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Crime Doloso e Culposo

1) O documento discute a diferença entre crimes dolosos e culposos, explicando que crimes dolosos envolvem intenção, enquanto crimes culposos ocorrem por negligência, imprudência ou imperícia sem intenção. 2) Também aborda o crime preterintencional, que envolve intenção mas o resultado é diferente do esperado, e o crime impossível, que tenta cometer um crime mas falha por circunstâncias alheias à vontade do agente.

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Karynne Ramos
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Crime Doloso e Culposo

1) O documento discute a diferença entre crimes dolosos e culposos, explicando que crimes dolosos envolvem intenção, enquanto crimes culposos ocorrem por negligência, imprudência ou imperícia sem intenção. 2) Também aborda o crime preterintencional, que envolve intenção mas o resultado é diferente do esperado, e o crime impossível, que tenta cometer um crime mas falha por circunstâncias alheias à vontade do agente.

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LEGISLAÇÃO

PENAL
APLICADA

Elton Bonfada
Revisão técnica:

Gustavo da Silva Santanna


Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional
e Internacional e em Direito Público
Mestre em Direito

L514 Legislação penal aplicada / Mariana Gloria de Assis... [et al.] ;


[revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. – Porto
Alegre: SAGAH, 2018.
418 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-433-5

1. Direito penal. I. Assis, Mariana Gloria de.

CDU 343

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147


Crime doloso, crime culposo,
crime preterintencional
e crime impossível
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Diferenciar crime doloso de crime culposo.


 Analisar o crime preterdoloso.
 Explicar o crime impossível.

Introdução
Identificar as diferenças existentes entre os crimes dolosos e culposos
sempre foi um desafio para os menos afeitos em matéria de Direito, em
especial tratando-se da área penal. Para melhor compreender a matéria,
neste capítulo você vai ver os tipos de dolo e de culpa existentes e os
elementos da culpa. A diferença fundamental entre as duas espécies
de crime é a vontade do agente, que vai determinar o tipo de delito
que foi cometido, se com dolo ou culpa. Você também vai ver como se
distinguem imprudência, imperícia e negligência.
Além disso, você vai estudar as teorias referentes ao dolo, identificando
a qual delas o ordenamento jurídico brasileiro se filia. Também vai ver
o que vem a ser e como se caracteriza o crime preterintencional ou
preterdoloso. Você vai verificar se é possível a tentativa nessa espécie
de delito e também qual é a diferença entre culpa imprópria e preter-
dolo. Ainda está no escopo do capítulo o conceito de crime impossível,
que também é chamado de tentativa inidônea. Você vai conhecer as
suas características e teorias, bem como suas hipóteses ou condições
de ocorrência, previstas e tratadas no art. 17 do Código Penal (CP). Por
fim, você vai estudar a ineficácia e a impropriedade absoluta do objeto
pretendido ou empregado.
2 Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível

Crime doloso e crime culposo


Quando se fala que alguém cometeu um crime doloso, é porque esse alguém
teve a intenção e a vontade de cometer o crime, ou seja, agiu livremente e
estava consciente de estar praticando um delito. O indivíduo sabe o que fez.
Contudo, quando ocorre um crime dito culposo, diz-se que o agente não teve
a intenção de cometer o delito. Ele não observou o dever de cuidado, por
imprudência, negligência ou imperícia. O resultado é inesperado e ocorre
não por vontade do agente, mas por sua falta de atenção, dado que ele poderia
tê-lo evitado (art. 18 do CP, BRASIL, 1940).
Doloso é o crime praticado com plena consciência da ilegalidade da ação
cometida, buscando o resultado ilícito, ou assumindo o risco de produzi-lo.
Desse modo, o dolo pode ser direto, quando o indivíduo busca a prática da
conduta típica, ou indireto, quando assume o risco de produzir o resultado
lesivo. Este último divide-se em: alternativo, em que podem ocorrer dois
resultados previsíveis, mas o individuo não se preocupa em causar um ou
outro; e eventual, em que o indivíduo assume o risco de causar um resultado
diferente daquele previsto originalmente.
Portanto, é possível classificar o dolo em dolo direto e dolo indireto. O
dolo direto é aquele que ocorre quando o agente efetivamente comete o delito.
Ele subdivide-se em:

 dolo direto de primeiro grau, quando a ação é voltada ao fim ou ao


resultado;
 dolo direto de segundo grau, que diz respeito aos efeitos colaterais da
ação delituosa.

