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Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas

Coleção 101 perguntas sobre regiões polares. InterAntar, 2021. Silvia Dotta (coordenação) Fabiana Rodrigues Costa Francyne Elias-Piera Manuela Bassoi Thiene Pelosi Cassiavillani Vanessa Carmo A mediação dos conhecimentos polares por meio de uma linguagem acessível aos jovens busca estimular atitudes críticas e reflexivas, e contribui para a preservação daqueles ambientes gelados e fundamentais para a saúde da/na Terra. A Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares traz a público um amplo leque

Enviado por

Silvia Dotta
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas

Coleção 101 perguntas sobre regiões polares. InterAntar, 2021. Silvia Dotta (coordenação) Fabiana Rodrigues Costa Francyne Elias-Piera Manuela Bassoi Thiene Pelosi Cassiavillani Vanessa Carmo A mediação dos conhecimentos polares por meio de uma linguagem acessível aos jovens busca estimular atitudes críticas e reflexivas, e contribui para a preservação daqueles ambientes gelados e fundamentais para a saúde da/na Terra. A Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares traz a público um amplo leque

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Silvia Dotta (coordenação)

Fabiana Rodrigues Costa


Francyne Elias-Piera
Manuela Bassoi
Thiene Pelosi Cassiavillani
Vanessa Carmo

ÁRTICO
E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Silvia Dotta (coordenação)
Fabiana Rodrigues Costa
Francyne Elias-Piera
Manuela Bassoi
Thiene Pelosi Cassiavillani
Vanessa Carmo

ANTÁRTICA,
ÁRTICO
E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Revisão científica de
Jefferson Simões e Paulo Câmara

Santo André, SP • 2021


© InterAntar, 2021
Silvia Dotta
Fabiana Rodrigues Costa
Francyne Elias-Piera
Manuela Bassoi
Thiene Pelosi Cassiavillani
Vanessa Carmo

Foto de capa: Rubens Junqueira Villela, Polo Sul, 1961


Revisão científica de Jefferson Simões e Paulo Câmara
Agência: Traço Leal
Atendimento: Andrea Leal
Design gráfico: Plinio Fernandes

Agradecimentos
Ao MCTI e ao PNUD cujo fomento foi imprescindível para esta publicação.
À UFABC, principalmente, à equipe da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura,
que desde 2013 colabora com o InterAntar para a realização de projetos de
mediação das ciências antárticas.

CATALOGAÇÃO NA FONTE
SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

A627 Antártica, Ártico e mudanças climáticas / coordenação de


Silvia Dotta ... [et al.]. – Santo André, SP : InterAntar : UFABC,
2021.
244 p. : il. color. – (Coleção 101 perguntas sobre regiões
polares)
ISBN 978-65-5719-019-7
1. Antártica. 2. Ártico. 3. Ciências polares. 4. Ensino mé-
dio. 5. Mudanças climáticas. I. Dotta, Silvia. II. Nunes, Fabiana
Rodrigues Costa. III. Elias-Piera, Francyne. IV. Bassoi, Manuela.
V. Cassiavillani, Thiene Pelosi. VI. Carmo, Vanessa. VII. Série.
CDD 22. ed. – 577.09113

Elaborado por João Carlos Gardini Santos – CRB-8/10.506.


Dedicamos estes escritos a todos os antárticos
brasileiros. Aos que iniciaram a jornada. Aos
que estão caminhando. E, principalmente, aos
do futuro, que irão garantir a representação
brasileira em descobertas e decisões essenciais
para a preservação das regiões polares.
Apresentação da coleção

A mediação dos conhecimentos polares por meio de uma lingua-


gem acessível aos jovens busca estimular atitudes críticas e reflexi-
vas, e contribui para a preservação daqueles ambientes gelados e
fundamentais para a saúde da/na Terra.
A Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares traz a público
um amplo leque de informações, com objetivo de situar o leitor
sobre questões do Ártico e da Antártica que influenciam a vida
no planeta Terra, em especial na América do Sul e no Brasil. Cada
título desta coleção aborda um tema e, por meio de perguntas, você
é convidado a se posicionar a respeito dos fenômenos observados
nessas regiões.
Neste título, Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas, você será
introduzido aos aspectos naturais e antrópicos que influenciam o
clima global. Será que as mudanças climáticas são irreversíveis?
Podemos fazer algo para melhorar as condições do planeta?
Este livro pretende aguçar sua curiosidade sobre temas essen-
ciais para se compreender as influências das regiões polares no
clima e ampliar sua conscientização e vontade de contribuir para
frear os impactos das mudanças globais.

Boa leitura!
InterAntar, outubro de 2021.
Sobre as autoras

Fabiana Costa é licenciada em Letras, tradutora, bióloga e


paleontóloga, já tendo coletado fósseis na Antártica. Além
de integrar o InterAntar, participa de diversas iniciativas
de divulgação das ciências antárticas na UFABC, onde
é docente e coordena o Laboratório de Paleontologia de
Vertebrados e Comportamento Animal (LAPC - UFABC).

Francyne Elias-Piera é uma cientista youtuber. Bióloga,


doutora em ciência ambiental e há 20 anos pesquisa a Ecologia
Antártica. Participou em 5 Expedições à Antártica com o
Brasil e a Coréia. A Dra. Fran é fundadora do Instituto Gelo na
Bagagem, a primeira plataforma de entretenimento antártico.

Manuela Bassoi é oceanógrafa formada pela Universidade


do Rio Grande (FURG/RS), com mestrado e doutorado
no National Oceanography Centre (NOC) Southampton,
Inglaterra. Realiza pesquisas com cetáceos na Antártica
desde 1998, em projetos nacionais e internacionais.

Thiene Pelosi Cassiavillani é bacharela em Letras e


mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino e
História das Ciências e da Matemática da Universidade
Federal do ABC, onde também trabalha, na Seção de
Divulgação Científica da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura.

Vanessa Carmo é Doutoranda em Ensino e História


das Ciências e da Matemática, possui mestrado e
graduação em Comunicação. Atualmente coordena
a seção de divulgação científica da Pró-Reitoria de
Extensão e Cultura da Universidade Federal do ABC.

Sílvia Dotta é Professora Associada da UFABC.


Comunicóloga e doutora em Educação, fundou e
coordena o InterAntar, um programa de divulgação das
ciências polares, e coordenou a criação deste livro.

Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Sumário
Os novos polos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1  O que são mudanças climáticas?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2  O que é aquecimento global?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3  O que é a Antártica? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4  O que é o Ártico?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
5  Há quem não acredite nas mudanças climáticas?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
6  O que é efeito estufa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
7  Sempre existiu gelo na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
8  Há diferenças entre o Ártico e a Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
9  As regiões polares podem derreter completamente?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
10  Onde é mais frio, na Antártica ou no Ártico?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
11  A Antártica influencia o clima do Brasil? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
12  Qual a relação entre o buraco na camada de ozônio,
o aquecimento global e a Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
13  Por que é importante saber mais sobre a Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
14  Quanto da água do planeta está concentrada na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . 41
15  Qual o maior deserto do mundo?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
16  Por que a umidade do ar é baixa na Antártica? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
17  Para onde vai a água do degelo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
18  Quem é o “pulmão” do mundo: a Antártica ou a Amazônia?. . . . . . . . . . . . . . 49
19  Há petróleo na Antártica e é possível explorá-lo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
20  O que é permafrost?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
21  O que são icebergs?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
22  Por que o gelo “queima”?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
23  Qual a cor do gelo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
24  Há relação entre as cores do gelo e as mudanças climáticas?. . . . . . . . . . . . 60
25  Quais são os instrumentos de proteção da Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
26  Quem foram os descobridores da Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
27  Como a caça aos pinípedes na Antártica e oceano
Austral afetaram suas populações?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
28  As baleias-azuis do Hemisfério Sul estão em risco de extinção?. . . . . . . . . . 70
29  Quem foi Shackleton?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
30  Qual é a temperatura média da água na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
31  Qual é a altitude média da Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares


32  Qual é a velocidade dos ventos na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
33  A Antártica aumenta e diminui de tamanho? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
34  Há vegetação na Antártica? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
35  Como nossas ações interferem nas mudanças climáticas?. . . . . . . . . . . . . . 85
36  Há poluição na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
37  O lixo produzido por aqui chega nas regiões polares?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
38  Como as mudanças climáticas podem afetar
a migração das aves de regiões polares?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
39  Como as mudanças climáticas podem afetar
as baleias na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
40  Como as mudanças climáticas afetam a reprodução dos pinguins? . . . . . . . 97
41  Como as mudanças climáticas podem afetar
os pinípedes nas regiões polares? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
42  Como as mudanças climáticas podem afetar
a navegação nas regiões polares?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
43  Como as mudanças climáticas afetam as populações de pinguins? . . . . . . 103
44  Como as mudanças climáticas afetam os oceanos? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
45  Quantos oceanos existem no planeta? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
46  Por que as geleiras precisam de ajuda?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
47  Quem vive na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
48  Quem vive no Ártico?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
49  Urso-polar come pinguim?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
50  Como se faz um iglu? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
51  Há rios na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
52  Há outros animais além de ursos-polares no Ártico?. . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
53  Ursos-polares são brancos?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
54  Por que os pinguins são o símbolo da Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
55  Pinguins e parceiros(as): até que a morte os separem?. . . . . . . . . . . . . . . . 130
56  Pinguins se divorciam?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
57  Por que os pinguins não voam?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
58  Existe pinguim no Ártico?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
59  O que os pinguins comem?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
60  Por que o pinguim faz cocô vermelho?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
61  Pinguim tem pena?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
62  Existem baleias antárticas?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
63  Por que o oceano Austral possui uma das
mais altas diversidades da Terra?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
64  Há vida no fundo do mar congelado?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
65  Há vida no gelo e na neve?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152

Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


66  Há insetos nas regiões polares? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
67  Como as focas se locomovem em terra?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
68  Por que há animais gigantes na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
69  Por que os animais polares não morrem de frio? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
70  Por que baleias e focas foram muito caçadas?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
71  Quais são os tipos de gelo marinho?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
72  Baleias bebem água? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170
73  Focas-caranguejeiras comem caranguejo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
74  Há tubarões nas regiões polares?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174
75  Existiram dinossauros nas regiões polares? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
76  Por que o krill é tão importante?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
77  Existe poluição por plástico na região Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
78  Quem é o dono da Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
79  Como brasileiros vão à Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
80  Há correio na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
81  Que horas são agora na Antártica? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
82  É possível levar trenós puxados por cães na Antártica? . . . . . . . . . . . . . . . . 192
83  Qual é o tempo de sobrevivência de uma pessoa em águas polares? . . . . . 193
84  Que países fazem parte do Tratado da Antártica? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
85  Como é a participação feminina na ciência antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . . . 198
86  Existiram mulheres exploradoras?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202
87  Há turismo na Antártica? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204
88  O que são auroras polares? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
89  Onde mora o Papai Noel?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209
90  Como funciona um navio quebra-gelo?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
91  Como é a vida dos cientistas no continente antártico? . . . . . . . . . . . . . . . . . 213
92  Como foi a construção da estação brasileira na Antártica?. . . . . . . . . . . . . . 215
93  O que é o Programa Antártico Brasileiro?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 218
94  Como funciona um acampamento de pesquisa antártico?. . . . . . . . . . . . . . 220
95  Como é o transporte de pessoas na Antártica? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222
96  Quando foi a primeira expedição brasileira à Antártica?. . . . . . . . . . . . . . . . 224
97  É Antártica ou Antártida? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226
98  Qual a diferença entre os polos geográficos e os magnéticos?. . . . . . . . . . . 227
99  Você já estudou as regiões polares na escola?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
100  Como inserir as regiões polares nas escolas?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
101  O que eu posso fazer para preservar as regiões polares?. . . . . . . . . . . . . . 233
Posfácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares


Os novos polos

Ao longo das últimas duas décadas observamos rápidas mudanças


no ambiente e no cenário político das duas regiões polares. Antes
vistas como distantes, isoladas e de certa maneira imutáveis, onde
só alguns povos originários viviam permanentemente (por exem-
plo, os inuits e os lapões no Ártico), ou onde militares, exploradores
e cientistas esporadicamente passavam temporadas dedicadas a
seu trabalho.
Isso agora parece um passado distante, mudanças climáticas
sem precedentes aquecem a periferia das duas regiões polares mais
do que outras partes do planeta, o buraco de ozônio persiste nas
duas regiões (sim, a carência do ozônio na atmosfera é bipolar!), a
área coberta por mar congelado no verão ártico é cada vez menos
extensa, parte das geleiras está derretendo. E, é claro, temos asso-
ciado a essas mudanças, um novo cenário político.
No Ártico, a abertura de rotas marítimas transpolares reduzem
em milhares de quilômetros o trajeto entre a Europa e o Oriente,
países negociam quem tem a soberania do fundo do oceano Ártico,
a militarização da região aumenta.
Na Antártica, protegida por um rigoroso protocolo de preser-
vação ambiental, trinta e quatro países intensificam suas investi-
gações para entender como as mudanças do clima modificaram
o meio físico e biológico daquela região e quais as consequências
para o ambiente não polar, por exemplo, para o Brasil.
Os cientistas estudam as duas regiões polares cientes de que o
que acontece lá afeta nosso dia a dia. Quer alguns exemplos? As
frentes frias que algumas vezes chegam até o sul da Amazônia são
formadas no oceano que circunda a Antártica, o oceano Austral
(e que tem a maior corrente oceânica do mundo, a corrente cir-
cumpolar); o gelo que derrete na Groenlândia e na Antártica já
contribui para o aumento do nível do mar e, é claro, irá afetar a
costa brasileira. Então, hoje sabemos que as regiões polares são

10 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


tão importantes para o equilíbrio ambiental do Planeta quanto os
trópicos. Todo o meio ambiente está interconectado!
Este livro mostra a você, estudante dos anos finais da Educação
Básica, por meio de uma série de questões, um pouco do que sa-
bemos sobre as duas regiões polares. Isto é feito muitas vezes de
maneira lúdica, explorando algumas curiosidades (Por que ursos
polares não comem pinguins? Qual o maior deserto do mundo?
Baleias bebem água? Ursos polares são brancos?). Outras vezes,
exploram questões científicas básicas (Existem muitas diferenças
entre o Ártico e a Antártica? Onde é mais frio, na Antártica ou no
Ártico? O que são as auroras polares? ), mas também exploram
questões sobre a presença humana nas duas regiões (como se vai
à Antártica? Existe turismo na Antártica? O que é o Programa
Antártico Brasileiro? Quem vive no Ártico?) e, é claro, abordam a
questão mais premente do momento, qual o impacto da atividade
humana no meio ambiente polar (O que é o aquecimento global?
Os polos poderiam derreter totalmente?). Assim, você pode lê-lo
de várias maneiras, por questões, por tópicos relacionados, ou alea­
toriamente por simples diversão.
Uma dica, explore a geografia das regiões polares usando o Google
Maps, visite os lugares citados nos textos e observe os diferentes ti-
pos de paisagens. Elas se aproximam daquilo que você imaginou?

Boa leitura!
Prof. Jefferson Cardia Simões1
Professor de Geografia Polar e Glaciologia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

¹ Sou glaciólogo (o cientista que estuda a cobertura de neve e gelo da Terra) e professor de Geografia
das Regiões Polares na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escolhi essa profissão por
querer explorar novas áreas de conhecimento e as paisagens das regiões polares, para isso
fiz meu doutorado no Instituto de Pesquisa Polar Scott da famosa Universidade de Cambridge
(Inglaterra). Viajo muito. Já fiz 25 expedições científicas ao Ártico, à Antártica e aos Andes, estudando
principalmente como as geleiras estão mudando devido às mudanças do clima e avançando o
conhecimento sobre a história do clima do Planeta. Hoje lidero grande parte das pesquisas do
Programa Antártico Brasileiro (Proantar), tendo uma equipe formada por alunos e profissionais de
várias áreas de conhecimento. Sim, a pesquisa polar é multidisciplinar, o que enriquece muito a
vida e a carreira do profissional.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 11


1  O que são mudanças climáticas?
Mudanças climáticas são alterações no clima ao longo de vários
anos ou décadas, ou milênios, devido à variabilidade climática
natural ou a atividades humanas. As variações climáticas podem
ocorrer, por exemplo, na temperatura, na precipitação e na nebu-
losidade em escala global. Mudanças climáticas não é a mesma
coisa que aquecimento global, porém, o aquecimento global é uma
consequência das mudanças climáticas. As mudanças climáticas
são bem mais abrangentes que o aquecimento.
As mudanças climáticas acontecem pelo aumento da quantidade
de gases do efeito estufa na atmosfera. Quanto mais gases há na
atmosfera, maior é a retenção de calor no planeta. Isso aumenta
a temperatura global, causando um desequilíbrio na circulação
atmosférica.
As correntes atmosféricas circulam pelo planeta, ocorrendo
troca de calor entre as regiões muito quentes (os trópicos) e muito
frias (as regiões polares). As correntes quentes vão para lugares frios
e vice-versa. Com o aquecimento, lugares frios como a Antártica,
por exemplo, estão recebendo correntes mais quentes e isso está
causando o degelo e o aumento da temperatura do continente ge-
lado. Isso também modifica a circulação das correntes formadas na
Antártica (massas de ar polar) e que chegam ao Brasil como frentes
frias. Em vez de um aquecimento homogêneo, o que observamos
é uma variação cada vez mais rápida das condições atmosféricas.
Por exemplo, em 2020 quase não tivemos inverno no sul do Brasil,
mas em agosto recebemos uma massa de ar polar que fez nevar,
por um dia, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Toda essa
modificação na circulação provoca um aumento da intensidade,
da frequência e do impacto de eventos climáticos extremos, sejam
de calor ou de frio.
De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas), a maior causa do aumento da temperatura na Terra
é a ação humana ao longo dos últimos 250 anos. Essa mudança
de temperatura tem efeitos diferentes em cada região do planeta,

12 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


ocorrendo ondas de frio e de calor mais intensas dependendo do
local. Por exemplo, quando a atmosfera e o oceano aquecem, a
atmosfera mantém mais a umidade, o que ajuda a formar chuvas
mais intensas. Esse mesmo aumento de temperatura derrete parte
das geleiras da Groenlândia, da costa da Antártica e de diversas
montanhas do mundo.
Como as mudanças climáticas acontecem em uma escala de
tempo de centenas e até milhares de anos e seus impactos não são
imediatos, é difícil termos exemplos tão visíveis. Os exemplos que
temos são estudos de comparação do clima de hoje com o clima de
milhares de anos atrás. Alguns estudos de glaciologia nas regiões
polares mostram a grande quantidade de gases do efeito estufa
retida no gelo a partir da época da Revolução Industrial.

Temperatura média do ar sobre o Ártico (2 m acima da superfície)


no mês de julho entre 1968 e 1996. (NOAA, 2007)

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 13


Desde 1976, a temperatura média global esteve acima da média
do século XX, segundo dados da NOAA (Administração Oceânica
e Atmosférica Nacional dos EUA). No século XXI, 2017 foi o ter-
ceiro ano mais quente desde 1880. Em 2019, a temperatura já
estava 1,1 °C mais quente que na era pré-industrial, segundo o
relatório do IPCC.

As pesquisas também mostram que o aumento da temperatura


global já causa derretimento de parte das geleiras do Ártico e
da Antártica, está aumentando a temperatura do oceano e, como
consequência, está aumentando o nível do mar. Em cima desses
fatos, os oceanos estão cada vez mais ácidos, devido à absorção
de mais CO2 da atmosfera (sim, a água da superfície dos oceanos
absorve parte do CO2 que adicionamos na atmosfera).

As mudanças climáticas podem influenciar a quantidade de


água nos rios, resultando potencialmente em mais enchentes ou
secas. Podem causar escassez de água potável, aumento das inun-
dações, além da insegurança alimentar e da falta de alimento.
A escassez de água também está relacionada ao aquecimento
global, pois há um aumento na evaporação das águas nos rios e
reservatórios, o que leva a uma baixa disponibilidade de água po-
tável. Em um futuro próximo, poderá haver competição por esse
recurso, incluindo o gelo da Antártica.
Não é a primeira vez que nosso planeta sofre mudanças no clima
em âmbito global. Elas podem ser causadas por processos naturais
e também pela ação do homem. A maioria dos cientistas concorda
que uma das principais causas do aumento da temperatura glo-
bal atualmente é causada por atividades humanas poluentes. O
uso de combustíveis fósseis e o aumento do desmatamento estão
acelerando o aumento da temperatura do planeta, acelerando as
mudanças climáticas.
Como essas alterações estão ocorrendo muito rápido, muitas
espécies não estão tendo tempo de se adaptar aos novos ambientes
e podem estar ameaçadas. Como essas ameaças podem afetar a
humanidade? E o que você pode fazer para ajudar a conter isso?

14 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


2  O que é
aquecimento
global?
O aquecimento global é o au-
mento da temperatura mé-
dia global da Terra. Desde a
Revolução Industrial, a tem-
peratura global anual aumen-
tou no total um pouco mais de
1 ºC. Entre 1880 – o ano em que
se iniciaram os registros – e 1980,
a temperatura vinha aumentando em
média 0,07 ºC a cada 10 anos. No entanto,
desde 1981, a taxa de aumento mais do que dobrou: nos últimos
40 anos, vimos a temperatura global anual subir 0,18 ºC por década.
O resultado? Um planeta que nunca esteve tão quente, pro-
vavelmente nos últimos 125 mil anos. Nove dos dez anos mais
quentes desde 1880 ocorreram desde 2005 – e os cinco anos mais
quentes registrados ocorreram desde 2015. As temperaturas cres-
centes da Terra estão alimentando ondas de calor mais longas
e quentes, secas mais frequentes, chuvas mais fortes e furacões
mais poderosos.
A concentração de dióxido de carbono (CO2) – um dos gases
do efeito estufa – na atmosfera aumentou de cerca de 280 partes
por milhão (ppm) no tempo pré-industrial para 413 ppm no início
de 2020, resultado da crescente queima de combustíveis fósseis
e do desenfreado desmatamento. Essa concentração de CO2 não
tem registros anteriormente na história. Para estabilizar o aqueci-
mento global, isto é, mantê-lo nos limites dos processos naturais,
precisamos retornar a uma concentração “segura” de 350 ppm de
CO2 até o ano de 2100, ou seja, é necessário reduzir as emissões
dos gases do efeito estufa.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 15


Um aspecto importante a se considerar é a ideia de que aquecimento pode
gerar aquecimento. Pense, por exemplo, nas extensões de gelo marinho
presentes nas regiões polares. Ao derreterem, devido ao aquecimento,
podem diminuir o albedo, isto é, o poder de reflexão de sua superfície.
Uma cobertura de neve ou gelo, por ser branca, tem um albedo maior do
que a superfície dos oceanos, de cor escura. O gelo marinho tem uma
capacidade de reflexão de até 90%, enquanto a água reflete apenas 20%.

Sendo assim, quanto mais gelo marinho derreter, maior será a


absorção de calor pelos oceanos, e esse aquecimento contribuirá
para derreter mais gelo marinho. Em outras palavras, como dizem
os cientistas, ocorre o retroprocessamento positivo: quanto mais
aquecimento menos cobertura de gelo, quanto menos cobertura
de gelo mais calor é absorvido.
Consequentemente, as regiões polares têm dado sinais de aque-
cimento mais intenso. No Ártico, por exemplo, a situação é muito
preocupante, pois além de registrar um aumento na temperatura
atmosférica superficial acima dos 2 °C entre 1960 e 2011, média
superior ao observado em outras partes da Terra, há um aumento
na velocidade das mudanças ambientais, como a redução na ex-
tensão e espessura do gelo marinho, redução da cobertura de neve
e mudanças na extensão do permafrost (o solo permanentemente
congelado), gerando impactos locais e globais, como a perda contí-
nua de gelo terrestre e marinho, ameaças à vida selvagem, aumento
das emissões de metano, clima extremo em latitudes mais baixas e
elevação rápida do nível dos oceanos, etc.
Que outras consequências o aquecimento global pode causar?
Há alguma consequência positiva? O derretimento do gelo em al-
gumas regiões pode gerar novas configurações territoriais do globo
terrestre? Se sim, quais seriam os impactos geopolíticos dessas mu-
danças? Por fim, você já deve ter aprendido que o consumo cons-
ciente, o descarte adequado de resíduos, a economia de energia são
exemplos de ações para reduzir a emissão de poluentes. Agora, se
você fosse um empresário, qual seria o posicionamento adequado
para um crescimento sustentável e menos poluente?

16 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


3  O que é a Antártica?
A Antártica é um continente coberto de gelo e rodeado pelo ocea-
no Austral. Também chamamos de Antártica tudo o que está
nos limites da Zona da Frente Polar Antártica, ou abaixo da an-
tiga Convergência Antártica, isto é, onde as águas dos oceanos
Atlântico, Índico e Pacífico se encontram com as águas geladas
que vêm do Sul, formam uma linha circumpolar entre 48 e 62ºS.
O continente mede 13,8 milhões de km2, equivalente a 1,6 vezes o
tamanho do Brasil, e toda a Região Antártica atinge 45,6 milhões
de km2. Durante o inverno, grande parte do mar no entorno do
continente se congela, podendo chegar a 18 milhões de km2. Esse
continente, com a maior cobertura de gelo do planeta, rodeado por
essa massa d’água fria, é o regulador térmico da Terra.

Imagem mostra congelamento ao redor da Antártica no


inverno em setembro, 2005. (Fonte: NASA, 2011) ↓

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 17


Na Antártica, os mantos de gelo e as geleiras cobrem quase todo
o continente, podendo atingir uma espessura máxima de 4776 me-
tros. O manto de gelo correspondente ao platô antártico é consi-
derado um dos mais importantes controladores dos níveis do mar.
Quando há derretimento, a água flui para o mar aumentando o
volume e nível dos oceanos.
A parte central do continente antártico é cortada pela cordilheira
Transantártica, com extensão de 3.500 km. O lado do continente
voltado para o oceano Índico (Antártica Oriental) abriga um platô
de gelo que ultrapassa 4.000 metros de altitude e esconde acidentes
geográficos como montanhas com até 3 mil metros de altura. A
região é uma das mais secas do planeta, ocorrendo lá as menores
temperaturas da Terra (-55 °C – média anual e -70 °C em casos não
raros, tendo registrado o recorde de -93 ºC). A Antártica Ocidental
(lado do oceano Pacífico) é mais baixa e abriga os limites da costa
que são banhados pelo mar de Ross e pelo mar de Weddell (lado do
oceano Atlântico). A temperatura média fica em torno dos -25 °C e
a costa da região acolhe a maior parte da biodiversidade antártica,
especialmente na superfície que não recebe cobertura de gelo no
período do verão.

Mapa geral da Antártica. (Centro Polar e Climático da UFRGS, 2011)

18 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


A Antártica é também conhecida como a região dos extremos:
é a região mais fria, mais seca, mais ventosa, mais alta do
Planeta. É o mais frágil dos ambientes terrestres.

A costa e o fundo marinho antárticos – o interior do continente


é um imenso deserto de neve e gelo – acomodam numerosas aves,
mamíferos, comunidades bentônicas, planctônicas, peixes e mi-
lhares de espécies de invertebrados. Devido às condições extre-
mas, boa parte das espécies, principalmente de aves, costuma viajar
no inverno e prolongar as férias até que seja possível um retorno
seguro na primavera. Todavia, isso não ocorre porque elas não
suportam o frio, mas, sim, pelo fato de o frio congelar a superfície
da água, dificultando que encontrem alimento.
Diferente do que algumas pessoas imaginam, a Antártica não é
composta somente por água, gelo e pinguins, ela possui formações
rochosas as quais o gelo se encarrega de moldar e ocultar. Nas
rochas e sedimentos no continente ocorrem inúmeros minerais
(ouro, prata, ferro, carbono) e energéticos (petróleo, gás). A re-
gião é o maior reservatório de água doce do planeta (70%), mas se
encontra congelada. Além de abrigar uma fauna marinha diversa
e abundante.
Agora, imagine a seguinte situação: com o aumento da escassez
de água no planeta, o ouro branco, o gelo, está na mira das nações.
Haverá uma disputa pela água doce da Antártica? Quem tem mais
chances de explorar esse recurso?

4  O que é o Ártico?
Definir o Ártico é mais complexo do que se pode imaginar. À prin-
cípio você poderia dizer: é o Norte, é gelado, é isolado, é escuro,
poucas pessoas vivem lá, pois é uma área de terras estéreis cobertas
de gelo e neve. Se você der uma volta ao redor do Ártico, vai perce-
ber que as condições climáticas e ambientais variam enormemente,
mesmo na mesma latitude, dependendo de onde você está.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 19


Diferente da Antártica, um continente rodeado de oceano, o
Ártico é um oceano – o oceano Ártico – rodeado de ilhas e continen-
tes, e está localizado ao norte da Terra. São 21 milhões de km2, sendo
65% cobertos por água, quase sempre congelada na superfície (ge-
ralmente não ultrapassa alguns metros de espessura, embaixo tem
as águas do oceano), e o restante cercado por territórios pertencen-
tes aos Estados Unidos da América (Alasca), Canadá, Groenlândia
(Dinamarca), Islândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia.
O Ártico pode ser definido como toda a parte da Terra que
está ao norte de 66,7ºN, isto é, ao norte do Círculo Polar Ártico, e
onde se experimenta o Sol da Meia Noite e a Escuridão do Meio
Dia, dependendo da estação do ano. O mais aceito pelos geógrafos
é que o Ártico é aquela região acima de uma linha latitudinal que
marca o limite da existência de árvores, para além da qual elas já
não crescem ou crescem apenas pequenos arbustos, não há mais
florestas, é a chamada tundra ártica. Essa região representa a maior
zona bioclimática do planeta, e começa entre 50 e 84° N, depen-
dendo da região do Hemisfério Norte.
No Ártico, e em parte da região subártica, o solo está conge-
lado (apesar de não existir geleiras sobre ele), isso é conhecido
como permafrost (do inglês, perm = permanente + frost = conge-
lado). É uma das regiões mais frias do planeta, perdendo apenas
para a Antártica, que é mais fria ainda. Sua temperatura média
anual é de -2 °C, podendo atingir até -60 °C no inverno e 10 °C
no verão.

O Ártico é a área da Terra mais influenciada pelo aquecimento


global. Este aquecimento em sido causa de mudanças no ambiente
físico, como na criosfera, a parte congelada do planeta. Mas o que
tem intrigado os cientistas é o fato de haver poucas mudanças
biológicas. A vegetação em algumas regiões, mesmo com o aumento
da temperatura, não mudou muito e em outras sofreu mudanças
dramáticas, como por exemplo, na Lapônia, onde se observa, nos
últimos 30 anos, o crescimento de arbustos em terras antes áridas.

20 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


O aumento da temperatura atmosférica na Terra. A diferença de temperatura
média entre os períodos 1951–1980 e 2011–2020. (Fonte: NASA)

As mudanças climáticas no Ártico alteram tanto o ambiente


físico, como o biológico, afetando negativamente tanto os povos
que lá vivem – por exemplo, dificultando a caça em condições de
gelo inseguras, devido ao derretimento –, como o resto do globo,
podendo causar, de acordo com algumas pesquisas, o derretimento
do permafrost (solo congelado) ou a elevação do nível do mar. As
mudanças também podem oferecer oportunidades, como a aber-
tura de novas rotas de navegação, mais rápidas e mais baratas, em
especial entre a Europa e a Ásia, novos espaços para agricultura,
melhores acessos a fontes de energia como petróleo e gás.
As mudanças no Ártico influenciaram o Brasil? Os desafios
e oportunidades oferecidos pelo derretimento do Ártico seriam
compartilhados de forma igualitária entre todos os povos?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 21


5  Há quem não acredite nas
mudanças climáticas?
Sim. Pessoas que não acreditam nas mudanças climáticas, negam
a ciência e todos os estudos realizados até hoje sobre o tema. São
os chamados negacionistas climáticos, você já ouviu falar deles?
Parece estranho, mas esses indivíduos não acreditam no aque-
cimento global, refutam estudos que comprovam o aumento da
temperatura, negam a relação da interferência do homem no meio
ambiente com o aumento dos chamados eventos climáticos ex-
tremos – alta do nível dos mares, grandes tempestades, furacões,
secas, ondas localizadas de frio ou de calor intensas e excepcionais.
Para essas pessoas, por exemplo, o gás dióxido de carbono (CO2)
não intensifica o efeito estufa e o aquecimento é provocado apenas
pela maior atividade solar. Alguns até acreditam que o planeta está
aquecendo, mas tudo não passa de um fenômeno exclusivamente
natural, sem graves consequências.

Acredite se quiser: o negacionismo climático é um movimento


mundial e no Brasil, segundo a Pesquisa Datafolha de 2019, 15% da
população não acredita no aquecimento global. E dentro da parcela
que acredita que o planeta está ficando mais quente, 72% apontam
que as atividades humanas contribuem muito para esse aquecimento
e, para 18%, essas atividades contribuem um pouco. Há ainda 10% que
avaliam que a ação do homem não contribui para aquecer o planeta.
Enquanto a grande maioria aceita calmamente a importância dos
consensos científicos ao nosso redor – de que uma alimentação sau-
dável inclui frutas e legumes, de que a Terra é redonda, de que antibió­
ticos não matam vírus, que tabaco é a principal causa de câncer de
pulmão, que vacinas são seguras e necessárias, que nossas atitudes in-
fluenciam a mudança no clima do planeta etc. Alguns preferem ado-
tar uma postura negacionista e lutar contra os fatos, seja por apego
ao passado, por falta de conhecimento ou por interesses particulares.

22 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Ciclone Bomba, registrado em Santa Catarina em 1 de julho de 2020. (Fonte: NASA)

A gente sabe que a história está repleta de exemplos de posturas


adversas perante os avanços da ciência. Contudo, quando o assunto
é científico sabemos, ou ao menos intuímos, que acompanhar os
especialistas é a coisa mais racional a fazer por questão de conve-
niência (e sobrevivência!)
Quando uma comunidade científica se declara convencida de
uma teoria, por exemplo, isso significa que ela foi testada e criti-
cada ao limite – e sobreviveu. Lembrando que a ciência é sempre
provisória, volta e meia são testadas novas hipóteses, e sempre que
necessário um assunto pode ser revisado e podem surgir outras
proposições – vindas de dados experimentais e novas observações.
Enquanto o negacionismo climático vira assunto na nossa vida,
nas conversas instantâneas por smartphone, nas redes sociais, nos
almoços de domingo, o Planeta está lá (ou aqui) sofrendo as con-
sequências das ações humanas. A situação se agrava e as medidas
urgentes a serem tomadas são adiadas, o tempo não para e aguarda
nossas ações mais conscientes e amigáveis com o nosso planeta
redondo.
Iniciativas sustentáveis e políticas que tratam sobre o que é saudá-
vel para o planeta são mais do que necessárias, são urgentes. A busca
por conhecimento em fontes confiáveis é indispensável, divulgar
as informações científicas de maneira acessível a toda a sociedade,
dialogar com as pessoas e agir com consciência e responsabilidade
são atitudes que podemos ter agora, neste momento, aqui e aí.
Você acha que o senso crítico e a busca por informações em
fontes confiáveis contribuem para a ciência? E como desenvolver
o senso crítico?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 23


6  O que é efeito estufa?
O planeta Terra tem uma camada de gases que ficam ao redor dele
chamada atmosfera. Esses gases deixam que grande parte dos raios
solares cheguem e aqueçam a superfície do Planeta, e, então, emi-
tam radiação para o espaço. Aí, um fenômeno interessante ocorre,
esses mesmos gases (como o dióxido de carbono, CO2, ou metano,
CH4) não deixam passar a radiação que os cientistas chamam de
infravermelho. Este é um fenômeno natural, o efeito estufa, e os
gases que retêm a radiação são chamados gases do efeito estufa.
Os principais gases do efeito estufa presentes na atmosfera são:
→ CO₂: gás carbônico ou dióxido de carbono – gerado pela respira-
ção de animais e plantas e também gerado pela queima de com-
bustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás natural, turfa),
queimadas e desmatamentos.
→ CH₄: metano – produzido naturalmente por bactérias no apare-
lho digestivo do gado e liberado por flatulência. Atividades que
também incluem a produção de metano são a produção de arroz
e a queima de biomassa. É originado em processos biológicos,
como o tratamento de efluentes líquidos, na extração e refino
de petróleo, na mineração e em aterros sanitários.
→ N₂O: óxido nitroso – liberado naturalmente por micro-organis-
mos em sistemas de tratamento de esgoto ou por micro-organis-
mos do solo, por um processo denominado nitrificação. Houve
um aumento desse gás na atmosfera devido ao grande uso de fer-
tilizantes químicos. Pode ser emitido pela queima de biomassa,
pelo desmatamento ou por indústrias de produção de alumínio.
→ O₃: ozônio – produzido naturalmente pelo estímulo do Sol so-
bre as moléculas de oxigênio. O ozônio também é resultado da
fumaça gerada por usinas termoelétricas, por veículos e pelas
queimadas.
→ Vapor d’água: também absorve parte da radiação solar. É pro-
duzido naturalmente, porém, com o aumento da temperatura
da atmosfera haverá mais evaporação de água aumentando cada
vez mais a quantidade de vapor na atmosfera.

24 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Nós, seres humanos, e todos os animais e plantas geramos gás
carbônico e vapor d’água quando respiramos. Também liberamos
metano já que o sistema digestório da maioria dos animais tem
bactérias que ajudam na digestão e produzem metano. Mas a quan-
tidade desses gases do efeito estufa liberados pelo ser humano é
muito baixa. Uma pessoa emite cerca de 700 mililitros de gases
por dia. Desse total, 360 mililitros são de hidrogênio, 68 de gás
carbônico e apenas 26 são de metano.
O grande problema desses gases do efeito estufa é que quando
estão em grande quantidade são poluentes. Como começaram a ser
emitidos por atividades não naturais, a concentração desses gases
na atmosfera aumentou mais de 40% nos últimos 200 anos. Esse
aumento dificulta a dispersão dos raios emitidos pela Terra para
espaço, esquentando mais a superfície do planeta.
Estudos mostram que em 150 anos, a temperatura do planeta
aumentou quase 1 °C. De acordo com o Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC), até o ano de 2100, a tempe-
ratura da atmosfera na superfície do planeta sofrerá um aumento
entre 1,8 °C e 4 °C. É esse aumento da temperatura global que traz
graves consequências ao meio ambiente como: o derretimento
de grandes massas de gelo das regiões polares, aumento do nível
do mar, que pode levar a problemas como inundação de cidades
litorâneas e migração forçada de pessoas; aumento de desastres
naturais como furacões e ciclones; desertificação de áreas natu-
rais; secas mais frequentes; mudanças nos regimes das chuvas;
mudança na circulação das correntes atmosféricas e marinhas;
problemas na produção de alimentos, pois mudanças na tempe-
ratura podem afetar as áreas produtivas; acidificação dos oceanos;
e interferência na biodiversidade, que pode levar várias espécies
à extinção ou à migração.
O que você tem feito para diminuir a quantidade de emissão de
gases do efeito estufa?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 25


7  Sempre existiu gelo na Antártica?
Quando falamos na Antártica, dez a cada dez pessoas vão pensar
em um ambiente branco, com muito gelo e muito frio! A Antártica
do imaginário geral, certamente, ainda que a grande maioria das
pessoas não tenha acesso a ela, ou venha a acessá-la em algum mo-
mento da vida, será descrita dessa forma. Vegetação? Nem pensar!
No entanto… será que a Antártica sempre foi assim?
A resposta é: não! A Antártica nem sempre foi gelada e branca,
e nem sempre os seus habitantes foram focas, pinguins e afins. A
Antártica do passado era um ambiente bastante diferente do que
estamos acostumados a imaginar. Você acredita que a Antártica
inclusive já teve florestas exuberantes e uma fauna bem diferente,
com dinossauros e outros grandes répteis?
Na verdade, o planeta já teve uma configuração muito diferente
dessa que conhecemos hoje, com os continentes dispostos de outra
forma, e com ambientes bastante diversos do que temos para as
localidades atuais. Áreas hoje mais secas já foram mar, áreas quen-
tes já foram frias e vice-versa… mas e a Antártica? Voltemos a ela.
Há 90 milhões de anos a Antártica constituía um ambiente
florestado, com um clima mais quente. E como podemos chegar a
uma conclusão dessas, se isto teria sido há tanto tempo? Com as
descobertas no campo da Paleontologia realizadas por pesquisa-
dores que fazem suas pesquisas por lá!
Paleontólogos já encontraram na Antártica fósseis de plantas,
além de pólen, esporos e raízes, que são comparados com as plantas
que existem atualmente. Essa comparação nos fornece uma ideia
de como teriam sido esses ambientes do passado. A Antártica de
90 milhões de anos atrás teria sido bem mais quente, com florestas
e uma temperatura média de 12 °C. Um ambiente parecido com o
que se tem hoje na Nova Zelândia e em algumas regiões do Chile,
com coníferas, araucárias, arbustos de pequeno porte e até plantas
com flores!
O mais intrigante, no entanto, é saber como aquelas florestas
teriam sobrevivido à escuridão do período invernal (de maio a

26 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


setembro), já que a latitude da Antártica não teria mudado! A partir
de mais ou menos 47 milhões de anos, a Antártica começou a es-
friar e, finalmente, há 15 milhões de anos, congelou completamente,
assumindo o aspecto de continente branco que hoje conhecemos.
Períodos de superaquecimento e resfriamento sucederam-se no
planeta, e os ambientes, assim como os próprios continentes, foram
se reconfigurando até apresentarem suas características atuais.

Hoje, com o aquecimento global, a aceleração do degelo em parte do


grande continente branco é uma realidade e pode levar ao aumento do
nível dos oceanos e ameaçar as cidades litorâneas. O fato é que esse
fenômeno, acelerado pelo desequilíbrio que a relação do homem com
o planeta impôs, tem aumentado ano após ano, colocando em xeque
a sobrevivência de criaturas que habitam a Terra, inclusive nós!

E em relação à Antártica, além de aumentar o derretimento do


gelo ao longo do tempo, o aquecimento global compromete a fauna
e a flora antárticas. Os pinguins, por exemplo… o que pode acon-
tecer com essas simpáticas criaturinhas quando essas mudanças
afetarem suas estratégias de busca por alimento?

8  Há diferenças entre o
Ártico e a Antártica?
As imagens das regiões polares presentes na mídia mostram luga-
res muito frios, cobertos de neve, escuros e remotos. Às vezes até
parece que são o mesmo lugar, não é? Essas duas regiões do nosso
planeta são mesmo parecidas quando o quesito é o frio, mas tam-
bém têm muitas diferenças. Vamos ver algumas delas?
O Ártico e a Antártica são muito distantes. O Ártico fica no
extremo norte do planeta e a Antártica está localizada no extremo
sul e essas regiões tão distantes têm características geográficas bem
diferentes.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 27


O Ártico é um oceano semifechado, quase completamente cer-
cado por terra. Por isso, o gelo marinho que se forma por lá não é
tão móvel quanto o que se forma na Antártica. Isso não quer dizer
que ele não se mova, apenas que as placas de gelo do mar, chama-
das de banquisas, tendem a permanecer concentradas nas águas da
bacia do Ártico. E como elas ficam concentradas, essas banquisas
têm mais chance de se encontrarem, batendo umas nas outras e for-
mando camadas de gelo mais grossas. O gelo no Ártico também tem
um ciclo de vida mais longo, o que faz com que ele dure mais tempo
durante o verão: dos 15 milhões de km2 de gelo marinho presentes
no Ártico durante o inverno, restam em média 7 milhões no verão.
Já a Antártica é praticamente o oposto geográfico do Ártico. É
formada por uma grande massa de terra, um continente, rodeada
por um oceano, o oceano Austral. Esse oceano é aberto e permite
que o gelo marinho se mova livremente, o que resulta em veloci-
dades de deriva muito maiores. E como não existe terra bloque-
ando o caminho, esse gelo marinho fica livre para flutuar até águas
mais quentes e, eventualmente, derreter. Como resultado disso,
enquanto no inverno Antártico cerca de 18 milhões km2 de oceano
são cobertos por gelo, esse número cai para cerca de 3 milhões no
verão. Uma grande diferença, não é?
Outra coisa que é bem diferente são os polos geográficos Norte
e Sul. O Polo Norte fica no oceano Ártico, a uma distância de mais
ou menos 700 km do assentamento mais próximo, a Ilha Ellesmere,
no norte do Canadá. Se você fosse até lá, estaria em cima de uma
camada de gelo marinho de 1 a 3 m de espessura e, embaixo dos
seus pés, haveria um oceano com 4.260 metros de profundidade.
A temperatura média na região do Círculo Polar Ártico é de 0 °C
no verão, enquanto no inverno é de -30 °C. Já o Polo Sul fica na
Antártica. Se você fosse até lá, estaria pisando em uma imensa ca-
mada de gelo de mais ou menos 2700 m de espessura, a 3.172 km
ao Sul da Estação Antártica Comandante Ferraz. Debaixo de todo
esse gelo, está uma superfície rochosa, mais ou menos 100 m acima
do nível do mar. As temperaturas na Antártica também são muito
mais extremas: média de -28 °C no verão e -58 °C no inverno, e já
registrou um recorde de -93 °C.

28 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Polo Norte. (Christopher Michael, 2015)

A gente sempre escuta que as regiões polares ficam metade do


ano no escuro, não é? Será que é isso mesmo? E será que isso é igual
nas duas regiões? O que ocorre é que os locais dos polos passam
cinco meses sob a luz do dia e cinco meses na escuridão. No resto
da Antártica e do Ártico, o número de dias com 24h de sol (e tam-
bém de dias com 24 h de noite) vai diminuindo conforme você se
afasta dos polos. Isso vai acontecendo até se chegar aos círculos
polares, onde apenas um dia por ano tem luz durante 24h, e um dia
tem 24h de escuridão. E quem será que vive nas regiões polares?
No Ártico, há pessoas provenientes de diferentes povos, como os
inuit, os chuckchi, os sami, os yupik, os Inupiat dentre outros. Há
diversas vilas e cidades ao norte do Círculo Polar Ártico, sendo que
a maior delas se chama Murmansk (Rússia) e tem mais de 300 mil
habitantes. Além disso, a população permanente total do Ártico é
de cerca de 4 milhões de pessoas.
Já a Antártica nunca teve nativos, ninguém nunca nasceu e pas-
sou a vida toda lá. Hoje, as pessoas que passam temporadas no
continente moram nas estações científicas. A maior estação é a
americana McMurdo que abriga mais de três mil pessoas no ve-
rão e 250 pessoas no inverno. Além disso, cerca de 40 mil turistas
visitam a Antártica todos os anos. E você, gostaria de visitar essas
regiões? Quais outras diferenças há entre elas?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 29


9  As regiões polares podem
derreter completamente?
Você sabia que existem mais de 25 milhões de quilômetros cúbicos
de gelo na Terra? Pois é! É muito, muito gelo… e quase 80% disso
fica na região chamada Antártica Oriental. Difícil de entender o
que isso representa? Bom, dá para cobrir todo o território do Brasil
(8,5 milhões de quilômetros quadrados) com uma camada de gelo
de quase 3000 m de espessura. Se tudo derretesse, o que aconteceria
com o planeta? É possível que isso aconteça?

Aposto que você já ouviu, pelo menos uma vez na vida, que nosso planeta
está esquentando e que isso tem consequências muito importantes
para o meio ambiente e para vida aqui na Terra. Esse é o processo
que chamamos de aquecimento global e ele se refere ao aumento
contínuo das temperaturas médias de oceanos e da atmosfera do
planeta. Um dos efeitos do aquecimento global é o que chamamos de
degelo, o derretimento mais acelerado do gelo e da neve da Terra.
As temperaturas tão baixas nas regiões polares e as grandes
quantidades de gelo que ficam depositadas lá fazem parecer impos-
sível que todas as geleiras derretam completamente. De fato, não
há um cenário científico que preveja, para esta era, uma destruição
total da criosfera – os elementos do sistema terrestre contendo água
em estado sólido, isto é, que estão congelados. A última vez que
isso aconteceu foi há 35 milhões de anos, e a temperatura média
do planeta estava até 15 °C mais quente.
Em um cenário apocalíptico, se isso fosse possível, o que aconte-
ceria caso as regiões polares derretessem completamente? Nas aulas
de Geografia, nós estudamos mapas que mostram o mundo como
ele é agora. Se você fechar os olhos e pensar no mapa do Brasil,
provavelmente conseguirá formar uma imagem bem aproximada
dele na sua cabeça. Mas essa imagem seria muito diferente se todo
o gelo do planeta derretesse, pois os níveis do mar aumentariam

30 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


cerca de 65 metros, o que faria com que muitas partes dos conti-
nentes ficassem submersas, debaixo d’água.
No norte da América do Sul, o rio Amazonas e o conjunto de
águas que correm para ele seriam invadidos pelo Atlântico. No sul
do continente, o mesmo aconteceria com o rio La Plata e as águas
que nele desembocam. Isso destruiria Buenos Aires, a costa do
Uruguai e a maior parte do Paraguai. Ao longo da costa do Caribe
e na América Central, apenas trechos montanhosos sobreviveriam.

Urso-polar (Ursus maritimus) desnutrido em razão das mudanças climáticas e o impacto


do aquecimento global sobre o verão no Círculo Polar Ártico. (Andreas Weith, 2015)

Na América do Norte, todo o litoral do Atlântico desapareceria,


junto com Flórida, Texas, Louisiana, Mississippi e Alabama. Na
Califórnia, que fica à oeste, as colinas de São Francisco se tornariam
um aglomerado de ilhas e San Diego seria inundada.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 31


Em comparação com outros continentes, a África perderia me-
nos de suas terras, mas o aumento do calor da Terra poderia tornar
o continente inabitável. Além disso, Alexandria e Cairo, que ficam
no Egito, seriam inundados pelo mar Mediterrâneo.
No caso da Europa, Londres viraria apenas uma memória.
Veneza seria engolida pelo mar Adriático. Nesse cenário, que leva-
ria milhares de anos para acontecer, a Holanda já teria se rendido
ao mar há muito tempo, assim como a maior parte da Dinamarca.
Na Ásia, partes da China, que hoje são habitadas por 600 milhões
de pessoas, inundariam, assim como Bangladesh, que tem uma popu-
lação de 160 milhões, e grande parte da Índia costeira. No Camboja,
as Montanhas Cardamomo ficariam isoladas como uma ilha.
Já a Austrália, que é em sua maior parte composta por desertos,
ganharia um novo mar interior e perderia grande parte da sua
estreita faixa costeira, onde vivem quatro a cada cinco australianos.
E como aqui tratamos das regiões polares, a Antártica não
poderia ficar de fora, certo? Como falamos no início do texto, o
manto de gelo Antártica Oriental é tão grande, mas tão grande,
que contém 80% de todo o gelo da Terra. Toda essa quantidade
de gelo pode parecer impossível de derreter, afinal, ela sobreviveu
a períodos mais quentes do planeta, milhares de anos atrás. Parte
desse gelo vai derreter nas próximas décadas, contribuindo para
o aumento do nível do mar em algumas dezenas de centímetros.
A Antártica Ocidental, por sua vez, é uma área muito vulnerável
porque a sua maior parte fica sobre a rocha que está abaixo do nível
do mar. O aquecimento do oceano está derretendo o próprio manto
de gelo flutuante por baixo, o que poderá causar seu colapso. Essa
região teve uma perda média de 65 milhões de toneladas métricas
de gelo por ano desde 1992, o que já contribui para o aumento do
nível do mar.
O descongelamento total do planeta por consequência da ação
humana não é previsto e é provavelmente impossível. Porém, o
aquecimento global já vem causando um degelo acelerado de par-
tes das regiões polares e as consequências disso já podem ser per-
cebidas hoje. Você consegue listar algumas delas?

