LAUDO PSICOLÓGICO – AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
Segundo o Código de Ética Profissional do Psicólogo, artigo 1 (g e h) é um dever do Psicólogo: “Informar, a quem de
direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para
a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário”; e, “orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos
apropriados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes
ao bom termo do trabalho”.
1. IDENTIFICAÇÃO DO PROFISSIONAL
xxxxxxxxxxxxxx
Psicóloga – Conselho Federal de Psicologia do Regional xxxxxxxxxx
Neuropsicóloga (xxxxxxxxxxxx)
Especialista em
Telefone: (11) xxxxxxxxxxxxx
Email: xxxxxxxxxxxxx
2. IDENTIFICAÇÃO DA PACIENTE
Nome: PACIENTE XYZ
Data de nascimento: 20 de maio de 2010
Idade Cronológica: 9 anos
Naturalidade: São Paulo, SP
Solicitantes: Escola, fonoaudióloga e neuropediatra
Finalidade: Diagnóstico diferencial em decorrências de problemas de
aprendizagem
3. JUSTIFICATIVA DA AVALIAÇÃO
Esta avaliação neuropsicológica foi solicitada por indicação da escola da
paciente que percebeu que ela vem apresentando dificuldades de
aprendizagem. A escola vem realizando mediações e encaminhando atividades
de reforço para casa, a fim de trabalhar as dificuldades da paciente.
A fonoaudióloga Fernanda, com a qual PACIENTE XYZ vem realizando
intervenções para suas dificuldades linguísticas também sugeriu a realização
desta avaliação, a fim de identificar possíveis comorbidades, já que o tratamento
não vem demonstrando as melhoras esperadas. PACIENTE XYZ já fez
tratamento em cabine para deficiências em seu processamento auditivo, e sua
resposta terapêutica foi aquém do esperado. A família levou PACIENTE XYZ à
consulta com neuropediatra que endossou o pedido da avaliação
neuropsicológica.
A mãe de PACIENTE XYZ refere que ao ensinar conteúdos para ela, suas
respostas são satisfatórias no momento em que estão estudando, no entanto,
após certo tempo, por exemplo, no dia seguinte, PACIENTE XYZ já não sabe de
nada que foi explicado, como se nunca tivesse entrado em contato com o
conteúdo explicado. Além das dificuldades de aprendizagem, a mãe da paciente
refere que ela vem apresentando comportamentos de arrancar as casquinhas de
feridas do corpo, e por isto, PACIENTE XYZ encontra-se em tratamento com
psicoterapeuta.
Atendeu-se a solicitação, já que o bom desempenho escolar está
diretamente relacionado com o sucesso no futuro do indivíduo. A prevalência dos
transtornos de aprendizagem varia de 2 a 10%, e ele é suspeitado nos casos em
que um sujeito apresenta dificuldades na escola, com inteligência preservada,
ausência de alterações motoras ou sensoriais, bom ajuste emocional, nível
socioeconômico e cultural adequados. No entanto, as dificuldades de
aprendizagem podem estar relacionadas com fatores escolares, familiares,
sociais e da própria criança.
Desta forma, para este diagnóstico, é imprescindível um processo de
testagem neuropsicológica para verificação de todas as funções cognitivas,
estrutura psíquica e emocional. O diagnóstico de Transtorno de aprendizagem é
frequentemente realizado quando os resultados nos testes apresentam 1,5
desvio-padrão abaixo da norma para a idade.
A avaliação neuropsicológica é uma atividade que se propõe a esclarecer
questões sobre os funcionamentos cognitivos, comportamental e emocional da
paciente, avaliando os resultados a luz da queixa motivadora da avaliação. Seu
pressuposto teórico é embasado nas neurociências, entendendo que todo
comportamento, processo cognitivo ou reação emocional tem como base a
atividade de sistemas neurais específicos. Neste sentido, faz-se importante
ressaltar que as funções cognitivas complexas não são mediadas por regiões
circunscritas, e sim por atividades das redes complexas dos circuitos cerebrais
que integram múltiplas regiões corticais e subcorticais. O neuropsicólogo deve
se preocupar com a correlação entre os sistemas neurais e as funções que
avalia, no entanto, não é objetivo da avaliação a identificação de centros
funcionais lesionados (1, 2).
A avalição de PACIENTE XYZ foi construída de forma sensível para uma
gama de sinais cognitivo-comportamentais apresentadas no seu
desenvolvimento, para compreensão de suas queixas nas instâncias: cognitiva,
emocional, comportamental e da estruturação de sua personalidade.
Disponibiliza-se, portanto, à comunidade científica, clínica e escolar, os dados
sobre o funcionamento neuropsicológico da paciente PACIENTE XYZ
4. METODOLOGIA
Esta avaliação foi realizada em 11 atendimentos de 60 minutos cada. A seguinte
metodologia foi utilizada:
a) Entrevistas de anamnese sobre o desenvolvimento neuropsicomotor;
b) Observação clínica durante as sessões de avaliação;
c) Observação de sessão de terapia fonoaudiológica e discussão do caso com a
profissional;
d) Observação de comportamento em contexto escolar e discussão de caso com
a professora e coordenadora;
e) Mensuração das funções cognitivas através dos seguintes instrumentos:
- Escala de Personalidade Juvenil (EPQJ) (8); - Teste Projetivo CAT (CAT) (18);
- Teste Figuras Complexas de Rey (FCR) (9); - Five Digit Test (FDT) (19);
- Bateria Psicológica de Atenção (BPA) (10); - Teste de Des. Escolar II (TDE-II) (20);
- Ray Auditory Verbal Learning Test (RAVLT) (11); - Teste de Cartas de Wisconsin (TCW) (24);
- Teste das pirâmides coloridas de Pfister (PFISTER) (12); - Técnica da Torre de Londres (TTL) (22);
- Inventário Multimídia de Habilidades sociais (ISSR) (13); - Teste de Atenção Visual (TAVIS) (23);
-Teste Projetivo Casa-Árvore-Pessoa (HTP) (21); - Teste de Nom. Automática (TENA) (15);
- Escala Wechsler de Intel. para crianças (WISC-IV) (16);
- Avaliação da compreensão leitora de textos expositivos (ACLTE) (17);
- Escala Baptista de depressão Infanto-Juvenil (EBADEP) (14);
Tabela 1. Relação entre Função Cognitiva e os Testes
Função Cognitiva Testes e técnicas
Atenção WISC; BPA; RAVLT; TAVIS;
Memórias WISC; FCR; RAVLT;
Coeficiente Intelectual WISC; COLUMBIA; ABAS
Linguagem WISC; TDE-II; ACLTE;
Funções executivas WISC; FCR; TENA; FDT; TCW; TTL;
Habilidades sociais ISSR; HTP; PFISTER
Percepção visual WISC; FCR;
Personalidade e Psicopatologia PFISTER; HTP; EBADEP; EPQJ; SCARED;
Habilidades acadêmcias WISC; TDE-II; PROLEC;
Em seguida, foi realizada uma interpretação cuidadosa dos resultados
embasando-se na abordagem dinâmica e sistêmica das funções
neuropsicológicas desenvolvida por A. Luria, que visa compreende as funções
cerebrais como um sistema ativo e integrado, com o objetivo de descrever os
sistemas funcionais já desenvolvidos, as funções que estão deficitárias, o que
permitirá a inferência de uma hipótese diagnóstica, mais bem definir os
encaminhamentos e as intervenções necessárias.