Já o dolo indireto está presente quando a vontade do agente não se destina


a certo e determinado resultado. Ele divide-se em:

 dolo alternativo, na hipótese em que a vontade é dirigida a um ou outro


resultado;
 dolo eventual, que é quando o agente assume o risco de produzir o
resultado;
 dolo genérico, que é a vontade ou o desejo de praticar o fato descrito
na lei penal como crime;
 dolo específico, que tem um fim especial ou a tendência a determinado
objetivo, que é o motivo pelo qual o indivíduo quis praticar a conduta
antijurídica;
Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível 3

 dolo geral, que é a hipótese de erros sucessivos quando o indivíduo,


com a intenção de praticar um crime, realiza uma conduta capaz de
produzir o resultado e, logo após, com a convicção de que o evento
já se realizou, pratica nova ação, que efetivamente causa o resultado;
 dolo normativo ou dolus malus, o dolo está localizado na culpabilidade,
ao lado da imputabilidade e da exigibilidade de uma conduta diversa.
Nessa espécie de dolo, existiria um elemento normativo, coberto de
uma consciência sobre a ilicitude, que pode ser real (teoria extrema do
dolo) ou potencial (teoria limitada do dolo).

O dolo é uma vontade consciente e direcionada a praticar ou assumir o


risco de perpetrar uma conduta antijurídica, ou seja, aquela prevista como
crime. O movimento livre do indivíduo gera a culpa, bastando a conduta ser
voluntária e consciente para caracterizá-la, mas nunca caracteriza o dolo. Este
possui como elementos: o intelectivo, que é a consciência, e o volitivo, que
diz respeito à vontade do agente. A seguir, você pode ver as teorias do dolo.

 Teoria da vontade: entende que o dolo é a vontade consciente do agente


de praticar a conduta antijurídica, de realmente praticar a infração.
 Teoria da representação: o dolo se caracteriza quando o agente, pre-
vendo o resultado como possível, mesmo assim prossegue na conduta
delituosa.
 Teoria do consentimento ou assentimento: vem em socorro à teoria
da representação, acrescendo a esta uma correção importante, ou seja,
o dolo se caracteriza quando o agente, prevendo o resultado como
possível, mesmo assim prossegue na conduta, assumindo o risco de
produzi-lo. Evita-se o risco de abranger a culpa consciente.
 Teoria da probabilidade: trabalha com dados estatísticos, no sentido de
que, se o comportamento do indivíduo ou suspeito, que é estatisticamente
estudado, possuir uma grande probabilidade de causar o resultado, é
o caso de dolo eventual.

O ordenamento jurídico brasileiro adota a teoria da vontade para o dolo direto e a


teoria do consentimento ou do assentimento no caso de dolo eventual.
4 Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível

