UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
Faculdade de Educação e Comunicação
Valores Militares Transmitidos pelo Professor Militar no Processo de Ensino e
Aprendizagem.
Estudante: Mauro Tiago Njelezi
Curso: Psicopedagogia
Nampula, Dezembro de 2018
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
Faculdade de Educação e Comunicação
Valores Militares Transmitidos pelo Professor Militar no Processo de Ensino e
Aprendizagem.
Dissertação submetida à Faculdade de
Educação e Comunicação da Universidade
Católica de Moçambique para obtenção do
grau Académico de Mestre em
Psicopedagogia.
Estudante: Mauro Tiago Njelezi
Orientador: Doutor Mahomed N. Ibraimo
Nampula, Dezembro de 2018
ÍNDICE GERAL
DECLARAÇÃO DE AUTORIA ............................................................................................... v
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................ vi
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................viii
ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................................ ix
ÍNDICE DE IMAGENS ............................................................................................................. x
RESUMO .................................................................................................................................. xi
ABSTRACT .............................................................................................................................xii
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1
1. Problematização............................................................................................................... 3
2. Objectivos e questões de estudo ..................................................................................... 5
3. Justificativa do estudo ..................................................................................................... 6
CAPITULO I: REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... 8
1.1. Conceito de valores ...................................................................................................... 8
1.2. Classificação dos valores ........................................................................................... 11
1.2.1. Valores universais .............................................................................................. 12
1.2.2. Valores pessoais ................................................................................................. 13
1.2.3. Valores sócio-culturais ....................................................................................... 14
1.3. Valores nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique .......................................... 16
1.3.1. Valores militares ................................................................................................. 16
1.4. Processo de ensino e aprendizagem na Academia Militar ......................................... 26
1.4.1. Processo de ensino-aprendizagem ...................................................................... 26
1.4.2. Socialização à cultura militar ............................................................................. 30
1.4.3. Modos de transmissão dos valores militares ...................................................... 34
1.4.4. O perfil do professor militar ............................................................................... 36
CAPITULO II: DESENHO METODOLÓGICO ..................................................................... 40
2.1. Paradigma e metodologia do estudo .............................................................................. 40
2.2. Participantes do estudo .................................................................................................. 43
2.3. Instrumentos e técnicas de colecta de dados ................................................................. 44
2.4. Modelo de análise de dados ........................................................................................... 48
2.5. Caracterização do local de estudo ................................................................................. 50
2.6. Questões éticas do estudo .............................................................................................. 51
CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...... 52
3.1. Percepção dos professores militares e dos alunos sobre o conceito de valores. ............ 52
3.2. Valores militares transmitidos pelo professor militar no processo de ensino-
aprendizagem ........................................................................................................................ 54
3.3. Modos como os professores militares transmitem os valores militares. ....................... 57
3.4. Importância dos valores militares transmitidos pelo professor militar.......................... 62
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 70
APÊNDICES ............................................................................................................................ 77
Apêndice A: Grelha de observação ...................................................................................... 78
Apêndice B: Roteiro de entrevista submetido aos professores militares.............................. 80
Apêndice C: Roteiro de entrevista submetido aos alunos. ................................................... 81
Apêndice D: Categorização das entrevistas feitas aos Professores Militares. ...................... 82
Apêndice E: Categorização das entrevistas feitas aos alunos............................................... 86
Apêndice F: Transcrição da entrevista feita ao professor militar 1. ..................................... 88
Apêndice G: Transcrição da entrevista feita ao professor militar 2. .................................... 91
Apêndice H: Transcrição da entrevista feita ao professor militar 3. .................................... 93
Apêndice I: Transcrição da entrevista feita ao professor militar 4. ...................................... 97
Apêndice J: Transcrição da entrevista feita ao aluno 1. ..................................................... 101
Apêndice K: Transcrição da entrevista feita ao aluno 2. .................................................... 103
Apêndice L: Transcrição da entrevista feita ao aluno 3. .................................................... 105
Apêndice M: Imagens captadas no local de pesquisa......................................................... 107
ANEXOS ................................................................................................................................ 109
Anexo I: Regulamento da Academia Militar. ..................................................................... 110
Anexo II: Lei de Defesa Nacional e que define a Condição Militar. ................................. 112
Anexo III: Código de Honra do Estudante da Academia Militar. ...................................... 114
Anexo IV: Normas de Vida Interna dos Estudantes da Academia Militar. ........................ 115
Anexo V: Livro de inspeção semanal. ................................................................................ 117
DECLARAÇÃO DE AUTORIA
Eu, Mauro Tiago Njelezi, declaro por minha honra que a presente dissertação é resultado
da minha pesquisa e das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as
fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e nas referências bibliográficas.
Declaro ainda que a dissertação nunca foi apresentada em nenhuma instituição de ensino para
obtenção de qualquer grau académico.
Nampula aos ___/___/2018
Estudante declarante:_________________________
Mauro Tiago Njelezi
v
DEDICATÓRIA
A dissertação é dedicada aos meus pais, Beatriz Wemba e André Emanuel Luendo que
me apoiam em todos momentos.
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela saúde. Ao meu supervisor Professor Doutor Mahomed Nazir Ibraimo, por
compartilhar seus conhecimentos na orientação da dissertação.
À Faculdade de Educação e Comunicação (FEC), especialmente aos professores do
Departamento de Educação, por me terem dotado de novos saberes. Ao comando da
Academia Militar, pela compreensão e motivação.
Aos meus colegas de turma do mestrado em psicopedagogia e dos demais mestrados em
Educação da FEC, pelo ambiente acolhedor e amigável disponibilizado nas aulas.
À minha namorada Aida Capial, pelo apoio. Aos meus amigos, irmãos e a todo aquele
que directa ou indirectamente contribuiu na minha formação académica.
vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Al.: Aluno
AM: Academia Militar
AMP: Academia Militar Portuguesa
CFO: Curso de Formação de Oficiais
EME: Estado-Maior do Exercito
FA: Forças Armadas
FADM: Forças Armadas de Defesa de Moçambique
FEC: Faculdade de Educação e Comunicação
FPLM: Forças Populares de Libertação de Moçambique
FRELIMO: Frente de Libertação de Moçambique
MC: Manual de Campanha
MPER: Ministério Público do Estado de Rondónia
NVI: Normas de Vida Interna
OTAN: Organização do Tratado do Atlântico Norte
PM: Professor Militar
PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
viii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Valores militares preservados no passado por três sociedades................................. 19
Tabela 2: Valores de alguns Exércitos da OTAN..................................................................... 20
Tabela 3: Características do professor. ..................................................................................... 38
Tabela 4: Síntese das entrevistas realizadas. ............................................................................ 47
Tabela 5: Categorias e subcategorias de análise do estudo. ..................................................... 49
Tabela 6: Grelha de observação................................................................................................ 78
Tabela 7: Roteiro de Entrevista submetido aos professores militares. ..................................... 80
Tabela 8: Roteiro de Entrevista submetido aos alunos. ............................................................ 81
Tabela 9: Entrevistas aos Professores Militares (PM). ............................................................. 82
Tabela 10: Entrevistas aos Alunos (Al.) ................................................................................... 86
Tabela 11: Entrevista ao Professor Militar 1 (PM1)................................................................. 88
Tabela 12: Entrevista ao Professor Militar 2 (PM2)................................................................. 91
Tabela 13: Entrevista ao Professor Militar 3 (PM3)................................................................. 93
Tabela 14: Entrevista ao Professor Militar 4 (PM4)................................................................. 97
Tabela 15: Entrevista ao Aluno 1 (Al.1). ............................................................................... 101
Tabela 16: Entrevista ao Aluno 2 (Al.2). ............................................................................... 103
Tabela 17: Entrevista ao Aluno 3 (Al.3). ............................................................................... 105
ix
ÍNDICE DE IMAGENS
Imagem 1: Estudante-dia saudando o professor militar ......................................................... 107
Imagem 2: Estudantes marchando para a sala de aulas. ......................................................... 107
Imagem 3: Estudante finalista discursando para estudantes do 1o ano................................... 108
Imagem 4: Professor militar impondo a disciplina militar. .................................................... 108
x
RESUMO
O presente trabalho tem como tema: Valores Militares Transmitidos pelo Professor
Militar no Processo de Ensino e Aprendizagem, caso da Academia Militar. O trabalho foi
norteado pela seguinte questão de pesquisa: de que modo os valores militares são transmitidos
pelo professor militar no processo de ensino e aprendizagem na Academia Militar? Para
aprofundar esta questão de pesquisa, foi fundamental conhecer a percepção dos professores
militares e dos alunos da Academia Militar sobre o conceito de valores; identificar os valores
militares transmitidos pelo professor militar no processo de ensino e aprendizagem;
caracterizar o modo como os professores militares transmitem os valores militares; e conhecer
a importância dos valores militares transmitidos pelo professor militar. A pesquisa foi
desenvolvida com base no paradigma interpretativo, com recurso a metodologia qualitativa e
o estudo de caso, e participação de sete (7) militares da Academia Militar. Para a recolha de
informações foram aplicadas a observação, a entrevista semiestruturada e a análise
documental. E no que concerne a análise do material que foi recolhido, empregou-se a análise
de conteúdo. No entanto, após a realização da pesquisa de campo concluiu-se que a maioria
dos participantes do estudo considerou valores como costumes e normas sociais de convívio
numa sociedade seja civil ou militar; o professor militar no processo de ensino e
aprendizagem transmite valores referentes a convicções, carácter, dever e tradição, como
Unidade Nacional, camaradagem, honestidade, cumprir com exactidão e prontidão as
actividades, respeito, marcha e outros; o professor militar apoia-se nos modos de transmissão
de valores militares através da fiscalização do cumprimento das regras da instituição, a partir
da experiência individual do professor, através da demostração-exemplar, e a partir da aula
expositiva-ativa do tema valores; e, por fim, apurou-se que é importante transmitir os valores
militares para preservar os próprios valores militares e a Instituição Militar.
Palavras-chave: Valores Militares, Professor Militar, Transmissão de Valores, Ensino-
Aprendizagem.
xi
ABSTRACT
The present work has as its theme: Military Values Transmitted by the Military Teacher
in the Teaching and Learning Process, case of the Military Academy. The work was guided
by the following research question: how are military values transmitted by the military teacher
in the teaching and learning process at the Military Academy? To deepen this research
question, it was fundamental to know the perception of military teachers and students of the
Military Academy about the concept of values; identify the military values transmitted by the
military teacher in the teaching and learning process; characterize the way military teachers
transmit military values; and to know the importance of military values transmitted by the
military teacher. The research was developed based on the interpretative paradigm, with
resource of the qualitative methodology and the case study, and participation of seven (7)
Military of the Military Academy. For the information gathering they were applied the
observation, the semi structured interview and the documentary analysis. And in what it
concerns the analysis of the material that was gathered, the content analysis was employed.
However, after the realization of the field work ends what most of the participants of the study
find values like customs and social standards of familiarity in a society civil or
military; the military teacher in the teaching and learning process transmits values referring to
convictions, character, duty and tradition, like National Unity, comradeship, honesty, to carry
out activities with accuracy and readiness, respect, march and others; the military teacher if it
supports to the ways of transmission of military values through the inspection of the
fulfillment of the rules of the institution, from the individual experience of the teacher,
through the demonstrate-example, and from the classroom exhibition-active service of the
subject values; and, for end, one perfected that it is important to transmit the military values to
preserve the military values themselves and the Military Institution.
Key words: Military Values, Military Teacher, Valuable Transmission, Teaching- learning.
xii
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é uma dissertação que representa o requisito final para à obtenção do
grau académico de mestre em Psicopedagogia pela FEC da Universidade Católica de
Moçambique. A dissertação subordina-se ao tema: Valores Militares Transmitidos pelo
Professor Militar no Processo de Ensino e Aprendizagem, caso da Academia Militar (AM). O
objectivo do estudo da temática é de analisar o modo como os valores militares são
transmitidos pelo professor militar no processo de ensino e aprendizagem. Isto porque no
momento actual, de acordo com Virães (2013), a importância dos modos de transmissão de
valores na escola é cada vez maior, na medida em que ajudam no desenvolvimento e na
afirmação do carácter próprio da humanidade e de cada indivíduo dentro da sociedade e/ou
organização onde se encontra inserido.
A importância dos modos de transmissão de valores é também notável nas escolas
militares, pois promovem e desenvolvem manifestações essenciais e postulados existenciais
de quaisquer Forças Armadas (FA), ou seja, desenvolvem valores militares das FA ou:
Grupos específicos e especializados de cidadãos armados, reconhecidos como legais e
legítimos pela população de um Estado, que têm como finalidade a defesa da independência e
soberania desse Estado e, quando necessário, a prossecução da política externa por recurso à
força ou à ameaça do seu uso, que obedecem aos poderes públicos legais e legítimos, sejam
eles quais forem (Fraga, 1994, p. 20).
Os modos de transmissão de valores incorporam parâmetros normativos que influenciam
os valores militares que os alunos podem desenvolver (PNUD, 2010). Esses valores militares
que os alunos desenvolvem não são comuns nos Exércitos, todavia, em todas sociedades
promovem o bem comum, pois não há como falar-se em FA morais sem que elas estejam
inseridas em um contexto moral mais amplo (Ribeiro, 2016). Embora a globalização tenha
vindo corporizar valores transnacionais, na sociedade moçambicana, os valores militares são
imutáveis pois representam a matriz identitária das Forças Armadas de Defesa de
Moçambique (FADM) e preceitos fundamentais de consolidação da nação moçambicana cuja
demonstração e reafirmação é patente nas actividades quotidianas dos militares.
À medida que a manutenção dos valores militares se torna essencial, a materialização
desse processo exige aplicação eficiente e eficaz dos modos de transmissão dos valores que
encontram-se integrados no processo de socialização à cultura militar, um processo, conforme
Timana (2018), bastante distinto e peculiar, uma vez que propõe transformar um cidadão civil
num militar, dotando-o de conhecimentos, habilidades, hábitos, rituais e crenças militares.
1
Assim, com vista a nortear a temática do estudo, estruturou-se o presente trabalho em três
capítulos. Porém, antes da descrição dos capítulos, apresentou-se o estudo na decorrente
introdução que abarca a exposição do tema, a contextualização da problemática, os objectivos
e as questões de estudo, e a justificativa do estudo.
Feita a apresentação do estudo segue o primeiro capítulo que contempla a revisão da
literatura, onde discutiu-se o conceito de valores e apresentou-se a classificação de valores
que integra os universais, pessoais e sócio-culturais; em seguida descreveu-se os valores nas
FADM; e para encerrar o capítulo, falou-se do processo de ensino e aprendizagem na AM,
dos fundamentos do processo de ensino-aprendizagem, da socialização à cultura militar, dos
modos de transmissão dos valores militares e do perfil do professor militar.
No segundo capítulo, apresentou-se o desenho metodológico que o estudo adoptou, ou
seja, o paradigma e a metodologia do estudo, onde descreveu-se, na visão de vários autores,
os conceitos, e na visão do autor do estudo, os motivos da escolha do paradigma e da
metodologia; e seguidamente indicou-se os participantes do estudo, instrumentos e técnicas de
cocleta de dados (a observação, a entrevista semiestruturada e análise documental); feito isso,
fez-se a apresentação do modelo de análise de dados usado no estudo, a caracterização do
local do estudo e encerrou-se o capítulo com as questões éticas do estudo.
O terceiro capítulo corresponde à apresentação, análise e discussão dos resultados. Nessa
fase, procedeu-se através da descrição à apresentação das informações colectadas nas
entrevistas, na observação e na análise documental, simultaneamente fez-se à análise e
discussão dos dados referentes a percpeção dos professores militares e dos alunos da AM
sobre o conceito de valores, valores militares transmitidos pelo professor militar no processo
de ensino aprendizagem, modos como os professores militares transmitem os valores
militares, e importância dos valores militares transmitidos pelo professor militar.
Após o terceiro e último capítulo, apresentou-se as principais conclusões do estudo e as
referências bibliográficas usadas para elaboração do estudo. A seguir a esses elementos,
inseriu-se os apêndices que contemplam o guião de observação, os roteiros das entrevistas
usados para a colecta de dados, a análise de conteúdo das entrevistas realizadas, as
transcrições das entrevistas realizadas tanto com os professores militares quanto com os
alunos, imagens capturadas no local de estudo e por fim inseriu-se os anexos que contemplam
alguns os documentos encontrados e consultados na AM.
2
1. Problematização
O ser humano desde suas origens, considera a existência de valores, quadro de princípios
e regras de comportamento, implícitos em normas ou tradições, e desde então, se sujeita a
esses valores para julgar os seus actos (Ribeiro, 2016). Para manter e reproduzir os valores
são transmitidos às novas gerações por meio do processo educativo. Esse processo, no
entanto, está sob responsabilidade de instâncias específicas como a família e a escola. A
família é o meio onde a vida começa, onde se dá os primeiros passos, onde se faz as primeiras
aprendizagens e onde ocorre a primeira socialização (Ribeiro, 2009). A escola, segundo
Albuquerque (2010), cumpre, na essência, a função fundamental de socialização secundária,
na medida em que forma indivíduos/pessoas adaptados à sociedade em que vivem. Onde para
isto, faz com que integrem normas, conhecimentos, valores que privilegiam o grupo social ao
qual são chamados a se integrarem. Forquin (1992) afirma que ao assumir a função de
socialização, a escola participa na perpetuação da experiência humana como cultura.
Neste âmbito, AM, estabelecimento militar de ensino superior que tem a finalidade
essencial de formar oficiais destinados aos quadros permanentes das FADM, com vista a
socializar à cultura militar, guia ou orienta o comportamento do estudante a partir de três
instrumentos, a saber: Condição Militar; Código de Honra do Estudante da AM e Normas de
Vida Interna (NVI).
O primeiro instrumento, a Condição Militar, é o regime a que deve ser obedecido no
exercício dos direitos e no cumprimento dos deveres pelos militares (Lei no 18/97, de 1 de
Outubro). E dentre as características da Condição Militar destacam-se na lei no 18/97, de 1 de
Outubro as seguintes: i) Subordinação ao interesse nacional e ao poder político
democraticamente instituído (governo do dia); ii) Permanente disponibilidade para lutar em
defesa da Pátria, se necessário com sacrifício da própria vida; iii) Sujeição aos riscos inerentes
ao cumprimento das missões militares, bem como à formação, instrução e treino que as
mesmas exigem, quer em tempo de paz, quer em tempo de guerra; entre outros.
O segundo instrumento, Código de Honra do Estudante da AM, é um conjunto de regras
que visam orientar e disciplinar a conduta do estudante da AM. Este Código, tal como outros
Códigos, representa uma colecção ordenada e articulada de preceitos, normas, cláusulas e
disposições relativas a um assunto especial de direito (Fraga, 1994). E o mesmo, conforme
Academia Militar Portuguesa (AMP) (s/d), contém diversas diretrizes que orientam o
3
estudante quanto à sua postura e atitude moralmente aceites e em linha com a boa imagem
militar.
Tais diretrizes constam no manual da AM (2007), o qual dita que o estudante da AM: i)
É orgulhoso e feliz da sua vocação militar, considerando como suprema honra a carreira das
armas que escolheu; ii) Respeita e prestigia a Instituição a que pertence como estudante,
procurando colocar-se ao nível das suas tradições educativas, por uma constante fidelidade no
cumprimento do dever; iii) Aceita, defende e impõe a si próprio a mais rigorosa disciplina
militar; iv) Veste com o maior garbo a sua farda e apresenta-se em público de modo a impor-
se à consideração daqueles que o rodeiam, pela dignidade do seu porte; v) É sempre delicado
na manifestação dos sentimentos, distinto e urbano no trato social, sem deixar nunca de ser
firme nas suas convicções, austero e sóbrio na sua conduta; entre outros.
Já o terceiro instrumento, as NVI, determinam aspectos de convívio sadio, harmonioso e
de resolução de eventos antissociais que possam ser desencadeados pelos estudantes durante o
Curso de Formação de Oficias (CFO). No Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março,
podem ser constadas as seguintes normas: i) O estudante fica obrigatoriamente em regime de
internato tendo a obrigação de comparecer com pontualidade e devidamente uniformizado às
aulas, actividades, provas e trabalhos de natureza escolar, aos actos de serviço para que forem
escalados; ii) O estudante presta continência a todos oficiais e professores; iv) Em caso de
infração das nomas em vigor na AM, o estudante incorre a uma repreensão escolar,
repreensão escolar agravada, proibição de saída escolar, prisão escolar e expulsão; etc.
Ao incrementar esses instrumentos, a AM transforma ou molda indivíduos que pensam,
sentem e agem de forma diversa e alguns dos quais com qualidades consideradas desajustadas
a nossa sociedade, é o caso do espírito de competição, o individualismo, a intolerância, etc.,
em indivíduos dotados de valores militares, qualidades necessárias a todo bom cidadão,
porém destacáveis de maneira mais evidente no exercício da função militar (AMP, s/d). O
Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março, assegura esse posicionamento ao referir que a
educação moral e cívica consubstanciada na Condição Militar e no Código de Honra do
Estudante da AM visa desenvolver nos estudantes o sentimento profundo de Defesa Nacional
e qualidades de carácter.
Todavia, essa transformação depende em grande parte do professor militar que
simultaneamente é um profissional dotado de conhecimentos técnico-científicos militares e
4
um educador que muda comportamentos e atitudes dos estudantes. O professor militar, para
Bianco (2014) é fator crítico de sucesso nessa empreitada, pois ele é o responsável pelo
processo de ensino e por construir, juntamente com seu aluno, os conhecimentos, habilidades
e atitudes necessárias à mobilização das competências específicas, no momento oportuno.
Honorato (2016) afirma que o professor militar “é aquele que ensina o conhecimento
técnico e é a pessoa responsável em transmitir os valores e a prática profissional apreendidos
e estruturados em anos de serviço activo” (p. 40). Neste sentido, sendo o professor militar
uma figura importante no processo de transmissão de valores militares, questionou-se: de que
modo os valores militares são transmitidos pelo professor militar no processo de ensino e
aprendizagem na AM? Para aprofundar esta questão de pesquisa, foram traçados objectivos
delineadores das questões de estudo que a sessão a seguir descreve.
2. Objectivos e questões de estudo
O pressuposto geral do estudo foi de analisar o modo como os valores militares são
transmitidos pelo professor militar no processo de ensino e aprendizagem na AM. E para
apresentar caracteres mais concretos da pesquisa, foram formulados quatro (4) objectivos
específicos: i) Conhecer a perpceção dos professores militares e dos alunos da AM sobre o
conceito de valores; ii) Identificar os valores militares transmitidos pelo professor militar no
processo de ensino e aprendizagem; iii) Caracterizar o modo como os professores militares
transmitem os valores militares; e iv) Conhecer a importância dos valores militares
transmitidos pelo professor militar.
Uma vez que os conhecimentos da temática são escassos para solucionar o problema de
estudo, formulou-se, em função dos objectivos específicos, quatro (4) questões de estudo que
a seguir são descritos: i) Qual é a perpceção dos professores militares e dos alunos da AM
sobre o conceito de valores? ii) Quais são os valores militares transmitidos pelo professor
militar no processo de ensino e aprendizagem? iii) Como os professores militares transmitem
os valores militares? e iv) Qual é a importância dos valores militares transmitidos pelo
professor militar?
Face ao contexto descrito, importa no entanto, apresentar algumas notas sobre as
motivações, o enquadramento, a relevância e as limitações do estudo.
5
3. Justificativa do estudo
O autor do estudo frequentou na AM, de 2011 à 2015, o curso de licenciatura em
Ciências Militares na especialidade de Artilharia Terrestre, onde ao longo do curso se viu
inúmeras horas confinado dentro de um espaço repleto de demasiadas regras e algumas das
quais obrigatórias de serem conhecidas, é o caso do Código de Honra do Estudante da AM. E
outras regras munidas de mecanismos coercivos.
Enquanto estudante na AM, o autor do estudo rotulou os seus professores militares, em
algumas ocasiões de “opressores” ou “maus”, quando os mesmos sancionavam estudantes que
desencadeavam actos antissociais, e em outras ocasiões de amigos ou “bonzinhos”, quando
facilitavam a aprendizagem (ensino sem reforços negativos, etc.). Apesar do aparente
contraste em relação a caracterização dos seus professores militares, depositava neles a
confiança de estarem a transmitir a arte militar e apresentava por isso provas de obediência.
Terminado o curso, ironicamente, há sensivelmente três anos, o autor do estudo exerce as
funções de professor da componente bélica na AM, onde se vê reproduzindo alguns gestos,
comportamentos e atitudes dos seus professores militares, referências da sua carreira militar e
da sua função de professor. Ora, diante deste cenário que envolveu a sua formação militar e a
sua função na AM (professor militar), e motivado pelas constatações expostas na
problematização, o autor do estudo decidiu avançar com o estudo do tema Valores Militares
Transmitidos pelo Professor Militar no Processo de Ensino e Aprendizagem, caso da
Academia Militar.
A ideia do tema, no entanto, surgiu na leitura efetuada nos livros referentes à educação
militar e foi consolidada e aperfeiçoada nas necessárias aulas do módulo de seminário e,
sobretudo nas valiosas orientações do seu supervisor ocorridas nos primeiros três encontros.
Tendo a ideia do tema e aliado a mesma aos conhecimentos psicopedagógicos que indicam,
por um lado, que toda e qualquer acção realizada, no espaço escolar, por um educador a favor
do aprendizado do aluno é uma acção psicopedagógica (Neves-Pereira, 2010), e por outro
lado, toda e qualquer acção psicopedagógica envolve pedagogias de ensino que facilitam à
aprendizagem, enquadrou-se o estudo na área da Psicopedagogia, uma vez que o objecto de
análise do estudo é modos de transmissão dos valores militares, mas também porque o estudo
contribui na formação de um cidadão militar dotado de valores alinhados com a boa imagem
das FADM.
6
Além dessa contribuição, o estudo sobre os modos de transmissão dos valores militares
mostra-se pertinente e útil na medida em que a globalização, o capitalismo, o ceticismo que se
caracterizam no mundo contemporâneo vem fragilizando alguns princípios básicos da cultura
moçambicana (princípios tais como, união na diversidade, tolerância, etc.), sendo por isso
necessário assegurar através de boas práticas de ensino que os valores militares sejam
permanentemente mantidos, pois são vitais para as FADM em particular e para a sociedade
moçambicana em geral.
Neste contexto, o estudo pretende despertar atenção tanto à comunidade escolar da AM e
às FADM quanto as instituições de ensino existentes no país de forma a reverem as suas
práticas pedagógicas face aos valores que a sociedade moçambicana preserva. Assim como dá
a conhecer os valores militares que os professores ou instrutores militares transmitem no
ensino militar. E igualmente permite que os professores ou instrutores militares façam uma
reflexão sobre as suas acções em ambiente escolar.
Apesar da pertinência e utilidade descrita acima, e do estudo ter concretizado os seus
objectivos, falar dos modos de transmissão dos valores militares não foi tarefa fácil, pois, para
além do escasso conhecimento sistematizado da temática, deparou-se na situação de escassa
literatura moçambicana referente aos modos de transmissão dos valores de forma geral e,
sobretudo valores das FADM. Ademais, por razões laborais e sociais dos colaboradores ou
sujeitos visados no estudo, se teve um número reduzido de participantes do estudo, e dadas as
exigências das actividades laborais do autor do estudo e o prazo definido pela FEC para
entrega e defesa do trabalho final, se teve pouco tempo de elaboração da dissertação.
Contudo, os conhecimentos que foram construídos neste trabalho, tal como a própria
Ciência, não são cabais e devem ser sistematicamente investigados.
7
CAPITULO I: REVISÃO DA LITERATURA
A revisão da literatura consistiu na busca e descrição das informações sintetizadas dos
livros, artigos e legislações que relatam sobre a temática. Essa actividade objectivou clarificar
e aprofundar o objecto de estudo (modo como os valores militares são transmitidos pelo
professor militar). Sendo que para a primeira aproximação da temática buscou-se informações
relativas a valores, numa tentativa de entender o seu conceito e apresentar a linha de
interpretação dos autores.
1.1.Conceito de valores
Em termos etimológicos, a palavra valor vem do latim valore, que significa aquilo que
vale alguma coisa e tem merecimento. Todavia, falar de valor não é consensual, pois cada um
faz a sua interpretação (Virães, 2013). Face a isso, Goergen (2005) afirma que o estudo do
conceito de valor e da sua problemática é muitas vezes denominado de axiologia, que é um
termo derivado do grego axia e que significa valor. Na axiologia, refere-se que não há um só,
mas muitos sentidos para a palavra valor. Lisboa (2008) aprofunda essa ideia ao referir que:
O conceito valor nunca poderá ser considerado como exclusivo a uma qualquer área
específica, uma vez que se manifesta em múltiplos contextos: desde a economia, às ciências
humanas, à filosofia e até à linguagem quotidiana, sendo apontado pela sua falta de clareza e
consenso, embora esteja, de uma maneira geral, associada à ideia de bem (p. 11).