Os resultados quantitativos brutos foram interpretados através dos
cálculos dos z-scores e a posterior conversão em percentis através da tabela de
Wechsler, que permitiu classificar a pontuação do percentil em categorias, como
demonstrado abaixo, que comparou o paciente de forma nomotética, ou seja,
comparação dele com os demais de sua idade e escolaridade, mas também
configurou-se uma avaliação idiográfica, em que os resultados do paciente foram
comparados de forma dinâmica com ele mesmo.
Tabela 2. Relação entre Percentil, Classificação e Interpretação
Pontuação do Percentil Classificação Interpretação
0a2 Deficitário Prejuízo grave
3a9 Limítrofe Prejuízo moderado
10 a 25 Médio Inferior Prejuízo leve
26 a 74 Médio Habilidade preservada
75 a 90 Médio Superior Facilidade
91 a 97 Superior Habilidade desenvolvida
98 a 100 Muito Superior Potencialidade
5. RESULTADOS
- HISTÓRICO DO SEU DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR E DAS
QUEIXAS
Conforme relatado pela genitora, não houve intercorrências pré, peri ou pós-
natais que se configurem como fator de risco para declínios cognitivos ou
alterações comportamentais. Nasceu de parto cesáreo, também sem
intercorrências. Foi amamentada no seio materno até 30 meses, quando houve
o desmame. Sua introdução alimentar aconteceu por volta dos 7 meses, sem
problemas de transição do leite materno para a alimentação sólida. A mãe refere
que era uma criança bastante faminta, e que suas demandas estavam sempre
relacionadas com a alimentação. Chegou a ter vômitos em jato, que segundo a
pediatra, estavam relacionados com o excesso de alimentação, que foi resolvido
quando a alimentação foi melhor controlada.
Quanto ao sono quando bebê, acordava a cada 2 horas, sem dificuldades para
adormecer. Até os 18 meses, acordava 2 vezes durante a noite pra mamar, mas
após esta idade, passou a dormir a noite inteira.
Os marcos do desenvolvimento foram alcançados de forma satisfatório e dentro
do tempo esperado para sua idade.
Mãe refere que ela sempre foi uma criança ativa, atenta, sagaz, com iniciativas.
O pai refere que durante seus anos escolares apresentou muitas dificuldades,
chegando a repetir o 1º ano do Ensino Fundamental I. As dificuldades eram mais
acentuadas na matéria de matemática, pois chegava a tirar nota 0.
- DADOS SOBRE A ESCOLARIZAÇÃO: ENTRADA E ADAPTAÇÃO
ESCOLAR, COLETAS NA ATUAL ESCOLA, DISCUSSÃO DE CASO E
OBSERVAÇÃO DA PACIENTE
PACIENTE XYZ entrou na escola com 2 anos e 6 meses, e apresentou fácil
adaptação pois já apresentava desejo de ir pra escola, em decorrência da irmã
já frequentar. Estudou de manhã na Escola Renovação (particular). A família
apresentou algumas dificuldades financeiras, o que motivou a mudança de
escola para o Paulistinha quando PACIENTE XYZ cursava o 1º ano do Ensino
Fundamental 1. Permanecia lá das 10h da manhã até as 17:30. A mãe refere
que o vínculo de PACIENTE XYZ com a escola foi muito abalado, em
decorrência das restrições da instituição e da sua pedagogia e organização.
Estudou nesta segunda instituição no 1º e no 2º ano do Ensino Fundamental, e
porque a família avaliava que a escola era pouco preparada para o ensino,
PACIENTE XYZ participou de muitas atividades extra, tais como: Kumon, inglês
e natação.
A família mudou PACIENTE XYZ pro XXXXXXXXXXXXXXXX, onde cursou o 3º
ano, mas foi tirada de todas as atividades extra das quais participava. Foi esta
escola que pela primeira vez sinalizou para os familiares acerca das dificuldades
da paciente. Durante todo o ano escolar, PACIENTE XYZ se submeteu a
intervenções com fonoaudióloga e psicoterapeuta, mas a família avaliou que
esta última escola não tinha tantos recursos para oferecer suporte e apoio para
crianças com dificuldades de aprendizagem, como Isabela, e por isto,
PACIENTE XYZ e sua irmã foram mudadas novamente para outra escola, a atual
instituição onde ela se encontra, denominada por Escola XXXXXXXXXX.
PACIENTE XYZ estuda no 4º ano do Ensino Fundamental de escola bilíngue, no
período matutino.
Compareceu-se à escola XXXXXXXXXXX para realização de coleta de queixas
e dados sobre paciente em contexto acadêmico. Realizou-se uma observação
da paciente em sala de aula e durante seu intervalo. Também se solicitou que a
equipe de professoras o Inventário de Habilidades Sociais (SRSS – versão para
professores) e preenchessem uma Anamnese Escolar, a fim de que fosse
possível a coleta de informações sobre o perfil neuropsicológico da paciente.
Conforme preenchido no documento de Anamnese Escolar, as professoras
relataram que PACIENTE XYZ apresenta um rendimento escolar que progrediu
até certo ponto, embora pareça ter inteligência normal, mas sua memória parece
ruim e ter dificuldades. Seu ritmo de trabalho é lento, inicia os trabalhos, mas
não os conclui, pois é pouco persistente. Sua capacidade visual parece normal,
mas a capacidade auditiva apresenta dificuldades.
