria sido feita.
— Que bom que a Angel descobriu. — digo orgulhoso da
inteligência da minha mulher.
— Tenho que admitir que gosto da astúcia dela, mas vou morrer
negando se você contá-la.
Sorrio feliz porque novamente tenho meu irmão.
— Henrique não veio?
— Preferiu ficar, para não levantar nenhuma suspeita. Quero te
agradecer, pois mesmo depois de tudo, ainda assim me cobriu.
— Eu iria levar essa história para o túmulo.
— Quanto a isso, já tomei as devidas providências. Como forma
de retratação com você e sua mãe, eu e Henrique te reconhecemos
como filho legítimo do Luigi.
— Não precisava. — falo emocionado.
— Precisava sim. Se eu fui assumido pelo meu pai, o Matteo,
você também merecia isso. O futuro dos nossos filhos agradecem.
— Não consigo nem achar palavras o suficiente para lhe
agradecer.
Agora não sou mais um bastardo, e sim Marco Moretti
Lourenço.
— Quero que saiba que a não ser eu e Henrique, ninguém
soube da sua saída, Marco. Para todos, você estava ausente em
uma missão.
— Isso explica muita coisa. — Eu já desconfiava disso.
— Nunca deixaria que tocassem em você, irmão. Nem que para
isso eu forjasse sua morte. Jamais iria colocar para caçá-lo, os
homens que você treinou.
— Obrigado!
— Eu te devia isso. Considere um presente de casamento.
Agora vamos entrar! Não quero ouvir mais gritos de sua mulher
louca. Ela às vezes me deixa assustado com sua intensidade.
Rio da cara que ele faz e subo para me vestir para o dia mais
feliz da minha vida.
A tenda montada no meio do gramado verde do nosso quintal é
a coisa mais linda que eu já vi. A cada passo tenho a sensação de
estar nas nuvens, pela maciez do tapete vermelho em meio aos véus
brancos com flores vermelhas sangue para combinar com o meu
vestido. Na nossa cultura, podemos escolhê-lo colorido, em vez do
branco tradicional. E como eu queria seguir à risca, escolhi um de
cores vivas, de estilo flamenco e com babados na bainha. Além
disso, pedi que Marco utilizasse uma guayabera (camisa de mangas
curtas, que é perfeita para as temperaturas tropicais, e que também é
um símbolo de elegância masculina).
O dia está perfeito. O que torna tudo ainda mais especial.
Alejandro me leva todo emocionado para o homem da minha vida.
Meus olhos não se despregam dele.
Enquanto passamos pelas pessoas, olho rapidamente para a
multidão e vejo Juan acompanhando de sua amada. Que bom que
aceitou meu convite. Dispensá-lo não foi fácil, porém, foi a coisa mais
digna que eu pude fazer por ele. Tempos depois o reencontrei em um
evento e o mesmo me agradeceu por eu ter sido sincera e me
apresentou a moça, que segundo o próprio, é o amor da sua vida.
Fiquei muito feliz por ele ter se encontrado e me entendido. Odiaria
tê-lo como inimigo. Quem não gostou nadinha foi o Marco, que
rosnou o evento todo por ter me visto falando com o meu ex.
Volto meus olhos para Marco, que sorri para mim. Alejandro me
entrega a ele quando chegamos ao palco improvisado.
— Cuide dessa joia preciosa, rapaz! — meu tio pede e lança o
seu melhor olhar ameaçador.
— Com todo o meu amor. — Marco garante e leva minhas
mãos aos seus lábios para beijá-las.
Nos viramos de frente para o padre, que dá início à cerimônia.
Quando chega a parte dos nossos votos, Marco pega 13
moedas de ouro e me entrega, como uma promessa de fidelidade,
confiança e garantia de que nada me faltará. Esse é mais um dos
nossos tradicionais rituais mexicanos. O número treze é muito
importante, pois faz uma referência a Cristo e seus dozes apóstolos.