Para se ter uma noção dos diferentes significados da palavra valor, Goergen (2005)
enumera os seguintes sentidos: 1) Subjectivo – característica das coisas que são mais ou
menos estimadas ou desejadas por um sujeito ou, mais comumente, por um grupo de sujeitos
determinados. 2) Objectivo – característica das coisas que merecem maior ou menor estima.
3) Hipotético – característica das coisas que satisfazem um certo fim. 4) Coisas que um grupo
social e em determinado momento, troca por uma quantidade determinada de uma mercadoria
tomada como unidade. 5) Preço que se estima do ponto de vista normativo de um determinado
objecto ou serviço (justo valor).
Abbagnano (2007) notou que, desde a Antiguidade Clássica, a palavra valor foi usada
para designar a utilidade ou o preço de bens materiais ou o mérito de pessoas. Uma
observação irrefutável, pois nos dias actuais ainda aplicamos a palavra valor para indicar
quantidade de dinheiro ou validade de um objecto no mercado financeiro. Entretanto, quando
a palavra valor é usada filosoficamente o significado é generalizado para qualquer objecto de
preferência ou de escolha moral.
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Pais (1998) procurando encontrar uma posição mais coerente do conceito de valor,
considera que “valores são crenças que se traduzem por preferências em relação a
determinados sistemas ou dispositivos comportamentais, mas essas preferências são, por sua
vez, tradução empírica de valores” (pp. 17-18). Segundo esse autor, a palavra valor sofre, ao
longo da sua trajetória histórica, várias formatações interpretativas, pois, como está ligado a
costumes e preferências, é natural que as suas definições sofram essas mesmas influências e
mantenham essa circularidade que ele expressa.
Concordando com Pais (1998), Virães (2013) refere que os valores são a expressão de
princípios gerais, de orientações fundamentais e primeiramente de preferências e crenças
coletivas. Em toda a sociedade, a determinação dos objetivos efetua-se a partir de uma
representação do desejável e manifesta-se em ideais coletivos.
Se Pais (1998) e Virães (2013) consideram valor como a expressão que indica princípios
gerais ou crenças colectivas, Porto e Tamayo (2003) apontam que “os valores têm sido
utilizados para explicar as mudanças da sociedade, o comportamento das pessoas, julgar
acções, além de diferenciarem nações e grupos” (p. 145). Lisboa (2008) comenta referindo
que este tipo de informação possibilita inferir sobre as prioridades das pessoas, bem como,
medir os valores percepcionados no ambiente ou nas diversas entidades. A importância destes
aspectos passa não só pela identificação de elementos estereotipados a partir dos valores, mas
também na detecção de conflitos e desajustamentos entre pessoas e ambiente, nomeadamente,
nas organizações.
A discussão em torno de valor torna mais interessante quando um dos autores mais
conceituados nessa área, Schwartz (1999) afirma que os valores são também definidos como
critérios ou metas que transcendem situações específicas, que são ordenados por sua
importância e que servem como princípios que guiam a vida do indivíduo. Eles constituem o
sistema de valores das pessoas. Esse sistema pode estar estruturado em dois níveis: o primeiro
se refere a uma estrutura geral e o segundo a estruturas associadas a contextos específicos da
vida como, por exemplo, a família, o trabalho ou a religião. A estrutura do sistema de valores
geral está relacionada a todos os aspectos da vida e, portanto, é mais ampla e abstrata. As
estruturas específicas estão relacionadas àquela estrutura geral e são a aplicação do conceito
de valores a situações diárias, permitindo a compreensão de como os valores estão
relacionados com a tomada de decisão concreta.
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Menin (2002) reitera essa posição ao afirmar que os valores são critérios últimos de
definição de metas ou fins para as acções humanas, pois devemos ser bons porque a bondade
é um valor, honestos porque a honestidade é um valor, e assim por diante com outros valores
como a solidariedade, a tolerância, a piedade, que têm um caráter natural, universal e
obrigatório em nossa existência. Para outras posições, segundo Menin (2002), os valores são
determinados por culturas particulares e em função de certos momentos históricos, variando,
portanto, de acordo com cada sociedade e período de sua existência. As ações humanas
seriam, assim, avaliadas de acordo com os costumes locais; algo considerado um dia como
correcto e justo poderia ser, em outra época, considerado errado ou injusto.
Lisboa (2008) vai mais fundo ao considerar que é na infância que o ser humano é dotado
de valores e que ao longo da sua vida vão se acentuando significativamente, uma vez que
resultam numa matriz estruturante e que se mantém, relativamente, estável ao longo da vida
da pessoa. Por isso, torna-se difícil modificar ou alterar os valores adquiridos, ou seja, é
necessário aceitar uma certa legitimidade e validade para com os valores substitutos.
Valores, para Barbosa (1999), funcionam como critérios que orientam os
comportamentos, predispõem a pessoa a tomar posições, a avaliar-se a própria e aos demais.
Nesta perpectiva, Mataruca (2011) afirma que, os valores estão ligados ao Homem, na
qualidade de um ser que, pela sua consciência, tem o poder de julgamento, em função da
noção que tem do bem e do mal, dependendo da educação recebida, da sociedade em que está
inserido, do tempo em que vive e do tipo de herança social que pretende deixar. Essa ideia é
defendida também por Laissone, Augusto e Matimbiri (2017) que definem valor como:
Aquilo que faz com que uma coisa seja digna de ser tal, uma acção seja digna de ser actuada, e
uma pessoa seja digna de existir como pessoa. Portanto, entra a questão de dignidade,
merecimento inerente a si. Dizer que viver é um valor significa dizer que vale a pena viver, é
digno viver independentemente da pessoa que vive (p. 53).
Contudo, não é fácil assumir-se apenas um conceito do que é um valor: o que é para um
autor, poderá não o ser para outro, o que é numa época, poderá não o ser noutra, o que é numa
sociedade, poderá não o ser noutra. Deste modo, para não se incorrer a riscos de interpretação
diferente do escrito neste estudo, entende-se valor como algo que guia as nossas acções, ou
seja, tudo aquilo que grupos ou culturas acham digno de ser perseguido. Em função desta
perspectiva, considera-se a existência de vários valores que norteiam as acções do ser humano
em cada espaço e em cada época cuja organização dos mesmos obedece uma determinada
classificação.
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1.2.Classificação dos valores
Desde que o ser humano vive em comunidade estabeleceu princípios ou valores que
orientam o seu comportamento nas suas relações com os demais. Entretanto, “a multiplicidade
de valores, suas compatibilidades e discrepâncias mútuas, inevitavelmente, solicitam por um
sistema classificatório” (Moura, 2011, p. 22). Segundo este autor, certo empenho tem sido
feito para diferenciar e agrupar os valores, apesar de serem valiosas, essas tentativas
afiguram-se ainda incapazes de encerrar o assunto.
Santos (2008) notou que Münsterberg (1863 – 1916) classificou os valores em vitais e
culturais. Dentro de cada um destes grupos que considera principais, distingue quatro grupos a
que chama: valores de conservação, valores de concordância, valores de actuação e de
consumação. Estas diversas classes ainda se subdividem em três outras categorias: vivência
do mundo externo, vivência do mundo concomitante e do mundo interno. Münsterberg admite
vinte e quatro espécies de valores.
De acordo com Santos (2008), uma proposta diferente é apresentada por Rickert (1863 –
1936), que de forma a reduzir à multiplicidade dos valores, coloca na base da sua
classificação os seguintes três pares de conceitos: pessoa – coisa, actividade – contemplação,
social – associal. Essa classificação, no entanto, não foi consensual de tal modo que Stern
(1871 – 1938) apresentou uma proposta diferente cuja finalidade é construir um esquema com
base numa classificação tripartida de valores: valores em si mesmos, valores – meios e valores
de irradiação.
Tal como as anteriores, essa classificação igualmente não foi consensual, resultando
outras classificações como a do Hessen (1980) que é descrita em Moura (2011) a partir de
dois pontos de vista: 1) Formal – onde encontramos os valores positivos e os negativos,
valores das pessoas e das coisas, e valores autónomos; 2) Material – onde encontramos
valores sensíveis e espirituais. Por outro lado, Abbagnano (2007) considera a existência de
quatro grupos fundamentais de valores: 1) Valores do agradável e do desagradável,
correspondentes à função do gozo e do sofrimento; 2) Valores vitais, correspondentes aos
modos do sentimento vital (saúde, doença, etc.); 3) Valores espirituais, ou seja, estéticos e
cognitivos; e 4) Valores religiosos.
11
Já Soto (s/d) aponta os seguintes grupos de valores: 1) Universais; 2) Pessoais; 3)
Familiares; 4) Sócio-culturais; 5) Matérias; 6) Espirituais; 7) Religiosos; e 8) Organizacionais
(médicos, militares, etc.). Portanto, na multiplicidade dos valores existem diversas
classificações, mas por mostrar-se abrangente e atinente a temática em estudo, empregou-se
neste estudo a proposta de Soto (s/d), onde a partir desta classificação aprofundou-se, sem
pretensão de ignorar os outros, os valores universais, pessoais e sócio-culturais.
1.2.1. Valores universais
Leister (2009) notou que o apelo moral contido na ideia de Sen (2009) que indica
qualquer pessoa, em qualquer lugar do planeta, independentemente da sua cidadania ou da
legislação territorial, é titular de direitos mínimos, e os demais devem respeitá-los, remete-nos
a uma parte do humanismo que se sustenta pelos valores universais. Tais valores, segundo
Soto (s/d), representam um conjunto de características e normas de convivência do ser
humano consideradas como qualidades positivas e válidas em uma época determinada. Esses
valores são considerados inatos a natureza humana, mas se trata de um conceito amplo aberto
a interpretações.
É interessante notar que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) (2010) considera esses valores, de públicos, justificando o facto da heterogeneidade
da palavra valor, e por ser difícil descartar que alguém agindo sob motivações individualistas
ou de autopromoção não esteja seguindo seus valores. Todavia, o PNUD na mesma
publicação de 2010 reconhece equívocos e a estranheza da expressão valor público uma vez
que, de algum modo, todos os valores são públicos, no sentido de serem coletivamente
compartilhados.
Dado a esse reconhecimento, no presente texto aplicamos a expressão valores universais,
pois nos remete a ideia de valores que a maioria das sociedades reconhece em uma
determinada época. Deste modo, valores universais, para o PNUD (2010), são aqueles que são
essenciais para uma convivência saudável e humanamente enriquecedora. O Programa afirma
ainda que os valores universais são fruto da própria convivência, práticas e consensos (mesmo
que provisórios) construídos socialmente. Alguns desses são simplesmente compartilhados
culturalmente por normas. Outros podem aparecer incorporados em princípios constitucionais,
leis e bases contratuais, por meio do papel do Estado.
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Os valores universais são de muita importância para cada pessoa, se priorizar alguns
deles, especialmente quando se encontramos em situações de conflito entre vários valores. E
dentre vários valores universais, destacamos os seguintes mencionados pela Organização das
Nações Unidas:
a) Paz – a definição mais famosa, segundo Abbagnano (2007) foi de Hobbes (1588 –
1679) que indicou paz como a cessação do estado de guerra, ou seja, do conflito
universal entre os homens. Portanto, procurar obter a paz, é a primeira lei da natureza.
A paz deve começar dentro de cada um de nós, a partir de pensamentos e sentimentos
puros, promovendo o entendimento, a amizade e a cooperação entre todos;
b) Justiça – é o conjunto de regras ou normas estabelecidas em cada sociedade, com as
quais se consegue uma convivência cordial, respeitando os direitos iguais dos demais
seres humanos. Isto se consegue autorizando, permitindo ou proibindo certas acções
específicas que podem afectar ou beneficiar o colectivo social (Laissone et al., 2017);
c) Solidariedade – é uma palavra utilizada, em geral, em duas situações: primeira, inter-
relação ou interdependência; segunda, assistência reciproca entre os membros de um
mesmo grupo (Abbagnano, 2007).
Estes e outros valores universais são importantes para a promoção do desenvolvimento
humano e, são fundamentais para o bem-estar e a justiça social. Entretanto, isoladamente,
esses valores não satisfazem o ser humano, pelo que os mesmos só vêm complementar os já
internalizados por ele.
1.2.2. Valores pessoais
No interior do ser humano, de acordo com Santos (2008), está a sua própria essência,
perfeição e personalidade. Pois todo o Homem aspira a aperfeiçoar-se no seu ser. É no interior
do Homem que se revela a sua realidade. O sentido da vida do Homem reside no
aperfeiçoamento desta interioridade, da sua personalidade. A felicidade corresponde em
grande medida a este aproximar da interioridade. Mas como é que tal acontece?
Porto e Timayo (2003) afirmam que a resposta só pode ser uma aceitação dos valores,
pois as pessoas apresentam uma estrutura de valores que exerce uma função motivacional
importante e que está relacionada com os aspectos fundamentais da sua vida. Trata-se de uma
estrutura ampla e inclusiva.
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Os valores, para Santos (2008), convocam o homem, mas não o convocam ao mesmo
tempo, na medida em que nem todos os Homens cultivam os mesmos valores estéticos,
sensíveis, etc. Mas todos são obrigados a seguir a voz interior que apela aos valores éticos,
que cultivam a própria personalidade. Os valores pessoais interpelam-nos num tom de
imperativo categórico.
Neste contexto, os valores pessoais são aqueles que consideramos princípios
indispensáveis sobre os quais construímos nossas vidas e nos guiamos para relacionarmos
com as outras pessoas. Em geral, são os mesmos valores familiares e socio-culturais, junto a
aos que incorporamos individualmente com as nossas vivências (Solo, s/d). Assim, dentre
tantos valores pessoais destacamos os seguintes:
a) Felicidade – em geral, é estado de satisfação devido à situação no mundo. Pacheco
(2012) considera que a felicidade não se alcança quando se concebe o mundo como
objecto de satisfação pessoal, mas quando existe preocupação pelo bem-estar do
próximo.
b) Respeito – segundo o Ministério Público do Estado de Rondónia (MPER) (s/d), é o
reconhecimento do valor e dos direitos inerentes ao individuo e a colectividade.
Respeito é, portanto, o reconhecimento da dignidade própria ou alheia e
comportamento inspirado nesse reconhecimento.
c) Prestígio – o presente valor enfatiza a importância do contexto social. Não é uma
questão de ser aceito pelos demais, mas de ter uma imagem pública. Os indivíduos que
assumem este valor reconhecem a importância dos demais, desde que isso resulte em
seu próprio benefício (Gouveia, 2003).
Os valores pessoais servem, portanto, de base e fundamentam o ser humano, permitindo
com isso, esclarecer o sentido da vida. O pleno desenvolvimento do Homem passa sem
sombra de dúvidas pela aceitação espiritual desse tipo de valores.
1.2.3. Valores sócio-culturais
O Homem, embora possua autonomia, não deixa de ser parte de uma comunidade
humana. Esta comunidade é onde cresce e se desenvolve a cultura humana. Há entre cultura e
ser humano uma ligação muito forte, ao ponto de entre um e outro perpassarem aspectos de
construção mútua (Santos, 2008). Este autor refere, se é verdade que o homem só se realiza
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espiritualmente pela aceitação dos valores, também a cultura só o é na medida em que é
realização de valores. O sentido e a essência da cultura está na realização dos valores.
Face a isso, estaremos perante um tipo de valores, que são os valores socio-culturais.
Esses valores são os que constituem a cultura no seu sentido superior e também espiritual.
Solo (s/d) afirma que os valores socio-culturais são os que imperam na sociedade onde
vivemos. E olhando para a história esses valores coincidem com os valores familiares e
pessoais. Pois, por um lado, todo acto, seja individual ou colectivo, que uma comunidade
historicamente considera correcto, é um acto cultural.
Por outro lado, todo o acto cultural consiste na realização de um valor. Pode tratar-se de
um valor de ordem científica, ética, estética, religiosa etc. A feitura duma obra de ciência é
uma realização cultural pelo mesmo título por que o é a criação duma obra de arte ou duma
instituição social. Em todos estes casos há, com efeito, um esforço no sentido de realizar
valores espirituais (Santos, 2008). Assim, entre tantos, os valores socio-culturais podem ser:
a) Tradição – este valor representa a precondição de disciplina no grupo ou na sociedade
como um todo para satisfazer as necessidades. O presente sugere respeito aos padrões
morais seculares e contribui para aumentar a harmonia na sociedade. Os indivíduos
precisam respeitar símbolos e padrões culturais (Gouveia, 2003);
b) Responsabilidade – é fazer a sua parte. Para Abbagnano (2007), é a “possibilidade de
prever os efeitos do próprio comportamento e de corrigi-lo com base em tal previsão”
(p. 855);
c) Apoio social – este valor representa a necessidade de segurança. Expressa a segurança
no sentido de não se sentir sozinho no mundo e receber ajuda quando a necessite. Está
presente em vários instrumentos, recebendo diferentes etiquetas: amigos próximos que
me ajudem, solidariedade com os demais e contato social (Gouveia, 2003).
Portanto, a comunidade humana apresenta uma estrutura de valores que exerce uma
função orientadora da vida em sociedade. Trata-se de uma estrutura ampla e intrínseca a
cultura. E como a cultura é um processo espiritual, então ela tem na sua essência a realização
dos valores, os quais designamos de valores sócio-culturais.
Ora, assim como a vida em sociedade que se realiza pelos preceitos culturais, as
organizações também se realização pela sua própria cultura que representa um dos pilares
15
estratégicos e define o seu clima e padrões de trabalho, através das crenças, tradições, usos,
rituais, rotinas, normas e tabus próprios (Rouco et al., 2013). Estes princípios, rituais e metas
são os valores que norteiam o comportamento do indivíduo nas organizações e na sociedade
em geral (Neves, 2015). A Instituição Militar não é alheia a esses preceitos, e não sendo,
possui seus próprios valores, os quais interessam descreve-los neste estudo.
1.3.Valores nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique
As FADM surgem da fusão dos militares das Forças Populares de Libertação de
Moçambique (FPLM), braço armado da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e
da Resistência Nacional Moçambicana, em consequência da implementação do acordo
firmado por esses dois grupos beligerantes, o chamado Acordo Geral de Paz, assinado em
Roma, a 4 de Outubro de 1992, que pôs fim a guerra dos 16 anos (Mataruca, 2011).
Dentre várias missões que as FADM possuem, no Decreto nº 71/2016, de 30 de
Dezembro destacam-se as seguintes: i) Defender os interesses vitais do país contra todas as
formas de ameaça ou agressão; ii) Garantir a integridade do território nacional, a soberania e a
segurança dos meios de desenvolvimento da Nação; iii) Participar na proteção dos
organismos, instituições ou meios civis; iv) Participar em acções tendentes à manutenção de
paz e ao respeito do direito internacional; e v) Contribuir para a defesa e segurança da região e
do continente, apoiando as acções de prevenção e resolução de conflitos.
No entanto, tal como quaisquer Instituição Militar, as FADM possuem valores próprios
que concorrem para a componente moral e que norteiam as acções dos militares de uma forma
geral e na tomada de decisão dos seus comandantes em contextos adversos e de elevado stress
(Neves, 2015). Esses valores que se circunscrevem na Instituição Militar, geralmente são
designados por valores militares.
1.3.1. Valores militares
A Instituição Militar, pela sua natureza exige do cidadão, incalculável número de
sacrifícios, dentre os quais, o da própria vida em favor da Pátria e testemunhar o ferimento ou
a morte dos seus camaradas e continuar no cumprimento da missão (Vade-Mécum, 2002).
Ribeiro (2016) entende que uma profissão capaz de exigir este nível de sacrifício tem
obrigatoriamente de estar amparada por preceitos morais legítimos, isto é, não seria razoável
exigir-se do homem o sacrifício de sua vida sem que ele acredite e confie nos fins dignos de
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sua própria Instituição Militar. Dai que, o cumprimento do dever militar exige que a
Instituição Militar esteja permanentemente dotada de valores militares. Esse tipo de valores
para Silva (2015), são perenes no tempo, e são baseados na história e na tradição, fazendo
parte da idiossincrasia própria da profissão militar.
Segundo Pereira (s/d), os valores militares são normas, conceitos, princípios, visões do
mundo e padrões sociais aceitos ou mantidos pelas FA. Para Vade-Mécum (2002), os valores
militares são referenciais fixos, fundamentos imutáveis e universais. Pois, o Exército
considera valores as manifestações essenciais e postulados existenciais da própria FA. Isto é,
se os valores militares considerados para o Exército fossem mutáveis, flexíveis ou volúveis, a
própria instituição poderia perder seu sentido existencial.
Silva (2015) valoriza ainda mais os valores militares, ao afirmar que são um dos seus
mais importantes legados, que devem ser transmitidos de geração em geração, sendo a base e
a essência da profissão militar, é com base nesses valores que são elaborados os códigos
éticos e de conduta dos militares, códigos segundos os quais estes se devem reger.
Entretanto, Vieira (2002) nota que “actualmente, constata-se a adoção generalizada do
termo ética ou da expressão sistema ético para designar o conjunto dos valores que enformam
a profissão militar” (p. 25). Procurando esclarecer essa situação, Ribeiro (2016) afirma:
Se declara que para as forças armadas de Estados considerados íntegros, a ética militar é parte
intrínseca de sua realidade, isto é, da realidade de seus militares. Assim, de modo aparente,
torna-se completamente dispensável ter que se construir defesa em favor de que a ética militar
é instituto necessário, ou que seja pura e simplesmente questão relacionada ao bom senso (p.
24).
Ao passo que os valores militares são a essência da sobrevivência das FA, sem eles não
existe o preceito ético e a moral militar não faz sentido. Os valores militares na prática
constituem-se como uma ideologia, que permite articular e enfatizar respostas cognitivas
prontas e privilegiadas a problemas organizacionais, emergindo estes como padrões para o
julgamento e a justificação do próprio comportamento organizacional, vinculando os
indivíduos aos papéis e funções que lhe foram sendo atribuídos ao longo do tempo (Rouco,
Quinta & Mariano, 2013).
A questão que fica, no entanto, é: quais são esses valores militares? Para responder-se
esta questão, percorreu-se numa breve história de valorização dos valores na Instituição
Militar, de onde constatou-se que a sociedade da Grécia Antiga dava grande importância e
17
valor à honra e ao prestígio. O prestígio e o respeito, pelo povo, advinham da riqueza e da
luxúria com que um indivíduo vivia, pois vincava a classe social a que pertencia. Por
conseguinte, muitos foram os jovens corajosos que deram a sua vida em combate na procura
da honra e da riqueza. Mas apesar disso, o que realmente movia os jovens para as batalhas era
o reconhecimento no seio da comunidade, onde ambicionavam deixar o seu nome escrito na
história, para que todos se lembrassem de si como um grande guerreiro (Neves, 2015).
Os romanos, de acordo com o autor anteriormente citado, foram os primeiros a traduzir a
palavra grega areté como virtus, que significava o apreço público, acima de tudo, pela
coragem, pela nobreza da alma. Eles colocam em relevo a importância do exemplo dos
grandes heróis e dos homens de caráter, e por conseguinte expõem o valor da pedagogia com
base na areté grega. Deste modo, a formação do jovem romano envolvia uma infância e
juventude rodeadas de histórias dos grandes feitos dos seus antepassados, para que, com os
seus iguais, pudesse aprender quais eram as ações nobres e as desonrosas, quais as que
deveria repetir e emular e quais a serem evitadas. Contudo, embora os guerreiros romanos se
pautassem pela areté grega, pela probidade e pela honra, acima de tudo tinham o desejo de
registar o seu nome na história da Humanidade.
Na sociedade japonesa, os guerreiros samurais pertenciam às chamadas culturas da
vergonha, a honra confucionista. Isso foi no período de governação de Tokugawa (1603-
1868), quando Japão se encontrava num isolamento político imposto pelo próprio Tokugawa.
Nessa altura para os militares foi difundida a honra confucionista em duas vertentes: a Sorai
fruto da ideia de Ogyu Sorai (1666-1728), que pregava a bondade inata aos homens, e a
Ôyômei fruto do pensamento de Wang Yang Ming (1472-1529) que afirmou todos homens
sabem a diferença entre o bem e o mal. Face a estes pensamentos, começaram a ser
elaborados códigos de conduta para regrar a vida em sociedade. Um dos mais conhecidos
códigos de conduta oral é o código dos guerreiros samurai bushidô (Nunes, 2013).
Por conta disso, na sociedade japonesa, segundo o autor citado anteriormente, existiam
dois conceitos de honra, que são o on e o giri. Ambos os conceitos querem dizer dívida social;
no entanto, esta dívida expressa-se em termos morais e não em termos monetários. O on
representa a dívida do discípulo ao mestre por este o aceitar como discípulo e
consequentemente adquiriu um on, tendo contraído assim um débito social sem se aperceber
disso. O giri representa uma dívida contraída de forma voluntária e consciente; entretanto, se
o indivíduo não pagar, mancha a sua reputação ao ponto de estendê-la à sua família. Em
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alguns casos a única solução para limpar a honra da família dá-se com a morte do devedor,
contraída através do suicídio, o haraquíri.
Confira a tabela 1 resumo dos valores militares preservados no passado pelas sociedades
gregas, romanas e japonesas.
Tabela 1: Valores militares preservados no passado por três sociedades.
Sociedade Valores militares
• A Honra e o Prestígio são valores muito importantes para os jovens soldados
gregos;
• Através da Coragem física em combate, os guerreiros, procuravam esta
Grega Honra e Prestígio, que estava associada à riqueza;
• A sociedade grega assentava em dois grandes pilares: o valor religioso
(através de uma forte devoção divina) e o valor social (a sociedade reconhecia
os feitos heroicos realizados pelos guerreiros em combate).
• A Honra era muito importante, pois simbolizava o mérito e a honestidade de
um individuo;
• A um guerreiro romano interessava deixar o seu nome registado na história,
Romana pelos seus grandes feitos em combate;
• Os jovens guerreiros eram formados através das histórias dos feitos heroicos
dos seus antepassados, ficando assim a saber quais as ações nobres e quais as
desonrosas.
• Pertencem às culturas da vergonha, a sociedade era guiada a partir da noção
de honra e de vergonha;
• Os guerreiros samurais seguiam códigos de conduta. Bushidô era o mais
utilizado;
Japonesa
• A Honra era vista como um sentimento do próprio valor moral;
• Se um guerreiro samurai desonrasse a sua palavra, a sua família ou o seu
mestre, praticava o haraquíri (suicídio), para devolver a honra àqueles que
pela sua atitude ou ação a perderam.
Fonte: Neves, 2015.
Actualmente os valores da profissão militar, como profissão ao serviço de um Estado
democrático, são consistentes ao carácter fundamental da Nação. Esses valores são: a verdade,
a justiça, a honestidade, a dignidade humana, a imparcialidade, a igualdade e responsabilidade
pessoal. Umas FA nacionais não podem deixar de refletir e de ser orientadas por estes valores
(Vieira, 2002).
Entretanto, os valores apontados por Vieira (2002) não são consensuais para outros
autores. O Vade-Mécum (2002), por exemplo, considera seis (6) valores que o Exército
Brasileiro preserva, nomeadamente: 1) Patriotismo - caracterizado pelo amor à Pátria e pela
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defesa de seus propósitos de soberania; integridade territorial; unidade nacional; e paz social;
2) Civismo - descrito no culto aos símbolos nacionais; aos valores e tradições históricas; à
história pátria; e aos heróis nacionais; 3) Fé na missão do Exército - lavrada pelo amor à
Instituição e confiança na missão que lhe é atribuída; 4) Amor à profissão - compreende a
permanente exteriorização de entusiasmo e motivação com as coisas do Exército; 5) Espírito
de corpo - que compreende o orgulho do Exército, de sua profissão e de seus companheiros. É
o valor que reflete o grau de coesão e camaradagem da tropa; 6) Aprimoramento técnico-
profissional - narrado pela modernidade, operacionalidade e eficiência do Exército, o qual
exige de seus profissionais altruísmo com a capacitação individual e coletiva.
Já Rouco (2012) observou que a coragem, a lealdade, a integridade e o dever são os
quatro valores comuns a todos Exércitos da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN). De igual modo, os valores respeito, compromisso, disciplina e camaradagem estão
implicitamente presentes e associados às qualidades do soldado ou do comandante. Outros
valores como por exemplo, o dever, a justiça, o exemplo, a flexibilidade, o orgulho e a honra
estão, ainda, associados a todas as doutrinas dos diferentes Exércitos e caracterizam toda a
Instituição Militar (ver tabela 2).
Tabela 2: Valores de alguns Exércitos da OTAN.
Valores Exército Português Exército Norte- Exército Exército
Americano Canadiano Britânico
Coragem X X X X
Lealdade X X X X
Integridade X X X X
Dever X X X X
Compromisso X X X
Respeito X X X
Disciplina X X
Camaradagem X X
Exemplo X X
Flexibilidade X
Orgulho X
Honestidade X
Justiça X
Honra X X
Fonte: Rouco, 2012.