Já o crime dito culposo se caracteriza quando o indivíduo dá causa ao


resultado por: imprudência, imperícia ou negligência. Portanto, distingue-se
do crime doloso porque em regra não existe a vontade do agente de causar
o resultado. Nesse tipo de culpa própria, não há que se falar em tentativa, já
que esta pressupõe que o crime não se consumou por circunstâncias alheias
à vontade do réu. Se não há o elemento vontade, não existe a tentativa.
Também existe a chamada culpa imprópria, que se observa quando o
agente prevê e quer o resultado, mas atua em erro vencível. Ou seja, pratica
uma ação pensando ser a correta, quando na realidade a situação fática era
diferente da imaginada. Nessa situação, o indivíduo vai responder por tentativa
de crime culposo. Na verdade, o agente que atua com dolo, devido a questões
meramente de política criminal, vai ser punido por culpa. Nesse caso, a pena
aplicada é do crime culposo diminuída de 1/3 a 2/3.
A conduta do agente pode ser dividida em duas partes, a interna e a externa.
Na interna, se estuda o pensamento do autor, se ele se propôs a atingir um
fim, preparou os meios necessários para sua execução e alcance. Por último,
se consideram os efeitos do fim pretendido. Já a conduta externa representa a
exteriorização da conduta, uma atividade em que se usam os meios normais
e usuais da capacidade humana de previsão. Uma é o pensar e a outra, o agir.
No crime culposo, a conduta voluntária é a que produz um resultado não
desejado ou aceito pelo agente, mas por ele previsto (culpa consciente), ou a
que produz um resultado que era previsível por ele (culpa inconsciente), o que
significa dizer que o fato podia ser evitado se o agente agisse com prudência.
Ou seja, o indivíduo não tem a intenção de realizar a ação antijurídica, agindo
com imprudência, imperícia ou negligência (art. 18, II, do CP, BRASIL, 1940).
Portanto, é importante diferenciar a culpa consciente e o dolo eventual.
A diferença entre o dolo eventual e a culpa consciente consiste que nesta
o agente, embora prevendo o resultado, acredita que ele não venha a ocorrer.
Além disso, o resultado previsto não é desejado nem assumido pelo indivíduo,
que acredita que ele pode ser evitado. Já no dolo eventual, embora o indivíduo
não queira o resultado diretamente, assume o risco de que ele ocorra.
O ato praticado sem a devida cautela é a imprudência ou ação descuidada.
Essa espécie de crime culposo por imprudência se caracteriza sempre de
forma ativa, ou seja, o agente sabe que não deve agir daquela maneira, mas
ignora a precaução, entendendo que o ato não terá consequências. No crime
culposo gerado por imprudência, a culpa do agente aparece no instante em
que se desenrola a ação. Portanto, age com imprudência aquele indivíduo que
pratica uma ação sem observar os devidos cuidados, o que seria algo normal
para qualquer pessoa.
Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível 5

A negligência ou atitude tomada sem a devida precaução se caracteriza


pela ausência de uma ação. Consiste em deixar de tomar determinada cautela
obrigatória antes de praticar determinada ação. Ao contrário do crime culposo
por imprudência, o culposo por negligência ocorre sempre antes do início da
conduta antijurídica. Portanto, ao agir com negligência, o indivíduo deixa
acontecer uma ação que, se ele tivesse agido com o devido cuidado, não
aconteceria, ou seja, o agente atua sem atenção, com descuido ou omissão.
Já a imperícia ou falta de aptidão se concretiza pela incapacidade, pela ausência
de conhecimento ou habilidade em determinado ofício ou profissão. O crime
culposo ocorre quando um profissional incompetente, por não ter a técnica ou os
conhecimentos suficientes, causa à vítima um resultado tipificado como crime.
Se a imprudência é praticada por pessoa que não exerce a profissão, o crime
culposo será por imprudência. Assim, ocorre um erro no exercício de um ofício
ou profissão porque alguém agiu sem ter a devida prática ou aptidão necessária.
A seguir, você pode ver os elementos caracterizadores do crime culposo.

 Conduta: a voluntariedade está relacionada à ação, não ao resultado.


 Violação de um dever de cuidado objetivo: ocorre quando o agente
viola um dever de cuidado imposto a todos, atua em desacordo com o
que é esperado, ou seja, com imprudência, negligência ou imperícia.
 Resultado: todo crime culposo produz resultado naturalístico, sempre será
crime material, pois depende de resultado naturalístico para ser consumado.
 Nexo causal: entre a conduta e o resultado; a conduta imprudente,
negligente ou imperita é a causadora do resultado.
 Previsibilidade: o resultado produzido deve estar dentro ou ao alcance
da previsibilidade do indivíduo. Ou seja, é a possibilidade de o agente
reconhecer o perigo da sua conduta. O tipo de crime culposo que possui
previsão é a culpa consciente, que é mais do que previsibilidade, tem
previsão, já que o indivíduo sabe efetivamente do perigo.
 Tipicidade: determina que, para o indivíduo responder por crime
culposo, é necessária a previsão expressa na lei (tipificada) da forma
culposa, sob pena de só poder ser praticado dolosamente.

