GLAUCO MATTOSO
POESIA VAGINAL
CEM SONNETTOS SACANAS
A GRANDE SACANAGEM HISTORICA DE AINDA ESCREVER SONNETTOS
por Jorge Sallum
{1} O poeta de muitos p�s
Glauco Mattoso � o maior sonnettista vivo do paiz. Mas dizer isto �
dizer pouco - alem de duvidoso. Pois ser um sonnettista tem, hoje, um
sabor um tanto ambiguo: o sonnetto foi a mais notoria forma fixa
tradicional a ter sua morte decretada pelos modernistas, no inicio do
seculo XX. Frequentar uma forma morta seria, por defini��o, um caso de
necrophilia. Porem Glauco Mattoso � um famoso e assumido podolatra, um
adorador de p�s. E de p�s vivos. Talvez n�o seja, ent�o, coincidencia
que elle reaffirme, por ac��o e crea��o, a vivacidade do sonnetto, uma
forma montada em p�s (pois metrificada). Si tudo isso nos obriga a
analysar a condi��o contemporanea do sonnetto (a fim de demonstrar que
sua practica talvez n�o seja affinal idiosyncratica ou extemporanea - ou
necrophilica), temos, antes, de nos deter em nosso sonnettista.
Glauco Mattoso foi, desde o come�o, um poeta polymorpho. E um poeta
"transgenero". Tornou-se justamente famoso, a partir do inicio dos annos
1980, por fundir o que varias poeticas da epocha juravam ser
inconciliavel - tambem como justificativa de sua propria existencia.
Assim, as poeticas visualistas (de que a poesia concreta foi a mais
notoria) defendiam com unha e sangue a condi��o, bem, visualista da
"verdadeira" poesia contemporanea - condemnando ao limbo da
irrelevancia, do erro historico ou da ociosidade todas as demais, como a
poesia em versos (tardo)modernistas, a poesia "marginal"-contracultural,
a poesia engajada etc. Glauco Mattoso ignorou tudo isso por n�o ignorar
nada disso, e usar em sua poesia elementos de todas essas poeticas.
Junctou, ent�o, a"poesia de mimeographo", a arte postal e a poesia
concreta (entre outras) no JORNAL DOBRABIL, exemplo possivel de "arte
poetica total", impossivel de classificar e difficil de descrever.
{Chegava-me �s m�os esparsamente, agora me chega em pequena collec��o,
um jornaleco de uma folha que se chama JORNAL DOBRABIL. [...] Vae do
grego ao chulo. Um design graphico anthropophagicamente simples,
economico, creativo. E um texto - verbal e n�o verbal - simplesmente de
rachar o bicco. [...] Da diagramma��o ao texto, tudo alli � farra e
bagun�a de signos "corporaes", si assim posso dizer (n�o ha illustra��o
nenhuma) - como si a cultura inteira, o mundo inteiro, fossem traduzidos
em termos Dad�-intestinaes, Dad�-digestivos, Dad�-gestuaes.} (Decio
Pignatari)
O JORNAL DOBRABIL parescia de facto um jornal, pois feito para parescer
um jornal, que era xerocado e enviado a "assignantes" pelo correio.
Vinha encabe�ado pelo nome do "periodico", trazia um expediente (com
seus "collaboradores", como Glauco Mattoso, Pedro, o Podre, Pedlo, o
Glande, etc.) e "textos" organizados ou divididos em columnas. Mas nada
era o que parescia.
A come�ar das proprias lettras das "manchettes". Pois n�o se tractava de
nenhum typo realmente existente. Explorando ao maximo os recursos da
machina de escrever, Glauco Mattoso construia cada charactere, cada
lettra de cada palavra das partes propriamente graphicas de seu "jornal"
(incluindo as separa��es das columnas), em escala, forma e detalhes
precisos, utilizando outros signaes do teclado, como ponctos, virgulas,
a lettra "o" etc. Seu virtuosismo graphico-visual, em muitos aspectos,
era dos mais desaffiadores no que ent�o se fazia na poesia visual. Mas,
como dicto, nada era o que parescia. Boa parte do JORNAL DOBRABIL era,
affinal, uma satyra � propria poesia concreta. Mas tal satyra,
"dobrando-se" sobre si mesma pela perfei��o de sua realiza��o parodica,
accabou por produzir alguns dos melhores poemas concretos da poesia
brazileira. A primeira conclus�o � que Glauco Mattoso foi, por vias
(muito) tortas, um poeta concreto. E dos melhores.
Porem Glauco Mattoso jamais perdeu a descompostura. A poesia do JORNAL
DOBRABIL, num liquidificador de formas e referencias que � a marca maior
da arte pop, era tambem verbal. Pois si usava seus recursos de montagem
de characteres para crear perfeitos poemas visualistas, tambem o fazia
para registrar poemas verbaes de varias linguagens e varios estylos, do
haikai ao sonnetto, passando pelo modernismo brazileiro - tudo
amalgamado pelo cimento acido da satyra, da parodia e da ironia. Para
n�o fallar de aspectos "marginaes" e "contraculturaes", como a thematica
sexual, as palavras chulas e os multiplos sentidos, numa mixtura
incommum entre Mallarm� e Mill�r, entre a liberdade constructivista da
palavra "industrial" da modernidade (como nas manchettes de jornal, na
publicidade e no poema inaugural dos modernismos, Un coup de d�s ) e a
derris�o mais iconoclasta. Si isso poderia approximal-o de certa postura
pop, de facto o affastava dessa linguagem pelo proprio repertorio
lan�ado em seu grande liquidificador do repertorio de formas poeticas da
modernidade (e alem).
A poetica polymorpha e polysemica do JORNAL DOBRABIL se desdobraria na
REVISTA DEDO MINGO para ent�o entrar numa nova phase, dominada pela
uniformidade verbal da forma sonnetto.
{Fascinado com o desvario, calibre, engenho & arte, tudo embrulhado em
grosso manto de perfidia e desespero, respondi a algumas provoca��es de
Glauco, que elle publicava e estimulava. [...] Cultura encyclopedica
delirante - sabe exactamente tudo -, dominio saphado de varias linguas,
entre ellas o Volapuque e o Gujarati, despudor deante de todas as
glorias, embora a amplitude e a qualidade de sua produc��o sejam um
contradictorio, Glauco ja nasceu prompto, ainda que nem elle nem eu
soubessemos disso, no JORNAL DOBRABIL. [...] Mas o JORNAL DOBRABIL foi
s� o inicio. Depois veiu o ensaio-deboche sobre o trote, a erudi��o
lexica do diccionario de palavr�es inglez-portuguez, at� a gloria actual
dos sonnettos, camoneanos, perfeitos como technica, transbordantes de
id�as, nojentos como thematica [...], pura litteratura, [...] minuciosa,
exaggerada, buscando o figado do leitor. Cada palavra de Glauco Mattoso
� uma reverbera��o. N�o ha como ultrapassal-o.} (Mill�r Fernandes)
A raz�o da migra��o de uma poetica multiforme e constructivista para uma
forma fixa e puramente verbal foi pragmatica. Amarissimamente
pragmatica: o poeta glaucomatoso, que conviveu a vida inteira com sua
doen�a sem jamais se render a ella, antes lhe rendendo "homenagem" ao
transformar a condi��o em nome artistico - alem de desaffial-a ao
practicar uma arte visual e detalhista -, accabaria completamente cego.
Mas a cegueira n�o accabaria absolutamente com o poeta.
Glauco Mattoso foi desde sempre um conhescedor da tradi��o poetica, que
jamais se contentou com qualquer modismo linguistico, como os que se
affirmavam a "verdadeira poesia moderna", conforme dizia de si propria
cada vanguarda do fim do seculo XX. Dahi ter podido frequental-as todas
pelo viez da (des)appropria��o, da synthese e da satyra, tornando-se de
certa forma, pela contram�o, o poeta moderno mais completo da poesia
brazileira. Dahi, tambem, poder migrar para uma poetica n�o mais baseada
em qualquer visualidade ou supporte graphico, mas inteiramente na
verbalidade e na memoria, quando o glaucoma congenito affinal lhe roubou
totalmente a vis�o.
O caminho que levaria Glauco Mattoso a se tornar o grande sonnettista
brazileiro contemporaneo e, si esta opini�o n�o estiver errada, um dos
grandes sonnettistas da litteratura em lingua portugueza, integra a
historia das formas, que � a historia da arte, � sua historia de vida.
Mas isto s� foi possivel porque a limita��o physica se impoz a uma
enorme for�a creativa alimentada por um vasto conhescimento do officio -
capaz, ent�o, de excappar da limita��o, do cerco, do impedimento, ao
transformal-o em mero redireccionador.
O sonnetto, por sua subestructura formal, apesar de sua origem no inicio
da Edade Moderna, remette � propria origem da linguagem poetica, que �
anterior � escripta. Dahi as recorrencias formaes (palavras semelhantes
[rhymas]) e temporaes (rhythmos) que a characterizam: ellas tornam o
texto poetico, originalmente oral, memorizavel. O sonnetto � uma
estructura, mais ou antes do que uma forma - e essa estructura � um
forte substracto mnemonico.
Pode-se representar o sonnetto por um conjuncto de algarismos e lettras,
em que os algarismos s�o as syllabas (num total de 10, para versos
decasyllabos, ou unidade discreta de 10 syllabas), emquanto as lettras
s�o as rhymas (ou elementos sonoros recursivos finaes), emquanto os
parentheses marcam as tonicas obrigatorias (aqui, tracta-se do sonnetto
classico italiano):
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 A
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 B
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 A
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 B
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 A
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 B
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 A
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 B
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 C
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 D
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 C
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 D
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 C
1 (2) 3 4 5 (6) 7 8 9 D
Tudo isso torna o sonnetto particularmente memorizavel e mentalmente
"visualizavel" - a linguagem talvez ideal para a idea��o silenciosa.
Dahi n�o se tractar de um caso unico (Jorge Luis Borges foi outro
sonnettista cego contemporaneo).
Mas esse novo sonnettista era, affinal, o mesmo Glauco Mattoso de antes,
ou seja, o virtuose da linguagem poetica que produziu sozinho,
utilizando apenas o apparentemente limitado apparato mechanico da
machina de escrever, uma poesia visualmente mais complexa, bem vistas as
coisas, do que outros fariam com muito mais recursos, da Lettraset ao
computador. Dahi n�o ser difficil entender que pudesse se transformar
num virtuose do sonnetto, a forma affinal excolhida para realizar sua
poesia na contram�o de sua propria arte anterior: da maxima liberdade
formal e experimental � delimita��o incontornavel de uma forma fixa
verbal. O resultado seria a reaffirma��o e a actualiza��o das
potencialidades da forma sonnetto, t�o illimitadas em seu campo de 14
linhas quanto o xadrez em seu tabuleiro de 64 casas.
{2} O sonnetto morreu: viva o sonnetto
Provavelmente, no calor da hora revolucionaria, os modernismos
commetteram um de seus maiores equivocos ao apponctar o sonnetto como a
epitome da poesia morta. Elles o necessitavam morto, para affirmar a
vitalidade compensatoria de sua nova linguagem, baseada n�o em uma nova
forma, mas em uma nova liberdade formal. Mas pode-se facilmente
confundir um desejo com um facto, quando o facto contradiz o desejo.
Bastaria lembrar o nome de Vinicius de Moraes para comproval-o (n�o
bastasse o de Borges). [1]
Mas apesar de evidencias posteriores em contrario, depois dos
modernismos, as formas fixas e, em especial, a mais notoria dellas,
foram postas em quest�o para, em seguida, serem attiradas no limbo das
coisas condemnadas pela historia, como uma especie de espartilho do
corpo poetico, que um poema moderno jamais poderia voltar a vestir. O
mesmo se deu, nas artes plasticas, com a figura��o e, em seguida, com a
propria pintura, e com a musica tonal, e com... Mas affinal a cultura
contemporanea accabaria por se revelar uma "mactadora" dos prophetas da
morte das coisas. Pois ella demanda e permitte, por varios mechanismos,
a multiformidade, a multiplicidade, a excolha. � uma cultura de
innova��o mas, tambem, de preserva��o, inclusive attravez e por causa
dos novos meios. Tudo se transforma, nada se perde. Ironicamente, uma
das poucas coisas a ter se tornado de facto ultrapassada foram os
prophetas do novidadismo, mortos com a morte das vanguardas. Portanto,
algumas coisas affinal morreram. Mas foram poucas - como a machina de
escrever, os affiadores de faca de rua e as vanguardas artisticas,
decretadoras da validade exclusiva do novo e da desvalida��o necessaria
do antigo.
� comprehensivel: tanto que os velhos vanguardistas decretassem a morte
de tudo, quanto que agora n�o se decrete mais a morte de nada.