20
Conforme exposto, os valores militares não são comuns nos Exércitos, pois cada Exercito
acredita nos seus próprios valores. E esses valores, não são apenas uma lista de qualidades
exigidas a cada militar individualmente. São uma exigência moral e têm uma utilidade
funcional. Confirmá-los é a responsabilidade colectiva do Exército e de cada um nas suas
unidades através da acção de comando. São as estruturas do trabalho de equipa que
multiplicam o poder da luta de cada militar. Se alguns destes valores faltarem, naturalmente
que a equipa será ameaçada. Estes valores-chave são promovidos e realçados pela liderança
ao longo de toda a cadeia de comando (Rouco, 2012).
Ribeiro (2016) adverte, no entanto, que as exigentes virtudes militares têm que promover
o bem comum, e não apenas a excelência militar. Isto é, não há como se falar em FA morais
sem que elas estejam inseridas em um contexto moral mais amplo. As FA morais assim o são
em decorrência de que preservam importantes valores morais e humanos. As virtudes
militares e as virtudes humanas (valores da vida do homem) se entrelaçam e se fundem de tal
maneira que não se pode dizer que uma se distingue da outra. Assim, não há como dizer que
um militar é virtuoso se ele ignora preceitos humanos éticos, ainda que observe excelentes
padrões militares.
Contudo, a adoção de valores militares por parte dos Exércitos não é uma questão de
estabelecer lemas, é uma questão de sobrevivência das próprias FA. Pese embora, a missão
dos Exércitos dos Estados seja praticamente comum, defesa da pátria e da soberania, os seus
valores variam em função da cultura e da história de cada Estado.
Nesta perspectiva, falar dos valores nas FADM remete-nos a percorrer um pouco na
história de independência do Estado Moçambicano, pois, de acordo com Timana (2018), as
suas raízes estão mergulhadas nas FPLM ou FRELIMO, quando esta decidiu, no seu I
Congresso, em Junho de 1962, que face à intransigência das autoridades portuguesas em
discutir um acordo negociado, a luta armada constituía a única forma de derrotar o regime
colonial e de assegurar a conquista da independência. O autor afirma ainda que com esse
objectivo o Congresso decidiu, entre outras resoluções, criar um Departamento de
Organização do Interior que mobilizava politicamente a população e criaria condições
logísticas, no interior do país, para o apoio à luta armada, assim como o Departamento de
Segurança e Defesa para coordenar a actividade militar.
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Segundo Timana (2018), cedo esta decisão foi acompanhada de passos concretos para o
estabelecimento de uma força militar, através do envio de recrutas nacionalistas para países
amigos, para treino militar. No decorrer de 1963, a Argélia acolheu três grupos de
moçambicanos para receberem treino de guerrilha; no seu regresso, estes estabeleceram os
primeiros campos da FRELIMO na Tanzânia, nomeadamente em Bagamoyo em 1963, e em
Kongwa em 1964. Pouco depois, a China começou a enviar instrutores militares para esses
campos, enquanto a ex-União Soviética também acolhia grupos de recrutas moçambicanos.
Ao mesmo tempo, o Gana, o Egipto e Israel também forneceram ajuda militar e em formação
de quadros.
Matusse, Malique e Issufo (2015) referem que em resultado destes esforços, a 25 de
Setembro de 1964 foi protagonizado o primeiro ataque por um grupo de cerca de 250
guerrilheiros, esses heróis nesta Pátria de Heróis. Muito cedo, porém, multiplicaram-se e, em
catadupa, porque a sua causa era a causa de um Povo, a causa do Povo Moçambicano.
Disciplinadas, patrióticas e sempre amigas do nosso Povo e claras de quem era o seu inimigo,
as FPLM, de arma em punho, foram avançando em diferentes frentes, desferindo golpes
mortais ao inimigo e fazendo sangrar a sua máquina de guerra de guerra até 7 de Setembro de
1974, o dia da nossa Vitória.
Timana (2018) assegura que foi durante o processo da Luta de Libertação Nacional que
as FPLM estreitaram a sua intimidade entre os guerrilheiros e a população camponesa. Esta
ajudou a manter aqueles no terreno, fornecendo-lhes alimentos e abrigo, transportando
armamento, participando na recolha de informações e em operações de sabotagem e, por fim,
constituindo-se como fonte de recrutamento que alimentava as fileiras dos guerrilheiros.
Quanto a estes, para além da actividade militar, conseguiram conquistar um estatuto particular
junto as populações, através de estabelecimento de zonas libertadas que deveriam funcionar
como sociedade alternativa defendida das injustiças da ordem colonial.
Foi igualmente na Luta de Libertação Nacional, segundo Matusse et al. (2015), que
consolidaram as relações de amizade com outros combatentes da região e de outras latitudes,
aprofundando assim o seu sentido de solidariedade com a luta desses povos.
Face a essa história de homens e mulheres que se envolveram na causa Nacional de
libertação do povo moçambicano da opressão colonial portuguesa e que culminou com a
Independência de Moçambique, de acordo com Matusse et al. (2015), hoje, os valores
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identitários das FPLM integram a matriz identitária das FADM. E estas, por sua vez, se
sentem orgulhosas herdeiras das honras e glórias do 25 de Setembro de 1964. Demonstrando
e reafirmando isso no seu compromisso com a Unidade Nacional, a Paz, o progresso na Nação
Moçambicana e à consolidação das relações civis-militares.
Neste contexto, de entre os valores que as FADM preservam, Mataruca (2011) destaca os
seguintes: Unidade Nacional, patriotismo, orgulho pela História nacional, coragem, honra,
disciplina, espírito de sacrifício, ligação ao povo, fidelidade, responsabilidade, espírito de
corpo, estudo permanente e dedicação ao trabalho.
a) Unidade Nacional – constitui o fundamento, o vector central e o elemento aglutinador de
todos os Moçambicanos. A Unidade Nacional é o ponto de partida para [a] construção e
consolidação dos ideais nacionais de promoção e defesa da moçambicanidade e para o
cultivo, a manutenção e a elevação dos valores de auto-estima, do espírito patriótico, da
amizade, de solidariedade, da inclusão, de respeito mútuo, da tolerância e convivência
pacífica, e de valorização contínua da diversidade cultural e ideológica como base para a
consolidação da construção de uma nação moçambicana cada vez mais forte e coesa
(Resolução no 12/2015, de 14 de Abril). A Unidade Nacional é parte dos curricula de
educação cívica nas FADM;
b) Patriotismo – Fraga (1994) afirma que enquanto sentimento, o Patriotismo resulta de
uma adesão natural ao meio ambiente que nos rodeia, ao todo, que sentimos como nosso;
começa na rua onde vivemos a primeira infância, passa pela escola onde aprendemos as
primeiras letras, pelos nossos amigos de aventuras, pelos nossos pais e irmãos. O
Patriotismo passa por coisas e pessoas e faz que ambas se tornem no ambiente que
sentimos como familiar e altamente protector. Por outro lado, o Patriotismo enquanto
devoção é um sentimento que encontra a sua base e a sua lógica na tradição religiosa.
Com efeito, a Pátria acaba assumindo o papel da divindade a quem são devidos
sacrifícios respeitáveis e justos, quando e sempre que necessários. O culto da Pátria, ou
seja o Patriotismo-devoção passa pelo reconhecimento da Pátria como geradora de uma
identidade em cada um de nós;
c) Orgulho pela história nacional – considerando que a História de Moçambique é um livro
escrito por todos os moçambicanos sem excepção de raça, posição social, sexo, credo e
grupo étnico, então todos os moçambicanos devem considerá-la como seu património
cuja valorização, evocação e preservação constituem uma necessidade patriótica. As
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FADM devem ser o exemplo de orgulho pela história nacional. Não porque ela seja
apenas um desfile de bons momentos. Mas porque é a nossa História. Ninguém se
divorcia do seu passado. O passado de um povo assume-se. Os momentos maus e menos
bons servem para a nossa reflexão em relação às realizações futuras; e as páginas
gloriosas, de que tanto nos orgulham, constituem a nossa permanente fonte de
inspiração, para que tanto os presentes como os vindouros realizem novos actos
prestigiantes (Mataruca, 2011);
d) Coragem – segundo o Estado-Maior do Exercito (EME) (2014), é o senso moral intenso
diante dos riscos ou do perigo, onde o militar demonstra bravura e intrepidez. É a
capacidade de decidir e a iniciativa de implementar a decisão, mesmo com o risco de
vida ou o sacrifício de interesses pessoais, no intuito de cumprir o dever, assumindo a
responsabilidade por sua atitude;
e) Honra – para Fraga (1994), é simultaneamente, o merecimento da consideração pública
pelo cumprimento do dever e pela prática de boas acções, quando tal se torna conhecido
de todos, e a possibilidade de merecer a consideração pública pelo cumprimento do
dever e pela prática de boas acções, quando tal não é do conhecimento de todos. No
geral a honra é, então, uma presunção que deixa de existir quando se verifica que alguém
não possui condições para merecê-la;
f) Exemplo – Mataruca (2011) considera uma qualidade que toca todos os sectores da vida
e, nas FADM ela é extremamente indispensável. Pois, o militar deve ser modelo no
cumprimento das leis e dos princípios em vigor na sociedade. Ademais, o exercício da
liderança militar exige que os chefes militares sejam modelos para os seus subordinados;
g) Disciplina – um dos pilares de qualquer exército profissional, para o Manual de
Campanha (MC) (2011) é um importante valor que traduz a capacidade de proceder, de
modo consciente e espontâneo, conforme as ordens legais recebidas, as normas e as leis
estabelecidas. A disciplina não é contrária à liberdade e à iniciativa, como alguns
imaginam. Trata-se, de fato, de condição indispensável para uma vida social harmoniosa
e de base fundamental para garantir o máximo uso dos direitos das pessoas, sem perder
de vista os direitos alheios. Observe-se que, nas sociedades mais evoluídas e mais ricas,
as pessoas são disciplinadas porque a disciplina é o aprendizado da solidariedade;
h) Espírito de corpo – segundo o manual citado anteriormente, é a alma colectiva dos
integrantes de um determinado grupo. É o sentimento de sadia camaradagem e
solidariedade que aflora entre os membros de um grupo de militares que já executou ou
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vem executando difíceis tarefas com empenho, ou consolidou objetivos cujas conquistas
exigiram penosos sacrifícios;
i) Fidelidade – é uma característica que leva o ser humano a ser fiel e agradecido a uma
outra pessoa ou entidade, consiste em nunca abandonar ou deixar a sua sorte uma
pessoa, ou grupo social ou país (Laissone et al., 2017). Fidelidade é uma característica
daquele que é leal, que é confiável, honesto e verdadeiro;
j) Ligação ao Povo – A Instituição Militar moçambicana tem uma estreita ligação com o
povo, essa ligação gerou e inspirou as grandes vitórias na luta pela independência
nacional. Assim, as FADM devem continuar a estabelecer boas relações com o povo,
respeitando os seus valores culturais, dos seus bens, das mulheres, crianças e homens,
velhos e novos e a boa gestão dos recursos do Estado, porque resultam das contribuições
dos cidadãos (Mataruca, 2011);
k) Espírito de sacrifício – durante toda a sua carreira, o militar convive com o risco. Seja
nos treinamentos, na sua vida diária ou na guerra, a possibilidade iminente de um dano
físico ou da morte é um fato permanente de sua profissão. Como consta do juramento do
soldado, o exercício da actividade militar, por natureza, exige o comprometimento da
própria vida (EME, 2014);
l) Dedicação ao trabalho – EME (2014) afirma que o militar se mantém disponível para o
serviço ao longo das 24 horas do dia, sem direito a reivindicar qualquer remuneração
complementar, compensação de qualquer ordem ou cômputo de serviço especial. Pois,
não pode exercer qualquer outra actividade profissional;
m) Estudo permanente – para a instituição acima citada, o exercício da profissão militar
exige uma rigorosa e diferenciada formação. Por conseguinte, ao longo da vida
profissional, o militar de carreira passa por um sistema de educação continuada, que lhe
permite adquirir as competências específicas dos diversos níveis de exercício da
profissão militar e realiza reciclagens periódicas para fins de atualização e manutenção
dos padrões de desempenho.
Os valores nas FADM são, portanto, crenças vitais para a Instituição e para a segurança
nacional. Tal como os outros, esses valores são transmitidos pela educação, que o educando
constrói a sua própria aprendizagem com o auxílio dos outros e do próprio ambiente onde está
inserido (Costa, 2011). Um dos ambientes destacável e onde o processo de educação em
valores ocorre é na escola. Sendo que para o caso vertente do processo que visa inculcar os
valores das FADM ocorre em escolas militares, como é o caso da AM.
25
1.4.Processo de ensino e aprendizagem na Academia Militar
As escolas militares, em todos os níveis, têm a obrigação de formar militares para as FA
(Silva, 2015). Face a essa perspectiva, em Moçambique, oficialmente, a única porta de
entrada de oficiais para o quadro permanente das FADM é através de frequência de um curso
de licenciatura em ciências militares na AM, qualquer outra forma de ingresso é excepcional
(Chale, 2010). No entanto, todo sistema escolar se alicerça no processo de interação entre o
educador e o educando, isto é, processo de ensino e aprendizagem o qual os seus fundamentos
a seguir se narram.
1.4.1. Processo de ensino-aprendizagem
O ensino e a aprendizagem são tao antigos quanto a própria humanidade. Nas tribos
primitivas os filhos aprendiam com os pais a atender suas necessidades, a superar as
dificuldades do clima e a desenvolver-se na arte da caça. No decorrer da história da
humanidade, o ensino e aprendizagem foram adquirindo cada vez maior importância que
culminaram com o surgimento de escolas. Em nossos dias tal é a importância do ensino e da
aprendizagem que ninguém pode deixar de reflectir sobre o seu significado (Piletti, 2004).
Deste modo, etimologicamente, a palavra ensinar vem do latim signare e significa
colocar dentro, gravar no espírito. Em termos conceituais, ensino é um processo, ou seja,
caracteriza-se pelo desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais
dos alunos em direcção ao domínio dos conhecimentos e habilidades, e sua aplicação. Por
conseguinte, obedece a uma direcção, orientando-se para objectivos conscientemente
definidos; implica passos gradativos, de acordo com critérios de idade e preparo dos alunos. O
desdobramento desse processo tem caracter intencional e sistemático, em virtude do qual são
requeridas as tarefas docentes de planeamento, direcção das actividades de ensino e
aprendizagem e avaliação (Libâneo, 2006).
Apesar do conceito acima caracterizar a essência de ensinar, Veiga (2008) registrou e
agrupou os seguintes significados de ensinar: i) Acto intencional – exige uma direção, um
norte que remeta a uma diversidade de objetivos mais detalhados e complexos; ii) Interagir e
compartilhar – implica interações variadas com os alunos, com professores e outros
profissionais; iii) Exprime afetividade – é fortalecer o processo de conquista para despertar o
interesse do aluno; vi) Construção de conhecimento e rigor metodológico – pois o
26
conhecimento se constrói por meio da mediação social que pode estar mais ou menos
presente.
O ensino, portanto, visa a aprendizagem. A aprendizagem é um fenómeno (Piletti, 2004).
Pois, para Santos (2003), é um processo inseparável do ser humano e ocorre quando há uma
modificação no comportamento, mediante a experiência ou a prática, que não podem ser
atribuídas à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo. Do ponto de vista
funcional é a modificação sistemática do comportamento em caso de repetição da mesma
situação estimulante ou na dependência da experiência anterior com dada situação. De acordo
com as proposições das teorias gestaltistas é um processo perceptivo, em que se dá uma
mudança na estrutura cognitiva.
Santos (2003) refere que para que haja a aprendizagem são necessárias determinadas
condições: i) Factores Fisiológicos - maturação dos órgãos dos sentidos, do sistema nervoso
central, dos músculos, glândulas etc.; ii) Factores Psicológicos - motivação adequada,
autoconceito positivo, confiança em sua capacidade de aprender, ausência de conflitos
emocionais perturbadores etc.; e iii) Experiências Anteriores - qualquer aprendizagem
depende de informações, habilidades e conceitos aprendidos anteriormente.
Assim, a relação entre ensino e aprendizagem, segundo Libâneo (2006), não é mecânica,
não é uma simples transmissão do professor que ensina para um aluno que aprende. Ao
contrario, é uma relação reciproca na qual se destacam o papel dirigente do professor e a
actividade do aluno. Por sua vez, Piletti (2004) postula “o ensino existe para motivar a
aprendizagem, orienta-la, dirigi-la; existe sempre para a eficiência da aprendizagem. O ensino
seria, então, factor de estimulação intelectual” (p. 36). Para que tal facto ocorra, existem
diferentes métodos de ensino, inspirados nas teorias pedagógicas, que podem ser usados no
dia-a-dia.
Fonseca e Fonseca (2016) descrevem as seguintes pedagogias: i) Tradicional – onde as
acções do ensino estão centradas em aulas expositivas e transmissão oral dos conteúdos. Por
conseguinte, o professor se apresenta como o detentor da autoridade, exigindo dos estudantes
uma atitude receptiva e passiva; ii) Renovadora Progressista – o ensino procura oferecer
condições favoráveis ao autodesenvolvimento do discente e estimular a sua curiosidade. O
professor organiza e coordena as situações de aprendizagem em função às características
individuais dos discentes; iii) Não-Diretivismo – o centro da actividade escolar se revela
27
enquanto um espaço onde o discente e docente têm a oportunidade de serem activos e
curiosos. O professor apenas facilita o desenvolvimento livre e espontâneo do indivíduo; iv)
Tecnicista - enfatiza a rigorosa programação dos passos para se adquirir o conhecimento, bem
como austera programação das técnicas e dos procedimentos pedagógicos. O professor é
reduzido a mero executor; v) Progressista Libertadora - a educação se relaciona
dialeticamente com a sociedade, questionando concretamente a realidade das relações do
homem com a natureza e com os outros homens, constituindo-se em um importante
instrumento no processo de transformação da mesma; vi) Progressista Libertária - procura se
apresentar enquanto uma maneira de resistência à burocracia dominadora do Estado, que
controlando, por exemplo: professores, programas e provas, etc., retira a autonomia à escola;
vii) Progressista Crítico-Social dos Conteúdos - a escola deve eliminar a selectividade social e
se tornar democrática. O estudante, por intermédio de sua experiência imediata num contexto
cultural, participa na busca da verdade, ao confrontá-la com os conteúdos e modelos
apresentados pelo professor.
Conforme exposto, o processo de ensino e aprendizagem envolve, por um lado, o ensino
e, por outo lado, a aprendizagem. Dois termos distintos, porém interdependentes nos dias
actuais e fulcrais para o funcionamento das instituições vocacionadas a transmitir
conhecimentos e valores na sociedade. Uma dessas instituições e que é atinente ao presente
estudo é a AM cuja caracterização do seu processo de ensino e aprendizagem necessita de
compreender como ocorre o CFO.
Nesta perspectiva, o CFO na AM ocorre basicamente em 4 anos e tem, de acordo com
Muirequetule (2017), um ensino orientado para três dimensões: i) Científica geral; (ii)
Científica de índole técnica; e (iii) Comportamental.
O Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março, prescreve que a dimensão científica
geral é ministrada nos primeiros anos do curso e visa aquisição de conhecimentos decorrentes
da acelerada evolução conhecimentos. A intenção é trabalhar conhecimentos básicos
necessários à habilitação dos militares, a fim de aumentar a capacidade intelectual dos
mesmos. A dimensão científica de índole técnica é destinada a satisfação das qualificações
profissionais técnicas, no âmbito de cada especialidade. É um ensino que objectiva habilitar
conhecimentos técnicos em função do curso no qual o cadete está matriculado. Por fim, a
dimensão comportamental visa desenvolver nos estudantes os atributos de carácter e as
qualidades de comando e chefia inerentes à Condição Militar.
28
A dimensão comportamental é regulada pela Condição Militar, pelo Código de Honra do
Estudante da AM e pelas NVI. Segundo Muirequetule (2017), esse ensino é contínuo. Pois a
conduta alinhada à boa imagem das FADM é aprimorada ao longo da carreira de oficial e/ou
nos cursos de profissionalização e de capacitação. No entanto, de forma geral, o ensino na
AM, tal como outros ensinos militares, se reveste de dois elementos que Kneipp (2016)
observou, o currículo real composto por disciplinas, treinamentos e quadro de actividades
escolares, e o currículo oculto percebido como cultura militar.
Cultura militar representa um sistema de valores expressos através de artefatos, mitos,
rituais, hábitos e crenças comuns aos membros das FA e vinculados à cultura nacional. Por
via disso, Magalhães (2010, cit. em Kneipp, 2016) afirma que:
O modelo formativo militar, é expresso através de Pedagogia do Guerreiro, que visa à
formação de um tipo de sensibilidade e visão de mundo próprias do soldado, a partir de uma
característica fundamental da profissão militar: a possibilidade de confronto com o inimigo e a
necessidade de manter-se firme diante da ameaça de morte. Este paradigma se caracteriza por
um tipo específico de socialização profissional que não encontra paralelo no mundo civil (p.
28).
Neste âmbito, o processo de ensino e aprendizagem na AM pode ser caracterizado em
função das constatações apresentadas por Kirsch e Mizukami (2014) que referem que o
ambiente de ensino militar é marcado pela Pedagogia Tradicional onde as aulas são
predominantemente expositivas, na qual se destaca a autoridade do professor diante da
passividade do aluno, o qual deve apenas assimilar os conhecimentos. Carlino e Paula (2015)
notaram que a aula por vezes deixa de significar um acontecimento dinâmico entre cadetes e
professores, para se tornar algo estático, um depósito de saberes em virtude da grande
quantidade de conteúdos ministrados e previstos no currículo mínimo.
Dada a presença da Pedagogia Tradicional na AM, de acordo com Kirsch e Mizukami
(2014), os reforços negativos e positivos (punições, elogios) são utilizados frequentemente
seja na sala de aula ou fora dela, individualmente ou coletivamente de modo, a moldar o
comportamento do estudante e mantê-lo disciplinado e comprometido com seus estudos.
Apesar disso, a interação, em especial professor-cadete, está presente em qualquer sala de
aula e envolve laços de confiança e cumplicidade. Esses laços são extremamente relevantes na
aprendizagem do cadete, principalmente no que tange a transmissão de rituais, hábitos e
crenças militares cuja sessão a seguir descreve como isso se processa.
29
1.4.2. Socialização à cultura militar
Falar do ensino na AM significa falar de um processo que visa incutir a complexa cultura
militar que inclui o conhecimento, comportamento, a arte, a lei, a moral, o patriotismo, os
costumes, ordens e todos os hábitos e aptidões que todo aquele que ingressa na vida ou
carreira militar como membro deve adquirir (Muiambo, 2016).
Esse processo de socialização na cultura militar se processa de forma abrupta e súbita
(Timana, 2018). O mesmo tem início na fase de selecção de pessoal, onde em função do
artigo no 114 da Constituição da Republica de Moçambique (2004) combinado com o artigo
108 do Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março, todo cidadão moçambicano pode ser
militar e, por conseguinte, pode ingressar na AM. Entretanto, Mataruca (2011) constatou que
a República de Moçambique é um país multiétnico. Onde cada grupo étnico está ramificado
em tribos. E estas, de um modo geral, ocupam espaços concretos, mas sem serem estanques,
possuindo línguas e culturas específicas. Muiambo (2016) afirma que apesar da origem e das
características diferenciadas dos candidatos ao CFO, civis ou militares, estes realizam testes
de admissão e, uma vez admitidos, os candidatos ficam sujeitos a um processo de
Socialização e assimilação da vastíssima cultura organizacional da Instituição Militar.
A diversidade cultural e étnica da República de Moçambique, conforme Mataruca
(2011), não põe em perigo a união das FADM uma vez que os candidatos ao trazerem das
suas zonas de origem os diversos valores culturais, insuflam na Instituição Militar as sinergias
fortificantes, reforçam a consciência de pertencerem ao mesmo país e povo, ganham a
dimensão patriótica, garantindo a coesão tanto dos militares como da sociedade em geral. O
autor refere ainda que cada militar encontra nos colegas provenientes de diferentes regiões do
país, compatriotas engajados na finalidade comum de defender a pátria, realização apenas
possível graças à coesão, imortalizando, assim, a epopeia dos que compreenderam o valor da
unidade nacional e a instituíram como parte integrante e indissociável da nossa cultura de
moçambicanidade.
O ser moçambicano, no entanto, não é suficiente para ingressar na AM pois o candidato
deve ainda reunir requisitos para fazer parte do processo de selecção de pessoal que envolve a
inspeção médica e psicotécnica, os exames escritos, provas de aptidão física e de aptidão
militar. Nesta ultima prova, que tem a duração de trinta dias, e durante o CFO, os candidatos
ou cadetes são treinados a viver em conjunto num regime de internato que só termina depois
30
de concluído o curso. Ao longo do internato, as actividades são realizadas em grupo, sejam
elas escolares, extra-escolares ou de campanha, seja para passar alimentos ou para se deslocar
de um ponto para outro, seja para dormir ou acordar, etc.
O regime de internato e de realização de actividades em grupo visa transmitir o espírito
de corpo, a camaradagem e a união. Esses valores, de acordo com MC (2011), são a alma
colectiva dos integrantes de um determinado grupo. Constituem sentimentos de sadia
companheirismo e solidariedade que aflora entre os membros de um grupo de militares que já
consolidou objectivos cujas conquistas exigiram penosos sacrifícios ou executou/vem
executando difíceis tarefas com empenho, tal como o cumprimento das NVI que determinam
horários rígidos, regras básicas e disciplinares, procedimentos burocráticos e execução de
ordens emanadas sem contestação, etc.
Timana (2018) explica que o cumprimento dessas normas, por um lado, visa regular e
controlar o comportamento individual do cadete fora e dentro dos limites do grupo (secção,
pelotão, companhia, batalhão). Por outro lado, essas normas visam a inculcação da disciplina
militar e da obediência. Pois, segundo o MC (2011), a disciplina militar é o elemento
essencial do funcionamento regular das FA, uma vez que visa a integridade, a eficiência e
eficácia da organização.
O artigo no 40 da Lei no 18/97, de 1 de Outubro, determina que a subordinação à
disciplina militar baseia-se no cumprimento das leis e regulamentos respectivos e no dever de
obediência aos escalões hierárquicos superiores, bem como no dever do exercício responsável
da autoridade. A obediência é condição do êxito da missão da instituição militar e consiste em
cumprir, completa e prontamente, as leis e regulamentos militares e as determinações que de
umas e de outras derivam, bem como as ordens e instruções emanadas de superior
hierárquico, em assuntos de serviço, desde que o seu cumprimento não implique a prática de
um crime.
É interessante notar que desde a prova de aptidão militar até o fim do CFO, os candidatos
e depois cadetes são expostos a alto risco de contrair ferimentos e lesão, perda de membros ou
mesmo da vida cujo intuito é de torna-los peritos na arte militar. Essa exposição é feita a
partir de exercícios de campanha e treino físico que envolve o trabalho com armamentos de
vários calibres, engenhos explosivos, elementos químicos, biológicos e radioativos, superação
de obstáculos, técnicas e tácticas de combate individual e colectivo, etc. Segundo o EME
31
(2014), a exposição dos cadetes a riscos, é decorrente da própria profissão militar que exige
perícia para o cumprimento das missões. Para tal, o militar deve ter a capacidade de decidir e
de ter a iniciativa de implementar a decisão, mesmo com o risco de vida ou o sacrifício de
interesses pessoais, no intuito de cumprir o dever, assumindo a responsabilidade por sua
atitude.
Na profissão militar, segundo o EME (2014), o medo pode ser constante, mas o impulso
ao cumprimento do dever leva o militar a ir mais adiante. Essa motivação faz com que os
candidatos/cadetes aguentem com a pressão/stress da instrução tanto individual quanto
colectiva, pois, só dai resultam feitos gloriosos e exercícios brilhantes tais como o desfile
militar ou ordem unida, que é realizado para os superiores hierárquicos ou em cerimónias
públicas com a finalidade de demostrar a organização e a prontidão da Instituição Militar a
que fazem parte.
O ensino da ordem unida, segundo o EME (2000), visa à obtenção de determinados
padrões colectivos de uniformidade, sincronização e destreza. Mas também proporciona os
meios de se apresentar em público e a se deslocar em perfeita ordem, em todas as
circunstâncias de forma organizada e atrativa; Desenvolve o sentimento de coesão e os
reflexos de obediência que são fatores predominantes na formação do militar; e Promove uma
actividade de recreação sadia e que contribui no desenvolvimento da coordenação motora.
A coesão e a coordenação motora podem, também ser denotadas no deslocamento
quotidiano de grupo de cadetes. Esse deslocamento, Segundo o Ministério da Defesa Nacional
(2005), é designado por marcha, que pode ser executada a pé ou em viaturas ou uma
combinação de ambos e se a situação exige, executa-se marcha forçada, a fim de se acelerar a
chegada das tropas aos seus locais de destino. No caso da AM, a marcha apeada constitui a
forma tradicional de deslocamento dos cadetes, e quando não se encontram em actividades de
campanha, realizam-na entoando cancões da revolução moçambicana (cancões entoadas pelas
extintas FPLM) e das diferentes regiões e etnias do país.
