Espécies
Arbóreas
Brasileiras
Amesclão
Trattinnickia rhoifolia
volume
4
Amesclão
Trattinnickia rhoifolia
Fotos: Paulo Ernani Ramalho Carvalho
Sinop, MT
Amesclão
Trattinnickia rhoifolia
Taxonomia e Nomenclatura Nota: nos seguintes nomes vulgares, não foi encontrada a
devida correspondência com as Unidades da Federação: breu-
preto, mangue, morcegueira e sucuruba.
De acordo com o sistema de classificação
baseado no The Angiosperm Phylogeny Nomes vulgares no exterior: na Bolívia,
Group (APG) II (2003), a posição taxonômica xetohitsa e na Guiana Francesa, grand moni.
de Trattinnickia rhoifolia obedece à seguinte Etimologia: o nome genérico Trattinnikia é
hierarquia: de origem desconhecida; o epíteto específico
Divisão: Angiospermae rhoifolia provém da semelhança dos folíolos com
os do gênero Rhus.
Clado: Eurosídeas II
Ordem: Sapindales
Família: Burseraceae
Descrição Botânica
Gênero: Trattinnickia
Seção: Trattinnickia Forma biológica e estacionalidade: é
arbórea, de comportamento sempre-verde ou
Espécie: Trattinnickia rhoifolia Willd. perenifólio de mudança foliar. As árvores maiores
Primeira publicação: Species Plantarum, atingem dimensões próximas a 20 m de altura
Editio Quarta 975. 1806. e 60 cm de DAP (diâmetro à altura do peito,
medido a 1,30 m do solo), na idade adulta.
Nomes vulgares por Unidades da
Federação: no Amazonas, almécega, Tronco: é reto, cilíndrico e totalmente rugoso,
almecegueira, amesclão e sucurubeira; em com sapopemas pequenas. Geralmente,
Mato Grosso, amescla-aroeira, amesclão e breu- apresenta fuste curto, atingindo 5 m de
sucuruba; e no Pará, breu e breu-sucuruba. comprimento, no máximo.
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Ramificação: é racemosa. A copa é globosa e Ocorrência Natural
bastante densa.
Casca: mede até 15 mm de espessura. A casca Latitudes: de 1º45’N, no Amapá, a 13º10’S,
externa ou ritidoma é marrom-escura, sulcada em Mato Grosso. Atinge até 14ºS, na Bolívia.
longitudinalmente, apresentando pequenas Variação altitudinal: de 30 m no Maranhão, a
escamas. Ao ser cortada, a casca produz
390 m em Mato Grosso. Na Bolívia, essa espécie
quantidade moderada de resina clara, que a
atinge até 500 m de altitude (KILLEEN et al.,
princípio parece oleosa. Depois de parcialmente
seca, torna-se mais pegajosa (PARROTTA et al., 1993).
1995). A casca interna tem forte cheiro aromático Distribuição geográfica: Trattinnickia rhoifolia
ou balsamífero. ocorre na Bolívia (KILLEEN et al., 1993) e na
Folhas: são alternas e compostas imparipinadas, Guiana Francesa (DÉTIENNE et al., 1982).
com pecíolo anguloso na base. Apresentam eixo No Brasil, essa espécie ocorre nas seguintes
comum (pecíolo e raque), medindo de 15 cm a Unidades da Federação (Mapa 6):
25 cm de comprimento.
• Amapá (ALMEIDA et al., 1995; COUTINHO;
Os folíolos, em número de 5 a 9, são de textura
PIRES, 1996; SANAIOTTI et al., 1997;
coriácea, rugosos, opostos, curto-peciolulados
e ásperos na parte inferior, normalmente com AZEVEDO et al., 2008).
base cordada, medindo de 5 cm a 14 cm de • Amazonas (AGUILAR-SIERRA; MELHEM,
comprimento por 2 cm a 5 cm de largura. 1998; LORENZI, 1998; RIBEIRO et al., 1999).