Após o padre nos envolver com um rosário na forma de um oito,
simbolizando que a nossa união será eterna, é que trocamos as
alianças e falamos os nossos votos.
Enzo entra carregando uma almofada com uma das alianças e
Pietro entra com a outra. Quando o vi aqui, fiquei muito feliz. Adorei
saber que ganhei mais um filho. Vincent me surpreendeu com essa
atitude. Vamos dizer que numa escala de zero a dez, eu o odeie em
um nível oito agora. No que depender de mim, serei uma mãe
maravilhosa para Pietro. O menino merece ser feliz depois de tudo
que passou e eu farei questão de que ele se sinta assim.
Marco coloca a aliança em meu dedo e começa seu voto.
— Angel! Antes de você, me sentia perdido, confiando que meu
destino era vazio porque eu não merecia nada de bom, mas tudo
mudou quando te vi pela primeira vez. Eu ainda não sabia porque
senti algo diferente, porém, notei que você não saía dos meus
pensamentos. Só posso ser eternamente grato por você me perdoar
e me fazer muito feliz. Prometo ser leal a ti e à nossa família, de
corpo e alma. Eu os protegerei de tudo e de todos até o meu último
suspiro, pois você e nossos filhos são a minha vida.
Eu estou uma bagunça de lágrimas. Me recomponho para
firmar o que sinto por ele.
— Marco! Antes de você, eu também não sabia o que era viver.
Você veio para me ensinar a ser forte e driblar todos os meus medos.
Com você, eu aprendi a amar e receber amor na mesma intensidade.
Por você e nossa família, sou capaz de tudo para vê-los sempre
felizes. Te prometo ser fiel, estar contigo em todos os momentos e
fazer o impossível para nos manter unidos para o resto da minha
vida. Te amo!
Coloco a aliança em seu dedo e a beijo com carinho.
O padre diz que podemos nos beijar, e ouvindo gritos e
aplausos, selamos nossa promessa.
A festa que se segue à cerimônia é composta por muita música,
conduzida por mariachis e comidas festivas e típicas da nossa
região, como tortilla, arroz picante, taco, nachos e feijões.
Jogo o buquê, que coincidentemente cai no colo de Alejandro,
que grita que o próximo é ele, nos fazendo rir do seu piseiro.
Puxo Marco para a pista e dançamos. Como de costume, os
convidados se reúnem em torno de nós, por sermos os noivos, e
formam um coração. Fazemos um arco com os braços e as mulheres
começam a dançar a dança da serpente, passando uma a uma por
nós, recém-casados.
E com muita música e alegria festejamos madrugada a fora,
dando início ao nosso “para sempre”, que não foi fácil conquistar,
sobretudo, foi essencial para nos trazer aqui com a certeza de que
merecemos ser felizes.
14 ANOS DEPOIS
Olho Enzo encostado na árvore, seguindo cada passo que
Gianna dá. Quando ele completou treze anos pediu para que eu o
liberasse para ser treinado por Vincent. Não foi surpresa tempos
depois ele oficializar seus juramentos à famiglia e entrar de vez na
Camorra. De início achei que era porque tinha se encantado com a
história da nossa família e queria seguir meus passos como executor,
mas depois ficou óbvio o seu fascínio por Gianna. Até tentamos
convencê-lo a voltar, com a desculpa de que ele precisava se
preparar para comandar futuramente o cartel com o Pietro. Contudo,
nada do que fizemos, isso incluindo os dramas da Angel, o fez
desistir do que queria. Acabamos respeitando sua decisão, afinal,
criamos nossos filhos para serem homens independentes e seguros
do que querem. Optamos por aceitar sua escolha, mesmo não
concordando.
Me aproximo devagar dele, não querendo surpreendê-lo e ser
taxado como um pai careta. Mas como seu pai, preciso alertá-lo e
aconselhá-lo sobre os perigos que essa paixão o trará se ele levar
isso adiante.
— Não está disfarçando muito bem. — digo.
— Disfarçando o quê? — se finge de desentendido.
Suspiro fundo e procuro as palavras certas para dizer.
