História Medieval
Material Teórico
O Fim da Sociedade Feudal Europeia
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Ana Barbara Pederiva e
Profa. Paula La Rosa Veiga
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
O Fim da Sociedade Feudal Europeia
·· O Fim da Sociedade Feudal Europeia
·· As Cruzadas e o Renascimento Comercial
·· As Feiras Medievais e o Crescimento Das Cidades
·· As Crises, a Transformação das Mentalidades e o Fim da Idade
Média
··O desenvolvimento do comércio internacional;
··As transformações das relações servis;
··A formação de novas mentalidades;
··A crise do século XV.
Olá, nesta unidade iremos estudar o fim da sociedade medieval. Por isso, é importante que
você leia, atentamente, o material teórico. Além disso, procure ler os livros indicados e os sites
sugeridos na seção material complementar.
Procure se aprofundar no tema, realizando pesquisas sobre assuntos que tenham despertado
sua curiosidade na unidade.
Realize as atividades propostas com seriedade. Fique atento aos prazos da unidade.
Responda às questões e participe de todas as atividades propostas.
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Unidade: O Fim da Sociedade Feudal Europeia
Contextualização
iStock/Getty Images
Nesta unidade, iremos conhecer alguns dos processos relacionados ao fim da Idade Média.
Foi um período marcado por transformações econômicas, políticas e sociais na Europa.
Sendo assim, veremos assuntos como: guerra, fome, doenças, revoltas, avanços
‘tecnológicos’, consolidação das monarquias entre outros tópicos.
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O Fim da Sociedade Feudal Europeia
O final da sociedade feudal teve início na chamada “Baixa Idade Média”, aproximadamente,
nos séculos XI ao XV. Esse período foi marcado por muitas transformações sociais, políticas,
culturais e econômicas na Europa.
O feudalismo entrou em crise por uma série de fatores. Vamos entender como isso ocorreu?
As Cruzadas e o Renascimento Comercial
Muitas foram as contradições que levaram o sistema feudal à decadência.
Durante o movimento das Cruzadas que possuía características religiosas, sociais e políticas
e teve início aproximadamente no século XI, a Europa passava por um grande aumento
populacional na camada da nobreza feudal europeia, provocando um excedente de mão de
obra guerreira, o que levou a uma constante luta entre os senhores por mais domínios.
Você sabia que a Igreja foi a única instituição que sobreviveu à crise do Império
Romano com sua organização administrativa praticamente intacta?
O Cristianismo, desde 451, era a religião oficial dos Imperadores Romanos.
Suas origens eram urbanas, portanto, expandiu-se, de início, conquistando as
cidades. A organização da Igreja, depois das primeiras perseguições, tomou
como modelo a administração do império, sua centralização e hierarquia,
tornando-se um Estado dentro do Estado Romano.
Desse modo, a cidade tornou-se a unidade essencial da administração
eclesiástica, sob a liderança do Bispo, cuja autoridade incluía o território
a seu redor (Diocese). As dioceses agrupavam-se em Províncias. No topo
da hierarquia, situavam-se os patriarcas, encarregados de um conjunto de
províncias e sediados nas cidades mais importantes.
Você sabia? Além disso, a situação da Igreja, em meio à crise do mundo Romano, pode ser
explicada por seu papel econômico e social. À medida que suas necessidades
materiais cresciam e o estado não deixava de lado suas funções assistenciais,
a Igreja passou a fazê-lo. Legitimava-se, assim, seu papel social, sem que seu
enriquecimento fosse condenado, já que os bens eclesiásticos estavam a serviço
de Deus para atender aos pobres e desvalidos. Ao mesmo tempo, crescia a
piedade dos fiéis - ricos e pecadores - capazes de comprar o perdão por meio
de esmolas e doações territoriais.
Vale salientar que a sobrevivência da Igreja ocorreu, também, por causa da visão
de mundo que veiculava, pois oferecia a milhares de homens decepcionados e
inquietos a promessa de uma vida melhor, ao mesmo tempo em que pregava
a libertação e o abandono das preocupações terrenas.
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Unidade: O Fim da Sociedade Feudal Europeia
O Papa Urbano II incentivava e patrocinava o
movimento militar das Cruzadas, por acreditar
que poderia resolver em parte o problema, pois
nobres que precisavam de terras, iam para o
Oriente e, em nome de “salvar a Terra Santa
de Jerusalém” das mãos dos muçulmanos,
apossavam-se de terras.