32 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


10  Onde é mais frio, na
Antártica ou no Ártico?
As regiões Ártica e Antártica são muito frias porque elas recebem
pouca luz do Sol diretamente. No extremo Norte e no extremo Sul
do Planeta Terra, o Sol permanece bem baixo no horizonte, mesmo
durante o verão. Já no inverno, ele fica tão abaixo do horizonte que
nem é possível vê-lo durante vários meses do ano. Nesse período,
os dias são iguaizinhos às noites – frios e escuros.

Apesar de o Ártico, no Norte, e a Antártica, ao Sul, serem chamados


de “opostos polares”, eles recebem a mesma quantidade de luz solar.
Mesmo assim, o Sul é muito, mas muito mais frio que o Norte. Por que
será? Bem, porque além de estarem em extremos opostos do Planeta,
essas duas regiões têm outras características bastante diferentes.

O Ártico, na verdade, é um oceano cercado por Terra. Esse


oceano, em muitas partes, é coberto por gelo, dependendo da tem-
peratura e da época do ano. As águas abaixo dessas camadas de gelo
são bastante geladas, mas, mesmo assim, são mais quentinhas do
que o gelo acima. Então, elas ajudam a esquentar o ar, fazendo com
que as temperaturas subam um pouco.
De dezembro a março, a média de temperatura diária da maior
parte do Ártico fica abaixo dos -20 °C. Porém, nas regiões mais
frias do Canadá, temperaturas abaixo de -50 °C não são inco-
muns. A temperatura mais baixa da história do Ártico, -69.6 °C,
foi registrada em uma estação climática na Groenlândia no dia 22
de dezembro de 1991. Esse recorde só foi descoberto no final de
2020, quase 30 anos depois, no Arquivo do Clima da Organização
Meteorológica Mundial e desbanca o recorde antigo de -67.8 °C,
registrado nas cidades russas de Verkhoianksk, em fevereiro de
1982, e Oimekon, em janeiro de 1983.
Durante o verão, as temperaturas ficam próximas de 0 °C nas
áreas costeiras do Ártico. Já no interior, elas costumam ficar entre 7 e

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 33


13 °C, podendo, ocasionalmente, atingir a casa dos 20 °C. Porém, em
junho de 2020, uma onda de calor sem precedentes atingiu o Ártico,
fazendo com que as temperaturas atingissem o recorde de 38 °C!
Já a Antártica é uma porção de terra cercada por oceano. Na
verdade, a porção de terra da Antártica fica enterrada debaixo de
camadas muito espessas de gelo e neve. Para você ter uma ideia,
a elevação média da Antártica é de cerca de 2,3 km. O pico mais
alto da Antártica é o Maciço Vinson, que chega a 4.892 de altitude.
E, já sabemos: quanto mais alto você estiver, maior é o frio! Além
disso, o albedo (reflexão da luz) é um dos principais responsáveis
para tornar a Antártica mais fria. Como o continente é quase todo
branco, ele reflete mais luz, enquanto que no Ártico, o oceano, mais
escuro que a neve e o gelo, absorve mais luz, retendo calor.

Enfrentando o frio na Antártica. (Christopher Michael, 2013)

34 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


A Antártica é considerada o lugar mais seco e frio da Terra. E
também é o lugar onde mais venta! Aqui, as temperaturas podem fi-
car inimaginavelmente baixas! Foi na Antártica que foi registrada a
temperatura mais baixa de todos os tempos com pessoas residindo
em uma estação (-89.2 °C, na estação russa Vostok). Porém, medi-
ções por satélite mostraram temperaturas de até -93 °C no inverno!
O ano de 2020 também foi palco de recordes de calor na
Antártica. No dia 6 de fevereiro, os termômetros da Base Esperanza,
que fica no extremo norte da Península Antártica, atingiram 18.3
°C, mais ou menos a mesma temperatura da cidade de Los Angeles
naquele dia.
Em comparação com o Ártico, a Antártica está sendo afetada de
maneira mais lenta pelas mudanças climáticas. O ponto de fusão
da água, ou seja, a temperatura de 0 °C quando ela passa do estado
sólido para o líquido, é um marco importante para as rápidas al-
terações das regiões polares e só uma porção muito pequena das
imensas camadas de gelo da Antártica a atinge no verão. Além
disso, o fato de a região ser cercada por água e protegida por fortes
ventos a isolam de invasões de ar quente.
Apesar de essas fortes proteções, esse continente gélido tem se
tornado mais quente, o que resultou na perda de bilhões de tone-
ladas de gelo e a sua resposta ao aquecimento do ar e do oceano
pode ter consequências no mundo todo. Há sinais preocupantes
de perda de gelo na Península Antártica. Imagens de satélite mos-
tram que as geleiras estão começando a se mover mais rapidamente,
depositando blocos de gelo no oceano Austral.
O derretimento do da Antártica Oriental seria muito preocu-
pante. É no continente antártico que está localizado cerca de 80%
do gelo de todo o planeta. Em teoria, o derretimento de todo esse
gelo poderia aumentar o nível do mar em cerca de 60 m. É claro,
não existe a possibilidade de derreter todo esse gelo em uma escala
de tempo humana, mas os cientistas preveem que o derretimento
que está ocorrendo vai aumentar, junto com o derretimento da
Groenlândia e geleiras de montanha, o nível do mar entre 30 cm e
1metro e 10 cm até o ano 2100. Você pode imaginar o que aconte-
ceria com cidades costeiras nesse cenário?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 35


11  A Antártica influencia
o clima do Brasil?
Sim. Com certeza! O Brasil é o sétimo país mais próximo do
continente. A cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, está mais
próxima da Antártica do que de Macapá, no Amapá. E, sim, a
Antártica interfere no clima do Brasil.
Devido ao território brasileiro ser muito extenso (8.514.876
km²) ele apresenta diversos tipos de clima como: equatorial, tro-
pical, tropical de altitude, tropical úmido, semiárido e subtropical.
E esses diversos tipos de clima sofrem influências da fisionomia
geográfica, da extensão territorial, do relevo e da dinâmica das
massas de ar.
Quando você vê um meteorologista informando a previsão do
tempo, deve imaginar a enorme quantidade de dados que foram
analisados, incluindo as infinitas fórmulas de Física e Matemática
utilizadas. Talvez você pense também que quando a previsão do
tempo prevê a chegada de uma frente fria, essa seja uma massa de
ar polar vinda lá da Antártica. Na verdade, quando as massas de ar
polar encontram o ar mais quente, em menores latitudes, ocorre a
formação de frentes frias. A chegada de uma frente fria ocasiona
mudança no tempo local. Dependendo da intensidade da massa
de ar frio na retaguarda de uma frente fria pode ocorrer até geada
após sua passagem em um determinado local.

A Antártica é a mãe das frentes frias no Hemisfério Sul, e também é


uma espécie de regulador térmico da Terra, por meio do resfriamento
dos oceanos e da atmosfera. No Brasil, uma grande parte da costa
é atingida pelos ventos da região e recebe das correntes marinhas
recursos vivos, nutrientes e oxigênio para o nosso litoral.
Para regular a temperatura, além do encontro de massas de ar,
existe o encontro das águas. A Corrente Circumpolar Antártica,
a única que dá um giro completo na Terra e, por isso, afeta o

36 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


clima de todo o Planeta, encontra-se com as águas dos demais
oceanos e, então, ocorre uma redistribuição de calor entre as
diversas bacias oceânicas. Isso ocorre na Frente Polar Antártica
(antigamente chamada de Convergência Antártica), uma faixa
que circunda a Antártica cruzando os oceanos Atlântico, Índico
e Pacífico, delimitando uma barreira natural com significativas
diferenças de temperatura, salinidade e densidade entre os mares
do Sul e do Norte.
A Antártica além de ser um regulador para o clima do planeta,
é, também, um arquivo detalhado e histórico da atmosfera dos
últimos milhões de anos. Sendo assim, pesquisar o que acontece
na Antártica é crucial para entendermos o que acontece no mundo,
pois o que ocorre lá tem repercussão no equilíbrio climático e na
condição de vida das pessoas não só do Brasil, mas em escala
planetária.
Por outro lado, a Antártica não somente exporta influências
para a Terra, como também recebe influências de tudo o que acon-
tece no próprio planeta. Muito do que é produzido nos continentes,
como atividades industriais, poluição nos oceanos, queimadas e até
exploração do solo atinge o continente gelado.
Hoje a Antártica, um continente isolado, pouco conhecido
e que ainda não sofreu muitas alterações do homem, possui a
maior reserva marinha e de água potável. Mais importante, é con-
siderado um dos principais pulmões do mundo, devido à grande
quantidade de oxigênio produzido pelos organismos existentes
no oceano Austral. Contudo, sofre a influência de tudo o que é
produzido no planeta (e não é pouca coisa não), até quando tere-
mos esse cenário?
As mudanças climáticas já estão acontecendo, temos dificulda-
des em diminuir as causas e lidar com os efeitos. O conhecimento
científico sobre as regiões polares e a preservação ambiental po-
dem nos ajudar a diminuir os estragos futuros. Existe um avanço,
mas é necessário correr uma maratona mundial. Sendo assim, se
a Antártica tem grande importância para o clima do planeta, e
se estamos passando por um momento de mudanças climáticas
intensificadas, por que não estudamos mais a Antártica?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 37


12  Qual a relação entre o buraco
na camada de ozônio, o aquecimento
global e a Antártica?
A camada de ozônio impede que grande parte da radiação ultravio-
leta (RUV), danosa à vida, e que vem do Sol, chegue à superfície
da Terra colocando em risco plantas e animais. Infelizmente, com
a emissão de alguns gases artificiais pela humanidade, esta camada
começou a ser modificada há várias décadas.
O buraco na camada de ozônio na Antártica é causado, principal-
mente, pela emissão atmosférica de gases CFCs (clorofluorcarbonos)
e óxidos de nitrogênio, e este buraco se forma na baixa estratosfera
sobre a Antártica durante o inverno e a primavera austrais.
Estudos mostram queda na produtividade do fitoplâncton an-
tártico em na área sujeita aos efeitos da diminuição da camada de
ozônio. O fitoplâncton é alimento do zooplâncton (seu principal
componente no oceano Austral é o krill) que alimenta a grande
maioria das aves e dos mamíferos marinhos, então, um desequi-
líbrio na produção do fitoplâncton tem grande efeito cascata na
cadeia alimentar. Além disso, pode causar danos genéticos em
diversos organismos quando sujeitos à RUV que, associada a po-
luentes, pode causar prejuízos ainda maiores.
Por outro lado, a diminuição da camada de ozônio pode fazer
um efeito inverso e reduzir o aquecimento na Antártica provocado
pelo aquecimento global. Mas como isto é possível?
O resfriamento atmosférico causado pela menor absorção da
RUV pela camada de ozônio está promovendo também o aumento
do contraste de temperaturas entre a região central (onde o buraco
na camada é maior) e a periferia do continente antártico. Essas
diferenças de temperatura aumentam as diferenças de pressão, pro-
movendo ventos ainda mais fortes que estariam ajudando a isolar
grande parte do continente. É como uma espécie de barreira ao
aquecimento vindo de latitudes mais baixas.

38 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Na Antártica, a elevação da temperatura devido ao aquecimento global
poderia ser desacelerada com a diminuição do buraco de ozônio. Se isso
for correto, a diminuição do buraco de ozônio solucionaria o problema da
RUV, mas poderia intensificar o problema do aquecimento na região central
do continente antártico. Se você pudesse, qual situação escolheria?

É claro que essa pergunta é capciosa, pois seria o mesmo que


perguntar: como você prefere acabar com o ecossistema, com a ra-
diação ou com o calor? É evidente que medidas devem ser tomadas
para que tanto o buraco de ozônio quanto o aquecimento global
sejam minimizados, se quisermos realmente proteger a Antártica
e principalmente, o planeta.
O problema do buraco de ozônio é antigo e para conter esse
processo, em 1990, foi criado o Protocolo de Montreal, e o Brasil
abraçou a causa comprometendo-se a eliminar o uso de produtos
à base de CFCs.
E qual o cenário hoje? Há indícios de uma ligeira recuperação da
camada (ainda bem!) devido ao boicote mundial ao uso de CFCs
e suas variações em aerossóis e equipamentos de refrigeração, por
exemplo. A melhora é lenta, mas expressiva, e põe a luta para o fim
da emissão de poluentes em perspectiva, com a esperança de que,
até o ano de 2050, seja possível a recuperação completa do ozônio
na estratosfera – desde que haja empenho por parte dos países
signatários do protocolo.
Você sabe que produtos usam CFCs? Você poderia deixar de
fazer uso destes produtos, e além disto diminuir o uso de seu carro
para viagens curtas e preferir andar ou pedalar?

13  Por que é importante


saber mais sobre a Antártica?
Você deve imaginar que uma primeira resposta são as influên-
cias do continente branco no clima do planeta e os impactos das

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 39


mudanças climáticas, conforme você tem visto ao longo deste livro.
No caso brasileiro, sentimos diariamente a influência austral no
clima, afinal somos o 7º país mais próximo da Antártica. A costa
brasileira, principalmente o sul e sudeste, é atingida pelos ventos
polares, e isso altera o tempo e as temperaturas durante todo o
ano. As frentes frias afetam as atividades de agricultura e pecu-
ária. As correntes marinhas trazem nutrientes para nosso litoral,
impactando a disponibilidade de alimento e consequentemente a
atividade de pesca.
Será que há outras razões, além das ambientais e climáticas,
para considerar a Antártica um tema importante para nosso
entendimento?

O continente gelado possui a maior reserva de água doce do planeta. Esse


fato é de interesse de todos os países, pois significa haver ali a fonte de
um recurso essencial para a vida e em escassez no resto do planeta. Há
registros também da existência de outros 170 tipos de minerais, como
ouro, ferro e provavelmente grandes campos de gás natural e petróleo.

Outro aspecto importante é o interesse geopolítico pela Antártica,


considerada, desde 2013, parte do entorno estratégico brasileiro.
Aí você se pergunta: como pode um lugar tão distante e tão iso-
lado ser considerado um entorno estratégico? A própria questão
climática deixa perceber que a Antártica não está tão longe e nem
é tão isolada, mas tente pensar de um ponto de vista geográfico,
político e estratégico: quais são as áreas de interesse onde o Brasil
deve priorizar suas ações diplomáticas, econômicas e militares?
Como você possivelmente já sabe, grande parte do tráfego do
comércio marítimo mundial utiliza acessos artificiais controla-
dos, como, por exemplo, o canal do Panamá, que conecta os oce-
anos Atlântico e Pacífico, e o canal de Suez, que conectam o mar
Mediterrâneo e o oceano Índico. O acesso a essas passagens pode
sofrer restrições ou até fechamento, caso ocorram instabilidades
políticas regionais, além de oferecerem limites a navios maiores.
Por isso, a busca por novas rotas de navegação leva à utiliza-
ção dos acessos pelo sul dos continentes sul-americano e africano.

40 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Para o Brasil, é a passagem de Drake, que separa a Antártica do
continente sul-americano, a principal rota de navegação marítima,
para transpor os limites das demais rotas, e cruzar livremente os
oceanos para chegar em outras terras. Vale lembrar, ainda, que o
Brasil possui a maior costa atlântica do planeta, e tem ali sua fron-
teira marítima e rotas comerciais, turísticas e de comunicação que
perpassam a chamada Amazônia Azul (já ouviu falar?) e merecem
constante atenção para resguardar os interesses nacionais.
Certamente há muitas outras razões que revelam a importância
de saber mais sobre a Antártica, como, por exemplo, as descober-
tas científicas. Para você, qual é a razão mais importante? Por que
você acha que as pessoas devem conhecer mais sobre a Antártica?

14  Quanto da água do planeta


está concentrada na Antártica?
A água doce (mais corretamente dita “água potável”) é um recurso
natural essencial para todas as formas de vida. É um recurso de
grande valor econômico, ambiental e social e pode ser encontrado
em três estados físicos (sólido, líquido e gasoso), sendo muito im-
portante na estabilidade da temperatura do planeta e nos fenôme-
nos climáticos.
Durante muito tempo a água foi considerada como sendo um
recurso natural infinito e renovável, o que sempre foi um engano.
A Terra dispõe de aproximadamente 1,39 bilhão de km3 de água
e essa quantidade não vai mudar. Desse total, 97% dela está nos
mares, é salgada e para ser aproveitada por processos de dessa-
linização os custos são muitos elevados. Restam apenas 3% de
água doce, dos quais menos de 1/3 está disponível para consumo
humano em rios e lagos. Isso porque de toda a água doce no pla-
neta, 22% compõem-se de águas subterrâneas e 77% ficam em
geleiras – 70% só na Antártica, ou seja, o gelo antártico também
é um recurso hídrico para o futuro.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 41


A água potável é um recurso raro em muitos países e, em pleno
século 21, quase um bilhão de pessoas no mundo ainda não têm
acesso à água potável, enquanto mais de 2,5 bilhões não têm sis-
tema de tratamento de água. De acordo com o Relatório Mundial
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento de Recursos Hídricos
de 2015, o planeta enfrentará um déficit desse recurso de 40% até
o ano de 2030 e espera-se um aumento de 55% na demanda por
água até o ano de 2050. Enquanto isso, 20% das fontes mundiais
de água subterrânea também já estão sendo superexploradas. Em
um futuro próximo a água estará tão escassa que, segundo alguns
estudiosos, seu valor será comparado ao do ouro e provocará con-
flitos mundiais.
É por isso que pesquisadores em todo o mundo estão buscando
soluções para produzir água potável. Uma ideia foi explorar essa
água doce em estado sólido da Antártica. Os pesquisadores chega-
ram a estudar a possibilidade de transportar icebergs para outros
continentes utilizando principalmente o movimento das correntes
marinhas. Na verdade, a ideia é utilizar os icebergs, montanhas de
água doce à deriva e que vagam naturalmente no oceano até der-
reter. A cada ano, dezenas de milhares de icebergs são produzidos
a partir das geleiras, derretem e se perdem nas águas salgadas dos
oceanos. Um iceberg de 2.275 km2 (equivalente ao dobro da área
do Rio de Janeiro) poderia fornecer água para uma cidade como
o Rio de Janeiro durante três anos.
Essa ideia surgiu pela primeira vez nos anos 50 em projetos
de pesquisa do exército americano. Somente na década de 70, o
explorador polar francês Paul-Emile Victor, o engenheiro Georges
Mougin e o príncipe saudita Mohamed al-Faisal puseram esse
projeto em prática. E desde 2010, a Dassault Systèmes está com o
projeto IceDream. Utilizando uma tecnologia avançada com mode-
lagem 3D, eles fazem simulações virtuais para tornar o transporte
de icebergs realidade.
Para esses pesquisadores a deterioração de icebergs flutuan-
tes não causará nenhum impacto para a fauna local. Portanto, a
Antártica começará a ser alvo de exploração novamente. Porém,
sabemos que com o aquecimento global, esses icebergs estão se

42 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


soltando cada vez mais rápido e estão cada vez maiores. Isso irá
contribuir para o aumento dessa exploração.
E qual a sua opinião sobre a exploração do gelo? Que mecanis-
mos podem ser usados para solucionar o problema da escassez de
água sem impactar o ambiente?

15  Qual o maior deserto do mundo?


Qual a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você pensa em
um deserto? Eu aposto que são dunas de areias, ou talvez camelos,
ou até mesmo as pirâmides do Egito. A mesma coisa acontece co-
migo. Por que será que esta pergunta está sendo feita em um livro
sobre regiões polares?

Os desertos são áreas de muito pouca precipitação, ou seja, áreas onde


pouquíssima quantidade de água cai do céu. Essas condições tornam
esses locais inóspitos para a maioria das plantas e animais, apesar
de haver algumas espécies que conseguem triunfar nessas condições
difíceis. É comum que as pessoas descrevam os desertos usando palavras
como “quente”, “seco” e “vazio”, mas essa não é a história toda.

Alguns desertos são mesmo muito quentes, com temperaturas


que chegam a 54 °C, mas também existem desertos com invernos
muito frios, ou até mesmo alguns que são frios o ano todo. Esse
último é o caso dos desertos polares.
Partes do Ártico e da Antártica são classificadas como desertos.
Esses desertos polares contêm grandes quantidades de água, mas
a maior parte dela está congelada em geleiras e mantos de gelo o
ano todo. Então, apesar da presença de milhões e milhões de litros
d’água, uma parte muito pequena disso está disponível para as
plantas e os animais.
Considerando tudo isso, vamos voltar à pergunta inicial? Qual
será o maior deserto do mundo? Isso pode ser surpreendente
para você, mas o maior deserto do mundo é a Antártica! Algumas

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 43


regiões no interior do continente antártico têm precipitações anuais
de menos de 10 mm de água, o que faz com que essa seja uma das
regiões mais secas do planeta. Para você ter uma ideia, essa média
é aproximadamente metade da precipitação do Deserto do Saara.
É na Antártica também que fica o lugar mais seco da Terra. Nessa
região, que ganhou o nome de Vales Secos de McMurdo, não chove
há aproximadamente dois milhões de anos. Além disso, a pouca
neve que cai sublima (passa direto de cristal de gelo para vapor) ou
é soprada para longe pelos fortes ventos na região. O deserto antár-
tico ocupa uma área de mais de 13 milhões de quilômetros quadra-
dos, algo parecido com as áreas da China e da Índia combinadas!

Vales Secos de McMurdo – ausência de gelo e de neve. (NASA, 2009)

E será que mesmo com todo esse gelo, ainda é possível ter vida
no deserto antártico? Apesar das condições difíceis e inóspitas do
continente mais estéril do mundo, algumas formas de vida ainda
perseveram. Organismos que sobrevivem nessas condições são
chamados de extremófilos e conseguem prosperar apesar das
dificuldades.

44 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


A Antártica ainda é o lugar mais frio do planeta, com seu imenso
deserto gelado. Porém, a costa oeste da Península Antártica é a re-
gião da Terra que mais sofreu aquecimento nos últimos 50 anos.
E esse aquecimento não se restringe ao continente, mas também
pode ser notado no Oceano Austral. O aquecimento da Península
Antártica já está causando alterações no ambiente. A distribuição
das colônias de pinguins, por exemplo, tem mudado na medida
em que as condições do gelo marinho mudam. Além disso, o der-
retimento da neve tem resultado em um aumento da colonização
por plantas e algas. O que você acha que esse aumento pode causar
naquele ecossistema?

16  Por que a umidade do ar


é baixa na Antártica?
Que a Antártica é o continente mais gelado do planeta muita gente
sabe. Aliás, tudo na Antártica é superlativo: 13,8 milhões de km2 de
uma região mais fria, mais alta, mais austral, e mais seca! Tanto gelo,
e poderíamos pensar que a Antártica poderia ser tudo o que há de
mais extremo, exceto seca! O caso, no entanto, é que a umidade do
ar na Antártica é muito baixa (clima seco), semelhante àquela dos
desertos de areia. E o continente gelado pode até ser considerado
um grande deserto, entendendo-se deserto como uma região árida
onde poucas formas de vida sobrevivem.
Nos desertos, a umidade relativa do ar varia entre 5 e 15%. E na
Antártica, curiosamente temos locais com umidade de 6%, neva
muito pouco! Com temperaturas muito baixas, a evaporação (pas-
sagem da água do estado líquido para o vapor) não acontece. Assim,
as nuvens, também raramente se formam pela condensação do ar
devido à sua subida e expansão na atmosfera. Desse modo, há bem
pouca precipitação, já que o ar frio acumula pouca umidade.
Um fato curioso, inclusive, é o de que a quantidade de po-
eira e partículas sólidas em suspensão no ar e a pouca umidade

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 45


favorecem uma visibilidade excelente, o que pode ser um problema,
por exemplo, no cálculo de distâncias, no caso de observações vi-
suais. Entretanto, se uma vista limpa pode atrapalhar nesse sentido,
ela pode ser muito útil para outras questões como, por exemplo, a
contemplação do espaço.

Cenário de um fim de tarde em Porto Lockroy, Antártica. (Liam Quinn, 2011)

Outro fato bastante curioso é o de que o lugar considerado o


mais calmo e limpo do planeta está localizado no Planalto Antártico.
Esse lugar, conhecido como Domo A, é considerado o paraíso dos
astrônomos, com um mínimo de turbulência atmosférica, a uma
altitude de 4.053 metros, muito seco e com temperaturas médias
anuais de -70 °C! Claro que, com tais características, o local, ponto
alto de um grande deserto polar, é inóspito. Nesse local (onde existe
uma estação chinesa só habitada no curto verão antártico com tem-
peraturas ao redor de -60°C) foi instalado um telescópio, já que esse
é considerado o melhor lugar em todo o planeta para se observar
o espaço. Sendo um ponto tão remoto, não há qualquer interfe-
rência luminescente que possa obstruir as observações. Afinal, ser
tão isolada acaba sendo, neste quesito, uma grande coisa! Você já
pensou na Antártica como um grande deserto gelado?

46 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


17  Para onde vai a água do degelo?
O planeta está com febre, a temperatura vem aumentando preo-
cupantemente nos últimos anos e isso está afligindo cientistas em
todo o mundo. Sim, esse papo é bem sério!
O acelerado aumento da temperatura atmosférica é agora, ba-
sicamente, devido à ação humana. O aumento da concentração na
atmosfera de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa
derivados principalmente da queima de combustíveis fósseis e de
incêndios das florestas, entre outras atividades, faz com que a at-
mosfera e o oceano se aqueçam.
Esse aquecimento causa o derretimento de parte das geleiras.
Um clássico efeito dominó. O degelo acontece em várias regiões
da Terra e as áreas mais afetadas consequentemente são as que têm
maiores quantidades de gelo, ou seja, as regiões polares do planeta,
Ártico e Antártica.

A água derretida corre para o mar, aumenta o seu nível e pode


mudar a vida de todo o planeta com inundações na costa, causando
mortes de animais, desaparecimento de espécies, mudança no
clima, diminuição de água doce disponível para consumo humano,
inundações de cidades litorâneas, entre outras consequências.
E mesmo o Brasil estando relativamente longe, pode ser afetado?
Sim, com certeza. O impacto do degelo nas regiões polares rever-
bera em todo o planeta e alguns estudos já mostram que cidades
como Rio de Janeiro, Recife e Belém serão as primeiras a sentirem
as consequências.
Eu disse que o papo era sério.
Se por um lado algumas cidades desapareceriam, outras fica-
riam mais habitáveis do que hoje com temperaturas 10 °C mais
altas. A Groenlândia, por exemplo, poderia se tornar uma ilha
repleta de verde. E até parte da Península Antártica viria a florescer
mais vegetais. Bem assustador!

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 47


Degelo glacial no lago Fryxell, nas Montanhas Transantárticas.
(Joe Mastroianni, 2002)

As alterações não param. Lembra-se do efeito dominó? O que


ainda pode acontecer? É possível frear esse processo?
Muitas pesquisas estão sendo realizadas, cientistas revelam da-
dos e informações importantes o tempo todo e alertam da urgência
da situação e de se combater o aquecimento do planeta. É quase
uma corrida contra o tempo e essa competição exige mudanças
drásticas e urgentes.
Atualmente, nos deparamos com 1 °C de aquecimento. Para os
cientistas da ONU, que revisaram mais de 6 mil estudos, estamos
muito próximos de atingir 1,5 °C e até mesmo chegar a 2 °C de
aquecimento já na primeira metade deste século. Parece pouco,
mas é muito. Para ficar mais claro, esse é o nível mínimo seguro
para conseguirmos viver aqui.
Soluções, por favor!
Eliminarmos os combustíveis fósseis, como carvão e petróleo,
zerar o desmatamento em escala mundial para reduzir as emissões,
e proteger florestas, savanas e outras formas de vegetação natural
para capturar o excesso de CO2 que já está na atmosfera e o que
ainda será emitido na fase de transição para uma economia neutra
em carbono são algumas das soluções.
O ideal para baixar já a febre do nosso planeta é absorver parte
do carbono que já está na atmosfera e reduzir pela metade até o
ano de 2030 a emissão de gases que aquecem o planeta, para então
zerá-las em 2050.
Será que é tarde demais?

48 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


18  Quem é o “pulmão” do mundo:
a Antártica ou a Amazônia?
Para começar, respire fundo.
O pulmão é o órgão animal que tem como função principal ab-
sorver oxigênio e eliminar gás carbônico. Isso mesmo, sua função
é fazer a troca de gases entre o ambiente e o sangue. Essa troca é
essencial para a vida. Portanto, sem essa troca não é possível viver.
Essa mesma troca de gases que os animais fazem para respirar,
as folhas das plantas (terrestres e marinhas) também fazem para
se nutrir, porém, de forma invertida: absorvem o gás carbônico e
liberam o oxigênio. Está aí a famosa fotossíntese, fenômeno mais
importante sobre o ciclo do oxigênio e para a manutenção da vida
no planeta. Lembrando que as plantas também respiram e precisam
de oxigênio.
De onde vem a maior parte do oxigênio utilizado pelos seres
vivos para respirar? Das plantas?
 A grande reserva de plantas terrestres está contemplada por
florestas e bosques do planeta. A maior floresta tropical do mundo,
a floresta Amazônica, corresponde a 67% de todas as florestas exis-
tentes, tem cinco milhões de quilômetros quadrados (se fosse um
país, seria o 6º maior do mundo em extensão territorial), abrange
60% do território brasileiro, e dispõe da maior bacia hidrográfica
do mundo. Está localizada no norte da América do Sul, possui uma
biodiversidade exuberante, com mais de 30.000 espécies de plantas,
sem contar as endêmicas (existentes somente em uma determinada
região, no caso, na região amazônica). A sua dimensão, a impor-
tância ecológica e o desmatamento são assuntos debatidos em âm-
bito internacional. O desflorestamento é uma preocupação porque
diminui a biodiversidade, empobrece os solos, polui os rios e afeta
diretamente as mudanças climáticas do planeta, principalmente
no sul do Hemisfério Norte. Isso ocorre principalmente pelas ati-
vidades agropecuárias, madeireiras e de mineração, queimadas e
o contrabando de animais.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 49


Todas as florestas do mundo produzem somente 24% do oxigê-
nio do planeta (segure essa informação), sendo que a Amazônia,
mesmo com suas 2.500 espécies de árvores e outras 30.000 varie-
dades de plantas, há um mito de que ela produz em torno de 20%
do total. Entretanto, não podemos esquecer de que ela consome
quase todo o oxigênio produzido, afinal as plantas de lá também
precisam respirar. Dessa forma, não sobra muito oxigênio para
oferecer ao planeta.
As algas marinhas microscópicas enviam para a atmosfera quase
55% do oxigênio produzido no planeta. Elas produzem mais oxigê-
nio pela fotossíntese do que consomem na respiração, e o excesso
é liberado para o ambiente.
Algas (exceto as algas verdes) não são plantas nem animais, per-
tencem a um grupo de seres vivos chamados protistas, ou ainda,
cromistas, que fazem fotossíntese, e tem uma função essencial no
ciclo da vida dos oceanos, inclusive no oceano Austral.

Alga Desmarestia sp. (Francyne Elias-Piera)

O oceano Austral com sua superfície de 20.327.000 km2, cir-


cunda todo o continente Antártico e sua flora marinha é composta
principalmente por algas – macroalgas e microalgas. Portanto, a
Antártica contribui intensamente para a produção de oxigênio
para o planeta, por isso, é comum ouvir as pessoas dizerem que a
Antártica é o “pulmão” do mundo.
E se o pulmão do mundo ficar doente, o que acontece?

50 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


19  Há petróleo na Antártica
e é possível explorá-lo?
Se esta não é a primeira vez que você está lendo um texto deste
livro, você já deve ter uma boa noção de como a Antártica é um
lugar impressionante e pouco explorado, tanto pelas condições
difíceis que seres humanos enfrentam lá, quanto por acordos que
garantem a proteção da região.
Podemos dizer que nunca houve qualquer mineração comercial,
ou extração e mesmo identificação de campos de petróleo no con-
tinente mais ao sul do planeta e também que não há planos para
que isso aconteça num futuro tão próximo. A garantia disso é que
a mineração comercial na Antártica é proibida pelo Protocolo de
Madri. Bem, pelo menos até o ano de 2048.
Deixe-me explicar isso melhor: quando o Tratado da Antártica
foi assinado, em 1959, a exploração dos recursos do continente
nem chegou a ser discutida. Nos anos 1980 o assunto entrou
em pauta, o que resultou na criação do Protocolo de Proteção
Ambiental do Tratado da Antártica, conhecido como o Protocolo
de Madri que foi assinado adivinha onde? Em Madri, na Espanha!
Apesar da assinatura ter acontecido em 1991, foi apenas em 1998
que ele foi implementado, com revisão prevista para dali a 50 anos,
em 2048.
Será que isso quer dizer que não existem recursos minerais
por lá? Será que na Antártica tudo que se podem encontrar são
grandes camadas de gelo e muitos pinguins? Muito pelo contrário.
A Antártica possui, sim, ocorrências de minerais. Aparentemente,
algumas rochas nas plataformas continentais da Antártica contêm
petróleo e gás natural. Apesar disso, nenhuma perfuração para
procurar esses recursos naturais foi realizada e é muito imprová-
vel que eles sejam explorados comercialmente neste século, pois
o custo dessa operação seria muito alto. Sabe-se também que a
Antártica possui carvão e minério de ferro, mas a exploração des-
ses minerais também é inviável. O que acontece é que não é fácil

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 51


encontrar locais ricos em recursos e que sejam fáceis de chegar,
o que torna a sua exploração, pelo menos até agora, economica-
mente inviável.
O clima, a quantidade de gelo e a distância entre a Antártica e
qualquer área industrializada tornam a sua exploração extrema-
mente custosa, e também muito perigosa. Um exemplo disso são
os icebergs em torno do continente, que podem tornar o transporte
algo muito complicado. A maior parte do continente é completa-
mente coberta por neve e gelo, geralmente com centenas e até mi-
lhares de metros de espessura. E isso causa dois problemas: como
saber o que existe embaixo de tudo aquilo sem que testes possam
ser feitos facilmente e, caso haja alguma coisa, como extraí-la?

Fenda na plataforma de gelo de Larsen. (John Sonntag, 2016)

Esses, no entanto, não são os únicos empecilhos da exploração


de minerais na Antártica. Você saberia dizer que outros desafios
haveria para essa exploração?
Como falamos no início do texto, o Protocolo de Madri elenca
os princípios dentro dos quais a proteção ambiental da Antártica
é regulada e eles incluem a proibição de qualquer mineração co-
mercial por 50 anos. Mas a tecnologia está sempre em evolução
e os interesses comerciais são muito poderosos, o que pode com-
prometer a segurança da Antártica no futuro. Esse continente
congelado é muito importante para nos ajudar a entender me-
lhor as consequências que todos os nossos atos podem causar no
mundo. A Antártica é muito importante para o planeta por causa

52 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


de seu profundo efeito no clima da Terra e nos sistemas oceânicos
e é nosso dever protegê-la, especialmente porque, após o ano de
2048, ainda não há garantias para sua proteção. Então, em 2048,
o que você e sua geração poderão fazer para que a Antártica con-
tinue protegida?

20  O que é permafrost?


Você já deve ter deduzido que a palavra permafrost, do inglês, sig-
nifica permanentemente congelado, em português: pergelissolo.
Na prática, é o solo que permanece congelado por dois ou mais
anos consecutivos. O permafrost pode ocorrer em solos ou ou-
tros materiais em sua superfície como rochas e pedregulhos. As
baixas temperaturas dificultam a penetração de raízes em grandes
profundidades e impedem a decomposição de matéria orgânica,
dificultando a presença de vegetais que dependeriam desse mate-
rial. O bioma comum desse solo é a tundra, caracterizada por uma
vegetação espaçada de musgos, ervas e líquens.
A espessura do permafrost depende do clima, vegetação e tipo
de solo, podendo variar de alguns centímetros a centenas de me-
tros Como ele é resultado de climas frios, a maior parte do per-
mafrost existente hoje foi formado durante os últimos 100.000
anos, durante a última Idade de Gelo. Além das temperaturas do
ar, fatores locais, como cobertura de neve, vegetação, espessura da
camada orgânica do solo, propriedades térmicas (isolantes) dos
materiais, umidade do solo / teor de gelo e condições de drena-
gem também são fatores que influenciam a presença ou ausência
de permafrost.
O permafrost é comum em altas latitudes (Antártica e Ártico)
mas também ocorre em latitudes mais baixas, como as áreas
montanhosas dos Andes e Himalaia. Além disso, o permafrost é
encontrado sob o oceano Ártico, no fundo do mar. As baixas tem-
peraturas no oceano Ártico têm preservado o solo congelado por
milhares de anos. Ao contrário de outros componentes criosféricos

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 53


como neve, geleiras, gelo marinho, rios e lagos congelados, nem
sempre é possível saber se uma área contém uma camada de per-
mafrost ou não. Entretanto, alguns acidentes geográficos podem
indicar sua presença, como, por exemplo, um solo com padrões
poligonais e cunhas de gelo, marcando rachaduras.
O aumento da temperatura em áreas de permafrost pode afetar
vários aspectos da natureza e da vida humana, como hidrologia, ve-
getação, infraestrutura de construção e a possibilidade de aprender
mais sobre doenças antigas, animais extintos e culturas humanas,
dentre outros.

Permafrost degelando na Ilha Herschel, Canadá. (Boris Radosavljevic, 2012)

Essas áreas de permafrost armazenam aproximadamente duas


vezes mais carbono do que há na atmosfera. Quando aumenta a
temperatura do permafrost e a espessura da camada ativa (aquela
que descongela e congela sazonalmente), o material orgânico que foi
previamente congelado no solo descongela e pode ser decomposto
e seu carbono é emitido como como dióxido de carbono (CO2) ou
metano (CH4). Esses gases contribuem para intensificar o efeito
estufa na atmosfera e, portanto, aceleram as mudanças do clima.
O aquecimento global pode afetar toda a infraestrutura cons-
truída sobre o permafrost. O descongelamento do solo pode ter
impactos severos em estradas, oleodutos, casas, pontes e outras
construções. Para se construir sobre um permafrost com risco de

54 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


descongelamento, é necessário o emprego de técnicas especiais, que
garantam sua estabilidade, isso significa custos mais elevados em
desenvolvimento de infraestrutura.

Você já percebeu que o permafrost funciona como um imenso freezer,


portanto, há corpos de pessoas e de animais, roupas e artefatos
preservados nessas áreas ao longo de muitos anos. Quando a espessura
da camada ativa aumenta, corpos que foram enterrados por séculos
podem começar a descongelar. Isso pode representar problemas para a
saúde, ao mesmo tempo que é uma oportunidade de se aprender sobre
doenças antigas e culturas humanas. O descongelamento também pode
revelar a história do planeta, ao fazer emergir fósseis animais e vegetais.

Dá para perceber que as mudanças climáticas afetam o estado


do permafrost e isso pode ter profundas implicações tanto no am-
biente natural como social. Além do que você viu aqui, consegue
imaginar outros aspectos positivos e/ou negativos caso haja o per-
sistente descongelamento dessas áreas? Como o Brasil seria afetado?

21  O que são icebergs?


Icebergs são grandes blocos de gelo com formas distintas e tama-
nhos variados, podem em alguns casos atingir dezenas de milhares
de quilômetros quadrados. São derivados de massas de gelo que
se acumularam ao longo de milhares de anos, formando geleiras
(glaciares) que fluem em direção à costa. Um iceberg é resultante
do desprendimento de partes dessas geleiras que caem no mar e
ficam à deriva, e são, portanto, constituídos por água doce.
O movimento das correntes marítimas, o vento, as ondas, as ma-
rés, o calor, causam derretimento, criando trincas e fragmentando
os glaciares na borda da plataforma de gelo. Esses fragmentos, ao se
desprenderem, passam a flutuar no oceano pois o gelo tem menor
densidade que a água. A água doce que forma o iceberg também
tem menor densidade que a água salgada do mar que o cerca.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 55


O volume de um iceberg pode variar bastante. Há registros de
icebergs com dezenas de metros de altura e dezenas quilômetros de
extensão. Na Antártica, a maioria dos icebergs jovens, recém-for-
mado e que desprendeu de uma plataforma de gelo, possui forma
tabular. Com o tempo e à deriva, o vento e o calor que o derretem,
esculpem formas exuberantes a esses gelos gigantes. Os icebergs
tabulares são uma feição característica da região Antártica.

Iceberg na Península Antártica. (Sílvia Dotta, 2004)

É sabido que apenas cerca de 20% de um icebergs é visível na


superfície e o restante está submerso, por isso eles representam
grande ameaça à navegação. Você já ouviu falar do naufrágio do
Titanic em 1912, certo? O navio foi abalroado por um iceberg pe-
queno – segundo alguns estudiosos o bloco de gelo media 120 x
30 metros, mas o que atingiu o casco do navio foi a parte submersa
do iceberg. Gigante mesmo foi o A68, um iceberg de um trilhão
de toneladas que se desprendeu da plataforma de gelo Larsen C na
Antártica em 2017. Com 152 quilômetros de comprimento e largura
máxima de 48 quilômetros, o iceberg possui uma área de quase 6
mil quilômetros quadrados e uma altura de 150 a 180 metros sob a
água. Em dezembro de 2020, imagens de satélite mostravam o A68
viajando em direção à ilha Geórgia do Sul. Nessa rota, em águas e
ar mais quentes, o A68 acelerou seu derretimento e fragmentação.

56 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Da esquerda para a direta: A68 aproximando-se da Geórgia do Sul em 20/12/20;
fragmentando-se, em 26/12/20; fragmentando-se em 14/02/21. (Fonte: NASA)

O derretimento e consequente desprendimento dos blocos de


gelo dos glaciares é um processo natural presente em nosso planeta.
Icebergs flutuam e derretem sem que o nível do mar se altere. É o
estado da água que muda, de sólido para líquido. O volume conti-
nua o mesmo. Porém, com o aquecimento global, os glaciares der-
retem mais e começam a produzir icebergs, esta água (que estava
dos continentes e ilhas) vai para o oceano e aumenta o nível do mar.
Todavia, como diz o dito popular, “isso é só a ponta do iceberg”.
Consegue imaginar o que acontece com aqueles animais que de-
pendem do gelo flutuante, como é o caso de focas? Por outro lado,
o que acontece com aquela água que estava embaixo do gelo que
se partiu? Era refúgio de algum organismo? E agora que o espaço
ficou sem teto, o que pode acontecer com esses organismos?

22  Por que o gelo “queima”?


“Quem brinca com fogo, acaba se queimando” é um ditado popular
velho conhecido de todos, assim como “não por a mão no fogo por
fulano para não se queimar” significa não confiar no fulano por-
que você pode se decepcionar (“se queimar”). De fato, que o fogo
queima, é tão óbvio que até a criança mais novinha aprende isto
rapidamente! Entretanto, o gelo queimar é algo inusitado e pode até
parecer contraditório: como o gelo queima, se é frio? Não é preciso
calor para queimar os desprevenidos? Vamos tentar entender.
Vamos recapitular um pouquinho da física. A temperatura do
ar, neve e gelo (que está a 0°C ou geralmente muito mais baixa

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 57


na Antártica, onde é possível encontrar neve e gelo a -55 °C) é
diferente da temperatura da nossa pele (média de 36 °C). Nessas
condições, quer no ar ou em contato com a neve e o gelo, pode
ocorrer o congelamento da pele e tecidos subjacentes. Primeiro sua
pele fica muito fria e vermelha, depois entorpecida, dura e pálida.
No processo, aparecerem bolhas. O congelamento é mais comum
nos dedos das mãos e dos pés, nariz, orelhas, bochechas e queixo.
Este processo é acelerado se a pele estiver exposta em dias ventosos
ou se sua pele entrar em contato com superfícies metálicas (bons
condutores termais). Mas o congelamento pode ocorrer mesmo
com pele coberta por luvas ou outras roupas.

Rosto de um pesquisador antártico (Madigan)


queimado pelo frio em Adelie Land, durante a
Expedição Antártica Australasiana (1911–1914).

O congelamento da pele passa essa sensação de dor – e toda


dor é um alerta gerado pelo corpo de que algo está errado! No
caso de uma exposição prolongada ao gelo em contato com a pele,
como pode acontecer com alpinistas e pesquisadores polares, o
dano provocado no tecido cutâneo pode ser mais grave e congelar
internamente as extremidades do corpo (dedos, orelhas, nariz).
Não é à toa que, quando exposto a temperaturas extremamente
baixas, partes do corpo podem congelar, gangrenar e quebrar! Daí
a importância de roupas especiais e com proteção térmica para
enfrentar as baixas temperaturas nas regiões polares. Por quanto
tempo nosso corpo pode aguentar no frio congelante? O que deve
ser feito se você tiver uma parte do corpo, como sua mão, seu nariz
ou outra, congelada?

58 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


23  Qual a cor do gelo?
Todo mundo sabe que o gelo de cozinha é incolor. Mas nas regiões
polares, a cor mais comum do gelo é o Azul. Mas há também o
gelo branco, o verde, o gelo preto (escuro), o gelo rosa e o amarelo.
Nossa percepção da coloração do gelo e da neve sofre influência
de inúmeros fatores: espessura do gelo, quantidade de ar que os
compõem, incidência da luz, idade do gelo e tipo de matéria em
seu interior: sedimentos rochosos, algas ou outros organismos.
O gelo, como a água líquida, comporta-se como um filtro azul
fraco, absorvendo a luz vermelha e laranja mais fortemente do que
absorve a luz verde e azul. Blocos de gelo e geleiras podem conter
grande quantidade de ar que fica preso à medida que água congela
ou a neve se acumula. A interface ar-gelo reflete a luz solar branca
antes que ela tenha a chance de penetrar e ser absorvida.

Gelo Azul, Península Antártica. (Sílvia Dotta, 2005)

Assim, a neve e a superfície das geleiras aparecem com uma


cor branca brilhante. Todavia, uma parte da luz que penetra mais
fundo na geleira onde grande parte do ar contido foi espremido
durante a formação do gelo deixa apenas algumas bolhas de ar que
refletem a luz de volta. Nesse ponto é a estrutura cristalina do ma-
terial gelo (sim, o gelo é um cristal) que absorve parte luz acontece,
deixando passar principalmente ondas no comprimento do azul. O
resultado é uma dispersão profunda da luz azul dentro da geleira.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 59


Quanto mais espesso for o gelo, mais azul ele parecerá à me-
dida que mais luz vermelha e laranja é absorvida. Quando a luz
atravessa cerca de um metro é possível observar tons azuis no gelo.
Entretanto, quanto mais antigo o gelo, maior é a pressão da água
sobre o ar em seu interior, dificultando a passagem da luz, e fazen-
do-o mais escuro, com uma aparência vitrificada.

24  Há relação entre as cores do


gelo e as mudanças climáticas?
O gelo e a neve podem servir de habitat para micro-organismos
(algas, fungos e bactérias) cuja coloração irá tingir a superfície de
grandes camadas de neve na Antártica, e podem ser da cor ver-
melha (red snow algae), verde ou amarelo (green snow algae) ou
marrom (brown ice algae).

Gelo vermelho/ rosa, Península Antártica. (Sílvia Dotta, 2018)

Um dos problemas causados pela coloração da neve, dada pela


proliferação de micro-organismos em seu interior, é a redução do
albedo. Albedo (brancura ou luz solar refletida, a partir de albus,
branco) é a energia luminosa que é refletida pela superfície de
volta para a atmosfera ou o poder de reflexão de uma superfície. O
branco reflete mais luz, enquanto cores mais escuras absorvem luz.
O escurecimento da superfície da camada de neve é um dos res-
ponsáveis pelo degelo, pois se o gelo é mais escuro, significa que ele
absorve mais energia solar e ela se transforma em calor, derretendo

60 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


o gelo mais facilmente. Esse fenômeno ocupa um importante papel
nas mudanças climáticas e no processo de derretimento do gelo.

Green snow algae 0.4* 10⁴ cells/ml Red snow algae 1.8* 10⁴ cells/ml Brown ice algae 1.1* 10⁴ cells/ml
Albedo: 44 ± 4% Albedo: 49 ± 8% Albedo: 35 ± 10%

Algas verde, vermelha e marrom tingem a neve. (Lutz, et al., 2016)

No Ártico, por exemplo, cientistas descobriram que uma única espécie


de alga é responsável por causar a neve rosa. Durante os meses em
que está quente (acima de 0 °C) na região, uma fina camada de água
derretida se forma entre o gelo e a neve. A luz solar e a água são
condições ideais para o cultivo das algas, que começam a proliferar.
Isso cria uma espécie de efeito bola de neve (que os cientistas
chamam retroprocessamento): quanto mais gelo e neve derretem,
mais algas se formam. Quanto mais algas se formam, mais luz solar
absorvem, causando mais derretimento – e o processo continua.

O fenômeno também pode ser observado em outras regiões


geladas do planeta e o seu estudo pode contribuir para o entendi-
mento do degelo e das mudanças climáticas. Que outros fenôme-
nos podem nos ajudar a entender o processo de degelo?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 61


25  Quais são os instrumentos
de proteção da Antártica?
Você sabe por que é importante preservar a Antártica? Ela é o prin-
cipal regulador térmico do planeta, encarregado pelo controle das
circulações atmosféricas e oceânicas que influenciam diretamente
no clima. Possui a maior camada de gelo do mundo. Possui o maior
reservatório de água doce do planeta. É o abrigo de uma grande e
importante biodiversidade do planeta.

As nossas ações são refletidas no Continente Antártico assim como a


vida que brota de lá irradia sua força retransmitindo o equilíbrio da Terra
e assegurando a preservação da sobrevivência presente e futura. Por
isso, inúmeros instrumentos foram criados para garantir a preservação
tanto do continente como do oceano Austral. Conheça alguns:

Tratado da Antártica
Em 1939 e 1940 deu-se início a luta pela influência territorialista
pela Antártica. Sete países decretaram o domínio dos espaços
continentais: Argentina, Chile, Grã-Bretanha, França, Noruega,
Austrália e Nova Zelândia. A partir daí, novos países expressaram
as mesmas ambições.
Em meio à Guerra Fria, o interesse comum pela Antártica fez
com que pesquisadores de todo o mundo buscassem uma maneira
de defender o continente das possíveis explorações militares. Pouco
a pouco aqueles países concordaram em suspender as suas preten-
sões, por tempo indeterminado.
Em 1959, doze países (África do Sul, Argentina, Austrália,
Bélgica, Chile, Estados Unidos, Japão, França, Noruega, Nova
Zelândia, União Soviética e Reino Unido) caracterizaram a
Antártica como território imprescindível para a realização de pes-
quisas em diferentes áreas da ciência.