— Filho! Há regras na máfia que não podem ser ultrapassadas,
e uma delas é o relacionamento entre primos. É considerado incesto.
Você sendo um dos soldados da Camorra, tem que saber disso.
Seus juramentos te acompanharão pelo resto da vida.
— Regras são feitas para serem quebradas, pai. Tio Vincent
quebrou, você quebrou e está tudo bem, não é?
— E a confusão que isso causou poderia ter custado as nossas
vidas. Além de que a Gianna tem interesses que já causarão uma
terceira guerra mundial se continuar com tais ideias implantadas na
cabeça.
— Eu sei. Ela quer ser chefe e tem a infeliz fixação de lutar por
isso.
— Consegue entender a extensão das batalhas que você quer
travar com a famiglia?
— Tenho, pai. Eu sei em que confusão estou me metendo.
— E está pronto para isso?
Ele olha para onde Gianna está com o filho mais velho do
Gabriel e seus olhos chegam a brilhar. Rio baixo, me vendo nele, não
muito tempo atrás.
— Se eu disser que sim, ficará contra mim?
— Enzo! Olhe para mim, filho! — Ele se vira de frente para mim
e me observa cauteloso. — Eu sou seu pai e sempre estarei ao seu
lado. Portanto, se deseja tomar essa decisão, pense bem antes de
agir! Seja qual for sua escolha, conte com o meu apoio. Só tome
muito cuidado com cada passo que der, porque eu não quero perder
nenhum filho.
— Obrigado! Ter você ao meu lado é muito importante para
mim.
— Vocês são importantes para mim, Enzo. Nunca se esqueça
disso! — E que Deus nos ajude no futuro.
Nicholas, meu filho mais novo, grita Enzo e ele sai para atendê-
lo. Observo meus meninos reunidos e meu peito se enche de
orgulho. Nunca fizemos diferença entre os três. Pietro chama a Angel
de mãe e é o mais agarrado à família. Estou o preparando para mais
na frente comandar o cartel com o Nicholas.
— Os nossos bebês cresceram tão rápido. — Angel me abraça.
— Queria ter tido mais filhos. Estou me sentido carente de bebês.
Rio e a puxo para os meus braços.
Por nossa conta teríamos tido mais, porém Angel teve uma
complicação no parto do Nicholas e não pode mais engravidar. O que
a deixou arrasada por um tempo.
Abro a boca para pedir que ela fique tranquila, pois logo
teremos netos para mimar, entretanto, me calo percebendo que
quase assinei meu atestado de óbito. Deus me livre se ela achar que
eu estou a chamando de velha!
— Marco! Se você tiver pensando nos netos, eu juro que vou te
matar e enterrar no fundo da floresta dessa casa! Estou muito nova
para ser avó.
— Isso nem passou pela minha cabeça, querida. Estava
pensando na possibilidade de nós adotarmos uma menina. O que
acha?
Escorrego mais rápido que sabonete na enxurrada.
— Me engana que eu gosto! — Gargalha. — Eu nem sei se
conseguiria ser uma boa mãe para ela. Estou tão acostumada a
cuidar de meninos, que acho que provavelmente não saberia lidar
com uma menina.
— Você seria maravilhosa, amor. É só olhar para os nossos
filhos.
— É. Talvez você tenha razão. Vamos pensar com mais calma
nisso depois.
— Vamos sim. — A beijo com carinho.
Eu amo a minha família e não me arrependo das decisões que
tomei por eles. Faria tudo de novo se tivesse a chance de voltar ao
passado. Quem diria que um homem quebrado e incapaz de amar
alguém encontraria em suas missões a mulher da sua vida? Angel
veio para me completar e me ensinar que não só podemos mudar
nosso destino, como podemos trilhar novos caminhos e ser feliz no
final dele se tivermos forças de vontade e lutar pelo que acreditamos.
Eu errei sim, e com meus erros sofri e aprendi a ser melhor do que
antes, por mim, por ela e pela nossa família.
Fim!