Artaud de Montor (1772–1849)/Wikimedia Commons
Ao mesmo tempo, as Cruzadas abriram
aos comerciantes europeus as rotas do Mar
Mediterrâneo, acabando com o monopólio
Árabe. A partir daí, a nobreza europeia entra
em contato com os produtos manufaturados do
Oriente.
Alphonse-Marie-Adolphe de Neuville (1835–1885)/
Wikimedia Commons
As principais Rotas Comerciais na Época do Renascimento Comercial na Europa.
cpalexandria.wordpress.com
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Qual o resultado imediato desta reabertura do comércio?
Uma forte pressão que a nobreza passou a exercer a partir do século XI sobre os servos,
com o objetivo de aumento de renda, por causa do aumento populacional e, também, pela
retomada do comércio entre Europa e o Oriente, que focava a importação de vários artigos de
luxo para o consumo dos senhores, ou seja, quanto maior a importação, maior tinha que ser a
renda feudal e, consequentemente, maior a exigência de produção e pressão sobre os servos.
Comércio na Idade Média.
Gianni Dagli Orti/AFP
Com tamanha demanda, rapidamente, os solos se exauriram e a produção ao invés de
aumentar, abaixou por causa do excesso de trabalho imposto aos servos. A economia feudal
sofria um grande golpe.
Ao mesmo tempo em que a economia feudal entrava em decadência, dois grandes polos
comerciais foram se formando na Europa. O primeiro no norte da Itália com as cidades de
Gênova e Veneza (produtos oriundos do Oriente e transportados através do Mar Mediterrâneo)
e o segundo, na região de Flandres (produtos oriundos do Norte e transportados por meio do
Mar Báltico e do Mar do Norte).
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Unidade: O Fim da Sociedade Feudal Europeia
As Feiras Medievais e o Crescimento Das Cidades
Renascimento Comercial na Europa e o Crescimento das Cidades.
portaldoprofessor.mec.gov.br
Com o desenvolvimento do comércio, as cidades começaram a crescer e diferentes rotas
comerciais terrestres faziam a ligação entre elas, com a organização das feiras que colocavam
em contato comerciantes de diferentes locais da Europa.
As feiras medievais, inicialmente, ocorriam em castelos fortificados ou burgos. Esses
locais administrados pelos senhores feudais não eram favoráveis aos comerciantes, pois
os mesmos deveriam pagar impostos e taxas para negociar seus produtos. Quem acabava
lucrando eram os senhores feudais, que conseguiam renda extra e, ainda, adquiriam produtos
estrangeiros.
Burgo Medieval.
Bertinoro, Itália/cicm11.cs.unibo.it
Como vimos, essa situação se transformou com o Renascimento comercial na Europa.
Com o comércio ganhando força, há o Renascimento da vida urbana e as cidades tornam-se
centros de produção artesanal.
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Muitas cidades que, antes surgiram dentro das terras do clero ou da nobreza e, portanto,
deviam submeter-se em termos de impostos, taxas e justiça, foram adquirindo autonomia por
intermédio do dinheiro ou das armas.
Mas como era a vida nas cidades medievais?
Nada fácil, pois elas foram crescendo sem planejamento
adequado e não possuíam infraestrutura básica, como
sistema de esgoto por exemplo. As cidades eram cercadas
por muralhas que objetivavam a proteção. Ao mesmo
tempo, havia uma grande dificuldade de abastecimento
de alimentos, o que levava a uma constante relação de
dependência com o campo.
Nas cidades, as associações conhecidas como
Corporações de Ofício, controlavam o trabalho
dos artesãos, a qualidade dos produtos, os métodos de
fabricação e, ainda, o preço das mercadorias.
Muitas eram as dificuldades desse contexto e não
somente nas cidades. A Europa passava por um período
univers-rr.com
conturbado. Vamos compreender?
As Crises, a Transformação das Mentalidades e o Fim da Idade Média
Nessa época, foram as mudanças econômicas trazidas pelo renascimento comercial e
urbano. Assim, perturbações de variadas espécies iriam conturbar a vida na Europa: fome,
guerra, peste, revoltas camponesas, desordens internas na igreja.
A confusão era geral e, em cada camada da sociedade, havia motivos para insatisfação:
servos, burgueses, senhores feudais, comerciantes, reis, religiosos etc.