{NOSSA EPOCHA� UMA EPOCHA INDUSTRIAL. / TAMBEM A ESCULPTURA DEVE CEDER
SEU POSTO / � SOLU��O ESPACIAL DO OBJECTO / A PINTURA N�O PODE RIVALIZAR
/ COM A PHOTOGRAPHIA / O THEATRO � RIDICULO EM UMA EPOCHA / QUE PRODUZ
AS EXPLOS�ES DAS "AC��ES DE MASSAN". [...] A ARTE EST� INDISSOLUVELMENTE
LIGADA: / � THEOLOGIA / � METAPHYSICA / � MYSTICA. / A arte nasceu no
Ambito de culturas primitivas [...] / MORRA A ARTE.} [2]
A quantidade de manifestos artisticos do seculo XX � infindavel, mas
todos possuiam certas characteristicas communs, aqui bem representadas:
pretendia-se identificar e affirmar a "characteristica fundamental" da
epocha ("NOSSA EPOCHA � UMA EPOCHA INDUSTRIAL" - o uso das maiusculas �
uma traduc��o graphica da certeza revolucionaria), e, a partir della,
derivar automatica e inquestionavelmente o que era correcto ou
necessario fazer ("A ESCULPTURA DEVE CEDER SEU POSTO" [para objectos
industriaes, pois a primeira era fructo do "individualismo burguez"]; "A
PINTURA N�O PODE RIVALIZAR COM A PHOTOGRAPHIA" [pelo mesmo motivo]). Na
poesia, o que deveria morrer eram as formas fixas, em especial o
sonnetto.
Nascido no final da Edade Media, elle expressaria em sua ordena��o e em
sua forma regular e rectangular id�as e ideaes metaphysicos de origem
platonica, ligados � "propor��o aurea" da Antiguidade, por sua vez
appropriada, com o proprio platonismo, pela Egreja e pela arte produzida
sob seu escudo esthetico-ideologico. Com o fim da Edade Media e o
advento da "modernidade burgueza", o sonnetto teria se transformado
(depois de outras muta��es de sentido, pois n�o de forma, ao longo de
sua extensa historia) em instrumento e exemplo do conservadorismo e da
ociosidade da burguezia, por esta usado e abusado, em fins do seculo
XIX, como "recrea��o esthetica" e affirma��o de cultura e sophistica��o,
logo, de posi��o social (para n�o fallar da propria "manuten��o da
ordem", por raz�es obvias: affinal, tracta-se de uma forma t�o fixa
quanto ordenada).
Tudo isso � de algum modo verdade. O que � inteiramente falso � tractar
a historia da arte como um syllogismo, como uma proposi��o logica: si
"nossa epocha � uma epocha industrial", logo, morra a esculptura (ou a
pintura, ou o sonnetto, ou a arte). Affinal, deu-se que, si esta epocha
� de facto uma epocha industrial, isto significa possuir
characteristicas novas em rela��o �s sociedades agrarias que na verdade
possibilitam , por exemplo, no campo da esculptura, o surgimento antes
impensavel dos mobiles de Alexander Calder (que podem, si se quizer, ser
vistos como traduc��o da instabilidade ou inseguran�a congenita da
sociedade capitalista, em que "tudo o que � solido se desmancha no ar",
para citar Marx, ou outra coisa qualquer: a critica de arte n�o � uma
sciencia, mas, na melhor hypothese, opini�o informada). Mobiles cujo
surgimento significa, em todo caso, o exacto opposto da impossibilidade
de Calder "expressar sua individualidade burgueza" usando materiaes e
ferramentas industriaes.
Mas alem de a historia da arte n�o ser um syllogismo, o motivo mais
forte para a sobrevivencia do sonnetto (e de outras formas tradicionaes,
como a estrophe de quattro versos) � que, apesar de tudo, nada nelle o
torna fundamentalmente distincto de outras formas poeticas - incluindo
as livres. A modernidade "essencial" destas �, em grande parte, uma
quest�o de poncto de vista, ou mais precisamente, de tempo de vista.
Pois n�o ha, na verdade, differen�as radicaes, ou seja, de raiz, entre
as formas poeticas fixas e as formas livres: todas se baseiam,
necessariamente, na mesma "recursividade discreta" que characteriza ou
determina a linguagem poetica.
{A poesia [ao contrario da prosa, que � linear] � um discurso recursivo.
Ao ser recursiva, ao retomar ou reiterar seus elementos, ella � tambem
necessariamente discreta , por interromper o fluxo de palavras com e
para o resurgimento, a recorrencia , de um elemento qualquer. Discreto
significa commedido, pequeno - "feito de unidades distinctas", ou seja,
descontinuo, e, em termos propriamente linguisticos, aquillo "que se
juncta a outros na cadeia fallada sem, comtudo, perder a
individualidade" (Houaiss). Cada grupo de palavras adquire a condi��o de
uma pequena unidade, que se juncta a outras unidades numa cadeia - o que
affinal determina sua estructura, isto �, sua syntaxe. Pois cada novo
passo n�o repete simplesmente o anterior, como num mantra, mas recaptura
informa��es previas, numa interdetermina��o, ou motiva��o, dos elementos
formaes e semanticos. [...] Todas as notorias figuras sonoras da poesia,
como rhyma, allittera��o, assonancia, paronomasia, alem das figuras de
rhythmo como a metrica, e ainda as figuras de estructura como as
estrophes, s�o formas de recorrencia. E ao incidir sobre o fluxo
linear-temporal da linguagem verbal, tornam-na discreta. S�o tambem,
portanto, formas de discre��o.} [3]
Sahindo da forma para voltar � historia, si hoje (quasi) n�o se decreta
mais a morte de nada (o livro e o "auctor", assim entre aspas, teem sido
alvos frequentes de diagnosticos terminaes), � porque n�o se pode, de
facto, viver indefinidamente de questionamentos (que o digam os
cadaveres das vanguardas). Na vida como na arte, � preciso eventualmente
affirmar algo. E na arte, o que se affirma � sempre uma forma (conceitos
embasam necessariamente a crea��o e a recep��o da crea��o, mas n�o podem
substituil-a).
O que n�o significa que se affirme somente uma forma. Pois fora os casos
de excep��o, que s�o excep��o, como a pintura abstracta (ou separada [de
uma referencia]; do latim abstrahere , separar), as artes em geral, e as
artes verbaes em particular, s�o sempre referentes (portanto,
semanticas): referem-se a algo alem de si mesmas, o que lhes determina
seus possiveis significados. Como uma mancha de tincta, uma nota musical
tambem � abstracta, e portanto asemantica, pois n�o tem ou se remette a
qualquer significado alem de si mesma. Uma palavra, porem, nunca �
abstracta ou asemantica. Palavras teem significados (aquillo a que se
referem). Nem abstracta nem asemantica, "forma e contehudo", para usar a
express�o popular, ou significante e significado, s�o inevitaveis em
qualquer arte verbal. Dahi n�o haver litteratura abstracta.
A conclus�o � que o sonnetto, si n�o est� morto, pode ser tanto mais
"vivo" ou ter tanto mais vivacidade quanto mais consciencia tiver de sua
condi��o verbal-referente.
Todo poema versa sobre algo. Essa estructura formal e semantica, ou
morphosemantica (emquanto a musica instrumental, em contraexemplo, �
morpho asemantica), imp�e que as rela��es formaes, como rhymas,
rhythmos, estropha��es etc., sejam ou interdeterminadas, ou
intermotivadas, assim como as rela��es semanticas e, por fim, as
proprias (inter)rela��es morphosemanticas. Dois versos do maior
sonnettista da lingua portugueza tornam as coisas mais claras:
{Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos admostra a victoria ja passada.}
{A "victoria ja passada" � a da battalha de Ourique, em 1139, com a qual
o conde D. Affonso Henriques inicia uma serie de victorias contra os
reis mouros ao sul de seu territorio. [...] O escudo portuguez
homenageia desde ent�o a battalha. � sob esse escudo, portanto, que, no
"presente" do seculo XVI a que se referem estes versos de Cam�es, devem
se dar as novas victorias contra os mouros. Occorre que a connota��o de
presente como dom, regalo, dadiva, em parallelo � connota��o temporal,
existe em portuguez desde o seculo XIII. E � para essa connota��o que
apponctam, no primeiro verso, o verbo ver e a substantividade de escudo
, para ella ser affinal plenamente realizada pelo enjambement [corte],
ao crear a quasi-exclama��o "que presente". Em prosa, os dois versos
seriam apenas uma phrase: "Vede-o no vosso escudo, que presente vos
admostra a victoria ja passada". E a phrase teria um s� significado, o
do presente previsto pelo passado. Com o enjambement , insere-se uma
polysemia, criam-se phrases ("que presente") e significados que n�o
existem e n�o podem existir em linguagem prosaica, como as cores de uma
paizagem inexistem num desenho a graphite: a "victoria passada" torna-se
um presente dado por D. Affonso a seus herdeiros no throno portuguez, a
que elles devem fazer jus com victorias no presente.} [4]
{3} O poeta de muitos sonnettos
Os milhares de sonnettos de Glauco Mattoso, mantendo a li��o do JORNAL
DOBRABIL ("como si a cultura inteira, o mundo inteiro, fossem traduzidos
em termos Dad�-intestinaes, Dad�-digestivos, Dad�-gestuaes", para
lembrar as palavras de Pignatari), formam uma especie de diario poetico
da epocha. Pois alem dos themas preferenciaes do auctor, em que se
destaccam a adora��o por p�s, a cegueira e suas circumstancias, o
homossexualismo e a submissividade sexual, tudo e todos (e todas as
formas) s�o alcan�ados pela elabora��o poetica, de factos historicos,
culturaes, estheticos, politicos, economicos e sociaes a factos
circumstanciaes. Nas m�os de um poeta mais fracco, isto significaria
reduzir a forma sonnetto ao seu arcabou�o formalmente neutro, uma
moldura, grade ou caixa que pode ser preenchida com o "contehudo" que se
queira. Ironicamente, foi o que accontesceu com a crea��o mais
importante da revolu��o modernista em poesia, o verso livre, hoje
diluido, como regra, em um prosaismo frouxo, feito de phrases recortadas
aleatoriamente e margeadas � esquerda, para ter algum aspecto "poetico"
(� falta perfeitamente prosaica de elementos de recorrencia poetica
significativos). N�o � o caso dos sonnettos de Glauco Mattoso, ao
contrario, cuja consciencia e maestria constructivistas (assim como o
acido de seu humor e a amplitude de seus recursos metricos,
metaphoricos, parodicos, imageticos, vocabulares, rhymicos, rhythmicos
etc.) n�o precisam ser postas � prova, pois o foram acintosamente desde
o inicio, com o voraz virtuosismo que preenchia litteralmente cada
pagina do JORNAL DOBRABIL ("O DOBRABIL foi s� o inicio. Depois veiu
[...] a gloria actual dos sonnettos, camoneanos, perfeitos como
technica, transbordantes de id�as [...]. Cada palavra de Glauco Mattoso
� uma reverbera��o" [Mill�r]).
Isso n�o impede, ao contrario, que em sua vasta produc��o sonnettistica
haja momentos mais altos e, portanto, outros menos, como consequencia da
propria op��o de fazer do sonnetto a forma constante (mas n�o
invariavel) de uma materia ou thematica poetica egualmente vasta - alem
de vastamente variavel. O caso mais proximo que vem � mente � o do maior
haikaista brazileiro, o pernambucano Pedro Xisto. Si Glauco Mattoso foi
um grande poeta concreto malgrado elle mesmo, Pedro Xisto foi um dos
principaes poetas concretos "officiaes", o "quarto mosqueteiro" do grupo
central do concretismo. E assim como a obra de Glauco Mattoso se divide
entre o radical "experimentalismo" parodico do JORNAL DOBRABIL e o
sonnetto, a obra de Pedro Xisto divide-se entre alguns dos mais
importantes poemas concretos e o haikai - forma t�o tradicional, na arte
nipponica quanto o sonnetto na occidental (apesar de algumas tentativas
vans de transformar "por decreto" o haikai no maximo da modernidade,
emquanto, no mesmo "decreto", condemnava-se o sonnetto como o maximo do
archaismo). Por fim, ambos souberam egualmente "fluidificar" os themas
das respectivas formas fixas, tanto no sentido da amplid�o thematica
quanto no de sua adequa��o.
Glauco Mattoso fez aqui um recorte thematico estricto, ao seleccionar de
sua vasta sonnettistica estes 100 sonnettos: os do thema mais
explicitamente sexual. Demonstra-se assim, entre outras coisas, que a
litteratura contemporanea sobre sexo n�o est� condemnada a se limitar a
prosaicos tons de cinza, mas pode ter todas as cores da linguagem
poetica mais forte, actualizando a longa tradi��o da poesia fescennina,
que remonta aos poetas latinos e passa por Bocage e Gregorio de Mattos
para desaguar em Glauco Mattoso, o mais pornographico dos grandes poetas
brazileiros, ou o mais poetico dos grandes pornographos idem. Em todo
caso, pornographia se torna a rhyma mais perfeita para poesia. E
vice-versa.
{PORCARIA SEM PERFUMARIA (I) [5047]
Sejamos francos: sexo � sujo. A picca
� suja. Uma boceta � tambem suja.
Fodeu o dicto cujo a dicta cuja?
Junctou sujo com sujo: justifica.
Tambem no cu metter, si alguem fornica
assim, � muito sujo. Sobrepuja,
porem, qualquer sujeira quem babuja
de lingua num caralho ou numa crica.
Beijar, bocca com bocca, eu n�o confundo
com sexo oral: embora troque baba,
a bocca n�o desceu ao mais immundo.