Quando apresenta dificuldades, pede auxílio ao professor, pois seu
relacionamento com a professora é bom. Mas se criticado pela professora,
mostra-se magoada.
Seu vocabulário e a pronúncia exibidos na escola são inadequadas, e ela não
consegue se expressar. Em relação à escrita, apresenta muitos erros
ortográficos. Não consegue ler, e quanto à matemática não consegue resolver
problemas, e por isto, as professoras avaliou que ela apresenta dificuldades com
escrita, atenção, leitura, números e recreação.
Quanto à sua atividade motora, referiu-se que ela derruba objetos
frequentemente. Em relação a sua motivação para o aprendizado é muito
dependente do tipo de atividade que ela está realizando.
Seu comportamento em sala de aula manifesta ansiedade, introversão,
insegurança, dependência, inquietação e labilidade emocional (ora triste e ora
alegre). É introspectiva, e este comportamento dificulta a sua execução e o
tempo de resolução das tarefas. Prefere ser liderada a liderar. Isola-se no recreio
e vai muito ao banheiro. É bastante criativa e gosta das atividades relacionadas
com as artes. É assídua na escola, não chega atrasada.
Na observação em contexto escolar, observou-se que a paciente percebeu a
presença da psicóloga no seu contexto, mostrou-se desconfortável no momento
das atividades, inquieta, distraída pelos colegas de sala, sem entender o que
deveria fazer. PACIENTE XYZ não pareceu sentir-se confortável e acolhida na
sala de aula, não demonstrou interação com os colegas e nem aproximação com
as professoras. Percebeu-se muitas dificuldades de compreender os comandos
em inglês, necessitando de tradução literal realizada pelos colegas de sala.
- APRESENTAÇÃO DURANTE A AVALIAÇÃO
A paciente apresentou-se para a avaliação de forma educada, mas nem sempre
estava colaborativo e receptivo, disposto e nem engajado. Apresentou poucas
iniciativas para o diálogo. Recusou-se a realizar algumas tarefas solicitadas, com
mecanismos de negação e também de distração. Estabeleceu vínculo com a
avaliadora, mas apresentou um retraimento para envolvimento.
- ATENÇÃO
A atenção é a capacidade de selecionar e manter controle sobre a entrada de informações externas necessárias em
um dado momento, ou sobre o controle de informações geradas internamente, como nossos pensamentos, memórias e
preocupações ou até cálculos mentais. Sem essa capacidade de seleção, a quantidade de informações externas e/ou
internas seria enorme, a tal ponto de inviabilizar qualquer atividade mental. Para isto, é necessário que redes cerebrais
difusas interajam entre si, permitindo que nos ocupemos com eventos relevantes e ignoremos os irrelevantes. A
orientação da atenção reflete uma competição entre objetivos internos e demandas externas que podem ser disparadas
voluntariamente ou capturadas automaticamente. As redes neuronais da atenção envolvem estruturas em todos os lobos
do córtex, além de estruturas subcorticais.
Os resultados da avaliação das habilidades atencionais de PACIENTE XYZ
foram:
Habilidade Teste Percentil Classificação Interpretação
Atenção TAVIS (TAREFA 3) 2 Deficitário Prejuízo grave
Sustentada
Atenção TAVIS (TAREFA 1) 1 Deficitário Prejuízo grave
Seletiva
Atenção Visual BPA (tabelas de idade e de 48 e 28 Médio Preservado
escolaridade)
Alternada
Atenção TAVIS (TAREFA 2) 51 Médio Preservado
Alternada
Atenção Dígitos ordem direta (WISC- 50 Médio Preservado
IV)
Auditiva
Atenção A1 e B1 (RAVLT) 41 e 25 Médio Preservado
Auditiva
Interpretação dos resultados: Os resultados da avaliação da ativação de
energia cerebral para envolvimento em atividades com estímulos visuais
mostraram que PACIENTE XYZ apresenta dificuldades severas para mobilizar e
manter um nível de energia suficientemente eficiente para se engajar em
atividades prolongadas para tarefas de sustentação atencional, quando precisa
dar atenção a um estímulo visual por longo tempo. Também apresentou
comprometimentos graves para selecionar estímulos visuais a fim de realizar
uma tarefa. No entanto, em tarefas em que precisa dividir a atenção para 2
estímulos visuais, consegue se desempenhar como as crianças de sua idade.
Esta tarefa requer o envolvimento da memória operacional e das funções
executivas - controle inibitório e flexibilidade cognitiva.
Quando os estímulos foram auditivos, conseguiu mobilizar atenção para o
estímulo, mas não manteve uma estabilidade atencional, indicando uma
imaturidade leve para a captação destes estímulos.
O nível de ansiedade da paciente pode interferir positivamente, como no caso
da tarefa de atenção dividida, em que os processos inibitórios podem estar
aumentados, a fim de desenvolver controle sobre o estímulo. No entanto, em
tarefas de atividade concentrada e seletiva, o nível de atenção pode ser
diminuído por causa da ansiedade, já que a memória operacional não precisa
ser tão ativada, “sobrando” espaço para a entrada de distratores internos e
externos.
- PERCEPÇÃO VISUAL
A percepção visual é a organização, interpretação e atribuição de significado ao material processado pelo sistema
sensorial visual, o que nos permite conhecer e interpretar a realidade que nos cerca. Este ato consiste na capacidade de
percepção de imagens em suas partes e detalhes, mantendo a noção do todo, a composição das formas, cores,
contraste, movimento, profundidade, noções de dimensão e perspectiva. A percepção visual, a organização visuo-
espacial e o planejamento da ação são funções essenciais na realização de tarefas práticas, ou praxias. As informações
visuais precisam trafegar do olho para regiões específicas do cérebro, como o lobo parietal, onde características distintas
da imagem serão processadas e se tornarão significativas.