Essa acção visa transmitir a organização e a tradição dos militares moçambicanos, na
medida em que a marcha organiza e regula o deslocamento do grupo, e os cânticos na marcha
representam homenagem aos heróis moçambicanos que durante a luta de libertação, em suas
marchas administrativas, entoavam cancões de motivação para continuar com a luta. E tal
como essa tradição, o outro hábito que tem caracterizado a vida militar e que é passado aos
32
futuros oficiais, é a saudação militar designada por continência que, de acordo com o Decreto-
lei no 331/80, de 28 de Agosto, constitui a forma obrigatória de saudação e de reconhecimento
entre militares. Os militares hierarquicamente inferiores saúdam primeiro. E todos os militares
devem estar sempre prontos a prestar a continência ou a retribui-la, de acordo com as normas.
Portanto, a continência é um sinal de respeito dado pelo militar individualmente a seus
camaradas e seus superiores.
Além desses aspetos técnicos necessários ao exercício da profissão militar, ao longo do
CFO os cadetes cursam disciplinas que introduzem respeito entre os militares e os militares
com os cidadãos civis, respeito aos órgãos de soberania, a História nacional, aos símbolos e a
cultura nacional. Timana (2018) afirma que essas disciplinas que procuram introduzir os
valores e a ética militar são a educação cívico-patriótica, direito internacional humanitário,
história militar, organização militar, entre outras. De salientar que são igualmente
desenvolvidas actividades recreativas como dança, canto, desporto, gastronomia, arte, etc.
para a transmissão de valores espirituais.
Para o Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março, o cadete é submetido numa sólida
educação militar, moral e cívica fundamentada no Código de Honra do Estudante tendo em
vista a desenvolve-lo os atributos de carácter, em especial o alto sentido do dever patriótico,
da honra, da disciplina e as qualidades de comando e chefia. Esse desenvolvimento de
carácter tem o seu marco no primeiro ano do CFO, quando os cadetes passam, nas cerimónias
do dia da AM que ocorrem em cada dia 2 de Outubro, por um ritual de passagem de “civil
para militar”. Nessa cerimónia os “novos militares” juram defender a pátria e juram fidelidade
ao Presidente da República perante a sua presença ou seu represente, e testemunham,
igualmente, esse acto, os militares no activo e a sociedade civil.
O artigo no 39 da Lei no 18/97, de 1 de Outubro, estabelece que os militares assumem o
compromisso público de respeitar a Constituição e obrigam-se a cumprir os regulamentos e as
determinações a que devam respeito, nos termos da lei. Para tal, em acto cerimonial, relatam
os dizeres expressos na seguinte fórmula: Eu, juro por minha honra consagrar todas as minhas
energias e a minha vida à defesa da Pátria, da Constituição da Republica e da Soberania
Nacional. Juro obedecer fielmente ao Presidente da República, Comandante-Chefe das Forcas
de Defesa e Segurança.
33
1.4.3. Modos de transmissão dos valores militares
Conforme exposto na sessão anterior, tanto a teoria quanto a prática da educação militar
são de facto permeadas por valores militares, por conseguinte, conforme o PNUD (2010), os
valores militares se manifestam em três dimensões principais da vida escolar militar: i) O
currículo escolar – representa em si uma selecção feita após tendo sido avaliados uma ampla
gama de conhecimentos sobre o que é importante para a vida dos cadetes. Os conhecimentos
escolhidos para serem transmitidos podem ser introduzidos devido ao seu valor instrumental
(por exemplo, relevância para a função futuro) ou valor intrínseco (por exemplo, porque
enriquece a vida das pessoas tornando-as melhores seres humanos); ii) Os métodos escolares
– incorporam parâmetros normativos que influenciam os valores que os alunos podem
desenvolver; e iii) A organização social da escola e da classe – as escolas são espaços nos
quais se demonstram como disputas podem ser resolvidas e como respeito pode ser
construído. A organização social da escola e das classes ensina, por meio de suas práticas e
das vivências que ajuda a construir, quais valores e condutas sociais são importantes para a
vida.
Essas três dimensões permitem que a educação em valores militares seja notável no
processo de ensino e aprendizagem (PNUD, 2010). No entanto, sem pretensão de ignorar as
outras dimensões, neste estudo destaca-se a dimensão de métodos escolares, pois os métodos
e vivências escolares visam a formação de alunos com valores de convivência. Para que tal
ocorra usam-se os seguintes modos de transmissão.
a) Modo da aula expositiva-activa – o objetivo é desenvolver nos estudantes um maior
entendimento das crenças que eles possuem, mas sem tentar mudá-las. No entanto,
dada a natureza transformadora da educação, nem sempre essa é uma posição estável,
pois muitos teóricos sustentam que a educação deve levar à promoção de virtudes
como parte do processo educacional, como o próprio respeito a processos
democráticos na sociedade (PNUD, 2010). Nesse modo, o aluno discute as regras que
regem sua vida no grupo e pode reelaborá-las passando a entender as utilidades sociais
das regras, e os atos dos outros passam a ser julgados pela intenção; os piores atos são
aqueles que mais quebram os laços de solidariedade e confiança entre as pessoas
mesmo que pouco aparentes ou não puníveis (Menin, 2002);
b) Modo de fiscalização das regras da instituição – o objetivo é transmitir aos estudantes
certos valores específicos, forçando-os a adotarem certas predisposições ou
34
posicionamentos. Esse modo é consideravelmente incerto nos seus resultados
particularmente no contexto social em que muitos jovens se rebelam e muitas vezes
até mesmo rejeitam o sistema escolar (PNUD, 2010). Para Menin (2002), nesse modo
o aluno segue as normas fixadas pelas autoridades que a rodeiam (o comando da
instituição) e as obedece por temor à perda de afeto ou ao castigo, além disso, todo um
conjunto de crenças e acções do aluno revela sua posição imitativa e egocêntrica em
relação aos outros. Os alunos, acreditam que as regras são sagradas e imutáveis;
julgam os outros mais pela consequência de seus atos que pelas suas intenções;
c) Modo de demonstração exemplar – o objetivo é deixar aos estudantes a reflexão sobre
que valores adotar, transmitindo a eles vivências e práticas por meio de ações
praticadas pelos professores e incorporadas no ethos da escola. No final, valores
podem ser adotados por intermédio de uma reflexão crítica e entendimento por parte
dos alunos. Não há certeza, entretanto, dos resultados (PNUD, 2010). Entretanto,
segundo Costa (2011), os professores já não são modelos para grande parte dos
adolescentes e jovens; por isso, temos que repensar como criar consciência da
necessidade de uma escala de valores organizada e bem pensada; e
d) Modo de exposição da experiência profissional – o professor convicto daquilo em que
acredita propõe a sua experiência, sabendo que o mais importante não é que o aluno
tenha a mesma escala de valores que ele, mas que saiba que há várias possibilidades,
entre as quais a sua. De acordo com este modelo de comunidade justa, os professores
ajudam o aluno neste processo. Sentir-se numa zona confortável não é o melhor,
porque não ajuda na reflexão crítica constante que se deve fazer (Costa, 2011). Ribeiro
(2013) ressalta que nesse modo de transmissão de valores os professores são obrigados
a reconhecerem os valores que regem seus próprios comportamentos e que orientam
sua visão do mundo, de forma a não imporem aos alunos aquilo que eles julgam como
positivo ou negativo.
Contudo, todo o processo de socialização à cultura militar só é possível graças ao
envolvimento direto, profissional e afectivo de professores que ensinam, não só temáticas
programadas, mas também e, principalmente, rituais e hábitos da cultura militar. Esses
professores, sem a pretensão de ignorar os civis cujas disciplinas abarcam a dimensão
científica geral, são militares, pois são responsáveis por disciplinas da dimensão científica de
índole técnica e da dimensão comportamental. E sendo os grandes intervenientes nesse
processo é imperioso abordar-se deles.
35
1.4.4. O perfil do professor militar
Na educação militar emprega-se geralmente os termos instrutor e professor para se referir
o individuo que ensina. Dai que para falarmos de professor militar devemos conceituar
primeiro esses dois termos. Figueiredo (1913) considera que instrutor é aquele que instrui,
que ensina, que adestra. Instrutores, para Honorato (2016), são, na maior parte das vezes,
profissionais com formação técnica, qualificados em algum ofício, normalmente com domínio
especificamente em sua área de actuação, que num determinado momento, por razões diversas
se envolvem em um trabalho docente. E durante contacto com os alunos, os instrutores se
veem copiando as experiências que viveram com seus antigos professores, onde tiveram
mediações de valores e práticas pedagógicas.
Já o professor, Figueiredo (1913) afirma que é um termo amplo e refere-se, geralmente, a
aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina. Portanto,
se verificarmos o vocábulo que se repete nos dois conceitos expostos, é o ensinar, que,
segundo o autor citado anteriormente, pode ser o acto de transmitir conhecimento sobre
alguma coisa a alguém. Neste sentido, doravante irá empregar-se o termo professor militar por
representar as qualificações de um instrutor e um professor, ou seja, um profissional com
formação técnica na área militar cuja função é de transmitir ou ensinar conhecimentos
militares.
O militar professor, antes de exercer essas funções é dotado de competências de um
professor. E professor, segundo Albuquerque (2010), é uma das variáveis mais importantes do
processo de ensino-aprendizagem se tivermos em conta que exerce uma função única dentro
da escola, que é de ser facilitador da aprendizagem dos alunos. O professor é o elo entre o
contexto da escola, o contexto da sociedade, o conhecimento dinâmico e o aluno.
Albuquerque (2010) considera que o professor, no desempenho das suas funções, pode
moldar o carácter dos discentes e, portanto, deixar marcas de grande significado nos alunos
em formação. Neste contexto, e atendendo ao seu papel de facilitador, deve possuir
conhecimentos suficientes para trabalhar, não apenas, os aspectos físicos e motores, como
também os componentes sociais, culturais e psicológicos. Isso significa que, para além da
capacidade de ensinar conhecimentos específicos, é também função do professor, na interação
que estabelece com o aluno, transmitir, de forma consciente ou não, valores, normas,
maneiras de pensar e padrões de comportamento para se viver em sociedade.
36
Para fazer face a essas exigências, Perrenoud (2000) apresenta dez competências
necessárias a praxis professor, são elas: 1) organizar e dirigir situações de aprendizagem –
habilidade de selecionar conteúdos em função dos objectivos da aprendizagem e das
representações dos alunos; 2) administrar a progressão das aprendizagens – capacidade de
ajustar e relacionar temáticas ao nível e às possibilidades do aluno; 3) conceber e fazer evoluir
os objectivos de diferenciação – saber trabalhar a heterogeneidade; 4) envolver o aluno na
aprendizagem, visando sua reestruturação de compreensão de mundo – suscitar no aluno o
desejo de aprender; 5) aprender e ensinar em equipa – elaborar projectos em equipa; 6)
participar da administração da escola – evolver-se nas actividades da escola; 7) informar e
envolver os pais; 8) utilizar as novas tecnologias; 9) vivenciar e superar os conflitos éticos da
profissão – lutar contra o preconceito e a discriminação; 10) administrar sua própria formação
contínua – ter uma formação continua ao logo da vida.
Fukuda e Pasquali (2002) são outros autores que recorrendo ao estudo de Friedman
(1999) apontaram os seguintes aspectos requeridos do professor: 1) empatia – necessidade de
entender as necessidades pessoais, psicológicas e escolares dos alunos; 2) conhecimento – ter
conhecimento das áreas do conteúdo a serem ensinadas; 3) relacionamento com o aluno –
criar um relacionamento positivo com o aluno e entre o aluno e seus pares e assegurar que a
classe funcione como uma unidade social; 4) didática – criação e uso de métodos e técnicas de
ensino efetivos para facilitar e otimizar a aprendizagem dos alunos; 5) administração da sala
de aula – capacidade de usar aconselhamento e técnicas de avaliação para lidar com
problemas de disciplina e comportamentos inapropriados dos alunos; 6) preparação para as
aulas – ter tempo para preparar as aulas; 7) motivação – motivar o aluno; e 8) contacto com os
pais – trabalhar, com os pais, suas principais preocupações em relação ao aluno.
Apesar desses aspectos apontados, Fukuda e Pasquali (2002) referem que:
Como em várias áreas do conhecimento, não se pode definir uma teoria específica que
descreva as características desse importante elemento do processo de ensino aprendizagem,
porém, a literatura científica em diferentes áreas do saber, tais como Psicologia, Educação e
Sociologia, tem descrito aspectos diversos do ensino e do professor que influenciam a
aprendizagem do aluno (p. 2).
Face a esta constatação, Albuquerque (2010) apoiando-se em vários estudos realizados
por outros autores, agrupou as características do professor (indicadas na tabela 3) em três
dimensões: técnicas, afetivas, e sociopolíticas.
37
Tabela 3: Características do professor.
Características técnicas, o professor:
1. Conhece os seus alunos e adapta o ensino às suas necessidades, incorporando a
experiência do aluno ao conteúdo e incentivando a sua participação.
2. Reflecte e pensa sobre a sua prática.
3. Domina o conteúdo e metodologia para ensiná-lo.
4. Aproveita o tempo útil, tem poucas faltas e interrupções.
5. Aceita responsabilidades sobre as exigências dos alunos e seu trabalho.
6. Usa eficientemente o material didáctico, dedicando mais tempo às práticas que
enriquecem o conteúdo.
7. Fornece feedback constante e apropriado.
8. Fundamenta o conteúdo na unidade teórica-prática.
9. Comunica aos alunos o que espera deles e porque (apresenta objectivos claros).
10. Ensina estratégias metacognitivas aos alunos e exercita-as.
11. Estabelece objectivos cognitivos tanto de alto quanto de baixo nível.
12. Integra o seu ensino com o de outras áreas.
Características afectivas, o professor:
1. Demonstra interesse, entusiasmo, vibração, motivação e/ou satisfação com o ensino e o
trabalho, valorizando o seu papel.
2. Desenvolve fortes laços afectivos com os alunos.
3. Mantém um clima agradável, respeitoso e amigo com os alunos.
4. É afectivamente maduro.
Características sociopolíticas, o professor:
1. Conhece a experiência social concreta dos alunos.
2. Possui uma visão crítica da escola e dos seus determinantes sociais.
3. Possui uma visão crítica dos conteúdos escolares.
Fonte: Albuquerque, 2010.
Portanto, com o conhecimento geral, acima exposto, sobre as funções e as características
do professor, podemos, então, falar do professor militar na AM. Deste modo, de acordo com o
Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março, o professor militar é oficial do quadro
permanente das FADM, detentor de atributos curriculares específicos e de comprovada
competência técnica e pedagógica, possuidor de habilitações de nível superior.
O Diploma citado anteriormente determina que o professor militar exerce funções gerais
tais como: 1) Cumprir e fazer cumprir as determinações em vigor, zelando, nomeadamente,
pela manutenção da disciplina como valor imprescindível para a formação militar dos
estudantes e pela conservação e adequada utilização das instalações e dos meios materiais
postos à sua disposição para o exercício das funções docentes que lhe estão cometidas; 2)
Prestar o serviço docente que lhes for atribuído, tendo permanentemente em atenção a
componente educativa e formativa que lhe é inerente; 3) Desenvolver, individualmente ou em
38
grupo, actividades de investigação científica, visando a produção e o desenvolvimento da
ciência, a formação metodológica dos estudantes, a procura constante de novas soluções
pedagógicas e a melhoria do ensino na AM; 4) Participar nas tarefas de gestão do ensino na
AM, no exercício das funções que nessa área lhes forem cometidas pelo Comando; 5)
Cooperar na orientação e coordenação pedagógica de uma disciplina ou de um grupo de
disciplinas.
Para exercer as funções de professor militar, são recrutados oficiais preferencialmente por
concurso documental, podendo ser complementado por prestação de provas públicas. A outra
forma de recrutamento é de preenchimento de lugares não ocupados pela via dos concursos ou
em situações inopinadas, pode o Comandante da AM, ouvido o Conselho Científico, propor
ao Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a colocação, por escolha, de oficiais
que obedeçam aos requisitos (Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março).
Entretanto, Carlino e Paula (2015) consideram que o professor militar lhe é colocado a
tarefa de ensinar sem muitas vezes ter um cabedal pedagógico suficiente para se manter
actuante positivamente na relação professor-aluno, nem criar uma identidade docente, pois
tem requisitos de carreira que o fazem ser movimentado para outras organizações militares ou
unidades militares (quarteis).
No entanto, Kneipp (2016) contra argumenta essa posição ao afirmar que em parte, essa
movimentação é necessária uma vez que a experiência do professor militar é relevante na
aprendizagem do cadete na medida em que situa o aluno diante da realidade da prática
profissional, ao trazer exemplos vivenciados ou ocorridos ao longo da sua carreia de oficial, e
isso, consequentemente, muda a opinião e o comportamento do cadete, facilitando, deste
modo, a transmissão de conhecimentos e de valores militares.
39
CAPITULO II: DESENHO METODOLÓGICO
No presente capítulo, constam os passos que o pesquisador utilizou na investigação do
problema de modo a obter resultados satisfatórios de acordo com os objectivos definidos. O
primeiro passo que seguiu, foi a orientação do estudo através de um paradigma de
investigação e uma metodologia cujos conceitos e as motivações de escolha são a seguir
descritos.
2.1. Paradigma e metodologia do estudo
Antes de iniciar a descrição do paradigma que norteou o estudo, importa primeiro
apresentar alguns conceitos referentes aos paradigmas de investigação. Pois “falar da
investigação num dado domínio científico é como que ver reflectido num espelho aquilo que,
num dado momento, preocupa, interessa e intriga os investigadores nessa área ou domínio do
conhecimento” (Coutinho, 2006, p. 2). Neste sentido, para justificar as opções feitas nas
investigações, os investigadores fundamentam-se nos paradigmas e métodos de investigação.
Entretanto, Chizzotti (2006) notou que são muitas as divergências interpretativas
suscitadas pelo conceito paradigma. Como se pode constatar, Costa (2005) afirma que
paradigma de investigação satisfaz a ideia de conjunto de crenças epistemológicas e de opções
metodológicas que guiam as investigações que se fazem em cada época ou contexto e que
guiam as interpretações da investigação educacional. Para Coutinho (2006), o paradigma de
investigação corresponde uma forma de entender a realidade e encarar os problemas
educativos e a evolução processa-se quando surgem novas formas de equacionar as questões
impulsionando a que os paradigmas fluam, entrem em conflito na busca de novas soluções
para os problemas do ensino e da aprendizagem.
Portanto, paradigma de investigação, para o presente estudo, representa um conjunto de
orientações e procedimentos que uma comunidade de investigadores adota para construção de
conhecimentos sobre a realidade empírica. Deste modo, para produzir conhecimentos, não
existe uma única via, uma vez que há vários paradigmas que nos podem orientar nesta
actividade, destacando-se três paradigmas de investigação educacional: o paradigma
positivista, o paradigma interpretativo e o paradigma socio-crítico (Canastra, Haanstra &
Vilanculos, 2015).
40
Mira e Ramos (2013) diferenciam esses três paradigmas de investigação nos seguintes
termos: i) O positivista, insere-se nas Ciências Naturais e defende a ideia do conhecimento
científico não se pautar por juízos de valor, nem por interpretações que não decorram de uma
objetiva e neutral recolha de dados. Dados esses passíveis de serem alvo de tratamento
estatístico; ii) O interpretativo, ressalta a capacidade de interpretação e reflexão do
pesquisador sobre o fenómeno que é objecto de seu estudo, por conseguinte insere-se nas
Ciências Sociais; e iii) O sócio-critico, crítica à visão estática da realidade assumida por
outras linhas de pensamento (positivismo e interpretativo), pois estas escondem o carácter
dinâmico e histórico da mesma.
Neste contexto, uma vez que o presente estudo insere-se nas ciências sociais,
concretamente na área de psicopedagogia, e o mesmo resulta da interpretação e reflexão feita
sobre o modo como os valores militares são transmitidos pelo professor militar no processo
do ensino e aprendizagem na AM. Então o paradigma interpretativo é o que melhor se adequa
para a construção dos conhecimentos pretendidos.
Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (2010) notam que “no contexto do paradigma
interpretativo, o objecto de analisa é formulado em termos de acção, uma acção que abrange o
comportamento físico e ainda os significados que lhe atribuem o actor e aqueles que
interagem com ele” (p. 39). Costa (2005) explica esse posicionamento afirmando que no
paradigma interpretativo reconhece-se que o mundo existe, mas o mundo social é socialmente
construído e pessoas diferentes explicam-no de modos diferentes. O papel da ciência social é
descobrir como as pessoas interpretam de modo diferente o mundo em que vivem.
O paradigma interpretativo, segundo Amado (2014), pode-se caracterizar em três
aspectos centrais: i) Ontologia – a realidade social e humana é vista, à semelhança do mundo
físico; ii) Antropologia – o sujeito humano é determinado nos seus comportamentos e
circunstâncias contextuais e ambientais, etc., pelo que é submetido às mesmas situações; o
diverso, o particular, o único e o específico; e iii) Epistemologia – o que se pode conhecer de
um mundo assim concebido, enquanto coisa, é saber a (s) causa (s), como se divide e como
funciona.
Coutinho (2006) afirma, no entanto, “se o meu objectivo é compreender os fenómenos
educativos pela busca de significações pessoais e interacções entre pessoas e contextos, então
devo optar por uma abordagem qualitativa ao problema em questão” (p. 3). Sampieri, Collado
41
e Lucio (2006) aclaram essa afirmação referindo que o paradigma interpretativo utiliza a
recolha de dados sem fazer a medição numérica para descobrir e responder perguntas de
investigação durante o processo de interpretação. Ou seja, o paradigma interpretativo se
assenta na metodologia qualitativa.
Neste sentido, dado que o presente estudo orienta-se pelo paradigma interpretativo, e este
paradigma, conforme os autores citados acima, normalmente emprega a metodologia
qualitativa, convocou-se por isso a metodologia qualitativa neste estudo. Para além das
orientações dos autores, o outro aspecto que pesou significativamente na escolha da
metodologia qualitativa é o facto de o estudo interpretar, sem quantificar, as informações que
foram coletadas dos participantes do estudo, elevando, portanto, a descoberta de significados,
através de uma inter-relação com a realidade.
Na metodologia qualitativa considera-se que há um vínculo indissociável entre o mundo
objectivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação
dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa.
Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas (Silva & Menezes, 2001).
A metodologia qualitativa, de acordo com Lessard-Hébert et al. (2010), abarca um
conjunto de métodos os quais ajudam os investigadores a chegarem as respostas dos
problemas das suas investigações. Canastra et al. (2015) compreendendo essa constatação,
apontam os seguintes métodos que abarcam a metodologia qualitativa: hermenêutico,
etnográfico, investigação-acção e estudo de caso.
Dada a essa constatação e de forma a alinhar a investigação em todos apectos do
paradigma interpretativo, o estudo adoptou o método estudo de caso. Este método, para
Chizzotti (2006), constitui-se numa busca intensiva de dados de uma instituição particular, de
um evento específico ou de processos contemporâneos, tornados como caso, compreende-los
o mais amplamente possível, descreve-los pormenorizadamente, avaliar resultados de acções,
transmitir essa compreensão a outros e instruir decisões. Canastra et al. (2015) aclaram ainda
mais afirmando que:
Constitui um método privilegiado para estudar fenómenos ou acontecimentos sociais que
revelam uma singularidade e, ao mesmo tempo, uma complexidade, em termos de apreensão
global. O seu carácter único e a ausência de estudos empíricos similares, faz com que este
método possa introduzir-nos numa primeira aproximação (exploratória) empírica ao objeto de
estudo (p. 12).
42
Neste contexto, o trabalho consistiu no estudo do modo como os valores militares são
transmitidos pelo professor militar no processo de ensino e aprendizagem no caso concreto da
Academia Militar “Marechal Samora Machel”. Em termos de tipicidade, usou-se o estudo de
caso institucional que, segundo Barbosa (1999), se centra no estudo de uma organização
particular durante um período de tempo, descrevendo e analisando o desenvolvimento da
mesma.
Para articulação do estudo de caso, no presente estudo, seguiu-se a serie de passos ou
fases indicados por Barbosa (1999): primeira fase, o de exploração e reconhecimento, onde se
analisaram os lugares, as situações ou sujeitos, que foram matéria ou fonte de dados, bem
como as possibilidades das finalidades e objectivos do estudo; segunda fase, selecção dos
sujeitos ou aspectos a explorar, as pessoas que foram entrevistados, a definição de estratégias
a utilizar, a duração do estudo; Por último, a terceira fase, recolha, análise e discussão dos
dados, terminando com a elaboração de um relatório e de tomada de decisões. À medida que
se avançou nas fases do estudo, o investigador foi sempre reformulando as questões
anteriormente levantadas, modificando e reestruturando as suas ideias. Este procedimento
aconteceu durante o espaço de tempo que durou o estudo. Portando, dado que estudo aplicou
o estudo de caso, as respostas das questões de estudo obtidas, através de indivíduos e
instrumentos que a sessão a seguir narra, não podem ser generalizadas uma vez que dizem
respeito ao contexto singular da AM.
2.2. Participantes do estudo
É importante notar que os estudos inscritos no paradigma interpretativo que procuram
explorar algo ainda pouco conhecido e com escassa literatura, não usam efetivamente
amostra, uma vez que esses estudos são localizados e circunscritos a determinadas situações
ou fenómenos (singular e complexo), opta-se por escolher participantes que assumam um
estatuto de informadores privilegiados (Canastra et al., 2015).
Schmidt e Toniette (2008) explicam que a ideia da escolha de participantes na
metodologia qualitativa está relacionada ao interesse na democratização das formas de
produção e transmissão de conhecimento, buscando, por isso, construir uma relação de
colaboração e interlocução entre o pesquisador e os que são convidados a ingressar na
pesquisa. Isso faz com que a figura do sujeito da pesquisa seja substituída pelo colaborador
e/ou interlocutor que contribui com sua experiência e actividade de pensamento e reflexão
43
para o esclarecimento e interpretação de fenômenos culturais, sociais e psicológicos. De
acordo com Gil (2008), a principal vantagem da escolha de participantes, está nos baixos
custos de sua selecção.
Neste âmbito, participaram no estudo sete (7) militares da AM, dos quais quatro (4)
professores militares e três (3) alunos do 3o ano. Os quatro (4) professores militares foram
escolhidos por conta da área que trabalham (Repartição de Educação Cívico e Patriótica –
área responsável pela educação moral e cívica na AM), experiência que têm na educação
militar (acima de 10 anos) e disponibilidade de serem entrevistados. Os três (3) alunos do 3o
ano, dois (2) do curso de Educação Cívica e Patriótica e um (1) do curso de Administração
Militar foram escolhidos três (3) alunos, primeiro para não saturar o estudo com informações
repetidas e segundo por conta das suas especialidades (Educação Cívica e Patriótica –
especialidade que lida pela conduta e boa imagem dos militares; Administração Militar –
especialidade que lida pelo bem-estar dos militares), tempo de permanência na AM (tempo
igual ou acima de 3 anos), capacidade de falar sobre a temática do estudo e disponibilidade de
serem entrevistados. Todos os sete (7) participantes do estudo foram submetidos a entrevistas
que permitiram recolher dados para o andamento da investigação.
Ora, no paradigma interpretativo, de acordo com Amado (2014), procura-se o que, na
realidade, faz sentido para os sujeitos investigados. Ou seja, procura-se os fenómenos tal
como são percebidos e manifestados pela linguagem e, ao mesmo tempo, reconhece-se que
essa significação é contextual, isto é, constrói-se e estabelece-se em relação a outros
significantes. Carmo e Ferreira (2008) afirmam que tudo isso se alcança através de
instrumentos e técnicas de recolha de dados.
2.3. Instrumentos e técnicas de colecta de dados
Para o efeito de recolha de informações, o estudo utilizou a observação participante, a
entrevista e a análise documental. Na observação participante, “o observador não é apenas um
espectador do fato que está sendo estudado, ele se coloca na posição e ao nível dos outros
elementos humanos que compõem o fenómeno a ser observado” (Richardson, 2012, p. 262).
Para Carmo e Ferreira (2008), na observação participante em grande parte das situações o
investigador deverá assumir explicitamente o seu papel de estudioso junto da população
observada, combinando-o com outros papéis sociais cujo posicionamento lhe permita um bom
44
posto de observação. Esses autores apontam as principais vantagens e limitações da técnica de
observação participante: i) a possibilidade de entender profundamente o estilo de vida de uma
população e de adquirir um conhecimento integrado da sua cultura é, sem dúvida, a sua
principal vantagem; e ii) como limitações dominantes salientam-se a morosidade que tal
técnica exige e as dificuldades que levantam a uma posterior quantificação dos dados.
Dada a grande vantagem de se ter muitas informações e porque o autor do estudo faz
parte da instituição onde os factos ocorrem (AM), então a técnica observação participante foi
a mais adequada, sendo que para uma observação natural o autor colocou-se ao nível dos
outros militares. A realização da mesma obedeceu as seguintes etapas identificadas por Aires
(2011): i) selecção de cenários (aquele que o investigador teve acesso mais fácil e estabeleceu
uma boa relação com os sujeitos); ii) recolha de informação (através de preenchimento da
grelha de observação previamente elaborada); e iii) tratamento de protocolos recolhidos
(reflexão teórica sobre os aspectos observados, formulação de conexões entre as diversas
dimensões da realidade observadas). Aires (2011) conclui que a partir da interacção entre
estas etapas é possível estabelecer relações que nos podem conduzir à formulação de uma
teoria mais geral.