62 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


O Tratado da Antártica, foi assinado em 1 de dezembro de 1959
entre os governos dos doze países participantes do Ano Geofísico
Internacional (1957–58). Os temas centrais estabelecidos passa-
ram a ser a segurança e a ciência. Não obstante, o Tratado engloba
catorze Artigos condizentes aos seguintes pontos: uso do conti-
nente para razões pacíficas (Artigos I, V e X); fomento da pesquisa
científica (Artigos II e III); motivos para reivindicação territorial e
jurisdição (Artigos IV, VI, VIII e XI); inspeções ilimitadas quanto
às expedições à Antártica, navios, nacionalidades comprobatórias
por estação de pesquisa, controle meticuloso de qualquer equi-
pamento militar em território antártico (Artigo VII); abordagens
institucionais e mecanismos para a tomada de decisão (Artigos IX,
XII, XIII e XIV).

Protocolo de Madri
O Protocolo ao Tratado da Antártida sobre Proteção ao Meio
Ambiente (Protocolo de Madri) passou a vigorar em 1998 e re-
mete à adoção de medidas preventivas para o controle ecológico
da Antártica. Esse documento ampliou, dentre outras disposições,
as Medidas Acordadas para a Conservação da Fauna e da Flora
Antárticas, nas quais as ações passaram a abarcar toda a região do
continente.
Com a implementação do Protocolo, a Antártica tornou-se
uma reserva dedicada à paz e à ciência. Nesse sentido, muitas re-
comendações foram necessárias para minimizar o impacto das
práticas humanas na região, como os procedimentos e obrigações
que devem ser atendidos em qualquer atividade, seja no âmbito
científico, na logística de suporte às estações antárticas ou para
efeito de turismo.
O Protocolo atribui às partes envolvidas o cumprimento das
obrigações resultantes das medidas formalizadas no Sistema do
Tratado da Antártica de forma que sejam preservados, inclusive
os valores intrínsecos do Continente Antártico, bem como os
seus atributos estéticos, estado natural e área atribuída à pesquisa
científica.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 63


As regras estabelecidas para o cumprimento da proteção ambiental não
são dever apenas dos Estados e das Partes Consultivas (aquelas que
tem direito a voto no Tratado da Antártica), mas estendem-se a todos
os visitantes do continente antártico. A elas se inserem procedimentos
descritos em seis Anexos do Protocolo, que determinam a avaliação sobre
o impacto ambiental, a conservação da fauna e da flora, a eliminação e
manejo de lixos e dejetos, a prevenção da poluição marinha, a criação
e atenção às áreas especialmente protegidas, a responsabilidade
acerca de desastres ambientais. Em 2048, a moratória de exploração de
recursos minerais determinada pelo Protocolo poderá ser revista caso
haja acordo unânime dos membros consultivos do Tratado da Antártica

Comissão Internacional da Baleia


A Comissão Baleeira Internacional (International Whaling
Commission – IWC) surgiu em 1946 com o propósito de assegurar
cotas de caça baseadas em estudos científicos robustos e confiáveis
(obrigatórios e financiados pela indústria baleeira) para diminuir
a atividade exploratória. Contudo, mesmo com os esforços empre-
endidos pela IWC, a caça comercial só foi interrompida no fim da
década de 1960 (moratória), somente sendo permitida a caça com
“propósitos científicos” com cotas rígidas e determinadas pela IWC.

Medidas de Conservação da Fauna e da Flora Antárticas


Resultam em um documento desenvolvido em 1964 pela Reunião
das Partes Consultivas do Tratado Antártico (ATCM) com a fina-
lidade de proteger a fauna e a flora nativas da região, sobretudo
as áreas de relevância ecológica como as que são efetivamente
protegidas.

Convenção para a Conservação das Focas Antárticas (CCAS)


Foi criada em 1972, com o intuito de propor medidas de prote-
ção, regulamentação e controle à captura das focas para desígnios
científicos e também como forma de manter a convergência do
sistema ecológico.

64 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Convenção para a Conservação dos Recursos
Marinhos Vivos da Antártica
É um acordo inovador sobre a utilização dos recursos vivos. A
Convention for the Conservation of Antarctic Marine Living
Resources (CCAMLR) estabeleceu-se em 1982 com o propósito de
assegurar o controle da pesca predatória do krill, uma espécie de
crustáceo que habita as águas antárticas e tem papel essencial na
cadeia alimentar da vida marinha. Devido às suas ações, tanto o
krill como os demais recursos vivos do oceano Austral passaram a
ser vistos como um único sistema cujas decisões sobre os níveis de
captura fundamentam-se em dados científicos consistentes. Esse
acordo também controla quais espécies encontram-se protegidas,
as regiões em que podem ocorrer pescas, os limites de pescaria, a
época mais propícia para essa prática, além das inspeções regulares.
Os esforços para manter a preservação do continente gelado
e suas águas são inúmeros, mesmo assim, em pleno século XXI,
ainda nos deparamos com atitudes que burlam a imposição dos
órgãos ambientais com vistas aos proveitos econômicos. Esse é um
ato que envolve forças políticas e imprime como pano de fundo a
virtude da tradição para ofuscar o verdadeiro interesse por trás das
cortinas. O que mais pode ser feito? Como podemos conscientizar
cidadãos e cidadãs para atuarem em defesa do continente, seus
arredores e o ambiente?

26  Quem foram os descobridores


da Antártica?
A exploração da Antártica, ainda que para fins científicos, é algo
relativamente recente, mesmo que o homem apenas tenha “desco-
berto” a Antártica há pouco tempo, a ideia de que existiria uma
Terra australis incognita (terra desconhecida do sul) para “conter”
os oceanos índico e Atlântico data da Grécia Antiga (século 4 a.C.),
pensada, por exemplo, por Aristóteles e Ptolomeu.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 65


A partir de especulações, a Antártica povoou a imaginação de filósofos
e geógrafos, até que no século XVIII a segunda viagem de James Cook,
capitão inglês, a bordo dos navios Resolution e do Adventure, cruzou o
Círculo Polar Antártico e faz a circum-navegação da Antártica (mas sem
ver o continente). O mais interessante é que Cook, apesar de ter chegado
mais ao sul do que qualquer outra expedição até aquele momento, não
avistou a Península Antártica por um “erro” na longitude. No entanto, apesar
disso, o capitão especulou que, caso houvesse de fato um continente
austral, que este seria “frio, estéril e sem valor”. Essa primeira fase
da história da Antártica foi caracterizada por viagens interessadas na
comprovação do continente gelado, até então apenas especulado.

A partir da viagem de Cook, outras expedições sucederam-se


e, aos poucos, a Antártica foi sendo descortinada. A partir daí
teve início a fase exploratória da Antártica, na qual a indicação da
existência de recursos naturais na região permitiu, por exemplo,
a caça predatória de focas e posteriormente de baleias, inclusive
ameaçando de extinção essas espécies.

Colagem de imagens incluindo a do Nimrod, um dos navios de Ernest


Shackleton na expedição de 1907–1908, em comemoração à tentativa de
chegar ao Polo Sul geográfico por Shackleton. (John Oxley Library, 1908)

66 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Em 1819, a bordo do Williams, o capitão William Smith desco-
bre as ilhas Shetland do Sul e, na sequência, Nathaniel Palmer, en-
tão caçador de focas americano, chegou à ilha Deception (Shetland
do Sul), e outros sucederam, como Bellingshausen, o russo que
explorou o mar que hoje leva o seu nome, assim como outros na-
vegantes como James Weddell e James Clark Ross.
Espanha, Argentina, Chile e outros países, puxam a sardinha
para seu lado, tentando provar que foi um de seus compatriotas
quem descobriu o continente. Tecnicamente, o primeiro a ver o
continente então desconhecido foi Bellingshausen, que navegou
ainda mais ao sul do que Cook, e avistou gelo sólido, embora curio-
samente sua conquista tenha sido obscurecida por acreditar-se que
ele não teria visto terra de fato. E foi John Davis, em 1821, quem
primeiro pisou em terras antárticas.
Ao final do século XIX ocorreram várias expedições científicas
e para explorar a geografia da região. Exploradores como Gerlache,
Scott, Bruce, Shackleton e Amundsen ficaram famosos. O primeiro
a chegar ao Polo Sul geográfico foi o norueguês Roald Amundsen
no verão de 1911–1912, para a frustração dos britânicos que, em-
preendendo expedição para fincar a bandeira da Grã-Bretanha na
frente, acabaram todos os seus integrantes – Scott, Oates, Evans,
Bowers e Wilson – mortos ao retornar para o acampamento-base.
Desde então a Antártica não mais deixou de ter um holofote
voltado para si pelas nações do mundo! E uma das histórias mais
fascinantes que marca o período do desbravamento do continente é
a do irlandês Ernest Shackleton, em 1914, que pretendia cruzar a pé
todo o continente gelado a partir do mar de Weddell, onde deixaria
sua embarcação, o Endurance, até o mar de Ross, onde seria res-
gatado por outro navio, o Aurora. No entanto, o Endurance ficou
aprisionado no gelo do mar de Weddell e naufragou. Shackleton
e seus homens tiveram tempo para abandonar o navio e, a partir
daí, empreender uma jornada para o resgate e salvamento de toda
a sua tripulação, que sobreviveu integralmente!
Agora, imagine! Se hoje, com toda tecnologia que temos em
mãos, atravessar e explorar o continente gelado ainda é um desafio,
no início do século XX isso era um feito heroico! Ainda mais em

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 67


se tratando de uma região ainda desconhecida e extrema como a
Antártica! Não é à toa que sir Ernest Schakleton é considerado um
dos maiores exploradores antárticos! Quais foram as descobertas
científicas das expedições de Schakleton?

27  Como a caça aos pinípedes


na Antártica e oceano Austral
afetaram suas populações?
Os pinípedes são um grupo de mamíferos marinhos que compre-
endem as focas, lobos, leões e elefantes-marinhos, além da morsa
(mas esta habita apenas o Ártico). Foram os primeiros animais a se-
rem caçados comercialmente nas regiões subantártica e Antártica
até níveis de quase extinção, e em algumas ilhas foram extintos. E
como esta história começou?
O primeiro navio em 1786, caçando nas ilhas Malvinas/
Falklands, retornou ao porto de Boston, nos Estados Unidos, com
uma carga de 13 mil peles de lobos-marinhos. Em 1790, outro na-
vio também caçando em águas subantárticas retornou a Londres
com uma carga de quase 140 toneladas de óleo provindo de pinípe-
des. Com essa fama, entre 1793 e 1799 já havia 60 navios engajados
na caça ao lobo-marinho-antártico e ao elefante-marinho-do-sul
no oceano Austral (na época, conhecido como oceano Austral).
A ilha Geórgia do Sul, habitada majoritariamente por ingleses
e noruegueses, tornou-se o centro da indústria de caça a esses ani-
mais. Infelizmente a caça foi exterminadora, reduzindo as popu-
lações dessas espécies quase à extinção. Os caçadores fizeram tão
bem seu trabalho, que no início de 1802 já haviam contabilizado
1 milhão e 200 mil lobos-marinhos caçados desde quando eles se
estabeleceram nessas ilhas, sobrando pouquíssimos animais. Logo
após os lobos-marinhos, o mesmo destino tiveram os elefantes-
-marinhos-do sul.

68 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Lobo-marinho-antártico. (Manuela Bassoi)

Com o declínio dessas fontes de lucro, devido à drástica redução


das populações daqueles animais, e a melhoria dos navios, inicia-se
outra fase. A partir de 1819, os navios avançam e descobrem novas
terras para caçar, a Península Antártica. O primeiro navio chegou
às ilhas Shetland do Sul com praias repletas de lobo-marinho-an-
tártico. Em apenas 16 dias, o navio americano Hersilia capturou
nove mil lobos-marinhos. E assim continuou a mesma saga, e no
início de 1822 já haviam contabilizado a morte de 300 mil adultos
e pelo menos mais 100 mil fêmeas com seus filhotes.
Nessa era, elefantes-marinhos mesmo com populações meno-
res que lobos-marinhos, também foram caçados até quase a ex-
tinção, principalmente na ilha Elefante. Em outras ilhas mais ao
norte do Atlântico (zonas temperadas) como Tristão da Cunha e
ilha de Santa Helena, as populações de elefantes-marinhos-do-sul
foram completamente extintas antes de os caçadores chegarem ao
oceano Austral.
No entanto, os caçadores não desistiram, e continuaram nave-
gando para encontrar outras terras cheias daqueles animais. Foi
então que ainda em 1822 descobrem as ilhas Orcadas do Sul, a leste
da Península Antártica. O primeiro navio que conseguiu chegar
perto da ilha, matou cerca de 4.400 lobos-marinhos em uma única
viagem. E assim continuaram também até exterminarem comer-
cialmente os animais das Orcadas do Sul.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 69


A terceira e última grande fase de lucros com a caça aos lobos
e elefantes-marinhos na Antártica aconteceu entre 1870 e meados
de 1910. Contudo, nos últimos dez anos já havia começado um
forte declínio no número de navios dedicados a essa caça devido
ao baixíssimo número de animais encontrados. O último registro
de caça do lobo-marinho-antártico foi de 800 animais no ano de
1927 na ilha subantártica Bouvet. A caça ao elefante-marinho-do-
-sul somente cessou completamente em 1964.
E nos dias de hoje? Atualmente, mais de 50 anos sem caça, o
elefante-marinho-do-sul possui a maior parte de suas populações
praticamente recuperada, sendo a maior delas nas ilhas Geórgia
do Sul. Entretanto, três regiões vêm demonstrando uma queda nas
populações desde as últimas três gerações dessa espécie, e os moti-
vos ainda não são conhecidos. Também a maioria das populações
de lobo-marinho-antártico está praticamente recuperada.
Contudo, como essas espécies sofreram severa exploração,
levando muitas populações à quase extinção, mesmo com a sua
recuperação a diversidade genética é baixa, o que os torna mais
vulneráveis a doenças e alterações no ambiente. Apesar de não
haver mais a ameaça da caça, agora estes pinípedes têm de enfren-
tar outras ameaças. E como você acha que essas espécies podem
ser afetadas pelas mudanças climáticas? E a poluição, principal-
mente os microplásticos, como podem estar afetando esses animais
mesmo em regiões tão distantes?

28  As baleias-azuis do Hemisfério Sul


estão em risco de extinção?
Na região Antártica a baleia-azul é circumpolar, ou seja, é encon-
trada ao redor de todo o continente, e costuma se distribuir em
águas mais afastadas da costa (águas oceânicas). No entanto, as ba-
leias-azuis não são observadas com muita frequência na Antártica e
oceano Antártico (hoje, oceano Austral), pois sua população nessas

70 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


áreas foi reduzida a aproximadamente 1–3% do que era original-
mente, em virtude da intensiva caça comercial no passado.
Diferente do que muita gente pensa, não era a carne desses ani-
mais a principal fonte de lucro, mas, sim, sua gordura, blubber em
inglês. A gordura destes animais era uma das principais fontes de
óleo para energia e luz de muitas cidades europeias e norte-ameri-
canas, servia também como lubrificante, para cozinhar, confecção
de sabão e cosméticos, entre outros.

Baleia-azul no Oceano Austral, próximo às Ilhas Geórgias do Sul. Agradecimento:


Southern Right Whale Project/British Antarctic Survey/UK. (Manuela Bassoi, 2020)

Em 1904 a primeira estação baleeira se instala na ilha Geórgia


do Sul (região subantártica), e logo em seguida outras companhias
inglesas e norueguesas também vieram e assim começa o exter-
mínio das populações locais de várias espécies de baleias. As pri-
meiras a serem abatidas eram obviamente as baleias-franca-do-sul
pois além de lentas e mais costeiras, possuem uma espessa camada
de gordura (uma das maiores dentre as baleias). A população de
baleia-jubarte então é a segunda espécie mais caçada e em 1915
com um total de 18.557 jubartes abatidas, praticamente teve sua
população comercialmente extinta ao redor Geórgia do Sul.
Com a diminuição das baleias-franca e jubarte e com avanços
tecnológicos dos navios, mais velozes e com melhores arpões, co-
meça então a caça às grandes baleias-azuis. Os navios não ficam

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 71


mais somente ao redor das ilhas com as estações baleeiras e come-
çam a caçar em outras áreas da Antártica e oceano Austral. Além
disto, com a invenção dos navios-fábricas onde não era mais ne-
cessário levar os animais para as estações costeiras, tinham muito
mais autonomia para expandir as áreas de caça.
Entre os anos de 1920 e 1940 acredita-se que foram extermina-
das em torno de 360 mil baleias-azuis. E somando todas as espécies
desde o início em 1904, a indústria baleeira matou aproximada-
mente 2 milhões de baleias em todo o oceano Austral. Com esse
cenário e a crescente exploração sem limites, motivou-se a criação
de uma Comissão Baleeira Internacional (IWC) em 1946, com o
objetivo de regulamentar o desenvolvimento desordenado da in-
dústria baleeira. Infelizmente, apesar dos esforços da IWC, a caça
às baleias trouxe um cenário devastador, levando muitas espécies
à quase extinção, como a baleia-azul que como já mencionado es-
tima-se que sobraram somente entre 1–3% da população o original.
Em 1982 a IWC estabelece uma moratória de caça às baleias
em todos os oceanos. Assim, a partir de 1986, foi proibida a caça
comercial! A moratória foi realmente foi uma vitória para as baleias.
Contudo, a recuperação das populações de baleia-azul, assim como
de outras espécies é muito lenta, pois sua gestação demora quase
um ano, somente um filhote por vez e o cuidado maternal pode
ser de seis meses a um ano.
Mas algumas pesquisam evidenciam um crescimento anual no
oceano Austral dessas baleias de cerca de 8%, mas não para todas
as populações. Outras espécies de baleias, como a jubarte e a franca,
parecem estar se recuperando mais rápido do que a baleia-azul.
Por isto a baleia-azul continua como uma espécie classificada de
“criticamente ameaçada” pela IUCN (União Internacional para a
Conservação da Natureza). Além disso, elas sofrem uma outra
ameaça, também provocada pelo homem: as mudanças climáti-
cas. As mudanças climáticas podem afetar diretamente o principal
alimento destas baleias no oceano Austral, o krill.
E como você acha que o krill é afetado pelas mudanças climá-
ticas? E o que você acha que poderia acontecer com menor dispo-
nibilidade de alimento para as baleias-azuis?

72 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


29  Quem foi Shackleton?
Considerando o tema deste livro, não é muito difícil imaginar que
ele foi um cara importante na história das regiões polares, não é?
Pois bem, é isso mesmo! Ele foi um grande explorador antártico e
liderou três expedições por lá.
Entre 1907 e 1908, Ernest Shackleton liderou uma expedição
chamada Nimrod que tentava ser a primeira a atingir o Polo Sul
geográfico. Para sua infelicidade, a comida no seu trenó estava
acabando justo quando faltavam menos de 155 km para chegar em
seu destino. Por isso, a expedição teve de retornar. E aí, anos de-
pois, outro explorador, um norueguês chamado Roald Amundsen,
chegou ao Polo Sul primeiro, em 1911.
Será que isso fez de Shackleton um dos grandes perdedores da
história das regiões polares? Longe disso! Apesar de não ter sido o
primeiro a atingir o Polo Sul geográfico, sua história com certeza é
uma das mais impressionantes, você pode imaginar por quê?
Ele queria ser o primeiro homem a conquistar alguma coisa,
então, planejou cruzar o continente antártico inteiro, de uma ponta
à outra, passando pelo Polo Sul. Ah, um pequeno detalhe: estamos
falando de 1914, portanto ele não tinha como cruzar o caminho
pelo gelo com um carro, uma moto de neve ou qualquer outro
veículo. O plano, então, era usar trenós puxados por cães!
Para organizar tudo isso, ele precisaria de muito, mas muito
dinheiro mesmo. Só que como ele era um cara bem conectado,
acabou conseguindo várias doações de pessoas ricas e importantes
e também do governo britânico, que tinha muitos interesses cien-
tíficos no continente. Vamos ao que interessa…
Em agosto de 1914, a Expedição Transantártica Imperial, li-
derada por Shackleton, partiu da Inglaterra, no navio Endurance
em direção aos mares do sul. Foram meses entre os preparativos
e a viagem. O plano era que, depois de chegarem na Antártica,
Shackleton, juntamente com uma parte da tripulação e com os cães,
atravessassem o continente e, então, fossem resgatados pelo navio
Aurora do outro lado do continente, no mar de Ross.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 73


Foi na segunda quinzena de janeiro de 1915, que as coisas co-
meçaram a dar errado. A pouco mais de 300 km de distância de
seu objetivo, o Endurance ficou preso em meio ao gelo e não con-
seguiram seguir adiante.

Shackleton e a tripulação tentaram por mais de um mês quebrar o gelo para


liberar a embarcação. No final de fevereiro, perceberam que os esforços
eram inúteis. O problema era que o inverno antártico, que dura de março
a outubro, se aproximava. Isso significava que o gelo só iria aumentar
e que teriam de passar o inverno todo naquela situação: em um barco
preso a uma enorme camada de gelo. Era isso. Não tinha outro jeito.

Após 10 meses nessa situação, o fim do inverno começava a


se aproximar e a temperatura caia ainda mais. Em 16 de outubro
de 1915, Shackleton decidiu que era hora de ligar as caldeiras do
Endurance novamente e tentar passar pelo gelo à força. O esforço
foi em vão e, para piorar a situação, a pressão do gelo acabou da-
nificando o navio, fazendo com que a água congelante começasse a
entrar. A tripulação trabalhava exaustivamente para bombear água
para fora, e após três dias perceberam que era inútil. No dia 27 de
outubro juntaram o máximo de itens que puderam em três barcos
salva-vidas e abandonaram o navio. Estavam todos agora à deriva
em um imenso campo de gelo.
Depois de quase um mês acampados no gelo marinho, viram o
Endurance sucumbir e submergir nas profundezas das águas geladas.
O frio era intenso e a situação estava ficando cada vez pior, pois os
mantimentos também estavam acabando. No final de janeiro, outro
problema começava a assombrá-los. O gelo marinho onde estavam
acampados começou a derreter e precisaram mudar todo o acampa-
mento. Com os mantimentos acabando, foi necessário tomar a difícil
decisão de abater os cães, pois não poderiam mais alimentá-los.
No início de abril, o gelo estava derretendo tanto que já era
possível navegar por alguns trechos com os barcos salva-vidas.
Shackleton decidiu que era hora de partirem. Levou seus homens
até a ilha Elefante e de lá partiu em direção à ilha Geórgia do Sul,
a bordo do barco salva-vidas James Caird, com mais cinco homens,

74 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


em busca de ajuda. As chances de conseguirem chegar eram muito
pequenas. Após duas semanas navegando, Shackleton e seus ho-
mens chegaram à Geórgia do Sul. Mas havia outro problema: eles
chegaram do lado errado da ilha, com grandes rochas, picos peri-
gosos e muito gelo. Parecia impossível de atravessar esse terreno e
chegar até a parte da ilha que era habitada. Eles não tinham outra
opção, pois o barco, que tinha sobrevivido por duas semanas no
mar tortuoso, não aguentaria mais uma viagem.

Endurance afunda completamente na Antártica. (Royal Geographic Society, 2015)

Shackleton e mais dois homens partiram, enquanto os outros esperaram o


resgate. E mais uma vez o quase impossível aconteceu! Depois de
36 horas caminhando e escalando montanhas muito íngremes, cansados,
com fome, sede e sem equipamentos, avistaram trabalhadores da
estação baleeira norueguesa e puderam, finalmente, pedir ajuda.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 75


Shackleton e os homens que viajaram até a Geórgia do Sul esta-
vam a salvo, e agora precisavam resgatar os homens que esperavam
na ilha Elefante. Foram várias tentativas de chegar até lá, pois o
caminho era muito complicado e precisavam retornar.
Foi em 25 de agosto de 1916, dois anos após partirem da
Inglaterra, quando o piloto chileno Luiz Pardo conseguiu chegar
à Ilha Elefante e resgatar toda a tripulação do Endurance. História
impressionante, não é mesmo? O que mais será que você consegue
descobrir sobre ela?

30  Qual é a temperatura média


da água na Antártica?
Um banho gelado pode ser bem agradável no calor! Agora, imagine
um banho no gelo antártico! Claro que simplesmente mergulhar
em águas tão frias, com temperaturas abaixo de zero, não é o caso
de apenas coragem (e muita!), pois uma ação dessas sem o devido
preparo coloca em risco nossa saúde e até mesmo nossa vida! Por
isso é importante usar roupa apropriada para se aventurar em águas
polares. E não estou falando de uma roupa de mergulho como
aquela que usamos em condições padrão de temperatura, mas de
roupas realmente especiais capazes de “segurar” a temperatura do
nosso corpo e, portanto, garantir que não soframos de hipotermia,
por exemplo. As chamadas roupas-secas.
Assim, o grande desafio é, além da coragem, manter-se vivo para
contar a história! Sem esses cuidados, e a depender da temperatura
da água na hora do mergulho, o mergulhador poderia morrer em
questão de minutos! Essa roupa especial precisa ter camadas iso-
lantes, capazes de impedir a perda da temperatura corpórea. Caso
isso ocorra, o mergulhador pode apresentar hipotermia – perda de
calor corporal, com redução da temperatura corporal para abaixo
de 35 °C, podendo atingir condição severa se for abaixo de 30 °C
– com redução da velocidade dos batimentos cardíacos, ter uma

76 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


parada cardíaca e, consequentemente, morrer. Nesse processo, po-
de-se perder a consciência, desmaiar e se afogar.

Mergulhador em águas antárticas interagindo com uma


água-viva em McMurdo. (Henry Kaiser, 2004)

Você pode estar se perguntando: como os animais que habitam


águas tão geladas sobrevivem sem congelar? Pois é, este é um dos
motivos pelos quais pesquisadores aventuram-se para estudar essas
criaturas tão peculiares e incríveis! Grande parte dos animais po-
lares possuem, em sua constituição, proteínas com uma estrutura
tal que os habilita a viver neste meio sem congelar, impedindo a
formação de cristais de gelo no sangue. E a temperatura das águas
antárticas pode chegar a -2 °C!
Como você já sabe, uma das consequências das mudanças cli-
máticas é o aquecimento global. Se as águas polares tiverem um
aumento da temperatura, esses animais já adaptados ao frio terão
tempo e oportunidade de se readaptar?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 77


31  Qual é a altitude média da Antártica?
Muitas imagens da Antártica são tiradas de imagens aéreas e de
satélite e mostram um continente coberto de neve e gelo, fazendo
a Antártica parecer um lugar plano.
É claro, a essência da Antártica é a cobertura de gelo. O gelo se
acumulou ao longo de milhões de anos e cobre mais de 99% do
território, se fosse devolvido ao oceano, aumentaria o nível global
do mar em cerca de 60 m. É essa camada de gelo, com uma es-
pessura média de 2.160 m que faz da Antártica o continente com
maior elevação da Terra. Esse gelo é 90% de todo o gelo do mundo
e concentra 70% de toda a água doce do Planeta.

Geleira na Marian Cove. (Francyne Elias-Piera)

A Antártica é composta por duas partes principais e geologica-


mente distintas, ligadas por uma vasta camada de gelo. A Antártica
Oriental, o maior dos dois, é um pouco maior que o Brasil e é com-
posto por uma crosta continental coberta por uma camada de gelo
que tem em média 2.500 m de espessura. A Antártica Ocidental, a
porção menor, é um mosaico de pequenos blocos de crosta conti-
nental, cobertos por um manto de gelo, e uma cadeia montanhosa
andina formando a Península Antártica. Uma parte do manto de
gelo da Antártica Ocidental está 2.400 m abaixo do nível do mar.
Essas duas camadas de gelo cobrem quase 2,4% dos quase 14 mi-
lhões de km2 da Antártica. Em seu ponto mais espesso, o manto
de gelo tem 4.776 m de espessura.

78 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Sem a cobertura de gelo, a Antártica seria um dos continentes
de menor elevação da Terra. Porém, não é esse o caso e o Polo Sul
está localizado a uma altitude de 2.800 m. A maior elevação na
Antártica é o Monte Vinson, com um pico de 4.892 m. O continente
é três vezes mais alto que qualquer outro do Planeta.
Não é por suas montanhas altas que a Antártica é conhecida
como o continente mais alto da Terra, é por causa da altura do
continente mais a espessura da camada de gelo.
A altitude do manto de gelo antártico é um dos motivos da tem-
peratura média ser bem inferior lá do que no Ártico, fazendo da
Antártica o lugar mais frio da Terra. Embora o Ártico tenha algu-
mas áreas de grande altitude (por exemplo, no manto de gelo da
Groenlândia), elas representam uma pequena proporção de sua
área total. As temperaturas no Ártico estão aumentando duas vezes
mais rápido do que no resto do globo, enquanto a Antártica está se
aquecendo a uma taxa muito mais lenta. Uma possível causa para o
aquecimento acelerado do Ártico é o derretimento do gelo marinho
da região, que reduz a área gelada e branca e que reflete diretamente
a luz do sol de volta para o espaço. Agora, com mais águas do oce-
ano expostas, mais radiação solar é absorvida pelo Ártico.
Pensando no derretimento da neve que está em cima do solo,
será que esse derretimento vai agravar o aquecimento?

32  Qual é a velocidade dos


ventos na Antártica?
Que o vento é o ar em movimento, a gente já ouviu na escola. E
você sabia que a Antártica é a região com os ventos mais fortes do
planeta?
Vamos relembrar o que gera o vento: o ar se desloca de zonas de
alta pressão atmosférica para outra de baixa pressão. Dependendo
desta diferença de pressão entre as zonas (se maior ou menor), o
vento pode apresentar diferentes velocidades. Assim, fica mais fácil

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 79


entendermos o porquê de ventos mais ou menos fortes (ou seja,
que atingem maiores ou menores velocidades) em diversas regiões.
Na Antártica existem ventos que se movem do platô do manto
de gelo para a costa pela ação da gravidade. Como assim? Os ven-
tos são gerados no interior do continente, mais especificamente
nos grandes platôs (planaltos) de gelo, e se tornam mais intensos
à medida que avançam em direção à costa. Isso ocorre porque o
ar a superfície do manto de gelo é tão frio que ele fica mais denso.
Durante o deslocamento, esses ventos, chamados de catabáticos
(ventos que se deslocam de uma região mais alta para uma mais
baixa), alcançam as regiões costeiras como ventos de furacão, po-
dendo atingir mais de 300 km/h! É vento de carregar qualquer um,
e qualquer coisa! E esses ventos ganham velocidade conforme se
aproximam da costa.
Os ventos catabáticos são responsáveis por gerar na atmosfera
uma camada de ar muito seca, que pode chegar a 1 km de espes-
sura. O interessante é que, ao nevar, o cristal de neve, por causa
do movimento do vento, sofre sublimação, isto é, esse cristal passa
do estado sólido diretamente para o gasoso. E claro que isso tem
influência na quantidade de neve que se acumula. Estudos indicam
que cerca de 17% da neve é sublimada pelo vento (ou seja, passa
para o estado gasoso e não chega ao solo!), podendo chegar, em
determinadas regiões antárticas, a 35%! Esta é a porcentagem de
neve que não se acumula no solo, porque desaparece antes disto!

Energia eólica na baía do almirantado na Ilha Rei George. (Amanderson, 2019)

80 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Uma coisa é certa: não dá para encarar um vento desses, ou o
vento nos carrega junto! De fato, ventos muito fortes são impe-
ditivos até mesmo de nos deslocarmos, sob pena de sermos der-
rubados! Para os cientistas, dia de vento, dia de trabalho interno,
dentro da estação, ou da barraca, ou do refúgio! Mas como será
que se trabalha em condições tão extremas?

33  A Antártica aumenta e


diminui de tamanho?
Muita gente pensa na Antártica como um grande bloco de gelo
espetado no Polo Sul geográfico (lembre-se de que o Polo Sul é
apenas um ponto no continente!), uma enorme massa branquinha
que vez por outra desprende um pedaço e vira notícia na televisão.
E talvez por este motivo – um pedaço de gelo que desprende aqui
e acolá – muitos acabam tendo a impressão de que a Antártica
altera o seu tamanho por causa disto. Faz sentido? Bem, tem a sua
lógica, até porque muitos destes pedaços que se desprendem do
continente gelado são realmente enormes, podendo atingir qui-
lômetros de comprimento! No entanto, a pergunta que não quer
calar é: será que, por isto, podemos de fato dizer que a Antártica
tem diminuído?
Vamos por partes: a Antártica, sim, perde os seus pedaços de
vez em quando, e pedaços dignos de nota, diga-se de passagem!
Por exemplo, em Maio de 2021 foi noticiado o desprendimento
de um pedaço de gelo flutuante considerado naquele momento
o maior iceberg do planeta! Batizado de A-76, este iceberg te-
ria cerca de 170 quilômetros de comprimento por 25 de largura!
Agora vá até um mapa-múndi e localize a ilha de Maiorca, da
Espanha; este iceberg é maior do que esta ilha! Daí vamos pegar
o gancho para a segunda pergunta: por que razão estes despren-
dimentos acontecem? Apesar de muito da configuração do pla-
neta como conhecemos hoje estar sendo alterada pelas mudanças

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 81


climáticas que estamos promovendo com o desequilíbrio da re-
lação homem-meio ambiente, este fenômeno, segundo cientistas,
é resultado de um ciclo natural. Ou seja: vez por outra estes ice-
bergs desprendem-se mesmo, como parte do ciclo da sua forma-
ção. Então podemos dizer que o aumento do nível do mar causado
pelo derretimento desses icebergs é natural, e que este aumento
vai acontecer independente da relação nociva que estabelecemos
com o meio ambiente?

Bem, primeiro vamos corrigir a pergunta: o derretimento desses icebergs


não promove o aumento do nível do mar. Pense na sua bebida com
pedras de gelo; ao derreterem, estas pedras não aumentam o nível de
líquido no seu copo porque o volume do gelo dentro do copo já estava
ocupado! O que acontece é que, derretendo, este volume passa a ser
ocupado pela água em seu estado líquido! O que realmente altera o
nível do mar é o derretimento de geleiras, por exemplo, pois estas
estão em terra e, assim, quando estas massas de gelo se deslocam
para o mar, há uma elevação do seu nível. E aí sim podemos relacionar
este fenômeno como algo provocado pelas mudanças climáticas!

Voltemos, no entanto, à nossa questão inicial: a Antártica dimi-


nui de tamanho por causa destes desprendimentos, e seu tamanho
se altera ao longo do tempo? Na verdade, o que o aquecimento
global reduz é a camada de gelo deste grande continente branco,
e como 99,7% da Antártica é constituída por gelo, podemos dizer
que parte da sua extensão tem sido reduzida. Acontece, no entanto,
que algumas pesquisas já apontaram que este degelo pode ser com-
pensado por ganhos em se tratando de mais neve acumulada no
continente, já que temperaturas mais quentes podem ocasionar
mais neve durante o ano. De qualquer forma, independente de
um cenário mais otimista ou pessimista defendido por diferentes
pesquisas, o que parece ser unanimidade é que será preciso ado-
tar, a médio e longo prazo, medidas flexíveis que nos permitam
adaptarmo-nos a um panorama que coloque em xeque as cidades
litorâneas, por exemplo.

82 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


O que temos, de fato, e como parte de um ciclo natural, é que,
apesar desta perda de gelo provocada pelas mudanças que obser-
vamos, o que nos dá a impressão da Antártica aumentar e diminuir
de tamanho anualmente é algo totalmente diferente, o aumento
natural da extensão de gelo no mar no período do inverno, que
diminui durante o verão. Entre estas estações o mar congelado
chega a aumentar de 2 milhões de km2 para até 20 milhões de
km2! Inclusive é durante o verão que as pesquisas são realizadas
no continente pela viabilidade de acesso às praias, em caso de lan-
çamento de acampamento, favorecendo a aproximação dos navios
para permitir o desembarque de pessoas (cientistas e alpinistas) e
equipamentos. Logo, vale destacar que o continente não varia seu
tamanho, apesar da extensão de mar congelado apresentar uma
senhora variação de área ao longo das estações! Será que você ima-
gina como seríamos capazes de atravessar o mar congelado?

34  Há vegetação na Antártica?


Sim, há vegetação! A Antártica não é só gelo e toda branca, ela tem
um verdinho perdido por lá. Mas as plantas que existem lá hoje em
dia, não são árvores, são plantas rasteiras, as únicas que conseguem
sobreviver às condições extremas da Antártica e à baixa quantidade
de luz solar durante alguns meses.

Vegetação em Deception Island, Antártica. (Sílvia Dotta, 2018)

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 83


Além disso, são poucos os locais em que a terra está exposta para
o crescimento de alguma vegetação. Menos de 1% da Antártica
não tem gelo, são lugares que ficam, principalmente, na Península
Antártica e nas ilhas. Então, no entorno da estação de pesquisa
brasileira, a Estação Antártica Comandante Ferraz, é possível ver
vegetação.
A flora terrestre da Antártica é constituída, basicamente, por
vegetais criptogâmicos, como as briófitas (como os musgos), que
não tem raízes, mas possuem o que chamamos de rizóides, estru-
turas para fixar a planta no solo ou até na rocha.
As briófitas podem ser subdivididas em dois grandes grupos
taxonômicos: as Marchantiophyta (as hepáticas), representadas por
22 espécies, e as Bryophyta (os musgos), que são os mais conheci-
dos e abundantes na Antártica, havendo, atualmente conhecidas,
116 espécies diferentes de musgos.
Os musgos parecem cobertores que cobrem o solo e são usados
pelos animais para descansar ou até para fazer ninhos. São nesses
campos de musgos que as aves skuas muitas vezes descansam.
Os líquens também são encontrados e são os que apresentam
a maior biodiversidade nos ecossistemas de áreas de degelo da
Antártica, tendo importante contribuição na composição florística
nas áreas de degelo. Vale registrar que líquens não são plantas, mas,
sim, fungos.
Existem também duas plantas com flores, como as Magnoliophyta.
São representadas por duas espécies nativas: uma da família
Poaceae, a Deschampsia antarctica, e a outra pertencente à família
Caryophyllaceae, que é a Colobanthus quitensis.
Na Antártica também existe uma espécie de grama anual in-
vasora, a Poa annua, nativa da Europa e comum no Brasil como
invasora de cultivos de inverno. Ela é muito resistente ao frio, por
isso, está bem adaptada ao clima antártico.
Há ainda algas verdes que são plantas. Elas podem estar presen-
tes nos lagos, solo, mar, neve ou gelo. Elas podem causar aquelas
mudanças de cor na neve.
E, sim, até essas plantas estão sofrendo com o aquecimento. Mas
nesse caso, a população está aumentando, porque está ficando mais

84 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


quente e há mais lugares sem gelo para elas se reproduzirem. Nos
últimos 50 anos, o aquecimento global já derreteu neve e gelo em
áreas de clima mais ameno da Península Antártica e abriu espaço
para rochas nuas que agora estão cobertas de musgos.
Pois é, o aumento da população também é sinal de desequi-
líbrio ambiental, devemos sempre estar atentos aos nossos atos
para não afetar o meio ambiente, inclusive da Antártica. Nós sabe-
mos disso, pois existem muitos estudos que conseguem comparar
a quantidade de musgo e sua taxa de crescimento atual com as
de antigamente. A taxa de crescimento de musgos está quatro a
cinco vezes mais alta do que era na década de 1950. O problema é
que quanto mais “verde” alguns pedaços da Antártica ficam, mais
quente esses lugares vão ficando e isso ajuda ainda a derreter mais
gelo, favorecendo o estabelecimento de novas espécies invasoras.
É um ciclo sem fim.
Na sua opinião, por que a Antártica ficando verde vai aquecer
ainda mais o planeta?

35  Como nossas ações interferem


nas mudanças climáticas?
O mundo é dinâmico: tudo muda o tempo todo, e nada do que
foi será (lembrando a maravilhosa música de Lulu Santos). Claro
que nem toda mudança é positiva, e muitas delas independem
de nossas ações. Há, no entanto, aquelas que estão diretamente
ligadas à forma como nos relacionamos com o mundo, e que te-
rão consequências, portanto, no modo como o mundo responde
às nossas ações. Essas mudanças são chamadas de antrópicas (do
grego ánthropos = homem, relativo aos efeitos da ação do homem
sobre o ambiente natural), e, infelizmente, acabamos sofrendo os
resultados de nossas próprias ações sobre o mundo.
Nossa maior contribuição para as mudanças climáticas é relativa
ao aumento de gases de efeito estufa (GEE), quando alteramos a

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 85


composição química da atmosfera a partir do desequilíbrio criado
pelo aumento da emissão de aerossóis, por exemplo, que se acu-
mulam e intensificam o efeito estufa. Esses gases, principalmente
o dióxido de carbono – CO2, uma vez acumulados na atmosfera,
funcionam como um obstáculo para a dissipação da radiação in-
fravermelha que é emitida pela Terra para o espaço, o que aumenta
a temperatura global.

Pinguins-imperadores no gelo antártico. (Nature Antarctica, 2008)

Esse efeito, regulado pela natureza, é benéfico, pois imagine


só se não houvesse uma camada de gases recobrindo a superfície
do planeta e que evitasse que todo o calor emanado superfície
se perdesse! O planeta poderia se tornar tão frio que a manuten-
ção da vida ficaria comprometida! Na verdade, a temperatura da
superfície da Terra seria cerca de 30°C mais baixa (ao redor de
-15°C). No entanto, a partir do desequilíbrio que provocamos pela
relação desordenada e caótica que estabelecemos com o meio em
que vivemos, esse efeito é aumentado e acaba também nos afetando.
Afinal, estamos sofrendo com o calor excessivo e que aumenta gra-
dativamente a cada ano, não é mesmo?

86 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Na medida em que desregulamos a queima de combustíveis
fósseis por veículos, construção civil, indústrias e até mesmo uso
residencial, empreendemos desmatamentos e queimadas, privile-
giando a agropecuária em detrimento de um uso sustentável do
meio ambiente, dentre outras ações, favorecemos desequilíbrios
perigosos que fatalmente irão se reverter contra nós mesmos.

O aquecimento global, aumento da temperatura média tanto


da atmosfera quanto dos oceanos, produz efeitos diretos no
derretimento das geleiras e, consequentemente, no aumento do
nível do mar. E, logo, ameaça as comunidades costeiras.

Segundo estudos feitos por pesquisadores britânicos, o aumento


da temperatura atmosférica é o que contribui principalmente para
a diminuição do gelo marinho do Ártico, e o aumento da tempe-
ratura dos oceanos para o derretimento do gelo antártico. Embora
a perda de gelo marinho não influencie diretamente a elevação do
nível do mar, ela acaba tendo uma influência indireta nesse pro-
cesso. O gelo marinho do Ártico tem a função de refletir a radiação
solar para o espaço, auxiliando na manutenção da temperatura da
região. Com menos gelo marinho, mais energia solar acaba sendo
absorvida pela atmosfera e pelos oceanos, o que aquece o Ártico e
acelera o derretimento do próprio gelo.
Você deve estar se perguntando o que pode fazer para desacele-
rar este processo! Podemos, sim, fazer a nossa parte, diminuindo
a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, conser-
vando áreas naturais e promovendo o uso sustentável do espaço,
diminuindo os efeitos deletérios do desmatamento, substituindo
combustíveis fósseis por biocombustíveis, promovendo o uso de
energias renováveis sustentáveis (eólica, solar, biomassa, etc.), en-
fim, nos reeducando para instituir uma relação mais saudável com
o meio ambiente onde estamos inseridos! E aí, vamos começar a
resgatar o planeta dos desequilíbrios que nós mesmos promove-
mos? Que ações imediatas você pode ter para reduzir a emissão
de gases em sua casa?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 87


36  Há poluição na Antártica?
Todo mundo imagina a Antártica bem longe de nós, sem indústria,
sem presença humana. Um local preservado, inóspito, prístino,
totalmente inalterado e intacto.
Esse local tão puro e intocado só existe na nossa imaginação,
porque lá há, sim, muitos contaminantes como chumbo, zinco,
agrotóxicos e poluição. Já encontraram até cocaína nas águas e no
gelo da Antártica.
Mas como todos esses contaminantes chegam na Antártica se
lá não há indústria nem plantação para usar agrotóxico?
Nosso planeta todo está conectado pelo ar e pelo mar. E é assim
que os contaminantes chegam em um lugar tão isolado. Os con-
taminantes em locais mais quentes evaporam e são levados pelo
ar até lugares mais frios. Chegando lá, eles se precipitam e se acu-
mulam na neve e nas geleiras. Joe McConnel, do Desert Research
Institute em Reno, Nevada, afirmou que a poluição por chumbo
chegou à Antártica muito antes de qualquer ser humano chegar ao
continente gelado, sendo que esse chumbo provavelmente tenha
vindo da mineração de chumbo australiana.
Existe também a influência das aves para levar contaminan-
tes para a Antártica. As aves migram para diferentes locais e se
alimentam de peixes. Esses peixes se alimentaram de insetos ou
larvas que comeram vegetais que estavam contaminados. Então,
esses contaminantes, agrotóxicos, passam de um ser para o outro
através da cadeia alimentar. Os agrotóxicos quando são ingeridos
vão se acumulando nos animais e vão passando de um para o
outro. E, assim, as aves cheias de contaminantes, voltam para a
Antártica.
Agora, com a existência das estações antárticas, nós humanos
também influenciamos muito na chegada de contaminantes na
Antártica. Por mais que exista o Protocolo de Madri, um acordo
internacional de proteção ambiental para a Antártica, para que não
haja influência e contaminação, as estações geram esgoto, geram
resíduos.

88 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Mesmo com todas as regras do Tratado da Antártica ainda
podemos encontrar grandes quantidades de lixo pelas praias, in-
cluindo itens de metal, de madeira, óleo e plástico.

Lixo encontrado próximo à Estação Antártica Coreana King


Sejong, Ilha Rei George. (Francyne Elias-Piera)

Os pesquisadores usam tratores, navios, botes, energia a diesel e


em um local que não deveria ter nada, o mínimo já é grande coisa.
Em um ambiente frio e que muda lentamente, os efeitos simples
podem durar anos. A matéria orgânica, por exemplo, pode levar
décadas para se decompor.

Os pesquisadores, os turistas, os trabalhadores, os militares, todos utilizam


filtro solar, shampoo, sabonete, perfume e mesmo que haja tratamento de
esgoto, isso acaba caindo no ambiente e fica na água, no solo, no gelo, nos
peixes, nas aves, nos mamíferos. Mesmo não querendo, e em prol da ciência,
indiretamente o ser humano está destruindo e contaminando a Antártica.
Em 2017, mais da metade das estações antárticas não tinha sis-
tema de tratamento de esgoto. Muitas já faziam, e fazem, como a es-
tação americana McMurdo: um tratamento biológico para reduzir
o esgoto bruto e o desperdício de alimentos antes de despejar tudo
no mar. No entanto, nessa mesma estação, eles utilizam um pro-
duto químico para diminuir a velocidade de queima e minimizar
a emissão de fumaça dos materiais. Porém, esse produto químico
é tóxico e já foi encontrado em pinguins, peixes, esponjas e vermes

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 89


marinhos que vivem nas proximidades. Os níveis desse produto
ali perto da estação americana estão próximos aos de regiões alta-
mente populosas da Europa e dos EUA. A estação americana não
é a única que apresenta produtos químicos por perto.
O pior é que alguns contaminantes que estão lá na Antártica
congelados, acumulados há milhares de anos, podem começar a
aparecer novamente. Com o gelo derretendo, tudo isso vai ser li-
berado de volta no ambiente.
Você parou para pensar quantos poluentes serão liberados à
medida que o gelo antártico vai derretendo? O que será libertado?
O que vai acontecer com os animais e com a vegetação?

37  O lixo produzido por aqui


chega nas regiões polares?
O plástico está por toda parte: nos celulares, nas roupas, nas em-
balagens de alimentos, nos potes de cosméticos, nas seringas, nas
embalagens de remédios, nos enfeites, no glitter. A maioria dos
objetos que usamos hoje em dia é feito de plástico. O plástico foi
feito para ser um produto durável e barato, porém, começamos a
usar e a jogar fora o que chamamos de plástico de uso único – o
plástico da embalagem do shampoo, do salgadinho, da embalagem
da revista, os canudinhos, as garrafas PET e os copos descartáveis.
É por isso que 60 a 90% de todo lixo gerado no mundo é plástico.
Há também aqueles plásticos que a gente nem imagina, plástico
que vem das nossas roupas sintéticas. Essas roupas sintéticas que
usamos hoje em dia no frio, ou essas camisetas que usamos que
não amassam tanto, são feitas de fibras de plástico. Essas roupas
quando são lavadas, possuem um desgaste natural liberando fiapos
– fibras de plástico – que vão parar no esgoto. E como todo esgoto
vai dar no mar, essas fibras também vão parar lá. E como todos os
oceanos estão conectados através das correntes marinhas, tudo o
que fazemos aqui no Brasil, pode ir parar nas regiões polares.

90 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


No oceano, existem lugares onde as correntes marinhas se en-
contram e formam o que chamamos de vórtices oceânicos. Os
maiores estão no Pacífico Norte e Sul, no Atlântico Norte e Sul e no
Índico, e existem dois menores nas regiões polares. Nesses vórtices,
existem as ilhas de plástico, onde está uma enorme concentração
de lixo plástico e microplástico.

Microplásticos são pequenos fragmentos, fibras (têxteis) e grânulos


de plástico, com menos de cinco milímetros de comprimento. Existem
microplásticos de origem primária que são os pellets, pequenas
esferas plásticas utilizadas na fabricação de diversos produtos
plásticos. Muito usados em cosméticos. Já os de origem secundária
são os microplásticos formados a partir da fragmentação de
macroplásticos. Esses são formados pela degradação e quebra do
plástico por meio da ação da água (reação química com a água), das
ondas, das chuvas, do sol (influência da temperatura), da radiação
UV, do vento e de micro-organismos (biodegradação por bactérias).

Muito desse microplástico já se acumulou no gelo da Antártica e


do Ártico. Um estudo feito por pesquisadores do Instituto Alemão
Alfred Wegener encontrou até 12 mil partículas de microplástico
por litro de água congelada. Porém, o lugar onde mais se encon-
trou microplástico foi no fundo do mar. Uma pesquisa de 2020
encontrou 1,9 milhões de partículas de microplástico em apenas um
metro quadrado. Esse microplástico pode ser ingerido por animais
da superfície e do fundo marítimo. Amostras de sedimento e do
estômago de animais que viviam a 30 m e a 100–400 m de profundi-
dade na Antártica, estavam todas contaminadas com microplástico.