A nervura central é proeminente e glabra na face
superior. • Maranhão (MUNIZ et al., 1994).
Inflorescência: ocorre em panículas terminais • Mato Grosso (CHIMELO et al., 1976;
e axilares, medindo de 6 cm a 10 cm de IVANAUSKAS et al., 2004; UBIALLI et al., 2009).
comprimento. • Pará (DANTAS et al., 1980; SALOMÃO; ROSA,
Flores: são unissexuais, sendo a corola 1989; PARROTTA et al., 1995; COUTINHO;
esverdeada e o cálice glabro (DALY, 1999). PIRES, 1996; JARDIM et al., 1997; ALMEIDA;
Fruto: é uma drupa ovoide, arredondada e VIEIRA, 2001; SANTANA et al., 2004;
glabra, de polpa carnosa e adocicada, medindo GROGAN; GALVÃO, 2006; PINHEIRO et al.,
1,2 cm de comprimento. Quando madura, 2007).
apresenta coloração roxa, e só contém uma
núcula. O pirênio é globoso, lenhoso e bilocular.
Ao ser agrupado com outros, é quase conado, Aspectos Ecológicos
com o mesocarpo de pouca espessura, o qual
nunca se abre (BARROSO et al., 1999). Grupo sucessional: essa espécie é tolerante à
sombra (PINHEIRO et al., 2007).
Semente: é rugosa, apiculada, de coloração
amarelo-castanha, medindo de 6 mm a 12 mm Importância sociológica: árvore de dossel
de comprimento. Apresenta endocarpo ósseo superior ou emergente nas florestas primárias,
e muito duro, sem endosperma. mas também é encontrada nas florestas
secundárias (em capoeiras ou em capoeirões)
(SANTANA et al., 2004).
Biologia Reprodutiva
e Eventos Fenológicos Biomas (IBGE, 2004a) /
Sistema sexual: o amesclão é uma espécie Tipos de Vegetação (IBGE,
hermafrodita.
2004b) e Outras Formações
Vetor de polinização: abelhas e diversos Vegetacionais
insetos pequenos. As características do pólen
dessa espécie podem ser encontradas em Aguilar Bioma Amazônia
Sierra (1995).
• Floresta Ombrófila Aberta, no noroeste de
Floração: de maio a setembro, no Pará Mato Grosso, e no sudeste do Pará (GROGAN;
(CARVALHO, 1980). GALVÃO, 2006).
Frutificação: os frutos amadurecem de abril
• Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical
a maio, no Pará (CARVALHO, 1980).
Pluvial Amazônica ou floresta de terra firme),
Dispersão de frutos e sementes: por na formação das Terras Baixas, no Pará e no
zoocoria, principalmente pela avifauna. Amapá, com frequência de até dois indivíduos
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Mapa 6. Locais identificados de ocorrência natural de amesclão (Trattinnickia rhoifolia), no Brasil.
por hectare (BARROS et al., 2000; ALMEIDA; Temperatura média anual: 24,8 ºC (Belterra,
VIEIRA, 2001; PINHEIRO et al., 2007). PA) a 26,7 ºC (Manaus, AM).
Bioma Cerrado Temperatura média do mês mais frio:
24,2 ºC (Belterra, PA) a 26 ºC (Manaus, AM).
• Savana ou Cerrado stricto sensu, no Amapá
(SANAIOTTI et al., 1997). Temperatura média do mês mais quente:
26,7 ºC (Belém, PA) a 27,9 ºC (Macapá, AP).
Outras Formações Vegetacionais
Temperatura mínima absoluta: 13,6 ºC. Essa
• Ambiente fluvial ou ripário (mata ciliar) em temperatura foi observada em Belterra, PA, em
Mato Grosso (IVANAUSKAS et al., 2004). 16 de junho de 1977 (BRASIL, 1992).
• Contato Floresta Ombrófila Densa/ Floresta Geadas: ausentes.