De salientar que embora o autor do estudo tenha vivenciado e esteja vivenciando os
factos da temática no seu quotidiano laboral, a grelha de observação foi utilizada do dia
15/10/2018 a 22/10/2018 e continha informações previamente elaboradas em função dos
objectivos da pesquisa. Essas informações diziam respeito a: i) valores militares transmitidos
pelos professores militares no processo de ensino e aprendizagem; e ii) modos como os
professores militares transmitem os valores militares (ver a grelha de observação no apêndice
A).
A grelha de observação foi aplicada nas aulas que o autor do estudo teve chance e
permissão de assistir (uma das quais a de Táctica de Infantaria – I, leccionada no 2o ano do
curso de Infantaria). A grelha foi igualmente aplicada nas actividades que foram sendo
realizadas pelos professores militares e pelos alunos fora da sala de aulas especificamente no
recinto da AM (ver imagens no apêndice M).
No entanto, a técnica de observação sozinha não ofereceu informações fiáveis, pois, para
tal ocorrer, necessitou de uma combinação de informações que foram obtidas por outras
técnicas e instrumentos. Neste sentido, a entrevista foi a que se apresentou mais ideal para a
45
combinação, pois, segunda Bogdan e Biklen (1994), nos estudos de observação participante, o
investigador geralmente já conhece os sujeitos, de modo que a entrevista se assemelha muitas
vezes a uma conversa entre amigos. Neste caso, não se pode separar facilmente a entrevista
das outras actividades de investigação. Quando o sujeito tem um momento disponível, o
investigador pode, por exemplo, pedir-lhe, tem uns minutos livres? Ainda não falei consigo,
etc. Os autores referem ainda que por vezes, a entrevista não tem uma introdução, o
investigador transforma simplesmente aquela situação numa entrevista.
Além disso, a entrevista, segundo Afonso (2014), constitui um dos instrumentos de
recolha de dados mais comum na investigação naturalista e consiste numa interação verbal
entre o entrevistador e o respondente, em situação de face a face, por intermedio do telefone
ou de meios informáticos. Martins e Bógus (2004) indicam, por conseguinte, que a grande
vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente
da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de entrevistado e sobre os mais
variados tópicos. E tem a limitação, requer respeito pelo entrevistado, que envolve desde um
local e horário marcados e cumpridos de acordo com sua conveniência até a perfeita garantia
do sigilo e anonimato.
Em termos de tipicidade das entrevistas realizadas com os colaboradores e/ou
intervenientes da pesquisa, utilizou-se a entrevista semiestruturada. Pois, esse tipo entrevista,
de acordo com Martins e Bógus (2004) é aquela que parte de certos questionamentos básicos,
apoiados em teorias, que interessam à pesquisa e que, em seguida, oferecem amplo campo de
interrogativas fruto de novas teorias que vão surgindo à medida que se recebem as respostas
do entrevistado. Este, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas
experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na
elaboração do conteúdo da pesquisa.
Na construção das questões das entrevistas obedeceu-se o pressuposto indicado por
Afonso (2014) referente a condução da entrevista semiestruturada a partir de um roteiro que
constitui o instrumento de gestão. O roteiro foi construído a partir das questões de pesquisa e
eixos de análise do projecto de investigação. A sua estrutura típica teve um carácter matricial,
em que o assunto da entrevista foi organizado por categorias e objectivos. Cada item ou
categoria correspondia a um objectivo específico. A cada objectivo especifico se extraiu uma
ou duas questões (ver o roteiro de entrevista no apêndice B e C).
46
Com os roteiros das entrevistas, foi possível realizar entrevistas objectivas e por
conseguinte colectar dos sete (7) participantes do estudo informações valiosas da temática.
Essas entrevistas foram realizadas no mês de Outubro de 2018, nas instalações da AM (ver a
tabela 4). E com o consentimento dos participantes do estudo, todas entrevistas realizadas
foram gravadas em suporte áudio e transcritas literalmente nos apêndices F, G, H, I, J, K e L
desta dissertação. Isso permitiu que as informações colectadas fossem conservadas,
organizadas e analisadas de forma transparente e imparcial.
Tabela 4: Síntese das entrevistas realizadas.
Entrevistado Data de realização Local de realização Duração
3 Professores militares 16/10/2018 AM 13,07 – 42,47 Minutos
Aluno 1 17/10/2018 - 10,13 Minutos
Aluno 2 18/10/2018 - 9,15 Minutos
Aluno 3 19/10/2018 - 7,03 Minutos
Professor militar 4 23/10/2018 Museu da AM 21,57 Minutos
Ora, antes de realizar-se as entrevistas pediu-se oralmente aos entrevistados que
aceitassem serem entrevistados para efeitos de colecta de dados da presente dissertação, e
estes em função dos conhecimentos da temática que têm e da disponibilidade, aceitaram
participar sem nenhuma imposição. Esse facto permitiu que a participação dos entrevistados
fosse consentida e aspectos éticos garantidos. Nas entrevistas realizadas fez-se: primeiro, uma
apresentação do pesquisador, da temática do estudo e dos procedimentos a seguir ao longo da
entrevista de forma à preservação do anonimato dos entrevistados; segundo, pediu-se de
forma opcional uma breve apresentação do entrevistado; terceiro, conversou-se em torna da
temática; e quarto, agradeceu-se pela colaboração.
Após a realização das entrevistas procedeu-se as transcrições das mesmas e as
respectivas codificações das categorias de análise do estudo e dos entrevistados. A
codificação das categorias consistiu em atribuir-se as categorias de analise do estudo
determinadas letras, ou seja, a categoria percepção dos professores militares e dos alunos
sobre o conceito de valores, atribuiu-se a codificação (A), para a categoria, valores militares
transmitidos pelo professor militar no processo de ensino-aprendizagem foi atribuída o código
(B), a categoria dos modos como os professores militares transmitem os valores militares
atribuiu-se a letra (C) e, por último, a categoria de importância dos valores militares
transmitidos pelo professor militar atribuiu-se a codificação (D).
47
Por outro lado, a codificação dos entrevistados, professores militares e alunos, consistiu
em colocar em siglas a expressão professor militar e abreviar a palavra aluno, isto é, para
expressão Professor Militar considerou-se PM (P = Professor e M = Militar), e para a palavra
Aluno considerou-se Al. (Al.= Aluno). Assim, os dados colectados dos entrevistados foram
submetidos a tratamento de análise de conteúdo que a sessão do modelo de análise de dados
do presente capítulo narra.
A entrevista semiestruturada foi, portanto, muito útil, na medida em que permitiu
colectar informações relevantes com pessoas ligadas a educação militar, porém, para se
chegar a informações fiáveis e que permitissem esclarecer os factos, foi de suma importância
a técnica análise documental, pois, permitiu obter informações da temática a partir de livros,
artigos e legislações da e/ou sobre AM.
A técnica de análise documental, conforme Marques, Manfroi, Castilho e Noal (2006),
consiste em exames e análises de documentos como livros, jornais, artigos, memorandos, leis,
etc. Essas fontes documentais, segundo Gil (2008), são capazes de proporcionar dados em
quantidade e qualidade suficiente para evitar a perda de tempo e o constrangimento que
caracterizam muitas das pesquisas em que os dados são obtidos diretamente das pessoas.
Assim, entre vários documentos consultados destacam-se a Lei no 18/97, de 1 de Outubro
referente a Condição Militar, Decreto no 62/2003, de 24 de Dezembro relativo a Estatuto da
AM, Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março referente a Regulamento da AM, Manual
de NVI (ver os anexos I, II, III e IV). Esses documentos foram consultados na biblioteca da
AM e na coletânea de livros do autor do estudo.
2.4. Modelo de análise de dados
Feita a apresentação dos métodos e dos participantes envolvidos no estudo, é chegado o
momento de referir-se, dentro das possibilidades do paradigma interpretativo, como foram
tradas as informações colectadas. Pois, o paradigma interpretativo engloba um conjunto de
métodos de pesquisa que, para obter resultados, dependem em grande medida do modelo de
análise de dados definido. No entanto, tratando-se de narrativas, Canastra et al. (2015)
afirmam que a técnica mais usual é a técnica de análise de conteúdo. Essa técnica, segundo
Chizotti (2006), “consiste em relacionar a frequência de citação de alguns temas, palavras ou
ideias em um texto para medir o peso relativo atribuído a um determinado assunto pelo autor”
(p. 114).
48
Face a estes condicionantes, no presente estudo utilizou-se a técnica análise de conteúdo
cujas características são as descritas por Richardson (2012): i) Objectividade - refere-se à
explicitação das regras e dos procedimentos utilizados em cada etapa da análise de conteúdo;
ii) Sistematização – refere-se à inclusão ou exclusão do conteúdo ou categorias de um texto de
acordo com regras consistentes e sistemáticas; e iii) Inferência – refere-se à operação pela
qual se aceita uma proposição em virtude de sua relação com outras proposições já aceitas
como verdadeiras.
Para a incrementação da técnica análise de conteúdo, estabeleceu-se a posteriori
categorias e subcategorias. Uma vez que, segundo Vala (1990), a prática da análise de
conteúdo baseia-se na categorização, isto é, construção a priori ou a posteriori de um certo
número de sinais da linguagem que representam uma variável na teoria do analista com vista a
reduzir a complexibilidade da temática, estabiliza-la e atribui-la sentido. As categorias são,
geralmente, compostas por um termo-chave que indica a significação central do conceito que
se quer apreender, e de outros indicadores que descrevem o campo semântico do conceito (ver
a tabela abaixo referente ao processo que estabelece as categorias e subcategorias).
Tabela 5: Categorias e subcategorias de análise do estudo.
Objectivo Categoria Subcategorias
Conhecer a percepção dos
Percepção dos professores Conceito geral de valores;
professores militares e dos
militares e dos alunos sobre o Conceito de valores
alunos da AM sobre o
conceito de valores. militares;
conceito de valores.
Identificar os valores
Valores militares transmitidos Valores militares
militares transmitidos pelo
pelo professor militar no transmitidos no processo
professor militar no
processo de ensino- de ensino e
processo de ensino e
aprendizagem. aprendizagem.
aprendizagem.
Modos de transmissão
Caracterizar o modo como
Modos como os professores dos valores militares;
os professores militares
militares transmitem os Actividades que visam
transmitem os valores
valores militares. transmitir os valores
militares.
militares.
Importância da
transmissão dos valores
Conhecer a importância
Importância dos valores militares;
dos valores militares
militares transmitidos pelo Importância dos valores
transmitidos pelo professor
professor militar. militares para o
militar.
enquadramento no
ambiente da AM.
49
Estabelecidas as categorias, registou-se nas entrevistas feitas aos participantes do estudo
os elementos indicados por Vala (1990), nesse caso: i) Unidade de registo – o conteúdo que se
caracteriza colocando-o numa dada categoria, porém, condicionado pelos objectivos e pelas
questões de estudo; ii) Unidade de contexto/indicador – o conteúdo que o analista examina
quando caracteriza uma unidade de registo (ver os apêndices D e E). Portanto, com esses
elementos (unidade de registo e indicadores), foi possível no capítulo três (3) analisar as
categorias e, os seus conteúdos ou subcategorias sujeitos a testes de validade.
2.5. Caracterização do local de estudo
Nesta sessão apresenta-se uma breve caracterização do local de estudo, neste caso a AM
de forma a contextualizar o estudo. Nesta perspectiva, Chale (2010) afirma que a AM
constitui a concretização dos ideais do primeiro presidente de Moçambique independente,
Marechal Samora Machel, patrono desta Instituição, sob a égide de transformar o exército de
guerrilha em exército regular.
A AM foi criada pelo Decreto nº 62/2003, de 24 de Dezembro do Conselho de Ministros
e tem a sua sede na Cidade de Nampula, província de Nampula. Muirequetule (2017)
considera que a AM tem como visão ser de excelência na formação de oficiais, e flexível às
dinâmicas de ensino, pesquisa, extensão e apoio à comunidade. O Decreto nº 62/2003, de 24
de Dezembro, relata que os objectivos da AM são: i) Proporcionar aos oficiais uma sólida
preparação de base de nível superior em moldes idênticos aos das universidades; ii) Garantir
uma formação técnico-científica de nível superior através da aquisição de conhecimentos e
dinâmica intelectual; iii) Proporcionar aos oficiais uma formação científica para a satisfação
das qualificações profissionais essenciais no âmbito do exercício das actividades da defesa
militar; iii) Prover uma formação comportamental assente na educação militar, moral e cívica,
orientada para o cultivo de valores de caráter; e iv) Assegurar o desempenho nas funções de
comando, direção e chefia como educadores e instrutores no processo de desenvolvimento da
componente militar da Defesa Nacional.
Desde 2005 a AM assegura a formação de oficiais tendo em 2009 iniciado a graduar
oficias para o quadro permanente das FADM. Actualmente a AM ministra cursos de
licenciatura em Ciências Militares nas especialidades de Infantaria, Blindados,
Reconhecimento, Artilharia Terrestre, Artilharia Antiaérea, Engenharia Militar,
50
Comunicações, Administração Militar, Piloto Aviador, Comandantes de Meios Radiotécnicos,
Navegação Marítima e Educação Cívico-Patriótica.
Muirequetule (2017) explica que a AM funciona com a seguinte estrutura: o comando
constituído por Gabinete do Comandante, Gabinete jurídico, Gabinete de Estudo e
Planeamento, Gabinete de Relações Públicas, Imprensa militar e igualmente funcionam os
conselhos da Academia, científico e de disciplina). Por outro lado encontra-se: i) Direção
Pedagógica com Departamentos de Ciências Militares, Ciências Exatas, Ciências Sociais,
Ciências Económicas e Jurídicas, Línguas e Preparação Física e Desportos; ii) Comando do
Corpo de estudantes (Instrução e Treino); iii) Comando de Apoio Serviços; iv) Direção
Científica; v) Repartição Educação Cívico-Patriótica e vi) Repartição de Informações.
2.6. Questões éticas do estudo
Em termos de questões éticas do estudo, ao comando da AM foi prometido de que no
relatório final do trabalho constariam informações e criticas que visão contribuir no processo
de ensino e aprendizagem da instituição, e que não prejudicam e nem mancham a sua boa
imagem e a sua reputação na sociedade. Essa promessa foi cumprida ao observar-se em todo
processo da pesquisa normas éticas de legalidade e honestidade na interpretação dos
conteúdos encontrados nos documentos, dos aspectos observados na AM e das informações
fornecidas pelos participantes do estudo.
A interação com os participantes do estudo obedeceu questões éticas de mante-los em
anonimato e consentimento de serem entrevistados e por conseguinte fornecerem informações
honestas para o estudo.
51
CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Após a recolha de dados, procedeu-se neste capítulo à apresentação, análise e discussão
dos mesmos. Três processos distintos porém estreitamente relacionados. Pois, à apresentação
consistiu em expor as informações obtidas através dos instrumentos e das técnicas de colecta
de dados (a observação participante, a entrevista semiestruturada e a análise documental) e
que foram filtradas na análise de conteúdo (ver o apêndice D e E). A análise obedeceu os
parâmetros referenciados por Gil (2008), que são de organizar e sumariar os dados de forma
tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema da pesquisa. E a discussão
objetivou procurar mediante a ligação a outros estudos o sentido mais amplo das respostas.
Neste âmbito, com vista a compreender mais profundamente possível as informações
obtidas no processo de colecta de dados, tomou-se as quatro (4) categorias e as suas
respectivas subcategorias de análise do estudo (ver a tabela 5) como itens organizadores, onde
em cada item fez-se a respectiva apresentação, análise e discussão dados.
3.1. Percepção dos professores militares e dos alunos sobre o conceito de valores.
Nesta categoria, procurou-se entender dos Professores Militares (PM) e dos Alunos (Al.)
sobre o conceito geral de valores e o conceito de valores militares com vista a constatar-se a
percepcao dos participantes do estudo sobre o conceito da palavra valores. Neste sentido, para
o conceito geral de valores, um dos professores entrevistados, o PM1 afirmou que valores são
normas morais e sociais passadas de uma pessoa a outra e de uma sociedade a outra. Os
restantes professores entrevistados, PM2, PM3 e PM4, consideraram valores como costumes e
normas sociais de convívio numa sociedade. A visão desses últimos três professores é
partilhada por um dos alunos entrevistados, o Al.2 que conceituou valores como costumes de
convívio numa sociedade ou organização. Já os outros alunos entrevistados, o Al.1 e o Al.3
consideraram valores como características de um individuo:
“Conjunto de normas, preceitos morais, de regras sociais que são passadas de uma pessoa
para outra, de uma sociedade a outra sociedade” (PM1).
“Práticas e costumes de uma de determinada etnia ou cultura” (PM3).
“Hábitos, costumes que uma determinada sociedade, comunidade ou organização adopta
como padrão de convivência” (Al.2).
52
“Atribuição sobre a característica de alguém” (Al.1).
Relativamente ao conceito de valores militares, um dos professores entrevistados, o PM3
afirmou que os valores militares representam a junção de todos valores de um povo. E os
outros professores, o PM1, PM2 e PM3 consideraram valores militares como princípios
morais e normas que possibilitam o convívio militar. Do lado dos alunos entrevistados, o Al.2
conceituou valores militares como costumes dos militares dentro da sociedade. O Al.1 relatou
que valores militares são características exigidas pela sociedade militar. E por fim o Al.3
considerou valores militares como características éticas de um militar.
Nas perspectivas expostas acima, é possível constatar-se três (3) distintas: i) Todos
professores militares, participantes do estudo, apesar de um dos professores ter mencionado o
aspecto transmissibilidade dos valores de uma pessoa para a outra e de uma sociedade a outra,
e um outro professor não ter diferenciado os valores de um povo com os valores militares
desse povo, consideraram valores como costumes e normas sociais de convívio numa
sociedade civil ou militar. Um conceito que ao par dos professores um dos alunos partilha; ii)
Um aluno entrevistado entendeu valores de forma geral como características de um individuo,
e valores militares como características exigidas pela sociedade militar; e iii) Um outro aluno
que ao par do anterior aluno percebeu valores de forma geral como características de um
individuo, todavia, este compreendeu valores militares como características éticas de um
militar.
Ora, a perspectiva da maioria dos participantes do estudo que considerou valores como
costumes e normas sociais de convívio numa sociedade, é defendida por muitos outros autores
como Menin (2002) que compreende valores como costumes locais que avaliam as acções
humanas. Camargo (2013) que considera valores como a força que dita como os homens
devem se comportar para estarem de acordo com o que está estabelecido em determinada
cultura. Fonseca (2005) que percebe valores como uma espécie de linguagem comum
veiculada por uma ou mais sociedades e/ou culturas.
Apesar de estar alinhado a essa perspectiva, Camargo (2013) ressalta que quando o
indivíduo nasce se depara com os valores estabelecidos na sua cultura e universalmente, por
via disso necessita adequar-se para relacionar-se com os demais. Essa adequação, segundo
Costa (2011), é feita pela educação familiar e escolar. Silva (2015) aclara essa ideia ao
afirmar que valores são legados que devem ser transmitidos de geração em geração. Dado a
53
esse posicionamento desses autores, fundamenta-se o pensamento de um dos professores
entrevistado que afirmou que os valores são transmissíveis de pessoa para pessoa, de
sociedade para sociedade. Pereira (s/d) por sua vez garantiu que os valores militares não são
extra povo, pois são qualidades de todos os indivíduos, independentemente da actividade
profissional que exerçam, porém, conforme AMP (s/d), são qualidades destacáveis no
exercício da função militar.
A perspectiva que considerou valores de forma geral como características de um
individuo e valores militares como características exidas pela sociedade militar é um conceito
amplo e impreciso pois por um lado nos remete a um entendimento de características
fisiológicas, biológicas e técnicas. Por outro lado, do ponto de vista de carácter e convicções,
nos remete a um entendimento de prioridades das pessoas e suas decisões, atitudes e
comportamentos (PNUD, 2010). Em função disso, essa pespectiva ao ser anunciada necessita
sempre de clarificar-se em que contexto se apresenta.
Já a ideia dos valores militares constituírem características éticas de um militar, Vieira
(2002) não se alinha e considera um equívoco. Pois, para Rouco et al. (2013) e Silva (2015),
os valores militares representam a essência de sobrevivência da profissão militar, e a ética
militar, segundo Fraga (1994), compreende conjunto de regras fundamentais de boa ou má
conduta do militar. Ou seja, a ética militar é parte intrínseca dos valores militares ou da
realidade dos militares (Ribeiro, 2016).
3.2. Valores militares transmitidos pelo professor militar no processo de ensino-aprendizagem
De forma a identificar os valores militares transmitidos pelo professor militar no
processo de ensino-aprendizagem, apresentou-se neste item ou categoria as informações
colhidas no local de estudo e confrontadas com as de outros estudos. Neste sentido, nas
entrevistas feitas aos professores, o PM1 indicou a Unidade Nacional, a camaradagem, a
cidadania como valores militares transmitidos pelo professor militar na AM. O PM2
mencionou apenas as diretrizes doutrinárias como valores militares transmitidos pelo
professor militar. O PM3 dentre vários valores militares transmitidos pelo professor militar
enumerou os seguintes: patriotismo, cidadania, respeito, Unidade Nacional, ética e
deontologia profissional, respeito ao povo e seus bens, espirito de corpo, camaradagem,
lealdade. E o PM4 listou os seguintes valores militares transmitidos pelo professor militar:
Unidade Nacional, patriotismo, civismo, convicção no cumprimento das missões das FA,
54
amar a profissão, espirito de corpo, aprimoramento técnico profissional, profissionalismo,
ética e deontologia profissional e cidadania:
“O patriotismo, que é o amor a Pátria, a Unidade Nacional, ética e deontologia
profissional, o espirito de corpo, a camaradagem, a lealdade, respeito ao povo, entre outros
são valores que devem caracterizar o militar” (PM3).
Do lado dos alunos, o Al.1 dentre vários valores militares transmitidos pelo professor
militar apontou a coragem, o espirito de corpo, o respeito, o priorizar a vontade colectiva. O
Al.2 descreveu dentre muitos valores militares transmitidos pelo professor militar: o
patriotismo, o civismo, o espirito de corpo, o amor a profissão militar, e honras militares. Já o
Al.3 de entre muitos valores militares transmitidos pelo professor militar, mencionou o
patriotismo, a honestidade, a honra, a lealdade:
“O patriotismo, que é um sentimento que cada miliar deve ter perante a sua Pátria, neste
caso. Mas temos vários, a honestidade, a honra, podemos falar também da lealdade perante os
seus comandantes entre outros” (Al.3).
No entanto, dos apectos observados1 no ambiente da AM e que demonstraram
preservação de valores militares destacam-se os seguintes: tradição de formar e marchar,
exigência de garbo, Unidade Nacional na constituição das turmas, disciplina e respeito
demonstrado na saudação militar (continência):
“Estudantes da turma 1 de infantaria 2o ano devidamente fardados e presentes na sala de
aulas ficaram em pé, em sentido e quietos quando o professor de Táctica de Infantaria-I
entrou na sala de aulas. Durante esse acto o estudante-dia através da continência saudou o
professor, e este também através da continência respondeu a saudação” (Observação do dia
17/10/2018).
Embora esses valores militares, exceptuando a Unidade Nacional, sejam constados sem
muito esforço, nos documentos analisados, alguns dos quais que constam nos anexos deste
estudo constatou-se, na Lei no 18/97, de 1 de Outubro, valores militares como pronta
disponibilidade para o serviço, amor a Pátria, cidadania, honra, fidelidade e disciplina; no
Decreto no 62/2003, de 24 de Dezembro e no Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março,
valores de carácter militar como honra, lealdade, alto sentido de dever patriótico e de
1
Ver o apêndice A.
55
disciplina, dedicação, assiduidade e pontualidade, cumprir com exactidão e prontidão as
actividades, e garbo; no Código de Honra do Estudante da AM, valores como, amor a Pátria,
camaradagem, garbo, lealdade, alto sentido de dever, amor a profissão, cidadania, disciplina e
honestidade; e nas NVI, valores como garbo, honra, dever, lealdade, disciplina, ordem,
pontualidade e correção.
Conforme o exposto, na multiplicidade de valores, os participantes do estudo apontaram
valores militares referentes a convicções, carácter e dever como os que o professor militar
transmite no processo de ensino-aprendizagem na AM, esses valores militares são: a Unidade
Nacional, a camaradagem, a cidadania, patriotismo, respeito, ética e deontologia profissional,
respeito ao povo e seus bens, espirito de corpo, coragem, lealdade, civismo, convicção no
cumprimento das missões das FA, amar a profissão, aprimoramento técnico profissional,
profissionalismo, o priorizar a vontade colectiva, honras militares, a honestidade, o
cumprimento das diretrizes doutrinárias e a honra.
A indicação de valores militares que dizem respeito a convicções, carácter e dever como
os que o professor militar transmite no processo de ensino-aprendizagem, constatou-se
também nos aspectos observados e nos documentos analisados. Onde mencionou-se, para
além dos valores militares apontados no parágrafo anterior, a disponibilidade para o serviço,
fidelidade, disciplina, dedicação, assiduidade e pontualidade, cumprir com exactidão e
prontidão as actividades, garbo, alto sentido de dever, ordem e correção. Todavia, na técnica
de observação foi possível também constatar-se que o professor militar transmite valores
militares que dizem respeito a tradição, neste caso a formatura e a marcha.
No entanto, embora em conformidade com o Decreto nº 62/2003, de 24 de Dezembro e o
Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março, os valores militares que dizem respeito a
convicções sejam promovidos no ambiente da AM, a transmissão de valores como Unidade
Nacional, coragem, patriotismo, fidelidade, lealdade, camaradagem, espirito de corpo,
honestidade, amor a profissão, ética, civismo e cidadania, é da responsabilidade de toda
comunidade escolar da AM e não da particular responsabilidade do professor militar, uma vez
que esses valores, segundo o PNUD (2010), são certezas abstratas que se encontram nas
mentes das pessoas. E o desenvolvimento pleno desses valores depende da própria pessoa e
do contexto em que se encontra inserida essa pessoa. Ou seja, cada pessoa é um ser único,
com a sua personalidade específica e livre de fazer escolhas (Costa, 2011). Dai que, “tratando-
56
se de valores morais e sociais, a própria sociedade, a própria comunidade militar em união
deve demostrar de forma prática como é que essas coisas na prática funcionam” (PM4).
Já valores militares como disciplina, assiduidade, pontualidade, garbo, respeito, cumprir
com exactidão e prontidão as actividades e as directrizes doutrinarias, dedicação,
aprimoramento técnico profissional, profissionalismo, alto sentido de dever ou
responsabilidade, deontologia profissional, que dizem respeito a caracter e dever, bem como
os valores militares que dizem respeito a tradição, formatura e marcha, mostram-se
praticamente acessíveis de serem transmitidos pelo professor militar, pois esses valores são
constructos ocultos cuja presença se faz perceber no comportamento quotidiano das pessoas
(Gouvea, 2003). Isto é, por serem estes valores, as regras da Instituição, os alunos seguem ou
obedecem por temor à perda de afeto ou ao castigo (Menin, 2002).
3.3. Modos como os professores militares transmitem os valores militares.
Nesta categoria de estudo, procurou-se constatar os modos de transmissão dos valores
militares e as actividades que visam transmitir os valores militares de forma a caracterizar o
modo como os professores militares transmitem os valores militares. Assim, para constatar-se
os modos de transmissão de valores militares, recorreu-se as entrevistas feitas aos
participantes do estudo, as quais um dos professores, o PM1 referiu que ao transmitir os
valores militares o professor militar deve ser o primeiro a valorizar diferenças e afigurar-se
como referência. O PM2 relatou que ao transmitir os valores militares, o professor militar
deve apoiar-se na sua experiência pessoal e ter em conta o contexto. Para transmitir os valores
militares, o PM3 indicou que o professor militar deve guiar-se pelas normas e tentar não
cometer erros na presença de estudantes. O PM4 por sua vez considerou que para transmitir
os valores militares, nas aulas apresentam-se os valores para posterior debate, buscando-se
para tal exemplos práticos do passado:
“Ser o primeiro a valorizar essas diferenças que nós temos, as diferentes províncias que o
país tem, os diferentes grupos étnicos que o país apresenta, para permitir que os alunos
também tenham em mente esses elementos” (PM1).
“Experiência pessoal e tem a ver com o contexto, não basta ter experiência, é preciso ver
o contexto em que apresentamos ou transmitimos os valores” (PM2).
57
“Buscamos exemplos do passado, ou seja, em algum momento recorremos ao passado
histórico, mas isso é discussão, dialogo no momento posterior as conferencias que é para que?
Os estudantes procurarem interiorizar os valores” (PM4).