Microplásticos – fibras sintéticas


encontradas no gelo da Antártica.
(Francyne Elias-Piera)

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 91


Os microplásticos são os principais poluentes do oceano. Os
animais os confundem com comida, por isso, são ingeridos pelo
zooplâncton, bivalves, peixes e até baleias. Principalmente os ani-
mais pequenos, como os do zooplâncton, acumulam essas micro-
partículas no estômago e podem morrer de inanição por sentirem a
sensação de saciedade, sem na verdade estarem se nutrindo. Além
disso, como são partículas de plástico, o plástico libera substâncias
tóxicas aos animais, algumas podem alterar o sistema hormonal
de alguns animais.
No corpo humano já se sabe que essas substâncias têm a capa-
cidade de se fixar na gordura, no sangue e nos fluidos corporais,
podendo causar doenças cardíacas, câncer, endometriose, déficit
de atenção, problemas neurológicos, baixo QI, puberdade precoce,
abortos, acne, obesidade, aumento das glândulas mamarias mas-
culinas, infertilidade e aumento da TPM.
E as partes ruins de produzir e consumir cada vez mais plástico
não param por aí. A cada vez que um produto de plástico é pro-
duzido as indústrias liberam grande quantidade de gás carbônico
na atmosfera. Além disso, o plástico quando vai se degradando no
ambiente também produz muitos gases do efeito estufa.
Qual será a relação da diminuição da quantidade de plástico
que você gera com as mudanças climáticas?

38  Como as mudanças climáticas


podem afetar a migração das
aves de regiões polares?
Todos os anos, o trinta-réis-ártico (Sterna paradisaea), uma avezi-
nha preta e branca com pouco menos de 40 cm, realiza um longo
voo de norte a sul. Essa ave migra anualmente do Círculo Polar
Ártico (Groenlândia) até a Antártica, podendo cobrir distâncias de
mais de 70 mil km anualmente, no que pode ser a maior migração

92 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


anual conhecida. Como essa, milhares de aves de diferentes espé-
cies deixam seus lugares de origem quando o inverno se aproxima
no Hemisfério Norte, principalmente no Ártico, à procura de ali-
mentos e temperaturas mais elevadas no Hemisfério Sul. Das cerca
de dez mil espécies que existem no mundo, mais de um terço migra,
em maior ou menor grau, o que abrange milhões de aves em busca
da sobrevivência.
E como o aquecimento global pode estar alterando este com-
portamento migratório?
Um estudo divulgado em 2019 na revista Nature Climate Change
sugere que o aumento da temperatura está fazendo com que as aves
migrem mais cedo a cada primavera. De acordo com outro estudo
publicado anteriormente em 2018, a primavera está chegando mais
cedo em 76% dos refúgios de animais selvagens dos EUA, e extre-
mamente cedo em 49% dos refúgios, em comparação com o início
do século 20. Esse avanço afetou ao menos três das quatro rotas de
aves migratórias analisadas.

Sterna paradisae, conhecida como


Trinta-réis-ártico, ou andorinha-do-
mar-ártica. (Alaistar Rae, 2004)

Alguns cientistas temem que mudanças nos padrões de migra-


ção possam estar também sincronizadas com outras consequências
do aquecimento global e que, como resultado, algumas espécies de
aves possam sofrer. Por exemplo, outros estudos sugerem que o
aquecimento atmosférico também pode estar afetando o momento
de florescimento da vegetação de primavera ou a abundância de
insetos e outras fontes de alimentos — fatores que podem afetar
fortemente a sobrevivência de aves migratórias. Em outras palavras,
as alterações no cronograma da estação afetam aves que utilizam
o desabrochar da flora como guia e fonte de alimento. Dentre as

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 93


aves que têm suas rotas afetadas, nem todas respondem da mesma
maneira. As que são perturbadas, no entanto, sofrem com a perda
de habitat e de sincronia entre a viagem migratória e o calendário
das estações.
Infelizmente ainda existe um outro problema levantado por
estudiosos. Essas aves migratórias já mostram os primeiros sinais
de que as alterações climáticas do planeta estão as obrigando a
mudar, fisicamente, para poder sobreviver a temperaturas mais
quentes e a um clima instável. Um monitoramento realizado por
pesquisadores americanos (Ecology Letters) ao longo dos últimos
40 anos revelou que aves migratórias da América do Norte estão
“encolhendo” por causa do aquecimento global. O tamanho menor
pode permitir que os animais percam o calor do corpo mais rapi-
damente conforme o clima esquenta, sugerem os pesquisadores.
Os cientistas destacam que aves migratórias, que percorrem
longas distâncias, possuem uma demanda energética extrema de
voar milhares de quilômetros e que esse comportamento moldou
sua morfologia – forma e estrutura – para um voo eficiente. Agora,
elas passam por uma evolução natural para poder enfrentar as
mudanças provocadas pelo ser humano no clima do planeta.
E você, acha que essas alterações físicas e de comportamento
tão rápidas podem ajudar as aves migratórias de alguma maneira?
Ou esses animais não terão tempo suficiente para se adaptar às
mudanças provocadas pelo aquecimento global?

39  Como as mudanças climáticas


podem afetar as baleias na Antártica?
Para responder a esta pergunta, primeiro vamos entender o que
as baleias comem e o que elas vão fazer na Antártica. As grandes
baleias do grupo misticeto, também chamadas de baleias verda-
deiras, são aquelas que possuem cerdas bucais (alguns chamam de
barbatanas). As cerdas servem como um filtro para se alimentar de

94 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


pequenos peixes e crustáceos zooplanctônicos, minúsculos animais
que não tem boa capacidade de natação e se concentram em grupos
de milhares de indivíduos, excelente para um grande banquete.
Logo, quando estas baleias abrem a boca, conseguem se alimentar,
em um único evento, de uma grande quantidade de alimento. Pois
assim que capturam milhares destes pequenos animais, expelem
a água e seu alimento fica retido nestas cerdas, e com a língua a
baleia raspa o zooplâncton retido e o engole. Acredita-se que uma
baleia-azul possa se alimentar de até 4 toneladas por dia.
Na Antártica, ou oceano Austral, o alimento favorito da maioria
das baleias é um pequeno crustáceo planctônico, parecido com um
camarão, chamado de krill (Euphasia superba).

Baleia-jubarte na Península Antártica, Estreito de Gerlache.


Projeto INTERBIOTA/PROANTAR. (Manuela Bassoi)

Agora que você entendeu do que as baleias se alimentam e como,


vamos entender o que a Antártica ou o Ártico têm a ver com isto.
As baleias são animais migratórios, elas realizam grandes deslo-
camentos anuais para duas regiões: regiões mais quentes e tropicais
para se acasalar, parir e cuidar dos filhotes; e regiões mais frias
para se alimentar. Logo, quando é verão, tanto no Hemisfério Sul
como no Hemisfério Norte, elas migrarão para as regiões polares
de seus respectivos hemisférios somente para se alimentar, pois
nessa época essas regiões são riquíssimas em abundância de peixes
e zooplâncton. Depois do verão, quando as noites começam a ficar
longas, as temperaturas caem, o mar começa a congelar, as baleias
migram novamente para regiões mais quentes.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 95


As regiões tropicais são ótimas para terem seus filhotes e ama-
mentá-los, mas muito pobres em alimento para as baleias. São nas
regiões polares que esses animais têm de garantir suas reservas
energéticas, comendo muito e engordando bastante, para migra-
rem, acasalarem, as fêmeas parirem e amamentarem seus filhotes,
e retornarem novamente para os mares polares.
Podemos dizer que esses animais praticamente comem entre 4
e 5 meses no ano para viver o restante do ano somente com essas
reservas.
Você já entendeu a enorme importância de as baleias se alimen-
tarem muito bem durante o período que estão nas regiões polares.
Alguns trabalhos científicos já demonstraram a relação de baixa
natalidade de baleias-francas na costa do Brasil com um ano de
anomalia climática na Antártica. Essa anomalia reduziu bastante
a quantidade e abundância do krill, o alimento daquelas baleias.
Como as baleias-franca não se alimentaram direito, depois não ti-
veram energia para as fêmeas ficarem grávidas, parirem, ou mesmo
amamentar os filhotes, já que para produzir um leite com bastante
gordura é necessário muita reserva energética. Viu o problemão de
as baleias não se alimentarem direito?

E o que são essas anomalias climáticas? Estas anomalias provocam um


aumento na temperatura do oceano Austral, levando a uma diminuição
tanto da extensão dos campos de gelo como da sua duração. Lembra
do krill? Pois é, ele adora o gelo e precisa dele para se alimentar e se
reproduzir. Portanto, quando há diminuição do gelo, há pouco krill e pouco
alimento para as baleias, que por sua vez não conseguirão engordar o
suficiente para garantir sua saúde, principalmente para a reprodução.
E o que as mudanças climáticas têm a ver com isto? Elas podem
aumentar bastante a frequência e intensidade dessas anomalias, o
que significa que cada vez mais as baleias podem ter esses anos
de pouco alimento, e dependendo da quantidade seguida de anos
“pobres”, os animais poderão ficar menos saudáveis e mais susce-
tíveis a doenças e fadiga, e também diminuir a taxa reprodutiva e
a natalidade.

96 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Nesse cenário, as populações de baleias poderão ficar seria-
mente comprometidas, principalmente as espécies que já foram
muito caçadas no passado, como a baleia-azul, baleia-franca, ba-
leia-jubarte, e que ainda não recuperaram suas populações ori-
ginais. E você, o que acha? Será que as espécies de baleias no
Ártico enfrentam problemas similares provocados pelas mudan-
ças climáticas?

40  Como as mudanças climáticas


afetam a reprodução dos pinguins?
Se as mudanças climáticas continuarem no ritmo atual, mais de
80% das colônias de pinguim-imperador estarão extintas até o ano
de 2100. Na melhor das hipóteses, quase um terço das colônias se
tornariam extintas. Isso quer dizer que pode ocorrer uma redução
de 31 a 44% de pinguins.
Esses pinguins são especialmente vulneráveis às mudanças cli-
máticas, pois dependem do gelo marinho para atividades vitais
como reprodução, alimentação e muda de penas.
Não é qualquer condição de gelo que serve para os pinguins, o
gelo precisa ser baixo e plano para ser uma superfície ideal para
colocar o ovo e depois criar o filhote. A quantidade de gelo tam-
bém tem de ser exata: pouco gelo marinho e os pinguins não terão
proteção contra predadores e haverá pouco espaço para os filhotes
trocarem as penas; muito gelo marinho deixa os pinguins longe da
beira da água e assim, eles têm de caminhar muito mais, gastando
energia, para encontrar comida no oceano.
A estabilidade do gelo também é crucial. A banquisa tem de ser
espessa, estável e precisa permanecer intacta por pelo menos oito
ou nove meses. Se o gelo quebrar mais cedo os filhotes terão de
entrar na água fria antes de estarem prontos. Os filhotes possuem
uma plumagem felpuda que não é à prova d’água nem ajuda a
proteger da água fria. Por isso, se o gelo quebrar muito cedo, eles

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 97


não estarão impermeáveis e irão morrer de frio e afogados. Se isso
acontecer, será um fracasso total na reprodução.
E isso realmente aconteceu em 2016, com uma colônia que vivia
na Halley Bay (Baía de Halley). Em torno de 14 mil e 25 mil casais
desapareceram de um dia para o outro. Cerca de 8% da população
mundial de pinguins-imperadores se reproduziam em Halley Bay.
Os pesquisadores viram que os adultos evitaram se reproduzir de
2016 a 2019 ou se mudaram para uma nova colônia, a Dawson-
Lambton, 55 km ao sul, pois essa apresentou um aumento de mais
de dez vezes no número de pinguins. Os cientistas sabem disso,
pois usaram imagens de satélite de altíssima resolução para estimar
as mudanças populacionais nos dois locais desde 2009.
Devido à rapidez do aquecimento global, a área coberta por gelo
marinho está diminuindo e a estação com esse gelo está sendo mais
curta, prejudicando os filhotes e adultos de pinguim-imperador.
A perda de gelo marinho leva a uma menor disponibilidade de
alimento, aumentando a mortalidade dos pinguins.

Pinguim-de-adélia. Pinguim-papua.
(Francyne Elias-Piera) (Francyne Elias-Piera)

Outro pinguim que está sendo afetado pelas mudanças climá-


ticas é o pinguim-de-adélia. Ao contrário do pinguim-imperador,
o pinguim-de-adélia não coloca ovo nem cria seus filhotes no gelo
marinho. Em vez disso, ele constrói ninhos com seixos (cascalhos,
pedriscos) nas áreas do litoral da Antártica que são livres de gelo e

98 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


neve. E como as temperaturas estão se elevando, o ar está ficando
mais úmido, aumentando a quantidade de chuva e neve no litoral.
Por isso, as populações de pinguim-de-adélia, não conseguindo
encontrar terreno sem neve para nidificação, estão desaparecendo
rapidamente. Assim, os pinguins-antártico (ou pinguins-de-barbi-
cha) e pinguins-papua estão tomando as áreas de reprodução do
pinguim-de-adélia. Um aumento da temperatura de 1,3 °C colo-
cará em risco 70% dos pinguins-de-adélia.
No entanto, nem todas as espécies de pinguins reagirão do
mesmo jeito às mudanças climáticas. Alguns pesquisadores já
descobriram que as populações de pinguim-antártico e pinguim-
-papua são ligadas por nidificarem no mesmo lugar. Eles fazem
o ninho, acasalam e colocam o ovo em lugares muito próximos,
tendo uma história de vida muito semelhante. Então, enquanto
a população de pinguim-antártico diminui, a de pinguim-papua
aumenta. Na Península Antártica, a população de pinguim-antár-
tico diminuiu de 30 a 53% entre os anos de 1979 e 2010, enquanto
a população de pinguim-papua aumentou seis vezes no mesmo
período, substituindo o pinguim-antártico.
Sem os pinguins o mundo será o mesmo? Qual será a impor-
tância do pinguim para o mundo?

41  Como as mudanças climáticas


podem afetar os pinípedes
nas regiões polares?
Os pinípedes estão divididos em três famílias: Phocidae (focídeos),
que inclui as focas e o elefante-marinho; Otariidae, os leões-ma-
rinhos e lobos-marinhos; e Odobenidae, as morsas (somente ha-
bitam o Ártico). Na região antártica existem sete espécies desse
grupo: a foca-de-weddell, foca-caranguejeira, foca-leopardo, fo-
ca-de-ross, elefante-marinho-do-sul, lobo-marinho-antártico e o

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 99


lobo-marinho-subantártico. No Ártico há um número maior de es-
pécies, onze: morsa, foca-larga, foca-anelada, foca-da-groenlândia,
foca-barbuda, foca-do-porto, foca-cinzenta, foca-de-capuz, foca-
-de-bandas, elefante-marinho-do-norte e o lobo-marinho-do-norte.
Como você já deve ter ouvido falar, as mudanças climáticas
afetam as regiões polares principalmente pela redução da extensão,
duração sazonal e qualidade do gelo marinho. Como a maioria das
espécies de pinípedes polares é gelo-dependente, necessita de áreas
congeladas para reprodução e cria dos filhotes, descanso, troca
da pelagem e proteção de predadores (em especial as espécies do
Ártico), esses animais podem estar seriamente ameaçados por uma
considerável redução de seu habitat.

Foca-leopardo, Península Antártica. (Manuela Bassoi, 2010)

Muitas espécies também se alimentam de presas associadas ao


gelo, como, por exemplo, a foca-caranguejeira na Antártica, que se
alimenta principalmente de krill, um crustáceo planctônico (5–7
cm) parecido com um camarão. Como o krill é uma espécie de-
pendente da extensão e duração do gelo na região Antártica para se
alimentar e reproduzir, com uma redução do gelo existe a redução
dessa importante fonte de alimento para a foca-caranguejeira, as-
sim como para outras espécies de mamíferos e aves marinhas. Além
de reduzir sua fonte de alimento, também aumenta a competição
com outras espécies.

100 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Estudos realizados no Ártico entre os anos de 1995 e 2016, com
focas-aneladas marcadas com rastreadores de satélite, para monito-
rar o impacto da redução do gelo causado em seu comportamento,
demonstram mudanças importantes. Depois de 20 anos com uma
redução expressiva do gelo, essas focas passam uma parte significa-
tivamente maior do seu tempo buscando alimento perto da área em
que as geleiras se encontram com o oceano, pois elas estão mais dis-
tantes. Logo, os animais estão gastando muito mais energia, o que
reduz seu sucesso reprodutivo, torna-os menos saudáveis e mais
suscetíveis a doenças, mais ineficientes para fugir de predadores etc.

As mudanças climáticas já podem ser consideradas uma ameaça


real para muitas espécies de pinípedes, mas a magnitude do
problema ainda é desconhecida. E você, o que acha? São as
espécies de pinípedes da Antártica ou do Ártico que serão mais
afetadas pelas mudanças climáticas? O que o ser humano pode
fazer para frear as mudanças e interromper essas ameaças?

42  Como as mudanças climáticas podem


afetar a navegação nas regiões polares?
Como você já deve saber, um dos principais impactos das mu-
danças climáticas nos oceanos polares é a diminuição da camada
de gelo, ou seja, a diminuição tanto da extensão de gelo como do
período em que o mar fica congelado. E esse efeito é ainda mais
percebido no oceano Ártico.
Esse fenômeno vem alterando as rotas existentes e possibilitando
novas rotas de navegação para os navios no Hemisfério Norte, per-
mitindo viagens mais curtas e econômicas e uma navegação cada
vez mais frequente entre os portos do Extremo Oriente e a Europa.
À medida que o degelo se espalha, os fluxos de navios se aceleram.
E estas rotas não alteram somente o cenário do Ártico.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 101


Preparando-se para o impacto dessas novas rotas do Ártico no
comércio marítimo mundial, o Canal de Suez foi ampliado e mo-
dernizado em 2017 para acelerar o fluxo de navios de maior porte.
Além disso, não somente navios quebra-gelos ou polares poderão
agora navegar no oceano Ártico, mas também navios comuns, o
que aumentará ainda mais o fluxo marítimo nessas regiões. E o
problema aumenta, pois além da ampliação na quantidade de na-
vios de passagem, haverá um aumento no número de navios de
exploração sísmica, procurando mais reservas de petróleo em áreas
que antes não eram possíveis de ser exploradas.
Como você acha que este aumento no número de navios, rotas
marítimas e atividade sísmica pode influenciar o ambiente e a vida
selvagem no Ártico?
Infelizmente para o planeta e a vida selvagem este não é um
bom prognóstico. Para a vida marinha, o aumento no número de
navios e principalmente de atividades sísmicas aumenta o ruído em
seu ambiente, o que chamamos de poluição sonora marinha. Este
aumento da poluição sonora pelo homem representa um problema,
sobretudo, para os mamíferos, que usam sons para se comunicar.
Os mamíferos, principalmente os cetáceos (grupo das baleias e
golfinhos), usam a percepção auditiva para funções essenciais de
seu modo de vida, como a orientação, comunicação, e detecção
de presas ou predadores. Esses sons indesejados, ou ruídos, co-
brem uma área muito grande, pois o som pode viajar por grandes
distâncias subaquáticas, às vezes centenas ou mesmo milhares de
quilômetros, potencialmente impedindo os cetáceos, mesmo em
regiões mais distantes, de ouvir suas presas ou predadores, encon-
trar seu caminho, ou conectar-se com companheiros, membros do
grupo ou seus filhotes.
A atividade sísmica provoca um dano ainda maior, pois além
do ruído a onda sísmica gerada por equipamentos extremamente
potentes (canhões de ar comprimido) para detectar petróleo no sub-
solo marinho, se atingir diretamente um cetáceo ou outro animal
marinho pode danificar seriamente vários órgãos, provocar lesões
e traumas acústicos. As atividades sísmicas, além de afetar direta-
mente os mamíferos marinhos, ainda podem impactar as espécies

102 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


que servem de alimento para estes animais. Um estudo publicado
em 2018 constatou que os menores membros da cadeia alimentar
do oceano podem ser mortos por explosões de ar sísmicas.
Descobriu-se que o zooplâncton – principal alimento das ba-
leias – sofreu uma diminuição de 64% a mil metros da explosão.
Em resumo, outro dano da atividade sísmica que afeta diretamente
as espécies de baleias.
E o problema ainda fica pior, pois com o aumento no número
de navios na época de verão onde as baleias estão concentradas
nas regiões polares para se alimentar, também aumenta significa-
tivamente o risco de colisão com estes animais.

Como você pode ver, as mudanças climáticas provocam muitos


efeitos diretos, indiretos e complexos em nosso ambiente natural e
toda sua biodiversidade. Que outros efeitos você acha que podem ser
provocados pelos navios e como outros animais podem ser afetados?

A abertura de novas rotas de navegação no oceano Ártico be-


neficia a indústria marítima e a “economia mundial”, mas provoca
um forte impacto em todo o ecossistema dessas regiões. Só que
esses impactos também podem afetar a economia do outro lado,
como a diminuição da biodiversidade, da pesca, degradação do
meio ambiente, poluição etc. Será que vale a pena? Será que este
saldo é positivo?

43  Como as mudanças climáticas


afetam as populações de pinguins?
Que os pinguins são adoráveis e, de quebra, símbolo da Antártica,
já sabemos! E que seus grupos podem ser bastante numerosos,
também não é nenhuma novidade. Quem nunca viu aquelas ima-
gens fantásticas de tantos pinguins no gelo que o próprio gelo fica
escondido sob tantos animais? De fato, as populações de pinguins

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 103


podem ser muito grandes, chegando a dezenas de milhares de indi-
víduos. No entanto, as populações de algumas espécies de pinguins
na Antártica estão reduzindo drasticamente, e uma das causas
apontadas para esta redução é o aquecimento global.
Como é possível sabermos disto? Você deve estar se pergun-
tando se alguém por acaso vai até lá e conta os indivíduos para
saber se o número de pinguins diminuiu ou não. A resposta é:
sim! Pesquisadores que estudam e monitoram estas aves realizam
o censo dos pinguins contando, por exemplo, o número de ni-
nhos e comparando este número com o de anos/décadas anteriores.
Contabilizados os números de ninhos ativos (isto é, com filhotes),
sabe-se em média quantos pinguins passarão a integrar os gran-
des grupos já que, com pouco mais de um mês de vida, os filhotes
deixam os ninhos e já se aglomeram em “creches”.
Essa pesquisa foi realizada, por exemplo, no ano de 2020 com
os pinguins-de-barbicha, considerada uma das espécies mais abun-
dantes da Antártica, e os pesquisadores observaram que, compa-
rando esses dados com a estimativa de 50 anos atrás, houve uma
queda de 56% na população. Uma outra pesquisa publicada em
2019 constatou o declínio de populações de pinguins-imperado-
res ao longo de três anos, e este fato coincidiu com o fenômeno
do El Niño mais forte registrado para os últimos 60 anos, além de
haver sido reportada, para a mesma época, uma redução drástica
na cobertura de gelo. Quando o gelo oceânico se torna mais fraco
e quebradiço, ovos e filhotes podem ser transportados, com a que-
bra dessas áreas, para longe das colônias antes de desenvolverem
autonomia para sobreviver.
Uma outra consequência das mudanças climáticas e que compro-
metem as populações de pinguins é – pasmem – a chuva! Conforme
o clima esquenta na Antártica, esse fenômeno passa a ser mais
comum. Mas como a chuva pode ser uma ameaça aos pinguins?
Na verdade, a chuva acaba sendo uma ameaça não aos adultos, mas
aos filhotes que, ao ficarem encharcados, ficam mais suscetíveis a
desenvolver hipotermia (ou seja, a temperatura do corpo diminui
de forma perigosa), o que pode levar à morte. Temperaturas mais
quentes também retêm mais umidade na atmosfera, causando mais

104 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


neve, o que, por exemplo, ameaça os pinguins-adélia que procuram
por superfícies livres de neve e gelo para criarem seus filhotes.

Pinguins-de-adélia deslocando-se sob as rochas em


praia na Antártica. (Jerzy Strzelecki, 2000)

Um outro aspecto é o distanciamento entre as áreas de alimenta-


ção e reprodução dos pinguins. Com o aumento das temperaturas o
alimento fica cada vez mais distante das áreas onde os pinguins dei-
xam seus filhotes. Como o suprimento de comida é garantido pela
Frente Polar Antártica (onde massas de água fria do oceano Austral
sem encontram com águas mais amenas vindas do norte) que está
se afastando dessas áreas de reprodução, os pinguins, sem autono-
mia de natação maior do que 700 km, acabam não retornando às
crias e as condenam a morrer de fome nos seus ninhos. A redução
na quantidade de comida afeta os já mencionados pinguins-de-bar-
bicha e também outras espécies, como os pinguins-papua, vulnerá-
veis à pesca excessiva que reduz suas fontes de alimento.
O fato é que as mudanças climáticas afetam diretamente as po-
pulações destas carismáticas aves-símbolo da Antártica. Você acha
possível repensar sua relação com o meio ambiente para evitar
que essas e outras espécies animais venham a desaparecer em um
futuro próximo?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 105


44  Como as mudanças climáticas
afetam os oceanos?
Os oceanos, além de serem fontes de energia, alimento, lazer e até
de matéria-prima para compostos medicinais e cosméticos, exer-
cem um papel fundamental na regulação do clima global, absor-
vendo CO2, calor da atmosfera e evitando um aquecimento do
planeta ainda maior. Pois é, as águas salgadas que constituem as
fronteiras naturais entre os continentes são extremamente impor-
tantes para a vida sustentável no planeta Terra, ou planeta Água
como também é conhecido.
Se hoje existe vida na Terra, podemos curtir uma praia e desfrutar
ótimos momentos. Tudo isso graças à quantidade de oxigênio pro-
duzida pelos oceanos e liberada na atmosfera – cerca de 70% do total.
Além disso, os oceanos (Atlântico, Pacífico, Ártico, Índico e
Austral) funcionam como uma enorme esponja de calor absorvido
através da circulação oceânica, e distribuído dos trópicos para os
polos e para o fundo do mar. Isso mesmo, eles ajudam e muito a
conter o fenômeno do aquecimento da Terra.
Consequentemente, quanto mais nossos amigos oceanos ar-
mazenam o calor (fica aqui nosso agradecimento!) mais eles se
expandem, e essa expansão térmica já causou um aumento de al-
guns centímetros do nível do mar ao longo dos últimos 200 anos,
acarretando ameaças de populações costeiras, alterações de tem-
peratura de correntes marinhas com efeitos no transporte de nu-
trientes e na produção de oxigênio, mudanças nos ciclos oceânicos
que potencializam fenômenos como, por exemplo, o El Niño e seus
efeitos desastrosos. Aí é o famoso efeito dominó que prevalece e a
lista de consequências é grande.
Muitos cientistas já estão se referindo cada vez mais ao futuro
dos oceanos como mais quentes, ácidos e irrespiráveis. Bem triste
ver o futuro dos oceanos dessa forma, concorda?
No entanto, quanto de calor os oceanos já absorveram desde
o início do aquecimento global? Será que é possível termos uma

106 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


noção? Cientistas fizeram uma simulação combinando medições
da temperatura da superfície dos oceanos desde 1871 com modelos
computacionais que preveem a circulação oceânica, e calcularam
que o mar já absorveu 436 sextilhões de joules (unidade tradicio-
nalmente usada para medir energia mecânica e energia térmica)
de energia de lá para cá. Para ficar um pouco menos abstrato no
entendimento dos 436 sextilhões, o jornal inglês The Guardian fez
uma comparação chocante. Prepare-se: equivale ao calor liberado
pela explosão de uma bomba atômica por segundo nos últimos 150
anos. Mais chocante que esta metáfora são as possíveis consequên-
cias do desequilíbrio nos ecossistemas dos oceanos.

Elevação na quantidade de calor armazenado nos oceanos nas últimas décadas. A


linha vermelha indica a média de 3 meses no período de Jan-Mar 2020, a preta a média
anual no ano de 2019 e a azul a média entre aos anos de 2015-2019 (NODC, 2012)

É preciso olhar de frente e com urgência para a maior crise


ambiental da nossa história com embasamento científico e von-
tade política e mergulhar no compromisso coletivo de buscar a
real sustentabilidade do planeta: o único caminho possível para
continuarmos navegando nesse mar.
E, sim, existem possíveis ações para melhorarmos o nosso cená-
rio presente e futuro, como: diminuir o uso de combustíveis fósseis,

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 107


construir prédios com iluminação, resfriamento e aquecimento
mais eficientes, trocar usinas elétricas e a carvão por outras a gás
natural que emitem metade da quantidade de carbono, capturar o
carbono e enterrá-lo em poços profundos, obter energia nuclear,
energia eólica, painéis solares, utilizar biocombustíveis, como o
álcool, aumentar a área de florestas, entre outras possibilidades.
Soluções existem e por que ainda não estamos avançando na sus-
tentabilidade e proteção dos nossos oceanos?

45  Quantos oceanos existem no planeta?


Na verdade, temos um único grande oceano, o oceano Global, com-
posto de ‘sub’ oceanos que são: Atlântico, Pacífico, Índico, Ártico
e o mais recente nomeado: Austral.
Inclusive, seja bem vindo!
Como assim um oceano inteiro reconhecido agora?
Calma. Ele sempre esteve lá, conhecido como oceano Antártico,
hoje oceano Austral. Por volta de 1937 ele já tinha sido conside-
rado o 5º da Terra, porém em 1953 a Organização Hidrográfica
Internacional (OHI) reverteu a decisão e retirou esse oceano. Em
2000, a OHI definiu os limites desses oceanos. Recentemente, em
8 de junho de 2021, no Dia Mundial dos oceanos, foi anunciado o
reconhecimento do oceano Austral.
E quem decidiu isso?
Foi a National Geographic Society (Sociedade Geográfica
Nacional), uma organização não governamental fundada nos
Estados Unidos em 1888, com o objetivo de melhorar e divulgar
o conhecimento geográfico. A mudança marca a primeira vez em
mais de um século que a organização redesenhou os mapas oceâni-
cos do mundo. Além dela, outras organizações como a Diretoria de
Nomes Geográficos (BGN) e a Administração Nacional Oceânica
e Atmosférica (NOAA) também reconheceram o oceano Austral.
Ah, e ele também está no Google Earth, claro.

108 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


O oceano Austral já é reconhecido há muito tempo por cien-
tistas. É que até agora não tinha havido um acordo internacional
para reconhecê-lo oficialmente, pois muitos cientistas considera-
vam que ele era uma extensão sul dos oceanos Atlântico, Pacifico
e Índico. Porém, ele é diferente dos outros, as águas que circun-
dam o continente sul têm características ecológicas distintas, in-
cluindo seus padrões de corrente únicos, mais conhecidos como
Corrente Circumpolar Antártica, ou CCA. Essa corrente, estimada
em aproximadamente 34 milhões de anos, é o que torna a ecologia
do oceano Austral tão especial, fornecendo um habitat único para
milhares de espécies.

Antártica e o oceano Austral. (CIA World Factbook, 2006)

Tais particularidades tornam o ecossistema único, sendo


berço de diversas espécies que não podem ser observadas em ne-
nhum outro lugar do globo. Os cientistas (e o meio ambiente)
esperam que, com a diferenciação entre os oceanos, haja no local
um maior esforço de conservação e também conscientização do
público geral.
E por que esse reconhecimento é importante? O que muda nas
nossas vidas?
Este novo mapeamento terá grande impacto na educação.
Atualmente, os estudantes conhecem os oceanos e seus ecossiste-
mas a partir de um estudo individual de cada um deles. Agora com

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 109


o oceano Austral na lista, cada vez mais, suas particularidades e
importância serão discutidas nas salas de aula e também na socie-
dade. Sendo assim, ouviremos falar muito dele daqui pra frente.
Será que após esse reconhecimento do nosso oceano Austral ele
será mais preservado?

46  Por que as geleiras


precisam de ajuda?
Você sabia que as geleiras são os pilares da vida no Planeta Terra? A
maior parte da água doce do mundo está em espessas camadas de
gelo nas regiões polares, como a Groenlândia e a Antártida. Além
desses “mantos de gelo” polares, que chegam a ter quilômetros de
espessura, existe uma grande quantidade de geleiras espalhadas
nas regiões montanhosas da Terra. Como reservatórios gigantes de
água doce, essas geleiras sustentam os sistemas de vida do Planeta
e influenciam nosso dia a dia, mesmo daquelas pessoas que vivem
bem longe delas. Porém, as geleiras estão em apuros, muitas delas
estão derretendo e isso é preocupante para toda a vida no planeta.
O derretimento da água doce das geleiras altera o oceano, não
apenas por contribuir diretamente para o aumento do nível do
mar, mas também porque empurra para baixo a água salgada mais
pesada, causando alterações na circulação de calor e de salinidade
dos oceanos, ou seja, nas correntes marítimas. Isso tem um efeito
imediato na região próxima da geleira, mas os impactos podem se
espalhar muito além.
As geleiras funcionam como uma espécie de ar-condicionado do
planeta e também são indicadores precoces de mudanças climáti-
cas que terão um impacto um pouco mais tardio em outras partes
do sistema terrestre. As geleiras são as sentinelas das mudanças
climáticas. Elas são a evidência mais visível do aquecimento global.
Além de elevar os níveis da água do mar, a perda generalizada de
geleiras provavelmente alterará os padrões climáticos de outras

110 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


maneiras complexas. Por exemplo, as superfícies brancas das gelei-
ras refletem os raios do Sol, ajudando a manter nosso clima ameno.
Quando as geleiras derretem, as superfícies mais escuras expostas
absorvem e liberam calor, aumentando as temperaturas.

Geleira derretendo na Antártica. (Silvia Dotta, 2004)

Algumas geleiras são consideradas Patrimônios Mundiais


pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura, a UNESCO, porque a organização as considera de
grande valor para a humanidade. Porém, a maioria das geleiras do
Patrimônio Mundial perdeu uma parte significativa de sua massa
desde 1900; algumas irão desaparecer completamente, como na
África ou nos Alpes. E o pior: cientistas preveem que as geleiras
podem desaparecer de quase metade dos locais considerados
Patrimônios Mundiais até o ano de 2100 se as emissões desenfre-
adas de gases do efeito estufa continuarem.
Apesar das iniciativas de proteção das geleiras consideradas
Patrimônios Mundiais, elas vêm sendo afetadas pelo aquecimento
global como todas as demais. As iniciativas para conservação da

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 111


natureza, como a tentativa de diminuição da atividade humana em
locais específicos, têm sido impotentes para limitar as consequên-
cias de um processo tão abrangente e global como as mudanças
climáticas. É preciso fazer mais!
As geleiras precisam de proteção e lidar com o aquecimento
global e local é a única maneira de protegê-las. Mas o que podemos
fazer para ajudar a preservar essas formações tão importantes para
nós e para o nosso planeta?

A humanidade tornou-se dependente da queima de combustíveis


fósseis, como o carvão mineral, o gás natural e o petróleo para
sustentar nosso modo de vida, mas isso aumenta o aquecimento
global a uma taxa não natural. Para proteger e restaurar as geleiras,
precisamos utilizar fontes alternativas de energia, aumentar nossa
eficiência energética e diminuir nossa pegada de carbono individual.
Fontes alternativas de energia, como os painéis solares e a ener-
gia eólica, fornecem soluções para o aquecimento global. Mas a
sua utilização depende de investimento governamental e infraes-
trutura, algo que parece estar fora do alcance das pessoas comuns
como nós. Mas existem coisas que podemos fazer individualmente
para contribuir com a proteção das geleiras, e uma delas é utili-
zar automóveis o mínimo possível. Você pode optar, sempre que
possível, pelo transporte público, por caronas solidárias, andar de
bicicleta, caminhar ou correr até o seu destino. Em casa, é impor-
tante economizar energia tomando banhos mais curtos, escovando
os dentes com a torneira fechada, apagando as luzes quando não
estiverem em uso, secando as roupas no varal, ao invés de na seca-
dora e desconectando aparelhos eletrônicos quando não estiverem
sendo usados.
Essas ações aparentemente pequenas causam um grande im-
pacto se forem feitas em grande escala, por grande parte da huma-
nidade. Com essas dicas, você pode reduzir sua pegada de carbono
e ajudar a salvar as geleiras. E aí, quais dessas medidas você e sua
família podem começar a adotar agora?

112 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


47  Quem vive na Antártica?
Primeiro, os pinguins! Isso mesmo, essas aves são o símbolo do
continente. Mas há muitos outros animais vivendo lá, como baleias,
focas, peixes, invertebrados, além de plantas. Diferente do Ártico,
não há nativos humanos na Antártica. Então, vamos começar co-
nhecendo os simpáticos pinguins.
O pinguim-de-adélia é uma das únicas espécies que fazem ni-
nho no continente; o pinguim-imperador representa o maior de
todos podendo medir até 1,22 de altura e pesar aproximadamente
37 quilos; o pinguim-antártico ou pinguim-de-barbicha recebe esse
nome devido à faixa preta ao redor do queixo; o pinguim-papua,
também conhecido como pinguim-gentoo, embaixo d’água é a ave
mais veloz de todo o planeta. O pinguim-rei é a segunda maior
espécie, depois do pinguim-imperador, com peso que pode chegar
a até 16 quilos; o pinguim-de-penacho-amarelo mede cerca de
60 centímetros de altura e possui uma charmosa crista de penas
pontiagudas amarelas e pretas.
As skuas também são aves bastante comuns na região. Sua ca-
racterística inclui coloração escura e bico resistente, que se asse-
melha a um gancho. O temperamento dessa espécie não é dos mais
amigáveis, geralmente são hostis e não hesitam em defender o seu
território com voos rasantes contra os invasores. Outras aves tam-
bém enaltecem o cenário antártico, como diferentes espécies de
petréis, sendo possível que haja cerca de 350 milhões de exemplares
espalhados pelo continente.
Também há espaço para os mamíferos marinhos, como focas,
elefantes e leões-marinhos e várias espécies de baleias migratórias,
como a baleia-jubarte, a baleia-azul e a baleia-minke. A baleia-ju-
barte pode atingir de quinze a dezenove metros de comprimento e
o peso médio varia entre trinta e quarenta toneladas. A baleia-azul,
considerada o maior animal já existente, possui comprimento mé-
dio de trinta metros e tem um peso aproximado de sessenta a cem
toneladas. E a baleia-minke, que possui duas subespécies, a baleia-
-minke-anã e a baleia-minke-antártica, tem o dorso cinza escuro

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 113


azulado, a cabeça pequena e pontiaguda. São duas das menores
baleias medindo cerca de oito a dez metros de comprimento, com
peso de seis a oito toneladas.

Pinguim-Rei. (Silvia Dotta, 2020) Pinguim-antártico. (Silvia Dotta, 2018)

Um espetáculo à parte é o fundo do mar, que abriga uma impres-


sionante comunidade bentônica representada por invertebrados
coloridos. Esses organismos são indicadores imprescindíveis na
avaliação de alterações ambientais decorrentes do mau uso dos re-
cursos disponíveis. O fato de os organismos bentônicos possuírem
uma cumplicidade totalmente integrada com o meio em que vivem,
faz com que quaisquer modificações em seu habitat, especialmente
pela presença de poluentes, desencadeiem as mais variadas respos-
tas sobre os danos na qualidade do ecossistema.
Peixes-gelo e krill também são organismos muito estudados na
Antártica. O krill é um pequeno crustáceo e também um alimento
importantíssimo para um sem-número de animais. Por exem-
plo, uma baleia-azul é capaz de consumir até quatro toneladas de
krill por dia. Consegue imaginar a quantidade de krill que há na
Antártica? O peixe-gelo, tem esse nome por não possuir hemo-
globina no sangue, produzindo proteínas “anticongelantes” que o
protegem do frio antártico. Agora, uma questão mais intrigante:
se aprendermos com o peixe-gelo a produzir substâncias anticon-
gelantes, que uso poderemos fazer deste conhecimento?

114 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


48  Quem vive no Ártico?
Aproximadamente 4 milhões de pessoas habitam a região acima
do Círculo Polar Ártico. Esse número inclui povos indígenas, que
ocupam a região há milhares de anos, e muitas gerações de imi-
grantes. Atualmente, estima-se haver mais de 40 grupos étnicos
diferentes, dentre eles: os Sami, que vivem nas áreas circumpolares
da Finlândia, Suécia, Noruega e parte noroeste da Rússia; os Nenets,
Khanty, Evenk e Chukchi, que vivem na Rússia; os Aleut, Yupik e
Inuit, no Alaska; e os Inuits na Groenlândia e no Canadá.

A palavra Esquimó é considerada um termo depreciativo pois foi


amplamente usada por colonizadores e povos da floresta boreal para
se referir aos povos que habitam a tundra norte-americana. Por isso,
não deve ser usada para se referir aos povos do Norte, que levam
diversos estilos de vida, desde seminômades vivendo da terra, até
grupos assentados em vilas e cidades – tanto indígenas quanto não
indígenas. As populações indígenas constituem cerca de 10% da
população total do Ártico, embora não distribuídas de maneira uniforme.
Considerando a vasta área de terras árticas – cerca de 21,5 mi-
lhões de km2 – existem muito poucas cidades com mais de 10.000
habitantes. A maioria é encontrada na Rússia, na Península de
Kola, no Oblast (província) de Murmansk, onde cerca de 800.000
pessoas vivem em várias cidades. Outros grandes centros in-
cluem Anchorage, Alasca, EUA, com 300.000 residentes, Norilsk,
Rússia, com 175.000 residentes e Trømso, Noruega, com 75.000
residentes.
A maioria das terras árticas é inadequada para a agricultura,
em parte devido ao permafrost (solo permanentemente conge-
lado), embora a agricultura de subsistência tenha sido importante
em algumas regiões. Por isso, a produção primária de alimentos
tradicionalmente depende da caça, pastoreio e pesca, muitas ve-
zes como parte de um estilo de vida de subsistência. Em muitas
partes do Círculo Polar Ártico outros alimentos familiares aos

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 115


residentes de regiões temperadas, como frutas frescas e laticínios,
devem ser transportados de avião e, por consequência, podem
ser muito caros.
Cada vez mais as economias do Ártico estão se voltando para
a extração de recursos e mudando a forma de vida tradicional de
muitos residentes do Ártico. Grande parte da produção econômica
atual é impulsionada pela exploração e produção de petróleo e
gás, especialmente na costa da Noruega, Alasca e Rússia, e pela
mineração de metais básicos e preciosos, e também pedras precio-
sas, especialmente no norte do Canadá, Alasca, Fino-Escandinávia,
Groenlândia e Rússia. A silvicultura também é um importante mo-
tor da economia em muitas partes da região.

Kulusuk, casal Inuit.


(Arian Zwegers, 2010)

As populações do Ártico têm sido intensamente afetadas por


dois fenômenos: as mudanças climáticas e a globalização. Por
exemplo, o derretimento do permafrost impacta a infraestrutura
e o planejamento urbano, o aumento na frequência de tempesta-
des e avalanchas, alterações significativas em eventos de congela-
mento/ descongelamento. Esses fenômenos reduzem a capacidade
de prever com segurança as condições para viajar na terra e no
gelo e as mudanças na neve influenciam o acesso aos locais de
caça, aumentando, em algumas regiões, a insegurança alimentar.
Por outro lado, outros povos ganham melhor acesso à logística
e equipamentos mais eficientes para a caça. Porém, a sociedade
modernizada exige novas habilidades, novas necessidades edu-
cacionais e de saúde, contudo, o acesso aos recursos não se dá de
forma igualitária entre os povos.

116 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Os povos do Ártico são detentores de um conhecimento ecoló-
gico tradicional (Traditional Knowledge, TK), baseado no apren-
dizado ao longo de centenas de anos com as experiências que os
ajudaram a sobreviver. Esses povos estão sofrendo muitos impactos
devido à globalização e às mudanças climáticas. Uma abordagem
para entender essas mudanças é lembrar de que o ser humano
é parte do ecossistema. As pessoas usufruem das provisões ge-
radas pelo ecossistema, têm suas vidas biológicas reguladas pelo
armazenamento e liberação de gases de efeito estufa, carbono e
o fornecimento e purificação natural de água, recursos hídricos,
têm suas vidas culturais e espirituais alteradas devido aos novos
valores inseridos em suas sociedades. Logo, mudanças climáticas
têm consequências na vida das pessoas. O que pode ser positivo
ou negativo nesse fenômeno? Podem aqueles povos viver em har-
monia com essas mudanças?

49  Urso-polar come pinguim?


Você já deve ter visto algum documentário, ou uma reportagem
sobre as regiões polares, certo? As paisagens sempre muito brancas,
com uma mamãe urso-polar vagando pela neve com seus dois
filhotes, em busca de alimentos. Nada no horizonte, apenas neve.
Agora, você também já deve ter visto aquelas imagens de mul-
tidões de pinguins, todos juntos na neve como se estivessem cur-
tindo um grande e congelante festival de música. Eles parecem
uma presa fácil, não é mesmo? Mas por que será que nunca vemos
nas imagens essas duas espécies juntas (isso se não contarmos os
desenhos animados e as ilustrações de alguns livros infantis)?

Na verdade, o que acontece é que os ursos-polares são predadores do


Ártico, lá no norte do Planeta Terra. Já os pinguins, bem… eles vivem no
Hemisfério Sul. Ou seja, os dois animais vivem muito distantes um do outro.
Afinal, o que os ursos-polares comem?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 117


Urso-polar em Svalbard. (Chicco Mattos)

Diferentemente de outros ursos, os ursos-polares comem, quase


que exclusivamente, carne. Sua principal presa são as focas-ane-
ladas. Eles também comem focas-barbudas, morsas e carcaças de
baleias. Eles até podem comer alguns ovos de pássaros, mas essa
é uma porção muito pequena de sua dieta porque, bem… você
consegue imaginar quantos ovos seriam necessários para alimentar
um urso adulto de cerca de 400 kg?
Para que eles consigam o seu alimento, existe uma coisa que é
essencial: o gelo. Como a dieta dos ursos-polares é muito depen-
dente dos animais marinhos, eles precisam das banquisas para se
alimentar. Essas banquisas são grandes bancos de mar congelado (o
gelo marinho). Os ursos-polares, então, utilizam as banquisas como
uma espécie de plataforma de caça, capturando as focas quando elas
vão até a superfície para respirar. Parece uma vida fácil para esses
grandes predadores que estão no topo da cadeia alimentar, certo?
Muito pelo contrário. Os ursos-polares são animais ameaçados
de extinção por conta das mudanças climáticas. Urso-polar (que
tem o nome científico de Ursus maritimus) é, na verdade, um ma-
mífero marinho que passa mais tempo no mar do que em terra.

118 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


A maior ameaça para eles é a perda de seu habitat marítimo.
Quando o gelo do mar derrete no verão, os ursos-polares preci-
sam viver no continente. Durante esse período, eles comem muito
pouco ou nada e precisam esperar o gelo retornar para voltar a
caçar. Porém, com o aquecimento global, os períodos sem gelo
estão ficando cada vez maiores, o que significa mais tempo sem
alimentos disponíveis.
Além disso, o aquecimento atmosférico e do oceano faz com
que a formação das camadas de gelo ocorram cada vez mais longe
da costa, dificultando o acesso aos ursos. Em 2004, por exemplo,
alguns ursos-polares foram encontrados mortos por afogamento.
Em 2011, pesquisadores afirmaram ter coletado dados indicando
que uma fêmea nadou nove dias sem parar até encontrar uma ban-
quisa. Nesse processo, ela perdeu aproximadamente 22% do seu
peso e seu filhote de cerca de um ano não sobreviveu à jornada.
Você sabe como os cientistas descobrem esses acontecimentos?
Existem vários tipos de pesquisa demonstrando o impacto ne-
gativo do aquecimento global nos ecossistemas. Uma delas, por
exemplo, utiliza dados de satélites, mostrando que a média de ex-
tensão de gelo no oceano Ártico em março de 2021 foi de 14.64
milhões de km2. Parece muita coisa, não é? Na verdade, não. Esse
número é 790.000 km2 menor do que a média da extensão de gelo
no oceano Ártico entre os anos de 1981 e 2010. Só para você ter
uma ideia, o estado de São Paulo tem mais ou menos 250.000 km2.
Ou seja, a redução de gelo no oceano Ártico é maior que três esta-
dos de São Paulo juntos!
Nas áreas mais ao sul da baía de Hudson, no Canadá, foi veri-
ficado que em apenas 20 anos, o período de verão em que a área
fica sem gelo teve um aumento médio de 20 dias. O período do ano
em que os ursos-polares conseguem caçar e se alimentar diminuiu
em quase três semanas por ano. Isso fez com que o peso médio
desses ursos tenha caído cerca de 15% e sua população nessa área
diminuiu mais de 20%.
Será que tudo está perdido? O que você pode fazer para impedir
a destruição dos ecossistemas do planeta?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 119


50  Como se faz um iglu?
Um iglu é um abrigo construído com blocos de neve, colocados
em espiral, até fechar-se em um teto. Pode-se fazer um túnel para
servir de porta ou construir o espaço da porta conforme se faz o
espiral. Deve-se ainda, deixar alguns vãos para entrada e saída de
ar. A forma semelhante a uma cúpula tem uma área de superfície
exposta mínima e uma quantidade máxima de estabilidade estru-
tural. Assim, a forma da construção permite uma resposta rápida
ao calor e proteção estrutural contra ventos fortes ou até mesmo
o peso de um urso polar.
Um construtor de iglu experiente, por exemplo um Sami, pode
construí-lo em cerca de uma hora, então, duas pessoas levam em
torno de meia hora. Isso é especialmente útil quando está come-
çando a ficar escuro e frio lá fora, ou uma tempestade se aproxima.
A rápida construção do iglu pode ser um fator de vida ou morte.
Os jovens aprendizes podem levar de três a seis horas para concluir
sua construção, e esse é um dos conhecimentos passados de pai
para filho nos povos indígenas do Ártico.

Inuites construindo um iglu. (Frank E. Kleinschmidt, 1924)

120 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Como o gelo derrete devido aos níveis de calor no interior, a
forma de cúpula força a água a correr pelas laterais e voltar a con-
gelar na base, fortalecendo os sistemas estruturais ao mesmo tempo
que mantém os habitantes confortáveis. A cobertura de neve do
inverno cria outro nível de isolamento do frio.
As pessoas que moram no iglu, ao respirar, emitem vapor d’água.
Quando esse vapor atinge as paredes frias do iglu e entra em con-
tato com elas, ele condensa e congela. A água, passando de um gás
para um líquido e de um líquido para um sólido, emite energia (ca-
lor); por esse motivo, a temperatura do ar aumenta continuamente
em alguns graus. Um exemplo do efeito oposto é encontrado na
água doce em uma moringa. A água, ao passar do estado líquido
para o gasoso (evaporação), leva energia, ou seja, absorve calor; e,
consequentemente, refresca a água.
Pode-se ainda fazer uma fogueira para aumentar o calor em
seu interior, ou um fogareiro para cozinhar. Isso deve ser feito
ao centro do iglu, o mais distante das paredes e, no teto, deve ser
providenciado um buraco para a saída da fumaça.