Mas quando aquelle mesmo pau que enraba
penetra numa bocca, faz, no fundo,
alguem se emporcalhar: no lodo accaba.}
{PORCARIA SEM PERFUMARIA (II) [5048]
Verdade seja dicta, ent�o: a gra�a
do sexo oral consiste mesmo nisso,
sujar-se ao practicar um vil servi�o.
A scena, por ser suja, � que � devassa.
Tentar amenizal-a, pois, n�o passa
de inutil camuflagem. N�o me ouri�o
sabendo que elle fa�a esse posti�o
papel de "bem lavado", ou que ella o fa�a.
A gra�a est� em vencer essa barreira
do nojo, em obrigar-se ao humilhante
contacto, via oral, com tal sujeira.
Portanto, � natural que o pau levante
si um sadico na bocca foder queira
de alguem que casto e puro ser garante.}
Uma das primeiras coisas a se notar � a retroimpregna��o (para usar um
palavr�o) da forma com a graphia. O sonnetto � uma forma antiga. Antiga
� a poesia em lingua portugueza. Antiga (na verdade, archaizante) �
ent�o a graphia de Glauco Mattoso. Um de seus effeitos � addensar o arco
historico a que essa poesia remette - no sentido opposto ao novidadismo,
bem, de outrora. Portanto, mais uma vez, Glauco Mattoso opera por um
paradoxo, como aquelle de fazer perfeita poesia concreta pela satyra �
propria. Mais importante, a graphia archaizante gera nestes sonnettos um
attrito, digamos, interno com a thematica, o vocabulario e a syntaxe
contemporaneos, depois que estes tinham sido ja admoldados � forma
fixa. [Phoneticamente graphando:] "Sejamos francos: sexo � sujo. A pica
/ � suja. Uma buceta � tamb�m suja. / Fudeu o dito cujo a dita cuja? /
Juntou sujo com sujo: justifica". A linguagem � directa, quasi
colloquial, apesar da trama sonora e das rhymas ricas como
picca-justifica e suja-cuja . Dahi vem a pista para a graphia, que �
tambem sonoridade: n�o se tracta de verdadeira escripta archaica, mas de
uma parodia, posta a servi�o da densidade sonora. Dahi a vers�o original
destes quattro versos ter muito mais attritos sonoros do que a vers�o
"limpa" accyma: "Sejamos francos: sexo � sujo. A picca / � suja. Uma
boceta � tambem suja. / Fodeu o dicto cujo a dicta cuja? / Junctou sujo
com sujo: justifica". O campo sonoro do poema � marcado e/ou determinado
pela aspereza e pela "espessura" de suas consoantes recorrentes, "s",
"j", "f", "x", refor�adas pela predominancia da vogal fechada "u". O uso
de novos "cc" em "dicto", "dicta", "junctou", cria um som, "k(i)t", que
� uma vers�o mais secca de "x" ("x[i]s"), alem de augmentar a aspereza
geral pelo augmento do numero de consoantes (que s�o estructuraes), e
particularmente pela occorrencia de encontros consonantaes. O campo
sonoro do poema, emfim, fica mais aspero, mais "sujo".
Si a pornographia tem uma characteristica fundamental, � que se tracta
de uma forma de fetichismo. Pode-se dizer que a pornographia � a
fetichiza��o do corpo em si, ou seja, sem que elle precise ser
substituido por um objecto. A fetichiza��o do corpo pela pornographia
opera, ent�o, pela despersonaliza��o e pela divis�o funccional do corpo.
Na situa��o habitual, uma mulher deixa de sel-o para ser um corpo
desejavel, corpo que o � por seu conjuncto mas, principalmente, por suas
partes: essa bunda, essas pernas, esses peitos. Pode-se fazer um filme
porn� sem mostrar o rosto da actriz. Mas n�o occultando suas outras
partes, ao contrario, sempre necessariamente enquadradas (recortadas)
repetidas vezes e de varias formas. Dahi alguns sonnettos pornographicos
de Glauco Mattoso poderem ser dictos hyperpornographicos, ao operarem
taes mechanismos em seus mais nitidos recortes: "Mas quando aquelle
mesmo pau que enraba / penetra numa bocca...". Notar o refor�o semantico
do enjambement (ou "corte [do verso] por encavallamento"), ao incidir em
"enraba / penetra", e a pura pornographia (como funccionalidade
imagetica) dos recortes "pau que enraba" e "penetra numa bocca" (em
compara��o, "penetra na bocca della" seria menos pornographico). Isto
dicto, a hyperpornographia de Glauco Mattoso � normalmente posta a
servi�o de uma comprehens�o, de uma intellec��o, de uma descrip��o ou de
uma narra��o. E, sempre, da linguagem. Assim, seguindo esta estrophe, ha
a occorrencia de duas marcantes polysemias: "Mas quando aquelle mesmo
pau que enraba / penetra numa bocca, faz, no fundo, / alguem se
emporcalhar: no lodo accaba": "faz, no fundo" significa, ao mesmo tempo,
"em verdade" e "em profundidade"; "no lodo accaba" diz, simultaneamente,
que o subjeito alli termina, que alli elle "se accaba" e que termina
alli a ac��o.
Uma ac��o que se inicia, na verdade, na lingua, isto �, na linguagem. E
que nella, affinal, culmina:
{Officio do orificio, a foda ir�,
fechando e abrindo, aonde a vogal va.}
///
NOTAS
[1] "Como de cera / E por acaso / Fria no vaso / A entardescer // A pera
� um pomo / Em holocausto / � vida, como / Um seio exhausto� // Entre
bananas / Supervenientes / E ma�ans llanas� // Rubras, contentes, / A
pobre pera: /Quem manda ser a?". Ha neste sonnetto de Vinicius ("A
pera", 1948) todo o apprendizado do alto modernismo, ou seja, o thema
n�o "poetico", o vocabulario secco, substantivo, a dic��o directa, os
versos curtos em tetrasyllabos (logo, o rhythmo accelerado), a ausencia
do eu lyrico, os cortes abruptos ("� vida, como"), a polysemia (esse
mesmo "como", conjunc��o que no contexto evoca o verbo comer ), a rhyma
incommum ("pera / ser a") e o colloquialismo ("Quem manda ser..."), alem
das li��es dos "objectivistas" norte-americanos.
[2] Alexei Gan, "Constructivismo" (1922), in Miguel Antonio Buzzar, Jo�o
Baptista Villanova Artigas - ELEMENTOS PARA A COMPREHENS�O DE UM CAMINHO
DA ARCHITECTURA BRAZILEIRA, 1938-1967, S�o Paulo, Senac/Unesp, 2014, p.
24.
[3] Luiz Dolhnikoff, "A raz�o da poesia", in EUTOMIA - REVISTA DE
LITTERATURA E LINGUISTICA, Recife, Universidade Federal de Pernambuco,
n� 9, jul. 2012, pp. 184 (accessivel em www.revistaeutomia.com.br)
[4] Idem, pp. 181-82.
///
SONNETTO BOCETEIRO [309]
Pequenos, grandes labios, um clitoris.
Pentelhos. Secre��o. Quentura molle,
que envolve meu caralho e que o engole.
N�o saio at� gozar, nem que me implores.
Diana. Dinorath. Das Dores. Doris.
Aranha. Taturana. Ovelha Dolly.
Pelluda, cabelluda, ella nos bolle
na rolla, das pequenas �s maiores.
Boceta existe s� para agu�ar
a fome dos caralhos em jejum.
Queremos bedelhar, fu�ar, bu�ar!
Agora n�o me fallem do bumbum!
Do p� tampouco! Vou despucellar
o bu�o dum caba�o, acto incommum.
SONNETTO DA NYMPHETA [374]
Dedico-te esta dadiva, � Dolores,
musa divina, diva doidivanas!
Recebe de presente estes sacanas
bichinhos de pellucia chupadores!
Ser�o teus companheiros quando fores
brincar de bestialismo. Sem as chanas
de tuas amiguinhas ou das manas,
te sentes t�o sozinha e tens tremores!
Coitada da Dol�! Quem dera fosse
dotada duma mansa passarinha!
Mas n�o! � uma nymphomana precoce!
Ja desde pequenina se entretinha
em jogos. Ao invez da balla doce,
chupava e era chupada na tetinha.
SONNETTO DISCIPLINADO (a Bella, a Sarah, a Laura, a Barbara) [707]
Mulher sabe mandar: quando domina,
um homem a seus p�s rebolla e dansa
bonito! A femea altiva n�o descansa
at� que humilhe a ra�a masculina!
A bota tem a poncta aguda e fina,
e o salto o p� lhe encurva � semelhan�a
dum arco triumphal! Emquanto admansa
o macho, ella lhe appoia essa botina!
Ordena-lhe que lamba e, si preciso,
applica-lhe a chibata sem reserva!
O cara eguala a lingua ao sujo piso!
Um outro macho, rindo, a scena observa:
� della o companheiro, e seu sorriso
suggere que a mulher lhe seja a serva...
SONNETTO DA LUXURIA [832]
Pensei que insaciavel era a puta
que fode por prazer, mais que por grana!
Que nada! Um velho ainda � mais sacana
e nunca satisfaz a rolla hirsuta!
Na foda, pela lingua elle permuta
a fragil erec��o: o odor que emana
da velha sem pudor na suja chana
lhe d� mais appetite que uma tructa!
Assanha-se o anci�o quando a consorte
tem cocegas por dentro! Ent�o chupita
o caldo que, excorrendo, fede forte!
Qual sopa, cha, nem succo! Resuscita
aquelle exhausto membro, em grande porte,
o gosto da sardinha antes de fricta!
SONNETTO LUBRICO [1078]
Num velho pornofilme de segunda,
a Linda Lovelace engole inteiro
um penis bem maior que o costumeiro
e mostra ter garganta assaz profunda.
Mais facil que na vulva ou numa bunda,
o pau entra todinho: � que, primeiro,
penetra at� a metade e, ent�o, boeiro
se torna a bocca, e nella a rolla affunda.
Depois a gente soube que na marra
a actriz tinha actuado. O que se nota
na hora � a cara agonica e bizarra:
Narinas enche o ranho; mais que chota
molhada o suor jorra; da boccarra
excorre baba... e porra, si ella arrocta.
SONNETTO SADOMITA [1105]
O coito anal � o symbolo mais vivo
do sadomasochismo, pois, emquanto
gargalha quem penetra, resta o pranto
�quelle que assumiu papel passivo.
Na mesma propor��o em que me privo
do maximo prazer e me quebranto
em dores, sei que um penis eu levanto
com meu gemido agonico e afflictivo.
O macho que cavalga-me e me enraba
quest�o n�o faz siquer de vaselina:
eu mesmo o pau lhe unctei com minha baba!
Colloca-me de quattro, de menina
me chama emquanto fode e, assim que accaba
e esporra, ainda em minha bocca urina!
SONNETTO DO PEGA-P'RA-CAPPAR [1194]
Disseram que meu medo duma aranha
� medo de boceta! Fosse assim,
qualquer pessoa, tendo pingolim
ou n�o, uma chochota achava extranha!
Peor: at� mulher jamais se accanha
de panico sentir com o que, em mim,
provoca calafrios! Mas, emfim,
quem � que, nesse horror, n�o me accompanha?
S� mesmo quem n�o teve nunca a chance
de estar pertinho duma cabelluda
se gaba de que, frente a frente, advance!
Mach�es me contam que isso ninguem muda...
Duvida da tarantula? Ent�o danse,
ao som da tarantella, a dor aguda!
SONNETTO DO BAPTISMO DE FOGO [1231]
Ser� treinada para chupar picca,
assim determinou a auctoridade
local de occupa��o. Nem mesmo Sade
podia imaginar o que se applica...
A presa � koreana. Mulher, rica
ou pobre, num quartel, faz a vontade
da tropa: � fellatriz resta que aggrade
ao joven japa, �s ordens de quem fica.
Revezam-se os soldados. Ella abbaixa
o rosto, v� o caralho rude e duro,
mas virgem, e na bocca o adjusta e encaixa.
Quem goza, agora altivo, tem futuro
bem longo pela frente (mesma faixa
etaria de seu filho), e era inseguro...
SONNETTO DA FUGA SUBITA [1249]
Cagava a nymphetinha quando, rente
ao vaso sanitario, a enorme aranha
do p� se lhe approxima. Muita manha
tem feito a adolescente, ultimamente.
Recusa-se a comer, a boba, crente
que assim mantem a forma. Nem se accanha
ao ver-se pelladinha e, mal se banha,
desfila e posa, dum espelho em frente.
Agora, sentadinha na privada,
esquece, por um tempo, seu corpinho,
e esfor�a-se em cagar, compenetrada.
A aranha, cujo pello � como o espinho,
lhe ro�a a pelle! Corre, inda pellada,
e excorre-lhe o coc� pelo caminho...
SONNETTO DO CLIENTE EXIGENTE [1261]
O pau pode ser sujo, mas a bocca
precisa sempre estar muito limpinha.
Assim pensa o cliente, que espezinha
a puta chupadora, e nem se toca.
N�o quer elle saber si ella � masoca;
importa � receber a chupetinha
completa, no capricho, como a minha
no pau de quem enxerga e me provoca:
"Ent�o, ceguinho? A bocca t� lavada?