Estacional Semidecidual, no norte de Mato Classificação Climática de Köppen: Af
Grosso (UBIALLI et al., 2009). (tropical, úmido ou superúmido), na região de
Fora do Brasil, o amesclão ocorre na Bolívia, no Belém, PA. Am (tropical, úmido ou subúmido),
Bosque Amazônico de Terra Firme e no bosque no Amapá, no norte de Mato Grosso e no
úmido montano (KILLEEN et al. 1993). nordeste e no oeste do Pará. Aw (tropical, com
inverno seco), no Maranhão, no norte de Mato
Grosso, e no sudeste do Pará.
Clima
Precipitação pluvial média anual: de 2.000 mm, Solos
no Pará, a 3.500 mm, também no Pará.
Trattinnickia rhoifolia ocorre, naturalmente, em
Regime de precipitações: chuvas uniformes, terrenos de textura franco-argilosa de fertilidade
na região de Belém, PA, a chuvas periódicas, nas química de baixa a média, com baixos pH e CTC
demais regiões. (SOUZA et al., 2008).
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Tecnologia de Sementes de condução de galhos, para atingir fuste bem
definido. O amesclão brota facilmente da touça,
Colheita e beneficiamento: os frutos devem após corte.
ser colhidos diretamente da árvore, quando Sistemas de plantio: essa espécie pode
começar a queda espontânea. Em seguida, ser plantada em plantio puro, a pleno sol,
devem ser amontoados em sacos de plástico, até sob espaçamento denso. Contudo, seu
atingirem a decomposição parcial de sua polpa, comportamento silvicultural é melhor em plantio
para facilitar a remoção da semente, por meio misto a pleno sol, associado com espécies
de lavagem em água corrente (LORENZI, 1998). pioneiras.
Número de sementes por quilo: 760
(LORENZI, 1998).
Crescimento e Produção
Tratamento pré-germinativo: não há
necessidade. Existem poucas informações sobre o crescimento
do amesclão, em plantios (Tabela 4).
Longevidade e armazenamento: as sementes Essa espécie apresenta crescimento lento,
dessa espécie são de comportamento fisiológico podendo atingir produção volumétrica de até
tipo recalcitrante. Quando armazenadas, perdem 1,40 m3.ha-1.ano-1 aos 16 anos de idade, no Pará
a viabilidade rapidamente. (CARACTERÍSTICAS..., 1979), 4,30 m3.ha-1. ano-1,
aos 11 anos de idade, no norte de Mato Grosso,
e 7,20 m3.ha-1.ano-1, aos 11 anos de idade, em
Produção de Mudas Manaus, AM.
Semeadura: recomenda-se semear de 1 a 2 No Pará, de 1976 a 1996, em projetos de
sementes em sacos de polietileno com dimensões reposição florestal registrados no Ibama, essa
mínimas de 22 cm de altura e 10 cm de diâmetro, espécie foi plantada por 9% das empresas
ou em tubetes de polipropileno grandes. Quando (GALEÃO et al., 2003).
necessária, a repicagem deve ser feita 1 a 2
semanas após a germinação.
Características da Madeira
Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar.
A emergência ocorre de 20 a 60 dias após a Massa específica aparente (densidade):
semeadura. Geralmente, a taxa de germinação madeira leve a moderadamente densa
é baixa, entre 20% e 30%. (0,48 g.cm-3 a 0,57 g.cm-3), a 12% de umidade
(CHIMELO et al., 1976; SOUZA et al., 1997).
Características Silviculturais Densidade básica: 0,44 g.cm-3 a 0,50 g.cm-3
(MELO et al., 2002).
O amesclão é uma espécie heliófila a esciófila, Cor: o cerne e o alburno são pouco
que não tolera baixas temperaturas. diferenciados, apresentando coloração marrom-
Hábito: Trattinnickia rhoifolia apresenta rosada-clara.
ramificação simpodial inerente, irregular Características gerais: a madeira do amesclão
e variável, tronco curto (sem definição de tem textura grosseira; grã irregular a revessa; a
dominância apical), ramificação pesada e várias superfície é ligeiramente áspera ao tato e pouco
bifurcações. lustrosa; apresenta cheiro e gosto indistintos.
