UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AGRÁRIO
MESTRADO EM DIREITO AGRÁRIO
PROF.ª. DRª. ANNE GERALDI PIMENTEL
FICHAMENTO 4ª SESSÃO: TRANSFORMAÇÃO DA TERRA EM PROPRIEDADE
PRIVADA
GILVAN DE BARROS PINANGÉ NETO
GOIÂNIA
2022
GILVAN DE BARROS PINANGÉ NETO
FICHAMENTO 4ª SESSÃO: TRANSFORMAÇÃO DA TERRA EM PROPRIEDADE
PRIVADA
Trabalho desenvolvido no Programa de Pós-
Graduação em Direito Agrário – PPGDA /
Mestrado, na disciplina de Teoria Geral do
Direito Agrário - TGDA, destinado a avaliação
parcial.
Orientador: Prof.ª. Drª. Anne Geraldi Pimentel
GOIÂNIA
2022
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FICHAMENTO 4ª SESSÃO: TRANSFORMAÇÃO DA TERRA EM PROPRIEDADE
PRIVADA
4ª SESSÃO: 26/04
TÍTULO: Transformação da terra em propriedade privada
TEXTOS: POLANYI, Karl. A grande transformação. As origens de nossa época. Rio de
Janeiro: Campus, 2000. Cap.3, p.51 a 61.
SEGUNDA PARTE
ASCENSÃO E QUEDA DA ECONOMIA DE MERCADO
I – O MOINHO SATÂNICO
3 “HABITAÇÃO VERSUS PROGRESSO”
Ao relatar a transição do sistema feudalista para o capitalista (enfoque na Inglaterra),
dinamizada pela Revolução Industrial do séc. XVIII, o autor critica a cegueira liberal, movida
apenas pela promessa do progresso econômico, sem calcular o seu real custo para aquela
sociedade.
Conforme Polanyi (2000, p. 51) “Não é preciso entrar em minúcias para compreender
que um processo de mudança não-dirigida, cujo ritmo é considerado muito apressado, deveria
ser contido, se possível, para salvaguardar o bem-estar da comunidade.”.
Mencionando os cercamentos (“enclosures”), Polanyi (2000, p. 52) aduz que “O
liberalismo econômico interpretou mal a história da Revolução Industrial porque insistiu em
julgar os acontecimentos sociais a partir de um ponto de vista econômico.”.
Apesar do valor da terra cercada ser superior (duas a três vezes, segundo o autor), tal
progresso não era tão óbvio pois conduzia às pastagens. Na contramão, ainda existiam lugares
onde foi mantido o cultivo da terra (alugada), gerando emprego, renda e alimento.
Neste diapasão “A indústria caseira já se difundia na segunda metade do século XV, e
um século mais tarde ela já era um aspecto marcante no campo.” (POLANYI, 2000, p. 52). A
este respeito, Polanyi (2000, p. 52) alerta que sem uma economia de mercados consolidada,
esse processo poderia ser desastroso: “Na falta de uma tal economia, a ocupação altamente
lucrativa de criar carneiros e vender sua lã poderia arruinar o país.”.
Temendo a mudança inevitável ocasionada pelo progresso, o Clero e a Monarquia
uniram-se em favor da Plebe: “Os senhores e os nobres estavam perturbando a ordem social,
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destruindo as leis e os costumes tradicionais, às vezes pela violência, às vezes por pressão e
intimidação.” (POLANYI, 2000, p. 53).
Segundo Polanyi (2000, p. 54) “Com efeito, a legislação anticercamento parece jamais
ter conseguido impedir o curso do movimento de cercamentos, nem parece mesmo tê-lo
obstruído seriamente.”.
Entretanto, Polanyi (2000, p. 55) afirma também que “Aquilo que é ineficaz para parar
uma linha de desenvolvimento não é, por isto mesmo, totalmente ineficaz”. Nesta esteira, o
autor menciona como a política econômica das eras Tudor e Stuart foram importantes para ao
menos retardar a locomotiva do progresso e permitir uma certa adaptação social.
Em retrospecto, nada pode parecer mais claro do que a tendência de progresso
econômico da Europa Ocidental, o qual objetivava eliminar uma uniformidade
artificial das técnicas de agricultura, faixas de cultura entrelaçadas e a instituição
primitiva das áreas comuns no campo. (POLANYI, 2000, p. 53).
Para Polanyi (2000. P. 55) “A crença no progresso espontâneo pode cegar-nos quanto
ao papel do governo na vida econômica.”; outrossim, o autor delega ao monarca (governo) tais
preocupações relativas à subsistência e à sobrevivência econômica, física e moral do camponês,
frente às mudanças desenfreadas e inevitáveis do progresso.
Sendo uma economia de mercado incipiente e/ou mesmo inexistente à época, seria
inadmissível transferir essa responsabilidade ao utópico “mercado autorregulável”, ou seja,
“[...] a economia de mercado é uma estrutura institucional, e sempre nos esquecemos disto, que
nunca esteve presente a não ser em nosso tempo e, mesmo assim, ela estava apenas parcialmente
presente.” (POLANYI, 2000, p. 56).
No horizonte resplandeciam a Revolução Industrial, o constitucionalismo e a
democracia parlamentar; adotando o protecionismo como último recurso “A política financeira
da Coroa restringia agora indevidamente o poder do país e começara a restringir o seu
comércio”. (POLANYI, 2000, p. 57).
Ainda que diante das conquistas do comércio marítimo na era das navegações, a
política mercantilista de expansão imperial cedia paulatinamente às cidades industriais inglesas,
denominadas pelo autor de “moinhos satânicos” (êxodo rural em massa).
Nestes abismos de degradação humana, onde o mercado autorregulável norteava-se
pela lei dos salários e da população, surgiram teses importantes a fim de tentar explicar a
realidade da época (por exemplo, o Marxismo), além da própria ciência da Sociologia.
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A Revolução Industrial foi apenas o começo de uma revolução tão extrema e radical
quanto as que sempre inflamavam as mentes dos sectários, porém o novo credo era
totalmente materialista, e acreditava que todos os problemas humanos poderiam ser
resolvidos com o dado de uma quantidade ilimitada de bens materiais. (POLANYI,
2000, p. 58).
Em busca de uma explicação lógica para definir a Primeira Revolução Industrial,
Polanyi (2000. P. 59) pondera que “Será que foi o aparecimento de cidades fabris, a emergência
de favelas, as longas horas de trabalho das crianças, os baixos salários de certas categorias de
trabalhadores, o aumento da taxa populacional, ou a concentração das indústrias?”.
Ou seja, a fim de entender essa nova economia de mercado, é necessário entender antes
o impacto da máquina na sociedade comercial; especialmente nas sociedades agrárias, onde a
base da economia consiste na compra e venda de produtos oriundos da terra.
Polanyi (2000, p. 60) observa que “Uma vez que as máquinas complicadas são
dispendiosas, elas só são rentáveis quando produzem grande quantidade de mercadorias.”; ou
seja, neste novo sistema de mercado autorregulável (liberalismo), a motivação de subsistência
cede à motivação do lucro (teoria mais tarde aperfeiçoada pelo marxismo, trazendo conceitos
próprios de mercadoria, taxa de lucro, mais valia etc.).
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REFERÊNCIAS
POLANYI, Karl. A grande transformação. As origens de nossa época. Rio de Janeiro:
Campus, 2000. Cap.3, p.51 a 61.