Os resultados da avaliação das habilidades perceptivas de PACIENTE XYZ
foram:
Habilidade Teste Percentil Classificação Interpretação
Noções de todo, suas Cubos (WISC-IV) 75 Médio Superior Facilidade
partes, orientação,
complementaridade
Noções de Cópia (FCR) 23 Médio Inferior Prejuízo leve
perspectiva, tamanho,
orientação
Interpretação dos resultados: Quando a paciente precisou manipular objetos
para construção de figuras abstratas em 3D, apresentou facilidade para a
execução da atividade, e por isto, seu desempenho nesta tarefa foi equivalente
ao de uma criança com 11 anos e 2 meses. Isto demonstra que PACIENTE XYZ
consegue realizar uma representação mental do objeto antes de imitá-lo. No
entanto, quando a paciente se submeteu às tarefas de visuopercepção através
de lápis e papel para construir imagens, apresentou desempenho aquém do
esperado para sua idade. Esta tarefa de percepção visuo-espacial através da
habilidade de visuo-construção com lápis e papel não é possível o uso da
estratégia de tentativa e erro, como na tarefa anterior. Isto requer a integração
das habilidades de execução com a de planejamento, organização e
representação mental da figura a ser copiada. Por isto, é possível afirmar que
PACIENTE XYZ se beneficia quando pode tentar realizar a tarefa mais de uma
vez, e que a dificuldade da paciente se refere a uma leve deficiência na
capacidade de planejamento e organização da ação motora, o que interfere no
seu desempenho em atividades de visuopercepção.
- MEMÓRIA
A memória consiste na capacidade individual de adquirir, reter e resgatar informações de forma consciente. Isto permite,
teoricamente, utilizar as experiências anteriores como dados para a tomada de decisão, pois poderá ser capaz de
reconhecer padrões e ter comportamentos coerentes com suas experiências. O registro da informação se dá através do
recebimento da informação por modalidade sensorial, verbal, visuo-espacial, ou motora e em grande parte envolve a
função atencional. Em seguida, as informações precisam ser armazenados, quer por um curto ou longo espaço de tempo,
o que caracteriza respectivamente a memória imediata e a memória de longo prazo. Posteriormente, as informações
passam por uma consolidação, quando os conteúdos podem ser armazenados temporariamente ficando mais estável e
resistente à degradação ao longo dos dias e anos subsequentes ao armazenamento. A evocação ou recuperação é a
habilidade de reproduzir ou construir uma ideia percebida e guardada de forma consciente.
Os resultados da avaliação das habilidades mnemônicas de PACIENTE XYZ
foram:
Habilidade Teste Percentil Classificação Interpretação
Memória explícita Tarefa A7 39 Médio Preservado
(RAVLT)
episódica
Memória explícita Vocabulário e 24 e 24 Médio Inferior Prejuízo leve
Informação
semântica
(WISC-IV)
Memória de curto Tarefas A1 e B1 40 e 24 Médio Preservado
(RAVLT)
prazo auditiva
Memória visual Memória (FCR) 30 Médio Preservado
imediata –
informações
abstratas
Memória IMO (WISC-IV) 34 Médio Preservado
Operacional
auditiva
RAVLT - Perfil de Aprendizagem e Memória - PACIENTE XYZ -
agosto/2019
120
99 99
100 90
83
73 76
80 68
60
40 39 41
40 32
24
17
20
0
A1 A2 A3 A4 A5 B1 A6 A7 ALT Esc Vel Interf Interf
Total Esquec proat retroat
Deficitário Limítrofe Médio Inferior Médio Médio Superior Superior Muito Superior
LEGENDA = A1 = oferecimento de 15 estímulos auditivos pela primeira vez / A2 até A5 = oferecimento repetido(5 vezes) dos mesmos estímulos auditivos de A1
/ B = oferecimento de 15 estímulos auditivos diferentes dos oferecidos 5 vezes anteriormente / A6 = solicitação de recuperação dos 15 primeiros estímulos
auditivos oferecidos 5 vezes após a exposição de 15 estímulos diferentes (em B) que serviram como distratores / A7 = solicitação de recuperação dos 15
primeiros estímulos auditivos oferecidos 5 vezes após 30 minutos / Rec: exposição a composição de grupos de estímulos auditivos que incluem os 15 primeiros
estímulos auditivos oferecidos 5 vezes pra que a paciente identifique os estímulos oferecidos
Interpretação dos resultados: Quanto ao resultado da avaliação da captação,
armazenamento e recuperação de informações visuais de curto prazo, os dados
mostram que a paciente PACIENTE XYZ apresenta desempenho mediano. Isto
significa que consegue aprender por meio de estímulos visuais e evocá-los
posteriormente.
Sua capacidade de aprendizado de conteúdos áudio verbais em curto prazo
também se mostrou preservada. De semelhante modo, a memória de longo
prazo de conteúdos episódicos apresentou preservação, o que indica que
PACIENTE XYZ consegue aprender conteúdos em contextos de experiências e
vividos.
Sua capacidade de captação, armazenamento e evocação de conteúdos
semânticos, ou seja, conteúdos formais aprendidos durante os anos de
escolaridade, foi a que apresentou pior desempenho entre as memórias, com
prejuízos leves, e condizente com o desempenho de crianças com 7 anos e 6
meses a 7 anos e 10 meses. Isto significa que a paciente pode apresentar
maiores dificuldades para absorver conhecimento de livros e de uma maneira
formal.
Sua memória operacional, um sistema especializado em manipular informações
visuais e áudio-verbais a fim de realizar uma tarefa, mostrou desempenho
preservado.
Na análise dos percentis do teste RAVLT, é possível perceber que o melhor
desempenho da paciente aconteceu na segunda vez em que ela foi exposta ao
estímulo. As respostas de PACIENTE XYZ nas tentativas seguintes (A3, A4 e
A5) não mostraram desempenho tão elevado como na etapa A2, no entanto,
apresentaram um bom desempenho. Seu desempenho na memória de curto
prazo na etapa A6 mostrou-se melhor do que na memória de longo prazo,
indicando que a memória de curto prazo pode não estar conseguindo enviar
todas as informações para o sistema de longo prazo. Esta oscilação do
desempenho de PACIENTE XYZ na tarefa pode indicar um sistema mnemônico
ainda imaturo. Este sistema também parece apresentar uma fragilidade e pouca
estabilidade, já que ao apresentar um novo estímulo à paciente (B1), seu
desempenho cai muito significativamente.