NOS BRAÇOS DO MAFIOSO
RENDIDA AO MAFIOSO
HERDEIROS DA MÁFIA
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NOS BRAÇOS DO MAFIOSO (1)
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Lorena Ávila é brasileira e aos quatorze anos foi raptada e
vendida aos Lourenço através do tráfico humano. Obrigada a
trabalhar para uma família de mafiosos que são sem escrúpulos,
capazes de tudo por dinheiro e poder, ela se vê em meio a uma
guerra da qual não pediu para entrar. Seu maior erro foi se apaixonar
por quem deveria odiar. Ela é doce, de personalidade forte e almeja a
liberdade.
Vincent Lourenço é conhecido por ser uma máquina de matar.
Desde cedo aprendeu que na vida em que nasceu, era ele ou os
outros. Ele sente prazer no que faz. Não tem compaixão e pela
famiglia é capaz de fazer qualquer coisa. Inclusive armar e se aliar
aos seus próprios inimigos para tirar do poder todos aqueles que ele
acredita prejudicar a Camorra e o legado deixado pelo seu pai. O
sujeito é frio, calculista e almeja vingança.
É possível nascer amor em meio a tanto ódio, armações e
guerra?
HERDEIROS DA MÁFIA (3)
Em Dezembro na Amazon
Gianna Lourenço
Eu nasci na máfia e desde pequena ouço que nós mulheres
devemos ser a base da casa. Minha mãe sempre foi mais liberal e
nunca colocou pressão sobre as minhas costas por isso e meu pai
sempre me amou do jeito que eu sou. Mas isso não me impediu de
ser pressionada para ser uma moça recatada e exemplar por ser a
filha do capo. Todos sempre esperam de mim, nada menos do que a
perfeição. Eu tentei, e juro que tentei, suprir todas as expectativas da
famiglia, contudo, ser submissa não está no meu sangue. Eu quero
mais. Desejo poder, controle e escolha. Almejo ser mais que uma
esposa troféu com um útero feito de incubadora para conceber as
próximas gerações.
Então, mesmo contra a vontade do meu pai, treinei, lutei,
aprendi a usar armas e fui fundo no submundo. Eu sou a rainha do
meu reino e dona de mim. Não preciso de um príncipe encantado e
muito menos de um protetor, porque eu sou a porta de entrada para
qualquer lugar que eu queira ir. No meu mundo, eu mando e todos
me temem, mas não pelo peso do meu nome, e sim porque eu
conquistei o respeito deles.
Tudo ia perfeito e meu plano de ser reconhecida como a chefe
estava a todo o vapor. Até ele...
Até Enzo Moretti se meter no meu caminho e querer me
dominar como se eu fosse um cavalo selvagem que precisa colocar
cabresto e ser domado. A minha desgraça começou no dia em que
passamos a nos olhar com desejo, paixão e luxúria. É um jogo
perigoso que nenhum de nós temos medo de jogar as cartas, mesmo
sendo proibido e fatal. Nos jogamos nos braços um do outro sem
pensar no amanhã. E agora que esse dia chegou, preciso decidir o
que é mais importante para mim: o cargo que tanto ansiei ou o amor
do único homem que conquistou meu coração e me fez amar tão
profundamente que me afoguei em meus próprios sentimentos.
O que fazer quando o que almejamos a vida toda e o que
passamos a desejar, se tornam coisas diferentes? Qual escolha você
faria se amasse tanto uma pessoa, que sentisse que foi consumida
por inteira? Você escolheria seguir seus planos ou o seu coração?
MARCAS DO PASSADO
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Lara Bitencourt é uma jovem de 29 anos, psicóloga infantil.
Desde muito cedo ela teve que aprender a lutar sozinha, sem poder
confiar em ninguém. Foi julgada, mal compreendida e colocada em
segundo plano na vida de todos aqueles que ela amava. Sofreu em
silêncio, e para tentar superar seus fantasmas quis recomeçar
longe daqueles que a feriram e fizeram dela uma pessoa marcada.