Embora os iglus sejam frequentemente associados a todos os povos Inuit


e outras etnias, eles foram tradicionalmente usados apenas pelos povos
do Ártico Central do Canadá e da área de Thule (extremo noroeste) da
Groenlândia. Outros Inuítes usavam neve para isolar suas casas, que eram
construídas com ossos de baleia e peles. A neve é usada porque as bolsas
de ar nela presas a tornam um isolante. Do lado de fora, as temperaturas
podem ser tão baixas quanto −45 °C, mas do lado de dentro, a temperatura
pode variar de −7 a 16 °C quando aquecida apenas pelo calor do corpo.
Com o avanço das estações, à medida que a temperatura au-
menta, o iglu, inevitavelmente, derrete sem deixar vestígios. Em
certo sentido, este abrigo, por mais fascinante que seja, exige sua
reconstrução a cada ano. Considerando as mudanças climáticas
e a globalização, você acha possível que a tradição desse tipo de
construção persista entre os povos Inuit?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 121


51  Há rios na Antártica?
A Antártica não possui rios propriamente ditos. Na verdade, exis-
tem fluxos de água derretida resultantes do degelo e por essa razão
são descritos como rios, apesar de serem apenas córregos. Ao todo
são conhecidos nove fluxos de água derretida exibidos durante
o curto período do verão antártico. Dentre estes, o rio Onyx é o
maior, com percurso de trinta e dois quilômetros, que atravessa o
Vale Wright e deságua no Lago Vanda, na região do mar de Ross.
No lago Vanda, as águas mais profundas não se misturam com
as águas mais rasas e sua salinidade chega a ser dez vezes maior
do que a água do mar. Apesar de não haver espécies de peixes nas
águas do lago Vanda ou do rio Onyx, os cientistas descobriram vida
microscópica e registraram a propagação de algas.
A produção artística do gelo imprime um tom especial no pa-
norama dos lagos e dos rios. O lago Vida é o maior dentre os la-
gos encontrados na região dos Vales Secos de McMurdo. Segundo
dados da NASA, a água desse lago não possui oxigênio, é cerca de
seis vezes mais salgada que a do mar e constitui um piso superior
de gelo permanentemente congelado.

Cachoeira de Sangue. (National Science Foundation, Peter Rejcek, 2006)

Os pesquisadores da NASA estimam que o lago abriga uma


diversidade significativa de bactérias que sobrevivem em um am-
biente inóspito, escuro, livre de correntes de energia advindas do

122 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Sol e que a salmoura foi responsável pelo isolamento do ambiente
externo por mais de três mil anos. Já o lago Vostok, que perma-
neceu escondido durante muito tempo, é considerado um dos
ambientes mais remotos do planeta pelo fato de abrigar-se nas
profundezas do gelo e estar ausente do contato com a atmosfera.
Os cientistas calculam que o lago Vostok está sob a proteção do
gelo há pelo menos 15 milhões de anos e contém um volume de
água doce de 5.400 km3.
A região dos Vales Secos de McMurdo, que abriga, dentre ou-
tros, o lago Vida e o rio Onyx, também é morada de uma cascata
de aproximadamente cinco andares de altura. Esse dado não seria
tão surpreendente se contemplasse uma queda d’água convencional,
porém estamos falando de uma água vermelha e brilhante cujo
contraste se destaca no branco de uma enorme geleira.
A explicação para essa anomalia engloba uma série de fatores
que abrangem etapas de transformações no gelo em um período
que remonta há cinco mil anos. No entanto, o tom avermelhado é
consequência da ação de bactérias em uma mistura de água salgada
– de um lago subglacial cuja salinidade é três vezes mais intensa
que a água do mar – com óxido de ferro, do qual elas se alimentam.

Uma característica interessante dessas bactérias é que elas são fortemente


resistentes, sobrevivem sem luz a temperaturas que atingem cerca de sete
graus negativos e como estão abaixo das geleiras, resistem a uma pressão
atmosférica quarenta vezes acima do que os cientistas consideram normal.

Finalmente, existem também lagos subglaciais, aqueles que es-


tão embaixo das geleiras e do manto de gelo da Antártica. Um
que impressiona pela localização , tamanho e pelos mistérios que
o cercam é o Lago Vostok. É o maior lago subglacial do mundo e
está localizado abaixo da Estação de Pesquisa Russa Vostok (por
isso recebe esse nome), sob aproximadamente 3.800 m de gelo!
Consegue imaginar que processos adaptativos um organismo
precisa desenvolver para sobreviver em condições tão extremas?
Até que ponto esses organismos podem resistir diante das mudan-
ças climáticas?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 123


52  Há outros animais além de
ursos-polares no Ártico?
Assim como o pinguim é o símbolo da Antártica, o urso-polar é
símbolo do Ártico. Apesar disso, o Ursus maritimus, popularmente
chamado de urso-polar ou urso-branco, conta atualmente com
aproximadamente 25 mil exemplares distribuídos em todas as áreas
do Círculo Polar Ártico. Há um outro animal muito mais abundante
no Ártico, com mais de 2 milhões de exemplares. Tem ideia de qual
seja? Enquanto você tenta se lembrar, vamos conhecer alguns outros.
No norte do Hemisfério Norte há dois biomas – unidades ge-
ográficas caracterizadas por um tipo de vegetação – principais: a
floresta boreal, também chamada de taiga na Ásia, e a tundra. O
limite entre esses dois biomas é um dos limites aceitos para a região
Ártica (ou seja, a tundra é o bioma ártico, a floresta boreal o bioma
subártico). A floresta boreal cobre 16 milhões km2 do Hemisfério
Norte e é considerada o maior bioma do planeta, onde prevalece
o clima continental subártico. As temperaturas dessa zona não ul-
trapassam 20 °C no verão, e caem para -30 °C no inverno. Nessas
condições, vivem os animais muito bem adaptados ao frio – pelo
menos 85 espécies de mamíferos, 130 espécies de peixes, 32 mil
espécies de insetos e alguns répteis e anfíbios.

Muitas espécies de mamíferos se adaptaram às temperaturas frias


do inverno nessa floresta, desenvolvendo espessas camadas de pelo,
particularmente entre roedores e carnívoros, como castor, raposa, lobo
e lince. Historicamente esses animais têm sido caçados e presos devido
ao valor comercial de suas peles. Grandes herbívoros, como os alces, as
renas ou caribus, desenvolveram adaptações para procurar alimentos
durante o inverno. Outros mamíferos boreais – incluindo ursos-cinzentos
e ursos-pardos –, bem como alguns répteis e anfíbios, hibernam como
estratégia para resistir aos invernos rigorosos. Embora a floresta boreal
abrigue pelo menos 300 espécies de pássaros, apenas 30 ficam lá durante
o inverno, o restante migra para climas mais quentes, voando para o sul.

124 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Ao norte da zona boreal localiza-se a tundra, uma região em
que as temperaturas no verão raramente ultrapassam 10 °C, e no
inverno mantêm-se abaixo de -40 °C. No verão, quando a neve
derrete, criando pântanos, milhões de aves migratórias são atraídas.
A diversidade de animais é menor na tundra se comparada com
a floresta polar. São encontrados insetos como moscas e abelhas,
mas não há répteis nem anfíbios. Aproximadamente 50 espécies de
mamíferos vivem na tundra, como raposas e lobos e os pequenos
roedores, como esquilos que hibernam por aproximadamente dez
meses, então, devem se alimentar muito bem durante os dois me-
ses de verão. Os ursos-polares, apesar de serem animais marinhos
dependendo do mar a maior parte do ano, alimentam-se principal-
mente de focas e também visitam a tundra eventualmente.

Caribou, Rena do Alasca.


(Dean Biggins, 2006)

A essa altura, você já deve ter se lembrado das renas!! Aquelas do


Papai Noel! Elas vivem em todo o Ártico e no subártico, tanto na
floresta boreal, como na tundra, e também à beira do oceano Ártico.
As renas (chamadas caribus na América do Norte) são um tipo de
veado bem adaptado às regiões frias e tanto fêmeas como machos
possuem chifres. Algumas espécies podem atingir até 1,8 m de
altura e pesar 300 kg. São os animais mais abundantes do Ártico e
têm sido caçados por sua carne, pele e chifres por todos os povos
nórdicos. Há mais de dois mil anos, as renas têm sido domesticadas
para prover carne e pele para abrigo e vestuário, e também para o
trabalho, pois elas são usadas para puxar trenós e equipamentos,
especialmente no inverno pois são muito mais adaptadas para ca-
minhar na neve do que gado ou cavalos.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 125


Todos esses animais estão adaptados às condições extremas do
clima. Já imaginou o que pode acontecer se a temperatura aumen-
tar? Se o gelo começar a diminuir? Aquela imagem tradicional
do urso-polar perdendo seu habitat será a única? Haverá outras
alterações? Você pode fazer algo para evitar essas tragédias?

53  Ursos-polares são brancos?


Não. Os Ursus maritimus – seu nome científico – não são brancos!
Esses mamíferos marinhos têm pele preta e pelo transparente! Isso
mesmo. Lembra daquelas aulas de óptica? A cor de um objeto em
geral é determinada pela cor da luz que ele reflete. Um objeto verme-
lho está refletindo a luz vermelha e absorvendo todas as outras cores.
Um objeto preto está absorvendo todas as cores e não refletindo
nenhuma. O branco, por outro lado, é um reflexo de todas as cores.

Urso-polar em Svalbard. (Chicco Mattos)

A aparência branca serve para camuflagem durante a caça, um


urso-polar preto provavelmente não duraria muito. Normalmente,
considerando o ambiente e a luz do Sol, o urso-polar aparece na
cor branca, mas ao chover, pode apresentar a coloração cinza, ao
pôr do Sol, laranja, e o amarelo só é possível após a caça, pois as
presas soltam óleos naturais. Inclusive, os que vivem em zoológicos
podem apresentar um tom esverdeado, devido às algas encontradas

126 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


nos lagos ou tanques de água. Como o pelo dos ursos polares é oco,
essas algas entram no pelo e modificam a cor do animal.
Além de oco, o pelo do urso-polar é feito de queratina transpa-
rente, com pouca ou nenhuma pigmentação. Quando a luz do sol
atinge o urso, ele passa por um complexo processo de dispersão
dentro do pelo com uma pequena quantidade de luz sendo refletida.
Como a luz do sol é branca, é a cor que percebemos ser os ursos
polares. Em outras palavras, o pelo de um urso-polar parece branco
porque os espaços de ar em cada pelo espalham luz de todas as
cores. A cor branca torna-se visível aos nossos olhos quando um
objeto reflete todos os comprimentos de onda visíveis da luz.
Como a pele do urso-polar realmente funciona ainda é um mis-
tério para a Ciência. Os estudos iniciais concluíram que seus pelos
funcionavam como cabos de fibra ótica. Acreditava-se que a luz en-
trava em uma fibra de pelo oco e ricocheteava de dentro para fora
até ser transmitida diretamente para a pele do urso. Novos estudos
mostraram que a capacidade de um único pelo de transmitir luz é
fraca e apenas em circunstâncias perfeitas a luz pode viajar longe
o suficiente em uma fibra para chegar à pele. Mais recentemente
cientistas concluíram que o pelo funciona coletivamente como um
sistema para transmitir luz e calor.
Os ursos-polares têm pele preta. Esta é uma adaptação para
ajudá-los a absorver o máximo de calor possível dos raios solares.
Sua pele combina dois fenômenos ópticos distintos: a captação de
luz por espalhamento óptico e por luminescência, com o objetivo
de captar a luz e concentrá-la na base dos pelos sendo convertida
em calor. A transferência da luz é facilitada pela combinação desses
dois fenômenos ópticos.
Em termos mais simples, a luz percorre apenas um fio de pelo
por vez, por uma curta distância antes de se espalhar e deixar o
pelo. Outro fio próximo capta a luz espalhada e o processo se repete
continuamente até que a luz seja absorvida pela pele do urso ou
dissipando em calor e ficando presa pelo subpelo espesso. Parte
dessa luz é retroespalhada, dando aos ursos sua aparência branca.
Se não fosse por esse processo de dispersão, o pelo do urso seria
completamente transparente e poderíamos ver sua pele preta.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 127


O urso-polar é primo do urso-cinza, mas além da cor, outra
característica importante os diferencia: o Ursus maritimus é um
mamífero marinho que está ameaçado de extinção. Por que é con-
siderado marinho? Qual a relação das mudanças climáticas e a
sobrevivência ou não desse animal?

54  Por que os pinguins são


o símbolo da Antártica?
Imagine você em pleno final do século XVIII, após meses de via-
gem em mares turbulentos, aproximar-se de um lugar frio, frio
e com multidões de aves preto e branco mergulhando em águas
geladas. Provavelmente, você iria pensar que chegou em um lugar
onde só há pinguins.
Há aproximadamente 46 diferentes espécies de aves transitando
pela Antártica, mas os pinguins são as mais comuns e abundantes.
Dentre as 17 espécies de pinguins existentes no mundo, seis vivem,
procriam ou se alimentam na Antártica. São aproximadamente
vinte milhões de casais reprodutores. Somente duas espécies con-
sideram a Antártica sua verdadeira casa: o pinguim-imperador
e o pinguim-de-adélia, as únicas espécies endêmicas. E, embora
ocupem uma grande área geográfica, eles estão concentrados nas
regiões costeiras.

Pinguim-papua. (Sílvia Dotta, 2020)

128 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


O momento da reprodução é crucial para os pinguins. Seu ciclo
reprodutivo é bem ajustado: os filhotes eclodem e estão prontos
para se defenderem sozinhos quando o alimento é mais abundante.
A maioria dos pinguins (exceto o imperador e o rei) botam mais
de um ovo, geralmente dois. As tarefas de incubação são compar-
tilhadas por ambos os pais, trabalhando em turnos até a eclosão
dos filhotes, com durações de turnos variadas de trocas diárias
(gentoo) a mais de um mês (imperador). Quando eles têm idade
suficiente, os filhotes se reúnem em uma creche, sob vigilância de
alguns adultos. Isso permite que os pais se alimentem no mar e
oferece proteção contra o frio e predadores (como a skua).
As penas de um pinguim o mantêm impermeável e aquecido,
e devem ser bem lubrificadas, usando óleo de uma glândula sob
sua cauda. As penas ficam gastas e devem ser substituídas todos
os anos, e este período chamamos de muda. Durante a muda, que
pode durar de três a quatro semanas, não podem ir ao mar para se
alimentar pois estão perdendo as penas e não têm essa importante
proteção à prova d´água. Por isso, antes da muda, eles engordam
ganhando 50–70% do peso, para assim aguentar este período sem
se alimentar.

A dieta dos pinguins consiste principalmente de peixes, lulas e crustáceos,


e eles podem se adaptar ao que estiver disponível, além de sua dieta variar
consideravelmente com a estação do ano. Para buscar seu alimento, os
pinguins são exímios nadadores e mergulhadores. Os reis e imperadores
são os que vão a lugares mais profundos em busca de lulas e peixes. Os
pinguins-papua mergulham a 150 metros, e um quarto de seus mergulhos
ultrapassam os 100 metros – em casos extremos, eles podem mergulhar
quase continuamente por 15 horas, completando mais de 450 mergulhos.

Os pinguins não apenas constituem um símbolo da Antártica,


mas também são importantes bioindicadores das mudanças nos
ecossistemas marinhos, pois têm um papel essencial na cadeia ali-
mentar da Antártica, servindo como presa para lobos-marinhos,
focas-leopardos, orcas e algumas aves, e alimentando-se, princi-
palmente, de krill.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 129


Eles são muito sensíveis às condições ambientais. O sucesso
reprodutivo é geralmente controlado pela abundância e disponi-
bilidade de presas. Se o gelo marinho não se dissipar ou o número
de krill for baixo, podem ocorrer grandes falhas de reprodução e
poucos filhotes sobrevivem. As aves mais velhas são os procriado-
res de maior sucesso.
Um exemplo de desequilíbrio na população de pinguins acon-
teceu em 1998, na ilha Geórgia do Sul, quando a colônia de pin-
guim-papua teve um ano reprodutivo desastroso, com apenas 1%
dos filhotes sobrevivendo – 40–60% sobrevivem em anos normais).
A colônia de pinguim-macaroni próxima teve níveis normais de
sucesso reprodutivo. Ambas as espécies se alimentam principal-
mente de krill, mas naquele ano os números de krill foram baixos.
Os pinguins-macaroni conseguiram mudar sua dieta para outros
crustáceos ainda abundantes, o que não aconteceu com o papua. O
outro alimento preferido dos papua, o peixe-gelo, também depende
do krill, então os papua tinham pouco para comer.
Considere essa situação e reflita: qual teria sido a causa da redu-
ção de krill? Se apenas 1% dos filhotes sobreviveu, haveria algum
outro desequilíbrio decorrente desta baixa? Algum outro animal
teria sua dieta prejudicada?

55  Pinguins e parceiros(as):


até que a morte os separem?
O amor está no ar. Quer dizer, no gelo! E uma informação bastante
curiosa sobre os pinguins é que várias espécies dessas aves – além
de todas as características que as tornam tão interessantes – são
monogâmicas, podendo reproduzir-se com apenas um(a) único(a)
parceiro(a) por vários anos! Já ouviu falar de “amor de pinguim”?
Essa característica é tão marcante que os pinguins são um símbolo
conhecido do amor, fidelidade e lealdade!

130 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


O belo e imponente pinguim-imperador forma casais que, além
de permanecerem unidos, dividem as tarefas da criação dos filho-
tes! Os machos compartilham com as fêmeas a incubação do ovo,
além de cuidarem dos filhotes após o seu nascimento. Mas, afinal,
por que essas aves seriam fiéis?
Ao investigar esse fenômeno, cientistas descobriram que o se-
gredo para o relacionamento durar tanto está na distância! É isso
mesmo, os pinguins passariam a maior parte do tempo separados
para então se encontrarem e ficarem juntos por cerca de três meses
do ano! Essas aves encontram-se no verão para se reproduzirem
com o(a) mesmo(a) parceiro(a), e permanecem unidos durante os
primeiros 70 dias dos filhotes, quando o macho envolve-se direta-
mente nos cuidados dos rebentos. Machos e fêmeas revezam-se na
busca do alimento, chegando a viajar muitos quilômetros para, ao
retornar, regurgitar o alimento para os filhotes, “liberando” o outro,
por sua vez, para se alimentar. Isso é que são pais dedicados, não?

Casal de pinguins-rei,
“unidos para sempre”.
(Silvia Dotta, 2020)

Esse comportamento que alguns animais apresentam (de cuidar


da prole – ou seja, dos filhotes – até que ela tenha condições de
cuidar de si mesma) tem um nome: cuidado parental. No caso dos
pinguins, como para outras espécies animais, esse cuidado começa
antes mesmo do nascimento dos filhotes. E a vantagem desse com-
portamento é garantir a sobrevivência da prole até que os pequenos
atinjam a sua independência física. E claro que isso é extremamente
importante para os pinguins! Afinal, como um único indivíduo
conseguiria percorrer longas distâncias para buscar alimento e, ao
mesmo tempo, cuidar do filhote? As chances de sobrevivência do
pequeno seriam mínimas, concorda?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 131


Então além de um casal modelo, os pinguins também são pais e mães
modelo! No entanto, essas aves estão ameaçadas pelas mudanças do
clima. Um problema detectado pelos cientistas, e que acende a luz
vermelha sobre a ameaça a que esses animais (e outros tantos) estão
submetidos, diz respeito ao distanciamento entre as áreas de alimentação e
de reprodução. O que acaba acontecendo é que, conforme as temperaturas
vão se elevando, a comida vai ficando cada vez mais distante.

Vamos entender isto: os pinguins não escolhem qualquer área


para se reproduzir. Sua preferência, dependendo da espécie, está em
se estabelecer em ilhas sem gelo marinho e com areia fofa ou pre-
sença de seixos (um tipo de cascalho), mas, independente de onde
se estabeleçam, precisam de um bom suprimento de comida que é
garantido pela águas do oceano Austral e melhor ainda na Zona da
Frente Polar Antártica (águas com grande quantidade de nutrientes,
com muitas das presas dos pinguins, como peixes e lulas).
A grande questão é que essa Frente, antigamente chamada de
Convergência Antártica, está se afastando do alcance dos pinguins
justamente por causa das mudanças do clima. Esses pinguins vivem
em ilhas espalhadas ao longo do oceano Austral, e modelos climá-
ticos, considerando o aquecimento global, têm mostrado que a
Frente Polar Antártica vem se movendo gradativamente na direção
do Polo Sul (ou seja, afastando-se das áreas onde os pinguins geral-
mente estão). Só que estes animais não têm autonomia de natação
maior do que 700 km para garantir a sobrevivência de suas crias,
que acabam condenadas a morrer de fome nos seus ninhos! Assim,
com o aumento da temperatura global e consequente escassez de
alimentos, o que pode acontecer com os pinguins antárticos?

56  Pinguins se divorciam?


Aposto que você já ouviu que os pinguins são muito fiéis. Frequen-
temente, nos deparamos com relatos super-românticos sobre esses
bichinhos, daqueles dignos de história de cinema: eles encontram

132 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


o seu grande e verdadeiro amor, nunca mais se separam e vivem
felizes para sempre! Mas será que é assim mesmo? Quanto disso
tudo é verdade?
Para tentar entender essas questões, a primeira coisa que preci-
samos saber é sobre como funciona a monogamia entre os pássaros.
Só pra ficar claro, a monogamia é uma forma de relacionamento em
que um indivíduo tem apenas um parceiro, seja sexual ou român-
tico, durante a sua vida ou durante períodos. Aves monogâmicas
são aqueles que escolhem apenas uma parceira ou um parceiro com
quem vão se reproduzir e criar seus filhotes. Mas toda história tem
um ponto de partida e de chegada, e vários acontecimentos, antes
e depois daquilo que a gente conta, acabam ficando de fora. É por
isso que nas novelas, os casamentos acontecem sempre no último
episódio. Será que a história acaba aí?
Voltemos aos pinguins… assim como os humanos, algumas aves
podem ser monogâmicas “em série”, ou seja, têm apenas um par-
ceiro ou parceira por vez, mas podem começar novos relacionamen-
tos após uma “viuvez” ou um “divórcio”. E como cientistas sabem
disso? Graças a técnicas que lhes permitem marcar algumas aves e
segui-las durante sua vida. Essas técnicas permitiram verificar que
nem todas as aves ficam juntas durante toda a vida e que muitas se
“divorciam”. No mundo das aves, entendemos esse “divórcio” quando
pelo menos uma das partes do casal troca de parceiro, sem que seu
parceiro inicial tenha morrido. Tá bom, mas e os pinguins?
Bem, as taxas de divórcio entre as aves variam muito de uma
espécie para outra e os pinguins não são uma exceção. No caso des-
ses simpáticos bichinhos, a taxa média de fidelidade verificada em
um estudo foi de cerca de 72%, isso considerando todas as espécies
estudadas. Quando as espécies foram consideradas separadamente
essa taxa variou entre 29% e 97%. Além disso, o divórcio represen-
tou entre 13% e 39% dessas mudanças de parceiro.
Maior familiaridade no relacionamento pode tornar as aves me-
lhores em proteger seus ninhos. Esses casais podem melhorar seu
trabalho conjunto e sua procriação, o que os torna mais capazes de
proteger seus filhotes por causa de sua experiência em lidar com
os problemas conjuntamente.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 133


Se os casais de aves que permanecem juntos têm muitos bene-
fícios, por que então alguns se separam? É que, como em todas
as relações, alguns problemas podem acontecer. Nas espécies em
que os casais se separam depois da época de reprodução, reunir-se
novamente todos os anos pode ser um processo difícil. E, quando
o custo dessa reunião é muito alto, é provável que as aves optem
por encontrar novos parceiros.

Casal de pinguins-de-
adélia com filhotes.
(Silvia Dotta, 2004)

As causas mais comuns de “divórcio” entre as aves, fora essa


separação física, são uma baixa performance reprodutiva ou um
parceiro com um território de baixa qualidade. Nesses casos, é
esperado que as aves encontrem alguém “melhor” em comparação
com seus antigos parceiros. Os novos parceiros serão considerados
um par mais adequado se o novo casal conseguir ter mais filhotes
ou se o novo par possui um território melhor. Também é possível
que não apenas um, mas ambas as aves que se “divorciaram” en-
contrem parceiros melhores após a separação. Por mais que a gente
ame, há relações que não funcionam, não é?
No caso dos pinguins, os pinguins-rei e pinguins-imperador
são os que apresentam as taxas mais altas de divórcio. No caso dos
pinguins-rei, mais de 80% mudam de parceiro de uma temporada
de acasalamento para outra. As maiores razões para isso é que eles
podem chegar aos locais de acasalamento em momentos diferentes,
o que dificulta seu reencontro. Além disso, nesses locais, eles pos-
suem um acesso a grandes quantidades de novos parceiros.

134 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Aproximadamente 40% dos pinguins-de-adélia mudaram de
parceiro em duas temporadas consecutivas, seja por causa de di-
vórcio ou de morte de um dos parceiros. Por outro lado, os pin-
guins-papua, os pinguins-de-galápagos, os pinguins-azuis, os
pinguins-de-magalhães e os pinguins-de-olho-amarelo são muito
fiéis, com uma média de mais de 80% dos indivíduos acasalando
com o mesmo parceiro por, ao menos, dois anos consecutivos
Ainda há muita coisa que deixa cientistas com a pulga atrás da
orelha quando o assunto é o “divórcio” entre essas aves. Porém,
uma coisa que se sabe é que ele é um processo complexo, talvez
tão complexo quanto para os humanos, e pode ser desencadeado
por múltiplas causas. Apenas estudos longos, que acompanham os
pinguins por bastante tempo, podem nos ajudar a entender esse
fenômeno tão interessante! E você? Já tinha ouvido falar que pin-
guins ficam juntos para sempre? Que outras espécies têm essa fama
e, será que ela é verdadeira?

57  Por que os pinguins não voam?


O que é o que é: tem asa, mas não voa? O bule! Entretanto, será que só
o bule? E se tiver um par de asas e não voar? É bem provável que você
pense logo de saída em alguma ave, e certamente há aves com pares
de asas que não voam mesmo, como as emas, os avestruzes, e… os
pinguins! Pois é, os pinguins não voam! E por que será que não voam?
Por que será que essas aves curiosas perderam a sua capacidade
de voar e desenvolveram de um modo tão eficiente a sua capaci-
dade de nadar? Sim, pinguins são excelentes nadadores, e suas asas
desempenham um papel fundamental nessa função! À maneira de
nadadeiras, elas propulsionam estes animais na água de um modo
bastante eficiente, ajudando com que eles desenvolvam velocidades
consideráveis quando submersos (até 40 km/h!). No entanto, nem
sempre parece ter sido assim.
Segundo algumas pesquisas, os ancestrais dos pinguins se-
riam animais capazes de voar, mas como sob a água havia maior

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 135


abundância de alimentos, o ambiente pode ter selecionado os
melhores nadadores em detrimento dos melhores voadores, já
que nadar seria, portanto, uma habilidade mais vantajosa do que
voar, certo? E justamente a redução dos recursos alimentares em
terra poderia ter favorecido essa pressão evolutiva e favorecido os
melhores nadadores. Atualmente dá para perceber como as asas
pequenas dos pinguins seriam mais eficientes como remos do que
para o voo. Mas por que não ser bom nos dois? Por que os pinguins,
como algumas aves, não poderiam voar e nadar?

Patas adaptadas
para a natação.
(Sílvia Dotta, 2020)

Um outro estudo desenvolvido justamente para tentar respon-


der a esta pergunta avaliou o custo do voo e do nado em aves
que voam e nadam (uma delas era inclusive uma ave antártica! o
Phalacrocorax pelagicus, conhecida popularmente como cormo-
rão pelágico). Através desse estudo os pesquisadores descobriram
que o alto custo energético do voo (e o baixo custo do mergulho)
em aves mergulhadoras como os pinguins teria levado essas aves
a “deixar” a opção do voo e se tornarem incapazes de voar para
investir sua energia na natação. Resumo da história: ficou mais
vantajoso somente nadar, e nadar bem! do que fazer as duas coisas
como os seus ancestrais que “transitavam” nessa fronteira ar-água.
Interessante, não? E é esta a história que a Paleontologia, com o
estudo dos fósseis, conta, e, assim, somos capazes de reconstruir
(na medida do possível!) a história dos organismos que um dia

136 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


habitaram este planeta e deram origem aos grupos animais e ve-
getais que hoje encontramos!
Voltando aos pinguins: esses animais são realmente muito bem
adaptados para a natação! Além disso, o aumento da densidade
óssea destas aves confere maior estabilidade ao nado, mas desfa-
vorece o voo que pede justamente ossos leves, menos densos (o
que chamamos de ossos pneumáticos), condição oposta à que os
pinguins apresentam! Outras características destes animais tam-
bém contribuem para uma natação muito eficiente, como o corpo
fusiforme hidrodinâmico (isto é, aquele corpo alongado que mui-
tos animais aquáticos apresentam), membranas interdigitais nas
patas (ajudando a impulsão dos pinguins na água), além de, ainda
por cima, saírem da água sem se molhar!
Incrível, não? Os pinguins, no entanto, não param por aí de
nos impressionar! Você consegue imaginar como os pinguins se
adaptaram para sobreviver ao frio? Como é que eles não congelam
as patas? E por que suportam nadar em águas tão gélidas?

58  Existe pinguim no Ártico?


Você sempre ouve falar que pinguim só existe na Antártica, essa
ave preta e branca que não voa é até símbolo do continente ge-
lado. Mas saiba que exploradores do Ártico sempre viam colô-
nias de uma ave branco e preta, que não voava, mas que vivia
grande parte do tempo nadando muito bem: mergulhava a mais
de 70 m de profundidade e conseguia prender a respiração por
quinze minutos.
Essa ave era o arau-gigante ou alca-gigante de nome científico
Pinguinus impennis. O arau-gigante tinha 75 a 85 cm de altura e
pesava cerca de 5 Kg. Seu bico era curvo, forte, negro e com ra-
nhuras na superfície. Sua dieta era composta principalmente por
peixes, geralmente os que mediam de 12 a 20 cm de comprimento
e pesavam 40 a 50 g, mas ocasionalmente suas presas tinham até a
metade do comprimento da ave.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 137


Durante o verão a plumagem apresentava uma mancha branca
sobre cada olho, que desaparecia no inverno e dava lugar a uma
faixa branca entre os olhos. Suas pequenas asas, de apenas 15 cm
de comprimento, não lhe permitiam voar.
Eram encontrados no Atlântico Norte ao longo das costas do
Canadá, nordeste dos Estados Unidos, Noruega, Groenlândia,
Islândia, Ilhas Faroe, Irlanda, Grã-Bretanha, França e Península
Ibérica. Hoje em dia, alguns fósseis mostram que o arau tam-
bém habitava o sul da França, Itália e outras costas da bacia do
Mediterrâneo. Formava grandes colônias em ilhas rochosas isola-
das, com fácil acesso ao mar, pois passava a maior parte da vida na
água, de onde saía apenas na época do acasalamento.
Quando começou a exploração do Hemisfério Sul e os explora-
dores viram colônias de aves branco e preta que também não voa-
vam, mas nadavam muito bem, eles chamaram essa ave de pinguim
por conta do Pinguinus, a única espécie moderna desse gênero. Os
pinguins que conhecemos hoje não são nem da mesma família que
o arau, o nome foi dado só pela semelhança na aparência.

O último casal foi caçado em julho de 1844, na ilhota Stac an Armin,


no arquipélago de Saint Kilda, Escócia, para um comerciante. Três
homens chegaram na Ilha, pegaram os animais e os mantiveram
amarrados por três dias. Depois mataram o casal estrangulado e
um deles ainda pisou no único ovo que estava sendo chocado.

Atualmente, 78 peles da ave ainda existem, a maioria em cole-


ções de museus, além de cerca de 75 ovos e 24 esqueletos comple-
tos. Todas essas peles, com exceção de quatro delas, estão com a
plumagem de verão, e apenas dois indivíduos são imaturos. Não há
exemplares de filhotes, porém, múmias e fósseis ainda estão sendo
encontradas em novos lugares como Portugal.
Uma história triste de uma extinção que o ser humano causou.
Será que ainda iremos causar mais extinções com nossas ações?
Que animais você tem notícia de estarem na situação de ameaça
crítica de extinção? O que você pode fazer para ajudar a esses
animais?

138 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Espécime de Arau-gigante em
exposição (Pinguinis-impennis).
(Mike Pennington, 2009)

59  O que os pinguins comem?


Os pinguins caçam todas as suas presas no oceano, por isso, pos-
suem incríveis habilidades de natação e aguçada visão subaquática.
Mesmo assim, é difícil saber como os pinguins caçam na escuridão,
à noite ou em grandes profundidades. Alguns cientistas levan-
tam a hipótese de que os pinguins conseguem ver as presas com
bioluminescência, que brilham no escuro, como algumas lulas,
crustáceos e peixes.
Os pinguins passam um quarto da sua vida na terra e três quar-
tos no oceano. As táticas de caça variam por espécie e podem incluir
mergulhos profundos ou rasos para procurar as presas. Alguns pin-
guins podem mergulhar para comer a 15–18 m de profundidade,
outros podem ultrapassar 150 m. Essas técnicas podem mudar
dependendo dos hábitos de seus alimentos preferidos.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 139


Muitos pinguins são comedores oportunistas e têm uma dieta
com grande variedade de alimentos. Eles irão se alimentar do que
estiver disponível mais facilmente nas diferentes épocas do ano. A
maioria se alimenta de krill, peixes, lulas e outras formas de vida
marinha, podendo se alimentar de mais de um quilo de frutos do
mar por dia nos meses de verão.

Filhotes de pinguim-papua aguardam o retorno dos pais para


se alimentar, Península Antártica. (Silvia Dotta, 2004)

Como todas as aves, os pinguins não têm dentes. Os pinguins


pegam suas presas com suas poderosas mandíbulas e engolem in-
teiras. Eles também não têm papo. Se você olhar atentamente para
o bico de um pinguim, notará um anzol na ponta, perfeito para
pegar o jantar. Os pinguins também têm cerdas voltadas para trás
na língua, o que evita que as presas escorregadias escapem.

140 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Alguns cientistas observaram pinguins engolindo pedras intencionalmente
para ajudar na trituração dos alimentos no estômago e provavelmente
para ajudar a ficar mais denso e poder mergulhar mais fundo.

O krill é uma parte particularmente importante da dieta dos


filhotes de pinguins. Um estudo de longo prazo da dieta dos pin-
guins-papua descobriu que o sucesso reprodutivo estava direta-
mente relacionado à quantidade de krill que eles comiam. Os pais
dos pinguins procuram krill e pescam no mar e depois viajam de
volta à terra para regurgitar a comida nas bocas de seus filhotes.
Isso é possível, pois o estômago desses animais possui duas câmaras,
onde o alimento fica armazenado na primeira câmara para poder
ser regurgitado para o filhote.
A dieta dos pinguins-imperadores e pinguins-rei é composta
80% de peixes. O pinguim-imperador come, além disso, crustáceos
e lulas, enquanto o pinguim-rei complementa sua dieta com krill.
O pinguim-imperador pode atingir profundidade de mais de 215
m e pode permanecer embaixo da água por até 18 minutos.
Os pinguins-de-adélia, antártico e papua consomem principal-
mente krill, peixe-prata (silverfish) e lula. O consumo de peixe pode
variar de 15 a 50% dependendo da localização e hábitat onde o pin-
guim está. Enquanto o pinguim-antártico tem bico curto e grosso
adaptado para comer krill grande, o pinguim-de-adélia come krill
pequeno. Já o pinguim-papua tem bico adaptado para comer uma
maior variedade de alimentos. O pinguim-macaroni come krill e
pequenas lulas e polvos e crustáceos.
O krill compõe mais de 90% da dieta durante a época de acasala-
mento e faz parte da dieta de muitas espécies de pinguins, mas seu
número está diminuindo como resultado das mudanças climáticas
e da pesca comercial de krill. A perda de gelo leva à perda de krill.
Os pesquisadores já viram em modelos computacionais que com
um aumento de 1 °C na temperatura da superfície do mar pode
acontecer uma redução de 95% de krill.
Será que somente os pinguins irão sofrer com a diminuição da
quantidade de krill? E os pinguins que não comem krill, será que
também serão afetados?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 141


60  Por que o pinguim faz
cocô vermelho?
Ninguém no mundo acha que falar de cocô é bonito. Mas na
Antártica é preciso falar dele, pois o cocô é muito importante para
o ecossistema.
Além disso, o guano (cocô) dos pinguins é até bonito, porque é
cor de rosa! Quase ninguém mostra os pinguins fazendo cocô, isso
porque eles fazem cocô o tempo todo e muitas vezes lançam um
jato de 40 cm de distância o que suja todos os lugares na pingui-
neira. Além disso, eles andam por cima do cocô, deitam e muitas
vezes os filhotes ficam todos cor de rosa, cheios de cocô.
Para você ter ideia, é tanto cocô que dá pra ver do espaço, e algu-
mas novas colônias de pinguins foram encontradas recentemente
por meio das manchas de guano avistadas por pesquisadores em
fotos de satélite.

Pinguim fazendo
cocô. (Sílvia
Dotta, 2020)

Em fotos e vídeos não é possível ter ideia do fedor que é uma


pinguineira. O cheiro é tão forte que impregna e alguns pesquisa-
dores podem até ter dor de cabeça e se sentir zonzos. Isso porque os
pinguins expelem quantidades abundantes de óxido nitroso pelas
fezes, o famoso gás do riso – sedativo usado por dentistas em pro-
cedimentos, fazendo com que quem estiver próximo seja afetado.
Já o guano é cor de rosa porque os pinguins comem muito krill. O
krill contém carotenoide, do mesmo grupo de pigmento que dá
cor às cenouras. Na verdade, o krill salva não só a Antártica, mas

142 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


o mundo todo, todos os dias. O krill possui muitos sais minerais,
proteínas e ferro.
O krill é o prato predileto de todos na Antártica e assim o pin-
guim come o krill na água do mar e volta para terra. Nos ninhos
ele faz cocô e libera todos esses sais minerais e ferro no ambiente.
Além de pedaços de krill que são comidos por algumas aves. O
guano de pinguim também escorre para dentro da água de novo e
fica disponível para alguns animais que vivem na água como peixes
e invertebrados.
Os invertebrados do fundo do oceano também são alimenta-
dos com cocô, principalmente de krill. O krill normalmente filtra
fitoplâncton da água, mas ele também come microalgas que ficam
presas no gelo durante o inverno. Assim, durante todo o inverno,
enquanto o krill come as microalgas do gelo, os invertebrados se
deliciam com a chuva de coco de krill.
As focas e elefantes marinhos também enchem a terra de cocô
e muito desse cocô também é comido por aves, principalmente
por skuas.
As baleias também comem toneladas de krill por dia e liberam
gigantescos cocôs líquidos na água do mar. Assim, elas também
liberam sais minerais e ferro de volta para a água que serão usados
pelo fitoplâncton. E à medida que as baleias nadam e realizam suas
longas migrações, os oceanos do mundo todo vão sendo fertilizados.
Você consegue imaginar o que vai acontecer com o ecossistema
se o gelo do oceano Austral derreter todo e não tiver mais krill e o
cocô dos pinguins não for mais cor de rosa?

61  Pinguim tem pena?


Vamos imaginar um pinguim: essas simpáticas avezinhas desa-
jeitadas em terra, que se locomovem balançando o corpo de uma
forma bastante curiosa e engraçada. Podem, na imaginação de cada
um, se desenhar maiores ou menores, em preto e branco ou até
mesmo com um colorido muito bacana na cabeça (como é o caso

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 143


dos imponentes pinguins-imperadores). Mas tenho certeza de que
ninguém vai imaginar um pinguim com penas e plumas exuberan-
tes. Afinal, um pinguim nem parece que tem pena!
Os pinguins têm penas sim! Entretanto, elas são diferentes das
penas convencionais a que estamos acostumados. Para começo
de conversa, as penas dos pinguins são estruturas bem pequenas
e numerosas e, por serem assim, curtinhas e recobrindo todo o
corpo do animal (exceto as patas), pode parecer até que seu corpo
é revestido por pelo! Mas, não! Apenas mamíferos apresentam o
corpo recoberto por pelos e pinguins são aves. Essas penas tão
modificadas possuem um papel fundamental na sobrevivência dos
pinguins em ambientes extremos como o gelo. Quando na água,
estas estruturas “selam” o corpo dos pinguins, formando uma bar-
reira isolante que dificulta a perda de calor para o ambiente. Em
terra (ou melhor, na neve e no gelo!) as penas se eriçam e possi-
bilitam a formação de uma camada de ar junto à pele que reduz
a perda de calor. Além disso, os pinguins mudam as penas, como
outras aves, e, durante esse período de muda, esses animais nem
entram na água! Dá para imaginar o porquê, não é? Já que as penas
são estruturas tão importantes para garantir o isolamento térmico
enquanto nadam em águas geladas!
Além de todas estas vantagens das penas dos pinguins, ainda
há mais uma: garantir a impermeabilização do corpo, garantir que
esses animais não se molhem, mesmo ao sair da água quando de-
veriam estar supostamente molhados. E isso acontece porque os
pinguins têm na região dorsal do corpo, próximo à cloaca, uma
glândula produtora de um óleo que, ao ser passado nas penas, serve
para repelir a água, criando uma barreira e mantendo-os secos.
Você já experimentou molhar a sua mão em óleo e mergulhar em
um copo com água? Pois é, o óleo é hidrofóbico (hidro de água, e
fobia de aversão). E os pinguins, ao produzir esse óleo, espalham-
-no pelas penas e ficam, por esta razão, impermeáveis!
A esta altura você deve estar se perguntando: por que pinguins,
como outros animais, atingidos por vazamentos de óleo no mar
precisam ser limpos ou morrem? Por que esses vazamentos ame-
açam animais como os pinguins que espalham óleo no próprio

144 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


corpo? Acontece que quando os pinguins se sujam de óleo de em-
barcação (que, claro, é um óleo diferente daquele que essas aves
produzem), a impermeabilidade das penas é perdida, permitindo
que a água entre em contato com o seu corpo. A partir daí fica fá-
cil entender o perigo a que eles são submetidos: a água gelada faz
baixar a temperatura corpórea e sujeita os pinguins à morte. Por
isso, é importante que pinguins sujos de óleo sejam resgatados e
limpos para serem, então, novamente liberados na natureza.

Pinguim-macaroni (a esquerda) e pinguim-de-penacho-amarelo (a direita).


(Silvia Dotta, 2020)

Entendeu o porquê da importância de se preservar os oceanos,


combatendo a poluição ambiental? Dessa forma, podemos proteger
essas aves tão simpáticas e penosas! Mas, afinal, têm penas mas não
voam! Ou voam?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 145


62  Existem baleias antárticas?
As baleias pertencem a um grupo maravilhosamente diverso dos
mamíferos aquáticos do mundo, chamados cetáceos. Os cetáceos
variam de tamanho desde botos com pouco mais de um metro de
comprimento, até o maior animal que vive ou já viveu na terra, a
magnífica baleia-azul, que pode crescer até 30 metros e pesar mais
de 80 toneladas.
As baleias passaram por mudanças evolutivas tão extraordiná-
rias ao se adaptarem à vida nos oceanos que é difícil imaginar
como os seus ancestrais podem ter sido. Por causa de registros
fósseis, nós hoje sabemos que as baleias evoluíram de mamíferos
terrestres muito menores, mais ou menos do tamanho de um ca-
chorro de grande porte, que começaram a viver na água há mais
de 50 milhões de anos.

As baleias que conhecemos hoje são criaturas fascinantes e se sentem


em casa nos oceanos, apesar de serem mamíferos. Frequentemente,
são animais muito sociais e podem se comunicar a distâncias muito
longas. As baleias não reconhecem as fronteiras de território criadas
por nós humanos. Tenho certeza de que elas não se consideram
de uma ou de outra nacionalidade, mas, mesmo assim, existem
áreas geográficas e habitats essenciais por onde costumam
vagar – seja para descansar, acasalar, socializar ou se alimentar.

Mas será que existem espécies de baleia que nascem na Antártica?


A Antártica abriga várias baleias. Uma delas é a baleia-azul, o
maior animal de todos os tempos a habitar o nosso planeta. Lá
também encontramos as orcas, também chamadas de “baleias-as-
sassinas”, conhecidas assim pelo seu hábito de caçar outros cetáceos,
como golfinhos, e até outras baleias, animais muito maiores que
elas. Mas, apesar de serem conhecidas como baleias, as orcas não
são baleias, elas são golfinhos!
Outra baleia que pode ser encontrada na Antártica é uma es-
pécie bem conhecida das águas brasileiras: a baleia-jubarte, que

146 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


viaja pelos oceanos do mundo todo. Também estão lá as baleias-
-cachalotes, normalmente os machos adultos, que são os maiores
carnívoros com dentes do planeta.
Ah, e você já ouviu falar da baleia-fin? Elas também podem ser
encontradas na Antártica, e ficam apenas atrás da baleia-azul em
tamanho! Essa espécie de baleia é muito rápida! Elas costumam
nadar em velocidades de cerca de 30 km/h, mas quando precisam,
podem chegar a quase 50 km/h! Já a baleia-franca-austral, que
também passa temporadas por lá, tem uma característica muito
especial. Este é o animal com os maiores testículos do planeta!
Eles chegam a pesar uma tonelada! Dá pra imaginar? Também
podemos encontrar a baleia-sei, mas esta espécie não gosta de ficar
muito próxima do gelo. Por fim, as baleias-minke, que podem ser
divididas em dois tipos, a baleia-minke-anã e a baleia-minke-an-
tártica, porque elas são as menorzinhas das grandes baleias: elas
não passam dos 10 m de comprimento, mais ou menos o tamanho
de um caminhão-baú pequeno.

Orcas caçando foca-caranguejeira na Antártica. (Callan Carpenter, 2018)

Como deu para ver, são muitas as espécies de baleias que podem
ser encontradas na Antártica, mas resta uma dúvida: será que exis-
tem baleias antárticas, ou seja, que nasceram perto do continente
mais gelado do mundo?
A resposta é não! As baleias não se reproduzem no oceano
Austral, porque elas preferem os climas mais temperados para
ter seus filhotes. No entanto, a região Antártica é um lugar muito

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 147


badalado entre elas devido à riqueza de alimentos, incluindo uma
grande quantidade de krill! Por causa disso, algumas espécies de
baleia migram para oceano Austral durante os meses de verão para
aproveitar o mar rico em alimento.
É importante dizer que essas magníficas criaturas podem ser
muito afetadas se não cuidarmos do meio ambiente e levarmos
as mudanças climáticas a sério. Um aumento na temperatura da
água na Antártica provavelmente afetaria a quantidade de krill
disponível, pois esses bichinhos parecidos com um camarão estão
adaptados a viver em águas bem geladas. Isso pode ter um efeito
indireto nas populações de baleias, pois, diminuindo seu alimento,
elas podem não ingerir o necessário para ter energia na migra-
ção, além de terem de competir por comida. Logo, as mudanças
climáticas podem alterar seriamente o ambiente antártico. Que
tal pensarmos em maneiras de ajudar as baleias e agir contra as
mudanças climáticas? O que será que cada um de nós pode fazer
para cuidar do planeta?

63  Por que o oceano Austral possui uma


das mais altas diversidades da Terra?
Muito se tem estudado sobre a Antártica nos últimos anos, po-
rém, a biodiversidade permanece inexplorada em grande parte.
Pesquisadores se esforçam para entender a evolução e diversidade
da vida no oceano Austral para determinar como esse ecossistema
único apareceu. E esse entendimento está cada vez maior quanto à
biodiversidade marinha e terrestre.
A biodiversidade terrestre da região é predominantemente res-
trita a áreas permanentemente livres de gelo, que correspondem
a menos de 1%, além disso, há pouquíssimas espécies. A vida se
concentra no oceano e as praias e rochedos do continente são
usados basicamente como locais de nidificação e reprodução no
verão antártico. Mesmo assim, o cocô de pinguim e foca, ricos em

148 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


nitrogênio, nutre o solo que ajuda a criar pontos críticos de biodi-
versidade em toda região. O resultado desse enriquecimento é uma
comunidade rica de musgos e líquens, e neles podemos encontrar
um número incrível de colêmbolos e ácaros.
O maior animal terrestre antártico é um mosquito de no má-
ximo 6 mm. Nas águas do litoral podemos encontrar as baleias-
-azuis, os maiores animais do planeta. Focas e pinguins podem
passar parte de seu tempo fora da água, mas eles dependem in-
teiramente do mar para se alimentar, portanto, são considerados
animais marinhos.
Já no oceano Austral, a diversidade marinha está em completo
contraste com a da terra próxima e pode ser considerada tão rica
quanto a biodiversidade de recifes de corais, pois esse oceano é
muito produtivo. A abundância de nutrientes estimula o cresci-
mento do fitoplâncton, que atinge níveis elevados e sustenta toda
a cadeia alimentar marinha. Um único litro de água do mar pode
conter mais de um milhão de indivíduos de fitoplâncton.
Mais de oito mil espécies de invertebrados já foram descritas
no oceano Austral e se estima chegar a mais de vinte mil. Muitos
fatores estão por trás dessa grande biodiversidade, incluindo a alta
diferença de ambientes, o isolamento e a idade.
Essa alta diferença de ambiente acontece devido à variação na
quantidade de alimento, na disponibilidade de luz durante o ano,
pela quantidade de gelo encontrada na superfície do mar, na dife-
rença de salinidade perto e longe das geleiras, entre outros.

O isolamento da Antártica, por não ter conexão terrestre com outro


continente, permitiu que muitas novas espécies evoluíssem na
ausência de competição com outros animais. Durante a formação do
continente gelado ocorreu o que chamam de bomba de biodiversidade,
na qual as espécies se especializaram e ao encontrar com outras novas
espécies se misturaram e conseguiram conviver. Após a evolução
elas se adaptaram ao ambiente marinho frio, porém, estável.
Algumas adaptações às águas frias e à extrema sazonalidade de
alimento são:

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 149


→ Alguns animais adaptaram seus padrões de migração à sazona-
lidade de alimento, como as baleias e algumas aves marinhas
que migram para latitudes mais baixas durante o inverno aus-
tral para se reproduzir e retornam ao oceano Austral durante o
verão para se alimentar.
→ Invertebrados marinhos, como os moluscos, crescem e se re-
produzem durante um curto período de tempo no começo do
verão. As taxas de crescimento são geralmente mais lentas e a
longevidade maior do que em outros oceanos.
→ Animais de sangue quente desenvolveram espessas camadas de
gordura para isolamento. As formas do corpo também evoluí-
ram para minimizar a proporção entre superfície e área, redu-
zindo assim a perda de calor. Os pinguins também têm uma
plumagem densa e impermeável.
→ Como a água fria contém mais oxigênio dissolvido do que a
água quente, o peixe-gelo não precisa de hemoglobina no san-
gue. O alto teor de oxigênio dissolvido na água também permite
que alguns organismos, como lulas e polvos, cresçam mais do
que o normal em outros oceanos.
→ Tanto o bacalhau-da-antártida quanto o peixe-gelo possuem
proteínas anticongelantes em seu sangue e tecidos que impedem
o congelamento de seus fluidos corporais.
Com as mudanças climáticas, você acha que esses animais irão
se adaptar? A biodiversidade sofrerá alguma ameaça?