Essa espécie também apresenta desrama natural Durabilidade: dado não disponível (SOUZA
deficiente, necessitando de podas periódicas et al., 1997).
Tabela 4. Crescimento de Trattinnickia rhoifolia, em plantio puro, no Amazonas e em Mato Grosso.
Idade Espaçamento Plantas vivas Altura DAP médio Classe de
Local
(anos) (m x m) (%) média (m) (cm) solo (a)
Manaus, AM(1) 11 3x3 44,4 9,10 13,5 LAta
Sinop, MT(b) 11 3x3 77,4 8,50 12,8 LAta
(a) LAta = Latossolo Amarelo, com textura argilosa.
(b) Empresa Mato-Grossense de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Empaer), Sinop, MT.
Fonte: (1) Souza et al. (2008).
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Preservação: quando tratados sob pressão, o É considerada uma das espécies comerciais mais
cerne e o alburno dessa espécie apresentam as importantes para laminação, no norte de Mato
seguintes características: enquanto o cerne é de Grosso (UBIALLI et al., 2009).
difícil preservação, o alburno é moderadamente
fácil de ser preservado. Plantios com finalidade ambiental: por sua
rusticidade, o amesclão é bastante recomendado
Secagem: no Programa de Secagem 1 (em
na recuperação de áreas degradadas de
estufa), a madeira de Trattinnickia rhoifolia
apresentou os seguintes resultados: rapidez preservação permanente.
de secagem – com tendência a rachaduras
moderadas a fortes – além de encanoamento
e torcimento moderados (SOUZA et al., 1997).
Principais Doenças
Trabalhabilidade: a madeira do amesclão Pela primeira vez, Santos et al. (2004) relataram
é fácil de se serrar e moderadamente fácil de a ocorrência de Perisporiopsis melioloides em
ser aplainada, apresentando superfícies radiais folhas de amesclão, em Manaus, AM. Esse fungo
ásperas. se desenvolve na face abaxial das folhas maduras,
Outras características: a descrição apresentando colônias circulares de coloração
macroscópica da madeira dessa espécie pode vermelho-escura, emitindo micélio denso e escuro,
ser encontrada em Chimelo et al. (1976). Já as e haustórios para o interior das folhas.
propriedades físicas e mecânicas dessa madeira
são encontradas em Melo et al. (2002).
Espécies Afins
Produtos e Utilizações O gênero Trattinnickia Willd. compreende 13
taxas neotropicais, distribuídas da Costa Rica
Apícola: as flores de Trattinnickia rhoifolia
(províncias de Puntarenas e Limón), via nordeste
apresentam potencial apícola.
da América do Sul, incluindo Trinidad, até a
Celulose e papel: essa espécie é inadequada região Sudeste do Brasil – Espírito Santo e Minas
para esse uso. Gerais – e a região Nordeste (Bahia) (DALY,
Energia: a madeira do amesclão produz lenha 1999). Esse gênero é facilmente reconhecido,
de qualidade razoável. mas várias espécies são de difícil delimitação.
Madeira serrada e roliça: pode ser usada Trattinnickia rhoifolia é muito próxima de
em construção civil, em acabamento interno T. burseraefolia (Mart.) Willd, sendo diferenciada
(molduras, rodapés, cordões, tábuas para forro por caracteres mínimos observados nas folhas,
e em fôrmas de concreto).
principalmente quanto às nervuras da face
A madeira do amesclão é usada, também, em adaxial e à base das folhas (RIBEIRO et al.,
contraplacados comerciais (miolo), em móveis, 1999).
em divisórias, em embalagens, em caixotaria
leve, em engradados, em saltos para calçados A ocorrência de T. rhoifolia no Espírito Santo
e outros. Na Bolívia, o tronco dessa espécie é (PEIXOTO et al., 1995) refere-se a T. mensalis
usado para fazer canoas (KILLEEN et al., 1993). (DALY, 1999).
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Referências Bibliográficas
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