No crime culposo, o agente não tem a intenção de praticar um crime.


6 Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível

Crime preterdoloso ou preterintencional


O crime, segundo a teoria finalista, é o fato típico e antijurídico. O fato típico,
por sua vez, é aquele descrito na legislação penal como crime. Já a tipicidade
penal é o enquadramento da conduta humana ao tipo penal. Assim, ocorre
crime se a ação praticada se enquadra como crime na legislação e como
conduta antijurídica.
O crime preterintencional ou preterdoloso ocorre quando uma ação an-
tijurídica causa um resultado mais significativo que aquele pretendido pelo
indivíduo (art. 19 do CP, BRASIL, 1940). Os crimes preterdolosos são aqueles
qualificados pelo seu resultado. O crime preterintencional é uma das quatro
espécies previstas de crime que se consideram qualificadas pelo resultado, o
que significa que são agravadas por ele.
Portanto, pode-se dizer que um crime qualificado pelo seu resultado é
aquele ao qual a legislação, após descrever uma ação típica delituosa, reunindo
todos os seus elementos, acresce um resultado, o que gera um agravamento da
pena a ser imputada ao agente. Ou seja, é praticado em duas etapas distintas.
Em um primeiro momento, há a prática do delito completo, envolvendo todos
os seus elementos, o fato antecedente e a produção do resultado agravante,
além daquele necessário para sua consumação, fato posterior ou consequente.
Em virtude disso, é considerado um crime complexo ou misto, por se tratar
de um único delito que resulta da união de duas ou mais infrações distintas
descritas como antijurídicas.
Existem quatro espécies de crimes previstos e que são qualificados pelo seu
resultado, ou seja: o dolo no antecedente e o dolo no consequente (dispostos
no art. 129, § 2º, IV, do CP), bem como a culpa no antecedente e a culpa no
consequente (art. 258 do CP, em sua parte final). A culpa no antecedente, o
dolo no consequente, a conduta dolosa e o resultado agravador culposo carac-
terizam o crime como preterdoloso ou preterintencional. (BRASIL, 1940).
Sobre o crime preterdoloso, pode-se afirmar que se constitui em uma mo-
dalidade combinada ou mista de delito. Afinal, existe uma conduta do agente
tipicamente dolosa, com o objetivo de atingir um fim típico, e também culposa,
por causar outro resultado que não era objeto do crime inicial, advindo por não
observar o devido cuidado objetivo. Portanto, existe um dolo no antecedente
e se caracteriza a culpa no consequente. Essa é uma espécie de crime que fica
agravado pelo seu resultado, no qual o indivíduo pratica uma ação anterior
dolosa e dela se origina um resultado posterior culposo. Portanto, existe dolo
no fato antecedente e culpa no consequente. A conduta do ser humano é um
elemento subjetivo da ação antijurídica, sendo composta por culpa ou dolo.
Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível 7

Contudo, só é punível o delito tido como doloso. Ou seja, aquele em que o


indivíduo deseja o resultado ou assume o risco de que ele ocorra. Em se tratando
de negligência, ela só será punível se estiver expressamente prevista na lei,
tipificada como determina o art. 18 do CP (BRASIL, 1940). Como exemplo,
considere as hipóteses possíveis a seguir.

 Quando o agente provoca o resultado doloso, mas negligentemente


causa um resultado mais grave. É o caso de dolo antecedente e de
negligência na consequência, que caracteriza o crime preterdoloso ou
preterintencional, porque além da intenção existe o dolo do agente.
 Quando o agente causa um resultado por negligência, sem o devido
cuidado. Assim, ele se comporta negligentemente, causando uma lesão
e, por consequência, um resultado mais grave.
 Quando o agente almeja um resultado menos gravoso, mas aceita a
ocorrência de um mais grave. Você pode considerar que ocorre o dolo
no antecedente e, na consequência, um mais grave.
 Quando o agente provoca resultado negligente ou doloso, mas outro
mais grave ocorre, originado de uma causa relativamente independente,
sem a existência de conduta dolosa ou negligente do agente.
 Quando o agente dá causa a um resultado negligente e produz uma
conduta dolosa, que agrava especialmente a pena a ser imposta.