64  Há vida no fundo do mar congelado?


O oceano Austral pode ser gelado, mas tem muita vida sim!
Além dos pinguins, das focas e baleias, no fundo do mar da
Antártica existem bactérias, fungos e o bentos. Bentos é um grupo
de organismos que quase não nadam ou não se deslocam, ou ainda
que ficam fixos em alguma coisa do fundo do mar. O fundo do mar
vai desde a areia e rochas da praia até o fundão mesmo, a vários
metros de profundidade.

150 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


É por isso, que a partir de agora, vamos realizar uma viagem
para o fundo do mar da Antártica! Lá existe uma infinidade de
organismos, alguns até bem coloridos como as esponjas, as estre-
las-do-mar, os pepinos-do-mar, as algas e as gorgônias.
As gorgônias, por exemplo, pertencem ao mesmo grupo dos
corais e das anêmonas. Elas são colônias de vários pólipos muito
pequenos que se unem através de um esqueleto de carbonato
de cálcio, que serve de sustentação para a colônia. As gorgônias
antárticas são consideradas um dos cnidários mais primitivos
do planeta, já que sobreviveram até ao meteorito que matou os
dinossauros.
Outros animais que vivem no fundo do mar da Antártica são:
moluscos; crustáceos, como os anfípodas e os isópodas; pantópo-
das; priapulidas; ascídias etc.
Eles se adaptaram muito bem às águas geladas do oceano Austral,
que tem uma temperatura entre -1,5 °C e +1,5 °C e que ficam com
a superfície congelada durante uns 9 meses por ano.
E sabe o que eles comem? Eles comem o que cai da superfície
da água. Muita microalga, algum animal do zooplâncton, vivo ou
morto e até cocô de krill e de outros animais (baleias, pinguins etc.).
Os animais que não se mexem, como as esponjas e as gorgô-
nias, têm que esperar essa comida cair. Já as estrelas-do-mar, ou
os pepinos-do-mar que conseguem se locomover um pouco, vão
comendo e buscando também o que caiu e ficou acumulado sobre
o sedimento.
E qual a importância desses animais todos? A gente fala que
eles reciclam a matéria orgânica que está na água do mar. Como
assim? A microalga absorve luz, gás carbônico e nutrientes e faz
fotossíntese, a esponja come a microalga e quando a esponja morre
tudo isso vira nutriente de novo e fica na água disponível para as
microalgas. Vira um ciclo da vida.
O bentos da antártica demora muito mais tempo para morrer,
sendo que algumas esponjas podem chegar a ter 200 anos. É por
isso, que quando ela come a microalga, ela está guardando gás
carbônico. Como o gás carbônico é um dos gases do efeito estufa,
então o bentos ajuda a diminuir a quantidade de gás carbônico no

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 151


ar. Além disso, como muitos animais bentônicos não se movimen-
tam, eles sofrem ou morrem com qualquer mudança que aconteça
na água, já que eles não conseguem fugir.

O fundo do mar da Antártica está esquentando cinco vezes mais rápido


do que o fundo do mar de outros lugares. Além disso, as geleiras estão
derretendo e estão liberando água doce e mudando a temperatura da
água. É por isso que muitos organismos do fundo do mar estão morrendo
ou estão modificando a sua dieta. Com o degelo, muito sedimento fica
em suspensão na água e isso pode soterrar muitos animais do bentos que
não se movimentam e não conseguem filtrar a água para se alimentar.

Outro perigo é o aumento da quantidade de blocos de gelo que


são soltos e encalham perto das praias. Esses encalhes arrastam tudo
o que tem no fundo, inclusive os animais, matando muitos deles.
Infelizmente, a Antártica também já começa a sofrer os efeitos
da acidificação dos oceanos, pois o gás carbônico é mais solúvel
em água fria e as águas da Antártica estão ficando acidificadas
duas vezes mais rápido do que as águas das regiões tropicais e
temperadas. Essa acidificação diminui a capacidade dos animais
como os crustáceos e os moluscos de formar carapaças ou conchas,
dificultando sua sobrevivência.
Você conhece alguma política pública nacional ou internacional
envolvida na frenagem desses processos? Acredita ser possível a
sobrevivência dos oceanos sem o bentos?

65  Há vida no gelo e na neve?


Quando você pensa sobre a existência de vida nas regiões polares,
provavelmente, as primeiras imagens que vêm à sua mente são os
pinguins e ursos-polares, animais marinhos bastante adaptados
ao frio extremo. Mas a pergunta é: há vida naqueles milhões de
quilômetros quadrados de gelo e neve? À primeira vista e a olho
nu parece que não. Mas você já viu alguma imagem de geleiras

152 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


ou plataformas de gelo cor de rosa, ou vermelho? Saiba que essa
coloração da neve é indício de vida. Vida microscópica, é claro!
A coloração da neve e do gelo é resultado da presença de algas.
As geleiras podem ser colonizadas por uma infinidade de algas,
bactérias, fungos e até mesmo invertebrados que sobrevivem e se
proliferam em superfícies de neve e gelo. Essas algas são organis-
mos microscópicos que crescem e se proliferam muito durante o
verão devido à luz solar, tingindo as superfícies de gelo e neve. A
produção de pigmentos coloridos pelas algas pode acontecer por
diversos motivos, como por exemplo para a proteção contra o frio,
ou contra a radiação ultravioleta.
Essas algas podem ter cor avermelhada, verde ou marrom. Em
alguns locais, além da cor das algas, a poeira ou fuligem resultantes
de atividades vulcânicas e de queimadas de florestas (de outros
continentes, claro) também contribuem para o escurecimento da
neve. Consegue imaginar que na Antártica cientistas brasileiros já
estão procurando cinzas das queimadas da Amazônia? Sim, esses
resíduos viajam longe. No caso do Ártico, também ocorrem incên-
dios, cujas cinzas podem cobrir a neve.

Neve rosa.
(Silvia Dotta,
2018)

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 153


Um dos impactos da coloração dada pelas algas (ou pela fuligem
– cinzas de queimadas) é a redução maciça do albedo – a luz que é
refletida de um corpo ou uma superfície. Por que será? Reduzir o
albedo, significa aumentar a absorção de calor, e isso leva à inten-
sificação do derretimento do gelo. Preocupante, não é? Mas vamos
voltar à pergunta inicial: há vida no gelo?
Quando nos afastamos da costa, no platô Antártico, mesmo
poucos micro-organismos conseguem sobreviver, devido a con-
dições extremas, temperaturas muito baixas (abaixo de -40 °C
mesmo no auge do verão), falta d’água no estado líquido e de
nutrientes. É o verdadeiro deserto polar. Mas em alguns locais,
como por exemplo nos Vales Secos (Dry Valleys) são encontradas
cianobactérias.
No mar congelado (no gelo marinho) também são encontrados
muitos organismos que lá se refugiam para enfrentar o inverno.
Sim, isso mesmo. Principalmente no inverno, em camadas de sal-
moura logo baixo do gelo são o melhor abrigo para esses organis-
mos, onde inclusive podem garantir alguma alimentação.

O gelo marinho no início é feito de uma combinação de gelo, ar e sal.


Mas este sal é expulso lentamente do gelo via canais de 1 milímetro de
diâmetro e que acabam por formar uma salmoura ricas em nutrientes logo
abaixo da superfície congelada. Essas partes com salmoura se estendem
por milhares de quilômetros quadrados de gelo marinho e hospedam
ecossistemas microbianos inteiros. Esses ecossistemas são importante
fonte de alimento para outros organismos marinhos, especialmente
após a quebra do gelo, que desprende o material que estava acumulado
nas salmouras durante o inverno, lançando-o no oceano aberto.
Os principais organismos que vivem principalmente na sal-
moura e nos canais com salmoura são algas e bactérias microscó-
picas. As algas são produtores primários e fornecem a fonte inicial
de alimentos para organismos heterotróficos (aqueles que crescem
consumindo nutrientes orgânicos), como bactérias, protistas, e,
eventualmente, crustáceos e outros organismos maiores. Ou seja,
elas estão na base da cadeia alimentar, por isso, o aprisionamento

154 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


e crescimento dessas algas na salmoura do gelo, e sua liberação
durante os meses de derretimento, ou seja, no verão, são funda-
mentais para a existência de todos os organismos que fazem parte
dos ecossistemas polares.
Agora, pense como um cientista: a estrutura do gelo marinho
é crítica para a estabilidade dos ecossistemas marinhos polares.
Se o degelo for acelerado, provavelmente haverá a redução desses
condomínios de gelo. Isso vai impactar na proliferação das algas?
Se sim, o que pode acontecer com a cadeia alimentar?

66  Há insetos nas regiões polares?


Os insetos polares ocupam importante papel para o estudo sobre o
clima, pois apesar de sua grande resistência às condições extremas,
eles serão os primeiros a serem afetados pelas mudanças climáticas,
por isso podem ser bons indicadores sobre os impactos e desequi-
líbrios ambientais.
Na Antártica são encontradas duas espécies de insetos, enquanto
no Ártico há ao menos 3 mil espécies. A mosca Eretmoptera mur-
phyi, nativa da ilha Geórgia do Sul, estabeleceu-se em uma das ilhas
da Orcada do Sul, na Antártica. É provável que tenha sido transpor-
tada acidentalmente, como resultado da introdução experimental
de plantas. A mosca Belgica antarctica, medindo entre 2 e 6 mm de
comprimento, é considerada o maior animal terrestre da Antártica.
Como a maioria dos insetos, seus estágios de desenvolvimento
são compostos por ovo, larva, pupa e adulto. A sua vida em condi-
ções de frio extremo tem sido possível porque as larvas resistem ao
congelamento, suportam elevada desidratação, toleram alterações
físico-químicas importantes (acidez, salinidade), podem sobrevi-
ver à falta de oxigênio. São de cor negra o que lhes permite absorver
radiação ao máximo. Seu desenvolvimento de dois anos, como
larva, possibilita o acúmulo de energia por mais tempo. Os adultos
também têm a coloração preta, não têm asas funcionais e podem
suportar ventos de até 140 km/h. Essas moscas são encontradas

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 155


nos meses de verão, têm vida curta e o acasalamento é rápido e
a postura de ovos subsequente ocorre na estação climática mais
amena.

Belgica antarctica, mosca antártica.


(Taste of Crayons, 2009)

Os insetos do Ártico são representados por moscas, abelhas,


mariposas, besouros, dentre outros. Porque essa região está enfren-
tando um aquecimento mais rápido e mais intenso, as temperaturas
mais altas do verão aumentam a taxa de derretimento de campos de
neve que, eventualmente, podem desaparecer. No verão, os campos
de neve servem para o bem-estar das renas que os visitam para se
livrar dos insetos e para se refrescar.
Um fenômeno ameaçador são os surtos de insetos. Um exem-
plo são as alterações nos fluxos de emissão de CO2, causados du-
rante esses surtos. Estudos mostram uma grande variação sazonal
dos fluxos de CO2 em sistemas de fotossíntese e de respiração.
Comunidades que efetuam fotossíntese são afetadas pelo CO2, de
acordo com a estação do ano e as condições ambientais. Em uma
região do Ártico, onde houve um surto de mariposa (Epirrita au-
tumnata) durante o outono de 2012, a fotossíntese foi claramente
afetada e registraram-se danos nas folhas das plantas. Além disso,
excrementos dos insetos foram introduzidos no solo promovendo
a produção de CO2 via respiração do solo.

156 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Abelha do Ártico. (Arnstein Staverløkk/Norsk institutt for naturforskning, 2017)

Outro exemplo de inseto são as abelhas árticas, principais po-


linizadoras de regiões frias cujas populações têm declinado, pois
estão perdendo seu habitat. Com isso há a redução da polinização,
havendo impacto no crescimento da vegetação, no caso do Ártico,
principalmente na redução das áreas de florestas.
Além das mudanças climáticas que seguem o curso da natureza,
é importante entender o impacto das ações humanas. Por exem-
plo, na Antártica já se observou que a presença humana está quase
sempre acompanhada de insetos. Esses normalmente desaparecem
quando os pesquisadores deixam as estações de pesquisa, pois as
condições deixam de ser adequadas para sua sobrevivência. Porém,
já há registro de alguns insetos invasores que se estabeleceram em
algumas estações de pesquisa. O que poderia acontecer se o clima se
tornasse mais favorável à vida dessas espécies ou se elas começassem
a desenvolver um processo de adaptação ao ambiente antártico?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 157


67  Como as focas se
locomovem em terra?
As focas são mamíferos aquáticos bastante interessantes, e não há
quem não as conheça – ou de filmes ou de documentários – e não
simpatize com elas! Com os seus corpos alongados e seus membros
anteriores (na parte da frente do corpo) modificados em nadadei-
ras, estes animais são extremamente ágeis na água, podendo nadar
em velocidade e se deslocar por grandes distâncias.
Quem nunca se surpreendeu com uma chamada em noticiá­rio
de algum indivíduo perdido na costa brasileira, e que teria vindo
da Antártica? Esses animais são capazes de percorrer muitos quilô-
metros por mar e até mesmo parar em lugares inusitados, embora
muitas vezes um afastamento muito extremo aponte para uma de-
sorientação desses animais. Em terra firme, no entanto, essa des-
treza toda em termos de locomoção não é apresentada, o que os
torna presas bem mais fáceis de seus predadores.

Foca-caranguejeira, Península Antártica. (Silvia Dotta, 2018)

Como assim? Para começo de conversa, você já deve estar ima-


ginando aquelas focas malabaristas que povoavam a nossa ima-
ginação infantil em se tratando de peripécias circenses narradas

158 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


em livros e vistas em filmes, ou até mesmo ao vivo, quando os
animais ainda eram permitidos nas apresentações dos circos! A
foca equilibrista com uma bola no focinho e equilibrando-se em
bolas maiores é uma imagem bastante comum quando se pensa
nessas criaturas marinhas! Quem não se lembra da famosa letra
da música A Foca, de Vinicius de Moraes? (“Quer ver a foca/ Ficar
feliz?/ É pôr a bola / No seu nariz”)?
No entanto, as focas não são tão destras assim em terra, pelo
contrário! E, para começar essa história, já vamos logo esclarecer
que as focas dos circos não são focas de fato, mas leões-marinhos!
Esses animais pertencem a uma família diferente daquela das focas,
e são conhecidas realmente como focas falsas ou focas com orelhas
(vejam só! as focas verdadeiras não possuem orelhas externas ou
pavilhão auditivo, o que por si só é mais uma característica somada
à hidrodinâmica desses animais). E agora que você já sabe dife-
renciar uma foca de um leão-marinho – pelo menos nesse quesito
– vamos à habilidade das focas em terra firme.

Fora da água as focas locomovem-se rastejando, não sendo capazes de girar


e tampouco usar seus membros pélvicos, voltados para trás, como apoio
(sentar, por exemplo, sobre as nadadeiras traseiras). Isso faz com que elas
se locomovam arrastando a barriga, usando as nadadeiras dianteiras para
impulsionar o corpo. Esse andar desajeitado acaba fazendo com que elas
sejam mais vulneráveis a predadores em terra firme, pois sua agilidade de
deslocamento é bastante comprometida. No entanto, nem sempre foi assim!

Descobertas apontam para uma condição bem diferente dos


ancestrais das focas, como, por exemplo, um achado fóssil de 23
milhões de anos no Canadá, batizado de Puijila darwini em 2009
(Puijila de pequeno mamífero marinho, na língua dos esquimós,
e darwini em homenagem a Charles Darwin). Esse fóssil apresen-
tava uma cauda longa e membros com proporções muito similares
àquelas de carnívoros terrestres, o que apontaria para um estilo de
vida semiaquático. Isso indica a transição pelas quais estes animais
teriam passado, ajudando a entender como este grupo teria evolu-
ído ao longo do tempo.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 159


Apesar de a região do Ártico ser considerada a área de origem
do grupo das focas, hoje é a Antártica que concentra a maior quan-
tidade de focas do planeta, mesmo com um pequeno número de
espécies – 6 das 30 espécies conhecidas. A foca-caranguejeira (so-
mente encontrada na Antártica) é a segunda maior população de
mamíferos do planeta, somente perdendo para o ser humano. Sendo
animais com uma anatomia tão peculiar, é muito interessante en-
tender como este grupo teria chegado à forma que eles apresentam
hoje, ainda mais com esse adorável jeitinho desajeitado em terra!
Você sabe quem são os predadores das focas na Antártica?
Reflita sobre as mudanças climáticas: elas causarão impacto posi-
tivo ou negativo no habitat desses animais?

68  Por que há animais


gigantes na Antártica?
Alguns invertebrados do fundo marinho na Antártica apresen-
tam o que chamamos de gigantismo. Eles podem apresentar um
tamanho de no mínimo duas vezes maior do que invertebrados de
zonas tropicais, por exemplo.
Os pesquisadores antárticos ainda não têm respostas definitivas
de quais seriam os fatores responsáveis por esse fenômeno, mesmo
após vários anos de estudos. Porém, algumas hipóteses são dadas
para que o gigantismo ocorra, sendo que as principais são:
1. Temperatura da Água: Depois da separação dos continentes e da
Antártica chegar na localização que está atualmente, a tempera-
tura da água do mar ficou baixa, porém, estável entre -1,9 °C e
+2,0 °C durante todo o ano. Muitos organismos se extinguiram
nesse processo e os que sobreviveram se adaptaram às condições
ambientais de frio, pouca luz durante quase seis meses do ano
e pulsos de comida durante o verão.
2. Elevada quantidade de nutrientes e alimento no verão: no
inverno, acontece o congelamento da superfície do oceano e,

160 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


assim, ocorre a diminuição a quase zero do alimento dispo-
nível para os animais. Porém, quando chega o verão, o gelo
descongela e ocorre um bloom (florescimento) de fitoplâncton,
que é a base da teia alimentar. É tanto alimento que isso afunda
no oceano ficando disponível também para os invertebrados
do fundo marinho. Os animais se alimentam e o que sobra se
acumula no leito marinho, formando o “banco de comida” que
fica disponível para todos os outros meses em que não há o
bloom. É por isso que os animais se alimentam muito e acumu-
lam energia durante o verão e vão gastando energia aos poucos,
enquanto comem o que está disponível do “banco de comida”.
Com esse acúmulo de energia e a diminuição da temperatura do
ambiente, o metabolismo dos animais é bem lento, retardando
os processos fisiológicos, fazendo com que os animais se repro-
duzam lentamente e cresçam muito. Pois, indivíduos maiores
podem armazenar mais energia e suportar maiores períodos
sem alimento, sobrevivendo por mais tempo. O oceano Austral
também é conhecido por ser rico em nutrientes como a sílica,
por exemplo. Alguns organismos, como as diatomáceas e as
esponjas, utilizam sílica para construir estruturas de suporte, e,
por isso, elas conseguem crescer mais.
3. Alta quantidade de oxigênio disponível: ao contrário da comida,
o oxigênio é abundante, pois em águas frias é mais fácil dissolver
os gases. Assim, os animais captam o oxigênio facilmente, sem
esforço fisiológico, economizando energia que será usada para
outras atividades, como crescer, por exemplo.
4. Ciclo de vida longo: Normalmente, os animais antárticos se
reproduzem uma vez ao ano, no período do verão, quando há
mais alimento. E como eles não gastam tanta energia com a re-
produção durante todo o ano, eles conseguem viver por muitos e
muitos anos. Além disso, os animais antárticos atingem a matu-
ridade sexual bem mais tarde do que animais de outras regiões.
Alguns exemplos de animais que apresentam gigantismo e ciclo
de vida longo são: as esponjas, os moluscos, os crustáceos, os
equinodermos, os nemertíneos, os pantopodas etc.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 161


Assim sendo, os motivos que levariam a uma vida longa em ani-
mais de águas frias seriam: o metabolismo baixo, a abundância de
oxigênio, o crescimento lento, a reprodução tardia e as adaptações
evolutivas a um ambiente com produção altamente sazonal. Por
exemplo, a esponja Cinachyra antarctica cresce muito lentamente,
gasta pouca energia devido ao metabolismo reduzido e um indiví-
duo teve a idade estimada em 1550 anos e tinha dois metros de altura.
O krill da Antártica, Euphausia superba, pode viver até 11 anos
e atingir 7 a 8 centímetros de comprimento, mesmo sendo um ani-
mal crustáceo de vida livre e bastante ativo. Isso é um tempo muito
mais longo do que vivem crustáceos semelhantes ao Euphausia
superba em águas tropicais, cujo tempo de vida é de alguns meses
até cerca de 5 anos. Outros exemplos são também conhecidos em
águas antárticas, como o do bivalve Yoldia eightsi que vive cerca de
50 anos, ou cerca de 10 vezes mais do que organismos semelhantes
tropicais; a estrela-do-mar Odontaster validus, que chega a mais de
100 anos e o ouriço Sterechinus neumayeri que vive mais de 50 anos.

Água-viva
encontrada
na Península
Antártica. (Sílvia
Dotta, 2004)

Esses animais estão totalmente adaptados a um ambiente ex-


tremo, mas de temperatura pouco variável. O aumento da tem-
peratura no cenário de aquecimento global diminui a quantidade
de oxigênio na água, assim, os animais irão aumentar o gasto de

162 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


energia para conseguir mais oxigênio. As estruturas dos animais
antárticos não conseguem se adaptar tão facilmente a situações de
temperaturas variáveis. Mudanças na faixa de temperatura tolerável
por eles podem levar a um estado de hipóxia, em que o animal fica
sem oxigênio nos tecidos.
A velocidade das mudanças atuais parece ser muito maior do
que as mudanças que aconteceram no passado, não dando tempo
de os animais se adaptarem e evoluírem. Principalmente os animais
antárticos que se reproduzem somente uma vez ao ano e ainda
demoram para começar a se reproduzir.
Então, você consegue imaginar o que pode estar acontecendo
agora com esses animais gigantes nesse cenário de mudanças
climáticas?

69  Por que os animais polares


não morrem de frio?
Quando o tempo começa a esfriar e os termômetros a marcar tem-
peraturas mais baixas, qual é a nossa primeira ação? Vestir roupas
bem quentinhas, claro! Afinal, quem quer “entrar numa fria”? Pois
é, assim também é com os animais, que começam a buscar refú-
gios, desenvolver pelagens mais densas, migrar para lugares mais
quentes. E os animais que habitam as regiões polares? Quais as
estratégias que eles adotam para sobreviver a um frio tão intenso?
Vamos pensar em um animal bem típico de ambientes gelados:
o pinguim! Bem, ali não vemos um casaco de peles para proteger
estes simpáticos bichinhos do frio rigoroso! Eles parecem bem à
vontade no meio daquele gelo todo! Então, como isso “funciona”?
A questão é que pinguins apresentam o corpo recoberto por
um único tipo de pena bem curta e pequena (olhando assim, de
relance, nem parece pena!), e bastante numerosa! Essas penas, di-
ferentes daquelas encontradas na maioria das aves, funcionam para
protegê-los do frio dentro e fora d’água! Quando mergulham, as

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 163


penas impedem o contato de sua pele com a água gelada, e são tão
importantes neste processo que quando passam pela muda (troca
de penas), os pinguins não entram no mar! Por serem impermeá-
veis, estas estruturas também os ajudam durante a natação. Além
disso, esses animais apresentam uma espessa camada de gordura
que serve como isolante térmico, retendo o calor do corpo!

Pinguins-papua durante o processo de muda. (Silvia Dotta, 2020)

Sabia que essa camada de gordura pode chegar a ter 7,5 cm


em espessura nas focas? Sim! As focas também são animais que
se valem desta ajudazinha para se manter nos ambientes polares!
Só assim elas podem ficar lá, refesteladas e plenas, no gelo polar!
Mas e os ursos? Claro, não podemos esquecer dos famosos ur-
sos-polares! Já reparou como eles são bem diferentes dos ursos
“convencionais”? A começar por aquela pelagem branquinha… São
ursos com características muito peculiares, a começar pela quan-
tidade de gordura no corpo, que protegem esses animais do frio
extremo. O pelo dos ursos-polares também ajuda bastante, já que
essas estruturas criam uma camada de ar que “isola” o seu corpo do
ambiente gelado, auxiliando, portanto, a manter a temperatura cor-
pórea destes grandes e imponentes mamíferos. O mais interessante é
que a pele do ursos-polares é preta, absorvendo mais radiação solar.
Inclusive esses, bem como outros animais polares, por serem
tão adaptados a ambientes frios, acabam se tornando bastante vul-
neráveis às mudanças climáticas que levam a um aquecimento da
temperatura global.

164 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Os ursos-polares estão classificados como animais em risco de
extinção caso o degelo se intensifique, pois o derretimento das
camadas de gelo do oceano Ártico (que é onde esses animais são
encontrados) reduz a quantidade de alimento na região. E um
animal do porte de um urso, como é fácil imaginar, precisa con-
sumir grandes quantidades de alimento para se manter vivo! O
aquecimento global, assim, acaba condenando, além do habitat
desses animais, os próprios ursos a morrerem de fome. Daí a im-
portância de cuidarmos das emissões de gases que intensificam o
efeito estufa e provocam o aumento da temperatura do planeta!
Afinal, dá para pensar um mundo onde não haja ursos-polares, e
como a extinção de grandes predadores, de topo da cadeia alimen-
tar, poderia nos afetar?

70  Por que baleias e focas


foram muito caçadas?
O cenário branco e desértico da Antártica, assim como a surpreen-
dente vida que a constitui, leva as pessoas a imaginar o continente
gelado como um local inóspito e, portanto, ausente de qualquer
perigo. Contudo, apesar da pequenez humana diante da imponên-
cia arquitetônica que o paraíso antártico dispõe, ainda é possível
encontrar vestígios de ações marginais outrora praticadas, com
intensidade, pelo homem.

Na primeira metade do século XVIII já havia rumores sobre a


existência das terras austrais e os povos indígenas habitantes do sul
da América do Sul contavam lendas a respeito do lugar. Mas foi a
partir da expedição do navegador britânico James Cook, ocorrida em
1772–1775, que a localização do continente se tornou conhecida.
No início do século XIX, o explorador britânico William Smith
relatou acerca da vasta quantidade de baleias e focas que viviam

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 165


nas ilhas Shetland do Sul, ao norte da Península Antártica. A re-
percussão dessa afirmativa atraiu a vinda de caçadores de animais
marinhos, os quais, mesmo diante das adversas condições meteo­
rológicas e dos frequentes perigos, não se curvaram à façanha de
estampar na alva paisagem traços sangrentos de uma matança
desenfreada. Desde então, o descobrimento da Antártica foi assi-
nalado por exploradores e aventureiros que avistaram na referida
“terra de ninguém”, uma inesgotável fonte de riqueza.
As expedições predatórias tinham finalidades puramente eco-
nômicas, todavia, às vistas sociais eram, às vezes, atenuadas como
expedições científicas. A força destrutiva das práticas humanas
parecia incessante e o maior alvo dos massacres eram às focas,
já que o óleo e a pele possuíam alta demanda fazendo jus aos
aproximados três milhões de peles dissipados em pouco menos
de uma década.

Gráfico ilustrativo mostrando a baleia (ao centro) e seus


diversos produtos. (Thomas Varty, 1850)

166 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Em 1820, a partir da constatação aproximada de 320 mil peles
de focas e 940 toneladas de óleo de elefante-marinho em um perío-
­do de duas estações, James Weddell foi um dos primeiros a sugerir
a preservação daqueles animais, estabelecendo para tanto o limite
de 100 mil focas por temporada. Com a redução das peles de foca
aumentou o número de encomendas das peles de lobo-marinho,
levando à quase extinção dessa espécie, no século XIX.
Para a sociedade dita civilizada, a Antártica não passava de um
lugar cujos fins eram meramente econômicos e os recursos con-
quistados serviam, sobretudo, para o benefício humano. Com a
dizimação de várias populações de focas, lobos, leões e elefantes-
-marinhos, chegava a vez de outra fonte de lucro, as baleias, e esta
caça se inicia no final do século XIX.
Os óleos de baleia e de lobo-marinho abasteciam lampiões, lam-
parinas e constituíam a base para a iluminação de ruas e a fabri-
cação de perfumes e cosméticos. A carne das baleias servia como
uma fonte de alimento para alguns países asiáticos e europeus.

Em decorrência do apelo comercial de tais produtos, cerca de 2,32


milhões de baleias foram dizimadas entre 1904 e 1993. Dessas,
estima-se que 97% da população original de baleias-jubarte foram
abatidas e apenas 1% da população de baleia-azul ainda existia.

Em meados do século XX, os vestígios das caças implacáveis


tornaram-se evidentes com base na diminuição significativa do
número de espécies assinaladas como alvo, ao longo do tempo.
Em decorrência disso, mecanismos de proteção passaram a ser
criados e se constituíram vitais para a reparação paulatina dos
danos ao meio ambiente, em longo prazo. Você já ouviu falar
de algum desses: Comissão Internacional da Baleia; Tratado da
Antártica; Medidas de Conservação da Fauna e da Flora Antárticas;
Convenção para a Conservação das Focas Antárticas; Convenção
para a Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártica;
Protocolo de Madri? Esses mecanismos são eficientes? A caça a
baleias de fato foi interrompida?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 167


71  Quais são os tipos de gelo marinho?
O gelo oferece à paisagem antártica um toque singular e exibe uma
espécie de exposição de arte assinada pela natureza. Os diversos
contornos podem ser percebidos nos mares, geleiras, lagos e rios,
todavia perpassam a beleza da paisagem e revelam características
importantes no que diz respeito aos interesses ambientais.
As variações nas formas de gelo são caracterizadas pela disposi-
ção de suas estruturas. Há o gelo de geleira (continental, terrestre),
que cobre a Antártica há centenas de milhares de anos e por meio
do movimento das geleiras acaba por se desprender em icebergs
na costa. O gelo marinho se forma quando a temperatura da água
se aproxima de -2 °C, e pode apresentar diferentes formas, como:
→ Panqueca de gelo (Pancake ice): pedaços circulares de gelo
(que lembram panquecas) com medidas de 0,3 a 3 metros de
diâmetro podendo chegar a até 10 cm de espessura. Todavia
a influência do vento e a ação das ondas promovem colisões
dessas panquecas de gelo que se unem, aumentando rapida-
mente para alguns metros de diâmetro com espessura de até
1 metro. Ocasionalmente, os pancake ice congelam formando
blocos maiores e uma cobertura de gelo consolidada. O “ciclo
de panquecas” é um processo comum de desenvolvimento do
gelo marinho na Antártica.
→ Banquisa (Pack ice): qualquer área de gelo marinho, com ex-
ceção do gelo fixo, não importando a forma ou a disposição.
Etimologia: bank-is, banco de gelo, nas línguas escandinavas;
banquise, do francês.
→ Gelo fixo (Fast ice): gelo marinho preso à costa, pode estar ligado
à praia, falésia de gelo, ao paredão de gelo, sobre um banco de
cascalho, ou entre icebergs encalhados. O gelo fixo pode esten-
der-se por apenas alguns metros ou por centenas de quilômetros
a partir da linha de praia. O gelo fixo pode ser plurianual. Não
deve ser confundido com plataformas de gelo.
→ Gelo ancorado (Anchor ice): Gelo marinho submerso e que está
fixo ao fundo. Entretanto, como isso é possível se o gelo é mais

168 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


leve do que a água? Trata-se de um fenômeno decorrente da
influência da baixa temperatura do ar em ação conjunta com o
rápido movimento das marés e das ondas. Esse processo acarreta
a formação de cristais de gelo flutuantes que imergem em uma
coluna de água super-resfriada até o fundo do mar e encontram
um ponto de ancoragem em habitações de organismos bentôni-
cos (estrelas-do-mar, ouriços) nas quais o gelo cresce velozmente.

Anchor Ice
sob o gelo
no Estreito
de McMurdo.
(Paul A.
Cziko, 2006)

→ Escombros de gelo (Brash ice): acumulação de gelo flutuante


constituída por fragmentos que não ultrapassam 2 m de largura.
São comuns entre placas de gelo que colidem, ou onde cristas
de gelo entraram em colapso.

Brash Ice,
diante de um
glaciar. (Silvia
Dotta, 2014)

Os efeitos do congelamento da água marinha que circundam


o continente antártico e a oscilação sazonal da área coberta pelo
gelo do mar, cuja extensão varia, nos casos extremos, entre 2 e 20
milhões km2, fazem com que a cobertura de gelo da Antártica seja
responsável pela rigorosa alteração no padrão de troca de energia,
ocorrida ao longo dos anos, entre o oceano e atmosfera.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 169


A circulação geral de massas de ar e água frios da Antártica
para o Atlântico Sul permite entender a influência do continente
antártico e do oceano Austral nas condições climáticas do território
brasileiro?

72  Baleias bebem água?


Atualmente, as baleias passam a sua vida inteira no oceano. Você
sabia que nem sempre foi assim? Os primeiros ancestrais das ba-
leias, há cerca de 50 milhões de anos, viviam também em terra e
andavam em quatro patas. Esses animais se chamavam Pakicetus
e tinham um tamanho parecido com o de um cachorro.
Outra espécie ancestral das baleias foi chamada de Ambulocetus
e viveu em estuários, ambientes de transição entre os rios e mares,
entre 50 e 48 milhões de anos atrás. Assim como os Pakicetus, essa
espécie passava seu tempo tanto na água quanto na terra, mas seus
pés eram mais parecidos com nadadeiras.

Baleia-minke. (Manu Bassoi)

Algum tempo depois, entre 40 e 33 milhões de anos atrás, exis-


tiu a espécie Dorudon, que já tinha nadadeiras e vivia apenas na

170 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


água. As baleias que conhecemos hoje descendem dessa espécie e
a evolução fez com que elas se adaptassem completamente à vida
marinha. Uma das características mais impressionantes dessa evo-
lução são os “narizes” das baleias, que são chamados de espiráculos.
Foram encontrados vários fósseis ao longo de milhares de anos
mostrando a migração destes espiráculos desde a ponta do rostro
(ou focinho) até o topo da cabeça das baleias, fazendo com que
os animais pudessem respirar cada vez com mais facilidade, sem
precisar colocar a cabeça toda para fora d’água. Sendo mamíferos
como nós, será que as baleias precisam beber água? As baleias pre-
cisam de uma grande quantidade de água no corpo para sobreviver,
assim como nós. Mas, se você já levou um caldo e engoliu água do
mar, sabe que não é lá muito agradável, não é? Inclusive, para nós
humanos, ingerir água salgada é extremamente perigoso, podendo
causar desidratação grave e até a morte pela grande quantidade de
sal que precisa ser processada pelos rins.

O que as baleias bebem, se no mar toda a água é salgada? Cientistas


acreditam que as baleias não ingerem água do mar voluntariamente.
Claro, quando elas se alimentam, acabam engolindo um pouco,
mas não é assim que elas se hidratam. Além disso, elas têm rins
superpotentes que filtram o sal da água de maneira muito mais eficiente
do que a gente, então elas não têm muitos problemas com isso.
Então, como é que elas de fato se hidratam? Na verdade, elas
transformam a comida em água. Essa água que vem da comida é
chamada de água metabólica e ela é obtida por meio da quebra
do alimento no processo de digestão. A metabolização das co-
midas ingeridas as transforma em nutrientes, como carboidratos,
gordura e proteínas. Depois, esses nutrientes se transformam em
água e energia.
A gordura é o nutriente mais importante para a obtenção de
água metabólica, porque é aquele que tem maior quantidade de
água por grama. Além disso, as baleias não suam, o que faz com
que elas conservem uma grande quantidade de água! E os outros
mamíferos marinhos, será que funcionam da mesma maneira?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 171


73  Focas-caranguejeiras
comem caranguejo?
Às vezes, os animais têm nomes que simplesmente não fazem sen-
tido! Nem todas as joaninhas são fêmeas, um pepino-do-mar não
é um vegetal subaquático e com certeza um sapo-boi não tem nada
a ver com os simpáticos bovinos. Um exemplo antártico disso são
as focas-caranguejeiras. Você já ouviu falar delas?
Pelo nome, até parece que elas comem caranguejo, não é? Mas
pela introdução do texto, aposto que você já entendeu que esse
não é o caso. As focas-caranguejeiras têm muitas características
interessantes que poderiam fazer parte do seu nome. Por exemplo,
o jeito como o seu corpo é formado faz com que elas sejam uma das
focas mais rápidas em terra. Além disso, seus dentes são especial-
mente projetados para comer krill (que parece muito mais com um
camarão do que com caranguejo), que representa cerca de 95% de
sua dieta. Mas, curiosamente, em vez de todas essas características
interessantes, a foca-caranguejeira, de fato, tem seu nome baseado
em caranguejos, mas elas não se alimentam deles.

Focas-
caranguejeiras
descansam em
blocos de gelo
na Península
Antártica. (Sílvia
Dotta, 2018)

Sabe qual é uma das coisas mais impressionantes sobre esses


fofos animais antárticos? As focas-caranguejeiras têm a maior po-
pulação de todos os pinípedes (mamíferos carnívoros aquáticos
com nadadeiras, como focas, morsas e leões-marinhos). Bem…
isso é o que se acredita, porque, na realidade, isso é apenas esti-
mativa: e já houve diferentes estimativas sobre o tamanho de sua
população, com números variando entre 7 e 30 milhões de focas, dá

172 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


para acreditar? É mais ou menos a diferença entre a população de
Xangai, na China, e de Belo Horizonte, em Minas Gerais! Com toda
essa confusão, fica difícil decidir sobre políticas eficazes de conser-
vação e gestão, não é? Mas, se as estimativas são tão amplas, por
que ninguém vai lá e conta quantos indivíduos há dessa espécie?
É que acompanhar os animais da Antártica é uma tarefa ex-
tremamente cara, trabalhosa e que depende muito das condições
climáticas. É por isso que cientistas ainda não têm estimativas po-
pulacionais muito precisas para a maioria das espécies que vivem
lá. Por exemplo, a estimativa da população de focas-de-weddell
está entre 200.000 e um milhão de indivíduos, o que é bem amplo.
Outro exemplo disso tudo: recentemente, oito novas colônias de
pinguins-imperadores foram descobertas, aumentando em 10% o
tamanho da população estimada desses animais.
Então, é difícil determinar o verdadeiro tamanho da popula-
ção das focas-caranguejeiras devido à dificuldade de contagem
de indivíduos no clima inóspito da Antártica. A localização das
focas-caranguejeiras geralmente depende dos movimentos de
blocos de gelo e, além disso, elas também são encontradas em
diferentes partes do oceano Austral e perto de ilhas subantárti-
cas. Sabe-se que indivíduos dessa espécie viajam distâncias muito
longas ao redor da Antártica e, às vezes, também vagam para o in-
terior do continente. As focas-caranguejeiras se alimentam quase
inteiramente de krill perto da península Antártica, mas sabe-se
também que elas podem ter uma dieta mais variada e oportunista
em outras regiões.
Mesmo que a estimativa da população de focas-caranguejeiras
seja grande agora, sabemos que as mudanças climáticas podem ser
muito duras para essa espécie. O derretimento do gelo marinho
diminui a quantidade de krill disponível para elas comerem, além
de reduzir o seu habitat disponível, deixando as focas-carangue-
jeiras muito mais vulneráveis para seus predadores. Mas elas não
são os únicos animais antárticos que podem sofrer com o aqueci-
mento global. Quais outros animais antárticos podem estar sendo
afetados pelo aumento da temperatura global? Como podemos
ajudá-los?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 173


74  Há tubarões nas regiões polares?
Depende de qual região estamos falando. A maior parte dos tu-
barões não é lá muito chegada ao frio. Existe uma abundância
e grande diversidade de tubarões nas águas mais quentes, mas
apenas algumas espécies habitam as águas geladas da região do
Ártico. Das cerca de 465 espécies de tubarão conhecidas, menos
de dez já foram vistas no Ártico: o tubarão-azul (Prionace glauca),
o tubarão-sardo (Lamna nasus) o tubarão-salmão (Lamna ditro-
pis), o tubarão-elefante (Cetorhinus maximus), o tubarão-albafar
(Hexanchus griseus), o galhudo (Squalus acanthias), tubarão-dor-
medor-do-pacífico (Somniosus pacificus) e o tubarão-da-groenlân-
dia (Somniosus microcephalus).

Close de um tubarão-da-groenlândia. (Hemmings1952, 2007)

Desses tubarões de água gelada, o tubarão-da-groenlândia é um


dos mais fascinantes. Esses gigantes de até 6,5 m são páreo para
os grandes tubarões brancos em tamanho, mas, apesar disso, eles
são bem menos famosos. Uma particularidade interessante sobre
esses animais é que aparentemente eles são absurdamente lentos.
Eles são tão lentos, que existem lendas de que os Inuit – povos in-
dígenas que habitam o extremo norte do Canadá e do Alasca, além
da Groenlândia – os atraíam para a superfície usando entranhas
de focas e os caçavam com as próprias mãos, puxando-os da água
para o gelo.

174 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Esses vagarosos gigantes alimentam-se de carcaças de baleias-
-beluga e narval. Até aí tudo bem, afinal, as carcaças não tentam
fugir deles. Mas outros dos seus alimentos são presas bem mais
velozes, como o salmão e as focas-do-ártico. E como esses tubarões
tão lentos conseguem fazer isso?
Na verdade, isso é um pouco misterioso. Uma das teorias tem
a ver com parasitas meio rosados que se acoplam às córneas dos
tubarões-da-groenlândia. Esses parasitas são um tipo de crustáceo
que, até recentemente, se acreditava ser bioluminescente, ou seja,
capaz de produzir sua própria luz. Uma possibilidade, então, seria
que esses parasitas brilhantes podiam atrair a curiosidade de presas
até os seus vagarosos hospedeiros, o que tornava uma emboscada
muito mais fácil. Mas, depois, foi verificado que esses parasitas não
eram bioluminescentes, o que deu um fim à essa teoria.

A nova teoria, surgida a partir de relatos de biólogos canadenses, sugere


que os tubarões-da-groenlândia podem não ser tão lentos quanto a
sua reputação diz. Na verdade, esses tubarões têm uma cauda larga e
curta, o que é ideal para acelerações rápidas. Inclusive, há relatos de
ataques de tubarões-da-groenlândia a renas que bebiam água em fozes
de rios da ilha Baffin, no território de Nunavut, no norte do Canadá.

Então, respondendo à pergunta título deste texto, sim, existem


alguns tubarões nas regiões polares. Mas sua presença se restringe
às águas do Ártico, que apesar de muito geladas, ainda são bem
mais quentes que as águas da Antártica.
As águas da Antártica têm temperaturas próximas ao ponto de
fusão o ano todo, o que as torna inóspitas para tubarões. Com
temperaturas tão baixas, as espécies de tubarão que precisam na-
dar para respirar teriam dificuldade em manter seu metabolismo
funcionando e seu estoque de energia em níveis altos o suficiente
para continuar se movendo. Outras espécies de tubarão, aquelas
que vivem no fundo do mar, apresentam problemas em relação à
geografia. Essas espécies, frequentemente encontradas em águas
rasas, teriam dificuldades em atravessar o profundo do oceano que
cerca o continente Antártico.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 175


Então, ainda não há tubarões na Antártica. Como assim, “ainda”?
É que as temperaturas das águas da Antártica estão aumentando, e
com esse aquecimento, novos visitantes podem aparecer. Espécies
como o caranguejo-real estão se aproximando das águas rasas do
continente. Então, há uma probabilidade de que tubarões de águas
profundas consigam acessar as águas mais ao sul do oceano Austral
se o aquecimento continuar e isso pode ter muitos impactos no
ambiente. Você consegue imaginar alguns deles?

75  Existiram dinossauros


nas regiões polares?
Pensar em dinossauros é sempre curioso e encantador. Quando é
descoberto algo sobre esses animais, parece que estamos mais perto
deles, mesmo sabendo que a sua grande maioria desapareceu 65
milhões de anos atrás. Grande maioria porque as aves, que estão
aí, são nossos dinossauros de hoje, sabia? Mas esta é outra história.
O trabalho dos paleontólogos – cientistas que estudam os fós-
seis – nunca para, e cada vez mais eles trazem descobertas e novas
questões a serem discutidas sobre esses seres fantásticos que habi-
taram a superfície terrestre e dominaram o ambiente por muito e
há muito tempo. Além dos estudos dos fósseis ajudarem a entender
a evolução das espécies e como os ambientes do planeta se modi-
ficaram ao longo de sua história geológica, eles, e particularmente
os dinossauros, mexem com a nossa imaginação o tempo todo.
Por exemplo, quando penso no habitat dos dinossauros, logo
imagino uma paisagem com clima quente, repleta de vegetação
diferente e altas árvores. Você também? Enfim, penso em nada
parecido com as regiões polares. Impossível pensar em dinossauros
na neve. Será?
Na década de 1980, foram divulgados fósseis de dinossauros
encontrados em regiões polares para surpresa dos cientistas, e
nossa(!). Pois é, no Ártico, dinossauros vem sendo descobertos

176 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


há algum tempo, mas até pesquisadores encontrarem centenas de
pequenos ossos e dentes (1–2 mm) de sete espécies de dinossauros
dentro de ovos no Alasca, acreditava-se que esses animais, inca-
pazes de viver em ambientes realmente frios, estariam apenas de
passagem, em migração. Acontece que com a descoberta desses
jovens dinossauros, os cientistas chegaram à conclusão de que os
animais eram residentes, e não “turistas”.
Lembrei agora da sábia frase do Dr. Ian Malcolm no filme
Jurassic Park (aposto que você já assistiu) explicando o porquê de
tudo ter corrido tão mal no parque: “A vida encontra um meio”. E
os dinossauros polares encontram um meio para sobreviver. Os
dinossauros encontrados foram Tyrannosauridae, Ornithopoda
e Hadrosauridae.
Como essas criaturas sobreviveram ao frio?

Precisamos lembrar que os continentes mudam e o clima também. E


isso ocorreu no Cretáceo inferior (145–101 Ma). A Austrália estava
conectada com a Antártica e ambas faziam parte de um supercontinente
chamado Gondwana. Essa área era uma floresta tropical temperada, com
samambaias, apresentava denso crescimento da vegetação e fortes
chuvas. E embora o mundo cretáceo fosse um pouco mais quente, sem
calotas polares, o inverno ainda era muito rigoroso. Havia gelo e neve
nessa estação do ano e, provavelmente, ocorria uma noite polar de
quatro meses, ou seja, sem luz solar durante cerca de um terço do ano.

Foi nessas condições extremas que algumas espécies de dinos-


sauros sobreviveram e, surpreendentemente, como afirmam alguns
cientistas, foram os últimos a desaparecer do planeta. Os dinossau-
ros polares apresentavam adaptações específicas para os ambientes
onde viviam.
Olha, muita coisa pode ser especulativa, mas o que sabemos é
que, por conta dos longos períodos de escuridão invernal e tempe-
raturas muito baixas, a reprodução, manutenção e desenvolvimento
tinha limitações. Portanto, esses grupos apresentariam estratégias
de vida muito específicas para aquele ambiente, incluindo a endo-
termia (mantém sua temperatura geralmente mais alta e constante

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 177


que o ambiente). Sua alimentação também foi adaptada para ficar
algum tempo sem ingerir alimentos.
Também foram descobertas penas, demonstrando que havia
uma diversidade de dinossauros com penugens e essas eram muito
úteis para o isolamento térmico, permitindo que pequenos dinos-
sauros carnívoros sobrevivessem aos difíceis meses do inverno.
Na Antártica, foram encontrados fósseis do dinossauro antarc-
topelta (escudo antártico), um herbívoro da subordem dos anqui-
lossauros e da família dos nodossaurídeos, habitante entre 74 e 70
milhões de anos atrás e devido às condições do clima e do solo da
região, a escavação do antarctopelta levou quase uma década para
ser concluída.

Ilustração de
Antarctopelta
oliveroi.
(Olfy, 2015)

Seus primeiros fósseis foram encontrados em 1986 na Península


Antártica pelos geólogos argentinos Eduardo Olivero e Roberto
Scasso. E no final de tudo, dentes, mandíbula inferior, parte do crâ-
nio, vértebras, partes dos membros posteriores e diversas partes de
sua armadura foram recuperados de uma área de 6 m². Apesar de ter
sido o primeiro dinossauro descoberto na Antártica, o antarctopelta
só foi oficialmente descrito em 2006 pelos paleontólogos Leonardo
Salgado e Zulma Gasparini, sendo o segundo dinossauro antártico
descrito. O primeiro foi o criolofossauro, descrito em 1993.
Ainda há muito a ser descoberto no mundo dos dinossauros,
inclusive sobre seus habitats. Cientistas dedicam-se todos os dias
nessa façanha. No entanto, já sabemos de algo: dinossauros en-
contraram sua forma de viver nesse planeta por um tempo, in-
clusive nas regiões polares, onde desfrutaram de uma paisagem
completamente diferente da que temos hoje. Será que algum dia

178 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


essas regiões do planeta poderão voltar a ser uma floresta? Além
desses animais gigantes, que outros fósseis podem estar escondi-
dos no continente?

76  Por que o krill é tão importante?


O krill é um exemplo de plâncton animal. O plâncton é composto
por organismos vivos vegetais e animais que flutuam com pouca
capacidade de locomoção ficando à mercê dos movimentos oceâ-
nicos, na coluna d´água, da superfície até o fundo do mar.

Krill Antártico,
Euphasia
superba. (Uwe
Kils, 2011)

O fitoplâncton é o conjunto de organismos microscópicos que


realizam fotossíntese e que flutuam na superfície do oceano para
absorver a luz solar. São eles: as bactérias fotossintetizantes, as mi-
croalgas unicelulares (como as diatomáceas) e os dinoflagelados. A
grande importância do fitoplâncton é sua relevância no controle de
gás carbônico da atmosfera e na produção de oxigênio. Também
constituem a base da cadeia alimentar e são a principal fonte de
alimento do krill.
O zooplâncton – plâncton animal – compreende normal-
mente animais que flutuam, como moluscos, crustáceos, carave-
las, águas-vivas, larvas de invertebrados, ovos e larvas de peixes.
São valorosos indicadores biológicos visto que apresentam grande
sensibilidade à poluição da água.
Krill é o termo utilizado para descrever uma população de apro-
ximadamente 85 espécies de crustáceos que habitam os oceanos.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 179


Dessas, apenas sete estão concentradas na Antártica. A Euphausia
superba ou krill antártico vive em grandes grupos, por vezes atin-
gindo densidades de 10.000 a 30.000 indivíduos por metro cúbico.
O krill é um invertebrado cuja aparência é similar a de um ca-
marão. A maior parte das espécies mede entre um a dois centíme-
tros de comprimento e pesa de um a dois gramas, na fase adulta.
Algumas espécies podem atingir entre cinco a quinze centímetros.