Os alunos, o Al.3 afirmou que para transmitirem os valores militares, os professores
baseiam-se nas suas experiências. E os outros alunos, o Al.1 e Al.2 consideraram que os
professores se afiguram como exemplos a seguir de indivíduos doptados de valores militares:
“Experiência de um docente, tem a tendência de transmitir aqueles valores necessários
que ele conhece” (Al.3).
Se o professor nas suas aulas, nos seus seminários e nas suas palestras, ele diz vamos amar a
pátria e depois o dinheiro. E não dizer estamos aqui por causa de dinheiro, essas coisas e tal. O
professor deve ser um orientador, deve ser o primeiro, o exemplo em outras palavras. Então eu
acredito que o docente a partir do seu próprio exemplo está transmitir os valores na AM (Al.2).
Para caracterizar o modo como os professores militares transmitem os valores militares,
recorreu-se igualmente aos factos que ocorreram ao longo do período de observação das
actividades dos professores militares na AM, onde nesses factos registo vai para supervisão
das marchas dos alunos, manutenção da disciplina militar, observação da hierarquia e da
saudação militar, e inspeção semanal do garbo dos alunos (ver anexo V):
“Na parada de marcha, os professores/oficiais inspecionam os alunos itens como higiene
e uso adequado da farda e das botas, o corte do cabelo e das unhas, a posse de pano de rosto,
de pente e de bilhete de identificação” (Observação do dia 15/10/2018).
Portanto, os modos de transmissão dos valores militares acima expostos podem ser
agrupados em quatro (4): i) O modo de transmissão de valores militares através da
fiscalização do cumprimento das regras da instituição (observado no local de estudo), onde o
professor militar fiscaliza se o aluno está a cumprir com as regras militares e as regras da AM;
ii) Um dos professores militares (embora considere também o contexto) e um aluno indicaram
o modo de transmissão de valores militares a partir da experiência individual do professor,
onde professor militar expõe a sua experiencia profissional aos alunos; iii) A maioria dos
participantes do estudo referiram-se do modo de transmissão de valores militares através da
demostração-exemplar, onde o professor militar é o primeiro a demostrar o valor e afigurar-se
como referência nos bons actos; e iv) Um outro professor militar indicou o modo de
transmissão de valores militares a partir da aula expositiva-ativa do tema valores, onde o
58
professor militar na aula apresenta os valores para posterior debate, buscando-se para tal
exemplos práticos do passado.
No entanto, o modo de transmissão de valores militares através da fiscalização do
cumprimento das regras da Instituição, segundo o Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de
Março, visa a manutenção da disciplina como valor imprescindível para a formação militar
dos estudantes e pela conservação e adequada utilização das instalações e dos meios
materiais. Weiss (2016) afirma que para estabelecer limites, os professores valem-se da
fiscalização do cumprimento das regras e com isso, contribuir para a organização do ambiente
de trabalho, promover a justiça, fomentar a responsabilidade por aquilo que ocorre no
ambiente de ensino. Embora tenha essa vantagem, esse modo de transmissão de valores é
acompanhado pela coacção, o que para o PNUD (2010), torna o modo consideravelmente
incerto nos seus resultados particularmente no contexto social em que muitos jovens se
rebelam e muitas vezes até mesmo rejeitam o sistema escolar.
O modo de transmissão de valores militares a partir da experiência individual do
professor militar, de acordo com Kneipp (2016), é relevante na aprendizagem do aluno na
medida em que situa o aluno diante da realidade da prática profissional militar, e ao trazer
exemplos vivenciados ou ocorridos ao longo da sua carreia de oficial, o professor militar
muda a opinião e o comportamento do aluno. Nesse modo, segundo Costa (2011), o professor
convicto daquilo em que acredita propõe a sua experiência, sabendo que o mais importante
não é que o aluno tenha a mesma escala de valores que ele, mas que saiba que há várias
possibilidades, entre as quais a sua.
Apesar dessa vantagem, Ribeiro (2013) ressalta que nesse modo de transmissão de
valores os professores são obrigados a reconhecerem os valores que regem seus próprios
comportamentos e que orientam sua visão do mundo, de forma a não imporem aos alunos
aquilo que eles julgam como positivo ou negativo. Ademais, o professor deve conciliar
exemplos do seu passado com factos actuais, pois segundo Camargo (2013), dada a
globalização, os adolescentes e os jovens vivem o presente. Um presente, conforme Ribeiro
(2013) influenciado pelas Mídias que fortemente moldam visões e comportamentos dos
jovens, ao mesmo tempo em que ela instrui, também cria desinformação, banalizando
assuntos e gerando dúvidas e atitudes precipitadas. Essas constatações sustentam o
posicionamento de um dos professores que apontou o contexto como factor a ter em conta:
59
Não basta ter experiência, é preciso ver o contexto em que apresentamos ou transmitimos os
valores. Do jeito que transmito os valores hoje não é do mesmo jeito que se fazia em 1990, 91,
92. Porque eu digo isso? Porque na altura havia uma componente forte. Componente essa que
completava trabalho de um do outro, estamos a falar do comandante, estamos a falar do
comissario politico. O comandante com uma missão determinada e o comissario com outra
missão determinada. E então ali a cidadania era tomada em consideração na vertente
contextual daquela altura. Hoje a situação é outra. A conjuntura moderna permite que cada um
seja livre de si, hoje até podemos fugir das regras militares (PM2).
O modo de transmissão de valores militares através da demostração-exemplar, onde o
professor militar é o primeiro a demostrar o valor e afigurar-se como referência nos bons
actos (que foi apontada pela maioria dos participantes do estudo), conforme o PNUD (2010),
neste modo o objectivo é deixar os estudantes a reflexão sobre que valores adoptar,
transmitindo a eles vivências e práticas por meio de acções praticadas pelos professores. Pois,
os valores podem ser adoptados por intermédio de uma reflexão crítica e entendimento por
parte dos alunos. Todavia, a pesar dessa grande vantagem, Menin (2002) reconhece que
actualmente não há certeza dos resultados desse modo de transmissão de valores. Costa
(2011) explica que os professores já não são modelos para grande parte dos adolescentes e
jovens na medida em que estes inspiram-se em celebridades da área cultural, politica e
desportiva, por isso, esse modo de transmissão de valores nem é tanto eficaz.
Já o modo de transmissão de valores militares a partir da aula expositiva-ativa do tema
valores, onde o professor militar nas aulas apresenta os valores para posterior debate,
buscando-se para tal exemplos práticos do passado, de acordo com o Menin (2002), o aluno
discute as regras que regem sua vida no grupo e pode reelaborá-las passando a entender as
utilidades sociais das regras, e os actos dos outros passam a ser julgados pela interação. Para o
PNUD (2010), nesse modo de transmissão de valores o objetivo é desenvolver nos estudantes
um maior entendimento das crenças que eles possuem, mas sem tentar mudá-las. Todavia,
dada a natureza transformadora da educação, nem sempre essa é uma posição estável, isto é,
não pode ser a única modalidade de transmissão de valores a ser aplicada no contexto de
ensino e aprendizagem.
Em termos de actividades realizadas pelos professores militares e que visão desenvolver
valores militares nos alunos, denotou-se visões diferentes dos professores, como pode
verificar-se, das actividades que tem realizado para transmitir os valores militares, o PM1
destacou a de conhecer os alunos através da consulta oral e de incentiva-los a terem o hábito
alimentar da AM. O PM2 referiu que uma das actvidades que tem efectuado para transmitir os
valores militares é a de incentivar o estudante a ter o hábito de saudar através da continência.
60
PME3 afirmou que dá exemplos práticos e organiza actividades conjuntas com vista a
transmitir os valores militares. E o PM4 apontou o conhecer os alunos através da consulta oral
como uma das catividades que visa transmitir valor.
Agrupando essas actividades que visão transmitir os valores militares mencionados pelos
professores militares, participantes do estudo, constata-se actividades como, conhecer o aluno
através da consulta oral, fazer o aluno ter o hábito alimentar da AM, habituar o aluno a saudar
através da continência e colocar os alunos em actividades conjuntas.
A primeira actividade, conhecer aluno através da consulta oral, visa simplesmente obter
as origens dos alunos de modo a constatar se a turma foi constituída obedecendo a Unidade
Nacional:
Para conhecermos os alunos, podemos por exemplo procurar saber você é de que província,
você é de que região. Normalmente, nós na AM, ao constituir as turmas, temos tido em conta a
questão da Unidade Nacional, então uma turma da AM é Moçambique em miniatura (PM1).
“A Unidade Nacional, podemos por começar a perguntar quem é de Cabo Delgado, quem
é de Niassa, etc., para fazer perceber que de facto há espaço para que essa Unidade Nacional
seja cultivada” (PM4).
Agora, fazer o aluno ter o hábito alimentar da AM visa engajar os alunos em contexto de
completa harmonia e camaradagem, uma vez que a alimentação representa um importante
factor de bem-estar físico e psíquico para os militares para além de contribuir para um
agradável intervalo entre as ocupações de serviço (Neto, 2016). Apesar disso, o Ministério da
Defesa (2018) afirma que a nutrição militar deve observar os hábitos alimentares regionais,
para preservar tradições, porém sem prejuízo do balanceamento nutricional, resgatando
práticas e valores alimentares culturalmente referenciados.
Habituar o aluno a saudar através da continência, segundo o Decreto-lei no 331/80, de 28
de Agosto, a continência constitui a forma obrigatória de saudação e de reconhecimento entre
militares e é um sinal de respeito dado pelo militar individualmente a seus camaradas e seus
superiores. Timbane (2016) afirma que em todas as sociedades, a saudação parece ser uma
prática frequente. Pode ser expresso por gestos, por olhares, por palavras ou mesmo por uma
conversa. O autor considera ainda que sob a ótica antropológica, o cumprimento faz parte das
boas maneiras de convivência em comunidade na qual pessoas pertencentes ao mesmo grupo
trocam mensagens em presença na sua maioria. Agora, o entrave nessa actividade é o aspecto
61
obrigação que põe a duvidar da efectiva assimilação do valor, pois segundo Menin (2002) ao
se impor um valor, os alunos seguem ou obedecem por temor à perda de afeto ou ao castigo.
Por fim, colocar os alunos em actividades conjuntas, uma actividade que Costa (2010)
considera ferramenta importante no processo de ensino-aprendizagem, por proporcionar
situações favoráveis a aprendizagem e ao desenvolvimento de habilidades ou valor de
convivência em comunidade e a camaradagem. Essa feramente é essencial para fazer face a
um dos grandes desafios da educação e da sociedade contemporânea, o aprender a conviver,
na medida em que desenvolve a compreensão do outro e a percepção das interdependências
(Delors et al., 1998). Entretanto, apesar dessa vantagem, a realização dessa actividade
necessita de um acompanhamento do professor pois durante a vida escolar, muitos alunos têm
dificuldade de trabalhar em grupo, alguns não aceitam a opinião alheia, nem se dão ao
trabalho de ouvi-la e outros aceitam tudo como se não possuíssem opinião própria (Costa,
2010, pp. 6-7).
3.4. Importância dos valores militares transmitidos pelo professor militar
Com vista a conhecer a importância dos valores militares transmitidos pelo professor
militar no processo de ensino aprendizagem, foram apresentadas neste item ou categoria
informações referentes a importância da transmissão dos valores militares e importância dos
valores militares para o enquadramento no ambiente da AM. Deste modo, para a importância
da transmissão dos valores militares constatou-se nas entrevistas realizadas aos professores
militares que o PM4 exalta a transmissão de valores pois segundo este, o processo de
transmissão de valores militares é uma forma de manter a sobrevivência dos povos, da família
e manter a identidade do povo ou o Estado. O PM2 considerou a transmissão de valores
militares como uma forma de deixar legado a juventude para a manutenção do Estado. Já o
PM3 afirmou que a transmissão de valores militares visa manter a existência das FA e do
militar. Por fim, o PM1 compreende a transmissão de valores militares como um processo que
visa preservar os valores e a Instituição Militar, e ainda que aluno se identifique com os
valores militares:
É muito importante transmitirmos esses valores, primeiro para a preservação desses valores.
Nós quando falamos da Unidade Nacional, da Paz, da cidadania, esses valores devemos
preservar a todo momento […]. Mas também temos que falar de valores como forma de
preservar até a própria Instituição Militar. Uma Instituição que não tem em conta os seus
valores, a sua tradição, então não merece ser o que é (PM1).
62
“É importante saber que o povo deve ser respeitado, as instituições legais devem ser
respeitadas, instituições públicas, privadas e religiosas devem ser respeitadas, por que é por
isso que existem FA e o militar” (PM3).
Dos alunos entrevistados, o Al.1 considerou ser importante transmitir-se os valores
militares na medida em que os valores militares indicam a identidade militar e devem ser
preservados. O Al.2 afirmou que os valores devem ser transmitidos pois são necessários para
o bom convívio. E o Al.3 relatou que os valores mostram a essência do militar e dignificam a
Instituição Militar por isso devem ser transmitidos:
“Se a pessoa não tiver valores, isso vai afetar a humanidade, vai a ver uma, como é que
eu posso dizer, vai a ver uma crise, uma divergência” (Al.2).
“Primeiro elas resgatam aquilo que é nossa vida como militares. Os valores nos mostram
a verdadeira essência de um militar, dignificam a nossa Instituição, também são esses valores
que nos disciplinam” (Al.3).
Já nos documentos analisados foi possível constatar-se no Decreto no 62/2003, de 24 de
Dezembro e no Diploma Ministerial no 65/2005, de 2 de Março, que a transmissão dos valores
militares visa desenvolver nos estudantes atributos de carácter necessários para o desempenho
das funções de comando e chefia militar.
Ora, os argumentos expostos acima podem agrupar-se em cinco (5) grandes linhas de
importância da transmissão dos valores militares: i) A linha da maioria dos participantes do
estudo que consideraram importante transmitir-se os valores militares para preservar os
próprios valores militares e a Instituição Militar, e ainda para que aluno se identifique com os
valores militares; ii) A linha de um dos professores que afirmou ser importante transmitir-se
os valares para deixar legado a juventude e por conseguinte manter o Estado; iii) A linha de
um dos alunos que indicou ser importante a transmissão dos valores militares para manter o
bom convívio; iv) A linha de um outro aluno que afirmou ser importante a transmissão dos
valores militares para manter os constructos que dignificam e disciplinam a Instituição
Militar; e v) A linha dos documentos que relatam ser importante transmitir-se os valores
militares para a criação de atributos que influem no desempenho das funções de comando e
chefia militar.
63
Portanto, a primeira linha de importância apontada pela maioria dos participantes do
estudo e que é referente à necessidade de transmitir-se os valores militares para preservar os
próprios valores militares e a Instituição Militar, e ainda para que aluno se identifique com os
valores militares, o Vade-Mécum (2002) fundamenta essa linha ao afirmar que as Instituições
Militares possuem referenciais fixos, fundamentos imutáveis e universais, que são os valores
militares. Esses valores influenciam, de forma consciente ou inconsciente, o comportamento
e, em particular, a conduta pessoal de cada integrante da Instituição. A eficiência, a eficácia e
mesmo a sobrevivência das FA decorrem de um fervoroso culto a tais valores.
Rouco (2012) e Rouco et al. (2013) são outros autores que defendem essa linha de
importância da transmissão dos valores militares na medida em que afirmam que os valores
militares são uma exigência moral e têm uma utilidade funcional. Confirmá-los é a
responsabilidade colectiva do Exército e de cada um nas suas unidades através das suas
actividades. São as estruturas do trabalho de equipa que multiplicam o poder da luta de cada
militar. Se alguns destes valores faltarem, naturalmente que a equipa será ameaçada.
A segunda linha de importância da transmissão dos valares militares que indica a
necessidade de deixar legado a juventude e por conseguinte manter o Estado, Camargo (2013)
da base essa linha e defende-a ao relatar que o individuo adquire os valores ao longo da sua
vida, esses valores são uma construção histórica e social a partir de relações com os demais,
sendo que uma geração é responsável por transmitir os ideais as seguintes e assim por diante,
ou seja, cada geração precisa cuidar para que o progresso ocorra, visto que toda cultura marca
o individuo que dela faz parte e a partir disso crenças são criadas diante de objectos culturais.
Por sua vez Vieira (2002), defendendo essa linha de importância da transmissão dos valores
militares argumenta que essa passagem de testemunho ou legado de valores militares no
ambiente militar visa manter o Estado na medida em que os valores da profissão militar, como
profissão ao serviço de um Estado democrático, são consistentes com os valores morais,
espirituais e sociais que definem o carácter fundamental desse Estado.
A terceira linha de importância da transmissão dos valores militares que destaca a
necessidade da manutenção do bom convívio. Santos (2013) em basa essa linha ao considerar
que os valores constituem uma base de referência para a relação que o militar estabelece com
a Instituição em que se integra e também para a relação com os outros. Os atributos (mentais,
físicos e emocionais), de natureza marcadamente comportamental, traduzem-se em
competências individuais essenciais ao sucesso na actuação em ambiente militar e permitem
64
um relacionamento adequado consigo próprio, com os outros, com a organização e com os
diferentes contextos de actuação. Outro autor que defende essa linha de importância da
transmissão dos valores militares é Ribeiro (2016), que explica que os valores militares
promovem o bem comum tanto no ambiente militar e quanto na sociedade em que as FA estão
inseridas.
A quarta linha de importância concernente a necessidade de transmitir-se os valores
militares para manter os constructos que dignificam e disciplinam a Instituição Militar,
Ribeiro (2016) fundamenta ao afirmar que não há como se falar em FA morais sem que elas
estejam inseridas em um contexto moral mais amplo. As FA morais assim o são em
decorrência de que preservam importantes valores morais e humanos. Os valores militares e
valores humanos se entrelaçam e se fundem de tal maneira que não se pode dizer que uma se
distingue da outra. Assim, uma Instituição Militar só é virtuosa quando ela defende e segue
cabalmente os preceitos humanos éticos.
A quinta linha de importância da transmissão dos valores militares atinente a necessidade
de criação de atributos que influem no desempenho das funções de comando e chefia militar,
Neves (2015) sustenta essa linha de importância ao afirmar que:
Na Instituição Militar, os valores representam um factor determinante, na medida em que
concorrem para a componente moral que norteia a acção dos militares de uma forma geral e na
tomada de decisão dos seus comandantes em contextos adversos e de elevado stress (p. 13).
Segundo Rouco et al. (2013), é imperioso transmitir os valores militares ao futuro oficial
e líder das tropas, pois o líder militar no desempenho das suas funções estimula os seus
seguidores a participarem efetivamente nas decisões, dando-lhes a liberdade e autonomia, mas
esperando bom senso e resultados enquadrados nos padrões e na cultura organizacional. A
compreensão da liderança sob a égide dos valores processa-se a partir da conjugação entre a
razão e o sentimento, procurando o bem, a justiça e a liberdade de expressão.
Em termos de importância dos valores militares para o enquadramento no ambiente da
AM, os alunos, Al.1 e Al.3 afirmaram que os valores militares ajudam um individuo a
demostrar acções requeridas no ambiente militar. Já o aluno, Al.2 considerou que os valores
militares ajudam o individuo a se descobrir:
“Me fazem perceber que eu tenho os meus hábitos e não posso imitar os hábitos dos
outros só porque estamos no mesmo meio” (Al.2).
65
“Me ajudaram no sentido de me alinhavar naquilo que são alguns aspectos que aqui são
exigidos” (Al.3).
Nestes argumentos, foi possível denotar-se duas (2) linhas de importância para o
enquadramento no ambiente da AM: i) A linha da maioria dos alunos que afirmaram serem
importantes os valores militares na medida em que ajudam um individuo a demostrar acções
requeridas no ambiente militar; e ii) A linha de um dos alunos que considerou serem
importantes os valores militares pois ajudam o individuo a se descobrir.
A primeira linha de importância para o enquadramento no ambiente da AM, apresentada
pela maioria dos alunos e que destaca o facto dos valores militares ajudarem um individuo a
demostrar acções requeridas no ambiente militar, o PNUD (2010) sustenta essa linha de
enquadramento ao considerar que os valores servem de guia de conduta dos indivíduos. Como
guias, eles não determinam, mas apenas influenciam e motivam a acção dos indivíduos. Os
valores de uma sociedade ajudam as pessoas a escolherem entre alternativas e tomarem suas
decisões finais sobre o que fazer e como agir. O mesmo vale para valores organizacionais ou
institucionais. Na Instituição Militar, Rouco et al. (2013) consideram que os valores militares
constituem-se como padrões que orientam o comportamento dos militares dentro da Intuição.
Por fim, a segunda linha de importância para o enquadramento no ambiente da AM que
indica o facto dos valores militares ajudarem o individuo a se descobrir. Mataruca (2011)
fundamenta essa linha ao afirmar que os membros das FADM, ao trazerem das suas zonas de
origem os diversos valores culturais, continuam com estes, porém insuflam na Instituição
Militar as sinergias fortificantes, reforçam a consciência de pertencerem ao mesmo país e
povo, ganham a dimensão patriótica, garantindo a coesão tanto dos militares como da
sociedade em geral.
66
CONCLUSÃO
Após o metódico, objetivo e exaustivo percurso de pesquisa que se seguiu nas sessões
anteriores, nesta sessão constam as principais conclusões que pretendem não só manter os
conhecimentos já existentes mas também alcançar outros saberes e sobretudo alcançar o
objectivo inicialmente delineado, analisar o modo como os valores militares são transmitidos
pelo professor militar no processo de ensino e aprendizagem na AM.
Nesta perspectiva, para a perpceção dos professores militares e dos alunos da AM sobre
o conceito de valores, constatou-se que a maioria dos participantes do estudo considerou
valores como costumes e normas sociais de convívio numa sociedade seja civil ou militar. No
entanto, apesar da palavra valores assumir posições relativas, o que é valor para uns, não é
valor para outros, o conceito de valores apresentado por essa maioria dos participantes do
estudo é defendido em estudos de Menin (2002), Fonseca (2005) e Camargo (2013).
Em relação aos valores militares transmitidos pelo professor militar no processo de
ensino e aprendizagem, ficou-se a saber que o professor militar no processo de ensino e
aprendizagem na AM transmite valores referentes a convicções, carácter, dever e tradição,
esses valores são: Unidade Nacional, camaradagem, cidadania, patriotismo, respeito, ética e
deontologia profissional, respeito ao povo e seus bens, espirito de corpo, coragem, lealdade,
civismo, convicção no cumprimento das missões das FA, amar a profissão, aprimoramento
técnico profissional, profissionalismo, priorizar a vontade colectiva, honras militares,
honestidade, disciplina, assiduidade, pontualidade, garbo, cumprir com exactidão e prontidão
as actividades e as directrizes doutrinarias, dedicação, alto sentido de dever ou
responsabilidade, honra, marcha e formatura.
Entretanto, a transmissão dos valores militares que dizem respeito a convicções, como
Unidade Nacional, coragem, patriotismo, fidelidade, lealdade, camaradagem, espirito de
corpo, honestidade, amor a profissão, ética, civismo e cidadania, é feita por toda comunidade
escolar da AM e não da particular responsabilidade do professor militar, pois esses valores
representam constructos abstratos da pessoa, e o desenvolvimento pleno desses valores
depende da própria pessoa e do contexto que se encontra inserida a pessoa (PNUD, 2010).
Para os modos como os professores militares transmitem os valores militares, apurou-se
quatro (4) modos de transmissão dos valores militares utilizados pelo professor militar: i) O
67
modo de transmissão de valores militares através da fiscalização do cumprimento das regras
da instituição, onde o professor militar fiscaliza se o aluno está a cumprir com as regras
militares e as regras da AM; ii) O modo de transmissão de valores militares a partir da
experiência individual do professor, onde professor militar expõe a sua experiencia
profissional aos alunos; iii) O modo de transmissão de valores militares através da
demostração-exemplar, onde o professor militar é o primeiro a demostrar o valor e afigurar-se
como referência nos bons actos; e iv) O modo de transmissão de valores militares a partir da
aula expositiva-ativa do tema valores, onde o professor militar na aula apresenta os valores
para posterior debate, buscando-se para tal exemplos práticos do passado.
Desses modos de transmissão de valores militares, a maioria dos participantes do estudo
fez menção ao modo de transmissão dos valores militares através da demostração-exemplar,
uma vez que a partir do exemplo do professor militar o estudante reflete sobre que valores
adoptar (PNUD, 2010). Todavia, a pesar dessa grande vantagem, actualmente não há certeza
dos resultados desse modo de transmissão de valores, porque os professores já não são
modelos para grande parte dos adolescentes e jovens na medida em que eles inspiram-se em
celebridades da área cultural, politica e desportiva (Menin, 2002 & Costa, 2011).
Além dos modos de transmissão de valores militares, os professores militares destacaram
actividades que visão transmitir valores militares como, conhecer o aluno através da consulta
oral de forma a demostrar que se convive em Unidade Nacional, fazer o aluno ter o hábito
alimentar da AM, habituar o aluno a saudar através da continência e colocar os alunos em
actividades conjuntas. Essa última actividade é exaltada em estudos de Delors et al. (1998) e
Costa (2010) que consideram a actividade conjunta como uma ferramenta importante no
processo de ensino-aprendizagem, por proporcionar situações favoráveis a aprendizagem e ao
desenvolvimento de habilidades ou valor de convivência em comunidade e a camaradagem.
E por fim, no tange a importância dos valores militares transmitidos pelo professor
militar. Nesta questão, constatou-se cinco (5) grandes linhas de importância da transmissão
dos valores militares no ambiente militar: i) Para preservar os próprios valores militares e a
Instituição Militar, e ainda para que aluno se identifique com os valores militares; ii) Para
deixar legado a juventude e por conseguinte manter o Estado; iii) Para manter o bom
convívio; iv) Para manter os constructos que dignificam e disciplinam a Instituição Militar; e
v) Para a criação de atributos que influem no desempenho das funções de comando e chefia
militar.
68
A linha de importância da transmissão dos valores militares mencionada pela maioria dos
participantes do estudo foi a que visa preservar os próprios valores militares e a Instituição
Militar, e ainda para que aluno se identifique com os valores militares, uma vez que os valores
militares constituem referenciais fixos, fundamentos imutáveis e universais, que influenciam,
de forma consciente ou inconsciente, no comportamento e, em particular, na conduta pessoal
de cada integrante da instituição. A eficiência, a eficácia e mesmo a sobrevivência das FA
decorrem de um fervoroso culto a tais valores (Vade-Mécum, 2002).
Em termos de importância dos valores militares transmitidos pelo professor militar para o
enquadramento no ambiente da AM, denotou-se duas (2) linhas: i) Ajudam um individuo a
demostrar acções requeridas no ambiente militar; e ii) Ajudam o individuo a se descobrir.
Dessas duas linhas, a maioria dos alunos apontou a linha de importância dos valores
militares transmitidos pelo professor militar que ajuda um individuo a demostrar acções
requeridas no ambiente militar, pois os valores servem de guia de conduta dos indivíduos.
Como guias, eles não determinam, mas apenas influenciam e motivam a acção dos indivíduos.
Os valores de uma sociedade ou organização ajudam as pessoas a escolherem entre
alternativas e tomarem suas decisões finais sobre o que fazer e como agir (PNUD, 2010).
Portanto, diante desses factos que alcançam os objectivos traçados e respondem as
questões de estudo definidas, considera-se respondida a questão de pesquisa: de que modo os
valores militares são transmitidos pelo professor militar no processo de ensino e
aprendizagem na AM? Todavia, sem querer dar por encerado o assunto em estudo abre -se
espaço para outras investigações que possam advir dessas constatações.
69
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76
APÊNDICES
77
Apêndice A: Grelha de observação
Com vista a identificar objectivamente os aspectos relevantes de investigação, foi
elaborada a grelha de observação da tabela 4 cujo autor do trabalho registou os factos que
envolveram o estudo durante o período de colecta de dados.
Tabela 6: Grelha de observação.
Aspectos
Dia Hora Observações
observados
Estudantes ficaram formados na parada de marcha
6:00 para através do comandante da parada serem
às informados sobre a agenda das actividades da
6:30 semana laboral corrente. Em seguida saíram da
15/10/18
parada a marcha acelerada (corrida).
Grupos de estudantes marcham para as salas de
7:10 aulas entoando cânticos e sob supervisão do
comandante da companhia.
Estudantes da turma 1 de infantaria 2o ano
devidamente fardados e presentes na sala de aulas
ficaram em pé, em sentido e quietos quando o
professor de Táctica de Infantaria-I entrou na sala
de aulas. Durante esse acto o estudante-dia através
da continência saudou o professor, e este também
através da continência respondeu a saudação.
Sessada a continência, o estudante-dia em viva
voz forneceu ao professor dados referentes a
orgânica, presentes, ausentes, doentes,
Valores militares
dispensados e os casos desconhecidos da turma.
transmitidos pelo
Fornecidos os dados, o estudante-dia através da
professor militar.
continência pediu ao professor que lhe permitisse
fazer a turma descansar da posição de sentido, e o
9:10
professor através da continência não só aceitou
17/10/18 às
mas como também recomendou que a turma
9:55
sentasse. Feito isso, o estudante-dia ordenou que a
turma sentasse, e uma vez sentada a turma, os
estudantes tiraram o casquete da cabeça só depois
do professor ter tirado o casquete da sua cabeça.