N�o quero bocca suja no meu pau!
Sujeira, basta a minha!" E d� risada.
E emquanto elle desfructa e geme um "Uau!",
eu lavo com a lingua uma ensebada
piroca, supportando o cheiro mau.
SONNETTO DA ESPORRADA DESFORRADA [1356]
Pegaram-no as meninas na cilada
e delle se vingaram! Cada uma
aptou-lhe o bra�o, a perna: agora nada
impede que o commando a turma assuma!
Fodera o garanh�o a namorada
de cada "bom rapaz" que ao local rhuma
a fim de desforrar: uma porrada
o joga ao ch�o! De raiva o cara espuma!
Meninas e rapazes d�o, com gosto,
pis�es e ponctap�s naquelle rosto
que nova humilha��o conhescer�:
Chupado, cada qual, por sua "mina",
esporram-lhe na bocca, e nella urina
um delles, que vingado agora est�!
SONNETTO DA PHANTASIA SEXUAL [1410]
Perguntam-me si, perto dos sessenta,
na cama a gente ja a brochar come�a.
Respondo que a piroca ainda aguenta,
mas, quando accaba, nunca recome�a...
Mais liq�ida a descarga se appresenta
e noto estar gozando mais depressa.
O tempo de intervallo agora augmenta.
N�o ha, porem, raz�o que o gozo impe�a...
Em duas situa��es, a picca dura
me fica num instante, e assim perdura:
si sonho ou si um politico se fode...
No sonho, lambo p�s e chupo picca,
e, quando a vida delles se complica,
na bronha elles s�o cabras e eu sou bode...
SONNETTO DO CORNO ASSUMIDO [1440]
Amigo meu, que � corno, justifica:
"Melhor � dividir a doce canna
do que chupar sozinho a mexerica
azeda..." E assim, sorrindo, elle se damna...
E quanto � tal do�ura? Chupa a picca
dos dois? E chupar� com egual gana?
Eu ca ja sou mais practico: quem fica
com ella � meu rival, que � mais sacana...
Assumo, alem de corno, que sou macho
de menos: antes della, ja me agacho,
tractando de chupal-o e preparal-o...
Depois de desfructal-a, satisfeito,
o cara inda me manda, que eu acceito,
servir-lhe um cafezinho no intervallo...
SONNETTO DO GENTIL SERESTEIRO [1463]
Amada Clara, minha amada Clara,
em versos cantarei a tua cara!
Amada Beatriz, tu, Beatriz,
ver�s que cantarei o teu nariz!
Querida Concei��o, canto-te a m�o!
Querida Nazareth, canto-te o p�!
De ti canto, Raymunda, como n�o
podia me ommittir, a bunda, n�?
Cantei, da Julieta, a bocetinha,
e o cu cantei tambem, da Luluzinha...
Nem fallo das mammonas da Ramona!
Cantei, por ser pequena, a Magdalena
e, fina, a Josephina, mas a pena
nem vale o amor cantar � minha dona...
SONNETTO DO TROVADOR PROVOCADOR [1464]
Accorda, minha amada, que te espero
debaixo da janella! Mas ruido
n�o fa�as, que teu mano � mui severo
e, caso me descubra, estou fodido!
Tambem, meu bem, a outra fui sincero
e estive-lhe � janella... Mas bandido
� seu troncudo irm�o, e aqui nem quero
lembrar quando pegou-me, alli, despido...
Ao ver-me assim exposto, o marmanj�o
me fez logo chupar e, como n�o
bastasse, me enrabou sem piedade!
Por isso, meu amor, toma cuidado,
pois, si teu mano pega-me pellado,
Deus sabe la o que eu fa�a que lhe aggrade...
SONNETTO DA CANTIGA DE AMOR [1512]
"Filhinha, amor, vem ca. S� pro papae,
amor, me conta aonde foste tu
passar a madrugada! Conta, vae!"
"Ah, papaezinho, va tomar no cu!"
"Filhinha, onde estiveste a noite toda?
Com quem saiste, amor, algum velhaco?
N�o temes, meu amor, que alguem te foda?"
"Ah, foda-se, papae, n�o me encha o sacco!"
"N�o 'falla' assim commigo! Filha minha
n�o pode se portar como gallinha!"
"Ah, chega disso, pae! Que coisa chata!"
"Mais uma, e te arrebento de pancada,
ouviste? Vaes ficar descadeirada!"
"Ah, jura, pae? Me batte? Ah, va, me batta!"
SONNETTO DA FUTEBOLINA [1529]
Alem da puta simples, sem mania,
da "groupie", da Maria Gazolina,
tambem se faz men��o � tal Maria
Chuteira, que commigo algo combina...
S� fico imaginando o que faria
quem usa dessa alcunha nada fina
a s�s com algum craque que sacia
na dicta seus desejos de bolina...
� claro que as chuteiras lhe descal�a
a puta, cuja pose n�o � falsa
na scena em que cafunga na canhota...
N�o tenho a menor duvida que o craque,
embora um gol no campo n�o emplaque,
lhe mette o p� na bocca e o pau na chota...
SONNETTO DA MULHER NUA [1609]
Tirou a roupa toda e, como n�o
bastasse, pelo predio foi andar.
Ficou chamada, como na can��o,
a "pelladona do primeiro andar"...
Morava era no quincto, mas tes�o
causava desde o terreo ao patamar
dos ultimos degraus, e com raz�o:
mulher t�o boazuda anda a faltar...
Assim, quando ella tira a roupa e sae,
pagando uma promessa, chama o pae
o filho, para vel-a, e a m�e a filha...
Passeia a mo�a nua e, ent�o, se veste
de novo... E todos, do poder celeste,
indagam por qual gra�a ella se humilha...
SONNETTO DO SEXO LIMPO [1611]
Aseptico, asseado, elle, comtudo,
exige da mulher que sempre venha
chupar-lhe o pau lavado. � caralhudo,
e esfor�o cabe � bocca, que se empenha...
Ainda que a hygiene seja um mudo
accordo, quando a docil bocca ordenha
a porra do subjeito, algum miudo,
minusculo sebinho alli se embrenha...
Ou, quando n�o � sebo, � o proprio mijo
que deixa seu cheirinho nesse rijo
cacete a ser mammado longamente...
Coitada da mulher! Finge que approva
o asseio do marido, mas escova
com cremes perfumados o seu dente...
SONNETTO DO COITO NA PENUMBRA [1627]
Em pleno "frango assado" est� o casal.
A chota, penetrada, se arreganha.
O pau, indo e voltando, d� signal
de que ja vae gozar onde se banha...
A cama, sob os corpos, range e mal
supporta o peso quando, assim que a sanha
se abbranda, os dois se abbra�am no final...
� quando, de repente, surge a aranha!
Estava sob o estrado e, sacudida,
resolve reagir, puta da vida,
dispondo desse mar de corpos nus...
Attacca e injecta, na primeira pelle
que encontra, seu veneno! Antes que appelle
a Deus, a mo�a grita e accende a luz...
SONNETTO DA ZONA ESCROTA [1652]
Si o p� do ser humano � tido como
seu poncto baixo, sujo, oppressor, mau,
alguma analogia ao caso sommo,
dizendo ser o sacco o p� do pau...
Si o penis por um cara erecto tomo,
o escroto � o que lhe tem inferior grau,
quer sejam os testiculos dum homo
ou do mich� mais masculo e vagau...
Os bagos, como os p�s, teem pelle grossa,
que cheira forte e causa nojo � nossa
narina, lingua ou timida bei�ola...
Lamber, portanto, o sacco, e at� chupal-o,
mais justa e propriamente do que o phallo,
rebaixa a bocca humana, como a sola...
SONNETTO DO FILME PORN� [1675]
Ninguem esporra dentro! Trepa a puta
em tudo quanto � pose e posi��o:
deitada; de joelho; � for�a bruta
boquetes paga; engole um caralh�o...
Coqueiro e frango-assado ella executa
com rara habilidade, e a direc��o
do filme, amadoristica e fajuta,
repete aquillo a poncto de exhaust�o...
Porem jamais o penis ejacula
emquanto a puta o tenha dentro, engula
ou cubra com a m�o: tem que ser fora...
A porra � branca, espessa, e tanto abunda
que faz a cobertura, sobre a bunda,
como o glac� no bollo, que o decora...
SONNETTO DA GRAPHIA POLITICAMENTE CORRECTA [1683]
Se escreve que � "veado" ou que � "viado"?
Se escreve que � "boceta" ou que � "buceta"?
Depende da inten��o: si o bicho � dado
por macho ou si a conducta o comprometta...
Si o bicho � "bicha", um "I" ser� graphado;
si apenas bicho, um "E" faz a canneta.
E quanto � xoxotinha? Algum boccado
de pecha est� no pau que se lhe metta?
O estojo de rap� ja est� em desuso,
no proprio territorio, o solo luso,
e ja ninguem precisa desses termos...
Da vulva todo mundo necessita,
at� quem n�o adspira, traga ou pitta,
pois della dependemos ao nascermos...
SONNETTO DA TITHIA QUE TITILLA [1689]
A thia solteirona causa intriga
no seio da familia: d� palpite
em tudo, atti�a a raiva, inveja instiga...
Paresce que ninguem lhe imp�e limite!
Agora ella se mette si a m�e grite
mais alto com a filha, sua amiga...
Extranha, essa amizade! E n�o admitte
que alguem as accompanhe la na Liga...
As duas s� la v�o quando as senhoras
se ausentam, e, trancadas, passam horas
jogando sabe la Deus Pae o que!
Catholicas, as velhas nem suspeitam
que as duas, nos divans, rollam e deitam,
brincando de quem coma e de quem d�...
SONNETTO PARA OS SEIOS [1722]
Peituda, o "sutian" della equivale
a um par daquella bolla que se chuta.
Famosa, a artista � rara, que se eguale
a ella: uma Mae West? Ah, n�o disputa!
Faf� tambem n�o d� raz�o que falle
alguem em comparar... O que se escuta,
porem, dessa menina n�o lhe vale
melhor reputa��o do que a de puta...
� attraz dessas mamminhas que a ral�
paresce estar correndo... Mas qual �,
pergunto, o maior charme desse seio?
Talvez os caras queiram s� mammar...
e achar tambem um optimo logar
para a penetra��o: dos dois no meio...
SONNETTO PARA UM BEB� CHOR�O [1747]
Emquanto o bebezinho dorme, os dois
recemcasados trepam. De repente,
no meio da chupeta, param, pois
accorda o fofo e chora, descontente...
Na hora o cara brocha! P'ra depois
ja fica aquella foda! A m�e se sente
for�ada a outra chupeta, e o nome aos bois
convem que se lhes d� na voz corrente...
"Chupeta" a gente "d�" para a crean�a,
mas "faz" quando o chupado s� descansa
depois de ejacular, como um chicuta...
Si o cara n�o gozou, tanto peor!
Agora o beb� sabe ja de cor
os termos da express�o "filho da puta"...
SONNETTO PARA UM NAMORO ADOLESCENTE [1831]
O joven, preoccupado, ao seu doutor
pergunta por que sua namorada
recusa-se a chupar. "Ser� o fedor?
Mas sou t�o hygienico!" Qual nada!
Tem nauseas, a coitada, mas, si for
verificar direito, est� lavada
a rolla do rapaz... Tanto pudor
tem uma explica��o ja bem manjada...
Aromas e sabores o rapaz
no proprio pau passou, mas melhor faz
si, em vez de lhe pedir, commande a "dona"...
Chupar, com nojo ou n�o, a gente obriga!
A mo�a que obedes�a! Si der briga,
o cara logo encontra outra boccona...
SONNETTO PARA UM SONHO DESFEITO [1863]
Na hora em que apagou a luz, estava
a mo�a se lavando: tinha ja
limpado seu cuzinho, e agora lava
a estreita bocetinha, que n�o d�...
Sem agua quente, fica a mo�a brava
e tenta se enxugar. Quando ella est�
ficando quasi secca, o bra�o trava,
de subito, seu gesto... Que ser�?
Sentiu a coceirinha pela perna,
de leve, uma caricia meiga e terna
que sempre desejou e que n�o ganha...
Ent�o voltou a luz e, horrorizada,
percebe que a coceira � provocada
por uma cabelluda e negra aranha...
SONNETTO PARA UM VOCABULARIO CONTROVERSO [1916]
Embora em Portugal eu tenha a av�,
tal como no Brazil la n�o se falla:
"garota" � la "chavala", vejam s�!
Por que n�o chamam logo de "cavalla"?
Aqui, diriam "egua": � de dar d�!
Daqui a pouco, a uma "burra" ja se eguala...
Me ponho a imaginar na lingua o n�
que d� a "boceta" a um luso, ao pronuncial-a...
La dizem "conna", ou "conno", um masculino!
Calculem si um "boceto" adopto e ensigno
que � certo e preferivel... Hem? Que escracho!
Teremos que dizer, ent�o, "caralha"!
Ser� que bem ao phallo o termo calha?
Ser� que inda dir�o que "bicha" � macho?
SONNETTO PARA UMA OVELHINHA DESGARRADA [2035]
Mas que menina linda! Venha ca!