O Código Penal exclui a responsabilização do agente pelo resultado mais


grave, originado da mera relação de causalidade. Portanto, entre as situações
que você acabou de ver, somente a primeira será considerada preterdolosa ou
preterintencional. Por outro lado, ocorrendo resultado antecedente negligente
menos grave, não é possível falar em preterdolo, porquanto o resultado mais
grave não ultrapassou a mera intenção do agente.
Para a grande maioria dos doutrinadores, não existe a figura da tentativa
para os crimes preterdolosos, considerando que o resultado lesivo gravoso
não está presente na vontade do agente, sendo produzido de maneira culposa.
Segundo disposto no Código Penal, é por total ausência de livre vontade e
consciência que o agente pretende praticar o delito e conseguir um resultado
diverso do pretendido. A consciência e a livre vontade são os elementos da
conduta culposa. No entanto, é importante você notar que existem raras exce-
ções em que se admite a tentativa, ou seja, em que ocorre o resultado agravado
que também era desejado pelo agente.
Atualmente, se entende que o crime preterdoloso se caracteriza quando a
tentativa recair sobre o crime antecedente, ou seja, naquele para o qual havia
8 Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível

a vontade, e este não se concretizar por fatos alheios à vontade do agente, mas
advier um consequente culposo. Portanto, é perfeitamente possível a tentativa
nessa hipótese. Nos arts. 258 (crimes de perigo comum) e 213, § 2º (estupro),
ambos do CP, estão as duas exceções possíveis e previstas na legislação de
tentativa para o crime preterintencional (BRASIL, 1940).
A grande maioria dos crimes são perpetrados pelo agente de forma dolosa
ou culposa. Mas existem também crimes em que você vai encontrar o dolo
inicial na conduta do agente e a culpa no resultado. Ou seja, o dolo no ante-
cedente e a culpa no consequente. Portanto, em uma mesma ação, é possível
encontrar os dois tipos de conduta antijurídica, culpa e dolo, caracterizando o
crime preterdoloso. Assim, existe um misto de dolo quanto à conduta inicial
do agente e de culpa no resultado final.
Contudo, além de tudo o que você viu, é necessário fazer uma distinção
fundamental entre o preterdolo e a culpa imprópria. Nesta última, existe a
culpa no antecedente e o dolo no consequente, justamente o oposto do que
ocorre na hipótese de preterdolo.

O meio absolutamente ineficaz é aquele incapaz de produzir um resultado típico,


mesmo havendo a repetição da conduta.

Crime impossível
O crime impossível pode também ser chamado de tentativa inadequada ou
inidônea. É aquela ação que jamais vai ser consumada em virtude da inefi-
cácia absoluta do meio utilizado, ou ainda pela impropriedade absoluta do
objeto. É um crime totalmente impossível de se materializar. Essa espécie
está descrita no art. 17 do Código Penal (BRASIL, 1940, documento on-
-line): “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.
Partindo disso, você pode concluir que só se pode cogitar crime impossível
nas situações em que o delito entrou na esfera tentada, ou seja, quando já
iniciados os atos executórios.
Portanto, são duas as hipóteses ou condições previstas e tratadas no referido
dispositivo, como você pode ver a seguir.
Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível 9

 Delito impossível por ineficácia absoluta do meio: se resume à im-


propriedade ou impossibilidade absoluta do instrumento utilizado para
consumar o crime. Este, de qualquer forma, não vai acontecer. São
exemplos citados comumente: usar um palito de dente para matar um
adulto, ou ainda querer provocar lesões corporais utilizando um lenço.
Também existe a chamada tentativa irreal ou supersticiosa, caracterizada
quando o agente deseja matar alguém mediante bruxaria ou magia.
 Delito impossível por impropriedade absoluta do objeto material:
ocorre quando a conduta do agente não é suficiente ou capaz de causar o
resultado lesivo. O exemplo corriqueiro e mais utilizado para essa hipótese
é a ação praticada pelo agente com o objetivo de matar um cadáver.