Depois desse processo, a aula decorreu
normalmente até quando o estudante-dia
levantou-se para recordar ao professor que
faltavam cinco (5) minutos para o fim da aula e
depois sentou-se.
Passados os cinco (5) minutos, o estudante-dia
voltou a levantar-se para dizer “fim da aula”. Dito
isso, o professor recolheu o seu material e ficou
parado esperando que o estudante-dia dê-se ordem
aos restantes colegas para que se levantassem,
78
usassem o casquete e que se colocassem na
posição de sentido. Assim ocorreu, em seguida o
estudante-dia através da continência pede ao
professor que continuassem com a ordem do dia,
e o professor através também da continência
aceitou o pedido dos estudantes e retirou-se da
sala de aulas.
Nos registos dos estudantes da turma do 2o de
Artilharia Terrestre, consta que os estudantes são
8:20 provenientes de todas as regiões do país, ou seja,
18/10/18 às são provenientes das regiões sul, centro e norte do
9:05 país. E apesar da turma não ter estudantes da
província do Niassa, demostra-se praticamente a
Unidade Nacional.
Na parada de marcha, os professores/oficiais
5:45 inspecionam nos alunos itens como higiene e uso
15/10/18 às adequado da farda e das botas, o corte do cabelo e
6:00 das unhas, a posse de pano de rosto, de pente e de
bilhete de identificação.
Durante a aula de Eletrónica Digital, disciplina
ministrada no Curso de Comandantes dos Meios
Radiotécnicos. O professor da disciplina assistia
normalmente a apresentação e a defesa de um
trabalho em grupo realizado pelos estudantes.
Entretanto, quando um estudante interveio e o
7:40
professor notou neste, cabelos e barbas grandes e
17/10/18 às
camisa com botões desabotoados. O professor de
7:50
imediato reprimiu veementemente o estado do
estudante e em seguida ordenou-o que se retirasse
da sala de aulas e que se apresentasse antes do fim
Modos de
da aula devidamente organizado (sem a barba e
transmissão dos
com cabelo cortado) e aprumado (botões da
valores militares.
camisa abotoados).
Um grupo de estudantes de forma esporádica
caminha do 1o para o 3o acampamento da AM. E
um professor militar que notou esse deslocamento
7:40
de estudantes, ordenou a um estudante finalista
16/10/18 às
que interpelasse e reunisse aqueles estudantes e
7:50
que em seguida desse a ordem de marcharem em
grupo e entoando cânticos para a sala de aulas. E
foi isso que aconteceu.
Um professor interpela e toma medidas coercivas
a um grupo de estudantes que não prestou
8:05 continência para dois oficiais superiores. No fim
19/10/18 às das sanções e em formatura, o grupo é exposto ao
8:20 sul para de forma discursiva ser recordado que é
obrigatório o estudante prestar continência aos
superiores hierárquicos.
79
Apêndice B: Roteiro de entrevista submetido aos professores militares
Tabela 7: Roteiro de Entrevista submetido aos professores militares.
Bloco Categoria Objectivo Perguntas
Percepção dos - Conhecer a percepção dos 1- O que entende por
professores militares professores militares e dos
A valor/valores?
e dos alunos sobre o alunos da AM sobre o 2- O que são valores
conceito de valores. conceito de valores. militares?
Valores Militares - Identificar os valores
3- Que valores militares são
Transmitidos pelo militares transmitidos pelo
transmitidos no processo
B Professor Militar no professor militar no
de ensino e
processo de ensino- processo de ensino e
aprendizagem?
aprendizagem. aprendizagem.
4- De que modo transmite
os valores militares no
Modos como os - Caracterizar o modo como processo de ensino e
professores militares os professores militares aprendizagem?
C
transmitem os transmitem os valores 5- Que actividades
valores militares. militares. académicas realiza para
transmitir valores
militares?
Importância dos - Conhecer a importância
6- Porque é importante
valores militares dos valores militares
D transmitir os valores
transmitidos pelo transmitidos pelo professor
militares aos alunos?
professor militar. militar.
80
Apêndice C: Roteiro de entrevista submetido aos alunos.
Tabela 8: Roteiro de Entrevista submetido aos alunos.
Bloco Categoria Objectivo Perguntas
Percepção dos - Conhecer a percepção dos 1- O que entende por
professores militares professores militares e dos
A valor/valores?
e dos alunos sobre o alunos da AM sobre o 2- O que são valores
conceito de valores. conceito de valores. militares?
Valores Militares - Identificar os valores
3- Que valores militares são
Transmitidos pelo militares transmitidos pelo
transmitidos no processo
B Professor Militar no professor militar no
de ensino e
processo de ensino- processo de ensino e
aprendizagem?
aprendizagem. aprendizagem.
4- De que modo os
Modos como os - Caracterizar o modo como
professores transmitem
professores militares os professores militares
C valores militares no
transmitem os transmitem os valores
processo de ensino e
valores militares. militares.
aprendizagem?
5- Qual é a importância da
transmissão dos valores
Importância dos - Conhecer a importância militares?
valores militares dos valores militares 6- De que forma os valores
D
transmitidos pelo transmitidos pelo professor militares ajudam a
professor militar. militar. enquadra-se nas
actividades escolares da
AM?
81
Apêndice D: Categorização das entrevistas feitas aos Professores Militares.
Tabela 9: Entrevistas aos Professores Militares (PM).
Categoria Subcategoria Unidades de registo Indicadores
Normas morais
“Conjunto de normas, preceitos morais, de passadas de
regras sociais que são passadas de uma uma pessoa a
pessoa para outra, de uma sociedade a outra e de uma
outra sociedade” (PM1). sociedade a
outra.
“Combinação de um conjunto de atitudes e
Conceito de
caracteres na observação de normas sociais
valores
no convívio social” (PM2). Costumes e
“Práticas e costumes de uma de normas sociais
A- determinada etnia ou cultura” (PM3). de convívio
Percepção “Conjunto de padrões socialmente aceites numa
dos para padronizar e normar a conduta de um sociedade.
professores membro, seja da família, etc., seja cá das
militares e FA” (PM4).
dos alunos
“Conjunto de normas, de preceitos morais,
sobre o
de regras que possibilitam a convivência
conceito de
social entre pessoas de várias origens
valores. Princípios
sociais, de vários grupos étnicos, de várias
morais e
crenças, etc.” (PM1).
normas que
“Apropriação de normas militares
Conceito de possibilitam o
estatutárias no convívio militar” (PM2).
valores convívio
“Conjunto de padrões socialmente aceites
militares militar.
para padronizar e normar a conduta de um
membro, seja da família, etc., seja cá das
FA” (PM4).
Junção de
“Aglutinação de todos valores que
todos valores
identificam o povo moçambicano” (PM3).
de um povo.
“É preciso explicar aos jovens qual é a
importância dessa Unidade Nacional”
(PM1).
B - Valores Unidade
“A camaradagem, esse é outro elemento
Militares Nacional;
Valores essencial.” (PM1).
Transmitidos Camaradagem;
militares “Cidadania, que passa necessariamente por
pelo Cidadania
transmitidos respeitarmos por exemplo, os nossos
Professor
no processo superiores, as nossas instituições, as
Militar no
de ensino e conquistas.” (PM1).
processo de
aprendizage “O militar vivi com diretrizes bem
ensino- Diretrizes
m definidas que se circunscrevem em
aprendizage doutrinarias.
doutrinas” (PM2).
m.
“Patrióticos, valores de cidadania” (PM3). Patriotismo;
“O patriotismo, que é o amor a Pátria, a Cidadania;
Unidade Nacional, ética e deontologia Respeito;
82
profissional, o espirito de corpo, a Unidade
camaradagem, a lealdade, respeito ao Nacional;
povo, entre outros são valores que devem Ética e
caracterizar o militar” (PM3). Deontologia
profissional;
Respeito ao
Povo e seus
bens; Espirito
de corpo;
Camaradagem;
Lealdade.
“O primeiro valor é a Unidade Nacional, a
génese da Unidade Nacional” (PM4).
Unidade
“O patriotismo é o segundo valor, estamos
Nacional;
independentes, a Pátria precisa de nós
patriotismo;
[…]. O civismo que é o respeito que nós
Civismo;
damos as pessoas mais próximas, as
Convicção no
instituições, aos símbolos e a tudo aquilo
cumprimento
que esta próximo de nós” (PM4).
das missões
“Convicção no cumprimento das missões
das FA; Amar
das FA é um outro valor. […] Mas também
a profissão;
que amem a sua profissão.” (PM4).
Espirito de
“Espirito de corpo, a actividade militar não
corpo;
é cumprida por uma pessoa” (PM4).
Aprimorament
“Aprimoramento técnico profissional […]
o técnico
e esses valores são os mesmos valores das
profissional; o
FA, o profissionalismo, a ética e
profissionalism
deontologia profissional. Ética é o
o; ética e
cumprimento de normas, regras e
deontologia
princípios. Falamos também da cidadania
profissional;
versus civismo” (PM4)
cidadania.
“Ser o primeiro a valorizar essas
diferenças que nós temos, as diferentes Ser o primeiro
províncias que o país tem, os diferentes a valorizar
grupos étnicos que o país apresenta, para diferenças e
permitir que os alunos também tenham em afigurar-se
mente esses elementos […]. Na prática, o como
C - Modos
que tem acontecido é as pessoas usam os referencia.
como os
Modos de professores como referencia” (PM1).
professores
transmissão “Experiencia pessoal e tem a ver com o Apoiar-se a
militares
dos valores contexto, não basta ter experiência, é experiencia
transmitem
militares preciso ver o contexto em que pessoal e ter
os valores
apresentamos ou transmitimos os valores” em conta o
militares.
(PM2). contexto.
“Como nós temos essa plena consciência Guiar-se pelas
de que existem regulamentos, normas que normas e tentar
conduzem a nossa Instituição ou que não cometer
regulam o comportamento das FA, nós erros na
temos que tentar pautar por elas” (PM3). presença de
83
“Tentar praticar aquilo que é errado e que estudantes.
acha que lhe ajuda muito longe dos olhos
da Instituição Militar […] aos olhos do
estudante sobretudo” (PM3).
Nas aulas
apresenta-se os
“Buscamos exemplos do passado ou seja, valores para
em algum momento recorremos ao passado posterior
histórico, mas isso é discussão, dialogo no debate,
momento posterior as conferencias que é buscando-se
para que? Os estudantes procurarem para tal
interiorizar os valores” (PM4). exemplos
práticos do
passado.
“Para conhecermos os alunos, podemos
por exemplo procurar saber você é de que
província, você é de que região. Conhecer os
Normalmente, nós na AM, ao constituir as alunos através
turmas, temos tido em conta a questão de da consulta
Unidade Nacional, então uma turma da oral e
AM é Moçambique em miniatura” (PM1). incentiva-los a
“O outro aspecto que eu tenho dado como terem o hábito
a necessidade de respeitarmos uns aos alimentar da
outros sem ter em conta a origem e a AM.
cultura de cada um, tem sido os hábitos
alimentares” (PM1).
Actividades “A saudação parece o problema de inferior
Incentivar o
que visam para superior ou de hierarquias diferentes,
estudante a ter
transmitir os mas é uma maneira de fazer perceber que
o hábito de
valores eu estou presente e podemos continuar a
saudar através
militares. trabalhar a vontade e trabalhando juntos”
da continência.
(PM2).
“É na base de exemplo, na base de Dar exemplos
práticas” (PM3). práticos e
“Organizando convívio, organizando organizar
algumas actividades que estes jovens actividades
devem juntos cumprir” (PM3). conjuntas.
“A Unidade Nacional, podemos por
começar a perguntar quem é de Cabo Conhecer os
Delgado, quem é de Niassa, etc., para fazer alunos através
perceber que de facto há espaço para que da consulta
essa Unidade Nacional seja cultivada” oral
(PM4).
D- Importância “É muito importante transmitirmos esses Preservar os
Importância da valores, primeiro para a preservação desses valores e a
dos valores transmissão valores, nos quando falamos da Unidade Instituição
militares dos valores Nacional, da Paz, da cidadania, esses Militar, e ainda
transmitidos militares valores devem ser preservados a todo que aluno se
84
pelo momento […]. Mas também temos que identifique
professor falar de valores como forma de preservar com os valores
militar. até a própria Instituição Militar. Uma militares.
Instituição que não tem em conta os seus
valores, a sua tradição, então não merece
ser o que é” (PM1).
“Procurarmos desenvolver esses valores ao
aluno, o que queremos é que no seu dia-a-
dia o aluno se identifique com os valores
da Instituição Militar” (PM1).
“É para deixar valores, deixar legado a
juventude. E este legado que se deixa a Deixar legado
juventude tem em vista, fazer a a juventude
manutenção daquilo que é o espelho para a
militar para permitir que o Estado se manutenção do
mantenha firme dentro do seu Estado” Estado.
(PM2)
“É importante saber que o povo deve ser
respeitado, as instituições legais devem ser Manter a
respeitadas, instituições públicas, privadas existência das
e religiosas devem ser respeitadas, por que FA e do
é por isso que existem FA e o militar” militar.
(PM3).
Sobrevivência
“É uma questão de sobrevivência dos dos povos, da
povos, da família e identificam o povo, família e
marca a forma como aquele povo se identificam o
orienta” (PM4). povo ou o
Estado.
85
Apêndice E: Categorização das entrevistas feitas aos alunos.
Tabela 10: Entrevistas aos Alunos (Al.)
Categoria Subcategoria Unidade de registo Indicadores
“Atribuição sobre a característica de
Características
alguém” (Al.1).
de um
“Conjunto de requisitos que neste caso
individuo.
Conceito de um individuo está dotado” (Al.3).
valores “Hábitos, costumes que uma determinada Costumes de
A- sociedade, comunidade ou organização convívio numa
Percepção adopta como padrão de convivência” sociedade ou
dos (Al.2). organização.
professores
Características
militares e
“Características que a sociedade militar exigidas pela
dos alunos
exige” (Al.1). sociedade
sobre o
militar.
conceito de
Conceito de Características
valores. “Conjunto de itens que caracterizam o
valores éticas de um
militar nos aspectos éticos” (Al.3).
militares militar.
Costumes dos
“Hábitos e costumes que os militares têm militares
dentro da sociedade” (Al.2). dentro da
sociedade.
“A coragem, é um dos valores militares,
Coragem;
o espírito de interajuda/espirito de corpo,
Espirito de
o respeito, submissão das vontades
corpo;
individuas sob a vontade colectiva, ou
Respeito;
seja, temos que priorizar as vontades
Priorizar a
colectivas do que os interesses
B - Valores vontade
particulares. São alguns dos valores que o
Militares colectiva; etc.
militar deve ter” (Al.1).
Transmitidos Valores
Patriotismo;
pelo militares
“Patriotismo, é um dos valores chave, o Civismo;
Professor transmitidos
civismo, o espirito de corpo, amor a Espirito de
Militar no no processo de
profissão militar, as honras militares, corpo; Amor a
processo de ensino e
outro, já disse espirito de corpo aqui. São profissão
ensino- aprendizagem
muitos” (Al.2). militar; Honras
aprendizage
militares; etc.
m.
“O patriotismo, que é um sentimento que
cada miliar deve ter perante a sua Pátria, Patriotismo;
neste caso. Mas temos vários, a Honestidade;
honestidade, a honra, podemos falar Honra;
também da lealdade perante os seus Lealdade; etc.
comandantes entre outros” (Al.3).
C - Modos Modos de “Os professores têm incentivado através Os professores
como os transmissão de exemplos tentando fazer perceber se afiguram
professores dos valores sobre os valores militares. […] Nós como
militares militares observamos o nosso docente como exemplos a
86
transmitem exemplo” (Al.1). seguir.
os valores
militares. “Se o professor nas suas aulas, nos seus
seminários e nas suas palestras, ele diz
vamos amar a pátria e depois o dinheiro.
E não dizer estamos aqui por causa de
dinheiro, essas coisas e tal. O professor
deve ser um orientador, deve ser o
primeiro, o exemplo em outras palavras”
(Al.2).
Os professores
“Experiência de um docente, tem a
baseiam-se nas
tendência de transmitir aqueles valores
suas
necessários que ele conhece” (Al.3).
experiências.
“Estes irão indicar a nossa identidade
Indicam a
como militar, aquilo que nos caracteriza
identidade
como militar deve ser transmitido de
militar e
geração para geração para não corrermos
devem ser
o risco de perdermos esses dados
preservados.
valores” (Al.1).
Importância da “Se a pessoa não tiver valores, isso vai São
transmissão afetar a humanidade, vai a ver uma, como necessários
D- dos valores é que eu posso dizer, vai a ver uma crise, para o bom
Importância militares uma divergência” (Al.2). convívio.
dos valores “Primeiro elas resgatam aquilo que é Mostram a
militares nossa vida como militares. Os valores nos essência do
transmitidos mostram a verdadeira essência de um militar e
pelo militar, dignificam a nossa Instituição, dignificam a
professor também são esses valores que nos Instituição
militar. disciplinam” (Al.3). Militar.
“A pessoa que tem valores manifesta o O individuo
Importância
próprio valor, o respeito, a atitude ou o demostra
dos valores
hábito de cumprir com as ordens” (Al.1). acções
militares para
“Me ajudaram no sentido de me alinhavar requeridas no
o
naquilo que são alguns aspectos que aqui ambiente
enquadrament
são exigidos” (Al.3). militar.
o no ambiente
“Me fazem ver aquilo que é minha O individuo se
da AM.
personalidade, o meu eu” (Al.2). descobre.
87
Apêndice F: Transcrição da entrevista feita ao professor militar 1.
Tabela 11: Entrevista ao Professor Militar 1 (PM1).
Bloco Perguntas Respostas
Muito bem. Primeiro nós quando falamos de valores,
referimo-nos a um “conjunto de normas, preceitos
1- O que entende por morais, de regras sociais que são passadas de uma
valor/valores? pessoa para outra, de uma sociedade a outra sociedade”,
de um grupo ou de uma cultura a outra cultura, isso em
A termos gerais.
Como é sabido a Instituição Militar também tem esse
2- O que são valores “conjunto de normas, esses preceitos morais, de regras
militares? que possibilitam essa convivência social entre pessoas
de várias origens sociais, de vários grupos étnicos, de
várias crenças, etc.”, etc.
No processo de ensino-aprendizagem, nós, na sala de
aulas, através de palestras, seminários, procuramos
transmitir esses valores da Instituição Militar. Quando
falamos por exemplo da Unidade Nacional, “é preciso
explicar aos jovens qual é a importância dessa Unidade
Nacional”, sem perder de vista por exemplo que nós já
fomos colonizados e uma das principais causas que
levou essa dominação da Africa e de Moçambique em
particular foi a falta de Unidade Nacional, para além de
outras razões. Então na sala de aulas, sempre temos que
falar sobre a importância da Unidade Nacional para
fazermos face aos vários desafios que o país enfrenta. E
isso não tem que ser necessariamente professores de
história, geografia, professores de educação cívica, seja
qual for a disciplina, nós temos que encontrar um
3- Que valores militares
momento para podermos referenciar a importância da
são transmitidos no
B Unidade Nacional como um valor fundamental do nosso
processo de ensino e
país.
aprendizagem?
Mas também temos “a camaradagem, esse é outro
elemento essencial.” Nós sabemos que quando estamos
a cumprir varias missões, se não tivermos em
consideração a camaradagem, teremos dificuldades de
cumprir cabalmente as nossas missões. “Cidadania, que
passa necessariamente por respeitarmos por exemplo, os
nossos superiores, às nossas instituições, às conquistas.”
O que nós temos hoje tem de ser conservado e
valorizado porque há pessoas que se sacrificaram para
conquistar isso. Então, o professor tem de encontrar um
momento, seja numa disciplina de matemática ou
outras, seja na sala ou fora, para referenciar-se a isso e
dizer olha esse espaço em que nos encontramos, hoje
estamos aqui graças a pessoas que lutaram para
conquistar a independência.
88
Quando falamos da Unidade Nacional, da camaradam, o
professor militar se não é o primeiro a respeitar e
promove-los, logo não há como os alunos poderem
respeitar isso. E isso é muito importante porque nós
podemos entrar na sala com essa convicção de que olha,
o grupo X, por exemplo não é assim assado não
importante. Portanto, o professor tem de “ser o primeiro
a valorizar essas diferenças que nós temos, as diferentes
4- De que modo
províncias que o país tem, os diferentes grupos étnicos
transmite os valores
que o país apresenta, para permitir que os alunos
militares no processo
também tenham em mente esses elementos.”
de ensino e
Nós quando falamos de pontualidade. Você não pode
aprendizagem?
exigir ao aluno pontualidade, se você não é pontual.
Não pode exigir ao aluno que seja aprumado, enquanto
você não é aprumado. Não pode dizer ao aluno que olha
você não entra na sala sob efeito de álcool, quando
você, por exemplo, na segunda-feira na parada de
marcha chega e apresenta sinais de que esta sob efeito
de álcool. Pois “na prática, o que tem acontecido é as
pessoas usarem os professores como referencia.”
Não sei se irei efectivamente ir ao encontro do que
C precisa saber, mas por exemplo quando falamos da
Unidade Nacional, para demostrarmos isso é simples.
Nós quando entramos na sala, “para conhecermos os
alunos, podemos por exemplo procurar saber você é de
que província, você é de que região. Normalmente, nós
na AM, ao constituir as turmas, temos tido em conta a
questão da Unidade Nacional, então uma turma da AM
é Moçambique em miniatura”, ai estamos a valorizar a
questão de Unidade Nacional.
5- Que actividades
“O outro aspecto que eu tenho dado como necessidade
académicas realiza
de respeitarmos uns aos outros sem ter em conta a
para transmitir
origem e a cultura de cada um, tem sido os hábitos
valores militares?
alimentares”, alguém por exemplo, sendo de Cabo
Delgado, pode ser que coma caracol, mas isso não pode
ser entendido como algo que leva essa pessoa a
diminuir o seu valor a sua cultura em relação a outras
culturas. Porque noutras províncias pode ser que
comam outra coisa diferente de caracol que em Cabo
Delgado comesse. Então, isso também nos leva a
valorizar às diferentes culturas existentes no nosso país
e acima de tudo respeitarmos uns aos outros, apesar
dessas diferenças culturas.
E em termos de importância da transmissão desses
valores aos alunos, “é muito importante transmitirmos
6- Porque é importante esses valores, primeiro para a preservação desses
D transmitir os valores valores. Nós quando falamos da Unidade Nacional, da
militares aos alunos? paz, da cidadania, esses valores devemos preservar a
todo momento.” Nós até podemos estar em paz, nós até
podemos estar sem nenhuma ameaça entre aspas porque
89
sempre as ameaças estão presentes. Ademais, quando
nós estamos a caminhar para o desenvolvimento com as
descobertas dos recursos e essas ameaças estão sempre
presente. Então é preciso mostrar aos alunos o seguinte:
há vezes que alguém tendo por exemplo gaz e petróleo
na sua província pode ter esses apetites independistas,
mas esta a se esquecer por exemplo que a corrente
elétcrica que tem não é produzida na sua província.
Sempre temos que falar desses aspectos, e dizer que nós
estamos numa província onde produzimos isso e aquilo
mas temos que ter em conta que se calhar, não
produzimos porque consumimos, dai a importância da
Unidade Nacional. Nós podemos produzir isto e os
outros produzem outras coisas.
“Mas também temos que falar de valores como forma de
preservar até a própria Instituição Militar. Uma
Instituição que não tem em conta os seus valores, a sua
tradição, então não merece ser o que é.”
Nós ao “procurarmos desenvolver esses valores ao
aluno, o que queremos é que no seu dia-a-dia o aluno se
identifique com os valores da Instituição Militar, com os
valores de Moçambique em tanto que país. O que nós
esperamos é que, primeiro, o espirito de camaradagem
se observe entre os cadetes, o respeito pela Unidade
Nacional, respeito entre os cadetes, que os cadetes
tenham em conta, por exemplo da importância da
mulher na Instituição Militar e no país, respeitem a
mulher como elemento fundamental.” Nós não podemos
falar do desenvolvimento do país ou da Instituição
Militar sem incluir a mulher. Então esses apectos todos,
esperamos que os nossos cadetes observem, respeitem e
levem esses valores para as unidades onde irão
trabalhar. Como sabe a Instituição Militar não existe
sem a população civil, também neste relacionamento
entre a Instituição Militar e a população civil se baseie
nesses elementos todos que aqui fizemos referência.
90
Apêndice G: Transcrição da entrevista feita ao professor militar 2.
Tabela 12: Entrevista ao Professor Militar 2 (PM2).
Bloco Perguntas Respostas
Podemos encontrar vários conceitos mais eu pego a que
me toca mais sobre valores. Eu considero valores como
1- O que entende por
sendo “combinação de um conjunto de atitudes e
valor/valores?
caracteres na observação de normas sociais no convívio
A social.”
Valores militares, bom eu não dou respostas lineares
2- O que são valores mas posso dar um tópico como valores militares, como
militares? “apropriação de normas militares estatutárias no
convívio militar.”
No processo de ensino e aprendizagem os valores
militares transmitidos partem da experiência
profissional de cada um, do meu lado a minha
experiencia profissional, e da antiguidade de quem
transmite esses valores, sem excluir as normas
estatutárias como disse previamente concebidas como
3- Que valores militares
guia. “O militar vivi com diretrizes bem definidas que
são transmitidos no
B se circunscrevem em doutrinas” que devem ser seguidas
processo de ensino e
para que cada um não venha a escamotear-se, utilizando
aprendizagem?
os caminhos não concebidos. Então isso tem a ver com
a experiência e o uso destes meios ou normas
estatutárias para as FA. E ai onde partimos do princípio
de que estamos a transmitir os valores militares, sem
que agente venha ferir aquilo que foi concebido pelos
utentes mais velhos que nós.
É a partir da minha “experiência pessoal e tem a ver
com o contexto, não basta ter experiência, é preciso ver
o contexto em que apresentamos ou transmitimos os
valores.” Do jeito que transmito os valores hoje não é
do mesmo jeito que se fazia em 1990, 91, 92. Porque eu
digo isso? Porque na altura havia uma componente
forte. Componente essa que completava trabalho de um
do outro, estamos a falar do comandante, estamos a
4- De que modo
falar do comissario politico. O comandante com uma
transmite os valores
missão determinada e o comissario com outra missão
C militares no processo
determinada. E então ali a cidadania era tomada em
de ensino e
consideração na vertente contextual daquela altura.
aprendizagem?
Hoje a situação é outra. A conjuntura moderna permite
que cada um seja livre de si, hoje até podemos fugir das
regras militares, então por isso digo é contextual, não
posso fazer analogias de duas coisas diferentes ou de
épocas diferentes. Mas seja como for partimos das
nossas experiências, partimos do contexto “e partimos
daquilo que é o ideário, as normas militares”, ai
fazemos passar a nossa experiência sem escurar o
91
respeito de um de outro, estamos a falar do princípio
humanitário mas também se voltarmos as FA vamos
falar de valores através da hierarquia militar, cada um
sabe onde pisa e o que deve cumprir.
É preciso primeiro perceber que os valores militares não
podem ser tomados no princípio de espirito de deixa
andar. Dizia que tudo está estatutado, tem normas e as
normas devem ser cumpridas. Não pode aparecer, no
ensino militar, um professor bom e um professor mau.
Naturalmente, para os estudantes, aqueles que eu chamo
de marginais militares, gostam deste espirito de deixa
andar. Aquele professor é muito bom porque não exige
nada, estamos a matar a geração. Aquele professor é
muito mau porque sempre exige, então são os marginais
5- Que actividades militares. Então é preciso que se calhar as pessoas se
académicas realiza encontrassem como professores.
para transmitir Não sei se um dia já aconteceu comigo, ter que entrar
valores militares? na sala e os estudantes ficarem a vontade ou se entrei e
falei sentem, sentem, não sei, não me recordo.
Então a primeira coisa que eu sei é que quando passa
um superior hierárquico é preciso saúda-lo. “A
saudação parece o problema de inferior para superior ou
de hierarquias diferentes, mas é uma maneira de fazer
perceber que eu estou presente e podemos continuar a
trabalhar a vontade e trabalhando juntos.” Saudar ou dar
continência, não pode o militar ser exigido. Esse valor
tem que ser cultivado nos estudantes e eu tenho feito
naturalmente.
Parecendo que não, eu considero os conhecimentos
militares e a hierarquia militar como uma ciência. “É
para deixar valores, deixar legado a juventude. E este
legado que se deixa a juventude tem em vista fazer a
manutenção daquilo que é o espelho militar para
permitir que o Estado se mantenha firme dentro do seu
Estado.” Repare que a nível do mundo todo o Estado se
afirma como verdadeiro Estado quando tem um
6- Porque é importante Exército extremamente organizado, quando o Exército
D transmitir os valores tem cultura militar, quando o Exército tem cultura de
militares aos alunos? hierarquia. Então é importante que agente transmita os
valores militares para que o amanhã não seja amargo.