Aqui, com o tithio! Qual � seu nome?
Cad� sua mam�e? Vae voltar ja?
N�o fique preoccupada! Ella n�o some!
Mam�e lhe d� presentes? Papae d�?
E que mais quer ganhar? Quer balla? Tome!
Alli vendem brinquedos! Vamos la?
Tambem vendem pipoca! Est� com fome?
Me d� a m�ozinha! Assim! Est� com medo?
Tithio n�o vae morder! Ainda � cedo!
Que tal dar um passeio no meu carro?
"Foi elle, sim, mam�e! Quiz me foder!
Babaca! Accreditou que tem poder
de seduc��o? Em velho eu n�o me amarro!"
SONNETTO PARA UMA GAROTA QUE N�O � DE QATIF [2042]
Que tenho a declarar? Fui sequestrada,
sahindo � rua � noite, por bandidos!
Levaram-me ao seu antro e fui, por cada
um delles, suja, em todos os sentidos!
Foderam-me na bocca! Penetrada
me vi de todo lado! Meus gemidos
inuteis foram sempre, pois que nada
commove esses mach�es embrutescidos!
Clemencia, meritissimo, eu lhe imploro!
Si saio condemnada deste foro,
coitadas das mulheres estupradas!
"Culpada foi voc�, que os provocou!
Em nome do Senhor, pois, eu lhe dou
senten�a de duzentas chibatadas!"
SONNETTO PARA QUEM FICA CHUPANDO O DEDO [2088]
O joven se approveita da cegueira
do velho e della zomba. Nem duvida
que o cego se subjeita ao que elle queira
e accapta qualquer coisa que decida...
Mandou chamar, ent�o, uma rameira
e, emquanto a fode, o cego nem convida.
S� resta, a quem n�o v�, ficar na beira
da cama, ouvindo a puta ser fodida...
O sacco do rapaz o cego escuta
battendo, em plena copula, na puta,
que ja chupou-lhe o pau e os p�s lambeu...
Depois que a vagabunda foi embora,
o joven chama o cego e diz: "Agora
� sua vez!" E quem chupa sou eu...
SONNETTO PARA UM PERIPAQUE SEM DESTAQUE [2099]
Num quarto de motel, o velho exhala
seu ultimo suspiro: o comprimido
tomado foi demais para quem galla
ja nem tem no colh�o, que est� rendido...
A pobre prostituta ainda falla:
"Vov�! Que foi? Accorda!" Addormescido,
porem, elle jamais ir� escutal-a,
tampouco dar ouvidos a Cupido...
Chamada a portaria, alguem accorre
e encontra uma menina, 'inda de porre,
tentando despertar uma carcassa...
Nenhum policial se surprehende
com mais esta occorrencia, que n�o rende
siquer noticia num jornal de massa...
SONNETTO PARA UMA MULHER DAMNADA [2117]
Ficou, na Parahyba, Cabaceiras
famosa pela cega que dizia:
"Eu quero � me lascar!" Entre as rameiras,
nenhuma mais soffreu da freguezia.
Fodiam-na na bocca! Com maneiras
estupidas for�avam-na, e ella abria
boceta e cu, que as piccas mais grosseiras
punham em carne viva e na sangria!
Sahiam sem pagar e a pouca grana
ainda lhe roubavam! Quem se damna
assim aguentaria um lupanar?
Pois ella alli ficava! E quando alguem,
lhe escuta o choro e soccorrel-a vem,
ter� de ouvir: "Eu quero � me lascar!"
SONNETTO PARA UM HOMEM DAMNADO [2118]
Aqui na Paulic�a, um cego est�
na mesma condi��o daquella cega
que, desde Cabaceiras, ficou ja
famosa pela phrase que se emprega.
"Eu quero � ser pisado!", digo ca
commigo e para aquelle que n�o nega
seu sadico tes�o e a inten��o m�
de ser chupado e de "lavar a jega"...
Depois de ser fodido sem ver nada,
apenas escutando-lhe a risada,
na cara levo um tapa e um "Cala o bicco!"
Em vez de lamentar-me, apenas cito
a cega e reconhes�o-me maldicto:
com dor e humilha��o me identifico.
SONNETTO PARA UMA PLAT�A MACHISTA [2146]
O valetudo come solto. A cada
assalto, mais o publico se assanha.
Os caras se engalfinham na porrada,
no chute e no pis�o. O "honesto" appanha...
Erguendo a tabuleta, uma piranha,
pellada, quasi, finge que alli nada
escuta ou v�, mas saca, e de quem ganha
ou perde leva o rotulo e a cantada:
"Gostosa! Vacca! Chupa aqui, vagaba!"
Quem grita, frente �s cameras, se gaba
e aggarra o proprio pau por sobre o "short"...
Ja pode elle, � vontade, de pau duro
ficar, vendo os marmanjos, que s�o puro
tes�o, alli se expondo quase � morte...
SONNETTO PARA UMA PROVA IRREFUTAVEL [2501]
Com cego n�o se brinca! Ao restaurante
vae elle e, sem cardapio em braille, o jeito
� um pedido ao gar�on, que foi acceito:
trazer-lhe uma colher suja, o bastante.
Aquella da panella, isso. E, durante
seguidos dias, elle, com perfeito
paladar, prova e sabe o que foi feito
na hora: accerta sempre e se garante.
Para sacaneal-o, o gar�on pede
que Chica, a cozinheira, na chochota
d� cheia colherada. A esposa accede.
E o cego, que a colher na bocca bota:
"C� t� de sacanagem! N�o me dede
que a Chica aqui trabalha! Que chacota!"
SONNETTO PARA A ANATOMIA DA VULVA [2512]
Amigo meu de infancia sempre tinha
alguma perguntinha de algibeira.
Exemplo: si a mulher, de Ad�o herdeira,
tem penis, tem um homem bocetinha?
"Ei, como assim?", a gente logo vinha
p'ra cyma. Elle explicava: "ora, quem queira
saber, veja na puta mais rampeira
o grelo advantajado: � uma rollinha!"
Si existe um pau la dentro da vagina,
cad�, no macho, a chota equivalente?
Ao menos algum tra�o se imagina...
Bobagem de crean�a. Mas a gente
no sacco a procurava e, na bolina,
n�o era aquella fenda t�o ausente...
SONNETTO PARA UMA CONCENTRA��O MASCULINA [2562]
Que foi? T� me extranhando? Eu, n�o! N�o acho
nenhum homem bonito! Eu acho feio
aquelle caralh�o duro no meio
das pernas! Molle, ent�o, � um esculacho!
Tou fora! N�o supporto esse relaxo
de quem n�o toma banho! Quero asseio,
perfume, perna lisa, seio cheio!
Boceta, emfim! Qual �? Sou cabra macho!
Cec�? Bra�o pelludo? Eu, hem? Que nada!
Bigode? Barba dura? Basta a minha!
Ver pela frente, s� mulher pellada!
Aqui no vestiario, essa morrinha
damnada de marmanjo me faz cada
vez mais carente duma bocetinha!
SONNETTO SOBRE UM PIERR� APPORRINHADO [2827]
Pierr�, si appaixonado, d� vexame
a toda hora. Pela Colombina
faz tudo, at� se humilha, si a menina
for sadica e impedir que elle reclame.
A bella Colombina tem o infame
capricho de exigir (Quem imagina?)
que o cara experimente sua urina
na lingua, como prova de que a ame!
Mas, quando ja Pierr� se adjoelhara,
faz ella que Arlequim seja quem mije
na bocca do coitado! Mas que tara!
Peor � que Arlequim ainda exige
que engula o mijo! O gosto se equipara
a vinho com wermuth e pinga! Vige!
SONNETTO SOBRE UMA DOMINADORA BEM HUMORADA [2932]
Sorris da minha dor, mas eu te quero.
Escravo sou, farei o que quizeres,
pois tens a malvadeza das mulheres
e p�es, sobre meu rosto, o p� severo.
Si affirmo ser escravo, sou sincero,
e o salto, com o qual, rindo, me feres,
supporto, mesmo quando tu tiveres
vontade de testar o que eu tolero.
Mulheres, ao usarem salto agulha,
est�o escravizando algum rapaz,
que em sonhos masochisticos mergulha...
A ti sei que perten�o, e tanto faz
si pisas em meu rosto ou se vasculha
teu salto o meu tes�o, pois rindo est�s...
SONNETTO SOBRE UMA PAIX�O CEGA [2933]
S� louco pode amar desta maneira,
querendo bem e, ao mesmo tempo, sendo
escravo, mergulhado neste horrendo
inferno tenebroso da cegueira!
Paix�o t�o masochista, � certo, beira
a propria insanidade! Estou vivendo
aos p�s duma mulher! N�o me defendo
dum golpe, com o salto ou a biqueira...
At� que uma attitude tem, materna,
minha dominadora, raramente,
mas, quasi sempre, apenas me governa...
Pisando-me no rosto, est� contente.
Meu corpo � mero appoio � sua perna.
Eu sinto amor; prazer � o que ella sente.
SONNETTO SOBRE O BEIJO MAIS INTIMO [3008]
Voc�s ja repararam? Quando alguem
chupou rolla ou boceta, mesmo aquella
recemlavada, um halito revela
aquillo, porque cheiro forte tem.
Quem � que ja n�o disse "N�o, meu bem!",
negando-se a beijar a linda e bella
boquinha que chupou e que a sequela
conserva no bafejo que nos vem?
Por isso o sexo oral � sempre sujo:
si a bocca est� em contacto com aquillo
que fede, o odor a eguala ao dicto cujo.
Inutil evital-o ou prevenil-o:
mais forte se perfuma, mais eu fujo
do cheiro, pois sou sujo sem vacillo.
SONNETTO SOBRE A DUPLA IDENTIDADE [3021]
Como � que pode? Mo�a t�o formosa
fazer algo t�o sujo, que eu nem cito?
Como � que pode? Um cara t�o bonito
cagar merda t�o fetida e lodosa?
Os dois d�o bella dupla, que bem posa
nas photos, o melhor casal descripto
nas notas sociaes, mas, sob o mytho,
percebo que nem tudo � cor-de-rosa.
Flagrei ja, na privada, o que o rapaz
deixou sem dar descarga. E da menina?
Tambem cheirei, no vaso, o que ella faz.
Que horror! Que cagalh�es! Que fedentina!
Ironico, hem? S�o lindos, elles, mas
se esquecem do que largam na latrina...
SONNETTO SOBRE A VERSATILIDADE DAS MULHERES [3063]
Depois da Mulher Gatto, a Mulher Gallo,
Mulher Orangotango, e at� mulher
de nome comestivel... Quem quizer,
excolhe: Mulher C�o, Mulher Cavallo...
Melhor nome excolhi para, aqui, dal-o
�quella que n�o seja uma qualquer,
que "pisque" sua bunda e o que mais der,
alem de fallar coisas que eu n�o fallo:
Si a tal Mulher Fil� tem seu logar
na photo, ao vivo, � mesa e at� na cama,
ter� a Mulher Bisteca mais a dar...
Virar Mulher Biscate ella proclama
que pode: � transformista, e quem pagar
mais alto chega a achar nella uma dama.
GINGANDO NA GANGORRA [3117]
O poncto "G", que muita gente falla
ser "grelo" na mulher, � mais um mytho
da sexualidade. E nem cogito
apenas do pezinho, ao excital-a.
Tambem se applica ao homem: o que emballa
o sexo � qualquer zona, ao infinito.
Si, amado, o feio passa a ser bonito,
importa, em cada corpo, o que o regala.
Que seja, ent�o, o "grelo", mas tambem
"gambito", "glande", "gonada" ou "gog�",
comtanto que alli tenha orgasmo alguem.
Na bicha, no netinho ou na vov�,
que o "G" n�o signifique nada alem
de "gozo", simplesmente "gozo", e s�!
FEDIDO POR FEDIDO [3185]
"Magina! Eu n�o! Lavar o meu caralho?
Ninguem vae me chupar! Vou ter trabalho?"
Assim argumentando, elle deixava
curtir o membro immundo em seu fedor...
E como fede um pau que n�o se lava!
O sebo, que na glande forma crosta,
si fosse na colher, mingau de aveia
ficava parescendo! E at� que cheia
seria uma de sopa, quem apposta?
Calhou de achar mulher que fosse escrava
a poncto de acceitar seja o que for
na bocca... E elle 'inda manda o asseio � fava!
"Mas si ella achou que sujo � que eu lhe calho!
P'ra que lavar? Ahi que eu me emporcalho!"
REPENTINAS BOLINAS MASCULINAS [3198]
Rapazes curtem selva, mar, piscina,
e a turma na pousada se confina.
Dois delles, China e Rapha, um s� colch�o
dividem, de valete, e Rapha fica
temptado a chupitar do outro o pez�o.
Fingindo que dormia, o China deixa.
Manhan seguinte, chama o Rapha �s fallas
e indaga si elle as solas quer chupal-as
de novo, p'ra valer, feito uma gueixa.
Vexado, Rapha topa, mas diz n�o
ser gay, mesmo que dura tenha a picca.
E o China s� confirma: "Eu sou mach�o!"
Amigos s�o ainda, mas o China
s� quer que seu p� chupe a sua mina...