O krill do oceano Austral é uma espécie-chave no ecossistema antártico


e é vastamente expressiva já que pode chegar 500.000 milhões de
toneladas, isso representa em termos de biomassa, a mais bem-sucedida
das espécies animais do planeta, com densidade aproximada de dezenove
milhões de indivíduos por quilômetro quadrado. Você tem ideia do que
isso representa? Toda essa quantia demonstra que o peso total de krill
é muito maior que o peso de todas as pessoas do globo terrestre.
A abundância de krill é mais comum no verão, graças à intensi-
dade da luz solar que fica disponível para a fotossíntese, facilitando
o crescimento do fitoplâncton, alimento do krill. Logo, quanto mais
comida disponível, mais sucesso o krill terá para sobreviver e se
reproduzir, por isto sua grande abundância nas épocas de verão e
outono no oceano Austral. A sobrevivência no inverno é, contudo,
resultado da sua intrínseca habilidade de suportar temperaturas
baixas capazes de atingir -2 °C na água do mar antes de congelar e
da capacidade de armazenar alimentos, já que devido a pouca ou
nenhuma luminosidade é possível encontrar apenas microalgas que
se desenvolvem abaixo do gelo.
Na cadeia alimentar, o krill é considerado um organismo-chave
pelo fato de ser o principal alimento de grande parte dos animais
antárticos, principalmente as grandes baleias. Ele faz a ligação entre
o fitoplâncton e os outros consumidores da cadeia. Humanos tam-
bém consideram incluir o krill em sua dieta. A indústria pesqueira
já chegou a comercializar 500 mil toneladas por ano, e há quem
acredite que este número pode chegar a 5 milhões de toneladas
anuais. Se isso acontecesse, quais seriam os impactos para a vida
marinha na Antártica?

180 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


77  Existe poluição por plástico
na região Antártica?
Nas últimas décadas vem ocorrendo um aumento considerável de
poluição marinha por plásticos, considerada um dos mais sérios
problemas ambientais da atualidade. Os seres humanos geraram 8,3
bilhões de toneladas métricas de plástico desde 1950. Apenas 9%
dos resíduos plásticos são reciclados e a grande maioria (cerca de
80%) acaba em aterros e no meio ambiente. Boa parte do plástico
que acaba no meio ambiente chega aos mares e oceanos. Os plásti-
cos ameaçam de diversas formas os ecossistemas marinhos, sendo
os mais evidentes os efeitos físicos diretos que eles causam na biota,
como mortes por ingestão, emaranhamento e asfixia, impactos que
já atingiram ao menos 700 espécies de animais.

Fibras microplásticas encontradas em ambiente marinho. (M. Danny, 2015)

Além desse impacto direto, o plástico ainda causa uma outra


“micropoluição”, mas os efeitos não são micros! A água, o sol, o
vento e os microrganismos vão degradando o plástico descartado
nos oceanos até convertê-lo em diminutas partículas com menos
de 0,5 centímetros amplamente conhecidas como microplásticos.
Tais partículas são ingeridas pelo plâncton, bivalves, peixes e até
baleias, que as confundem com comida. Pesquisas realizadas em
diferentes países já indicaram que essa ingestão pode afetar o cres-
cimento, a reprodução, o desenvolvimento e mesmo a sobrevivên-
cia desses organismos marinhos.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 181


Na Antártica, embora o descarte de lixo seja proibido pelo
Protocolo Ambiental do Tratado da Antártica (o Protocolo de
Madri), acredita-se que esteja ocorrendo um aumento da polui-
ção por plásticos. As fontes de plásticos na Antártica podem ser
diversas, incluindo descarte e manejo inadequado de lixo produ-
zido por estações científicas e embarcações, e transporte por cor-
rentes oceânicas, que podem carrear plásticos de locais distantes.
Na região, os impactos já foram observados para aves e mamíferos
marinhos, com registros de ingestão e emaranhamento por plás-
ticos em albatrozes, petréis, focas e lobos-marinhos. E a ingestão
e emaranhamento pelos animais não é o único problema que o
plástico pode levar para o ambiente antártico.

Os plásticos marinhos também atuam como um substrato artificial


para a fixação e desenvolvimento de diferentes grupos de organismos,
possibilitando o estabelecimento de complexas comunidades,
sendo atualmente conhecido como um novo ecossistema marinho
denominado plastisfera. A plastisfera pode ser constituída por
diversas espécies de vírus, bactérias, algas e invertebrados, podendo
incluir organismos patogênicos, aqueles que causam doenças.
Agora você já entendeu o problema, não é? A presença de pató-
genos pode implicar na possível transmissão de doenças a animais
marinhos que consomem os plásticos colonizados. Além do trans-
porte desses patógenos, os plásticos podem transportar organismos
entre locais, incluindo espécies invasoras, ou seja, a ameaça do lixo
marinho como vetor de transporte de espécies não-nativas – as
invasões biológicas globais.
A dispersão da plastisfera para a região Antártica já foi relatada
e pode ser preocupante para a biodiversidade e equilíbrio do ecos-
sistema marinho antártico. E as mudanças climáticas podem ainda
piorar esse cenário de bioinvasão por outras espécies no ambiente
Antártico, pois com o aumento da temperatura superficial do mar,
podem aumentar as chances de espécies não-nativas se adaptarem
às águas polares.

182 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Percebeu como a poluição por plástico pode impactar de diver-
sas maneiras mesmo uma região tão distante como a Antártica? E
que as mudanças climáticas ainda podem potencializar estes efei-
tos? É de suma importância a prevenção e mitigação da poluição
plástica nesse ambiente remoto e sensível, e essa prevenção pode
começar por nós! Pois como você aprendeu aqui, o plástico que
consumimos pode ir parar lá na Antártica.
Sendo assim, que ações e atitudes você pode ter para diminuir
seu consumo de plástico? Você sabe que produtos possuem micro-
plásticos e como você pode evitá-los? Você descarta seu material
plástico em locais adequados para a reciclagem?

78  Quem é o dono da Antártica?


Ninguém! A Antártica não tem divisão política e nenhum país
governa seu território. E ao mesmo tempo é dever de todos cuidar
do continente. Por isso é considerado um lugar destinado à paz e
à ciência. Entenda o porquê!
A ampla variedade de recursos disponíveis no Continente
Antártico fez com que os países passassem a concentrar atenções
não apenas nas águas, mas também no território. E assim, em 1939
e 1940 deu-se início a luta pela influência territorialista, na qual sete
países decretaram reinvindicações dos espaços continentais, entre
eles: Argentina, Chile, Grã-Bretanha, França, Noruega, Austrália
e Nova Zelândia. A partir daí, novos países expressaram interesse
na região e a possibilidade de conflitos territorialistas na década
de 1950 foi uma realidade.
Em 1957 quando foi instituído o Ano Geofísico Internacional
(AGI), cientistas de doze países África do Sul, Argentina, Austrália,
Bélgica, Chile, Estados Unidos, Japão, França, Noruega, Nova
Zelândia, União Soviética e Reino Unido caracterizaram a Antártica
como território imprescindível para a realização de pesquisas em
diferentes áreas da ciência, o que desencadeou grandes descobertas
acerca do continente.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 183


O AGI também chamou a atenção das nações sobre a necessi-
dade de se estabelecer um estatuto que preservasse a região antártica
para fins pacíficos, para a ciência e para a cooperação internacional,
o que oportunizou a concretização do Tratado da Antártica.
Em meio à Guerra Fria, o interesse comum pela Antártica fez
com que diplomatas, seguindo o caminho da comunidade cientí-
fica, buscassem uma maneira de defender o continente das possí-
veis conflitos. Logo, iniciou-se um movimento e pouco a pouco os
países envolvidos na reivindicação de posse pelo território concor-
daram em congelar as suas pretensões, por tempo indeterminado.

O Tratado da Antártica foi assinado em 1 de dezembro de 1959. Os


temas centrais passaram a ser a segurança e a ciência. Não obstante,
o Tratado engloba catorze artigos condizentes aos seguintes pontos:
uso do continente para razões pacíficas; fomento da pesquisa
científica; motivos para reivindicação territorial e jurisdição; inspeções
ilimitadas quanto às expedições à Antártica, navios, nacionalidades
comprobatórias por estação de pesquisa, controle meticuloso de
qualquer equipamento militar em território antártico; abordagens
institucionais e mecanismos para a tomada de decisão.
Em abril de 2021, o Tratado era formado por 54 países signatá-
rios, aqueles que assinam ou subscrevem um documento. Eles estão
divididos em categorias denominadas Partes Consultivas, com 29
países, e Partes Não-Consultivas, com 25 países.
As Consultivas são aquelas que realizam pesquisas científicas
permanentes na Antártica, os países envolvidos nessa categoria
possuem direitos irrestritos de participação, incluindo voto e veto
nas Reuniões Consultivas. As Não-Consultivas correspondem aos
países que ainda não efetuam pesquisas científicas substanciais na
Antártica, por esse motivo são apenas observadores nas Reuniões
Consultivas, sem direito à decisão e voto/veto.
O Brasil assinou o Tratado em 1975. E foi em 5 de janeiro
de 1983, que pisamos pela primeira vez na Antártica. Naquele
mesmo ano, tornamo-nos membro consultivo do Tratado, e em
6 de fevereiro de 1984, inauguramos nossa estação de pesquisa

184 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


na Baía do Almirantado na Ilha Rei George: Estação Antártica
Comandante Ferraz.
Alguns países têm mais de uma estação de pesquisa, a exemplo
da Argentina e Estados Unidos. A China está concluindo a cons-
trução de sua 5ª estação. Os interesses desses países são apenas
científicos? Ou há interesses geopolíticos estratégicos na discussão
sobre o que fazer para a/ com a/ na Antártica?

79  Como brasileiros vão à Antártica?


Escuta isso: “Nós pisamos no território antártico às dezenove horas
e vinte minutos, hora do Brasil… do dia 5 de janeiro de 1983, on-
tem… fomos magnificamente bem recebidos pelo chefe da estação
polonesa e pelos demais técnicos e cientistas…. A pedido deles,
oferecemos uma bandeira nacional, bandeira brasileira… que eles
fizeram questão de içar… Realmente é um continente de paz e é
um continente de solidariedade.“.
Foi assim que o Comandante Fernando Pastor relatou para a so-
ciedade brasileira, por telefone, em rede nacional de televisão, a che-
gada do Brasil pela primeira vez na Antártica. Imagine a emoção, a
bordo do Navio de Apoio Oceanográfico Barão de Teffé, fundeado
na baia do Almirantado, na ilha Rei George, em 1983. Junto seguiu
o Navio oceanográfico Professor Wladimir Besnard do Instituto
oceanográfico da USP. Dois dias depois, em 7 de janeiro, a Marinha
do Brasil fazia o primeiro pouso de helicóptero no continente. Era
a Primeira Operação Brasileira na Antártica (I Operantar) e durou
70 dias. Estava lançada a pedra fundamental para as pesquisas bra-
sileiras, cuja logística seria cuidada pela Marinha do Brasil, com
apoio da Força Aérea Brasileira.
O Barão de Teffé fez doze operações antárticas, levando cientis-
tas e materiais para a construção da Estação Antártica Comandante
Ferraz e de seus laboratórios. Aposentou-se ou, no linguajar da
Marinha, deu baixa em 23 de julho de 2002, abrindo espaço para
outras embarcações.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 185


De lá para cá, você deve imaginar que muita coisa mudou.
Provavelmente sim. Porém, algumas coisas parecem imutáveis: a
passagem de Drake continua sendo a região oceânica mais turbu-
lenta do planeta, e o clima ainda prega peças com suas alterações
repentinas, ou seja, nunca se sabe se de fato vai dar para embarcar…
Ir para a Antártica não é trivial. A viagem de navio, saindo da costa
da Argentina ou do Chile, leva em média de três a quatro dias.
Atualmente o Brasil envia dois navios para as operações antárticas
todo verão austral (outubro a março).
O Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) Ary Rongel foi in-
corporado em 1994 para substituir o Barão de Teffé. Esse Gigante
Vermelho realiza apoio logístico à Estação Antártica Comandante
Ferraz (EACF) e serve como plataforma para a realização de pes-
quisas, efetuando lançamentos e recolhimentos de pesquisadores
nos refúgios e acampamentos. O Ary atuou ativamente na des-
montagem e na reconstrução da EACF, que pegou fogo em 2012.
O Navio Polar (NPo) Almirante Maximiano foi incorporado
em 2009. Nele, foram instalados cinco laboratórios, sendo dois
laboratórios secos, dois molhados e um misto. Todos devidamente
equipados. O Tio Max é empregado prioritariamente em coleta de
dados oceanográficos, levantamentos hidroceanográficos para a
atualização de cartas e publicações náuticas, e em apoio logístico
à Estação Antártica Comandante Ferraz.
Além dos navios, com o apoio da Força Aérea Brasileira, o Brasil
envia aproximadamente dez voos por ano para a Antártica, utili-
zando grandes aviões como o C-130 Hércules e o C-99 Embraer.
Nesses aviões viajam pesquisadores, jornalistas, militares, materiais
e suprimentos para os grupos de pesquisa que estão na Antártica,
durante o verão, e suprimentos para o Grupo Base (em média 16
militares) que faz a manutenção da Estação ao longo do ano.
Como na EACF não há aeroporto, os aviões precisam aterrissar
na base chilena Eduardo Frei, e de lá segue-se de navio ou de heli-
cóptero para a estação brasileira. No inverno, os aviões lançam os
suprimentos em paraquedas. A viagem de avião de Punta Arenas
no Chile até a base Frei na Antártica leva duas horas e meia. Na
chegada em Frei para a estação brasileira que fica em outra baía

186 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


da ilha Rei George, pode-se seguir de helicóptero, cerca de trinta
minutos, ou quatro horas de navio.

Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel (F44) e Navio Polar


Almirante Maximiano (F41). (Marinha do Brasil, 2009)

Como na EACF não há aeroporto, os aviões precisam aterrissar


na base chilena Eduardo Frei, e de lá segue-se de navio ou de heli-
cóptero para a estação brasileira. No inverno, os aviões lançam os
suprimentos em paraquedas. A viagem de avião de Punta Arenas
no Chile até a base Frei na Antártica leva duas horas e meia. Na
chegada em Frei para a estação brasileira que fica em outra baía
da ilha Rei George, pode-se seguir de helicóptero, cerca de trinta
minutos, ou quatro horas de navio.
Você deve estar se perguntando quanto custa toda essa viagem.
Agora, imagine que além de navios, há laboratórios de pesquisa,
equipamentos para coleta e análise de dados, como microscópios
ou sondas, enfim, a logística é complexa e exige altos investimentos.
Quanto o Brasil tem investido em pesquisa científica na Antártica?
Esse investimento tem trazido algum retorno? É possível mensurar
as vantagens dessas pesquisas? Em outras palavras: vale a pena?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 187


80  Há correio na Antártica?
Ir ao correio está longe de ser uma atividade divertida para a maio-
ria das pessoas. Pacotes por todos os lados, longas filas, muita es-
pera… Quando você vai viajar para algum lugar ou conhecer uma
nova cidade, eu duvido que a frase “Que legal, uma agência do
correio!” passe pela sua cabeça ou de qualquer outra pessoa. Mas,
como nós já sabemos, as coisas na Antártica não funcionam como
no resto do mundo. O continente gelado é cheio de particularida-
des e seu correio com certeza é uma delas!
Um dos destinos turísticos mais populares da Antártica é uma
agência dos correios britânica conhecida como Penguin Post Office
(correio dos pinguins), localizada em Porto Lockroy, no coração da
Península Antártica, que forma a parte mais ao norte da Antártica
continental.
Porto Lockroy nem sempre foi apenas uma agência de cor-
reios. Ele foi descoberto em 1873, pelo explorador alemão Eduard
Dallman. Então, os baleeiros que caçavam nas águas ao redor da
Península Antártica passaram a utilizar o local para preparar a sua
pesca, separando gordura, ossos e a carne das baleias para a venda.
Um pouco mais tarde, no início do século 20, diversos países
começaram a reivindicar a propriedade de partes da Antártica. Foi
aí que os britânicos perceberam que precisavam estabelecer uma
presença permanente na Península se quisessem proteger sua rei-
vindicação daquela parte da Antártica. Então, eles decidiram levar
para lá em um navio os materiais para construir duas cabanas de
madeira e estabeleceram sua primeira base no continente.
A estação de Porto Lockroy, como é conhecida, foi criada du-
rante a Segunda Guerra Mundial, em 1944, como uma base de
pesquisa pelos britânicos. Lá, eles também montaram um posto de
correio, apesar de as correspondências serem bastante escassas na
Antártica. Mas receber e enviar cartas não era tudo o que se fazia
em Porto Lockroy. O local também foi utilizado para a realização
de estudos científicos sobre a atmosfera e as radiocomunicações,
que continuaram até o encerramento da estação em 1962.

188 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Após as pesquisas científicas serem transferidas para outro lugar,
a estação de Porto Lockroy ficou abandonada e em ruínas. Porém,
boas notícias vieram em 1995, quando o local foi designado como
Sítio Histórico n° 61 pelo Tratado da Antártida.
Após isso o local passou por uma restauração e, desde novem-
bro de 1996, a estação tem sido gerenciada pelo United Kingdom
Antarctic Heritage Trust (UKAHT) (Fundo da Herança da Antártica
do Reino Unido) para atender turistas e visitantes durante as tem-
poradas de verão austral. Lá, além de um posto de correio, onde
visitantes podem enviar cartões postais para amigos e família dire-
tamente da Antártica, também funciona um museu com itens que
contam a história do local e uma lojinha de souvenirs.

Porto
Lockroy.
(Apcgb, 2005)

E como será que é a rotina de quem trabalha lá? Você já deve


imaginar que a rotina de trabalho é bem diferente da de uma agên-
cia comum dos correios, não é? Apesar de a ilha ser bem pequena
e não haver muito lugar para onde ir, o trabalho é fisicamente exi-
gente. Além de cuidar das correspondências e do museu, é preciso
cavar neve, limpar o cocô dos milhares de pinguins que cercam o
local e transportar água, malas postais e caixas de estoque para a
loja de souvenirs.
Se a Antártica é um continente tão isolado e com um clima tão
difícil, como é que eles conseguem arranjar pessoas para trabalhar
lá? Bem, o Fundo de Herança Antártica do Reino Unido abre ins-
crições para pessoas que têm interesse em trabalhar por uma tem-
porada na Antártica, e não precisa ter cidadania do Reino Unido
para se candidatar, pessoas do mundo todo são aceitas! E você,
gostaria de trabalhar por uma temporada em um museu-correio
na Antártica? O que você gostaria de fazer por lá?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 189


81  Que horas são agora na Antártica?
Esta pode parecer uma pergunta trivial, mas em se tratando da
Antártica onde tudo tem as suas particularidades, não é! Afinal,
você sabia que o território antártico está dividido em dez fusos
horários? E que alguns desses fusos são estabelecidos com base em
reivindicações territoriais? Como o centro do continente gelado
está em todas as longitudes, ele abarca todos os fusos horários.
Desse modo, não há como atribuir significados normais para os
conceitos de fusos horários e hora legal, já que a hora do dia não
está relacionada com a altura do Sol, ou com os períodos de luz e
escuridão. Convenciona-se, portanto, adotar o horário dos países de
origem das estações de pesquisa. Assim, haverá horários diferentes
dependendo da estação em que nos encontramos, por exemplo!
Como a Antártica é um continente de extremos, claro que esse
assunto, assim como todos os demais, foge do padrão que temos
para os outros continentes! E isso também se aplica à duração dos
dias e das noites! Na Antártica, existem dias que não anoitecem e
noites que não amanhecem (isso ocorre somente ao sul do Círculo
Polar, 66,5°S), e isso se dá pela posição da Antártica no globo ter-
restre e pela inclinação do globo em relação ao plano de translação
ao redor do Sol.

No Polo Sul geográfico ocorrem seis meses de claridade contínua, que


tem início na primavera e só termina com o Sol realmente se pondo
no horizonte, ao final do verão. Entre o polo geográfico e o Círculo
Polar Antártico, os números de dias com sol da meia-noite e noite
ao meio-dia diminui. No Círculo Polar só existe uma dia por ano com
sol da meia-noite e um dia por ano com noite no meio-dia. Em locais
ao norte do Círculo Polar (como na Estação Antártica Comandante
Ferraz) não existe sol da meia-noite, mas, sim, noites brancas (onde
a noite é clara, mas o Sol já está abaixo do horizonte) ou dia polar.
Claro que esses fenômenos causam uma certa confusão em
nosso organismo acostumado aos dias e noites bem estruturados,

190 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


do resto do mundo! Se já sofremos (uns mais, outros menos) com o
fenômeno do jet lag ao mudarmos de fuso horário, viajando de um
país/continente a outro, imaginem só quando estamos em um lugar
onde não anoitece, nem amanhece! Na verdade, os pesquisadores
antárticos precisam lidar com o fenômeno do sol da da meia-noite,
pois a maior parte das pesquisas ocorrem no verão, período mais
“quente”, já que no inverno, com frio e escuridão, ficaria bastante
difícil de se empreender qualquer trabalho por ali.
Considerando essas explicações, você consegue dizer com pre-
cisão que horas são agora na Antártica?

Mapa de fusos horários padrões (Standard time Zones) da Antártica. UTC: Tempo
Universal Coordenado (do inglês Coordinated Universal Time). (Phoenix, 2011)

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 191


82  É possível levar trenós
puxados por cães na Antártica?
Além de excelentes companheiros, os cães podem, sim, ser muito
úteis, inclusive no deslocamento de pessoas e equipamentos.
Estima-se que há pelo menos 2.000 anos, os “cães de trenó” são
usados no Ártico, por exemplo, e foram fundamentais na garantia
do transporte de suprimentos naquelas áreas de difícil acesso por
outros meios.

Foto histórica mostrando parelhas de oito cães puxando


um trenó no Ártico. (Unknown, 1915)

Até essa proibição vigorar, no entanto, alguns exploradores, desde


o início do século XX, utilizaram-se dos cães em suas expedições.
Para citar algumas, a Expedição ao Cruzeiro do Sul (1898–1900),
do anglo-norueguês Borchgrevink, usou cães da raça samoieda que
acabaram morrendo vitimados pelo frio intenso e alimentação ina-
dequada; o alemão Drygalski (1901–1903) foi mais bem-sucedido
com cães mais habituados ao frio e acompanhados por um adestra-
dor, mas ao término da expedição muitos cães, que foram permiti-
dos procriar livremente, foram fuzilados ou deixados para trás, por
não haver espaço no navio para resgatá-los. O sueco Nordenskjold
(1901–1904) também teve “baixa” no seu time de cães por confronto
com outros cães de outro explorador, deixados soltos. Finalmente, o

192 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


famoso explorador inglês Robert Falcon Scott levou para a Antártica
vinte samoiedas, mas também enfrentou dificuldades em manter a
integridade dos seus cães em um ambiente tão extremo. O também
conhecido norueguês Roald Amundsen realizou uma expedição
com 55 cães de trenó e a concluiu com apenas 14.

Obviamente não é qualquer raça de cães que se pode considerar


minimamente “habilitada”, digamos, para um empreendimento dessa
natureza. Cães para puxar trenós e em um ambiente extremo como
as regiões polares precisam ter, além de força, resistência, bem
como serem capazes de desenvolver uma certa velocidade para
cobrir determinadas distâncias. Esses cães, que podem correr até
45 km/h, precisam trabalhar em equipe e ser, portanto, homogêneos
na medida do possível, possuir tamanhos e marcha próximos, de
modo que o conjunto consiga se deslocar com uniformidade.
Dentre as raças empregadas para esse fim, há o husky do Alasca,
o conhecido husky siberiano e o malamute do Alasca, além de
outras raças menos conhecidas como o samoieda. Atualmente é
possível fazer viagens de trenó com cães como turismo no Ártico
e em montanhas fora das regiões polares, o que possibilita que
pessoas comuns possam desfrutar de um passeio tão inusitado
quanto interessante! Você tem ideia de quantas horas esses cães
“trabalham” por dia? Por quantos anos eles mantêm seu emprego?
Qual seu destino após se aposentarem?

83  Qual é o tempo de sobrevivência


de uma pessoa em águas polares?
Um banho gelado tem lá as suas vantagens, dependendo das cir-
cunstâncias: dar aquela despertada para mais um dia de cheio de
atividades, ou aquela refrescada em um dia de muito calor. Agora,
se este banho for em águas geladas… o que será que acontece com

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 193


o nosso corpo quando submetido à temperatura muito baixa como
as águas polares?
Claro que, quanto mais baixa for a temperatura da água, me-
nor é o tempo de sobrevivência de uma pessoa em imersão nessa
água. O estudo de registros de naufrágios e acidentes de aerona-
ves durante a Segunda Guerra Mundial realizado pelo americano
George Molnar, em 1946, estabeleceu o seguinte parâmetro: em
temperaturas da água abaixo de 15 °C o tempo de sobrevivência é
muito curto, e se torna maior conforme a temperatura aumenta a
partir desse valor.
O gráfico de Molnar, válido até os dias atuais, relaciona o
tempo (horas) de sobrevivência de uma pessoa em imersão com
a temperatura (em graus Celsius) da água do mar. Outros estudos
relacionaram o nível de isolamento térmico proporcionado por
vestimentas adequadas com o tempo de sobrevivência na água.
O isolamento térmico que uma roupa provê ao seu usuário ob-
viamente ajuda a “segurar” a temperatura do corpo, retardando o
efeito da hipotermia e, como parte deste processo, a perda de cons-
ciência e consequente afogamento. Essas roupas podem ainda auxi-
liar seu usuário a se manter na linha d’água devido à sua confecção
(ou apetrechos incluídos) viabilizando alguma flutuabilidade. O
tão importante isolamento térmico, no entanto, é prejudicado caso
a impermeabilidade da roupa fique comprometida, e isso pode
acontecer se a roupa ficar molhada.
Ora, mas na água a roupa vai molhar, correto?
O que queremos dizer é que uma roupa impermeável impede a
passagem da água. A roupa funciona como uma barreira, isolando
o corpo e evitando a água de atingir as roupas internas. Se isso
acontecer, a roupa deixa de manter o corpo aquecido. Pense em
uma bota impermeável: enquanto a sua meia estiver seca, tudo
certo! No entanto, se essa barreira falhar por algum motivo e a meia
molhar, o pé esfria! Claro que você não arrisca sua vida com um
par de meias molhadas, pois em águas com temperaturas inferiores
a 0 °C isso se torna um enorme problema!
Ainda que a pessoa esteja vestida com uma roupa adequada, a
depender da temperatura da água no momento em que ela está em

194 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


imersão, haverá um aumento (relativo) do tempo de sobrevivên-
cia, mas não uma proteção permanente contra o frio intenso! Isso
significa que vestimentas adequadas aumentam o tempo pelo qual
um náufrago pode ficar na água até ser resgatado, mas não garante,
caso esse tempo seja estendido, que a pessoa sobreviva.

Mergulhador em águas antárticas. (Islamkamelba, 2016)

Com água a 5 °C, por exemplo, estimou-se que o tempo de so-


brevivência de 50% de indivíduos amostrados com roupas comuns
seria de 1 hora. Imagine esse tempo em águas com temperaturas
abaixo de zero! Na Antártica, por exemplo, a temperatura da água
pode variar de 10° a -2 °C, mas claro que isto pode se alterar, de
forma um pouco mais extrema a depender da estação do ano. Em
águas muito geladas, pode-se, por exemplo, ter um tempo de so-
brevivência estimado em minutos até o resgate! Outros fatores in-
fluenciam em uma maior taxa de sobrevivência como, por exemplo,
o preparo físico, o que pode garantir maior resistência fisiológica
a esta condição extrema.
Dá para entender agora o porquê da importância de roupas
especiais com tecnologia específica para condições extremas! E
que outras tecnologias você acha que existe além de roupas es-
peciais que nos ajudem a sobreviver por mais tempo em baixas
temperaturas?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 195


84  Que países fazem parte
do Tratado da Antártica?
Sabemos que a Antártica não é de ninguém. Podemos dizer que
existe um acordo entre alguns países para decidir o futuro da região
e realizar pesquisas por lá. No período de julho de 1957 a dezembro
de 1958, durante o Ano Geofísico Internacional (AGI), a Antártica
foi eleita um foco de estudos científicos nas mais diversas áreas da
Ciência, o que muito contribuiu para alavancar o conhecimento
que se tinha da região.
Devido à alta complexidade e falta de conhecimento do conti-
nente gelado até então, esta não foi uma discussão fácil, e tanto é
verdade que foram necessárias mais de 60 reuniões para que algum
consenso fosse alcançado entre os países envolvidos nessa questão.
Em 1959, 12 países, os membros signatários originais, assina-
ram o Tratado da Antártica, que passou a vigorar em junho de
1961, sendo estes África do Sul, Argentina, Austrália, Bélgica, Chile,
Estados Unidos, França, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Reino
Unido e Rússia. O Brasil aderiu ao Tratado em 1975, passando a
garantir também a sua presença científica no continente gelado.
A contar pelo ano atual, são quase cinco décadas do interesse de
nosso país na questão antártica.
O Tratado, dentre os seus quatorze artigos, estipula, por exem-
plo, que a Antártica “só pode ser utilizada para propósitos pacíficos,
proibindo atividades militares, como o estabelecimento de bases
militares ou testes de armamento”. As bases, assim, lá estabelecidas
apresentam em grande parte propósito científico, com o objetivo
de implementar estudos e pesquisas que ajudem na maior conser-
vação e preservação do continente gelado.
Isso colocava um freio nas intenções territorialistas da época,
particularmente após a Segunda Guerra Mundial, congelando o
status quo do ano de 1959. Desta maneira, a competição territo-
rialista perdeu sentido.

196 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Mapa da Antártica mostrando as
reivindicações territoriais dos países:
Argentina (amarelo); Austrália
(laranja); chile (azul); França (azul-
marinho); Nova Zelândia (verde);
Noruega (lilás); Reino Unido
(vermelho). (Lokal_Profil, 2008)

Esse foi um importante marco na criação de um ambiente co-


laborativo, no qual os países poderiam intercambiar dados e se
apoiar mutuamente enquanto realizavam os seus respectivos pro-
gramas antárticos. Inclusive um comitê – o Comitê Científico sobre
Pesquisa Antártica (SCAR) – para articular e coordenar atividades
científicas na região, foi instituído em 1957, de caráter não-gover-
namental e como órgão assessor independente, haja vista a impor-
tância que assumiram os assuntos de natureza técnico-científica.
O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) foi criado, na se-
quência, em 1982, quando naquele mesmo ano a primeira expe-
dição brasileira foi realizada. No ano seguinte, o Brasil tornou-se
Membro Consultivo do tratado, e a inauguração da casa brasileira
no continente (Estação Antártica Comandante Ferraz) se deu logo
em seguida, em 6 de fevereiro de 1984, quando a permanência do
Brasil na Antártica foi finalmente efetivada.
Atualmente o Tratado da Antártica tem a adesão de 54 países,
incorporando, portanto, 42 nações além dos signatários originais,
mas apenas 29 dessas nações têm poder de voto e veto por condu-
zirem “atividades de pesquisa substanciais” no continente.
Até o momento, desde a sua criação, qualquer atividade que não
seja científica é proibida de ser executada no continente, manten-
do-se ainda o objetivo de tratar a Antártica com interesse científico,
sem que haja exploração de recursos naturais não-renováveis, e
desmilitarizada. Claro que reivindicações territoriais dos sete paí­
ses não sumiram, estão congeladas, e o tratado estabeleceu que a

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 197


Antártica fosse considerada uma reserva para ciência e paz inter-
nacional. E que assim se conserve!
Você acha que todos os países signatários do Tratado da Antártica
têm interesses exclusivamente científicos pelo continente? Que ou-
tros interesses essas nações poderiam ter naquela inóspita região?

85  Como é a participação


feminina na ciência antártica?
A primeira brasileira a ir para a Antártica foi a condecorada avia-
dora Anésia Pinheiro Machado, em janeiro de 1958, em um na-
vio de turismo argentino. Quase 30 anos depois, tem-se o registro
da segunda brasileira a visitar o continente, a mineira, de Juiz de
Fora, Eny Turolla Maia que foi para a lá em 1981 com seu marido
o Coronel Tigre Maia, da Força Aérea Brasileira. Tigre Maia era
presidente da Associação dos Adidos Estrangeiros no Chile e foi
convidado a realizar um voo para a Antártica, com pouso na ilha
Rei George, saindo de Santiago com escala em Punta Arenas. Eny
acompanhou o marido nessa missão chilena à Antártica.
Mesmo antes da Eny, já existiu uma renomada pesquisadora
a Therezinha de Castro. Ela era uma renomada autoridade em
geo­política, foi historiadora, geógrafa, escritora e professora re-
conhecida internacionalmente. Defendeu a tese Antártica: Teoria
da Defrontação em que dizia que o Brasil estava em condições de
reivindicar direitos sobre a Antártica. Em 1956, seu trabalho foi
publicado na Revista do Clube Militar. Ela lutou para que o Brasil
assinasse o Tratado da Antártica, o que aconteceu em 1975. Um
ano depois, ela publicou o livro Rumo à Antártica. É por ela que
hoje temos pesquisas importantes na Antártica.
As brasileiras sempre estiveram presentes na ciência antártica,
seja na pesquisa desde o Brasil, ou indo à campo. A primeira bra-
sileira pesquisadora que foi na primeira expedição brasileira à
Antártica no verão de 1981/1982 foi Aimara Linn. Era um grupo de

198 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


quatro homens e uma mulher. Eles foram um ano antes da primeira
expedição oficial com o Barão de Teffé. Depois disso Aimara voltou
mais cinco vezes para lá. Aimara era geóloga da Unisinos e traba-
lhava com mapeamento geológico e estudo de ambientes marinhos.

Jornal La Nación noticiando a visita de Anésia Pinheiro Machado às Ilhas


Melchior, Antártica, em janeiro de 1958. (Verlinden e Vario, 2019)

Há muitos outros exemplos de pesquisadoras que fizeram e que


ainda fazem história na ciência antártica brasileira.
Liliana Rizzo Piazza era física e doutora em astrofísica. Participou
da 1ª Operação Antártica a bordo do navio Barão de Teffé em 1982.
Trabalhava no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e no Centro
de Rádio Astronomia e Astrofísica da Universidade Presbiteriana
Mackenzie estudando geociências, geofísica da Antártica, anomalia
magnética, densidade eletrônica e evento solar. Em 1987, recebeu
a Condecoração Amigos da Marinha.
Maria Judith Zuzarte Cortesão foi uma ambientalista, pes-
quisadora e educadora reconhecida internacionalmente na área

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 199


ambiental. Participou das duas primeiras viagens brasileiras ao
continente Antártico (1982 e 1983). Nascida em Portugal, morou
no Peru e no Uruguai e depois de muitos anos no Brasil, consi-
derava-se brasileira. Estudou quatorze línguas. Era formada em
medicina, antropologia, letras, biblioteconomia, meteorologia,
climatologia e biologia, com cursos de especialização em gené-
tica humana e leis biofísicas da reprodução humana, imunologia,
neuroendocrinologia e documentação científica e tecnológica.
Desenvolveu mais de trinta pesquisas nas áreas médica, social e li-
terária. Mas se dedicou mesmo à área ambiental. Foi coordenadora
da Subcomissão do Meio Ambiente para a Constituinte e assessora
da Divisão de Planejamento e Política Ambiental do Ministério do
Meio Ambiente, representando esse Ministério em diversas comis-
sões, dentre elas, a Comissão Interministerial para os Recursos
do Mar (CIRM), Programa Antártico Brasileiro (Proantar) e a
Comissão Nacional para a Antártida (Conantar). Recebeu diversos
prêmios, entre eles o título de Heroína Nacional, foi condecorada
pela NASA recebendo uma medalha feita a partir de um metal
trazido do espaço pela nave Columbia. Teve participação direta
na criação do Museu Antártico e prestou consultoria ao Museu
Oceanográfico Professor Eliezer de Carvalho Rios e ao Eco-Museu
da Ilha da Pólvora.
Edith Fanta foi uma das pioneiras em ir pra Antártica. É co-
nhecida por seu trabalho de preservação e proteção da Antártica.
Ela fez parte do Proantar por 25 anos, desde sua criação em 1983.
Foi representante do Brasil em muitos fóruns internacionais. E de
2005 a 2008 foi presidente do Comitê Científico da Comissão para a
Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR).
Foi professora e orientadora de diversos alunos que trabalham com
assuntos polares.
Neusa Maria Paes Leme também era física, doutora em ciências
espaciais na especialidade de radioastronomia e física solar, com
experiência em geociências com ênfase em geofísica espacial, foi
orientanda da Liliana. Participou do primeiro voo de inverno para
a Antártica. Foi 35 vezes para lá nas Estações Brasileira, Chilena,
Argentina e Inglesa, a última vez foi em 2020 quando ficou na

200 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Estação Halley VI. Voltou da Antártica, em meio à pandemia,
quando passou por Ushuaia teve de fazer quarentena no navio e
seguiu para Buenos Aires, onde ficou por vários meses. Era apo-
sentada do INPE mas continuava trabalhando como professora e
coordenadora do Laboratório de Variáveis Ambientais Tropicais
(LAVAT) no Centro Regional do Nordeste (CRN/INPE).
Maria Elaine Kohlrausch tem licenciatura em ciências e bio-
logia. Iniciou seu trabalho em São Leopoldo na Unisinos, com o
objetivo principal de estudar os hábitos alimentares do Pygoscelis
antarctica, o pinguim-de-barbicha. Em 1987 e 1988, participou
da Operação Antártica integrando um grupo de pesquisadores
que estariam na ilha Elefante. Encontrou o primeiro fungo da ilha
Elefante, o qual foi repassado para ser catalogado pelo pesquisa-
dor que trabalhava na época com o reino Fungi. Em 1989, virou
matéria de jornal em Santa Cruz do Sul, pois um aluno seu en-
controu um pinguim e o entregou para ela cuidar. Maria Elaine é
aposentada na rede particular de ensino e atua na rede estadual
de ensino de Porto Alegre.

Essas são apenas as mulheres que compõem a primeira geração


de pesquisadoras brasileiras na Antártica e que foram seguidas
por muitas outras que se tornaram chefes de projetos antárticos e
orientadoras de diversos alunos de iniciação científica, mestrado e
doutorado. Há as primeiras mulheres que ficaram na estação durante
a fase de inverno em 1993, a primeira mulher a integrar o grupo
brasileiro que trabalha com o Criosfera I, laboratório no interior do
continente antártico, e muitas outras que ainda estão pesquisando e
recebendo prêmios por suas pesquisas. Normalmente, os laboratórios
têm mais mulheres do que homens. No trabalho de campo já há
praticamente metade das mulheres nos grupos de pesquisa.

No âmbito militar do Proantar, as mulheres também estão cada


vez mais presentes. No ano 2019/2020, seis mulheres militares atu-
avam na Antártica: uma médica e uma dentista em cada navio –
NApOc Ary Rongel e NPo Maximiano, uma médica na estação e
uma meteorologista no Navio Ary Rongel.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 201


Como você imagina a participação dessas mulheres em um
ambiente tão inóspito como a Antártica? Será que a estação de
pesquisa brasileira, acampamentos, refúgios e navios estão devi-
damente preparados para a presença feminina?

86  Existiram mulheres exploradoras?


Você, mulher e menina, que vai para a Antártica hoje em dia ou
tem vontade de ir, tem de agradecer a duas mulheres que, há mais
de 250 anos, se disfarçaram de homens para poder navegar.
Uma delas foi Louise Séguin, conhecida como a primeira mulher
que chegou em uma ilha perto da Antártica e a outra Jeanne Baret,
que foi a primeira cientista a navegar ao redor do mundo. E mesmo
assim, por muitos anos, esses feitos não foram reconhecidos.
A história da Louise é difícil de ser contada porque não existem
relatos, pois ninguém comentava a história dela para não incentivar
outras mulheres a fazer o mesmo. Para os homens, as mulheres
nos navios eram sinal de azar nas expedições. Por isso, na época,
as mulheres só angariavam fundos para que seus maridos fossem
nas expedições e elas ficavam cuidando da casa.
Jeanne Baret quase não tem registros fotográficos, porém, existe
um livro publicado sobre sua história. Jeanne e o botânico Philibert
Commerson coletaram mais de 6.000 espécimes de plantas durante
a viagem de circum-navegação.
Somente depois de 116 anos do descobrimento da Antártica,
as primeiras mulheres começaram a ir para o continente, porém
foram acompanhando seus maridos baleeiros ou exploradores.
Muitos exploradores deram os nomes de plataformas de gelo ou
montanhas em homenagem às suas mulheres.
Ingrid Christensen, norueguesa, é considerada a primeira mu-
lher a sobrevoar a Antártica com seu marido na década de 1930
e disputa o título de primeira mulher a pisar na Antártica com
Caroline Mikkelsen, que só foi contar sua história quando o seu
segundo marido morreu para não deixá-lo constrangido. Já as

202 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


histórias de Edith Ronne e Jennie Darlington mostram como a visão
sobre a Antártica para mulheres pode ser tão diferente, até oposta.
A Edith era uma cientista esposa do chefe da expedição e ficou um
ano inteiro por lá fazendo pesquisa. Ela é conhecida como Jackie
Ronnie ou a primeira dama da Antártica! E depois disso voltou para
a Antártica quinze vezes. Já a Jennie tinha acabado de se casar com
o piloto e foi como companhia para a Jackie. Porém, elas passaram
todo o tempo de viagem sem muito contato com os homens, pois
eles não queriam que elas fossem. Tanto que os relatos da Jennie
eram de que a Antártica não é mesmo um lugar para mulheres.

Foi só na década de 1950 que a primeira mulher cientista foi para a Antártica
sem nenhum tipo de oposição. O nome dela era Maria Klenova, uma
geóloga marinha da União Soviética criadora do primeiro atlas antártico.

Até 1969, existiu uma lei em alguns países, que proibia as mu-
lheres de irem para a Antártica. Um país que seguiu à risca essa
lei foram os Estados Unidos. Em 1959, Dawn Rodley foi barrada
de seguir em uma expedição, após ser aprovada pelo pesquisador
chefe e também pelas esposas dos outros pesquisadores.
Somente em 1969, o primeiro grupo de mulheres foi à Antártica
e chegou ao Polo Sul. A chefe do projeto foi a Dra. Lois Jones, uma
geóloga que fez seu doutorado com amostras de rochas antárticas,
mas sem nunca ter ido para lá. Quando a lei foi extinta, a marinha
americana aprovou o pedido da Lois. A segunda membra da equipe
foi a Eileen McSaveney, geóloga também. Kay Lindsay, bióloga, foi
a terceira. E, por fim, Terry Tickhill Terrell se uniu à equipe. Ela
tinha apenas 19 anos e estudava química. Quando soube que um
amigo tinha ido pra Antártica, resolveu ir até o Instituto de Estudos
Polares e pediu um emprego na Antártica. Ela então conseguiu
falar com a Lois e disse que morava em uma fazenda e que era
uma trabalhadora esforçada. Como a Lois precisava de alguém
que carregasse uma mochila de 29 kg e uma marreta de 5 kg pra
coletar pedras, a Terry foi a quarta escolhida.
O grupo ficou quatro meses nos vales secos de McMurdo, um
deserto polar que faz parte dos 2% da Antártida sem neve e “o mais

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 203


próximo de qualquer ambiente terrestre de Marte”, segundo a NASA.
Elas também foram as primeiras mulheres a chegar ao Polo Sul
geográfico. Lois precisava fazer o estudo aéreo da geologia, pediu
para participar de um voo e foi atendida. Foram as quatro, uma
repórter e uma bióloga neozelandesa. Quando chegaram ao Polo
Sul, as seis se deram os braços e pularam do avião juntas para que
todas pisassem ali ao mesmo tempo.
Você pode imaginar quantas histórias de mulheres exploradoras
nunca foram contadas? Tem ideia de quem foi a primeira visitante
brasileira na Antártica?

87  Há turismo na Antártica?


Quando você estiver planejando as suas próximas férias, já pode
incluir em sua lista de opções a Antártica. Isso mesmo! Até déca-
das atrás isso não era possível, pois o local era reservado somente
para cientistas e poucas pessoas convidadas por governos ou ór-
gãos de pesquisa. No entanto, a partir de 1966 o tema educação
ambiental foi incorporado ao slogan “Você não pode proteger o
que você não conhece”, e o turismo chegou ao continente gelado.
E acreditem: o isolamento físico da região, as temperaturas ex-
tremas, o clima adverso, e a vida selvagem peculiar são grandes
atrativos ao turismo.
Ficou com vontade de se aventurar por lá? Parece mesmo uma
viagem inesquecível. As visitas se concentram nas zonas livres de
gelo nos meses de verão, entre novembro e março, e são organiza-
das por operadoras de turismo.
Os visitantes fazem curtas entradas nas regiões costeiras, princi-
palmente nas ilhas próximas à Península Antártica, visitam estações
científicas, monumentos históricos e colônias de animais. Sendo
possível também atividade de alpinismo, acampamento e mergulho.
Além disso, é possível navegar em caiaques, praticar stand up
paddle e até mesmo acampar uma noite em solo antártico. Vale
lembrar que todas essas atividades só podem ser realizadas se o

204 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


tempo estiver bom. E quando falamos de Antártica, sol e pouco
vento não são garantidos.
Pinguins são os anfitriões e estão por toda parte, é verdade, mas
também há encontros com outros animais, como focas, lobos e
elefantes-marinhos, baleias, petréis e outras aves.

Para essa viagem, também é preciso um investimento inesquecível


E quanto custa? Ver de perto as terras gélidas do continente
começa com um investimento de aproximadamente nove mil
dólares por pessoa, sem contar a vestimenta necessária para
enfrentar o frio e a hospedagem e voos até o local do embarque.

Anotou tudo? Você deve estar se perguntando: é possível pre-


servar a Antártica mesmo com o turismo?
Aceitando a premissa de que não existe turismo de impacto
ambiental zero, preservar a Antártica é ainda uma obrigação. Todas
as atividades turísticas realizadas hoje lá são supervisionadas pela
tripulação do navio, que inclui ornitologistas, biólogos marinhos,
geólogos, glaciologistas, historiadores e naturalistas. Todos os cui-
dados com o ambiente são devidamente tomados.
Atualmente, existe um sistema internacional de regulação do
turismo antártico, que surgiu a partir da Organização Marítima
Internacional, de entidades intergovernamentais, dos Estados e da
Lei do Mar com as regras relativas à bandeira da embarcação e do
porto de embarque e da IAATO (The International Association of
Antarctica Tour Operators) que coordena os operadores turísticos
antárticos, além de oferecer treinamento para tripulações e guias,
com o objetivo de prepará-los para atuarem de forma a garantir a
segurança dos turistas e a preservação do continente.
Também é importante que cada turista faça a sua parte na pre-
servação. Antes de ir, ler e pesquisar para entender as responsa-
bilidades e seguir com atenção as instruções dos guias. Algumas
dicas práticas (que valem não somente para Antártica, mas para
todos os ambientes naturais): assegure-se de que tudo esteja muito
limpo – capinhas de câmera, sapatos e roupas. Isso evita levar se-
mentes, plantas ou outros organismos que poderiam prejudicar

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 205


o ambiente antártico; mantenha-se sempre a uma distância mí-
nima permitida da vida selvagem – que é de cinco metros; mo-
vimente-se devagar e com cuidado para não causar transtornos
aos animais e lugares históricos; esteja sempre atento ao que está
acontecendo ao seu redor; o uso de drones não é permitido, a
menos que você seja um cientista ou outro profissional com uma
autorização para isso. Nem precisa falar sobre jogar algo no mar,
no chão ou no ar. Lave seus calçados antes do desembarque e no
retorno ao navio, assim você evita de transportar qualquer mate-
rial de um ponto a outro.
Mesmo assim, com todos esses cuidados, o impacto do turismo
existe e muito. Então, como a presença transitória de diversas em-
barcações afetará a fauna, a flora, o ambiente ao longo dos anos?

Turistas limpam botas para desembarque na Península Antártica. (Silvia Dotta, 2004)

206 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Aurora Boreal, Cold Foot, Alasca (Silvia Dotta, 2020)

88  O que são auroras polares?


Imagine olhar para o céu à noite e em vez de encontrar estrela em
um céu escuro, você se deparar com luzes verdes, azuis, lilases
brilhantes e dançantes. Pode até ser assustador no início, mas de-
pois deve ser algo fascinante. Essas luzes fazem parte do fenômeno
chamado aurora polar.
No hemisfério Norte ela é conhecida como aurora boreal (nome
batizado por Galileu Galilei em 1619, em referência à deusa ro-
mana do amanhecer Aurora e ao seu filho Bóreas, representante
dos ventos nortes), ou luzes do Norte (nome mais comum entre
os escandinavos) ou luzes bailarinas. No hemisfério Sul é chamada
de aurora austral, nome batizado por James Cook, uma referência
direta ao fato de estar ao Sul.
Mas como esse fenômeno tão incrível aos nossos olhos ocorre?
Ambas as auroras (boreal e austral) acontecem quando a ativi-
dade solar é maior. Sim, tudo começa no Sol.
A todo o momento, o Sol emite partículas elementares de altís-
sima energia e que possuem carga elétrica. A alta quantidade de
emissão dessas partículas é denominada de vento solar. Quando
esse vento solar chega próximo a Terra, ele interage com o campo
magnético terrestre. Qualquer partícula eletricamente carregada
que se movimente em uma região de campo magnético está sujeita
a uma força magnética, que, nesse caso, conduz as partículas, de
acordo com o sinal de suas cargas elétricas, para a região norte ou
sul da Terra.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 207


O movimento das cargas elétricas na atmosfera gera choques
entre as partículas e as moléculas de oxigênio e nitrogênio. Assim,
as cargas elétricas transferem energia para os íons de oxigênio e ni-
trogênio, que, para retornarem ao seu estado fundamental, liberam
a energia adquirida na forma de luzes, geralmente verdes. É um
fenômeno semelhante ao que acontece nas lâmpadas fluorescentes.
As luzes coloridas podem ser observadas a olho nu nos céus
noturnos das regiões polares. Parece um brilho longo, como uma
cortina estendida. Algumas vezes formam-se arcos que podem
mudar de forma constantemente. Em cada cortina há vários raios
paralelos e alinhados na direção do campo magnético, sugerindo
que o fenômeno está alinhado com o campo magnético terrestre.
Auroras não são exclusivas do planeta Terra. Cientistas já dizem
que Júpiter, devido ao seu intenso campo magnético, cria as auroras
mais brilhantes do nosso sistema solar.
É importante dizer que para encontrar a Aurora depende tam-
bém de um pouco de sorte, é preciso estar no lugar certo e na hora
certa. Para ajudar, já existem sites e aplicativos que informam as
chances de sucesso desse encontro.
Como será que os povos que não tinham acesso ao conheci-
mento científico sobre o fenômeno da Aurora Polar interpretavam
a dança de luzes no céu?

Auroral Boreal, Círculo Polar Ártico, Noruega. (Sílvia Dotta, 2017)

208 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


89  Onde mora o Papai Noel?
Ho ho ho!
Muitas crianças do mundo têm a resposta na ponta da língua:
Em algum lugar do Polo Norte com muita neve, renas e magia.
Sabemos que a lenda do Papai Noel já teve várias versões: o bom
velhinho já foi padre, São Nicolau, já usou roupas verdes, amarelas,
foi alemão e por aí vai. Mas para encurtar a história, existia também
uma lenda de que o Papai Noel vivia em um lugar quase inalcançá-
vel, isolado no meio de muito gelo e de difícil acesso. Vale dizer que
talvez isso tenha sido criado para as crianças somente acreditarem
na existência dele, sem pensar em visitá-lo.