- HABILIDADES DE APRENDIZAGEM / LEITURA / ESCRITA
A leitura consiste no reconhecimento de fonemas e grafemas de forma automatizada, com entonação e pontuação
adequada. A escrita é a habilidade de representar as palavras de forma gráfica, reconhecendo a representação dos
fonemas em grafemas, e expressando em tamanho, forma e organização. A expressão oral satisfatória refere-se a um
discurso fluente em volume, ritmo e entonação. A compreensão da linguagem oral é a habilidade de decodificar as
palavras e frases de um discurso, entendendo as intenções por trás das expressões metafóricas, provérbios, ditados,
noções de raciocínio causal, expressão de ideias abstratas. A interpretação da linguagem é a capacidade de raciocínio
abstrato acerca dos conteúdos compartilhados, envolvendo habilidades de inferência e explicação. As habilidades
aritméticas referem-se às capacidades de reconhecimento de números como quantidades, compreensão de seu
sequenciamento, capacidade de executar operações matemáticas com os números.
Os resultados da avaliação das habilidades de aprendizagem de PACIENTE
XYZ foram:
Habilidade Teste Percentil Classificação Interpretação
Linguagem Vocabulário e 24 e 24 Médio Inferior Prejuízo leve
Informação (WISC-
Receptiva
IV)
Linguagem Semelhanças 63 Médio Preservado
(WISC-IV)
Expressiva –
habilidade de
abstração de ideias
Linguagem Compreensão 9 Limítrofe Prejuízo
(WISC-IV)
Expressiva – moderado
habilidade de
explicação de ideias
do cotidiano
Nomeação Estímulos 51 e 1 Médio e Preservado e
alfanuméricos
Automática Rápida Deficitário Prejuízo grave
(TENA)
Nomeação Estímulos 71 e 75 Médio e Médio Preservado
semânticos (TENA)
Automática Rápida Superior
Habilidades Subteste Aritmética 3 Limítrofe Prejuízo
(TDE III)
matemáticas visuais moderado
Habilidades de Subteste Escrita 12 Médio inferior Prejuízo leve
(TDE III)
escrita
Habilidade de Leitura Teste Percentil Classificação Interpretação
Habilidades de Leitura TLPP 1 Deficitário Prejuízo grave
(Palavras)
Habilidades de Leitura TLPP 1 Deficitário Prejuízo grave
(Palavras)
Palavras regulares TLPP 68 Médio Preservado
Palavras irregulares TLPP 1 Deficitário Prejuízo grave
Palavras curtas TLPP 5 Limítrofe Prejuízo
moderado
Palavras Longas TLPP 1 Deficitário Prejuízo grave
Palavras Frequentes TLPP 1 Deficitário Prejuízo grave
Palavras não frequentes TLPP 24 Médio inferior Prejuízo leve
Pseudopalavras TLPP 1 Deficitário Prejuízo grave
Pseudopalavras curtas TLPP 1 Deficitário Prejuízo grave
Pseudopalavras longas TLPP 2 Deficitário Prejuízo grave
Total de palavras e TLPP 1 Deficitário Prejuízo grave
pseudopalavras
Identificação de letras Subteste Nome 0,1 Deficitário Prejuízo grave
ou som das
letras (PROLEC)
Discriminação Semântica Subteste Igual 14 Médio Inferior Prejuízo leve
ou diferente
oral
(PROLEC)
Discriminação semântica Subteste 54 Médio Preservada
Decisão Léxica
escrita
(PROLEC)
Identificação visual de Subteste Leitura 10 Médio Inferior Prejuízo leve
de palavras
palavras comuns
(PROLEC)
Identificação visual de Subteste Leitura 7 Limítrofe Prejuízo
de
pseudopalavras moderado
Pseudopalavras
(PROLEC)
Leitura de palavras Subteste Leitura 70 Médio Preservada
de palavras
frequentes
frequentes
(PROLEC)
Leitura de palavras pouco Subteste Leitura 2 Deficitário Prejuízo grave
de palavras não-
frequentes
frequentes
(PROLEC)
Leitura de pseudopalavras Subteste Leitura 5 Limítrofe Prejuízo
de
moderado
pseudopalavras
(PROLEC)
Compreensão gramatical Subteste 24 Médio Prejuízo leve
Estruturas
Inferior
Gramaticais
(PROLEC)
Fluência na leitura Subteste Sinais 99 Muito Potencialidade
de Pontuação
Superior
(PROLEC)
Compreensão de frases Subteste 0,1 Deficitário Prejuízo grave
Compreensão
de orações
(PROLEC)
Compreensão de textos Subteste 0,1 Deficitário Prejuízo grave
Compreensão
de textos
(PROLEC)
Interpretação dos resultados: A partir dos resultados, é possível perceber que:
Linguagem Oral
- Pragmática: manteve troca de turno e contato de olhou, mas não iniciou
diálogos espontaneamente.
- Fonologia: não apresentou trocas fono-articulatórias e nem foram observados
problemas relacionados com a nomeação automática rápida em pranchas de
cores, objetos e letras, indicando que seu cérebro está plenamente ativado para
disponibilizar as informações que a paciente precisa para completar a tarefa.
- Semântica: apresentou pobreza no vocabulário e na escola das palavras que
escolhe para se comunicar.
- Sintaxe: produziu frases com estruturas gramaticais adequadas.
- Compreensão de linguagem: Foi possível identificar que a paciente apresenta
muitas dificuldades de compreender os contextos que lhe são explicados, a fim
de que possa interpretar e julgar situações e sentimentos das pessoas
envolvidas para tomar decisões. Seu desempenho foi condizente com o de
crianças de 6 anos e 6 meses.
Linguagem Escrita
- Leitura: é possível perceber que PACIENTE XYZ apresenta muitas deficiências
quando ela está diante de palavras e textos. Apresentou erros para a leitura de
palavras pouco frequentes, palavras longas e curtas, palavras irregulares e
pseudopalavras. Isto pode indicar que ainda se utiliza da rota fonológica, ao
invés da rota lexical. Quanto a leitura de textos, apresentou fluência e entonação
adequadas, porém, sua compreensão foi pouco satisfatória, já que não
respondeu corretamente sobre informações principais e nem as ideias implícitas.