No entanto, a doutrina reconhece uma terceira hipótese, que seria o crime


putativo por obra de agente provocador. Nessa hipótese, alguém, vítima ou
terceiro, provoca ou instiga o agente a praticar um crime, mas ao mesmo
tempo toma as medidas necessárias para que este não se concretize. É também
chamado de flagrante preparado. É o caso clássico de preparação de flagrante
por parte da polícia, quando os agentes são monitorados o tempo todo.
No que diz respeito ao flagrante preparado e o esperado, a Súmula nº 145
do STF (BRASIL, 1963, documento on-line) dispõe: “Não há crime quando a
preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”. Portanto,
o chamado flagrante esperado, em que a polícia aguarda a ocorrência da infração,
cuidando para que seja evitada sua consumação, não está abrangido e amparado
pela referida súmula, não se enquadrando na hipótese de crime impossível.
Das teorias relativas ao crime impossível, três seriam as principais. Veja a seguir.

 Teoria subjetiva: diz que não se deve questionar se os meios ou objetos


são absolutamente ou relativamente impróprios ou ineficazes. Isso por-
que a simples atitude do agente, demonstrando vontade e consciência de
atingir o resultado típico, já é fundamento o bastante para configurar a
tentativa. Deve-se considerar apenas a vontade criminosa, manifestada
pela conduta do agente. Uma vez apurada essa vontade no caso concreto,
partindo-se do comportamento do agente, já está configurada a tentativa.
 Teoria objetiva pura: diz que o crime impossível se configura quando
o agente se utilizar de um meio absoluta ou relativamente ineficaz, ou
ainda se o objeto for absoluta ou relativamente impróprio. Portanto, não
se diferencia a impropriedade ou a ineficácia em relativa ou absoluta.
Nas duas hipóteses, não se configura a tentativa, por tratar-se de um
crime impossível.
10 Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível

 Teoria objetiva moderada ou temperada: entende como crime im-


possível a conduta praticada pelo agente. Os meios escolhidos são
absolutamente impróprios ou ineficazes, ou ainda o objeto se apresenta
como totalmente impróprio. Essa é a teoria adotada pelo Código Penal
brasileiro.

O meio seria tudo aquilo que o agente pode utilizar para produzir um
resultado desejado, uma ferramenta para sua prática. Os meios, por exemplo,
seriam: uma faca, uma arma de fogo e um pedaço de pau que podem ser
utilizados na prática de crimes.
Portanto, o crime impossível ocorre quando o meio utilizado ou selecio-
nado pelo agente com a clara intenção de produzir o resultado desejado se
mostra totalmente ineficaz, incapaz ou imprestável para produzi-lo. Por mais
que o agente procure provocar e atingir o resultado típico, não terá a mínima
possibilidade de conseguir seu objetivo devido à total ineficácia do meio
selecionado e utilizado.
Resumindo, o meio absolutamente ineficaz é aquele incapaz de produzir o
resultado típico, mesmo havendo a repetição reiterada da conduta. O exemplo
clássico de ineficácia absoluta do meio, referido pela doutrina comumente,
é o agente que coloca açúcar no café para envenenar e matar um inimigo,
achando que se trata de veneno.
É importante você notar que a ineficácia do meio, capaz de levar ao reco-
nhecimento do crime impossível, deve ser totalmente absoluta. Se a eficácia
do meio for tida como relativa, estará configurada a tentativa, sendo a conduta
punível e condenável. Portanto, se a conduta não possui idoneidade para lesar
o bem jurídico protegido, não constitui tentativa e esta não se configura por
ausência de imputação objetiva da conduta do agente.
Contudo, a idoneidade deve ser identificada no instante da ação ou omissão
criminosa. Caso os meios ou objetos forem considerados efetivamente inidôneos
para a perpetração do delito, antes mesmo da ação em si, é configurado o
crime impossível. No entanto, na hipótese de os meios ou objetos utilizados
tornarem-se inidôneos concomitantemente, ou logo após o início da execução,
estará então configurada uma tentativa.
Para a imputação ser possível e condenável, o agente deve atuar com perigo,
criando uma probabilidade de lesão ao bem protegido. No crime impossível,
pela absoluta inidoneidade do meio executório, embora exista o objeto jurídico,
não existe o mínimo risco e não ocorre a imputação objetiva na conduta.
Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível 11

Pressupõe-se, dessa forma, serem absolutas: a ineficácia e a impropriedade.