Porque mesmo você na reforma é chamado a vir lutar,
isso não devia acontecer assim, porque se calhar deixa-
se o legado mal aconselhado. Então eu penso que é
muito importante a transmissão dos valores militares,
com princípio de mantermos o Estado como espelho de
uma sociedade mas sem descurar as normas perante a
sociedade.
92
Apêndice H: Transcrição da entrevista feita ao professor militar 3.
Tabela 13: Entrevista ao Professor Militar 3 (PM3).
Bloco Perguntas Respostas
Valores para mim, são “práticas e costumes de uma de
determinada etnia ou cultura.” Ou seja, aqui em
1- O que entende por
Moçambique, os nynjas tem seus hábitos diferentes dos
valor/valores?
rongas, os macuas tem suas práticas diferentes desses
daqui perto, machuabos, portanto, valores é isso.
Os valores militares como tal, como únicos não existem.
A
Os valores militares nascem da “aglutinação de todos
valores que identificam o povo moçambicano.” E nós
2- O que são valores temos que saber seleccionar o que é que é prática do
militares? maconde que ajuda o desenvolvimento da Nação, que
ajuda a Unidade, e o que é que é prática do nhungwe
que ajuda ser irmão. Todos valores são bons, mas temos
que saber identificar.
As FA têm sim seus valores, mas não são extra
moçambicanos. As FA devem saber aproveitar de tudo
quanto existe, estamos a falar de todos valores culturas,
“patrióticos, valores de cidadania”, de tudo o que é feito
para nós temos que saber aproveitar para o bem da
Nação, nós temos que ser os mais unidos que todos.
Então como fazer com todos esses valores todos? Então
os valores militares não há um leque de valores que é
constituído como diferente, é uma junção de um pouco
daquilo que falamos atrás. O que temos que fazer é
tentar selecionar o que ajuda para a construção da Nação
e incutirmos.
Um dos principais valores das FA ou dos militares é
esse de saber viver e respeitar o que os outros são,
3- Que valores militares
corrigidos e sem ser violentados porque se não te
são transmitidos no
B abandonam. O outro é esse valor de patriotismo, os
processo de ensino e
militares mais que ninguém são aqueles que sabem mais
aprendizagem?
amar a Pátria. O nosso maior valor é a defesa da Pátria,
amor a Pátria. O outro valor que é de todos e que deve
ser cimentado é a Unidade Nacional. Unidade aonde na
diversidade. O outro valar que tentamos incutir é o
espirito de corpo, eu existo porque o outro existe, se tu
caies em batalha a probabilidade de eu cair no próximo
passo é maior, porque quem fazia cobertura era você. O
outro valor é a questão de aceitar a deontologia
profissional, a nossa carreira deve ser respeitada. E
saber que as FA estão em função ao povo e não ao
contrário. Então as FA não podem combater seu povo.
Respeitar o povo e os seus bens.
Na minha pouca experiência, o que posso dizer é mais
ou menos é isso, “o patriotismo, que é o amor a Pátria, a
93
Unidade Nacional, a ética e deontologia profissional, o
espirito de corpo, a camaradagem, a lealdade, respeito
ao povo, entre outros são valores que devem caracterizar
o militar.”
Na verdade o que temos feito. Todos nós conhecemos o
que é mau e o que é bom, de acordo com a Constituição,
nossas regras de comportamento, todos nossos
documentos que regulam a nossa Instituição. Todo
aquele que é oficial sabe. Mas não nego que é difícil
cumprir, não posso dizer que é impossível mas é difícil.
“Como nós temos essa plena consciência de que existem
regulamentos, existem normas que conduzem a nossa
Instituição ou que regulam o comportamento das FA,
nós temos que tentar pautar por elas”, evitando excesso
de zelo, evitando o eu sei, já aprendi, temos que aceitar
algumas mudanças que estão a ocorrer dentro da
sociedade. Por que algumas normas que nós adoptamos
já estão desatualizadas em função da evolução, mas seja
como for, aquilo que está instituído é o que temos que
4- De que modo
seguir. Então, nós temos que tentar seguir no máximo o
transmite os valores
que está regulamentado e “tentar praticar aquilo que é
militares no processo
errado e que acha que lhe ajuda muito longe dos olhos
de ensino e
da Instituição Militar, e de nenhuma maneira essa acção
aprendizagem?
que for praticar manche a Instituição, de nenhuma
maneira isso chegue aos ouvidos, aos olhos do estudante
sobretudo”. O estudante não deve saber que este
professor faz aquilo que diz que é errado. Nós sabemos
C
muito bem que segue-se mais aquilo que é praticado do
que aquilo que é falado. Na educação, nós chamamos
que o professor tem um currículo oculto. O currículo
oculto é aquilo que fazemos de forma até involuntária.
A postura na sala de aulas, há professores que chegam e
sentam em cima da carteira, e ficam a dar aulas bem
descontraídos, os alunos estão a ver, por mais que você
diga não pisa carteira, mas você esta sentado. Então o
melhor é não cometermos, não infligirmos normas, mas
como é difícil, então no mínimo evite fazer na presença
de estudantes.
A Instituição Militar constitui um lugar de encontro, é
um maconde de Cabo Delgado que cruza com xangana
da Ponta de Ouro, é um nhungwe ou ronga de lá
Marravia ou de Angónia cruza-se com kimuane que
5- Que actividades nunca ouviu falar, quando se pronúncia é uma língua
académicas realiza completamente estranha. Uns comem ratos outros não
para transmitir comem, outros comem caracol outros não comem. É
valores militares? uma confusão, outros comem carne de porco, outros é
haramo e para outros é a melhor carne do mundo. Mas
há um objectivo que é instituído para este aglomerado,
esta reunião, essa concentração de moçambicanos com
esses valores todos culturais, identitários diferentes, há
94
um objectivo que a Nação traça, a defesa da Pátria,
portanto nas FA, estes Homens diferentes, jovens
diferentes de cultura, esses são reunidos para um fim da
Pátria que é de todos. A Pátria acima de tudo. Agora
como fazer com que esses compreendam que as
diferenças culturais não impedem de defender a sua
Pátria?
Então, muita das vezes o que deve fazer o comandante é
o que eu tenho tentado fazer, eu não sei se tenho
conseguido porque o mais importante é informar as
pessoas que todas as culturas servem ou todos os valores
individuais servem, mas em todo caso também temos
que saber retirar isto, apesar de ser a sua cultura numa
Instituição como está, prejudicam o objectivo central.
Agora como sanar? Então o que temos nós feito ou o
que eu tenho tentado fazer “é na base de exemplo, na
base de práticas”, porque veja, só falar, não tem sido
suficiente, é verdade que quando falamos, ensinamos
que o povo moçambicano sempre foi hospedeiro, o povo
moçambicano sempre trata as questões sem violência
mas temos que tentar fazer perceber as pessoas na base
de prática, “organizando convívios, organizando
algumas actividades que estes jovens devem juntos
cumprir.” Estamos a falar do quê? Fazer jogar um jovem
com todo povo moçambicano, a bola, ajuda a unir as
pessoas, danças, ajudam a unir as pessoas. Então quando
nós dissemos que estudantes juntem-se, cantem e
dancem makuaela mesmo que você seja maconde,
estamos a dizer ao maconde que aquilo que aquela
dança makuaela que é do xangana é um valor por
respeitar e preservar. Então, também podemos dizer
você xangana dança mapico.
Então as FA se identificam com esses valores todos, é
um pouco de tudo, o que nós temos como docente é
tentar fazer ver ao estudante, cadete, soldado que ele só
existe porque os outros existem. Isso é difícil porque o
professor, o oficial é também um ser humano com seus
erros. Então o quê que nós temos de tentar fazer como
oficiais a longa dada é fazer ver isso que nós somos
porque os outros existem. O que para mim é muito
importante pode não ser importante para o meu colega
que está de lado.
Como estou a dizer é saber viver e saber conviver
juntos, respeitando aquilo que ele, aquilo que eu sou.
É por essa razão que evitamos que haja confrontos
físicos entre os militares, por que na base dos
confrontos físicos, naqueles confrontos todos
começamos a revelar o que é de errado do outro.
95
“É importante saber que o povo deve ser respeitado, as
instituições legais devem ser respeitadas, instituições
públicas, privadas e religiosas devem ser respeitadas,
por que é por isso que existem FA e o militar.” Temos
que ensinar ao soldado ou militar, sobretudo o cadete
que vai ser o futuro comandante que a sua tarefa é
proteger o povo moçambicano. Como você vai defender
o povo moçambicano? Defendendo as fronteiras
territoriais desse Estado, respeitando tudo aquilo que
pertence ao povo.
6- Porque é importante
Ser militar é aceitar o sacrifício para o bem da Nação e
D transmitir os valores
aceitar o sacrifício é morrer pelo povo. Por isso que
militares aos alunos?
apelamos que o militar deve conhecer a História, a
geografia e todas manifestações culturas do povo
moçambicano, conhecer como que Moçambique é hoje
partindo do passado. Por razões constitucionais e razões
históricas, sobretudo históricas nós somos um só povo.
É importante que o militar conheça bem, primeiro, as
razões da sua existência, porquê que existe como
militar, aquém é que deve proteger, o que deve proteger
e onde deve proteger , quais são as fronteiras e os
limites o seu território.
96
Apêndice I: Transcrição da entrevista feita ao professor militar 4.
Tabela 14: Entrevista ao Professor Militar 4 (PM4).
Bloco Perguntas Respostas
O conceito de valores aceita ambiguidades em termos
científicos, aceita relatividade no sentido de que aquilo
que é valor para um não é valor para outro, aquilo que é
1- O que entende por valor para Moçambique não é valor para o americano
valor/valores? para o português. Mas quando nós falamos de valor,
estamos a falar daquilo que é o primado da
sobrevivência duma família, dum povo ou duma
comunidade. Eles são os padrões nobres que
A identificam uma Instituição, uma família. Então, esses
valores são um “conjunto de padrões socialmente
aceites para padronizar e normar a conduta de um
2- O que são valores membro, seja da família, etc., seja cá das FA.” É o que
militares? posso comentar sobre o que entendo por valores. Pois
entendo por valores esse conjunto de normas e
princípios que orientam a conduta, e são definidos de
acordo com os interesses ideológicos, políticos,
históricos, etc., etc.
Então quais são esses valores? Nós como militares
temos estes valores: “o primeiro valor é a Unidade
Nacional, a génese da Unidade Nacional” está
intrinsecamente ligada com o processo revolucionário
moçambicano. A Historia conta que os moçambicanos
quando ficaram cansados com a humilhação colonial
organizaram-se em varias associações, agrupamentos no
seio dos africanos. Essas foram as formas primárias,
mais tarde eram os três movimentos que é a
UDENAMO, MANU e UNAMI. E como reza a
Historia cada grupo queria defender a sua parte, queria
libertar a sua parcela. UDENAMO queria libertar a
3- Que valores militares
região Sul liderado por Adelino Guambe, meu
são transmitidos no
B conterrâneo machope. Os manhungwes, os machuabos e
processo de ensino e
companhia limitada organizaram-se no Malawi,
aprendizagem?
queriam libertar a região Centro. E os outros, os
macondes, os macuas queriam libertar a região Norte.
Então surgiu o presidente Mondlane que era visionário
na altura, tentou conversar com os três, e quando
conversa com os três, decidem juntar-se e fundam uma
única frente, que é a Frente de Libertação. Esse é o
primário da Unidade Nacional. Agora, o mais
engraçado que talvez a juventude não sabe, é que depois
da independência esse assunto voltou a ser discutido no
Tofo, dia 19 de Julho de 75, no linear da independência,
onde se dizia ok, assinamos o Acordo de Lusaca, o
colono já foi, que país vai nascer? Vão surgir aqueles
97
hectares? Se não se conheciam quem eram os da
UDENAMO, quem eram os da UNAMI ou da MANU,
a conclusão é de que a experiencia da luta armada tinha
criado um único povo do Rovuma ao Maputo, um povo
único e indivisível. Dai que é um valor fundamental do
povo moçambicano, a Unidade Nacional. E como valor
fundamental, todos segmentos da sociedade devem
preservar esse valor mas as FA têm um peso a mais
nesse valor, percebendo que é a forja, recebem jovens
de varias províncias, de vários seguimentos sociais,
então a Unidade Nacional aqui é um valor fundamental.
“O patriotismo é o segundo valor, estamos
independentes, a Pátria precisa de nós, deve ser
mantida, deve ser preservada. Mas também vem o
civismo que é o respeito que nós damos as pessoas mais
próximas, as instituições, aos símbolos e a tudo aquilo
que esta próximo de nós.” Civismo, eu costumo a dizer
para estudantes que não é vestir bem, é saber ser e estar
diante duma determinada situação, dum determinado
sitio, para nós respeitar seu superior hierárquico é um
acto de civismo, respeitar a Bandeira é civismo.
“Convicção no cumprimento das missões das FA é um
outro valor. As missões militares são complexas, faz
sentido que os militares respeitem este valor mas
também que amem a sua profissão.” Eu estou em
dilema com a juventude, até ao contrário de nós que
fomos recrutados, vocês escrevem, concorrem para ir a
Academia, concorrem para ir a polícia, mas quando
chega lá diz epah essa tropa não é nada, olha lá está a
fazer o quê? Se você não está a respeitar sua profissão.
Amor a profissão é um valor fundamental é que você se
não se sente integrado na sua organização, está fora e
não há uma organização que não tenha problemas mas
seja como for nós nos entregamos de alma para nossa
organização.
“Espirito de corpo, a actividade militar não é cumprida
por uma pessoa”, a partir dai tem que contar com
colegas que são uma mais-valia no cumprimento das
actividades. Como criar espirito de corpo diante das
adversidades? É com treino que se cultiva, porque o
espirito de corpo se faz com trabalho, no cumprimento
da tarefas, se o meu amigo não tivesse atirado para o
inimigo, eu estaria morto, se o meu amigo não tivesse
cumprido a parte dele, eu não teria feito a minha parte.
Dai que afinal de contas não há quem é mais
importante, somos um, cada um está a pegar a área dele,
nada de individualismo mas sim no engajamento como
irmãos, com profissionalismo no cumprimento das
tarefas.
“Aprimoramento técnico profissional, o serviço militar
98
é desafiador, surgem novas tecnologias, surgem novas
formas de pensar, com isso o militar sempre deve indo
se adaptar. São esses valores que nós ensinamos na AM
e esses valores são os mesmos valores das FA, o
profissionalismo, a ética e deontologia profissional.
Ética é o cumprimento de normas, regras e princípios.
Falamos também da cidadania versus civismo.”
Portanto, esses valores é que procuramos transmitir.
Ok. Nós temos duas componentes, primeira
componente de facto é aquela teórica que em
conferencias como aulas apresentamos os valores aos
cadetes mas depois seguem momentos de debate,
dialogo para aferir, por exemplo “a Unidade Nacional,
podemos por começar a perguntar quem é de Cabo
4- De que modo Delgado, quem é de Niassa, etc., para fazer perceber
transmite os valores que de facto há espaço para que essa Unidade Nacional
militares no processo seja cultivada.” Não vale a pena cada um ai aparecer
de ensino e com pensamento individualista. Por vezes “buscamos
aprendizagem? exemplos do passado ou seja, em algum momento
recorremos ao passado histórico, mas isso é discussão,
dialogo no momento posterior as conferencias que é
para que? Os estudantes procurarem interiorizar os
valores”, isso acontece com um pouco de todos. E
depois segue naturalmente o processo de avaliação.
Mas os momentos são os das conferências mas também
C
eles discutem em grupo na sala de aula após a
exposição, há debates. É aqui onde eles questionam,
senhor professor está a falar da Unidade Nacional se os
fulanos têm uma brigada inteira, será que eles são os
únicos capazes? Há coisas que eles colocam e são
desafiantes, nós com nossas experiências procuramos
amainar e fazer perceber que as coisas não são assim.
5- Que actividades
Ao longo do tempo também alguns valores tendem a
académicas realiza
deteriorar-se ainda que sejam fundamentais devido a
para transmitir
prática, nós estamos numa falácia, por vezes aquilo que
valores militares?
dissemos não é o que fizemos. “Tratando-se de valores
morais e sociais, a própria sociedade, a própria
comunidade militar em união deve demostrar de forma
prática como é que essas coisas na prática funcionam”,
mas o que está a vista? Está a vista o exemplo de
aberração, você na sala diz uma coisa, fora exemplos de
aberração, é complicado.
Quando nós abordamos os valores morais é uma
questão de sobrevivência. Um povo que não tem valores
estingue. Nós como moçambicano nos identificamos e
6- Porque é importante
seguimos esses valores para sermos aquilo que nós
D transmitir os valores
somos. É verdade que alguns conceitos tomam banho
militares aos alunos?
por exemplo a Unidade Nacional, já não é aquela
Unidade Nacional estanque, agora fala-se da Unidade
na diversidade em que um é maconde e outro é macua,
99
etc., podemos estar juntos, você a comer caracata e eu a
comer tapioca e outro a comer nhedi, não é isso que
deve nos dividir, não são os tantos tipos de prato que
um e outro gostam que podemos nos dividir.
Mas quando se trata de objectivos comuns, já temos que
estar todos, é uma questão de sobrevivência. Quando se
trata de defesa dos recursos naturais, quando se trata de
qualquer coisa que ameace a nossa soberania, ai temos
que estar todos. É por isso que se fala Unidade na
diversidade.
Então, de facto os valores morais são importantes
porque “é uma questão de sobrevivência dos povos, da
família e identificam o povo, marca a forma como
aquele povo se orienta.” Se os valores não forem
transmitidos as crianças, essa sociedade desarticula-se,
então os valores são importantes para a sobrevivência
dos Estados sem isso estingue e marca, é cartão-de-
visita, é uma identidade. Repara num moçambicano
consciente no que faz, onde faz, quando faz. E quando
ele faz essas coisas chama os valores.
100
Apêndice J: Transcrição da entrevista feita ao aluno 1.
Tabela 15: Entrevista ao Aluno 1 (Al.1).
Bloco Perguntas Respostas
Sim, valores socialmente, podemos afirmar que valor é
uma “atribuição sobre a característica de alguém.” Por
exemplo, nós desde casa temos características que nossa
sociedade exige que nós sejamos aquilo que a sociedade
pretende, por exemplo quando encontramos um mais
1- O que entende por
velho devemos saudar, isso indica até um certo ponto o
valor/valores?
respeito, e respeito é um valor que nos trazemos desde
de casa.
Valor é uma característica enquadrada na ética, ou seja
é universalmente aceite. Um dado valor faz bem a
A todos.
Valores militares. Naturalmente que os valores militares
serão aquelas “características que a sociedade militar
exige.” Tanto para que se seja um militar é preciso que
tenha os valores militares. Os valores militares têm
relação com os valores civis, ou seja, completa aquilo
2- O que são valores
são os valores civis. Como bem disse anteriormente, por
militares?
exemplo o respeito. O respeito, trazemos desde a
sociedade civil, sabemos que temos que ter o respeito.
Na sociedade militar esse dado respeito vai ser induzido
a cumprir as ordens que indica o respeito com aquilo é a
ordem do superior.
Então a natureza do ser militar compreende um leque de
normas que devem ser cumpridas, nesse sentido inclui
diversos valores que devem ser observados, ou seja,
3- Que valores militares para que se seja um militar é preciso que se tenha certos
são transmitidos no valores como “a coragem, é um dos valores militares, o
B
processo de ensino e espírito de interajuda/espirito de corpo, o respeito,
aprendizagem? submissão das vontades individuas sob a vontade
colectiva, ou seja, temos que priorizar as vontades
colectivas do que os interesses particulares. São alguns
dos valores que o militar deve ter.”
Parece difícil mas é um pouco simples. Tem um aspecto
que tem de se levantar que é o exemplo. O docente
militar por exemplo, para ser mais específico ele deve
4- De que modo os para além de palavras ditas, ele deve mostrar através de
professores exemplos sobre o que é ser militar. Ele não a de exigir
transmitem valores alguém andar bem aprumado, se ele próprio não vem a
C
militares no processo sala de aulas bem aprumado. “Os professores têm
de ensino e incentivado através de exemplos tentando fazer
aprendizagem? perceber sobre os valores militares. É certo que nem
todos valores devem ser ensinados na sala de aulas,
tanto como o lugar onde passamos mais tempo, nas
casernas, la tem comandantes/professores que tem mais
101
tempo connosco e que mostram através de exemplo,
eles se fazem de objecto, nós observamos o nosso
docente como exemplo de modo a nós influenciar no
nosso comportamento.”
Sim, é importante ser transmitido os valores militares
dado que “estes irão indicar a nossa identidade como
militar, aquilo que nos caracteriza como militar deve ser
transmitido de geração para geração para não corrermos
5- Qual é a importância o risco de perdermos esses dados valores.” É frequente
da transmissão dos por exemplo dizer-se por exemplo que os militares da
valores militares? década 80 eram muito corajosos e determinados para
cumprir missão. Esses valores devem ser desenvolvidos
D em nós, nova geração de militar, de modo a continuar
aquilo são os valores que dignifica a nossa sociedade
militar.
É difícil ter os valores e não se manifestar. “A pessoa
6- De que forma os
que tem valores manifesta o próprio valor, o respeito, a
valores militares
atitude ou o hábito de cumprir com as ordens.” Então a
ajudam a enquadra-
partir dessas características, nós observamos que aquele
se nas actividades
sim, aquele foi incutido ou compreendeu ou aprendeu
escolares da AM?
aquilo são os valores militares neste contexto.
102
Apêndice K: Transcrição da entrevista feita ao aluno 2.
Tabela 16: Entrevista ao Aluno 2 (Al.2).
Bloco Perguntas Respostas
Valores. Valor na minha concepção, são “hábitos,
costumes que uma determinada sociedade, comunidade
1- O que entende por
ou organização adopta como padrão de convivência”,
valor/valores?
como se comportar, como agir e como lidar com outras
A pessoas de diferentes valores.
Atendendo e considerando que valores são hábitos e
costumes de uma determinada sociedade ou
2- O que são valores
organização, valores militares vão ser a maneira como
militares?
os militares se comportam. Ou os “hábitos e costumes
que os militares têm dentro da sociedade.”
São muitos valores. São muitos valores que eu conheço
3- Que valores militares
aqui. Para a AM em particular cito: “patriotismo, é um
são transmitidos no
B dos valores chave, o civismo, o espirito de corpo, amor
processo de ensino e
a profissão militar, as honras militares, outro, já disse
aprendizagem?
espirito de corpo aqui. São muitos” apenas citei alguns.
Aqui na AM, para os professores militares, vou dar
exemplo do patriotismo, como é que eles transmitem o
patriotismo. Eu acredito que a partir do exemplo do
professor, eles transmitem o patriotismo. Nós sabemos
que o patriotismo é amor a Pátria, colocar a Pátria em
primeiro lugar, então se o nosso docente ou o nosso
professor militar, dá aulas e em algum momento
4- De que modo os demostra um comportamento que não nos leva ao
professores patriotismo, o estudante, vai querer ter um espirito de
transmitem valores imitação, vai querer imitar o professor militar. Se o meu
C
militares no processo professor militar não tem patriotismo, ele vem e diz que
de ensino e estamos na AM porque queremos o salário, o
aprendizagem? patriotismo está acima do salário, então “se o professor
nas suas aulas, nos seus seminários e nas suas palestras,
ele diz vamos amar a Pátria e depois o dinheiro. E não
dizer estamos aqui por cousa de dinheiro, essas coisas e
tal. O professor deve ser um orientador, deve ser o
primeiro, o exemplo em outras palavras.”
Então eu acredito que o docente a partir do seu próprio
exemplo está transmitir os valores na AM.
Os valores militares são importantes. Exemplo, a partir
do momento que são hábitos e costumes de uma
sociedade para que as pessoas se entendam. Eu acredito
5- Qual é a importância que primeiro, “se a pessoa não tiver valores, isso vai
D da transmissão dos afetar a humanidade, vai a ver uma, como é que eu
valores militares? posso dizer, vai a ver uma crise, uma divergência.”
Então isso pode criar consequências para a comunidade,
e então é importante porque as pessoas tendo o seu
hábito e costume podem se respeitar. Há respeito mútuo
103
na forma de comportamento, as pessoas de diferentes
etnias por exemplo, cada pessoa aceita a etnia do outro.
Então eu acredito que essa seja a importância dos
valores.
Primeiro os valores militares “me fazem ver aquilo que
é minha personalidade, o meu eu.” Então eu acredito
que se os valores me fazem ver o meu eu, posso ser o
que eu sou, aquilo que eu aprendi e o que eu quero ser.
Então aqui na AM, eu posso em algum momento não ter
6- De que forma os
um espirito de imitação, não querer ser o que as pessoas
valores militares
são, porque eu tenho valores. Como estamos num
ajudam a enquadra-
ambiente de Unidade Nacional, somos de muitas
se nas actividades
províncias aqui, cada pessoa tem os seus hábitos e
escolares da AM?
costumes.
Os valores militares me fazem perceber que eu tenho os
meus hábitos e não posso imitar os hábitos dos outros só
porque estamos no mesmo meio. Sim então é mais ou
menos isso, ou dessa maneira que os valores me ajudam.
104
Apêndice L: Transcrição da entrevista feita ao aluno 3.
Tabela 17: Entrevista ao Aluno 3 (Al.3).
Bloco Perguntas Respostas
Valores, no meu ponto de vista, estamos a falar de
aspectos que identificam em primeiro lugar uma pessoa,
digamos assim. Valores seriam um “conjunto de
1- O que entende por
requisitos que neste caso um individuo está dotado” de
valor/valores?
certas coisas muito mais no sentido particular, digamos
A assim, podemos falar por exemplo da lealdade e da
honestidade neste âmbito.
Valores militares são um “conjunto de itens que
caracterizam o militar nos aspectos éticos”, religiosos,
2- O que são valores
podemos até se a riscar a dizer assim. Neste sentido,
militares?
naquilo que ele vive numa Instituição Militar mas que
lhe caracteriza assim como pessoa.
Em primeiro lugar um dos valores que eu mais me
3- Que valores militares acento nele é “o patriotismo, que é um sentimento que
são transmitidos no cada miliar deve ter perante a sua Pátria, neste caso.
B
processo de ensino e Mas temos vários, a honestidade, a honra, podemos falar
aprendizagem? também da lealdade perante os seus comandantes entre
outros.”
Bom, daquilo que são bases cientificas de cada
“experiência de um docente, tem a tendência de
transmitir aqueles valores necessários que ele conhece”,
então, olhando para aquilo que já é a nossa realidade, no
4- De que modo os entanto, vou particularizar, existem aqueles que
professores transmitem ao mesmo tempo existem aqueles que não
transmitem valores transmitem, não nós dão aqueles valores que nós
C
militares no processo devemos seguir como exemplo, um dos valores que
de ensino e mais se assenta assim na Instituição Militar, eu acho que
aprendizagem? é a camaradagem uns ao outros, o espirito de corpo,
temos que falar também do outros valores que neste
caso aqueles que nos fazem nós nos sentirmos militares
e a o mesmo tempo mas com um certo aspecto de buscar
aquilo que é na realidade o militarismo, digamos assim.
A importância dos valores militares no meu ponto de
vista é: “primeiro elas resgatam aquilo que é nossa vida
5- Qual é a importância como militares. Os valores nos mostram a verdadeira
da transmissão dos essência de um militar, dignificam” a nossa Instituição,
valores militares? também são esses valores que nos disciplinam nesse
caso buscando os bons actos. Os actos que cada um
D
deve ter como exemplo.
6- De que forma os Bom, vou falar do meu caso muito mais, eu acho que os
valores militares valores “me ajudaram no sentido de me alinhavar
ajudam a enquadra- naquilo que são alguns aspectos que aqui são exigidos”,
se nas actividades neste caso.
escolares da AM? Olhando para aquilo que são os valores aqui exigidos eu
105
a cabo me adequando com que os outros também
querem seguir como exemplo, então eu segui isso como
exemplo, trazia meus exemplos de casa alguns que aqui
não são olhados como valores no sentido moral, pois
aqui existem valores que são olhados no sentido moral,
acabei deixando aqueles que eu seguia, acabei seguindo
aqueles que são exigidos aqui, foi dessa forma.
106
Apêndice M: Imagens captadas no local de pesquisa
Imagem 1: Estudante-dia saudando o professor militar.
Captada pelo autor, 2018.
Imagem 2: Estudantes marchando para a sala de aulas.
Captada pelo autor, 2018.
107
Imagem 3: Estudante finalista discursando para estudantes do 1o ano.
Captada pelo autor, 2018.
Imagem 4: Professor militar impondo a disciplina militar.
Captada pelo autor, 2018.
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ANEXOS
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Anexo I: Regulamento da Academia Militar.
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Anexo II: Lei de Defesa Nacional e que define a Condição Militar.
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Anexo III: Código de Honra do Estudante da Academia Militar.
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Anexo IV: Normas de Vida Interna dos Estudantes da Academia Militar.
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Anexo V: Livro de inspeção semanal.
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