- Escrita: apresentou prejuízos significativos, já que ao escrever as palavras
citadas, cometeu erros de diversos tipos, como fonológicos, trocas baseadas na
oralidade, erros ortográficos;
- QUOCIENTE INTELECTUAL
O quociente intelectual foi medido por meio da escala Wechsler de inteligência para crianças (WISC-IV) que avalia o
processamento e raciocínio de informações verbais pela linguagem – inteligência cristalizada - e raciocínio de
informações não verbais – inteligência fluida. Também calcula índices importantes para o funcionamento intelectual,
como o Índice de Memória Operacional e o Índice de velocidade de Processamento, que dizem respeito,
respectivamente, a habilidade que o sujeito tem de manipular mentalmente mais de uma informação ao mesmo tempo e
à rapidez com a qual o sujeito consegue raciocinar.
Os resultados da avaliação do quociente intelectual de PACIENTE XYZ
foram:
Habilidade Teste Percentil Classificação Interpretação
Quociente Intelectual WISC-IV 70 Médio Preservado
Índice de Compreensão Verbal WISC-IV 37 Médio Preservado
(ICV)
Índice de Organização WISC-IV 88 Médio Superior Facilidade
Perceptual (IOP)
Índice de Memória Operacional WISC-IV 34 Médio Preservado
(IMO)
Índice de Velocidade de WISC-IV 92 Superior Potencialidade
Processamento (IVP)
Interpretação dos resultados: Os dados encontrados nos índices do teste de
inteligência WISC-IV, a saber, o ICV, aponta que a paciente apresenta habilidade
preservada para executar raciocínio cristalizados, ou seja, aqueles relacionados
com o discurso. Seu percentil de 37 é considerado mediano e condizente com o
de crianças com 8 anos e 3 meses. Ao analisar os resultados da inteligência
fluida, ou seja, do índice IOP, percebe-se que seu percentil foi de 88 e
considerado acima do esperado para sua idade, e condizente com o
desempenho de crianças de 13 anos. Isto significa que PACIENTE
XYZapresenta habilidades mais desenvolvidas para raciocínios fluidos, aqueles
que estão relacionados com a habilidade de elaborar relações analógicas e
abstratas (através de estímulos visuais).
O Índice de Memória Operacional apresentou percentil 34, categorizado como
médio e com idade cognitiva de 8 anos e 5 meses. Estas são habilidades que
mantém informações ativas para que sejam manipuladas, dando possibilidade
para a execução dos raciocínios tanto cristalizados quanto fluidos. Isto significa
que a paciente apresenta desempenho preservado para manipulação de várias
informações auditivas ao mesmo tempo.
Apresentou acelerada fluidez de pensamento, com ritmo e velocidade
adequadas, que representa o Índice de Velocidade de Processamento, cujo
percentil foi 92, também categorizado como superior, com 9 anos e 7 meses.
De acordo com os dados obtidos no teste WISC-IV, o cálculo do nível intelectual
global atual de PACIENTE XYZ, ou seja, seu quociente intelectual, foi
equivalente ao percentil 70, demonstrando que a paciente apresenta habilidade
intelectual mediana e condizente com o esperado para sua idade. No entanto, é
possível perceber discrepâncias muito significativas nas análises quantitativas,
o que diminui a confiabilidade do QI como um representante da inteligência.
Desta forma, sugere-se que a compreensão das habilidades de inteligência de
PACIENTE XYZ seja realizada a partir dos índices isoladamente.
- FUNÇÕES EXECUTIVAS
As funções executivas referem-se à capacidade relacionada à formulação de metas, ao planejamento, à execução de
planos dirigidos a um objetivo e à sua realização de forma eficaz. Trata-se dos aspectos mais complexos da cognição e
envolvem seleção de informações, integração de informações atuais com informações previamente memorizadas,
planejamento, monitoramento e flexibilidade cognitiva. O planejamento de uma atividade permite que o sujeito possa
organizar e relacionar os seus elementos, o que favorece a aprendizagem, manipulação de conteúdos e execução de
ações. Para isto, ele precisa ter flexibilidade cognitiva, uma habilidade que se refere à capacidade de alternar sua
perspectiva a respeito de algo, seja de forma espacial, temporal ou interpessoal. Ela depende de um repertório
diversificado de formas de pensar sobre um tópico conceitual e, por isso, está envolvida na seleção e na elaboração de
novas estratégias de ação, de acordo com a disponibilidade de opções de que o indivíduo dispõe. A fluência verbal
fornece informações acerca da capacidade de armazenamento do sistema de memória semântica e a habilidade e
recuperar a informação guardada na memória, também requer o processamento das funções executivas, pela
necessidade de organização do pensamento, e as estratégias utilizadas para a busca de palavras. O controle inibitório
envolve o controle da atenção, do comportamento, dos pensamentos e das emoções, o qual substitui uma forte
predisposição interna ou atrativos externos de fazer algo indevido e, ao contrário, fazer o que é necessário e adequado.
A velocidade de processamento é a rapidez com a qual se executa um raciocínio.
Os resultados da avaliação das habilidades de funções executivas de
PACIENTE XYZ foram:
Habilidade Teste Percentil Classificação Interpretação
Planejamento e Cópia (FCR) 23 Médio Inferior Prejuízo leve
Organização
Flexibilidade Semelhanças (WISC- 63 Médio Preservado
IV)
Cognitiva estímulos
áudio-verbais
Flexibilidade Alternância (FDT) 62 Médio Preservado
Cognitiva estímulos
verbais
Controle Inibitório Escolha (FDT) 36 Médio Preservado
Velocidade de Índice de Velocidade 92 Superior Potencialidade
de Processamento
Processamento
(WISC-IV)
Memória Operacional Índice de Memória 34 Médio Preservado
Operacional (WISC-
IV)
Fluência verbal Leitura e contagem 67 e 51 Médio Preservado
(FDT)
Interpretação dos resultados: Foi possível perceber que PACIENTE XYZ
apresenta leves prejuízos nas habilidades para planejamento e organização de
atividades visuais. Apresentou níveis médios nas habilidades executivas de
fluência verbal, controle inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional.
Isto significa que os circuitos ascendentes excitatórios que envolvem o estado
de alerta, excitação, esforço e motivação estão preservados.