O MAIS MASCULO VOCABULO VERNACULO [3222]
"� pau, e rei dos paus", diz o poeta.
N�o rhyma nem com "teta" nem com "setta".
Come�a com "C" mesmo, e n�o com "P".
"Vagina", em Portugal, se escreve "conna".
La, "porra" n�o � "semen" p'ra quem l�.
Bocage lhe compara o termo a toda
especie de madeira, �s vezes rija,
�s vezes molle, pela qual se mija
ou pela qual esporre alguem que foda.
Fedendo a bacalhau, salga o buqu�.
� doce quando o chupa uma bichona
e, para ser "carvalho", falta o "V".
� aquillo que se mette na boceta:
si alguem tardou a achar, no cu que o metta!
MONACHAL BACCHANAL [3280]
No filme do pornographo italiano,
os monges se consagram no prophano.
Alumna de piano, a nymphetinha
seduz seu professor e o pau lhe chupa.
Alli, quem, affinal, desencaminha?
Flagrado, o mestre � cella commum vae.
Interna-se a donzella num convento.
Ser� "purificada" sob um bento
pretexto: expia��o... Pae, perdoae!
Os frades lhe penetram a boquinha...
Flagellam-lhe a bundinha... Em catadupa
jorrou a porra... O penis ia e vinha...
Esbanja o director primeiro plano
e close, em sua offensa ao Vaticano.
APPURO NO APPURO [3361]
Difficil, � mulher desprevenida,
� quando, entre as visitas, se intimida.
A porta do banheiro, ent�o, lhe indico
e a loira se retira (Com licen�a!),
calcinha ensanguentada pelo chico.
Demora a retornar e, quando a vez
me chega, acho o papel quasi no fim
e o cesto abbarrotado: foi assim
que todo aquelle sangue seccar fez.
Olhando mais de perto, verifico
que at� a calcinha a loira alli dispensa,
t�o sujo lhe ficara aquelle mico.
Sem nada ter por baixo, ella, fingida,
nos brinda, at� que o apperto reincida.
TRAUMAS DE INFANCIA [3364]
De novo ella a pegou quando "daquillo"
brincava. Castigou-a sem vacillo.
A m�e os prevenira: n�o queria
mais vel-os practicando, sua filha
de seis com o priminho, a "porcaria".
Aos cinco, comparava seu pipiu
e a racha da menina esse menino
saphado! A thia, ent�o, "N�o recrimino!"
dissera. E a m�e: "Onde � que ja se viu?"
Flagrado, desta vez, quando mettia
o dedo na chochota, elle se pilha,
agora envergonhado, frente � thia.
Mas esta o persuade: "Vem, Danilo,
cutuca aqui, cutuca!" E elle intranquillo.
VOCALICA VOCA��O [3366]
Aberta � que a vogal id�a d�
daquillo que na foda incluso est�?
Curriculo da puta e do mich�,
o erotico �, tambem, do travesti:
cardapio de quem coma ou de quem d�.
Exerce o mesmo officio, si � porn�,
a lyra que um ephebo exhibe nu,
comendo uma boceta, enchendo um cu
de porra, ou qualquer bocca de coc�.
Chupar pau � dever de quem n�o v�,
mas, antes, lambe um cego o que eu lambi:
artelhos, si o chul� for seu buqu�.
Officio do orificio, a foda ir�,
fechando e abrindo, aonde a vogal va.
CAGONA E MANDONA [3388]
Mas Sylvia... (Ha que dizel-o!) ...Sylvia caga!
No cu da mo�a ha lingua que ache a vaga.
O Jonathan fallou. N�o disse tudo,
porem: a mo�a exige que o parceiro
lhe limpe, apoz cagar, o anal canudo.
Usando, � claro, a lingua! E "chocolate"
� como a mo�a chama o creme pardo
que o macho lamber� si, feito um dardo,
a lingua alli penetre e, humilde, accapte.
Sahiu ja na privada o mais polpudo
tolete, mas nas pregas gruda, inteiro,
algum coc� que o macho engole, mudo.
A mo�a se diverte emquanto paga
um mico o macho. E Swift � quem a affaga.
AUTO PRO MO��O [3409]
Meu cora��o por ti gela!
Meus affectos por ti s�o!
Ja que n�o posso amar ella,
ja nella n�o penso, ent�o!
Ja beijei a bocca della,
que me disse: "Ja que t�o
pouca f�, depois, revela
teu amor, tu me tens n�o!"
Francamente, eu acho peta
que uma m�o n�o se prometta
nesse pappo t�o sincero!
Cr�-me: ja passei por cada
revez! Si excappei da amada,
eu ca, agora, a ti, s�, quero!
PUTA DE RECRUTA [3450]
Foi suffoco, na Argentina,
o regime militar!
Torturou-se at� menina
bem novinha! Vou contar:
Estudante, ella termina
como puta em lupanar:
amarrada, se destina
a morrer e, antes, chupar!
Ja tapado o seu nariz,
a coitada ainda quiz
respirar de bocca aberta...
E um soldado, at� a goela,
mette a rolla, que ella fella...
Si demora, a morte � certa!
SOLTEIRA E CABREIRA [3455]
Sou mulher desconfiada
de qualquer pappo furado:
n�o dou trella p'ra cantada
nem das modas sigo o gado!
N�o! Phantasma? Eu, hem? Que nada!
Nem vampiro! Acho gozado!
Lobishomem? � piada!
Tenho medo � de tarado!
De pensar que elle me metta
no cuzinho ou na boceta,
eu de panico ja morro!
E si for na bocca, ent�o?
Deus me livre! O caralh�o
� maior que o dum cachorro!
PRIMEIRAS LETTRAS [3525]
Na chartilha, que � pudica,
n�o se diz "B" de "boceta",
"C" de "cu", nem "P" de "picca",
nem de "pau", nem de "punheta".
Numa eschola, bem n�o fica
que na gatta o gatto metta
nem contar que a dona Chica
mostra a chota a algum xereta.
Um poeta que eu conhes�o
vira tudo pelo avesso
e diz "Ivo viu a vulva"!
Suppor cabe si a tal chana
� da av�, da m�e, da mana,
e si a dona � ruiva ou fulva...
PECCADO NEFANDO [3952]
O camponio diz � amada:
"Tudo fa�o por ti! Manda!"
A mulher, que n�o tem nada
de sanctinha, sorri, branda:
"Tua m�e quero estuprada!
Farei disso propaganda!"
O camponio, louco, brada:
"Vou fodel-a!" E ja debanda.
A velhinha est� rezando:
pelo filho pede, quando
este chega e o cu lhe arromba!
Vem do Alem, ent�o, a voz:
"Teu peccado foi atroz!
N�o fodeste a m�e na pomba!"
PECCADO VENIAL [3956]
Quer dizer que a gente pecca
e ser� "Desta vez passa!"
a resposta, em vez de "Neca!
Sem perd�o!"... Vejam que gra�a!
Si eu esporro na cueca,
n�o ha padre que me fa�a
crer que a mancha que alli secca
� immoral, torpe, devassa!
Si um peccado mal n�o fez,
certamente uns dois ou trez
n�o far�o, n�o �, meu sancto?
Ai, que bom! Si batto bronha
toda hora, com vergonha
eu at� nem fico tanto!
PECCADO MORTAL [3957]
Quer dizer que, caso a gente
peque, est� ja condemnada
a morrer? Mas alguem tente
me explicar! N�o manjo nada!
Morrer, todos, certamente,
morreremos! Mas, si cada
um de n�s morrer somente
por peccar... Hem? Que enrascada!
Uma mancha na cueca
incrimina alguem, que pecca
ante o codigo divino?
Ai, que horror! Si for assim,
est� proximo o meu fim,
pois "precoce" me imagino!
PROPRIAMENTE DESFRUCTANDO [3958]
Ja deu filme nacional
essa historia, mas me falla
um amigo que � normal
o costume de... estupral-a!
� mulher ninguem "faz mal",
neste caso: o que se entalla
� o caralho na fatal
melancia... � s� fural-a!
Si no cu leva a cenoura
uma bicha, que lhe estoura
todo o recto, por que n�o...?
Uma abobora ou moranga
faz papel, quando ballanga,
da mulher, tendo tes�o!
MENINA MIMADA [3960]
A filhinha � m�e pedia,
insistente, uma boneca.
A mam�e resiste, addia,
mas, emfim, ja n�o diz "Neca!"
A boneca, que queria
a menina, at� defeca!
Peida, arrocta, o dedo enfia
no nariz, tira melleca...
Bem que a m�e desconfiava:
quer a filha ter a escrava
que fiel ser lhe prometta...
Por um lapis penetrada
no cuzinho, a Barbie aggrada,
com a lingua, outra boceta...
PECCADO ORIGINAL [3961]
O peccado contagia,
pois, si um fode, outro tambem
se fodeu numa "philia",
dentre as tantas do vae-vem...
Um prefere a mulher fria;
outro quer, queimado, alguem;
um na bocca o phallo enfia;
outro o cu quer que lhe deem.
Tudo, em copulas, � copia.
Ninguem bolla a foda propria,
differente e inusitada...
Nem o cego, que n�o quer
p� cheiroso ou de mulher,
inventou, no orgasmo, nada!
PECCADO CAPITAL [3962]
Capital, mesmo, s� vejo
um peccado: o da avareza.
Este, sim, � malfazejo,
n�o o orgasmo e a rolla tesa!
Quem dinheiro tem, sobejo,
mas n�o quer fazer despesa,
este � cego, pois, sem pejo,
poupa at� na luz accesa!
Quem bem come ou bem fornica
n�o peccou: apenas fica
mal, depois de saciado...
Quem seu gosto satisfaz,
com mulher ou com rapaz,
a mais sempre d� um trocado.
UM MAGOTE DE CAMAROTE [4027]
Demora no banheiro. Ou caga, ou toca
punheta. A m�e advisa: "A Virgem t�
te vendo, hem? E Jesus, hem? Olha la!"
Pellado, elle se encolhe em sua toca.
Demora mais um pouco. A m�e provoca:
"Cuidado, hem? Satanaz t� vendo!" D�
nos nervos e elle quasi que diz "Va
tomar no cu!", mas cala-se, o boboca.
Depois elle mattuta: "Porra, � todo
um bando me assistindo? Que plat�a!
Eu quero ter sossego e s� me fodo!"
"Estavam, junctos, tendo a mesma id�a?
A Virgem e Satan? � porra a rodo!
Quem sabe si � mam�e a mais ath�a!"
CASEIRA CONFEITEIRA [4110]
Conhes�o uma cruel dominadora
que obriga seus escravos a comer da
fedida torta que ella faz suppor a
melhor das iguarias: sua merda!
Quer vel-os, esta sadica instructora,
comendo com vagar, a bocca lerda,
daquelle "cocolate", que ja fora
thesouro, em testamento, que alguem herda!
Tambem de "guarin�" lhes enche a ta�a,
si imploram e supplicam que ella fa�a
xixi para que alguem beba e se banhe!
Chamar de "cocolate" e "guarin�"
d� tanto prazer nella quanto d�
comer bombons, beber fina champanhe...
GOSTINHO DE MALDADE [4407]
Contou-me um rapag�o que a namorada
lhe chupa a rolla suja: faz quest�o
que a mo�a tenha nojo e sente, ent�o,
"gostinho de maldade" o camarada.
N�o lava a rolla. Apoz uma mijada,
nem mesmo as gottas ultimas vaz�o
tiveram. No prepucio, ellas ir�o
junctar-se � sujeirinha accumulada.
Sentir esse "gostinho de maldade"
deseja o rapag�o, segundo diz.
Por isso quer que a mo�a se degrade.
A mo�a, por seu lado, est� feliz
fazendo tal papel. Ser� verdade?
N�o sendo masochista, � boa actriz.
GALLO CALLEJADO [4455]
Me conta um jogador (verdade pura),
amante que � da noite, que a Maria
Chuteira, quando transa, se appropria
de usadas camisinhas, ou as fura.
Precisa inseminar-se, o que assegura
pens�o, heran�a... E, quando chupa, fria,
evita engolir: finge na bacia
cuspir, mas enche a chota da mixtura.
O craque, prevenido, faz a puta
chupar, mas pela orelha a prende bem,
at� que tudo engula e n�o discuta.
Na chota, quando mette, de ninguem
acceita camisinhas: elle chuta
certeiro em campo e, em casa, tem nenen.
ADDICIONAL INSALUBRIDADE [4463]
Cagou com grande esfor�o, pois estava
ha dias constipado. A sensa��o
de ardor nas pregas, sujas como est�o,
suggere usar a lingua duma escrava.
E escrava elle tem uma, que lhe lava
a rolla com saliva... Por que n�o
fazel-a o cu limpar-lhe sem sab�o,
apenas na lambida? Bem que dava!
Coitada! T�o submissa! A mulher mette
a lingua la no fundo, esfrega, passa
por tudo! E elle desfructa do cunnete!
Com outra ella commenta: "Que elle fa�a
coc� bem duro eu quero! Que dejecte
mais molle, n�o, pois gruda muita massa!"
CREA��O DA BOCETA [4464]
Creada foi por homens de valor
nas suas profiss�es: um a�ougueiro
chegou, com faca, e talho deu, certeiro.