As forças que marcaram o final da Idade Média e do Sistema Feudal estavam em grande
movimentação. Por exemplo, com o renascimento do comércio e da vida urbana, houve
também o início do renascimento cultural, que teve como berço a Itália, com artistas e
filósofos que buscavam inspiração na cultura Greco-Romana e que estava relacionada ao
aparecimento de uma nova classe social, os comerciantes.
Para saber mais sobre o renascimento cultural na Europa leia o artigo “O
Renascimento cultural a partir da imprensa: o livro e sua nova dimensão no contexto
social do século XV”. Disponível em: http://revistas.unipar.br/akropolis/article/viewFile/1413/1236.
Acesso em: 16/11/2014.
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Unidade: O Fim da Sociedade Feudal Europeia
Os ideais humanista e racionalista, também, ganham destaque nesse período e
intensificam-se, posteriormente, em oposição ao teocentrismo, com as ideias de valorização
do homem, da razão e da natureza, expressando uma mentalidade burguesa em oposição à
religiosa predominante até o período.
Os burgueses (assim como muitos nobres) tornaram-se mecenas, financiando e protegendo
os artistas e suas obras de arte variadas nos anos seguintes.
Nascimento de Venus – Botticelli. Criação do Homem - Michelangelo.
Sandro Botticelli (1445–1510)/Wikimedia Commons Michelangelo Buonarroti (1475–1564)/Wikimedia Commons
Pieta - Michelangelo.
Michelangelo Buonarroti (1475–1564)/Wikimedia Commons
Mesmo assim, no início do século XIV, o Papa Bonifácio VIII proclamou um jubileu para
celebrar o novo centenário do nascimento de Jesus Cristo e conseguiu atrair uma multidão de
romeiros, demonstrando sua popularidade. Mas, naquele contexto, Eduardo I que ocupava
o trono da Inglaterra e Filipe o Belo, que reinava na França, viviam em permanente disputa
pela posse das terras da França, que estava nas mãos dos ingleses. Por conta destas disputas,
ambos resolveram taxar os bens do clero dentro dos seus reinos.
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Papa Bonifácio VIII. Eduardo I. Felipe O Belo.
seibonokishi.blogs.sapo.pt Wikimedia Commons Wikimedia Commons
Como resposta, em 1296, o Papa Bonifácio VIII lança a Bula Clericis Laicos, na qual,
ameaçava de excomunhão qualquer governante que taxasse o clero e o homem da igreja.
Mesmo com a promulgação da Bula, Eduardo e Filipe não abriram mão de sua decisão.
Alguns meses mais tarde, percebendo que seu poder estava sendo ameaçado, o Papa
lançou a Bula Unam Sanctam que dizia que era absolutamente necessário que todos os
seres humanos se submetessem ao pontífice romano. Como reação, Filipe resolve depor o
papa, alegando que sua eleição havia sido ilegal.
Em 1305, elegem para papa um francês, Clemente V. Depois de Clemente, mais 6
papas sucessivos foram franceses e nunca estiveram em Roma. Portanto, o papado passa a
depender da monarquia francesa, trazendo uma grande transformação política para o período
e, consequentemente, de mentalidades.
Papa Clemente V.
Henri Segur/Wikimedia Commons
Em 1337, tem início a chamada Guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra e França. A
guerra se iniciou por causa de acusações de pirataria no Canal da Mancha e, também, pelo
controle da região de Flandres, ou seja, os soberanos brigavam por causa da “suserania”
mantida pelos ingleses sobre terras da França e vemos surgir o espírito do nacionalismo.
Para os ingleses, a Guerra era orgulho nacional.
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Unidade: O Fim da Sociedade Feudal Europeia
Guerra dos Cem Anos.
Jules Eugène Lenepveu/Wikimedia Commons
Politicamente, o feudalismo era caracterizado pela descentralização do poder político, que
estava nas mãos, principalmente, dos senhores feudais. Mas, no período final do feudalismo,
vimos surgir o fortalecimento da autoridade do rei com a formação das monarquias nacionais
em parte da Europa.
A ideia era centralizar o poder militar e político nas mãos dos reis e, ainda, definir territórios
para os reinos, ou seja, o território não seria mais um amontoado de feudos e, sim, um
território coeso e que seria submetido à autoridade dos monarcas e suas leis. A consolidação
das monarquias nacionais foi possível por causa da aliança entre a burguesia, mercadores,
comerciantes e os reis.