Voltando à história de que Noel vivia no Polo Norte – lembre-se de que o


polo é apenas um ponto no meio do oceano Ártico. A lenda foi utilizada
pelos finlandeses para estimularem o turismo local e, na década de 1950,
foi construída pelo governo finlandês uma vila de madeira na cidade
de Rovaniemi, capital da Lapônia. próxima ao Círculo Polar Ártico. O
local é famoso por ser a Casa Oficial do Papai Noel, atrai turistas de
diversas localidades o ano todo e tem até um escritório com endereço
oficial da residência do Papai Noel para receber as suas cartas.

Aos interessados:
Destinatário: Santa Claus
Código postal: FIN-96930 Arctic Circle
Rovaniemi - Finlândia
A Lapônia fica no extremo norte da Finlândia, em uma região
que faz fronteira com a Suécia, a Rússia e a Noruega. O lugar é co-
nhecido por ser uma das regiões mais frias do mundo, com baixas
temperaturas em todas as estações do ano — no verão, por exemplo,
o termômetro não ultrapassa os 15 °C, e no inverno pode registrar
até -50 ºC.
O lugar não é só a terra do Papai Noel, também é o lugar das
renas, dos huskies siberianos, dos alces, dos ursos-polares, do sal-
mão, do povo sami (único povo indígena reconhecido na Europa).

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 209


Os cenários e paisagens do local mudam conforme as estações do
ano. Tem aurora boreal no outono e na primavera, crepúsculo azul
no forte inverno e no verão é a terra do sol da meia noite.
A região da Lapônia está inserida na lista de bens culturais e
naturais considerados patrimônio da humanidade pela UNESCO
(Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e
Cultura).
Esse patrimônio da humanidade também é uma das áreas mais
afetadas pelas mudanças climáticas no planeta. Nos últimos anos a
temperatura da Lapônia vem aumentando e impactando o modo
de viver dos seus habitantes e animais. Além disso, o isolamento
geográfico da Lapônia e as longas distâncias interiores favorecem
as emissões de efeito estufa.
A vida das renas da Lapônia está sendo modificada, elas cos-
tumam cavar a neve à procura de alimentos (o líquen). Porém,
nos invernos rigorosos, ou degelos inesperados, os animais não
conseguem chegar a esses fungos por causa do gelo, e assim, não
se alimentam de forma adequada, tornando-se cada vez mais leves
e menores.

Renas na Lapônia. (Tarja Pruss, 2017)

A comunidade sami também está sofrendo com os efeitos som-


brios do aumento da temperatura que ameaça seu principal meio
de subsistência: a criação de renas. Além disso, o desenvolvimento
da indústria madeireira e de infraestruturas de grande escala, como
os parques eólicos ou as usinas hidrelétricas, servem de obstáculo
às rotas de pastagens das renas e as instalações de mineração e de
energia renovável de grande porte estão se expandindo gerando
graves consequências para os meios de subsistência do povo sami.

210 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Quando se iniciou a lenda do Papai Noel, o cenário era muito
diferente do de hoje e as mudanças climáticas estão ocorrendo cada
vez mais intensas . Será que no futuro o cenário da casa do Papai
Noel será repleto de neve, renas e o povo sami ainda estará por lá?

90  Como funciona um


navio quebra-gelo?
Todo mundo conhece a história do Titanic. Como não conhecer, já
que a história do imenso e famoso transatlântico foi imortalizada
no filme de 1997, protagonizado por Leonardo diCaprio e Kate
Winslet? E todos sabemos qual foi o trágico fim do grande navio,
que afundou após colidir com um iceberg. Teria sido muito bom
se um navio desses pudesse ter a capacidade de atravessar o gelo
e, assim, evitar acidentes como aquele que pôs o Titanic a pique…
mas navios capazes disso já não existem?
Navios que enfrentam icebergs ainda não existem, pois nenhum
casco, por mais reforçado que seja, resistiria. Contudo, navios muito
mais modernos do que o Titanic já são fabricados e, dentre esses,
os chamados navios quebra-gelo. Claro que transatlânticos como o
Titanic são um tipo de navio que não se encaixam nessa categoria,
já que navios para esta finalidade precisam ter uma estrutura bem
diferente e adaptada. Os navios quebra-gelo são projetados para
romper campos de gelo (a banquisa ou mar congelado) e abrir
rotas de navegação, fluviais ou marítimas, em áreas congeladas,
garantindo o acesso a regiões que não poderiam ser alcançadas por
navios convencionais. E – pasmem! – esses navios têm a capacidade
de romper porções de gelo de até 2,8 metros de espessura ou mais
se forem nucleares! Mas o que estas embarcações possuem que as
permite atravessar o gelo dessa forma?
Para começar, a proa (frente) desses navios é diferente.
Embarcações convencionais apresentam uma proa personalizada,
desenhada para reduzir o efeito das ondas enquanto se deslocam

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 211


a fim de tornar o seu deslocamento mais eficiente. Já o navio que-
bra-gelo tem a proa em forma de cunha, semelhante a uma rampa
invertida e, com isso, é o próprio peso do navio que rompe o gelo,
a força para romper o gelo vem de cima para baixo, no sentido de
menor resistência do gelo. Essa é uma forma, digamos, inteligente
de “enfrentar” os quilômetros de gelo à frente, pois você consegue
imaginar a força que teria de ser empregada para empurrar fron-
talmente um imenso campo de gelo, muitas vezes estendendo-se
por milhares de quilômetros?
Assim, os quebra-gelos literalmente “escalam” esses campos con-
gelados, avançando pouco a pouco o que seria impossível para
um navio de estrutura convencional. Quando o gelo é rompido, o
restante do casco desses navios repele, com a ajuda do seu formato
e de propulsores laterais, os fragmentos de gelo para que não arris-
quem comprometer a propulsão do navio e pressionem as laterais
da embarcação.

O casco dessas embarcações poderosas, por causa da pressão


que precisam suportar, chegam a ter até 5 cm de espessura e é equipado
com balizas reforçadas, além das normais, e “funcionam” no sentido de
minimizar ao máximo a fricção entre o casco e o gelo, além de afastar
o gelo rompido à sua passagem. Ou seja: os quebra-gelos são verdadeiros
“abre-alas” no gelo! E o gelo vai se abrindo para esses gigantes passarem!
Atualmente o país que detém a maior frota de quebra-gelos é a
Rússia, que segue construindo quebra-gelos superpotentes movidos
a energia nuclear! O Brasil possui dois navios antárticos, opera-
dos pela Marinha: o Navio Polar (NPo) Almirante Maximiano e
o Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) Ary Rongel, mas ne-
nhuma dessas duas embarcações é um navio quebra-gelo. Logo, são
navios considerados “polares”, pois possuem um casco reforçado
para enfrentar pequenos gelos flutuantes (berg bits), e camadas finas
e desfragmentadas de gelo, mas não são capazes de atravessar cam-
pos de gelo completamente consolidados em toda a sua extensão.
Isso impacta na pesquisa, pois os navios não conseguem che-
gar em regiões de mar congelado, e na distribuição e resgate de

212 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


pesquisadores que precisam ficar acampados em áreas costeiras.
É preciso que o mar esteja “aberto” para permitir a passagem das
embarcações pelas águas e sua aproximação da costa. Essa é uma
das razões pelas quais algumas pesquisas brasileiras ainda não po-
dem ser realizadas no inverno antártico, quando as temperaturas
podem cair muito e congelar todo o mar à sua volta! Você acha que
esse pode ser um fator negativo para a ciência brasileira? Quais
seriam as possíveis alternativas para superar o problema de acesso
a regiões congeladas?

91  Como é a vida dos cientistas


no continente antártico?
Para começo de conversa, precisamos apresentá-los e apresentá-las:
sim, há homens e mulheres nessa profissão. Cientistas polares são
pesquisadores que fazem ciência nas regiões polares, como o Ártico
e a Antártica. A descrição é simples e fácil, porém nada parecido
com a vida dessas pessoas que se deslocam até o continente gelado
e isolado para entrar literalmente numa fria.
Esses cientistas embarcam nessa aventura geralmente entre os
meses de outubro e março, no chamado verão antártico, mas muito
diferente do nosso, pois a temperatura oscila entre -5 °C e +5 °C
na costa, e os ventos chegam a 150 km/h. Por outro lado, o Sol
brilha por pelo menos 20 horas, e isso impacta a rotina de traba-
lho. Muitos já se surpreenderam trabalhando desde a manhã até a
madrugada, pois ainda era dia.
As pesquisas brasileiras são realizadas em locais com uma es-
trutura adequada contando com laboratórios e até sala de ginástica
como na Estação Antártica Comandante Ferraz. Além da Estação,
pesquisas são feitas em módulos automatizados, em acampamen-
tos e nos navios polar Almirante Maximiano e de apoio oceano-
gráfico Ary Rongel. Geralmente quem desfruta dessa estrutura
confortável de ter banho quente e comida fresca são cientistas que

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 213


permanecem nos navios, como os meteorologistas, veterinários,
pesquisadores das ciências atmosféricas (que estudam a radiação
solar e a camada de ozônio) entre outros.

Agora vem a parte mais ousada: cientistas que fazem pesquisas nos
acampamentos. Isso mesmo! Esses cientistas acampam no gelo e por
lá ficam dias para realizarem suas pesquisas, alguns trabalham no
interior da Antártica, a mais de 2500 km ao Sul da Estação Antártica
Comandante Ferraz, acampando sobre a neve ao redor do módulo Criosfera
1 e enfrentando temperaturas de até -35 °C no auge do verão. Banho?
Lencinhos umedecidos. Comida? Embalada a vácuo, muitos enlatados,
massas e alimentos calóricos como queijos, chocolates, barras de cereais,
castanhas e, sim, precisam beber muita água para não desidratar.

Na maioria das vezes os cientistas acampados são glaciólogos,


estudam o gelo e a neve, paleontólogos, estudam a pré-história
do planeta por meio dos fósseis, geólogos, pesquisam a evolução
da crosta terrestre, e os geofísicos, analisam a estrutura do pla-
neta. Mas se algum cientista de outra área precisar coletar dados
ou amostras longe da estação, também vai para as barracas ou
refúgios, cabanas que abrigam três ou quatro pessoas por alguns
poucos dias.
Ah! Escaladores profissionais são contratados pela Marinha do
Brasil para dar suporte aos cientistas acampados, eles são respon-
sáveis pela segurança em campo e garantem o bom funcionamento
dos acampamentos. Fazer ciência polar é uma grande aventura.
Vale lembrar que os satélites são indispensáveis, é essencial o uso
dos recursos do sensoriamento remoto, em função da dimensão
do continente e das dificuldades logísticas para a realização dos
trabalhos de campo. Dados de diferentes sensores podem ser utili-
zados para monitorar geleiras, icebergs e animais marinhos, como
baleias, focas e aves. Os satélites trazem informações importantes,
por exemplo, para as pesquisas sobre as mudanças climáticas.
E o que o Brasil pesquisa na Antártica? Lá a ciência é feita em
uma grande variedade de áreas: glaciologia, oceanografia, biolo-
gia, astronomia, paleontologia, medicina, psicologia, antropologia,

214 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


arqueologia entre muitas outras, cujos resultados são importantes
para toda a humanidade.
O Programa Ciência Antártica do MCTI tem por objetivo desen-
volver pesquisas de excelência na região Antártica e suas conexões
com o oceano Atlântico e a América do Sul, assegurando a perma-
nência do Brasil como membro consultivo do Tratado da Antártica.
Você acha que a ciência polar e os cientistas são valorizados no
Brasil? O que é necessário para ampliar essa valorização?

92  Como foi a construção da


estação brasileira na Antártica?
A primeira expedição brasileira à Antártica ocorreu em janeiro de
1983. Foram dois navios, o Barão de Teffé e o Professor Besnard,
que iniciaram as pesquisas científicas e a busca por um espaço.
Em janeiro de 1984, durante a segunda Operação Antártica (II
OPERANTAR), a bordo do Navio Barão de Teffé, o então ca-
pitão de corveta Edison Martins comandou o Grupo Base, for-
mado por militares que participam da operação, em busca de
um lugar adequado para estabelecer a EACF – Estação Antártica
Comandante Ferraz. O acampamento foi montado na praia da Baia
do Almirantado (Ilha Rei George, ilhas Shetland do Sul, na penín-
sula Keller, latitude 62°05’S e longitude 058°24’W.) em um espaço
com área possível de expansão, lagoas de degelo, um mar adequado
para desembarque, abrigo e espaço para manobrar o navio. E foi
ali que os primeiros contêineres foram montados, por um grupo
de seis militares e seis civis.
A II OPERANTAR conduziu três pesquisas científicas: uma so-
bre a baixa ionosfera, uma sobre as reações do corpo humano ao
frio antártico e uma sobre a meteorologia. Além disso, o Grupo
Base teve a missão de realizar um complexo trabalho logístico:
projetar as futuras ampliações da estação, reconhecimento do ter-
reno, teste de motores, avaliação de materiais, funcionamento da

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 215


estação e terreno para a ampliação da estação. Estava materializada
a missão brasileira de participar do grupo de países signatários do
Tratado da Antártica e poder decidir sobre o futuro do continente
por meio da realização permanente de pesquisa científica.

Navio Oceanográfico Prof. W. Besnard na Primeira Expedição


Brasileira à Antártica em 1983. (Rubens Junqueira Villela, 1983)

A partir daí, anualmente o Brasil envia cientistas para a Antártica,


tanto para a EACF, como para acampamentos e refúgios e ainda usa
os navios para apoio às coletas de dados e amostras oceanográficas.
Os Grupos Base lá invernam, cuidando da manutenção e funcio-
namento da estação que cresceu junto com as pesquisas e com o
reconhecimento internacional da ciência brasileira.
Infelizmente, no verão de 2012, um incêndio destruiu a EACF
e subtraiu a vida de dois militares que tentavam controlar o fogo.
Foram perdidas as instalações, equipamentos e amostras de pes-
quisas que lá estavam armazenadas. A tragédia consternou toda a
sociedade brasileira, mas o Brasil precisava se recuperar e conti-
nuar o trabalho, por isso, em 2013 foram instalados os módulos
emergenciais e encomendada a reconstrução das novas instalações.
Foi aberto um concurso de projetos arquitetônicos para a nova
Estação, em ação coordenada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil
em conjunto com a Marinha do Brasil. Mais de 100 projetos foram
apresentados. O vencedor, Estúdio 41 (Curitiba, PR) propôs uma

216 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


área de 4500 m2 com três blocos contendo 17 laboratórios, 32 ca-
marotes, áreas sociais, de serviços, operação e manutenção.
Para a construção – realizada por um grupo chinês – da nova
Estação foram adotadas técnicas para a gestão de água e esgoto que
consideram o reaproveitamento de águas servidas e o tratamento
dos efluentes finais. Associado à geração de energia com o emprego
de óleo diesel, foram instalados sistemas fotovoltaico e eólico, que
irão contribuir para a instalação gradual dos sistemas alternativos
de produção de energia limpa que, além da economia do óleo diesel,
irá reduzir a pegada de carbono da Estação (ou seja, a marca de
contaminação por carbono no planeta).

Estação Antártica Comandante Ferraz. (Marinha do Brasil, 2019)

Inaugurada em 15 de janeiro de 2020, a EACF é um marco de


modernidade em construções na Antártica. Tanto que recebeu o
prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte na categoria de
Arquitetura. Além dos aspectos estéticos, a moderna tecnologia
destaca as condições de conforto térmico, de iluminação, acústico
e psicológico. Na sua opinião, por que essas características são im-
portantes, principalmente para as pessoas, em um lugar tão remoto
quanto a Antártica?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 217


93  O que é o Programa
Antártico Brasileiro?
A realização permanente de pesquisas científicas na Antártica
é o que garante a participação do Brasil no Sistema do Tratado
da Antártica, possibilita ao país ser membro do SCAR (Scientific
Committee on Antarctic Research), e a participar ativamente do
cenário mundial que busca compreender os fenômenos da região
e suas influências no planeta e no país.
O Proantar, Programa Antártico Brasileiro, foi criado em 1982
com o objetivo de promover pesquisas científicas diversificadas
e de alta qualidade na região antártica, e respaldar o país em sua
condição de Membro Consultivo do Tratado da Antártica, assegu-
rando a participação brasileira nos processos decisórios relativos
ao futuro daquele continente.
O funcionamento do Proantar depende de esforços coorde-
nados pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
(CIRM). A CIRM é formada por:
Ministério da Defesa, por meio da Marinha do Brasil e da Força
Aérea Brasileira, oferece apoio logístico às operações, como, por
exemplo, navios e aviões para o transporte de pessoas e suprimen-
tos, e manutenção da Estação Antártica Comandante Ferraz;
Ministério das Minas e Energia, por meio da Petrobras, fornece
combustível para transporte e geração de energia;
Ministério das Relações Exteriores, coordena o diálogo com os
demais países;
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, por meio do
Comitê Nacional de Pesquisas Antárticas – CONAPA, define a
política e diretrizes nos assuntos relacionados às atividades e aos
interesses científicos e tecnológicos na Antártica. A execução é
coordenada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico);
Ministério do Meio Ambiente, avalia e monitora os impactos
ambientais causados pelas atividades brasileiras na Antártica,

218 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


garantindo o cumprimento das diretrizes do Protocolo de Madri
e a segurança ambiental nos espaços em que o Brasil realiza pes-
quisas (EACF, acampamentos, refúgios etc.).
A Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos
do Mar – SECIRM, responsável pelas atividades administrativas
da CIRM, coordena a Subcomissão para o Proantar, organizando
os mecanismos para o funcionamento e andamento das propos-
tas dos Grupos de Assessoramento (coordenado pelo CNPq), de
Operações (coordenado pela Marinha do Brasil) e de Avaliação
Ambiental (coordenado pelo MMA).

Dentre as atribuições do Proantar está a organização das Operações


Antárticas (Operantar) anuais, que têm início em outubro e são
concluídas no final de março, meados de abril, durante o verão
austral. Os demais meses são reservados para o planejamento da
operação, inclusive com a prática do TPA (Treinamento Pré-Antártico)
que todos devem realizar antes de embarcar em uma expedição.

Para a realização das operações, conta-se, desde 1983, com a


Esantar Rio Grande – Estação de Apoio Antártico, uma parceria
entre a CIRM e a FURG (Universidade Federal do Rio Grande). A
Esantar está localizada no município do Rio Grande (RS), uma das
cidades mais austrais do país e servida por um porto marítimo de
grande porte, um local estratégico para abastecimento dos navios
de apoio à pesquisa do Proantar. Uma unidade da Esantar foi es-
tabelecida no Rio de Janeiro em 2009, com objetivo de apoiar as
equipes de voo (ECV) e atividades de militares. Ao longo do tempo,
passou a se responsabilizar pelas atividades logísticas, realizar o
processo seletivo do Grupo Base – militares que passam um ano na
Estação, além de organizar e executar o Treinamento Pré-Antártico.
Agora que você já viu a complexidade do Programa Antártico
Brasileiro, deu para ter uma ideia sobre a grandiosidade das pesqui-
sas científicas na Antártica. Como você acha que poderia participar
de equipes que vão ao continente e águas antárticas para realizar
pesquisas científicas? Qual a principal habilidade que uma pessoa
precisa ter para passar uma temporada na Antártica?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 219


94  Como funciona um acampamento
de pesquisa antártico?
Algumas pesquisas na Antártica precisam acontecer longe das es-
tações científicas, e quando o deslocamento diário das estações
para esses locais de coleta (de dados ou amostras) e pesquisa não
é possível, os pesquisadores precisam ser deixados em outros lo-
cais, de acesso mais limitado, onde acampam. As estações, claro,
apresentam uma estrutura de conforto, com cômodos e leitos, ba-
nheiros, refeitórios, salas de conferência, cozinha e afins. Mas e
esses acampamentos?
Como os acampamentos precisam ser lançados (isto é, carga e
pessoal desembarcados) em outras áreas, é preciso todo um plane-
jamento que começa com a escolha da área onde o acampamento
será montado, de preferência um local abrigado de ventos muito
fortes e plano, por exemplo. Para isso, é preciso conhecer bem a re-
gião e, por esta razão, alpinistas experientes em ambientes nevados,
participam dos grupos de pesquisa para apoiar os acampamentos
de pesquisa, garantir a segurança dos pesquisadores e o bom fun-
cionamento do acampamento. É preciso ainda ter autorização do
Ministério do Meio Ambiente, pois há lugares protegidos que não
podem abrigar acampamentos.
O trabalho dos alpinistas não começa apenas no acampamento,
mas sim em todo um trabalho anterior que determina a área onde
o acampamento será instalado, verificação de equipamentos e ge-
radores, apoio no embarque e desembarque da equipe, conferên-
cia dos manifestos de carga (isto é, relação dos dados de carga) e
no treinamento dado aos pesquisadores antes de embarcar nos
navios de apoio oceanográfico. Tudo determinado, com as con-
dições climáticas favoráveis para o lançamento do acampamento,
o navio aproxima-se da praia o máximo possível para permitir o
lançamento do acampamento por mar, usando botes, ou pelo ar,
usando helicóptero.

220 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Uma vez montado o acampamento, deve-se lidar com um dia-a-dia
bastante adaptado a uma rotina muito diferente do que costumamos ter
no conforto dos nossos lares: frio, sacos de dormir, mau tempo, falta
de banho, fadiga, manutenção de barracas, além de muito trabalho!

Conta-se normalmente com uma grande barraca principal que


serve de cozinha e local de reunião e trabalho de todos, além de
outra para banheiro e as demais para repouso de cada membro
(ou membros) da equipe. Apesar desta configuração poder variar a
depender do tamanho da equipe e das barracas de que se dispõem.
Com o tempo, uma rotina acaba se impondo e, juntamente com
o hábito ao ambiente bem mais frio, o dia-a-dia torna-se menos
hostil. Acostuma-se, inclusive, a uma alimentação baseada em co-
mida pronta (congelada a vácuo), mas que também pode ser prepa-
rada pelos membros da equipe (sim, os pesquisadores dispõem de
fogão e utensílios para cozinhar!). E claro que os banhos também
são adaptados à realidade antártica: esporádicos, dependentes de
brechas no tempo (ou seja, aproveite o sol!) e “de caneca”! (com a
água aquecida para este fim). No mais, quando o banho não é pos-
sível, a higiene pessoal pode ser realizada com lenços umedecidos.
Um detalhe interessante e fundamental é o período no qual as
expedições e, particularmente, os acampamentos, acontecem. As
pesquisas em território antártico ocorrem normalmente durante
o verão, período no qual a temperatura está mais amena (para os
padrões antárticos) e, assim, o frio não é tão intenso, expondo
inclusive a cobertura do solo devido ao degelo, (o que é imprescin-
dível para pesquisas em campos como os da Paleontologia (estudo
dos fósseis), ou da Arqueologia (estudo de artefatos deixados pelo
homem), que precisam prospectar o solo e, portanto, acessá-lo.
Ao final, o material resultado das pesquisas (coletas, por exem-
plo) é resgatado juntamente com todos os demais equipamentos,
sobras de suprimentos, barracas e equipe até nada restar. Nada se
deixa na Antártica, nem mesmo rejeitos sanitários, que são acon-
dicionados em tonéis e içados de volta para serem descartados no
país de origem da expedição.

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 221


Acampamento lançado na
Antártica. (Sílvia Dotta, 2018)

Se acampar para realizar pesquisas na Antártica não é a mais


confortável das experiências, é sem dúvida a mais peculiar! O in-
verno rigoroso tornaria a adaptação a esse ambiente muito mais
desafiadora e perigosa, impondo maior risco e dificuldades a toda a
equipe. Você acha que o aquecimento global, ao promover o degelo
de algumas áreas, poderá trazer à tona fósseis e objetos ainda não
encontrados pelos cientistas? Isso seria uma consequência positiva
ou negativa das mudanças climáticas?

95  Como é o transporte de


pessoas na Antártica?
Que a Antártica não é um lugar qualquer, isto já sabemos! No
entanto, você já parou para se perguntar como acessamos o conti-
nente gelado? Por exemplo: será que podemos pegar um voo para
lá como se pega um voo para qualquer outro lugar? Teria, portanto,
um aeroporto na Antártica?
Para começo de conversa, chegar até a Antártica não é tão sim-
ples assim. Chega-se de avião? Sim! Mas não por um avião con-
vencional, e nem por intermédio de alguma companhia aérea. Na
verdade, quem é responsável pelo desembarque de brasileiros na
Antártica é a Marinha do Brasil (MB), em parceria com a Força
Aérea Brasileira (FAB), no caso do apoio aéreo. Cabe à FAB operar
voos de apoio para o continente gelado e, durante o inverno (março
a outubro), cabe a ela inteiramente o abastecimento da estação, já
que o acesso pelo mar torna-se inviável. E, como mencionamos

222 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


acima, não é qualquer avião que realiza estes voos de apoio. Este
translado é feito pela aeronave C-130, conhecida como Hércules.
Lembrem-se: na mitologia grega, Hércules era um semideus com
força incomum, assim como o C-130, uma aeronave que tem
quase 30 m de comprimento e é capaz de transportar cerca de 22
toneladas! As cargas são transportadas ou lançadas no caso do
inverno (pois o avião não pode aterrissar), e podem ser desde gê-
neros alimentícios frescos como verduras, frutas e até ovos, bem
como materiais diversos e medicamentos para os militares da base,
além de tripulação. O pouso, assim como a decolagem, constituem
operações extremamente delicadas pelos riscos envolvidos, prin-
cipalmente por se tratar de uma aeronave de grande porte em um
ambiente bastante adverso. E especialmente devido às condições
climáticas tais operações muitas vezes não acontecem.

Transporte
em zodiac na
Península
Antártica. (Sílvia
Dotta, 2018)

Uma outra forma de acesso é pela via marítima, a bordo de


navios polares e de apoio oceanográfico, mas apenas no verão an-
tártico, quando as condições do mar permitem uma navegação
menos arriscada. No inverno, além do congelamento do mar, a
quantidade de gelo na superfície, em áreas ainda navegáveis, pode-
ria comprometer a integridade das embarcações. Dos navios para
as áreas de costa, onde os acampamentos se instalam, são usados
botes e/ou helicópteros para desembarque de pessoal e equipamen-
tos, suprimentos e afins. Para o retorno, faz-se o caminho oposto: o
acampamento é recolhido por botes ou helicóptero para os navios,
e dos navios para as estações, de onde saem as aeronaves, ou pelos
próprios navios, que seguem até as suas bases nos seus países de
origem. Uma verdadeira odisseia! Mas será que este trabalhão todo
só começa no desembarque da equipe no continente gelado?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 223


96  Quando foi a primeira expedição
brasileira à Antártica?
Tudo começou com um imenso continente gelado e isolado, sem
habitantes, nenhum governo administrando, infinitas possibili-
dades de descobertas e muitos países disputando tudo isso. Para
evitar conflitos e preservar o continente gelado, foi firmado um
acordo entre todos os países envolvidos, o Tratado da Antártica,
assinado em Washington em 1 de dezembro de 1959 e vigente
desde 1961, com o propósito de reservar a região para atividades
pacíficas.

O Brasil aderiu ao Tratado da Antártica em 1975, porém sem direito a


voz e decisões sobre o continente, pois para se promover a categoria de
membro pleno, precisaria desenvolver um programa científico, que foi
criado somente em 1982, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar).

No verão de 1982, mais especificamente no dia 20 de dezembro


foi feita a primeira expedição brasileira à Antártica, com dois na-
vios: o navio polar Barão de Teffé, recém-adquirido pela Marinha
do Brasil e o navio Professor Wladimir Besnard, da Universidade
de São Paulo. Os navios levaram uma tripulação formada por:
bioquímicos, engenheiros de pesca, geólogo, químicos, meteoro-
logista, engenheiro eletrônico, oceanólogo, médico, marinheiro,
piloto, pescador, cozinheiro, maquinista, jornalistas, convidados
e o Comandante Adilson Luiz Gama. No total foram 112 homens.
Isso mesmo, somente homens.
Em cenário de festa e com cobertura da imprensa, os dois navios
saíram para setores diferentes da Antártica e ambos encontraram
grandes aventuras durante o trajeto. Por exemplo, em pleno mar de
Weddell, a sessenta quilômetros do círculo polar, uma pane no mo-
tor auxiliar deixou o Barão de Teffé à deriva durante dezessete ho-
ras, percorrendo cerca de trinta quilômetros sem controle.

224 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Prof W Besnard, Santos.
(Mike Peel, 2017)

O Professor Besnard também passou apuros, foi cercado por


gelo, sem possibilidade de manobra e por pouco não bateu. “Havia
gelo na altura do convés”, relatou Rubens Junqueira Villela, me-
teorologista da tripulação. Qualquer choque seria mortal para o
navio da USP, cujo casco tinha apenas oito milímetros de espessura
e chapa simples (navios polares tinham chapa dupla de proteção).
Também foi apanhado por uma tempestade que durou 24 horas,
com ondas de sete metros e ventos duas vezes mais fortes do que
o previsto pela meteorologia.
Essa grandiosa aventura teve como missão: o reconhecimento
hidrográfico, oceanográfico e meteorológico da área onde seria
instalada a futura Estação Antártica Comandante Ferraz. O sucesso
científico da expedição trouxe o reconhecimento necessário para
que o país se tornasse, em 1983, membro consultivo do Tratado da
Antártica, documento que regulamenta a ocupação e as pesquisas
no continente.
Nos últimos quarenta anos, centenas de cientistas brasileiros
trabalharam em projetos de pesquisa na Antártica. Cada vez mais
conhecer esse continente é fundamental para estudar as mudanças
climáticas e aperfeiçoar os serviços meteorológicos, uma vez que a
região influencia as circulações oceânicas e atmosféricas de todo o
mundo. Na sua opinião, quais devem ser os avanços nas pesquisas
científicas brasileiras nos próximos dez anos?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 225


97  É Antártica ou Antártida?
Para descobrir qual o correto, temos que voltar no tempo, para 500
anos antes de Cristo. Naquela época existia um filósofo e matemá-
tico chamado Pitágoras, que já afirmava que a Terra era redonda
e acreditava que existiam terras ao norte e terras ao sul para con-
trabalancear esse peso.
A parte norte era chamada de Ártico que do grego Arctikós sig-
nifica Urso, não por causa dos ursos, animais, mas sim por causa
da constelação Ursa Maior, que sempre aponta para o Polo Norte.
Já a parte sul seria o Anti-Arctikós, ou seja, o oposto do Arctikós,
que em latim ficou Antarcticus, que significa austral. Essa é a forma
que tem um sentido mais etimológico defendida por pesquisadores
mais eruditos.
Já pelo uso de alguns órgãos de imprensa e alguns grupos bra-
sileiros se convencionou usar Antártida como o substantivo e
Antártica é o adjetivo, podendo ser usada para se referir ao oce-
ano Antártico (nome arcaico do oceano Austral) e, por exemplo,
às aves antárticas.
É por isso que até os anos 1980–1990, a forma Antártida era
vista com mais frequência. No Brasil, os primeiros que pisaram no
continente e fizeram os primeiros documentos sobre a assinatura
do Tratado da Antártica, usaram essa regra do português. Por isso
que os papéis oficiais utilizam Antártida.
Essa regra também existe em alguns países de línguas espanhola
(a Argentina, por exemplo) e italiana e relaciona a Antártida com
a Nova Zelândia, que em espanhol é Nueva Zelanda, e a Atlântida.
Sim, Atlântida, o continente perdido da mitologia grega. É uma
explicação encontrada em algumas enciclopédias que fazem a asso-
ciação em que o adjetivo atlântico está para o substantivo Atlântida
assim como o adjetivo antártico estaria para a Antártida. Essa as-
sociação se fez pelo lugar que a Atlântida e a Antártida sempre
ocuparam no imaginário das pessoas do Ocidente por centenas de
anos: que são terras misteriosas, desconhecidas, incógnitas, onde
tudo poderia acontecer.

226 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Em alemão: Antarktis, em Francês: Antarctique, em Norueguês: Antarktis
e em inglês Antarctica. E como o inglês, hoje em dia, é a língua científica
universal, até Portugal usa um nome híbrido (Antárctida), o Brasil está
se adaptando à forma mais internacional. Isso, principalmente, após
o início das pesquisas brasileiras e a divulgação dos resultados.

Portanto, pesquisadores e militares utilizam a palavra Antártica,


e o governo ainda usa Antártida somente em alguns papéis do
Minsitério das Relações Exteriores porém, já começaram a se re-
ferir ao continente como Antártica.
O dicionário Houaiss classifica “antártica” apenas como adje-
tivo, o substantivo seria Antártida. Já o Aurélio classifica o verbete
“antártica” como adjetivo e substantivo. Portanto, você escolhe.
Nenhum dos dois está errado, Antártica ou Antártida, qualquer
um dos dois você pode utilizar. Qual você prefere?

98  Qual a diferença entre os polos


geográficos e os magnéticos?
Talvez você pense no Polo Norte apenas como o “topo do mundo”,
ou seja, o ponto mais ao norte do Planeta. Talvez, o mesmo acon-
teça com o Polo Sul. Na sua imaginação, pode ser que ele seja só
o ponto mais ao sul do planeta. Para uma criança, é possível que
o Polo Norte seja só o lugar onde fica a casa do Papai Noel. O que
talvez você não saiba é que, na verdade, existe mais de um Polo
Norte no nosso planeta, e também mais de um Polo Sul.
Existem alguns tipos de Polo na Terra, mas neste texto vamos
falar sobre dois deles: os polos magnéticos e os polos geográficos.
E qual a diferença entre eles? Bem… uns são geográficos e outros
magnéticos! Mas espera aí que eu vou explicar melhor.
O Polo Norte geográfico é também conhecido como o “Norte
verdadeiro”. A ciência já comprovou que o Planeta Terra tem um
formato esférico. Se não fosse assim, um monte de coisas que

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 227


acontecem no mundo, como as mudanças de estação e as marés,
não poderiam ser explicadas. Essa esfera, que é o nosso planeta,
gira em torno de um eixo imaginário. Tá vendo esse globo aí na fi-
gura? É mais ou menos desse jeito que o Planeta funciona. Os polos
geográficos correspondem aos lugares em que o eixo imaginário
da base corta o globo, que, por sua vez, gira em torno desse eixo.
No caso do Polo Norte geográfico, nem em terra firme ele está.
O Polo Norte geográfico fica no meio do oceano Ártico. Em 2007,
mergulhadores russos até chegaram a fincar a bandeira de seu país no
fundo do mar, bem no local do polo… quer dizer… no local em que
o polo estava naquele ano. É que o polo geográfico se move alguns
centímetros por ano. Isso acontece porque o eixo da Terra oscila
um pouco, por causa de algumas massas de ar e de água do planeta.
O Polo Sul geográfico está localizado na Antártica, no extremo
oposto do Polo Norte, como dá pra ver na imagem do globo. Ele
fica num grande planalto de gelo varrido por fortes ventos, 2.835
metros acima do nível do mar e a uma distância de 1.300 quilô-
metros do mar aberto mais próximo. Uma coisa curiosa é que a
camada de gelo da área em que o Polo Sul se encontra tem mais ou
menos 2.700 metros de espessura, então, na realidade, a superfície
da Terra debaixo desse manto de gelo está perto do nível do mar.
Agora que a gente já sabe um pouquinho sobre os polos geo-
gráficos, vamos aos polos magnéticos. O Planeta Terra funciona
como um ímã gigante. Todo ímã tem um polo norte e um polo
sul. Polos magnéticos opostos são atraídos
um pelo outro. Por exemplo, o polo norte
de um ímã seria atraído para o polo
sul de um segundo ímã. No caso da
Terra, seus polos magnéticos não
estão nos mesmos locais dos polos
geográficos. O campo magnético da
Terra origina de seu núcleo, que é
feito principalmente de ferro. Essas
partículas movem-se de uma maneira
que acaba produzindo correntes elétri-
cas gerando campos magnéticos.

228 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Os polos magnéticos mudam de posição de um ano para o ou-
tro de maneira bem mais acelerada do que os polos geográficos.
Algumas vezes 20 km em um ano. Hoje o Polo Sul magnético está
no oceano Austral, longe do continente.
Os polos magnéticos já se inverteram várias vezes ao longo da
história geológica, mas não se preocupe! Isso não vai acontecer du-
rante a minha ou a sua vida, porque o processo demora centenas de
milhares anos. Como você acha que cientistas descobriram que os
polos magnéticos e geográficos são opostos? O que você consegue
descobrir sobre isso?

99  Você já estudou as regiões


polares na escola?
Para começar, vamos resgatar em suas lembranças a última vez em
que você participou de uma aula na qual foi abordado o tema regi-
ões polares ou Antártica. Lembrou? Calma. Se você não lembrou,
não fique tão preocupado com o funcionamento do seu cérebro,
pois você pode nunca ter ouvido sobre esse tema em sala de aula.
Pois é, as regiões polares não são tão estudadas nas escolas. E agora,
sim, é a hora de ficar bem preocupado.
Por que a preocupação? Por vários motivos, vamos lá: porque a
Antártica é um continente maior que a Europa e a Oceania (e é maior
que o Brasil também!) e tem sua importância no globo terrestre.
Porque a Antártica tem influência no clima do nosso país e as mu-
danças climáticas são sentidas primeiramente lá. Porque nossas ações
influenciam a região Antártica. Porque é um verdadeiro laboratório
a céu aberto com muitas possibilidades de pesquisas que podem nos
ajudar a viver melhor. Porque foi feito o Tratado da Antártica para
firmar que o local fosse utilizado para fins científicos e pacíficos.
Esse Tratado reúne 53 países e qualquer alteração de seu conteúdo
requer concordância unânime: se algum país discordar, não haverá
a mudança. Porque há uma moratória (proibição) da exploração de

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 229


recursos que expira em 2048 e, então, as crianças e jovens que estão
nas escolas em 2021 poderão estar fazendo parte dessa tomada de
decisão. São muitos porquês. Mas principalmente porque você tem o
direito de saber sobre a Antártica. Eu também. Nós temos. Todos têm.

Apesar de toda sua importância e influência ambiental, o tema Antártica


é insuficientemente abordado em sala de aula, seja na educação básica
ou até mesmo no ensino superior. A maioria dos livros didáticos utilizados
no Ensino Fundamental não trata ou pouco explora o tema Antártica.

Também falta literatura no idioma português e quando há é


em uma linguagem de difícil acesso. Sabe aquela linguagem usada
pelos cientistas que as pessoas que não são da área não entendem?
Pois é, exatamente essa.
O assunto nem mesmo está incluso nos eixos temáticos ou te-
mas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, nem do
Ensino Fundamental nem do Ensino Médio. Na Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), documento de caráter normativo
que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens
essenciais para os alunos da Educação Básica, o tema Antártica é
citado somente uma vez.
Por outro lado, existem muitos cientistas, homens e mulheres,
brasileiros estudando a Antártica e também contribuindo de várias
formas na divulgação das ciências antárticas no Brasil e no mundo,
seja por canais de vídeos, podcasts, blogs, sites, mídias sociais e
projetos que levam a Antártica para as escolas.
Mas ainda é pouco. Você concorda? Precisamos de mais con-
versas, leituras, discussões e reflexões para desenvolver uma men-
talidade Antártica, já defendida por muitos pesquisadores. Dessa
forma, teremos uma melhor alfabetização científica e poderemos
finalmente contribuir mais para tomadas de decisões sobre as
nossas vidas de forma individual e no coletivo. Você é uma chave
importante nessa engrenagem! Por isso, reflita: Como as regiões
polares serão conhecidas em 2048? Serão conteúdos escolares?
Você fará parte dos grupos que estudam, divulgam ou decidem
sobre o futuro do continente e do clima na Terra?

230 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


100  Como inserir as regiões
polares nas escolas?
Se você fosse estudar as regiões polares na escola, em quais aulas
você acha que o tema estaria presente? Aposto que você pensou
nas matérias de Ciências, Biologia ou Geografia, certo? Mas será
que só essas disciplinas têm relação com a Antártica e o Ártico?
Será que as Ciências Humanas, por exemplo, não têm nada a ver
com as regiões polares? Não é bem assim, não. A verdade é que as
regiões polares são muito importantes para entendermos e estudar-
mos diversos aspectos das nossas vidas, desde o funcionamento do
planeta até aspectos culturais, ou até mesmo da Psicologia!
A Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, é um documento
do Ministério da Educação que estabelece quais são as aprendi-
zagens que todas as alunas e todos os alunos devem desenvolver
ao longo de seus anos na escola, desde a Educação Infantil, até o
Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Infelizmente, na BNCC,
que tem mais de 600 páginas, a Antártica só aparece uma vez. O
Ártico, coitado, nem é mencionado.

Mas uma das boas notícias é que isso vai precisar mudar, pelo
menos um pouquinho. Em junho de 2021, a National Geographic
Society (Sociedade Geográfica Nacional), uma organização que
tem o objetivo de melhorar e divulgar o conhecimento geográfico,
reconheceu oficialmente a existência de mais um oceano, além
dos quatro que já conhecemos (Índico, Atlântico, Pacífico
e Ártico). Esse “novo” oceano, mesmo sem ser reconhecido
oficialmente, já era anteriormente chamado de oceano Austral.

Com esse reconhecimento, os materiais didáticos, que até agora


falavam muito pouco ou nada sobre as regiões polares, vão ter de
ser alterados e o assunto vai precisar estar dentro das escolas. Mas
será que isso é o suficiente?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 231


Muito pelo contrário, professoras e professores entusiastas já es-
tão trabalhando com seus alunos assuntos relacionados à Antártica
e ao Ártico em diversas matérias, fazendo, em suas escolas, exce-
lentes projetos que agregam diferentes disciplinas.
Quer um exemplo? Eu aposto que nunca passou pela sua cabeça
conhecer um pouco mais sobre a Antártica na sua aula de Artes,
certo? Mas imagine que legal montar uma música só com os sons
antárticos? Sons dos ventos, da água, do gelo e dos animais que
são completamente diferentes de tudo que ouvimos por aqui no
Brasil. Já para quem se interessar mais pelas Artes Plásticas, pelo
desenho e pela pintura, que tal pensar em como seria a bandeira da
Antártica? Isso porque, como a Antártica não pertence a nenhum
país, ela não possui bandeira!
E na Língua Portuguesa, o que você acharia de estudar um li-
vro que conta sobre as aventuras de um explorador antártico? E
que tal escrever uma redação ou um poema sobre a região? E em
História, que tal aprender um pouco mais sobre o descobrimento
da Antártica e as expedições exploratórias que foram feitas para
lá? Algumas são tão impressionantes, mas tão impressionantes, que
viraram até tema de filme.

   
Livros infanto-juvenis sobre as regiões polares.

Na Geografia, as regiões polares são bastante importantes para


aprender sobre os oceanos, sobre os continentes e também sobre
latitude e longitude. Imagine que interessante seria calcular a quan-
tidade de água em um iceberg? A Biologia, então, é um prato cheio

232 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


para estudar as regiões polares, pois elas possuem ecossistemas
muito interessantes e uma diversidade muito grande de animais
super­interessantes. Afinal, quem não gostaria de aprender um
pouco mais sobre pinguins e ursos-polares, certo? Sabia que eles
vivem em regiões absurdamente distantes uma da outra?
Por que é tão importante estudar as regiões polares na escola?
Primeiramente, porque ainda existe muito desconhecimento sobre
elas. Por exemplo, você sabia que o continente Antártico é maior
do que toda a Europa? E mede 1,6 vezes o tamanho do Brasil? Em
segundo lugar, porque essas regiões são muito importantes para a
vida no nosso planeta e precisamos preservá-las.
Para que a gente consiga ajudar nessa preservação, precisamos
saber mais sobre essas regiões, e a escola é um ótimo lugar para
começar. E você, gostaria de participar de projetos sobre as regiões
polares na sua escola? O que você mais gostaria de saber? Que tal
compartilhar essas ideias com os seus colegas e os seus professores?

101  O que eu posso fazer para


preservar as regiões polares?
Você pode fazer muito. E eu também.
Quando o assunto é preservar, toda ajuda é bem-vinda. Mesmo
estando a milhares de quilômetros de distância das regiões polares,
nossas ações mais conscientes dentro de casa ou em atividades
corriqueiras têm consequências que chegam até lá, passando por
todo o meio ambiente.
Preservar o Ártico e a Antártica é cuidar de todo o planeta.
Contribuir para diminuir os efeitos do aquecimento da Terra que
vem derretendo as geleiras é uma responsabilidade minha, sua, do
vizinho, da prima, da professora e de todas as pessoas.
O preocupante aquecimento do planeta acontece basicamente
devido à ação humana: alta concentração na atmosfera de dióxido
de carbono e de outros gases de efeito estufa derivados da indústria,

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 233


do desmatamento ou da queima de combustíveis fósseis e de outras
atividades do nosso dia a dia. E já que o problema está na ação hu-
mana, façamos de nossas boas ações a nossa forma de contribuir.
E a ideia é começar agora, valendo.

Pinguins-de-barbicha sobre iceberg, Península Antártica. (Silvia Dotta, 2004)

Consumir de forma consciente é um grande aliado para a pre-


servação e os Rs da sustentabilidade podem nos ajudar e muito:
Refletir, Recusar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Respeitar, Reparar,
Responsabilizar-se, Repassar, Reintegrar, Reagir. Lembrar deles
nos momentos de consumir um produto ou um serviço nos ajuda
a tomar decisões conscientes e mudar nossos comportamentos.
E vale para tudo: desde água, energia elétrica, roupas, alimentos
(diminuindo o consumo de industrializados e quem sabe até dimi-
nuindo o consumo de carne, pois a pecuária contribui com uma
alta emissão de gases do efeito estufa) Ah! Há necessidade mesmo
de um celular novo se o seu ainda está funcionando bem?
As sacolas retornáveis e produtos com refil também ajudam
muito a repensarmos a produção do lixo. E já que falamos dele, é
necessário sempre descartá-lo em locais adequados.

234 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


Os automóveis, caminhões, ônibus e motocicletas são fontes de
emissões de gases que contribuem com o aquecimento do planeta
e aceleração das mudanças climáticas. Então, vale utilizar alter-
nativas sustentáveis de transporte como bicicleta, caminhadas ou
carona para ir ao trabalho, padaria ou ao mercado.
Plantar árvores! Esta é uma ação que continua super em moda
e é cada vez mais importante. Nos últimos anos, algumas empresas
e até pessoas físicas têm se comprometido a plantar um grande
número de árvores em suas propriedades, como forma de equili-
brar a quantidade de carbono que suas atividades profissionais ou
pessoais geram na atmosfera.
Fiscalizar também é uma forma de contribuir. Sempre! É im-
portante sabermos se as empresas das quais consumimos produtos
ou serviços estão comprometidas com a neutralidade de carbono
em suas operações, isto é, reduzindo as emissões possíveis e neu-
tralizando as que foram inevitáveis.
Após conversarmos sobre estas opções de contribuições, é ne-
cessário reforçar também que precisamos manter o otimismo. Isso
mesmo, sejamos otimistas! Alguns cientistas defendem que a ne-
gatividade não inspira as pessoas a agirem. E o que queremos e
precisamos é agir.

Mudar o seu e o meu comportamento precisa ser o nosso foco e


compromisso. Pois gestos que a princípio são simples contribuem
para a criação de uma mentalidade mais sustentável, principalmente
se um grande número de pessoas também se engajar.

Aproveite e leve essa nossa conversa para amigos, familiares e


pessoas que estão ao seu redor. Quanto mais pessoas comprometi-
das, melhor. Dar o exemplo, mostrar boas práticas e levar isso para
o dia a dia é um caminho para a preservação das regiões polares
e do planeta.
Se todas as pessoas e empresas hoje, neste momento, estivessem
realizando ações conscientes e engajadas para a preservação, como
estaria o nosso planeta? E a sua vida?

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 235


Posfácio

Em 8 de junho de 2021, a National Geographic Society declarou


que o planeta tem cinco oceanos: o Atlântico, o Ártico, o Índico, o
Pacífíco e o Austral. O oceano Austral, antigamente chamado de
oceano Antártico, circunda todo o continente Antártico com uma
biodiversidade única.
A importância da Antártica é pouco ou quase nada abordada
no currículo da Educação Básica, o que impacta fortemente no
conhecimento que a sociedade possa ter sobre a conservação desse
rico continente. Cada estudante precisa ser preparado para o desen-
volvimento sustentável, para se tornar cidadão tomador de decisões
bem embasadas, formador de opiniões e que adote ações responsá-
veis para garantir a qualidade ambiental, a economia viável e uma
sociedade justa para o presente e o futuro.
As mudanças climáticas severas, aceleradas pela ação humana,
que impactam diretamente a vida das pessoas, criam a necessidade
de que todos possam agir de maneira sustentável para garantir a
vida em nosso planeta. Para hábitos simples serem incorporados
em nosso cotidiano, a sociedade precisa saber o quanto eles po-
dem amenizar e até interromper um processo de degradação tão
prejudicial.
A região antártica é responsável pelo equilíbrio das tempera-
turas em nosso planeta, o nosso grande refrigerador. A Corrente
Circumpolar Antártica garante a recuperação de carbono e a distri-
buição de nutrientes, o que impacta em nossa economia, na indús-
tria pesqueira e na oferta e demanda de alimentos. Você, estudante,
tem o direito de conhecer, se apropriar dos conhecimentos sobre
as regiões polares e reivindicar ações locais de seus governantes a
fim de alcançar o desenvolvimento sustentável.
Professores de todas as disciplinas são responsáveis por uma
educação de qualidade e estudar a Antártica em sala de aula é,
além de um direito, um caminho rico em direção à visão integral

236 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


de sustentabilidade, sua importância e como nossas ações são es-
senciais para seu sucesso. Porém, há grande dificuldade em aces-
sar os conhecimentos produzidos e como transpor didaticamente
essas informações. Este livro vem suprir a falta de material didá-
tico direcionado aos estudantes, de fonte confiável e atualizada e
com linguagem adequada. Além de informações sobre o Ártico,
a Antártica e sua importância para entendimento das mudanças
climáticas, aproxima você, estudante, do fazer Ciência, e o quanto
isso é importante para o desenvolvimento sustentável de nosso
país, do nosso planeta.
E você, estudante, depois da oportunidade de construir conheci-
mentos sobre a Antártica, saber que ela interfere em sua vida e que
seus atos também a influenciam, o que pode fazer para preservar
este importante continente? Convido você a dividir o que aprendeu
com seus amigos, familiares, enfim com toda sua comunidade,
para juntos garantirmos um planeta mais saudável para nós e as
futuras gerações.

Viviane de Camargo Valadares de Mello


Bióloga e Professora de Ciências da Secretaria Municipal de São Paulo

Coleção 101 Perguntas sobre Regiões Polares 237


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244 Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas


ANTÁRTICA,
ÁRTICO
E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Antártica, Ártico e Mudanças Climáticas aborda os aspectos


naturais e antrópicos que influenciam o clima global. Será que
as mudanças climáticas são irreversíveis? Podemos fazer algo
para melhorar as condições do planeta? Este livro pretende
aguçar sua curiosidade sobre temas essenciais para compre-
ender as influências das regiões polares no clima e ampliar sua
conscientização e vontade de contribuir para frear os impactos
das mudanças globais.

ISBN 9786557190197

9 786557 190197

interantar.com
[email protected]

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