Depois, um marceneiro quiz propor:
Com malho ou com form�o, seja o que for,
um furo fez no centro. Ja um terceiro
que veiu era alfaiate e, por inteiro,
velludo poz no forro interno, em cor.
O quarto, um ca�ador, raposa poz
por fora. Um pescador, o quincto, quiz
um peixe lhe passar e odor propoz.
O sexto, um padre, a benze e s� xixis
permitte que ella fa�a. Mas, depois,
lhe fode o fundo o septimo... e quer bis!
CONTRARIO SCENARIO [4555]
Alcova acconchegante, ornamentada
com finos cortinados; de velludo
vermelho as almofadas; sempre tudo
sedoso e assetinado, a passo cada...
� cama, enorme e larga, n�o ha nada
egual em maciez, com seu felpudo
e grosso cobertor. Alli nem mudo
eu nada: a scena est� bem preparada.
Ninguem, porem, suspeita que, naquella
t�o fofa e calma camara, um casal
far� mais pervers�es que na favella...
O relho come solto! A mulher mal
cagou, o homem lhe come a merda! Fella
a dama o pau dum porco ou bicho egual!
INVAS�O DE PRIVACIDADE [4662]
Flagraram uma actriz, em casa, nua.
Tiraram photos: ellas podem, ja,
ser vistas na internet. Eu acho, ca
commigo, que tem nisso falcatrua.
N�o digo que ella, assim, se prostitua,
mas sabe apparescer. O que me d�
receio � que algum hacker poste la
as photos que eu n�o queira ver na rua...
Preoccupa-me que vejam como eu cago,
pellado, contorcendo-me no vaso,
fazendo na barriga aquelle affago...
Ver�o minhas caretas tortas, caso
divulguem taes imagens! Mais estrago
far�o si estou cagando com attrazo!
ACCENOS DE VENUS [4831]
A menina, quando dorme,
a m�o bota na chochota.
Algo appalpa que � disforme
e de dentro della brota.
Que algo nella se transforme
o symptoma ja denota.
Desponctou-lhe um grelo enorme!
Si contar, fazem chacota.
Batatinha, quando nasce,
� difficil que ultrapasse
o tamanho desse grelo.
Aos poetas, a menina
rende a glosa fescennina
que os consagra ao descrevel-o.
ALTERNATIVA DE GODIVA [4833]
Quando nada mais funcciona,
a mulher conhesce um jeito
de attrahir macho. Ella acciona
esse methodo perfeito:
Sae � rua pelladona!
Disso tira bom proveito,
pois o macho que ambiciona
acha e leva at� seu leito.
� verdade que o tal macho
n�o � desses boys que eu acho
respeitaveis e cortezes...
Mas fazer o que? Godiva
� mulher que n�o se esquiva
si precisa de freguezes...
ACTIVO RELATIVO [4837]
O mach�o de quattro bota
sua gatta e o cu lhe come.
Pouco mette na chochota:
por trazeiros tem mais fome.
Sua tara tem um nome:
sodomia. Mas adopta,
s�, tal nome caso tome
de alguem masculo essa quota.
Si comer o cu dum homem,
tal como outros homens comem,
elle admitte, ent�o, que "enraba"...
Si for della o tal cuzinho,
mesmo sendo sem carinho,
da "comida" elle se gaba...
TREPADA TRESPASSADA (I) [4838]
Pelo modo como a amiga
me relata, eu n�o duvido
que levar no cu castiga,
pois � muito dolorido.
Ella conta que n�o briga,
si elle gosta: � seu marido.
Mas n�o creio eu que consiga
supportar si for comido.
O que, aos machos, mais excita
� saber que a periquita
bem se allarga, e o recto n�o...
De proposito elle mette
no cu, para que o boquete
limpe a rolla... D� tes�o!
TREPADA TRESPASSADA (II) [4839]
Ella torce que elle goze
na chochota e satisfa�a
de tes�o a sua dose,
mas o cara tem m� ra�a.
Elle ordena que ella pose
de cadella. Achando gra�a,
mesmo tendo uma phimose,
nella monta, aggarra, abbra�a...
Minha amiga enxerga estrellas,
enrabada, e, para vel-as,
nem ser noite necessita...
Sente tanta dor, que, quando
elle tira, est� chorando
uma esposa exhausta e afflicta...
TREPADA TRESPASSADA (III) [4840]
Ora, emquanto a mulher sente
dor por dentro, que prazer
seu marido, sorridente,
vae curtindo ao lhe metter!
N�o bastasse, � bem frequente
que elle queira, em seu poder,
uma bocca em que a semente
novamente va correr.
Faz, ent�o, que ella lhe felle
o caralho e que, da pelle,
limpe a merda alli adherida...
Eu, ouvindo o que ella conta,
no logar me vejo, prompta
minha bocca � dura lida...
HEMORRHAGIA QUE ALLIVIA [4847]
Entrou tudo! Aquillo tinha
mais centimetros, eu creio,
que uma regua egual � minha,
si, da infancia, � mente veiu...
Mas entrou! A cadellinha,
com aquillo bem no meio
do seu rego, ja adivinha
do que esteja seu cu cheio...
Sim, de sangue! Entrou aquillo
com tal for�a, que feril-o
fatalmente, ao cabo, iria...
Mas nem grita, essa cadella!
Gosta, at�, si dentro della
move a merda essa sangria!
CAPTIVO ADOPTIVO [4936]
Paraste por que? Vamos, continua!
Est�s muito mollenga, meu rapaz!
Paresces nem ser esse que, ja faz
um tempo, fui buscar alli na rua!
De novo! Assim que eu gosto! Quero a tua
linguona trabalhando! Tu me d�s
prazer como ninguem! Si n�o tens gaz,
te vira! Juncta as for�as! Soffre! Sua!
Mais fundo! Abre-me a chota com a m�o!
Agora mette a lingua! Ai, como eu fico
molhada! Ai, que delicia! Que afflic��o!
N�o tenhas nojo! Quando estou de chico,
tu sabes como eu gosto! Por que, ent�o,
te fazes de coitado? Paga o mico!
VIOLANTE, A VIOLENTA [4970]
Jamais se conformou ella perante
o facto: a mulher arabe, africana,
privada do clitoris, donde emana
a sua sensa��o mais excitante!
Com ella, n�o! Jamais, ella garante!
Quest�o faz de ser virgem, mas, sacana,
masturba-se, estimula com insana
volupia seu grel�o, a Violante!
�s vezes exaggera, quasi arranca
o grelo, tal a for�a que ella emprega:
paresce que maneja uma alavanca!
Os outros desconfiam: quando a cega
(ficou cega, convem dizer) se tranca
no quarto, em sirirycas arde e offega!
IMPROSTITUCIONALISSIMAMENTE [4981]
Ficou fodidamente emputescida,
putissima ficou, vaginalmente
fallando! E, si a mulher puta se sente,
inesporradamente n�o revida!
Revida, pois, no esporro e, caso aggrida
o macho, machucado elle, analmente,
n�o fica inenrabavel! Sae da frente,
portanto, quem com femeas lindas lida!
Aquella de quem fallo, a mais ferrenha
das antiphallocraticas, n�o deixa
barato e, emmachecida, desce a lenha!
Si, immasculinamente, o homem se queixa,
mettido a desmetter, depois n�o venha
recaralhalizar, pois perde a gueixa!
MOLHADA�O EM PALHA D'A�O [5009]
Contou-me um outro cego, e eu nem encuco
si muito demorou p'ra que contasse:
na vulva da mulher mette elle a face
e lambe, e chupa, e suga aquelle succo!
Diz elle: "Glauco, fico mais maluco
ainda si de chico est�! Que eu passe
a louca lingua pelos labios! Nasce
at� ferida nella, immersa em muco!"
N�o � como chupar um pau: a cara
mettida � quasi toda no vermelho
buraco vaginal, que se escancara!
Egual � s� num poncto o rapazelho
� velha ou � nympheta: se compara
na lingua quando gruda algum pentelho...
VOCA��O INVOCADA [5015]
A freira, do convento no jardim,
costura, sentadinha, ouvindo o canto
dos passaros. Naquelle logar sancto
paresce tudo a prece ter por fim.
Mas ella espeta o dedo... e grita assim:
"Ai, merda!" Desboccada foi, e tanto,
que fica emmudescida at�, de espanto,
com medo de que escutem: "Ai de mim!"
"Caralho! Fallei merda!", a freira brada
comsigo, inconformada. Mais se espanta
a cada palavr�o, blasphemia a cada.
"Ah, foda-se!" A freirinha se levanta.
"Eu nunca quiz ser freira, porra!" Irada,
escarra o catarrhinho da garganta.
IRRUMANDO NO COMMANDO [5045]
� muito prazeroso! Voc� deita
de lado e a rolla bocca addentro mette
de alguem que nella ir� fazer boquete,
mas essa bocca � foda se subjeita!
A bocca chupa, a lingua lambe, acceita
voc�, mas � voc� quem bomba: o septe
o pinto pinta! Nada ha que lhe vete
os sadicos impulsos da desfeita!
Se chama "irruma��o" essa chupeta
for�ada, verdadeiro estupro oral,
no qual a bocca � quasi uma boceta!
Quem mamma est� por baixo e, sem moral,
aguenta na garganta o que a punheta
dos labios faz jorrar: leite escrotal!
PORCARIA SEM PERFUMARIA (I) [5047]
Sejamos francos: sexo � sujo. A picca
� suja. Uma boceta � tambem suja.
Fodeu o dicto cujo a dicta cuja?
Junctou sujo com sujo: justifica.
Tambem no cu metter, si alguem fornica
assim, � muito sujo. Sobrepuja,
porem, qualquer sujeira quem babuja
de lingua num caralho ou numa crica.
Beijar, bocca com bocca, eu n�o confundo
com sexo oral: embora troque baba,
a bocca n�o desceu ao mais immundo.
Mas quando aquelle mesmo pau que enraba
penetra numa bocca, faz, no fundo,
alguem se emporcalhar: no lodo accaba.
PORCARIA SEM PERFUMARIA (II) [5048]
Verdade seja dicta, ent�o: a gra�a
do sexo oral consiste mesmo nisso,
sujar-se ao practicar um vil servi�o.
A scena, por ser suja, � que � devassa.
Tentar amenizal-a, pois, n�o passa
de inutil camuflagem. N�o me ouri�o
sabendo que elle fa�a esse posti�o
papel de "bem lavado", ou que ella o fa�a.
A gra�a est� em vencer essa barreira
do nojo, em obrigar-se ao humilhante
contacto, via oral, com tal sujeira.
Portanto, � natural que o pau levante
si um sadico na bocca foder queira
de alguem que casto e puro ser garante.
ABBRA�O SUADA�O [5063]
"S� quero um filho delle e que elle esporre
bem rapido!", a modello pensa, ansiosa,
emquanto � penetrada. Quasi goza
o velho astro rockeiro, ja, de porre.
A mo�a se preoccupa. "E si elle morre
de tanto se esfor�ar?", repensa. E posa
de groupie, de tiete, de gostosa,
banhada no suor que delle excorre.
Beijou-o, ja, de lingua. Ja chupou
aquella rolla molle, que demora
bastante a endurescer. Ja deu seu show.
Agora a vez � delle. A hora, agora,
� desse dinosauro, que suou
no palco e, exhausto, a abbra�a. Brocha e chora.
CHOR�O SEM CHORD�O [5086]
Vestindo frald�o branco, chupet�o
gigante pendurado no pesco�o,
ser finge bebezinho esse colosso
de macho, convertido em foli�o.
"Mam�e, n�o vem brincar no meu chord�o?",
diz elle, no seu jeito chucro e grosso,
�s mo�as, que respondem: "Nossa, mo�o!
Sae dessa! N�o tem outra, mo�o, n�o?"
Problema semelhante enfrenta quem,
at� no Carnaval, infantilista
pretende ser, fazer-se de nenen.
Ainda que elle chore, pe�a, insista,
mulher nenhuma encontra que, por bem,
palmadas d� num orpham masochista.
O PROVEITO DO DEFEITO [5090]
Os homens muito feios ja notaram
que, alem de n�o acharem namorada,
as putas chupeteiras est�o cada
vez menos disponiveis, e o declaram.
Sinceras, dizem ellas, quando encaram
um feio feito a peste: "N�o, por nada,
por pre�o nenhum chupo um camarada
assim!" Tambem as bichas ja fallaram.
Mas, quando um cego chupa um typo feio,
tamanho gozo a bocca proporciona,
que entende este a cegueira em olho alheio:
"Foi para me servir de cu, de conna,
que a bocca existe e um cego ao mundo veiu!
Melhor mamma que a puta, que a bichona!"
ESGUEDELHADA PENTELHEIRA [5099]
Na forma accidentada dos terrenos
est�, do corpo, o erotico na femea,
comtanto que, na bronha, o macho embleme-a
dos seios ao monticulo de Venus.
O symbolo, talvez, que mais accenos
e appellos faz (ainda que blasphemia
alguns o considerem), n�o o teme a
lasciva bocca, a lingua muito menos.
Refiro-me ao pentelho, que rodeia
a vulva, feito cerca de araminho
farpado, a ser pullada, volta e meia.