Durante a Guerra dos Cem Anos, uma mulher destacou-se no cenário Francês:
Joana D´arc, que ajudou a França a derrotar a Inglaterra.
Para saber mais sobre a história, assista ao vídeo indicado abaixo:
“Vida e martírio de Santa Joana D´arc”. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=ExsUvbm5PuU. Acesso em: 16/11/2014.
Durante essa guerra, técnicas e instrumentos de batalha surgiram, como arco de mão ou
arco inglês, que atirava uma flecha de 1 metro de comprimento, a uma distância de quase 400
metros e, ainda, uma média de 5 a 6 setas por minuto. Muitos soldados eram contratados por
dinheiro e, em consequência disso, ocorriam muitos saques, assassinatos, estupros etc.
O quadro de horrores vai se completando com a Peste vinda do Oriente, a Morte Negra ou
Peste Negra, a conhecida peste bubônica, que levou uma grande parte da população à morte,
aproximadamente, um terço de toda população europeia, nos anos de 1347 a 1350.
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Peste Negra.
Wikimedia Commons
No norte da França, em 1358 inicia-se a revolta conhecida como Jacquerie, nome
tirado de Jacques, apelido dos camponeses. Essa situação foi extremamente complexa, pois
como vimos anteriormente, com o fortalecimento das cidades houve o aumento do consumo
dos produtos agrícolas e, consequentemente, o aumento das exigências dos nobres sobre o
trabalhador servil.
Revoltados com sua situação de exploração, os camponeses uniram-se, incendiaram
castelos e atacaram os nobres senhores. Mas, apesar da insurreição ter sido controlada,
intensifica-se a crise agrícola e, em consequência, os nobres tiveram que fazer várias
concessões aos camponeses.
Revolta Jacquerie.
Jean Froissart/Wikimedia Commons
Mesmo com a contenção dos camponeses, a servidão gradualmente ia morrendo na Europa.
O servo do campo e o artesão da cidade forjaram uma aliança, em que a igualdade humana
passou a ser pregada, o igualitarismo. Mais uma vez, podemos verificar a transformação das
mentalidades.
Ainda nesse contexto de transformações, em 1453, acaba a Guerra dos Cem Anos com a
vitória dos franceses e os turcos tomam Constantinopla.
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Unidade: O Fim da Sociedade Feudal Europeia
Tomada de Constantinopla.
Eugène Delacroix (1798–1863)/Wikimedia Commons
Com a centralização do Estado em parte da Europa, teve início a organização de esquadras
para transporte de mercadorias do Oriente e inicia-se, assim, o período das grandes navegações.
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Material Complementar
Para saber mais sobre a baixa Idade Média, leia os artigos:
Sites:
COSTA, M. R. N. Mulheres intelectuais na idade média: Hildegarda
de Bingen – entre a medicina, a filosofia e a mística. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732012000400013&lang=pt. Acesso
em: 16/11/2014.
SOARES, P. R. N. A representação dos povos de Gog e Magog no mapa de
Hereford e a percepção da alteridade na baixa Idade Média. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-77042012000200009&lang=pt. Acesso
em: 16/11/2014.
SILVA, E. O. “Quem chegar por último é mulher do padre”: as Cartas de
Perdão de concubinas de padres na baixa Idade Média portuguesa. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332011000200015&lang=pt. Acesso
em: 16/11/2014.
SANCHEZ-DAVID, C. E. LA MUERTE NEGRA. “EL AVANCE DE LA PESTE”. Disponível
em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-52562008000100018&lang=pt.
Acesso em: 16/11/2014.
BALZA, I. De Hechicera a Santa: la Piedad Heroica De Juana De Arco. Disponível
em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-24892011000100014&lang=pt.
Acesso em: 16/11/2014.
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Unidade: O Fim da Sociedade Feudal Europeia
Referências
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DOBB, Maurice. A Evolução do capitalismo. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
FRANCO JR., H. O Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1991.
FREMANTLE, Anne. Ventos de mudança. Idade da Fé. Biblioteca de História Universal Life.
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1965.
GINZBURG, Carlo. O Queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido
pela inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Lisboa: Estudios-Cor, 1973.
MENDONÇA, Sonia Regina de. O mundo carolíngio. São Paulo: Brasiliense, 1987.
(Tudo é História)
NOVINSKY, Anita. A Inquisição. São Paulo: Brasiliense, 1992. (Tudo é História)
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Anotações
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