RESULTADOS – PACIENTE XYZ – agosto 2019
MÉDIA SUPERIOR
MUITO SUPERIOR
MÉDIA INFERIOR
DEFICITÁRIO
PERCENTIS
LIMÍTROFE
SUPERIOR
MÉDIA
10 - 25 - 75 - 91 -
FUNÇÕES PROVAS <2 3–9 24 74 90 97 >98
Índice de Compreensão Verbal 37
Índice de Organização Perceptual 88
Atenção seletiva - TAVIS 1
Atenção sustentada - TAVIS 2
ATENÇÃO Atenção alternada - TAVIS 51
Atenção auditiva - RAVLT 41
Índice de Velocidade de
processamento 92
Índice de Memória operacional 34
FUNÇÕES Flexibilidade Cognitiva FDT
EXECUTIVAS Alternância 63
Controle Inibitório FDT Escolha 36
Fluência Verbal - FDT (leitura e
contagem) 67
Planejamento e Organização FCR 23
VÍSUOCONSTRUÇÃO Visuoconstrução – FCR 23
Visuopercepção – Cubos 73
Compreensão verbal
LINGUAGEM
Vocabulário - Conhecimento
semântico 24
Memória semântica (Informação) 24
APRENDIZAGEM Memória visual imediata 30
Memória áudio-verbal tardia 39
Memória de curto prazo 68
- HABILIDADES SOCIAIS
Quanto ao domínio de empatia e afetividade, que diz respeito aos
comportamentos que mostram interesse e respeito pelos sentimentos e pontos
de vista de outros e a expressão de sentimentos positivos, PACIENTE XYZ se
vê como um sujeito com excelente capacidade de empatia, no entanto, esta
percepção não é compartilhada pelos professores, que a percebem com
pouquíssimas habilidades.
Quando a responsabilidade foi avaliada, PACIENTE XYZ se percebe
como uma criança com preservada capacidade de se responsabilizar, mas a
escola emitiu um parecer diferente. Para eles, PACIENTE XYZ apresenta
deficiências para os comportamentos que demonstram compromisso com a
tarefa e regras pré-estabelecidas para atividades. Desta feita, pode ser
importante que os pais acompanhem com maior proximidade os deveres dela
relacionados com as tarefas, e que mantenham uma postura mais firme quanto
aos seus deveres e direitos.
A desenvoltura social, que se refere aos comportamentos que expressam
traquejo nas relações interpessoais, PACIENTE XYZ e sua escola compartilham
de opiniões semelhantes: apresenta poucas habilidades de desenvoltura social.
Ao avaliar o auto-controle, que são os comportamentos emitidos em
situações de conflito e/ou requerem pospor ou restringir os próprios
comportamentos, PACIENTE XYZ e seus professores avaliam que ela apresenta
preservação neste domínio.
A escola de PACIENTE XYZ referiu que ela apresenta excesso de
sintomas internalizantes, o que é sugestivo de sofrimento psíquico, e muitos dos
seus comportamentos podem refletir este sofrimento.
Perfil de Habilidades Sociais e Problemas de Comportamentos - PACIENTE XYZ
120
100
100 95
80
Percentil
60 55
50
45
40
20 15
10
5 3 1
0
Domínios das Habilidades Sociais - teste SRSS
PACIENTE XYZ Professores
- PERSONALIDADE, PSICOPATOLOGIA E COMPORTAMENTO
Habilidade Teste Percentil Classificação Interpretação
Sintomatologia para EBADEP-IJ 5 Inferior Não é
depressão sugestivo de
transtorno
Sintomatologia para SCARED Negativo Inferior Não é
ansiedade (Fator sugestivo de
somático) transtorno
Ansiedade SCARED Negativo Inferior Não [e
generalizada sugestivo de
transtorno
Ansiedade de SCARED Positivo Superior Sugestivo de
separação transtorno
Fobia social SCARED Positivo Superior Sugestivo de
transtorno
Ansiedade escolar SCARED Positivo Superior Sugestivo de
Transtorno
• Agressividade: não expressou repertório expressivo de auto-
agressividade e nem de hetero-agressividade durante a avaliação;
• Vulnerabilidade: tendência aumentada a ser vulnerável emocionalmente
em relação aos demais e aos eventos externos. Percebe-se como alguém
sem habilidades suficientes para lidar com os eventos externos. Medo e
temor aumentado de abandono dos vínculos primários. A opinião dos
outros e principalmente a de seus vínculos primários tende a alterar sua
estrutura emocional;
• Disciplina e obediência: apresentou compreensão das regras e
comandos, sem resistência ou recusa espontâneas para seguir comandos
e regras;
• Estabilidade psíquica: labilidade emocional – sentimentos e percepções
tendem a oscilar de acordo com acontecimentos externos, principalmente
aqueles relacionados com os vínculos primários;
• Passividade: tendência a apresentar um comportamento procrastinador,
tendo dificuldade para iniciar tarefas, mesmo que simples. Apresenta
dificuldade para manter a motivação em afazeres longos ou difíceis,
demorando a solucionar situações. Pode necessitar de ajuda externa para
levar adiante seus planos;
• Humor: foram percebidos traços muito significativos de ansiedade e
depressão;
• Estrutura de Ego: desorganizado e desestabilizado;
6. CONCLUSÃO
PACIENTE XYZ, 9 anos, alfabetizado, estudante de 3º ano de escola
particular e bilíngue, filha mais nova de pais casados, reside com o pai, a mãe,
a irmã e a avó, natural e procedente de São Paulo. Foi encaminhada para
avaliação neuropsicológica por indicação da equipe terapêutica que a
acompanha em decorrência de diagnóstico de dificuldades de aprendizagem, a
fim de que esta avaliação permitisse conhecer o perfil neuropsicológico da
paciente, direcionando condutas e orientações.
Procedeu-se com extensa avaliação neuropsicológica, como exposto na
metodologia e nos resultados deste laudo. Os resultados desta avaliação
apontam que a paciente apresenta preservação das funções intelectuais gerais,
com alto rendimento para a inteligência fluida, que são os raciocínios abstratos.
Apresentou capacidades desenvolvidas de visuopercepção e preservação da
maioria das memórias e das funções executivas, com prejuízo leve apenas na
capacidade de planejamento e organização.
No entanto, foram identificadas deficiências que vem interferindo
significativamente no funcionamento neuropsicológico da paciente, sendo elas
nas habilidades atencionais para estímulos visuais e nas habilidades de
linguagem. Um impacto significativo nos processos atencionais tende a impactar
o desenvolvimento de todas as outras funções cognitivas, já que a atenção é a
“porta de entrada” para o funcionamento cognitivo, por isto, é possível perceber
que diversas outras áreas de seu perfil neuropsicológico estão afetadas, e por
isto, o prejuízo de memória visual pode ser decorrente das dificuldades
atencionais. Estas deficiências são constantemente tratadas através de
profissional neuropsicólogo.