Quando o art. 17 do Código Penal (BRASIL, 1940, documento on-line) se
refere “à ineficácia absoluta do objeto”, entende-se que o meio é imprestável,
ineficaz e inidôneo para o sujeito atingir o resultado pretendido. Já no que
se refere “à absoluta impropriedade do objeto” (BRASIL, 1940, documento
on-line) material do crime, este não ocorreu, ou, nas circunstâncias em que
se encontra, sua consumação seria impossível.

1. Assinale a alternativa que define 3. No que diz respeito à


corretamente o crime impossível. culpa imprópria, qual das
a) É aquele que, pela alternativas é a correta?
impropriedade do objeto, é a) O agente prevê e quer
impossível de se consumar. o resultado, mas atua
b) É aquele delito que se consuma em erro invencível.
pela impropriedade do objeto. b) O agente prevê e quer
c) Ocorre quando o agente o resultado, mas atua
não consuma o delito pela em erro vencível.
falta de instrumentos. c) O agente não prevê, mas
d) Ocorre quando a ineficácia do deseja o resultado, atuando
meio empregado é relativa. em erro invencível.
e) Ocorre quando a conduta d) O agente não prevê e
do agente é suficiente deseja o resultado, mas
para causar o delito. atua em erro vencível.
2. Quando se configura o dolo e) O agente prevê o resultado,
direto em primeiro grau? mas age com imperícia.
a) Quando a ação do agente é 4. No que se refere à imperícia, qual
voltada aos meios empregados. das alternativas a seguir é a correta?
b) Quando a ação do agente a) A imperícia ocorre quando o
se direciona ao resultado. agente age sem a devida atenção.
c) Quando a ação do agente b) A imperícia ocorre quando
não é voltada ao objetivo. o agente age com a devida
d) Quando a ação do agente atenção, mas mesmo assim
não atinge o fim desejado. o crime e o dano ocorrem.
e) Quando a ação do agente c) A imperícia ocorre quando há
atinge o fim desejado falta de habilidade do agente
por desistência. na execução de um trabalho.
12 Crime doloso, crime culposo, crime preterintencional e crime impossível

d) A imperícia ocorre quando b) Quando o agente pratica uma


o agente é totalmente ação e causa um resultado
capaz, mas o dolo se igual ao pretendido.
configura mesmo assim. c) Quando o agente se
e) A imperícia ocorre quando omite de praticar uma
o agente age por impulso ação e causa um dano.
e sem a devida atenção. d) Quando o agente pratica
5. Quando ocorre o crime uma ação, mas mesmo assim
preterintencional? não atinge o resultado.
a) Quando o agente pratica uma e) Quando o agente pratica uma
ação e causa um resultado ação e causa um resultado
menos grave que o pretendido. mais grave que o pretendido.

BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso
em: 30 abr. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 145. 1963. Não há crime, quando a pre-
paração do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. Disponível
em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=145.
NUME.%20NAO%22S.FLSV.&base=baseSumulas>. Acesso em: 30 abr. 2018.

Leituras recomendadas
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal. 23. ed., rev., ampl. e atual. São Paulo: Sa-
raiva, 2017.
CAPEZ, F. Curso de direito penal: parte geral: arts. 1º a 120. 18. ed. São Paulo Saraiva
2013. v.1.
OLIVEIRA, E. P. de; CALLEGARI, A. L. Manual de direito penal: parte geral. 3. ed., rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2017.
SANTOS, J. C. dos. Direito penal: parte geral. 6. ed., rev. e ampl. Curitiba: ICPC, 2014.
ZAFFARONI, E. R.; PIERANGELI, J. H. Manual de direito penal brasileiro. 10. ed. São Paulo:
RT, 2013.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:

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