Viu na psicologia um meio de ajudar aqueles que têm feridas tão
profundas quanto as que ela esconde.
Lucas Ferraz tem 35 anos. Ainda muito jovem perdeu os pais
em um acidente de carro, e com muita dificuldade teve que criar o
irmão caçula sozinho. Um acaso do destino o colocou no lugar
errado e na hora errada, e por esse erro foi acusado e condenado a
pagar por um crime que não cometeu.
Duas pessoas marcadas pelo destino e que veem seus
mundos colidindo e entrelaçando-se sem chances de fugir. É
possível esquecer o passado e dar uma chance ao amor?
RAZÃO E EMOÇÃO
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Eduardo González é um advogado criminalista conhecido por
ser um tubarão nos tribunais. Não foi fácil alcançar esse
reconhecimento, mas trabalhou duro para conseguir, deixando uma
extensa lista de inimigos pelo caminho. Arrogante, bem sucedido e
bonito. E acredite, ele sabe disso. Usa e abusa da sua aparência e
status para ter qualquer mulher que desejar aos seus pés, mas se
engana aquela que achar que ganhará seu coração. Só terá a
chance de tê-lo apenas por uma noite.
Até ela...
Rebeca Evans é uma assistente social, conhecida por ser
umas das coordenadoras da fundação Amélia Goulart. Teve seu
coração partido no dia do seu casamento. A traição deixou feridas
profundas,feridasque a fezprometer a si mesma nunca mais deixar
ser enganada. Corajosa, independente e linda. Não acredita em
príncipes encantados. Para ela todos os homens são iguais e só
servem para a diversão.
Ele coleciona corações partidos. Ela coleciona homens pela sua
cama. Uma noite e tudo muda.
Quem vencerá essa batalha? A razão ou a emoção?
ENTRE O CÉU E O INFERNO
Em breve na Amazon
Catharina Alencar é uma típica e honrada moça de igreja que
foi criada dentro de doutrinas e ensinada desde cedo que mulher
servia ao marido e não opinava em casa, muito menos fora dela. O
que ele falasse era lei e ela deveria seguir à risca ou estaria
pecando contra os mandamentos divinos. Só que ela não era feliz.
Por trás da bela moça de olhos castanhos e cabelos cacheados,
tinha sofrimento, tristeza, mentiras e muita violência. Ela aguentava
tudo calada e perdoava por se achar merecedora de todo o castigo
que lhe era aplicado. Até que um dia ela conhece Gabriel Miller, seu
novo vizinho charmoso e com nome de anjo, mas que de santo não
tinha nada. Ele é um típico solteirão depravado e totalmente
descompromissado, que segundo ela, foi enviado pelo próprio
Lúcifer para atentá-la e implantar dúvidas em seu coração, das
quais irão fazera doce dona de casa se questionar sobre tudo o que
lhe foi ensinado e se despertar das mentiras e manipulações que
sofrera, desejando ser livre da prisão que se encontra.
Ela terá que escolher entre viver a vida fantasiosa que criaram
para ela ou seguir novos caminhos onde descobrirá os prazeres
pecaminosos do corpo e encontrará a libertação de sua mente.
O que fazer quando o que dizem ser pecado, se torna aquilo
que te salva?
Meu nome é Sarah Mercury, tenho 27 anos, sou formada em
Administração, casada há 10 anos e mãe de três filhos que são
minhas razões de viver e lutar por um mundo melhor. Leitora
compulsiva, descobri a leitura aos sete anos de idade, tornando meu
hobby favorito, e desde então, nunca mais parei.
Na adolescência, eu adorava fazer poemas e criar histórias
pequenas, chegando até a fazer parte de um grupo de teatro na
escola, onde apresentei uma dos meus contos.
Sempre sonhei em escrever um livro, mas nunca tive a
coragem de tirá-lo do papel. “Marcas do passado”foi minha primeira
obra, a qual abriu caminho para as outras. Todas são feitas com
muito amor, carinho e dedicação.
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