A bocca n�o d� pullos, a caminho
da grutta, porem: perde-se e passeia
por entre a trama lubrica do ninho.
A PRAGA DA DESNADEGADA [5241]
Rebolla pelas ruas, a damnada,
com sua bunda nova! Applicou nella
uns chymicos recheios, e a mais bella
bundona acha que ostenta na cal�ada!
A bunda, saliente, mais aggrada
aos machos porque a cal�a, que revela
as formas rechonchudas, tem chancella
de griffe vagabunda, vale nada!
Mas como ella rebolla! Como ginga!
De casa � padaria, do sal�o
� feira, � academia... Alguem a xinga:
"Promiscua! Vadia! Tempta��o
do demo!" E a velha puta que, na pinga,
affoga as magoas, cospe a maldic��o!
DUMA VOCA��O EM CRISE [5374]
No convento, o Demo invade
duma freira o cora��o.
Ella tem necessidade,
ja, do penis dum christ�o.
O que importa � que ella aggrade
sua vulva afflicta. N�o
quer saber si vem dum frade
ou dum padre o membro irm�o.
E, fremente, sae a freira
� procura de quem queira
defloral-a com urgencia.
Acha o abbade velho e brocha
que a linguona nella atocha
e a accalmar-se, emfim, convence-a.
DUM RESERVADO N�O VENTILADO [5396]
Entra a velha num boteco
t�o immundo, t�o fuleiro,
que ella pensa: "Ah! N�o defeco
aqui, nunca! Mas que cheiro!"
"Me seguro! Me resecco!
Mas n�o ponho o meu trazeiro
nessa tabua, nesse treco!
Que fedor neste banheiro!"
Mas occorre que a coitada
n�o se aguenta, est� appertada
demais, para ter excolha...
Numa tabua ja molhada
de xixi, se senta... E nada
de papel, duma s� folha...
UM SATYRO SATYRIZADO [5508]
Diz elle que comeu todas, um dia.
Talvez tenha comido, mesmo. Agora,
porem, bebendo todas, elle chora,
saudoso dum orgasmo e duma orgia.
Quem delle falla e os podres denuncia
� sua ex-namorada, uma senhora
lettrada e liberada, que namora,
agora, um medalh�o da academia.
Ferina, a poetiza pinta o seu
ex-caso como um typico gag�,
que as cal�as emporcalha, um mau Romeu.
Manchado de xixi, de facto, d�
vexame o garanh�o, que ja comeu
mulheres como aquella bruxa m�.
TENTANDO TEMPTAR [5515]
No clube, pouca luz estando accesa,
performance uma bella mulher faz
na frente dum casal ou dum rapaz
sozinho. Olhares capta em cada mesa.
Vestida toda em couro, essa princeza
pretende ser rainha, mas capaz
ter� que se mostrar. Inten��es m�s
ostenta. N�o tem nada de indefesa.
Rasteja um masochista a seus p�s. Nota
a sadica plat�a que ella pisa
na cara do subjeito e finca a bota.
Si estou presente, eu penso: nem precisa
tamanha exhibi��o. Meu tes�o brota
si o tennis do rapaz meu rosto visa.
DE MALUQUETE, S� BOQUETE [5537]
Chacrette tinha sido a m�e, mas ella
prefere ser chamada "chuteirette".
Rodeia jogadores, lhes promette
jamais engravidar, mas � balela.
Eximia chupeteira, apenas fella
aquelles que n�o querem que os punhete,
e leva no cuzinho. Ninguem mette
na chota, offerescida, da cadella.
De vez em quando, alguem quer na vagina
metter com camisinha, que descharta,
de porra cheia... Achou que se vaccina.
A puta recupera a porra! A parta
um raio si, infeliz, n�o se insemina,
visando casa, cama e mesa farta...
EST�O VIAJANDO! [5538]
Um omnibus est�, meio vazio,
voltando calmamente, � noite, para
o poncto inicial. Quem suspeitara
que, alli mesmo, se estupra, a sangue frio!
Paresce que occorreu isso no Rio,
mas acho que � mentira. Quem tem tara
capaz de fazer isso, assim, na cara
dos outros passageiros? N�o me fio!
Espalham, inclusive, que a menina
menor era! O tarado poz por traz,
na bocca, pela frente... Ora! Magina!
Em pleno collectivo? E ninguem faz
nadinha? O cara esporra na vagina
infantojuvenil e foge em paz?
VAMPIRO MINETTEIRO [5539]
Historias t�o insolitas eu tenho
ouvido! Aqui no bairro, conta alguem
num pappo de padoca, ja se tem
noticia dum vampiro! Eu franzo o cenho!
S� pode ser piada! O desempenho
da fera � vergonhoso! O bicho nem
procura a jugular duma refem!
Nenhuma veia fura! Ao caso venho:
Commentam que o vampiro s� quer chico
sorvido duma chota ensanguentada!
Que sangue mais impuro! Que impudico!
Por isso � que eu insisto: n�o ha nada
peor que um brazileiro nisso! Eu fico
damnado e dou raz�o ao Chico! Ah! Cada...
///
SUMMARIO
A GRANDE SACANAGEM HISTORICA DE AINDA ESCREVER SONNETTOS (Jorge Sallum)
SONNETTO BOCETEIRO [309]
SONNETTO DA NYMPHETA [374]
SONNETTO DISCIPLINADO [707]
SONNETTO DA LUXURIA [832]
SONNETTO LUBRICO [1078]
SONNETTO SADOMITA [1105]
SONNETTO DO PEGA-P'RA-CAPPAR [1194]
SONNETTO DO BAPTISMO DE FOGO [1231]
SONNETTO DA FUGA SUBITA [1249]
SONNETTO DO CLIENTE EXIGENTE [1261]
SONNETTO DA ESPORRADA DESFORRADA [1356]
SONNETTO DA PHANTASIA SEXUAL [1410]
SONNETTO DO CORNO ASSUMIDO [1440]
SONNETTO DO GENTIL SERESTEIRO [1463]
SONNETTO DO TROVADOR PROVOCADOR [1464]
SONNETTO DA CANTIGA DE AMOR [1512]
SONNETTO DA FUTEBOLINA [1529]
SONNETTO DA MULHER NUA [1609]
SONNETTO DO SEXO LIMPO [1611]
SONNETTO DO COITO NA PENUMBRA [1627]
SONNETTO DA ZONA ESCROTA [1652]
SONNETTO DO FILME PORN� [1675]
SONNETTO DA GRAPHIA POLITICAMENTE CORRECTA [1683]
SONNETTO DA TITHIA QUE TITILLA [1689]
SONNETTO PARA OS SEIOS [1722]
SONNETTO PARA UM BEB� CHOR�O [1747]
SONNETTO PARA UM NAMORO ADOLESCENTE [1831]
SONNETTO PARA UM SONHO DESFEITO [1863]
SONNETTO PARA UM VOCABULARIO CONTROVERSO [1916]
SONNETTO PARA UMA OVELHINHA DESGARRADA [2035]
SONNETTO PARA UMA GAROTA QUE N�O � DE QATIF [2042]
SONNETTO PARA QUEM FICA CHUPANDO O DEDO [2088]
SONNETTO PARA UM PERIPAQUE SEM DESTAQUE [2099]
SONNETTO PARA UMA MULHER DAMNADA [2117]
SONNETTO PARA UM HOMEM DAMNADO [2118]
SONNETTO PARA UMA PLAT�A MACHISTA [2146]
SONNETTO PARA UMA PROVA IRREFUTAVEL [2501]
SONNETTO PARA A ANATOMIA DA VULVA [2512]
SONNETTO PARA UMA CONCENTRA��O MASCULINA [2562]
SONNETTO SOBRE UM PIERR� APPORRINHADO [2827]
SONNETTO SOBRE UMA DOMINADORA BEM HUMORADA [2932]
SONNETTO SOBRE UMA PAIX�O CEGA [2933]
SONNETTO SOBRE O BEIJO MAIS INTIMO [3008]
SONNETTO SOBRE A DUPLA IDENTIDADE [3021]
SONNETTO SOBRE A VERSATILIDADE DAS MULHERES [3063]
GINGANDO NA GANGORRA [3117]
FEDIDO POR FEDIDO [3185]
REPENTINAS BOLINAS MASCULINAS [3198]
O MAIS MASCULO VOCABULO VERNACULO [3222]
MONACHAL BACCHANAL [3280]
APPURO NO APPURO [3361]
TRAUMAS DE INFANCIA [3364]
VOCALICA VOCA��O [3366]
CAGONA E MANDONA [3388]
AUTO PRO MO��O [3409]
PUTA DE RECRUTA [3450]
SOLTEIRA E CABREIRA [3455]
PRIMEIRAS LETTRAS [3525]
PECCADO NEFANDO [3952]
PECCADO VENIAL [3956]
PECCADO MORTAL [3957]
PROPRIAMENTE DESFRUCTANDO [3958]
MENINA MIMADA [3960]
PECCADO ORIGINAL [3961]
PECCADO CAPITAL [3962]
UM MAGOTE DE CAMAROTE [4027]
CASEIRA CONFEITEIRA [4110]
GOSTINHO DE MALDADE [4407]
GALLO CALLEJADO [4455]
ADDICIONAL INSALUBRIDADE [4463]
CREA��O DA BOCETA [4464]
CONTRARIO SCENARIO [4555]
INVAS�O DE PRIVACIDADE [4662]
ACCENOS DE VENUS [4831]
ALTERNATIVA DE GODIVA [4833]
ACTIVO RELATIVO [4837]
TREPADA TRESPASSADA (I) [4838]
TREPADA TRESPASSADA (II) [4839]
TREPADA TRESPASSADA (III) [4840]
HEMORRHAGIA QUE ALLIVIA [4847]
CAPTIVO ADOPTIVO [4936]
VIOLANTE, A VIOLENTA [4970]
IMPROSTITUCIONALISSIMAMENTE [4981]
MOLHADA�O EM PALHA D'A�O [5009]
VOCA��O INVOCADA [5015]
IRRUMANDO NO COMMANDO [5045]
PORCARIA SEM PERFUMARIA (I) [5047]
PORCARIA SEM PERFUMARIA (II) [5048]
ABBRA�O SUADA�O [5063]
CHOR�O SEM CHORD�O [5086]
O PROVEITO DO DEFEITO [5090]
ESGUEDELHADA PENTELHEIRA [5099]
A PRAGA DA DESNADEGADA [5241]
DUMA VOCA��O EM CRISE [5374]
DUM RESERVADO N�O VENTILADO [5396]
UM SATYRO SATYRIZADO [5508]
TENTANDO TEMPTAR [5515]
DE MALUQUETE, S� BOQUETE [5537]
EST�O VIAJANDO! [5538]
VAMPIRO MINETTEIRO [5539]
///
[orelha]
Glauco Mattoso (paulistano de 1951) � um dos mais radicaes
representantes da fic��o erotica e da poesia fescennina em lingua
portugueza. Conhescido como poeta "pornosiano", � descendente directo de
Gregorio, Bocage e, em prosa, de Sade e Masoch. Na decada de 1980,
celebrizou-se entre a "marginalia" litteraria como auctor do fanzine
anarcho-poetico "Jornal Dobrabil" e do romance fetichista "Manual do
podolatra amador" (reeditados, vinte annos depois, respectivamente pela
Illuminuras e pela Casa do Psychologo); apoz perder a vis�o, a partir da
decada de 1990, compoz mais de cinco mil sonnettos e publicou dezenas de
volumes de poesia (entre os quaes a anthologia "Poesia digesta:
1974-2004", pela Landy), alem dos romances "Raymundo Curupyra, o
caypora" (poetico, editado pela Tordesilhas) e "A planta da donzella"
(parodico, editado pela Lamparina), este revisitando "A patta da
gazella" de Alencar. Adepto fervoroso da glosa decimal e do sonnetto
classico, destacca-se tambem como lexicographo no bilingue
"Diccionarinho do palavr�o" (pela Record) e como estichologo num
"Tractado de versifica��o" (pela Annablume). Collaborador nas midias
impressa e virtual, assignou columnas nas revistas "Caros Amigos",
"Metaphora" e em varios portaes, entre outros vehiculos. Como lettrista,
tem sido musicado por nomes singulares do porte de Arnaldo Antunes,
Itamar Assump��o, Falc�o, Ayrton Mugnaini e outros experimentalistas
independentes ou irreverentes.
[declamados com imagem no youtube]
BOCETEIRO (SONNETTO 309)
https://www.youtube.com/watch?v=QUtbaEhpBe4
O MAIS MASCULO VOCABULO VERNACULO (SONNETTO 3222)
https://www.youtube.com/watch?v=0aRuOqG3uEQ
VOCALICA VOCA��O (SONNETTO 3366)
https://www.youtube.com/watch?v=g_Znoq0yxn8
AUTO PRO MO��O (SONNETTO 3409)
https://www.youtube.com/watch?v=X2dAS5DOllg
CREA��O DA BOCETA (SONNETTO 4464)
https://www.youtube.com/watch?v=ZC0vIGwJMlI
IMPROSTITUCIONALISSIMAMENTE (SONNETTO 4981)
https://www.youtube.com/watch?v=O3Xsqw7tKac
/// [10/07/2017]