As dificuldades nas habilidades de linguagem na área de leitura e escrita
foram muito significativas, sobretudo em se tratando de estímulos visuais. A
paciente parece ainda não ter amadurecido a rota fonológica para a execução
da leitura, e por isto, se utiliza de estratégias imaturas para sua fase do
neurodesenvolvimento, o que se reflete em inúmeros problemas na sua
capacidade de compreensão de texto e escrita. Também foram percebidas
dificuldades acentuadas nas habilidades de matemática, desde a capacidade de
nomeação automática de números, até para a execução de fatos numéricos com
estímulos visuais e auditivos. Apresenta dificuldades para compreender os
problemas de matemática, seguido de deficiências para interpretar qual
operação matemática deve realizar. Estas dificuldades apresentadas por
PACIENTE XYZ são frequentemente encontradas em crianças com diagnóstico
de transtornos de aprendizagem com prejuízo na leitura, ortografia e
matemática. Estas problemáticas devem ser abordadas de forma terapêutica por
profissionais da fonoaudiologia e da neuropsicologia.
Apesar de percebida preservação da área de controle inibitório e de
flexibilidade cognitiva quando PACIENTE XYZ encontra-se em uma tarefa que
utiliza sua memória operacional, naquelas em que este sistema não necessita
de muita ativação, PACIENTE XYZ se torna muito vulnerável aos distratores
internos e externos. Desta forma, percebe-se que as funções de controle
inibitório e flexibilidade cognitiva estão ativadas para os momentos em que as
atividades são realizadas, mas não para quando há mobilização de emoções,
através de distratores que disparam pensamentos, sentimentos e angústias.
Estes resultados sugerem que as redes neurais da região pré-frontal do córtex
frontal e das regiões subcorticais estão desenvolvidas, mas que não estão bem
adaptadas e interligadas ao sistema límbico e a regulação emocional. Por causa
disto, sugere-se que a paciente seja acompanhada por psicoterapeuta, a fim de
abordar seus sintomas psíquicos e emocionais.
Quanto à organização psíquica de PACIENTE XYZ, foi possível perceber
que ela se encontra retraída para o estabelecimento de relações interpessoais,
com pouca iniciativa para começar interações sociais, em decorrência da
insegurança de si e pouca auto-estima, tornando a muito vulnerável e
introspectiva. Os resultados denotaram alterações importantes no seu
funcionamento psíquico e na sua psicodinâmica, com capacidade de
reconhecimento de seus estados mentais e emocionais, porém com altos níveis
de repressão e inibição, como se não pudesse senti-los. Reconhece os estados
emocionais do outro na relação, mas não consegue interpretá-lo. Parece
possível afirmar que a paciente não vem construindo sua personalidade de uma
forma segura e saudável, e por isto, começa a apresentar comportamentos
compensatórios, a fim de equilibrar as intensas angústias que a afligem. Estas
dificuldades de ordem psíquicas e emocionais tendem a interferir no seu
funcionamento cognitivo e não devem ser minimizadas.
Os resultados aqui descritos são de caráter dinâmico, não definitivos ou
cristalizados da paciente PACIENTE XYZ e referem-se ao presente momento, e
por isso, passível de modificações no decorrer do tempo, principalmente em se
tratando de paciente criança e ainda em fase de neurodesenvolvimento sob
intervenção terapêutica de longo prazo. Desta forma, as informações deste
relatório referem-se ao padrão de funcionamento cognitivo atual e a paciente
deve ser mantido em acompanhamento com fonoaudióloga, neuropsicóloga e
psicoterapeuta para abordar e trabalhar suas demandas linguísticas, cognitivas
e psicodinâmicas.
Além disso, as informações deste laudo são sigilosas e devem ser
utilizadas somente por profissionais envolvidos no manejo clínico desta paciente.
Desaconselha-se o seu uso fora deste contexto para a proteção da própria
paciente. O uso que deste material venha a ser feito é de inteira responsabilidade
do requerente.
Declaro que o presente documento apresenta os resultados do processo de avaliação neuropsicológica conduzida por
mim em sessão de consultório, com a realização de entrevistas, observação clínica e testagem neuropsicológica. Este
documento, bem como todos os dados desta avaliação, serão mantidos em meus arquivos profissionais pelo prazo de 5
anos, conforme estabelecido na Resolução 001/2009 do Conselho Federal de Psicologia.
São Paulo, 28 de setembro de 2019,
_______________________________________________
xxxxxxxxxxxxxxxxxx
Psicóloga CRP xxxxxxxxxxxxx
Neuropsicóloga (xxxxxxxxxxxx)
Especialista em
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Memory. HIPPOCAMPUS 16:755–764.
*Atenção* com a nova resolução para elaboração de laudos deve ser
descrito também a referência bibliográfica de todos os testes utilizados
9. SUGESTÕES TERAPÊUTICAS
- Retorno com a médica solicitante desta avaliação a fim de direcionamento de
condutas;
- Continuidade da terapia fonoaudiológica;
- Adesão à tratamento neuropsicológico na modalidade de 1 vez por semana em
consultório e prática domiciliar pelo menos 1 vez por semana, conforme
orientação da neuropsicológica responsável. Esta sugestão visa abordar as
deficiências atencionais;
- Adesão à tratamento psicoterapêutico a fim de abordar os sintomas psíquicos
e emocionais;
- A inserção em atividades coletivas, tais como teatro, canto ou aula de artes
pode ser benéfica para o desenvolvimento das habilidades sociais;
- A inclusão em tratamento de musicoterapia pode ser produtivo, pois esta
modalidade terapêutica é bastante eficaz nos casos de reabilitação da
linguagem;
- Início de acompanhamento psicopedagógico a fim de abordar as defasagens
escolares apresentadas pela paciente;
- O tratamento com metodologia de neurofeedback vem sendo reportada como
uma das mais eficazes a fim de abordar os sintomas de transtornos de
aprendizagem, e pode ser utilizada no período das férias, em modalidade
intensiva, a fim de não sobrecarregar a rotina semestral da paciente;